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2
PRÁTICA ESPORTIVA
PARA PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA
Legislação, normas e
fiscalização no Brasil
Wellington Gomes Feitosa
Copyright © 2021 Fundação Demócrito Rocha

FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)


Presidência Luciana Dummar
Direção Administrativo-Financeira André Avelino de Azevedo
Gerência Geral Marcos Tardin
Gerência Editorial e de Projetos Raymundo Netto
Gerência Canal FDR Chico Marinho
Gerência Marketing & Design Andrea Araujo
Análise de Projetos Aurelino Freitas e Fabrícia Góis
Edição de Mídias Isabel Vale

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE)


Gerência Pedagógica Viviane Pereira
Coordenação de Cursos Marisa Ferreira
Design Educacional Joel Lima
Front End Isabela Marques

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE


Concepção e Coordenação Geral Valéria Xavier
Coordenação de Conteúdo Ricardo Catunda
Coordenação Editorial e Revisão Daniela Nogueira
Projeto Gráfico e Edição de Design Andrea Araujo
Design Miqueias Mesquita
Estagiária Design Kamilla Damasceno
Ilustração Guabiras
Analista de Projetos Juliana Montenegro
Análise de Marketing Digital Fábio Júnior Braga
Estratégia e Relacionamento Adryana Joca

Apoio Confef | Uece | Lei de Incentivo | Secretaria/Governo


Patrocínio Enel
Realização Uane | FDR

Este fascículo é parte integrante do projeto Inclusão Social Através


do Esporte, viabilizado por meio da Lei Estadual de Incentivo
ao Esporte, Lei nº 15.700 de 20 de novembro de 2014, CAP nº 25.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) de acordo com ISBD

P967
Inclusão Social Através do Esporte / vários autores ; organizado por Ricardo Catunda ;
ilustrado por Guabiras. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p. : il. ; 26cm x 30cm. – (Inclusão Social Através do Esporte ; 12v.)
Inclui bibliografia e apêndice/anexo.
ISBN: 978-85-7529-972-2 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-983-8 (Fascículo 2)
1. Esporte. 2. Inclusão Social. 3. Políticas Públicas. 4. Educação Física. 5. Educação
Inclusiva. 6. Esporte Inclusivo. 7. Estratégias Pedagógicas. 8. Acessibilidade. 9. Esporte
Adaptado. I. Catunda, Ricardo. II. Guabiras. III. Título. IV. Série.
CDD 796.0456
2021-3267CDU 796:364 Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Índice para catálogo sistemático: CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Esporte : Inclusão Social 796.0456 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
Esporte : Inclusão Social 796:364 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br
Sumário
Apresentação 20
1. Dimensões do esporte 21
2. Políticas públicas 29
3. Medidas para incluir 30
Referências 31
Apresentação
A
prática esportiva para pessoas rodas” ou “Que pena daquela pessoa cega”.
com deficiência é um direito Essas e outras frases preconceituosas não
assegurado por lei. Pessoa com contribuem em nada para incluir as pessoas
deficiência é aquela que tem com deficiências na sociedade.
“impedimento de longo prazo de natureza Contudo, essas mesmas pessoas se sur-
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, preendem ao ver pessoas com deficiên-
em interação com uma ou mais barreiras, cias como atletas, participando de eventos
pode obstruir sua participação plena e efe- esportivos adaptados, “paradesporto” ou
tiva na sociedade em igualdade de condi- esporte paralímpico. O esporte precisa ser
ções” com outros cidadãos (BRASIL, 2015). compreendido como um direito social, uma
A mudança de atitude de cada cidadão ao oportunidade de crescimento pessoal, de
desejar conhecer seus direitos e cumprir aprendizado e pertencimento, de promoção
com seus deveres, de acordo com a legisla- da saúde, contribuindo para a promoção do
ção em vigor, contribuirá para que a prática bem-estar e o desenvolvimento de habili-
esportiva seja realmente para todos. Nesse dades do cidadão e da sociedade.
sentido, é fundamental conhecer a legislação, A pessoa com deficiência tem direito
as normas e a fiscalização para que políticas à educação, de forma inclusiva, em qual-
públicas sejam desenvolvidas diante da prá- quer nível de ensino e durante toda a vida.
tica esportiva para pessoas com deficiência. Esse direito visa atingir o melhor desenvol-
Você já passou por situações em que sen- vimento possível das habilidades físicas,
tiu alguma espécie de dó de uma pessoa com intelectuais, sensoriais e sociais das pessoas
deficiência? Não é incomum perceber oca- com deficiência (BRASIL, 2015). O Estado, a
siões em que se sente pena pela limitação família, as pessoas da escola, da universi-
causada por uma deficiência física, visual ou dade, os gestores públicos e privados, seus
intelectual. Com certa frequência, é possível amigos e as pessoas em geral têm o dever de
ouvir, no dia a dia, frases do tipo: “Coitada assegurar educação de qualidade à pessoa
daquela pessoa que não sai da cadeira de com deficiência (BRASIL, 2015).
A pessoa com deficiência tem direito
ao esporte bem como ao acesso a eventos
esportivos, garantindo a movimentação de
entrada e saída seguras e localização com
boa visibilidade do evento, e a atividades
esportivas em formato acessível (BRASIL,
1988a; b; 2015). É preciso incentivar nossos
gestores políticos, diretores, coordenadores
e professores a ampliar possibilidades de
ações a fim de incluir a pessoa com defi-
ciência nas diversas atividades esportivas.

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1
Dimensões
do esporte

A
ssim, segundo a Lei Pelé, o poder
público deve garantir a participa-
ção em atividades recreativas e
esportivas, em jogos, em eventos
culturais e artísticos. O esporte brasileiro con-
templa a prática esportiva formal e não formal
(BRASIL, 1988b): a prática esportiva formal
é aquela regulada por normas nacionais e
internacionais e por regras da prática esportiva
de cada modalidade, admitidas por suas res-
pectivas entidades nacionais que gerenciam o
esporte; a prática esportiva não formal é dada
pela liberdade lúdica daqueles que a praticam.
O esporte tem quatro dimensões ou fina-
lidades: o esporte educacional, o esporte
de participação, o esporte de rendimento
e o esporte de formação. Essas dimensões
do esporte podem ser exploradas a partir
de quatro manifestações (BRASIL, 1988b):
• Esporte educacional é aquele pra-
ticado em instituições educacionais
ou não, que evitam a seletividade dos
participantes e a competição exage-
rada. Seus principais objetivos são o
desenvolvimento integral, a formação
do cidadão e a prática do lazer;
• Esporte de participação é aquele
que ocorre de maneira voluntária. As
modalidades esportivas são pratica-
A Constituição Federal do Brasil de 1988, em das com o objetivo de contribuir para
seus artigos 24 e 217, assegura que a prática a integração plena da vida social, a
esportiva é um direito de todas as pessoas com promoção da saúde, a educação e a
e sem deficiência (BRASIL, 1988a) e compete à preservação do meio ambiente;
União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar • Esporte de rendimento é aquele em que
concorrentemente sobre o esporte, o ensino, a seus participantes seguem as normas
cultura, a ciência, a tecnologia e a inovação. Os gerais e regras da prática esportiva nacio-
munícipios devem elaborar políticas públicas nal e internacional. A meta é conquistar
que estimulem o esporte, a fim de possibilitar resultados e integrar os participantes de
o bem-estar e a qualidade de vida. nossa nação e de outros países;

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 21


• Esporte de formação é aquele caracte- Você já deve ter observado que, às vezes,
rizado pela promoção e obtenção inicial há falta de qualificação e incentivos aos
dos conhecimentos e competências profissionais que atuam com pessoas com
técnicas do esporte. A meta é promover deficiência. Tais fatos podem gerar exclusão
o aperfeiçoamento qualitativo e quan- dessas pessoas com deficiência desde a
titativo da prática desportiva em seus base da prática esportiva. É muito impor-
aspectos recreativos, competitivos ou tante compreender que é crime, segundo
de alta competição. o Art. 4º, § 1ºe Art. 88 da Lei Brasileira
de Inclusão de Pessoas com Deficiência,
As diferentes dimensões do esporte
toda forma de discriminação a uma pessoa
requerem formação qualificada que habi-
com deficiência, seja por exclusão, restri-
lite os mais diversos profissionais para a
ção, distinção, indução, incitação, seja por
inclusão de pessoas com deficiência. Esse
omissão ou ação deliberada com propó-
movimento de crescimento e desenvolvi-
sito de prejudicar o exercício de direitos e
mento do esporte para pessoas com defi-
das liberdades fundamentais, inclusive na
ciência ocorre, em parte, diante do elevado
recusa de realizar adaptações razoáveis e
esforço de professores, profissionais, téc-
de fornecimento de tecnologias assistivas
nicos e auxiliares esportivos, familiares,
às pessoas com deficiência (BRASIL, 2015).
colaboradores sociais, gestores públicos
É preciso que as adaptações nas práticas
que, juntamente com as pessoas com defi-
esportivas sejam adequadas e possibilitem
ciência, obtêm resultados diante da prá-
a inclusão de pessoas com deficiência, para
tica esportiva adaptada e/ou paralímpica
que se possa atingir culturas de movimento
no Brasil. Os diversos formatos de mídias,
humano, colaborando, em longo prazo, com
por exemplo, os sistemas de televisão, o
a vida dessas pessoas.
YouTube, redes sociais como Instagram e
A bocha adaptada usa tecnologia assis-
Facebook, sites de jornais e blogs na web
tiva para possibilitar a participação de
contribuem para demostrar a garra dessas
pessoas com paralisia cerebral no esporte.
pessoas com deficiência, quando lhes é
Tecnologia assistiva é uma área de conhe-
dado o direito à prática esportiva.
cimento que reúne metodologias e estra-
tégias práticas, serviços e produtos que
buscam promover melhor comunicação,
aprendizagem, mobilidade e participação da
pessoa com deficiência de forma autônoma
e independente (BRASIL, 2006b).

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Reflita
Que incrível seria se no seu bairro
houvesse eventos esportivos
que incluíssem pessoas com
deficiência! Que extraordinário
seria ter jogos esportivos para
além do futebol, futsal, voleibol
ou atletismo, e com pessoas de
diversos lugares, em verdadeiros
momentos de integração
social! Alguns exemplos bem
interessantes dessas modalidades
esportivas são: o futebol de
7, praticado por pessoas com
paralisia cerebral; a bocha,
praticada por pessoas com
elevado grau de paralisia cerebral
ou deficiências severa; o atletismo
e a natação adaptados, praticados
por pessoas com as mais diversas
deficiências – físicas, visuais ou
intelectuais; o voleibol sentado,
o tênis de mesa, o basquete
em cadeira de rodas, o tênis de
cadeira de rodas ou mesmo o
futebol de cadeiras de rodas são
esportes adaptados praticados
por pessoas com deficiência
física e de locomoção. Quantas
dessas modalidades esportivas
adaptadas ou paradesportivas
você conhece?

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 23


Reflita
Você deve contribuir com as pessoas
com deficiência para que não sofram
nenhuma espécie de discriminação,
como restrições ou exclusões em seu
direito à igualdade de oportunidades,
inclusive de terem acesso ao esporte
com adaptações razoáveis (Lei Brasileira
de Inclusão da Pessoa com Deficiência,
nº 13.146, de 6 de julho de 2015).

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A prática esportiva para pessoas com em atividades esportivas, em igualdade de
deficiência precisa ser estimulada por todas condições com as demais pessoas (BRASIL,
as pessoas como cidadãs que buscam um 2015): (1) incentivando o fornecimento de
mundo melhor para viver. O poder público instrução, treinamento e meios adequados;
precisa assegurar às pessoas com defi- (2) garantindo a acessibilidade em eventos
ciências (BRASIL, 2015): o acesso a sistema e nos serviços prestados; e (3) assegurando
educacional inclusivo em todos os níveis, a participação em jogos e atividades recre-
com atendimento educacional especia- ativas, esportivas, de lazer, culturais e artís-
lizado (AEE), tradutores e intérpretes da ticas, inclusive no sistema escolar.
língua brasileira de sinais (Libras); práticas O esporte de participação precisa ser
pedagógicas inclusivas com planejamento, possibilitado a essas pessoas com deficiên-
organização de recursos e serviços de aces- cia para que possam ter momentos de lazer,
sibilidade e disponibilização e usabilidade interação social, benefícios à saúde e par-
pedagógica de recursos de tecnologia assis- ticipação plena como ser humano dotado
tiva; oferta de educação em duas línguas nas de direitos e deveres. Nas instituições de
escolas (Libras como primeira língua e língua ensino, o esporte educacional e partici-
portuguesa escrita como segunda língua); pativo parece incluir mais as pessoas com
acesso a jogos e a atividades recreativas, deficiências do que fora da escola. Você já
atividades esportivas e de lazer, em igual- refletiu sobre a questão da inclusão dessas
dade de condições com outras pessoas; a pessoas com deficiência nos mais diversos
acessibilidade às instalações, aos ambien- ambientes socioculturais e esportivos?
tes e às atividades relacionadas a todas as É preciso compreender que toda pessoa
modalidades, etapas e níveis de ensino; e com deficiência tem direito à igualdade de
implementação de políticas públicas. oportunidades com as demais pessoas e não
Em ambientes nos quais o esporte é sofrerá espécie alguma de discriminação (BRA-
praticado, na escola ou não, a inclusão de SIL, 2015). Você consegue perceber se esse
pessoas com deficiências deve ser desenvol- direito das pessoas com deficiência está sendo
vida de forma competente, qualificada, com assegurado? Como você pode contribuir com
boa didática, baseada em estudos científicos as pessoas com deficiência? Todos nós pre-
que permitam conhecer as potencialida- cisamos fiscalizar infrações contra os direitos
des de cada pessoa com deficiência. Recai da pessoa com deficiência e denunciar ao
sobre o poder público o dever de promover sistema de Justiça e Ministério Público, para
a participação da pessoa com deficiência que tomem as providências cabíveis.

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 25


Outra dimensão da prática esportiva A Lei Pelé informa que as pessoas jurídi-
para pessoas com deficiência é o esporte cas que promovam a cultura e as ciências do
de rendimento, do qual, algumas vezes, desporto e formem e aprimorem especia-
se pode viver recebendo salários. É pre- listas podem ser incluídas no Sistema Bra-
ciso compreender que, para chegar a esse sileiro de Desporto. O Comitê Paralímpico
patamar, é necessária muita dedicação ao Brasileiro (CPB), o Comitê Olímpico Brasi-
esporte. Algumas vezes, a exclusão ocorre leiro (COB), as entidades e ligas nacionais
mesmo antes de se alcançar essa fase de e regionais de administração do desporto,
participação esportiva, durante o período o Comitê Brasileiro de Clubes Paralímpicos
educacional. No esporte de rendimento (CBCP) e o Comitê Brasileiro de Clubes (CBC)
ou mesmo no esporte de formação técnica integram o Sistema Nacional do Desporto.
do atleta, há aumento da carga de trei- O Ministério da Cidadania deve destinar
nos, alimentação necessária, vestimentas recursos financeiros ao paradesporto.
e implementos específicos da modalidade O cumprimento das normas e regras
esportiva. Também há aumento da neces- da prática desportiva são de competência
sidade de recursos financeiros para parti- dos CPB e COB bem como das entidades
cipar de competições esportivas, muitas nacionais de administração do esporte,
vezem em outros estados ou municípios. diante de decisão por ofício ou quando lhes
Nesse sentido, é primordial contar com for submetida pelos seus filiados (BRASIL,
a colaboração de patrocinadores públi- 1988b). A fim de manter a ordem esportiva
cos e privados por meio de auxílio direto e o respeito aos atos internos, o CPB, o COB
ou projetos e programas específicos para e as entidades nacionais de administração
apoiar atletas do paradesporto. Você pode do esporte poderão aplicar as seguintes
contribuir com a mudança de vida de um sanções diante de infrações (BRASIL, 1988b): de rendimento, voltado para as pessoas com
atleta ao patrocinar sua prática esportiva. advertência; censura escrita; multa; suspen- deficiência, tendo em vista que há seleção de
É importante saber que o Sistema Bra- são; desfiliação ou desvinculação. Todos os atletas para competições que visam a resulta-
sileiro do Desporto compreende o Minis- envolvidos na possível infração da ordem dos (REIS; MEZZADRI; MORAES E SILVA, 2017).
tério da Cidadania (que assumiu a pasta do esportiva responderão a processo adminis- O esporte paralímpico inclui modalidades
extinto Ministério do Esporte), o Conselho trativo, garantido o contraditório e a ampla que fazem parte dos Jogos Paralímpicos, e
Nacional do Esporte, o Sistema Nacional defesa, sendo aplicada a penalidade apenas seus esportistas passam por processos de
do Desporto e os Sistemas de Desporto dos após decisão definitiva da Justiça Despor- classificação para poder ingressar e parti-
Estados, do Distrito Federal e dos Municí- tiva. A Justiça Desportiva, por sua vez, está cipar desses eventos esportivos.
pios, atuando de forma autônoma ou em limitada ao processo e ao julgamento das A classificação nos esportes paralímpicos
colaboração, a fim de assegurar a prática infrações disciplinares e às competições é baseada na capacidade funcional e não no
desportiva regular e aperfeiçoar o padrão esportivas de acordo com os Códigos de desempenho. Atletas com deficiência são
de qualidade (BRASIL, 1988b). Justiça Desportiva. No entanto, segundo a agrupados em categorias (classes esportivas),
Lei Pelé, Art. 51, a Justiça Desportiva não por impacto de uma deficiência elegível, em
se aplica ao CPB e ao COB (BRASIL, 1988b). sua capacidade de executar as tarefas especí-
O CPB é a principal referência na gestão e ficas e fundamentais do esporte. Sessões de
no desenvolvimento do esporte paralímpico avaliação são conduzidas para classificar os
brasileiro, tendo como missão a promoção atletas com deficiência física, por exemplo,
do esporte paralímpico da iniciação ao alto com avaliação física, avaliação técnica (avalia
rendimento e a inclusão de pessoas com até que ponto um atleta é capaz de execu-
deficiência na sociedade. O esporte para- tar as tarefas específicas na modalidade) e
límpico pode ser entendido como esporte observação em competição.

26 | FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA - UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE


Saiba mais
Você pode visitar o site do Comitê
Paralímpico Brasileiro (CPB) para
conhecer melhor as diversas
modalidades paralímpicas
brasileiras: https://www.cpb.org.br/

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 27


Atletas com deficiência visual passam que atua com o esporte para pessoas sem
por exames médicos para diagnóstico da deficiência assume juntamente modali-
acuidade visual. No caso de atletas com
deficiência intelectual, há restrição no fun-
Saiba mais dade paradesportiva para administrar; e
(III) quando o CPB é o responsável direto
cionamento intelectual e no comportamento Visite o site e conheça a pela gestão da modalidade. Existem orga-
adaptativo que afeta as capacidades de adap- Associação D’Eficiência nizações por entidades responsáveis por
tação conceptual, social e prática necessá- Superando Limites (Adesul): modalidades de deficiências específicas,
rias para a vida cotidiana, devendo serem https://linktr.ee/adesulceara por exemplo: a Confederação de Desportos
submetidos a testes de cognição esportivo para deficientes Visuais (CBDV), responsável
e, se necessário, observação em competição. por judô, goalball, futebol de 5; a Associa-
A organização do esporte paralímpico no ção Nacional de Desporto para Paralisados
Brasil ocorre de diversas formas (REIS, 2014; Cerebrais (Ande), com o futebol de 7 e a
REIS; MEZZADRI; MORAES E SILVA, 2017), bocha; e a Associação Nacional de Esporte
dentre algumas: (I) quando se caracteriza para Deficientes Intelectuais (ABDEM), com
por modalidades paradesportivas que são modalidades para pessoas com deficiência
administradas por entidades específicas do intelectual. Essas ações são lideradas e
paradesporto; (II) quando uma entidade planejadas estrategicamente pelo CPB.

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2
Políticas
públicas

A
s políticas públicas voltadas
ao esporte para pessoas com
deficiência no Brasil ocorrem
por meio do Ministério da • Categoria Atleta de Base – atletas ini-
Cidadania, em nível federal, com ações em ciantes com destaque no esporte;
conformidade com a Lei de Incentivo ao • Categoria Estudantil – atletas que parti-
Esporte, a Lei Agnelo Piva e o Bolsa Atleta ciparam de eventos nacionais estudantis;
(REIS; MEZZADRI; MORAES E SILVA, 2017). • Categoria Atleta Nacional – atletas
A Lei de Incentivo ao Esporte (BRASIL, que participaram de competição espor-
2006a) permite deduzir do imposto de renda tiva em âmbito nacional, indicada pela
devido de pessoas físicas e jurídicas, de valores entidade nacional de administração
gastos por meio de patrocínio ou doação, no do esporte e que atenda aos critérios
apoio direto a projetos paradesportivos e des- fixados pelo ministério responsável;
portivos previamente aprovados pelo Ministério • Categoria Atleta Internacional – atletas
da Cidadania. Organizações que trabalham sem que participaram de competição espor-
fins lucrativos, sejam entidades privadas, sejam tiva de âmbito internacional, integrando
órgãos governamentais, podem apresentar seleção brasileira ou representando o
projetos de construção e patrocínio utilizando Brasil em sua modalidade, reconhecida
recursos da Lei de Incentivo ao Esporte. pela respectiva entidade internacional Em nível estadual e municipal de cada
A Lei Agnelo Piva estabelece que 2% do e indicada pela entidade nacional de região do Brasil, há projetos, programas,
total de recursos financeiros dos concursos de administração da modalidade;  bolsas e incentivos para pessoas com
prognóstico e loterias federais e similares serão deficiência praticarem esporte. Caso isso
• Categoria Atleta Paralímpico ou
destinados em 15% do valor arrecadado para o não ocorra, você pode contribuir para soli-
Olímpico – atletas que participaram
CPB e 85% para o COB (BRASIL, 2001). O órgão citar, por força de lei, que essas ações sejam
de Jogos Paralímpicos ou Olímpicos
fiscalizador é o Tribunal de Constas da União. fomentadas. As pessoas com deficiência, seus
que cumpram os critérios fixados pelo
O Bolsa Atleta busca garantir benefí- familiares, amigos, professores e técnicos
ministério responsável;
cio financeiro para que os atletas possam esportivos precisam buscar esses recursos
treinar e competir com mais exclusividade, • Categoria Atleta Pódio – atletas de para auxiliar nas demandas financeiras de
sendo destinado, prioritariamente, a pra- modalidades individuais paralímpicas e suas entidades, associações e até mesmo
ticantes do esporte de alto rendimento olímpicas, de acordo com os critérios de no auxílio individualizado de determinados
em modalidades paralímpicas e olímpicas entidades nacionais de administração atletas. Um exemplo de associação específica
filiados ao CPB e ao COB. Atletas das moda- do desporto em colaboração com o CPB voltada ao desenvolvimento do parades-
lidades que não fazem parte do programa e o COB e a pasta do ministério respon- porto é a Associação D’Eficiência Superando
paralímpico ou olímpico também podem sável, obrigatoriamente vinculados ao Limites (Adesul). Ela teve início com apenas
ser incluídos no Bolsa Atleta de forma Programa Atleta Pódio. Este programa seis atletas e duas modalidades esportivas
secundária, exceto categorias de atleta tem o objetivo de apoiar atletas com e, atualmente, é um dos maiores projetos
Master. Integram as categorias do programa chances de disputar finais e medalhas do Estado do Ceará, com 250 atletas para-
Bolsa Atleta (BRASIL, 2004): paralímpicas e olímpicas. límpicos e 13 modalidades desenvolvidas.

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 29


3

Medidas
para incluir

A
seguir você pode verificar uma
lista de medidas adotadas para
incluir pessoas com deficiência
na prática esportiva:
• Assegurar o direito da pessoa com defi-
• Investir técnicos com formação conti-
ciência à prática esportiva de forma
nuada, aproximando-os de Centros de
adequada;
Formação Paralímpicos e universidades
• Pensar, refletir e dialogar sobre a com cursos de Educação Física que
inclusão de pessoas com deficiência tenham professores com conhecimento Portanto, os benefícios da prática
na sociedade e no esporte; na área do paradesporto; esportiva para a pessoa com deficiência
• Compreender que a pessoa com defi- • Promover oportunidades para práti- são inúmeros, dentre eles: bem-estar;
ciência precisa estar a salvo de toda cas esportivas em igualdade de oferta aumento da autoestima; integração social;
forma de violência, negligência e dis- de outras pessoas, incluindo modali- mais amigos, mais professores e demais
criminação; dades adaptadas, paradesportivas e profissionais técnicos competentes e dedi-
• Potencializar as habilidades e os talen- paralímpicas; cados; empoderamento pessoal; digni-
tos das pessoas com deficiência; • Cobrar a União, os Estados e os Muni- dade; inclusão; promoção da saúde; maior
• Criar, desenvolver, avaliar e fiscalizar cípios sobre o fomento de políticas independência e autonomia frente a ativi-
políticas públicas que estimulem a cons- públicas de incentivo à prática espor- dades do cotidiano; maior conhecimento
trução de programas, projetos, ações tiva para pessoas com deficiência; cultural; mais lazer; conhecimento de
adequados e planejados para incluir outros lugares em viagem para avaliações,
• Patrocinar pessoas com deficiência em
pessoas com deficiência no esporte; treinos e competições; reconhecimento de
práticas esportivas;
si próprio diante das suas potencialidades
• Fortalecer a escola em ações de inclu- • Fiscalizar e denunciar à Justiça e e em aprimoramentos futuros.
são de pessoas com deficiência nos ao Ministérios Públicos quando os São realmente inúmeros os benefícios e
âmbitos do esporte educacional e do direitos da pessoa com deficiência não aposto que você pode destacar mais alguns.
esporte de participação; estiverem sendo garantidos; Assim, você percebeu que as leis brasileiras
• Adequar os espaços de forma a ampliar • Lutar para que pessoas com deficiência asseguram o direito da pessoa com defi-
a acessibilidade inclusiva para a prá- possam viver de forma digna e humana ciência à prática esportiva em igualdade
tica esportiva; a fim de atingir o máximo de desen- de oportunidades de outras pessoas. Logo,
• Preparar e formar professores e demais volvimento possível de seus talentos é dever de todos contribuir para que esse
profissionais competentes, qualifica- e habilidades físicas, sensoriais, inte- direito seja garantido, adotando atitudes e
dos e interessados para a inclusão da lectuais e sociais, segundo suas carac- procedimentos para a inclusão de pessoas
pessoa com deficiência no esporte; terísticas, interesses e necessidades. com deficiência em práticas esportivas.

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Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado 1988a.
BRASIL. LEI Nº 9.615, DE 24 DE MARÇO DE 1998. Lei Pelé ou Lei do passe livre, Institui normas gerais
sobre desporto e dá outras providências. Brasília, DF 1988b.
BRASIL. LEI No 10.264, DE 16 DE JULHO DE 2001. Lei Agnelo/Piva. Brasília, DF 2001.
BRASIL. LEI Nº 10.891, DE 9 DE JULHO DE 2004. Bolsa-Atleta. Brasília, DF 2004.
BRASIL. Lei nº 11.438, de 29 dezembro de 2006. Lei de incentivo ao Esporte. Brasilia, DF 2006a.
BRASIL. PORTARIA N° 142, DE 16 DE NOVEMBRO DE 2006. Comitê de Ajudas Técnicas - CAT. ATA VII -
Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) - Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência (CORDE) - Secretaria Especial dos Direitos Humanos - Presidência da República. 2006b.
BRASIL. LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília, DF 2015.
REIS, R. E. Políticas públicas para o esporte paralímpico brasileiro. 2014. 121 f. (Dissertação - Mestrado
em Educação Física) - Programa de Pós-Graduação em Educação Física, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba.
REIS, R. E.; MEZZADRI, F. M.; MORAES E SILVA, M. AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE
PARALÍMPICO NO BRASIL: APONTAMENTOS GERAIS. Corpoconsciência, 21, n. 1, p. 58-69, 04/23 2017.

INCLUSÃO SOCIAL ATRAVÉS DO ESPORTE | 31


Autor
Wellington Gomes Feitosa
Tem Doutorado em Ciências do Movimento
Humano pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), com tese escrita sobre “Parâmetros
biomecânicos e fisiológicos do desempenho
de nadadores com deficiência” e com artigos
internacionais publicados sobre a temática.
Tem Mestrado em Ciências do Desporto, pela
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro com
Revalidação pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB); Especialização em Fisiologia e Biomecânica
dos Movimentos; Especialização no Ensino de
Educação Física; Especialização em Personal
Training: avaliação e prescrição; Licenciatura Plena
em Educação Física pela Universidade Federal do
Ilustrador
Ceará (UFC). Tem experiência na área de educação Guabiras
formal (escolas, tanto no ensino médio quanto Carlos Henrique Santos da Costa é cartunista e
fundamental) e não formal (academias, clubes jornalista por formação. Trabalhou no O POVO
etc.). É professor na Universidade Estadual do Ceará (Fortaleza/CE) de 1998 a 2019. Colaborou para
(Uece), na qual ministra ou ministrou disciplinas a revista MAD (SP) de 2003 a 2016. Publicou em
como Natação, Biomecânica, Musculação e 2003 uma história em quadrinhos no jornal Extra,
Voleibol. Tem interesse e dedicação em incluir de Nova York (EUA). Ganhou em 2015, junto com
pessoas com deficiência de forma adequada na a equipe de arte do O POVO, o prêmio Esso de
prática esportiva e no sistema de ensino. Jornalismo na categoria Criação Gráfica.
Em 2016, o Prêmio Ângelo Agostini de “Melhor
Cartunista” e dois Troféus HQ MIX em parcerias.
Participou de projetos como Tarja Preta (RJ),
Escape (SP), Gibi Quântico (SP) e Marcatti 40 (SP).

APOIO PATROCÍNIO REALIZAÇÃO

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