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PRÁTICA ESPORTIVA
PARA PESSOAS
COM DEFICIÊNCIA
Legislação, normas e
fiscalização no Brasil
Wellington Gomes Feitosa
Copyright © 2021 Fundação Demócrito Rocha
P967
Inclusão Social Através do Esporte / vários autores ; organizado por Ricardo Catunda ;
ilustrado por Guabiras. - Fortaleza : Fundação Demócrito Rocha, 2021.
192 p. : il. ; 26cm x 30cm. – (Inclusão Social Através do Esporte ; 12v.)
Inclui bibliografia e apêndice/anexo.
ISBN: 978-85-7529-972-2 (Coleção)
ISBN: 978-85-7529-983-8 (Fascículo 2)
1. Esporte. 2. Inclusão Social. 3. Políticas Públicas. 4. Educação Física. 5. Educação
Inclusiva. 6. Esporte Inclusivo. 7. Estratégias Pedagógicas. 8. Acessibilidade. 9. Esporte
Adaptado. I. Catunda, Ricardo. II. Guabiras. III. Título. IV. Série.
CDD 796.0456
2021-3267CDU 796:364 Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Elaborado por Vagner Rodolfo da Silva - CRB-8/9410 Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
Índice para catálogo sistemático: CEP: 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
Esporte : Inclusão Social 796.0456 Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148
Esporte : Inclusão Social 796:364 fdr.org.br | fundacao@fdr.org.br
Sumário
Apresentação 20
1. Dimensões do esporte 21
2. Políticas públicas 29
3. Medidas para incluir 30
Referências 31
Apresentação
A
prática esportiva para pessoas rodas” ou “Que pena daquela pessoa cega”.
com deficiência é um direito Essas e outras frases preconceituosas não
assegurado por lei. Pessoa com contribuem em nada para incluir as pessoas
deficiência é aquela que tem com deficiências na sociedade.
“impedimento de longo prazo de natureza Contudo, essas mesmas pessoas se sur-
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, preendem ao ver pessoas com deficiên-
em interação com uma ou mais barreiras, cias como atletas, participando de eventos
pode obstruir sua participação plena e efe- esportivos adaptados, “paradesporto” ou
tiva na sociedade em igualdade de condi- esporte paralímpico. O esporte precisa ser
ções” com outros cidadãos (BRASIL, 2015). compreendido como um direito social, uma
A mudança de atitude de cada cidadão ao oportunidade de crescimento pessoal, de
desejar conhecer seus direitos e cumprir aprendizado e pertencimento, de promoção
com seus deveres, de acordo com a legisla- da saúde, contribuindo para a promoção do
ção em vigor, contribuirá para que a prática bem-estar e o desenvolvimento de habili-
esportiva seja realmente para todos. Nesse dades do cidadão e da sociedade.
sentido, é fundamental conhecer a legislação, A pessoa com deficiência tem direito
as normas e a fiscalização para que políticas à educação, de forma inclusiva, em qual-
públicas sejam desenvolvidas diante da prá- quer nível de ensino e durante toda a vida.
tica esportiva para pessoas com deficiência. Esse direito visa atingir o melhor desenvol-
Você já passou por situações em que sen- vimento possível das habilidades físicas,
tiu alguma espécie de dó de uma pessoa com intelectuais, sensoriais e sociais das pessoas
deficiência? Não é incomum perceber oca- com deficiência (BRASIL, 2015). O Estado, a
siões em que se sente pena pela limitação família, as pessoas da escola, da universi-
causada por uma deficiência física, visual ou dade, os gestores públicos e privados, seus
intelectual. Com certa frequência, é possível amigos e as pessoas em geral têm o dever de
ouvir, no dia a dia, frases do tipo: “Coitada assegurar educação de qualidade à pessoa
daquela pessoa que não sai da cadeira de com deficiência (BRASIL, 2015).
A pessoa com deficiência tem direito
ao esporte bem como ao acesso a eventos
esportivos, garantindo a movimentação de
entrada e saída seguras e localização com
boa visibilidade do evento, e a atividades
esportivas em formato acessível (BRASIL,
1988a; b; 2015). É preciso incentivar nossos
gestores políticos, diretores, coordenadores
e professores a ampliar possibilidades de
ações a fim de incluir a pessoa com defi-
ciência nas diversas atividades esportivas.
A
ssim, segundo a Lei Pelé, o poder
público deve garantir a participa-
ção em atividades recreativas e
esportivas, em jogos, em eventos
culturais e artísticos. O esporte brasileiro con-
templa a prática esportiva formal e não formal
(BRASIL, 1988b): a prática esportiva formal
é aquela regulada por normas nacionais e
internacionais e por regras da prática esportiva
de cada modalidade, admitidas por suas res-
pectivas entidades nacionais que gerenciam o
esporte; a prática esportiva não formal é dada
pela liberdade lúdica daqueles que a praticam.
O esporte tem quatro dimensões ou fina-
lidades: o esporte educacional, o esporte
de participação, o esporte de rendimento
e o esporte de formação. Essas dimensões
do esporte podem ser exploradas a partir
de quatro manifestações (BRASIL, 1988b):
• Esporte educacional é aquele pra-
ticado em instituições educacionais
ou não, que evitam a seletividade dos
participantes e a competição exage-
rada. Seus principais objetivos são o
desenvolvimento integral, a formação
do cidadão e a prática do lazer;
• Esporte de participação é aquele
que ocorre de maneira voluntária. As
modalidades esportivas são pratica-
A Constituição Federal do Brasil de 1988, em das com o objetivo de contribuir para
seus artigos 24 e 217, assegura que a prática a integração plena da vida social, a
esportiva é um direito de todas as pessoas com promoção da saúde, a educação e a
e sem deficiência (BRASIL, 1988a) e compete à preservação do meio ambiente;
União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar • Esporte de rendimento é aquele em que
concorrentemente sobre o esporte, o ensino, a seus participantes seguem as normas
cultura, a ciência, a tecnologia e a inovação. Os gerais e regras da prática esportiva nacio-
munícipios devem elaborar políticas públicas nal e internacional. A meta é conquistar
que estimulem o esporte, a fim de possibilitar resultados e integrar os participantes de
o bem-estar e a qualidade de vida. nossa nação e de outros países;
A
s políticas públicas voltadas
ao esporte para pessoas com
deficiência no Brasil ocorrem
por meio do Ministério da • Categoria Atleta de Base – atletas ini-
Cidadania, em nível federal, com ações em ciantes com destaque no esporte;
conformidade com a Lei de Incentivo ao • Categoria Estudantil – atletas que parti-
Esporte, a Lei Agnelo Piva e o Bolsa Atleta ciparam de eventos nacionais estudantis;
(REIS; MEZZADRI; MORAES E SILVA, 2017). • Categoria Atleta Nacional – atletas
A Lei de Incentivo ao Esporte (BRASIL, que participaram de competição espor-
2006a) permite deduzir do imposto de renda tiva em âmbito nacional, indicada pela
devido de pessoas físicas e jurídicas, de valores entidade nacional de administração
gastos por meio de patrocínio ou doação, no do esporte e que atenda aos critérios
apoio direto a projetos paradesportivos e des- fixados pelo ministério responsável;
portivos previamente aprovados pelo Ministério • Categoria Atleta Internacional – atletas
da Cidadania. Organizações que trabalham sem que participaram de competição espor-
fins lucrativos, sejam entidades privadas, sejam tiva de âmbito internacional, integrando
órgãos governamentais, podem apresentar seleção brasileira ou representando o
projetos de construção e patrocínio utilizando Brasil em sua modalidade, reconhecida
recursos da Lei de Incentivo ao Esporte. pela respectiva entidade internacional Em nível estadual e municipal de cada
A Lei Agnelo Piva estabelece que 2% do e indicada pela entidade nacional de região do Brasil, há projetos, programas,
total de recursos financeiros dos concursos de administração da modalidade; bolsas e incentivos para pessoas com
prognóstico e loterias federais e similares serão deficiência praticarem esporte. Caso isso
• Categoria Atleta Paralímpico ou
destinados em 15% do valor arrecadado para o não ocorra, você pode contribuir para soli-
Olímpico – atletas que participaram
CPB e 85% para o COB (BRASIL, 2001). O órgão citar, por força de lei, que essas ações sejam
de Jogos Paralímpicos ou Olímpicos
fiscalizador é o Tribunal de Constas da União. fomentadas. As pessoas com deficiência, seus
que cumpram os critérios fixados pelo
O Bolsa Atleta busca garantir benefí- familiares, amigos, professores e técnicos
ministério responsável;
cio financeiro para que os atletas possam esportivos precisam buscar esses recursos
treinar e competir com mais exclusividade, • Categoria Atleta Pódio – atletas de para auxiliar nas demandas financeiras de
sendo destinado, prioritariamente, a pra- modalidades individuais paralímpicas e suas entidades, associações e até mesmo
ticantes do esporte de alto rendimento olímpicas, de acordo com os critérios de no auxílio individualizado de determinados
em modalidades paralímpicas e olímpicas entidades nacionais de administração atletas. Um exemplo de associação específica
filiados ao CPB e ao COB. Atletas das moda- do desporto em colaboração com o CPB voltada ao desenvolvimento do parades-
lidades que não fazem parte do programa e o COB e a pasta do ministério respon- porto é a Associação D’Eficiência Superando
paralímpico ou olímpico também podem sável, obrigatoriamente vinculados ao Limites (Adesul). Ela teve início com apenas
ser incluídos no Bolsa Atleta de forma Programa Atleta Pódio. Este programa seis atletas e duas modalidades esportivas
secundária, exceto categorias de atleta tem o objetivo de apoiar atletas com e, atualmente, é um dos maiores projetos
Master. Integram as categorias do programa chances de disputar finais e medalhas do Estado do Ceará, com 250 atletas para-
Bolsa Atleta (BRASIL, 2004): paralímpicas e olímpicas. límpicos e 13 modalidades desenvolvidas.
Medidas
para incluir
A
seguir você pode verificar uma
lista de medidas adotadas para
incluir pessoas com deficiência
na prática esportiva:
• Assegurar o direito da pessoa com defi-
• Investir técnicos com formação conti-
ciência à prática esportiva de forma
nuada, aproximando-os de Centros de
adequada;
Formação Paralímpicos e universidades
• Pensar, refletir e dialogar sobre a com cursos de Educação Física que
inclusão de pessoas com deficiência tenham professores com conhecimento Portanto, os benefícios da prática
na sociedade e no esporte; na área do paradesporto; esportiva para a pessoa com deficiência
• Compreender que a pessoa com defi- • Promover oportunidades para práti- são inúmeros, dentre eles: bem-estar;
ciência precisa estar a salvo de toda cas esportivas em igualdade de oferta aumento da autoestima; integração social;
forma de violência, negligência e dis- de outras pessoas, incluindo modali- mais amigos, mais professores e demais
criminação; dades adaptadas, paradesportivas e profissionais técnicos competentes e dedi-
• Potencializar as habilidades e os talen- paralímpicas; cados; empoderamento pessoal; digni-
tos das pessoas com deficiência; • Cobrar a União, os Estados e os Muni- dade; inclusão; promoção da saúde; maior
• Criar, desenvolver, avaliar e fiscalizar cípios sobre o fomento de políticas independência e autonomia frente a ativi-
políticas públicas que estimulem a cons- públicas de incentivo à prática espor- dades do cotidiano; maior conhecimento
trução de programas, projetos, ações tiva para pessoas com deficiência; cultural; mais lazer; conhecimento de
adequados e planejados para incluir outros lugares em viagem para avaliações,
• Patrocinar pessoas com deficiência em
pessoas com deficiência no esporte; treinos e competições; reconhecimento de
práticas esportivas;
si próprio diante das suas potencialidades
• Fortalecer a escola em ações de inclu- • Fiscalizar e denunciar à Justiça e e em aprimoramentos futuros.
são de pessoas com deficiência nos ao Ministérios Públicos quando os São realmente inúmeros os benefícios e
âmbitos do esporte educacional e do direitos da pessoa com deficiência não aposto que você pode destacar mais alguns.
esporte de participação; estiverem sendo garantidos; Assim, você percebeu que as leis brasileiras
• Adequar os espaços de forma a ampliar • Lutar para que pessoas com deficiência asseguram o direito da pessoa com defi-
a acessibilidade inclusiva para a prá- possam viver de forma digna e humana ciência à prática esportiva em igualdade
tica esportiva; a fim de atingir o máximo de desen- de oportunidades de outras pessoas. Logo,
• Preparar e formar professores e demais volvimento possível de seus talentos é dever de todos contribuir para que esse
profissionais competentes, qualifica- e habilidades físicas, sensoriais, inte- direito seja garantido, adotando atitudes e
dos e interessados para a inclusão da lectuais e sociais, segundo suas carac- procedimentos para a inclusão de pessoas
pessoa com deficiência no esporte; terísticas, interesses e necessidades. com deficiência em práticas esportivas.