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João Manoel Honorato

Mário Sérgio
Raquel Cristina Costa Gouvêa

7º Período de Direito Iles-Ulbra

TEORIA GERAL DAS PROVAS

CONCEITO E FINALIDADE

Que se entende por prova? Provar é, antes de tudo, estabelecer a existência da verdade;
e as provas são os meios pelos quais se procura estabelecê-la. Entendem-se, também, por
prova, de ordinário, os elementos produzidos pelas partes ou pelo próprio Juiz visando a
estabelecer, dentro do processo, a existência de certos fatos.

DESTINATÁRIOS

Destinatários da prova são todos aqueles que devem formar sua convicção. De modo
geral, tem-se como destinatário o órgão jurisdicional (juiz ou tribunal). Sobre o qual recai a
competência para o processo e julgamento do delito. Parte da doutrina sustenta que o
Ministério Público também pode ser destinatário da prova. A depender do referencial adotado,
sustentam, é possível dizer que o órgão ministerial, detendo a titularidade da ação penal
pública, também é destinatário da prova, na medida em que, na fase pré-processual as
provas têm como finalidade o convencimento do órgão ministerial (formação de sua
opinio delicti).
Com a devida vênia, como visto anteriormente, na fase investigatória não se pode usar
a expressão "prova", salvo no caso de provas cautelares, não repetíveis e antecipadas,
Objetiva o inquérito policial a produção de elementos de informação. Por isso, preferimos
dizer que o órgão do Ministério Público é o destinatário desses elementos, e não da prova,
cuja produção se dá, em regra, somente em juízo, quando a decisão acerca da prática de
determinado fato delituoso compete única e exclusivamente ao juiz natural.

NATUREZA JURÍDICA E OBJETO

Qual o objeto da prova? Se entendermos essa expressão como a sua finalidade,


evidente que ela nada mais é senão o convencimento do Julgador. Mas, se usarmos os termos
“objeto da prova” no sentido daquilo que deve ser provado, então, todos os fatos sobre os
quais versa a lide são objeto da prova. Objeto da prova, repita-se, é o thema probandum. É o
fato a ser provado. O objetivo ou finalidade da prova é formar a convicção do Juiz sobre os
elementos necessários para a decisão da causa. Para julgar o litígio, precisa o Juiz ficar
conhecendo a existência do fato sobre o qual versa a lide. Pois bem: a finalidade da prova é
tornar aquele fato conhecido do Juiz, convencendo-o da sua existência. As partes, com as
provas produzidas, procuram convencer o Juiz de que os fatos existiram, ou não, ou, então, de
que ocorreram desta ou daquela maneira.

CLASSIFICAÇÃO DA PROVA

Inúmeras são as classificações da prova. Vejamos algumas delas: Quanto ao objeto: o


objeto da prova nada mais é do que o fato cuja existência carece ser demonstrada. Assim, a
prova pode ser:
a) direta: quando, por si, demonstra um fato, ou seja, refere-se diretamente ao fato
probando;
b) indireta: quando alcança o fato principal por meio de um raciocínio lógico -
dedutivo, levando-se em consideração outros fatos de natureza secundária, porém
relacionados com o primeiro, como, por exemplo, no caso de um álibi.
Em razão de seu efeito ou valor, a prova pode ser:
a) plena: trata-se de prova convincente ou necessária para a formação de um juízo de
certeza no julgador, por exemplo, a exigida para a condenação; quando a prova não se mostrar
inverossímil, prevalecerá o princípio do in dubio pro reo;
b) não plena ou indiciária: trata-se de prova que traz consigo um juízo de mera
probabilidade, vigorando nas fases processuais em que não se exige um juízo de certeza,
como na sentença de pronúncia, em que vigora o princípio do in dubio pro societate.
Exemplo: prova para o decreto de prisão preventiva. Na legislação, aparecem como “indícios
veementes”, “fundadas razões” etc.
Relativamente ao sujeito ou causa, pode ser:
a) real: são as provas consistentes em uma coisa externa e distinta da pessoa, e que
atestam dada afirmação (ex.: o lugar, o cadáver, a arma etc.);
b) pessoal: são aquelas que encontram a sua origem na pessoa humana, consistente em
afirmações pessoais e conscientes, como as realizadas por declaração ou narração do que se
sabe (o interrogatório, os depoimentos, as conclusões periciais).
Quanto à forma ou aparência, a prova é:
a) testemunhal: resultante do depoimento prestado por sujeito estranho ao processo
sobre fatos de seu conhecimento pertinentes ao litígio;
b) documental: produzida por meio de documentos;
c) material: obtida por meio químico, físico ou biológico (ex.: exames, vistorias, corpo
de delito etc.).

MEIOS DE PROVA

É tudo quanto possa servir, direta ou indiretamente, à comprovação da verdade que se


procura no processo. Meios de prova são os instrumentos pessoais ou materiais aptos a trazer
ao processo a convicção da existência ou inexistência de um fato. O Código disciplina os
seguintes meios de prova: o exame de corpo de delito e outras perícias (arts. 158 a 184), o
interrogatório do acusado (arts. 185 a 196), a confissão (arts. 197 a 200), as perguntas ao
ofendido (art. 201), as testemunhas (arts. 202 a 225), o reconhecimento de pessoas ou coisas
(arts. 226 a 228), a acareação (arts. 229 e 230), os documentos (arts. 231 a 238), os indícios
(art. 239) e a busca e apreensão (arts. 240 a 250).
Os indícios, não são meios de prova, esses são os chamados meios legais. Outros,
porém, são admissíveis, desde que consentâneos com a cultura do processo moderno, ou seja,
que respeitem os valores da pessoa humana e a racionalidade. É admissível, portanto, uma
inspeção judicial, não disciplinada expressamente no Código de Processo Penal, mas
adequada ao processo ocidental, tanto que está prevista no Código de Processo Civil.

VEDAÇAO PROBATÓRIA

O art. 5º, LVI, da CF dispõe que: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas
por meios ilícitos”. Trata-se de regra inovadora, já que ausente das anteriores ordens
constitucionais.
Prova vedada ou proibida é, portanto, a produzida por meios ilícitos, em contrariedade
a uma norma legal específica. A prova vedada comporta duas espécies:
Prova ilegítima. Quando a norma afrontada tiver natureza processual, a prova vedada
será chamada de ilegítima.
Prova ilícita. Quando a prova for vedada, em virtude de ter sido produzida com afronta
a normas de direito material, será chamada de ilícita.

TEORIA SOBRE “PROVAS ILÍCITAS”

Não serão admissíveis as ordálias, ou juízos divinos, segundo as quais as pessoas eram
submetidas a provas físicas para demonstrar que tinham razão. Igualmente inadmissível a
prova fundada em crença sobrenatural que escapa às limitações da razão, conforme
atualmente reconhecida. Essa é a primeira hipótese de ilicitude da prova, ou seja, a ilicitude
porque o meio não é previsto na lei e não é consentâneo com os princípios do processo
moderno, logo não será admitido. Há duas outras situações de ilicitude, ainda que o meio seja
disciplinado no Código.
O segundo caso de ilicitude é a que decorre da imoralidade ou impossibilidade da
produção da prova. O exemplo clássico seria o da reconstituição de um estupro ou de uma
inundação ou grande incêndio. A terceira hipótese de ilicitude é a que decorre da ilicitude da
obtenção do meio de prova.
O art. 5°, LVI, da Constituição da República considera inadmissíveis os meios de
prova obtidos por meio ilícito. Tal disposição é resultante da opção do texto constitucional
pela corrente mais rigorosa a respeito da ilicitude do meio de prova, em virtude da ilicitude da
origem ou da obtenção. Outras correntes doutrinárias e jurisprudenciais admitiam a produção
da prova obtida nessas condições ou a admitiam em termos, somente na hipótese de o bem
jurídico alcançado com a prova ser de maior valor que o bem jurídico sacrificado pela
ilicitude da obtenção. Esta última posição era a acolhida pelas decisões judiciais, inclusive do
Supremo Tribunal Federal, que sempre fazia uma análise do peso dos valores jurídicos
envolvidos.

PROVA EMPRESTADA

Como o próprio nome está a indicar, prova emprestada é aquela colhida num processo
e trasladada para outro. Contudo, vigorando entre nós os princípios do contraditório e da
ampla defesa, parece claro que o valor probatório dessa “prova emprestada” fica condicionado
à sua passagem pelo crivo do contraditório. Assim, a prova emprestada não submetida ao
contraditório no processo para o qual foi trasladada não tem nenhuma valia, não podendo
formar validamente a convicção do julgador. E se a prova emprestada for um auto de
interrogatório do próprio réu? Suponha-se que no processo x Mévio tenha sido interrogado.
Posteriormente foi instaurado em relação a ele outro processo. Poderá ser requerida
certidão do seu interrogatório no primeiro processo para ser juntada ao segundo? Não há
nenhum obstáculo. Mas, para que essa prova tenha valor no segundo processo, Mévio teria de
ser ouvido novamente... E como não é obrigado a fazer prova contra ele próprio, logo, a
diligência pode perder a importância.

ÔNUS DA PROVA

“Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício:
I – ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade
da medida;
II – determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante”
O instituto do ônus da prova e seus fundamentos decorrem de três princípios prévios:
1°) o princípio da indeclinabilidade da jurisdição, segundo o qual o juiz não pode, como podia
o romano, esquivar-se de proferir uma decisão de mérito a favor ou contra uma parte porque a
matéria é muito complexa, com um non liquet; 2°) o princípio da imparcialidade, segundo o
qual o juiz não pode tornar-se acusador ou defensor, quer quanto à iniciativa da ação, quer
quanto à iniciativa da prova; 3°) o princípio da persuasão racional na apreciação da prova,
segundo o qual o juiz deve decidir segundo o alegado e provado nos autos (secundum
allegata et probata partium) e não segundo sua convicção íntima (secundum propriam
conscientiam).
Dessas premissas decorre a necessidade de serem estabelecidas regras sobre o encargo
que cada parte tem para a prova dos fatos alegados, bem como consequências da falta de
prova.
INICIATIVA DO JUIZ

De acordo com a nova redação em relação à antiga redação do art. 156 do CPP, a
prova da alegação incumbira a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao juiz de ofício: I –
ordenar, mesmo antes de iniciada ação penal, a produção antecipada de prova consideradas
urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e proporcionalidade da medida, II
– determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de diligências
para dirimir duvida sobre ponde relevante (novo grifo). Como se percebe nos dois incisos do
art. 156 do CPP, a temática pertinente ao poderes instrutórios do juiz deve ser analisada em
dois momentos distintos: antes de iniciada a ação penal (CPP, art 156, inc. I) e no curso do
processo (CPP, art 156, inc. II).

SISTEMA DE APRECIAÇÃO DA PROVA

Pertence às partes a iniciativa de enunciar os fatos e de produzir as provas de suas


alegações (art. 156, com redação dada pela Lei n. 11.690, de 2008). Ao juiz cabe atribuir-lhes
o valor que merecerem, daí decidindo sobre a procedência ou improcedência do pedido. Por
mais complexa que seja a norma jurídica a ser aplicada, ou por mais complexa que seja a
situação de fato, não pode o juiz declinar da jurisdição.
O juiz deve avaliar as provas e julgar a ação procedente ou improcedente, aplicando o
direito ao caso concreto. Na avaliação das provas, é possível imaginar três sistemas que
podem orientar a conclusão do juiz: o sistema da livre apreciação ou da convicção íntima, o
sistema da prova legal e o sistema da persuasão racional. Segundo o sistema da livre
apreciação ou da convicção íntima, tem o juiz ampla liberdade de decidir, convencendo-se da
verdade dos fatos segundo critérios de valoração íntima, independentemente do que consta
dos autos ou de uma fundamentação de seu convencimento. Decide por convicção íntima ou
livre apreciação pura o Tribunal do Júri. Nem fundamentam os jurados as razões de seu
convencimento, nem importa como formaram sua convicção. Segundo o sistema da prova
legal, que é exatamente o oposto do sistema anterior, cada prova tem seu peso e seu valor,
ficando o juiz vinculado dosimetricamente às provas apresentadas, cabendo-lhe, apenas,
computar o que foi apresentado. No plano histórico, o sistema da prova legal representou a
reação extremada ao sistema da convicção íntima, que era evidentemente instrumento de
arbítrio, porque de nada adiantava a prova consistente e produzida corretamente se, depois,
podia o juiz decidir secundum conscientiam. É do sistema da prova legal o brocardo testis
unus testis nullius (uma só testemunha não tem valor) e tantos outros que limitavam o
convencimento do juiz.

PRINCÍPIOS DA PROVA

Contraditório: prova, tecnicamente é aquela colhida sob o crivo do contraditório,


com a atuação das partes;
Imediatidade do juiz: a prova deve ser colhida perante o juiz e, como regra, esse juiz
irá julgar (identidade física do juiz);
Concentração: em regra as provas devem ser produzidas em uma única audiência;
Comunhão das provas: uma vez produzida, a prova pode ser utilizada por ambas as
partes; não há “dono” da prova.

TEORIA GERAL DA PROVA: PROVA EM ESPÉCIE

EXAMES PERÍCIAIS

Perícia (arts. 158 a 184 do CPP)


É o exame realizado por profissional com conhecimentos técnicos, a fim de auxiliar o
julgador na formação de sua convicção. O laudo pericial é o documento elaborado pelos
peritos, resultante do que foi examinado na perícia.
A perícia pode ser realizada na fase de inquérito policial ou do processo, a qualquer
dia e horário (art. 161 do CPP), observando os peritos o prazo de dez dias para a elaboração
do laudo, prorrogável em casos excepcionais (art. 160, parágrafo único, do CPP). A
autoridade que determinar a perícia e as partes poderão oferecer quesitos até o ato.
Deve ser realizada a perícia por perito oficial, portador de diploma de curso superior.
Poderão ser designados dois peritos, contudo, se a perícia for complexa, abrangendo mais de
uma área de conhecimento especializado, nos termos do art. 159, § 7º, do CPP. Nota-se que tal
designação é excepcional; a regra é a realização do exame por apenas um perito.
Se não houver perito oficial, será elaborada a perícia por duas pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior e, de preferência, com habilitação na área em que for
realizado o exame (art. 159, § 1º, do CPP), as quais deverão prestar compromisso de bem e
fielmente desempenhar o encargo (art. 159, § 2º, do CPP).

INTERROGATÓRIO DO ACUSADO

Interrogatório (arts. 185 a 196 do CPP)


Ato em que o acusado é ouvido sobre a imputação a ele dirigida. Tem dupla natureza
jurídica ao interrogatório: é meio de prova, pois assim inserido no Código de Processo Penal e
porque leva elemento de convicção ao julgador; é também meio de defesa, pois o
interrogatório é o momento primordial para que o acusado possa exercer sua autodefesa,
dizendo o que quiser e o que entender que lhe seja favorável, em relação à imputação que lhe
pesa. O interrogatório é ato não preclusivo, isto é, pode ser realizado a qualquer tempo. É
permitida também a renovação do ato a todo tempo, de ofício pelo juiz ou a pedido das partes
(art. 196 do CPP).
O acusado será interrogado sempre na presença de seu defensor. Se não tiver um, deve
ser-lhe nomeado um defensor público ou um defensor dativo, nem que seja apenas para
acompanhar o ato (ad hoc). Antes do interrogatório, o juiz deve assegurar o direito de
entrevista reservada com seu defensor. Antes ainda de se iniciar o ato, o acusado deve ser
alertado do seu direito ao silêncio, podendo se recusar a responder às perguntas que lhe forem
formuladas, sem que isso seja utilizado em seu prejuízo (art. 5º, LXIII, da CF e art. 186 do
CPP). A regra para o interrogatório do réu preso é ser ele realizado no estabelecimento
prisional onde o acusado estiver recolhido, em sala própria, desde que seja garantida a
segurança para os profissionais que ali estarão presentes e a publicidade do ato.

CONFISSÃO

Confissão (arts. 197 a 200 do CPP)


A confissão não é tida como prova de valor absoluto, de acordo com o art. 197 do
Código de Processo Penal, a confissão deve ser avaliada em conjunto com os demais
elementos de prova do processo, verificando-se sua compatibilidade ou concordância com
eles. A confissão ocorre costumeiramente no ato do interrogatório, mas nada impede que seja
realizada em outro momento no curso do processo. Neste caso, deverá ser tomada por termo
nos autos, conforme dispõe o art. 198 do Código de Processo Penal. Não existe confissão ficta
no processo penal, ou seja, mesmo que o acusado não exerça a sua autodefesa, não se
presumem verdadeiros os fatos a ele imputados.
Estipula ainda o Código que a confissão será divisível, ou seja, o juiz pode aceitá-la
apenas em parte, e será também retratável, isto é, o acusado pode voltar atrás na sua admissão
de culpa.
Costuma-se apontar duas espécies de confissão:
a) simples, na qual o réu apenas reconhece a prática delituosa, sem qualquer elemento
novo;
b) qualificada, em que o réu reconhece que praticou o crime, mas alega algo em seu
favor, como alguma causa excludente de ilicitude ou de culpabilidade.

PERGUNTAS AO OFENDIDO

Perguntas ao ofendido (art. 201 do CPP)


Sempre que possível o juiz deverá proceder à oitiva do ofendido, por ser ele pessoa
apta, em muitos casos, a fornecer informações essenciais em relação ao fato criminoso.
Regularmente intimado, se não comparecer poderá ser conduzido coercitivamente.
Será ele indagado sobre as circunstâncias da infração, se sabe quem é o autor e quais
as provas que pode indicar.
Nos termos do Código, o ofendido será comunicado dos atos processuais relativos ao
ingresso e à saída do acusado da prisão, à designação de data para audiência e à sentença e
respectivos acórdãos que a mantenham ou modifiquem (art. 201, § 2º, do CPP). Referida
comunicação será feita no endereço por ele indicado, ou, se for sua opção, por meio eletrônico
(art. 201, § 3º, do CPP).

TESTEMUNHAS

Testemunhas (arts. 202 a 225 do CPP).


São as pessoas estranhas à relação jurídica processual, que narram fatos de que tenham
conhecimento, acerca do objeto da causa.
São características da prova testemunhal:
a) oralidade: o depoimento é oral, não pode ser trazido por escrito, muito embora a lei
permita a consulta a apontamentos, conforme o art. 204 do CPP;
b) objetividade: a testemunha deve responder o que sabe a respeito dos fatos, sendo-
lhe vedado emitir sua opinião a respeito da causa;
c) retrospectividade: a testemunha depõe sobre fatos já ocorridos e não faz previsões.
Estabelece o art. 202 do Código de Processo Penal que toda pessoa poderá ser
testemunha. A essa regra geral, porém, correspondem algumas exceções. Estão dispensados
de depor, o cônjuge, o ascendente, o descendente e os afins em linha reta do réu. Eles só serão
obrigados a depor caso não seja possível, por outro modo, obter-se a prova (art. 206 do CPP).
Neste caso, não se tomará deles o compromisso de dizer a verdade; eles serão ouvidos
como informantes do Juízo. Também não se tomará o compromisso dos doentes mentais e das
pessoas menores de 14 anos, conforme disposto no art. 208 do Código de Processo Penal.
Estão proibidas de depor as pessoas que devam guardar sigilo em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pelo interessado, quiserem dar seu
depoimento (art. 207 do CPP). Tecnicamente, testemunha é aquela pessoa que faz a
promessa, sob o comando do juiz, de dizer a verdade sobre aquilo que lhe for perguntado, ou
seja, a que assume o compromisso de dizer a verdade, sob pena de ser processada pelo crime
de falso testemunho.

RECONHECIMENTO DE PESSOAS E COISAS

Reconhecimento de pessoas e coisas (arts. 226 a 228)


“É o ato pelo qual uma pessoa admite e afirma como certa a identidade de outra ou a
qualidade de uma coisa” (NUCCI). Procedimento: primeiro, a pessoa que vai fazer o
reconhecimento deve descrever a pessoa que será reconhecida. Esta será, então, se possível,
colocada ao lado de outras que, com ela, tenham semelhança, para que o reconhecedor possa
apontá-la, tomando-se cuidado, se houver receio, para que uma não veja a outra. Entende-se
que a semelhança deve ser física, não exatamente de fisionomia, o que poderia tornar
impossível a realização do ato. Se forem várias as pessoas que irão fazer o reconhecimento,
cada uma o fará em separado. Dispõe ainda a lei processual que, em Juízo ou em plenário de
julgamento, não se aplica a providência de impedir que uma pessoa veja a outra no ato do
reconhecimento.
De tudo o que se passou, lavrar-se-á termo, assinado pela autoridade, pela pessoa
chamada para efetuar o reconhecimento e por duas testemunhas. O mesmo procedimento deve
ser observado no que diz respeito e no que couber ao reconhecimento de coisas que tiverem
relação com o delito.

ACAREAÇÃO

Acareação (arts. 229 e 230 do CPP)


É o ato processual em que se colocam frente a frente duas ou mais pessoas que fizeram
declarações divergentes sobre o mesmo fato. Pode ser realizada entre acusados, entre acusado
e testemunha, entre testemunhas, entre acusado ou testemunha e vítima, ou entre vítimas.
É pressuposto essencial que as declarações já tenham sido prestadas, caso contrário
não haveria possibilidade de se verificar ponto conflitante entre elas. O art. 230 do Código de
Processo Penal dispõe sobre a acareação por carta precatória, na hipótese de um dos acareados
residir fora da Comarca processante.

DOCUMENTOS

Documentos (arts. 231 a 238 do CPP)


Nos termos do Código de Processo Penal, consideram-se documentos quaisquer
escritos, instrumentos ou papéis, públicos ou particulares (art. 232). Instrumento é o
documento constituído especificamente para servir de prova para o ato ali representado, por
exemplo, a procuração, que tem a finalidade de demonstrar a outorga de poderes.
O Código adotou o conceito de documento em sentido estrito. No sentido amplo,
podemos dizer que “é toda base materialmente disposta a concentrar e expressar um
pensamento, uma ideia ou qualquer manifestação de vontade do ser humano, que sirva para
demonstrar e provar um fato ou acontecimento juridicamente relevante” (NUCCI). De acordo
com essa interpretação, então, são considerados documentos: vídeos, fotos, CDs etc.
Os documentos podem ser:
a) públicos: aqueles formados por agente público no exercício da função. Possuem
presunção juris tantum (relativa) de autenticidade e veracidade;
b) particulares: aqueles formados por particular.
Em regra, os documentos podem ser juntados em qualquer fase do processo (art. 231
do CPP). Dispõe a lei processual, contudo, que não será permitida a juntada de documentos
no Plenário do Júri, sem comunicar à outra parte com antecedência mínima de três dias (art.
479 do CPP). Se o juiz tiver notícia da existência de documento referente a ponto relevante do
processo, providenciará a sua juntada aos autos, independentemente de requerimento das
partes. Os documentos em língua estrangeira deverão ser traduzidos por tradutor público.

INDÍCIOS E PRESUNÇÕES

Indícios (art. 239 do CPP)


Indício, na definição legal, é toda circunstância conhecida e provada, a partir da qual,
mediante raciocínio lógico, chega-se à conclusão da existência de outro fato.
Em nosso Direito, a prova indiciária tem o mesmo valor que qualquer outra. Há quem
sustente que um conjunto de fortes indícios pode levar à condenação do acusado, tendo em
vista o sistema do livre convencimento motivado do juiz.

BUSCA E APREENSÃO

Busca a Apreensão (Art. 240 CPP)


A busca pode ser pessoal ou domiciliar (art. 240, caput). A busca pessoal será realizada
quando houver fundada suspeita de que a pessoa oculte consigo arma, coisas obtidas por
meios criminosos, coisas de porte proibido ou de interesse probatório (art. 240, § 2o). A busca
domiciliar, nos termos do art. 5o, XI, da Constituição da República, à noite ou de dia, somente
poderá ser feita no caso de flagrante, desastre ou para prestar socorro e, de dia, nos casos em
que, a critério do juiz, for necessário, com o indispensável mandado judicial.
A busca domiciliar pode exigir o arrombamento de porta ou janela, e de tudo será
lavrado auto circunstanciado. Havendo apreensão de objetos que justificaram a busca, será
lavrado termo ou auto de apreensão. Pode haver, também, apreensão sem busca, se a coisa de
interesse do processo vem às mãos da autoridade sem origem determinada.

QUESTÕES

1) (TJ/PE 2013 - FCC - Juiz Substituto) Em relação à prova testemunhal, de acordo com o
Código de Processo Penal, é INCORRETO afirmar:

a) As perguntas no procedimento comum serão formuladas pelas partes diretamente à


testemunha, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação
com a causa ou importarem na repetição de outra já respondida.
b) As cartas rogatórias só serão expedidas se demonstrada previamente a sua
imprescindibilidade, arcando a parte requerente com os custos de envio.
c) O Vice-Presidente da República poderá optar pela prestação de depoimento por
escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo juiz, lhe serão
transmitidas por ofício.
d) Se o juiz verificar que a presença do réu poderá causar temor à testemunha ou ao
ofendido, de modo que prejudique a verdade do depoimento, determinará desde logo a
retirada do réu, prosseguindo na inquirição, com a presença de seu defensor.
e) A testemunha que morar fora da jurisdição do juiz será inquirida pelo juiz do lugar de
sua residência, expedindo-se, para esse fim, carta precatória, com prazo razoável, intimadas as
partes.

2) (DPE/SP 2012- FDD- Defensor Público) Provas no processo penal.

a) Suspenso o curso do processo e do prazo prescricional em razão de citação por edital,


possível a produção antecipada da prova testemunhal cujo fundamento seja o mero decurso do
tempo, haja vista que a passagem do tempo propicia um inevitável esquecimento dos fatos.
b) Desde a entrada em vigor da Constituição Federal, lícita é a prova produzida a partir
da realização de interceptação telefônica, desde que obedecidos os requisitos constitucionais,
independente de prévia existência de lei federal regulamentadora.
c) Em ação penal pública instaurada contra determinados réus é possível que, no caso da
morte de uma testemunha, a acusação obtenha uma certidão de inteiro teor do depoimento por
ela prestado em outra ação penal, que poderá ser valorada pelo juiz competente,
independentemente da participação dos acusados no processo em que a prova foi produzida.
d) O interrogatório por videoconferência, a partir do advento da lei federal no
11.900/2009, foi incorporado à legislação processual brasileira como regra a ser obedecida
pelo Poder Judiciário, a fim de reduzir os custos com o transporte dos presos provisórios,
desde que garantido o direito de entrevista prévia e reservada com o defensor.
e) Produzida prova ilícita em sede inquisitiva, as provas que dela derivarem, mesmo
que produzidas exclusivamente em fase acusatória, serão consideradas ilícitas por
derivação.

3) (Polícia Civil/CE 2012 - CESPE - Inspetor de Polícia Civil) Julgue o próximo item
relativo à prova no processo penal.
Inquirido o presidente da República como testemunha, poderá ele optar pela prestação de
depoimento por escrito, caso em que as perguntas, formuladas pelas partes e deferidas pelo
juiz, lhes serão transmitidas por ofício.

( X ) Certo ( ) Errado

BIBLIOGRAFIA

TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. – 6. Ed. Ver., atual. e
aum. – São Paulo: Saraiva, 2009.

GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo penal – 9. ed. rev. e atual. – São Paulo :
Saraiva, 2012.

GRECO, Rogério. Código Penal: comentado. 5. Ed. – Niterói, RJ: Impetus, 2011.

http://www.mapadaprova.com.br/questoes/de/direito-processual-penal/provas.

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