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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UERJ

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA CURSO DE
DOUTORADO ACADÊMICO

RELATÓRIO DE LEITURA DE TEXTO

BOURDÉ, Guy. “A Escola Metódica”. In: BOURDÉ, Guy; MARTIN, Hervé.


As Escolas Históricas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018, pp. 97-
118.

Relatório de texto apresentado à disciplina


“História política: novas perspectivas de
abordagem” como requisito parcial para
conclusão da disciplina.

Aluno: Renato Peterli Camargos

Matricula: DO2110378

Professor: Alex Varela

Rio de Janeiro

2021
SOBRE O TEXTO.

O texto faz parte de um conjunto de capítulos da obra chamada “As


Escolas Históricas”, trabalho organizado pelo próprio Guy Bourdé e também
por Hervé Martin. Esse livro traz capítulos que abordam a escrita da História ao
longo da história da humanidade, desde o nascimento da historiografia
medieval até as filosofias de Kant e outros iluministas. O livro também aborda a
História erudita e o desenvolvimento da História durante o século XIX,
chegando a historiografia do século XX e as análises marxistas e da renovação
marxista. A obra finaliza observando o estruturalismo de Michael Foucault e o
úttimo capítulo é chamado de “A dúvida sobre a História”. Este relatório aborda,
em especial, as argumentações do capítulo “A Escola Metódica”, debatido em
sala de aula (modo remoto) na disciplina “História política: novas perspectivas
de abordagem”, ministrada pelo professor Alex Varela.

De acordo com o referido capítulo, a escola metódica aparece,


manifesta-se e prolonga-se durante os períodos entre 1870 e 1940. Esse tipo
de escrita histórica pretende impôr uma investigação científica que afaste
qualquer especulação filosófica, visando atingir uma objetividade absoluta da
História. A escola metódica, também chamada por vezes como positivista
surgia em um momento de formação das unidades nacionais, não só como na
Alemanha e Itália, mas também na França.

Nesse momento, a história também tem o objetivo de reforçar o


nacionalismo e sua propaganda para construção da identidade nacional, por
isso, os historiadores positivistas participaram de algumas ações da esfera
política promovendo reformas no ensino superior e também nos manuais
escolares. Como exempplo, na França, os livros de história faziam questão de
relembrar os antigos gauleses, para reforçar o sentimento nacional, tendo-se a
ideia de uma “França eterna” e Joana d’Arc se torna um símbolo nacional, um
símbolo de resistência francesa.

Essa participação desses historiadores nos curriculos escolares também


visavam venerar o regime republicano recém atingido, ajudavam a alimentar a
propaganda nacionalista e, até mesmo, aprovavam a conquista colonial dos
países, inserindo que era o europeu o agente civilizador que levaria a ideia de
progresso para o resto do mundo. Era como uma orientação para justificar a
colonização na África e em outros lugares do mundo que era feita na época.
Segundo o capítulo em questão, o empreendedorismo colonial está sempre
coberto com o véu de uma missão civilizadora, onde os livros de História
trazem imagens e textos de europeus retirando os indígenas da barbárie e um
manual escolar da época chega mesmo a dizer “os povos indígenas são mal
civilizados, e por vezes perfeitamente selvagens”.

Outra característica muito importante da escola positivista foi a noção de


que a História era uma ciência mestra. Para tal linha de raciocínio, a História
deveria buscar se encaixar no método científico, que muito se expandiu
durante o século XIX influenciando outras disciplinas, como a Sociologia
também. Então, em meados do século XIX, a História tenta ganhar forma de
ciência, tentando apagar o papel de historiador por detrás dos textos 1. O
principal autor, a principal inspiração para essa aproximação foi Leopold Von
Ranke.

As teses de Ranke diminuíram as noções especulativas, subjetivas e


moralizadoras e fizeram avançar fórmulas científicas e objetivas (ou
positivistas). Para tal autor, a História devia se concentrar nos documentos
oficiais, pois seria através deles que se daria a verdadeira construção histórica.
Uma das principais contribuições de Ranke e do positivismo para a História é a
de que o historiador não pode julgar o passado nem instruir os seus
contemporâneos, mas simplesmente dar conta do que se passou. Ranke
também diz que a ciência positivista pode atingir a objetividade e conhecer a
verdade da História. Ele dizia que qualquer reflexão teórica chegava mesmo a
ser inútil e prejudicial.

Para atingir o objetivo de ser uma ciência neutra, a escola metódica se


utiliza dos documentos oficiais. Nesse momento de finais do século XIX, o que
são os documentos oficiais? São relatórios de governo, relatórios oficiais,
decretos, leis, cartas oficiais, etc. São documentos escritos que passaram pelo

1
Hoje em dia é aceito pela historiografia o peso do historiador na construção do passado,
observando-se características do autor para compreender como se deu a observação do
passado, diferentemente da noção da escola metódica, que entendia que o historiador não
devia ter peso na construção do passado.
crivo governamental. Até mesmo porque, esses documentos escritos eram
mesmo a principal fonte para o conhecimento do passado. Ainda não haviam
os gravadores de som, o que não estimulava as entrevistas e relatos pessoais.
Porém, essa predilação pelos documentos oficiais desencadeou uma das
principais características da escola positivista: o apreço pela história dos
grandes personagens históricos.

Durante boa parte do século XIX e início do século XX a História se


ocupou de contar o mundo através dos grandes líderes e dos grandes políticos.
Nesse momento, a História entendia que as ações, pensamentos e decisões
dos políticos tinham uma carga individual muito grande em relação ao meio.
Explicando melhor, as atitudes tomadas pelos agentes políticos se explicava
muito mais pelas suas decisões e vontades interiores do que como resultados
de forças externas sociais, fazendo com que a disciplina histórica desse muito
mais atenção a esses personagens do que aos movimentos sociais e sua
influência para a política.

CRÍTICA A ESCOLA METÓDICA.

A principal crítica em relação á escola metódica ou positivista veio,


principalmente, a partir do ano de 1929, com a Escola dos Annales. Para os
Annales, a noção de documento histórico, como somente os escritos oficiais,
limitava muito o campo histórico, o que acentuava o fato singular, do tempo
curto, dos eventos, o que, consequentemente, desmerecia as conjunturas
econômicas, sociais, culturais e, também, de profundidade, como as
características mentais de determinada sociedade, que ultrapassam séculos de
existência e que não podem ser percebidos apenas por documentos oficiais
dos governos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA.

BOURDÉ, Guy. “A Escola Metódica”. In: BOURDÉ, Guy; MARTIN,


Hervé. As Escolas Históricas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018,
pp. 97-118.

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