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Resumo: A vida é o bem mais precioso que o ser humano tem como garantia constitucional e
tem como direito social a saúde e a proteção à infância. Assim, buscou-se neste trabalho
conhecer algumas diretrizes sobre o dever de indenizar pela legislação civil vigente quando
ocorre o sofrimento fetal e a criança consegue sobreviver aos efeitos do parto. Indicou-se quais
os profissionais que fazem parte da equipe de saúde que deve acompanhar a parturiente nos
partos considerados normais e nos cirúrgicos. Em seguida, discorreu-se sobre as sequelas
apresentadas pelas crianças que se mantém com vida após os problemas durante o seu
nascimento, os quais normalmente são de ordem neurológica, psicomotoras e outras delas
decorrentes, devendo ser considerado cada caso em concreto. A reparação de danos deve ser
integral, devendo abranger os agravos materiais, morais e estéticos, conforme entendimento do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina.
Palavras-chave: Sofrimento. Fetal. Reparação. Danos. Indenização.
FETAL SUFFERING
The scope of reparation for damages to the child who
survives the problems of childbirth - some considerations.
Abstract: Life is the most precious thing that the human being has as constitutional guarantee
and has as social right the health and the protection to infancy. Thus, we sought in this work to
know some guidelines on the duty to indemnify the existing civil legislation when fetal distress
occurs and the child can survive the effects of childbirth. It was indicated which professionals
are part of the health team that should accompany the parturient in deliveries considered normal
and in the surgical ones. Then, the sequelae presented by the children who remained alive after
the problems during their birth, which are usually of a neurological, psychomotor and other
origin, are analyzed and should be considered in each case. The reparation of damages must be
integral, and must cover the material, moral and aesthetic damages, according to the
understanding of the Santa Catarina Court of Justice.
Keywords: Fetal. Repair. Damage. Indemnity.
1
Especialista em Direito Processual Civil, Direito Penal a Administração de Pessoas. Graduada em Psicologia.
bostelmam@yahoo.com
2
Pedagoga. Psicopedagoga. Mestre em Educação. claudiabromer@conection.com.br.
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1 INTRODUÇÃO
A vida é o bem mais precioso que o ser humano tem, razão pela qual é uma garantia
fundamental de todo o cidadão assegurada na Constituição Federal (BRASIL, 1988) e que tem
previsão na lei civil de resguardo da personalidade desde o nascimento com vida, retroagindo
este direito até o momento da concepção do nascituro, bem como é direito social do cidadão a
saúde e a proteção à maternidade e à infância, dentre outros.
Por sua vez, existe previsão constitucional como direito de todo cidadão o recebimento
de indenização por danos morais, materiais e à imagem. Esta matéria também está presente no
Código Civil de 2002 que disciplina o dever de reparar o dano pela prática de ato ilícito,
especificando em seu artigo 186 que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito”.
O direito à vida é uma garantia fundamental de todo cidadão brasileiro prevista no artigo
5º da Constituição Federal e quando violado é passível de indenização. De modo a corroborar
isto, o Código Civil dispõe em seu artigo 927 que “aquele que, por ato ilícito [...], causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo”, sendo para tanto considerado “ilícito aquele que, por ação
ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (artigo 186 do Código Civil).
Nesse pensar, havendo a configuração de algum ato que gere um prejuízo (dano) por
ação ou omissão de alguma pessoa e que ela tenha dado causa ao evento, resta configurada a
responsabilidade civil e surge o dever de reparar o agravo.
fim, o dano estético é “alteração morfológica do indivíduo, que, além do aleijão, abrange as
deformidades ou deformações, marcas e defeitos, ainda que mínimos, e que impliquem sob
qualquer aspecto um afeiamento da vítima, consistindo numa simples lesão desgostante ou num
permanente motivo de exposição ao ridículo ou de complexo de inferioridade [...]”. (DINIZ,
2007, p. 80).
Inicialmente, indica-se que existem dois tipos de partos, o normal/natural e o por meio
de cesariana (cirurgia). O primeiro traz consigo inúmeros benefícios para mãe e bebê por ser
“[...] próprio da fisiologia humana [...], tendo em vista que o corpo da mulher foi preparado
para tal. A maioria das parturientes e dos neonatos é capaz de atravessar de maneira saudável o
momento crítico do nascimento, sem necessidade de intervenção médica” (NASCIMENTO et
al, 2015, p. 123).
A espera pelo nascimento de um filho é algo muitas vezes planejado pela parturiente e
seu médico durante várias semanas e que no momento do parto pode resultar em situações
diferenciadas. As Diretrizes Nacionais de Assistência ao Parto Normal, do Ministério da Saúde
e publicada em 2017, trazem algumas questões importantes sobre o nascimento em hospital,
indicando quais profissionais estão diretamente ligados a este acontecimento:
Malheiros et al (2012) em sua pesquisa apontam que tanto médicos quanto enfermeiros
obstetras estão capacitados e têm autorização para assistir nos partos de risco habitual.
Ressaltam, no entanto, que os médicos têm formação mais voltada para as complicações da
gestação e do parto e situações de risco fazendo uso de tecnologias. Em conclusão à sua
pesquisa de campo, relataram que muitos profissionais da saúde desconhecem algumas nuances
de sua profissão, sendo que alguns admitiram a utilização de técnicas não recomendadas pela
Organização Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde. Diversamente, quando há durante
o pré-natal a verificação de problemas com o binômio mãe-bebê, é necessária a intervenção
médica, utilizando-se de todos os meios necessários para a preservação das duas vidas.
Ressalta-se que não será tratado o tema da violência obstétrica neste trabalho em que o
foco seria mais voltado à parturiente, apesar de ser tema bastante interligado ao sofrimento fetal
e de relevante importância.
Em muitos casos este sofrimento é implicado por uma patologia materna que ocasiona
redução na sua concentração de oxigênio sanguíneo, como, por exemplo, em um
quadro de anemia significativa, um problema respiratório ou cardíaco. Existem
também outras patologias maternas que resultam em uma irrigação placentária
ineficiente, como no caso da hipertensão arterial ou a diabetes gestacional, levando,
consequentemente, à diminuição da oxigenação fetal. Apesar de estes problemas não
apontarem alterações evidentes na oxigenação ao longo da gestação, podem ocasionar
uma insuficiência da mesma no momento do parto, em decorrência do esforço
realizado pela mãe ou quando há associado uma redução da irrigação placentária
durante as contrações uterinas. Além disso, problemas ocorridos no momento do
parto, como placenta prévia e o descolamento prematuro da placenta, podem resultar
em problemas mais severos na oxigenação do feto.
Resulta certo, assim, que o grau de consequências decorrentes do sofrimento fetal varia
de criança para criança, não havendo como indicar uma linha única de efeitos e estes devem ser
avaliados na hora de se fixar a reparação de danos para que a indenização seja integral ao
prejuízo causado ao recém-nascido.
As consequências para a criança que passou pelo sofrimento fetal e sobreviveu são das
mais diversas, sendo que depende da extensão das sequelas para se avaliar o quantum
indenizatório será fixado, pois será preciso investigar quais as necessidades que serão
enfrentadas para minorar os efeitos ocasionados a fim de garantir a reparação de danos integral
(danos materiais, morais e estéticos).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sofrimento fetal, por sua vez, é caracterizado por problemas no parto, sugerindo a
hipóxia neonatal ou a asfixia perinatal que são geradoras de inúmeras sequelas para a criança,
a qual muitas vezes terá que se adequar ao problema e ter uma sobrevida com muito cuidado e
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atenção de equipe multidisciplinar, eis que na maioria das vezes os problemas são de cunho
neurológico evoluindo para as mais diversas limitações (psicomotoras, entre outras).
Por fim, demonstrou-se com base em julgados do Tribunal de Justiça de Santa Catarina
que ocorrendo o sofrimento fetal em qualquer de suas formas, comprovando-se que ocorreram
problemas no atendimento pela equipe de saúde durante o trabalho de parto e o nascimento do
bebê e desta situação gerou consequências para a parturiente e seu filho, resta caracterizado o
dever de indenizar, devendo a abrangência da indenização ser avaliada individualmente em
cada caso concreto (danos materiais, morais e estéticos).
Resulta, assim, que a reparação de danos à criança que passa pelo sofrimento fetal
durante o parto, sobrevivendo às dificuldades enfrentadas já nas primeiras horas de vida
extrauterina, é matéria que vem ganhando força, diante dos problemas no atendimento pelas
equipes de saúde que deveriam primar pela garantia da vida.
REFERÊNCIAS
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