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Revista Latino-Americana de Psicologia Corporal 115

Ter bom humor apesar da fibromialgia


Isolda de Marilak da Silva Resumo: Falar de dor não é fácil, por isso torna-se difícil ser alegre sentindo
Campos1; tanta dor. Porém, é preciso continuar, buscando meios para sobreviver a essa
Regina Papaléo2 dor, de uma maneira mais equilibrada. Com os exercícios da bioenergética, o
portador de fibromialgia pode ter alguns momentos de alegria, por estar mais
em contato com o próprio corpo e por poder buscar o que lhe provoca alegria,
relaxando os músculos e dando a sua vida um sentido mais prazeroso, apesar
de sentir tanta dor. a terapia, medicações e exercícios de bioenergética, abre-

s
1 Especialização em
se um leque de possibilidades para uma nova condição de bem estar.

re
Psicopedagogia pela
Possíveis momentos de alegria, cuidando do corpo, energizando e limpando-
Faculdade de Filosofia
o das toxinas do achar que não se pode ter alegria, apesar da fibromialgia.

to
Ciências e Letras de
Caruaru, Brasil. Professora
Palavras- Chave: Fibromialgia, Dor, Exercícios bioenergéticos.

au
da Associação Caruaruense
de Ensino Superior , Brasil.
2 Psicóloga.
Faculdade
Have a good mood despite fibromyalgia

s
Osman Lins. Libertas

do
Clínica-Escola.
Abstract: Talking about pain is not easy, so it is difficult to be joyful in pain.
However, we must continue seeking ways to survive this pain in a more
o
balanced way. With bioenergetic exercises, the fibromyalgia sufferer can
çã
have some moments of joy, being more in touch with his body and being able
to seek what causes him joy, relaxing the muscles and giving his life a more
va

pleasurable sense, despite to feel so much pain. Bioenergetic therapy,


medication and exercise opens up a range of possibilities for a new condition
of well-being. Possible moments of joy, taking care of the body, energizing
ro

and cleaning it from the toxins of finding that one cannot have joy despite
fibromyalgia.
ap

Keywords: Fibromyalgia, Pain, Bioenergetic exercises.


_____________________________________________________________________
ra
pa

Introdução
ão
rs

A fibromialgia é uma síndrome que proporciona ao portador da mesma


Ve

sensações de não dar conta do viver diante de tanta dor. São dores difusas espalhadas
por todo o corpo, que não aparecem em exames como o raio X, a ultrassonografia e
tantos outros, dificultando o diagnóstico em tempo hábil, para um tratamento que
diminua os sintomas. Normalmente, é um diagnóstico demorado em virtude da
necessidade de descartar, pelo médico, outras possíveis doenças. E por ser demorado

115 REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL


No. 8, p. 115-127, Outubro/2019 – ISSN 2357-9692
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esse diagnóstico, o fibromiálgico se ver pressionado a aguardar a investigação do que


ele tem, vivenciando a dor à flor da pele. Por isso, muitos portadores dessa síndrome
afirmam, quando descobrem seu diagnóstico, ser a dor da alma, não só pela espera, mas
por passarem por tantas etapas até descobrirem o que têm.
Falar de dor não é fácil, por isso torna-se difícil ser alegre sentindo tanta dor.
Porém, é preciso continuar, buscando meios para sobreviver a essa dor, de uma maneira

s
re
mais equilibrada. Dentre as possibilidades na busca por um melhor viver, a

to
bioenergética tem como objetivo “[...ajudar o indivíduo a retomar sua natureza primária

au
que se constitui na sua condição de ser livre, seu estado de ser gracioso e sua qualidade
de ser belo. ]”. (LOWEN, 1982, P. 38).

s
Com os exercícios da bioenergética, o portador de fibromialgia pode ter alguns

do
momentos de alegria, por estar mais em contato com o próprio corpo e por poder buscar
o
o que lhe provoca alegria, relaxando os músculos e dando a sua vida um sentido mais
çã

prazeroso, apesar de sentir tanta dor.


va
ro

Fibromialgia: a dor da alma.


ap
ra
pa

Sentir dores contínuas pelo corpo, sem uma causa aparente, incômodos
emocionais, falta de disposição e mau humor têm levado muitas pessoas aos
ão

consultórios médicos nos dias atuais. Na maioria das vezes, o diagnóstico é confuso e
rs

demorado para ser fechado, passando-se de médico em médico, principalmente, por


Ve

reumatologista e ortopedista, numa verdadeira peregrinação com descrédito. Diante do


aumento de pacientes com as mesmas queixas, os médicos têm buscado mais
compreensão acerca do que vem a ser isso tudo, reunindo o máximo de relatos para
melhor ajudar no diagnóstico e tratamento.
Apesar de tornar-se mais comum ouvir falar da fibromialgia, as dores difusas e
as demais queixas vêm sendo reveladas por várias pessoas ao logo do tempo, mas
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sempre eram e são associadas a outros problemas de saúde. O mais estressante e


angustiante para os pacientes ainda é a questão de não ter o que mostrar ao médico e à
sociedade, pois não se trata de algo visível ou registrado nas radiografias e exames
afins. A dor é subjetiva e leva muitos profissionais a falarem para os pacientes que tudo
está sendo aumentado pelo fator emocional, desmerecendo a cura ou a diminuição da
sua dor. Por isso, o diagnóstico ainda é confundido ou associado com a depressão ou

s
re
estresse. Desencadeada ou não pelo emocional, a dor, qualquer que seja ela, é real e,

to
exatamente por ser invisível aos olhos dos outros, agrava ainda mais o lado emocional

au
do paciente, exatamente por mexer com a credibilidade de quem relata o que sente.
Entre 1824 a 1841, muitos médicos chamaram de “fibrosite” os múltiplos

s
sintomas causados por uma inflamação nas fibras (Martinez, 1998). Porém, de lá para
cá, muitos reumatologistas começaram a discordar desse nome. A troca da
do
o
nomenclatura aconteceu mediante discussões médicas que incluíam dúvidas acerca do
çã

que vinha associado a essas dores, exatamente pelo aparecimento de outros sintomas e
va

queixas vindas dos pacientes. Em 1981, foi proposto, então, o termo fibromialgia, sendo
considerada uma síndrome e não uma doença, exatamente por ser caracterizada por um
ro

aglomerado de sintomas e sinais clínicos.


ap

“[...] junção de três termos: o latim fibra (ou tecido fibroso), o prefixo grego
ra

mio, que diz respeito aos músculos, e algia, originário do grego algos, que
significa dor. Refere-se à presença crônica de dor músculo-esquelética difusa,
pa

incluindo um segmento da coluna e múltiplos pontos dolorosos, conhecidos


por tender points. Ou seja, dói o corpo todo, sobretudo os músculos, as
articulações e os tecidos moles, que são as estruturas que suportam as
ão

articulações, como os tendões e os ligamentos, e a miofáscia (tecido


conectivo e gorduroso que envolve os músculos).” (GOLDENBERG, 2014,
rs

p. 03)
Ve

Com o passar do tempo, os médicos conseguiram cartografar os sinais e


sintomas dessa síndrome, que incluía dores musculares difusas, formigamento nas
extremidades, fadiga sem causa anterior de esforço físico, irritabilidade, podendo
apresentar enxaqueca, pernas inquietas e distúrbios do sono, distúrbios psíquicos e
intestinais funcionais, como o cólon irritável, ainda tem a rigidez matinal de curta

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duração, sensibilidade ao frio, problemas de memória e concentração, oscilações


hormonais, suor em excesso, sensação de edema, ansiedade e desadaptação sexual.
(MARTINEZ, 1998). Porém, a forma como a fibromialgia se apresenta varia de um
portador a outro e cada pessoa vai demandar um tratamento diferente, diante da
subjetividade de cada ser, bem como da sua história de vida.
Vários estudos foram feitos através de relatos de pacientes com a fibromialgia e

s
re
não houve uma causa ou causas precisas que pudessem desencadear essa síndrome.

to
Pode-se dizer que alguns fatores podem culminar nela, tais como términos de

au
relacionamentos, perdas, problemas em casa ou profissionais, bem como traumas
infantis ou acidentes, além de outras situações, podem desencadear a síndrome ou

s
agravar ainda mais os sintomas já apresentados. Porém, pode-se dizer que o gatilho

do
mais forte é o que se refere aos traumas psicológicos, exatamente por deixarem mais
o
sensível a pessoa, sendo a depressão e ansiedade comuns para os fibromiálgicos. “[...É
çã

por isso que a dor tende a parecer mais intolerável quando estamos tensos, estressados,
va

irritados, ansiosos ou deprimidos.]”. (GOLDENBERG, 2014, p. 22).


Apesar das dores, parecerem que surgem do nada, “[...decorrem de alterações no
ro

sistema nervoso central, mais especificamente nos mecanismos de percepção e


ap

modulação da dor.]”. (Goldenberg, 2014, p. 21). Havendo uma diminuição dos níveis de
ra

serotonina na medula, bem como excesso de agentes que enviam informações de dor e
pa

redução nos níveis que diminuem a mesma.


Algumas pesquisas foram realizadas nos Estados Unidos e Alemanha, com
ão

mulheres e crianças que sofreram algum tipo de abuso sexual ou físico. O interessante é
rs

que 40% das mulheres abusadas desenvolveram fibromialgia. Porém, a pesquisa da


Ve

Alemanha, conseguiu colher um resultado relevante. Várias mulheres e crianças que


foram abusadas não desenvolveram essa síndrome. Pelo contrário, apresentaram muita
resiliência, como se tivessem dado a volta por cima. Entretanto, essas mesmas pesquisas
mostraram que quase todos os fibromiálgicos tinham tido algum tipo de trauma
vivenciado antes da adolescência, levando-nos a refletir que as dores crônicas podem
ser como mananciais energéticos de dores acumuladas ao longo dos anos, onde a carga
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de dor emocional e psicológica é diretamente despejada neste corpo fibromiálgico.


Diante dessas pesquisas, realizadas ao longo do tempo, o que pode ser dito é que “Há
indícios de que os portadores de fibromialgia em geral são mais sensíveis ao estresse
psicológico e lidam pior com os problemas cotidianos”. (GOLDENBERG, 2014, p. 35),
ressaltando que as pessoas respondem de maneira diferente as diversas situações da
vida.

s
re
Para identificar essa síndrome, o profissional médico realiza o exame físico e

to
clínico, solicitando vários exames para descartar outras doenças, inclusive

au
reumatológicas. Através de exames negativos mais a avaliação clínica, o profissional
diagnostica a fibromialgia.

s
Uma vez diagnosticada, começa-se a luta pelo controle dos sintomas da

do
síndrome. Pois não há uma cura, mas uma cura funcional, que significa dizer que muitas
o
pessoas podem ter os sintomas amenizados sem que eles atrapalhem o fibromiálgico de
çã

viver e de ter uma qualidade de vida melhor.


va
ro

Fibromialgia à luz da análise bioenergética


ap

A bioenergética foi criada por Lowen, diante de uma necessidade dele, em


ra

abranger ainda mais os meios de libertação de tudo o que pudesse aprisionar a alma no
pa

cárcere das angústias psicológicas. É ainda um meio de entender a personalidade, além


de ser uma abordagem psicoterapêutica, que une mente e corpo, pois “[... A tese
ão

fundamental da bioenergética é que corpo e mente são funcionalmente idênticos, isto é,


rs

o que ocorre na mente reflete o que está ocorrendo no corpo, e vice-versa.]”. (LOWEN,
Ve

1985, p. 11).
Lowen experimentava no próprio corpo a necessidade de expurgar o que não era
saudável e o que o impedia de ser alegre e feliz com ele mesmo, como o medo, a raiva,
a angústia, tensões emocionais que acabavam sendo cristalizadas no próprio corpo em
forma de couraças. (LOWEN, 1997). Esses exercícios foram desenvolvidos, através dos

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trabalhos terapêuticos realizados com seus pacientes, ao logo de 20 anos, tendo como
efeito intervir na energia, humor e no trabalho de cada indivíduo.

“Os exercícios se propõem a ajudar a pessoa a entrar em contato com suas


tensões e liberá-las através de movimentos apropriados. É importante saber
que todo músculo contraído está bloqueando algum movimento.” (LOWEN,
1985, p. 13)

s
re
Os exercícios não resolviam os problemas de ordem emocional, mas

to
possibilitavam o aumento da vitalidade e capacidade de vivenciar o prazer. Esses

au
exercícios de bioenergética, à medida que eram criados e vivenciados por Lowen, o
certificavam ainda mais da importância de libertar o corpo dos traumas vividos. De

s
acordo com esse objetivo, podemos dizer que os exercícios podem ajudar o portador de

do
fibromialgia a passar pelas dores difusas de uma maneira mais equilibrada e saudável,
o
apropriando-se do seu corpo e das dores sentidas nele, compreendendo seu
çã
funcionamento e respeitando seus limites. Pois “os sentimentos são a vida do corpo
assim como os pensamentos, a vida da mente.” (LOWEN, 1982, 131).
va

Aos poucos, o fibromiálgico poderá ir usufruindo dos exercícios, obtendo uma


ro

grande chance de distencionar os músculos, favorecendo a diminuição das dores,


ap

relaxando o corpo. Lowen descreve esses exercícios como uma imersão numa aventura
de autodescoberta, facilitando a compreensão do próprio corpo, aumentando o nível de
ra

energia e liberando a sua autoexpressão e restaurando o fluxo de sentimentos de seu


pa

corpo, tendo como eixo principal ajudar o indivíduo a retomar sua natureza primária que
ão

se constitui na condição de ser belo, no sentido de ser feliz. Mas, Lowen em paralelo
aos exercícios nos deixou a explanação da importância da respiração e do grounding,
rs

também criado por ele. “Na bioenergética, grounding significa fazer a pessoa entrar em
Ve

contato com o chão.” (LOWEN, 1990, p. 169). O grounding pode ser feito deitado, em
pé ou sentado. Em pé, o paciente precisa estar com a coluna alinhada, braços soltos ao
longo do corpo, pernas separadas com os joelhos alinhados à pélvis e fletidos. Sentado,
coluna alinhada e pés separados. Deitado, coluna alinhada, pernas separadas e pés com
o dedão apontando para o queixo. Estar em grounding é estar em seus próprios pés,

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ancorado, enraizado no aqui e agora. Ou seja, em contato consigo mesmo. E “Estar em


contato é um processo de sentir as contrações e tensões que bloqueiam o fluxo de
excitação e sentimento. Apenas sentindo a tensão é que a pessoa pode liberá-la.”
(LOWEN, p. 1985, p. 66). Outro recurso é a respiração longa e profunda que alinhada
com o grounding vai proporcionar um alívio imediato, pelo menos da ansiedade gerada
diante das dores. Além da respiração e do grounding, ainda tem o banco de

s
re
bioenergética, criado por Lowen.

to
“O banco de bioenergética usado agora é uma adaptação do banco de madeira

au
para cozinha usado originalmente. Um ou dois cobertores enrolados são
amarrados ao banco. Nós usamos cobertores de exército porque, enrolados,
ficam mais firmes. O banco tem 60 cm de altura e os cobertores enrolados

s
acrescentam outros 15 ou 20 cm. Como sua versão original, o banco tem as

do
pernas abertas e ligadas por cruzetas que dão uma base sólida e larga.”
(LOWEN, 1985, p. 147)
o
çã
Os exercícios com o banco ajudam no trabalho corporal a colocar para fora
sentimentos reprimidos guardados como a tristeza, a raiva, o medo, além de alongar os
va

músculos contraídos das costas. “[...Ajuda a respirar mais profundamente sem se fazer
ro

um grande esforço consciente.]”. (LOWEN, 1985, p. 147). Lowen trabalhava de várias


ap

maneiras com o banco.


ra

“[…O exercício básico é deitar-se com as costas sobre o banco, com o rolo
pa

de cobertores no nível da parte inferior das omoplatas, na mesma linha dos


mamilos. Este nível está perto de onde os brônquios (duto aéreo) se dividem
em dois ramos, cada um dirigindo-se para um dos pulmões. É uma área de
ão

constrições severas, na maioria das pessoas. Ao deitar-se no banco, a pessoa


estica os braços para trás, alcançando com as mãos uma cadeira colocada
logo atrás do banco.]” (LOWEN, 1985, p.148)
rs
Ve

O banco de respiração, por ser um facilitador natural de uma respiração


espontânea e profunda, ajuda a liberar toda a tensão e sentimentos negativos advindos
de situações traumáticas do passado, acarretando para o fibromiálgico um alívio nas
dores das costas. É importante salientar que no início dos exercícios as dores podem
acontecer de forma muito incômoda, mas oferecendo alívio com o passar do tempo.

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“Se conseguir relaxar sobre o banco, isto se tornará uma experiência de


meditação corporal. Você sentirá sua respiração como uma função
espontânea do corpo, e poderá se tornar consciente de outros movimentos
involuntários. Quando isso ocorrer, o banco estará funcionando para você.”
(LOWEN, 1985, p. 157)

O banco, a respiração e o grounding podem ser vistos como canais de expressão

s
de dor ou alegria, tensão ou angústia, tristeza ou raiva, medo ou pavor para todas as

re
pessoas, principalmente para as pessoas portadoras de fibromialgia, exatamente por

to
ajudar a melhorar as tensões musculares que provocam dores intensas e que atrapalham

au
ou impedem as expressões corporais espontâneas que revelam saúde e bem-estar. Por

s
isso, Lowen criou vários exercícios, todos com o mesmo objetivo, ajudar o paciente a

do
viver melhor com o seu corpo. o
“[... A prática regular do exercício, entretanto, ajuda bastante no sentido de
çã
manter a pessoa em contato com seu corpo, de fazê-la sentir seus distúrbios,
compreendendo-lhes o significado. Além disso, ajuda-a a manter a sensação
va

de harmonia com o universo, uma vez que realmente a tenha alcançado.]”


(LOWEN, 1982, p. 71).
ro
ap

Os exercícios e a terapia não vão curar o fibromiálgico, mas poderão servir para
entender inibições, bloqueios inconscientes, experiências infantis dolorosas e algumas
ra

dores, que aparentemente não apresentam uma causa atual, mas que estão manifestas no
pa

corpo em forma de cristais densos e pesados criados como mecanismos de proteção,


diante de abandonos emocionais e tantas outras faltas ou excessos invasivos. Esse
ão

adulto, portador de fibromialgia, poderá entender os vários porquês, aceitando e


rs

expressando sentimentos que foram reprimidos, dando uma nova roupagem ao seu
Ve

existir e ser.

Qualidade de vida: o corpo do fibromiálgico

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A palavra alegria vem do latim alacritas ou alacer, que significa animado, vivaz,
contente. A alegria pode ser sentida de várias maneiras e expressas de diferentes modos.
Ela tem como base a liberdade que permite a expressão desse sentimento, contrário à
tristeza. É difícil ver uma pessoa que se diz alegre mostrando um semblante quieto e
apático. Torna-se perceptível a alegria, exatamente pelas expressões eufóricas, variando
apenas a intensidade de acordo com a subjetividade e jeito de ser de cada pessoa. Esse

s
re
sentimento permite ao corpo uma sensação de prazer e leveza, favorecendo o

to
relaxamento dos músculos, bem como o aflorar de outros sentimentos benéficos para

au
uma vida mais saudável.

s
“A tensão muscular crônica é o lado físico da culpa, porque representa as

do
injunções do ego contra certos sentimentos e atos. Alguns indivíduos que
sofrem de tais tensões crônicas efetivamente sentem sua culpa, mas a maioria
não tem consciência de sentir-se culpada nem do motivo de sua culpa.
o
Efetivamente, a culpa é o sentimento de não ter o direito de ser livre, de fazer
çã
o que se quer. De modo geral, é a sensação de não estar à vontade em seu
próprio corpo, de não se sentir bem.” LOWEN, 1997, p. 22)
va
ro

E, esse não se sentir bem aprisiona o indivíduo dentro de si, e um indivíduo


encarcerado em si apresenta mais tensão e enrijecimento dos próprios sentimentos,
ap

provocando nesse mesmo corpo mais dor. Para o fibromiálgico esse processo se torna
ra

ainda mais doloroso em virtude da sua sensibilidade à dor, demonstrando menos


pa

tolerância às situações cotidianas, fazendo com que o estresse emocional perdure por
mais tempo. Diante disso, ressalta-se a necessidade de buscar meios que favoreçam a
ão

diminuição dessa tensão. Pois, “[...As emoções positivas, como alegria e felicidade,
rs

tendem a diminuir o desconforto da dor, e as negativas, como tristeza e infelicidade,


podem aumentar esse incômodo.]”. (CUSTÓDIO, 2019, 17).
Ve

A fibromialgia não tem cura, mas pode acontecer a diminuição dos vários
sintomas apresentados, como a insônia, a falta de concentração, irritação, enxaqueca
dentre outros, através de exercícios físicos, escolhidos de acordo com a preferência do
paciente, dietas e medicamentos, como duloxetina, especialmente quando há depressão
associada. Tem também a pregabalina e a gabapentina que são os mais usados, atuando
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de maneira mais invasiva, diminuindo os sintomas da ansiedade e acessos de mau


humor, deixando o fibromiálgico mais receptivo aos exercícios físicos, possibilitando
mais conforto. Além de tudo isso, tem a psicoterapia que busca ajudar a pessoa a ter sua
espontaneidade de uma forma mais expressiva e menos dolorosa, facilitando o
autoconhecimento e o reencontro consigo mesma, numa proposta de diminuir tensões
emocionais através do aprender a lidar com as situações diárias.

s
re
Ser alegre não é algo impossível, uma vez que,

to
“Uma pessoa saudável se sente bem, a maioria do tempo, com as coisas que

au
faz, seus relacionamentos, seu trabalho, sua recreação e seus movimentos.
Ocasionalmente, seu prazer alcança a alegria e pode mesmo chegar ao êxtase.

s
Ocasionalmente, também experimentará dor, tristeza, desgosto e
desapontamento. Contudo não ficará deprimida.” (LOWEN, 1983, p. 17 e 18)

do
Mas, onde encontrar alegria, se nem mesmo disposição se tem? É preciso
o
çã
perceber que é um conjunto e que tudo está interligado. É importante o fibromiálgico
querer a melhora, fazendo o possível para não se enclausurar dentro de si, negando a se
va

levantar como medo de um novo sofrer. Levantar, se esforçar é preciso, buscando


ro

alegria seja na observação do céu ao caminhar, sentindo o vento em seu rosto. Ou


ap

apenas respirando e sentindo que se está vivo. Por isso, a urgência em se conhecer, para
poder identificar o que lhe apraz e o que lhe dá prazer, para então escolher o que é
ra

possível dentro do real para o seu viver.


pa
ão

Conclusão poética
rs
Ve

A dor para a pessoa portadora de fibromialgia é desafiadora a cada dia,


exatamente por oferecer momentos tensos e desanimadores, provocando tristeza e
aumentando ainda mais a sensação de impotência de cuidar de si para extinguir a dor.
Causas emocionais, psicológicas ou físicas caminham ao lado de uma necessidade de
ser feliz, de ter alegria, pelo menos por alguns instantes. Torna-se desafiador ter que

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levantar e sorrir, na incerteza de qual pedaço de si vai doer mais. Porém, com a terapia,
medicações e exercícios de bioenergética, abre-se um leque de possibilidades para uma
nova condição de bem estar. Possíveis momentos de alegria, cuidando do corpo,
energizando e limpando-o das toxinas do achar que não se pode ter alegria, apesar da
fibromialgia.
Poema dedicado a todas as pessoas portadoras de fibromialgia.

s
re
to
Oh Fibromialgia Alguém me ajude por favor

au
Grito de dor e agonia
Fibromialgia quem é você? O que fazer da minha vida
Dor aguda ou crônica Se não consigo mostrar

s
do
De partes moles ou duras A causa de tanto sofrer
Que se esconde do doutor Que atrapalha a minha lida.
Não querendo aparecer
o
Mas que teima em doer. Fibromialgia, fibromialgia
çã

O que fazer com você?


va

Você me tira o sono Hoje, depois de pesquisas,


Faz pressão na minha cabeça Uns tantos se apiedaram de nós,
ro

E nunca me deixa esquecer Fibromiágicos em questão


ap

Que sofro por causa de você. Um bom relato e apalpação


Com o polegar nos pontos de dor
Fadiga, insônia, dores musculares,
ra

Dor difundida. Grito e revelo sem alegria:


pa

Antes, eras fibrosite Ela está aqui.


Hoje, dor nas fibras. Oh fibromialgia
ão

Que não me deixa esquecer


Como lhe achar? Que preciso cuidar de mim
rs

Não aguento mais você E voltar a viver.


Ve

Dói tudo em mim,


Nem consigo dormir Socorro, por favor
Qualidade de vida nem sei como ter. Me salve doutor
Amor quase nem faço Diminua essa dor
Alguém me ajude a vencer Me ensine a ter alegria
Quero voltar a viver Quero viver melhor
Sorrir de alegria Já nem precisa curar

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Sentir minha vida Mas me orientar


Podendo de novo, eu ser. A melhor me cuidar.

Meu corpo é só inflamação Duloxetina, pregabalina


Como explicar a quem perguntar Amei lhes conhecer
Que a dor me acompanha todo dia Elevem minha serotonina
Fazendo doer até meu coração. Para eu ir à terapia

s
E melhor me conhecer

re
Bom humor não consigo ter Que a bioenergética

to
Força para trabalhar nem pensar Me ensine a respirar sem sofrer
Exercícios me cansam Provocando em mim mais saúde

au
Vou enlouquecer. Buscando não adoecer.
Eis a minha sina.

s
do
o
çã
Referências
va

CUSTÓDIO, Michele. De onde vem? Conhecidas como doenças reumáticas, a


ro

osteoporose e a fibromialgia podem ser motivadas por fatores físicos, externos e até
emocionais. Revista cuide da sua saúde, São Paulo, ano 02, n. 04, 2019.
ap

EDITORA REALIZE. Fenômeno subjetivo da dor e a síndrome da fibromialgia.


ra

Disponível em: <https://editorarealize.com.br/.../TRABALHO_EV071_MD1


_SA13_ID2008_1405201>. Acesso em: 22.09.2019.
pa

GOLDENBERG, Evelin. O Coraçao sente, o corpo dói. Atheneu, 2014.


ão

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