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Parecer n.

º 63/2020
Processo n.º 108/2020
Queixa de: A, advogado
Entidade requerida: Presidente da Câmara Municipal de Lamego

I – Factos e pedido
1. A., advogado, solicitou ao Presidente da Câmara de Lamego, ao abrigo dos
artigos 82.º a 85.º do Código do Procedimento Administrativo e do artigo
74.º, n.º 1, do Estatuto da Ordem dos Advogados a emissão de uma
certidão referente a documentos de um determinado procedimento
administrativo com a finalidade de instruir processo judicial.
2. Não tendo obtido resposta, apresentou queixa à Comissão de Acesso aos
Documentos Administrativos (CADA). Na queixa, refere que se trata de
processo arquivado.
3. Convidada a pronunciar-se, a entidade disse:
- “Quanto ao primeiro dos fundamentos: as normas dos artigos 82° a 85°
do CPA. - O disposto nos artigos 82.° a 85.° do CPA regula o direito do
interessado, do titular de interesse legítimo, à informação. - A noção de
interessado tem por referência um determinado procedimento e define-se
de acordo com a noção legal de legitimidade procedimental constante do
artigo 68.° do CPA; O titular de interesse legítimo vem definido no artigo
85.° do CPA. - Quando se invoca, para o acesso à informação, o disposto
em tais normas do Código de Procedimento Administrativo, é
indispensável a invocação e prova dessa condição de interessado ou seja,
a demonstração da legitimidade processual por referência a uma qualquer
das previsões constantes de tal artigo 68.° do CPA, ou a demonstração
documental da titularidade de interesse legítimo, como impõe o artigo
85.°, n.° 2, do CPA.
- Ora, o requerimento em apreço não preenche nenhum desses requisitos.
- Quanto ao segundo dos fundamentos: “se for o caso”, o artigo 74.°, n.°
1, da Lei n.° 15/2005. - É ao requerente que cabe saber ‘se é o caso”,
inexistindo qualquer dever de oficiosamente suprir a indefinição do
Requerente.
- Por outro lado, a norma legal invocada encontra-se revogada.
Face ao exposto, não nos foi possível deferir o pedido do requerente (…).”
II – Apreciação jurídica
1. Nos termos do artigo 1.º, n.º 4, alínea a), da Lei n.º 26/2016, de 22 de
agosto (LADA) “A presente lei não prejudica a aplicação do disposto em
legislação específica, designadamente quanto: Ao regime de exercício do
direito dos cidadãos a serem informados pela Administração Pública sobre
o andamento dos processos em que sejam directamente interessados e a
conhecer as resoluções definitivas que sobre eles forem tomadas, que se
rege pelo Código do Procedimento Administrativo”.
2. Assim, se o procedimento estiver em curso, aplica-se o Código do
Procedimento Administrativo. A não ser que os documentos tenham sido
elaborados há mais de um ano, pois, nesse caso, aplica-se a LADA (artigo
6.º, n.º 3, no final).
3. Se se tratar efectivamente de um procedimento já findo, como alega o
requerente, na queixa, aplica-se a LADA. E nessa circunstância não é
decisivo que o requerente não a tenha invocado, antes só tenha invocado
o CPA. Se estiver preenchida a previsão de aplicação da LADA, assim
deverá ser feito.
4. De acordo com o artigo 3.º, n.º 1, alínea a), da LADA, “Documento
administrativo” é “qualquer conteúdo, ou parte desse conteúdo, que
esteja na posse ou seja detido em nome dos órgãos e entidades referidas
no artigo seguinte, seja o suporte de informação sob forma escrita, visual,
sonora, electrónica ou outra forma material, neles se incluindo,
designadamente, aqueles relativos a: i) Procedimentos de emissão de atos
e regulamentos administrativos.”
5. A regra em relação a estes documentos consta no artigo 5.º, n.º 1, da
LADA: “Todos, sem necessidade de enunciar qualquer interesse, têm
direito de acesso aos documentos administrativos, o qual compreende os
direitos de consulta, de reprodução e de informação sobre a sua
existência e conteúdo.”
6. Existem restrições ao direito de acesso que são as que constam no artigo
6.º.
7. Os documentos administrativos sujeitos a restrições de acesso são objecto
de comunicação parcial sempre que seja possível expurgar a informação
relativa à matéria reservada (artigo 6.º, n.º 8 da LADA).

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Proc. n.º 108/2020
8. O requerente também invoca o artigo 74.º, n.º 1, do Estatuto da Ordem
dos Advogados, agora artigo 79.º, n.º 1, (Lei 145/2015, de 9 de Setembro),
com o mesmo texto da versão anterior: “No exercício da sua profissão, o
advogado tem o direito de solicitar em qualquer tribunal ou repartição
pública o exame de processos, livros ou documentos que não tenham
caráter reservado ou secreto, bem como de requerer, oralmente ou por
escrito, que lhe sejam fornecidas fotocópias ou passadas certidões, sem
necessidade de exibir procuração.”
9. Esta norma do Estatuto da Ordem dos Advogados só permite o acesso aos
documentos sem restrições.
10. Se houver documentos nominativos, o advogado deverá apresentar
procuração e preencher os pressupostos previstos no artigo 6.º, n.º 5 e n.º
9 da LADA (este n.º 9 introduzido pelo artigo 65.º da Lei n.º 58/2019, de 8
de agosto).
11. De outro modo, um advogado, como qualquer outro requerente, poderá
ter acesso aos documentos pretendidos, se estes forem de livre acesso. Se
existirem dados pessoais devem ser expurgados nessa parte.
12. A entidade aquando da pronúncia não fez alusão à existência de qualquer
documento nominativo, e ela não pode ser presumida, sendo que as
razões de recusa têm de ser explicitadas.
13. Assim, se se tratar de processo findo, deverá a entidade requerida facultar
o acesso, ou, se for o caso, da existência de dados sujeitos a restrição de
acesso, facultar parcialmente o acesso, nos termos do referido artigo 6.º,
n.º 8, da LADA. Em qualquer caso, a recusa deverá ser justificada.
14. Na circunstância presente deverá a entidade, recebido este parecer
(relatório), comunicar ao requerente a sua decisão final fundamentada,
nos termos do artigo 16.º, n.º 5 da LADA.

III – Conclusão
Devem ser facultados os documentos de livre acesso, expurgados de
dados sujeitos a restrição de acesso, se existirem.

Comunique-se.

Lisboa, 21 de abril de 2020.

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Proc. n.º 108/2020
Carlos Abreu Amorim (Relator) - João Miranda - Fernanda Maçãs -
Antero Rôlo - Renato Gonçalves - Paulo Braga - João Perry da Câmara -
Pedro Mourão - Alberto Oliveira (Presidente)

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