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A SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO DO BIODIESEL DA MAMONA E O

PAPEL DOS AGRICULTORES FAMILIARES NO NORDESTE

Edilene Dias Santos

Lohany Evelyn Marinho Dias

Resumo: Diante da importância da questão energética em função do caráter finito das


reservas petrolíferas, e à necessidade da criação de alternativas sustentáveis de
desenvolvimento, as pesquisas no mundo voltam-se a estudos de utilização de fontes
alternativas de energia e combustível. Aqui, procurou-se mostrar a produção do
biodiesel da mamona e a importância da agricultura familiar nesta atividade,
identificando assim a mamona como alternativa sustentável e fundamental para os
pequenos produtores da Paraíba, procurando mostrar esta oleaginosa nas perspectivas
social, econômica e ambiental.
Palavras-chave: Mamona; Sustentabilidade; Agricultura familiar.

Introdução
A dependência da energia fóssil está em todas as atividades do homem. Na
agricultura essa dependência é mais nítida ainda devido à utilização de diversos
equipamentos e insumos. Mas parece inexorável o esgotamento do capital de recursos
energéticos atualmente conhecidos, pois ainda não surgiram fontes alternativas viáveis
suficientes para substituir, nos montantes necessários, a energia que se esgota. Dado o
estado avançado da degradação feita pelo homem, é fundamental que a humanidade
passe a usar, de forma mais prudente, os recursos naturais e finitos do globo terrestre.
Diante de tais constatações pode-se observar mudanças ao longo da história no
desenvolvimento tecnológico da agricultura, constata-se que o seu desenvolvimento
acelerou-se a partir de 1940, com inovações que iam de venenos químicos, para o
controle de pragas, ervas daninhas, fertilizantes, máquinas agrícolas, sementes e mais
recentemente a biotecnologia, que permitiu a produção de novas variedades animais e
vegetais.
Tais transformações caracterizam um exemplo de modelo agrícola químico-
mecânico genético que, através da difusão internacional que ocorreu a partir dos anos
60, provocou mudanças na produtividade agrícola mais rápidas e profundas que em toda
a história da humanidade.

Em se tratando do Brasil, a “modernização conservadora” passou a difundir-se


também nos anos 60, quando apareceram condições políticas mais favoráveis à
implantação deste modelo agrícola. Este modelo trouxe consigo altas taxas de
produtividade que em contrapartida acarretaram graves conseqüências socioeconômicas,
tais como o agravamento da pobreza, êxodo rural, proletarização e crescimento
descontrolado das grandes cidades.

Entretanto, somente em anos recentes vem se reconhecendo o impacto ambiental


desse tipo de desenvolvimento, o qual trouxe deterioração dos solos produtivos,
devastação das florestas, desertificação dos solos e contaminação das vertentes hídricas.
Foi assim que, em contrapartida a esses modelos de exploração dos recursos naturais,
surge a preocupação com a sustentabilidade que, no caso da agricultura, vincula-se à
estratégia de desenvolvimento global, que nos anos 70 e parte dos 80 foi chamado de
eco desenvolvimento. Mais recentemente, passou a ser chamado de desenvolvimento
sustentável, cuja estratégia visa sobretudo garantir a satisfação das necessidades atuais,
sem comprometer as possibilidades das gerações futuras de atender também as suas
necessidades, o que para ser viabilizado necessitaria de processos de mudanças
englobando a exploração dos recursos naturais, a orientação dos investimentos, os
rumos do desenvolvimento tecnológico e as estruturas institucionais.

Atualmente a necessidade de envolver sustentabilidade e alternativas sociais e


econômicas são extremamente urgentes. A partir disto o Brasil lança o Programa
Nacional de Produção do Biodiesel, com motivações ambientais que busca a geração de
renda para a população carente envolvida com a agricultura familiar, através da
produção da mamona.
A mamona (Ricinus communis L.) pertence à família Euforbiácea, que engloba
vasto número de tipos de plantas nativas da região tropical. É uma planta de hábito
arbustivo, com diversas colorações de caule, folhas e racemos, podendo ou não possuir
cera no caule e pecíolo. O óleo da mamona, extraído pela prensagem das sementes,
contém 90% de ácido graxo ricinoléico, o que confere ao mesmo características
singulares, possibilitando ampla utilização industrial (SAVY FILHO, 2005).

Metodologia

Para a elaboração deste trabalho foram utilizadas referencias bibliográficas como


: livros, teses de dissertação, artigos e sites específicos da área. Também foram feitas
algumas visitas a Embrapa-CG e obtidas informações com alguns pesquisadores locais.
Os autores e pesquisadores tem suas obras voltadas a inovação, sustentabilidade,
mamona e biodiesel. A escolha do material foi feita buscando aperfeiçoamento e
melhores resultados da pesquisa.

Resultados e discussão

O biodiesel não dever ser analisado apenas como uma fonte alternativa de
energia, mas analisado num contexto socioeconômico e ambiental. Sachs destaca que os
biocombustíveis representam uma oportunidade para um novo momento de
desenvolvimento rural, e que poderiam contribuir para a construção de uma sociedade
moderna baseada em biomassa, que pode ser também sustentável e permitir a inclusão
social(SACHS, 2005, p.5-6).A política do biodiesel expõe o objetivo de promover a
inclusão social de agricultores familiares.

A inclusão e promoção dos agricultores familiares está expressa na política do


biodiesel, porém existem entraves a esta inclusão e promoção. Como foi explicitado
anteriormente, o PNPB oferece estímulos fiscais a produtores de biodiesel que tenha o
Selo Combustível Social. Um relatório do MDA de 2006 mostrou que 40.000,00
agricultores familiares estavam produzindo oleaginosas para biodiesel, e a maioria no
Nordeste do País, neste mesmo ano, e a meta para o ano seguinte era de 205.000
agricultores envolvidos, meta esta que não foi atingida, pois em 2007 o MDA produziu
um outro relatório onde apenas 63,481 famílias estavam inseridas no processo do
PNPB. Também um estudo feito por pesquisadores da USP, também em 2006
explicitou que 60.000 famílias participarão da produção de B5 1, meta esta para o ano de
2013(MELLO et al. 2007, p. 32).

1
Ver Soares 2007, p.7.
O PRONAF, programa nacional de agricultura familiar também não está sendo
aplicado de maneira abrangente. No ano de 2006 apenas 180 agricultores familiares
estavam sendo beneficiados com os programas e políticas atuais, e outro ponto que deve
ser enfatizado é a formal com a qual tais produtores estavam participando do PNPB,
onde os mesmos estavam sendo tratados como meros produtores de grãos e as políticas
na verdade incentivavam os grandes produtores de biodiesel (BERMAN, 2007, p. 39).

Um outro aspecto importante é a questão do desenvolvimento regional,


principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Semi-árido do país. Pode-se levar em
consideração para esta análise o IDH (ver gráfico), onde mostra o Nordeste em último
lugar entre todas as regiões.

Gráfico 1- Desenvolvimento regional do país segundo IDH

Fonte: IBGE 2004

A busca por aumento de produtividade no setor agrícola é um estímulo


importante para o surgimento de novas bases de conhecimento, destacando o papel do
desenvolvimento científico e tecnológico para a produção agropecuária, agrícola e agro
industrial. A partir de tais iniciativas procura-se diminuir os diversos problemas como o
esvaziamento e o empobrecimento da sua população e concentração de renda. As
políticas federais e estaduais já citadas acima mostram a relevância dos agricultores
familiares na produção brasileira e as iniciativas que visam um melhor aproveitamento e
direcionamento desta particular agricultura.

Além disso a viabilidade econômica da Mamona é indiscutível entre os


especialistas, dos setores empresarial, governamental e acadêmico, de maneira geral
concordam, que em um estágio inicial, a produção de mamona deve estar direcionada
para a comercialização de óleo bruto, atendendo primeiramente a pequena demanda
interna e em seguida o mercado externo, pois esta oleaginosa proporciona uma
oportunidade de exploração sustentável de novas áreas de cultivo e a criação de
empregos no campo e na cidade.
Embora no Brasil esteja caracterizado um mercado oligopsônico para o óleo de
mamona, onde um pequeno excesso de oferta pode causar uma grande queda nos
preços, o mesmo não se pode dizer do mercado internacional, que é ditado por uma
série de fatores, os quais fizeram o preço se elevar desde 2004, devido principalmente à
redução da safra americana de soja e o crescente aumento da importação de oleaginosas
pela China.
A mamona hoje é considerada pelo governo como uma planta de excelente
potencial e está incentivando seu plantio, principalmente nas regiões carentes do Brasil.
O governo brasileiro tornou-se um dos maiores divulgadores e promotores dessa
cultura, ao sinalizar que essa deve ser a principal oleaginosa no processo de substituição
do diesel brasileiro. O governo se propõe a realizar um programa de grande benefício
social, assegurando uma contínua fonte de renda para as famílias consideradas à
margem do processo de desenvolvimento econômico do país.

O Brasil conseguiu alcançar uma grande recuperação da produção nacional de


mamona em relação às safras dos últimos dez anos. Mas o governo pretende aumentar
consideravelmente estes dados. O produtor é peça fundamental no programa de
incentivo ao biodiesel, e o governo tenta incentivá-lo com políticas de preço mínimo e
contratos de longo prazo, que ainda não funcionam como desejado, em função do baixo
preço mínimo estabelecido e por algumas empresas privadas, que como dito acima, às
vezes não chegam a cobrir os gastos do produtor. O fator principal de incentivo ao
agricultor é estabelecer unidades esmagadoras diretamente ligadas aos produtores
familiares.
Considerações
De maneira bastante satisfatória a mamona tem se mostrado a oleaginosa que
mais se adapta às necessidades do solo nordestino e às culturas desenvolvidas por
pesquisadores, por suas características químicas aqui já demonstradas. Tanto é que em
abril deste ano foi considerada pelo Ministério da Agricultura a oleaginosa que mais se
adéqua às condições climáticas do Nordeste e a número um em incentivos ao
desenvolvimento do biodiesel.
Notadamente o governo tem feito esforços, através dos programas federais, que
incentivam os pequenos produtores e, especificamente os agricultores familiares, devido
à sua grande importância e representatividade social e econômica. Porém, a
comercialização da mamona ainda é um entrave ao desenvolvimento do pequeno
produtor. As cooperativas ainda precisam de maiores incentivos, sejam financeiros ou
didáticos.Analisando o biodiesel sob as diversas dimensões pode-se dizer que tal
alternativa configura uma medida de desenvolvimento sustentável, seja por gerar
inclusão social, ou por emitir menos poluentes que o diesel de petróleo.

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