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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

SECRETARIA DA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

PÓS-GRADUAÇÃO EM FMÍLIA E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA


DERMEVAL DO NASCIMENTO FILHO

O AMOR NA ERA DIGITAL

SALVADOR
2020
UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR

DERMEVAL DO NASCIMENTO FILHO

O AMOR NA ERA DIGITAL

Trabalho apresentado à disciplina Filosofia da Pessoa e


da Família do curso de Pós Graduação em Família e
Sociedade Contemporânea da Universidade Católica do
Salvador (UCSAL). Disciplina ministrada pelo Professor
Rafael Fornasier.

SALVADOR
2020
Para abordar a temática do amor na modernidade é importante relatar do quanto que a
sociedade e a família se modificou nos últimos anos e foi influenciada por diversos fatores,
como por exemplo, mudanças como a entrada da mulher no mercado de trabalho, as uniões
homoafeitvas; o uso da pílula anticoncepcional; o recasamento, adoção, crianças sendo
criadas por avós, pai/mães solteiros. Essas e outras transformações em que a sociedade
vivenciou/ vivencia modifica o contexto familiar. O amor permeia todas as relações, pois pode
se falar de amor à nação, ao trabalho, amigos, família, o amor ao próximo e a Deus e ele é
primordial para tornar a relação mais humanizada.
Na medida em que a sociedade foi evoluindo, relações familiares também se modificaram,
pois não se fala abertamente sobre o amor no âmbito familiar, e percebe-se o quanto que as
pessoas estão ocupadas e menos presentes na relação com o outro; e é a partir dessa falta
de comunicação que surgem os conflitos.
Segundo Anton (2020), identificar, reconhecer, aceitar e legitimar, expressar sentimentos
e emoções é uma arte e facilita tudo. Na relação entre os membros da família é fundamental
expressar os sentimentos e exercer a comunicação de forma assertiva e dialógica.
Para Boturi (2009) a força do amor, vivida como forma singular de existência está, de fato,
na íntima convicção de que tem em si mesmo sua razão enquanto modo excelente de livre
vontade. Ele aborda o fato da transição do amor, e que este não fique a mercê da
espontaneidade e o grau de reflexividade, pois o sentimento é diferente da emoção.
Os autores afirmam o quanto é importante utilizar a clareza diante das relações devido a
erros de comunicação existentes no espaço relacional. Na contemporaneidade não existe
mais espaço para expressar os sentimentos, pois muitos confundem, por exemplo, a tristeza
como sinônimo de fraqueza, e a raiva como algo proibido na sociedade; por isso observa-se o
quanto que as pessoas sentem-se “perdidas” ao expressar o amor. Observa-se também na
sociedade uma certa dificuldade em comprometer-se com o outro devido a liquidez das
relações como afirma Baumam. Observa-se nas relações uma efemeridade.
A condição do homem contemporâneo, de fato, favorece a de composição dos
elementos constitutivos da experiência humana, na qual tem grande peso a
decomposição da razão e dos afetos. O prevalecer social da racionalidade
analítica e calculadora técnico-científica tende a assimilar cada forma de
racionalidade e a estranhar o afetivo na esfera relaciona; a afetividade, por sua
vez, sendo sempre menos em comunicação com critérios racionais ontológicos e
axiológicos, se desenvolve em termos sempre mais subjetivos e anônimos
(BOTTURI, 2013, p. 137 apud FORNASIER 2016)

O autor aborda a racionalidade do humano diante de expressar a sua afetividade e assim


orientar na direção do afeto, assim como a passagem do passional ao sentimental da razão
como enquanto racionalidade técnica. A modernidade faz com que os seres humanos tornem-
se menos reflexivos diante da rapidez na qual os comportamentos ocorrem.
Mas será que a modernidade e a era digital influencia na dinâmica familiar? A
modernidade e as novas tecnologias estão imersas na família. Quando uma criança nasce,
desde cedo se observa os pais dando os celulares para os filhos para assistirem vídeos e
jogos e isso modificou na forma de como os membros interagem.
O consumismo também influenciou as relações familiares, no qual as relações
passam a ser baseadas no ter ao invés do ser, e o outro é constituído como um objeto na
relação. Botturi aborda justamente a questão da forma de como as pessoas estão se
relacionando.
A família moderna vê-se permanentemente desafiadora pela variação, às vezes,
vertiginosa dos limites propostos, das aspirações de consumo pretendidas e das
experiências perseguidas, devendo-se reconquistar a cada dia as razões para
conviver, a consciência do bem que os membros da família têm em comum, isto é,
dos bens relacionais cujo valor, considerado no tempo, ultrapassa eventuais
desacordos e conflitos. (PETRINI, 2004, p.19-20)

Dessa forma percebe-se o quanto que o padrão de consumismo inerte na


sociedade interfere nas configurações familiares, relações baseadas no ter ao invés do
ser e que o outro é constituído como um objeto na relação. As pessoas na sociedade
contemporânea se relacionam de forma muito materialista; e segundo Botturi,
Ama-se um “quem não uma coisa ou uma coisa de alguém; um princípio de ida
uma fonte de iniciativa uma capacidade de representar um mundo, uma força de
afeição por sua vez ilimitada: a intencionalidade de um sujeito, de fato é
potencialmente infinita. (BOTTURI, 2009, p. 24)

Para gerar conexão e amor entre os membros na família é necessário expressar o


amor nas diversas formas e gerar pertencimento, pois todo mundo deseja fazer parte de
algo e assim proporcionar responsabilidades diante da relação. Todo mundo merece ser
tratado com respeito e dignidade, esse princípio é fundamental para a relação
contemporânea.
Devido às fragilidades dos vínculos geracionais, os pais estão deixando de passar
o tempo com os filhos e só pensam em trabalho, esquecendo de se atentar que, para
essa conexão que existe entre eles, esses laços vão se afinando ao longo da vida.
Segundo Fornasier (2016), o amor não se esgota na experiência do sentimento, mas se
manifesta como um ato de vontade, sustentado pelo juízo, sendo o amar o outro como um
bem em si mesmo. Há uma intencionalidade por trás do amor e ao contrário do que
muitos dizem ele é muito mais do que um sentimento. Botturi afirma que:
A força do amor, vivida como forma singular de existência, está, de fato, na íntima
convicção de que o amar tem em si mesmo a sua razão, enquanto modo
excelente da livre vontade. Se a liberdade é também relação gratuita com outra
liberdade, isto é, amizade com outra liberdade como tal, o acontecimento do amor
é a forma mais densa de liberdade e, portanto, ao mesmo tempo e sem contraste,
é afirmação do outro e afirmação de si. No amor, a antinomia da relação de
satisfação se resolve assim no paradoxo de um vínculo que liberta, já que
livremente escolhido e já que realiza a íntima natureza da liberdade de relação.
(Botturi, 2009, p. 237 apud FORNASIER, 2016, p. 97)

O amor deve ser vivido da forma mais plena possível e isso proporciona no ser
humano liberdade para amar. Muitas pessoas na atualidade não conseguem exercer o
amor de forma genuína, onde as pessoas são tratadas como objetos nas relações. Dessa
forma, é importante levar em consideração que o homem é um ser relacional que precisa
do outro para confirmar a sua existência e da família, por ser esta um espaço social de
relação tão importante para o mesmo. Assim, é necessário que exista a doação, a entrega
e o exercício do perdão diante das relações. Assim sendo, é importante considerar que o
amor deve fazer parte de todas as relações, desde que o afeto e o vínculo não fiquem a
mercê da sua espontaneidade.
Os meios de comunicação, ao mesmo tempo que auxiliam no dia a dia das
pessoas, também as distancia; e isso acontece quando os coloca como figura em sua
rotina e o ser humano esquece de olhar a “beleza” que há por trás do não visto e nem
falado nas relações. Dessa forma é fundamental exercer diariamente uma conexão no
âmbito das relações familiares e proporcionar que a comunicação ocorra de forma
assertiva e empática, e principalmente baseada no respeito para com o próximo.
O amor, na medida que vai se tornando autêntico, puro e genuíno na relação e no
querer bem do outro, vai ser tornando uma experiência de contato mais profunda e
verdadeira possível para o ser humano. A modernidade tem feito que esse sentimento de
querer bem se torne mais difícil diante das relações imediatistas e diante do egocentrismo
do homem. Por isso surge a importância de refletir como se está exercendo o amor diante
das relações, e isso é fundamental ao se relacionar com o outro. O amor que deve ser
também baseado no perdão e na aliança com o outro, principalmente quando se trata da
relação conjugal. O ato de perdoar o outro é uma dádiva, mas é importante que esse
perdão ocorra de forma genuína e verdadeira, algo que tornou-se fragilizado com a
modernidade.
A modernidade, ao mesmo tempo que aproxima as pessoas, também as distancia;
o que torna diferente é a forma de como o ser humano está exercendo o amor nas suas
relações.
REFERÊNCIAS

BOTTURI, F. Família na filosofia contemporânea: o debate natureza e cultura. In:


ALCÂNTARA, M.; RABINOVICH, E. P.
FORNASIER, R. C. Liberdade, relação, dom e pertença na família: contribuições da Sociologia
relacional de Pierpaolo Donati e da Filosofia de Francesco Botturi. Estudos Teológicos, v. 58, n.
2, p. 508-522, jul./dez., 2018. Disponível:
<http://periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/view/3112>. Acesso em 15 de
Julho de 2019.
MOREIRA, L.V.C. (ORG). Relações Familiares. Coleção estudos sobra família, vol2. Curitiba:
CRV, 2016.

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