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INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

Comportamento reprodutivo de Podocnemis erythrocephala (Spix 1824)


(Testudines, Podocnemididae) em cativeiro

CAMILA RUDGE FERRARA

Dissertação apresentada ao Programa Integrado de


Pós-Graduação em Biologia Tropical e Recursos
Naturais do convênio INPA/UFAM, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre em
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, área de concentração em
Biologia de Água Doce e Pesca Interior

MANAUS-AM
2007
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS – UFAM

Comportamento reprodutivo de Podocnemis erythrocephala (Spix 1824)


(Testudines, Podocnemididae) em cativeiro

CAMILA RUDGE FERRARA

ORIENTADOR: Richard Carl Vogt

Dissertação apresentada ao Programa


Integrado de Pós-Graduação em Biologia
Tropical e Recursos Naturais do convênio
INPA/UFAM, como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre em CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS, área de concentração em
Biologia de Água Doce e Pesca Interior.

MANAUS-AM
2007

ii
FICHA CATALOGRAFICA

Camila Rudge Ferrara

Comportamento reprodutivo de Podocnemis erythrocephala em cativeiro (Testudines,Podocnemididae) /


Camila Rudge Ferrara – Manaus: INPA/UFAM
2007.

56p. ilust.

Dissertação de Mestrado – Área de concentração: Biologia de Àgua Doce e Pesca Interior.

Palavras-chaves: 1. Irapuca 2. Podocnemidae 3. Comportamento 4. Seleção sexual 5. Amazônia

Keywords: 1.Irapuca 2. Podocnemidae 3. Behavior 4. Sexual selection 5. Amazon

SINOPSE:

Estudou-se alguns aspectos do comportamento reprodutivo e da seleção sexual de


Podocnemis erythrocephala em cativeiro. Foram reconhecidas três fases da corte até o
acasalamento e não houve seleção das fêmeas por tamanho e coloração da cabeça.

Palavras-chave: 1. Irapuca 2. Podocnemidae 3. Comportamento 4. Seleção sexual 5.


Amazônia

i
Esta dissertação é dedicada aos meus
pais, Arnaldo e Iza e à memória de meus
avós, Arnaldo e Cecília.

ii
AGRADECIMENTOS

Aos meus pais pela confiança, apoio e incentivo durante todas as etapas da
minha vida.

Ao meu orientador Dr. Richard Vogt pela oportunidade e confiança.

Ao Dr. Celso Morato, luz que apareceu no meu caminho e me ajudou a dar forma
ao meu trabalho, sem ele certamente não teria chegado aqui.

Ao Jaime pela ótima companhia de campo e por toda ajuda e conselhos dados
durante o desenvolvimento da dissertação.

Ao Leo por todo seu amor, carinho e paciência.

Ao pessoal do laboratório pela ajuda durante o mestrado, em especial ao Arthur,


Ladislau, Melina, e Rafael que me ajudaram nas coletas de campo e na devolução dos
exemplares.

À Deise por todas as suas revisões, não sei o que seria do meu português sem
você.

À Lucélia por todos os conselhos dados na fase inicial do mestrado quando ainda
estava totalmente “flutuando”.

Ao Dr. Jansen Zuanon por toda sua calma e ensinamentos.

À Caru pelos seus maravilhosos desenhos.

À galera de casa Zeca, Jah, Leo, Kabuck, Tonho, Juliana, Tucumã e Gato por
toda ajuda com as tortugas.

À Tucumã por sua companhia e carinho.

Aos amigos que sempre quebram meu galho, Rafael, Doidinho, Angelita, Thiago,
Carlinha, Jaime...

Às secretárias da Pós-graduação Carminha e Elany, por todos os galhos


quebrados.

Ao pessoal da secretaria do BADPI, em especial ao Otacy e ao Bactéria.

Ao CNPQ pela bolsa de mestrado concedida.

À FAPEAM pelo financiamento do projeto.

iii
Às minhas amigas do coração Paulinha e Maria, por todos os momentos de
risadas e descontrações.

À toda minha família, em especial a tia Lelé que de uma forma ou de outra
sempre esteve presente me incentivando .

Ao amigos que fiz em Manaus e aos que deixei em São Paulo.

iv
Resumo

O comportamento reprodutivo de Podocnemis erythrocephala (irapuca) em cativeiro foi

estudado por meio de observações dos comportamentos de corte e cópula, seleção

sexual para tamanho da carapaça e da cabeça, coloração cefálica, e influência da

temperatura da água nos movimentos de corte. Foram utilizados no estudo 20 fêmeas e

39 machos, observados durante 390 horas em 150 sessões de 3-6 horas diárias. Três

categorias de comportamentos foram observadas. A primeira fase da corte foi,

caracterizada pelas aproximações de ambos os sexos e perseguições dos machos às

fêmeas. A fase seguinte correspondeu à pré-cópula, caracterizada pela receptividade

da fêmea ao cortejo dos machos e comportamentos que tem como conseqüência a

cópula (terceira fase). As fêmeas, passivas ou agressivamente, podem rejeitar machos

nas duas primeiras fases. Para avaliar possíveis diferenças no sucesso reprodutivo de

machos com cabeça artificialmente coloridas foram realizadfos testes que resultaram

em respostas similares das fêmeas para os diferentes tratamentos. Os tamanhos das

carapaças e cabeças variaram significativamente entre os sexos, fêmeas são maiores

do que os machos. Com relação aos movimentos, fêmeas cortejam mais que os

machos, principalmente nas temperaturas mais altas do aquário (29 – 31ºC).

v
ABSTRACT

The reproductive behavior of Podocnemis erythrocephala in captivity was studied

through the observation of courtship behavior, mating, sexual selection for carapace

length, head width, and cephalic coloration, as well as influence of water temperature in

courtship behavior. The study was conducted with 20 females and 39 males in 390

hours of observation in 150 sessions of 3-6 hours per day. Three categories of behavior

patterns were observed. The initiation behavior corresponded to the first phase of the

courtship, characterized by the approximation of both sexes and males pursuing

females. The following behavior patterns corresponded to pre-mating, characterized by

female receptivity to male courtship and behavior patterns consequences of which will

be mating. Females may passive or aggressively reject males in the two first phases.

Females were homogeneously receptive to males, independent of their head color,

artificially painted by red or black. The size differences of the carapace and head were

significant between the sexes; females are larger than males. Females were found be

more active. Moving and courting more than males, specially with the higher

temperature (29 – 31ºC).

vi
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Frequência de procura ou aceitação dos machos na seleção das fêmeas..22

Tabela 2.1. Estatística das distribuições de freqüências dos comprimentos da


carapaça (cm) dos machos..........................................................................................23

Tabela 2.2. Estatística das distribuições de freqüências dos comprimentos da


carapaça (cm) das fêmeas...........................................................................................24

Tabela 2.3. Estatística das distribuições de freqüências dos comprimentos da


carapaça, (cm) dos machos e fêmeas..........................................................................24

Tabela 3.1. Estatística das distribuições de freqüências dos comprimentos da cabeça


(cm) dos machos..........................................................................................................24

Tabela 3.2. Estatística das distribuições de freqüências dos comprimentos da cabeça


(cm) das fêmeas..........................................................................................................25
Tabela3.3. Estatística das distribuições de freqüências dos comprimentos da cabeça,
(cm) dos machos, e fêmeas.........................................................................................25

Tabela 4. Associação entre temperatura da água e os movimentos de corte, machos e


fêmeas..........................................................................................................................26

Tabela 5. Freqüência de movimentos, machos e fêmeas............................................27

vii
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fluxograma da corte até o final do acasalamento ....................................13

Figura 2. Comportamento reprodutivo, Primeira fase: aproximação do macho: por trás


(a), cabeça (b), lateral (c); aceitação da fêmea (d); rejeição da fêmea (e); perseguição
do macho à fêmea: nadando (f), andando (g), mordendo (h).........................................17

Figura 3. Comportamento reprodutivo, segunda fase – pré-cópula: tentativa de monta


(a); pescoço do macho encosta na carapaça da fêmea (b); cauda arqueada do macho
na cloaca da fêmea (c – e); rejeição da fêmea (f)...........................................................19

Figura 4. Comportamento reprodutivo, Terceira fase: cópula (a – c); final (d)...............21

viii
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..................................................................................................................1
Podocnemis erythrocephla.....................................................................................2
OBJETIVOS......................................................................................................................6
MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................7
Animais...................................................................................................................7
Experimentos..........................................................................................................7
Corte e acasalamento.............................................................................................8
Influência da cor da cabeça dos machos na seleção pelas fêmeas.....................9
Morfometria e dimorfismo sexual............................................................................9
Movimentos de corte e temperatura......................................................................10
Movimentos de corte.............................................................................................11
RESULTADOS................................................................................................................12
1. Corte e Acasalamento......................................................................................12
2. Influência da cor da cabeça dos machos na seleção pelas fêmeas.................20
3. Morfometria e dimorfismo sexual......................................................................21
4. Temperatura e movimentos de corte................................................................24
5. Freqüência de movimentos de corte................................................................25
DISCUSSÃO...................................................................................................................28
Corte e acasalamento...........................................................................................28
Seleção sexual.....................................................................................................35
Corte e movimentos em função da temperatura da água.....................................39
CONCLUSÕES...............................................................................................................41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................42

ix
INTRODUÇÃO

O comportamento dos quelônios é um dos mais importantes fatores que nos

auxiliam a entender os processos adaptativos que promovem a seleção biológica neste

grupo de animais. Nestes animais, o repertório comportamental associado à reprodução

é determinado por fatores físicos e biológicos, como por exemplo, dimorfismo sexual

para tamanho (Berry & Shine, 1980), coloração da cabeça (Moll et al., 1981

Andersson,1994) e influência da temperatura nos diversos comportamentos de corte.

Estudos sobre a biologia reprodutiva e atividades de acasalamento e cortejo dos

quelônios sul-americanos são escassos (Pritchard & Trebbau, 1984; Molina, 1996b); e

mais ainda para as espécies amazônicas. As diferenças de tamanho entre os sexos são

associadas ao comportamento de corte e acasalamento. Geralmente o hábitat

especifica o comportamento (Berry & Shine, 1980). Por exemplo, em algumas espécies,

como Geochelone denticulata e G. radiata, que são terrestres, e Kinosternon

flavescens, K. scorpioides, semi-aquáticas, os machos lutam entre si ou forçam o

acasalamento, sem que haja escolha das fêmeas. Nestas espécies os machos são do

mesmo tamanho que as fêmeas ou maiores (Berry & Shine, 1980). Já nas espécies em

que as fêmeas escolhem os machos, como Chelodina oblonga da Australia, Chrysemys

picta, da América do Norte, os machos são menores e há forte seleção sexual por parte

das fêmeas (Berry & Shine, 1980).

Nas espécies aquáticas, os machos geralmente são menores, mas há exceções,

como o cabeçudo, Peltocephalus dumerilianus (Podocnemidae). Quando há dimorfismo

para tamanho, ambos os sexos têm comportamento de corte complexo. Nestes

x
quelônios, como ocorre nos machos de algumas espécies do gênero Trachemys, as

garras mais alongadas e a cauda maior são caracteres sexuais fortemente ligados ao

comportamento reprodutivo. As cores dos machos, permanentes ou mais acentuadas

durante o período reprodutivo, também podem estar associadas à corte, como ocorre

em Trachemys dorbigny, que exibe o padrão de cores da cabeça e membros anteriores

durante o cortejo (Moll et al., 1981; Ernst, 1990; Lovich et al., 1990; Molina, 1996a).

Os estudos sobre biologia reprodutiva, incluindo o comportamento de corte, além

de serem importantes para analisar fatores evolutivos e genéticos, fornecem

informações que subsidiam os projetos de manejo de quelônios (Andrade, 2004).

Entretanto, no geral são tão escassos os estudos reprodutivos destes animais, que em

todas as recomendações sobre biodiversidade e planos de manejo de vida silvestre

estão incluídas recomendações para a realização de pesquisas sobre o tema (Brasil,

1998; Capobianco et al., 2002).

Podocnemis erythrocephala

O gênero Podocnemis inclui quatro espécies amazônicas: a tartaruga da

amazônia (Podocnemis expansa), que ocorre na bacia do rio Amazonas a leste dos

Andes até a bacia do Rio Orinoco (Pritchard, 1979); o tracajá (Podocnemis unifilis),

distribuído na Bacia Amazônica (Soini, 1995); a iaçá (Podocnemis sextuberculata),

encontrada nos rios de água branca como o rio Branco, Solimões e Amazonas, mas há

registros na água clara, como nos rios Trombetas e Tapajós (Smith, 1979a); e a

irapuca (Podocnemis erythrocephala) que tem a distribuição restrita aos rios de águas

pretas (Mittermeier & Wilson, 1974; Pritchard, 1979; Ernst & Barbour, 1989), mas há

2
relatos para os rios de águas claras (Hoogmoed & Ávila-Pires, 1990; Pritchard, 1990;

Rebêlo, 1991; Vogt et al., 1991; Iverson, 1992).

Uma característica marcante de P. erythrocephala é o padrão de coloração

vermelha ou alaranjada na cabeça, daí o nome específico. Nos machos adultos o

padrão avermelhado persiste até a fase adulta; as fêmeas têm variação ontogenética, e

colorido avermelhado na cabeça torna-se marrom escuro nos adultos (Mittermier &

Wilson, 1974, Pritchard,1979).

A irapuca é a menor espécie do gênero Podocnemis, os adultos raramente

ultrapassam 30 cm de comprimento da carapaça (Pritchard & Trebbau, 1984). São

primariamente herbívoros, alimentando-se de plantas aquáticas e frutos que caem nos

igapós, mas peixes também fazem parte da sua dieta (Mittermier & Wilson, 1974;

Pritchard, 1979; Vogt, 2001).

O período das desovas de P. erythrocephala ocorre durante a vazante. Na foz dos

rios Ayuanã e Santa Izabel, a reprodução vai de setembro a dezembro (Batistella,

2004); no rio Negro o período reprodutivo vai de agosto a novembro (Vogt, 2001), com

pico em setembro-outubro; na Colômbia a reprodução vai de dezembro a janeiro

(Castaño-Mora, 1997).

As fêmeas se deslocam por grandes distâncias para desovar nas campinas do rio

Negro, mas também desovam nas praias (Castaño-Mora, 1997; Vogt, 2001). O

comportamento das desovas não é em grupo, as fêmeas são solitárias. As desovas

ocorrem geralmente durante a noite, quando cada fêmea deposita de 5-14 ovos por

postura (Mittermeier & Wilson, 1974). A freqüência de desovas por fêmea pode ser até

3
quatro vezes durante uma estação reprodutiva (Vogt, 2001). Os ovos são alongados, e

a casca é rígida (Mittermeier & Wilson, 1974).

Atualmente os predadores mais importantes da irapuca parecem ser os humanos. A

alta pressão de coleta de seus ovos e caça a adultos de P. erythrocephala (Vogt, 2001)

levou a espécie a ser classificada pela IUCN (World Conservation Union) na categoria

vulnerável (Hilton, 2000), porém nos dias de hoje retornou para a categoria estável

(IUCN, 2006). O consumo de quelônios na Amazônia não é apenas uma necessidade,

trata-se de uma iguaria regional muito apreciada por todas as classes sociais (Alho,

1984). Registros históricos mostram que estes animais, especialmente a tartaruga da

amazônia (Podocnemis expansa) foram comercializados em larga escala durante muito

tempo, tendo sido coletados milhares de ovos e indivíduos adultos por ano (Bates,

1892; Smith, 1979b). Na região do rio Negro, por exemplo, o hábito de comer ovos e a

carne de indivíduos adultos sempre foi praticado pelos índios, que passaram o costume

para os colonizadores, os quais mantêm este hábito até hoje, apesar da proibição

(Vogt, 2001).

Existem vários projetos de manejo para mitigar o impacto sobre os ovos e

racionalizar o hábito de utilizar quelônios na alimentação, bem como minimizar os

impactos sobre os filhotes até a idade da primeira reprodução e aumentar a

sobrevivência dos adultos, através da criação de áreas de proteção de desova e

alimentação (Smith, 1979b). Neste sentido são incentivados os estudos para melhor

entender os processos adaptativos destes animais, como a biologia e comportamento

reprodutivo, para consolidar planos de manejo com a participação de moradores locais

(Fachín-Teran, 1999). Outras alternativas propostas para mitigar os impactos sobre a

4
irapuca incluem a comercialização de filhotes como animais de estimação, agregando

um maior valor aos filhotes e gerando uma renda melhor para a população local

(Richard C. Vogt, com. pess) . Esta espécies possui varias caracteristicas que possam

favorecer sua comercialização, a coloração dos filhotes (cabeça preta com manchas

vermelhas) é muito bonita, persistindo nos machos adultos, facil manipulação de sexo,

através do controle de temperatura de incubação dos ovos e o pequeno tamanho dos

adultos.

Desta forma, os relatos deste estudo sobre o comportamento reprodutivo de

Podocnemis erythrocephala, irapuca, tem como objetivos obter informações que

possam ser utilizadas em outros estudos acadêmicos e subsidiar os projetos de manejo

de quelônios amazônicos, gerando informações que possam ser utilizadas pelos órgãos

públicos de meio ambiente e conservação. Especificamente, o presente estudo

descreve o comportamento reprodutivo de irapuca, através da análise da influência da

temperatura sobre as atividades reprodutivas e observações do comportamento de

corte e cópula, relacionando a coloração e os tamanhos da carapaça e cabeça como

critérios para avaliar possível mecanismo de seleção sexual pelas fêmeas.

5
Objetivos

O objetivo do presente estudo foi descrever o comportamento reprodutivo de

Podocnemis erythrocephla, por meio da análise da influência da temperatura sobre as

atividades reprodutivas e observações do comportamento de corte e cópula,

relacionando a coloração e os tamanhos da carapaça e cabeça como critérios para

avaliar possível mecanismo de seleção sexual pelas fêmeas.

6
Material e método

Animais: Foram utilizados 20 fêmeas e 39 machos de Podocnemis

erythrocephala, coletados entre fevereiro e julho de 2006 no rio Cumicuri, município de

Barcelos, Amazonas (00º41’S, 63º12’W). A autorização de coleta foi fornecida pelo

Ibama, licença nº 062/2006. Os animais foram transportados para o Instituto Nacional

de Pesquisas da Amazônia e mantidos individualmente em caixas plásticas (55 x 40 x

20 cm de comprimento, largura e altura) com água da rede publica de abastecimento.

Os exemplares foram alimentados com ração para cães (composição: 45% de

carboidrato, 22% de proteína, 7% de gordura, 4% de fibra, 10% de matéria mineral e

vitaminas) e couve, ofertados a cada dois dias à vontade. A água das caixas foi trocada

em dias alternados; durante a troca os animais eram retirados e as caixas lavadas com

água. A utilização repetida de animais em experimentos seguidos foi evitada porque os

animais eram reconhecidos através de marcas na carapaça, feitas para identificá-los

(Cagle, 1939).

O estudo foi realizado em cativeiro, porque é difícil estudar o comportamento dos

quelônios aquáticos em natureza. Desta forma, estudos do comportamento em cativeiro

oferecem várias vantagens, como experimentos controlados e observações mais

detalhadas. Há pelo menos um século, estudos em cativeiro têm contribuído para o

aumento do conhecimento sobre biologia e comportamento de animais (Mitsukuri 1895,

1905). O comportamento dos répteis de um modo geral é similar em cativeiro ou em

7
natureza, o que favorece os estudos com animais em laboratório (Carpenter &

Ferguson, 1977; Burghardt,1977; Molina, 1995).

Procedimentos experimentais: Foram realizados dois conjuntos de

experimentos:

1) Para descrever o comportamento de corte até o acasalamento e verificar as

possiveis preferências das fêmeas pela coloração cefálica dos machos, bem como

comparar os movimentos de corte entre os sexos com relação à temperatura, foram

realizados 450 horas de experimentos, compostas por 150 sessões de 3 - 6 horas

diárias, totalizando 100 dias de observações. Durante as sessões de observação os

animais eram colocados num aquário de 100 cm de comprimento, 40 cm de largura e

50 cm de altura e com capacidade para 200 L, e a água era renovada entre uma

sessão e outra. Para cada sessão foram utilizados uma fêmea e três machos

escolhidos aleatoriamente, mas com o cuidado da não repetição dos indivíduos. Os

animais eram colocados sistematicamente nos aquários 1 hora antes de iniciar o

experimento (período de adaptação) e no final eram levados de volta para as suas

caixas. No início e fim de cada sessão a temperatura da água foi anotada.

2) Para analisar a freqüência de movimentos de corte entre os sexos foi feito um

experimento de 20 horas, com 10 sessões de duas horas diárias. Para este

experimento foram utilizados dois machos e duas fêmeas. Os animais permaneceram

no aquário durante os 10 dias de experimento e a água foi trocada três vezes.

Como procedimentos gerais em todos os experimentos, as observações foram

feitas a dois metros do aquário, para não interferir nos comportamentos dos animais

8
(Altman, 1974), e registradas em uma ficha específica (Anexo 1). Durante as

observações não foi utilizado nenhum tipo de barreira visual. No final do estudo as

irapucas foram devolvidas aos seus locais de coleta, no rio Cumicuri, Amazonas. No

início e fim de cada sessão a temperatura da água foi anotada.

1. Corte e Acasalamento: A questão formulada foi: quais os comportamentos

dos machos e das fêmeas desde o início do cortejo até o acasalamento? Os

comportamentos observados foram agrupados em três categorias, com as devidas

ilustrações de cada seqüência: início da primeira fase da corte – reconecimento dos

parceiros, pré-cópula e cópula (adaptado de Carpenter, 1977; Auffenberg, 1977, 1978;

Molina, 1996a). A primeira fase envolve os comportamentos iniciais do macho à procura

da fêmea e as respostas desta; a segunda fase envolve as tentativas de monta pelo

macho e as respostas da fêmea; a cópula inclui o acasalamento de fato e os

movimentos finais. Estes experimentos foram planejados para descrever e agrupar em

categorias os comportamentos observados e verificar o tempo de duração dos mesmos.

Não houve comparações de freqüência entre os comportamentos dos diferentes

indivíduos testados de cada sexo.

2. Influência da cor da cabeça dos machos na seleção das fêmeas: A

pergunta que fiz foi se fêmeas de P. erythrocephala poderiam selecionar machos pela

cor das suas cabeças. Em cada sessão as cabeças de dois machos, escolhidos

aleatoriamente, eram pintadas individualmente de preto e vermelho com lapís de olho e

baton respectivamente. A escolha dos cosméticos para pintura dos indivíduos foi devido

9
à não toxicidade e facilidade de remoção do produto, procedimento feito imediatamente

após cada sessão. A cabeça do terceiro macho não era pintada (controle).

Variável: Freqüência de movimentos de procura ou aceitação dos machos pelas

fêmeas. Fêmeas não reagem com a aproximação dos machos.

Hipótese Nula: A proporção dos movimentos de procura ou aceitação dos

machos pelas fêmeas independe da cor da cabeça dos machos.

Análise dos dados: As freqüências foram analisadas com uso de teste de qui-

quadrado (teste de proporções), com nível de significância de 5% (Zar, 1996).

3. Morfometria e dimorfismo sexual: A pergunta que fiz foi se haveria

dimorfismo sexual para tamanhos de carapaça e cabeça (diferenças significativas entre

os sexos). Para análise dos dados foram utilizadas 20 fêmeas e 20 machos (a escolha

dos machos foi aleatória).

Hipótese nula: machos e fêmeas têm os mesmos tamanhos de carapaça e

cabeça, i.e., não há dimorfismo sexual para tamanho.

Variáveis: Comprimento total da carapaça (cm), da nuca à porção supracaudal

(cm), e distância do occipital à narina (cm).

Análise dos dados: A hipótese nula foi verificada por meio de testes de

comparação entre duas médias (teste de t, Student), com nível de significância de 5%,

bicaudal (Zar, 1996).

10
4. Movimentos de corte e temperatura: A pergunta que fiz foi se poderia haver

diferenças dos movimentos de corte entre os sexos e a temperatura da água dos

aquários.

Hipóteses Nulas: i) A freqüência de movimentos de corte dos machos e fêmeas é

independente da temperatura.

Variáveis: Temperatura (duas categorias: 24-28ºC e 29-31ºC) e número de

movimentos de corte dos machos e fêmeas, nesta categoria foram inclusos todos os

movimentos de aceitação durante a corte e o acasalamento de ambos os sexos.

Análise de dados: A verificação da hipótese nula foi feita através de qui-

quadrado (tabela de contingência), nível de significância de 5% (Zar, 1996:483).

5. Movimentos de corte: A pergunta que fiz foi se poderia haver diferenças nas

freqüências dos movimentos de corte entre machos e fêmeas de irapuca. Os

movimentos foram divididos em três categorias: movimentos de natação / exploração

do aquário (movimento sem corte), movimentos relacionados a corte (para cada sexo

separadamente); e uma terceira categoria, animais estacionários.

Hipótese nula: Machos e fêmeas se movimentam igualmente,

independentemente de estarem cortejando ou não, bem como é homogêneo o tempo

com que ficam parados.

Variáveis: Freqüência de animais de ambos os sexos que permanecem parados,

com movimentos relacionados corte e movimentos de natação / exploração do aquário.

Análise dos dados: A verificação da hipótese nula foi feita através de qui-quadrado

(tabela de contingência), nível de significância de 5% (Zar, 1996).

11
Resultados

1. Corte e Acasalamento

Para as finalidades do estudo, o comportamento reprodutivo de Podocnemis

erythrocephala foi diferenciado em três fases entre o inicio da corte e o final do

acasalamento. Os comportamentos de corte são aqui definidos como quaisquer

interações comportamentais entre machos e fêmeas que promovam o acasalamento

(Lincoln et al., 1982). A primeira fase correspondeu ao início dos comportamentos

observados nos indivíduos de ambos os sexos, como as aproximações e as rejeições

das fêmeas; a segunda fase correspondeu aos estágios mais avançados dos

comportamentos associados à pré-cópula, durante os quais as fêmeas podem ainda

rejeitar os machos; na terceira fase ocorreu a cópula e a separação do casal, a partir

deste momento não foram observadas interações na dupla que acasalou.

O tempo total das interações entre os dezoito casais observados até a cópula foi

em média de 12 minutos (amplitude 10-20 minutos). Uma observação interessante

sobre o tempo destas interações, foi com relação ao papel das fêmeas na duração das

fases, porque as freqüentes rejeições aos machos determinavam a interrupção da corte

destes. Nestes casos, o repertório comportamental dos machos era interrompido logo

no inicio, o que os levava a reiniciar a corte várias vezes, diminuindo o tempo entre as

interações. Mais à frente este aspecto sobre a rejeição pelas fêmeas será mais

detalhado.

12
♂ e ♀ se encontram Inspeç
Inspeção olfativa

♀ receptiva
♀não receptiva

fundo do aquá
aquário mov.
mov. lentos
morde foge

♂ tenta a monta
♂ desiste ♂ persegue a ♀

♀ receptiva ♀não receptiva

cópula ♂ desiste

separaç
separação do casal

Figura 1: Fluxograma da corte até o final do acasalamento de P. erytrhocephala

Primeira fase: Início da côrte

A fase inicial da corte é caracterizada pela procura de individuos de um sexo pelo

outro, através de aproximações e reconhecimentos, pelas perseguições dos machos

pelas fêmeas, e pela aceitação ou não da fêmea com relação à corte do macho. As

Figuras 2a-h ilustram as seqüências dos comportamentos descritos.

13
i) Aproximação e olfação

Este é um comportamento de reconhecimento realizado por ambos os sexos,

porém com desdobramentos diferenciados até a fase de acasalamento, devido ao

repertório de corte pouco mais demorado e elaborado exibido pelos machos. A corte

por iniciativa das fêmeas limita-se a alguns movimentos de aproximação e olfação,

constituindo uma procura. Esta procura se dá tanto na busca por machos, como por

outras fêmeas, inclusive com comportamento de pseudocópula. Este aspecto será

discutido mais à frente, quando for apresentado o resultado sobre as variações de

movimentos entre machos e fêmeas. De um modo geral, as fêmeas afastam-se após

uma aproximação e toques de narinas em qualquer ponto da carapaça de outra fêmea

ou de um macho. Já os machos exibem outros comportamentos quando se aproximam

de uma fêmea e sempre tentam copular, se caso não sejam imediatamente rejeitados.

O comportamento de reconhecimento exibido pelos machos se caracteriza pela

aproximação das fêmeas e tem em média 13 segundos, mas pode ser mais prolongado

(amplitude 3-244 segundos). Durante esta fase, as fêmeas podem ou não rejeitar os

machos. Os machos se aproximam das fêmeas dorsalmente, pela cabeça, ou pelas

porções posterior e lateral da carapaça destas. Durante a aproximação os movimentos

dos machos acompanham os das fêmeas, as quais podem estar nadando ou no fundo

do aquário; algumas vezes a fêmea permanece parada enquanto o macho fica se

movimentando em torno delas.

Ao se aproximar por trás da fêmea (Figura 1a), o macho toca a narina na região

cloacal da fêmea, às vezes também mordendo-a nas pernas e na porção posterior da

14
carapaça (ou apenas tentando morder, sem tocar na fêmea). Durante a aproximação o

pescoço do macho permanece estendido; o das fêmeas pode ficar retraído.

O macho pode também se aproximar da fêmea pelos lados (Figura 2b), tocando

a narina na região lateral da sua carapaça, mordendo ou tentando morder sem tocar na

fêmea. Da mesma forma que na aproximação realizada por trás, na aproximação lateral

o macho permanece quase todo o tempo com o pescoço estendido, algumas vezes

dobrado para o lado.

Quando a aproximação é dorsal, sobre a cabeça da fêmea (Figura 2c), o macho,

com o pescoço arqueado para baixo, se aproxima nadando por cima da fêmea e se

posiciona horizontalmente sobre esta, com a porção anterior do seu plastrão alinhado

com a porção anterior da carapaça da fêmea. Nesta posição o macho dá toques de

narina e morde ou tenta morder a cabeça da fêmea, iniciando os movimentos

preparatórios para a cópula (segunda fase da corte).

ii) Reações à aproximação

Durante a aproximação inicial os machos e fêmeas apresentam comportamentos

distintos, os quais podem levar às fases seguintes de pré-cópula e cópula caso não

sejam interrompidos. A reação das fêmeas à aproximação dos machos é caracterizada

pela rejeição ou não àqueles que se aproximam ou tentam se aproximar. Quando as

fêmeas aceitam a corte dos machos, elas podem estar no assoalho do aquário e

permanecerem paradas (Figura 2d) ou mover-se lentamente; quando estão boiando,

podem exibir movimentos natatórios, mas sem sair do lugar. O macho reconhece o

15
sinal de que está sendo aceito, já que a fêmea não apresenta qualquer reação

agressiva, e dá início aos movimentos da pré-cópula (segunda fase da corte).

Quando rejeita a corte, a fêmea foge da aproximação do macho, neste caso o

macho pode desistir ou tentar novamente, iniciando uma perseguição à fêmea que o

rejeitou. Às vezes a fêmea reage agressivamente às investidas do macho e volta-se

contra ele com a boca aberta (Figura 2e); o macho foge sem insistir no cortejo, mas

pode tentar novamente em poucos minutos, sendo novamente recebido com

agressividade pela fêmea. A insistência do macho em cortejar o leva a perseguir a

fêmea (Figuras 2f-h), comportamento geralmente acompanhado por mordidas ou

tentativas de morder por parte do perseguidor. Essa perseguição durou em média

poucos segundos, (x = 19 segundos, amplitude 3-41 segundos). As perseguições são

feitas com os animais nadando à meia água ou se movimentando no assoalho do

aquário, quando o macho mantém o pescoço estendido. Alguns indivíduos, menos

estimulados, desistem da perseguição após alguns segundos de tê-la iniciado; neste

caso, ficam parados por alguns minutos e reiniciam as tentativas de corte. No geral, a

fêmea mantém a rejeição ao macho, apesar da sua insistência.

16
Figura 1. Comportamento reprodutivo, Primeira fase: aproximação do macho: por trás (a), cabeça (b),
lateral (c); aceitação da fêmea (d); rejeição da fêmea (e); perseguição do macho à fêmea: nadando (f),
andando (g), mordendo (h).

Segunda fase: Pré-Cópula

Esta série de comportamentos que antecedem o acasalamento é caracterizada

por movimentos que poderão ter como conseqüência a cópula, desde que as fêmeas

sejam receptivas. A interação dos movimentos entre machos e fêmeas nesta fase durou

em média 12 segundos (amplitude 5-28 segundos). Durante a pré-cópula, machos e

fêmeas fazem uma série de movimentos com o corpo, cauda e cabeça. As Figuras 3a-f

ilustram as seqüências dos comportamentos descritos.

17
i) Movimentos dos machos e aceitação das fêmeas

Na perseguição do macho que insiste em cortejar a fêmea, há um momento em

que ela pára de fugir, seja por vontade própria, ou quando o macho consegue se

manter sobre ela; se a fêmea não se mostrar agressiva, neste momento se inicia a pré-

cópula. Esta fase pode ser iniciada também sem haver perseguições, quando a fêmea

aceita passivamente o macho. Em ambos os casos, o macho posiciona seu plastrão na

metade final da carapaça da fêmea e apóia os membros anteriores na mesma para

tentar montá-la (Figura 3a). O macho estica seu pescoço e o mantém arqueado para

baixo, encostando algumas vezes na carapaça e na cabeça da fêmea (Figura 3b).

Durante a tentativa de monta, o macho se aproxima da fêmea com a cauda

estendida e arqueada para baixo, movimentando-a ao redor da região cloacal da

fêmea, a qual, se aceitar o macho, também faz movimentos com a cauda, facilitando o

encontro das aberturas cloacais (Figura 3c-e). Este ritual é acompanhado por mordidas

ou tentativas do macho em morder a cabeça e o pescoço da fêmea, que geralmente

ficam estendidos. Às vezes o macho com o pescoço esticado e arqueado, esfrega a

parte ventral do pescoço na carapaça ou na cabeça da fêmea.

ii) Rejeição

Nesta fase a fêmea ainda pode rejeitar o macho, fazendo movimentos com o

corpo e a cabeça, na tentativa de mordê-lo. Se o macho insistir em copular com uma

fêmea desestimulada que o rejeita, ela se desvencilha e volta-se para ele ameaçando-o

com a boca aberta (Figura 3f). Neste caso, o macho se afasta e permanece quieto por

18
vários minutos e pode voltar ou não a se aproximar da fêmea. Caso o macho não se

afaste, a fêmea nada em direção a ele com a boca aberta em atitude ameaçadora. O

macho reage nadando para trás, com a cabeça estirada voltada para a fêmea. Esta

atividade ameaçadora da fêmea em direção ao macho ocorre até que ele se afaste,

neste caso a fêmea afasta-se também.

Figura 3. Comportamento reprodutivo, segunda fase – pré-cópula: tentativa de monta (a); pescoço do
macho encosta na carapaça da fêmea (b); cauda arqueada do macho na cloaca da fêmea (c – e);
rejeição da fêmea (f).

19
Terceira fase: Cópula

Quando a fêmea se mostra receptiva à corte do macho e não o rejeita durante a pré-

cópula, ocorre a cópula através da aproximação das caudas que põem em contato as

aberturas cloacais de ambos os sexos, com a introdução do pênis na cloaca da fêmea.

A duração média da interação entre machos e fêmeas das 18 observações de cópula,

foi de aproximadamente 23 segundos (amplitude 9-120 segundos). Foi observado uma

mesma fêmea copular três vezes, outras duas apenas uma vez. As Figuras 4a-d

ilustram a seqüência dos comportamentos descritos.

Movimentos durante a cópula e conclusão

Durante o acasalamento as caudas de machos e fêmeas mantêm-se estiradas e

os pescoços estendidos. Quando parados juntos ao assoalho do aquário, os membros

anteriores do macho se apóiam na carapaça da fêmea, enquanto os posteriores ficam

apoiados no assoalho (Figuras 4a-c). Algumas vezes as fêmeas não param de se

deslocar durante a cópula, e o macho desloca-se junto, sem desmontá-la. Durante a

cópula, o macho geralmente esfrega a parte ventral do pescoço na carapaça da fêmea.

Este movimento ocorre repetidas vezes, provavelmente como estímulo táctil para

ambos. Uma vez consumada a cópula, o macho desmonta da fêmea e o pênis é

recolhido. Os dois deslocam-se para lados diferentes do aquário e termina a interação

(Figura 4d).

20
Figura 4. Comportamento reprodutivo, terceira fase: cópula (a – c); final (d).

2. Influência da cor da cabeça dos machos na seleção das fêmeas

As cabeças de alguns machos foram pintadas de vermelho e preto, para verificar

se poderia haver diferenças significativas na aceitação das fêmeas (seleção sexual

para cor da cabeça). Como controle, alguns machos não tiveram a cabeça pintada. As

proporções de aceite das fêmeas pelos machos foram homogêneas, tanto para os que

tinham a cabeça pintada como para os que não tinham (χ²0,05(2) = 2,0; p>0,05;

Tabela 1), mostrando que as fêmeas não selecionam os machos pela cor da cabeça.

21
Tabela 1. Proporção (número de indivíduos) de machos com cabeças
pintadas e normais que foram aceitos pelas fêmeas, qui-quadrado (Ho: as
proporções são 1:1:1).
vermelha preta normal Soma

Observado 245 245 271 761

Esperado 253.6 253.6 253.6

3. Morfometria e dimorfismo sexual

Os caracteres utilizados para verificar dimorfismo sexual para tamanho na

irapuca foram os comprimentos da carapaça e da cabeça. Não houve variação

significativa no tamanho da carapaça dos machos aceitos ou rejeitados pelas fêmeas

(t0,05 (2) 32 = 0,1850; p>0,05; Tabela 2, Apêndice 2), indicando que a seleção das fêmeas

por machos é independente do comprimento da carapaça. Não houve variação

significativa no tamanho da carapaça das fêmeas (t0,05(2)18 = 0,21; p>0,05; Tabela 3,

Apêndice 3), indicando que os movimentos de procura dos machos por fêmeas também

são independentes do comprimento da sua carapaça. Como não houve variação

significativa no comprimento da carapaça dentro de cada sexo, foi verificado se poderia

haver diferenças significantes no comprimento da carapaça entre os sexos (dimorfismo

sexual). O resultado indicou que as fêmeas têm carapaça maior (t0,05(2)38 = 9,884;

p<0,05; Tabela 4, Apêndice 4). Há dimorfismo sexual na irapuca, mas não há seleção

de machos por fêmeas (ou fêmeas por machos) com carapaças maiores ou menores,

porque embora maiores que os machos, as fêmeas não apresentaram variação

significativa no tamanho da carapaça, o mesmo resultado para os machos.

22
Não houve diferença significativa tamanho da cabeça de machos aceitos ou

rejeitados pelas fêmeas (t0,05(2)32 = 0,6532; p>0,05; Tabela 5, Apêndice 5), indicando

que a aceitação das fêmeas é independente do comprimento da cabeça do macho. Nos

tamanhos da cabeça de fêmeas, também não houve diferença significativa (t0,05(2)18 =

0,78; p>0,001; Tabela 6, Apêndice 6), indicando que os movimentos de procura de

fêmeas por machos são independentes do tamanho das suas cabeças. Como não

houve diferença significativa nos tamanhos da cabeça de machos aceitos ou rejeitados

pelas fêmeas, verificou-se se poderia haver diferenças significantes nos comprimentos

das cabeças entre os sexos. O resultado indicou que há dimorfismo sexual com relação

a este caráter, as fêmeas são maiores (t 0,05 (2) 38 = 6.217; p<0,05; Tabela 7, Apêndice

7).

Tabela 2. Carapaça dos machos, comprimento (cm): estatística das


distribuições de freqüências.
A n m±sx s V (Ix)

Fev-Maio 19.2-22.3 17 21.064±0.22 0.93 4.42 20.58-21.54

Julho 19.6-22.4 17 21.00±0.22 0.91 4.33 20.53-21.47

A, amplitude s, desvio padrão


n, tamanho da amostra V, coeficiente de variação
m±sx, média ± erro padrão I(x), intervalo de confiança da média

23
Tabela 2.2. Carapaça das fêmeas, comprimento (cm): estatística das
distribuições de freqüências.
A n m±sx s V (x)

Fev-Maio 21.5-30.7 10 26.06±0.89 2.82 10.8 24.04-28.07

Julho 24.0-28.7 10 26.07±0.43 1.36 5.17 20.53-21.47

A, amplitude s, desvio padrão


n, tamanho da amostra V, coeficiente de variação
m±sx, média ± erro padrão I(x), intervalo de confiança da média

Tabela 2.3. Carapaça dos machos e fêmeas, comprimento (cm): estatística


das distribuições de freqüências, todas as amostras, 2006.
A n m±sx s V (x)

Machos 19.2-22.3 20 20.98±0.20 0.91 4.30 19.20-22.30

Fêmeas 21.5-30.7 20 26.12±0.48 2.15 8.23 25.15-27.17

A, amplitude s, desvio padrão


n, tamanho da amostra V, coeficiente de variação
m±sx, média ± erro padrão I(x), intervalo de confiança da média

Tabela 3.1. Cabeça dos machos, comprimento (cm): estatística das


distribuições de freqüências.
A n m±sx s V (x)

Fev-Maio 3.2-4.7 17 3.85±0.07 0.32 8.31 3.69-4.02

Julho 3.6-4.3 17 3.91±0.04 0.17 4.34 3.82-4.00

A, amplitude s, desvio padrão


n, tamanho da amostra V, coeficiente de variação
m±sx, média ± erro padrão I(x), intervalo de confiança da média

24
Tabela 3.2. Cabeça das fêmeas, comprimento (cm): estatística das
distribuições de freqüências, amostras de Fevereiro-Maio e Julho, 2006.
A n m±sx s V (Ix)

Fev-Maio 3.9-5.2 10 4.5±0.12 0.40 8.8 4.40-5.20

Julho 4.0-4.9 10 4.5±0.08 0.28 6.2 4.50-4.90

A, amplitude s, desvio padrão


n, tamanho da amostra V, coeficiente de variação
m±sx, média ± erro padrão I(x), intervalo de confiança da média

Tabela 3.3. Cabeça dos machos e fêmeas, comprimento (cm): estatística


das distribuições de freqüências, todas as amostras, 2006.
A n m±sx s V I(x)

Machos 3.2-4.7 20 3.87±0.06 0.30 7.75 3.72-4.01

Fêmeas 3.9-5.2 20 4.50±0.07 0.33 7.30 4.34-4.65

A, amplitude s, desvio padrão


n, tamanho da amostra V, coeficiente de variação
m±sx, média ± erro padrão I(x), intervalo de confiança da média

4. Temperatura e movimentos de corte

Para verificar se poderia haver alguma relação entre a temperatura e a atividade

reprodutiva, foram utilizados os movimentos de corte (descritos no item 1. Corte e

acasalamento) observados em ambos os sexos e as temperaturas dos aquários em

duas categorias, 24-28ºC e 29-31ºC. As associações entre temperatura e os

movimentos de corte registrados para ambos os sexos foram significativas (χ²0,05(2) =

4,0443; p<0,05; Tabela 8), mostrando que as fêmeas cortejam mais que os machos em

ambas as categorias de temperatura testadas, e que os movimentos das fêmeas são

mais freqüentes nas temperaturas entre 29-31ºC.

25
Tabela 5. Temperatura da água (ºC) e movimentos de corte, machos e
fêmeas, qui-quadrado.
24-28ºC 29-31ºC Soma

Machos 27 66 93

Fêmeas 60 83 143

Soma 87 149 236

5. Freqüência de movimentos de corte

A freqüência de movimentos com e sem corte apresentado pelas irapucas foi

significativamente diferente entre os sexos, bem como com relação ao tempo com que

ambos permaneceram parados (χ²0,05(2) = 57,972; p<0,05; Tabela 9), mostrando

associação entre o comportamento reprodutivo e o sexo. Os resultados indicaram

também que os indivíduos de ambos os sexos permaneceram mais tempo parados

independente da temperatura, apesar das fêmeas se movimentaram mais, incluindo os

movimentos de corte.

Alguns comportamentos anômalos foram registrados, com relação às

aproximações entre animais do mesmo sexo. As fêmeas se cortejam entre si mais do

que os machos. Dentre as 34 observações de aproximação com comportamento de

corte e tentativas de acasalamento entre fêmeas, uma apresentou cortejo prolongado

até a tentativa de cópula. Entre machos foram registradas apenas seis aproximações

com comportamento de corte e tentativa de acasalamento, sendo que uma teve cortejo

prolongado até a tentativa de cópula.

26
Tabela 4. Freqüências de movimentos, qui-quadrado.
Parados Movimentos Movimentos Soma
sem corte com corte
Machos 816 311 28 1200

Fêmeas 690 443 67 1200

Soma 1551 754 95 2400

27
Discussão

Corte e acasalamento

A reprodução é um aspecto fundamental da história de vida dos organismos e o

estudo dos seus parâmetros é importante para avaliar o sucesso reprodutivo dos

indivíduos. Dentre estes parâmetros, são de especial importância o comportamento de

corte e o dimorfismo sexual, que podem influenciar a seleção entre os sexos, como o

tamanho e a coloração (Alcock,1993; Krebs & Davis,1993; Andersson, 1994). Com

relação aos quelônios do gênero Podocnemis, são praticamente inexistentes na

literatura informações sobre a biologia reprodutiva das espécies, há apenas breves

relatos sobre desova e comportamento de Podocnemis vogli da Venezuela; (Ramo,

1982), comportamento de nidificação de tartaruga-da-amazônia, Podocnemis expansa

(Vanzolini, 1967; Alho & Pádua, 1982a,b) e Podocnemis unifilis (Foote, 1978), e ao

comportamento alimentar de Podocnemis expansa, P. unifilis, P. sextuberculata

(Malvasio, et al., 2003). Sobre os demais aspectos ligados principalmente a reprodução

há uma grande lacuna.

O comportamento de corte relatado neste estudo se enquadra no padrão geral

de comportamento reprodutivo descrito para várias espécies das famílias

Kinosternidae (Sexton, 1960; Mahmoud, 1967; Lardie, 1975; Bels & Crama, 1994) e

Chelidae (Molina, 1996a,b; Richard, 1999). Estes comportamentos se iniciam pela

procura dos machos por fêmeas e pode ter vários desdobramentos, dependendo da

receptividade das fêmeas. Além destas alternativas, há outra condição da fêmea

responder ao macho que a corteja, que é afastar-se sem mostrar interesse, o que faz

28
com que o macho inicie uma perseguição à fêmea. Os comportamentos de pré-

cópula variam entre as espécies, ambos os sexos preparam-se para o acasalamento

(Ernest, 1990, Molina 1996ab).

O padrão geral do comportamento reprodutivo entre os quelônios pode ser

denominado por: Primeira fase-início da core – reconhecimento dos parceiros, Segunda

fase: pré-cópula e Terceira fase: cópula. Este padrão ocorre tanto para as espécies

aquáticas como para as terrestres (Carpenter, 1980; Molina, 1992). Algumas espécies

exibem corte mais elaborada, como o macho de Trachemys scripta scripta, o qual utiliza

as longas garras dos membros anteriores para atritar a cabeça da fêmea durante a

corte (Ernst, 1990). Ainda subespécies do gênero Trachemys, nas quais os machos são

desprovidos de garras, os machos (como de Trachemys scripta taylori) não exibem os

toques na cabeça da fêmea (Davis & Jackson, 1973).

Estes comportamentos observados, tanto neste estudo como os relatados na

literatura sobre quelônios (Carpenter, 1980), parecem basear-se em três tipos de

estímulos principais: visuais, tácteis e olfativos. O estímulo visual relaciona-se às

exibições que os machos fazem ao redor da fêmea para atraí-la, como nadar em circulo

ou persegui-la, e são complementadas por estímulos tácteis, como mordidas e

aproximações com o corpo, que se roça na fêmea. Também a fêmea explicita sua

rejeição ao macho, exibindo “display” baseado, em um repertório de comportamentos

agressivos.

Com relação aos estímulos tácteis, mordidas são comuns, e descrito para vários

animais (Krebs & Davies, 1993), como também observado neste estudo em todas as

fases do comportamento da irapuca, até o acasalamento. Possivelmente este

29
comportamento estimule sexualmente as fêmeas. Para quelônios este comportamento

foi descrito em Kinosternon scorpioides (Sexton, 1960), Chrysemys scripta (Davis &

Jackson, 1973), Podocnemis vogli (Ramo, 1982), Sternotherus minor (Bels & Crama,

1994) e Phrynops geoffroanus (Molina, 1996a,b).

A base olfativa relaciona-se principalmente com os sinais químicos, os quais

parecem revelar aos machos, a espécie do indivíduo examinado (Carpenter, 1980), o

sexo (Mahmoud, 1967, Carpenter, 1980) e o grau de receptividade das fêmeas (Stacey

et al., 1986), percebido por meio de inspeções olfativas da cloaca das mesmas.

Durante os experimentos, notei que em algumas ocasiões o macho não realiza a

olfação e parte direto para tentativa de copula. Este comportamento “direto” também foi

descrito para Phrynops geoffroanus (Molina, 1996ab) e Kinosternon flavescens

flavescens (Lardie, 1975). Em Acanthochelys pallidipectoris a olfação é muito rápida

(Horne, 1993) e em Platemys platycephala nem existe (Harding, 1983).

O comportamento do macho em “ir direto” para os movimentos pré-cópula (sem

olfação aparente) não parece ter sido ao acaso, porque ele poderia encontrar outro

macho, como de fato ocorreu algumas vezes, mas parece ter sido uma aproximação

certeira. Este comportamento permite a formulação de algumas hipóteses interessantes

sobre a biologia reprodutiva dos quelônios, com a premissa de que a aproximação sem

olfação não é aleatória: i) os machos podem sentir o cheiro da fêmea sem precisar

encostar à narina no corpo desta, ii) a decisão do macho pode ser tomada com base

em estímulos visuais da fêmea, iii) ambos os sexos podem emitir algum tipo de sinal

não olfativo e não visual.

Com relação à primeira hipótese, é provável que os machos possam detectar as

fêmeas à distância, através de receptores olfativos para odores específicos, como

30
feromônios, porém para testá-la são necessários experimentos com perguntas mais

específicas do que as que eu fiz neste estudo. Não há na literatura relatos de

experimentos sobre as distâncias mínimas que quelônios podem detectar odores,

mas Vogt (1979) sugere que em Chrysemys picta, da América do Norte, é

necessário o macho quase encostar o focinho na fêmea. Com relação à segunda

hipótese, os experimentos que realizei mostraram que a carapaça e a cabeça das

fêmeas são maiores; então é possível que machos possam distinguir visualmente

essas diferenças morfológicas, como sugerido para outras espécies de quelônios

(Moll & Legler, 1971; Legler, 1990). As fêmeas podem também ser detectadas pela

cor castanho-escura da cabeça, enquanto que a cabeça dos machos é

predominantemente vermelha. A terceira hipótese, mais instigante, supõe que os

indivíduos de ambos os sexos possam se comunicar através de sons emitidos por

eles.

Entretanto são desconhecidos os mecanismos pelos quais machos e fêmeas se

reconhecem. Possivelmente todas estas hipóteses estejam corretas; verificá-las

certamente em muito contribuiria para conhecermos a biologia de quelônios. Vogt

(1979) sugere que em quelônios aquáticos o reconhecimento das fêmeas pelos machos

possa ser visual e que os feromônios possam ser característicos de cada espécie e

ambos os sexos os tenham, atraindo-se mutuamente. Talvez esses feromônios se

difundam pouco na água e os indivíduos tenham de chegar bastante perto para detectar

a presença de fêmeas ou de machos. Nos jabutis, quelônios terrestres do gênero

Geochelone, tem que haver contato da narina com a região cloacal (Auffenberg, 1965).

31
A hipótese, de comunicação sonora em quelônios aquáticos é realmente muito

interessante e pode explicar muitos comportamentos, como as escolhas de locais para

desova (arribações), movimentos de filhotes e outras tantas perguntas, até agora sem

respostas. Dentre todas as hipóteses que se fazem sobre a possibilidade de

comunicação sonora em quelônios aquáticos, o estudo pioneiro de Giles (2005) com

Chelodina oblonga, da Australia, abriu as portas para esta possibilidade.

O experimento de Giles foi muito interessante. Ela utilizou microfones

subaquáticos e gravou os sons dos quelônios, machos e fêmeas, mas não distinguiu os

sons emitidos por animais de ambos os sexos, juvenis e adultos. Também não

conseguiu detectar os sons dos filhotes, porque talvez exigisse equipamento para

detectar sons emitidos em baixas freqüências. A amplitude de freqüência utilizada foi

entre 100Hz e 3,5 kHz, Giles encontrou 17 categorias de sons: contínuos e

descontínuos, graves e agudos. Esses experimentos sugerem que existe uma

organização social entre os quelônios aquáticos. A organização social utilizada como

critério foi com relação aos sons produzidos por peixes, invertebrados aquáticos e

mamíferos aquáticos. Na foca, Pagophilus groenlandic, Giles relata 27 categorias de

sons, consideradas complexas, e as compara com as 17 categorias que ela detectou

em Chelodina, concluindo que os sons produzidos pelos quelônios revelam uma

complexidade social até então desconhecida para quelônios aquáticos. Giles também

detectou um tipo de som contínuo emitido pelos quelônios durante o período

reprodutivo, que ela considerou como sons específicos de corte.

Esta possibilidade de comunicação sonora em quelônios aquáticos pode explicar

uma série de comportamentos. Por exemplo, nos períodos de arribação, quando

algumas espécies se reúnem para desovar (como Podocnemis expansa e

32
possivelmente P. sextuberculata) o que motiva os indivíduos a iniciarem o processo e

se os mantém juntos? Como as fêmeas escolhem as praias para desovar e qual a

motivação que as mantém agrupadas na água, defronte as praias, antes de

desovarem? O que motiva o comportamento dos filhotes, os quais ao saírem dos

ninhos procuram imediatamente a água? Além do reconhecimento entre sexos, por

estímulos visuais e olfativos, qual a importância da emissão de sons durante o período

reprodutivo? Poderiam existir especificidades de sons entre machos e fêmeas?

Responder a estas perguntas exige estudos dirigidos e certamente os resultados

poderão elucidar muitos aspectos da reprodução dos quelônios aquáticos.

Um comportamento interessante observado neste estudo com as irapucas, foi a

perseguição que o macho faz à fêmea, quando ela não o rejeitou agressivamente, mas

não estava inteiramente receptiva ao seu cortejo. Vogt (1979) observou também este

comportamento na natureza para o quelônio aquático Chrysemys picta, com vários

machos perseguindo uma fêmea. Isto leva à formulação de algumas perguntas

interessantes: Poderia existir uma hierarquia nas perseguições? Poderia haver seleção

sexual, de modo que fêmeas pudessem escolher os machos por alguma característica?

A perseguição pode ter algum efeito que estimule as fêmeas?

O comportamento dos machos em perseguir fêmeas ocorre em várias espécies

de quelônios, tais como as espécies aquáticas da América do Norte Clemmys guttata e

Trachemys gaigeae, e a espécie argentina Phrynops hilarii (Legler, 1955; Mahmoud,

1967; Ernst, 1970; Stuart & Jennifer, 1998; Richard, 1999). É possível que a

perseguição tenha efeito estimulante nas fêmeas ou que induz a seqüência de

comportamentos que levam ao acasalamento. Este comportamento pode ser

coadjuvante ao êxito na cópula (Mahmoud, 1967; Davis & Jackson, 1970), mas pode

33
não ser condição necessária. Durante todos os experimentos com as irapucas,

observei 18 cópulas; destas 15 ocorreram após perseguições. Não há dados na

literatura que possam ser comparados com esta freqüência de cópulas e perseguições

que eu observei durante o estudo.

Durante as perseguições, as irapucas machos mantiveram o pescoço esticado,

como descrito para Pelomedusa subrufa (Ernst, 1980). Em algumas ocasiões o macho

desistiu da perseguição sem motivo aparente, o mesmo comportamento descrito para

Phrynops hilarii (Richard,1999) e Phrynops geoffroanus (Molina, 1996a,b). É possível

que o abandono à perseguição do macho tenha ocorrido devido à fêmea estar

desestimulada por alguma razão, sugerindo que fêmeas também tenham que motivar

machos e, mais ainda, que talvez os machos nem sempre estejam estimulados e

prontos para copularem.

Nos jabutis, (quelônios terrestres do gênero Geochelone), os movimentos de

elevação da cabeça podem ter a função de sinalização, de dominância, demonstrando

uma hierarquia social (Auffenberg, 1978) que pode estar relacionada ao acesso a

recursos alimentares ou às fêmeas. Os movimentos de cabeça são utilizados também

nos encontros agonísticos, que refletem a hierarquia social entre os indivíduos (Pough

et al, 2003). Neste estudo com as irapucas não foi observado nenhum tipo de hierarquia

ou interações agonísticas entre os indivíduos.

Quando o macho consegue manter-se sobre a fêmea, apoiando os membros

sobre a carapaça da mesma, é a fase da pré-cópula. Este comportamento também é

comum para várias espécies de quelônios (Sexton, 1960; Mahmoud, 1967; Lardie,

1975). Durante a pré-cópula, o macho da irapuca mantém o pescoço esticado,

esfregando, mordendo ou tentando morder a cabeça da fêmea. Estes comportamentos

34
também são descritos para quelônios da família Chelidae, como, Phrynops geoffroanus,

e Phrynops hillari (Molina, 1996a,b; Richard, 1999). A fêmea de irapuca na pré-cópula

pode aceitar passivamente o macho ou tentar desaloja-lo, como já observado em

algumas espécies do gênero Kinosternon e Phrynops (Mahmoud,1967; Molina,

1996a,b).

A duração média da cópula das irapucas em cativeiro foi de cerca de 20

segundos, e este tempo parece ser variável entre os quelônios. Por exemplo, em

cativeiro para Trachemys scripta elegans a duração de foi de 13 minutos (Davis &

Jackson, 1970) e em Trachemys dorbignyi a duração foi de 2 minutos (Molina, 1995).

Os demais comportamentos durante a cópula e o final, quando os pares cessam as

interações, foram descritos também para outras espécies, como as citadas acima. Em

Kinosternum flavescens flavescens, K. subrubbrum, Sternothaerus odoratus e S.

carinatus também em cativeiro Mohamoud (1967) relata que o tempo decorrido desde

o cortejo até o acasalamento foi de 10 minutos a 3 horas para a primeira espécie, e 5

minutos a 2 horas para as três últimas. Nas irapucas, o tempo total transcorrido desde o

início do cortejo até o acasalamento foi 12 minutos, com amplitude entre 10-20 minutos,

um tempo considerado rápido, quando comparado com as espécies da família

Kinosternidae.

Seleção sexual

Em 1871, Charles Darwin formulou os conceitos sobre seleção sexual, que

pressupõem a vantagem de um indivíduo em conseguir o maior número de cópulas,

aumentando o seu sucesso reprodutivo. Machos e fêmeas de diversas espécies

35
possuem caracteres sexuais secundários, como tamanho e coloração, que influenciam

na escolha do parceiro (Anderson, 1994), embora possam torná-los mais vulneráveis a

predadores (Pough et al., 2001). Dois parâmetros são importantes no contexto da

seleção sexual. O primeiro é a competição entre os indivíduos do mesmo sexo,

denominada de seleção intra-sexual; o segundo é a seletividade das fêmeas ou dos

machos pelo sexo oposto, denominado inter-sexual (Krebs & Davis, 1993).

Neste estudo das irapucas, o componente seleção sexual pelas fêmeas foi

testado por meio das variações de caracteres morfológicos, tamanho da carapaça e da

cabeça, e da coloração cefálica dos machos. Como as diferenças não foram

significativas entre os indivíduos e as fêmeas escolhem igualmente machos com

cabeças coloridas (artificialmente) de vermelho, preto ou da cor natural, parece não

haver seleção sexual para estes caracteres, o que não significa que não possa haver

outro processo de seleção de machos por fêmeas e vice versa nas irapucas.

Em algumas espécies de vertebrados a coloração dos machos parece influenciar

na escolha das fêmeas (Batten, 1995). Para quelônios, é possível que o melanismo

seja um importante caráter que influencia na seleção sexual de machos pelas fêmeas,

já que os machos, são geralmente mais coloridos, principalmente na cabeça e

membros (Lovich et al, 1990; Pough et al, 2003). Este dimorfismo pode ser permanente

ou aparecer durante a época reprodutiva, como caráter sexual secundário e transitório

(Ernst & Babour, 1989; Lovich et al., 1990; Cooper & Greenberg, 1992).

Nas espécies em que o dimorfismo é sazonal, como no quelônio asiático

Callagur borneoensis, esta mudança de cor é induzida pela testosterona e está

associada ao período reprodutivo (Moll et al., 1981; Andersson, 1994), durante o qual

os machos de borneoensis mudam de uma tonalidade escura para clara (Moll et al.,

36
1981). Na maioria dos quelônios o dimorfismo sexual para cor é permanente, tanto nas

espécies terrestres quanto nas aquáticas. Em algumas espécies da família Emydidae

supõe-se que os machos exibem o colorido escuro da cabeça, pescoço e membros

anteriores para mostrar suas habilidades durante o acasalamento (Lovich et al., 1990,

Molina, 1996a). Esta suposição parece também ser importante para os quelônios

terrestres, nos quais as cores da cabeça e membros indicam possíveis critérios de vigor

para seleção pelas fêmeas (Auffenberg, 1978).

Uma característica exclusiva das irapucas, entre as espécies da familia

Podocnemidae é o padrão de coloração vermelha ou alaranjada da cabeça. Nos filhotes

e machos adultos este padrão persiste, enquanto que as fêmeas apresentam variação

ontogenética, e a da cabeça torna-se marrom escura nos adultos. Entretanto esta

variação não parece influenciar a escolha das fêmeas de irapuca, fato também

observado para fêmeas de alguns lagartos (Andersson, 1994; López et al., 2002). No

caso dos lagartos, outras características que não a cor influenciam as fêmeas, como

demonstrado para Lacerta monticola, cujas as fêmeas preferem machos que tenham

poros simétricos dos dois lados da cabeça. Estes poros liberam feromônios que

provavelmente informam mais sobre a vitalidade dos machos do que a cor (López et al.,

2002). É possível que as fêmeas de irapuca também tenham preferência por alguma

característica dos machos, que não a cor da cabeça.

Com relação ao tamanho, não houve variação significativa entre os machos de

irapuca, nem entre fêmeas, mas as, fêmeas são maiores do que os machos. Em

algumas espécies de vertebrados, machos e fêmeas diferem com relação ao tamanho

e as variações de tamanhos entre machos são significantes, influenciando na escolha

das fêmeas para acasalamento, que escolhem os indivíduos maiores (Anderson,

37
1994). O maior tamanho é selecionado possivelmente por meio de combates entre os

machos.

Dentre os quelônios fêmeas são frequentemente maiores do que os machos, as

exceções estão nas famílias Chelydridae, Kinosternidae e na maior parte das

espécies da família Testudinidae (Berry & Shine, 1980; Gibbons & Lovich, 1990). Na

maioria dos quelônios aquáticos as fêmeas são maiores, enquanto que na maioria

dos quelônios semi-aquáticos e terrestres, os machos são maiores ou do mesmo

tamanho que as fêmeas. A ocorrência de combates entre machos é pouco comum

em quelônios aquáticos, mas freqüente entre os quelônios semi-aquáticos e

terrestres. Machos maiores têm melhor resultado nos combates intrasexuais, na

realização de cópula forçada e na exploração dos recursos disponíveis (Auffenberg,

1977; Berry & Shine, 1980; Fitch, 1981; Gibbons & Lovich, 1990).

Especialmente nas espécies ovíparas nas quais as fêmeas crescem mais, fato

pode estar associado à produção de ovos, aumentando seu sucesso reprodutivo

(Darwin, 1871; Fitch, 1981; Andersson, 1994). De fato, nas espécies de quelônios do

gênero Podocnemis (P. unifilis, P. vogli e P. sextuberculata), existe correlação positiva

entre o tamanho das fêmeas e quantidade de ovos – massa, número e tamanho (Ramo,

1982; Soini & Soini, 1982; Bernhard, 2001). As fêmeas de quelônios continuam a

crescer depois da primeira reprodução, indicando que investem tanto na reprodução

quanto em si próprias (crescimento). Isto pode indicar também, uma baixa predação

sobre os adultos, pois nas espécies muito predadas as fêmeas alocam mais energia na

produção de ovos ou de filhotes (Dunham et al., 1988).

38
Com relação aos machos, estes podem ser menores, pois parte da energia que

seria alocada para o crescimento é disponibilizada para a procura das fêmeas (Vogt,

1980). Em quelônios, como a espécie norte-americana Trachemys scripta venusta, os

indivíduos não crescem durante o periodo reprodutivo, alocando energia para o

desenvolvimento das gônadas, gametogênese e procura de parceiros para a

reprodução (Moll & Moll, 1990).

Ao comentar alguns dos fatores seletivos que podem levar um dos sexos a ser

maior, Fitch (1981) sugere a necessidade da espécie em reduzir a competição

intersexual (por exemplo, alimentação). Esta hipótese também foi proposta para

quelônios por Bury (1979). Vogt (1980a) sugere que durante a nidificação o maior

tamanho das fêmeas em quelônios poderia fornecer uma maior proteção contra

predadores, geralmente aves e mamíferos. Esta hipótese também deve se aplicar aos

machos que costumam realizar extensas jornadas em terras, não explicando a

diferença de tamanho entre os dois sexos.

Corte e movimentos em função da temperatura da água

Neste estudo as fêmeas cortejaram mais que os machos, principalmente nas

temperaturas mais altas da água dos aquários, entre 29-31ºC. A literatura não traz

informações que possam ser comparadas com estes resultados, porque os relatos de

temperatura influenciando o comportamento referem-se apenas ao comportamento de

termorregulação (Hutchison, 1979; Chessman, 1987). É possível que temperaturas

mais baixas diminuam o metabolismo dos indivíduos, por serem termorreguladores.

Quanto à maior freqüência de cortejo entre as fêmeas, isto é um tanto contraditório com

a literatura, embora não tenha tido acesso a nenhum outro trabalho sobre

39
comportamento de quelônios em cativeiro. A aparente contradição está na suposição

de que nos quelônios aquáticos os machos deveriam se deslocar mais para procurar

fêmeas, e se o menor tamanho facilitaria os deslocamentos (Berry & Shine, 1980).

Entretanto, como os experimentos deste estudo foram realizados em cativeiro, fatores

como estresse causado por espaço limitado e ambiente artificial devem ser levados em

consideração.

Na outra série de experimentos sobre movimentos da irapuca (sem levar em

consideração a temperatura), os resultados mostraram que ambos os sexos

permanecem a maior parte do tempo parados e que novamente – fêmeas se

movimentam mais, incluindo os movimentos de corte. Seria interessante realizar outros

estudos para elucidar este aspecto e testar novamente as hipóteses de que os machos

se movimentam mais, com outros desenhos experimentais.

40
Conclusões

1. Foram reconhecidas três fases reprodutivas: aproximações e perseguições, pré-

cópula e cópula.

2. Fêmeas evitam de três formas o cortejo dos machos: passivamente, esquivando-

se, agressivamente.

3. Machos reagem à esquivas de fêmeas geralmente perseguindo-as.

4. O tempo de cortejo até a cópula foi em média de 12 minutos (amplitude 10 – 20

minutos), o menor já registrado para quelônios.

5. Os tamanhos das carapaças e cabeças variam significativamente entre os sexos

(fêmeas são maiores do que os machos).

6. Não houve seleção das fêmeas para cor e tamanho da carapaça e cabeça.

7. Fêmeas cortejam mais que os machos, principalmente nas temperaturas mais

altas do aquário (29 – 31ºC).

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53
Apêndice 1. Ficha de registro de seqüências comportamentais utilizado para o estudo
do comportamento reprodutivo de Podocnemis erythrocephala.

I: fêmea - Dia -
m.n. - Inicio:
m.p. - Fim:
m.v. -
Tempo em seg. categorias
Olfação Perseguição Pré-cópula Cópula

mn – macho com a cabeça colorida naturalmente (sem pintura)


mp – macho com a cabeça pintada de preto
mv – macho com a cabeça pintada de vermelho

54
Apêndice 2. Comprimento da carapaça (cm) dos machos de Podocnemis erytrhocephala.
Fev- 21,5 21,5 20,0 21,3 21,3 21,5 19,2 21 20,2 21,8 19,5 20,7 22,0 22,2 22,3 21,8 20,3
maio

Julho 19,6 21,0 20,9 22,4 19,7 21,2 20,0 22 22,3 20,3 20,6 20,1 20,8 21,5 20,7 21,6 22,4

Apêndice 3. Comprimentos da carapaça (cm) das fêmeas de Podocnemis erytrhocephala.


Fev-maio 27,0 28,5 30,7 26,0 26,0 26.3 28,0 22,0 24,6 21,5

Julho 26,1 24,0 25,5 27,1 27,9 26,0 28,7 26,1 26,3 25,0

Apêndice 4. Comprimento da carapaça (cm) dos machos e fêmeas de Podocnemis erytrhocephala.

Machos Fêmeas
21,5 27,0
21,5 28,5
20,0 30,7
21,3 26,0
21,3 26,0
21,5 26,3
19,2 28,0
21,0 22,0
20,2 24,6
21,8 21,5
19,5 26,1
20,7 24,0
22,0 25,5
22,2 27,1
22,3 27,9
21,8 26,0
20,3 28,7
19,6 26,1
21,0 26,3
20,9 25,0

55
Apêndice 5. Comprimento da cabeça (cm) dos machos de Podocnemis erythrocephala.
Fev- 3,9 3,8 3,9 3,8 3,8 3,8 3,2 3,7 3,8 3,5 3,5 3,8 4,2 4,7 4,1 4,0 4,1
maio
Julho 3,9 4,0 3,7 3,9 3,9 4,0 3,9 3,9 4,2 3,7 4,0 3,6 4,0 3,7 3,9 4,0 4,3

Apêndice 6. Comprimento da cabeça (cm) das fêmeas de Podocnemis erytrhocephala.


Fev-maio 4,3 5,0 5,2 4,6 4,4 4,3 4,8 4,1 4,4 3,9

Julho 4,5 4,0 4,2 4,7 4,8 4,7 4,9 4,3 4,5 4,4

Apêndice 7: Comprimentos da cabeça (cm) dos machos e fêmeas de Podocnemis erythrocephala.

Machos Fêmeas
3,9 4,3
3,8 5,0
3,9 5,2
3,8 4,6
3,8 4,4
3,8 4,3
3,2 4,8
3,7 4,1
3,8 4,4
3,5 3,9
3,5 4,5
3,8 4,0
4,2 4,2
4,7 4,7
4,1 4,8
4,0 4,7
4,1 4,9
4,0 4,3
3,9 4,5
3,9 4,4

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