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O Sistema Somatossensorial:
Tato e Propriocepçáo
geral
ítema somatossensorial, o u sensorial somático, p o d e ser considerado o mais
• - ; i o dos sistemas sensoriais, m e d i a n d o u m a m p l o espectro de sensações - tato,
pesíão, vibração, posição dos membros, calor, f r i o e dor - que são transduzidas
k t receptores localizados dentro da pele o u dos músculos e retransmitidas para
tmA variedade de alvos no sistema nervoso central. N ã o é de surpreender, por-
ImtD, que essa complexa m a q u i n a r i a biológica possa ser d i v i d i d a e m subsistemas
ÉBOonalmente distintos, c o m diferentes conjuntos de receptores periféricos e vias
s. U m subsistema transmite informações de mecanorreceptores cutâneos e
i a sensação de tato f i n o , vibração e pressão. O u t r o subsistema origina-se
receptores especializados associados aos músculos, aos tendões e às articula-
e é responsável pela propriocepção - nossa capacidade de perceber as posi-
I membros e de outras partes do corpo no espaço. U m terceiro subsistema
de receptores que fornecem informações acerca de estímulos dolorosos
ções na temperatura, assim c o m o d o tato mais grosseiro. Este capítulo
) as propriedades dos subsistemas tátil e p r o p r i o c e p t i v o ; os mecanismos res-
t e i s pelas sensações de dor, temperatura e tato grosseiro serão considerados
- \ i m o capítulo.
Tronco
encefálico
Gânglio
trigeminal
Terminais
(receptores senso
receptores Fibra aferente para
riais para a face)
dor e temperatura
Medula
espinhal F i g u r a 9.1 Aferentes somatossensoriais transmitem informação da superfície da pele
Cervical -i para circuitos centrais. (A) Os corpos celulares das fibras aferentes somatossensoriais que
transmitem informação acerca do corpo estão localizados e m uma série de gânglios das
raízes dorsais que se situam ao longo da medula espinhal; aqueles que transmitem in-
formação acerca da cabeça são encontrados principalmente nos gânglios trigeminais. (B)
Neurónios pseudounipolares nos gânglios da raiz dorsal originam processos periféricos
que se ramificam dentro da pele (ou do músculo) e processos centrais que estabelecem
sinapses com neurónios localizados na medula espinhal e e m níveis mais altos d o sistema
Torácica <
nervoso. Os processos periféricos dos mecanorreceptores aferentes estão encapsulados
por células receptoras especializadas; aferentes que transmitem informação acerca de
dor e temperatura acabam como terminais nervosos livres.
(A)
Fibra aferente
encapsulada
Lado extracelular Canais iónicos a abertura dos canais iónicos
do aferente fechados
s i n t o n i z a r a f i b r a aferente p a r a d e t e r m i n a d a s características d a e s t i m u l a ç ã o
«nática. Fibras aferentes d e s p r o v i d a s de células receptoras especializadas são
i n o m i n a d a s terminações nervosas livres e são especialmente i m p o r t a n t e s
pra a sensação de d o r (veja o Capítulo 10). Aferentes que apresentam t e r m i n a i s
K a p s u l a d o s e m geral a p r e s e n t a m menores l i m i a r e s p a r a d i s p a r a r potenciais
5 ação e são, p o r t a n t o , m a i s sensíveis à estimulação sensorial d o que as t e r m i -
jções nervosas livres.
QUADRO 9A Dermátomos
ada gânglio da raiz dorsal (ou sen- gica (para alívio de dor ou por outras vibração. Por sua vez, a distribuição
jrial) e o nervo espinhal associado razões). Esses estudos mostram que segmentar dos proprioceptores não
rovém de parte de uma série repeti- os mapas de dermátomos variam segue o mapa de dermátomos, mas
va de massas de tecido embrionário, entre os indivíduos. Além disso, os relaciona-se de modo m u i t o mais se-
enominadas somitos. Esse fato do dermátomos também apresentam melhante com o padrão de inervação
esenvolvimento explica por que substancial sobreposição, de modo muscular. Apesar dessas limitações, o
xio o arranjo dos nervos somáticos é que lesões em uma determinada raiz conhecimento dos dermátomos é f u n -
;gmentar (assim como os alvos por dorsal não levam à completa perda de damental para a avaliação clínica de
les inervados) no adulto. O território sensação na região de pele relevante, pacientes neurológicos, em especial
errado por u m nervo espinhal é de- sendo essa sobreposição maior para para a determinação do nível de uma
ominado dermátomo. Em humanos, tato, pressão e vibração do que para lesão espinhal.
área cutânea de cada dermátomo dor e temperatura. Desse modo, testes
m sido definida em pacientes nos para avaliação de dor fornecem uma
uais raízes dorsais específicas esta- avaliação mais precisa da lesão em
am afetadas (como no herpes-zóster, u m nervo segmentar do que testes
u cobreiro") ou após secção cirúr- para respostas ao tato, à pressão ou à A inervação originária de um único gânglio de
raiz dorsal e seu nervo espinhal é chamada
de dermátomo. Todo o conjunto de dermá-
tomos sensoriais é mostrado aqui para um
adulto normal. O conhecimento desse arranjo
Ramos
do nervo é particularmente importante para a definição
•? trigêmeo da localização de possíveis lesões espinhais (e
outras). Os números referem-se aos segmen-
tos espinhais pelos quais cada nervo é deno-
minado. (Segundo Rosenzweig et ai, 2002.)
• Cervical Sacral
\ Lombar Torácico Cervical
- Torácico
• Lombar
• Sacral
210 Purves, Augustine, Fitzpatrick, Hall, LaMantia, McNamara & White
Diâmetro do Velocidade de
Função sensorial Tipo de receptor Tipo de aferente a x o n a r axônio condução
Propriocepção Fuso muscular •Axônio 13-20 u m 80-120 m/s
" Mielina
la, II
Tato Células de Merkel, de Meiss- 6-12 um 35-75 m/s
ner, de Pacini e de Ruffini
"Durante as décadas de 1920 e 1930, houve uma explosão de estudos classificando os axônios de acordo com suas velocidades de condução. Três categorias
principais foram identificadas, denominadas A, B e C. A categoria A compreende os axônios mais largos e mais rápidos, C, os de menor diâmetro e mais lentos.
Axônios com mecanorreceptores em geral pertencem à categoria A. O grupo A é subdividido em subgrupos designados a (o mais rápido), P e 8 (o mais lento).
Para tomar essa classificação ainda mais confusa, axônios de aferentes musculares em geral são classificados em quatro grupos adicionais - 1 (o mais rápido), II,
e IV (o mais lento) - com subgrupos designados por números romanos minúsculos! (Segundo Rosenzweig et ai, 2005.)
Neurociências 211
(C)
Dedo r
Lado esquerdo
Lado direito
Hl i u w
a b e
,1. I l l
1 1 1
Lábio ^ " ™ *
III
superior é à ã S i '
(I a b c a b e a b e VI ò
Abdome
WMIMMffH» ^ ^
Coxa
Panturrilha
Planta
Dedão
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Limiar médio de discriminação entre dois pontos (mm)
3
receptivo a mão
2
Densidade de inervação 100/cm 150/cm 2
20/cm 2
1 O/cm 2
Complexo
neurito-
-célula de
Merkel
Terminação
de Ruffini • Derme
Corpúsculo
de Pacini
r Camada
subcutânea
iiMSiilK h H
10 m m
Fibra muscular
intrafusal
Fibras
musculares
extrafusais
F i g u r a 9.7 Proprioceptores no siste-
ma muscular esquelético fornecem in-
formações acerca da posição dos m e m - Cápsula
bros e de outras partes do corpo no (tecido
espaço. (A) Um fuso muscular e diversas conjuntivo)
fibras musculares extrafusais. As fibras cercando
musculares intrafusais especializadas do o fuso
fuso estão cercadas por uma cápsula de
tecido conjuntivo. (B) Órgãos de Golgi
são mecanorreceptores de baixo limiar,
encontrados nos tendões. Eles forne- Fibrilas de
Axônios aferentes colágeno
cem informação acerca de mudanças
dos grupos I e I I Tendão
na tensão muscular. (A, segundo Mat-
thews, 1964.)
Neurociências 217
Núcleo Receptores
principal do mecanos-
complexo sensoriais
trigeminal da face
Iracto grácil
tracto do núcleo cuneiforme
Receptores
espinhal mecanossensoriais
3r-.:cal da parte superior
do corpo
Medula
espinhal
lombar Aferentes do fuso
muscular, parte
inferior do corpo
Medula
espinhal
sacral
Córtex somatossensorial
módulos representam uma caracterís- com facilidade nos encéfalos de algu- LORENTE DE NÓ, R. (1949) The strucrure
tica fundamental do córtex cerebral mas espécies, eles não foram encon- of the cerebral córtex. Physiology ofthe
de mamíferos tem ganho ampla acei- trados nas mesmas regiões encefálicas Nervous System, 3rd Ed. N e w York: O x f o r d
tação, e muitas dessas entidades têm de outros animais, mesmo sendo, às University Press.
Mountcastle, que os módulos são uma sido discernida com clareza, apesar Neuroscience: The Cerebral Córtex. Cam-
característica fundamental do córtex de m u i t o esforço e especulação. Essa bridge: Harvard University Press.
cerebral, essencial para a percepção, característica marcante da organiza- PURVES, D., D . RIDDLE and A . L A -
ção do córtex somatossensorial e de M A N T I A (1992) Iterated patterns of brain
a cognição e, talvez, mesmo para a
outras regiões corticais (e de algumas circuitry (or h o w the córtex gets its spots).
consciência. Apesar da prevalência de
subcorticais), portanto, continua sen- Trenas Neurosci. 15: 362-368.
módulos repetitivos, há alguns pro-
do u m intrigante quebra-cabeças. WOOLSEY, T. A . and H . V A N DER LOOS
blemas com a opinião de que unida-
(1970) The structural organization of layer
des em módulos são universalmente
Referências IV i n the somatosensory region (SI) of
importantes para a função cortical.
H U B E L , D . H . (1988) Eye, Brain, and Vision. mouse cerebral córtex. The descripfion of
Primeiro, embora circuitos modulares Scientific American Library. N e w York: W. a cortical field composed of discrete cyto-
áe uma dada classe sejam observados H . Freeman. architectonic units. Brain Res. 17: 205-242.
Para áreas
Para a amígdala e corticais motoras
o hipocampo e pré-motoras
Áreas pa-
Córtex somatossensorial secundário rietais 5 e 7
:
ç u r a 9.14 Alterações funcionais no córtex somatossensorial de u m macaco-coruja após
ar-cutação de u m dígito. (A) Diagrama do córtex somatossensorial do macaco-coruja, mos-
arrjo a localização aproximada da representação da mão. (B) Representação da mão no animal
• e s da amputação; os números correspondem aos diferentes dígitos. (C) Mapa cortical deter-
inaclo no mesmo animal dois meses após a amputação do dígito 3. O mapa m u d o u substan-
T :e: neurónios na área que antes respondia à estimulação do dígito 3, agora respondem à
• r x i l a ç á o dos dígitos 2 e 4. (Segundo Merzenich et ai, 1984.)
228 Purves, Augustine, Fitzpatnck, Hall, LaMantia, McNamara & White
Resumo
Os componentes d o sistema sensorial somático processam a informação transmi-
t i d a p o r estímulos mecânicos que são aplicados à superfície d o corpo (mecanor-
recepção cutânea) o u que são gerados dentro d o próprio corpo (propriocepção).
Esse processamento é realizado por neurónios distribuídos p o r diversas estruturas
encefálicas conectadas, p o r vias tanto ascendentes quanto descendentes. A trans-
missão da informação mecanossensorial aferente da periferia ao encéfalo começa
e m u m a variedade de tipos de receptores capazes de iniciar potenciais de ação.
Essa atividade é c o n d u z i d a r u m o ao SNC p o r u m a cadeia de neurónios, que, con-
f o r m e sua posição, são chamados de neurónios de p r i m e i r a , segunda o u terceira
o r d e m . Os neurónios de p r i m e i r a o r d e m localizam-se nos gânglios das raízes dor-
sais o u dos nervos cranianos. Os de segunda o r d e m estão localizados e m núcleos
do tronco encefálico. Os de terceira o r d e m , p o r sua vez, encontram-se no tálamo,
a p a r t i r de onde e m i t e m projeções ao córtex cerebral. Essas vias nervosas estão
arranjadas topograficamente por t o d o o sistema nervoso, sendo que a quantidade
de espaço cortical o u subcortical alocado a cada parte d o corpo é p r o p o r c i o n a l à
densidade de receptores periféricos que a referida área possua. Estudos realizados
c o m primatas não h u m a n o s m o s t r a m que regiões corticais específicas correspon-
d e m a cada s u b m o d a l i d a d e funcional; a área 3b, p o r exemplo, processa i n f o r m a -
ção o r i u n d a dos receptores cutâneos de baixo limiar, enquanto a área 3a processa
sinais originados nos proprioceptores. A s s i m , no mínimo dois critérios amplos co-
m a n d a m a organização dos sistema somatossensorial: m o d a l i d a d e e somatotopia.
O resultado f i n a l dessa complexa interação é a representação perceptiva unificada
do corpo e as interações que a cada instante realiza c o m o ambiente.