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o.g:n:MO! C:OY ~ • -
Alguns Aspectos da Filogênese
do Sistema Nervoso
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Ne\lrónio oferente -- /
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Estímulo
o
j..
Vimos como apareceram durante a filog~nese os três Vi
neurônios fundamentaisj~ presentes nos anelídeos. ou se,a. e
o neurômo aferente (ou sensitrvo). o neurônio efetente (ou
motor) e o neurônio de associação Todos os neurônios exis-
, ,., r~1dJde, ~ pcx~ Que ,rcc» tf'ft,tx t tg()losatnen1!.' 1t1tr,me9 · Flgur• 1.s bquema mostrando dS mod•f1uçôes na poslçoo do
rnt'f'tJJl/1 ruo t'A1s1.im 110S l'Nin,~Oi.. Ai'wll\ ~1,flcou•s.t" no 9 toque a c0tpo do neurôn,o sen~ItI\"0 durante a evoluçAo (A) corpo na su-
rriHIOI pcrç~ ~ ITW'dul.l ~t\cll QUt' ~ podo? ~ , mantt'tldo-~ SllJ perflc,e, (81 COfpo entre a wperf,cle e o S1Sttma rle"rvoso cenuat
•t .ld.,JP rei"..., J cont~ do.sou ir~ y,gmc-ntO\. (C) c01po P,ó"<lmo clO sistema ne,voso cenual
4 NNoMwtom11 FuncioNI
~- - ~ - ~ -- ~ ~
Embriologia, Divisões e Organização Geral
o Sistema Nervoso
-:. - Embriologia
A placa neural cresce progressivamente, toma-se mais
espes~ e adqu1re um sulco long1tud1nJI. denominado sulco
desenvolvimento embrlon~rlo (orga•
"I
neuro/ (Figura 2.1 B), que se aprofunda para formar a 90·
\'ema nervoso é importante. uma vez te,ro neural {Figura 2.1C). Os l~bios da goteira neural se
,,. nder muitos aspe<tos de sua anatomia. fundern para formar o tubo neural (Figura 2.1 D). O ecto-
ex muito ut,llzados para denom,nar partes derma. nJo d,ferenc,ado. ent~o se íecha sobre o rubo
~o adulto baseiam-se na emb11ologla. No neural, Isolando.a, assim, do me,o E:l(1erno No ponto em
~,olog J do sistema nervoso. trataremos
que esse ectoderma encontra os lábios dJ goteira neural,
~ es aspectos Que interessam e\ com- desenvolvem-se c~lulas qu formam de cada lldo uma
d spos1ção anatômica do s,stema nervoso lãmina longitudinal. denominada c11s1a neural. situada
as mJlform.:içõcs que pod m ocorrer em dorsolateralmente ao tubo neural (Figura 2.1 O. O tubo
neural da origem a elementos do sistema nervoso central
(SNC). ao passo que a crista dá origem a elementos do
s1stemJ nervoso periférico. além de elementos nâo per-
,.,. durante a evoluç~o. os p11me110s neuro- tencentes ao sistema nervoso. A segUJr, estudaremos as
• 11" na superficie externa dos organismos. fato modificações que essas duas fo,mações sofrem durante o
• ., .o tendo em vista a função p11rno1d,al do desenvolvimento.
... ..o de relacionar o animal com o ambiente.
·os embrion~rios, é o ectoderma aQuele que 2.1 Crista ntural
ccm·.i o com o me,o externo e é desse folheto Logo após a sua íormaç3o. as cristas neurais são con-
o s,stema nervoso. O pr,melro indicio de tínuas no sentido cran ocaudal (figura 2.1C). Rap,damen•
-=, , s·ema nervoso conmte em um espessa• te. entretanto. ela_s se dividem. dando ongem a diversos
' '1di?rmJ, situado acima da notocord'1. for· íragm mos que íormar3o os gJng ios espinais, situados
--........~ . 1 e ~rnadJ placa neural por volta do 200 dia de na raiz dorsal dos ner\'OS espinais (Figura 2.1 D) Nele~
Figura 2.1A). Sabe•se que. para a formação diferenciam-se os neurõn10s sensitM>S. pseudoun polares.
e a subsequente formação e desenvolvlmen· CUJOS prolongamentos centrais se ligam ao tubo neural, n-
neural tem importante papel a ação indutora quanto os prolongamentos periféricos se l19Jm aos dermti-
é.! Notocordas Implantadas na parede abdo- tomos dos somitos. Várias células da cmta neural migram e
br16es de anfiblos induzem a fo,maç~o de daroo origem a ,~lulas em tecidos sltuJdos longe do SNC.
A notocorda se degenera quase por comple- Os elementos derivados da crista neural ~ os segu ntes
'-=»:>..,auO uma pequena parte que forma o núcleo g~ngllos sem,trvos: gãngl,os do sistema nervoso autônomo
s ·•"'rtebras. (viscerais): medula da gt~ndula suprarrenal. me1an6c1tos.
~lco neural
Placa neural
Goteira neural
Tubo neural
O crescimento das paredes do tubo neural e a d1feren· flgu,1 2.l Vista dorsal de um embolo hurl'\.Jno de 22 mm. mos·
ciaçAo de células nessa pa1ede nao são uniformes, dando irando o fechJmen10 do rubo neu,al
origem .\s seguintes formiiçôes (Figura 2.3):
a) duas láminas atares;
b ) duas L\minas basais; Separando, de cada lado. as lâminas alares das lâminas
c) uma lámína do assoalho; basais. há o chamado sulco limitante. Das !.\minas aiares e
d) uma làmiM do teto. basais, derivam neurônios e grupos de neurônios (núcleos)
6 ~tomi. fundonll
lãmina do teto No arQuencéfalo, d1stinguem•se inicialmente tt~s dilata·
-
ções, que são as veslculos encefdhcos f)rimirNOs, denominadas
Lôinlrio alar -
.,. Sulco llmitonle prasenc~folo. mtsenc~falo e rombencNalo. Com o subsequen-
te desenvoMmento do emb,iáo. o p,osencéfalo dá origem a
duas vesfcul.35. relencéfolo e di'enc~folo. O mesencéfalo nAo se
mocMca. e o rombencéfalo 01lg1na o metencéfolo e o miefc1>-
c~folo. Essas moclificaçôes soo mostradas nas FlgurH 2.4 e
,"'' 2.S e estão esquematizadas na chave que se segue:
L .z: do tubo neural 'Lamino bo10I
l
l6mino do auoolho
relencHalo
prowncefato
,..,_. u Secçoo uansverwl de tubo ne\Jrc1t
d~nc~ato
Dlatações eocéfalo
_ .....,,_,espectivamenie. ~ sensibilídade e li motticidade. do tubo pnm wo mesencéfalo
-;J.J;:lDs na medula e no tronco encefãllco neural (JrquencH.,lo)
:. Um na do teto, em algumas áreas do sistema nervo·
:-e!""'ll3nece muno fina e cM origem ao epênd,ma da rela
OI(; e dos plexos corioides. que ser~o estudados a pro-
rombencMc1to {meteneéfalo
· :> dos .. ntrlculos encefálicos. A l3mlna do assoalho, rnielf:rufalo
eT:" J'1unus. áreas, permanece no adulto. formando um ~--
~ ..:o. como o sulco mediano do assoalho do N ventrículo
F9tCJUr• S.2). O telencéfalo compreende uma parte mediana, na quJI
se evaginam duas porções laterais, as ve:sfculos relenccfdlicos
> Di1atações do tubo neural lore-rofs (Flgur• 2.A). A parte mediana é fechada no sentido
"' "o mlcio de sua (ormaçAo, o callb1e do tubo neura 1 anten01 por uma lc\m1na, que corutitul a porção mais c.ra·
... - ur 'orme. A parte cranial, que dá origem ao encéfalo
~ nlal do sistema nervoso e denomina,se ldmino rerminol. As
ai:L iO, torna-se dilatada e constiwi o encéfalo primirivo. vesículas telencefálicas laterais crescem muito para formar
• •....,ên!c:ftJlo: a pane caudal. ciue dA origem â medula do os hemisférios cerebrais e escondem q,uase por completo
·o oermanece com calibre unlfo,me e constitui a me-· a parte mediana e o diencéfalo (FlguBJ 2.5). O estudo dos
• :: ft" rr..u do embrlAo. derivados das veslculas primordiais serA fe,to mais ad,ante.
..
Telencéfalo
Prowtnc.éfolo , • Oiencéfolo
Mesencéfolo
Mesenc.folo
- - --- - ----
Rombencéfalo
Metencéfolo
---- ª· - - --
u Sutx.f,visões do encfíalo Pfim,tivo pas~em da fase de u~ ve-sicuta_s para a de c.1nc.o 11\?0Culas
'
Telericéfolo
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- - Metend folo
- Mlelencéfolo
''
NeM> 6ptko
a NNIIIMlOITIW fllllÔll!MI
va o músculo respon~vcl por essa íunção. [ assim oco11e
com todas as funções cerebrais e os trilhões de contatos
Superfície
Pé sin~ptlcos existentes que têm de encontrar o alvco corre·
e11terno
terminal
to. A exuemldade do a ônro. denominada cone de cresc,-
gliol
mento, é especiahzada em ·tatear o ambiente· e conduzir
Zona[
cOffic.ol
Proces10
da glia o ali'.0nlo até o alvo correto, por melo do reconhecimento
rodial de pistas químicas presentes no microamb1ente neural e
que o atrairão ou o repelirão. Ao chegar próximo à região-
Zona
ntennediória
m~~~
Neurõnia
D
/ -alvo, a el(tremldade do axônio ramifica-se e começa a
sinaptog~nese. Assim, ax6nlos de bilhões de neurônios
dC\em encontrar seu alvo correio. o que resultará nos t11•
lh6es de contatos sin.)ptlcos envolvidos nas mais d iversas
funções cerebrais.
4. Correlações anatomoclinicas
O período fetal é importantissirno para a formaçfo Vi?I e a extensão da les~ Podem ocorrei desde distúrbios
eo desenvolvimento do SNC. Fatores externos, como no controle ves,cal atê a par-apleg-a. Em muitos casos. está
subst~ncias teratogenícas, uradiaçáo. alguns medica• relac,onadJ com hidroceíaliJ e mJlíormaç~o de Chlari, em
mentos. álcool. drogas e Infecções cong~n1tas, podem que hj urna hern,açáo do cerebelo em d11eç-:lo ao canal
afetar diretamente as diversas etapas desse desenvolvi• vertebfül, podendo ou ruo causar sintomas.
mento. Quaindo presentes no 1° trimestre de gestaçAo, O fed1J~nto da porção anterior do tubo neural é
podem afetc1r a proliferação ne-uronal. resultando na re· bastante sensrvel a leratógenos amb,entals, CUJa ação pode
duçào do número de neurón os e em microcefaha. No 2" dar origem a defeitos de fechamento muito graves. como
ou 3° trimesucs. podem lnteríerrr na fase de organização a anencefalia. caracterizada pela auséncia do p:,osencéfalo
neu1onal, causar a redução do número de sinapses e oca• e do trc\nlo. e é sempre fatal. Em casos mais leves. podem
sionar quadros de atrJso no desenvolvimento neuropsi- surg r as chamada5 encefofocM, em que sobrevém a hei•
comotor e defici~ncla intelectual. n1ação de partes do enceíalo (Figura l..8).
A de\nutrtç~o materna ou nos primeiros anos de O uso de ckido íóhco de rotina nas mulheres com ln-
vida da criança, agravada pela falta de estímulos do am- tençclo de engravidar vem reduzlndo a indd~ncia do~ dis•
biente. pode Interferir de maneira direta no processo de türbios de fechamento do tubo neural.
mlellnizaçáo. Essa etapa está diretamente relacionada ~
aquisição de habilidades e ao desenvolvimento neuropsl-
comotor normal da criança. a qual poderá sof1e1 atrasos.
muiras vezes irreversíveis.
1O ~!GffLÍ, fvnciolwl
Agun 2.a IA) C11,mça com encefJlocele occ1p1t.:il 1B) R>!\SOnlncia m.,gnética momando a fa'ha ó�sea N reg.Jo �tenor do cr.\nio e
.m 1 lo do cerebelo
rcr·� C01te-\i.l d.o Dr eru,1-s ,.,�......,
• úprtulo2
Flgur• 2. 10 Hemorragia d1 ma 11z 9erm1na11va à d11e 1a (Seta). ~erva•sc tarnb6m hemorragia intr-,vên1rtcu1Jr
for:r Coru::·w do 0c 1.• )ICO MIÔflr,() Rodl,cl l
t ~''
dula, ~pino,s. Com relaç.)O a alguns nervos e raizes
l'\t.'rvos nervosas, existem dilatações constituídas sobretu·
Srstema cran!J~ do de corpos de neurônios. que sAo os gdng//os. Do
Nef\'OSO ponto de vista funcional, existem gônglios seru,tl\/0.s
ojngllo,
r~ri'énco
1ermlnações e gôn9f1os maiores viscerais (do sistema nervoso
nervosas autônomo). Na extremidade das fibras que consti·
tucm os nervos, situam-se as rerminoçôes nttr\/Osas
► Sisremo ne/'\'Oso cenrrol é aquele que se localiza no que, do ponto de vista funcional. são de dois tipos:
inter'or do esqueleto axial (cavidade craniana e sensirfvos (ou aferentes) e motoras (ou eferentes).
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CtRE8RO Tttltt1dfolo / / '
Dlttne."°lo - / /
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ENCÉFALO Me:senc.ffolo 1 / / I
TRONCO Ponte ___1 / / /
ENCEFÁUCO { Bulbo ___ _1 I
CERE8HO----- ___ /
MEOU\A-- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
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d'erente
s_is:erru nervoso sorn.it,co
14 ~lofflilf1111Cio,w1
~ .. ·--~---~
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CtREBRO
SISTEMA
NERVOSO
SUPRASSEGMENTAR
CEREBHO
Ncorefle..o
---------------, 1
ltitura sugtrida
• •,..i.~ .1S<hi..-ophrenla. c.-iused by a fau:t in pcogrammed synap- STEPHAN. AH.. BARRES, 8A STMNS B. lhe comp! ment systems
, .e~ m nat1011 du11ng cldol&ence' J?i,-ch1Jtr Res 17J 19-32.s an unexpected r()(e m synaptlc prun ng du11ng de\"elopme-nt
19 3 and d sea~ Annu Ver euroscl 35:369-389. 101]
Concc,ção R. S. Machado
Ploco
s.lo cclulas altamente e.<c1táve1s. que se comun1Cam mototo
~
eo re si ou com células efetuadoras (células muSC\Jlares e
f1bro{~
!.eeretoras). ut1hzando bastcamente uma linguagem elé- muscuJo,
r,ca. qwl seja. mod flCaçóes do potencial de memblana e1quelético -
E.sttma-se que o encéfalo humano tenha em tomo de 86 Botõe, 1inóptico1
'hões de neurónios. dos qua,s ~encontram-seno cere-
flguf• 1.1 Desenho e~uem.11.co dt' um n-•ur6ni0 mo10,, mos·
lo. Corno serc1 visto nos Itens 1 1 a 1.3. a maior p.1rte dos
uando o co,po ce!u!Jr, os dendr,tcx e o ax6nío Que. aoc» o seg·
r~urónios apresenta trés regiões responsâv~s por funções men10 ,nici.ll ap,~nta b,Mh.l de miet,na. íonnadJ poi e lulJ de
~pec,alizadas: co,po celular: <kndr,1os (do grego déndron - Schwann. O aXÔ'l,IO. após 1a'l\licaç~ termna em p•x,n motoras
...ore). e O'<ônto (do grego d.--on = e1,co), conforme esque- Ns fibras musculares esquc'• t cas; em c,1da placa moto,J. ot»er-
rn.-Jt1zado na figura 3.1. -.am-se vjoos bo ôes s,n.\p tCO'>
e slgnitica aumento da Cc1rga negativa do l.ldo de den- amplitude (70 µV a 11 OµV). do tipo 'tudo ou nada: capaz de
tro da célula ou. ent,jo, aumento da positiva do lado de repetir-se ao longo do axôn10, conservando sua amphtude
rora Exempl,fk ando. canais de CI. sensr.-e1s a um dado até atingir a terminaçc\o axôn1Ca Po1 tanto. o a ônlo é espe-
neurotransmissor. abrem-se quando há I gação com es,se ck1bzado ern gerar e conduzir o potenciJI de ação. Constnu,
neurotransmissor. pe1m1ttndo a entrada de ions cloro para o local onde o primeiro potencial de ação é gerado e a zona
o c,toplasm., Em consequência, o potencial de membra• de disparo ru quJI concentram-se canais de sódio e pot.1s·
na pode, por exemplo. passar de -60 µV para -90 µV, ou slo sensí reis à voltagem (Figura 3.S). isto é, canais iônicos
seja. há h1perpolarização da membrana. J.'J canais de Na-, que ficam fechados no potencial de repouso da membrana
fechados em situação de repouso da membrana. ao se abri• e abrem-se qwndo despola11zações de pequena amplitude
rem. caus.Jm entradJ de ,ons Na· para o Interior da célula. (os potenc,ais gradu.1ve1s referidos antes) os atingem. O Po-
diminuindo o potencial de membrana. que pode p.1ssar. tencial de ação originado na zona de disparo repete-se ao
por exemplo, para -45 µV. Nesse caso. há despolarização longo do axônio. uma 1,-e:z. que ele próprio origina distúrbio
da membrana Os distúrbios el tricos que ocorrem ao ní- local cletrotôntCo, que se propaga até novos locais rkos em
vel dos dendrttos e do corpo celular constituem potenc1J1s canais de sódio e potássio sensíveis a voltagem. dispostos
graduáveis (podem somar-se). também chamados e'.euotô- ao longo do ax6n10 (Figura 3.6)
nicos. de pequena amplitude (100 µV, - 10 µV). e que per• A despolarização de 70 µV a 11 0 µV resulta da grande
correm pequenas dis!Ancaas (l mm a 2 mm no m,himo) até entrada de Na·; segue-se a repolatização por sarda de po•
que se extingJrn Esses po1encia1s propagam-se em d reção tâss,o. através dos c,ma1s de K· sensive1s à voltagem, que se
ao corpo e. neste. em d,reção ao cone de ,mplJntaçc\o do abrem com mais lentldào. A volta às condições de repouso.
a"<ôn,o até a ch.lrruda zona de d15POro (ou de gat,lho), onde no que diz respeito às concentrações tônicas dentro e fora
existem canais de Na· e de K· sensíveis avoltagem. A abe11u• do neurônio, efetua-se por ação da chJmada bombo de só·
ra dos canais de Na· sensíveis à voltagem no segmento Ini- d,o epotárno A bomba de sód10 e potâssio é uma proteína
cial do axôniO (zona de disparo) gera alteração do porenc,al grande que atravessa a membrana p1Js'Th1trca do axônlo e
de membrana denominado potencial de açc\Q ou impulso bombe1c1 o Na· para fora e o • para dentro do a,ôn:O. utlli-
nervoso. ou seJa. despolJriz.>çJo dJ membrana de grande zando a energia rorneoda pela hidrólise de ATP.
Meio extrocelulor
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Otoplosmo
Rgun J.S Desenho esquematico de membral\J cllfôn1Ca. mostrando CJOJI de Sôd,o e canal de pot.isst0 sens,\ ;>•S o\ vo.tagem e A bombJ
de sód o e po1âsst0 (com sem). rt'sponsAvt:I pelJ tl'Constltuiç.)o das concent'.>Çôt>s corretas d~ses oos dentro e ÍOfa c.b e lula. após a de·
11.>gr.>çoo do poti>OCt..ll de a(âo Os círculos 11.)ll()S representam ÍOO) de Sôd10 tos che,os. l()nSde potõss<>
+AO
~-70
No•
• ♦ •••
• + • • • + • • • + + • • • • • + + + + • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Membrono
••• - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ÃxÕpknmo
.. . . . •• • - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Memlxono
• ............ ♦•• .. • .. • • .. ................................. .
Rgu,a J.6 ~nho esq1,1.. rnJ11co de um ~mento a•õn,co, mosirando loc,M (lrnhJs para eln) r1Cos em C.Jn.i,s de sóclio e pot.\ss10 sensi•
,M .\ , oltagem. nJ membfanJ plJsmJ a Nos locas ass1nJlados pelas ~etas. esl~ oc01rendo despo&J111,)Çoo ma'°' que 10011V. segu<i'I de
repol.,r11açJo. ou s.cia, um potenclill de ação rep,esentJdo no c.1mo suoenor l'SQuêrdo
20 ~Offll.l runoon.tl
1.S Oasslficação dos neurõnlos quanto aos sem também por que certos agem~ patog~nicos. como o wus
da raiva e to inas. podem atingir o SNC. após captaç~o pel.ls
prolongamentos terminações a On1cas pc11fericas (Irem S3)
A maioria dos neurônios tem vários dend11tos e um axó- O flu o axopla~tlCO permitiu a reahzaçclo d" vâtlds téc·
n,o, por ,sso Sc\o chamados mu/r,polores (Figural, 1). Mas t\j, nicas neuroonorômicos embasadJs em <:.lptaç~o e uanspc)(te
tamb(>m, ooirón,os bipolo~ e pscvdocJnipolares. Nos neuró- de subst~nc1Js que. ~teriormcnte. possam ser de cctooas.
n,os bpoldres (Figura 1.SB). dOI; prolongamentos dCUCc1rn o Ass.m. por eACmplo. um amioo.kldo radioativo 1nt1oduZJdo
co,po celular, um dendrito e um a~On,o Ent,e eles, est~ os em determ,n.ldo ponto da ârea moto,a do córtex cerebral é
nt'\ltôn10s opolares da reuna e do g.mg',o esp ral do OlM- captado P0' penc&ios c0<t1Cc1is e. pelo Ouxo avoplasmAtieo
do ,nterno Nos ne..irõn,os pseudoun,polares (Figura 1.SC), anterógrado. a'cança a mcdul.1. onde pode ser detectado P0'
cuJOS co,pos celulares se localizam nos gAngl,os sensitivos. radio.:iutografu. Pode-se. ent~. concluir que eitiste uma Via
apenas um p1olongamento deixa o corpo ceful.lr, logo dM· conicosp,n.ll. ou seJQ. uma \l\.l formada P0' neurôn1os CUJOS
d,ndo-se. à maneira de um T. em dois ramos. um per,'é•oco perd11os estão no côrt x e os a ônlos terminam na medula.
outro central O pr,meiro dirige-se à per,feria. onde fO(ma ter· Outro modo de se estudar esse tipo de problema consiste
m "CJ{ôo nef\lOso seosiwo. o segundo d111ge•se ao SNC. onde no uso de macromolêculas que. após captaçáo pelas terml·
estJbclece conta os com outros neurôn10s. Na neurogénese, nações nervosas. ~o transpc)ftadas até o perlcArio graças
os neurômos pseudounipotares apresenldm. de inicio, dos ao fluxo axoplasmjtlco retrógrado. ~sim. introduzindo-se a
prolongamentos. havendo fus.\o ~tenor de sws porçoo enwna pero<tda em determin.ldas âreas da medulJ, pos·
1n1C1a1s. Ambos os prolongamentos t~m esuutura de axôn10, tenormente elJ poder.\ ser localizada. com técnica h•stoqui-
embofa o ramo pe11férico conduza o impulso ner\-'OSO em mlCd. nos per~nos dos neurônios c0<uca1s que fo,mam a
d reçclo ao peoc,1110. à mane,ra de um dendr,to Como um v,a corticospinal re'ertdJ. O método de marcaç.)o retrógfada
ar6nt0. esse ,amo é capaz de gerar potenc1JI de açAo Nesse com peroxidase causou en01me avanço da Neuroan.ltomia
C.lSO. enuetanto. a zona de gati ho s•tuJ-se peno dJ te1m1• n.lS últimas décadas do século passado.
n.lÇilo nervosa sers11rva. Essa terminação ,~ebe eshmulos.
or,g nando po1enc1c11s 91aduáve,s que. ao a'cançar a ZOOcl de 1.7 Sinapses
gat,lho, provocam o surgimento de potencial de açAo Este é Os ne1,1rônios, sobretudo ,ltlavés de suas terminações
condUZJdo no sentido centrípeto. passando diretamente do axônicas. entram em contato com outros neurônios, passan-
pfOlongJmento pe11fi oco ao prolongamento central do-lhes info,maçôcs. Os locais des~ contatos soo denomi·
nados sinopses ou. mais p,ecisamente, sinopses interneurona1s.
1.6 Fluxo axoplasmátlco No sistema netVOSO pe11'érko, terrninõçôes a"<ônicas p:xk'ffi
relacionJr-se tambem com célu'as ruo neurona,s ou efetw-
Po, nAo conte1 ribossomos. os a,0n1os são il'IC.lpaz s de
doras. como cé-lulas musculclres (esqueléticas. card1cKas ou
~n•e111,lr ptote1na~ Portanto, todJ pro ein.l necesS«Sria à ma-
liws) e célulJs secretoras (p. ex.. em gllndulJs salivares). con-
nutenç.ão da integ·idade a:-Onica, bem como às funções dJs trolando as suas funções. Os termos s nopses e JUfl(óes nru·
terminações a ônl(as, derrva do pe,teátio. Contudo, as ter· ,oe!eruodotas sJa ut1IIZ.ddos pa,a denomn.l1 esses contatos.
m nações a'\OnlCds necessitam também de aganelas. como Quanto à mo1fologia e ao modo de funcionamento.
m tocôndrlas e re11Cu1o endoplJ~tlCO agranular. Assim. é reconhecem-se dois tipos de sinapses: smapses c/~u,cos; e
neces~,10 um flu,o continuo de substAnc,as sotwe,s e de or· sinapses químicos.
gJnelas. do peucár10 à teim,naçoo a\Onlca Para a ,enovaç.\o
dos componentes das t rm ruções. é ,mprescind,vel o fllf<O 1.7 .1 Stnaps~ elétrKas
de sobstAnc1.1s e o,ganelds em sentido ~to. ou scjJ, em d,·
Sc\o raras em vertebrados e exclusivamente lntcrneuro-
reç.\o ao per d110 Esse mov, mcnto de or9.1netas e substânrns nais. Nessas sinap~s. as membranas ptasmâtieas dos neu·
sollNE'!s atra s do a oplasmJ ê denominado /1wu axoplos- rônios envolvidos entram em contato cm uma pequena
már,ca. H.!I dois t,~ de íluxo, que atuam em para!elo: llvYO ,egi~o onde o espaço entre elas é de apenas 2 a 3 µm. 'o
oroplmmdt,co antcrógrodo.' em d rcç.\o â te11ni~~o a'<ôntCJ. entanto, M acoplamento iónico. isto é, ocorre comunk.lçào
e fluxoa\"Oplasmár,rn retrÓ()rodo. em d reção ao pericáno. entre os dois neurônios através de canais i6n1Cos concentra·
As terminações a,ômcas tMl capacidade endocit1Ca. dos em cada uma das membranas em contato. Esses can.l1s
Es!M') propr1ecfode perm,te a captação de substAnciJs tróó· p<o1etam-se no espaço lnte,celu1ar. justapondo-se de modo
cas. como os fatOfes de crescimento de neu,Onios. que !Jo a estabelece, comun,caçôes ime,celulares que pe1mitem a
ca11eadas ate o corpo celular pelo fluxo a'<oplasmAtíeo re- passagem dueta de pequenas mo!êcutas. como Ians. do ci·
trógrado A encfoc1tose e o uansporte retrógrado explicam toplasma de uma das células para o da outra {Figura 3.7).
Essas junções servem para sincronizar a atrvldade de grupos
de neurônios Elas e istem. por exemplo. no cenuo rcsp,ra•
1 O l1u .i,.>Pl,)vn.;•,co an'!'f~.Mio C()fflp11+ndt du,H fJ1oM uma h1oe tório situado no bulbo e permitem o disparo sincronizado
1 r,d.) f(t',0/-.,•ndol/ <P(III Ó'"CIIJH l,·l m1Jd,Upottnf'fr.tv..n.J
.1
dos neurônios ai local12ados, 1esponsj,-els pelo 11tmo rcs-
Crr :oc01'drld\. •'t'\<W\ P ~ • o s do ri: •,culo l"OdOf'UVOcÍl<D agt.i•
nt. 1) com , loc(fod,. d-' 100 mm d 400 mm J)O! d . 1' ou,., lerltd, piratô110. Ao contrário das sinapses químicas. as sin.lpses
com ,'i'!ocidld df I mm • " mm po, d..J u,..n\po,Llndo JVOI '"'" do elêtr cas n~o s.lo polarizadas, ou seja, a comunkaç~ entre
01 'Vl-"''• 10 f! ~~ \Olu\ no e co<d
1\ os neurônios envolvidos é feita nos do,s sentidos.
• Capitulo l t«ado~ 21
pequenas (Flguru l.8 e 11.l). de 40 µma 70 µm de dJrr-
tro. que apresentam conteúdo elétron-denso; veskulos grw-..
lares grandes (Figuras 3.8 e 9.6). com 70 µm a 150 µm o.
di.)metro. também com conteúdo elétron-denso del,m1t.l
por ha!o elêtron-túc_ido; \&ulas opacas grandes. com 80 µrr
180 µm de di.)metro e conteudo elétton•denso ~ -
preenchendo toda a veslcula
O tipo de vesícula s nAptrca predominante no elemer,•-
prt~•slnApttco depende do neurotransmissor que o caractr
riza. Quando o elemento pré-slnAptJCO libera. como neur-.
transmissor principal, a aceulcol,na ou um aminoácido,
apresenta, predominantemente. vesículas agranulares :.
vesícula~ granulares pequenas cont~m monoaminas: Ja a
granulares grandes contém monoaminas e/ou pepttdeos f
flg11r• J.7 Desenl'lo esquemático de umJ ~Npse .êtrica Pattes
as opacas grandes, peptídeos. Ourante muito tempo. acri?-
d<>s membr.-nas p1Jsm.1tic.as de oo.s neurôo1os e~t .)o rep,esenta• d,tou•se que as vesículas s1nAp1kas eram produzidas a,>.
das por, tc\tlgulos Cm cada uma. canais tõnocos se JustaPÔl'm. es• nJS no pencc1rio. sendo levadas dté as terminações a ônlca
tabelec:eodo o acoplamento mco das duas célulJ\. através do fluxo a opla~mático. Hoje, sabe-se que. em ccrt~
s,tuJções, elas podem também ser produzidas na própr
1.7.2 Sinapses químlca_s te<minaçc\o axônica a partir do retículo endoplasmático l,so
Nos vertebrados. a grande maioria das sinapses lnte<·
neu,ona,s e Iodas as sinapses neuroefetuadoras Sc\o sinop-
ses qufm,c,as. ou seJ<l. a comunicaçc\o entre os elementos em
contato depende da liberaçc\o de substAncias químicas. de-
nominadas neurotronsfnlSSOtes.
} 11c, e • ~ N\ gl.\odu!.n w' •.-M, ,1\ fbrl\ p.,1au,mp,,1,c,1\ l l I m l A dõeot,.,fta deut' f.ato lól f ~ P0I A8.M. M.KNdo.""' kcul.is 1,1
d( {'t,lcol ~ e. l"IUmd 5'19undJ f.tt.e tJtPl ..t.'O ""ºffi.llC:h1'lOOl1>'0 (\"f'). t,o ~l(q\ g,anulMtt ~ ftor•s simoJt<.» dJ 9'.lndula pintl1 em dewn
S,",C, ( t,," \Jup.tm,~9JC.tS tJOtkffl C0h't1 ~ t r J l'IDOIJCoft•c,)!OQJt- VCl\,mcnto (Ml(NÓQ, A6•. llec1ron ITIICMCopy of de\ lop,ng f.brf,
r,.no, f bra, \f'f orunE-rgica1. ~ :JnctJ Pou trl(t'fa no; libt,H GASA-êf• 1n 1herat p,nt-;)l ~ T'lt forrru1,on of 9'lnlÁV \'t"\oClo>s 1'1091eu in
q,(J\ IO'r ,:J<I.Jlll(J Bt,ll'l~arch 1971.}41 71-1851
22 NMo.wtomu rundaNI
__ ..
.,. ----
= : : , . : . : _ _ _ _ _ ~- ~ -
· ·n S,napstS qufmktn inttrnturonais na face em aposiçao à membrana do dend11to, chJrna·se
membtono p1~s,ndp1,c_o Sobre ela, arrurr\mH.e. cm ,nter•
·..J grande mal()(1J dessas sinapses, uma terminação
va'os regulc1res, estruturas protew:as na íormJ de pro,eçóe\
, .,. t:ntra em contato com quJlquer parte de ouuo densas que. em conJunto. formam a densidodt p,~sindpt,co
~-1'1 .0, form.indo-se. assim. sma~ o,od~r,1,cas, o«,s• As pro1eç~ densas têm d1sposiçc\o triangular e unem-se
•· cos(com o peric~rio) ou oroo,ôn,cos. po, d licados nlamentos, de modo que a densidade pré-si-
~ s.napses em que o a Onio é o elemento puH,n.1p- Nptica é. na verdade. uma grade em cuJJS malhas as vesicu·
tO.'l. os contatos se fazem nlo só por me10 de sua ponta las s1ropticas se enca um (Figura 3.9B). Desse modo. essas
Y-,lill ~..... denominad.1 bou>o tcrmlllOt mas tam~m em dl· vesículas se aproximam adequadamente dJ membrnna
.ses. que podem ocorrer ao longo de toda a sua arbo- pr~-s•NpttCcl p.1rc1 se íund r rap,dJmente com ela, liberando
'"' ,~m,nJI, os botôt>s Mdpt,cos de passogem (Fl9un1 o neurotransmissor por um processo de exootose A densi·
; 1...- '.o c.>so de sinapses axodendriuca_s, o botc1o s,n~p11co dade pré-sináptica corresponde à lOflO º'""º
da s1nJpse, 1s10
:ra• em conu10 com umJ esp nha dendritica ~. local no qual OCOfre. de mJnelra ficlente, a l1befa<;c\o do
!..S terminações axôn1cc1s de alguns neurônios. como
neurotransm~SOf c!Jssrc_o na fenda sin.1ptica S napses com
IJ!? i.."\am monoomína como neurotranYn1ssor (neuró-
zona ativa sAo. portanto, dueoonodos.
m nerg,cos). sAo vaucos.1s. t.Sto é, apresentam A fendo s,ndpt<o compr nde o esJ)c)Ço de 20 ••ma
,óes simétricas e regula,cs, conhecidas como von· 30 µm que separa as duas membranas em aposaçc\o Na ver·
.t!S, que tém o mesmo s,gmficado dos botões. ou
dade. esse espaço é atravessado po, moltkulas que man•
s&> locais pré-s n.1pticos onde se acumulJm ves1culas t~m firmemente unidas as duas membranas sinápticas.
s 1Flgur1 3.8). O elemento pós-sm.1ptKo é formado pela membro•
no pôs-smdptieo e a densidade pós•smdptlco (Flguni 3.9A).
s nJpse química compreende o e1emenro p,~· Nessa membf'aro. inserem-se os receptOfes espec1ficos pJra
·,ai que armazena e I bera o neurotransmissor. o cada neurotransmissor. (sses receptores s.)o formados po,
·o tx)M ndp1,co, que contém receptores para o neu· protetnas 1ntegra1s que ocup.1m todJ a espessura da mem-
,......-~ :s•-or e umJ fendo s1ndpJ1CO, que separa as duas btaro t' projetam-se tanto do lado e terno como do lado
s s n.1ptlcas. Para desc11ç<10, tomemos uma sinc1p• c11oplasmAtt<o da membtana No citoplasma. Junto à mem·
r1t...J , co'TIO pode ser 111sua1,ZJdo em mieroscó- brana. concentram-se moltkutas relacionadls com a íunçc\o
~~~o IFlgur1 3.9A). O e!emento pré-sm~pttCo é. s1náptKa Essas moléculas. Juntamente com os re<t'pto,es,
m botAo terminal que cont~m. no seu c,toplasrru, provavelmente rormJm a densidade pôs-sm.Sptic.1. A r,ons•
n-e&a...-.c,■ L• " c1p1ec1ável de vesícu s s.njpticas agra• m,ssoo sindpt,co, que pode ser e1c1tatória ou illbtôria, de·
m d sso, encontram-se algumas m1tocônd11as. corre da untAo do neurotransmissor com o seu rec p or na
rt:tie_u'o endopla~uco agranular. neurolila- membtana p6B•Nptlca Vep a co11elJ(tlo anatomocl nica,
10' lamentos de act,na A membrana do botoo, item 54
Veikulo
gronulor
gronde Milocóndrlo
[)eniidc,de póHinópfico
A
•
~ ~uemJttCOdJ u 11 strutu,a de um.:, s rupse qu m,ca ,ntemeuronal a, od ndritica. (A) Sccç;;o long 1ud 1,mostr.ln·
c:r.wnen:~ ptl· e pós~ n.\pticos. (8) v,slo uid,menstONIdo ~ t o puHin.1.ptico para Viw.11,ZJÇlo dJ gradtt Pf~·s n.iPt<a. qU"
"'"·'-'"'..,= r picJJ dJ~ YeilCU .lS agr,nu!J·es
l f«idoNtnN 23
1.7.1.J Sinopses quimi<osnturotfttuodoros ~ntro da c~h.,la, com hlperpolar,zaç.ro (1n1blçt\o) Jj um dos
Essas s,ropses. tam~m chamadas JU"(óes neuroefrtCJO· receptores da c1Cet1lcol,ru. o chamado recepcor n cotini<.o, é
dolos. envolvem os a)óM>S dos nervos per,' ocos e uma um canal de sód<>. Quando atwado. há entrada de Na· com
célula efetuadora nlo neuional. Se a cone~ é fe,ta com despolariz,1çõo (exrnaçc\o). Esses receptores. que se abrem
células musculaies estriadas esquel~ttCas. tem-se uma Jtm· para pa.ssagem de íons quando um neurotransmlssor se liga
(ôo neuroe 1ttuodoto wmór,co, se com célul.is muscular s
a e~ são chamJdos IOflOlróp,cos
hsas ou cardíacas ou com células gtandulares. tem-se uma ~ ,stem tam~m os receptores met.lbotrópicos. Estes
JUn('ÕO neuroefetuodoro visc~ol A primeira compreende as
se combinam com o neurotransmissor. dando origem a
placas moro,os e em cAldJ uma. o elemento pré-s nJpttCo
uma sér,e de reações qu:micas que result.1m na forrnaçc\o,
é a termmaç.x, a116ntCa de neurónio motor somático. CUJO
no rnoplc1sma do neurôn o pós-s,nJpt,co, de uma nova mo-
corpo se localiza na coluna anterior da medulJ espinal ou l&ula. chamada segundo mensogc-1ro.' que provocarJ modr·
n:ações na célula pós-s1nJpt,ca. resultando, por e>.empto,
no uonco encefAhco As Junções neuroe' tuadoras visctra1s
n.> abertura ou no fechamento d canais t6n<os údJ neu-
Sc\o os contatos das term nações ner'o'OSas dos neurónios
rónio pode receber de 1 mil a 1Om,Icontatos s1nJp11cos cm
do sistema nervoso autônomo, cu,os co1pos celulares se
seu corpo e dend11tos. Os potenciJ s gradu.iveis pós-s•n.ip-
localizam nos gAnglios autonómicos As placas motoras
t,rns e cítat6rios e in bitóuos d m se, sonlcldos ou inte-
Sc\o sinapses d11eclOl'\JdJs. ou seJa. em cclda bote)() s náp1,- grados A regt.\o mtegrador3 desses potenc,a,s e o cone de
co de cclda plJca há zonas at,vas representadas. ncne caso, ,mplantaçc)o do a•ónio ou está pró"<1ma d le. Se na 10f\J dc
por acumulos de vesk ulas sinJpttcas junto a barras den-
9:>t1lho cheg.11 uma , o/tagem no ltm r de exc,tab,I dade do
sas, que se posicionam em 1nteM1los sob1e a memb1ana neurõn,o, como uma despolarll.clç.x> de ISµV. geta-se um
pié-sinJptica, densidades pós-s,n.1pt1Cas com d,sposiçAo po1enc1al de aç~o que segue pelos aicônios (Figura l.10)
característica também ocouem (Flgur~ 9.4) As Junções
neuroefetuado,as viscera s. por suJ vez. n.\o s.\o d rectOOJ· 1.7.1.5 lnotm,çõo do nturorransmisw
das. ou seja, ncX> apresentam zonas atrvas e densidades pós-
A perfe,ta funçilo das sinapses exige que o n urotrans•
·S1"'1p11cas As Junções ncurocfetuadoras serAo estudadas.
,rissor se,a rapidamente removido da fenda SlllJPtlCJ Do
com mais detalhes. no Capítulo 9
conuário. ocôfrertJ e rnaçt\o ou ,n btç.\o dJ mt'mbrana
1.7.1.4 Mecanismo do tronsmiss6o sindpti<o p6s-s1nJptKa por tempo prolongado A remoção do neu-
rotransmissor pode ser feua por açc\o enz,m~t,ca Eo ca~
Quando o 1mpu1~ ne~ atinge a m mbran.:1 pré- dJ acet,kol,na, que é h,drol~sad.l ~ enzima clCet1lcol1nes•
·sinJpuca. orig nJ pequenJ aheraçc)o do poterxlcll de mem- terase em acetato e co!tna A colina é imedtJtamente cap-
braN capaz de abrir canais de cJlct0 scns1ve1s ~ vohag m, tada pela te1m1naç.\o nervosa colmérg <a. servindo como
o que determlOJ a entrada desse íon O aumento de íons substrato para a síntese de nova ace-1,tco!1nJ pelJ pr6p1ia
'4)kio na membrana prtH1nJpt1Ca provoca uma séue de fe- ta m,naçc\o E provável que pioteases sejclm responSc\veis
nómenos. Alguns deles culminam com a fusJo de veslcutas pela remoçc)o dos peptídeos que funcionam como neuro·
s,nAptlcas com a membrana pré•s1nApt1Ca, e o subsequ n- transmissor~ ou neuromodulJdores. Já no caso dJs mo-
te proc~~ denom nJdo e,oc,ro}e. Pa1a ev,1ar o aum~to noaminas e dos am,no.\cldos. o pr,nc,pal me<An. smo de
da quantidJde de membrana pré•sin.1ptica pelJ e.<OC1tose, ,n1trvação é a captaç.\o do neurotransm,ssor pela membra-
<M·se o fenómeno opmto, a endoc,tose. qu mternahza a na pré--s1nAptica. por meio de mecanismo ativo e nc,ente
membrana ~ b a forma de veslcul.ls. as quais podem ser {bomoo de captaçoo) (ssa captaç.\o Pode ser bloqueada
revt,hzadas Por melO da exoc,tose. ocorrem a l,befaçt\o por drogas Assim. a captação de monoam nas é fac,lmente
de neurotransm1s~ r nJ ( nda s1nâpuca e sua d,fuSc\o, até bloqueadJ por cocaínJ. causando d,.stúrb os psiqutCos. por-
at1ng,r os seus receptores nJ membrana pós-sinJpttCa Um que a monoam,na permanecerá acessível aos recep1ores
receptor sinApttCo pode sei, ele p16pr10, um canal '6n <o. de mane,ra contmuada. Uma " z dentro do citoplasma do
que se abre quando o neurotranyn1s~r se liga a ele (canal neurôn,o pr •S•nAPtKO. o neurotransmissor pode ser reut,lt·
sensível a neurotransmissor). Um canal 16n<o deoca passar L'ldo ou 1natrvado Exemplificando, qUJndo uma monoami·
de íormJ predom1nan1e. ou e~dusiva. um dJdo íon. Se esse na é captddJ, p.1rte é bombei>dJ paia d ntro de vcskulas
ion normalment ocon r em ma or conccntraç~o f0ta do r~tClddas c pane é metabohzad.l pela enzima mono.,m1nJ•
neurônio. como o Na· e o Ct. hã entrada Se sua concen· -ox1dase (MAO). No S 'C. procesws astroctt~nos que en·
traç~ for mJlor dentro do neurónio, como no caso do K·. volvem as s,nJpses u~m part1cipJç.\o ativa fl;l captaçAo de
M saída. Esses movimentos i6n cos moei.ficam o po1enc1JI neurotransm,ssores.
de membran.;i, causando uma pequena despol.111zaç.x>, no
ca~ de entrada d Na·, ou umJ hiperpolarlzaçc\o. no caso
de entrada de CI (aumenco das cargJs negativas do IJdo d 4 O~~ t'l\lt\ cor-h.'<do e o ,_,•., ucko u.n, ~PSC1
d n11O) ou de sa de K· (aumento das cargas pos1trvas do NTI <11' O 'lJ'ônto J'l~JnifJk.nJI. notÚ
1 I J O, 1 \e.' ~ ~ 11"-
24 ~fUlldlwl
~~
___. - -- . -- -
-- ·--
...- . ~-·...
;i,_[ --~z.l'.:----:----"-:-~~-____
Polenciol
de oçõo
Poi.nciol póHlnóptico
excitatório
2__.1_ __
Potenciei
de oçõo
SlnopMt e•citotório
A..õnio A ..- ..
- - No~ -
. -
•
• • t ♦
~ Ne.ur6nio
pówinóprico • • · ·-+ Aiwnio e
Axônio a - - 1 : 1
Zona gatilho
f
Sinopse inibidora
l
~!I
-701.1.-_
q
--"'---'--lir~~-
Potenciàl ~
de oçõo Potencial póHinóptico
lnlbítório
,-r,o ~uemãxo, mostrando a seq~ia de f ~ ~ a d o s po, poteoc,,us de aç.\o qoe atingem as 1eiminaç~
1' .~ a ~~.'Idos. ,~pec11vameme. em Sil'l.l~ ev"'nat~ia e 1nib.16"a. Os potcnc1.11s pós•sinapcieos sc\o ~ cio I po cyac/uj'. l
• • .w,lulo 3 JecldoNmmo 25
f19VR 1 . 11 Aspecto ao m,croscópio 6pt.tCo da neoróglta do sistema, nervo~ centtal após lmpregnaç.\o met.!11,c,t CAI astrôc,to protoplas·
mj1,co, (B) arnôc,to fibroso, (C) oli9odendrôc1to\, (O) m,crog'«1tos (~undo dei R,o Hortegal.
recapta{c\o de neurotransmissores. em espec,al o glutama- Nos casos de lesão do tecido. os astr6c1tos aumentam lo-
to. CUJO e)(cesso. causado por disparos a)(ona,s repet1tcvos. é calmente e transfonnJm-se em astrócitos reaclona.s. ocup.inclo
tóxico para os neurônios. A dopamina. a seroton1na e a no- as Areas lesadas, conwbuindo para sua ocatri.zaç.x> (gllose). N:J.
radrenalina são degradadas pelos àstr6c1tos. Eles também quirem fur,ção fagocirla nas sinapses, ou se.ia. qualquer botão
protegem os neurônios do estresse O)(idat,vo. Constituem sináptico em degeoeraçAo é fagoatado por astr6c1tos.. Os astJÓ-
também o ptincipal sitio de armazenagem de ghcogên,o no ota.; também ~retam fatores neurotróficos essenciais para a
SNC. ha\lendo evidências de que podem liberar glicose para ~ncia e manutençAo de neurônios. E>.lstem pelo menos
os neurônios. PartKipam ilt1vamente da barreira hematoen- doo tipos de a5tróotos reacionais. Um deles au:xiha na recupera-
cefálica. que impede que substAncias e patógenos atinjam çoo e reparos e o ouuo efetivamente promove a mate neuronal
o encéfalo. apôs um dano encafálieo agudo. Es.ses astrócitos neurotóxicos
Os astróotos são impoaantes para a formação de no• ~ abundantes em pacientes com doenças degenerativas,
vos contatos sinápticos e. portanto. fundamentais pa1a o como a doença de Al.zheimer (Cap.'tulo 28. Item 5.2). A desc-obef-
neu1odesenvol\limento. 1\s ativações neuronais levam ao ta da panlc.ipação dos astróotos na fü.iopc1tologia de doenças
afastamento de processos asuóotârios. desnudando a su• vem sendo um promissot camp:, de pesquJsa para o desenvol-
perficie neuronal para novos contatos sin~pticos. O proces• vimento de novas drogas para tratamentos dessas doenças.
so de eliminação de Sinapses ao longo da vida é também
dependente dos asu6mos. A eliminação de sinapses por L 1.2 Glia radial
fagocitose faz parte do desenvolvimento normal e estA ,e- Esta célula foi estudada no Capitulo 2 (Figura 2.6). En-
ladonada ao amadurecimento funcional. aaprendizagem e contrada apenas no período embrionário, particJpa ativa-
~ memótla. mente da neurogénesc. mlgraç30 neuronal e sínaptog~nese.
26 lltumwtomq FundoNl
ou ft)tt ,o (7Y'fld.mório. Constituem c ulas cubo da,s ou p,IS·
- ..'Vl-'t?S que os amóc,tos e u~m poucos prolO'l• mátlGls que forram. como ept~,o de revestimento simples, as
~ - - figura 3.11 C). que também podem form.u pés p..1-cdes dos ventrículos cerebra,s. do aqueduto cerebral e do
:on'o,me sua IOC411ização, distinguem-se dois carol central da medula esp.nal Em alguns pontos dos vemri·
~
4
róc_i10-sar~ltreou perineuronal. situado junto
.. culos IJtera,s e do Quarto ventrículo. c~lul.Js epend.m.irras mo-
"--=~"" ~ d., ritos: e ol,god~ndróciro fosciculor, cncon• d1ficcldJs e espec1a'IZDdas recobrem tufos de 1ccido coo,untM>,
·- ;s -bras nervosas. Os olrgodendróc,tos fascicu· rico em cap lari:'S sanguíneos, que se p,o,etam da pi.t-máter,
=x:>nsJ.e,s pela f01m3Ç.So da bainha de miel,na constituindo os pl~os c01ióidcos. rcsponsávt'is pela fo,maçcX>
~ o rc.
como serAd1scu1 do no ,tem 3.1. do liquido cerebrospinal. corno serc1 visto no Cap.tulo a
• C p1tulo l lf<ldo~ l7
Rgu~ 1 . 12 Awoc,toma de bJ (O grau. Percebe-5.e ma•or homogenetdJde Pe:o g•ande volume e eieito de massa, foi rcJh«idJ a lmJg«:'m
de 1rac1ografiJ por 1essonanc1J mc1!Jné11ca que ev1denc1J os fel)es de iibras em cores usados como auxil1J1~ para a remoçao cirúrgica.
e, tando compromernnen:o de vias 1mportan1e~ (p.1rJ conhecimento dos métodos de neuro mJ-iem consulte o Capltu•o 31)
For.•e-Co11t."i'.l úo O! 1,1.Jr,o J.môrw Ro.J.X~I
Rgura 3.13 RessonJrKI.) m,l(J~dica t mapJs de flu"(o sangu,neo cerebtcll de um gl·ob1,ntomJ Observa-w o carátl:r he1erog1:neo e mftJ.
trafr,o de1erm:n.1ndo maiot m.l' 9nid.)de e d ixu!t«ndo J remoç.lo c,rúrg C.J
Fon·c. eo,1~~l óo Dr /,l •co An:oo~Ro<fac\i
.......-
-
-
--
• ..--1 ....
--
-·-.
28 IINSroltlltorrua funoona1
e proteínas. salientando-se a riqueza em fosfol,prdes. Ao
longo dos axónios m,elinlcos. os canais de s6d10 e potc1ssi0
sensíveis :i voltagem encontram-se apenas nos nódulos de
Ranv1er A condução do impulso nervoso é. portclnto, salta-
tóna, ou sejJ. po1encia,s de aç.\o só ocorrem nos nódulos
de Ran.. i<!r e s,,lhim em dtre(t\o ao nódulo mais distal, o
que con'e1e maior velocidade ao rmpulso neNOso. Isso é
possível em raz.\o do carc1ter Isolante da bJ nha de m1e•
l1nJ, que permite :i co1ren1e eletrotõn,ca, provocadJ por
cadJ po1enoal de ac;:io. pe1correr todo o Inter nódulo sem
e>.ungu r-se
O processo de founaçAo da bJinhJ de m,e1,n.:i. ou mie•
lm,zac;oo. nas d,vers.u áreas encefáhcas, estJ dJre1am(.'nte
relac10nJdo ~ mJturidJde dJ função d cadJ uma delas
Nas àreJs sens11ivas. 1n,cia-se durante a ultrma part do de•
senvolvimento fetal e continuJ durante o pr1meuo ano pós-
·natal. No cófle.ll pré-frontal. só estarc1 concluída na terceira
décadJ de vidJ AcompreensAo do processo a1uda a en1en•
der a estrutura dessa b3 nhJ
As drve1sas etap,u dJ m1el,n,zação no sistema n rvoso
periférico podem ser seguidas na Figura 3.15, onde estA
representada umJ das várias c luLn de Schwann que se co-
locam ao longo dos a~6o1os Em cada célula de Sdt.vaM
fo,ma•se um suko ou goteira Que contém o a óoo (Flgu•
ra 3.15A). Segue-se o fechamento dessa goteira. com for•
mJção de umJ estrutura com dupla membrana, chamada
nx-~ AÔi'l-'O (Figura 3.158) Esse mesa~óo'° cllong,He e
enrola-se ao redor do a>.ônio diversas vezes (Figura 3.150 .
O restante da célula de Schwann (citoplasma e nucleo) for-
Aspectos h1siol6g<os do ner"o 11o0u•.1tieo do cJo
J.14
.- "l\Jeno rase ;ulo e ,,e de d0ts outros n-.olv,dos P0f ma o ncurclema (Figura 3.150) Term n.:ido o p,ocesso ao
~ h" tJsl coo:..m f !Yas n<"rvo\Js m ~, n.cas Os fascicu'o\ longo de toda a fibra reconhecem-se os nódulos de R.l~r
.. , os J1,1ntos p •to epmeuro ( B) Ot-·a ~ de um fJ scicu1o e os mternódu1os
nc::> f bfJs n 1\-0WS m1et.n,c,n coo Jdls trar s\e 1\cllm ntt, No S C. o processo de m1el,niuçt\o ~ essencialmente
~ o 1 ,0n,o (WI•) e a 1m.1gem r('(JJlr,J dJ m el,na d ssolv1•
sim,lar ao que ocorre na fibra ner\'Osa perct ricc1, com a d1fe-
• • li p,ep.ar Jo (C) F btJs n rllOS.)s m · n,us cof!ad.>s
tcng tud NI p.!!a mos rar nód1J'os d RJn-.-1er (c.ibe•
1ença de que SdO os processos dos ol.godendróc,tos os res·
•l poosjv ,s peb formaç3<> de m1ehna A Rgura 3.16 mostra
a relaçAo de um ol,godendróc1to com os vár10s a"<õntos que
ele m, l1n11a Ao contrario do que ocorre com a célu!J de
- ~-""- d" RJnv1er Portanto, cerca de mil ce'ulas de Sch- Schwann, um ml"\mo oltgodendróc1to pod prover mtem6-
ood· m part ic par da m, l1n1z.>ç.lo de um únrco at6· dulos para 20 a 30 a)ôn,os.
·.o n .el da .-ubo111açAo terminal do ax6n10. a ba1nhJ
n.:i desaparece. mas o neur1lema continua au~as 3.2 Fibras nervosas amlelfnlcas
d lde-s das term,naçõ s nervosas mot0tas ou sen- No sistema ne,voso per1fér,co. hj fibras nervosas do
(Flgura 3.1 ) sistema nervoso c1utônomo (as fibras pós-ganglionares)
·.o S'IIC, prolorgamentos de ohgodendrôc1tos pro- e algumas fibras sensitivas mu,to tinas, que se envolvem
a bJ1nha de miehna. No entanto. os corpos dessas por células de Schwann sem que haJJ formaç:io de m1eh-
as ficam a certa d1stAneta do axõn o, de modo que na CadJ célulJ d Schwann. nessas fibras. pode nvolver.
for maçAo de qualquer estrutura semelhante ao
1 em mvag nações de sua membiana, até 15 a>ón,os. No
!!NJ'I mJ SNC. as f1bras amlelfnicas n~o apresentam envohórlos
Ao m,croscópío eletrónico. a ba'nha de m cl1n.:i é forma- ApenJs os prolongJmentos de astróc1tos tocam os axô-
ro, Ull'J s rie d llmelclS cone nt11C.1S. or.g nJdas de vol· n os amieltnicos
"'' mbrana da célulcl 9'1JI ao redor do a óoio. como As fibr.is am1 l1n1Cas conduzem o tmpulso nervoso ma,s
d ialhado no próximo 11em lentamente, já que os conjuntos de canais de sód<> e potâs·
:. bainha de m eltna, como a próprtJ membrana plJs· s10 scnsiveis ~ voltc1gem não 11ml como se d,stanc.ar. ou se,a.
~iCJ que a or,g,na. é composta basicamente de l1pídeos a au~nclJ de m· l1na lmpecL cl condução sa tatóna
• C pllulo l lf(JdoMtno,o 29
''
,, ,,.'
,,,,
/
linho den10 rnen<>f
Me$0Jlõnio interno
I
Linho denso principal
RcJun 1 .1s tsquema mostrando as quatro erapas suc.essrvas da íorrruç~ da bainha de m e'lna pela célula de Sdtwann. (A) relJç.\o tn ciJI
enne o axôn10 e a célula de Sch\•,ann; (81 formaç.k> do mes,,nónio, (C) alongi1mento do me saxónio; (D) mi hnJ formada.
fltura 3 .16 ~ nho esquemi\11co mosuando como prolongamentos de 1.m ol,godendroc1to formam as balnh,u de m!el,na Cimernó-
du1os) de várias fibras nervosas, no SNC. No canto svpe110r d1re110. ~-se a superfÍ<.le externJ do ol,godendr6ci to (N .. nódulo de Rdnv,er;
A = a\ôniO)
30 NNowtoml.l rundonal
de fibras colAgenas entre elas. As células epiteliais petineu·
rais s~o. contudo. facilmente iden11fic.ada.s à microscopta
..ogo após sair do uonco encefálico, da medula espi·
eletrónica. Unem-se umas às out,as por junções íntimas ou
"" '-' de gánglios sensitivos. as fibras nervosas motoras e de oclusao e, assim, Isolam as fibras nervosas do contato
•t'Únem-se cm feixes que se associama emuturas
com o liquido Intersticial do epIneuro e adiac~ncias. Den•
_ : .as. constituindo nervos espinais e cranianos que
tro de cada fascículo, delicadas fibnlas colágenas formam o
,._,studados com mais deta'hes nos Cai>1tulos 9 e 10
endoneuro, que envolve cada fibra nervosa. O endoneuro
~.. c::~ o estudo de suJ estrutura lFlgura l.14).
hmIta•se internamente pela membrana basal da célula de
Os grandes nefvos. como o radíal, o med,ano e outros.
Schwann. visualizada apenas à microKopia eletrônica.
s.;o m elínlcos. isto é, a ma,or parte de suas libras é mie·
• ca Esses nervos apresentam um envoltório de tecido À medida que o nervo se dtStanc.la de sua origem, os
,:n1untIvo rico em vasos. denominado epmeuro. Em seu fosclculos, com a sua integ11dade preservdda, o abando-
~· ~1101, colocam-se as fibras nervosas organizadas em fas- nam pãta entrarem nos órgãos a serem inervados, Assim,
e <ulos. O epmeuro. com os seus vasos. pe-nena emre os encomram-se nervos mais finos, farmados por apenas um
'3Súculos. No entanto, cada íasc1culo é delimnado pelo fascículo e o seu envoltório perlncural.
~ -, ~t'tlro. o qual compreende tecido conjuntivo denso Os capilares !.clnguineos encontrados no endoneuro
a<denado e células ep1tehais lamelares ou achatadas. que são semelhantes aos do SNC e, portanto, capazes de sele-
·~mlam inúmeras camadas entre esse tecido coníuntlvo cionar as moléculas que entram em contata com as fibras
• ;3; ~bras nervosas. Entre as camadas de células epiteliais nervosas. impedindo a entrada de algumas e permitindo a
:: • • neurais. há também fibras colágenas. Geralmente. â de outrat Ass,m. no Interior dos fascículos. tem-se uma bar·
croscopia óptica, identifica-se apenas o componente reira hemJtoneural semelhante à barreira hematoencefálica.
,~---.unuvo do perineuro (Figura 3.14), dado o grau de a ser estudada no Glpitulo 18. Essa barreira só é efetíva gra·
•:+\"! amemo das células epiteliais e em ra~o da presença ças ao perlne-uro epitelial, que Isola o interior do fascículo.
S. Correlações anatomodinicas
Os neurônios e as fibras nervosas podem e~tar envol• genética associada a fatores amblenta,s, gerando a reação
,:e.os em doenças e proced.mentos médicos. Alguns deles auroimune. É progressiva. com suttos slntom.1ticos e pe-
lo ap,esentados a seguir. ,lodos de remissão que evoluem ao longo de vários anos.
Nlo existe cura. O tratamento na fase aguda mclul pulso
S.1 Anestesias locais de corticostcroides e. no caso da contratndi<ôÇOO destes,
Os anestêslcos locais, como a hdoc:aina. bloqueiam a o uso de lmunoglobulln.J. Pôra reduz;r o processo desmle·
:"'JÇ~o de potenciais de ação dos a'(ônios por se ligarem llnizante e prevenir novos surtos. utllizam·se med1camen·
aos canais de sódio dependentes de voltagem. tos, como anticorpos monoclonals, ,munossupressores e
outrasmedicações especificas (Agura 3.17).
SJ Doen~s desmlellnliante.s
51.2 Síndrome de Gulll.1in-Ba,ré (polirradiculoneuropatia
~o duas as patologias mais frequentes decorrentes d3
innamatona aguda)
~•el nizaçc\o de fibras nervosas:a esclerose múltipla e a
'"'drome de Gulllain·Barré. Nesta síndrome. a desm•elrm1açào. também de ou-
gem autoimune, acomete rafzes ou nervos periféricos
511 Csdero~e múltipla sensttivos motores ou autonómicos. A sintomatologia de·
r a principal doença 1nflamatô1Ia desmieliniz.lnte crô♦ corre d.retamente da redução ou ausência de condução
do Impulso ne,vo!.O que causa fraqueza muscular pro·
.J do SNC. A Mulup'e Sdero~is lnternattonal Federation
•~ • mJ Que em tomo de 2.3 milhões de pes~s sejJm por•
gresslva seguida de paralisia 0áctda e redução ou ausência
·)doras da doença em todo o mundo. NesSci doença, de de renexos te-ndíneos. Podem ocorrer déflrns scnsmvos e
disautonomld. No quadro tlplco, a paralisia evolui de for•
e" 43em autoimune, obsc,v,Mc J)fogresslva destruição dJs
oo nhJsde miehna de feixes de fibras nervosas do encéfalo.
ma ascendente, Iniciando-se em membros inferiores e
podendo oc,ulonar perda da marchi, (,n G)!.OS ma,s gra•
~ medula e do nervo ótico. Com Isso, cessa a condução
• •J;óría nos ax.ônios. ,esultando na d m1nuição dil vcloci· ves, a1lnge a muscutanrra respirat61la. com necessidade
::ade dos Impulsos nervosos até a su.1 exnnção completa. de ven11lação m~nica, O diagnóstico é íe1to pela eletro·
~ denomlnaçAo mú/1,pfo deve-se ao íato de que são aco♦ neurom1ografia, que 1dent1fic.a o b'oqueio ou a redução da
rre-tidas díversas áreas do SNC em forma de surtos. A sin• velocidade de condução nervosa O exame- do l1quor iden•
·o-natologla depende das áreas acometidas. sendo rnais tif1ca aumento de p•oteínas sem aumento de celularídade,
rnmuns a incoordenação motora, fraqueza e dificuldades dissociação prote,noc,tológ:ca. O tratamento Inclui, al~m
\1são A flsiopatologia da doença inclui predisposição da monitorização e do suporte ventilatório, a utilização de
• úp1tulo 3 lN:idoNtMnO 31
Agur, J.17 Rcssonlncia mJ9ni::t,ca em paciente portador de esclerose mulupla mostrando v.\110\ focos de de1m1el1n11,1ç.\o (1m.19en$
com h1pers1nJI nJ subst.)oc:1J braxa do cêrebro)
IM'e CC>tlt J 00 [)r '.' J((O A, ,r(),1,0 ~ i 1
,munoglobufinas ou plasmaférese. visando reduz,r o tem· Existe a forma paralíuca da doença pelo acome-tlrnento dos
pode evoluçAo dJ doença, nervos per1f~ricos A prevenç3o t! J principal r01mJ de con-
Embora a patologl.1 de base d:ls dL1as doenças, esdemse trole da doença pela vacinação anual dos animais domés-
müt11pla e síndrome de GuIlla,n-Barrê, seja a mesma - ~. ticos. limpeza das feridas logo após leSclo e observação do
m1e/1nizaçcl0 -. uma acomete o SNC. e a outra, o pe11fér1co. Jnil'JIJI. durante 10 dias, que a provocou. Deve-se procurar
O curso clinlco das duas é também oostante diferente. Ao atend,memo medtCo e st>guir os protocolos de prevençao
contrc\rio dJ ~ler05e múltipla, a síndrome de Gu1llain-Barré pós-exposição do Minlst~rlo da Saüde
é aguda nJ mJor pJrte das ve1rs, e ocorre em surto único de Também o bacilo da ht1nseniase penetra por esse ca·
evoluç.k> r~p1da. período de estab1hza,~o e tend~ncla à me· minho. embora hmnando-se aos nervos per1íérícos. Éuma
!hora compl ta Existem. contudo. casos que evoluem para a das causas mal( comuns de nl?\Jropa1iJs n~o 1taumAtlcas,
forma oónica. O vírus só se mult1pllca ern áreas com temoeraturas mais
frias do ...orpo, per isso a pred,leçõo per áreas superficiais.
SJ lnfecções como pele e nervos Afeta nervos sensitivos mo1ores e au-
tonómicos. Os sintomas ínclu!!ni dor, parcm~sias, hipoc~tc·
5.3.1 Raiva, hanseníase e herp~-zóster sias. pares,as, atrofias. antdrose e espessamen10 dos nervos
Sabe-se há skulos que, algum tempo após ser mor- acomettdos. O tratamento medicamentoso é estabelecido
dida por um c.lio contaminado pelo vírus da raiva, a vitima per protocolos do Ministério da Saúde.
pode adquirir a doença. caracterizada por graves d1stúrb os Outro exemplo é o vlrus da varicela·zóster. Após um
neurológicos e ps1qul~t11cos deco11entes do cornpromet1• quadro de var1CelJ, o vírus permanece alojado no gt'lngllo
mento do encéfalo Esse fato levanra o problema de como sens.1ívo da raíz dor.sal. podendo permanecer inativo por
ovirusda raiva chegJ ao SNC.. Para isso, é bom lembrar que. muitos anos. Em algum momen10 pode se 1ea1ivar, causan•
no nível das teunínaçóes nervosas !>ensorlais l,vres. das do o quadro de herpes-zóster. caracterizado pelo apareci-
placas motoras e das terminações autonóm!Cas, as fibras mento de erupções no territóuo sens1tívo daque!e gangl,o,
ne,vosas perdem os seus en-.oltórios e nào sAo proteg;das causJndo dor Intensa no de1mátomo correspondente.
por barreiras, como oco11e ao longo dos nervos. Tem-se.
assim. aberto o caminho pelo qual o vírus da rawa - e ou- SJl Tétano
tros vi1us - penetra nessas termin.ições. cheg.i ao pericáno O tl!tano ~ uma doença infecciosa. nj() contag osa. cau-
dos neurônios da medula pe:o íluxo axoplasmátlco retró- sada pelo bacilo Closrrid,um 1eron,, qu~ prodUl uma exoto-
grado e. enfim, atinge os c1xônios que se comunicam com xina denominada ti!ronoposm.f'o, capaz de aungir o SNC. O
áreas cerebrais. O vírus cau.sa, entao, uma encefahte agu- baolo g~positivo e anaerób1eo é encontrado na natureza
da. Todos os mamíferos podem ser portadores da doen- sob afor ma de espo,o na pele e fezes de d1vers<» anima s. na
ça e uansmiti-la ao homem através da saliva em c11sos de terra águas poluídas e instrumentos enferrujados. O baci'o
mordidas Os morcegos sllo a p11nclp.:il fonte s,lve~tre da penEt1a na pe!e atrtl\é-sde ferimentos e aInfecção fica locali-
doença Os sintomas tipicos são febre. d(>lírio, espasmos zada est1i1amcnte l'\J área de tecido necró1ico. onde encon-
musculares. Inclusive de ,nüsculos faringeos e laríngc..'OS, tra um ambiente anaeróbtco pmp'clo para a germlnaçjo do
slaloirela. d1sfagia, incapacidade de Ingerir líquidos (hidro- espot0. A to>1IN é l,beradJ e l,gHe às terminações dos ner·
íob·ai. convulsões. culminando no óbito em alguns dias. vos motores penféricos e. de fo,ma retrógrada, é transporta•
32 tiftlrowtomia fullOOC\II
ndo ao como anten()( dJ m••.'dulJ esp,nhJI e cJ1c10 Esse aumen:o dJ e•c•tJb l,cfade pod" ser .. ,sto no
•~ os intemeurônios 1n b-tór,os esp.nhais causando eletroence.falograma (Figura 3.188) Podem tarntxm OCOfrer
,.._,_,,., 1 muscular. O rrus~ tcr costurru sef o pflmeiro altcr~Oes nos me<:anismos ,n bttô11os bsas a ter ações po-
.co,r, tido, causando o tusmo e a con~uente dem ser resultantes de fa10fes ~ ttCos ou ~conhecidos.
;;..;;;;;::,.,a;,.~ nJ a\)4?ttura de bocJ Cm wgurdJ, podem surg., no c.iso dJs epileps.Js de ori~m g nét,ca. bem como de·
e~ on~ dJ muscu!Jtura foci.31e cet\lic.:il A rigdez correr de uma lesloc , bt.>I p,êvia n,nep-' psiasch.1mJdJs
_ r., iLlCJ. d ficu'tando a marchJ e a ing,ndo a s1nt~tos. As cr1S<'S ep,léptlcôs decOfrtmtes desses fato·
__,,......,s-w..l tOfJCOJbdom,nal, caus.1ndo d fic uldad rcs· res podem ser de vAr,os tipos. dependendo d.1 .1rcJ ceie•
co \•ótooo A mortJ' ade ~ alta. Enecess.!r1J a biai que gera a at1Vl<bde c'~tr ca anofmJI Podem ser foca,s
.._•.,.:-~-, ._ m und3de de terap;.J int nsiva, com sroJÇOO ou general,zddJs. A ma,s conhec1dJ é a c11s ton<oclóoca
-0 musculJr e JSSISténciJ vent11JtóuJ J)Of se- ·1at ral A a t ~ elétriea anormal pode tet in ct0 foc.it,
é a únlc.:i fOfma de p, enç~ d.l doença. mas at nge os dôts hem1sfe1ios cercbt,M, p,OIIOCando perda
de consc1~nc1.1 e contr.>ção tóna d 1odc1 a musculatura.
segudl de abJ'os clônicos rítm<:os. Após cessarem as con-
-
~"'• 1mente posto neste cap.tulo. ,:em uaçôes muscu!Jresi, K'(Jue-se o per iodo pós•.c.tal, cm que o
'".>;~o entre ne urônios é feita por meio de paciente permanece ,nconsc,ente po, ma,s a'guns m notos
·r.cos e l1 be1açoo d neurotrans'l"IISSOfes. As e recupcr.l-se progres~vamente. O tratamento é ÍL~to com
~ ~ e c,tatónas ou mrb,tóuJs. Nas ep 1ep- mcd camentos ant ,~ ,• pt1cos. que atwm l'stabll1 ZJndo
J J'ieraçJo na e otab,lidJde de um grupo de a atividade nos cana,s oo,cos, sobtetudo de 5õdo ou au-
•,>l en-.oJvendo OS Cill'\J1S IÓO COS de 5Ódl0 mentando a atr. dld gJbJ ·19 ca m bltôrlJ
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• - ..;_ •_ _ _ !,_ __: ♦ I • _,, -
T«klo Ntnoso 33
natomia Macroscópica da Medula Espinal
e os seus Envoltórios
foKlculo cuneifo,me -
Fo1elculo grócil
- Raiz e1pinol do /,
K Suko mediano po1iefio,
nervo oceu&io /~
- - Couclo equino
Duro-móter - - _
.,,,
Gânglio e$f>lnol do _
nervo T2 ~-;
Nervo 4llpinol T3
- ligamento coccigeo
lntvmeKêncio lombouocrol - -
~------------
36 NMowtomlol í un(IQNI
-
_... ~ - --- -- - - - -
- _,
Sulco lnterm6dio poilerior - __
--- --- ---________
__--Sulco mediano po$1etlor
Sulco lohlfol po1terio, - --..
- - - - - · foiciculo cuneiforme
Col11na posleriot - - - - - -
- - - - - Funículo po1terlor
Coluna lo1erol - -- - ....
- - - - funlculo lateral
Colunã anterior - - - - - -
~- - Conol centro! do medula
Suko lotetol anlé-rlOr --- - -
- - - - - - - - funkulo onlefior
Trobckulos aracnóideos
--- ;> ..., -.. • llgomenlo denticulodo
Raiz dC>fs.oJ
do nervo C5
OurO.fflóter - - - -
_ ligamento omorelo
Secçõo do pedlculo do
arco do vértebra T1
I
/
/
I
/ do VMtebra T2
38 fitun»NIOIIN fundoNI
•·--Cl s. · Envolt6rlos 9 medula
\1) --2 Como todo o SNC. a medula é envolvida por membra-
~ - -3 nas fibrosas. denominadas men,nges, que S<\o: duro·mdrer;
plo•mdter; e orocoode. A dura·máter é a mais espessa, razão
é) Q -•-A
pela qual é também chamada paquimeninge. As outras duas
&o.!]••-s constituem a leptomenmge. Elas ser~o estudadas com mais
~~~ ~ ..... •6
detalhes no Capítulo 8 Limitar-nos-emos. aqui, a algumas
á/fJ\~ .... 7 considerações sobre a sua disposição na medula,
6) ~-----·---· ;,
S.1 Dura-máter
:r ~
2 A meninge mais externa é a dura-máte{, formada por
JI
abundantes fibras c_olágenas, que a tornam espessa e resls·
3 tente. A dUTa-márer espinal envolve toda a medula, como
4 se fosse um dedo de luva. o soco durai. Cranialmente, a
dura-máter espinal continua com a dura-mâter craniana:
na porçAo caudal. termína em um fundo de saco no nlvel
;.
da vértebra S2. Prolongamentos laterais da dura-máter em-
7 bainham as raízes dos nervos espínals, continuando com
o tecido conjuntivo (eplneuro) que envolve esses nervos
8
(Figura 4.3). Os oriílclos necessários e\ passagem de ralzes
~
9 ficam, ent~o. obliterado~ n~o permitindo a saída de liquot
eJô}
~-- 10 S.2 Aracnoide
A aracnoide espinal se dispõe entre a dura~máter e a
pla-máter (Figura 4.3). Compreende um folheto justaposto
12 à dura-máter e um emaran~do de trabéculas, as trabéculas
LI aracnóideas, que unem esse folheto à pia•m.âter.
~ li
~-.• ,0. .
li n • •
S.3 Pla-máter
; :l -2 A pia•máter é a meninge maJs delicada e mais ln erna.
,, Ela adere intimamente ao tecido nervoso da superficie da
1 medula e penetra na fissura med1ana anterior. Quando a
IZ •-•-3 medula termina no cone medular. a pla-máter continua cau-
ir dalmente, formando um filamento esbranquiçado, denomi·
• -4 nado fllamenro rerminal. Esse filamento perfura o fundo do
~o durai e continua, na porção caudal, até o hiato sacra!.
r Ao atravessar o saco durai, o filamento terminal recebe vá-
rios prolongamentos da dura-máter e o conjunto passa a
ser denominado filamenro re,minol ípcrre du1on (Figura
SI 4.1 ). Este, ao inserir-se no periósteo da superfície dorsal do
2 cóccix, constitui o ligamemococcigeo.
3 A pia•máter founa, de cada lado da medula, uma pre-
.. ga longitudinal, denominada ligamento denbculado. que se
5 dispõe em um plano frontal ao longo de toda a extensão
Coc. 1
da medula (Figuras 4.1 e 4.3). A margem medial de cada
llgamento continua com a pia·máter da face lateral da me-
dula ao longo de uma l,nha continua que se dispõe entre as
raizes dorsais e ventrais. A margem lateral apresenta cerca
de 21 processos triangulares. que se inserem flrmemente na
rlguH 4A O.açr11m:i mostrando a re!açao do1 segmemos medu•
aracnoide e na dura-máter em pontos que se alternam com a
la•es e do\ ner'1>s esp,na,s com o cocpo e~ processos esplr,ho~
das \'trtebta~
emerg~nda dos nervos espinais (Figura 4.3). Os ltgamemos
lontr Rt>p,oduzldl de K!/ff\W'r .and Woodl'la!l 194S Pt-.. phcn l ' l ~ denticulados Selo elementos de fixaçA<> da medula e Impor-
ln U-'l"\ W 8. S,),Ul°tdt'fs 4-nd Co tantes pontos de referência em cenas drurgia.s desse órg~o.
1..
.
1.
Modelo teóoco para ei<pliear as moei.fie.ações da topografia -..enebromedular durante o desenvotwnen10. Em (A). 111uaçJo ob-
Flg11r114.S
~·ada aos Quatro ~ s de vida lntrauteriN; em (C). s1tuaçck> ob~adJ oo n.1~1memo; em (B) s11uaç~ inteirnedtária
2' As\'(..:/\~~ plexo~ ~prorid.Js de V•Mib\ e 1~m COll'IUnlCa(~ com ,H \'N\ dn caV'IC1ldc1 tOl.\t,ca. at:>doml\ll e ~,ca Aumentos d~ p,e.\\Jo
~sal e.a~ P,OVOC.ldos. po, •('ITlplo. pel.) IOS'oe IITt~!.,.m o WIY)W no V'fll tÔO do ~xo ~ rttbli!I [l~ ,n·. ef1,)o do flu;o ~no!,() e, pl Cd il d«\~
m,oaç~ p..)f.a a colur\J ,...,,rtbloi ou p.11a a medula. oo WK(õe\ e met.l\td~S ca""er~ a Põrt r de P,OCelSO\ kxàJ1i.,dos piim 11\omeou.i n a s ~
10,koca. abdQrl'lirol e~ Eue rneutW1'IO ~ •~~➔ pd.l °'°''HIC de ~ s tw1ológ1G<1\ c.tu',,)ó.l \ Pt->!J druffl11n.iç.\Od-><M» d!! Sei IIOfJOtru
momonl, princ10,1lm.-mr ru !flf'dvl_J ~\1>11\c'J~ m.l\ tambml rm ov11as 1fl'il\do SllC. LMõt-; rnJ,.s 9tavd oc01 rtm fl\JJV'ldo o prÔO!IO ~ m9a p.va o SNC
e pOc um 91; ~ nútllefO "" o-;01 em u,n só lu<Jlt (lnttOOt'm P11t'II-' JUi. Ne\lro,c,hbto1oornl.l\d.Pl,u1 ~ •fdótlJ 1997.7. 649--<.61)
40 NNowtorw fllldolwl
7. Correlações anatomodinkas
7.1 Aexploração dfnica do tspaço subaracnóldeo e) Introdução de substâncias que aumentam o con-
traste em exames de Imagem. visando ao d.ag-
O saco durai e a a,acno,de que o acompanha termi-
nóst,co de processos patológicas da medula na
nam em S2, ao pJS50 que a meduld termina mais acirna.
técnica denominada m,e!O<Jrono.
em L2. Entre esses dois nlve1s, o espaço subaracnóideo é
d) lntroduç.x> de anest~slcos nas chamad:is õneste-
ma·or, contém ma,or quantidade de hquor e nele se en• s,as raquidumas. como será visto no próximo item
conuam apenas o filamento terminal e as raízes que for-
e) Adm1nlsrraç~o de medicamentos.
mam a caud:1 equIna {Figura 4.1 ). N~o havendo perigo
de les.\o da medu'a, essa área é ideal para a lnuoduçAo de 7.2 Anestesias nos espaços meningeos
uma agulha no espaço subJracnóideo (Figura 4.6). o que
A lntroduç.\o ~ anestésicos nos espaços meníngeas
ê fe,to com as seguintes final,dades:
da medula. d0 modo a bloquear as raízes nervosa~ que os
atravessam. constitui procedimento de 1otina na p1át1ea
mtk11ca, sobretudo em ciru,g.a_s das extremidades inferio-
res. do pe1ineo. da cavidade pélvica e em algumas cJrurgias
abdominais. Em geral, são feitas anestesias rl)quidlanas e
1 anestesias epidurais ou peridura,s.
l2
..
.-:
7.2.l Anestesias tdqu,dian.is
~
\ .~,1
...
, Nesse tipo de anestesi.l, o anestthlco é Introduzido no
espaço subJ1acnÓldeo por mela de uma agulha que pene-
tra no espaço entre as vénebras L2·L3. l3·L4 (Figura 4.6)
ou L4·l5. Em seu trajeto, a agulha pe,fur.:i sucessivamente
apele e a rela subcu1ânea, o l,gamemo mrerespinhoso, o li-
gamento amarelo. a dura-má1e1 e aarõCno!de (Figura 4.3).
Cett,fica•se que a 39ulh3 Jting,u o espaço subaracnóldco
pela presença do hquor que goteja de sua elnremidade
S2
7.J 7 Ane\tesiJ\ ep!durals (ou peridurais)
Em geral, são feitas na região lombar, introduzindo-
-se o anestésico na espaço eplduial, onde ele se d1fund
e atinge os fo1ames Intervertebrais, pelos quais ix1ssam
as 1alzes dos nervos espinais. Confirma-se que a poma ~
agulha atingiu o espaço epidural quando se observa súb,ta
bJlll.1 de resfstMcia. Indicando que ela acabou de perfu·
raro l.gamento amarelo. Essas anestesias n.ío apresentam
f1vura 4.6 Punção lomlw roe paço sub.Jrac:nôideo entre LJ e l4 alguns dos 1n<:onvenientes das anestesi.)S rilqu1d1Jnas,
como o af)J1ecimento frequente de dOfes de cabe<a. que
a) Retir3<b de hquOf para fins te1a~ut1Cos ou ded 39• resultam da perfvraç3o da dura-máter e de vazamento de
nóstico nas punções lombares (oo raquldianas) l1quor. Entretanto. elas e.~1gem habI1ldJde técníca muito
b) Medida da pressAo do liquor. maior e ho,e são usadas quase somente em panos.
- Tronco encefálico
demarcaçclo nítida entre medula e bulbo. Considera-se que
o limite entre eles está em um plano horizontal que passa
•- o encef~llco Interpõe-se entre a medula e o
logo acima do filamento radteular mais cran,al do 1° nervo
·~o s Iuando--se vemralmente ao cerebelo Na sua
cervical. o que corresponde ao nível do for ame magno do
• ~jo entram corPoS de neurônios, que se agrupam
osso occipital. O limite supe11or do bulbo se faz em um sul·
-~ e fibras nervosas, que, Por sua vez. se agrupam
co horizontal visível no contorno ventral do órg~o. o sulco
• 0t:nomin.ados uaros. fosck ulos ou lemniscos. Esses
bulboponrino, que corrcsPonde :i margem lnfelior da ponte
s aa estrutura Interna do tronco enccMllco podem
(Figura 5.1 ). A superfície do bulbo é percorrida longltu-
• onados com relevos ou depres~s de sua super-
os .1...J~ devem ser iden11ficados pelo aluno nas peças d1nalmente por sulcos que continuam com os fülcos da
:.Js com o auxilio das figuras e das descrições apre•
medula. Esses sulcos delimitam as áreas anterior (ventral),
- -·~..._,_ neste capitula. O conhecimento dos principais lateral e posterior (dorsal) do bulbo que. vistas pela superfí-
c..o,,,,;...,· ~ d3 superílc,c do tronco encefálico, como aliás de
cie. aparecem como uma continuaç.lo direta dos (unículos
- ~ stema nervoso central (SNC). é muito importante da medula. Na área ventral do bulbo, observa•se a fissu,o
• o es_ udo de sua estrutura e f1.mção.Muitos dos núcleos mediana ance,,o,, e de cada IAdo dela existe um_a eminén-
.l: · o encefAllco recebem ou emitem fibras nervosas cia alongada. a pirômide. formada por um feixe compacto
~ :Tam na conS1ituiçáo dos nervos cranianos. Dos 12 pa- de fibras nervosas descendentes que ligam as áreas mo-
- nervos cranianos, dez fazcm conex~o no tronco en- toras do cé1ebto aos neurônios motores da medula, o que
-o A ldent1ficaç~o desses nervos e de sua emergtncia sera estudado com o nome de trato cortlcosp,nal. Na parte
X ··ooco encefálico e um aspecto imPortante do estudo caudal do bulbo. fibras desse trato cruzam obhquamente
segmento do SNC. Conv~m lembrar, entretanto. que o plano mcdtJno em feixes interdigitados. que obliteram
- 1iempre ~ possível observar todos os nervos cranianos a fi~ura mediana anterior e constituem a decussação das
jS pe<;as anatômicas 1ot1nelras. pois fr~uentemente al- pirtJmides. Entre os sulcos lateral anterior e lateral posterior.
guns são arrancados durante a retirada dos encéfalos temos a área loreral do bulbo. onde c,e observa uma eminen~
O tronco encefálico se divide em· bulbo. situado na ela oval. a ol,va, formada por uma grande massa de subs·
porç.\o caudaJ; mesencéfalo, siluado aan1a!mente: e Ponte. tancia cinzenta. o núcleo olivar inferior, situado Jogo abai o
s tuadcl entre ambos. A seguir. será fe 10 o estudo da morfo- da superilcie. Ventralmeme ã oliva emergem. do sulco la-
log1a externa de cada uma dessas partes. teral anterior. os filamentos radicula•es do ne,1.,0 hipoglos-
so. XII par craniano. Do sulco lateral Posterior. emergem os
- - . -- filamentos radiculares. que se unem para formar os nervos
gfoHofu,íngeo (IX par) e \'0()0 (X par), além dos filamentos
O bulbo, ou medula oblonga. tem a forma de um tron- que constituem a raiz craniano ou bufbor do nervo oceu6110
co de cone. CuJa ex(lemidade menor cont ,nua caudalmente (XI f)õr), a qual se une com a raiz espinoL proveniente da
com a medula espinal (Flgur1 4.1 ). ~o existe uma linha de medula (Flgur1 5.1 ).
A metade caudal do bulbo. ou f}OIÇÔO (C(hOdo do bul-
bo, é percorrida por um estreito canal, contlnuaçAo direta
do canal central da medula. Esse canal se abre para forrNr Ponte é a parte do tronco encefóllco Interposta entre
o rv, nrrlculo. cujo assoalho é. em parte. comtltuído pela o bulbo e o mesenc~falo. Está situada ventralmente ao ce-
melàde rostral, ou porçôo obeflo do bu!bo (Figura 5.2). O rebelo e rel)Ofila sobre a parte basilar do osso occipital e
su'co mcd ano posre,iol termina a me,a altura do bulbo. em o dorso da sela turca do esfenoide. Sua bJse, s11uada ven•
, ,nude do afastamento de seus láb!os, que conmbuem para tralmente. apresenta estriação uansversal em virtude da
a ÍOfmaçck> dos llmnes laterais do N ventrfculo. Entre ~se presença de numerosos feixes de fibras transversais que a
sulco e o sulco lateral posterior está situada a óreo posre- percorrem. Essas fibras convergem de cada lado para formar
rro, do bulbo, continuação do runirulo posterior da medula um volumoso feixe. o pttíunculo cerebelo, mff110, que pene-
e. como este, drvidtda em fosclcu/o grácil e fascículo cunei- tra no hemisfério cerebelar c0<respondente. No limite entre
fo,me pelo 11.1/co incerméd,o posreriot. Esses rasdculos são a ponte e o pedünculo cerebelar médio. emerge o nervo cri-
constttuídos por libras nervosas ascendente~ provenlentes g~mro, V par craniano (Flgur• 5.1). Essa eme,g~ncia é feila
dJ medula. que terminam em duas massas de substancia por duas raíz~. uma maior. ou 10,z sensitivo do nervo Cflg~-
cinzenta, os nucleos grãc,I e cuneiforme, situados na parle mro, e outra meno,. ou ro,z moco,o do ne,vo trigémeo.
rna1s oanial dos respectivos fascículos. onde determinam Perc()(rendo longitudinalmente a superfície ventral da
o ap.1recirnento de duas eminéncias, o rubérculo do nuclro ponte. existe um sulco, o sulco bos,lar (Flgur• 5.1 ). que aloja
grácil mediaimente, e o ru~rculo do nticleo cuneiforme. la- a oreMo bosdor (Figura 18.l).
te-ra!mente. Em vrrtude do aparecimento do N ventrlculo, A parte ventral da ponte é separada do bulbo pelo sul•
os tuberculos do nudeo grácil e do núcleo cuneiforme se co bulbopontino. de onde emergem de cada lado. a partir
afastam lateralmente como os dois ramos de um V e. de da linha mediana, o VI, o VII e o VIII pares cranianos (Figura
orma gradual, conunuam para cima com opedúnculo ce,e- 5, 1). O VI par, nervo abducenre, emerge entre o ponte e a
belor infcr,o,, formado pôf um grosso fo' e de fibras, que se pirâmide do bulbo. O VIII par, nervo \i?stibulococleor. emerge
t1etem dorsalmente para penetrar no cerebelo. O peduncu- lateralmente, próximo a um pequeno lóbulo do cerebelo.
lo cerebelar Inferior é d1vld1do em duas partes. A lateral, ou denominado flóculo. O VII par, nervo fadai. emerge medial-
corpo res11forme, conduz fibras aferentes proprioceptrvas e mente ao Vlll par, com o qual mant~m relações muito inti•
a medial, ou corpo Justarreit1forme, cariega fibras aferentes mas. Entre os dois, emerge o rnwo intcrmM,o, que é a raiz
e eforentes vestíbulares. Na Figura 5.l. o pedúnculo cere- sensitiva do VII p.1r, de Identificação ~s vezes d1f1Cil nas peças
belar inferior aparece seccionado transversalmente ao kldo de rotina. A presença de tantas ralzes de nervos cranianos
do pedúnculo cerebelar rn~lo. que ~ parte da ponte. em uma área relativamente pequena explica a riqueza de
lobo lempo,al
- --
-----<--........
Net'IO lfocleor • - - - - - • _
Raiz molol'o do V - -
44 NNrowtomw F~ I
• r romas observados nos ca_sos de tumOl'es que acometem
~ SJ área, resultando na compres~o dessas ralzes e causan-
jo a chamada sfndrome do ôngulo pomo•cerebelor. 4.1 Situação e comunicações
A pane dorsal da ponte n3o apresenta hnha de demar- A cavidade do rombcncéfaJo tem forma losc\ngica e
CJ(M) com a parte dorsal da porçc\o abena do bulbo,
cons- ~ denominada quarto vencrlcu'o. situada entre o bulbo
~ tu ndo, ambas. o assoalho do N ventriculo. e a ponte, na porç~o ven1ral. e o cerebelo. dorsalmente
111 Vemíc:ulo
Co,pocolok> - - - - - - - - - - - ,
\
'\
\
r- - -
______ Tólomo
Cotpo colo10 (wpemcie de conel
\ \ 1 /
\ \ 1 / Porte loterol do ,upe,f icie
' \ 1 / , - - - do,.al do 161omo
'\ '\ 1 / / Porte medlol do wpenlcle
1
\ \ 1 / /1 / donol do tólomo
1
\ \ 1 / / Btoço do
\ \ 1 / , ---
\ \ 1 '1- ,/ / coliculo ,uperiof
\ )1 / / / .
/ I I Pvlvinor do tólomo
,
,' ." / / I
/
I
,' Corpo ge.niculodo
1
1 I I ,-- mediol
, / 1/ ,
I , I I
I I I , I Co,po geniculodo
I I ~
I , I
,,,,,,. ,,,"' lo1etol
I / ~
I _, ,,,,,,.
/ ,( ,t i,,"
Broço do coliculo
~
/ I
.,~-.;;::!- ,, ,"'"' lnfttti01
Suko loterol do
--- _ -- - -- - rnesenc.éfolo
--- __., '~.N M~ - ., ... .,,. ...
Coliculo , uperlo, -- - -
Glõndulo pineal - - - -______
- ... -- - --1--
.,,..
~
- - - ·1
.---
, ....
. ., - locu,.,ceru/ev,
_ - - " : Pedúnculo ce1ehelo, ,uperiof
loterol do rv ventrículo
,, ,,1 I
Pedúnculo ce1ebelor médio - - " / 1 __ TeJo co,ioldeo
fóveo supe,io, -------- / //
1
_____
--------Trigono do hipoglosso
...,--______
------
---Plexo co,ioide
, ,,,."'
Pedvnculo ,erebelor inferio, ---.L./
E,trio, medulore, do IV Yefltrlculo - - - -
-- ---- ;
---- -rll---
- - - - - - - - - - - T rigonodovogo
Fóveo infe,lo, - - - - - - - - - - - - - fl-
1
....... ____ __
~ - - Fu11lculo Jepat0111
- - - - - --- -
Óbe.x - - - - - - - - - - - - - - - - -----
Suko intermédio po,lefior - - - - - - - - -
-- --
' ........ .....
, ...... .... .....
1
.... ' - : - - -
- - - - - Áreo postremo
-- --
Sulco lotorol po11eriof ___________ _
- ' ..., Tubém,lo do núcleo grócil
Suko mediano po,terl« - - - - - - - - - - - - - - - - - - - foKkulo cuneiforme
----------- - - - - - - - - - fmckulo grócil
46 NfurNJWtomi.t fl l ~
~ .,,. - - - Aqueduto genicu'odo loreral pelo braço do col/culo supeno, e faz parte
TETO .. _./~. :Tq,_-::-:<~- cer.brol da via óptica. Ele tem parte do seu traJeto escondida entre
o pulvin01 do rólomo e o corpo ge,nlculado medial, O corpo
/ 1 ., Suko loterol geniculado lateral nem sempre é fâc,I de ser Identificado
,. \. do ffleMflttfolo
PEDÚNCULO nas peças; um bom método parai enconuá-lo consiste em
TEGMt - ) __ Sub11ànclo
CERURAl procurA-lo na extremidade do rroro óp11co.
~ negro
- /· -y " S.2 Pedúnculos cerebrais
Sulco medial do / '-------· Nervo
pedúnculo cetebtof- --- oc-ulomotor Vistos dJ perspectiva ventral, os pedúnculos cerebrais
aparecem como dois grandes feixes de fibras que surgem
Figura S.J Secç.\o transversal do mesenc fctlo. nJ borda superior da ponte e drvergem cranlalmenle para
penetrar fundo no cérebro (Flgun1 s.1 ). Delimitam, assim.
emerge dorsalmente. contorna o mesencéfa1o para surg:r uma profunda depressão triangular, a fossa mrerpeduncular.
na porç~o ven1ral entre a ponte e o mesencéfalo (Figura lmmad.l anteriormente por duas eminências pertencentes
5.2) Os coliculos se ligam a pequenas eminências ova,s do ao diencéfalo, os corpas mom1/ares. O fundo dJ fossa inter-
diencéfalo, os corpos geniculados. po, meio de estruwras peduncuiar apresenta pequenos onfldos para a passagem
alongadas que sAo feixes de fibras nervosa~ denominados de vasos e denomina-se .subsrC,ncio perfumda posterior.
biaços dos colículos. O calículo inferior se liga ao c01po ge- Como já foi exposto. do sulco longitudinal situado na face
nlculodo med,ol pelo b,a,o do coliculo inferlOr e faz parte da medial do pedünculo, sulco medial do pedúnculo, eme19e de
via auditiva (Figura S.2). O col/culo superior se llga ao co,po cada lado o nervo oculomor01 (Figura 5.1 ).
Fin ura _
horizontal - - ~· Fkxulo
✓✓
lóbulo semilunor Inferior
✓
/
lóbulo bivenlre I \
I
I \
\ ''
Pedúnculo do
Nódulo lhulo
fl6c:ulo
figura 5,4 Vista ventral do cerebelo ap6s wcçào de» pedúnculo~ cerebelare'\.
Telo mesencefólico _
- ---..- -
- - - _
..- _. Cu/,,,.,,
f iuuro primo
-----
f lu ura pré<entral - - --
- _ _ -fo//um
Lôbulo cenrral - -
rv ventrículo -
Ungula _ _ _
-- - - Fissura hot-izontol
- fluuro pré,piromidol
Tela e ple.<o corioide < - - - - Pir6mlde
Nódulo - - -- -
Fiu ura posteroloteral - - - - f issura pó"9iromidol
Abertura mediono do rv /
- - - - - - Hemislé:fio cerebelo,
ventricuJo
Ca na l central do bulbo - -
48 NNo.atwtomw fll!ICioNI
Verme
Aio do lóbulo central _ _
------
Porte onlefiof do lóbulo quodtongulor --------- - - lóbulo central
Cufmen
Fiuufo p imo - _
-----
Porte postel'iof do
lóbulo quadrangular- - - ..,. --- -- --Declive
lobo a ntNior
• 1os .<t1QIC&areS-:::
S.-::- Peduncv -.....L-1.
::.-- ~-·--=--::=
- ~ -::..------,·
52 ~tomilkmdaNI
Fiuuro longitudinal do c.érebfo
- - - - - -Fórna
Corpo c.oloJO - - - -
- Porte lote<ol do face
superior do lálomo
Pane c.entrol do
ventriculo lcnerol - - - __ Porte mediol do face
Wf)ef ÍOf do '6lomo
Plexo co,ioide do
ventrkulo loterol
/
/
Terceiro ventricu - - Núcleo 1ubl0lõmico
Sublólomo - - - _
- - - - Bowt do pedúnculo
cerebral
,,,,,
Fouo lnterpedunculor - - ✓
-· ... - - - - Base do ponte
RguH 6.1 Secçoo fr0"tal cio c~c-blo passando pe,'.o Ili ,entricdo
-~,.-
_.,.-- --~-
-· ~
~~ ~--- ~ ~ - ~ - - - · --
Anatomia Macroscópica do Telencéfalo
. --- .......
1 .... ....
Quiajffl(J óptico-----------
_... ,.,,.. -- -- -- -- ' , Glõndulo pineal
eorpo mamilar----- --- - -4''.,,,.....
- - - .,; ....
_,-" ',
..;.t•
Hi't"-" 1se .---__.
- - -
--
-
-----~--
-· --
-- ,------------ ____ , ... ' Corni»uro po~rior
/ ~~
Nervo oculomolaf - - -
--~- --~ ,, .,...,,. .,,. ,,,,,,,,,, ,,,,, ,,,,, - - - - ... ' ....
Mesenc:éfolo ,, - ,, · .., ' ' , ' 'T,eto m~.ncefótico
,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,, -
,,,,,
- ,,,, ,, --------'-\._
Ponte Tela corioide e ,," Abertura media;- \ - i , I '\ 'f ',
Bulbo do IV ventricvlo - - , - - - ' ' , Véu medular ' ,
ple110 corioide IV VentTiculo superior Aqueduto cerebral
\
A9ura 7.1 Face medlill de um hemisfério ce<ebral.
Porte central do
F0<ome lnlerlenlriculor - - ventriculo lofefol
- - Reccwo wpropineol
- - - Receuo pineal
I
C0<no onlerio, do,/
ventrículo lolerol / 1
1 1
Receu o óptico - - - - - /
1
1
Receu o d. inh,ndibulo --- /
1 - Aqueduto cerebfol
Ili Ventrículo - - - - - - - 1
Corno infef lo, do ventrículo loterol - - _ / - - - - - --IVVentrkulo
• Cnpttulo 7 Ãll.llllnú ~ d o ~ S7
lobo frontal - - - ------------, I
1 - - - Fiuuro longitudinal do c_érebro
Hipoc:ompo
I I
I I 1- - - - - - - PleJlocoriolde
I I I
I I I
_ __
I , I I/
----, ........., I
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Girodenteodo 1
1 \ do fórnice
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,. --:: V ,
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\•
\ / \ __ _ Coudodo
núdeocoudodo
,'' l ''
1 1 ' - - - - - - - - - - - - - - - Cerebelo
1 1
1 1
II'
1 !_ ____________ fllrlodeGennori
1
1
I • • 1
Bulbo do co,no posleti-ot - - ....J -' - - .... -illiiilJ iiiiiiiiiii - - - - .. - - -
1 - L-
LtxX1 oce1p1to
Agua 7.l Vi!,ta super,or do c~ebto após a rernoçlo p.l!CIJI do wpo caloso e de pane do lobo temporal eSQW?rdo de modo a expor~
, n111cu•os IJter,l'S
S8 ~ i , fundorYI
A
Sulco porletocdpitol
~
- Lobo occipital
lobo tem -------
Suko lotetol (romo po,terior) _ _ _ ...,..;.;;;;;.:::::.,.;a;.;..- 1 • ,
- - - - - ncuura pre-«c,p,to
• , 1
lo bo frontal - - - ..._
..............
--r,n777,ii'77)m,,;,,t-----..
- .,,,.-- - - - - - lobo porle:tol
Corpo colo10 - - -
' ' , ......._ lobo occipital
- - - - - - - Lobo le.mporol
Flvur• 7.4 (A) lobos do cérebro VJS!OS IJ N.>'ment~. (B) lobos do ctrebro vistos mediaimente
fon:e R. p,odu.--dls ~ D.lnaelo ~ f.,11 n An..1om.•1Hum.11\d &so Arnencu P,o ck JJn;>,ro, 19!8
3.1.2 lobo temporal verso antenor (Figura 7.6), é importante. já que nele se loca-
Apresentam-se, na face superolater.JI do cérebro, dois liza a área da audlç~o.
sulcos principais (Figura 7.S):
3.1.3 Lobos parietal eoclipítal
a) Sulco temporal supe11or - 1n Cla-~ próximo ao polo
temporal e d,nge-se p..1ra trás. paralelamente ao O lobo parietal apresenta dois sulcos principais (Fi-
,amo postenor do sulco lateral. terminando no gura 7.5):
lobo par retal. a) Su~o pós-anual - qudse pJralelo ao sulco central, é
b ) Sulco cemooral mfer,or - para'elo ao sulco temporal frequentemente dMchdo em dois segmentos, que
superior, em geral é formado por duas ou maisp..1r- podem estar mais ou menos distantes um do outro.
tes descontinuas. b) 5uto mcraporicrol - muito variável e geralmente per•
Emre os sulcos lateral e temporal supeuor está o g,ro pend,cular ao pós-central, com o qual pode esúlf unido.
temporal super/o,;entre os sulcos temporal superior e o tem- estende-se para trás para tennin()r no lobo ocoptal
poral 1nferio1. situa-se o giro remporal médl(); abaixo do sulco Entre os sulcos central e pós-cemral, fica o guopós-cen-
temporal inferior. tocai za-se o g·ro temporal inferior. que se trol onde se local12c1 uma das mais importantes áreas sensi-
!Imita com o sulco OC'-'pitotempoml geralmente situado na tivas do córte.l(, a somestésica. O sulco lntrapar1etal separa o
face lnfe,ior do hem1s ério ce,ebral. Afas1ando,se os lábios lóóulo parietal superio< do lóbulo parieral infenor. Neste ülli·
do suko lateral, aparece o seu assoalho. que é pane do giro mo, descrevem-se dois giros: o sup,omargino( curvado em
temporal superior. A porção posterior desse assoalho é atra· torno d.1 extremidade do ramo po~terior do sulco lateral; e o
vessada por pequenos giros transversais. os giros temporo,s angular, curvado em torno dJ porção terminal e ascendente
cronsversos, dos Quais o mais evidente, o gtro temf)O(ol trom- do sulco temporal superior.
--
_ G iro temporal
LOBO FRONTAl , , , trons'tflM> anterior
''
Sulco centrol ____ _
_ - - G iro temporal
do insulo - lupti!Of
O lobo owp,rol ocupa um,1 porção relativamente pe- lado no centro branco medular do cérebro, unindo áreas
quena da face lateral do cérebro, onde apresenta pequenos simétricas do cónex cerebral de cada hemisfério. Em corte
sulcos e giros inconstantes e irregulares. 53gital do cérebro lFlgura 7.1). ap.1,ece como uma IAml•
na branca arqueadJ dorsalmente, o tronco do corpo coloso,
3.1.4 Insula que se dilata, da perspectiva posterior, no espl~nio do corpo
Afastando-se os lábios do sulco lateral, evidencia-se caloso e flete-se anteriormente em direção ~ base do cé-
,.,.pia fossa no fundo da qual está srtuadil a insulo (Flgur, rebro para conscituir o joelho do corpo caloso. Este afila-se
7.6 ,, lobo cerebral que. durante o desenvolvimento, cres- para formar o ,omo do corpo caloso, que termina na comis•
ce menos que os demais, ra?Ao pela qual t! pouco a pouco suro anterior, uma das comissuras inter-hemisféricas. Entre
recobefto pelos lobos vizinhos, frontal, temporal e parietal a comissura anterior e o quiasma óptico, temos a lômino
A ínsula tem forma cOl'liCa e apresenta alguns sulcos e g - re,m,nal, delgada l~mlna de substãncia branca, que tam-
ros. S~o descritos os seguintes (Figura 7.6): sulco CJfculc, bém une os hemisférios e constitui o limite anterior do ili
do Insulo; sulco cenrral da Insulo: giros curros: e gfro longo ventrículo (Figura 7 .1 ).
do Insulo. Eme,gindo abai,co do esplffiio do corpo caloso (Figu-
ra 7.7) e arqueando-se em d1re,çc\o e\ comissura an1er10t,
3.2 Face medial
está o fómice. feixe complexo de fibras que, entretanto,
Para se v,sualJZar completamente essa face, é necessArio não pode ser visco em toda a sua extensão em um corte
que o cérebro seja secoonado no plano sagital mediano (Fi- sagital de cérebro. f constituído por duas metades laterais
gura 7.1 ). o que expõe o diencéfalo e algumas formações e simétricas. afastadas nas ex1remidades e unidas entre si
telencefállcas Inter-hemisféricas. como o corpo caloso. o fór· no trajeto abaixo do corpo caloso. A porçAo lmerm~,a em
nice e o septo pelúcido, que serão descritos a seguir. que as duas metades se unem constitui o corpo do fórnice;
as extremidades que se afastam são, respectivamente, as
3.2.1 Corpo caloso, fómice, septopelúddo colunas do fótnlce, anteriores, e as pernas do fômíee, poste•
O corpo caloso. a maior das comissuras inte1-hemisfé-- rlores (Flgun, 7.7) As colunas do fórnice term nam no cor•
ricas, é formado por grande número de flbras m1elinlcas, po mam,lar correspondente, cruzando a parede lateral do
Que cruzam o plano sagital med,ano e penetram de cada Ili ventrículo (Figura 7.7). As pernas do fórnlce divergem e
' = - --
~- - ; .
penetram de cada lado no corno fnfeoor do ventrlculo late· 3.3 Face Inferior
ral, onde se hgam ao hípocampo (Figura 7.3). Entre o corpo
A face ,nferior. ou base do ~misférlo cerebral. pode se-
caloso e o fórnice. estende-se o sepro peflk.ido (Figura 7.1 ).
drvrdtdJ em duas partes: uma, pertence ao lobo frontal e re-
constituído por duas delgJdas IAmiros de tecido nervoso.
Ele sep.!ra os dois ventricuto,; /Jcerais (Figura 7.3).
pousa sobre a fossa antenor do crãn,o; a outra. muito ma.o,
pc-11ence quase ioda clO lobo temporal e repousa sobre J
A seguir. serõo descritos os sulcos e guos da foce me-
dial dos hem,sfér10s cerebra,s, estudando-se m aalmente o
fossa méd•a do crânio e o tentór10 do cerebelo
lobo cx:op1tal e. logo depo,s. em conJunto, os lobos frontal
3.3.1 lobo temporal
e PJ rtt?(d l.
A face inferior do lobo temporal apresenta três suk c-
3.2.2 Lobo occipital pn"ICipais (Figura 7.7). de direção longitudinal. e que Se\.:
da bOfdJ lateral para a bordJ medial (F1gura 7.7)
Ap<~nta d0ts sulcos importantes na face mcdial do
cérebro (Figuras 7.1 e 7.7): a) sulco occ1pito1emporal.
a) Su'co colconno- inici.rse abat\O do esp(~nio do COf· b) sulco colateral;
po caloso e tem um uajeto arqueJdo em d,reçc\o ao c) sulco do htpcx:ampo
polo occipital. Nos !Joias do sulco catcduno, loc..)!lza- O sukoocc,pirotemporo/ l1m,ta·se com o sulco tempo'a
-se a Jrea visual. tam~m denomin.1da án~a estriada lnfo,ior, o 9,10 rempotol infer,or. que quase sempre forma J
p()fque o córtex ap<esenta uma estria branca visí,el roda 13teral do hemisfério: mediaimente. esse sulco se l-
a olho nu. a esuia de GenNri (Figura 7.3). m,ta com o sulco colateral. og1rooec,pi101tmpotol foterof (o..
bl Sulco porieroec,pital - muíto profundo, separa o giro fus1íorme)
lobo occipital do pJrle1al e encontra, em õngu1o O sulco colorerol m,c1cMt> próximo ao polo occipital
agudo, o suko calc,mno d1119e-se para il frente entre o sulco calcarino e o sukc
Entre os sulcos parie1cx:cipltal e cakanno, situa-se o cú· do hipocampo, delimitando com eles. respectrv.imente, o
n~ giro complexo, de forma triangular. Abaixo do sulco cal- giro omp,torempotol medial (ou giro lmguo() e o g,ro por,.;-
carfno. sttua-se o giro occ,p,roremporol mt<J.ol (giro f,n<Juot). ·h pocompol, cuJa po,ção antetior se curva em torno d:,
que continua an1e11ormcnte com o g;ro para-hlpocamp.11. su'co do hlpocampo para íormar o unco (F1gura 7.7) O
JJ no lobo temporal (Rgura 7.7) suco colateral pode ser continuo com o JU/co ,mal, Que
separa a parte mais anteuor do giro p,Ha•hipocamp.11do
31.3 Lobos írontal e parietal restante do lobo temporal. O sulco rinal e a parte ma s
Na face medial do cérebro, M dois sulcos que passam anteuor do sulco colateral sep.3,am Areas de córtex muito
do lobo frontal pJra o parietal (Flguras 7.1 e 7.7)· antigas (pa'rocórtex), s11uadc1s na porçAo medial, de Areas
corticais ma,s recentes (neocórtex) localizadas lateralmen-
a) Sulco do corpo caloso- começa abJrxo do rostro do
corpo caloso, contoma o tronco e o esplénio do te (Figuras 7.7 e 7.8).
corpo ca1oso. onde conttnuJ. Jj no lobo temporal. O sulco do h pocnmpo origina-se na reg!Ao do espfên,o
com o su'co do h,oocompo. do corpo caloso. onde conttnUJ com o sulco do corpo calo-
bl Sulc_o do cíngulo - tem curso pJralelo ao sulco do so e d,rige-se pJra o polo temporal. onde termino sep.:iran-
corpo caloso, do quJI é separado pelo 9"º do cín· do o giro para•hlpocampal do unco.
guio. Termtna poste11ormente, dMd ndo-se em d0ts O giro p.3ra•h1pocampal se l,ga posteriormente ao g 10
ramos· o ramo mor91not. que se curva em d reçAo do c1ngulo por meio de um giro estreito. o isrmo do g.ro éo
à margem superior do hemisfério; e o s_ufco subpo• cíngulo. Ass,m. unc_o, g·ro para•h·pcx:ampal, istmo do giro do
netol que continua posteriormente na direçc\o do cíngulo e g,,o do cíngulo comrnuem uma formação con-
suko do c1ngulo tínua, que circunda as estruturas Inter-hemisféricas e por
muitos considerada um lobo independente. o lobo l,inbrlo
Destacando-se do sulco do cingulo, em d,reçoo à mar-
gem superior do hemisfério, existe quase sempre o sulco po• A parte anterior do g ro p.3ra·hipocampal é a Area entorrinal
roanrrol. que S<.' dcl1m11a com o sulco do cíngulo e seu ramo Importante para a memória e uma dds primeiras ,eg,óes do
marginal. o lôbu'opo10<en11ot ,Hsim denominado em razc\o ctrebro a serem lesadas nJ doença de Alzheime,.
de suas relações com o suko central. CUJJ extremrd->de su·
peno, termina aproximadamente no seu melo. Nas pJrtes 13.2 Lobo fron tal
anterior e posterior do lóbu'o paracentral. lcx:ahzam•se, res· A face inferlOf do lobo frontal [Figura 7.8) apresenta
pecllvamente, as áreas motora e sensitiva, relc>cionadas com um único sulco importante, o sulco olforótio. profundo e de
a perna e o pé. d,•eçáo anteropostenor. Mediaimente ao sulco olfat6110
A reglAo s,tuada abaixo do rowo do cor po caloso continuando na porção dorsal como g ro frontal superio,
e adiante da lâmina t<.'rminal ~ a drí'o septo! Essa .1rca ê snua·se o giro reta. O restante da face lnfenor do lobo frontal
considerada um dos centros do prazer do cérebro (veJa o é ocupado por sukos e guos muito irregulares, os sulcos e
Capítulo 27) g,·os0tb,u1r>os..
62 Nfurv.wlamli FUDOONI
,,.,.._,• "-
I ---1 -· - ~
~
1 • · · - •
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-- ·~ - - --- : -
• Giro do cingulo Sulco do corpo caloso Sulco porocentral Esplinio do COfPO caloso lóbulo porocenlfol Sulco central
~ Tronco do corpo caloso \ ., .,,..~ __ .... ---
'? \ ,,,,
ê \
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Sulco do cingulo ' , '' \
,, - - -_ - --; Ramo marginal do sulco do dngulo
" / __ .,,,. ---- - ---- ,. / /
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,,,
/
Giro frontal wperior
' ', '
', ',, ' ' ,, - Sulco
.,,,._..subporietol
........ ' ' ....................
.......... ..... ' ' ',
' ..... ..... ,,,,,. ....
Corpo do fôrnice ..."- ',,' Prkuneo
... ---------
' ' '
Septo pe.lúcido .- Istmo do giro do cingulo
-....--
Joelho do - Sulco porieloccipltal
corpo caloso
Giro occiptotemporol
1 -- medial
Ateo septal - - - -
(Giro llnguoQ
... _
.:t 1•t,1•,._.(;...
fusc:~lo . ... ~--- _, - -
mam,·1oto.lõm,co ..- - -·- ... Sulco colote<ol
' ,..... ',
-.......... ..... .....
Corpo mamilar - - ---- ' , , , ' , Giro occiplotemporal loteral
Unco _ ............ - _____ ' , ' ', ',, ' (Giro fuliforme)
.,.--.... - \
,,,,,. ,,,,,. \ '' .... .... ' .....
Sulco rinol ,,,,,. .... /
\ '' ', .... ' '
1 --------.,.,,,,."'' / í \ ..... ' , '' Giro temporal inferior
,. / I \ ....
'''
f fímbria do hipocompo ,,,,,. / I \
/ '' .... '
/ I ' .... ...
i• Pomo do fórnice Giro poro-hipocompol Sulco do hipocampo ' Sulco occipitolomporal Giro lasc:iolor
8'
2'.
i
e Fl9ura 7.7 Vis1a mediJI e Inferior de um hem1síéri0 cerebral após remoção de p.1ne do d,encéfalo. de modo a e:,.por o íasclculo mamllota!~m1Co
i
66 HNowtomlol fllllCl>NI
. -· - -- - - - ~ - - -
...- ~ : ____... - ·~~~~~~· ;.,~_!..~~: ~
corpo caloso: comissuro onre1101 (Figura 7 .1 ): e comissura entre os diversos grupos étnicos atuais no que se refere ao
do fómice (Figura 7.3). coeficiente de encefalizaçáo. O peso do encéfalo de dífe-
As fibras de projeção se dispõem em dois feixes: o fôr• rentes grupos étnicos nAo se correlaciona com o estado cul-
n ~: e a cápsula interno. O fórnlce une o córtex do hipocc1m- tural desses grupos. Entretanto. como o peso corporal de
Po ao corpo mamilar e contribui pouco para a formaç.w do alguns grupos pode ser muito menor do que o de ouuos
centro branco medular. (p. ex~ os pigmeus). o peso do encéfalo é também menor.
A cApsula Interna contém a grande ma oria das fibras Pelo mesmo motivo, o peso do encéfalo da mulher é, em
que saem ou entram noc6rtexcerebral Essas fibras formam média. um pouco menor que o do homem. No brasileiro
um foixe compacto que separa o núcleo lenttforme, situa~ adulto no,mal, o peso do encéfalo do homem está em tor•
do lateralmente, do núcleo caudado e do tàlamo, situados no de 1JOO g. e o da mulher, em torno de 1.200 g,O cérebro
na porção medial (Flgun 24.1). Acima do nível desses é responsável por em torno de 85% desse peso; o cerebelo,
núcleos, as fibras da cápsula interna passam a constituir a a l <ni>; e o tronco encefálico. a menos de 10%. Admite-se
co,oa rod;ada {Figura 30.1). Distinguem-se. na càpsula in- que no homem adulto de estatura mediana. o menor encê-
terna. uma perna ome,íor. situada entre a cabeça do núcleo falo compatível com uma Inteligência normal é de cerca de
caudado e o núcleo lentforme. e uma f)€rna posrerior, bem 900 g. Acima desse limite, as tentativas de se correlacionar
ma101, localizada entre o núcJeo lentiforme e o tálamo. Essas o peso do enc~falo com o grau de Inteligência esbarraram
duas porções da càpsula interna encontram-se. formando em numerosas exceções. Estudos do encéfalo do frsk o AI·
um ~ngulo, que constítul o µ lho da cdpsula lnrerna (Figu- bert Einstein mostraram que o peso é normal, mas a área
ras 24.1 e 32.9). pré-frontal, principal responsável pela Inteligência, é bem
acima do normal quanto ao número de sinapses. Recen-
6. Considera~ões sobre o peso do entlfalo _, temente. desenvolveram-se novas técnkas que permitem
avaliar o número total de neurônios no encéfalo de mamt-
O peso do encéfalo de um animal depende do seu
feros e correlacionar parc\metros quanritativos do encéfalo
peso corporal e da complexidade do seu encéfalo, expres•
com a capacidade intelectual das espécies. No homem, o
sos pelo chamado coeficiente de encefalizaçóo (K). Contudo,
número total de neurónios do encéfalo é de 86 bUhóes. o
a complexidade cerebral geralmente depende da posição
maior entre os primatas jci estudados. sendo que 85% deles
ntogenét1ca do animal. Em animais de mesma posição fi-
est~o no cerebelo.
logenética, como o gato e a onça, terà maior encéfalo o
de maior peso corporal. Nesse exemplo, o CO€ficiente de
enceíaliZãçao K fo, o mesmo. variando o peso corporal.
leitura sugerida
Poderíamos considerar ainda o exemplo de dois animais FALK. D.; LEPORE. E.: NOE. A The rerebral cortex of Albett Einstein·
de mesmo peso corporal, como um homem e um gorila. a descrip1fon and prehmínary analysls of unpubl~hed pholo-
'esse caso. terà encéfalo mais pesado o de ma:or K. ou 9,aphs. s,a n 201 3:1361304-1327.
seja. o homem. HERCULANO·HOUZEl. S1re human bta1n in numben. Frontlersin
De modo geral. o coeficiente de encefalização aumen• Human Neuro;oence .2009-.3:1· 1l.
ta à medida que se sobe na escala zoológica. sendo quatro VON BAATl-iELO. C.S; BAHNEY. J. H[RCULANO-HOUlEL S. The
vezes maior no homem do que no eh mpanzé. No P,rhecan• search for trve numbers of neurons and gl•al cells ;n 1he hu-
1hropus erecrus. estudado por Dubois, ele é duas vezes me- man bta,n. A review d 150 rears or count•ng. The Jou1nat ol
nor do que no do homem atual. Contudo. nAo htt diferença ComPc)ratrve Nauology .2016.524(18): 3865·3895
/
/ ,,,, ,,,,.,,
.,,,. ,,,,. do duro-mótef
(sobretudo os tumores) é muilo diferente das ln- circunst~nclas, lesar o me-sencéfalo e os nervos tro-
fratentorlais. A borda anterior l,v,e do tentório do clear e oculomotor. que nele se originam.
cerebelo, denominada fndsuro do renrório, ajusta- e) Foice do cerebelo - pequeno septo vertical media-
-se ao mesencéfalo. Essa relação tem importAncia no. situado abaixo do tentórlo do cerebelo. entre os
cliníca. pois a lndsura do tentórlo pode, em certas dol~ hemisférios cerebelares (F1gun 8.3).
Foice do cé<ebto - - - - - - _ - - - - - Lômino crivoso do etmoide
'\ I
1
/
Tentôtio do cer&belo .,.
F«ame jugular com neM>J
glouoforingeo (IX),
' vogo (X) • oceuÓfio (XJ)
Roiz mpinol do nervo oceuÓfio
' '
''' ' ' '
Medula eipinal
I
I
I
' ' ,',
'
, , Artéria vertebral
flpra u Base do cr3nio. A dur,nn.1ter foi removida do lado d.relto e manticb do lado esquerdo.
d) D1ofr09rno do sela (Flgura 8.2) - pequena làmina o encéfalo de um cadAver. essa haste geralmente se
ho,izontal, que fecha supetiounente a sela turca, dei- rompe. ficando a hipófise dentro da sela turc.1. O dia•
xando apenas um pequeno oriflcio para a passagem fragma da sela isola e prorege a hipófise. mas dificul•
da haste hipofisciria Por esse motivo. quando se retira ta consideravelmente a cirurgia dessa gl~ndula.
• Capitulo 8 ~ -Uquor 71
Seio sogitol superior
., ,;
Gronuloções orocnóidem .,.,., ,,,- Foice do céfebfo
Velo cerebral
·--.,, .,.,.-
superfidol ',
,; .,, ,Selo sogitol iníetior
.,,..,,
superior t-,
1
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-- ---.......----
-- - - -
_______ -
:--- - - - - - _
--
--------
~--
-- --Veio basal
- - lnclsurodolendo
_ ____ - -Selo relo
1
I
I ---- - ... - Seio sigmoide
1
1 - - - - T&nlófio do cerebelo
! '
ConRuend o dos seio.s ~ - - - - - - - - - -Seiotronsve,10
Seio occipital - - -J 1
Foice do cerebelo __ J
1.11 Ca'tidades da dura-mAler velasda superfkJe externa do,cr~mo por meio de vefosemH-
Em determinadas ~reas, os dois folhetos da dura-máter sáriOs, que percorrem forames ou canalkulos que lhes são
do encéfalo separam-se, delimitando cavidades. Uma delas próprios. nos ossos do ac\nio. Os seios dispõem-se. sobre-
é o covo u,gemmol (de Mec.kel). que contém o g,\ngho tri- tudo. ao longo da inserção das pregas da dura•mAter. distin-
geminai (Figura 8.2). Outras cavidades sAo revestidas de guindo-se os seios em relação com a abóbada e a base do
cr.\nio. 05 seÍos da abóbJda Sc\o os seguintes:
endotélio e contêm sangue. constituindo os seios da duro-
·mdter. que se dispõem, sobretudo. ao longo da Inserção a) Seio sog,ro/ superio, - lmpar e mediano. percorre a
dias preg1s da dura-rNter. 0$ seios da dura·m~ter ser.\o es- margem de inserção da foice do cérebro (Figura
tudados a seguir. 8.3). Termina próximo à protuberAnda occipital
Interna. na chamada conflu~ncia dos se,o~ formada
U J Seios dadura-máter pela confluência dos seios sag;tal superior, reto e
occipital e pelo lnlcío dos seios uansve,~s esquer-
SAo canais venosos ,evestidos de endotélio e situados
do e direito (Figura 8.3).'
entre os dois folhetos que compõem a dura-mAter ence-
b) Seio sogitol mlerior - sit~a-se na lll!lrgern livre da foice
f.1lica. A maioria do~ seios tem secção triangular e as suas
paredes, embofa finas. são mais rígídas que as das velas e do cérebro. terminando no seiO reto (Figura 8.3).
geralmente não se colabam quando ~clonadas. Alguns c) Seio reto - localiza-se ao longo da linha de união
seios apresentam expansões laterais Irregulares, as locunos entre a f0tce do cérebro e o tentório do cerebelo.
Hmosos. mais frequentes de cada lado do seio sagital supe-
r10r. O sangue proveniente das veias do encéfalo e do globo
A e~ do\ v -<X ~ umbt-m conhccldJ como 101n.lut ck K.·16/rlo
ocular é d1enado põra os seios da dura-máter e destes para t.:mi wmore os SNX l'11Con11a~ em um só ponto, dt~h ndo-~
as velas jugulares internas. Os se10s comunicam-se com
1
p, lo l'n('l'lQ5. Qu.lllO tipos ÚC.- C~OUJ
72 NfutowlomílftllldcNI
- - - - ~- .- ........
Recebe. em sua exuemldade ante1101, o selo saglIal c) Setos mtercovernosos - unem os dois seios caverno-
Inferior e a ve,a cerebral magna (Figuras 8.2 e 8.3). sos. envolvendo a hipófise (Figura 8.2).
te,mmando na connu~nc,a dos seios. d) Seio esfenopartCtal - percorre a face Interior da pe-
d) Seio rransverso - é par e dispõe-se de cada lado ao quena asa do esfenoide e desemboca no seio ca-
longo da Inserção do tent61lo do cerebelo no osso vernoso (Figura 8.2).
occ,p,tal, desde a confluência dos selos até a parte e) Seio peuoso supe11or - dispõe-se de cc1do lado. oo
petrosa do osso temporal, onde passa a ser deno- longo da lnserçAo do tent61io do cerebelo, na por-
minado seio sigmoide (Figuras 8.2 e 8.3). çAo petrosa do osso temporal Drena o sangue do
e) Seio occip,raf - muito pequeno e iuegular, dlspôe· selo cavernoso para o selo sigmoide, terminando
-se ao longo da margem de mserç~o da foice do pr6J ,mo do ângulo entre o selo transverso e slg·
cerebelo (Figuras 8.2 e 8.3) moide (Figura 8.2).
f) Seio peuoso infe1lor - percorre o sulco petroso ln·
Os seios venosos da base s~o os seguintes;
ferior entre o seio cavernoso e o íorame Jugular,
a) Seio srgmo,de - em forma de S. é uma continua• onde termina IAri~MdO·S~ na veia 1u9ular ,ntNna
ç~o do seio transverso até o forame jugular, onde (Figura 8.2).
cont,nua diretamente com a veia Jugular inter- g) Plexo bosdar - ímpar, ocupa a porção bastlar do oc·
na (Figuras 8 .2 e 8.3). O seio sigmoide drena a cipi1al. Comunica-se com os selos petroso lnfe1io1
quas,c tOlalidade do sangue venoso da cavidade e cavernoso, liga-se ao plexo do forame occtpltal e.
craniana. por meio deste. ao plexo venoso vertebral interno
b) Se,o cavernoso (Figura 8.2) - um dos ma,s impor· (Figura 8.2).
tantes seios da dura-máter, o selo cave~ é uma
cavidade bastante grande e irregular. situadJ de 1.2 Aracnoide
cada lado do corpo do esfenoide e da sela 1urc.1 Membrana muito delicada. justaposta à dura-m.1ter,
Recebe o sangue proveniente das veias oftálmica da qual se separa por um espaço virtual, o espaço subdu·
supe,11or (Figura 8.2) e cen ral da retina. além de ral. contendo pequena quantidade de líquido neces5â110
algumas veias do cérebro. Drena através dos seros ~ lubrificaçAo das superíicies de contato das, duas mem-
petroso superior e petroso lníerior. além de comu· branas. A aracnoide separa-se da pla•máter pelo espaço
niear-se corno seio cavemoso do lado oposto por suboracnóidro (Figura 8.4). que contém o líquido cere·
Intermédio do selo ,nrercawmoso. O seio caverno- brosp,nof, ou t,quor, havendo umpla comunic.-içâo entre o
so é .atravessado pela artéria carótida interna. pelo espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula (Figura
nen,'O abducente e, jti próxímo ~ sua p.1rede late· 8.1). Consideram-se também pertencentes.\ 4racnolde as
ral, pelos nervos troclear, ocu!omotor e pelo ramo del1Cadas trabéculas que atravessam o espaço para se ligar
oftálmlco do rervo u igêmeo (Figura 8.2) Esses à piJ•máter, e que s~o denominadas rrobéculas oracnól·
elementos são separados do sangue do seio por deos (Figura 8 .4). Essas trabéculas lembram. crn aspecto,
um revestimento endotellal. e a sua relação com uma tela de aranha, dai a denominaçAo a,arnoide, seme·
o seio cavernoso é de grande import~ncla clínica. lhante .\ aranha.
Assim. aneurismas da carótida interna no nfvel do
seio cavernoso compr1mem o nervo abducente Gtonuloçõo Seío sogilol
t'. em certos casos. os d fT\aiS nervos atravessam Atocnolde arocnóideo superior Duro-móte<
\ i , ,,,
o seio cavernoso, determinando distúrbios muito
tipteos dos mo-11mentos do globo ocular. Pode ha-
ve i perfuraç~o da carótida mternJ dentro do seio
cavernoso. formando-se. assim, um curto-circuito
a11euovenoso tfistula carótldo•cavernosa), que de--
termina d1latilÇão e aumento da presx\o no se,o
cavernoso. Isso inverte a clrculaçoo nas veias que
nele desembocam. como as veias oftálmicas. resul·
lcmdo em grande protrusão do globo ocuJar, que
pulsa simultaneamente com a carótida (exoftalmia /
pulsjttl). Infecções superficiais da íace (como cspi· hpoça Espaço
Pio-móter perivoKulor
nhas do nariz) podem se propagar ao seio caverno- subdurol
so. tomando-se. pois, intracranlanas. em virtude das (d1latodoJ
comunicações que existem entre as veias oflálmí• f19ur• •·• S(>cç.lo 11,msversal do~ sag tal wperlOr mosuando
cas, tributárias do seio cavernoso, e a ve1a angular, uma granul.lÇc\o aracnó<lea e a dispos!ÇAo das men nges e espa·
que drena a regi.)() nJsal. ços menrngeos.
• C.Jpltulo 8
Cblemo 1upe,lor
G1terno - - IV Ventrlculo
qulo$mótko
Ab.Mo mecf,ono
do rl ventrlcuJo
flvvr• 1.s Esquema mostrando a d,~posiç~o das cister"ªs iubJ1acnóide.as. Ai áreas contendo hquor estc\o repre~tadJs em azul
74 tNowtcmi.FuncloNI
-- ~-- -
..- F ____........,UJ....... ..,_ • .
-•.:!ula , CUJOS relevos e depressões a pia-mciter acompa- 2.1 caracteristlw dtológlcas e fisi<o-químlw do llquor
=
~ descendo até o fundo dos !'.ulcos cerebrai~ Sua por-
Por meio de punções lomba1es. suboccipita1s ou vcnt11•
..,_;:i mais profunda recebe nume,osos prolongamentos
• ·:\ astr6c11os do tecido nervoso. constituindo, assim, a culares. pod~se medir a pressão do liquor, ou colher certa
.- ~ .... àrono p,o-glial A pia-má ter dá resist~ncia aos órgãos quantidade para o estudo de suas caracterinicas c,tológ'c,as
, .osos uma vez que o tecido nervoso é de consist~ncla e físico-químicas. Tais estudos fornecem importantes Infor-
- _:o mole. A pia-mciter acompanha os vasos que pene- mações sob1e a fisiopato!ogla do SNC e dos seus envoltó-
- 'TI no tecido nervoso a partir do espaço subaracnóídeo, rios, permitindo o diagnóstico. as vezes bastdnte preciso.
_,.....ando a parede externa dos espaços peflvaiculores (Fi- de muitas afecçôes que o acometem. como hemorragias.
gura 8.4). Nes!'.es espaços. existem prolongamentos do infecçôes etc. O estudo do hquor é especialmente valioso
caço suba1acn6ldeo, contendo llquor, que forma um para o diagnóstlCO dos dM!r~s tipos de men ngi\es O l1•
- Jngu1to protetor em torno dos vasos. muito importante quor normal do adulto é limpido e incolor. apresenta de
:-.:•J amortecer o efeito da pulsaçc\o das artért,u ou picos zero a quatro leucócitos por mm 1 e nao tem hem~oas. A
~ .. p•es~o sobre o tecido rncunvizinho. O fato de as ar rê- presSc'io é de 5 a 20 cm de Agua. obtida na regiAo lombar
s estarem imersas em liquor no espaço subaracnôideo com paciente em decúbito lateral. A concentraç~o de pro-
• ,r, t)ém reduz o efeito da pulsação. Os espaços perivascu- tefnas é bem infe,,or à do plasma. cerca de 25 mg/dl. a de
·5 envolvem os vasos mais cahbrosos até uma pequena glicose é cerca de dois terços da glicemia. e a de cloretos.
.·Ancia e terminam por fusão da pia com a adventlcia super,or à do plasma. 120 a 130 mEq/L O volume total do
:o vaso. As arteríolas que penetram no parénqu ma são liquor é de aproximadamente 150 mL no adulto. renovan-
e~ ,'Olvidas até alguns milímetros. As pequenas atteriolas do-se completamente a cada 8 horas. Os plexos corioides
.;.J envolvida5 até o nível Cdpllar por pés-vasculares dos produzem cerca de 500 ml por dia mediante tíltraç~ se-
__ •rócitos do tecido nervoso. letiva do plasma e da secre<;:io de elementos específicos.
Existem tabelas muito mmuciOsas com as caracterlst1cas do
hquor normal e as suas variações pato'óglcas. permitindo a
O liquor. ou liquido cerebfospmal. ê um fluido aquoso e caracteriz<1ção das diversas síndromes !Jquóncas.
-,calor. que ocupa o espaço subaracnóideo e as cavidades
, nirl(\Jlares Fornece proteçoo mecãn,ca ao sistema ner- 2.2 Formação, drculação e absorção do Uquor
.~~ central (SNO . formando um verdadeiro COl(im liquido O hquor é formado pelas células ependirNuas e pelos
~ tre este e o estojo ósseo que amortece os choques que plellos corio1des, estrutura enovelada. formada por dobras
·~uentemente atingem o SNC. De acordo com o principio de p1a-mjter, vasos sangulneos e células epend1rNrias mo-
~ Arqwmedes. o enctHalo submerso em liquido torna-se dificadas. ~ atrvamente secretado, sobretudo. dos plexos
-u to mais leve e. de 1.500 g. passa ao peso equivalente a corioides. e a sua composiç~ é dete1min.1da por meca-
:J g. flutuando no liquor, o que reduz o risco de traumatis- nismos de transporte específicos a partir do plasma. A sua
os resultantes do contato com os ossos do aânio formaçc\o envolve transporte ativo de Na' CI. pelas células
Além de sua função de proteção mecânica do encéfalo, ependirNr1as dos plexos cortOÍdes. acomp,mhado de certa
~ quor tem as seguintes funções: quantidade de água. necessária à manutenção do equ,líbrio
a) Manutenç~ de um melo Químico e!.tAvel no StSte- osmótico. Entende-se, asslm, por que a composição do li-
ma ventricular. por meio de troca de componentes quo, é diferente da do plasma. O pie o coroide tam~m
qufmrcos com os esl)J\os interS'tJCiais. permanecen- sintetiza mu1ta1> proteínas para a cornposlç~o do liquor. No
do estável a composição quimtCa do hqUOI', mesmo período embrionário. essas prote/nas regulam o desenvolvi-
ql.Mndo ocorrem grandes alterações na composição mento das células-tronco e participam do processo de de~
qulmica do plasma. Auxilia na regulaçc\o das funções senvolvnnento e da plasticiddde cerebral.
dos neurônios e célulds da glía, fornecendo nutrien- Como já f0t exposto anteriormente. existem plexos co-
tes e mantendo a homeosrase iônica. rioides nos ventrículos laterais (corno Inferior e pane cen-
b) Excreção de produtos tóxkos do metabolmno das tral) e no teto do Ili e IV ventrículos (Flguni 8,1 ). Destes, sem
células do tecido nervoso, que passam dos espaços dúvida, os ventrículos laterais contribuem com o maior con-
intersttC,aLS e do fluido extracelular para o llquor e tingente l1quórico. Que passa ao Ili ventrículo pelos forames
deste para o sangue. O volume dos espaços Inters- interventr iculares e daí ao IV ventrículo através do aqueduto
ticiais aumenta 60% durante o sono. facilitando a cerebral (Figuras 8.1 e 8.S). Por meio das aberturas media•
e{imiNÇão de metabólítos tóxicos acumulados du· na e laterais do IV ventr!culo. o liquor formado no Interior
rante a vigília. dos ventrícu'os ganha o espaço subaracnóideo. sendo reab•
c) Veiculo de comunicação entre diferentes ~reas do sorvido. sobretudo através das granulações aracnóideas.
SNC. Por e emplo, hormônios produzidos no hipo~ que se projetam no inte11or dos seios da dura-máter. pelas
tãlamo sjo liberados no sangue. mas também no quais chega~ circuJaçJo geral slst~mica (Figuras 8.3 e 8 •.4).
liquor, podendo agir sobre regiões distantes do sis- Como essas granulações predominam no seio sag,tal supe-
tema venttic\Jlar. rior. a ci1culaçoo do liquor no esPc)ço subaracnóideo é feita
• C.apftulo 8
de bab,o para orno, devendo, pois. atr,wess.ar o espaço entre A clrculuçâo do hquor é bastante lenta e ainda são discu•
a incisura do tentório e o me!>encéfalo No espaço subarac· tidos os fa tores que a determinam. Sem dúvida. a produç.k>
nóideo da medula. o hquor desce em direç~o caudal (FI• do hquor em uma ex1remidade e a sua absorção em outra Já
gura 8.1). mas apenas uma parte volra. pois há reabsorção são suficientes PJra causar sua movimentaçAo. Outro fator
liquórica nas pequenas granulações aracnóide<1s existentes é a pulsação das artéfias fntracranianas que, a cada sístole.
nos prolongamentos da dura•máler que acompanham as aurnenta a pressão fiqu611ca. possivelmente contnbulndo
raízes dos nervos espinais. para empurrar o llquor através das granulações aracnóidea!o.
3. Conelarões anatomodfnicas
O conhecimento das cavidades cerebra,s que contêm mento na produção ou deficl~ncla na absorçc\o do hquor.
Hquor, assim como da5 meninges e suas relações com o em razão de processos patológ,<os dos plexos corioides
encéfa'o. ~ de gr,mde relevAnda para a compreensão de ou dos 1e10s da dura-mátcr e granulaçôcs aracn6idea~ A5
uma séne de condições p.1to16g·cas. A segu.r, descreve• hi<Jrocefal:os não comunicantes são mwto mais frequentes
remos algumas dessas condições, acentuando. em cada e resultam de obstruções no traje o do hquor, o que pode
caso. a base anatômica. ocorrer nos segu,ntes locais:
a) Forame interventricular. provocando d,lataçao do
3.1 Hldrocefalia ventrlculo lateral correspondente.
Existem processo!> patol6g1co5 que inter forem na pro- b) Aqueduto cerebral píO','OCündo d1latàÇc\o do Ili ventrl·
dução. circulaçAo e absorçAo do liquor, causando as cha- culo e dos \-\:ntrlculos laterais. contrastando com o ~/
madas h1drocefalras. [stas !".e caraaerizilm por aumento da \'l?nlticulo. q~ pe11ronece com dimensões norma~
quanudade e d 1 press.'o do liquor. provocando a d,lataçào e) Aberturas medianas e latetals do N ventrículo. pro•
dos ventrículos e a hipe11ensão lntracran1an,1 com com· ,-ocando d,lataç~ de todo o sistema ventrlcular.
prcsSt)o do tecido ne,voso de encontro ao estojo ósseo. Por d) lnclsura do tentórro. impedindo a passagem do 1
vezes. a hldrocefal,a ocorre durante a vida feralgeralmeme liquor do compartimento infratentorlal p.11a o
em decou~ncia de anomalias cong~ni1as do sistema ven· supra1cnto1ial. provocando 1arnbém d !atação d1.:
t11cula1 Nesses casos. assim como ern lactentes Jovens, jà todo o sistema ventricular (Figura 8.6)
que os ossos do crAnio ainda n:io estJo soldados, há gran• Exis:em vários procedimentos cirúrgicos visando d.-
de dilatação da cabeça dJ criança. o QUt' confere alguma m1nu1r a pressão lrquórtCa nas hld,ocefal,as. Pode-se. por I
p,oteçAo ao encéfalo No adulto, como o crânio não se ex• exemp'o. drenar o fiquor por rn~ío de um cateier, ligando
p.1nde. a pressJo íntrac,anrana se eleva rapidamente. com um dos ventriculos ti cavidade pe11toneal. nas chamadas
compres~o das esuuturas e !>ln:omas típicos de cefaleia derrvaçóes ven1rlculo-peritonea1!'.. Nos casos de hidroccfa-
e vómiios. evoluindo para hcrniaçAo (ver adt<1n1e), coma e ha obstrutiva. pode-se realtZõr a tercelroven11iculos1om,3
óbito, caso não oco11a llJtamcmo de urgência. endoscópfca. Nesse caso. é feito um orrfício no a,s5oalho
Há dois tipos de hidroceíalias· comun,cante5; e nào co- do terceiro ventrículo, posslblhtando a passagem do I quoi
municantes As h:drocefol,as comun,contes resultam do au· para as cisternas dJ base.
Agu,. 8.6 Resson:inclJ rTlcl91"t1,ca Cort~ ~ tal e a•ial mostrando J d 1.Jt.lçSo dos vemr.culos •rn um paciente com htdrocefa! ,1 po•
e¼enose do aqueduto cerebral
ront,• Co, t•'Sl.l de> Dr MJrco Antõn-o Rod.>< 1,
76 Nf\JrowtomlJ r11nc10NI
·----------
--- -- - -: - -
3.2 Hipertensão lntraaaniana dentro do compart,menio. podendo c.iusar a protrusc'lo de
Do ponto de vl~ta neurológico, um dos Jspectos mJiS tecido nervoso para o compammemo vizinho. FormJn-..
""Se. desse modo, h~rmõs intracran,anas que podem causar
Importantes da cavidade cr~nlo-vertebral e seu revestt-
mento de durJ·máter ê o fJto de ser uma c.:>vidade fecha- s1ntornatolog'.1 grave. Assim, um tumor em um dos hemis-
da, que não pe.rmite a e»p.:insão de seu conteúdo. Desse férios cerebrais pode c~usar hérnias do giro do c,ngulo (Fi-
modo. o aumento de vo!ume de qua!quei componente da gura 8 .7). que se Insinua entre a bordel da foice do cérebro
c.ividade craniana reílete-se sobre os demais. 1esultando e o corpo caloso. fazendo prouu~ para o lado oposto. En·
no aumento da pressão lntracraniana. Turno,~. hem.:ito- tretanto, sJo maís importantes. pelas graves cons~uênclas
rnas e outros processos exp.1nsivos 1ntracranlanos comp11• que aca111:tam as hérnias do unco e das tons1las
mem nlo só .is estruturas cm sua vinnhança Imediata. mas
todas as esuu1uras da cavidade crAn,o•vertebral, determi-
nando um quadro de h pertensJo muacraniana com sinto-
mas característicos, entre os quais se sobressaem a cefaleia
eos vómitos. Pode haver ttlmbêm fo1maç~o de hérnias de • Hematoma
tecido nervoso. como será visto no prô'(rmo item exirodurol
Nos usos de hipertensão 1ntraaaniàrlJ. haverá com-
pressêo do nervo ón1ico. Esse l'lefvo é envolvido por um
Hérnia ·-
prolongamento do esp.:iço subaracnóideo e o aumento da de unço
pres~ nesse espaço causa obl11eraç~ da veia c.enttal da
retina. a qual pasSd em seu interior, o que resuha em ingur- ••. Tumor
g,tamento das veias da retina. com edema da pap la óptica
(pap.ledema). que pode se, observado pelo exame do f\Jn- Hé.mio
do de olho. do tonsllo
Na suspeita de hlperten~o intracraniana. deve-se so-
limar um exame de Imagem do ncéfalo. tomografia ou
ressonância magnética. O tema se,á também abordado no
Capítulo 18. ,1em 2, que aborda o controle do íluxo sangul· Flgun1 8.7 ~quem., dos p:,nc1p.1I» tipos d~ 1~-rnia mtra<ranl.l•
nco cerebral. nas. Notam-se tambf'm um hematomJ e-.11.:idur.JI um tumof
cerebelar. cau~s 11 ~uent~ de h pettensAo 1ntra<ran1.1t1<1.
3J Hérnias lntracranianas
As pregas da dura•máter drvlC'ft">m a cavidade crc'lniana 3.3.1 Hemias do unco
cm com par t1mentos se par.idos por septos relat 1varnente Ii- Nesse caso. um processo expdnslvo cerebral, deter-
gldos. Processos e,pans111os. como tumores ou hematomas minando Jumento de prcssJo no comp.ir11memo supra•
que se desenvolvem em um de!es. aumentam a pres~ teniorlal. empurra o unco. que faz protrusão através. da
Figura 8.8 Ressoruncia magné1,ca mostrando um tumor de lobo u.•!T'poral d 1e,10 cJus.aooo h1penensâo 1n1racraniJr\J e consequente
h"'rrna de unco com comptess.\o do mesencéfc1to Cw u~).
fom~ Cort!'\ll °' Marco Antõn.o RoJ.ic .1
• C.ip11ulo 8
lncisura do lentório do cer~belo. comprimindo o mesen·
céfolo (Figuras 8.7 e 8.8). Inicialmente, ocorre d1la1aç.c\o
da pupila do olho do mesmo lado da lesc\o com ,~sposta
lenta.\ luz. progredindo para d1lataçc\o completa e desvio
lateral do olhJr em decom!nc1a dJ compressão do nervo
oculomotor ípsllateral. A compressão da base do pedún·
culo cerebral causa hemiparesia contralaleral A sintoma-
tología mais caracteristica e ma,s grave~ a rc1p,da perda d.l
coosc1~nc1d, ou coma profundo por lesc\o das esuuturas
mesencefâHcas. responsâ\.e1s pela at,vação do córtex ce-
rebral. que ~rJo estudadas no Capítulo 20.
3.3.2 llernías da_s tons,las
Um proces!.o expansivo na íossa post~11or. como um
tumor em um dos hemisférios cerebelares (Figura 8 .7),
pode empurrar as tonsllas do cerebelo através do ro,a·
me magno, produzindo hérnia de tonsila Ne-sse caso. há
compressjo do bulbo. culminando geralmente na morte
por lesão dos centros resp rat6rt0 e vasomotor que nele flgvr• 1.9 Tomogr.>'ú de um paciente com hematomJ e •" .t
se localizam. O quadro pode ocorrer também quando se dur.11nJ re-<Jtlo fronul ~verOJ. lado d,te to dJ tm.lg rn I' C/
faz uma punç~o lombJr em pJccentes com hrpertensAo como o c~ccbro e\tá d~loudo pJra o lado oposto
craniana Nesse caso. há súbita dimmuiç~o da pressão ront? Com do o, ,.'.J,co Jl.J llõoio Pod.Jcli
l1quórica no espaço subaracnó deo espinal. causando a
penetração das tonsilas atra ~s do forame magno Ntio se 3.5 Menlngeoma
deve. portanto, na suspeita de hipertensc\o intracranlana.
rea'1Zàr uma punç~o liquóuca sem ante~ realiZãr o exame A durd·mater pode também ser sit10 de tumoces do s:.
de fundo de o!ho ou exame de imagem. em rclL\o do ris- Eo l1po mais comum de tumor p11mJrio do SNC e~ 0119
co de hern,açao do tecido nervoso. no da dura·máter. Ocorre em adu!tos sendo ma1s freq~·-
no sexo feminino. Em gernl. os menlngoomas crescem ien,
3.4 Hematomas extraduralse subdurals mente. ~ benignos e podem, 1ndus,ve. serem assintOf"'
UmJ das compltcaçóe-s mais írequentes dos trauma· t,cos A sintomato!og1c1 depende da locahZãção do turno-
tismos cranianos s~o as rupturas de vasos. que resultam se estâ causando comf)(ess.'Jo do enc~falo, da medula ou r
cm acúmulo de Sélngue n.ls meninges sob a forma de pE>n~nsào ínuacraniana. O tratamento e a remoção cirúrgc
hematomas Assim. lesóe-s das artéuas meníngeas. ocor-
rendo durante fraturas de crJmo, sobretudo da artéria
meníngea m&i,a, resultam em acúmulo de sangue en•
tre a dura•mc1ter e os ossos do crânio. 'ormando-se um
hematoma c.madurol O hemaroma cresce, separando a
dura-máter do osso. e empurra o teodo nervoso parJ o
liJdo oposto (Flgur1 8.9), causando a morte em poucas
horas se o sangue em seu interiOr não for drenado.
Nos hemoromos subdurois. o sangramcnto OCOlre no
espaço subdurat. e o SJngue acurnula-~ entre a dura-má·
ter e a aracnoide. Costumarn ser de crescimento lento e a
sintomatologia é subaguda.
Nas hemorragias subJracnó,dea_s nAo se formam he-
matomJs, uma vez que o SJnguc se espalha no hquor.
podendo ser visualizado em uma punçJo lombJr ou nos
exames de imagem. A causa pode ser a ruptura de veias
c rebrais no ponto em que elas entram no selo sag,tal su-
perior. de ma1founaçôes arteriO\-enosas ou de aneurismas
c~rebrc1,s. O quadro cr:nrco é agudo, com ccfo'eia murto in- fkJural.10 N?nintJ 'Om.ld.J fo,c"c 1.:br~come'ei,ocomp-~y.
tensa. podendo ocoirer alleraç~o de consciência. ror~ Cortt>i•i Or M 1•co Amo,, .o Rod,lo
Leitura sugerida
XIE. et ai. SI~ p dr~ mt>Llbol e cleJrance fro'TI the adult bta,n. Sc.ence 2013:J.i2.37 3.3n,
78 Hturowtomi, FIIIIOONI
Nervos em Geral - Terminações Nervosas
Nervos Espinais
A - Nervos em geral
1. Caracttras gerais e estrutura dos nerv05 Durante o seu trajeto. os nervos podem se bifurc.u ou
se anastomosar. Nessc-s casos. entreranto. nc\o M bifurcação
Nervos são cordões esbranqUtçados constituídos por ou anas1omose de fibras nervosas, mas apenas um reag,u-
íetxes de ftbras nervosas, reforçadas por tecido conjuntivo; pamento de fibras que passam a constituir dois ne,vos ou
que unem o sistema nervoso central (SNC) aos órg3os pe· que se destacam de um nervo para seguir outro. Contudo.
riféricos. Podem ser espínois ou cranianos. conforme essa próximo â sua termlnaç~o. as fibras nervosas motoras ou
união se faça com a medula espinal ou com o encéfalo. sensitívas de um nervo em ge, ai ram,ficam-se muito.
A função dos nervos é conduzir, através de suas fibras. Costuma-se distinguir em um nervo uma origem real
,mpulsos nervosos do SNC para a periferia (impulsos efe- e uma 011gem aparente. A origem real couesponde ao local
rentes) e da periferia para o SNC (,mpul~s aferentes). As onde esl3o localizados os corpos dos neurôniOs que cons-
fibras nervosas Que constituem os nervos sAo. em geral, muem os nervos, como a coluna antenor da medula. os
mlellnicas com neurilema. EnttNanto. o nervo óptico. no núcleos dos nervos oanianos ou os gt\nglios sensitrvos, no
qual a glla miehnizante é o oligodendrócito, é consrnul· caso de nervos sensitrvos. A origem oporenre corresponde
do somente por fibras mielinicas sem neurilema; no nervo ao ponto de emeig~ncJa ou à entrada do nervo na super-
o'íatório. as fibras são amieHnlcas com neunlema (fibras fide do SNC No caso dos nervos espinais. essa origem estã
de Remak). Fíbras desse tipo existem também no sistema nos sulcos late,al antettor e lateral posterior da medula. Al-
nervoso autônomo e entram em pequeno número na guns consideram ainda uma orrgem aparente no esqueleto
composição da maloria dos nervos periféricos. SJlo três as que. no caso dos nervos espinais, está nos for ames interver-
bainhas conjuntivas que entram na constituição de um tebrais e, no caso dos nervos cranianos. nos vállos 011fídos
nervo: eplneuro, perlneuro e endoneuro, como já desCiltO
exJstentes na base do crtmio.
no Capítulo 3, item l
Os nervos são muito vascularizados. sendo percorridos
longítudtnalmente por vasos que se anastomosam, o que
permite a retirada do eplneuro em um trecho de até 15 cm Nos nervos. a conduçAo dos Impulsos ner.iosos sen•
sem que ocorra le~o nervosa. Por outro lado. os nervos são sit,vos (ou aferentes) é feita através dos prolongamentos
quase totalmente desprovidos de semlbihdade. 5-e um ner- penf~ricos dos neurônios sensitivos. Convém recordar
-.1> é estimulado ao longo de seu tr<ljeto, a sen.saçtio geral• que esses neurônios ttm seu o corpo locallz.:ido nos g~n-
mente dolorosa é sentida nao no ponto estimulado. mas no gl;os das raízes dorsais dos nervos espinais e nos ganglios
1errítório sensitivo que ele Inerva. Assim, quando um mem- de alguns nervos cranianos. São células pseudounlpolares.
bro ê amputado, os cotos nervosos írritados podem origi• com um prolongamento periférk o, que se llga ao receptor,
nar impulsos nervosos que sAo lnte,pretados pelo cérebro e um pto!ongamen10 central, que se liga a neurônios da
como se fossem originados no m€mbfo retirado. resultando medula ou do tronco encefálico. O prolongamento perifé-
nJ chamada dor fantasma, pois o Individuo sente dor em rico é morfologicamente um axônlo, mas conduz o Impulso
um membro que nao existe. nervoso cenulperamente. sendo, p01s. da perspectiva da
funçAo. um dendrito. J.1 o p,olong;1mento central é um a:it6- sernelhJntes a p~udópC>dos, em cujas membranas t-
n,o no sem1do motfo!óg1Co e funciOnal, uma vez que con- moléculas de ade~o. como integ11nas. que se ligam a ~
duz cen111fugJm me. Os impulsos n rvosos sensitivos !M\o lé<ulas da matriz extraceluklr. como a l.imininJ, prcser·
condu:vdos do prolongJmento pe11fé11co para o central. e em membranas basais.. Essa união~ desfaz quando oco-
admite-se que não passam pelo corpa celular. Os Impulsos rem novas expansões da membrana e novas adcsôci
nervosos motores ~o conduzidos do corpo celular parcJ o que perm,1e o progressivo along,rn,ento dos axônios ~.
efetuador (Figura 9.3) Contudo. pode-se esttmular e,:pen• cone de crescimento. M também receptores para fatO'~
mentcJlmente um nervo Isolado que. entoo, funciona como neurotróficos, os quais sao endocitados e tr.:insportados.,
um fio elétrico nos dois sentido~ d pendendo apenas da co,po celular, ativando as vias metabólicas necessá1ias
extremidade estimulada. A velocidade de conduçcio nas fi- processo de regencraç.lo
bras nervos.as var,a de 1 ma 120 m prn segundo e depende Os ía10,cs neuro1róf1<:os s~o essenoais para a sobit
do caltbre da fibra, sendo maior nas fibras mais calibrosas. vência e d1ferenc1açlo de neurónios durante o deseo\c •
Levando-se em coma certas características e1etrofis1oló· men10 Após essa fase. continuam sendo essenciais PJ'_ ;
gl(as. m.:is sobretudo a velocidade de conduç~o. ilS fibras manutenção dos neurónios e regeneraçAo de f1br.:is ner.
dos nervos foram classificadas em três grupos princ,pais - sas lesadas. Entre eles, estão duas lmpo1tantes fam,ha\ ~
A, B e C -. que correspondem ~s fibras di! grande, m~io e palipeptideos: a família das neurotrotinas. cujo pro1ôt1po •
pequeno cal l.>fes. As fibras A co11espondem às fibras rica• fa,or de crescimento neural. e a família do fator neurotrci
mente mleltnizadas dos nervos mistos e podem, ainda. ser de11vado da gha. Há outros fatores Importantes para a k ':1
d,vtd,das. quanto à velocidade de condução, em alfa. beta neraçAo axonal, como o fator de c1escirnen10 flbroblj~
e gama No grupo B. estão as fibras pré-ganglionares, que básico. A p1odução de um dado fatOf neurotrófico não
serão vistas a propósito do sistema nervoso autônomo No hm1ta à celula ou ao local dJ sua descoberta. Por exemi
grupo C. estão as fibras pós-ganglionares nAo m1ellmzadas o fator de crescimento denvôdo da gHa é produZ1do i:•
do sistema autônomo e algumas fibras responsáveis por lm· músculo esquelético. sendo importante nJ 1egenera~
pulsm terrn,cos e dolorosos de fibras nervoSJs motoras.. O fa1or de cr~ irnento neu•
Os axônios de tamanhos equiva'entes que inervam os outras neurouofinas são Importantes para neurôn,os sef'· •
musculos e tendões s.\o chamados de grupas 1. li, Ili e IV. O riais de11vados da crista neural e p;:ira os neurônios do s\'
grupo N cont~rn fibrõs amiehntCas. Ar, fibras C e N condu· rra autônomo s1mpj1Ko.
zcm com ve!oc1d3de de 0.5 m/s a 1 m/s por ~undo. Nas De modo geral. as células-alvo da inervação secre· -
fibras A alfa. a velocidade pode atingir 120 m/~ e. nas A beta. fotores neurotróflcos. ma~ como podem estar longe do
7S m/s. cal dJ le~o do nervo, ê importante o PJpel d.as célulJ~
Schwann Essas células !M\o a11vadas por citoctna sccrc; •
por m.ic.róí<39os que Invadem o loccll <fo l~sAo para a 11.'n
ção da ba•nha de mrel1n.:i e de restos celulares. As c1fü.
de Schwann ativadas abandonam a fibra nervosa lesoo... •
Os nervos perif'érKOS são frequentemente traumatiza- prohfcrarn no nível do coto pro'<imol. Secretam nov,,s m
dos. resultando em esmagamemos ou secções, que trazem branas basa,s e uma glucoproteina, a laminina, e assurT"
como consequ~ncia perda ou d1mlnuiçao dJ senslb,lidade a íunç.\o de produzjr íatOfes neurotróficos Que tinhdlT' •
e da motricidade no temtótio inervado. Os fenómenos que desenvolvimento. Sua própria supetfkie. e sobretudo !,
ocorrem nesses casos orientam a candura cirú1g ca a ser membranas basais, s.\o ricas em moléculas que forneclY
adotada e s.\o de grande importi\ncl.1 para o médico. T,1n10 substrato ncces~r10 p.:ira il adesJo dos cones de crescrm
nos esmagamentos como nas secções. ocorrem degenera• to e o crescImen10 dos a~ônios em direçõo ao seu dest ,.
ções da PJrte distal do axónlo e sua bainha de m el,na (de- Na verdade. as células de Schwann, com suas membrar
generc1Çc'lo wallerldna). No coto proximal, h.1 degeneração b.Jsais, íorrrurn numerosos compartimentos ou tubos e ••,
apenas até o nó de R.1nvier ma,s próiiimo da lesAo. No corpo celulares, circundados por tecido conjuntivo do endone-...
celula, há cromat611se, ou seja. d1minu,çoo da substancia dentro dos quais o a,6nio se regenera.
crom1d13I, Que atinge o m~x,mo entre 7 e 15 dias. O grau de Cabe assinalar que, no inicio do processo de regenr ~
croma16lise é inversamente proporcional à d1stána.a da le- çâo, cada axôn·o emrte numc,osos ramos, o que aum •
sjo ao corpo celular. As alterações do corpo celular podem a chance de eles encontrarem o caminho correio até o .
ser muito intensas, resultando na desinregri'lção do newô- destino. Para se conseguir melhor recuperação func,on.1
niO. mJs, em geral oc:oue recuperação. extremidade-s de um nervo seccionado devem se, aJustaJ.
Em cada coto proximal, a membrana plasrmtlca ~ com preclsJo. tentando-se obter a justaposição das bJm•
rapidamente reconst,tulda. Ess.a extremidade se modifi- perineura,s, com o aulCíliO de microscópio cirúrgico. E.m e_
ca. dando origem a uma expansAo denominada cone de sos de secçJo com afostJmemo dos dois cotos. as n •
crescimento. semelhante à que existe em axônios em crcs- nervoSãs em cre-;cImento, n~o enconuando o coto d,~
omento durante o desenvolvimento do sistema nervo- crescem d~sordenadam~nte no tecido clcatricl.ll, cor,·
so. O cone de crescimento é capaz de emI111 expansões 1uindo os ncurornas. forrnJdos de 1ecido conJun1Ivo. ce1...
80 Kf11ro.irw1omi.t h,nciorwl
de Schwann e um emaranhado de fibras nervosas ·perdi- perifé11co na medula de um animal. os a ónios secciona·
das'. Nesses casos. para que haja recuperação funcional, dos da medula crescem ao longo do nervo enxenado. mas
deve-se fazer a remoçAo do tecido c1Cat11c1.1I e o ajus1.a111en· Quando os il Omos m creKimento entram m contato
to dos cotos nervosos por sutura de elementos conjuntivos. novamente com o tecido do SNC. há retração do cone de
ru fibras nervosas da parte penférica do sistema nervo• crescimento e paradl do p,ocesso de regeneraç3o. Assim.
so autônomo são também dotcldas de grande capacidade os axônios no sist<:ma nervoso central são potencialmente
de regeneração. Assim. veuficou-se Que, na doença de Cha· capazes de rcgeneraçAo, mas não hã submato adequado
g1as experimental, em cuja fase aguda há demulç~o quase !I regen raçAo em adultos, embora nAo faltem fatores neu-
total da inervaçao simpática e parassimp.\tica do coração. rotróficos. Ao contrJr10 do que ocorre no desenvolvimen•
ocoire. na maioria dos casos. total reinervação depois de to, no SNC de mamíferos adultos a regeneraç.\o é inibida.
algum tempo.' Es~ inibição deriva. sobretudo, de dois íato1es: 1) a cicatriz
Ao contrário do que ocorre no sistema nervoso perlfê· astrootár1a, que comlltui barreira mec.\nica e também qui•
rico. as fibras nervosas do SNC dos mamíferos adultos MO mica pela presença de proteoghcanas. como o sulfato de
se regeneram quando lesadas. ou apiesentam cr~1mento condro111na: }) presença de inibidores associados à ba1nhJ
mu to hm1tado. l5so d,ficulra consideravelmente a recupe- de mlel1na d<:> SNC: Do que foi vmo. pode-~e c0ndu1r que a
ração f\Jncronal de mu,tos casos neurológkos. Entretanto, regeneraçJo de fibras nervosas resulta da interação de fato-
veoficou-se que. Quando se enxerta um pedaço de nervo res morfológicos e bioquímicos.
B - Terminações nervosas
2.1 Classificação morfológlca dos receptores
Em suas extremidades penf~rlcas. as fibras nervosas dos D1st,n9uern•se dois grandes grupos: os ,ecepto,es es•
nervos mcxMcam-se, dando origem a formações ora mais. peciais e os recep1ores gerais.
ora menos comp!e as. as lt>rmifl<1çóes nervosos. que podem Os fl'Cêf)tôIes e5peeI0 1s Sc10 mais compfe-<os. reladooan-
ser de dois tipos: sem1trvas ou aferentes 1 e motoras ou eíe· do·se com um neurO<'ptrél-o (reuna, ótglo de Cor ti etc.) e fa-
rentes As terminações sensitivas. quando estimuladas por zem parte dos ch.;mados 6<gôos esf)fflo1s do senrido: visão;
uma forma adequada de energia Cmecãnlca, calor, luz etc.), aud1çc\o e cqu1libno; gustaç3o e olíação. todos localizados
d~o origem a Impulsos nervosos que seguem peta fibra em na cabeça. Ser~o estudados no Capitulo 29 (as grandes vias
direção ao corpo neuronal. Esses Impulsos são levados aQ aferentes).
SNC e atingem áreas esP<.'CIÍ1<d~ do cérebro, onde sAo ·1mer· Os recep10,es ge,a,s ocorrem em todo o corpo, fozem
p1etados·. resultando em diferences formas de sensibil,dade. pane do sistema sensonal somc1tico. que reiponde a dife-
As terminações nervo~s motoras e istem na porç~o te,m • rentes estimules. como tato, temperatura, dor e postura cor·
nal das fibras eferemes e sAo os elementos pré-sinc1ptlcos poral ou prop11occpção.
das sinapses neuroefetu.1doras. ou seJa. inervam musculos
ou gl.lndulas 2.2 Classificação fisfolôglca dos receptores
2.2.1 [spec1fici<ladedos receptores
A espec,ficldade dos receptores e geralmente aceita.
O termo recepwr sensor,o/ re"ere-se à estruture! neuronal Os receptores denominados Jrvres podem ~r responsáve,s
ou epitelial. capaz de ttansformar estímulos físicos ou quím • por vârios tipos de senslb,hdade (temperatura, dor, tato).
cosem auvldade btoelêtrica (transdução de sinais) para s.er No entanto, um determinado receptor livre é responsável
lnte1p1etada no SNC. Pode ser um terminal a 6n1Co ou célu· apenas por uma dessas formas de sens1b•hdade. Assim, de-
las epiteliais mod,fic.adas conectadas aos neurônios. como nominados n?Ceptores livres, ie)(istem, de fato, do ponto de
as células ciliadas da cóclea. vista ns,ológ•co, vár,os upos de receptores. Espec1f1odade
SKJnifica dizer que a semib1lidade de um receptor é máxima
para determmado estimulo, ou o seu limiar de excitabilida-
1 1.'J\Cl l,-00, ABM. 1.~( HAOO. c..R.S. GO't LL MV úrJ«.-Y.mtr'a' par~-
de é mínimo para essa forma de energia, embora possam
::,i,ogy 19/9 47 107· 11~ ser a1ivados com d ficuldade por outras formas de energia.
1 ( ntr~ ~ 11\Lw.lor~. t.'\WO .t proteru NOGO. •9',cooroil'lfld .ruoc&ddJ Além da forma de energ-ia, um determinado receptor é mais
.\ """'n., e.) o ,coc:,,o,,~nJ m,t ,_.a d " ol-,oót'ndtóc ux senslvel a uma fol,a resulta dessa fotmo de energld. úcem•
l ~ lí'frncx ·~sit,,o· e ·a•.,.ente: a 1,go<, nlo s.\o ~nõo•mo\ ToJos os pio: um fotorreceptor é sensível a determinado comprimen-
1mpvl10S n ~ O\H' ~ tr.im 1'10 \<\ll'O\J nrt,-oM> crnir.tl s.\o •'l'- to de onda couespondente ao verrnelho.
rr nt~ m.n a!)t'nJ\ tq~ Q~ despeitam algum llpo de \en~ç~
wo W0\.11'10\ Mu,to~ lmpul~ P,~fi ('fill~\ ~ le{l'plort~ \ 1',( l'JJ \ Usando-se como critério os estímulos mais adequados
Ccomo os 0119 n..lÓO\ no itlO u ,01:deol s.\o afert'ni"" n1<n nlo ~ para attvar os vários receptores, estes podem ser classifica-
!iefl'>!IIYO\ dos como:
A e
Figura 9.1 Oewnhos csquem.\ticos de alguns 1ece-ptoces livres e encapsu'-'<ÍOi IA) te,mlruções ~rvo~s IMes 11.1 pele, (B) corpúsculo de
~,'~1ssoo; (Cl COlpu~u·o de VJter-Pacc.ml, (D) c.o,pusculo de Ruffin,
' - k --:::Tmnlril G:esnervosasmotoras - · · ·- -
ç-.:.
,~,
Fibras extrofu10iJ
As terminações nc,vosas motoras. ou 1unçôcs neuroeft!•
ruadoras, sAo menos var,adas do que as sens111va~ Do ponto
de vista funcional. cl11s se assemelham às sinapses enire os
neurônios e. na realidade. o 1ermo sinopse, no sentido mais
amplo, também se 1~ aplica. As 1e,rninaçôes nel'\'Osas mo·
Regiõo
toras podem ser somó11Cos ou 11,scero,s. As primeiras termi-
Nervo - - - - equoto,ial nam nos músculos estriados ~uel~t cos. as segundas nas
de fibra glclndulas. músculo hso ou músculo cardiaco, pe,1encendo.
lntrafu10I de pois, ao sistema nervoso autônomo.
cadela nucleo,
l.1 Terminações eferentes somáticas
As nbras nervosas cferemes somáticas lt'lacionam·se com
F,b,a afe,ente - - - as ÍltJ<as musculares estriadas esqueléticas por meio de es·
truturas especializadas, droomlnadas placas mot0tos (Rgura
9.4). Ao aprc»:imJM.e da fibra muscular, a fibra nervosa petde
Tem,inoçõe.s
a sua oo,nhJ de m el1na. conservando. entretanto, o ncorilema
onuloespiraiJ
(Figura 3.1). Na plJCd motora. a terminação axónca emite ti-
~
/ nos ramos e.entendo pequenas d,lataçôes, os borôes slndpricos
f ibra eferente goma (Figura 3.1 ). de onde~ liberado o neurouan~rnlsSOf.
A ultraestrurura da placa motora, no ní\'el de um des~
Roglõo botões, (:, bas1ante semelhante ~ dJ sinapse in1erneuronal
equolofiol de desaua no Capitulo 3 (11em 1.71.2). O elemento p,é~náp--
f,bro lnlfafusol
1ico. formado pela terminação axónlca. apresenta-se ríco em
de IOCO nuclear veslculas s1nJptlcas agranuldres. que se acumul.1m pró:<lmo
Cópsulo - - - - - - - - - -
Fibra eilTafusol a txJrras di>nsos. comtituindo zonas atrvas. onde é I berado
o neurouansmlsSOf, a acet,lc.ol,na (Rgura 9.S). O elemento
...., '-' p_:' pós-s,nc1ptico econstituído pelo sareoi ma da fibra muscul.lr,
.,.
.-~~ - ~
que mantém a sua membrana basal e tem a sua A,ea consl•
dera lmenie aumentada p(?la p,esença de pregueamento
característKo {as fXtYJOS funoona,s) As cristas d~\41\ J")(e(Jas
1/
,6 apresentam <knsldolks pós-smáf)tiCos O neuro1ransrnisS01
~o acet,\cohna, libefado llJ fendo s,ndpt,co, ú1usa dcspolanza•
ç.ão do sarcolema. o que desencadeia a contração d~ fibra
muscular. O ei,,cesso de acet,tcohna liberado é lnatrvado pela
flgun 9.2 Esquerro de um fuso neo1omu~ ular 11cetilcolinesterase, presente em grande quanilC!ade na placa.
,
Coluna posterior
do medula I
I ........
, ....
COfJ>O do neurônio
- I
/
I
'
Gõnglio sen,itivo oferenle
1
1
I
M1hculo
Terminação nervoso motora
--
85
...
,- -- - ~~------·-~~• --•• - -· ~._ --- -- -~ . -
3.1.1 Correlações anatomodínicas
Proceuo de célula
Botão
sinóptico de Schwonn
fendo -::.--=~ Membrono
· · ,· ~:::;;~r3;=:::;
s,nop 1
-
.._,"!-_ _ ...,,bowl
. d"
,
Pregos
jund onoil
Denildodes póHinópticas
86 ~~ hlncionM
. -- . . . .:.
nérglcas. ao passo que as viscerais podem ser collnêrgicas ou citoplasma do efetuador próximo Azona de contato. como
ou odrenlrgicas. ocorre na placa motora ou nas slnapses lnterneuronaIs.
Nas term1naçócs nervosas viscerais (Figura 23.4) roo Nas terminações nervosas eferentes viscerais. existem
existem. como nas sorratlcas. formações elaboradas. como as dois tipos de vesículas sinápticas: granulares e agranulares
placas motoras. Os neurotransmissores ~ 1berados em um (Figuras 3.8. 9.6, 9.7 e 11.3). As vesículas agranulares ar-
trecho bastante longo da parte terminal das fibras (Figura mazenam acetllcolina e assemelham-se às vesículas sináp-
3.8) e nAo apenas em sua e uemidade, podendo a mesma ticas das terminações somáticas. Já as vesículas granulares
fibra estabelecer contato com grande número de fibras mus- cont~m noradrenalina. Em condições fisiológicas, o impul·
culares ou células glandulares. As fibras terminais apresentam- so nervoso dos te1mina,s adrenérgicos causa liberação de
-se cheias de pequenas d lataçôes ou voncowades (Figuras noradrenalina. que agirá sobre o efetuadot. O eJtcesso de
9.6 e 3.8). ricas em vesículas contendo neurotransmissores. noradrenalina liberado é captado novamente pela fibra
e constiruem as áreas funcionalmente ativas das fibras. A nervosa e armazenado nas vesiculas granulares. Quando a
d1st~nc1c1 percorrida pelo neurotransmissor até o 6rgJo efe- lnervaçc\o adren~rglca de um órgão é destruída (como nas
tuador varia de 20 (musculatura do canal deferente) a 3.CXXl slmpatectomias). ele se toma muito mais sensível à aç~o da
nm (musculatura 1ntest1!'\JQ. Em alguns casos. a fibra nervo- norad1enalina Injetada. Nesse caso. como o mecanismo de
sa relaciona-se muito intimamente com o efetuador (Figura captação e lnatlvaç!o dessa amina foi destruído, ela perma-
23.4) e. de modo geral. não há modificações na membrana nece muito tempo em contato com os efetuadores.
C - Nervos espinais
1. ·· GeneraUdades.____ - _ · . mente, aos sulcos lateral posterior e lateral anterior da
medula. através de filamentos radiculares (Flgur• 9.8).
Nervos espinais ~o aqueles que fazem coneltào Na raiz dorsal. localiza-se o gôngl,o espinal, onde estão
com a medula espinal e s~o responsáveis pela inervação os corpos dos neurônios sensítlvos pseudounlpolares,
do tronco. dos membros e de partes da cabeça. São em cujos prolongamentos central e periférico formam a raiz.
numero de 31 pares, que correspondem aos 31 segmen· A raiz ventral é formada por axônios. que se originam em
tos medulares existentes. São, pois. oito pares de nervos neurônios situados nas colunas anterior e lateral da me-
cervicais. 12 torácicos. cinco lombares. cinco sacrais, dula. Da união da raiz dorsal, sensitiva, com a raiz ventral,
urn cocclgeo. Cada nervo espinal é formado pela união motora. forma-se o rronco do nervo espinal, que funcio-
das raízes dorsal e ventral, as quais se ligam. respectiva· nalmente é misto.
• Capitulo9
Raiz do,sol • - - - - r . Coluna po, terior
Gõnglio espinol - - \
'\ I
Coluna lateral
\
Tronco s.impôtlco - , \\ Coluna anterior
'\ \ \
Ramo doool '\ \
do nervo espinal ·,
'
Ramo ventral
doneM>
\
\
\
e1pinol , ,
·, ,
\
\
\__ f ilomenlOs rodiculores
,,
Gõnglio do , impôtlco
Rgun , .a (squ mJ d;1 lormaçáo dos llCfVO\ espin.:,is mostrando 1am mo tronco slmpâtico
88 ~~ funoorwl
terr,pe, Jtura
e•t!'.'roci:pt,,,as dor
prt'SsAo
f,b<JS SO~IIGlS lõlO
afert-ntes
proprioct-ptr,as conscl.,ntc~
111~t:1a1s
incon~l,.:·nt~
p.!•d g1lrldu1Js
~~
. . . ~
- -
.- ---...
-.;;:
Roiz donol ,
',
Roma doool ,_
Roma venlfol
--- ''
'
C5
C6
fo scicvlo loterol - -
-- ---- o
---
ca
E~-
ca
TI •
, Tronc,o in iOf' TI
Nervo mediono \
Nervo ulnor - --
'
foi dculo madiol
/
-- T2
I
I
I
--'-',,
Nervo inHtrcOJkJI Romos comuniconHts Tronco e gõnglio simpótlco
fl9u,a , ., (SQuema dJ ÍOflT'lclÇAo do ~o bfi)QU\JI lnd e.ando a comPQSlçAo rad,culJr do netVO med no (e,.emplo de ner\-'0 plur~seg-
mentar) e do }.O nervo ,n:erco~tal (eJ1..1:mplo de nervo unlssegmen1ar),
caso, a cada neNO couesponde um dí?frnátomo que se localiza os músculos podem ser unirradicular~ e plurirracficulares.
em seu term6<io de d1stnbu,çào cutanea No segundo, o ne,vo conío,me ,ecebam lnervaçAo de uma ou maisraízes. Os mús-
contr bui com fibras para vários derrnátomos. pois recebe fibras C\Jlos lntercostals ~ exemplos de músculos unirradiculares..
sensitivas de várias raízes. Assim, o l1efVO mediano tem fibras Ama011a dos músculos. entretanto, é plurmod1cular. nJo sen-
sensitivas que conmbuem para os derrnátomos C6, a e C8 do possível separar as partes Inervadas pelas diversas raízes.
(Figura 9.9). As Figuras 9.1O e 9.11 mostram os mapas dos Contudo. no músculo reto do abdome. a parte inervada por
territórios rutàneos de distribuiçllo dos neM>S perif~rleos e dos uma raíi é separada das inervadas pelas raízes situadas aooíxo
dermjtomos, Mapas como esse permitem. diante de um qua- ou acima por peqUE.'llàs aponeuroses.
dro de perda de sens1bi'Jdade cutánea. determinar se a le~o íol
em um nervo penféoco. na medula ou nas raízes espinais. 6. Unidade motora e unidade sensitiva
Denomina-se unidade mororo o conjunto constituído
s;:-.; Rt1a~o entre as raítes ventrais e os territórios de
po, um neurônio motor com o seu axônio e todas as fibras
· · Ínérva(IÓmoiôra ..:-__._ . . - - -- musrulares por efe Inervadas. O termo aphca•se apenas
Oenomrna•se campo rod,culor mororo territótio inervado aos neurônios motores somáticos. ou seja, ã Inervação dos
por uma única ra,z ventrai. HA quadros sinóp11cos nd,cando o músculos estriados esqueléticos. As unidades motoras são
terrltôr10, vale dtZer, os músculos Inervados por cada uma das as menores unidades funcionais do sistema motor. Por açc\o
raíZes que con1nbuem para a inervaçAo de e.ada músculo, ou do impulso nervoso, todas as fibras musculares da unidade
sej,l, a composlçc\o radicular de cada músculo. Quanto a isso, motora se contraem apro imadamente ao mesmo tempo.
NERVOS PERIFÉRICOS OERMÁTOMOS
-
I
Romos cutõneos onteriotei _ _ _ _ ---
dos neM>• lntercoslois -
Ne,voobtvrotório - - - - - - - - - - - - -
Ne.rvosofeno - - - - - - - - - - - - -
fi9un t.10 Comparaç~ entre os derll\Jtomos e os temtóoos de ,nerv~~o dos nervos cutJneos na ~upetfície ventral.
" 'i' R pro.Ju._'ldJ. com pe(ff' \\lo, de Cu1M. J.Y.otMon 1"" ~Jrc\J\. M ,nrlOd...-cror, ro ntutOSCl('n(t1 l'htl.Klt'lph,J W 8. SJunders Cn. 1972
• Capitulo 9 Nfflo\ffll Gml - ~ ~ - Nffios bpiNi:s 91
OERMÁTOMOS NERVOS PERIFÉRICOS
·~t ',
=~::n:IÕ~:::~: :~oço
(roma do nervo radial)
' ' -Nervo cvtôneo loterof do antebraço
._ (ramo do neM> muiculocutôneo)
- 1 ...........
\ , ....... Romos dorsais dos nervo, socrois
1i ' ',R ___,. · 1do nervo rQQ,o
_.J • 1
;' orno w....,.,ic10
- - - - - - - - - - - Ne"'O
mediano
- - - - - - - - Nervo culôneo po11ef ior do co,io
- - - - - - - - - NetVO cutâneo onterlOf do coxo
- - - -- - - - - - - - - - - - Nervo oblurotório
Flgura 9.11 Comparaç~ en1re os derrn.1tomos e os tcmt611os de ,nervaç.\o dos ne,vm cutc\neos na ~uJX'I ;ele druwl
foml• a Solunriro Co. 1971.
FrorOOl.&/llU. com l'l.'mlr'i\.\o, d,.> Cv11is. JJcOb<.Ol'I ~nd ,., cvs An 1111,r;JJ..,ct()fl 10 ntvtO',ú('fl(t:5 í'hll» ~ w
Quando. no início de uma ·queda de braço: aumentamos
progreswamente a força, fc1.Zen10S agir um nümero cada vez
s, l T
maior de unidades motoras do biceps. Entretanto, o aumen·
l--+--- -+ to da força se deve também ao aumento da frequencia com
T que os neurôn10s rnot01es enviam impulsos As fibras museu·
s e
l.are-s que eles 1n rvam. A proporç.io entre fibras nervosas e
musculares nas unidades motoras não é a mesfT\l em todos
os músculos. Músculos de fo,ç,a, como o bíceps, o trlceps ou o
gastroc~mio, tt~m grande número de fibras musculares para
cada fibra nervosa (até 1.700 no gastrocnêmio). Já nos mús-
cu1os que realizam mCMmentos delieôdos. como na mão, os
interósseos e os lumbri<.ais, esse número é muito menor (96
por axõnio, no prime1ro lumbriCJI da mão).
1..,
Por homologtcl com unidade motorcl, conceitua-se tam-
bém unrdode sens,r,vo, que é o coniunto de um neurônio
sens1t1vo com todas as SU4S rarmficações e os seus recep-
tores. Os receptores de uma unidade sensitiva são todos de
flgur• 9. 12 [squemõ mowando os lim, es dos dermatomoHer• um só tipo, mas. como hJ grande superposiç~o de unidades
m.
wca,s (C). 1or,k,cm lombJ,~ (L} e sacra s (Sl em um ,nd lduo sensitivas na pele. d iversas formas de sensibilidade podem
em P<>Si\ctOquddrúpede. ser pe,cebldas em uma mesma área cutAnea.
wm.hc,H
r·•
especia.s
lisos, cardiaco e das glándulas. Como será visto no capitu-
lo seguinte, as fibras efcrentes v1scetafs gerais pertencem
e\ dlvi5âo pararnmpática do sistema nervoso autónomo e
term,nam em g~nghos viscerais, de onde os impulsos são
levados às d1ver<"' estruturas viscerais. El.:is são. pois. fibras
prê-91nglionares e promovem a Inervação pré-ganglionar
fibra~e'e1cn1ei dessas estruturas. As fibras que inervam músculos eswados
9e1a,s
mlotômfcos são denominadas fibras eferentes somd11cos.
viscer.i:s
t.' ipe(IJ,S Essa dass1flcaçAo encontra apoio na localtzaçáo dos núcleos
dos nervos cranianos motores. s tu.1dos no tronco encefáli-
co. Corno veremos no Capitulo 17, os nücleos Que originam
2.1 Componentes aferentes as fib•as eferentes v1scera,s especiais tém pos,ç~o rnu110 dl·
ferente daqueles que originam as fib,as eferentes somâtieas
Na exuemidade cefálica dos an,ma1s. desenvolveram• ou viKera1s gerais. A cha...-e a seguir resume o que foi expos·
-se, durame a evolução. órgãos de sentido mais comple· to ~bre as fibras ere,entes dos nervos cranianos.
xos, que são, nos mam1feros, os órgãos da visão. audrçáo,
gustação e olfaç.lo. Os receptorc-s desses órgãos são de-
nominados ·especiais" para distingul-los dos demais re- som.11,cas - mu~u~ es1nad~
ceptores, que, por serem encontrados em todo o restante ~squ~'é11Co, m1016micos
do corpo, sAo denominados gerais. As fibra.s nervosas ern
relação a esses receptores são, pois. classificadas como es- músculos estnJJos
~uelê1,cos
peciais. Assim, temos:
a) fibras a'~ences romdtlCOs gero,s- orig,nam""Se em ex• 1 btanqJ,omtuc~
96 Ntvrowtomi, fvntloNl
- mo. cclda arco branquial recebe um nervo craniano Que 3.3 Nervos oculomotor, Ili par; trodear, IV par;
n rva a musculatura que ai se forma. como está indicado e abducente, VI par
- J Tabela 10.2.
São nervos motores que penetram na órbita pela fis-
Muito interess.inte é a ,nervação do músculo d,gtistrtco.
sura orbital supe1io1, d1suibu,ndo-se aos músculos e trin•
: \.10 ,entre anterior, derivado do primeiro arco, é inervado
secos do bulbo ocular. Que s.ão os seguintes.: elevador da
~lo trig~meo. enQuanto o ventre posteriOr, derivado do se-
p.11pebra superior; reto superior; reto inferior; reto medrai,
~:.mdo arco,~ inervado pelo faclal.
reto lateral: obliquo superior; e oblíQuo inferior. Todos
Os músculos esternocleldomas16ideo e trapéz,o s3o, ao
esses musculos são Inervados pelo oculomotor, com ex•
.....enos em parte, de origem branquioménca, sendo Inerva·
ceçAo do reto lateral e do oblíquo superior. inervados. 1es·
~os pela raíz esp,nal do nervo acessórro. pecuvamente, pelos nervos abducente e troclear (Figura
10.1 ). Admite-se que os musculos extrínsecos do olho de·
htMl• 10.l lnervaçc\oda muscul.;1urd branquio~ CJ rrvam dos somítos pré-ópticos. sendo, por conseguinte. de
origem m1otôm1ca. As libras nervoSJs que os inervam são.
N~rvo Muiculatura Arco br1nqu~I
pois. classificadas como eferenressomdricos. Além disso. o
•, p.11 muscut.i1ura mJS!lgJC!orcJ; ventre 1" nervo oculomotor tem fibras responsáveis pela inervação
ant ...,io, do mv~u1o d,gjs111co pré•ganghonar dos músculos intrínsecos do bulbo ocular:
o músculo cíltar. que regula a converg~ncia do wstaHno;
\. 0.,1 roosculJtura m m.cJ. ventre PQ\tc110f
do müscu1o d~s1rico e m.:.SOJ'o
e o músculo esfinaer da pupila. Esses músculos são lisos
es11'o-h•óideo e as fibras que os ,n rvam dass,ficam-se como eferenres
viscerais gero,s (Figura 10.1 ).
l• P.:,I müKuro t\t•'ofJringeo e constri:0< 30 O conhecimento dos sintomas que resultam de lesões
suP€rJOr d.t faringe
dos nervos abducentes e OCtJlomotor. além de aJudar a e~
1 PJf rmha,lor. coostr,ton3 me-d,o e ,n't.>rlOf "ºe s., tender as suas funções, reveste-se de grande importAncia
dJ f.:.1 1~ e mt.Kulos dJ la·ll'lQe clínica e esses nervo~ serc:\o estudados no úpítulo 19.
• Cilpllulo 10 NfrwsCnni.lno\ 97
.- . -. .
.-.-
~
- - .. - ----
. ·-- --
--- ..........
~':-
_
\
\
\
- - - - Ner,o oe:ulomolor (Ili)
Mú~lo reto
I1 I obl',quo ·,n fe no,
· inferior
1
\ MúKVlo ciliar
MúKulo esJincle<
do pupilo
... -- MúKulo obliquo superio,
I
/
r (IV) ____,
Flgura 10.1 Origem aparente e temtôrlOs de d,str1buiçâo dos neM>s oculomotor. troclear e abducente.
A ratz motora do trigémeo é const1tulda de fibras que do. de modo a destruir as fibras sensitivas. Para estudar as
acompanham o nervo mandibular, distribuindo-se aos perturbações motoras e sens111vas que resultam das lesões
músculos mastigadores (temporal. masseter. pterigóideo do nervo uiglimco. consulte o item 5.3 do Capítulo 19.
lateral. pterig61dco medial, m,lo-hióideo e o ventre ante•
rior do músculo digc\strico) (Figura 10.20). Todos esses 3.5 Ntrvo fadai, VII
músculos derivam do primeiro arco branquial. e as nbras As relações do ner1,o facial t~m grande importància mê·
que os Inervam são classificadas como efe,enres v,surois dica, destacando-se as r~açôes com o nel'\IOvest1bulocodear
especiais. e com as estrutura~ do ouvido médio e interno, no traJeto in-
O problema méd co mõls observado em relação ao tri· trapetroso. e com a parótida,' no trajeto extrapeuoso.
gémeo é a neu,olg~. que se manifesta por crises dolorosas
muito inten!".as no tenit6rio de um dos ramos do nervo. ~o
quadros clínicos que causam grande sofrimento ao paclen• 1 í.tto c.Utimo ê qu,e o ner-.o foc.í.t~b ~ r dt' ,n,a,õsar a N r6l4l , OO(k'
te e cujo uatamento é qua.se 5.empre cirúrgico. Faz-se. então, ~ ram fica. lnervl todJs illgl.\ncMu m.1lores d.J c.abeça, l!.\Ce o a p,1ró•
a termocoagulaçAo con11olada do ramo do trigémeo afeta• •,dJ, Q\J(' ê lnc:Md.l pe,\o glo\sd.ulngeo.
98 twowloml.l funcioNI
NflM> occipital maio,
1
1 NeM> occipital menor
1 I
1
1
I
I A
•
'/7
( I
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,l-\_ _ \._~_-
,,
.., \
- 71
\
\ \ t \
1 1 \
\
\ \ Ne~ o urlculor
\ l mogno
\ Nervo tron,ver
Nervo.s ,uproclaviculorn do peKOÇo
Nervo oftólmico (V 11
Figwa 1Cl.lOngem aparente e terrn6'o d!! d stnbuIça<> do nervo Ui<J~meo. (A) na pele. (B) nas mucosas e meninges; (C) nos denlt'S;
(D) nos múKulos. O 6Quema mostra u1m~m os 1erri1611os sens,tlvOs (sens b,lldade geral) dos nervos facial, gl<Xsolaringeo e vago
O nervo emerge do sulco bulbopontino através de uma Juntamente com o nervo vestibulococlear, os dois compo-
raiz motora. o neNO foc,al propriamenre dito, e uma ra,z sensi- nentes do nervo facial penetram no meato acústico interno
tiva e v1$Ceral. o neNO ,mermiX/ro (de Wrisberg) (Figura 7.8). (Flgun18.2), no 1ntenor do quül o netVO intermédio perde a
Compont>ntt' VII IX X
Funcional
Aferent~ 1,,scerul g1.ntaçck> nos ]13 anter10•e;. dJ gumiçAo no 1/3 po'iteri()( dJ l,ngua gus:açc\o nJ epiqlote
especiJI ltngw
Aft:ren te V\SC rat geral fl,)rti:' pcxtcr,or dJl ross.-is na~·s e 1/3 ~ renor éa l'ngua, farin~. pt.11U: tia ra,,1191•, IJh"9l', traq~
lace sutr:110f do pa.\.lto mol,:, úvvlJ. tOflSJl.l!>. 1uba aud twa, se,o e l'~fago e v,sceras torAcic,u e
ccxpo ca,ot~ abdo-n f\a s
Aferente som.\iieo p.i,1.-dop,w hJo.iw ,tr,'Oedu parte- do p.1. ,lhSo auchm,o e do p.1r1e do 'p.s,1'h.x) a,XI tivo e do
ge1.il m-eato a ú~t•C.Oc;..t •rno mN;o acústico e<tc:1no nledtO a,u,tieo e\tetno
(for nie "1\Ceral 9"r.1l g'lndub submand 001.lr. subi ngu11 g!Jnd ulJ parót.da 11i~ l'rJs tor~c,cas e abdom nars
e l:n1ma
Uerenw v1scl!rat musculatur.:i m m.ca rnusculo COIIS!MOI SVPi:f<lf da múKu1os da f,mng~ e da larrnge
l"Spe(tJI faonge e mu~uto es1,1orJIINJ!'O
sua ind,v,dualidade. formando-se. assim. um tronco nervoso co anexo ao nervo lingual, de onde saem as fibras
único. que penetra no canal facial. Depois de curto tra;eto. (pôs-ganglionares), que se distribuem âs glândulas
o nervo facial encurva-se fonem nte p.3ra trás, formando o submand1bular (Figura 11 l .5) e sublingual. As fi.
}Oelno exrerno! ou genícu!o do net\'O foctal. onde existe um brasdestmadas ~ glAndula lacrimal destacam-~ do
gc'lngl o sensluvo. o gdnglt0 gemeu/ado (Figura 1l.5). A !ie· nervo facial ao nível do joelho externo, percorrem.
guir. o nervo descreve nova curva para bai>o. emerge do sucess,varneme. o ne,'IO per,om mo,or e o ne,,.'O do
crc'lnio pelo (orame estilomastóldeo. atravessa a glc'lndula canal prerigôideo. atingindo o gông',o prer,gopalor,-
par6ticfo e d1str1bu1 uma série de ramos para os músculos no (Figura 1l.S), de onde saem as fibras (pôs-gan-
mímicos. músculo est,lo-hióideo e ventre posterior do mús· glionares) para a gl~ndula lacrimal.
culo digástrico.' Esses músculos derivam do segundo arco e) Fibras oferemes v,sce,o,s espec101s - recebem impul·
branquial, e as fibras a eles destinadas sAo. pois, eferenres sos gustauvos 0119,nados nos dois terços ante1io-
v,scerws espec,a,s. comtHuindo o componente funoonal res da 1/ngua (Figura 10.3 ) e seguem Inicialmente
mais importante do VU par. Os quatro outros componentes com o nervo lingual. A seguir, passam para o nervo
funcionais do VII par pertencem ao nervo lnterméd10, que corda do rimpano (Figura 12.S), através do quJI
apresenta libras aferentes vIsceraIs especiais. aferentes vis- ganham o nervo facial, pouco antes de sua emer-
ceraisgera,s. eferentes somâticas gerais e eferentes viscerais gônc1a no forame estllomastóideo. Passam pelo
gcra,s. As fibras aferentes s:io prolongamentos perlféncos gànglro geniculado e penetram no tronco encefá-
de n.eu,Onlos sens,t,vos situados no g~ngho gcnlculado; os lico pela ra,z sensitiva do VII par, ou seja. pelo nervo
componentes eferentes orig,ruim-se em núcleos do tronco interméd10.
encefáhco
As lesões do nervo facial s.\o muito frequentes e de
Todos esses componentes s:io sintetizados ™Tabela
grande importància cllntCa. Para eS1udar os sintomas que
10.3. Descrevemos com maK>r minúcia os u~s seguintes,
que Sc\o os mais ,mpo,tantes do ponto de vista cl,ni{o: ocouem nesses ca~. consulte o nem 5.1do Capítulo 19.
a) Fibras eferenres wsarois esf)t"Clo,s - para os músculos Seruibílldode gu~iYo
mímicos, músculos estilo·hiôideos e ventre poste· ,.__
rior do d,gástrico.
b) F1bfas efcrenres v,scera,s gerors - responstlveis pela
,nervaçAo pré-g anglionar das glândulas lacrimal,
submand,bular e sublingual As fibras d stínadas
:is gl~ndulas submand1bular e sublingual acom· '
,..
J
. , . ,,., IX . ,,
pc1nhc1m o trajeto anteriormente descnto para as
fibras aferentes viscerais especiais, mas terminam t 1/ ,
. , ."'i-l 1
~ ,. ;. '
• , I
I
•
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no gônglio submond,bulor; ganglio parassimpáti· •• •, I • • • J • - ~ •li •
V , 1' •;i•
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~ • 4 .it •
..
~·-·---· - . . . .....
Sistema Nervoso Autônomo
Aspectos Gerais
1. Conceito ... •.. ,.,..., . . " ' - - + ~ , f Com base em critérios que serão estudados a seguir, o
SNA dívide-se em simpdtico e parassimpático, como mostra
Conforme já exposto anteriormente (veja Capítulo 2, a chave a seguir.
:~m 3), pode-se dividír o si.stema nervoso em somático e
. isceral. O sistema neNoso somático é também denominado
s"stema neNoso da vida de relação, ou seja, aquele que rela- aferente
.:iona o organismo com o meio ambiente. Para isso, a parte
3íerente do sistema nervoso somático conduz aos centros Sistema nervoso
-iervosos impulsos originados em receptores periféricos, visceral simpático
eferente = sistema
·nformando esses centros sobre o que se passa no meio nervoso autônomo { P,arassimpático
ambiente. Por sua vez. a parte eferente do sistema nervoso
somático leva aos músculos esqueléticos o comando dos
centros nervosos, resultando movimentos que propiciam Convém acentuar que as fibras eferentes viscerais espe-
maior relacionamento ou integração com o meio externo. ciais, estudada.s a propósito dos nervos cranianos (Capitulo
O sistema nervoso visceral é responsável pela inervação das 1O, Item 2.2), não fazem parte do sístema nervoso autôno-
estruturas viscerais e é multo importante para a integração mo, pois Inervam músculos estriados esqueléticos. Assim,
das funções desses órgãos para a manutenção da constân- apenas as fibras eferentes viscerais gerais integram esse
cia do meio Interno (homeostase). Assim como no sistema sistem a. Embora o sistema nervoso autônomo tenha parte
nervoso somático, distingue-se no sistema nervoso visceral tanto no SNC como no periférico, neste capítulo daremos
uma parte aferente e outra eferente. O componente aferen- ênfase apenas à porção periféríca desse sistema. Ames de
te conduz os impulsos nervosos originados em receptores estudarmos o sistema nervoso autônomo, faremos algumas
das vísceras (visceroceptores) a áreas específicas do sistema considerações sobre o sistema nervoso visceral aferente.
nervoso central (SNC). O componente eferente traz impul-
sos de alguns centros nervosos até as estruturas viscerais, j
terminando, pois, em glândulas, músculos lisos ou músculo
cardíaco, e é denominado sisrema nervoso autônomo. AI· As fibras viscerais aferentes conduzem Impulsos ner-
guns autores adotam um conceito mais amplo, incluindo vosos originados em receptores situados nas vísceras
no sistema nervoso autônomo também a parte aferente (visceroceptores). Em geral, essas fibras integram nervos
visceral. Segundo o conceito de Langley, utilizaremos a de- predominantemente viscerais, em conjunto com as fibras
nominação sistema nervoso autônomo (SNA) apenas para o do sistema nervoso autônomo. Assim, sabe-se hoje que a
componente eferente do sistema nervoso visceral. Há mui· grande maioria das libras aferentes que veiculam a dor vis·
tas diferenças entre as vias eferentes somáticas e viscerais, cera! acompanha as fibras do sistema nervoso simpático,
que serão estudadas no item 3. Já as vias aferentes do sis- constituindo-se exceção as fibras que Inervam alguns órgãos
tema nervoso visceral, ao menos no componente medular, pélvicos que acompanham os nervos parassimpáticos. Os
sãÓ semelhantes às do somático e compartilham do mesmo impulsos nervosos aferentes viscerais, antes de penetrar no
ganglio sensitivo. SNC, passam por ganglios sensltívos. No caso dos impulsos
que penetram pelos nervos espinais, esses gânglios são os ra não o é. A distensão de uma víscera, como uma alça in-
gânglios espinais, não havendo, pois, gânglios diferentes testinal. é muito dolorosa, o que não acon1tece com a pele.
para as fibras viscerais e somáticas. Considerando-se que a dor é um sinal de alarme, o estimulo
Ao contrário das fibras que se originam em receptores adequado para provocar dor em uma região é aquele que
somáticos, grande parte das fibras viscerais conduz Impul- mais usualmente é capaz de lesar essa região. Fato interes-
sos que não se tornam conscientes. Por exemplo, continua- sante, observado com frequência na prática médica, é que
mente estão ohegando ao nosso sistema nervoso central certos processos inflamatórios ou irritativos de vísceras e
impulsos que Informam sobre a pressão arterial e o teor de órgãos internos dão manifestações dolorosas em determi-
o, do sangue, sem que possamos percebê-los. Sáo, pois, nados territórios cutAneos. Assim, processos irritativos do
impulsos afererntes Inconscientes, Importantes para a reali- diafragma manifestam-se por dores e hipersensibilidade na
zação de vários reflexos viscerais ou viscerossomáticos, re- pele da região do ombro; a apendicite pode causar hiper·
lacionados, no exemplo citado, com o controle da pressão sensibilidade cutânea na parede abdominal da fossa ilíaca
arterial ou da taxa de 0 1 do sangue. Existem alguns viscero- direita; o infarto do miocárdio, no braço esquerdo. Esse fe-
ceptores especializados em detectar esse tipo de estímulo, nômeno denomina-se dor referida.
sendo os mais conhecidos os do seio carolfdeo e do corpo
carorfdeo, situados próximos à bifurcação da artéria carótida
comum. Os visceroceptores situados no seio carotídeo são
sensíveis às variações da pressão arterial, e os do corpo caro-
tideo, às variações na taxa de 0 2 do sangue. Impulsos neles Os impulsos nervosos que seguem pelo sistema ner-
originados são levados ao SNC pelo nervo glossofaríngeo. voso somático eferente terminam em músculo estriado
Contudo. muitos impulsos viscerais tornam-se conscientes, esquelético, enquanto os que seguem pelo sistema ner-
manifestando-se sob a forma de sensações, como sede, voso autônomo terminam em músculo estriado cardíaco,
fome, plenitude gástrica e dor. músculo liso ou gl~ndula. Assim, o sistema nervoso efe-
A sensibilidade visceral difere da somática principal- rente somático é voluntário, enquanto o sistema nervoso
mente por ser mais difusa, não permitindo localização pre- autônomo é involuntário. Do ponto de vista anatômico,
cisa. Assim, pode-se dizer que dói a ponta do dedo mínimo, uma diferença muito importante diz respeito ao número de
mas não se pode dizer que dói a primeira ou a segunda alça neurônios que li9am o SNC (medula ou tronco encefálico)
Intestinal. Por outro lado, os estímulos que determinam dor ao órgão efetuador (músculo ou glândula). Esse número,
somática são diferentes dos que determinam a dor visceral. no sistema nervoso somático, é de apenas um neurônio,
A secção da pele é dolorosa, mas a secção de uma vísce- o neurónio motor somático (Figura 11.1 ), cujo corpo, na
Sistema nervoso
somátko eferente
JJ~ogt:',
.... ..... ).•~:·....-~~
' Fibra
pré-ganglionar
Figura 11.1 Diferenças anatômicas entre o sistema nervoso somático eferente (lado esquerdo) e o sistema nervoso visceral eferente ou
autônomo (lado direito).
' \
Parassimpótico sacrol
Figura 11.2 Diferenças entre os sistemas simpático e parassimpático, Fibras adrcnérgicas em rosa e collnérgicas em verde.
Coraç:lo aceleração do ritmo cardíaco (taquicardia}; diminuiç3o do ritmo cardíaco (bradicardia) e constrição
dilataçao das coronárias das coronárias
Brônquios dilatação constrição
Tubo digestivo diminuição do peristaltismo e fechamento aumento do peristaltismo e abertura dos esfíncteres
dos esfíncteres
Fígado aumento da liberação de glicose armazenamento de gllcogénio aumento de secreção
No capítulo anterior, tratamos de alguns aspectos ge- o dos nervos espinais torácicos, pois pode haver fusão de
0ais da organização do sistema nervoso autônomo. Temos, gânglios vizinhos. Na porção lombar, há de três a cinco
assim, os elementos necessários para um estudo da topo-- gànglíos. na sacral, de quatro a cinco, e na coccígea, ape-
~rafia e organização anatômica do componente simpático nas um gânglio, o gônglio ímpar, para o qual convergem
e parasslmpático desse sistema, assim como de seus plexos e no qual terminam os dois troncos simpáticos de cada ,
viscerais. Esse estudo será feito de maneira sucinta, sem dar lado (Figura 12.1 ).
énfase às inúmeras variações existentes.
1.11 Nervos esplâncnicos e gânglios pré-vertebrais
1~ tffls111r-JJI1ff,tl'1llf\l'Íffi i
r
: i: e
li
' ',,,
., ,,,,..- -- - - Gânglio cervical médio
!.
Porção torácico do tronco ( .
simpótico "-
- -Gânglio oórtic0-fenol
Porção lombar do tronco
simpótico L.~ - - - - - -Gônglio mesentérico inferior
- - - - - - - - Gõngllo impor
.... : • 5tO mais adiante, os ramos comunicantes brancos, níveis, o que explica a existência de ramos comunicantes
· : '=3 1idade, ligam a medula ao tronco simpático, sen· brancos apenas nas regiões torácica e lombar alta. Já os
: · ==·s. constituídos de fibras pré-ganglionares, além ramos comunicantes cinzentos ligam o tronco simpático
:- ·=·ss viscerais aferentes. Já os ramos comunicantes a todos os nervos espinais. Como o número de gânglios
-.::-:os são constituídos de fibras pós-ganglionares. do tronco simpático é frequentemente menor que o nú·
:_.: :~-ido amielinicas, dão a esse ramo uma coloração mero de nervos espinais, de um gânglio pode emergir
--=- -;- ente mais escura. Como os neurónios pré-gan- mais de um ramo comunicante cinzento, como ocorre,
:- : · -=·~: só existem nos segmentos medulares de Tl a por exemplo, na região cervical, onde existem tr~s gân-
....:. . · ::'as pré-ganglfonares emergem somente desses glios para oito nervos cervicais.
•- 1ctr.-~a1om~ Funcional
.. .. _,_.,.
,.., , .,
Selo cavernoso
------ --
---- - - - - Gânglio ciliar
Nervo vago - - - - - - -
-
- Gânglio ótico
- - - Gânglio submondibular
....... ......
Gânglio cervical inferior - - , ',..., - - Nervo cardloc.o superior do simpótico
1D Gºong110
· torac1co
• . - --- -
'- ' ' -,,r- - - - - - Nervo cardíaco $Uperior do vogo
..... ,
Nervo$ cordíocos torácicos do simpático '
Ramo intergonglionar - - - - - - - - - Nervo cardíaco inferior do simpólico
Plexo renal - - _
2Ggânglio lombor
---- - _ _ _ - - Gânglio aórtico-renal
) !\ \ \\
Figura 12.2 Disposição geral do sistema nervoso simpállco (em rosa) e parassimpático (em azul).
Fonte: Modificada de Nener.
• Capitulo 12 Sistema Nervoso Autônomo: AnJtomia do Simpático, do Parassimpático edos Plexos Viscerais 113
1.1.4 Filetes vasculares e nervos cardíacos terminam fazendo sinapse com os neurônios pós-ganglio-
Do tronco simpático. e especialmente dos gânglios nares, que podem estar em três posições (Figura 12.3):
pré-vertebrais, saem pequenos filetes nervosos que se a) Em um gânglio paravertebral situado no mesmo nível,
acolam à adventícia das artérias e seguem com elas até as de onde a libra saiu pelo ramo comunicante branco.
vísceras. Assim, do polo cranial do gânglio cervical supe- b) Em um gânglio paravertebral sicuado acima ou abaixo
rior sai o nervo carocldeo incerno (Figuras 12.4 e 12.S), que desse nfvel e, neste caso, as fibras pré-ganglionares
pode ramificar-se, formando o plexo carotídeo interno, que chegam ao gànglio pelos ramos intergangliona-
penetra no crânio. nas paredes da artéria carótida interna. res. que são formados por grande número de tais
Dos gânglios pré-vertebrais, filetes nervosos acolam-se fibras. Por esse trajeto, no Interior do próprio tron-
à artéria aorta abdominal e a seus ramos (Figura 12.2). co simpático. as fibras pré-ganglionares chegam
Do tronco simpático. emergem ainda filetes nervosos que a gânglios situados acima de TI, ou abaixo de l2,
chegarn às vísceras por um trajeto Independente das ar- ou seja, em níveis nos quais já não emergem fibras
térias. Entre estes, temos. por exemplo, os nervos cardía- pré-ganglionares simpáticas da medula, não exis-
cos cervicais superior, m~dio e inferior, que se destacam dos tindo, pois, ramos comunicantes brancos.
gânglios cervicais correspondentes, dirigindo-se ao cora- c) Em um gôngfio pré-vertebral, aonde as fibras pré-
ção (Figura 12.2). -ganglionares chegam pelos nervos esplãncnicos
A seguir, estudaremos como se localízam nesses elemen- que, assim. poderiam ser considerados como ver-
tos anatômicos os dois neurônios característicos do sistema dadeiros·ramos comunicantes brancos· muito lon-
nervoso autônomo, ou seja, neurônio pré- e pós-ganglionar, gos. As fibras pré-ganglionares que seguem esse
com as respectivas fibras pré- e pós-ganglionares. trajeto passam pelos gânglios paravertebrais, sem.
entretanto, ai fazerem sinapse (Figura 12.3).
1.2 Localização dos neurônios pré-ganglionares
simpáticos, destino e trajeto das fibras pré- 1.3 Localização dos neurónios pós-ganglionares
·gangllonare.s simpáticos, destino e trajeto das fibras pós-
Vimos no capítulo anterior que, no sistema simpático. o -ganglionares
corpo do neurônio pré-ganglionar está localizado na colu- Os neurônios pós-ganglionares estão nos gânglios
na lateral da medula de TI a l2. Daí saem as fibras pré-gan- para- e pré-vertebrais, de onde saem as fibras pós-ganglio-
glionares pelas raízes ventrais, ganham o tronco do nervo nares, cujo destino é sempre urna glândula. músculo liso ou
espinal e o seu ramo ventral, de onde passam ao tronco ~rdíaco. As fibras pós-ganglionares, para chegar a esse des-
simpálico pelos ramos comuni~ntes brancos. Essas fibras tino, podem seguir por três trajetos:
Neurônio pr.gonglionor
,,,✓
/ / Coluna posterior
,,,,, / .,.,, ---- _..,..Coluna lateral
-=--✓ ~ _.,. ,...
.,...... ~
.,,_... - - Coluna anterior
Ramo comunicante branco ,,
Ramo comunicante cinzento
,,-
Ramo dorsal do
nervo espinal • , ,
Ramo ventral _ )
do nervo espinal • l
1
Gânglio poravertebrol
do tronco simpático-
Nervo esplõncnico - - ---
.,...,,,
., ......
Ramo ínlerganglionor '
Raiz ventral
do tronco simp6tico
do nervo espinal
'i~'
Sinops~ em gânglio pré-vertebral
Flguna 12.3 Esquema do trajeto das fibras no sistema slmpálico (linha contínua = fibras pré-ganglionares; linhas interrompidas = fibras
pós-ganglionares).
-. .
' . .
.
- . . ..
.
'
.
' -~
.
--
.... :w.. . . ,.
• • • # •
a) Porinrermédiodeumnervoespinaf(Flgura 12.3)-nes- c) Por intermédio de uma artéria (Figura 12,4) - as
te caso, as fibras voltam ao nervo espinal pelo ramo fibras pós-ganglionares acolam-se à artéria e a
comunicante cinzento e distribuem-se no território acompanham em seu território de vascularização.
de inervação desse nervo. Assim, todos os nervos es- Assim, as fibras pós-ganglionares que se originam
pinais apresentam fibras simpáticas pós-ganglionares nos gãngllos pré-vertebrais inervam as vísceras
que, assim, chegam aos músculos eretores dos pelos, do abdome, seguindo na parede dos vasos que
às glândulas sudoríparas e aos vasos cutãneos. irrigam essas vísceras. Do mesmo modo, fibras
b) Por intermédio de um nervo independente (Figura pós-ganglionares originadas no gânglio cervical
12..2) - neste caso, o nervo liga diretamente o gãn- superior formam o nervo e o plexo carotídeo in-
glio à víscera. Aqui se situam, por exemplo, os ner- terno e acompanham a artéria carótida interna em
vos cardíacos cervicais do c.impátlco. seu trajeto intracraniano, Inervando os vasos intra-
\
___ ,
,_.... Áreo pré-tetol
..
..
. . .. , ' ..
••
.'. .. . ...., T 1
Nervo espinal Tl - - - - - - - -
Figura 12.4 Esquema de Inervação slmp~tlca (rosa) e parassimpática (verde) da pupila. As setas indicam o trajeto do impulso nervoso no
reflexo fotomotor.
■ CapíttJlo 12 Sistema Nervoso Autónomo: Anatomia do Simp!tico, do Parassimpático e dos Plaos V&erals 115
cranianos, o corpo pineal, a hipófise e a pupila. Por parte craniana do sistema nervoso parasslmpátlco estão
sua Importância prática, a inervação simpática da relacionados na Tabela 12.1 e serão descritos a propósito
pupila merece destaque. da estrutura do tronco encefálico. Os gânglios, com as suas
conexões, são representados na Figura 12.S e descritos su-
1.4 Inervação simpática da pupila cintamente a seguir:
As fibras pré-ganglionares relacionadas com a Inerva- a) Gônglio ciliar - situado na cavidade orbitária, late-
ção da pupila originam-se de neurônios situados na coluna ralmente ao nervo óptico, relacionando-se ainda
lateral da medula torácica alta (Tl e T2). Essas fibras saem com o ramo oftálmico do trigêmeo. Recebe fibras
pelas raízes ventrais, ganham os nervos espinais correspon- pré-ganglionares do Ili par (Figura 12.5) e envia,
dentes e passam ao tronco simpático pelos respectivos através dos nervos ciliares curtos, fibras pós-ganglio-
ramos comunicantes brancos (Figura 12.4). Sobem no nares, que ganham o bulbo ocular e inervam os
tronco simpático e terminam estabelecendo sinapses com músculos ciliar e esfíncter da pupila (Figura 12.4).
os neurônios pós-ganglionares do gânglio cervical superior. b) Gàng/io pterigopalarino - situado na fossa pterigo-
As fibras pós-ganglionares sobem no nervo e no plexo ca- palatina, ligado ao ramo maxilar do trigémeo (Fi-
rotídeo interno e penetram no cránio com a artéria caróti- gura 12.S). Recebe fibras pré-ganglionares do VII
da interna. Quando essa artéria atravessa o seio cavernoso, par e envia fibras pós-ganglionares para a glândula
essas fibras se destacam, passando, sem fazer sinapse, pelo lacrimal.
gânglio ciliar, que, como será visto, pertence ao parassirn- c) Gêlnglio ótíco - situado junto ao ramo mandibular
pático, e, através dos nervos ciliares curtos, ganham o bulbo do trigémeo, logo abaixo do forame oval (Figura
ocular, onde terminam formando um rico plexo no músculo 12,.5). Recebe fibras pré-ganglionares do IX par e
dilatador da pupila. manda fibras pós-ganglionares para a parótida,
Nesse longo trajeto, as fibras simpáticas para a pupila através do nervo auriculotemporal.
podem ser lesadas por processos compressivos (tumores, d) Gêlnglio submandibular - situado junto ao nervo
aneurismas etc.) da região torácica ou cerv,cal. Nesse caso, a lingual, no ponto ern que este se aproxima da glân-
pupila do lado da lesão ficará contraída (miose) por ação do dula submandibular (Figura 12.5). Recebe fibras
parassimpâtico, não contrabalançada pelo simpático. Esse pré-ganglionares do VII par e manda fibras pós-
é o principal sinal da chamada síndrome de Horner (Figura -ganglionares para as glândulas submandibular e
19.15), caracterizada pelos seguintes sinais, observados do sublingual.
lado da lesão:
ÉInteressante notar que esses gânglios estão relaciona-
a) Miose. dos anatomicamente com ramos do nervo trigêmeo. Es.se
b) Queda da pálpebra (ptose palpebral), por paralisia nervo, entretanto, ao emergir do crânio, não tem fibras pa-
do músculo tarsal ou músculo de Muller, que auxilia rassimpáticas, recebendo-as durante seu trajeto através de
no levantamento da pálpebra. anastomoses com os nervos VII e IX.
e) Vasodilatação cutânea e deficiência de sudorese na Existe, ainda, na parede ou nas proximidades das vísce-
face, por interrupção da inervação simpática para a ras, do tórax e do abdome, grande número de gânglios pa-
pele. rasslmpáticos, em geral pequenos, às vezes constituídos por
células isoladas. Nas paredes do tubo digestivo, eles inte-
1 gram o plexo submucoso (de Meissner) e o mioentérico (de
Auerbach). Esses gânglios recebem fibras pré-ganglionares
Vimos que os neurônios pré-ganglionares do sistema do vago e dão fibras pós-ganglionares curtas para as vís-
nervoso parassirnpático estão situados no tronco encefáli- ceras onde estão situadas. Convém acentuar que o trajeto
co e na medula sacral. Isso permite dividir esse sistema em da fibra pré-ganglionar até o gânglio pode ser multo com-
duas partes: uma craniana e outra sacra!, que serão estuda- plexo. Com frequência, ela chega ao gânglio por um nervo
das a seguir. diferente daquele no qual saiu do tronco encefálico. Assim,
as fibras pré-ganglionares que fazem sinapse no gânglio
2.1 Parte aaniana do sistema nervoso parasslmpátlco submandlbular saem do encéfalo pelo nervo intermédio e
É constituída por alguns núcleos do tronco encefálico, passam, a seguir, para o nervo lingual por meio do nervo
gânglios e fibras nervosas em relação com alguns nervos corda do tfmpano (Figura 12,S). Do mesmo modo, as fibras
cranianos. Nos núcleos, localizam-se os corpos dos neurô- pré-ganglionares que se destinam ao gânglio pterigopala-
nios pré-ganglionares, cujas fibras pré-ganglionares (clas- tlno, relacionadas com a lnervação das glãndulas lacrimais,
sificadas no Capítulo 10 corno eferentes viscerais gerais) emergem do tronco encefálico pelo Vil par (nervo intermé-
atingem os gãnglios através dos pares cranianos Ili, VII, IX dio) e, no nível do gãnglio geniculado, destacam-se desse
e X. Dos gânglios, saem as fibras pós-ganglionares para as nervo para, através do nervo petroso maior e do nervo doca-
glândulas, músculo liso e músculo cardíaco. Os núcleos da nal pterigóideo, chegar ao gãnglio pterigopalatino.
1
Nervo mandibular - - - - - - - - - - ~ I Artéria carótida interna e plexo carotideo interno
Raiz motora do trigêmeo - - - - - - - 1 1N ervo d o canoI pterlgó'd
I eo
1
1 1
Gõnglio trigeminai - - - - - - - _ 7 1 I Nervo maxilar
11 1 I 1
Nervo petroso maior ___ , I11 1 f : Gânglio pterigopalatino
\
,,, 1,, 1
Gânglio geniculado ---, \ : 11 1 1 1 1Nervo oftálmico
,,, 1 , , 1 ' , •••
Gânglio inferior do IX - 7 \ \\ ,, 1 1 1 1 1 '. ; \~
1\ \ 111 1 11 1 , , •
1
Gânglio superior do IX - 1 l \
1 11 I 1 1 1 I ~ .- - ~1
Nervo intermédio !VII) 1\ i 1, 1 11 1 ' ,/ _.
.,. _-; , _.,, . - ~- ,
1
\ 11 \ 1 1 1 / . ~ - --·
\ 11 \ 1- ··• ••
\ 11 \ - Nervos ciliares
curtos
' 11 \
\ ·~ 1
1
Gânglio superior do X /
1 I Gânglio submondibulor
1 1
Nervo vago - - - - - -
,I II 1 Nervos polotinos
Nervo cordioco superior do simpótico I 1
Nervo lingual
, · caro·1·d
Artena I o comum- - - - - -
f
• Capítulo 12 Si.stema Nervoso Autónomo: Anatomia do Simpático, do Para5Slmpátko e dos Plexos V!SC!Bls 117
:,_
A Tatiela 12.1 sintetiza os principais dados relativos à xo cardíaco, Intimamente relacionado ao pulmonar, em cuja
posição dos neurónios pré-ganglionares, o trajeto das fibras composição entram principalmente os três nervos cardía-
pré-ganglionares e o destino das fibras pós-ganglionares na cos cervicais do simpático (superior, médio e Inferior) e os
parte craniana do sistema nervoso parasslmpático. dois nervos cardíacos cervicais do vago (superior e inferior),
além de nervos cardíacos, torácicos do vago e do simpático.
2.2 Parte saaal do sistema nervoso parassimpático Fato interessante é que o coração, embora tenha posição
Os neurônios pré-ganglionares estão nos segmentos sa· torácica, recebe a sua inervação predominantemente da
crais em S2, S3 e 54. As fibras pré-ganglionares saem pelas região cervical, o que se explica por sua orlgern na reglao
raízes ventrais dos nervos sacrais correspondentes, ganham cervical do embrião.
o tronco desses nervos, dos quais se destacam para formar Os nervos cardíacos convergem para a base do cora-
os nervos esplôncnicos pélvicos (Figura 12.2). Por melo des- ção, ramificam-se e trocam amplas anastomoses, forrnando
ses nervos, atingem as vísceras da cavidade pélvica, onde o plexo cardíaco, no qual se observam numerosos gânglios
terminam fazendo sinapse nos gânglios (neurônios pós-gan- do parassimpático. A esse plexo, externo, correspondem
glionares) ai localizados. Os nervos esplâncnicos pélvicos são plexos internos, subepicárdicos e subendocárdlcos, forma-
também denominados nervos eretores, pois estão ligados ao dos de células ganglionares e ramos terminais das fibras
fenômeno da ereção. Sua lesão causa a impotência. simpáticas e parassímpáticas. A Inervação autônoma do co-
ração é abundante em especial na região do nó sinoatrial,
fato significativo, uma vez que a sua função se exerce fun·
damentalmente sobre o ritmo cardíaco, sendo o simpático
3.1 Conceito cardioacelerador e o parassimpático, cardioiníbldor.
Quanto mais próximo das vísceras, mais difícil se tor-
na separar, por dissecação, as fibras do simpático e do pa- 3.3 Plexos da cavidade abdominal
rasslmpátlco. Isso ocorre porque se forma, nas cavidades 3.3.1 Plexo celíaco
torácica, abdominal e pélvica, um emaranhado de filetes
nervosos e gânglios, constituindo os chamados plexos vis- Na cavidade abdominal, sttua-se o plexo ce/faco (ou
cerais, que não são puramente simpáticos ou parassimpá· solar), um plexo visceral muito grande, localizado na parte
ticos, mas que contêm elementos dos dois sistemas, além profunda da região epigástrica, adiante da aorta abdominal
de fibras viscerais aferentes. Na composição desses plexos, e dos pilares do diafragma, na altura do tronco celíaco. AI
temos os seguintes elementos: fibras simpáticas pré-gan· se localizam os gânglios simpáticos, celíaco, mesentérico
glionares (raras) e pós-ganglionares; fibras parassimpáticas superior e aórtico-renais, a partir dos quais o plexo celíaco
pré- e pós-ganglionares; fibras viscerais aferentes e gânglios se irradia a toda a cavidade abdominal, formando plexos se-
do parassimpático, além dos gânglios pré-vertebrais do sim- cundários ou subsidiários (Figura 12.2). Fato interessante é
pático. Nos plexos entéricos, existem também neurónios que a maioria dos nervos que contribuem com fibras pré·
não ganglionares. Serão estudados separadamente os ple- -ganglionares para o plexo celíaco tem origem na cavidade
xos das cavidades torácica, abdominal e pélvica. torácica, sendo mais importantes:
a) Os nervos esplôncnicos maior e menor - destacam-se
3.2 Plexos da cavidade torádca - inervação do coração de cada lado do tronco simpático de TS a Tl 2 e ter-
Na cavidade torácica, existem três plexos: cardíaco, pul- minam fazendo sinapse nos gânglios pré-vertebrais.
monar e esofógico (Figura 12.2), cujas fibras parassimpátl- b) O tronco vagai anterior e o tronco vagai posterior -
cas se originam do vago, e as simpáticas, dos três gânglios oriunqos do plexo esofágico, contendo, cada um, fi-
cervicais e seis primeiros torácicos. Em vista da Importância bras oriundas dos nervos vago direito e esquerdo, que
da inervação autônoma do coração, merece destaque o pie- trocam amplas anastomoses em seu trajeto torác.ico.
Núcleo lacrimal VII par (n. intermédio) gãngllo pterlgopalatino glândula lacrimal
Núcleo dorsal do vago Xpar gtlngilos nas vlsceras vísceras torácicas e abdominais
torácicas e abdominais
• Capitulo 12 Si.stema Nervoso Autônomo: Anatomia do Simpático, do Parassimpátko e dos Plexos V&erais 119
.
.
S. Correlações anatomoclínicas
5.1 Doença de Chagas Os agonistas colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
Infecção causada pelo protozoário Tryponossomo cruzi, têm efeito semelhante ao da estimulação parassimpálica.
que tem como vetor o barbeiro do género Triatoma. Esse Atuam principalmente sobre os receptores muscarínicos.
Inseto se aloja nas frestas das paredes das casas e ao picar São eles o betamecol, a pilocarpina e a cevimelina. Seus
o homem transmite a doença pela via hematogénica. Há efeitos são redução da frequência e débito cardíacos, va-
comprometimento de vários órgãos causando a doença sodilatação, hipotensão e contração da musculatura lisa
aguda, que pode levar ao óbito por insuficiência cardíaca. do intestino com aumento do peristaltismo, da bexiga e
Vencida a fase aguda, estabelece-se a fase crônica com di- constrição dos brônquios podendo causar dificuldade res-
ferentes níveis de insuficiência cardíaca, que pode indicar piratória além de estimulação das glândulas sudoríparas,
salivares, lacrimal e brõnquicas. Sob a forma de colírio (pilo-
a necessidade de transplante do órgão. Por sua grande
carpina), promove a constrição da pupila reduzindo a pres-
importância clínica, cabem algumas considerações sobre o
são ocular sendo usado no tratamento do glaucoma. Pode
envolvimento da inervação autônoma do coraç.ão na doen-
também ser utilizada para aumento das secreções salivar e
ça de Chagas. Há muito tempo sabe-se que nessa doença
lacrimal com consequente alívio de boca seca e olhos se-
há intensa destruição dos gânglios parassimpáticos do ple-
cos como no caso da síndrome de Sjõgren. A ativação dos
xo cardíaco, ocasionando desnervaçâo parassimpática do receptores muscarínicos, no encéfalo, produz tremores, hi-
coração. Segundo alguns autores, essa desnervação, sem potermia e aumento da atividade locomotora e melhora
a correspondente desnervação simpática, seria responsá- da cognição.
vel pelo desenvolvimento da cardiomiopatla chagásica. Os antagonistas muscarlnicos ou parassimpalicolíticos
Entretanto, com base em estudos da doença de Chagas principais são a atropina e a escopolamina. Os principais
experimental, sabe-se que, na fase aguda dessa doença, efeitos são: taquicardia inibição de secreções; dilatação da
ocorre também total destruição da inervação simpática do pupila; paralisia da acomodação; relaxamento da muscula-
coração.2 Contudo, em fases posteriores da doença. ocorre tura lisa (intestino, brônquios e bexiga); e inibição da secre-
reinervação simpática e parassimpática do órgão.3 ção ácida do estomago. No SNC, promovem excitação, além
Há também intensa destruição de neurónios do siste- de efeito antiemético e antiparkinsoniano. A escopolarnina
ma nervoso autônomo nos plexos entérlcos, o que ocasiona tem os mesmos efeitos da atropina, porém, no SNC, promo-
grandes dilatações do esôfago e do intestino, conhecidas, ve sedação e amnésia. Os efeitos colaterais são boca seca
respectivamente, como megaesôfago e megacólon. turvação da visão. Os principais usos clínicos da atropina e
seus derivados:
S.2 Drogas simpaticomiméticas e a) Cardiológicos - tratamento da bradicardia sinusal.
parassimpatlcomiméticas A atropina é uma importante droga que pode au-
Estas drogas são amplamente utilizadas na prática xiliar em casos de parada cardiorrespiratória, pro-
clínica e atuam facilitando ou bloqueando a transmissão movendo a estln1ulação da musculatura cardíaca.
neuroquímica. b) Oftálmico - colírios para dilatação da pupila.
e) Neurológico - agindo sobre o SNC na prevenção
5.2.1 Fármacos que atuam na transmissão colinérgica da cinetose, náuseas e vômitos. no parkinsonismo.
e também para neutralizar distúrbios de movi-
Existem dois tipos de receptores colinérglcos: os mus-
mento causados por fármacos ancipsicóticos.
carínicos e nicotínicos. A ação sobre os receptores mus-
d) Respiratório - por inalação, o ipratrópio e a ben-
carínicos correspondem aos efeitos da acetílcolina (ACH)
zotroplna são utilizados na asma e na doença pul-
liberada nas terminações nervosas pós-ganglionares paras-
monar obstrutiva crônica (DPOC).
simpáticas. As ações nicotínicas correspondem às ações da
e) Gastrolntestinal - para relaxamento da musculatu-
ACH sobre os gânglios autonómicos dos sistemas simpático
ra para execução de endoscopia e colonoscopia,
e parassimpático. Os receptores muscarínlcos são ativados
como antiespasmódico em cólicas e diarreia.
pela acetilcolina e bloqueados pela atropina, seu principal
antagonista. Outra categoria de fármacos anticollnérgicos são os
bloqueadores neuromusculares que agem inibindo a sín-
tese ou a liberação de ACH ou bloqueando os receptores
2 Machado, A.8.M; Machado, E.R.S. & Gomes. [.B. Depletlon of heart pós-sinápticos. A principal Indicação clínica é provocar
norepinephrine in the experimental acute myocardites caused by paralisia durante a anestesia e intubação traqueal. São os
Trypanosoma cruLI. F.xperlentla, 1975. 31: 1201 -1203.
derivados do curare e íármacos mais modernos como o
3 Machado, E.R.S.; Machado, A.B.M. & Chiar!, E.A. Recovery from he.art
norepinephnne depletion in eJCperlmen1al Chagas disease. The Amerl· suxametônio, com menos efeitos colaterais. A toxina botu-
can Journal ofTropieal Medicine and Hygiene, 1978. 27 (1): 2~24. llnica age inibindo a liberação da ACH na placa motora e é
. . .
. .•
-
hoje amplamente utilizada para fins estéticos paralisando a A metildopa atualmente só é utilizada em gestan·
musculatura facial, reduzindo, assim, as rugas de expressão. tes com hipertensão e eclampsia.
Para fins terapêuticos, é utilizada na redução da espastlci- d) Agonistas jl 1 seletivos - dobutamina, aumenta
dade, blefarospasmo, estrabismo, hlper·hldrose e slalorreia. contratilidade cardíaca e é utiliLada no choque
O efeito dura entre 3 e 6 meses e só é reversível com a cardiogênico.
regeneração da placa motora. e) Agonistas J32 seletivos - salbutamol, terbutallna,
Os fármacos que intensificam a transmissão colinérgica salmeterol e formoterol usados como broncodila·
atuam inibindo a colinesterase ou aumentando a liberação tadores na asma e na DPOC.
de ACH. Os principais fármacos anticolinesterásicos são a
f) Agonistas J33 seletivo - mirabegron, utilizado no
neostigmina e a piridostigmina utilizadas no tratamento da
tratamento da bexiga hiperativa e da incontinên•
miastenia gravis (Capítulo 9. item 3.1.1.1 ).. A neostigmina é
eia urinária. Promovem também lipólise e têm po•
também utilizada na interrupção dos efeitos dos bloquea-
dores musculares anestéslcos. O ecotiopato e a fisostigmi• tencial de tratamento da obesidade.
na são utilizados sob a forma de colírio no tratamento do Os principais antagonistas adrenérgicos são:
glaucoma. No SNC, a donepezila atua no tratamento das
a) Antagonistas ou bloqueadores a - fenoxibenza·
dem~ncias principalmente na de Alzheimer. Os pesticidas
mina, utilizada no tratamento do feocromocitoma.
organofosforados causam inibição Irreversível da colineste-
A ergotamina dl·hidroergotamlna são utilizadas
rase e causam grave intoxicação com bradicardia, aumento
no tratamento da enxaqueca.
de secreção, broncoconstrição e hipermobllidade intesti·
nal, podendo culminar no óbito. b) Antagonista al - prazosina e doxazosina utiliza-
das na hipertensão arterial e na hipertrofia prostá·
5.1.l Fármacos que atuam na transmissão adrenérgica tica benigna.
c) Antagonista a 1 A uroseletivo - tansulosina, utiliza-
Os agonistas adrenérglcos são utilizados principal·
da na hipertrofia prostática benigna.
mente no tratamento de doenças cardiovasculares e res·
piratórias e podem atuar seletivamente nos receptores d) Antagonista j3 não seletivos - são conhecidos com
betabloqueadores e amplamente utilizados na
a 1, a2, p1, j32 e ~3. Esta atuação seletiva possibilita a
ação mais restrita dos fármacos em patologias específi· cardiologia. O mais conhecido é o propranolol uti-
cas. São eles: lizado na hipertensão arterial. angina, no infarto do
miocárdio, nas arritmias cardíacas, na enxaqueca.
a) Adrenalina e noradrenalína - mostram pouca sele· ansiedade, no tremor familiar benigno e no glauco-
tivldade de receptor e são usadas principalmente ma. Seus derivados metoprolol e atenolol têm ação
em paradas cardiorrespiratórias e anafilaxia. cardiovascular semelhante e J31 seletiva. Os princi·
b) Agonistas a 1 seletivos - fenilefrlna e efedrina utili- pais efeitos colaterais dos betabloqueadores são:
zados como descongestionantes tópicos. broncoconstrição, bradicardia, hipogllcemla, fadiga.
e) Agonista a.2 seletivos - clonidina e metildopa uti- e) Antagonistas~ e a 1 - carvedilol e labetalol, utiliza-
lizados para tratamento da hipertensão arterial. dos na insuficiência cardíaca.
Leitura sugerida
RIn ER, J. M.; et ai. Rong & Da/e~ Pharmacology. 9. ed. Philadelphia: CALES JÚNIOR. Livro-Texro Farmacologia. Rio de Janeiro: Athcneu,
Elsevier, 2019. 2020.
■ capitulo 12 Sist~a Ntrvoso Autónomo: Anatomia do Simpátko, do Parassimp~lko edos Plexos Viscerais 121
Estrutura da Medula Espinal
fL f'ffl·4f lit·E1,u1saUPJ1f:111si'mfu 7 : : · ;· ; 1
3.1 Divisão da substância cinzenta da medula
A substância cinzenta da medula tem a forma de borbo-
leta ou de um H. Existem vários critérios para a divisão dessa
substância cinzenta. Um deles (Figura 13.2) considera duas
linhas que tangenciam os contornos anterior e posterior do
ramo horizontal do H, dividindo a substância cinzenta em co-
luna anterior, coluna pos1erior e substôncla cinzenta Intermédia.
Por sua vez, a substancia cinzenta intermédia pode ser dividida
em subscôncla cinzenta in1ermêdia cencral e subscônda dnzento
intermédia lateral por duas linhas anteroposteriores, como mos-
tra a Figura 13.2. De acordo com esse critério, a coluna latera
faz parte da substância cinzenta intermédia lateral. Na coluna
anterior, distinguem-se uma cabeça e uma base, esta última
X' em conexão com a substância cinzenta intermédia lateral. Na
Figura 13.1 Diferença entre decussação e comissura. As fibras ori- coluna posterior, observa-se, de diante para trás, uma base, un-
ginadas ern A e A' cruzam o plano mediano (XX'), formando uma pescoço e um ápice. Neste último, existe uma área constitu·-
decussaç~o; as originadas em Be B' cruzam esse plano formando da por tecido nervoso translúcido, rico em células neurogliai:
uma comissura. e pequenos neurónios, a substôncía gelatinoso (Figura 133).
Coluna posterior
',,
'
-J---Coluna lalerol
,I
.,,,,,.,
,.,,., ,,..,,
,....._
1
_ _.. ''Coluna anterior
. - - . - - , - - ~ ---·--- ...
_ __ - _.... -~ - - . -- . . . . - . ,. . . .
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lÂMINAS DE REXED
Substância
gelatinosa
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Coluna
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Co1una - - - _ _ , • · ' ••, ·.
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N uceos
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1
Fissura mediano anterior
Figura 13.3 Secçào da medula espinal ao nível de L5 mostrando. do lado direito, as l~minas de Rexed e, do lado esquerdo. alguns núcleos
medulares.
3.2 Oasstficação dos neurônios medulares Os neurônios radiculares viscerais são os neurônios pré-
-ganglionares do sistema nervoso autónomo, cujos corpos
Os elementos mais importantes da substância cinzenta
localizam-se na substância cinzenta intermédia lateral, de Tl
da medula são os seus neurônios, que têm sido classificados
a l2 (simpático), ou de S2 a S4 (parassimpátlco). Destinam-se
de várias maneiras. A classificação adotada baseia-se, com à inervação de músculos lisos, cardíacos ou glândulas.
algumas modificações, na classificação proposta por Cajafl Os neurônios radiculares somáticos destinam-se à
e está esquematizada a seguir. inervação de músculos estriados esqueléticos e têm o seu
corpo localizado na coluna anterior. São também denomi-
• •
viscerais nados neurónios morores inferiores. Costuma-se distinguir,
radlculares a na medula dos mamíferos, dois tipos de neurônios radicu-
lares somálicos: alfa; e gama. Os neurônios alfa são muito
somáticos
grandes e o seu axõnio, bastante grosso, destina-se à iner-
Neurónios de
1 vação de fibras musculares que contribuem efetivamente
axónio longo
(tipo I de GolgO para a contração dos músculos. Essas fibras são extrafu-
sais, ou seja, localizam-se fora dos fusos neuromusculares.
Cada neurônio alfa, juntamente com as fibras musculares
de projeção
que ele Inerva, constituí uma unidade rnutora. Os neurô-
cordonals nios gama são menores e têm axônios mais finos (fibras
de associação eferentes gama), responsáveis pela inervação motora das
Neurônios de fibras lntrafusals. O papel dos motoneurônios gama na ,
axônio curto regulação da sensibilidade dos fusos neuromusculares já
(tipo II de Golgl) foi discutido (veja Capítulo 9, parte B. Item 2.3.2d). Eles re-
cebem influência de vários centros supraespinais relacio-
nados com a atividade motora e sabe-se hoje que, para a
3.2.1 Neurônios radiculares execução de um movimento voluntário, eles são ativados
Os neurónios radiculares recebem este nome porque o simultaneamente com os motoneurônios alfa (coatlvação
seu axônio, muito longo, sai da medula para constituir a raiz alfa-gama). Isso permite que os fusos neuromusculares
continuem a enviar informações proprioceptivas ao SNC,
ventral.
mesmo durante a contração muscular desencadeada pela
atividade dos neurônios alfa.
SantiJgo Rarnon y Cajal, rieuroanatomlsta espanhol que em 1906
ganhou o prêmio Nobel por suas descobertas fundamentais sobre a 3.2.2 Neurônios cordonais
estrulura do sistema nc,voso. em especlal a demonstraçao de que os
Os neurônios cordonais são aqueles cujos axônios
neurónios são células independentes que se comunicam por contatos
especiais, mais tarde denominadas sinapses. Esse conceito venceu il ganham a substancia branca da medula, onde tomam di-
controvérsia com o italiano Camilo Gol(ll, segundo o qual haveria con- reção ascendente ou descendente, passando a constituir
tinuidade entre um neurônio e outro. as fibras que formam os funículos da medula. O axônio de
Fo$Císculo próprio •- - - - -
•T
•
--r-__ _
,.
-- -- Coluna onterior
um neurônio cordonal pode passar ao funículo situado rio. Esta, por sua vez. faz sinapse com o próprio neurônio
do mesmo lado onde se localiza o seu corpo. ou do lado motor que emitiu o colateral. Assim, os impulsos nervosos
oposto. No primeiro caso. diz-se que ele é homolateral (ou que saem pelos neurônios motores são capazes de inibir o
ipsilateral); no segundo caso, heterolateral (ou contrala- próprio neurônio por meio do ramo recorrente e da célula
teral). Os neurônios cordonois de projeção têm um axônio de Renshaw. 2 Esse mecanismo é importante para a fisiologia
ascendente longo, que termina fora da medula (tálamo, dos neurônios motores.
cerebelo etc.), integrando as vias ascendentes do medula.
Os neurônios cordonais de associação têm um axônio que, 3.3 Núdeos e lâminas da substância dnzenta
ao passar para a substancia branca, se bifurca em um ramo da medula
ascendente e outro descendente, ambos terminando na
substância cinzenta da própria medula. Constituem, pois, Os neurónios medulares não se distribuem de maneira
um mecanismo de integração de segmentos medulares, uniforme na substáncia cinzenta, mas agrupam-se em nú-
situados em níveis diferentes, permitindo a realização de cleos ora mais era menos definidos. Esses núcleos são, usual-
reflexos intersegmencares no medula (veja Capítulo 1, item 2). mente, representados em cortes, mas não se pode esquecer
As fibras nervosas formadas por esses neurônios dispõem- que, na realidade, formam colunas longitudinais dentro das
-se em torno da substancia cinzenta, onde formam os cha- três colunas da medula. Alguns núcleos, entretanto, n~o se
mados fascículos próprios (Figura 13.4), existentes nos três estendem ao longo de toda a medula. A sistematização dos
funículos da medula. núcleos da medula é complicada e controvertida, e o es-
tudo que se segue é extremamente simplificado. Os vários
3.2.3 Neurônios de axônio curto (ou internundais) núcleos descritos na coluna anterior podem ser agrupados
Em razão de seu pequeno tamanho, o axônlo desses em dois grupos: medial; e lateral, de acordo com a sua po-
neurônios permanece sempre na substância cinzenta. Os sição (Figura 13.3). Os núcleos do grupo medial existem em
seus prolongamentos ramificam-se próximo ao corpo ce- toda a extensão da medula e os neurônios motores aí loca-
lular e estabelecem conexão entre as fibras aferentes, que lizados inervam a musculatura relacionada com o esqueleto
penetram pelas rai1es dorsais e os neurônios motores, inter- axial. Já os núcleos do grupo lateral dão origem a fibras que
pondo-se, assim. em vários arcos reflexos medulares. Além Inervam a musculatura apendicular, ou seja, dos membros
disso, muitas fibras que chegam à medula trazendo impul- superior e inferior. Em função disso, esses núcleos aparecem
sos do encéfalo terminam em neurônios internunciais, que apenas nas regiões das lntumescências cervical e lombar.
desempenham, assim, um papel importante na fisiologia onde se originam, respectivamente, os plexos braquial e
medular. Um tipo especial de neurónio de axônio curto lombossacral. No grupo lateral, os neurônios motores situa-
encontrado na medula é a célula de Renshow, localizada na dos rnals na porção medial inervam a musculatura proxlma
porção medial da coluna anterior. Os impulsos nervosos
provenientes da célula de Renshaw inibem os neurônios
motores. Admite-se que os axõnios dos neurônios moto- 2 Descobriu-se que o neurotransmissor da maioria das células de Rer•
shaw é a gliclna, substc\ncia cuja aç3o é Inibida pela estricn lna. lss::
res, antes de deixar a medula, emitem um ramo colateral explica as fones convulsões que se observa,n ~n, casos de envenen. -
recorrente que volta e termina estabelecendo sinapse com mento por estricnina quando cessa completamente a ação inibidor=
uma célula de Renshaw, cujo neurotransmissor é inibitó- elas células de Renshaw sobre os neurônios mor ores.
. , . . - •· ~ - . -- • . . . . i ~ .• •-
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4
. • • •
dos membros, enquanto os situados mais lateralmente lner- descendente. Temos. assim, as vias ascendentes e vias descen-
vam a musculatura distal dos membros, ou seja, os múscu- dentes da medula. Atualmente, a tratografia por ressonância
los intrínsecos e extrínsecos da mão e do pé. magnética permite a identificação dos principais tratos no
Na coluna posterior, são mais evidentes dois núcleos: o indivíduo vivo.
núcleo torácico(= núcleo dorsal); e a substóncia gelatinosa. O
prlrr1eiro, evidente apenas na região torácica e lombar alta 4.2 Vias descendentes
(L 1-L2), relaciona-se com a propriocepção inconsciente e As vias descendentes são formadas por fibras que se
contém neurónios cordonais de projeção, cujos axónios vão originam no córtex cerebral ou em várias áreas do tronco
ao cerebelo. encefálico e terminam fazendo sinapse com os neurônios
A suostância gelatinosa tem organização bastante com- medulares. Algumas terminarn nos neurônios pré-ganglio-
plexa. Ela recebe fibras sensitivas que entram pela raiz dorsal nares do sistema nervoso autônorno. constituindo as vias
e nela funciona o chamado portão da dor, mecanismo que descendentes viscerais. Outras terminam fazendo sinapse
regula a entrada de impulsos dolorosos no sistema neNoso. com neurónios da coluna posterior e participam dos meca-
Para o funcionamento do portão da dor, são importantes as nismos que regulam a penetração dos impulsos sensoriais
fibras que chegam à substância gelatinosa vindas do tronco no SNC. Contudo, o contingente mais importante termina
encefálico. O portão da dor será estudado no Capítulo 29, direta ou indiretamente nos neurónios motores somáticos,
item 4.1 . constituindo as vias motoras descendentes somáticas. Du-
rante muito tempo, essas vias foram divididas em pirami-
A substãncia cinzenta da medula foi objeto de exaus-
dais e extrapiramldais, que pertenceriam, respectivamente,
tivos estudos de citoarquitetura realizada por Rexed, cujos
aos sistemas piramidal e extrapiramidal. Nessa acepção,
trabalhos mudaram as concepções existentes sobre a dis-
essa divisão não é mais válida, pois não se aceita mais a
tribuição dos neurónios medulares. Esse autor verificou que
divisão do sistema motor em piramidal e excrapiramidal.
os neurônios medulares se distribuem em extratos ou lâmi-
Modernamente, é mais utilizada a divisão morfofuncional
nas bastante regulares, as lóminas de Rexed, numeradas de
de Kuyper, Esse pesquisador seccionou especificamente
1 a X, no sentido dorsoventral (Figura 13.3). As lâminas I a
os funlculos lateral e anterior da medula do gato. A lesão
IV constituem uma área receptora, onde terminam os neu-
do funículo lateral resultou na perda dos movimentos finos
rónios das fibras exteroceptivas que penetram pelas raízes das extremidades. sem alterar a postura do animal. Já a le-
dorsais. As lãminas V e VI recebem Informações propriocep- são do funículo anterior resultou em alterações na postura
tivas. A lâmina IX contém os neurônios motores que corres- e Impossibilidade de ajustes posturais. Por exemplo, quan-
pondem aos núcleos da coluna anterior. do se joga um gato para o alto, ele se movimenta para cair
em pé. No gato com o funículo anterior lesado, isso não
Cb fjTI,flEiifiti,jfjtft®®rnm . '. ._;::· . ] ocorre, embora o animal não perca a capacidade de realizar
movimentos apendlculares finos. Com base nessa expe-
4.1 Identificação de tratos e fasdculos riência, foi proposta, e é hoje mais utilizada, inclusive para o
As fibras da substância branca da medula agrupam-se homem, a classificação das vias descendentes motoras em
em tratos e fascículos que formam verdadeiros caminhos, dois sistemas, lateral e medial.
ou vias, por onde passam os impulsos nervosos que sobem
e descem. A formação, função e posição desses feixes de 4.2.1 Sistema lateral
fibras nervosas serão estudadas a seguir. Convém notar, en- O sistema lateral da medula compreende dois tratos: o
tretanto, que não existem na substância branca septos delí- corcicosplna/, que se origina no córtex; e o rubrospinol, que
mitando os diversos tratos e fascículos. e as fibras da periferia se origina no núcleo rubro do mesencéfalo. Ambos condu-
de um trato se dispõem lado a lado com as do trato vizinho. zem impulsos nervosos aos neurônios da coluna anterior
Contudo, há métodos que permitiram aos neuroanatomis- da medula, relacionando-se com esses neurônios direta-
tas localiZilr a posição dos principais tratos e fascículos. mente ou por meio de neurônios internunciais. No nível da
O mais importante deles baseia-se no fato de que, quan- decussação dos pirdmides no bulbo, os tratos corticospínaís
do seccionamos uma fibra mielínica, o segmento distal sofre se cruzam, o que significa que o córtex de um hemisfério
degeneração wallerlana. Seccionando-se experimentalmen- cerebral comanda os neurónios motores situados na me-
te a medula de animais ou, do homem, aproveitando-seca- dula do lado oposto, visando à realização de movimentos
sos de secção resultantes de acidentes, observam-se áreas voluntários. Assim, a motricidade voluntária é cruzada, sen-
de degeneração acima ou abaixo das lesões. Elas correspon- do este um dos fatos mais importantes da neuroanatomia.
dem aos diversos tratos e fascículos cujas fibras foram lesa- E fácil entender, assim, que uma lesão do trato corticospi-
das. Se a área de degeneração se localiza acima do ponto de nal acima da decussação das pirâmides causa paralisia da
secção, concluímos que o trato degenerado é ascendente, metade oposta do corpo. Um pequeno número de fibras,
ou seja, o corpo do neurônio localiza-se em algum ponto no entanto, não se cruza na decussação das plr~mides e
abaixo da lesão. Se a área de degeneração estiver localizada continua ern posição anterior, constituindo o craro corticos-
abaixo, concluímos, por raciocínio semelhante, que o trato é pinal ancerior, localizado no funículo anterior da medula
\1
- - - - - - Comissuro bronco
Neurônio motor
•- + Troto espinotolômico anterior
N eurônio internunclol
- - - Traio esplnocerebelor posterior
Figura 13.5 Penetração das fibras da raiz dorsal e formação das principais vias ascendentes da medula. O esquema nao leva em conta
o fato de que os ramo s de bifurcação das fibras da raiz dorsal podem percorrer vários segmento-5 antes de terrninarem na substãncia
cinzenta.
(Figura 13.6) e faz parte do sistema medial. O rraro cor- medula originárias da formação reticular da ponte e do bul-
ticospinal lateral localiza-se no funículo lateral da medula bo. Todos esses tratos terminam na medula em neurônios
(Figura 13.6), atinge até a medula sacral e, como as suas lnternunciais, por melo dos quais eles se ligam aos neurô-
fibras vão pouco a pouco terminando na substância cin- nios motores situados na parte medial da coluna anterior
zenta, quanto mais baixo, menor o número delas. O tra- e, assim, controlam a musculatura axial, ou seja, do tronco
to rubrospinal, bem desenvolvido na maioria dos animais, e pescoço, assim como a musculatura proximal dos mem-
liga-se aos neurônios motores situados lateralmente na 15ros. Os tratos vestibulospinals e reficulospl nais são impor-
coluna anterior, os quais, como vimos, controlam os mús- ~antes p_a_1a a manutenção do equlllbrio e da postu1a básica.
culos responsáveis pela motricidade da parte distal dos Estes últimos também controlam a motricidade voluntária
membros (músculos intrínsecos e extrínsecos da mão e do da musculatura axial e proximal. O trato retículospinal pon-
pé). Nesse sentido, ele se assemelha ao trato corticospinal tíno promove a contração da musculatura extensora (anti·
lateral, que tambérn controla esses músculos. Entretanto, gravitária) do membro inferior, necessária à manutenção da
durante a evolução, houve aumento do trato corticospinal postura ereta, resistindo à ação da gravidade. Isso dá estabi-
e diminuição do trato rubrospinal, que, no homem, ficou lidade ao corpo para realízar movimentos com os membros
reduzido a um número multo pequeno de fibras. superiores. Já o trato retículospinal bulbar tem efeito oposto,
ou seja, promove o relaxamento da musculatura extensora
41.2 Sistema medial do membro Inferior. O trato tetosplnal tem funções mais li-
São os segu ntes os tratos âo sistema meâial a me- mitadas, relacionadas a reflexos em que a movimentação
dula: trato corticospinal anterior; tetospinal; vestibulospinal;3 e decorre de estímulos visuais. O trato corticospinal anterior,
ps recicu ospinais ponrino e ou/ a . Os nomes referem-se aos pouco antes de tcrminclr, cruza o plano mediano e termi-
locais onde eles se originam, e que são, respectivamente, o na em neurônios motores, situados do lado oposto àquele
córtex cerebral, o teto mesencefálico (coliculo superior); os no qual entrou na medula. O trato corticospinal anterior é
núcleos vestibulares, situados na área vestibular do IV ven- muito menor co que o lateral, sendo menos Importante
trículo; e a formação reticular, estrutura que ocupa a par- do ponto de vista clínico. As suas fibras vão penetrando na
te central do tronco encefálico. sendo as fibras que vão à coluna anterior e ele termina, mais ou menos, ao nível da
metade da medula torácica. A Tabela 13.1 sintetiza o que
foi visto sobre as vias motoras descendentes somáticas dos
3 Na realidade. são dois os 1ra1os ves1lbulosplnals. o medlal e o lateral sistemas lateral e medial.
Sistema lateral
Corticospinal lateral Córtex motor Motricidade voluntária da musculatura distal
Reticulospinal pontino formação reticular pontlna Ajustes posturais ativando a musculatura extensora do membro Inferior
Motricidade voluntária da musculatura axial e proximal
Rctlculosplnal bulbar Forrnação reticular bulbar Ajustes posturais relaxando a musculatura extensora do membro Inferior
Motricidade voluntária da musculatura axia.l e proxin1al
Vestibulospinal lateral Núcleo vestibular lateral Ajustes posturais para manutenção do equilíbrio
4.3.2 Sistematização das vias ascendentes da medula Ele será também incapaz de dizer se o neurologista
fletiu ou estendeu o seu hálux ou o seu pé.
4.3.2.1 Vias ascendentes do funfcu/o posterior
b) Taro discríminarivo (ou epicrftico) - permite localizar
No funículo posterior, existem dois fascículos, grácil, si- e descrever as características táreis de um objeto.
tuado mediaimente, e cuneiforme, situado na porç~o late- Testa-se tocando a pele simultaneamente com as
ral, separados pelo sepro intermédio posterior (Figura 13.6). duas pontas de um compasso e verificando-se a
Como já foi visto, esses fascículos são formados pelos ramos maior distância dos dois pontos tocados. que é per-
ascendentes longos das fibras do grupo medial da raiz dor- cebida como se fosse um ponto só (discriminação
sal, que sobem no funículo para terminar no bulbo (Figura de dols pontos).
13.5). Na realidade, essas fibras nada mais seio do que os c) Sensibilidade vibratório- percepção de estímulos me-
prolongamentos centrais dos neurônios sensitivos situados c.1nicos repetitivos. Testa-se tocando a pele de encon-
nos ganglios espinais. tro a uma saliência óssea com um diapasão, quando
O foscfculo grácil inicia-se no limite caudal da medula e o indivíduo deverá dizer se o diapasão está vibrando
é formado por fibras que penetram na medula pelas raízes ou não. A perda da sensibilidade vibratória é um dos
coccígea, sacrais, lombares e torácicas baixas, terminando sinais precoces da lesão do funículo posterior.
no núcleo grácil, situado no tubérculo do núcleo grácil do d) Estereognosio - capacidade de perceber, com as
bulbo (Figura 5.2). Conduz. portanto, impulsos provenien- mãos, a forma e o tamanho de um objeto. /\ este-
tes dos membros inferiores e da metade inferior do tronco e reognosia depende de receptores tanto para tato
pode ser idenlificado em toda a extensão da medula. como para proprioccpçâo.
O foscfculo cuneiforme, evidente apenas a partir da me-
dula torácica alta, é formado por fibras que penetram pelas 4.3.2.2 Vias ascendentes do funfculo anterior
raízes cervicais e torácicas superiores, terminando no núcleo No funículo anterior, localiza-se o troco espfnorolômi-
cuneiforme, situado no tubérculo do núcleo cuneiforme do co onrerior, formado por axõnios de neurônios cordonais
bulbo (Figura 5.2). Conduz, portanto, impulsos originados de projeção situados na coluna posterior. E5ses axônios
nos membros superiores e na metade superior do tronco. cruzam o plano mediano e fletem-se cranialmente para
Do ponto de vista funcional, não há diferença entre os fascí- formar o troto espinotalômico anterior (Figura 13.5), cujas
culos grácil e cuneiforme; sendo assim, o funículo posterior fibras nervosas terminam no tálamo e levam impulsos de
da medula é funcionalmente homogêneo, conduzindo im- pressão e tato leve (roto protopólico). Esse tipo de tato, ao
pulsos nervosos relacionados com: contrário daquele que segue pelo funículo posterior, é
a) Propriocepçôo consciente ou senrldo de posição e de pouco discriminativo e permite, apenas de maneira gros-
movimento (cinesresia) - permite, sem o auxílio da seira, a localização da fonte do estímulo tátil. A sensibili-
visão, situar uma parte do corpo ou perceber o seu dade tátil tem, pois, duas vias na medula, uma direta, no
movimento, A perda da propriocepção consciente, funículo posterior, e outra cruzada, no funículo anterior.
que ocorre, por exemplo, após lesão do funículo Por isso. dificilmente se perde toda a sensibilidade tátil nas
posterior, deixa o indivíduo Incapaz de localizar, lesões medulares, exceto, é óbvio, naquelas em que há
sem ver, a posição do seu braço ou da sua perna. transecção do órgão.
Troto espinocerebelor
-.....
::"
- /
- -Fosclculo próprio
Troto espinotolâmlco
anterior -- I ._,.,. - - - lateral
1
Troto corticospinol anterior - 1 --JII.:.... - Troto espinotolãmico anterior
1
1
1
Fissura mediano anterior
figura 13.6 Posição aproximada dos principais tratos e fascículos da medula. Tratos ascendentesem pontilhado; tratos descendente~
em linhas horizontais.
•
·' ..
• •• . · •· "'7•• • · • '
.. Fibra . ...
..
Funículo lateral
+ arqueado
interno +
Troto cor1icospinol lateral Fasclculo grácil
Flgura 14.1 Esquema do trajeto de uma fibra na decussação das Figura 14.2 Esquema do trajeto de uma fibra na decussação dos
pirâmides. lemnlscos.
neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme, que a) Núcleo ambíguo - núcleo motor para a muscula-
aparecem no funículo posterior. Já nos níveis tura estriada, de origem branqulomérica. Dele.
mais baixos do bulbo, as fibras que se originam saem as fibras eferentes viscerais especiais do IX,
nesses núcleos são denominadas fibras arqueadas X e XI pares cranianos. destinados à musculatura
internas. Elas mergulham ventralmente, passam da laringe e da faringe. Situa-se profundamente no
através da coluna posterior, contribuindo para interior do bulbo.
fragmentá-la, cruzam o plano mediano (decus- b) Núcleo do hipoglosso - núcleo motor onde se origi-
sação sensitiva) e infletem-se cranlalmente para nam as fibras eferentes somáticas para a muscula-
constituir, de cada lado, o lemnisco medial. A Fi-
tura da língua. Situa-se no trígono do hlpoglosso,
gura 14.2 mostra, de modo esquemático, esse
no assoalho do IV ventrículo. e as suas fibras diri-
trajeto, representando-se uma s6 fibra. Ê fácil,
gem-se ventralmente para emergir no sulco lateral
pois, entender que cada lemnisco medial conduz
anterior do bulbo, entre a plramide e a oliva.
ao tálamo os Impulsos nervosos que subiram nos
fascículos grácíl e cuneiforme da medula do lado c) Núcleo dorsal do vago - núcleo motor pertencen-
oposto. Esses impulsos relacionam-se, pois, com a te ao parassimpático. Nele, estão situados os neu-
propriocepção consciente, tato epicrítico e sensi- rônios pré-ganglionares, cujos axônios saem pelo
bilidade vibratória. nervo vago. Corresponde à coluna lateral da medu-
d) Abertura do IV ventrículo - em níveis progressiva- la. Situa-se no trígono do vago. no assoalho do IV
mente mais altos do bulbo, o número de fibras ventrículo.
dos fascículos grácil e cuneiforme diminui pouco d) Núcleos vesrtbulares (Figuras 14.3 e 15.3)- são nú-
a pouco, à medida que elas terminam nos respec- cleos sensitivos que recebem as fibras que pene-
tivos núcleos. Desse modo, desaparecem os dois tram pela porção vestibular do VIII par. Localizam-se
fascículos. bem como os correspondentes núcleos na área vestibular do assoalho do IV ventrículo, atin-
grácil e cuneiforme. Não havendo mais nenhuma gindo o bulbo apenas os núcleos vestibulares Infe-
estrutura no funículo posterior. abre-se o canal rior e medial.
central formando o IV ventrículo, cujo assoalho é e) Núcleo do troto solitdn'o- é um núcleo sensitivo que
constituído principalmente de subst3ncia cinzen- recebe fibras aferentes viscerais gerais e especiais
ta homóloga à medula. ou seja. núdeos de nervos que entram pelo VII, IX e X pares cranianos. Antes
cranianos. de penetrarem no núcleo, as fibras têm trajeto des-
cendente no trato solfrário, que é quase totalmente
circundado pelo núcleo. As fibras aferentes visce-
rais especiais que penetram no núcleo do trato
3.1 Substânda dnzenta homóloga à da medula solitário estão relacionadas com a gustação.
(núdeos de nervos aanlanos} f) Núcleo do rraro espinal do nervo trigémeo (Figuras
Os núcleos dos nervos cranianos serão estudados em con- 14.3 e 14.4) - a esse núcleo chegam fibras aferen-
junto no Capítulo 17. Limitar-nos-emos. agora. a dar as princi- tes somáticas gerais, trazendo a sensibilidade de
pais características daqueles situados no bulbo (Figura 14.3): quase toda a cabeça pelos nervos V, VII, IX e X. Con-
l
Assoalho do IV venlTiculo
Núcleo vestibular medial - - - -,
....
Núcleo vestibular inferior - - - - -....' ,..........
..... .....
Pedúnculo cerebelor inferior-- - - ... ::::.
. -::•
Fascículo longitudinal medial--- :i:fi::f: ..._,....,
.... .
Troto esplnocerebelar posterior _ f:: ,::;
t . . • ••
• •
Núcleo ambíguo - - - - - - - ~ :.:
Neurônio do gânglio
inferior do X
Troto espinocerebelar
anterior .,,,
Troto espinololômico lateral __ .,,,
Agura 14.3 Secç~o transversal esquemática da porção aberta do bulbo ao nível da parte média da oliva.
tudo, as fibras que chegam pelos nervos VII, IX e X que cruzam o plano mediano para formar o lemnis-
trazem apenas a sensibilidade geral do pavilhão e co medial (Figuras 14.2 e 14.4).'
do conduto auditivo externo. Corresponde à subs- b) Núcleo olivar inferior (Figura 14.3) - é uma gran-
t~ncla gelatinosa da medula, com a qual continua. de massa de substàncía cinzenta que corresponde
g) Núcleo solivarório inferior - origina fibras pré-gan- à formação macroscópica já descrita como oliva.
glionares que emergem pelo nervo glossofaríngeo Aparece, em cortes, como uma lãmina de substãn-
para inervação da parótida (Figura 17.2). cia cinzenta bastante pregueada e encurvada so-
Para facilicar a memorização dos nomes e das funções bre si mesma. com uma abertura principal dirigida
dos núcleos de nervos cranianos do bulbo, um bom exer- mediaimente. O núcleo olivar inferior recebe fibras
cício é tentar deduzir o nome de cada um dos núcleos que do córtex cerebral, da medula e do núcleo rubro,
entram em ação nas várias etapas do ato de tomar sorvete. este último situado no mesencéfalo. Liga-se ao
Inicialmente, põe-se a língua para fora para lamber o sorve- cerebelo por meio das fibras olivocerebelares que
te. Núcleo envolvido: núcleo do hipoglosso. A seguir, é ne- cruzam o plano mediano. penetram no cerebelo
cessário verificar se o sorvete está mesmo frio (ou seja, se pelo pedúnculo cerebelar inferior (Flgura 14.5),
distribuindo-se a todo o córtex desse órgão. Hoje,
é realmente um sorvete). Núcleo envolvido: núcleo do tro-
sabe-se que as conexões olivocerebelares estão
to espinal do trlg~meo. Feito isso, é conveniente verificar o
envolvidas na aprendizagem motora, fenômeno
gosto do sorvete. Núcleo envolvido: núcleo do rroco solirório.
que nos permite realizar determinada tarefa com
Nessa etapa, o indivíduo já deve estar com a "boca cheia
velocidade e eficiência cada vez maiores quando
d'água~ Núcleo envolvido: núcleos salívacórios (no caso do
ela se repete várias vezes.
bulbo, somente o inferior). Nessa fase, já há condições de
e) Núcleos olivares acessórios medial e dorsal (Figura
se engolir o sorvete. Núcleo envolvido: núcleo ombfguo. Por
14.3) - esses núcleos têm basicamente a mes-
fim, o sorvete chega ao estômago e sofre a ação do suco
ma estrutura, conexão e função do núcleo olivar
gástrico. Núcleo envolvido: núcleo dorsal do vago. E como
Inferior, constituindo com ele o complexo olivar
o indivíduo tomou o sorvete de pé, sempre mantendo o
inferior.
equilíbrio, estiveram envolvidos também os núcleos vestibu-
lares inferior e medial.
1 Também pertence à subs13ncla cinzenta própria do bulbo o núcleo
3.2 Substância dnzenta própria do bulbo cuneiforrne acessôrio. situado lateralmen1e à porç,.!o cranlal do núcleo
cuneiforme (Figura 14,4). fsw núcleo ligit-se ao cerebelo pelo l@lo
a) Núdeos grócil e cuneiforme - já foram estudados no cuneocerebelar que. numa parte do seu trajeto. constitui as fibras ar-
item 2.1. Dão origem a fibras arqueadas internas, queadas externas dorsais (Figura 14.5).
-- --
•'
• •
-
•• •••• --...._ - - - Núcleo ambíguo,
••
tia - - Decussação do lemnisco medial
/
Fibras arqueadas internas - - _/ - -- · mecJ·101
- - - - lemn1sco
Complexo olivar inferior - - - - /
/
,, - .. ·de
- - - - - - - - - - - - p·1ram1
Nervo hipoglosso (XII) - - - - ___ ,"
--- - - - - - - - Fissura mediana anterior
Figura 14.4 Secção transversal esquemática da porção fechada do bulbo ao nivel da decussação do lemnisco medial.
Pedúnculo cerebelar
Fibra orqueodo interno (olivocerebelar) / inferior
'',~'P-\l~-Ll /11
BULBO '' - Fibra orqueoda externo ventral
'' //
BULBO
.
F1ssura med'10no on tenor
· - - - - - - - - - - /
Coluna posterior
MEDUlA
Coluna anterior
~
-
.ti .---
.
..
,- .
. - --
.
-
. .
.
-
--= = - - - = - - -
-
4:'g_Substânda branca do bulbo~...... . das laterais da metade inferior do IV ventrículo até
o nível dos recessos laterais, onde se fletem dor·
4.1 Fibras transversais salmente para penetrar no cerebelo. As fibras que
As fibras transversais do bulbo são também denomi· constituem o pedúnculo cerebelar inferior já foram
nadas fibras arqueadas e podem ser divididas em internas estudadas e são as seguintes (Figura 14.5): fibras
e externas: olivocerebelares; fibras do trato espinocerebelar
posterior; e fibras arqueadas externas.
a) Fibras arqueadas internas - formam dois grupos
principais, de significação completamente dife- 4.2.2 Vias descendentes
rente: algumas são constituídas pelos axônios
As principais vias descendentes do bulbo são as seguintes:
dos neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme no
trajeto entre esses núcleos e o lemnisco medial 4.2.2. 1 Tratos do sistema lateral da medula
(Figura 14.2); outras são constituídas pelas fibras
a) Traro corcicospfnal - constituído por fibras origina-
olivocerebelares, que, do complexo olivar inferior,
das no córtex cerebral, que passam no bulbo em
cruzam o plano mediano, penetrando no cerebelo tr~nsito para a medula, ocupando as pirâmides bul-
do lado oposto, pelo pedúnculo cerebelar inferior bares. É, por Isso, denominado também troto píra·
(Figura 14.5). midal. É motor voluntárío (Figura 14.3).
b) Abras arqueadas externas (Figura 14.5) - originam-se b) Trato rubrospinal - originado de neurónios do nú-
do núcleo cuneiforme acessório, têm trajeto próximo cleo rubro do mesencéfalo, chega â medula por
à superfície do bulbo e penetram no cerebelo pelo trajeto que não passa pelas pirâmides. É motor vo-
pedúnculo cerebelar inferior. luntário, mas no homem é menos importante que
o corticospinal.
4.2 Fibras longitudinais
As fibras longitudinais formam as vias ascendentes, des- 4.1.2.2 Tratos do sistema medial da medula
cendentes e de associação do bulbo. Constituídos por fibras originadas em várias áreas do
tronco encefálico e que se dirigem à medula. Foram refe-
4.2.1 Vias ascendentes ridos no capítulo anterior e são os seguintes: traio corlicos-
São constituídas pelos tratos e fasdculos ascendentes. pinal anterior; trato tetospinaf. trocos vestibulospfnais; e rraros
oriundos da medula, que terminam no bulbo ou passam reciculospinais.
por ele em direção ao cerebelo ou ao tálamo. A eles, acres-
centa-se o lemnisco medial, originado no próprío bulbo. Es- 4.1.2.3 Trato corticonuc/ear
sas vias estão relacionadas a seguir. Constituído por fibras originadas no córtex cerebral e
a) Fascículos grácil ecuneiforme - visíveis na porção fe- que terminam em núcleos motores do tronco encefálico.
chada do bulbo (Figura 14,4). No caso do bulbo, essas fibras terminam nos núcleos ambl-
guo e do hipoglosso, permitindo o controle voluntário dos
b) Lemnisco medial - forma uma fita compacta de fi-
músculos da laringe, da faringe e da língua.
bras de cada lado do plano mediano (Figuras 14.2
e 14.3). Suas fibras terminam no tálamo. 4.1.2.4 Trato espinal do nervotrigémeo
c) Trato espinotalômlco lateral - está situado na área
Constituído por fibras sensitivas que penetram na pon-
lateral do bulbo, mediaimente ao trato espinocere- te pelo nervo trigémeo e tomam trajeto descendente ao
belar anterior (Figura 14.3). longo do núcleo do traro espinal do neNo trigémeo, onde ter-
d) Trato espinotalãmico anterior - tem no bulbo urna minam (Figura 17.4). Dispõe-se lateralmente a esse núcleo,
posição correspondente à sua posição na medula; e o número das suas fibras diminui à medida que. em níveis
sobe junto com o espinotalâmico lateral. progressivamente mais caudais, elas vão terminando no nú-
e) Trato espinocerebelar anterior - situa-se superficial- cleo do trato espinal.
mente na área lateral do bulbo, entre o núcleo
olivar e o trato espinocerebelar posterior (Figura 4.2.l .5 Trato solitdrlo
14.3). Continua na ponte, pois entra no cerebelo Formado por fibras aferentes viscerais, que penetram
pelo pedúnculo cerebelar superior. no tronco encefálico pelos nervos VII, IX e X e tomam trajeto
f) Troto esplnocerebelar posterior - situa-se superficial- descendente ao longo do núcleo do trato solitário, no qual
mente na área lateral do bulbo (Figura 14.3), entre vão terminando em níveis progressivamente mais caudais.
o trato espinocerebelar anterior e o pedúnculo ce-
rebelar inferior, com o qual pouco a pouco se con- 4.2.3 Via de associação
funde (Figura 14.5). Éformada por fibras que constituem o fascículo longitu·
g) Pedúnculo cerebelo, Inferior - é um proeminente dlnal medial, presente em toda a extensão do tronco encefá-
feixe de fibras ascendentes que percorrem as bor- líco e níveis mais altos da medula. É facilmente Identificado
l
Sinopse das principais estruturas do bulbo
núcleo grácil
substància núcleo cuneiforme
cinzenta núcleo cuneiforme acessório
própria do núcleo olivar inferior
bulbo
núcleo olivar acessório medial complexo olivar inferior
núcleo olivar acessório dorsal
fascículo grácil
fascículo cuneiforme
lemnisco medial
trato espinotalàmico lateral
ascendentes trato espinotalàmico anterior
fibras trato espinocerebelar anteríor
longltudinals trato espinocerebelar posterior
pedúnculo cerebelar inferior
trato rubrospinal
trato corticosplnal
trato corticonuclear
Substància branca trato tetospinal
descendentes
trato vestibulospinal bulbar
tratos retlculosplnals
trato espinal do trigêmeo
trato solitário
de associação
- fascículo longitudinal medial
Estrutura da Ponte
A ponte é formada por uma porre venera(, ou base da neurônios motores da medula. O seu trajeto pelo
ponrf!, e uma porre dorsal, ou regmento da ponte. O tegmen- bulbo e pela terminação na medula já foi estuda-
to da ponte tem uma estrutura muito semelhante à do bul- do. Na base da ponte, o trato corticosplnal forma
bo e à do tegmento do mesencéfc1lo. Já a base da ponte tem vários feixes dissociados, não tendo a estrutura
estrutura muito diferente das outras áreas do tronco encefá- compacta que apresenta nas pirâmides do bulbo
lico. No limite entre o tegmento e a base da ponte, observa- (Figura 15.1 ).
-se um conjunto de fibras mielínicas de direção transversal, b) Trato corciconuclear - constituído por fibras que,
o corpo trapezoide (Figura 15.1). O corpo trapezoide será das áreas motoras do córtex, se dirigem aos neu-
estudado como parte integrante do tegmento.
rônios motores situados em núcleos motores de
nervos craníanos; no caso da ponte, os núcleos
do trigemeo, abducente e facial. As fibras desta-
A base da ponte é uma área própria da ponte sem cor- cam-se do trato à medida que se aproximam de
respondente em outros níveis do tronco encefálico. Ela apa- cada núcleo motor, podendo terminar em nú-
receu durante a filogênese, juntamente com o neocerebelo cleos do mesmo lado e do lado oposto (detalhes
e o neocórtex, mantendo Intimas conexões com essas duas no Capítulo 30).
áreas do sistema nervoso. Atinge o seu máximo desenvol- c) Troro corrlcoponrlno - formado por fibras que se
vimento no homem, no qual é maior do que o tegmento. originam em várias áreas do córtex cerebral, ter-
As seguintes formações são observadas na base da ponte: minam fazendo sinapse com os neurónios dos nú-
cleos pontinos (Figura 1S.1).
trato cortlcospinal
fibras longitudinais trato cortlconuclear 1.2 Fibras transversais e núdeos pontlnos
Base da ponte trato conicopontlno Os núcleos pontlnos são pequenos aglomerados de
fibras transversais neurônios dispersos em toda a base da ponte (Figura 15.1 ).
Neles, terminam, fazendo sinapse, as fibras corticopontinas.
núcleos pontinos
Os axônios dos neurônios dos núcleos pontinos constituem
as fibras transversais da ponte, também denominadas fibras
1.1 Fibras longitudinais pontinos ou pontocerebelores. Essas fibras, de direção trans-
a) Traro corticospinol - constituído por fibras que, das versal, cruzam o plano mediano e penetram no cerebelo
áreas motoras do córtex cerebral, se dirigem aos pelo pedúnculo cerebelar médio.
Véu medular superior - - - - - - - , __ _ _ Pedúnculo cerebelar superior
\ I
\
\
I
IV Ventrículo - - -- - -- - , , \ / / - r.takíiiplíioêerl.lillar:anlidõi
\
'' \ I /
),,
lliiiiíi.iniíi1nêildlbi..diui~ ' /4~ I // .,,,,, fa5Clculo longitudinal dorsal
' \
\ / ,,,,,,.,,,
'
fascículo longitudinal medial - , , ' '-
..
-.._ .,,, ,. Núc eo sensilivo principal
'-... ' / "' do nervo trigêmeo
Núdeo olivar superior - - - -
~~ .-- - l'!úcleo motor ao- -
n-erv
- o- .lrigêmeo
-L'\\~"<.;
Sulcobosilor - - - - - - - - - - -
-- -- ---- '~ Fibras transversais do ponte
- - , - Núcleos ponlinos
Figura 1s.1 Esquema de uma secção transversal da ponte ao nível da origem aparente do nervo trigémeo.
142 NeuroanatomiaFuncional
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e inferior (Figuras 15.2 e 15.3). Cada um desses núcleos b) Fascículo longirudinaf medial - nos núcleos vestibu-
. . e as suas conexoes,
tem as suas caractensucas - mas serao- lares origina-se a maioria das fibras que entram na
estudados em conjunto, como se fossem um só núcleo. Os composição do fascículo longitudinal medial (Figu-
núcleos vestibulares recebem impulsos nervosos, origina- ra 15.2). Esse fascículo está envolvido em reflexos
dos na parte vestibular do ouvido interno e que informam que permitem ao olho ajustar-se aos movimentos
sobre a posição e os movimentos da cabeça. Esses impulsos da cabeça. As informações sobre a posição da cabe-
passam pelos neurônios sensitivos do gânglio vestibular e ça chegam ao fascículo longitudinal medial através
chegam aos núcleos vestibulares pelos prolongamentos das suas conexões com os núcleos vestibulares.
centrais desses neurónios, que, em conjunto, formam a c) Trato vestibulospinal (Figura 15.2) - as suas fi-
parte vestibular do nervo vestibulococlear. Algumas fibras bras levam impulsos aos neurônios motores da
seguem diretamente do gãnglio vestibular para o cerebelo medula e são Importantes para a manutenção do
sem conexao nos núcleos vestibulares. Chegam, ainda, aos equilíbrio.
núcleos vestibulares fibras provenientes do cerebelo, rela- d) Fibras vestíbuloraldmicas - admite-se a existência de
cionadas com a manutenção do equilíbrio. Essas fibras serão fibras vestibulotalamicas que levam impulsos ao tá·
estudadas a propósito das conexões do vestibulocerebelo. lamo, de onde vâo ao córtex. Entretanto, a localiza-
As fibras eferentes dos núcleos vestibulares formam ou en- ção e o significado dessas fibras são ainda discutidos.
tram na composição dos seguintes tratos e fascículos:
a) Foscfcu/o vestibulocerebelar (Figura 15.2) - forma- 2.2 Núcleos dos nervos facial e abducente
do por (1 í'"' r.q}.v-•./~ft.!.1 ~'i"ti.~~ ~.t..~ 't!,ti() 1'1~1t:t.r.) !)blJ 11 IUS'UdÜO~ l ld
. fibras aue. terminam no r.órtPJC.rin "i=?-';1jJ:uJlll-
cerebelo. Figura 15.3. As fibras que emergem do núcleo do nervo
Corpo justarestiforme do V
pendúculo cerebelor interior - - - - ~,
Fibra fostígiavestibular - - - -• \
\ \
N úcleo faaligol - - - - - "'\.
\
\
\
\
\ - - ~ · Núcleo do
\ \ \ nervo oculomotor
''
\
\
\
\
\
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\ - Núcleo do nervo
~,,
,....-----:7..,. r----~..1 \
\
\
trocleor
\ - - - - - Fascículo longitudinal
f f \ medial
·-- -, , ,
,,""' ... _r-::= - - Núcleo do nervo
"'
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' ,
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abducente
,,,,, / ·-·"' , --,.,
Fl6culo - - - - - -"' / , , '
1
/ '11 t
l ,..'_a" '
Fascículo vestibulocerebelor - _ / 1
!I '
, 'J--?"" Núcleo vestibular superior
Porte vestibular do
1
1
: '' Núcleo vestibular lateral
nervovestibulococleor- - - - - - - ,I ''
' ' ' 'Núcleo vestibular medial
• ..,.. ,
1 1 ,
-- ' ..... ,
'Troto vestibulospínol
' 'Foscículo longitudinal medial
Nervo abducente - - - - -
·~ \\ ,,:. ---- -· Núdeo do troto espinal
do nervo trigêmeo
Corpo trapezoide e lemnisco medial
\ '\ - , _ _Núcleo do nervo facial
Tratos corticospinol, _ _ _ _
corticonucleor e corticopontino
l., ' - lemnisco lateral
- \ '''
Nervo facial {VII) ---- -
Base da ponte • - -- -- - -- /
' \
VI \
\
' , li Pedúnculo cerebelor médio
Figura 15.3 Diagrarna rnostrando as relações do nervo facial com o núcleo do nervo abducente, visto em um corte espesso da pente
passando pelo colículo facia l.
facial têm Inicialmente direção dorsomedlal (Figura 15.3), principal, o núcleo do trato mesencefálico e o núcleo motor
formando um feíxe compacto que, logo abaixo do assoalho (Figura 17,4). Observando-se uma secção de ponte, apro-
do IV ventrículo, se encurva em direção cranial. Essas fibras, ximadamente ao nível da penetração do nervo trigémeo
após percorrerem certa distância ao longo do lado medial (Figura 15.1 ), vê-se, mediaimente, o núcleo motor, e la-
do núcleo do nervo abducente, encurvam-se lateralmente teral me, ,te, o núcleo sensitivo principal, es1e L'iltimo uma
sobre a superfície dorsal desse núcleo, contribuindo para continuação cranial e dilatada do núcleo do trato espinal
formar a elevação do assoalho do IV ventrículo, denomi- (Figura 17.4). A partir do núcleo principal, estende-se cra-
nada colículo facial (Figura 5,2). A curvatura das fibras do nialmente, em direção ao mesencéfalo, o núcleo do trato
nervo facial em torno do núcleo do abducente constitui mesencefálico do trigêmeo, acompanhado pelas fibras do
o Joelho interno do nervo facial. Após contornar o núcleo trato mesencefólico do trigêmeo (Figura 17 .4). O núcleo mo-
do abducente, as fibras do nervo facial tomam direção tor origina fibras para os músculos mastigadores, sendo fre-
ventrolateral, e lígeiramente caudal, para emergir no sulco quentemente denominado núcleo mos1ígador. Os demais
bulbopontlno. As fibras do faclal têm, pois, relações mui- núcleos recebem impulsos relacionados com a sensibilida-
to Intimas com o núcleo do abducente e, por isso, lesões de somática geral de grande parte da cabeça. Deles, saem
conjuntas de ambas as estruturas podem ocorrer. Os sinais fibras ascendentes, que constituem o lemnisco trigeminai,
resultantes desse tipo de lesão serão descritos no Capitulo que termina no tálamo.
19, item 5.1 .
2.5 Fibras longitudinais do tegmento da ponte
2.3 Núcleo sallvatório superior e núdeo laaimal As fibras longitudinais originadas no tegmento da pon-
Estes núcleos, pertencentes à parte craniana do sistema te já foram estudadas e são os lemníscos lateral e trigeminai.
nervoso parassimpático, dão origem a fibras pré-ganglio- Percorrem também o tegmento da ponte, feixes de fibras
nares, que emergem pelo nervo intermédio, conduzindo ascendentes originadas no bulbo, medula e cerebelo, que
Impulsos para a inervação das glandulas submandlbular, são os seguintes:
sublingual e lacrimal. a) Lemnisco medial (Figura 15.4) - ocupa na ponte,
ao contrário do bulbo, uma faixa de disposição
2.4 Núdeos do nervo trigêmeo transversal, cujas fibras cruzam perpendicularmen-
Além do núcleo do trato espinal, já descrito no bulbo, te as fibras do corpo trapezoide, sobem e terminam
o nervo trigémeo tem ainda, na ponte, o núcleo sensitivo no tálamo.
Aqueduto cerebral - - - - - - -
- - - - - lemnisco lateral
''
' ' - - Lemnisco espinal
' - - Lemnisco medial
Figura 1s.4 Esquema de uma secção transversal da ponte ao nível da parte cranial do assoalho do IV ventrículo.
•
Sinopse das principais estruturas daponte
núcleo do trato mesenceíálico
núcleo sensitivo principal
núcleos do V
núcleo motor
núcleo do trato espinal
núdeodoVI
núcleos de nervos cranianos
núcleo motor do facial
núcleos do VII núcleo lacrimal
núcleo saliva tório superior
lemnisco medial
lemnisco lateral
ascendentes lemnisco trigeminai
lemnisco espinal
pedúnculo cerebelar superior
trato corticospinal
fibras longitudina.is trato cortíconuclear
SubstAncla branca trato corticopontino
descendenles l.réllO tetosplnal
trato rubrospinal
trato vestibulospinal
trato espinal do trigémeo
Cavidade IVventrículo
.. - . : ~ ...
.,J
.
Estrutura do Mesencéfalo
O mesencéfalo (Figura 5.3) é constituído por uma gração de várias funções sensoriais e motoras. Durante a
porção dorsal, o teto do mesencéfalo, e outra ventral, muito evolução, parte de suas funções foi assumida pelo córtex
maior, os pedúnculos cerebrais, separados pelo aqueduro cerebral, diminuindo consideravelmente• sua importância
cerebral. Este percorre longitudínalmente o mesencéfalo nos mamíferos. Nestes, o teto do mesencéfalo é constituído
e é circundado por espessa camada de subst~ncia cinzen- de quatro eminências, os colfculos superiores. relacionados
ta, a subsrôncia cinzenta central ou periaquedutal (Figura com a via visual, e os co/ícu/os inferiores, relacionados com a
16.1 ). Em cada pedúnculo cerebral, distingue-se urna par- via auditiva, além da chamada drea pré-retal. Cada urna des-
te ventral, a base do pedúnculo, formada por fibras longi- sas partes será estudada a seguir.
tudinais, e uma parte dorsal, o tegmenro do mesencéfalo,
cuja estrutura se assemelha à parte correspondente da 1.1 Colículo superior
ponte. Separando o tegmento da base, observa-se uma O coliculo superior (Figura 16.2) é formado por uma
l~mina de subst~ncia cinzenta pigmentada, a subsróncia série de camadas superpostas. constituídas alternadamente
negra (Figura 5.3). por subst~ncia branca e cinzenta. A camada mais profunda
confunde-se com a substância cinzenta central. As suas co-
:1:5:Teto cio mesencéfalo nexões são complexas, destacando-se, entre elas:
Em vertebrados inferiores, o teto do mesencéfalo é um a} Fibras oriundas da retina, que atingem o calículo
centro nervoso muito importante, relacionado com a inte- pelo trato óptico e braço do calículo superior.
Figura 16.1 [squema de uma secção transversal do mesencéfalo ao nível dos colículos inferiores.
Aqueduto cerebral- _
- - - -lemnisco medial
.•'•
.......
- .::~·· -Núcleo ruliro
..............
••••••••
_. Substância negro
...... ...
Y..,...-.--,".:"'.,;~.,
•
• -ii'.
--- - • Nervo oculomotor
Flguni 16.2 Esquema de uma secção transversal do mesencéfalo ao nível dos colfculos superiores.
b) Rbras oriundas do córtex occipital, que chegam ao co- Em vista do grande número de fibras descendentes que
lículo pela radiação óptica e braço do coliculo superior. percorrem a base dos pedúnculos cerebrais, lesões ai locali-
c) Fibras que formam o trato terospinal e terminam fa- zadas causam paralisias que se manifestam do lado oposto
zendo sinapse com neurônios motores da medula ao da lesão.
cervical.
O colículo superior é importante para certos reflexos 3.-:7-Tégineritõ do-mesencéfalo
que regulam os movimentos dos olhos. Para essa função,
existem fibras ligando o calículo superior ao núcleo do O tegmento do mesencéfalo é uma continuação do
nervo oculomotor, situado ventralmente no tegmento do tegmento da ponte. Como este, apresenta, além da forma-
mesencéfalo. Lesões dos colícuJos superiores podem causar ção reticular, as substâncias cinzenta e branca, que serão
perda da capacidade de mover os olhos no sentido vertical, estudadas a seguir.
voluntária ou reflexamente. Isso ocorre, por exemplo. em
certos tumores do corpo pineal que comprimem os colícu- 3.1 Substãnda dnzenta homóloga à da medula
los (Capítulo 19, item 6.3). No tegmento do me-sencéfalo estão os núcleos dos pa-
res cranianos 111, IV e V. Neste último, entretanto, está apenas
1.2 CoUculo Inferior o núcleo do trato mesencefálico (Figura 17.4), que conti-
O collculo inferior (Figura 16.1 ) difere estruturalmente nua da ponte e recebe as infarmações proprioceptivas que
do superior por se constituir de uma massa bem delimita· entram pelo nervo trigémeo. O núcleo dos nervos troclear
da de substância cinzenta. o núcleo do colfculo inferior. Esse e oculomotor serao estudados com mais detalhes a seguir.
núcleo recebe as fibras auditivas que sobem pelo lemnisco
lateral (Figura 16,1) e manda fibras ao corpo geniculado 3.1.1 Núdeo do nervo trodear
medial através do braço do collculo inferior (Figura 29.8). Situa-se no nível do calículo inferior, em posição imedia-
Algumas fibras vão de um colículo para outro, constituindo tamente ventral à substancia cinzenta central e dorsal ao fas-
a comissura do colículo Inferior. O núcleo do collculo inferior dculo longitudinal medial. Suas fibras saem de sua face dorsal,
é uma importante estrutura das vias auditivas. contornam a substância cinzenta central, cruzam com as do
lado oposto e emergem do véu medular superior, caudalmen-
1.3 Area pré-tetal te ao calículo Inferior (Figura 5.2). Esse nervo apresenta duas
Também denominada núcleo pré-teca(, é uma área de peculiaridades: suas fibras são as únicas que saem da face dor-
limites pouco definidos situada na extremidade rostral dos sal do encéfalo e trata-se do único nervo cujas fibras decussam
colículos superiores, no limite do rnesencéfalo com o dien- antes de emergir do sistema nervoso central. Convém lernbrar
céfalo. Relaciona-se com o controle reflexo das pupilas (Ca- que o nervo troclear inerva o músculo oblíquo superior.
pítulo 17, Item 2.2.6).
3.1.2 Núdeo donervo oculomotor
Este núcleo localiza-se no nível do colículo superior {Fi-
A base do pedúnculo é formada pelas fibras descenden- gura 16.2) e está intimamente relacionado com o fascículo
tes dos tratos corticospinal, corticonuclear e corticopontino, longitudinal medial. Trata-se de um núcleo muito complexo.
que formam um conjunto cornpacto {Figura 16.2). Essas fi- constituído de várias partes, razão pela qual alguns autores
bras têm localizações precisas na base do pedúnculo cerebral, preferem denominá-lo complexo ocufomoror. O complexo
sabendo-se, inclusive, a localiza~o das fibras corticospinals, oculomotor pode ser dividido, sob o aspecto funcional,
responsáveis pela motricidade de cada parte do corpo. em uma parte somática e outra visceral. A parte somática
lemnisco medial
lemnisco lateral
lemnisco trigeminai
ascendentes lemnisco espinal
pedúnculo cerebelar superior
braço do coliculo superior
braço do calículo Inferior
fibras longitudinais
trato corticospinal
trato corticonuclear
descendentes trato corticopontino
trato tetasplnal
trato rubrospinal
Substáncia branca
1 50 NNJroanatomia Funcional
Núcleos dos Nervos Cranianos - Alguns Reflexos
Integrados no Tronco Encefálico
A topografia de cada um dos núcleos dos nervos cra- e origina fibras que inervam todos os músculos ex-
nianos e o trajeto de suas fibras já foram estudados nos ca- trínsecos do olho, com exceção do reto lateral e oblí-
•
pítulos sobre a estrutura do tronco encefálico. Esse estudo é quo supenor.
importante, pois dá as bases para a compreensão e o diag- b) Núdeo do rroclear - situado no mesencéfalo ao ní-
nóstico das lesões do tronco encefálico. Contudo, há ainda vel do colículo inferior. Origina fibras que inervam o
outro modo de estudar os núcleos dos nervos cranianos, músculo oblíquo superior.
que consiste em agrupá-los de acordo com os componen- c) Núdeo do abducente - situado na ponte (calículo fa-
tes funcionais de suas fibras. Esses componentes foram es- cial). Dá origem a fibras para o músculo reto lateral.
tudados no Capítulo 1O, no qual há uma chave que deve d) Núcleo do hipoglosso - situado no bulbo, no trigano
ser recapitulada para a compreensão do presente capítulo. do nervo hipoglosso, no assoalho do IV ventrículo.
Dá origem a fibras para os músculos da língua.
MESENCÉFALO
•••.,. I
/
I
1
1
1
1
1
1
_ ..... _ " , , BULBO t
'-. ' , I
1
.......... --'...J
Nervo trocleor° (IV)\ PONTE ..........
.....,
' oculomolor 1111)
Nervo ' , _ - - - - Nervo abducente IVI)
Figura 11.1 Núcleos da coluna eferente somática vistos por transparência no interior do tronco encefálico.
MESENCÉFALO yl
I
Nervo oculomotor (Ili) - - ' \ ' BULBO
PONTE / / \
\
\
' '- - - - - - - - Oliva
Nervo Intermédio !VII) - - - - - __ / \ \_ - - - - - - - Nervo vogo (X)
\
'- - - - - Nervo glossoforlngeo (IX)
Figura 17.2 Núcleos da coluna eferente visceral geral vistos por transpar~ncla no Interior do tronco encefálico
e) Núcleo solivorório superior (Figura 17.2) - sltua- d) Núcleo safivorório inferior (Figura 17.2) - situado
do na parte caudal da ponte. Origina fibras pré- na parte mais cranial do bulbo, origina fibras pré-
-ganglionares que saem pelo nervo Intermédio e -ganglionares que saem pelo nervo glossofaringeo
ganham o nervo lingual através do nervo corda do e chegam ao gânglio ótico (Figura 12.5) pelos
tímpano (Figura 12.S). Pelo nervo língual, chegam nervos tlmpanico e petroso menor. Do ganglio óti•
ao gânglio submandibular, de onde saem fibras co, saem fibras pós-ganglionares que chegam à pa-
pós-ganglionares que inervam as glândulas sub- rótida pelo nervo aurículotemporal, ramo do nervo
mandibular e sublingual. mandibular.
......
• . a_.- -
_
......,..~ --
.
'
•• _. .
-
t.L.UT - :.' -
e) Núcleo dorsal do vago (Figura 17.2) - situado no 1.4 Coluna aferente somática geral
bulbo, no trígono do vago, no assoalho do IV ven-
Os núcleos dessa coluna (Figura 17.4) recebem fibras
trículo. Origina fibras pré-ganglionares que saem
que trazem grande parte da sensibilidade somática geral da
pelo nervo vago e terminam fazendo sinapse em
cabeça. Pode-se dizer que essa é, por excelência, a coluna
grande número de pequenos gânglios nas paredes
do trigêmeo, por ser ele o principal neNo que nela termina.
das vísceras torácicas e abdominais (Figura 12.S).
Entretanto, nela tan1bém termina um pequeno contingente
1.3 Coluna eferente visceral especial de fibras que entram pelos nervos VII, IX e X. A colu°ª afe-
e
rente; somáti ca a : nic~ ~oiuna continua QJ.!§ ~ esten e
Dá origem a fibras que inervarn os músculos de origem ao longo éle todo o lLO.D.Ç~ eRcc(álico con..tinuando gm ti -
branquiomérica. Ao conlrário dos núcleos já vistos, os nú- reção cauoãl, sem interrupção, com a su6stància gelati asa
cleos dessa coluna (Figura 17.3) localizam-se profunda- da medula. Apesar de contínua. distinguem-se nela três nú-
mente no interior do tronco encefálico. cleos. que serão esrudados a seguir:
a) Núcleo motor do trig~meo (Figura 17.3) - situa-se a) Núcleo do troto mesencefálico do trigtmeo (Figura
na ponte. Dá origem a fibras que saem pela raiz 17A ) - estende-se ao longo de todo o mesencéfa-
motora do trigémeo, ganham a divisão mandibu- lo e a parte mais cranial da ponte. Recebe impulsos
lar desse neNo e terminam ineNando músculos proprioceptivos, originados em receptores situados
derivados do primeiro arco branqufal, ou seja, os nos músculos da rnastfgação e, provavelmente,
músculos mastigadores (temporal, masseter, pte- também nos músculos extrínsecos do bulbo ocular.
rlgóideo lateral e medial). milo-hióideo e o ventre Há, também, evidência de que ao núcleo mesence-
anterior do músculo digástrico. fálico chegam fibras originadas em receptores dos
b) Núcleo do facial (Figura 17.3) - situa-se na ponte. dentes e do periodonto, que são importantes para a
Origina fibras que, pelo VII par. vão à musculatura regulação reflexa da força da mordida. Os neurônios
mímica e ao ventre posterior do músculo digás- do núcleo do trato mesenccfálico são muito gran-
trico. todos músculos derivados do segundo arco des e sabe-se que, na realidade, são neurônios sen-
branquial. siLivos. Esse núcleo constitui. pois, exceção à regra
c) Núcleo ambíguo (Figura 17.3) - situado no bulbo,
dá origem a fibras que inervam os músculos da la-
segundo a qual ■ - •
ringe e da faringe, saindo pelos nervos glossofarln- --originadas
1As fibras descendenles ■-nesses neurônios
geo. vago e raiz craniana do acessório. constituem o trato mesencefálíco (Figura 17.4).
As fibras que emergem pela raiz espinal do acessório b) Núcleo sensitivo principal (Figura 17.4) - esse nú-
originam-se na coluna anterior dos cinco primeiros seg- cleo localiza-se na ponte, aproximadamente no
mentos cervicais da medula, e inervam os músculos tra- nível da penetração da raíz sensitiva do nervo tri-
pézio e esternocleidomastóldeo, que se admite sejam, ao gêmeo, cujas fibras o abraçam (Figura 17.4). Con-
menos em parte, derivados de arcos branquiais. tinua caudalmente com o núcleo do trato espinr1I.
/ - Assoalho do N ventrículo
I
/
/
/
r- Núcleo amblguo
11
I1 ,- - - • Oliva
/ I
/ /
I
/
, 1,,- -
MESENCÉFALO
I
/ ., .
I
I .... , "
Raiz motoro do nervo trigémeo ' ' :-.' BULBO " · Nervo vago (X)
/
\
Nervo facial (VII) PONTE Núcleo do '---._ Nervo glossoforfngeo (IX)
nervo focial
Flgur• 17.3 Núcleos da coluna eferente visceral especial vistos por transparência no interior do tronco encefálico.
• Capitulo 17 Núcleos dos Nervos Cranianos -Alguns Reflexos Integrados no Troll(O Encefálico 153
Núcleo do troto mesencefólico do nervo trigêmeo Núcleo sensitivo principol do nervo trigêmeo
Tocto mesencefálico do n,ervo lrigêmeo /' •.· · Assoalho do IV ventrículo
I
'
/ · Núcleo do troto espinal do nervo trigêmeo
,
I / Núcleo do troto espinal
/ do nervo lrigêmeo
I/ I '
I
~...-,-"'~!
1
I
MESENCÉFALO I
I
/
I \
I
I
I
/
·/
BULBO ' \
' \
Troto espinal do nervo trigêmeo
' sensitivo) PONTE 1
Nervo trigêmeo M - (raiz
\
\
1 - Oliva
Troto espinal do nervo lrigêmeo . - - . . . . 1
Flgul'il 17.4 Núcleos da coluna aferente somática geral (núcleos do trigémeo) vistos por transparência no Interior do tronco encefálico.
c) Núcleo do uaco espinal do rrigémeo (Figura 17.4) - procedimentos cirúrgicos, pode-se seccionar o trato es-
estende-se desde a ponte até a parte alta da me- pinal (tratotomia), interrompendo-se. assim, as fibras que
dula, onde continua com a substância gelatinosa. terminam no núcleo do trato espinal. Após a cirurgia, há
Sendo um núcleo multo longo, grande parte das completa abolição da sensibilidade térmica e dolorosa do
fibras que penetram pela raiz sensitiva do trigémeo lado operado, sendo, entretanto, muito pouco alterada a
tem um trajelo descendente bastante longo, antes sensibilidade tálil, pois as fibras que terminam no núcleo
de terminar em sua parte caudal. As fibras se agru- sensitivo principal não são lesadas pela cirurgia.
pam, assim, em um trato, o trato espinal do nervo
rrig~meo (Figura 17.4), que acompanha o núcleo 1.5 Coluna aferente somática espedal
em toda sua extensão, tornando-se cada vez mais Nessa coluna (Figura 15.3), estão localizados os dois
fino em direção caudal, à medida que as fibras vão núcleos cocleares, ventral e dorsal, e os quatro núcleos
terminando.
vestibulares - superior, inferior, medial e lateral -, já estu-
As diferenças funcionais entre o núcleo sensitivo prin- dados no Capítulo 15, a propósito da estrutura da pontE.
cipal e o núcleo do trato espinal do trigémeo tém desper- Essa coluna. ao contrário das demais, é muito larga, poi5
tado considerável interesse, em vista de suas aplicações ocupa toda a área vestibular do IV ventrículo (Figura 15.3
práticas para a cirurgia desse nervo. As fibras trigeminais e, nesse sentido, não se parece, morfologicamente, corr
que penetram pela raiz sensitiva podem terminar no nú- uma coluna.
cleo sensitivo principal, no núcleo do trato espinal ou en-
tão bifurcar. dando um ramo para cada um desses núcleos 1.6 Coluna aferente visceral
(Figura 29.4). Admite-se que as fibras que terminam ex- Essa coluna é formada por um único núcleo, o núclec
clusivamente no núcleo sensitivo prlncipal levam impul- do trato solirório, situado no bulbo (Figura 29.5). AI che-
sos de tato epicrítico; as que terminam exclusivamente no gam fibras trazendo a sensibilidade visceral, geral e especla
núcleo do trato espinal e que, por conseguinte, têm trajeto (gustação), que entram pelos nervos facial, glossofaríngeo e
descendente nesse trato. levam impulsos de dor e tem- vago. Essas fibras são os prolongamentos centrais de neurô•
peratura; já as fibras que se bifurcam e terminam nos dois nios sensitivos situados nos gânglíos geniculado (VII), iníe-
núcleos seriam relacionadas com pressão e tato protopá- rlor do vago e inferior do glossofaríngeo. Antes de termina,
tico. Assim sendo, pode-se dizer que o núcleo sensitivo no núcleo do trato solitário, as fibras têrn trajeto descenden-
principal relaciona-se sobretudo com o tato. Esses dados te no rraro solirário. As fibras gustativas fazem sinapse corr
encontram apoio em certos tipos de cirurgia utilizados os neurônios do terço anterior do núcleo. As fibras visceral~
para o tratamento das neuralgias do trigêmeo, doença gerais terminam nos dois terços posteriores. Para recordar
em que se manifesta uma dor muito forte no território de os territórios de lnervaçtio visceral geral e especial desses
um ou mais ramos desse nervo. Nesse caso, entre outros trés nervos, reporte-se à Tabela 10.3.
~ ,,.._,._. I "
tex cerebral aos neurônios motores, situados nos núcleos
' '~ (,\-_
das colunas eferente somática e eferente visceral especial,
permitindo a realização de movimentos voluntários pelos
~~ 'f'') l.
~
músculos estriados inervados por nervos aanianos. O trato i,j .
corticonuclear corresponde, no tronco encefálico, aos tra- •
\
tos corticospinais da medula, mas difere destes por ter um , \
Núcleo motor do
'
\
\ ''
grande número de fibras homolaterais. \ '\
Os núcleos da coluna eferente visceral geral, ou seja,
nervo trlgêmeo ' \
Músculo
os núcleos de parte craniana do sistema parassimpático Núcleo do -- ' \
\ mosseter
recebem influência do sistema nervoso suprassegmentar,
troto espinal do '•
\
• Capítulo 17 NúdN1s do\ NeM>S úaníanos -Alguns Reflexos Integrados no Tronco En<efilko 155
proteção contra corpos estranhos que caem no olho, con- palpebral do músculo orbicular do olho, determinando o
dição em que ocorre também aumento do lacrimejamento. piscar da pálpebra. Se o estimulo for muito intenso, impul-
Desse modo, a abolição do reflexo é geralmente seguida de sos do teto mesencefálico vão aos neurónios motores da
ulcerações da córnea. Isso ocorre, por exemplo. como con- medula através do trato tetospinal. havendo uma resposta
sequência indesejável de certas técnicas cirúrgicas utiliza- motora, que pode fazer o individuo, reflexamente. proteger
das para o tratamento das neuralgias do trigémeo, nas quais o olho com a mão.
o cirurgião secciona a raiz sensitiva desse nervo, abolindo
toda a sensibilidade e também o reflexo corneano. Já nas 2.2.5 Reflexo de movimentação dos olhos por estímulos
chamadas tratotomias. nas quais se secciona o trato espinal vestibulares (reflexos oculocefálico e oculovestíbular) -
do trigêmeo, há abolição da dor. permanecendo o reflexo nistagmo
corneano, uma vez que a maioria das fibras que compõem
Esse reflexo tem por finalídade manter a fixação do
a parte aferente do arco reflexo termina no núcleo sensitivo
olhar em um objeto que interessa, quando essa fixação ten-
principal e não são comprometidas pela cirurgia.
de a ser rompida por movimentos do corpo ou da cabeç.a.
O reflexo corneano é diminuído ou abolido nos estados
Para melhor entendê-lo. imaginemos um indivíduo caval-
de coma ou nas anestesias profundas, sendo muito utilizado gando com os olhos fixos em um objeto à sua frente. A cada
pelos anestesistas para testar a profundidade das anesresias.
trepidação da cabeça, o olho se move em sentido contrário,
mantendo o olhar fixo no objeto. Assim, quando a cabeça se
Nervo oFtólmico
move para baixo, os olhos se movem para cima, e vice-versa.
1
1
=--
Se n~o houvesse esse mecanismo automático e rápido para
1 •
1 1 a compensação dos desvios causados pela trepidação do
1 cavalo, o objeto estaria sempre saindo da mácula, ou seja,
da parte da retina onde a visão é mais distinta. Os recep-
__ Gânglio tores para esse reflexo são as cristas situadas nas ampolas
Núcleo sensitivo
trigeminai
principal do ------ dos canais sernicirculares do ouvido interno (Figura 29.7),
nervo trigémeo onde existe um líquido, a endolinfa. Os movimentos da ca-
beça causam movimento da endolinfa dentro dos canais
, ; ~ serr1icirculares e esse movimento determina deslocamen-
, ', to dos cílios das células sensoriais das cristas. Isso estimula
;; '
Núcleo do troto espinal
Nervo fociol os prolongamentos periféricos dos neurônios do gânglio
,, 1
I
do nervo trigêmeo
'--1.-1>'' vestibular, originando impulsos nervosos que seguem pela
Núcleo do'
porção vestibular do nervo vestibulococlear, através do
nervo facial
qual atingem os núcleos vestibulares. Desses núcleos saem
Figura 17.6 Esquema do reflexo corneano. fibras, que ganham o fasóculo longitudinal medial e vão di-
retamente aos núcleos dos 111, IV e VI pares cranianos. deter-
minando movimento do olho em sentido contrário ao da
2.2..3 Reflexo lacrimal cabeça. Este reflexo. o oculocefálico, é frequentemente utili-
O toque da córnea. ou a presença de um corpo estra- zado na avaliação do paciente inconsciente ou em coma. A
nho no olho, causa aumento da secreção lacrimal. Trata-se pesquisa é feita com a rotação lateral da cabeça, A resposta
de mecanismo de proteção do olho. sobretudo porque é normal é o desvio conjugado do olhar para o lado oposto.
acompanhado do fechamento da pálpebra, como já foi vis- A ausência deste reflexo indica lesão do tronco encefálico.
to anteriormente. A via aferente do reflexo lacrimal é Idên- Quando, entretanto, as cristas dos canais semicirculares
tica à do reflexo comeano. Contudo. as conexões centrais são submetidas a estímulos exagerados, maiores do que os
são feitas com o núcleo lacrimal, de onde saem fibras pré- normalmente encontrados, o comportamento do olho é um
-ganglionares pelo VII par (nervo interm~dio). através dos pouco diferente. Assim. quando se roda rapidamente um in-
quais o impulso chega ao gânglio pterigopalatino e daí à divíduo em uma cadeira, há estímulo exagerado das cristas
glândula lacrimal. O reflexo lacrimal é um exemplo de reíle- dos canais semicirculares laterais, causado pelo movimenlo
xo somatovisceral. da endolinfa. que continua a girar dentro dos canais, mesmo
depois que a cadeira parou. Nesse caso, os olhos desviam-se
2.2.4 Reflexo de piscar para um lado até o máximo de contração dos músculos retos.
Quando um objeto é rapidarnente jogado diante do voltam-se rapidamente à posição anterior, para logo iniciar
olho, ou quando fazemos um rápido movimento como se um novo desvio. A sucessão desses movimentos confere aos
fôssemos tocar o olho de uma pessoa corn a mão, a pál- olhos um movimento oscilatório de vaivém, denominado
pebra se fecha. A resposta é reflexa e não pode ser inibida nisrogmo. Por um lado, as características do nistagmo provo-
voluntariamente. Fibras aferentes da retina vão ao colícu- cado, como direçào e intensidade, permitem testar a excitabi-
lo superior (através do nervo óptico. trato óptico e braço lidade de cada canal semicircular, dando valiosasinformações
do colículo superior), de onde saem fibras para o núcleo para o diagnóstico de processos patológicos que acometem
do nervo facial. Pelo nervo facial, o impulso chega à parte o sistema vestibular. Por outro lado. em condições patológi-
3. Correção anatomoclinica - Importância clínica dos reflexos do tronco encefálico - morte encefálica
Os reflexos pupilares são importantes para avaliar o a via aferente do reflexo está intacta, mas a via eferente
estado funcional das vias aferentes e eferentes que o me- para o olho direito está lesada, provavelmente no nervo
deiam, podendo estar abolidos em lesões da retina, do oculomotor. Por outro lado, se existe lesão unilateral do
nervo óptico, do trato óptico ou do nervo oculomotor. nervo óptico, causando cegueira unilateral, a luz incidin-
Assim, por um lado, se a luz direcionada ao olho direito do sobre esse olho não ocasiona resposta em nenhum
causa apenas resposta consensual do olho esquerdo, dos olhos, enquanto a pesquisa do olho contralateral
■ Capitulo 17 Núcleos dos Nervos úanianos -Alguns Re6'xos Integrados no Tronco En<tfálico 157
desencadeará tanlo o reflexo fotomotor direto como o auditivos. A ausência de reflexos associada ao coma aper-
consensual no olho cego. ceptivo com arreativldade dolorosa e teste de apneia po-
Ausência do reflexo fotomotor em um paciente in- sitivo é o indicativo de morte encefálica, descartando-se
consciente indica dano no mesencéfalo. Pode indicar intoxicações metabólicas, ou por drogas, e hiportermia.
também lesão supratentorial causando hipertensão in- O quadro deve ser confirmado por exames complemen-
tracraniana e herniações (Figuras 8.7 e 8.8). Se o quadro tares que comprovem ausência de atividade elétrica ce-
não for revertido, o paciente pode evoluir para morte en- rebral, ausência de atividade metabólica ou ausência de
cefálica em que há disfunção completa do t ronco ence- perfusão encefálica. A morte encefálica é a definição legal
fálico e abolição dos reflexos nele Integrados: fotomotor; de morte, mesmo que os batimentos cardíacos e a respi-
corneopalpebral; oculocefálico; oculovestibular; e do vô- ração sejam mantidos com o uso de aparelhos, e permite
mito. O reflexo oculovestlbular é testado mediante prova a retirada de órgãos para a doação, quando houver auto-
calórica, instilando-se água gelada em um dos condutos rização prévia do paciente ou da família.
Medula cervical
Gânglio celíaco - - - - - - -
l
--- /
Medula torácico '""
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Coluna lateral
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Nervo esp1oncn1co 1 ''
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Tronco simpático - - - - - - !- - --t:_;' •
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Medula torácica ..
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/
Nervo tóroco-obdominol - - - - ___ /
158 NeuroanatomiaFunclonal
Vascularização do Sistema Nervoso Central
e Barreiras Encefálicas
2.2 Vascularização arterial do encéfalo ramo importante. Na base do crânio, essas artérias formar
um polígono anastomótico, o polígono de Wlllis. de onc-õ
2.2.1 Peculiaridades da vascularização arterial do encéfalo saem as principais artérias para a vascularização cerebrê
O encéfalo é irrigado pelas artérias carótidas internas e Desse modo, a vascularização do encéfalo é peculiar, vis1:
vertebrais, originadas no pescoço, onde não dão nenhum que, ao contrário da maioria das vísceras, não tem um h. :
Comuniconle anterior - - -
Oftálmico - --
Comunicante posleríor - - ~ Cori6ideo anterior
Cori6ldeo posteroloterol - - Cerebral poslerior
Coriôideo posteromediol Cerebelo, superior
Pontinos - - - Basilar
Cerebelo, inferior onlerior - -
- - Carótida externo
Espinal anterior - - -
Espinal poslerior - -
Aorta - - - -
.,,.,,. .,,,-'
.,,. .,,. ,,,, Artéria cerebral posterior
/
/
/
/
/
Artéria cerebral médio
Artéria cerebral posterior
Figura 18.8 (A) Ressonc'lncia magnética de AVE isquémico no território da artéria cerebral média e (8) angiorressonàncla mostrando obs-
trução da AC,Vi.
ronce: Corcesia do Dr. Marco Antônio Rodackl.
Figura 1s.11 Anglotomografias tridimensionais mostrando (A) aneurisma da artéria cerebral média; (8) aneurisma da artéria basilar.
Fonre: Cortesia do Dr. Marco Antônio Rodacki.
Figura 1s.12 Anglorressonància mostrando aneurisma da arté· Agura 18.13 Fotografia intraoperatôria para clipagem de aneu-
ria cerebral posterior. risma da artéria cerebral média.
Fonre: Co11esla do Dr. Marco Antônio Rodacki. Fonre: Co11esia do Dr. Humberto Schroedcr.
, ____ , --
dorsalmente, contornando o bulbo (Figura 18.3) e, em (tireóidea inferior, intercostais, lombares e sacrais). Esses
seguida, percorrem em sentido longitudinal a medula, me- ramos penetram nos forames intervertebrais com os ner-
diaimente aos filamentos radlculares das raízes dorsais dos vos espinais e dão origem às artérias radiculares anterior e
nervos espinais (Figura 4.3). As artérias espinais posteriores posterior, que ganham a medula com as correspondentes
vascularizarn a coluna e o funículo posterior da medula. raízes dos nervos espinais (Figura 4.3). As artérias radicula-
As artérias radicu/ares (Figura 4.3) derivam dos ramos res anl'eriores anastomosam-se com a espinal anterior, e as
espinais das artérias segmentares do pescoço e do tronco artérias radiculares posteriores com as espinais posteriores.
B - Barreiras encefálicas
- - - - .- .
;:f:J, (:J , . 1 • ,I
- - Membrana basal
~
---.
Barreiras encefàlicas são dispositivos que Impedem ou •
. .. :.; ...··•-~. ::·
t ..:..,:... : : : :.·:: ..... .
.
•.I•.
dificultam a passagem de substancias entre o sangue e o te- .. '. ' .. . '
órgãos
circunventriculares
6rg3o subfomlclal
A permeabilidade da barreira hematoencefálica não é
a mesma em todas as áreas. Estudos sobre a penetração no ôrgão va5cular da l~n1ina
receptores
encéfalo de agentes farmacológicos marcados com isóto- terminal
pos radioativos mostraram que certas áreas concentram es- área postrema
ses agentes muito mais do que outras. Por exemplo. certas
Órgão subforniciol
Glândula
pineal
Órgão vascular
da lâmina terminal
NeurCH1ipófise Eminência
Área poslremo
média
1 1
1 1
1
1
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Figura 1,.1 Esquema mostrando a consequência da interrupção unilateral à esquerda, das principais vias ascendentes da medula, como
ocorre na síndrome de Brov,n-Séquard. As áreas escura5 indicam as regiões comprometidas pelas lesões do fascículo grácil (A) ou do trato
espinotalámico lateral (B). o esquema C mostra por que a lcsáo do trato espinotal~mlco anterior não causa sintomatologia acentuada.
Fonte: Modificada de Gatz AJ. Oinicol Neuroonatomy and NeurophysiO/ogy. Phlladelphla: Davis, 1988.
,.,__t: '
•;.,;.; '-
='.', 1~·
.. --
. •
central e da comissura branca. Essa destruição interrompe exagerados e surge o sinal de 13abinski. A eliminaçflo de
as fibras que formam os dois tratos espinotalAmlcos late- urina e fezes pasx1 a ser feita reflexamente, ou seja. sem
rais, quando eles cruzam ventralmente ao canal central (Fi- controle voluntário. A ereção só é passivei com estimula-
guras 29.1 e 29.2). Ocorre, assim, perda de sensibilidade ção nianual.
térmica e dolorosa de ambos os lados, em uma área que
corresponde aos dermátomos relacionados com as fibras 3.6 Compressão da medula
lesadas. Contudo. nessas áreas não há perturbação da pro- Ocorre, com maior frequência, em casos de câncer. Um
priocepção, sendo mínima a deficiência tátil. A persistência tumor que se desenvolve no canal vertebral pode, pouco a
da propriocepção explica-se pelo fato de a lesão não atin- pouco, comprimir a medula de fora para den!ro. resultando
gir as fibras do funículo posterior (fascfculos grácil e cunei- em uma sintomatologia variável, conforme a posição do tu-
forme). A persistência da sensibilidade tátil quase normal mor. Inicialmente, podem aparecer dores em determinados
origina-se do fato de que os in1pulsos táteis seguem. em dermátomos, que correspondem às rafzes dorsais compro·
grande parte, pelos fascículos grácil e cuneiforme (tato metidas. Com o progredir da doença, surgem sintomas de
epicrítlco), que não são comorometldos. Mesmo as libras comprometimento de tratos medulares.
que seguem pelos tratos espinotalêmlcos anteriores são, Um tumor que se desenvolve no interior da medula
em parte, poupadas pelas razões vistas no Item anterior co prJrne-a de é:len1Lo parª !fila, çau.~anda p rturbaç~
(item 33.2b e Figura 19.lC). A perda da sensibilidade tér- motoras po~Lesão tio tiato corticospioâl [aterai. Há também
mica e dolorosa. com persistência da sensibilidade tátil e perda aa se11sibi1Lciade érmica .~olor:.osa_. por compressão
proprioceptiva, é denominada dissociação senslciva. do trato espinotalâmico lateral. Interessante assinalar que
esse sintoma aparece, inicialrnente, nos dermátomos mais
3.5 Transecção da medula próximos do nível da lesão, progredindo para dermátomos
Logo após um traumatismo que resulte na secção cada vez mais baixos, em geral poupando os dermátomos
completa da medula, o paciente entra em estado de cho- sacrals. É o que os neurologistas conhecem como ~iêia-
que medular. Essa condição (que nada tem a ver com o a_Q2J fuaâj Isso resulta do fato de que as fibras originadas
choque por perda de sangue) caracteriza-se pela absoluta nos segmentos sacrals da medula se dispõem lateralmen-
perda da sensibilidade, dos movimentos e do tônus nos te no trato espinotalàmlco lateral, enquanto as originadas
músculos inervados pelos segmentos medulares situa- em segmentos progressivamente mais altos ocupam po-
dos abaixo da lesão. Há, ainda, retenção de urina e fezes sição cada vez mais medial, neste trato. Entende-se. pois.
e perda da função erétil. Contudo, após um período va-
riável, reaparecem os movirnentos reflexos. que se tornam -
que, quando um Lumor comprime a medula de fora para
dentro, as fibras originadas nos segmentos sacrais são le-
sadas er,1 primeiro lugar. Quando o tumor comprime de
dentro para fora, essas fibras são lesadas por último ou são
preservadas.
3.7 Cordotomias
3.7.1 Cordotomla lateral
Em casos de dor resistente aos medicamentos, resultan-
te principalmente de tumores malignos, pode-se recorrer à
cordotomia. O processo consiste na secção cirúrgica do trato
espinotal~mlco lateral, acima e do lado oposto ao processo
doloroso. Nesse caso, haverá perda da dor e de temperatura
do lado oposto, a partir de um dermátomo abaixo do nível
da secção. En1 caso de tratamento de dores viscerais, é im-
prescindível a cirurgia bílateral, em vista do grande número
de fibras não cruzadas, relacionadas com a transmissão des-
se tipo de dor.
Figura 19.3 Esquema de uma secção transversal do bulbo mostrando, do lado esquerdo. as estruturas comprometidas na sindrorne da
artéria cerebelar Inferior posterior (síndrome de Wallenberg), do lado direito. uma lesão de base do bulbo comprometendo a pir~mide e a
emergência do nervo hipoglosso.
., -~ ..
.-......
\ ''
\
\ ''
\ '
Núcleo do
nervo facial
\
\
\
\
PARALISIA
PERIFÉRICA
Figura 19A Esquema mostrando as diferenças entre as paralisias fadais centrais e periféricas. As áreas pontilhadas indicam os territórios da
face onde se verificam paralisias após lesão do trato corticonuclear ou do próprio nervo facial.
~ ..•-"::
:•, '•
- -- Pedúnculo cerebelor médio
-..-. :-... . ... ··:•..
..
.
-~-- :: ..,.
....
·:- :::--::,·::.r. :::.
.
- ..... ::.:...
.•-:::
-··•-::::::::
'
'
- - - - - Nervo facial
'
Figura 19.5 Esquema de uma secção transversal da ponte mostrando as estruturas comprometidas em uma lesão de sua base ao nível do
colículo facial (síndrome de Millard-Gubler).
Núcleo motor do
nervo trigêmeo
Base da ponte - - - - -
-- Trolo corticospinal
Figura 19.6 Esquema de uma secção transversal da ponte mostrando as estruturas comprometidas em uma lesão de sua base ao nível da
origem aparente do nervo trigémeo.
'' ....·.·.·.
...
............... '
...............
...·.·.·.·.·.
lemnisco medial _ ......
........
,•,:-·
.,,.. ,,,,. Substância negro
....
..·.·.·.·.·
...............
,,, .,,..
N úcleo rubro - - - . . .. .............:.. ~ Tratos corticospinol
·....·.·... ,,. e corticonucleor
. •.• . ..·.·
N ervo oculomotor _ _ _
- - -- - - -
"--- Fibras do nervo ocvlomotor
Figura 19.B Esquerna de urna secção transversal do mesencéfalo ao nível dos collcu!os superiores mostrando as estruturas comprometidas na
síndrome de Weber (lado direito) e na síndrome de Benedikt (lado esquerdo).
cabeça, esta última causada por lesão do lemnisco rior e a área pré-·tectal, causando paralisia do olhar conju-
trigeminai. gado para cima, além da ausência de reação pupilar à luz. A
c) Lesão do núcleo rubro - tremores e movimentos miose associada ao reílexo de convergência-acomodação
anormais do lado oposto à lesão. permanece caracterizando a dissociação luz-perto (Figura
19.14). Com a evolução, a compressão pode causar oclu-
6.3 Síndrome de Parinaud são do aqueduto, com hidrocefalia e paralisia ocular decor-
Em geral, é decorrente de tumores da glandula pineal rentes da compressão dos núcleos dos nervos oculomotor
ou do mesencéfalo dorsal, que comprime o colículo supe- e rroclear.
..
-
Figura 19.14 Síndrome de Parinaud causada pela compressão do
..1 mesencéfalo dorsal. Observa-se paralisia do olhar conjugado para
cima.
Figura 19.10 Paralisia do nervo troclear esquerdo. Em posição de
repouso, o olho apresenta desvio para cima
..
Figura 19.15 Síndrome de Horner à direita com semiptose pa1pe-
Figura 19.11 Paralisia do nervo abducente à esquerda. Perda da bral. anisocoria com pupila menor à direita.
abdução do olho acometido.
. "
A - Formação reticular
o núcleo mogno da rafe, que se dispõe ao longo da
linha mediana (rafe mediana) em toda a extensão
Denomina-se formaçôo reticular uma agregação mais
do tronco encefálico. Os núcleos da rafe contêm
ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferen-
neurônios ricos em serotonina.
tes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a
b) Locus ceruleus - na área de mesmo nome, no assoa-
parte central do tronco encefálico. A formação reticular tem,
lho do IV ventríçulo (Figura S,2), esse núcleo apre-
pois, uma estrutura que não corresponde exatamente à da
senta neurônios ricos em noradrenalina.
substancia branca ou cinzenta, sendo. de certo modo. inter-
mediária entre elas. Trata-se de uma região muito antiga do e) Area regmentar ventral - situada na parte ventral do
tegmento do mesencéfalo, mediaimente à substân-
sistema nervoso, que, embora pertencendo basicamente ao
cia negra, contém neurónios ricos em dopamina.
tronco encefálico. se estende um pouco ao diencéfalo e aos
nfvels mais altos da medula, onde ocupa uma pequena área '<• 'p 1
do funículo lateral. No tronco encefálico, ocupa uma grande ao n t •
área, preenchendo todo o espaço que não é preenchido pe- A formação reticular apresenta conexões amplas e va-
los tratos, fascículos e núcleos de estrutura mais compacta. riadas. Além de receber impulsos que entram pelos nervos
Um aspecto interessante, mostrado com técnicas de cranianos. ela mantém relações nos dois sentidos com o cé-
lmpregnaçào metálica, é que muitos neurónios da forma- rebro, o cerebelo e a medula, como será visto a seguir:
ção reticular têm axônios muito grandes que se bifurcam a) Conexões com o cérebro - a formação reticular pro-
dando um ramo ascendente e outro descendente, os quais jeta fibras para todo o córtelC cerebral, por via talã-
se estendem ao longo de todo o tronco encefálico, poden- mica e extratalâmica. Projeta-se também para áreas
do atingir a medula, o diencéfalo e o telencéfalo. do diencéfalo. Todavia, várias áreas do córtex cere-
A formação reticular não é uma estrutura homogênea, bral, do hipotálamo e do sistema límbico enviam
tanto em relação à sua cltoarquitetura como do ponto de fibras descendentes à formação reticular.
vista bioquímico. Apresenta grupos mais ou menos bem b) Conexões com o cerebelo-existem conexões nos dois
definidos de neurónios, com diferentes tipos de neurotrans- sentidos entre o cerebelo e a formação reticular.
missores, destacando-se as monoaminas, que são: noradre-
c) Conexões com a medula - dois grupos principais de
nalina; serotonina; dopamina. Esses grupos de neurônios
fibras ligam a formação reticular à medula, as fibras ,
constituem os núcleos da formação reticular com funções
rafesplnals e as fibras que constituem os tratos reri-
distintas. Ent1e eles. destacam-se os seguintes:
culosplnais. Entretanto. a formação reticular recebe
a) Núcleos da rafe - trata-se de urr1 conjunto de nove informações provenientes da medula através das
núcleos. entre os quais um dos mais importantes é fibras espinorretlcu/ares.
:: : : ,. e ,ões com núcleos dos nervos cranianos - os 3.1 Controle da atividade elétrica cortical -
i'Tlpulsos nervosos que entram pelos nervos cra- ddo vigília-sono
nianos sensitivos ganham a formação reticular
3.1.1 Aatividade elétrica cerebral e oeletroencefalograma
por meio das fibras que a ela se dirigem, a par-
tir dos seus núcleos. Há evidência de que infor- O córtex cerebral tem uma atividade elétrica espon-
mações visuais e olfatórias também ganham a tãnea, que determina os vâ~ios níveis de consciência. Essa
formação reticular por intermédio das conexões atividade pode ser detectada colocando-se eletrodos na
tet orreticulares e do feixe prosencefálico medial. superfície do crânio (eletroencefalograma, EEG). Os traça-
dos elétricos que se obtêm de um indivíduo ou de um ani-
3:;;.; Funções da for,nFffiíli[(flfli mal dormindo (traçados de sono) são muito diferentes dos
, a m rr
obtidos de um indivíduo ou animal acordado (traçados de
Embora simplificada, a análise das conexões da forma- vigília). Em vigília, o traçado elétrico é uniforme e dessincro-
ção reticular feita no item anterior mostra que estas são nizado, isto é, apresenta ondas de baixa amplitude e alta fre-
extremamente amplas. Isso nos permite concluir que a for- quência (Figura 20.1 A). Durante o sono, denominado sono
mação reticular influencia quase todos os setores do SNC, de ondas lentas ou sono não REM. o traçado é sincronizado,
o que é coerente com o grande número de funções que com ondas lentas e de grande amplírude (Figura 20.1 B). O
lhe têm sido atribuídas. Procurando acentuar as áreas e as sono é dividido entre sono REM e sono não REM. Este último
conexões envolvidas, estudaremos a seguir suas principais divide-se em três fases: as mais superficiais, N1, N2; e a mais
funções, distribuídas nos seguintes tópicos: profunda, N3. O sono REM aparece após um ciclo de sono
não REM. São quatro a cinco ciclos por noite. Na fase REM, o
a) controle da atividade elétrica cortical - ciclo vigllia-
eletroencefalograma mostra um traçado semelhante ao de
·sono;
vigília, apesar de a pessoa estar dormindo e com profundo
b) controle eferente da sensibílidade e da dor;
relaxamento muscular. Por isso, essa fase do sono é denomi-
c) controle da motricidade somática e postura; nada sono paradoxal. Durante essa fase, os olhos se movem
d) controle do sistema nervoso autônomo; rapidamente, por isso a denominação REM (rapid eye move-
e) controle neuroendócrlno; menl) (Figura 20.1C). Assim, o eletroencefalograma, além
f) integração de reflexos - centro respiratório e vaso- de ter uso clínico para o estudo da atividade cortical no
motor. homem, permite pesquisas sobre sono e vigília em animais.
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vam-se atividade nos eletrodos do eletroculograrna (EOG) e EEG
dessincronizado com baixa amplitude (3° a ao canais), além dos
outros par:lmetros monitorizados no exame.
184 NewoanatomiaFuncional
funções motoras, a formação reticular recebe aferências do 3.6 Integração de reflexos- centros respiratório
cerebelo e de áreas motoras do córtex cerebral. Entretan- e vasomotor
to, há evidência de que os tratos reticulospinais veiculam
Já há bastante tempo os fisiologistas identificaram na
também comandos motores descendentes. gerados na
formação reticular uma série de centros que, ao serem esti-
própria formação reticular e relacionados com alguns pa-
mulados eletricamente. desencªdeiam respostas motoras.
drões complexos e estereotipados de movimentos, como estereotipadas, características de fenômenos, como vômi-
os da locomoção. to, deglutição. locomoção, mastigação, movimentos ocu-
3.4 Controle do sistema nervoso autônomo lares, além de alterações respiratórias e vasomotoras. Esses
centros contêm neurônios geradores de padrões de ativi-
Vimos que os dois centros supraspinais mais Impor- dade motora estereotipada (partern generators) e podem
tantes para o controle do sistema nervoso autônomo são o ter sua atividade iniciada ou modificada por estímulos quí-
sistema límbico e o hipotálamo. Ambos têm amplas proje- micos, por comandos centrais (corticais ou hipotalâmicos)
ções para a formação reticular, a qual, por sua vez, se liga aos ou por aferências sensoriais. Nesse último caso, funcionam
neurónios pré-ganglionares do sistema nervoso autónomo, como centros integradores de reflexos em que os impulsos
estabelecendo-se, assim, o principal mecanismo de contro- aferentes dão origem a sequências motoras complicadas,
le da formação reticular sobre esse sistema. cuja execução envolve núcleos e áreas diversas e às vezes
distantes do SNC. Um exemplo de reflexo desse tipo é o
3.S Controle neuroendóaino
do vômito. descrito no Capítulo 17 (item 2.2.7). O centro do
Sabe-se que estímulos elétricos da formação reticular vômito está situado na formação reticular do bulbo, próxi-
do mesencéfalocausam liberação de ACTH (hormônio adre- mo ao núcleo do trato solitário, estendendo-se até a parte
nocorticotrófico) e de hormônio antidiurético. No controle Inferior da ponte, onde se situa o centro da deglutição. Na
hipotalãmico da liberação de vários hormônios adeno-hipo- formação reticular da ponte, próxima ao núcleo do nervo
fisários, estão envolvidos mecanismos noradrenérgicos e se- abducente, situa-se também o núcleo parabducente, consi-
rotoninérgicos, o que envolve também a formação reticular, derado o centro controlador dos movimentos conjugados
uma vez que nela se originam quase todas as fibras conten- dos olhos no sentido horizontal. Na formação reticular do
do essas monoaminas que se dirigem ao hipotálamo. mesencéfalo, situa-se o centro locomotor, que, no homem,
,~:i~.,._••• -· r ••• • ,
age em conjunto com o~ ce~tros 1ocomotorcs dil medula. respiratórios. No centro rcsp'rêltórlo, existem neu'ônios qJe
A mõstigaçâo é contro'. ad2 por 1eurônios da formação re:-·- rrantêm esoont ?.nean1entP. u rn rlr110 de disparos, geranrlo
cul.Jr adjacc1tc .ios ni.:clcos rnotorcs do trigémeo, do f-.ici~I :.1:ivlda::lc motoru mc'..>rno nuilusêncic1 de ;;fcr::nci:.1s. Os ncu
P. cio hipoqlr:ssc pa ril 'T)Ovi-n~ntc'!ção, respectiv2rriente, da rõ"1io~ IT,oro-e, rel.:icion.:ido~ c.om o~nt>rvos fr~nlc.o P ln:Pr•
rnand1b ula. dos lábios e ca língua. Esses neurônios coor- costais recebem tambérr floras co trate cortlcospinal, o Que
denam tarnbén-l 3 respira1;ão e receber , retroalirne,,taçâo f,-E)í~ i:f' o <"Ontr:-:lt=- vnlunt~riri d;i rt"c;pir;içi\n.
sensorial do núcl€o do tra:o solirario (gus~açac•) e do tr gé Convérn lcn1br.Jr qJc, µ:.;r un1 lüdo, ü fu·1ci:..:11ü •nc11to
mc.'O para tcxtu'a e tcm~c r.:itur;; do~ ,ilirncrno:; e pusi:,to do centro resi:i-atóri~ é bem mais complicado. Ele esrt
du rr élndíbL l::i. s:..tlJ in:luênLid uc hiµutci d11 10, o ~ue ex:.iliLd d~ 111:.,dií1t ..i·
Os neurônios gc·udo·cs de o.idrões de :l:ividade rno ç:ões do rirmo r;,sp·ratório pm cert;is slniações emo<"io-
101:1 es1ereo1ipada ao ·edcr do núcle:-> mornr íc1::la roorrJi:!- r..:iis. For outro l;;do. sabe-se que o .11.imcntc do tccr de
na11 a 11fmica carac!erisiica de situações emociona·:, como CO, no sangue :em ação çstimuladora direta sobre esse
sorriso e choro, que são di-=1ceis de se·er, prod~z·das volun- ccn.ro, que reecoe ainda irrpulsos nc-vosos or'ginados no
tari<.1mente. Assim como a medula, pcrt2nto, a formação re- corpo carotldeo. Os cuimiorreceptores do corpo carot·deo
li<. ul<u <.Jo .ronco !r:'H11ué111 ( 0111érr1 ~11upo~ <.J r nelHÕniu~lllle !>Jo !>en:,íveis ~ vc;1r io(,.Õt~ e.lo teor d~ oxi9ênlo de sangue,
(Oorden;irr reflexos€ pnnrÕ<>s i\Otorp:; f><;7f'rt"otirannc;, que o riç;inando ·rro1.lso, Cl lJ E> cheg;im ao cent ro respirri:ó'io
podem se tornar mais complexos sob o controle voluntário através de floras do 1ervo gloss:.>faríngeo, após sinap~e ·10
do c:órrex cerebral. n.ícleo do t rato solitário.
Por sua enorn,e importância, merecem destaque o cen-
3.6.2 Controle vasomotor: centro vasomotor
tro resoirorório e o cenrro vasomotor, que contrcl3m não só o
'ltmo respiratório cerno também o ritmo ca-díaco e a pres- Si:Jado na tormaçãc reticu ar do bu lbo, o centro va-
r,Jo ,1rtcri:ll, furi<, tx", indhp<•nr,Jv<•i\ t1 rnvnutcnçõo c u vidu. son;o1or co-ordena os rnecarfsmos que regulam o calibre
São, pois. centrc-:s virais, e: (n p:-e.~P.nça no :;.JI~:-> to•n;i ()lliil- vascular, do qual depende basicar-iente a pressão ãrterial,
quer lesão desse órgão extrernir1entc perigosa. Os centros ínfiue1clando tcrrbérn e rltn,o c:irciaco. lnforrnações so-
respiratório E vasomotor diferem dos derrais por func·onar bre a pressão arter ai chega 'TI ao núcleo co trato soli:ário
<.orno osciladores, ou :,eja, .iµ·esc'lt.1n1 cJtivicü<lc rít·nic..: es a parlir de barorrecepLo·es, siluadus pd11c·pa lr1ente rnJ
pontânea e sincronizada. respecrivamerne, com os 'i:1Tios seio carotldeo, trazdas pelas hbras aferen:es viscerais ge-
resplra:ório e cardloco. Ao que parece, essa atividade r"tmica rais do ne--vo vago. .A. partir do núcleo do t rato so1itário, os
é endégena, 01.. se;a, ·ndependente das aferê1cias s::nso'iois. impulsos passam para o centro vasoTlctor. ) esse centro.
A seguir, o fun:::ionam~nto des;E5 dois centros é estLda::!o de saern i'rbras ::iara os neurônios pré-q~ nglionares do '1úclec
• •
llldr1~11i.l sue 11lil. do·sal do_vago. resu lta1do i:.pulscs parassimpáticos e fi.
brr1s reticulospin;,is p;,ra os neurón ios pré-ganglionarp.s
3.6.1 Controle da respiraç.ão: centro respiratório da colunil lélterul da medula.. resul:ando ern ·rrpulsos siil -
lní::>rr"clçôes sobrr o <)íi.'lu de di'>tcnsJu c.k;~ .JlvC:•:.,I:.,~ pât icos. tv·1eca 1orreceptores ao cor:1ção e quimiorr~::ep-
p.Jlmonares r.onti-iuamente são levada.~ ?.O nl:,li=>o do tra- tores da a.:>rta são também importantes para a regulação
to solitãric pelas fibras aferentes vis:crais acrais do 1crvo oa ::iressào arterial. O cer t·o vasc,noror est á ainda sob
vago. Desse núcleo, os impulsos 1ervosos passam ao centro
- controle do hipot~lamo, responsável pe,o :Jurrento da
resoira,ório. Este SQ loc.:iliLa na formaçiÍo rctk.ul;:r do bulbo p·essão arterial resultante de si:uações erno:ion3is ou a1i:-
e apresent:1 uma p.:: rre dnr~al, que :-.ontrola a inspiração, e rnesmo ilntecip::idélmente, em c.:sos err1 que prevemos
OJtrc1 ventral, que regL. la a expiraçto.1 Do centro res::>iratórlo l Jmn <;itllilÇ~O dP. P.ST(P.t;~P..
saem fibrac; rPtir11loc;pinaic;, q ue terminam fa7erdo sinapse Outro núclcc lm~ort;;ntc é o parabraqui.il loctilizodo na
C•::>m os neurônios motores da porção cervical e tcréc ca da parte dorsc lr.TP.rill c:a ponte próxlmc: ao r.edt.'Jnc.11 o :::P.rebe-
rr1edula. Os primeiros d~o orlçiern ~s fiLYdS qJe, pelu 11ervo lcJ· suocrior. Desempenha pt1pcl fundurncntal na rcguluçâo
"Í'f!nic:o, vão ao diafragma. Os que se crigin?.m ra medL la de tl.Jicos e P.1€::rólitas P n~ f.1nção cardlovilscular princ:i-
torácica dão origerr1às tbras que, ~,elos nervo~ interccstais, palmen:e nil ·egulélçào dél p·essão ilrteial ern resposta à
vão aos múscu.os intercostais. Essas vias ~e importantes nf'mnrrilgi;i P ~ hipovolPmi?.. F 11m imr,ort,irtP 'PI~ Pr trP ;ic;
D,H.i c:1 rr1::111u .~r H,.5o refi1;;xê ou il\.. :ornêi li<.u dos rnovirn~n .os irformaçêcs do núcleo ao trato solitârio e os centros cn
cefálicos s·J :>eriores. Controla a ingestão de sal e ~gua e1n
rc~po~ri.i J vari..u:,:õcs dél pr<.:s5é'.io ilrtcr ial, inibindo i.l ing<.!stJo
"º
3 A yu·1) c!LltJ·o:~ wn,iu~1.irn t.,·111.;~rn ~r .1:11leri.e leriuc rt:)µi·,;tú·
em case- ce aumento da pres~20 e aurrentanco no caso de
rio o chamadc>~€nUO p1euno1âx co. s tuado r a formaç.jo rcti:ular da
pon:e e ql..e transrrhe ÍIT'p.ilscs n bitórios p;ira ~ par.e in~i::h,tória do ti·µut(•r•:,fio c.• hipovclcr, ii.1. lnílucnci:> ltHnbérr u resposlil du
c:en·ro reso ratórlc pcrttno. sistema nervoso aurêr omoe do reuroendócrino.
Localiza estimulo 5
Flexão normal 4
Flexão anormal 3
Extensão anormal 2
Nenhuma 1
Trauma leve Trauma moderado Trauma grave
13· 1S 9-12 3-8
Reatividade pupilar
-
- • , . •
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----- --~- •w._ , ,. •
-
Tabela 2.0.4 Alterações pupilares mais frequentes.
F3-A ' ~: í' 'J'\ ,·. ''•V 'f; •1\ r', l'' '.;.I· . 1• ••)'l '''• 1t ,t•c ,, , •~i>,1,•'1 • 1·• ',/ 1 • ,, ,,
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Figura 20.2 Pollssonografia de paciente portador de apnela obstrutiva do sono. Observa-se a interrupçAo do fluxo aéreo enquanto
permanece o esforço abdominal e torácico. Em seguida, observa-se um microdespertar que aumenta o esforço respiratório e permite a
passagem do ar. Seguem-se novos episódios de apneia. Observa-se a queda na saturaçAo de oxigênio e a variação da frequ~ncla cardíaca.
Fonre: Cortesia da Dra. Alessandra Zanatta.
de catecolaminas, causa aumento da frequência cardíaca e que inibem os neurónios geradores do sono REM na pon-
da pressão arterial, o que contribui para o aparecimento ou te. o sintoma mais caracteristlco é a sonolência excessiva
a piora da hipertensão arterial crônica. É também uma im- diurna, mesmo após uma noite de sono reparador. O esta-
portante causa de acidentes de trânsito. O tratamento mais do de vigilia é interrompido por súbitas e irresistíveis crises
eficaz é o uso de aparelhos de conrinuous positive airway de sono, que duram, em média, 15 a 20 minutos e podem
pressure (CPAP). Em alguns casos, a cirurgia para a retirada das causar acidentes, principalmente de tránslto. Em alguns
adenoides ou de avanço mandibular e o uso de aparelhos cochilos, o paciente entra rapidamente no sono REM. Além
ortodôntlcos específicos estão indicados. A polissonografia da sonolenda, elementos do sono REM passam a ocorrer
é o método neurofisiológico Indicado para diagnóstico pelo durante a vigília. A atonia do sono REM durante o estado
monitoramento de diversos parâmetros fisiológicos durante de vigília causa fraqueza súbita e perda do tónus, a cataple-
uma noite de sono. Pode ser complementado pelo teste das xia. Égeralmente limitada a alguns músculos da mandíbula
latências múltiplas do sono, que avalia o grau de sonolência ou do pescoço, mas nos casos graves são generalizadas.
diurna Figura 20.2. ocasionando queda súbita e Imobilidade por alguns se-
gundos. Em muitos casos, a cataplexia é desencadeada por
4.2.2 Narcolepsia gatilhos emocionais, como riso, susto ou surpresa. No inicio
A narcolepsia é um distúrbio do sono causado pela ou no final do sono, o indivíduo pode apresentar atonia e
perda seletiva dos neurônios que produzem a orexina, (hi· a desagradável sensação de estar acordado sem conseguir
pocretina), encontrados no hipotálamo lateral. A causa pa- se mexer: é a chamada paralisia do sono. Nesse momento,
rece ser autolmune e pode ser desencadeada pela infecç~o pode experimentar também as alucinações hlpnagóglcas,
ou pela vacina contra iníluenza. A orexina promove a vigília quando as Imagens de sonhos permanecem Já com o indi-
e suprime o sono REM ativando neurônios monoaminérgí- víduo acordado. O tratamento é feito com medicamentos
cos do focus ceruleus e do núcleo dorsal da rafe e os neu- estimulantes, como as anfetaminas e o modafinil, associa-
rônios gabaérgicos da substância cinzenta periaquedutal dos a cochilos programados durante o dia.
192 NeuroanatomlaFunàonal
4•.-~ Neurôniõsevias·ãcfrenéij"icas Na área tegmentar ventral, origina-se a via dopominérgica
mesolimbico (Figura 27.5), que se projeta para o núcleo ac-
Os neurônios adrenérgicos encontram-se misturados
cumbens, núcleos do septo e o córtex pré-frontal integrantes
aos noradrenérgicos do bulbo. Existem também neurônios
do sistema de recompensa ou de prazer do cérebro (Capítulo
adrenérgicos do tronco encefálico que se projetam para a
27, item 3.9). Há evidências de que alterações nessa via estão
coluna lateral da medula, modulando a atividade vasomo-
envolvidas na fisiopatologia da esquizofrenia.
tora por meio do sistema simpático. Outros se projetam
para o hipotálamo, participando do controle cardiovascular. Comparando-se as áreas de projeção das vias dopami-
nérglcas com as já estudadas para as vias serotoninérgicas
N úcleo coudodo __
-- --
--- Cerebelo
- - -- Fibra rofespinal
, ... ...
1 ....
Corpo omigdoloide - - .......
1
1
1
......
1 'Areo tegmenlor ventral
Vio tuberoinfund ibulor
O hipotálamo é parte do diencéfalo e se dispõe nas relacionadas com o sistema de recompensa e de alerta. O
paredes do Ili ventrículo. abaixo do sulco hipotalâmico, que hipotálamo lateral contém também neurônios orexinérgi-
o separa do tálamo (Figura 23.1 ). Lateralmente, é limitado cos que atuam na manutenção do estado de vigília.
pelo subtálamo; na porção anterior, pela lâmina terminal; e O hipotálamo pode ainda ser dividido por três planos
na posterior, pelo mesencéfalo. Apresenta também algumas frontais em hipotálamo supra-óptico, tuberal e mamilar ou
formações anatômicas visíveis na face inferior do cérebro: o posterior.
quiasma óptico; o túber cinéreo; o infundíbulo; e os corpos O hipotálamo supra-óptico compreende o quiasma óptico
mamilares (Figuras 7 .8 e 22.1 ). Trata-se de uma área muito e toda a área situada aclma dele, nas paredes do Ili ventrículo
pequena, mas, apesar disso, o hipotálamo. por suas Inúme- até o sulco hipotalâmico. O hipotálamo tuberal compreende
ras e variadas funções, é uma das áreas mais importantes do o túber cinéreo (ao qual se liga o lnfundibulo) e toda a área
sistema nervoso. situada acima dele, nas paredes do Ili ventrículo até o sulco
hipotalãmico. O hipotálamo posterior compreende os cor-
pos mamilares com seus núcleos e as áreas das paredes do
O hipotálamo é constituído fundamentalmente de Ili ventrículo, que se encontram acima deles, até o sulco hi-
substAncla cinzenta, que se agrupa em núcleos. :is vezes de potalãmico. Contém também os neurônios histaminérgicos
difícil individualização. Percorrendo o hipotálamo. existem, no núcleo tuberomamllar e controla o despertar.
ainda, sistemas variados de fibras. alguns muito conspícuos. Na parte mais anterior do Ili ventrículo, próximo da lâ-
como o fórnice. Este percorre de cima para baixo cada me· mina terminal, há uma pequena área, denominada área pré·
tade do hipotálamo, terminando no respectivo corpo ma- -óptica. Essa área é embriologicamente derivada da porção
milar. O fórnice permite dividir o hipotálamo em uma área central da vesícula telencefálica e não pertence, pois, ao
medial e outra lateral (Figura 21.1 ). A área medial do hipo- diencéfalo. Apesar disso. ela é estudada junto com o dien-
tálamo, situada entre o fórnice e as paredes do Ili ventrículo, céfalo, pois funcionalmente liga-se ao hipotálamo supra-
é rica em substância cinzenta e nela estão os principais nú- -óptico. Na área pré-óptica, localiza-se o órgão vascular da
cleos do hipotálamo. A área lateral, situada lateralmente ao lâmina terminal, no qual não existe barreira hematoencefá-
fórnice, contém menos corpos de neurônios e nela há pre- lica, e que funciona como um sensor especialiLado em de-
domlnancia de fibras de direção longitudinal. A área lateral tectar sinais químicos para termorregulação e metabolismo
do hipotálamo é percorrida pelo feixe prosencefálico medial salino. O núcleo pré-óptico medial é um importante centro
(Figura 27.5), complexo sistema de fibras que estabelecem de regulação dos fluidos corporais, osmolaridade, tempera-
conexões nos dois sentidos, entre a área septal, pertencen- tura, sono e homeostase cardiovascular.
te ao sistema límbico, e a formação reticular do mesencé- Os principais núcleos do hipotálamo (Figura 21.1) es-
falo. Muitas dessas fibras terminam no hipotálamo e estão tão relacionados na chave a seguir.
1
As conexões e funções desses núcleos serão estudadas
nos itens seguintes.
O hipotálamo tem conexões muito amplas e compli·
cadas, com diferentes regiões do sistema nervoso central
órgão vascular da lamina terminal (SNC), algumas por meio de fibras que se reúnem em feixes
área núcleo pré-óptico medial bem definidos, outras por meio de feixes mais difusos e de
pré-óptica núcleo pré-óptico lateral difícil identificação. Tem também conexões lntra-hlpotaltlml•
núcleo pré-óptico ventrolateral cas entre alguns de seus diferentes núcleos. O hipotálamo
recebe sinais das vias sensoriais, de várias áreas do SNC e
tem eferências que, como resultado final, contribuirão para
núcleo supraquiasmático a regulação da homeostasia. A seguir, serão estudadas, de
supra-óptico núcleo supra-óptico maneira esquemática, apenas as conexões mais Importan-
núcleo paraventricular tes, agrupadas de modo a evidenciar as suas relações com as
Hipotálamo grandes funções do hipotálamo.
Sulco Núcleo
Aderência lntertalõmica hipotalámlco dor$0medial Forame
interventricular
'' \
\ 1
1
'' \
\ 1
'' \ 1
1 ,,,,., , · fómice
Traio
''' \
1
,,.,
--
\
mamilotalômico \ 1
....,_
\
1
,,,,,,,,
., __ Comlssura anterior
\
\ '
1
--
Núcleo poroventricular
Lâmina terminal
\
Nervo 1 \ Núcleo supra-óptico
I I \
oeulomotor- - - I
I \
I
,,,. I 1
1
',
,.,. / 1 / • Núcleo suproquiasmática
''
/
I / \
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I
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I
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Corpo /
,' I • \
I I I \
mamilar
,
,I /
I
Núcleo
/
/
I
Núcleo ',
\
Figura 21. 1 Esquema da regíáo hipotal~mlca do hemisfério esquerdo mostrando os principais núcleos. O fórnlce divide o hipotálamo em
uma área lateral (em vermelho) e outra medial (em amarelo), onde est~o os principais núcleos.
Fonce: Modificada de NAUTA WJ.F~HAYMAKER. W. The hypothalamus. Springfield. lL: C.C. Thomas. 1969.
198 NturoanatomiaFuncional
seguem para o núcleo anterior do tâlamo através em neurossecreção, transportando os hormônios
do fascfcufo momifotafômico (Figura 23.2), fazendo antidiurético (ADH ou vasopressina) e ocltocina.
parte do chamado circuito de Popez (Figura 27.2). b) Trato tuberoinfundibular (ou túbero-hipofisário) - é
Dos núcleos mamilares, impulsos nervosos chegam constituído de fibras que se originam em neurô-
também à formação reticular do mesencéfalo pelo nios pequenos (parvocelulares) do núcleo arquea-
foscfcufo mamilotegmentor. do e em áreas vizinhas do hipotálamo tuberal e
b) Corpo amigdafoide - fibras originadas nos núdeos terminam na eminência mediana e na haste infun-
do corpo amigdaloide chegam ao hipotálamo, prin- dibular (Figura 21.3). Essas fibras transportam os
cipalmente através da estria terminal (Figura 7.3). hormônios que ativam ou inibem as secreções dos
c) Área septo/- a área septal liga-se ao hipotálamo por hormônios da adeno-hlpófise.
meio de fibras que percorrem o feixe prosencefáli-
co medial.
Núcleo paraventricular----
2.2 Conexões com a área pré-frontal
Estas conexões têm o mesmo sentido funcional das
anteriores, visto que o córtex da área pré-frontal também Núcleo supr<HJptico ----
se relaciona com o comportamento emocional. A área pré-
-frontal mantém conexões com o hipotálamo diretamente
ou por Intermédio do núcleo dorsomedlal do tálamo.
,,,
,, ... ~--~--'
2.3 Conexões viscerais ,,,,, .,, ,,. ,.
Para exercer o seu papel básico de controlador das fun- ,,,,
ções viscerais, o hipotálamo mantém conexões aferentes e Traio hipatalomo-hipafisório
eferentes com os neurônios da medula e do tronco encefá-
lico relacionados com essas funções.
3.6.2 Relações do hipotálamo com aadeno-hipófise 3.7 Geração e regulação de ritmos drcadlanos
O hipotálamo regula a secreção dos hormônios da A maioria de nossos pararnetros tislológicos, metabó-
adeno-hipófise por um mecanismo que envolve uma cone- licos ou mesmo comportamentais sofre oscilações que
xão nervosa e outra vascular. Através da primeira, neurônios se repetem no período de 24 horas. Isso é observado, por
· . - - - - --Camada molecular
,,,..-~
•
O cerebelo e o cérebro são os dois órgãos que cons- ~- - - - Camada de células
tituem o sistema nervoso suprassegmentar. O cerebelo ✓✓ de Purldn je
• ..:,.-J)1[,.
represenra apenas 10% do volume do encéfalo, porém
- - - -Camoda granular
contém mais da metade dos neurónios. Tanto o cerebelo
••
como o cérebro apresentam um córtex que envolve urn
centro de substância branca (o centro medular do cérebro e
o corpo medular do cerebelo), onde são observadas massas
de substância cinzenta (os núcleos centrais do cerebelo e
os núcleos da base do cérebro). Entretanto, veremos que a
estrutura fina do córtex cerebral é muito mais complexa do
que a do cerebelo, variando nas diversas áreas cerebrais, en-
quanto no cerebelo ela é uniforme. A Ideia inicial de que o
cerebelo teria funções exclusivamente motoras não é mais
aceita, pois sabe-se hoje que ele participa também de algu- Figura 22.1 Fotomicrografia de um corre histológico de três fo-
mas funções cognitivas. lhas do cerebelo mostrando as camadas (tricrómico de Gomorl,
aumento 40x).
No córtex cerebelar, da superfície para o fnteríor, dlstfn- Estas últimas são assim denominadas por apresentarem
guem-se as segufntes camadas (Figuras 22.1 e 22.2): sinapses axossomáticas dispostas em torno do corpo das
células de Purkinje, à maneira de um cesto (Figura 22.3).
a) camada molecular;
A camada granular é constituída principalmente por
b) camadas de células de Purkinje;
células granulares ou grânulos do cerebelo, células muito
c) camada granular.
pequenas (as menores do corpo humano). cujo citoplasma
lnicfaremos pelo estudo da camada média, formada é muito reduzido. Essas células. extremamente numerosas,
por uma fileira de células de Purkinje, os elementos mais têm vários dendrites e um axônio que atravessa a cama-
fmportantes do cerebelo. As células de Purkinje, piriformes da de células de PurkinJe e, ao atingir a camada molecular,
e grandes (Figura 22.1 ), são dotadas de dendrites, que se bifurca-se em T (Figura 22.3). Os ramos resultantes dessa
ramificam na camada molecular. e de um axônio, que sai em bifurcação constituem as chamadas fibras paralelos, que se
direção oposta (Figura 22.3), terminando nos núcleos cen- dfspõem paralelamente ao eixo da folha cerebelar. Essas
trais do cerebelo, onde exercem ação inibitória. Esses axônios fibras. dispostas ao longo do eixo da folha cerebelar, esta-
constftuem as únicas fibras e-ferentes do córtex do cerebelo. belecem sinapses com os dendrites das células de Purkinje,
A camada molecular é formada principalmente por fi- lembrando a disposição dos fios nos postes de luz (Figura
bras de direção paralela (fibras paralelas) e contém dois ti- 22.3). Desse modo, cada célula granular faz sinapse com
pos de neurônios, as células estreladas e as células em cesto. um grande número de células de Purklnje.
Na camada granular, existe ainda outro tipo de neurô- ção em que as inforrnações que chegam ao cerebelo de
nio, as células de Golgi (Figura 22.3), com ramificações mul- vários setores do sistema nervoso agem inicialmente sobre
to amplas. Essas células, entretanto, são menos numerosas os neurônios dos núcleos centrais de onde saem as respos-
do que as granulares. tas eferentes do cerebelo. A atividade desses neurônios,
por sua vez, é modulada pela ação inibidora das células de
Purkinje. Na realidi.lde, as conexões intrínsecas do cerebelo
são mais complexas, urna vez que o circuito formado pela
união das células granulares com as células de Purkinje é
modulado pela ação de três outras células inibitórias: as
células de Golgi; as células em cesto; e as células estrela-
das. Essas células, assim como as células de Purkinje, agem
mediante a liberação de ácido gama-aminobutírico (GABA}.
CM Já a célula granular, única célula excitatória do córtex cere-
belar, ten, como neurotransmissor o glutamato. A célula de
Purkinje recebe, portanto, sinapses diretamente das fibras
• trepadeiras e indiretarnente das fibras musgosas. Projeta-se
depois para os núcleos centrais do cerebelo ou para o nú-
• .. cleo vestibular, no caso do lobo floculonodular, sendo estas
as vias de saída do cerebelo.
Camada molecular
•
Camada de células • •••• • •
•• •••
de Purkinje { :....
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Comodo gronulor
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Corpo medular
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do cerebelo 1 ••-
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, \\_t1 Glomérulo cerebelor
1
/ f ' ,,,, •
', - Fibra musgoso
Célula gronulor - - - - - - - I ,,, ...
'- - - - - Fibra trepadeira
Axônios de célula de Purkinje - - - - - - - _____ ...J,'
Figura ll.3 Diagrama esquemático de duas folhas do cerebelo mostrando o arranjo das células e das fibras no córtex cerebelar.
Fibra paralelo
\
\
\
\
,,,, ,, Purkinje
,,
Célula
granular -
Neurônio dos
núcleos centrais
Fibra Fibra
musgoso trepadeira
,.• ~
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1 .: //
1 ',
Figura 22.s Secçé\o horizontal do cerebelo mostrando os núcleos centrais (método de Barnard, Roberts, Brown).
-- ~~.-
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Esta maneira de se dividir o cerebelo, com base nas co-
nexões do córtex com os núcleos centrais, dá a base para
Vimos no Capitulo 5, parle B, item 4 a divisão anatô- divisão funclonal do cerebelo err1 três partes, a saber:
mica do cerebelo, em que as partes se distribuem trans-
versalmente (Figura 5.7). Existe rambém uma divisão a) Vestibulocerebelo - compreende o lobo floculono-
longitudinal, em que as partes do corpo do cerebelo se dis- dular e tem conexões com o núcleo fastigial e os
põem no senrido medlolareral (Figura 22.6). Distinguem- núcleos vestibulares.
-se uma zona medial, lmpar, correspondendo ao verme, e, b) Espinocerebelo - compreende o verme e a zona in-
de cada lado, uma zona intermédio paravermlana e uma termédia dos hemisférios e tem conexões com a
zona lateral, correspondendo à maior parte dos hemisférios. medula.
A zona lateral, entretanto, não se separa da zona intermédia c) Cerebrocerebelo - compreende a zona lateral e tem
por nenhum elemento visível na superfície do cerebelo. Os conexões com o córtex cerebral.
axõnios das células de Purkinje da zona lateral projetam-se O esquema a seguir mostra a divisão longitudinal doce-
para o núcleo denteado; os da zona medial, para os núcleos rebelo (Figura 22.6) e as três divisões funcionais que serão
fasligial e vestibular lateral; e os da zona intermédia, para o adotadas para o estudo de suas conexões.
núcleo interpósito. As células de Purkinje do lobo floculo-
nodular projetam-se para o núcleo fastigial ou diretamente
para os núcleos vestibulares. Cerebelo
Divisão anatômica DlvlsAo funcional
Nódulo
,J/ --
· Espinocerebelo
- ------ Troto
inferior
espinocerebelor
6.2 Vestibulocerebelo .>.--;<t, esplnocerebelor
anterior
posterior
6.2.1 Conexões aferentes
As fibras aferentes chegam ao cerebelo pelo fascículo
vestíbulocerebelar, têm origem nos núcleos vestibulares e
distribuem-se ao lobo floculonodular (Figura 15.2). Trazem
Agura 22.7 Conexões aferentes do espinoce,ebelo.
Informações originadas na parte vestibular do ouvido inter-
no sobre a posição da cabeça, importantes para a manuten-
ção do equilíbrio e da postura básica. 6.3.2 Conexões eferentes
Os axônios das células de Purkinje da zona Intermédia
61.2 Conexões eferentes
fazem sinapse no núcleo interpósito, de onde saem fibras
As células de Purkinje do vestibulocerebelo projetam- para o núcleo rubro e para o tálamo do lado oposto. Por
-se para os neurónios dos núcleos vestibulares medial e la- meio das prirneiras, o cerebelo iníluencia os neurónios mo-
teral. Por intermédio do núcleo lateral. modulam os tratos tores pelo trato rubrospinal, constituindo-se a via inrerpósi-
vestibulospinais lateral e medial. que controlam a muscula- ro-rubrospinal (Figura 22.8 ). Já os Impulsos que vão para
tura axial e extensora dos membros para manter o equillbrio o tálamo seguem para as áreas motoras do córtex cerebral
na postura e na marcha, fazendo parte do sistema motor (via lnterpósito-tálamo-cortican, onde se origina o trato cor-
medial da medula. Projeções inibitórias das células de Pur-
ticospinal (Figura 22.8). Asslrn. por intermédio desses dois
kinje para os núcleos vestibulares mediais controlam os mo-
tratos, o cerebelo exerce a sua influência sobre os neurônios
vimentos oculares e coordenam os movimentos da cabeça
motores da medula situados do mesmo lado. A ação do nú-
e dos olhos por meio do fascículo longitudinal medial.
cleo interpósito é realizada diretamente sobre os neurônios
6.3 Espinocerebelo motore.~ do grupo lateral da coluna anterior, que controlam
os músculos distais dos mernbros responsáveis por movi-
6.3.1 Conexões aferentes mentos delicados.
Essas conexões são representadas principalmente pe- Os axónios das células de Purkinje da zona medial fa-
los tratos esoinocerebelor anterior e espinocerebelor posrerior zem sinapse nos núdeos fastlgiais. de onde sai o trato fas-
(Figura 22.7), que penetram no cerebelo, respectivamente, tigiobulbar com dois tipos de fibras: fastigiovestibulores e
pelos pedúnculos cerebelares superior e inferior e terminam fostigiorreticulores. As primeiras fazem sinapse nos núcleos
no córtex das zonas medial e intermédia. Recebe tambélTl vestibulares. a partir dos quais os impulsos nervosos, por
informações visuais, auditivas, vestibulares e somatossenso- meio do trato vestibulospinal, projetam-se sobre os neurô-
riais. O verme controla a postura, locomoção e movimen- nios motores (Figura 15.2); as segundas terminam na for-
tos oculares. A lesão da área visual do verme prejudica os mação reticular, a partir da qual os impulsos atingem, pelos
movimentos sacádicos que. desregulados, ultrapassam o tratos reticulospinais, os neurônios motores. Em ambos os
alvo e causam oscilações. Por meio do trato espinocerebc- casos, a lníluêncla do cerebelo se exerce sobre os neuró-
lar posterior, o cerebelo recebe sinais sensoriais originados nios motores do grupo medial da coluna anterior, os quais
em receptores proprloceptivos e, em menor grau, de outros
controlam a musculatura axial e proximal dos membros. no
receptores somáticos, o que lhe permite avaliar o grau de
sentido de manter o equilíbrio e a postura.
contração dos músculos, a tensão nas cápsulas articulares
e nos tendões, assim como as posições e velocidades do 6.4 Cerebrocerebelo
movimento das partes do corpo. Já as fibras do trato espino-
cerebelar anterior são ativadas principalmente pelos sinais 6.4.1 Conexões aferentes
motores que chegam à medula pelos tratos corticospinal e As fibras pontinos, também chamadas pontocerebelares,
rubrospinal, permitindo ao cerebelo avaliar o grau de ativi- têm origem nos núcleos pontinos. penetram no cerebelo
dade nesse trato. pelo pedúnculo cerebelar médio, distribuindo-se ao córtex
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Tólomo
t N úcleo rubro
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. I~
Zona intermédio /,1 í)lf~
Troto rubrospinol
Troto corticospinol
da zona lateral dos hemisférios. Fazem parte da via cortico- Por intermédio desse trato, o núcleo denteado participa
pontocerebelar (Figura 22.9), por meio da qual chegam ao da atividade motora, agindo sobre a musculatura distal
cerebelo informações oriundas de áreas motoras e não mo- dos membros responsáveis por movimentos finos que en-
toras do córtex cerebral. A projeção córtico-pontocerebelar volvem múltiplas articulações. Controla o planejamento, o
tem mais fibras do que a projeção corticospinal, o que dá início, a velocidade e o tempo do movimento. O distúrbio
uma ideia da sua impomncia funcional. causa o tremor de ação e dismetrla.
21 O Neuroanatomia Funcional
- -~----- --
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- ... . .
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Área cortical motora
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....:,.. ..- ..-.•...· ..
. .... . . .
T61amo
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oô
Troto corticospinol
Núc.lao denleado
Fibros ponto-cerebelores
Flguni 22,9 Conexões do cerebrocerebelo: aferentes (em preto) e eferentes (em vermelho).
7.1 Manuten~o do equilíbrio e da postura movimento, certo nível de atividade espontãnea. Essa ati·
Essas funções se fazem basicamente pelo vestibuloce- vidade, agindo sobre os neurônios motores das vias laterais
rebelo, que promove a contração adequada dos músculos (tratos corticospinal e rubrospinal) é também importante
axiais e proximais dos membros, de modo a manter o equi- para a manutenção do tõnus.
líbrio e a postura normal, mesmo nas condições em que o
corpo se desloca. A influência do cerebelo é transmitida aos 7.3 Controle dos movimentos voluntários
neurônios motores pelos tratos vestibulospinais. O papel do cerebelo no controle dos movimentos vo-
luntários é amplamente conhecido. Lesões do cerebelo têm
7.2 Controle do t6nus muscular como sintomatologia uma grave ataxia, ou seja. falta de
Um dos sintomas da descerebelízação é a perda do coordenação dos movimentos voluntários decorrentes de
tônus muscular, que pode ocorrer também por lesão dos erros na força. extensão e direção do movimento. O meca-
núdeos centrais. Sabe-se que esses núcleos, em especial o nismo pelo qual o cerebelo controla o movimento envolve
dendeado e interposto, mantêm, mesmo na ausência de duas etapas: uma de planejamenro do movimenco e outra de
Flg~ra ~.10 . Ressonància magnética mostrando tumor envolvendo a linha média cerebelar. O paciente apresentava cefaleia e vómitos
matinais, devido a obstrução liquórica, causando hipertensão lntracraniana e hidrocefalia: perda de peso e ataxla de marcha. (A) Corte
sagltal. (B) Corte coronal.
8.4 Algumas considerações sobre as lesões cerebelares O cerebelo tem fortes conexões com as estruturas lím-
bicas e cognitivas. Participa da regulação dos estados emo-
Os distúrbios cerebelares podem estar associados a inú-
cionais, comportamento social, linguagem e cognição. Isto
meras causas: malformações congênitas; hereditárias; infec-
fica evidente por meio dos quadro clínicos em lesões cere-
ciosas; neoplásicas vasculares; e outras. Uma das principais
belares em que o paciente passa a apresentar uma síndro-
caracteristicas é que as lesões cerebelares causam sintomas me cognitivo-afetiva associada aos distúrbios motores. As
ipsilaterais. As síndromes do vestlbulocerebelo, do espino- lesões da linha média ou do verme ocasionam desregula-
cerebelo e do cerebrocerebelo nem sempre são observadas ção emocional e afetiva decorrente da ligação com as áreas
de forma Isolada na prática clínica. límbicas. Os danos ao hemisfério cerebelar direito podem
Do ponto de vista puramente clínico. e tendo em vista ocasionar distúrbios de linguagem presumivelmente pela
principalmente a localização de tumores cerebelares. os neu- ligação com as áreas de linguagem do hemisfério cerebral
rologistas costumam distinguir dois quadros patológicos do esquerdo. Do mesmo modo, as lesões do hemisfério cere-
cerebelo: lesões do verme; e lesões dos hemisférios. As lesões belar esquerdo podem ocasionar disfunções visuoespaciais
hemisféricas manifestam-se nos membros do lado lesado em virtude das conexões com o hemisfério cerebral direi-
e dão sintomatologia relacionada com a coordenação dos to. Alguns pacientes desenvolvem déficits cognitivos com
movimentos. Já a lesão do verme manifesta-se principal- graus deferentes de compensação após a lesão. Em alguns
mente por perda do equilíbrio. com alargamento da base casos, principalmente se a lesão for precoce na infância, es-
de sustentação e alterações da marcha (marcha atáxica) e ses déficits podem ser robustos, o que confirma o papel do
da fala (Figura22.10). cerebelo no neurodesenvolvlmento. O cerebelo está envol-
O cerebelo tem notável capacidade de recuperação vido na fislopatologia de diversos transtornos psiquiátricos,
funcional quando há lesões de seu córtex, sobretudo em como o autismo e a esquizofrenia. Estudos demonstraram
crianças, ou quando as lesões aparecem de maneira gradual. que no autismo assim como em alguns quadros de deficiên-
Para isso, concorre o fato de o seu córtex ter uma estrutura cia intelectual há redução do número de células de Purkinje.
uniforme, permitindo que as áreas intactas assumam pouco a leitura sugerida
pouco as funções das áreas lesadas. Entretanto, a recuperação
BODRANGHIEN, F.; BASTIAN. A; CASAU, C; et ai. Consensus paper:
não ocorre quando as lesões atingem os núcleos centrais.
revisfting the symptoms and signs of cerebelar syndrome. Ce·
8.S Funções não motoras rebellum. 2016, 15:369-391.
ADAMASZEK. M.; D'AGATA, F.; FERRUCCI, R.; et ai. Consensus paper:
A principio, considerava-se que o cerebelo teria apenas cerebellum and emotion. Cerebellum. 2017, 16:552-576.
funções motoras. No entanto, estudos de neurolmagem fun- STATE. MW.; SESTAN N. The emerglng blology of autism spectrum
cional demonstraram que ele também participa de funções disorders. Science. 2012, 337:1301-1303.
cognitivas, executadas principalmente pelo cerebrocerebelo. STOODLEY. CJ.; SCHMAHMANN JD. Evidence for topographlc orga-
Este, além de suas conexões relacionadas com a motricida- nization in the cerebellum of motor contrai versus cognitive
de, tem também conexões com a área pré-frontal do córtex, and affective processing. Cortex. 2010,46(7):831-44.
evidenciando funções não motoras, como resolver quebra- STOODLEY CJ.; VALERAD. EM. SCHMAHMANN JD. Functional topo-
-cabeças, associar palavras a verbos, resolver mentalmente graphy of cerebellum for motor and cognitive tasks: an fMRI
operações aritméticas e reconhecer figuras complexas. study. Neuroimage. 2012;59(2): 1560-70.
Estrutura e Funções do Tálamo,
Subtálamo e Epitálamo
Comissura
/, dos habênulas
Estria medular - _
---- --- ----- -
, ,,,
/
/
-- -- Comissura
,, .,, ~ pos lerior
Sulco hipota 1ômico - _ __ · -- - - .....
-,~.,..;~;.; ;.-. _._.____ • ~ lamo
...-----'
►
-- c.ooo.. _ _
- - - - Glândula pineal
't) Hipotólomo
lâmina terminal - - -~--..,.--:i,-t \
~ - - - Aqueduto cerebral
...
Quiasma óptico - - - --- -- - Corpo momilor
\
\
\
\
\
\
\
\
I \
I .
I Túber cinéreo
lnfundíbulo
F19ur1 23.1 Diencêfalo mostrando algumas estruturas do epítálamo, tálamo e hipotálamo nas paredes do Ili ventrículo.
O tálamo é fundamentalmente constituído de substân- 2. Núcleos do tálamo
cia cinzenta, na qual se distinguem vários núcleos. Contudo,
a sua superfície dorsal é revestida por uma lâmina de subs- Os núcleos do tálamo são muito numerosos, tendo sido
tância branca, o estrato zonal do tálamo, que se estende identificados mais de 50 núcleos. Estudaremos somente os
à sua face lateral, onde recebe o nome de lômina medular principais que podem ser divididos em cinco grupos, de
externa. Entre esta e a cápsula interna, situada lateralmen- acordo com a sua posição, a saber: anterior; posterior; media-
te, localiza-se o núcleo reticular do tálamo. O estrato zonal no; medial; e lateral.
penetra no tálamo, formando um verdadeiro septo. a lômi-
no medular interna, que o percorre longitudinalmente. Em 2.1 Grupoanterior
sua extremidade anterior, essa lâmina bifurca-se em Y, de- Compreende núcleos situados no tubérculo anterior do
limitando anteriormente uma área onde estão os núcleos tálamo, sendo limitados posteriormente pela bifurcação em
talâmicos anteriores (Figura 23.2). No interior da làmina Y da lâmina medular interna (Figura 23.2). Esses núcleos
medular interna, há pequenas massas de substância cinzen- recebem fibras dos núcleos mamilares pelo fascfculo ma-
ta, que constituem os núcleos inrrolaminares do ró/amo. Essa milotalômico (Figura 23.2) e projetam fibras para o córtex
lâmina é um Importante ponto de referência para a divisão do giro do cíngulo e frontal, Integrando o circuito de Papez
dos núcleos do tálamo em grupos. (Figura 27 .2), relacionado com a memória.
1
Núcleos do grupo medial - , ' ', ' , - ~ ---.. /.n I
/
1 /
Núcleos do - _ _ ..
I
/ /
I
grupo anterior
Corpo geniculodo
medial
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1
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1
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\
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Braço do
1 I 1 1 calículo Inferior
1 I I 1
I
I \
'\ \ 1 1
I'
\ L _ ~ arpo geniculodo
N úcleo venlrol anterior
N úcleo ventral intermédio
I
1
J I
1
J
I
I \
\ \
'11 lateral
I 1 \ \
1 '- - Troto óptico
Núcleos do subgrupo dorsal do grupo lateral
Núcleo ventral posterolalerol - - - - - - -
1
1
'I I
\
\
\
\
\_ . Lemnisco trigeminai
I \
Núcleo ventral posteromediol -- - - - - •- - - - J \_ Lemniscos medial
e espinal
Rgura 23,2 Representação esquemática dos principais núcleos do tálamo (o núcleo reticular não foi representado).
2 16 Neuroanatomia Funcional
2.2 Grupo posterior O núcleo dorsomedial recebe fibras principalmente do
Situado na parte posterior do tálamo, compreende o pul- corpo amigdaloide e tem conexões recíprocas com a par-
vinar e os corpos geniculados lateral e medial (Figura 23.2): te anterior do lobo frontal, denominada área pré-frontal. As
suas funções relacionam-se com as funções dessa área, que
a) Pulvinor - tem conexões recíprocas com a chamada serão estudadas no Capítulo 26 (itern 4. 1).
área de associação temporoparietal do córtex ce-
rebral, situada nos giros angular e supramarginal. 2.5 Grupo lateral
Apesar de ser o maior núcleo talámico do homem, Este grupo é o mais importante e o mais complicado.
suas funções não são ainda bem conhecidas. Em- Compreende núcleos situados lateralmente à lâmina me·
bora existam relatos ocasionais de problemas de dular interna, que podem ser divididos em dois subgrupos,
linguagem associados a lesões do pulvinar. nenhu- ventral e dorsal' (Figura 23.2). São mais importantes os nú-
rna síndrome particular e nenhum déficit sensorial cleos do subgrupo venerai, ou seja:
resultam dessas lesões. Parece estar envolvido nos
processos de atenção seletiva. a) Núcleo ventral oncerior (VAJ - recebe a maioria das
fibras que. do globo pálido, se dirigem para o tá-
b) Corpo geniculodo medial- recebe pelo braço doca-
lamo. Projeta-se para as áreas motoras do córtex
lículo inferior fibras provenientes desse colículo ou
cerebral e tem função ligada ao planejamento e à
diretamente do lemnisco lateral. Projeta fibras para
execução da motricidade somática.
a área auditiva do córtex cerebral no giro temporal
b) Núcleo venerai lateral (VL) - também denorninado
transverso anterior, sendo, pois, um componente
ventral intermédio, recebe as fibras do cerebelo e
da via auditiva.
projeta-se para as áreas motoras do córtex cerebral.
c) Corpo geniculado lateral - a rigor, não é um nú- Integra, pois. a via cerebelo-tálamo-cortical, Já estu-
cleo, pois é formado de camadas concêntricas de
dada a propósito do cerebelo. Além disso, o núcleo
substância branca e cinzenta. Recebe pelo trato ventral lateral recebe parte das fibras que, do globo
óptico fibras provenientes da retina. Projeta fibras pálido, se dirigem ao tálamo.
pelo trato geniculocalcarino (radiação óptica)
e) Núcleo ventral posterolacerol - núcleo das vias sen-
para a área visual primária do córtex situada nas
sitivas, recebendo fibras dos lemniscos medial e
bordas do sulco calcarino. Faz parte, portanto, das
espinal. Vale ressaltar que o lemnisco medial leva os
vias ópticas.
impulsos de tato epicrítico e propriocepção cons-
2.3 Grupo mediano ciente. Já o lemnisco espinal, formado pela união
dos tratos espinotalâmicos lateral e anterior, trans-
São núcleos localizados próximo ao plano sagital me- porta impulsos de temperatura. dor, pressão e rato
diano, na aderência intertalâmica (Figura 23.2) ou na subs- protopático.O núcleo vent ral posterolateral projeta
tância cinzenta periventricular. Muito desenvolvidos nos fibras para o córtex do giro pós-central, onde se lo-
vertebrados inferiores, os núcleos do grupo mediano são caliza a área somestésica.
pequenos e de difícil delimitação no homem. Têm cone-
d) Núcleo venerai posteromediol - também um núcleo
xões principalmente com o hipotálamo e, possivelmente, das vias sensitivas. Recebe fibras do lemnisco tri-
relacionam-se com funções viscerais. geminai. trazendo sensibilidade somática geral de
2.4 Grupo medial parte da cabeça e fibras gustativas provenientes do
núcleo do trato solitário (fibras solitário-talâmicas).
O grupo medial (Figura 23.2) compreende os núcleos Projeta fibras para a área sornestésica, situada no
situados dentro da lâmina medular interna (núcleos incrala- giro pós-central, e para a área gustativa, situada na
minares) e o núcleo dorsomediol, situado entre essa lâmina parte anterior da insula.
e os núcleos do grupo mediano. Os núcleos intralaminares, e) Núcleo reticular - constituído por urna fina calota
entre os quais se destaca o núcleo centromediano (Figura de substância cinzenta disposta lateralmente en-
23.2), recebem um grande número de fibras da formação tre a massa principal de núcleos que constitui o
reticular e têm importante papel ativador sobre o córtex ovoide talâmico e a cápsula interna. Nessa posição,
cerebral, integrando o sistema ativador reticular ascenden- e'e é atravessado pela quase totalidade das fibras
te (SARA) (Capítulo 20). tálamo-corticais que passam pela cápsula interna
A via que liga a formação reticular ao córtex, por meio e que, ao atravessá-lo. dâo colaterais que nele es·
dos núcleos lntralamlnares, proporciona uma vaga per- tabelecem sinapses. O núcleo reticular difere dos
cepção sensorial sem especificidade, mas com reações
emocionais especialmente para estímulos dolorosos. Le-
sões no núcleo centromediano já foram feitas para alívlar 1 Os núcleos do subgrupo dorsal não foram mostrados na figura. S~o
dores intratáveis. eles: o núcfeo lateral dorsal e o lateral posterior.
I
•
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o,
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Rgura 23.3 Corte histológico de gl~ndula pineal do rato {método Figura 23.4 Eletromicrograna de uma fibra simpática {setas)
de Falck para monoaminas). A fluoresc~nda observada neste caso contendo vesículas granulares em íntimo contanto com um
decorre da presença de serotonlna nos pinealócitos (P) e nas fibras pinealócito do rato. CP = citoplasma do pinealócito. Aumento
nervosas (setas). V ., vasos. 37.700 vezes.
FOJ1re: ReproduZlda de MACHADO, C.R.S.; WRAGG, LE.; MAC.I IADO, A.B.M. Fonte: Reproduzidd de MACHADO. Prog,ess ln brain research. 19/ 1;34:
Brain research. 1968;8:31O-318. 171 -185.
2.4 Funções da pineal sobre os órgãos reprodutores, mediada pela pineal, é ainda
Durante muito tempo pensou-se que, nos mamfferos, pequena. Contudo, certas alterações da época de apareci-
a pineal estaria relacionada apenas com a reprodução por mento da puberdade em meninas cegas de nascença pode-
meio de uma atividade antJgonadotrópica e com os ritmos riam ser explicadas pela ausência da luz. Puberdade precoce
circadianos. Entretanto, a melatonlna tem uma enorme ver- também ocorre em casos de tumores de pineal de crianças
satilidade funcional, estando relacionada com um grande quando há destruição dos pinealócltos, cessando, assim, a
açao frenadora que a pineal exerce sobre as gónadas.
número de processos fisiológicos em várias células e órgãos.
As principais funções da pineal e da melatonina são resumi- 2.4.2 Sincronização do ritmo circadlano de vigília-sono
damente descritas a seguir.
Como visto no capítulo anterior, o ritmo vigflia-sono no
2.4.1 Função antigonadotrópica homem é sincronizado com o ciclo dia-nolte pelo núcleo
supraquiasmático que para isso recebe Informações sobre a
Sabe-se que a pineal tem um efeito Inibidor sobre as
luminosidade do ambiente pelo trato retino-hipotalâmico.
gónadas via hipotálamo. Sabe-se também que a luz inibe a A melatonina tem uma ação slncronizadora suplementar
pineal e o escuro a ativa. Assim. ratas colocadas em luz per- sobre esse ritmo, agindo diretamente sobre os neurónios
• •
manente entram em c,o permanente porque cessa a açao do núcleo supraqulasmático que têm receptores para me-
inibidora que a pineal tem sobre os ovários. Demonstrou-se latonina. Essa ação é especialmente importante quando há
que no hamster os testículos atrofiam-se quando o animal mudanças acentuadas no ciclo natural de dia-nolte. Isso
é colocado em um regime de 23 horas de escuro e 1 hora ocorre, por exemplo, nos voos intercontinentais em aviões a
de luz por dia. Essa atrofia, entretanto, não ocorre quando o jato, em que de repente o indivíduo é deslocado para uma
animal é previamente pinealectomizado. Admite-se, nesse região onde é dia quando o seu ritmo circadiano está em
caso. que o escuro estimule a pineal, que, então, aumenta a fase de sono. O mal-estar e a sonolência (jet lag) observados
sua ação Inibidora sobre os testículos, causando sua atrofia. nessa situação melhoram mais rapidamente com a adminis-
Na natureza, as gónadas desse animal atrofiam-se quando tração de melatonlna. Esse hormônio possui aplicação clini-
entra o inverno e o animal Inicia o seu período de hiberna- ca como cronobiótico, ou seja, uma substância usada como
ção. Assim, a pineal regula o ritmo sazonal dos mamfferos agente profilático ou terapéutico em casos de desordens do
que hibernam. No homem, a evid~ncia de uma ação da luz ritmo circadlano de sono e vigília.
.. .
----- .
. .
,
-
. .
2.4.3 Regulação da glicemia medula óssea, macrófagos, neutrófilos e células T. A pinea-
Um grande número de pesquisas demonstrou que, nos lectomia em ratos acelera a involução normal do timo e a
mamíferos, inclusive no homem, a melatonina está envolvi- melatonina atrasa esse processo. A ação da melatonlna no
sistema imunitário é feita não apenas pela melatonina da
da na regulação de gl'cemla, inibindo a secreção de insulina
pineal, mas pela produzida por células do próprio sistema
nas células beta das ilhotas pancreáticas. Como os pinealó-
imunitário. A melatonina tem também efeito benéfico sobre
citos têm receptores de insulina. postulou-se a existência de
vários processos inílamatórios por mecanismos diversos de
uma alça de retroalimentação (feedback) entre pinealócitos
atuação.
e células beta.
Leitura sugerida
2.4.4 Regulação da morte celular por apoptose
PESCHKE, E.; MÜHLBAUER, E. New evldence for a role of melatonin
A apoptose exerce um papel importante em vários pro-
in glucose regulatlon. Best Pracrice & Research Clinicai Endocri-
cessos fisiológicos, como a diferenciação do tubo neural e
nology & Metobolism. 2010;24:829-841 .
a involução do timo com a idade. A sua regulação é muito
WANG, J.; XIAO, X~ZHANG, Y~SI li, O.; CHEN, W.; FU, L.; UU, L: XIE, F.;
importante. Sabe-se, hoje, que a melatonlna inibe o apare-
KANG. T~HUANG, 'wV.; OENG, W. Simultaneous modulation of
cimento de células em apoptose enquanto os corticoste-
COX-2, p. 300. Akt. and Apaf-1signallng by melatonln to lnhl-
roides ativam esse processo. Pesquisas recentes mostram
bit proliferation and induce apoptosis ln breast cancer cells.
que, ao contrário do que ocorre com as células normais, nas Journol of Pineal Research. 2012;53:77-90.
células cancerosas a melatonina aumenta a apoptose, con- KORKMAZ. A.; REITER. RJ.; TOPAL T.; MANCHESTER, LC.; OT[R, S.;
tribuindo para a regressão de certos tipos de tumores. TAN, O.X. Me!atonln: an established antioxidant worthy of use
ln clinicai triais. Molecular Medicine. 2009;15:43·50.
2.4.5 Ação antioxidante CARRILLO-VICO. A.; GUERRERO, J.M.; LAROONI. PJ.; REJTER, R.J. A
A melatonina é um dos mais potentes antioxidantes review of the multiple actions or melatonin on the immune
conhecidos, superando a ação de antioxidantes mais tradi- sysrem. Endocrlne. 2005;27(2):189-200.
cionais, como as vitaminas A. C e E. Ela não só remove os LAUENA, A; SAN MIGUEL, 8.; CRESPO. I.; ALVAREZ, M.; GONZÁLEZ-
radicais livres, como também aumenta a capacidade antio- -GALLEGO, J.; TUNON, MJ. Melatonln attenuates ínflamma-
xidante das células. tion and promotes regeneratlon ln rabbits with fulminant
hepatitis of virai origin. Journal of Pineal Reseorch. 2012;53(3):
2.4.6 Regulação do sistema imunitário 270-278.
A melatonina, por mecanismos diversos, aumenta as NAMSOOOIRI, V. M. K.; ROMAGUERA J. R; STUBER, G. O. lhe habenu•
respostas imunitárias, agindo sobre as células do baço, timo, la. Primer, v. 26, n. 19. p. 873-877. 2016.
2:;aCorpó estriado
Tradicionalmente, levando-se em consideração a defini- 2.1 Organização geral
ção de que núcleosda base são massas de substãncla cinzenta
O corpo estriado é constituído pelo núcleo coudado,
situadasna base do telencéfalo, esses núcleos são:claustro;cor-
putame e globo pálido. O putame e o globo pálido, em con-
po amigda/oide {ou omfgdala); núcleo caudodo; putome; e globo
junto, constituem o núcleo lenríforme. As relações entre es-
pdlido. Podem ser Incluídas, também, mais duas estrururas: o
ses três núcleos são vistas nas Figuras 24.1 e 24.2. Embora
núcleo basal de Meynert; e o núcleo accumbens. A substancia
o putame seja topograficamente mais ligado ao globo pá-
negra e o subtálamo, levando em conta a posição anatômica,
lido, do ponto de vista filogenético, estrutural e funcional,
pertencem, respectivamente, ao tronco encefálico e ao diencé-
suas afinidades são com o núcleo caudado. Assim, pode-se
falo, mas, do ponto de vista funcional, estão relacionados com
os núdeos da base e serão também discutidos neste capítulo. dividir o corpo estriado em uma parte recente, neoestriado,
ou simplesmente striotum, que compreende o putame e o
O núcleo caudado, o putame e o globo pálido Integram
núcleo caudado; e uma parte antiga, paleoesrriodo, ou pal-
o chamado corpo es1riado e os núcleos basal de Meynert e
lidum, constituída pelo globo pálido. O globo pálido pode
accumbens integram o corpo estriado ventral. O daustro, si-
tuado entre o putame e o córtex da ínsula (Figura 24.1 ), ser dividido em pálido mediol e pá/fdo lacerai com cone-
tem conexões recíprocas com praticamente todas as áreas xões diferentes.
corticais, mas a sua função é ainda enigmálica, havendo vá- Existem muitas fibras ligando o núcleo caudado e o
rias hipóteses sobre o seu funcionamento. Uma hipótese é putame ao globo pálido e são elas que, ao convergir para
de que ele teria uma ação sincronlzadora da atividade elétri- o globo pálido, lhe dão uma cor mais pálida nas prepa-
ca de várias partes do cérebro integrando-as, participando, rações não coradas. A esse esquema tradicional do corpo
assim, da regulação de comportan1entos voluntários. estriado, veio juntar-se, mais recentemente, o conceito de
O corpo amigdaloide e o núcleo accumbens são impor- corpo estriado ventral, que apresenta características histo·
tantes componentes do sistema límbico e serão estudados lógicas e hodológlcas bastante semelhantes aos seus cor-
a propósito desse sistema (Capítulo 27). O núcleo basal de respondentes dorsais. Entretanto, uma diferença é que as
Meynert foi estudado no Capítulo 20, item 7, a propósito das estruturas do corpo estriado ventral pertencem ao sistema
vias colinérgicas. Embora os núcleos da base, em especial o llmbico e participam da regulação do comportamento
corpo estriado, continuem a ser estruturas predominante- emocional. O estriado ventral tem como principal compo-
mente motoras, eles também estão envolvidos com várias nente o núcleo accumbens, situado na união entre o pu-
funções não motoras, relacionadas com processos cogniti- tame e a cabeça do núcleo caudado (Figura 24.3), logo
vos, emocionais e motivacionais. abaixo das fibras da comissura anterior.
Corno anterior do ventrículo lateral - - , 1- - - - - -· Cabeça do núdeo caudado
\ I
Cabeça do núcleo caudado - - - -, \\ POLO FRa-.t'TAL I Núcleo anterior do tálamo
1- - -
\ \
I I
1/
Corpo do núcleo caudodo
,,
- -A \ \\
\ \
.i...,.... / 11
11
A --Joelho da cópsula interno
\ \ \ I / l I
Córtex da ínsula - - - - - \ \ I I 1 ;1
\ \ \ \ 1 1 - - - - - - - - - - Putome
\ \ I / I I
'1.11 I
Cópsula estrema - - , , \ I I 1 - - - - lllm ina medular lateral
\
'
Clauslrum -,,=== _;:
~- - -... '-,.
' l \ I
I
1/I / I '
I
/
I
_ _ Globo pólido
lateral
I . !.-
Cópsulo externo - - ------:::
I
I
I
-', - - - lâmina medular
medial
I ' I
Núcleo lentiforme - - - - _/ /
'/ '' Globo pólido
Figura :Z4.1 Núcleos da base e tálamo em representação tridimensional (lado esquerdo) e em corte (lado direito). Compare com a Figura
24.2, na qual foram mantidas as mesmas cores.
2.2 Conexões e drcuitos núcleo caudado, dai para o globo pálido, núcleo
dorsomedial do tálamo e volta ao córtex pré-fron-
Ao contrario dos outros componentes do sistema mo-
tor, o corpo estriado não tem conexões aferentes ou efe- tal. Suas funções são aquelas atribuídas a essa por-
rentes diretas com a medula; suas funçóes são exercidas ção da área pré-frontal (Capitulo 26, item 4.1.1 ).
por circuitos nos quais áreas corticais de funções diferentes d) Circuiro pré-fronral ventromedlal - começa e ter-
projetam-se para áreas especificas do corpo estrlado, que. mina na parte ventromedial da área pré-frontal e
por sua vez, liga-se ao tálamo e, por meio deste, às áreas tem o mesmo trajeto do circuito pré-frontal dorso-
corticais de origem. Fecham-se, assim, os circuitos em alça lateral. Tem as mesmas funções da área pré-frontal
córtico-estriado-tálamo-corticais, dos quais já foram identi- ventromedial, ou seja, manutenção da atenção e
ficados cinco tipos, a saber: supressão de comportamentos socialmente inde-
sejáveis (Capítulo 26, item 4.1.2).
a) Circuito moro,- começa nas áreas motora e somes-
tésica do córtex e participa da regulação da mo- e) Circuiro límbico - origina-se nas áreas neocorticais
tricidade voluntária. Será descrito em detalhes no do slstema límbico, em especial a parte anterior do
próximo item 2.2.1. giro do cíngulo, projeta-se para o estriado ventral,
em especial o núcleo accumbens, daí para o núcleo
b) Circuito oculomotor - começa e termina na área
motora ocular frontal e está relacionado aos movi- anterior do tálamo. Esse circuito está relacionado
mentos oculares. com processamento das emoções.
c) Circuil'o pré-frontal dorsoloceral - começa na parte Em síntese, desses circuitos, os dois primeiros são mo-
dorsolateral da área pré-frontal. Projeta-se para o tores, os pré-frontais relacionados com funções psíquicas
224 NeuroanatomiaFuncional
Corpo do núcleo coudodo - - -, ,,,,,- - - - - - - - - - Sulco central
Coroa rodioda --- - - , ' , ,...,,,-......-,,.,..,--.,.....,,'-✓:_·' ,- · - - - - - - - Coroa radiada
Joelho do cápsula interno ' , ~, / /1- Perna posterior da cápsula interna
',. ', ' , .,,,,.✓ 7 - - - - - - -- - -Tálamo
/ ' , ', / I .
~ \~........\', .,,,,,,,,,
// I
1~I
·I
/ Cauda do núcleo coudado
I
/
I
I I
,,
lobo frontal 1 \
Cabeço do núcleo coudodo - - 11 \
Lobo occipital
Sulco lateral -- - ·- - - -
' ' ',_ - - - -- - Corpo amigdoloide
Núcleo lentiforme - - - - - - 1 I
1
Perna anterior da
cópsula interna
Figura 24.2 Núcleos da base. t~lamo, cc\psula interna e coroa radiada em vista lateral no Interior de um hemisfério cerebral
Ventrlculo lateral Caudado indireta. Na via direta (Figura 24.4), a conexão do neoes-
Cápsula triado é feita diretamente com o pálido medial e deste
para os núcleos ventral anterior (VA) e ventral lateral (VL)
do tálamo, de onde se projetam para as mesmas áreas mo·
toras de origem. Já na via indireta (Figura 24.S), a conexão
é com o pálido lateral que, por sua vez, projeta-se para o
núcleo subtalãmico e deste para o pálido medial. Do páli-
do medial, segue para o tálamo e córtex como na via di·
reta. Ligado ao circuito motor há um circuito subsidiário,
no qual o neoestriado mantém conexões reciprocas com
a substãncia negra. 1 Esse circuito é importante porque as
fibras nigroestrladas são dopaminérgicas e exercem ação
modulatória sobre o circuito motor. Essa ação é excitatória
Putame
na via direta e inibitória na via indireta. O fato de o mesmo
Núcleo accumbens neurotransmissor, a dopamina, ter ações diferentes expli·
ca-se pelo fato de que no putame há dois tipos de recep-
Figura 24.3 Corte frontal do cérebro ao nível da cabeça do nú- tores de dopamlna. D 1 excitador e D2 inibidor.
cleo caudado mostrando a posição do núcleo aaumbens. Vejamos como o circuito funciona. Nas duas vias, o
pálido medial mantém uma inibição permanente dos dois
superiores, e os límbicas, com as emoções. Assim o corpo núcleos talãmicos, resultando em Inibição das áreas mo-
estriado integra Informações de diversas áreas corticais e toras do córtex. Na via direta {Figura 24.4), o neoestriado
projeta Impulsos de volta a essas mesmas áreas liberando Inibe o pálído medial, cessa a inibição dP.ste sobre o tá·
o movimento ou comportamento desejado e suprimindo lamo, resultando em ativação do córtex e facilitação dos
os Indesejados. movimentos. Na via indireta, ocorre o oposto. A projeção
excitatória do núcleo subtaltimico sobre o pálido medial
2.2.1 Circuitomotor aumenta a inibição deste sobre os núcleos talãmicos, re-
sultando em inibição do córtex e dos movimentos.
Origina-se nas áreas motoras do córtex e na área so-
mestésica e projeta-se para o neoestriado de maneira so-
matotópica, ou seja, para cada região do córtex há uma
1 O pálldo medial e a pars reticulata da substância negra tem ames-
região correspondente no neoestriado. A partir do neoes- ma função. Apenas a pars compacta da substância neg ra contém
triado, o circuito motor pode seguir por duas vias, direta e dopa mina.
nas exoemidades quando elas estão em repouso e desa- é uma doença autoimune, em que os anticorpos contra os
parece com o movimento. Na doença de Parkinson. a dis- estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, atingem os
função principal está na substância negra, resultando em núcleos da base causando a sua disfunção.
diminuição de dopamina nas fibras nlgroestriadas. Desse
modo, cessa a atividade moduladora que essas fibras exer- 2.3.4 Coreia de Huntington
cem sobre as vias direta e indireta, resultando em aumen- Trata-se de uma doença degenerativa de origem gené-
to da inibição dos núcleos talâmicos. A descoberta desse tica autossômica dominante, que causa alterações súbitas
fato inspirou a terapêutica da doença de Parkinson, que de humor, personalidade, cognição e habilidades motoras.
visa aumentar o teor de dopamina nas fibras nlgroestrla- O sintoma mais característico é o aparecimento de movi-
das. Tentativas para alcançar esse resultado pela adminis- mentos involuntários anormais, a coreia. A lesão mais pre-
tração de dopa mina não obtiveram sucesso em virtude da coce ocorre nos neurónios estriatais e, em seguida, atinge
baixa penetração na barreira hematoencefálica. Entretan- outras áreas do sistema nervoso, límbicas, sensoriomotoras
to, o isómero levógiro da di-hidroxifenilalanina (L-Dopa) e de associação. A via estriatal indireta é afetada primeiro, o
atravessa a barreira, é captado pelos neurônios e fibras que causa um desbalanço entre as vias a favor da desinibi-
dopaminérgicas da substância negra e transformado em ção. Assim, pela teoria atual de funcionamento dos núcleos
dopamina, o que causa melhora dos sintomas da doença da base, esse desbalanço poderia causar uma Interferência
de Parkinson. A doença é progressiva e afetará também os nos comportamentos esperados afetivos. motores e cogni-
circuitos não motores, causando dificuldades cognitivas. tivos, por não haver supressão suficiente.
emocionais e motivacionals. O estriado apresenta também
interneurónios colinérgicos, que participam de sua função. 2.4 Funções não motoras
Em alguns casos, medicamentos anticollnérglcos são tam- Os núcleos da base apresentam também funções
bém utilizados para aumenrar a atividade dopaminérglca. não motoras e, através do tálamo, projetam-se para am-
Com base no que foi estudado sobre o circuito motor. plas áreas não motoras do córtex do sistema !Imbico. Isso
pode-se compreender o que provavelmente ocorre na fi- explica por que as doenças dos núcleos da base estão
siopatologia dessa doença. A perda da aferência dopami- associadas a disfunções complexas cognitivas, motivacio-
nérgica para o estriado ocasiona: diminuição de atividade nais e emocionais. A sua função global é selecionar entre
da via direta, na qual a dopamina tem ação excitatória; e comportamentos indesejáveis e os desejáveis reforçados
aumento na via indireta, em que a dopamína tem ação pela aprendizagem.
inibitória. A diferença das ações da dopamina nos dois
circuitos decorre do fato de que, no circuito direto, o re- 2.4.1 Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
ceptor é D1 ativador e, no circuito indireto D2, é inibitó- É uma doença psíquiátrica que tem como caracte-
rio em razão das diferentes ações da dopamina nas duas rística principal a repetição de atos de forma compulsiva,
vias. Essas alterações propiciam o aumento na atividade como lavagens frequentes das mãos ao ponto de ferir a
do pálido medial e consequente aumento da inibição dos pele. contar objetos repetidamente, checagens de segu-
neurônios tálamo-corticais, ocasionando os sintomas hi- rança exageradas e repetitivas, em geral desencadeadas
pocinéticos característicos da doença. por pensamentos repetitivos ou obsessivos sobre sujeira,
Na doença de Parkinson, em relação à via indireta, contaminação e insegurança. Os exames de neuroimagem
ocorre excessiva atividade do núcleo subtalãmico. o Que funcional mostram ativação anormal em vários locais da
parece ser um fator importante na produção dos sintomas. alça córtico-estriado-tálamo-cortical com falha na inibição
leitura sugerida ALEXANDER, G. E.; CRUTCHER, W1. O.; DELONG. M. R.Basal ganglía-
·thalamocortical circuits: parallel substrates for motor, oculo-
SMYTHIES, J.; EDELSTEIN, L; RAMACHANDRAM, V. Hypotheses re-
lating to the function of the claustro. Frontieres ín lntegrotive motor, ·prefrontaJ• and ·11mbic· íunctions. Prog. Brain Res. 1990,
Neuroscience. 2012;8:1-16. 85, 119-1 46. dol: 10.1016/s0079·6123(08)62678·3.
MILARDt, D.; et ai. Toe cortico-basal ganglia-cerebellar network: BOSTAN. A C~STRICK. P. L lhe basal ganglia and the cerebellum: no-
past, present and íuture perspectives. Fronriers ln Syscems Neu- des in an integrated network. Not Rev. Nl!Urosd. 2018, 19, 338·3~0.
roscíence, v. 13, p. 1-14, 2019. TEIXEIRA. A.L; CARDOSO,
ZHAOHUI, L; HOl·HUNG, e. Stern cell-based therapies for Parkinson F. Neuropsiquiatria dos núcleos da base. Jornal Brasileiro de Psi·
dlsease. lnrernational Journal of Molecular Sdences, 2020. quiatrla. 2004.53(3): 153-1 58.
ft:; JW 9PlifTl11'11rll:tiJ:/ Ultiüa ijJ 0:(:?JfttJ • :. ) São também chamadas fibras comíssurais, pois fazem a
união entre áreas simétricas dos dois hemisférios. Essas fi-
Conforme o tamanho, classificam-se em curtas e lon- bras agrupam-se para formar as três comissuras do telencé-
gas. As curtas associam áreas vizinhas do córtex, como dois falo descritas a seguir:
giros, passando, neste caso. pelo fundo do sulco. São tam-
a) Comissura do fórnice ou comissura do hipocampo -
bém chamadas, em virtude de sua disposição, fibras arquea-
pouco desenvolvida no homem, essa comissura é
das do cérebro ou fibras em U (Figura 25.1 ).
formada por fibras que se dispõem entre as duas
As fibras de associação intra-hemisféricas longas unem- pernas do fórnice (Rgura 7.3) e estabelecem co-
-se em fascículos, sendo os mais importantes os seguintes: nexão entre os dois hipocampos.
a) Fascículo do clngulo - percorre o giro de mesmo b) Comissura anterior - tem uma porção olfatória, que
nome, unindo o lobo frontal ao temporal, passando liga bulbos e tratos olfaróríos, e uma porção não
pelo lobo parietal (Figura 25.1}. olfatória, que estabelece união entre os lobos tem-
b) Fascículo longirudinal superior (FLS) e fascículo ar- porais. A posição da comissura anterior é mostrada
queado (FA) - ligam os lobos frontal, parietal, oc- na figura7.1 .
cipital e temporal pela face superolateral de cada e) Corpo caloso - a maior das comissuras telencefáli-
hemisfério (Figura 25.2). O FLS e o FA foram, por cas é também o maior feixe de fibras do sistema
muito tempo, usados como sinônimos. Hoje sabe- nervoso. Estabelece conexão entre áreas corticais
Fibras arqueodas do cérebro -- ,
\
\ --~-.-.,,,--._......_ Lobo parietal
Lobo frontal ~J t_le/4;-,.,-..
·
Lobo occipital
..✓
. .
.
I Lobo temporol
I
I
I
Fascículo uncinado - - - - '
simétricas dos dois hemisférios, com exceção da- dade de reconhecimento de objetos colocados na
quelas do lobo temporal, que são unidas principal- mão esquerda, dificuldades na marcha e em alguns
mente pelas fibras da comlssura anterior. O corpo aspectos da linguagem, além de desorientação
caloso permite a transferência de informações de temporoespacial.
um hemisfério para o outro, fazendo-os funcionar
harmonicamente. Em animais com secção experi- '4:tlFibras de projeção.
mental do corpo caloso, podem-se ensinar tarefas
diferentes, ou mesmo antagônicas, a cada um dos Estas fibras agrupam-se para formar o fórnice e a cáp-
hemlsférlos que, nesse caso, funcionam indepen- sula interna. O fórnice liga o hipocampo aos núcleos ma-
dentemente um do outro. Secções do corpo calo- milares do hipotálamo e está relacionado com a memória
so feltas no homem com o objetivo de melhorar (Flgura27.1).
certos quadros de epilepsia refratária não causam A cópsulo Interno (Figuras 24.1 e 24.2) é um grande
alterações evidentes de comportamento ou de feixe de fibras que separa o tálamo, situado mediaimente,
cognição. Entretanto, testes especializados revelam do núcleo lentiforme, situado na porção lateral. Acima do
que, nesses casos, não há transferência de informa- núcleo lentiforme, a cápsula interna continua com a coroa
ções de um hemisfério para o outro, causando a radiada; abaixo, com a base do pedúnculo cerebral (Figura
síndrome de desconexão calosa. Entre outros sin- 30.1 ). Distinguem-se, na cápsula interna, três partes {Figu-
tomas. há a dificuldade de utilizar a mão esquerda ra 24.1 ): a perna anterior, situada entre a cabeça do núcleo
separadamente ou em tarefas bimanuais, dificul- caudado e o núcleo lentiforme; a perna posreríor, situada
VI - Camada fusiforme - - - - - - -
A B e
Figura 25.3 Representação esquemática das camadas corticais como aparecem em (A) preparações histológicas coradas pelo método de
Golgl para os prolongamentos neuronais; (B) método de Nissl para os corpos dos neurônios; e (C) método de Welgert para as fibras mielí-
nicas (Segundo Brodmann).
o trato corticospinal. As células piramidais existem As fibras de projeçào eferentes do córtex estabelecem co-
em todas as camadas, predominando. entretanto, nexões com centros subcorticals, originam-se em sua gran-
nas camadas p/romidol externo e Interno (Figura de maioria na camada V, piramidal interna, e são axônios das
25.3), que são consideradas camadas predomi- células piramidais aí localizadas. A camada V é, pois, muito
nantemente efetuadoras. desenvolvida nas áreas motoras do córtex. Em síntese, a
c) Células fusiformes - têm um axônlo descendente, camada IV é a camada receptora de projeção, e a camada
que penetra no centro branco medular, sendo, pois, V. efetuadora de projeção. As demais camadas corticais são
células efetuadoras. Predominam na VI camada, ou predominantemente de associaçao e os seus axõnios ligam•
Cilmilda de células fusiformes (Figura 25.3). -se a outras áreas do córtex, passando pelo centro branco
medular. Os neurõnlos do córtex cerebral estão organizados
As fibras que saem ou que entram no córtex cerebral po-
em colunas. cada uma contendo de 300 a 600 neurónios co-
dem ser de associação ou de projeção. As fibras de projeção nectados verticalmente. As colunas constituem as unidades
aferentes podem ter origem talâmica ou extratalâmica, mas funcionais do córtex. Estima-se que existam bílhões de colu-
o maior contingente é de origem talâmica. As fibras extra- nas no córtex cerebral do homem. Os circuitos intracortlcais
talàmlcas são dos sistemas modulatórios de projeção difusa, são extensos e complexos. No córtex motor do macaco. fo-
podem ser monoaminérgicas ou colinérgicas (Capítulo 20) ram encontradas uma média de 60 mil sinapses por neurô-
e distribuern-se a todo o córtex. A.s fibras aferentes oriundas nio. Mesmo admitindo-se, como é provável, que um mesmo
dos núcleos talâmicos inespecíficos também se distribuem neurônio possa ligar-se a outro por melo de vários botões
a todo o córtex, sobre o qual exercem ação ativadora, como sinápticos, esse número mostra que um mesmo neurônio
parte do sistema ativador reticular ascendente (SARA). As cortical está sujeito à lnfluéncia de muitos outros. Assim, um
radiações talâmicas originadas nos núcleos específicos do só neurônio da área motora do macaco recebe influencia de
tálamo terminam na camada IV, granular interna. Ela é, pois, cerca de 600 neurónios intracorticais. Sabendo-se que o nú-
muito desenvolvida nas áreas sensitivas do córtex. mero total de neurônios corticais é de cerca de 86 bilhões,
23 4 Neuroanatomia Fllldonal
Anatomia Funcional do Córtex Cerebral
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Figura 26.1 Áreas corticais primárias (em rosa), secundárias (em arnarelo) e terciárias (em azul) em relação com as áreas citoarquireturais de
Brodmann. race superolateral do cérebro.
20
Figura 26.2Áreas corticais primárias (em rosa), secundárias (em amarelo) e terciárias (em azul) em relação com as áreas citoarquiteturais
de Brodmann. Face medial do cérebro.
236 NeuroanatomiaFuncional
Lesões da área somestésica podem ocorrer, por exem- 26.2), também chamada de córrex esrriodo. Af chegam as
plo, como consequência de acidentes vasculares cerebrais fibras do trato geniculocalcarino (radiação óptica), origina-
que comprometem as artérias cerebral média ou cerebral das no corpo geniculado lateral. Estimulações elétricas da
anterior. Há, então, perda da sensibilidade discriminativa área 17 causam alucinações visuais, nas quais o indivíduo
do lado oposto à lesão. O doente perde a capacidade de vê círculos brilhantes, nunca objetos bem definidos. Estimu-
discriminar dois pontos, perceber movimentos de partes lando-se pontos específicos da retina com um jato de luz
do corpo ou reconhecer diferentes intensidades de esti- filiforme, pode-se tomar potenciais elétricos evocados em
mulo. Apesar de distinguir as diferentes modalidades de partes especificas da área 17. Verificou-se, assim, que a me-
estímulo, ele é incapaz de localizar a parte do corpo toca- tade superior da retina projera-se no lábio superior do sulco
da ou de distinguir graus de temperatura, peso e textura calcaríno, e a metade Inferior, no lábio Inferior desse sulco. A
dos objetos tocados. Em decorrência disso, o doente per- parte posterior da retina (onde se localiza a mácula) projeta-
de a estereognosla, ou seja, a capacidade de reconhecer -se na parte posterior do sulco calcarino, enquanto a parte
os objetos colocados em sua mão. É interessante lembrar anterior projeta-se na porção anterior desse sulco. Existe,
que as modalidades mais grosseiras de sensibilidade (sen- pois, correspondência perfeita entre retina e córtex visual
sibilidade protopática), como o rato não discriminativo (retinotopia). A ablação bilateral da área 17 causa cegueira
e a sensibilidade térmica e dolorosa, permanecem prati- completa na espécie humana.
camente Inalteradas, pois elas se tornam conscientes em
nível talâmico. 2.2.2 Áreas visuais serundárias
São áreas de associação unimodais, neste caso relacio-
nadas somente com a visão. Até há pouco tempo, acredita-
va-se que seria urr1a área única, limitada ao lobo occipital,
situando-se adiante da área visual primária, corresponden-
do às áreas 18 e 19 de Brodmann.
Estudos com resson~ncia magnética funcional e a aná-
lise de caso de lesões corticais isoladas demonstraram que,
na verdade, são várias as áreas visuais secundárias, distribuí-
das nos lobos parietais e temporais, das quais as mais co-
nhecidas são V2, V3, V4 e VS. Elas são unidas por duas vias
corticais originadas em Vl : a dorsal, dirigida à parte poste-
rior do lobo parietal, e a ventral, que une as áreas visuais
do lobo temporal (Figura 26.4). Aspectos díferentes da
percepção visual s.'.lo processados nessas áreas. Assim, na
via ventral estão áreas especificas para percepção de cores,
reconhecimento de objetos e reconhecimento de faces. Na
via dorsal, estão áreas para percepção de movimento, de
velocidade, representação espacial dos objetos, atenção
visual e ações guiadas pela visão. Em síntese, a via ventral
permite determinar o que o objeto é, e a dorsal, onde ele
está, se está parado ou em movimento, e guiar a ação moto-
ra em relação ao objeto. O processamento visual é paralelo
desde a retina, circuitos analisam os diversos aspectos da
Rgura 26-3 Representação das partes do corpo na área somestési- informação visual, como cor, luminosidade, forma, faces e
ca prim~rla. Homúnculo sensitivo {segundo Penfield e Rasmussen). movimento, e distribui a Informação a partir de VI para mais
de 30 áreas dentro das vias dorsal e ventral. A integração das
2.1.2 Área somestésica secundária (S2) informações permite o reconhecimento de objetos (córtex
Esta área situa-se no lobo parietal superior, logo atrás temporal inferior) e gula as ações motoras necessárias ao
da área somestésica primária, e corresponde à área S e par- objetivo. Lesões nessas áreas resultam em agnosia visual,
te da área 7 de Brodmann (Figura 26.1 ). A sua lesão causa ou seja, na incapacidade de Identificar objetos ou aspectos
agnosla tátil, ou seja, incapacidade de reconhecer objetos dos objetos, mesmo estando íntegras as áreas corticais pri-
pelo tato. márias. São muitas as agnosias visuais em casos de lesões
restritas do lobo temporal envolvendo a via cortical ventral.
2.2 Areas corticais relaáonadas com a visão O paciente pode perder a capacidade de identificar objetos,
desenhos, sua cor, seu significado e até mesmo o reconhe-
2.2.1 Área visual primária(Vl) cimento da face de pessoas conhecidas (prosopagnosla). O
A área visual primária, Vl , localiza-se nos lábios do sul- giro temporal inferior tem amplas conexões com as áreas de
co calcarino e corresponde à área 17 de Brodmann (Figura memória. Em casos de lesões da via dorsal (VS), o paciente
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mediana central composta por córtex intermediário, disgra- tivos. visuais e tàteis de alimentos ou situações con-
nular e o córtex agranular ocuparia a porção anteroventral. A sideradas nojentas. Ela é ativada também pela visão
área granular recebe principalmente informações interocepti- de pessoas com fisionomia de nojo. A sensação de
vas (viscerais) e somatossensitivas. Há um processamento na nojo tem valor adaptativo, pois afasta as pessoas de
região Intermediária e posterior integração na região agranu- situações associadas a doenças. Em casos de lesões
lar que envia a resposta eferente princípalmente para o cór- da ínsula, ocorre perda do senso de nojo.
tex cingulado anterior límbico, córtex frontal e também para e) Função vestibular - a área vestíbular primária locali-
o hipotálamo participando do controle do sistema nervoso za-se na regi~o do opérculo parietal, região retroin-
autónomo. Esta Integração de informações gera uma auto- sular e insular posterior.
percepção corporal consciente e sensações subjetivas que in- f) Empotia e cognição social - a empatia é a capaci-
fluenciam comportamentos emocionais, cognitivos e sociais. dade de se colocar no lugar do outro, perceber e
Tem conexões também com o sistema ativador ascendente sensibilizar-se com o seu estado emocional, ge-
contribuindo para o estado de alerta. rando uma resposta cognitivo social e emocional
A porção dorsal recebe informações sobre o estado fisio- adequada. É uma das funções do córtex pré-frontal.
lógico atual de órgão e tecidos corporais. Os impulsos visce- Este processamento incluí a consciência de nossas
rais chegam da substância cinzenta intermédia lateral, deTl a sensações corporais e emocionais para reconhecê-
L2 (simpático), ou de S2 a S4 (parassimpático) e do núcleo do -las nos outros e permitir a ação social adequada.
trato solitário bulbar e do núcleo parabraquíal. A porção da O córtex insular anterior é ativado em indivíduos
maís anterior seria a área visceral primária, seguida pela área normais quando observam imagens de situações
gustativa. Recebe também informações da área somatos- dolorosas ou desagradáveis e expressões faciais
sentlva primária e do t.álamo com distribuição somatotóplca emocionais diversas. Esta capacidade, de grande
anteroposterior, da face para o membro inferior funcionando importância social, é perdida em lesões da ínsula e
como uma área somatossentiva secundária. A porção dorsal pode estar na base de muitas psicopatias.
mais posterior seria parte da área vestibular primária está en- g) Processamento socioemocional - a ínsula anterior é o
volvida também no processamento auditivo e olfatório. Essas centro cortical visceral e interoceptivo e o processa-
Informações multimodais integradas geram uma percepção mento dessas informações causa reações emocio-
consciente do funcionamento corporal auxiliando na respos- nais e sensações subjetivas. Experiências emocionais
ta emocional, comportamental e socialmente adequada. As negativas nos deixam em alerta sobre nossas sensa-
principais funções da ínsula estão resumidas a seguir. ções internas e funcionamento corporal.
h) Tomado de decisões - as emoções Influenciam a
a)
Processamento víscero-sensoriomotor - recebe Infor- tomada de decisões por melo de sensações inter-
mações aferentes viscerais e lnteroceptivas de todo nas viscerais e musculoesqueléticas e mudanças
o corpo. A estimulação da insula provoca sensa- fisiológicas que podem reforçar ou não a decisão.
ções visceraisdesagradáveis assim como alterações Existem conexões da ínsula anteroventral com o
do batimento cardíaco e pressão arterial. Essas in- córtex orbitofrontal, a estrutura principal na toma-
formações contribuem para a regulação do sistema da de decisões. A ínsula está envolvida nos aspec-
nervoso autônomo. As informações interoceptivas tos emocionais da tomada de decisões.
permitem-nos ter a consciência das condições fi- i) Funções cognitivas - a ínsula anterior participa da
siológicas do corpo como o batimento cardíaco e a atenção para detecção de estímulos novos por meio
distensão do esôfago, do estômago e da bexiga. das modalídades sensoriais detectando estímulos
b) Processamento do sensação de temperatura e dor - homestáticos relevantes entre múltiplos estímulos
a ínsula recebe informações somatossentlvas tér- competidores internos e externos. Atua juntamente
micas e dolorosas. Já fol proposto que o córtex com o córtex pré-frontal, a amigdala e o córtex cin-
termossensorial está situado na insula. Apresenta gulado anterior.
também papel na percepção e na resposta emo-
cional relacionado à dor. 4.5 Áreas límbicas
c) Processamento auditivo central - recebe informa- As áreas corticais límbicas compreendem áreas de alo-
ções do córtex auditivo primário e de outras áreas córtex (hlpocampo, giro denteado, giro para-hipocampal),
de associação e participa do processamento tem- de mesocórtex (giro do cíngulo) e isocórtex (ínsula anterior)
poral dos estímulos auditivos. processamento fo- e a área pré-frontal orbitofrontal. Todas essas áreas junta-
nológico percepção de intensidade. mente com estruturas subcortlcals fazem parte do sistema
d) Funções sensoriais espedais - a área gustativa pri- límbico, relacionado com a memória e as emoções. No caso
mária está localizada na parte anterior da ínsula e do giro do cíngulo, essas duas funções ocorrem em regiões
opérculo fron tal adjacente. A ínsula está também diferentes. O cíngulo anterior, que ocupa o primeiro terço
envolvida no processamento olfatório. Integra com- anterior do giro do clngulo, relaciona-se com as emoções, e
ponentes afetivo e emocional relacionados às sen- a parte posterior, que corresponde aos dois terços restantes,
sações gustativas e olfatórias. A sensação de nojo relaciona-se com a memória. Todas essas áreas serão estu-
provém da integração de estímulos gustativos, olfa- dadas nos Capítulos 27 e 28.
. .. . . . .-
. .
de Wernicke·Geschwind, em que a área de Broca conteria os
programas motores da fala e a de Wernlcke, o significado. e
A linguagem verbal é um fenõmeno complexo, do
que a conexão entre as duas possibilitaria entender e res-
qual participam áreas corticais e subcorticais. Admitia-se,
ponder ao que os outros dizem. Realmente, essas duas áreas
com base nos trabalhos de Geschwind. a existência de duas
estão ligadas pelos frucfculos longitudinal superior e arquea-
áreas corticais principais para a linguagem: uma anterior; e
do (Figura 25.2), por meio do qual informações relevantes
outra posterior (Figura 26.6), ambas de associação terciá-
para a correta expressão da linguagem passam da área de
ria. A órea anterior da linguagem (Figura 26.6} correspon- Wernicke para a área de Broca. Broca (1868) também foi res-
de à área de Broca e está relacionada com a expressão do ponsável pela descoberta de que, na maioria dos indivíduos,
linguagem. Situa se nas partes opercular e triangular do gim as áreas corticais da linguagem estão localizadas apenas do
fronral inferior. correspondendo à área 44 e parte da área 45 lado esquerdo, como será visto no próxlrno item a propósito
de Brodmann (Figura 26.1). A área de Broca é responsAvel da assirnetria das funções corricais.
pela programação da atividade motora relacionada com a A leitura e a escrita também dependem das áreas de
expressão da linguagem. A área posterior do linguagem situa· linguagem. Informações passam do córtex visual para o gíro
-se na junção entre os lobos temporal e parietal e correspon- angular onde é feito o processamento fonológico de gra-
de à parte mais posterior da área 22 de Brodmann (Figura fema para fonema e, em seguida. para a área de Wernicke.
26.1 ). Ela é conhecida também como óreo de Wernicke e está As lesões dessas áreas dão origem a distúrbios de lin-
relacionada basicamente com a percepção do linguagem. A guagem, denominados afasias. Nas afasias. as perturbações
identificação dessas duas áreas ocasionou a proposição do da linguagem não podem ser atribuídas a lesões das vias
modelo de linguagem clássico, conhecido como modelo sensitivas ou motoras envolvidas na fonação, mas apenas
-
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...,_
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Área anterior do linguagem '
(área de Broca ) '
Área posterior do linguagem
(á rea de Wernicke)
C6rlex pré-motor
•
Area de
Wemicke
Área de broco
Figura 26.8 Ressonância magnética funcional para localização das áreas de linguagem, auxiliando no planejamento da retirada cirúrgica de
tumor no hemisfério cerebral esquerdo, lado d ireito da Imagem. Observa-se a área de Broca localizada anteriormente e a áreas de Wernicke
posteriormente.
ronte: Cor tesia do Dr. Marco António Rodackl.
246 NeuroanatomlaFuncional
formações enrre eles. Isso ficou comprovado pelo estudo EVRARD, H. C. The organization of the primate insular cortex. Fron-
de pacientes em que essa comissura foi seccionada cirur- tiers ln Neuroanatomy. v.13, p. 1-21, 20 19.
gicamente para melhorar certos quadros de epilepsia. Esses FRIEDERICI, A.D. Path\vays to language: fiber tracts ln the human
indivíduos não têm nenhum distúrbio sensitivo ou motor brain. Trends Cog Sei. 2009, 13:175-181 .
evidente. Entretanto, são incapazes de descrever um obje- GU, X.; GAO, l.; WANG, X~ LIU, X.; KNIGHT, R.T.; HOF, P.R. Anterior
to colocado em sua mão esquerda, embora possam fazê-lo insular cortex is necessary for empathetic pain perception.
quando o objeto é colocado na rnão direita. Nesse caso, as Braín. 2012;135:2726-2735.
impressões sensoriais do objeto chegam ao hemisfério es-
HICKOK. G.; POEPPEL D. The cortical organization of speech pro-
querdo, onde estão as áreas da linguagem, o que permite a
cessing. Nar Rev Neurose/. 2007, 8:393-402
descrição do objeto. Já no caso em que o objeto é colocado
KANDEL, E. R.; et ai. Principies of Neural Science. 6. ed. Nova York: Me
na mão esquerda, os impulsos sensoriais chegam ao hemis-
fério direito, onde não existem áreas da linguagem. Como as Graw Hill, 2021.
fibras do corpo caloso estão lesadas, as quais, no individuo POEPPEL, D.The neuroanatomic anel neurophysiological infrastructure
normal, transmitem as informações aos centros da lingua- íor speech and language. Curr Opin Neurobiol. 2014, 28: 142-149.
gem do hemisfério esquerdo, o Indivíduo, apesar de reco- PRiCE, CJ. A review and synthesis of the first 20 years of PET and
nhecer o objeto. é incapaz de descrevê-lo. fMRI studies of heard speech, spoken language and reading.
Neuroimage. 2012 62:816-847
Leitura sugerida SADTlE.R, P.T.; QUiCK, K.M.; GOLUB, M.D~ et ai. Neural constraints on
AMUNTS, K.; ZILLES, K. Archítetonic mappíng of the human braín leaming. Noture. 2014 512:423-426.
beyond Brodmann. Neuron, v. 88, n. 6, p. 1086-1107, 2015. 5KEIDE, M.A; FRIEDERICI, AO. The ontogeny of the cor lical langua-
BONINI, L~ FERRARI, P.F. Evoiution of mírror systems: a slmple me- ge network. Nar Rev Neurosci. 2016, 17:323-332.
chanism íor complex cognitive functíon. Annals of the New UDDIN, L. Q; et ai. Structure and function of the human insula. Jour-
York Academy of Sclences. 201 1;1225: 166-175. na/ ofClinica/ Neurophysio/ogy, v. 34, n. 4, p. 300-306, 2017.
BRAUER, J.; ANWANDER, A.; P(RANI, D.: FRIEDERICI, A.D. Dorsal and VIVANTE, G.; ROGERS. 5. J. Autism and the mirror neuron system: ln·
ventral pathways in language development. Brain Lang. 2013, sights írom leaming and teaching. Philosophical Transactions of
127:289-295. rhe Royal Society 8: Biological Sciences, v. 369, n. 1644. p. 1•7. 2014.
5fit9i~duiiltt·lât\tfil❖tJ❖útiJ® ______··_.. I,
Alegria, tristeza, medo, prazer e raiva são exemplos de Na face medial de cada hemisfério cerebral, observa-se
emoções que podem ser definídas como sentimentos sub- um anel cortical contínuo, constituído pelo giro do cíngulo,
jetivos. que suscitam manifestações fisiológica5 e compor- giro para-hipocampal e hlpocampo (Figura 7.7). Esse anel
tamentais. As manifestações fisiológicas estão a cargo do cortical contorna as formações inter-hemisféricas e foi con-
sistema nervoso autônomo, as comportamentais resultam siderado por Broca (1850) um lobo independente, o grande
da ação do sistema nervoso motor somático e são caracte- fobo ffmbico (de limbo, contorno) atribuindo a ele função
rísticas de cada tipo de emoção e de cada espécie. Assim, olfatórla. Esse lobo é filogeneticamente multo antigo, exis-
por exemplo, a raiva manifesta-se de maneira diferente no tindo em todos os vertebrados. Apresenta certa uniíormi-
homem, no gato ou em um galo. A alegria, no homem, dade citoarquitetural, pois o seu córtex é mais simples que
se expressa pelo riso, no cachorro, pelo abanar da cauda. o do isocórtex que o circunda. Em 1937, o neuroanatomista
O choro é uma expressão de tristeza, característica do ho- James Papez publicou um trabalho famoso, no qual propu-
mem. A distinção entre o componente central, subjetivo, nha um novo mecanismo para explicar as emoções. Esse
e o componente periférico, expressivo da emoção, é, pois, mecanismo envolveria as estruturas do lobo límbico, nú-
importante para o seu estudo. Ela fica mais clara se lembrar- cleos do hipotálamo e tálamo, todas unidas por um circuito
mos que um bom ator pode simular perfeitamente todos os que ficou conhecido como circuito de Papez (Figura 27 .1 ).
padrões rnotores ligados à expressão de determinada emo- composto pelo hipocampo, fórnice. corpo mamilar, fascícu-
ção, sem que sinta emoção nenhuma. lo mamilotal~mico, núcleos anteriores do tálamo. cápsula
As emoções podem ser classificadas em positivas e interna, giro do cíngulo, giro para-hipocampal e novamente
negativas, conforrne sejam agradáveis ou desagradáveis. o hlpocampo, fechando o circuito.
Entre as primeiras, estão a alegria, o bem-estar e o prazer O conceito de Papez sobre a importância desse circuito
em suas diversas modalidades. Entre as segundas, estão o foi reforçado 2 anos depois, por Klüver e Bucy, que, após a le-
medo, a tristeza, o desespero, o nojo, a raiva e outras. As são do ápice dos lobos temporais de macacos, observaram a
emoções estão relacionadas com áreas específicas do cé- maior modificação do comportamento de um animal obtida
rebro que, em conjunto, constituem o sistema límbico. Por até aquela época, em seguida a um procedimento experi-
mental. Essas alterações são conhecidas como síndrome de
um lado, algumas dessas áreas estão relacionadas também
Klüver e Bucy e consistem no seguinte:
com a motivação, em especial com os processos motiva-
cionais primários, ou seja, aqueles estados de necessidade a) Domesticação completa dos animais que usual-
ou de desejo essenciais à sobrevivência da espécie ou do mente são selvagens e agressivos.
indivíduo, como fome, sede e sexo. Por outro lado, as áreas b) Perversões do apetite, em virtude da qual os ani-
encefálicas ligadas ao comportamento emocional também mais passam a alimentar-se de coisas que antes
controlam o si5tema nervoso autônomo, o que é fácil de en- não comiam.
tender, tendo em vista a import~ncia da participação desse c) Agnosia visual, manifestada pela incapacidade de
sistema na expressão das emoções. reconhecer objetos e animais pela visão.
Giro do cíngulo Núcleos on_reriores do tálamo
,, I ,,-- Fórnice
Corpo colo~ ,.... / /
' ' I /
',, '~'~c-:---r-~J...:--"""I ,,,...:..,. Fascículo momilotolômico
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,', ... .. _·,. ......' ....' / / ""'
• ·' ; ,!}.·.• :':· :',~....~·:~••; . '
d) Perda do medo de anímais que antes causavam Assim, o sistema límbico pode ser conceituado como um
medo, como cobras e escorpiões. conjunto de estruturas corticais e subcorticais interligadas
e) Tendência oral, manifestada pelo ato de levar à morfológica e funcionalmente, relacionadas com as emoções
boca todos os objetos que encontra (inclusive os e a memória. Do ponto de vista anatômico, o sistema límbi-
escorpiões). co tem como centro o lobo límbico e as estruturas com ele
f) Tendência hipersexual, que leva os animais a ten- relacionadas. Do ponto de vista funcional, pode-se distinguir,
tarem continuamente o ato sexual (mesmo com no sistema límbico, dois subconjuntos de estruturas, ligadas
indivíduos do próprio sexo ou de outra espécie) ou às emoções e à memória e que são relacionadas na chave a
a se masturbarem continuamente. seguir.
Quadros semelhantes a estes já foram observados no Os componentes relacionados com a memória serão
homem, em consequtncia da ablaçêlo bilateral do lobo estudados no próximo capítulo.
temporal para tratamento de formas graves de epilepsia.
Hoje, sabe-se que a agnosía visual que ocorre na síndrome
de Klüver e Bucy resulta de lesão das áreas visuais de asso-
ciações secundárias, localizadas no córtex do lobo tempo-
ral. e os demais sintomas são consequ~ncla da remoção da 3.1 Amígdala
amígdala, e não da remoção do hipocampo. É também chamada corpo amigdaloide. Amígdala, em
Em 1952, Maclean introduziu na literatura a expressão grego, significa amêndoa, uma alusão à sua forma. É o com-
sistema límbico, que inclui o circuito de Papez e algumas ponente mais importante do sistema límbico, o que justifica
novas estruturas, como a amígdala e a área septal. Esse sis- o seu estudo mais detalhado. Participa também do proces-
tema estaria ligado essencialmente às emoções. O avanço samento de alguns tipos de memória.
das pesquisas mostrou que o circuito de Papez, com ex-
ceção da parte anterior do giro do cíngulo, está relaciona- 3.1.1 Estrutura econexões da amígdala
do com a memória, e não com as emoções. O centro do Apesar do seu tamanho relativamente pequeno, apro-
sistema límbico não é mais o hipocampo, como pensava ximadamente 2 cm, a amígdala tem 13 núcleos, o que lhe
Papez, mas a amígdala.•
valeu o nome de complexo amigdaloide. Os núcleos da
amígdala dispõem-se em três grupos principais, corticome-
1 Portanto. o conceito de Maclean de um slsterna lirnblco relacionado dial, basolateral e central (Figura 27.2). O grupo cortico-
apenas com as emoções e tendo como centro o círcuíto de Papez medial recebe conexões olfatórias e parece estar também
não está correto. Isto levou alguns autores de prestígio, como Bro• envolvido com os comportamentos sexuais. O grupo baso-
dai. a propor o abandono da denominação sistema límbico, o que.
entretanto, noo ocorreu. Um sistema límbico ligado ~s emoções e ~
lateral recebe a maioria das conexões aferentes da amígdala
memória é hoje adotado em quase todos os livros mais recentes de e o central dá origem às conexões eferentes. A amígdala é
neurociênclas. a estrutura subcortical com maior número de projeções do
hipotálamo (parte)
emoções área septal
núcleo occumbens
áreas subcorticals
habênula
substancia cinzenta periaquedutal
amlgdala
Siste-ma límbico hlpoampo
giro denteado
amígdala
áreas corticais
córtex entorrinal
córtex para-hlpocampal
memória córtex cingular posterior
fórnice
corpo mamilar
áreas subcorticais
trato mamilotal:imico
núcleos anteriores do tálamo
sistema neNoso, com cerca de 14 conexões aferentes e 20 projeta eferências para núcleos do tronco encefálico envol-
eferentes. Apresenta conexões aferentes com todas as âreas vidos em funções viscerais, como o núcleo dorsal do vago,
de associação secundárias do córtex, trazendo informações onde estão neurónios pré-ganglionares do para.ssimpátíco
sensoriais Já processadas, além das informações das áreas craniano. Além dessas conexões extrínsecas, os núcleos da
supramodais. Recebe, também, aferências de alguns nú- amígdala comunicam-se entre si por fibras predominante·
cleos hipotal~micos, do núcleo dorsomedlal do tálamo. dos n1ente glutamatérgicas, indicando grande processamento
núcleos septais e do núcleo do trato solitário. As conexões local de informações. Do ponto de vista neuroquímico, a
eferentes distribuem-se em duas vias. A via amigdalofugal amígdala tem grande diversidade de neurotransmissores,
dorsal, que, por meio da estria terminal (Figura 5.2), projeta· tendo sido demonstrada nela a presença de acetilcolina,
-se para os núcleos septais. núcleoaccumbens, vários núcleos GABA. serotonina, noradrenalina, subst~ncia P e encefalinas.
hipotalâmicos e núcleos da habênula. Ea via amigdalofugal A grande complexidade estrutural e neuroquimica da amíg-
ventral, que se projeta para as mesmas áreas corticais, talâ- dala está de acordo com a complexidade das suas funções. É
micas e hipotalâmicas de origem das fibras aferentes, além a principal responsável pelo processamento das emoções e
do núcleo basal de Meynert. Por meio dessa via, a amígdala desencadeadora do comportamento emocional.
Córtex Ventrículo
lateral
Grupo
corticomedíol
Grupo
central
•
--
Grupo
Amígdala bosoloterol
Hipotólomo
Terceiro ventrículo
1
tos. os sintomas desaparecem com estimulação elétrica do 3.6 Area septal
córtex clngular anterior. Entretanto, apesar da provável par- Situada abaixo do rostro do corpo caloso, anteriormen-
ticipação do córtex clngular anterior. a fisiopatologia da de- te à lâmina terminal e à comissura anterior (Figura 7 .7), a
pressão é mais complexa, pois, como será visto no item 3.7, área septal compreende grupos de neurônios de disposição
os núdeos da habênula e outras áreas encefálicas também subcortical, que se estendem até a base do septo pelúci-
estão envolvidos no quadro. do, conhecidos como núcleos seprais. A área septal (Figura
27.1) tem conexões extremamente amplas e complexas.
3.l Córtex Insular anterior destacando-se as suas projeções para a amígdala, hipocam-
As funções do córtex insular anterior, quase toda.s relacio- po, tálamo, giro do cingulo, hipotálamo e forn,ação reticu-
nadas com as emoções, já foram estudadas no C.apirulo 26, lar, por intermédio do feixe prosencefálico medial. Por meio
Item 4.3. desse feixe. a área septal recebe fibras dopaminérgicas da
área tegmentar ventral e faz parte do sistema mesolimbi-
3.4 Córtex pré-frontal orbltofrontal (ou ventromedlal) co ou sistema de recompensa do cérebro, que será visto no
O estudo geral das funções do córtex pré-frontal foi llem 4. Lesões bilaterais da área septal em animais causam
feito no Capítulo 26, item 4.1. Somente a área ventrome- a chamada ·raiva septal: caracterizada por hiperatividade
dial está envolvida no processamento das emoções (Capí- emocional. ferocidade e raiva diante de condições que nor-
tulo 26, item 4.1.2). Ela tem forte conexão com a amígdala. malmente não modificam o comportamento do animal.
Danos a essa região causam grande prejuízo social e emo- Estimulações da área septal causam alterações da pressão
arterial e do ritmo respiratório, mostrando o seu papel na
cional. Durante uma resposta emocional, a área ventrome-
regulação de atividades viscerais. Por outro lado, as expe-
dial governa a atenção a certos estímulos e ativa memórias
riências de autoestlmulação, a serem descritas no item 3.9,
pregressas, que ajudam na resposta a esse estímulo. A an-
mostram que a área septal é um dos cent.ros de prazer no
tecipaç~o de uma situação de medo já causa arivaçào des-
cérebro e a sua estimulação provoca euforia. /\ destruição
sa área. demonstrando a sua irnportància no planejamento
da área septal resulta em reação anormal aos estímulos se-
da resposta. É ativada também quando a previsão indica
xuais e à raiva.
uma recompensa ou felicidade. Essa região, juntamente
com a ínsula, está relacionada com a nossa consciência da 3.7 Núdeo accumbens
experiência emocional. Ela tem conexões com o corpo es-
triado e com o núcleo dorsomedial do tálamo, integrando Situado entre a cabeça do núcleo caudado e o putame
o circuito em alça ventromedial-estriado-talamocortical, (Figura 24.3), o núcleo accumbens faz parte do corpo es-
estudada no Capitulo 24, que modula comportamentos triado ventral. Recebe aferênclas dopaminérgicas. principal-
mente da área tegmentar ventral do mesencéfalo, e projeta
emocionais.
eferências para a parte orbitofrontal da área pré-frontal. O
3.5 Hipotálamo núcleo occumbens é o mais Importante componente do
sistema mesolfmbico, que é o sistema de recompensa ou do
O estudo do hipotálamo foi feito no C.apitulo 21, onde prazer do cérebro, como será visto no Item 4.
foram analisadas as suas inúmeras funções. Entre elas, é
especialmente relevante, no contexto deste capítulo, a re- 3.8 Habênula
gulação dos processos emocionais. Estimulações elétricas
A habênula situa-se no trigano das habênulas. no epl-
ou lesões de algumas áreas do hipotálamo em animais não
tálamo acima da glândula pineal (Figura 5.2). É constituída
anestesiados determinam respostas emocionais comple-
pelos núcleos habenulares medial e lateral. O núdeo late-
xas, como raiva e medo, ou, conforme a área, placidez. Veri-
ral tem função mais conhecida. Suas conexões são muito
ficou-se, por exemplo, que a lesão do núcleo ventromedial complexas, destacando-se as aferências que recebem dos
do gato torna o animal extremamente agressivo e perigo- núdeos septais pela estria medular do tálamo e as suas pro-
so. Em uma experiência clássica, verificou-se que, quando jeções pelo fascículo retroflexo para o núcleo interpedun-
se retiram os hemisférios cerebrais de um gato, induslve cular do mesencéfalo e para os neurõnios dopaminérgicos
o diencéfalo, deixando-se apenas a parte posterior do hi- do sistema mesolímbico. sobre os quais têm ação inibitória
potálamo, o animal desenvolve um quadro de raiva que (Figura 27.3). Tem também ação inibitória sobre o sistema
desaparece quase completamente quando se destrói todo serotonlnérgico de projeção difusa, por meio de suas cone-
o hipotálamo. Hoje, sabemos que áreas específicas do hi- xões com os núcleos da rafe. Assim, a habênula participa da
potálamo ventromedlal são necessárías e suficientes para regulação dos níveis de dopamina nos neurônios do siste-
gerar estados emocionais defensivos. Assim, o hipotálamo ma mesollmbico, os quais, como já foi visto, constituem a
não só meramente coordena as manifestações periféricas principal área do sistema de recompensa (ou de prazer) do
das emoções, mas também é parte ariva do circuito. cérebro. A estimulação dos núcleos habenulares resulta em
Não restam, pois, dúvidas de que o hipotálamo exerce ação Inibitória sobre o sistema dopaminérgíco mesolímbico
um importante papel na coordenação e na integração dos e sobre o sistema serotoninérgico de projeção difusa. Essa
processos emocionais. ação inibitória está sendo implicada na fisiopatologia dos
,- -· •• . . j
~
·~
• ... ..
'. 1, •
•
-
•
·' --~'
. .. - ~
•
..
·• ~
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·,-=--
Estria medula r do tólomo
o
Área septol
1+---- Núcleo inlerpedunculor
+ - - - Núcleos do rafe
Área
tegmentor
ventral
transtornos de humor, como a depressão na qual há uma diam estimular eletricamente o próprio cérebro apertando
ação Inibitória exagerada do sistema mesolfmbico. Casos uma alavanca. Com esse método, verificaram que, em deter-
graves de depressão, resistentes a medicamentos, já foram minadas áreas (áreas de recompensa), os ratos se autoesti-
tratados com sucesso pela técnica de estimulação elétri- mulavam com uma frequência muito alta. podendo chegar
ca de alta frequ~ncla no núcleo lateral da hab~nula, o que a 800 estimulações por hora, ocupando todo o tempo do
ocasiona uma inibição da atividade espontânea nesse nú- animal, que deixava de ingerir água ou alimento, estimu-
cleo, causando uma espécie de ablação funcional de seus lando-se até a exaustão. Admite-se que a aucoestimulação
neurônios. Alguns sintomas da depressão, como tristeza e causa uma sensação de prazer, que seria semelhante a que
Incapacidade de buscar o prazer (anedonismo), podem ser se sente quando se satisfaz a fome, a sede e o sexo. Algumas
explicados pela queda da atividade dopaminérglca na via experiências de autoestimulação, realizadas com pacientes
mesolímbica (em especial no núcleo occumbens). Experiên- humanos na tentativa de tratamento de problema neuro-
cias nas quais macacos são condicionados a apertar uma lógico, confirmaram a presença de áreas cuja estimulação
alavanca e receber uma recompensa resultam em ativação causa prazer. Sabe-se hoje que as áreas que determinam
do sistema mesolímbico. Já o núcleo habenular lateral é ati- estimulações com frequências mais elevadas compõem o
vado quando o macaco aperta a alavanca e não recebe a sistema dopamlnérglco mesolímblco ou sistema de recom-
recompensa, ou seja, numa situação de frustração. Assim, o pensa (figuras 27.4 e 20.4), formado por neurônios dopa-
sistema mesollmbico é ativado pela recompensa e a habê- minérgicos que, da área tegmentar ventral do mesencéfalo,
nula, pela não recompensa. passando pelo feixe prosencefálico medial. terminam nos
núdeos septais e no núcleo accumbens, os quais, por sua
3.9 Substânda dnzenta periaquedutal vez. projetam-se para o córtex pré-frontal ventromedlal. Há
O comportamento de ·congelamento· diante de estímu- também projeções diretas da área tegmentar ventral para a
área pré-frontal e projeções de retroalimenração entre essa
los emocionaisé mediado pelas conexões da amígdala com a
substância cinzenta periaquedutal ventral. A antecipação de área e a tegmentar ventral.
uma situação perigosa ou punitiva ativa essa região. sugerin- O sistema de recompensa premia com a sensaç.áo de
do a sua importancia na antecipação da resposta. prazer os comportamentos importantes para a sobrevivên-
cia, mas é também ativado por situações cotidianas que
causam alegria, como quando rimos de uma piada, vence-
DlóiitMfffl!:tJ:11i11D111•19 1rNílrf . :::·. J mos algum desafio, conquistamos uma vitória, tiramos uma
Uma Importante descoberta, que permitiu entender a nota boa na escola ou simplesmente quando vemos as pes-
relação do cérebro com a motivação e o prazer, foi feita em soas que amamos felizes.
1954 por Olds e Milner, por meio da implantação de eletro- Atualmente, sabe-se que o prazer sentido após o uso
dos no cérebro de ratos, de tal modo que os animais po- de drogas de abuso, como heroína e crock, resulta da es-
254 NNoanatomiaFuncional
timulação do sistema dopaminérgico mesolímbico. em es-
Núcleo /"\.
pecial e do núcleo accumbens. A dependência ocorre pela
-R ...o
estimulação exagerada dos neurônios desse sistema, o que e
o
occumbens
-
e
til -
resulta em gradual diminuição da sensibilidade dos recep-
tores e redução de seu número. Há também mudança nas
i...
Q.
.. li_g
E
i >
..
sinapses e circuitos da via do sistema de recompensa. Com
isso, doses cada vez maiores são necessárias para obter-se o J Núcleos
seplais Q
-<
mesmo prazer. Assim, o comportamento de um rato que se
autoestimula até a exaustão assemelha-se e tem a mesma
base neural do comportamento de um dependente quími- Feixe prosencefólico
co que renuncia a todos os valores da vida pelo prazer da medial
droga. Hoje, sabe-se que o risco de dependência química
também tem base genética. Figura 27.4 Esquema do sistema dopaminérgico mesolímblco.
S. Correlações anatomoclinicas
S.1 Introdução supostamente podem ser perigosos. A forma mais leve são
as fobias especificas, e as mais graves, o transtorno de an-
Classicamente, a Neurologia é o ramo da Medicina que
siedade generalizada, a síndrome do pânico e a síndrome
diagnostica e trata os distúrbios orgAnicos do sistema ner- do estresse pós-traumático. A ansiedade desencadeada de
voso, e a Psiquiatria. os distúrbios da mente. Sabe-se que a forma crônica transforma-se em estresse e causa danos ao
maioria dos transtornos ditos mentais tem uma base neu- organismo. Uma pessoa sadia regula a resposta ao medo
robiológica definida geneticamente, que determina uma por melo do aprendizado e o reconhecimento de que não
disfunção neuroquímlca que em geral envolve os sistemas há perigo. No transtorno de ansiedade, o motivo pode
modulatórios de projeção difusa do encéfalo, cujo conheci- não estar presente e. mesmo assim, resulta na ativação da
mento ocasionou as bases farmacológicas para o tratamen- amígdala. Na síndrome do pãnlco, ocorrem crises súbitas
to de distúrbios rnentais. Essa predisposição genética pode de intenso medo e pavor. seguidas de períodos normais,
ser influenciada por fatores ambientais e pela aprendiza- nos quais se instala o medo de uma nova crise. Os neuró-
gem. Apesar de nem todos os transtornos terem a sua base nios hipotalãmicos, em resposta a estímulos da amígdala.
biológica completamente definida, a Neurociencia tem con- promovem a liberação do hormônio adrenotropicocórtico
tribuído multo para a sua compreensão e o seu tratamen- (ACTH). que, por sua vez, induz a liberação do cortisol pela
to. e na base das Neurociências está a Neuroanatomla. Há adrenal. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é regulado
evidências de base neurobiológica em transtornos, como pelo hipocampo, que exerce o seu efeito inibindo esse
ansiedade, depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo- eixo. A exposição crônica ao cortisol pode ocasionar dis-
-compulsivo, transtorno de déficit de atenção e hiperativl- função e morte dos neurônios hlpocampals. Assim, a dege-
dade, aut.ismo, entre outros. Corno exemplo, abordaremos a neração do hlpocampo torna a resposta ao estresse mais
seguir o transtorno de ansiedade e o estresse. acentuada, gerando maior liberação de cortisol e maior
lesão do hlpocampo. Estudos de neuroimagem mostraram
S.2 Ansiedade e estresse redução no volume do hipocampo, com repercussão so-
Como já foi visto, as respostas autonómicas e compor- bre a memória em pacientes que sofreram de transtorno
tamentais que ocorrem na reação normal ao medo têm o de estresse pós-traumático. A resposta ao estresse tem sido
papel de preparar o organismo para situações agudas de relacionada tanto com a hiperativldade da amígdala como
emergência. Aansiedade é um transtorno psiquiátrico mul- com a redução da atividade do hipocampo. O tratamento
to comum. Ele é a expressão inapropriada do medo, que, farmacológico dos transtornos de humor foi abordado no
nesse caso, é duradouro e pode ser desencadeado por pe- Capítulo 20, item 9.3 e atua sobre os sistemas modulatórios
rigos pouco definidos ou pela recordação de eventos que de projeção difusa, principalmente o serotonlnérgico.
Leitura sugerida
DARWIN, C. The expression ofemorions in men ond animais. London: NAMBOODIRI, V. M. K.; ROMAGUERA, J. R; STUBER, G. D. The habe-
John Murray, 1872. nula. Prime,, v. 26, n. 19, p. 873-877, 2016.
HEIMER, L.; van HOESEN. G.W. The límblc lobe and ilS output chan- WATSON, K.K.; MATTHEWS, BJ.; ALlMAN, J.M. Brain activation during
nels: lmplications for emorlonal functions and adaptative be- sight gags and language-dependent humor. Cerebral Conex.
havior. Neuroscience ond Behavloral Revlews. 2006;30: 126-147. 2007;17(2):3 I 5-324.
15 fntrod~ âo Para isso, ele tem acesso às diversas outras áreas mnemô-
nicas do córtex cerebral, córtex entorrinal, amígdala, córtex
Memória é a capacidade de se adquirir, armazenar e evo-
parietal superior, cingulado e hipocarnpo, responsáveis pe-
car informações. A etapa de aquisição é a aprendizagem, do
las memórias de curta e longa duração, verifica se a Infor-
mesmo modo que a evocação é a erapa de lembrança. São
mação que está chegando e sendo processada já existe ou
tão nurnero.sas e diversificadas as n1emórias que cada um tem
não, e se vale a pena armazená-la. Assim, a área pré-frontal
armazenadas no cérebro, que Isso torna praticamente impos-
funciona como gerenciadora da memória, definindo o que
sível a existência de duas pessoas iguais. Assim, a base da in-
permanece e o que é esquecido. Esse diálogo consrante da
dividualidade está na memória. O conjunto das memórias de
realidade com as próprias lembranças é fundamental para
um indivíduo é parte importante de sua personalidade.
a sobrevivência, pois permite ajustes no comportamento
e na percepção da realidade. Na esquizofrenia, há falha da
memória de trabalho, e o indivíduo passa a ter dificuldade
As memórias são classificadas com base em alguns cri- de entender o mundo em sua volta. Além do córtex pré-
térios: de acordo com a sua função, de acordo com a dura- -frontal, o hipocampo está envolvido e há também compro-
ção e de acordo com o seu conteúdo. metimento das memórias de longa duração. Esta pode ser a
base do conteúdo alucinatório e delirante da doença.
2.1 Tipos de memória de acordo com sua função -
memória operacional ou de trabalho 2.2 Tipos dê memória de acordo com o seu contêúdo -
É um tipo de memória online, que não tem a funç~o de memórias dedarativas e procedurais
gerar arquivos, e sim de gerenciar o nosso contato com a rea- As memórias declarativas são aquelas que registram fa-
lidade. Permite que informações sejam retidas por segundos tos, eventos ou conhecimento, pois podemos declarar que
ou minutos, durante o tempo suficiente para dar sequência existem e sabemos como as adquirimos. As referente aos
a um raciocínio, compreender e responder a uma pergun- eventos a que assistimos ou dos quais participamos, cha-
ta, memorizar o que acabou de ser lido para compreender mamos de episódicas ou aucobiogrdficas, uma vez que que
a frase seguinte, memorizar um número de telefone duran- sabemos pessoalmente sua origem, como a nossa forma-
te o tempo suficiente para disQ·lo. É processada pelo cór- tura, o rosto de uma pessoa, filmes, algo que lemos ou nos
tex pré-frontal dorsolateral e ventromedial. Essa memória se contaram. As memórías de conhecimentos gerais, como a
distingue das demais porque não deixa registro apenas per- de idiomas, Medicina, são denominadas semânticas. Embo-
mite dar continuidade aos nossos atos. Depende apenas da ra possamos nos lembrar de episódios ern que o conhe-
atividade dos neurônios pré-frontais. Éfortemente modulada cimento foi adquirido, como determinada aula de inglês,
pelo estado de alerta, humor, motivação e nível de consciên- não existe um limite preciso entre o início e o fim dessa
cia por melo dos sistemas de projeção dlfusa do encéfalo. aprendizagem. Quando as memórias declarallvas falham,
O córtex pré-fronral determina o conteúdo da memó- fala-se em amnésia.
ria operacional que será selecionado para armazenamento, Na memória não declarativa ou procedural, os conhe-
conforme a relev~ncia da informação naquele momento. cimentos memorizados são implícitos e, assim, n~o podem
ser descritos de maneira consciente. São memórias de habi- 2.4 Prlmlng, reflexos condicionados e memórias
lidades, capacidades motoras ou hábitos por meio dos quais assodativas e não assodativas
as pessoas aprendem as sequências motoras que lhes per-
mitem executar tarefas, como nadar e andar de bicicleta, as O priming, memória evocada por meio de dicas, como
quais, após aprendidas, são realizadas de maneira automáti- fragmentos de Imagem, primeiras palavras de uma música,
ca e inconsciente. Esse tipo de memória dura geralmente a gestos odores e sons. Muitas vezes, um músico só se lembra
vida toda. É difícil declarar que as temos, é preciso demons- do restante de uma partitura quando executa ou ouve as
trar ou executá-las. Uma partitura aprendida de cor é uma primeiras notas. O priming é um fenômeno neocortical. que
memória episódica, mas a execução no piano é procedural. envolve a área pré-frontal e as áreas associativas.
Utilizam-se também os termos memória explidta para as Pavlov observou que a primeira reação de um animal
declarativas e memória implfcitas para as procedurais. No a um estímulo novo é um estado de alerta e orientação e
entanto, algumas memórias declarativas semânticas, como exploração: a reação do ·o que é isto?~A repetição do estí-
a língua materna, são adquiridas de forma implícita, ou in- mulo leva à redução gradual dessa resposta, fenômeno este
consciente. Há divisões entre as memórias não declarativas chamado de habituaçôo. Éa forma mais simples de aprendi-
conforme mostrado na Tabela 28.1 . Os circuitos responsá- zado não associativo e deixa memória.
veis pela memória procedural envolvem os núcleos da base Pavlov também observou que nos aprendizados associa-
e o cerebelo. O comprometimento desse Lipo de memória tivos, quando um estímulo novo é pareado com outro bio-
ocorre nas fases avançadas da doença de Parkinson com a logicamente relevante, prazeroso ou doloroso, a resposta ao
perda de neurônios da substtincia negra. primeiro estímulo muda, ficando condicionada ao pareamen-
to. Essa resposta é conheclda como reflexo condicionado. Por
2.3 Tipos de memória de acordo com a duração - exemplo, normalmente um animal saliva ao ver a comida. Se
memórias de curta e longa duração uma campainha é acionada repetidamente antes de o ani-
mal receber a comida, após certo Lempo, apenas o som da
Este critério leva em conta o tempo em que a Informa- campainha já será suficiente para a ocorrência de salivação.
ção permanece armazenada no cérebro, distinguindo-se Esse tipo de aprendizagem está presente no nosso cotidiano
a memória de curta e a de longa duração. A memória de quando, por exemplo, evitamos colocar o dedo em tomadas
trabalho, por não deixar registro, não entra nessa categoria para evitar um choque, o choro dos bebês quando querem
e foi estudada separadamente. A formação das memórias comida. Se o eslímulo deixa de levar a resposta esperada, o
de curta e longa duração depende de uma boa memória reflexo é extinto. Por exemplo, se o choro não trouxer uma
de trabalho, ou seja, um bom funcionamento do córtex recompensa, a criança deixa de chorar.
pré-frontal.
A memória de curta duração permite a retenção de in-
formações durante algumas horas até que sejam armazena- Tabela 28.1 Memória de longa duração
das de maneira mais duradoura nas áreas responsáveis pela Tipo Subdivisões
memória de longa duração.
Segundo fzquierdo, a memória de curla duração dura Explícita Semântica
(declarativa)
de minutos a 6 horas, que é o tempo que leva para se con- Episódica
solidar a memória de longa duração. Durante esse tempo,
ela é bastante fábll e susceptívef à interferência de outras lmplfclta ou Priming
procedural
memórias, traumas e substâncias, como o álcool. A me- Memória de procedimento (habilidades
(n.!o declarativa)
mória de longa duração depende de mecanismos mais e hábitos)
complexos, que levam horas para serem realizados. Por
Associativa (condicionamento operante
isso, a memória de curta duração, que exige mecanismos
e clássico)
de processamento n1ais simples, mantém a memória viva
enquanto a de longa duração está sendo definitivamente Não associativa (habituação e sensibilização)
armazenada. A sua função é manter o indivfduo em con-
dições de responder com uma cópia efêmera da memória
principal, permitindo o término de uma feitura, de uma
conversa, ou de um estudo. Esses dois tipos de memórias
dependem do hipocampo e de outras estruturas encefáli-
cas. A memória de curta duração não é um simples estágio Essas áreas abrangem áreas telencefáficas e diencefáli-
da memória de longa duração. Elas ocorrem de modo pa- cas unidas pelo fórnice, que figa o hlpocampo ao corpo ma-
ralelo e Independente. Ambas requerem as mesmas estru- milar do hipotálamo. As áreas telencefálícas incluem a parte
turas nervosas, mas com mecanismos próprios e distintos. medial do lobo temporal, a área pré-frontal dorsomedial e
As bases da memória de curta duração são essencialmente as áreas de associação sensoriais. As áreas dlencefálicas são
bioquímicas enquanto a de longa duração envolve modi- componentes do circuito de Papez (Figura 27.1 ). Temos,
ficações sinápticas. assim, a Tabela 28.2 a seguir.
•
5. Correlações anatomoclinlcas
Os quadros clínicos mais frequentes são as amnésias Há também perda dos neurônios colinérgicos do nú-
retrógradas e anterógradas já descritas e decorrentes de cleo basal de Meynert, o que ocasiona a perda das pro-
lesões do hipocampo e córtex entorrinal, podendo resul- jeções modulatórias colinérgicas de praticamente todo
tar também de processos patológicos que acometem o o córtex cerebral. É uma doença com claro componente
fórnice e os corpos mamilares. Dois quadros patológicos genético. mas que sofre lníluêncla de fatores ambientais.
que acometem áreas relacionadas à memória merecem Estudos mostraram que o Indivíduo com uma predisposi-
atenção especial, a síndrome de Korsakoff e a doença de ção genética, mas que tem uma vida intelectualmente ati-
Alzheimer. va, pode não manifestar ou ter formas mais leves e tardias
da doença.
5.1 Síndrome de Korsakoff A causa é o acúmulo de duas proteínas no cérebro: a
Resulta da degeneração dos corpos mamilares e dos beta-amiloide e a tau. A beta-amiloide é produzida normal-
núcleos anteriores do tálamo. Essa síndrome, em geral, é r_nente no cérebro; porém. na doença de Alzheimer, a sua
consequência do alcoolismo crónico e os principais sinto- produção é exagerada e acumula-se em íorma de estrutu-
mas são amnésias anterógradas e retrógradas. ras fibrilares, denominadas placas amiloides. no parênqui-
ma e na parede das arteríolas, ocasionando a angiopatia
S.2 Doença de Alzheimer amiloide. A tau forma os emaranhados neurofibrilares e
É a causa mais comum de demência. Trata-se de acumula-se no corpo do neurónio e em seus dendritos,
uma doença degenerativa que acomete pessoas a par- causando sua morte. Além do acúmulo de agregados
tir da mela-idade, na qual ocorrem graves problemas de proteicos anormais, há perda de sinapses e de neurônios.
memória. Há perda gradual da memória operacional e de causando atrofia cerebral. Há também uma reação inflama-
curta duração. O paciente começa a ter dificuldade com tória entre as placas proteicas mediada por células da glia.
a memória recente de fatos ou de compromissos ocorri-
dos no dia. Evolui gradativamente para comprometimento S.3 Epilepsia do lobo temporal
da memória de longa duração, a ponto de se esquecer do Trata-se do tipo mais frequente de epilepsia focal na
nome dos familiares e apresentar desorientação no tempo população adulta. A alteração estrutural subjacente é a
e espaço. Na fase mais avançada. há uma completa dete- esclerose hipocampal, também conhecida como esclerose
rioração de todas as funções psíquicas, com amnésia total. mesial temporal (Figura 28.3). As causas desta lesão não
De modo geral, a doença se Inicia com uma degeneração estão totalmente esclarecidas, mas a relação com ocor-
progressiva dos neurônios da área entorrinal, que constitui rência de estado de mal epiléptico na inf~ncia e anóxia
a porta de entrada das vias que, do neocórtex, se dirigem perinatal está bem estabelecida. O paciente passa anos as-
ao hipocampo. Segue-se atrofia do hipocampo. cíngulo sintomático e. na idade adulta, iniciam-se as crises epilép-
posterior e de todo o encéfalo (Figura 28.2). ticas do tipo focal discognitiva. A crise típica inicia-se com
Figura 28.2 (A) Ressonáncia magnética normal; e (B) ressonância magnética evidenciando atrofia cerebral difusa em paciente com
doença de Alzheimer.
Fonte: Cor1.esia do Dr. Marco An1õnio Rodacki.
Figura 28.3 Ressonància magnética mostrando lesão no hlpocampo esquerdo em paciente com epilepsia do lobo temporal. (A) Corte
axial em T2 Flair e coronal em T2 (em que as áreas com maior volume de líquido apresentam-se embranquecidas} mostrando hipersinal
no hipocampo esquerdo (setas). (B) Imagem em Tl (em que as ~rcas liquidas aparecem escuras) mostrando a redução volumétrica do
hipocampo.
Leitura sugerida
KAHN, I.; SHOHAMY. O. lntrinslc connectivity between the hlppo GAGLIARDI, R. J~ TAKAYANAGUI, O. M. Trotado de Neurologia do Acade-
campus. nucleus accumbens and ventral 1egmental area ln mia 81asileira de Neurologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevler, 20 19.
humans. Hlppocompus. 2013;23:187-197. IZQUIERDO, 1. Memória. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018,
KANDEL, E.. R.; et ai. Principies of Neuro/ Sclence. 6. ed. Nova York: Me YACUBIAN, E.M.T.; MANREZA, M.L.; TERRA,V. e. Purpfe book. 2. ed. São
Graw HIii, 2021 . Paulo: Planmark, 2020.
li
______ - - - -Área do pé
1
. __ - - ---Áreoda mão
Corpo caloso------
Cápsula interno
MESENCÉFALO
PONTE
BUIBO
T6 /
... , ... ~~----,r,-J.k.-:r~_::_:,..~.~ l
- - -- - - Neurônio li no coluna posterior
, . . - - - - - - - - - - Axônio do neurônio li
S2
,
.
f 1ssuro med'1ono on terior
. ---- - - - - - - / \ __________ - - - Comissuro bronco
268 IINlroanatomwFuncíooal
nios mergulham ventralmente, constiLuindo as fi- c) Neurônios 1/f - estão situados no núcleo ventral
bras arqueadas Internas, cruzam o plano mediano posterolareral do tálamo, originando axõnios, que
e, a seguir, ínflectem-se cranlalmente para formar constítuem radiações talâmicas que chegam à área
o lemnisco medial (Figura 29.3). Este termina no somestéslca passando pela cápsula Interna e coroa
tálamo, fazendo sinapse com os neurônios Ili. radiada (Figura 29.3).
/ - - _ _ _ _ _ _ _ Áreadopé
/
/
. . - - - - - - - - - Área do tronco
/
'.' '
•:
. .•• . . •
'
/
Neurônio Ili no núcleo ventrol posteroloteral
MfSENCÉFALO
- - - - - - - - - Axônio do neurônio li
/
// o
Prolongamento periférico do neurônio 1
- ____ Troto espinotolâmico anterior
Ramo ascendente - - -
--- - - - - ---
Neurônio I no gânglio espinal
---- - - - - - - - Neurônio li no coluna posterior
- - - - - - - - - - - -Comissuro bronca
--
Tálamo
..............
............ Neurônio Ili no núcleo
ventral poslerolateral
MESENCÉFALO
--·
..... ~
... ••
~ ·/
,.
--- - - - - Lemnisco medial
PONTE o
:••.......
,,,
BULBO
~ - - - - - - - - F a s cículo cuneiforme
Fascículo grócil
..-7-:::;:::jl,...,__--------- - - - - -
,,. / . -...,.
.v·
Ramo descendente
do neurônio 1 .___ / ··\ -~;'~\..._.i::- _ _ _ _ _
- -... .._ _,,,, / (··-··:: ;'
.'
--- - - - Fascículo grácil
Figura 29.3 Representação esquemalica da via de propriocepçc\o consciente, tato epicrítico e sensibilidade vibratória.
2 72 Netlmanatoml• Funcional
•
Área do cabeço
\~ MESENCÊFALO
,,
""' '
\'\ \ /
~ - - - - Nervo oFtólmico
- - - Nervo maxilar
Nervo
.,,.,. mandibular
I
I
I
I
I
I
I
I
I
Neurônio I no gânglio trigeminai
/
/
/
Trato e,pinol do nervo trigémeo _/ /
/ ' - -- - - Núcleo motor do nervo trigémeo
.,,. .,,,. .,,,,,,,, .,,. BULBO
VII par
Fibras solitório-tolâmlcos - - - - - - (2/3 anteriores do língua)
IX por
BULBO ~'-f§;~í,---/:-_,:!.;', (1/3 posterior do língua)
:f:!!h
~~:: t I ','
''If/: I I Neurônio I no gânglio inferior
{lj I do nervo glossofaríngeo
1
1
Neurônio I no gânglio inferior do nervo vogo
,, .,
.
·- -- -- -- . - . .
_, -,.__ . -.
,J
Na membrana dos cílios olfatórios, encontram-se recepto- celular, sendo este um dos poucos exemplos de pro-
res químicos, aos quais se ligam as moléculas odorantes, liferação neuronal em adultos. Os prolongamentos
efetuando a transduçao qulmloneural, ou seja, a trans- centrais dos neurónios I sao amielínicos, agrupam-se
formação de estímulos qufmicos em potenciais de ação. em feixes formando filamentos que, em conjunto,
A molécula de odorante deve encontrar o seu receptor constituem o nervo
•
olfatório. Esses filamentos atra-
especifico entre os vários tipos de receptores diferentes. vessam os pequenos oriflcios da lamina crívosa do
No neuroepitélío olfatório do homem, existem 400 tipos osso etmoíde e terminam no bulbo olfatório, onde
de receptores, formados por proteínas receptoras. Essa di- as suas fibras fazem sinapse com os neurônios li.
versidade de receptores permite a discriminação de ampla b) Neurônios li - são as chamadas célu/05 mirrais, cujos
variedade de agentes odoríferos. dendritos, muito ramificados, fazem sinapse com
as extremidades ramifi cadas dos prolongamentos
3.3.2 Via olfatória
centrais das células olfatórias (neurônios 1), consti-
a) Neurônios I - são as próprias célulos olfatórios, neu- tuindo os chamados glomérulos olforórios (Figura
rônios bipolares localizados na mucosa olfatória (ou 29.6). Os axónios mielínicos das células mitrais se-
mucosa pituitária), situada na parte mais alta das fos- guem pelo trato olfatório e ganham as estrias olfa-
sas nasais (Figura 29.6). Esses neurónios são reno- tórias lateral e medial. Admite-se que os impulsos
vados a cada 6 a 8 semanas, mediante proliferação olfatórios conscientes seguem pela estria olfatória
Células mitrais
(neur6nios li) ----- \ - --- Glomérulo olfotórlo
. \ / r - -- Bulbo olfat6rio
Troto olfatóno - - - - \ f I
\ \ I I
• Áteo $ef>tal - - - , \ \ f / ,.. - - Nervo olfatório
1 \ \ t I I
Estria olfot6ria ~edial \ \ \\ t I f
t I r - Seio frontal
\ 1 \ \ J I I t
J I I 1
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\ f I 1
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Giro paro-hipocampal 1 1 1
1 ' \ , \ Célula olfatório (neurônio 1)
1
Unco --- - - -' 1 1 \ \ \ - - -- Concho nasal médio
1 1 \ 1
I I \
Lfmen do ínsula -- - ..J / \ \_ _ _ _lâmina Cfivosa do etmoide
1
Estria olfat6ria lateral -- - ' \ ___ ___ _ _ Concho nasal superior
• - --- - • •• -- 1,
•:_,..._,.
• ' • . .-~◄
lateraP e terminam na área cortical de projeção oposto. As fibras do lemnisco lateral terminam fazen-
primária para a sensibilidade olfatória situada no do sinapse com os neurônios Ili no colículo inferior.
unco, correspondendo ao chamado córtex plri- Há certo número de fibras provenientes dos núcleos
forme. Este tem projeção para o tálamo que, por cocleares que penetram no lemnisco lateral do mes-
sua vez, projeta-se para o córtex orbltofrontal (giro mo lado, sendo, por conseguinte, homolarerais.
reto e giros olfatórios), também responsável pela c) Neurônios Ili - a maioria dos neurônios Ili da via
percepção olfatória consciente. Esrudos de resso- auditiva está localizada no coliculo inferior. Seus
ntlncia magnética funcional no homem mostraram axõnios dirigem-se ao corpo genículado medial,
a existência de projeções olfatórias para o sistema passando pelo braço do colículo inferior.
límbico, o que explica situações em que os odores d) Neurônios IV - estão localizados no corpo genicula-
são associados a emoções diversas, como a aversão do medial. Seu núcleo principal é organizado tono-
(amígdala) ou o prazer (núcleo accumt>ens). topicamente e os seus axõnios formam a radiação
A via olfatória apresenta as seguintes peculiaridades: audiriva, que, passando pela cápsula interna, chega à
área auditiva do córtex (áreas 41 e 42 de Brodmann),
a) Tem apenas os neurônios I e li. situada no giro temporal transverso anterior.
b) O neurônio ! localiza-se em uma mucosa e não em
um gânglio. Admite-se que a maioria dos impulsos auditivos chega
c) Impulsos olfatórios conscientes vão diretamente ao ao córtex através de uma via como a aqui descrita, ou seja,
córtex sem um relé talamico. envolvendo quatro neurônios. (ntretanto, muitos impulsos
auditivos seguem um trajeto mais complicado, envolvendo
d) A área cortical de projeção é do tipo alocórtex e
um número variável de sinapses em três núcleos situados ao
não isocórtex, como nas demais vias.
longo da via auditiva, ou seja, núcleo do corpo trapezoide,
e) É totalmente homolateral, ou seja, todas as informa-
• núcleo olivar superior e núcleo do lemnisco lateral. Apesar
çôes originadas nos receptores olfatórios de um lado de bastante complicada, a via auditiva mantém organização
chegam ao córtex olfatório desse mesmo lado. tonotópica, ou seja, impulsos nervosos relacionados com
Alucinações olfatórias podem ocorrer como conse- tons de determinadas frequências seguem caminhos es-
qu~ncia de crises epilépticas focais originadas no córtex ol- pecíficos ao longo de toda a via, projetando-se em partes
fatório, as chamadas crises uncinadas, nas quais as pessoas específicas da área auditiva.
sentem cheiros que não existem naquele momento. A via auditiva apresenta duas peculiaridades:
a) Apresenta grande número de fibras homolaterais.
3.4 Via auditiva
Assim, cada área auditiva do córtex recebe impul-
3.4.1 Receptores auditivos sos originados na cóclea do seu próprio lado e na
Os receptores da audição localizam-se na parte coclear do lado oposto, sendo Impossível a perda da audi-
do ouvido Interno (Figura 29.7). São os cílios das células ção por lesão de uma só área auditiva.
sensoriais, situadas no chamado órgão de Corti, estrutura b) Apresenta grande número de núcleos relés. Assim,
disposta em espiral, localizada na cóclea, onde está em con- enquanto nas demais vias o número de neurônios
tato com um líquido, a perilinfa. Esta vibra em consonancia ao longo da via é geralmente três, na via auditiva
com a membrana do tímpano, ativando os cílios e originan- esse número é de quatro ou mais.
do potenciais de ação, que seguem pelas vias auditivas.
3.5 Vias vestibulares consdentes e Inconscientes
3.4.2 Vias auditivas 3.5.1 Receptores vestibulares
a) Neurônios/ - localizam-se no gânglio espiral situado Os receptores vestibulares são cílios de células senso·
na cóclea. São neurônios bipolares, cujos prolonga- riais situadas na parte vestibular do ouvido interno (Figura
mentos periféricos são pequenos e terminam em 29.7) em contato com um líquido, a endollnfa. Do ponto
contato com as células ciliadas do órgão de Corti. de vista anatômico, distinguem-se na parte vestibular dois
Os prolongamentos centrais constituem a porção conjuntos de estruturas, o utrículo e o sáculo e os tr~s ca-
coclear do nervo vestlbulococlear e terminam na nais semicirculares (Figura 29.7). Os receptores situados
ponte, fazendo sinapse com os neurônios li. no utrículo e no sáculo localizam-se em epitélios sensoriais,
b) Neurônios li - situados nos núcleos cocleares dorsal denominados máculas, cujos cílios são ativados pela gravi-
e ventral (Figura 29.8). Seus axónios cruzam para o dade Informando sobre a posição da cabeça. A.s células sen-
lado oposto, constituindo o corpo trapezoide, con- soriais dos canais semicirculares localizam-se em estruturas
tornam o complexo olivar superior e lnflectem-se denominadas cristas, situadas em dilatações desses canais,
cranialmente para formar o lemnisco lateral do lado as ampolas (Figura 29,7). A movimentação da endolinfa,
que ocorre quando se movimenta a cabeça, ativa os cílios
3 As fibras da estria olfatória medial incorporam-se à comissura anterior e das células sensoriais, dando origem à movimentação refle-
terminam no bulbo olfatórlo do lado oposto. xa dos olhos (Capítulo 17, item 2.2.5).
276 NeuroanatomlaFuncional
Conol semicircular
Soco endolinfótico superior
Glônglio
Ampolos
vestibular Porte vestibular do nervo
vestlbulococleor
Conol semicircular posterior
,1-:-;:\'\;'\.,.
~-~·
-LO-X7'- -
Nervo facial
Utrículo
Sóculo
Gânglio esplrol
•
Área auditivo
e -42)
Giro temporal
transverso anterior
Radiação auditivo
.•
••
'\.\,
~
Neurônio IV no corpo
..:_ geniculodo medial
.. _ -- MESENCÉ.FALO
- . Neurônio Ili no núcleo
do collculo inferior
Coliculo inferior
Núcleo do lemnisco
- - --- - - 1olera1
lemnisco lateral--- - - - --- - ->------ -----Lemnisco lateral
,,
Neurônio li no núcleo ,-Núcleo olívor superior
cocleor dorsal " Pedúnculo cerebelor inferior
1
1
Porçôo coclear do nervo PONTE
vestibulococlear
Neurônio I no 1
1 1
gânglio espir?I 1 1
1
' 1
1
1
Corpo trqpezoide \
1
1 \,
Neurônio li no núcleo Núcleo do corpo trapezoide
cocleor ventral
.....
--·
3.5.2 Vias vestibulares pigmentar da retina. A parede, ou camada interna, do cálice
óptico dá origem à camada nervosa da retina, onde se dife-
a} Neurónios I - células bipolares localizadas no gân- renciam os u~s primeiros neurônios (1, li e Ili) da via óptica
glio vestibular. Os seus prolongamentos periféricos, (Figura 29.9).
pequenos, ligam-se aos receptores, e os prolon- Na parte posterior da retina, em linha com o centro da
gamentos centrais, muito maiores, constituem a pupila, ou seja, com o eixo visual de cada olho, existe uma
porção vestibular do nervo vestibulococlear, cujas área ligeiramente amarelada. a mácula lútea, no centro da
fibras fazem sinapse com os neurônios li. qual se nota uma depressão, a /óveo central. A mácula corres-
b) Neurônios li - localizam-se nos núcleos vestibula- ponde à área da retina onde a visão é mais distinta. Os movi-
res. A partir desses núcleos, temos a considerar mentos reflexos do globo ocular fixam, sobre as máculas. a
dois trajetos, conforme se trate de via consciente imagem dos objetos que nos interessam no campo visual. A
ou inconsciente. visão nas partes periféricas não maculares da retina é pouco
► Via inconsciente - axõnios de neurônios li dos nítida e a percepção das cores se faz de forma precária. A
núcleos vestibulares formam o fascículo vesti- estrutura da retina é muito complexa, distinguindo-se nela
bulocerebelar, que ganha o córtex do vestibu- dez camadas. uma das quais é a camada pigmentar, situada
locerebelo, passando pelo pedúnculo cerebelar externamente. O estudo das nove camadas restantes pode
inferior (Figura 15.2). Fazem exceção algumas ser simplificado levando-se em conta apenas a disposição
fibras que vão diretamente ao cerebelo, sem dos três neurônios retinianos principais. Distinguem-se,
sinapse nos núcleos vestibulares (Figura 15.2). então, três camadas, que correspondem aos territórios dos
► Via consciente - a existência de conexões entre neurônios 1, li e Ili da via óptica, ou seja, de fora para dentro:
os núcleos vestibulares e o córtex .cerebral foi a camada das células fotossenslveis (ou fotorreceptoras); das
negada durante muito tempo, mas hoje está células bipolares; e das células ganglionares (Figura 29.9).
estabelecida com base em dados dínicos e ex- As células fotossensíveis estabelecem sinapse com as
perimentais. Contudo, há controvérsia quanto células bipolares, que, por sua vez. fazem sinapse com as cé-
ao trajeto da via, embora a existência de um lulas ganglionares, cujos axônlos constituem o nervo óprico
relé talàmico seja geralmente admitida. (Figura 29.9). Os prolongamentos periféricos das células fo-
c) Neurónios Ili - não há uma área puramente vestibu- tossensíveis são os receptores da visão, cones ou bastonetes,
lar, como ocorre em outras modalidades sensoriais. de acordo com a sua forma. Os raios luminosos que incidem
As principaisencontram-se no sulco lateral e córtex sobre a retina devem atravessar suas nove camadas internas
insular posterior e no lobo parietal, em uma peque- para atingir os fotorreceptores, cones ou bastonetes. A exci-
na região próxima ao território da área somestésica tação destes pela luz dá origem a impulsos nervosos. proces-
correspondente à face. so este chamado de fototronsdução. Os impulsos caminham
em direção oposta à seguida pelo raio luminoso. ou seja, das
O nervo vestibular transmite informações sobre a acele-
células fotossensíveis para as células bipolares e destas para
ração da cabeça para os núcleos vestibulares do bulbo que,
as células ganglionares, cujos axônios constituem o nervo
então, as distribui para cenLros superiores. As informações
óptico (Rgura 29.9), que contém mais de 1 milhão de fibras.
ajudam a manter o equilíbrio e a postura, permitindo cor-
Os bastonetes são adaptados para a visão com pouca
reções por retroalimentação. As vias vestibulares também
luz. enquanto os cones são adaptados para a visão com luz
controlam reflexos oculares para estabilizar a Imagem na re-
de maior Intensidade e para a visão de cores. Nos animais de
tina, em resposta à movimentação da cabeça. Esses reflexos
hábitos noturnos, a retina é constituída de modo preponde-
foram estudados no Capítulo 17, item 2.2.5.
rante, ou exclusivo, de bastonetes; enquanto, nos animaisde
hábitos diurnos, o predomínio é quase total de cones. Existem
3.6 Via óptica
três tipos de cones, cada um deles sensível a uma faixa dife-
Estudaremos inicialmente o trajeto dos impulsos nervo- rente do espectro luminoso, e o cérebro obtém a Informação
sos na retina, onde se inicia a sensação da visão, e, a seguir, sobre a cor ao analisar a resposta à ativação desses três tipos
o seu trajeto do olho até o córtex do lobo occipital. onde se de cones. No homem, o número de bastonetes é cerca de 20
inicia o processamento necessário à percepção visual. vezes maior do que o de cones. Contudo, a distribuição dos
dois tipos de receptores não é uniforme. Assim, enquanto
3.6.1 Estrutura da retina nas partes periféricas da retina predominam os bastonetes, o
Os receptores visuais, assim como os neurônios 1, li e número de cones aumenta progressivamente à medida que
Ili da via óptica, localizam-se na retina, neuroepitélio que se aproxima da mácula, até que, ao nível da fóvea central,
reveste o Interior da cavidade do globo ocular, posterior- existem exclusivamente cones. Nas partes periféricas da re-
mente à íris. Do ponto de vista embriológico. a retina forma- tina, vários bastonetes ligam-se a uma célula bipolar e várias
-se a partir de uma Invaginação do diencéfalo primitivo, a células bipolares fazem sinapse com uma célula ganglionar
vesícula óptica, que, logo, por um processo de introflexão, (Figura 29.9). Assim, nessas áreas, uma fibra do nervo óptico
transforma-se no cálice óptico, com parede dupla. A pare- pode estar relacionada com até 100 receptores. Na mácula,
de, ou camada externa do cálice óptico. origina a camada entretanto, o número de cones é aproximadamente Igual ao
-- -- ,.. - - Comodo pigmentar retina de seu próprio lado e fibras nasais da retina do lado
oposto (Figura 29.1 O). Como consequência, os impulsos
----
' . J.-- -------Bastonete
- - - - - • Célula de
nervosos originados em metades homônimas das retinas
dos dois olhos (por exemplo, na metade direita dos dois
bastonete olhos) serão conduzidos aos corpos geniculados e ao cór-
tex desse mesmo lado. Ora, é fácil verificar (Figura 29.1 O)
que as metades direitas das retinas dos dois olhos, ou seja,
.. • - do
cfcuito coroderlstico
retino periférico a retina nasal do olho esquerdo e temporal do olho direito,
recebem os raios luminosos provenientes do lado esquer-
i do, ou seja, dos campos temporal esquerdo e nasal direito.
-- --- - - -Raio luminoso
Entende-se, assim. que, como consequência da decussação
parcial das fibras visuais no quiasma óptico, o córtex visual
Circuito direito percebe os objetos situados à esquerda de uma linha
Nervo corocterístlco vertical mediana que divide os campos visuais. Assim, tam-
óptico do móculo bém na via óptica é válido o principio de que o hemisfério
/
-
-- - cerebral de um lado relaciona-se com as atividades sensiti-
vas do lado oposto.
Cone ',
Neurônios Ili Conforme o seu destino, pode-se distinguir quatro ti-
\ ', ' , [células
'-, ganglionares} pos de fibras nas vias ópticas:
/ \ ... a) Fibras retino-hipotalômicas - destacam-se do
Célula de cone \ Neurônios li (células bipolares)
\ quiasma óptico e ganham o núcleo supraquias-
Neurônios 1{células fotossen&íveis) mático do hipotálamo. São importantes para a
sincronização dos ritmos clrcadianos com o ciclo
Flgur• 29.9 Esquema da disposição dos neurônios na retina.
dia-noite. Pesquisas recentes mostraram que es-
sas fibras têm origem, não em cones e bastone·
3.6.2 Trajeto das fibras nas vias ópticas tes. mas sim em células ganglionares especiais da
Os nervos ópticos dos dois lados convergem para for- retina, que contêm um pigmento fotossensível,
mar o quiasma óptico, do qual se destacam posteriormente a melanopsina, capaz de detectar mudanças na
os dois tratos ópticos, que terminam nos respectivos corpos luminosidade ambiental.
genicufados laterais (Figura 29.1 O). Ao nível do quiasma óp· b) Fibras retinotetais - ganham o calículo superior
tico, as fibras dos dois nervos ópticos sofrem uma decussa- através do braço do calículo superior e est:ío rela-
ção parcial. Antes de estudar essa decussação, é necessário cionadas com reflexos de movimentos dos olhos
conceituar alguns termos: ou das pálpebras. desencadeados por estímulos
T N
Esquerdo Direito
\ Retino nasal
'~ Normal
Retina temporal J
Nervo óptico - - - -
•
Quiasma óptico - - - ----- A
Troto óptico ---....._ Cegueira total
do olho direito
Corpo
geniculodo _ ,
lateral \
B
Hemionopsio
c
Hemionopsio
nasal do olho direito
D
Hemianopsio
homônimo esquerdo
E
Ovodrontonopsia
homônima superior esquerdo
1 F
1/ .,.~..,. Hemionopsio
homônimo esquerdo
1/ //
Radiação óptico _J/ //
Área visual, área 17 de Brodmonn (lábios do sulco colcorino)
Figura 29.1 o Representação esquemática das vias ópticas e suas correspondências com os campos visuais nasal (Nl e temporal m de cada
olho. As letras A~F do lado esquerdo indicam lesões nas vias ópticas, que resultam nos defeitos de campo visual, representados do lado
direito. O esquema não leva em conta o fato de que existe uma s1Jperposlção parcial entre os campos visuais dos dois olhos.
\ •
'
I
•'
,,
~
•· ·
,.
-
• · •·
Figura 29.11 Ressonância magnética mostrando um glioma do quiasma óptico em cortes axial, coronal e sagltal (região com hlpersinal).
Fonre: Cortesia Marco Antônio Rodackl.
•
cega da retina, verifica-se que ele está ausente no lar a transmissão dessas informações através de fibras cen-
caso das lesões do trato óptico e presente no caso trífugas, que agem principalmente sobre os neurônios dos
das lesões da radiação óptica (ou da área 17). Isso se núcleos intermediários existentes nas grandes vias aferen-
explica pelo fato de que, nas lesões do trato óptico, tes, conforme estudado no Capítulo 20, item 3.2. O contro-
há interrupção das fibras retino-pré-tetals. respon- le da sensibilidade pelo SNC manifesta-se geralmente por
sáveis pelo reflexo, o que não ocorre no caso das inibição, e as vias responsáveis pelo processo originam-se
lesões situadas depois do corpo geniculado lateral. no córtex cerebral e sobretudo na formação reticular. Espe-
Na prática, entretanto, as lesões completas da ra- cialmente importantes por suas implicações médicas são as
diação óptica são multo raras. pois as suas fibras es- vias que regulam a penetração no sistema nervoso central
palham-se em um território bastante grande. Mais dos impulsos nervosos responsáveis pela dor. Essas vias se-
frequentemente, ocorrem lesões de parte dessas rão estudadas no próximo item.
fibras. o que resulta em pequenas falhas do cam-
po visual (escotomas) ou falhas que comprometem 4.1 Flslopatologla da dor
todo um quadrante do campo visual e são deno- A dor exerce uma Importante função protetiva aler-
minadas quadranranopsias. Como exemplo, temos tando sobre lesões que coloquem em risco a saúde. Pela
a lesão ilustrada na Figura 29.1 OE, na qual houve sua importfincia clínica, será abordada separadamente. A
comprometimento da metade Inferior direita da percepção da dor é subjetiva e depende de vários fatores.
radiação óptica, resultando em quadrantanopsia Não é expressão direta de um evento sensorial, e sim o re-
homônima superior esquerda, uma vez que são in- sultado de um processamento elaborado dos estímulos
terrompidas as fibras oriundas da metade inferior enviados ao encéfalo. Pode ser aguda com função de alerta
das retinas nasal esquerda e temporal direita. Esse ou crônica, em que geralmente não tem nenhum signi-
é o tipo de alteração dos campos visuais em certos ficado e causa Importante sofrimento ao paciente. A dor
casos de tumor do lobo temporal. persistente pode ser nociceptiva ou neuropática. A noci-
f) Lesões do córtex visual primório (área 17) - as lesões ceptiva ocorre pela ativação de nociceptores. A percepção
completas do córtex visual de um hemisfério dão da dor pode ser drasticamente alterada após lesão teci dual.
alterações de campo Iguais às observadas em le- A sensibilização decorre da liberação de substãncias pelo
sões completas da radiação óptica. Contudo, tam- tecido lesado, como a bradicinina, a substância P, os fatores
bém aqui são mais frequentes as lesões parciais. de crescimento neurais, as prostaglandlnas e a histamina
Assim, por exemplo, uma lesão do lábio inferior do que aumentam a sensibilidade dos receptores e reduzem
sulco calcarino direito resulta em quadrantanopsia o limiar a dor. Provoca também vasodilatação e extravasa-
homônima superior esquerda (Figura 29.lOE). mento de líquidos, edema. A inílamação resulta em maior
liberação de bradiclnina e prostaglandinas, criando um ci-
-4:-;.:;con_@le,da.tránsffii~õ-êfás infõimãçõ~~ensõriàis clo. A via enzimática produtora de prostaglandinas é alvo
dos principais analgésicos e dos anti-inílamatórios não
Sabe-se que o SNC, longe de receber passivamente as hormonais. Esse processo de inflamação depende da ati-
informações sensoriais que chegam a ele, é capaz de modu- vação das terminações nervosas e por isso é denominada
........ ........
"" Núcleo mogno do rofe
-3.~--Vias eferentessomáticas
As grandes vias eferentes põem em comunicação os O sistema motor somático é constituído pelos mús-
centros suprassegmentares do sistema nervoso com os culos estriados esqueléticos e todos os neurônios que os
órgãos efetuadores. Podem ser divididas em dois grandes comandam, permitindo comportamentos variados e com-
grupos: vias eferenres somóricas; e vias eferenres viscerais, ou plexos através da ação coordenada de mais de 700 mús-
do sistema nervoso autônomo. As primeiras controlam a culos. Várias vias projetam-se, direta ou indiretamente, dos
atividade dos músculos estriados esqueléticos, permitindo centros motores superiores para o tronco encefálico e para
a realização de movimentos voluntários ou automáticos, re- a medula. Um dos aspeaos importantes da função mo-
gulando ainda o tônus e a postura. As segundas, ou seja, as tora é a facilidade com que executamos os atos motores
vias eferentes do sistema nervoso autônomo, destinam-se sem pensar sobre qual músculo contrair. Apenas geramos
ao músculo liso, ao músculo cardíaco ou às glândulas, regu- a intenção e o restante acontece automaticamente. Só nos
lando o funcionarnento das vlsceras e dos vasos. damos conta da complexidade do sistema quando sofre-
mos lesão dos centros motores ou privação de informação
lllVlaseterentes vfsceíáts·dosistemanervosó~autôiioniô sensorial. Por mecanismos de rctroalimentação, usamos
Nos Capítulos 11 e 12, estudou-se a parte periférica do Informações dos receptores da pele. articulações e fusos
sistema nervoso autónomo, ressaltando-se as diferenças neuromusculares para corrigir um movimento em anda-
anatômicas entre esse sistema e o somático, ou seja, a pre- mento, de modo a ajustar e manter a força de contração.
sença de dois neurônios, pré- e pós-ganglionares, entre o A ação do sistema nervoso é antecipatória e usa a expe-
sistema nervoso central (SNC) e os órgãos efetuadores no riência aprendida, assim como a informação sensorial, para
sistema nervoso autônomo, e um só neurónio no sistema prever e ajustar o movimento. Por exemplo, quando uma
nervoso somático. A influência do sistema nervoso supras- bola é lançada e o goleiro deve pegá-la, ele usa a visão
segmentar sobre a atividade visceral se exerce, pois, neces- para prever a sua velocidade e a distância para colocar-
sariamente, por meio de impulsos nervosos, que ganham -se na posição exata para agarrá-la. Após a bola tocar suas
os neurônios pré-ganglionares, passam aos neurônios pós- mãos, usa a retroalimentação para ajustes motores para
-ganglionares, de onde se distribuem às vísceras. As áreas evitar sua queda, manter seu equillbrio, postura e força ne-
do sistema nervoso suprassegmentar que regulam a ativi- cessárias para não soltar a bola.
dade do sistema nervoso autônomo estão no hipotálamo e Quando se quer mover o corpo ou parte do corpo. o
no sistema límbico. Essas áreas ligam-se aos neurónios pré- cérebro forma a representação do movimento, planejando a
-ganglionares, por meio de circuitos da formação reticular, ação em toda sua extensão antes de executá-la. Essa repre-
através dos tratos reticulospinais. Além dessas vias indiretas, sentação é denominada programo motor, que especifica os
existem também vias diretas, hipotálamoespinais, entre o aspectos espaciais do movimento, ângulos de articulação,
hipotálamo e os neurônios pré-ganglionares, tanto do tron- força etc. A seguir, serão revisados os tratos das vias eferen- 1
3.1 Tratos cortlcospinais condições normais. A fraqueza muscular pode ser muito
Unem o córtex cerebral aos neurônios motores da pronunciada logo após a lesão, mas regride consideravel-
medula (Figuras 30.1 e 30.2). Um terço de suas fibras ori- mente com o tempo. Entretanto, o sintoma mais evidente, e
gina-se na área 4 de Brodmann. área motora primária, um do qual os doentes não se recuperam, é a incapacidade de
terço na área 6 de Brodmann, áreas pré-motora e motora realizar movimentos independentes de grupos musculares
suplementar, e um terço no córtex somatossensorial. que isolados (perda da capacidade de fracionamento). Assim,
contribui para a regulação do fluxo de Informação senso- os doentes, ou os macacos. no caso de lesões experimen-
rial na coluna posterior. As_.fibias têm o seguinte trajeto: tais, não conseguem mover os dedos isoladamente e não
,área ?! (maior~). coroa raa1aaa. pem_a posterjor da cápsula fazem mais oposição entre os dedos polegar e indicador.
[ntcma, base do pedúncu !Q ceLe.6raJ. case a~poote e pir - Desse modo, movime tos dercados, como os âe aoQto r
mi e 6ul6a~ (Figuras 30.1 e 30.2). Ao nfve da.J ecu5sação uma caro.Isa, tprnam-se imp~ossíveis. A capacidade de rea-
oas pírâmiaes, uma parte das fibras continua ventralmen- lizar movimentos independentes dos dedos é uma carac-
te, constitui11do o r aro corcicospiaaLancerior. Outra paae terística exclusiva dos primatas, resultante da presença de
c!l,!µUla aecussa~o aas pirârnjdes para constituir o trato fibras do trato corticospinal. que se ligam diretamente aos
co1ticospinal acera. Há grande variação no número de fibras neurônios motores. A função de possibilitar tais movimen-
que decussarn, mas uma decussação de 7596 a 9096 pode tos pode, pois, ser considerada a função mais importante do
er corniaeraâa normal. As fioras do t~to corticospinat an- trato cortlcospinal nos primatas, sobretudo porque é exerci-
teder ocupam o funículo anterio da medula e~após o c.ru- da exclusivamente por ele e, desse modo, em casos de sua
zamento na comissura branca, terminam em relação com lesão, não pode ser compensada por outros tratos. Além
os neurônios motores contralaterais, responsáveis pelos dos déficits motores descritos, a lesão do trato corticospinal
movimentos voluntários da musculatura axial. Ele pertence, dá origem, também, ao sinal de Babinski, reflexo patológico
pois, ao sistema anteromedial da medula. Na maioria das que consiste na flexão dorsal do hálux quando se estimula a
pessoas, ele só pode ser individualizado até os níveis toráci- pele da região plantar.
cos meo1os. trato cortícospinal latera é o mais importa2-
te. Ocupa..o fu.n[cuJo late(al a.o longo d.c.Joda a extensão da
medula e as suas fibras influenciam os neurônios motores
da coluna anterior de seu próprio lado. .
Na maioria dos mamíferos, as fibras motoras do trato ·-
corticospinal lateral terminam na substância cinzenta inter-
média, fazendo sinapses com interneurônios, os quais, por
sua vez. se ligam aos motoneurônios da coluna anterior.
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Nos primatas. inclusive no homem, além dessas conexões
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indiretas, um número significativo de fibras corticospinais I
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- - - - - • Base do pedúnculo cerebral
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Nervo hipoglosso - -
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Substõncia
negra
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Striotum
Tólamo Pallidum
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Núcleo
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8 Formação
Núcleo rubro Teto
reticular
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Núcleo,
vestibulares
FIGURA 30,3 RepresentaçAo esquemática das vias motoras somáticas. (NAo s.\o mostrados os lnterneurônios de ligação entre as fibras
descendentes e o neurônio motor.)
4:g}Movimentos oculâres 1 Es sa abordagem das vias oculomotoras foi simplificada para flns
díd.1 tlcos.
Como já foi visro (Capítulo 17), os neurônios motores 2 Circuitos desse tipo são denominados geradores centrais de ação e exis-
responsáveis pelos movimentos oculares estão nos núcleos tem também em ou1ras áreas do SNC. como no cen1ro respiratório.
Para o estudo das doenças que acometem o sistema A radiografia simples, ainda é utilizado na triagem de
nervoso central (SNQ, frequentemente o neurologisLa pre- seryiços ! ~ onto atendimento para pesquisã atura8e
cisa fazer uso de técnicas que lhe permitam obter Imagens iie trAn.lo rate 8mbit As linhas de fratura devem ser dife-
do encéfalo e da medula espinal. renciadas das linhas normais das suturas dos ossos cranianos
A radiografia simples do crànio (raios X sirnples), outro- e das Impressões causadas nos ossos pelas artérias menín-
ra usada rotineiramente, não trazia informações relevantes, geas (Figura 31.1). A radiografia simples pode também ser
exceto nos casos de trauma, quando fraturas de crtinio por utílizada para visualizar as suturas cranianas em lactentes •
afundamento e fraturas de vértebras precisavam ser aborda- em caso de suspeita de cranioestenose em que há ausência
das cirurgicamente e com urgência. No entanto, a radiografia de alguma sutura craniana, podendo causar deformidades e
simples não permite a visualização das estruturas encefálicas. assimetrias. Entretanto, estas situações podem ser mais bem
Com o advento dos equipamentos de tomografia com- avaliadas pela TC.
putadorizada (TQ e ressonôncia magnética (RM), foi possí-
vel visualizar as estruturas encefálicas e da medula espinal,
o que permitiu o estudo anatômico e a Identificação das
doenças do SNC.
Contudo, o maior avanço ocorreu com as técnicas de
RM funcional (RMf), que possibilitam o estudo não só da
anatomia, mas também do perfil bioquímico, mlcrovascular
(substrato de quase rodas as doenças) e de viabilidade teci-
dual cerebral, por meio da espectroscopia por RM, perfusão
cerebral e difusão por RM, respectivamente. Figura 31.1 (A) Imagem de raio Xanteroposterior mostrando fratu-
Com a evolução dos equipamentos, novos recursos de ra linear na regi~o parietal direita (a) e a sutura sagltal (b). (B) Radio·
RMf foram adicionados na prática diária, entre eles o ma- grafia em perfil mostrando sutura lambdoide (a). linha de fratura (b)
peamento cortical com técnica BOLD fMRI, utilizado para e Impressões vasculares (e).
identificar e localizar as áreas funcionais do SNC; a tratogra-
fia e difusão tensorial (DTI), que permite o mapeamento de
fibras e conexões nervosas do SNC. f~1[,11,ta•1fl1fil]f,1,rttttit·lif?ú6ií(,F. • ·.:G ... !;:· l
A seguir, faremos uma rápida descrição das caracterís- Esta técnica surgiu no final dos anos 1970 e emprega
ticas básicas de cada uma dessas técnicas, apresentando fontes múltlplas de raios X capazes de produzir feixes muito
também figuras representativas que poderão ser compara- estreitos e paralelos, que percorrem ponto a ponto o plano
das com os cortes de encéfalo do Capítulo 32. que se pretende visualízar no encéfalo ou na medula, me-
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dindo, então, a radiodensidade de cada ponto. Os dados cranioencefálicos, (Figura 31.4) screening em casos de ce-
obtidos da medida de milhares de pontos são levados a faleia sem causa aparente e acidente vascular agudo em ca-
um computador e por ele utilizados para a construção da sos de urgência, primando-se pela rapidez de atendimento.
imagem. A técnica de TC sofreu enorme transformação nos Tem sido utilizada também em recém-nascidos e lactentes
últimos anos. Atualmente, os equipamentos têm o nome de na avaliação da fontanela anterior e suturas cranianas para
"Tomografia Computadorizada Multislices~ produzindo ima- descartar cranioestenose (Figura 31.2).
gens tridimensionais (3D) com maior rapidez, maior abran- Hoje com equipamentos mais sofisticados e com maior
gência e alta resolução (Figuras 31.2 e 31.3). número de canais, é possfvel obter também imagens angio-
O contraste endovenoso pode ser administrado em al- gráficas de alta resolução e confiabilidade, substituindo, em
guns casos para se obter mais Informações e maior precisão grande parte dos casos, a angiografia convencional com ca-
diagnóstica. Suas principais indicações são os traumatismos teterismo e com qualidade semelhante (item 5.2).
Figura 31.2 Tomografia 3D mostrando as su1uras cranianas. (a) Sutura sagital (b) sutura lambdoide, (c) sutura coronária (d) sutura escamosa.
2 94 Nturoanatomia Funcional
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permite realízar exames na presença de alguns materiais
metálicos como srent coronariano, válvula cardíaca, marca-
Esta técnica, que surgiu no Início dos anos 1980, difere
·passo (somente com controle de funcionamento tempo-
essencialmente da TC, pois não emprega raios X, e sim um
rário), clipes de aneurisn1a com material especial e molas
campo rnagnético. Ela se baseia na propriedade que têm
metálicas para embolização de aneurismas.
certos núcleos atômicos de sofrer o fenômeno de resso-
nância e, consequentemente, emitir sinais de radiofrequên- Um estudo de ressonância magnética cerebral de ro-
tina compreende várias técnicas diferentes de ponderação
cia quando expostos em campos magnéticos adequados.
Essa propriedade é evidente sobretudo nos átomos de hi- para mostrar variados aspectos do tecido cerebral, que po-
drogénio que compõem as molécu a ae agual
bermitioê@ dem não ser visualizados por algum método isoladamente.
São elas: Tl W: T2W: T2WFlalr; T2'SWI; difusão por RM (DWI);
dlstioguH eddo5 Eõil3 se em e eo de ~ -Q teclii.a
ósseo, por exemplo, que pralicarnente não contém água mapas de coeficiente de difusão aparente (ADO, este últi-
wre lfll miã1 B'I 81\. A não visualização da ima- mo (ADC), apesar de considerado um método funcional, faz
parte da rotina de exame de RM.
gem óssea facilita a visualização das estruturas encefálicas
teciduais na base do crãnio, como o lobo temporal. Na co- As imagens em [ 1W são mais utilizadas para mostrar
luna vertebral, permite a visualização dos corpos vertebrais, anatomia cerebral, trazendo clara distinção entre o líquido
em virtude da presença da gordura da medula óssea, que (sinal de RM escuro) e o tecido cerebral (sinal intermediário
tem sinal de RM alto. Entre a faixa de ressonância que vai da geralmente acinzentado). sendo muito eficiente para loca-
gordura até a água, há várias composições químicas que lizar as lesões anatomicamente. O córtex se apresenta mais
terão sinal de RM distintos, permitindo a identificação das escuro do que a substância branca, por ter mais líquido; e a
diferentes estruturas do SNC. substância branca, rnais clara do que a cinzenta, por ter mais
Além de não utilizar radiação ionizante, a RM tem reso- componente gorduroso (Figura 31.5).
lução muito maior para a visualização das estruturas. Per- As imagem em [ .2W tém maior sensibilidade para mos-
mite clara distinção entre a substância branca e cinzenta trar áreas com doença, com sinal de RM alto (água) ou com
encefálica e, neste particular. demonstra com facilidade sinal de RM baixo (acúmulo celular, cálcio ou hemorragia).
focos de ectopia da substância cinzenta e outras malfor- Nas imagens em T2W, o líquido cefaiorraquiano (LCR) tem
mações do SNC, causas frequentes de epilepsia de difícil alto sinal e aparece branco. A substância branca tem sinal
controle. Outrora eram necessários tempos de aquisição mais baixo em virtude da maior quantidade de mielina e
de imagens de RM mais prolongados do que a TC, po- aparece mais escura nesta ponderação. O córtex apresenta
rém, hoje. com equipamentos mais modernos, os ternpos sinal mais alto do que a substância branca por conter mais
de aquisição são bem mais curtos. A tecnologia atual já água (vasos sanguíneos) (Figura 31.6).
Figura 31.S Cortes axial e sagital de RM convencional ponderada em Tl W. Nota-se a excelen1e resolução para detalhes anatômicos.
Figura 31.7 (A) Corte axial de RM ponderada em T2W que praticamente não demonstra /!normalidades. (B) Mesma irnagem em T2VV Flair.
A supressão do sinal do LCR deixa bem evidente a patologia no córtex do lobo frontal esquerdo (displasla cortical).
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Figura 31.8 (A) Imagem axial em T2W aparentemente normal. (B) Imagem com a técnica T2*SWI demonstrando focos de sinal escuro no
córtex cerebral, calcificações (setas).
Figura 31.9 Imagem em Tl W (A) rnostra lesão tumoral com efeito de mcJssa no l::>bo tcn1poral esquerdo, cujos limiles são in1precisos
sem o uso de contraste gadolínio endovenoso. (B) Imagem Ti W com contraste mostra realce periférico pelo con1raste e fornece o grau
de quebra da barreira hematoencefálica.
resultava na necessidade de realização de biópsias para (espectroscopia por RM). visualização de tratos e conexões
diagnóstico histológico final. Com a evolução, novas técni- de substância branca (DTI e tratografia) e. finalmente, infor-
cas de RMf surgiram e permitiram avançar no diagnóstico mações sobre a localização de áreas encefálicas funcionais
histológico das leões, obter informações sobre a microcir- importantes (BOLO fMRI). Essas técnicas possibilitam uma
culação cerebral (pcrfusão cerebral), movimentos de molé· localizaçao precisa das lesões em relação às áreas funcionais
cuias de água nos tecidos cerebrais (D\NI), capacidade de corticais importantes e tratos de substância branca. faciliran-
reserva de autorregularão cerebrovascular (BOLO-apneia do o planejamento cirúrgico e preservando funções primor-
ou vasorreatívidade cerebral), perfil metabólico das lesões diais. As principais técnicas de RMf serão estudadas a seguir.
Figura 31 .1o (A) extenso infarto lsquemlco recente em T2WFlalr. (B) Hestrição nas Imagens de difusão (DWI). (C) Sinal baixo nos mapas de
ADC (coeficiente de ditusão apare:ite).
Figura 31, 11 {A) Imagem de abcesso: Tl W com contraste gadollnio rrosirando lesão expansiva no lobo frontal direito, envolta por edema
e realçando em ·anel' na periferia, indistinguível de turr,or maligno: (Bl marcada resulção na difusão isotrópica (DWI) por RM; (C) sinal bem
hipointenso em mapas de ADC. Inferindo enorme restrição o que acontece com material purulento encapsulado.
298 NeuroanatomiaFuncional
Figura 31.12 (A) Tun1or cerebral primário, glioma de alto grau no lobo parietr1I Inferior direito. corn sinal hlp€rintenso em T2V./. (B) Imagem de
difusão (DWI) com restriç3o ao movimento da ógua por alta celularidade. gerando sinal baixo nos rnapas de AD( ou mapas de coeficiente
de diíusJo aparente (C) . ·
4.1.2 Difusão tensorial (DTI) localizar lesões profundas cerebrais, habitualmente de difícíl
Esta técnica se baseia na aplicação de gradientes de localização anatômica já que não há referências anatômicas
pulso de radiofrequência em mais do que seis direções, na substância branca como existe na superfície cortical.
obtendo-se infarmações sobre o movimento das moléculas
de água ao longo das principais conexões, tratos e fibras de 4. 1.2. 1 Tratografia
substância branca, criando mapas de anisotropia fracionada A tratografia faz parte da técnica de DTI e possibilita a
(AF), que fornecem detalhes anatômicos sobre o posiciona- visualização dos principais tratos e vias encefálicas indivi-
mento e a direção de fibras de substância branca cerebral. Os duulizados ou em conjunto. Compare como o trato cortl-
mapas de AF podem ser sobrepostos a imagens anatômicas cospinal aparece em uma dissecação (Figura 30.1 ) e em
para melhor identilicaçào das estruturas, (Figura 31.13). Este uma lratografia (Figura 31.15). A demonstração da relação
método tem sido utilizado para estudar a viabilidade das co- anatômica dos tratos com lesões turnorais (Capftulo 3. Fi-
nexões nervosas do SNC em diferentes patologias, como se- gura 3.13) é crucial para planejamento cirúrgico, visando
quelas de trauma cranioencefálico e doenças degenerativas poupar estruturas nervosas funcionalmente Importantes.
do SNC e avaliar a integridade dos tratos e conexões diante Apresenta tarnbém vita l import!lncia na demonstração de
de sua proximidade com tumores de massas ou processos in· processos degenerativos wallerianos do trato corticospinal,
ílamatórios cerebrais, (Figura 31.14). Os mapas de anisotro- em consequência da presença de tumores, lesões isquêmi-
pia fracionada da difusão tensorial (DTI) servem também para cas e trauma cranioencefálico.
Figura 31.1 3 (A) l)TI e mapa de anisotropia fracionada cujas cores de conexões nervosas demonstram sua direção: azul (cranlocaudal ou
caudocranial); vermelha (sentido transverso) e verde (anteroposterior ou póstero anterior). (B) lv\apa associado a imagens anatômicas para
avaliar a sua proximidade com eventuais lesões encefálicas.
1
Figura 31.14 DTI e mapa de anisotropia fraciona da rnostrando a proximidade dos tratos con1 a lesão tumorJI (setas) e sru deslocamento.
(A) Corte coronal e (B) cone axial.
Figura 31.15 (A) Tratografia do encéfalo em vista lateral mostrando o trato córtico espina em seu trajeto pela coroa radiada (CR), cápsula
lnterntl (CI ), base do pedúnculo cerebral (BPC) e base da ponte (BP). (B) Tratogralia do encéfalo mostrando o corpo ca loso (CC), a rad iaç5o
óptica (RO), o nervo óptico (NO) e a cápsula interna (CI). A5 fibras em azul tem sentido crânio caudal, as verdes têm sentido anteroposterior
e as libras em vermelho lém sen1ido transversal ou lateral.
4.1.3 Perfusão cerebral sem contraste - arterialspinlabeling (ASL) 4.1.4 Perfusãocerebral com contraste endovenosos gadolínio e
O método de perfusào cerebral ASL não é invasivo. usa técnica r2•'1.-w
o próprio sangue do paciente como meio de contraste para O método de perfusão cerebral 12•w ê realizado duran-
avaliar a microcirculação capilar arterial cerebral, geran- te e após a infusão de contraste gadolinio, provocando que-
do mapas de fluxo sanguíneo cerebral (CBF). Este método da do sinal de RM nas imagens T2 •w gradiente. cujo grau de
pode ser usado de rotina, sem necessidade de punção ve- queda de sinal será contabilizado como volume sanguíneo
nosa, (Figura 31.16). Pode ser utilizado en, crianças que (CBV). Outros mapas hernodinâmlcos. como o fluxo sanguí-
tém difícil acesso venoso e em pacientes com doença renal, neo (CBF), serão calculados durante a passagem do contras-
Impedidos de usar contrastes. Entre suas principais indica- te pelo leito capilar.
ções estão: doença vascular oclusiva intra e extracraniana Sua principal Indicação é na detecção de angiogênese
aguda ou crônica, (Figura 31.17); tumores; e processos in- tumoral para auxiliar na distinção de tumores de alto e de
flamatórios cerebrais e, mais recentemente, em diagnóstico baixo grau e diferenciar processos inflamatórios de tumores
diferencial de quadros de demência cerebral. cerebrais (Figura 31.18).
Figura 31. 17 (A) Ressonáncia magnética convencionill ponderada em T2W Flair mostrando lesões isquêmicas em território de transição
arterial no hemisfério cerebral direito, por hipofluxo cerebral. (B) Mapa de CBF do método de pcríusão ASL sem contraste mostra deícito
de perfusão no hemisfério cerebral direito.
4.1.5 Espectroscopia por ressonância magnética rios de alto grau e metástases. A técnica é também usada
A espectroscopia por ressonância magnética permite a para diagnóstico de processos inflamatórios, metabólicos
avaliação não invasiva do perlil bioquímico dos tecidos ce- e degenerativos do SNC. Com bastante frequência tem
rebrais, proporcionando Importantes avanços no diagnósti- sido utilizada para auxiliar no diagnóstico precoce de
co diferencial, antes possível apenas por biópsias. doença de Alzhcimer. O método de espectroscopia gera
Auxilia na avaliação do grau de invasividade e agressi- mapas de metabólitos que fornecem informações abran-
vidade das lesões tumorais, na distinção entre processos gentes sobre extensão das lesões e acúmulos regionais
inflamatórios e tumores cerebrais, no dimensionamento de metabolitos, permitindo uma localização mais precisa
do grau de infiltração de tecidos vizinhos e no estabele- da parte do tumor mais indiferenciada ou mais agressiva
cimento do diagnóstico diferencial entre tumores primá- (Figura 31.19).
Figura 31.20 Ressonância rnagnética funcional das áreas de linguagem no hemisfério cerebral es(luerdo. (A e B) Mapeamento robusto das
áreas de Broca e (C) mapeamento da área de Wernicke no hemisfério cerebral esquerdo, assegurando a dominância da linguagem deste lado.
Figura 31.22 (A) BOLD fMRI rnotor rndnual corn :arefa nnger capp,ng (movimentos alternados de dedos d as mãos). mapeando o córtex
motor primário nos giros pré-centrais e área motora suplemencar no giro froníal superior em p aciente norrnal. (BI Paciente com tumor
frontal na tarefa de finge, topping mapeando o cêrtex rn otor no giro pré-ce,u al. d eslocado posterior mente pelo tumor.
..,...
·.,,. ... ...
..--·.. ..,.....
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Figura 31.24 Paciente com oclusão da artéria cerebral média direita. (A) lrn agem err1 T2 Flair rnostra infartos isquêmicos crõnicos cm
territórios de tran sição arterial no HCD. (B) Pcríu são ASL mostra hipoperfusão no HCD, em te11ltórios de transição arterial. (C) Mapa
de vasorreatividade cerebral mostra íalha na au torrcg ulação vascular em grande parte do hemisfério cere bral d ireito (cérebro sob
risco de infartos).
Figura 31 .25 Hidroccfalia de pressão interm itente ou HPN. (A) Flair T2 rnoslra dilatação dos ventrículos. (BI lmagern no plano sagital
mostrando movimento hipercinét lco do l'quor no aqueduto cerebral em sístole e diástole. Foi constatado aumento da pressão de p11lso
llquórico no aqueduto cerebral em torno de 30 mi /min.
Calcificações
Figura 31 .28 (A) Angioromografia computadorizada cerebral normal; e (B) angiotomografia computadorizada de carótidas e vertebrais
em paciente normal. Cornparar corn a figura esquemática 18.2.
Artéria cerebral
Artéria cerebral anterior posterior
Artéria basilar
Artéria basilar
Artéria cerebral
posterior Artéria vertebral direito
Figura 31.29 Angiografia por ressonáncia magnética sem uso de contraste. Cortes sagítal e axial.
308 HeuroanatomiafUll(iollcll