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;wns Aspectos da Filogénese do Sistema Nervoso, 1


-o• ologia, Divisões e Organizaçclo Geral do Sistema Nervoso. 5
-.., : .do Nervoso, 17
..- •omia Macroscópica da Medula Espinal e os seus Envoltórios, 35
- ·.a:om,a Macroscópica do Tronco Encefálíco e do Cerebelo, 43
-~:om,a Macroscópica do Diencéfalo, 51
~:om,a Macroscópica do Telencéfalo, 55
~ 'lges - Llquor, 69
ii!:'f", OS em Geral - Terminações Nervosas - Nervos Espinais, 79
~ .os Cranianos, 95
·e'T\J Nervoso Autônomo -Aspectos Gerais, 103
Z.. ·:ma Nervoso Autônomo: Anatomia do Simpc\tico. do Parassimpc\tico e dos Plexos Viscerais, 111
- ••..tura da Medula Espinal. 123
- _,ura do Bulbo, 133
_ - ~ura da Ponte, 141
h

• E ·~-:ura do Mesencéfalo, 147


.1: eos dos Nervos Cranianos - Alguns Reflexos Integrados no Tronco Encefálico. 151
,.:S..."'u ~rtZaÇão do Sistema Nervoso Central e Barreiras Encefálicas. 159
:,y.s,derações Anatomocllnicas sobre a Medula e o Tronco Encefálico, 173
~.açJo Reticular - Sistemas Modulatórios de Projeçclo Difusa, 183
...._• Jra e Funções do Hipotálamo, 197
- ·--,.i•a e Funções do Cerebelo. 205
• -~ ...•a e Funções do Tálamo. Subtálamoe Epitálamo, 215
·-_:,.Ha e Funções dos Núcleos da Base. 223
• _:ura da Substc\ncia Branca e do Córtex Cerebral, 229
• .:>'Tl a Funcional do Córtex Cerebral, 235
•":.=-s Encefálicas Relacionadas com as Emoções - Sistema Umbico. 249
'=.il Encefálicas Relacionadas com a Memória, 257
.:-des Vias Aíerentes. 265
~ J.'°des V1c1s Eferentes. 285
'Evo.magem, 293
• as ce Secções de Cérebro, 309
,i.::,i,.,,!,,or"s B,bliográlicas, 321
- =~ SSIVO, 323

o.g:n:MO! C:OY ~ • -
Alguns Aspectos da Filogênese
do Sistema Nervoso

C.iulo muKUior J)fimifiYO


\
1
�res vivos, mesmo os mais primitrvos. devem conti­
�e se ajustar ao meío amb ente para sobrev,ver. Para
• t-s propriedades do piotoplasma � especialmente
•. .:ntes:,mcob,l:dodl. condur,bil,dode e conuarilidode. A
ade. ou propriedade de ser sensível a um estimulo,
•e a uma célula detectar as mod ficações do me10 am-
-� 5.lbemos que uma célula é senslvel a um estímulo Avw• 1.1 Cch.1IJ muscul.lr p11rT\II J de uma e\ponJ.1.
·Jo ela reage a ele, por exemplo, dando origem a um
--> que é conduzido através do protoplasma (condu· Com o surgimento de metazo.!11os, as células museu·
• jf). determinando uma re.sposta em outra parte da lares p,nsaram a ocupar uma posição mais interna, per•
Essa respost.i pode se manifestar pot um encurta· dendo o contato direto com o meio externo Surgiram,
·o dJ célula (comrat,hdade), visando fug r de um es· ent�o. na supe,ficie, células que se d1ferenc1Jm para re•
J.o l'lOCt\'O Um organismo unicelular, como a ameba. ceber os estímulos do meio ambiente, tramrnitlndo-os As
_ ..e,,,1J toda.s as propriedades do protoplasma, inclusrve células musculares subiacentes Essas células especialtta·
orop11edades j.1 mencionadas. Assim. quando toca· da.s em lrmabilidade (ou exrnabihdade) e condutibilidade
um:, ameba com a agulha de um mloomanlpulador, foram os primeiros neurônios, que provavelmente surguam
t.1e lentamente ela se afasta do ponto onde foi toca· nos celenterados. Assim. no tentàculo de uma anémona
•.J '-= sensível e conduz ,níormações sobre o estímulo a do mar (Figura 1.2). existem células nervosas unipolares.
··n oartes da célula. determinando retraç.\o de um lado ou seja, com um só prolongam nto denominado oxôn,o,
s�o de pseudópodes do outro. Tendo todas as pro­ que faz contato com células musculares situadas ma,s
CJdes do PfOtoplasma, uma c�lulJ como a ameba n�o internamente. Na extremidade des.sas células nervosas
p,:c altzou em nenhuma delas e suas reações Sc)o muito locahzadas na superficie, desem-olveu•se uma formaçào
..._ 'Jres. Em seres um pouco mais complexos como especial denominada receptor. O receptor transforma và·
e'IOOl';JS (filo Por,fero). vamos encontrar células em que rios tipos de estímulos físicos ou químicos em impulsos
• P.1•te do Clloplasma se espec,ahzou para a contração ne,vosos, que podem, então. ser transmitidos ao eferuodor,
ou•Ta siu.lda na superficie. desenvolveu as PfOPfredades músculo ou glàndula.
u ',dade e da condut1b,lidade (Figura 1.1 ). Essas cê­ No decorrer da evolução. apareceram receptores muí·
--· "'lusculJres p11mit,vas estão presentes no epi1élio que to complexos para os estirnulos mais variados. Esse tipo
.-� os 011íkios. os quais perm,tem a pcneuaçào da iigua de sistema nervoso difuso foi substituído nos platelmintos
.. "'·fr.()( das esponjas. Substàncias iultantes colocadas na e anelídeos por um sistema nervoso mais avançado, no
l slo detectadas po, essas células, que se contraem. fe• qual os elementos nervosos tendem a se agrupar em um
• -w os ooíicios sisremo nervoso cenrrol (centrallzaç�o do sistema nervoso).
que trazem ,mpulsos a um.1 determinada área do sistema
nervow, e eíerentes. os que levam impulsos desS<J área. Pot•
tanto, aferente se refere ao que entra, e eferente, ao que sal
d~ uma determ nada área do sistema nervoso.
A conexão do neurónio sen.sltivo com o neurónio mo·
cor, no e emplo rnado, se faz por mcío de uma sinopse
localizada no g~nglio. Temo.s, assim, em um segmento de
minhoca. os elementos básicos de um arco tefle).o sfmp!es,
ou seJa. um neurónio a(erente com o seu receptor, um cen·
tro. no caso o gAnglio. onde ocorre a sinapse, e um neurônio
e!erente que se l,ga ao efetuado,. no caso os músculos. Esse
d sposttivo perm,te ~ minhoca contrair a musculatura do
f lgur• 1.2 E~uema de um d,~pos,tivo neuromuscular no t ntâ·
segmento por es1ímulo no próprio segmento, o que pode
culo de um celenterado ser útil para evitar determin_ados estímulos noc_ivos. fase
arco reflexo é inttom?-9menror, visto que a cone~o entre o
neurónio aferente e o efe<ente envolve apenas um seg-
Nos anelídeos. como a minhoca, o sistema nervoso é seg· mento. Devemos coo.siderar. entretanto, que a minhoca é
mentado. sendo formado por um par de ~nglios cerebroi~ um animal segmentado e que, às vezes. para que ela possa
des e uma ~rie de gc\ng!tos unidos por uma corda ventral, e-mar um estímulo noovo aplrc.ado em um segmento. pode
correspondendo aos segmentos do animal. O estudo do ser necessJrio que a resposta ocorra em oouos segmentos.
arranJo dos neurónios em um desses segmentos mostra & íste, pois. r'IO sistema nervoso desse animal. um terceiro
d1spos111vos nervosos bem mais complexos do que os Já tipo de neurônio, denominado neurónio de oisoooçào Cou
estudados nos celenre1ados. No epitélio da superíic.le do inernunciaf), que faz a associação de um segmento com
a,,mal, há neurónios Que·, por meio de seu axônio. estão 11·
oouo. conforme indicado na Ff.gur, 1,4. Assim, o estimulo
gados a outros neurônio'.S. CUJOS corpos encontram-se em aplicado em um segmento dá origem a um impulso, que
um gángho do sistema nervoso central Estes. por sua vez. é conduzido peío n urônio sensitivo ao centro (gAnglio).
tém um a ônio que faz cone~ com os músculos (Figura
O axônio desse neurónio faz sinapse com o neurônio de
1.3). Os neurônios situados na superficle são especializados
assoclaçAo. também localizado no g~nglio. cujo axónto.
em receber os estímulos e conduzir os impulsos ao si.ste·
pass.1ndo pela corda ventral do animal. estabelece slnJpse
ma nervoso central. Por isso, ~o denom,nados neurônios
com o neurónio motor do segmento vizinho. Desse modo.
semm.-o~ ou neurônios afi'h~ntes. Os neurónios situados no
o estimulo se Inicia em um segmento e a resposta se faz em
gángho e especializados na conduçc\o do Impulso do siste-
outro. Temos um arco reflexo intersegmentor, pois envolve
ma nervoso central atê o efetuador. no caso. o músculo. são
denominados neurôn,os motores ou eferentes. mais de um segmento e é um pouco mais comp1exo Que
o anterior. uTTld vez que envolve duas sinapses e trts neu·
rônlos. sensitivo, motor e de associaçJo. A corda ventral de
Altbnio do neurónio eferente
'\ Ailõnio do neurónio oferente um anelideo é percorrida por grande número de axônios de
\ r neurônios de associaçc\o que ligam segmentos do animal,
por vezes distantes
\
Neurónio efctrente Ne\ltónio de olSOCioçõo

''
'
Ne\lrónio oferente -- /
\
Estímulo

R9ur11 I.J EsQuema de um arco reflexo simples em um segmen-


to de anelídeo.
' ,
Músculo \
·- -.....
Neurónio aferentes
;,---
Eltimulo nocivo
Os termos oferente e Elerenre. que aparecem pela pri·
melra \eZ. serão muito utí:1zados e devem, pois, ser concei- Figur• 1.-4 [squema di? Pc1rte de um anlm.ll segment,ldo. mos•
tuados. São aferentes os neurônios. fibras ou feixes de '1bras trando um arco reflexo 1n1ersegmenta,
211AJgum reftoos da medulaesplnaJ dos vertebradôs. tentes no sistema nervoso do homem, embora recebc-"tdo
nomes diferentes e varlados em d ferentes setores do s-s-
O conhecimento da_s conexões dos neurónios no siste- tema nervoso central. podem. em ültirN aná~1se. ser clas-
ma nervoso da minhoca mos permite entender algumas das síficados em um desses três tipos fundamentais. Vejamos
conexões dJ medula espinal dos venebrados. inclusrve do algumas mod1ficaçoos sofridas por esses tr.:Os neurônios du-
homem.Temos um e>'emplo no reflexo patelar (Figura 9.3), rante a evoluçAo
testado com frequ~ncia pelos neurologistas.Quando o neu·
rologista bate com o seu maneio no joelho de um pac,ente, 3.1 Neurônio aferente (ou se,nsltJvo)
a perna se projeta para frente. O martelo produz estiram~n-
Surgiu na ft!ogênese com a função de levar ao sistema
to do teod~o. que acaba por estimular receptores no mus-
nervoso central informações sobre as modi~Oes ocorri-
culo qucldriceps, dando origem a impulsos nervosos que
das no meio externo, estando Inicialmente em rclaç~o com
seguem pelo neurôn o sens11ivo O prolongamento central
a superfície do anlrnal O aparecimento de mec.azoános mais
desses neurônios penetra nJ medula e termina fazendo si-
complexos. com vArias camadas celulares, ttOUYe como con-
napse com neurónios motores aí situados. O impulso sal
scquéncla a formação de um melo interna. Em virtude disso,
pe!o a'<ônro do neurônio motor e volta ao membro inferior. alguns neurônios aferentes pJ_s_s.aram a levar ao sistema ner·
onde estimula as fibras do músculo quadriceps. fazendo
voso informclÇôes sobte as mod,í,caçôes desse meio Interno.
com que a perna se proíete para frente. Na medula espinal
Muno interessantes foram as mudanças na posição do
dos vertebrados. há uma segmentação. evidenciada pela
corpo do neurônio sensIt1VO ocorridas durante a evolução
conexão dos vá11os pares de nervos espinais. Existem refle-
(Figura 1.S). Em alguns anelídeos. esse corpo está localiza·
xos na medula dos ver tebrados, nos quais a parte aferente
do no epitélio de revestimento, portanto, em contato com o
do arco reflexo se liga~ parre eferente no mesmo segmen-
meio terno, e o neurônio sensitivo é unipolar. Nos molus·
to ou em segmentos ad1acentes.1 Esses reflexos são consi-
cos. e lstem neurônios sensitivos cu;os corpos estão situa•
derados lnttassegmentares, sendo um exemplo o reflexo
dos no lmerior do animal. mantendo um prolongamento na
patelar. Entretanto, um grande número de reflexos medu·
superficle. O neurônio sensitivo é bipolar Já nos vertebra-
lares~ inter segmentar. ou seja. o impulso aferente chega
dos, a quase totalidade dos neurônios aferentes tem seus
11 meduld em um segmento e a resposta eferente se on-
corpos em gânglios sensitivos sltuJdos junto ao sistema
g na em segmentos às vezes muI:o distantes. locaílzados
nervoso central, sem, entretanto, penetrar nele. Tlvemos.
acima ou abaixo. Na composição desses arcos reflexos M
assim. durante a fil~nese. uma tend~ncla de centralaza-
neurônios de associação que, na minhoca, associam nlve1s
ç~o do corpo do neurônio sens11rvovantajosa sob o aspecto
d ferentes no ínterior do sistema nervom Um e,emplo
evolutivo para proteger o corpo do neurôn,o que. ao con-
c!Jssico de reflexo lntcrsegmentdr é o chamado ·reflexo de
trãrio do axônío, n~o se regenera. Com relação à exuemida•
coçar· do c~o. Em um cão previamente submetido a uma
dei períférica dos neurônios semltivos, surgiram estruturas
secção da medula cervical para se eliminar a interferência mais elaboradas. os receptores. capazes de transforma, os
do encéfalo. estimula-se .a pele d3 parte dorsal do tórax.
vcirios tipos de estímulos físicos ou químicos em impulsos
O:>serva-se que a pata posterior do mesmo lado Inicia uma
netv0sos, os quais ~o conduzidos ao sistema nervoso cen·
St:1 e d(' movimentos rítmicos semelhantes aos que o anl-
trai peto neurônio sensitivo.
l"'JI executa quJndo coça. Sabe-se que esse arco reflexo
envolve os segwnte-s elementos: a) neurônios sensitivos
1ando a pele ao segmento correspondente da parte to-
rx,ca da medula espinal; b) neurônios de associação com
A
um longo a. ônio descendente ligando essa parte da me•
Anelídeo
au•.a espinal aos segmentos que dJo origem aos nervos ]
pJra a pata posterior; c) neurônios moto1es para os mús- e
C!
V
cu1os da pata pos1erio1.
1
t
1

o
j..
Vimos como apareceram durante a filog~nese os três Vi
neurônios fundamentaisj~ presentes nos anelídeos. ou se,a. e
o neurômo aferente (ou sensitrvo). o neurônio efetente (ou
motor) e o neurônio de associação Todos os neurônios exis-

, ,., r~1dJde, ~ pcx~ Que ,rcc» tf'ft,tx t tg()losatnen1!.' 1t1tr,me9 · Flgur• 1.s bquema mostrando dS mod•f1uçôes na poslçoo do
rnt'f'tJJl/1 ruo t'A1s1.im 110S l'Nin,~Oi.. Ai'wll\ ~1,flcou•s.t" no 9 toque a c0tpo do neurôn,o sen~ItI\"0 durante a evoluçAo (A) corpo na su-
rriHIOI pcrç~ ~ ITW'dul.l ~t\cll QUt' ~ podo? ~ , mantt'tldo-~ SllJ perflc,e, (81 COfpo entre a wperf,cle e o S1Sttma rle"rvoso cenuat
•t .ld.,JP rei"..., J cont~ do.sou ir~ y,gmc-ntO\. (C) c01po P,ó"<lmo clO sistema ne,voso cenual

• Cap,tulo 1 Alguns AspKtosd, ~ doS6leN llfflo5o l


3.l Neurônio eferente (ou motor) A exiremldade anterior de uma minhoca, ou m~mo de
animais mais evoluídos, é aquela que p1ime110 entra em
i\ funçAo do neurônio eferente ou motor I! conduN o
impulso nervoso ao órg~ efetuador que, nos mamíferos, é con1,1to com as mudanças do ambiente, quilndo o animJI
um músculo ou uma glândula O impulso eferente de1e1m,- se desloca: fssa extremidade se especializou para expio•
na. assim, uma con11a-çc10 ou uma ~reçào. O corpo do neu· rJçáo do ambiente e alimentaç.\o, desenvolvendo um
rOnlo eferente surg u no lmerror do slstema nervoso cenual ap.Jrelho bucal e órgAos de sentido mais complexos..
e a maioria deles permJne<eu nessa posiçAo durante tcxfa como olhos. ouvidos. antenas etc. Paralelamente. houve.
a evoluçc\o. Contudo, os neurônios eferentes que Inervam nessa extremidade. uma concentraçAo de neurônios de
os musrulos lisos. músculos cardíacos ou gtAndulas t~m os associação. dando origem aos Inúmeros tipos de gJn·
seus corpos fora do sistema nervoso central, em estruturds gl os cereb1oldes dos invertebrados ou ao encéfalo dos
que Sc\o os gAnglios viscerais. Esses neurônios pertencem ao vertebrados O encéfalo aumentou de modo considerá•
s,stema nervoso autônomo e serão estudados com o nome vel durante a filogênese dos vertebrados (encefoli1açõo).
de neurônios pôs-ganglioOQres. Jti os neurônios eferentes. c1lcançando o mJximo de desenvolvimento no encéfalo
que inervam os músculos estric)dos esqueléticos, t~m o seu humano. Os neurônios de associi,çâo consthuem a gran·
corpo sempre no interior do sistema nervoso central e sAo. de maioria dos neurônios existentes no sistema nervoso
por e emplo. os neurônios motores s,tuados M parte ante- central dos ver tebrados. e recebem v.1rios nomes. Alguns,
rior da medula espinal t~m axônios longos e fa.zem conexões com neurônios
situados em âreas distantes. Outros possuem axônlos
lJ Neurónio de associação curtos e ligam-se apenas com neurônios vizinhos. Estes
O aparecimento dos neurônios de assoc,aç~o trou e s~ chamados neurônios inwnuncio1s ou incemeu,ón,os.
considerável elevação do número de sinapses. aumentan• Com relação aos neurônios de associação localizados no
do a complexidade do sistema nervoso. o que permitiu a encéfalo, surgiram as funções psíquicas supe,iores. Che·
realização de p.Jdrôes de comportamento cada \'eZ mais gamos, assim, ao ápice da evoluçao do sistema nervoso,
elaborados. O corpo do neurônio de associJç.ão perma• que é o cé1ebro do homem. com cerca de 86 bilhões de
neceu sempre no ime11or do sistema nervoso central e o neurônios.' e a e5trutura mais comple)Ca do uníverso bío-
seu número aumentou muito durante a evoluçJo. Esse lógico conhecido. Entre o slsrema nervoso da esponja e o
aumento foi maior na exlremidade anterior dos animais. do homem deco"cram 600 milhões de anos.

] A Ufll(d nceç.)o é O homem. que~ l l90IOWTI(n1e b'~t' t lt'ffl o


COfPot'fflO<n .tOtffil tCol
3 Bueado cm Hefcul.lno HOUlt'I S Thc t,um.tn brain 1n nun bers. a
lll'('<11fy sc.11"(1 vp p,,n\l' i.' brd n, Hu,n;in ,.,t'V,OK>"nCt XX)Q.)U ltl- 11

4 NNoMwtom11 FuncioNI

~- - ~ - ~ -- ~ ~
Embriologia, Divisões e Organização Geral
o Sistema Nervoso

-:. - Embriologia
A placa neural cresce progressivamente, toma-se mais
espes~ e adqu1re um sulco long1tud1nJI. denominado sulco
desenvolvimento embrlon~rlo (orga•
"I
neuro/ (Figura 2.1 B), que se aprofunda para formar a 90·
\'ema nervoso é importante. uma vez te,ro neural {Figura 2.1C). Os l~bios da goteira neural se
,,. nder muitos aspe<tos de sua anatomia. fundern para formar o tubo neural (Figura 2.1 D). O ecto-
ex muito ut,llzados para denom,nar partes derma. nJo d,ferenc,ado. ent~o se íecha sobre o rubo
~o adulto baseiam-se na emb11ologla. No neural, Isolando.a, assim, do me,o E:l(1erno No ponto em
~,olog J do sistema nervoso. trataremos
que esse ectoderma encontra os lábios dJ goteira neural,
~ es aspectos Que interessam e\ com- desenvolvem-se c~lulas qu formam de cada lldo uma
d spos1ção anatômica do s,stema nervoso lãmina longitudinal. denominada c11s1a neural. situada
as mJlform.:içõcs que pod m ocorrer em dorsolateralmente ao tubo neural (Figura 2.1 O. O tubo
neural da origem a elementos do sistema nervoso central
(SNC). ao passo que a crista dá origem a elementos do
s1stemJ nervoso periférico. além de elementos nâo per-
,.,. durante a evoluç~o. os p11me110s neuro- tencentes ao sistema nervoso. A segUJr, estudaremos as
• 11" na superficie externa dos organismos. fato modificações que essas duas fo,mações sofrem durante o
• ., .o tendo em vista a função p11rno1d,al do desenvolvimento.
... ..o de relacionar o animal com o ambiente.
·os embrion~rios, é o ectoderma aQuele que 2.1 Crista ntural
ccm·.i o com o me,o externo e é desse folheto Logo após a sua íormaç3o. as cristas neurais são con-
o s,stema nervoso. O pr,melro indicio de tínuas no sentido cran ocaudal (figura 2.1C). Rap,damen•
-=, , s·ema nervoso conmte em um espessa• te. entretanto. ela_s se dividem. dando ongem a diversos
' '1di?rmJ, situado acima da notocord'1. for· íragm mos que íormar3o os gJng ios espinais, situados
--........~ . 1 e ~rnadJ placa neural por volta do 200 dia de na raiz dorsal dos ner\'OS espinais (Figura 2.1 D) Nele~
Figura 2.1A). Sabe•se que. para a formação diferenciam-se os neurõn10s sensitM>S. pseudoun polares.
e a subsequente formação e desenvolvlmen· CUJOS prolongamentos centrais se ligam ao tubo neural, n-
neural tem importante papel a ação indutora quanto os prolongamentos periféricos se l19Jm aos dermti-
é.! Notocordas Implantadas na parede abdo- tomos dos somitos. Várias células da cmta neural migram e
br16es de anfiblos induzem a fo,maç~o de daroo origem a ,~lulas em tecidos sltuJdos longe do SNC.
A notocorda se degenera quase por comple- Os elementos derivados da crista neural ~ os segu ntes
'-=»:>..,auO uma pequena parte que forma o núcleo g~ngllos sem,trvos: gãngl,os do sistema nervoso autônomo
s ·•"'rtebras. (viscerais): medula da gt~ndula suprarrenal. me1an6c1tos.
~lco neural

Placa neural

Goteira neural
Tubo neural

figura 2. 1 íormaç~o do l ubo ~ral e da criSlcl l'\e\lral

células de Schwann; anficitos; odontoblastos. Hoje. sabe-se


que as meninges. a dura-máter e a aracnoide também QO
derivadas da crista neural

2.2 Tubo neural


O rechamento da goteira neural e, concomitantemente. .---,;,Sornilos
,,,,,
a fusão do ectode1ma não diferenciado é um processo que ,,.,,,,
tem Inicio no meio da goteira neural e é mais lento em suas
ex11emidades. Assim, em uma determinada idade, temos
tubo neural no meio do embrião e goteira nas extremida·
des (Figura 2.2}. Mesmo em fases mais adiantadas. perma-
necem nas extremidades cranial e caudal do embrião dois
Tubo neural
pequenos orifidos. denominados, respectivamente, neuró-
poro rosrral e neuróporo caudal. Essas s,\o as últimas panes
do sistema nervoso a se fechar.
''
2.2.1 Paredes do tubo neural '
Goteira neural

O crescimento das paredes do tubo neural e a d1feren· flgu,1 2.l Vista dorsal de um embolo hurl'\.Jno de 22 mm. mos·
ciaçAo de células nessa pa1ede nao são uniformes, dando irando o fechJmen10 do rubo neu,al
origem .\s seguintes formiiçôes (Figura 2.3):
a) duas láminas atares;
b ) duas L\minas basais; Separando, de cada lado. as lâminas alares das lâminas
c) uma lámína do assoalho; basais. há o chamado sulco limitante. Das !.\minas aiares e
d) uma làmiM do teto. basais, derivam neurônios e grupos de neurônios (núcleos)

6 ~tomi. fundonll
lãmina do teto No arQuencéfalo, d1stinguem•se inicialmente tt~s dilata·

-
ções, que são as veslculos encefdhcos f)rimirNOs, denominadas
Lôinlrio alar -
.,. Sulco llmitonle prasenc~folo. mtsenc~falo e rombencNalo. Com o subsequen-
te desenvoMmento do emb,iáo. o p,osencéfalo dá origem a
duas vesfcul.35. relencéfolo e di'enc~folo. O mesencéfalo nAo se
mocMca. e o rombencéfalo 01lg1na o metencéfolo e o miefc1>-
c~folo. Essas moclificaçôes soo mostradas nas FlgurH 2.4 e
,"'' 2.S e estão esquematizadas na chave que se segue:
L .z: do tubo neural 'Lamino bo10I

l
l6mino do auoolho
relencHalo
prowncefato
,..,_. u Secçoo uansverwl de tubo ne\Jrc1t
d~nc~ato

Dlatações eocéfalo
_ .....,,_,espectivamenie. ~ sensibilídade e li motticidade. do tubo pnm wo mesencéfalo
-;J.J;:lDs na medula e no tronco encefãllco neural (JrquencH.,lo)
:. Um na do teto, em algumas áreas do sistema nervo·
:-e!""'ll3nece muno fina e cM origem ao epênd,ma da rela
OI(; e dos plexos corioides. que ser~o estudados a pro-
rombencMc1to {meteneéfalo
· :> dos .. ntrlculos encefálicos. A l3mlna do assoalho, rnielf:rufalo
eT:" J'1unus. áreas, permanece no adulto. formando um ~--
~ ..:o. como o sulco mediano do assoalho do N ventrículo
F9tCJUr• S.2). O telencéfalo compreende uma parte mediana, na quJI
se evaginam duas porções laterais, as ve:sfculos relenccfdlicos
> Di1atações do tubo neural lore-rofs (Flgur• 2.A). A parte mediana é fechada no sentido
"' "o mlcio de sua (ormaçAo, o callb1e do tubo neura 1 anten01 por uma lc\m1na, que corutitul a porção mais c.ra·
... - ur 'orme. A parte cranial, que dá origem ao encéfalo
~ nlal do sistema nervoso e denomina,se ldmino rerminol. As
ai:L iO, torna-se dilatada e constiwi o encéfalo primirivo. vesículas telencefálicas laterais crescem muito para formar
• •....,ên!c:ftJlo: a pane caudal. ciue dA origem â medula do os hemisférios cerebrais e escondem q,uase por completo
·o oermanece com calibre unlfo,me e constitui a me-· a parte mediana e o diencéfalo (FlguBJ 2.5). O estudo dos
• :: ft" rr..u do embrlAo. derivados das veslculas primordiais serA fe,to mais ad,ante.

..
Telencéfalo

Prowtnc.éfolo , • Oiencéfolo

Mesencéfolo
Mesenc.folo
- - --- - ----
Rombencéfalo
Metencéfolo

---- ª· - - --
u Sutx.f,visões do encfíalo Pfim,tivo pas~em da fase de u~ ve-sicuta_s para a de c.1nc.o 11\?0Culas

• .,. - :..lo 2 flnbriologl,.Divbõe t~GmtdoSislflNNffloso 7


Diençéfolo

'
Telericéfolo
''

- - Metend folo

- Mlelencéfolo

''
NeM> 6ptko

Flgur• :u Vista lateral do encéfalo de embfiâo humano de 50 mrn

2.23 Cavidades do tubo neural ► diferenciação neuronal:


A luz do tubo neural permanece no sistema nervoso do ► slnaptogénese e formação de cl,cultos.
adulto, sofrendo, em algumas partes. ~rias modificações ► el,mlnação programada de neurônios e sinapses:
A luz da medula primitiva forn'ld, no aduho, o canal cenrrol ► m,elinizaç~o.
do medula. ou canal do e~nd1mo. que no homem é mu,to
estreito e parcialmente obliterado. A cavidade dilatada do 3.1 Proliferação e rnJgração neuronal
rombencéfalo forma o N venrrfcufo. As cavidades do dten- A proliferação neuronal se intensifica ;ipós a formação
céfalo e da parte medlc)n.l do telencêfalo forn'ldm o Ili \'t'll· do tubo neural e ocorre em paralelo ~s transformações
tricu/o. A luz do mesencéíalo permanece estreita e constitui
anatômicas. Os neurônios s~o produzidos na mall1z germI-
o oqueduro cerebtaf, que une o 111 ao N ventrículo. A luz das
natlva, localizada nas regiões subependimârias per,ventricu-
vesículas telencefAllcas laterais forma. de cada lado. os \'t?n·
tricufos lotera,s. unido'> ao Ili venulculo pelos dois forames m· lares. A partir de certo momento, as células precursoras do
cerventflcu.tores.Todas essas cavidades s.'lo revestidas por um neurônio passam a se dividir de forma asslmétnca, forman-
ep,t~ho c.uboidal. denominado cptndimo e. com e>tceção do ouua célula precursora e um neurônio jovem Inicia-se.
do canal central da medula, contêm o denominado liquido então, o processo de m19raçAo da região proliferatlva peri-
cerebrospinol ou liquor. ventrieular para a regíão mJis e..:tcrna, para formar o córtex
cerebral e as suas camadas (Rguna 2.6).
A migração neuronal é um processo complexo. Preco-
No embr1ao de 4 meses, as pr,nclpals ewuturas ana- cemente, na superílcie ventrleular da parede do tubo neu-
I6mlcas jâ estão formadas. Entretanto, o córtex cerebral e ral eXtste uma tileira de células justapostas da glla, cujos
cerebelar é hso. Os giros e sulcos são formados em razão prolongamentos estendem-se da superfície ventricular
da alta taxa de expansão da superíid e c01tlcal após as eta- até a superfície cortical externa. EsSclS células são denomi·
pas de proliferação e migraçtio neuronal descutas a seguir, nadas glio radio/, precursor JS dos astrócitos. Os neurônios
O córtex cerebral humano mede cerca de 1.100 cm' e deve migram aderidos a prolongamentos da glla radial, como se
dobrar-~ para caber na cavidade craniana. estes fossem t11lhos ao longo dos quais deslizam os neu·
Após o conhecimento das principais transformações rc'.>nios migrantes. Os neurônios migrantes de cada cama•
morfológicas do SNC durante o desenvolvimento, vamos da param após ultrapassar a camada antecedente. S,nais
estudar as etapas do seu processo de diferenciação e orga- moleculares secretados pelos neurônios JA migrados de-
nizaç ~o. São elas: te1m1nam o momento de parada. O processo de migraçAo
► protiferaçoo neuronal; ocorre pnnclpalmente entre a 7• e a 28• sen'ldnas. A matrtz
► migração neuronal; germinatava desaparece até em torno da 32ª semana. ( um

a NNIIIMlOITIW fllllÔll!MI
va o músculo respon~vcl por essa íunção. [ assim oco11e
com todas as funções cerebrais e os trilhões de contatos
Superfície
Pé sin~ptlcos existentes que têm de encontrar o alvco corre·
e11terno
terminal
to. A exuemldade do a ônro. denominada cone de cresc,-
gliol
mento, é especiahzada em ·tatear o ambiente· e conduzir
Zona[
cOffic.ol
Proces10
da glia o ali'.0nlo até o alvo correto, por melo do reconhecimento
rodial de pistas químicas presentes no microamb1ente neural e
que o atrairão ou o repelirão. Ao chegar próximo à região-

Zona
ntennediória
m~~~
Neurõnia
D
/ -alvo, a el(tremldade do axônio ramifica-se e começa a
sinaptog~nese. Assim, ax6nlos de bilhões de neurônios
dC\em encontrar seu alvo correio. o que resultará nos t11•
lh6es de contatos sin.)ptlcos envolvidos nas mais d iversas
funções cerebrais.

3J Morte neuronal programada e ellmlna~ão


de sln1pse.s
Todas as etapas da emb,logén~e descrnas até o mo-
mento acabam resultando em um número maior de neuró-
nios e sinapses do que aquele que caracteriza o ser humano
Corpo após o nascimento.Ocorre, ent~o. uma morte neuronal pro-
Superfície
celular da gramada, regulada pela quantidade de tecido-alvo presente.
venlriculor
glio rodlol
O tccldo•alvo e os aferentes p,oduzem uma série de fa10<e<i
neuro116flcos. que sAo capt.ad~ pelos neurônios.' Atuando
sobre o DNA neuronal. os fatores neu1011ópicos bloqueiam
um processo ativo de morte celular por apoptose (o pr6p110
neurônio secreta substancias cu1a função é mat~-lo). D1~-
sos neurônios pooem se proJetar pllra o mesmo tecido-alvo.
OcQrre uma competição entre ele~ e aqueles que conse·
guem establltzar suas sinapses e assegurar quantidade su•
Flgi,ra 2.6 ~nho esquem.\1,co mostrando a mlgrilçc\o de neu-
rõn,osjovens a ram da g a rad Ida zona germ nawa 1.~ntr1CU1.1r ficiente de fatores tróficos sobrevivem. enqu.into os demais
para a :zoro cortical entram em apoptose e morrem. Ocorre também a el,m,n.1-
~ de sinJpses No ut,lrudas ou produzidas em excesso.
Em caso de lesões. neurônios que normalmente morrenam
tocai Intensamente vascularizado e propenso a hemorra• pooem ser ut1l1zados para repará-las. Portanto, essa reserva
g•as (Item 4.3. Flgun1 l .. 1O). neuronal e de- sinapses determina o que é conhecido corno
plosticidode neuronal, e istente em crianças. e que d,mtnu!
3.2 Diferendação neuronal e slnaptogfnese com a idade. lendo em vista que cada funç~ cerebral tem o
Após a migração, os neurónios jovens adquirirão as seu periodo u ltlco. 1: em razão da pl,middade que, quanto
características modológicas e bioquimtcas próprias da mais nova a criança, melhor o prognósuco em tennos d
função que exercerão. Começam a emitir o seu alíônio, recuperação de lesões. É tam~m por isso que crianças têm
que 1cm de alc.mçar o seu alvo, situado as vezes em loca s m.l1or facilidade de apreodrz.ado.
distantes e. então. estabelecer sinapses. A d,ferenclação O cérebro está em constante transfo,maç!o. movas si•
em um ou outro 1,po de neurônio depende da sec_reção napses esoo continuamente sendo formadas. O c_érebro
de fatores por determinados grupos de neurônios que ln- contlnu:1 crescendo até o inicio da puberdade Esse cres·
íluenciaráo outros grupos a expressar determtnados genes omento nJo dec0<re do aumento do número de neuró-
e desligar outros. Fatores indutores. auvando genes drfe- nio$. e sim do número de sinapses. A parm dai. começa um
rent es em diversos níveis, a~ poucos tornarão diferentes p,ocesso de eltminaç.ão de sinapses desnecess,foas e não
as células que inicialmente eram iguais.
Os ax6ni~ 1êm de encontrar o seu alvo correio para
podei exercer a sua função. Por e;rcemplo; os neurônios 1 O p,,mt>,ro f,1110( 11il'.i1qvófl(o t,d.ido la o N(jf' ~ grcMth f'1i"rorl.
peta neurOCtl'fllísta l~lloJN R.ti '()li ,111, • pa11,r oo tumo,M,
mo1ores situados na ~rea motora do córtex cerebral ,efe•
de ~('fl(llO df:! côbl.i. ,,n ·~ À CM.'l\l1\ld rN'.tbt>u O í)f~(l\,O Nobri f'ln
rente à ílexão do Mlux t~m de descer por toda a medula 1936 pela ~oberta Á p.stl I d ,1. \ ., i OulldS N'U!Olrofnn lo,~
e fclzer sinapse com o motoneurônio espec1f1co, que lne•· d SCoberlU

• Capitulo 2 ~OM5ôesf ~ ( j , N do561tm.i Nmoso 9


ut1hz.;das, preservando-se as mais eficientes. 1: um proces· J.4 Miellnlzação
so de refinamento funcional. considerando-se que cada re-
O processo de mielinizaçáo é considerndo o ~nal da
g,Jo tem um período de mãx,mo crescimento e posterior maturaç~o omogenétiu do sistema nervoso e será desc11-
elrminaçâo de s1na~s para ajustes func1ona,s. A maturida- to no próximo capítulo. Inicia-se no segundo trimestre de
de de deteim1nada funç~ é es1abelecida quJndo menos gestação e compJeta-se em épocas disttntas nas diferentes
sinapses são necessârias pJra e>.ecutá-la de forma ef1oen1c áreas do SNC. A última região a concluir esse processo é o
Existem dois períodos em que essa podJ sináptica (synapric cónex da região anterior do lobo fronial do cérebro (área
pruning) é m.a,s inien_sa: entre o 2° e o 3° anos de vida e na pré-frontal), respon~el pelas funções psíqu,ca5 superiores.
adolesc~nc1a. Anormalid.1des na poda neural da infAncia. no Ela cresce até os r 6, 17 anos. quando tem inicio o processo
caso, a lnsufici~ncía dela, parece estar relacionada à fislopa- de e,mínaçáo de sinapses. O processo de miel1nização no
tologra do Transtorno do Espectro Autma (TEA); enquanio lobo frontal só est.1 concluído próximo aos 30 anos. ou se~.
a poda excessiva na adolesc~ncia parece estar en'IOlvlda na a matôridJde do cérebro ocorre bem rnais tarde do que a
fisiopatolog1a da esquizofrenia. maiaidade legal!

4. Correlações anatomoclinicas
O período fetal é importantissirno para a formaçfo Vi?I e a extensão da les~ Podem ocorrei desde distúrbios
eo desenvolvimento do SNC. Fatores externos, como no controle ves,cal atê a par-apleg-a. Em muitos casos. está
subst~ncias teratogenícas, uradiaçáo. alguns medica• relac,onadJ com hidroceíaliJ e mJlíormaç~o de Chlari, em
mentos. álcool. drogas e Infecções cong~n1tas, podem que hj urna hern,açáo do cerebelo em d11eç-:lo ao canal
afetar diretamente as diversas etapas desse desenvolvi• vertebfül, podendo ou ruo causar sintomas.
mento. Quaindo presentes no 1° trimestre de gestaçAo, O fed1J~nto da porção anterior do tubo neural é
podem afetc1r a proliferação ne-uronal. resultando na re· bastante sensrvel a leratógenos amb,entals, CUJa ação pode
duçào do número de neurón os e em microcefaha. No 2" dar origem a defeitos de fechamento muito graves. como
ou 3° trimesucs. podem lnteríerrr na fase de organização a anencefalia. caracterizada pela auséncia do p:,osencéfalo
neu1onal, causar a redução do número de sinapses e oca• e do trc\nlo. e é sempre fatal. Em casos mais leves. podem
sionar quadros de atrJso no desenvolvimento neuropsi- surg r as chamada5 encefofocM, em que sobrevém a hei•
comotor e defici~ncla intelectual. n1ação de partes do enceíalo (Figura l..8).
A de\nutrtç~o materna ou nos primeiros anos de O uso de ckido íóhco de rotina nas mulheres com ln-
vida da criança, agravada pela falta de estímulos do am- tençclo de engravidar vem reduzlndo a indd~ncia do~ dis•
biente. pode Interferir de maneira direta no processo de türbios de fechamento do tubo neural.
mlellnizaçáo. Essa etapa está diretamente relacionada ~
aquisição de habilidades e ao desenvolvimento neuropsl-
comotor normal da criança. a qual poderá sof1e1 atrasos.
muiras vezes irreversíveis.

4.1 Defeitos de fechamento do tubo neural


O fechamento da goteira neural para formar o tubo
neural t! um,a etapa importante para o desenvolvimento
do sistemd nervoso e ocorre multo precocemente na ges-
ta,~ (25 a 30 dias). Os deft'1tos do fechamento do tubo
neural SclO 1elativamente comuns ( 1 em cada 1.000 nas-
cimentos). ocasionando gra te comprometimento funcio-
nal. Falhas no fecharnemo da porção posterior ocasionam
malformações, como as espinhas bitidas e as mielome-
níngoceles. Na espinha bifida. a meninge dura-mâter e a
medula sAo normais. A porção dorsal da vértebra, no en·
tanto. não está fechada. Com írequ~ncia, esse quadro é
assintomático. Nas meningoceles. ocorre um déficit ósseo
maior. A dura-mâtcr sobressai como um bailo e necessita
de correção cirúrgica. Na mie!omeningocele. além da dura·
•mAter. parte da medula e das raízes nervosas f! envolvida fltura 2.1 Cr1Jnça com m elomeningocere 101a-colombar e pa•
!Figura l.7). Mesmo após a correç.'.lo cirúrgica, permane- 1.1P:egiJ fUc,d,1n ~mo .:,pó~ a co11~ilo c,rürg ca.
cer~o dêficlts neurológicos vadáveis. de acordo com o nl- (on:t Co11 :J do 1), H ,<rt~ fll''l Sc h•(:11.,C',!f

1O ~!GffLÍ, fvnciolwl
Agun 2.a IA) C11,mça com encefJlocele occ1p1t.:il 1B) R>!\SOnlncia m.,gnética momando a fa'ha ó�sea N reg.Jo �tenor do cr.\nio e
.m 1 lo do cerebelo
rcr·� C01te-\i.l d.o Dr eru,1-s ,.,�......,

14.2 Distúrbios de migração neuronal


Em cenas situações, alguns neurônios não terminam
J sua migração ou o fazem de rorma anômala Isso gera
gtupos de neurônios ectópicos (Figura 2.9). que t�m a
propensão de apresentar alta e_ c1tabil1dade e potenciJl
ep,teptogênico. As ep,leps,as decorrentes de d,s úrblos
de rnlgraçJo tendem a ser de d1fie1I con1ro 1e. muitas vezes
1ntratáveis com medicamentos. Podem ter como últlrro
recurso 1erapêu1ieo a intervençdo cuúrg ca (,er também
Capítulo 3. Item S 4)
Em alguns casos. graves d1scür b,os de m,graç�o envcl­
vendo grandes áreas cerebrais podem ocasionar quadros
de deficiência ín electual ou paraTisia cerebral

4.3 Hemorragia da matriz germinativa


Conforme v,s o no Item 3.1, a proliferaç�o neuronal
ocorre na rnat11z germina11va. localizada nas reg:� su­
bepend1mârias periventrictJlares. Essa região é ricamen­
te vascularizada e Su}elta a hemorragias p1inc1palmen:e
nos recém-nascidos prematuros submetidos à ven11laç�o
mecânica. Em deco11ência da proximidade com a c�psu·
ta interna, as hemorragias da matriz germma11va podem
ocasionar paralisia cerebral. Nesse quadro, a criança de­
senvolverá uma síndrome do neurônio motor supe11or ern
grau vanado com hemlparesia. hipertonla e hlperreílexia
(Figur� 2.1 O). Nos casos bilaterais, haver� tetraparesia. As F19ur,1 2.9 PcsSOOclnCIJ mag�ttCa mow.indo um d,\túrb,o de
libras mais mediais da c.1psula tmcma correspondem às n­ migraç.\o neuronal, hetei0tOP'l em bandi V�� uma ítnJ c.lm..l•
bras provenientes da área motora dos membros inferiores. d3 corr -ai ÍO!rn.1ndo pouco\ sul;:� e giros e. .;-pó� Pl"QiJ\?n.1 ÍJ •J
Portanto, o acometimento poderá ocorrer apenas nesses de sul>sónoa branca. um.1 grcxSJ c.:imadl � nevroo os 1<:tóp,cos
membros. resultando no quadro conhecido como d par?­ 1
que nJo ,E'.rm nJt31Tl o� pioc�\O de migríl'Çlo
s,a e5pdsrko. fCN'I! C�ICSIJ do Dr 1hrco 1'm6nio Rcd.)(�I

• úprtulo2
Flgur• 2. 10 Hemorragia d1 ma 11z 9erm1na11va à d11e 1a (Seta). ~erva•sc tarnb6m hemorragia intr-,vên1rtcu1Jr
for:r Coru::·w do 0c 1.• )ICO MIÔflr,() Rodl,cl l

B - Divisões do sistema nervoso


A seguir, serc1 feito um estudo das divisões do sistema canal vertebral); s,srcmo nervoso per,fér,co é aquele
nervoso de acordo com c11térios anatómicos. embriológl· que se encontra fora dcHe esqueleto. Embora qua·
cos e funciOnais, bem como segundo a segmentação ou se sempre utilizada, essa drstinçào nJoé eiata. pois.
mctameriJ. O conhecimento precrso de cadJ termo e dos c_orno é óbvio, os nervos e as raízes nervosa_s, para
critêrios uulrzados para a sua caracteriZaç.JO é b.1sico para a fazer conexAo com o SNC. penetram no crAnio e no
compreensclo dos demais capítulos d.este livro. canal vertebral. Além disso, alguns gAnglios locall•
zam·se no interior do esqueleto axial.
► Encéfalo é a parte do SNC situada dentro do cra-
nlo; a medula se localiza dentro do canal vertebral.
Encéfalo e mMula constituem o sistema nervoso
Esta d,visAo é a mais conhecida e encontra-se esque- central No encéfalo, temos cé1ebro. ce,ebelo e tton•
matizada na chave a seguir e na Figura 2.11: co encefdhco (Figura 2.11 ). A ponre separa o bulbo.
situado caudalmente. do mesencéfalo. situado era•
encé:IJlo ctrcbro
nlalmente. Dorsalmente Aponte e ao bulbo, local1·
Siskma za-se o cerebelo (Figura 2.11 ).
,~rebelo
Nervoso .,. Nervos são cordões esbranquiçados que unem o
C -n•ral
medul.l esp, nal
tronco
enc1.:íál1co
""""""'''º
1ponte SNC aos órg~os periféricos.. Se a un1~O se faz com
o encéfalo, os nervos sAo aanicmos; se com a me·
buoo

t ~''
dula, ~pino,s. Com relaç.)O a alguns nervos e raizes
l'\t.'rvos nervosas, existem dilatações constituídas sobretu·
Srstema cran!J~ do de corpos de neurônios. que sAo os gdng//os. Do
Nef\'OSO ponto de vista funcional, existem gônglios seru,tl\/0.s
ojngllo,
r~ri'énco
1ermlnações e gôn9f1os maiores viscerais (do sistema nervoso
nervosas autônomo). Na extremidade das fibras que consti·
tucm os nervos, situam-se as rerminoçôes nttr\/Osas
► Sisremo ne/'\'Oso cenrrol é aquele que se localiza no que, do ponto de vista funcional. são de dois tipos:
inter'or do esqueleto axial (cavidade craniana e sensirfvos (ou aferentes) e motoras (ou eferentes).
I
I
/ / /
{
CtRE8RO Tttltt1dfolo / / '
Dlttne."°lo - / /
I I /
I I /
ENCÉFALO Me:senc.ffolo 1 / / I
TRONCO Ponte ___1 / / /
ENCEFÁUCO { Bulbo ___ _1 I

CERE8HO----- ___ /

MEOU\A-- - - - - - - - - - - - - - - - - - -

1.., , Panes componentes do sistema nervoso cenual

vegerorlvo. ou visceral. O sistema nervoso da vida de relação


é aquele que relaciona o organl\mo com o melo ambiente.
Apresenta um componente aferente e outro eferente. O
•,es·.1 d,vi~o. as partes do SNC do adulto recebem o componeme aferente conduz aos centros nervosos impul·
'"'.O" ::a veslcula ence~llca primordial que lhes deu orl- sos originados em receptores periféricos, informando-os
;::o,,'orme pode ser visto no esquema a seguir. sobre o que se passa no meio amb enre. O componente
eferente leva aos músculos estriados esqueléticos o co·
mando dos centros nervosos, resultando. pois, em movi•
Dfvlslo Anat6mla
mentas voluntário~ Sistema nervoso visceral t! aquele que
telencMalo - hcm1sf~ttO\ cereblals se relaciona com a lnervaçào e o controle das estruturas
viscerais. E muito importante para a Integração diJs diver-
1-;r~-ncf'alo
jcfencêfato d encefalo. neM>
ópt ICO e ret nJ
sas visceras no sentido da manutençào dJ constAncla do
meio Interno. Assim como no sistema nervoso da vida de
1elaç.lo. distinguimos no sistema nervoso visceral uma
pane aferente e outra eferente. O componente aferente
- - - - - - - - ~nc~íalo conduz os Impulsos nervosos Ofiglnados em receptores
das vlsceras (vi5ceroceprores) a áreas específicas do SNC.
jmetenc~ía!o - cerd >í:lo e POOte
O componente eferente leva os Impulsos originados em
cenas centros nervosos até dS vísceras, terminando em
glândulas. músculos lisos ou músculo cardíaco. O compo-
l m,elencéf3~ - butoo e medula
nente eferente do sistema nervoso visceral é denominado
sisrema nervoso autônomo e pode ser subdividido em s,m-
póuco e porossimpóuco, de acordo com diversos critérios
que se,áo estudados no Capitulo 12. O esquema a seguir
resume o que íoi exposto sobre a d1v1~0 funcional do s1s-
1ema nervo~o (SN). Essa div15'<\o funcional do SN tem valor
didático, mas não se aplica às áreas de associação terciá·
-se dividir o sistema nervoso em sistema nervoso rias do córtex. ceiebral, relacionadas às funções cognitivas.
; ,:e r?loçôo. ou somdrico. e slsremo nervoso do vid<J como linguagem e pensamentos abmatos.

· - 'o 2
d'erente
s_is:erru nervoso sorn.it,co

Drvts.k> func,onJI ao sisterro nervoso


1eferente
Jaferente
sistema nervoso v1stetdl
leferen!e ,,._SN autônomo
p.,rass,mp.1tico
{ S•IT\PJtlCO

cerebelo, órgãos do sistema nervoso supra_s_segmentar. As-


sim, ros órgAos do sistema nervoso suprassegmentar existe
córtex. ou seja, uma camada tina de substáncla cinzenta. si·
Pode-se d1vid11 o sistema nervoso em s,sremo nervoso tuada fora da substtmcia branca. Já nos órgãos do slsrema
il!gtnento, e sistema m',,..'Oso suf}loswgmenra,. A segmenta- nervow segmentar nao hA c6ttex. e a substAncla cinzenta
ção no sistema nervoso eevidenciada peta conexão com os pode localizar-se dentro da branca. como ocorre na medu-
nervos. Pertencem, poi5, ao sistema nervo5o segmentar todo la. O sistema nervoso segmentar surgiu, na evolução, antes
o sistema nervoso per1f~rico mais aquelas partes do sistema do suprassegmentar e. do ponto de vista funcional, pod~se
nervoso central que estAo em relaçAo d.reta com os nervos dizer que lhe é subordinado. Assim, de modo geral, asco•
típicos. ou seJa. a medula espinal e o tronco encefAtico. O munic.1ções entre o sistema nervoso suprassegmentar e os
cérebro e o cerebelo pertencem ao sistema nervoso supras- órgãos peraferkos, receptores e efetuadores se efetuam atra·
segmentar. Os nervos olfat6tio e óptico se hgam diretamente v~ do sistema ncr\'0SO segmentar. Com base nessa d1vi~.
ao c~rebro, mas veremos que não~ nervos tipicos. Essa dí· pode-se classificar os arcos reflexos em suf}lassegmenrores.
visão põe em evid~ncia as semelhanças estruturais e funcio- quando o componente aferente se liga ao eferente no sis-
nais existentes entre a medula e o tronco encefálico. órgãos tema nervoso suprassegmentar, e segmenra,es, quando Isso
do sistema nervoso segmentar. em oposição ao cérebro e ao acontece no sistema nervoso segmentar.

C - Organização geral do sistema nervoso


Com base nos co11ce11os jil ell:postos, podemos 1er segmentar as Informações recebidas no slnema nervoso
uma 1de1a geral da organiz.açao geral do sistema nervoso segmentar constituem as grandes vias ascendentes do sis-
(Rgura 2.12). Os neurônios sensitivos. cujos corpos estão tema nervoso. No exemplo anterior, tornando-se conscien-
nos g.\nglios sensitivos. conduzem A medula ou ao tron· te do que ocorreu, o Indivíduo, por melo de áreas de seu
co encefálico impulsos nervosos originados em receptores córte< cerebral. decidirá se deve 1omar algumas providên-
situados na superficie (p. ex., na pele) ou no Interior (vís- cias, como cuidar de sua m:io queimada ou de5llgar a cha-
ceras, músculos e tendoo) do anlmdl. Os prolongamentos pa quente. QuaJquer dessas ações envolver Aa execuçao de
centrais desses neurônios llgam·se diretamente {renexo um ato motor voluntário. Para Isso. os neurônios das áreas
simples). ou por meio de neurônios de associação, aos neu· moto,as do c6ttex cerebral enviam uma ·ordem: por meio
rônios motores (somáticos ou viscerais). os quais levam o de fibras descendentes. aos neurónios motores situados
Impulso a músculos ou a gl.'Jndulas. formando-se, assim, ar- no sistema nervoso segmentar. Estes ·retransmitem· a or-
cos renexos mono- ou poltss,nJpticos. Por esse mecanismo, dem aos músculos estriados. de modo que os movimentos
podemos rápida e Involuntariamente retirar a mão quando necessArios ao ato sejam realizados. A coordenação des-
tocamos em uma chapa quente. Nesse caso. entretanto, é ses movimentos é realizada por várias áreas do SNC. sen-
conveniente que o cérebro seja "informado' do ocorndo. do o cerebelo uma das mais importantes. EJe recebe. por
Para Isso, os neu1ônios sensitivos lrgam-se a neurônios de meio do s1ste1Tu1 nervoso segmentar, Informações sobre o
associaç~o situados na medula. Estes levam o Impulso ao grau de contraç~o dos músculos e envia, a1ravés de vias
cérebro. onde o é inte1p1etado, tornando-se consciente descendentes complexas. impulsos capazes de coordenar
e manifestando-se como dor. Convém lembrar que, no a resposta motora (Rgura 2.12J. que é também coorde-
e>.emplo dado, a retirada reflexa da mAo é automJtlCa e in· nada por algumas partes do cérebro. Por ser relevante. a
depende da sensaç~o de dor. Na realidade, o movimento sltuaçáo que produziu a queimadura será armazenada em
reflexo é feito mesmo quando a medula está seccionada, o algumas regiões do cérebro relacionadas com a memória,
que obviamente lmp('de qualquer sen5aç.\o abaixo do nl- resultando em um aprendizado que ajudará a evi1ar novos
vel da le~o As fibras que levam ao sistema nervoso supras- acidentes.

14 ~lofflilf1111Cio,w1

~ .. ·--~---~
-- .. ·-
~ - - - ~ - -
CtREBRO
SISTEMA
NERVOSO
SUPRASSEGMENTAR
CEREBHO

F,bro de1e,enden1e do cÓftllll c«ebrol

grondea VIOI deKenden1e1

Ncorefle..o
---------------, 1

poliu lnóptico Recepio, 1

(refleAo de retirodol , ._ -nopele :


' (eÃM'foc_epto,) •
--~~ __.·J __________j
Nevrónio1 de ouocioç6o

.' ------ ---


kcorefle..o
lftOnOUÍnópltCO \ Recepto,
lrtlleao 1imple1) no múJCUlo 1
") jpfop,iocepto,) :

' --------- ; '; '


u :
- - -- - - - - - - - - .J
Neurónio mOIOf somótic

~ • J.1 J Esquema s,mphflccldo da 0tgan1Llç~ geral do s,st~J nl'l\'0\0 de um mJm e10

ltitura sugtrida
• •,..i.~ .1S<hi..-ophrenla. c.-iused by a fau:t in pcogrammed synap- STEPHAN. AH.. BARRES, 8A STMNS B. lhe comp! ment systems
, .e~ m nat1011 du11ng cldol&ence' J?i,-ch1Jtr Res 17J 19-32.s an unexpected r()(e m synaptlc prun ng du11ng de\"elopme-nt
19 3 and d sea~ Annu Ver euroscl 35:369-389. 101]

• úp, tulo 2 ~ 0m'6ts f ~'(~Gffll do SiuNM NfflolO 15


Tecido Nervoso

Concc,ção R. S. Machado

O tecido nervoso compreende basicamente dois tipos


celulares. os neurónios e as c~lulas gha,s ou neu16gl1a. O
n urónio é a sua unidade fundamental, com a funçck> bá- Dendrito,
s<o de receber. processar e enviar informaç65 A neuró-
gha compreende células que ocupam os espaços entre os
~ urónios. com funções de sustcntaç~o. revest1m{'nto ou Cone de
lmplont~õo
isolamento. modulação da auw :tade neuronal e de defesa.
"-. Segmento Iniciei
Após a d1ferenc1JçAo os neurónios dos verteblados NO se CorpúKuloJ do oxônio
dividem. Aqueles que morrem como resultado de progra- deNiul
Boinho de
m;;ç~o natural ou por eferto de tm,nas. doenç,as ou trauma- Célula de Schwonn-' - miei.no
t,'>mos jamais s r~o subst11uJdos. Isso é vAlldo para a grande
mJ•oríJ dos neurón,os do s,sterro nervoso central (S ) Colotetol -==:I
Entretanto, em duas partes do ctkebro. o bulbo olfatóno e
o h,pocarnpo. neurónlos novos 5'\o founados em grande Nódulo, de
( Ronvier
numero diariamente. mesmo em adultos. No h pocampo.
esses neurónios morrem em poucas semanas. HJ evid~ncia
e que esses neurônios transitórios est~o relac10nados com
a capJcldade do h1poc,ampo de formar novas memónas lnternódulo
Capítulo 28).

Ploco
s.lo cclulas altamente e.<c1táve1s. que se comun1Cam mototo

~
eo re si ou com células efetuadoras (células muSC\Jlares e
f1bro{~
!.eeretoras). ut1hzando bastcamente uma linguagem elé- muscuJo,
r,ca. qwl seja. mod flCaçóes do potencial de memblana e1quelético -
E.sttma-se que o encéfalo humano tenha em tomo de 86 Botõe, 1inóptico1
'hões de neurónios. dos qua,s ~encontram-seno cere-
flguf• 1.1 Desenho e~uem.11.co dt' um n-•ur6ni0 mo10,, mos·
lo. Corno serc1 visto nos Itens 1 1 a 1.3. a maior p.1rte dos
uando o co,po ce!u!Jr, os dendr,tcx e o ax6nío Que. aoc» o seg·
r~urónios apresenta trés regiões responsâv~s por funções men10 ,nici.ll ap,~nta b,Mh.l de miet,na. íonnadJ poi e lulJ de
~pec,alizadas: co,po celular: <kndr,1os (do grego déndron - Schwann. O aXÔ'l,IO. após 1a'l\licaç~ termna em p•x,n motoras
...ore). e O'<ônto (do grego d.--on = e1,co), conforme esque- Ns fibras musculares esquc'• t cas; em c,1da placa moto,J. ot»er-
rn.-Jt1zado na figura 3.1. -.am-se vjoos bo ôes s,n.\p tCO'>
e slgnitica aumento da Cc1rga negativa do l.ldo de den- amplitude (70 µV a 11 OµV). do tipo 'tudo ou nada: capaz de
tro da célula ou. ent,jo, aumento da positiva do lado de repetir-se ao longo do axôn10, conservando sua amphtude
rora Exempl,fk ando. canais de CI. sensr.-e1s a um dado até atingir a terminaçc\o axôn1Ca Po1 tanto. o a ônlo é espe-
neurotransmissor. abrem-se quando há I gação com es,se ck1bzado ern gerar e conduzir o potenciJI de ação. Constnu,
neurotransmissor. pe1m1ttndo a entrada de ions cloro para o local onde o primeiro potencial de ação é gerado e a zona
o c,toplasm., Em consequência, o potencial de membra• de disparo ru quJI concentram-se canais de sódio e pot.1s·
na pode, por exemplo. passar de -60 µV para -90 µV, ou slo sensí reis à voltagem (Figura 3.S). isto é, canais iônicos
seja. há h1perpolarização da membrana. J.'J canais de Na-, que ficam fechados no potencial de repouso da membrana
fechados em situação de repouso da membrana. ao se abri• e abrem-se qwndo despola11zações de pequena amplitude
rem. caus.Jm entradJ de ,ons Na· para o Interior da célula. (os potenc,ais gradu.1ve1s referidos antes) os atingem. O Po-
diminuindo o potencial de membrana. que pode p.1ssar. tencial de ação originado na zona de disparo repete-se ao
por exemplo, para -45 µV. Nesse caso. há despolarização longo do axônio. uma 1,-e:z. que ele próprio origina distúrbio
da membrana Os distúrbios el tricos que ocorrem ao ní- local cletrotôntCo, que se propaga até novos locais rkos em
vel dos dendrttos e do corpo celular constituem potenc1J1s canais de sódio e potássio sensíveis a voltagem. dispostos
graduáveis (podem somar-se). também chamados e'.euotô- ao longo do ax6n10 (Figura 3.6)
nicos. de pequena amplitude (100 µV, - 10 µV). e que per• A despolarização de 70 µV a 11 0 µV resulta da grande
correm pequenas dis!Ancaas (l mm a 2 mm no m,himo) até entrada de Na·; segue-se a repolatização por sarda de po•
que se extingJrn Esses po1encia1s propagam-se em d reção tâss,o. através dos c,ma1s de K· sensive1s à voltagem, que se
ao corpo e. neste. em d,reção ao cone de ,mplJntaçc\o do abrem com mais lentldào. A volta às condições de repouso.
a"<ôn,o até a ch.lrruda zona de d15POro (ou de gat,lho), onde no que diz respeito às concentrações tônicas dentro e fora
existem canais de Na· e de K· sensíveis avoltagem. A abe11u• do neurônio, efetua-se por ação da chJmada bombo de só·
ra dos canais de Na· sensíveis à voltagem no segmento Ini- d,o epotárno A bomba de sód10 e potâssio é uma proteína
cial do axôniO (zona de disparo) gera alteração do porenc,al grande que atravessa a membrana p1Js'Th1trca do axônlo e
de membrana denominado potencial de açc\Q ou impulso bombe1c1 o Na· para fora e o • para dentro do a,ôn:O. utlli-
nervoso. ou seJa. despolJriz.>çJo dJ membrana de grande zando a energia rorneoda pela hidrólise de ATP.

Meio extrocelulor

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Otoplosmo

Rgun J.S Desenho esquematico de membral\J cllfôn1Ca. mostrando CJOJI de Sôd,o e canal de pot.isst0 sens,\ ;>•S o\ vo.tagem e A bombJ
de sód o e po1âsst0 (com sem). rt'sponsAvt:I pelJ tl'Constltuiç.)o das concent'.>Çôt>s corretas d~ses oos dentro e ÍOfa c.b e lula. após a de·
11.>gr.>çoo do poti>OCt..ll de a(âo Os círculos 11.)ll()S representam ÍOO) de Sôd10 tos che,os. l()nSde potõss<>

+AO

~-70
No•
• ♦ •••
• + • • • + • • • + + • • • • • + + + + • • • • • • • • • • • • • • • • • • • • Membrono
••• - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - ÃxÕpknmo
.. . . . •• • - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - Memlxono
• ............ ♦•• .. • .. • • .. ................................. .

Rgu,a J.6 ~nho esq1,1.. rnJ11co de um ~mento a•õn,co, mosirando loc,M (lrnhJs para eln) r1Cos em C.Jn.i,s de sóclio e pot.\ss10 sensi•
,M .\ , oltagem. nJ membfanJ plJsmJ a Nos locas ass1nJlados pelas ~etas. esl~ oc01rendo despo&J111,)Çoo ma'°' que 10011V. segu<i'I de
repol.,r11açJo. ou s.cia, um potenclill de ação rep,esentJdo no c.1mo suoenor l'SQuêrdo

20 ~Offll.l runoon.tl
1.S Oasslficação dos neurõnlos quanto aos sem também por que certos agem~ patog~nicos. como o wus
da raiva e to inas. podem atingir o SNC. após captaç~o pel.ls
prolongamentos terminações a On1cas pc11fericas (Irem S3)
A maioria dos neurônios tem vários dend11tos e um axó- O flu o axopla~tlCO permitiu a reahzaçclo d" vâtlds téc·
n,o, por ,sso Sc\o chamados mu/r,polores (Figural, 1). Mas t\j, nicas neuroonorômicos embasadJs em <:.lptaç~o e uanspc)(te
tamb(>m, ooirón,os bipolo~ e pscvdocJnipolares. Nos neuró- de subst~nc1Js que. ~teriormcnte. possam ser de cctooas.
n,os bpoldres (Figura 1.SB). dOI; prolongamentos dCUCc1rn o Ass.m. por eACmplo. um amioo.kldo radioativo 1nt1oduZJdo
co,po celular, um dendrito e um a~On,o Ent,e eles, est~ os em determ,n.ldo ponto da ârea moto,a do córtex cerebral é
nt'\ltôn10s opolares da reuna e do g.mg',o esp ral do OlM- captado P0' penc&ios c0<t1Cc1is e. pelo Ouxo avoplasmAtieo
do ,nterno Nos ne..irõn,os pseudoun,polares (Figura 1.SC), anterógrado. a'cança a mcdul.1. onde pode ser detectado P0'
cuJOS co,pos celulares se localizam nos gAngl,os sensitivos. radio.:iutografu. Pode-se. ent~. concluir que eitiste uma Via
apenas um p1olongamento deixa o corpo ceful.lr, logo dM· conicosp,n.ll. ou seJQ. uma \l\.l formada P0' neurôn1os CUJOS
d,ndo-se. à maneira de um T. em dois ramos. um per,'é•oco perd11os estão no côrt x e os a ônlos terminam na medula.
outro central O pr,meiro dirige-se à per,feria. onde fO(ma ter· Outro modo de se estudar esse tipo de problema consiste
m "CJ{ôo nef\lOso seosiwo. o segundo d111ge•se ao SNC. onde no uso de macromolêculas que. após captaçáo pelas terml·
estJbclece conta os com outros neurôn10s. Na neurogénese, nações nervosas. ~o transpc)ftadas até o perlcArio graças
os neurômos pseudounipotares apresenldm. de inicio, dos ao fluxo axoplasmjtlco retrógrado. ~sim. introduzindo-se a
prolongamentos. havendo fus.\o ~tenor de sws porçoo enwna pero<tda em determin.ldas âreas da medulJ, pos·
1n1C1a1s. Ambos os prolongamentos t~m esuutura de axôn10, tenormente elJ poder.\ ser localizada. com técnica h•stoqui-
embofa o ramo pe11férico conduza o impulso ner\-'OSO em mlCd. nos per~nos dos neurônios c0<uca1s que fo,mam a
d reçclo ao peoc,1110. à mane,ra de um dendr,to Como um v,a corticospinal re'ertdJ. O método de marcaç.)o retrógfada
ar6nt0. esse ,amo é capaz de gerar potenc1JI de açAo Nesse com peroxidase causou en01me avanço da Neuroan.ltomia
C.lSO. enuetanto. a zona de gati ho s•tuJ-se peno dJ te1m1• n.lS últimas décadas do século passado.
n.lÇilo nervosa sers11rva. Essa terminação ,~ebe eshmulos.
or,g nando po1enc1c11s 91aduáve,s que. ao a'cançar a ZOOcl de 1.7 Sinapses
gat,lho, provocam o surgimento de potencial de açAo Este é Os ne1,1rônios, sobretudo ,ltlavés de suas terminações
condUZJdo no sentido centrípeto. passando diretamente do axônicas. entram em contato com outros neurônios, passan-
pfOlongJmento pe11fi oco ao prolongamento central do-lhes info,maçôcs. Os locais des~ contatos soo denomi·
nados sinopses ou. mais p,ecisamente, sinopses interneurona1s.
1.6 Fluxo axoplasmátlco No sistema netVOSO pe11'érko, terrninõçôes a"<ônicas p:xk'ffi
relacionJr-se tambem com célu'as ruo neurona,s ou efetw-
Po, nAo conte1 ribossomos. os a,0n1os são il'IC.lpaz s de
doras. como cé-lulas musculclres (esqueléticas. card1cKas ou
~n•e111,lr ptote1na~ Portanto, todJ pro ein.l necesS«Sria à ma-
liws) e célulJs secretoras (p. ex.. em gllndulJs salivares). con-
nutenç.ão da integ·idade a:-Onica, bem como às funções dJs trolando as suas funções. Os termos s nopses e JUfl(óes nru·
terminações a ônl(as, derrva do pe,teátio. Contudo, as ter· ,oe!eruodotas sJa ut1IIZ.ddos pa,a denomn.l1 esses contatos.
m nações a'\OnlCds necessitam também de aganelas. como Quanto à mo1fologia e ao modo de funcionamento.
m tocôndrlas e re11Cu1o endoplJ~tlCO agranular. Assim. é reconhecem-se dois tipos de sinapses: smapses c/~u,cos; e
neces~,10 um flu,o continuo de substAnc,as sotwe,s e de or· sinapses químicos.
gJnelas. do peucár10 à teim,naçoo a\Onlca Para a ,enovaç.\o
dos componentes das t rm ruções. é ,mprescind,vel o fllf<O 1.7 .1 Stnaps~ elétrKas
de sobstAnc1.1s e o,ganelds em sentido ~to. ou scjJ, em d,·
Sc\o raras em vertebrados e exclusivamente lntcrneuro-
reç.\o ao per d110 Esse mov, mcnto de or9.1netas e substânrns nais. Nessas sinap~s. as membranas ptasmâtieas dos neu·
sollNE'!s atra s do a oplasmJ ê denominado /1wu axoplos- rônios envolvidos entram em contato cm uma pequena
már,ca. H.!I dois t,~ de íluxo, que atuam em para!elo: llvYO ,egi~o onde o espaço entre elas é de apenas 2 a 3 µm. 'o
oroplmmdt,co antcrógrodo.' em d rcç.\o â te11ni~~o a'<ôntCJ. entanto, M acoplamento iónico. isto é, ocorre comunk.lçào
e fluxoa\"Oplasmár,rn retrÓ()rodo. em d reção ao pericáno. entre os dois neurônios através de canais i6n1Cos concentra·
As terminações a,ômcas tMl capacidade endocit1Ca. dos em cada uma das membranas em contato. Esses can.l1s
Es!M') propr1ecfode perm,te a captação de substAnciJs tróó· p<o1etam-se no espaço lnte,celu1ar. justapondo-se de modo
cas. como os fatOfes de crescimento de neu,Onios. que !Jo a estabelece, comun,caçôes ime,celulares que pe1mitem a
ca11eadas ate o corpo celular pelo fluxo a'<oplasmAtíeo re- passagem dueta de pequenas mo!êcutas. como Ians. do ci·
trógrado A encfoc1tose e o uansporte retrógrado explicam toplasma de uma das células para o da outra {Figura 3.7).
Essas junções servem para sincronizar a atrvldade de grupos
de neurônios Elas e istem. por exemplo. no cenuo rcsp,ra•
1 O l1u .i,.>Pl,)vn.;•,co an'!'f~.Mio C()fflp11+ndt du,H fJ1oM uma h1oe tório situado no bulbo e permitem o disparo sincronizado
1 r,d.) f(t',0/-.,•ndol/ <P(III Ó'"CIIJH l,·l m1Jd,Upottnf'fr.tv..n.J
.1
dos neurônios ai local12ados, 1esponsj,-els pelo 11tmo rcs-
Crr :oc01'drld\. •'t'\<W\ P ~ • o s do ri: •,culo l"OdOf'UVOcÍl<D agt.i•
nt. 1) com , loc(fod,. d-' 100 mm d 400 mm J)O! d . 1' ou,., lerltd, piratô110. Ao contrário das sinapses químicas. as sin.lpses
com ,'i'!ocidld df I mm • " mm po, d..J u,..n\po,Llndo JVOI '"'" do elêtr cas n~o s.lo polarizadas, ou seja, a comunkaç~ entre
01 'Vl-"''• 10 f! ~~ \Olu\ no e co<d
1\ os neurônios envolvidos é feita nos do,s sentidos.

• Capitulo l t«ado~ 21
pequenas (Flguru l.8 e 11.l). de 40 µma 70 µm de dJrr-
tro. que apresentam conteúdo elétron-denso; veskulos grw-..
lares grandes (Figuras 3.8 e 9.6). com 70 µm a 150 µm o.
di.)metro. também com conteúdo elétron-denso del,m1t.l
por ha!o elêtron-túc_ido; \&ulas opacas grandes. com 80 µrr
180 µm de di.)metro e conteudo elétton•denso ~ -
preenchendo toda a veslcula
O tipo de vesícula s nAptrca predominante no elemer,•-
prt~•slnApttco depende do neurotransmissor que o caractr
riza. Quando o elemento pré-slnAptJCO libera. como neur-.
transmissor principal, a aceulcol,na ou um aminoácido,
apresenta, predominantemente. vesículas agranulares :.
vesícula~ granulares pequenas cont~m monoaminas: Ja a
granulares grandes contém monoaminas e/ou pepttdeos f
flg11r• J.7 Desenl'lo esquemático de umJ ~Npse .êtrica Pattes
as opacas grandes, peptídeos. Ourante muito tempo. acri?-
d<>s membr.-nas p1Jsm.1tic.as de oo.s neurôo1os e~t .)o rep,esenta• d,tou•se que as vesículas s1nAp1kas eram produzidas a,>.
das por, tc\tlgulos Cm cada uma. canais tõnocos se JustaPÔl'm. es• nJS no pencc1rio. sendo levadas dté as terminações a ônlca
tabelec:eodo o acoplamento mco das duas célulJ\. através do fluxo a opla~mático. Hoje, sabe-se que. em ccrt~
s,tuJções, elas podem também ser produzidas na própr
1.7.2 Sinapses químlca_s te<minaçc\o axônica a partir do retículo endoplasmático l,so
Nos vertebrados. a grande maioria das sinapses lnte<·
neu,ona,s e Iodas as sinapses neuroefetuadoras Sc\o sinop-
ses qufm,c,as. ou seJ<l. a comunicaçc\o entre os elementos em
contato depende da liberaçc\o de substAncias químicas. de-
nominadas neurotronsfnlSSOtes.

1.7.l .1 Nturotransminores t mlculas sindptian


[nue os neuro1ran.smissores conhecidos estc\o a ocetil·
colma, certos aminoácidos como a grc,na e o g'utomato. o
dcido gamo-ammo-butírico (GABA} e as monoaminas: dopo-
mmo. noradrrnal,na. odrenol,no. seroton,no e h1Hamino Og'u•
tomoto~ o prinopof neurotransmissor exarotór,o do enct'olo e
o GABA. o pnnc,pol neurotronsm,ssor m b.tór,o. Muitos pepti-
deos também podem funcionar como neurotransmissores.
a exemp'o dcl subsrdflCJO P. em neurônios sensitrvos. e os
opiOides. Estes últimos pertencem ao mesmo grupoqu;mico Vesiculo ~icoso,
da mo<fina e. en11e eles. estc\o as €ndorf1nas e as encefol,nas. gronulor
Acred,tava•se que cada neurônio slntettZ.lsse apenas gronde Vesícula
um neurotransmissor. Ho;e. sabe·se que pode haver coex,s• 9ron11lor
t~nc,a de neurotransmissores clássicos (aceulcolma, monoa· pequeno
minas e aminoácidos) com peptídros 1
As sinapses químicas caractenzam~ por serem polari-
zadc1s. ou seJa, apenas um dos dois elementos em contato, o
chamado ffern(,n,o prJ•s1rép;ico. tem o neurouansm,sso, Este
é armazenado em veslcu'as especiais. denom.nadas veskutos
s1ndpt1COS. ident,ficáve,s apenas ~ microscopia ~trôniGl. em F'9w- 1.. Desenl'lo ~m.it,co de UM neurôo o no,adtenéf·
que apresentam morfologia variclda. Os seguintes tipos de 9<0 pert'érko. mostrando p,ofu\d ram icaçao do a10n,o para
\"esiculas ~ mais comuns. veskulos ogronulora {Rgu:ra 3.9), form.Jr termlnaçÕ<>S longas e va11cosas Ab.loto, uma va11cosidclde
com 30 µma 60 µm de dJmeuo e com conteúdo elétron-lúd- ampl.Jd.1 mostra esquemai,camente o seu conteúdo â mcosco-
do (aparecem como se estJVeSsem vams). \~iculos granulares pla eletrônica

} 11c, e • ~ N\ gl.\odu!.n w' •.-M, ,1\ fbrl\ p.,1au,mp,,1,c,1\ l l I m l A dõeot,.,fta deut' f.ato lól f ~ P0I A8.M. M.KNdo.""' kcul.is 1,1
d( {'t,lcol ~ e. l"IUmd 5'19undJ f.tt.e tJtPl ..t.'O ""ºffi.llC:h1'lOOl1>'0 (\"f'). t,o ~l(q\ g,anulMtt ~ ftor•s simoJt<.» dJ 9'.lndula pintl1 em dewn
S,",C, ( t,," \Jup.tm,~9JC.tS tJOtkffl C0h't1 ~ t r J l'IDOIJCoft•c,)!OQJt- VCl\,mcnto (Ml(NÓQ, A6•. llec1ron ITIICMCopy of de\ lop,ng f.brf,
r,.no, f bra, \f'f orunE-rgica1. ~ :JnctJ Pou trl(t'fa no; libt,H GASA-êf• 1n 1herat p,nt-;)l ~ T'lt forrru1,on of 9'lnlÁV \'t"\oClo>s 1'1091eu in
q,(J\ IO'r ,:J<I.Jlll(J Bt,ll'l~arch 1971.}41 71-1851

22 NMo.wtomu rundaNI

__ ..
.,. ----
= : : , . : . : _ _ _ _ _ ~- ~ -
· ·n S,napstS qufmktn inttrnturonais na face em aposiçao à membrana do dend11to, chJrna·se
membtono p1~s,ndp1,c_o Sobre ela, arrurr\mH.e. cm ,nter•
·..J grande mal()(1J dessas sinapses, uma terminação
va'os regulc1res, estruturas protew:as na íormJ de pro,eçóe\
, .,. t:ntra em contato com quJlquer parte de ouuo densas que. em conJunto. formam a densidodt p,~sindpt,co
~-1'1 .0, form.indo-se. assim. sma~ o,od~r,1,cas, o«,s• As pro1eç~ densas têm d1sposiçc\o triangular e unem-se
•· cos(com o peric~rio) ou oroo,ôn,cos. po, d licados nlamentos, de modo que a densidade pré-si-
~ s.napses em que o a Onio é o elemento puH,n.1p- Nptica é. na verdade. uma grade em cuJJS malhas as vesicu·
tO.'l. os contatos se fazem nlo só por me10 de sua ponta las s1ropticas se enca um (Figura 3.9B). Desse modo. essas
Y-,lill ~..... denominad.1 bou>o tcrmlllOt mas tam~m em dl· vesículas se aproximam adequadamente dJ membrnna
.ses. que podem ocorrer ao longo de toda a sua arbo- pr~-s•NpttCcl p.1rc1 se íund r rap,dJmente com ela, liberando
'"' ,~m,nJI, os botôt>s Mdpt,cos de passogem (Fl9un1 o neurotransmissor por um processo de exootose A densi·
; 1...- '.o c.>so de sinapses axodendriuca_s, o botc1o s,n~p11co dade pré-sináptica corresponde à lOflO º'""º
da s1nJpse, 1s10
:ra• em conu10 com umJ esp nha dendritica ~. local no qual OCOfre. de mJnelra ficlente, a l1befa<;c\o do
!..S terminações axôn1cc1s de alguns neurônios. como
neurotransm~SOf c!Jssrc_o na fenda sin.1ptica S napses com
IJ!? i.."\am monoomína como neurotranYn1ssor (neuró-
zona ativa sAo. portanto, dueoonodos.
m nerg,cos). sAo vaucos.1s. t.Sto é, apresentam A fendo s,ndpt<o compr nde o esJ)c)Ço de 20 ••ma
,óes simétricas e regula,cs, conhecidas como von· 30 µm que separa as duas membranas em aposaçc\o Na ver·
.t!S, que tém o mesmo s,gmficado dos botões. ou
dade. esse espaço é atravessado po, moltkulas que man•
s&> locais pré-s n.1pticos onde se acumulJm ves1culas t~m firmemente unidas as duas membranas sinápticas.
s 1Flgur1 3.8). O elemento pós-sm.1ptKo é formado pela membro•
no pôs-smdptieo e a densidade pós•smdptlco (Flguni 3.9A).
s nJpse química compreende o e1emenro p,~· Nessa membf'aro. inserem-se os receptOfes espec1ficos pJra
·,ai que armazena e I bera o neurotransmissor. o cada neurotransmissor. (sses receptores s.)o formados po,
·o tx)M ndp1,co, que contém receptores para o neu· protetnas 1ntegra1s que ocup.1m todJ a espessura da mem-
,......-~ :s•-or e umJ fendo s1ndpJ1CO, que separa as duas btaro t' projetam-se tanto do lado e terno como do lado
s s n.1ptlcas. Para desc11ç<10, tomemos uma sinc1p• c11oplasmAtt<o da membtana No citoplasma. Junto à mem·
r1t...J , co'TIO pode ser 111sua1,ZJdo em mieroscó- brana. concentram-se moltkutas relacionadls com a íunçc\o
~~~o IFlgur1 3.9A). O e!emento pré-sm~pttCo é. s1náptKa Essas moléculas. Juntamente com os re<t'pto,es,
m botAo terminal que cont~m. no seu c,toplasrru, provavelmente rormJm a densidade pôs-sm.Sptic.1. A r,ons•
n-e&a...-.c,■ L• " c1p1ec1ável de vesícu s s.njpticas agra• m,ssoo sindpt,co, que pode ser e1c1tatória ou illbtôria, de·
m d sso, encontram-se algumas m1tocônd11as. corre da untAo do neurotransmissor com o seu rec p or na
rt:tie_u'o endopla~uco agranular. neurolila- membtana p6B•Nptlca Vep a co11elJ(tlo anatomocl nica,
10' lamentos de act,na A membrana do botoo, item 54

Veikulo
gronulor
gronde Milocóndrlo

[)eniidc,de póHinópfico
A

~ ~uemJttCOdJ u 11 strutu,a de um.:, s rupse qu m,ca ,ntemeuronal a, od ndritica. (A) Sccç;;o long 1ud 1,mostr.ln·
c:r.wnen:~ ptl· e pós~ n.\pticos. (8) v,slo uid,menstONIdo ~ t o puHin.1.ptico para Viw.11,ZJÇlo dJ gradtt Pf~·s n.iPt<a. qU"
"'"·'-'"'..,= r picJJ dJ~ YeilCU .lS agr,nu!J·es

l f«idoNtnN 23
1.7.1.J Sinopses quimi<osnturotfttuodoros ~ntro da c~h.,la, com hlperpolar,zaç.ro (1n1blçt\o) Jj um dos
Essas s,ropses. tam~m chamadas JU"(óes neuroefrtCJO· receptores da c1Cet1lcol,ru. o chamado recepcor n cotini<.o, é
dolos. envolvem os a)óM>S dos nervos per,' ocos e uma um canal de sód<>. Quando atwado. há entrada de Na· com
célula efetuadora nlo neuional. Se a cone~ é fe,ta com despolariz,1çõo (exrnaçc\o). Esses receptores. que se abrem
células musculaies estriadas esquel~ttCas. tem-se uma Jtm· para pa.ssagem de íons quando um neurotransmlssor se liga
(ôo neuroe 1ttuodoto wmór,co, se com célul.is muscular s
a e~ são chamJdos IOflOlróp,cos
hsas ou cardíacas ou com células gtandulares. tem-se uma ~ ,stem tam~m os receptores met.lbotrópicos. Estes
JUn('ÕO neuroefetuodoro visc~ol A primeira compreende as
se combinam com o neurotransmissor. dando origem a
placas moro,os e em cAldJ uma. o elemento pré-s nJpttCo
uma sér,e de reações qu:micas que result.1m na forrnaçc\o,
é a termmaç.x, a116ntCa de neurónio motor somático. CUJO
no rnoplc1sma do neurôn o pós-s,nJpt,co, de uma nova mo-
corpo se localiza na coluna anterior da medulJ espinal ou l&ula. chamada segundo mensogc-1ro.' que provocarJ modr·
n:ações na célula pós-s1nJpt,ca. resultando, por e>.empto,
no uonco encefAhco As Junções neuroe' tuadoras visctra1s
n.> abertura ou no fechamento d canais t6n<os údJ neu-
Sc\o os contatos das term nações ner'o'OSas dos neurónios
rónio pode receber de 1 mil a 1Om,Icontatos s1nJp11cos cm
do sistema nervoso autônomo, cu,os co1pos celulares se
seu corpo e dend11tos. Os potenciJ s gradu.iveis pós-s•n.ip-
localizam nos gAnglios autonómicos As placas motoras
t,rns e cítat6rios e in bitóuos d m se, sonlcldos ou inte-
Sc\o sinapses d11eclOl'\JdJs. ou seJa. em cclda bote)() s náp1,- grados A regt.\o mtegrador3 desses potenc,a,s e o cone de
co de cclda plJca há zonas at,vas representadas. ncne caso, ,mplantaçc)o do a•ónio ou está pró"<1ma d le. Se na 10f\J dc
por acumulos de vesk ulas sinJpttcas junto a barras den-
9:>t1lho cheg.11 uma , o/tagem no ltm r de exc,tab,I dade do
sas, que se posicionam em 1nteM1los sob1e a memb1ana neurõn,o, como uma despolarll.clç.x> de ISµV. geta-se um
pié-sinJptica, densidades pós-s,n.1pt1Cas com d,sposiçAo po1enc1al de aç~o que segue pelos aicônios (Figura l.10)
característica também ocouem (Flgur~ 9.4) As Junções
neuroefetuado,as viscera s. por suJ vez. n.\o s.\o d rectOOJ· 1.7.1.5 lnotm,çõo do nturorransmisw
das. ou seja, ncX> apresentam zonas atrvas e densidades pós-
A perfe,ta funçilo das sinapses exige que o n urotrans•
·S1"'1p11cas As Junções ncurocfetuadoras serAo estudadas.
,rissor se,a rapidamente removido da fenda SlllJPtlCJ Do
com mais detalhes. no Capítulo 9
conuário. ocôfrertJ e rnaçt\o ou ,n btç.\o dJ mt'mbrana
1.7.1.4 Mecanismo do tronsmiss6o sindpti<o p6s-s1nJptKa por tempo prolongado A remoção do neu-
rotransmissor pode ser feua por açc\o enz,m~t,ca Eo ca~
Quando o 1mpu1~ ne~ atinge a m mbran.:1 pré- dJ acet,kol,na, que é h,drol~sad.l ~ enzima clCet1lcol1nes•
·sinJpuca. orig nJ pequenJ aheraçc)o do poterxlcll de mem- terase em acetato e co!tna A colina é imedtJtamente cap-
braN capaz de abrir canais de cJlct0 scns1ve1s ~ vohag m, tada pela te1m1naç.\o nervosa colmérg <a. servindo como
o que determlOJ a entrada desse íon O aumento de íons substrato para a síntese de nova ace-1,tco!1nJ pelJ pr6p1ia
'4)kio na membrana prtH1nJpt1Ca provoca uma séue de fe- ta m,naçc\o E provável que pioteases sejclm responSc\veis
nómenos. Alguns deles culminam com a fusJo de veslcutas pela remoçc)o dos peptídeos que funcionam como neuro·
s,nAptlcas com a membrana pré•s1nApt1Ca, e o subsequ n- transmissor~ ou neuromodulJdores. Já no caso dJs mo-
te proc~~ denom nJdo e,oc,ro}e. Pa1a ev,1ar o aum~to noaminas e dos am,no.\cldos. o pr,nc,pal me<An. smo de
da quantidJde de membrana pré•sin.1ptica pelJ e.<OC1tose, ,n1trvação é a captaç.\o do neurotransm,ssor pela membra-
<M·se o fenómeno opmto, a endoc,tose. qu mternahza a na pré--s1nAptica. por meio de mecanismo ativo e nc,ente
membrana ~ b a forma de veslcul.ls. as quais podem ser {bomoo de captaçoo) (ssa captaç.\o Pode ser bloqueada
revt,hzadas Por melO da exoc,tose. ocorrem a l,befaçt\o por drogas Assim. a captação de monoam nas é fac,lmente
de neurotransm1s~ r nJ ( nda s1nâpuca e sua d,fuSc\o, até bloqueadJ por cocaínJ. causando d,.stúrb os psiqutCos. por-
at1ng,r os seus receptores nJ membrana pós-sinJpttCa Um que a monoam,na permanecerá acessível aos recep1ores
receptor sinApttCo pode sei, ele p16pr10, um canal '6n <o. de mane,ra contmuada. Uma " z dentro do citoplasma do
que se abre quando o neurotranyn1s~r se liga a ele (canal neurôn,o pr •S•nAPtKO. o neurotransmissor pode ser reut,lt·
sensível a neurotransmissor). Um canal 16n<o deoca passar L'ldo ou 1natrvado Exemplificando, qUJndo uma monoami·
de íormJ predom1nan1e. ou e~dusiva. um dJdo íon. Se esse na é captddJ, p.1rte é bombei>dJ paia d ntro de vcskulas
ion normalment ocon r em ma or conccntraç~o f0ta do r~tClddas c pane é metabohzad.l pela enzima mono.,m1nJ•
neurônio. como o Na· e o Ct. hã entrada Se sua concen· -ox1dase (MAO). No S 'C. procesws astroctt~nos que en·
traç~ for mJlor dentro do neurónio, como no caso do K·. volvem as s,nJpses u~m part1cipJç.\o ativa fl;l captaçAo de
M saída. Esses movimentos i6n cos moei.ficam o po1enc1JI neurotransm,ssores.
de membran.;i, causando uma pequena despol.111zaç.x>, no
ca~ de entrada d Na·, ou umJ hiperpolarlzaçc\o. no caso
de entrada de CI (aumenco das cargJs negativas do IJdo d 4 O~~ t'l\lt\ cor-h.'<do e o ,_,•., ucko u.n, ~PSC1
d n11O) ou de sa de K· (aumento das cargas pos1trvas do NTI <11' O 'lJ'ônto J'l~JnifJk.nJI. notÚ
1 I J O, 1 \e.' ~ ~ 11"-

lado de fora). E,emphficando, o receptor A do neurotrans- Ce,;Jlor º·'


f' l"W u f'ffl um.a P"QU"'N dnpola,tl.lǫ\o'" m..-mbtdl\i, o
Que •Jffl('hl.l urn pC)UCO a k J,ó,> dJ V~txe Oi $(', tt\llo, QUP
missor GABA é ou estâ acoplado a um canal de cloro. Ouan• o nrurõnc, r a ~ o ,.. P .w;.k> tnOd<Mdorit ~ o pO, \óNP
do ativado pela ligação com GABA. há passag m de O- para t.<o. ou ~ moo 1!C o \jJJ e ,:"t,, d ;,Jt,

24 ~fUlldlwl

~~
___. - -- . -- -
-- ·--
...- . ~-·...
;i,_[ --~z.l'.:----:----"-:-~~-____
Polenciol
de oçõo
Poi.nciol póHlnóptico
excitatório
2__.1_ __
Potenciei
de oçõo
SlnopMt e•citotório

A..õnio A ..- ..
- - No~ -
. -

• • t ♦

~ Ne.ur6nio
pówinóprico • • · ·-+ Aiwnio e

Axônio a - - 1 : 1
Zona gatilho
f
Sinopse inibidora
l

~!I
-701.1.-_
q
--"'---'--lir~~-
Potenciàl ~
de oçõo Potencial póHinóptico
lnlbítório

,-r,o ~uemãxo, mostrando a seq~ia de f ~ ~ a d o s po, poteoc,,us de aç.\o qoe atingem as 1eiminaç~
1' .~ a ~~.'Idos. ,~pec11vameme. em Sil'l.l~ ev"'nat~ia e 1nib.16"a. Os potcnc1.11s pós•sinapcieos sc\o ~ cio I po cyac/uj'. l

mais abundantes células da glia. caracteuzados por inúme-


ros prolongamentos, restando peQuena massa c1toptasm.l·
no s.:.c como no pe11féoco, os neurônios 1elaci(}- cica ao redor do núcleo (Figura 3.3). Reconhecem-se dors
ce-'t1!as coletivamente denominadas neurógl,o tipos: osrróc,ros protoplosmór,cos, IOG1ftzados na substtlncla
• ~~ a'o do homem, existem em torno de 86 bl· cinzenta; e asrróc,ros fibrosos, encontrados na substAncla
·~nos.- as bilhões de célulasgtia1s. Ao contrJ· branca. Os pnmelros distinguem-se po< apresenta, prolon-
re ·6-"'-o~ as células da neurógl1a são capazes de se gamentos maisespessos e curtos. que se ramificam em pr~
_____, ::zy m,tose. Além de promoverem a sustentaç~o fus~o (Figura 3.11 A); já os prolongamentos dos asuócltos
oo ra,rôrno. elas e1e1cem funções comple~s no fibrosos são fi!los e longos e ,amificam·se relativamente
..,__,,,,...._,...,~ iodo encéfalo, modulam a funç~o neuronal pouco (figura 3.11 B). Ao microscópio eletrônico. os amó-
:IO dJs :; génese de algurn.:,s pJtologia~ Cttos apresentam as org.1nelas usuais, mas se caractF1izam
pela riqueza em filamentos intermedt'1rlos que. embora se--
fl.lróglla do sistema nervoso central melhantes sob o aspecto morfológico aos observados em
i.\:: a neurógli.1 compreende osrróc,ros. oltgodendró• outras células. ~o constltuldos por pohpeptideo especifico
;
1
-1;0s e um tipo de gl,a com disposição epitelial. da glia. Nos astróc1tos fibrosos.• esses filamentos sJo mais
.r•.'fld márias. Os astróc1tos e os oligodendróotos abundantes.
~ J~f!n e denominados moc1óg1,o, e os mk roghóci· Ambos os tipos de astródtos. por melo de expansões
• ,. O) ol.gocfend;og/iódros correspondem â maioria conhec1d.ls como pés va5-eu/ares, apoiam-se em cap.lJres
..i dJ g'!(J scguklos pelos osrróerrOi A miaógl,a coues- sanguíneos (Figura 3.11 B). Seus processos contatam tam-
ri,•.-, -c,os de 1(1]6 das c~lufa_s g~s. As célufa_sóo mocróg!ia bém os corpos neurona se dendritos em locais desprovidos
...,.,.._.....,..._~ neuroectoderma. As células da micrógllcl s.dO de de sinapses. bem como axônlos e. de maneira espeoJ~ en-
rr,~rmica. A maaôglia e a micrógllJ colocam-se volvem as s1Npses, ,solando-as. Têm, portanto, funções de
- - ~ "i?\Jrônios e ap,esentam massa citoplasm.1tlca dls· susrentacão e isolamento de neurônios.
• e-tudo em prolongamentos que. à microscopia Os astrôrnos exibem canais Iônicos ativados por volta·
~ ,.1su.:>liiados apenas com rêcmcas especiais. envol· gem e recepto1es para neurotransmissores. São. portanto.
oc1 e,emplo. impregnaç~o pela prata (Figura 3.11 ). células excit~veis. capazes de transm,tll informa<ões que
modulam a excitabaidade e funçJo neuronal. Partlopam
! 11rocitos do contrate dos níveis de po1jssio exuaneuronal. captan-
- J rome vem da forma semelhante a uma emela. Po· do esse lon e. assim. ajudal"ldo na manutençao de sua bal·
~ "'ffl todos os astródtos apresentam essa forma. S~o as xa concentração exuacelular. Também contribuem para a

• • .w,lulo 3 JecldoNmmo 25
f19VR 1 . 11 Aspecto ao m,croscópio 6pt.tCo da neoróglta do sistema, nervo~ centtal após lmpregnaç.\o met.!11,c,t CAI astrôc,to protoplas·
mj1,co, (B) arnôc,to fibroso, (C) oli9odendrôc1to\, (O) m,crog'«1tos (~undo dei R,o Hortegal.

recapta{c\o de neurotransmissores. em espec,al o glutama- Nos casos de lesão do tecido. os astr6c1tos aumentam lo-
to. CUJO e)(cesso. causado por disparos a)(ona,s repet1tcvos. é calmente e transfonnJm-se em astrócitos reaclona.s. ocup.inclo
tóxico para os neurônios. A dopamina. a seroton1na e a no- as Areas lesadas, conwbuindo para sua ocatri.zaç.x> (gllose). N:J.
radrenalina são degradadas pelos àstr6c1tos. Eles também quirem fur,ção fagocirla nas sinapses, ou se.ia. qualquer botão
protegem os neurônios do estresse O)(idat,vo. Constituem sináptico em degeoeraçAo é fagoatado por astr6c1tos.. Os astJÓ-
também o ptincipal sitio de armazenagem de ghcogên,o no ota.; também ~retam fatores neurotróficos essenciais para a
SNC. ha\lendo evidências de que podem liberar glicose para ~ncia e manutençAo de neurônios. E>.lstem pelo menos
os neurônios. PartKipam ilt1vamente da barreira hematoen- doo tipos de a5tróotos reacionais. Um deles au:xiha na recupera-
cefálica. que impede que substAncias e patógenos atinjam çoo e reparos e o ouuo efetivamente promove a mate neuronal
o encéfalo. apôs um dano encafálieo agudo. Es.ses astrócitos neurotóxicos
Os astróotos são impoaantes para a formação de no• ~ abundantes em pacientes com doenças degenerativas,
vos contatos sinápticos e. portanto. fundamentais pa1a o como a doença de Al.zheimer (Cap.'tulo 28. Item 5.2). A desc-obef-
neu1odesenvol\limento. 1\s ativações neuronais levam ao ta da panlc.ipação dos astróotos na fü.iopc1tologia de doenças
afastamento de processos asuóotârios. desnudando a su• vem sendo um promissot camp:, de pesquJsa para o desenvol-
perficie neuronal para novos contatos sin~pticos. O proces• vimento de novas drogas para tratamentos dessas doenças.
so de eliminação de Sinapses ao longo da vida é também
dependente dos asu6mos. A eliminação de sinapses por L 1.2 Glia radial
fagocitose faz parte do desenvolvimento normal e estA ,e- Esta célula foi estudada no Capitulo 2 (Figura 2.6). En-
ladonada ao amadurecimento funcional. aaprendizagem e contrada apenas no período embrionário, particJpa ativa-
~ memótla. mente da neurogénesc. mlgraç30 neuronal e sínaptog~nese.

26 lltumwtomq FundoNl
ou ft)tt ,o (7Y'fld.mório. Constituem c ulas cubo da,s ou p,IS·
- ..'Vl-'t?S que os amóc,tos e u~m poucos prolO'l• mátlGls que forram. como ept~,o de revestimento simples, as
~ - - figura 3.11 C). que também podem form.u pés p..1-cdes dos ventrículos cerebra,s. do aqueduto cerebral e do
:on'o,me sua IOC411ização, distinguem-se dois carol central da medula esp.nal Em alguns pontos dos vemri·
~
4
róc_i10-sar~ltreou perineuronal. situado junto
.. culos IJtera,s e do Quarto ventrículo. c~lul.Js epend.m.irras mo-
"--=~"" ~ d., ritos: e ol,god~ndróciro fosciculor, cncon• d1ficcldJs e espec1a'IZDdas recobrem tufos de 1ccido coo,untM>,
·- ;s -bras nervosas. Os olrgodendróc,tos fascicu· rico em cap lari:'S sanguíneos, que se p,o,etam da pi.t-máter,
=x:>nsJ.e,s pela f01m3Ç.So da bainha de miel,na constituindo os pl~os c01ióidcos. rcsponsávt'is pela fo,maçcX>
~ o rc.
como serAd1scu1 do no ,tem 3.1. do liquido cerebrospinal. corno serc1 visto no Cap.tulo a

2.2 Nturóglla do si.sttma ntrvoso ptriffrtco


s pequenas e alongadas. com núcleo denso A neurógllcl perifér1ea compreende as c~lulos·socélaes
ê'.'vr'gJdo, e de contorno irregular
(Flguni 3.3). tM'I (gl,o-sattltte ou onflc11os) e as células de Sdm'O.f)n, derivadas
• dongamentos. que p.1rtem das suas e tremidlde-s da crista neural. A gh.-..sat~lite envolve perK.irlos dos neur6•
~ cr2 3.11 D) Rep(esentam 1006 das células gl1J s do SNC e mos. dos g~ngllos sensitivos e do sistema nervoso autóno-
·· ~tanto r\J substc\ncia branca como na cinzenta. mo; as células de Schwann circundam os ax6nios. formando
_,.,,,.i.!irv~ d~ que. em cond ções saudá'A:•S. atuam no de- os seus envoltórios. qua,s seJam. a bainha de m:elina e o
,;:,,,-,.,.,""""""'~º de orcuitos e na homeostase. De origem rne- neurtlema (Figura 3,1) Ao contrário dos ghóotos do SNC.
rc., ou. rru~ p,ecrsamente. de monócitos. equrva'em. apresentam-se ClrcundJdcls por membrana basal.
- a um t,po de macrófogo com funções de remoção. As células·Silté'1tes geralmente ~ lamelares ou acha·
.- ·ose. de c~ulas monas. deu11os e microrg.1ni~ tadas. dõ postas de encontro aos neurônios. Um neurônio
• Aumentam em caso de injüna e ,nílJrroçAo, so- é circundado por um grande número de células•satélttes.
'.r.,.j OOI novo aoorte de monóotos, vindos pel1 corrent~ formando com ele umJ unidade funcronal. São do1ados de
l A m,crógha ap(esenta vánas das carcKterfsticas de receptores para neurotransmtsSOfes e participam do conuo-
·~ e rrucrófõgos. Reagem a mudanças em seu mi- le de seus niveis ewacelulares. (m caso de injuria, panic•·
-~_.._ ""ti?. adqw1ndo íonna ameboide e p.mando p.1,a o pam da atrv,dade fagoc1tc1rta e ltberam fatores tróficos para a
• • Jdo A rnicrógha ativada pode migrar para locais de sobreví ~nci.a neuronal. Na porç~o eniérica do s,stema ne,-
"10: ~ore l·berar uma variedadt- de fatores. como óxido voso autónomo. a glla·satélite forma um sincícío mediante
. ·oc,nas. neurotrofinas e fator de necrose tumo<al junções gop. que ,sola por completo os neurônios dos g~n-
~pcnham um papel fundamental na resposta lmu- glios do m io extragangl10nar, comunicando·se também
• no s~,.c. Interagem com teucóCttos que. em condições com vasos sanguíneos
t/J dl barreira hematoencefál,u . invadem o tecido As células de Schwann t~m nüdeos ovoides ou alonga•
~ Embo,a fundamenta;s para esta resposta ,mune em dos. com nucléolos evtden1es. ( m caso de inJüria de nervos,
;,.,....,!.J a infecç6t.~ ou traumc1. a micrógha pode cont11buir as células de Schwann desempenham um importante pa•
o 1..1m~m para a neuroinOamação p.1tológtCa, hberando
pel nJ regeneraçc\o das fibras nervosas. fornecendo subs·
;, proteínas neurotó ic,u e induzindo os astróc1tos trato que perm11e o apo,o e o crescimento dos a~ón,os em
1()0.3 s neuro1óx cos. Podem também contr1bu,r para a regeneraçc\o. Além do mais, nessas condições ap,esentam
OJtologia de doenças degenerat,vas do sistcrru nervoso cap.xid.x1e fagoc,tica e podem sec,erar fatores tróficos que.
Ct)(r() na s•ndrome de Alzheimer (Capitulo 28, ,tem 5.2). captados pelo a>.ón o e transportados ao corpo celular, de·
sencadear~o ou incrementarão o p,ocesso de ,egeneraç~
1S Celulas epend1mârias axónlca Para mars informJções sobre o papel dJs células de
~ um tipo de Células da gha remanescentes do neuroepi• Schwann na regeneraç~o de fibras nervosas periféricas, veja
embuoná110, sendo coletrvamente designadas ~nd,ma Capítulo 9. p.-!rte A, llem 3.

2.l Correlações anatomoclinicas


2.l.1 Ghomas ser mfiltra11vos e d,fusos, 1nvad ndo áreas nobtes do encéfa•
As célu!Js da gl..-i podem apresentar divi~ descontro• lo. o que d,ticu!ta as cirurgias para sua rcmoç30 Os astroc1to-
.Jdas e mutações, causando neoplasias conhecidas como mas sc\o dMd.dos em graus Ia ri. O grau ri. ou g!,oblastoma
J 1omc15, que recebem a denom,nJç~o de ac0tdo com a multiforme, é o ma,s comum e ma,sagressr.io dos tumores
c~lulJ de origem: astrootomas: o',godendrO<Jllomas etc. Re· encefálicos. O tratamento é cirúrg.co QuJndo possfvel para
presentam 8016 dos tumrnes mal gnos primArios do sistema reduzir os sintomas prOYCX:~ pclo efeito de massa. Aaná-
ncr ~ - São muito heterog.moos em relação~ mat,gnidade lise h1stopatol6g:ca de1e,m.nará o tratamento posterior com
~ representam um enorme desafio te1apeutico. Costumam rad.oteraplJ e qutmioterapiasespccíticas.

• C p1tulo l lf<ldo~ l7
Rgu~ 1 . 12 Awoc,toma de bJ (O grau. Percebe-5.e ma•or homogenetdJde Pe:o g•ande volume e eieito de massa, foi rcJh«idJ a lmJg«:'m
de 1rac1ografiJ por 1essonanc1J mc1!Jné11ca que ev1denc1J os fel)es de iibras em cores usados como auxil1J1~ para a remoçao cirúrgica.
e, tando compromernnen:o de vias 1mportan1e~ (p.1rJ conhecimento dos métodos de neuro mJ-iem consulte o Capltu•o 31)
For.•e-Co11t."i'.l úo O! 1,1.Jr,o J.môrw Ro.J.X~I

Rgura 3.13 RessonJrKI.) m,l(J~dica t mapJs de flu"(o sangu,neo cerebtcll de um gl·ob1,ntomJ Observa-w o carátl:r he1erog1:neo e mftJ.
trafr,o de1erm:n.1ndo maiot m.l' 9nid.)de e d ixu!t«ndo J remoç.lo c,rúrg C.J
Fon·c. eo,1~~l óo Dr /,l •co An:oo~Ro<fac\i

.......-

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--
• ..--1 ....

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3.1 Fibras nervosas miellnlcas


Uma fibrJ nervosa compreende um axónío e, quando No sistema nervoso periférico, logo após os seus seg-
presentes. os seus envoltórios de origem glial. O principal mentos 1nic1ais, cada axônlo é circundado por células de
envoltório das fibras nervosas é a bainha de m1cllna. que Schwann. que se colocam em intervalos ao longo de seu
funciona como Isolante elétr,co. Quando envolvidos per comprimemo. Nos axôn,os motores e na maioria dos sen-
bainha de mrel,na, os a:..ónlos sAo denominados fib,as ner· sitivos. essas células formam duas bainhas, a de mielina
1-osas m,elinicoí Na aus~nc,a de mieltna, denominam-se fi. e de neurilema. Para isso. cada célula de Schwann forma
bras nervosas omlelinicos. Ambos os tipos ocorrem tanto no um curto cilindro de m,elina, dentro do qual localiza-se o
sistema ne,voso periférico corro no central, sendo a bainha axônio; o restante da célula fica completamente achatado
de mielina formada por células de Schwann, no periférico, e sobre a m1elina. formando a segunda bainha, o neurilema.
per ol,godendrócítos. no central.
Essas bainhas mterrompem-se em intervalos mais ou me·
No SNC, d1s11nguern•se. macroscopicamente. as âreas
nos regulares para cada tipo de fibra. As interrupções sAo
contendo basicamente fibras nervosas mielin1cas e neuró•
chamadas de nódulos de Ronvier (Figuras 3.1 e 3.14Cl e
glía, daquelas em que se concentram os co,pos dos neu·
rônios, fib,as am1el/n cas, além da neuróglia Essas âreas sAo cada segmento de fibra situado entre eles é denominado
denominadas. respectivamente, substôncia branco e subs· lnternódufo (Figura 3.1). Cada internodulo compreende
tônc,o onzt!nto, com base em sua cor in vtv0. No SNC. as fi. a re91~0 ocupada por uma célula de Schwann e tem cer•
bras nervosas reunem-se em feixes denominados tratos ou ca de l ~am a 1.5 pm de comprimento. Assim, uma fibra
fosclculos. No sistema nervoso per,férico. também agruparn- mielínica de um nervo longo, como o ,squlátlco, que tem
•se em feixes, formando os nervos (Figura 3.14). de I ma 1.5 m de comprimento, apresenta cerca de mil

28 IINSroltlltorrua funoona1
e proteínas. salientando-se a riqueza em fosfol,prdes. Ao
longo dos axónios m,elinlcos. os canais de s6d10 e potc1ssi0
sensíveis :i voltagem encontram-se apenas nos nódulos de
Ranv1er A condução do impulso nervoso é. portclnto, salta-
tóna, ou sejJ. po1encia,s de aç.\o só ocorrem nos nódulos
de Ran.. i<!r e s,,lhim em dtre(t\o ao nódulo mais distal, o
que con'e1e maior velocidade ao rmpulso neNOso. Isso é
possível em raz.\o do carc1ter Isolante da bJ nha de m1e•
l1nJ, que permite :i co1ren1e eletrotõn,ca, provocadJ por
cadJ po1enoal de ac;:io. pe1correr todo o Inter nódulo sem
e>.ungu r-se
O processo de founaçAo da bJinhJ de m,e1,n.:i. ou mie•
lm,zac;oo. nas d,vers.u áreas encefáhcas, estJ dJre1am(.'nte
relac10nJdo ~ mJturidJde dJ função d cadJ uma delas
Nas àreJs sens11ivas. 1n,cia-se durante a ultrma part do de•
senvolvimento fetal e continuJ durante o pr1meuo ano pós-
·natal. No cófle.ll pré-frontal. só estarc1 concluída na terceira
décadJ de vidJ AcompreensAo do processo a1uda a en1en•
der a estrutura dessa b3 nhJ
As drve1sas etap,u dJ m1el,n,zação no sistema n rvoso
periférico podem ser seguidas na Figura 3.15, onde estA
representada umJ das várias c luLn de Schwann que se co-
locam ao longo dos a~6o1os Em cada célula de Sdt.vaM
fo,ma•se um suko ou goteira Que contém o a óoo (Flgu•
ra 3.15A). Segue-se o fechamento dessa goteira. com for•
mJção de umJ estrutura com dupla membrana, chamada
nx-~ AÔi'l-'O (Figura 3.158) Esse mesa~óo'° cllong,He e
enrola-se ao redor do a>.ônio diversas vezes (Figura 3.150 .
O restante da célula de Schwann (citoplasma e nucleo) for-
Aspectos h1siol6g<os do ner"o 11o0u•.1tieo do cJo
J.14
.- "l\Jeno rase ;ulo e ,,e de d0ts outros n-.olv,dos P0f ma o ncurclema (Figura 3.150) Term n.:ido o p,ocesso ao
~ h" tJsl coo:..m f !Yas n<"rvo\Js m ~, n.cas Os fascicu'o\ longo de toda a fibra reconhecem-se os nódulos de R.l~r
.. , os J1,1ntos p •to epmeuro ( B) Ot-·a ~ de um fJ scicu1o e os mternódu1os
nc::> f bfJs n 1\-0WS m1et.n,c,n coo Jdls trar s\e 1\cllm ntt, No S C. o processo de m1el,niuçt\o ~ essencialmente
~ o 1 ,0n,o (WI•) e a 1m.1gem r('(JJlr,J dJ m el,na d ssolv1•
sim,lar ao que ocorre na fibra ner\'Osa perct ricc1, com a d1fe-
• • li p,ep.ar Jo (C) F btJs n rllOS.)s m · n,us cof!ad.>s
tcng tud NI p.!!a mos rar nód1J'os d RJn-.-1er (c.ibe•
1ença de que SdO os processos dos ol.godendróc,tos os res·
•l poosjv ,s peb formaç3<> de m1ehna A Rgura 3.16 mostra
a relaçAo de um ol,godendróc1to com os vár10s a"<õntos que
ele m, l1n11a Ao contrario do que ocorre com a célu!J de
- ~-""- d" RJnv1er Portanto, cerca de mil ce'ulas de Sch- Schwann, um ml"\mo oltgodendróc1to pod prover mtem6-
ood· m part ic par da m, l1n1z.>ç.lo de um únrco at6· dulos para 20 a 30 a)ôn,os.
·.o n .el da .-ubo111açAo terminal do ax6n10. a ba1nhJ
n.:i desaparece. mas o neur1lema continua au~as 3.2 Fibras nervosas amlelfnlcas
d lde-s das term,naçõ s nervosas mot0tas ou sen- No sistema ne,voso per1fér,co. hj fibras nervosas do
(Flgura 3.1 ) sistema nervoso c1utônomo (as fibras pós-ganglionares)
·.o S'IIC, prolorgamentos de ohgodendrôc1tos pro- e algumas fibras sensitivas mu,to tinas, que se envolvem
a bJ1nha de miehna. No entanto. os corpos dessas por células de Schwann sem que haJJ formaç:io de m1eh-
as ficam a certa d1stAneta do axõn o, de modo que na CadJ célulJ d Schwann. nessas fibras. pode nvolver.
for maçAo de qualquer estrutura semelhante ao
1 em mvag nações de sua membiana, até 15 a>ón,os. No
!!NJ'I mJ SNC. as f1bras amlelfnicas n~o apresentam envohórlos
Ao m,croscópío eletrónico. a ba'nha de m cl1n.:i é forma- ApenJs os prolongJmentos de astróc1tos tocam os axô-
ro, Ull'J s rie d llmelclS cone nt11C.1S. or.g nJdas de vol· n os amieltnicos
"'' mbrana da célulcl 9'1JI ao redor do a óoio. como As fibr.is am1 l1n1Cas conduzem o tmpulso nervoso ma,s
d ialhado no próximo 11em lentamente, já que os conjuntos de canais de sód<> e potâs·
:. bainha de m eltna, como a próprtJ membrana plJs· s10 scnsiveis ~ voltc1gem não 11ml como se d,stanc.ar. ou se,a.
~iCJ que a or,g,na. é composta basicamente de l1pídeos a au~nclJ de m· l1na lmpecL cl condução sa tatóna

• C pllulo l lf(JdoMtno,o 29

t,.,111.i1, ....,,.. ,.,•., (_..,.,., .,.,.,,.,.,.,


Me10J(õnio

''

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/
linho den10 rnen<>f
Me$0Jlõnio interno
I
Linho denso principal

RcJun 1 .1s tsquema mostrando as quatro erapas suc.essrvas da íorrruç~ da bainha de m e'lna pela célula de Sdtwann. (A) relJç.\o tn ciJI
enne o axôn10 e a célula de Sch\•,ann; (81 formaç.k> do mes,,nónio, (C) alongi1mento do me saxónio; (D) mi hnJ formada.

fltura 3 .16 ~ nho esquemi\11co mosuando como prolongamentos de 1.m ol,godendroc1to formam as balnh,u de m!el,na Cimernó-
du1os) de várias fibras nervosas, no SNC. No canto svpe110r d1re110. ~-se a superfÍ<.le externJ do ol,godendr6ci to (N .. nódulo de Rdnv,er;
A = a\ôniO)

30 NNowtoml.l rundonal
de fibras colAgenas entre elas. As células epiteliais petineu·
rais s~o. contudo. facilmente iden11fic.ada.s à microscopta
..ogo após sair do uonco encefálico, da medula espi·
eletrónica. Unem-se umas às out,as por junções íntimas ou
"" '-' de gánglios sensitivos. as fibras nervosas motoras e de oclusao e, assim, Isolam as fibras nervosas do contato
•t'Únem-se cm feixes que se associama emuturas
com o liquido Intersticial do epIneuro e adiac~ncias. Den•
_ : .as. constituindo nervos espinais e cranianos que
tro de cada fascículo, delicadas fibnlas colágenas formam o
,._,studados com mais deta'hes nos Cai>1tulos 9 e 10
endoneuro, que envolve cada fibra nervosa. O endoneuro
~.. c::~ o estudo de suJ estrutura lFlgura l.14).
hmIta•se internamente pela membrana basal da célula de
Os grandes nefvos. como o radíal, o med,ano e outros.
Schwann. visualizada apenas à microKopia eletrônica.
s.;o m elínlcos. isto é, a ma,or parte de suas libras é mie·
• ca Esses nervos apresentam um envoltório de tecido À medida que o nervo se dtStanc.la de sua origem, os
,:n1untIvo rico em vasos. denominado epmeuro. Em seu fosclculos, com a sua integ11dade preservdda, o abando-
~· ~1101, colocam-se as fibras nervosas organizadas em fas- nam pãta entrarem nos órgãos a serem inervados, Assim,
e <ulos. O epmeuro. com os seus vasos. pe-nena emre os encomram-se nervos mais finos, farmados por apenas um
'3Súculos. No entanto, cada íasc1culo é delimnado pelo fascículo e o seu envoltório perlncural.
~ -, ~t'tlro. o qual compreende tecido conjuntivo denso Os capilares !.clnguineos encontrados no endoneuro
a<denado e células ep1tehais lamelares ou achatadas. que são semelhantes aos do SNC e, portanto, capazes de sele-
·~mlam inúmeras camadas entre esse tecido coníuntlvo cionar as moléculas que entram em contata com as fibras
• ;3; ~bras nervosas. Entre as camadas de células epiteliais nervosas. impedindo a entrada de algumas e permitindo a
:: • • neurais. há também fibras colágenas. Geralmente. â de outrat Ass,m. no Interior dos fascículos. tem-se uma bar·
croscopia óptica, identifica-se apenas o componente reira hemJtoneural semelhante à barreira hematoencefálica.
,~---.unuvo do perineuro (Figura 3.14), dado o grau de a ser estudada no Glpitulo 18. Essa barreira só é efetíva gra·
•:+\"! amemo das células epiteliais e em ra~o da presença ças ao perlne-uro epitelial, que Isola o interior do fascículo.

S. Correlações anatomodinicas
Os neurônios e as fibras nervosas podem e~tar envol• genética associada a fatores amblenta,s, gerando a reação
,:e.os em doenças e proced.mentos médicos. Alguns deles auroimune. É progressiva. com suttos slntom.1ticos e pe-
lo ap,esentados a seguir. ,lodos de remissão que evoluem ao longo de vários anos.
Nlo existe cura. O tratamento na fase aguda mclul pulso
S.1 Anestesias locais de corticostcroides e. no caso da contratndi<ôÇOO destes,
Os anestêslcos locais, como a hdoc:aina. bloqueiam a o uso de lmunoglobulln.J. Pôra reduz;r o processo desmle·
:"'JÇ~o de potenciais de ação dos a'(ônios por se ligarem llnizante e prevenir novos surtos. utllizam·se med1camen·
aos canais de sódio dependentes de voltagem. tos, como anticorpos monoclonals, ,munossupressores e
outrasmedicações especificas (Agura 3.17).
SJ Doen~s desmlellnliante.s
51.2 Síndrome de Gulll.1in-Ba,ré (polirradiculoneuropatia
~o duas as patologias mais frequentes decorrentes d3
innamatona aguda)
~•el nizaçc\o de fibras nervosas:a esclerose múltipla e a
'"'drome de Gulllain·Barré. Nesta síndrome. a desm•elrm1açào. também de ou-
gem autoimune, acomete rafzes ou nervos periféricos
511 Csdero~e múltipla sensttivos motores ou autonómicos. A sintomatologia de·
r a principal doença 1nflamatô1Ia desmieliniz.lnte crô♦ corre d.retamente da redução ou ausência de condução
do Impulso ne,vo!.O que causa fraqueza muscular pro·
.J do SNC. A Mulup'e Sdero~is lnternattonal Federation
•~ • mJ Que em tomo de 2.3 milhões de pes~s sejJm por•
gresslva seguida de paralisia 0áctda e redução ou ausência
·)doras da doença em todo o mundo. NesSci doença, de de renexos te-ndíneos. Podem ocorrer déflrns scnsmvos e
disautonomld. No quadro tlplco, a paralisia evolui de for•
e" 43em autoimune, obsc,v,Mc J)fogresslva destruição dJs
oo nhJsde miehna de feixes de fibras nervosas do encéfalo.
ma ascendente, Iniciando-se em membros inferiores e
podendo oc,ulonar perda da marchi, (,n G)!.OS ma,s gra•
~ medula e do nervo ótico. Com Isso, cessa a condução
• •J;óría nos ax.ônios. ,esultando na d m1nuição dil vcloci· ves, a1lnge a muscutanrra respirat61la. com necessidade
::ade dos Impulsos nervosos até a su.1 exnnção completa. de ven11lação m~nica, O diagnóstico é íe1to pela eletro·
~ denomlnaçAo mú/1,pfo deve-se ao íato de que são aco♦ neurom1ografia, que 1dent1fic.a o b'oqueio ou a redução da
rre-tidas díversas áreas do SNC em forma de surtos. A sin• velocidade de condução nervosa O exame- do l1quor iden•
·o-natologla depende das áreas acometidas. sendo rnais tif1ca aumento de p•oteínas sem aumento de celularídade,
rnmuns a incoordenação motora, fraqueza e dificuldades dissociação prote,noc,tológ:ca. O tratamento Inclui, al~m
\1são A flsiopatologia da doença inclui predisposição da monitorização e do suporte ventilatório, a utilização de

• úp1tulo 3 lN:idoNtMnO 31
Agur, J.17 Rcssonlncia mJ9ni::t,ca em paciente portador de esclerose mulupla mostrando v.\110\ focos de de1m1el1n11,1ç.\o (1m.19en$
com h1pers1nJI nJ subst.)oc:1J braxa do cêrebro)
IM'e CC>tlt J 00 [)r '.' J((O A, ,r(),1,0 ~ i 1

,munoglobufinas ou plasmaférese. visando reduz,r o tem· Existe a forma paralíuca da doença pelo acome-tlrnento dos
pode evoluçAo dJ doença, nervos per1f~ricos A prevenç3o t! J principal r01mJ de con-
Embora a patologl.1 de base d:ls dL1as doenças, esdemse trole da doença pela vacinação anual dos animais domés-
müt11pla e síndrome de GuIlla,n-Barrê, seja a mesma - ~. ticos. limpeza das feridas logo após leSclo e observação do
m1e/1nizaçcl0 -. uma acomete o SNC. e a outra, o pe11fér1co. Jnil'JIJI. durante 10 dias, que a provocou. Deve-se procurar
O curso clinlco das duas é também oostante diferente. Ao atend,memo medtCo e st>guir os protocolos de prevençao
contrc\rio dJ ~ler05e múltipla, a síndrome de Gu1llain-Barré pós-exposição do Minlst~rlo da Saüde
é aguda nJ mJor pJrte das ve1rs, e ocorre em surto único de Também o bacilo da ht1nseniase penetra por esse ca·
evoluç.k> r~p1da. período de estab1hza,~o e tend~ncla à me· minho. embora hmnando-se aos nervos per1íérícos. Éuma
!hora compl ta Existem. contudo. casos que evoluem para a das causas mal( comuns de nl?\Jropa1iJs n~o 1taumAtlcas,
forma oónica. O vírus só se mult1pllca ern áreas com temoeraturas mais
frias do ...orpo, per isso a pred,leçõo per áreas superficiais.
SJ lnfecções como pele e nervos Afeta nervos sensitivos mo1ores e au-
tonómicos. Os sintomas ínclu!!ni dor, parcm~sias, hipoc~tc·
5.3.1 Raiva, hanseníase e herp~-zóster sias. pares,as, atrofias. antdrose e espessamen10 dos nervos
Sabe-se há skulos que, algum tempo após ser mor- acomettdos. O tratamento medicamentoso é estabelecido
dida por um c.lio contaminado pelo vírus da raiva, a vitima per protocolos do Ministério da Saúde.
pode adquirir a doença. caracterizada por graves d1stúrb os Outro exemplo é o vlrus da varicela·zóster. Após um
neurológicos e ps1qul~t11cos deco11entes do cornpromet1• quadro de var1CelJ, o vírus permanece alojado no gt'lngllo
mento do encéfalo Esse fato levanra o problema de como sens.1ívo da raíz dor.sal. podendo permanecer inativo por
ovirusda raiva chegJ ao SNC.. Para isso, é bom lembrar que. muitos anos. Em algum momen10 pode se 1ea1ivar, causan•
no nível das teunínaçóes nervosas !>ensorlais l,vres. das do o quadro de herpes-zóster. caracterizado pelo apareci-
placas motoras e das terminações autonóm!Cas, as fibras mento de erupções no territóuo sens1tívo daque!e gangl,o,
ne,vosas perdem os seus en-.oltórios e nào sAo proteg;das causJndo dor Intensa no de1mátomo correspondente.
por barreiras, como oco11e ao longo dos nervos. Tem-se.
assim. aberto o caminho pelo qual o vírus da rawa - e ou- SJl Tétano
tros vi1us - penetra nessas termin.ições. cheg.i ao pericáno O tl!tano ~ uma doença infecciosa. nj() contag osa. cau-
dos neurônios da medula pe:o íluxo axoplasmátlco retró- sada pelo bacilo Closrrid,um 1eron,, qu~ prodUl uma exoto-
grado e. enfim, atinge os c1xônios que se comunicam com xina denominada ti!ronoposm.f'o, capaz de aungir o SNC. O
áreas cerebrais. O vírus cau.sa, entao, uma encefahte agu- baolo g~positivo e anaerób1eo é encontrado na natureza
da. Todos os mamíferos podem ser portadores da doen- sob afor ma de espo,o na pele e fezes de d1vers<» anima s. na
ça e uansmiti-la ao homem através da saliva em c11sos de terra águas poluídas e instrumentos enferrujados. O baci'o
mordidas Os morcegos sllo a p11nclp.:il fonte s,lve~tre da penEt1a na pe!e atrtl\é-sde ferimentos e aInfecção fica locali-
doença Os sintomas tipicos são febre. d(>lírio, espasmos zada est1i1amcnte l'\J área de tecido necró1ico. onde encon-
musculares. Inclusive de ,nüsculos faringeos e laríngc..'OS, tra um ambiente anaeróbtco pmp'clo para a germlnaçjo do
slaloirela. d1sfagia, incapacidade de Ingerir líquidos (hidro- espot0. A to>1IN é l,beradJ e l,gHe às terminações dos ner·
íob·ai. convulsões. culminando no óbito em alguns dias. vos motores penféricos e. de fo,ma retrógrada, é transporta•

32 tiftlrowtomia fullOOC\II
ndo ao como anten()( dJ m••.'dulJ esp,nhJI e cJ1c10 Esse aumen:o dJ e•c•tJb l,cfade pod" ser .. ,sto no
•~ os intemeurônios 1n b-tór,os esp.nhais causando eletroence.falograma (Figura 3.188) Podem tarntxm OCOfrer
,.._,_,,., 1 muscular. O rrus~ tcr costurru sef o pflmeiro altcr~Oes nos me<:anismos ,n bttô11os bsas a ter ações po-
.co,r, tido, causando o tusmo e a con~uente dem ser resultantes de fa10fes ~ ttCos ou ~conhecidos.
;;..;;;;;::,.,a;,.~ nJ a\)4?ttura de bocJ Cm wgurdJ, podem surg., no c.iso dJs epileps.Js de ori~m g nét,ca. bem como de·
e~ on~ dJ muscu!Jtura foci.31e cet\lic.:il A rigdez correr de uma lesloc , bt.>I p,êvia n,nep-' psiasch.1mJdJs
_ r., iLlCJ. d ficu'tando a marchJ e a ing,ndo a s1nt~tos. As cr1S<'S ep,léptlcôs decOfrtmtes desses fato·
__,,......,s-w..l tOfJCOJbdom,nal, caus.1ndo d fic uldad rcs· res podem ser de vAr,os tipos. dependendo d.1 .1rcJ ceie•
co \•ótooo A mortJ' ade ~ alta. Enecess.!r1J a biai que gera a at1Vl<bde c'~tr ca anofmJI Podem ser foca,s
.._•.,.:-~-, ._ m und3de de terap;.J int nsiva, com sroJÇOO ou general,zddJs. A ma,s conhec1dJ é a c11s ton<oclóoca
-0 musculJr e JSSISténciJ vent11JtóuJ J)Of se- ·1at ral A a t ~ elétriea anormal pode tet in ct0 foc.it,
é a únlc.:i fOfma de p, enç~ d.l doença. mas at nge os dôts hem1sfe1ios cercbt,M, p,OIIOCando perda
de consc1~nc1.1 e contr.>ção tóna d 1odc1 a musculatura.
segudl de abJ'os clônicos rítm<:os. Após cessarem as con-
-
~"'• 1mente posto neste cap.tulo. ,:em uaçôes muscu!Jresi, K'(Jue-se o per iodo pós•.c.tal, cm que o
'".>;~o entre ne urônios é feita por meio de paciente permanece ,nconsc,ente po, ma,s a'guns m notos
·r.cos e l1 be1açoo d neurotrans'l"IISSOfes. As e recupcr.l-se progres~vamente. O tratamento é ÍL~to com
~ ~ e c,tatónas ou mrb,tóuJs. Nas ep 1ep- mcd camentos ant ,~ ,• pt1cos. que atwm l'stabll1 ZJndo
J J'ieraçJo na e otab,lidJde de um grupo de a atividade nos cana,s oo,cos, sobtetudo de 5õdo ou au-
•,>l en-.oJvendo OS Cill'\J1S IÓO COS de 5Ódl0 mentando a atr. dld gJbJ ·19 ca m bltôrlJ

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HONG. s. STEVENS. 8 t.' .crog .J ph.lgoc')10\ ng to c!eJr, scu'pt and


e1.m,na1e ~ dor,menra/Cf'I v 38. n 1,p 126- 128, 2016
sc;...J \'> N C. M , r,.'QROAI L C.W Nt'IJroan.:i:omy
·s n,•,rurc,t,e ncn.v 31,n 3. p 137-14S, X>08. l<AMX L l R t'I a! P,,nc piei oi nturol !(tfflCt 6 ed r,,;o-.J 'f'OI Me
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iur-.::lll .a-u "7"~ ~ ~ .v Sll. n 5. S32-S41,2<Xn .ctivated m<r09" ., urt•, v S4 I, p. 481 -487, 2016
s. ,. L!'~N J. EROGLU. e. AsllocytCS contrai synapse LUN, M. P; "''ONU •. E. S, lEHTIN(N M K. ()e,.i lopm,>nt Mld fone·
O'\ Uf', nd ehmru1,:,n ( O!,J 5µ,""} l1v•bot F'trs·
,ot\ tons d lhe cholo,J l)'-, us·cc• btal ~u<l sys em t.'onn Rc
7, n 9. p 1• 18, 201 S
,V ve-..,1 f.tu,oS<ienu. v 16, p 445-4S7. 2015
• Q J a ep,'epsy e.«:,t.abo 1 ty and infumm,n oo SCHAHR. O P. STM '«~ 8. ~ <rog1 J fu!'<t.on 1n cenual nef'VOJS
• 'o("nl'M , V 36, n 3, p 174• 1&1, Z,01] syS t'<n ~ " f lt and p!as1,c 1y COiá Spth} H.;,bot f\'rs ·
\ lRETTl. P. J A new outloo on men ai , 0\.--S~s· f)«ll\(HnB olo<}y,v 7.n 10, p 1-18. 2015
. 11· be)'Ond he g ue. f ron • crs,n Ct w, Ntvos· VON B>RTHCLO. C S. •,EY, J , HERCUt>l,'0-HOUZIL S Tht-
• p 1-:'0 :'015 SeJrch for tru~ nurrbett of neorom and l ce'l\ 1n lhe hu· o'
'" • ºA •;.AYAMC,U~O ,_ Tra:odo~fJtu1olo(J,od.JAc~ ~ n bta n A rt:"V v d ISO years d counttng Tt:e Journot oi
!t:.~:;:Ot .', ~ ,O] ed R.o de ~ tO ( ➔, 20 1 9 COIT'Po'ül , tl-.,""Vro!Og/ , v S24. n 18, p 3S6S·389S, 2016

T«klo Ntnoso 33
natomia Macroscópica da Medula Espinal
e os seus Envoltórios

a extensão (Flgu,. 4.1 ). sulco med.ono postera: fissura me•


d,ono amtr,0t: sulco foreraf anre11or e sutcolorerol posrcrio<. Na
e -::'"I f1ca miolo e Indica o que está Ck"'f'lllO. Assim.
" - Ç~
medula cervtcal, e iste. ainda, o sulcoinrtrmédi0posrer,or, si-
.. J ósseJ dentro dos ossos; medu1a suprarre· tuado entre o mediano posterior e o lateral posterior, e que-
:J 1 Jndula do mesmo nome; e medula espinal conttnua em um scp:o ,nrc,mM,oposteriot no inter ior do fu•
.:.if\11 ,ettebral Em geral. indJ-se o estudo do nlculo posterior. Nos sulcos lateral a'lterior e lateral poste-nor,
• ,o c~ ral (SNC) pela medula, po< set o órgAo fazem conwo, respectivamente, as rc1izes ventraise d0tsa1s
~ d~se sistema e onde o tubo neural fOI menos dos nervos esp nals. que serão estudados ma,s adiante-
- ...
- ..........
fi;... é.irante o desenvofwnento. No homem adulto.
• -'"""
-
Na medula. a substãnc,a cinzenta localrza-se por den·
e "º~ 45 cm. sendo um pouco menor na mulher. tro da branca e apresenta a forma de uma borbo' ta' ou
en·e. a medul.a hm1ta·se com o bulbo. p,6;iuma à ai- de um H (Figura 4.l) NPh. distinguimos. de ct1da lado. tr~s
~~ •~JmC m.,gno do osso OCClpttal O l1m1te cauda) da
colunas que aparecem nos cortes como cornos e que sAo
.s •~ 1mpcxt.\nctJ clinica e,no adu'to,em geral situa-se as colunas onrmor, posterior e lo1c10/ {Figura 4.l). A coluna
•• ,i:bra lombar (L2). A medula termina afilando-se para lateral, entretanto, só aparece na medula torácica e parte da
- -,m cone. o cone medular, Que continua com um dei· medula lombar. No centro da subst3ncia cinzenta, loca'IZcl·
- mento menirqeo. o filamento term,nol (Figura 4.1 ). -se o canal central da mt--dulo (ou canal do e-~nd,ma}, rcs·
CO"'....ec1mcnto da anatomia macroscópica da medula é de
quic10 da luz do tubo neu1al do embnáo.
1rnpo,tAnci.J médica. alÃm de prê--requ,s.to para o es· A substãncia branca é formada por fibras. a ma,or pJrte
t i ):, de sua e-suuturaefunçáo, o que será feito noCapítu1o 13.
delas m•elinieas. que sobem e descem na medula e podem
ser agrupadas de cada lado em tr~s funiculos ou cordões
1
2.9h,ma e estrutura geral da medulic:.. -- -_;;_ (Figuras 4.1 e 4.2). a saber.
A medula apresenta founa que lembra um cilindro, a) Funículo onr ttOI - situado enue a fissura mediana
sendo l,geiramente achatada no sentido ame,oposterior. anteriOr e o sulco lateral anteri0<.
J u I bre n.\o é unif0tme, pois apresenta duas d1
kltaçôes, b) runfculo lateral - s1tu.ldo entre os sulcos later ai an
...nrr nadas ,nrumesctncio cervical e Jombossocrat, situa· tc1Ior e lateral poster10r.
~ nos níveis cervical e lombar, respectivamente (Figura
e) Funfculo posterlOf - situado entre o sulco late1al
4.1 J Essas 1ntumescênc1as co11espondem ~s ãre,u em que posterior e o sulco mediano poste110r, este úl11mo
'1zem conexão com a medula as grossas raízes nervosas Hgado ~ subst3ncra cinzenta pelo sc-p:o med,ono
o.. fo1mam os plexos braquial e lombossacraL destinados~ posrtt/OI. Na parte cerV1Cal da medula. o funículo
~rvação dos membros superiole-s e 1nfaiOres, respectiva· postCtlO( é dtvid1do pelo sulco Intermédio posterior
mente. A formação dessas lntumescéncias resulta da maior em fosciculo grôol e fasclculo cuneiforme.
quantidade de neur6n10s e. ponanto. de fibras nervosas que
entram ou saem dessas áreas e que ~o necessc\rias para a
inervação dos membros. A superf,cie da medula apresenta Nlo \.\o todu •~ boi • tas que \e 11\~,mell\olm .\ wt1'>1.\nc.a c,n,-..n1a
os seguintes sulcos long11ud1na1s. qU(! a percorrem em toda c11 ""'Ó.A-1. m.u ~lMtP Ili dJ f P.tp.liond.,.•
lnlumeKinc lo lombouoc,ol

foKlculo cuneifo,me -

Fo1elculo grócil
- Raiz e1pinol do /,
K Suko mediano po1iefio,
nervo oceu&io /~

Suko mediano poilerlo, -


n//' - Cone medular
Sulco intermédio po,terio
Suko loJerol po11eflo, -
lnlumesc:incio cervical
F1lomen1c» rodiculore1-.::::::.nt.r:
do nervo Cl
p

- - Couclo equino
Duro-móter - - _

.,,,
Gânglio e$f>lnol do _
nervo T2 ~-;
Nervo 4llpinol T3

Roma ventral do nervo U


---- r---"
--
Roma donol do ni'"rvo TA

Roiz douol do nervo T6 - -


l5

SI 1l'l.1ln.... - - _ Fundo do MK<>


do duro-móler
Ligamento denticvlodo
,,
F,lomento lermínol
(porte duro~

- ligamento coccigeo
lntvmeKêncio lombouocrol - -

Flgwa 4.1 M dula esp.nol cm vista dorwl após abcnura dJ dura•m,Her.

~------------
36 NMowtomlol í un(IQNI

-
_... ~ - --- -- - - - -
- _,
Sulco lnterm6dio poilerior - __
--- --- ---________
__--Sulco mediano po$1etlor
Sulco lohlfol po1terio, - --..

Seplo lnterm6dlo po1terior - - -


--...... -- Fow:k ulogrócil

- - - - - · foiciculo cuneiforme
Col11na posleriot - - - - - -
- - - - - Funículo po1terlor
Coluna lo1erol - -- - ....
- - - - funlculo lateral

Colunã anterior - - - - - -
~- - Conol centro! do medula
Suko lotetol anlé-rlOr --- - -
- - - - - - - - funkulo onlefior

Fiuuro mediano anterior

Afun 4.l Secçc\o trans,-ers.al esqucmáta d.l medula espinal

de crescimento d,ferentes. em s.ent1do long,tudlnat, entre


medula e coluna vertebral. Até o 4° mes de vida intraute-
rina. medula e coluna crescem no mesmo ritmo. Por isso. a
A medula é o maror condutor de infounações que sai e medula ocupa todo o comprimento do canal vertebral, e os
·13 no eoc falo atra,és dos nervos espinais Nos sulcos la· nervos. passando pelos respectivos forames lntervc1teb1a,s.
•_ ai anterior e lateral posterlQr, farem conexão pequenos fila•
d1spõem•se no sentido horizontal. formando c_om a medula
-~ ~os nervosos. denominados ~lamentos radiculores, que~ um àngulo aproitimadamente rEto (Figura 4.S). Entret anto.
PfTI para formar, respectivamente, as mízes ~nt,al e dorsct
3 part r do 4~ m~s. a coluna começa a crescer mais do que
005 n~f\lOs t?Spino,s. As duas rafzes. por sua vez. se unem para
a medula. sobretudo em sua porçao caudal. Como as raízes
ô:i7'11J! os nervos esp,no,s, ocorrendo essa uni.lo em um pomo
nt>rvosas mantêm sua5 relações com os respect,vos for ames
·~no sentido distal ao gangho espinal que existe na raiz intervertebra1~. hJ o alongamento das ralzes e a diminuição
(Aguras 4.3 e 9.8). A conexAo com os nervos espi-
do Angu!o que elas fazem com a medula. Esses fenõmenos
~ mJrca a segmentação da medula Que. entretanto. ~o~
5Ao mais pronunciados na pane caudal da medula, culm,•
...crroleta, uma vez que não existem septos ou sulcos ttans·
nando na formação da cauda equina. O modelo esquemáti•
.~sa,s separando um segmento do outro. Considera-~ seg•
r"'i:Oto medular de um detetmlnado nervo a parte da medula co da Flguna 4.S mostra como o fenômeno oco11e.
e (arem cone~o os filamentos radl(ul.lres que enlram ro Afnda como consequência da difercO(a de ritmos d~
comJX>St<ão desse nervo. f)1stem 31 pares de nervos espi- crescimento eoue coluna e medula. há um afastamento dos
1\3 ~ aos quais correspondem 31segmentos medulares assim
segmentos medulares das vértebras conespondentes (Figu-
ct str,buídos: Oito ceiv1C.11s; 12 torácicos; cinco lombares; cin- ra 4.4 ). Assim. no adulto. as ~rtebras TI 1 e TI 2 noo cstào re·
co sacra1s; e. geralmente, um cocclgeo. E,cistem Otto pares de lclCionadas com os segrnen1os medulares de mesmo nome.
,.-,vos cervicais, mas somente sete ~ttebra:s. O primeiro par mas sim com segrnentos lombares. O fato é de grande im-
cm ical (Cl ) emergi' aoma da \• vêrtebra cervical. portanto pot~nc_ia clinica para diagnóstico. prognóstico e tratamento
ffi re ela e o osso occipital. Já o 8° par (C8) emerge abai o da das lesões venebromedulares. Assim, uma les.\o da vértebra
7• \'értebra, o mesmo acontecendo com os nervos espinais TI 2 pode afetar a medula lombar. Já uma lesão da vénebra L3
.!ba.M> de CS. que emergem, de cada lado. sempre aba· o dJ afotará apenas as ralzcs da cauda equ,na. sendo o prognós·
• ~nebra correspondente CF1gur• 4.4) tico completamente d.ferente nos d0ts casos. E. pois, muito
importante para o médico conhecer a cooespondênc1c1 entre
411.TópografiiiV,rteb(ômedol~--::-: :~ ~ vértebra e medula. Para isso. existe a seguinte regra prât 1Ca
{Figura 4.4 ): entre os nivels das ~ebras Q eTI O. ad:Ciona-
No adulto, a medula n~o ocupa todo o canal vcrtebra'. ·se 2 ao número do processo esp nhoso da vértebra e tem-!.e
uma vez que termina no nível da 2~vértebra tombar. Abai>;o o número do segmento medular subjacente. Assim, o proces•
de-sse nível. o canal vertebral contém apenas as meninge~ so espinhoso da vértebra C6 está sobfe o segmento meduklr
J S ralzes nervosa~ dos últ,mos nervos espinais que. d1s• CB e o dJ ,~11ebra TI o. sobre o segmento ri 2. ADs processos
cem.as em tomo do cone medular e do filamento terminal. espinhosos das vértebras TI 1 e TI2. correspondem os cinco
coost1tuem. em conjunto. a chtllllclda cauda equma lAgur1 segmentos lombares, enquanto ao processo espinhoso de L1
4, 1) Adiferença de tamanho entre a medula e o canal vert~ correspondem os cinco segmentos sacrais. Essa regra Mo é
°'ª'· bem como a disposição das raízes dos nervos esp nals muito e:xat.l, sobfetudo nas vértebras logo abaixo de C2, mas
,ro 5 caudais. forn1ondo a cauda equ na, resulta de 111mos na pr~t,ca ela funciona bastante bem.

• C..p,tulo 4 Anltamw MMn!sc~la d, ~ ~ f O$ IM EmoltdriM 37


At16rio espínol onteriOf
------ ----- _ Espaço suborocnóideo

Trobckulos aracnóideos
--- ;> ..., -.. • llgomenlo denticulodo

Pio-móter - - ----- ----- - - - - Sulca mediano postetior

Raiz dC>fs.oJ
do nervo C5

Raiz ventral fapoço subdurol


do nervo CS ....,,,. ,,,,,/
7;,,,:,
"--"·' esp1no
~-•o . 1 // / / r l
posterior uquerdo / /
/ _J I
/ c:1'..J /
Ramo e1pinol da f I
orlério vef1ebral // /
Pino venoso vertebral
Artéria radicular anteriOf /
interno

Attério radicular poster Romo ventral do nervo T1


,,,~
Aracnoide - - - _/
........_ .,,,,,,,
~~
Ramo dorsol do
nervo TI

OurO.fflóter - - - -

_ ligamento omorelo
Secçõo do pedlculo do
arco do vértebra T1

fo,ame intervembral / PrOCOJk> espinhok>

I
/
/
I
/ do VMtebra T2

Proceuo transveno do vértebra T3 /


/

Tecido adipok> no upoço epldural


/

fl9ur14.3 Medula e envol1611os em V\Sta do<sal.

38 fitun»NIOIIN fundoNI
•·--Cl s. · Envolt6rlos 9 medula
\1) --2 Como todo o SNC. a medula é envolvida por membra-
~ - -3 nas fibrosas. denominadas men,nges, que S<\o: duro·mdrer;
plo•mdter; e orocoode. A dura·máter é a mais espessa, razão
é) Q -•-A
pela qual é também chamada paquimeninge. As outras duas
&o.!]••-s constituem a leptomenmge. Elas ser~o estudadas com mais
~~~ ~ ..... •6
detalhes no Capítulo 8 Limitar-nos-emos. aqui, a algumas
á/fJ\~ .... 7 considerações sobre a sua disposição na medula,
6) ~-----·---· ;,
S.1 Dura-máter
:r ~
2 A meninge mais externa é a dura-máte{, formada por
JI
abundantes fibras c_olágenas, que a tornam espessa e resls·
3 tente. A dUTa-márer espinal envolve toda a medula, como
4 se fosse um dedo de luva. o soco durai. Cranialmente, a
dura-máter espinal continua com a dura-mâter craniana:
na porçAo caudal. termína em um fundo de saco no nlvel

;.
da vértebra S2. Prolongamentos laterais da dura-máter em-
7 bainham as raízes dos nervos espínals, continuando com
o tecido conjuntivo (eplneuro) que envolve esses nervos
8
(Figura 4.3). Os oriílclos necessários e\ passagem de ralzes

~
9 ficam, ent~o. obliterado~ n~o permitindo a saída de liquot

eJô}
~-- 10 S.2 Aracnoide
A aracnoide espinal se dispõe entre a dura~máter e a
pla-máter (Figura 4.3). Compreende um folheto justaposto
12 à dura-máter e um emaran~do de trabéculas, as trabéculas
LI aracnóideas, que unem esse folheto à pia•m.âter.
~ li

~-.• ,0. .
li n • •
S.3 Pla-máter
; :l -2 A pia•máter é a meninge maJs delicada e mais ln erna.
,, Ela adere intimamente ao tecido nervoso da superficie da
1 medula e penetra na fissura med1ana anterior. Quando a
IZ •-•-3 medula termina no cone medular. a pla-máter continua cau-
ir dalmente, formando um filamento esbranquiçado, denomi·
• -4 nado fllamenro rerminal. Esse filamento perfura o fundo do
~o durai e continua, na porção caudal, até o hiato sacra!.
r Ao atravessar o saco durai, o filamento terminal recebe vá-
rios prolongamentos da dura-máter e o conjunto passa a
ser denominado filamenro re,minol ípcrre du1on (Figura
SI 4.1 ). Este, ao inserir-se no periósteo da superfície dorsal do
2 cóccix, constitui o ligamemococcigeo.
3 A pia•máter founa, de cada lado da medula, uma pre-
.. ga longitudinal, denominada ligamento denbculado. que se
5 dispõe em um plano frontal ao longo de toda a extensão
Coc. 1
da medula (Figuras 4.1 e 4.3). A margem medial de cada
llgamento continua com a pia·máter da face lateral da me-
dula ao longo de uma l,nha continua que se dispõe entre as
raizes dorsais e ventrais. A margem lateral apresenta cerca
de 21 processos triangulares. que se inserem flrmemente na
rlguH 4A O.açr11m:i mostrando a re!açao do1 segmemos medu•
aracnoide e na dura-máter em pontos que se alternam com a
la•es e do\ ner'1>s esp,na,s com o cocpo e~ processos esplr,ho~
das \'trtebta~
emerg~nda dos nervos espinais (Figura 4.3). Os ltgamemos
lontr Rt>p,oduzldl de K!/ff\W'r .and Woodl'la!l 194S Pt-.. phcn l ' l ~ denticulados Selo elementos de fixaçA<> da medula e Impor-
ln U-'l"\ W 8. S,),Ul°tdt'fs 4-nd Co tantes pontos de referência em cenas drurgia.s desse órg~o.

• Capitulo 4 ANtonúM.aao!(6piad,Medlüupn,alt ~SMlmollllrios 39


A
• e

1..
.

1.

Modelo teóoco para ei<pliear as moei.fie.ações da topografia -..enebromedular durante o desenvotwnen10. Em (A). 111uaçJo ob-
Flg11r114.S
~·ada aos Quatro ~ s de vida lntrauteriN; em (C). s1tuaçck> ob~adJ oo n.1~1memo; em (B) s11uaç~ inteirnedtária

r,i,.11 4,1 Ca,ac1eris11cas dos espaços meníngeos da mrouta


Com relação ~s meninges que envol\lem a medula. exls•
em u~ cavidades ou ~paços: epklura).' subdurol, e suboracnói·
dro (Figura 4.3). Oespoçocpidu1ol, ou f!'Arodurol, situa-se entre Entre a dur,1-1raJtc'l' e Tecido 3d poso
[r>ldural
a dura•máter e o pe~ teo do canal vertebral Contém tecido o J►,:rt65t.?O d~ canJI e p'e,o venoso
(extraduroll)
ad poso e um grande numero de veia~ que constituem o ploo vt":ftebral ..eftebral imerno
\ noso ve,rebrol lnremd {Figura 4.3). O esfXJ(o subduro( situa-
do entre a dura-máter e a aracnolc:le, ê uma fenda esueita coo• Espaço ,,'rtuJI entre c1
PcquenJ quJnttdade
rendo pequena quantidade de llqukio, suftclente apenas para Subdur.tl dura•mâter
de Hquldo
evitar a a~nda das paredes. Oespaço suba!OCnóideo ê o mais eaaracno,de
Importante e contém uma quantidade razoavelmente grande Entre a aracnoide liquido cerebrosp,nal
de t;quído cerebrospnol ou 1/qUOI. As caracteristicas desses tres SubaracrÕldro
ea~nútet (OU lrquo,)
espaços são slnteti1,adas na TatMla 4.1.

2' As\'(..:/\~~ plexo~ ~prorid.Js de V•Mib\ e 1~m COll'IUnlCa(~ com ,H \'N\ dn caV'IC1ldc1 tOl.\t,ca. at:>doml\ll e ~,ca Aumentos d~ p,e.\\Jo
~sal e.a~ P,OVOC.ldos. po, •('ITlplo. pel.) IOS'oe IITt~!.,.m o WIY)W no V'fll tÔO do ~xo ~ rttbli!I [l~ ,n·. ef1,)o do flu;o ~no!,() e, pl Cd il d«\~
m,oaç~ p..)f.a a colur\J ,...,,rtbloi ou p.11a a medula. oo WK(õe\ e met.l\td~S ca""er~ a Põrt r de P,OCelSO\ kxàJ1i.,dos piim 11\omeou.i n a s ~
10,koca. abdQrl'lirol e~ Eue rneutW1'IO ~ •~~➔ pd.l °'°''HIC de ~ s tw1ológ1G<1\ c.tu',,)ó.l \ Pt->!J druffl11n.iç.\Od-><M» d!! Sei IIOfJOtru
momonl, princ10,1lm.-mr ru !flf'dvl_J ~\1>11\c'J~ m.l\ tambml rm ov11as 1fl'il\do SllC. LMõt-; rnJ,.s 9tavd oc01 rtm fl\JJV'ldo o prÔO!IO ~ m9a p.va o SNC
e pOc um 91; ~ nútllefO "" o-;01 em u,n só lu<Jlt (lnttOOt'm P11t'II-' JUi. Ne\lro,c,hbto1oornl.l\d.Pl,u1 ~ •fdótlJ 1997.7. 649--<.61)

40 NNowtorw fllldolwl
7. Correlações anatomodinkas

7.1 Aexploração dfnica do tspaço subaracnóldeo e) Introdução de substâncias que aumentam o con-
traste em exames de Imagem. visando ao d.ag-
O saco durai e a a,acno,de que o acompanha termi-
nóst,co de processos patológicas da medula na
nam em S2, ao pJS50 que a meduld termina mais acirna.
técnica denominada m,e!O<Jrono.
em L2. Entre esses dois nlve1s, o espaço subaracnóideo é
d) lntroduç.x> de anest~slcos nas chamad:is õneste-
ma·or, contém ma,or quantidade de hquor e nele se en• s,as raquidumas. como será visto no próximo item
conuam apenas o filamento terminal e as raízes que for-
e) Adm1nlsrraç~o de medicamentos.
mam a caud:1 equIna {Figura 4.1 ). N~o havendo perigo
de les.\o da medu'a, essa área é ideal para a lnuoduçAo de 7.2 Anestesias nos espaços meningeos
uma agulha no espaço subJracnóideo (Figura 4.6). o que
A lntroduç.\o ~ anestésicos nos espaços meníngeas
ê fe,to com as seguintes final,dades:
da medula. d0 modo a bloquear as raízes nervosa~ que os
atravessam. constitui procedimento de 1otina na p1át1ea
mtk11ca, sobretudo em ciru,g.a_s das extremidades inferio-
res. do pe1ineo. da cavidade pélvica e em algumas cJrurgias
abdominais. Em geral, são feitas anestesias rl)quidlanas e
1 anestesias epidurais ou peridura,s.
l2
..
.-:
7.2.l Anestesias tdqu,dian.is
~
\ .~,1
...
, Nesse tipo de anestesi.l, o anestthlco é Introduzido no
espaço subJ1acnÓldeo por mela de uma agulha que pene-
tra no espaço entre as vénebras L2·L3. l3·L4 (Figura 4.6)
ou L4·l5. Em seu trajeto, a agulha pe,fur.:i sucessivamente
apele e a rela subcu1ânea, o l,gamemo mrerespinhoso, o li-
gamento amarelo. a dura-má1e1 e aarõCno!de (Figura 4.3).
Cett,fica•se que a 39ulh3 Jting,u o espaço subaracnóldco
pela presença do hquor que goteja de sua elnremidade
S2
7.J 7 Ane\tesiJ\ ep!durals (ou peridurais)
Em geral, são feitas na região lombar, introduzindo-
-se o anestésico na espaço eplduial, onde ele se d1fund
e atinge os fo1ames Intervertebrais, pelos quais ix1ssam
as 1alzes dos nervos espinais. Confirma-se que a poma ~
agulha atingiu o espaço epidural quando se observa súb,ta
bJlll.1 de resfstMcia. Indicando que ela acabou de perfu·
raro l.gamento amarelo. Essas anestesias n.ío apresentam
f1vura 4.6 Punção lomlw roe paço sub.Jrac:nôideo entre LJ e l4 alguns dos 1n<:onvenientes das anestesi.)S rilqu1d1Jnas,
como o af)J1ecimento frequente de dOfes de cabe<a. que
a) Retir3<b de hquOf para fins te1a~ut1Cos ou ded 39• resultam da perfvraç3o da dura-máter e de vazamento de
nóstico nas punções lombares (oo raquldianas) l1quor. Entretanto. elas e.~1gem habI1ldJde técníca muito
b) Medida da pressAo do liquor. maior e ho,e são usadas quase somente em panos.

• Capitulo 4 ÃIWOIIM MMlol<óplu d,Mtdul, bpiNI r OS SM lMd\611o! 41


atomia Macroscópica do Tronco Encefálico
do Cerebelo

- Tronco encefálico
demarcaçclo nítida entre medula e bulbo. Considera-se que
o limite entre eles está em um plano horizontal que passa
•- o encef~llco Interpõe-se entre a medula e o
logo acima do filamento radteular mais cran,al do 1° nervo
·~o s Iuando--se vemralmente ao cerebelo Na sua
cervical. o que corresponde ao nível do for ame magno do
• ~jo entram corPoS de neurônios, que se agrupam
osso occipital. O limite supe11or do bulbo se faz em um sul·
-~ e fibras nervosas, que, Por sua vez. se agrupam
co horizontal visível no contorno ventral do órg~o. o sulco
• 0t:nomin.ados uaros. fosck ulos ou lemniscos. Esses
bulboponrino, que corrcsPonde :i margem lnfelior da ponte
s aa estrutura Interna do tronco enccMllco podem
(Figura 5.1 ). A superfície do bulbo é percorrida longltu-
• onados com relevos ou depres~s de sua super-
os .1...J~ devem ser iden11ficados pelo aluno nas peças d1nalmente por sulcos que continuam com os fülcos da
:.Js com o auxilio das figuras e das descrições apre•
medula. Esses sulcos delimitam as áreas anterior (ventral),
- -·~..._,_ neste capitula. O conhecimento dos principais lateral e posterior (dorsal) do bulbo que. vistas pela superfí-
c..o,,,,;...,· ~ d3 superílc,c do tronco encefálico, como aliás de
cie. aparecem como uma continuaç.lo direta dos (unículos
- ~ stema nervoso central (SNC). é muito importante da medula. Na área ventral do bulbo, observa•se a fissu,o
• o es_ udo de sua estrutura e f1.mção.Muitos dos núcleos mediana ance,,o,, e de cada IAdo dela existe um_a eminén-
.l: · o encefAllco recebem ou emitem fibras nervosas cia alongada. a pirômide. formada por um feixe compacto
~ :Tam na conS1ituiçáo dos nervos cranianos. Dos 12 pa- de fibras nervosas descendentes que ligam as áreas mo-
- nervos cranianos, dez fazcm conex~o no tronco en- toras do cé1ebto aos neurônios motores da medula, o que
-o A ldent1ficaç~o desses nervos e de sua emergtncia sera estudado com o nome de trato cortlcosp,nal. Na parte
X ··ooco encefálico e um aspecto imPortante do estudo caudal do bulbo. fibras desse trato cruzam obhquamente
segmento do SNC. Conv~m lembrar, entretanto. que o plano mcdtJno em feixes interdigitados. que obliteram
- 1iempre ~ possível observar todos os nervos cranianos a fi~ura mediana anterior e constituem a decussação das
jS pe<;as anatômicas 1ot1nelras. pois fr~uentemente al- pirtJmides. Entre os sulcos lateral anterior e lateral posterior.
guns são arrancados durante a retirada dos encéfalos temos a área loreral do bulbo. onde c,e observa uma eminen~
O tronco encefálico se divide em· bulbo. situado na ela oval. a ol,va, formada por uma grande massa de subs·
porç.\o caudaJ; mesencéfalo, siluado aan1a!mente: e Ponte. tancia cinzenta. o núcleo olivar inferior, situado Jogo abai o
s tuadcl entre ambos. A seguir. será fe 10 o estudo da morfo- da superilcie. Ventralmeme ã oliva emergem. do sulco la-
log1a externa de cada uma dessas partes. teral anterior. os filamentos radicula•es do ne,1.,0 hipoglos-
so. XII par craniano. Do sulco lateral Posterior. emergem os
- - . -- filamentos radiculares. que se unem para formar os nervos
gfoHofu,íngeo (IX par) e \'0()0 (X par), além dos filamentos
O bulbo, ou medula oblonga. tem a forma de um tron- que constituem a raiz craniano ou bufbor do nervo oceu6110
co de cone. CuJa ex(lemidade menor cont ,nua caudalmente (XI f)õr), a qual se une com a raiz espinoL proveniente da
com a medula espinal (Flgur1 4.1 ). ~o existe uma linha de medula (Flgur1 5.1 ).
A metade caudal do bulbo. ou f}OIÇÔO (C(hOdo do bul-
bo, é percorrida por um estreito canal, contlnuaçAo direta
do canal central da medula. Esse canal se abre para forrNr Ponte é a parte do tronco encefóllco Interposta entre
o rv, nrrlculo. cujo assoalho é. em parte. comtltuído pela o bulbo e o mesenc~falo. Está situada ventralmente ao ce-
melàde rostral, ou porçôo obeflo do bu!bo (Figura 5.2). O rebelo e rel)Ofila sobre a parte basilar do osso occipital e
su'co mcd ano posre,iol termina a me,a altura do bulbo. em o dorso da sela turca do esfenoide. Sua bJse, s11uada ven•
, ,nude do afastamento de seus láb!os, que conmbuem para tralmente. apresenta estriação uansversal em virtude da
a ÍOfmaçck> dos llmnes laterais do N ventrfculo. Entre ~se presença de numerosos feixes de fibras transversais que a
sulco e o sulco lateral posterior está situada a óreo posre- percorrem. Essas fibras convergem de cada lado para formar
rro, do bulbo, continuação do runirulo posterior da medula um volumoso feixe. o pttíunculo cerebelo, mff110, que pene-
e. como este, drvidtda em fosclcu/o grácil e fascículo cunei- tra no hemisfério cerebelar c0<respondente. No limite entre
fo,me pelo 11.1/co incerméd,o posreriot. Esses rasdculos são a ponte e o pedünculo cerebelar médio. emerge o nervo cri-
constttuídos por libras nervosas ascendente~ provenlentes g~mro, V par craniano (Flgur• 5.1). Essa eme,g~ncia é feila
dJ medula. que terminam em duas massas de substancia por duas raíz~. uma maior. ou 10,z sensitivo do nervo Cflg~-
cinzenta, os nucleos grãc,I e cuneiforme, situados na parle mro, e outra meno,. ou ro,z moco,o do ne,vo trigémeo.
rna1s oanial dos respectivos fascículos. onde determinam Perc()(rendo longitudinalmente a superfície ventral da
o ap.1recirnento de duas eminéncias, o rubérculo do nuclro ponte. existe um sulco, o sulco bos,lar (Flgur• 5.1 ). que aloja
grácil mediaimente, e o ru~rculo do nticleo cuneiforme. la- a oreMo bosdor (Figura 18.l).
te-ra!mente. Em vrrtude do aparecimento do N ventrlculo, A parte ventral da ponte é separada do bulbo pelo sul•
os tuberculos do nudeo grácil e do núcleo cuneiforme se co bulbopontino. de onde emergem de cada lado. a partir
afastam lateralmente como os dois ramos de um V e. de da linha mediana, o VI, o VII e o VIII pares cranianos (Figura
orma gradual, conunuam para cima com opedúnculo ce,e- 5, 1). O VI par, nervo abducenre, emerge entre o ponte e a
belor infcr,o,, formado pôf um grosso fo' e de fibras, que se pirâmide do bulbo. O VIII par, nervo \i?stibulococleor. emerge
t1etem dorsalmente para penetrar no cerebelo. O peduncu- lateralmente, próximo a um pequeno lóbulo do cerebelo.
lo cerebelar Inferior é d1vld1do em duas partes. A lateral, ou denominado flóculo. O VII par, nervo fadai. emerge medial-
corpo res11forme, conduz fibras aferentes proprioceptrvas e mente ao Vlll par, com o qual mant~m relações muito inti•
a medial, ou corpo Justarreit1forme, cariega fibras aferentes mas. Entre os dois, emerge o rnwo intcrmM,o, que é a raiz
e eforentes vestíbulares. Na Figura 5.l. o pedúnculo cere- sensitiva do VII p.1r, de Identificação ~s vezes d1f1Cil nas peças
belar inferior aparece seccionado transversalmente ao kldo de rotina. A presença de tantas ralzes de nervos cranianos
do pedúnculo cerebelar rn~lo. que ~ parte da ponte. em uma área relativamente pequena explica a riqueza de

COfPO mamilar - - - - - .... ..., .


Foua interpedunculor - - · -
Nervo oculomoto, - - - - __ --
.. --
.......

Pedúnculo cftfebral • - _ _,_._

lobo lempo,al
- --
-----<--........
Net'IO lfocleor • - - - - - • _
Raiz molol'o do V - -

Sulco bo,llor - _ - __ - Pedúnculo cMebelar médio


fo,ome cego - - - - - - - NeM> v1ntíbulococleo1
Flóculo cerebelo, - - - - •-- - Sulco bulbopontino
Pir6mide _______ ..,.\
- - - - - Plel(O COfioide

NeM> hipoglo.u o - -- - -• Nervo glouoforingeo


Oecunoçõo do, pir6mide1
1 ·------ Nervo'WOQO
I• nervo cervical - - - -
Fiuuro mediana antetio, - •----- Ne.rvo oce11Óf'io
Suko lateral anterior - '---Raiz cronlona do XI

Cerebelo ------ ,.___ R.oiz espinal do XI

F'9ur• s.1 Vl~ta ventral do tronco cncl'fáhco e paste do dienc~íalo

44 NNrowtomw F~ I
• r romas observados nos ca_sos de tumOl'es que acometem
~ SJ área, resultando na compres~o dessas ralzes e causan-
jo a chamada sfndrome do ôngulo pomo•cerebelor. 4.1 Situação e comunicações
A pane dorsal da ponte n3o apresenta hnha de demar- A cavidade do rombcncéfaJo tem forma losc\ngica e
CJ(M) com a parte dorsal da porçc\o abena do bulbo,
cons- ~ denominada quarto vencrlcu'o. situada entre o bulbo
~ tu ndo, ambas. o assoalho do N ventriculo. e a ponte, na porç~o ven1ral. e o cerebelo. dorsalmente

111 Vemíc:ulo

Co,pocolok> - - - - - - - - - - - ,
\
'\
\
r- - -
______ Tólomo
Cotpo colo10 (wpemcie de conel
\ \ 1 /
\ \ 1 / Porte loterol do ,upe,f icie
' \ 1 / , - - - do,.al do 161omo
'\ '\ 1 / / Porte medlol do wpenlcle
1
\ \ 1 / /1 / donol do tólomo
1
\ \ 1 / / Btoço do
\ \ 1 / , ---
\ \ 1 '1- ,/ / coliculo ,uperiof
\ )1 / / / .
/ I I Pvlvinor do tólomo
,
,' ." / / I
/
I
,' Corpo ge.niculodo
1
1 I I ,-- mediol
, / 1/ ,
I , I I
I I I , I Co,po geniculodo
I I ~
I , I
,,,,,,. ,,,"' lo1etol
I / ~
I _, ,,,,,,.
/ ,( ,t i,,"
Broço do coliculo
~
/ I
.,~-.;;::!- ,, ,"'"' lnfttti01

Suko loterol do
--- _ -- - -- - rnesenc.éfolo
--- __., '~.N M~ - ., ... .,,. ...
Coliculo , uperlo, -- - -
Glõndulo pineal - - - -______
- ... -- - --1--
.,,..
~

- - - ·1
.---

, ....
. ., - locu,.,ceru/ev,
_ - - " : Pedúnculo ce1ehelo, ,uperiof

Collculo inferior ---


---- -- ,,..-
vk ,,,,., ., ., ,Coliculo fociol
Nef'VO ITodeor
-----
-- 7- ,
.,,. .... .,,..---
...,.,.,.,,. ',/':'
/~
-"..--e, , ., I ,"'
I
I
,,,,""'
.,-'
.,,,,,,,,,
., "'
,.,,.,.,...-
_ Sulco limitante
V6u medular 1uperi01 _. - -

Sulco mediono --------z ---~


• - - 1
J#
- J.f~/',,.,"Jbenu,o
---
,;
.., "'\... ., .,,. _ - -
. , , __ .,,,.
.,,,,. ...--'- - - -
_ - Áreo vestibulor

loterol do rv ventrículo
,, ,,1 I
Pedúnculo ce1ebelor médio - - " / 1 __ TeJo co,ioldeo
fóveo supe,io, -------- / //
1
_____
--------Trigono do hipoglosso
...,--______
------
---Plexo co,ioide
, ,,,."'
Pedvnculo ,erebelor inferio, ---.L./
E,trio, medulore, do IV Yefltrlculo - - - -
-- ---- ;
---- -rll---
- - - - - - - - - - - T rigonodovogo
Fóveo infe,lo, - - - - - - - - - - - - - fl-
1
....... ____ __
~ - - Fu11lculo Jepat0111
- - - - - --- -

Óbe.x - - - - - - - - - - - - - - - - -----
Suko intermédio po,lefior - - - - - - - - -
-- --
' ........ .....
, ...... .... .....
1
.... ' - : - - -
- - - - - Áreo postremo

Tubérculo do nucleo cuneifotme

-- --
Sulco lotorol po11eriof ___________ _
- ' ..., Tubém,lo do núcleo grócil
Suko mediano po,terl« - - - - - - - - - - - - - - - - - - - foKkulo cuneiforme
----------- - - - - - - - - - fmckulo grócil

~ s.J Ví~ta dorsal do 110nco encef.1lieo e pane do d encéfalo

• : p 1ulo S ANtomi, M.aaos(ópiu do J,onco Cnafilico t do Cmbflo 4S


(Figura 7, 1). ContinuJ, na porção caudal. com o canal cen- sulco mediano. frequentemente existem finas cordas d:s
tral do bulbo e cranialmente com o oqueduro cerebral. cav1- fibras nervosas que constituem as esrr,os medulares do r,
d.lde do mesencéfalo pela quJI o N ventrículo se comun ca venrr,cu/o. Estendendo-se da fóvea superior em dueç!..
com o Ili ventrículo (Figura 8.S). A cavidade do N ventrícu- ao aqueduto cerebral, lateralmente ~ em,nência med .:
lo se prolonga de cada lado pa-a formar os recessos laterais. encontra-se o locus ceruleus. área de coloração um pouc~
hses reces~s se comunicam de cada lado com o espaço escu1a, onde estao os neurônios mais ricos em norad1eru-
subaracnóideo por meio das oberruros lotero,sdo IVventrlcu· l1na do encéfalo.
/o (Figura 8.1), também denominadas forama de LuscMa.
HA também uma oberruro med ano óo IV vemrícufo (forame 4.J Teto do IV ventrfculo
de Mdgend e), situada no meío da metade caudal do teto A metade cranial do teto do IV ventrículo é constttuid.!
do ventrículo e de visualização dific1I nas peças anatômicas por fina lamina de substancia branca, o véu medular SY·
usuais. P0< meio dessas aberturas, o liquido cerebrosp,nol perio,, que se estende entre os doís pedúnculos cerebell•
que enche a cavidade ventricular. passa para o espaço suba- res superiores (Figura 5.2). Em sua metade caudal, o teto
@cnóldeo (Flgura 8, 1). do N ventrlculo é consrnuído pela tela corloldC', estrutura
formada pela unlAo do epít~llo epen<J,mdr10, que reveste
4.2 As.soalho do IV ventrículo Internamente o ventrículo, com a pio-mdter. que reforça
O assoalho do N ventrículo lflgura 5.2) tem fo,ma lo· externamente esse epitélio. A tela corlo de emite proje·
$Ang1Ca e é formado pela parte dorsal da pome e da porção çóes irregulares, e muito vascularizadas, que se invaginam
aberta do bulbo. um,ta-se inferolateralmeme pelos pedún• na c.widade ventricular para formar o plexo coricide do r,
cuias cerebelares mferiores e pelos tubé1culos do núdeo venrric.ulo (Figura 5.2).
9ráe1I e do núcleo cuneiforme. Na porção superolareral, Esses plexos prodlJlem o lfqu•do cerebrospmol que se
lim1ta·se pelos pedunculos cereoelores superiores, compactm acumula na cavidade ventrkular; passando ao esp.1ço su•
feixes de fibras nervosas que, saindo de cada hemisfério ce- baracnóideo atra~s das oberwros lorero;se da abertura me-
rebelJr, íletem-se cranialrnente e convergem para penetrar dionadoNventrieulo. Através das aben uraslaterais pró ima;
no mesencefalo (Figura 5.2). o assoalho do N ventriculo do flóculo do cerebelo, exterioriza-se uma pequena porçM?
é percorrido ern toda a sua extensão pelo w lco med,ono. do p!exo corloide do N ventrlculo.
De cada lado desse sulco mediano, há uma emin~ncia, a
e-mintncio medial limitada lateralmenie pelo sulco l,mitonre. s. Mesencéfalo
Esse sulco, Já estudado a propósito da embriologia do SNC, O mesencéfa'o locahza-se entre a ponte e o dlencé•
sepa1a os núcleos motores. de11vados da lâmina basal e si- falo (Figura 2.11 ). E atravessado por um estreito canal
tuadosmed1almeme dos núcleos sensitivos derivados da~- o oqueduro cerebral (Figuras 5.3 e 8.5), que une o Ili ao
mina alar e locahzados na porçc\o lateral. Esse sulco se alarga rv venuiculo. A parte do mesencéfalo situada na porç.lo
para constituir duas depressões. as fóveas superior e Inferior. dorsal ao aqueduto ~ o teto do mesenc~folo (Figura 5.3)
situadas, respectivamente. "ªs metades craníJI e c.1udal do ventralmente ao teto, estAo os dois pedunculos ce,eb,o s
N ventrículo. Bem no melo do assoalho do N ventrículo, que, por sua vez, se dividem em uma parte dorsal. de pre-
a eml~ncia medial dilata-se para comt1tuir, de cada lado. domln~nc1a celular, o cegmemo, e outra ventral. formadJ
uma elevaçao arredondada. o cotfcuto foclol. formado por de fibras longitudinais, a bose do pedúnculo (Figura 5.l}
libra~ do n{'rvo facial que, nesse nível, contornam o núcleo Em uma secçAo transversal do mesencéfalo, v~-se que o
do nervo abducente. Na palle caudal da eminênckl medial, tcgmento é separado da base por uma área escura, a jLJbS·
observa-se, de cada lado, uma pequena área triangular de côneío negro. formada po1 neurônios que cont~m melan1·
vértice inferior, o rtlgono cJo nervo h poglosso, corresponden• na. Correspondendo â substc\noa negra na superfície do
te ao núcleo do nervo h1poglosso. Lateralmente ao uígono mesencéfalo, existem dois sulcos longltud,nals: um lateral,
do ne-rvo h•pog!osso e na porç~o caudal quanto à fóvea in- sulco lateral do mesenc~folo: e outro medial, sulco med oi
feoor, existe outra área triangulJr, de colo,açc\o ligecrameme do pedúnculo cerebral. Esses sulcos marcam. na super fic1e.
acinzentada, o rrlgono do nervo \'CJ9(). que co,responde ao o lim·te entre a base e o tegmento do pedúnculo cerebral
núcleo doMI do vogo. Na porçdO lateral ao t1igono do vago. (Figura 5.l}. Do sulco medial, emerge o nervo oculomoro•,
h.'I uma estreita crista obliqua, o funrculus seporans, que se· Ili par craniano (Figura 5.1 }.
para esse trigano da área pomema (Figura 5.2), regi~o re•
ladonada com o mecanismo do vômito desencadeado por S.1 Teto do mesencéfalo
estímulos químicos. Em vista dorsal, o teto do mesenc~falo apresenta quatro
Lateralmente ao sulco limitante e estendendo-se de emi~ncias arredondadas, os colfculos superfotes e inferiores
cada lado em direç.\o aos recessos laterais, há uma gran• (Figura 5.2). Caudalmente a cada coliculo inferior. emer·
de ârea triangular, o dreo vernbulor. correspondendo aos ge o N par craniano, nervo crocleor, muito delgõdo e por
nücleos vestibulares do nervo vest,bulocodear. Cruzando is~ mesmo arrancado sem d ficuldades com o manu~10
transversalmente a área vestibular para se perderem no das peç,1s. O nervo troclear, único dos pares cranianos que

46 NfurNJWtomi.t fl l ~
~ .,,. - - - Aqueduto genicu'odo loreral pelo braço do col/culo supeno, e faz parte
TETO .. _./~. :Tq,_-::-:<~- cer.brol da via óptica. Ele tem parte do seu traJeto escondida entre
o pulvin01 do rólomo e o corpo ge,nlculado medial, O corpo
/ 1 ., Suko loterol geniculado lateral nem sempre é fâc,I de ser Identificado
,. \. do ffleMflttfolo
PEDÚNCULO nas peças; um bom método parai enconuá-lo consiste em
TEGMt - ) __ Sub11ànclo
CERURAl procurA-lo na extremidade do rroro óp11co.
~ negro
- /· -y " S.2 Pedúnculos cerebrais
Sulco medial do / '-------· Nervo
pedúnculo cetebtof- --- oc-ulomotor Vistos dJ perspectiva ventral, os pedúnculos cerebrais
aparecem como dois grandes feixes de fibras que surgem
Figura S.J Secç.\o transversal do mesenc fctlo. nJ borda superior da ponte e drvergem cranlalmenle para
penetrar fundo no cérebro (Flgun1 s.1 ). Delimitam, assim.
emerge dorsalmente. contorna o mesencéfa1o para surg:r uma profunda depressão triangular, a fossa mrerpeduncular.
na porç~o ven1ral entre a ponte e o mesencéfalo (Figura lmmad.l anteriormente por duas eminências pertencentes
5.2) Os coliculos se ligam a pequenas eminências ova,s do ao diencéfalo, os corpas mom1/ares. O fundo dJ fossa inter-
diencéfalo, os corpos geniculados. po, meio de estruwras peduncuiar apresenta pequenos onfldos para a passagem
alongadas que sAo feixes de fibras nervosa~ denominados de vasos e denomina-se .subsrC,ncio perfumda posterior.
biaços dos colículos. O calículo inferior se liga ao c01po ge- Como já foi exposto. do sulco longitudinal situado na face
nlculodo med,ol pelo b,a,o do coliculo inferlOr e faz parte da medial do pedünculo, sulco medial do pedúnculo, eme19e de
via auditiva (Figura S.2). O col/culo superior se llga ao co,po cada lado o nervo oculomor01 (Figura 5.1 ).

B - Anatomia macroscópica do cerebelo


sulcos mais pronunciados, as fissuras do cerebelo. que
delimnam lóbulos, cada um deles podendo conter várias
O ce1ebelo (do latim, pequeno cérebro) fica situado folhas. Os sulcos, as fissuras e os lóbulos do cerebelo. do
dor!".almente ao bulbo e à ponte. contribuindo para a for• mesmo modo como ocorre nos sulcos e giros do cérebro.
mação do teto do IV venuiculo Repousa sobre a fossa ce- aurnentdm comider,-ivelmente a superficie do cerebelo.
1ebelar do osso occiplta1 e está separado do lobo ocCJpital sem grande aumento do volume. Uma secção horizontal
do cérebro por uma prega da du1a~máte,, denominada do cerebelo (Figura 22.S) dá uma ideia de sua organiza·
rentôtio do cerebelo. Liga-se à medula e ao bulbo pelo pe· ção Interna. Vê-se que ele é consrnuldo por um centro de
dúnculocerebelarinferiore à ponte e ao me~ncéfalo pelos substância branca. o corpo medular do cerebelo. de onde
pedúnculos cerebela1es rn~d,o e supe11or. respectivamente hrad,am as lôm,nos brancos do cerebelo, revestidas cxter·
(Figuras S.2 e 5.4). O cerebelo é lmponante para a ma- namente po1 uma fina camada de substância cinzenta.
nutenção da postura. equ1librlo, coordenação dos movi~ o córtex cerebelo,. Os antigos anatomls-tas denominaram
mentes e aprend1ü1gem de habilidades motoras. Embora ºárvore da vida' a imagem do corpo medular do cere-
tenha essencialmente função motora, estudos recentes belo. com as lãmlnas brancas q1Ue dele Irradiam (Figura
demonstraram que est~ também envolvido em algumas S.S), uma vez que lesões traumáticas dessa região, po1
funções cognitivas. As funções e conexões do cerebelo se· exemplo. nos campos de batalha. culminavam sempre na
ráo estudadas no Capítulo 22. morte. Na realidade. a morte nesses casos resulta do;1 lesão
do assOãlho do 4° ventriculo, situ.--ido logo abaixo, e onde
2~ Alguns upe<1os an1tamtcos · _- . _ - · . ·_ .:---• estilo os centros respiratório e vasomotor. e não da le-
Anatomicamente. d istingue-se no ce1ebelo uma por· são do cerebelo que. aliás, pode ser totalmente destruído
çáo ímpar e mediana, o verme ligado a duas grandes mas· sem causar morte. No Interior do corpo medular, existem
sa.s laterais, os hem,sférios ce,ebelores (Figura 5.6). O verme quatro pares de núcleos de substAncla cinzenta (Figura
é pouco separado dos hemisférios na face do1sal do cerebe- 22.S), que são os núcleos cenr,aís do cerebelo: denteado:
lo. o que não ocorre na face ventral, onde dois sulcos bem interpósito, subdividido em emboliforme e globoso; e o
evidentes o separam das partes laterais (Figura S.4). fastiglal. Os nücleos centrais do cerebelo têm grande im-
A superfície do cerebelo apresenta sulcos de direção pon~nc,a funcional e clínica Deles, saem todas as fibras
predominantemente transversal, que delimitam lâminas nervosas eferentes do cerebelo. Eles serão e5tudados no
finas, denominadas folhas do cerebelo. Existem também Capítulo 22.

• Capitulo 5 wto.mi, ~ dom o bufâll<o e do e~ 47


Culmen
1"
,,
Véu medulor superior
Ungulo /
lóbvlo .emllunor ', ~✓ / Pedúnculo cet.belor superior
superior _ .. Pedúnculo c«ebelor médio
'
'' _ - Pedúnculo cerebelo, inferior

Fin ura _
horizontal - - ~· Fkxulo
✓✓
lóbulo semilunor Inferior


/
lóbulo bivenlre I \
I
I \
\ ''
Pedúnculo do
Nódulo lhulo
fl6c:ulo

figura 5,4 Vista ventral do cerebelo ap6s wcçào de» pedúnculo~ cerebelare'\.

Telo mesencefólico _
- ---..- -
- - - _
..- _. Cu/,,,.,,
f iuuro primo

Váu medulor superior _ •• -- ✓ -- -- -- -Declive


- fi_u uro põs,clivol

-----
f lu ura pré<entral - - --
- _ _ -fo//um

Lôbulo cenrral - -
rv ventrículo -
Ungula _ _ _
-- - - Fissura hot-izontol

- fluuro pré,piromidol
Tela e ple.<o corioide < - - - - Pir6mlde

Nódulo - - -- -
Fiu ura posteroloteral - - - - f issura pó"9iromidol
Abertura mediono do rv /
- - - - - - Hemislé:fio cerebelo,
ventricuJo
Ca na l central do bulbo - -

Figura 5.S Secçbo S3CJ1tal med Jna do cerebelo

lóbulos: nódulo. flóculo e tons1la; e as fissuras posterolatera,s


e prima. O nódulo é o último lóbulo do verme e fica situado
Os lóbulos do cerebelo recebem denom,naçôes dife• logo abaixo do teto do N ventrículo (FiguR 5.5). O flóculo(!
rentes no verme e nos hemisf~rios. A cada lóbulo do ver· um lóbulo do hemisfério. alongado transversalmente e com
me, correspondem dois nos hemisférios (FlguR 5.6). ~o folhas pequenas situadas logo atrás do pedúnculo cerebe•
ao todo 17 lóbulos e oito fissuras. com denominações pró• lar Inferior (FiguR 5.5). Liga-se ao nódulo pelo pedúnculo
prlas (Figura 5.1 ). Entretanto, a maioria dessas estruturas do flóculo. comtltulndo o lobo floculonodu'4lr. separado do
não tem Isoladamente imporrancia funcional ou clínica e corpo do ce1ebe10 pela fissura pos1erolate1al (FlguR 5.5). O
nc\o precisa ser memor,zada. embora conste nas figuras. ~o lobo OocutonodulJr eimportante por ser a p.1rte do cerebe•
Importantes e devem ser ident1ÍICddos na_s peças upenas os lo responsável peta manutenç~o do eqwlib110.

48 NNo.atwtomw fll!ICioNI
Verme
Aio do lóbulo central _ _
------
Porte onlefiof do lóbulo quodtongulor --------- - - lóbulo central
Cufmen
Fiuufo p imo - _
-----
Porte postel'iof do
lóbulo quadrangular- - - ..,. --- -- --Declive

Fluuro pói -d iYOI --


-- -
lóbulo semllunor , uperlOf
----- - Folium

Fiu vro horizontol - - - - - _ - - lóbulo s.m,lunor inferior

Hemtiféfio cerebelo, •~uerdo Hemi, fe,io cerebelo, direito

figwa S.6 V,sta d01sal do ce1ebelo

As tons.las sc\o bem evidentes na face ventral do cere-


belo, pro;etando-sc mediaimente sobte a face dOfSDI do bul-
bo (Flgu,. 5.4) Essa relaçc\o é lmpo,tante, pols, em cenas
SituclÇôes. elas podem ser deslocadcls caudalmente, forman-
do uma hemia de tons1la (Rgu,. B.7) que penetra no f0ta-
me magno. compomindo o bulbo, o que pode ser fatal. Esse
tema será tratado com maisdetalhes no Cap tu'o 8, item 331.

Os lóbulos do cerebelo podem ser agrupados em estru-


turas ma,ores. os lobos separados pelas fissuras posterola1e- lobo
floculonodulo1
ral e prima Chega.-se. assim, a uma drvislo transversal e;n
que a fissura posterolateral divide o cerebelo em um lobo flóculo
floculonodufar e o corpo do cerebi!Jo. Este. por sua vez. é dr•
vld,do em lobo anterior e lobo poste1t0r pela fissura prima A9vf1I S.7 E~ma da d ·1wo ana:õmiC.it do ceretx-!o
tflgun 5.7). Temos. ass,m, a seguinte d,v,sc\o:

lobo a ntNior
• 1os .<t1QIC&areS-:::
S.-::- Peduncv -.....L-1.
::.-- ~-·--=--::=
- ~ -::..------,·

SAo três os pedúnculos cerebelares - superior, méd,o


COlp() do CC!~belo
e inferior -. que aparecem secoonados na.s Flguru 5.2
Oi\i.~ cm lobos lobo ~ ter .01 e 5.4. O pedúnculo cerebelar superior liga o cerebelo ao
mesencéfalo. O pedúnculo cerebelar médio é um enor-
me feixe de fibras que hga o ce,ebelo ~ ponte e const1tu,
lobo floculor'odul.at a parede dorsolateral da metade cranial do rv ventrkulo
(Figura 5.l) Considera-se como ltm1te entre a ponte e o
pedúnculo c rebelar médio o ponto de emergênoa do
Existe também uma d1vi~ longitudinal em que as par- nervo trigémeo (Figu,. 5.1 ) O pedúnculo cerebelar lnfe•
tes se dispõem long,tud.nalmente e que ser~ de~r1ta no rior liga o ce,ebelo ~ medula.
Cap tulo 22.

• úp1tulo 5 ANtOl!li4 ~6pk) do llOnCO CnafJlico tdo Cffltlflo 49


Anatomia Macroscópica do Diencéfalo

os dois tálamos e. po, conseguinte, atravessando em pon-


te a cavidade ventricular, observa-se frequentemente uma
O d,encéíalo e o telencéfalo formam o cérebro. que cor-
t!ílve de substanciJ c,nzenta, a adf!lfnda ,niertafómka, que
'i..'5ponde ao prosencéfalo. O cérebro é a P<){ç-Ao mais de-
aparece seccionada na Figura 7.1 . e pode estar ausente em
n10Mda e mais importante do encéfalo, ocupando cerca
30% dos Indivíduos.
.,.,. ~ da cavidade craniana. Os dois componentes que
o ormam, d.encéfalo e telencêfato, embora intimamente No assoalho do 111 ventrículo, dispõem-se, de diante
j'lidos. apresentam características própnas e, em geral, ~o para trás, as seguintes formações (Flgur-a 23.1 ): qu,asma
~ ·udados em separado. O telencéfalo se desenvolve enor• óptico; inlund,oub; túbet cin~11.'0: e corpos momrta,es, perten-
rr~mente em sentido lateral e posterior para comt11uír os centes ao hlpotc\lõmo.
hemMétios cerebrais (Flgur• 2.S). Desse modo, encobre A parede poste11or do ventriculo, muito DeQuena. é for-
~1Jc1se completamente o d1encMalo, que permanece em sl- mada pelo epltálamo. que se localtZã acima do sulco hipo-
tw çJo lmpJr e mt.~iana. podendo ser visto apenas na face talAmlco. Saindo de cada lado do epitálamo e percorrendo
"'e11or do cérebm. O d encéfalo compreende as seguintes a par te mais alta das paredes laterais do ventrículo. M um
p.1rtes: rálarno, h pocdlamo, epll(fümo; e subrdlomo, tod,as foi e de fibras nervosas. as escnos medulares do cáfomo. onde
em rel3çào com o Ili vemrlculo. E. pois. conven•ente que o se lnsert? a rela cor,oidt. que forma o teto do III ventrlculo
estudo de cada uma dessas partes seja preced,do de uma (Flgur-a 5.2). A par111 d.l tela coriolde. invaginam-se na luz
aescrlç-ào do 111ventrículo. ventricular os plexos corioides do Ili \lenukulo (Figura 7.1 ).
que se dispõem em duas imhas paralelas e são contínuos,
através dos respectivos forames interventriculares. com os
plexos cono1des dos ventriculos laterais.
A cavidade do dlenc~íalo é uma estreita fenda ímpar e
A parede anterior do Ili ventrículo é formada pela
mediana. denominada Ili ventrfculo, que se comun:ca com
o IV ventrículo pelo aqueduto cerebral, e com os ventrícu- IAmlna terminal, fina l~mina de tecido nervoso, Que une
los laterais pelos respectivos forames lnrNvent11culores (ou os dois hemisférios e dispõe-se entre o quiasma óptico
de Monro). e a comissura ante1101 (Figura 7 .1 ), A comissura ante·
rior, a l.\mina terminal e as partes adjacentes das paredes
As Flgu~,S S.2 e 1.2 dJo uma ideia da SlllJà(AO e da
laterais do Ili ventrículo pertencem ao telenc~íalo, pois
forma d~se ventrículo. Qu:rndo o cérebro é seccionado no
plano sa91tal mediano, as paredes laterais do Ili ventrículo derivam da par te central n~o invaglnada da veslcula te•
lencefAlica do embri~o.
são expo!.tas amplamente (Rgura 7.1 ). V~r1fica-se. ent~. a
e istl'nc1a de uma dep,essâo. o surco h1potalômico. que se
~ tende do aqueduto cerebral até o ío,ame interventricular.
As porções da parede situadas acima desse sulco perten- Os t~lamos são duas massas vo1umos.3s de subHAncia
cem ao ~lamo. e as situadas abaixo. ao h1potAlamo. Unindo cinzenta. de forma ovoide, dispostas uma de cada IJdo na
porção laterodorsal do diencéfalo. A extremidade anterior d) lnfundíbulo (Agura 23. 1) - é uma formJçAo ner•
de cada tc\lamo apresenta uma eminencia. o rvbbculo an· vosa em forma de funil, que se prende ao túbef
rerior do tólamo (Figura 5.2), que participa na delimita• crnéreo. A extremidade superior do inf undtbulo d -
çAo do forame Interventricular. A exuemIdade posterior, lata-se para constituir a emintnc,o mediano do rúber
consideravelmente maior que a anterior, apresenta uma cinéleo, enquanto a sua extremidade Inferior conti·
grande emlnênc,a, o pulvino,. que se projeta sobre os cor- nua com o processo lnfundlbular, ou lobo nervoso
pos genlculados latert1l e medial (Figura S.2). O corpo gc- da neuro-hipófise. Em geral, quando os encéíal~
niculado medrai faz parte da v,a auditiva; o lateral, da via sAo retirados do crc\nto, o lnfundibulo .se rompe.
óptica. e ambos são considerados por alguns autores uma permanecendo corn a hipófise na cel.1 1urca dJ
drvi~o do diencéfalo denominada metotólomo. A porçAo base do cr.\nio.
lateral da face super,or do tólamo (Figura 5.2) faz parte do O hipolálamo é uma das áreas ma,s importantes do cé-
assoalho do ventrículo lateral. sendo, por conseguinte, re- rebro. regula o sistema nervoso autónomo e as glc\ndula_s
vestido de ep11élio ependimJrio; a face medial do tdlomo endóuin,1s e é o p11ncIpal responsável pela const~nc,a do
forma a maror parte das paredes laterais do Ili venu iculo meio interno (homeostase).
(Figura 5.7).
A face lo reral do rdlamo é separada do telencéfalo pela
cópsula inte,na. compacto feixe de fibras que lrga o cór·
tex cerebral a ccnuos nervosos subcortica s e só pode ser O epítálamo ltm,ta pcmer10rmente o Ili vl'ntriculo, acI•
vista em secções (Figura 32.5) ou dissecações tFlgu~ ma do sulco h1potalámico, Já na transição com o mesen-
30. 1) do cérebro. A face inferior do tálamo conunua com cêfalo Seu elemento rna,s evidente é a gldndula pineal
o hipotAlamo e o subtálamo. O tAlamo é uma Arca mui- ou epifise, gltlndula endócrina ímpar e mediana de forma
to importante do cérebro. relacionada sobretudo com a plriforme, que repousa sobre o teto mesencefâlieo (Rgura
sensib,hdade. mas tem também outras funções. que serAo 5.2). A base do corpo pineal prende-se antenormente a do,s
estudadas no Capítulo 23. feixes 11ansvcrsals de fibras que cruzam o plano mediano, a
com,ssura posrerior e a comissura das ho~nulos (Figura 7.1)
4. Hlpoülam·o A comlssura posterior situa-se no ponto em que o aquedu·
to cerebral se liga ao Ili ventrículo e ~ considerada o limite
O hrpotáldmo é uma área relatrvamen1e pequena do d.en-
entre o mesencéfalo e o diencNalo. A com,ssura das habê•
cêfolo, ~tuada abaixo do úfümo. com lmpo,tantes f\Jnçôes.
nulas situa-se entre duas pequena5 emin~ncl<1s triangulares.
relaoonada~ ~etudo. com o controle da atividade visceral.
os rrígOl'IO> do ha~nulo (Flgur• S.2), situados entre a gl~n-
A aná'.ise funoonal do hipotálamo ~rá feita no Cõpitulo 21 ,
dula pineal e o tálamo; continua anteriormente. de cada
Juntamente com o estudo de sua estrutura e cone'<ôes.
lado. com as emíos medulares do tólama A tela corioide do
O h1potálamo compreende estruturas s,tuadas nas pa•
Ili ventrlculo insere-se lateralmente nas estrias medulares do
redes lcltera,s do Ili ventrículo, abaixo do sulco h1po1.al.\mico,
tálamo e, na porção posterior, na comissura das habênulas
além das seguintes formaçôcs do assoalho do Ili ventrículo.
(Flgu~ 7.1). fechando, assim. o teto do Ili ventrículo. As fun·
visíveis na base do cérebro (Figura 7 .8):
ç6es da glândula pineal e de seu hormônio, a melJton,na
a) Corpos mam,lares {Figura 7.8) - são dua~ eminên- serão estudadas no Capítulo 23.
cias arredondadas. de subst~nc_ia cinzenta, eviden-
tes na parte anterior da fossa interpeduncular.
b) Quiasma óptico (Figuras 7.8 e 23.1 ) - localiza-se
na paHe anterior do assoalho do Ili ventrículo. Re· O subtófamo compreende a zona de transição entre
cebe as fibras dos nervos ópt1Cos, que ai cruzam em o diencêfalo e o tegmento do mesencéfalo. É de d1flc1I
parte e continuam nos tratos ópticos que se diri- v,sualizaçáo nas peças de rot,na. pois náo se relaciona
gem aos corpos gen1culados laterais.. com as paredes do Ili ventrlculo, podendo ser observado
c) Tuber cinéreo (Figura 7.8) - é uma ~rea ligeíramen· com mais fac,lidade em cortes frontais do cérebro (Flgu-
te Cinzenta. mediana. situada auás do quiasma e r• 6.1 ). Verifica-se, então, que ele se localiza abaixo do
dos tratos ópttcos, entre estes e os corpos maml· tálamo, sendo limitado lateralmente pela cApsula Interna
lares. No túber clnéreo, prende-se a hipófise, por e mediaimente pelo hipotálamo. O subt~•amo tem fun-
meiO do lnfundíbulo. ção motora.

52 ~tomilkmdaNI
Fiuuro longitudinal do c.érebfo
- - - - - -Fórna

Corpo c.oloJO - - - -
- Porte lote<ol do face
superior do lálomo
Pane c.entrol do
ventriculo lcnerol - - - __ Porte mediol do face
Wf)ef ÍOf do '6lomo

Plexo co,ioide do
ventrkulo loterol

Fin ura tronsverJO


do cérebfo ---
Eitrio medular do lólomo
- - - - - Hipolólomo

/
/
Terceiro ventricu - - Núcleo 1ubl0lõmico

Sublólomo - - - _
- - - - Bowt do pedúnculo
cerebral
,,,,,
Fouo lnterpedunculor - - ✓
-· ... - - - - Base do ponte

RguH 6.1 Secçoo fr0"tal cio c~c-blo passando pe,'.o Ili ,entricdo

• Cap,tulo6 Arwlorni.l ~ dol>lfflctf.io 53

-~,.-
_.,.-- --~-
-· ~
~~ ~--- ~ ~ - ~ - - - · --
Anatomia Macroscópica do Telencéfalo

1• Gtn,rifldides diodo-se em tres ramos: oscendmre;onrerior;e pos-


ter,or(Figura 7.5). Os ramos ascendente e attterlor
O celencéfalo compreende os dois hemisférios cere-
sAo curtos e penetram no lobo frontal; o ramo pos·
brais e a IAmina terminal situada na porção antenor do Ili
terlor é muito mais longo, dirige-se para trás e para
,entriculo (Figura ll.1 ).
cima, te,minando no lobo parietal. Separa o lobo
Os dois hemlsfénos cerebrais s~o unidos por uma larga remporol situado abaixo, dos lobos fronroleporir:rat
'a1xa de fibras comIssuraIs, o co,po caloso (Figura 7.1 ). Os sítuados acima (Figura 7.4).
n~misférlos cerebrais tém cavidades. os ventrlculos lorerois
b) Sulco central (Figuras 7.4 e 7 .5) - p,ofundo e ge-
d :eiro e esquerdo, que se comunicam com o Ili ventriculo ralmente contínuo, que percOfre obliquamente a
oelos fo,ames ,mervenmculores fflguru 7.2 e 7.3) íace superolateral do hemisfério, separando os lo-
Cclda hemisfério apresenta tres polos: fronro( omr,1tol e bos frontal e parietal. Inicia-se na face medial do he-
ii;mporo/;e 1re'S faces: ((}(e superolorerol convexa; face medt0l misfério, aproximadamente no melo de sua borda
plana; e face ,n feno, ou base do clrebto. muito Irregular, repou- dorsal e, a partir des5e ponto, d r-ige·se para diante
sando anteriormente nos andares anterior e médio da base e para bahto, em direção ao ramo posterior do suko
do cr ánio. e, na porçoo posterior, no tentór lo do cerebelo, lateral, do qual é separado por uma pequena p,e-
ga conical. É ladeado por dois giros paralelos, um
2• su1cos e lros. Divisão em lobos anterior, g,ro pré-centroL e ootro posterior, giro pós-
A supe,f!cie do cérebro do homem e de vários animais
·centrol O g ro pr~·cenrrol relociono·se com mocricl-
dode, eo pós-cenrroL com sensfbil1dode.
ap,esenta depressões, denominada_s sulcos, que delimitam
os giros cerebrais. A existênclc) dos sulcos permíte considerá- Os sulcos ajudam a delimitar os lobos cerebrais, que r~
.,.el aumento de superfkie sem grande aumento do volume cebem sua denominaçAo de acordo com os ossos do cr~nio
cerebral e sabe·se que cerca de dois terços da área ocupada c:om os quais se relacionam. Assim. temos os lobos frontal
pelo cór1ex cerebral es1áo "escondidos' nos sulcos. rempo,ol pofletul e occipiroL Além desses. existe a insulo, si-
Muitos sulcos sAo incons1antes e não recebem nenhu- tuada profundamente no sulco la1eral e que não tem, por
ma denominar;c\o; outJos, mais comtantes, recebem deno- conseguinte. relaçc\o imediata com os ossos do cr:mlo (Fi-
m,naçôes especiais e ajudam a dehm11ar os lobos e as áreas gura 7.6). A divi~o em lobos. embora de grande importAn•
cerebrais. Em cada hemisfério cerebral, os dois sulcos mais eia clinica, não corresponde a uma d1vís~ funcional. exceto
1rnportan1es sAo o sulco lacero/ (de Sylvius) e o sulco central pelo lobo occipital, que estâ todo, direta ou indire1amente,
(de Rolando). também chamados de fissuras e que serao relacionado com a visão.
d'"'scrí1os a segutr: O lobo frontal locahza-se acima do su'<o lateral e adiante
a) Sulco lateral (Flguru 7."4 e 7.5) - inicia-se na base do sulco central (Figura 7.AA). Na face meclial do céiebro. o
do cérebro, como uma fenda profunda que. sepa• 1mite anterior do lobo ocdpilal eo wlco parietocc,p1ol (Figura
rando o lobo frontal do lobo temporal, dirige-se 7.48). Em sua face superooteral, esse l,mite é situado. de modo
para a face lateral do cérebro, onde termina d1vl· arbitrá.no. em uma hnhJ imagin.1na. que une a rerminJç~ do
i Sulco do corpo caloso • . ló . Tronco do corpo caloso S lco h' ló . Ramo marginal do sulco do dngulo
Aderenc:1a mterto mico \ u ,polo mico ,,,,,
Giro frantol superior - - , ' ', \ \ Giro do cingulo I lóbulo ~rocenfTal
' I ,, ,,"
\ulco do porocentral 1 Sulco central / / / ,,,,,,,,,,
. 1 /
' ' ''
Sulca do cingulo \ .... ,...,\ I \ I / ,,,,,,, Sulco subporietol
~
1 ·, '' ''
\.Jw-"' . ., ... ,. , .
~,' ~ .-. / / ,,,,,
.,, .,,
'' '' -· ,,,,,,,"'
f6mice-- -
''
' ' ,,,,,
.,, ,,,,, ,,,,, ""' Plexo corioide
/
'' ''
t ' ' '' ,,
''
''
'' ,,, ,,,,, ,,,,, .,. .,,.., -
forarne inteNenlTicvlor ',,, ' ,,,,, ,,,,, .,
.,. .,,. -' ___ • Pré-cuneo
-----
Joelho do corpo coloso ,
,, _ .,,. ., , Sulco porietoccipitol

Septo pelúcido - .... - - - - - -Tela corioide

Rosto do corpo caloso


-- _ _ _ _ _ E.splinio do
corpo caloso

Comi~suro anlerior - .-------Cuneo

Árf/0 septal - _ Fluura transverso


do cé rebto
Lâmína terminal - -- - - - ... Sulco colc:orino
Ili Venlficulo __________

. --- .......
1 .... ....
Quiajffl(J óptico-----------
_... ,.,,.. -- -- -- -- ' , Glõndulo pineal
eorpo mamilar----- --- - -4''.,,,.....
- - - .,; ....
_,-" ',
..;.t•
Hi't"-" 1se .---__.
- - -
--
-
-----~--
-· --
-- ,------------ ____ , ... ' Corni»uro po~rior
/ ~~
Nervo oculomolaf - - -
--~- --~ ,, .,...,,. .,,. ,,,,,,,,,, ,,,,, ,,,,, - - - - ... ' ....
Mesenc:éfolo ,, - ,, · .., ' ' , ' 'T,eto m~.ncefótico
,,,,,,,,,, ,,,,,,,,,, -
,,,,,
- ,,,, ,, --------'-\._
Ponte Tela corioide e ,," Abertura media;- \ - i , I '\ 'f ',
Bulbo do IV ventricvlo - - , - - - ' ' , Véu medular ' ,
ple110 corioide IV VentTiculo superior Aqueduto cerebral
\
A9ura 7.1 Face medlill de um hemisfério ce<ebral.
Porte central do
F0<ome lnlerlenlriculor - - ventriculo lofefol
- - Reccwo wpropineol
- - - Receuo pineal

I
C0<no onlerio, do,/
ventrículo lolerol / 1
1 1
Receu o óptico - - - - - /
1
1
Receu o d. inh,ndibulo --- /
1 - Aqueduto cerebfol
Ili Ventrículo - - - - - - - 1
Corno infef lo, do ventrículo loterol - - _ / - - - - - --IVVentrkulo

fitvr. 7.l Veotrlculos encerat,cos.

s..ilc.o par,erocc,p,ca! na borda superior do hemisfério. ~ mci- 3.1.1 Lobo frontal


"-''º f)(é-occipitol. IOCdhlada na borda tnferolateral. a cerca de Identificam-se. em sua supemcíe, tr~s sulcos princ1pJ1s
~ cm do polo occipital (Figura 7A AI. Do melo dessa linha.
(Figura 7.5):
OJ! e uma segunda ílnh.i lmaginc1ria em d1reç~ JO ramo
PO\terlor do sulco lateral ie que, juntamente com esse ramo, a) Sulco p~-centrol - mais ou menos parale!o ao sulco
!T\ltcl o lobo tempo<al do lobo parie-ral (Figura 7 .4A). central e muitas vezes dividido em dois segmentos.
Passaremos. a seguir, a demeve1 os sulcos e giros mais b) Sulco !roncai supeflor - Inicio-se geralmente na por·
""portantes de cada lobo, estudando sucess,varnente as çao superior do sulco pré-central e tem d1reçJo
:r~ faces de cada hemisfério. A descriç~o deve ser acom- apro imadamente perpendKular a ele.
pJnhJda, nas peças anatômicas, com o auxílio das figuras. e) Sulco frontal inferior- partindo da porção infe11or do
'e-.·ando-se em conta que elas representam o padr~o mais sulco pré-central, dirige-se para frente e para bai>.o.
rrequente. o qual, em wtude do grande número de varia- Entre o sulco central. jc\ descrito no item 2 b. e o sul·
ções, nem sempre corresponde ~ peça anatômica de que co pré-central, est~ o giro pr~·centrol, onde se locallZJ a
se dispõe. Assim. os su'cos s~o. por vezes. muito sinuosos principJI área motora do cérebro. Acima do sulco frontal
e podem ser interrompidos por pregas anastomóticas. que superior. continuando. pois, na face medial do cérebro.
un"m giros v12inhos. d,ficultando a sua ident,ncação. Para localiza•se o giro fronrol super,or. Entre os sulcos frontais
íac1fitar o estudo, é aconselMvel que se observe mais de um superior e lnfenor. este\ o giro fronral m~10; abaiM> do sulco
hemisfério cerebral. frontal Inferior. o 91ro frontal inferior. Este último é subdivi-
dido, pelos ramos anterior e ascendente do sulco lateral,
J.1 Morfologfa das faces dos hemlsffrios cerebl'ilJ· : em u~s partes: orbirol,· triangular; e ope,culor. A primeira si·
tua•se abaíxo do ramo anterior. a segunda entre e\te ramo
3.1 Face superolateral e o ramo ascendente, e a última entre o ramo ascendente
Tam~m denominada foce conve.ro. é a mal()f das íaces e o sulco prê--central (Figuras 7.4 e 7.5). O giro frontal In-
cerebrais, relac.lonando•~ com todos os ossos que formam ferior do hemisfério cerebral esQucrdo é denominado giro
a abóbada craniana. Nela. estão representados os cinco lo- de Broco. e ai se localíza, na maio ria dos Indivíduos. uma
bos cerebral~ que ser~o estudados a seguir. das ~reas de linguagem do cérebro.

• Cnpttulo 7 Ãll.llllnú ~ d o ~ S7
lobo frontal - - - ------------, I
1 - - - Fiuuro longitudinal do c_érebro

Septo pelúcido e covidode , '\ / I


/
/ r - - - - - - - Joelho do corpo colow
do t.eplo pelúcido \
'\ \ // I
Forome intervflltriculor - - - - - , \ \ 'l Y
f ,r
Corpo coloro
\ ' 1
(iuperficie de eotte)
EllTio terminal _ - - - - - \
\
' ,
/
I
/
/
/
- - - - - - Ventrkulo lotetol
(como onlllfior)
\
/ / .,._
'' I I l
Veio tolomoeilriodo I
/•
/_J / /
/ /
Corpo do
'' 71 1 I núcleo coudodo
Cotpo do f&nke
..... '' • - -.1 I
- - J I
I
, - - - -- - - - - - Tólomo
...... I
I
I
I

Hipoc:ompo
I I
I I 1- - - - - - - PleJlocoriolde
I I I
I I I
_ __
I , I I/

----, ........., I
\
\
\

--, ' \
\
\
\ \

\
\ \
\
\ \
\ \ _ ...,.,,
\ \
, \ \
\ \ , ___ Comiuuro
Girodenteodo 1
1 \ do fórnice
1

/
,. --:: V ,
, 1
: \

\•
\ / \ __ _ Coudodo
núdeocoudodo

' - - - Ventriculo lateral


I I \ (corno inferiOf)
I ' , .,, .-, 1
I 1 11 I - - - • faplii,io do c0tpo coloro
11 1' 1, ,'
'I'' 1 :: L- - Ventrículo lateral (corno po1tetíor)

,'' l ''
1 1 ' - - - - - - - - - - - - - - - Cerebelo
1 1
1 1
II'
1 !_ ____________ fllrlodeGennori
1
1
I • • 1
Bulbo do co,no posleti-ot - - ....J -' - - .... -illiiilJ iiiiiiiiiii - - - - .. - - -
1 - L-
LtxX1 oce1p1to

Agua 7.l Vi!,ta super,or do c~ebto após a rernoçlo p.l!CIJI do wpo caloso e de pane do lobo temporal eSQW?rdo de modo a expor~
, n111cu•os IJter,l'S

S8 ~ i , fundorYI
A

lobo frontal -----.... - - - - - - - - Svko centro!


...........
- - - - - lobo porietol

Sulco porletocdpitol
~

- Lobo occipital
lobo tem -------
Suko lotetol (romo po,terior) _ _ _ ...,..;.;;;;;.:::::.,.;a;.;..- 1 • ,
- - - - - ncuura pre-«c,p,to
• , 1

1 ✓---- - -- - - - - - Sulco central

lo bo frontal - - - ..._
..............
--r,n777,ii'77)m,,;,,t-----..
- .,,,.-- - - - - - lobo porle:tol

Corpo colo10 - - -
' ' , ......._ lobo occipital

- - - - - - - Lobo le.mporol

Flvur• 7.4 (A) lobos do cérebro VJS!OS IJ N.>'ment~. (B) lobos do ctrebro vistos mediaimente
fon:e R. p,odu.--dls ~ D.lnaelo ~ f.,11 n An..1om.•1Hum.11\d &so Arnencu P,o ck JJn;>,ro, 19!8

3.1.2 lobo temporal verso antenor (Figura 7.6), é importante. já que nele se loca-
Apresentam-se, na face superolater.JI do cérebro, dois liza a área da audlç~o.
sulcos principais (Figura 7.S):
3.1.3 Lobos parietal eoclipítal
a) Sulco temporal supe11or - 1n Cla-~ próximo ao polo
temporal e d,nge-se p..1ra trás. paralelamente ao O lobo parietal apresenta dois sulcos principais (Fi-
,amo postenor do sulco lateral. terminando no gura 7.5):
lobo par retal. a) Su~o pós-anual - qudse pJralelo ao sulco central, é
b ) Sulco cemooral mfer,or - para'elo ao sulco temporal frequentemente dMchdo em dois segmentos, que
superior, em geral é formado por duas ou maisp..1r- podem estar mais ou menos distantes um do outro.
tes descontinuas. b) 5uto mcraporicrol - muito variável e geralmente per•
Emre os sulcos lateral e temporal supeuor está o g,ro pend,cular ao pós-central, com o qual pode esúlf unido.
temporal super/o,;entre os sulcos temporal superior e o tem- estende-se para trás para tennin()r no lobo ocoptal
poral 1nferio1. situa-se o giro remporal médl(); abaixo do sulco Entre os sulcos central e pós-cemral, fica o guopós-cen-
temporal inferior. tocai za-se o g·ro temporal inferior. que se trol onde se local12c1 uma das mais importantes áreas sensi-
!Imita com o sulco OC'-'pitotempoml geralmente situado na tivas do córte.l(, a somestésica. O sulco lntrapar1etal separa o
face lnfe,ior do hem1s ério ce,ebral. Afas1ando,se os lábios lóóulo parietal superio< do lóbulo parieral infenor. Neste ülli·
do suko lateral, aparece o seu assoalho. que é pane do giro mo, descrevem-se dois giros: o sup,omargino( curvado em
temporal superior. A porção posterior desse assoalho é atra· torno d.1 extremidade do ramo po~terior do sulco lateral; e o
vessada por pequenos giros transversais. os giros temporo,s angular, curvado em torno dJ porção terminal e ascendente
cronsversos, dos Quais o mais evidente, o gtro temf)O(ol trom- do sulco temporal superior.

• Cilpllulo 7 ANtomw~ do Ttftncffllo 59


g G iro frontal s11perior Sulco frontal ·wperio, Sulco prê<enlTa l G iro pnkentral S11lco cenllal l080 PARIETAL G iro p6s<entral
1 , -, Sulco pói<entrol
\ I /
\ \ / / ,,,.
'' \
I /
/ ,,,.,,,.
'\ I /
/ /
\ \ / /
,,, ,,,.
( ''
\ I / /
' / / .,,,, ,,,.
'' \
1- ' \ I / /
G iro frontal médio ..., , \
''' / / ,, /
...... ' \ / / ,,,.
\ / ,,, ,,,
( ........ \
,,
S11lco frontal inferiOf - - , ' , , /
' ', .,, ,,,
/ ,,,, .,.. l6bulo porielol superior
' ' .... .... ' ,,, ,,, ....
S11lco la teral (ramo posteriof) ' , ' · ·
' >
', 'r<~.... J·r<f. ._ .... . . . --
.,,,,-,_,~
.,,. .,.. .,..
--
------ _ - S11lco intra por ietol
.,,.___ --
G iro frontal inferior (porte operc11lor) / , 'A ~ -- _ _ _ - G iro sup,omorg inol
' ... 1'l,f r ' ' ..' ---
G iro frontal inleriof (porto 1Tian911lo';i ' , fi· ' ,~ _ ___ - - G iro angular
...... ,
' ,' ----
..... , ,-. -....., '
Ramo os.cendento do s11ko lateral · )'f ,, G iro temporal wperio,
,,,
........... -~ I ' .... ' ,,,. /
LOBO FRONTAL ,,,, .,.. Sulco ll'Jnotus
,,, .,.. ,,,
Ramo a nterlo,
' ',,
do suko lateral / l080 OCCIJlfTAl
'
.. , ............ /
. /
G íro frontal inferio, ' ~- ___ // / G iro lemporol médio
(porte Olbitol)
·, __ - lnchura p,é-occipilal
- ' .,,..,. . --' ...... ~·.---
Sulco tempora l superio, __ - - - - - - ~ - ·- _;,, _ ___ ,. - - --Giro temporal Inferior
-~ .? ---
____ : .. ~ ---~--
L080 TEMPORAL --------------- . .,,
,,---
Sulco temporal inferiOf
--------- ______.,...;," '1. - - - - - f iuuro horizontal do c•ebelo
I •
'-
.... ....
I
I
'...~.... ..
I ~,.:..
I -
I r~ / ',....
I /
I / ' flóculo da cerebelo
/
Ponto I'
/ bo
Oliva '-'··· ·
,---------Bul

noun 7.J í ,1, 1• r;11()1·1õ h l•~•·,1 dt> 11rn k,~nw.r,,110 n•11:h111l


G iro priK:entrol ,. ,,.. , , • Suko centro!
',
', ,,, , '
Suko cincolonla lnwlo , ,' ' , , ,
--
, '"' - G iro p6Kentrol

G iro s curtos do ínsula ,


........--19~-»--,' ....
---- ----
___ G iro IUJ)fOmorginol

--
_ G iro temporal
LOBO FRONTAl , , , trons'tflM> anterior
''
Sulco centrol ____ _
_ - - G iro temporal
do insulo - lupti!Of

'~, ' , LOBO OCCIPITAL


''
', ' ',,
' ',
',,, ' ' Sulco temporal superior
......
',.Sulco temporal inferior
FJvura 7.6 Face supe<olateralde um herru!Mno cerebfal após remoção de ~ne dos lobos frontal e parietal para mostrar a insula e os giros
1cmpora1i transwr~

O lobo owp,rol ocupa um,1 porção relativamente pe- lado no centro branco medular do cérebro, unindo áreas
quena da face lateral do cérebro, onde apresenta pequenos simétricas do cónex cerebral de cada hemisfério. Em corte
sulcos e giros inconstantes e irregulares. 53gital do cérebro lFlgura 7.1). ap.1,ece como uma IAml•
na branca arqueadJ dorsalmente, o tronco do corpo coloso,
3.1.4 Insula que se dilata, da perspectiva posterior, no espl~nio do corpo
Afastando-se os lábios do sulco lateral, evidencia-se caloso e flete-se anteriormente em direção ~ base do cé-
,.,.pia fossa no fundo da qual está srtuadil a insulo (Flgur, rebro para conscituir o joelho do corpo caloso. Este afila-se
7.6 ,, lobo cerebral que. durante o desenvolvimento, cres- para formar o ,omo do corpo caloso, que termina na comis•
ce menos que os demais, ra?Ao pela qual t! pouco a pouco suro anterior, uma das comissuras inter-hemisféricas. Entre
recobefto pelos lobos vizinhos, frontal, temporal e parietal a comissura anterior e o quiasma óptico, temos a lômino
A ínsula tem forma cOl'liCa e apresenta alguns sulcos e g - re,m,nal, delgada l~mlna de substãncia branca, que tam-
ros. S~o descritos os seguintes (Figura 7.6): sulco CJfculc, bém une os hemisférios e constitui o limite anterior do ili
do Insulo; sulco cenrral da Insulo: giros curros: e gfro longo ventrículo (Figura 7 .1 ).
do Insulo. Eme,gindo abai,co do esplffiio do corpo caloso (Figu-
ra 7.7) e arqueando-se em d1re,çc\o e\ comissura an1er10t,
3.2 Face medial
está o fómice. feixe complexo de fibras que, entretanto,
Para se v,sualJZar completamente essa face, é necessArio não pode ser visco em toda a sua extensão em um corte
que o cérebro seja secoonado no plano sagital mediano (Fi- sagital de cérebro. f constituído por duas metades laterais
gura 7.1 ). o que expõe o diencéfalo e algumas formações e simétricas. afastadas nas ex1remidades e unidas entre si
telencefállcas Inter-hemisféricas. como o corpo caloso. o fór· no trajeto abaixo do corpo caloso. A porçAo lmerm~,a em
nice e o septo pelúcido, que serão descritos a seguir. que as duas metades se unem constitui o corpo do fórnice;
as extremidades que se afastam são, respectivamente, as
3.2.1 Corpo caloso, fómice, septopelúddo colunas do fótnlce, anteriores, e as pernas do fômíee, poste•
O corpo caloso. a maior das comissuras inte1-hemisfé-- rlores (Flgun, 7.7) As colunas do fórnice term nam no cor•
ricas, é formado por grande número de flbras m1elinlcas, po mam,lar correspondente, cruzando a parede lateral do
Que cruzam o plano sagital med,ano e penetram de cada Ili ventrículo (Figura 7.7). As pernas do fórnlce divergem e

• Capítulo? Allltoml, ~ do fflfflcH• 61

' = - --
~- - ; .
penetram de cada lado no corno fnfeoor do ventrlculo late· 3.3 Face Inferior
ral, onde se hgam ao hípocampo (Figura 7.3). Entre o corpo
A face ,nferior. ou base do ~misférlo cerebral. pode se-
caloso e o fórnice. estende-se o sepro peflk.ido (Figura 7.1 ).
drvrdtdJ em duas partes: uma, pertence ao lobo frontal e re-
constituído por duas delgJdas IAmiros de tecido nervoso.
Ele sep.!ra os dois ventricuto,; /Jcerais (Figura 7.3).
pousa sobre a fossa antenor do crãn,o; a outra. muito ma.o,
pc-11ence quase ioda clO lobo temporal e repousa sobre J
A seguir. serõo descritos os sulcos e guos da foce me-
dial dos hem,sfér10s cerebra,s, estudando-se m aalmente o
fossa méd•a do crânio e o tentór10 do cerebelo
lobo cx:op1tal e. logo depo,s. em conJunto, os lobos frontal
3.3.1 lobo temporal
e PJ rtt?(d l.
A face inferior do lobo temporal apresenta três suk c-
3.2.2 Lobo occipital pn"ICipais (Figura 7.7). de direção longitudinal. e que Se\.:
da bOfdJ lateral para a bordJ medial (F1gura 7.7)
Ap<~nta d0ts sulcos importantes na face mcdial do
cérebro (Figuras 7.1 e 7.7): a) sulco occ1pito1emporal.
a) Su'co colconno- inici.rse abat\O do esp(~nio do COf· b) sulco colateral;
po caloso e tem um uajeto arqueJdo em d,reçc\o ao c) sulco do htpcx:ampo
polo occipital. Nos !Joias do sulco catcduno, loc..)!lza- O sukoocc,pirotemporo/ l1m,ta·se com o sulco tempo'a
-se a Jrea visual. tam~m denomin.1da án~a estriada lnfo,ior, o 9,10 rempotol infer,or. que quase sempre forma J
p()fque o córtex ap<esenta uma estria branca visí,el roda 13teral do hemisfério: mediaimente. esse sulco se l-
a olho nu. a esuia de GenNri (Figura 7.3). m,ta com o sulco colateral. og1rooec,pi101tmpotol foterof (o..
bl Sulco porieroec,pital - muíto profundo, separa o giro fus1íorme)
lobo occipital do pJrle1al e encontra, em õngu1o O sulco colorerol m,c1cMt> próximo ao polo occipital
agudo, o suko calc,mno d1119e-se para il frente entre o sulco calcarino e o sukc
Entre os sulcos parie1cx:cipltal e cakanno, situa-se o cú· do hipocampo, delimitando com eles. respectrv.imente, o
n~ giro complexo, de forma triangular. Abaixo do sulco cal- giro omp,torempotol medial (ou giro lmguo() e o g,ro por,.;-
carfno. sttua-se o giro occ,p,roremporol mt<J.ol (giro f,n<Juot). ·h pocompol, cuJa po,ção antetior se curva em torno d:,
que continua an1e11ormcnte com o g;ro para-hlpocamp.11. su'co do hlpocampo para íormar o unco (F1gura 7.7) O
JJ no lobo temporal (Rgura 7.7) suco colateral pode ser continuo com o JU/co ,mal, Que
separa a parte mais anteuor do giro p,Ha•hipocamp.11do
31.3 Lobos írontal e parietal restante do lobo temporal. O sulco rinal e a parte ma s
Na face medial do cérebro, M dois sulcos que passam anteuor do sulco colateral sep.3,am Areas de córtex muito
do lobo frontal pJra o parietal (Flguras 7.1 e 7.7)· antigas (pa'rocórtex), s11uadc1s na porçAo medial, de Areas
corticais ma,s recentes (neocórtex) localizadas lateralmen-
a) Sulco do corpo caloso- começa abJrxo do rostro do
corpo caloso, contoma o tronco e o esplénio do te (Figuras 7.7 e 7.8).
corpo ca1oso. onde conttnuJ. Jj no lobo temporal. O sulco do h pocnmpo origina-se na reg!Ao do espfên,o
com o su'co do h,oocompo. do corpo caloso. onde conttnUJ com o sulco do corpo calo-
bl Sulc_o do cíngulo - tem curso pJralelo ao sulco do so e d,rige-se pJra o polo temporal. onde termino sep.:iran-
corpo caloso, do quJI é separado pelo 9"º do cín· do o giro para•hlpocampal do unco.
guio. Termtna poste11ormente, dMd ndo-se em d0ts O giro p.3ra•h1pocampal se l,ga posteriormente ao g 10
ramos· o ramo mor91not. que se curva em d reçAo do c1ngulo por meio de um giro estreito. o isrmo do g.ro éo
à margem superior do hemisfério; e o s_ufco subpo• cíngulo. Ass,m. unc_o, g·ro para•h·pcx:ampal, istmo do giro do
netol que continua posteriormente na direçc\o do cíngulo e g,,o do cíngulo comrnuem uma formação con-
suko do c1ngulo tínua, que circunda as estruturas Inter-hemisféricas e por
muitos considerada um lobo independente. o lobo l,inbrlo
Destacando-se do sulco do cingulo, em d,reçoo à mar-
gem superior do hemisfério, existe quase sempre o sulco po• A parte anterior do g ro p.3ra·hipocampal é a Area entorrinal
roanrrol. que S<.' dcl1m11a com o sulco do cíngulo e seu ramo Importante para a memória e uma dds primeiras ,eg,óes do
marginal. o lôbu'opo10<en11ot ,Hsim denominado em razc\o ctrebro a serem lesadas nJ doença de Alzheime,.
de suas relações com o suko central. CUJJ extremrd->de su·
peno, termina aproximadamente no seu melo. Nas pJrtes 13.2 Lobo fron tal
anterior e posterior do lóbu'o paracentral. lcx:ahzam•se, res· A face inferlOf do lobo frontal [Figura 7.8) apresenta
pecllvamente, as áreas motora e sensitiva, relc>cionadas com um único sulco importante, o sulco olforótio. profundo e de
a perna e o pé. d,•eçáo anteropostenor. Mediaimente ao sulco olfat6110
A reglAo s,tuada abaixo do rowo do cor po caloso continuando na porção dorsal como g ro frontal superio,
e adiante da lâmina t<.'rminal ~ a drí'o septo! Essa .1rca ê snua·se o giro reta. O restante da face lnfenor do lobo frontal
considerada um dos centros do prazer do cérebro (veJa o é ocupado por sukos e guos muito irregulares, os sulcos e
Capítulo 27) g,·os0tb,u1r>os..

62 Nfurv.wlamli FUDOONI

,,.,.._,• "-
I ---1 -· - ~
~
1 • · · - •

""-- - . - .
-- ·~ - - --- : -
• Giro do cingulo Sulco do corpo caloso Sulco porocentral Esplinio do COfPO caloso lóbulo porocenlfol Sulco central
~ Tronco do corpo caloso \ ., .,,..~ __ .... ---
'? \ ,,,,
ê \
.,,..--
-----
/
õ ' ', '' __ ... -- ------
\ /
Sulco do cingulo ' , '' \
,, - - -_ - --; Ramo marginal do sulco do dngulo
" / __ .,,,. ---- - ---- ,. / /
\
'' '' ''
-- ----- /
,,,
/
Giro frontal wperior
' ', '
', ',, ' ' ,, - Sulco
.,,,._..subporietol
........ ' ' ....................
.......... ..... ' ' ',
' ..... ..... ,,,,,. ....
Corpo do fôrnice ..."- ',,' Prkuneo
... ---------
' ' '
Septo pe.lúcido .- Istmo do giro do cingulo
-....--
Joelho do - Sulco porieloccipltal
corpo caloso

-... ...... .._ -- ..... _Cuneo


Coluna do fórnice -

Cominura ontcwior - - -- Sulco calcarino

Giro occiptotemporol
1 -- medial
Ateo septal - - - -
(Giro llnguoQ
... _
.:t 1•t,1•,._.(;...
fusc:~lo . ... ~--- _, - -
mam,·1oto.lõm,co ..- - -·- ... Sulco colote<ol
' ,..... ',
-.......... ..... .....
Corpo mamilar - - ---- ' , , , ' , Giro occiplotemporal loteral
Unco _ ............ - _____ ' , ' ', ',, ' (Giro fuliforme)
.,.--.... - \
,,,,,. ,,,,,. \ '' .... .... ' .....
Sulco rinol ,,,,,. .... /
\ '' ', .... ' '
1 --------.,.,,,,."'' / í \ ..... ' , '' Giro temporal inferior
,. / I \ ....
'''
f fímbria do hipocompo ,,,,,. / I \
/ '' .... '
/ I ' .... ...
i• Pomo do fórnice Giro poro-hipocompol Sulco do hipocampo ' Sulco occipitolomporal Giro lasc:iolor
8'
2'.

i
e Fl9ura 7.7 Vis1a mediJI e Inferior de um hem1síéri0 cerebral após remoção de p.1ne do d,encéfalo. de modo a e:,.por o íasclculo mamllota!~m1Co
i

Bulbo olfoJório - - - - - - - · ___________ Sulco ollatório


Traio olfotório - - - - - - - - ·..., - - - ----- - - - - - - - - -Fissura L.- - itudinol
'""~
-.......................
. ....... ...
1 Suk oor b1'tó110 1. - - - - - - - - -
...,_ " ' - ...
---- - - -- - - - - - - - - Giro relo
Trigano olfalórío --------..... ---- -- ----------Girosorbltório,
i -- --
Norvaóprico --------,
" .......',,....
',, '·
- ---- .,,,. - - - - - Estria ollatória medial
Hipófise e ha,te hipoflsói-io - - - - .................., ,. .,,,.- - - Eitria olfatória intermédia
.... __ ,.
Sulca lalefol ----------- -- - - - - - - Estria olfatória lateral
-- -----
Túber cinéfeo - - - - - - - - - - . -
-- _ - - - - - - - - - Quiasma óptico
Corpo .m amilar---------- - - - - Subsiõncia perfurado anterior
--..........-- f; __---........_
foiJ.O inlerpedunculor - - - - -- _ - -/_GL:
- - _ - - - - - - - - - - - Tralo óptico
Pedúnculo cerebtol - - - - - - - - - - _
---n
• /----....
~
- 7 - - - - - - - - Nervo oculom.olor
Ne1YO trodear -- ' ,r,,1-,., d. -._
. --1-- --- - - - - - - - - - Nctn10 oftálmico
Nervo trigêmeo !raiz motora)-------- _ · - - - - - - - -- NervomOJUlar
,_,.,,..
..,___ tr,9
· i meo 1ro,.z
· '°""liYO
. • 1 ______)_
- - - - - - - Góngllo trigeminai
Fl6culo - - - - - - - - - - - - - -; ' - - - - - - - Nervo mandibolar
Nervo glouafaringeo - _________ .
---------Nctn10aW~~~
Ner,,o vogo - - - - - -- -- - - - - -
- - - - - - - - Nervo lntennédio
Nervo CJC:eS,l()f"io------------- I
' ' - - - - - - - - - Nervo facial
NONO hipagloJ,J,0------------- ....
·, ' , _ - - - • Nervo Vtitibulococlear
Primeiro nef\'O c«vical ICl) - - - - - - ·, ' ...
.......... ' - - - - -- - - -PleJto corioide
Decuisoçõodos pirómides - - - - - - - - - , ' - - - - - - Suloo lateral a nlefiof
----
Fissura mediano anterior--------
, ,' ' ' -----------Oliva
-- ---·
Cerebelo---- ---- ' ' , ,' ' '-Nervo aceuótio !raiz craniano)
Ne.lYO oceuótio lroiz espinoij --- ------ --
' ' - - - - - - - - - Pirâmide

'19ura , ,. V,•,t,, i1,l,•1i(), ,1,1 , "' , t 1'f,


:. seguir, serão descmas a'gumas formações ex,stentes lateral. e apresenta as ~urmes formações: fórn,ce; [i:!)0
'....=(e m,erior do lobo íronl.cll. todas elas rei.manadas com co110 de; parte lateral da face dorsal do tálamo; estria term1·
· s;.w <.'. por isso. consideradas pertencentes ao chama• nal: e nücleo caudado (Flgu~ 7.3).
• ,:ncéfalo (de rh,nos = nar12). O corno posrer!Of (Figura 7.3) estende-se para dentro
~ bvfbo olfaró110 é uma dilatação ovoide e achatada do lobo occ,pcl.cll e termina posteriormente ern ponta. de·
s..ostAncla cinzenta. que continua posterlom,ente com pois de descrever urna curva de concavidade medial. Suas
- · ·:;;o oJ'arório, ambos alojados no sulco olfatório (AgurA paredes. em quase toda a ex tenstio. s~o formJd.is por fibras
7.8 O bulbo olfatóoo recebe os filamentos que constituem do corpo caloso.1
,.,.f\'() ol'oróoo, 1 par craniano. fstes atravessam os peque• O corno inferior (Figuras 7 .l e 1 .3) curva-se inferior•
c,r,fioos que existem na IAmina crlVOSd do os.so etmolde mente e. a seguir, na porç3o anterior, em direç~o ao polo
ue costumam se romper quando o encéfalo é rettrado. temporal. a par tir do trigono colateral. O teto do corno
.:-:do, pois. dificilmente encontrados nas peças anatómicas inferior é formado pela substância branca do hemisfério
_>OJ,s Posteriormente, o trato olfatório se bifurca, formando e Jpreserna, ao longo de sua margem medial. a cauda do
nmas olforó11os loreral e med1al. as quaís delimitam uma núcleo coudodo e a estria terminal. estruturas que acompa·
-·~J tr1<1ngular. o trígono o/fo16no. Atrás do trígollO oi(atório e nham a curva d~crna pelo corno tnfer,or do ventrlculo.
..J.jnte do trato ópt,co, tocahza-se uma i\rea contendo uma Na extremidade da cauda do núcleo caudado. observa-se
·• e de pequenos orifkios para a passagem de vasos. a subs· discreta e-minénc.ia arredondada. ~s vezes pouco nítida.
•.! r-<•'1 perfurada antEJIOf (Figura 7 .8). formada pelo corpa om,gdolo:de ou omigdolo cerebral. que
faz saliência na parte terminal do teto do corno inferior
do ventrículo. A maior parte da amígdala não tem relação
com a superficie vemricular <! só pode ser \ista em roda a
Os hemisférios cerebrais apresentam cavidades reves- sua t'xtenSdo em secções do lobo temporal. Tem Impor·
• -d.Js d" epêndima e contendo liquido cerebrospinal, os tante funç.lo relacionada com as emoções, em especial
,•.n:rícu/os larerais esquerdo e d lfe110, que se comun,cam como medo.
:om o Ili ventriculo pelo respectrvo forome mterventr,cu/ar. O assoalho do corno nfenor do ventriculo apcesenta
~ ceto por esse forame, c.-,da vcmrlculo é uma cavidade duas eminências alongadas, a em,Mnc,a colomo( formada
.:omp!etamente fechada. cuja capacidade varla de um ln· pelo sulco colateral. e o hipowmpo. situado mediaimente
d viduo para outro. e apresenta sempre uma porrecenrrale a ela (Figura 7.l). O htpocampo é uma elevaç~o curva e
,,ês cornos. que correspondem aos três polos do hemisfé• muito pronunciada, que se dispõe acima do giro para•hípo·
,,o. M partes que se proietam nos lobos frontal. ocopital e campal e é constituído por um tipo de córtex muito antigo
:emporal ~o. respectivamente. os cornos onrenor. posrerlor (arquicórtex) EJe se I ga As pernas do fórnk e por um feixe de
P mfrrlor (Flgun1 7.l). Com exceção do corno inferlOf. to• fibras nervosas. que constituem a fimbria do hipocampo. si•
d3s as partes do ventrículo lateral tém o teto formado pelo tuada ao longo de sua balda med1JI (Figura 7.3). Ao longo
corpo caloso. cuJa remoç~ (Figura 7.l) expõe amplamen• da margem dJ f'imbrla. h~ uma fita estrei1a e den1eada. de
te a cavidade ventricular. substãncia c1nzenl.cl. o 9110 denreodo (Figura 7.3). O hlpo·
campo se ltga lateralmente ao giro para•hlpocampal a1ravés
4.1 Morfologia das paredes ventriculares de uma porção de córtex. d-enominada sub,cufum (FlgurA
28.1 ). e que tem funçJo relacionada à memória.
Os elementos que fazem pcoeminencia nas paredes
dos ventrículos laterais ser~o descmos a seguir. consideran· 4.2 Plexos corioldes dos ventriculos laterais
do. respectivamente. o corno anteuor. a parte central e os
cornos posterior e inferior. O plexo corioide da parte central dos ventrículos l.3te•
rais (FlgurA 7.3) continUcl com o do Ili ventrículo por meio
O como onteoo, (Figuras 7 .l e 7.l) é a parte do ventrl-
do fora me Interventricular e. acompanhando o traJeto curvo
culo lateral que ses tua adiante do for ame interventricular.
do fórnlce, atinge o corno inferior do ventrk ulo late1al. Os
Sua parede medial é vemcal e constituída pelo septo pellic1-
cornos anterior e postenor n~o têm plexos corioides.
do. que separa o corno anterior dos dois ventrículos laterais
O assoalho. indinado. forma também a parede lateral e é
constituldo pela cabeçodonúclrocaL1dodo, proeminente na
s. OrginTifClo-1ntema 'dos htmlsfirfos O!rebnls::iif
cavidade ventrrcular (Agura 7.3). O teto e o ltmlte anterior A1ê aqui foram estudadas apenas as formações anató-
do corno anterior são formadoS, pelo corpo caloso. micas da superfície d~ hemisférios cerebrais ou das úM·
A porte cent,al do 1,-entrkulo larerol {Agura 7.3) esten- dades ventriculares. O estudo detalhado da estrutura. das
de-se dentro do lobo parietal. do nível do forame inter• conexões e das funções das d,ve-,sas partes do telencéfalo
ventucular para trá~ até o espl~nio do corpo caloso. onde
a cavidade se blfurca em cornos Inferior e posterior. na re-
1 til PJrt<" mco..,I do como ~1e110,. descrl'\~m se duu e!NJÇ{)õ o
gião denominada rrígono coloreral. O tel0 da parte central bu bo do corno Po\' trl()I, formado pl'b potçbo occ,p tal d.:i radi..xJo
é formado pelo corpo caloso. e a parede medlal. pelo septo doc0100ato)(), t' oc~orO'I~. ~twdoablJq)do bu'boe fcwm.tdo po,
pelúcdo O assoalho. incl,nado. une•se ao teto no ângulo urna p,eg,i ciJ par~ determirud..1!k-.fo ~ilco c.:,tec.irino (fi9ur• 7.ll

• Capitulo 7 AlvtGmil ~09ia do Ttlm<tt.o 65


será fetto nos Capítulos 24 a 28 Convém. entretanto. que o sepJra do núcleo caudado e do tálamo; na lateral. relacio-
seJarn estudados Já agora alguns aspectos da organização na-se com o córtex da ínsu~. do qual é separado por subs•
interna dos hemisf~rios cerebrais, Vfsivels mesmo mclcros• tánc_1a branca e pelo doustro (Figura 32.S).
copicamente em cortes horizontais e frontais de cérebro O núcleo lentiforme é d1vid1do em puta me e globo pJ-
(Figura 32.1 a 32.9). O estudo dessas secções é importan• /,oo por uma fina lâmina de substáncia branca. O putarr
repara a interp,etaçào de ·cortes· obtidos com as tknicas snua-se latetalmente e é ma'Or do que o globo pàhdo. o
de neurolrnagem (Capitulo 31 ). Além disso, esse estudo qual se dispõe mediaimente. Nas secções não corad,,s ~
mostta que a organização ln:erna dos hemisférios ce1ebra1s. cérebro, o globo pálido tem colo(açào mais clara que o pu
em seus aspe-c:tos mais gerais, se assemelha e\ do cerebelo, Lame (dJI o nome), em virtude dJ presença de fibras rn,e:
sendo. pois. caraaerfstícas do sistema nervoso suprasseg- n,ca<; que o atravessam. O globo pálido ê subd1viddo, por
menta,. Assim. cada hemisfério apresenta uma camada outra l.\mina de sub.sti\ncia branca, em uma porç~o latera
superficial de substànda onzenta. o c&,ex cerebral, que e outra medial (Figura 24.1), e tem função. sobretudo. mo-
reveste um centro de substànc,a branca. o centro bronco tora. O nücleo caudado e o núcleo lentiforme cons11ruem e
medular do cérebro, no mter10r do qual existem massas de chamado COfpo estriado d°'sal ou neoestriado
substànoa cinzenta, os nüc/ros do bose do cérebro.
O córtex cerebfal, de estrutura muito 1TlclIscomptexa do 5.1.3 Ooustro
que o cerebelar, será estudõdo no Capítulo 26. A seguir, se· E uma delgada Cc31ota de substancia cinzenta s11u3dJ
rào feitas algumas considerações sobre os núcleos da base entre o córtex da ínsula e o nücleo lenuforme. Separa-se áJ
e o centro branco medular do cérebro. quele por uma fina li\mlna brc1nca, a cdpsulo exrremo [m~
o c'ousrro e o núcleo lemíformt>, existe outra l~mina bt,:in<-
S.1 Nudeos da base a cápsula ex cerno.
Cons,deram-se núcleos da base os aglomerJdos de Neste ponto, o c1luno deve estar em condições de íd
neurónios existentes na porção basal do cérebro. Sendo as· tificar todas as estruturas que se dispõem no interfo1
sim. do ponto de vista anatômico, os núcleos da base são cada hemisféno cerebral vistas em um cone horizontal, pJ5
(F1gura 24.2)" o nücleo coudodo: o putome; e o g1obo pdltdo: sando pelo corpo est11Jdo (Figuras 24.1 e 32.9). 5.>o .:
em conJunlo (hamados de núcleo lentiforme o doumo. o da face lateral até a superfície venrricular: cón ex da ins1..
corpo ami<jdo'o,d~ e o núcleo occumbt?ns. 1 cjpsula extrema. ctaumo: cápsula externJ: putame; pa.._
ex tema do globo pálido; pane interna do globo p.11ido: e •
5.1.1 l~ucteo caudado sula Inteina: tálamo; Ili ventrícuJo.
É uma rruissa alongdda e bastante volumosa. de subs·
tAnda cinzenta, relacionada em toda a sua extensAo com 5.1.4 Corpo amigdaloide ou amlgdala
os ventrículos lateral~ SuJ extremidade anterior. mu,to di- Éuma massa esferOtde de substância cinzenta de e~ _
latada, consll[ui a cabeço do nvclro coudodo. que se eleva de 2 cm de dtAmeuo, situada no polo temporal do ht>rr
do assoolho do corno anterior do ventrículo (Figura 7 .3) fério cerebral, em relaç-'o com a cauda do núcleo cuudr •
Segue-se o corpo do núcleocoudodo. situado no assoalho dJ (Flgur-a 24.2). Faz urna discreta sah~ncla no teto da P3r-
parte central do ventrículo lateral {Figuras S.2 e 7.3), a cou• terminal do corno inferior do venttlculo lateral e pode ►
da do núcleo caudado, que é longJ, delgadJ e fortemente vist.a em secções flontais do cérebro (Aguras 32.3 e 32.4
arqueada, estendendo-se até a extremidade ante11or do cor· Tem lmpottante funçc\o relac10nada com a~ emoções c-
no inferior do ventriculo lateral. E.m ra~o de sua forma for- espec,al com o medo
temente arqueadcJ. o núcleo caudado apa·ece secciooado
duas vezes em determ1nados cortes horizontaisou coronais 5.1.5 flúcleo acrumbens
do cérebro (Figura 32.8 e 32.9). A cabeça do núcleo cau•
Massa de substância cinzenta situada na zona de un .1 ~
dado funde-se com a patte anterior do puta me (Flguru
entre o putarne e a cabeça do núcleo caudado (Flgun
,24.1 e 32.2). Os dois nücleos !K\o, em conjunto, recebem a
24.3), integrando um conjunto que alguns autores denorr
denomlnaç~o estrtodo e têm funções relacioMdas. sobre tu·
nam corpo emiodo venrral. Euma imporrante Area de pra·-
do. com a motricidade.
do cérebro.
5.1.2 Núcleo lentiforme
S.2 Centro branco medular do cérebro
Tem a forma e o tamanh:> aprox,rnados de uma cas·
1anhJ-do-pará Nilo aparece na superfície ventricular, si-
Eformado por fibras mielinlcas. CUJO estudo deta'~
do serã feito no Capitulo 25. Distinguem-se dois grur--
l uando-se proíundJmente no Interior do hemisfério. Na
de fibras: de proje<;ôo e de associaçôo. As primeiras ltgam t.
perspectiva medial, relaciona-se com a cápsula Interna. que
córtex ce1ebral a centros subcorticals; as segundas une,...
áreas corticais situadas em pontos diferentes do céreb•
.l ~ .iu ·oit'\, k.~.lndo em con1.t aix•r\l\ u Mr:cx func~s. con\llJ,,,-
Entre as fibras de assoc,açâo, temos aquelJs Que atrJ\ ,
ram umbem nudeos dJ bJ\I' 11 subsWleia r'le(Jf.t do ~"fl(t f.i o ~ o sam o plcJno mediano para un1r ãrcas simetricas dos dc-
nur:lro w atlm,co oo d-c-nc.-falo hern,sfér,os. Constituem as três comis.suras telencefáhca~

66 HNowtomlol fllllCl>NI

. -· - -- - - - ~ - - -
...- ~ : ____... - ·~~~~~~· ;.,~_!..~~: ~
corpo caloso: comissuro onre1101 (Figura 7 .1 ): e comissura entre os diversos grupos étnicos atuais no que se refere ao
do fómice (Figura 7.3). coeficiente de encefalizaçáo. O peso do encéfalo de dífe-
As fibras de projeção se dispõem em dois feixes: o fôr• rentes grupos étnicos nAo se correlaciona com o estado cul-
n ~: e a cápsula interno. O fórnlce une o córtex do hipocc1m- tural desses grupos. Entretanto. como o peso corporal de
Po ao corpo mamilar e contribui pouco para a formaç.w do alguns grupos pode ser muito menor do que o de ouuos
centro branco medular. (p. ex~ os pigmeus). o peso do encéfalo é também menor.
A cApsula Interna contém a grande ma oria das fibras Pelo mesmo motivo, o peso do encéfalo da mulher é, em
que saem ou entram noc6rtexcerebral Essas fibras formam média. um pouco menor que o do homem. No brasileiro
um foixe compacto que separa o núcleo lenttforme, situa~ adulto no,mal, o peso do encéfalo do homem está em tor•
do lateralmente, do núcleo caudado e do tàlamo, situados no de 1JOO g. e o da mulher, em torno de 1.200 g,O cérebro
na porção medial (Flgun 24.1). Acima do nível desses é responsável por em torno de 85% desse peso; o cerebelo,
núcleos, as fibras da cápsula interna passam a constituir a a l <ni>; e o tronco encefálico. a menos de 10%. Admite-se
co,oa rod;ada {Figura 30.1). Distinguem-se. na càpsula in- que no homem adulto de estatura mediana. o menor encê-
terna. uma perna ome,íor. situada entre a cabeça do núcleo falo compatível com uma Inteligência normal é de cerca de
caudado e o núcleo lentforme. e uma f)€rna posrerior, bem 900 g. Acima desse limite, as tentativas de se correlacionar
ma101, localizada entre o núcJeo lentiforme e o tálamo. Essas o peso do enc~falo com o grau de Inteligência esbarraram
duas porções da càpsula interna encontram-se. formando em numerosas exceções. Estudos do encéfalo do frsk o AI·
um ~ngulo, que constítul o µ lho da cdpsula lnrerna (Figu- bert Einstein mostraram que o peso é normal, mas a área
ras 24.1 e 32.9). pré-frontal, principal responsável pela Inteligência, é bem
acima do normal quanto ao número de sinapses. Recen-
6. Considera~ões sobre o peso do entlfalo _, temente. desenvolveram-se novas técnkas que permitem
avaliar o número total de neurônios no encéfalo de mamt-
O peso do encéfalo de um animal depende do seu
feros e correlacionar parc\metros quanritativos do encéfalo
peso corporal e da complexidade do seu encéfalo, expres•
com a capacidade intelectual das espécies. No homem, o
sos pelo chamado coeficiente de encefalizaçóo (K). Contudo,
número total de neurónios do encéfalo é de 86 bUhóes. o
a complexidade cerebral geralmente depende da posição
maior entre os primatas jci estudados. sendo que 85% deles
ntogenét1ca do animal. Em animais de mesma posição fi-
est~o no cerebelo.
logenética, como o gato e a onça, terà maior encéfalo o
de maior peso corporal. Nesse exemplo, o CO€ficiente de
enceíaliZãçao K fo, o mesmo. variando o peso corporal.
leitura sugerida
Poderíamos considerar ainda o exemplo de dois animais FALK. D.; LEPORE. E.: NOE. A The rerebral cortex of Albett Einstein·
de mesmo peso corporal, como um homem e um gorila. a descrip1fon and prehmínary analysls of unpubl~hed pholo-
'esse caso. terà encéfalo mais pesado o de ma:or K. ou 9,aphs. s,a n 201 3:1361304-1327.
seja. o homem. HERCULANO·HOUZEl. S1re human bta1n in numben. Frontlersin
De modo geral. o coeficiente de encefalização aumen• Human Neuro;oence .2009-.3:1· 1l.
ta à medida que se sobe na escala zoológica. sendo quatro VON BAATl-iELO. C.S; BAHNEY. J. H[RCULANO-HOUlEL S. The
vezes maior no homem do que no eh mpanzé. No P,rhecan• search for trve numbers of neurons and gl•al cells ;n 1he hu-
1hropus erecrus. estudado por Dubois, ele é duas vezes me- man bta,n. A review d 150 rears or count•ng. The Jou1nat ol
nor do que no do homem atual. Contudo. nAo htt diferença ComPc)ratrve Nauology .2016.524(18): 3865·3895

• Capitulo 7 Ãnil!OmW MMroscóplu do ltltncHalo 67


Meninges - Liquor

[ssa peculiaridade. entretanto, é vantajosa, pois a ro,maç~o


O sistema nervoso central (SNC) é envolvido por mem• de um calo ósseo na supcrfkie Interna dos os~s do crânio
btanas con1unt,11as, denominadas men:nges. e que sAo três: pode constituir grave fa tor de irritação do tecido nervoso.
duro·mórc,. arocflOl<k;e p10-md1e,. A a1acooide e a pia-rroter, Em virtude da aderência da dura•máter aos os_sos do otmio,
que no embrião constituem um só folheto, soo, por vezes, não existe no encéfalo um espaço epidural, como na medu-
consideradas uma fo1mõÇAo única. o leptomenrnge. ou me· la. Em certos traumas, ocorre o descolamento do folheto ex•
ninge fina. distinta da poqu,menmge. ou meninge espes_sa, terno da du,a-máter da face Interna do c,~nio e a formação
a dura-~ter. O conhecimento da estrutura e da d,sposi• de hematomas extradurais (Figura 8.8). A dura-máter, cm
çc\o d,3s meninges ~ muito irnponante. ntio só para a com- paniculilr o seu folheto exte,no. é muito vascul.Jrrzada. No
preensão de seu lmponante papel d., pr01eçJo dos centros encéfalo, a p11nclpal artéria que Irriga a dura•m.1ter é a 01-
nervosos, mas tam~m porque elas podem ser acometidas 1~r10 menfngeo méd,o (Figura 8.2). ramo da artéria maxilar.
por processos patoJógicos, como mfecçõcs (meningites) ou A du,a•máter. ao contrário das outras meninges, é r,-
wrno res (mening•omas) Al~m do maiS, o acesso clrurglco camente Inervada. Como o encéfalo n3o tem terminações
elo sistema nervoso central (SNC) envolve. necessauamente. nervosas sens1trvas. toda a sensibilidade lntracraniana se lo-
contato com as meninges, o que toma o seu conhecimen- Cc;llild na dura-m'1ter e nos vasos sanguíneos. responsáveis.
10 muito importante para o neurocirurgião. No Capítulo 4 assim, pela maioria das cefaleias.
(,cem S). forc3m feitas algumas conslderõÇOes sobre as menin-
ges e estudou-se a sua d,sposiçJo na medula espinal Essas
1.1.1 Pregas da dura•mdtl'r doencéfalo
membranas serAo a seguir estudad3S com mais profundida- Em algumas áreas, o folheto Interno da dura-máter
de, descrevendo-se sua disposição em torno do encéfalo. destaca-se do externo para formar pregas. que dividem a
cavidade craniana em compartimentos. que se comun,cam
1.1 Oura·máter amplamente. As principais piegas soo as ~uintes:
A meninge mais superfici.31 é a dl!ra•rruter. espes5a e a) Foice do cérebro- é um septo vertical mediano em
resistente. formada por tecrdo conjuntivo muito rico em forma de f0tee. que ocupa a fissura longitudinal do
--t>ras colágenas. contendo vasos e nervos. A dura•mâter cérebro. sep.)iando os dols hemisférios cerebrais
oo enc~fulo difere da dura·máter espinal por ser formada (Figura 8.3).
::ior dois folhetos. ~terno ou períosreal e mtetno ou menfn- b) Tenrór,o do cerebelo - pro1eta-sc para diante como
.=eo. dos quais apenas o interno con1mua com a dura-m.itcr um septo 1ranwersal entre os lobos occipitail e o ce·
""Splnal (Figura 8.1) O folheto externo adere intimamente rebelo (Figura 8.3). O tentório do cerebelo separa a
10s ossos do cranio e comporta-se como pertósteo desses fossa posteriol ela fossa rntklla do aAnlo, d111idrndo
~sos. Ao contráriO do periôstco de ouvas áreas. o folheto a caVldade aaniana em um compartimento supe-
_, terno da dura-má ter ~o tem capacidade ostrog~n,ca, o t l()I, ou iUPfOtentorio! e outro rnferiol, 0\1 infroten·
.:->~ difrculta a consolldaçAo de fraturas no crânio e ,mpossl• toriol Essa drvi~o é de grande lmpor~ncia clinica.
:. cl a regeneração de perdas ósseas na abóbada craniana. pols a sintomatologia das afecçOes supratentoriais
Duro-móter - - - - - - - - - - - - - - - - - Seio 109inol aupe,ior
\, /
/
Como potleriOf do
Gronuloç-õo aracnóideo ' / / ventrículo lolefai
,, I
~ /
Elpoço suborocnóídeo - - - - - - I rv Ven1riculo
I /
I /
Velo, cerebtoit _ - - _, Âet116rio do cerebelo
superficiai1 tuperiorei /, I
I
Porte central do _ - - Confluência
ventrículo lolefol r- . doJ selo1
I
Corno a nterior do .- - I Abertura mediano
ventrlculo lateral / do rv ventriculo
Forome inlerventriculor .,, .,, // Ci1terno mogno
,,,,,. 1/
,,,, ...... ,,,. /
.,, .,, /
ln Ventrículo " ,,- ~
~ ., ., ,.- -- Folheio interno

/
/ ,,,, ,,,,.,,
.,,,. ,,,,. do duro-mótef

Corno inferior do ventrículo lotetol / / ~ ,,,.....-,___ ---Ouo occlpítol


/
/
...,
Aqueduto cerebtol - - - - - - -
/' ', Folheto externo
, _ _ _ _ _ do duro-móter
II _ ,_ ___.
I - - - - - - - Canal cenlfol do medula
Abertura lateral do rv ventricvlo e/plexo coriolde

__ ... --- .,,, ... --- ·- ------ -- --


Pio-móter .. - '' - -... Atocnolde
'' '
Ventrículo lefminol - - - - -- - - - - - -- ' ~- -- - E1poço 1uborocn6ldeo

Fi1omenlo terminal ------- -- . , ,: - - - - - - - - - - Ligamento coccígeo

f '9ura 1. 1 Esquema da clrcvlaç.\o do l1qu01

(sobretudo os tumores) é muilo diferente das ln- circunst~nclas, lesar o me-sencéfalo e os nervos tro-
fratentorlais. A borda anterior l,v,e do tentório do clear e oculomotor. que nele se originam.
cerebelo, denominada fndsuro do renrório, ajusta- e) Foice do cerebelo - pequeno septo vertical media-
-se ao mesencéfalo. Essa relação tem importAncia no. situado abaixo do tentórlo do cerebelo. entre os
cliníca. pois a lndsura do tentórlo pode, em certas dol~ hemisférios cerebelares (F1gun 8.3).
Foice do cé<ebto - - - - - - _ - - - - - Lômino crivoso do etmoide
'\ I
1

Bulbo olfotório ' I


1 - - - - - Seio lntercovernolO
'' \
I
I
I
N&M> óptico - - - - - ''
' \ ' \
\
/
1
, - Conol óptico com o nervo óptico

Attéfio ohólmico 1t _ __ \ ' ' I /


I ,----------Hipófise
veia onólmlca 1uperiot \ \
'\ \

Seio e,fenoporletal - - , Fi»ura Ofbitol wperiot com


- _ nn. oculomotor (111), trocleor (IV),
\ abducente (VI) e oftólmk o
Oiofrogma do Mtlo - - .
F«ame redondo
com nervo maxilar

Seio covemolO - - - fOforne 0'101 com


- nervo mond,bulor

Covo trigeminai - - Artéria menlngeo


-- médio

Gõngllo trigeminai Bordo MKCionodo


do dure>m6tef

Meoto acú1tico Interno


-t-..,. com neM>J foclol (VII),
intermédio (Vlij e
ve11ibulococleor (VIII)
Selo pelrolO _
1uperlor
I' Canal do hipoglou o
Seio 1igmoíd1t ' ', com nervo
hipoglouo (XII)

/
Tentôtio do cer&belo .,.
F«ame jugular com neM>J
glouoforingeo (IX),
' vogo (X) • oceuÓfio (XJ)
Roiz mpinol do nervo oceuÓfio
' '
''' ' ' '
Medula eipinal
I
I
I
' ' ,',
'
, , Artéria vertebral

I / ' Seio o«ipitol


Seio lranJVIJUO
______ /I
I
I
I
I
'''
, Selo reto
I
I \_ - - - - Confluincia do, selo,
,
Seio '°9itol ,uperi0< _ __ _ _____ _ /

flpra u Base do cr3nio. A dur,nn.1ter foi removida do lado d.relto e manticb do lado esquerdo.

d) D1ofr09rno do sela (Flgura 8.2) - pequena làmina o encéfalo de um cadAver. essa haste geralmente se
ho,izontal, que fecha supetiounente a sela turca, dei- rompe. ficando a hipófise dentro da sela turc.1. O dia•
xando apenas um pequeno oriflcio para a passagem fragma da sela isola e prorege a hipófise. mas dificul•
da haste hipofisciria Por esse motivo. quando se retira ta consideravelmente a cirurgia dessa gl~ndula.

• Capitulo 8 ~ -Uquor 71
Seio sogitol superior
., ,;
Gronuloções orocnóidem .,.,., ,,,- Foice do céfebfo
Velo cerebral
·--.,, .,.,.-
superfidol ',
,; .,, ,Selo sogitol iníetior
.,,..,,

superior t-,
1
1 '
,"" ✓

"/-/
/

1' 1 '
1
1
,..
1 , ..
1 '
1

--- Veio cerebral lnlemo


- - .-
-- _ Veio cerebral mogno

-- ---.......----
-- - - -
_______ -
:--- - - - - - _
--
--------

~--
-- --Veio basal

- - lnclsurodolendo
_ ____ - -Selo relo

1
I
I ---- - ... - Seio sigmoide
1
1 - - - - T&nlófio do cerebelo
! '
ConRuend o dos seio.s ~ - - - - - - - - - -Seiotronsve,10
Seio occipital - - -J 1
Foice do cerebelo __ J

Flgur• 8.l Pregas e sei<X da dura-rNte, do encéfalo.

1.11 Ca'tidades da dura-mAler velasda superfkJe externa do,cr~mo por meio de vefosemH-
Em determinadas ~reas, os dois folhetos da dura-máter sáriOs, que percorrem forames ou canalkulos que lhes são
do encéfalo separam-se, delimitando cavidades. Uma delas próprios. nos ossos do ac\nio. Os seios dispõem-se. sobre-
é o covo u,gemmol (de Mec.kel). que contém o g,\ngho tri- tudo. ao longo da inserção das pregas da dura•mAter. distin-
geminai (Figura 8.2). Outras cavidades sAo revestidas de guindo-se os seios em relação com a abóbada e a base do
cr.\nio. 05 seÍos da abóbJda Sc\o os seguintes:
endotélio e contêm sangue. constituindo os seios da duro-
·mdter. que se dispõem, sobretudo. ao longo da Inserção a) Seio sog,ro/ superio, - lmpar e mediano. percorre a
dias preg1s da dura-rNter. 0$ seios da dura·m~ter ser.\o es- margem de inserção da foice do cérebro (Figura
tudados a seguir. 8.3). Termina próximo à protuberAnda occipital
Interna. na chamada conflu~ncia dos se,o~ formada
U J Seios dadura-máter pela confluência dos seios sag;tal superior, reto e
occipital e pelo lnlcío dos seios uansve,~s esquer-
SAo canais venosos ,evestidos de endotélio e situados
do e direito (Figura 8.3).'
entre os dois folhetos que compõem a dura-mAter ence-
b) Seio sogitol mlerior - sit~a-se na lll!lrgern livre da foice
f.1lica. A maioria do~ seios tem secção triangular e as suas
paredes, embofa finas. são mais rígídas que as das velas e do cérebro. terminando no seiO reto (Figura 8.3).
geralmente não se colabam quando ~clonadas. Alguns c) Seio reto - localiza-se ao longo da linha de união
seios apresentam expansões laterais Irregulares, as locunos entre a f0tce do cérebro e o tentório do cerebelo.
Hmosos. mais frequentes de cada lado do seio sagital supe-
r10r. O sangue proveniente das veias do encéfalo e do globo
A e~ do\ v -<X ~ umbt-m conhccldJ como 101n.lut ck K.·16/rlo
ocular é d1enado põra os seios da dura-máter e destes para t.:mi wmore os SNX l'11Con11a~ em um só ponto, dt~h ndo-~
as velas jugulares internas. Os se10s comunicam-se com
1
p, lo l'n('l'lQ5. Qu.lllO tipos ÚC.- C~OUJ

72 NfutowlomílftllldcNI

- - - - ~- .- ........
Recebe. em sua exuemldade ante1101, o selo saglIal c) Setos mtercovernosos - unem os dois seios caverno-
Inferior e a ve,a cerebral magna (Figuras 8.2 e 8.3). sos. envolvendo a hipófise (Figura 8.2).
te,mmando na connu~nc,a dos seios. d) Seio esfenopartCtal - percorre a face Interior da pe-
d) Seio rransverso - é par e dispõe-se de cada lado ao quena asa do esfenoide e desemboca no seio ca-
longo da Inserção do tent61lo do cerebelo no osso vernoso (Figura 8.2).
occ,p,tal, desde a confluência dos selos até a parte e) Seio peuoso supe11or - dispõe-se de cc1do lado. oo
petrosa do osso temporal, onde passa a ser deno- longo da lnserçAo do tent61io do cerebelo, na por-
minado seio sigmoide (Figuras 8.2 e 8.3). çAo petrosa do osso temporal Drena o sangue do
e) Seio occip,raf - muito pequeno e iuegular, dlspôe· selo cavernoso para o selo sigmoide, terminando
-se ao longo da margem de mserç~o da foice do pr6J ,mo do ângulo entre o selo transverso e slg·
cerebelo (Figuras 8.2 e 8.3) moide (Figura 8.2).
f) Seio peuoso infe1lor - percorre o sulco petroso ln·
Os seios venosos da base s~o os seguintes;
ferior entre o seio cavernoso e o íorame Jugular,
a) Seio srgmo,de - em forma de S. é uma continua• onde termina IAri~MdO·S~ na veia 1u9ular ,ntNna
ç~o do seio transverso até o forame jugular, onde (Figura 8.2).
cont,nua diretamente com a veia Jugular inter- g) Plexo bosdar - ímpar, ocupa a porção bastlar do oc·
na (Figuras 8 .2 e 8.3). O seio sigmoide drena a cipi1al. Comunica-se com os selos petroso lnfe1io1
quas,c tOlalidade do sangue venoso da cavidade e cavernoso, liga-se ao plexo do forame occtpltal e.
craniana. por meio deste. ao plexo venoso vertebral interno
b) Se,o cavernoso (Figura 8.2) - um dos ma,s impor· (Figura 8.2).
tantes seios da dura-máter, o selo cave~ é uma
cavidade bastante grande e irregular. situadJ de 1.2 Aracnoide
cada lado do corpo do esfenoide e da sela 1urc.1 Membrana muito delicada. justaposta à dura-m.1ter,
Recebe o sangue proveniente das veias oftálmica da qual se separa por um espaço virtual, o espaço subdu·
supe,11or (Figura 8.2) e cen ral da retina. além de ral. contendo pequena quantidade de líquido neces5â110
algumas veias do cérebro. Drena através dos seros ~ lubrificaçAo das superíicies de contato das, duas mem-
petroso superior e petroso lníerior. além de comu· branas. A aracnoide separa-se da pla•máter pelo espaço
niear-se corno seio cavemoso do lado oposto por suboracnóidro (Figura 8.4). que contém o líquido cere·
Intermédio do selo ,nrercawmoso. O seio caverno- brosp,nof, ou t,quor, havendo umpla comunic.-içâo entre o
so é .atravessado pela artéria carótida interna. pelo espaço subaracnóideo do encéfalo e da medula (Figura
nen,'O abducente e, jti próxímo ~ sua p.1rede late· 8.1). Consideram-se também pertencentes.\ 4racnolde as
ral, pelos nervos troclear, ocu!omotor e pelo ramo del1Cadas trabéculas que atravessam o espaço para se ligar
oftálmlco do rervo u igêmeo (Figura 8.2) Esses à piJ•máter, e que s~o denominadas rrobéculas oracnól·
elementos são separados do sangue do seio por deos (Figura 8 .4). Essas trabéculas lembram. crn aspecto,
um revestimento endotellal. e a sua relação com uma tela de aranha, dai a denominaçAo a,arnoide, seme·
o seio cavernoso é de grande import~ncla clínica. lhante .\ aranha.
Assim. aneurismas da carótida interna no nfvel do
seio cavernoso compr1mem o nervo abducente Gtonuloçõo Seío sogilol
t'. em certos casos. os d fT\aiS nervos atravessam Atocnolde arocnóideo superior Duro-móte<
\ i , ,,,
o seio cavernoso, determinando distúrbios muito
tipteos dos mo-11mentos do globo ocular. Pode ha-
ve i perfuraç~o da carótida mternJ dentro do seio
cavernoso. formando-se. assim, um curto-circuito
a11euovenoso tfistula carótldo•cavernosa), que de--
termina d1latilÇão e aumento da presx\o no se,o
cavernoso. Isso inverte a clrculaçoo nas veias que
nele desembocam. como as veias oftálmicas. resul·
lcmdo em grande protrusão do globo ocuJar, que
pulsa simultaneamente com a carótida (exoftalmia /
pulsjttl). Infecções superficiais da íace (como cspi· hpoça Espaço
Pio-móter perivoKulor
nhas do nariz) podem se propagar ao seio caverno- subdurol
so. tomando-se. pois, intracranlanas. em virtude das (d1latodoJ
comunicações que existem entre as veias oflálmí• f19ur• •·• S(>cç.lo 11,msversal do~ sag tal wperlOr mosuando
cas, tributárias do seio cavernoso, e a ve1a angular, uma granul.lÇc\o aracnó<lea e a dispos!ÇAo das men nges e espa·
que drena a regi.)() nJsal. ços menrngeos.

• C.Jpltulo 8

-"., ... •· ------- . ~


. ~ --,. ......:::.::........__ ___ - . - . ..._.-..i.-..'t .. .....
1.2.1 Cisternas 'Subaracnóideas e) C,Herno super,or - (cisterna da velai cerebral magna)
A aracnoide justapõe-se c'l dur.rmâter e ambas acompa-
- situada dorsalmente ao teto do meseocéfalo. en-
tre o cerebelo e o esplênio do corpo caloso (Figura
nham apenas gros5eiramente a superfície do encéfalo. A pla-
8.5). a cisterna superior co11esponde. pelo menos
·máter, entretanto. adere intimJmente a ~sa superflcle. Que
em parte, à cmerna omb1ens. termo usado sobletu•
acompanha em todos os giros, sukos e depressõe<;. Desse
do pelos neurologistas.
modo, a d1sti\ncla entre as duas memb<anJs. ou seja. a p<o-
í) Cisterna do fossa lorerol do céreóro- corresponde à de·
funddade do espaço _subaracnóideo é variável, sendo mu to
pressoo f0t macia pelo suko lateral de e.ada hemisfério.
pequena no cume dos g·ros e grande rus áreas onde pane
do encéfalo se afasta da parede craniana.. Fonnam-se, assim, 1.2.2 Granula~ões amnóidea~
nessas áreas. dilatações do espaço subaracnóídeo, as cisreroos
subarocnóideos (figura 8.Sl. que contêm grande quantidade Em alguns pontos. a aracnoide forma pequenos tufos
de hquor. As eis temas ma,s importantes são as seguintes: que penetram no interior dos sek>s da d ura-máter, cons-
lltuindo as granulações aracnóideos. mais abundantes no
a) C,sremo cerebelo-bulbar, ou cisterna mogno - ocupa selo sagital superior (Figuras 8.3 e 8.4). As granulações
o espaço entre a face Inferior do cerebelo. o teto araU1óideas levam pequenos prolongamentos do espaço
do N ventrículo e a face dorsal do bulbo (Figura subaracnóldeo, verdadeiros d,vertirulos desse espaço, nos
8.5). Continua em sentido caudal com o espaço quais o liquor está separado do sangue apenas pelo endo-
subJracnôideo da rnedul.a e liga-se ao rv ventrícu· télio do seio e uma delgada camada da aracnoide. ~o. pois,
lo arravês de sua abertura mediana (Figura 8.S). estruturas adm1rave!mente adapradas à absorçAo do liquor
A cisterna cerebelo-medular é, de todas. a rnaiot e que, nesse ponto, ca, no sangue. Sabe-se hoje que a passa-
mais importante. sendo às vezes utilizada para ob- gem do hquor atraves da parede das granula~Oes efeita por
tenção de liquor por meio das punções suboccipl- meio de grandes vacúolos. que o transportam de dentro
tais. em que a agulha ê introduz.ida entre o occipital para fora. No adulto e no idoso, algumas granulações 101 -
e a primeira vértebra cervical. nam-se muito grandes, constituindo os chamados corpos
b) Cisterno pontino - situada ventralmente à ponte (Fl- de Pocch,oni, que frequentemente se calcificam e podem
gurA 8,5) deixar impressões na abóbada craniana
e) c,srernc lnrerpeduncular - locallz.ada na fossa inter-
peduncular (Figura 8.S). 1.l Pla•máttr
d) Osrerno quiosmdrjca - situada adiante do quiasma A pla-máter é a mais Interna das meninges, aderindo
óptico (Figura 8.S). Intimamente â superfide do encéfalo (Figura 8.4) e da

Ili Ventr kulo


1

Fotome ' Aqueduto cerebral


I
I
interventricular

Cblemo 1upe,lor

G1terno - - IV Ventrlculo
qulo$mótko
Ab.Mo mecf,ono
do rl ventrlcuJo

_ --~- ..... C i1temo cerebelo-


;;~•· : bulbo,

flvvr• 1.s Esquema mostrando a d,~posiç~o das cister"ªs iubJ1acnóide.as. Ai áreas contendo hquor estc\o repre~tadJs em azul

74 tNowtcmi.FuncloNI

-- ~-- -
..- F ____........,UJ....... ..,_ • .
-•.:!ula , CUJOS relevos e depressões a pia-mciter acompa- 2.1 caracteristlw dtológlcas e fisi<o-químlw do llquor
=
~ descendo até o fundo dos !'.ulcos cerebrai~ Sua por-
Por meio de punções lomba1es. suboccipita1s ou vcnt11•
..,_;:i mais profunda recebe nume,osos prolongamentos
• ·:\ astr6c11os do tecido nervoso. constituindo, assim, a culares. pod~se medir a pressão do liquor, ou colher certa
.- ~ .... àrono p,o-glial A pia-má ter dá resist~ncia aos órgãos quantidade para o estudo de suas caracterinicas c,tológ'c,as
, .osos uma vez que o tecido nervoso é de consist~ncla e físico-químicas. Tais estudos fornecem importantes Infor-
- _:o mole. A pia-mciter acompanha os vasos que pene- mações sob1e a fisiopato!ogla do SNC e dos seus envoltó-
- 'TI no tecido nervoso a partir do espaço subaracnóídeo, rios, permitindo o diagnóstico. as vezes bastdnte preciso.
_,.....ando a parede externa dos espaços peflvaiculores (Fi- de muitas afecçôes que o acometem. como hemorragias.
gura 8.4). Nes!'.es espaços. existem prolongamentos do infecçôes etc. O estudo do hquor é especialmente valioso
caço suba1acn6ldeo, contendo llquor, que forma um para o diagnóstlCO dos dM!r~s tipos de men ngi\es O l1•
- Jngu1to protetor em torno dos vasos. muito importante quor normal do adulto é limpido e incolor. apresenta de
:-.:•J amortecer o efeito da pulsaçc\o das artért,u ou picos zero a quatro leucócitos por mm 1 e nao tem hem~oas. A
~ .. p•es~o sobre o tecido rncunvizinho. O fato de as ar rê- presSc'io é de 5 a 20 cm de Agua. obtida na regiAo lombar
s estarem imersas em liquor no espaço subaracnôideo com paciente em decúbito lateral. A concentraç~o de pro-
• ,r, t)ém reduz o efeito da pulsação. Os espaços perivascu- tefnas é bem infe,,or à do plasma. cerca de 25 mg/dl. a de
·5 envolvem os vasos mais cahbrosos até uma pequena glicose é cerca de dois terços da glicemia. e a de cloretos.
.·Ancia e terminam por fusão da pia com a adventlcia super,or à do plasma. 120 a 130 mEq/L O volume total do
:o vaso. As arteríolas que penetram no parénqu ma são liquor é de aproximadamente 150 mL no adulto. renovan-
e~ ,'Olvidas até alguns milímetros. As pequenas atteriolas do-se completamente a cada 8 horas. Os plexos corioides
.;.J envolvida5 até o nível Cdpllar por pés-vasculares dos produzem cerca de 500 ml por dia mediante tíltraç~ se-
__ •rócitos do tecido nervoso. letiva do plasma e da secre<;:io de elementos específicos.
Existem tabelas muito mmuciOsas com as caracterlst1cas do
hquor normal e as suas variações pato'óglcas. permitindo a
O liquor. ou liquido cerebfospmal. ê um fluido aquoso e caracteriz<1ção das diversas síndromes !Jquóncas.
-,calor. que ocupa o espaço subaracnóideo e as cavidades
, nirl(\Jlares Fornece proteçoo mecãn,ca ao sistema ner- 2.2 Formação, drculação e absorção do Uquor
.~~ central (SNO . formando um verdadeiro COl(im liquido O hquor é formado pelas células ependirNuas e pelos
~ tre este e o estojo ósseo que amortece os choques que plellos corio1des, estrutura enovelada. formada por dobras
·~uentemente atingem o SNC. De acordo com o principio de p1a-mjter, vasos sangulneos e células epend1rNrias mo-
~ Arqwmedes. o enctHalo submerso em liquido torna-se dificadas. ~ atrvamente secretado, sobretudo. dos plexos
-u to mais leve e. de 1.500 g. passa ao peso equivalente a corioides. e a sua composiç~ é dete1min.1da por meca-
:J g. flutuando no liquor, o que reduz o risco de traumatis- nismos de transporte específicos a partir do plasma. A sua
os resultantes do contato com os ossos do aânio formaçc\o envolve transporte ativo de Na' CI. pelas células
Além de sua função de proteção mecânica do encéfalo, ependirNr1as dos plexos cortOÍdes. acomp,mhado de certa
~ quor tem as seguintes funções: quantidade de água. necessária à manutenção do equ,líbrio
a) Manutenç~ de um melo Químico e!.tAvel no StSte- osmótico. Entende-se, asslm, por que a composição do li-
ma ventricular. por meio de troca de componentes quo, é diferente da do plasma. O pie o coroide tam~m
qufmrcos com os esl)J\os interS'tJCiais. permanecen- sintetiza mu1ta1> proteínas para a cornposlç~o do liquor. No
do estável a composição quimtCa do hqUOI', mesmo período embrionário. essas prote/nas regulam o desenvolvi-
ql.Mndo ocorrem grandes alterações na composição mento das células-tronco e participam do processo de de~
qulmica do plasma. Auxilia na regulaçc\o das funções senvolvnnento e da plasticiddde cerebral.
dos neurônios e célulds da glía, fornecendo nutrien- Como já f0t exposto anteriormente. existem plexos co-
tes e mantendo a homeosrase iônica. rioides nos ventrículos laterais (corno Inferior e pane cen-
b) Excreção de produtos tóxkos do metabolmno das tral) e no teto do Ili e IV ventrículos (Flguni 8,1 ). Destes, sem
células do tecido nervoso, que passam dos espaços dúvida, os ventrículos laterais contribuem com o maior con-
intersttC,aLS e do fluido extracelular para o llquor e tingente l1quórico. Que passa ao Ili ventrículo pelos forames
deste para o sangue. O volume dos espaços Inters- interventr iculares e daí ao IV ventrículo através do aqueduto
ticiais aumenta 60% durante o sono. facilitando a cerebral (Figuras 8.1 e 8.S). Por meio das aberturas media•
e{imiNÇão de metabólítos tóxicos acumulados du· na e laterais do IV ventr!culo. o liquor formado no Interior
rante a vigília. dos ventrícu'os ganha o espaço subaracnóideo. sendo reab•
c) Veiculo de comunicação entre diferentes ~reas do sorvido. sobretudo através das granulações aracnóideas.
SNC. Por e emplo, hormônios produzidos no hipo~ que se projetam no inte11or dos seios da dura-máter. pelas
tãlamo sjo liberados no sangue. mas também no quais chega~ circuJaçJo geral slst~mica (Figuras 8.3 e 8 •.4).
liquor, podendo agir sobre regiões distantes do sis- Como essas granulações predominam no seio sag,tal supe-
tema venttic\Jlar. rior. a ci1culaçoo do liquor no esPc)ço subaracnóideo é feita

• C.apftulo 8
de bab,o para orno, devendo, pois. atr,wess.ar o espaço entre A clrculuçâo do hquor é bastante lenta e ainda são discu•
a incisura do tentório e o me!>encéfalo No espaço subarac· tidos os fa tores que a determinam. Sem dúvida. a produç.k>
nóideo da medula. o hquor desce em direç~o caudal (FI• do hquor em uma ex1remidade e a sua absorção em outra Já
gura 8.1). mas apenas uma parte volra. pois há reabsorção são suficientes PJra causar sua movimentaçAo. Outro fator
liquórica nas pequenas granulações aracnóide<1s existentes é a pulsação das artéfias fntracranianas que, a cada sístole.
nos prolongamentos da dura•máler que acompanham as aurnenta a pressão fiqu611ca. possivelmente contnbulndo
raízes dos nervos espinais. para empurrar o llquor através das granulações aracnóidea!o.

3. Conelarões anatomodfnicas
O conhecimento das cavidades cerebra,s que contêm mento na produção ou deficl~ncla na absorçc\o do hquor.
Hquor, assim como da5 meninges e suas relações com o em razão de processos patológ,<os dos plexos corioides
encéfa'o. ~ de gr,mde relevAnda para a compreensão de ou dos 1e10s da dura-mátcr e granulaçôcs aracn6idea~ A5
uma séne de condições p.1to16g·cas. A segu.r, descreve• hi<Jrocefal:os não comunicantes são mwto mais frequentes
remos algumas dessas condições, acentuando. em cada e resultam de obstruções no traje o do hquor, o que pode
caso. a base anatômica. ocorrer nos segu,ntes locais:
a) Forame interventricular. provocando d,lataçao do
3.1 Hldrocefalia ventrlculo lateral correspondente.
Existem processo!> patol6g1co5 que inter forem na pro- b) Aqueduto cerebral píO','OCündo d1latàÇc\o do Ili ventrl·
dução. circulaçAo e absorçAo do liquor, causando as cha- culo e dos \-\:ntrlculos laterais. contrastando com o ~/
madas h1drocefalras. [stas !".e caraaerizilm por aumento da \'l?nlticulo. q~ pe11ronece com dimensões norma~
quanudade e d 1 press.'o do liquor. provocando a d,lataçào e) Aberturas medianas e latetals do N ventrículo. pro•
dos ventrículos e a hipe11ensão lntracran1an,1 com com· ,-ocando d,lataç~ de todo o sistema ventrlcular.
prcsSt)o do tecido ne,voso de encontro ao estojo ósseo. Por d) lnclsura do tentórro. impedindo a passagem do 1
vezes. a hldrocefal,a ocorre durante a vida feralgeralmeme liquor do compartimento infratentorlal p.11a o
em decou~ncia de anomalias cong~ni1as do sistema ven· supra1cnto1ial. provocando 1arnbém d !atação d1.:
t11cula1 Nesses casos. assim como ern lactentes Jovens, jà todo o sistema ventricular (Figura 8.6)
que os ossos do crAnio ainda n:io estJo soldados, há gran• Exis:em vários procedimentos cirúrgicos visando d.-
de dilatação da cabeça dJ criança. o QUt' confere alguma m1nu1r a pressão lrquórtCa nas hld,ocefal,as. Pode-se. por I
p,oteçAo ao encéfalo No adulto, como o crânio não se ex• exemp'o. drenar o fiquor por rn~ío de um cateier, ligando
p.1nde. a pressJo íntrac,anrana se eleva rapidamente. com um dos ventriculos ti cavidade pe11toneal. nas chamadas
compres~o das esuuturas e !>ln:omas típicos de cefaleia derrvaçóes ven1rlculo-peritonea1!'.. Nos casos de hidroccfa-
e vómiios. evoluindo para hcrniaçAo (ver adt<1n1e), coma e ha obstrutiva. pode-se realtZõr a tercelroven11iculos1om,3
óbito, caso não oco11a llJtamcmo de urgência. endoscópfca. Nesse caso. é feito um orrfício no a,s5oalho
Há dois tipos de hidroceíalias· comun,cante5; e nào co- do terceiro ventrículo, posslblhtando a passagem do I quoi
municantes As h:drocefol,as comun,contes resultam do au· para as cisternas dJ base.

Agu,. 8.6 Resson:inclJ rTlcl91"t1,ca Cort~ ~ tal e a•ial mostrando J d 1.Jt.lçSo dos vemr.culos •rn um paciente com htdrocefa! ,1 po•
e¼enose do aqueduto cerebral
ront,• Co, t•'Sl.l de> Dr MJrco Antõn-o Rod.>< 1,

76 Nf\JrowtomlJ r11nc10NI

·----------
--- -- - -: - -
3.2 Hipertensão lntraaaniana dentro do compart,menio. podendo c.iusar a protrusc'lo de
Do ponto de vl~ta neurológico, um dos Jspectos mJiS tecido nervoso para o compammemo vizinho. FormJn-..
""Se. desse modo, h~rmõs intracran,anas que podem causar
Importantes da cavidade cr~nlo-vertebral e seu revestt-
mento de durJ·máter ê o fJto de ser uma c.:>vidade fecha- s1ntornatolog'.1 grave. Assim, um tumor em um dos hemis-
da, que não pe.rmite a e»p.:insão de seu conteúdo. Desse férios cerebrais pode c~usar hérnias do giro do c,ngulo (Fi-
modo. o aumento de vo!ume de qua!quei componente da gura 8 .7). que se Insinua entre a bordel da foice do cérebro
c.ividade craniana reílete-se sobre os demais. 1esultando e o corpo caloso. fazendo prouu~ para o lado oposto. En·
no aumento da pressão lntracraniana. Turno,~. hem.:ito- tretanto, sJo maís importantes. pelas graves cons~uênclas
rnas e outros processos exp.1nsivos 1ntracranlanos comp11• que aca111:tam as hérnias do unco e das tons1las
mem nlo só .is estruturas cm sua vinnhança Imediata. mas
todas as esuu1uras da cavidade crAn,o•vertebral, determi-
nando um quadro de h pertensJo muacraniana com sinto-
mas característicos, entre os quais se sobressaem a cefaleia
eos vómitos. Pode haver ttlmbêm fo1maç~o de hérnias de • Hematoma
tecido nervoso. como será visto no prô'(rmo item exirodurol
Nos usos de hipertensão 1ntraaaniàrlJ. haverá com-
pressêo do nervo ón1ico. Esse l'lefvo é envolvido por um
Hérnia ·-
prolongamento do esp.:iço subaracnóideo e o aumento da de unço
pres~ nesse espaço causa obl11eraç~ da veia c.enttal da
retina. a qual pasSd em seu interior, o que resuha em ingur- ••. Tumor
g,tamento das veias da retina. com edema da pap la óptica
(pap.ledema). que pode se, observado pelo exame do f\Jn- Hé.mio
do de olho. do tonsllo
Na suspeita de hlperten~o intracraniana. deve-se so-
limar um exame de Imagem do ncéfalo. tomografia ou
ressonância magnética. O tema se,á também abordado no
Capítulo 18. ,1em 2, que aborda o controle do íluxo sangul· Flgun1 8.7 ~quem., dos p:,nc1p.1I» tipos d~ 1~-rnia mtra<ranl.l•
nco cerebral. nas. Notam-se tambf'm um hematomJ e-.11.:idur.JI um tumof
cerebelar. cau~s 11 ~uent~ de h pettensAo 1ntra<ran1.1t1<1.
3J Hérnias lntracranianas
As pregas da dura•máter drvlC'ft">m a cavidade crc'lniana 3.3.1 Hemias do unco
cm com par t1mentos se par.idos por septos relat 1varnente Ii- Nesse caso. um processo expdnslvo cerebral, deter-
gldos. Processos e,pans111os. como tumores ou hematomas minando Jumento de prcssJo no comp.ir11memo supra•
que se desenvolvem em um de!es. aumentam a pres~ teniorlal. empurra o unco. que faz protrusão através. da

Figura 8.8 Ressoruncia magné1,ca mostrando um tumor de lobo u.•!T'poral d 1e,10 cJus.aooo h1penensâo 1n1racraniJr\J e consequente
h"'rrna de unco com comptess.\o do mesencéfc1to Cw u~).
fom~ Cort!'\ll °' Marco Antõn.o RoJ.ic .1

• C.ip11ulo 8
lncisura do lentório do cer~belo. comprimindo o mesen·
céfolo (Figuras 8.7 e 8.8). Inicialmente, ocorre d1la1aç.c\o
da pupila do olho do mesmo lado da lesc\o com ,~sposta
lenta.\ luz. progredindo para d1lataçc\o completa e desvio
lateral do olhJr em decom!nc1a dJ compressão do nervo
oculomotor ípsllateral. A compressão da base do pedún·
culo cerebral causa hemiparesia contralaleral A sintoma-
tología mais caracteristica e ma,s grave~ a rc1p,da perda d.l
coosc1~nc1d, ou coma profundo por lesc\o das esuuturas
mesencefâHcas. responsâ\.e1s pela at,vação do córtex ce-
rebral. que ~rJo estudadas no Capítulo 20.
3.3.2 llernías da_s tons,las
Um proces!.o expansivo na íossa post~11or. como um
tumor em um dos hemisférios cerebelares (Figura 8 .7),
pode empurrar as tonsllas do cerebelo através do ro,a·
me magno, produzindo hérnia de tonsila Ne-sse caso. há
compressjo do bulbo. culminando geralmente na morte
por lesão dos centros resp rat6rt0 e vasomotor que nele flgvr• 1.9 Tomogr.>'ú de um paciente com hematomJ e •" .t
se localizam. O quadro pode ocorrer também quando se dur.11nJ re-<Jtlo fronul ~verOJ. lado d,te to dJ tm.lg rn I' C/
faz uma punç~o lombJr em pJccentes com hrpertensAo como o c~ccbro e\tá d~loudo pJra o lado oposto
craniana Nesse caso. há súbita dimmuiç~o da pressão ront? Com do o, ,.'.J,co Jl.J llõoio Pod.Jcli
l1quórica no espaço subaracnó deo espinal. causando a
penetração das tonsilas atra ~s do forame magno Ntio se 3.5 Menlngeoma
deve. portanto, na suspeita de hipertensc\o intracranlana.
rea'1Zàr uma punç~o liquóuca sem ante~ realiZãr o exame A durd·mater pode também ser sit10 de tumoces do s:.
de fundo de o!ho ou exame de imagem. em rclL\o do ris- Eo l1po mais comum de tumor p11mJrio do SNC e~ 0119
co de hern,açao do tecido nervoso. no da dura·máter. Ocorre em adu!tos sendo ma1s freq~·-
no sexo feminino. Em gernl. os menlngoomas crescem ien,
3.4 Hematomas extraduralse subdurals mente. ~ benignos e podem, 1ndus,ve. serem assintOf"'
UmJ das compltcaçóe-s mais írequentes dos trauma· t,cos A sintomato!og1c1 depende da locahZãção do turno-
tismos cranianos s~o as rupturas de vasos. que resultam se estâ causando comf)(ess.'Jo do enc~falo, da medula ou r
cm acúmulo de Sélngue n.ls meninges sob a forma de pE>n~nsào ínuacraniana. O tratamento e a remoção cirúrgc
hematomas Assim. lesóe-s das artéuas meníngeas. ocor-
rendo durante fraturas de crJmo, sobretudo da artéria
meníngea m&i,a, resultam em acúmulo de sangue en•
tre a dura•mc1ter e os ossos do crânio. 'ormando-se um
hematoma c.madurol O hemaroma cresce, separando a
dura-máter do osso. e empurra o teodo nervoso parJ o
liJdo oposto (Flgur1 8.9), causando a morte em poucas
horas se o sangue em seu interiOr não for drenado.
Nos hemoromos subdurois. o sangramcnto OCOlre no
espaço subdurat. e o SJngue acurnula-~ entre a dura-má·
ter e a aracnoide. Costumarn ser de crescimento lento e a
sintomatologia é subaguda.
Nas hemorragias subJracnó,dea_s nAo se formam he-
matomJs, uma vez que o SJnguc se espalha no hquor.
podendo ser visualizado em uma punçJo lombJr ou nos
exames de imagem. A causa pode ser a ruptura de veias
c rebrais no ponto em que elas entram no selo sag,tal su-
perior. de ma1founaçôes arteriO\-enosas ou de aneurismas
c~rebrc1,s. O quadro cr:nrco é agudo, com ccfo'eia murto in- fkJural.10 N?nintJ 'Om.ld.J fo,c"c 1.:br~come'ei,ocomp-~y.
tensa. podendo ocoirer alleraç~o de consciência. ror~ Cortt>i•i Or M 1•co Amo,, .o Rod,lo

Leitura sugerida
XIE. et ai. SI~ p dr~ mt>Llbol e cleJrance fro'TI the adult bta,n. Sc.ence 2013:J.i2.37 3.3n,

78 Hturowtomi, FIIIIOONI
Nervos em Geral - Terminações Nervosas
Nervos Espinais

A - Nervos em geral
1. Caracttras gerais e estrutura dos nerv05 Durante o seu trajeto. os nervos podem se bifurc.u ou
se anastomosar. Nessc-s casos. entreranto. nc\o M bifurcação
Nervos são cordões esbranqUtçados constituídos por ou anas1omose de fibras nervosas, mas apenas um reag,u-
íetxes de ftbras nervosas, reforçadas por tecido conjuntivo; pamento de fibras que passam a constituir dois ne,vos ou
que unem o sistema nervoso central (SNC) aos órg3os pe· que se destacam de um nervo para seguir outro. Contudo.
riféricos. Podem ser espínois ou cranianos. conforme essa próximo â sua termlnaç~o. as fibras nervosas motoras ou
união se faça com a medula espinal ou com o encéfalo. sensitívas de um nervo em ge, ai ram,ficam-se muito.
A função dos nervos é conduzir, através de suas fibras. Costuma-se distinguir em um nervo uma origem real
,mpulsos nervosos do SNC para a periferia (impulsos efe- e uma 011gem aparente. A origem real couesponde ao local
rentes) e da periferia para o SNC (,mpul~s aferentes). As onde esl3o localizados os corpos dos neurôniOs que cons-
fibras nervosas Que constituem os nervos sAo. em geral, muem os nervos, como a coluna antenor da medula. os
mlellnicas com neurilema. EnttNanto. o nervo óptico. no núcleos dos nervos oanianos ou os gt\nglios sensitrvos, no
qual a glla miehnizante é o oligodendrócito, é consrnul· caso de nervos sensitrvos. A origem oporenre corresponde
do somente por fibras mielinicas sem neurilema; no nervo ao ponto de emeig~ncJa ou à entrada do nervo na super-
o'íatório. as fibras são amieHnlcas com neunlema (fibras fide do SNC No caso dos nervos espinais. essa origem estã
de Remak). Fíbras desse tipo existem também no sistema nos sulcos late,al antettor e lateral posterior da medula. Al-
nervoso autônomo e entram em pequeno número na guns consideram ainda uma orrgem aparente no esqueleto
composição da maloria dos nervos periféricos. SJlo três as que. no caso dos nervos espinais, está nos for ames interver-
bainhas conjuntivas que entram na constituição de um tebrais e, no caso dos nervos cranianos. nos vállos 011fídos
nervo: eplneuro, perlneuro e endoneuro, como já desCiltO
exJstentes na base do crtmio.
no Capítulo 3, item l
Os nervos são muito vascularizados. sendo percorridos
longítudtnalmente por vasos que se anastomosam, o que
permite a retirada do eplneuro em um trecho de até 15 cm Nos nervos. a conduçAo dos Impulsos ner.iosos sen•
sem que ocorra le~o nervosa. Por outro lado. os nervos são sit,vos (ou aferentes) é feita através dos prolongamentos
quase totalmente desprovidos de semlbihdade. 5-e um ner- penf~ricos dos neurônios sensitivos. Convém recordar
-.1> é estimulado ao longo de seu tr<ljeto, a sen.saçtio geral• que esses neurônios ttm seu o corpo locallz.:ido nos g~n-
mente dolorosa é sentida nao no ponto estimulado. mas no gl;os das raízes dorsais dos nervos espinais e nos ganglios
1errítório sensitivo que ele Inerva. Assim, quando um mem- de alguns nervos cranianos. São células pseudounlpolares.
bro ê amputado, os cotos nervosos írritados podem origi• com um prolongamento periférk o, que se llga ao receptor,
nar impulsos nervosos que sAo lnte,pretados pelo cérebro e um pto!ongamen10 central, que se liga a neurônios da
como se fossem originados no m€mbfo retirado. resultando medula ou do tronco encefálico. O prolongamento perifé-
nJ chamada dor fantasma, pois o Individuo sente dor em rico é morfologicamente um axônlo, mas conduz o Impulso
um membro que nao existe. nervoso cenulperamente. sendo, p01s. da perspectiva da
funçAo. um dendrito. J.1 o p,olong;1mento central é um a:it6- sernelhJntes a p~udópC>dos, em cujas membranas t-
n,o no sem1do motfo!óg1Co e funciOnal, uma vez que con- moléculas de ade~o. como integ11nas. que se ligam a ~
duz cen111fugJm me. Os impulsos n rvosos sensitivos !M\o lé<ulas da matriz extraceluklr. como a l.imininJ, prcser·
condu:vdos do prolongJmento pe11fé11co para o central. e em membranas basais.. Essa união~ desfaz quando oco-
admite-se que não passam pelo corpa celular. Os Impulsos rem novas expansões da membrana e novas adcsôci
nervosos motores ~o conduzidos do corpo celular parcJ o que perm,1e o progressivo along,rn,ento dos axônios ~.
efetuador (Figura 9.3) Contudo. pode-se esttmular e,:pen• cone de crescimento. M também receptores para fatO'~
mentcJlmente um nervo Isolado que. entoo, funciona como neurotróficos, os quais sao endocitados e tr.:insportados.,
um fio elétrico nos dois sentido~ d pendendo apenas da co,po celular, ativando as vias metabólicas necessá1ias
extremidade estimulada. A velocidade de conduçcio nas fi- processo de regencraç.lo
bras nervos.as var,a de 1 ma 120 m prn segundo e depende Os ía10,cs neuro1róf1<:os s~o essenoais para a sobit
do caltbre da fibra, sendo maior nas fibras mais calibrosas. vência e d1ferenc1açlo de neurónios durante o deseo\c •
Levando-se em coma certas características e1etrofis1oló· men10 Após essa fase. continuam sendo essenciais PJ'_ ;
gl(as. m.:is sobretudo a velocidade de conduç~o. ilS fibras manutenção dos neurónios e regeneraçAo de f1br.:is ner.
dos nervos foram classificadas em três grupos princ,pais - sas lesadas. Entre eles, estão duas lmpo1tantes fam,ha\ ~
A, B e C -. que correspondem ~s fibras di! grande, m~io e palipeptideos: a família das neurotrotinas. cujo pro1ôt1po •
pequeno cal l.>fes. As fibras A co11espondem às fibras rica• fa,or de crescimento neural. e a família do fator neurotrci
mente mleltnizadas dos nervos mistos e podem, ainda. ser de11vado da gha. Há outros fatores Importantes para a k ':1
d,vtd,das. quanto à velocidade de condução, em alfa. beta neraçAo axonal, como o fator de c1escirnen10 flbroblj~
e gama No grupo B. estão as fibras pré-ganglionares, que básico. A p1odução de um dado fatOf neurotrófico não
serão vistas a propósito do sistema nervoso autônomo No hm1ta à celula ou ao local dJ sua descoberta. Por exemi
grupo C. estão as fibras pós-ganglionares nAo m1ellmzadas o fator de crescimento denvôdo da gHa é produZ1do i:•
do sistema autônomo e algumas fibras responsáveis por lm· músculo esquelético. sendo importante nJ 1egenera~
pulsm terrn,cos e dolorosos de fibras nervoSJs motoras.. O fa1or de cr~ irnento neu•
Os axônios de tamanhos equiva'entes que inervam os outras neurouofinas são Importantes para neurôn,os sef'· •
musculos e tendões s.\o chamados de grupas 1. li, Ili e IV. O riais de11vados da crista neural e p;:ira os neurônios do s\'
grupo N cont~rn fibrõs amiehntCas. Ar, fibras C e N condu· rra autônomo s1mpj1Ko.
zcm com ve!oc1d3de de 0.5 m/s a 1 m/s por ~undo. Nas De modo geral. as células-alvo da inervação secre· -
fibras A alfa. a velocidade pode atingir 120 m/~ e. nas A beta. fotores neurotróflcos. ma~ como podem estar longe do
7S m/s. cal dJ le~o do nervo, ê importante o PJpel d.as célulJ~
Schwann Essas células !M\o a11vadas por citoctna sccrc; •
por m.ic.róí<39os que Invadem o loccll <fo l~sAo para a 11.'n
ção da ba•nha de mrel1n.:i e de restos celulares. As c1fü.
de Schwann ativadas abandonam a fibra nervosa lesoo... •
Os nervos perif'érKOS são frequentemente traumatiza- prohfcrarn no nível do coto pro'<imol. Secretam nov,,s m
dos. resultando em esmagamemos ou secções, que trazem branas basa,s e uma glucoproteina, a laminina, e assurT"
como consequ~ncia perda ou d1mlnuiçao dJ senslb,lidade a íunç.\o de produzjr íatOfes neurotróficos Que tinhdlT' •
e da motricidade no temtótio inervado. Os fenómenos que desenvolvimento. Sua própria supetfkie. e sobretudo !,
ocorrem nesses casos orientam a candura cirú1g ca a ser membranas basais, s.\o ricas em moléculas que forneclY
adotada e s.\o de grande importi\ncl.1 para o médico. T,1n10 substrato ncces~r10 p.:ira il adesJo dos cones de crescrm
nos esmagamentos como nas secções. ocorrem degenera• to e o crescImen10 dos a~ônios em direçõo ao seu dest ,.
ções da PJrte distal do axónlo e sua bainha de m el,na (de- Na verdade. as células de Schwann, com suas membrar
generc1Çc'lo wallerldna). No coto proximal, h.1 degeneração b.Jsais, íorrrurn numerosos compartimentos ou tubos e ••,
apenas até o nó de R.1nvier ma,s próiiimo da lesAo. No corpo celulares, circundados por tecido conjuntivo do endone-...
celula, há cromat611se, ou seja. d1minu,çoo da substancia dentro dos quais o a,6nio se regenera.
crom1d13I, Que atinge o m~x,mo entre 7 e 15 dias. O grau de Cabe assinalar que, no inicio do processo de regenr ~
croma16lise é inversamente proporcional à d1stána.a da le- çâo, cada axôn·o emrte numc,osos ramos, o que aum •
sjo ao corpo celular. As alterações do corpo celular podem a chance de eles encontrarem o caminho correio até o .
ser muito intensas, resultando na desinregri'lção do newô- destino. Para se conseguir melhor recuperação func,on.1
niO. mJs, em geral oc:oue recuperação. extremidade-s de um nervo seccionado devem se, aJustaJ.
Em cada coto proximal, a membrana plasrmtlca ~ com preclsJo. tentando-se obter a justaposição das bJm•
rapidamente reconst,tulda. Ess.a extremidade se modifi- perineura,s, com o aulCíliO de microscópio cirúrgico. E.m e_
ca. dando origem a uma expansAo denominada cone de sos de secçJo com afostJmemo dos dois cotos. as n •
crescimento. semelhante à que existe em axônios em crcs- nervoSãs em cre-;cImento, n~o enconuando o coto d,~
omento durante o desenvolvimento do sistema nervo- crescem d~sordenadam~nte no tecido clcatricl.ll, cor,·
so. O cone de crescimento é capaz de emI111 expansões 1uindo os ncurornas. forrnJdos de 1ecido conJun1Ivo. ce1...

80 Kf11ro.irw1omi.t h,nciorwl
de Schwann e um emaranhado de fibras nervosas ·perdi- perifé11co na medula de um animal. os a ónios secciona·
das'. Nesses casos. para que haja recuperação funcional, dos da medula crescem ao longo do nervo enxenado. mas
deve-se fazer a remoçAo do tecido c1Cat11c1.1I e o ajus1.a111en· Quando os il Omos m creKimento entram m contato
to dos cotos nervosos por sutura de elementos conjuntivos. novamente com o tecido do SNC. há retração do cone de
ru fibras nervosas da parte penférica do sistema nervo• crescimento e paradl do p,ocesso de regeneraç3o. Assim.
so autônomo são também dotcldas de grande capacidade os axônios no sist<:ma nervoso central são potencialmente
de regeneração. Assim. veuficou-se Que, na doença de Cha· capazes de rcgeneraçAo, mas não hã submato adequado
g1as experimental, em cuja fase aguda há demulç~o quase !I regen raçAo em adultos, embora nAo faltem fatores neu-
total da inervaçao simpática e parassimp.\tica do coração. rotróficos. Ao contrJr10 do que ocorre no desenvolvimen•
ocoire. na maioria dos casos. total reinervação depois de to, no SNC de mamíferos adultos a regeneraç.\o é inibida.
algum tempo.' Es~ inibição deriva. sobretudo, de dois íato1es: 1) a cicatriz
Ao contrário do que ocorre no sistema nervoso perlfê· astrootár1a, que comlltui barreira mec.\nica e também qui•
rico. as fibras nervosas do SNC dos mamíferos adultos MO mica pela presença de proteoghcanas. como o sulfato de
se regeneram quando lesadas. ou apiesentam cr~1mento condro111na: }) presença de inibidores associados à ba1nhJ
mu to hm1tado. l5so d,ficulra consideravelmente a recupe- de mlel1na d<:> SNC: Do que foi vmo. pode-~e c0ndu1r que a
ração f\Jncronal de mu,tos casos neurológkos. Entretanto, regeneraçJo de fibras nervosas resulta da interação de fato-
veoficou-se que. Quando se enxerta um pedaço de nervo res morfológicos e bioquímicos.

B - Terminações nervosas
2.1 Classificação morfológlca dos receptores
Em suas extremidades penf~rlcas. as fibras nervosas dos D1st,n9uern•se dois grandes grupos: os ,ecepto,es es•
nervos mcxMcam-se, dando origem a formações ora mais. peciais e os recep1ores gerais.
ora menos comp!e as. as lt>rmifl<1çóes nervosos. que podem Os fl'Cêf)tôIes e5peeI0 1s Sc10 mais compfe-<os. reladooan-
ser de dois tipos: sem1trvas ou aferentes 1 e motoras ou eíe· do·se com um neurO<'ptrél-o (reuna, ótglo de Cor ti etc.) e fa-
rentes As terminações sensitivas. quando estimuladas por zem parte dos ch.;mados 6<gôos esf)fflo1s do senrido: visão;
uma forma adequada de energia Cmecãnlca, calor, luz etc.), aud1çc\o e cqu1libno; gustaç3o e olíação. todos localizados
d~o origem a Impulsos nervosos que seguem peta fibra em na cabeça. Ser~o estudados no Capitulo 29 (as grandes vias
direção ao corpo neuronal. Esses Impulsos são levados aQ aferentes).
SNC e atingem áreas esP<.'CIÍ1<d~ do cérebro, onde sAo ·1mer· Os recep10,es ge,a,s ocorrem em todo o corpo, fozem
p1etados·. resultando em diferences formas de sensibil,dade. pane do sistema sensonal somc1tico. que reiponde a dife-
As terminações nervo~s motoras e istem na porç~o te,m • rentes estimules. como tato, temperatura, dor e postura cor·
nal das fibras eferemes e sAo os elementos pré-sinc1ptlcos poral ou prop11occpção.
das sinapses neuroefetu.1doras. ou seJa. inervam musculos
ou gl.lndulas 2.2 Classificação fisfolôglca dos receptores
2.2.1 [spec1fici<ladedos receptores
A espec,ficldade dos receptores e geralmente aceita.
O termo recepwr sensor,o/ re"ere-se à estruture! neuronal Os receptores denominados Jrvres podem ~r responsáve,s
ou epitelial. capaz de ttansformar estímulos físicos ou quím • por vârios tipos de senslb,hdade (temperatura, dor, tato).
cosem auvldade btoelêtrica (transdução de sinais) para s.er No entanto, um determinado receptor livre é responsável
lnte1p1etada no SNC. Pode ser um terminal a 6n1Co ou célu· apenas por uma dessas formas de sens1b•hdade. Assim, de-
las epiteliais mod,fic.adas conectadas aos neurônios. como nominados n?Ceptores livres, ie)(istem, de fato, do ponto de
as células ciliadas da cóclea. vista ns,ológ•co, vár,os upos de receptores. Espec1f1odade
SKJnifica dizer que a semib1lidade de um receptor é máxima
para determmado estimulo, ou o seu limiar de excitabilida-
1 1.'J\Cl l,-00, ABM. 1.~( HAOO. c..R.S. GO't LL MV úrJ«.-Y.mtr'a' par~-
de é mínimo para essa forma de energia, embora possam
::,i,ogy 19/9 47 107· 11~ ser a1ivados com d ficuldade por outras formas de energia.
1 ( ntr~ ~ 11\Lw.lor~. t.'\WO .t proteru NOGO. •9',cooroil'lfld .ruoc&ddJ Além da forma de energ-ia, um determinado receptor é mais
.\ """'n., e.) o ,coc:,,o,,~nJ m,t ,_.a d " ol-,oót'ndtóc ux senslvel a uma fol,a resulta dessa fotmo de energld. úcem•
l ~ lí'frncx ·~sit,,o· e ·a•.,.ente: a 1,go<, nlo s.\o ~nõo•mo\ ToJos os pio: um fotorreceptor é sensível a determinado comprimen-
1mpvl10S n ~ O\H' ~ tr.im 1'10 \<\ll'O\J nrt,-oM> crnir.tl s.\o •'l'- to de onda couespondente ao verrnelho.
rr nt~ m.n a!)t'nJ\ tq~ Q~ despeitam algum llpo de \en~ç~
wo W0\.11'10\ Mu,to~ lmpul~ P,~fi ('fill~\ ~ le{l'plort~ \ 1',( l'JJ \ Usando-se como critério os estímulos mais adequados
Ccomo os 0119 n..lÓO\ no itlO u ,01:deol s.\o afert'ni"" n1<n nlo ~ para attvar os vários receptores, estes podem ser classifica-
!iefl'>!IIYO\ dos como:

• ( -, p,t uto9 ~ tm Ger.i- Tff'llliNç6H ~ - Nfflos úplNh 81


das terminações anuloespira1s que s.\o ativadas. dos na coluna anterior da mê'dula (mo1on utôn,os
Originam-se. assim, impulsos nervosos que pe- gomo). As fibras gama inervam as dut1s regiões
netram na medula atmvés de fibras aferentes e polares das fibras 1ntrafusa1s e causam sua contra-
terminam fazendo sinapse duetamente com os çao. o que aumenta a tensão da regi~o equatorial,
grandes neurônios motores. situados na coluna onde se enrolam as terminações anu!ocsp11ais. O
anterior dd medula (motoneurôn10s alfa) (Figura fuso torru-se, assim, mais sensível ao estiramento
9.2). Os axônios desses neurônios trarem os im- causado pela contração do músculo. Por esse me-
pulsos nervosos de volta ao músculo. terminando canismo, o SNC pode regulai a sens1bil1dade dos
em placas motoras s1wadas nas fibras extrafu~is. fusos neuromusculares, o Que i: ,mportante pJra
que se contraem. Esse mecanismo constitui o refie• a regulação do tõnus muscular. Contudo. se n~
110 mio1ó1ico, ou de estiramento, muíto impo11an- houves!iie um mecan,smo cltiVO de contrJç.}o das
te para a manutenção renexa do tônus muscular. fibras lntrafusars, elas perderiam a sua tensão e o
Reílel<os desse tip o ocorrem continuamente em fuso seria desativado logo no Inicio da comraç.ào
todos os músculos e são nítidos. sobretudo. nos do músculo Assim, a a11vaç~o dos motoneurônlos
extensores. O refle-xo miotâtico. ou de estiramento gamJ permite que os fusos neuromusculares con•
muscular, pode ser desencadeado art1ficlalmente, tinuem a enviar informações ao SNC durante todo
provocando-se o estiramento de um músculo es- o processo de contraç.\o do músculo. Nas lesões
quelético por percussão do seu tend~. Isso ocor- do neurõnio motor superior. hA hiperatividade d~
re, por exemplo. no reflexo patelar (Figura 9.3). neurômos gama. o que causa hipertonla e espasti•
Quando o neurologista b.ite o martelo no joelho cidade (Capitulo 30. nem 6).
do paciente, a perna se pro;eta para frente. O mar- e) órgãos neurotend,nosos - ~ recept()(eS encon-
telo ptoduz esttramento do tendão que estimula trados na Junção dos músculos estriados com o
receptores no músculo quadríceps, dando 011gem seu tcndJo. Consistern crn fasdculos tend1nosos.
a impulsos nervosos que seguem pelo neurônio cm torno dos Quais se enrolam as fibras ne,vosas
sensitivo. O prolong.Jmento central desses neurô- aferentes. sendo o conJunto envolvido por uma
nios penetra na medula e tf'rmina fazendo sinapse c~psula conJuntiv.1. Sdo ativados pelo estiramento
com os neurônios motores situados no corno an- do tendão, o que ocorre tanto quando hc\ tração
terior. O Impulso sai pelo axônlo desses neurônios pass,va do músculo. por exemplo, por ação da gra-
e retorna ao músculo QuJdrlceps fozendo i1 perna vidade. como nos casos cm que o músculo se con-
se proJetar para frente. Os reflexos mais pesquisa- trai. Nisso. eles díferem dos fusos neuromusculares.
dos no exame neurológ1Co, al~m do patelar, !>Ao: que tendem a ser desativados durante a contraç~o
o do tríceps sural; o do adutor; o do bfceps bra- muscular. Outra diferença é que os órgãos neuro-
Qulal; o do t11ceps braquial, o do braqulorradial; tendinosos são desprovidos de incrvaç3o gama.
e o m,1s~tcrrano. Os fusos neurornuscult1res t~m Os órgãos neurotend,nosos ,nforrnam o SNC dJ
tam~m uma inervação motora. representada ten~o e ercida pelos músculos em suas inserções
pelas chamadas fibras eferemes gomo. que se 0 11- tend1nosas no osso e permitem, assim, a avaliação
g1n.1m em pequenos neurônios motores. situa- da força muscular que está sendo ex-erclda.

A e

Figura 9.1 Oewnhos csquem.\ticos de alguns 1ece-ptoces livres e encapsu'-'<ÍOi IA) te,mlruções ~rvo~s IMes 11.1 pele, (B) corpúsculo de
~,'~1ssoo; (Cl COlpu~u·o de VJter-Pacc.ml, (D) c.o,pusculo de Ruffin,
' - k --:::Tmnlril G:esnervosasmotoras - · · ·- -
ç-.:.
,~,
Fibras extrofu10iJ
As terminações nc,vosas motoras. ou 1unçôcs neuroeft!•
ruadoras, sAo menos var,adas do que as sens111va~ Do ponto
de vista funcional. cl11s se assemelham às sinapses enire os
neurônios e. na realidade. o 1ermo sinopse, no sentido mais
amplo, também se 1~ aplica. As 1e,rninaçôes nel'\'Osas mo·
Regiõo
toras podem ser somó11Cos ou 11,scero,s. As primeiras termi-
Nervo - - - - equoto,ial nam nos músculos estriados ~uel~t cos. as segundas nas
de fibra glclndulas. músculo hso ou músculo cardiaco, pe,1encendo.
lntrafu10I de pois, ao sistema nervoso autônomo.
cadela nucleo,
l.1 Terminações eferentes somáticas
As nbras nervosas cferemes somáticas lt'lacionam·se com
F,b,a afe,ente - - - as ÍltJ<as musculares estriadas esqueléticas por meio de es·
truturas especializadas, droomlnadas placas mot0tos (Rgura
9.4). Ao aprc»:imJM.e da fibra muscular, a fibra nervosa petde
Tem,inoçõe.s
a sua oo,nhJ de m el1na. conservando. entretanto, o ncorilema
onuloespiraiJ
(Figura 3.1). Na plJCd motora. a terminação axónca emite ti-
~
/ nos ramos e.entendo pequenas d,lataçôes, os borôes slndpricos
f ibra eferente goma (Figura 3.1 ). de onde~ liberado o neurouan~rnlsSOf.
A ultraestrurura da placa motora, no ní\'el de um des~
Roglõo botões, (:, bas1ante semelhante ~ dJ sinapse in1erneuronal
equolofiol de desaua no Capitulo 3 (11em 1.71.2). O elemento p,é~náp--
f,bro lnlfafusol
1ico. formado pela terminação axónlca. apresenta-se ríco em
de IOCO nuclear veslculas s1nJptlcas agranuldres. que se acumul.1m pró:<lmo
Cópsulo - - - - - - - - - -
Fibra eilTafusol a txJrras di>nsos. comtituindo zonas atrvas. onde é I berado
o neurouansmlsSOf, a acet,lc.ol,na (Rgura 9.S). O elemento
...., '-' p_:' pós-s,nc1ptico econstituído pelo sareoi ma da fibra muscul.lr,
.,.
.-~~ - ~
que mantém a sua membrana basal e tem a sua A,ea consl•
dera lmenie aumentada p(?la p,esença de pregueamento
característKo {as fXtYJOS funoona,s) As cristas d~\41\ J")(e(Jas
1/
,6 apresentam <knsldolks pós-smáf)tiCos O neuro1ransrnisS01
~o acet,\cohna, libefado llJ fendo s,ndpt,co, ú1usa dcspolanza•
ç.ão do sarcolema. o que desencadeia a contração d~ fibra
muscular. O ei,,cesso de acet,tcohna liberado é lnatrvado pela
flgun 9.2 Esquerro de um fuso neo1omu~ ular 11cetilcolinesterase, presente em grande quanilC!ade na placa.

Coluno cmlef'IOf do medula


', COfJ>O do neurônio eferente
/

Receptor (fvso neUJomusculo,)


I
/

,
Coluna posterior
do medula I
I ........
, ....
COfJ>O do neurônio
- I
/
I

'
Gõnglio sen,itivo oferenle
1
1
I
M1hculo
Terminação nervoso motora

Agu,~ t.J Esquema de um lltco, º")º ~mof s no homem· refle,o pati'lar


• Cap1tulo9 ~ " " ~ -lflm~ Ntnows- ~ hp,a~

--
85

...
,- -- - ~~------·-~~• --•• - -· ~._ --- -- -~ . -
3.1.1 Correlações anatomodínicas

J.1.1.1 Miorttnfagravis O d,agnóshco diferencial é estabelecido com doenças


do neurônio motor inferior. como slndromt> de Guilfa;n.
Eul'T\3 doença dJ trammis~o neuromuscular p<é-sináp-
•Barré. miopatlas. into lcaçôcs com agrotóxJcos organofos·
tica, slnápt1Caoo pós·s nc1pttea. podendo ser também cong~-
forados e botulismo.
nita ou adquirida. Em alguns casos. acausa NO ê ldent1fic~vel.
As rniJstcnia~ cong~nitas ocOírem por mutações específicas,
1.1.1.1 Botulismot toxina botulíni(a
causando a d1sfunçào da transmis~o neuromuscular.
A forma mais comum de mlasten!a adquirida é a au• O botulismo é causado pela comaminaçao de al,men•
toimune por antic.orpos antirreceptor da acetilcol!na. A tos pela neu1010 ina produzida pelo Clostridium botulmum
auto!munidade é dependente de células T. med,ada por A toxina botulin ca é absorvida no trato gastromtest1nal ou
linfócitos 8. O timo está lmplicado em 80% dos casos. O no ferimento e dissemina-se por via hematogênlca até as
sintoma Inicial mais frequente é a ptose palpebral que terminações nervosa_s_ mais espeoficamente para amem•
pode ser unilateral, com ou sem alteraç~o da motriclda· brana p~·sináptica da junçao neuromuscular. bloqueando
de ocular, (flgur~ 19.17). A queixa pode se, de dip!opia a l,beraç~o da aceulcol,nJ. Pode acometer tam~m o siste-
ou de d,fícu!dade visual inespecilica. Outros músculos ma nervoso autônomo. Consequentemente. haverâ falha
podem também ser acometidos. causando fraqueza nos na tral"lsmissão de impulsos nas ;unções neuromusculatres.
membros. d,sfagia, dJsaruia, d,spneia ou fraqueza faclal. resuh.!ndo em paralisia flácida dos müsculos que esses
Embora a muKulatura acometida possa variar, h~ geral• nervos controlam. O dano cau~ na membrana pré·si·
mente a queixa de que fraqueza piora ao longo do dta nâptlca pela tO;(tna ê permaneme. A recuperaçAo depende
ou com esforço muscular carac,enzando apres.entaçAo da formação de novas termrnações neuromusculares e. por
típica· fraqueza com Outuaç.Ao e fatlgab,lldade. Na maio· Isso. a recuperaçàoclinia é prolongada. podendo variar de
ria dos casos. o Início é subagudo, com piora progressi-va 3 a 12 meses.
com tendência ~ estabilização ao longo dos anos. Alguns Atualmente, a to ina botuhna r,po A pode ser utilizada
casos evoluem de forma muito grave, com disfagia e d1fi• como medicamento, redUZÍndo a contraçAo muscular nas
culd:1de ,espiratória. necessitando de Internação em UTI patologias em que esta é exagerada, como nas d,stonlas,
e ventilação mecânica. A crise miast~nica pode ocorrer cc\imbras. torcicolos e nas lesões de neurônio motor supe·
também pelo tratamento Inadequado e fatores prec1p1• rior com espa~t,cidade. ~ adm n,suada via ,ntramuscular
Lantes. como Infecções e interações medicamentosas. e age localmente no músculo em que é aplicada. O uso
O tratamento depende da ftiologiae índui medieamen· estétteo da roxina botulfnica tornou-se multo popular para
tos antícol,nesterâsicos. cortkosteroides., lmunossupresso- reduzir ou retardar o surg·mento das rugas de eJCpressão
r(.>S, anticorpos monoclONis, plasmaférese. lmunogtobulina relacionada com a Idade. por meio da p.1ralisii\ da muscula•
intra-1enosa e umectomla. tura facial de forma controlada.

Proceuo de célula
Botão
sinóptico de Schwonn
fendo -::.--=~ Membrono
· · ,· ~:::;;~r3;=:::;
s,nop 1

-
.._,"!-_ _ ...,,bowl

. d"
,

Pregos
jund onoil

Denildodes póHinópticas

Flgvra ,.s De~nho esquemât1Co de uma secç.k> de placa mo-


tora passando por um botão s,n.Aotlco.

3.2 Tennina~ões ,ferentes viscerais


Nas terminações nervosas viscerais dos mamíferos, o
Rguni 9,4 Fotom,crografia de placa~ motoras (setas). Impregna• mediador quimico pode ser a acet1lcolina ou a noradrena•
ç.\o metAhca pelo ~todo d" cloreto de ouro de Ranvier hna. Assim, as fibras nervosas eferentes somáticas são coli·

86 ~~ hlncionM

. -- . . . .:.
nérglcas. ao passo que as viscerais podem ser collnêrgicas ou citoplasma do efetuador próximo Azona de contato. como
ou odrenlrgicas. ocorre na placa motora ou nas slnapses lnterneuronaIs.
Nas term1naçócs nervosas viscerais (Figura 23.4) roo Nas terminações nervosas eferentes viscerais. existem
existem. como nas sorratlcas. formações elaboradas. como as dois tipos de vesículas sinápticas: granulares e agranulares
placas motoras. Os neurotransmissores ~ 1berados em um (Figuras 3.8. 9.6, 9.7 e 11.3). As vesículas agranulares ar-
trecho bastante longo da parte terminal das fibras (Figura mazenam acetllcolina e assemelham-se às vesículas sináp-
3.8) e nAo apenas em sua e uemidade, podendo a mesma ticas das terminações somáticas. Já as vesículas granulares
fibra estabelecer contato com grande número de fibras mus- cont~m noradrenalina. Em condições fisiológicas, o impul·
culares ou células glandulares. As fibras terminais apresentam- so nervoso dos te1mina,s adrenérgicos causa liberação de
-se cheias de pequenas d lataçôes ou voncowades (Figuras noradrenalina. que agirá sobre o efetuadot. O eJtcesso de
9.6 e 3.8). ricas em vesículas contendo neurotransmissores. noradrenalina liberado é captado novamente pela fibra
e constiruem as áreas funcionalmente ativas das fibras. A nervosa e armazenado nas vesiculas granulares. Quando a
d1st~nc1c1 percorrida pelo neurotransmissor até o 6rgJo efe- lnervaçc\o adren~rglca de um órgão é destruída (como nas
tuador varia de 20 (musculatura do canal deferente) a 3.CXXl slmpatectomias). ele se toma muito mais sensível à aç~o da
nm (musculatura 1ntest1!'\JQ. Em alguns casos. a fibra nervo- norad1enalina Injetada. Nesse caso. como o mecanismo de
sa relaciona-se muito intimamente com o efetuador (Figura captação e lnatlvaç!o dessa amina foi destruído, ela perma-
23.4) e. de modo geral. não há modificações na membrana nece muito tempo em contato com os efetuadores.

flgur-• 9.7 EletromtCrograf1a de um axônlo secoonarlo transver·


Agur• 9.6 Fotomcografla de fibras rieniosas adrenêrg cas do canal sa'mente e aument.tdo 320 mil vezes. Nota-se uma vesículagranu·
d.:' t'r;.>nu.•. tornadas füJ01(.'S(er.t~. em \>lfh.,de do seu contMO em lar (VG). um mlc101úbulo {set.1) e uma partlculJ de gltCOQ~nlo (G).
notadrenal,na. O espaço escwo entre as fibras é ocupado por fibras A ,-eslcula é envoMda po, uma membrana uM.irfa e contém um
muscu'Jres l,sas As ~tas indtCam tetmina,;~ adrene•g,c.u com grânulo denso.
varicosidõdes (método de Fatck P3f3 h'stoqu'ma de monoamnas) FOll,t:'~oduz,d) de ~ S:M r1'C./tnolOl'}Y 1967,A2293·3000.

C - Nervos espinais
1. ·· GeneraUdades.____ - _ · . mente, aos sulcos lateral posterior e lateral anterior da
medula. através de filamentos radiculares (Flgur• 9.8).
Nervos espinais ~o aqueles que fazem coneltào Na raiz dorsal. localiza-se o gôngl,o espinal, onde estão
com a medula espinal e s~o responsáveis pela inervação os corpos dos neurônios sensítlvos pseudounlpolares,
do tronco. dos membros e de partes da cabeça. São em cujos prolongamentos central e periférico formam a raiz.
numero de 31 pares, que correspondem aos 31 segmen· A raiz ventral é formada por axônios. que se originam em
tos medulares existentes. São, pois. oito pares de nervos neurônios situados nas colunas anterior e lateral da me-
cervicais. 12 torácicos. cinco lombares. cinco sacrais, dula. Da união da raiz dorsal, sensitiva, com a raiz ventral,
urn cocclgeo. Cada nervo espinal é formado pela união motora. forma-se o rronco do nervo espinal, que funcio-
das raízes dorsal e ventral, as quais se ligam. respectiva· nalmente é misto.

• Capitulo9
Raiz do,sol • - - - - r . Coluna po, terior
Gõnglio espinol - - \
'\ I
Coluna lateral
\
Tronco s.impôtlco - , \\ Coluna anterior
'\ \ \
Ramo doool '\ \
do nervo espinal ·,
'
Ramo ventral
doneM>
\
\
\
e1pinol , ,
·, ,

\
\
\__ f ilomenlOs rodiculores

,,
Gõnglio do , impôtlco

Rgun , .a (squ mJ d;1 lormaçáo dos llCfVO\ espin.:,is mostrando 1am mo tronco slmpâtico

complicados e apresentam os componentes ·especiais· que


SCldO estudados no capilulo seguínte.

A dassif1Caçc\o funcional das fibras que constituem os


Do que foi visto, verifica-se que. do pomo de vista nm-
cional, os nervos esp1na1s são muito heterogéneos.. Eem um
nervos estA Intimamente relacionada :i classifrcação das mesmo l){'rvo, em determínado momento, podem existir
terrnlnações nervosas, estudadas neste capítulo. Fibras que
fibras situadas lado a lado. conduzindo impulsos nervosos
se ligJm periferkamente a terminações nervosas aferentes de direções diferentes para estruturas diferentes, enquan-
conduzem os impulsos centripetamente e sc\o oferenrc?S. As
to outtas fibras podem estar Inativas. Isso é possível pelo
que se Ofiginam em 1nteroccptores ~o viscerais. as que se
fato de as nb,as nervosas que constituem os ne-,vos serem
originarn ern pmprioceptores ou e.<teroceptores são somá•
ísoladas" umas das ouuas e. r,ort.:into, de funcionamento
ticas.. As fbras o,iginadas em exteroceptores, ou ~bros ex·
Independente.
teroceptMJS. conduzem impulsos 0119,nados na superfide,
relacionados com temperatur.J, dor, pressão e tato. Como
(01 visto na P,ute B, item 2.2, as fibras proprKXepttvas podem
l ::::.TraJtto dos nervos ffpinals~-..:_ - : : : · ~
~ , conscientes ou ,nconscicnws. ílb,as que se ligam pe,i- O tronco do nervo espinal sa, do canal vertebral pelo
íerrcamente a termin.,ções nervosas eferentes conduzem for ame ln ervenebral e logo se drvide em um ramo dorsal
os impulsos nervosos de forma centrífuga e sc\o, por con- e um ramo ventral (Flgura 9.8), ambos mistos. Com exce-
seguinte, eferenres. podendo se, somáticas ou viscerais. As ç~o dos três primeiros nervos cerv1cais, os ramos dorsais dos
fibras eferentes !,Om~ticas dos ne,vos espinais terminam e_m nervos espinais são menores do que os ventrais correspon-
músculos estriados esquel~tico!.; as visc.er.lls. em músculos d ntes. Eles se d1m1buem aos músculos e :i pele da ,egl3o
l,!,OS,cardíaco ou glándula. Integrando. como ser~ visto mais dorSdl do tronco, da nuca e da regiAo occipital. Os ,amos
adiante, o sistema ner-1oso autónomo. ventrais representam, praticamente, a contlnuaçAo do uon•
A chave a ~ulr sintetiza o que foi e>'posto sobre os co do nervo espinal. [ les se distribuem pela musculatura.
' componentes funcionaís das fibras dos nervos espinais. pele. ossos e vasos dos membros, bem como pela reg!Ao
Convém acentuar que essa classificação é válida apenas anterolateral do pescoço e do uonco. Os ,amos vcntraí_s dos
p.;ra os nervos espinais. Jj que os nervos c,aníanos são mais nervos cspln11is tor~cicos (nervos inrercosrafs) têm trajeto

88 ~~ funoorwl
terr,pe, Jtura

e•t!'.'roci:pt,,,as dor
prt'SsAo
f,b<JS SO~IIGlS lõlO

afert-ntes
proprioct-ptr,as conscl.,ntc~
111~t:1a1s
incon~l,.:·nt~

~ tieas para mi,scut.>s estri.ados


esque1é11cos
í,br,u
e.ferentes P"õ musculos l,so~
v1scera,s
j p,11.1 músculo ard1aco

p.!•d g1lrldu1Js

aproximadamente paralelo. seguindo cada um de forma in-


dividual em seu esPJÇo intercostal Guardam, pois. no adul·
to. a disposição rne1amér ica. observada em todos osnervos
no inicio do de-senvolv,mento. Enuetanto, o mesmo não Denomina-se dermóromo o território cut3neo inervado
.xonr«e com os ramos Hmrtals dos ourros nervos. Que se por fibras de uma única raiz dorsal. O dermâtomo recebe o
anas1omosam, entrecruzam-se e trocam fibras, resultando nome da raiz que o ,n~rva. SJa x.'Cc.' <1e1mJcom1.h , e,wc.111,
na forma,~o de plexos. Desse modo, os nervos originados (2 a C8 (não hc\ dermJtomo correspondente à ralZ CI que é
dos plexos sôo plunssegm·nrares, ou seJa. contêm fibras ori- essencialmente motora). 12 torácicos. c,nco lombares. cinco
g,nadas em ma,s de um segmento medular. Já os nervos sacrais e um coccígeo. O estudo da tooografia dos dermã-
,nterco\ tais sAo unissegmenrares. isto é. suas fibra,; se origi- tomos é muito importante para a localizaçAo de lesões radi-
nam de um só segmento medular. O estudo da formaçAo culares ou medula1es e, para isso. existem mapas onde são
dos plexos, bem como de seus ramos colaterais e terminais. representados nds diversas partes do corpo (Figuras 9.10.
é muno 1mponante na prática médica e deverá ser feito 9.11 e 9.12).
no estudo da anatomia geral. Como e emplo, apresenta- Ao ter uma ratZ seccionada, o dermátomo co1responden·
mos um esquema do ple~o braquial (Figura 9.9), no qual te nc\o perde completamente a sensibilidade, visto que raízes
se representou a composição radicular do nervo mechano, dorsais adJcl(entes inervam áreas sobrepostas. Para a perda
visando ob,e11var o conceito de nervo plurissegmcntar. em completa da sensibilidade em todo um dermátomo. seria ne-
contra'ite com o de nervo uni~mentar, representado na cessáriaa secção de três raízes. Porém. no caso do herpes-zós•
f igura pelo 2° nervo 1ntercostal. ter, doença conhecida vulgJrmeme como (obrc,ro. o vírus
De modo geral. os nervos alcançam o seu desuno pelo acomete espeoticarnente as raízes dorsais, causando o surgi-
caminho mais cuno. Entretanto, M exceções expl1cc1das por mento de d0<es e pequenas vcsic:ulas em urna ãrea cu,~neJ
fatores embriológ,cos. Uma delas é o ne,vo laríngeo 1ec0f- que corresponde a todo o dermátomo da raiz en\-'Olvida
rente. que contorna a ané11a subdãv!a, à d;reita, ou o arco o embroo, os dermJtomos se sucedem na mesma se-
aórtteo. à esquerda, antes de atingir o seu destino nos mús· quência das raizes espiro s. em faticas ap1ox1madJmente pa·
cuias da laringe. ralelJs, dtspos,ção esta Que, c,pós o nascimento, se mantém
O traieto de um ne,vo pode ser superfiaal ou profun- apenas no tronc.o. Nos membros. em w tude do grande cres-
do. Os pr,meiros !.ão predominantemente sensitrvos e os se· cimento dos brotos apend,cul.:ires durante o desenvolvimen-
gundos. predominantemente motores. Entretanto, mesmo to, a disposição dos dermátomos se torna irregulõr, havendo
quando penetra ern um músculo, o nervo não é pura mente aposiç.\o de detmátomos situados em ~mentos distantes,
motor, uma vez que apresenta sempre fibras uferemes que corno C5 e Tl, na parte pio ·mal do braço (Flgura 9.9) A
veiculam Impulsos proprioceptiVOs oríginados nos fusos Flgura 9.12 mostra o hmne entre os dermJtomos ce1V1Cai~
neuromusculare~ Do mesmo modo. os nervm cu-tAneos toráocos, lomba1es e !klcraís cm posiçoo quadrúpede.
não sJo puramente s nsitivos, pois c,pre~ntilm fibras efo- As fibras rad,cula1es podem chegar aos derm.ltomos
rentes viscerais (do sistema autônomo) p.1ra as glândulas su- através de ner.'OS urnssegmentares. como os lntercosta~ oo
doríparas, músculos eretores dos pelos e vasos superfK1Jls. plurissegmentares, corro o mcdi.:mo. o ulrnu etc. No pnmc.>,ro

• úp1tulo 9 ~ ffll Gml - ltrffllfW(6ei ~ - Hmos bpiNis 89

~~
. . . ~
- -
.- ---...
-.;;:
Roiz donol ,
',
Roma doool ,_

Roma venlfol
--- ''
'
C5

C6

fo scicvlo loterol - -
-- ---- o

---
ca
E~-
ca
TI •
, Tronc,o in iOf' TI
Nervo mediono \

Nervo ulnor - --
'
foi dculo madiol

/
-- T2

I
I
I
--'-',,
Nervo inHtrcOJkJI Romos comuniconHts Tronco e gõnglio simpótlco

fl9u,a , ., (SQuema dJ ÍOflT'lclÇAo do ~o bfi)QU\JI lnd e.ando a comPQSlçAo rad,culJr do netVO med no (e,.emplo de ner\-'0 plur~seg-
mentar) e do }.O nervo ,n:erco~tal (eJ1..1:mplo de nervo unlssegmen1ar),

caso, a cada neNO couesponde um dí?frnátomo que se localiza os músculos podem ser unirradicular~ e plurirracficulares.
em seu term6<io de d1stnbu,çào cutanea No segundo, o ne,vo conío,me ,ecebam lnervaçAo de uma ou maisraízes. Os mús-
contr bui com fibras para vários derrnátomos. pois recebe fibras C\Jlos lntercostals ~ exemplos de músculos unirradiculares..
sensitivas de várias raízes. Assim, o l1efVO mediano tem fibras Ama011a dos músculos. entretanto, é plurmod1cular. nJo sen-
sensitivas que conmbuem para os derrnátomos C6, a e C8 do possível separar as partes Inervadas pelas diversas raízes.
(Figura 9.9). As Figuras 9.1O e 9.11 mostram os mapas dos Contudo. no músculo reto do abdome. a parte inervada por
territórios rutàneos de distribuiçllo dos neM>S perif~rleos e dos uma raíi é separada das inervadas pelas raízes situadas aooíxo
dermjtomos, Mapas como esse permitem. diante de um qua- ou acima por peqUE.'llàs aponeuroses.
dro de perda de sens1bi'Jdade cutánea. determinar se a le~o íol
em um nervo penféoco. na medula ou nas raízes espinais. 6. Unidade motora e unidade sensitiva
Denomina-se unidade mororo o conjunto constituído
s;:-.; Rt1a~o entre as raítes ventrais e os territórios de
po, um neurônio motor com o seu axônio e todas as fibras
· · Ínérva(IÓmoiôra ..:-__._ . . - - -- musrulares por efe Inervadas. O termo aphca•se apenas
Oenomrna•se campo rod,culor mororo territótio inervado aos neurônios motores somáticos. ou seja, ã Inervação dos
por uma única ra,z ventrai. HA quadros sinóp11cos nd,cando o músculos estriados esqueléticos. As unidades motoras são
terrltôr10, vale dtZer, os músculos Inervados por cada uma das as menores unidades funcionais do sistema motor. Por açc\o
raíZes que con1nbuem para a inervaçAo de e.ada músculo, ou do impulso nervoso, todas as fibras musculares da unidade
sej,l, a composlçc\o radicular de cada músculo. Quanto a isso, motora se contraem apro imadamente ao mesmo tempo.
NERVOS PERIFÉRICOS OERMÁTOMOS

Nervo oftálmico - - - - - - - - - - - - - ...... _,


Nervomox.ilo, ----- - - - - - - - - - - . . ...
Nervo mond,bulor - - - - _ _ _ _ _ - - - - . ...

Nen,oox;Jor ________ _._, __ _

NeM> ln1etco$Jobroquiol _ _ _ _ _ _ __ ..., 1,

Ner.-o cutâneo medial do braço - - - - -


NeM> cutõneo posterior do broç-o .,,,,- - - -
(romo do nervo rodioij-.,,,,.
Romoi culáneoi loterols _ - - - - -
dos nn. intercoitoi•
7li
i
1
(.1

-
I
Romos cutõneos onteriotei _ _ _ _ ---
dos neM>• lntercoslois -

Nervo cul6neo loterol do onlebroç-o - -


Ne,w ileo-1,ipogóstrio - - - - _ I , --- •--
Nervo radial------- · - -... -
N-,vo genitofemorol - --
Nervo mediano - - -----4
Ne,w íleoinguinol • - -- - -

NeM> cu16neo loterol do coKO - ----

Ne,voobtvrotório - - - - - - - - - - - - -

Nervo culôneo onterlor do COKO - - - - - - -

Nervo flbulor comum - - - - - - - - - - - • •

Ne.rvosofeno - - - - - - - - - - - - -

Ne,w flbulor superficiol - - - - - - - - - --- •

NeM> f,búlor p,ofvndo - - - - - - ----

fi9un t.10 Comparaç~ entre os derll\Jtomos e os temtóoos de ,nerv~~o dos nervos cutJneos na ~upetfície ventral.
" 'i' R pro.Ju._'ldJ. com pe(ff' \\lo, de Cu1M. J.Y.otMon 1"" ~Jrc\J\. M ,nrlOd...-cror, ro ntutOSCl('n(t1 l'htl.Klt'lph,J W 8. SJunders Cn. 1972
• Capitulo 9 Nfflo\ffll Gml - ~ ~ - Nffios bpiNi:s 91
OERMÁTOMOS NERVOS PERIFÉRICOS

,,,,.,--- - - - ---Nervo hon,venodo pe.scoço


-- - - - - - - • Nervo ,up,odoviculor lolerol
- - -- - Romos dooots dos nervos torócicos
- - - - - - - - - N e r v o oicllor

_ - Nervo lnlerco, tobroquiol


-------- -----
______ - - -
Romos cutôneoi laterais dos
nerYOS intercosJols
- - - - - - - Nervo cutâneo medial do bfoço
---- - - _ Nervo cutóneo poslefior do bfoço
- - (romo do neno rodiol)
. { :::_-_-_-Ro,:OS dooob dos ne,vos lombares
.l,
~:,,=
I - - - - Ne,vo íleo-hipogó,hio

·~t ',
=~::n:IÕ~:::~: :~oço
(roma do nervo radial)
' ' -Nervo cvtôneo loterof do antebraço
._ (ramo do neM> muiculocutôneo)
- 1 ...........
\ , ....... Romos dorsais dos nervo, socrois
1i ' ',R ___,. · 1do nervo rQQ,o
_.J • 1
;' orno w....,.,ic10
- - - - - - - - - - - Ne"'O
mediano
- - - - - - - - Nervo culôneo po11ef ior do co,io
- - - - - - - - - NetVO cutâneo onterlOf do coxo

- - - -- - - - - - - - - - - - Nervo oblurotório

- - - - - - - - - - - - - - - Nervo f,bulor comum


- - -- - - - - - - - - - - - - - Ne.rvo ,urol
------- - - - - - - - Fibulor ,uperfidol
---- - - - - - - - - - - - N e r v o sofeno

,,, - - - - - - - - - - - - Nervo f,bulor p<ofundo

Flgura 9.11 Comparaç~ en1re os derrn.1tomos e os tcmt611os de ,nervaç.\o dos ne,vm cutc\neos na ~uJX'I ;ele druwl
foml• a Solunriro Co. 1971.
FrorOOl.&/llU. com l'l.'mlr'i\.\o, d,.> Cv11is. JJcOb<.Ol'I ~nd ,., cvs An 1111,r;JJ..,ct()fl 10 ntvtO',ú('fl(t:5 í'hll» ~ w
Quando. no início de uma ·queda de braço: aumentamos
progreswamente a força, fc1.Zen10S agir um nümero cada vez
s, l T
maior de unidades motoras do biceps. Entretanto, o aumen·
l--+--- -+ to da força se deve também ao aumento da frequencia com
T que os neurôn10s rnot01es enviam impulsos As fibras museu·
s e
l.are-s que eles 1n rvam. A proporç.io entre fibras nervosas e
musculares nas unidades motoras não é a mesfT\l em todos
os músculos. Músculos de fo,ç,a, como o bíceps, o trlceps ou o
gastroc~mio, tt~m grande número de fibras musculares para
cada fibra nervosa (até 1.700 no gastrocnêmio). Já nos mús-
cu1os que realizam mCMmentos delieôdos. como na mão, os
interósseos e os lumbri<.ais, esse número é muito menor (96
por axõnio, no prime1ro lumbriCJI da mão).
1..,
Por homologtcl com unidade motorcl, conceitua-se tam-
bém unrdode sens,r,vo, que é o coniunto de um neurônio
sens1t1vo com todas as SU4S rarmficações e os seus recep-
tores. Os receptores de uma unidade sensitiva são todos de
flgur• 9. 12 [squemõ mowando os lim, es dos dermatomoHer• um só tipo, mas. como hJ grande superposiç~o de unidades
m.
wca,s (C). 1or,k,cm lombJ,~ (L} e sacra s (Sl em um ,nd lduo sensitivas na pele. d iversas formas de sensibilidade podem
em P<>Si\ctOquddrúpede. ser pe,cebldas em uma mesma área cutAnea.

7. Correlações anatomod inkas


7.1 Paralisia obstétrica do plHo braquial mu5éulares, paralisias fodais. por e emplo. au,uliando o mé--
( uma complicaç:to associada a pa,tos labo,iosos. dico a confirmar od1Jgnósoco, planejar o mt'lhof tratamento
em que hj necessldcJde de 11ação cervical ou braquial, e avaliar a evoluç~o. Em caso de lesão de um nervo seguida
causando estiramento excessivo e lesão do ple10 bra- de neurorrclflcl, pode-se, po, meio de sucessivos exames
quial. Como consequ~ncia, haverá paresia ou parahs1a elerromiográficos. acompanhar a evoluç~o do processo de
dos músculos inervados pecas raízes O a T1. A lesão é va re,nervaçáo de um músculo, venficando-se o aumento do
11ável. desde re-versivel (neuropraxia) :i ruptura total e ir- nume,o d(' unidades motoras que reaparecem. f composto
reversível Cneurot1mese). Nesse caso. hâ possib,I dJde de de duas partes:
rnurgIa de reconexão e ,egeneraçAo do nervo. A p.irafi• 1, Ele1roneurografia ou neurocond~ão: sensores
s1a flácida pode ser obse1vada logo após o nascimento e sJo posicionados sob,e a pele PJfr1 ava1Iar traje-
ser complet.a ou parcial. Nas parahs,as altas ou de Etb, hJ tos de nervos e, em seguida. pequenos estímulos
acometimento de C5 a C7. afetando a musculatura pro- elétricos Selo feitos para produzir at1\1dades nesses
l(lmal do membro superio,. ombro, íleJ(~O do cotovelo e nervos e músculos. que ~o rnptadJs pelo apare-
supinaçáo do anreb,aço. Nas lesões baixas, C8 e TI ou
1
lho ~ Importante para vettficar Interrupções d a
paral1slJ de Klurnp~e. hJ comprome11men10 da muscu- condU(~ nervosa, como na síndrome de Gu1llain-
latura do urceps, p,onadorcs do antebraço. flexores do ·8arr~ (Capítulo 3, Item 5 2J).
punho e paralisia da m.\o 2. EleuomlografiJ: um eletrodo em forma de agulha
~ inserido na pele até alcançar o músculo, para
7.2 Eletroneuromlografia .ival!Jr diretamente a a11vidade. AvahcJ a atMdJde
A eletroneuromiografia é um método de diagnóstico espontlnea em repouso e durante a contraçc\o
neurofisiológ<o para diagnósuco diferencial das afecçôes voluntAria. Desse modo. pode-se regisua,, em di-
que acometem as unid.ldes motoras, pe1m,1indo dis11ngutr versas situações í1siolôglcas, as carac1eris11cas dos
aquelas que afetam o múSC1Jlo (miopauas) e Junçoo neu- potenc1a1s e!ét11co_s que result.:im da otMdade das
romuscular daquelas que a'etam nt'f\'OS (neuropatias), ra~ unídcldes motoras do músculo em estudo. O mé-
zes ou do neu,ôn10 motor in'!eriol. Au,u ia o diagnóstKo de todo permite avaliar o número de unidades moto-
doenças, como esclerose IJtcral amíotrófica, neuropatias e ras sob controle voluntá110 e..:istcntes no músculo.
pol1neuropa11Js genéticas, inflamatória ou d;abétK.a, hérnias bem como o tamanho dessas unidades, visto QU(."
de disco, doenças do co,no anteoo, da medula, alter3Çôes a amplitude do potencial g(?_rado em cada unida-
motoras ou de senslbolidad~ provocadas por traumas ou de é prol)O(cional ao número de fibras musculares
compressões de nervos pe11fé11cos. miopat1c1s e distrofias que ela contém.

• Cap,1ulo9 NtnoS NII Gtu l - lfflniNc;àn ~ - HIDos E~ 93


Nervos Cranianos

1.. Genen1lldades O V par, nervo trigemeo. é assim denominado em virtude


de seus três ramos: nervos oft<Jfmico; mox,lor; e mond,bulor.
Nef\los cranianos sAo os que fazem conex~o com o O VII, nervo facial, compreende o nervo faclal propriamen•
encéfalo. A maioria deles llga-se ao tronco encefálico. ex· te dito e o nervo intermédio, considerado por alguns a raiz
cetuando·se apenas os nervos olfatórlo e ópt,co, que se sensitiva e visceral do nervo facial. O VIII par. nervo vesti•
<J~m. respect,vamente. ao telencéíalo e ao diencéfalo. Os bulococlear, apresenta dois componentes distintos, que
nomes dos nervos cranianos. numerados em sequência Sdo por alguns considerados nervos separados. S~o eles:
craniocaudal. aparecem na T1bel1 10.1 , que contém tam· as partes vestibular e coclear, relacionadas, r~pectivamen·
~ mas origens aparentes, no encéfalo e no crAnio, dos 12 te, com o equilíbrio e a audiç~o. O nervo vago é também
0,.1res cranianos. Existe o p.ir zero ou nervo terminal, situa• chamado pneumogómico. O nervo acessório d,fere dos de·
do próximo ao olfa tório, pouco desenvolvido no homem mais pares cranianos por ser formado por uma raiz crania•
e que em muitos venebrados é senslvel a ferom6n1os se· na (ou bulbar) e outra espinal (ou cervical). A Tabela 10.1
'(uals. Os nervos 111. IV e VI inervam os músculos do olho. mostra, também. que os nervos cranianos s~o multo mais

Takl.t 10.1 Origem aparente dos nervos cranianos

Par craniano Origem aparente no encéfalo Ongem aparente no cranio


txlbo o fatór,o lám,na cnvow do osso etmo·de
11 qu asma óptico
li sulco med ai do pedúnculo ceieool
IV tiuur.1 01 bital superIOf
V entre a pointe e o pedúocvlo ce1cbelar médi0 nssufa orb.ol wper,o, {oft,Vm,co); for ame redondo (mJx11Jr) e forame
OVJI (m.and boJ'.lr)

iulco bu'bopoot,no fmur.:i Ofbit.:il superior

s\Jf<o bu'bopontino (IJ:eralmente ao VI) foramc es11lomast6ideo


vu sulco bu bop0nt1no Clatcra1meme ao Vlll peoetra no OjSO temporal pelo mea~o acústico 1ntemo, mas nlo sal do
a,ho
IX sulco lateral poster,or do bú'bo forame JuguLn
X sulco lateral poster or (c.1udalmenu• ao IX) for~rne Jugular
XI su'co IJteral poste1.or do bu'bo (tJIZ cr.1ni.:,ru) forême jugular
e medu!J (f.:1 z esp'l'\JI)
XII sulco Ll':eral anter 01 do bulbo, .ldran:e da ol1v.1 car..ll do h poglosso
complicados do que os esplna s no que se refl',e às 011• d) Fibras ofer~•nu?svisceraisespeciais - orig,nam~sc cm
gens aparentes. Enquanto nos nervos espinais, as origens receptores gustativos e olfotórios, conside,ados
são sempre as mesmas. variando apenas o nivel em que viscerais por estarem local,zados em sistemas vis·
r1 cone~o é feita com a medula ou com o esqueleto; nos cerais, como os sistemas digestivo e respiratório.
nervos cranianos. as origem aparentes sAo d.ferentes para
cada nervo (Figura 7.8). As origens reJis são ainda mais 2.2 Componentes eferentes
complicadas e serão estudadas a propósito dd estrutura in· Para que pos.samos entender a classlficl)Çâo funcional
terna do sistema nervoso central (SNC). das fibras eferentes dos nervos cranianos, cumprt! uma rc\·
pida recapitulaçJo da origem embriológica dos músculos
estriados esqueléticos. A ma1ona desses müsculos derrva
A chave a seguir mostira a classificação funcional das fi- dos miôtomos dos som1tos e são, por esse motivo. deno-
bras dos nervos cranianos.. minados músculos escriodos m,otôm·cos. Com exceção de
pequenos somnos existentes adiante dos olhos (somítos
Quando se compara essa chave com a que foi vista a
propósito dm nervos espinais, chama atenção a maior com- pré-ópticos). ruo se f01mam sornitos na eJCtremidade cefá·
plexidade funcional dos nervos cranianos.. determinada fica dos embriões. Nessa íf91Ao. entretanto, o mesoder ma
pr,ncfpalmente pelo surg,memo dos componenres espeoo,s. t? frag,ientado pelas fendas btanqui,m. que delimitam os
arcos branquiais. Os músculos estriados derivados des-
A seguir. serão estudados os componentes funcionais afe·
rentes e cferentes ses arcos branquiais são denomin.Jdos músculos estriados
bronqu'Omb,cos. Músculos mtotôm,cos e branqu1ornér1Cos,
embora originados de modo diferente. são S<'melhantes do
po.nto de vista estruturnl. Entretanto, os arcos branquiais
!>Om.\t..:JS
j9ms são considerados formações viscerais, e as fibras que íner·
('S!Ã'CIJIS vam os músculos neles ouginados ~o consideradas fibras
efcrentes visc~ws especio,s. para distingui-las das efr.rentes
F1h!asa'erentr\
v,scero,sgerais. relacionadas com a ,nervaç~o dos músculos
\ ~ C!'f J ,5

wm.hc,H
r·•
especia.s
lisos, cardiaco e das glándulas. Como será visto no capitu-
lo seguinte, as fibras efcrentes v1scetafs gerais pertencem
e\ dlvi5âo pararnmpática do sistema nervoso autónomo e
term,nam em g~nghos viscerais, de onde os impulsos são
levados às d1ver<"' estruturas viscerais. El.:is são. pois. fibras
prê-91nglionares e promovem a Inervação pré-ganglionar
fibra~e'e1cn1ei dessas estruturas. As fibras que inervam músculos eswados
9e1a,s
mlotômfcos são denominadas fibras eferentes somd11cos.
viscer.i:s
t.' ipe(IJ,S Essa dass1flcaçAo encontra apoio na localtzaçáo dos núcleos
dos nervos cranianos motores. s tu.1dos no tronco encefáli-
co. Corno veremos no Capitulo 17, os nücleos Que originam
2.1 Componentes aferentes as fib•as eferentes v1scera,s especiais tém pos,ç~o rnu110 dl·
ferente daqueles que originam as fib,as eferentes somâtieas
Na exuemidade cefálica dos an,ma1s. desenvolveram• ou viKera1s gerais. A cha...-e a seguir resume o que foi expos·
-se, durame a evolução. órgãos de sentido mais comple· to ~bre as fibras ere,entes dos nervos cranianos.
xos, que são, nos mam1feros, os órgãos da visão. audrçáo,
gustação e olfaç.lo. Os receptorc-s desses órgãos são de-
nominados ·especiais" para distingul-los dos demais re- som.11,cas - mu~u~ es1nad~
ceptores, que, por serem encontrados em todo o restante ~squ~'é11Co, m1016micos
do corpo, sAo denominados gerais. As fibra.s nervosas ern
relação a esses receptores são, pois. classificadas como es- músculos estnJJos
~uelê1,cos
peciais. Assim, temos:
a) fibras a'~ences romdtlCOs gero,s- orig,nam""Se em ex• 1 btanqJ,omtuc~

terocepto.res e proprloceptores. conduzindo impul~s


de temperatura. doí, pressA<>, tõto e propnocepçoo.
b) fibras ofetentes somdt,cas especiais- ouglnam·se na
retina e no ouvido Interno, relacionando-se com vi·
~o. audição e equ1hbr,o
e) r,bros aferentes visceraisgero,s- on~fnam-se em vls·
ceroceptores e conduzem, por exemplo, lmpul~s A propósito da inervaçJo da musculatura branqu101Tlé-
relaC1onados com a dor visceral rlca, é Interessante lembrar Que. muito cedo no desenvolvi·

96 Ntvrowtomi, fvntloNl
- mo. cclda arco branquial recebe um nervo craniano Que 3.3 Nervos oculomotor, Ili par; trodear, IV par;
n rva a musculatura que ai se forma. como está indicado e abducente, VI par
- J Tabela 10.2.
São nervos motores que penetram na órbita pela fis-
Muito interess.inte é a ,nervação do músculo d,gtistrtco.
sura orbital supe1io1, d1suibu,ndo-se aos músculos e trin•
: \.10 ,entre anterior, derivado do primeiro arco, é inervado
secos do bulbo ocular. Que s.ão os seguintes.: elevador da
~lo trig~meo. enQuanto o ventre posteriOr, derivado do se-
p.11pebra superior; reto superior; reto inferior; reto medrai,
~:.mdo arco,~ inervado pelo faclal.
reto lateral: obliquo superior; e oblíQuo inferior. Todos
Os músculos esternocleldomas16ideo e trapéz,o s3o, ao
esses musculos são Inervados pelo oculomotor, com ex•
.....enos em parte, de origem branquioménca, sendo Inerva·
ceçAo do reto lateral e do oblíquo superior. inervados. 1es·
~os pela raíz esp,nal do nervo acessórro. pecuvamente, pelos nervos abducente e troclear (Figura
10.1 ). Admite-se que os musculos extrínsecos do olho de·
htMl• 10.l lnervaçc\oda muscul.;1urd branquio~ CJ rrvam dos somítos pré-ópticos. sendo, por conseguinte. de
origem m1otôm1ca. As libras nervoSJs que os inervam são.
N~rvo Muiculatura Arco br1nqu~I
pois. classificadas como eferenressomdricos. Além disso. o
•, p.11 muscut.i1ura mJS!lgJC!orcJ; ventre 1" nervo oculomotor tem fibras responsáveis pela inervação
ant ...,io, do mv~u1o d,gjs111co pré•ganghonar dos músculos intrínsecos do bulbo ocular:
o músculo cíltar. que regula a converg~ncia do wstaHno;
\. 0.,1 roosculJtura m m.cJ. ventre PQ\tc110f
do müscu1o d~s1rico e m.:.SOJ'o
e o músculo esfinaer da pupila. Esses músculos são lisos
es11'o-h•óideo e as fibras que os ,n rvam dass,ficam-se como eferenres
viscerais gero,s (Figura 10.1 ).
l• P.:,I müKuro t\t•'ofJringeo e constri:0< 30 O conhecimento dos sintomas que resultam de lesões
suP€rJOr d.t faringe
dos nervos abducentes e OCtJlomotor. além de aJudar a e~
1 PJf rmha,lor. coostr,ton3 me-d,o e ,n't.>rlOf "ºe s., tender as suas funções, reveste-se de grande importAncia
dJ f.:.1 1~ e mt.Kulos dJ la·ll'lQe clínica e esses nervo~ serc:\o estudados no úpítulo 19.

3.4 Nervo trigemeo, Vpar


O nervo trigémeo é um nervo misto. sendo o com-
ponente sensírivo consideravelmente maior. Tem uma raiz
O estudo minucioso das ram,ncaçôes e da d1st11bulç~ sensir, o e uma raiz motora (Figura 7.8). A raiz sensitiva
de cada nervo craniano deve ser feito na anatomia geral por é formada pelos prolongamemos centrais dos neurônios
meiO de d1ssecaç6es. Vamos nos limttJr agora a algumas sensitivos, situados no góng/io trigrmínat, que se local,1a
considerações sum.Stlas sobre os nervos cranianos. com ~n- na loja do gc\ngho tr,gemmal (Figura 8.2), sobre a parte
Íõse nos componentes funci0nais. As correlações anatomo• petro_sa do osso temporal. Os prolongJrnentos pe11féricos
crnicas serAo estudadas em conjunto no Capitulo 19. dos neurônios sensitivos do gAngho trigeminai formam,
distalmente ao gc\nglio, os três ramos ou divisões do tr,g~
3.1 Nervo olfatório, 1par meo - neNo ofrôlmico. nervo maxl/01 e nervo mand,bular - .
E representado por numerosos pequenos fe11es ncr· responsjveis pela sensibilidade somtitlca geral de grande
YOSOS que, originando-se na região olíató1ia de cada fossa pane da cabeça (Figura 10.2). po1 intermédio de fibras
nawl. atrõvessam d lam,na crivosa do osso etmoide e termi- classificadas como oferenres somôr,cas gero,s Essas fibras
nam no bulbo olfatóriO (figura 29.6). ( um nervo exclusl· conduzem impulsos exteroceptivos e proprloceptivos. Os
vamente sens•trvo. cujas fibras conduzem informações do Impulsos exteroceptivos (temperatura, dor. p,ess.lo e tato)
ep,t~llo olfató110. sendo cl.:m,ficados como aferentes v1su- originam-se:
rors eS{h.7Cio1s a) da pele da foce e da fronte (Figura 10.2A);
3.2 Nervo óptico, li par b) d<'! coniuntiva ocular;
c) da parte ectod~rm,ca da mucosa da cavidade bu·
Econstituído por um grosso feiie de fibras nervosas cal. narfz e seios paranasais {figura 10.28);
que se orrg1nam na retina. emergem próximo ao polo pos-
d) dos dentes (Flgur• 10.2C);
terior de cada bulbo ocular. penetrando no crAnio pelo
e) dos dor<o ter(os anteriores da língua (Figura 10.28
canal óptico. Cada nervo óptico une·~ com o do lado
e 10.3);
oposto. formando o quiasma ópuco (Figura 7.8). onde há
cruzamento parcÍcll de suas fibras, as qua,s continuam no f) dJ maior pane da dura•mJter cranlanõ (Flgura
10.28).
trato óptico até o corpo geniculado lateral O nervo óptico
é um nervo exclusrvamente sensitivo, cujas lib1as condu• Os impulsos propr,ocept1vos orig nam-se em recepto-
1em informa:çôes visuais. classificando-se como ofe,enres res locallL'ldos nos musculos mastigadores e na art lculaçAo
somdr,cos espeoa,s. temporomand1bular.

• Cilpllulo 10 NfrwsCnni.lno\ 97

.- . -. .
.-.-
~
- - .. - ----
. ·-- --
--- ..........
~':-
_
\
\
\
- - - - Ner,o oe:ulomolor (Ili)
Mú~lo reto
I1 I obl',quo ·,n fe no,
· inferior
1
\ MúKVlo ciliar
MúKulo esJincle<
do pupilo
... -- MúKulo obliquo superio,

I
/
r (IV) ____,

Nervo, abducente (VI) - - - - - - - -

- Mú1eulo relo lateral

Flgura 10.1 Origem aparente e temtôrlOs de d,str1buiçâo dos neM>s oculomotor. troclear e abducente.

A ratz motora do trigémeo é const1tulda de fibras que do. de modo a destruir as fibras sensitivas. Para estudar as
acompanham o nervo mandibular, distribuindo-se aos perturbações motoras e sens111vas que resultam das lesões
músculos mastigadores (temporal. masseter. pterigóideo do nervo uiglimco. consulte o item 5.3 do Capítulo 19.
lateral. pterig61dco medial, m,lo-hióideo e o ventre ante•
rior do músculo digc\strico) (Figura 10.20). Todos esses 3.5 Ntrvo fadai, VII
músculos derivam do primeiro arco branquial. e as nbras As relações do ner1,o facial t~m grande importància mê·
que os Inervam são classificadas como efe,enres v,surois dica, destacando-se as r~açôes com o nel'\IOvest1bulocodear
especiais. e com as estrutura~ do ouvido médio e interno, no traJeto in-
O problema méd co mõls observado em relação ao tri· trapetroso. e com a parótida,' no trajeto extrapeuoso.
gémeo é a neu,olg~. que se manifesta por crises dolorosas
muito inten!".as no tenit6rio de um dos ramos do nervo. ~o
quadros clínicos que causam grande sofrimento ao paclen• 1 í.tto c.Utimo ê qu,e o ner-.o foc.í.t~b ~ r dt' ,n,a,õsar a N r6l4l , OO(k'
te e cujo uatamento é qua.se 5.empre cirúrgico. Faz-se. então, ~ ram fica. lnervl todJs illgl.\ncMu m.1lores d.J c.abeça, l!.\Ce o a p,1ró•
a termocoagulaçAo con11olada do ramo do trigémeo afeta• •,dJ, Q\J(' ê lnc:Md.l pe,\o glo\sd.ulngeo.

98 twowloml.l funcioNI
NflM> occipital maio,
1
1 NeM> occipital menor
1 I
1
1

I
I A

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( I
\
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,l-\_ _ \._~_-
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- 71

\
\ \ t \
1 1 \
\
\ \ Ne~ o urlculor
\ l mogno
\ Nervo tron,ver
Nervo.s ,uproclaviculorn do peKOÇo
Nervo oftólmico (V 11

■ Nervo rnoxilor (V1J _____ • Mú1eulo pterigóldeo


/ lote,ol
■ Nervo mond1bulor (V3) D /
(fibra, 1ensrtivo1) /

■ Nervo glonoforingeo (IX)


,/ - - -- - - Mú1eulo temporal
/
/ - - - - -Múxulo pteTigôideo medial
■ Nervo...ogo(X) /
■ Nervo mandíbula, (V 1) - - - - - - - MúKulomollehtr
(libra, mototo,1 /
/
•• • •• Nervo intermédio (VII)
, //
,,,, - - - - • Mú1eulo mibhióideo
/ / /
/ /
/ ,,,,
/

Figwa 1Cl.lOngem aparente e terrn6'o d!! d stnbuIça<> do nervo Ui<J~meo. (A) na pele. (B) nas mucosas e meninges; (C) nos denlt'S;
(D) nos múKulos. O 6Quema mostra u1m~m os 1erri1611os sens,tlvOs (sens b,lldade geral) dos nervos facial, gl<Xsolaringeo e vago

O nervo emerge do sulco bulbopontino através de uma Juntamente com o nervo vestibulococlear, os dois compo-
raiz motora. o neNO foc,al propriamenre dito, e uma ra,z sensi- nentes do nervo facial penetram no meato acústico interno
tiva e v1$Ceral. o neNO ,mermiX/ro (de Wrisberg) (Figura 7.8). (Flgun18.2), no 1ntenor do quül o netVO intermédio perde a

• Capitulo 10 Hfrffl CfMIIMlos 99


Tab«l41 10.J Comp()nenres funoona,s das fibras do\ rter~ f«IJI (VII), glossofaringeo (IX) e vago (XI

Compont>ntt' VII IX X
Funcional
Aferent~ 1,,scerul g1.ntaçck> nos ]13 anter10•e;. dJ gumiçAo no 1/3 po'iteri()( dJ l,ngua gus:açc\o nJ epiqlote
especiJI ltngw
Aft:ren te V\SC rat geral fl,)rti:' pcxtcr,or dJl ross.-is na~·s e 1/3 ~ renor éa l'ngua, farin~. pt.11U: tia ra,,1191•, IJh"9l', traq~
lace sutr:110f do pa.\.lto mol,:, úvvlJ. tOflSJl.l!>. 1uba aud twa, se,o e l'~fago e v,sceras torAcic,u e
ccxpo ca,ot~ abdo-n f\a s
Aferente som.\iieo p.i,1.-dop,w hJo.iw ,tr,'Oedu parte- do p.1. ,lhSo auchm,o e do p.1r1e do 'p.s,1'h.x) a,XI tivo e do
ge1.il m-eato a ú~t•C.Oc;..t •rno mN;o acústico e<tc:1no nledtO a,u,tieo e\tetno
(for nie "1\Ceral 9"r.1l g'lndub submand 001.lr. subi ngu11 g!Jnd ulJ parót.da 11i~ l'rJs tor~c,cas e abdom nars
e l:n1ma
Uerenw v1scl!rat musculatur.:i m m.ca rnusculo COIIS!MOI SVPi:f<lf da múKu1os da f,mng~ e da larrnge
l"Spe(tJI faonge e mu~uto es1,1orJIINJ!'O

sua ind,v,dualidade. formando-se. assim. um tronco nervoso co anexo ao nervo lingual, de onde saem as fibras
único. que penetra no canal facial. Depois de curto tra;eto. (pôs-ganglionares), que se distribuem âs glândulas
o nervo facial encurva-se fonem nte p.3ra trás, formando o submand1bular (Figura 11 l .5) e sublingual. As fi.
}Oelno exrerno! ou genícu!o do net\'O foctal. onde existe um brasdestmadas ~ glAndula lacrimal destacam-~ do
gc'lngl o sensluvo. o gdnglt0 gemeu/ado (Figura 1l.5). A !ie· nervo facial ao nível do joelho externo, percorrem.
guir. o nervo descreve nova curva para bai>o. emerge do sucess,varneme. o ne,'IO per,om mo,or e o ne,,.'O do
crc'lnio pelo (orame estilomastóldeo. atravessa a glc'lndula canal prerigôideo. atingindo o gông',o prer,gopalor,-
par6ticfo e d1str1bu1 uma série de ramos para os músculos no (Figura 1l.S), de onde saem as fibras (pôs-gan-
mímicos. músculo est,lo-hióideo e ventre posterior do mús· glionares) para a gl~ndula lacrimal.
culo digástrico.' Esses músculos derivam do segundo arco e) Fibras oferemes v,sce,o,s espec101s - recebem impul·
branquial, e as fibras a eles destinadas sAo. pois, eferenres sos gustauvos 0119,nados nos dois terços ante1io-
v,scerws espec,a,s. comtHuindo o componente funoonal res da 1/ngua (Figura 10.3 ) e seguem Inicialmente
mais importante do VU par. Os quatro outros componentes com o nervo lingual. A seguir, passam para o nervo
funcionais do VII par pertencem ao nervo lnterméd10, que corda do rimpano (Figura 12.S), através do quJI
apresenta libras aferentes vIsceraIs especiais. aferentes vis- ganham o nervo facial, pouco antes de sua emer-
ceraisgera,s. eferentes somâticas gerais e eferentes viscerais gônc1a no forame estllomastóideo. Passam pelo
gcra,s. As fibras aferentes s:io prolongamentos perlféncos gànglro geniculado e penetram no tronco encefá-
de n.eu,Onlos sens,t,vos situados no g~ngho gcnlculado; os lico pela ra,z sensitiva do VII par, ou seja. pelo nervo
componentes eferentes orig,ruim-se em núcleos do tronco interméd10.
encefáhco
As lesões do nervo facial s.\o muito frequentes e de
Todos esses componentes s:io sintetizados ™Tabela
grande importància cllntCa. Para eS1udar os sintomas que
10.3. Descrevemos com maK>r minúcia os u~s seguintes,
que Sc\o os mais ,mpo,tantes do ponto de vista cl,ni{o: ocouem nesses ca~. consulte o nem 5.1do Capítulo 19.
a) Fibras eferenres wsarois esf)t"Clo,s - para os músculos Seruibílldode gu~iYo
mímicos, músculos estilo·hiôideos e ventre poste· ,.__
rior do d,gástrico.
b) F1bfas efcrenres v,scera,s gerors - responstlveis pela
,nervaçAo pré-g anglionar das glândulas lacrimal,
submand,bular e sublingual As fibras d stínadas
:is gl~ndulas submand1bular e sublingual acom· '

,..
J

. , . ,,., IX . ,,
pc1nhc1m o trajeto anteriormente descnto para as
fibras aferentes viscerais especiais, mas terminam t 1/ ,
. , ."'i-l 1
~ ,. ;. '
• , I
I

t' , .
; , •·•
no gônglio submond,bulor; ganglio parassimpáti· •• •, I • • • J • - ~ •li •
V , 1' •;i•
,..; ' J

~ • 4 .it •

2 OJocJhO in•emo do ~ ' O fac.ldl loc.,.!u.i-i..> no inrtro d..l pon:t-. no n/vçl


dJ em,ntncL.l d.-nolT' n.ld..1 <o<U'ofcJ<,a,' no O'>-\Od'ho do\ 'ntrtCLJIO Seruíbilldode ge,ol
l Em~ 11.-fol0If'l1tapt>·~. OflE'r\'01.Jci.d ema~o n.-r.oec.~>d<>p.11.i
o MU~ulo d•• n'II: ~rno nom..- Flguf• 10.J CsQuemJ de ínervaç.)o d.l I ngu,1,

100 Ntvowtomil fundonitl

--- --- - .-.:.- .. ~:1l..


~_;t..l':_- ---------------=--- ~-~
l.6 Nervo vestibulocodear, VIII par Das aíecções do nervo g1ossofaringeo. merece desta-
O nervo ~t,bulococlear é um nervo exdusiva-nente que apenas a neuralgia Esta caracteriza-se por crises dolo-
!.l'ns,trvo, que penetra na ponte na porç.\o lateral do sulco 10Sds, semelhantes às jtl de5c111as para o nervo trlgêrnro. e
b:Jlbopontmo. entre a emergência do VI par e o ílóculo do manifesta-se na faringe e no terço posterior dJ lingua, po-
.:erebelo (Figura 7.8), reg!Ao denominada óngufo pomoce- dendo 11ré>d1c1r para o ouvrdo•
•rDf!/01. Ocupa. Juntamente com os nervos facial e intermé•
e o, o meato acústico interno. na porçA<> petrosa do osso 3.8 Nervo vago, Xpar
· ~mporal. Compõe-se de uma porre vembular e um.J parte O nervo vago, o ma10r dos ne,vos cranianos. é misto
roclear. que. embora unida\ em um tionco comum, têm 011• e essencialm n1e visceral Emergt' do sulco lateral pmterior
çem. funções e conexões centrais diferentes. do bulbo (Figura 7.8) sob a forma de filamentos radícula•
A p.3rte vestibular é formada por tiblc1s que se originam res que se reúnem para fo1ma1 o nervo vago. Este emerge
dos neurônos sensítrvos do gôngl,o vembular, que conduzem do crànio pelo forame jugular, percorre o pescoço e o 16-
mpulsos ne<vosos relac10f\.ldos com o equ1hbno, ong1nados rõx. terminando no abdome. Nesse longo trajeto. o nervo
l:fTI receptores da porç.\o vestibular do ouvido interno vJgo dá 011gem a numerosos ramos. que lneNam a laringe
A pane coclear do VIII par é constituída de fibras que se e a fa11nge. entrando na formação dos plexos viscera;s, que
o,191nam nos neurônios sensitivos do gông/10 espiral e que piomovem a ,ne<vaçJo dutónorna das vísceras torAclcas e
conduzem impulsos nervosos relacioncldos com a audição, abdominais (Figura 12.2). O vago apresenta dois gàngl1os
or,g1nados no órg.\o espiral (de Coru). receptor da audl(c\o, sens1ti ros. o góng/,o supenor (ou jugular), situado ao nlvel
s tuJdo na cóclea. As fibras do nervo vembulococlear dtmi- do forame jugular. e o gónglro infe11or (ou nodoso). situado
ncam-se como afe,entes romd r,cos espe<:10 11. logo abailfO desse forame (Figura 12.5). Entre os dois g~n-
Lesões do nervo vest1butoc.oclear causam d,m,nuiçc\o gtlos. reúne-se ao vago o ramo lnterno do nervo acessór,o.
dJ aud.ç.\o. por comprome11mento da pane coclear do Os coml)Onentes íunc,onais das fibras do nervo VàÇO estõo
nervo, 1untamente com vertigem, alterações do equil1brio sintetizados na Tabela 10.3.
e enjoo. por envolvimento da parte vest1bul.Jr. Pode ocor-
Destes. os mais importantes seio os segu,ntes.
rer também um mov,mento oscilJtório dos olhos, denom1•
nado nisrogno Urna das p.11ologkls mais comuns do nervo a) Fib,os ofmmtes viscera,_s gerais - muito numerosas,
,estibulococlear sc\o os tumores formados por células de conôuiem impul~ aferentes onglnados na íarin·
Schwann (neurinomas), que crescem comprimindo o pró- ge. laiinge, uaquela. esôfago, vísceras do tórax e
p.io nervo e também os nervos facial e mterméd'o. Nesse abdome.
CJso, os sintomas anrenormente descritos assocom-se b ) Fibras derenres v,scero,s gcro,s - resl)Onsávc;s pela
à~ueles que resultam das lesões desses dois nervos Com Inervação pJrassímpálica das vísceras torácicas e
írequ~nc1a, o n~11r1nomil cr sce no .\ngulo pon1ocerebelar. abdominais (Figura 12.2).
poderdo compnmlr também o trig~meo e o pedúnculo ce- c) Fibras ~eremes v,sce,ais especiais- rnervam os mús-
1ebela, médio (~indrome do angulo pon ocerebelar) culos dc1 faringe e da la11nge. O nervo motor 1T1c1is
importante da laringe é o laríngeo. recorrente do
3.7 Nervo glossofarfngeo, IX par vago, cujas fibras. entretanto, são, em grande pJrte.
O nervo glossofar,ngeo é um nervo misto. que emerge originadas no ramo interno do nervo acessório.
do sulco lateral postenor do bulbo, sob a íorma de filamen-
As fibras eferentes do vago originam-se cm núcleos
tos 1cld1culJres. que se dispõe em linha vt'ltrcal (Figura 7.8).
situados no bulbo. e as fibra5 sensitivas (Figura 12.S). nos
Esses filamentos reúnem-se para formar o tronco do nervo
g6ngbos super,01 (fibras som.1t1cas) e rnfer,or(fibras viscerais).
g!ossofaringeo. que sa, do crânio pelo forame jugular. Em seu
trajCtoatravés do forame Jugular, o nervo aJ)ít'senta doisgjn-
3.9 Nervo acessório, XI par
ghos. superior (ou Jugular) e mfer/OI (ou petroso). formados poc
net.rrôn,os sensitivos (Figura 12.S). Ao Sd·r do crãnlo, o nervo O nervo acessório é formado por uma ro,z cromana
g'ossofaringeo tem trajeto descendente, ramíficando·se na (ou bulbar) e uma ro,1esp,nol (Figura 7 .8). A raiz espinal é
raiz da l,ngua e na fa11nge. Os componen es funcionais das íormada por filamentos rad,culares, que emergem da face
fibras do nervo g'ossofarlngeo assemelham-se aos do vago e lateral dos c,nco ou seis pr meiros segmentos cervicais da
do facial e estão smteuzados na Tabela 10.3. medula e consrnuem um tronco comum que penetra no
Deises. o mais importante é o representado pelas fibras crc'lnio pelo forame magno (Figura 8.2). A esse tronco.
o,'erenresv,sa•ra,s 9ero1s, responsáveis pela sens1b1lid!de ge- reúnem-se os filamentos da raiz craniana. que emergem
ral do terço posterior ela língua, faringe. úvuta. tons,la, tuba do sulco lateral postefíOr do bulbo (Flgura 7 ,8 ). O tron-
aud1t1va. além do seio e corpo GHOtidros. Merecem desta· co comum atravessa o forame Jugular em companhia dos
que. também. as libras efe,emes v,scerars 9ero1s, pertencen- nervos glossofaringeo e vago. d1Vid1nd->-se em um ,amo
tes :t dMsào parassimpáttCa do sistema nervoso autônomo mremo e outro excerno. O ramo rnterno. que contém o:1s fi.
e que terminam no gànglio ótico (Rgura 12.S). Desse gàn- bras da raiz craniana, reúne-se ao vago e d1str1bul·sc com
g'lo. saem fibras nervosas do nervo auriculotemporal que ele. O ramo externo contém as fibras da raiz espinal, tem
,~ervarão a gtàndula p.Jrótida. trajeto próprio e, diriglndo·se obhquamcnte para baixo.

• C.lp ttulo 10 HmmC,,rwnos 101


Inerva os músculos trapézio e esternocleidomastóideo. 4. lntmçlo da lfngua . · ·· · - . ·-
Funcionalmente, .u fibras oriundas da raiz craniana que se
unem ao vago Sc'lo de dois tipos; Durante a descrlçao dos nervos cranianos. vimos que
quatro deles contêm fibras destinadas~ inervação da língua:
a) ílbros efuenres viscerais esprciais - Inervam os müscu-- o trigémeo, o fadai. o glossofafiogeo e o hipoglosso. Os terrl·
los da laringe através do nervo laríngeo recorrente. tórlosde inervação de cada um desses nervos !>Ao mostrados
b) r,b,as ele,enres viscerais gerais- inervam vísceras to- na Figura 10.3. Segue-se, à gui.sa de recordação, rápido rela-
ráocas juntamente com fibras vagais. to sobre a funçclo de cada um deles na inervaçclo da língua:
Embora haja controvérsia sobre a origem embrioló· a) triglmeo - sens•bilidade geral (temperatura, dor,
gica dos müsculos trapézio e esternocle1domastóideo. hei pressão e tato) nos dois te1ços anteriores;
argumentos quie ind;cam uma origem branquiomérka. De b) facial - sensibilidade gustativa nos dois terços
acordo esse ponto de vista, as fibras da raíz espinal do nervo anteriores;
aces56rlo são eferenti?S viscerais especiais. e) glossofarlngeo - sen.s1b1lidade geral e gustativa no
terço posterior:
l.1 ONtrvo hlpoglosso, XJI par d) hlpoglosso - motnddade.
O nervo hipoglosso. essencialmente motor, emerge do Cabe ressaltar que. embora sejam quatro os nervos era•
sulco lateral ante•1or do bulbo (Flgur1 7.8) sob a forma de nlanos cuj.as fiblas inervam a llngu.1, apenas tr~s nervos che•
filamentos rad;culares, que se unem para formar o tronco gama es~ órgáo, ou seja. o hipoglosso, o glossofaringeo e
do nervo. Este emerge do crAnio pelo canal do hipoglosso o lingual. sendo. este último. um ramo da divisão mand1bu•
(Rgura 8.2), tem trajeto Inicialmente descendente, drug n· lar do nervo trigémeo. Essa "reduçoo' no número de nervos
do•se, a seguir, para diante, d1st11bu1ndo•se aos músculos resultado do fato de que as fibras do nervo facial cheg,1m à
intrínsecos e extrínsecos da língua. Embora haja discussão língua através do nervo lingual, Incorporando-se a ele por
sobre o assunto. admite-se que a musculatura da língua seja melo de uma anastomose. denominada nervo corda do
derivada dos m iótomos da reg1áo occlp1tal. Assim, as fibras tímpano (Figura 12.S).
do h poglosso Sc'lo consideradas eferenres somdricos, o que.
como veremos, está de acordo com a posição de seu núdeo
no tronco encefálko.
S. Correlações anatomoclinicas
Nas lesões do nervo h1poglosso, há paralisia da museu• O esrudo detalhado das funções dos nervos crania-
fatura de uma das metades da língua. Nesse caM>, quando o nos será felto nos Capítulos 14 a 17 em conjunto com a
paciente foz a protru~o da língua, ela se desvia para o lcldo anatomia Interna do tronco encef.11tco. As correlacoes
lesado, por açáo da musculatura do lado normal, não con- ana,omocllnícas estão condensadas no Capitulo \ 9.
trabalançada pela musculatura da metade paralisada.

102 !Nowtomb flll!ÔONI

..
~·-·---· - . . . .....
Sistema Nervoso Autônomo
Aspectos Gerais

1. Conceito ... •.. ,.,..., . . " ' - - + ~ , f Com base em critérios que serão estudados a seguir, o
SNA dívide-se em simpdtico e parassimpático, como mostra
Conforme já exposto anteriormente (veja Capítulo 2, a chave a seguir.
:~m 3), pode-se dividír o si.stema nervoso em somático e
. isceral. O sistema neNoso somático é também denominado
s"stema neNoso da vida de relação, ou seja, aquele que rela- aferente
.:iona o organismo com o meio ambiente. Para isso, a parte
3íerente do sistema nervoso somático conduz aos centros Sistema nervoso
-iervosos impulsos originados em receptores periféricos, visceral simpático
eferente = sistema
·nformando esses centros sobre o que se passa no meio nervoso autônomo { P,arassimpático
ambiente. Por sua vez. a parte eferente do sistema nervoso
somático leva aos músculos esqueléticos o comando dos
centros nervosos, resultando movimentos que propiciam Convém acentuar que as fibras eferentes viscerais espe-
maior relacionamento ou integração com o meio externo. ciais, estudada.s a propósito dos nervos cranianos (Capitulo
O sistema nervoso visceral é responsável pela inervação das 1O, Item 2.2), não fazem parte do sístema nervoso autôno-
estruturas viscerais e é multo importante para a integração mo, pois Inervam músculos estriados esqueléticos. Assim,
das funções desses órgãos para a manutenção da constân- apenas as fibras eferentes viscerais gerais integram esse
cia do meio Interno (homeostase). Assim como no sistema sistem a. Embora o sistema nervoso autônomo tenha parte
nervoso somático, distingue-se no sistema nervoso visceral tanto no SNC como no periférico, neste capítulo daremos
uma parte aferente e outra eferente. O componente aferen- ênfase apenas à porção periféríca desse sistema. Ames de
te conduz os impulsos nervosos originados em receptores estudarmos o sistema nervoso autônomo, faremos algumas
das vísceras (visceroceptores) a áreas específicas do sistema considerações sobre o sistema nervoso visceral aferente.
nervoso central (SNC). O componente eferente traz impul-
sos de alguns centros nervosos até as estruturas viscerais, j
terminando, pois, em glândulas, músculos lisos ou músculo
cardíaco, e é denominado sisrema nervoso autônomo. AI· As fibras viscerais aferentes conduzem Impulsos ner-
guns autores adotam um conceito mais amplo, incluindo vosos originados em receptores situados nas vísceras
no sistema nervoso autônomo também a parte aferente (visceroceptores). Em geral, essas fibras integram nervos
visceral. Segundo o conceito de Langley, utilizaremos a de- predominantemente viscerais, em conjunto com as fibras
nominação sistema nervoso autônomo (SNA) apenas para o do sistema nervoso autônomo. Assim, sabe-se hoje que a
componente eferente do sistema nervoso visceral. Há mui· grande maioria das libras aferentes que veiculam a dor vis·
tas diferenças entre as vias eferentes somáticas e viscerais, cera! acompanha as fibras do sistema nervoso simpático,
que serão estudadas no item 3. Já as vias aferentes do sis- constituindo-se exceção as fibras que Inervam alguns órgãos
tema nervoso visceral, ao menos no componente medular, pélvicos que acompanham os nervos parassimpáticos. Os
sãÓ semelhantes às do somático e compartilham do mesmo impulsos nervosos aferentes viscerais, antes de penetrar no
ganglio sensitivo. SNC, passam por ganglios sensltívos. No caso dos impulsos
que penetram pelos nervos espinais, esses gânglios são os ra não o é. A distensão de uma víscera, como uma alça in-
gânglios espinais, não havendo, pois, gânglios diferentes testinal. é muito dolorosa, o que não acon1tece com a pele.
para as fibras viscerais e somáticas. Considerando-se que a dor é um sinal de alarme, o estimulo
Ao contrário das fibras que se originam em receptores adequado para provocar dor em uma região é aquele que
somáticos, grande parte das fibras viscerais conduz Impul- mais usualmente é capaz de lesar essa região. Fato interes-
sos que não se tornam conscientes. Por exemplo, continua- sante, observado com frequência na prática médica, é que
mente estão ohegando ao nosso sistema nervoso central certos processos inflamatórios ou irritativos de vísceras e
impulsos que Informam sobre a pressão arterial e o teor de órgãos internos dão manifestações dolorosas em determi-
o, do sangue, sem que possamos percebê-los. Sáo, pois, nados territórios cutAneos. Assim, processos irritativos do
impulsos afererntes Inconscientes, Importantes para a reali- diafragma manifestam-se por dores e hipersensibilidade na
zação de vários reflexos viscerais ou viscerossomáticos, re- pele da região do ombro; a apendicite pode causar hiper·
lacionados, no exemplo citado, com o controle da pressão sensibilidade cutânea na parede abdominal da fossa ilíaca
arterial ou da taxa de 0 1 do sangue. Existem alguns viscero- direita; o infarto do miocárdio, no braço esquerdo. Esse fe-
ceptores especializados em detectar esse tipo de estímulo, nômeno denomina-se dor referida.
sendo os mais conhecidos os do seio carolfdeo e do corpo
carorfdeo, situados próximos à bifurcação da artéria carótida
comum. Os visceroceptores situados no seio carotídeo são
sensíveis às variações da pressão arterial, e os do corpo caro-
tideo, às variações na taxa de 0 2 do sangue. Impulsos neles Os impulsos nervosos que seguem pelo sistema ner-
originados são levados ao SNC pelo nervo glossofaríngeo. voso somático eferente terminam em músculo estriado
Contudo. muitos impulsos viscerais tornam-se conscientes, esquelético, enquanto os que seguem pelo sistema ner-
manifestando-se sob a forma de sensações, como sede, voso autônomo terminam em músculo estriado cardíaco,
fome, plenitude gástrica e dor. músculo liso ou gl~ndula. Assim, o sistema nervoso efe-
A sensibilidade visceral difere da somática principal- rente somático é voluntário, enquanto o sistema nervoso
mente por ser mais difusa, não permitindo localização pre- autônomo é involuntário. Do ponto de vista anatômico,
cisa. Assim, pode-se dizer que dói a ponta do dedo mínimo, uma diferença muito importante diz respeito ao número de
mas não se pode dizer que dói a primeira ou a segunda alça neurônios que li9am o SNC (medula ou tronco encefálico)
Intestinal. Por outro lado, os estímulos que determinam dor ao órgão efetuador (músculo ou glândula). Esse número,
somática são diferentes dos que determinam a dor visceral. no sistema nervoso somático, é de apenas um neurônio,
A secção da pele é dolorosa, mas a secção de uma vísce- o neurónio motor somático (Figura 11.1 ), cujo corpo, na

Neurônio motor somático Neurônio


pós-ganglionar
'\
Fibro ,
pós-ganglionar \

Sistema nervoso
somátko eferente
JJ~ogt:',
.... ..... ).•~:·....-~~

' Fibra
pré-ganglionar

Sistema nervoso visceral


eferente ou autônomo

Figura 11.1 Diferenças anatômicas entre o sistema nervoso somático eferente (lado esquerdo) e o sistema nervoso visceral eferente ou
autônomo (lado direito).

104 Neuroanatomla funcional


medula. localiza-se na coluna anterior. saindo o axônio pela -ganglionar faz sinapse com um grande numero de neurô-
raiz anterior e terminando em placas motoras nos músculos nios pós-ganglionares.'
estriados esqueléticos. Já no sistema nervoso autônomo, M Convém lembrar que existem áreas no telencéfalo e
dois neurônios unindo o sistema nervoso central ao órgão no diencéfalo que regulam as funções viscerais. sendo a
efetuador. Um deles tem o corpo dentro do SNC (medula ou mais importante o hipotálamo. Essas áreas estão relacio-
tronco encefálico), o outro tem o seu corpo localizado no nadas também com certos tipos de comportamento. es-
sistema nervoso periférico (Figura 11.1 ). Corpos de neurô- pecialmente com o comportamento emocional. Impulsos
nios situados fora do SNC tendem a se agrupar. formando nervosos nelas originados são levados por fibras especiais
dilatações denominadas gânglios. Assim, os neurónios do que terminam fazendo sinapse com os neurônios pré-gan-
sistema nervoso autónomo. cujos corpos estão situados glionares do tronco encefálico e da medula (Figura 11.1).
fora do SNC, se localizam em gãngllos e são denominados Por esse mecanismo, o SNC influencia o funcionamento
neurônios pós-ganglionares (melhor seria, talvez, a deno- das vísceras. A existência dessas conexões entre as áreas
minação neurônios ganglionares); aqueles que tem os seus cerebrais relacionadas com o comportamento emocional
corpos dentro do sistema nervoso central são denominados e os neurônios pré-ganglionares do sistema nervoso autô-
neurônios pré-ganglionares (Agura 11.1). Convém lembrar nomo ajuda a entender as alterações do funcionamento
ainda que, no sistema nervoso somático eferente, as fibras visceral. que com frequ~ncia acompanham os distúrbios
terminam em placas motoras situadas nos músculos estria- emocionais. Essas áreas e as suas conexões serão estuda-
dos esqueléticos. No sistema nervoso autónomo, elas termi- das no Capítulo 27.
nam em músculos lisos, estriado cardíaco e gl~ndulas. e são
terminações nervosas livres.

4!30rganizaçãógeral do sistemanervõso'áutõnomo ..: Tradicionalmente, divide-se o sistema nervoso autôno-


Neurónios pré- e pós-ganglionares são os elementos mo em simpático e parassimpático, de acordo com critérios
fundamentais da organização da parte periférica do sistema anatômicos. farmacológicos e fisiológicos.
nervoso autônomo. Os corpos dos neurônios pré-ganglio-
nares localizam-se na medula e no tronco encefálico. No 5.1 Diferenças anatômicas
tronco encefâllco, eles se agrupam formando os núdeos de a) Posição dos neurônios pré-ganglionares - no sistema
origem de alguns nervos cranianos, como o nervo vago. Na nervoso simpático, os neurônios pré-ganglionares
medula, eles ocorrem do 1° ao 12° segmento torácico (Tl localizam-se na medula torácica e lombar (entre Tl
até Tl 2). nos dois primeiros segmentos lombares (L 1 e L2) e e L2). Diz-se, pois, que o sistema nervoso simpático
nos segmentos S2, S3 e S4 da medula sacral. é toracolombar (Figura 11.2). No sistema nervoso
Na porção toracolombar (T1 até L2) da medula, os neu- parassimpático, ele_s se localizam no tronco encefá-
rónios pré-ganglionares se agrupam, formando uma coluna lico (portanto, dentro do crAnio) e na medula sacra!
muito evidente, de11ominada coluna lateral, situada entre as (S2, S3, 54). Diz-se que o sistema nervoso parasslm-
colunas anterior e posterior da substância cinzenta. O axô- pático é craniossacral (Figura 11.2).
nio do neurônio pré-ganglionar, envolvido pela bainha de b) Posição dos neurônios pós-ganglionares - no sistema
mielina e pela bainha de neurilema, constitui a chamada nervoso simpático, os neurónios pós-ganglionares,
fibra pré-ganglionar, assim denominada por estar situada ou seja, os g~nglios. localizam-se longe das vísce-
antes de um gânglio, onde termina fazendo sinapse com o ras e próximos da coluna vertebral (Figura 11.2).
Formam os gãnglios paravertebrals e pré-verte-
neurônio pós-ganglionar.
brais, que serão es1udados no próximo capítulo.
Os corpos dos neurônios pós-ganglionares estão si-
No sistema nervoso parassimpático. os neurônios
tuados nos gânglios do sistema nervoso autônomo, onde
pós-ganglionares localizam-se próximos ou dentro
são envolvidos por um tipo especial de células neurogliais,
das vísceras.
denominadas anfícitos ou células-satélite. São neurônios
e) Tamanho das fibras pré- e pós-ganglionares - em
multipolares, no que se diferenciam dos neurônios sensiti-
consequéncia da posição dos gânglios, o tamanho
vos, também localizados em gânglios. e que são pseudou-
das fibras pré- e pós-ganglionares é diferente nos
nipolares. O axônio do neurônio pós-ganglionar envolvido dois sistemas (Figura 11,2). Assim, no sistema ner-
apenas pela bainha de neurilema constitui a fibra pós-gan- voso simpático, a fibra pré-ganglionar é curta e a
glionar. Ponanto, a fibra pós-ganglionar se diferencia his- pós-ganglionar, longa. Já no sistema nervoso paras-
tologicamente da pré-ganglionar por ser amielínica com simpático, temos o contrário: a fibra pré-ganglionar
neurilema (fibra de Remak). As fibras pós-ganglionares ter- é longa, a pós-ganglionar, curta (Figura 11.2).
minam nas vísceras em contato com glândulas, músculos
liso ou cardíaco. Nos gânglios do sistema nervoso autóno-
mo, a 'proporção entre fibras pré- e pós-ganglíonares varia No gãngtio Simp.1ríco cervical supenor do homem, a relaçJo entre Fibras
muito, e no sistema simpático, usualmente uma fibra pré- pré·gangJionares e pós-ganglionares variou enue 1 para 63 e 1 para 196.

• Capltulo 11 Siste~ Nnvoso Aut6nomo -Aspectos Gerai$ 1OS


Fibra pré-ganglionar - - - - - - - - - -"
,, Parossimpótico craniano

<- 't,J '


'' \. \.\
'''
Tl ) - - - Neur6nios pré-ganglionares

--......,............ ' ' \


----.,..~
---
/
/

Fibra pós-ganglionar - - - - ' (


\
----- ---:----. '
Simpático

' \

Parassimpótico sacrol

Figura 11.2 Diferenças entre os sistemas simpático e parassimpático, Fibras adrcnérgicas em rosa e collnérgicas em verde.

d) Ulrraestrutura da fibra pós-ganglionar - sabe-se 5.2 Diferenças farmacológicas entre o sistema


que as fibras pós-ganglionares contêm vesículas nervoso simpático e o parassimpátlco.
sinápticas de dois tipos: granulares e agranulares, Neurotransmlssore.s
podendo as primeiras ser grandes ou pequenas
As diferenças farmacológicas dizem respeito à ação e::
(veja Capítulo l O, parte B, item 3.2). A presença
drogas. Quando injetamos em um animal certas drogc:,
de vesículas granulares pequenas é uma caracte-
como adrenalina e noradrenalina, obtemos efeitos (a_-
rística exclusiva das fibras pós-ganglionares sim-
páticas (Figura 11.3), o que permite separá-las
mento da pressao arterial, do ritmo cardíaco etc.) que ~=
assemelham aos obtidos por ação do sistema nervoso sim-
das parassimpáticas, nas quais predominam as pático. Essas drogas que imitam a ação do sistema nervoso
vesículas agranulares. No sistema nervoso peri- simpático são denominadas simparicomiméticas. txistem
férico, as vesículas granulares pequenas cont~m também drogas, como acetilcolina, que imitam as ações do
noradrenalina, e a maioria das vesículas agranu- parassimpátlco e são chamadas parassimpaticomiméricos
Jares contém acetilcolina. Essa diferença torna-se (Capitulo 12, item 5.2). A descoberta dos neurotransmisso-
especialmente relevante parn a interpretação das res veio explicar o modo de ação e as diferenças existentes
diferenças farmacológicas entre fibras pós-gan- entre esses dois tipos de drogas. Sabemos hoje que a ação
glionares simpáticas e parassimpáticas, o que será da fibra nervosa sobre o efetuador (músculo ou glandula)
feito a seguir. é feita por liberação de um neurotransmissor. dos quais os

106 Neuroanatomla Funcional


Inervam as glândulas sudorfparas e os vasos dos múscu-
los estriados esqueléticos que. apesar de simpáticas, são
colinérgicas.
As diferenças anatômicas e farmacológicas entre os
sistemas simpático e parassimpático estão sintetizadas na
Tabela 11.1 e na Figura 11.2.

S.3 Diferenças fisiológicas entre o sistema nervoso


simpático e o parassimpático
De modo geral, o sistema simpático tem ação antagôni-
ca à do parassimpático em um de-terminado órgão. Essa afir-
mação, entretanto, não é válida em todos os casos. Assim,
por exemplo, nas glândulas salivares os dois sistemas au-
mentam a secreção, embora a secreção produzida por ação
parassimpática seja mais fluida e muito mais abundante.
Além do mais, é importante acentuar que os dois sistemas.
apesar de, na maioria dos casos, terem ações antagônicas,
colaboram e trabalham harmonicamente na coordenação
da atividade vlsceral, adequando o funcionamento de cada
órgão às diversas situações a que é submetido o organis-
mo. Na maioria dos órgãos, a inervação autônoma é mista,
simpática e parassimpática. Entretanto, alguns órgãos têm
Inervação puramente simpática, como as glândulas sudorl-
paras, os músculos eretores do pelo e a glândula pineal de
vários animais. Na maioria das glândulas endócrinas, as cé-
lulas secretoras não são Inervadas. uma vez que o seu con-
trole é hormonal e, neste caso. existe apenas a inervação
simpática da parede dos vasos. Em algumas glândulas exó-
crinas, como nas glândulas lacrimais, a Inervação parenqui-
Figura 11 .3 Eletromicrografia de uma fibra pós-ganglionar s,m-
matosa é parassímpática, limitando-se o simpático a inervar
:>âtica (adrenérgical contendo vesículas agranulares. vesículas gra-
~ulares pequenas (setas) e uma vesícula granular grande (VGG). os vasos. Na maioria das glandulas salivares dos mamfferos,
:..umento de 57 mil vezes. o simpático. além de inervar os vaso'S, inerva as unidades
=n te: ReprodULida de Machc1do. 5toin technology. 196/;42:293-300. secretoras juntamente com o parasslmpátlco. Constitui-se
exceção a glândula sublingual do homem, na qual a iner-
vação das unidades secretoras é feita exclusivamente por
mais importantes são a ocetilcollno e a norodrenalino. As fibras parassimpáticas.2
íibras nervosas que liberam a acetilcolina são chamadas Uma das diferenças fisiológicas entre o simpático e o
colinérgicos e as que liberam noradrenalina, adrenérgicas. parassimpátlco é que este tem ações sempre localizadas
A rigor, estas últimas deveriam ser chamadas norodrenér- em um órgão ou setor do organismo, enquanto as ações
gicos, mas inicialmente pensou-se que o principal neuro- do simpático, embora possam ser também localizadas,
transmissor seria a adrenalina (o que de fato ocorre em tendem a ser difusas. atingindo vários órgãos. A base ana-
anfíbios) e o termo •adrenérgico· tornou-se clássico. Hoje, tômica dessa diferença reside no fato de que os gtmgllos
sabemos que, nos mamíferos, é a noradrenalina e não a do parassimpátlco, estando próximos das vísceras, tornam
adrenalina o principal neurotransmissor nas fibras adrenér- o território de distribuição das. fibras pós-ganglionares
gicas. De modo geral, as ações dessas duas substâncias são necessariamente restrito. Além do mais, no sistema paras-
bastante semelhantes, mas existem diferenças que serão simpático. uma fibra pré-ganglionar faz sinapse com um
vistas nas disciplinas de, Farmacologia e Fisiologia. número relativamente pequeno de fibras pós-gangliona-
Os sistemas simpático e parassimpático diferem no res. Já no sistema simpático, os gânglios estão longe das
que se refere à disposição das fibras adrenérgicas e co- vísceras e uma fibra pré-ganglionar faz sinapse com 'gran-
linérgicas. As fibras pré-ganglionares, tanto simpáticas de número de fibras pós-ganglionares que se distribuem
como parassimpátlcas, e as fibras pós-ganglionares pa- a territórios consideravelmente maiores. Em determinadas
rassimpáticas são colinérgicas. Contudo, a grande maio-
ria dás fibras pós-ganglionares do sistema simpático é 2 ROSSONI. RB.; MACHADO, A.8.M.; MACHADO c.R5. Hisrochemical Jour•
adrcnérglca (Figura 11.2). Fazem exceçao as fibras que na/, 1979;11:661-668.

• Capítulo 11 Sistema Nervoso Autõnomo - Asp«tos Gerais 107


circunstancias, todo o sistema simpático é ativado, pro- a) Aumento do ritmo cardíaco, acompanhado de au-
duzindo uma descargo em massa, na qual a medula da mento na circulação coronária.
suprarrenal é também ativada, lançando no sangue a adre- b) Vasoconstrição nos vasos mesentéricos e cutâ-
nalina que age cm todo o organismo. Como recebe iner- neos (o indivíduo fica pálido), de modo a •mobili-
vação simpática, pré-ganglionar. a medula da suprarrenal zar•maior quantidade de sangue para os músculos
funciona como um gânglio. Nesse caso, a adrenalina age estriados.
como um hormônio. pois tem aç~o a distância por meio
Ocorre, ainda, aumento da pressão arterial, o que pode
da circulação sanguínea, amplificando os efeitos da ativa-
causar a morte, por exemplo, por ruptura de vasos cerebrais
ção simpática. Temos, assim, uma reação de alarme, que
(diz-se que morreu de susto). Os brônquios dilatam-se, me-
ocorre em certas manifestações emocionais e situações de
lhorando as condições respiratórias necessárias para melhor
emerg~ncia (síndrome de emerg~ncio de Cannon), em que o
individuo deve estar preparado para lutar ou fugir (ro fighr
e
oxigenação do sangue remoção do cor
or ro fligh t, segundo Cannon). Como exemplo, poderíamos No globo ocular. observa-se dilatação das pupilas. No
imaginar um Indivíduo surpreendido por um animal bravo tubo digestivo, há diminuição do peristaltismo e fechamen-
que avança contra ele. Os Impulsos nervosos resultantes to dos esfíncteres.1 Na pele, há ainda aumento da sudorese
da visão do animal são levados ao cérebro, resultando em e ereção dos pelos.
uma forma de emoção, o medo. Do cérebro, mais espe- O estudo da situação descrita anteriormente ajuda a
cialmente do hipotálamo, partem impulsos nervosos que memorizar as ações do sistema simpático e, por oposição, as
descem pelo tronco encefálico e pela medula, ativando os do parassimpádco em quase todos os órgãos. Pode-selem-
neurônios pré-ganglionares simpáticos da coluna lateral, brar ainda que, nos órgãos genitais, o simpático é responsá-
de onde os impulsos nervosos ganham os diversos órgãos, vel pelo fenômeno da ejaculação. e o parassimpático, pela
iniciando a reação de alarme. Esta visa preparar o organis- ereção. Verifica-se, assim, que as ações dos dois sistemas são
mo para o esforço físico necessário para resolver a situação, complexas. podendo o mesmo sistema ter ações diferentes
o que, no exemplo, significa fugir ou brigar com o animal. nos vários órgãos. Por exemplo, o sistema simpático, que
Há maior transformação de glicogénio em glicose, que é ativa o movimento cardíaco, inibe o movimento do tubo
lançada no sangue, aumentando as possibilídades de con- digestivo. Na Tabela 11.2, estão sintetizadas as ações dos
sumo de energia pelo organismo. Há, também, aumento sistemas simpático e parassímpático sobre os principais
no suprimento sanguíneo nos músculos estriados esquelé- órgãos. Sabendo-se que as fibras pós-ganglionares do pa-
ticos, necessário para levar a esses músculos mais glicose e rassimpático são colinérgicas e as do simpático, com raras
oxigênio, bem como para mais fácil remoção do cor Esse exceções, são adrenérgicas, o estudo da Tabela 11.2 dá
aumento das condições hemodinâmicas nos músculos é uma ideia das ações da acetilcolina e _da noradrenalina nos
feito por: vários órgãos.

T• bela , 1.1 - Diferenças anatômicas e farmacológicas entre os sistemas simpático e parassimpátlco.

Critério Simpático Pa rassimpático


Posição do neurônio pré-ganglionar Tl al2 tronco encefálico e 52, 53 e S4
Posição do neurônio pós-ganglionar longe da víscera próximo ou dentro da víscera
Tamanho das fibras pré-ganglionares curtas longas
Tamanho das fibras pós-ganglionares longas curtas
Ultraestrutura das fibras pós-ganglionares com vesículas granulares sem vesículas granulares
pequenas pequenas
Classificação farmacológica das libras adrenêrgicas (a maioria) colinérgicas
pós-ganglionares

3 'lem semp1e. Quando a situação foge do connole, pode .icontecer o


conlrArlo.

108 NN oanatomla fUll(ional


Tabela 11.2 Funções do simpático e do parassimpálico em alguns órgãos.

Órgão Simpático Parassimpático

Íris dllataç.'.io da pupila (midrlase) constrição da pupila (miosP)

Glândula lacrimal vasoconstrição; pouco efeito sobre a secreção secreção abundante


Glândulas salivares vasoconslrição;.secreção viscosa e pouco vasodilatação; secreção fluida e abundante
abundante ,

Glãndulas sudoríparas secreção copiosa (fibras collnérgicas) inerva~o ausente

Músculos eretores dos pelos ereção dos pelos inervação ausente

Coraç:lo aceleração do ritmo cardíaco (taquicardia}; diminuiç3o do ritmo cardíaco (bradicardia) e constrição
dilataçao das coronárias das coronárias
Brônquios dilatação constrição

Tubo digestivo diminuição do peristaltismo e fechamento aumento do peristaltismo e abertura dos esfíncteres
dos esfíncteres
Fígado aumento da liberação de glicose armazenamento de gllcogénio aumento de secreção

Gl:lndulas digestivas e diminuem a secreção


pancreas
Bexiga facilita o enchimento pelo relaxamento da contração da parede. promovendo o esvaziamento
parede e contração do esfíncter interno

Genitais masculinos vasoconstrição; ejaculação vasodilalação; ereção

Glândula suprarrenal secreção de adrenalina (através de fibras nenhuma ação


pré-ganglionares)

Vasos sanguíneos do tronco vasoconstrição nenhuma ação; inervação ausente


e das extremidades
Cristalino acomodação para longe acomodação para perto

órgaos linfoldes lmunossupressão imunoativação

Tecido adíposo lipólise

■ Capitulo 11 Sistffl\a Nervoso Aut6nomo - Aspectos Gerais 109


Sistema Nervoso Autônomo: Anatomia do
Simpático, do Parassimpático e dos Plexos Viscerais

No capítulo anterior, tratamos de alguns aspectos ge- o dos nervos espinais torácicos, pois pode haver fusão de
0ais da organização do sistema nervoso autônomo. Temos, gânglios vizinhos. Na porção lombar, há de três a cinco
assim, os elementos necessários para um estudo da topo-- gànglíos. na sacral, de quatro a cinco, e na coccígea, ape-
~rafia e organização anatômica do componente simpático nas um gânglio, o gônglio ímpar, para o qual convergem
e parasslmpático desse sistema, assim como de seus plexos e no qual terminam os dois troncos simpáticos de cada ,
viscerais. Esse estudo será feito de maneira sucinta, sem dar lado (Figura 12.1 ).
énfase às inúmeras variações existentes.
1.11 Nervos esplâncnicos e gânglios pré-vertebrais
1~ tffls111r-JJI1ff,tl'1llf\l'Íffi i

r
: i: e
li

Da porção torácica do tronco simpático. originam-se,


a partir de TS, os nervos esplâncnicos: maior; menor e imo,
1.1 Aspectos anatômicos
os quais têm trajeto descendente, atravessam o diafragma
Antes de analisar o trajeto das fibras pré- e pós-ganglio- e penetram na cavidade abdominal. onde terminam nos
nares no sistema simpático, faremos um estudo das suas gônglios pré-vertebrais (Figura 12.2). Estes se localízam an-
principais formações anatômicas. teriormente à coluna vertebral e à aorta abdominal, em ge-
ral próximo à origem dos ramos abdominais dessa artéria,
1.1.l Troncosimpàtico
. dos quais recebem o nome. Assim, existem: dois gânglios
A principal formação anatômica do sistema simpático é celíocos, direito e esquerdo, situados na origem do tronco
o tronco simpático (Figura 12.1 ). formado por uma cadeia celíaco; dois ganglios aórtico-renais, na origem das artérias
de gânglíos unidos através dos ramos interganglionares. renais; um gônglio mesenrérico superior e outro mesentérico
Cada tronco simpátíco estende-se, de cada lado, da inferior, próximo à origem das artérias de mesmo nome. Os
base do crânio até o cócclx, onde termina unindo-se com nervos esplâncnicos maior e menor terminam, respectiva-
o do lado oposto. Os gânglios do tronco simpático se dis- mente, nos gânglios cellaco e aórtico-renal (Figura 12.2).
põem de cada lado da coluna vertebral em toda a sua ex- Como será visto, apesar de os nervos esplancnicos se origi-
tensão, e são gânglios paravertebrais. Na porção cervical narem aparentemente de ganglios paravertebrais, eles são
do tronco simpático, temos classicamente três gânglios: constituídos por fibras pré-ganglionares. além de um nú-
cervical superior, cervical médio e cervical Inferior (Figura mero considerável de fibras viscerais aferentes.
12.1 ). O gânglio cervical médio falta em vários animais
domésticos e, com frequência. não é observado no ho-
1.13 Ramoscomunicantes

mem. Em geral, o gânglio cervical inferior está fundido Unindo o tronco simpático aos nervos espinais. exis-
com o primeiro torácico, formando o gânglio cervicotoró- tem filetes nervosos denominados ramos comunican-
cico. ou estrelado. O número de gânglíos da porção toráci- tes. que sao de dois tipos: ramos comunicantes broncos
ca do tronco simpático costuma ser menor (1 Oa 12) que e ramos comunicantes cinzentos (Figura 12.3). Como
,........-Gânglio cervical superior
.,,,,
., , ,,
.,,,,,,,.- Romo inlergonglionor
, , ./ ., , .,,.
.,,. ,,.
<'
Porção cervical do tronco
slmpótico , ,

' ',,,
., ,,,,..- -- - - Gânglio cervical médio

... ___ Gõnglio vertebral (= cervical intermédio)


~

' ..__,- - - •Gônglio cervical inferior

' ,,_ Primeiro gânglio torácico

!.
Porção torácico do tronco ( .
simpótico "-

- -Gânglio oórtic0-fenol
Porção lombar do tronco
simpótico L.~ - - - - - -Gônglio mesentérico inferior

Porção socrol do tronco


simpótico ('-1,,,--,
...........,
....

- - - - - - - - Gõngllo impor

Figura 12.1 Principais formações anatômicas do sistema simpático em vista anterior.


- ·r =eproduzida de D~ngelo e Faulnl. Anaromía humana bd_sica. Rio de Janeiro: Atheneu, 2001.

.... : • 5tO mais adiante, os ramos comunicantes brancos, níveis, o que explica a existência de ramos comunicantes
· : '=3 1idade, ligam a medula ao tronco simpático, sen· brancos apenas nas regiões torácica e lombar alta. Já os
: · ==·s. constituídos de fibras pré-ganglionares, além ramos comunicantes cinzentos ligam o tronco simpático
:- ·=·ss viscerais aferentes. Já os ramos comunicantes a todos os nervos espinais. Como o número de gânglios
-.::-:os são constituídos de fibras pós-ganglionares. do tronco simpático é frequentemente menor que o nú·
:_.: :~-ido amielinicas, dão a esse ramo uma coloração mero de nervos espinais, de um gânglio pode emergir
--=- -;- ente mais escura. Como os neurónios pré-gan- mais de um ramo comunicante cinzento, como ocorre,
:- : · -=·~: só existem nos segmentos medulares de Tl a por exemplo, na região cervical, onde existem tr~s gân-
....:. . · ::'as pré-ganglfonares emergem somente desses glios para oito nervos cervicais.

•- 1ctr.-~a1om~ Funcional

.. .. _,_.,.
,.., , .,
Selo cavernoso
------ --
---- - - - - Gânglio ciliar

Gânglio cervícol $uperior - - - - ......


- _ - - - Gõnglio pterigopolotino

Nervo vago - - - - - - -

Gõnglio cervical médio - - ..._


----- - -
- -- - - - -

-
- Gânglio ótico

- - - Gânglio submondibular
....... ......
Gânglio cervical inferior - - , ',..., - - Nervo cardloc.o superior do simpótico

1D Gºong110
· torac1co
• . - --- -
'- ' ' -,,r- - - - - - Nervo cardíaco $Uperior do vogo
..... ,
Nervo$ cordíocos torácicos do simpático '
Ramo intergonglionar - - - - - - - - - Nervo cardíaco inferior do simpólico

Ramo comunicante cinzento -

Ramo comunicante bronco ....

Nervos espinais --- -- ✓ ---- - - -Plexo gástrico

Nervo e~lâncnico maior


-- - _,,,,. .,,,.,. - - - - Gânglio celíoco

Nervo esplâncnico menor


---- -
_.,,,. _ _ - - - • Plexo celroco

Nervo esplâncníco lmo


- ...........
.... .__
_ -- Gânglio mesentérico superior

Plexo renal - - _

2Ggânglio lombor
---- - _ _ _ - - Gânglio aórtico-renal

_ - Plexo mesentério superior

Ramo comunicante cinzento _ - - - Plexo oórtico-obdominol


' ,,
Nervo hipogóstrico direito ' - Gânglio mesentérico Inferior
' .....
Gânglios socrois - - - - ', , - - - Plexo mesentérico inferior

Nervos esplâncnicos pélvicos


"~...,,
\ - - - Plexo hipogóslrico superior
......... ....
Plexo lombossocrol ' ..., _. Plexo hlpogóstrico
','
',
' _ - - - inferior (plexo pélvico)

) !\ \ \\

Figura 12.2 Disposição geral do sistema nervoso simpállco (em rosa) e parassimpático (em azul).
Fonte: Modificada de Nener.

• Capitulo 12 Sistema Nervoso Autônomo: AnJtomia do Simpático, do Parassimpático edos Plexos Viscerais 113
1.1.4 Filetes vasculares e nervos cardíacos terminam fazendo sinapse com os neurônios pós-ganglio-
Do tronco simpático. e especialmente dos gânglios nares, que podem estar em três posições (Figura 12.3):
pré-vertebrais, saem pequenos filetes nervosos que se a) Em um gânglio paravertebral situado no mesmo nível,
acolam à adventícia das artérias e seguem com elas até as de onde a libra saiu pelo ramo comunicante branco.
vísceras. Assim, do polo cranial do gânglio cervical supe- b) Em um gânglio paravertebral sicuado acima ou abaixo
rior sai o nervo carocldeo incerno (Figuras 12.4 e 12.S), que desse nfvel e, neste caso, as fibras pré-ganglionares
pode ramificar-se, formando o plexo carotídeo interno, que chegam ao gànglio pelos ramos intergangliona-
penetra no crânio. nas paredes da artéria carótida interna. res. que são formados por grande número de tais
Dos gânglios pré-vertebrais, filetes nervosos acolam-se fibras. Por esse trajeto, no Interior do próprio tron-
à artéria aorta abdominal e a seus ramos (Figura 12.2). co simpático. as fibras pré-ganglionares chegam
Do tronco simpático. emergem ainda filetes nervosos que a gânglios situados acima de TI, ou abaixo de l2,
chegarn às vísceras por um trajeto Independente das ar- ou seja, em níveis nos quais já não emergem fibras
térias. Entre estes, temos. por exemplo, os nervos cardía- pré-ganglionares simpáticas da medula, não exis-
cos cervicais superior, m~dio e inferior, que se destacam dos tindo, pois, ramos comunicantes brancos.
gânglios cervicais correspondentes, dirigindo-se ao cora- c) Em um gôngfio pré-vertebral, aonde as fibras pré-
ção (Figura 12.2). -ganglionares chegam pelos nervos esplãncnicos
A seguir, estudaremos como se localízam nesses elemen- que, assim. poderiam ser considerados como ver-
tos anatômicos os dois neurônios característicos do sistema dadeiros·ramos comunicantes brancos· muito lon-
nervoso autônomo, ou seja, neurônio pré- e pós-ganglionar, gos. As fibras pré-ganglionares que seguem esse
com as respectivas fibras pré- e pós-ganglionares. trajeto passam pelos gânglios paravertebrais, sem.
entretanto, ai fazerem sinapse (Figura 12.3).
1.2 Localização dos neurônios pré-ganglionares
simpáticos, destino e trajeto das fibras pré- 1.3 Localização dos neurónios pós-ganglionares
·gangllonare.s simpáticos, destino e trajeto das fibras pós-
Vimos no capítulo anterior que, no sistema simpático. o -ganglionares
corpo do neurônio pré-ganglionar está localizado na colu- Os neurônios pós-ganglionares estão nos gânglios
na lateral da medula de TI a l2. Daí saem as fibras pré-gan- para- e pré-vertebrais, de onde saem as fibras pós-ganglio-
glionares pelas raízes ventrais, ganham o tronco do nervo nares, cujo destino é sempre urna glândula. músculo liso ou
espinal e o seu ramo ventral, de onde passam ao tronco ~rdíaco. As fibras pós-ganglionares, para chegar a esse des-
simpálico pelos ramos comuni~ntes brancos. Essas fibras tino, podem seguir por três trajetos:

Neurônio pr.gonglionor
,,,✓
/ / Coluna posterior
,,,,, / .,.,, ---- _..,..Coluna lateral
-=--✓ ~ _.,. ,...

.,...... ~
.,,_... - - Coluna anterior
Ramo comunicante branco ,,
Ramo comunicante cinzento

,,-
Ramo dorsal do
nervo espinal • , ,
Ramo ventral _ )
do nervo espinal • l
1

Gânglio poravertebrol
do tronco simpático-
Nervo esplõncnico - - ---
.,...,,,
., ......
Ramo ínlerganglionor '
Raiz ventral
do tronco simp6tico
do nervo espinal
'i~'
Sinops~ em gânglio pré-vertebral

Flguna 12.3 Esquema do trajeto das fibras no sistema slmpálico (linha contínua = fibras pré-ganglionares; linhas interrompidas = fibras
pós-ganglionares).

114 Neuroanatomla Funcional

-. .
' . .
.
- . . ..
.
'
.
' -~
.
--
.... :w.. . . ,.
• • • # •
a) Porinrermédiodeumnervoespinaf(Flgura 12.3)-nes- c) Por intermédio de uma artéria (Figura 12,4) - as
te caso, as fibras voltam ao nervo espinal pelo ramo fibras pós-ganglionares acolam-se à artéria e a
comunicante cinzento e distribuem-se no território acompanham em seu território de vascularização.
de inervação desse nervo. Assim, todos os nervos es- Assim, as fibras pós-ganglionares que se originam
pinais apresentam fibras simpáticas pós-ganglionares nos gãngllos pré-vertebrais inervam as vísceras
que, assim, chegam aos músculos eretores dos pelos, do abdome, seguindo na parede dos vasos que
às glândulas sudoríparas e aos vasos cutãneos. irrigam essas vísceras. Do mesmo modo, fibras
b) Por intermédio de um nervo independente (Figura pós-ganglionares originadas no gânglio cervical
12..2) - neste caso, o nervo liga diretamente o gãn- superior formam o nervo e o plexo carotídeo in-
glio à víscera. Aqui se situam, por exemplo, os ner- terno e acompanham a artéria carótida interna em
vos cardíacos cervicais do c.impátlco. seu trajeto intracraniano, Inervando os vasos intra-

\
___ ,
,_.... Áreo pré-tetol

', Gânglio ciliar Nervo oculomotor


\ '\
\

..

..

.,,,- .. ' ..,,.


Neurônio p6$-fJanglionor ...,,,,... •

.,,,,,, ... Neurônio pré-ganglionar


Gânglio cervical superior"' 1

. . .. , ' ..
••
.'. .. . ...., T 1

Ramo comunicante cinzento - - - ··.,

Nervo espinal Tl - - - - - - - -

Raiz ventral -- --- ---.;, '


J'
.. .

Figura 12.4 Esquema de Inervação slmp~tlca (rosa) e parassimpática (verde) da pupila. As setas indicam o trajeto do impulso nervoso no
reflexo fotomotor.

■ CapíttJlo 12 Sistema Nervoso Autónomo: Anatomia do Simp!tico, do Parassimpático e dos Plaos V&erals 115
cranianos, o corpo pineal, a hipófise e a pupila. Por parte craniana do sistema nervoso parasslmpátlco estão
sua Importância prática, a inervação simpática da relacionados na Tabela 12.1 e serão descritos a propósito
pupila merece destaque. da estrutura do tronco encefálico. Os gânglios, com as suas
conexões, são representados na Figura 12.S e descritos su-
1.4 Inervação simpática da pupila cintamente a seguir:
As fibras pré-ganglionares relacionadas com a Inerva- a) Gônglio ciliar - situado na cavidade orbitária, late-
ção da pupila originam-se de neurônios situados na coluna ralmente ao nervo óptico, relacionando-se ainda
lateral da medula torácica alta (Tl e T2). Essas fibras saem com o ramo oftálmico do trigêmeo. Recebe fibras
pelas raízes ventrais, ganham os nervos espinais correspon- pré-ganglionares do Ili par (Figura 12.5) e envia,
dentes e passam ao tronco simpático pelos respectivos através dos nervos ciliares curtos, fibras pós-ganglio-
ramos comunicantes brancos (Figura 12.4). Sobem no nares, que ganham o bulbo ocular e inervam os
tronco simpático e terminam estabelecendo sinapses com músculos ciliar e esfíncter da pupila (Figura 12.4).
os neurônios pós-ganglionares do gânglio cervical superior. b) Gàng/io pterigopalarino - situado na fossa pterigo-
As fibras pós-ganglionares sobem no nervo e no plexo ca- palatina, ligado ao ramo maxilar do trigémeo (Fi-
rotídeo interno e penetram no cránio com a artéria caróti- gura 12.S). Recebe fibras pré-ganglionares do VII
da interna. Quando essa artéria atravessa o seio cavernoso, par e envia fibras pós-ganglionares para a glândula
essas fibras se destacam, passando, sem fazer sinapse, pelo lacrimal.
gânglio ciliar, que, como será visto, pertence ao parassirn- c) Gêlnglio ótíco - situado junto ao ramo mandibular
pático, e, através dos nervos ciliares curtos, ganham o bulbo do trigémeo, logo abaixo do forame oval (Figura
ocular, onde terminam formando um rico plexo no músculo 12,.5). Recebe fibras pré-ganglionares do IX par e
dilatador da pupila. manda fibras pós-ganglionares para a parótida,
Nesse longo trajeto, as fibras simpáticas para a pupila através do nervo auriculotemporal.
podem ser lesadas por processos compressivos (tumores, d) Gêlnglio submandibular - situado junto ao nervo
aneurismas etc.) da região torácica ou cerv,cal. Nesse caso, a lingual, no ponto ern que este se aproxima da glân-
pupila do lado da lesão ficará contraída (miose) por ação do dula submandibular (Figura 12.5). Recebe fibras
parassimpâtico, não contrabalançada pelo simpático. Esse pré-ganglionares do VII par e manda fibras pós-
é o principal sinal da chamada síndrome de Horner (Figura -ganglionares para as glândulas submandibular e
19.15), caracterizada pelos seguintes sinais, observados do sublingual.
lado da lesão:
ÉInteressante notar que esses gânglios estão relaciona-
a) Miose. dos anatomicamente com ramos do nervo trigêmeo. Es.se
b) Queda da pálpebra (ptose palpebral), por paralisia nervo, entretanto, ao emergir do crânio, não tem fibras pa-
do músculo tarsal ou músculo de Muller, que auxilia rassimpáticas, recebendo-as durante seu trajeto através de
no levantamento da pálpebra. anastomoses com os nervos VII e IX.
e) Vasodilatação cutânea e deficiência de sudorese na Existe, ainda, na parede ou nas proximidades das vísce-
face, por interrupção da inervação simpática para a ras, do tórax e do abdome, grande número de gânglios pa-
pele. rasslmpáticos, em geral pequenos, às vezes constituídos por
células isoladas. Nas paredes do tubo digestivo, eles inte-
1 gram o plexo submucoso (de Meissner) e o mioentérico (de
Auerbach). Esses gânglios recebem fibras pré-ganglionares
Vimos que os neurônios pré-ganglionares do sistema do vago e dão fibras pós-ganglionares curtas para as vís-
nervoso parassirnpático estão situados no tronco encefáli- ceras onde estão situadas. Convém acentuar que o trajeto
co e na medula sacral. Isso permite dividir esse sistema em da fibra pré-ganglionar até o gânglio pode ser multo com-
duas partes: uma craniana e outra sacra!, que serão estuda- plexo. Com frequência, ela chega ao gânglio por um nervo
das a seguir. diferente daquele no qual saiu do tronco encefálico. Assim,
as fibras pré-ganglionares que fazem sinapse no gânglio
2.1 Parte aaniana do sistema nervoso parasslmpátlco submandlbular saem do encéfalo pelo nervo intermédio e
É constituída por alguns núcleos do tronco encefálico, passam, a seguir, para o nervo lingual por meio do nervo
gânglios e fibras nervosas em relação com alguns nervos corda do tfmpano (Figura 12,S). Do mesmo modo, as fibras
cranianos. Nos núcleos, localizam-se os corpos dos neurô- pré-ganglionares que se destinam ao gânglio pterigopala-
nios pré-ganglionares, cujas fibras pré-ganglionares (clas- tlno, relacionadas com a lnervação das glãndulas lacrimais,
sificadas no Capítulo 10 corno eferentes viscerais gerais) emergem do tronco encefálico pelo Vil par (nervo intermé-
atingem os gãnglios através dos pares cranianos Ili, VII, IX dio) e, no nível do gãnglio geniculado, destacam-se desse
e X. Dos gânglios, saem as fibras pós-ganglionares para as nervo para, através do nervo petroso maior e do nervo doca-
glândulas, músculo liso e músculo cardíaco. Os núcleos da nal pterigóideo, chegar ao gãnglio pterigopalatino.

116 Neuroanatomla Funcional

1
Nervo mandibular - - - - - - - - - - ~ I Artéria carótida interna e plexo carotideo interno
Raiz motora do trigêmeo - - - - - - - 1 1N ervo d o canoI pterlgó'd
I eo
1
1 1
Gõnglio trigeminai - - - - - - - _ 7 1 I Nervo maxilar
11 1 I 1
Nervo petroso maior ___ , I11 1 f : Gânglio pterigopalatino
\
,,, 1,, 1
Gânglio geniculado ---, \ : 11 1 1 1 1Nervo oftálmico
,,, 1 , , 1 ' , •••
Gânglio inferior do IX - 7 \ \\ ,, 1 1 1 1 1 '. ; \~
1\ \ 111 1 11 1 , , •
1
Gânglio superior do IX - 1 l \
1 11 I 1 1 1 I ~ .- - ~1
Nervo intermédio !VII) 1\ i 1, 1 11 1 ' ,/ _.
.,. _-; , _.,, . - ~- ,
1
\ 11 \ 1 1 1 / . ~ - --·
\ 11 \ 1- ··• ••
\ 11 \ - Nervos ciliares
curtos
' 11 \

\ ·~ 1

1
Gânglio superior do X /

Gânglio inferior do X~~ ~


Nervo c:orotídeo intern;~ /i ~
Nervo auriculotemparal _/ Y /
Gânglio ótico .- - ' 'y
/
Nervo corda do tímpano~/ 1

Gânglio cervical svperi6r / 1


do simpótico ij 1 1 \
Plexo foringeo ___ //J/i/
1 1 1
Ramo do seio __ / / /i ~/ 1
carotídeo do IX / 1 1 '
Seio carotídeo - -
1
tl f . 1 1 l
1
Tronco simpático cervical : I I 1
1
: \ { Glõndulo submondibulor

1 I Gânglio submondibulor
1 1
Nervo vago - - - - - -
,I II 1 Nervos polotinos
Nervo cordioco superior do simpótico I 1
Nervo lingual
, · caro·1·d
Artena I o comum- - - - - -
f

Figura 12.s Parte craniana do sistema parassimpático.

• Capítulo 12 Si.stema Nervoso Autónomo: Anatomia do Simpático, do Para5Slmpátko e dos Plexos V!SC!Bls 117
:,_
A Tatiela 12.1 sintetiza os principais dados relativos à xo cardíaco, Intimamente relacionado ao pulmonar, em cuja
posição dos neurónios pré-ganglionares, o trajeto das fibras composição entram principalmente os três nervos cardía-
pré-ganglionares e o destino das fibras pós-ganglionares na cos cervicais do simpático (superior, médio e Inferior) e os
parte craniana do sistema nervoso parasslmpático. dois nervos cardíacos cervicais do vago (superior e inferior),
além de nervos cardíacos, torácicos do vago e do simpático.
2.2 Parte saaal do sistema nervoso parassimpático Fato interessante é que o coração, embora tenha posição
Os neurônios pré-ganglionares estão nos segmentos sa· torácica, recebe a sua inervação predominantemente da
crais em S2, S3 e 54. As fibras pré-ganglionares saem pelas região cervical, o que se explica por sua orlgern na reglao
raízes ventrais dos nervos sacrais correspondentes, ganham cervical do embrião.
o tronco desses nervos, dos quais se destacam para formar Os nervos cardíacos convergem para a base do cora-
os nervos esplôncnicos pélvicos (Figura 12.2). Por melo des- ção, ramificam-se e trocam amplas anastomoses, forrnando
ses nervos, atingem as vísceras da cavidade pélvica, onde o plexo cardíaco, no qual se observam numerosos gânglios
terminam fazendo sinapse nos gânglios (neurônios pós-gan- do parassimpático. A esse plexo, externo, correspondem
glionares) ai localizados. Os nervos esplâncnicos pélvicos são plexos internos, subepicárdicos e subendocárdlcos, forma-
também denominados nervos eretores, pois estão ligados ao dos de células ganglionares e ramos terminais das fibras
fenômeno da ereção. Sua lesão causa a impotência. simpáticas e parassímpáticas. A Inervação autônoma do co-
ração é abundante em especial na região do nó sinoatrial,
fato significativo, uma vez que a sua função se exerce fun·
damentalmente sobre o ritmo cardíaco, sendo o simpático
3.1 Conceito cardioacelerador e o parassimpático, cardioiníbldor.
Quanto mais próximo das vísceras, mais difícil se tor-
na separar, por dissecação, as fibras do simpático e do pa- 3.3 Plexos da cavidade abdominal
rasslmpátlco. Isso ocorre porque se forma, nas cavidades 3.3.1 Plexo celíaco
torácica, abdominal e pélvica, um emaranhado de filetes
nervosos e gânglios, constituindo os chamados plexos vis- Na cavidade abdominal, sttua-se o plexo ce/faco (ou
cerais, que não são puramente simpáticos ou parassimpá· solar), um plexo visceral muito grande, localizado na parte
ticos, mas que contêm elementos dos dois sistemas, além profunda da região epigástrica, adiante da aorta abdominal
de fibras viscerais aferentes. Na composição desses plexos, e dos pilares do diafragma, na altura do tronco celíaco. AI
temos os seguintes elementos: fibras simpáticas pré-gan· se localizam os gânglios simpáticos, celíaco, mesentérico
glionares (raras) e pós-ganglionares; fibras parassimpáticas superior e aórtico-renais, a partir dos quais o plexo celíaco
pré- e pós-ganglionares; fibras viscerais aferentes e gânglios se irradia a toda a cavidade abdominal, formando plexos se-
do parassimpático, além dos gânglios pré-vertebrais do sim- cundários ou subsidiários (Figura 12.2). Fato interessante é
pático. Nos plexos entéricos, existem também neurónios que a maioria dos nervos que contribuem com fibras pré·
não ganglionares. Serão estudados separadamente os ple- -ganglionares para o plexo celíaco tem origem na cavidade
xos das cavidades torácica, abdominal e pélvica. torácica, sendo mais importantes:
a) Os nervos esplôncnicos maior e menor - destacam-se
3.2 Plexos da cavidade torádca - inervação do coração de cada lado do tronco simpático de TS a Tl 2 e ter-
Na cavidade torácica, existem três plexos: cardíaco, pul- minam fazendo sinapse nos gânglios pré-vertebrais.
monar e esofógico (Figura 12.2), cujas fibras parassimpátl- b) O tronco vagai anterior e o tronco vagai posterior -
cas se originam do vago, e as simpáticas, dos três gânglios oriunqos do plexo esofágico, contendo, cada um, fi-
cervicais e seis primeiros torácicos. Em vista da Importância bras oriundas dos nervos vago direito e esquerdo, que
da inervação autônoma do coração, merece destaque o pie- trocam amplas anastomoses em seu trajeto torác.ico.

Tabela 12.1 Parte craniana do parassimpático.


Posição do neurõnio Nervo (fibra Posição do neurõnio Órgão inervado
pré-ganglionar pré-ganglionar) pós-ganglionar
Núcleo de Edinger-Wesrphal Ili par gangllo ciliar m. esfíncter da pupila e músculo ciliar
Núcleo sallvatório superior VII par (n. intermédio) g!nglio submandibular glãndulas submandlbular e sublingual
Núcleo salivatório Inferior IX par gangllo ótico glândula parótida

Núcleo lacrimal VII par (n. intermédio) gãngllo pterlgopalatino glândula lacrimal

Núcleo dorsal do vago Xpar gtlngilos nas vlsceras vísceras torácicas e abdominais
torácicas e abdominais

118 Neuroanatomia Funcional


_ As fibras parassimpátlcas do vago passam pelos gân- rio, entre as artérias illacas direita e esquerda. Continua cranial-
glios pré-vertebrais do simpático sem fazer sinapse e ter- mente o plexo aórtico-abdominal e corresponde ao chamado
minam estabelecendo sinapses com gangllos e células ~ervo pré-sacra/ dos cirurgiões e ginecologistas, o qual, na rea-
ganglionares das vlsceras abdominais. lidade, é formado por vários filetes nervosos. Para a formação
Do plexo cellaco, Irradiam-se plexos secundários que dos plexos hipogásLricos, contribuem principalmente:
se distribuem às vísceras da cavidade abdominal. acompa- a) Filetes nervosos provenientes do plexo aórtico-ab-
nhando. em geral, os vasos. dominal, os quais contêm, além de fibras viscerais
_Os plexos secundários pares s3o: renal, suprarrenal e afer~ntes, fibras simpáticas pós-ganglionares, pro-
t:st1cular (ou uterovárlco}; e os plexos secundários ímpares venientes, principalmente, do gânglio mesentérlco
sao: hepático. pinenal, gástrico. pancreático, mescntérico inferior.
superior, mesentérico Inferior e aórtico-abdominal. b) Os nervos esplâncnicos pélvicos, trazendo fibras
pré-ganglionares da parte sacral do parassimpático,
3.3.2 Plexos entéricos - sistema nervoso entérico as quais terminam fazendo sinapse em numerosos
Os plexos entéricos estão localizados no interior das pa- gânglios situados nas paredes das vísceras pélvicas.
redes do trato gastrointestinal. São dois: o mioentérico (de c) Filetes nervosos que se destacam de gânglios lom-
Auerbach) e o submucoso (de Meissner). bares e sacrais do tronco simpático.
Esses plexos não são constituídos apenas de neuró-
nios pós-ganglionares parassirnpáticos colinérgicos, como Entre as vísceras Inervadas pelo plexo pélvico, merece
se_ pensou durante muito tempo. Além de neurónios gan- destaque a bexiga, cuja inervação é de grande Importância
glionares. apresentam também neurônios sensoriais e inter- clínica.
neurõnios. Eles contêm aproximadamente 100 milhões de
neurónios em suas paredes, muitos dos quais sem conexão 4~: lriervação da bexiga ~ ....-~~
direta com o sistema nervoso central. Esse número é muito As fibras viscerais aferentes da bexiga ganham a medu-
grande e assemelha-se ao encontrado na medula espinal. la através do sistema simpático ou do parassimpático. No
Apresentam também grande diversidade de neurotrans- primeiro caso. sobem pelos nervos hipogástricos e plexo
missores e peptldeos.' hipogástrico superior, conduzindo impulsos nervosos que
Comandam as células musculares lísas, glandulas pro- atingem os segmentos torácicos e lombares baixos da me-
dutoras de muco e vasos sangulneos locais. Os neurônios dula (Tl OL2). Já as fibras que acompanham o parassimpático
sensoriais entéricos detectam o estado químico dos conteú- seguem pelos nervos esplancnicos pélvicos, terminando na
dos e o grau de estiramento da parede do trato gastrointes- medula sacral através das raízes dorsais dos nervos S2, S3 e
tinal, promovendo a inibição da musculatura lisa distal (anel S4. Ao chegar à medula, as fibras aferentes viscerais prove-
de relaxamento) e contração da proximal (anel de constri- nientes da bexiga ligam-se às vias ascendentes que terminam
ção), para que os movimentos peristáltlcos sejam adequa-
no cérebro, conduzindo impulsos que se manifestam sob a
damente coordenados para movimentar o bolo alimentar.
forma de plenitude vesical. As fibras aferentes que chegam
Controlam também a liberação da secreção gástrica e das
à região sacra! fazem parte do arco reflexo do micção, cuja
enzimas digestivas. Diante dessa complexidade, concluiu-se
parte eferente está a cargo da Inervação parasslmpática da
que os plexos entéricos apresentam uma independência
bexiga. Esta Inicia-se nos neurônios pré-ganglionares, situa-
funcional do SNA, o que fez alguns autores considerá-los
dos na medula sacra! (52, S3, 54), os quais dão origem a fibras
uma terceira divisão do SNA, êlenominada sistema nervoso
entérico, proposta esta não adotada neste livro. Apesar de pré-ganglionares que saem da medula pelas raízes ventrais e
ganham os nervos sacrais 52, S3 e 54, de onde se destacam os
cert.a independência para gerar algumas respostas, os ple-
xos entéricos recebem modulação de impulsos dos gân- nervos esplâncnicos pélvicos. Através desses nervos, as fibras
glios simpáticos paravertebrais e do parassimpático através pré-ganglionares dirigem-se aos gànglios parasslmpáticos
do nervo vago que lhes conferem ritmo e informações situados no plexo pélvico, na parede da bexiga. Daí saem as
provenientes de todo o organismo. inclusive com compor- fibras pós-ganglionares, muito curtas, que Inervam a muscu-
tamentos emocionais. É por isso que cólicas e distúrbios in- latura lisa da parede da bexiga (músculo derrusor) e o músculo
testinais são comuns em diversas situações emocionais. esffncterda bexiga. Os impulsos parasslmpáticos que seguem
por essa via causam relaxamento do esfíncter e contração do
3.3.3 Plexos da cavidade pélvica músculo detrusor, fenômenos que permitem o esvaziamento
vesical. Segundo a maioria dos autores, o sistema simpático
As vísceras pélvicas são inervadas pelo plexo hipogásrrico
tem pouca ou nenhuma Importância na micção. O estímulo
(Figura 12.2), no qual se distinguem uma porção superior,
para o reflexo da micção é representado pela ,distensão da
plexo hlpogóstrico superior, e uma porção Inferior, plexo hipo-
parede vesical. Convém acentuar. entretanto, que a micção,
gdsrrico Inferior, também chamado plexo pélvico (Figura 12.2).
como ato puramente reflexo, existe normalmente apenas na
O plexo hipogástrico superior situa-se adiante do promontó-
criança até o fim do primeiro ano de vida. Dai em diante, sur-
ge a capacidade de impedir a contração do detrusor, apesar
1 Neuropeptfc.Jeos Y, galanina, dlnorfina, adenosina, destacando-se a ace- de a bexiga estar cheia, e a micção toma-se, até certo ponto,
tílcollna. serotonina. GABA. substancia P. VlPe óxido nítrico. um ato controlado pela vontade.

• Capitulo 12 Si.stema Nervoso Autônomo: Anatomia do Simpático, do Parassimpátko e dos Plexos V&erais 119

.
.
S. Correlações anatomoclínicas
5.1 Doença de Chagas Os agonistas colinérgicos ou parassimpaticomiméticos
Infecção causada pelo protozoário Tryponossomo cruzi, têm efeito semelhante ao da estimulação parassimpálica.
que tem como vetor o barbeiro do género Triatoma. Esse Atuam principalmente sobre os receptores muscarínicos.
Inseto se aloja nas frestas das paredes das casas e ao picar São eles o betamecol, a pilocarpina e a cevimelina. Seus
o homem transmite a doença pela via hematogénica. Há efeitos são redução da frequência e débito cardíacos, va-
comprometimento de vários órgãos causando a doença sodilatação, hipotensão e contração da musculatura lisa
aguda, que pode levar ao óbito por insuficiência cardíaca. do intestino com aumento do peristaltismo, da bexiga e
Vencida a fase aguda, estabelece-se a fase crônica com di- constrição dos brônquios podendo causar dificuldade res-
ferentes níveis de insuficiência cardíaca, que pode indicar piratória além de estimulação das glândulas sudoríparas,
salivares, lacrimal e brõnquicas. Sob a forma de colírio (pilo-
a necessidade de transplante do órgão. Por sua grande
carpina), promove a constrição da pupila reduzindo a pres-
importância clínica, cabem algumas considerações sobre o
são ocular sendo usado no tratamento do glaucoma. Pode
envolvimento da inervação autônoma do coraç.ão na doen-
também ser utilizada para aumento das secreções salivar e
ça de Chagas. Há muito tempo sabe-se que nessa doença
lacrimal com consequente alívio de boca seca e olhos se-
há intensa destruição dos gânglios parassimpáticos do ple-
cos como no caso da síndrome de Sjõgren. A ativação dos
xo cardíaco, ocasionando desnervaçâo parassimpática do receptores muscarínicos, no encéfalo, produz tremores, hi-
coração. Segundo alguns autores, essa desnervação, sem potermia e aumento da atividade locomotora e melhora
a correspondente desnervação simpática, seria responsá- da cognição.
vel pelo desenvolvimento da cardiomiopatla chagásica. Os antagonistas muscarlnicos ou parassimpalicolíticos
Entretanto, com base em estudos da doença de Chagas principais são a atropina e a escopolamina. Os principais
experimental, sabe-se que, na fase aguda dessa doença, efeitos são: taquicardia inibição de secreções; dilatação da
ocorre também total destruição da inervação simpática do pupila; paralisia da acomodação; relaxamento da muscula-
coração.2 Contudo, em fases posteriores da doença. ocorre tura lisa (intestino, brônquios e bexiga); e inibição da secre-
reinervação simpática e parassimpática do órgão.3 ção ácida do estomago. No SNC, promovem excitação, além
Há também intensa destruição de neurónios do siste- de efeito antiemético e antiparkinsoniano. A escopolarnina
ma nervoso autônomo nos plexos entérlcos, o que ocasiona tem os mesmos efeitos da atropina, porém, no SNC, promo-
grandes dilatações do esôfago e do intestino, conhecidas, ve sedação e amnésia. Os efeitos colaterais são boca seca
respectivamente, como megaesôfago e megacólon. turvação da visão. Os principais usos clínicos da atropina e
seus derivados:
S.2 Drogas simpaticomiméticas e a) Cardiológicos - tratamento da bradicardia sinusal.
parassimpatlcomiméticas A atropina é uma importante droga que pode au-
Estas drogas são amplamente utilizadas na prática xiliar em casos de parada cardiorrespiratória, pro-
clínica e atuam facilitando ou bloqueando a transmissão movendo a estln1ulação da musculatura cardíaca.
neuroquímica. b) Oftálmico - colírios para dilatação da pupila.
e) Neurológico - agindo sobre o SNC na prevenção
5.2.1 Fármacos que atuam na transmissão colinérgica da cinetose, náuseas e vômitos. no parkinsonismo.
e também para neutralizar distúrbios de movi-
Existem dois tipos de receptores colinérglcos: os mus-
mento causados por fármacos ancipsicóticos.
carínicos e nicotínicos. A ação sobre os receptores mus-
d) Respiratório - por inalação, o ipratrópio e a ben-
carínicos correspondem aos efeitos da acetílcolina (ACH)
zotroplna são utilizados na asma e na doença pul-
liberada nas terminações nervosas pós-ganglionares paras-
monar obstrutiva crônica (DPOC).
simpáticas. As ações nicotínicas correspondem às ações da
e) Gastrolntestinal - para relaxamento da musculatu-
ACH sobre os gânglios autonómicos dos sistemas simpático
ra para execução de endoscopia e colonoscopia,
e parassimpático. Os receptores muscarínlcos são ativados
como antiespasmódico em cólicas e diarreia.
pela acetilcolina e bloqueados pela atropina, seu principal
antagonista. Outra categoria de fármacos anticollnérgicos são os
bloqueadores neuromusculares que agem inibindo a sín-
tese ou a liberação de ACH ou bloqueando os receptores
2 Machado, A.8.M; Machado, E.R.S. & Gomes. [.B. Depletlon of heart pós-sinápticos. A principal Indicação clínica é provocar
norepinephrine in the experimental acute myocardites caused by paralisia durante a anestesia e intubação traqueal. São os
Trypanosoma cruLI. F.xperlentla, 1975. 31: 1201 -1203.
derivados do curare e íármacos mais modernos como o
3 Machado, E.R.S.; Machado, A.B.M. & Chiar!, E.A. Recovery from he.art
norepinephnne depletion in eJCperlmen1al Chagas disease. The Amerl· suxametônio, com menos efeitos colaterais. A toxina botu-
can Journal ofTropieal Medicine and Hygiene, 1978. 27 (1): 2~24. llnica age inibindo a liberação da ACH na placa motora e é

120 Neuroanatomia Funcional

. . .
. .•
-
hoje amplamente utilizada para fins estéticos paralisando a A metildopa atualmente só é utilizada em gestan·
musculatura facial, reduzindo, assim, as rugas de expressão. tes com hipertensão e eclampsia.
Para fins terapêuticos, é utilizada na redução da espastlci- d) Agonistas jl 1 seletivos - dobutamina, aumenta
dade, blefarospasmo, estrabismo, hlper·hldrose e slalorreia. contratilidade cardíaca e é utiliLada no choque
O efeito dura entre 3 e 6 meses e só é reversível com a cardiogênico.
regeneração da placa motora. e) Agonistas J32 seletivos - salbutamol, terbutallna,
Os fármacos que intensificam a transmissão colinérgica salmeterol e formoterol usados como broncodila·
atuam inibindo a colinesterase ou aumentando a liberação tadores na asma e na DPOC.
de ACH. Os principais fármacos anticolinesterásicos são a
f) Agonistas J33 seletivo - mirabegron, utilizado no
neostigmina e a piridostigmina utilizadas no tratamento da
tratamento da bexiga hiperativa e da incontinên•
miastenia gravis (Capítulo 9. item 3.1.1.1 ).. A neostigmina é
eia urinária. Promovem também lipólise e têm po•
também utilizada na interrupção dos efeitos dos bloquea-
dores musculares anestéslcos. O ecotiopato e a fisostigmi• tencial de tratamento da obesidade.
na são utilizados sob a forma de colírio no tratamento do Os principais antagonistas adrenérgicos são:
glaucoma. No SNC, a donepezila atua no tratamento das
a) Antagonistas ou bloqueadores a - fenoxibenza·
dem~ncias principalmente na de Alzheimer. Os pesticidas
mina, utilizada no tratamento do feocromocitoma.
organofosforados causam inibição Irreversível da colineste-
A ergotamina dl·hidroergotamlna são utilizadas
rase e causam grave intoxicação com bradicardia, aumento
no tratamento da enxaqueca.
de secreção, broncoconstrição e hipermobllidade intesti·
nal, podendo culminar no óbito. b) Antagonista al - prazosina e doxazosina utiliza-
das na hipertensão arterial e na hipertrofia prostá·
5.1.l Fármacos que atuam na transmissão adrenérgica tica benigna.
c) Antagonista a 1 A uroseletivo - tansulosina, utiliza-
Os agonistas adrenérglcos são utilizados principal·
da na hipertrofia prostática benigna.
mente no tratamento de doenças cardiovasculares e res·
piratórias e podem atuar seletivamente nos receptores d) Antagonista j3 não seletivos - são conhecidos com
betabloqueadores e amplamente utilizados na
a 1, a2, p1, j32 e ~3. Esta atuação seletiva possibilita a
ação mais restrita dos fármacos em patologias específi· cardiologia. O mais conhecido é o propranolol uti-
cas. São eles: lizado na hipertensão arterial. angina, no infarto do
miocárdio, nas arritmias cardíacas, na enxaqueca.
a) Adrenalina e noradrenalína - mostram pouca sele· ansiedade, no tremor familiar benigno e no glauco-
tivldade de receptor e são usadas principalmente ma. Seus derivados metoprolol e atenolol têm ação
em paradas cardiorrespiratórias e anafilaxia. cardiovascular semelhante e J31 seletiva. Os princi·
b) Agonistas a 1 seletivos - fenilefrlna e efedrina utili- pais efeitos colaterais dos betabloqueadores são:
zados como descongestionantes tópicos. broncoconstrição, bradicardia, hipogllcemla, fadiga.
e) Agonista a.2 seletivos - clonidina e metildopa uti- e) Antagonistas~ e a 1 - carvedilol e labetalol, utiliza-
lizados para tratamento da hipertensão arterial. dos na insuficiência cardíaca.

Leitura sugerida
RIn ER, J. M.; et ai. Rong & Da/e~ Pharmacology. 9. ed. Philadelphia: CALES JÚNIOR. Livro-Texro Farmacologia. Rio de Janeiro: Athcneu,
Elsevier, 2019. 2020.

■ capitulo 12 Sist~a Ntrvoso Autónomo: Anatomia do Simpátko, do Parassimp~lko edos Plexos Viscerais 121
Estrutura da Medula Espinal

da terminação das fibras. Pode, ainda, haver um


segundo nome Indicando a posição do trato.
Assim, trato corticospinal lateral indica um trato
O estudo da estrutura interna do sistema nervoso cen- cujas fibras se originam no córtex cerebral, termi-
tral (SNC), que será iniciado neste capítulo, é uma das partes nam na medula espinal e localiza-se no funículo
mais importantes e interessantes da Neuroanatomia, urna lateral da m~dula.
vez que, no sistema nervoso. estrutura e função estão inti- g) Fascículo- usualmente, o termo se refere a um trato
mamente ligadas e é fundamental para a compreensão dos mais compacto. Entretanto, o emprego do termo
diversos quadros clínicos que resultam das lesões e proces- fascículo, em vez de trato, para algumas estruturas
sos patológicos que podem acometê-lo. O conhecimento se explica mais pela uadição do que por uma dife-
da estrutura funcional do SNC permite ao aluno localizar rença fundamental existente entre eles.
lesões no sistema nervoso central com base nos sinais e sin- h) Lemnisco - o termo significa fita. Éempregado para
tomas que delas decorrem. Antes de iniciarmos o estudo alguns feixes de fibras sensitivas que levam impul-
da estrutura da medula, conceituaremos alguns termos que sos nervosos ao tálamo.
serão largamente usados nos capítulos seguintes. i) Funículo - o termo significa cordão e é usado para a
a) Substôncia cínzent'a - tecido nervoso constituído substância branca da medula. Um funículo contém
de neuróglia, corpos de neurônios e fibras predo- vários tratos ou fascículos.
minantemente amiellnicas. j) Oecussação - formação anatômica constituída por
b) Substôncia branca - tecido nervoso formado de fibras nervosas que cruzam obliquamente o plano
neuróglia e fibras predominantemente míelínicas. mediano e que têm aproximadamente a mesma di-
c) Núcleo - massa de substância cinzenta dentro de reção (Figura 13.1 ). O exemplo mais conhecido é
substância branca, ou grupo delimitado de neurô- a decussação das pir3mides.
nios com aproximadamente a mesma estrutura e k) Comissura - formação anatômica constituída por
mesma função. fibras nervosas que cruzam perpendicularmente
d) Formação reticular - agregado de neurônios sepa- o plano mediano e que têm, por conseguinte, di-
rados por fibras nervosas que não correspondem reções diametralmente opostas (Figura 13.1 ). O
exatamente às substâncias branca ou cinzenta e exemplo mais conhecido é o corpo caloso.
ocupa a parte central do tronco encefálico. 1) Abras de projeção - fibras de projeção de uma de-
e) Córtex - substAncia cinzenta que se dispõe em uma terminada área ou órgão do SNC são aqu~las que
camada fina na superfície do cérebro e do cerebelo. saem dos limites dessa área ou desse órgão.
f) Trato - feixe de fibras nervosas com aproximada- m) Fibras de associação - fibras de associação de uma
mente a mesma origem, mesma função e mes- determinada área ou órgão do SNC são aquelas
mo destino. As fibras podem ser míelínicas ou que associam pontos mais ou menos distan-
amielinicas. Na denominação de um trato, usa-se tes dessa área ou desse órgão, sem, entretanto,
a fusão dos nomes e a origem seguida do nome abandoná-lo.
n} Modulação - mudança da excitabilidade de um 29 Estrütura da medúlâ:-aspêctos gerais~~: .f ~:.:-:-:-_:::
neurônio causada por axônlos de outros neurônios
não relacionados com a função do primeiro. Por Como já foi visto no Capítulo 4 (Figura 4.2}, na superfí-
exemplo, um axônio pode modular a excitabilida- cie da medula existem os sulcos lateral anterior, lateral pos-
de de um neurônio motor sem se relacionar direta- terior, intermédio posterior, mediano posterior e a fissura
mente com a motricidade. mediana anterior. A substância cinzenta é circundada pela
branca, constituindo, de cada lado, os íunículos anterior,
o) Neuroimagem funcional - técnica que permite es-
lateral e posterior, este último compreendendo os fascícu-
tudar o estado funcional de áreas do SNC em in-
los grácil e cuneiforme. Entre a fissura mediana anterior e a
divíduos sem anestesia. Baseia-se no fato de que,
subst~ncia cinzenta, localiza-se a comíssuro bronca, local de
quando os neurónios são ativados, há aumento do
cruzamento de fibras. Na substância cinzenta, notam-se as
metabolismo e do fluxo sanguíneo, o que é detec-
colunas anterior, lateral e posterior.
tado pelo equipamenLo. Para mais informações,
veja o Capítulo 31. Existem diferenças entre os vários níveis da medula no
que diz respeito à forma, localízação e ao tamanho desses
X elementos. Assim, a quantidade de substancia branca em
relação à cinzenta é tanto maior quanto mais alto o nível
considerado. No nível das inturnescências lombares e cer-
vicais. a coluna anterior é mais dilatada; a coluna lateral só
existe de Tl até L2. Esses e outros critérios permitem identifi-
car aproximadamente o nível de uma secção medular.

fL f'ffl·4f lit·E1,u1saUPJ1f:111si'mfu 7 : : · ;· ; 1
3.1 Divisão da substância cinzenta da medula
A substância cinzenta da medula tem a forma de borbo-
leta ou de um H. Existem vários critérios para a divisão dessa
substância cinzenta. Um deles (Figura 13.2) considera duas
linhas que tangenciam os contornos anterior e posterior do
ramo horizontal do H, dividindo a substância cinzenta em co-
luna anterior, coluna pos1erior e substôncla cinzenta Intermédia.
Por sua vez, a substancia cinzenta intermédia pode ser dividida
em subscôncla cinzenta in1ermêdia cencral e subscônda dnzento
intermédia lateral por duas linhas anteroposteriores, como mos-
tra a Figura 13.2. De acordo com esse critério, a coluna latera
faz parte da substância cinzenta intermédia lateral. Na coluna
anterior, distinguem-se uma cabeça e uma base, esta última
X' em conexão com a substância cinzenta intermédia lateral. Na
Figura 13.1 Diferença entre decussação e comissura. As fibras ori- coluna posterior, observa-se, de diante para trás, uma base, un-
ginadas ern A e A' cruzam o plano mediano (XX'), formando uma pescoço e um ápice. Neste último, existe uma área constitu·-
decussaç~o; as originadas em Be B' cruzam esse plano formando da por tecido nervoso translúcido, rico em células neurogliai:
uma comissura. e pequenos neurónios, a substôncía gelatinoso (Figura 133).

Coluna posterior
',,
'

-J---Coluna lalerol

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,.,,., ,,..,,
,....._
1
_ _.. ''Coluna anterior

Substância cinzento Substância cinzenta


intermédia lateral intermédia central

Figura 13.2 Divisão da substância cinzenta da medula.

124 Nftlroanatomla Funcional

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\ 1

1
Fissura mediano anterior

Figura 13.3 Secçào da medula espinal ao nível de L5 mostrando. do lado direito, as l~minas de Rexed e, do lado esquerdo. alguns núcleos
medulares.

3.2 Oasstficação dos neurônios medulares Os neurônios radiculares viscerais são os neurônios pré-
-ganglionares do sistema nervoso autónomo, cujos corpos
Os elementos mais importantes da substância cinzenta
localizam-se na substância cinzenta intermédia lateral, de Tl
da medula são os seus neurônios, que têm sido classificados
a l2 (simpático), ou de S2 a S4 (parassimpátlco). Destinam-se
de várias maneiras. A classificação adotada baseia-se, com à inervação de músculos lisos, cardíacos ou glândulas.
algumas modificações, na classificação proposta por Cajafl Os neurônios radiculares somáticos destinam-se à
e está esquematizada a seguir. inervação de músculos estriados esqueléticos e têm o seu
corpo localizado na coluna anterior. São também denomi-
• •
viscerais nados neurónios morores inferiores. Costuma-se distinguir,
radlculares a na medula dos mamíferos, dois tipos de neurônios radicu-
lares somálicos: alfa; e gama. Os neurônios alfa são muito
somáticos
grandes e o seu axõnio, bastante grosso, destina-se à iner-
Neurónios de
1 vação de fibras musculares que contribuem efetivamente
axónio longo
(tipo I de GolgO para a contração dos músculos. Essas fibras são extrafu-
sais, ou seja, localizam-se fora dos fusos neuromusculares.
Cada neurônio alfa, juntamente com as fibras musculares
de projeção
que ele Inerva, constituí uma unidade rnutora. Os neurô-
cordonals nios gama são menores e têm axônios mais finos (fibras
de associação eferentes gama), responsáveis pela inervação motora das
Neurônios de fibras lntrafusals. O papel dos motoneurônios gama na ,
axônio curto regulação da sensibilidade dos fusos neuromusculares já
(tipo II de Golgl) foi discutido (veja Capítulo 9, parte B. Item 2.3.2d). Eles re-
cebem influência de vários centros supraespinais relacio-
nados com a atividade motora e sabe-se hoje que, para a
3.2.1 Neurônios radiculares execução de um movimento voluntário, eles são ativados
Os neurónios radiculares recebem este nome porque o simultaneamente com os motoneurônios alfa (coatlvação
seu axônio, muito longo, sai da medula para constituir a raiz alfa-gama). Isso permite que os fusos neuromusculares
continuem a enviar informações proprioceptivas ao SNC,
ventral.
mesmo durante a contração muscular desencadeada pela
atividade dos neurônios alfa.
SantiJgo Rarnon y Cajal, rieuroanatomlsta espanhol que em 1906
ganhou o prêmio Nobel por suas descobertas fundamentais sobre a 3.2.2 Neurônios cordonais
estrulura do sistema nc,voso. em especlal a demonstraçao de que os
Os neurônios cordonais são aqueles cujos axônios
neurónios são células independentes que se comunicam por contatos
especiais, mais tarde denominadas sinapses. Esse conceito venceu il ganham a substancia branca da medula, onde tomam di-
controvérsia com o italiano Camilo Gol(ll, segundo o qual haveria con- reção ascendente ou descendente, passando a constituir
tinuidade entre um neurônio e outro. as fibras que formam os funículos da medula. O axônio de

■ Capitulo 13 Estrutura d.i Medula Espinal 125


Neurônio motor •- - - - - - - -.... , .. _ ........ - - - - - - - - - - - - - - Fasc1•scu1a pr6pno
·

...
.... .. ,. ;,,r' --

Fo$Císculo próprio •- - - - -
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--r-__ _
,.
-- -- Coluna onterior

'.,,, ., ,-- ~ 111ÍilÍ!11U11i:...- - - -- -Fosclsculo próprio


,,, ~ ,,,,,. Fosci -~
pro~rio~.._
Neurônio cordonol ,,,,,.
de associação
,,.,,,
-- ---... -- ~--- - - - Coluna posterior

Rgura 13.4 Esquema de formação dos fascículos próprios da medula.

um neurônio cordonal pode passar ao funículo situado rio. Esta, por sua vez. faz sinapse com o próprio neurônio
do mesmo lado onde se localiza o seu corpo. ou do lado motor que emitiu o colateral. Assim, os impulsos nervosos
oposto. No primeiro caso. diz-se que ele é homolateral (ou que saem pelos neurônios motores são capazes de inibir o
ipsilateral); no segundo caso, heterolateral (ou contrala- próprio neurônio por meio do ramo recorrente e da célula
teral). Os neurônios cordonois de projeção têm um axônio de Renshaw. 2 Esse mecanismo é importante para a fisiologia
ascendente longo, que termina fora da medula (tálamo, dos neurônios motores.
cerebelo etc.), integrando as vias ascendentes do medula.
Os neurônios cordonais de associação têm um axônio que, 3.3 Núdeos e lâminas da substância dnzenta
ao passar para a substancia branca, se bifurca em um ramo da medula
ascendente e outro descendente, ambos terminando na
substância cinzenta da própria medula. Constituem, pois, Os neurónios medulares não se distribuem de maneira
um mecanismo de integração de segmentos medulares, uniforme na substáncia cinzenta, mas agrupam-se em nú-
situados em níveis diferentes, permitindo a realização de cleos ora mais era menos definidos. Esses núcleos são, usual-
reflexos intersegmencares no medula (veja Capítulo 1, item 2). mente, representados em cortes, mas não se pode esquecer
As fibras nervosas formadas por esses neurônios dispõem- que, na realidade, formam colunas longitudinais dentro das
-se em torno da substancia cinzenta, onde formam os cha- três colunas da medula. Alguns núcleos, entretanto, n~o se
mados fascículos próprios (Figura 13.4), existentes nos três estendem ao longo de toda a medula. A sistematização dos
funículos da medula. núcleos da medula é complicada e controvertida, e o es-
tudo que se segue é extremamente simplificado. Os vários
3.2.3 Neurônios de axônio curto (ou internundais) núcleos descritos na coluna anterior podem ser agrupados
Em razão de seu pequeno tamanho, o axônlo desses em dois grupos: medial; e lateral, de acordo com a sua po-
neurônios permanece sempre na substância cinzenta. Os sição (Figura 13.3). Os núcleos do grupo medial existem em
seus prolongamentos ramificam-se próximo ao corpo ce- toda a extensão da medula e os neurônios motores aí loca-
lular e estabelecem conexão entre as fibras aferentes, que lizados inervam a musculatura relacionada com o esqueleto
penetram pelas rai1es dorsais e os neurônios motores, inter- axial. Já os núcleos do grupo lateral dão origem a fibras que
pondo-se, assim. em vários arcos reflexos medulares. Além Inervam a musculatura apendicular, ou seja, dos membros
disso, muitas fibras que chegam à medula trazendo impul- superior e inferior. Em função disso, esses núcleos aparecem
sos do encéfalo terminam em neurônios internunciais, que apenas nas regiões das lntumescências cervical e lombar.
desempenham, assim, um papel importante na fisiologia onde se originam, respectivamente, os plexos braquial e
medular. Um tipo especial de neurónio de axônio curto lombossacral. No grupo lateral, os neurônios motores situa-
encontrado na medula é a célula de Renshow, localizada na dos rnals na porção medial inervam a musculatura proxlma
porção medial da coluna anterior. Os impulsos nervosos
provenientes da célula de Renshaw inibem os neurônios
motores. Admite-se que os axõnios dos neurônios moto- 2 Descobriu-se que o neurotransmissor da maioria das células de Rer•
shaw é a gliclna, substc\ncia cuja aç3o é Inibida pela estricn lna. lss::
res, antes de deixar a medula, emitem um ramo colateral explica as fones convulsões que se observa,n ~n, casos de envenen. -
recorrente que volta e termina estabelecendo sinapse com mento por estricnina quando cessa completamente a ação inibidor=
uma célula de Renshaw, cujo neurotransmissor é inibitó- elas células de Renshaw sobre os neurônios mor ores.

126 Neuroanatomia Funcional

. , . . - •· ~ - . -- • . . . . i ~ .• •-

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--
4
. • • •
dos membros, enquanto os situados mais lateralmente lner- descendente. Temos. assim, as vias ascendentes e vias descen-
vam a musculatura distal dos membros, ou seja, os múscu- dentes da medula. Atualmente, a tratografia por ressonância
los intrínsecos e extrínsecos da mão e do pé. magnética permite a identificação dos principais tratos no
Na coluna posterior, são mais evidentes dois núcleos: o indivíduo vivo.
núcleo torácico(= núcleo dorsal); e a substóncia gelatinosa. O
prlrr1eiro, evidente apenas na região torácica e lombar alta 4.2 Vias descendentes
(L 1-L2), relaciona-se com a propriocepção inconsciente e As vias descendentes são formadas por fibras que se
contém neurónios cordonais de projeção, cujos axónios vão originam no córtex cerebral ou em várias áreas do tronco
ao cerebelo. encefálico e terminam fazendo sinapse com os neurônios
A suostância gelatinosa tem organização bastante com- medulares. Algumas terminarn nos neurônios pré-ganglio-
plexa. Ela recebe fibras sensitivas que entram pela raiz dorsal nares do sistema nervoso autônorno. constituindo as vias
e nela funciona o chamado portão da dor, mecanismo que descendentes viscerais. Outras terminam fazendo sinapse
regula a entrada de impulsos dolorosos no sistema neNoso. com neurónios da coluna posterior e participam dos meca-
Para o funcionamento do portão da dor, são importantes as nismos que regulam a penetração dos impulsos sensoriais
fibras que chegam à substância gelatinosa vindas do tronco no SNC. Contudo, o contingente mais importante termina
encefálico. O portão da dor será estudado no Capítulo 29, direta ou indiretamente nos neurónios motores somáticos,
item 4.1 . constituindo as vias motoras descendentes somáticas. Du-
rante muito tempo, essas vias foram divididas em pirami-
A substãncia cinzenta da medula foi objeto de exaus-
dais e extrapiramldais, que pertenceriam, respectivamente,
tivos estudos de citoarquitetura realizada por Rexed, cujos
aos sistemas piramidal e extrapiramidal. Nessa acepção,
trabalhos mudaram as concepções existentes sobre a dis-
essa divisão não é mais válida, pois não se aceita mais a
tribuição dos neurónios medulares. Esse autor verificou que
divisão do sistema motor em piramidal e excrapiramidal.
os neurônios medulares se distribuem em extratos ou lâmi-
Modernamente, é mais utilizada a divisão morfofuncional
nas bastante regulares, as lóminas de Rexed, numeradas de
de Kuyper, Esse pesquisador seccionou especificamente
1 a X, no sentido dorsoventral (Figura 13.3). As lâminas I a
os funlculos lateral e anterior da medula do gato. A lesão
IV constituem uma área receptora, onde terminam os neu-
do funículo lateral resultou na perda dos movimentos finos
rónios das fibras exteroceptivas que penetram pelas raízes das extremidades. sem alterar a postura do animal. Já a le-
dorsais. As lãminas V e VI recebem Informações propriocep- são do funículo anterior resultou em alterações na postura
tivas. A lâmina IX contém os neurônios motores que corres- e Impossibilidade de ajustes posturais. Por exemplo, quan-
pondem aos núcleos da coluna anterior. do se joga um gato para o alto, ele se movimenta para cair
em pé. No gato com o funículo anterior lesado, isso não
Cb fjTI,flEiifiti,jfjtft®®rnm . '. ._;::· . ] ocorre, embora o animal não perca a capacidade de realizar
movimentos apendlculares finos. Com base nessa expe-
4.1 Identificação de tratos e fasdculos riência, foi proposta, e é hoje mais utilizada, inclusive para o
As fibras da substância branca da medula agrupam-se homem, a classificação das vias descendentes motoras em
em tratos e fascículos que formam verdadeiros caminhos, dois sistemas, lateral e medial.
ou vias, por onde passam os impulsos nervosos que sobem
e descem. A formação, função e posição desses feixes de 4.2.1 Sistema lateral
fibras nervosas serão estudadas a seguir. Convém notar, en- O sistema lateral da medula compreende dois tratos: o
tretanto, que não existem na substância branca septos delí- corcicosplna/, que se origina no córtex; e o rubrospinol, que
mitando os diversos tratos e fascículos. e as fibras da periferia se origina no núcleo rubro do mesencéfalo. Ambos condu-
de um trato se dispõem lado a lado com as do trato vizinho. zem impulsos nervosos aos neurônios da coluna anterior
Contudo, há métodos que permitiram aos neuroanatomis- da medula, relacionando-se com esses neurônios direta-
tas localiZilr a posição dos principais tratos e fascículos. mente ou por meio de neurônios internunciais. No nível da
O mais importante deles baseia-se no fato de que, quan- decussação dos pirdmides no bulbo, os tratos corticospínaís
do seccionamos uma fibra mielínica, o segmento distal sofre se cruzam, o que significa que o córtex de um hemisfério
degeneração wallerlana. Seccionando-se experimentalmen- cerebral comanda os neurónios motores situados na me-
te a medula de animais ou, do homem, aproveitando-seca- dula do lado oposto, visando à realização de movimentos
sos de secção resultantes de acidentes, observam-se áreas voluntários. Assim, a motricidade voluntária é cruzada, sen-
de degeneração acima ou abaixo das lesões. Elas correspon- do este um dos fatos mais importantes da neuroanatomia.
dem aos diversos tratos e fascículos cujas fibras foram lesa- E fácil entender, assim, que uma lesão do trato corticospi-
das. Se a área de degeneração se localiza acima do ponto de nal acima da decussação das pirâmides causa paralisia da
secção, concluímos que o trato degenerado é ascendente, metade oposta do corpo. Um pequeno número de fibras,
ou seja, o corpo do neurônio localiza-se em algum ponto no entanto, não se cruza na decussação das plr~mides e
abaixo da lesão. Se a área de degeneração estiver localizada continua ern posição anterior, constituindo o craro corticos-
abaixo, concluímos, por raciocínio semelhante, que o trato é pinal ancerior, localizado no funículo anterior da medula

• Capitulo 13 Estrutura da Medula Espinal 127


fi ssuro mediano
Ramo ascendente longo do fascículo cuneiforme anterior

\1
- - - - - - Comissuro bronco

Neurônio motor
•- + Troto espinotolômico anterior

Troto espinocerebelar anterior


Troto espinotolâmico lateral

N eurônio internunclol
- - - Traio esplnocerebelor posterior

Corpo do neurônio sensitivo Neurônio cordonol de projeçõo


\
\
-.- - do núcleo lor6cico
\
- . Ápice do coluna posterior

Fibra do grupo lateral


'
Fibra do grupo medial

Fascículo dorso lateral - -1~ ~ -- --- Fosclc1.1lo gr6cil


Suko lateral pos!eriOf


(Feixe de Lissouer)
--- ...
---- _ --1,1,,✓,;
_ _ _ __ Sulco mediano posterior

Figura 13.5 Penetração das fibras da raiz dorsal e formação das principais vias ascendentes da medula. O esquema nao leva em conta
o fato de que os ramo s de bifurcação das fibras da raiz dorsal podem percorrer vários segmento-5 antes de terrninarem na substãncia
cinzenta.

(Figura 13.6) e faz parte do sistema medial. O rraro cor- medula originárias da formação reticular da ponte e do bul-
ticospinal lateral localiza-se no funículo lateral da medula bo. Todos esses tratos terminam na medula em neurônios
(Figura 13.6), atinge até a medula sacral e, como as suas lnternunciais, por melo dos quais eles se ligam aos neurô-
fibras vão pouco a pouco terminando na substância cin- nios motores situados na parte medial da coluna anterior
zenta, quanto mais baixo, menor o número delas. O tra- e, assim, controlam a musculatura axial, ou seja, do tronco
to rubrospinal, bem desenvolvido na maioria dos animais, e pescoço, assim como a musculatura proximal dos mem-
liga-se aos neurônios motores situados lateralmente na 15ros. Os tratos vestibulospinals e reficulospl nais são impor-
coluna anterior, os quais, como vimos, controlam os mús- ~antes p_a_1a a manutenção do equlllbrio e da postu1a básica.
culos responsáveis pela motricidade da parte distal dos Estes últimos também controlam a motricidade voluntária
membros (músculos intrínsecos e extrínsecos da mão e do da musculatura axial e proximal. O trato retículospinal pon-
pé). Nesse sentido, ele se assemelha ao trato corticospinal tíno promove a contração da musculatura extensora (anti·
lateral, que tambérn controla esses músculos. Entretanto, gravitária) do membro inferior, necessária à manutenção da
durante a evolução, houve aumento do trato corticospinal postura ereta, resistindo à ação da gravidade. Isso dá estabi-
e diminuição do trato rubrospinal, que, no homem, ficou lidade ao corpo para realízar movimentos com os membros
reduzido a um número multo pequeno de fibras. superiores. Já o trato retículospinal bulbar tem efeito oposto,
ou seja, promove o relaxamento da musculatura extensora
41.2 Sistema medial do membro Inferior. O trato tetosplnal tem funções mais li-
São os segu ntes os tratos âo sistema meâial a me- mitadas, relacionadas a reflexos em que a movimentação
dula: trato corticospinal anterior; tetospinal; vestibulospinal;3 e decorre de estímulos visuais. O trato corticospinal anterior,
ps recicu ospinais ponrino e ou/ a . Os nomes referem-se aos pouco antes de tcrminclr, cruza o plano mediano e termi-
locais onde eles se originam, e que são, respectivamente, o na em neurônios motores, situados do lado oposto àquele
córtex cerebral, o teto mesencefálico (coliculo superior); os no qual entrou na medula. O trato corticospinal anterior é
núcleos vestibulares, situados na área vestibular do IV ven- muito menor co que o lateral, sendo menos Importante
trículo; e a formação reticular, estrutura que ocupa a par- do ponto de vista clínico. As suas fibras vão penetrando na
te central do tronco encefálico. sendo as fibras que vão à coluna anterior e ele termina, mais ou menos, ao nível da
metade da medula torácica. A Tabela 13.1 sintetiza o que
foi visto sobre as vias motoras descendentes somáticas dos
3 Na realidade. são dois os 1ra1os ves1lbulosplnals. o medlal e o lateral sistemas lateral e medial.

128 Neuroanatomia funcional

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Tabela 13.1 Caracterlsticas das vias motoras descendentes somáticas da medula.

Trato Origem Função

Sistema lateral
Corticospinal lateral Córtex motor Motricidade voluntária da musculatura distal

Rubrospinal Núcleo rubro do mesencéfalo Motricidade voluntária da musculatura distal


'
Sistema medial
Corticospinal anterior Córtex motor Morricidade voluntária axial e proximal dos membros superiores
Tetospinal Colículo superior Orientação sensorial motora da cabeça

Reticulospinal pontino formação reticular pontlna Ajustes posturais ativando a musculatura extensora do membro Inferior
Motricidade voluntária da musculatura axial e proximal

Rctlculosplnal bulbar Forrnação reticular bulbar Ajustes posturais relaxando a musculatura extensora do membro Inferior
Motricidade voluntária da musculatura axia.l e proxin1al

Vestibulospinal lateral Núcleo vestibular lateral Ajustes posturais para manutenção do equilíbrio

Vestlbulospinal medial Núcleo vestibular medial Ajustes posturais da cabeça e do tronco

4.3 Vias ascendentes a) Sinapse com neurônios motores, na coluna onrerior -


para a realização de arcos reflexos monossinápticos
As fibras que formam as vias ascendentes da medula
(arco reflexo simples), sendo mais conhecidos os
relacionam-se, direta ou indireramente, com as fibras quepe-
reflexos de estiramento ou miotáticos. dos quais o
netram pela raiz dorsal do nervo espinal, trazendo impulsos
reflexo patelar é um exemplo (Figura 9.3).
aferentes de várias partes do corpo. Os componentes funcio-
b) Sinapse com os neurônios inrernunciais - para a rea-
nais dessas fibras já foram estudados no Capítulo 9, parte C,
lização de arcos reflexos pollssinápticos, que envol·
item 2, a propósito dos nervos espinais. Cabe agora o estudo
vem pelo menos um neurônio ínternuncial, cujo
morfológico de como essas fibras penetram na medula.
axônio se liga ao neurônio motor. Um exen1plo é
o reflexo de flexão ou de retirada, no qual um estí-
4.3.1 De5tino das fibras da raiz dorsal mulo doloroso causa a retirada reflexa da parte afe-
Cada filamento radicular da raiz dorsal, ao ganhar o tada. Os reflexos polissinápticos podem ser muito
sulco lateral posterior, divide-se em dois grupos de fibras: complexos, envolvendo grande número de neurô-
um grupo lateral e outro medial (Figura 13.5). As fibras do nios internunciais.
grupo larerol são mais finas e dirigem-se ao ápice da coluna c) Sinapse com os neurônios cordonais de associação -
posterior, enquanto as fibras do grupo medial dirigem-se à para a realização de arcos reflexos intersegmenta·
face medial da coluna posterior. Antes de penetrar na colu- res, dos quais um exemplo é o reflexo de coçar (veja
na posterior. cada uma dessas fibras se bifurca, dando um Capítulo 1, item 2).
ramo ascendente e outro descendente sempre mais curto, d) Sinapse com os neurônios pré-ganglionares - para a
além de grande número de ramos colaterais mais finos. To- realização de arcos reflexos viscerais.
dos esses ramos terminam na coluna posterior da medula. e) Sinapse com neurônios cordonois de projeção -
exceto um grande contingente de fibras do grupo medial, cujos axônios constituirão as vias ascendentes da
cujos ramos ascendentes, muito longos, terminam no bul· medula, por melo das quais os impulsos que en-
bo. Esses ramos constituem as fibras dos fascículos grócil e tram pela raiz dorsal são levados ao tálamo e ao
cuneiforme, que ocupam os funículos pos·teriores da medula cerebelo.
e terminam fazendo sinapse nos núcleos grócil e cuneiforme, Do que já foi exposto no Item anterior, conclui-se que
situados, respectivamente, nos tubérculos do núcleo grácil as fibras que formam as vias ascendentes da medula são ra-
e do núcleo cuneiforme do bulbo. mos ascendentes de fibras da raiz dorsal (fascículos grácil e
A seguir, são relacionadas as diversas possibilidades cuneiforme) ou axônlos de neurônios cordonais de proje-
de sinapse que podem fazer as fibras e os colaterais da raiz ção situados na coluna posterior. Em qualquer desses casos,
dorsal ao penetrar na substãncia cinzenta da medula (Ftgu- as fibras ascendentes reúnem-se em tratose fascículos com
ra 13.5). Convém acentuar que os impulsos nervosos que características e funções próprias. que serão estudadas a
chegam por uma única fibra podem seguir mals de um dos seguir, analisando-se separadamente os funículos posterior,
caminhos relacionados a seguir. anterior e lateral.

• Capítulo 13 Estrutura da Medula Espinal 129


e

4.3.2 Sistematização das vias ascendentes da medula Ele será também incapaz de dizer se o neurologista
fletiu ou estendeu o seu hálux ou o seu pé.
4.3.2.1 Vias ascendentes do funfcu/o posterior
b) Taro discríminarivo (ou epicrftico) - permite localizar
No funículo posterior, existem dois fascículos, grácil, si- e descrever as características táreis de um objeto.
tuado mediaimente, e cuneiforme, situado na porç~o late- Testa-se tocando a pele simultaneamente com as
ral, separados pelo sepro intermédio posterior (Figura 13.6). duas pontas de um compasso e verificando-se a
Como já foi visto, esses fascículos são formados pelos ramos maior distância dos dois pontos tocados. que é per-
ascendentes longos das fibras do grupo medial da raiz dor- cebida como se fosse um ponto só (discriminação
sal, que sobem no funículo para terminar no bulbo (Figura de dols pontos).
13.5). Na realidade, essas fibras nada mais seio do que os c) Sensibilidade vibratório- percepção de estímulos me-
prolongamentos centrais dos neurônios sensitivos situados c.1nicos repetitivos. Testa-se tocando a pele de encon-
nos ganglios espinais. tro a uma saliência óssea com um diapasão, quando
O foscfculo grácil inicia-se no limite caudal da medula e o indivíduo deverá dizer se o diapasão está vibrando
é formado por fibras que penetram na medula pelas raízes ou não. A perda da sensibilidade vibratória é um dos
coccígea, sacrais, lombares e torácicas baixas, terminando sinais precoces da lesão do funículo posterior.
no núcleo grácil, situado no tubérculo do núcleo grácil do d) Estereognosio - capacidade de perceber, com as
bulbo (Figura 5.2). Conduz. portanto, impulsos provenien- mãos, a forma e o tamanho de um objeto. /\ este-
tes dos membros inferiores e da metade inferior do tronco e reognosia depende de receptores tanto para tato
pode ser idenlificado em toda a extensão da medula. como para proprioccpçâo.
O foscfculo cuneiforme, evidente apenas a partir da me-
dula torácica alta, é formado por fibras que penetram pelas 4.3.2.2 Vias ascendentes do funfculo anterior
raízes cervicais e torácicas superiores, terminando no núcleo No funículo anterior, localiza-se o troco espfnorolômi-
cuneiforme, situado no tubérculo do núcleo cuneiforme do co onrerior, formado por axõnios de neurônios cordonais
bulbo (Figura 5.2). Conduz, portanto, impulsos originados de projeção situados na coluna posterior. E5ses axônios
nos membros superiores e na metade superior do tronco. cruzam o plano mediano e fletem-se cranialmente para
Do ponto de vista funcional, não há diferença entre os fascí- formar o troto espinotalômico anterior (Figura 13.5), cujas
culos grácil e cuneiforme; sendo assim, o funículo posterior fibras nervosas terminam no tálamo e levam impulsos de
da medula é funcionalmente homogêneo, conduzindo im- pressão e tato leve (roto protopólico). Esse tipo de tato, ao
pulsos nervosos relacionados com: contrário daquele que segue pelo funículo posterior, é
a) Propriocepçôo consciente ou senrldo de posição e de pouco discriminativo e permite, apenas de maneira gros-
movimento (cinesresia) - permite, sem o auxílio da seira, a localização da fonte do estímulo tátil. A sensibili-
visão, situar uma parte do corpo ou perceber o seu dade tátil tem, pois, duas vias na medula, uma direta, no
movimento, A perda da propriocepção consciente, funículo posterior, e outra cruzada, no funículo anterior.
que ocorre, por exemplo, após lesão do funículo Por isso. dificilmente se perde toda a sensibilidade tátil nas
posterior, deixa o indivíduo Incapaz de localizar, lesões medulares, exceto, é óbvio, naquelas em que há
sem ver, a posição do seu braço ou da sua perna. transecção do órgão.

Troto corlicospinol loterol


~- Fosclculo cuneiforme
'
- Fascículo próprio

Coluna anterior do medula .,..___

Troto espinocerebelor
-.....
::"
- /
- -Fosclculo próprio

Troto espinotolâmlco
anterior -- I ._,.,. - - - lateral
1
Troto corticospinol anterior - 1 --JII.:.... - Troto espinotolãmico anterior
1
1
1
Fissura mediano anterior

figura 13.6 Posição aproximada dos principais tratos e fascículos da medula. Tratos ascendentesem pontilhado; tratos descendente~
em linhas horizontais.

130 Neuroanatomia Funcional


4.3.2.3 Vias ascendentes do funículo lateral ► Trato espinocerebelar anterior - neurônios cordo-
► Trato espinoralômico lateral - neurônios cordonais nais de projeção, situados na coluna posterior e
de projeção, situados na coluna posterior, emitem na substAncia cinzenta intermédia, emitem axô-
axônios que cruzam o plano mediano na comissura nios que ganham o funículo lateral do mesmo
branca, ganham o funículo lateral, onde se fletem lado ou do lado oposto, fletindo-se cranialmente
cranialmente para constituir o trato esplnotalãmlco para formar o trato espinocerebelar anterior (Fi-
lateral (Figura 13,5). cujas fibras terminam no tála- gura 13.S). As fibras desse trato penetram no ce-
mo. O tamanho desse trato aumenta à medida que rebelo, principalmente pelo pedúnculo cerebelar
ele sobe na medula pela constante adição de novas superior (Figura 22.7). Admite-se que as fibras
fibras. O trato espinotalãmico lateral conduz impul- cruzadas na medula tornam a se cruzar ao entrar
sos de temperatura e dor. Tendo em vista a grande no cerebelo, de tal modo que o Impulso nervoso
significação que a dor tem em Medicina, pode-se termina no hemisfério cerebelar situado do mes-
entender que o trato espinotalâmico lateral é de mo lado em que se originou. Ao contrário do trato
grande importância para o médico. Em certos ca- espinocerebelar posterior, que veicula somente
sos de dor, decorrente principalmente de câncer, impulsos nervosos originados em receptores peri-
aconselha-se o tratamento cirúrgico por secção do féricos, as fibras do trato espinocerebelar anterior
trato espinotalâmico lateral, técnica denominada informam também eventos que ocorrem dentro
cordotomla (Capitulo 19, item 3.7). O trato espino- da própria medula, relacionados com a atividade
talãmico lateral constitui a principal via pelas quais elétrica do trato corticospinal. Assim, por intermé-
os impulsos de temperatura e dor chegam ao cé- dio do trato espinocerebelar anterior, o cerebe-
rebro. Junto dele, seguem também as fibras espi- lo é informado de quando os impulsos motores
norreticulares, que também conduzem impulsos chegam à medula e qual a sua intensidade. Essa
dolorosos. Essas fibras fazem sinapse na chamada Informação é usada pelo cerebelo para o controle
formação reticular do tronco encefálico, onde se da motricidade somática.
originam as fibras reticulotalãmicas, constituindo-
Na Tabela 13.2, estão sintetizados os dados mais lm·
-se, assim, a via espino-retículo-talâmica. Essa via
conduz impulsos relacionados com dores do tipo portantes sobre os principais tratos e fascículos ascenden-
crônico e difuso (dor em queimação). enquanto a tes da medula, cuja posição é mostrada na Figura 13,6,
via espinotalãmica se relaciona com as dores agu- juntamente com os tratos corticospinais e o fascículo pró-
das e bem localizadas da superfície corporal: prio da medula.
► Trato espinocerebelar posterior - neurônios cordo-
nais de projeção, situados no núcleo torácico da
coluna posterior, emitem axônios que ganham o S Correlações anatomoclinicas
funículo lateral do mesmo lado, íletindo-se cranial- O conhecimento dos principais tratos e fascículos
mente para formar o trato espinocerebelar poste-
da medula é importante para a compreensão dos sinais
rior (Figura 13,5). As fibras desse trato penetram
e sintomas decorrentes das lesões e processos patológi-
no cerebelo pelo pedúnculo cerebelar inferior (Fi-
cos que podem acometer esse órgão. Esse assunto será
gura 22.7), levando impulsos de propriocepção in-
discutido no Capítulo 19, juntamente com as correlações
consciente, originados em fusos neuromusculares anatomoclínicas referentes ao tronco encefállco.
e órgãos neurotendinosos.

Tabela 13.2 Características dos principais tratos e fascículos ascendentes da medula.


Nome Origem Trajeto Localização Terminação Função
na medula
F. grácil e cuneiforme gânglio espinal direto funículo núcleo gr~cil e propriocepção consciente,
posterior cuneiforme (bulbo) tato epicrítico, sensibilidade
vibratória e estereognosia
T. espinotalãmico anterior coluna posterior cruzado funículo anterior tálamo tato protopático e pressão
T. espinotalamico lateral coluna posterior cruzado funrculo lateral tálamo temperatura e dor
T. espinocerebelar coluna posterior e cruzado funículo lateral cerebelo propriocepção ínconscien te
anterior subst~nda cinzenta detecçao dos nlvelsde
intermédia atividade do t corticospinal
T. ~pinocerebelar coluna posterior direto funículo lateral cerebelo propriocepção Inconsciente
posterior (núcleo torácico)

• Capitulo 13 Estrutura da Medula Espinal 131


Estrutura do Bulbo

ser extremamente difícil distinguir dinicamente um recém-


-nascido normal de um com lesões prosencefálicas extensas.
como no caso de hidrocefalias. Um bebe hldrocefálico chora,
lníciaremos neste capítulo o estudo da estrutura do sorri, suga, move os seus olhos, face e membros ativamen-
tronco encefálico, começando pelo seu componente mais te, demonstrando que o tronco encefálico organiza toda a
caudal, o bulbo. Antes disso. faremos algumas considera- gama de comportamentos de um recém-nascido normal. As
ções sobre a estrutura de todo o t.ronco encefálico e as suas sequelas só ficarão evidentes em alguns meses. à medida que
diferenças em relação à medula. os centros superiores vão assumindo o controle motor.
Há várias diferenças entre a estrutura da medula e a do
tronco encefálico, embora ambos pertençam ao sistema 2111Estr.~tura_do bulbo
nervoso segmentar. Uma delas é a fragmentação longitu-
A organização interna das porções caudaís do bulbo é
dinal e transversal da substância cinzenta no tronco ence-
bastante semelhante à da medula. Entretanto, à medida que
fálico, formando-se, assim, os núcleos dos nervos cranianos.
se examinam secções mais altas de bulbo, notam-se dife-
Esses núcleos correspondem, pois, a determinadas áreas de
renças cada vez maiores. até que, ao nível da oliva, já não
substância cinzenta da medula e constituem a chamada
existe aparentemente nenhuma semelhança. Essas modifi-
subsrâncio cin1enro homólogo à do medula. Todavia, existem cações da estrutura do bulbo em relação à da medula são
muitos núcleos no tronco encefálico que não têm corres- decorrentes, principalmente, dos seguintes fatores:
pondência corn nenhuma área da subst~ncia cinzenta da
medula. Constituem a subsrâncio cinzenra própria do tronco a) Aparecimento de novos núcleos próprios do bulbo -
encefálico. A fragmentação das colunas cinzentas ao nível sem correspondentes na medula, como os núcleos
do tronco encefálico resulta. em parte, do surgimento de grácil, cuneiforme e o olivar inferior.
grande número de fibras de direção transversal. pouco fre- b) Decussoção dos pirâmides ou decussação motora
quentes na medula. (Figura 14.1) - as fibras do trato cortlcospinal per-
correm as pirâmides bulbares e a maiori.a delas de-
Outra diferença entre a estrutura da medula e a do
cussa. ou seja. muda de direção, cruzando o plano
tronco encefálico é a presença, ao nível deste, de uma rede
mediano (decussoçõo das pirômides), para continuar
de fibras e corpos de neurõnios, a formação reticular, que
como trato corticospinal lateral. Nesse trajeto, as
preenche o espaço situado entre os núcleos e tratos mais fibras atravessam a substAncla cinzenta, contribuin-
compactos. A formação reticular tem uma estrutura inter- do, assim, para separar a cabeça da base da coluna
mediária entre a substância branca e cinzenta. Mas é, ainda anterior. A Figura 14.1 mostra, esquematicamen-
assim, composta de corpos neuronais axôníos e neuroglia. te, como Isso é feito. representando-se o trajeto de
Embora estejamos acostumados a pensar que o com- uma só fibra.
portamento humano depende do comportamento do pro- c) Decussação dos lemniscos ou decussoção sensitivo
sencéfalo, muitos comportamentos humanos complexos. (Figura 14.2) - conforme exposto no capítulo
como alimentação em um recém-nascido, são respostas mo- anterior, as fibras dos fascículos grácil e cunei-
toras estereotipadas programadas no tronco encefálico. Pode forme da medula terminam fazendo sinapse em
Troto c:orticospinol lemnisco medial
+ +
Núcleo
/ gróc:il
/


·' ..
• •• . · •· "'7•• • · • '

.. Fibra . ...
..
Funículo lateral
+ arqueado
interno +
Troto cor1icospinol lateral Fasclculo grácil

Flgura 14.1 Esquema do trajeto de uma fibra na decussação das Figura 14.2 Esquema do trajeto de uma fibra na decussação dos
pirâmides. lemnlscos.

neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme, que a) Núcleo ambíguo - núcleo motor para a muscula-
aparecem no funículo posterior. Já nos níveis tura estriada, de origem branqulomérica. Dele.
mais baixos do bulbo, as fibras que se originam saem as fibras eferentes viscerais especiais do IX,
nesses núcleos são denominadas fibras arqueadas X e XI pares cranianos. destinados à musculatura
internas. Elas mergulham ventralmente, passam da laringe e da faringe. Situa-se profundamente no
através da coluna posterior, contribuindo para interior do bulbo.
fragmentá-la, cruzam o plano mediano (decus- b) Núcleo do hipoglosso - núcleo motor onde se origi-
sação sensitiva) e infletem-se cranlalmente para nam as fibras eferentes somáticas para a muscula-
constituir, de cada lado, o lemnisco medial. A Fi-
tura da língua. Situa-se no trígono do hlpoglosso,
gura 14.2 mostra, de modo esquemático, esse
no assoalho do IV ventrículo. e as suas fibras diri-
trajeto, representando-se uma s6 fibra. Ê fácil,
gem-se ventralmente para emergir no sulco lateral
pois, entender que cada lemnisco medial conduz
anterior do bulbo, entre a plramide e a oliva.
ao tálamo os Impulsos nervosos que subiram nos
fascículos grácíl e cuneiforme da medula do lado c) Núcleo dorsal do vago - núcleo motor pertencen-
oposto. Esses impulsos relacionam-se, pois, com a te ao parassimpático. Nele, estão situados os neu-
propriocepção consciente, tato epicrítico e sensi- rônios pré-ganglionares, cujos axônios saem pelo
bilidade vibratória. nervo vago. Corresponde à coluna lateral da medu-
d) Abertura do IV ventrículo - em níveis progressiva- la. Situa-se no trígono do vago. no assoalho do IV
mente mais altos do bulbo, o número de fibras ventrículo.
dos fascículos grácil e cuneiforme diminui pouco d) Núcleos vesrtbulares (Figuras 14.3 e 15.3)- são nú-
a pouco, à medida que elas terminam nos respec- cleos sensitivos que recebem as fibras que pene-
tivos núcleos. Desse modo, desaparecem os dois tram pela porção vestibular do VIII par. Localizam-se
fascículos. bem como os correspondentes núcleos na área vestibular do assoalho do IV ventrículo, atin-
grácil e cuneiforme. Não havendo mais nenhuma gindo o bulbo apenas os núcleos vestibulares Infe-
estrutura no funículo posterior. abre-se o canal rior e medial.
central formando o IV ventrículo, cujo assoalho é e) Núcleo do troto solitdn'o- é um núcleo sensitivo que
constituído principalmente de subst3ncia cinzen- recebe fibras aferentes viscerais gerais e especiais
ta homóloga à medula. ou seja. núdeos de nervos que entram pelo VII, IX e X pares cranianos. Antes
cranianos. de penetrarem no núcleo, as fibras têm trajeto des-
cendente no trato solfrário, que é quase totalmente
circundado pelo núcleo. As fibras aferentes visce-
rais especiais que penetram no núcleo do trato
3.1 Substânda dnzenta homóloga à da medula solitário estão relacionadas com a gustação.
(núdeos de nervos aanlanos} f) Núcleo do rraro espinal do nervo trigémeo (Figuras
Os núcleos dos nervos cranianos serão estudados em con- 14.3 e 14.4) - a esse núcleo chegam fibras aferen-
junto no Capítulo 17. Limitar-nos-emos. agora. a dar as princi- tes somáticas gerais, trazendo a sensibilidade de
pais características daqueles situados no bulbo (Figura 14.3): quase toda a cabeça pelos nervos V, VII, IX e X. Con-

134 Neuroanatomia Funcional

l
Assoalho do IV venlTiculo
Núcleo vestibular medial - - - -,
....
Núcleo vestibular inferior - - - - -....' ,..........
..... .....
Pedúnculo cerebelor inferior-- - - ... ::::.
. -::•
Fascículo longitudinal medial--- :i:fi::f: ..._,....,
.... .
Troto esplnocerebelar posterior _ f:: ,::;
t . . • ••
• •
Núcleo ambíguo - - - - - - - ~ :.:
Neurônio do gânglio
inferior do X
Troto espinocerebelar
anterior .,,,
Troto espinololômico lateral __ .,,,

Agura 14.3 Secç~o transversal esquemática da porção aberta do bulbo ao nível da parte média da oliva.

tudo, as fibras que chegam pelos nervos VII, IX e X que cruzam o plano mediano para formar o lemnis-
trazem apenas a sensibilidade geral do pavilhão e co medial (Figuras 14.2 e 14.4).'
do conduto auditivo externo. Corresponde à subs- b) Núcleo olivar inferior (Figura 14.3) - é uma gran-
t~ncla gelatinosa da medula, com a qual continua. de massa de substàncía cinzenta que corresponde
g) Núcleo solivarório inferior - origina fibras pré-gan- à formação macroscópica já descrita como oliva.
glionares que emergem pelo nervo glossofaríngeo Aparece, em cortes, como uma lãmina de substãn-
para inervação da parótida (Figura 17.2). cia cinzenta bastante pregueada e encurvada so-
Para facilicar a memorização dos nomes e das funções bre si mesma. com uma abertura principal dirigida
dos núcleos de nervos cranianos do bulbo, um bom exer- mediaimente. O núcleo olivar inferior recebe fibras
cício é tentar deduzir o nome de cada um dos núcleos que do córtex cerebral, da medula e do núcleo rubro,
entram em ação nas várias etapas do ato de tomar sorvete. este último situado no mesencéfalo. Liga-se ao
Inicialmente, põe-se a língua para fora para lamber o sorve- cerebelo por meio das fibras olivocerebelares que
te. Núcleo envolvido: núcleo do hipoglosso. A seguir, é ne- cruzam o plano mediano. penetram no cerebelo
cessário verificar se o sorvete está mesmo frio (ou seja, se pelo pedúnculo cerebelar inferior (Flgura 14.5),
distribuindo-se a todo o córtex desse órgão. Hoje,
é realmente um sorvete). Núcleo envolvido: núcleo do tro-
sabe-se que as conexões olivocerebelares estão
to espinal do trlg~meo. Feito isso, é conveniente verificar o
envolvidas na aprendizagem motora, fenômeno
gosto do sorvete. Núcleo envolvido: núcleo do rroco solirório.
que nos permite realizar determinada tarefa com
Nessa etapa, o indivíduo já deve estar com a "boca cheia
velocidade e eficiência cada vez maiores quando
d'água~ Núcleo envolvido: núcleos salívacórios (no caso do
ela se repete várias vezes.
bulbo, somente o inferior). Nessa fase, já há condições de
e) Núcleos olivares acessórios medial e dorsal (Figura
se engolir o sorvete. Núcleo envolvido: núcleo ombfguo. Por
14.3) - esses núcleos têm basicamente a mes-
fim, o sorvete chega ao estômago e sofre a ação do suco
ma estrutura, conexão e função do núcleo olivar
gástrico. Núcleo envolvido: núcleo dorsal do vago. E como
Inferior, constituindo com ele o complexo olivar
o indivíduo tomou o sorvete de pé, sempre mantendo o
inferior.
equilíbrio, estiveram envolvidos também os núcleos vestibu-
lares inferior e medial.
1 Também pertence à subs13ncla cinzenta própria do bulbo o núcleo
3.2 Substância dnzenta própria do bulbo cuneiforrne acessôrio. situado lateralmen1e à porç,.!o cranlal do núcleo
cuneiforme (Figura 14,4). fsw núcleo ligit-se ao cerebelo pelo l@lo
a) Núdeos grócil e cuneiforme - já foram estudados no cuneocerebelar que. numa parte do seu trajeto. constitui as fibras ar-
item 2.1. Dão origem a fibras arqueadas internas, queadas externas dorsais (Figura 14.5).

• Capitulo 14 Estrut\lfi do Bulbo 135


Elúde.o grã,cil - - - - - - ..._
- .......
Canal central - - - -
úcleo cuneiforme - _ _, - _
-,
--
--
'-.....

• •· •· - - - - - NúcJeQ do trato IQlitório


Núcleo cuneiforme acessório - - - - ..• • ____ - Núcl~ dorsal dQ..rulrv!Ll'0gQ
•• •
úcleo do trato espinal =·:::::•· · ·
do nervo trigémeo - - - - - - ~-·:: -
ll'nm>.:ijpjnociribelàt. - -
:: ·•.
.
•••
' - .;:i...c:.:t·:•::1:
GL..._ _ -: - -- -
• 4 •• --- - - ITTãtii.ii~ínid
~~úc:Jeo ,do nervo hiRoglosso

-- --
•'
• •

-
•• •••• --...._ - - - Núcleo ambíguo,
••
tia - - Decussação do lemnisco medial
/
Fibras arqueadas internas - - _/ - -- · mecJ·101
- - - - lemn1sco
Complexo olivar inferior - - - - /
/
,, - .. ·de
- - - - - - - - - - - - p·1ram1
Nervo hipoglosso (XII) - - - - ___ ,"
--- - - - - - - - Fissura mediana anterior

Figura 14.4 Secção transversal esquemática da porção fechada do bulbo ao nivel da decussação do lemnisco medial.

Pedúnculo cerebelar
Fibra orqueodo interno (olivocerebelar) / inferior
'',~'P-\l~-Ll /11
BULBO '' - Fibra orqueoda externo ventral
'' //

Núcleo olivar inferior - - - - /,,-Troto cunoocerebelor


/
/
...·. . .• •.. .... /
Núcleo arqueado - - - - - - - -- • • • •
,,,,,,,,✓- Fibra a rqueado externo dorsal

Núcleo cuneiforme acessório- -


-- . -...,

BULBO

.
F1ssura med'10no on tenor
· - - - - - - - - - - /

- - - - - - Troto espinocerebelor posterior

Coluna posterior

MEDUlA

Coluna anterior

Figura 14.S ~lbras arqueadas do bulbo e formaçao do pedúnculo cerebelar Inferior.

136 Neuroanatomía Funcional

____ :... . ~---...:.- . . - .... ~--- - ·------· , !'..~1::--


. . .. --,

~
-
.ti .---
.
..
,- .
. - --
.
-
. .
.
-
--= = - - - = - - -
-
4:'g_Substânda branca do bulbo~...... . das laterais da metade inferior do IV ventrículo até
o nível dos recessos laterais, onde se fletem dor·
4.1 Fibras transversais salmente para penetrar no cerebelo. As fibras que
As fibras transversais do bulbo são também denomi· constituem o pedúnculo cerebelar inferior já foram
nadas fibras arqueadas e podem ser divididas em internas estudadas e são as seguintes (Figura 14.5): fibras
e externas: olivocerebelares; fibras do trato espinocerebelar
posterior; e fibras arqueadas externas.
a) Fibras arqueadas internas - formam dois grupos
principais, de significação completamente dife- 4.2.2 Vias descendentes
rente: algumas são constituídas pelos axônios
As principais vias descendentes do bulbo são as seguintes:
dos neurônios dos núcleos grácil e cuneiforme no
trajeto entre esses núcleos e o lemnisco medial 4.2.2. 1 Tratos do sistema lateral da medula
(Figura 14.2); outras são constituídas pelas fibras
a) Traro corcicospfnal - constituído por fibras origina-
olivocerebelares, que, do complexo olivar inferior,
das no córtex cerebral, que passam no bulbo em
cruzam o plano mediano, penetrando no cerebelo tr~nsito para a medula, ocupando as pirâmides bul-
do lado oposto, pelo pedúnculo cerebelar inferior bares. É, por Isso, denominado também troto píra·
(Figura 14.5). midal. É motor voluntárío (Figura 14.3).
b) Abras arqueadas externas (Figura 14.5) - originam-se b) Trato rubrospinal - originado de neurónios do nú-
do núcleo cuneiforme acessório, têm trajeto próximo cleo rubro do mesencéfalo, chega â medula por
à superfície do bulbo e penetram no cerebelo pelo trajeto que não passa pelas pirâmides. É motor vo-
pedúnculo cerebelar inferior. luntário, mas no homem é menos importante que
o corticospinal.
4.2 Fibras longitudinais
As fibras longitudinais formam as vias ascendentes, des- 4.1.2.2 Tratos do sistema medial da medula
cendentes e de associação do bulbo. Constituídos por fibras originadas em várias áreas do
tronco encefálico e que se dirigem à medula. Foram refe-
4.2.1 Vias ascendentes ridos no capítulo anterior e são os seguintes: traio corlicos-
São constituídas pelos tratos e fasdculos ascendentes. pinal anterior; trato tetospinaf. trocos vestibulospfnais; e rraros
oriundos da medula, que terminam no bulbo ou passam reciculospinais.
por ele em direção ao cerebelo ou ao tálamo. A eles, acres-
centa-se o lemnisco medial, originado no próprío bulbo. Es- 4.1.2.3 Trato corticonuc/ear
sas vias estão relacionadas a seguir. Constituído por fibras originadas no córtex cerebral e
a) Fascículos grácil ecuneiforme - visíveis na porção fe- que terminam em núcleos motores do tronco encefálico.
chada do bulbo (Figura 14,4). No caso do bulbo, essas fibras terminam nos núcleos ambl-
guo e do hipoglosso, permitindo o controle voluntário dos
b) Lemnisco medial - forma uma fita compacta de fi-
músculos da laringe, da faringe e da língua.
bras de cada lado do plano mediano (Figuras 14.2
e 14.3). Suas fibras terminam no tálamo. 4.1.2.4 Trato espinal do nervotrigémeo
c) Trato espinotalômlco lateral - está situado na área
Constituído por fibras sensitivas que penetram na pon-
lateral do bulbo, mediaimente ao trato espinocere- te pelo nervo trigémeo e tomam trajeto descendente ao
belar anterior (Figura 14.3). longo do núcleo do traro espinal do neNo trigémeo, onde ter-
d) Trato espinotalãmico anterior - tem no bulbo urna minam (Figura 17.4). Dispõe-se lateralmente a esse núcleo,
posição correspondente à sua posição na medula; e o número das suas fibras diminui à medida que. em níveis
sobe junto com o espinotalâmico lateral. progressivamente mais caudais, elas vão terminando no nú-
e) Trato espinocerebelar anterior - situa-se superficial- cleo do trato espinal.
mente na área lateral do bulbo, entre o núcleo
olivar e o trato espinocerebelar posterior (Figura 4.2.l .5 Trato solitdrlo
14.3). Continua na ponte, pois entra no cerebelo Formado por fibras aferentes viscerais, que penetram
pelo pedúnculo cerebelar superior. no tronco encefálico pelos nervos VII, IX e X e tomam trajeto
f) Troto esplnocerebelar posterior - situa-se superficial- descendente ao longo do núcleo do trato solitário, no qual
mente na área lateral do bulbo (Figura 14.3), entre vão terminando em níveis progressivamente mais caudais.
o trato espinocerebelar anterior e o pedúnculo ce-
rebelar inferior, com o qual pouco a pouco se con- 4.2.3 Via de associação
funde (Figura 14.5). Éformada por fibras que constituem o fascículo longitu·
g) Pedúnculo cerebelo, Inferior - é um proeminente dlnal medial, presente em toda a extensão do tronco encefá-
feixe de fibras ascendentes que percorrem as bor- líco e níveis mais altos da medula. É facilmente Identificado

• Capitulo 14 Estrutura do Bulbo 137


nos cortes por sua posição sempre medial e dorsal (Figura estudados nos Capítulos 17 e 20. A presença dos centros
15.4). Corresponde ao fascículo próprio que, como já foi vis- respiratório e vasomotor no bulbo torna as lesões nesse ór-
to, é a via de associação da medula. O fascículo longitudinal gão particularmente graves.
medial liga todos os núcleos motores dos nervos cranianos,
sendo especialmente importantes as suas conexões com
os núcleos dos nervos relacionados com o movimento do 6. Correlações anatomoclínicas
bulbo ocular (Ili, IV, VI) e da cabeça (núcleo de origem da raiz
O bulbo, apesar de ser uma parte relativamente pe-
espinal do nervo acessório que inerva os músculos trapézio
quena do sistema nervoso central, é percorrido por um
e esternocleidomastóideo). Recebe, ainda, um importante
grande número de tratos motores e sensitivos, situados
contingente de fibras dos núcleos vestibulares, trazendo
impulsos que Informam sobre a posição da cabeça (Figura
nas proximidades de importantes núcleos de nervos cra-
nianos. Por isso, lesões do bulbo, mesmo restritas, cau-
16.1). Desse modo, o fascículo longitudinal medial é Impor-
sam sinais e sintomas muito variados, que caracterizam
tante para a realização de reflexos que coordenam os mo-
as diversas síndromes bulbares. Essas síndromes serão
vimentos da cabeça com os do olho. além de vários outros
estudadas no Capitulo 19, com as demais síndromes do
reflexos envolvendo estruturas situadas em nlveisdiferentes
do tronco encefálico. tronco encefálico e da medula. Pode-se adiantar, entre-
tanto, que os sintomas mais característicos das lesões
bulbares são a disfagia (dificuldade de deglutição) e as
alterações da fonaç.ão por lesão do núcleo ambíguo,
A formação reticular ocupa grande área do bulbo, onde assim como alterações do rnovimento da lfngua por le-
preenche todo o espaço não ocupado pelos núcleos de são do núcleo do hipoglosso. Esses quadros podem ser
tra10s mais compactos. Na formação reticular do bulbo, acompanhados de paralisias e perdas de sensibilidade
localiza-se o centro respirocório, muito importante para a re- no tronco e nos membros por lesão das vias ascenden-
gulação do ritmo respiratório. Aí, também estão localizados tes ou descendentes, que percorrem o bulbo.
o centro vosomoror e o cencro do vômito. Esses centros serão

138 Neuroanatomia Funcional

l
Sinopse das principais estruturas do bulbo

núcleo ambíguo (IX, X, XI)


núcleos núcleo do hlpoglosso (XII)
motores núcleo dorsal do vago (X)
núcleo salivatórlo inferior (IX)
núdeosde
nervos
cranianos
núcleo do trato esplnal do trig~meo (V, Vil, IX, X)
núcleos núcleo do trato solitário {VII, IX, X)
Substância cinzenta sensitivos núcleo vestibular medial {VIII)
núcleo vestibular inferior (VIII)

núcleo grácil
substància núcleo cuneiforme
cinzenta núcleo cuneiforme acessório
própria do núcleo olivar inferior
bulbo
núcleo olivar acessório medial complexo olivar inferior
núcleo olivar acessório dorsal

fascículo grácil
fascículo cuneiforme
lemnisco medial
trato espinotalàmico lateral
ascendentes trato espinotalàmico anterior
fibras trato espinocerebelar anteríor
longltudinals trato espinocerebelar posterior
pedúnculo cerebelar inferior

trato rubrospinal
trato corticosplnal
trato corticonuclear
Substància branca trato tetospinal
descendentes
trato vestibulospinal bulbar
tratos retlculosplnals
trato espinal do trigêmeo
trato solitário
de associação
- fascículo longitudinal medial

fibfas j fibras arqueadas internas


transversais 1 fibras arqueadas externas
centro respiratório
Formaçao reticular centro vasomotor
centro do vômito

Cavidade: canal central do bulbo e IV ventrículo

• Capítulo 14 Estrutura do Bulbo 139


Estrutura da Ponte

A ponte é formada por uma porre venera(, ou base da neurônios motores da medula. O seu trajeto pelo
ponrf!, e uma porre dorsal, ou regmento da ponte. O tegmen- bulbo e pela terminação na medula já foi estuda-
to da ponte tem uma estrutura muito semelhante à do bul- do. Na base da ponte, o trato corticosplnal forma
bo e à do tegmento do mesencéfc1lo. Já a base da ponte tem vários feixes dissociados, não tendo a estrutura
estrutura muito diferente das outras áreas do tronco encefá- compacta que apresenta nas pirâmides do bulbo
lico. No limite entre o tegmento e a base da ponte, observa- (Figura 15.1 ).
-se um conjunto de fibras mielínicas de direção transversal, b) Trato corciconuclear - constituído por fibras que,
o corpo trapezoide (Figura 15.1). O corpo trapezoide será das áreas motoras do córtex, se dirigem aos neu-
estudado como parte integrante do tegmento.
rônios motores situados em núcleos motores de
nervos craníanos; no caso da ponte, os núcleos
do trigemeo, abducente e facial. As fibras desta-
A base da ponte é uma área própria da ponte sem cor- cam-se do trato à medida que se aproximam de
respondente em outros níveis do tronco encefálico. Ela apa- cada núcleo motor, podendo terminar em nú-
receu durante a filogênese, juntamente com o neocerebelo cleos do mesmo lado e do lado oposto (detalhes
e o neocórtex, mantendo Intimas conexões com essas duas no Capítulo 30).
áreas do sistema nervoso. Atinge o seu máximo desenvol- c) Troro corrlcoponrlno - formado por fibras que se
vimento no homem, no qual é maior do que o tegmento. originam em várias áreas do córtex cerebral, ter-
As seguintes formações são observadas na base da ponte: minam fazendo sinapse com os neurónios dos nú-
cleos pontinos (Figura 1S.1).
trato cortlcospinal
fibras longitudinais trato cortlconuclear 1.2 Fibras transversais e núdeos pontlnos
Base da ponte trato conicopontlno Os núcleos pontlnos são pequenos aglomerados de
fibras transversais neurônios dispersos em toda a base da ponte (Figura 15.1 ).
Neles, terminam, fazendo sinapse, as fibras corticopontinas.
núcleos pontinos
Os axônios dos neurônios dos núcleos pontinos constituem
as fibras transversais da ponte, também denominadas fibras
1.1 Fibras longitudinais pontinos ou pontocerebelores. Essas fibras, de direção trans-
a) Traro corticospinol - constituído por fibras que, das versal, cruzam o plano mediano e penetram no cerebelo
áreas motoras do córtex cerebral, se dirigem aos pelo pedúnculo cerebelar médio.
Véu medular superior - - - - - - - , __ _ _ Pedúnculo cerebelar superior
\ I
\
\
I
IV Ventrículo - - -- - -- - , , \ / / - r.takíiiplíioêerl.lillar:anlidõi
\
'' \ I /
),,
lliiiiíi.iniíi1nêildlbi..diui~ ' /4~ I // .,,,,, fa5Clculo longitudinal dorsal
' \
\ / ,,,,,,.,,,
'
fascículo longitudinal medial - , , ' '-
..
-.._ .,,, ,. Núc eo sensilivo principal
'-... ' / "' do nervo trigêmeo
Núdeo olivar superior - - - -
~~ .-- - l'!úcleo motor ao- -
n-erv
- o- .lrigêmeo
-L'\\~"<.;

Lemni5Co lateral----, -- - Pedúnculo cerebelo, médio

.... • Traio tegmentol central

Nervo trigêmeo - - - - - ' - - Corpo trapezoide e


',, lemnisco media l
Rafe -- - --- - - - - - -

Sulcobosilor - - - - - - - - - - -
-- -- ---- '~ Fibras transversais do ponte

- - , - Núcleos ponlinos

Figura 1s.1 Esquema de uma secção transversal da ponte ao nível da origem aparente do nervo trigémeo.

m-iliíti·t4tfii4 it001ôtJ,1t·i·tl4•jdffi : . ,.: : ; J


1 gânglio espiral situado na cóclea. A maioria das fibras ori-
ginadas nos núcleos cocleares dorsal e ventral cruza para
O tegmento da ponte assemelha-se estruturalmen- o lado oposto, constituindo o corpo trapezoide (Figura
te ao tegmento do mesencéfalo, c.om o qual continua. 29.8). A seguir, essas fibras contornam o núcleo olivar
Apresenta fibras ascendentes, descendentes e transver- superior e infletem-se cranlalmente para constituir o lem-
sais. substância cinzenta homóloga à da medula. que são nisco lateral, terminando no collculo Inferior, de onde os
os núcleos dos pares cranianos V, Vi. VII e VIII, substancia
impulsos nervosos seguem para o corpo geniculado me-
cinzenta própria da ponte, além da formação reticular. O dial (Figura 29.8).
estudo desses elementos será feito de acordo com uma
Entretanto, um número significativo de fibras dos nú-
sequência didática um pouco diferente da que foi usada
cleos cocleares termina no núcleo olivar superior, do mes-
para o bulbo. Serão estudados sucessivamente os núcleos
mo lado ou do lado oposto de onde os Impulsos nervosos
e os sistemas de fibras relacionadas com os nervos vesti-
seguem pelo lemnisco lateral.1 Todas essas formações são
bulococlear. facial. abducente e trigémeo. Isso correspon-
parte da via da audição, que será estudada mais minucio-
de à análise das estruturas mais lmportantes observadas
samente no Capítulo 29. Através dela, os impulsos nervosos
em cortes, passando, respectivamente, pelos recessos la-
oriundos da cóclea são levados ao córtex cerebral, onde são
terais do IV ventrículo, pelo coliculo facial e pela origem
interpretados. ~ interessante assinalar que muitas fibras ori-
aparente do nervo trigémeo.
ginadas dos núcleos cocleares sobem no lemnisco lateral
2.1 Núcleos do nervo vestibulocodear do mesmo lado (Figura 29.8) ou terminam nos núcleos
olivares desse mesmo lado. Assim, a via auditiva apresenta
As fibras sensitivas que constituem as partes coclear e
componentes cruzados e não cruzados, ou seja, o hemisfé-
vestibular do nervo vestibulococlear terminam, respectiva-
rio cerebral de um lado recebe informações auditivas prove-
mente, nos núcleos cocleares e vestibulares da ponte, cujas
nientes dos dois ouvidos.
conexões e funções são muito diferentes e serão estudadas
a seguir. 2.1.2 Núcleos vestibularesesuas conexões
2.1.1 Núdeos codeares, corpo trapezoide, lemnisco lateral Os núcleos vestibulares localizam-se no assoalho do IV
ventrículo, onde ocupam a ó1eo vesribulor. São em núme-
Os núcleos cocleares são dois, o dorsal e o ventral. si-
ro de quatro, os núcleos vestibulares lateral, medial, superior
tuados no nível em que o pedúnculo cerebelar inferior
se volta dorsalmente para penetrar no cerebelo (Figura
29.8). Nesses núcleos, terminam as fibras que consti-
1 Al~m dos núcleos olívares superiores. dois outros núcleos recebem
tuem a porção coclear do nervo vestlbulococlear e são colaterais ou terminais das libras do corpo trapezoide ou do lemnisco
os prolongamentos centrais dos neurônios sensitivos do lateral: o núcleo do corpo trapezoide e o núcleo do lemnisco lateral.

142 NeuroanatomiaFuncional

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e inferior (Figuras 15.2 e 15.3). Cada um desses núcleos b) Fascículo longirudinaf medial - nos núcleos vestibu-
. . e as suas conexoes,
tem as suas caractensucas - mas serao- lares origina-se a maioria das fibras que entram na
estudados em conjunto, como se fossem um só núcleo. Os composição do fascículo longitudinal medial (Figu-
núcleos vestibulares recebem impulsos nervosos, origina- ra 15.2). Esse fascículo está envolvido em reflexos
dos na parte vestibular do ouvido interno e que informam que permitem ao olho ajustar-se aos movimentos
sobre a posição e os movimentos da cabeça. Esses impulsos da cabeça. As informações sobre a posição da cabe-
passam pelos neurônios sensitivos do gânglio vestibular e ça chegam ao fascículo longitudinal medial através
chegam aos núcleos vestibulares pelos prolongamentos das suas conexões com os núcleos vestibulares.
centrais desses neurónios, que, em conjunto, formam a c) Trato vestibulospinal (Figura 15.2) - as suas fi-
parte vestibular do nervo vestibulococlear. Algumas fibras bras levam impulsos aos neurônios motores da
seguem diretamente do gãnglio vestibular para o cerebelo medula e são Importantes para a manutenção do
sem conexao nos núcleos vestibulares. Chegam, ainda, aos equilíbrio.
núcleos vestibulares fibras provenientes do cerebelo, rela- d) Fibras vestíbuloraldmicas - admite-se a existência de
cionadas com a manutenção do equilíbrio. Essas fibras serão fibras vestibulotalamicas que levam impulsos ao tá·
estudadas a propósito das conexões do vestibulocerebelo. lamo, de onde vâo ao córtex. Entretanto, a localiza-
As fibras eferentes dos núcleos vestibulares formam ou en- ção e o significado dessas fibras são ainda discutidos.
tram na composição dos seguintes tratos e fascículos:
a) Foscfcu/o vestibulocerebelar (Figura 15.2) - forma- 2.2 Núcleos dos nervos facial e abducente
do por (1 í'"' r.q}.v-•./~ft.!.1 ~'i"ti.~~ ~.t..~ 't!,ti() 1'1~1t:t.r.) !)blJ 11 IUS'UdÜO~ l ld
. fibras aue. terminam no r.órtPJC.rin "i=?-';1jJ:uJlll-
cerebelo. Figura 15.3. As fibras que emergem do núcleo do nervo

Corpo justarestiforme do V
pendúculo cerebelor interior - - - - ~,
Fibra fostígiavestibular - - - -• \
\ \
N úcleo faaligol - - - - - "'\.
\
\
\
\
\ - - ~ · Núcleo do
\ \ \ nervo oculomotor
''
\
\
\
\
\
-~
\ - Núcleo do nervo
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,....-----:7..,. r----~..1 \
\
\
trocleor

\ - - - - - Fascículo longitudinal
f f \ medial

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,,""' ... _r-::= - - Núcleo do nervo
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abducente
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Fl6culo - - - - - -"' / , , '
1
/ '11 t

l ,..'_a" '
Fascículo vestibulocerebelor - _ / 1
!I '
, 'J--?"" Núcleo vestibular superior

Porte vestibular do
1
1
: '' Núcleo vestibular lateral
nervovestibulococleor- - - - - - - ,I ''
' ' ' 'Núcleo vestibular medial
• ..,.. ,
1 1 ,

Gânglio ve-Stibulor- - - - ~ - -:,,,


......
' ' 'Núcleo vestibular inferior
-, - ......

-- ' ..... ,
'Troto vestibulospínol
' 'Foscículo longitudinal medial

Figura 15.2 Núcleos e vias vestibulares.

• Capítulo 15 Estrutura da Ponte 143


Joelho interno do nervo facial - - - -,
1 - - - - -Núcleo do nervo abducente
\ I
Núcleo do neM> abducente - - - - - - _ \\ / / - - Fosclculo longitvdinol medial
\ \ I
\ \ I /
Fibras do nervo fac ial - - - -....,. \\ ', Calículo foclol / / / ,,.- - f ibras do nervo facial
''' ' \
' ' "',~, ' \
\ I • /
II / /
'
Núcleo do nervo facial - - --.._
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.......,..7 J(. . .
~'t-~ ·:.,
- 1 • t>
,,- - Troto espinal do nervo trigêmeo

Nervo abducente - - - - -
·~ \\ ,,:. ---- -· Núdeo do troto espinal
do nervo trigêmeo
Corpo trapezoide e lemnisco medial
\ '\ - , _ _Núcleo do nervo facial

Tratos corticospinol, _ _ _ _
corticonucleor e corticopontino
l., ' - lemnisco lateral

- \ '''
Nervo facial {VII) ---- -

Base da ponte • - -- -- - -- /
' \
VI \
\
' , li Pedúnculo cerebelor médio

' ' - Núcleo olivar superior


/ '\ \ - Fibras do nervo abducente
/
Nervo abducente (VI) - - - /
'
Traio corticospinal, corticonucleor e c6r1ico pontino

Figura 15.3 Diagrarna rnostrando as relações do nervo facial com o núcleo do nervo abducente, visto em um corte espesso da pente
passando pelo colículo facia l.

facial têm Inicialmente direção dorsomedlal (Figura 15.3), principal, o núcleo do trato mesencefálico e o núcleo motor
formando um feíxe compacto que, logo abaixo do assoalho (Figura 17,4). Observando-se uma secção de ponte, apro-
do IV ventrículo, se encurva em direção cranial. Essas fibras, ximadamente ao nível da penetração do nervo trigémeo
após percorrerem certa distância ao longo do lado medial (Figura 15.1 ), vê-se, mediaimente, o núcleo motor, e la-
do núcleo do nervo abducente, encurvam-se lateralmente teral me, ,te, o núcleo sensitivo principal, es1e L'iltimo uma
sobre a superfície dorsal desse núcleo, contribuindo para continuação cranial e dilatada do núcleo do trato espinal
formar a elevação do assoalho do IV ventrículo, denomi- (Figura 17.4). A partir do núcleo principal, estende-se cra-
nada colículo facial (Figura 5,2). A curvatura das fibras do nialmente, em direção ao mesencéfalo, o núcleo do trato
nervo facial em torno do núcleo do abducente constitui mesencefálico do trigêmeo, acompanhado pelas fibras do
o Joelho interno do nervo facial. Após contornar o núcleo trato mesencefólico do trigêmeo (Figura 17 .4). O núcleo mo-
do abducente, as fibras do nervo facial tomam direção tor origina fibras para os músculos mastigadores, sendo fre-
ventrolateral, e lígeiramente caudal, para emergir no sulco quentemente denominado núcleo mos1ígador. Os demais
bulbopontlno. As fibras do faclal têm, pois, relações mui- núcleos recebem impulsos relacionados com a sensibilida-
to Intimas com o núcleo do abducente e, por isso, lesões de somática geral de grande parte da cabeça. Deles, saem
conjuntas de ambas as estruturas podem ocorrer. Os sinais fibras ascendentes, que constituem o lemnisco trigeminai,
resultantes desse tipo de lesão serão descritos no Capitulo que termina no tálamo.
19, item 5.1 .
2.5 Fibras longitudinais do tegmento da ponte
2.3 Núcleo sallvatório superior e núdeo laaimal As fibras longitudinais originadas no tegmento da pon-
Estes núcleos, pertencentes à parte craniana do sistema te já foram estudadas e são os lemníscos lateral e trigeminai.
nervoso parassimpático, dão origem a fibras pré-ganglio- Percorrem também o tegmento da ponte, feixes de fibras
nares, que emergem pelo nervo intermédio, conduzindo ascendentes originadas no bulbo, medula e cerebelo, que
Impulsos para a inervação das glandulas submandlbular, são os seguintes:
sublingual e lacrimal. a) Lemnisco medial (Figura 15.4) - ocupa na ponte,
ao contrário do bulbo, uma faixa de disposição
2.4 Núdeos do nervo trigêmeo transversal, cujas fibras cruzam perpendicularmen-
Além do núcleo do trato espinal, já descrito no bulbo, te as fibras do corpo trapezoide, sobem e terminam
o nervo trigémeo tem ainda, na ponte, o núcleo sensitivo no tálamo.

144 Heuroanatomla Funcional


Decussoç.õo do nervo trocleor----- -~;;:::::;
r==:~~ _ _ - - - Nervo trocleor

Aqueduto cerebral - - - - - - -
- - - - - lemnisco lateral

Fascículo longitudinal dorsal--_.


..... _
- ..... Núcleo do lemnisco lateral
''
Fosclculo longitudinal medial -
' '-- LocuJ ceruleus

''
' ' - - Lemnisco espinal
' - - Lemnisco medial

Fibras transversais e - - - -.....\.1..."'-...c Trotos corticospinol


núcleos pontinos - - corticopontino e corticonucleor

Figura 1s.4 Esquema de uma secção transversal da ponte ao nível da parte cranial do assoalho do IV ventrículo.

b) Lemnisco espinal (Figura 15.4) - formado pela


união dos tratos espinotal~mico lateral e espinota- 3. Correlações anatomoclínicas
lamico anterior. Os sinais e sintomas caracterfstícos das lesões da
c) Pedúnculo cerebelar superior - emerge do cerebelo, ponte decorrem do comprometimento dos núcleos de
constituindo inicialmente a parede dorsolateral da nervos cranianos aí localizados, ou seja, os núcleos do V.
metade cranial do IV ventrículo (Figura 15.1). A seguir. Vl, VII e Vlíl cranianos. Assim, podem ocorrer alterações da
aprofunda-se no tegmento e. já no límite com o me- sensibilidade da face (V), da motricidade da musculatura
sencéfalo, as suas fibras começam a se cruzar com as
mastigadora {V) ou mímica (VII), do músculo reto lateral
do lado oposto. constituindo o inicio da decussação
(VI), além de tontura e alterações do equilíbrio (VIII). A es-
dos pedúnculos cerebelares superiores (Figura 15A).
ses sinais, podem associar-se paralisias ou perdas da sen-
Os pedúnculos cerebelares superiores são o mais Im-
sibilidade no tronco e nos membros. por lesão das vias
portante sistema de fibras eferentes do cerebelo.
descendentes e ascendentes que transitam pela ponte.
2.6 Formação reticular da ponte Esses sinais e sintomas caracterizam algumas síndromes
Na formação reticular da ponte, localiza-se o locus ce- que serão estudadas no Capitulo 19, item 5.
ruleus {Figura 5.2), que contém neurónios ricos em nora-
drenallna, e os núcleos da rafe, situados ventralmente na
linha média. contendo neurônios ricos em serotonina. Essas A seguir, serão relacionadas as principais estruturas já
estruturas envolvidas na modulação da atividade do córtex estudadas da ponte, divididas em substância cinzenta. subs-
cerebral serão estudadas no Capítulo 20. tância branca e formação reticular.

■ Capitul o 15 Estrutura da Ponte 14S


Sinopse das principais estruturas daponte
núcleo do trato mesenceíálico
núcleo sensitivo principal
núcleos do V
núcleo motor
núcleo do trato espinal
núdeodoVI
núcleos de nervos cranianos
núcleo motor do facial
núcleos do VII núcleo lacrimal
núcleo saliva tório superior

Substânc.ia cinzenta núcleos coclear dorsal


núcleos coclear ventral
núcleos vestibular superior
núcleos do VIII
núcleos vestibular inferior
núcleos vestibular medial
núcleos vestibular lateral
núcleos pontinos
núcleo olívar superior
substância cinzenta própria da ponte
núcleo do corpo rrapezoide
núcleo do lemnisco lateral

lemnisco medial
lemnisco lateral
ascendentes lemnisco trigeminai
lemnisco espinal
pedúnculo cerebelar superior

trato corticospinal
fibras longitudina.is trato cortíconuclear
SubstAncla branca trato corticopontino
descendenles l.réllO tetosplnal
trato rubrospinal
trato vestibulospinal
trato espinal do trigémeo

de associação f fascículo longitudinal medial


fibras pontinas e pedúnculo cerebelar médio
fibras transversais fibras do corpo trapezoide
decussação dos pedúnculos cerebelares superiores
/oeus ceruleus
Formação reticular
núcleos da rafe

Cavidade IVventrículo

146 Neuroanatomla Funcional

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Estrutura do Mesencéfalo

O mesencéfalo (Figura 5.3) é constituído por uma gração de várias funções sensoriais e motoras. Durante a
porção dorsal, o teto do mesencéfalo, e outra ventral, muito evolução, parte de suas funções foi assumida pelo córtex
maior, os pedúnculos cerebrais, separados pelo aqueduro cerebral, diminuindo consideravelmente• sua importância
cerebral. Este percorre longitudínalmente o mesencéfalo nos mamíferos. Nestes, o teto do mesencéfalo é constituído
e é circundado por espessa camada de subst~ncia cinzen- de quatro eminências, os colfculos superiores. relacionados
ta, a subsrôncia cinzenta central ou periaquedutal (Figura com a via visual, e os co/ícu/os inferiores, relacionados com a
16.1 ). Em cada pedúnculo cerebral, distingue-se urna par- via auditiva, além da chamada drea pré-retal. Cada urna des-
te ventral, a base do pedúnculo, formada por fibras longi- sas partes será estudada a seguir.
tudinais, e uma parte dorsal, o tegmenro do mesencéfalo,
cuja estrutura se assemelha à parte correspondente da 1.1 Colículo superior
ponte. Separando o tegmento da base, observa-se uma O coliculo superior (Figura 16.2) é formado por uma
l~mina de subst~ncia cinzenta pigmentada, a subsróncia série de camadas superpostas. constituídas alternadamente
negra (Figura 5.3). por subst~ncia branca e cinzenta. A camada mais profunda
confunde-se com a substância cinzenta central. As suas co-
:1:5:Teto cio mesencéfalo nexões são complexas, destacando-se, entre elas:
Em vertebrados inferiores, o teto do mesencéfalo é um a} Fibras oriundas da retina, que atingem o calículo
centro nervoso muito importante, relacionado com a inte- pelo trato óptico e braço do calículo superior.

Núcleo do troto mesencefôlico do


. . eo - - - --. --. ---==~==::::::==---:::---------Comi~sura do colículo inferior
_ _ _ _ _ _,nervo trigelll.
Braço do colículo inferior- - -----
- .
.... ...-- -Núcleo do colículo inferior
-............. ..--·Lemnisco lateral
Aqueduto cerebral--- -- - -- - -Fibras do nervo trocleor

Figura 16.1 [squema de uma secção transversal do mesencéfalo ao nível dos colículos inferiores.
Aqueduto cerebral- _

Braço do colfculo inferior -


----
- _
-- -.· - ~
_ _ _ -Calículo superior

--- . -- ~" - -----Substância cinzento central


l'iúcJeQ ~o nervo. ocvlom_otor- - - - - - - - -lemnisco espinal

- - - -lemnisco medial
.•'•
.......
- .::~·· -Núcleo ruliro
..............
••••••••

_. Substância negro

...... ...
Y..,...-.--,".:"'.,;~.,

• -ii'.
--- - • Nervo oculomotor

Flguni 16.2 Esquema de uma secção transversal do mesencéfalo ao nível dos colfculos superiores.

b) Rbras oriundas do córtex occipital, que chegam ao co- Em vista do grande número de fibras descendentes que
lículo pela radiação óptica e braço do coliculo superior. percorrem a base dos pedúnculos cerebrais, lesões ai locali-
c) Fibras que formam o trato terospinal e terminam fa- zadas causam paralisias que se manifestam do lado oposto
zendo sinapse com neurônios motores da medula ao da lesão.
cervical.
O colículo superior é importante para certos reflexos 3.-:7-Tégineritõ do-mesencéfalo
que regulam os movimentos dos olhos. Para essa função,
existem fibras ligando o calículo superior ao núcleo do O tegmento do mesencéfalo é uma continuação do
nervo oculomotor, situado ventralmente no tegmento do tegmento da ponte. Como este, apresenta, além da forma-
mesencéfalo. Lesões dos colícuJos superiores podem causar ção reticular, as substâncias cinzenta e branca, que serão
perda da capacidade de mover os olhos no sentido vertical, estudadas a seguir.
voluntária ou reflexamente. Isso ocorre, por exemplo. em
certos tumores do corpo pineal que comprimem os colícu- 3.1 Substãnda dnzenta homóloga à da medula
los (Capítulo 19, item 6.3). No tegmento do me-sencéfalo estão os núcleos dos pa-
res cranianos 111, IV e V. Neste último, entretanto, está apenas
1.2 CoUculo Inferior o núcleo do trato mesencefálico (Figura 17.4), que conti-
O collculo inferior (Figura 16.1 ) difere estruturalmente nua da ponte e recebe as infarmações proprioceptivas que
do superior por se constituir de uma massa bem delimita· entram pelo nervo trigémeo. O núcleo dos nervos troclear
da de substância cinzenta. o núcleo do colfculo inferior. Esse e oculomotor serao estudados com mais detalhes a seguir.
núcleo recebe as fibras auditivas que sobem pelo lemnisco
lateral (Figura 16,1) e manda fibras ao corpo geniculado 3.1.1 Núdeo do nervo trodear
medial através do braço do collculo inferior (Figura 29.8). Situa-se no nível do calículo inferior, em posição imedia-
Algumas fibras vão de um colículo para outro, constituindo tamente ventral à substancia cinzenta central e dorsal ao fas-
a comissura do colículo Inferior. O núcleo do collculo inferior dculo longitudinal medial. Suas fibras saem de sua face dorsal,
é uma importante estrutura das vias auditivas. contornam a substância cinzenta central, cruzam com as do
lado oposto e emergem do véu medular superior, caudalmen-
1.3 Area pré-tetal te ao calículo Inferior (Figura 5.2). Esse nervo apresenta duas
Também denominada núcleo pré-teca(, é uma área de peculiaridades: suas fibras são as únicas que saem da face dor-
limites pouco definidos situada na extremidade rostral dos sal do encéfalo e trata-se do único nervo cujas fibras decussam
colículos superiores, no limite do rnesencéfalo com o dien- antes de emergir do sistema nervoso central. Convém lernbrar
céfalo. Relaciona-se com o controle reflexo das pupilas (Ca- que o nervo troclear inerva o músculo oblíquo superior.
pítulo 17, Item 2.2.6).
3.1.2 Núdeo donervo oculomotor
Este núcleo localiza-se no nível do colículo superior {Fi-
A base do pedúnculo é formada pelas fibras descenden- gura 16.2) e está intimamente relacionado com o fascículo
tes dos tratos corticospinal, corticonuclear e corticopontino, longitudinal medial. Trata-se de um núcleo muito complexo.
que formam um conjunto cornpacto {Figura 16.2). Essas fi- constituído de várias partes, razão pela qual alguns autores
bras têm localizações precisas na base do pedúnculo cerebral, preferem denominá-lo complexo ocufomoror. O complexo
sabendo-se, inclusive, a localiza~o das fibras corticospinals, oculomotor pode ser dividido, sob o aspecto funcional,
responsáveis pela motricidade de cada parte do corpo. em uma parte somática e outra visceral. A parte somática

148 Neuroanalomia Funcional


contém os ncurõnios motores responsáveis pela lneNação provocando as graves perturbações motoras que caracteri-
dos músculos reto superior, reto inferior, reto medial, levan- zam a doença de Parkinson2 (Capítulo 24, item 2.3.2).
tador da pálpebra e oblíquo Inferior. Na realidade, a parte
somática do complexo oculomotor é constituída de vários 3.2.3 Substância cinzenta central ou periaquedutal
subnúcleos, cada um dos quais destina fibras motoras para A subst~ncia cinzenta central ou periaquedutal (Figura
Inervação de um dos músculos já relacionados anterior- 16.2) é uma rnassa espessa de subst~ncia cinzenta que cir-
mente. Essas fibras, depois de um trajeto curvo em direção cunda o aqueduto cerebral. Desempenha um papel impor-
ventral. emergem na fossa interpeduncular, constituindo o tante na regulação da dor.
nervo oculomotor (Figura 16.2).
A parte visceral do complexo oculomotor é o núcleo de 3.3 Substância branca
Edinger-Wesrphal. Ele contém os neurônios pré-ganglionares, Assim como na ponte, a maioria dos feixes de fibras des-
cujas fibras fazem sinapses no g~nglio ciliar e estão relaciona- cendentes do mesencéfalo não passa pelo tegmento. mas pela
das com a ineNação do músculo ciliar e do músculo esfíncter base do pedúnculo cerebral, o que já estudamos. Jâ as fibras as-
da pupila. Essas fibras pertencem ao parassimpático craniano cendentes percorrem o tegmento e representam a continua-
e são n1uito importantes para o controle reflexo do diâmetro ção dos segmentos que sobem da ponte: os quatro lemniscos
da pupila em resposta a diferentes intensidades de luz. e o pedúnculo cerebeiar superior. Este, no nível do calículo
inferior (Figura 16.1 ). cruza com o do lado oposto, na decus-
3.2 Substânda cinzenta própria do mesencéfalo soçào do pedúnculo cerebelor superior, e sobe, envolvendo o
núcleo rubro. No nível do colículo inferior, os quatro lemniscos
Nessa categoria, situam-se dois núcleos importantes,
aparecem agrupados em uma só faixa, na parte lateral do teg-
ambos relacionados com a atividade motora somática: o mento (Figura 16.1). onde, em uma sequência mediolareral,
núcleo rubro; e a substância negra. se dispõem os lemniscos medial, espinal. trigeminai e lareral.
Este último, pertencente às vias audirivas, termina no
3.2.1 Núcleo rubro
núcleo do coliculo inferior, enquanto os demais sobem e
O núcleo rubro. ou núcleo vermelho (Figura 16.2), é aparecem no nível do colfculo superior (Figura 16.2), em
assim denominado em virtude da tonalidade ligeiramente uma faixa disposta lateralmente ao núcleo rubro. Nesse nf-
rósea que apresenta nas preparações a fresco. Cada núcleo vel, noLa-se também o braço do collculo inferior, cujas fibras
rubro é abordado em sua extremidade caudal pelas fibras sobem para terminar no corpo geniculado medial. Em toda
do pedúnculo cerebelar superior que o envolve. Essas fibras a extensão do tegmento mesencefálico, nota-se, próximo
penetram no núcleo~ medida que sobem, mas grande par- ao plano mediano, o fascículo longitudinal medial, que
te delas termina no tálamo. constitui o feixe de associação do tronco encefálico.
O núcleo rubro participa do controle da motricidade
somática. Recebe fibras do cerebelo e das áreas motoras do 3.4 Formação reticular
córtex cerebral e dá origem ao trato rubrospinal, que, as- Duas estruturas merecem destaque na formação reticu-
sim como o trato corticospinal. termina nos neurônios mo- lar do mesencéfalo, a óreo regmentorvenrral, com neurônios
tores da medula, responsáveis pela motricidade voluntária ricos em dopamina, e os núcleos da rafe, continuação de
da musculatura distal dos membros. O núcleo rubro liga-se estruturas de mesmo nome da ponte, contendo neurónios
também ao complexo olivar inferior, através das fibras rubro- ricos em serotonina. Essas estruturas, extremamente impor-
livores, que integram o circuito rubrolivar-cerebelar. tantes do ponto de vista funcional e clínico, serão estudadas
no Capítulo 20, Parte 8.
3.2.l Substância negra
Situada entre o tegmento e a base do pedúnculo cerebral 4. Correlações anatomodínicas
(Figura 16.2). a substância negra é um núcleo compacto,1
fo1ma.do po~ eurónios que têm a, peculiaridade de .conJer A anâlise da chave a seguir mostra que atravessam
lncJusõe.~ d.e mel anina. Isso resulta em que esse núcleo apre- o mesencéfalo todas as vias ascendentes que vão ao
sente, nas preparações a fresco, uma coloração escura. que diencéfalo e cinco tratos descendentes relacionados com
lhe valeu o nome. Uma característica importante da maioria a motricidade. As lesões dessas vias causam perda de
dos neurónios da subst~ncia negra é que eles utilizam como sensibilidade ou paralisias associadas a lesões do nervo
neurotransmissor a dopamlna, ou seja. são neurônios dopa- oculomotor, caracterizando duas síndromes que serão es-
minérgicos. Do ponto de vista funcional, as conexões mais tudadas no Capítulo 19, item 6. Processos patológicos que
Importantes da substância negra são com o corpo estriado. comprimem o mesencéfalo, lesando a formação reticular.
Estas são feitas nos dois sentidos. através de fibras nigros- podem gerar perda de conscl~ncia (coma).
rriadais e estriadonigrais, sendo as primeiras dopamlnérgicas.
Degenerações dos neurônios dopamlnérgicos da substância
negra causam diminuição de dopamina no corpo estriado, 2 Devido .\s suas Importantes conexões com o corpo estriado, alguns au-
tores con sldcrarn a subs1áncia negra como parte deste corpo. o que
não é correto, pois a substAncia negra é uma estrutura do tronco ence-
1 Na realidade, a substância ne<Jra contém duas parres: pars compccra: e fálico e o corpo estriado é constituído por núcleos da base do cérebro
pars reticulara. Somente a primeira contém neurônios dopaminérglcos. pertencentes ao telencéfalo.

• Capitulo 16 Estruturado Mestneéfalo 149


Sinopse das principais estruturas do mesencéfalo

núcleo do 111 pane somática


núcleos de nervos núcleo do IV parte visceral = núcleo de l:dlnger-Westphal
cranianos
núcleo do trato mesencefálico do V
Substância cinzenta
núcleo rubro
substância negra
substância cinzenta substância cinzenta periaquedutal
própria do mesencéfalo núcleo do colículo inferior
colículo superior
área pré-teta!

lemnisco medial
lemnisco lateral
lemnisco trigeminai
ascendentes lemnisco espinal
pedúnculo cerebelar superior
braço do coliculo superior
braço do calículo Inferior

fibras longitudinais
trato corticospinal
trato corticonuclear
descendentes trato corticopontino
trato tetasplnal
trato rubrospinal
Substáncia branca

de associação ~ fascículo longitudinal medial

decussaç.ão do pedúnculo cerebelar superior


fibras transversais
comissu ra do calículo Inferior

área tegmentar ventral


Formação reticular
núcleos da rafe
Cavidade: aqueduto cerebral

1 50 NNJroanatomia Funcional
Núcleos dos Nervos Cranianos - Alguns Reflexos
Integrados no Tronco Encefálico

A topografia de cada um dos núcleos dos nervos cra- e origina fibras que inervam todos os músculos ex-
nianos e o trajeto de suas fibras já foram estudados nos ca- trínsecos do olho, com exceção do reto lateral e oblí-

pítulos sobre a estrutura do tronco encefálico. Esse estudo é quo supenor.
importante, pois dá as bases para a compreensão e o diag- b) Núdeo do rroclear - situado no mesencéfalo ao ní-
nóstico das lesões do tronco encefálico. Contudo, há ainda vel do colículo inferior. Origina fibras que inervam o
outro modo de estudar os núcleos dos nervos cranianos, músculo oblíquo superior.
que consiste em agrupá-los de acordo com os componen- c) Núdeo do abducente - situado na ponte (calículo fa-
tes funcionais de suas fibras. Esses componentes foram es- cial). Dá origem a fibras para o músculo reto lateral.
tudados no Capítulo 1O, no qual há uma chave que deve d) Núcleo do hipoglosso - situado no bulbo, no trigano
ser recapitulada para a compreensão do presente capítulo. do nervo hipoglosso, no assoalho do IV ventrículo.
Dá origem a fibras para os músculos da língua.

1.2 Coluna eferente visceral geral


Nos núcleos dessa coluna (Figura 17.2) estão os neurô-
Os núcleos dos nervos cranianos dispõem-se no tronco
nios pré-ganglíonares do parassimpático craniano. As fibras
encefálico em colunas longitudinais que correspondem aos
que saem desses núcleos (fibras pré-ganglionares), antes de
seus componentes funcionais. Entretanto. como as fibras
atingir as vísceras, fazem sinapse em um giinglio, conforme
aferentes viscerais gerais e aferentes viscerais especiais vão
já foi exposto no Capítulo 11. Os núcleos d~ coluna eferente
para a mesma coluna, existem sete componentes funcio-
visceral geral são os seguintes (Figura 17.2):
nais, rnas apenas seis colunas. Essas colunas têm correspon-
dência funcional e, às vezes, continuidade com as colunas a) Núcleo de Edinger-Wescphal (Figura 17.2) - perten-
da n,edula. Assim, a coluna aferente somática (coluna do ce ao complexo oculomotor, situado no mesen-
trigêmeo) continua com a substância gelatinosa da medula, céfalo, no nlvel do colículo superior. Origina fibras
e a coluna eferente visceral geral (do sistema nervoso paras- pré-ganglionares para o gAnglio ciliar (por meio do
simpático) corresponde, na medula, à coluna lateral. nervo oculomotor). de onde saem fibras pós-gan-
A seguir, serão estudados os núcleos que compõem glionares para o músculo ciliar que altera a curvatu-
cada uma das seis colunas de núcleos. ra do cristalino e é responsável pela acomodação e
o esflncter da pupila (Figura 12.4).
1.1 Coluna eferente somática b) Núcleo lacrimal - situado na ponte, próximo ao
núcleo salivatório superior. Origina fibras pré-gan-
Todos os núcleos dessa coluna dispõem-se de cada
lado. próximo ao plano mediano. Eles originam fibras para a glionares que saem pelo VII par (n. intermédio) e,
após complicado trajeto através dos nervos petro-
inervação dos músculos estriados miotômicos do olho e da
língua. São eles (Figura 17.1 ): so maior e nervo do canal pterigóideo. chegam ao
gânglio pterigopalatino (Figura 12.5), onde têm
a) Núcleo do oculomocor - somente a parte somática origem as fibras pós-ganglionares para a glàndula
pertence a essa coluna. Localiza-se no mesencéfalo lacrimal.
Núcleo do nervo trocleor - - 7 r - - - - -Núcleo do nervo obducente
Núcleo do nervo oculomotor 1 I
1 -- Assoolho do IV ventrículo
1 1 1
~ / 1 - Núcleo do nervo hipoglosso
1
/ /
/ I 1 - - - Oliva
_,_1.. ._ I /
- I
I I
I
I ft................/
I
I

MESENCÉFALO
•••.,. I
/

I
1
1

1
1
1
1
_ ..... _ " , , BULBO t
'-. ' , I
1
.......... --'...J
Nervo trocleor° (IV)\ PONTE ..........
.....,
' oculomolor 1111)
Nervo ' , _ - - - - Nervo abducente IVI)

Figura 11.1 Núcleos da coluna eferente somática vistos por transparência no interior do tronco encefálico.

Núcleo de Edinger-Westphal - - - Assoolho do IV ventrículo


1-
/
/ - - Núcleo solivotório superior
/ 1
/
I
/ Núcleo solivotório inferior
I / /
I /
/ Núcleo dorsal do nervo vago
/
/

MESENCÉFALO yl
I
Nervo oculomotor (Ili) - - ' \ ' BULBO
PONTE / / \
\
\
' '- - - - - - - - Oliva
Nervo Intermédio !VII) - - - - - __ / \ \_ - - - - - - - Nervo vogo (X)
\
'- - - - - Nervo glossoforlngeo (IX)

Figura 17.2 Núcleos da coluna eferente visceral geral vistos por transpar~ncla no Interior do tronco encefálico

e) Núcleo solivorório superior (Figura 17.2) - sltua- d) Núcleo safivorório inferior (Figura 17.2) - situado
do na parte caudal da ponte. Origina fibras pré- na parte mais cranial do bulbo, origina fibras pré-
-ganglionares que saem pelo nervo Intermédio e -ganglionares que saem pelo nervo glossofaringeo
ganham o nervo lingual através do nervo corda do e chegam ao gânglio ótico (Figura 12.5) pelos
tímpano (Figura 12.S). Pelo nervo língual, chegam nervos tlmpanico e petroso menor. Do ganglio óti•
ao gânglio submandibular, de onde saem fibras co, saem fibras pós-ganglionares que chegam à pa-
pós-ganglionares que inervam as glândulas sub- rótida pelo nervo aurículotemporal, ramo do nervo
mandibular e sublingual. mandibular.

152 Neuroanatomla Funcional

......
• . a_.- -
_
......,..~ --
.
'
•• _. .
-

t.L.UT - :.' -
e) Núcleo dorsal do vago (Figura 17.2) - situado no 1.4 Coluna aferente somática geral
bulbo, no trígono do vago, no assoalho do IV ven-
Os núcleos dessa coluna (Figura 17.4) recebem fibras
trículo. Origina fibras pré-ganglionares que saem
que trazem grande parte da sensibilidade somática geral da
pelo nervo vago e terminam fazendo sinapse em
cabeça. Pode-se dizer que essa é, por excelência, a coluna
grande número de pequenos gânglios nas paredes
do trigêmeo, por ser ele o principal neNo que nela termina.
das vísceras torácicas e abdominais (Figura 12.S).
Entretanto, nela tan1bém termina um pequeno contingente
1.3 Coluna eferente visceral especial de fibras que entram pelos nervos VII, IX e X. A colu°ª afe-
e
rente; somáti ca a : nic~ ~oiuna continua QJ.!§ ~ esten e
Dá origem a fibras que inervarn os músculos de origem ao longo éle todo o lLO.D.Ç~ eRcc(álico con..tinuando gm ti -
branquiomérica. Ao conlrário dos núcleos já vistos, os nú- reção cauoãl, sem interrupção, com a su6stància gelati asa
cleos dessa coluna (Figura 17.3) localizam-se profunda- da medula. Apesar de contínua. distinguem-se nela três nú-
mente no interior do tronco encefálico. cleos. que serão esrudados a seguir:
a) Núcleo motor do trig~meo (Figura 17.3) - situa-se a) Núcleo do troto mesencefálico do trigtmeo (Figura
na ponte. Dá origem a fibras que saem pela raiz 17A ) - estende-se ao longo de todo o mesencéfa-
motora do trigémeo, ganham a divisão mandibu- lo e a parte mais cranial da ponte. Recebe impulsos
lar desse neNo e terminam ineNando músculos proprioceptivos, originados em receptores situados
derivados do primeiro arco branqufal, ou seja, os nos músculos da rnastfgação e, provavelmente,
músculos mastigadores (temporal, masseter, pte- também nos músculos extrínsecos do bulbo ocular.
rlgóideo lateral e medial). milo-hióideo e o ventre Há, também, evidência de que ao núcleo mesence-
anterior do músculo digástrico. fálico chegam fibras originadas em receptores dos
b) Núcleo do facial (Figura 17.3) - situa-se na ponte. dentes e do periodonto, que são importantes para a
Origina fibras que, pelo VII par. vão à musculatura regulação reflexa da força da mordida. Os neurônios
mímica e ao ventre posterior do músculo digás- do núcleo do trato mesenccfálico são muito gran-
trico. todos músculos derivados do segundo arco des e sabe-se que, na realidade, são neurônios sen-
branquial. siLivos. Esse núcleo constitui. pois, exceção à regra
c) Núcleo ambíguo (Figura 17.3) - situado no bulbo,
dá origem a fibras que inervam os músculos da la-
segundo a qual ■ - •
ringe e da faringe, saindo pelos nervos glossofarln- --originadas
1As fibras descendenles ■-nesses neurônios
geo. vago e raiz craniana do acessório. constituem o trato mesencefálíco (Figura 17.4).
As fibras que emergem pela raiz espinal do acessório b) Núcleo sensitivo principal (Figura 17.4) - esse nú-
originam-se na coluna anterior dos cinco primeiros seg- cleo localiza-se na ponte, aproximadamente no
mentos cervicais da medula, e inervam os músculos tra- nível da penetração da raíz sensitiva do nervo tri-
pézio e esternocleidomastóldeo, que se admite sejam, ao gêmeo, cujas fibras o abraçam (Figura 17.4). Con-
menos em parte, derivados de arcos branquiais. tinua caudalmente com o núcleo do trato espinr1I.

Núcleo motor do nervo lrígémeo - - , - - - - - · - Joelho do nervo facial

/ - Assoalho do N ventrículo

I
/
/
/
r- Núcleo amblguo
11
I1 ,- - - • Oliva
/ I
/ /

I
/
, 1,,- -

MESENCÉFALO
I
/ ., .
I
I .... , "
Raiz motoro do nervo trigémeo ' ' :-.' BULBO " · Nervo vago (X)
/
\
Nervo facial (VII) PONTE Núcleo do '---._ Nervo glossoforfngeo (IX)
nervo focial

Flgur• 17.3 Núcleos da coluna eferente visceral especial vistos por transparência no interior do tronco encefálico.

• Capitulo 17 Núcleos dos Nervos Cranianos -Alguns Reflexos Integrados no Troll(O Encefálico 153
Núcleo do troto mesencefólico do nervo trigêmeo Núcleo sensitivo principol do nervo trigêmeo
Tocto mesencefálico do n,ervo lrigêmeo /' •.· · Assoalho do IV ventrículo
I
'
/ · Núcleo do troto espinal do nervo trigêmeo
,
I / Núcleo do troto espinal
/ do nervo lrigêmeo
I/ I '
I

~...-,-"'~!
1
I
MESENCÉFALO I
I
/
I \
I
I
I
/
·/
BULBO ' \
' \
Troto espinal do nervo trigêmeo
' sensitivo) PONTE 1
Nervo trigêmeo M - (raiz
\
\
1 - Oliva
Troto espinal do nervo lrigêmeo . - - . . . . 1

Flgul'il 17.4 Núcleos da coluna aferente somática geral (núcleos do trigémeo) vistos por transparência no Interior do tronco encefálico.

c) Núcleo do uaco espinal do rrigémeo (Figura 17.4) - procedimentos cirúrgicos, pode-se seccionar o trato es-
estende-se desde a ponte até a parte alta da me- pinal (tratotomia), interrompendo-se. assim, as fibras que
dula, onde continua com a substância gelatinosa. terminam no núcleo do trato espinal. Após a cirurgia, há
Sendo um núcleo multo longo, grande parte das completa abolição da sensibilidade térmica e dolorosa do
fibras que penetram pela raiz sensitiva do trigémeo lado operado, sendo, entretanto, muito pouco alterada a
tem um trajelo descendente bastante longo, antes sensibilidade tálil, pois as fibras que terminam no núcleo
de terminar em sua parte caudal. As fibras se agru- sensitivo principal não são lesadas pela cirurgia.
pam, assim, em um trato, o trato espinal do nervo
rrig~meo (Figura 17.4), que acompanha o núcleo 1.5 Coluna aferente somática espedal
em toda sua extensão, tornando-se cada vez mais Nessa coluna (Figura 15.3), estão localizados os dois
fino em direção caudal, à medida que as fibras vão núcleos cocleares, ventral e dorsal, e os quatro núcleos
terminando.
vestibulares - superior, inferior, medial e lateral -, já estu-
As diferenças funcionais entre o núcleo sensitivo prin- dados no Capítulo 15, a propósito da estrutura da pontE.
cipal e o núcleo do trato espinal do trigémeo tém desper- Essa coluna. ao contrário das demais, é muito larga, poi5
tado considerável interesse, em vista de suas aplicações ocupa toda a área vestibular do IV ventrículo (Figura 15.3
práticas para a cirurgia desse nervo. As fibras trigeminais e, nesse sentido, não se parece, morfologicamente, corr
que penetram pela raiz sensitiva podem terminar no nú- uma coluna.
cleo sensitivo principal, no núcleo do trato espinal ou en-
tão bifurcar. dando um ramo para cada um desses núcleos 1.6 Coluna aferente visceral
(Figura 29.4). Admite-se que as fibras que terminam ex- Essa coluna é formada por um único núcleo, o núclec
clusivamente no núcleo sensitivo prlncipal levam impul- do trato solirório, situado no bulbo (Figura 29.5). AI che-
sos de tato epicrítico; as que terminam exclusivamente no gam fibras trazendo a sensibilidade visceral, geral e especla
núcleo do trato espinal e que, por conseguinte, têm trajeto (gustação), que entram pelos nervos facial, glossofaríngeo e
descendente nesse trato. levam impulsos de dor e tem- vago. Essas fibras são os prolongamentos centrais de neurô•
peratura; já as fibras que se bifurcam e terminam nos dois nios sensitivos situados nos gânglíos geniculado (VII), iníe-
núcleos seriam relacionadas com pressão e tato protopá- rlor do vago e inferior do glossofaríngeo. Antes de termina,
tico. Assim sendo, pode-se dizer que o núcleo sensitivo no núcleo do trato solitário, as fibras têrn trajeto descenden-
principal relaciona-se sobretudo com o tato. Esses dados te no rraro solirário. As fibras gustativas fazem sinapse corr
encontram apoio em certos tipos de cirurgia utilizados os neurônios do terço anterior do núcleo. As fibras visceral~
para o tratamento das neuralgias do trigêmeo, doença gerais terminam nos dois terços posteriores. Para recordar
em que se manifesta uma dor muito forte no território de os territórios de lnervaçtio visceral geral e especial desses
um ou mais ramos desse nervo. Nesse caso, entre outros trés nervos, reporte-se à Tabela 10.3.

154 Neuroanalomla Funcional


neuromusculares ai localizados. Iniciam-se, assim, irnpulsos
aferentes, que seguem pelo nervo mandibular e atingem o
2.1 Conexões suprassegmentares núcleo do trato mesencefâlico do trigémeo. Os axônios dos
Para que os Impulsos aferentes que chegam aos nú- neurônios aí localizados fazem sinapse no núcleo motor do
deos sensitivos dos nervos cranianos possam tornar-se trigêmeo, onde se originam os impulsos eferentes que de-
conscientes, é necessário que sejam levados ao tálamo e daf terminam a contração dos músculos mastigadores. Trata-se,
às áreas específicas do córtex cerebral. As fibras ascenden- pois, de um reflexo miotático de mecanismo semelhante ao
tes, encarregadas de fazer a ligação entre esses núcleos e o reflexo patelar, já estudado, uma vez que envolve apenas
tálamo, agrupam-se do seguinte modo: dois neurônios, urn do núcleo do trato mesencefálico, ou-
tro do núcleo motor do trigémeo. Como se sabe, o núdeo
a) Lemnisco crigeminal - liga os núcleos sensitivos do
mesencef~lico contém neurónios sensitivos, tendo, pois, va-
trigémeo ao tálamo.
lor funcional de um gânglio. Esse arco reílexo é importante,
b) Lemnisco lacerai - conduz impulsos auditivos dos porque em condições normais mantém a boca fechada sem
núcleos cocleares ao calículo inferior, de onde vão que seja necessária uma atividade voluntária para Isso. As-
ao corpo geniculado medial, parte do tálamo. sim, por ação da força da gravidade, o queixo tende a cair,
c) Fibras vesribulocafômicos - ligam os núdeos vesti- o que causa estiramento dos músculos mastigadores (mas-
bulares ao tálamo. seter), desencadeando-se o reflexo mentual que resulta na
d) fibras sofitariotalômicas - ligam o núcleo do trato contração desses músculos, mantendo-se a boca fechada.
solitário ao tálamo.
Núcleo do lrato
Entretanto, os neurônios situados nos núcleos molares mesencefólico do
dos nervos cranianos estão sob o controle do sistema ner-
voso suprassegmentar, graças a um sistema de fibras des-
cendentes, entre as quais se destacam as que constituem o
OONO lrig~:,' ô Gânglio trigeminai
1
1
I'
Nervo
' ,' mandibular
troco corciconuclear. Esse trato liga as áreas motoras do cór- -.....,,, '-'A'

~ ,,.._,._. I "
tex cerebral aos neurônios motores, situados nos núcleos
' '~ (,\-_
das colunas eferente somática e eferente visceral especial,
permitindo a realização de movimentos voluntários pelos
~~ 'f'') l.
~
músculos estriados inervados por nervos aanianos. O trato i,j .
corticonuclear corresponde, no tronco encefálico, aos tra- •
\
tos corticospinais da medula, mas difere destes por ter um , \

Núcleo motor do
'
\
\ ''
grande número de fibras homolaterais. \ '\
Os núcleos da coluna eferente visceral geral, ou seja,
nervo trlgêmeo ' \
Músculo
os núcleos de parte craniana do sistema parassimpático Núcleo do -- ' \
\ mosseter
recebem influência do sistema nervoso suprassegmentar,
troto espinal do '•
\

nervo trigêmeo Núcleo sensitivo principal


especialmente do hipotálamo, por meio de vias diretas ou do nervo trigêmeo
envolvendo a formação reticular.
Rgura 17.5 Esquema do reflexo mandibular.
2.2 Conexões reflexas
Existem muitas conexões entre os neurônios dos nú- 2.2.2 Renexo corneano ou corneopalpebral
cleos sensitivos dos nervos cranianos e os neurônios moto-
Pesquisa-se esse reflexo tocando-se ligeiramente a
res (e pré-ganglionares) dos núcleos das colunas eferentes.
córnea com uma mecha de algodão, o que determina o fe-
Essas conexões são muito importantes para grande número
chamento dos dois olhos por contração bilateral da parte
de arcos reílexos que se fazem ao nível do tronco encefáli- palpebral do músculo orbicular do olho. O impulso aferente
co. As libras para essas conexões podem passar através da (Figura 17.6) passa sucessivamente pelo ramo oftálmico
formação reticular ou do fascículo longitudinal medial, que, do trígêmeo, gânglio trigeminai e raiz sensitiva do trigêmeo,
como já foi exposto, é o fascículo de associação do tronco chegando ao núcleo sensilivo principal e núcleo do trato
encefálico. A seguir, serão estudados alguns dos arcos reíle- espinal desse nervo. Fibras cruzadas e não cruzadas origi-
xos Integrados no tronco encefálico. nadas nesses núcleos conduzem os impulsos aos núcleos
do facial dos dois lados, de tal modo que a resposta motora
2.2.1 ReHexo mandibular ou mentoniano é feita pelos dois nervos faciais, resultando no fechamen to
Pesquisa-se esse reílexo percutindo-se o menta de cima dos dois olhos. Entende-se, assim, que a lesão de um dos
para baixo, estando a boca entreaberta. /\ resposta consiste nervos trigêmeos abole a resposta reflexa dos dois lados
no fechamento brusco da boca por ação dos músculos mas- quando se toca a córnea do lado da lesão, mas não quando
tigadores, em especial do masseter. As vias aferentes e efe- se toca a córnea do lado normal. Já a lesão do nervo facial de
rentes são feitas pelo trigemeo (Figura 17.S). A percussão um lado abole a resposta reflexa desse lado, qualquer que
do mente estira os músculosmastigadores, ativando os fusos seja o olho tocado. O reflexo corneano é um mecanismo de

• Capítulo 17 NúdN1s do\ NeM>S úaníanos -Alguns Reflexos Integrados no Tronco En<efilko 155
proteção contra corpos estranhos que caem no olho, con- palpebral do músculo orbicular do olho, determinando o
dição em que ocorre também aumento do lacrimejamento. piscar da pálpebra. Se o estimulo for muito intenso, impul-
Desse modo, a abolição do reflexo é geralmente seguida de sos do teto mesencefálico vão aos neurónios motores da
ulcerações da córnea. Isso ocorre, por exemplo. como con- medula através do trato tetospinal. havendo uma resposta
sequência indesejável de certas técnicas cirúrgicas utiliza- motora, que pode fazer o individuo, reflexamente. proteger
das para o tratamento das neuralgias do trigémeo, nas quais o olho com a mão.
o cirurgião secciona a raiz sensitiva desse nervo, abolindo
toda a sensibilidade e também o reflexo corneano. Já nas 2.2.5 Reflexo de movimentação dos olhos por estímulos
chamadas tratotomias. nas quais se secciona o trato espinal vestibulares (reflexos oculocefálico e oculovestíbular) -
do trigêmeo, há abolição da dor. permanecendo o reflexo nistagmo
corneano, uma vez que a maioria das fibras que compõem
Esse reflexo tem por finalídade manter a fixação do
a parte aferente do arco reflexo termina no núcleo sensitivo
olhar em um objeto que interessa, quando essa fixação ten-
principal e não são comprometidas pela cirurgia.
de a ser rompida por movimentos do corpo ou da cabeç.a.
O reflexo corneano é diminuído ou abolido nos estados
Para melhor entendê-lo. imaginemos um indivíduo caval-
de coma ou nas anestesias profundas, sendo muito utilizado gando com os olhos fixos em um objeto à sua frente. A cada
pelos anestesistas para testar a profundidade das anesresias.
trepidação da cabeça, o olho se move em sentido contrário,
mantendo o olhar fixo no objeto. Assim, quando a cabeça se
Nervo oFtólmico
move para baixo, os olhos se movem para cima, e vice-versa.
1
1
=--
Se n~o houvesse esse mecanismo automático e rápido para
1 •
1 1 a compensação dos desvios causados pela trepidação do
1 cavalo, o objeto estaria sempre saindo da mácula, ou seja,
da parte da retina onde a visão é mais distinta. Os recep-
__ Gânglio tores para esse reflexo são as cristas situadas nas ampolas
Núcleo sensitivo
trigeminai
principal do ------ dos canais sernicirculares do ouvido interno (Figura 29.7),
nervo trigémeo onde existe um líquido, a endolinfa. Os movimentos da ca-
beça causam movimento da endolinfa dentro dos canais
, ; ~ serr1icirculares e esse movimento determina deslocamen-
, ', to dos cílios das células sensoriais das cristas. Isso estimula
;; '
Núcleo do troto espinal
Nervo fociol os prolongamentos periféricos dos neurônios do gânglio
,, 1
I
do nervo trigêmeo
'--1.-1>'' vestibular, originando impulsos nervosos que seguem pela
Núcleo do'
porção vestibular do nervo vestibulococlear, através do
nervo facial
qual atingem os núcleos vestibulares. Desses núcleos saem
Figura 17.6 Esquema do reflexo corneano. fibras, que ganham o fasóculo longitudinal medial e vão di-
retamente aos núcleos dos 111, IV e VI pares cranianos. deter-
minando movimento do olho em sentido contrário ao da
2.2..3 Reflexo lacrimal cabeça. Este reflexo. o oculocefálico, é frequentemente utili-
O toque da córnea. ou a presença de um corpo estra- zado na avaliação do paciente inconsciente ou em coma. A
nho no olho, causa aumento da secreção lacrimal. Trata-se pesquisa é feita com a rotação lateral da cabeça, A resposta
de mecanismo de proteção do olho. sobretudo porque é normal é o desvio conjugado do olhar para o lado oposto.
acompanhado do fechamento da pálpebra, como já foi vis- A ausência deste reflexo indica lesão do tronco encefálico.
to anteriormente. A via aferente do reflexo lacrimal é Idên- Quando, entretanto, as cristas dos canais semicirculares
tica à do reflexo comeano. Contudo. as conexões centrais são submetidas a estímulos exagerados, maiores do que os
são feitas com o núcleo lacrimal, de onde saem fibras pré- normalmente encontrados, o comportamento do olho é um
-ganglionares pelo VII par (nervo interm~dio). através dos pouco diferente. Assim. quando se roda rapidamente um in-
quais o impulso chega ao gânglio pterigopalatino e daí à divíduo em uma cadeira, há estímulo exagerado das cristas
glândula lacrimal. O reflexo lacrimal é um exemplo de reíle- dos canais semicirculares laterais, causado pelo movimenlo
xo somatovisceral. da endolinfa. que continua a girar dentro dos canais, mesmo
depois que a cadeira parou. Nesse caso, os olhos desviam-se
2.2.4 Reflexo de piscar para um lado até o máximo de contração dos músculos retos.
Quando um objeto é rapidarnente jogado diante do voltam-se rapidamente à posição anterior, para logo iniciar
olho, ou quando fazemos um rápido movimento como se um novo desvio. A sucessão desses movimentos confere aos
fôssemos tocar o olho de uma pessoa corn a mão, a pál- olhos um movimento oscilatório de vaivém, denominado
pebra se fecha. A resposta é reflexa e não pode ser inibida nisrogmo. Por um lado, as características do nistagmo provo-
voluntariamente. Fibras aferentes da retina vão ao colícu- cado, como direçào e intensidade, permitem testar a excitabi-
lo superior (através do nervo óptico. trato óptico e braço lidade de cada canal semicircular, dando valiosasinformações
do colículo superior), de onde saem fibras para o núcleo para o diagnóstico de processos patológicos que acometem
do nervo facial. Pelo nervo facial, o impulso chega à parte o sistema vestibular. Por outro lado. em condições patológi-

156 Neuroanatomi.J funcional

~· . . ----- -· ----•--- ···-----. ---~--. ------ - -~--~- . -· ---- · .. -• ---·.-.·. -· ~- ~;~r


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cas podem ocorrer nistagmos espontãneos, como em casos do músculo ciliar. Porém, essa resposta não é percebida pelo
de lesões vestibulares ou cerebelares. examinador. A abolição do reílexo fotornotor com preserva-
Outro modo de desencadear o nlstagmo consiste em ção da contração pupilar pela convergência constitui um Im-
fazer passar, por um dos meatos acústicos externos, uma portante sinal: a dissociação luz-perto associada à lesão do
corrente de água fria. o que determina o deslocamento da mesencéfalo dorsal que interrompe a fibras do arcorreflexo
endolinfa nos canais semicirculares e, consequentemente, a fotomotor e preserva as fibras do reflexo de convergência
estimulação das cristas. O deslocamento lento dos olhos se que se situam mais ventralmente no mesencéfalo.
dá em direção ao ouvido irrigado e, depois, ocorre o movi-
mento rápido corretivo. Esse reflexo, denominado oculoves- 2.2.7 Reflexo do vômito
tibular, é frequentemente utilizado na avaliação do paciente O reflexo do vômito pode ser desencadeado por várias
em coma ou em morte encefálica. causas, sendo mais frequentes aquelas que resultam de irri-
tação da mucosa gastrointestinal. Nesse caso, situa-se, por
2.2.6 Reflexos pupilares exemplo, o vômito decorrente de ingestão excessiva de
O conhecimento dos reflexos envolvendo a pupila tem bebidas alcoólicas, um mecanismo de defesa que visa im-
grande lmport~ncia clinica não só para o neurologista, mas pedir a passagem para o sangue de grande quantidade de
também para os demais profissionais da saúde. álcool. A irritação da mucosa gastrointestinal estimula visce-
roceptores aí existentes (Figura 17.7), originando impulsos
2.2. 6.1 Reflexo fotomotor díreto aferentes que, pelas fibras aferentes viscerais do vago, che-
gam ao núcleo do trato solitário. Daí saem libras que levam
Quando um olho é estimulado com um feixe de luz, a impulsos ao centro do vómito, situado na formação reticular
respectiva pupila contrai-se em virtude do seguinte mecanis- do bulbo. Desse centro, saem fibras que se ligam às áreas
mo (Figura 12.4): o impulso nervoso originado na retina é responsáveis pelas respostas motoras que desencadearão o
conduzido pelo nervo óptico. quiasma óptico e trato óptico, vômito. Essas libras são as seguintes (Figura 17.7):
chegando ao corpo genlculado lateral, via aferente do reflexo.
Entretanto, ao contrário das fibras relacionadas com a visão, a) Fibras para o núcleo dorsal do vago, de onde saem
as fibras ligadas ao reflexo fotomotor não fa1em sinapse no os impulsos. pelas fibras pré-ganglíonares do vago,
corpo geniculado lateral, mas ganham o braço do calículo após sinapse em neurônios pós-ganglionares situa-
superior, terminando em neurônios da órea pré-retal (Agura dos na parede do estômago; os impulsos chegam
12.4). Daí, saem libras que terminam fazendo sinapse com a esse órgão, aumentando a sua contração e deter-
os neurônios do núcleo de Edinger-Westphol. Desse núcleo, minando a abertura do cárdia.
saem libras pré-ganglionares que, pelo Ili par, vão ao gông/io b) Abras que, pelo trato reticulospinal, chegam à colu-
ciliar, de onde saem fibras pós-ganglionares que terminam na lateral da medula, de onde saem fibras simpáticas
no músculo esfíncter da pupila. determinando sua contração. pré-ganglionares que, pelos nervos esplancnicos.
chegam aos g3nglios celíacos. Fibras pós-gangliona-
2.2.6.2 Reflexo consensual res originadas nesses gânglios levam os impulsos ao
estõrnago, determinando o fechamento do píloro.
Pesquisa-se esse reflexo estimulando-se a retina de um c) Fibras que, pelo trato reticulospinal, chegam à me-
olho com um jato de luz e observando-se a contração da dula cervical onde se localizam os neurônios mo-
pupila do lado oposto. O impulso nervoso cru1a o plano tores cujos axônios constituem o nervo frênico. Os
mediano no quiasma óptico e na comissura posterior, nesse impulsos nervosos que seguem por esse nervo de-
caso, através de fibras que. da área pré-retal, de um lado. terminarão a contração do diafragma.
cruzam para o núcleo de Edinger-Westphal, do lado oposto. d) Fibras que, pelo 1rato reticulospinal, chegam aos
neurônios motores da medula, onde se originam os
l.2.6.3 Reflexo de convergência nervos toracoabdominais. Estes inervam os múscu-
Pesquisa-se este reflexo aproximando-se um objeto dos los da parede abdominal. cuja contração aumenta
olhos, em direção ao nariz. Observa-se que as pupilas se con- a pressão intra-abdominal, talvez o fator mais im-
traem, processo que se denomina miose, quando o objeto é portante no mecanismo do vômito.
aproximado. Durante essa manobra, ocorre também a mu- e) Abras para o núcleo do hipoglosso, cuja ação resul-
dança na curvatura do cristalino em virtude da contração ta na protrusão da língua.

3. Correção anatomoclinica - Importância clínica dos reflexos do tronco encefálico - morte encefálica
Os reflexos pupilares são importantes para avaliar o a via aferente do reflexo está intacta, mas a via eferente
estado funcional das vias aferentes e eferentes que o me- para o olho direito está lesada, provavelmente no nervo
deiam, podendo estar abolidos em lesões da retina, do oculomotor. Por outro lado, se existe lesão unilateral do
nervo óptico, do trato óptico ou do nervo oculomotor. nervo óptico, causando cegueira unilateral, a luz incidin-
Assim, por um lado, se a luz direcionada ao olho direito do sobre esse olho não ocasiona resposta em nenhum
causa apenas resposta consensual do olho esquerdo, dos olhos, enquanto a pesquisa do olho contralateral

■ Capitulo 17 Núcleos dos Nervos úanianos -Alguns Re6'xos Integrados no Tronco En<tfálico 157
desencadeará tanlo o reflexo fotomotor direto como o auditivos. A ausência de reflexos associada ao coma aper-
consensual no olho cego. ceptivo com arreativldade dolorosa e teste de apneia po-
Ausência do reflexo fotomotor em um paciente in- sitivo é o indicativo de morte encefálica, descartando-se
consciente indica dano no mesencéfalo. Pode indicar intoxicações metabólicas, ou por drogas, e hiportermia.
também lesão supratentorial causando hipertensão in- O quadro deve ser confirmado por exames complemen-
tracraniana e herniações (Figuras 8.7 e 8.8). Se o quadro tares que comprovem ausência de atividade elétrica ce-
não for revertido, o paciente pode evoluir para morte en- rebral, ausência de atividade metabólica ou ausência de
cefálica em que há disfunção completa do t ronco ence- perfusão encefálica. A morte encefálica é a definição legal
fálico e abolição dos reflexos nele Integrados: fotomotor; de morte, mesmo que os batimentos cardíacos e a respi-
corneopalpebral; oculocefálico; oculovestibular; e do vô- ração sejam mantidos com o uso de aparelhos, e permite
mito. O reflexo oculovestlbular é testado mediante prova a retirada de órgãos para a doação, quando houver auto-
calórica, instilando-se água gelada em um dos condutos rização prévia do paciente ou da família.

r - - -- Gônglio inferior do nervo vago


/ ,- - - fibra eferente visceral geral
1 / - Fibra aferente visceral geral
1
/ I r - - - - Nervo vogo
I I I
1 t 1
/ 1
,,,.,,, _,1
I
I 1
Bulbci° /
Tr~to retic:ulospinal - - - - ; I
•~. ...- ~ I
N ervo hipoglosso - - - - - - - _/

Medula cervical

Nervo frên ico - - _ __ _ ,....

Gânglio celíaco - - - - - - -
l
--- /
Medula torácico '""
'
•'•

1
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/
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/
/ -

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Coluna lateral
- . ------/
/
,••
1 l '1
Nervo esp1oncn1co 1 ''
'•• t•'
Tronco simpático - - - - - - !- - --t:_;' •

......
-
\,.\..... _
/',
. __.., (.,'
\
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Medula torácica ..
,,'. , ..... :
'
.' \
,.., "'-----=>--~~
\

/
/
Nervo tóroco-obdominol - - - - ___ /

Agura 17.7 Esquema do reflexo do vômito.

158 NeuroanatomiaFunclonal
Vascularização do Sistema Nervoso Central
e Barreiras Encefálicas

A - Vascularização do sistema nervoso central


todos esses processos exigem um estudo da vascularização
do SNC, o que será feito a seguir, considerando-se separa-
damente o encéfalo. a medula. a vascularização arterial e a
O sistema nervoso é formado por estruturas nobres e venosa. Os capilares do SNC serão estudados no final deste
altamente especializadas, que exigem, para o seu metabo- capítulo (item B). Cabe lembrar que, no SNC. não existe cir-
lismo, um suprimento permanente e elevado de glícose e culação linfática. Todavia, há circulação liquórica, já estuda-
oxigénio. Com efeito, a atividade funcional do encéfalo de- da que, entretanto, não corresponde, quer anatômica quer
pende de um processo de oxidação de carboidratos e não funcionalmente, à circulação linfática.
pode, mesmo temporariamente, ser sustentada por metabo-
lismo anaeróbico. Isso requer um fluxo sanguíneo continuo
e intenso. Quedas na concentração de glicose e de oxigênio
no sangue circulante ou, então, a suspensão do afluxo san- 2.1 Fluxo sanguíneo cerebral e hipertensão
guíneo ao encéfalo não são toleradas além de um período intraaaniana
multo curto. A parada da circulação cerebral por mais de 1O O fluxo sanguíneo cerebral é muito elevado, sendo su-
segundos submete o individuo à perda da consciência. Após perado apenas pelo do rim e do coração. Embora o encéfalo
cerca de 5 minutos, começam a aparecer lesões irreversíveis,
represente apenas 2% da massa corporal, ele consome 20%
pois, como se sabe, as células nervosas não se regeneram. do oxigênio disponível e recebe 15% do Ouxo sanguíneo,
Isso acontece, por exemplo. como consequência de paradas refletindo a alta taxa metabólica do tecido nervoso. Calcula-
cardíacas. Áreas diferentes do sistema nervoso central (SNC) -se que, em um minuto, circula pelo encéfalo uma quan-
são lesadas em tempos diferentes, tendo em vista que as tidade de sangue aproximadamente Igual ao seu próprio
áreas filogeneticamente mais recentes, como o neocórtex peso. O estudo dos fatores que regulam o fluxo sanguíneo
cerebral, são as que primeiro se alteram. A área lesada ern é de grande importância clínica. O fluxo sanguíneo cerebrai
último lugar é o centro respiratório situado no bulbo. Os (FSC) é diretamente proporcional à diferença entre a pres-
processos patológicos que acometem os vasos encefálicos são arterial (PA) e a pressão venosa (PV), e inversamente pro-
ocorrem com frequência cada vez maior com o aumento porcional à resistência cerebrovascular (RCV). Assim. temos:
da sobrevida média do homem. São os acidentes vasculares
encefálicos (AVE) hemorrágicos ou ísquêmicos (tromboses
e embolias). E.les interrompem a circulação de determina- PA - PV
FSC ..
das áreas encefálicas, causando necrose do tecido nervoso, RCV
e são acompanhados de alterações motoras, sensoriais ou
psíquicas, características para a área e a artéria lesada. Há Como a pressão venosa cerebral varia multo pouco, a fór-
poucas anastomoses entre artérias e arteríolas, o que torna mula pode ser simplificada: FSC = PNRCV, ou seja, o fluxo san-
cada região bastante dependente da circulação de determi- guíneo cerebral é diretamente proporcional à pressão arterial
nada artéria. A prevenção, o diagnóstico e o tratamento de e inversamente proporcional .li resistência cerebrovascular.
A resist~ncla cerebrovascular depende, sobretudo, dos se- cérebro varia com o seu estado funcional no momento. As-
guintes fatores: sim. medindo-se o fluxo sanguíneo na área visual do córtex
de um animal, verifica-se que ele aumenta consideravelmen-
a) Pressão inrracronlano - cujo aumento, decorrente
te quando o animal é colocado diante de um foco luminoso,
de condições diversas (veja o Capítulo 8, item 3.2),
o que determina a chegada de impulsos nervosos no córtex
eleva a resistência cerebrovascular.
visual, com aumento do metabolismo dos neurônios. É nes-
b) Condição da parede vascular - que pode estar alterada
se aumento regional do metabolismo e, consequentemente
em certos processos patológicos, como na ateroscle-
do nuxo sanguíneo, que se baseiam as técnicas de neuroi-
rose, que aumentam a resistência cerebrovascular. magcm funcional (Capítulo 31). Essas técnicas contribuírarr
c) Viscosidade do sangue. muito para o estudo e a localização de diversas funções ce-
d) Calibre dos vasos cerebrais - regulado por fatores rebrais por melo da avaliação do fluxo sanguíneo em área:
humorais e nervosos, estes últimos representa- restritas do cérebro de um indivídtio em condições fisiolé-
dos por fibras do sistema nervoso autónomo, que gicas ou patológicas. O aumento da demanda nas regiõe:
se distribuem na parede das arteríolas cerebrais. ativadas é proporcionado por ajustes locais realizados pela~
Entre os fatores humorais, o mais importante é o próprias arteríolas, uma vez que não seria possível aumer,-
COY cuja ação vasodilatadora dos vasos cerebrais tar a pressão arterial e o fluxo cerebral, por risco de lesão de
é muito grande. tecido nervoso. A atividade celular causa liberação de C02 E
O consumo de oxigênio varia entre as diversas regiões este aumenta o calibre vascular e o fluxo sanguíneo local en,
cerebrais. Verificou-se que o fluxo sanguíneo é maior nas áreas cerebrais submetidas a maior solicitação funcional. /.
áreas mais ricas em sinapses, de tal modo que, na substância ampliação do fluxo regional em resposta ao aumento da ati·
cinzenta, ele é maior do que na branca, o que obviamente vidade neuronal é também mediado pela liberação de óxido
está relacionado com a maior atividade metabólíca do cór- nítrico pelos neurónios que, por ser um gás, se difunde com
tex cerebral O fluxo sanguíneo de uma determinada área do rapidez. atuando sobre o calibre dos vasos.

2.1.1 Correlação anatomoclínica - Traumatismo cranioencefálico


A pressão intracraniana é influenciada pelos tres com-
ponentes principais do conteúdo intracraniano: a mas-
sa encefálica, o volume sanguíneo e o volume do líquor.
Portanto, o aumento de cada um deles pode afetar rapi-
damente a pressão intracranlana. Éo que acontece em di-
versos processos patológicos, sobretudo os agudos, como
nos traumatismos cranioencefálicos, que podem causar
ao mesmo tempo hemorragia, contusão e edema com
consequente aumento da pressão int racraniana. Em casos
graves, necessita de tratamento de emergência. As hemor-
ragias podem necessitar de drenagem cirúrgica. A acetazo-
lamida. um diurético inibidor da anidrase carbõnica, pode
ser utilizada para auxiliar na estabilização da pressão Intra-
craniana de forma temporária e paliativa. Atua reduzindo
significativamente a produção de liquor. O paciente grave
necessita de ventilação mecânica que também ajuda no
manejo da hipertensão lnt@craníana modificando o teor
de CO;, a hiperventilação ocasiona vasoconstrição. O pa- Rgura 1 s.1 Tomografia em traumatisrno cranioencefálico grave
ciente deve ser monitorado com medida da hipertensão com acometimento do hemisfério cerebral direito. Observam-se
intracraniana e pressão arterial. As medidas adotadas aca- hemorragia(área com hipersinal) e edema causando hipertensão
bam sendo medidas posicionais, elevação de cabeceira, intracranlana grave com desvio da linha média. Foi realizada acra-
sedação e analgesia, ajustes ventilatórios, drenagem de niectomia (seta), para alívio da pressão intracraniana, evitando-s;:
fluidos, terapia osmótica, barbitúricos, hipotermla e cra- a herniação de uncus e compressão do tronco encefAlico.
niectomia descompresslva (Figura 18.1). Fonre: Cortesia do Dr. Maico António ílodackl.

2.2 Vascularização arterial do encéfalo ramo importante. Na base do crânio, essas artérias formar
um polígono anastomótico, o polígono de Wlllis. de onc-õ
2.2.1 Peculiaridades da vascularização arterial do encéfalo saem as principais artérias para a vascularização cerebrê
O encéfalo é irrigado pelas artérias carótidas internas e Desse modo, a vascularização do encéfalo é peculiar, vis1:
vertebrais, originadas no pescoço, onde não dão nenhum que, ao contrário da maioria das vísceras, não tem um h. :

160 Neuroanatomla Funcional


para a penetração dos vasos que entram no encéfalo em ciais, pelo liquor nos espaços perivasculares. Esses fatores
diversos pontos de sua superfície. Do ponto de vista de permitem atenuar o impacto da pulsação arterial. Também
sua estrutura, as artérias cerebrais são também peculiares. contribui para amortecer o choque da onda sistólica a tor-
Elas têm, de modo geral, paredes finas, comparáveis às tuosidade que apresentam as artérias carótidas internas e
paredes de artérias de mesmo calibre situadas em outras as artérias vertebrais ao penetrarem no crãnio, bem como
áreas do organismo. Esse é um fator que torna as artérias as artérias que saem do polígono de Wlllis (Figura 18.4).
cerebrais especialmente propensas a hemorragias. A túni- No homem, ao contrário do que ocorre em outros mamí-
ca média das artérias cerebrais tem menos fibras muscu- feros, há uma quase independência entre as circulações
lares, e a túnica elástica interna é mais espessa e tortuosa arteriais intracraniana e extracranlana. As poucas anasto-
do que a de artérias de outras áreas. Esse espessamento moses existentes são, na maioria das vezes, incapazes de
da túnica elástica interna constitui um dos dispositivos manter uma circulação colateral útil em caso de obstrução
anatómicos que protegem o tecido nervoso, amortecen- no território da carótida Interna. A seguir, estudarernos as
do o choque da onda sistólica responsável pela pulsação artérias carótidas internas e vertebrais, que constituem.
das artérias. Existem outros dispositivos anatômicos com a com a artéria basilar, os dois sistemas de Irrigação encefá-
mesma finalidade. Além de mais tortuosas, as artérias que lica: o sistema carorldeo interno: e o sisrema vértebro-bosilar,
penetram no cérebro são envolvidas, nos milímetros ini- Figura 18.2.

Comuniconle anterior - - -

1--- Artéria recorrente de Heubner

Oftálmico - --
Comunicante posleríor - - ~ Cori6ideo anterior
Cori6ldeo posteroloterol - - Cerebral poslerior
Coriôideo posteromediol Cerebelo, superior
Pontinos - - - Basilar
Cerebelo, inferior onlerior - -

- - Cerebelor inferior posterior


Cor611do interno - --

- - Carótida externo
Espinal anterior - - -

Espinal poslerior - -

Carótide comum direila - -

Vertebral di reito - - - - - Vertebral esquerdo

Subclávio direito - ~ '----- Subclóvio esquerdo

Tronco broqulocef61ico Corólido comum esquerdo

Aorta - - - -

Figura 11.2 Esquema ilustrativo dos sistemas caroticleo e vértebro-casilar.

• Capitulo 18 Va50.llarização do Sistema Nervoso Central eBaneiras Encefálicas 161


2.2.2 Círculo arterial do cérebro vice-versa. Do mesmo modo, praticamente não existe troca
O circulo arrerial do cérebro, ou polígono de Willis. é uma de sangue entre as metades esquerda e direita do circulo
anastomose aneríal de forma poligonal e está situado na arterial. O círculo arterial do cérebro, em casos favoráveis,
base do cérebro. onde circunda o quiasrna óptico e o túber permite a manutenção de fluxo sanguíneo adequado em
cinéreo. relacionando-se também com a fossa interpedun- todo o cérebro, em casos de obstrução de uma (ou mais)
cular (Figura 18,3). artérias que o irrigam. Efácil entender que a obstrução, por
É formado pelas artérias ca~ótida inLerna, cerebrais an- exemplo, da carótida direita, determina a queda de pressão
terior e poslerior, pela artéria comunlcanLe anterior e pe- em seu território, o que faz o sangue fluir para aí através
las artérias comunicantes posteríores, direita e esquerda da artéria comunicante anterior e da artéria comunicante
(Figura 18.3). A artéria comunicante anterior é pequena posterior direita. Entretanto, o círculo arterial do cérebro é
e anastomosa as duas artérias cerebrais anteriores adian- sede de muitas variações, que tornam imprevisível o seu
te do quiasma óptico. As artérias comunicantes posteriores comportamento diante de um determinado quadro de
unem, de cada lado, as carótidas internas com as cerebrais obstrução vascular. Ademais, o estabelecimento de uma
posteriores correspondentes (Figura 18.4). Desse modo, circulação colateral adequada, também aqui, como em ou-
elas anastomosam o sistema carotídeo interno ao sistema tras áreas, depende de vários fatores, como a rapidez com
vertebral. Entretanto, essa anastomose é apenas potencial, que se instalam o processo obstrutivo e o estado da parede
pois, em condições normais, não há passagem significativa arterial, o qual, por sua vez, depende da idade do paciente.
de sangue do sístema vertebral para o carotídeo interno ou As artérias cerebrais anterior, média e posterior dão ramos

Artéria comunicante anterior - ,


\
Artéria cerebral anterior - - , ',
' ' \
\
Artéria comunicante posterior -, \ \
' \ \
• ' cerebelar superior
Artena · --, ', ' \ \ ,
'\ \
Artériaspontinas·- - - --,, ', '\ '\
\
\ \

Artéria cerebral média ___ , '


\ ' \ ~\~\ -:-""\'"--
- - - - Artéria cori61deo anterior
\ \
\
Artéria labirlntica - - - - ' \ \ - Artéria cerebral posterior
\
\ \
\

Nervo vestibulococleor __ / ------Artéria basilar


/
Artéria vertebral _ ___ / / ..:..t
/ \ \ '--Artéria cerebelar inferior anterior

Artéria espinal posterior - _ ,,


,," \
\
\
\
\ '- Artéria cerebelar iníerior posterior
\

''-- - - -Artéria 8$pínal anterior

Flgun118.3 Artériasda base do encéfalo. Círculo arterial do cérebro (poligono de Wiilis).

162 Neuroanatomla Funcional


corticais e ramos centrais. Os ramos corticais destinam-se à do corpo geniculado lateral e parte do lobo tempo-
vascularização do córtex e substância branca subjacente. ral. Penetra no corno inferior do ventrículo lateral, irri-
Os ramos centrais emergem da porção proximal de cada gando o plexo coroide. Anastomosa-se com a artéria
urna das artérias cerebrais e das artérias comunicantes (Fi- corióidea posterior.
gura 18.3). Eles penetram perpendicularmente na base do
As artérias cerebrais anteriores e médias se subdividem
cérebro e vascularizam o diencéfalo, os núcleos da base e
em ramos menores superficiais e profundos, rumo a estru-
a cápsula Interna. [sta angulação súbita e as característi-
turas Internas.
cas das artérias cerebrais, descritas no Item 2.2.1, tornam
os ramos centrais especialmente vulneráveis a hemorragias 2.2.4 Artérias vertebral e basilar
ocasionadas por hipertensão arterial sistêmlca (Figuras
18.10A e 18,108). São especialmente graves os AVE he- As artérias vertebrais direita e esquerda destacam-se
morrágicos das artérias lenticuloestriadas. ramos centrais das artérias subclávias correspondentes, sobem no pes-
que se destacam da artéria cerebral média e penetram na coço dentro dos forames transversos das vértebras cervi-
substância perfurada anterior, vascularizando a maior parte cais, perfuram a membrana atlantoccipital, a dura-máter
do corpo estriado e da cápsula interna. Tendo em vista que e a aracnoide, penetrando no crânio pelo forame magno.
pela cápsula interna passam quase todas as fibras de proje- Percorrem, a seguir, a face ventral do bulbo e, aproxima-
ção do córtex, pode-se entender que lesões dessas artérias damente no nível do sulco bulbopontlno, fundem-se para
são particularmente graves e causam hemiplegía contra- constituir um tronco único, a artéria basilar (Figura 18.2).
lateral {Figura 18.1 OA). Quando se retira a pia-máter, per- As artérias vertebrais dão origem às duas artérias espinais
manecem os orifícios de penetração desses ramos centrais, posteriores e à arcéria espinal anterior, que vascularizam a
o que rendeu às áreas onde eles penetram a denominaç~o medula. Originam. ainda, as artérias cerebelares inferiores
substóncia perfurada, anterior e posterior. posteriores, que irrigam as porções inferior e posterior do
Classicamente, admitia-se que os ramos centrais dopo- cerebelo. A artéría basilar percorre geralmente o sulco
lígono de Wlllis não se anastomosavam. Hoje, sabemos que basilar da ponte e termina superiormente. bifurcando-se
essas anastomoses existem, embora sejam escassas, de tal para formar as arrérias cerebrais posteriores direita e esquer-
modo que essas artérias comportam-se, sob o aspecto fun- da, que ser~o estudadas mais adiante. Nesse trajeto, a ar-
cional, como artérias terminais. téria basilar emite os seguintes ramos mais importantes
(Figuras 18,2 e 18.3):
2.2.3 Artéria carótida interna a) Artéria cerebelar superior - nasce da basilar, inferior-
Ramo de bifurcação da carótida comum, a artéria ca- mente às cerebrais posteriores, distribuindo-se ao
rótida Interna, após o trajeto mais ou menos longo no pes- mesencéfalo e à parte superior do cerebelo.
coço, penetra na cavidade craniana pelo canal carotídeo b) Artéria cerebe/ar inferior anterior- distribui-se à parte
do osso temporal, atravessa o seio cavernoso, no interior anterior da face inferior do cerebelo;
do qual descreve, em plano vertical, uma dupla curva, for- c) Artéria labiríntica - penetra no meato acústico interno,
mando um S, o sifão carotídeo, que aparece multo bem junto com os nervos facial e vestibulococlear, vascula-
nas arterlografias da carótida. Em seguida, perfura a dura- rizando estruturas do ouvido interno (Figura 18.3).
·máter e a aracnoide e, no Início do sulco lateral, divide-se e) Ramos ponrinos.
em seus dois ramos terminais: as artérias cerebrais média;
e anteríor (Figuras 18.2 e 18.3). Além dos seus dois ramos
terminais, a artéria carótida interna dá origem aos seguin-
tes ramos mais importantes:
a) Artéria oftdlmica - emerge da carótida quando esta
atravessa a dura-máter, logo abaixo do processo
....
Artéria
cerebral média
Artéria cerebral
-· -·
cllnoide anterior. Irriga o bulbo ocular e formações
anexas (Figuras 8.2 e 18.2).
b) Artéria comunicanre posterior (Figura 18.3) - anas-
tomosa-se com a artéria cerebral posterior, ramo da ..
basilar, contribuindo para a formação do polígono comunicante
posterior •
de Willis. Artéria carótida interna
c) Artéria corióidea anterior (Figura 18.3) - emerge da
Attério cerebr
carótida interna acima da artéria comunicante pos- , posterior
terior e dirige-se posteriormente ao longo do trato •
Ao,

óptico, dividindo-se em ramos perfurantes que irri-


gam os dois terços posteriores do ramo posterior da Flgura 18.4 Angiografia por ressontlncia magnética. Círculo arte•
cápsula interna, segmento interno do globo pálido, rial do cérebro (polígono de Wlllis).
tálamo ventrolateral, trato e radiação ópticos, parte Fon re: Cor tesia do Dr. Gilberto Belí!l<'lrlo Campos.

■ Capitulo 18 VaS<Ulartzaçao do Sistema Nervoso Central eBarreiras Encefálicas 163


2.2.5 Território cortical das três artérias cerebrais eacidentes de obstrução de uma dessas artérias ou de seus ramos
vasculares encefálicos mais callbrosos. Resultam, pois, nesses casos, lesões de
áreas mais ou menos extensas do córtex cerebral, com
Ao contrário dos ramos profundos, os ramos corti- um quadro sintomatológico característico das síndromes
cais das artérias cerebrais apresentam anastomoses, ao das artérias cerebrais anterior, médio e posterior. O estu-
menos em seu trajeto na superfície do cérebro. Entretan- do dessas síndromes, exige conhecimento dos territórios
to, essas anastomoses s~o, em geral, insuficientes para a corticais irrigados pelas três artérias cerebrais, o que será
manutenção de circulação colateral adequada em casos feito a seguir.

Artéria cerebral anterior

.,,.,,. .,,,-'
.,,. .,,. ,,,, Artéria cerebral posterior

Artéria cerebral médio

Figura 18.5 Artérias da face medial e Inferior do cérebro.

- - - , - - - -:::,,-- - - - Artéria cerebral anterior


/

/
/
/
/
/
Artéria cerebral médio
Artéria cerebral posterior

Figura 18,6 Artérias da face superolateral do cérebro.

164 Neuroanatomia Funcional


2.2.5.1 Artéria cuebral anterior -ACA
É um dos ramos de bifurcação da carótida Interna (CI). A
ACA dirige-se para diante e para cima (Figura 18.S), curva-
-se em torno do joelho do corpo caloso e ramifica-se na face
medial de cada hemisfério, desde o lobo fron tal até o sulco
parietoccipiral. Irriga os três quartos anteriores da superfície
medial do cérebro, incluindo a superfície médio-orbitofron-
tal, o frontal, e a parte mais alta da face lateral de cada hemis-
fério, onde se limita com o território da artéria cerebral média
(Figura 18.6). Irriga também os quatro quintos anteriores do
corpo caloso. Anastomosa-se com a ACA contralateral pela
artéria comunicante anterior. Essa porçao proximal origina
a artéria recorrente de Heubner, ramo único ou múltiplo,
que, com pequenas artérias, irriga a parte anterior do núcleo
caudado, o terço anterior do putame, parte do segmento ex-
terno do globo pálido e ramo anterior da cápsula interna, hi-
potálamo, podendo Incluir também parte da região olfatória.
A obstrução de uma das ACA causa paralisia e diminuição da Figura 18.7 Ressonilncia rnagnética de AVE isquémico no territó-
sensibilidade no membro inferior do lado oposto, decorren- rio da artéria cerebral anterior esquerda. A área isqutmica aparece
te da lesão de partes das áreas corticais motora e sensitiva, com hipersinal.
que correspondem à perna e localizam-se na porção alta dos Fonte: Cortesia do Dr. Marco Antônio Radackl.
giros pré- e pós-central {lóbulo paracentral) (Figura 18.7).
A obstrução da artéria recorrente de Heubner pode gerar
paresia da face e do membro superior pelo acometimento hemiplegia (exceto no membro Inferior), hlpoanestesia e
da parte anterior da cápsula interna. O comprometimento hemianopsia homõnima contralaterais, desvio do olhar
do corpo caloso pode ocasionar a síndrome de desconexão conjugado ipsllateralmente à lesão. Ocorrerão afasia global
calosa. descrita no Capítulo 25, item 3 e Capítulo 26, item 6. e apraxia ideomotora se a lesão for à esquerda. A lesão à
direita ocasionará aprosódia, heminegligéncia. apraxias,
l.l.5.2 Artéria cerebral média - A(M anosognosia, prosopoagnosia e distúrbios visuoespacials. A
lesão do córtex orbitofrontal ocasiona a síndrome de Lúria
Ramo principal da carótida interna, a artéria cerebral pré-frontal. O quadro é especialmente grave se a obstrução
média percorre o sulco lateral em toda a sua extensão, distri- atingir também ramos profundos da artéria cerebral média
buindo ramos que vascularizam a maior parte da face lateral (artérias estriadas), que vascularizam parte do corpo e da
de cada hemisfério (Figura 18.6). Esse território compreen- cabeça do núcleo caudado, parte anterior do ramo poste-
de a área motora, a área somestésica e as áreas de lingua- rior da cápsula interna, o puta me e o globo pálido lateral, os
gem. Os ramos corticais irrigam também a ínsula e parte núcleos da base e a cápsula interna (Figura 18.1 OA). São
do lobo temporal e os ramos rnedulares nutrem o centro isquemias de áreas extensas, que também ocasionam ede-
semioval. Obstruções da artéria cerebral média, quando ma cerebral e rebaixamento do nível de consciência com
não são fatais, determinam sintomatologia muito rica, com prognóstico muito ruim (Figura 18,8).

Figura 18.8 (A) Ressonc'lncia magnética de AVE isquémico no território da artéria cerebral média e (8) angiorressonàncla mostrando obs-
trução da AC,Vi.
ronce: Corcesia do Dr. Marco Antônio Rodackl.

• Capitu lo 18 Va1Cularização do Sistema Nervoso Central eBarreiras En<tfálicas 165


Figura 1s. 10 AVE hemorrágicos de ramos arteriais centrais causados por hipertensão arterial sistêmica. (A) Artéria lenticuloestriada,
ramo da artéria cerebral média; (B) Artéria talamoperfurante, ramo da anéria cerebral posterior.
Fonre: Co1tes1a do Dr. Marco Artônlo Rod~::ki.

Figura 1s.11 Anglotomografias tridimensionais mostrando (A) aneurisma da artéria cerebral média; (8) aneurisma da artéria basilar.
Fonre: Cortesia do Dr. Marco Antônio Rodacki.

Figura 1s.12 Anglorressonància mostrando aneurisma da arté· Agura 18.13 Fotografia intraoperatôria para clipagem de aneu-
ria cerebral posterior. risma da artéria cerebral média.
Fonre: Co11esla do Dr. Marco Antônio Rodacki. Fonre: Co11esia do Dr. Humberto Schroedcr.

■ Capitulo 18 VaS<ulariza(ãodo Sistema NervosoCentral e BarreirasEncefálicas 167


A injúria inicial é determinada por aumento súbito da rão sinais focais associados, que variarão de acordo com a
csessão intracraniana (PIC) com consequente redução da topografia do sangramento.
o·essão de perfusão cerebral (PPC) e isquemia cerebral A combinação de TC simples com punção lombar pode
-1 obal transitória. Esta última é a causadora da perda de ser feita na emergência para diagnóstico da HSA, seguida
-
::onsciência súbita após o sangramento. O outro grande de angiotomografia ou angiorressonancia para a confir-
::eterminante do desfecho nos pacientes que sobrevivem mação da etiologia aneurismática e também para auxiliar
a.:, sangramento é a chamada isquemia cerebral tardia re- no planejamento terapêutico. Após o diagnóstico da HSA,
::ionada com vasoespasmo cerebral, depressão cortical é fundamental a prevenção do ressangramento por meio
3 astrante, microtrombose e disfunção de microcircula- principalmente do manejo pressórico. O tratamento pode
~:J. A apresentação cHnica da HSA costuma ser bastan- ser feito por cirurgia com clipagem do aneurisma ou emboli-
:i: evidente com cefaleia súbita Intensa, frequentemente zação endovascular. A hidrocefalia é a complicação precoce
::escrita como ·a pior dor de cabeça da vida~ perda de mais frequente, e pode exigir a colocação de válvula para
::onscJência Inicial em 53% dos casos, e nos mais leves, drenagem liquórica. O manejo da isquemia cerebral tardia e
- auseas, vômitos e meningismo. Parte dos pacientes te- su;is sequelas é complexa e exige equipe especializada.

2J Vascularização venosa do encéfalo seios da dura-máter. Distinguem-se veias cerebrais superfi-


: 3 1 Generalidades ciais superiores e inferiores.
As veios cerebrais superficiaissuperiores (Figura 8.3) pro-
.:..s veias do encéfalo, de modo geral, não acompanham as
vêm da face medial e da metade superior da face lateral de
=-:::-··as. sendo maiores e ,:nals calibrosas do que elas. Drenam
cada hemisfério, desembocando no seio sagital superior. As
: =a osseios da dura-mácer, de onde o sangue converge para as
veias cerebrais superficiais inferiores provêm da metade infe-
.::- ::s jugulares Internas. as quaisrecebem praticamente todo o
rior da face lateral de cada hernisfério e de sua face inrerior,
;3-gue venoso encefálico (Capítulo 8). Os seios da dura-máter
;~rn-se também às veias extracranfanas por meio de peque- terminando nos selos da base (petroso superior e caverno·
- ~s .erasemissárias que passam através de pequenos forarnes so) e no seio transverso. A principal veia superficial inferior é
- : :rânio. As paredes das veias encefálicas são muito finas e a veia cerebral média superficial, que percorre o sulco lateral
:•at;camente desprovidas de musculatura. Faltam, assim, os e termina, em geral, no seio cavernoso.
: :mentes necessários à regulação ativa da circulação venosa.
2.3.3 Sistema venoso profundo
:s:a se faz, sobretudo, sob a ação de três forças:
Compreende veias que drenam o sangue de regiões
a) Aspiração da cavldade torácica, determinada pe- situadas profundamente no cérebro, como corpo estriado,
las pressões subatmosféricas da cavidade torácica, cápsula interna, diencéfalo e grande parte do centro branco
mais evidente no início da Inspiração. medular do cérebro. A mais importante veia desse sistema é
b) força da gravidade, notando-se que o retorno san- a veia cerebral magna ou veia de Galeno, para a qual converge
guíneo do encéfalo ocorre a favor da gravidade, o quase todo o sangue do sistema venoso profundo do cére-
que torna desnecessária a existência de válvulas nas bro. A vela cerebral magna é um curto tronco venoso fmpar
veias cerebrais. e mediano, formado pela confluência das veias cerebrais inter-
e) Pulsaçao das artérias, cuja eficácia é aumentada n05, logo abaixo do esplênio do corpo caloso, desembocando
pelo fato de que se faz em urna cavidade fechada. no seio reto (Figura 8.3). Suas paredes muito finas são facil-
Esse fator é mais eficiente no seio cavernoso, cujo mente rompidas, o que às ve1es ocorre em recém-nascidos
sangue recebe diretamente a força expansiva da como resultado de traumatismos encefálicos durante o parto.
carótida interna, que o atravessa.
O leito venoso do encéfalo é muito maior do que o ar- 3. ·,-: Vãscúlarizãção da medula
:erial; consequentemente, a circulação venosa é muito mais
A medula espinal é irrig;ida pelas artérias espinais anterior e
-:'ita. A pressão venosa no encéfalo é muito baixa e varia
- 1Jito pouco em razão da grande capacidade de distensão
posterior, ramos da artéria vertebral, e pelas artérias radiculores,
::as veias e seios. Os seios da dura-máter já foram estudados que penetram na medula com as raízes dos neNos espinais.
,. J Capítulo 8 (item 1.1.3). A seguir, serão descritas as prin- A artéria espinal anterior é um tronco único, rormado
~·oais veias do encéfalo que se dispõem em dois sistemas: pela confluência de dois curtos ramos recorrentes, que
::. sistema venoso superficial; e o sistema venoso profundo. emergem das artérias vertebrais direita e esquerda (Figu-
: rnbora anatomicamente distintos, esses dois sistemas são ra 18.3). Dispõe-se superficialmente na medula, ao longo
~'lidos por numerosas anastomoses. da fissura mediana anterior até o cone medular. Emite as
artérias sulcais, que se destacam perpendicularmente e pe-
2.3.2 Sistema venoso superficial netram no tecido nervoso pelo fundo da fissura mediana
Éconstituído por velas que drenam o córtex e a subs- anterior. As artérias espinais anteriores vascularizam as colu·
:ãncia branca subjacente, anastomosam-se amplamente na nas e os funícuios anterior e lateral da medula.
sJperfície do cérebro, onde formam grandes troncos ve- As artérias espinais posteriores direita e esquerda emer-
,. Jsos, as veios cerebrais superficiais, que desembocam nos gem das artérias vertebrais correspondentes, dirigem-se

168 Nturoanatomla Funcional

, ____ , --
dorsalmente, contornando o bulbo (Figura 18.3) e, em (tireóidea inferior, intercostais, lombares e sacrais). Esses
seguida, percorrem em sentido longitudinal a medula, me- ramos penetram nos forames intervertebrais com os ner-
diaimente aos filamentos radlculares das raízes dorsais dos vos espinais e dão origem às artérias radiculares anterior e
nervos espinais (Figura 4.3). As artérias espinais posteriores posterior, que ganham a medula com as correspondentes
vascularizarn a coluna e o funículo posterior da medula. raízes dos nervos espinais (Figura 4.3). As artérias radicula-
As artérias radicu/ares (Figura 4.3) derivam dos ramos res anl'eriores anastomosam-se com a espinal anterior, e as
espinais das artérias segmentares do pescoço e do tronco artérias radiculares posteriores com as espinais posteriores.

B - Barreiras encefálicas
- - - - .- .
;:f:J, (:J , . 1 • ,I
- - Membrana basal
~
---.
Barreiras encefàlicas são dispositivos que Impedem ou •
. .. :.; ...··•-~. ::·
t ..:..,:... : : : :.·:: ..... .
.

•.I•.
dificultam a passagem de substancias entre o sangue e o te- .. '. ' .. . '

cido nervoso (barreira hematoencefálica) ou entre o sangue


e o liquor (barreira hematoliquórica). O termo hematoence-
fdlica, embora seja unanimemente aceito, é impróprio, pois Junção
a barreira existe também na medula. oclusivo
A descoberta da barreira hematoencef~lica foi feita por
.
<
Paul Ehrlich, em 1883. Esse autor injetou no sangue de rato -. .
um corante vital, o azul-de-tripan, e verificou que todos os ·....
. . ..:
órgãos e as partes do corpo se coravam, com exceção do
encéfalo, indicando que o corante não atravessou a parede
dos capilares cerebrais.
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·,•.•,..
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......· .
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Pés vasculares ·..=.-:•: : · ":.~~-
Entretanto, quando o corante foi injetado no liquor,
dos o slrócitos
houve coloração do tecido nervoso cerebral. Verificou-se
também que a Injeção de toxina tetanica no liquor provo-
ca sintomas rnais graves do que quando uma dose dez ve-
zes maior é injetada no sangue. A importância fisiológica e Flgur118.14 Vaso capilar mostrand_
o as características doendo-
clínica dessas barreiras é multo grande, uma vez que elas télio na barreira hematoencefálica.
regulam a passagem, para o tecido nervoso, não só de subs-
tâncias a serem utilizadas pelos neurônios, mas também de
medicamentos e substâncias tóxicas. b) Não existem fenestrações (Figura 18,15), que são
pequenas áreas em que o endotélio se reduz a uma
,o,,tS:\íft«t,t 1arnwt~,.oooncm@Tunl1a1xn:mite ,.-- .
fina membrana multo permeável.
e) São raras as vesículas pinocitóticas. Nos demais en-
A localização anatômica da barreira hematoencefálica dotélios, elas são frequentes e vitais no transporte
está nos capilares do sistema nervoso central. de macromoléculas (Figura 18.15).
Este é formado pelo endotélio e por uma membrana
basal muito fina. Por fora, os pés vasculares dos astrócitos Membrana basal
formam uma camada quase completa em torno do capi- Célula
lar (Figura 18.14). Todos esses três elementos (endotélio, endotelial Fenestroçõo
do célula
membrana basal e astrócito) já foram considerados sede da endotelial
barreira hematoencefálica. Entretanto, sabe-se hoje que ela
está no endotélio, como foi demonstrado com a utilização
de peroxldase, proteína que pode ser visualizada ao micros-
cópio eletrônico. Verificou-se que, ao contrário dos capilares Fenestraçõo
do célula
das demais áreas do corpo (Figura 18.15), os quais deixam endoteliol
passar livremente a peroxidase, os capilares cerebrais (Figu-
ra 18.14) a retêm, impedindo a sua passagem mesmo para
o espaço entre o endotélio e a membrana basal. Os endoté-
lios dos capilares encefálicos apresentam três características
que os diferenciam dos endotélios dos demais capilares e
que se relacionam com o fenômeno de barreira: .. ......-~-... .9 ......
•6,0.•. • ••

a) As células endoteliais são unidas por junções oclusi- Vesícula pinocitótica


vas, que impedem a penetração de macromoléculas
(Figura 18.14). Essas junções não estão presentes
nos capilares em geral. Figura 18.15 Vaso capilar comum com endotélio fenestrado.

• Capitulo 18 Vascularila~~o do Slsttm.1 Nervoso Ctnlral eBarreiras Encefálicas 169


J. laGJi&{joanatômlca dã bãrreiiâfíemalolíquóriêã substâncias penetram facilmente no núcleo caudado e no
hipocampo, mas têm dificuldade de penetrar no restante
.:. c:Erreira hematoliquórica localiza-se nos plexos corioi-
do encéfalo. Isso mostra que certos agentes farmacológicos,
.:;-2~. 5eus capllares, no entanto, não participam do fenóme-
quando injetados no sangue, não agem em determinadas
no. Assim, quando se injeta peroxidase em um animal. ela
áreas do sistema nervoso porque não as atingem.
atravessa os capilares fenestrados dos plexos corioides, mas
Inicialmente os capilares que penetram no encéfalo
é barrada no nível da superfície do eprtélio ependimário vol-
têm fenestrações. Com o aumento da idade, substâncias
tada para a cavidade ventricular. O epitélio ependimário que
produzidas pelos pés dos astrócitos causam a perda dessas
reveste os plexos corioides. ao contrário dos demais epité-
fenestrações. Em razão disso, no feto e no recém-nascido,
lios ependimários, apresenta junções oclusivas que unem as
a barreira hematoencefállca é mais fraca e deixa passar um
células próximo à superfície ventricular e impedem a passa-
maior número de substâncias até que os capilares percam
gem de macromoléculas. constituindo a base anatômica da
por completo as fenestrações. Por isso as icterícias do re-
barreira hematoliquórica.
cém-nascido podem ser mais graves do que no adulto. Com
efeito, uma determinada concentração sanguínea de bilir-
4:~ Funçõés:dãs barreiras rubina, que no adulto não atravessa a barreira hematoen-
A principal função das barreiras é impedir a passagem cefálica, no recém-nascido pode atravessá-la, passando ao
de agentes tóxicos para o sistema nervoso central. como tecido nervoso, sobre o qual tem ação tóxica. Surge, assim,
venenos, toxinas, bilirrubina etc. Impedem também a passa- um quadro de icterícia com manrfestações neurológicas co-
gem de neurotransmissores encontrados no sangue, como nhecida como kernlcterus.
a adrenalína A adrenalína é lançada em grande quantida- Vários processos patológicos, como certas infecções e
de na circulação em certas situações emocionais e poderia traumatismos. podem causar·ruptura: mais ou menos com-
alterar o funcionamento do cérebro se não fosse barrada. pleta, da barreira hematoencefálica, que deixa passar subs-
Portanto, essas barreiras constituem um mecanismo de pro- tâncias que normalmente não passariam.
teção do encéfalo contra agentes que poderiam lesá-lo ou
alterar o seu funcionamento.
A palavra barreira pode indicar que ela tem apenas o Em algumas áreas do cérebro. a barreira hematoence-
papel de impedir a entrada de substâncias. quando desem-
fálica não existe. Em animais injetados com azul-de-tripan,
penha também a função de permitir a entrada de subs-
ao contrário das demais áreas do cérebro, elas se coram.
tàncias importantes para o funcionamento das células do
Nessas áreas, os endotélios são fenestrados e desprovidos
tecido nervoso, como glicose e aminoácidos. Asslm, a bar-
de junções oclusivas. Eles se distribuem em volta do Ili e IV
reira atua como um portão que barra a entrada de algumas
ventrículos e, por Isso, são denominados órgãos circunven-
subst3nclas e permite a entrada de outras.
triculares (Figura 18.16). 2 Do ponto de vista funcional, os
Diferentemente do que ocorre nos endotélios dos ca- órgãos circunventriculares podem ser receptores de sinais
pflares em geral. os endotélios dos capilares da barreira he- químicos do sangue ou relacionados, direta ou indireta-
matoencefálica utilizam-se de mecanismos especiais para a mente, com a secreção de hormônios.
passagem de glicose e aminoácidos através do citoplasma.
Essa passagem depende de moléculas transportadoras es-
pecíficas.1Há evidência de que a barreira hematofiquórica g!Andula pineal
também funciona como portão. utilízando essencialmente secretoresde
os mesmos mecanismos da barreira hematoencefálica para eminência média
hormônio
o transporte de substâncias.
neuro-hipófise

órgãos
circunventriculares
6rg3o subfomlclal
A permeabilidade da barreira hematoencefálica não é
a mesma em todas as áreas. Estudos sobre a penetração no ôrgão va5cular da l~n1ina
receptores
encéfalo de agentes farmacológicos marcados com isóto- terminal
pos radioativos mostraram que certas áreas concentram es- área postrema
ses agentes muito mais do que outras. Por exemplo. certas

A glAndula pineal localiza-se no epitálamo, secreta o


1 A m olécula transportadora d e glicose denominada GLUT 1 é co-
hormônio melatonina e será estudada no Capítulo 23.
dificada por um gene do cromossoma humano 1. A deflciéncla de
expressao da GlUT 1 resu lta en1 uma slndrome rara, na qual a di-
ficuldade no transporte de glicose gera um quadro d e epilepsia e
re111rdo mental. 2 Do latim circo = em volta de.

170 Neuroanatomla Funcional


A eminência média pertence ao hipotálamo e está vascular da lâmina terminal está situado nessa lâmina
envolvida no t ransporte de hormônios do hipotálamo no hipotálamo, próximo da parte anterior e ventral do Ili
para a adeno-hipófise. A neuro-hipófise é local de libera- ventrículo (Figura 18.16). Seus neurônios são sensíveis
ção de hormônios hipotalâmicos. Esses dois órgãos serão ao aumento da pressão osmótica do sangue, desenca-
estudados no Capítulo 21. O órgão subfornicial é uma pe- deando a sede e estimulando a secreção de hormônios
quena estrutura neuronal. situada no forame de Monro, antidiuréticos pelo hipotálamo. A área postrema fica lo-
abaixo do fórnice. Sua função foi descoberta recentemen- calizada na parte mais caudal do assoalho do IV ventrf·
te. Seus neurônios são sensfveis a baixas concentrações de culo (Figura 5.2). Essa área é sensível a sinais químicos
angiotensina 2, hormônio peptídlco que regula o volume veiculados no sangue, como o hormônio colecistocini-
de sangue circulante (volemia).3 As informações obtidas na, secretado pelo trato gastroíntestlnal. A informação
pelos neurônios do órgão subfornicial são levadas a áreas obtida é repassada ao hipotálamo para a regulação da
do hipotálamo que regulam a volemia. Entre elas, está o atividade gastrointestinal ou ao centro do vômito, que,
centro da sede no hipotálamo lateral que, sob estimu- em função da infor mação recebida, pode desencadear o
lo dos neurônios subforniciais, aumenta a sede. O órgão reflexo do vômito.

Órgão subforniciol

Glândula
pineal

Órgão vascular
da lâmina terminal

NeurCH1ipófise Eminência
Área poslremo
média

Figura 18.16 Localização dos órgãos circunventriculares no encéfalo.

3 A anglotenslna li resulta da ~tlvidade da enzima renina. secretada pelos


rins sobre o angiotensinogênio, proteína secrerada pelo trgado, resul·
t.indo na anglotensln.-i 1, logo hldrohs.1da para formar a angío1enslna li.

• Capitulo 1e Vascularila~áo do Sistema Nerwso Cmtral eBarreiras Encriáficas 171


..... -·
................ -~
-...........
. ·-······-···
---···--··

Considerações Anatomoclínicas sobre a Medula


e o Tronco Encefálico

Por tônus, entende-se o estado de relativa contração em


que se encontra permanentemente um músculo normal em
A correlação entre a localização anatômica de uma repouso. As alterações do tónuspodem ser de aumento (hiper-
lesão e o sintoma clínico observado é um dos proces- ronia). diminuição (hipotonia) ou ausência completa (aronio).
sos mais utilizados para se estabelecer o signHicado fun- Nas alterações da motricidade decorrentes de lesões
cional de uma área do sistema nervoso central (SNC). O do sistema nervoso, pode haver ausência (orreflexio), dimi-
conhecimento das correlações anatomoclfnicas é muito nuição (hiporreflexio) ou aumento (hiperreflexia) dos reflexos
importante para o médico, sobretudo para o neurologista, rnusculotendínosos, como, o reflexo patelar. Pode ainda ha-
interessado em estabelecer a localização precisa de uma ver o aparecimento de reflexos patológicos. Assim, quando
lesão, com base nos sintomas e sinais clínicos observados. se estimula a pele da região plantar, a resposta reflexa nor-
Embora o assunto seja objeto dos cursos de Neurologia, mal consiste na flexão plantar do hálux. Contudo, ern casos
julgamos que algumas noções devem ser dadas durante de lesão dos tratos corticospinais, ocorre flexão dorsal ou
o curso de Neuroanatomia, pois elas permitem'ào aluno extensão do hâlux (sinal de Babinsk1).
entender e, mais racionalmente, memorizar alguns dos Paralisias com hiporreflexia e hlpotonla são denomi-
aspectos mais relevantes da anatomia e fisiologia do SNC. nadas paralisias flócidos. Caracterizam a chamada síndrome
Neste capítulo, serão feitas algumas considerações anato- do neurônio motor inferior, que resulta de le.s_ão ,dQs eutô·
moclínicas sobre a medula e o tronco encefálico, à guisa nio rnotore~Oa coluna . te.rlo (ja rneç:lula ou dos núcleos
de exercício de raciocínio sobre fatos que já foram vistos. motores dos nervos cranianos e nervos periféricos. Nesses
Exatamente por ser essa a finalidade do estudo, não tive- casos, ocorre também, em pouco tempo, atrofia da muscu-
mos a pretensão de ele estar completo, certos de que o latura inervada por perda da ação trófica dos nervos sobre ,
estudo de algumas síndromes neurolôgicas dará as bases os músculos. Paralisias com hiper-reílexia e hipertonia são
para a compreensao de outras. denominadas paralisias espásticas. Ocorrem na sfndrome do
neurônio motor superior, em gue a lesão ocaliza-se nas c.eas
motoras do cór~ cerebral ou nas ias biotoras descenden-
1es, em especial no 1rato corticospl a_., Nesse caso, a atrofia
As lesões da medula e do tronco encefálico manifes- muscular é discreta, pois os músculos continuam inervados
tam-se principalmente por alterações de motricidade e de pelos neurônios motores inferiores. Há presença do sinal
sensibilidade. de Babinski e a presença de clónus. Essas síndrornes são de
grande importância clínica e serão estudadas com mais de-
2.1 Alterações da motriddade - Síndrome do neurônio talhes no Capítulo 30, item 6.
motor superior einferior
2.2 Alterações da sensibilidade
Podem ser da motricidade voluntária, do tónus ou dos
As principais alterações da sensibilidade são:
reílexos. A diminuição da força muscular denomina-se pore-
sio; a ausência total de força, Impossibilitando o movimento, a) Anestesia - desaparecimento total de urna ou mais
paralisia (ou plegia). Quando esses sintomas atingem todo modalidades de sensibilidade após estimulação ade-
urn lado do corpo, ternos herniparesia e hernlpfeglo. quada. O lermo é ernpregado corn n,ais frequência
para a perda da sensibilidade tátil, reservando-se disfagia e disartria. Os principais exames para diagnóstico
o termo analgesia para a perda de sensibilidade são a eletroneuromiografia e a ressonância magnética do
dolorosa. neuroelxo. A evolução é sempre para o óbito, geralmente
b) Hipoestesia - diminuição da sensibilidade. em poucos anos. O tratamento é sintomático visando à
c) Hiperestesia- aumento da sensibilídade. melhora da qualidade de vida. Novas drogas estão sendo
d) Parescesia - aparecimento, sem estimulação, de sen- constantemente pesquisadas objetivando prevenir ou
sações espontAneas e mal definidas, por exemplo, o reduzir a degeneração neuronal. Algumas delas já estão
·formigamento~ em uso. com efeito modesto no aumento da sobrevida
e) Algias - dores, em geral. do paciente.

3.1.3 Atrofia muscular espinhal -AME


3~ lesõesdá-meaula A atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença de-
A cada ano, milhares de pessoas no mundo sofrem le- generativa hereditária autossômica recessiva, caracterizada
sões na medula espinal, que geram incapacidade perma- pela perda do neurônio motor do corno anterior da medula
nente sensorial e motora, assim como perda do controle e dos núcleos dos nervos cranianos. As formas mais graves
voluntário das funções vesical e intestinal. Diante da suspei- tipos 1 e 2 iniciam-se nos primeiros meses de vida, com fra-
ta de uma lesão medular, é importante distinguir se os sinto- queza muscular, com predomínio proximal evoluindo para
mas realmente resultam de lesões da medula ou das raízes fraqueza generalizada, dlsfagla e dificuldade respiratória
nervosas. QuandQ.a lesão_qçorr a íze rais, guinais que leva ao óbito. A AME é causada por uma mutação no
motores Incluem fraqueza. atrofia e perda de reflexos no~ gene produtor da proteína SMN (survival motor neuron), que
úsculos 'ne a os Rei raiz. Qua o são esa as as a zes permite a sobrevivência e o bom funcionamento do neurô-
dorsais, haverá perda total de sensibilidade no dermátomo nio motor inferior. A ausência da proteína provoca a morte
correspondente ã raiz lesada A Identificação dos locais das desses neurónios. Até recentemente, o tratamento era palia-
lesões radiculares pode ser feita com base nos mapas de tivo, quando foi aprovada uma droga que supre a deficiên-
dermátomos e de território de inervação radicular (Rguras cia da proteína SMN e estabiliza a evolução da doença. Foi
9,10 e 9.11 ). também aprovada a terapia gênlca, que Introduz, por meio
de vetor. o gene faltante. De altíssimo custo, o tratamento
3.1 Lesões da coluna anterior iniciado precocemente é uma esperança de cura ou estabi-
3.1.1 Pollom ietl te lização definitiva da doença.
Na políomlelite (paralisia infantil), o vírus destrói especi- 3.2 lesões da coluna posterior
ficamente os neuro_mosJ11otores d~a coluna anterio~. Nesse
caso, ocorre uma síndrome do neurônio motor inferior, ou
- -.
3.2.1 Tabes dorso/is
seja, paralisia flácida nos músculos correspondentes à área Na cabes dorsalis, consequência da neurossífills, ocorre
da medula que foi lesada, seguida, depois de algum tem- lesão das raízes dorsais, sobretudo da divisão medial dessas
po, de hipotrofia desses músculos. Podem ocorrer enormes raízes. Como essa divisão contém as fibras que formam os
deformidades por ação de grupos musculares cujos anta- fascículos grácil e cuneiforme, estes são também destruídos.
gonistas foram paralisados. Quando a destruição ocorre nos Como consequência, temos perdas das funções desses fas-
neurônios responsáveis pelos movimentos respiratórios, cículos. já descritas no Capítulo 13 (item 4.3.2.1) e que são
pode haver morte por insuficiência respiratória. as seguintes:
a) Perda da propriocepç_ão consciente - na prática, isso
3.1.2 Esclerose lateral amiotrófica
se manifesta por perda da cinestesia, ou seja. do
Doença degenerativa que acomete, em média, 1 a sentido de posição e de movimento.
cada 50 mil pessoas no mundo, e é caracterizada pela b) Perda do tato epicritico- em virtude da qual o Indivi-
paralisia progressiva da motricidade voluntária por lesão duo perde a discriminação tátil.
dos neurônios motores superiores e Inferiores. ficando
c) Perda do sensibilidade vibratória (hipopalesresia) e da
mantida a sensibilidade. A causa não está totalmente es-
estereognosia.
clarecida. Existem formas genéticas e as relacionadas a
fatores ambientais. Entre as causas ambientais, estao fa- Com o progredir das lesões. pode haver destruições
tores dietéticos, relação com padrão de atividade física, maiores das raízes dorsais, com comprometimento de ou-
tabagismo. infecções. traumas. exposição a toxinas e toxi- tras formas de sensibilidade e perda de alguns reflexos,
cidade do glutamato (principal neurotransmissor excita- cujas fibras aferentes foram destruídas.
tório do SNC). Inicia-se predominantemente entre 55 e 65 O diagnóstico diferencial deve ser feito com outras cau-
anos. O quadro clínico Inclui sintomas de lesão do neurô- sas de ataxias sensitivas, como compressão do funículo pos-
nio motor superior, com hipertonla, aumento de reflexos terior da medula, formas atípicas de neuropatia inflamatória
e aparecimento do sinal de Babinski; e neurônio motor desmielinizante, neuropatias carenciais e autoimunes, com
inferior, com fraqueza, atrofias, fasciculaçôes musculares, comprometimento preferencial de fibras sensitivas.

174 Neuroanatomla Funcional


3.3 Hemlssecção da medula 3.3.2 Sintomas que se manifestam do lado oposto ao lesado
A hemissecção da medula produz no homem um con- (tratos cruzados)
junto de sinais e sintomas conhecido como síndrome de
a) Perda da sensibilidade térmica e dolorosa a partir
Brown-Séquard (Figura 19.1 ). Os sintomas mais caracterís-
de um ou dois dermátomos abaixo do nível da le-
ticos resultam da interrupção dos principais tratos, que per-
são, ern consequência da interrupção das fibras do
correm uma metade da medula. Os sintomas resultantes da trato espinotalâmico lateral (Figura 19.1 B).
secção dos tratos que não se cruzam na medula aparecem
b) Ligeira diminuição do tato protopático e da pres-
do mesmo lado da lesão. Já os sintomas resultantes da lesão
são, por comprometimento do trato espinotalã-
de tratos que se cruzam na medula manifestam-se no lado
mlco anterior. Esse comprometimento, em geral,
oposto ao lesado. Todos os sintomas surgem abaixo do nível é pequeno, porque as fibras da raiz dorsal. que
da lesão. Assim, temos:
levam essa modalidade de sensibilidade, dão
ramos ascendentes muito grandes, que emitem
3.3.1 Sintomas que se manifestam do mesmo lado da lesão colaterais em várias alturas antes de fazer sinapse
(tratos não cruzados na medula) na coluna posterior e cruzar para o lado oposto
(Figura 19.1 C).
a) Síndrome do neurônio motor superior, ou seja, pa-
ralisia espástica, com aparecimento do sinal de Ba-
3.4 Lesões medulares centrais
blnski, em vin:ude da interrupção das fibras do trato
corticospinal lateral. 3.4.1 Siringomielía
b) Perda da proprlocepção con5ciente e do tato epi- Trata-se de uma doença na qual há formação de uma
crítico, em virtude da interrupção das fibras dos fas- cavidade no canal central da medula (Figura 19.2), resul-
cículos grácil e cuneiforme (Figura 19.1 A). tando na destruição da substãncia cinzenta intermédia

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1 1
1
1
1

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1

Figura 1,.1 Esquema mostrando a consequência da interrupção unilateral à esquerda, das principais vias ascendentes da medula, como
ocorre na síndrome de Brov,n-Séquard. As áreas escura5 indicam as regiões comprometidas pelas lesões do fascículo grácil (A) ou do trato
espinotalámico lateral (B). o esquema C mostra por que a lcsáo do trato espinotal~mlco anterior não causa sintomatologia acentuada.
Fonte: Modificada de Gatz AJ. Oinicol Neuroonatomy and NeurophysiO/ogy. Phlladelphla: Davis, 1988.

• Capitulo 19 Considerações Anatomocllnkas sobre aMedula e oTronco Encefálico 17S

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central e da comissura branca. Essa destruição interrompe exagerados e surge o sinal de 13abinski. A eliminaçflo de
as fibras que formam os dois tratos espinotalAmlcos late- urina e fezes pasx1 a ser feita reflexamente, ou seja. sem
rais, quando eles cruzam ventralmente ao canal central (Fi- controle voluntário. A ereção só é passivei com estimula-
guras 29.1 e 29.2). Ocorre, assim, perda de sensibilidade ção nianual.
térmica e dolorosa de ambos os lados, em uma área que
corresponde aos dermátomos relacionados com as fibras 3.6 Compressão da medula
lesadas. Contudo. nessas áreas não há perturbação da pro- Ocorre, com maior frequência, em casos de câncer. Um
priocepção, sendo mínima a deficiência tátil. A persistência tumor que se desenvolve no canal vertebral pode, pouco a
da propriocepção explica-se pelo fato de a lesão não atin- pouco, comprimir a medula de fora para den!ro. resultando
gir as fibras do funículo posterior (fascfculos grácil e cunei- em uma sintomatologia variável, conforme a posição do tu-
forme). A persistência da sensibilidade tátil quase normal mor. Inicialmente, podem aparecer dores em determinados
origina-se do fato de que os in1pulsos táteis seguem. em dermátomos, que correspondem às rafzes dorsais compro·
grande parte, pelos fascículos grácil e cuneiforme (tato metidas. Com o progredir da doença, surgem sintomas de
epicrítlco), que não são comorometldos. Mesmo as libras comprometimento de tratos medulares.
que seguem pelos tratos espinotalêmlcos anteriores são, Um tumor que se desenvolve no interior da medula
em parte, poupadas pelas razões vistas no Item anterior co prJrne-a de é:len1Lo parª !fila, çau.~anda p rturbaç~
(item 33.2b e Figura 19.lC). A perda da sensibilidade tér- motoras po~Lesão tio tiato corticospioâl [aterai. Há também
mica e dolorosa. com persistência da sensibilidade tátil e perda aa se11sibi1Lciade érmica .~olor:.osa_. por compressão
proprioceptiva, é denominada dissociação senslciva. do trato espinotalâmico lateral. Interessante assinalar que
esse sintoma aparece, inicialrnente, nos dermátomos mais
3.5 Transecção da medula próximos do nível da lesão, progredindo para dermátomos
Logo após um traumatismo que resulte na secção cada vez mais baixos, em geral poupando os dermátomos
completa da medula, o paciente entra em estado de cho- sacrals. É o que os neurologistas conhecem como ~iêia-
que medular. Essa condição (que nada tem a ver com o a_Q2J fuaâj Isso resulta do fato de que as fibras originadas
choque por perda de sangue) caracteriza-se pela absoluta nos segmentos sacrals da medula se dispõem lateralmen-
perda da sensibilidade, dos movimentos e do tônus nos te no trato espinotalàmlco lateral, enquanto as originadas
músculos inervados pelos segmentos medulares situa- em segmentos progressivamente mais altos ocupam po-
dos abaixo da lesão. Há, ainda, retenção de urina e fezes sição cada vez mais medial, neste trato. Entende-se. pois.
e perda da função erétil. Contudo, após um período va-
riável, reaparecem os movirnentos reflexos. que se tornam -
que, quando um Lumor comprime a medula de fora para
dentro, as fibras originadas nos segmentos sacrais são le-
sadas er,1 primeiro lugar. Quando o tumor comprime de
dentro para fora, essas fibras são lesadas por último ou são
preservadas.

3.7 Cordotomias
3.7.1 Cordotomla lateral
Em casos de dor resistente aos medicamentos, resultan-
te principalmente de tumores malignos, pode-se recorrer à
cordotomia. O processo consiste na secção cirúrgica do trato
espinotal~mlco lateral, acima e do lado oposto ao processo
doloroso. Nesse caso, haverá perda da dor e de temperatura
do lado oposto, a partir de um dermátomo abaixo do nível
da secção. En1 caso de tratamento de dores viscerais, é im-
prescindível a cirurgia bílateral, em vista do grande número
de fibras não cruzadas, relacionadas com a transmissão des-
se tipo de dor.

3.7.2 Mielotomia da linha média


Utilizada em caso de tratamento de dores viscerais ln-
tratáveis de origem oncológica, consiste na lesão das fibras
Rgura 19.2 Ressonánda magnética da coluna vertebral em corte responsáveis pela dor visceral de origem pélvica e abdomi-
sagital mostrando a dilatação do canal central da medula em um nal, que se localizam em um pequeno fascículo medial ao
paciente com siringomielia. fascículo grácil e podem ser abordadas cirurgicamente pelo
Fon!e: Cortesia do o,. 11,1arco Antônio Rodacki. sulco mediano posterior da medula.

176 Hturoanatomla Funcional


c) Lesão do craro espinoralâmico /01erol - perda de sen-
sibilidade térmica e dolorosa na metade do corpo
4.1 Lesão da base do bulbo situada do lado oposto ao da lesao.
Estas lesões, em geral, comprometem a pirâmide e o d) Lesão do núcleo ambíguo - perturbações da deglu-
nervo hipoglosso (Figura 19.3). A lesão da pirâmide com- tição (dlsfagia) e da fonação (disfonia) por paralisia
promete o trato corticospinal e, como este se cruza abaixo dos músculos da faringe e da laringe.
do nível da lesão. causa hemiparesia do lado oposto ao
Pode aparecer uma síndrome de Horner (Capítulo 12,
lesado. Quando a lesão se estende dorsalmente, atingin-
item 1.4 e Figura 19.15) por lesão das vias descendentes
do os demais tratos molores descendentes, o quadro é de
que, do hipotálamo, dirigem-se aos neurônios pré-ganglio-
hemiplegia. A lesão do hipoglosso causa paralisia dos mús-
nares relacionados com a Inervação da pupila.
culos da metade da língua situada do lado lesado, com si-
nais de síndrome de neurônio motor inferior, que, no caso,
se manifesta principalmente por atrofia desses músculos.
Como a musculatura de uma das metades da língua está S.1 Lesões do nervo facial
paralisada, quando o doente faz a protrusão da llngua, a O nervo faclal origina-se de seu núcleo situado na pon-
musculatura do lado normal desvia a língua para o lado te, emerge da lateral do sulco bulbopontino, penetra no
lesado. Assim, nas lesões dos núcleos dos nervos cranianos osso temporal pelo meato acústico interno e emerge do
ou sua porção lnfranuclear ocorrerá uma síndrome alterna. cranio pelo forame estilomastóideo, para se distribuir aos
Haverá uma síndrome motora ou sensitiva deficitária do músculos mímicos. Lesões do nervo, em qualquer parte
lado oposto, enquanto a sintomatologia do nervo acome- desse trajelo, resultam em paralisia total dos músculos da
tido será ipsilateral. expressão fadal na metade lesada. Esses músculos perdem
o tônus, tornando-se flácidos e, como isso ocorre com o
4.2 Síndrome da artéria cerebelarInferior posterior
músculo bucinador, há, frequentemente, vazamento desa-
(Síndrome de Wallenberg)
liva pelo ângulo da boca do lado lesado. Como a musculatu-
A artéria cerebelar inferior posterior, ramo da vertebral, ra do lado oposto está normal, resulta desvio da comissura
irriga a parte dorsolateral do bulbo. Tromboses dessa artéria labial para o lado normal, particularmente evidente quando
comprometem várias estruturas, resultando em sintomato- o indivíduo sorri. Há também paralisia do músculo orbicu-
logia complexa, descrita a seguir (Figura 19.3):
laris oculi, cuja por~o palpebral permite o fechamento da
a) Lesão do pedúnculo cerebelar inferior - incoordena- pálpebra. Como o músculo elevador da pálpebra (inervado
ção de movimentos na metade do corpo situada pelo oculomotor) está normal, a pálpebra permanece aber-
do lado lesado. ta, predispondo o olho a lesões e iníecções, uma vez que o
b) Lesão do rrato espinal do trig~meo eseu núcleo - per- reílexo corneano está abolido. Entende-se, também, porque
da da sensibilidade térmica e dolorosa na metade o paciente não consegue soprar, assoviar, peslanejar e nem
da face situada do lado da lesão. enrugar o lado correspondente da testa.

Pedünculo cerebelor inferior ... ....


....... ....
Trato espinal do nervo trigémeo ..._

Núcleo do trato espinal - - - -


do nervo trigemeo ,.,.,.,.
Trato espinocerebelar _,.,.,,,. ,.e-;~ . :: _::-·
posterior ,,, '\
\ ..
,.,. / . ll:"1. '.,.;;..
.,, ,,,,✓
Trato espinocerebelor anterior
\
'------Nervo vogo
Traio espinotolômico lateral / 11
I
I
I -.. ........ ~-- - - - - -- Nervo hlpoglosso
Núdeo ambíguo-- ---' ............
,, Pirâmide (troto corticospinol)

Figura 19.3 Esquema de uma secção transversal do bulbo mostrando, do lado esquerdo. as estruturas comprometidas na sindrorne da
artéria cerebelar Inferior posterior (síndrome de Wallenberg), do lado direito. uma lesão de base do bulbo comprometendo a pir~mide e a
emergência do nervo hipoglosso.

• Capítulo 19 Considerações Anatomocllnicas sobre a ~ula eoTronco Enceijllco 177


O tipo de paralisia descrito é denominado paralisia Isso se explica pelo fato de as fibras corticonucleares.
facial periférica e deve ser distinguido das paralisias faciais que vão para os neurónios motores do núcleo do
centrais ou supranucleares. resultantes de lesões do trato facial que inervam os músculos da metade supe-
corticonuclear. As diferenças entre esses dois tipos de para- rior da face, serem homo- e heterolaterais. ou seja,
lisia são mostradas na Figura 19.4 e descritas a seguir: terminam no núcleo do seu próprio lado e no do
a) As paralisias periféricas são homolaterals. ou seja, ocor- lado oposto. Já as fibras que controlam os neurônios
rem do mesmo lado da lesão. As paralisias centrais motores para a metade inferior da face são todas
ocorrem do lado oposto ao da lesão, ou seja, são heterolaterais. Desse modo, quando há urna lesão
contralaterais. do trato corticonuclear de um lado, há completa
b) As paralisias periféricas acometem uma metade toda paralisia da musculatura mímica da metade inferior
da face; as centrais manifestam-se apenas nos mús- da face do lado oposto, mas na metade superior os
culos da metade inferior da face, poupando os mús- movimentos são mantidos pelas fibras homolaterais,
culos da metade superior, como o orbicularis oculi. que permanecem intactas (Figura 19.4).

Lesão do troto corticonucleor


(neurónio motor luperior)

., -~ ..
.-......

\ ''
\
\ ''
\ '

Núcleo do
nervo facial

\
\
\
\

Le$ào do nérvo facial


(neurônio motor Inferior) ~--,.~

PARALISIA
PERIFÉRICA

Figura 19A Esquema mostrando as diferenças entre as paralisias fadais centrais e periféricas. As áreas pontilhadas indicam os territórios da
face onde se verificam paralisias após lesão do trato corticonuclear ou do próprio nervo facial.

178 Neuroanatomia Funcional


c) As paralisias periféricas são totais. Nas paralisias dos dois olhos deixam de ser conjugados. Por isso, os raios
centrais, entretanto. pode haver contração involun- luminosos provenientes de um determinado objeto inci-
tária da musculatura mímica como manifestação dem em partes nào simétricas das retinas dos dois olhos,
emocional. Assim. o indivíduo pode contrair a mus- por exemplo, na mácula do olho normal e em um ponto
culatura mímica do lado paralisado quando ri ou situado ao lado da mácula. no olho afetado. É por isso que
chora, embora não possa fazé-lo voluntariamente. o individuo vê duas Imagens no objeto, fenômeno denomi-
Isso se explica pelo fato de que os impulsos que nado diplopia. Além disso, nas lesões do nervo abducente,
chegam ao núcleo do facial. para iniciar movimen- há desvio do bulbo ocular em direção rnedial (esrrablsmo
tos decorrentes de manifestações emocionais. não convergente) por ação do músculo relo medial não con-
trabalançada pelo reto lateral. Quando a lesão da base da
seguem pelo trato corticonuclear.
ponte se estende lateralmente, compromete as fibras do
Convém assinalar, ainda. que as lesões do nervo facial. nervo facial (Figura 19.5) e, ao quadro clínico já descrito.
em seu trajeto no canal facial. antes de sua emergência do acrescentam-se sinais de lesão do nervo facial, caracterizan-
forame estilomastóideo. estao, em geral, associadas a lesões do a síndrome de Mlllard-Gubler.
do VIII par e do nervo intermédio. Nesse caso, além dos sin-
tomas já vistos, há perda de sensibilidade gustativa nos dois S.3 Lesão da ponte ao nível da emergência do nervo
terços anteriores da língua (lesão do intermédio). alterações
trlgêmeo
do equilíbrio, enjoo e tontura, decorrentes da lesão da parte
vestibular do Vlll par. e diminuição da audição, por compro- Lesões da base da ponte podem comprometer o trato
metimento da parte coclear desse nervo. As lesões do nú- corticospinal e as fibras do nervo trigémeo (Figura 19.6),
determinando um quadro de hemiplegla cruzada com le-
cleo do nervo facial na ponte causam sintomas de paralisia
são do trigêmeo. A lesão do trato corticospinal causa hemi-
periférica. Neste caso, porém, provavelmente haveria com-
plegla do lado oposto. com síndrome do neurõnio motor
prometimento de outras estruturas da ponte sobretudo do
superior. A lesão do rrlgfmeo causa as seguintes perturba-
núcleo do abducente.
ções motoras e sensitivas do mesmo lado:
S.2 Lesão da base da ponte a) Perturbações motoras - lesão do componente mo-
(Sfndrome de Millard-Gubler} tor do trigémeo causa paralisia da musculatura
mastigadora do lado da lesão. Por ação dos mús-
Uma lesão situada na base da ponte, comprometendo culos pterigóideos do lado norrnal, há desvio da
o trato cortlcospinal e as fibras do nervo abducente (Figu- mandíbula para o lado paralisado.
ra 19.5), resulta no quadro denominado hemiplegia cruza- b) Perrurbaçôes sensitívas - ocorre anestesia da face
da. com les~o do abducente. A lesão do trato corticosplnal do mesmo lado da lesão. no território correspon-
resulta em hemiparesia do lado oposto ao lesado. A lesão dente aos três ramos do trigémeo. Perda do reílexo
do nervo abducente causa paralisia do músculo reto lateral corneano.
do mesmo lado da lesão, o que impede o movimento do A lesão pode se estender ao lemnisco medial. determi-
olho em direção lateral (abdução), (figura 19.11 ). Como o nando a perda da propriocepção consciente e do tato epi-
olho não afetado move-se normalmente, os movimentos crftico do lado oposto ao lesado.

~ ..•-"::
:•, '•
- -- Pedúnculo cerebelor médio
-..-. :-... . ... ··:•..
..
.

-~-- :: ..,.
....
·:- :::--::,·::.r. :::.
.
- ..... ::.:...
.•-:::
-··•-::::::::
'
'

- - - - - Nervo facial
'

Figura 19.5 Esquema de uma secção transversal da ponte mostrando as estruturas comprometidas em uma lesão de sua base ao nível do
colículo facial (síndrome de Millard-Gubler).

• Capitulo 19 Considerações Anatomodinicas sobr! a Medula eoTronco Encefálico 179


Núcleo sensitivo principol do
nervo trigêmeo

Núcleo motor do
nervo trigêmeo

.,,, - - Nervo trigêmeo


./
/

Base da ponte - - - - -

-- Trolo corticospinal

Figura 19.6 Esquema de uma secção transversal da ponte mostrando as estruturas comprometidas em uma lesão de sua base ao nível da
origem aparente do nervo trigémeo.

5,4 Lesão extensa da ponte - Síndrome


de encarceramento
6. 1 Lesões da base do pedúnculo cerebral
A síndrome do encarceramento, ou locked in syndrome, (Síndrome de Weber)
ocorre nas lesões extensas da ponte decorrentes de aci·
dentes vasculares encefálicos (AVE), tumores ou doenças Uma lesão da base do pedúnculo cerebral (Figura 19.8)
degenerativas. A lesão interrompe os tratos corticospinal e geralmente compromete o trato corticospinal e as fibras do
corticonuclear sem atingir a formação reticular do mesen· nervo oculomotor. A lesão do trato cortlcospinal, como já foi
visto, determina hemiparesia do lado oposto. Da lesão do nervo
céfalo. O paciente desenvolve tetraplegia, anartria, disfagia,
oculomoror, resultam os seguintes sintomas no lado da lesão:
mantendo a consciéncia e o ritmo normal de sono e vigf-
lia. Há a preservação do movimento conjugado ocular para a) Impossibilidade de mover o bulbo ocular para
cima e plscamento que se tornarão a única forma de comu· cima, para baixo ou ern direção medial, por paralisia
nlcação do paciente, (Figura 19.7). dos músculos retos superior, inferior e medial.
b) Diplopia (veja explicação no irem 5.2).
....... • .•. . .
.q •
e) Desvio do bulbo ocular em direção lateral (estra·
bismo divergenre), por ação do músculo reto lateral
não contrabalançada pelo medial, (Figura 19.9).
d) Ptose palpebral (queda da pálpebra), decorrente da
paralisia do músculo levantador da pálpebra, o que
impossibilita também a abertura voluntária da pál·
pebra, (Figural 9.9).
e) Dilatação da pupila (midrlase) por ação do músculo
dilatador da pupila (Inervado pelo sistema nervo·
so simpático), não antagonizada pelo constritor da
pupila, cuja inervação parassimpática foi lesada.

6.2 Lesão do tegmento do mesencéfalo (Síndrome


de Benedikt)
A lesão no tegmento do mesencéfalo (Figura 19.8) com·
promete o nervo oculomotor, o núcleo rubro e os lemníscos
medial,espinal e trigeminai, resultando nos seguintes sintomas:
a) Lesão do oculomotor - já estudada no item anterior.
b) Lesão dos lemniscos medial, espinal e rrigeminol -
Figura 19.7 Tumor extenso da ponte. anestesia da metade oposta do corpo, inclusive da

180 Neuroanatomia Funcional


lemnisco espinal
[tratos espinotol6mico lateral ,
e anterior) ,

'' ....·.·.·.
...
............... '
...............
...·.·.·.·.·.
lemnisco medial _ ......
........
,•,:-·
.,,.. ,,,,. Substância negro
....
..·.·.·.·.·
...............
,,, .,,..
N úcleo rubro - - - . . .. .............:.. ~ Tratos corticospinol
·....·.·... ,,. e corticonucleor
. •.• . ..·.·

N ervo oculomotor _ _ _
- - -- - - -
"--- Fibras do nervo ocvlomotor

Figura 19.B Esquerna de urna secção transversal do mesencéfalo ao nível dos collcu!os superiores mostrando as estruturas comprometidas na
síndrome de Weber (lado direito) e na síndrome de Benedikt (lado esquerdo).

cabeça, esta última causada por lesão do lemnisco rior e a área pré-·tectal, causando paralisia do olhar conju-
trigeminai. gado para cima, além da ausência de reação pupilar à luz. A
c) Lesão do núcleo rubro - tremores e movimentos miose associada ao reílexo de convergência-acomodação
anormais do lado oposto à lesão. permanece caracterizando a dissociação luz-perto (Figura
19.14). Com a evolução, a compressão pode causar oclu-
6.3 Síndrome de Parinaud são do aqueduto, com hidrocefalia e paralisia ocular decor-
Em geral, é decorrente de tumores da glandula pineal rentes da compressão dos núcleos dos nervos oculomotor
ou do mesencéfalo dorsal, que comprime o colículo supe- e rroclear.
..

• Capitulo 19 Considerações Anatomodlnlcas sobre a Medula e oTl'Oll(o Encriálico 181


:7~i •. Senüofogl~.d~ oftafmoplégias

Figura 19.13 Desvio conjugado do olhar lateral para a direi-


ta. Neste caso, a lesão ocorreu no nível cortical na área motora
ocular frontal direita localizada. O desvio ocorre para o lado da
lesão.

Figura 19.9 Paralisia do nervo oculomotor direito. Ptose palpebral,


• estrabismo divergente com perda da adução do olho e midriase.
t li\
• •

-
Figura 19.14 Síndrome de Parinaud causada pela compressão do
..1 mesencéfalo dorsal. Observa-se paralisia do olhar conjugado para
cima.
Figura 19.10 Paralisia do nervo troclear esquerdo. Em posição de
repouso, o olho apresenta desvio para cima

..
Figura 19.15 Síndrome de Horner à direita com semiptose pa1pe-
Figura 19.11 Paralisia do nervo abducente à esquerda. Perda da bral. anisocoria com pupila menor à direita.
abdução do olho acometido.

. "

Figura 19.16 Perda visual grave em ambos os olhos, ausência


do reflexo fotomotor bilateral. Neste caso, haverá a preservação
da resposta pupilar no reflexo de convergência e acomodação.

Figura 19.12 Oítalmoplegia internuclear pelo acometimento do


fascículo longitudinal medial no tronco enceíá'ico bilateral. Há li- Figura 19. 17 Mlastenla gravis ocular com semlptose palpebral
mitação da adução do olho lpsilateral a lesão ao olhar conjugado bilateral.
horizontal. Há preservação da adução na convergenda mediada
no tecto mesenceíálico.

182 Neuroanatomia Funcional


Formação Reticular - Sistemas Modulatórios
de Projeção Difusa

A - Formação reticular
o núcleo mogno da rafe, que se dispõe ao longo da
linha mediana (rafe mediana) em toda a extensão
Denomina-se formaçôo reticular uma agregação mais
do tronco encefálico. Os núcleos da rafe contêm
ou menos difusa de neurônios de tamanhos e tipos diferen-
neurônios ricos em serotonina.
tes, separados por uma rede de fibras nervosas que ocupa a
b) Locus ceruleus - na área de mesmo nome, no assoa-
parte central do tronco encefálico. A formação reticular tem,
lho do IV ventríçulo (Figura S,2), esse núcleo apre-
pois, uma estrutura que não corresponde exatamente à da
senta neurônios ricos em noradrenalina.
substancia branca ou cinzenta, sendo. de certo modo. inter-
mediária entre elas. Trata-se de uma região muito antiga do e) Area regmentar ventral - situada na parte ventral do
tegmento do mesencéfalo, mediaimente à substân-
sistema nervoso, que, embora pertencendo basicamente ao
cia negra, contém neurónios ricos em dopamina.
tronco encefálico. se estende um pouco ao diencéfalo e aos
nfvels mais altos da medula, onde ocupa uma pequena área '<• 'p 1
do funículo lateral. No tronco encefálico, ocupa uma grande ao n t •

área, preenchendo todo o espaço que não é preenchido pe- A formação reticular apresenta conexões amplas e va-
los tratos, fascículos e núcleos de estrutura mais compacta. riadas. Além de receber impulsos que entram pelos nervos
Um aspecto interessante, mostrado com técnicas de cranianos. ela mantém relações nos dois sentidos com o cé-
lmpregnaçào metálica, é que muitos neurónios da forma- rebro, o cerebelo e a medula, como será visto a seguir:
ção reticular têm axônios muito grandes que se bifurcam a) Conexões com o cérebro - a formação reticular pro-
dando um ramo ascendente e outro descendente, os quais jeta fibras para todo o córtelC cerebral, por via talã-
se estendem ao longo de todo o tronco encefálico, poden- mica e extratalâmica. Projeta-se também para áreas
do atingir a medula, o diencéfalo e o telencéfalo. do diencéfalo. Todavia, várias áreas do córtex cere-
A formação reticular não é uma estrutura homogênea, bral, do hipotálamo e do sistema límbico enviam
tanto em relação à sua cltoarquitetura como do ponto de fibras descendentes à formação reticular.
vista bioquímico. Apresenta grupos mais ou menos bem b) Conexões com o cerebelo-existem conexões nos dois
definidos de neurónios, com diferentes tipos de neurotrans- sentidos entre o cerebelo e a formação reticular.
missores, destacando-se as monoaminas, que são: noradre-
c) Conexões com a medula - dois grupos principais de
nalina; serotonina; dopamina. Esses grupos de neurônios
fibras ligam a formação reticular à medula, as fibras ,
constituem os núcleos da formação reticular com funções
rafesplnals e as fibras que constituem os tratos reri-
distintas. Ent1e eles. destacam-se os seguintes:
culosplnais. Entretanto. a formação reticular recebe
a) Núcleos da rafe - trata-se de urr1 conjunto de nove informações provenientes da medula através das
núcleos. entre os quais um dos mais importantes é fibras espinorretlcu/ares.
:: : : ,. e ,ões com núcleos dos nervos cranianos - os 3.1 Controle da atividade elétrica cortical -
i'Tlpulsos nervosos que entram pelos nervos cra- ddo vigília-sono
nianos sensitivos ganham a formação reticular
3.1.1 Aatividade elétrica cerebral e oeletroencefalograma
por meio das fibras que a ela se dirigem, a par-
tir dos seus núcleos. Há evidência de que infor- O córtex cerebral tem uma atividade elétrica espon-
mações visuais e olfatórias também ganham a tãnea, que determina os vâ~ios níveis de consciência. Essa
formação reticular por intermédio das conexões atividade pode ser detectada colocando-se eletrodos na
tet orreticulares e do feixe prosencefálico medial. superfície do crânio (eletroencefalograma, EEG). Os traça-
dos elétricos que se obtêm de um indivíduo ou de um ani-
3:;;.; Funções da for,nFffiíli[(flfli mal dormindo (traçados de sono) são muito diferentes dos
, a m rr
obtidos de um indivíduo ou animal acordado (traçados de
Embora simplificada, a análise das conexões da forma- vigília). Em vigília, o traçado elétrico é uniforme e dessincro-
ção reticular feita no item anterior mostra que estas são nizado, isto é, apresenta ondas de baixa amplitude e alta fre-
extremamente amplas. Isso nos permite concluir que a for- quência (Figura 20.1 A). Durante o sono, denominado sono
mação reticular influencia quase todos os setores do SNC, de ondas lentas ou sono não REM. o traçado é sincronizado,
o que é coerente com o grande número de funções que com ondas lentas e de grande amplírude (Figura 20.1 B). O
lhe têm sido atribuídas. Procurando acentuar as áreas e as sono é dividido entre sono REM e sono não REM. Este último
conexões envolvidas, estudaremos a seguir suas principais divide-se em três fases: as mais superficiais, N1, N2; e a mais
funções, distribuídas nos seguintes tópicos: profunda, N3. O sono REM aparece após um ciclo de sono
não REM. São quatro a cinco ciclos por noite. Na fase REM, o
a) controle da atividade elétrica cortical - ciclo vigllia-
eletroencefalograma mostra um traçado semelhante ao de
·sono;
vigília, apesar de a pessoa estar dormindo e com profundo
b) controle eferente da sensibílidade e da dor;
relaxamento muscular. Por isso, essa fase do sono é denomi-
c) controle da motricidade somática e postura; nada sono paradoxal. Durante essa fase, os olhos se movem
d) controle do sistema nervoso autônomo; rapidamente, por isso a denominação REM (rapid eye move-
e) controle neuroendócrlno; menl) (Figura 20.1C). Assim, o eletroencefalograma, além
f) integração de reflexos - centro respiratório e vaso- de ter uso clínico para o estudo da atividade cortical no
motor. homem, permite pesquisas sobre sono e vigília em animais.

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vam-se atividade nos eletrodos do eletroculograrna (EOG) e EEG
dessincronizado com baixa amplitude (3° a ao canais), além dos
outros par:lmetros monitorizados no exame.

184 NewoanatomiaFuncional

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3.1.2 Sistema ativador reticularascendente (SARA) bilaterais do prosencéfalo basal podem produzir coma si-
Em uma experiência clássica utilizando o gato, Bremer milar às lesões da parte dorsolateral da ponte em virtude
(1935) fez secções na transição entre o bulbo e a medula, da interrupção das fibras colinérgicas, glutamatérgicas e
ou no mesencéfalo. entre os dois colículos, resultando nas gabaérgicas dessa região.
·preparações" conhecidas, respectivamente, como encéfalo Portanto, a vlsêlo atual do sistema ativador ascendente
isolado e cérebro isolado. Um cérebro isolado tem somente é de que os componentes cruciais são os neurónios gluta-
um traçado de sono (o animal dorme sempre), enquan- matérgicos da porção dorsoiateral da ponte, do hipotálamo
to um encéfalo isolado mantém o ritmo diário normal de supra mamilar e do prosencéfalo basal; os neurônios colinér-
sono e vigília, ou seja, o animal dorme e acorda. Dessa gicos do prosencéfalo basal e os neurônios gabaérgicos do
experi~ncia, concluiu-se que o sono e a vigília dependem hipotálamo lateral e do prosencéfalo basal.
de mecanismos localizados no tronco encefálico. Uma sé-
rie de pesquisas feitas principalmente por Magoun e Mo- Tabela 20.1 Sistema atívador ascendente
ruzzi (1949) mostrou que esses mecanismos envolvem a
formação reticular. Assim, verificou-se que um animal sob Núcleo Neurotransmissor
anestesia ligeira (EEG de sono) acorda quando se estimula Formação Locus ceruleus Noradrenalina
a formação reticular. Concluiu-se que existe, na formação reticular
(SARA)
reticular, um sistema de fibras ascendentes, que exercem
uma ação ativadora sobre o córtex cerebral. Criou-se, as- Núcleos de Rafe Serotonina
sim, o conceito de sistema ativador reticular ascendente
Núcleo tegmentar Acetilcolina
(SARA). O S/\RA é constituído de fibras noradrenérgicas do pedúnculopor1tino
locus ceruleus, serotonlnérgicas dos núcleos do rafe e coli-
nérgicas da formação reticular da ponte (núcleo tegmentar Núcleos mesencefálicos Dopamina
doparninérgicos
pedunculopontino) e dos neurônios dopaminérgicos me-
sencefálicos. Essas vias constituem os sistemas rnodulató- Ponte Núcleo parabraqulal Glutamato
rlos de projeção difusa. Na transição entre o mesencéfalo e dorsolateral
o diencéfalo, o SARA se divide em um ramo dorsal e outro Hipotálamo Núcleo tuberomamilar Histamina
ventral. O ramo dorsal termina no tálamo (núcleos intra-
Hipotálamo lateral Orexina
laminares) que. por sua ve2, projeta impulsos ativadores
para todo o córtex. O ramo ventral dirige-se ao hipotálamo Núcleos supramamilares Glutamato
lateral e recebe fibras hístaminérgicas e orexinérgicas pro- Prosencéfalo Núcleo Basal de Meynert Acetilcolina
veniente dele e, sem passar pelo tálamo, esse ramo dirige- basal
-se diretamente ao córtex, sobre o qual tem ação ativadora. Neurónios gabaérgicos GABA
O conjunto das fibras ativadoras noradrenérgicas, seroto- Neurônios Glutamato
ninérgicas, dopamlnérgicas e colinérglcas constituem o glutarnatérgicos
SARA. O conjunto das fibras ativadoras histaminérgicas,

orexinérgícas. glutamatérglcas e gabaérgicas do hipotála-
mo, assim como as fibras colinérgicas, glutamatérglcas e 3.1.3 Ciclovígília-sono
gabaérgicas do prosencéfalo basal, denomina-se slsremo O ciclo vigília-sono é regulado por neurônios hipotalâ-
ativador ascendenre (SM), cujos componentes são mostra- micos do SAA. A atividade de seus neurônios pode ser me-
dos na Tabela 20.1 a seguir. Esses sistemas têm papel cen- dida pela taxa de disparos dos potenciais de ação. Durante
tral na regulação do sono e da vigília. o dia (vigília), essa taxa é multo alta, indicando que o córtex
A lesão das vias modulatórias do SARA diminui o tem- está sendo ativado. O córtex recebe normalmente as afe-
po de vigília, mas não é capaz de induzir o coma. Recen- rências dos núcleos talAmicos sensitivos. No final da vigília,
temente, descobriu-se o papel das vias glutamatérgicas, em antecipação ao momento de dormir, um grupo de neu-
gabaérgicas e colínérgícas na manutenção da vigília. Os rônios do hipotálamo anterior (núcleo pré-óptico ventrola-
neurônios glutamatérgicos da região supramamilar ativam teral) inibe a atividade dos neurônios do SAA. desativando
o córtex e os gabaérgicos do hipotálamo lateral, inibem o córtex. Ao mesmo tempo, o núcleo reticular do tálamo
o sono e contribuem para o estado de vigília. Lesões dos inibe a atividade dos núcleos tal~micos sensitivos, barrando
neurônios glutamatérgicos da reglâo dorsolateral na pon- a passagem para o córtex dos impulsos originados nas vias
te e do núcleo parabraquial, assim como dos neurónios sensoriais. Inicia-se, assim, o estado de sono de ondas lentas
colinérgicos do núcleo tegmentar pedunculopontino ad- ou sono não REM, no qual a atividade elétrica do córtex de-
jacente, causam um estado de coma permanente. Lesões riva de circuitos intrínsecos sem influência de informações

• Capitu lo 20 Fonna(Ao Reticular - Sistemas Modul•tórlos de Projf(;lo Difusa 185


sensoriais ex.ternas e o eletroencefalograma é sincronizado Durante a vigília, a atividade metabólica e a utilizã-
(Figura 20.1 B). Pouco antes do despertar, a atividade do ção de adenosina-trifosfato (ATP) são intensas. O ATP é
núcleo pré optico ventrolateral é reduzida e os neurônios metabolizado e gera a molécula adenosina, que se liga E
do SAA voltam a disparar, e inicia-se novo período de vigília receptores em várias partes do encéfalo, inibindo a sua ar -
(Figura 20.1 A). vidade e gerando sonolência. É por isso que inibidores de,
Durante o sono REM. o consumo de oxigênio pelo receptores de adenosina, como a cafeína, inibem o son:
cérebro é igual ou maior do que em vigília, refletindo a momentaneamente.
atividade cortical. O indivíduo sonha e os seus olhos mo- Como será visto no Capítulo 21, a geração do ritmo e~
vem-se rapidamente (Figura 20.1 C). No sono não REM, o vigília e sono depende também do núcleo supraquiasmát -
cérebro repousa. A sua taxa de consumo de oxigênio está co do hipotálamo que, junto com a glândula pineal, slncrc·
em nível baixo e predomina o tônus parassimpático, com niza esse rirmo com a alternancia de claro e escuro.
redução de frequência cardíaca e respiratória. O sono REM A Tabela 20.2 sintetiza o que foi exposto sobre o cicl.:
ocupa 20% a 25% do tempo total de sono no adulto jo- vigília-sono.
vem. Pesquisas sugerem que ele tem papel no processo de

consolidaç~o de memórias. O conteúdo bizarro que ocorre 3.2 Controle eferente da sensibllldade e da dor
em alguns sonhos poderia ser decorrente da ativação alea- Sabe-se que o sistema nervoso não recebe passiva-
tória de áreas do córtex.' mente as informações sensoriais. Ele é, até certo ponto, ca-
O sono REM é gerado por uma rede de neurónios do paz de modular a transmissão dessas informações por meio
tronco encefálico, principalmente na ponte. O ritmo rápi- de fibras eferentes, que agem principalmente sobre os nú-
do no eletroencefalograma e os sonhos resultam de uma cleos relês existentes nas grandes vias aferentes. A presen-
ação coordenada de neurônios glutamatérglcos na região ça de vias eferentes reguladoras da sensibilidade explica
subcerúlea ventralmente ao locus ceruleus, dos neurônios a capacidade que temos de selecionar, entre as diversas
glutamatérgicos e colinérgicos do núcleo parabraquial e informações sensoriais que nos chegam em determina-
do núcleo tegmentar pedunculopontino. Outros neurônios do momento, aquelas mais relevantes e que despertam
glutamatérgicos subceruleos promovem a paralisia do sono a nossa atenção, diminuindo algumas e concentrando-se
REM mediante projeções que fazem para a medula espinal. em outras, o que configura o fenômeno da atenção sele-
onde ativam neurônios gabaérgicos e gllcinérgicos, que hi- civa. A atenção seletiva é um fenômeno que pode ocor-
perpolarizam os neurônios motores. Algumas pessoas, so- rer simultaneamente a outro denominado habicuação,
bretudo os idosos, perdem o mecanismo Inibitório, o que quando deixamos de perceber estímulos apresentados de
promove a atonia muscular do sono REM. Esses casos são forma contínua. Assim, por exemplo, quando prestamos
conhecidos como transrorno comportamental do sono REM, atenção em um filme, deix~os de perceber as sensações
que será visto nas correlações anatomoclínicas. táteis da cadeira do cinema. Do mesmo modo, podemos
A região subcerulea recebe estímulos inibitórios gabaér- ignorar um ruído ambiental, especialmente quando ele é
gicos vindos de uma região lateral à substância cinzenta peria- contínuo, como o barulho de um ventilador, quando esta-
quedutal. Esses neurônios estão mais ativos durante a vigília e mos muito interessados na leitura de um livro. Isso se faz
o sono não REM e inibem os neurônios subceruleos e nucleo por um mecanismo ativo. envolvendo fibras eferentes ou
tegmentar pedunculo pontino, evitando a entrada em sono centrifugas, capazes de modular a passagem dos impulsos
REM. A interação entre essas vias permite a alternância entre nervosos nas vias aferentes especificas. Em geral, o controle
sono REM e não REM. Os neurônios noradrenérgicos do locus da sensibilidade pelo SNC ocorre por inibição e as vias res-
ceruleuse os serotoninérgicos do núcleo dorsal da rafe inibem ponsáveis pelo processo originam-se no córtex cerebral e,
a região subcerúlea, o que explica o motivo de os antidepres- sobretudo, na formação reticular. Entre estas, destacam-se,
sivos reduzirem a quantidade de sono REM. Essas projeções por sua grande importância clinica, as fibras que Inibem a
rambém evitam que o organismo passe diretamente da vigi- penetração no SNC de impulsos dolorosos, caracterizando
lia para o sono REM. O sono REM é encerrado pelos neurônios as chamadas vi2s de analgesia. O estudo detalhado dessas
do locus ceruleus, que aumentam a sua atividade na transição vias que envolvem os neurónios serotoninérgicos dos nú-
entre o sono paradoxal e a vigília, podendo ser considerados cleos da rafe será feito no Capítulo 29, item 4.1.
os neurônios do despertar}
3.3 Controle da motriddade somática e postura
A formação reticular exerce ação controladora sobre
1 Pesqulsas mosHilm que hei atlvaçAo do slsrema límbico. o que exp'.íca oco- a motricidade somática por melo dos tratos reticulospi-
lorido emocional de muitos sonhos. ~s ,-ezes transformados em pesadelos.
nais pontlno e bulbar. Esses tratos são importantes para
2 Informações sobre a plenitude da bexiga durante o sono s:io levudas ao
Jocus ceruleus. que aumenta temporariamente a sua atividade; o lndM- a manutenção da postura e da motricidade voluntária da
duo acorda, vai ao banheiro, vol1a e dorme novarnente. musculatura axial e apendiculares proximais. Para as suas

186 Nl'UIOanatomia Funcional


T1bel1 20.2 Características dos estados do ciclo vigília-sono.

Características Vigília Sono de ondas lentas Sono paradoxal ou sono RE M


Sistema ativador ascendente ativado desativado desativado
Núcleo t. pedunculopontino ativado desativado ativado
Núcleo pré-óptico ventrolateral desativado ativado ativado
Núcleo reticular do tálamo desativado ativado ativado
Núcleos sensitivos do tálamo ativados desativados desativados
Núcleos intralaminares do tálamo ativados desativados desativados
Eletroencefalograma dessincronizado sincronizado dessincronizado
Tõnus muscular normal diminuido ausente (exceto diafragma,
musculatura ocular)
Atividade morara intensa discreta ausente (exceto musculatura ocular)
e diafragma
Movimentos oculares normais raros e lentos frequentes e rápidos
Reflexos normais diminuídos ausentes
Postura corporal variável típica de sono típica de sono
Sonhos raros, lógicos, referindo-se írequentes, ilógicos, às vezes, bizarros
ao quotidiano
Ereção genital ocasional por estimulação ausente frequente

funções motoras, a formação reticular recebe aferências do 3.6 Integração de reflexos- centros respiratório
cerebelo e de áreas motoras do córtex cerebral. Entretan- e vasomotor
to, há evidência de que os tratos reticulospinais veiculam
Já há bastante tempo os fisiologistas identificaram na
também comandos motores descendentes. gerados na
formação reticular uma série de centros que, ao serem esti-
própria formação reticular e relacionados com alguns pa-
mulados eletricamente. desencªdeiam respostas motoras.
drões complexos e estereotipados de movimentos, como estereotipadas, características de fenômenos, como vômi-
os da locomoção. to, deglutição. locomoção, mastigação, movimentos ocu-
3.4 Controle do sistema nervoso autônomo lares, além de alterações respiratórias e vasomotoras. Esses
centros contêm neurônios geradores de padrões de ativi-
Vimos que os dois centros supraspinais mais Impor- dade motora estereotipada (partern generators) e podem
tantes para o controle do sistema nervoso autônomo são o ter sua atividade iniciada ou modificada por estímulos quí-
sistema límbico e o hipotálamo. Ambos têm amplas proje- micos, por comandos centrais (corticais ou hipotalâmicos)
ções para a formação reticular, a qual, por sua vez, se liga aos ou por aferências sensoriais. Nesse último caso, funcionam
neurónios pré-ganglionares do sistema nervoso autónomo, como centros integradores de reflexos em que os impulsos
estabelecendo-se, assim, o principal mecanismo de contro- aferentes dão origem a sequências motoras complicadas,
le da formação reticular sobre esse sistema. cuja execução envolve núcleos e áreas diversas e às vezes
distantes do SNC. Um exemplo de reflexo desse tipo é o
3.S Controle neuroendóaino
do vômito. descrito no Capítulo 17 (item 2.2.7). O centro do
Sabe-se que estímulos elétricos da formação reticular vômito está situado na formação reticular do bulbo, próxi-
do mesencéfalocausam liberação de ACTH (hormônio adre- mo ao núcleo do trato solitário, estendendo-se até a parte
nocorticotrófico) e de hormônio antidiurético. No controle Inferior da ponte, onde se situa o centro da deglutição. Na
hipotalãmico da liberação de vários hormônios adeno-hipo- formação reticular da ponte, próxima ao núcleo do nervo
fisários, estão envolvidos mecanismos noradrenérgicos e se- abducente, situa-se também o núcleo parabducente, consi-
rotoninérgicos, o que envolve também a formação reticular, derado o centro controlador dos movimentos conjugados
uma vez que nela se originam quase todas as fibras conten- dos olhos no sentido horizontal. Na formação reticular do
do essas monoaminas que se dirigem ao hipotálamo. mesencéfalo, situa-se o centro locomotor, que, no homem,

• Capitulo 20 Forma~ Reticular - Sistemas Modulatórios de Projeçao Difusa 187

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age em conjunto com o~ ce~tros 1ocomotorcs dil medula. respiratórios. No centro rcsp'rêltórlo, existem neu'ônios qJe
A mõstigaçâo é contro'. ad2 por 1eurônios da formação re:-·- rrantêm esoont ?.nean1entP. u rn rlr110 de disparos, geranrlo
cul.Jr adjacc1tc .ios ni.:clcos rnotorcs do trigémeo, do f-.ici~I :.1:ivlda::lc motoru mc'..>rno nuilusêncic1 de ;;fcr::nci:.1s. Os ncu
P. cio hipoqlr:ssc pa ril 'T)Ovi-n~ntc'!ção, respectiv2rriente, da rõ"1io~ IT,oro-e, rel.:icion.:ido~ c.om o~nt>rvos fr~nlc.o P ln:Pr•
rnand1b ula. dos lábios e ca língua. Esses neurônios coor- costais recebem tambérr floras co trate cortlcospinal, o Que
denam tarnbén-l 3 respira1;ão e receber , retroalirne,,taçâo f,-E)í~ i:f' o <"Ontr:-:lt=- vnlunt~riri d;i rt"c;pir;içi\n.
sensorial do núcl€o do tra:o solirario (gus~açac•) e do tr gé Convérn lcn1br.Jr qJc, µ:.;r un1 lüdo, ü fu·1ci:..:11ü •nc11to
mc.'O para tcxtu'a e tcm~c r.:itur;; do~ ,ilirncrno:; e pusi:,to do centro resi:i-atóri~ é bem mais complicado. Ele esrt
du rr élndíbL l::i. s:..tlJ in:luênLid uc hiµutci d11 10, o ~ue ex:.iliLd d~ 111:.,dií1t ..i·
Os neurônios gc·udo·cs de o.idrões de :l:ividade rno ç:ões do rirmo r;,sp·ratório pm cert;is slniações emo<"io-
101:1 es1ereo1ipada ao ·edcr do núcle:-> mornr íc1::la roorrJi:!- r..:iis. For outro l;;do. sabe-se que o .11.imcntc do tccr de
na11 a 11fmica carac!erisiica de situações emociona·:, como CO, no sangue :em ação çstimuladora direta sobre esse
sorriso e choro, que são di-=1ceis de se·er, prod~z·das volun- ccn.ro, que reecoe ainda irrpulsos nc-vosos or'ginados no
tari<.1mente. Assim como a medula, pcrt2nto, a formação re- corpo carotldeo. Os cuimiorreceptores do corpo carot·deo
li<. ul<u <.Jo .ronco !r:'H11ué111 ( 0111érr1 ~11upo~ <.J r nelHÕniu~lllle !>Jo !>en:,íveis ~ vc;1r io(,.Õt~ e.lo teor d~ oxi9ênlo de sangue,
(Oorden;irr reflexos€ pnnrÕ<>s i\Otorp:; f><;7f'rt"otirannc;, que o riç;inando ·rro1.lso, Cl lJ E> cheg;im ao cent ro respirri:ó'io
podem se tornar mais complexos sob o controle voluntário através de floras do 1ervo gloss:.>faríngeo, após sinap~e ·10
do c:órrex cerebral. n.ícleo do t rato solitário.
Por sua enorn,e importância, merecem destaque o cen-
3.6.2 Controle vasomotor: centro vasomotor
tro resoirorório e o cenrro vasomotor, que contrcl3m não só o
'ltmo respiratório cerno também o ritmo ca-díaco e a pres- Si:Jado na tormaçãc reticu ar do bu lbo, o centro va-
r,Jo ,1rtcri:ll, furi<, tx", indhp<•nr,Jv<•i\ t1 rnvnutcnçõo c u vidu. son;o1or co-ordena os rnecarfsmos que regulam o calibre
São, pois. centrc-:s virais, e: (n p:-e.~P.nça no :;.JI~:-> to•n;i ()lliil- vascular, do qual depende basicar-iente a pressão ãrterial,
quer lesão desse órgão extrernir1entc perigosa. Os centros ínfiue1clando tcrrbérn e rltn,o c:irciaco. lnforrnações so-
respiratório E vasomotor diferem dos derrais por func·onar bre a pressão arter ai chega 'TI ao núcleo co trato soli:ário
<.orno osciladores, ou :,eja, .iµ·esc'lt.1n1 cJtivicü<lc rít·nic..: es a parlir de barorrecepLo·es, siluadus pd11c·pa lr1ente rnJ
pontânea e sincronizada. respecrivamerne, com os 'i:1Tios seio carotldeo, trazdas pelas hbras aferen:es viscerais ge-
resplra:ório e cardloco. Ao que parece, essa atividade r"tmica rais do ne--vo vago. .A. partir do núcleo do t rato so1itário, os
é endégena, 01.. se;a, ·ndependente das aferê1cias s::nso'iois. impulsos passam para o centro vasoTlctor. ) esse centro.
A seguir, o fun:::ionam~nto des;E5 dois centros é estLda::!o de saern i'rbras ::iara os neurônios pré-q~ nglionares do '1úclec
• •
llldr1~11i.l sue 11lil. do·sal do_vago. resu lta1do i:.pulscs parassimpáticos e fi.
brr1s reticulospin;,is p;,ra os neurón ios pré-ganglionarp.s
3.6.1 Controle da respiraç.ão: centro respiratório da colunil lélterul da medula.. resul:ando ern ·rrpulsos siil -
lní::>rr"clçôes sobrr o <)íi.'lu de di'>tcnsJu c.k;~ .JlvC:•:.,I:.,~ pât icos. tv·1eca 1orreceptores ao cor:1ção e quimiorr~::ep-
p.Jlmonares r.onti-iuamente são levada.~ ?.O nl:,li=>o do tra- tores da a.:>rta são também importantes para a regulação
to solitãric pelas fibras aferentes vis:crais acrais do 1crvo oa ::iressào arterial. O cer t·o vasc,noror est á ainda sob
vago. Desse núcleo, os impulsos 1ervosos passam ao centro
- controle do hipot~lamo, responsável pe,o :Jurrento da
resoira,ório. Este SQ loc.:iliLa na formaçiÍo rctk.ul;:r do bulbo p·essão arterial resultante de si:uações erno:ion3is ou a1i:-
e apresent:1 uma p.:: rre dnr~al, que :-.ontrola a inspiração, e rnesmo ilntecip::idélmente, em c.:sos err1 que prevemos
OJtrc1 ventral, que regL. la a expiraçto.1 Do centro res::>iratórlo l Jmn <;itllilÇ~O dP. P.ST(P.t;~P..
saem fibrac; rPtir11loc;pinaic;, q ue terminam fa7erdo sinapse Outro núclcc lm~ort;;ntc é o parabraqui.il loctilizodo na
C•::>m os neurônios motores da porção cervical e tcréc ca da parte dorsc lr.TP.rill c:a ponte próxlmc: ao r.edt.'Jnc.11 o :::P.rebe-
rr1edula. Os primeiros d~o orlçiern ~s fiLYdS qJe, pelu 11ervo lcJ· suocrior. Desempenha pt1pcl fundurncntal na rcguluçâo
"Í'f!nic:o, vão ao diafragma. Os que se crigin?.m ra medL la de tl.Jicos e P.1€::rólitas P n~ f.1nção cardlovilscular princ:i-
torácica dão origerr1às tbras que, ~,elos nervo~ interccstais, palmen:e nil ·egulélçào dél p·essão ilrteial ern resposta à
vão aos múscu.os intercostais. Essas vias ~e importantes nf'mnrrilgi;i P ~ hipovolPmi?.. F 11m imr,ort,irtP 'PI~ Pr trP ;ic;
D,H.i c:1 rr1::111u .~r H,.5o refi1;;xê ou il\.. :ornêi li<.u dos rnovirn~n .os irformaçêcs do núcleo ao trato solitârio e os centros cn
cefálicos s·J :>eriores. Controla a ingestão de sal e ~gua e1n
rc~po~ri.i J vari..u:,:õcs dél pr<.:s5é'.io ilrtcr ial, inibindo i.l ing<.!stJo

3 A yu·1) c!LltJ·o:~ wn,iu~1.irn t.,·111.;~rn ~r .1:11leri.e leriuc rt:)µi·,;tú·
em case- ce aumento da pres~20 e aurrentanco no caso de
rio o chamadc>~€nUO p1euno1âx co. s tuado r a formaç.jo rcti:ular da
pon:e e ql..e transrrhe ÍIT'p.ilscs n bitórios p;ira ~ par.e in~i::h,tória do ti·µut(•r•:,fio c.• hipovclcr, ii.1. lnílucnci:> ltHnbérr u resposlil du
c:en·ro reso ratórlc pcrttno. sistema nervoso aurêr omoe do reuroendócrino.

188 tkuroar atomia Funcional


4. Correlações anatomoclinicas
4.1 Coma compartimento supratentorial podem causar hérnia do
O córtex cerebral, apesar de sua elevada posição na unco (Figuras 8.7 e 8 .8), que, ao se insinuar entre a inci-
hierarquia do sistema nervoso. é incapaz de funcionar sura da tentório e o mesencéfalo, comprime este último
por si próprio de maneira consciente. Para Isso, depende e produz um quadro de coma.
de impulsos ativadores que recebe do sistema ativador O coma pode também ser causado pelo comprometi-
ascendente. Esse fato trouxe novos subsídios para a com- mento bilateral e generalizado do próprio córtex cerebral,
preensão dos distúrbios da consciência. Quando um pa- como nos graves distúrbios metabólicos e intoxicações.
ciente não pode ser acordado com estímulos vigorosos, Na realidade. um dos problemas principais do neurologis-
ele está em coma. Pacientes que acordam parcialmente ta na avaliação clínica de um paciente em corna é saber se
com estímulos estão torporosos ou obnubllados. A ava- o quadro se deve ao envolvimento generalizado do cór-
liação do nível de consciência é feita utilizando-se a es- tex cerebral ou decorre primariamente de um processo
cala de coma de Glasgow (Tabela 20.3). Os processos localizado no tronco encefálico. A avaliação dos reflexos
patológicos, mesmo localizados, que comprimem o me- pupilares (Tabela 20.4) e dos nervos cranianos, em es-
sencéfalo, ou a transição deste com o diencéfalo, quase pecial os relacionados com a motricidade ocular, ajudam
sempre resultam na perda total da consciência, Isto é, no a reconhecer o nível da lesão. Um quadro de coma com
coma. Os processos patológicos responsáveis por tal con- disfunção do tronco encefálico indica risco iminente de
sequência, em geral. desenvolvem-se abaixo do tentórlo vida. Em geral. realizam-se exame de Imagem e dosagens
do cerebelo, ou seja, são infratentoriais. Entretanto, tumo- sanguíneas de glicose, função hepática e renal e gasome-
res ou hematomas que causem o aumento da pressão no tria para o diagnóstico das causas metabólicas.

Tabela 20.3 Escala de coma de Glasgow


Escala de Coma de Glasgow
Parâmetro Resposta obtida Pontuaçjo
Abertura ocular E.spontanea 4
Ao e5timulo sonoro 3
Ao estímulo de pre5são 2
Nenhuma 1
Resposta verbal Orientada 5
_,/
Confusa 4
Verbaliza palavras sol tas 3
Verbaliza sons 2
Nenhuma 1
Re5posta motora Obedece comandos 6

Localiza estimulo 5
Flexão normal 4
Flexão anormal 3
Extensão anormal 2
Nenhuma 1
Trauma leve Trauma moderado Trauma grave
13· 1S 9-12 3-8
Reatividade pupilar

Inexistente Unllateral BIiaterai


-2 -1 o

• Capítulo 20 fonna<ão Reticular - Síst"1W ModuL!tórios de Proj~áo Difusa 189


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Tabela 2.0.4 Alterações pupilares mais frequentes.

Pupila Lesão estrutural Representação


Anlsocorla , Herniação uncal ipsílateral com compressão do nervo
(RFM ausente no lado midriátlco) oculomotor ou do seu núcleo
• Aneuri.sma de artéria comunicante posterior
• Compres~o extrínseca no curso do nervo oculomotor
• Efeito collnérgica ou simpaticomlmético local
Dilatadas • Lesão do tecto do mesencéfalo
(RFM ausente ou reduzido • Efeito colinérgico ou slmpaticomimético
bilateralmente}
... .
Dilatadas • Su perdosagens de antidepressivos tricid icos.
(RFM presente bilateralmente) anfetaminas e drogas

Médias • Mesencéfalo (vias simpáticas e


(RFM ausente bilateralmente) , parassimpáticas)
• Anestésicos gerais
• Morte encefálica
...
Pequenas • Lesão do diencéfalo ou tálamo
(RFM presente bilateralmente} , All'as doses de narcóticos
, hiperglicemia não cetótica
• Envenenamento por organofosforados ,,
• Idoso, sono normal
Puntiformes , Ponte (lesAo das vias simpáticas descendentes)
(FM presente bilateralmente) , Opiáceos

Anisocorla • Lesão da via simpática homolateral (Síndrome de


(FM presente bilateralmente) Horner) ~.,,,,,,,,,.,,,,
) (1)

Fonte: Adaptada de Martins et ai. Se1T1iologia Neurológica. 2017.

4.2 Distúrbios do sono 4.2.1 Apneia obstrutiva do sono


Passamos, em média, um terço de nossas vidas dor- Os pacientes com apnela obstrutiva do sono apresen-
mindo, o que demonstra a importância do sono para o tam episódios repetidos de obstrução das vias aéreas que
funcíonarnento do organismo. O recém-nascido dorme até levam o Indivíduo a apresentar despertares para aumentar a
16 horas por dia e essa proporção diminui com a idade, res- força muscular e vencer a obstrução. Durante o sono. ocorre
saltando também a importância do sono para o desenvol- relaxamento muscular e hipotonia, que provoca o colapso
vimento. A vida moderna com alta exposição à luz artificial
das vias aéreas em pessoas com algum grau de redução do
e a eletrônicos no período da noite é uma das causas de
seu calibre. A hipóxla e o acúmulo de C02 causam a ativação
insônia: dificuldade para iniciar ou manter o sono. O sono
de quimiorreceptores do núcleo parabraquial, que promo-
permite a recuperação metabólica do cérebro e a reparação
de lesões teciduais. Durante o sono, há um alargamento dos ve o despertar, auxillando no aumento do tônus e da força
espaços extracelulares, permitindo a remoção de produtos muscular. Os episódios de obstrução podem ocorrer cente-
tóxicos derivados do metabolismo pelo liquor. Permite tam- nas de vezes durante a noite, porém os despertares são mui-
bém a remoção dos beta-amiloides, inibindo a formação de to breves, o que impede que o individuo chegue a tomar
placas que caracterizam a doença de Alzheimer. Admite-se consciência deles. A intensa fragmentação do sono causa
também que a memória seja consolidada durante o sono. A sonolência diurna e prejudica o desempenho nó dia seguin-
seguir, descreveremos alguns distúrbios do sono. te. A ativação crónica dos sistemas de alerta, com líberaçâo

190 Neuroanatomia Funcional


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Figura 20.2 Pollssonografia de paciente portador de apnela obstrutiva do sono. Observa-se a interrupçAo do fluxo aéreo enquanto
permanece o esforço abdominal e torácico. Em seguida, observa-se um microdespertar que aumenta o esforço respiratório e permite a
passagem do ar. Seguem-se novos episódios de apneia. Observa-se a queda na saturaçAo de oxigênio e a variação da frequ~ncla cardíaca.
Fonre: Cortesia da Dra. Alessandra Zanatta.

de catecolaminas, causa aumento da frequência cardíaca e que inibem os neurónios geradores do sono REM na pon-
da pressão arterial, o que contribui para o aparecimento ou te. o sintoma mais caracteristlco é a sonolência excessiva
a piora da hipertensão arterial crônica. É também uma im- diurna, mesmo após uma noite de sono reparador. O esta-
portante causa de acidentes de trânsito. O tratamento mais do de vigilia é interrompido por súbitas e irresistíveis crises
eficaz é o uso de aparelhos de conrinuous positive airway de sono, que duram, em média, 15 a 20 minutos e podem
pressure (CPAP). Em alguns casos, a cirurgia para a retirada das causar acidentes, principalmente de tránslto. Em alguns
adenoides ou de avanço mandibular e o uso de aparelhos cochilos, o paciente entra rapidamente no sono REM. Além
ortodôntlcos específicos estão indicados. A polissonografia da sonolenda, elementos do sono REM passam a ocorrer
é o método neurofisiológico Indicado para diagnóstico pelo durante a vigília. A atonia do sono REM durante o estado
monitoramento de diversos parâmetros fisiológicos durante de vigília causa fraqueza súbita e perda do tónus, a cataple-
uma noite de sono. Pode ser complementado pelo teste das xia. Égeralmente limitada a alguns músculos da mandíbula
latências múltiplas do sono, que avalia o grau de sonolência ou do pescoço, mas nos casos graves são generalizadas.
diurna Figura 20.2. ocasionando queda súbita e Imobilidade por alguns se-
gundos. Em muitos casos, a cataplexia é desencadeada por
4.2.2 Narcolepsia gatilhos emocionais, como riso, susto ou surpresa. No inicio
A narcolepsia é um distúrbio do sono causado pela ou no final do sono, o indivíduo pode apresentar atonia e
perda seletiva dos neurônios que produzem a orexina, (hi· a desagradável sensação de estar acordado sem conseguir
pocretina), encontrados no hipotálamo lateral. A causa pa- se mexer: é a chamada paralisia do sono. Nesse momento,
rece ser autolmune e pode ser desencadeada pela infecç~o pode experimentar também as alucinações hlpnagóglcas,
ou pela vacina contra iníluenza. A orexina promove a vigília quando as Imagens de sonhos permanecem Já com o indi-
e suprime o sono REM ativando neurônios monoaminérgí- víduo acordado. O tratamento é feito com medicamentos
cos do focus ceruleus e do núcleo dorsal da rafe e os neu- estimulantes, como as anfetaminas e o modafinil, associa-
rônios gabaérgicos da substância cinzenta periaquedutal dos a cochilos programados durante o dia.

■ Capítulo 20 Formaçjo Reticular- Sistemas Modulatóriosde Projeção Difusa 191


4.2.3 Distúrbio comportamental do sonoREM e lembra-se de estar sonhando com lutas ou ataques e re-
É causado pela falha do mecanismo de atonia durante produzem os movimentos dos sonhos. O distúrbio é mais
o sono REM, fenõrneno oposto ao da narcolepsia. Os porta· frequente em idosos e pessoas acometidas por doenças
dores são vítimas de constantes ferimentos por vivenciar os degenerativas. como a doença de Parkinson. que atingem
seus sonhos com movimentos bruscos. O paciente acorda os neurônios ceruleus, que promovem a paralisia do sono.

B- Sistemas modulatórios de projeção difusa


" 1
A partir da década de 1950, os cientistas verificaram a A maior parte dos neurónios serotonlnérgicos do
presença, no SNC. de substâncias formadas pela decarbo· tronco encefálico localiza-se na formação reticular, nos
xilação de certos aminoácidos, denominadas monoami- nove núcleos da rafe. que se estendem na linha média,
nas. Foi quando surgiram as primeiras hipóteses sobre o do bulbo ao mesencéfalo (Figura 20.3). Os axônios ori-
seu papel na regulação de processos mentais. As monoa- ginados nos núcleos situados em níveis mais altos têm
minas mais importantes são: noradrenalina; serotonina; trajeto ascendente, projetando-se para quase todas as
dopamina; e histamina. De modo geral, os neurônios mo- estruturas do prosencéfalo, incluindo córtex cerebral, hi-
noaminérgicos têm conexões muito amplas. não estando potálamo e sistema límbico (Figura 20.3), e participam
relacionados diretamente a funções sensoriais ou motoras. da regulação do ciclo vigília-sono, de comportamentos
mas desempenham funções regulatórlas, modulando, ou motivacionais e emocionais. O sistema serotoninérgico
seja. modificando a excitabilidade de sistemas neuronais participa também do controle afetivo, digestão. termor-
no encéfalo. Cada neurônio pode influenciar muitos ou- regulação, comportamento sexual e lônus motor, além
tros, podendo um só neurônio fazer sinapse com até 100 de promover a ativação cortical durante a vigília. como
mil neurônios às vezes situados em áreas muito distantes. parte do SARA. Especialmente importantes são as fibras
Eles têm uma rede ext.remamente ramificada de terminais, rafespinals, que. do núcleo magno da rafe, ganham a
com dilatações denominadas voricosídodes (Figura 3.8). substância gelatinosa da medula (Figura 29.1). onde ini-
Um neurônio dopaminérgico da substância negra do rato bem a entrada d~ impulsos dolorosos, fazendo parte das
pode conter SOO mil varicosidades. Sabe-se também que vias da ;ir,algesia (Capítulo 29, item 4.1 ).
os neurônios monoaminérgicos. além de liberar os neuro-
transmissores nas sinapses, podem liberá-los no espaço ex-
tracelular aumentando, assim, a sua difusão. Desse modo. l
apesar de o número de neurônios monoaminérgicos ser re· A grande maioria dos neurônios noradrenérgicos do
!ativamente pequeno, os seus terminais se distribuem por SNC está distribuída em vários núcleos na formação reticu-
quase todo o SNC constituindo os Sintemas modulatórios lar do bulbo e da ponte. Destes. o núcleo mais importante
de projeção difusa. é o locus ceruleus, núcleo situado no assoalho do IV ventrí-
Os principais sistemas modulatc'.>rios são: dopomínérgí- culo e que apresenta cerca de 12 mil neurônios. As proje-
cos; norodrenérgicos; odrenérgicos; seroroninérgicos; e histo- ções noradrenérgicas desse núcleo atingem praticamente
minérgicos. Cabe lembrar que existem no SNC neurônios todo o SNC. inclusive todo o córtex cerebral. Um neurônio
monoaminérgicos sem projeção difusa. associados a fun- pode fazer até 250 mil sinapses, sendo um dos sistemas de
ções específicas. como as fibras dopamlnérglcas que ligam projeção mais diíusa do encéfalo. A distribuição dos neurô-
a substância negra ao corpo estriado. Apesar de terem ter- nios noradrenérgicos assemelha-se à dos serotoninérgicos
minais ern praticamente todo o SNC. a grande maioria dos (Figura 20.3). O sistema noradrenérglco está envolvido na
neurônios monoamlnérgicos centrais tem os seus corpos regulação do alerta, da atenção seletiva e da vigília, assim
localizados em áreas relativamente pequenas do tronco en- como no aprendizado e na memória. Está envolvido tam-
cefálico, em especial na formação reticular e também no hi- bém na regulação do humor e da ansiedade. Em virtude
potálamo. Embora a acetilcolina não seja uma monoamlna, de suas projeções difusas, pode influenciar literalmente
existem no encéfalo fibras colinérgicas modulatórias de pro- todo o encéfalo. São especialmente ativados por estímu-
jeção difusa. Outro sistema que desempenha função modu- los sensoriais novos e inesperados, oriundos do ambiente.
latória é o endocanabinoide, que passou recentemente a ter Em casos de eventos estressantes, participam do alerta
lmportancia medicinal. A seguir. estudaremos sucintamente geral do encéfalo, aumentando a capacidade cerebral de
a localização dos principais grupos de neurônios monoami- responder a estímulos e a sua eficiência. Por outro lado.
nérgicos, colinérgicos e canobinoides. assim como suas vias estão menos ativos nas atividades calmas. como durante e
e áreas de distribuição. repouso e as refeições e inativos durante o sono.

192 NeuroanatomlaFunàonal
4•.-~ Neurôniõsevias·ãcfrenéij"icas Na área tegmentar ventral, origina-se a via dopominérgica
mesolimbico (Figura 27.5), que se projeta para o núcleo ac-
Os neurônios adrenérgicos encontram-se misturados
cumbens, núcleos do septo e o córtex pré-frontal integrantes
aos noradrenérgicos do bulbo. Existem também neurônios
do sistema de recompensa ou de prazer do cérebro (Capítulo
adrenérgicos do tronco encefálico que se projetam para a
27, item 3.9). Há evidências de que alterações nessa via estão
coluna lateral da medula, modulando a atividade vasomo-
envolvidas na fisiopatologia da esquizofrenia.
tora por meio do sistema simpático. Outros se projetam
para o hipotálamo, participando do controle cardiovascular. Comparando-se as áreas de projeção das vias dopami-
nérglcas com as já estudadas para as vias serotoninérgicas

: e noradrenérgicas. verifica-se que, enquanto estas se distri-


buem a quase todo o SNC (Figura 20.3), as vias dopaminér-
A maioria dos neurônios dopaminérgicos localiLa-se no gicas têm distribuição bem mais restrita e localízada (Figura
mesencéfalo. em duas regiões muito próximas, a área tegmen- 20.4). Além das regiões descritas como responsáveis por
ror ventral, pertencente à formação reticular, e a substC,ncia ne- funções modulatórias. existem neurônios dopaminérglcos
gra. Nesta última, origina-se a via nigroesrrlatal (Figura 20.4), de distribuição mais restrita em várias partes do encéfalo,
que termina no corpo estriado, sendo muito importante no em especial no hipotálamo, onde estão envolvidos na regu-
controle da atividade motora, como será visto no Capítulo 24. lação endócrina e autonómica.

Giro do cíngulo Tólomo


I
.--,,.-----~'
''
'' I
I
.• Neocórtex
' '' I
I ••

N úcleo coudodo __

-- --
--- Cerebelo

- - -- Fibra rofespinal

Figura 20.3 Vias serotonlnérgicas centrais.

Corpo e,triodo Via mesolimbico


1
1
1
1
1
1
1
1
1
- Áreapr&-frontol -... __ _
...... .... .... -- --- _ - Via nigroeslriodo
... .- --
- Substância negro

, ... ...
1 ....
Corpo omigdoloide - - .......
1
1
1
......
1 'Areo tegmenlor ventral
Vio tuberoinfund ibulor

Figura 20.4 Vias dopaminérgicas centrais.

• Capítulo 20 Formação Reticular - Slsttmas ModuL'ltórios de Projeção Difusa 193


ül{t§ijf,Uit·iiit)huvnr1ouí,â{'I;jij'
1 1 e > : : a ;·1 9. Correlações anatomoclinicas
Os neurónios histamlnérgicos de projeção difusa locali-
zam-se no núcleo tuberomamilar do hipotálamo. Projetam- 9.1 Transtornos de humor
-se para todo o córtex por via extratalâmica e, junto com as Os transtornos de humor são divididos em unipolar,
fibras serotonlnérgicas e noradrenérgícas, integram o sistema em que a depressão ocorre isoladamente, e o bipolar,
ativador ascendente, responsável pela vigília. A presença de em que ocorrem também episódios de mania. A de-
neurônios histaminérgicos no sistema ativador ascendente pressão é um estado diferente da tristeza por sua per-
explica o fato já bastante conhecido de que os medicamen-
sistência e associação a sintomas fisiológicos, cognitivos
tos antl-hlstamínicos causam sono como efeito colateral.
e comportamentais. causando prejulzo significativo da
funcionalidade. O circuito da depressão é menos co-
nhecido do que o da ansiedade, mas envolve circuitos
O sistema modulatório colinérgico tem dois compo- de processamento emocional e controle cognitivo. As
• nentes. um situado na formação reticular da junção ponte- drogas antidepressivas atuam nas vias modulatórias de
-mesencéfalo (núcleo tegmentar pedunculopontino), o projeção difusa. principalmente a serotoninérgica. os ini-
outro situado no prosencéfalo basal. Como já foi visto no bidores de recaptação da serotonina, mas podem atuar
Item 3.1.2, o núcleo tegmentar pedunculopontlno é um também nas vias noradrenérglcas, dopamlnérgicas e his-
dos responsáveis pelo sono REM. O principal componente
taminérgicas descritas no Capítulo 27, item 5.2.
do prosencéfalo basal é o núcleo basal de Meynert (figura
24.6), que provê grande parte das projeções colinérgicas 9.2 Sistemas modulatórios e psicofarmacologla
para o encéfalo, sendo um dos componentes do sistema
ativador ascendente. Drogas que interferem no metabolismo das monoa-
minas têm papel central na psicofarmacologia. ou seja, no
estudo de drogas que atuam sobre o SNC, Influenciando
as atividades psíquicas. O exemplo mais conhecido é a
Embora não relacionado à formação reticular, o siste- fluoxetina, um inibidor da recapta~o de serotonina, usa-
ma endocanablnolde será citado a seguir por exercer uma
do como antidepressivo.
função neuromodulatória de projeção difusa. Exerce papel
no desenvolvimento do SNC e na plasticidade sináptica. Várias outras drogas foram sintetizadas, atuando so-
A ativação de seus receptores inibe a liberação de diver- bre os diversos sistemas modulatórios. noradrenérgico,
sos neurotransmissores, Inclusive o glutamato e o GABA, dopaminérgico ou histaminérglco.
principais neurotransmissores excitatório e inibitório do As drogas antipsicóticas usadas no tratamento da
sistema nervoso, respectivamente. O primeiro endoca- esquizofrenia atuam bloqueando os receptores dopami-
nablnoide identificado foi a anandamida. Os endocana- nériglcos na via rr1esollmbíca Os alucinógenos que têm
binoides não são neurotransmissores típicos, não estão como droga inicial o LSD produzem efeitos comporta-
contidos em vesículas e não são liberados em contatos mentais, com aumento da percepção sensorial e alucina-
sinápticos especializados. São mensageiros transcelulares, ções múltiplas, e atuam sobre o sistema serotoninérgico.
portanto atravessam a membrana celular e, além de ativar As drogas estimulantes, como cocaína e anfetaminas,
os receptores, penetram também nas células vizinhas, aCin-
exercem o seu efeito atuando sobre os sistemas noradre-
gindo diretamente alvos Intracelulares. Os receptores estão
nérgico e dopamlnérgico. bloqueando a recaptação des-
localizados principalmente na membrana pós-sináptica.
sas monoaminas pela membrana pré-sináptica, o que as
A membrana pré-sináptica tem enzimas que sintetizam
os endocanabinoides e, portanto, a atividade sináptica disponibiliza na fenda sináptica.
aumenta a produção destes, que agirão como segundos A maconha. ou Cannabis sativa, atua nos receptores
mensageiros retrógrados, inibindo a transmissão sináptica canabinoides difusos pelo encéfalo. Os principais com-
tanto excitatória como inibitória. Assim, atuam fortemen- ponentes são o THC, responsável pelos efeitos psico-
te na plasticidade sináptica. Os receptores CB 1 são abun- trópicos, e o CBD (canabidiol), responsável pelos efeitos
dantes no hipocampo, cerebelo, corpo estriado, além de terapêuticos. Recentemente, o CBD ganhou importãncia
outras áreas cerebrais. A remoção da inibição, por sua vez, clínica pela efetividade no tratamento de certas formas
potencializa a transmissão excitatória e está envolvida no graves de epilepsia e está sendo comercializado no Bra-
amadurecimento de circuitos corticais. Os receptores CBl sil. As formas contendo também o THC são utilizadas
se ligam fortemente aos componentes canabinoides da para tratamento de espasticidade e dor crônica. A efe-
planta Connabis sativa. entre eles o THC (tetra-hidrocana- tividade no tratamento de condições psiquiátricas e no
binol). O uso da planta pode. portanto, comprometer o
autismo ainda necessita de confirmação em estudos
neurodesenvolvimento e predispor a doenças psiquiátri- randomizados.
cas, como a esquizofrenia.

194 Neuroanatomla Funcional


----~--··········--·····.
·- ····••l'l'W •• ··-· • ............. •.
·----·······················
,

Estrutura e Funções do Hipotálamo

O hipotálamo é parte do diencéfalo e se dispõe nas relacionadas com o sistema de recompensa e de alerta. O
paredes do Ili ventrículo. abaixo do sulco hipotalâmico, que hipotálamo lateral contém também neurônios orexinérgi-
o separa do tálamo (Figura 23.1 ). Lateralmente, é limitado cos que atuam na manutenção do estado de vigília.
pelo subtálamo; na porção anterior, pela lâmina terminal; e O hipotálamo pode ainda ser dividido por três planos
na posterior, pelo mesencéfalo. Apresenta também algumas frontais em hipotálamo supra-óptico, tuberal e mamilar ou
formações anatômicas visíveis na face inferior do cérebro: o posterior.
quiasma óptico; o túber cinéreo; o infundíbulo; e os corpos O hipotálamo supra-óptico compreende o quiasma óptico
mamilares (Figuras 7 .8 e 22.1 ). Trata-se de uma área muito e toda a área situada aclma dele, nas paredes do Ili ventrículo
pequena, mas, apesar disso, o hipotálamo. por suas Inúme- até o sulco hipotalâmico. O hipotálamo tuberal compreende
ras e variadas funções, é uma das áreas mais importantes do o túber cinéreo (ao qual se liga o lnfundibulo) e toda a área
sistema nervoso. situada acima dele, nas paredes do Ili ventrículo até o sulco
hipotalãmico. O hipotálamo posterior compreende os cor-
pos mamilares com seus núcleos e as áreas das paredes do
O hipotálamo é constituído fundamentalmente de Ili ventrículo, que se encontram acima deles, até o sulco hi-
substAncla cinzenta, que se agrupa em núcleos. :is vezes de potalãmico. Contém também os neurônios histaminérgicos
difícil individualização. Percorrendo o hipotálamo. existem, no núcleo tuberomamllar e controla o despertar.
ainda, sistemas variados de fibras. alguns muito conspícuos. Na parte mais anterior do Ili ventrículo, próximo da lâ-

como o fórnice. Este percorre de cima para baixo cada me· mina terminal, há uma pequena área, denominada área pré·
tade do hipotálamo, terminando no respectivo corpo ma- -óptica. Essa área é embriologicamente derivada da porção
milar. O fórnice permite dividir o hipotálamo em uma área central da vesícula telencefálica e não pertence, pois, ao
medial e outra lateral (Figura 21.1 ). A área medial do hipo- diencéfalo. Apesar disso. ela é estudada junto com o dien-
tálamo, situada entre o fórnice e as paredes do Ili ventrículo, céfalo, pois funcionalmente liga-se ao hipotálamo supra-
é rica em substância cinzenta e nela estão os principais nú- -óptico. Na área pré-óptica, localiza-se o órgão vascular da
cleos do hipotálamo. A área lateral, situada lateralmente ao lâmina terminal, no qual não existe barreira hematoencefá-
fórnice, contém menos corpos de neurônios e nela há pre- lica, e que funciona como um sensor especialiLado em de-
domlnancia de fibras de direção longitudinal. A área lateral tectar sinais químicos para termorregulação e metabolismo
do hipotálamo é percorrida pelo feixe prosencefálico medial salino. O núcleo pré-óptico medial é um importante centro
(Figura 27.5), complexo sistema de fibras que estabelecem de regulação dos fluidos corporais, osmolaridade, tempera-
conexões nos dois sentidos, entre a área septal, pertencen- tura, sono e homeostase cardiovascular.
te ao sistema límbico, e a formação reticular do mesencé- Os principais núcleos do hipotálamo (Figura 21.1) es-
falo. Muitas dessas fibras terminam no hipotálamo e estão tão relacionados na chave a seguir.

1
As conexões e funções desses núcleos serão estudadas
nos itens seguintes.
O hipotálamo tem conexões muito amplas e compli·
cadas, com diferentes regiões do sistema nervoso central
órgão vascular da lamina terminal (SNC), algumas por meio de fibras que se reúnem em feixes
área núcleo pré-óptico medial bem definidos, outras por meio de feixes mais difusos e de
pré-óptica núcleo pré-óptico lateral difícil identificação. Tem também conexões lntra-hlpotaltlml•
núcleo pré-óptico ventrolateral cas entre alguns de seus diferentes núcleos. O hipotálamo
recebe sinais das vias sensoriais, de várias áreas do SNC e
tem eferências que, como resultado final, contribuirão para
núcleo supraquiasmático a regulação da homeostasia. A seguir, serão estudadas, de
supra-óptico núcleo supra-óptico maneira esquemática, apenas as conexões mais Importan-
núcleo paraventricular tes, agrupadas de modo a evidenciar as suas relações com as
Hipotálamo grandes funções do hipotálamo.

núcleo dorsomedlal 2.1 Conexões com o sistema límbico


tuberal núcleo ventromedlal O sistema límbico compreende uma série de estruturas
núcleo arqueado (ou infundibular} relacionadas principalmente com a regulação do compor-
tamento emocional e da memória. Entre elas, destacam-se,
pelas relações recíprocas que têm com o hipotálamo, o hi-
núcleos mamilares pocampo, o corpo amigdaloide e a área septal:
mamilar núcleo tuberomamilar
a) Hipocampo - liga-se pelo fórnice aos núcleos mami-
núcleo posterior
lares do hipotálamo, de onde os impulsos nervosos

Sulco Núcleo
Aderência lntertalõmica hipotalámlco dor$0medial Forame
interventricular
'' \
\ 1
1
'' \
\ 1
'' \ 1
1 ,,,,., , · fómice
Traio
''' \
1
,,.,
--
\
mamilotalômico \ 1
....,_
\
1
,,,,,,,,
., __ Comlssura anterior
\
\ '
1
--
Núcleo poroventricular

--- Área pré-óptica

Lâmina terminal

\
Nervo 1 \ Núcleo supra-óptico
I I \
oeulomotor- - - I
I \
I
,,,. I 1
1
',
,.,. / 1 / • Núcleo suproquiasmática
''
/
I / \
,,,,/"'
/
I
/
I
,' /
,' ,,, \

Corpo /
,' I • \
I I I \
mamilar
,
,I /
I
Núcleo
/
/
I
Núcleo ',
\

Núcleo Área arqueodo Hoste ventromedial Quiasma


posterior lateral do infvndibular óptico
hipotálamo

Figura 21. 1 Esquema da regíáo hipotal~mlca do hemisfério esquerdo mostrando os principais núcleos. O fórnlce divide o hipotálamo em
uma área lateral (em vermelho) e outra medial (em amarelo), onde est~o os principais núcleos.
Fonce: Modificada de NAUTA WJ.F~HAYMAKER. W. The hypothalamus. Springfield. lL: C.C. Thomas. 1969.

198 NturoanatomiaFuncional
seguem para o núcleo anterior do tâlamo através em neurossecreção, transportando os hormônios
do fascfcufo momifotafômico (Figura 23.2), fazendo antidiurético (ADH ou vasopressina) e ocltocina.
parte do chamado circuito de Popez (Figura 27.2). b) Trato tuberoinfundibular (ou túbero-hipofisário) - é
Dos núcleos mamilares, impulsos nervosos chegam constituído de fibras que se originam em neurô-
também à formação reticular do mesencéfalo pelo nios pequenos (parvocelulares) do núcleo arquea-
foscfcufo mamilotegmentor. do e em áreas vizinhas do hipotálamo tuberal e
b) Corpo amigdafoide - fibras originadas nos núdeos terminam na eminência mediana e na haste infun-
do corpo amigdaloide chegam ao hipotálamo, prin- dibular (Figura 21.3). Essas fibras transportam os
cipalmente através da estria terminal (Figura 7.3). hormônios que ativam ou inibem as secreções dos
c) Área septo/- a área septal liga-se ao hipotálamo por hormônios da adeno-hlpófise.
meio de fibras que percorrem o feixe prosencefáli-
co medial.
Núcleo paraventricular----
2.2 Conexões com a área pré-frontal
Estas conexões têm o mesmo sentido funcional das
anteriores, visto que o córtex da área pré-frontal também Núcleo supr<HJptico ----
se relaciona com o comportamento emocional. A área pré-
-frontal mantém conexões com o hipotálamo diretamente
ou por Intermédio do núcleo dorsomedlal do tálamo.
,,,
,, ... ~--~--'
2.3 Conexões viscerais ,,,,, .,, ,,. ,.
Para exercer o seu papel básico de controlador das fun- ,,,,
ções viscerais, o hipotálamo mantém conexões aferentes e Traio hipatalomo-hipafisório
eferentes com os neurônios da medula e do tronco encefá-
lico relacionados com essas funções.

2.3.t Conexões viscerais aferentes


O hipotálamo recebe informações sobre a atividade das
Neuro-hipófise --- ---------- -
vísceras por meio de suas conexões diretas com o núcleo
do trato solitário (fibras solitório-hipotofómicos). Como já foi
visto, esse núcleo recebe toda a sensibilidade víscera!, tanto
geral como especial (gustação), que entra no sistema nervo- Agura 21.2 Conexões do h ipotálamo com a neuro-hipófise.
so pelos nervos facial, glossofaríngeo e vago.
Núcleo arqueado
23 ..2 Conexões viscerais eferentes l
O hipotálamo controla o sistema nervoso autônomo
agindo, direta ou indiretamente, sobre os neurônios pré-
-ganglionares dos sistemas simpático e parassimpátlco. As
conexões diretas são feitas por intermédio de fibras que, de .... Trato tuberainfundibular
vários núcleos do hipotálamo, terminam seja nos núcleos Artéria
da coluna eferente visceral geral do tronco encefálico, seja hipafi sório - - - ·
.
superior
na coluna lateral da medula (fibras hipotalomospinois). Asco-
- ...._ -----
nexões Indiretas são feitas por meio da formaçAo reticular e
dos tratos retlculospinais. ª --Veios do sistema
parto hipofisório

2.4 Conexões com a hipófise


Veia
tJa,~ -- ---- -- Adeno-hipófise
O hipotálamo tem apenas conexões eferentes com a hi-
pófise, que são feitas por intermédio dos tratos hipotálamo- hipafisória - - -
-hipofisário e tuberoinfundibular:
Figura 21.3 Conexões do hipotálamo com a adeno-hipófise.
a) Troto hiporólamo-hipofisório - formado por fibras
que se originam nos neurônios grandes (magnoce-
lulares) dos núcleos supra-óptico e paraventricular 2.S Conexões sensoriais
e terminam na neuro-hipófise {Figura 21.2). As fi. Além das informações sensoriais provenientes das vísce-
bras desse trato, que constituem os principaiscom- ras, já vistas no item 2.3, diversas outras modalidades senso-
ponentes estruturais da neuro-hipófise, são ricas riais têm acesso ao hipotálamo por vias indiretas, nem sempre

• Capítulo 21 Estrutura eFunções do Hipotálamo 199


bem conhecidas. Assim, por exemplo, o hipotálamo recebe cida pela área pré-óptica medial ao hipotálamo. Este é
Informações sensoriais das áreas erógenas, como os mami- informado da temperatura corporal, não só por termor-
los e os órgãos genitais, importantes para o fenómeno da receptores periféricos, mas principalmente por neurónios
ereção. Existem também conexões diretas do córtex olíató- que funcionam como termorreceptores. Assim, o hipotá-
rio e da retina com o hipotálamo. Estas últimas são feitas por lamo funciona como um termostato capaz de detectar as
meio do t.rato rellno-hiporalômico, que termina no núcleo su- variações de temperatura do sangue que por ele passa
praquiasmático e, em parte, também no núcleo pré-óptico e ativar os mecanismos de perda ou de conservação do
ventrolateral. Essas conexões estão envolvidas na regulação calor necessários à manutenção da temperatura normal.
dos ritmos circadianos, como o ciclo de claro-escuro, como Existem no hipotálamo dois centros frequen temente de-
será visto no item 3.7. nominados: centro da perdo do calor, situado no hipotá-
lamo anterior (ou pré-óptlco),1 e o centro da conservação
do calor, situado no hipotálamo posterior. Estimulações
no primeiro desencadeiam fenômenos de vasodilatação
As funções do hipotálamo são muito numerosas e im- periférica e sudorese, que resultam em perda de calor; já
portantes. Ele centraliza o controle da homeostase, ou seja, a as estimulações no segundo resultam em vasoconstrição
manutenção do melo interno dentro de limites compatíveis periférica, tremores musculares (calafrios) e até mesmo
com o funcionamento adequado dos diversos órgãos. Para liberação do hormônio tireoidiano, que aumentam o me-
isso, o hipotálamo tem um papel regulador sobre o sistema tabolismo, o qual gera calor. Lesões do centro da perda
nervoso autônomo e o sistema endócrino, integrando-os do calor no hipotála mo anterior, em consequência, por
com comportamentos vinculados às necessidades do dia a exemplo, de traumatismos cranianos, causam elevação
dia. Controla, também, vários processos motivacionais im- incontrolável da temperatura (febre central), quase sem-
portantes para a sobrevivência do indivíduo e da espécie, pre fatai. Este é um acidente que pode surgir nas cirurgias
como a fome, a sede e o sexo. Processos motivacionais são da hipófise, em que o procedimento cirúrgico é feito na
impulsos internos que levam à realização de comportamen- região próxima ao hipotálamo anterior. Sabe-se, também,
tos específicos e de ajustes corporais. A sensação de calor, que a febre que acompanha processos inflamatórios re-
por exemplo, provoca um desconforto que disparará meca- sulta do comprometimento dos neurônios termorregula-
nismos internos Inconscientes para dissipá-lo, como a sudo- dores do hipotálamo anterior, que deíxarn de perder ca lor_
rese e o comportamento de procura de local fresco. Assim, O hipotálamo ativa regiões corticais para determinar
ocorre com as sensações de fome, sede, frio, determinando os comportamentos motivacionais de busca de abrigo, aga-
ajustes internos e comportamentos específicos, visando ga-
salho para o frio ou de local fresco e ventilação para o calor.
rantir a constãncia do meio Interno (homeostase) e a sobre-
vivência do indivíduo. 3.3 Regulação do comportamento emocional
As principais funções do hipotálamo são descritas de
Multas áreas do hipotálamo pertencem ao sistema
maneira sucinta nos Itens que se seguem.
límbico e exercem uma importante função na regulação
de processos emocionais, assunto que será estudado no
3.1 Controle do sistema nervoso autônomo
Capitulo 27.
O hipotálamo é o centro suprassegmentar mais im-
portante do sistPma nervoso autônomo, exercendo essa 3.4 Regulação do equilíbrio hldrossallno e da pressão
função juntamente com outras áreas do cérebro, em espe-
arterial
cial com as do sistema límbico. Estimulações elétricas em
áreas determinadas do hipotálamo dão respostas típicas O equilíbrio hidrossalino exige mecanismos automáti-
dos sistemas parassimpático e simpático. Quando essas es- cos de regulação do volume de liquido do organismo, na
timulações sAo feitas no hipotálamo anterior, determinam prática representada pelo volume de sangue (volemia), e
aumento do peristalrismo gastrolntcstinal, contração da be- da osmolaridade, representada principalmente pela con-
xiga, diminuição do ritmo cardíaco e da pressão sangufnea, centração extracelular de Ians Na•. É fácil entender que a
assim como constrição da pupila. Assim, o hipotálamo ante- pressão arterial está diretamente ligada à volemia e à con•
rior controla principalmente o sistema parassimpátlco. Já a centração de Na~. O principal mecanismo que o hipotála-
estimulação do hipotálamo posterior dá respostas opostas mo dispõe para regulação do equilíbrio hidrossalino é a
a essas, porque controla sobretudo o sistema slmpátíco. As liberação do hormônio antidiurétlco (vasopressina), que,
funções do sistema nervoso autônomo já foram estudadas como já vimos, é sintetizado pelos neurônios dos núcleos
no Capítulo 12 supra-óptico e paraventricular e liberado na neuro-hipófise.
Para exercer tal função, esses neurônios recebem informa-
3.2 Regulação da temperatura corporal ções por meio de aferências que mant~m com dois órgãos

A capacidade de regular a temperatura corporal, ca-


racterística especial dos animais homeotérmicos, é exer- 1 Mais exatamente no núcleo pré-óptico medial.

200 Neuroanalomia Funcional


circunventriculares (Capitulo 18, item 6) - o órgão vascular por exemplo. em tumores suprasselares e resultam em um
da lãmina terminal e o órgão subfornicial (Figura 18.16). quadro de obesidade frequentemente acompanhado de
Neles, não existe barreira hematoenccfálica, o que permite hipogonadisrno, por interferência com os mecanismos
detectar, no caso do órgão vascular, a osmolaridade do san- hlpotalamlcos que regulam a secreção dos hormônios
gue, e, no caso do órgão subfornicíal, os níveis circulantes gonadotrópicos pela adeno-hipófise. Nesse caso, temos a
de angiotensina 2, que é um potente vasopressor. Esse me- chamada síndrome adiposogenftal de Frõhlich. Costuma-
canismo funciona normalmente, mas é ativado em casos -se distinguir no hipotálamo um cenrro da fome, situado
de diminuição de pressão, por exemplo, em hemorragias, no hipotálamo lateral, e um centro da saciedade, corres-
promovendo o aumento da liberação de hormônio anti· pondendo ao núcleo ventromedial.
diurético pela neuro-hipófise. Outro mecanismo regulador A existência dos centros hipotalamicos de fome e de
da Ingestão de água e sal. que mantém a volemia e a con- saciedade é uma explicação simplista, para fins didáticos. do
centração de sódio dentro de valores normais, tem como processo de regulação da ingestão de alimento, que envol-
base receptores periféricos de pressão (barorreceptorcs), ve outros mecanismos neurais e endócrinos. O mecanismo
localizados nas paredes dos grandes vasos e no seio carotí- endócrino mais importante envolve o hormônio leptina,
deo, no arco aórtico. Csses receptores percebem alterações secretado pelas células do tecido adiposo (adípócitos), que
da pressão arterial e transmitem aos núdeos do trato soli- é lançado no sangue. A insulina também informa sobre o
tário, pelo nervo glossofarlngeo, que, por sua vez, transmite nível de reserva energética do organismo. A leptina informa
ao núcleo parabraquial da ponte. Esse núcleo conecta-se o núcleo arqueado do hipotálamo sobre a abundância de
com os núcleos paraventricular e supra-óptico e com neu- gordura existente no corpo, que é proporcional ao volume
rônios receptores na área pré-óptica. Quando o sinal detec- de leptina liberada, e ele libera o hormônio a-melanócito-
tado é de hipovolemia, secreta-se o hormônio antidiurético eslimulante, responsável pela saciedade. A distensão do
(vasopressina), que promove vasoconstrição e reabsorção estômago também estimula a saciedade. Ao contrário, a
de sódio e água; se for detectada hiponatremia, é liberado grelina é liberada por células endócrinas da parede esto-
pela hipófise o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH), que macal em jejum e estirr,ula a fome. Para a maioria dos Indi-
estimula a secreção de aldosterona pela suprarrenal, reab- víduos, as reservas de gordura se mantêm estáveis. Há um
sorvendo sódio. equilíbrio enlfe a lngesta e o gasto energético. O crescente
Do que foi visto, o hipotálamo regula a volemia por crescimento da obesidade está relacionado com causas ge-
mecanismos automáticos e inconscientes. Mas ele ativa néticas e mudanças no estilo de vida. Entre as várias causas
também a ingestão de água e sal, despertando ou não a genéticas, está a redução de receptores para leptína nos
sensação de sede ou o desejo de ingestão de alimentos neurónios do núcleo arqueado do hipotálamo.
salgados. A estimulação elétrica dos núcleos pré-ópticos
mediais, assim como do órgão subcomissural e do órgão 3.6 Regulação do sistema endócrino
vascular da lãmina terminal, estimula a sede e a ingestão de O sistema neuroendócrino é um importante braço efe-
água pelo animal, que pode morrer por excesso de inges- rente, por meio do qual o hipotálamo controla a secreção
tão de água. Essas áreas são consideradas o centro da sede. de hormônios da hipófise.
A lesão dessas áreas faz o animal perder a sede. podendo
morrer desidratado. 3.6.1 Relações dohipotálamo com a neuro-hipófise
Assim, a desidratação aumenta a atividade dos neurô- As ideias de que o hipotálamo teria relações importan-
nios do órgão subfornicial e do órgão vascular da ltlmina tes com a neuro-hipófise surgiram a propósito da doença
terminal e dos núcleos pré-ópticos mediais e estimulam a conhecida, como o diabetes insipidus. Essa doença carac-
sede e a liberação de vasopressina. teriza-se por grande aumento da quantidade de urina eli-
minada, sem que haja eliminação de glicose, como ocorre
3.5 Regulação da Ingestão de alimentos no diabetes mellitus. Ela resulta da diminuição dos níveis
A estimulação do hipotálamo lateral faz com que o sanguíneos do hormônio antidiurético (AOH ou vasopressi-
anirnal se alimente vorazmente, enquanto a estimulação na). Verificou-se que o diabetes insipidus ocorre não só em
do núcleo ventromedlal do hipotálamo causa total sacie- processos patológicos da neuro-hipófise, mas também em
dade, ou seja, o animal recusa-se a comer mesmo na pre- certas lesões do hipotálamo. Isso se explica pelo fato de
sença de alimentos apetitosos. Lesões destrutivas dessas que o hormônio antldiurétlco é sintetizado pelos neurônios
áreas causam efeitos opostos aos da eslimulação. Assim, dos núcleos supra-óptico e paraventricular do hipotálamo
lesões da área lateral do hipotálamo causam ausência e, a seguir, é transportado pelas fibras do trato hipotálamo-
completa do desejo de alimentar-se (anorexia), subme- -hipofisário (Figura 21.2) até a neuro-hipófise, onde é li-
tendo o animal à inanição, enquanto nas lesões do núcleo berado. O hormônio antídlurétlco (e também o ocítócico)
ventromedial, o animal alimenta-se exageradamente (hi- é transportado acoplado a uma proteína transportadora
perfagia), tornando-se extremamente obeso. Isso ocorre, (neuroíisina) que se cora com a técnica de Gomorí (substãn-

• Capítulo 21 Estrvwra e Fun~ões do Hipotálamo 201


eia de Gomori positiva) (Figura 21 A). O estudo histológico neurossecretores situados no núcleo arqueado e áreas vi-
dessa substância foi Importante, pois permitiu a descober- zinhas do hipotálamo tuberal secretam substâncias ativas
ta da neurossecreçõo. De acordo com esse estudo, alguns que descem por fluxo axoplasmático nas fibras do rroro tu-
neurônios seriam capazes não só de conduzir impulsos beroinfundibulor (Figura 21.3) e são liberadas em capilares
nervosos, mas de sintetizar e secretar substâncias. Os gran- especiais, situados na eminência mediana e na haste infun-
des neurônios neurossecretores dos núcleos supra-óptico dlbular. Inicia-se, então, a conexão vascular, que é feita por
e paraventricular sintetizam os hormônios antidíurético, Intermédio do sisremo porro-hipofisório (Figura 21.3). Lem-
ou vasopresslna, e a ocitocina. Na neuro-hipófise, as fibras bremos que o sistema porta é aquele constituído por veias
do trato hipotálamo-hipofisário terminam em relação com interpostas entre duas redes capilares. Os hormônios libe-
vasos situados em septos conjuntivos, o que permite a libe- rados pelo hipotálamo na primeira dessas redes. ou seja, na
ração dos hormônios na corrente sanguínea. Essa liberação eminência mediana e na haste infundibular. passam através
é facilitada pelo fato de que os capilares da neuro-hipó- das veias do sistema porta à segunda rede capilar situada
fise, assim como dos demais órgãos circunventrículares na adeno-hlpófise. onde atuam regulando a liberação dos
(Capítulo 18, Item 6), são fenestrados. não existindo, pois, hormônios adeno-hlpofisários. Isso é feito por estimulação
barreira hematoencefálíca. O hormônio antidiurético age e por inibição, existindo, pois, hormônios hipotalãmicos li-
beradores e inibidores da liberação dos hormônios adeno-
nos túbulos renais aumentando a reabsorção de água. Já
·hipofisários, que são os seguintes: adrenocorticotrópico
a ocitocina promove a contração da musculatura uterina
(ACTH); tireotrópico (TSH); folículo-estimulante (FSH); lutei-
e das células mloepíteliais das glândulas mamárias, sendo
nizante (LH); hormônio do crescimento (GH); melanócíto-
importante no momento do parto ou na ejeção do leite.
·estimulante (MSH); e prolactina. Para todos eles, existem
Este último fenômeno envolve um reflexo neuroendócrino
hormônios hipotalàmicos liberadores, e a prolactina e o
por meio do qual os impulsos sensoriais que resultam da hormônio de crescimento têm também hormônios hipo-
sucção do mamilo pela criança são levados à medula e daí
talàmlcos inibidores. O hipotálamo é sensível à ação dos
ao hipotálamo, onde estimulam a produção de ocitocina hormônios circulantes que, por retroalimentação, regulam
pelos núcleos supra-óptico e paraventricular e a sua libera- a sua secreçao.
ção na neuro-hipófise. Hoje, sabe-se que também o choro
A descoberta de que o hipotálamo regula a liberação
do bebê estimula a produção e liberação da ocitocina pe-
dos hormônios da adeno-hipófise veio mudar o conceito
los neurônios neurossecretores do hipotálamo. A ocitoclna tradicional de que essa glândula seria a ºglândula mestra: re-
está também relacionada com a capacidade de empatia. guladora de todo o sistema endócrino. Assim, a adeno-hipó-
Estudos clínicos estão sendo realizados na tentativa deva- fise pode ser considerada apenas um elo entre o hipotálamo
lidar o seu uso para aumentar a capacidade de empatia e neurossecretor e as glândulas endócrinas que ela regula.
interação social em crianças autistas.

Tabela 21.1 Relações do hipotálamo com a adeno-hipófise


Hormônio hipotalâmico Hormônio hipofisário
Hormônio liberador da Tireotrofina (TSH)
tlreotrofina (TRH)
Hormônio llberador da Adrenocorticotrofina

corticotrofina (CRH) (ACTH)

Hormônio llberador da Hormônio lutenizante


r . gonadotrofina (LH). hormônio folículo

estimulante (FSH)

Hormônio liberador do hormônio Hormônio de crescimento
..
- de crescimento
Hormônio lnibld0< da prolactlna
(GH)
Prolactina
Figura 21.4 Neurônio neurossecretor do núcleo supra-óptico de (PIH), dopamina
macaco guariba (Allouar.a), contendo substância Gomori-positiva
no corpo celular e no axônio (se1as). Hemaroxilina alúmen-oõnica Hormônio inibidor da liberação Hormônio de crescimento,
(preparação do técnico Rubens Miranda). do GH (GIH ou somatostalina) tlreotrotina

3.6.2 Relações do hipotálamo com aadeno-hipófise 3.7 Geração e regulação de ritmos drcadlanos
O hipotálamo regula a secreção dos hormônios da A maioria de nossos pararnetros tislológicos, metabó-
adeno-hipófise por um mecanismo que envolve uma cone- licos ou mesmo comportamentais sofre oscilações que
xão nervosa e outra vascular. Através da primeira, neurônios se repetem no período de 24 horas. Isso é observado, por

202 Neuroanatomla funcional


exemplo, na temperatura corporal, no nível circulante cefalite letárgica, doença em que há uma grave sonolência,
de eosinófilos, em vários hormônios, na glicose e em vá- com lesões do hipotálamo. O núcleo supraquiasmático é
rias outras substâncias, ou mesmo nos padrões de ativi- responsável pela geração e sincronização do ritmo circadia-
dade motora e de sono e vigília. Essas variações rítmicas no de sono e vigília. O nível de alerta é regulado pela área
são endógenas, ou seja, elas ocorrem mesmo quando o hipotal:lmica lateral e o núcleo tuberomamilar. Este último
animal é rnantido em escuro permanente. Contudo, nes- contém neurônios histaminérgicos.
se caso o ritmo pouco a pouco perde o seu sincronismo Informações são passadas ao núcleo pré-óptico
com o ritmo externo de claro e escuro, e o período de ventrolateral e a um grupo de neurônios do hipotálamo
oscilação passa a ser ligeiramente diferente de 24 horas, lateral, que t~m como neurotransmissor o peptídeo ore-
donde o termo circadiano, do latim circo (cerca) e dles xina (ou hipocretina). Os neurônios do núcleo pré-óptico
(dia), ou seja, de aproximadamente um dia. Os ritmos circa- ventrolateral são gabaérgicos e inibem os neurônios mo·
dianos ocorrem em quase todos os organismos e são ge- noaminérgicos do sistema ativador ascendente, o que re-
rados em marca-passos ou relógios biológicos. Atualmente, sulta em sono. Ao final do período de sono, sob a ação
está demonstrado que, nos mamíferos, o principal marca- do núcleo supraquiasmático, essa inibição cessa e começa
-passo situa-se no núcleo supraquiasmático do hipotálamo a ação excitatória dos neurônios orexinérgicos sobre os
(Figura 21.1 ). cuja destruição abole a maioria dos ritmos neurónios desse sistema e Inicia-se a vigília. Os neurônios
circadianos.2 Os próprios neurônios do núcleo supraquias- orexínérgicos têm também ação inibitória sobre os neurõ·
mático exibem uma atividade circadlana evidenciável em nios colinérgicos do núcleo tegmentar pedunculopontino,
seu metabolismo ou em sua atividade elétrica. Verificou-se responsáveis pelo sono REM.
que o ritmo circadiano de atividade elétrica pode ser obser- Como já foi visto no Item anterior, o núcleo supraquias·
vado até mesmo em neurônios do núcleo supraquiasmático mático sincroniza o ritmo vigília sono com o ciclo dia-noite
mantidos in vitro. A destruição do núcleo supraquiasmáti- e para isso recebe informações pelo trato retino·hipotalâ-
co resulta em perda da maioria dos ritmos, Inclusive os de mico. Pesquisas recentes demonstram a existência de fi-
vigília-sono. bras que da retina projetam-se diretamente para o núcleo
Existem, no SNC, relógios biológicos, que geram rit· pré-óptico ventrolateral. bloqueando o efeito inibidor que
mos circadianos, independentemente do núcleo supra- esses neurônios têm sobre o sistema ativador ascendente.
quiasmático. como nos núcleos supra-óptico e arqueado, A melatonina, o hormônio produzido pela glândula pine-
responsáveis pelos ritmos circadianos dos hormônios hi· la, é liberado ao entardecer, com a perda da luminosidade.
pofisários. Demonstrou-se tambérn a presença de relógios Esse hormônio age no núcleo supraquiasmatico, reforçan-
biológicos fora do sistema nervoso,3 como nos hepatócí- do o ritmo circadiano. Isso explica por que a luz dificulta o
tos, os quais são responsáveis pelos ritmos circadlanos de adormecer. O ritmo drcadiano natural vai um pouco além
subst~ncias ligadas às funç.ões hepáticas, por exemplo, as de 24 horas. Por isso. no caso de pessoas cegas ou que se
enzimas da glicogenóllse. O núcleo supraquiasmático re- mantêm completamente no escuro, a tend~ncia é o pro-
cebe informações sobre a luminosidade do meio ambien- longamento progressivo do ritmo que se desvincula do rit-
te através do trato retino-hipotalãmico, o que lhe permite mo dia-noite. O estudo mais detalhado do ciclo sono-vigília
sincronizar com o ritmo natural de dia e noite todos os rit· foi visto no Capítulo 20.
mos circadianos de todos os relógios biológicos, inclusive
os situados fora do SNC. 3.9 Integração do comportamento sexual
3.8 Regulação do sono e da vigília Algumas funções hipotalãmicas não estão relacionadas
com a homeostase e são também importantes para a so-
O envolvimento do hipotálamo com sono e vigília já era
brevivência da espécie. O comportamento sexual depende
conhecido desde 1930, quando o médico austríaco Cons-
de sinais neurais e qufmicos provenientes de todo o corpo,
tantln von Economo correlacionou a sintomatologia da en-
integrados no hipotálamo, com participação de outras re-
giões. A excitação sexual depende de várias áreas encefá-
2 A atividade ritmica do núcleo suprcquiasmético depende dos chama-
licas, como o córtex pré-frontal, o sistema límbico (corpo
dos genes relógio. Eles transcrevem RNAm, o qual é traduzido cm pro· amlgdaloide e parte anterior do giro do cfngulo) e estria-
1einas e5peciais. Essas proteinas vão aumentando e dlã'pols de algum do ventral. todas as áreas com conexões recíprocas com o
tempo passam a Inibir o mecanismo df' rranscrlçilo, dln1inuindo a ex- hipotálamo. Neste, a excitação está ligada diretamente aos
pres~o gênica. Como consequência, menos proteína é sintetizada e a dois núcleos pré-ópticos. Estudos com ressonância magné-
express3o génlca novamente aumenta, Iniciando um novo ciclo. Todo
ciclo ocorre em cerca de 24 horas, e ao ritmo químico corresponde um tica funcional demonstraram que eles são ativados em si-
ritmo de disparos potenciais dos neurônios. Cada neurônio é um reló- l uações em que se manifesta a excitação sexual. A ereção e
gio e deve ser sincronizado de modo a fornecer a todo o encéfalo urna a ejaculação dependem do sistema nervoso autónomo que,
única mensagem sobre o tempo. [ss.J sincronizaç~ é fe·1a por sinapses por sua vez. é regulado pelo hipotálamo. O prazer sexual,
elétricas entre esses neurônios.
entretanto, depende de áreas do sistema dopaminérgico
3 Revls.,o cm: MOHAWK. J.Á~ FREEN, CB.; TAKAI IASI li, J.S. Centr.il and
peripheral clrcadlan clocks ln mammals. Annual Revie-,v of Neuroscience. mesolímbico, em especial o núcleo accumbens, que tam-
2012;445-46], bém tem conexões com o hipotálamo.

■ Capitulo 2 1 Estrutur, , Funções do Hipotálamo 203


O estudo comparativo enlre os hipotálamos de ma- lher é diferente, sobretudo entre os animais. Isso inclui a
chos e fêmeas mostrou áreas sexualmente dismórlicas agressividade e a defesa de território entre os machos e o
como a área pré-óptica especialmente o núcleo lnsters- comportamento de proteção e amamentação das fêmeas.
ticiai 3 do hipotálamo anterior. Os núcleos pré-ópticos Existem outras áreas sexualmente dismórficas no hipotá-
contêm mais neurônios no homem do que na mulher. lamo e áreas extra hipotalâmicas. Como exemplo citamos
Estas e outras áreas dismórficas são reguladoras das dife- o núcleo da estria terminal. Diferenças sutis ocorrem tam-
renças de comportamento sexual entre machos e fêmeas. bém na porção medial da amígdala, córtex pré-frontal,
A alta taxa de testosterona feral nos machos é responsável giro lingual e giro angular. O núcleo da estria terminal e
pela diferenciação ou masculinização do cérebro que in- o bulbo olfatório acessório s~o sensíveis a feromônios e
fluenciará o comportamento sexual quando adultos, fa- fazem conexão com a substância cinzenta periaquedutal
zendo a maioria dos machos se Interessar por fêmeas e para a coordenação do comportamento motor e do siste-
vice-versa. O comportamento sexual do homem e da mu- ma nervoso autônomo.

204 Neuroalliltomia runcional


Estrutura e Funções do Cerebelo

· . - - - - --Camada molecular
,,,..-~

O cerebelo e o cérebro são os dois órgãos que cons- ~- - - - Camada de células
tituem o sistema nervoso suprassegmentar. O cerebelo ✓✓ de Purldn je
• ..:,.-J)1[,.
represenra apenas 10% do volume do encéfalo, porém
- - - -Camoda granular
contém mais da metade dos neurónios. Tanto o cerebelo
••
como o cérebro apresentam um córtex que envolve urn
centro de substância branca (o centro medular do cérebro e
o corpo medular do cerebelo), onde são observadas massas
de substância cinzenta (os núcleos centrais do cerebelo e
os núcleos da base do cérebro). Entretanto, veremos que a
estrutura fina do córtex cerebral é muito mais complexa do
que a do cerebelo, variando nas diversas áreas cerebrais, en-
quanto no cerebelo ela é uniforme. A Ideia inicial de que o
cerebelo teria funções exclusivamente motoras não é mais
aceita, pois sabe-se hoje que ele participa também de algu- Figura 22.1 Fotomicrografia de um corre histológico de três fo-
mas funções cognitivas. lhas do cerebelo mostrando as camadas (tricrómico de Gomorl,
aumento 40x).

No córtex cerebelar, da superfície para o fnteríor, dlstfn- Estas últimas são assim denominadas por apresentarem
guem-se as segufntes camadas (Figuras 22.1 e 22.2): sinapses axossomáticas dispostas em torno do corpo das
células de Purkinje, à maneira de um cesto (Figura 22.3).
a) camada molecular;
A camada granular é constituída principalmente por
b) camadas de células de Purkinje;
células granulares ou grânulos do cerebelo, células muito
c) camada granular.
pequenas (as menores do corpo humano). cujo citoplasma
lnicfaremos pelo estudo da camada média, formada é muito reduzido. Essas células. extremamente numerosas,
por uma fileira de células de Purkinje, os elementos mais têm vários dendrites e um axônio que atravessa a cama-
fmportantes do cerebelo. As células de Purkinje, piriformes da de células de PurkinJe e, ao atingir a camada molecular,
e grandes (Figura 22.1 ), são dotadas de dendrites, que se bifurca-se em T (Figura 22.3). Os ramos resultantes dessa
ramificam na camada molecular. e de um axônio, que sai em bifurcação constituem as chamadas fibras paralelos, que se
direção oposta (Figura 22.3), terminando nos núcleos cen- dfspõem paralelamente ao eixo da folha cerebelar. Essas
trais do cerebelo, onde exercem ação inibitória. Esses axônios fibras. dispostas ao longo do eixo da folha cerebelar, esta-
constftuem as únicas fibras e-ferentes do córtex do cerebelo. belecem sinapses com os dendrites das células de Purkinje,
A camada molecular é formada principalmente por fi- lembrando a disposição dos fios nos postes de luz (Figura
bras de direção paralela (fibras paralelas) e contém dois ti- 22.3). Desse modo, cada célula granular faz sinapse com
pos de neurônios, as células estreladas e as células em cesto. um grande número de células de Purklnje.
Na camada granular, existe ainda outro tipo de neurô- ção em que as inforrnações que chegam ao cerebelo de
nio, as células de Golgi (Figura 22.3), com ramificações mul- vários setores do sistema nervoso agem inicialmente sobre
to amplas. Essas células, entretanto, são menos numerosas os neurônios dos núcleos centrais de onde saem as respos-
do que as granulares. tas eferentes do cerebelo. A atividade desses neurônios,
por sua vez, é modulada pela ação inibidora das células de
Purkinje. Na realidi.lde, as conexões intrínsecas do cerebelo
são mais complexas, urna vez que o circuito formado pela
união das células granulares com as células de Purkinje é
modulado pela ação de três outras células inibitórias: as
células de Golgi; as células em cesto; e as células estrela-
das. Essas células, assim como as células de Purkinje, agem
mediante a liberação de ácido gama-aminobutírico (GABA}.
CM Já a célula granular, única célula excitatória do córtex cere-
belar, ten, como neurotransmissor o glutamato. A célula de
Purkinje recebe, portanto, sinapses diretamente das fibras
• trepadeiras e indiretarnente das fibras musgosas. Projeta-se
depois para os núcleos centrais do cerebelo ou para o nú-
• .. cleo vestibular, no caso do lobo floculonodular, sendo estas
as vias de saída do cerebelo.

- 4; -- Núdeos centrais-eêírpo medular do ·cerebelõ!!ll


Figura 22.2 Fotomicrografia de um corte histológico de cerebelo São os seguintes os núcleos centrais do cerebelo (Fi-
mostrando as células de Purkinje (setas). gura 22.5}:
CM = camada molecular; CG == camada granular (tricrómico de
Gomori, aumento I SOx}. a} núcleo denteado;
b) núcleo emboliforme;
c} núcleo globoso;
:3:~~: Conexõés irimõsécã.s-do cerebelo _
d) núcleo fastigial.
As fibras que penetram no cerebelo se dirigem ao cór- O núcleo fascigial localiza-se próximo ao plano mediano,
tex e são de dois tipos: fibras musgosas; e fibras trepadeiras 1 em relação com o ponto mais alto do teto do IV ventrículo.
(Figura 22.3}. Estas últimas são axônlos de neurônios si-
O núcleo denteado é o maior dos núcleos centrais do ce-
tuados no complexo olivar inferior, enquanto as fibras rebelo; assemelha-se ao núcleo olivar Inferior e localiza-se
musgosas representam a terminação dos demais feixes mais lateralmente (Figura 22.5). Entre os núcleos fastigial
de fibras que penetrarn no cerebelo. Ambas são glutama- e denteado, localizam-se os núcleos globoso e emboliforme.
térgicas. As fibras trepadeiras tém esse nome porque ter-
Esses dois núcleos são bastante semelhantes do ponto de
minam enrolando-se em torno dos dendrites das células
vista funcional e estrutural, sendo geralmente agrupados
de Purkinje (Figuras 22.3 e 21.4), sobre as quais exercem sob denominação núcleo interpósito.
potente ação excitatória. Já as fibras musgosas, ao penetrar
Dos núcleos centrais saem as fibras eferentes do cere-
no cerebelo, emitem ramos colaterais (Figura 22.4) que
belo e neles chegam os axônios das células de Purkinje e
fazem sinapses excitatórias com os neurônios dos núcleos
colaterais das fibras musgosas.
centrais. Em seguida, atingem a camada granular, onde se
ramificam, terminando em sinapses excitatórias axodendrí- O corpo medular do cerebelo é constituído de substância
branca e formado por fibras mielfnicas, que são principal-
ticas com grande número de células granulares, que, por
mente as seguintes:
meio das fibras paralelas, se ligam às células de Purkinje.
Constitui-se, assim, um circuito cerebelar básico (Figura a) Fibras aferenres ao cerebelo - penetram pelos pe-
22.4}, através do qual os impulsos nervosos que penetram dúnculos cerebelares e dirigem-se ao córtex, onde
no cerebelo pelas fibras musgosas ativam sucessivamente perdem a bainha de mielina.
os neurônios dos núcleos centrais, as células granulares e b) Fibras formadas pelos axônios das células de Purkinje
as células de Purkinje, as quais, por sua vez. Inibem os pró- - dirigem-se aos núcleos centrais e, ao sair do cór-
prios neurônios dos núcleos centrais. Temos, assim, a situa- tex, tornam-se mielinicas.
Ao contrário do que ocorre no cérebro, existem muito
poucas fibras de associação no corpo medular do cerebelo.
1 Além dessas fibras, conhecidas há bastante ternpo, tarnbérn penet.ram
no córtex cerebelar fibras noradrenérgicas e sero1onin~rylcas, origina- Admite-se que essas fibras são ramos colaterais dos axônios
das. respectivamente, no locus ceruleus e nos núcleos da rafe. das células de Purkinje.

206 Neuroanatomta Funcional


Axônio do célula em cesto - \ Célula em cesto Célula de Golgi
Célula de Purkinje , , ', 1 I
1
\ \ 1
\ \
\ \
\

Camada molecular

Camada de células • •••• • •
•• •••
de Purkinje { :....
• •• •••
• ,-·~...._
··•·
Comodo gronulor
. , ,.,~ ••••
... '
• •••
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1
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• • • º• """'-ô~
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•• ••
• •• ••
1
•• •• 1
•• • •
•••• 1
Corpo medular
t 1
'
• 1
do cerebelo 1 ••-

/
I
I

f ' \ '1
1
I f ' ' ',, '
, \\_t1 Glomérulo cerebelor
1
/ f ' ,,,, •
', - Fibra musgoso
Célula gronulor - - - - - - - I ,,, ...
'- - - - - Fibra trepadeira
Axônios de célula de Purkinje - - - - - - - _____ ...J,'

Figura ll.3 Diagrama esquemático de duas folhas do cerebelo mostrando o arranjo das células e das fibras no córtex cerebelar.

Fibra paralelo
\
\
\
\

Botão ,,. ...-+


sinóptico 1
I
I
Espícula' +
dendrílico
Células de

,,,, ,, Purkinje
,,

Célula
granular -

Neurônio dos
núcleos centrais

Fibra Fibra
musgoso trepadeira

Figura 22.4 Esquema do circuito cerebelar básico.

• Capitulo 22 Estrutura eFun(ões do Cmbelo 207


Núcleo emboliforme -- - - - - -\ r - ---- Núcleo fosligiol
\ I
Corpo medular do cerebelo - -- \ I
I
1-- Núcleo denteodo
/ /
l

,.• ~
> • •,
1 .: //
1 ',

Núcleo globoso - .....- 1


/ ' '''- - Verme do cerebelo

Figura 22.s Secçé\o horizontal do cerebelo mostrando os núcleos centrais (método de Barnard, Roberts, Brown).

-- ~~.-
=-----1' - - - -=-..•..---
Esta maneira de se dividir o cerebelo, com base nas co-
nexões do córtex com os núcleos centrais, dá a base para
Vimos no Capitulo 5, parle B, item 4 a divisão anatô- divisão funclonal do cerebelo err1 três partes, a saber:
mica do cerebelo, em que as partes se distribuem trans-
versalmente (Figura 5.7). Existe rambém uma divisão a) Vestibulocerebelo - compreende o lobo floculono-
longitudinal, em que as partes do corpo do cerebelo se dis- dular e tem conexões com o núcleo fastigial e os
põem no senrido medlolareral (Figura 22.6). Distinguem- núcleos vestibulares.
-se uma zona medial, lmpar, correspondendo ao verme, e, b) Espinocerebelo - compreende o verme e a zona in-
de cada lado, uma zona intermédio paravermlana e uma termédia dos hemisférios e tem conexões com a
zona lateral, correspondendo à maior parte dos hemisférios. medula.
A zona lateral, entretanto, não se separa da zona intermédia c) Cerebrocerebelo - compreende a zona lateral e tem
por nenhum elemento visível na superfície do cerebelo. Os conexões com o córtex cerebral.
axõnios das células de Purkinje da zona lateral projetam-se O esquema a seguir mostra a divisão longitudinal doce-
para o núcleo denteado; os da zona medial, para os núcleos rebelo (Figura 22.6) e as três divisões funcionais que serão
fasligial e vestibular lateral; e os da zona intermédia, para o adotadas para o estudo de suas conexões.
núcleo interpósito. As células de Purkinje do lobo floculo-
nodular projetam-se para o núcleo fastigial ou diretamente
para os núcleos vestibulares. Cerebelo
Divisão anatômica DlvlsAo funcional

Corpo do cerebelo lona lateral cerebrocerebelo


Zona medial
Zona
Zona intermédia espinocerebelo
intermédia
Zona medial esplnocerebelo

Lobo floculonodular vestibulocerebelo

Nódulo

6.1 Aspectos gerais


Chegam ao cerebelo do homem alguns milhões de
■ Vestibulocerebelo fibras nervosas. trazendo informações dos mais diversos
[TI úpinocerebelo setores do sistema nervoso. as quais são processadas pelo
O Cerebrocerebelo órgao. cuja resposta, veiculada por intermédio de um com-
plexo sistema de vias eferentes, influenciará os neurônios
Figura 22.6 Esquema da divisão funcional do cerebelo. rrotores. Um princípio geral é que, ao contrário do cérebro,

208 Neuroanatomia Funcional


o cerebelo iníluencia os neurônios rnotores de seu próprio
lado. Para isso. tanto as suas vias aferentes como as eferen- Pedúnculo
tes. quando não são homolaterais, sofrem duplo cruzamen- cerebelor
superior
to. ou seja. vão para o lado oposto e voltam para o mesmo
lado. Esse fato tem Importância clinica. pois a lesão de um
hemisfério cerebelar dá sintomatologia do mesmo lado, en-
quanto no hemisfério cerebral a sintomatologia é do lado ~
oposto. O estudo da origerTl, trajeto e destino das fibras afe-
re.ntes e eferentes do cerebelo é muito importante para a
compreensão da fisiologia e da patologia desse órgão. Esse rJ~·
, . ._
( { ~ : - --i,::-

,J/ --
· Espinocerebelo

estudo será feito separadamente para o vestíbulo, o espino


-e o cerebrocerebelo.
Troto
r -,.Pedú™:ulo ~erebelor

- ------ Troto
inferior

espinocerebelor
6.2 Vestibulocerebelo .>.--;<t, esplnocerebelor
anterior
posterior
6.2.1 Conexões aferentes
As fibras aferentes chegam ao cerebelo pelo fascículo
vestíbulocerebelar, têm origem nos núcleos vestibulares e
distribuem-se ao lobo floculonodular (Figura 15.2). Trazem
Agura 22.7 Conexões aferentes do espinoce,ebelo.
Informações originadas na parte vestibular do ouvido inter-
no sobre a posição da cabeça, importantes para a manuten-
ção do equilíbrio e da postura básica. 6.3.2 Conexões eferentes
Os axônios das células de Purkinje da zona Intermédia
61.2 Conexões eferentes
fazem sinapse no núcleo interpósito, de onde saem fibras
As células de Purkinje do vestibulocerebelo projetam- para o núcleo rubro e para o tálamo do lado oposto. Por
-se para os neurónios dos núcleos vestibulares medial e la- meio das prirneiras, o cerebelo iníluencia os neurónios mo-
teral. Por intermédio do núcleo lateral. modulam os tratos tores pelo trato rubrospinal, constituindo-se a via inrerpósi-
vestibulospinais lateral e medial. que controlam a muscula- ro-rubrospinal (Figura 22.8 ). Já os Impulsos que vão para
tura axial e extensora dos membros para manter o equillbrio o tálamo seguem para as áreas motoras do córtex cerebral
na postura e na marcha, fazendo parte do sistema motor (via lnterpósito-tálamo-cortican, onde se origina o trato cor-
medial da medula. Projeções inibitórias das células de Pur-
ticospinal (Figura 22.8). Asslrn. por intermédio desses dois
kinje para os núcleos vestibulares mediais controlam os mo-
tratos, o cerebelo exerce a sua influência sobre os neurônios
vimentos oculares e coordenam os movimentos da cabeça
motores da medula situados do mesmo lado. A ação do nú-
e dos olhos por meio do fascículo longitudinal medial.
cleo interpósito é realizada diretamente sobre os neurônios
6.3 Espinocerebelo motore.~ do grupo lateral da coluna anterior, que controlam
os músculos distais dos mernbros responsáveis por movi-
6.3.1 Conexões aferentes mentos delicados.
Essas conexões são representadas principalmente pe- Os axónios das células de Purkinje da zona medial fa-
los tratos esoinocerebelor anterior e espinocerebelor posrerior zem sinapse nos núdeos fastlgiais. de onde sai o trato fas-
(Figura 22.7), que penetram no cerebelo, respectivamente, tigiobulbar com dois tipos de fibras: fastigiovestibulores e
pelos pedúnculos cerebelares superior e inferior e terminam fostigiorreticulores. As primeiras fazem sinapse nos núcleos
no córtex das zonas medial e intermédia. Recebe tambélTl vestibulares. a partir dos quais os impulsos nervosos, por
informações visuais, auditivas, vestibulares e somatossenso- meio do trato vestibulospinal, projetam-se sobre os neurô-
riais. O verme controla a postura, locomoção e movimen- nios motores (Figura 15.2); as segundas terminam na for-
tos oculares. A lesão da área visual do verme prejudica os mação reticular, a partir da qual os impulsos atingem, pelos
movimentos sacádicos que. desregulados, ultrapassam o tratos reticulospinais, os neurônios motores. Em ambos os
alvo e causam oscilações. Por meio do trato espinocerebc- casos, a lníluêncla do cerebelo se exerce sobre os neuró-
lar posterior, o cerebelo recebe sinais sensoriais originados nios motores do grupo medial da coluna anterior, os quais
em receptores proprloceptivos e, em menor grau, de outros
controlam a musculatura axial e proximal dos membros. no
receptores somáticos, o que lhe permite avaliar o grau de
sentido de manter o equilíbrio e a postura.
contração dos músculos, a tensão nas cápsulas articulares
e nos tendões, assim como as posições e velocidades do 6.4 Cerebrocerebelo
movimento das partes do corpo. Já as fibras do trato espino-
cerebelar anterior são ativadas principalmente pelos sinais 6.4.1 Conexões aferentes
motores que chegam à medula pelos tratos corticospinal e As fibras pontinos, também chamadas pontocerebelares,
rubrospinal, permitindo ao cerebelo avaliar o grau de ativi- têm origem nos núcleos pontinos. penetram no cerebelo
dade nesse trato. pelo pedúnculo cerebelar médio, distribuindo-se ao córtex

• Capitulo 22 Estrutura efunçõts do Certbdo 209


1
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Tólomo
t N úcleo rubro

Fibra inlerp6site>lolõmico - - - - - - \ 1--- - - - - - - - Fibra interp6sitC>fÚbrico


t N úcleo interp6sito

•••
.• -...
;..,-:: •
.• •
........-:::: 1 •

. I~
Zona intermédio /,1 í)lf~
Troto rubrospinol
Troto corticospinol

'· .,!... [!f:::;,L----- N eurônio motor

Figura ll.8 Conexões eferentes do espinocerebelo.

da zona lateral dos hemisférios. Fazem parte da via cortico- Por intermédio desse trato, o núcleo denteado participa
pontocerebelar (Figura 22.9), por meio da qual chegam ao da atividade motora, agindo sobre a musculatura distal
cerebelo informações oriundas de áreas motoras e não mo- dos membros responsáveis por movimentos finos que en-
toras do córtex cerebral. A projeção córtico-pontocerebelar volvem múltiplas articulações. Controla o planejamento, o
tem mais fibras do que a projeção corticospinal, o que dá início, a velocidade e o tempo do movimento. O distúrbio
uma ideia da sua impomncia funcional. causa o tremor de ação e dismetrla.

6.4.2 Conexões eferentes 7,--;,;; Resumo"dos aspectos funcionais· -


Os axônios das células de Purkinje da zona lateral do As principais funções do cerebelo são: manutenção
cerebelo fazem sinapse no núcleo denteado, de onde os do equilíbrio e da postura; controle do tônus muscular;
Impulsos seguem para o tálamo do lado oposto e daí para controle dos movimentos voluntários; aprendizagem mo-
as áreas motoras do córtex cerebral (via denco-cá/amo-cor- tora; e funções cognitivas especificas. que serão detalha-
ricoO, onde se origina o trato corticospinal (Figura 22.9). das a seguir.

21 O Neuroanatomia Funcional

- -~----- --
.
- ... . .
.
-- .
. .
; . . ' . . - . ·w
-..
Área cortical motora

. .... . .
...
·.. '•.....
. ..
'

.
.·.: .... . ..
...'
....:,.. ..- ..-.•...· ..
. .... . . .

T61amo
t t


Troto corticospinol

Núc.lao denleado
Fibros ponto-cerebelores

Zona lateral do cérebro


Núcloos pontinos

Flguni 22,9 Conexões do cerebrocerebelo: aferentes (em preto) e eferentes (em vermelho).

7.1 Manuten~o do equilíbrio e da postura movimento, certo nível de atividade espontãnea. Essa ati·
Essas funções se fazem basicamente pelo vestibuloce- vidade, agindo sobre os neurônios motores das vias laterais
rebelo, que promove a contração adequada dos músculos (tratos corticospinal e rubrospinal) é também importante
axiais e proximais dos membros, de modo a manter o equi- para a manutenção do tõnus.
líbrio e a postura normal, mesmo nas condições em que o
corpo se desloca. A influência do cerebelo é transmitida aos 7.3 Controle dos movimentos voluntários
neurônios motores pelos tratos vestibulospinais. O papel do cerebelo no controle dos movimentos vo-
luntários é amplamente conhecido. Lesões do cerebelo têm
7.2 Controle do t6nus muscular como sintomatologia uma grave ataxia, ou seja. falta de
Um dos sintomas da descerebelízação é a perda do coordenação dos movimentos voluntários decorrentes de
tônus muscular, que pode ocorrer também por lesão dos erros na força. extensão e direção do movimento. O meca-
núdeos centrais. Sabe-se que esses núcleos, em especial o nismo pelo qual o cerebelo controla o movimento envolve
dendeado e interposto, mantêm, mesmo na ausência de duas etapas: uma de planejamenro do movimenco e outra de

• Capitulo 22 Estrutura e Funções do Cerebelo 211


correção do movimento já em execução. O planejamento do que o sistema nervoso aprende a executar as tarefas moto-
movimento é elaborado no cerebrocerebelo, a partir de in- ras repetitivas, o que provavelmente envolve modificações
formações trazidas, pela via corticopontocerebelar, de áreas mais ou rnenos estáveis em circuitos nervosos. Admite-se
de associação do córtex cerebral ligadas a funções psíquicas que o cerebelo participa desse processo por meio das fibras
superiores e que expressam a intenção" do movimento. Es- olivocerebelares. que chegam ao córtex cerebelar como fi-
tudos recentes sugerem que os núcleos da base interagem bras trepadeiras e fazem sinapses diretamente com as cé-
diretamente com o cerebelo nesse planejamento motor. O lulas de Purkinje. Há evidência de que essas fibras podem
"plano· motor é, então, enviado às áreas motoras de associa- modular a excitabilidade das células de Purkinje, em respos-
ção do córtex cerebral pela via dentotalamocortical (Figura ta aos impulsos que essas células recebem do sistema de
22.9). Essas áreas (pré-motora e motora suplementar) asso-
fibras musgosas e paralelas. As fibras trepadeiras modificam
ciam os dados do plano motor do cerebelo com seus pró-
por tempo prolongado as respostas das células de Purkinje
prios dados, resulLando em urn plano motor comum que é,
aos estímulos das fibras musgosas. As fibras trepadeiras for-
então, colocado em execução mediante ativação dos neu-
necem o sinal de erro durante o movimento que deprimi-
rônios da área motora primária. Estes, por sua vez, ativarn os
ria as fibras paralelas simultaneamente ativas, permitindo
neurônios motores medulares por melo do trato cortlcos-
que os movimentos certos surgissem. Por meio de suces-
pinal. Uma vez iniciado o movimento, ele passa a ser con-
trolado pelo espinocerebelo. Este, através de suas Inúmeras sivos movimentos, um padrào de atividade cada vez mais
aferências sensoriais, especialmente as que chegam pelos apropriado surgiria ao longo do tempo. Tal ação parece ser
tratos esplnocerebelares, é informado das características muito importante para a aprendizagem motora. As fibras
do movimento em execução e, por meio da via incerpósico- trepadeiras detectariam diferenças entre informações sen-
-tólamo-cortical. promove as correções devidas, agindo so- soriais esperadas e as que ocorrem na realidade, em vez de
bre as áreas motoras e o trato corticospinal. Admite-se que, só monitorizar a informação aferente. A lesão. tanto do cere-
para isso, o espinocerebelo compara as características do belo como da oliva inferior, prejudica o aprendizado motor,
movimento em execução com o plano motor, promoven- em que prática, tentativa e erro propiciam a execução per-
do as correções e os ajustamentos necessários para que o feira e automática do movimento.
movimento ocorra de maneira adequada. Assim, o papel do Atualmente, considera-se que a aprendizagem moto-
espinocerebelo é diferente daquele do cerebrocerebelo, o ra ocorre não apenas no córtex cerebelar, mas resulta da
que pode ser correlacionado com o fato de que o primeiro plasticidade sináptica coordenada entre vários locais. Os
recebe aferências espinais e cortícais, enquanto o cerebro- núcleos centrais estão envolvidos. O cerebelo cria modelos
cerebelo recebe apenas estas últimas. internos para auxiliar na realização de movimentos precisos
Corroborando ainda os papeis diferentes exercidos pelo antes da interferência do feedback sensorial. O mecanismo
espinocerebelo e cerebrocerebelo na organização do movi- da aprendizagem motora pode estar relacionado às modi-
mento, temos o fato de que estudos com ressonância mag- ficações sinápticas que cria e mantém esses modelos Inter-
nética funcional mostram que o núcleo denteado - ligado nos, permitindo fazer boas estimativas e pré-programação
ao planejamento motor - é ativado antes do início do mo- da sequência de movimentos. As mudanças no tamanho
vimento, enquanto o núcleo interpósito - ligado à correção do corpo ao longo do crescimento exige do cerebelo a ca-
do movimento - só é ativado depois que este se inicia. Fato pacidade de aprender e adaptar os modelos para permitir a
Interessante é que em certos movimentos muito rápidos reallzaçào de movimentos cada vez mais eficientes. Lesões
(movimentos balísticos), como o de datilografar, apenas o
cerebelares podem afetar as habilidades proprioceptivas: o
cerebrocerebelo é ativado. pois n~o há tempo do espino-
senso de posiçao do membro durante um movimento ativo.
cerebelo receber informações sensoriais que lhe permitam
Uma Interpretação para esse fato é que o cerebelo normal-
corrigir o movimento.
mente ajuda a predizer como os movimentos ocorrerão, o
7.4 Aprendizagem motora que pode ser importante para a coordenação e percepç~o
de onde o membro está durante o movimento ativo, facili-
1: fato conhecido que, quando executamos a mesma tando as correções. Esse mecanismo não está restrito ao con-
atividade motora várias vezes, ela passa a ser feita de ma- trole dos movimentos, mas também pode contribuir para a
neira cada vez mais rápida e com menos erros. Isso significa aprendizagem comportamental, emocional e cognitiva.

8. Correlações anatomoclínicas - síndromes cerebelares


As características gerais das lesões cerebelares in- síndromes do vestlbulocerebelo, com instabilidade pos-
cluem hipotonia, ataxia, perda do equilíbrio e incoordc- tural; do espinocerebelo, com incoordenação motora; e
nação motora. No entanto, as lesões podem afetar partes do cerebrocerebeio, com alterações do planejamento
específicas do cerebelo e provocar sintomas característi- motor. Nas lesões unilaterais dos hemisférios cerebelares,
cos dessa área. Assim, podemos distinguir três síndromes as alterações ocorrerão ipsilateralmente. Essas síndromes
principais, de acordo com a divisão funcional do cerebelo: serão detalhadas a seguir.

212 Neuroanatomla Funcional

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8.1 Síndrome do vestibulocerebelo formações proprioceptivas dos feixes espinocerebelares e
não é mais capaz de influenciar as vias descendentes.
O vestibulocerebelo recebe informações vestibulares
dos canais semicirculares do ouvido interno por meio dos O espinocerebelo atua por intermédio de mecanismos
núcleos vestibulares e visuais por meio dos núcleos do troco de anteroalimentação, ou seja, são ações antecipatórias.
encefálico e das áreas visuais do córtex. Em casos de lesão, executadas antes do movimento, guiadas por informações
perde a capacidade de usar essas informações para o con- sobre o corpo e os objetos no espaço. O espinocerebelo
trole dos movimentos do corpo durante a marcha ou na pode também atuar após o inicio do movimento por meio
postura de pé, e perda do controle dos movimentos ocu- de informações proprioceptivas do movimento em execu-
lares durante a rotação da cabeça ou segmento de objetos. ção. Essas ações atuam pelas vias descendentes.
Ocorre marcha com base alargada e movimentos irre- O movimento de uma articulação é iniciado pela con-
gulares das pernas (ataxia). tanto com olhos abertos como tração do agonista e desacelerado pelo antagonista. Isso
fechados. e tendência a quedas. Não há dificuldade no mo- é temporalmente graduado. A perda desse controle im-
vimento preciso de braços e pernas se o indivíduo estiver pede que a contração antecipada do antagonista ocorra e
deitado ou apoiado, pois o cerebelo pode usar as informa- o movimento só é interrompido após ultrapassar o alvo; a
ções proprioceptivas dos tratos espinocerebelares. contração antecipada é substituída por uma contração re-
Uma das causas da síndrome do vestibulocerebelo troalimentada, ou seja, após o término do movimento para
são os tumores do teto do IV ventrículo, que comprimem o reajustá-lo. Observa-se ataxia de membros em que a tenta-
nódulo e o pedúnculo do flóculo. Nesse caso, há somente tiva de alcançar um objeto se faz por um caminho sinuoso.
perda de equilíbrio, com ataxia de tronco, e as crianças não A correção resulta em novo erro e ourro ajuste, causando o
conseguem se manter em pé. Ocorre, também, nistagmo. tremor terminal.
Não há, entretanto, nenhuma alteração do tõnus muscu- A lesão do núcleo interpósito reduz a ativação dos tra-
lar e, quando elas se mantêm deitadas, a coordenação dos tos rubrospinal e cortícospinal e consequente redução do
movimentos é praticamente normal. Os movimentos ocu- tónus muscular. Reduz também a precisão do movimento
lares de segmento são também controlados pelo flóculo. em virtude de erros na cronologia, direção e extensão do
/\s lesões unilaterais são causadas principalmente por tu- movimento, sintomas estes conhecidos como dismetria. Nas
mores do VIII nervo. Deste modo, dificultam os movimen- lesões mediais ocorrerá ataxia de marcha (Figura 22.1O).
tos oculares de segmento para o lado da lesão. Lesões do espinocerebelo podem também causar nis-
tagmo e alteração da fala, como fala arrastada por lesão do
8.2 Síndrome do espinocerebelo verme ou núcleo fastigial (o controle vocal está no verme).
Lesões no espinocerebelo ocasionam erros na execu- Movimentos sacádicos dos olhos são também controla-
ção motora porque a área afetada deixa de processar in- dos pelo verme cerebelar e pelo núcleo fastigial. Sua lesão

Flg~ra ~.10 . Ressonància magnética mostrando tumor envolvendo a linha média cerebelar. O paciente apresentava cefaleia e vómitos
matinais, devido a obstrução liquórica, causando hipertensão lntracraniana e hidrocefalia: perda de peso e ataxla de marcha. (A) Corte
sagltal. (B) Corte coronal.

• Capitulo 22 Estrutura e Funções do Cerebelo 213


torna as sacadas hlpermétricas, assim como ocorre com os resistência que se faz no pulso. No individuo
movimentos dos membros. normal. quando se retira essa resistência, a fle-
xão cessa por uma imediata ação dos músculos
8.3 Síndrome do cerebrocerebelo extensores, coordenada pelo cerebelo. Entre-
Ocorre principalmente por lesão da zona lateral e tanto, no doente neocerebelar, essa coordena-
manifesta-se por sinais e sintomas ligados ao movimento ção não existe, os músculos extensores custam
e que vão descritos a seguir: a agir e o movimento é muito violento, levando
quase sempre o paciente a dar um tapa no pró·
a) Arraso no início do movimenro. prio rosto.
b) Decomposição do movimenro multiarriculor - mo- e) Tremor - trata-se de um tremor característico, que
vimentos complexos, que normalmente são feitos se acentua ao final do movimento ou quando o
de modo símultâneo por várias articulações, são paciente est.1 prestes a atingir um objetivo, como
decompostos, ou seja, realizados em etapas su- apanhar um objeto.
cessivas por cada uma das articulações. f) Dismetrio - consiste na execução defeituosa de
c) Disdiadococinesio - é a dificuldade de fazer movi- movimentos que visam atingir um alvo, pois o in-
mentos rápidos e alternados com precisão tempo- dividuo não consegue dosar exatamente a "quan-
ral, como tocar rapidamente a ponta do polegar tidade" de movimentos necessários para isso.
com os dedos Indicador e médio, alternadamente. Pode-se testar esse sinal pedindo ao paciente que
d) Rechaço - verifica-se esse sinal mandando o pa- coloque o dedo na ponta do nariz e verificando se
ciente forçar a flexão do antebraço contra uma ele é capaz de executar a ordem.

8.4 Algumas considerações sobre as lesões cerebelares O cerebelo tem fortes conexões com as estruturas lím-
bicas e cognitivas. Participa da regulação dos estados emo-
Os distúrbios cerebelares podem estar associados a inú-
cionais, comportamento social, linguagem e cognição. Isto
meras causas: malformações congênitas; hereditárias; infec-
fica evidente por meio dos quadro clínicos em lesões cere-
ciosas; neoplásicas vasculares; e outras. Uma das principais
belares em que o paciente passa a apresentar uma síndro-
caracteristicas é que as lesões cerebelares causam sintomas me cognitivo-afetiva associada aos distúrbios motores. As
ipsilaterais. As síndromes do vestlbulocerebelo, do espino- lesões da linha média ou do verme ocasionam desregula-
cerebelo e do cerebrocerebelo nem sempre são observadas ção emocional e afetiva decorrente da ligação com as áreas
de forma Isolada na prática clínica. límbicas. Os danos ao hemisfério cerebelar direito podem
Do ponto de vista puramente clínico. e tendo em vista ocasionar distúrbios de linguagem presumivelmente pela
principalmente a localização de tumores cerebelares. os neu- ligação com as áreas de linguagem do hemisfério cerebral
rologistas costumam distinguir dois quadros patológicos do esquerdo. Do mesmo modo, as lesões do hemisfério cere-
cerebelo: lesões do verme; e lesões dos hemisférios. As lesões belar esquerdo podem ocasionar disfunções visuoespaciais
hemisféricas manifestam-se nos membros do lado lesado em virtude das conexões com o hemisfério cerebral direi-
e dão sintomatologia relacionada com a coordenação dos to. Alguns pacientes desenvolvem déficits cognitivos com
movimentos. Já a lesão do verme manifesta-se principal- graus deferentes de compensação após a lesão. Em alguns
mente por perda do equilíbrio. com alargamento da base casos, principalmente se a lesão for precoce na infância, es-
de sustentação e alterações da marcha (marcha atáxica) e ses déficits podem ser robustos, o que confirma o papel do
da fala (Figura22.10). cerebelo no neurodesenvolvlmento. O cerebelo está envol-
O cerebelo tem notável capacidade de recuperação vido na fislopatologia de diversos transtornos psiquiátricos,
funcional quando há lesões de seu córtex, sobretudo em como o autismo e a esquizofrenia. Estudos demonstraram
crianças, ou quando as lesões aparecem de maneira gradual. que no autismo assim como em alguns quadros de deficiên-
Para isso, concorre o fato de o seu córtex ter uma estrutura cia intelectual há redução do número de células de Purkinje.
uniforme, permitindo que as áreas intactas assumam pouco a leitura sugerida
pouco as funções das áreas lesadas. Entretanto, a recuperação
BODRANGHIEN, F.; BASTIAN. A; CASAU, C; et ai. Consensus paper:
não ocorre quando as lesões atingem os núcleos centrais.
revisfting the symptoms and signs of cerebelar syndrome. Ce·
8.S Funções não motoras rebellum. 2016, 15:369-391.
ADAMASZEK. M.; D'AGATA, F.; FERRUCCI, R.; et ai. Consensus paper:
A principio, considerava-se que o cerebelo teria apenas cerebellum and emotion. Cerebellum. 2017, 16:552-576.
funções motoras. No entanto, estudos de neurolmagem fun- STATE. MW.; SESTAN N. The emerglng blology of autism spectrum
cional demonstraram que ele também participa de funções disorders. Science. 2012, 337:1301-1303.
cognitivas, executadas principalmente pelo cerebrocerebelo. STOODLEY. CJ.; SCHMAHMANN JD. Evidence for topographlc orga-
Este, além de suas conexões relacionadas com a motricida- nization in the cerebellum of motor contrai versus cognitive
de, tem também conexões com a área pré-frontal do córtex, and affective processing. Cortex. 2010,46(7):831-44.
evidenciando funções não motoras, como resolver quebra- STOODLEY CJ.; VALERAD. EM. SCHMAHMANN JD. Functional topo-
-cabeças, associar palavras a verbos, resolver mentalmente graphy of cerebellum for motor and cognitive tasks: an fMRI
operações aritméticas e reconhecer figuras complexas. study. Neuroimage. 2012;59(2): 1560-70.
Estrutura e Funções do Tálamo,
Subtálamo e Epitálamo

A - Estrutura e funções do tálamo


1Ei. GiiIDaHdades mo (Figura 5.2). Os dois ovoides talâmicos estão unidos
pela aderência intertalâmica e relacionam-se mediaimen-
O tálamo está situado no diencéfalo, acima do sulco te com o Ili ventrículo, e na porção lateral, com a cápsu-
hipotalâmico (Figura 23.1 ). É constituído de duas gran- la Interna. Consideramos pertencentes ao tálamo os dois
des massas ovoldes de tecido nervoso, com uma extremi- corpos geniculados, o lateral e o medial, que alguns autores
dade anterior pontuda, o rubérculo anterior do cálarno, e consideram uma parte independente do diencéfalo, de-
outra posterior. bastante proeminente. o pulvinar do ró/o- nominado metatálamo.

Comissura
/, dos habênulas
Estria medular - _
---- --- ----- -
, ,,,
/
/

-- -- Comissura
,, .,, ~ pos lerior
Sulco hipota 1ômico - _ __ · -- - - .....
-,~.,..;~;.; ;.-. _._.____ • ~ lamo
...-----'

-- c.ooo.. _ _
- - - - Glândula pineal

't) Hipotólomo
lâmina terminal - - -~--..,.--:i,-t \
~ - - - Aqueduto cerebral
...
Quiasma óptico - - - --- -- - Corpo momilor
\
\
\
\
\
\
\
\
I \
I .
I Túber cinéreo
lnfundíbulo

F19ur1 23.1 Diencêfalo mostrando algumas estruturas do epítálamo, tálamo e hipotálamo nas paredes do Ili ventrículo.
O tálamo é fundamentalmente constituído de substân- 2. Núcleos do tálamo
cia cinzenta, na qual se distinguem vários núcleos. Contudo,
a sua superfície dorsal é revestida por uma lâmina de subs- Os núcleos do tálamo são muito numerosos, tendo sido
tância branca, o estrato zonal do tálamo, que se estende identificados mais de 50 núcleos. Estudaremos somente os
à sua face lateral, onde recebe o nome de lômina medular principais que podem ser divididos em cinco grupos, de
externa. Entre esta e a cápsula interna, situada lateralmen- acordo com a sua posição, a saber: anterior; posterior; media-
te, localiza-se o núcleo reticular do tálamo. O estrato zonal no; medial; e lateral.
penetra no tálamo, formando um verdadeiro septo. a lômi-
no medular interna, que o percorre longitudinalmente. Em 2.1 Grupoanterior
sua extremidade anterior, essa lâmina bifurca-se em Y, de- Compreende núcleos situados no tubérculo anterior do
limitando anteriormente uma área onde estão os núcleos tálamo, sendo limitados posteriormente pela bifurcação em
talâmicos anteriores (Figura 23.2). No interior da làmina Y da lâmina medular interna (Figura 23.2). Esses núcleos
medular interna, há pequenas massas de substância cinzen- recebem fibras dos núcleos mamilares pelo fascfculo ma-
ta, que constituem os núcleos inrrolaminares do ró/amo. Essa milotalômico (Figura 23.2) e projetam fibras para o córtex
lâmina é um Importante ponto de referência para a divisão do giro do cíngulo e frontal, Integrando o circuito de Papez
dos núcleos do tálamo em grupos. (Figura 27 .2), relacionado com a memória.

1- Lâmina medular interno


/
/
/
/ Núcleos do grupo posterior
Núcleos do grupo lateral - · - - . _ /

Núcleos do grupo mediano -,


,, , . . . ......
\ ' , '-.... 1
/
/
I
I

1
Núcleos do grupo medial - , ' ', ' , - ~ ---.. /.n I
/
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Núcleos do - _ _ ..
I
/ /
I
grupo anterior

Núcleo cento mediano

Corpo geniculodo
medial

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1
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J

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1
1
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1 1
1
Braço do
1 I 1 1 calículo Inferior
1 I I 1
I
I \
'\ \ 1 1

I'
\ L _ ~ arpo geniculodo
N úcleo venlrol anterior
N úcleo ventral intermédio
I
1
J I
1
J
I
I \
\ \
'11 lateral
I 1 \ \
1 '- - Troto óptico
Núcleos do subgrupo dorsal do grupo lateral
Núcleo ventral posterolalerol - - - - - - -
1
1
'I I
\
\
\
\
\_ . Lemnisco trigeminai
I \
Núcleo ventral posteromediol -- - - - - •- - - - J \_ Lemniscos medial
e espinal

Rgura 23,2 Representação esquemática dos principais núcleos do tálamo (o núcleo reticular não foi representado).

2 16 Neuroanatomia Funcional
2.2 Grupo posterior O núcleo dorsomedial recebe fibras principalmente do
Situado na parte posterior do tálamo, compreende o pul- corpo amigdaloide e tem conexões recíprocas com a par-
vinar e os corpos geniculados lateral e medial (Figura 23.2): te anterior do lobo frontal, denominada área pré-frontal. As
suas funções relacionam-se com as funções dessa área, que
a) Pulvinor - tem conexões recíprocas com a chamada serão estudadas no Capítulo 26 (itern 4. 1).
área de associação temporoparietal do córtex ce-
rebral, situada nos giros angular e supramarginal. 2.5 Grupo lateral
Apesar de ser o maior núcleo talámico do homem, Este grupo é o mais importante e o mais complicado.
suas funções não são ainda bem conhecidas. Em- Compreende núcleos situados lateralmente à lâmina me·
bora existam relatos ocasionais de problemas de dular interna, que podem ser divididos em dois subgrupos,
linguagem associados a lesões do pulvinar. nenhu- ventral e dorsal' (Figura 23.2). São mais importantes os nú-
rna síndrome particular e nenhum déficit sensorial cleos do subgrupo venerai, ou seja:
resultam dessas lesões. Parece estar envolvido nos
processos de atenção seletiva. a) Núcleo ventral oncerior (VAJ - recebe a maioria das
fibras que. do globo pálido, se dirigem para o tá-
b) Corpo geniculodo medial- recebe pelo braço doca-
lamo. Projeta-se para as áreas motoras do córtex
lículo inferior fibras provenientes desse colículo ou
cerebral e tem função ligada ao planejamento e à
diretamente do lemnisco lateral. Projeta fibras para
execução da motricidade somática.
a área auditiva do córtex cerebral no giro temporal
b) Núcleo venerai lateral (VL) - também denorninado
transverso anterior, sendo, pois, um componente
ventral intermédio, recebe as fibras do cerebelo e
da via auditiva.
projeta-se para as áreas motoras do córtex cerebral.
c) Corpo geniculado lateral - a rigor, não é um nú- Integra, pois. a via cerebelo-tálamo-cortical, Já estu-
cleo, pois é formado de camadas concêntricas de
dada a propósito do cerebelo. Além disso, o núcleo
substância branca e cinzenta. Recebe pelo trato ventral lateral recebe parte das fibras que, do globo
óptico fibras provenientes da retina. Projeta fibras pálido, se dirigem ao tálamo.
pelo trato geniculocalcarino (radiação óptica)
e) Núcleo ventral posterolacerol - núcleo das vias sen-
para a área visual primária do córtex situada nas
sitivas, recebendo fibras dos lemniscos medial e
bordas do sulco calcarino. Faz parte, portanto, das
espinal. Vale ressaltar que o lemnisco medial leva os
vias ópticas.
impulsos de tato epicrítico e propriocepção cons-
2.3 Grupo mediano ciente. Já o lemnisco espinal, formado pela união
dos tratos espinotalâmicos lateral e anterior, trans-
São núcleos localizados próximo ao plano sagital me- porta impulsos de temperatura. dor, pressão e rato
diano, na aderência intertalâmica (Figura 23.2) ou na subs- protopático.O núcleo vent ral posterolateral projeta
tância cinzenta periventricular. Muito desenvolvidos nos fibras para o córtex do giro pós-central, onde se lo-
vertebrados inferiores, os núcleos do grupo mediano são caliza a área somestésica.
pequenos e de difícil delimitação no homem. Têm cone-
d) Núcleo venerai posteromediol - também um núcleo
xões principalmente com o hipotálamo e, possivelmente, das vias sensitivas. Recebe fibras do lemnisco tri-
relacionam-se com funções viscerais. geminai. trazendo sensibilidade somática geral de
2.4 Grupo medial parte da cabeça e fibras gustativas provenientes do
núcleo do trato solitário (fibras solitário-talâmicas).
O grupo medial (Figura 23.2) compreende os núcleos Projeta fibras para a área sornestésica, situada no
situados dentro da lâmina medular interna (núcleos incrala- giro pós-central, e para a área gustativa, situada na
minares) e o núcleo dorsomediol, situado entre essa lâmina parte anterior da insula.
e os núcleos do grupo mediano. Os núcleos intralaminares, e) Núcleo reticular - constituído por urna fina calota
entre os quais se destaca o núcleo centromediano (Figura de substância cinzenta disposta lateralmente en-
23.2), recebem um grande número de fibras da formação tre a massa principal de núcleos que constitui o
reticular e têm importante papel ativador sobre o córtex ovoide talâmico e a cápsula interna. Nessa posição,
cerebral, integrando o sistema ativador reticular ascenden- e'e é atravessado pela quase totalidade das fibras
te (SARA) (Capítulo 20). tálamo-corticais que passam pela cápsula interna
A via que liga a formação reticular ao córtex, por meio e que, ao atravessá-lo. dâo colaterais que nele es·
dos núcleos lntralamlnares, proporciona uma vaga per- tabelecem sinapses. O núcleo reticular difere dos
cepção sensorial sem especificidade, mas com reações
emocionais especialmente para estímulos dolorosos. Le-
sões no núcleo centromediano já foram feitas para alívlar 1 Os núcleos do subgrupo dorsal não foram mostrados na figura. S~o
dores intratáveis. eles: o núcfeo lateral dorsal e o lateral posterior.

• Capít ulo 23 Estrutura eFunções do Tálamo, SubtAlamo e Epítilamo 217


demais núcleos tall!micos por utilizar como neu- 4~ -Funções dó tálamo
rotransmissor o GABA, que é inibidor. enquanto a
maioria dos outros usa glutamato. Difere também Do que foi visto, é fácil concluir que o tálamo é, na rea-
por não ter conexões diretas com o córtex, e sim lidade, um agregado de núdeos de conexões muito dife-
com os outros núcleos talàmicos. Estes também rentes, o que indica funções também diversas. Assim, as
fornecem aferências para ele, representadas prin- funções mais conhecidas do tálamo relacionam-se:
cipalmente pelos ramos colaterais das fibras tala- a) Com a sensibilidade - as funções sensitivas do tá-
mocorticais que o atravessam. Com base no fluxo lamo são as mais conhecidas e as mais Importan-
de informações desses ramos colaterais, o núcleo tes. Todos os impulsos sensitivos, antes de chegar
reticular modula a atividade dos núcleos talâmicos, ao córtex, param em um núcleo talâmico, fazendo
atuando como um porteiro que barra ou deixa pas- exceção apenas os impulsos olfatórios. O tálamo
sar informações para o córtex cerebral. O núcleo tem, assim, a função de distribuir para as áreas es-
reticular recebe também aferências dos núcleos pecíficas do córtex, os impulsos que recebe das
intralaminares. que, por sua vez, recebem das fibras vias sensoriais. Entretanto, o papel do tálamo não
do SARA e do SM, influenciando no nível de vigília é simplesmente retransmitir os impulsos sensitivos
e alerta. No início do sono, as fibras gabaérgicas do ao córtex, mas também integrá-los e modificá-los.
núcleo reticular inibem os núcleos talâmlcos de re- Acredita-se mesmo que o córtex só seria capaz de
transmissão, como o núcleo ventral posterolateral, interpretar corretamente os Impulsos já modifica-
o que Impede a chegada de impulsos sensitivos ao dos pelo tálamo. Alguns desses Impulsos, como os
córtex cerebral durante o sono. relacionados com a dor, a temperatura e o rato pro-
topátlco, tornam-se conscientes já em nfvel talâmi-
co. Entretanto, a sensibilidade talàmlca, ao contrário
da cortical, não é discriminativa e não permite, por
O tálamo é um elo essencial entre os receptores senso- exemplo, o reconhecimento da forma e do tama-
riais e o córtex cerebral para todas as modalidades senso- nho de um objeto pelo tato (estereognosia).
riais, exceto a olfação. É mais do que um simples receptor. b) Com a motriddade - por meio dos núcleos ventral
Por meio do núcleo reticular, ele age como comporta, fa- anterior e ventral lateral, interpostos, respectivamen-
cilitando ou impedindo a passagem de informações para te, em circuitos palidocorticais e cerebelocorricais.
o córtex. Todos os núdeos talâmlcos, com exceção do nú- c) Com o comportamento emocional - por melo do
cleo reticular, têm conexões com o córtex. Essas conexões núcleo dorsomedial, com as suas conexões com a
são reciprocas, ou seja, são feitas por intermédio de fibras área pré-frontal.
talamocortlcais e corlicotalamlcas. Essas fibras constituem d) Com a memória - por meio do núcleo do grupo an-
uma grande parte da cápsula interna, e o maior contingente terior e das suas conexões com os núcleos mamila-
delas destina-se às áreas sensitivas do córtex. Por suas cone- res do hipotálamo.
xões com o lobo frontal, mais especificamente com a área e) Com a ativação do córtex - por meio dos núcleos
pré-frontal. participa de funções cognitivas. talàmicos inespecíficos e das suas conexões com a
Quando certos núcleos do tálamo são estimulados, formação reticular, fazendo parte do SARA.
pode-se tomar potenciais evocados apenas em certas áreas
especificas do córtex, relacionadas com funções específicas.
Esses núcleos são denominados núcleos talômicos espe- S. Correlações anatomoclínlcas
cíficos ou de retransmissão. Entre eles temos, por exemplo.
o núcleo ventral posterolateral e o corpo geniculado me- Afecções do tálamo decorrentes, em geral. de lesões
dial, cuja estimulação evoca potenciais, respeaivamente, vasculares, podem resultar na sfndrome talômico, na qual
na área somestésica e na área auditiva do córtex. Por outro se manifestam dramáticas alterações da sensibilidade.
lado, existem núcleos no tálamo. denominados núcleos talâ- Uma delas é o aparecimento de crises da chamada dor
micos inespecíficos, cuja estimulação modifica os potenciais cenrral, dor espont~nea e pouco localizada, que frequen-
elétricos de territórios muito grandes do córtex cerebral e temente se irradia para toda a metade do corpo, situada
não apenas de áreas específicas desse córtex. Nesse grupo, do lado oposto ao tálamo comprometido. Apesar de ser
estão os núcleos intra laminares,em especial o centromedia- mais difícil desencadear qualquer manifestação senso-
no, que medeiam o alerta cortical. rial, uma vez que o limiar de excitabilidade talamica está
aumentado, certos estímulos térmicos ou táteis desen-
Eles recebem muitas fibras da formação reticular e
cadeiam sensações desproporcionalmente intensas, em
sabe-se que o SARA exerce a sua ação sobre o córtex por
geral muito desagradáveis e não facilmen te caracteriza-
meio desses núcleos. Os núcleos talâmlcos inespecíficos, das pelo doente. Há casos em que até mesmo estímulos
com suas conexões corticais. compõem o que muitos auto- auditivos tornam-se desagradáveis (Figura 18.10B).
res denominam sistema talômico de projeção di(usa.

218 Neuroanatomia Funcional


B - Estrutura e funções do subtálamo
l ~ Subtálãmo Importante o núcleo subtolômico (Figura 32.S). Esse nú-
cleo tem conexões nos dois sentidos com o globo pálido
É uma pequena área sítuada na parte posterior do por meio do drcuito pólído-subrdlamo-palidal. importan-
diencéfalo na transição com o mesencéfalo, limitando-se te para a regulação da motricidade somática. Lesões do
superiormente com o tálamo; na perspectiva lateral, com núcleo subral~míco provocam uma síndrome conhecida
a cápsula interna e; na medial, com o hipotálamo (Figura como hem/bolismo, caracterizada por movimentos anor-
32.14). As formações subtalâmicas só podem ser obser- mais das extremídades. Esses movimentos são muito vio-
vadas em secções do diencéfalo, uma vez que não se rela- lentos e muitas vezes não desaparecem nem com o sono.
cionam com sua superfície externa ou com as paredes do podendo submeter o doente à exaustão (Capitulo 24,
Ili ventrículo. Estando situado na transição com o mesen- item 2.3.1 ). Em razão da importância das suas conexões
céfalo, algumas estruturas mescncefálicas estendem-se com os núcleos da base, alguns autores consideram o nú-
até o subtálamo, como o núcleo rubro, a subst~ncia ne- cleo subtaltlmico como parte desses núcleos. o que, do
gra e a formação reticular, constituindo a chamada zona ponto de vista embriológico e anatômíco. não é correto.
incerta do subtálamo. Contudo. o subtálamo apresenta As funções do subtálamo serão abordadas em conjunto
algumas formações que lhe são próprias. sendo a mais com os núcleos da base no Capítulo 24.

C - Estrutura e funções do epitálamo


2.2 Estrutura e Inervação
O epitálamo está localizado na parte superior e pos- A pineal é uma glândula endócrina compacta. cons-
terior do diencéfalo e contém formações importantes, as tituída de um estrema de tecido conjuntivo, contendo
habênulas e a glândula pineal (Figura 5.2). As habênulas também neuróglla e de células secretoras, denominadas
estão situadas de cada lado do trígono das habênulas e pinealôcitos. Essas células são ricas em serotonlna (Figu-
participam da regulação dos níveis de dopamina na via ra 23.3), que é utillzada para a síntese do hormônio da
mesolímbica. Está envolvida, portanto, na modulação pineal, a melatonina. A pineal é muito vascularizada e os
do humor e motivação. Ela pertence ao sistema límbico. seus capilares têm fenestrações. Por isso. ela não apresen-
onde será estudada (Capítulo 27. Hem 3.7). A glândula pi- ta barreira hematoencefálica, enquadrando-se entre os
neal será estudada a seguir. órgãos circuventriculares (Capítulo 9, item 6). A inervação
da pineal ocorre por fibras simpáticas pós-ganglionares,
oriundas do gânglio cervical superior, que entrarn no crâ-
nio pelo plexo carotídeo e terminam em relação com os
2.1 Generalidades pinealócitos e com os vasos (Figura 23.4). Essa inervação
simpática desempenha uma função importante na regula-
A glândula pineal foi durante muitos séculos um órgão
ção da melatonina.
misterioso, geralmente considerado um resíduo filogenético
do chamado terceiro olho, encontrado em alguns lagartos 2.3 Seaeção de melatonina - ritmo arcadiano
e, por conseguinte, desprovido de função. A descoberta por
Lener (1958) do hormônio da pineal, a melaronina, alterou A melaronina. único hormônio da glândula pineal, é
esse quadro e comprovou o envolvímento da pineal na re- sintetizada pelos pinealócltos a partir da serotonina e o pro-
cesso de síntese é ativado pela noradrenalina liberada pelas
produção e nos ritmos circadianos. Na última década, houve
uma verdadeira explosão de trabalhos demonstrando a par- fibras simpáticas. Durante o dia, essas fibras têm pouca ati-
vidade e os níveis de melatonina na pineal e na circulação
ticipação da melatonina em vários processos fisiológicos. o
s~o muito baixos. Entretanto, durante a noite. a inervação
que aumentou consideravelmente a importância da pineal.J
simpática da pineal é ativada. llberando noradrenalína. e
os níveis de melatonina circulante aumentam cerca de dez
2 Embora a principal fonte de melatonina seja a pineal ela é sintetizada vezes. Assim, a concentração de melatonina no sangue
também na retina, no intestino, nas células do sistema imunitário e na obedece a um ritmo circadiano, com pico durante a noite.
placenta, onde é responsável pelo aumento da melatonlna circulante du- Entretanto, esse ritmo não é intrínseco à pineal, pois decorre
rante a gravidez. Para mais informações sobre a melatonrna placentârla.
da atividade rítmica do núcleo supraquiasmático do hipotá-
veja: LANOIX. D; GUÉRIN & VAJLLANCOURT C. Placenral mclatonin pro•
ductlon and melaronln receptor expres.sion are alt.ered rn preeclampsla: lamo, transmitida à pineal por meio da Inervação simpática.
new in;íghts lnto role of thls hormooe ln pregnancy. Journcl ofPineol Re- Esse ritmo é importante para a compreensão de alguns as-
seorch.201 };53:417-42S. pectos da fisiologia dessa glândula.

• Capitulo 23 Estrutura efun(ões do Tálamo, Subtálamo eEpitáfamo 219


• ••

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,,. • •

o,

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Rgura 23.3 Corte histológico de gl~ndula pineal do rato {método Figura 23.4 Eletromicrograna de uma fibra simpática {setas)
de Falck para monoaminas). A fluoresc~nda observada neste caso contendo vesículas granulares em íntimo contanto com um
decorre da presença de serotonlna nos pinealócitos (P) e nas fibras pinealócito do rato. CP = citoplasma do pinealócito. Aumento
nervosas (setas). V ., vasos. 37.700 vezes.
FOJ1re: ReproduZlda de MACHADO, C.R.S.; WRAGG, LE.; MAC.I IADO, A.B.M. Fonte: Reproduzidd de MACHADO. Prog,ess ln brain research. 19/ 1;34:
Brain research. 1968;8:31O-318. 171 -185.

2.4 Funções da pineal sobre os órgãos reprodutores, mediada pela pineal, é ainda
Durante muito tempo pensou-se que, nos mamfferos, pequena. Contudo, certas alterações da época de apareci-
a pineal estaria relacionada apenas com a reprodução por mento da puberdade em meninas cegas de nascença pode-
meio de uma atividade antJgonadotrópica e com os ritmos riam ser explicadas pela ausência da luz. Puberdade precoce
circadianos. Entretanto, a melatonlna tem uma enorme ver- também ocorre em casos de tumores de pineal de crianças
satilidade funcional, estando relacionada com um grande quando há destruição dos pinealócltos, cessando, assim, a
açao frenadora que a pineal exerce sobre as gónadas.
número de processos fisiológicos em várias células e órgãos.
As principais funções da pineal e da melatonina são resumi- 2.4.2 Sincronização do ritmo circadlano de vigília-sono
damente descritas a seguir.
Como visto no capítulo anterior, o ritmo vigflia-sono no
2.4.1 Função antigonadotrópica homem é sincronizado com o ciclo dia-nolte pelo núcleo
supraquiasmático que para isso recebe Informações sobre a
Sabe-se que a pineal tem um efeito Inibidor sobre as
luminosidade do ambiente pelo trato retino-hipotalâmico.
gónadas via hipotálamo. Sabe-se também que a luz inibe a A melatonina tem uma ação slncronizadora suplementar
pineal e o escuro a ativa. Assim. ratas colocadas em luz per- sobre esse ritmo, agindo diretamente sobre os neurónios
• •
manente entram em c,o permanente porque cessa a açao do núcleo supraqulasmático que têm receptores para me-
inibidora que a pineal tem sobre os ovários. Demonstrou-se latonina. Essa ação é especialmente importante quando há
que no hamster os testículos atrofiam-se quando o animal mudanças acentuadas no ciclo natural de dia-nolte. Isso
é colocado em um regime de 23 horas de escuro e 1 hora ocorre, por exemplo, nos voos intercontinentais em aviões a
de luz por dia. Essa atrofia, entretanto, não ocorre quando o jato, em que de repente o indivíduo é deslocado para uma
animal é previamente pinealectomizado. Admite-se, nesse região onde é dia quando o seu ritmo circadiano está em
caso. que o escuro estimule a pineal, que, então, aumenta a fase de sono. O mal-estar e a sonolência (jet lag) observados
sua ação Inibidora sobre os testículos, causando sua atrofia. nessa situação melhoram mais rapidamente com a adminis-
Na natureza, as gónadas desse animal atrofiam-se quando tração de melatonlna. Esse hormônio possui aplicação clini-
entra o inverno e o animal Inicia o seu período de hiberna- ca como cronobiótico, ou seja, uma substância usada como
ção. Assim, a pineal regula o ritmo sazonal dos mamfferos agente profilático ou terapéutico em casos de desordens do
que hibernam. No homem, a evid~ncia de uma ação da luz ritmo circadlano de sono e vigília.

220 Neuroanatomia Funcional

- -- -·- - -- ..-- - --,_


--...,..-_.,
....; ;
.
. ' - ~

.. .
----- .
. .
,
-
. .
2.4.3 Regulação da glicemia medula óssea, macrófagos, neutrófilos e células T. A pinea-
Um grande número de pesquisas demonstrou que, nos lectomia em ratos acelera a involução normal do timo e a
mamíferos, inclusive no homem, a melatonina está envolvi- melatonina atrasa esse processo. A ação da melatonlna no
sistema imunitário é feita não apenas pela melatonina da
da na regulação de gl'cemla, inibindo a secreção de insulina
pineal, mas pela produzida por células do próprio sistema
nas células beta das ilhotas pancreáticas. Como os pinealó-
imunitário. A melatonina tem também efeito benéfico sobre
citos têm receptores de insulina. postulou-se a existência de
vários processos inílamatórios por mecanismos diversos de
uma alça de retroalimentação (feedback) entre pinealócitos
atuação.
e células beta.
Leitura sugerida
2.4.4 Regulação da morte celular por apoptose
PESCHKE, E.; MÜHLBAUER, E. New evldence for a role of melatonin
A apoptose exerce um papel importante em vários pro-
in glucose regulatlon. Best Pracrice & Research Clinicai Endocri-
cessos fisiológicos, como a diferenciação do tubo neural e
nology & Metobolism. 2010;24:829-841 .
a involução do timo com a idade. A sua regulação é muito
WANG, J.; XIAO, X~ZHANG, Y~SI li, O.; CHEN, W.; FU, L.; UU, L: XIE, F.;
importante. Sabe-se, hoje, que a melatonlna inibe o apare-
KANG. T~HUANG, 'wV.; OENG, W. Simultaneous modulation of
cimento de células em apoptose enquanto os corticoste-
COX-2, p. 300. Akt. and Apaf-1signallng by melatonln to lnhl-
roides ativam esse processo. Pesquisas recentes mostram
bit proliferation and induce apoptosis ln breast cancer cells.
que, ao contrário do que ocorre com as células normais, nas Journol of Pineal Research. 2012;53:77-90.
células cancerosas a melatonina aumenta a apoptose, con- KORKMAZ. A.; REITER. RJ.; TOPAL T.; MANCHESTER, LC.; OT[R, S.;
tribuindo para a regressão de certos tipos de tumores. TAN, O.X. Me!atonln: an established antioxidant worthy of use
ln clinicai triais. Molecular Medicine. 2009;15:43·50.
2.4.5 Ação antioxidante CARRILLO-VICO. A.; GUERRERO, J.M.; LAROONI. PJ.; REJTER, R.J. A
A melatonina é um dos mais potentes antioxidantes review of the multiple actions or melatonin on the immune
conhecidos, superando a ação de antioxidantes mais tradi- sysrem. Endocrlne. 2005;27(2):189-200.
cionais, como as vitaminas A. C e E. Ela não só remove os LAUENA, A; SAN MIGUEL, 8.; CRESPO. I.; ALVAREZ, M.; GONZÁLEZ-
radicais livres, como também aumenta a capacidade antio- -GALLEGO, J.; TUNON, MJ. Melatonln attenuates ínflamma-
xidante das células. tion and promotes regeneratlon ln rabbits with fulminant
hepatitis of virai origin. Journal of Pineal Reseorch. 2012;53(3):
2.4.6 Regulação do sistema imunitário 270-278.
A melatonina, por mecanismos diversos, aumenta as NAMSOOOIRI, V. M. K.; ROMAGUERA J. R; STUBER, G. O. lhe habenu•
respostas imunitárias, agindo sobre as células do baço, timo, la. Primer, v. 26, n. 19. p. 873-877. 2016.

• Capítulo 23 Estrutura e Funções do Tálamo, Subtálamo e Epitálamo 221


Estrutura e Funções dos Núcleos da Base

2:;aCorpó estriado
Tradicionalmente, levando-se em consideração a defini- 2.1 Organização geral
ção de que núcleosda base são massas de substãncla cinzenta
O corpo estriado é constituído pelo núcleo coudado,
situadasna base do telencéfalo, esses núcleos são:claustro;cor-
putame e globo pálido. O putame e o globo pálido, em con-
po amigda/oide {ou omfgdala); núcleo caudodo; putome; e globo
junto, constituem o núcleo lenríforme. As relações entre es-
pdlido. Podem ser Incluídas, também, mais duas estrururas: o
ses três núcleos são vistas nas Figuras 24.1 e 24.2. Embora
núcleo basal de Meynert; e o núcleo accumbens. A substancia
o putame seja topograficamente mais ligado ao globo pá-
negra e o subtálamo, levando em conta a posição anatômica,
lido, do ponto de vista filogenético, estrutural e funcional,
pertencem, respectivamente, ao tronco encefálico e ao diencé-
suas afinidades são com o núcleo caudado. Assim, pode-se
falo, mas, do ponto de vista funcional, estão relacionados com
os núdeos da base e serão também discutidos neste capítulo. dividir o corpo estriado em uma parte recente, neoestriado,
ou simplesmente striotum, que compreende o putame e o
O núcleo caudado, o putame e o globo pálido Integram
núcleo caudado; e uma parte antiga, paleoesrriodo, ou pal-
o chamado corpo es1riado e os núcleos basal de Meynert e
lidum, constituída pelo globo pálido. O globo pálido pode
accumbens integram o corpo estriado ventral. O daustro, si-
tuado entre o putame e o córtex da ínsula (Figura 24.1 ), ser dividido em pálido mediol e pá/fdo lacerai com cone-
tem conexões recíprocas com praticamente todas as áreas xões diferentes.
corticais, mas a sua função é ainda enigmálica, havendo vá- Existem muitas fibras ligando o núcleo caudado e o
rias hipóteses sobre o seu funcionamento. Uma hipótese é putame ao globo pálido e são elas que, ao convergir para
de que ele teria uma ação sincronlzadora da atividade elétri- o globo pálido, lhe dão uma cor mais pálida nas prepa-
ca de várias partes do cérebro integrando-as, participando, rações não coradas. A esse esquema tradicional do corpo
assim, da regulação de comportan1entos voluntários. estriado, veio juntar-se, mais recentemente, o conceito de
O corpo amigdaloide e o núcleo accumbens são impor- corpo estriado ventral, que apresenta características histo·
tantes componentes do sistema límbico e serão estudados lógicas e hodológlcas bastante semelhantes aos seus cor-
a propósito desse sistema (Capítulo 27). O núcleo basal de respondentes dorsais. Entretanto, uma diferença é que as
Meynert foi estudado no Capítulo 20, item 7, a propósito das estruturas do corpo estriado ventral pertencem ao sistema
vias colinérgicas. Embora os núcleos da base, em especial o llmbico e participam da regulação do comportamento
corpo estriado, continuem a ser estruturas predominante- emocional. O estriado ventral tem como principal compo-
mente motoras, eles também estão envolvidos com várias nente o núcleo accumbens, situado na união entre o pu-
funções não motoras, relacionadas com processos cogniti- tame e a cabeça do núcleo caudado (Figura 24.3), logo
vos, emocionais e motivacionais. abaixo das fibras da comissura anterior.
Corno anterior do ventrículo lateral - - , 1- - - - - -· Cabeça do núdeo caudado
\ I
Cabeça do núcleo caudado - - - -, \\ POLO FRa-.t'TAL I Núcleo anterior do tálamo
1- - -

\ \
I I

Tubéro,k, ooleóo«lo tólomo - - ~ \Y' \ I


II J: / .Perno antenor
1
I I
· do capsu
· 1o ·interna

1/
Corpo do núcleo caudodo
,,
- -A \ \\
\ \
.i...,.... / 11
11
A --Joelho da cópsula interno
\ \ \ I / l I
Córtex da ínsula - - - - - \ \ I I 1 ;1
\ \ \ \ 1 1 - - - - - - - - - - Putome
\ \ I / I I
'1.11 I
Cópsula estrema - - , , \ I I 1 - - - - lllm ina medular lateral
\
'
Clauslrum -,,=== _;:
~- - -... '-,.
' l \ I
I
1/I / I '
I
/
I
_ _ Globo pólido
lateral
I . !.-
Cópsulo externo - - ------:::
I
I
I
-', - - - lâmina medular
medial
I ' I
Núcleo lentiforme - - - - _/ /
'/ '' Globo pólido

Cópsula íntema .,_ - ._._ I


/ ,, medial

'- ' - - _,_ Perna posterior da


/ \\ ., 1
/. cópsu a interno
Caudo do núcleo / ./ \ \ \ - - - lâmina medular
caudado - - -- ,l,;' /~ \
\
\ \ interno
Corno inferior do ___ _; / I \ \
ventrículo lateral / f \
Cauda do núcleo coudado
\
Tólomo - - - - - - 1 \ , .._ - - - - - Plexo corloide
f
I•
f••\
Corno posterior do ventrículo lateral \ ' - - - - - - - - -•Tólomo
\
POLO OCCIPITAL
Corpo pineal \ __ - - - -· Ili Ventrículo

Figura :Z4.1 Núcleos da base e tálamo em representação tridimensional (lado esquerdo) e em corte (lado direito). Compare com a Figura
24.2, na qual foram mantidas as mesmas cores.

2.2 Conexões e drcuitos núcleo caudado, dai para o globo pálido, núcleo
dorsomedial do tálamo e volta ao córtex pré-fron-
Ao contrario dos outros componentes do sistema mo-
tor, o corpo estriado não tem conexões aferentes ou efe- tal. Suas funções são aquelas atribuídas a essa por-
rentes diretas com a medula; suas funçóes são exercidas ção da área pré-frontal (Capitulo 26, item 4.1.1 ).
por circuitos nos quais áreas corticais de funções diferentes d) Circuiro pré-fronral ventromedlal - começa e ter-
projetam-se para áreas especificas do corpo estrlado, que. mina na parte ventromedial da área pré-frontal e
por sua vez, liga-se ao tálamo e, por meio deste, às áreas tem o mesmo trajeto do circuito pré-frontal dorso-
corticais de origem. Fecham-se, assim, os circuitos em alça lateral. Tem as mesmas funções da área pré-frontal
córtico-estriado-tálamo-corticais, dos quais já foram identi- ventromedial, ou seja, manutenção da atenção e
ficados cinco tipos, a saber: supressão de comportamentos socialmente inde-
sejáveis (Capítulo 26, item 4.1.2).
a) Circuito moro,- começa nas áreas motora e somes-
tésica do córtex e participa da regulação da mo- e) Circuiro límbico - origina-se nas áreas neocorticais
tricidade voluntária. Será descrito em detalhes no do slstema límbico, em especial a parte anterior do
próximo item 2.2.1. giro do cíngulo, projeta-se para o estriado ventral,
em especial o núcleo accumbens, daí para o núcleo
b) Circuito oculomotor - começa e termina na área
motora ocular frontal e está relacionado aos movi- anterior do tálamo. Esse circuito está relacionado
mentos oculares. com processamento das emoções.
c) Circuil'o pré-frontal dorsoloceral - começa na parte Em síntese, desses circuitos, os dois primeiros são mo-
dorsolateral da área pré-frontal. Projeta-se para o tores, os pré-frontais relacionados com funções psíquicas

224 NeuroanatomiaFuncional
Corpo do núcleo coudodo - - -, ,,,,,- - - - - - - - - - Sulco central
Coroa rodioda --- - - , ' , ,...,,,-......-,,.,..,--.,.....,,'-✓:_·' ,- · - - - - - - - Coroa radiada
Joelho do cápsula interno ' , ~, / /1- Perna posterior da cápsula interna
',. ', ' , .,,,,.✓ 7 - - - - - - -- - -Tálamo
/ ' , ', / I .
~ \~........\', .,,,,,,,,,
// I
1~I
·I
/ Cauda do núcleo coudado

l' .. , .,, I ' / ' / /


/ /
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/

I
/
I

I I
,,
lobo frontal 1 \
Cabeço do núcleo coudodo - - 11 \
Lobo occipital
Sulco lateral -- - ·- - - -
' ' ',_ - - - -- - Corpo amigdoloide
Núcleo lentiforme - - - - - - 1 I
1
Perna anterior da
cópsula interna

Figura 24.2 Núcleos da base. t~lamo, cc\psula interna e coroa radiada em vista lateral no Interior de um hemisfério cerebral

Ventrlculo lateral Caudado indireta. Na via direta (Figura 24.4), a conexão do neoes-
Cápsula triado é feita diretamente com o pálido medial e deste
para os núcleos ventral anterior (VA) e ventral lateral (VL)
do tálamo, de onde se projetam para as mesmas áreas mo·
toras de origem. Já na via indireta (Figura 24.S), a conexão
é com o pálido lateral que, por sua vez, projeta-se para o
núcleo subtalãmico e deste para o pálido medial. Do páli-
do medial, segue para o tálamo e córtex como na via di·
reta. Ligado ao circuito motor há um circuito subsidiário,
no qual o neoestriado mantém conexões reciprocas com
a substãncia negra. 1 Esse circuito é importante porque as
fibras nigroestrladas são dopaminérgicas e exercem ação
modulatória sobre o circuito motor. Essa ação é excitatória
Putame
na via direta e inibitória na via indireta. O fato de o mesmo
Núcleo accumbens neurotransmissor, a dopamina, ter ações diferentes expli·
ca-se pelo fato de que no putame há dois tipos de recep-
Figura 24.3 Corte frontal do cérebro ao nível da cabeça do nú- tores de dopamlna. D 1 excitador e D2 inibidor.
cleo caudado mostrando a posição do núcleo aaumbens. Vejamos como o circuito funciona. Nas duas vias, o
pálido medial mantém uma inibição permanente dos dois
superiores, e os límbicas, com as emoções. Assim o corpo núcleos talãmicos, resultando em Inibição das áreas mo-
estriado integra Informações de diversas áreas corticais e toras do córtex. Na via direta {Figura 24.4), o neoestriado
projeta Impulsos de volta a essas mesmas áreas liberando Inibe o pálído medial, cessa a inibição dP.ste sobre o tá·
o movimento ou comportamento desejado e suprimindo lamo, resultando em ativação do córtex e facilitação dos
os Indesejados. movimentos. Na via indireta, ocorre o oposto. A projeção
excitatória do núcleo subtaltimico sobre o pálido medial
2.2.1 Circuitomotor aumenta a inibição deste sobre os núcleos talãmicos, re-
sultando em inibição do córtex e dos movimentos.
Origina-se nas áreas motoras do córtex e na área so-
mestésica e projeta-se para o neoestriado de maneira so-
matotópica, ou seja, para cada região do córtex há uma
1 O pálldo medial e a pars reticulata da substância negra tem ames-
região correspondente no neoestriado. A partir do neoes- ma função. Apenas a pars compacta da substância neg ra contém
triado, o circuito motor pode seguir por duas vias, direta e dopa mina.

• Capitulo 24 Emutura e fun~ões dos Núcleos da Base 225


A ação excitatória das fibras dopaminérgicas nigroes- subcorticais atuam de forma integrada. Ambos estão envol-
triatais sobre o neoestriado também inibe o pálido medial, vidos na seleção de ações e no aprendizado motor, compor-
com efeito semelhante ao de via direta, ou seja, há ativação tamental e emocional. Essa seleção entre opções desejadas
dos núcleos talâmicos. resultando ativação do córtex motor, e indesejadas é baseada em desfechos passados e seria um
com facilitação dos movimentos. substrato essencial para o aprendizado reforçado.
Assim, a atívidade tônica inibitória das eferências do pálido As doenças dos núcleos da base podem estar associadas
medial é um freio permanente para movimentos indesejados. ao mau funcionamento desse processo de seleção. Há evidên-
A necessidade de realizar um movimento interromperia esse cias da participação do cerebelo na fislopatologia de alguns
freio tônico, permitindo liberação do comando motor orde- transtornos de movimento clássicos como adoença de Parkin-
nado pelo córtex cerebral. Assim, os núdeos da base exercem son confirmando a íntima relação entre as duas estruturas.
uma função na preparação de programas motores e na execu-
ção automática de programas motores já aprendidos. 1Córtex 1
A ideia mais aceita é a de que os sinais para um dado
movimento sejam direcionados por ambas as vias para a
T
á
y l+
mesma população de neurónios palidais. Assim, as aferên- 1
clas da via Indireta poderiam frear ou suavizar o movimento, a 1NEOESTRIADO 1 ; s. negra 1
1
enquanto, simultaneamente, a direta o facilitaria e ambas
participariam na gradação de amplitude e velocidade do
m
o :---. l -
movimento. O comportamento motor normal depende
do equlllbrio entre a atividade das vias direta e Indireta. A
IPMIPLI
marcha é um exemplo simples deste equilíbrio entra as vias. Via direta
A via direta facilitaria o movimento dos músculos agonistas Figura 24.4 Desenho esquemático da via direta do circuito motor
de uma perna e a indireta inibiria o movimento dos múscu- do corpo estriado.
los antagonistas do membro em movimento assim como o PM =~ lido medial; PL =pálido lateral.
movimento da outra perna.
O funcionamento do circuito básico é o mesmo para as
funções motivacionais afetivas e cognitivas. Assim, o mesmo + 1Córtex 1---Y.i~ ~~_r~i-~~---:
algoritmo é aplicado em todas as funções dos núdeos da base.
Sabemos que o circuito básico, na verdade, possui uma
T
á 1/ l+ 2
1
1
estrutura interna muito mais complexa do que a descri-
a 1NEOESTRIAOO 1 ~ s. negra 1
1 1+
ta acima. Mais recentemente foi descrita a via hlperdlreta
em que o córtex cerebral faz conexões diretamente com
o núcleo subtalâmico, (Figura 24.5, linha tracejada). Estes
m
o l- - '
•'
Impulsos são glutamatérgicos excitatórias e aumentam a IPMjPLl - Subtálamo •.:
atividade sobre o globo pálido medial contornando a via r
indireta. O resultado é a inibição das projeções talamocor- +
tlcais reforçando o efeito inibitório sobre o movimento, de
Via Indireta
maneira semelhante à via indireta. Outras conexões diretas
entre os nucleos da base já foram descritas. Foi recentemen- Figura 24.S Desenho esquemático da via Indireta do circuito mo-
te ressaltada a importância das conexões bilaterais diretas tor do corpo estriado.
entre o cerebelo e gânglios da base. Estas duas estruturas PM = pálido medial; PL =pálido lateral.

2.3 Correlações anatomoclinicas


Com relação aos núcleos da base, talvez mais do que a ticos ou comportamentais e emocionais, esses últimos de
oucras áreas do sistema nervoso, o conhecimento da fun- interesse neuropsiquiátrico. Os principais transtornos do
ção decorre, em grande parte, do conhecimento da disfun- movimento são descritos a seguir:
ção. Diversas síndromes clinicas que acometem os núcleos
da base são decorrentes de alterações do equilibrio das 2.3.1 Hemibalísmo
vias direta e indireta e são globalmente chamadas de rrans- Não se trata de uma doença, e sim de um sintoma. É
rornos do movimento.2 Podem ser hipercinéticos, hipociné- caracterizado por movimentos involuntários, de grande
amplitude e forte intensidade, dos membros do lado opos-
to. Nos casos mais graves, esses movimentos nào desapa-
2 Essas síndromes eram denominadils slndromes extraplramidais. em
oposição à.s síndron1es piramidais decorrentes de lesões do trato cor·
recem com o sono, podendo levar o doente à exaustão.
ticoespinal. Esra dassificaçao nao é mais utilizada. A causa mais comum são lesões do núcleo subtalâmico,

226 Nturoanatomia Fundonal


em geral resultantes de pequenos acidentes vasculares. O Por isso, a lesão desse núcleo realizada por cirurgía estereo-
hemibalismo decorre da diminuição da atividade excita- táxica reduz a excitação excessiva do pálido medial, melho-
tória das projeções do núcleo subtalâmico para o pálido ra os sinais de parkinsonismo. Resultados similares podem
medial, reduzindo o efeito inibidor deste sobre os núcleos ser obtidos lesando-se, tambérn por cirurgia estereotáxica,
talâmicos e sobre as áreas motoras do córtex. Com isso, o pálido medial. Outra possibilidade terapêutica promisso-
essas áreas respondem exageradamente aos comandos ra é o transplante de células-tronco.
corticais ou de outras aferências e aumentam a tendência
de os neurónios corticais dispararem de forma espontânea, 2.33 Coreia de Sydenham
dando origem a movimentos involuntários. Caracteriza-se pela presença de movimentos Invo-
luntários rápidos. que lembram uma dança (movimentos
2.31 Doença de Parkinson coreicos), hipotonia e distúrbios neuropsiquiêJtricos, como
Caracteriza-se pelos seguintes sintomas: acinesia, labilidade afetiva, sintomas obsessivo-compulsivos e hlpe-
dificuldade para iniciar movimentos; bradicinesia, os ratividade. Os sintomas motores são decorrentes do com-
movimentos iniciados são lentos; rigidez hipertonia e re- prometimento do circuito motor. os demais sintomas são
sistência aos movimentos passivos, e tremor, que, embora causados pelo comprometimento de circuitos pré-frontais.
frequente, pode não estar presente. O tremor manifesta-se A coreia de Sydenham ocorre principalmente em crianças, 1

nas exoemidades quando elas estão em repouso e desa- é uma doença autoimune, em que os anticorpos contra os
parece com o movimento. Na doença de Parkinson. a dis- estreptococos beta-hemolíticos do grupo A, atingem os
função principal está na substância negra, resultando em núcleos da base causando a sua disfunção.
diminuição de dopamina nas fibras nlgroestriadas. Desse
modo, cessa a atividade moduladora que essas fibras exer- 2.3.4 Coreia de Huntington
cem sobre as vias direta e indireta, resultando em aumen- Trata-se de uma doença degenerativa de origem gené-
to da inibição dos núcleos talâmicos. A descoberta desse tica autossômica dominante, que causa alterações súbitas
fato inspirou a terapêutica da doença de Parkinson, que de humor, personalidade, cognição e habilidades motoras.
visa aumentar o teor de dopamina nas fibras nlgroestrla- O sintoma mais característico é o aparecimento de movi-
das. Tentativas para alcançar esse resultado pela adminis- mentos involuntários anormais, a coreia. A lesão mais pre-
tração de dopa mina não obtiveram sucesso em virtude da coce ocorre nos neurónios estriatais e, em seguida, atinge
baixa penetração na barreira hematoencefálica. Entretan- outras áreas do sistema nervoso, límbicas, sensoriomotoras
to, o isómero levógiro da di-hidroxifenilalanina (L-Dopa) e de associação. A via estriatal indireta é afetada primeiro, o
atravessa a barreira, é captado pelos neurônios e fibras que causa um desbalanço entre as vias a favor da desinibi-
dopaminérgicas da substância negra e transformado em ção. Assim, pela teoria atual de funcionamento dos núcleos
dopamina, o que causa melhora dos sintomas da doença da base, esse desbalanço poderia causar uma Interferência
de Parkinson. A doença é progressiva e afetará também os nos comportamentos esperados afetivos. motores e cogni-
circuitos não motores, causando dificuldades cognitivas. tivos, por não haver supressão suficiente.
emocionais e motivacionals. O estriado apresenta também
interneurónios colinérgicos, que participam de sua função. 2.4 Funções não motoras
Em alguns casos, medicamentos anticollnérglcos são tam- Os núcleos da base apresentam também funções
bém utilizados para aumenrar a atividade dopaminérglca. não motoras e, através do tálamo, projetam-se para am-
Com base no que foi estudado sobre o circuito motor. plas áreas não motoras do córtex do sistema !Imbico. Isso
pode-se compreender o que provavelmente ocorre na fi- explica por que as doenças dos núcleos da base estão
siopatologia dessa doença. A perda da aferência dopami- associadas a disfunções complexas cognitivas, motivacio-
nérgica para o estriado ocasiona: diminuição de atividade nais e emocionais. A sua função global é selecionar entre
da via direta, na qual a dopamina tem ação excitatória; e comportamentos indesejáveis e os desejáveis reforçados
aumento na via indireta, em que a dopamína tem ação pela aprendizagem.
inibitória. A diferença das ações da dopamina nos dois
circuitos decorre do fato de que, no circuito direto, o re- 2.4.1 Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
ceptor é D1 ativador e, no circuito indireto D2, é inibitó- É uma doença psíquiátrica que tem como caracte-
rio em razão das diferentes ações da dopamina nas duas rística principal a repetição de atos de forma compulsiva,
vias. Essas alterações propiciam o aumento na atividade como lavagens frequentes das mãos ao ponto de ferir a
do pálido medial e consequente aumento da inibição dos pele. contar objetos repetidamente, checagens de segu-
neurônios tálamo-corticais, ocasionando os sintomas hi- rança exageradas e repetitivas, em geral desencadeadas
pocinéticos característicos da doença. por pensamentos repetitivos ou obsessivos sobre sujeira,
Na doença de Parkinson, em relação à via indireta, contaminação e insegurança. Os exames de neuroimagem
ocorre excessiva atividade do núcleo subtalãmico. o Que funcional mostram ativação anormal em vários locais da
parece ser um fator importante na produção dos sintomas. alça córtico-estriado-tálamo-cortical com falha na inibição

• Capítulo 24 Estrutura eFu~ dos Núcleos da Base 227


desses comportamentos. Éfrequente a comorbidade entre 2.4.3Transtornododéfic.it de atenção e hiperatividade
o TOC e a síndrome de Tourette.
Este transtorno, de origem genética, é caracterizado
pela tríade de sintomas: desatenção; hiperatividade; e Im-
2.4.2 Síndrome deTourette pulsividade. Inicia-se na lnfancia e fica mais evidente no
O transtorno dos tiques pode ser classificado em ter- início da vida escolar, quando aumentam as demandas
mos de gravidade em tiques simples, tiques múltiplos, cognitivas. Os circuitos pré-frontais dos núcleos da base
tiques complexos e, a forma mais grave, a Síndrome de têm sido implicados na fisiopatologia do transtorno, em
Tourette, em que tiques múltiplos e complexos estão que haveria uma falha no mecanismo de seleção de com-
também associados a transtornos comportamentais. A fi- portamentos e na supressão de estímulos sensoriais intru-
siopatologia envolve os núcleos da base. Os movimentos sos, dificultando a manutenção do foco. A hiperatividade e
involuntários intrusivos, tiques verbais ou motores. estão a impulsividade podem estar refletindo um mau funciona-
associados a atividade aberrante na alça córtico-estriado- mento dos sistemas neurais que geram as opções compor-
·tálamo-cortical. com consequente falha na inibição da tamentais com base nos resultados e em consequências
excitação anormal. prováveis.

leitura sugerida ALEXANDER, G. E.; CRUTCHER, W1. O.; DELONG. M. R.Basal ganglía-
·thalamocortical circuits: parallel substrates for motor, oculo-
SMYTHIES, J.; EDELSTEIN, L; RAMACHANDRAM, V. Hypotheses re-
lating to the function of the claustro. Frontieres ín lntegrotive motor, ·prefrontaJ• and ·11mbic· íunctions. Prog. Brain Res. 1990,
Neuroscience. 2012;8:1-16. 85, 119-1 46. dol: 10.1016/s0079·6123(08)62678·3.
MILARDt, D.; et ai. Toe cortico-basal ganglia-cerebellar network: BOSTAN. A C~STRICK. P. L lhe basal ganglia and the cerebellum: no-
past, present and íuture perspectives. Fronriers ln Syscems Neu- des in an integrated network. Not Rev. Nl!Urosd. 2018, 19, 338·3~0.
roscíence, v. 13, p. 1-14, 2019. TEIXEIRA. A.L; CARDOSO,
ZHAOHUI, L; HOl·HUNG, e. Stern cell-based therapies for Parkinson F. Neuropsiquiatria dos núcleos da base. Jornal Brasileiro de Psi·
dlsease. lnrernational Journal of Molecular Sdences, 2020. quiatrla. 2004.53(3): 153-1 58.

228 Neuroanatomla Funcional


Estrutura da Substância Branca
e do Córtex Cerebral

A - Substância branca do cérebro


mos que são estruturas distintas. Entretanto, existe
controvérsia sobre a divisão de suas conexões.
Em um corte horizontal do cérebro, a substtlncia bran-
c) Fasclculo longitudinal Inferior - une o lobo occipital
ca, também chamada de cencro bronco medular, aparece
ao lobo temporal (Figura 25.1).
como uma área de forma oval, o que lhe valeu, para cada
d) Fasclcufo uncinado - liga o lobo frontal ao temporal.
hemisfério, a denominação cencro semiovol (Figura 32.7}.
passando pelo fundo do sulco lateral (Figura 25.2).
Este é constrtuído de fibras mielínicas, que podem ser clas-
sificadas em dois grandes grupos: fibras de projeção; e fibras O fascículo longitudinal superior e o fascículo arquea-
de associação. As primeiras ligam o córtex a centros sub- do, tem papel importante na linguagem. na medida em
corticais e as segundas ligam áreas corticais situadas em que estabelece conexão entre suas áreas anterior e poste-
pontos diferentes do cérebro. Estas últimas podem, por rior, situadas, respectivamente, no lobo frontal e na junção
dos lobos temporal e parietal (Figura 26.6). Lesões des-
sua vez, ser divididas em fibras de associação intro-hemis·
se fascículo causam perturbações da linguagem, afasias
féricru e fibras de associação inter-hemisféricas, conforme
(Tabela 26.1 ).
associem áreas dentro de um mesmo hemisfério ou entre
dois hemisférios.
!!Êd& ·1r11·[1J»1·11Pltt•lliJ<, eir,,;, dtfttffi · trem

ft:; JW 9PlifTl11'11rll:tiJ:/ Ultiüa ijJ 0:(:?JfttJ • :. ) São também chamadas fibras comíssurais, pois fazem a
união entre áreas simétricas dos dois hemisférios. Essas fi-
Conforme o tamanho, classificam-se em curtas e lon- bras agrupam-se para formar as três comissuras do telencé-
gas. As curtas associam áreas vizinhas do córtex, como dois falo descritas a seguir:
giros, passando, neste caso. pelo fundo do sulco. São tam-
a) Comissura do fórnice ou comissura do hipocampo -
bém chamadas, em virtude de sua disposição, fibras arquea-
pouco desenvolvida no homem, essa comissura é
das do cérebro ou fibras em U (Figura 25.1 ).
formada por fibras que se dispõem entre as duas
As fibras de associação intra-hemisféricas longas unem- pernas do fórnice (Rgura 7.3) e estabelecem co-
-se em fascículos, sendo os mais importantes os seguintes: nexão entre os dois hipocampos.
a) Fascículo do clngulo - percorre o giro de mesmo b) Comissura anterior - tem uma porção olfatória, que
nome, unindo o lobo frontal ao temporal, passando liga bulbos e tratos olfaróríos, e uma porção não
pelo lobo parietal (Figura 25.1}. olfatória, que estabelece união entre os lobos tem-
b) Fascículo longirudinal superior (FLS) e fascículo ar- porais. A posição da comissura anterior é mostrada
queado (FA) - ligam os lobos frontal, parietal, oc- na figura7.1 .
cipital e temporal pela face superolateral de cada e) Corpo caloso - a maior das comissuras telencefáli-
hemisfério (Figura 25.2). O FLS e o FA foram, por cas é também o maior feixe de fibras do sistema
muito tempo, usados como sinônimos. Hoje sabe- nervoso. Estabelece conexão entre áreas corticais
Fibras arqueodas do cérebro -- ,
\
\ --~-.-.,,,--._......_ Lobo parietal
Lobo frontal ~J t_le/4;-,.,-..
·

Lobo occipital

,,_ ___ Fascículo longitudinal inferior


Lobo temporal

Rgura 25.1 Fascículos de associação na face medial do cérebro.

Fascículo arqueado ----"""'\


e fascículo longitudinal superior \
\
Lobo parietal
_,,_~_ -----..

Lobo frontal Lobo occipitol


..
' ..
-,,,r_•

t t-

..✓
. .
.
I Lobo temporol
I
I
I
Fascículo uncinado - - - - '

Figura 25.2 Fascículos de associação na face superolateral do cérebro.

simétricas dos dois hemisférios, com exceção da- dade de reconhecimento de objetos colocados na
quelas do lobo temporal, que são unidas principal- mão esquerda, dificuldades na marcha e em alguns
mente pelas fibras da comlssura anterior. O corpo aspectos da linguagem, além de desorientação
caloso permite a transferência de informações de temporoespacial.
um hemisfério para o outro, fazendo-os funcionar
harmonicamente. Em animais com secção experi- '4:tlFibras de projeção.
mental do corpo caloso, podem-se ensinar tarefas
diferentes, ou mesmo antagônicas, a cada um dos Estas fibras agrupam-se para formar o fórnice e a cáp-
hemlsférlos que, nesse caso, funcionam indepen- sula interna. O fórnice liga o hipocampo aos núcleos ma-
dentemente um do outro. Secções do corpo calo- milares do hipotálamo e está relacionado com a memória
so feltas no homem com o objetivo de melhorar (Flgura27.1).
certos quadros de epilepsia refratária não causam A cópsulo Interno (Figuras 24.1 e 24.2) é um grande
alterações evidentes de comportamento ou de feixe de fibras que separa o tálamo, situado mediaimente,
cognição. Entretanto, testes especializados revelam do núcleo lentiforme, situado na porção lateral. Acima do
que, nesses casos, não há transferência de informa- núcleo lentiforme, a cápsula interna continua com a coroa
ções de um hemisfério para o outro, causando a radiada; abaixo, com a base do pedúnculo cerebral (Figura
síndrome de desconexão calosa. Entre outros sin- 30.1 ). Distinguem-se, na cápsula interna, três partes {Figu-
tomas. há a dificuldade de utilizar a mão esquerda ra 24.1 ): a perna anterior, situada entre a cabeça do núcleo
separadamente ou em tarefas bimanuais, dificul- caudado e o núcleo lentiforme; a perna posreríor, situada

230 Neuroanatomia Funcional


entre o tálamo e o núcleo lentiforme; e o joelho. situado no diferentes em casos de acidentes vasculares enceíii' :: , .:. . :
ângulo entre essas duas partes. lacunares. Assim, as fibras do trato cortlconuclear ocupa- :
A cápsula interna é uma formação muito Importante por- joelho da cápsula interna. sendo seguidas. já na perna poS1e•
que por ela passa a maioria das fibras que saem ou entram no rior, das fibras do trato corticospinal e da.s radiações talâmicas
córtex cerebral. Entre as fibras originadas no córtex, temos os que levam ao córtex a sensibilidade somática geral. As radia-
tratos corricospinol, corriconucleare corcicopontino. além das fi- ções óptica e auditiva também passam na perna posterior da
bras corticorretículares e coflicoestriodas. As fibras que passam cápsula interna, mas na porção situada abaixo do núcleo len-
na cápsula interna e dirigem-se ao córtex vêm do tálamo, tiforme (porção sublentiforme da cápsula interna).
sendo denominadas radiações. Entre estas. temos as radiações Nos AVE da cápsula, mesmo uma pequena lesão pode
óptico e auditivo. Essas fibras não estão misturadas e têm po- causar sintomas graves pelo fato de as fibras estarem con-
sições bem definidas na cápsula interna. podendo, pois, ser centradas. Os mais frequentes são hemiplegía e diminuição
lesadas separadamente. o que determina quadros clínicos da sensibilidade na metade oposta do corpo.

B- Estrutura do córtex cerebral

liL :@ã,tarl®tffif -- A camada molecular, situada na superfície do córtex, é


rica em fibras de direção horizontal e contém poucos neu-
Córtex cerebral é a fina camada de substância cinzenta rônios. Nas demais camadas, predomina o ripo de neuró-
que reveste o centro branco medular do cérebro ou cen- nio que lhes dá o nome. São três os principais neurônios
tro semioval. Trata-se de uma das partes mais importantes do córtex:1
do sistema nervoso. Ao córtex cerebral chegam impulsos
provenientes de todas as vias da sensibilidade. que aí se a) Células granulares - também chamadas de células
tornam conscientes e são interpretadas. Do córtex, saem estreladas. apresentam dendritos que se ramificam
próximo ao corpo celular, e um axônio que pode
os impulsos nervosos. que Iniciam e comandam os movi-
estabelecer conexões com células das camadas
mentos voluntários e que estão relacionados também com
vizinhas. Elas são o principal lnterneurônio cortical,
os fenômenos psíquicos. Durante a evolução, a extensão e
ou seja, estabelecem conexão com os demais neu-
a complexidade do córtex aumentaram progressivamente,
rônios do córtex. A maioria das fibras que chegam
atingindo o maior desenvolvimento na espécie humana, o ao córtex estabelece sinapse com as células granu-
que pode ser correlacionado com o grande desenvolvimen- lares. que são, assim, as principais células receptoras
to das íunções intelectuais nessa espécie. do córtex cerebral. O número de células granulares
aumentou progressivamente durante a filogene-
2~ Citoarquitetura do córtex se, possibilitando a existência de circuitos corticais
No córtex cerebral, existem neurónios, células neuro- mais complexos. As células granulares existem em
gliais e fibras. Os neurônios e as fibras distribuem-se de vá- todas as camadas, mas predominam nas camadas
granular interna e externa (Figura 25.3).
rios modos, em várias camadas, sendo a estrutura do córtex
cerebral muito complexa e heterogênea. Nisso difere. pois, b) Células piramidais - recebem esse nome em razão
do córtex cerebelar, que tem uma organização estrutural da forma piramidal do corpo celular. Conforme o
tamanho do corpo celular, podem ser pequenas,
mais simples e uniforme em todas as áreas.
médias. grandes ou gigantes. As células pirami-
Quanto à sua estrutura, distinguem-se dois tipos de
dais gigantes são denominadas células de Betz e
córtex: isocórtex; e alocórtex.
ocorrem apenas na área motora situada no giro
No isocórtex, existem seis camadas, o que não ocorre pré-central. As células piramidais apresentam dois
no alocórtex. cujo número de camadas varia, mas é sempre tipos de dendritos, apicais e basais. O dendrito
menor do que seis. Estudaremos apenas a estrutura do iso- apical destaca-se do ápice da piràmide, dirige-se
córtex. que constitui a grande maioria das áreas corticais. às camadas mais superficiais, onde termina. Os
São as seguintes as seis camadas do córtex, numeradas da dendritos basais. muito mais curtos, distribuem-
superfície para o interior (Figura 25.3): -se próximo ao corpo celular. O axônio das células
1- camada molecular; piramidais tem direção descendente e, em geral,
li - camada granular externa; ganha a substància branca como fibra eferente
do córtex, por exemplo, as fibras que constituem
Ili - camada piramidal externa;
IV - camada granular interna;
V - camada piramidal interna (ou ganglionar); l Além desses, exis1em ainda as células horizontais de Cajal e a célula de
VI - camada de células fusiformes (ou multiforme). Martinoni.

• Capitulo 25 Estrutura da Substância Branca edo Córtex Cerebral 231


.. . - . . . ..
1- Camada molecular - - - - - - - •
• • - .

Ili - Camada piramidal externo - -

IV - Camada granular Interna---- - - - Estria de Baillorger externo

V - Camada piramidal interno - - - - - Estria de Boillorger interna

VI - Camada fusiforme - - - - - - -

A B e
Figura 25.3 Representação esquemática das camadas corticais como aparecem em (A) preparações histológicas coradas pelo método de
Golgl para os prolongamentos neuronais; (B) método de Nissl para os corpos dos neurônios; e (C) método de Welgert para as fibras mielí-
nicas (Segundo Brodmann).

o trato corticospinal. As células piramidais existem As fibras de projeçào eferentes do córtex estabelecem co-
em todas as camadas, predominando. entretanto, nexões com centros subcorticals, originam-se em sua gran-
nas camadas p/romidol externo e Interno (Figura de maioria na camada V, piramidal interna, e são axônios das
25.3), que são consideradas camadas predomi- células piramidais aí localizadas. A camada V é, pois, muito
nantemente efetuadoras. desenvolvida nas áreas motoras do córtex. Em síntese, a
c) Células fusiformes - têm um axônlo descendente, camada IV é a camada receptora de projeção, e a camada
que penetra no centro branco medular, sendo, pois, V. efetuadora de projeção. As demais camadas corticais são
células efetuadoras. Predominam na VI camada, ou predominantemente de associaçao e os seus axõnios ligam•
Cilmilda de células fusiformes (Figura 25.3). -se a outras áreas do córtex, passando pelo centro branco
medular. Os neurõnlos do córtex cerebral estão organizados
As fibras que saem ou que entram no córtex cerebral po-
em colunas. cada uma contendo de 300 a 600 neurónios co-
dem ser de associação ou de projeção. As fibras de projeção nectados verticalmente. As colunas constituem as unidades
aferentes podem ter origem talâmica ou extratalâmica, mas funcionais do córtex. Estima-se que existam bílhões de colu-
o maior contingente é de origem talâmica. As fibras extra- nas no córtex cerebral do homem. Os circuitos intracortlcais
talàmlcas são dos sistemas modulatórios de projeção difusa, são extensos e complexos. No córtex motor do macaco. fo-
podem ser monoaminérgicas ou colinérgicas (Capítulo 20) ram encontradas uma média de 60 mil sinapses por neurô-
e distribuern-se a todo o córtex. A.s fibras aferentes oriundas nio. Mesmo admitindo-se, como é provável, que um mesmo
dos núcleos talâmicos inespecíficos também se distribuem neurônio possa ligar-se a outro por melo de vários botões
a todo o córtex, sobre o qual exercem ação ativadora, como sinápticos, esse número mostra que um mesmo neurônio
parte do sistema ativador reticular ascendente (SARA). As cortical está sujeito à lnfluéncia de muitos outros. Assim, um
radiações talâmicas originadas nos núcleos específicos do só neurônio da área motora do macaco recebe influencia de
tálamo terminam na camada IV, granular interna. Ela é, pois, cerca de 600 neurónios intracorticais. Sabendo-se que o nú-
muito desenvolvida nas áreas sensitivas do córtex. mero total de neurônios corticais é de cerca de 86 bilhões,

232 Neuroanatomia Funcional

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entende-se que os caminhos que podem seguír os impul- quantidade de células granulares que invadem, inclusive, as
sos intracorticais variam de uma maneira quase ilimitada, o camadas piramidais (Ili e V), com o desaparecimento quase
que torna impossível a existência de dois indivíduos com completo das células piramidais. Já no isocórtex heterotípi-
exatamente os mesmos circuitos corticais. O córtex do ho- co agranular, caraaerístico das áreas motoras, há considerá-
mem é, possivelmenLe, a estrutura mais complexa do mun- vel diminuição de células granulares e enorme quantidade
do biológico, o que está de acordo com a complexidade das de células piramidais que invadem, inclusive, as camadas
funções que dele dependem. granulares (li e IV).
O isocórtex ocupa 90% da área cortical e corresponde
ao neocórtex, ou seja, ilO córtex filogenicilmente recente. O
alocórtex ocupa áreas antigas do cérebro e corresponde aos
O córtex cerebral não é homogêneo em toda a sua ex- arquicórtex e paleocórtex. que serao estudados a seguir.
tensão, permitindo a individualização de várias áreas, o que
pode ser feiro com critérios anatômicos, cltoarqulterurals, 3.3 Classificação filogenética do córtex
filogenéticos e funcionais.
Do ponto de vista filogenético, pode-se dividir o córtex
3.1 Classificação anatômica do córtex cerebral em arquicórtex, paleocórtex e neocórcex. O arquicór-
tex está localizado no hipocampo, enquanto o paleocórtex
Baseia-se na divisão do cérebro em sulcos, giros e lobos. ocupa o unco e parte do giro para-hipocampal. Nesse giro.
A divisão anatômica em lobos não corresponde a uma divi- o sulco rinal (Figura 7,7) separa o paleocórtex, situado me-
são funcional ou estrutural, pois em um mesmo lobo temos diaimente, do neocórtex, situado na porção lateral. Todo o
áreas corticais de funções e estruturas muito diferentes. Faz restante do córtex classifica-se como neocórtex. Os arqui-
exceção o córtex do lobo occipital, que, direta ou Indireta- córtex e paleocórtex ocupam as áreas corticais antigas do
mente, se liga às vias visuais. A divisão anatômica, entretan- cérebro, enquanto o neocórtex ocupa as áreas filogenetica-
to, é a mais empregada na prática médica. mente mais recentes.
3.2 Classificação dtoarquitetural do córtex 3.4 Classificação fundonal do córtex
O córtex cerebral pode ser dividido em numerosas Do ponto de vista funcional, as áreas corticais não são
dreos citoorquicecurois e funcionais, havendo vários mapas homogêneas. A primeira comprovação desse fato foi feita
de divisão. A divisão mais tradicional é a de Brodmann, em 1861, pelo cirurgião francês Paul Broca, que pôde cor-
que ldentíficou 52 áreas designadas por números {Figu- relacionar lesões em áreas restritas do lobo frontal {área de
ras 26, 1 e 26.2). As áreas de Brodmann são ainda muito Broca} com a perda da linguagem falada. Pouco mais tarde.
utilizadas na clinica e na pesquisa médica. As novas técni- surgiram os trabalhos de Fritsch e Hitzig, que conseguiram
cas de investigução permitiram novas classificações após provocar movimentos de certas partes do corpo por esti·
Brodmann e atualmente são reconhecidas entre 150 e 200 mulações elérricas em áreas específicas do córtex do cão.
áreas citoarquiteturals. Esses autores fizeram, assim, o primeiro mapeamento da
As diversas áreas corticais podem ser classificadas em área motora do córtex, estabelecendo pela primeira vez o
grupos maiores, de acordo com suas características co- conceito de somatotopio das áreas corticais, ou seja, de que
muns, da maneira indicada na chave a seguir. existe correspondência entre determinadas áreas corticais
e certas partes do corpo. O conhecimento das loca/izaçôes
homotípico funcionais no córtex tem grande importància não só para a
lsocórtex granular compreensão do funcionamento do cérebro, mas também
hcterotíplco para o diagnóstico das diversas lesões que podem acome-
Córtex ter esse órgão.
agranular
As localizações funcionais devem, no entanto, ser consi-
alocórtex
deradas como especializações funcionais de determinadas
áreas e não como compartimentos funcionais isolados e
lsocórtex é o córtex que tem seis camadas nítidas, ao estanques.
menos durante o período embrionário. Alocórrex é o cór- Do ponto de vista funcional, as áreas corticais podem
tex que nunca, cm fase alguma de seu desenvolvimento, ser classificadas em dois grandes grupos: áreas de projeção
tem seis camadas. No isocórtex homotfpico, as seis carnudas e áreas de associação. As áreas de projeção são as que re-
corticais são sempre individualizadas com facilidade. Já no cebem ou dão origem a fibras relacionadas diretamente
isocórtex heterorfpico, as seis camadas não podem ser clara- com a sensibilidade e com a motricidade. As demais áreas
mente individualizadas no adulto, uma vez que a estrutura sáo consideradas de associação e, de modo geral, estão re-
laminar típica, encontrada na vida fetal, é mascarada pela lacionadas com o processamento mais complexo de infor-
grande quantidade de células granulares ou piramidais que mações. Assim, lesões nas áreas de projeção podem causar
invadem as camadas li a Vl. Assim, no isocórtex heterotipi- paralisias ou alterações na sensibilidade, o que não aconte-
co granular, característico das áreas sensitivas, há enorme ce nas áreas de associação.

• Ca pítu lo 25 Estrutura da Substancia Branca edo Córtex Cerebral 233


As áreas de projeção podem ainda ser divididas em dois a ser Identificada pelo tato, com os olhos fechados. A área
grupos de função e estrutura diferentes: óreas sensitivas; e de projeção é a área somestésica primária (S1 ), que registra
áreas motoras. Nas áreas sensitivas e motoras do neocórtex, as qualidades táteis da bola, em especial a sua forma. En-
está o lsocórtex heterotípico do tipo granular ou agranular. tretanto, isso não permite a sua identificaçào, o que é feito
Já nas áreas de associação no neocórtex, está o isocórtex na área de associação somestésíca secundária (S2). Ela com-
homotípico, pois, não sendo elas nem sensitivas nem mo• parará a forma da bola com o conceito de bola registrado
toras, não há grande predomínio de células granulares ou na memória, o que permite sua identificação. Nesse caso, a
piramidais, o que permite fácil Individualização das seis ca· área primária é responsável pela sensação, e a secundária,
madas corticais. O neuropsicólogo russo Alexandre Luria pela Interpretação dessa sensação. Se a área de associação
propôs uma divisão funcional do córtex baseada em seu somestésica for lesada, ocorrerá uma agnosia tátil, ou seja,
grau de relacionamento com a motricidade e com a sen- ele não conseguirá reconhecer a bola pelo tato, embora
sibilidade. As áreas ligadas diretamente à sensibilidade e à possa fazê-lo pela visão. Agnosias são, pois, quadros clínicos
motricidade, ou seja, as áreas de projeção, são consideradas nos quais há perda da capacidade de reconhecer objetos
áreas primárias. As áreas de associação podem ser divididas por lesões das áreas corticais secundárias, apesar das vias
em secundárias e terciárias. As secundárias são unimodois, sensoriais e as áreas corticais primárias estarem normais.
pois estão ainda relacionadas, embora indiretamente, com Distinguem-se agnoslas visuais auditivas e somestésicas, es-
determinada modalidade sensorial ou com a motricidade. tas últimas geralmente táteis. No exemplo citado da bola, é
As aferências de uma área de associação unlrnodal se fa- possível mostrar a sequência de eventos que ocorrem utili-
zem predominantemente com a área primária de mesma zando-se ressonãncia magnética funcional. Inicialmente, há
função. Assim, por exemplo, a área de associação unimodal ativação da área somestésíca primária, seguindo-se ativação
visual V2 recebe fibras predominantemente da área visual da área secundária. Reconhecida a bola, a decisão de o que
primária Vl ou área de projeção visual. Áreas motoras pri- se quer com ela será tomada por urna área cortical terciária
márias projetam-se para os neurônios motores da medula (área pré-frontal), que aparecerá ativada com o exame de
espinal e do tronco encefálico. As áreas de associação mo- ressonância magnética funcional.
toras, localízadas rostralmente à área motora primária, estão
A chave seguinte sintetiza o que já foi exposto sobre a
envolvidas com a programação de movimentos que são
classificação funcional das áreas corticais, e as Figuras 26.1
transmitidos para a área primária para execução.
e 26.2 mostram a disposição dessas áreas no cérebro.
As áreas terciárias sJo supramodals, ou seja, não se ocu·
pam diretamente com as modalidades motora ou sensitiva
das funções cerebrais, mas estão envolvidas com atividades sensitivas
de projeção
psíquicas superiores. Mantêm conexões com várias áreas
(áreas primárias)
unimodais ou com outras áreas supramodais, lígam infor- motoras
mações sensoriais ao planejamento motor e são o subs- Áreas
trato anatômico das funções corticais superiores, como funcionais sensitivas
do córtex secundá rias
pensamento, mernória, processos slmbólícos, tomada de (unimodais)
decisões, percepção e ação direcionadas a um objetivo, o cerebral
motoras
planejamento de ações futuras. A área supramodal mais im-
de assoclaç~
portante é a área pré-frontal, que corresponde às partes não
motoras do lobo frontal. terciárias
Durante a filogénese, houve aumento das áreas corti- (supramodais)
cais de associação que, no homem, ocupam um território
cortical muito maior que o das áreas de projeção. Esse fato
pode ser correlacionado com o grande desenvolvimento leitura sugerida
das funções psíquicas do homem. AMUNTS, K.: ZILLES, K Architetonlc mapping of the human brain
Para que se possa entender melhor o significado fun- beyond Brodmann. Neuron, v. 88, n.6, p. 1086-1 107, 20 15.
cional dessas áreas de associação, especialmente das áreas DICK. A. S.; TREMBLAY, P. Beyond the arcuate fasciculus: consensus
secundárias, cabe descrever os processos mentais envolvi- and controversy in the connectional anatomy of language.
dos na identificação de um objeto, por exemplo, uma bola Brain, v. 135, n. 12, p. 3529-3550, 2012.

23 4 Neuroanatomia Fllldonal
Anatomia Funcional do Córtex Cerebral

enquanto as áreas 1 e 2 aparecem na superfície do giro


pós-central. À área somestésica, chegam radiações talã-
A possibilidade de se estudarem as funções corticais
micas, que se originam nos núcleos ventral posterolateral
do indivíduo vivo. sem anestesia ou qualquer procedimen-
e ventral posteromedial do tálamo e trazem. por conse-
to invasivo, proporcionada pelas técnicas de neurolmagem
guinte, impulsos nervosos relacionados com temperatura.
funcional (Capílulo 31), causou uma revolução na neuroa-
dor, pressão, tato e propriocepção consciente da metade
natomia funcional, em especial naquela relacionada com o
oposta do corpo. Quando se estimula eletricamente a área
córtex cerebral. revelando funções novas para áreas já co-
somestésica, o Indivíduo tem manifestações sensitivas em
nhecidas ou pouco conhecidas.
partes determinadas do corpo, porém mal definidas. do
No capítulo anterior, vimos a classificação funcional
tipo dormência ou formigamento. Por outro lado, se são
das áreas corlicais e a sua correspondência com as áreas
estimulados receptores exteroceptivos ou se são feiras
citoarquireturais e filogenéticas. Neste capitulo, estudare-
movimentos em determinadas articulações, de modo a ati-
mos com mais detalhes essas áreas sensitivas e motoras do
var receptores proprioceptivos, pode-se tomar potenciais
córtex. cada uma delas dividida em primárias e secundárias.
evocados nas partes correspondentes da área somestési-
além das áreas de associação terciárias.
ca. Pode-se concluir, assim, que existe correspondência
entre partes do corpo e partes da área somestésica (so-
matotopia). Para representar essa somatotopla, PenOeld e
As áreas sensitivas do cónex estão distribuídas nos lo- Rasmussen imaginaram um "homúnculo sensitivo· (Figura
bos parietal. temporal e occipital. As áreas sensitivas são di- 26.3) de cabeça para baixo no giro pós-central. Na porção
vididas em áreas primárias (de projeção) e secundárias (de superior desse giro, na parte medial do hemisfério, localiza-
associação), relacionadas. respectivamente, com a sensação -se a área dos órgãos genitais e do pé, seguida, íá na parte
do estímulo recebido e com a percepção de características superolateral do hemisfério. das áreas da perna, do tronco e
específicas desse estímulo. No caso das áreas visuais. por do braço, todas pequenas. Mais abaixo, vem a área da mão,
exemplo, as áreas secundárias são múltiplas. cada uma res- que é muito extensa, seguida da área da cabeça, onde a
ponsável pelo processamento de aspectos especlficos da face e a boca têm representação também bastante exten-
visão, como forma. cor, movimento etc. sa. Segue-se, já próxima ao sulco lateral, a área da língua
e da faringe. Essa somatotopla é fundamentalmente igual
2.1 Areas corticais reladonadas com a sensibilidade à observada na área motora. e nela chama atenção o ter-
somática ritório de representação da mão, sobretudo dos dedos. o
qual é desproporcionalmente extenso. Esse fato demons-
2.1.1 Área somestésica primária (S1) tra o princípio. amplamente confirmado em estudos feitos t
A área somestésica primária (S1) e a área da sensibili- em animais, de que a extensão da representação cortical
dade somática geral estão localizadas no giro pós-central, de uma parte do corpo depende da importância funcional
que corresponde às áreas 3, 1 e 2 de Brodmann (Figuras e da densidade de aferências dessa parte para a biologia da •
26.1 e 26.2). A área 3 localiza-se no fundo do sulco central, espécie, e não do seu tamanho.
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Figura 26.1 Áreas corticais primárias (em rosa), secundárias (em arnarelo) e terciárias (em azul) em relação com as áreas citoarquireturais de
Brodmann. race superolateral do cérebro.

20

Figura 26.2Áreas corticais primárias (em rosa), secundárias (em amarelo) e terciárias (em azul) em relação com as áreas citoarquiteturais
de Brodmann. Face medial do cérebro.

236 NeuroanatomiaFuncional
Lesões da área somestésica podem ocorrer, por exem- 26.2), também chamada de córrex esrriodo. Af chegam as
plo, como consequência de acidentes vasculares cerebrais fibras do trato geniculocalcarino (radiação óptica), origina-
que comprometem as artérias cerebral média ou cerebral das no corpo geniculado lateral. Estimulações elétricas da
anterior. Há, então, perda da sensibilidade discriminativa área 17 causam alucinações visuais, nas quais o indivíduo
do lado oposto à lesão. O doente perde a capacidade de vê círculos brilhantes, nunca objetos bem definidos. Estimu-
discriminar dois pontos, perceber movimentos de partes lando-se pontos específicos da retina com um jato de luz
do corpo ou reconhecer diferentes intensidades de esti- filiforme, pode-se tomar potenciais elétricos evocados em
mulo. Apesar de distinguir as diferentes modalidades de partes especificas da área 17. Verificou-se, assim, que a me-
estímulo, ele é incapaz de localizar a parte do corpo toca- tade superior da retina projera-se no lábio superior do sulco
da ou de distinguir graus de temperatura, peso e textura calcaríno, e a metade Inferior, no lábio Inferior desse sulco. A
dos objetos tocados. Em decorrência disso, o doente per- parte posterior da retina (onde se localiza a mácula) projeta-
de a estereognosla, ou seja, a capacidade de reconhecer -se na parte posterior do sulco calcarino, enquanto a parte
os objetos colocados em sua mão. É interessante lembrar anterior projeta-se na porção anterior desse sulco. Existe,
que as modalidades mais grosseiras de sensibilidade (sen- pois, correspondência perfeita entre retina e córtex visual
sibilidade protopática), como o rato não discriminativo (retinotopia). A ablação bilateral da área 17 causa cegueira
e a sensibilidade térmica e dolorosa, permanecem prati- completa na espécie humana.
camente Inalteradas, pois elas se tornam conscientes em
nível talâmico. 2.2.2 Áreas visuais serundárias
São áreas de associação unimodais, neste caso relacio-
nadas somente com a visão. Até há pouco tempo, acredita-
va-se que seria urr1a área única, limitada ao lobo occipital,
situando-se adiante da área visual primária, corresponden-
do às áreas 18 e 19 de Brodmann.
Estudos com resson~ncia magnética funcional e a aná-
lise de caso de lesões corticais isoladas demonstraram que,
na verdade, são várias as áreas visuais secundárias, distribuí-
das nos lobos parietais e temporais, das quais as mais co-
nhecidas são V2, V3, V4 e VS. Elas são unidas por duas vias
corticais originadas em Vl : a dorsal, dirigida à parte poste-
rior do lobo parietal, e a ventral, que une as áreas visuais
do lobo temporal (Figura 26.4). Aspectos díferentes da
percepção visual s.'.lo processados nessas áreas. Assim, na
via ventral estão áreas especificas para percepção de cores,
reconhecimento de objetos e reconhecimento de faces. Na
via dorsal, estão áreas para percepção de movimento, de
velocidade, representação espacial dos objetos, atenção
visual e ações guiadas pela visão. Em síntese, a via ventral
permite determinar o que o objeto é, e a dorsal, onde ele
está, se está parado ou em movimento, e guiar a ação moto-
ra em relação ao objeto. O processamento visual é paralelo
desde a retina, circuitos analisam os diversos aspectos da
Rgura 26-3 Representação das partes do corpo na área somestési- informação visual, como cor, luminosidade, forma, faces e
ca prim~rla. Homúnculo sensitivo {segundo Penfield e Rasmussen). movimento, e distribui a Informação a partir de VI para mais
de 30 áreas dentro das vias dorsal e ventral. A integração das
2.1.2 Área somestésica secundária (S2) informações permite o reconhecimento de objetos (córtex
Esta área situa-se no lobo parietal superior, logo atrás temporal inferior) e gula as ações motoras necessárias ao
da área somestésica primária, e corresponde à área S e par- objetivo. Lesões nessas áreas resultam em agnosia visual,
te da área 7 de Brodmann (Figura 26.1 ). A sua lesão causa ou seja, na incapacidade de Identificar objetos ou aspectos
agnosla tátil, ou seja, incapacidade de reconhecer objetos dos objetos, mesmo estando íntegras as áreas corticais pri-
pelo tato. márias. São muitas as agnosias visuais em casos de lesões
restritas do lobo temporal envolvendo a via cortical ventral.
2.2 Areas corticais relaáonadas com a visão O paciente pode perder a capacidade de identificar objetos,
desenhos, sua cor, seu significado e até mesmo o reconhe-
2.2.1 Área visual primária(Vl) cimento da face de pessoas conhecidas (prosopagnosla). O
A área visual primária, Vl , localiza-se nos lábios do sul- giro temporal inferior tem amplas conexões com as áreas de
co calcarino e corresponde à área 17 de Brodmann (Figura memória. Em casos de lesões da via dorsal (VS), o paciente

• Capitulo 26 Anatomia Funcional do Córtex Cerebral 237


perde a capacidade de perceber. visualmente, o movimento uma área puramente vestibular como ocorre em outras mo-
das coisas (ocinetopsia). Assim. o paciente tem dificuldade dalidades sensoriais. As principais encontram-se no córtex
para atravessar uma rua movimentada e, para ele, as águas insular posterior e no lobo parietal, em uma pequena região
de uma cachoeira estão sempre paradas. A área cortical in- próxima ao território da área somestésica correspondente à
traparietal orienta a atenção em relação ao objeto de Inte- face. Há projeções também para o córtex oculomotor fron-
resse do campo visual e gula as ações motoras dos olhos e tal. córtex visual secundário intraparietal e temporal. Assim,
do corpo ao objetivo. a área vestibular está relacionada com a área de projeção
da sensibilidade proprioceptiva. Os receptores do vestíbulo
já foram classificados como proprioceptores especiais, pois
informam sobre a posição e o movirnento da cabeça. Foi
sugerido que a área vestibular do córtex seria importante
para apreciação consciente da orientação no espaço.

2.5 Area olfatória


A área olfatória, muito grande em alguns mamíferos,
ocupa no homem apenas uma pequena área situada na
parte anterior do unco e do giro para-hipocampal, conheci-
da também como córtex piriforme. Certos casos de epilepsia
focal do unco causam alucinações olfatórias, nas quais os
pacientes subitamente se queixam de cheiros, em geral de-
sagradáveis, que na realidade não existem. São as chamadas
crises uncinadas. que podem ter apenas essa sintomatologia
subjetiva ou completar-se com uma crise epiléptica motora
focal ou generalizada.
Figura 26..4 Desenho esquemático representando a área visual pri-
mária Vl e as principais áreas corticais secundárias nas vias ventral 2.6 Area gustativa
e dorsat
2.6.1 Área gustativa primária
2,3 Areas corticais relacionadas c.om aaudição Localiza-se ao longo da parte anterior da ínsula e da
parte inferior do giro pós-central. Coerente com esse fato,
2.3.1 Área auditiva primária (A1)
essa área é um isocórtex heterotípico granular. Fato inte-
A área auditiva primária. Al, está situada no giro tempo- ressante é que o simples ato de ver ou mesmo de pensar
ral transverso anterior (giro de Heschl) e corresponde às áreas em um alimento saboroso ariva a área gustativa da Insula.
41 e 42 de Brodmann (Figura 26.1). A ela, chegam fibras da Demonstrou-se também que na área gustativa existem
radiação auditiva, que se originam no corpo geniculado me- neurônios sensíveis não só ao paladar, mas também ao
dial. Estimulações elétricas da área auditiva de um indivíduo olfato e à sensibilidade somestésica da boca. A gustação
acordado causam alucinações auditivas que, entretanto, nun- depende, portanto, da integração de informações gusta-
ca são muito precisas, manifestando-se principalmente como tivas e olfativas.
zumbidos. Lesões bilaterais do giro temporal transverso ante-
rior causam surdez completa. Lesões unilaterais causam défi- 2.6.2 Área gustativa secundária
cits auditivos pequenos. pois, ao contrário das demais vias da
Encontra-se na região orbitofrontal da área pré-frontal,
sensibilidade, a via auditiva não é totalmente cruzada. Assim,
recebendo aferências da ínsula.
cada côdea está representada no córtex dos dois hemisférios.
Na área auditiva, existe uma representação tonotópica, ou
seja, sons de determinada frequéncia projetam-se em partes 3;~ reas·cortiijis reladonadãsromá motrlddadi a
específicas dessa área, o que Implica correspondência dessas A motricidade voluntária só é possível porque as áreas
partes com as partes da cóclea. corticais que controlam o movimento recebem constante-
mente informações sensoriais. A decisão de executar um
2.3.2 Área auditiva secundária (A2) determinado movimento depende da integração entre os
Localiza-se no lobo temporal (área 22 de Brodmann), sistemas sensoriais e motor. Um simples ato de alcançar um
adjacente à área auditiva primária, e a sua função é pouco obíeto exige informação visual para localizar o objeto no
conhecida, mas. possivelmente, está associada a alguns ti- espaço e informação proprioceptiva para criar a represen-
pos especiais de informação auditiva. tação do corpo no espaço, possibilitando que comandos
adequados sejam enviados ao membro superior. O proces-
2,4 Area vestibular samento sensorial tem como resultado uma representação
As informações vestibulares se projetam para várias re- interna do mundo e do corpo no espaço, e o planejamento
giões corticais, sendo a maioria delas multimodais. Não há do ato motor inicia-se a partir de uma dessas representa-

238 Neuroanatomia Funcional


ções. O objetivo do movimento é determinado pelo córtex 3.2 Areas motoras secundárias
pré-frontal, que passa sua decisão às áreas motoras do cór-
tex, que são a área motora primária (M 1) e as áreas secundá-
3.2.1 Área pré-motora
rias pré-motora e motora suplementar. A área pré-motora localiza-se no lobo frontal, adiante da
área motora primária 4, e ocupa toda a extensão da área 6
3.1 Area motora primária (Ml) de Brodmann, situada na face lateral do hemisfério (Figura
26.1 ). É muito menos excitável que a área motora primária,
Ocupa a parte posterior do giro pré-central, corres·
exigindo correntes elétricas mais intensas para que se obte-
pondente à área 4 de Brodmann (Figura 26.1 ). Do ponto
nham respostas motoras. As respostas obtidas são menos
de vista citoarquiretural, é um isocórtex heterotípico agra-
localizadas do que as que se obtêm por estímulo da área 4
nular, caracterizado pela presença das células piramidais
e envolvem grupos musculares maiores, como os do tronco
gigantes ou células de Betz. No córtex motor primário, há
ou da base dos membros. Nas lesões da área pré-motora,
uma representaçao das diversas partes do corpo, a soma-
esses músculos têm a sua força diminuída (paresia). o que
totopia. Essa somatotopia corresponde à já descrita para
impede o paciente de elevar completamente o braço ou a
a área somestésica e pode ser representada por um ho-
perna. Por meio da via córtico-retículo-espinal, que nela se
múnculo de cabeça para baixo, como mostra a Figura
origina, a área pré-motora coloca o corpo, especialmente a
26.5. t interessante notar a grande extensão da área cor-
musculatura proximal dos membros, em uma postura bási-
respondente à mão, quando comparada com as áreas do ca preparatória para a realização de movimentos mais deli-
tronco e membro inferior. Isso mostra que a extensão da cados, a cargo da musculatura distal dos membros. Dentro
representação cortical de uma parte do corpo, na área 4, da área pré-motora, encontra-se a área motora ocular fron-
é proporcional não ao seu tamanho, mas à delicadeza dos tal. responsável pelo movimento conjugado ocular lateral.
movimentos realizados pelos grupos musculares nela re- Sua lesão provoca o desvio conjugado do olhar para o lado
presentados. Essa organização somatotóplca pode sofrer da lesão (Figura 19.13). Como será visto no item 3.4, a área
modificações decorrentes do aprendizado e de lesões. As pré-motora integra também o sistema de neurônios-espe-
principais conexões aferentes da área rnotora são com o lhos. A área pré-motora projeta-se, também, para a área mo-
tálamo, por meio do qual recebe informações do cerebelo tora primária e recebe aferências do cerebelo (via tálamo) e
e dos núcleos da base, com a área somestésica e com as de várias áreas de associação do córtex. Entretanto, a função
áreas pré-motora e motora suplementar. Por sua vez, no mais importante da área pré-motora está relacionada com o
homem, a área 4 dá origem a grande parte das fibras dos planejamento motor, como será visto no item 3.3.
tratos corticospinal e corticonuclear, principais responsá-
veis pela motricidade voluntária, especialmente na mus- 3.2.2 Area motora suple.mentar
culatura distal dos membros. A área motora suplementar ocupa a parte da área 6,
situada na face medial do giro frontal superior (Figura
26.2). /\s suas principais conexões são com o corpo estria·
do. via tálamo, com a área motora primária e com a área
pré-frontal. Assim como a área pré-motora, a função mais
importante da área motora suplementar é o planejamen·
to motor, de sequências complexas de movimentos, para
o que são importantes as suas amplas conexões aferenres
com o corpo estriado, que também está envolvido nesse
planejamento motor.

3.3 Planejamento motor


!( Estudos de neuroimagem funcional mostraram que,
quando se faz um gesto, por exemplo, estender o braço
para alcançar um objeto, há ativação de uma das áreas de
associação secundárias (pré-motora ou motora suplemen-
tar), indicando aumento de atividade metabólica dos neu-
.L. rônios nessas áreas. Após um ou dois segundos. a atividade
cessa e passa a ser ativada a área motora primária, principal
origem do trato corticosplnal. Simultaneamente. ocorre o
movimento. Conclui-se que, na execução de um movimen-
to, há uma etapa de planejamento, a cargo das áreas moto-
Rgura 26.5 Representaç~o das partes do corpo na área motora ras secundárias, e uma etapa de execução pela área M 1. Esse
primária. Homúnculo motor (segundo Penfield e Rasmussen). planejamento envolve a escolha dos grupos musculares a

■ Capitulo 26 Anatomia Funàonal do Córtex Cerebral 239


serem contraídos em função da trajetória, da velocidade e 3.4 Sistema de neurônios-espelho
da dist~ncla a ser percorrida pelo ato motor de estender o Neurônio-espelho é um tipo de neurônio que é ativa-
braço para apanhar o objeto. Essas Informações são passa- do não só quando um Indivíduo faz um ato motor espe-
das à área M 1, que executa o planejamento motor feito pe- cífico, como estender a mão para pegar um objeto, mas
las áreas pré-motora ou motora suplementar. Cabe lembrar também quando ele vê outro indivíduo fazendo a mesma
que também participam do planejamento motor o cerebe- coisa. Em conjunto, esses neurônios têm sido chamados
lo, cujo núcleo denteado também é ativado antes de Ml, e de sistema de neurônios-espelho. No homem. esse siste-
o circuito motor estrlato-tálamo-cortical. Entretanto. a Ini- ma é frontoparietal. ocupando parte da área pré-motora
ciativa de fazer o planejamento visando realizar um gesto e estendendo-se também à parte inferior do lobo parietal.
não é das duas áreas motoras secundárias, mas sim da área Mapeando-se os neurônios-espelho ativados com a obser-
pré-frontal que, como será visto no próximo item, é uma vação do movimento em várias partes do corpo. verificou-
área supramodal relacionada. entre outras funções, com a -se que há urna distribuição somatotópica semelhante à
tomada de decisões. Cabe a ela decidir. depois de avaliar observada na área motora primária. Os neurônios-espelho
todas as implicações do gesto, como este deve ser feito e ttm ação moduladora da excitabilidade dos neurônios
passar essa "decisão" para as áreas pré-motora ou motora responsáveis pelo ato motor observado, facilitando a sua
suplementar, o que é coerente com o fato de que ela é ati- execução. Eles estão na base da aprendizagem motora por
vada antes das áreas pré-motora ou motora suplementar. imitação. Assim, um determinado movimento de ginástica
Dados clínicos confirmam o papel de planejamento motor é aprendido com muito mais rapidez quando se observa
das duas áreas motoras secundárias. Lesões dessas áreas alguém o executando do que quando se ouve a descrição
resultam em disfunções denominadas apraxios. nas quais do respectivo movimento ou sua ilustração em um livro.
a pessoa perde a capacidade de fazer gest.os simples como Os neurônios-espelho exercem um papel importante na
escovar os dentes ou abotoar a camisa, apesar de não estar aprendizagem motora de crianças pequenas que Imitam
paralítica. Esse quadro clinico, conhecido há muito tempo. os pais ou as babás. O controle do comportamento e das
pode agora ser explicado. A capacidade de fazer o gesto interações sociais depende muito da habilidade de re-
não está comprometida porque a área motora primária conhecer e compreender o que outros estão fazendo. A
está intacta. Entretanto, as áreas responsáveis pelo plane- observação do comportamento de outros interfere nas
jamento motor est.ão comprometidas. Em outras palavras, ações do observador. A ativação de circuitos motores pela
a área motora primária está pronta para fazer o gesto, mas empatia entre o observador e o observado é importante
não sabe como fazê-lo. As duas áreas motoras secundárias para a aprendizagem de comportamentos adequados e
nunca são ativadas em conjunto. Vários estudos sugerem o desenvolvimento das interações sociais. A disfunção no
que a área motora suplementar é ativada quando o gesto sistema de neurônios-espelho parece estar envolvida em
decorre de "decisãoº do próprio córtex pré-frontal, como alguns sintomas do transtorno de espectro autista, item
no gesto de apanhar o objeto, que pode ou não ser feito. 2.3.1 deste capítulo.
Quando o gesto decorre de uma influência externa. como
o comando de alguém para que o gesto seja feito, a ativa- . - ...
ção será da área pré-motora. e 1
Um exemplo do que foi exposto sobre as áreas mo- Segundo Luria, as áreas terciárias ocupam o topo da hie-
toras e o movimento voluntário. temos em um individuo rarquia funcional do córtex cerebral. Elas são supramodais,
sentado a uma mesa de jantar e que deve decidir se vai to- ou seja. não se relacionam Isoladamente com nenhuma
mar vinho ou cerveja. Essa decisão depende de neurônios modalidade sensorial. Recebem e integram as Informações
da área pré-frontal. Depois da análise de todas as variáveis, sensoriaisjá elaboradas por todas as áreas secundárias e são
a área pré-frontal decide tomar o vinho. Essa decisão é responsáveis também pela elaboração da.s diversas estraté-
passada à área motora suplementar, onde é elaborado o gias comportamentais.
plano motor, que deve conter a sequência dos músculos O emprego das técnicas de neuroimagem funcional
envolvidos, necessários ao movimento, e o grau de contra- causou uma revolução no conhecimento sobre as áreas
ção de cada um. Para elaboração do plano motor. a área corticais de associação terciárias, que hoje estão na linha de
motora suplementar também recebe informações do ce- frente das pesquisas em neurociências.
rebrocerebelo. por meio da via dento-talãmico-cortical. e A seguir, estudaremos cada uma das áreas terciárias do
dos núcleos da base, por meio da alça motora. Concluí- cérebro. ou seja. a área pré-fronrol, a área parietal posterior, o
do o plano motor, passa-se à execução. a cargo do trato córtex insular anrerior e as áreas límbicas.
cortlcosplnal. para músculos distais dos membros, e reti-
culospinal, para músculos proximais. Com isso. o braço e 4.1 Area pré-frontal
o antebraço se deslocam em direção à garrafa de vinho A área pré-frontal compreende a parte anterior não
(via córtico-reticulospinal}, que será agarrada pelos dedos motora do lobo frontal (Figuras 26.1 e 26.2). Essa área
(trato cortlcosplnal). desenvolveu-se muito durante a evolução dos mamífe-

240 NN110anatomla Funcional


ros, e no homem ocupa cerca de um quarto da superfície Moniz e Almeida Lima sobre a leucotomia frontal teve gran-
do córtex cerebral. Ela tem conexões com quase todas as de repercussão, pois pela primeira vez empregou-se uma
áreas corticais. vários núcleos talAmicos, em especial o nú técnica cirúrgica para o tratamento de doenças psíquicas
cleo dorsomedial, amígdala, hipocampo, núcleos da base. (psicocirurgia). O método foi largamente utilizado, caindo
cerebelo, tronco encefálico, ou seja, praticamente todo o em desuso com o aparecimento de drogas de ação anti-
encéfalo, além das projeções monoamlnérgicas dos siste- depressiva. Os pacientes perdiam a capacidade de decidir
mas modulatórios de projeção difusa. Esse vasto número sobre os comportamentos socialmente mais adequados.
de conexões lhe pern1ite exercer funções coordenadoras podendo, por exemplo. com a maior naturalidade, urinar.
das funções neurais, sendo a principal responsável por defecar ou masturbar-se em público.
nosso comportamento inteligente. As informações sobre o Do ponto de vista funcional. pode-se dividir a área pré-
slgnificacfo funcional da área pré-frontal foram inicialmen- -frontal em duas subáreas: dorsolateral; e orbitofrontal.' Se-
te obtidas principalmente por intermédio de experiências rão estudadas ambas.
feitas em macacos e da observação de casos clínicos, nos
quais houve lesão nessa área. Destes, o mais famoso ocor- 4.1.1 Área pré-frontal dorsolateral
reu em 1868, quando P.T. Gage, funcionário de uma ferro-
Ocupa a superfície anterior e dorsolateral do lobo
via americana, teve o seu córtex pré-frontal destruído por frontal. Liga-se ao neoestriado integrando o circuito cór-
uma barra de ferro. Ele conseguiu sobreviver ao acidente. tico-estriado-talãmico-cortical. Esse circuito tem um papel
mas a sua personalidade. antes caracterizada pela respon- extremamente importante nas chamadas funções execu-
sabilidade e seriedade, mudou dramaticamente. Embora tivas que envolvem o planeíamento execução das estraté-
com as suas funções cognitivas basicamente normais, ele gias comportamentais mais adequadas à situação física e
perdeu totalmente o senso de suas responsabilidades so- social do individuo, assim como capacidade de alterá-las
ciais e passou a vaguear de um emprego a outro, dizen- quando tais situações se modificam. Envolve também a
do ·as mais grosseiras profanidades· e exibindo a barra de avaliação das consequências dessas ações. planejamento
ferro que o vitimara. •sua mente estava tão radicalmente e organização, com Inteligência, de ações e soluções de
mudada que os seus amigos diziam que ele não era mais o problemas novos. Além disso, a área pré-frontal dorsola-
mesmo Gage~ afirma Harlow. médico que acompanhou o teral é responsável pela memória operacional, que é um
caso naquela época. tipo de memória de curto prazo, temporária e suficiente
No que se refere às observações em animais, a experiên- para manter na mente as informações relevantes para a
cia mais famosa foi feita em 1935, por Fulton e Jacobsen, em conclusão de uma atividade que está em andamento. Ela
duas macacas chimpanzés que tiveram as suas áreas pré- será estudada no Capítulo 28.
-frontais removidas. Depois da operação, as macacas pas-
saram a não resolver mais certos problemas simples, como 4.1.2 Área pré-frontal ventromedial ou orbitofrontal
achar o alimento escondido pouco tempo antes. Sabe-se,
Ocupa a parte ventral do lobo frontal adjacente às ór-
hoje, que Isso resultou da perda da memória operacional,
bitas. compreendendo os giros orbitários (Figura 7.8). Pro·
que é função da área pré-frontal. Além disso, os animais tor-
jeta-se para o núcleo caudado que. por sua vez, se projeta
naram-se completamente distraídos e não desenvolveram
para o globo pálido, a seguir para o núcleo dorsomedial do
mais as características rnanlfestações de descontentamento tálamo que se projeta para a área pré--frontal orbitofrontal
em situações de frustração.
fechando o circuito. Esse circuito está envolvido no proces-
Com base nessas experiências, Egas Moniz e Almeida samento das emoções, na supressão de comportamentos
Lima. dois cirurgiões portugueses, fizeram pela primeira socialmente indesejáveis e manutenção da atenção. Sua le-
vez, em 1936, a lobotomia pré-frontal, para o tratamento de são ocorre nas lobotomias pré-frontais, por isso resulta no
doentes psiquiátricos com quadros de depressão e ansieda- que já foi chamado de ·tamponamento psíquico~ ou seja.
de.1A operação consiste em uma secção bilateral da parte o paciente deixa de reagir às situações que normalmente
anterior dos lobos frontais. Sabe-se hoje que os resultados resultam em alegria ou tristeza, além do déficit de atenção
decorrem principalmente da secção das conexões da área e comportamentos inadequados, como já foi descrito no
pré-frontal com o núcleo dorsomedial do tálamo. Essa ci- item 4.1 a propósito das lobotomias e do caso clássico de
rurgia melhora os sintomas de ansiedade e depressão dos P. T. Gage. Esra envolvido no comportamento emocional e
doentes, que entram em estado de ·tamponamento psíqui- apresenta ampla conexão com a amígdala. hipotálamo e
co~ ou seja, deixam de reagir a circunstâncias que normal- substância cinzenta periaquedutal.
mente determinam alegria ou tristeza. O trabalho de Egas

2 Não há consenso entre os autores sob1e como dividir a área pré-frontal.


1 Ega\ Monit, em 1949, ganhou o Pr~mlo Nobel de Medicina e Fisiologia, alguns autor~ reconhecem cinco ~reas. outros uma ou nenhurna. Op-
mas. curiosamente, não pelo seu trabalho em Psicocirurgia, mas pela tamos por dui!s áreas, com base em KANDEl. F.C Principies of Neural
angiografia cerebral. de que foi pioneiro Sclence. New York: McC,raw-H1II. 7021.

• Capít ulo 26 Anatomia Funcional do Córtex Cerebral 241


de uma cena visual em um conjunto coerente. Participa tam-
4.2 Correlações anatomoclínicas bém no planejamento de movimentos e na atenção seletiva.
A área parietal posterior é importante para a percepção es-
4.21 Autismo Infantil
pacial, permitindo ao indivíduo determinar as relações entre
Atualmente conhecido como transtorno do espec- os objetos no espaço extrapessoal. Em lesões bilaterais, opa-
tro autista {TEA), em razão da variabilidade e intensidade ciente fica incapaz de explorar o ambiente e alcançar objetos
de vários sintomas reunidos em dois grupos: dificuldade de interesse. Ela permite também que se tenha uma imagem
na comunlcaç,30 social; e um segundo grupo, que Inclui das partes componentes do próprio corpo e sua relação com
comportamentos repetitivos. estereotipados e interesses o espaço, razão pela qual já foi também denominada área do
restritos. É um transtorno do neurodesenvolvímento com esquema corporal. Essas funções ficam mais claras com ades-
herança genética poligênica e modificável pelos estímulos crição dos quadros clínicos ligados a lesões que nela ocorrem.
do ambiente. A dificuldade de comunicação social inclui a Um dos sintomas pode ser desorientação espacial generaliza-
dificuldade de entender e inferir os estados mentais, desejos
da, que impede que o paciente consiga deslocar-se de casa
e intenções das pessoas ou de se colocar no lugar do pró-
para o trabalho e, nos casos mais graves, nem mesmo dirigir-
ximo e entender comportamentos. É a teoria da mente e
-se de uma cadeira para a cama.
que depende de circuitos cerebrais específicos relacionados
Entretanto, o quadro clinico mais característico das
com a cognição social. A mentalização ou a capacidade de
entrar na mente das pessoas e entender os seus comporta- lesões da área parietal posterior, em especial de sua par-
mentos e as suas intenções permite que observemos que te parietal inferior, é a chamada síndrome de negligência,
pessoas diferentes têm pensamentos diferentes e que pen- ou síndrome de inatenção, que se manifesta nas lesões
samentos são internos e diferentes da realidade. Essa habi- do lado direito, ou seja, no hemisfério mais relacionado
lidade está prejudicada no TEA e causa problemas graves com os processos vlsuoespaciais. Ocorre uma negligência
no desenvolvimento das habilidades sociais. Estudos com sensorial do mundo contralateral. Pode-se considerar um
ressonância magnética funcional observaram alterações quadro de negligência em relação ao próprio corpo ou ao
em cinco áreas principais. O córtex orbitofrontal e a insu- espaço exterior. No primeiro caso, o paciente perde a no-
la, relacionados à n,entalização, empatia e cognição social, ção do seu esquema corporal, deixa de perceber a metade
o lobo temporal superior ativado pelo movimento ocular, esquerda do seu corpo como fazendo parte do seu ·eu· e
a amígdala envolvida na avaliação de informações sociais e passa a negligenciá-la. Assim, ele deixa de se lavar, fazer a
não sociais para indicação de perigo no ambiente e a região barba ou calçar os sapatos do lado esquerdo, não porque
temporal inferior envolvida na percepção de face5. O siste- não possa fazê-lo, mas simplesmente porque, para ele, a
ma de neurônios-espelho também parece estar envolvido. metade esquerda do corpo não lhe pertence. Alguns pa-
As crianças típicas desde bebês preferem olhar para faces cientes com hemiplegia esquerda sequer reconhecem que
em vez. de outros estímulos. No TEA, há uma ausência des- o seu lado esquerdo está paralisado. No caso da síndrome
sa preferência levando à hipótese de falha em um circuito de negligência em relação ao espaço peri- e extrapessoal,
específico, que medeia a atenção para estímulos sociais, que pode ser concomitante ao quadro anterior, o paciente
como faces, vozes e movimentos biológicos. Estudos de- passa a agir como se do lado esquerdo o mundo deixasse
monstraram que os pacientes com TEA direcionam o olhar de existir de qualquer forma significativa para ele. Assim,
de preferência para a boca e não para os olhos. Foi também ele só escreve na metade direita do papel, só lê a metade
encontrado menor número de células de Purkinje no cere- direita das sentenças e só come o alimento colocado no
belo e anomalias da organização colunar do córtex cerebral. lado direito do prato. O neurologista só poderá conversar
Dezenas de genes já foram implicados na fisiopatologia do com o paciente se abordá-lo pelo lado direito.
TEA. O tratamento tem como base a estimulação precoce.
4.4 Córtex Insular
A ínsula é uma área de associação terciária que integra in-
4.3 Area parietal posterior formações multimodais Importantes para o comportamento
social e emocional. Suas funções s:io bem mais amplas do
Compreende todo o lóbulo parietal inferior, ou seja, os que a concepção antiga de que seria apenas um componen-
giros supramarginal, área 40, e angular, área 39 (Figura 26, 1), te do sistema límbico. Pode ser dividida em duas parres, an-
estendendo-se também às margens do sulco temporal supe- terior e posterior, separadas pelo sulco central (Figura 7.6).
rior e parte do lóbulo parietal superior (Figura 26.1 ). Situa-se, O córtex insular posterior é predominantemente do tipo
pois, entre as áreas secundárias auditiva, visual e somestési- lsocórtex heterotípico granular. característico das áreas de
ca, funcionando como centro que Integra informações re- projeção primárias. Já o córtex insular anterior é predomi-
cebidas dessas três áreas, Reúne informações já processadas nantemente do tipo isocórtex homotípico, característico das
de diferentes modalidades para gerar uma imagem mental áreas de associação. Entretanto, estudos recentes demons-
completa dos objetos sob a forma de percepções, podendo traram que as divisões funcionais da ínsula não obedecem
reunir, além da aparência do objeto, o seu cheiro, som, tato e exatamente esta divisão anterior e posterior, e sim no sentído
nome. Essa área está envolvida não apenas na sensação so- dorsoventral. Assim o córtex granular (área de projeção) esta-
mática, mas na visual, possibilitando a ligação de elementos ria localiz.ado na porção dorsal e posterior. Haveria uma porção

242 Neuroanatomia funcional

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mediana central composta por córtex intermediário, disgra- tivos. visuais e tàteis de alimentos ou situações con-
nular e o córtex agranular ocuparia a porção anteroventral. A sideradas nojentas. Ela é ativada também pela visão
área granular recebe principalmente informações interocepti- de pessoas com fisionomia de nojo. A sensação de
vas (viscerais) e somatossensitivas. Há um processamento na nojo tem valor adaptativo, pois afasta as pessoas de
região Intermediária e posterior integração na região agranu- situações associadas a doenças. Em casos de lesões
lar que envia a resposta eferente princípalmente para o cór- da ínsula, ocorre perda do senso de nojo.
tex cingulado anterior límbico, córtex frontal e também para e) Função vestibular - a área vestíbular primária locali-
o hipotálamo participando do controle do sistema nervoso za-se na regi~o do opérculo parietal, região retroin-
autónomo. Esta Integração de informações gera uma auto- sular e insular posterior.
percepção corporal consciente e sensações subjetivas que in- f) Empotia e cognição social - a empatia é a capaci-
fluenciam comportamentos emocionais, cognitivos e sociais. dade de se colocar no lugar do outro, perceber e
Tem conexões também com o sistema ativador ascendente sensibilizar-se com o seu estado emocional, ge-
contribuindo para o estado de alerta. rando uma resposta cognitivo social e emocional
A porção dorsal recebe informações sobre o estado fisio- adequada. É uma das funções do córtex pré-frontal.
lógico atual de órgão e tecidos corporais. Os impulsos visce- Este processamento incluí a consciência de nossas
rais chegam da substância cinzenta intermédia lateral, deTl a sensações corporais e emocionais para reconhecê-
L2 (simpático), ou de S2 a S4 (parassimpático) e do núcleo do -las nos outros e permitir a ação social adequada.
trato solitário bulbar e do núcleo parabraquíal. A porção da O córtex insular anterior é ativado em indivíduos
maís anterior seria a área visceral primária, seguida pela área normais quando observam imagens de situações
gustativa. Recebe também informações da área somatos- dolorosas ou desagradáveis e expressões faciais
sentlva primária e do t.álamo com distribuição somatotóplca emocionais diversas. Esta capacidade, de grande
anteroposterior, da face para o membro inferior funcionando importância social, é perdida em lesões da ínsula e
como uma área somatossentiva secundária. A porção dorsal pode estar na base de muitas psicopatias.
mais posterior seria parte da área vestibular primária está en- g) Processamento socioemocional - a ínsula anterior é o
volvida também no processamento auditivo e olfatório. Essas centro cortical visceral e interoceptivo e o processa-
Informações multimodais integradas geram uma percepção mento dessas informações causa reações emocio-
consciente do funcionamento corporal auxiliando na respos- nais e sensações subjetivas. Experiências emocionais
ta emocional, comportamental e socialmente adequada. As negativas nos deixam em alerta sobre nossas sensa-
principais funções da ínsula estão resumidas a seguir. ções internas e funcionamento corporal.
h) Tomado de decisões - as emoções Influenciam a
a)
Processamento víscero-sensoriomotor - recebe Infor- tomada de decisões por melo de sensações inter-
mações aferentes viscerais e lnteroceptivas de todo nas viscerais e musculoesqueléticas e mudanças
o corpo. A estimulação da insula provoca sensa- fisiológicas que podem reforçar ou não a decisão.
ções visceraisdesagradáveis assim como alterações Existem conexões da ínsula anteroventral com o
do batimento cardíaco e pressão arterial. Essas in- córtex orbitofrontal, a estrutura principal na toma-
formações contribuem para a regulação do sistema da de decisões. A ínsula está envolvida nos aspec-
nervoso autônomo. As informações interoceptivas tos emocionais da tomada de decisões.
permitem-nos ter a consciência das condições fi- i) Funções cognitivas - a ínsula anterior participa da
siológicas do corpo como o batimento cardíaco e a atenção para detecção de estímulos novos por meio
distensão do esôfago, do estômago e da bexiga. das modalídades sensoriais detectando estímulos
b) Processamento do sensação de temperatura e dor - homestáticos relevantes entre múltiplos estímulos
a ínsula recebe informações somatossentlvas tér- competidores internos e externos. Atua juntamente
micas e dolorosas. Já fol proposto que o córtex com o córtex pré-frontal, a amigdala e o córtex cin-
termossensorial está situado na insula. Apresenta gulado anterior.
também papel na percepção e na resposta emo-
cional relacionado à dor. 4.5 Áreas límbicas
c) Processamento auditivo central - recebe informa- As áreas corticais límbicas compreendem áreas de alo-
ções do córtex auditivo primário e de outras áreas córtex (hlpocampo, giro denteado, giro para-hipocampal),
de associação e participa do processamento tem- de mesocórtex (giro do cíngulo) e isocórtex (ínsula anterior)
poral dos estímulos auditivos. processamento fo- e a área pré-frontal orbitofrontal. Todas essas áreas junta-
nológico percepção de intensidade. mente com estruturas subcortlcals fazem parte do sistema
d) Funções sensoriais espedais - a área gustativa pri- límbico, relacionado com a memória e as emoções. No caso
mária está localizada na parte anterior da ínsula e do giro do cíngulo, essas duas funções ocorrem em regiões
opérculo fron tal adjacente. A ínsula está também diferentes. O cíngulo anterior, que ocupa o primeiro terço
envolvida no processamento olfatório. Integra com- anterior do giro do clngulo, relaciona-se com as emoções, e
ponentes afetivo e emocional relacionados às sen- a parte posterior, que corresponde aos dois terços restantes,
sações gustativas e olfatórias. A sensação de nojo relaciona-se com a memória. Todas essas áreas serão estu-
provém da integração de estímulos gustativos, olfa- dadas nos Capítulos 27 e 28.

• Capitulo 26 Anatomia Funcional do Córtex Ctrebral 243

. .. . . . .-
. .
de Wernicke·Geschwind, em que a área de Broca conteria os
programas motores da fala e a de Wernlcke, o significado. e
A linguagem verbal é um fenõmeno complexo, do
que a conexão entre as duas possibilitaria entender e res-
qual participam áreas corticais e subcorticais. Admitia-se,
ponder ao que os outros dizem. Realmente, essas duas áreas
com base nos trabalhos de Geschwind. a existência de duas
estão ligadas pelos frucfculos longitudinal superior e arquea-
áreas corticais principais para a linguagem: uma anterior; e
do (Figura 25.2), por meio do qual informações relevantes
outra posterior (Figura 26.6), ambas de associação terciá-
para a correta expressão da linguagem passam da área de
ria. A órea anterior da linguagem (Figura 26.6} correspon- Wernicke para a área de Broca. Broca (1868) também foi res-
de à área de Broca e está relacionada com a expressão do ponsável pela descoberta de que, na maioria dos indivíduos,
linguagem. Situa se nas partes opercular e triangular do gim as áreas corticais da linguagem estão localizadas apenas do
fronral inferior. correspondendo à área 44 e parte da área 45 lado esquerdo, como será visto no próxlrno item a propósito
de Brodmann (Figura 26.1). A área de Broca é responsAvel da assirnetria das funções corricais.
pela programação da atividade motora relacionada com a A leitura e a escrita também dependem das áreas de
expressão da linguagem. A área posterior do linguagem situa· linguagem. Informações passam do córtex visual para o gíro
-se na junção entre os lobos temporal e parietal e correspon- angular onde é feito o processamento fonológico de gra-
de à parte mais posterior da área 22 de Brodmann (Figura fema para fonema e, em seguida. para a área de Wernicke.
26.1 ). Ela é conhecida também como óreo de Wernicke e está As lesões dessas áreas dão origem a distúrbios de lin-
relacionada basicamente com a percepção do linguagem. A guagem, denominados afasias. Nas afasias. as perturbações
identificação dessas duas áreas ocasionou a proposição do da linguagem não podem ser atribuídas a lesões das vias
modelo de linguagem clássico, conhecido como modelo sensitivas ou motoras envolvidas na fonação, mas apenas

-
\
...,_
''\
Área anterior do linguagem '
(área de Broca ) '
Área posterior do linguagem
(á rea de Wernicke)

Figura 26.6 An tigas Areas corticais da linguagem, modelo de Wernlcke-Geschwind.

C6rlex pré-motor


Area de
Wemicke

Área de broco

Porte a nterior dos giros Porte posterior do giro


tempora is superior e médio Via ventral temporal médio

Figura 26.7 Modelo atual das Areas corticais da linguagem.


Fonce: Adaprada de Kandel e1 ai. 2021.

244 Neuroan.!tomla Fundon.!I


a lesão das áreas corticais de associação responsáveis pela O modelo de Wernicke-Geschwind vem sendo modifi-
linguagem. Distinguem-se dois tipos principais de afasia: cado a partir de estudos de neuroimagem funcional. Alguns
motora ou de expressão, em que a lesão ocorre na área de autores e, mais recentemente, Angela Friederici, propuse-
Broca; sensitiva ou de percepção, em que a lesão ocorre na ram outro modelo de dupla via semelhante ao das duas vias
área de Wernicke. Nas afasias motoras, ou afasias de Broca, visuais dorsal e ventral. Comparado ao modelo tradicional,
o individuo é capaz de compreender a linguagem fc1lada esse novo modelo compreende várias outras áreas corticais
ou escrita, mas tem dificuldade de se expressar adequada- e vias de conexão bílateral entre elas. O estímulo chegaria às
mente, falando ou escrevendo. Nas afasias sensitivas, ou áreas auditivas primárias e passaria para a região posterior
afasias de Wernicke, a compreensão da linguagem, tanto do giro temporal superior, área de Wernicke, onde ocorre o
falada como escrita, é muito deficiente. processamento fonológico. O processamento linguístico se-
Sabe-se hoje que as pen urbações da linguagem já des- guiria por duas vias paralelas: a dorsal sensorlomotora, que
critas para as arasias de Broca e de Wernicke só acontecem correlaciona o som à articulaç3o; e a ventral, sensorioconcei-
em casos de lesões que ultrapassam os limites dessas áreas. tual. que se correlaciona com o significado. A via dorsal bidi-
Quando as lesões se limitam exclusivamente a elas, o d~ficic recional conecta a informação auditiva com o plano motor
de linguagem é bem menor. Os estudos com ressonância para produzir a fala. A via dorsal passa acima dos ventrículos
magnética funcional demonstraram que. além das duas e conecta o lobo frontal inferior, área pré-motora e Insula,
áreas clássicas de Broca e Wernicke, existem outras áreas todas envolvidas na articulação da fala com a tradicional-
cerebrais relacionadas com aspectos específicos da lingua- mente conhecida área de Wernicke. São duas vias dorsais.
gem. Assim, por exemplo, no lobo temporal há áreas dife- A 01 conecta a parte posterior do gíro temporal superior
rentes para a capacidade de nomear pessoas, animais ou à área pré-frontal, e a D2 conecta esse giro à área de Broca.
objetos. Lesões nessas áreas resultam em afasias, nas quais A via dorsal segue fortemente o conceito de dominância
há dificuldade em dizer nomes dessas categorias. Lesão do hemisférica esquerda. O fascículo arqueado e o fascículo
giro angular pode causar um tipo de afasia denominado longitudinal superior fazem as ligações das vias dorsais. A
dislexia, dificuldade de ler, que pode estar acompanhada via ventral passa abaixo da fissura silviana e chega à parte
de disortografia, ou dificuldade de escrever. Existe também anterior dos giros temporais médio e inferior e também ao
sintomas relacionados às lesões dos fascículos que as comu- giro frontal inferior, área de Broca. Essa via transmite infor-
niG!m. O que foi visto dá uma visão simplificada das áreas mações para a compreensão auditiva e requer a represen·
cerebrais relacionadas com a linguagem e o seu funciona- tação da palavra em um léxico mental ou dicionário mental,
mento e resultou na classificação das afasias usada pelos que correlaciona a forma da palavra ao seu significado e
neurologistas (Tabela 26.1 ). está relacionada também a análises mais complexas da fala.

Tabela 26. 1 Diagnóstico diferencial dos diferentes tipos de afasia

Fala Compreensão Capacidade Outros sinais Região afetada


de repetição
Afasia de Broca Não fluente, Amplamente Prejudicada Hemiparesia direita. Area de Broca e
prejudicada preservada para paciente está cien1e da estruturas adjacentes
palavras e frases dificuldade e pode ficar
simples deprimido
Afasia de Fluente, abundante, Prejudicada Prejudicada Sem sinais motores. Area de Wernicke
Wernlcke bem articulada, Paciente pode estar
porém há alteração ansioso, agitado eufórico
no conteúdo ou paranoico
Afasia de Fluente com Parcial ou 101almen1e Prejudicada Frequentemente nenhum, Lesão do fascículo
condução alguns defeilos de preservada paciente pode ter perda arqueado e desconexão
aniculaçáo cortical sensitiva ou entre as ~reas de
fraqueza no braço direito Wernicke e Broca.
Afasia global Escassa, não nuente Prejudicada Prejudicada Hemiplegia direita Lesão perisilviana
extensa
Afasta motora Náo fluente, Pardal ou totalmente Preservada Fraqueza no lado direito Anterior ou superior à
transcortical explosiva preservada ocasionalmente área de Broca
Afasia sensorial Fluente Prejudicada Preservada Sem sinaismotores Posterior ou Inferior à
transcortlcal área de Wernlck.e
Fonte: Adaptada de Kandel et ai.. 202 l.

• Capitulo 26 Anatomw Funcional do Córtex Cerebral 245


como discriminação de diferenças sutis de significado e de A assimetria é também anatômica. Na maioria das pessoas, a
interpretação, com base na gramática e em conceitos mais região do lobo temporal correspondente à área de Wernicke
complexos. A comunicação entre o lobo temporal ao fron- é maior à esquerda do que à direita. Curiosas são as relações
tal é feita pelos fascículos longitudinal inferior e uncinado. entre a dominância cerebral na linguagem e o uso preferen-
As vias de linguagem interagem com outras áreas cerebrais cial da mão. Em 96% dos indivíduos destros, o hemisfério
envolvidas na atenção e funções executivas e memória de dominante é o esquerdo, mas, nos indivíduos canhotos ou
trabalho (área pré-frontal e córtex cingulado), e com regiões ambidestros, esse valor cai para 70%. Em 15%, o hemisfério
temporais frontais e parietais envolvidas no recrutamento da linguagem é o direito e em 15% a sua localização não
de memórias, facilitando a expressão e compreensão de está bem estabelecida. Isso significa que, em um canhoto, é
ideias por meio da linguagem. ma:s difícil prever o lado em que se localizam os centros da
.S l Z
- 1 ....
linguagem. Essa informação é importante para um neuro-
1 cirurgião que pretenda operar regiões próximas às áreas de
linguagem, pois qualquer ação intempestiva nessas áreas
Desde o século passado, os neurologistas constataram
poderia causar uma afasia. Para saber com segurança o lado
que as afasias estão quase sempre associadas a lesões no
em que estáa os centros da linguagem pode ser realizado o
hemisfério esquerdo e que lesões do lado direito só excep-
teste de Wada. em que um anestésico de ação muito rápida
cionalmente causam distúrbios da linguagem. Esse fato
é injetado em artéria do lado esquerdo (amital sódico), en-
demonstra que, do ponto de vista funcional, os hemisfé-
quanto pede-se ao paciente que conte em voz alta. A droga
rios cerebrais não são simétricos e que, na maioria dos in-
divíduos, as áreas da linguagem estão localizadas do lado é levada de preferéncia ao hemisfério do mesmo lado em
esquerdo. Mesmo a linguagem de sinais, que depende de que foi injetada e causa nele um breve período de disfun-
informações visuomotoras, situa-se no hemisfério esquer- ção. Se nesse hemisfério estiverem os centros da linguagem,
do. Surgiu, assim, o conceito de que esse hemisfério se- o paciente para de contar e não responde ao comando
ria o hemisfério dominante, enquanto o hemisfério direito para continuar. Esse teste é ainda realizado para identificar
exerceria um papel secundário. Na realidade, sabe-se que, o hipocampo dominante para a memória, que geralmente
se o hemisfério esquerdo é mais Importante do ponto de é o esquerdo, no tratamento de certas epilepsias do lobo
vista da linguagem e do raciocínio matemático, o direito é temporal meslal (Capítulo 28, item 5.3). No entanto, hoje as
"dominante· no que diz respeito ao desempenho de cerras técnicas de ressonância magnética funcional, que não são
habilidades artísticas, como música e pintura, à percepção invasivas, são mais utilizadas (Figura 26.8).
de relações espaciais, à atenção visuoespacial e ao reconhe- Entretanto, a maioria das funções utiliza os dois hemis-
cimento da fisionomia das pessoas. Portanto, o que de fato férios de algum modo. Mesmo na linguagem, enquanto na
existe é uma especialização hemisférica. Entretanto, a de- maioria dos indivíduos o esquerdo está mais relacionado
norninação hemisfério dominante continua sendo usada na com o conteúdo e articulação da fala, o direito está relacio-
prática médica. Convém assinalar que a assimetria funcional nado com a prosódia, ou seja. entonação gestos e expres-
dos hemisférios cerebrais se manifesta apenas nas áreas de sões faciais associadas à fala.
associação, uma vez que o funcionamento das áreas de pro- A assimetria funcional entre os dois hemisférios torna
jeção, tanto motoras como sensitivas, é igual dos dois lados. mais importante o papel do corpo caloso de transmitir in-

Figura 26.8 Ressonância magnética funcional para localização das áreas de linguagem, auxiliando no planejamento da retirada cirúrgica de
tumor no hemisfério cerebral esquerdo, lado d ireito da Imagem. Observa-se a área de Broca localizada anteriormente e a áreas de Wernicke
posteriormente.
ronte: Cor tesia do Dr. Marco António Rodackl.

246 NeuroanatomlaFuncional
formações enrre eles. Isso ficou comprovado pelo estudo EVRARD, H. C. The organization of the primate insular cortex. Fron-
de pacientes em que essa comissura foi seccionada cirur- tiers ln Neuroanatomy. v.13, p. 1-21, 20 19.
gicamente para melhorar certos quadros de epilepsia. Esses FRIEDERICI, A.D. Path\vays to language: fiber tracts ln the human
indivíduos não têm nenhum distúrbio sensitivo ou motor brain. Trends Cog Sei. 2009, 13:175-181 .
evidente. Entretanto, são incapazes de descrever um obje- GU, X.; GAO, l.; WANG, X~ LIU, X.; KNIGHT, R.T.; HOF, P.R. Anterior
to colocado em sua mão esquerda, embora possam fazê-lo insular cortex is necessary for empathetic pain perception.
quando o objeto é colocado na rnão direita. Nesse caso, as Braín. 2012;135:2726-2735.
impressões sensoriais do objeto chegam ao hemisfério es-
HICKOK. G.; POEPPEL D. The cortical organization of speech pro-
querdo, onde estão as áreas da linguagem, o que permite a
cessing. Nar Rev Neurose/. 2007, 8:393-402
descrição do objeto. Já no caso em que o objeto é colocado
KANDEL, E. R.; et ai. Principies of Neural Science. 6. ed. Nova York: Me
na mão esquerda, os impulsos sensoriais chegam ao hemis-
fério direito, onde não existem áreas da linguagem. Como as Graw Hill, 2021.
fibras do corpo caloso estão lesadas, as quais, no individuo POEPPEL, D.The neuroanatomic anel neurophysiological infrastructure
normal, transmitem as informações aos centros da lingua- íor speech and language. Curr Opin Neurobiol. 2014, 28: 142-149.
gem do hemisfério esquerdo, o Indivíduo, apesar de reco- PRiCE, CJ. A review and synthesis of the first 20 years of PET and
nhecer o objeto. é incapaz de descrevê-lo. fMRI studies of heard speech, spoken language and reading.
Neuroimage. 2012 62:816-847
Leitura sugerida SADTlE.R, P.T.; QUiCK, K.M.; GOLUB, M.D~ et ai. Neural constraints on
AMUNTS, K.; ZILLES, K. Archítetonic mappíng of the human braín leaming. Noture. 2014 512:423-426.
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127:289-295. rhe Royal Society 8: Biological Sciences, v. 369, n. 1644. p. 1•7. 2014.

• Capitulo 26 Anatomia Funcional do Córtex Cerebral 247


Áreas Encefálicas Relacionadas com as Emoções -
Sistema Límbico

5fit9i~duiiltt·lât\tfil❖tJ❖útiJ® ______··_.. I,
Alegria, tristeza, medo, prazer e raiva são exemplos de Na face medial de cada hemisfério cerebral, observa-se
emoções que podem ser definídas como sentimentos sub- um anel cortical contínuo, constituído pelo giro do cíngulo,
jetivos. que suscitam manifestações fisiológica5 e compor- giro para-hipocampal e hlpocampo (Figura 7.7). Esse anel
tamentais. As manifestações fisiológicas estão a cargo do cortical contorna as formações inter-hemisféricas e foi con-
sistema nervoso autônomo, as comportamentais resultam siderado por Broca (1850) um lobo independente, o grande
da ação do sistema nervoso motor somático e são caracte- fobo ffmbico (de limbo, contorno) atribuindo a ele função
rísticas de cada tipo de emoção e de cada espécie. Assim, olfatórla. Esse lobo é filogeneticamente multo antigo, exis-
por exemplo, a raiva manifesta-se de maneira diferente no tindo em todos os vertebrados. Apresenta certa uniíormi-
homem, no gato ou em um galo. A alegria, no homem, dade citoarquitetural, pois o seu córtex é mais simples que
se expressa pelo riso, no cachorro, pelo abanar da cauda. o do isocórtex que o circunda. Em 1937, o neuroanatomista
O choro é uma expressão de tristeza, característica do ho- James Papez publicou um trabalho famoso, no qual propu-
mem. A distinção entre o componente central, subjetivo, nha um novo mecanismo para explicar as emoções. Esse
e o componente periférico, expressivo da emoção, é, pois, mecanismo envolveria as estruturas do lobo límbico, nú-
importante para o seu estudo. Ela fica mais clara se lembrar- cleos do hipotálamo e tálamo, todas unidas por um circuito
mos que um bom ator pode simular perfeitamente todos os que ficou conhecido como circuito de Papez (Figura 27 .1 ).
padrões rnotores ligados à expressão de determinada emo- composto pelo hipocampo, fórnice. corpo mamilar, fascícu-
ção, sem que sinta emoção nenhuma. lo mamilotal~mico, núcleos anteriores do tálamo. cápsula
As emoções podem ser classificadas em positivas e interna, giro do cíngulo, giro para-hipocampal e novamente
negativas, conforrne sejam agradáveis ou desagradáveis. o hlpocampo, fechando o circuito.
Entre as primeiras, estão a alegria, o bem-estar e o prazer O conceito de Papez sobre a importância desse circuito
em suas diversas modalidades. Entre as segundas, estão o foi reforçado 2 anos depois, por Klüver e Bucy, que, após a le-
medo, a tristeza, o desespero, o nojo, a raiva e outras. As são do ápice dos lobos temporais de macacos, observaram a
emoções estão relacionadas com áreas específicas do cé- maior modificação do comportamento de um animal obtida
rebro que, em conjunto, constituem o sistema límbico. Por até aquela época, em seguida a um procedimento experi-
mental. Essas alterações são conhecidas como síndrome de
um lado, algumas dessas áreas estão relacionadas também
Klüver e Bucy e consistem no seguinte:
com a motivação, em especial com os processos motiva-
cionais primários, ou seja, aqueles estados de necessidade a) Domesticação completa dos animais que usual-
ou de desejo essenciais à sobrevivência da espécie ou do mente são selvagens e agressivos.
indivíduo, como fome, sede e sexo. Por outro lado, as áreas b) Perversões do apetite, em virtude da qual os ani-
encefálicas ligadas ao comportamento emocional também mais passam a alimentar-se de coisas que antes
controlam o si5tema nervoso autônomo, o que é fácil de en- não comiam.
tender, tendo em vista a import~ncia da participação desse c) Agnosia visual, manifestada pela incapacidade de
sistema na expressão das emoções. reconhecer objetos e animais pela visão.
Giro do cíngulo Núcleos on_reriores do tálamo
,, I ,,-- Fórnice
Corpo colo~ ,.... / /
' ' I /
',, '~'~c-:---r-~J...:--"""I ,,,...:..,. Fascículo momilotolômico
,J(,,,
,', ... .. _·,. ......' ....' / / ""'
• ·' ; ,!}.·.• :':· :',~....~·:~••; . '

Área septol - - ---- --


.,, .,,
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_,,,. / / /
Corpo mamilar .,,,,, / /,,
.,..,,,,,,,,,,,. //
Unco _,./
,, /
Amígdala

Agu..-27.1 Principais componentes do sistema límbico, mostrando-se também o circuito de Papez.

d) Perda do medo de anímais que antes causavam Assim, o sistema límbico pode ser conceituado como um
medo, como cobras e escorpiões. conjunto de estruturas corticais e subcorticais interligadas
e) Tendência oral, manifestada pelo ato de levar à morfológica e funcionalmente, relacionadas com as emoções
boca todos os objetos que encontra (inclusive os e a memória. Do ponto de vista anatômico, o sistema límbi-
escorpiões). co tem como centro o lobo límbico e as estruturas com ele
f) Tendência hipersexual, que leva os animais a ten- relacionadas. Do ponto de vista funcional, pode-se distinguir,
tarem continuamente o ato sexual (mesmo com no sistema límbico, dois subconjuntos de estruturas, ligadas
indivíduos do próprio sexo ou de outra espécie) ou às emoções e à memória e que são relacionadas na chave a
a se masturbarem continuamente. seguir.
Quadros semelhantes a estes já foram observados no Os componentes relacionados com a memória serão
homem, em consequtncia da ablaçêlo bilateral do lobo estudados no próximo capítulo.
temporal para tratamento de formas graves de epilepsia.
Hoje, sabe-se que a agnosía visual que ocorre na síndrome
de Klüver e Bucy resulta de lesão das áreas visuais de asso-
ciações secundárias, localizadas no córtex do lobo tempo-
ral. e os demais sintomas são consequ~ncla da remoção da 3.1 Amígdala
amígdala, e não da remoção do hipocampo. É também chamada corpo amigdaloide. Amígdala, em
Em 1952, Maclean introduziu na literatura a expressão grego, significa amêndoa, uma alusão à sua forma. É o com-
sistema límbico, que inclui o circuito de Papez e algumas ponente mais importante do sistema límbico, o que justifica
novas estruturas, como a amígdala e a área septal. Esse sis- o seu estudo mais detalhado. Participa também do proces-
tema estaria ligado essencialmente às emoções. O avanço samento de alguns tipos de memória.
das pesquisas mostrou que o circuito de Papez, com ex-
ceção da parte anterior do giro do cíngulo, está relaciona- 3.1.1 Estrutura econexões da amígdala
do com a memória, e não com as emoções. O centro do Apesar do seu tamanho relativamente pequeno, apro-
sistema límbico não é mais o hipocampo, como pensava ximadamente 2 cm, a amígdala tem 13 núcleos, o que lhe
Papez, mas a amígdala.•
valeu o nome de complexo amigdaloide. Os núcleos da
amígdala dispõem-se em três grupos principais, corticome-
1 Portanto. o conceito de Maclean de um slsterna lirnblco relacionado dial, basolateral e central (Figura 27.2). O grupo cortico-
apenas com as emoções e tendo como centro o círcuíto de Papez medial recebe conexões olfatórias e parece estar também
não está correto. Isto levou alguns autores de prestígio, como Bro• envolvido com os comportamentos sexuais. O grupo baso-
dai. a propor o abandono da denominação sistema límbico, o que.
entretanto, noo ocorreu. Um sistema límbico ligado ~s emoções e ~
lateral recebe a maioria das conexões aferentes da amígdala
memória é hoje adotado em quase todos os livros mais recentes de e o central dá origem às conexões eferentes. A amígdala é
neurociênclas. a estrutura subcortical com maior número de projeções do

250 Neuroanatomia Funcional


córtex cingular anterior
. . .
areas cort1ca1s córtex insular anterior
córtex pré-frontal orbitofrontal

hipotálamo (parte)
emoções área septal
núcleo occumbens
áreas subcorticals
habênula
substancia cinzenta periaquedutal
amlgdala
Siste-ma límbico hlpoampo
giro denteado
amígdala
áreas corticais
córtex entorrinal
córtex para-hlpocampal
memória córtex cingular posterior

fórnice
corpo mamilar
áreas subcorticais
trato mamilotal:imico
núcleos anteriores do tálamo

sistema neNoso, com cerca de 14 conexões aferentes e 20 projeta eferências para núcleos do tronco encefálico envol-
eferentes. Apresenta conexões aferentes com todas as âreas vidos em funções viscerais, como o núcleo dorsal do vago,
de associação secundárias do córtex, trazendo informações onde estão neurónios pré-ganglionares do para.ssimpátíco
sensoriais Já processadas, além das informações das áreas craniano. Além dessas conexões extrínsecas, os núcleos da
supramodais. Recebe, também, aferências de alguns nú- amígdala comunicam-se entre si por fibras predominante·
cleos hipotal~micos, do núcleo dorsomedlal do tálamo. dos n1ente glutamatérgicas, indicando grande processamento
núcleos septais e do núcleo do trato solitário. As conexões local de informações. Do ponto de vista neuroquímico, a
eferentes distribuem-se em duas vias. A via amigdalofugal amígdala tem grande diversidade de neurotransmissores,
dorsal, que, por meio da estria terminal (Figura 5.2), projeta· tendo sido demonstrada nela a presença de acetilcolina,
-se para os núcleos septais. núcleoaccumbens, vários núcleos GABA. serotonina, noradrenalina, subst~ncia P e encefalinas.
hipotalâmicos e núcleos da habênula. Ea via amigdalofugal A grande complexidade estrutural e neuroquimica da amíg-
ventral, que se projeta para as mesmas áreas corticais, talâ- dala está de acordo com a complexidade das suas funções. É
micas e hipotalâmicas de origem das fibras aferentes, além a principal responsável pelo processamento das emoções e
do núcleo basal de Meynert. Por meio dessa via, a amígdala desencadeadora do comportamento emocional.

Córtex Ventrículo
lateral

Grupo
corticomedíol
Grupo
central

--
Grupo
Amígdala bosoloterol
Hipotólomo
Terceiro ventrículo

Agu11127.2 Desenho esquemático da locallzaç:io da amígdala e seus três grupos nucleares.

■ Capltulo 27 Áreas En<efállcas Reladonadascom as Emo(6es-Slstema Umblco 251


3.1.2 Funções daamigdala desse ponto, a informação segue por dois caminhos. uma
A estimulação dos núcleos do grupo basolateral da via direta e outra indireta. Na via direta, a informação visual é
amígdala causa reações de medo e fuga. A estimulação dos levada e processada na amígdala basolateral, passa à amíg-
núcleos do grupo corticomedial causa reação defensiva e dala central, que dispara o alarme. a cargo do sistema sim-
agressiva. O comportamento de ataque agressivo pode ser pático. Isso permite uma reação de alarme imediata, com
desencadeado com estimulação da amlgdala, mas também manifestações autonómicas e comportamentais típicas. Na
do hipotálamo. via indireta, a informação passa ao córtex pré-frontal e de-
A amígdala contém a maior concentração de recep- pois à amígdala. A via direta é mais rápida e permite resposta
tores para hormônios sexuais do sistema nervoso central imediata ao perigo. A via indireta é mais lenta, mas permite
(SNC). Sua estimulação reproduz uma variedade de com- que o córtex pré-frontal analise as informações recebidas e
portamentos sexuais e sua lesão provoca hipersexualidade. o seu contexto. Se não houver perigo. a reação de alarme é
Entretanto, a principal e mais conhecida função da amígdala desativada. A via direta é inconsciente e o medo só se torna
é o processamento do medo. Pacientes com lesões bilate- consciente, ou seja, a pessoa só sente medo quando os im-
rais da amígdala não sentem medo, mesmo em situações pulsos nervosos chegam ao córtex.
de perigo óbvio. Fato interessante demonstrado pela neu- O.s medos nos animais são, em sua maioria, inatos. O
roimagem funcional é que a amígdala é ativada pela sim- animal já nasce com medo dos perigos mais comuns em
ples visão de pessoas com expressão facial de medo. seu habitat. Por exemplo, um macaco reage com medo de
Estudos de neuroimagem funcional demonstraram cobra mesmo que nunca a tenha visto. Mas ele pode tam-
que a amígdala está envolvida também no reconhecimen- bém aprender a ter medo por um processo de condiciona-
to de faces que expressam emoções, como medo e alegria. mento. Em uma experiência clássica, um rato foi submetido
Como já foi visto, uma das áreas visuais secundárias do lobo a estímulos neutros, como o som de uma campainha (es-
temporal armazena imagens de faces e permite o seu reco- tímulo condicionado). Logo após esse estimulo, segue-se
nhecimento. Entretanto, o reconhecimento de faces com ex- um choque elétrico (estimulo não condicionado) aversivo
pressões emocionais ocorre apenas na amígdala. Pacientes para o animal. Submetido a certo número de vezes a esses
com perda da capacidade de reconhecer faces por lesões estímulos rapidamente, o animal passou a ter medo do som,
das áreas visuais secundárias, prosopagnosia. continuam a mesmo sem o choque. A associação de dois estímulos é fei-
reconhecer expressões faciais de emoção. Suas conexões ta no núcleo lateral da amígdala e a resposta, a cargo prin-
com o córtex orbitofrontal integra os circuitos responsáveis cipalmente do sistema nervoso sirnpático, é desencadeada
pelo reconhecimento de intenções e comportamentos de pelo núcleo central. Em um animal sem amígdala, o condi-
outros através das expressões faciais, linguagem e gestos cionamento não ocorre. No homem, em que os medos são
participando da cognição social e Teoria da mente que fa- aprendidos, o condicionamento ocorre exatamente como
cilita as interações sociais. O medo é a emoção que tem os nos animais. Pacientes com lesão da amígdala não apren-
seus mecanismos mais bem estudados e será detalhada dem a ter medo. No homem, o medo pode ocorrer mesmo
a seguir. No entanto, a amigdala tem papel também nas sem condicionamento, por exemplo, se uma pessoa for in-
emoções positivas e no aprendizado condicionado não só formada de que alguma coisa é perigosa, pode passar a ter
a consequências punitivas que ocasionarão medo, como medo dela, mesmo sem tê-la visto. Isso confirma a hipótese
também nos condicionamentos em que a consequência de que a amígdala esteja envolvida no armazenamento de
é uma recompensa que causará felicidade. Suas conexões memórias relacionadas ao medo.
com o hipocampo explicam a influência das emoções sobre
a memória. Temos facilidade para memorizar situações com 3.2 Córtex dngular anterior
conteúdo emocional relevante. Há bastante tempo sabe-se que a ablação do giro do
cíngulo em carnívoros selvagens domestica o animal. No
3.1.3 Aamígdala eo medo homem, a cingulectomla Já foi empregada no tratamento
O medo é uma reação de alarme diante de um perigo. de psicóticos agressivos. Sabe-se, hoje, que esses efeitos re-
Essa reação resulta da ativação geral do sistema simpático sultam da destruição do córtex cingular anterior, pois ape-
e liberação de adrenalina pela medula da glândula suprar- nas a parte anterior do giro do clngulo relaciona-se com o
renal. Esse alarme, denominado síndrome de emergência processamento das emoções. Uma das evidências desse
de Cannon, visa preparar o organismo para uma situação fato vem de experiências em que pessoas normais foram
de perigo, na qual ele deve ou fugir ou enfrentar o perigo solicitadas a recordar episódios pessoais envolvendo emo-
(to fight or to flight). As modificações que ocorrem no orga- ções, enquanto o seu cérebro era submetido à ressonância
nismo nessas situações são descritas no Capítulo 11, item magnética funcional. O córtex clngular anterior foi ativado
5.3. Epossível agora entender os circuitos cerebrais envol- quando o episódio recordado era de tristeza. Nessa mesma
vidos nessa reação, nos quais a amígdala tem papel central. situação, não houve ativação em pacientes com depressão
A informação visual é levada ao tálamo (corpo geniculado crônica, nos quais o córtex cingular anterior é mais delgado.
lateral) e dai a áreas visuais primárias e secundárias. A partir Em paciente com depressão grave, refratária a medicamen-

252 NMoanatomla Funcional

1
tos. os sintomas desaparecem com estimulação elétrica do 3.6 Area septal
córtex clngular anterior. Entretanto, apesar da provável par- Situada abaixo do rostro do corpo caloso, anteriormen-
ticipação do córtex clngular anterior. a fisiopatologia da de- te à lâmina terminal e à comissura anterior (Figura 7 .7), a
pressão é mais complexa, pois, como será visto no item 3.7, área septal compreende grupos de neurônios de disposição
os núdeos da habênula e outras áreas encefálicas também subcortical, que se estendem até a base do septo pelúci-
estão envolvidos no quadro. do, conhecidos como núcleos seprais. A área septal (Figura
27.1) tem conexões extremamente amplas e complexas.
3.l Córtex Insular anterior destacando-se as suas projeções para a amígdala, hipocam-
As funções do córtex insular anterior, quase toda.s relacio- po, tálamo, giro do cingulo, hipotálamo e forn,ação reticu-
nadas com as emoções, já foram estudadas no C.apirulo 26, lar, por intermédio do feixe prosencefálico medial. Por meio
Item 4.3. desse feixe. a área septal recebe fibras dopaminérgicas da
área tegmentar ventral e faz parte do sistema mesolimbi-
3.4 Córtex pré-frontal orbltofrontal (ou ventromedlal) co ou sistema de recompensa do cérebro, que será visto no
O estudo geral das funções do córtex pré-frontal foi llem 4. Lesões bilaterais da área septal em animais causam
feito no Capítulo 26, item 4.1. Somente a área ventrome- a chamada ·raiva septal: caracterizada por hiperatividade
dial está envolvida no processamento das emoções (Capí- emocional. ferocidade e raiva diante de condições que nor-
tulo 26, item 4.1.2). Ela tem forte conexão com a amígdala. malmente não modificam o comportamento do animal.
Danos a essa região causam grande prejuízo social e emo- Estimulações da área septal causam alterações da pressão
arterial e do ritmo respiratório, mostrando o seu papel na
cional. Durante uma resposta emocional, a área ventrome-
regulação de atividades viscerais. Por outro lado, as expe-
dial governa a atenção a certos estímulos e ativa memórias
riências de autoestlmulação, a serem descritas no item 3.9,
pregressas, que ajudam na resposta a esse estímulo. A an-
mostram que a área septal é um dos cent.ros de prazer no
tecipaç~o de uma situação de medo já causa arivaçào des-
cérebro e a sua estimulação provoca euforia. /\ destruição
sa área. demonstrando a sua irnportància no planejamento
da área septal resulta em reação anormal aos estímulos se-
da resposta. É ativada também quando a previsão indica
xuais e à raiva.
uma recompensa ou felicidade. Essa região, juntamente
com a ínsula, está relacionada com a nossa consciência da 3.7 Núdeo accumbens
experiência emocional. Ela tem conexões com o corpo es-
triado e com o núcleo dorsomedial do tálamo, integrando Situado entre a cabeça do núcleo caudado e o putame
o circuito em alça ventromedial-estriado-talamocortical, (Figura 24.3), o núcleo accumbens faz parte do corpo es-
estudada no Capitulo 24, que modula comportamentos triado ventral. Recebe aferênclas dopaminérgicas. principal-
mente da área tegmentar ventral do mesencéfalo, e projeta
emocionais.
eferências para a parte orbitofrontal da área pré-frontal. O
3.5 Hipotálamo núcleo occumbens é o mais Importante componente do
sistema mesolfmbico, que é o sistema de recompensa ou do
O estudo do hipotálamo foi feito no C.apitulo 21, onde prazer do cérebro, como será visto no Item 4.
foram analisadas as suas inúmeras funções. Entre elas, é
especialmente relevante, no contexto deste capítulo, a re- 3.8 Habênula
gulação dos processos emocionais. Estimulações elétricas
A habênula situa-se no trigano das habênulas. no epl-
ou lesões de algumas áreas do hipotálamo em animais não
tálamo acima da glândula pineal (Figura 5.2). É constituída
anestesiados determinam respostas emocionais comple-
pelos núcleos habenulares medial e lateral. O núdeo late-
xas, como raiva e medo, ou, conforme a área, placidez. Veri-
ral tem função mais conhecida. Suas conexões são muito
ficou-se, por exemplo, que a lesão do núcleo ventromedial complexas, destacando-se as aferências que recebem dos
do gato torna o animal extremamente agressivo e perigo- núdeos septais pela estria medular do tálamo e as suas pro-
so. Em uma experiência clássica, verificou-se que, quando jeções pelo fascículo retroflexo para o núcleo interpedun-
se retiram os hemisférios cerebrais de um gato, induslve cular do mesencéfalo e para os neurõnios dopaminérgicos
o diencéfalo, deixando-se apenas a parte posterior do hi- do sistema mesolímbico. sobre os quais têm ação inibitória
potálamo, o animal desenvolve um quadro de raiva que (Figura 27.3). Tem também ação inibitória sobre o sistema
desaparece quase completamente quando se destrói todo serotonlnérgico de projeção difusa, por meio de suas cone-
o hipotálamo. Hoje, sabemos que áreas específicas do hi- xões com os núcleos da rafe. Assim, a habênula participa da
potálamo ventromedlal são necessárías e suficientes para regulação dos níveis de dopamina nos neurônios do siste-
gerar estados emocionais defensivos. Assim, o hipotálamo ma mesollmbico, os quais, como já foi visto, constituem a
não só meramente coordena as manifestações periféricas principal área do sistema de recompensa (ou de prazer) do
das emoções, mas também é parte ariva do circuito. cérebro. A estimulação dos núcleos habenulares resulta em
Não restam, pois, dúvidas de que o hipotálamo exerce ação Inibitória sobre o sistema dopaminérgíco mesolímbico
um importante papel na coordenação e na integração dos e sobre o sistema serotoninérgico de projeção difusa. Essa
processos emocionais. ação inibitória está sendo implicada na fisiopatologia dos

• Capítulo 27 Áreas Encefálicas Rda<ionadas comas Emoções - Sistema l!mbko 253

,- -· •• . . j

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Estria medula r do tólomo

Tólomo Núcleos do hobênulo

o
Área septol
1+---- Núcleo inlerpedunculor
+ - - - Núcleos do rafe
Área
tegmentor
ventral

FIF• 27.3 Desenho esquemático das principais conexões da habênula.

transtornos de humor, como a depressão na qual há uma diam estimular eletricamente o próprio cérebro apertando
ação Inibitória exagerada do sistema mesolfmbico. Casos uma alavanca. Com esse método, verificaram que, em deter-
graves de depressão, resistentes a medicamentos, já foram minadas áreas (áreas de recompensa), os ratos se autoesti-
tratados com sucesso pela técnica de estimulação elétri- mulavam com uma frequência muito alta. podendo chegar
ca de alta frequ~ncla no núcleo lateral da hab~nula, o que a 800 estimulações por hora, ocupando todo o tempo do
ocasiona uma inibição da atividade espontânea nesse nú- animal, que deixava de ingerir água ou alimento, estimu-
cleo, causando uma espécie de ablação funcional de seus lando-se até a exaustão. Admite-se que a aucoestimulação
neurônios. Alguns sintomas da depressão, como tristeza e causa uma sensação de prazer, que seria semelhante a que
Incapacidade de buscar o prazer (anedonismo), podem ser se sente quando se satisfaz a fome, a sede e o sexo. Algumas
explicados pela queda da atividade dopaminérglca na via experiências de autoestimulação, realizadas com pacientes
mesolímbica (em especial no núcleo occumbens). Experiên- humanos na tentativa de tratamento de problema neuro-
cias nas quais macacos são condicionados a apertar uma lógico, confirmaram a presença de áreas cuja estimulação
alavanca e receber uma recompensa resultam em ativação causa prazer. Sabe-se hoje que as áreas que determinam
do sistema mesolímbico. Já o núcleo habenular lateral é ati- estimulações com frequências mais elevadas compõem o
vado quando o macaco aperta a alavanca e não recebe a sistema dopamlnérglco mesolímblco ou sistema de recom-
recompensa, ou seja, numa situação de frustração. Assim, o pensa (figuras 27.4 e 20.4), formado por neurônios dopa-
sistema mesollmbico é ativado pela recompensa e a habê- minérgicos que, da área tegmentar ventral do mesencéfalo,
nula, pela não recompensa. passando pelo feixe prosencefálico medial. terminam nos
núdeos septais e no núcleo accumbens, os quais, por sua
3.9 Substânda dnzenta periaquedutal vez. projetam-se para o córtex pré-frontal ventromedlal. Há
O comportamento de ·congelamento· diante de estímu- também projeções diretas da área tegmentar ventral para a
área pré-frontal e projeções de retroalimenração entre essa
los emocionaisé mediado pelas conexões da amígdala com a
substância cinzenta periaquedutal ventral. A antecipação de área e a tegmentar ventral.
uma situação perigosa ou punitiva ativa essa região. sugerin- O sistema de recompensa premia com a sensaç.áo de
do a sua importancia na antecipação da resposta. prazer os comportamentos importantes para a sobrevivên-
cia, mas é também ativado por situações cotidianas que
causam alegria, como quando rimos de uma piada, vence-
DlóiitMfffl!:tJ:11i11D111•19 1rNílrf . :::·. J mos algum desafio, conquistamos uma vitória, tiramos uma
Uma Importante descoberta, que permitiu entender a nota boa na escola ou simplesmente quando vemos as pes-
relação do cérebro com a motivação e o prazer, foi feita em soas que amamos felizes.
1954 por Olds e Milner, por meio da implantação de eletro- Atualmente, sabe-se que o prazer sentido após o uso
dos no cérebro de ratos, de tal modo que os animais po- de drogas de abuso, como heroína e crock, resulta da es-

254 NNoanatomiaFuncional
timulação do sistema dopaminérgico mesolímbico. em es-
Núcleo /"\.
pecial e do núcleo accumbens. A dependência ocorre pela
-R ...o
estimulação exagerada dos neurônios desse sistema, o que e
o
occumbens
-
e
til -
resulta em gradual diminuição da sensibilidade dos recep-
tores e redução de seu número. Há também mudança nas
i...
Q.
.. li_g
E

i >
..
sinapses e circuitos da via do sistema de recompensa. Com
isso, doses cada vez maiores são necessárias para obter-se o J Núcleos
seplais Q
-<
mesmo prazer. Assim, o comportamento de um rato que se
autoestimula até a exaustão assemelha-se e tem a mesma
base neural do comportamento de um dependente quími- Feixe prosencefólico
co que renuncia a todos os valores da vida pelo prazer da medial
droga. Hoje, sabe-se que o risco de dependência química
também tem base genética. Figura 27.4 Esquema do sistema dopaminérgico mesolímblco.

S. Correlações anatomoclinicas
S.1 Introdução supostamente podem ser perigosos. A forma mais leve são
as fobias especificas, e as mais graves, o transtorno de an-
Classicamente, a Neurologia é o ramo da Medicina que
siedade generalizada, a síndrome do pânico e a síndrome
diagnostica e trata os distúrbios orgAnicos do sistema ner- do estresse pós-traumático. A ansiedade desencadeada de
voso, e a Psiquiatria. os distúrbios da mente. Sabe-se que a forma crônica transforma-se em estresse e causa danos ao
maioria dos transtornos ditos mentais tem uma base neu- organismo. Uma pessoa sadia regula a resposta ao medo
robiológica definida geneticamente, que determina uma por melo do aprendizado e o reconhecimento de que não
disfunção neuroquímlca que em geral envolve os sistemas há perigo. No transtorno de ansiedade, o motivo pode
modulatórios de projeção difusa do encéfalo, cujo conheci- não estar presente e. mesmo assim, resulta na ativação da
mento ocasionou as bases farmacológicas para o tratamen- amígdala. Na síndrome do pãnlco, ocorrem crises súbitas
to de distúrbios rnentais. Essa predisposição genética pode de intenso medo e pavor. seguidas de períodos normais,
ser influenciada por fatores ambientais e pela aprendiza- nos quais se instala o medo de uma nova crise. Os neuró-
gem. Apesar de nem todos os transtornos terem a sua base nios hipotalãmicos, em resposta a estímulos da amígdala.
biológica completamente definida, a Neurociencia tem con- promovem a liberação do hormônio adrenotropicocórtico
tribuído multo para a sua compreensão e o seu tratamen- (ACTH). que, por sua vez, induz a liberação do cortisol pela
to. e na base das Neurociências está a Neuroanatomla. Há adrenal. O eixo hipotálamo-hipófise-adrenal é regulado
evidências de base neurobiológica em transtornos, como pelo hipocampo, que exerce o seu efeito inibindo esse
ansiedade, depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo- eixo. A exposição crônica ao cortisol pode ocasionar dis-
-compulsivo, transtorno de déficit de atenção e hiperativl- função e morte dos neurônios hlpocampals. Assim, a dege-
dade, aut.ismo, entre outros. Corno exemplo, abordaremos a neração do hlpocampo torna a resposta ao estresse mais
seguir o transtorno de ansiedade e o estresse. acentuada, gerando maior liberação de cortisol e maior
lesão do hlpocampo. Estudos de neuroimagem mostraram
S.2 Ansiedade e estresse redução no volume do hipocampo, com repercussão so-
Como já foi visto, as respostas autonómicas e compor- bre a memória em pacientes que sofreram de transtorno
tamentais que ocorrem na reação normal ao medo têm o de estresse pós-traumático. A resposta ao estresse tem sido
papel de preparar o organismo para situações agudas de relacionada tanto com a hiperativldade da amígdala como
emergência. Aansiedade é um transtorno psiquiátrico mul- com a redução da atividade do hipocampo. O tratamento
to comum. Ele é a expressão inapropriada do medo, que, farmacológico dos transtornos de humor foi abordado no
nesse caso, é duradouro e pode ser desencadeado por pe- Capítulo 20, item 9.3 e atua sobre os sistemas modulatórios
rigos pouco definidos ou pela recordação de eventos que de projeção difusa, principalmente o serotonlnérgico.

Leitura sugerida
DARWIN, C. The expression ofemorions in men ond animais. London: NAMBOODIRI, V. M. K.; ROMAGUERA, J. R; STUBER, G. D. The habe-
John Murray, 1872. nula. Prime,, v. 26, n. 19, p. 873-877, 2016.
HEIMER, L.; van HOESEN. G.W. The límblc lobe and ilS output chan- WATSON, K.K.; MATTHEWS, BJ.; ALlMAN, J.M. Brain activation during
nels: lmplications for emorlonal functions and adaptative be- sight gags and language-dependent humor. Cerebral Conex.
havior. Neuroscience ond Behavloral Revlews. 2006;30: 126-147. 2007;17(2):3 I 5-324.

• Capitulo 27 Áreas Encefi1llcasRela<lonadascom as Emo(óes-Sisttma Línbko 255


···-----
•••••••••
-

Áreas Encefálicas Relacionadas com a Memória

15 fntrod~ âo Para isso, ele tem acesso às diversas outras áreas mnemô-
nicas do córtex cerebral, córtex entorrinal, amígdala, córtex
Memória é a capacidade de se adquirir, armazenar e evo-
parietal superior, cingulado e hipocarnpo, responsáveis pe-
car informações. A etapa de aquisição é a aprendizagem, do
las memórias de curta e longa duração, verifica se a Infor-
mesmo modo que a evocação é a erapa de lembrança. São
mação que está chegando e sendo processada já existe ou
tão nurnero.sas e diversificadas as n1emórias que cada um tem
não, e se vale a pena armazená-la. Assim, a área pré-frontal
armazenadas no cérebro, que Isso torna praticamente impos-
funciona como gerenciadora da memória, definindo o que
sível a existência de duas pessoas iguais. Assim, a base da in-
permanece e o que é esquecido. Esse diálogo consrante da
dividualidade está na memória. O conjunto das memórias de
realidade com as próprias lembranças é fundamental para
um indivíduo é parte importante de sua personalidade.
a sobrevivência, pois permite ajustes no comportamento
e na percepção da realidade. Na esquizofrenia, há falha da
memória de trabalho, e o indivíduo passa a ter dificuldade
As memórias são classificadas com base em alguns cri- de entender o mundo em sua volta. Além do córtex pré-
térios: de acordo com a sua função, de acordo com a dura- -frontal, o hipocampo está envolvido e há também compro-
ção e de acordo com o seu conteúdo. metimento das memórias de longa duração. Esta pode ser a
base do conteúdo alucinatório e delirante da doença.
2.1 Tipos de memória de acordo com sua função -
memória operacional ou de trabalho 2.2 Tipos dê memória de acordo com o seu contêúdo -
É um tipo de memória online, que não tem a funç~o de memórias dedarativas e procedurais
gerar arquivos, e sim de gerenciar o nosso contato com a rea- As memórias declarativas são aquelas que registram fa-
lidade. Permite que informações sejam retidas por segundos tos, eventos ou conhecimento, pois podemos declarar que
ou minutos, durante o tempo suficiente para dar sequência existem e sabemos como as adquirimos. As referente aos
a um raciocínio, compreender e responder a uma pergun- eventos a que assistimos ou dos quais participamos, cha-
ta, memorizar o que acabou de ser lido para compreender mamos de episódicas ou aucobiogrdficas, uma vez que que
a frase seguinte, memorizar um número de telefone duran- sabemos pessoalmente sua origem, como a nossa forma-
te o tempo suficiente para disQ·lo. É processada pelo cór- tura, o rosto de uma pessoa, filmes, algo que lemos ou nos
tex pré-frontal dorsolateral e ventromedial. Essa memória se contaram. As memórías de conhecimentos gerais, como a
distingue das demais porque não deixa registro apenas per- de idiomas, Medicina, são denominadas semânticas. Embo-
mite dar continuidade aos nossos atos. Depende apenas da ra possamos nos lembrar de episódios ern que o conhe-
atividade dos neurônios pré-frontais. Éfortemente modulada cimento foi adquirido, como determinada aula de inglês,
pelo estado de alerta, humor, motivação e nível de consciên- não existe um limite preciso entre o início e o fim dessa
cia por melo dos sistemas de projeção dlfusa do encéfalo. aprendizagem. Quando as memórias declarallvas falham,
O córtex pré-fronral determina o conteúdo da memó- fala-se em amnésia.
ria operacional que será selecionado para armazenamento, Na memória não declarativa ou procedural, os conhe-
conforme a relev~ncia da informação naquele momento. cimentos memorizados são implícitos e, assim, n~o podem
ser descritos de maneira consciente. São memórias de habi- 2.4 Prlmlng, reflexos condicionados e memórias
lidades, capacidades motoras ou hábitos por meio dos quais assodativas e não assodativas
as pessoas aprendem as sequências motoras que lhes per-
mitem executar tarefas, como nadar e andar de bicicleta, as O priming, memória evocada por meio de dicas, como
quais, após aprendidas, são realizadas de maneira automáti- fragmentos de Imagem, primeiras palavras de uma música,
ca e inconsciente. Esse tipo de memória dura geralmente a gestos odores e sons. Muitas vezes, um músico só se lembra
vida toda. É difícil declarar que as temos, é preciso demons- do restante de uma partitura quando executa ou ouve as
trar ou executá-las. Uma partitura aprendida de cor é uma primeiras notas. O priming é um fenômeno neocortical. que
memória episódica, mas a execução no piano é procedural. envolve a área pré-frontal e as áreas associativas.
Utilizam-se também os termos memória explidta para as Pavlov observou que a primeira reação de um animal
declarativas e memória implfcitas para as procedurais. No a um estímulo novo é um estado de alerta e orientação e
entanto, algumas memórias declarativas semânticas, como exploração: a reação do ·o que é isto?~A repetição do estí-
a língua materna, são adquiridas de forma implícita, ou in- mulo leva à redução gradual dessa resposta, fenômeno este
consciente. Há divisões entre as memórias não declarativas chamado de habituaçôo. Éa forma mais simples de aprendi-
conforme mostrado na Tabela 28.1 . Os circuitos responsá- zado não associativo e deixa memória.
veis pela memória procedural envolvem os núcleos da base Pavlov também observou que nos aprendizados associa-
e o cerebelo. O comprometimento desse Lipo de memória tivos, quando um estímulo novo é pareado com outro bio-
ocorre nas fases avançadas da doença de Parkinson com a logicamente relevante, prazeroso ou doloroso, a resposta ao
perda de neurônios da substtincia negra. primeiro estímulo muda, ficando condicionada ao pareamen-
to. Essa resposta é conheclda como reflexo condicionado. Por
2.3 Tipos de memória de acordo com a duração - exemplo, normalmente um animal saliva ao ver a comida. Se
memórias de curta e longa duração uma campainha é acionada repetidamente antes de o ani-
mal receber a comida, após certo Lempo, apenas o som da
Este critério leva em conta o tempo em que a Informa- campainha já será suficiente para a ocorrência de salivação.
ção permanece armazenada no cérebro, distinguindo-se Esse tipo de aprendizagem está presente no nosso cotidiano
a memória de curta e a de longa duração. A memória de quando, por exemplo, evitamos colocar o dedo em tomadas
trabalho, por não deixar registro, não entra nessa categoria para evitar um choque, o choro dos bebês quando querem
e foi estudada separadamente. A formação das memórias comida. Se o eslímulo deixa de levar a resposta esperada, o
de curta e longa duração depende de uma boa memória reflexo é extinto. Por exemplo, se o choro não trouxer uma
de trabalho, ou seja, um bom funcionamento do córtex recompensa, a criança deixa de chorar.
pré-frontal.
A memória de curta duração permite a retenção de in-
formações durante algumas horas até que sejam armazena- Tabela 28.1 Memória de longa duração
das de maneira mais duradoura nas áreas responsáveis pela Tipo Subdivisões
memória de longa duração.
Segundo fzquierdo, a memória de curla duração dura Explícita Semântica
(declarativa)
de minutos a 6 horas, que é o tempo que leva para se con- Episódica
solidar a memória de longa duração. Durante esse tempo,
ela é bastante fábll e susceptívef à interferência de outras lmplfclta ou Priming
procedural
memórias, traumas e substâncias, como o álcool. A me- Memória de procedimento (habilidades
(n.!o declarativa)
mória de longa duração depende de mecanismos mais e hábitos)
complexos, que levam horas para serem realizados. Por
Associativa (condicionamento operante
isso, a memória de curta duração, que exige mecanismos
e clássico)
de processamento n1ais simples, mantém a memória viva
enquanto a de longa duração está sendo definitivamente Não associativa (habituação e sensibilização)
armazenada. A sua função é manter o indivfduo em con-
dições de responder com uma cópia efêmera da memória
principal, permitindo o término de uma feitura, de uma
conversa, ou de um estudo. Esses dois tipos de memórias
dependem do hipocampo e de outras estruturas encefáli-
cas. A memória de curta duração não é um simples estágio Essas áreas abrangem áreas telencefáficas e diencefáli-
da memória de longa duração. Elas ocorrem de modo pa- cas unidas pelo fórnice, que figa o hlpocampo ao corpo ma-
ralelo e Independente. Ambas requerem as mesmas estru- milar do hipotálamo. As áreas telencefálícas incluem a parte
turas nervosas, mas com mecanismos próprios e distintos. medial do lobo temporal, a área pré-frontal dorsomedial e
As bases da memória de curta duração são essencialmente as áreas de associação sensoriais. As áreas dlencefálicas são
bioquímicas enquanto a de longa duração envolve modi- componentes do circuito de Papez (Figura 27.1 ). Temos,
ficações sinápticas. assim, a Tabela 28.2 a seguir.

258 Nturoanatomla Funcional


hlpocampo
porção medial do lobo temporal
giro denteado
córtex mesial posterior
córtex entorrlnal
telencefálícas área pré-frontal dorsolateral
córtex para-hlpocampal
Áreas relacionadas à memória áreas de associação do neocórtex
amígdala
corpo mamilar
diencefálicas trato mamllotal~mico
núcleos anteriores do tálamo

3.1 Hlpocampo denominado célula de lugar. Essas células são ativadas e


Antigamente chamado corno de Ammon (CA), o hlpo- disparam potenciais de ação diante de uma determinada
campo é uma eminência alongada e curva, situada no as- área do espaço, denominada •campo de lugar da célula~
soalho do corno Inferior do ventrículo lateral (Figura 7.3) Esses campos vão sendo memorizados pelas células de
acima do giro para-hlpocampal (Figura 28.1 ). É constituí- lugar e, depois de pouco tempo, haverá no hipocampo
do de um tipo de córtex filogeneticamente antigo (arqui- do rato um mapa da gaiola onde ele vive. Isso lhe permi-
córtex) e seus circuitos intrínsecos são complexos. Esses tirá orientar-se no espaço e dirigir-se aos pontos de maior
circuitos envolvem três áreas adjacentes: CA 1; CA2; e CA3. interesse, como o de alimentaç~o. Se o animal é transfe-
O hipocampo, por meio do córtex entorrinal, recebe afe- rido para uma gaiola diferente, novo mapa se forma em
rências de grande número de áreas neocorticais e, através minutos e fica estável por semanas ou meses. Há evidên-
do fórnlce, projeta-se aos corpos mamilares do hipotála- cias de que os mesmos mecanismos existem também no
mo. O hipocampo sofre forte modulação da amígdala ba- hipocampo do homem. Isso explica por que, na doença
solateral que reforça a memória de eventos associados a de Alzheimer (item 5.2 deste capítulo), em que há grave
situações emocionais, da área tegmental ventral e com o comprometimento do hipocampo, o paciente, na fase fi-
núcleo accumbens, o que explica o reforço das memórias nal, perde completamente a orientação e não consegue ir
associadas a eventos de prazer. O seu papel na memória de uma cadeira para a cama.
começou a ser elucidado pelo estudo do famoso caso do
3.2 Giro denteado
paciente H.M.• em que parte dos lobos temporais, incluindo
o hipocampo, foi retirada cirurgicamente na tentativa de Eum giro estreito e denteado, situado entre a área en-
tratamento de epilepsia refratária do lobo temporal {item torrinal e o hipocampo (Figura 7.3), pelo qual se estende
5.3). O paciente manteve a memória operacional normal. lateralmente (Figura 28.1 ). Sua estrutura, constituída por
pois não houve comprometimento da área pré-frontal, uma só camada de neurônios. é muito semelhante à do hi-
mas perdeu definitivamente a capacidade de memorizar pocampo. Tem amplas ligações com a área entorrinal e o
eventos ocorridos depois da cirurgia (amnésia anterógra- hipocampo e, com este, constitui a formação do hlpocam-
da). Perdeu também a memória de eventos ocorridos pou- po. O giro denteado é responsável pela dimensão tempo-
co tempo antes da cirurgia (pequena amnésia retrógrada), ral da memória. Por exemplo, ao nos lembrarmos de nossa
mas curiosamente, depois de certo ponto no passado, to- festa de casamento. ele informa a data e se ela foi antes ou
dos os fatos puderam ser lembrados sem problemas, ou depois de nossa festa de formatura.
seja. a memória de longa duração permaneceu normal.
Esse caso gerou a teoria do armazenamento sequencial da 3.3 Córtex entorrinal
memória, ou seja, as memórias novas seriam processadas Ocupa a parte anterior do giro para-hipocampal me-
e armazenadas primeiramente no hlpocampo e, ao longo diaimente ao sulco rinal (Figura 7.7). Em uma secção fron-
de semanas ou meses. seriam transferidas para as outras tal do cérebro, aparece como na Figura 28.1 . Eum tipo de
áreas corticais para armazenamento definitivo. Essa teoria córtex primitivo (arquicórtex) e corresponde à área 28 de
já foi contestada e sofreu modificações. conforme será vis- Brodmann. Recebe fibras do fórnice e envia fibras ao giro
to no item 4 deste capitulo. denteado, que, por sua vez, se liga ao hlpocampo. O cór-
O hipocampo é também responsável pela memória tex entorrinal funciona como um portão de entrada para
espacial ou topográfica, relacionada com localizações no o hipocampo, recebendo as diversas conexões que a ele
espaço, configurações ou rotas e que nos permite nave- chegam por meio do giro denteado, incluindo as conexões
gar. ou seja, encontrar o caminho que leva a um deter- que recebe da amígdala e da área septal. Lesão do córtex
minado lugar. As pesquisas sobre esse tema foram feitas entorrinal, mesmo estando intacto o hipocampo, resulta
inicialmente no rato. Em ratos. a memória espacial permite em grande déficit de memória. O córtex entorrinal é geral-
memorizar as características do espaço em seu entorno e mente a primeira área cerebral comprometida na doença
depende de um tipo especial de neurónio do hipocampo, de Alzheimer.

• Capítulo 28 Ãreas Enceijllcas Relacionadas com a Mtmóri.1 259


Hipocompo envolvidas na fisiopatologia da esquizofrenia, da doença de
Alzheimer e das psicopatias. As duas regiões pré-frontais es-
tao envolvidas na memória operacional: a dorsolateral; e a
ventromedial embora a dorsolateral seja a mais importante.

3.7 Córtex para-hlpocampal


O córtex para-hipocampal ocupa a parte posterior do
giro para-hipocampal, estendendo-se com o córtex cingu-
lar posterior no nível do istmo do giro do cíngulo (Figura
7.7). Estudos de neuroimagem funcional mostraram que o
córtex para-hlpocampal é ativado pela visão de cenários,
especialmente os mais complexos, como uma rua ou uma
paisagem. Entretanto, a ativação só ocorre com cenários
novos e não com os já conhecidos. Também não é ativado
com a visão de objetos, o que é feito pelo hipocampo. Pa-
cientes com lesão do giro para-hipocampal são incapazes
de memorizar cenários novos, embora consigam evocar
cenários já conhecidos. Isso mostra que, como ocorre no
hipocampo, a memória desses cenários nao é armazenada
no córtex para-hipocampal, mas em outras áreas, muito
provavelmente no isocórtex, pois ela permanece depois
de ele ser lesado.

Giro poro-hipocompal 3.8 .Areas de associação do neocórtex


Nessas áreas. são armazenadas as rnemórias de longa
Figura 28.1 Esquema de um corte frontal do giro para-hipocam- duração. Incluem-se aí as áreas secundárias sensitivas e
pal e hipocampo. motoras, assim como áreas supramoclais. Diferentes cate-
gorias de conhecimento são armazenadas em áreas dife-
rentes do neocórtex e podem ser lesadas separadamente,
3.4 Amígdala resultando ern perdas distintas. Estudos de ressonância
A amígdala já foi estudada no capitulo anterior como o magnética funcional mostrarr, que, quando uma pessoa
principal órgão do sistema límbico, relacionada, portanto, é solicitada a reconhecer figuras de animais, há ativação
com as emoções. Atualmente, no entanto, sabemos que ela de áreas neocorticais da parte ventral do lobo temporal.
não apenas atua como moduladora das memórias proces- Quando o reconhecimento é de objetos, como ferramen-
sadas no hipocampo e em áreas vizinhas, como também tas, a área pré-motora esquerda é ativada, pois a pista para
ela própria armazena memórias de conteúdo emocional reconhecimento é a atividade motora envolvida no uso da
ativamente. ferramenta. As interações entre o hipocampo e as áreas
neocorticais de armazenamento da memória são hoje ob-
3.5 Córtex dngular posterior jeto de muita pesquisa.
O córtex cingular posterior. em especial a parte situa-
da atrás do esplénio do corpo caloso (retrosplenial), recebe 3.9 Areas diencefállcas reladonadas com a memória
muitas aferências dos núcleos anteriores do tálamo, que,
As estruturas diencefálícas envolvidas com a memória
por sua vez. recebem aferéncias do corpo mamílar pelo tra-
são os corpos mamilares do hipotálamo. que recebem afe-
to mamilotalãmico, integrando o circuito de Papez (Figura
rências dos córtices entorrinal e do hipocampo pelo fórnice
27 .1 ). Lesões no cíngulo posterior ou dos núcleos anteriores
e que, através do trato mamilotalàmico, projetam-se aos nú-
do tálamo resultam em amnésias. O córtex clngular poste·
cleos anteriores do tálamo. Estes. por sua vez. projetam-se
rior está também relacionado com a memória topográfica,
ou seja. a capacidade de se orientar no espaço e memorizar para o córtex cingular posterior.
caminhos e cenários novos, bem como evocar os já conhe- Essas estruturas fazem parte do circuito de Papez (Figu-
cidos. Sua le~o resulta em desorientação e incapacidade de ra 27.1 ) até há pouco tempo considerado o circuito básico
encontrar caminhos anteriormente rnemorizados. no processamento das emoções e hoje reconhecido como
circuito relacionado com a memória.
3.6 Area pré-frontal dorsolateral
A área pré-frontal dorsolateral tem um grande número
3.1ORegiões moduladoras da formação de memórias
de funções (veja Capítulo 26}. Entre elas, está o processamen- As principais estruturas envolvidas na modulação das
to da rnemória operacional. As disfunções dessa área estão memórias dedaratlvas são a parte basolateral da amígdala

260 Neuroanatomla Fun<ional


e o~ ~·stemas nodulatórios dP. projeção di\Jsa respo11:xí· sor glutamato. Em sf'g1;ida, u11a sequf!11<..l..i d1: orocessos
veis peo alerta, motivac;Jc :: ernoções: lccvs ~eru:eus; nl.'.- me al.JC:::licos provo::;;rá :l síntese de proteínas que c;;u~a-
cleos da 'õfe; nútlcos dopa 1linérgicos; e núcleo bas:31 df' r30 modificações estruturais em sinapses e 'orrnaçJo de
tvley1ert. Alér; de mociular, a amígdala tambén1 arrn<Jzena si'"lapses novas. t, rc..:siiJo CA 1 ::lo hipocampo é a principal
memó•ias q1.11n:Ju elt1s apresent3m componentes de ai erra prot;:igonisra oa for:nação de riemnrias declara:ivas raz
emocional. ü seu efeito mod Jlatório é feito por meio de conexào com o suní:-ulo. <.6rt~x cntorrinal, giro denteado,
sín.:ipscs colinérçicas e norarlrP1êrgicas sobre a rcgi5o ':./, 1 região CA3 e tle volta para a CA 1. Es7e é um r.irr.uiio básico
do hi::>ocampo e có rtex cntorrinal. Regula também a m:::- do hipocampo r.ilpa/ d!-' rf-'Vl:'1berar, e todas as suas áreas
mória ce Lrau.1lhc. A umlgdêila basol,r:-er;il sofre Impacto de são r.apat.'.e~dt:: evlde·1ciar pla~r cldade e LTP. Esse mecanis-
hormônios peri:Prir.o~. rnmo o corliYJI liu1..:ri;l,Jo durante o mo occrre também em outras áreas c~rc..:ur;;i:.. 1V1:1s, ufinal,
es:res5f' ou c111uc.ões fortes, e facilitando o ·eglstrc de me- quantas novas sinuoscs nc-ce:ssitam ser formadas para uma
rnó1ic1~ <.orr1ê:tlto conteúdo emO<'.lon;il. O ,istema gabaérg·- memóriç r ova? No caso de uma rni>n1t':rin ~irnplr:~. como
co exerce efeito rnorlulató·io in'bitório sobre todos os t ipos não cclocar o ded::: nJ Lcrr1õdr..1. uns poucos milhões em
de me,-,ór'a e Locas as suas tases de consolldaçao. Isso ex- seis a sete regiôes cerebrais serão suficiente..:;. No ~,nanto,
plica o efeito amnésico de anestésicos, álcool, barbiLúrk.o, se for uma mernória sernfinticc: corrpleta, serão vá'ios bi-
e benzodia/eplr,lcos. lhões em diversas área~ c~rebra s.
Para o estuco detalhado dos rn~c.:anisn1os mcle::ula'e5
. 1• •
da tormaç~o das memórias, sugerimos ;, leitura oa hibro-
grafir1 .;pri:.~t'-n:aoa nc final do c.dpí,ulo.
O caso 11.NI., :Ji.:sc.rilo no item 3.1, provccou a crença
4.1 Esquecimento
de que a memória de iong;; duração gravava-se inicia.-
mente ro hi:::ioca:-nuo e \J persistia durante: meses uté ser [ ,;que, 1.·1110~ il 9rilride maioria das coisas oue memo-
transferidi) p.:irt1 outras áre3s corticais, onde permaneceria rizamos ao lonço d?l ,,ici.'I. f)p5ce as iníorrnac,ô~s 41..!I:! uni
ocr toda a vida. Essa falsa crença originou-se da obser· dia p;i!.c.drc:trn pela nossa memória de trabalho il aquelas
vação de que o paciente -L,v1. crü totalmente ln::ãpaz de que ge;aram rne1lórias de lo'":ga duraç,10. \ r-ri,1 irnpos
rorn1ar novas m:mórias declarativ;is ;ipó:; 11 ressecçác. A sível IPmbrarrr,os todos os dctul r·cs de nossa v'da social.
cx.:itü áre:i removida no aro c:i-i.í·g·co só tci conlie<.it.la nd Seria impossfvc di:l ogar com uma pessoa se todos us de-
aurr.r>sl,1, 40 arK,, apô'.>. Verificcu-se que o h'pocampo não talhes do!. cont,1to~ :1 n1rr ior<''> viessem à rnemérla, como
rorêl ,;;urnpletamente removido de a11oos os lados e que os n1dl·entendidos, brigas etc. A lf'mbrança de detalres
1avia les30 en, ou1rr1•. eslruturas, es::>ccialmente do córtex ir-elevante~ 1n111drii:l a corve·sa prolixa e deixaria a vida
enror( nal.1 stucJo, recentes comprovaram que e processo rnenos efciente. Temos 11ais memórias extínras c u fr;,g-
de (.Onsolicilção de memórias ororre de modo paralelo, e mentadas ro riosso r Prebro do que memór iJs inteiras e
1~0 sequencial, e envolve. além do hipccampo, êl amígda- ex.olc1s. Com relação à 1lemória. ouanto mêl5 se usa, me-
a hnr.ol.itcrt1I, <.i córtex entorrinal. o córtex p3rietal postf•- nos se perde. Essa p:-:rc,1 :- dr rorrr.ntc oa utrofia d3s sina p-
•ior. o córtex ci'"lgul;;ilo ;intf'rio', o córteJC 1euçc..:~plenial e ses pur í.i ld çe u~o.
o córrex prt>-fro111al. 1090 após a aquisiçao. participam o
:1ip1:Lc1rr1µu. d crn"g:Jc:la b:1solatera. o giro denteado e vá-
4.2 Memória na primeira infância
rias regiões corticais, sendo o hipoc3111po, sirn, íu"dêJmen É de conhe~imento geral que n,10 conseguimos nos
:ai ness2 fa sP.. Nc n1omento da evocaç5o dessas mesmas lembrar de fatos ocorridos antes dos 3 a 4 <i íl 05 de ida-
mcmórins, :1s re~iões corr cais são mais necessá ri.1s, m.,~n rl0. /\ ,·xplicaçi'lo é que essa é a fas-e em que a linguagern
hipccampo parricipa r,ova11ente. está se desenvolvP.ndn P;; vida, nessa idade, <trc.1 vivic.f a ern
(.) rnec3nismo de consolidação envolve o ch3mado un, rnu·1do p·é-linguíst'co. /..s prl--neiras memór"as foram
potencio! de !onga O'Jraç~o (_T?). que consiste no aun1e11to adquiridas eir, uma linguageri til reta e não 1·1eL.:!í6rlca ou
perslstentP. da resposta de neJrônlo:; à breve estimulação simbólica, a mesrna utilizi.ldél pelos animuis. P.s oost~rio'es
reµetitlva de ur;, .ixônio qu0 faz sinapse com ele.(; LI P d1..ra aos 3 4 anos foram adquiridas e instanlanearnente tr2du-
horas, semanas 01.. meses. Nos dendri.o!> crr, que ocor•e zicas para il li nguayt•rr,, já oelT' desenvolvida nessa idade.
um LI~ ~ão produzidas cerld!> proteínas que :>aderi p.::is- A linçuagem é o divisor dP ~gua~ ?ntre as rren,óric:,s in·
sar para outras sinapses vizinhas, o que as incita ;i lilrn~rn fanris. inlr11du1iveis, e as posteriores. Nc entanto. embora
produz·rerr, um LTP ou aJmt'.ntá-lo. C> fe11ór•1eno se era- codificadas em uma lingu3gem lnacesstvel ::iarJ ac.JulLos. ôS
ma P.tiquP.tnmtnto sinó:;irJco e ;x:unite que outras sinapses mem6rii'l5 di'l primeira lnfàrcia tic.i -n gr~vacase interferem
!>t';d11 1 potencializadas. O LTP lnicia·s= cor, excilaçào repe- no desenvolvimento. na aorer dizagem e ria vida afetiva
tioa das células hipccarr,pais, mediada pelo rlt'Jrotransmls- posterior da criança.

• Capít ulo 28 A-eêl.) Cncefiiliws Rdacionadas com a Memólia 261


5. Correlações anatomoclinlcas
Os quadros clínicos mais frequentes são as amnésias Há também perda dos neurônios colinérgicos do nú-
retrógradas e anterógradas já descritas e decorrentes de cleo basal de Meynert, o que ocasiona a perda das pro-
lesões do hipocampo e córtex entorrinal, podendo resul- jeções modulatórias colinérgicas de praticamente todo
tar também de processos patológicos que acometem o o córtex cerebral. É uma doença com claro componente
fórnice e os corpos mamilares. Dois quadros patológicos genético. mas que sofre lníluêncla de fatores ambientais.
que acometem áreas relacionadas à memória merecem Estudos mostraram que o Indivíduo com uma predisposi-
atenção especial, a síndrome de Korsakoff e a doença de ção genética, mas que tem uma vida intelectualmente ati-
Alzheimer. va, pode não manifestar ou ter formas mais leves e tardias
da doença.
5.1 Síndrome de Korsakoff A causa é o acúmulo de duas proteínas no cérebro: a
Resulta da degeneração dos corpos mamilares e dos beta-amiloide e a tau. A beta-amiloide é produzida normal-
núcleos anteriores do tálamo. Essa síndrome, em geral, é r_nente no cérebro; porém. na doença de Alzheimer, a sua
consequência do alcoolismo crónico e os principais sinto- produção é exagerada e acumula-se em íorma de estrutu-
mas são amnésias anterógradas e retrógradas. ras fibrilares, denominadas placas amiloides. no parênqui-
ma e na parede das arteríolas, ocasionando a angiopatia
S.2 Doença de Alzheimer amiloide. A tau forma os emaranhados neurofibrilares e
É a causa mais comum de demência. Trata-se de acumula-se no corpo do neurónio e em seus dendritos,
uma doença degenerativa que acomete pessoas a par- causando sua morte. Além do acúmulo de agregados
tir da mela-idade, na qual ocorrem graves problemas de proteicos anormais, há perda de sinapses e de neurônios.
memória. Há perda gradual da memória operacional e de causando atrofia cerebral. Há também uma reação inflama-
curta duração. O paciente começa a ter dificuldade com tória entre as placas proteicas mediada por células da glia.
a memória recente de fatos ou de compromissos ocorri-
dos no dia. Evolui gradativamente para comprometimento S.3 Epilepsia do lobo temporal
da memória de longa duração, a ponto de se esquecer do Trata-se do tipo mais frequente de epilepsia focal na
nome dos familiares e apresentar desorientação no tempo população adulta. A alteração estrutural subjacente é a
e espaço. Na fase mais avançada. há uma completa dete- esclerose hipocampal, também conhecida como esclerose
rioração de todas as funções psíquicas, com amnésia total. mesial temporal (Figura 28.3). As causas desta lesão não
De modo geral, a doença se Inicia com uma degeneração estão totalmente esclarecidas, mas a relação com ocor-
progressiva dos neurônios da área entorrinal, que constitui rência de estado de mal epiléptico na inf~ncia e anóxia
a porta de entrada das vias que, do neocórtex, se dirigem perinatal está bem estabelecida. O paciente passa anos as-
ao hipocampo. Segue-se atrofia do hipocampo. cíngulo sintomático e. na idade adulta, iniciam-se as crises epilép-
posterior e de todo o encéfalo (Figura 28.2). ticas do tipo focal discognitiva. A crise típica inicia-se com

Figura 28.2 (A) Ressonáncia magnética normal; e (B) ressonância magnética evidenciando atrofia cerebral difusa em paciente com
doença de Alzheimer.
Fonte: Cor1.esia do Dr. Marco An1õnio Rodacki.

262 Neuroanatomia Funcional


parada cornportamental, perda do contato, fixação ocular para a crise tónico-clônica bilateral. Esta epilepsia é geral-
e movimentos automáticos orofaciaís e manuais com o mente refratária ao tratamento e é a causa mais comum de
membro ipsilateral à lesão. O membro contralateral geral- cirurgia para tratamento de epilepsia, como no caso HM
mente fica Imóvel em postura tônica. Pode ou não evoluir descrito no item 3. 1.

Figura 28.3 Ressonància magnética mostrando lesão no hlpocampo esquerdo em paciente com epilepsia do lobo temporal. (A) Corte
axial em T2 Flair e coronal em T2 (em que as áreas com maior volume de líquido apresentam-se embranquecidas} mostrando hipersinal
no hipocampo esquerdo (setas). (B) Imagem em Tl (em que as ~rcas liquidas aparecem escuras) mostrando a redução volumétrica do
hipocampo.

Leitura sugerida
KAHN, I.; SHOHAMY. O. lntrinslc connectivity between the hlppo GAGLIARDI, R. J~ TAKAYANAGUI, O. M. Trotado de Neurologia do Acade-
campus. nucleus accumbens and ventral 1egmental area ln mia 81asileira de Neurologia. 2 ed. Rio de Janeiro: Elsevler, 20 19.
humans. Hlppocompus. 2013;23:187-197. IZQUIERDO, 1. Memória. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2018,
KANDEL, E.. R.; et ai. Principies of Neuro/ Sclence. 6. ed. Nova York: Me YACUBIAN, E.M.T.; MANREZA, M.L.; TERRA,V. e. Purpfe book. 2. ed. São
Graw HIii, 2021 . Paulo: Planmark, 2020.

• Capitulo 28 Ateas Encefálic.as Relacionadas com a Memória 263


- - - - - - · - · · -■■■■■■
•••••••• ,
··············~····------··-···.. ........
------·-·

Grandes Vias Aferentes

as suas funções. O trajeto central das vias aferen-


tes compreende ainda núcleos relés, onde estão os
Neste capítulo. serão estudadas as grandes vias aferen- neurônios (11, Ili e IV) da via considerada.
tes, ou seja. aquelas que levam ao sistema nervoso central d) Área de projeção cortical - está no córtex cerebral
(SNC) os impulsos nervosos originados nos receptores pe- ou no córtex cerebelar; no primeiro caso, a via nos
riféricos. Esse assunto já foi objeto de considerações nos permite distinguir os diversos tipos de sensibi-
capítulos anteriores. a propósito da estrutura e função da lidade e é consciente; no segundo caso, ou seja,
medula, do tronco encefálico, do cerebelo e do diencéfa- quando a via termina no córtex cerebelar, o im-
lo, mais especificamente do tálamo, e será agora revisto em pulso não determina nenhuma manifestação sen-
conjunto, de maneira sintética e esquemática. Não serão sorial e é utilizado pelo cerebelo para a realização
estudadas as vias reflexas, em geral mais curtas, formadas de sua função primordial de integração motora; a
por fibras, ou colaterais, que se destacam das grandes vias via é inconsciente.
aferentes e fazem sinapse com o sistema eferente, fechando
Um principio geral de processamento da Informação é
arcos reflexos, ora mais, ora menos complexos. O estudo das
que ela ocorre de maneira hierárquica, sendo as informações
grandes vias aferentes é um dos capítulos mais Importantes
transmitidas através de uma sucessão de regiões inicialmen-
da Neuroanatornia, em vista de suas inúmeras aplicações
te subcorticais e, depois, corticais. Outra característica dos
práticas. Em cada urna das vias aferentes deverão ser estu-
sistemas sensoriais é que as partes de onde se originam os
dados os seguintes elementos: o receptor; o trajeto periféri-
impulsos sensitivos são representadas em áreas especificas
co; o trajeto central; e a área de projeção cortical.
da via aferente, assim corno na área cortical. Assim, existe
a) Receptor - é sempre urna terminação nervosa sen- somatotopia ao longo de toda a via. Na sensibilidade somá-
sível ao estímulo que caracteriza a via. Existem tica, as partes do corpo são representadas na área somesté-
receptores especializados para cada uma das mo- sica do córtex como um homúnculo de cabeça para baixo
dalidades de sensibilidade. A conexão desse recep- (Figura 26.3). Existern também mapas tonotópicos para a
tor, por meio de fibras específicas, com urna área representação cortical da cóclea, assim como retinotópicos
específica do córtex, permite o reconhecimento para a retina.
das diferentes formas de sensibilidade (discrimina- As grandes vias aferentes podem ser consideradas
ção sensorial) (Capítulo 9, irem 2). como cadeias neuronais unindo os receptores ao córtex.
b) Trojero periférico - compreende um nervo espinal No caso das vias inconscientes (cerebelares), essa cadeia
ou craniano e um gânglio sensitivo anexo a esses é constituída apenas por dois neurônios (1, li). Já nas vias
nervos. De modo geral, nos nervos que apresentam conscientes (cerebrais). esses neurõnios são geralmente
fibras com funções diferentes, elas se agrupam apa- três, sobre os quais podem ser estabelecidos os seguintes
rentemente ao acaso. princípios gerais:
c) Trajeto central - em seu trajeto pelo SNC, as fibras a) Neurônio 1 - localiza-se geralmente fora do SNC,
que constituem as vias aferentes se agrupam em em um gânglio sensitivo (ou na retina e mucosa
feixes (tratos, fascículos, lemniscos), de acordo com olfatória, no caso das vias óptica e olfatória). É um
neurónio sensitivo, em geral pseudounipolar, cujo terior para constituir o lemnisco esp.inal, que termi-
dendraxônio se bifurca em· r~ dando um prolonga- na no tálamo, fazendo sinapse com os neurônios Ili.
mento periférico e outro central. Em alguns casos. c) Neurônios Ili - localizam-se no tálamo, no núcleo
o neurónio pode ser bipolar. O prolongamento pe- ventral posterolateral. Seus axônios formam radia-
riférico liga-se ao receptor, enquanto o prolonga- ções talamlcas que, pela cápsula interna e coroa
mento central penetra no SNC pela raiz dorsal dos radiada, chegam à área somestésica do córtex
nervos espinais ou por um nervo craniano. cerebral, situada no giro pós-central (áreas 3, 2 e 1
b} Neurônio li - localiza-se na coluna posterior da me- de Brodmann).
dula ou em núcleos de nervos cranianos do tronco Por essa via, chegam ao córtex cerebral irnpulsos orí-
encefálico (fazem exceção as vias óptica e olfatória). ginados em receptores térmicos e dolorosos. situados no
Origina axônios que geralmente cruzam o plano tronco e nos membros do lado oposto. Há evidência de que
mediano logo após a sua origem e entram na for- a via neoespinotalâmica é responsável apenas pela sensa-
mação de um trato ou lemnisco. ção de dor aguda e bem localízada na superfície do corpo,
c) Neurônio Ili - localiza-se no tálamo e origina um correspondendo à chamada dor em pontada.
axônio que chega ao córtex por uma radiação talâ-
mica (faz exceção a via olfatória). 2.1.2 Via paleoespinotalâmica
No estudo das grandes vias aferentes, levaremos sem- É constituída de uma cadela de neurônios em número
pre em conta a posição e o trajeto dos axônios desses três maior que os da via neoespinotali'lmlca.
neurônios. Serão estudadas, primeiramente. as vias aferen- a) Neurônios / - localizam-se nos gânglios espinais, e
tes do tronco e membros, que penetram no SNC pelos ner- os seus axónlos penetram na medula do mesmo
vos espinais; a seguir, aquelas da cabeça, que penetram por modo que os das vias de dor e temperatura, estu-
nervos cranianos. dadas anteriormente.
b) Neurônios li - situam-se na coluna posterior. Seus
axónios dirigem-se ao funículo lateral do mesmo
lado e do lado oposto, inflectem-se cranlalmente
para constituir o trato esplnorreticular. Este sobe
2.1 Vias de dor e temperatura na medula junto ao trato espinotaliimico lateral e
Os receptores de dor são terminações nervosas livres. termina fazendo sinapse com os neurónios Ili em
Existem duas vias principais pelas quais os impulsos de dor e vários níveis da formação reticular. Muitas dessas
temperatura chegam ao cérebro: uma via filogeneticamen- fibras não são cruzadas.
te mais recente, neoespinotalômica, constituída pelo trato c) Neurônios Ili - localizam-se na formação reticular
esplnotali'lmico lateral, que vai diretamente ao tálamo; e ou- e dão origem às fibras reticulotalâmicas que ter-
tra, mais antiga, paleoespinocolómica, constituída pelo trato minam nos núcleos do grupo medial do tálamo,
espinorreticular, e pelas fibras retículotalâmicas (via espíno- em especial nos núcleos intralaminares (neurô-
·reticulo-talómica).Como será visto, essas duas vias veiculam nios IV). Os núcleos intralamlnares projetam-se
formas diferentes de dor e serão estudadas de maneira es- para territórios muito amplos do córtex cerebral.
quemática a seguir. Essas projeções estão mais relacionadas com a
ativação cortical do que com a sensação de dor,
2.1.1 Via neoespinotalâmica uma vez que esta se torna consciente já em nível
Trata-se da via ·clássica· de dor e temperatura, constituí- talâmico.
da basicamente pelo trat es~lnota âmico teral envolven-
Alguns neurônios Ili da via paleoespinotalâmica desti-
do uma cadeia de três neurônios (Figura 29.1 ).
nam-se ao núcleo parabraquial na porção dorsolateral da
a) Neurônios I - localízam-se nos gânglios espinais ponte e dirigem-se para a amígdala, que, ao que parece, é
situados nas raízes dorsais. O prolongamento pe- responsável pelo componente emocional da dor.
riférico de cada um desses neurônios liga-se aos As principais diferenças entre as vias neo- e paleoes-
receptores através dos nervos espinais. O prolon- pinotalâmicas estão esquematizadas na Tabela 29.1 . Ao
gamento central penetra na medula e termina na contrário da via neoespinotalâmica, a paleoespinotali'lmica
coluna posterior, onde faz sinapse com os neurô- não tem organizaç.ão somatotópica. Assim, ela é responsável
nios li (Figura 13.5). por um tipo de dor pouco localizada, dor profunda do tipo
b) Neurôníos li - os axónios do neurónio li cruzam o crônico, correspondendo à chamada dor em queimação,
plano mediano pela comissura branca. ganham o ao contrário da via neoespinotalàmica, que veicula dores
funículo lateral do lado oposto, inflectem-se cra- localizadas do tipo dor em pontada. Nas cordotomlas an-
nialmente para constituir o trato espinotalâmico terolaterais (cirurgias realizadas para o tratamento da dor),
lateral (Figura 13.5). Na altura da ponte, as fibras os dois tipos de dor são eliminados, pois são seccionadas
desse trato unem-se com as do espinotalãmico an- tanto as fibras espinotalâmicas como as espinorreticulares.

266 Neuroanatomla Funcional

li
______ - - - -Área do pé
1

. __ - - ---Áreoda mão

Corpo caloso------

Cápsula interno

- --- - - - lemnisco espinal

MESENCÉFALO

'' '-- - - - - - -Lemnisco medial

PONTE

- - - --- - - - -lemnisco mediei

BUIBO

Ramo ascendente -------- .......


-- - - - - Troto posteroloterol
(de Ussouer)
Neurônio I no g6nglio espinal
o
Ramo descendente --------- - - - - - Trato esplnotolômico lateral

Prolongamento periférico do neurônio 1


........... ,..._

T6 /
... , ... ~~----,r,-J.k.-:r~_::_:,..~.~ l
- - -- - - Neurônio li no coluna posterior

Prolongamento central do neurônio 1- - - '

, . . - - - - - - - - - - Axônio do neurônio li

S2

,
.
f 1ssuro med'1ono on terior
. ---- - - - - - - / \ __________ - - - Comissuro bronco

Figura 29.1 Representação esquemática da via neoespinotalâmica de temperatura e dor.

• Capítulo 29 Grandes Via.s Aferentes 267


Lesões estereot~xicas dos núcleos talâmicos em pacientes b) Neurônios// - localizam-se na coluna posterior da me-
com dores intratáveis decorrentes de câncer comprovam dula. Seus axónios cruzam o plano mediano na co-
a dualidade funcional das vias da dor. Assim, a lesão ao missura branca, atingem o funículo anterior do lado
núc.leo ~cDl@) posterolater a (via neoesp_io__otalâmica) re- oposto, onde se inflectam cranialmente para constituir
sulta ffiJ :r;J rda oa cloF superficia em pontaâa mas deixa o trato espinotalamico anterior (Figura 13.5). Este, na
intacta a dor crônica profunda. Esta é eliminada com lesão altura da ponte, une-se ao espinotalàmico lateral para
dos núcleos intralaminares. o que, entretanto, não afeta a formar o lemnisco espinal, cujas fibras terminam no
dor superficial. tálamo, fazendo sinapse com os neurônios 111.
Exislem vias menos importantes. como a espinopara- c) Neurônios lfl - localizam-se no núcleo ventral poste-
braquial, que contribui para o componente emocional da rolateral do tálamo. Originam axõnlos que formam
dor e faz sinapse no núcleo parabraquial da ponte que se radiações talàmicas que. passando pela cápsula in-
projeta principalmente para a amígdala. A via espinohi- terna e coroa radiada, atingem a área somestésica
potal~mica se projeta para os núcleos hipotalâmicos. que do córtex cerebral (Figura 29.2).
coordenam as respostas cardiovascular e neuroendócrina Por esse caminho, chegam ao córtex os impulsos origi-
relacionadas com a dor. nados nos receptores de pressão e de tato situados no tron-
Além da área somestésica, respondem a estímulos no- co e nos membros. Entretanto, como no caso anterior, esses
clceptivos neurônios do córtex da parte anterior do giro do Impulsos tornam-se conscientes já em nível talamlco.
cíngulo e da ínsula. Ambos fazem parte do sistema límbi-
co e estão envolvidos no processamento do componente 2.3 Via de proprlocepção consciente, tato epicrítlco
emocional e cognitivo da dor. O córtex insular recebe tam- e sensibilidade vibratória
bém projeções diretas do tálamo e da amígdala e coordena Esta via é mostrada na Figura 29.3. Os receptores de
também as reações mediadas pelo sistema nervoso autóno- tato são os corpúsculos de Ruffini e de Melssner e as rami-
mo relativas à dor. Indivíduos com lesões da parte anterior ficações dos axônios em torno dos folículos pilosos. Os re-
do giro do cingulo são indiferentes à dor. A dor é a mesma, ceptores responsáveis pela proprlocepção consciente são
só que eles não se Importam com ela. os fusos neuromusculares e órgãos neurotendinosos. Já os
receptores para a sensibilidade vibratória são os corpúscu-
2.2 Via de pressão e tato protopátlco los de Vater Paccini.
Esta via é exibida na Figura 29.2. Os receptores de
a) Neurônios I - localizam-se nos gânglios espinais. O
pressão e tato são tanto os corpúsculos de Meissner como prolongamento periférico desses neurônios liga-se ao
os de Ruffini. Também são receptores táteis as ramificações receptor, o prolongamento central. penetra na medu-
dos axónios em torno dos folículos pilosos. la pela divisão medial da raiz posterior e divide-se em
a) Neuróníos I - localizam-se nos gânglios espinais um ramo descendente, curto, e um ramo ascendente.
cujo prolongamento periférico liga-se ao receptor, longo. ambos situados nos fascículos grácil e cuneifor-
enquanto o central divide-se em um ramo ascen- me (Figura 13.5); os ramos ascendentes longos ter-
dente, muito longo, e um ramo descendente, curto, minam no bulbo, fazendo sinapse cornos neurónios li.
terminando ambos na coluna posterior, em sinapse b) Neurónios li - localizam-se nos núcleos grácil e
com os neurônios li (Figura 13.5). cuneiforme do bulbo. Os axônios desses neurô-

Tabela 29.1 Diferenças entre as vias neoespínotalàmicas e paleoespinotalãmicas.


Características Via neoespinotalãmica Via paleoespinotalàmica
Origem filogenética recente antiga
Cruzamento na medula fibras cruzadas fibras cruzadas e não cruz.adas
Trato na medula espinotalámico lateral espinorreticular
Trajeto supramedular direto: espinotalàmlco interrompido: esplno-retículo-tal"mico
Número de neurônios três neurônios (1.11. 111) no mínimo quatro neurônios
ProjeçAo talê\mica principal núcleo ventral posterolateral núcleos intralaminares
Projeções suprata13micas área somestéslca panes anteriores da Insula e do giro do cíngulo
Organização funcional sornatotópica nao somatotópica
Funçao dor aguda e bem localizada dor crônica e difusa {dor em queimação)

268 IINlroanatomwFuncíooal
nios mergulham ventralmente, constiLuindo as fi- c) Neurônios 1/f - estão situados no núcleo ventral
bras arqueadas Internas, cruzam o plano mediano posterolareral do tálamo, originando axõnios, que
e, a seguir, ínflectem-se cranlalmente para formar constítuem radiações talâmicas que chegam à área
o lemnisco medial (Figura 29.3). Este termina no somestéslca passando pela cápsula Interna e coroa
tálamo, fazendo sinapse com os neurônios Ili. radiada (Figura 29.3).

/ - - _ _ _ _ _ _ _ Áreadopé
/
/
. . - - - - - - - - - Área do tronco
/

'.' '
•:

. .•• . . •
'

/
Neurônio Ili no núcleo ventrol posteroloteral

MfSENCÉFALO

- - - - - - - - - Axônio do neurônio li
/
// o
Prolongamento periférico do neurônio 1
- ____ Troto espinotolâmico anterior

Ramo ascendente - - -
--- - - - - ---
Neurônio I no gânglio espinal
---- - - - - - - - Neurônio li no coluna posterior

- - - ---- - - - fissura mediano anterior

- - - - - - - - - - - -Comissuro bronca

Figura 29.2 RepresentaçAo esquemática da via de pressão e tato protopático.

• Capitulo 29 Grandes Vias AftrmttS 269


Por essa via, chegam ao córtex impulsos nervosos, res- seguem, principalmente, por nervos simpáticos, fazendo
ponsáveis pelo tato epicrltico, pela proprlocepção conscien- exceção as vísceras pélvicas inervadas pela parte sacral do
te (ou cinestesia) e pela sensibilidade vibratória (Capítulo 13, parassimpático.1
Item 4.3.2.1 ). O tato epicrítico e a propriocepção consciente Os Impulsos que seguem por nervos simpáticos, como
permitern ao indivíduo a discriminação de dois pontos e o os neNos espláncnlcos, passam pelo tronco simpático, ga-
reconhecimento da forma e do tamanho dos objetos colo- nham os nervos espinais pelo ramo comunicante branco,
cados na mão (estereognosia). Os impulsos que seguem por passam pelo gãnglio espinal, onde estão os neurônios 1, e
essa via tornam-se conscientes exclusivamente no !Jmbito penetrarn na medula pelo prolongamento central desses
cortical, ao contrário das duas vias estudadas anteriormente. neurônios.
Parte do trajeto central da via da dor visceral segue o
2.4 Via de propriocepçãoinconsciente trato esplnotalãmlco lateral. A maior parte, no entanto. se-
Os receptores são os íusos neuromusculares e órgãos gue pelo funículo posterior. As libras nociceptivas originá-
neurotendinosos situados nos músculos e tendões. rias das vísceras pélvicas e abdominais fazem sinapse em
neurônios li situados na substância cinzenta intermédia
a) Neurônios I - localizam-se nos gãnglios espinais. O medial, próximas ao canal central. Os axõnios desses neu-
prolongamento periférico desses neurónios liga-se rônios formam um fascículo que sobe no funículo posterior,
aos receptores. O prolongamento central penetra na mediaimente ao fascículo grácil, e termina no núcleo grácil
medula, divide-se em um ramo ascendente longo e do bulbo, fazendo sinapse com o neurônio Ili, cujos axônios
em outro descendente curto, que, terminam fazen- cruzam para o lado oposto como parte do lemini~o me-
do sinapse com os neurônios li da coluna posterior. dial e terminam no núcleo ventral posterolateral do tálamo,
b) Neurônios li - podem estar em duas posiçõe5, origi- de onde as fibras seguem para a parte anterior da ínsula.
nando duas vias diferentes até o cerebelo: Já a via nociceptiva originada nas vísceras torácicas tem o
► Neurônios li, situados no núcleo torócico (localiza- mesmo trajeto das originadas no abdome e na pelve, mas
do no coluna pasterior) - originam axônlos que sobem ao longo do septo intermédio que separa o fascículo
se dirigem para o funículo lateral do mesmo grácil do cuneiforme. A mielotomia da linha média, em que
lado, inflectem-se cranialmente para formar o a parte medial do funículo posterior é seccionada, pode ser
trato espinocerebelar posterior (Figura 13.S), realizada para alívio da dor visceral farmacorresistente em

que termina no cerebelo, onde penetra pelo pacientes com câncer abdominal ou pélvico.
pedúnculo cerebelar inferior (Figura 22.7).
► Neurônios li, situados na base da coluna pasterior
e no substôncia cinzenta intermédio - originam
axõnios que, em sua maioria, cruzam para o
funículo lateral do lado oposto, inflectem-se 3.1 Vias trigeminais
cranialmente, constituindo o trato espinoce- Com exceção do território ineNado pelos primeiros
rebelar anterior (Figura 22.7). Este penetra no pares de nervos espinais cervicais, a sensibilidade somática
cerebelo pelo pedúnculo cerebelar superior geral da cabeça penetra no tronco encefálico pelos neNos
(Figura 22,7 ). Admite-se que as fibras que cru- V, Vll, IX e X. Destes, sem dúvida alguma, o mais importante
zam na medula cruzam novamente antes de é o trigêmeo, uma vez que os demais inervam apenas um
penetrar no cerebelo, pois a via é homolateral. pequeno território sensitivo situado no pavilhão auditivo e
meato acústico externo. O território sensítivo dos diversos
Por essas vias, os impulsos proprioceptivos originados
nervos que veiculam a sensibilidade somática da cabeça é
na musculatura estriada esquelética chegam até o cerebelo.
mostrado na Figura 10.2 . Estudaremos separadamente as
vias trigeminais exteroceptivas e proprioceptivas.
2.5 Viasda sensibilidade visceral
O receptor visceral geralmente é uma terminação 3.1.1 Via trigeminai exteroceptiva
nervosa livre, embora existam também corpúsculos de
Os receptores são idênticos aos estudados a propósíto
Vater Paccini na cápsula de algumas vísceras. Os Impulsos
das vias medulares de temperatura, dor, pressão e tato. São
nervosos originados nas vísceras, em sua maioria, são In-
responsáveis pela sensibilidade da face. fronte e parte do
conscientes, relacionando-se com a regulação reflexa da escalpo, mucosas nasais, selos maxilares e frontais, cavida-
atividade visceral. Contudo, interessam-nos principalmen- de oral, dentes, dois terços anteriores da língua, articulação
te aqueles que atingem níveis mais altos do neuroeixo e temporomandibular, córnea, conjuntiva e dura-máter das
tornam-se conscientes, sendo mais importantes, do ponto fossas média e anterior do c,anlo. Os neurônios dessa via
de vista clinico, os que se relacionam com a dor visceral. O são descritos a seguir (Figura 29.4).
trajeto periférico dos impulsos viscerais costuma ser feito
através de fibras viscerais aferentes que percorrem nervos
simpáticos ou parassimpáticos. No que se refere aos impul- 1 Admite-se que o nervo vago tenha pouca ou nenhuma importAncia na
sos relacionados com a dor visceral, há evidência que eles conduç~o de impulsos dolorosos viscerais.

270 Neuroanatomia Funcional


---- --- Área
do pé
_..... -- _.- Área
da mão

Corpo caloso .. _ ... _


Cápsula interna
...............

--
Tálamo
..............
............ Neurônio Ili no núcleo
ventral poslerolateral

MESENCÉFALO
--·
..... ~
... ••
~ ·/
,.
--- - - - - Lemnisco medial

''-- - - - - - - Sub$tôncia negra

PONTE o

:••.......
,,,
BULBO

Neurônio li na núcleo cuneiforme -- - - --------

~ - - - - - - - - F a s cículo cuneiforme
Fascículo grócil

Fibra arqueado interno

Oecussoçõo dos lemniscos

Neurônio I no gânglio espinal ~ - - - -- - - Fasclculo cuneiforme

Prolongamento periférico " ---------Ramooscendente


do neurônio 1
Prolongamento central
,

' ',, --- --


-''·•· · : , .: ,,, .. •

..-7-:::;:::jl,...,__--------- - - - - -
,,. / . -...,.
.v·

Ramo descendente
do neurônio 1 .___ / ··\ -~;'~\..._.i::- _ _ _ _ _
- -... .._ _,,,, / (··-··:: ;'
.'
--- - - - Fascículo grácil

Figura 29.3 Representação esquemalica da via de propriocepçc\o consciente, tato epicrítico e sensibilidade vibratória.

• Capítulo 29 Gran~ Vias Aferentes 271


a) Neurôníos I - neurônios situados nos gânglios do tipo pseudounipolar. O prolongamento periférico des-
sensitivos anexos aos nervos V. VII, IX e X, ou seja: ses neurônios liga-se a fusos neuromusculares. situados na
gânglio trigeminai (V par); gânglio geniculado (VII musculatura mastigadora, mímica e da língua. Liga-se, tam-
par); gânglio superior do glossofaríngeo; e gânglio bém, a receptores na articulação temporomandibular e nos
superior do vago. Os prolongamentos periféricos dentes, os quais veiculam informações sobre a posição da
desses neurônios ligam-se aos receptores, enquan- mandíbula e a força da mordida. Alguns desses prolonga-
to os prolongamentos centrais penetram no tronco mentos levam impulsos proprioceptivos inconscientes ao
encefálico, onde terminam fazendo sinapse com os cerebelo. Admite-se também que uma parte desses pro-
neurônios li. 1/\ les~o do gangliQ 1!1.gemloal ou ae longamentos faz sinapse no núcleo sensitivo principal (neu-
ua raiz sensitiva resulta em peraa da sensibiliaa- rónio/{), de onde os impulsos proprioceptivos conscientes,
i:le tátil. térmica e dolorosa na_metade ipsilaLc.ral da através do lemnisco trigeminai, vão ao tálamo (neurônio Ili)
i(a_ce, cavíclãa~oral e clentes. e de lá ao córtex.
b) Neurônios li - localizados no núcleo do trato espi-
nal ou no núcleo sensitivo principal do trigémeo. 3.2 Via gustativa
Todos os prolongamentos centrais dos neurônios 1 3.2.1 Receptores gustativos
dos nervos VII, IX e X terminam no núcleo do trato
Os receptores são as células gustativas situadas em
espinal do V. Os prolongamentos centrais do V par
botões gustativos. distribuídos na parede das papilas da lín-
podem terminar no núcleo sensitivo principal, no
gua e nas paredes da faringe, laringe e esôfago proximal.
núcleo do trato espinal ou. então, bifurcar. dando
As fibras nervosas aferentes fazem sinapses com a base das
um ramo para cada um desses núcleos (Figura
células gustativas. Essas células são quirniorreceptores sen-
29.4). Embora o assunto seja ainda controvertido,
síveis a substâncias químicas com as quais elas entram em
admite-se que as fibras que terminam exclusiva-
contato, dando origem a potenciais elétricos que causam a
mente no núcleo sensitivo principal levam impulsos
ilberaç~o de neurotransmissores que. por sua vez, desenca-
de tato discriminativo; as que terminam exclusiva-
deiam potenciais de ação que seguem pelas fibras nervosas
mente

no núcleo do trato espinal levam impulsos
aferentes dos nervos facial, glossofaríngeo e vago.
de temperatura e dor, e as que se bifurcam, termi-
nando em ambos os núcleos, provavelmente rela- Os impulsos originados nos receptores situados nos
cionam-se com tato protopático e pressão. Assim, dois terços anteriores da língua, após um trajeto perifé-
quando se secciona cirurgicamente o trato espinal rico pelos nervos lingual e corda do tímpano, chegam
(tratotomia) para tratamento da neuralgia do trigt- ao SNC pelo nervo Intermédio (VII par). Os Impulsos do
meo, desaparece completamente a sensibilidade terço posterior da língua e os da epiglote e do esôfago
térmica e dolorosa, sendo muito pouco alterada a proximal penetram no sistema nervoso central, respec-
sensibilidade tátil, cujas fibras continuam a termi- tivamente, pelos nervos glossofaringeo (IX) e vago (X)
nar em grande parte do núcleo sensitivo principal. (Figura 10.3).
Os axónios dos neurônios 11, situados no núcleo do
3.2.2 Via gustativa
trato espinal e no núcleo sensitivo principal, em
sua grande maioria, cruzam para o lado oposto e a) Neurônios I - localizam-se nos gânglios genicula-
inflectem-se cranialmente para constituir o lemnis- do (VII), inferior do IX e inferior do X (Figura 29.S).
co rrigeminal, cujas fibras terminam fazendo sinap- Os prolongamentos periféricos desses neurônios
se com os neurônios Ili. ligam-se aos receptores; os prolongamentos cen-
c) Neurônios Ili - localizam-se no núcleo ventral pos- trais penetram no tronco encefálico, fazendo si-
teromedlal do tálamo. Originam fibras que, como napse com os neurônios li, após trajeto no trato
radiações talâmlcas, ganham o córtex, passando solitário (Figura 29.S).
pela cápsula interna e coroa radiada. Essas fibras b) Neurônios li - localizam-se na porção gustativa do
terminam na porção da área somestésica, que cor- núcleo do trato solitário. Originam as fibras solitá-
responde à cabeça. ou seja, na parte inferior do giro rio-tal~micas, que terminam fazendo sinapse com
pós-central (áreas 3, 2 e 1 de Brodmann). os neurônios Ili no tálamo do mesmo lado e do
lado oposto.
3.1.2 Via trigeminai proprioceptiva c) Neurônios Ili - localizam-se no tálamo, no mesmo
Ao contrário do que ocorre nas vias já estudadas, os núcleo aonde chegam os impulsos que penetram
neurônios Ida via proprioceptiva do trigêmeo não estão em pelo trigémeo, ou seja, no núcleo ventral poste-
um gânglio, e sim no núcleo do trato mesencefálico (Figura romedial. Originam axônios que, como radiações
29.4). Os neurônios desse núcleo têm, por conseguinte, o talâmicas, chegam à área gustativa do córtex cere-
mesmo valor funcional de células ganglionares. São neurô- bral, situada na parte anterior da ínsula e parte infe-
nios idênticos aos ganglionares, de corpo muito grande e rior do giro pós-central.

2 72 Netlmanatoml• Funcional


Área do cabeço

- Lemnisco lrigeminol (ventroij


fibras exteroceptivos

\~ MESENCÊFALO

,,
""' '
\'\ \ /
~ - - - - Nervo oFtólmico

- - - Nervo maxilar

Nervo
.,,.,. mandibular

I
I
I
I
I
I
I
I
I
Neurônio I no gânglio trigeminai
/
/
/
Trato e,pinol do nervo trigémeo _/ /
/ ' - -- - - Núcleo motor do nervo trigémeo
.,,. .,,,. .,,,,,,,, .,,. BULBO

Neurônio li no núcleo do traio


espinal do nervo trigémeo

Agura 29.4 Representação esquem~tica das vias trigeminais.

• Capítulo 29 Grandes V'tc1SAferentes 273


MESENC~FALO

- -- Núcleo do trato solitário


1
- - - - - - Troto solitário
/ /
I
/ , - - - - Neurônio I no
/ / gânglio geniculado
PONTE I

VII par
Fibras solitório-tolâmlcos - - - - - - (2/3 anteriores do língua)
IX por
BULBO ~'-f§;~í,---/:-_,:!.;', (1/3 posterior do língua)

Neurônio li no núcleo do troto 501itário _L._____


___...,.f!!l:.'
fj!/j,'
r~,----x
'
por (epiglote)

:f:!!h
~~:: t I ','
''If/: I I Neurônio I no gânglio inferior
{lj I do nervo glossofaríngeo
1
1
Neurônio I no gânglio inferior do nervo vogo

Flgura 29.S Representação esquemática da via gustativa.

3.3 Via olfatória são neurônios bipolares, localizados em um neuroepitélio


especializado, situado na porção mais alta da cavidade nasal.2
3.3.1 Receptores olfatórios
Os receptores são quimiorreceptores, os cílios olfatórios
das vesículas olfatórias, pequenas dilatações do prolongamen- 2 No llomem, existem 12 milhões de c.élulas olfarórias. Esse número, no c.a-
to periférico das células olfatórias. Essas células (Figura 29.6) chorro, ~ de I bílhilo, o que explica a !.lia enorme St'nsíbilldade olíatória

274 Neuroanatomia Funcional

,, .,
.
·- -- -- -- . - . .
_, -,.__ . -.
,J
Na membrana dos cílios olfatórios, encontram-se recepto- celular, sendo este um dos poucos exemplos de pro-
res químicos, aos quais se ligam as moléculas odorantes, liferação neuronal em adultos. Os prolongamentos
efetuando a transduçao qulmloneural, ou seja, a trans- centrais dos neurónios I sao amielínicos, agrupam-se
formação de estímulos qufmicos em potenciais de ação. em feixes formando filamentos que, em conjunto,
A molécula de odorante deve encontrar o seu receptor constituem o nervo

olfatório. Esses filamentos atra-
especifico entre os vários tipos de receptores diferentes. vessam os pequenos oriflcios da lamina crívosa do
No neuroepitélío olfatório do homem, existem 400 tipos osso etmoíde e terminam no bulbo olfatório, onde
de receptores, formados por proteínas receptoras. Essa di- as suas fibras fazem sinapse com os neurônios li.
versidade de receptores permite a discriminação de ampla b) Neurônios li - são as chamadas célu/05 mirrais, cujos
variedade de agentes odoríferos. dendritos, muito ramificados, fazem sinapse com
as extremidades ramifi cadas dos prolongamentos
3.3.2 Via olfatória
centrais das células olfatórias (neurônios 1), consti-
a) Neurônios I - são as próprias célulos olfatórios, neu- tuindo os chamados glomérulos olforórios (Figura
rônios bipolares localizados na mucosa olfatória (ou 29.6). Os axónios mielínicos das células mitrais se-
mucosa pituitária), situada na parte mais alta das fos- guem pelo trato olfatório e ganham as estrias olfa-
sas nasais (Figura 29.6). Esses neurónios são reno- tórias lateral e medial. Admite-se que os impulsos
vados a cada 6 a 8 semanas, mediante proliferação olfatórios conscientes seguem pela estria olfatória

Células mitrais
(neur6nios li) ----- \ - --- Glomérulo olfotórlo
. \ / r - -- Bulbo olfat6rio
Troto olfatóno - - - - \ f I
\ \ I I
• Áteo $ef>tal - - - , \ \ f / ,.. - - Nervo olfatório
1 \ \ t I I
Estria olfot6ria ~edial \ \ \\ t I f
t I r - Seio frontal
\ 1 \ \ J I I t
J I I 1
\ \ \
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\ f I 1
\ \
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\
\
Giro paro-hipocampal 1 1 1
1 ' \ , \ Célula olfatório (neurônio 1)
1
Unco --- - - -' 1 1 \ \ \ - - -- Concho nasal médio
1 1 \ 1
I I \
Lfmen do ínsula -- - ..J / \ \_ _ _ _lâmina Cfivosa do etmoide
1
Estria olfat6ria lateral -- - ' \ ___ ___ _ _ Concho nasal superior

Figura 29.6 Representação esquemática da via olfatória.

• Capítulo 29 GrandesVias Aferentts 275

• - --- - • •• -- 1,
•:_,..._,.
• ' • . .-~◄
lateraP e terminam na área cortical de projeção oposto. As fibras do lemnisco lateral terminam fazen-
primária para a sensibilidade olfatória situada no do sinapse com os neurônios Ili no colículo inferior.
unco, correspondendo ao chamado córtex plri- Há certo número de fibras provenientes dos núcleos
forme. Este tem projeção para o tálamo que, por cocleares que penetram no lemnisco lateral do mes-
sua vez, projeta-se para o córtex orbltofrontal (giro mo lado, sendo, por conseguinte, homolarerais.
reto e giros olfatórios), também responsável pela c) Neurônios Ili - a maioria dos neurônios Ili da via
percepção olfatória consciente. Esrudos de resso- auditiva está localizada no coliculo inferior. Seus
ntlncia magnética funcional no homem mostraram axõnios dirigem-se ao corpo genículado medial,
a existência de projeções olfatórias para o sistema passando pelo braço do colículo inferior.
límbico, o que explica situações em que os odores d) Neurônios IV - estão localizados no corpo genicula-
são associados a emoções diversas, como a aversão do medial. Seu núcleo principal é organizado tono-
(amígdala) ou o prazer (núcleo accumt>ens). topicamente e os seus axõnios formam a radiação
A via olfatória apresenta as seguintes peculiaridades: audiriva, que, passando pela cápsula interna, chega à
área auditiva do córtex (áreas 41 e 42 de Brodmann),
a) Tem apenas os neurônios I e li. situada no giro temporal transverso anterior.
b) O neurônio ! localiza-se em uma mucosa e não em
um gânglio. Admite-se que a maioria dos impulsos auditivos chega
c) Impulsos olfatórios conscientes vão diretamente ao ao córtex através de uma via como a aqui descrita, ou seja,
córtex sem um relé talamico. envolvendo quatro neurônios. (ntretanto, muitos impulsos
auditivos seguem um trajeto mais complicado, envolvendo
d) A área cortical de projeção é do tipo alocórtex e
um número variável de sinapses em três núcleos situados ao
não isocórtex, como nas demais vias.
longo da via auditiva, ou seja, núcleo do corpo trapezoide,
e) É totalmente homolateral, ou seja, todas as informa-
• núcleo olivar superior e núcleo do lemnisco lateral. Apesar
çôes originadas nos receptores olfatórios de um lado de bastante complicada, a via auditiva mantém organização
chegam ao córtex olfatório desse mesmo lado. tonotópica, ou seja, impulsos nervosos relacionados com
Alucinações olfatórias podem ocorrer como conse- tons de determinadas frequências seguem caminhos es-
qu~ncia de crises epilépticas focais originadas no córtex ol- pecíficos ao longo de toda a via, projetando-se em partes
fatório, as chamadas crises uncinadas, nas quais as pessoas específicas da área auditiva.
sentem cheiros que não existem naquele momento. A via auditiva apresenta duas peculiaridades:
a) Apresenta grande número de fibras homolaterais.
3.4 Via auditiva
Assim, cada área auditiva do córtex recebe impul-
3.4.1 Receptores auditivos sos originados na cóclea do seu próprio lado e na
Os receptores da audição localizam-se na parte coclear do lado oposto, sendo Impossível a perda da audi-
do ouvido Interno (Figura 29.7). São os cílios das células ção por lesão de uma só área auditiva.
sensoriais, situadas no chamado órgão de Corti, estrutura b) Apresenta grande número de núcleos relés. Assim,
disposta em espiral, localizada na cóclea, onde está em con- enquanto nas demais vias o número de neurônios
tato com um líquido, a perilinfa. Esta vibra em consonancia ao longo da via é geralmente três, na via auditiva
com a membrana do tímpano, ativando os cílios e originan- esse número é de quatro ou mais.
do potenciais de ação, que seguem pelas vias auditivas.
3.5 Vias vestibulares consdentes e Inconscientes
3.4.2 Vias auditivas 3.5.1 Receptores vestibulares
a) Neurônios/ - localizam-se no gânglio espiral situado Os receptores vestibulares são cílios de células senso·
na cóclea. São neurônios bipolares, cujos prolonga- riais situadas na parte vestibular do ouvido interno (Figura
mentos periféricos são pequenos e terminam em 29.7) em contato com um líquido, a endollnfa. Do ponto
contato com as células ciliadas do órgão de Corti. de vista anatômico, distinguem-se na parte vestibular dois
Os prolongamentos centrais constituem a porção conjuntos de estruturas, o utrículo e o sáculo e os tr~s ca-
coclear do nervo vestlbulococlear e terminam na nais semicirculares (Figura 29.7). Os receptores situados
ponte, fazendo sinapse com os neurônios li. no utrículo e no sáculo localizam-se em epitélios sensoriais,
b) Neurônios li - situados nos núcleos cocleares dorsal denominados máculas, cujos cílios são ativados pela gravi-
e ventral (Figura 29.8). Seus axónios cruzam para o dade Informando sobre a posição da cabeça. A.s células sen-
lado oposto, constituindo o corpo trapezoide, con- soriais dos canais semicirculares localizam-se em estruturas
tornam o complexo olivar superior e lnflectem-se denominadas cristas, situadas em dilatações desses canais,
cranialmente para formar o lemnisco lateral do lado as ampolas (Figura 29,7). A movimentação da endolinfa,
que ocorre quando se movimenta a cabeça, ativa os cílios
3 As fibras da estria olfatória medial incorporam-se à comissura anterior e das células sensoriais, dando origem à movimentação refle-
terminam no bulbo olfatórlo do lado oposto. xa dos olhos (Capítulo 17, item 2.2.5).

276 NeuroanatomlaFuncional
Conol semicircular
Soco endolinfótico superior
Glônglio
Ampolos
vestibular Porte vestibular do nervo
vestlbulococleor
Conol semicircular posterior
,1-:-;:\'\;'\.,.
~-~·
-LO-X7'- -
Nervo facial

Porte cocleor do nervo


vestibulococleor
Canal semiclrculor loleral

Utrículo
Sóculo
Gânglio esplrol

Flgura 29.7 Desenho do ouvido interno mostrando as partes cocfear e vestibular.


Área auditivo
e -42)
Giro temporal
transverso anterior

Radiação auditivo
.•
••
'\.\,
~

Neurônio IV no corpo
..:_ geniculodo medial

.. _ -- MESENCÉ.FALO
- . Neurônio Ili no núcleo
do collculo inferior
Coliculo inferior
Núcleo do lemnisco
- - --- - - 1olera1
lemnisco lateral--- - - - --- - ->------ -----Lemnisco lateral
,,
Neurônio li no núcleo ,-Núcleo olívor superior
cocleor dorsal " Pedúnculo cerebelor inferior
1
1
Porçôo coclear do nervo PONTE
vestibulococlear
Neurônio I no 1
1 1
gânglio espir?I 1 1
1
' 1
1
1
Corpo trqpezoide \
1
1 \,
Neurônio li no núcleo Núcleo do corpo trapezoide
cocleor ventral

Figura 29.8 Representação esquemática da via auditiva.

• Capitulo 29 Grandes Vias Aferentes 277

.....
--·
3.5.2 Vias vestibulares pigmentar da retina. A parede, ou camada interna, do cálice
óptico dá origem à camada nervosa da retina, onde se dife-
a} Neurónios I - células bipolares localizadas no gân- renciam os u~s primeiros neurônios (1, li e Ili) da via óptica
glio vestibular. Os seus prolongamentos periféricos, (Figura 29.9).
pequenos, ligam-se aos receptores, e os prolon- Na parte posterior da retina, em linha com o centro da
gamentos centrais, muito maiores, constituem a pupila, ou seja, com o eixo visual de cada olho, existe uma
porção vestibular do nervo vestibulococlear, cujas área ligeiramente amarelada. a mácula lútea, no centro da
fibras fazem sinapse com os neurônios li. qual se nota uma depressão, a /óveo central. A mácula corres-
b) Neurônios li - localizam-se nos núcleos vestibula- ponde à área da retina onde a visão é mais distinta. Os movi-
res. A partir desses núcleos, temos a considerar mentos reflexos do globo ocular fixam, sobre as máculas. a
dois trajetos, conforme se trate de via consciente imagem dos objetos que nos interessam no campo visual. A
ou inconsciente. visão nas partes periféricas não maculares da retina é pouco
► Via inconsciente - axõnios de neurônios li dos nítida e a percepção das cores se faz de forma precária. A
núcleos vestibulares formam o fascículo vesti- estrutura da retina é muito complexa, distinguindo-se nela
bulocerebelar, que ganha o córtex do vestibu- dez camadas. uma das quais é a camada pigmentar, situada
locerebelo, passando pelo pedúnculo cerebelar externamente. O estudo das nove camadas restantes pode
inferior (Figura 15.2). Fazem exceção algumas ser simplificado levando-se em conta apenas a disposição
fibras que vão diretamente ao cerebelo, sem dos três neurônios retinianos principais. Distinguem-se,
sinapse nos núcleos vestibulares (Figura 15.2). então, três camadas, que correspondem aos territórios dos
► Via consciente - a existência de conexões entre neurônios 1, li e Ili da via óptica, ou seja, de fora para dentro:
os núcleos vestibulares e o córtex .cerebral foi a camada das células fotossenslveis (ou fotorreceptoras); das
negada durante muito tempo, mas hoje está células bipolares; e das células ganglionares (Figura 29.9).
estabelecida com base em dados dínicos e ex- As células fotossensíveis estabelecem sinapse com as
perimentais. Contudo, há controvérsia quanto células bipolares, que, por sua vez. fazem sinapse com as cé-
ao trajeto da via, embora a existência de um lulas ganglionares, cujos axônlos constituem o nervo óprico
relé talàmico seja geralmente admitida. (Figura 29.9). Os prolongamentos periféricos das células fo-
c) Neurónios Ili - não há uma área puramente vestibu- tossensíveis são os receptores da visão, cones ou bastonetes,
lar, como ocorre em outras modalidades sensoriais. de acordo com a sua forma. Os raios luminosos que incidem
As principaisencontram-se no sulco lateral e córtex sobre a retina devem atravessar suas nove camadas internas
insular posterior e no lobo parietal, em uma peque- para atingir os fotorreceptores, cones ou bastonetes. A exci-
na região próxima ao território da área somestésica tação destes pela luz dá origem a impulsos nervosos. proces-
correspondente à face. so este chamado de fototronsdução. Os impulsos caminham
em direção oposta à seguida pelo raio luminoso. ou seja, das
O nervo vestibular transmite informações sobre a acele-
células fotossensíveis para as células bipolares e destas para
ração da cabeça para os núcleos vestibulares do bulbo que,
as células ganglionares, cujos axônios constituem o nervo
então, as distribui para cenLros superiores. As informações
óptico (Rgura 29.9), que contém mais de 1 milhão de fibras.
ajudam a manter o equilíbrio e a postura, permitindo cor-
Os bastonetes são adaptados para a visão com pouca
reções por retroalimentação. As vias vestibulares também
luz. enquanto os cones são adaptados para a visão com luz
controlam reflexos oculares para estabilizar a Imagem na re-
de maior Intensidade e para a visão de cores. Nos animais de
tina, em resposta à movimentação da cabeça. Esses reflexos
hábitos noturnos, a retina é constituída de modo preponde-
foram estudados no Capítulo 17, item 2.2.5.
rante, ou exclusivo, de bastonetes; enquanto, nos animaisde
hábitos diurnos, o predomínio é quase total de cones. Existem
3.6 Via óptica
três tipos de cones, cada um deles sensível a uma faixa dife-
Estudaremos inicialmente o trajeto dos impulsos nervo- rente do espectro luminoso, e o cérebro obtém a Informação
sos na retina, onde se inicia a sensação da visão, e, a seguir, sobre a cor ao analisar a resposta à ativação desses três tipos
o seu trajeto do olho até o córtex do lobo occipital. onde se de cones. No homem, o número de bastonetes é cerca de 20
inicia o processamento necessário à percepção visual. vezes maior do que o de cones. Contudo, a distribuição dos
dois tipos de receptores não é uniforme. Assim, enquanto
3.6.1 Estrutura da retina nas partes periféricas da retina predominam os bastonetes, o
Os receptores visuais, assim como os neurônios 1, li e número de cones aumenta progressivamente à medida que
Ili da via óptica, localizam-se na retina, neuroepitélio que se aproxima da mácula, até que, ao nível da fóvea central,
reveste o Interior da cavidade do globo ocular, posterior- existem exclusivamente cones. Nas partes periféricas da re-
mente à íris. Do ponto de vista embriológico. a retina forma- tina, vários bastonetes ligam-se a uma célula bipolar e várias
-se a partir de uma Invaginação do diencéfalo primitivo, a células bipolares fazem sinapse com uma célula ganglionar
vesícula óptica, que, logo, por um processo de introflexão, (Figura 29.9). Assim, nessas áreas, uma fibra do nervo óptico
transforma-se no cálice óptico, com parede dupla. A pare- pode estar relacionada com até 100 receptores. Na mácula,
de, ou camada externa do cálice óptico. origina a camada entretanto, o número de cones é aproximadamente Igual ao

278 Neuroanatomla Funcional


de células bipolares e ganglionares. ou seja, cada célula de Denomina-se retina nasal a metade medial da retina
cone faz sinapse com uma célula bipolar, que, por sua vez, de cada olho, ou seja, a que está voltada para o nariz. Reti-
líga-se a uma célula ganglionar (Figura 29.9). Desse modo, no temporal é a metade lateral da retina de cada olho, ou
para cada cone há uma fibra no nervo óptico. Essas carac- seja, a que está voltada para a região temporal. Denomina-
terísticas estruturais da mácula explicam sua grande acuida• -se campo visual de um olho a porção do espaço que pode
de visual e permitem entender o fato de que, apesar de a ser vista por este olho, estando ele fixo. No campo visual
mácula ser uma área pequena da retina, ela contribui com de cada olho, distingue-se. como na retina, uma porção
grande número de fibras para a formação do nervo óptico e lateral, o campo temporal, e uma porção medial, o cam-
tem uma representação cortical muito grande. po nasof. É fácil verificar, pelo trajeto dos raios luminosos
Como já foi referido, o nervo óptico é formado pelos (Figura 29.10), que o campo nasal se projeta sobre are-
axônios das células ganglionares, que são inicialmente tina temporal, e o campo temporal. sobre a retina nasal.
amielínicos e percorrem a superfície interna da retina (Figu- Convém lembrar, enrretanto, que no homem e em muiLos
ra 29.9). convergindo para a chamada papila óptico, situa· animais htl superposição de parte dos campos visuais dos
da na parte posterior da retina, mediaimente ~ mácula. Ao dois olhos, constituindo o chamado campo binocular. A
nível da papila óptica, os axônios das células ganglionares luz originada na região central do campo visual vai para
atravessam as túnicas média e externa do olho. tornam-se os dois olhos. A luz do extremo temporal do hemicampo
miellnicos, constituindo o nervo óptico. Como não há fo- projeta-se apenas para a retina nasal do mesmo lado. Essa
torreceptores ao nível da papila, ela é·também conhecida visão é completamente perdida quando há lesões graves
como ponto cego da retina. Sua importancia clínica é muito na hemirrelina nasal ipsllateral.
grande. pois aí penetram os vasos que nutrem a retina. O No quiasma óptico, as fibras nasais, ou seja, as fibras
edema da papila é um importante sinal indicador da exis- oriundas da retina nasal, cruzam para o outro lado, enquan-
tência de hipertensão craniana. to as fibras temporais seguem do mesmo lado, sem cruza-
mento. Assim, cada trato óptico contém fibras temporais da

-- -- ,.. - - Comodo pigmentar retina de seu próprio lado e fibras nasais da retina do lado
oposto (Figura 29.1 O). Como consequência, os impulsos

----
' . J.-- -------Bastonete

- - - - - • Célula de
nervosos originados em metades homônimas das retinas
dos dois olhos (por exemplo, na metade direita dos dois
bastonete olhos) serão conduzidos aos corpos geniculados e ao cór-
tex desse mesmo lado. Ora, é fácil verificar (Figura 29.1 O)
que as metades direitas das retinas dos dois olhos, ou seja,

.. • - do
cfcuito coroderlstico
retino periférico a retina nasal do olho esquerdo e temporal do olho direito,
recebem os raios luminosos provenientes do lado esquer-
i do, ou seja, dos campos temporal esquerdo e nasal direito.
-- --- - - -Raio luminoso
Entende-se, assim. que, como consequência da decussação
parcial das fibras visuais no quiasma óptico, o córtex visual
Circuito direito percebe os objetos situados à esquerda de uma linha
Nervo corocterístlco vertical mediana que divide os campos visuais. Assim, tam-
óptico do móculo bém na via óptica é válido o principio de que o hemisfério

/
-
-- - cerebral de um lado relaciona-se com as atividades sensiti-
vas do lado oposto.
Cone ',
Neurônios Ili Conforme o seu destino, pode-se distinguir quatro ti-
\ ', ' , [células
'-, ganglionares} pos de fibras nas vias ópticas:
/ \ ... a) Fibras retino-hipotalômicas - destacam-se do
Célula de cone \ Neurônios li (células bipolares)
\ quiasma óptico e ganham o núcleo supraquias-
Neurônios 1{células fotossen&íveis) mático do hipotálamo. São importantes para a
sincronização dos ritmos clrcadianos com o ciclo
Flgur• 29.9 Esquema da disposição dos neurônios na retina.
dia-noite. Pesquisas recentes mostraram que es-
sas fibras têm origem, não em cones e bastone·
3.6.2 Trajeto das fibras nas vias ópticas tes. mas sim em células ganglionares especiais da
Os nervos ópticos dos dois lados convergem para for- retina, que contêm um pigmento fotossensível,
mar o quiasma óptico, do qual se destacam posteriormente a melanopsina, capaz de detectar mudanças na
os dois tratos ópticos, que terminam nos respectivos corpos luminosidade ambiental.
genicufados laterais (Figura 29.1 O). Ao nível do quiasma óp· b) Fibras retinotetais - ganham o calículo superior
tico, as fibras dos dois nervos ópticos sofrem uma decussa- através do braço do calículo superior e est:ío rela-
ção parcial. Antes de estudar essa decussação, é necessário cionadas com reflexos de movimentos dos olhos
conceituar alguns termos: ou das pálpebras. desencadeados por estímulos

• Capítulo 29 Grandes Vias Aferentes 279


nos campos visuais. Como exemplo. temos o refle- No lado direito da Figura 29.1o, estão representados
xo de piscar (Capítulo 17. item 2.24). As camadas os defeitos de campo visual que resultam de lesões da via
profundas do colículo superior têm um mapa do óptica, situados nos pontos indicados do lado esquerdo
campo visual. o que permite direcionar rapida- da figura. Observa-se que as lesões responsáveis pelas he-
mente os olhos em resposta a outros estímulos mianopsias heterónimas localizam-se no quiasma óptico,
sensoriais do ambiente. Os movimentos oculares enquanto as responsáveis pelas hemianopsias homônimas
coordenados pelo colículo superior permitem mu- são retroquiasmáticas. ou seja, localizam-se entre o quiasma
dar rapidamente o ponto de fixação de uma cena e o córtex occipital. A seguir. faremos rápidas considerações
visual para outra. sobre as principais lesões das vias ópticas e suas consequên-
c) Fibras reeíno-pré-tetais - ganham a área pré-tetal, si- cias sobre os campos visuais.
tuada na parte rostral do colículo superior, através a) Lesão do nervo óptico (Figura 29.1OA) - resulta em
do braço do colículo superior, e esrão relacionadas cegueira completa do olho correspondente. Ocor-
com os reflexos fotomotor direto e consensual, des- re. por exemplo, como consequência de traumatis-
critos no Capitulo 17 (item 2.2.6). mo ou em casos de glaucoma, quando o aumento
d) Fibras retinogeniculadas - são as mais importantes, da pressão intraocular comprime e lesa as fibras do
correspondendo a 90% do total de fibras que saem nervo óptico ao nível da papila. O paciente apre-
da retina. pois somente elas se relacionam direta· sentará pupilas dilatadas e não reativas à luz. (Figu-
mente com a visão. Terminam fazendo sinapse com ra 19.16).
os neurônios IV da via óptica, localizados no corpo ge- b) Lesão do porte mediana do quiasma óptico (Figu-
niculado lateral, que tem a mesma representação reti- ra 29.108) - resulta em hemianopsia bitemporal,
notóplca da metade contralateral do campo visual. como consequência da interrupção das fibras pro-
Os axônios dos neurônios do corpo geniculado lateral venientes das retinas nasais que cruz.am nesse nível.
(neurônios IV) constituem a radiação óptico (trato genicu- Esse tipo de lesão ocorre tipicamente nos tumores
localcarino) e terminam na área visual, área 17, situada nos da hipófise, que crescem e comprimem o quiasma
lábios do sulco calca ri no, (neurônio V). de baixo para cima e nos gliomas do quiasma ópti-
Existe correspondência entre partes da retina e partes co (Figura 29.11 ).
do corpo geniculado lateral, da radiação óptica e da área 17. c) Lesão do porte lateral do quiasma óptico (Figura
Na radiação óptica. as fibras correspondentes às partes su- 29.1 OC) - resulta em hemianopsia nasal do olho
periores da retina ocupam posição mais alta e se projetam correspondente. como consequência da inter-
no lábio superior do sulco calcarino; as fibras correspon- rupção das fibras provenientes da retina temporal
dentes às partes inferiores da retina ocupam posição mais desse olho. Esse tipo de lesão ocorre com mais
baixa e projetam-se no lábio inferior do sulco calcarino; as frequência em casos de aneurismas da artéria
fibras que levam Impulsos da mácula ocupam uma posição carótida interna, que comprimem lateralmente o
intermediária e projetam-se na parte posterior do sulco cal- quiasma óptico. Quando a compressão é feita dos
carino. Existe, assim. uma retinotopia perfeita em toda a via dois lados, como consequência de dois aneuris-
óptica, fato este de grande impomncia clínica, pois permite mas. ocorre uma hemianopsia binasal, ou seja, nos
localizar com bastante precisão certas lesões da via óptica campos nasais dos olhos.
com base no estudo das alterações dos campos visuais. d) Lesão do trato óptico (Figura 29.10D) - resulta em
hemianopsia homónima direita ou esquerda, con-
3.6.3 Lesões das vias ópticas forme a lesão se localize, respectivamente, no trato
O conhecimento da disposição das fibras na via óptica óptico esquerdo ou no direito. É fácil verificar, pela
facilita o entendimento dos sintomas que resultam da le- figura. que as lesões de campo, nesse caso. resul-
são de suas diferentes partes. Desses sintomas, sem dúvida, tam da interrupção das fibras provenientes da re-
os mais importantes são as alterações dos campos visuais. tina temporal de um olho e nasal do olho do lado
que devem ser pesquisadas para cada olho isoladamente. O oposto. Lesões desse tipo podem ocorrer como
distúrbio básico do campo visual é o escocoma, que consis- consequência de traumatismos ou tumores que
te em uma falha dentro do campo visual, ou seja. cegueira comprimem o trato óptico. Lesões do corpo geni-
para uma parte desse campo. Quando o escotoma atinge culado lateral dão alterações de campo visual idên-
metade do campo visual, passa a ser denominado hemia- ticas às observadas após lesão do trato óptico.
nopsia. A hemianopsia pode ser heterónimo ou homônimo. e) Lesões da radiação óptica (F1gura 29.1OE e F) - é fá-
Na primeira, são acometidos lados diferentes dos campos vi- cil verificar. pelo trajeto das fibras na via óptica, que
suais, ou seja. desaparece a visão nos campos temporais ou lesões completas da radiação óptica causam alte-
nos campos nasais (Figura 29.1O). Na segunda, fica acome- rações de campo visual idênticas às que resultam
tido o mesmo lado do campo visual de cada olho, ou seja, de lesões do trato óptico, ou seja, ocorrem hemia-
desaparece a visão do campo temporal do olho de um lado nopsías homônimas (Figura 29.1OF). Contudo.
e o campo nasal do olho do lado oposto (Figura 29.1 O). pesquisando-se o reflexo fotomotor na metade

280 Neuroanatomla funcional


Campos visuais
Esquerdo Direíto

T N

Esquerdo Direito

\ Retino nasal
'~ Normal
Retina temporal J
Nervo óptico - - - -

Quiasma óptico - - - ----- A
Troto óptico ---....._ Cegueira total
do olho direito
Corpo
geniculodo _ ,
lateral \

B
Hemionopsio

--- heterónimo bitemporal

c
Hemionopsio
nasal do olho direito

D
Hemianopsio
homônimo esquerdo

E
Ovodrontonopsia
homônima superior esquerdo

1 F
1/ .,.~..,. Hemionopsio
homônimo esquerdo
1/ //
Radiação óptico _J/ //
Área visual, área 17 de Brodmonn (lábios do sulco colcorino)

Figura 29.1 o Representação esquemática das vias ópticas e suas correspondências com os campos visuais nasal (Nl e temporal m de cada
olho. As letras A~F do lado esquerdo indicam lesões nas vias ópticas, que resultam nos defeitos de campo visual, representados do lado
direito. O esquema não leva em conta o fato de que existe uma s1Jperposlção parcial entre os campos visuais dos dois olhos.

• Capitulo 29 Grandes Vias Aferentes 281


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Figura 29.11 Ressonância magnética mostrando um glioma do quiasma óptico em cortes axial, coronal e sagltal (região com hlpersinal).
Fonre: Cortesia Marco Antônio Rodackl.

cega da retina, verifica-se que ele está ausente no lar a transmissão dessas informações através de fibras cen-
caso das lesões do trato óptico e presente no caso trífugas, que agem principalmente sobre os neurônios dos
das lesões da radiação óptica (ou da área 17). Isso se núcleos intermediários existentes nas grandes vias aferen-
explica pelo fato de que, nas lesões do trato óptico, tes, conforme estudado no Capítulo 20, item 3.2. O contro-
há interrupção das fibras retino-pré-tetals. respon- le da sensibilidade pelo SNC manifesta-se geralmente por
sáveis pelo reflexo, o que não ocorre no caso das inibição, e as vias responsáveis pelo processo originam-se
lesões situadas depois do corpo geniculado lateral. no córtex cerebral e sobretudo na formação reticular. Espe-
Na prática, entretanto, as lesões completas da ra- cialmente importantes por suas implicações médicas são as
diação óptica são multo raras. pois as suas fibras es- vias que regulam a penetração no sistema nervoso central
palham-se em um território bastante grande. Mais dos impulsos nervosos responsáveis pela dor. Essas vias se-
frequentemente, ocorrem lesões de parte dessas rão estudadas no próximo item.
fibras. o que resulta em pequenas falhas do cam-
po visual (escotomas) ou falhas que comprometem 4.1 Flslopatologla da dor
todo um quadrante do campo visual e são deno- A dor exerce uma Importante função protetiva aler-
minadas quadranranopsias. Como exemplo, temos tando sobre lesões que coloquem em risco a saúde. Pela
a lesão ilustrada na Figura 29.1 OE, na qual houve sua importfincia clínica, será abordada separadamente. A
comprometimento da metade Inferior direita da percepção da dor é subjetiva e depende de vários fatores.
radiação óptica, resultando em quadrantanopsia Não é expressão direta de um evento sensorial, e sim o re-
homônima superior esquerda, uma vez que são in- sultado de um processamento elaborado dos estímulos
terrompidas as fibras oriundas da metade inferior enviados ao encéfalo. Pode ser aguda com função de alerta
das retinas nasal esquerda e temporal direita. Esse ou crônica, em que geralmente não tem nenhum signi-
é o tipo de alteração dos campos visuais em certos ficado e causa Importante sofrimento ao paciente. A dor
casos de tumor do lobo temporal. persistente pode ser nociceptiva ou neuropática. A noci-
f) Lesões do córtex visual primório (área 17) - as lesões ceptiva ocorre pela ativação de nociceptores. A percepção
completas do córtex visual de um hemisfério dão da dor pode ser drasticamente alterada após lesão teci dual.
alterações de campo Iguais às observadas em le- A sensibilização decorre da liberação de substãncias pelo
sões completas da radiação óptica. Contudo, tam- tecido lesado, como a bradicinina, a substância P, os fatores
bém aqui são mais frequentes as lesões parciais. de crescimento neurais, as prostaglandlnas e a histamina
Assim, por exemplo, uma lesão do lábio inferior do que aumentam a sensibilidade dos receptores e reduzem
sulco calcarino direito resulta em quadrantanopsia o limiar a dor. Provoca também vasodilatação e extravasa-
homônima superior esquerda (Figura 29.lOE). mento de líquidos, edema. A inílamação resulta em maior
liberação de bradiclnina e prostaglandinas, criando um ci-
-4:-;.:;con_@le,da.tránsffii~õ-êfás infõimãçõ~~ensõriàis clo. A via enzimática produtora de prostaglandinas é alvo
dos principais analgésicos e dos anti-inílamatórios não
Sabe-se que o SNC, longe de receber passivamente as hormonais. Esse processo de inflamação depende da ati-
informações sensoriais que chegam a ele, é capaz de modu- vação das terminações nervosas e por isso é denominada

282 Neuroanatomia Funcional


Inflamação neurog~nico. A inflamação causa estimulação nervosos conduzidos pelas grossas fibras mielínicas de tato
dos neurônios do corno posterior. Estimulações prolonga- (fibras A beta) teriam efeitos antagônicos aos das fibras finas
das causam alterações duradouras na excitabilidade desses de dor (fibras A delta e C), estas abrindo, e aquelas fechan-
neurônios e constituem o que chamamos de sensíbilização do o portão. A teoria do portão da dor de Melzack e Wall
central, causando a hiperaigesia e também a dor neuro- marcou o início de grande número de pesquisas sobre os
pática. Nestes casos, ocorre dor exagerada aos estímulos mecanismos de regulação da dor, e ela foi confirmada em
dolorosos com persistência da dor mesmo na ausência do seus aspectos fundamentais. Os ramos colaterais das gros-
estímulo sensorial. O mecanismo envolve um processo de sas fibras táteis dos fascículos grácil e cuneiforme que pene-
sensibilização central dos neurônios do corno posterior tram na coluna posterior inibem a transmissão dos impulsos
que provoca ativação espontânea ou amplificação dos estí- dolorosos, ou seja, fecham o ·portão~ Com base nesse fato.
mulos nociceptivos e dirninui o controle inibitório gabaér- surgiram as chamadas •técnicas de estimulação transcutá-
gicos sobre esses neurônios. nea: que consistem na estimulação, feita por meio de ele-
A dor neuropática resulta da ativação de nervos periféri- trodos colocados sobre a pele, das fibras tátels de nervos
cos ou do SNC e é geralmente em queimação. A dor regional periféricos. A inibição dos impulsos dolorosos por estímulos
complexa causada até por lesões pequenas aos nervos pe- táteis explica também o alívio que se sente ao esfregar um
riféricos, a neuralgia pós-herpética, a neuralgia do trigêmeo, membro dolorido ou o alivio que sentimos pelo simples ba-
assim como a dor fantasma que ocorre após a amputação lançar reflexo da mão após um trauma.
de membros, são alguns exemplos. As dores após leões do Existem áreas encefálicas capazes de suprimir a dor. Em
SNC, como na esclerose múltipla, após acidentes vascula- 1969, Reynolds descobriu que, estimulando a substância
res encefálicos e lesões da medula sAo exemplos de dor cinzenta periaquedutal do rato, obteve uma analgesia tão
neuropática central. A dor neuropática habitualmente não acentuada que permitiria a realização de cirurgias abdomi-
responde bem a anti-inflamatórios e mesmo aos opioides. nais no animal, sem anestesia. Efeito semelhante pôde ser
A perda do controle inibitório é um dos fatores envolvidos obtido também por estimulação do núcleo magno da rafe,
e justifica o uso de medicamentos como a pré-gabalina e a pertencente à formação reticular. A analgesia obtida nesses
gabapentina pela similaridade com o GABA, principal neu- casos depende de uma via que liga a substancia cinzenta pe-
rotransmissor inibitório do sistema nervoso. riaquedutal ao núcleo magno da rafe, de onde partem fibras
O tálamo é o principal destino das fibras do corno pos- serotoninérgicas que terminam em neurônios internunciais
terior da medula. Uma lesão no tálamo lateral provoca um encefailnérgicos situados no núcleo do trato espinal do
tipo de dor neuropática central, conhecida como dor talô- trigêmeo e na substância gelatinosa da medula (Figura
mfca, em que o paciente experimenta dores espontãneas 29.12). Esses neurônios inibem a sinapse entre os neurô-
em queimação ou disestesias contralaterais. A insula está nios I e li da via da dor, mediante liberação de um oplolde
também envolvida na percepção e na reação emocional à endógeno, a encefalino, substância do mesmo grupo quími-
dor, e recebe informações do tálamo e do córtex somato- co da morfina. Receptores para oploides existem também
sensitivo. Lesões da insula causam a síndrome de assimbolia na substãncia cinzenta periaquedutal. Assim, a atividade
para a dor. O paciente percebe a dor, porém deixa de ter a analgésica da morfina, substância usada para o tratamen-
resposta emocional apropriada. to de quadros dolorosos intensos, se deve à ativação dos
A possibilidade de convergência dos estímulos noci- receptores para opioides existentes na via para a analgesia
ceptivos somáticos e viscerais sobre o mesmo neurônio do aqui descrita. A instilação de morfina no espaço subaracnói-
corno posterior explica o mecanismo da dor referida. A dor deo da medula é muito eficiente e é geralmente realizada
visceral pode ser percebida como originária de um território em pacientes com câncer. Os fármacos, como a fluoxetina,
cutãneo, como no infarto agudo do miocárdio em que a dor utilizados como antidepressivos, são eficientes também no
é frequentemente percebida no braço esquerdo. tratamento de dores crônicas. Eles agem disponibilizando a
serotonina nas sinapses das fibras serotoninérgicas que, do
4.1.1 Regulação da dor edasvias da analgesia núcleo magno da rafe, vão à subst~ncia gelatinosa da me-
Existem várias áreas encefálicas envolvidas na percep- dula. A substância cinzenta periaquedutal recebe aferências
ção da dor e que fazem projeções sobre os neurônios do das vias neo- e paleoespinotalâmicas, bem como da área so-
corno posterior da medula. Em 1965, Melzack e Wall publica- mestésica do córte)(. Assim, os próprios estímulos nocicep-
ram importante trabalho propondo a teoria segundo a qual tivos que sobem pelas vias espinotalâmicas podem inibir a
a penetração dos impulsos dolorosos no SNC seria regulada entrada de Impulsos dolorosos no SNC.
por neurônios e circuitos nervosos existentes na substància Outra via de controle central da dor são as projeções do
gelatinosa da coluna posterior da medula, que agiria como sistema noradrenérgico, oriundas do lócus ceruleus e de ou-
um •portão: impedindo ou permitindo a entrada de impul- tros núcleos da ponte e bulbo. Em determinadas situações,
sos dolorosos. O portão seria controlado por fibras descen- os mecanismos modulatórios da dor podem se tornar mais
dentes supraspinais e pelos próprios impulsos nervosos que ativos e explicam por que indivlduos sob forte estresse ou
entram pelas fibras das raízes dorsais. Assim, os impulsos com ferimentos graves tenham menos percepção da dor.

• Capitulo 29 Gnndes Vias Aferentes 283


Substância cinzenta
- - - perioquedutal

........ ........
"" Núcleo mogno do rofe

Fibra rafe espinal-------

_____ Troto e5pinotolômico


Neurônio lateral
encefolinérgico
........ , ........

Troto posteroloteral _______ _


de lissouer
1
1
1
Substância gelatinoso

Figura 29.12 Via para a analgesia.

284 Neuroanatomia Funcional


Grandes Vias Eferentes

-3.~--Vias eferentessomáticas
As grandes vias eferentes põem em comunicação os O sistema motor somático é constituído pelos mús-
centros suprassegmentares do sistema nervoso com os culos estriados esqueléticos e todos os neurônios que os
órgãos efetuadores. Podem ser divididas em dois grandes comandam, permitindo comportamentos variados e com-
grupos: vias eferenres somóricas; e vias eferenres viscerais, ou plexos através da ação coordenada de mais de 700 mús-
do sistema nervoso autônomo. As primeiras controlam a culos. Várias vias projetam-se, direta ou indiretamente, dos
atividade dos músculos estriados esqueléticos, permitindo centros motores superiores para o tronco encefálico e para
a realização de movimentos voluntários ou automáticos, re- a medula. Um dos aspeaos importantes da função mo-
gulando ainda o tônus e a postura. As segundas, ou seja, as tora é a facilidade com que executamos os atos motores
vias eferentes do sistema nervoso autônomo, destinam-se sem pensar sobre qual músculo contrair. Apenas geramos
ao músculo liso, ao músculo cardíaco ou às glândulas, regu- a intenção e o restante acontece automaticamente. Só nos
lando o funcionarnento das vlsceras e dos vasos. damos conta da complexidade do sistema quando sofre-
mos lesão dos centros motores ou privação de informação
lllVlaseterentes vfsceíáts·dosistemanervosó~autôiioniô sensorial. Por mecanismos de rctroalimentação, usamos
Nos Capítulos 11 e 12, estudou-se a parte periférica do Informações dos receptores da pele. articulações e fusos
sistema nervoso autónomo, ressaltando-se as diferenças neuromusculares para corrigir um movimento em anda-
anatômicas entre esse sistema e o somático, ou seja, a pre- mento, de modo a ajustar e manter a força de contração.
sença de dois neurônios, pré- e pós-ganglionares, entre o A ação do sistema nervoso é antecipatória e usa a expe-
sistema nervoso central (SNC) e os órgãos efetuadores no riência aprendida, assim como a informação sensorial, para
sistema nervoso autônomo, e um só neurónio no sistema prever e ajustar o movimento. Por exemplo, quando uma
nervoso somático. A influência do sistema nervoso supras- bola é lançada e o goleiro deve pegá-la, ele usa a visão
segmentar sobre a atividade visceral se exerce, pois, neces- para prever a sua velocidade e a distância para colocar-
sariamente, por meio de impulsos nervosos, que ganham -se na posição exata para agarrá-la. Após a bola tocar suas
os neurônios pré-ganglionares, passam aos neurônios pós- mãos, usa a retroalimentação para ajustes motores para
-ganglionares, de onde se distribuem às vísceras. As áreas evitar sua queda, manter seu equillbrio, postura e força ne-
do sistema nervoso suprassegmentar que regulam a ativi- cessárias para não soltar a bola.
dade do sistema nervoso autônomo estão no hipotálamo e Quando se quer mover o corpo ou parte do corpo. o
no sistema límbico. Essas áreas ligam-se aos neurónios pré- cérebro forma a representação do movimento, planejando a
-ganglionares, por meio de circuitos da formação reticular, ação em toda sua extensão antes de executá-la. Essa repre-
através dos tratos reticulospinais. Além dessas vias indiretas, sentação é denominada programo motor, que especifica os
existem também vias diretas, hipotálamoespinais, entre o aspectos espaciais do movimento, ângulos de articulação,
hipotálamo e os neurônios pré-ganglionares, tanto do tron- força etc. A seguir, serão revisados os tratos das vias eferen- 1

co encefálico como da medula. tes somáticas.


3.1 Tratos cortlcospinais condições normais. A fraqueza muscular pode ser muito
Unem o córtex cerebral aos neurônios motores da pronunciada logo após a lesão, mas regride consideravel-
medula (Figuras 30.1 e 30.2). Um terço de suas fibras ori- mente com o tempo. Entretanto, o sintoma mais evidente, e
gina-se na área 4 de Brodmann. área motora primária, um do qual os doentes não se recuperam, é a incapacidade de
terço na área 6 de Brodmann, áreas pré-motora e motora realizar movimentos independentes de grupos musculares
suplementar, e um terço no córtex somatossensorial. que isolados (perda da capacidade de fracionamento). Assim,
contribui para a regulação do fluxo de Informação senso- os doentes, ou os macacos. no caso de lesões experimen-
rial na coluna posterior. As_.fibias têm o seguinte trajeto: tais, não conseguem mover os dedos isoladamente e não
,área ?! (maior~). coroa raa1aaa. pem_a posterjor da cápsula fazem mais oposição entre os dedos polegar e indicador.
[ntcma, base do pedúncu !Q ceLe.6raJ. case a~poote e pir - Desse modo, movime tos dercados, como os âe aoQto r
mi e 6ul6a~ (Figuras 30.1 e 30.2). Ao nfve da.J ecu5sação uma caro.Isa, tprnam-se imp~ossíveis. A capacidade de rea-
oas pírâmiaes, uma parte das fibras continua ventralmen- lizar movimentos independentes dos dedos é uma carac-
te, constitui11do o r aro corcicospiaaLancerior. Outra paae terística exclusiva dos primatas, resultante da presença de
c!l,!µUla aecussa~o aas pirârnjdes para constituir o trato fibras do trato corticospinal. que se ligam diretamente aos
co1ticospinal acera. Há grande variação no número de fibras neurônios motores. A função de possibilitar tais movimen-
que decussarn, mas uma decussação de 7596 a 9096 pode tos pode, pois, ser considerada a função mais importante do
er corniaeraâa normal. As fioras do t~to corticospinat an- trato cortlcospinal nos primatas, sobretudo porque é exerci-
teder ocupam o funículo anterio da medula e~após o c.ru- da exclusivamente por ele e, desse modo, em casos de sua
zamento na comissura branca, terminam em relação com lesão, não pode ser compensada por outros tratos. Além
os neurônios motores contralaterais, responsáveis pelos dos déficits motores descritos, a lesão do trato corticospinal
movimentos voluntários da musculatura axial. Ele pertence, dá origem, também, ao sinal de Babinski, reflexo patológico
pois, ao sistema anteromedial da medula. Na maioria das que consiste na flexão dorsal do hálux quando se estimula a
pessoas, ele só pode ser individualizado até os níveis toráci- pele da região plantar.
cos meo1os. trato cortícospinal latera é o mais importa2-
te. Ocupa..o fu.n[cuJo late(al a.o longo d.c.Joda a extensão da
medula e as suas fibras influenciam os neurônios motores
da coluna anterior de seu próprio lado. .
Na maioria dos mamíferos, as fibras motoras do trato ·-
corticospinal lateral terminam na substância cinzenta inter-
média, fazendo sinapses com interneurônios, os quais, por
sua vez. se ligam aos motoneurônios da coluna anterior.

'~ ..
Nos primatas. inclusive no homem, além dessas conexões
,
indiretas, um número significativo de fibras corticospinais I

faL sinapse diretarnente com os neurônios motores alfa e Coroa ____ _;


I ''
' '-- Cápsula Interno
gama. ,._ ,:"_ _ _ueLnem~todas..asJib1as~do-1rato
:-::.L radiada
conicosploa[ sãõ_motoras Um número significativo delas,
originadas na área somestésica do córtex, termina na coluna
posterior e estão envolvidas no controle dos impulsos sen-
sitivos. Contudo, a principal função do trato corticospinal Decussoçõo - -,
lateral é, sem dúvida, motorassomátlca. A maioria de suas dos pirâmides ',
fioras termina em relação com neurônios motores que con-
trolam a musculatura distal dos membros, que é o principal
'feixe âf fibras [esponsáveis pela motríc@aâe voluntâ.ria oo
omem, e pertence ao sistema lateral da medula. Entretan-
to, ao contrário do que se admitia até há alguns anos, essa Figura 30.1 Vista lateral de uma dissecação de encéfalo, mostran-
do o trato corticospinal no seu trajeto pela coroa radiada, cápsula
função é exercida também pelo trato rubrospinal, que age
Interna. base do pedúnculo cerebral, base da ponte e plramides
sobre a musculatura distal dos membros, e pelos tratos reti- bulbares.
culospinais, que agem sobre a musculatura axial e proximal Fonte: Preparação e fotografia - cortesía do Prof. Hlldegardo Rodrigues.
dos membros. ten e-se. pols..que. em..virtu e essa aç!J
compensa ora esses aois tratos, as esões o trato corti
ospinaUatecalooQcausam._quadras de.bemiplegia.como__se 3.2 Trato corticonudear
acreditava, e os déficits motores que resultam dessas lesões O trato corticonuclear (Rgura 30.2) tem o mesmo
são relativamente pequenos. Há fraqueza muscular (paresia) valor funcional do trato conicospinal, diferindo deste prin-
e dificuldade de contrair voluntariamente os músculos com cipalmente pelo fato de transmitir impulsos aos neurônios
a mesma velocidade com que poderiam ser contraldos em motores do tronco encefálíco, e não aos da medula. Assim,

286 Neuroanatomla Funcional


el\\ro\\ Tronco
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' \_ - - - - - Coroo radiada


Cópsula Interno

MESENCÉFAlO
____ ... ,,
Substância negra ..--- -- --- ·-t.~L
- - - - - • Base do pedúnculo cerebral

PONTE

Base do ponte ---- --- --- --- - - - - - - - - - Troto corticospinal

Troto corticonucleor -----


- - - - _. - -~- ,-
__..
,-1-tl~,
_ _ _ - - - - - Núcleo do nervo hipoglosso
________..... Neurônio inlernunciol
Núcleo ambíguo------------

Nervo vogo
----- -------- -- X

-- -- --
-- --
Nervo hipoglosso - -
_,,,,
,,,;
, - - - - - - - - - - - - - Pirâmide

BULBO

Decussoçõo dos pirâmides --------


Trato corticosplnal lateral----~--- - - - - - - - - - Neurônio intemuncial
...,..,
C7

Axônlo do neurônio motor inferior·------~-- - - - - - Troto corllcosplnal anterior

'\ ••
o
Neurônio motor inferior - - - - _
------- T6

Trato corticospinal lateral - - - - - - - - - fissura mediana anterior

S1

Figura 30.l Representaçao esquemática dos tratos cortlcospinais e corticonuclear.

• Capitulo 30 Grandes Vias Eferentes 287


o trato corticonuclear põe sob controle voluntário os neu- No homem, entretanto, há um número reduzido de fibras.
rônios motores situados nos núcleos motores dos nervos Origina-se no núcleo rubro do mesencéfalo (Figura 16.2),
cranianos. As fibras do trato corticonuclear originam-se decussa e reúne-se ao trato corticospinal no funículo late-
principalmente na parte Inferior da área 4 (na regi~o corres- ral da medula. A principal aferêncla para o núcleo rubro é
pondente à representação cortical da cabeça), passam pelo também a área motora primária (via corticorrubrospinal).
joelho da cápsula Interna e descem pelo tronco encefálico, Trata-se, portanto, de uma via indireta que foi perdendo
associadas ao trato corticospinal. À medida que o trato cor- a sua import~ncia, ao longo da evolução, para a via direta
ticonuclear desce pelo tronco encefálico, dele se destacam corticospinal. Em casos de lesão deste, no entanto. o trato
feixes de fibras, que terminam nos neurônios motores dos rubrospinal pode exercer uma função na recuperação de
núcleos da coluna eferente somática (núdeos do 111, IV, VI e funções da mão.
XII) e eferente visceral especial (núcleos ambíguos do IX e
X) e (núcleos motores do V e do VII). Como ocorre no trato 3.2.2 Trato tetospinal
corticospinal, a maioria das fibras do trato corticonuclear faz Origina-se no calículo superior (Figura 30.3), que, por
sinapse com neurônios internunciais situados na formação sua vez. recebe fibras da retina e do córtex visual. O trato
reticular, próximo aos núcleos motores, e estes, por sua vez, tetospinal situa-se no funículo anterior dos segmentos mais
ligam-se aos neurônios motores. Do mesmo modo, muitas altos da medula cervical, onde estão os neurônios motores
fibras desse trato terminam em núcleos sensitivos do tron- responsáveis pelo movimento da cabeça, e pertence ao sis-
co encefálico (grácil, cuneiforme, núcleos sensitivos do tri- tema anteromedial da medula. Está envolvido em reflexos
gêmeo e núcleo do trato solitário), relacionando-se com o visuomotores, em que o corpo se orienta a partir de estí-
controle dos impulsos sensoriais. mulos visuais.
Embora as semelhanças entre os tratos corticospinal e
corticonuclear sejam muito grandes, existe uma diferença
3.2.3 Tratos vestlbulospinais
entre eles que tem importância clínica: enquanto as fibras São dois: medial e lateral. Originam-se nos núcleos
do trato corticospinal são fundamentalmente cruzadas, o vestibulares (Figuras 16.1 e 30.3) do bulbo e levam aos
trato corticonuclear tem grande número de fibras homola- neurônios motores os impulsos nervosos necessários à
terais. Assim, a maioria dos músculos da cabeça está repre- manutenção do equilíbrio a partir de informações que che-
sentada no córtex motor dos dois lados. Essa representação gam a esses núcleos, vindas da parte vestibular do ouvido
bilateral é mais acentuada nos grupos musculares que não interno e do vestibulocerebelo. Mantém a cabeça e os olhos
podem ser contraídos voluntariamente de um lado só, como estáveis diante dt: movimentos do corpo. Projetam-se tam-
os músculos da laringe e faringe, os músculos da parte su- bém para a meduia lombar, ativando os músculos extenso-
perior da face (orbicular, frontal e corrugador do supercílio), res (antigravitacionais) das pernas. São feitos, assim, ajustes
os músculos que fecham a mandibula (masseter, temporal e posturais, permitindo que seja mantido o equilíbrio mesmo
pterigóideo medial) e os músculos motores do olho. Por esse após alterações súbitas do corpo no espaço. Por exemplo,
motivo, esses músculos não sofrem paralisia quando o trato em seguida a um tropeço, por ação das fibras dos tratos ves-
corticonuclear é interrompido de um só lado (por exemplo, tibulospinais, ocorre resposta reflexa extensora dos múscu-
em uma das cápsulas internas), como ocorre com frequên- los antigravitacionais para impedir uma queda.
cia nos acidentes vasculares cerebrais ("derrames•cerebrais).
Entretanto, pode haver um ligeiro enfraquecimento dos
3.2.4 Tratos reticulospinais
movimentos da língua, cuja representação no córtex motor Os tratos reticulospinais (Figura 30.3) promovem a
já é predominantemente heterolateral e uma paralisia dos ligação de várias áreas da formação reticular com os neu-
músculos da rnetade inferior da face, cuja representaç.ão é rônios motores da medula. A essas áreas chegam informa-
heterolateral. Os neurônios motores do núcleo do nervo fa- ções de setores muito diversos do sistema nervoso central
cial, responsáveis pela inervação dos músculos da metade (SNC), como o cerebelo e o córtex pré-motor. Os tratos
inferior da face, recebem fibras corticonucleares do córtex reticulospinais são dois. O rroro reticufospinol poneino au-
do lado oposto, enquanto os responsáveis pela inervação menta os reflexos antigravitacionais da medula, facilitando
dos músculos da metade superior da face recebem fibras os extensores e a manutenção da postura ereta. Atua man-
corticonucleares do córtex dos dois lados (Figura 19.4). tendo o comprimento e a tensão muscular. O troto recicu-
Esse fato permite distinguir as paralisias faciais centrais das fospinaf bufbar tem o efeito oposto, liberando os músculos
periféricas, como foi exposto no Capítulo 19. antigravitacionais do controle reflexo. Os tratos retlculos-
pinais controlam os movimentos tanto voluntários como
3.2.1 Trato rubrospinal automáticos, a cargo dos músculos axiais e proxlmais dos
É bem desenvolvido nos animais, inclusive no maca- membros, e pertencem ao sistema medial da medula. Por
co, em que, juntamente com o trato corticospinal lateral, suas aferências vindas da área pré-motora, os tratos reticu-
controla a motricidade voluntária dos músculos distais lospinais determinam o grau adequado de contraç~o des-
dos membros, músculos Intrínsecos e extrlnsecos da mão. ses músculos, de modo a colocar o corpo em uma postura

288 Neuroar1atomla Funcional


básica, ou postura "de partida: necessária à execução de o neurônio motor recebe também fibras envolvidas nos re-
movimentos delicados pela musculatura distal dos mem- flexos integrados na medula, dos quais o mais importante é
bros. Como no homem essa musculatura é controlada pelo o reflexo miotático. Assim, o neurônio motor constitui a via
trato corticospinal lateral. tem-se uma si Luação em que um motora final comum de todos os impulsos que agem sobre
trato das vias mediais promove o suporLe postural básico os músculos estriados esqueléticos. Se ele dispara ou não
para a execução de movimentos finos controlados pelas um potencial de ação, dependerá do balanço entre os Im-
vias laterais. Sabe-se também que, mesmo após lesão do pulsos excitatórias e inibitórios que agem sobre ele.
trato corticospinal, a motricidade voluntária da musculatu-
ra proximal dos membros é manlida pelos tratos reticulos- 3,4 Organização do movimento voluntário
pinais, o que permite, assim, a movimentação normal do A área motora primária (área 4 de Brodmann}, que
braço e da perna. era considerada o ponto mais alto da hierarquia motora,
Sabe-se que o controle do tónus e da postura ocor- passou a ser apenas executara de um programa motor,
re, em grande parte, no nível medular, mediante reflexos previamente elaborado em outras áreas do SNC. Assim, re-
mlotátlcos, os quais, entretanto, são modulados por in- cordando o que já foi visto no Capítulo 26, na organização
fluências supramedulares trazidas pelos tratos reticulos- do ato motor voluntário distingue-se uma etapa de prepa-
pinais e vestibulospinal, agindo sobre os neurônios alfa e ração, que termina com a elaboração do programa motor,
gama. Quando há desequilíbrio entre as iníluências inibi- e uma etapa de execução. A primeira envolve áreas motoras
doras ou facilitadoras trazidas por esses tratos, pode haver de associação do córtex cerebral em interação com o cere-
quadros com hipertonia em determinados grupos mus- belo e o corpo estriado. A segunda envolve a área motora
culares, como na chamada rigidez de descerebração, ou primária, a área pré-motora do córtex e as suas ligações
nas hipertonias que se seguem aos acidentes vasculares diretas e indiretas com os neurónios motores. Como parte
cerebrais (espasticidade). da etapa de execução, temos também os mecanismos que
permitem ao SNC promover os necessários ajustes e cor-
3.3 Visão conjunta das vias motoras somáticas reções no movimento já iniciado. Esse esquema de organi-
Como já foi visto, as vias eferentes somáticas estabe- zação do ato motor voluntário encontra apoio não só nas
lecem ligação entre as estruturas suprassegmentares re- conexões das áreas envolvidas, a maioria das quais já foi
lacionadas com o controle da motricidade somática e os estudada, mas também em pesquisas que mostram uma
efetuadores, ou seja, os músculos estriados esquelétlcos. As sequência temporal de ativação das diversas áreas. Assim,
principais estruturas relacionadas com a motricidade somá- observou-se o aparecimento dos chamados potenciais de
tica, como o córtex motor, o cerebelo, o corpo estriado, os preparação em áreas de associação do córtex, como a área
núcleos motores do tronco encefálico e a medula espinal motora suplementar, até um pouco antes do início do mo-
(coluna anterior e funículos lateral e anterior) já foram des- vimento, seguindo-se a ativação das áreas pré-motora e
critos nos capllulos anteriores, em uma visão analítica. O es- motora e o início do movimento. Sabe-se, ainda, que o cor-
quema da Figura 30.3 é uma síntese das conexões dessas po estriado e o núcleo denteado do cerebelo são também
estruturas, assim como de suas vias de projeção sobre o neu- ativados antes do início do movimento.
rónio motor, proporcionando uma visão conjunta das princi- Para que se tenha uma visão integrada do papel dos di-
pais vias que regulam a motricidade somática. Ele mostra as versos setores do sistema motor envolvidos na organização
principais conexões do cerebelo com suas projeções para o de um movimento voluntário delicado, imaginemos o caso
córtex cerebral, via tálamo, e para o neurónio motor, via nú- de um cirurgião ocular que está prestes a fazer uma Incisão
cleo rubro, núcleos vestibulares e formação reticular. Mostra, na córnea de um paciente, o que envolve movimentos pre-
também, as conexões do corpo estriado e as suas conexões cisos dos dedos da mão que segura um bisluri. A intenção
com o córtex cerebral através do circuito córtico-estriado- de realizar a incisão foi feita na área pré-fronLal com base
·tálamo-cortical; e as projeções do córtex cerebral sobre o nas informações que ele tem sobre as características da inci-
neurônio motor. diretamente pelos tratos corticospinal e são e a sua adequação às condições daquele paciente. Essas
corticonuclear, ou indiretamente, através das vias cortico- informações são transmitidas para as áreas encarregadas
rubrospinal, corticorreticulospinal e corticotetospinal. en- de elaborar o programa motor: a zona lateral do cerebelo,
tretanto, o fato mais importante que o esquema mostra é através da via corticopontocerebelar; o corpo estriado; e a
que, em última análise, todas as vias que influenciam a mo- área motora suplementar. Nessas áreas, é elaborado o pro-
tricidade somática convergem sobre o neurónio motor que, grama motor que define quais músculos serão contraídos,
por sua vez, inerva a musculatura esquelética. Sabe-se que assim como o grau e a sequência temporal das contrações.
um neurônio motor da coluna anterior da medula espinal O programa motor é, então, enviado à área motora primária,
do homem pode receber 1500 botões sinápticos, o que dá principal responsável pela execução do movimento da mão.
uma ideia do grande número de fibras que atuam sobre ele, Desse modo, são ativados determinados neurônios corticais
podendo ser excitatórias ou inibitórias. Além dessas fibras, que, atuando sobre os neurônios motores, via trato corti-

• Capitulo 30 Grandes Vias Eferentes 289


CÓRTEX CEREBRAL

Substõncia
negra

Ponte
Striotum

Tólamo Pallidum
e
E
Núcleo
R subtalâmlco

8 Formação
Núcleo rubro Teto
reticular
E

o
ir
õ
.. ;:t
,:, o
:;;- õ
-
o

Núcleo,
vestibulares

(J) f◄-------1 Neurônio motor

Via mo tora final comum

Músculo estriado esquelético

FIGURA 30,3 RepresentaçAo esquemática das vias motoras somáticas. (NAo s.\o mostrados os lnterneurônios de ligação entre as fibras
descendentes e o neurônio motor.)

290 Neu10c1natomla Funcional


cospinal, determinam a contração, na sequência adequada, dos nervos abducente, troc.iear e oculomotor. Esses neu-
dos músculos responsáveis pelo movimento da mão. Assim, rónios não recebem aferências diretas do córtex cerebral,
o cirurgião pode executar os movimentos precisos neces- mas somente por meio do collculo superior e da formação
sários à incisão na córnea. As vias mediais da medula são reticular. Há dois centros na formação reticular relacionados
ativadas para ajustes posturais e da musculatura proximal, com os movimentos oculares, um, situado na ponte, para
para aproximar o corpo do cirurgião do alvo. Informações os movimentos horizontais, e outro, situado no mesencé-
sobre as características desses movimentos, detectados por falo, para os movimentos verticais. Quando esses centros
receptores proprioceptivos, são levadas à zona intermédia atuam simultaneamente, os movimentos são obliquos. Es-
do cerebelo pelos tratos espinocerebelares. As Informações ses centros recebem aferências dos colículos superiores, ou
obtidas antes do movimento, ou durante, antes de o bisturi diretamente da chamada área motora ocular frontal (parte
tocar a córnea, permitem ajustes por anteroalimentação. O da área 8 do córtex cerebral). Nos circuitos descritos ante-
cerebelo pode, então, comparar as características do movi- riormente, os impulsos nervosos têm origem na retina ou
mento em andamento com o programa motor e promover no próprio córtex. Mas, os olhos movem-se também a par-
as correções necessárias por anteroalimentação, agindo so- tir de estímulos vestibulares, por Intermédio dos quais os
bre a área motora através da via ínterpósito-tálamo-cortical. movimentos oculares se fazem em direção oposta ao da
Após tocar o alvo, Informações sensoriais proprloceptivas, cabeça (Capítulo 17, item 2.2.5).'
originadas no segmento onde ocorre o movimento, ou seja,
no exemplo citado na mão do cirurgião, geram ajustes por s:;; Locomoção
retroallmentaç~o quanto ao peso do bisturi e à força neces-
sária ao procedimento. Ajustes posturals também são feitos Durante a locomoção, ocorrem movimentos alternados
por retroalimenração. O trato reticulospínal pontino o man- de flexão e extensão das pernas. O caráter rítmico e repe-
tém na postura ereta imóvel, atuando sobre a musculatura titivo da locomoção permite que ela possa ser controlada
antigravitacional. Toda a informação gerada na execução do automaticamente em nível medular. Experiências realizadas
movimento será usada para melhorar a execução de movi- com gatos, nos quais a medula e as raíLes dorsais foram sec-
mentos futuros semelhantes, por interrnédlo do aprendiza- cionadas, mostraram que os movimentos de locomoção
do motor, a cargo principalmente do cerebelo. são mantidos mesmo nas condições em que a substãncla
Cabe assinalar que a situação exemplificada antes foi cinzenta da medula perdeu todas as suas aferências senso-
propositalmente simplificada, já que descreve apenas os riais e supramedulares. Surgiu, assim, o conceito amplamen-
mecanismos nervosos envolvidos nos movimentos rea- te confirmado de que a locomoção depende de um centro
lizados pela mão do cirurgião. Na realidade, a situação é situado na medula lombar, capaz de manter o movimento
mais complicada, uma vez que, para que a mão possa rea- automaticamente e sem nenhuma aferência. Esse centro
lizar esses movimentos com precisão, deve ser mantido o contém circuitos neurais com neurônios capazes de dispa-
equilíbrio, e o seu corpo, em especial o seu braço, deve rar potenciais de ação espontaneamente, na ausência de
estar em uma postura apropriada, o que envolve a contra- quaisquer aferências. 2
ção adequada dos músculos do tronco e da musculatura Esse centro, por sua vez, é comandado por outro centro
proximal dos membros. Para Isso, é necessário um coman- locomotor situado no mesencéfalo, o qual exerce a sua ação
do voluntário feito pela via corticorreticulospinal (não se pelos tratos reticulospinais, determinando o início. o fim e a
podendo excluir também um componente corticospinal), velocidade da locomoção. No homem, só muito raramen-
além de uma ação controladora a cargo do vestibulocere- te ocorrem movimentos automáticos de marcha depois da
belo e da zona medial do cerebelo, que atuam pelos tratos secção da medula. Entretanto, há evidências de que na me-
vestlbulospinais e reticulospinais. Os olhos e a cabeça têm dula do homem existe também um centro que permite a
de ser mantidos fixos. Conclui-se que, do ponto de vista locomoção automática. Crianças exibem a marcha reflexa
neurológico, o ato motor de uma incisão cirúrgica é extre- logo após o nascimento, mesmo as anencefálicas. Acredita-
mamente complicado e envolve a participação de vários -se que esses circuitos sejam colocados sob controle su-
setores do sistema nervoso, não só da porção eferente so- prasplnal no primeiro ano de vida quando o córtex cerebral
mática, mas de outras regiões relacionadas ao processa- passa a controlar o centro locomotor do mesencéfalo. O
mento das informações sensitivas e a sua integração com fato de a locomoção humana ser bipede torna os controles
as vias motoras além da memória, atenç.áo e até mesmo do equilíbrio e da marcha mais complicados e dependentes
das emoções que dependem do grau de relacionamento dos centros superiores.
do cirurgião com o paciente.

4:g}Movimentos oculâres 1 Es sa abordagem das vias oculomotoras foi simplificada para flns
díd.1 tlcos.
Como já foi visro (Capítulo 17), os neurônios motores 2 Circuitos desse tipo são denominados geradores centrais de ação e exis-
responsáveis pelos movimentos oculares estão nos núcleos tem também em ou1ras áreas do SNC. como no cen1ro respiratório.

• Capítulo 30 Grandes Vias Eferentes 291


6. Correlações anatomoclínicas - lesões das vias motoras
Em várias partes deste livro, foram descritos os sinto- 6.1 Tratamento da espastlddade
mas que decorrem de lesões do sistema nervoso eferente
A espasticidade, aumento do tônus muscular, é um sin-
somático e que permitem caracterizar as várias síndromes
toma comum e Incapacitante decorrente da lesão do neu-
do cerebelo, dos núcleos da base, assim como aquelas das
rônio motor superior e suas vias. A rigidez muscular ocorre
vias motoras da medula e do tronco encefálico. Por sua im-
pela exacerbação do reflexo miotático em virtude da perda
port~ncia fundamental em clínica neurológica, estudaremos
agora com mais profundidade as chamadas sfndrome do do equilíbrio entre os tratos retlculospinais (item 3.24.). As
neurônio mocor superior e sfndrome do neurônio motorInferior. contraturas musculares podem causar encurtamentos ten·
dfneos, imobilidade de articulações, posturas rígidas que difi·
A síndrome do neurônio motor inferior ocorre em pa-
cultam as atividades cotidianas e provocavam dores, úlceras
tologias como a poliomielite e na atrofia muscular espinhal
(Capitulo 19, itens 3.1.1 e 3.1.3). Nestes casos há a destrui- de pressão e aumento do gasto energético, (Figura 30.4).
ção do neurônio motor Inferior situado na coluna anterior O tratamento clínico Inclui fisioterapia para alongamento
da medula ou em núcleos motores de nervos cranianos. O evitando os encurtamentos tendíneos e a imobilidade ou
quadro resultante será de uma paralisia flácida, com perda luxação de articulações. além do uso de medicações como
dos reflexos e do tõnus muscular, seguindo-se, depois de o baclofeno por via oral ou intratecal. A toxina botulfnlca
algum tempo, hipotrofia dos músculos inervados pelas fi. (Capítulo 9, item 3.1 .1.2), aplicada diretamente no músculo,
bras nervosa.s destruídas. reduz a força de contração muscular e é também uma boa
A síndrome do neurônio motor superior ocorre, por opção o tratamento das espastlcidade. A neurólise química
exemplo, nos acidentes vasculares cerebrais (AVE), que de nervos específicos também pode ser realizada. Em casos
acometem a cápsula interna e causam paralisia da meta- de ineficácia do tratamento clínico, a rizotomla dorsal seleti-
de oposta do corpo (hemiplegia). Após um rápido período va é a opção cirúrgica mais utilizada.Consiste na lesão ultras-
inicial de paralisia flácida, instala-se uma paralisia espástica seletiva da porção sensitiva da raiz dorsal responsável pela
(com hipertonla e hlper-reflexia), com a presença do sinal informação proveniente dos fusos intramusculares em cada
de Babinski (veja Capítulo 19, item 2.1). Nesse caso, pratica- segmento medular. Esta porção é identificada por estimula-
mente há 1ne11or grau de hipotrofia muscular, pois o neu- ção eletrofisiológica intraoperatória e sua ablação ou secção
rônio motor inferior está intacto. (Figura 30.4). diminui a exacerbação do arco reflexo medular segmentar.
Tradicionalmente, admitia-se que a sintomatologia ob·
servada nesses casos decorria de uma lesão do trato cortl· ,
cosplnal, daí o nome sfndrome piramidal, frequentemente \

atribuído a ela. Entretanto, sabe-se hoje que a sintomatolo-
gia observada nesses casos não pode ser explicada apenas
pela lesão do trato corticospinal, que, como Já foi visto no
item 3.1, resulta em déficit rnotor relativamente pequeno,
nunca associado a um quadro de espasticidade. Ela envolve,
necessariamente, outras vias motoras descendentes, como
a corticorreticulosplnal e a corticorrubrospinal. Desse modo,
o nome síndrome piramidal, embora ainda muito emprega-
do em clínica neurológica, é impróprio. Na realidade, a ex-
pressão ·síndrome do neurônio motor superior" deveria ser
empregada no plural, por se referir a vários neurónios mo-
tores superiores e nao apenas àqueles que originam o trato
corticosplnal. Outro ponto ainda controvertido sobre a sín-
drome do neurônio motor superior refere-se à fisiopatologia
da esposticidade, ou seja, ao quadro em que há aumento do
tónus e exagero dos reflexos, que ocorre nessa síndrome •
(Figura 30.4). Como no caso das lesões restritas do trato
corticospinal, não surge o quadro de espasticidade, fican-
do excluída a possibilidade de que a lesão desse trato seja
responsável pelo fenômeno. Acredita-se que esse quadro
resulte do aumento na excitabilidade dos motoneurónios
alfa e gama, decorrente da lesão de fibras que normalmente
exercem ação inibidora sobre eles, como algumas fibras reti-
culospinaís. Entretanto, a fisiopatologia da espasticidade não Figura 30,4 Paciente com paralisia cerebral tetraparétlca espás·
foi ainda completamente elucidada. Também não foi escla- tica. Observa-!.e a hipertonia de membros inferiores com postura
recida a fisiopatologla do sinal de Babinski, embora se saiba em 'tesoura• devido à hípertonia dos adutores, flexão plantar dos
que, ao contrário do que ocorre com a espasticidade, ela se pés pela hlpertonia do tríceps sural, rotação interna do pé direito
deve exclusivamente à lesão do trato corticospinal. devido à hipertonía do tibial posterior e extens~o do hálux.

292 Neuroanatomla Funcional


Neuroimagem

Colaboração: Dr. Marco António Rodacki

Para o estudo das doenças que acometem o sistema A radiografia simples, ainda é utilizado na triagem de
nervoso central (SNQ, frequentemente o neurologisLa pre- seryiços ! ~ onto atendimento para pesquisã atura8e
cisa fazer uso de técnicas que lhe permitam obter Imagens iie trAn.lo rate 8mbit As linhas de fratura devem ser dife-
do encéfalo e da medula espinal. renciadas das linhas normais das suturas dos ossos cranianos
A radiografia simples do crànio (raios X sirnples), outro- e das Impressões causadas nos ossos pelas artérias menín-
ra usada rotineiramente, não trazia informações relevantes, geas (Figura 31.1). A radiografia simples pode também ser
exceto nos casos de trauma, quando fraturas de crtinio por utílizada para visualizar as suturas cranianas em lactentes •

afundamento e fraturas de vértebras precisavam ser aborda- em caso de suspeita de cranioestenose em que há ausência
das cirurgicamente e com urgência. No entanto, a radiografia de alguma sutura craniana, podendo causar deformidades e
simples não permite a visualização das estruturas encefálicas. assimetrias. Entretanto, estas situações podem ser mais bem
Com o advento dos equipamentos de tomografia com- avaliadas pela TC.
putadorizada (TQ e ressonôncia magnética (RM), foi possí-
vel visualizar as estruturas encefálicas e da medula espinal,
o que permitiu o estudo anatômico e a Identificação das
doenças do SNC.
Contudo, o maior avanço ocorreu com as técnicas de
RM funcional (RMf), que possibilitam o estudo não só da
anatomia, mas também do perfil bioquímico, mlcrovascular
(substrato de quase rodas as doenças) e de viabilidade teci-
dual cerebral, por meio da espectroscopia por RM, perfusão
cerebral e difusão por RM, respectivamente. Figura 31.1 (A) Imagem de raio Xanteroposterior mostrando fratu-
Com a evolução dos equipamentos, novos recursos de ra linear na regi~o parietal direita (a) e a sutura sagltal (b). (B) Radio·
RMf foram adicionados na prática diária, entre eles o ma- grafia em perfil mostrando sutura lambdoide (a). linha de fratura (b)
peamento cortical com técnica BOLD fMRI, utilizado para e Impressões vasculares (e).
identificar e localizar as áreas funcionais do SNC; a tratogra-
fia e difusão tensorial (DTI), que permite o mapeamento de
fibras e conexões nervosas do SNC. f~1[,11,ta•1fl1fil]f,1,rttttit·lif?ú6ií(,F. • ·.:G ... !;:· l
A seguir, faremos uma rápida descrição das caracterís- Esta técnica surgiu no final dos anos 1970 e emprega
ticas básicas de cada uma dessas técnicas, apresentando fontes múltlplas de raios X capazes de produzir feixes muito
também figuras representativas que poderão ser compara- estreitos e paralelos, que percorrem ponto a ponto o plano
das com os cortes de encéfalo do Capítulo 32. que se pretende visualízar no encéfalo ou na medula, me-

_[
dindo, então, a radiodensidade de cada ponto. Os dados cranioencefálicos, (Figura 31.4) screening em casos de ce-
obtidos da medida de milhares de pontos são levados a faleia sem causa aparente e acidente vascular agudo em ca-
um computador e por ele utilizados para a construção da sos de urgência, primando-se pela rapidez de atendimento.
imagem. A técnica de TC sofreu enorme transformação nos Tem sido utilizada também em recém-nascidos e lactentes
últimos anos. Atualmente, os equipamentos têm o nome de na avaliação da fontanela anterior e suturas cranianas para
"Tomografia Computadorizada Multislices~ produzindo ima- descartar cranioestenose (Figura 31.2).
gens tridimensionais (3D) com maior rapidez, maior abran- Hoje com equipamentos mais sofisticados e com maior
gência e alta resolução (Figuras 31.2 e 31.3). número de canais, é possfvel obter também imagens angio-
O contraste endovenoso pode ser administrado em al- gráficas de alta resolução e confiabilidade, substituindo, em
guns casos para se obter mais Informações e maior precisão grande parte dos casos, a angiografia convencional com ca-
diagnóstica. Suas principais indicações são os traumatismos teterismo e com qualidade semelhante (item 5.2).

Figura 31.2 Tomografia 3D mostrando as su1uras cranianas. (a) Sutura sagital (b) sutura lambdoide, (c) sutura coronária (d) sutura escamosa.

Figura 31.4 Tomografia computadorizada do crânio em trauma-


tismo cranloencef~lico mostrando fratura frontal direita com aíun-
damento de fragmentos ósseos (seta). aumento de partes moles
Figura 31.3 Tomografia computadorizada. Corre axial passando extracraniana. (hematoma). compressão ventricular bilateral maior
pelos nücJeos da base. Comparar com os cortes anatómicos nas à direita. edema cerebral no hemisfério direito, hemorragia intra-
Figuras 32.8 e 32.9 . ventricular esquerda.

2 94 Nturoanatomia Funcional

_:...-_~_,.. - ·-· - - ~·:'°"•...,.~-.:: ...-.--, __ -; • .~::.. •. !.--.:.--.~-. ......... _- --•-:-_...;;:;,_,_::_ _- - .. _- - -_ - ....M-,. ·,,_
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... ,
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..,_.,..,._ . ' .
permite realízar exames na presença de alguns materiais
metálicos como srent coronariano, válvula cardíaca, marca-
Esta técnica, que surgiu no Início dos anos 1980, difere
·passo (somente com controle de funcionamento tempo-
essencialmente da TC, pois não emprega raios X, e sim um
rário), clipes de aneurisn1a com material especial e molas
campo rnagnético. Ela se baseia na propriedade que têm
metálicas para embolização de aneurismas.
certos núcleos atômicos de sofrer o fenômeno de resso-
nância e, consequentemente, emitir sinais de radiofrequên- Um estudo de ressonância magnética cerebral de ro-
tina compreende várias técnicas diferentes de ponderação
cia quando expostos em campos magnéticos adequados.
Essa propriedade é evidente sobretudo nos átomos de hi- para mostrar variados aspectos do tecido cerebral, que po-
drogénio que compõem as molécu a ae agual
bermitioê@ dem não ser visualizados por algum método isoladamente.
São elas: Tl W: T2W: T2WFlalr; T2'SWI; difusão por RM (DWI);
dlstioguH eddo5 Eõil3 se em e eo de ~ -Q teclii.a
ósseo, por exemplo, que pralicarnente não contém água mapas de coeficiente de difusão aparente (ADO, este últi-
wre lfll miã1 B'I 81\. A não visualização da ima- mo (ADC), apesar de considerado um método funcional, faz
parte da rotina de exame de RM.
gem óssea facilita a visualização das estruturas encefálicas
teciduais na base do crãnio, como o lobo temporal. Na co- As imagens em [ 1W são mais utilizadas para mostrar
luna vertebral, permite a visualização dos corpos vertebrais, anatomia cerebral, trazendo clara distinção entre o líquido
em virtude da presença da gordura da medula óssea, que (sinal de RM escuro) e o tecido cerebral (sinal intermediário
tem sinal de RM alto. Entre a faixa de ressonância que vai da geralmente acinzentado). sendo muito eficiente para loca-
gordura até a água, há várias composições químicas que lizar as lesões anatomicamente. O córtex se apresenta mais
terão sinal de RM distintos, permitindo a identificação das escuro do que a substância branca, por ter mais líquido; e a
diferentes estruturas do SNC. substância branca, rnais clara do que a cinzenta, por ter mais
Além de não utilizar radiação ionizante, a RM tem reso- componente gorduroso (Figura 31.5).
lução muito maior para a visualização das estruturas. Per- As imagem em [ .2W tém maior sensibilidade para mos-
mite clara distinção entre a substância branca e cinzenta trar áreas com doença, com sinal de RM alto (água) ou com
encefálica e, neste particular. demonstra com facilidade sinal de RM baixo (acúmulo celular, cálcio ou hemorragia).
focos de ectopia da substância cinzenta e outras malfor- Nas imagens em T2W, o líquido cefaiorraquiano (LCR) tem
mações do SNC, causas frequentes de epilepsia de difícil alto sinal e aparece branco. A substância branca tem sinal
controle. Outrora eram necessários tempos de aquisição mais baixo em virtude da maior quantidade de mielina e
de imagens de RM mais prolongados do que a TC, po- aparece mais escura nesta ponderação. O córtex apresenta
rém, hoje. com equipamentos mais modernos, os ternpos sinal mais alto do que a substância branca por conter mais
de aquisição são bem mais curtos. A tecnologia atual já água (vasos sanguíneos) (Figura 31.6).

Figura 31.S Cortes axial e sagital de RM convencional ponderada em Tl W. Nota-se a excelen1e resolução para detalhes anatômicos.

• Ca pítu lo 31 Neuroimagem 295


As imagens com ponderação em T2W Flair são idênti-
cas às imagens T2W, ou seja. com sinal de RM alto da água,
porém com supressão do sinal branco da água pura (LCR),
deixando à mostra áreas que tem líquido de alto valor pro-
teico (lesões), principalmente as que estão próximas de cis-
ternas cheias de LCR, portanto indistinguíveis em T2W por
terem o mesmo sinal (Figura 31.7).
As imagens com ponderação T2"SWI são baseadas em
técnica gradiente 3D e priorizam a identificação de anomalias
venosas, focos recentes ou antigos de hemorragia e calcifica-
ções cerebrais cujo sinal de RM será escuro e bem distinto de
um parénquima cerebral claro. Estas lesões podem não ser
vistas em imagens convencionais T2W ou Tl W (Figura 31.8).
Algumas vezes é necessária a administração de contraste
endovenoso, o gadolínio. Neste caso. as Imagens serão pon-
deradas em TlW. O gadolínlo é um agente paramagnético
que realça o sinal das lesões encefálicas em que há quebra
da barreira hematoencefállca permitindo a saída do contraste
do vaso para o interstício, tornando-as mais distintas do teci·
do cerebral normal. O gadolínio também ampliará a intensi·
dade do sinal de estruturas com fluxo sanguíneo aumentado
(Figura 31.9).

4.1 Ressonância magnética funcional (RMf)


A RM convencional (exceto a DWI, que faz parte do ar-
senal funcional) nos dá informações morfológicas e estrutu·
rais de lesões cerebrais com alta sensibilidade. No entanto,
havia limitações para se obter maior precisão no diagnóstico
Figura 31 .6 Corte axial de RM convencional ponderada em T2W.
de tumores e de massas cerebrais, o que frequentemente

Figura 31.7 (A) Corte axial de RM ponderada em T2W que praticamente não demonstra /!normalidades. (B) Mesma irnagem em T2VV Flair.
A supressão do sinal do LCR deixa bem evidente a patologia no córtex do lobo frontal esquerdo (displasla cortical).

296 Neuroanatomia Funcional


1
I.

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t,,. •


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1

Figura 31.8 (A) Imagem axial em T2W aparentemente normal. (B) Imagem com a técnica T2*SWI demonstrando focos de sinal escuro no
córtex cerebral, calcificações (setas).

Figura 31.9 Imagem em Tl W (A) rnostra lesão tumoral com efeito de mcJssa no l::>bo tcn1poral esquerdo, cujos limiles são in1precisos
sem o uso de contraste gadolínio endovenoso. (B) Imagem Ti W com contraste mostra realce periférico pelo con1raste e fornece o grau
de quebra da barreira hematoencefálica.

resultava na necessidade de realização de biópsias para (espectroscopia por RM). visualização de tratos e conexões
diagnóstico histológico final. Com a evolução, novas técni- de substância branca (DTI e tratografia) e. finalmente, infor-
cas de RMf surgiram e permitiram avançar no diagnóstico mações sobre a localização de áreas encefálicas funcionais
histológico das leões, obter informações sobre a microcir- importantes (BOLO fMRI). Essas técnicas possibilitam uma
culação cerebral (pcrfusão cerebral), movimentos de molé· localizaçao precisa das lesões em relação às áreas funcionais
cuias de água nos tecidos cerebrais (D\NI), capacidade de corticais importantes e tratos de substância branca. faciliran-
reserva de autorregularão cerebrovascular (BOLO-apneia do o planejamento cirúrgico e preservando funções primor-
ou vasorreatívidade cerebral), perfil metabólico das lesões diais. As principais técnicas de RMf serão estudadas a seguir.

■ Capitulo 31 Neurolmagem 297


4.1.1 Difusão isotrópica (DWI) tudo o que tem restrição. brilha e, no mapa de ADC, deve
ficar escuro.
As imagens de OWI são de baixa resolução. pois são
Entre suas principais aplicações, está a detecção preco-
funcionais e precisam ser rápidas o bastante para registrar
ce de infartos isquêmicos agudos ou superagudos, gerando
o movimento das moléculas de água quando expostas ao
sinal de restrição (brilho) alto, podendo ser detectado em
campo magnético e suas variações.
menos de 15 minutos, importantes, assim, para re~tabelecer
[sra técnica se baseia no comportamento das molé- a perfusão com tratarnento trombolitico (Figura 31.1 O).
culas de água nos tecidos, quando submetidas à aplica- A (DWI é também importante no diagnóstico precoce
ção de gradientes de radiofrequência em t rés direções. As de abcessos, (Figura 31.11 ) e para avaliar a densidade ce-
imagens revelam a redução da difusão (difusão restrita) lular de tumores, auxiliando na graduação de malignida-
gerando sinal de RM alto = T2W ou a aceleração (difusão de das lesões neoplásicas cerebrais, baseando-se no grau
faciiitada), gerando sinal baixo de RM das moléculas de de restrição ao movimento de moléculas de água entre
ág ua nos tecidos, obtendo-se, então, informações sobre a células tumorais. Por exemplo: maior celularidade, menor
viabilidade tecidual. o espaço intersticial extracelular, provocando restrição
O mapa de ADC é um cálculo que o aparelho faz obten- e brilho alto na difusão e sinal baixo no mapa de ADC
do a média da difusão em três eixos diferentes. Na prática, (Figura 31.12).

Figura 31 .1o (A) extenso infarto lsquemlco recente em T2WFlalr. (B) Hestrição nas Imagens de difusão (DWI). (C) Sinal baixo nos mapas de
ADC (coeficiente de ditusão apare:ite).

Figura 31, 11 {A) Imagem de abcesso: Tl W com contraste gadollnio rrosirando lesão expansiva no lobo frontal direito, envolta por edema
e realçando em ·anel' na periferia, indistinguível de turr,or maligno: (Bl marcada resulção na difusão isotrópica (DWI) por RM; (C) sinal bem
hipointenso em mapas de ADC. Inferindo enorme restrição o que acontece com material purulento encapsulado.

298 NeuroanatomiaFuncional
Figura 31.12 (A) Tun1or cerebral primário, glioma de alto grau no lobo parietr1I Inferior direito. corn sinal hlp€rintenso em T2V./. (B) Imagem de
difusão (DWI) com restriç3o ao movimento da ógua por alta celularidade. gerando sinal baixo nos rnapas de AD( ou mapas de coeficiente
de diíusJo aparente (C) . ·

4.1.2 Difusão tensorial (DTI) localizar lesões profundas cerebrais, habitualmente de difícíl
Esta técnica se baseia na aplicação de gradientes de localização anatômica já que não há referências anatômicas
pulso de radiofrequência em mais do que seis direções, na substância branca como existe na superfície cortical.
obtendo-se infarmações sobre o movimento das moléculas
de água ao longo das principais conexões, tratos e fibras de 4. 1.2. 1 Tratografia
substância branca, criando mapas de anisotropia fracionada A tratografia faz parte da técnica de DTI e possibilita a
(AF), que fornecem detalhes anatômicos sobre o posiciona- visualização dos principais tratos e vias encefálicas indivi-
mento e a direção de fibras de substância branca cerebral. Os duulizados ou em conjunto. Compare como o trato cortl-
mapas de AF podem ser sobrepostos a imagens anatômicas cospinal aparece em uma dissecação (Figura 30.1 ) e em
para melhor identilicaçào das estruturas, (Figura 31.13). Este uma lratografia (Figura 31.15). A demonstração da relação
método tem sido utilizado para estudar a viabilidade das co- anatômica dos tratos com lesões turnorais (Capftulo 3. Fi-
nexões nervosas do SNC em diferentes patologias, como se- gura 3.13) é crucial para planejamento cirúrgico, visando
quelas de trauma cranioencefálico e doenças degenerativas poupar estruturas nervosas funcionalmente Importantes.
do SNC e avaliar a integridade dos tratos e conexões diante Apresenta tarnbém vita l import!lncia na demonstração de
de sua proximidade com tumores de massas ou processos in· processos degenerativos wallerianos do trato corticospinal,
ílamatórios cerebrais, (Figura 31.14). Os mapas de anisotro- em consequência da presença de tumores, lesões isquêmi-
pia fracionada da difusão tensorial (DTI) servem também para cas e trauma cranioencefálico.

Figura 31.1 3 (A) l)TI e mapa de anisotropia fracionada cujas cores de conexões nervosas demonstram sua direção: azul (cranlocaudal ou
caudocranial); vermelha (sentido transverso) e verde (anteroposterior ou póstero anterior). (B) lv\apa associado a imagens anatômicas para
avaliar a sua proximidade com eventuais lesões encefálicas.

• Capitulo 3 1 Neurolmagem 299

1
Figura 31.14 DTI e mapa de anisotropia fraciona da rnostrando a proximidade dos tratos con1 a lesão tumorJI (setas) e sru deslocamento.
(A) Corte coronal e (B) cone axial.

Figura 31.15 (A) Tratografia do encéfalo em vista lateral mostrando o trato córtico espina em seu trajeto pela coroa radiada (CR), cápsula
lnterntl (CI ), base do pedúnculo cerebral (BPC) e base da ponte (BP). (B) Tratogralia do encéfalo mostrando o corpo ca loso (CC), a rad iaç5o
óptica (RO), o nervo óptico (NO) e a cápsula interna (CI). A5 fibras em azul tem sentido crânio caudal, as verdes têm sentido anteroposterior
e as libras em vermelho lém sen1ido transversal ou lateral.

4.1.3 Perfusão cerebral sem contraste - arterialspinlabeling (ASL) 4.1.4 Perfusãocerebral com contraste endovenosos gadolínio e
O método de perfusào cerebral ASL não é invasivo. usa técnica r2•'1.-w
o próprio sangue do paciente como meio de contraste para O método de perfusão cerebral 12•w ê realizado duran-
avaliar a microcirculação capilar arterial cerebral, geran- te e após a infusão de contraste gadolinio, provocando que-
do mapas de fluxo sanguíneo cerebral (CBF). Este método da do sinal de RM nas imagens T2 •w gradiente. cujo grau de
pode ser usado de rotina, sem necessidade de punção ve- queda de sinal será contabilizado como volume sanguíneo
nosa, (Figura 31.16). Pode ser utilizado en, crianças que (CBV). Outros mapas hernodinâmlcos. como o fluxo sanguí-
tém difícil acesso venoso e em pacientes com doença renal, neo (CBF), serão calculados durante a passagem do contras-
Impedidos de usar contrastes. Entre suas principais indica- te pelo leito capilar.
ções estão: doença vascular oclusiva intra e extracraniana Sua principal Indicação é na detecção de angiogênese
aguda ou crônica, (Figura 31.17); tumores; e processos in- tumoral para auxiliar na distinção de tumores de alto e de
flamatórios cerebrais e, mais recentemente, em diagnóstico baixo grau e diferenciar processos inflamatórios de tumores
diferencial de quadros de demência cerebral. cerebrais (Figura 31.18).

300 Neuroanalomla Funcional


Agura 3 1.16 Perfusão ASL com mapas de íluxo sanguíneo cerebral (CBF) em paciente normal.

Figura 31. 17 (A) Ressonáncia magnética convencionill ponderada em T2W Flair mostrando lesões isquêmicas em território de transição
arterial no hemisfério cerebral direito, por hipofluxo cerebral. (B) Mapa de CBF do método de pcríusão ASL sem contraste mostra deícito
de perfusão no hemisfério cerebral direito.

4.1.5 Espectroscopia por ressonância magnética rios de alto grau e metástases. A técnica é também usada
A espectroscopia por ressonância magnética permite a para diagnóstico de processos inflamatórios, metabólicos
avaliação não invasiva do perlil bioquímico dos tecidos ce- e degenerativos do SNC. Com bastante frequência tem
rebrais, proporcionando Importantes avanços no diagnósti- sido utilizada para auxiliar no diagnóstico precoce de
co diferencial, antes possível apenas por biópsias. doença de Alzhcimer. O método de espectroscopia gera
Auxilia na avaliação do grau de invasividade e agressi- mapas de metabólitos que fornecem informações abran-
vidade das lesões tumorais, na distinção entre processos gentes sobre extensão das lesões e acúmulos regionais
inflamatórios e tumores cerebrais, no dimensionamento de metabolitos, permitindo uma localização mais precisa
do grau de infiltração de tecidos vizinhos e no estabele- da parte do tumor mais indiferenciada ou mais agressiva
cimento do diagnóstico diferencial entre tumores primá- (Figura 31.19).

• Capitulo 31 Neuroimagem 301


um aporte maior de oxigênio pela resposta vasomotora e
gerarão sinal alto nas imagens T2*SWI. A diferença de sinal
de BOLO após técnica de subtração será responsável pela
visualização das áreas funcionais estimuladas eletricamen-
te por melo das tarefas.
Sua maior indicação é demonstrar a proximidade de
áreas funcionalmente Importantes com áreas de lesões
cerebrais facilitando o planejamento cirúrgico para a
retirada de tumores ou para o tratamento cirúrgico de
epilepsias refratarias sem causar déflcíts neurológicos im-
p ortantes (Figura 26.8). É p articularrnente ernpregada
para identificar o hemisfério dominante para linguagem
(Figura 31.20). Esta técnica tem índice de equivalência
de 90% ou mais. em relação a métodos tradicionais e in-
vasivos como o teste de WADA (Capítulo 26, item 6), com
a vantagem de não ser invasivo e de mostrar o mapea-
mento geográfico da área e não somente o lado domi-
nante, como o faz o teste de WADA.

4.1.7 Mapas de vasorreativídade cerebralcom técnica


BOLD-apneia
Esta técnica (BOLD fMRl apneia) permite avaliar o grau
de reserva de autorregulação cerebrovascular em áreas que
Figura 31 ,18 Perfusào cerebral T2' W com ínfusão de contraste se encontram hipoperfundidas por doença estenótica ou
EV mostra glioma de alto grau (glíoblastoma) bem vascularizado, oclusiva, aguda ou crónica, de artérias carótidas internas e
com alto volume sanguíneo (CBV), ínferindo angiogênese turnoral, cerebrais. O procedimento é realizado mediante a execu-
localizado no lobo frontal esquerdo. ção, por parte do paciente, de períodos de apneia de 10 a
20 segundos alternados com períodos de repouso ou de
4.1.6 Mapeamento cortical cerebral comtécnica BOLDfMRI hiperventilação de 20 a 40 segundos, obtendo-se Imagens
com mapeamento cortical das áreas que respondem aos
A ressonancia magnética funcional, propriamente
estímulos de vasodilatação compensatória (aumento do
dita, com técnica BOLO fMRI. contribuiu para enorme
(0 2). permitindo, assin1, avaliar o grau de risco cerebral para
avanço da neurociência de modo geral. Avaliando de
infarto isquêmlco. Com este método, avalia-se a necesslda-
forma não invasiva o cérebro em funcionamento duran-
te tarefas, permitiu a localização mais precisa de diversas de de realizar ou não by-pass intra/extracraniano para revas-
funções cerebrais. A técnica permite a identificação das cularlzação (Figuras 31.23 e 31.24C).
áreas ativadas durante o pensamento. a imaginação ou o 4.1.8 Estudo do fluxo liquórico por RM-EFL
planejamento de ações. possibilitando a avaliação do fun-
cionamento do cérebro (Figuras 31.20, 31.21 e 31.22). Esta variação permite o estudo din~mlco do íluxo 11-
quórlco. importante para avaliar casos de hipertensão
A RMf permitiu também a melhor compreensão da
liquórica subclínica ou hidrocefalias obstrutivas pela este-
base orgânica dos transtornos neuropsiquiátricos, como es-
quizofrenia, depressão e transtorno obsessivo compulsivo. nose de aqueduto cerebral ou do forame de Moro. O EFL
possibilita a verificação da permeabilidade dos espaços li-
É baseada no processo de acoplamento neurovascular, ou
seja, aplica-se uma tarefa ao paciente que estimulará e exi- quóricos Intra e extraventriculares e a detecção de aumen-
girá, para uma determinada região do encéfalo, maior íluxo to da pressão de pulso llquórico intraventricular. A técnica
sanguíneo. A área estimulada fará maior extração de oxigê- visa concatenar os pulsos de radiofrequência com a pul-
nio e. portanto, precisará de um aporte circulatório maior, sação do liquor ou LCR. O método é cornposto de técnica
quantitativa e medidas obtidas do aqueduto cerebral e de
que virá de um aumento do volume e do fluxo sangulneo
técnica qualitativa, obtida de imagens dinâmicas no plano
bastante oxigenado.
sagilal reglslrando o movimenlo bifásico do liquor em sís-
Como as demais regiões do cérebro não estimuladas tole e diástole no aqueduto cerebral. Os valores normais
não recebem este aporte de íluxo cerebral compensató· estão na faixa de 6 a 12 ml/mln, considerando todas as
rio, terão maior teor de deoxi-hemoglobina, mantendo o faixas de idade. Tem especial indicação para o diagnóstico
sinal intravascular e regional baixo pelo efeito paramag- de hidrocefalias de pressão intermitente ou hidrocefalias
nético da deoxi-hemoglobina. As áreas estimuladas terão de pressão normal (HPN) (Figura 31.25).

302 Nturoanatomla funcional


Rgura 31 .19 E.xpectroscopia por RM. (A) Foram colocados 4 minivoxels na parte sólida lumoral, situada mediaimente. Todos os traçados ob-
tidos dos 4 minivoxels (1.2,3 e 4) rnostram elevação moderada da colina, redução do NAA e enormes picos de lipideos mesmo na parte sólida
tu moral, Inferindo necrose íntratumoral sólida misturada com células tu morais. (B) Mapas cJe merabólitos mostram na imagem de cima, a lesão
realçando com contraste, a parte sólida turr,oral e as margens da parte cistlca, com sobreposição dos traçados da espectroscopia referente a
todos os voxels. Na imagem do meio está o mapa de colina mostrando as áreas que tem maior acumulo de colina (vermelho na barril de cores
ao lado). No caso, a parte sólida tumorai tem maior q uantidade de colína, pois m ostra cor vermelha. Na imagem de baixo está o mapa de m eta-
bólitos de lipídcos. mostrando acúmulo de lipfdeo~ cm roda a lesão. porém mais acentuada no componente necrótlco cístico.

Figura 31.20 Ressonância rnagnética funcional das áreas de linguagem no hemisfério cerebral es(luerdo. (A e B) Mapeamento robusto das
áreas de Broca e (C) mapeamento da área de Wernicke no hemisfério cerebral esquerdo, assegurando a dominância da linguagem deste lado.

• Capítulo 3 1 lleuroimagem 303


Figura 31.21 Ressonância magnética funciona l. As imagPn~ colorida~ sobrepostas nas imagens ana tómicas cm TI W correspond em ao
córtex visual primário VI e~tlmulado por tarefas de visualização de luz ou mosaicos.

Figura 31.22 (A) BOLD fMRI rnotor rndnual corn :arefa nnger capp,ng (movimentos alternados de dedos d as mãos). mapeando o córtex
motor primário nos giros pré-centrais e área motora suplemencar no giro froníal superior em p aciente norrnal. (BI Paciente com tumor
frontal na tarefa de finge, topping mapeando o cêrtex rn otor no giro pré-ce,u al. d eslocado posterior mente pelo tumor.

Figura 31 .23 RMf BOLD-apnela con1 niapas de vasorre.:itividade cerebral normal.

304 Neuroanatomia Funcional

..,...
·.,,. ... ...
..--·.. ..,.....
, ..
Figura 31.24 Paciente com oclusão da artéria cerebral média direita. (A) lrn agem err1 T2 Flair rnostra infartos isquêmicos crõnicos cm
territórios de tran sição arterial no HCD. (B) Pcríu são ASL mostra hipoperfusão no HCD, em te11ltórios de transição arterial. (C) Mapa
de vasorreatividade cerebral mostra íalha na au torrcg ulação vascular em grande parte do hemisfério cere bral d ireito (cérebro sob
risco de infartos).

Figura 31 .25 Hidroccfalia de pressão interm itente ou HPN. (A) Flair T2 rnoslra dilatação dos ventrículos. (BI lmagern no plano sagital
mostrando movimento hipercinét lco do l'quor no aqueduto cerebral em sístole e diástole. Foi constatado aumento da pressão de p11lso
llquórico no aqueduto cerebral em torno de 30 mi /min.

l$+l@iipr,1dif1twttrimrtf!rntin0,,1,f~ilUil:bJ vidade de áreas cerebrais especificas. Uma das indicações é


o diagnóstico diferencial das doenças neurodegeneratlvas.
Assim como a ressonância magnética funcional (RMf).
o PET-SCAN detecta modificações do fluxo sanguíneo e do A degeneração neuronal e a redução da atividade sinápti-
metabolismo cerebral, empregando, entretanto, uma técni- ca causam declínio do metabolismo de glicose nas partes
ca diferente. No PET- SCAN, os pacientes recebem injeção afetadas do cérebro. Como este declínio ocorre, pelo menos
de isótopos capazes de emitir pósitrons. O mais utilizado é incialmente, em áreas especificas do cérebro poupando ou-
o FDG ( 18F-2-íluoro-2-desoxiglucose). Sua captação pelo tras, seguindo padrões específicos da evolução natural da
cérebro é proporcional ao consumo d~ g\ic.ose qu~, pof doençõ, o PET pode auxil',ar no d'1agnós1·,co d'iferenc',al. Na
sua vez, está intimamente associada ao funcionamento doença de Alzheimer. por exemplo, a hlpocaptação ocorre
neuronal. Como a captação de glícose pelos neurónios é inicialmente nos lobos parietais temporais e no giro do cín-
proporcional à sua atividade, a técnica permite estudar a ari- gulo posterior com preservação do córtex sensório-motor.

• Capítulo 31 Heurolmagem 305


Figura 31 .26 PITTCAN neurológico com FDG normal. Cone~ axiais
demonstram distribuição lisiológ ca do radiotraçador com captação
rclarivamente preservada nas estruturas corticais e subcorrlcais. A Figura 31.27 PETSCAN neurológico corn FDG na doença de
captação é de maior intensidade na substância cinzenta (coloração Alzheimer. Cortes axiais demonstram hipocaptação do radiotraça-
vermelha), sendo máxima nos gânglios da base (coloração branca) e dor nos lobos parietais e temporais bilaterais (coloraç.ão amarela e
de menor Intensidade na substância branca (coloração verde e azul). verde) com captação relativamente preservada nas demais estru-
Fonre: Cortesia do Dr. Fabio Esteves e Dr. Sandro Reichow. turas corticais (coloração vermelha) e com captação mais Intensa
nas estruturas subcortícars (coloração branca).
Fonre,· Conesla do Dr. Fabio Esteves e Dr. Sandro Reicho\'11.
córtex visual primário, tálamo, cerebelo e estriado. Na fase
avançada, há a progressão dos achados iniciais com hipo-
captação no lobo frontal e atrofia cortical moderada a se- o detalhamento anatômico de pequenos vasos. É consi-
vera. /\ técnica, no entanto, é limitada pelo alto custo do derada o padrão-ouro, principalmente no diagnóstico de
procedimento, longo tempo para realização e uso de mate- malformações arteriovenosas em que há uma conexão
anormal entre artérias e veias e nos pequenos aneurismas,
rial radioativo (Figuras 31.26 e 31 .27).
que podem não ser detectados por outros métodos. Apre-
senta, porém, custo elevado, menor disponibilidade e, sen-
do invasiva, gera n1aior risco de complicações pelo uso do
Avaliação dos vasos sanguíneos cerebrais pode ser cateter endovascular. Sua utilização hoje se concentra na
feita por métodos invasivos ou não Invasivos e permitem realização de procedimentos terapêuticos como a trom-
diagnosticar patologias como aneurismas, malformações bólise após acidentes vasculares encefálicos (AVEs) embó-
arterlovenosas e obstruções vasculares como nos casos de lico. até 3 a 6 horas após sua instalação, e embolização das
acidentes vasculares encefálicos (AVE) lsquêmicos. malformações arteriovenosas e pequenos aneurismas.

6.1 Angiografia por subtração digital 6.2 Angiotomografia


A angiografia por subtração digital dos vasos cerebrais A angiotomografia é um método não invasivo de maior
é um procedimento invasivo que possibilita a visualização disponibilidade, que utiliza doses menores de radiação e
direta do fluxo sanguíneo em tempo real e permite avaliar permite a aquisição de imagens tão resolutivas quanto as

306 Neuroanatomia Funcional


obtidas pela angiografia convencional por cateterisn·10. 6.3 Angiorressonância
Além da rapidez do procedimento, utiliza menos contraste,
A angiorressonâncía magnética é um método diagnóstico
dispensa o uso de cateter e permite reconstrução tridimen-
totalmente não invasivo que, ao contrário da angíotomografia,
sional em todos os planos. É um método mais disponível e
mais rápido. Atualmente íntegra os protocolos de AVE isquê- não utiliL.a radiação e não necessita do uso de contrastes, na
micos agudos em serviços de emergência, possibilitando a maior parte dos casos. Quando utilizados, a quantidade é me-
intervenção precoce para reverter ou minimizar o déficit nor do que a utilizada na angiotomografa e faz o sangue no
neurológico {Figuras 31.29 A e B) e possibilita a visualiza- interior do vaso sanguíneo mostrar sinal alto (brilho) (Figuras
ção de aneurismas {Figura 18.11 ). 18.4, 18.8. 18.9, 18.12e 31.29).

Artéria cerebral posterior


Artéria basilar
- Artéria cerebelar superior
Artéria cerebral média

Calcificações

Artéría carótida interna

1 -- Artérias cerebra is anteriores


1--~ Artéria comunicante anterior
t---- Artéria cerebral média
Artéria cerebral posterior
1--Artéria basilar

Figura 31 .28 (A) Angioromografia computadorizada cerebral normal; e (B) angiotomografia computadorizada de carótidas e vertebrais
em paciente normal. Cornparar corn a figura esquemática 18.2.

• Capitulo 31 Neuroimagem 307


Ramos Silvianos da artéría
cerebral médio

Artéria cerebral
Artéria cerebral anterior posterior

Artéria carótida interna

Artéria basilar

Artéria cerebra I anterior


Artéria cerebrol anterior
Artéria cerebral
média Artéria comunicante
anterior
Ramo insulares

Artéria carótida interno

Artéria basilar

Artéria cerebral
posterior Artéria vertebral direito

Figura 31.29 Angiografia por ressonáncia magnética sem uso de contraste. Cortes sagítal e axial.

308 HeuroanatomiafUll(iollcll

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