Você está na página 1de 30

CRIMINOLOGIA

CAPÍTULO III:
TEORIAS ETIOLÓGICO-EXPLICATIVAS
DO CRIME

GABRIELA MESQUITA BORGES


1. TEORIAS DE NÍVEL INDIVIDUAL

1.1. As teorias bioantropológicas

A Escola Positivista Italiana


• A Criminologia Etiológica (ou Tradicional) é o discurso que pretende
diferenciar os criminosos dos indivíduos normais através de um método causal-
explicativo (ou causal-determinista), no sentido de se determinar as causas do
comportamento criminoso.

• Consenso, determinismo e experimentalismo.


ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA
• O positivismo acredita que tanto a sociedade, como o homem como a
ciência evoluem para um estado último e perfeito regido pelas leis do
positivismo.

• C. Lombroso (1835-1909)
▪ ‘L’Uomo delinquente’ (1876)
▪ ‘La donna delinquente’ (1893)
▪ ‘O crime: suas causas e remédios’ (1899)

▪ Formação em Medicina
▪ Docente na Universidade de Turim
4 LOMBROSO, 1906

“Eu não fiz mais do que dar um


corpo mais orgânico às teses que,
por assim dizer, flutuavam no ar,
ainda indistintas…”
5 INFLUÊNCIAS DA EPI

• A Escola Positivista Italiana toma como


objeto dos seus estudos o delinquente, e
olha para este como olharia para qualquer objeto
da natureza, medindo, quantificando, observando,
de modo a conseguir prever o comportamento
para poder atuar sobre o indivíduo.
• Homem delinquente versus Não delinquente
6 INFLUÊNCIAS DA EPI

Positivismo Fisionomia Frenologia


Comte Lavater Gall

Psiquiatria Degenerescência Evolucionismo


Pinel & Esquirol Morel Darwin
7 POSITIVISMO

✓ Comte (1798-1857)

▪ Método experimental, quantificação e indução


▪ Leis gerais e previsibilidade
▪ Causalidade e determinismo
▪ Objetividade e neutralidade
8 FISIONOMIA

✓ Lavater (1741-1801)

▪ Análise do corpo em busca das


manifestações exteriores das
características interiores do ser humano.

▪ Procura no físico as diferenças


psicológicas entre os sujeitos.

▪ Hipótese: existência de “um corpo do mal,


do vício e da imoralidade”.
9 FRENOLOGIA

✓ Gall (1758-1828)

▪ As várias partes do cérebro correspondem a


diferentes faculdades mentais.

▪ Qualquer alteração orgânica do cérebro →


alteração da função psíquica.

▪ A forma do crânio é a impressão fiel da


composição cerebral

▪ Alterações cerebrais e das funções psíquicas


→ detetáveis pela análise da morfologia
craniana.
10 PSIQUIATRIA

• Até o final do século XVIII – louco e delinquente tratados como


semelhantes → inexiste o saber médico sobre a loucura

• Psiquiatria e Criminologia – “disciplinas gémeas”: nascimento


simultâneo dos saberes sobre o louco e o criminoso

▪ Pinel (1745-1828)
▪ Esquirol (1772-1840)

• Distinção entre delinquente louco e responsável


11 TEORIA DA
DEGENERESCÊNCIA
✓ Morel (1809-1873)

• Tratado das Degenerescências da Espécie Humana (1857)

▪ Degenerescência: desvio patológico relativamente ao homem


normal (provém do impacto que o meio - físico e social – tem
sobre o corpo e a mente)
▪ Desvio a um tipo primitivo
▪ Transmissibilidade ou hereditariedade do desvio patológico →
degenerescência de toda a espécie humana → extinção
12 EVOLUCIONISMO

• Darwin (1809-1882)

▪ “A origem das espécies”


(1859)
▪ Evolução
▪ Lei do mais forte (mais apto)
▪ Lei da sobrevivência
13 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA

• Lombroso, Ferri e Garofalo: em comum

▪ Etiologia

▪ Determinismo e rejeição do livre arbítrio

▪ Oposição à Escola Clássica de Direito Penal (Beccaria e Bentham)

▪ Rejeição do pensamento metafísico

▪ A importância da ciência no estudo do delinquente


14 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA

• C. Lombroso (1835-1909)

▪ ‘L’Uomo delinquente’ (1876)


▪ ‘La donna delinquente’ (1893)
▪ ‘O crime: suas causas e remédios’ (1899)

▪ Formação em Medicina
▪ Docente na Universidade de Turim
15 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA
C. Lombroso (1835-1909)
▪ Atavismo e degenerescência
▪ O criminoso nato
▪ Conceção do criminoso
▪ A procura de estigmas anatómicos e outros (ex. : insensibilidade à dor, cólera,
egoísmo, morbidez, linguagem agressiva e violenta)
▪ Observação, mensuração
▪ Tipologia de delinquentes: nato; louco ou epilético; criminalóide
▪ Reformulações constantes
16
17

▪ Assimetria craniana

▪ Arcada supraciliar saliente

▪ Mandíbula robusta, larga,


projetada

▪ Malformações nos dentes


18
19 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA

C. Lombroso (1835-1909)

▪ Pontos positivos:
• Rompe com a conceção abstrata de homem

• Método positivo e experimental no estudo do crime

• Esforço de investigação

• Importância para a criminologia científica

• Propõe uma teoria geral


20 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA

C. Lombroso (1835-1909)

▪ Criticas dos contemporâneos: G. Tarde (1886) e


Goring (1913)

• Fragilidades do método e das análises estatísticas (Goring)


• Não abandona hipótese inicial
• Ignora fatores sociais
• Não questiona conceito ‘crime’ (Tarde)
21 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA
• E. Ferri (1856-1929)

▪ ‘Sociologia Criminal’ (1892, 3a ed.)


▪ Projeto de Código Penal italiano (1921)
▪ Abordagem multifatorial: o crime é causado por fatores
físicos/ambientais, antropológicos e sociais
▪ Oposição ao livre arbítrio
▪ Substitutos da pena – medidas preventivas
▪ Tipologia de delinquentes: nato; alienado; de habito; de ocasião; por
paixão
22 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA

• R. Garofalo (1852-1934)
▪ ‘Criminologia’ (1885)

▪ Oposição ao livre arbítrio

▪ A importância do método indutivo e experimental (orientar o DP)

▪ Delito natural: violação dos sentimentos básicos de probidade e piedade

▪ Explicação do crime: orientação psicológica → perigosidade

▪ Eliminação dos não aptos


23 ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA – POLÍTICA CRIMINAL

▪Ideologia de tratamento
▪Ampliação das exigências e direitos da sociedade sobre o
delinquente;
▪Perigosidade: temibilidade e adaptabilidade (Garofalo)
▪Defesa social
▪Críticas à Justiça Penal (eficácia dissuasora das penas), ao
princípio da legalidade e da responsabilidade, ao princípio da
proporcionalidade das penas.
1.2. AS TEORIAS PSICODINÂMICAS

- O surgimento dessas teorias significa a passagem do plano


bioantropológico para o plano da psicologia criminal.

- O conceito de perigosidade vai dar origem a um mecanismo de


políticas públicas de prevenção e controlo da delinquência e vai dar
abertura para um campo de estudo novo, aquele que toca as
teorias da personalidade criminal.
25 ESCOLA CLÁSSICA DE DIREITO PENAL

Beccaria (1738-1794) e Bentham (1748-1832)

▪ Proteção das liberdades individuais

▪ Razão e dedução

▪ O prazer e a dor – cálculo da pena

▪ Teoria da dissuasão (geral e especial)

▪ Penas moderadas, céleres, certas, proporcionais, previstas na lei


ESCOLA POSITIVISTA ITALIANA

26 VERSUS
ESCOLA CLÁSSICA DE DIREITO PENAL

Escola Clássica de Direito Penal Escola Positivista Italiana

Liberdade / Livre arbítrio Determinismo

Abstração jurídica Tipologias dos delinquentes

Culpa Perigosidade
Defesa da sociedade contra o
Justiça
delinquente perigoso
Eficácia dissuasora das penas Tratamento e neutralização
27 EMERGÊNCIA DO CONCEITO DE
PERSONALIDADE CRIMINAL
• 1ª metade do Séc. XIX – teorias psicológicas

• Monomania homicida

• A justiça convoca a psiquiatria

• A difusão das ideias de Lombroso

• Substituição da responsabilidade penal (culpa) pela perigosidade


(natureza do criminoso)

• A intervenção do poder publico funda-se no ‘estado perigoso’

• Defesa social e tratamento


28 EMERGÊNCIA DO CONCEITO DE
PERSONALIDADE CRIMINAL
• Michel Foucault
29 EMERGÊNCIA DO CONCEITO DE
PERSONALIDADE CRIMINAL

• União Internacional de Direito Penal: fundada em 1889 por von Lizt e Prins

• Conceito de perigosidade: Congresso da União Internacional de Direito Penal


(1890)

• Medidas especiais para indivíduos perigosos: reincidentes e criminosos profissionais

• 1910: detenção indefinida

• Penas + medidas de segurança

• Culpabilidade + perigosidade
30 BIBLIOGRAFIA

• Cusson, M. ( 2006). Criminologia. Cruz Quebrada: Casa das Letras/Editorial


Noticias.
• Dias, J. & Andrade, M. (1992). Criminologia. Coimbra: Coimbra Editora.
• Gassin, R. (1994). Criminologie. Paris: Editions Dalloz.
• Hagan, F. (1994). Introduction to Criminology. Chicago: Nelson Hall.
• Mannheim, H. (1984). Criminologia Comparada (vol. I). Lisboa: Fundacao
Calouste Gulbenkian.
• Vold, G. & Bernard, Th. (1986). Theoretical Criminology. New York: Oxford
University Press.

Você também pode gostar