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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS – UEMG

Curso: DIREITO
Disciplina: Terceiro Setor
Professor: Andrea das Graças Souza Garcia
Turno: Noturno
Aluna: Kelly Fernanda Amancio Batista

TEMA: Governança e sua relação com o Terceiro Setor

Entenda a governança no Terceiro Setor como um conjunto de ações que devem ser realizadas
com o intuito de possibilitar e refletir sobre as funções sociais a serem desempenhadas por cada
instituição. Essa governança irá trabalhar com o objetivo de priorizar funções que são de fato
cruciais nesse setor, como é o caso da prestação de serviços essenciais na área que atua, além de
oferecer um ambiente de empreendedorismo social que expressa crenças e valores. É importante
entender que a governança no Terceiro Setor se difere bastante das organizações privadas e
públicas. Isso ocorre, pois diferente das privadas e públicas, essas organizações não possuem
proprietários para receber (com direito) benefícios econômicos que, de certo modo, passam a
desempenhar uma governança ainda mais importante, já que o objetivo é utilizar esses possíveis
benefícios econômicos em prol da causa que defende. A ideia da governança no Terceiro Setor
é dividir exatamente todas as funções desempenhadas para que cada gestor da organização passe
a entender qual a sua responsabilidade diante do Conselho de Administração e, até mesmo, com
o seus stakeholders que podem ser os doadores, o Governo ou a sociedade. A governança ainda
pode envolver algumas tarefas que são fundamentais no Terceiro Setor como a transparência, a
prestação de contas e outros. Essas tarefas são cruciais para manter a boa prática do Terceiro
Setor. Na transparência passa a ser exigido a promoção de confiança entre as partes que estão
envolvidas com a organização, já na prestação de contas é fundamental que os gestores
responsáveis pela governança passem a identificar onde atuaram e quais foram os atos
desenvolvidos. Além disso, essa governança também sugere a equidade que exige o tratamento
igual para todos os públicos. Segundo Jensen (1993), para uma empresa há quatro forças de
controle que podem resolver problemas causados por divergências entre as decisões tomadas
internamente e aquelas que seriam melhores do ponto de vista da sociedade. Esses mecanismos
de controle podem ser classificados em externos (sistema político-legal e regulatório, mercados
de capitais e do produto) e internos (sistema de controle exercido pelo conselho). Embora
imperfeitos, os mecanismos de monitoramento e incentivo nas empresas com fins lucrativos
destinam-se à redução do desalinhamento de interesses entre gestores e principais, tendo como
base a diminuição da assimetria informacional. A partir dessa classificação, é possível traçar
alguns paralelos entre a aplicação dos mecanismos internos e externos de governança nas
empresas e nas OTS.

Nos países desenvolvidos, o mercado de capitais atua como um mecanismo de


governança para as empresas, pois reflete direta ou indiretamente o seu
desempenho. Em caso de ineficiência de gestão (valor potencial da empresa menor
que o seu valor real), existe, em tese, forte incentivo para investidores externos
assumirem o controle da empresa (hostile takeovers). Dessa forma, a ameaça de
mudança de controle torna-se um incentivo para os gestores manterem o valor da
empresa elevado, alinhando, assim, seus interesses com os dos acionistas
(MAcCONNELL, apud OKIMURA, 2003). ( apud, MENDONÇA, L. R.;
MACHADO FILHO, C. A. P.; 2004)

O ambiente institucional também pode ter papel importante para inibir atitudes oportunísticas
do gestor, sob pena de perda de reputação da organização. O mercado de doações poderia,
assim, regular o comportamento dos agentes na captação e, principalmente, na utilização de
recursos para o financiamento dos projetos sociais. Quanto mais restrito o mercado de doações,
maior a preocupação dos agentes com a manutenção do capital reputacional da organização.

No Terceiro Setor essa possibilidade é inexistente. O mercado de capitais das


organizações sem fins lucrativos é representado pelo mercado de doações, o qual se
baseia na liberdade dos doadores para direcionar seus recursos à organização que
escolherem. Entretanto, essa escolha não se fundamenta em uma relação
transparente, pois existe forte assimetria informacional entre o gestor da
organização e aquilo que é amplamente divulgado e que influencia a escolha dos
doadores (AKERLOF, 1970). (apud, MENDONÇA, L. R.; MACHADO FILHO, C.
A. P.; 2004)

A governação é um sistema de mecanismo baseado nos princípios e regras de avaliação de boas


práticas. Através deste sistema, tanto organizações públicas como privadas, com ou sem fins
lucrativos, podem ser geridas e supervisionadas, criando assim um sistema que pode estimular o
sentido de segurança e incentivar a arrecadação de fundos consciente e durante todo o ano A
palavra originou-se do verbo latino, "guiar, guiar", que também pode significar governar. Nessa
perspectiva, a governança deve obedecer, além da legislação vigente: quais são as regras de
funcionamento da entidade, definidas na constituição e regimento interno; como se dá a
distribuição e o exercício do poder por meio do estabelecimento de responsabilidades entre
órgãos administrativos e a gestão das responsabilidades dos gestores são realizadas; qual é a
regulamentação da relação entre as partes interessadas para proteger os direitos das partes
interessadas e organizar o diálogo com todos; quais são os princípios, regras e procedimentos
para a tomada de decisão no processo de gestão; e como para conduzir o monitoramento e
avaliação de desempenho. As vantagens da adoção de práticas de governança em ONGs são
diversas e inter-relacionadas. Dentre elas, destacamos que membros, diretores, administradores
e doadores são mais consistentes na formulação de estratégias comuns e na melhoria da
legitimidade das ações; processos de gestão e eficiência no cumprimento de metas;
transparência na gestão dos recursos e nos resultados alcançados, credibilidade dos
beneficiários, colaboradores e opinião pública, além de poder ampliar as atividades de captação
de recursos para manter a continuidade de suas ações.

A adoção de boas práticas de governança pode ser importante para organizações do terceiro
setor na arrecadação de fundos, bem como na melhoria da eficiência e legitimidade de sua
gestão, porque o processo da organização que irá receber os recursos indica a preocupação do
doador quanto ao seu uso e a maximização dos resultados. Portanto, é imprescindível que o
terceiro setor atinja o mercado corporativo, com a adoção de políticas e práticas de mercado,
para que os doadores se sintam seguros e confiantes na retenção das doações. Nesse sentido,
boas práticas podem resolver em termos de captação de recursos, pois os investidores se
preocupam em como será determinado recurso para maximizar os resultados da entidade
receptora. Em suma, concluímos que, para aprimorar a gestão da organização, a governança é
um pré-requisito de mercado para empresas e ONGs. A coerência e a consistência garantem a
clareza e a transparência dos princípios e regras que norteiam o funcionamento da organização.
Para fortalecer a luta social, as organizações também devem se tornar cada vez mais capazes de
manter a responsabilidade pública e sistemática e tornar visível o processo de implementação de
suas atividades. As boas práticas são um desafio permanente e essencial para aumentar a
credibilidade do trabalho das ONGs.

REFERÊNCIA

MENDONÇA, L. R.; MACHADO FILHO, C. A. P. Governança nas organizações do terceiro


setor: considerações teóricas. RAUSP Management Journal, v. 39, n. 4, p. 302-308, 2004.
MORI, Carlos Renato. Importância da Governança Corporativa no Terceiro Setor. Poletto e
Possamai. Disponível em: < https://poletto.adv.br/importancia-da-governanca-corporativa-no-
terceiro-setor/. Acesso em 23 de Julho de 2021
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. Código Das Melhores Práticas de Governança
Corporativa. 5.ed. / Instituto Brasileiro de Governança Corporativa. – São Paulo, SP: IBGC,
2015.

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