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AutOS n. 14777-91.2015.4.01.

3300
Fls:

PODER UDÍCIÁRIO
JUSTIÇ FEDERAL
SEÇÃO JUDÍCIARI DO ESTADO DA BAHIA

AUTOS N. 14777-91.2015.4.01.3300
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FED5RAL
RÉU: REINALDO CONCEIÇÃO
JUÍZO: 17a VARA FEDERAL (ESPECIALIZADA CRIMINAL)
SENTENÇA TIPO "D"

SEN ENÇ A

l - RELAT )RIO

O MINISTÉRIO PUBLICO FEDERAL ofereceu denúncia em


face de REINALDO CONCEIÇÃO, bras eiró, convivente em união estável, vigilante,
natural de Salvador/BA, nascido em 11/ 1/1972, filho de Nadja Maria da Conceição,
RG n. 888532 - SSP/BA, residente na Rua da Igreja, n. 162, Parque Bela Vista,
Brotas, Salvador/BA, atribuindo-lhe a cofiduta prevista no art. 121, caput, c/c art. 14,
II, do CP.

Segundo narra a ienúncia, no dia 11 de setembro de 2014,


por volta das 11 h20, no complexo da E :ola Politécnica da Universidade Federal da
Bahia - UFBA, o réu, de forma livre e c nsciente, na qualidade de vigilante daquela
autarquia federal, desferiu disparos de ma de fogo contra o estudante do Curso de
Ciências Sociais DANIEL SODRÉ BE ^JÍCIO BALTHAZAR DA SILVEIRA, como
forma de detê-lo pela suspeita de qu> a vítima teria pichado as instalações da
Universidade, atingindo-o pelas costas a região do ombro direito, evento que não
teria se consumado por circunstâncias ilheias à sua vontade, em razão do pronto
atendimento conferido à vítima.

Denúncia recebid em 28/04/2015 {fl. 98).

Citado, o denunc ado apresentou resposta à acusação às


fls. 115/118.
Autos n. 14777-91.2015.4.01.3300
F/s;

IUDICÍÁRIO
JUSTIÇ FEDERAL
SE DO ESTADO DA BAHt

Oitiva de testelnunhas e interrogatório do acusado


registrados em mídia audiovisual às fls 178 e 225.

Em sede de diligélicias, o MPF e a defesa nada requereram.

O Ministério Pu lico Federal, em alegações finais (fls.


228/244) pugnou pela pronúncia do ré j, determinando-se o seu julgamento pelo
Tribunal do Júri Federal.

A defesa apres ntou alegações finais às fls. 246/253,


alegando ausência de animus necano na conduta do réu, com a consequente
desclassificação do delito para lesa corporal culposa. Sustentou, ainda, a
incompatibilidade entre a tentativa e o ( olo eventual.

E o relatório. Pa; só a decidir.

II - FUND, MENTAÇÃO

Na forma do art. 413 do CPP, "o juiz, fundamentadamente,


pronunciará o acusado, se convencido Já materialidade do fato e da existência de
indícios suficientes de autoria ou de pá ticipação".

Reputo ser o ca; de pronunciar o réu, levando o caso ao


julgamento do Tribunal do Júri.

Com efeito, a m terialidade delitiva está comprovada pelos


seguintes documentos: auto de apreen ao do revólver marca Taurus calibre 38 (fl.
7); auto de apreensão do projétil extraído do corpo da vítima (fl. 31); laudo de
perícia realizada no local do crime (fls. 54/60); laudo de exame de lesões
corporais, confirmando que a vítima ar: -esentava orifício de entrada localizado na
região escapular direita (fís. 78/79) e e ame de balística (fls. 82/92).

Não há dúvidas, ambém, de que foi o acusado o autor do


disparo que atingiu o estudante DA MEL SODRÉ BENÍCIO BALTHAZAR DA
SILVEIRA, logo após este haver pich Io instalações da Universidade Federal da
Bahia.

O depoimento pr stado em Juízo por DEILSON DE JESUS


BARRETO, vigilante que presenciou totto o ocorrido, é bem esclarecedor. Diz, em
Autos n. 14777-91.2015.4.01.3300
F/s:

PODER UDICIARIO
JUSTJÇ FEDERAL
DO

resumo: que recebeu a notícia de que alguém havia acabado de pichar


instalações da Universidade; que a< onou o acusado, vigilante do dia; que
avistaram o suspeito pela pichação e aíram correndo no seu encalço; que ouviu
quando o réu efetuou dois disparos, endo um para cima; que o acusado deu
ordem para o suspeito parar; que outrc vigilante, ANTÓNIO, abordou o suspeito e
percebeu que ele estava sangrando; q e chamou o coordenador e o supervisor e
deram socorro à vítima, que fora le\oadahospitalar;
em carroque o acuse para receber
da empresa
do ficou em pânico (registro em mídia
audiovisual àfl. 178).

JOEIDSON MAR NHO BISPO, coordenador de segurança,


confirmou haver sido acionado e leva o a vítima para atendimento no Hospital
Geral do Estado - HGE, ali aguardand até a chegada de familiares (registro em
mídia audiovisual à f 1.178).

ANTÓNIO CARL )S AZEVEDO DOS SANTOS, vigilante,


relatou haver abordado a vítima sanctando , tendo o réu chegado logo depois,
bastante assustado, afirmando haver eito "uma besteira" e que ligaria para a
SAMU. Acrescentou que em seguida chegaram o supervisor e o coordenador
(registro em mídia audiovisual à fí. 178

A VITIMA, por sua vez, disse haver ouvido um primeiro


disparo e em seguida outro, sentindo o impacto nas costas, como se houvesse
"tomado um tapa", que continuou corrgndo e foi abordado por segurança que lhe
disse "você estava pichando", ao que r ;torquiu "tomei um tiro, chamem a SAMU".
Acrescentou que o réu apareceu logo depois, perguntou se ele, a vítima, havia
visto algo e foi embora. Confirmou hav r sido levado em viatura da empresa para
atendimento médico (registro em mídia audiovisual àfl. 225).

Ao ser interrogatí ) judiciaímente, o ACUSADO afirmou, em


síntese: que é vigilante desde 1994 que seu colega DEÍLSON informou da
pichação e foram correndo no encalço do suspeito; que deu o primeiro tiro para
cima para fazer o suspeito parar "e o igundo tiro saiu"; que só percebeu depois
que havia atingido o suspeito; que fie )u muito nervoso; que tentou ligar para a
SAMU; que seu objetivo era parar o uspeito para ele assumir o que fez; que
achou que tinha de pegar ele, pois er a segunda vez que pichava; que tem um
arrependimento muito grande (registro m mídia audiovisual àfl. 225).
Autos n. 14777-91.2015.4.01.3300
Fls:

PODER
JUSTIÇ FEDERAL
SEÇÃQ JUDICIAR A, DO ESTADO DA BAHiA

Nesse contexto, não se pode descartar a presença, na


hipótese, do dolo, ainda que evemtual, de modo que não é cabível a
desclassificação pretendida pela defesa. A matéria há de ser submetida à
soberana apreciação do Tribunal do Jú

Não merece acol nida, igualmente, a tese defensiva de que


não caberia tentativa na hipótese de dolo eventual. Trata-se de posição
minoritária na doutrina, que de resto não encontra respaldo na jurisprudência,
conforme se vê dos julgados do Eg ágio Superior Tribunal de Justiça - STJ
transcritos pelo MPF em seus memoriais (fl. 243).

Ill - DIAPOSITIVO

Diante do exposto, PRONUNCIO o acusado REINALDO


CONCEIÇÃO, como incurso no tipo panai previsto no artigo 121, caput, do CP,
combinado com o art. 14, II, do mesmo Diploma Legal, submetendo-o a
julgamento pelo Tribunal do Júri Federa

O réu deverá permanecer em liberdade, uma vez ausentes


na espécie os requisitos da prisão prevê ntiva.

Publique-se. Regi; tre-se. Intimem-se.

Salvador/BA, 19 d 5 maio de 2016.

ANTÓNIO OSWALDO SCARPA


JUIZ FEDER <\ DA 17a VARA
ESPECIALIZADA CRIMINAL

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