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CURSO
DE
AIKIDO
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RESUMO
A partir dos estudos dos teóricos da sociedade e da educação nada mais natural que nos
identifiquemos com uns e passamos a observar o mundo e nossas experiências vividas com
olhos mais refinados. Passei e continuo a passar por estes momentos em que paramos e
olhamos para nossas práticas, em um desses momentos parei para olhar o Aikidô
concomitantemente que trabalhava em um grupo na qual a base teórica é a Dialogicidade.
Havia alguma semelhança entre ambos. Com o propósito de encontrá-la elaboro um projeto
que visava discutir as duas sabedorias1, apontar suas semelhanças e possíveis contribuições
para a educação. No presente artigo será apresentado a origem do Aikidô e suas raízes, a
Dialogicidade de Freire e as possíveis relações que podemos fazer entre ambos os saberes.
INTRODUÇÃO
O Aikidô surge no Japão no século XX, é fundado por Mestre Morihei Ueshiba
antes da segunda guerra mundial. Tal arte e/ou prática corporal2 sobreviveu a ocupação
estadunidense no pós-guerra, conquistando adeptos no Japão e fora dele. Chega ao Brasil na
década de 1960 com o desembarcar do Mestre Reishin Kawai no porto de Santos, litoral sul
do estado de São Paulo. Mestre Kawai estabelece moradia na cidade de São Paulo, onde
estrutura um Dojo3 - vem a fundar a Academia Central de Aikidô, a qual reúne as academias
que seguem as orientações de Shihan4 Kawai.
Meu contato com o Aikidô se deu no início do segundo semestre de 2006, artes
marciais sempre foram um atrativo para mim, talvez pela busca de auto proteção com o
intuito de não ser fraco perante os demais. Quando mais jovem pratiquei o Judô, arte japonesa
do final do século XIX que me agradava muito.
Através de Fernando Bachega, companheiro e praticante estudioso de artes
marciais obtive informações sobre o Aikidô, minha atração pela arte foi maior no momento
em que descobri a busca do aikidoista. Esta se centra em não superar os outros, mas na auto-
superação, principalmente em situações conflituosas. Bachega é aluno do instituto Shimbukan
de Breno Sensei5, este foi aluno direto de Kawai Sensei. Fernando Izê, graduado pelo instituto
Shimbukan, é atualmente meu Shidosha6 e através de seus treinos e de estudos bibliográficos
passei a interessar-me por este modo de vida que o Aikidô contempla. Por influência de
Fernando Bachega comecei a praticar em setembro de 2006 na academia Forma em São
Carlos.
Entre os anos de 2006 e 2008 fui até São Paulo me encontrar com o grupo que
treina com o Mestre7 Kawai. As experiências vividas nestas inserções modificaram meus
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pensamentos sobre a arte e quando, no segundo semestre de 2008, o Sensei Izé passou a
responsabilidade dos treinos para o Sensei Gilberto, passei a repensar os treinos e minha
busca na prática do Aikidô. No mesmo ano o grupo se muda para outro espaço de treino,
academia Romeu Berto. Quando ocorre esta mudança eu acabo também mudando meu espaço
de treino, devido a minha busca pessoal de um espaço com características próximas a que
vivenciei em São Paulo. Passo então a praticar com o grupo do Sensei Roberto, o qual ainda
sou vinculado até os dias atuais, este grupo utiliza o espaço do CEFER na USP – São Carlos.
Este trabalho contribuirá para a compreensão dos processos educativos
presentes na prática e vivência do Aikidô, buscando observar e respeitar a sua cultura original,
possivelmente fornecendo elementos para o pensar a prática docente e a metodologia de
ensino, atentando para possíveis contribuições no meio escolar.
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Kotodama: “função espiritual da vibração do som” (SAOTOME, 2005, p. 27).
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Hombu Dojo: sede principal do Aikidô, localizada no Japão.
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Fundação Aikikai Hombu Dojô – instituição internacional de Aikidô.
11
UNIÃO SUL- AMERICANA DE AIKIDÔ KAWAI SHIHAN. Disponível em
<http://www.aikidokawai.com.br/kawai.htm>. Acesso em 21 jun. 2009 as 12hs.
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Bujutsu é formado pelos ideogramas chineses bu ( ) e jutsu ( ) e possuem o significado de “artes” ou
“técnicas” militares. Segundo Ratti e Westbrook : À arte genérica de combate dá-se, na maioria das vezes, a
denominação de bujutsu. (...) Inclusive, nos primeiros documentos escritos da nação japonesa, bu era empregado
para denotar a dimensão militar de sua cultura nacional, diferenciando-a, por exemplo, da dimensão pública (ko)
ou da dimensão civil (bun) (...). Bu aparece, assim, nas palavras compostas buke e bumon para identificar
“famílias militares”, à diferença de Kuge e Kugyo (sendo ku variação fonética de ko) que faz referência a “nobres
públicos”. Bu aparece em bushi, “nobres militares” (...). (RATTI&WESTBROOK, 2006)
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Hoje os esportes só servem como exercícios físicos – eles não treinam a pessoa
como um todo. A prática de aiki, por outro lado, promove o valor, a sinceridade,
a fidelidade, a bondade e a beleza, além de tornar o corpo forte e saudável (p.14).
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DIALOGICIDADE DE FREIRE
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todos os treinos é preciso convidar um parceiro para que ambos se ajudem a praticar os
movimentos e técnicas demonstradas pelo Sensei, se não houver este parceiro o praticante não
aprende o que seu professor lhe deseja ensinar.
Esta relação que passa a ser construída entre os praticantes é uma relação de
confiança, visto que durante os treinos cada aikidoista empresta o corpo para seu parceiro
estudar os movimentos da arte. Estes movimentos são torções, “chaves”, quedas, que
realizadas de forma inadequada podem resultar em problemas graves como lesões no ombro,
fraturas, lesões ósseas, inflamação de ligamentos. Desta maneira cada aprendiz precisa cuidar
muito bem se seu parceiro.
Diante desta realidade, os praticantes de Aikidô precisam manter um diálogo
entre si, pois estão sempre indicando ao companheiro de treino quais movimentos ou técnicas
não estão sendo executadas corretamente. Porém para isso ambos precisão se entregar neste
diálogo, que apesar de não haver muitas palavras – durante os treinos e a permanência no dojo
é considerado parte da etiqueta o silêncio, visto que este local é considerado sagrado e que ao
início de cada treino o Sensei pede para que o fundador da arte esteja presente no local – não
deixa de ser um diálogo, pois os envolvidos compreendem os movimentos realizados durante
os treinos e quando não o sabem solicitam explicações ao Sensei.
Como para treinar faz-se necessário ter um parceiro é preciso então manter um
diálogo com este. Mesmo no treino de Aikidô pode-se perceber que este diálogo pode não
existir, aja visto as atitudes que alguns praticantes tomam com outros, atitudes as quais faltam
humildade, amor e fé nos homens.
Nas referencias citadas acima quanto aos propósitos da prática do Aikidô
podemos notar a presença da auto superação. Esta superação, como a expressão diz, é de si
mesmo. O Aikidô procura ensinar aos praticantes que não se deve superar o outro, este é um
princípio básico do Aikidô. Ao longo dos anos o aikidoista aprende que a comunhão, “aiki”, é
fundamental para a vida.
Paulo Freire também fala da comunhão entre os homens e que esta se dá pelo
uso da palavra verdadeira. Os homens, para manter essa comunhão, precisão dialogar entre si
e este segundo Freire não pode ser palavras direcionada de um sobre o outro, pois desta forma
se constitui a competição, a superação do outro. Este diálogo precisa ser humilde, precisa ter
amor, e precisa de fé no outro, com esses fundamentos os homens mantem a confiança ente si
e desta forma, somente desta forma é possível obter diálogo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS