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PÓS-GRADUÇÃO EM DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL

MÓDULO - DIREITO PENAL I

MATERIAL PRÉ-AULA

1) A responsabilidade penal pelo ato infracional e o procedimento nas varas da


infância e juventude

2) Plano de Estudos:

A aplicação de medidas socioeducativas a adolescentes acusados da prática de ato


infracional está sujeita a um procedimento próprio, regulado pelos arts. 171 a 190 do ECA,
que pressupõe a observância de uma série de regras e princípios de Direito Processual
(como o contraditório, ampla defesa, devido processo legal), insculpidos nos arts. 110 e
111 do ECA, assim como no art. 5º, incisos LIV e LV da CF, sem perder de vista as normas
e princípios próprios do Direito da Criança e do Adolescente, com ênfase para os princípios
da prioridade absoluta e da proteção integral à criança e ao adolescente.

Importante destacar, aliás, que a finalidade do procedimento para apuração de ato


infracional praticado por adolescente, ao contrário do que ocorre com o processo-crime
instaurado em relação a imputáveis, não é a aplicação de uma sanção estatal (no caso, as
medidas socioeducativas), mas sim a proteção integral do adolescente, que se constitui no
objetivo de toda e qualquer disposição estatutária, por força do disposto nos arts. 1º e 6º,
da Lei nº 8.069/90. A rigor, mesmo se comprovada a autoria da infração, sequer há a
obrigatoriedade da aplicação de medidas socioeducativas, o que somente deverá ocorrer
se o adolescente delas necessitar (cf. arts. 113 c/c 100, primeira parte, do ECA), como
forma de neutralizar os fatores determinantes da conduta infracional (que devem ser
apurados, inclusive através de uma avaliação técnica interdisciplinar)

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Ao adolescente acusado da prática de ato infracional também são assegurados inúmeros
direitos individuais, relacionados nos arts. 106 a 109 do ECA, em reprodução a disposições
similares contidas no art. 5º, da CF .

A tônica do procedimento para apuração de ato infracional é a celeridade, sendo que


embora possua regras próprias e não tenha por escopo a aplicação de sanção de natureza
penal, por força do disposto no art. 152 do ECA, são a ele aplicadas, em caráter subsidiário
(ou seja, na ausência de disposição expressa do ECA e desde que compatíveis com a
sistemática por ele estabelecida e com os princípios que norteiam o Direito da Criança e do
Adolescente), as normas gerais previstas no Código de Processo Penal, com exceção do
sistema recursal, ex vi do disposto no art. 198 do ECA (que prevê a adoção, com algumas
"adaptações", do sistema recursal do Código de Processo Civil, o que é válido, inclusive,
para o procedimento para apuração de ato infracional).

Segundo os itens 2.3.2 e 5.2.7, do Código de Normas da Corregedoria Geral de Justiça do


Estado do Paraná, os procedimentos para apuração de ato infracional (assim como outras
causas que envolvem interesses de crianças e adolescentes), devem ter uma capa ou tarja
que os distinga dos demais, para que recebam um trâmite prioritário, sendo que os
procedimentos envolvendo adolescentes privados de liberdade deverão tramitar de forma
preferencial mesmo em relação a processos-crime de réus presos (cf. item 2.3.2.2, do
referido Código de Normas).

O especial destaque e a maior celeridade do feito também vale para as investigações


policiais (cf. Resolução nº 249/2005 - SESP) e para atuação do Ministério Público (cf.
Recomendação nº 03/2000, da Corregedoria Geral do Ministério Público - CGMP), sendo
todas as referidas regras decorrentes do princípio legal e constitucional da prioridade
absoluta à criança e ao adolescente, previsto no art. 227, caput, da CF que, por força do
disposto no art. 4º, par. único, do ECA, importa na "precedência de atendimento nos
serviços públicos ou de relevância pública", o que se aplica, logicamente, à prestação
jurisdicional, assim como à atividade ministerial e policial.

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A competência para seu processo e julgamento será invariavelmente do Juiz da Infância e
Juventude do local da ação ou omissão (local da conduta infracional), observadas as regras
de conexão, continência e prevenção previstas no CPP ex vi do disposto no art. 147, §1º
c/c art. 148, incisos I e II e 152, do ECA.

Vale lembrar que, a teor do disposto no art. 114 c/c art. 189, incisos II e IV, do ECA, para
imposição de medidas socioeducativas , é imprescindível a devida comprovação da autoria
e da materialidade da infração, para o que não basta a mera "confissão" do adolescente,
sendo necessária a instrução do feito e a produção de provas idôneas e suficientes, a
exemplo do que ocorreria em se tratando de um processo crime instaurado em relação a
um imputável.

A respeito da matéria, foi recentemente editada Súmula nº 342, do STJ, segundo a qual:

"No procedimento para aplicação de medida socioeducativa, é nula a desistência de outras


provas em face da confissão do adolescente".

Acerca do procedimento para apuração de ato infracional é importante destacar:

1 - O adolescente apreendido em flagrante deverá ser cientificado de seus direitos (art. 106,
par. único do ECA) e encaminhado à autoridade policial competente (art. 172 do ECA), com
comunicação ao Juiz da Infância e da Juventude e sua família ou pessoa por ele indicada
(art. 107 do ECA). Caso haja DP especializada para adolescentes, deverá o adolescente
ser a esta encaminhado, mesmo quando o ato for praticado em companhia de imputável.

Obs:
A falta da imediata comunicação da apreensão de criança ou adolescente à autoridade
judiciária competente, à família ou pessoa indicada pelo adolescente importa, em tese, na
prática do crime do art. 231 do ECA, assim como se constitui crime proceder à apreensão
de criança ou adolescente sem que haja flagrante ou ordem escrita e fundamentada de

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autoridade judiciária competente ou sem a observância das formalidades legais (art. 230,
caput e par. único do ECA).

2 - Caso o ato infracional seja praticado mediante violência ou grave ameaça à pessoa,
deverá ser lavrado auto de apreensão, com a oitiva de testemunhas, do adolescente,
apreensão do produto e instrumentos da infração e requisição de exames ou perícias
necessárias à comprovação da materialidade do ato (art. 173 do ECA). Se o ato infracional
for de natureza leve, basta a lavratura de boletim de ocorrência circunstanciado (art. 173,
par. único do ECA). Necessário jamais perder de vista que na forma do disposto no art. 114
do ECA, a imposição de medidas socioeducativas tem como pressuposto a comprovação
da autoria e materialidade da infração.

3 - Com o comparecimento dos pais ou responsável (pode ser o dirigente da entidade de


abrigo se o adolescente está em atendimento - vide art. 92, par. único do ECA) e o caso
não comporte internação provisória, deverá ocorrer a liberação do adolescente
(independentemente de ordem judicial) com assinatura de termo de compromisso de
apresentação ao MP (art. 174, primeira parte do ECA).

Obs:
A regra será a liberação imediata do adolescente, seja qual for o ato infracional praticado,
independentemente do recolhimento de fiança (ou seja, a apreensão em flagrante, por si
só, não autoriza a manutenção da privação de liberdade do adolescente), ressalvada a
"imperiosa necessidade" do decreto de sua internação provisória (conforme arts. 107 par.
único e 108, par. único, do ECA).

4 - Se o caso reclama o decreto da internação provisória do adolescente (cujos requisitos


são: a) gravidade do ato, b) repercussão social, c) necessidade de garantia da segurança
pessoal do adolescente ou d) manutenção da ordem pública - art. 174, in fine, do ECA) ou
não comparecem os pais ou responsável, deve ser aquele imediatamente encaminhado ao
MP, com cópia de auto de apreensão.

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4.1 - Se não é possível a apresentação imediata, encaminha-se o adolescente à entidade
apropriada (de internação provisória) e, em 24 (vinte e quatro) horas, apresenta-se o
adolescente ao MP (art. 175 e §1º do ECA).

Obs:
Onde não houver entidade apropriada, o adolescente deverá aguardar a apresentação ao
MP em dependência da DP separada da destinada a imputáveis (art. 175, §2º do ECA),
onde em qualquer hipótese não poderá permanecer por mais de 05 (CINCO) DIAS, sob
pena de responsabilidade (arts. 5º e 185, §2º c/c art. 235, do ECA).

O adolescente não poderá ser transportado em compartimento fechado de viatura policial


(camburão), em condições atentatórias à sua dignidade ou que impliquem em risco à sua
integridade física ou mental (art. 178 do ECA), o que importa, em tese, na prática do crime
previsto no art. 232 do ECA

Obs:
Não há proibição expressa ao uso de algemas, porém, em especial com o advento da
Súmula Vinculante nº 11, do STF, estas somente devem ser empregadas quando houver
real justificativa para tanto, de modo a evitar que o adolescente seja submetido a um
constrangimento maior que o estritamente necessário (vide art. 232, do ECA).

5 - Se não há flagrante, autoridade policial deverá realizar as diligências necessárias à


apuração do fato, encaminhando ao MP, com a maior celeridade possível, o relatório das
investigações e outras peças informativas (art. 177 do ECA).

6 - O MP procede à oitiva informal do adolescente e, se possível, dos pais, testemunhas e


vítimas (art. 179 do ECA).

6.1 - Caso, após liberado, o adolescente não compareça na data designada para o ato, o
MP notificará os pais ou responsável para apresentação daquele e, caso persista a

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ausência, expedirá ordem de condução coercitiva, podendo para tanto requisitar o concurso
das polícias civil e militar (art. 179, par. único, do ECA);

6.2 - A audiência perante o MP será realizada com as peças autuadas no cartório e com
certidão de antecedentes. Quando da oitiva informal deve-se colher, tanto junto ao
adolescente, quanto a seus pais ou responsável, informes acerca da conduta pessoal,
familiar e social daquele (se estuda, trabalha, é obediente, respeitador etc.), elementos que
irão influenciar tanto na tomada de decisão acerca de que providência deverá o MP adotar
no caso (ato que deverá ser fundamentado - art. 205, do ECA), quanto, ao final do
procedimento (se oferecida a representação), na indicação da(s) medida(s) a ser(em)
aplicada(s).

Obs:
A princípio, não é necessária a presença de advogado quando da realização da oitiva
informal (a obrigatoriedade se dá apenas após a audiência de apresentação - art. 186, §§2º
e 3º c/c art. 207 e §1º do ECA), mas se o adolescente tiver defensor constituído, a
assistência deste deve ser garantida.

7 - Após a oitiva informal, o MP poderá tomar uma das seguintes providências (art. 180 do
ECA):

I - ARQUIVAMENTO: fato inexistente, atipicidade do fato, autoria não é do adolescente,


pessoa tem mais de 21 anos no momento da oitiva informal etc.;

II - REPRESENTAÇÃO: dedução da pretensão socioeducativa em Juízo pelo MP (art. 182


do ECA);

Obs:
Toda ação socioeducativa é pública incondicionada, e o MP é o seu titular exclusivo, não
havendo que se falar em "ação socioeducativa privada" ainda que em caráter "subsidiário"
(ou seja, não se aplicam as disposições do art. 29 do CPP e art. 5º, inciso LIX, da CF).

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A propósito, não foi fixado qualquer prazo para o oferecimento da representação (embora,
se for o caso, este deva ocorrer da forma mais célere possível, havendo inclusive a previsão
de sua dedução oral, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária - art. 182, §1º,
2º parte do ECA), sendo que, neste aspecto, a atuação do MP não está sujeita ao princípio
da obrigatoriedade, mas sim ao princípio da oportunidade, sendo sempre preferível a
concessão da remissão como forma de exclusão do processo (inteligência do art. 182,
caput do ECA).

Formalmente, a representação socioeducativa se assemelha a uma denúncia-crime,


contendo como elementos: o endereçamento (sempre ao Juiz da Infância e Juventude); a
qualificação das partes; a narrativa do fato e sua capitulação jurídica; o pedido de
procedência e aplicação da medida socioeducativa que se entender mais adequada (não
há pedido de "condenação" nem deve haver a prévia indicação de qualquer medida) e, por
fim, o rol de testemunhas, se houver.

Tendo em vista a celeridade do procedimento, não se exige, quando do oferecimento da


representação, prova pré-constituída de autoria e materialidade da infração (art. 182, §2º
do ECA), que somente será necessária ao término daquele, para que possa ser imposta
alguma medida socioeducativa ao adolescente (conforme art. 114 do ECA). Isto não
significa deva o MP oferecer a representação (em especial quando acompanhada de um
pedido de decreto de internação provisória) sem que existam ao menos fortes indícios de
autoria e materialidade da infração, sob pena de dano grave e irreparável ao adolescente
acusado. Em caso de dúvida, é preferível a devolução dos autos à D.P. de origem para
realização de diligências complementares.

Obs:
Vale destacar que, embora seja desejável, e deva ocorrer, sempre que possível, a oitiva
informal do adolescente não é conditio sine qua non ao oferecimento da representação
socioeducativa, sendo possível que este ocorra sem aquela, como na hipótese em que o
adolescente encontra-se foragido.

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III - REMISSÃO: Quando concedida pelo MP, constitui-se numa forma de exclusão do
processo. Pode ser concedida em sua modalidade de perdão puro e simples (caso em que
independe do consentimento do adolescente) ou vir acompanhada de MSE não privativa
de liberdade (devendo ser esta ajustada pelo representante do MP e adolescente - arts.
126, caput e 127, ambos do ECA - maiores detalhes adiante).

7.1 - Promovido o arquivamento ou concedida a remissão, mediante termo fundamentado


(vide art. 205 do ECA), os autos deverão ser encaminhados à autoridade judiciária, para
homologação (art. 181, caput, do ECA).

Obs:
Mesmo tendo sido o adolescente apreendido em flagrante, após concedida a remissão ou
promovido o arquivamento, ou mesmo quando, oferecida a representação, não estiverem
presentes os elementos que autorizam o decreto da internação provisória, ou apontam no
sentido na "necessidade imperiosa" da medida (cf. art. 108, do ECA), o Ministério Público
poderá entregar o adolescente diretamente aos pais, mediante termo, independentemente
de ordem judicial (valendo lembrar que a regra será sempre a liberação imediata do
adolescente - cf. art. 108, par. único, do ECA).

8 - Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária deverá determinar,


conforme o caso, o cumprimento da medida eventualmente ajustada (vide arts. 126, caput
c/c 127 e art. 181, §1º, todos do ECA).

8.1 - Caso discorde do arquivamento/remissão e/ou da medida ajustada, a autoridade


judiciária não terá alternativa outra além de encaminhar os autos, mediante despacho
fundamentado, ao Procurador Geral de Justiça, que oferecerá representação, designará
outro membro do MP para fazê-lo ou ratificará o arquivamento/remissão, que então ficará
a autoridade judiciária obrigada a homologar (art. 181, §2º do ECA - procedimento similar
ao contido no art. 28 do CPP). A autoridade judiciária, portanto, neste momento não pode

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homologar a remissão sem a inclusão da medida eventualmente ajustada entre o MP e o
adolescente/responsável, sendo-lhe vedado modificá-la de ofício (vide art. 128 do ECA).

9 - Uma vez oferecida (e formalmente recebida ) a representação, a autoridade judiciária


designará audiência de apresentação, com a notificação (citação) do adolescente E seus
pais ou responsável, para que compareçam ao ato acompanhados de advogado, dando-
lhe ciência da imputação de ato infracional efetuada (art. 184, caput e §1º, e art. 111, inciso
I, do ECA). Se os pais ou responsável não forem localizados, o Juiz designa curador
especial ao adolescente (art. 184, §2º, do ECA). Se não é localizado o adolescente, expede-
se mandado de busca e apreensão e susta-se o processo até sua localização - ou seja, o
adolescente não pode ser processado à revelia (art. 184, §3º do ECA). Estando o
adolescente internado, será requisitada sua apresentação, sem prejuízo da notificação de
seus pais ou responsável, que deverão estar presentes ao ato (art. 111, VI c/c art. 184, §4º,
do ECA). Se o adolescente, apesar de citado, não comparece ao ato, é este redesignado,
determinando a autoridade judiciária sua condução coercitiva, expedindo-se o mandado
respectivo (art. 187, do ECA).

9.1 - Estando apreendido o adolescente, deve a autoridade judiciária decidir acerca da


necessidade ou não da manutenção de sua internação provisória, observado o disposto no
art. 108, caput e parágrafo único e art. 174, do ECA (a internação provisória somente pode
ser decretada em se tratando de ato infracional de natureza grave, após cabal
demonstração de sua necessidade imperiosa, nas hipóteses previstas em lei - art. 174, do
ECA, devendo ser o adolescente encaminhado para estabelecimento adequado, onde será
obrigatória a realização de atividades pedagógicas). O prazo máximo de permanência em
estabelecimento prisional (enquanto aguarda a remoção para estabelecimento adequado)
é de 05 (cinco) dias, sob pena de responsabilidade, inclusive criminal (arts. 5º e 185, §2º
c/c 235, do ECA).

9.2 - Comparecendo adolescente e seus pais ou responsável, serão colhidas as


declarações de todos (conforme art. 186, caput do ECA - a audiência de apresentação não
pode ser confundida com o singelo "interrogatório" do acusado previsto no CPP, indo muito

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além), podendo ser solicitada a ouvida de profissionais habilitados (se disponível, a própria
equipe técnica interprofissional a serviço do Juizado da Infância - cf. art. 151, do ECA, ou
os técnicos da unidade onde o adolescente estiver internado).

9.3 - Neste momento, o Juiz, ouvido o MP, pode conceder a remissão judicial, como forma
de extinção ou suspensão do processo (arts. 186, §1° e 126, par. único, ambos do ECA).

10 - Se não conceder remissão judicial, o Juiz designa audiência em continuação e pode


determinar a realização de diligências e de estudo psicossocial (art. 186, §2º do ECA),
providência que se mostra imprescindível caso se vislumbre a possibilidade da aplicação
de medida privativa de liberdade, dado princípio constitucional da excepcionalidade da
internação.

10.1 - A partir da audiência de apresentação, se o adolescente ainda não tiver advogado


constituído, a autoridade judiciária deverá lhe nomear um defensor (art. 111, inciso III e art.
186, §2º c/c art. 207, caput e §1º do ECA).

11 - O advogado constituído ou nomeado deverá apresentar defesa prévia no prazo de 03


(três) dias (art. 186, §3º do ECA), arrolando as testemunhas que tiver e pedindo a realização
das diligências que entender necessárias. Como no procedimento para apuração de ato
infracional é fundamental a aferição das condições pessoais, familiares e sociais do
adolescente, a oitiva de pessoas que o conhecem, ainda que não tenham testemunhado o
ato, assume maior relevância que no processo penal.

12 - Na audiência em continuação (verdadeira audiência de instrução e julgamento), são


ouvidas as testemunhas da representação, da defesa prévia, juntado relatório (estudo
psicossocial) de equipe interprofissional, dando-se a seguir a palavra ao MP e ao advogado
para razões finais orais, por 20 minutos, prorrogáveis por mais 10, decidindo em seguida o
Magistrado (art. 186, §4º do ECA).

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13 - Estando o adolescente em internação provisória, o prazo máximo e improrrogável para
conclusão de todo o procedimento é de 45 (quarenta e cinco) dias, computados da data da
apreensão (inclusive) - arts. 108, caput e 183, do ECA.

Obs:
Tecnicamente não há que se falar em "condenação" ou "absolvição" do adolescente
acusado da prática de ato infracional, devendo a sentença acolher ou não a pretensão
socioeducativa.

No primeiro caso, julga-se procedente a representação e aplica-se a(s) medida(s)


socioeducativa(s) mais adequadas, de acordo com as necessidades pedagógicas
específicas do adolescente e demais normas e princípios próprios do Direito da Criança e
do Adolescente (observando-se o disposto nos arts. 112, §1º e 113 c/c 99 e 100, todos do
ECA), com fundamentação quanto prova de autoria e materialidade e adequação da(s)
medida(s) aplicada(s) - com especial enfoque acerca da eventual pertinência das medidas
privativas de liberdade (dadas as restrições e princípios que norteiam - e visam restringir -
sua aplicação mesmo diante de infrações consideradas de natureza grave). Como dito
anteriormente, apenas para aplicação da MSE de advertência, bastam "indícios suficientes"
de autoria e prova de materialidade (art. 114 do ECA).

No segundo caso, julga-se improcedente a representação, não sendo possível a aplicação


de qualquer medida (art. 189 do ECA - não configuração do ato infracional - conduta atípica
ou acobertada pelas excludentes de antijuridicidade; inexistência do fato ou de provas
quanto ao fato; ausência de provas quanto à materialidade; inexistência de provas quanto
à autoria).

Obs:
Mesmo improcedente a representação, em havendo necessidade, a autoridade judiciária
pode aplicar ao adolescente medidas unicamente protetivas (sem carga coercitiva,
portanto), nos moldes do art. 101 estatutário, ou encaminhar o caso para atendimento pelo
Conselho Tutelar.

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Obs:
Intimação da sentença que reconhece a prática infracional e aplica MSE:

Se a autoridade judiciária impõe ao adolescente medida socioeducativa privativa de


liberdade (semiliberdade ou internação), a intimação da sentença deve ser feita
pessoalmente ao adolescente e ao defensor, sendo que na hipótese do primeiro não ser
encontrado, aos pais ou responsável, bem como e ao defensor (art. 190, incisos I e II, do
ECA).

Recaindo intimação na pessoa do adolescente, deverá este manifestar se deseja ou não


recorrer da decisão (art. 190, §2º, do ECA).

Mesmo que o adolescente diga que não deseja recorrer, o defensor não está impedido de
fazê-lo, porém se a manifestação do adolescente for afirmativa, desde logo se considera
interposto o recurso, devendo o defensor ser intimado a oferecer as razões respectivas.

Aqui vale abrir um parêntese para destacar o fato de tal permissivo se constituir numa
peculiaridade em relação à sistemática estabelecida para o processamento dos recursos
interpostos contra decisões proferidas pela Justiça da Infância e Juventude.

Com efeito, por força do disposto no art. 198, do ECA, em todos os procedimentos afetos
à Justiça da Infância e Juventude (inclusive é claro os procedimentos para apuração de ato
infracional praticado por adolescente), adota-se o sistema recursal do Código de Processo
Civil, com algumas "adaptações" .

Como sabemos, por força do disposto nos arts. 506, par. único c/c 514, ambos do CPC, a
petição na qual a apelação é interposta já deve vir acompanhada das respectivas razões,
não sendo o caso de abrir novo prazo (ou um prazo específico, como ocorre na Lei
Processual Penal), para apresentação destas.

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Uma vez que o sistema recursal adotado pela Lei nº 8.069/90 é o previsto no Código de
Processo Civil, a princípio não seria admissível interpor o recurso para, somente após,
promover a juntada de suas razões.

Ocorre que o disposto no citado art. 190, §2º, do ECA se constitui em mais uma "adaptação"
ao sistema recursal do Código de Processo Civil introduzida pelo legislador estatutário, que
em última análise visa submeter à análise de uma instância superior toda e qualquer
decisão impositiva de medida privativa de liberdade a um adolescente acusado da prática
de ato infracional, pois via de regra, ao ser indagado se deseja recorrer de tal decisão, a
resposta em tais casos será afirmativa.

Por fim, resta mencionar que caso a medida socioeducativa aplicada for de natureza
diversa das privativas de liberdade (advertência, obrigação de reparar o dano, prestação
de serviços à comunidade, liberdade assistida ou medidas de proteção), a intimação pode
ser feita apenas na pessoa do defensor (art. 190 do ECA).

A competência para processar e julgar, em grau de recurso, matéria concernente ao


Estatuto da Criança e do Adolescente, em razão do disposto no Regimento Interno do
Tribunal de Justiça local, é assim definida:

A - O julgamento, em grau de recurso, da chamada "matéria infracional", ou seja, relativa


aos procedimentos para apuração de ato infracional praticado por adolescente, é de
competência exclusiva da Segunda Câmara Criminal (art. 90-A, inciso II, alínea "i", do
Regimento Interno do TJPR);

B - O julgamento, em grau de recurso, das "ações relativas ao Estatuto da Criança e do


Adolescente, ressalvada a matéria infracional", é de competência das Décima Primeira e
Décima Segunda Câmaras Cíveis (art. 88, inciso V, alínea "b", do mesmo Regimento
Interno).
3) Legislação:
CF

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Código Penal
Lei 13.964/2019
Estatuto da Criança e do Adolescente
Código de Processo Penal

4) Julgados/Informativos:

APELAÇÃO CÍVEL. ATO INFRACIONAL. ECA. HOMICÍDIO (ART. 121, § 2º, IV ¿ que
dificultou a defesa do ofendido), COMETIDO POR GRUPO DO QUAL PARTICIPAVAM OS
APELANTES, MEDIANTE SOCOS, PONTAPÉS E ARREMESSO DE PEDRA. AUTORIA E
MATERIALIDADE AMPLAMENTE DEMONSTRADAS NOS AUTOS. MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO SEM ATIVIDADES EXTERNAS MUITO BEM
DOSADA, EM VISTA DA EXTREMA GRAVIDADE DO ATO INFRACIONAL, ALIADA ÀS
PERSONALIDADES DOS RECORRENTES. RECURSOS DESPROVIDOS. (Apelação
Cível Nº 70010284289, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alfredo
Guilherme Englert, Julgado em 30/12/2004)

(TJ-RS - AC: 70010284289 RS, Relator: Alfredo Guilherme Englert, Data de Julgamento:
30/12/2004, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia)

APELAÇÃO CÍVEL. ATO INFRACIONAL. ECA. FURTO. 1. AUTORIA E MATERIALIDADE


COMPROVADAS. 2. DESCLASSIFICAÇÃO PARA TENTATIVA DE FURTO. 3. MEDIDA
SOCIOEDUCATIVA APLICADA. LIBERDADE ASSISTIDA E PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
À COMUNIDADE. ADEQUAÇÃO.1. A procedência da representação está amparada em
elementos de prova suficientes para demonstrar a tipicidade do ato praticado, bem como
para comprovar a participação do representado.2. A alegação de que o ato infracional não
foi consumado, tratando-se de mera tentativa, não prospera. Isto porque, ainda que por
breve período, houve a inversão da posse da res furtiva. Ademais, parte dos objetos
furtados não foram restituídos ao proprietário.3. De acordo com o art. 112, § 1º, do ECA, a
medida socioeducativa deve levar em conta a capacidade do adolescente de cumpri-la, as
circunstâncias e a gravidade da infração, de modo que a aplicação da MSE de prestação

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de serviços à comunidade se mostra adequada.NEGARAM PROVIMENTO.
UNÂNIME.(Apelação Cível, Nº 70083081414, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do
RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em: 30-01-2020)

(TJ-RS - AC: 70083081414 RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Data de Julgamento:
30/01/2020, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: 04/02/2020)

Infração administrativa. divulgação de ato infracional praticado por menores. agência de


notícias local. Publicação virtual. art. 247 do Eca. Representação julgada procedente. 1.
Representação promovida em face de agência de notícias de publicações virtuais que
divulgou fotos de menores envolvidos em suposta prática de ato infracional, as iniciais de
seus nomes e suas respectivas idades. 2. Violação dos direitos à privacidade, à imagem e
à privacidade dos adolescentes, tutelados na Constituição Federal e na legislação
menorista. 3. Verificação de dolo ou culpa dispensável, como assentado na Súmula 87
deste Tribunal: 4. Comprovação da subsunção dos fatos à vedação disposta no artigo 247
do ECA. 5. Penalidade aplicada em seu mínimo legal (três salários). 6. Parâmetro vinculado
à penalidade pecuniária (salários mínimos), estabelecido pelo Juízo de piso, que deve ser
revisto, por expressa previsão legal. 7. O dispositivo que tipifica a infração administrativa
em exame estabelece, caso configurado o ilícito, a condenação ao pagamento de multa,
cujo mínimo legal são três salários de referência. 8. Em face da extinção de referido índice,
o cálculo da multa deverá ser feito por meio da atualização, pela Tabela Prática do Tribunal
de Justiça, do último valor obtido do parâmetro mencionado (Decreto nº 97.697, de
27/04/1989), qual seja, NCz$ 46,80 (quarenta e seis cruzados novos e oitenta centavos).
9. Apelação não provida, com a observação de que a multa, fixada no piso estabelecido no
artigo 247 do ECA, deve ser convertida para salários de referência, com atualização do
valor pela Tabela Prática deste Tribunal.

(TJ-SP - AC: 10001343320188260146 SP 1000134-33.2018.8.26.0146, Relator: Artur


Marques (Vice Presidente), Data de Julgamento: 18/10/2019, Câmara Especial, Data de
Publicação: 18/10/2019)

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5) Bibliografia Sugerida:

Távora, Nestor. Alencar, Rosmar Rodrigues. NOVO CURSO DE DIREITO PROCESSUAL


PENAL. 15ª edição reestruturada, revista e atualizada. Editora Juspodium, 2020.

Nucci, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal– 13. ed. rev.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016.

CRUZ, G. A historicidade da Segurança Pública no Brasil e os desafios da participação


popular. Revista Eletrônica Instituto de Segurança Pública. Rio de Janeiro, n.4, p. 02-07,
mar.2013.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Parte Geral - Vol. 1: Volume 1.
Edição 4º, Editora Forense, 2020.

NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal - Vol. 2 - Parte Especial - Arts. 121 a
212 do Código Penal: Volume 2. Edição 4ª. Editora Forense, 2020.

6) Leitura Complementar:

ROSA, Rodrigo Zoccal. Das Medidas Socioeducativas e o Ato Infracional. Do Eca ao


Sinase. 1ª Edição. Editora Lumes Juris, 2018.

CARVALHO, Márcio Pinho. Execução de Medidas Socioeducativas. 1ª Edição. Editora


Processo, 2018.

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