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Contextualização histórica da

Psicologia Escolar/Educacional e
Políticas Públicas em Educação

Profª Drª Melina Vaz


Psicologia e Educação

A Psicologia e a Educação acompanham a história do desenvolvimento


do pensamento humano.

Educação prática social humanizadora, intencional, suja finalidade é


transmitir a cultura construída historicamente pela humanidade.

Psicologia Educacional Fundamentos Científicos da Educação e da


prática pedagógica.

Psicologia Escolar Modalidade de atuação de psicólogo, com foco


na escola e suas relações.
Psicologia Educacional

Subárea da Psicologia, corpus sistemático e


organizado de saberes produzidos de acordo
com procedimentos definidos sobre
determinados fenômenos, fundamentado em
diferentes concepções epistemológicas e
metodológicas.
Psicologia Escolar

● Campo de atuação do profissional de psicologia.

● É determinado pelo processo de escolarização,


tem a escola e suas relações como objeto.

● Fundamenta-se na Psicologia Educacional (estão


relacionadas, mas há certa autonomia entre
elas).
Psicologia e Educação no Brasil

Obras do período colonial já abordavam temas como aprendizagem,


desenvolvimento, função da família, etc. Geralmente, dentro de obras da
Medicina, da Filosofia, da Moral…

Séc XIX
● Escolas Normais criadas a partir de 1830.
● Aprendizagem, desenvolvimento, ensino.
● Conhecimentos pouco sistematizados, e aparecendo de uma forma
discreta.
Psicologia e Educação no Brasil

Séc XX
● Escola Nova - movimento de difusão da escolaridade para a massa
da população.
● Escolas Normais como centro de propagação de novas ideias
● Criação de Laboratórios de Psicologia
● 20’s - reconhecimento da Psicologia como ciência autônoma
(condição pra que viessem os conhecimentos da Europa e dos
USA).
● 30’s - serviços de orientação infantil para atender crianças com
dificuldades escolares.
A Escola
Instituição social para a formação específica dos membros de uma
determinada sociedade.

Qual a função da escola?


- “Educação a gente traz de casa.” (mãe de aluno)
- “Eu vou pra escola comer merenda. (criança)
- “A Educação básica tem por finalidade desenvolver o educando,
assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
posteriores” (Art. 22 LDB)
- “A escola tem que preparar para o mercado de trabalho.” (pai de aluno”)
30 anos de Políticas Públicas Educacionais

Foram implantadas desde 1990, estando, de alguma forma,


relacionadas às orientações do Banco Mundial
● Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino
Fundamental (Fundef)
● Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica
e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb)
● A avaliação em escala do sistema de ensino
● Os ciclos de escolarização
● A política do livro didática
● A inclusão de pessoas com deficiências em escolas regulares
● A escola fundamental de nove anos.
A realidade neoliberal

https://www.youtube.com/watch?v=Nfi1O4N29HQ&feature=emb_logo
Qual escola queremos?

Busca-se, então, outro tipo de escola, abrindo espaços e tempos


que venham atender às necessidades básicas de
aprendizagem, tomadas como eixo do desenvolvimento humano.
Nessa perspectiva, a escola se caracterizará como lugar de
ações socioeducativas mais amplas, visando ao atendimento
das diferenças individuais e sociais e à integração social.
Por uma visão ampliada da Educação

Para adequar-se à visão economicista do Banco Mundial, o patrocinador


das conferências mundiais. Desse modo, a visão ampliada de educação
converteu-se em uma visão encolhida:

a) de educação para todos, para educação dos mais pobres;


b) de necessidades básicas, para necessidades mínimas;
c) da atenção à aprendizagem, para a melhoria e a avaliação dos
resultados do rendimento escolar;
d) da melhoria das condições de aprendizagem, para a melhoria das
condições internas da instituição escolar (organização escolar).
Qual a função da escola?

Declaração Mundial sobre Educação para Todos confirmou


tendências anteriores ao enfatizar, como função social específica da
escola, a socialização e a convivência social, colocando em segundo
plano a aprendizagem dos conteúdos.

Estaria a escola assentada no conhecimento, na aprendizagem e


nas tecnologias, voltada aos filhos dos ricos, e, em outro, a
escola do acolhimento social, da integração social, voltada aos
pobres e dedicada, primordialmente, a missões sociais de
assistência e apoio às crianças.
A Educação melhorou ou piorou?

Aumentam os índices de escolaridade, mas se agravam as


desigualdades sociais de acesso ao saber, pois à escola pública é
atribuída a função de incluir populações excluídas ou marginalizadas
pela lógica neoliberal, sem que os governos lhe disponibilizem
investimentos suficientes, bons professores e inovações pedagógicas.

Há propostas sobre o retorno da escola tradicional, até as que preferem


que ela cumpra missões sociais e assistenciais.

Ambas as posições explicitam tendências polarizadas.


Conhecimento x Assistência Social

A noção mais restrita confina a aprendizagem numa mera


necessidade natural, desprovida de seu caráter cultural e cognitivo;
por outro, a noção ampliada dissolve o papel do ensino, destituindo a
possibilidade de desenvolvimento pleno dos indivíduos, já que
crianças e jovens acabam obrigados a aceitar escolas enfraquecidas,
um ensino reduzido às noções mínimas, professores mal
preparados, mal pagos, humilhados e desiludidos.
Como a psicologia pode atuar diante desse
cenário?

Uma visão assertiva sobre a escola e o ensino


assentada nas necessidades humanas básicas e nos
direitos humanos e sociais não pode contentar-se
apenas com a crítica. São necessárias teorias
sólidas, acompanhadas de instrumentalidades a
serem postas em prática.
Tradicionalmente somos profissionais

A queixa escolar...
formados para analisar a demanda que nos
chega. O que recebemos, na maioria dos
casos, são crianças portadoras de “queixa
escolar”, com um pedido de avaliação
psicológica. Entender o que está
acontecendo com elas exige o contato com
quem encaminha, pois é nessa relação que
a queixa está sendo produzida.

Querse saber as causas individuais que


fazem com que as crianças sejam
agressivas, isto é, o efeito dessa
agressividade nas relações é a busca de
causas individuais. Mas, conhecer um
fenômeno implica entendermos o campo de
forças onde ele se manifesta
Machado, 2004
Instrumentos psicológicos e diagnóstico

Os instrumentos utilizados pelos psicólogos


têm, em inúmeros casos, prejudicado a vida
escolar desses alunos, por não
considerarem o contexto escolar onde a queixa
fora produzida e por produzirem um efeito
rotulador. Por isso realizamos um trabalho
voltado à intervenção nas relações.
Uma possível
intervenção
Proposta - Trabalhar com cerca de quinze
crianças que apresentam uma vida escolar
cronificada e com os professores das mesmas.

Objetivos:

Fui à es cola mais algumas vezes e combinamos - grupo de crianças - resgatar a história escolar
que seriam organizados grupos de crianças e das crianças e pensar com elas a produção da
também grupo de professores com atendimento queixa das professoras;
semanal, num total de nove encontros. Formamos
três grupos com cerca de cinco crianças em cada - grupo de professoras - intensificar a análise dos
um, tendo nove encontros de uma hora d e acontecimentos do dia-a-dia escolar considerando
duração cada, durante nove semanas. Escrevi a o contexto onde os mesmos são produzidos e
proposta de trabalho e entreguei-a para direção, buscar idéias em relação às tendências que
secretaria e professores. atravessam o cotidiano escola ,

Machado, 2004
Qual o problema de quem é problema?
Muitas crianças são encaminhadas para avaliação por problema de comportamento.
Em algumas sessões dos grupos, é comum acontecer de algumas crianças
agredirem, baterem, quebrarem o material. O que faz com que se comportem dessa
forma?
A tendência inicial é somente dizer-lhes que isso não pode. Mas, elas sabem disso.
Algumas crianças diz em “aprontar” na sala de aula porque a professora fica lhe pedindo
para fazer a lição. Mas, no grupo, elas não têm essa desculpa. Propomos um lugar
optativo. É, nesse lugar, muitas vezes aparece raiva, medo e defesa. É importante
tentar impedir que a criança destrua. Se acontece de descontarmos na criança o que ela
nos faz (se ela pega à força um lápis de um colega do grupo, tirar-lhe também à
força algo que ela deseja), atuamos a raiva, e o personagem de “o” terrível ganha
força. Um personagem que muitas vezes esconde as tristezas. Sabemos que é mais
fácil produzir um culpado e ficar com raiva do que entristecer. E, novamente a
pergunta: a que agridem? No nosso ponto de vista, é sempre possível associar
esses gestos às histórias escolares das crianças.
Qual o problema de quem é problema?

No grupo com as professoras, algumas dizem: “devem acontecer coisas


terríveis nas vidas familiares dessas crianças, por isso são agressivas”.
Histórias de abandono, de pobreza, de espancamento, de medo.
Buscam-se hipóteses nos problemas familiares, como justificativa do
fracasso escolar. Essas hipóteses, assim como os laudos psicológicos,
depositam nas crianças as causas dos problemas e não relacionam o
Sintoma ao contexto onde ele aparece. Como se as histórias familiares e os
problemas de aprendizagem tivessem uma relação causal direta. E é uma
idéia falsa.
Qual o problema de quem é problema?

Foi enviado, no início do trabalho, um comunicado para os pais.


Durante o tempo do grupo, os pais foram chamados. Como muitos não
vieram até a escola para conversarmos, propusemos às crianças que
lhes perguntassem se poderíamos ir visitá -los. As visitas domiciliares
foram um momento muito rico do trabalho, tanto para os pais como
para os estagiários. Soubemos das histórias familiares das crianças e
da opinião dos pais a respeito da queixa escolar. Como de costume,
havia mães que nem sabiam direito o que estava acontecendo com
seu filho na escola, outras estavam resignadas ao fato de seu filho
“precisar” de uma classe especial.
Finalizando a intervenção
Com o final dos nove encontros propostos, fizemos uma entrevista individual
com cada criança encaminhada para o grupo.
Nessa entrevista individual com as crianças da classe especial, foi relembrado
todo o percurso que as levara para a classe especial. Foi aplicado, numa
abordagem qualitativa, o teste Raven, anteriormente utilizado pela psicóloga
contratada para diagnosticar as crianças como deficientes. Todas quiseram a
aplicação do teste e obtiveram resultados categorizados dentro da normalidade.
Foi-lhes explicado a função do teste. Nenhuma criança queria continuar na
classe especial, mas algumas sentiam medo de voltar para a classe comum.
Foi pedido que fizéssemos uma apresentação do trabalho para todos os
professores de 1° a 4° séries. Nessa reunião devolutiva, temas como a questão
da busca diagnóstica, da formação de classes homogêneas, d a solidão do
professor da classe especial foram discutidos
Bullying

É conceituado como um conjunto de A violência é usualmente voltada para


comportamentos agressivos, físicos ou grupos com características físicas,
psicológicos, como chutar, empurrar, sócio-econômicas, de etnia e orientação
apelidar, discriminar e excluir (Lopes Neto, sexual, específicas.
2005; Smith, 2002), que ocorrem entre
colegas sem motivação evidente, e Ciganos, artistas de circo, estrangeiros e
repetidas vezes, Sendo que um grupo de outros grupos nômades
alunos ou um aluno com mais força,
Obesos e acima do peso (gordos)
vitimiza um outro que não consegue
encontrar um modo eficiente para se De baixa estatura
defender (Lopes Neto, 2005;
Antunes & Zuin, 2008
Homossexuais e filhos de homossexuais
https://www.youtube.com/watch?v=BrYg0pXrHek&list=PLl6b7hx8FzcUmBHqHTcUYhnEfhzxgZ3bL
Uma resposta? Uma proposta?

À escola caberia assegurar, a todos, em função da


formação geral, os saberes públicos que apresentam um
valor, independentemente de circunstâncias e interesses
particulares; junto a isso, caberia a ela considerar a
coexistência das diferenças e a interação entre indivíduos
de identidades culturais distintas, incorporando, nas
práticas de ensino, as práticas socioculturais.

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