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Espaço e sociedade
A
feição de retrato do Brasil que subjaz à experiência do romance de
1930 – estampada seja pelo imperativo de verossimilhança, seja pelo de-
bate em torno do romance proletário, seja pela circunstância das obras
cíclicas ou pela insurgência contra o modelo da vanguarda modernista – advém
do caráter representativo mobilizado na intenção de captar o todo da nação.
O desenho de país condicionado pela opção documental, em detrimento da
literatura e da visada mítica ou experimental,1 faz pensar no predomínio dos
espaços abertos e comuns, talvez cenário mais característico para a figuração dos
conflitos sociais.
Contudo, na contramão dessa inferência, chama atenção que grande parte
dos enredos do romance a partir dos anos 1930 se desenvolva rente à esfera do
mundo privado por oposição ao público. Se a tendência à apreensão do real
parece mais afeita tanto à escolha dos espaços compartilhados quanto à repre-
sentação neorrealista – como ocorre, em graus diversos, com Parque industrial
(1933), Os corumbas (1933), Cacau (1933) e Suor (1934) –, cabe ponderar a
respeito da grande quantidade de obras que privilegiam os espaços menores, da
vida doméstica, bem como da relação entre esses espaços, a sociedade e certa
compleição formal.
Pode-se refletir sobre o assunto a partir da amplitude – assim como da in-
compreensão – que a prosa de tendência introspectiva adquire no período, para
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