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M4 - TESTE 1

GRUPO I – A POPULAÇÃODA EUROPA NOS SÉCULOS XVII E XVIII: CRISES E CRESCIMENTO

Doc. 1 – ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA À NASCENÇA


ESPERANÇA MÉDIA DE VIDA À NASCENÇA
INCLUINDO MORTES VIOLENTAS EXCLUINDO MORTES VIOLENTAS

ANOS
HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES

1480-1679 27,0 33,1 30,1 33,9


1680-1729 33,0 33,6 34,7 33,7
1730-1779 44,8 48,2 45,8 48,2
1780-1829 47,8 55,4 49,5 55,5
DOC. 2. – CRISE DEMOGRÁFICA
A verdadeira crise demográfica […] resulta de uma série de acidentes meteorológicos [geralmente de verões chuvosos] num
determinado contexto económico-social. Sucessivas colheitas medíocres e mal conservadas, provisões deterioradas e logo o
preço do trigo, do pão – alimentos fundamentais – não param de subir, duplicando, triplicando, ou até mesmo quadruplicando.
[…] Os rendimentos populares não acompanham os preços, pelo contrário; o povo miúdo come alimentos medíocres ou
infestados, as epidemias sobretudo digestivas abatem-se sobre ele; são propagadas pelos mendigos, pelos bufarinheiros
*vendendores ambulantes, pelos soldados, pelos marginalizados; mais frequentemente do que se crê é a fome pura e simples.

Pierre Goubert, L’Ancien Régime – 1: La Société, Armand Colin, Paris, 1969, pp. 36-37.

1. A partir dos dados dos documentos1 e 2, identifiqueas opções corretasque completam cada afirmação:

(A) O modelo demográfico do século XVII era marcado por diversas características:
1. a população aumentava mais em consequência do desenvolvimento tecnológico.
2. a mortalidade infantil era diminuta.
3. era marcado pelo caráter cíclico e repetitivo das crises de mortalidade.
4. era afetado pelos maus anos agrícolas ligados a problemas climáticos (secas ou chuvas em excesso, gelo) ou
pragas).
5. a estagnação da população anulava o crescimento populacionalanterior.
6. a natalidade era alta e cada família tinha em média mais de cinco filhos.
7. a diferença entre a natalidade e a mortalidade era positiva assegurando o crescimento da população.

(B) A crise demográfica no Antigo Regime:


1. eraconsequência do aumento do preço dos cereais e do pão.
2. eraresultante do desperdício de alimentos.
3. erauma crise repentina, mas que provocava o recuo demográfico.
4. era provocada pelo enfraquecimento dos organismos e pela maior resistência a doenças e a epidemias.
5. erafavorecida pelas devastações causadas pelas guerras que destruíam campos e colheitas, provocando
dificuldades de abastecimentos.
6. aconteciaquando o número de mortes era em larga medida inferior aos nascimentos.
7. erauma crise sempre de âmbito local.

(C)A economia pré-industrial:


1. agravava a dependência dos homens face aos recursos alimentares.
2. era essencialmente agrícola e de base cerealífera.
3. utilizava instrumentos e técnicas agrícolas avançadas e sem recurso ao pousio.
4. assentava em técnicas arcaicas e era pouco produtiva.
5. não era influenciada pelas alterações climáticas.
6. favorecia o abastecimento das populações devido à abundância.
7. a maior parte da população não trabalhava na agricultura.
Doc. 3 –UMA NOVA DEMOGRAFIA NO SÉCULO XVIII

2. Explicite três fatores que possibilitaram o crescimento populacional a partir do século XVIII.

II GRUPO – ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL E PODER POLÍTICO NAS SOCIEDADES DE ANTIGO REGIME


Doc. 1 – O PAPEL DO REI NA MANUTENÇÃO DA HIERARQUIA SOCIAL
Em primeiro lugar manter a Igreja com todos os seus direitos, imunidades e privilégios, como sendo o filho mais velho, sem
permitir que sejam enfraquecidos sob qualquer pretexto […]; mas, também cuidar que aqueles a quem concedo benefícios
tenham a capacidade, a piedade e outras qualidades requeridas para cumprir dignamente e, sobretudo, que sejam bem-
intencionados relativamente ao meu serviço e ao repouso do Estado […]. Com respeito à nobreza, que é o meu braço
direito, atendê-la, tratá-la com confiança e bondade em todos os encontros. Com respeito à magistratura honrá-la, mas é
muito importante impedir que se emancipem e obrigá-los a manter-se nos limites dos seus deveres […]. Que entre todos os
deveres de um bom rei, compete-lhe suavizar a vida do seu povo, aliviando-o não somente da talha, mas de todas as outras
imposições de qualquer natureza tanto quanto possam permitir as despesas necessárias e indispensáveis à conservação
geral do Estado. Que tenha perto de mim servidores muito capazes e de uma inteira fidelidade. Que me compete distinguir
o lugar de cada um para os empregar segundo os seus talentos. Que me esforce para que fique bem persuadido que eu
sou o senhor […]. Que procure que todos os do meu Conselho vivam em bom entendimento entre si de modo que as
desinteligências não prejudiquem o meu serviço.
Luís XIV, Últimas recomendações de Mazarin a Luís XIV.

Doc. 2 – OS FUNDAMENTOS DA MONARQUIA ABSOLUTA, SEGUNDO BOSSUET


Cada um deve submeter-se à forma de governo que encontre estabelecida no seu país
[…]. Respeito em cada povo o governo que o hábito consagrou e a experiência
considerou o melhor […]. O trono real não é o trono de um homem, mas o trono do
próprio Deus. O príncipe vê de mais alto e de mais longe; deve pensar-se que ele vê
melhor e é preciso obedecer sem murmurar, pois o murmúrio é já uma disposição à
revolta. A autoridade real vem de Deus. A autoridade real é sagrada… religião e
consciência exigem que se obedeça ao príncipe. A autoridade real é absoluta… o
príncipe não presta contas a ninguém sobre o que ordena….mesmo que o rei falhe no
seu dever, o seu ministério deve ser respeitado… Os príncipes são deuses. Todo o
Estado está nele… Como em Deus está contida toda a perfeição e toda a virtude,
assim toda a autoridade dos particulares está reunida na pessoa do príncipe. Que
grandeza que um só homem contenha tanto. […] Considerem o príncipe no seu
gabinete. Dali partem as ordens […] para os magistrados, os capitães, os cidadãos e
os soldados, as províncias e os exércitos por terra e por mar. É a imagem de Deus,
que sentado no seu trono no mais alto dos céus faz andar toda a natureza.
Bossuet, Politique tirée de l’Écriture Sainte.
Doc.3 – O PODER VISTO POR LUÍS XIV
A- Somente na minha pessoa reside o poder soberano. A mim só pertence todo o poder legislativo sem dependência nem
partilha. Toda a ordem política emana de mim e os direitos e os interesses da nação estão necessariamente unidos aos
meus e repousam apenas nas minhas mãos.
Luís XIV, Declaração ao Parlamento.

B-Não é do meu interesse tomar ao meu serviço homens de uma categoria eminente. Antes de mais é preciso estabelecer a
minha própria reputação e dar a conhecer ao público, através da própria categoria onde os tomei, que a minha intenção não
é partilhar com eles a minha autoridade. Interessa-me que não concebam esperanças mais altas do que aquelas que eu
lhes queira dar, o que é difícil para as pessoas de alto nascimento.
Luís XIV, Memórias.

DOC. 4 – A ENCENAÇÃO DO PODER RÉGIO

PALÁCIO DE VERSALHES, GALERIA DOS


ESPELHOS
No palácio de Versalhes, a arte de governação
foi acompanhada de um cerimonial de etiqueta
e de projeção da autoridade do rei.
É um belo espetáculo vê-lo sair do castelo
[refere-se ao palácio de Versalhes] com os
seus guardas, as carruagens, os cavalos, os
cortesãos, os criados e uma multidão de gente,
tudo em confusão, correndo ruidosamente em
torno dele. Isto faz-me lembrar a rainha das
abelhas, quando ela sai para os campos com o
seu enxame.
PrimiVisconti, Memórias sobre a Corte de Luís
XIV, 1637-1681.

1. Identifique as ordens sociais a que o rei se refere (DOC. 1).


2. Destaque, a partir do documento 1, três privilégios de que os eclesiásticos e a nobreza beneficiavam.
3. Identifique as opções corretas que revelam o entendimento que Luís XIV tem acerca do poder real(DOC.3):
(A) O rei deve concentrar todos os poderes nas suas mãos.
(B) Ao rei cabe exclusivamente o poder judicial.
(C) O rei não partilha a sua autoridade com os seus ministros.
(D) O monarca detém a exclusividade das decisões políticas.
(E) Os interesses do rei e do reino são antagónicos.

4. Desenvolva o seguinte tema:

No Antigo Regime o absolutismo régio fez da corte um palco de projeção da autoridade real, destinado a
impressionar os súbditos e a veicular princípios ideológicos.

A sua resposta deve abordar, pela ordem que entender, três aspetos para cada um dos tópicos de desenvolvimento:

- o papel do rei como garante da sociedade de ordens;


- os fundamentos da monarquia absoluta;
. a corte como local de encenação do poder régio.
Deve integrar na resposta, para além dos seus conhecimentos, os dados disponíveis nos
documentos 1 a 4.

III GRUPO – O ABSOLUTISMO RÉGIO EM PORTUGAL

DOC. 1- AS ESPECIFICIDADES DO ABSOLUTISMO JOANINO


A 1 de janeiro de 1707, contando apenas 17 anos, subia ao trono D. João V […]. Logo na cerimónia da aclamação se viu o
pendor régio para a magnificência. Era novo o cerimonial e de molde a envolver a figura de D. João V do halo de veneração com
que o absolutismo cobria as realezas [….]. Jamais a corte portuguesa mostrara tamanha riqueza de joias e vestuário. Desde
então foi desejo de D. João V imitar o esplendor da corte de Luís XIV, ainda que sejam raras entre nós as alusões de tipo Rei-Sol.
[…]. Os atributos eram outros do género de «real fecundidade», «clementíssima prudência», […], «incomparáveis virtudes», […],
«excelso trono», mas nada comparável à divinização régia de que foi objeto o monarca francês. […] O culto divino dos reis não
tinha ambiente próprio num país onde a monarquia se identificava com a nação, na aliança forjada para defesa da Independência,
como se vira pouco antes nas guerras da Restauração. O que ocorreu em Portugal foi bem a imagem de um absolutismo sui
generis, em que a concentração de poderes na mão do rei nunca foi de molde a afastar do corpo social a imagem do soberano. O
que nunca impediu a expressão de uma grandeza que se manifestou sobremaneira nas relações externas. D. João V
desempenhou muitas vezes o papel de árbitro das nações europeias e exigiu as marcas de deferência que eram privilégio dos
maiores Estados, ao ponto de os nossos embaixadores se comportarem sempre como representantes de um grande monarca.
Joaquim Veríssimo Serrão, História de Portugal – A Restauração e a Monarquia Absoluta (1640-1750), editorial Verbo, Lisboa, 2.ª
Ed., 2006, pp. 234-236.

DOC. 2 – A NOBREZA PORTUGUESA DOC. 3 – A PARTICIPAÇÃO DA NOBREZA NAS ATIVIDADES


ULTRAMARINAS
Os fidalgos ou grandes de Portugal, na sua
maioria, não são muito ricos. Timbram*destacam-se, Os cargos ultramarinos foram sempre apetecidos pela melhor
porém, na magnificência e grande número deles nobreza portuguesa, não só porque no seu desempenho se
possui soberbos palácios, ricamente mobilados, alcançavam honras e mercês públicas, como também se
numerosa criadagem, várias carruagens e granjeavam, e rapidamente, boas fortunas. […] A nobreza
muitos cavalos. A mesa, porém, e outras portuguesa do século XVIII, não obstante vinculações e
despesas menos públicas não correspondem a primogenituras, era renovada e vivificada pelas mais variadas
este aparato. Aos criados para alimentação e atividades ultramarinas. Com isso, e por isso, alargavam-se
soldada não dão mais do que alguns reais por quadros demasiado estreitos e obstava-se à anemia duma classe
dia e os próprios amos se alimentam muito da qual dependia a vitalidade dos quadros de mando, tanto em
frugalmente, contentando-se com dois pratos; Portugal como no ultramar. […] Sem o influxo ultramarino nas
arroz, como parte obrigada, galinha, carneiro e casas nobres de Portugal, muitas se teriam estiolado
alguma fruta. financeiramente […].

César de Saussure, «Cartas escritas de Lisboa Virgínia Rau, Estudos sobre a História Económica e Social do
no ano de 1730», O Portugal de D. João V visto Antigo Regime, Editorial Presença, Lisboa, 1984, p. 29.
portrês forasteiros, p. 269.

Doc. 4 – A SUMPTUOSIDADE DE D. JOÃO V

1. Explicite as características que, segundo o autor do documento 1,


podem ser atribuídas ao absolutismo de D. João V.

2. Identifiqueas opções corretas que permitem caracterizar a nobreza


portuguesa (DOC. 2):

(A) A fidalguia portuguesa não era muito rica.


(B) A nobreza era maioritariamente modesta.
(C) A aristocracia portuguesa tinha palácios soberbos, criadagem e cavalos.
(D) A nobreza portuguesa gostava de remunerar prodigamente os seus
servidores.
(E) A aristocracia preocupava-se sobretudo com as aparências.
(F) A mesa dos nobres era marcada pela abundância e pelos faustosos
manjares.
(G) A nobreza era detentora de direitos e de privilégios.
(H) A fidalguia portuguesa constituía um grupo amplo.
(I) A nobreza marcava um grande distanciamento face à criadagem.
(J) A nobreza fazia parte dos privilegiados.

3. Explicite em que consistia a figura do fidalgo-mercador (DOC.3).


4. Destaque, a partir do documento 4, três características que manife

TESTE DE AVALIAÇÃO SUMATIVA

MÓDULO 4
1. A população da Europa nos séculos XVII e XVIII: crises e crescimento
2. A Europa dos estados absolutos e a Europa dos parlamentos
 Para cada resposta, identifique claramente o grupo e o item.
 Apresente as respostas de forma clara e legível.
 Todos os itens são de resposta obrigatória.
 Apresente apenas uma resposta para cada item.
 Utilize, de forma adequada, os conceitos específicos.

GRUPO I ─ A população da Europa nos séculos XVII-XVIII

DOC. 1 A visão de Thomas Malthus1 (1798)


Uma das causas[que impede o bem-estar das sociedades humanas] é a tendência constante de
todos os seres vivos para aumentar a sua espécie para além dos alimentos de que podem dispor.
[…] A dificuldade em se alimentar é um obstáculo constante ao crescimento da população
humana. Esse obstáculo faz-se sentir em todos os locais onde os homens vivem em comunidade,
e 5apresenta-se sob a forma da miséria e do justificado temor que ela inspira. […]
O ser humano dispõe, para viver, de um espaço limitado. Quando já mobilizou os recursos de
que dispõe pela utilização de toda a terra fértil, o aumento das disponibilidades alimentares
dependerá somente do melhoramento das terras já cultivadas. Ora, este melhoramento é limitado
e não pode progredir de maneira constante, muito pelo contrário. […]
O10obstáculo principal ao aumento constante da população é, pois, a falta de alimentos […]. Mas
esse obstáculo só atua de forma imediata quando a fome grassa e faz as suas devastações.[…].
Outros obstáculos atuam com mais ou menos intensidade para equilibrar o número de indivíduos
e os meios de subsistência. Eles podem ser classificados em duas categorias: uns agem
prevenindo o crescimento da população; outros destroem-na à medida que ela cresce. Os
primeiros
15 constituem aquilo a que chamamos “obstáculos preventivos”; os segundos são os
“obstáculos destrutivos”.
Os obstáculos preventivos são próprios da natureza humana e resultam da faculdade que nos
distinguedos animais: a de prever consequências. […] Basta que que o homem olhe à sua volta
para que fique chocado com a forma como vivem as famílias demasiado numerosas:
comparando
20 os seus meios pessoais de subsistência com o número de pessoas com quem será
obrigado a partilhá-los, sente medo de não poder alimentar todos os filhos que fizer nascer.[…]
Os “obstáculos destrutivos” que limitam o crescimento da população são muito variados. Entre
eles contam-se os ofícios perigosos; os trabalhos demasiado duros, custosos ou que expõem
quem os executa à inclemência do mau tempo; a extrema pobreza; a má alimentação das
crianças;
25 a insalubridade das cidades; os excessos de todo o tipo; enfim, as doenças e epidemias,
a guerra, a peste e a fome. […] Os dados da mortalidade […] mostram claramente que todos os
países da Europa estão sujeitos a anos doentios, que constituem obstáculo ao crescimento das
populações. Muito poucos estão isentos das grandes epidemias destrutivas que, uma ou duas
1. Transcreva uma afirmação do texto que documente o modelo económico conhecido como
“economia pré-industrial”.

Para responder a cada um dos itens de 2 a 4, selecione a opção correta.


Escreva, na folha de respostas, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.

2. Entre as características da demografia do Antigo Regime, a que se reporta o documento,


contam-se:
A) uma baixa natalidade e uma mortalidade elevada.
B) uma natalidade e uma mortalidade elevadas.
C) uma mortalidade infantil e juvenil reduzidas.
D) taxas de natalidade e mortalidade relativamente estáveis.

3. No excerto transcrito, Malthus alude a fatores que, de forma direta, originam “crises
demográficas”, como:
A) a fome e os trabalhos excessivamente custosos.
B) a fome e as epidemias.
C) a pobreza e a má alimentação das crianças.
D) a pobreza e os excessos de todo o tipo.

4. Considera-se que ocorre uma “crise demográfica” quando:


A) a população se reduz no mínimo 25% por efeito de uma “epidemia destrutiva”.
B) a população se reduz de forma lenta mas consistente.
C) a mortalidade se eleva bruscamente para o dobro ou mais da taxa corrente e assim permanece
durante pelo menos alguns meses.
D) a mortalidade e a natalidade se equilibram.
GRUPO II ─ A sociedade de Antigo Regime

DOC. 1A composição da sociedade francesaDOC. 2As três ordens

Peso demográfico dos três estados, na França Gravura francesa do século XVIII
do século XVIII

DOC. 3A nobreza de togaDOC. 4A nobreza em Portugal

Na nobreza […] os [filhos] mais novos, uns


são destinados a cavaleiros de Malta ou ao
exército, outros vão servir o rei nas Índias,
onde têm mais rápidos avanços que na
Europa, fazendo rapidamente fortuna […].
Os grandes de Portugal dividem-se em três
ordens: a primeira, dos duques, a segunda,
dos marqueses, e a terceira dos condes. Nelas
o rei escolhe as pessoas que hão de ocupar os
principais cargos da corte, da guerra e dos
Governos ultramarinos. […]
Os fidalgos ou grandes de Portugal, na sua
maioria, não são muito ricos. Timbram,
porém, na magnificência e grande número
deles possui soberbos palácios, ricamente
mobilados, numerosa criadagem, várias
carruagens e muitos cavalos.

Charles Alexandre, visconde de Calonne, advogado que se César de Saussure (1705-1783), viajante de origem
tornou Ministro des Finanças do rei Luís XVI, em 1783 suíça que visitou a corte de D. João V, em
O Portugal de D. João V visto por Três Forasteiros,
(Retrato de Élisabeth-LouiseVigéeLeBrun, 1784) Biblioteca Nacional, 1983

1. Explique, partindo do Doc. 1 e apresentando três aspetos, a posição assumida pelo


Terceiro Estado na gravura reproduzida (Doc. 2).
2. Indique a designação atribuída pela historiografia aos nobres que, em Portugal, “vão
servir o rei nas Índias […] fazendo rapidamente fortuna” (Doc.4).

3. Desenvolva, a partir dos documentos 1 a 4, o seguinte tema:


Uma sociedade assente no privilégio.
A sua resposta deve abordar, pela ordem que entender, três aspetos de cada um dos
seguintes tópicos de referência:
 características gerais da sociedade de ordens;
 estatutoda nobreza;
 particularidades da sociedade portuguesa.

GRUPO III─ Dois sistemas de governo

DOC. 1A essência da monarquia, segundo Jaime I (século XVII)

Os reis são chamados deuses pelo profético rei David porque o seu trono representa a vontade de Deus
na Terra e a Ele devem dar contas daforma como exercem a sua administração. […] As obrigações e a
lealdade do povo para com o seu rei legítimo, a obediência que lhe deve, são-lhe prestadas como lugar-
-tenente de Deus na Terra, obedecendo às suas ordens em todas as coisas […] reconhecendo-lhe o poder
que Deus lhe deu sobre todos, o poder de todos julgar e de só ser julgado por Deus […]. Deve temer-se o
rei como se teme o juiz e amá-lo como se ama um pai. […]
Os monarcasforam os criadores das leis, não foram as leis que criaram os monarcas. No Parlamento –
que nada mais é do que uma reunião do rei com os seus vassalos – os súbditos apenas solicitam as leis,
que o rei faz a seu pedido. Porque, enquanto o rei fazdiariamente decretos e outras ordenanças que
entende fazer, nenhum parlamento tem o poder de fazer qualquer tipo de leis sem que o rei as autorize,
dando-lhes força de lei. […] Um bom rei deve agir de acordo com as leis, embora apenas lhes esteja
sujeito para dar bom exemplo aos seus súbditos. […] O rei, relativamente ao povo, é, com razão,
comparado a um pai e à cabeça de um corpo com diversos membros.

Jaime I, rei de Inglaterra entre 1603 e 1625, A Verdadeira Lei das Monarquias Livres

DOC. 2O sistema de governo inglês, visto por Voltaire (século XVIII)

Os Ingleses, sempre que podem, gostam de se comparar aos antigos [cidadãos] romanos. […] Mas há
uma diferença essencial entre Roma e Inglaterra, que resulta em favor desta última: é que, enquanto as
guerras civis romanas tiveram como fruto a escravidão, as de Inglaterra tiveram como resultado a
liberdade. A nação inglesa é a única sobre a Terra que conseguiu limitar o poder dos reis, resistindo-lhes,
eque, passo a passo, conseguiu por fim estabelecer um governo sábio em que o príncipe, todo-poderoso
para fazer o bem, tem as mãos atadas para fazer o mal; onde os senhores são grandes sem serem
insolentes e sem terem vassalos e onde o povo partilha o governo sem desordem.
A Câmara dos Pares e os Comuns são os árbitros da nação e o rei supervisiona-as. Este equilíbrio faltava
aos Romanos: os grandes e o povo estavam sempre desavindos sem que houvesse um poder mediador
que pudesse conciliá-los.
Foi difícil, sem dúvida, estabelecer a liberdade em Inglaterra. Foi num mar de sangue que os Ingleses
afogaram o ídolo do poder despótico. Mas os ingleses não sentem ter pago caro de mais as boas leis que
possuem. […]
Os franceses acham que o governo desta ilha [da Inglaterra] tem sido mais tumultuoso que o mar que a
rodeia, e é verdade; mas isto aconteceu quando o rei começou a tempestade, quando se quis tornar dono
de um navio do qual não é senão o primeiro piloto.

Voltaire, filósofo francês, Cartas de Inglaterra, 1734


1. Apresente, com base no Doc.1, três características do absolutismo.

2. Compare as duas perspetivas sobre o sistema de governo expressas nos Doc. 1 e 2,


quanto a três aspetos em que se opõem.

3. Associe os monarcasqueconstam da coluna A às frases que lhes correspondem na


coluna B.

Escreva, na folha de respostas, as letras e os números correspondentes. Utilize cada


letra e cada número apenas uma vez.

Coluna A Coluna B

1. Reforma das Secretarias de Estado, em


1736.
(A) Carlos I
2. Modelo europeu do absolutismo régio.

(B) Luís XIV 3. Restauração da monarquia em


Inglaterra.

4. Proclamação da independência face a


Castela.
(C) D. João V
5. Dissolução do Parlamento e tentativa
de governo absoluto.

4. Ordene cronologicamente os seguintes acontecimentos relativos à consolidação do


parlamentarismo em Inglaterra.

Escreva, na folha de respostas, a sequência correta das letras:

A) Governo de Cromwell
B) Revolução Gloriosa
C) Restauração da monarquia
D) Guerra civil entre os partidários do rei e os partidários do Parlamento
E) Declaração dos Direitos

FICHA 3
(CORREÇÃO)
MÓDULO 4
2. A Europa dos estados absolutos e a Europa dos parlamentos
2.1Estratificação social e poder político nas sociedades de Antigo Regime
2.2A Europa dos parlamentos: sociedade e poder político

Grupo I

1. Fundamentar as seguintes afirmações:


“Melhor do que os seus antecessores conheceu as prerrogativas do trono.”
 D João V exerceu um poder pessoal, procurando centralizar as decisões na sua pessoa. Para isso, procedeu à
reforma da administração central e fez sentir aos nobres a sua autoridade suprema. Esta afirmação de poder
levou-o a nunca reunir cortes.

“Foi mais generoso que todos os reis que o precederam.”


 Conhecido pelo cognome de “o Magnânimo”, o monarca tornou-se célebre no país e no estrangeiro pelas
suas prodigalidades, recompensando principescamente os que o rodeavam, como os sábios que “enriqueceu
com mão larga” ou ostentando uma riqueza desmesurada. Os embaixadores que o representaram, nas suas
entradas solenes, chegavam a distribuir dinheiro às mãos cheias pela população que observava o cortejo.

“Ele foi em Portugal […] o verdadeiro Restaurador, Protetor e Conservador das letras e dos Sábios.”
 O rei, que teve uma educação esmerada, acarinhou as letras enriquecendo, “com mão larga”, os que a elas se
dedicavam (Doc. 1), e “concedendo benefícios perduráveis” a instituições do saber, como as universidades
de Évora e Coimbra ( Doc.1). Foi também pródigo na criação de bibliotecas e fundou a Academia Real da
História.

2. Destacar, reportando-se à fonte apresentada, a política de construções de D. João V.


 No documento, o rei é louvado pelas obras que empreendeu: “enobreceu Lisboa” com edifícios que
conferiram “grandeza” à capital; mandou erguer numerosas igrejas, com destaque para a Patriarcal,
considerada mais nobre que Santa Sofia de Constantinopla, edificada por Justiniano; mandou construir a
Basílica e o Convento de Mafra, ímpares no nosso país.

3. Selecionar a afirmação que melhor caracteriza o governo de D. João V.


a) O rei afirmou o seu poder face aos privilegiados e dispensou o auxílio das instituições tradicionais, como as
cortes

Grupo II
1. Explicitar os direitos reiterados na Petição assinada por Carlos I, em 1628.
A Petição dos Direitos reitera determinações antigas que resguardam os súbditos do poder discricionário do rei,
como:
 a obrigatoriedade do consentimento do Parlamento para o levantamento de impostos;
 a salvaguarda de pessoas, bens e direitos, dos quais os Britânicos só podem ser privados por decisão de um
tribunal legitimamente constituído.

2. Esclarecer as afirmações (Doc.2):


“… calamidades que caíram sobre esta nação”
 Desrespeito, por parte de Carlos I, dos antigos direitos dos ingleses e dos documentos assinados (Petição dos
Direitos); dissolução do Parlamento e governo pessoal do monarca; guerra civil que devastou o país e da qual
o rei é considerado culpado.

“… Não vejo aqui a Câmara dos Lordes para que esteja constituído um Parlamento”
 O Parlamento que julga Carlos I fora depurado, por Cromwell, dos seus elementos mais conservadores
oriundos, maioritariamente, do clero e da nobreza. Daí que os Lordes não se encontrassem presentes e que o
rei conteste a legitimidade do órgão, dado que lhe falta uma das câmaras que o constituem.

3. Identificar o facto político a que se reporta a imagem do Doc. 3


 1688- Revolução Gloriosa e deposição de Jaime II (substituído por Maria e Guilherme d’Orange, que deixam
as Províncias Unidas para assumirem o trono inglês).

4. Ordenação cronológica dos acontecimentos relativos à implementação do parlamentarismo em Inglaterra.


H); B); D); F); E); G); A); C)

5. Desenvolver o tema:
A vitória do parlamentarismo em Inglaterra

Introdução: Referência às origens do parlamentarismo inglês, que remontam à Idade Média, com a imposição da
Magna Carta ao rei João Sem Terra.

Etapas fundamentais da consolidação do parlamentarismo

 A tensão entre Carlos I e o Parlamento, motivada pelas pretensões do rei em assumir um governo de cariz
absolutista, conduz à cedência do rei, que assina a Petição dos Direitos (Doc. 3). Este documento reitera as
antigas liberdades inglesas, assentes na existência de um parlamento, órgão representativo do povo inglês
que limita a atuação do rei (Doc.2).
 A insistência do rei em governar sem o Parlamento desemboca, em 1642, numa guerra civil. As forças
monárquicas cedem perante os “cabeças-redondas”, exército de ideais republicanos, chefiado por Cromwell.
O rei é julgado e condenado à morte (Docs. 1 e 3).
 Entre 1649 e 1660, vigora em Inglaterra o regime republicano que, no entanto, não cumpre os ideais de
liberdade e governo partilhado que lhe dera origem.
 Em 1660 é restaurada a monarquia na pessoa de Carlos II, filho do anterior rei. Durante este reinado, novos
documentos reiteram e ampliam os direitos e liberdades dos ingleses, com destaque para o Habeas Corpus,
em 1673.
 O autoritarismo de Jaime II, irmão e sucessor de Carlos I, bem como a fé católica que este abertamente
professava, originam uma nova revolução: a Revolução Gloriosa (1688). Jaime II é deposto e substituído pelo
stathouder da Holanda, Guilherme d’Orange, casado com a filha mais velha do rei. O casal deixa as Províncias
Unidas para assumir o trono inglês (Doc. 4).
 Pouco depois, os novos soberanos juram solenemente um documento fundamental para a consolidação do
regime parlamentar, a Declaração dos Direitos, onde se definem claramente os limites do poder real e a
esfera de atuação do Parlamento.

Fundamentação teórica do regime parlamentar

 A legitimidade da luta dos ingleses contra o poder absoluto do rei foi teorizada por John Locke, no seu
“Tratado do Governo Civil”.
 Segundo Locke, os homens nascem livres e iguais, pelo que não podem ser governados contra sua vontade
(Doc. 4). Toda a autoridade emana, pois, dos governados e é-lhes conferida através de um contrato tácito, em
que estes se comprometem a zelar pelo bem comum.
 Quando esse contrato é desrespeitado pelos soberanos, os governados têm o direito de retomar o poder e
substituir o mau príncipe, como aconteceu na Revolução Gloriosa, com a destituição de Jaime II.

Grupo III
1. No texto A, Luís XIV reivindica para o rei um poder absoluto porque:
c) Os reis foram colocados no trono por Deus e só a Deus devem prestar contas.

2. Contrapor as ideias defendidas nos Docs. 1 e 2 no que se refere:


Ao tipo de governo e à autoridade máxima do Estado
 Doc. 1 (Luís XIV) ─ tipo de governo: monarquia; autoridade máxima do Estado: rei.
 Doc.2 (Jan de Witt) ─ tipo de governo: república; autoridade máxima do Estado: assembleia suprema/
parlamento.

À liberdade das populações


 Luís XIV considera ser dever dos súbditos obedecer “sem questionar”, pelo que os súbditos não dispõem de
outra liberdade para além da concedida pelo rei.
 Jan de Witt considera a liberdade essencial à felicidade do homem que, dela privado, viverá com um “escravo
maldito”.

3. Esclarecer qual o órgão que, nas Províncias Unidas, corresponde à “Assembleia Soberana” referida por Jan de
Witt.
 Os Estados Gerais da República.

4. SebastienMercier rebate a opinião dos ingleses quanto ao sistema político francês, com o seguinte argumento:
d) o poder do rei é limitado pelos costumes do reino.

5. Explicar a razão pela qual Mercier põe na boca de um inglês a crítica ao poder do rei de França.
 A crítica parte de um inglês em virtude do sistema parlamentar vigente em Inglaterra e da luta tenaz que os
ingleses travaram para o consolidar. Estes factos levam a supor que os ingleses não aprovariam o regime
absolutista francês.

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