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ÁREA DE
INTEGRAÇÃO
Área de integração
TEMA PROBLEMA 2.2 – A CONSTRUÇÃO DO SOCIAL
Dimensão biológica – cada ser vivo caracterizado pela sua própria unidade orgânica, que é
única, singular e irrepetível;
Dimensão sociológica – o ser humano individualizado e distinto dos outros dentro de um grupo
ou sociedade.
caso das as chamadas crianças-fera ou crianças selvagens que são crianças que, por acaso do destino,
começaram a viver logo nos primeiros anos de vida em completo isolamento da humanidade. Estas
crianças, passado algum tempo isoladas da população, acabam por viver como animais, não falam (a
sua linguagem verbal é nula ou muito reduzida), comem e bebem como um animal, não riem, nem
choram, evitam a companhia de outros seres humanos, têm fraco controlo emocional, pode ser ferozes e
exibir uma força e agilidade acima no normal e podem não ter uma postura bípede, andando muita
vezes apoiadas nas mãos e nos pés (posição quadrúpede). As crianças-fera provam que o contacto com
outros seres humanos é importantíssimo para a criança se tornar - por assim dizer - humana nos seus
comportamentos. Ou seja, aprendemos a ser humanos convivendo com outros seres humanos. Daí muitas
vezes dizer-se que o Homem é, acima de tudo, um ser social, ou seja, que o seu estado natural é
estabelecendo relações sociais com outros seres humanos com quem vive em grupos.
Os primeiros grupos humanos eram de dimensão reduzida e, basicamente, compunham-se de elementos
da mesma família. Devido à descoberta da à descoberta da agricultura e da pastorícia, à
sedentarização e à cada vez maior divisão do trabalho, estes grupos aumentaram de tamanho e,
naturalmente, a sua organização e estruturação foi-se tornando mais complexa, surgindo, então, as
primeiras comunidades.
Conceito de COMUNIDADE
Grupos que partilham as mesmas crenças, costumes e ideias, tendo em comum um mesmo
passado, um mesmo presente e uma mesma expectativa de futuro.
Estas comunidades cresceram em tamanho e complexidade dando origem, pouco a pouco, ao surgimento
das primeiras sociedades. Isto deveu-se, em forte medida, ao fenómeno da sedentarização (ou seja, a
fixação das comunidades num local fixo, o que corresponde ao
abandono do modo de vida nómada). A sedentarização só foi
possível deve-se ao aparecimento e desenvolvimento da agricultura,
da pastorícia, ao surgimento de uma economia produtora (e não
meramente recolectora) e a alguns progressos técnicos como a
cestaria, a olaria, a roda, a vela, o arado.
Em suma, a complexificação das comunidades deu origem àquilo
que hoje podemos designar de sociedades.
Conceito de SOCIEDADE
Sistema semiaberto e interdependente de relações entre indivíduos, geralmente do mesmo grupo,
em relações sociais estruturadas segundo interesses comuns, partilhando as mesmas regras
(normas), cultura e instituições.
Hoje em dia, os conceitos de comunidade e de sociedade cruzam-se. Ainda existem comunidades que
tanto podem estar inseridas numa mesma sociedade ou atravessar várias sociedades. Por outro lado,
uma sociedade pode integrar várias comunidades.
Mas vejamos, para facilitar, as principais diferenças entre os conceitos de comunidade e de sociedade:
Comunidade Sociedade
(do latim communitas, junção de cum + unitas, ou (do latim societas, que significa “associação amistosa com
seja, “quando muitos formam uma unidade”). outros”. Por outro lado, societas vem do latim socius, que
quer dizer, companheiro, associado, camarada ou
parceiro de negócios”).
Chegamos então à conclusão de que os indivíduos humanos, ao contrário dos indivíduos animais, têm uma
dimensão sociológica. Mas…
O que é que distingue um grupo humano de um grupo de abelhas ou de formigas?
A resposta é simples. Numa palavra, é a Cultura. Este conceito é tão abrangente que é muito difícil dar
uma definição completa do conceito de cultura. Ficamos pela sua aceção sociológica:
Definida assim, a cultura engloba quase tudo, desde os modos de produzir os diversos bens e serviços,
até ao comportamento comum aos membros de uma comunidades/sociedade, à hierarquização de
necessidades individuais e coletivas, às instituições, aos bens ou mesmo até às próprias normas, políticas,
jurídicas, morais e religiosas. Dito de outra forma, a Cultura refere-se aos modos de vida dos membros
de uma sociedade, ou dos grupos pertencentes a essa sociedade
Podemos, então, concluir que a Cultura é, antes de mais, algo que nos distingue dos animais.
Mas porque é que os seres humanos produzem cultura e os animais não?
Porque os seres humanos têm uma característica única e que não se encontra em mais nenhum animal: a
Racionalidade. Mas o que é isto de ser racional?
Tem a ver com o facto de não sermos apenas instintivos, não funcionamos de forma automática, não
somos repetitivos e nem sequer obedecemos cegamente só porque os outros obedecem (como fazem os
animais). Pelo contrário, refletimos sobre o que somos e o que fazemos, inovamos e inventamos, fazemos
experiências, desobedecemos, revoltamo-nos e violamos rotinas e, por vezes, regras, de forma
consciente e racional. Em suma, temos capacidades intelectuais que nos permitem pensar sobre o que nos
rodeia e atuar sobre essa realidade transformando-a de forma permanente e lógica, ou seja,
produzindo cultura a partir da cultura que recebemos.
Sendo animais racionais, ou seja, dotados de racionalidade, estamos habilitados a ser ao mesmo tempo
produto e produtores de cultura.
Como temos esta capacidade única de produzir cultura (da qual também somos um produto) estamos, no
fundo a modificar e a alterar, geralmente de forma acumulativa, essa mesma cultura. E ao fazê-lo,
estamos a fazer ou a contribuir para a História humana.
A História pode ser vista assim como a memória coletiva que os grupos sociais humanos (comunidades e
sociedades) mantêm das alterações da sua vivência grupal. E só o ser humano, fazendo uso dessa
qualidade única que á a racionalidade, consegue ter essa memória coletiva.
Assim, e em jeito de conclusão, podemos concluir que o Homem tem, simultaneamente uma dimensão
social e histórica, que é claramente outro ponto que nos distingue dos restantes animais.
Resumindo, isto quer dizer que o ser humano tem consciência de dois factos:
De que é um ser social – pois, como já vimos, procura de forma consciente a vida em grupo, no
qual, por ser um animal racional, produz e é produto de cultura;
E de que pode ser um sujeito histórico – ou seja, tem consciência do passado, de que outros
seres humanos o antecederam, produzindo cultura que, na maior parte dos casos, acumularam à
que receberam (ao contrário dos restantes animais que não têm consciência de que outros
semelhantes o antecederam, ou seja, não têm memória coletiva histórica).
Antes de entrarmos no estudo histórico de algumas sociedades e culturas antigas, importa compreender
alguns conceitos.
O primeiro é o de relativismo cultural. Este é muito importante pois implica tomar uma atitude por
parte do observador. Esta atitude concretiza-se por uma atitude crítica e problematizadora, não
julgando sociedades e culturas antigas pelos valores e critérios do presente, mas sim pelos valores e
critérios dessa própria sociedade ou cultura.
Por exemplo, alguns comportamentos vulgares em outras sociedades e que são para nós estranhos
(quando não repugnantes) têm que ser compreendidos como consequências de fatores que podem ser,
por exemplo, históricos ou climáticos.
É paradigmático o caso do beijo dos esquimós, feito com a ponta do nariz, que se pode justificar pelas
baixíssimas temperaturas dos territórios onde vivem, que os impede de descobrir a cabeça, sob pena de
severas queimaduras pelo frio.
Outros conceitos importantes que convém reter são os de hierarquia social e estratificação social:
Estes dois conceitos, quando conjugados, permitem-nos analisar a organização das muito complexas
sociedades humanas pois estas não são homogéneas e são (por vezes, muito) dinâmicas devido ao facto
de serem constituídas por seres humanos (indivíduos) racionais e conscientes da sua dimensão social e
histórica que, como tal, atuam e transformam o meio que os rodeia.
É também a própria racionalidade de cada ser humano que faz com que haja sempre diferenças entre
grupos e/ou indivíduos (as formigas e as abelhas são, devido à sua irracionalidade, todas muito
semelhantes).
Assim, e em termos simplistas, podemos dizer que a
estratificação social pressupõe uma hierarquia social.
Deste modo, enquanto a estratificação diz-nos em que
partes – ou estratos – podemos dividir uma sociedade, a
hierarquia social diz-nos em que ordem as devemos
colocar. Mas tudo isto também pressupõe uma
desigualdade social que consiste em graus diferentes de
acesso a bens, serviços, oportunidades e capacidade de
influência na sociedade. As desigualdades sociais podem assentar na classe social, na etnia, no género e
nas oportunidades escolares e profissionais.
Na hierarquia social as pessoas com mais riqueza, poder, privilégios e prestígio social tendem ocupam o
topo e as pessoas com menor riqueza, poder, privilégios e prestígio social ficam na base
Os critérios que determinam a posição social de um indivíduo na hierarquia social variam com a
sociedade mas podem ser em função de:
Riqueza;
Rendimento;
Poder;
Profissão;
Grau de instrução;
Prestígio;
Religião;
Etnia;
Família de berço (ascendência social);
Ou dos valores culturais e sociais dominantes.
Ou mais fechadas - Sociedade onde a mobilidade social é difícil ou não existe mesmo.
Vertical, quando o indivíduo muda de estrato social. Por seu turno, esta mobilidade pode ser:
Obviamente que não, dada a natureza do ser humano como produtor (ou seja, modificador) de cultura
e, como tal, produtor de História.
As sociedades europeias, por exemplo, percorreram (e percorrem) um longo e árduo caminho que
pretende chegar aos mais altos níveis de Liberdade, Democracia e Tolerância e a uma ainda maior
abertura. Este caminho tem sido (e é) difícil, tem tido alguns retrocessos (nos últimos anos as
desigualdades sociais e económicas até têm aumentado).
As mais importantes raízes das sociedades europeias contemporâneas encontram-se na Antiga Grécia
(também chamada de Clássica) e na Idade Média. Vejamos, então, como se organizavam essas
sociedades.
A Grécia Clássica
A democracia foi implantada pela primeira vez em Atenas pela mão de Clístenes, em 508 a.C..
Contudo, a sociedade grega só era democrática para alguns dos seus indivíduos, em particular, aqueles
que estavam no estrato social que ocupava o topo da hierarquia social: os cidadãos.
Só podiam ser cidadãos os homens livres, que participavam através do seu voto na administração da
justiça e da política da cidade. Contudo, os cidadãos eram uma minoria na Atenas da Grécia antiga,
nunca chegando a ultrapassar um sexto (cerca de 16 a 17%) da população total, pois para se atingir a
cidadania era necessário preencher uma longa lista de requisitos, nomeadamente:
Com tão longa e exigente lista, acabaram excluídos da cidadania (e por arrastamento, impedidos de
votar) a grande maioria dos habitantes de Atenas. Esta massa de excluídos da democracia grega,
organizava-se por estratos sociais aos quais não eram reconhecidos quaisquer direitos de cidadania,
pelo que não podiam participar nas decisões da cidade.
Esses estratos eram:
Os estrangeiros ou “metecos”, que eram homens livres mas que não tinham poderes políticos e
não podiam possuir terras ou bens estáveis. Dedicavam-se ao comércio e ao artesanato e eram
obrigados a pagar impostos, nomeadamente o de residência, e a cumprir o serviço militar.
Tinham ainda que ter um patrono que os representava nos negócios públicos e privados e a
quem tinham que pagar um imposto especial;
As mulheres, que normalmente casavam (ou a isso eram obrigadas) muito jovens, entre 15 e os
18 anos, conforme a escolha dos pais. Deviam obediência cega ao marido, sendo que as mais
ricas viviam reclusas em apenas uma das áreas da casa o “gineceu”. As mais pobres eram
obrigadas a trabalhar e os maridos tinham o direito de devolver a esposa aos pais dela em
caso de esterilidade ou adultério;
E os escravos, que estavam privados da liberdade e que executavam a larga maioria dos
trabalhos pesados. Eram protegidos por leis que impediam os maus tratos e podiam obter a
liberdade, o que não acontecia com muita frequência.
Esta era uma sociedade fechada. Isto quer dizer que era uma sociedade muito rígida e que não
permitia grande mobilidade social (nomeadamente no sentido ascendente).
O próprio Aristóteles defendia esta quase nula mobilidade, através da sua “Teoria do lugar natural”,
segundo a qual um homem que nasça escravo devia morrer escravo e que um homem que nascesse livre
deve morrer livre. Esta teoria defendia assim o princípio de que era a própria natureza determinar o
lugar de cada homem na sociedade.
Isto equivale a dizer que Aristóteles defendia a que a desigualdade entre os seres humanos era
permanente e imutável.
Contudo, as sociedades humanas evoluem, pois os indivíduos atuando como sujeitos históricos, vão
produzindo cultura e, como tal, vão transformando a sociedade.
Assim, chegamos à organização social da Idade Média1 que com poucas ou nenhumas alterações se
manteve até à Idade Moderna2. Durante todo este largo período, as sociedades europeias estão
divididas em três estados ou ordens:
A Nobreza – Normalmente a menos numerosa das ordens, constituída por aqueles que se
dedicavam às armas e que detinham os cargos políticos e militares, bem como grandes
extensões de terras, cultivadas por servos a quem cobravam elevadas rendas pelos seus direitos
senhoriais. Havia a nobreza de sangue, recebida por via familiar hereditária (eram os fidalgos,
ou seja, os filhos de algo), a nobreza de mérito, por feitos em prol do reino e a nobreza
nomeada pelo rei, que ficava com os cargos ligados à administração do reino e da
magistratura;
O Clero – que também detinha uma posição privilegiada e que se pode consubstanciar na
Igreja. Ao clero competia ministrar os serviços eclesiásticos, tratar dos assuntos divinos, dedicar-
se ao ensino e à caridade. A Igreja tinha uma enorme poder espiritual, cultural, social e
económico que não raras vezes usou em proveito próprio, chegando a imiscuir-se nos assuntos de
Estado (em França pelos menos dois cardeais foram ministros) ou na administração da justiça civil
(com a Inquisição, p.e.). Tinha uma organização jurídica e judicial própria e os clérigos estavam
dispensados do serviço militar. Os clérigos com maior estatuto (bispos e arcebispos, p.e.)
provinham das famílias nobres) enquanto do povo saíam os párocos e os frades e monges, ou
seja, os clérigos com menor estatuto;
O Povo (também chamado de «terceiro estado») – que constituía a maior parte da população e
a quem competia executar todas as atividades produtivas sem ser devidamente compensada
por isso na maior parte das vezes. O povo tinha mais obrigações (pagar impostos) que direitos
(quase nenhuns). Mas também o povo se podia estratificar. O estrato do povo mais elevado e
prestigiada era a burguesia citadina (que detinha alguma riqueza e que eram, sobretudo,
comerciantes e letrados com funções administrativas e de magistratura e que, por vezes,
conseguiam ascender à nobreza. O estrato médio era composto de negociantes, fabricantes,
professores, médicos e funcionários enquanto no estrato mais inferior ficavam os camponeses,
artesãos, criados e lacaios.
1 A Idade Média começa com a queda do Império Romano do Ocidente no ano 476 d.C. e termina com a queda do Império Romano
do Oriente, em 1453 (conquista de Constantinopla pelos Otomanos).
2 A Idade Moderna começa com a conquista de Constantinopla pelos Otomanos, em 1453, e acaba em 1789, com a Revolução
Francesa, que marca o início da Idade Contemporânea (idade na qual vivemos, atualmente).
No topo da pirâmide estava o rei que eram também um fidalgo. O rei detinha o poder absoluto, cuja
legitimação (ou justificação para deter o poder) era de origem divina. O rei português, por exemplo,
utilizava a expressão ”Dom F…, por Graça de Deus, Rei de Portugal, e dos Algarves…”).
Continuamos, todavia, ainda perante sociedades muito fechadas, com pouca mobilidade social.
Contudo, as sociedades europeias evoluíram pois a sua organização atual não coincide com nenhuma
das descritas.
Como evoluíram, então, essas sociedades desde a Idade Média (com uma organização muito rígida) até
aos nossos dias e às muito complexas, mas livres e democráticas, sociedades ocidentais
contemporâneas3? Que processo ou processos históricos levou ou levaram a que as sociedades ocidentais
contemporâneas passassem do modelo medieval que era fechado para a atual organização,
claramente mais aberta?
Pode-se dizer que tudo começou no século XVI, quando as Províncias Unidas (que correspondem, grosso
modo, às atuais Holanda e Bélgica) se libertaram do domínio espanhol.
Quando se deu essa libertação, o povo, particularmente a burguesia citadina, descobriu que poderia
haver outras formas de organização social, mais abertas e tolerantes. De facto, as cidades haviam
crescido muito durante a Idade Média e esta burguesia nascida nos meios citadinos começava a
acumular capital, e consequentemente, poder económico, poder este que queria afirmar também no
campo político, algo que naturalmente não agradava aos dois estratos sociais dominantes na altura, a
nobreza e o clero (e que se opuseram determinadamente a estas mudanças).
A libertação das Províncias Unidas veio, assim, concretizar esse desejo burguês de mudança social pois
correspondia, em pleno, aos anseios de maior protagonismo político da rica burguesia citadina.
Em Inglaterra, também correram factos que contribuíram para fazer crescer no estrato do povo a
necessidade de uma crescente abertura das sociedades medievais. Foi no séc. XVIII, o povo forçou o rei
a aplicar na prática um documento do séc. XIII, documento esse que limitava o poder real e que até aí
havia sido pouco ou nada respeitado: a Magna Carta. Quando tal aconteceu, o poder do rei deixou de
ser absoluto e passou a ter que contar com um parlamento eleito, forte e controlador. A Magna Carta
consagrava ainda alguns outros direitos civis e políticos como o direito de reunião, o direito a ser ouvido
por um juiz antes da condenação ou a abolição de castigos corporais e violentos, direitos e liberdades
estes que passaram a ser de facto respeitados.
Estes dois acontecimentos mostraram que havia uma alternativa, baseada em novos ideais, à
organização social medieval.
Esses ideais, que assentavam na libertação do ser humano de toda e qualquer servidão e no respeito
pelos direitos e liberdades individuais, espalharam-se depressa por toda a Europa e pelo continente
3
A complexidade das sociedades acuais é tanta que nos meios sociológicos ainda se discute qual a melhor designação que se
poderá dar à organização atual das sociedades ocidentais. Eis alguns exemplos: «sociedade de risco», «sociedade pós-industrial»,
«sociedade pós-tradicional», «pós-modernidade», «modernidade tardia», «tardo-
-modernidade», «sociedade pós-moderna», «pós-capitalismo», «sociedade da informação», «sociedade do conhecimento»,
«sociedade programada», «sociedade em rede», «sociedade global», «segunda modernidade», «modernidade reflexiva», «alta
modernidade», «modernidade radicalizada», «hipermodernidade», «sobremodernidade», «modernidade ambivalente», «capitalismo
flexível», «capitalismo desorganizado», «capitalismo avançado», «era da descontinuidade», «era dos extremos», «era da
informação», «fim da história», «pós-fordismo»).
americano, levando a que o povo, ou seja, a larga maioria da população, farto de opressão e das
gritantes e permanentes desigualdades sociais e políticas, lutasse por uma nova organização social e
política, mas aberta, tolerante e promotora de maior igualdade entre os seus indivíduos.
Todo este processo culminou na Revolução Americana (1776) e na historicamente decisiva e muito
importante Revolução Francesa (em 1789). Esta revolução é de tal modo importante, em termos
históricos, para a compreensão das sociedades ocidentais atuais que, para muitos autores, ela marca o
fim da Era Moderna e o princípio da Era Contemporânea (a era que atualmente vivemos).
Tal facto deve-se à circunstância de, com a Revolução Francesa se ter alterado de forma muito radical a
organização social até então vigente, o que era, aliás, o seu objetivo principal e na qual foi bem
sucedida. Ou seja, a Revolução Francesa marca o início do fim da organização social feudalista que
vinha da Idade Média. Por defender claramente a mobilidade social, particularmente ascendente, este
é o acontecimento que marca uma muito maior abertura da sociedade francesa, primeiro, e das
restantes sociedades ocidentais, posteriormente.
Foi durante a Revolução Francesa, cujo lema era “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, que foi
aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual consagrou alguns pontos que
concretizam a profunda mudança da organização social francesa, como vamos ver no quadro seguinte:
Uma característica que distingue a Revolução Francesa de outras revoluções da mesma altura e que
tinham os mesmos objetivos é a sua universalidade.
Isto quer dizer que os princípios defendidos pelos revolucionários franceses podiam ser aplicados em
qualquer país do mundo. A Revolução Americana, apesar de anterior e de defender alguns princípios
semelhantes aos da Revolução Francesa, não foi tão universalista pois alguns dos seus fundamentos eram
específicos para a realidade anglo-americana, não podendo ser transpostos para outros países.
Aliás, os princípios defendidos pela Revolução
Francesa eram de tal modo universais e justos
que rapidamente se espalharam a outros países
de todo o mundo, o que só vem confirmar a sua
enorme e incontornável importância histórico-
política.
Esses princípios ainda hoje são, em termos muito
aproximados, os que orientam as organizações
político-administrativas de quase todos os países
atuais. De resto, as constituições atuais de
centenas de países, nomeadamente aqueles que
são de facto estados de direito democrático
(como é o caso de Portugal), consagram ainda
princípios semelhantes aos proclamados na A Liberdade Guiando o Povo, quadro de Eugène Delacroix
Revolução Francesa.
Mesmo a Declaração Universal dos Direitos do Homem (talvez o mais importante documento legislativo
dos nossos dias, proclamada em 1948) foi inspirar-se na Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789.
Como já vimos, os ideais da Revolução Francesa espalharam-se rapidamente por toda a Europa, o que
é comprovado pela aprovação, na maior parte dos países europeus, pela aprovação de constituições
liberais que, inspiradas na Revolução Francesa e na Declaração Universal dos Direitos do Homem e do
Cidadão, promoviam a igualdade entre todos os cidadãos, protegiam os direitos individuais de cada
ser humano, atribuíam a soberania à nação, consagravam a liberdade económica e a democracia como
regime político.
Estes princípios práticos vieram a ser consumados numa corrente de pensamento político e económico que
estende a sua influência no tempo até aos nossos dias – o Liberalismo ideologia que descende em linha
direta do iluminismo.
O liberalismo é claramente uma ideologia burguesa, o que reflete claramente qual a nova ordem social
resultante da Revolução Francesa, na qual a burguesia assume o papel predominante.
Os ideais liberais têm várias facetas, mas para o nosso estudo, importam apenas duas que se
complementam uma à outra:
A faceta política¸ que defende a redução do Estado às funções mínimas (ou seja, as estritamente
necessárias ao funcionamento da sociedade como as de segurança interna e externa, as da
defesa das liberdades individuais, resolução e mediação dos conflitos e administração fiscal), a
organização e legitimação democrática (via eleitoral) do poder político de acordo com uma
Constituição que imponha a separação dos poderes e o cidadão como centro da vida política;
A faceta económica através da qual o capitalismo industrial floresce e que faz a defesa da
livre iniciativa económica, da livre concorrência, do livre acesso à propriedade e da
inviolabilidade desta, sempre com uma intervenção mínima do Estado pois seriam os mercados a
regularem-se por si próprios como, aliás, defendia Adam Smith na sua conhecida teoria da “mão
invisível”.
Conceito de CAPITALISMO
Sistema económico baseado na troca mercantil, na liberdade
empresarial e na concorrência económica. Neste sistema,
caracterizado pela propriedade privada dos meios de
produção, o capital (que inclui, para além da moeda, inclui
propriedades e máquinas) pode ser utilizado na produção de
mercadorias destinadas à venda ou investidas num mercado,
na esperança de obter lucro.
A democracia liberal é talvez a mais importante das consequências diretas da Revolução Francesa,
perdurando até aos nossos dias.
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento marcante dessa revolução, veio a
inspirar os regimes constitucionais que se foram implantando por toda a Europa durante o séc. XIX.
Em todos esses regimes foram aprovadas constituições políticas. Mas o que é uma constituição política?
Conceito de CONSTITUIÇÃO
Constituição é uma ordenação sistemática e racional da comunidade política, registada num
documento escrito, mediante o qual garantem-se os direitos fundamentais e organizam-se, de
acordo com o princípio da divisão de poderes, o poder político.
Se olharmos para as constituições atuais de muitos países (como Portugal, por exemplo) encontramos
muitos pontos coincidentes com os das constituições liberais dos países europeus do séc. XIX, tidas elas
inspiradas nos ideais da Revolução Francesa.
Conceito de NACIONALISMO
Conjunto de crenças e símbolos que exprimem uma identificação espiritual e cultural e um
sentimento de pertença a uma dada comunidade nacional, normalmente delimitada por um espaço
geográfico.
que a um estado corresponde uma profunda identificação cultural, linguística e com raízes históricas
comuns. Até aí as unidades políticas estaduais (chamassem-se elas reinos ou repúblicas) eram simples
amálgamas de povos que muitas a única coisa que tinham em comum era o soberano que as governava.
assalariado. Estes salários eram, contudo, cada vez mais baixos, as condições de trabalho eram
degradantes. As condições de vida eram igualmente absolutamente miseráveis, o trabalho
infantil generalizou-se (era normal as crianças começarem a trabalhar aos 6 anos de idade) e
não havia qualquer tipo de proteção social em caso de acidente, doença ou morte, não havendo
inclusive, nenhuma pensão ou reforma.
O séc. XX europeu e mundial fica marcado por duas guerras mundiais, uma guerra fria e a queda de
um muro.
Dito desta forma, parece estranho, mas tem explicação.
Logo no início do séc. XX, em 1914, dá-se o início
de uma guerra que durou 4 anos e que atingiu
dimensões que nem a Europa, nem o mundo,
haviam alguma vez conhecido – a I Guerra
Mundial.
Foi uma guerra de tal forma violenta que nela
morreram mais de 10 milhões de homens e foi de
tal forma marcante que alterou radicalmente e
de forma definitiva o mapa europeu e fez com
que, pela primeira vez em milhares de anos, a
liderança económica mundial pertencesse a um país fora da Europa – os Estados Unidos da América.
As causas desta guerra são difíceis de explicar de uma forma sumária. Tudo começou quando o
arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austro-húngaro foi assassinado por um estudante
sérvio, o que fez acionar todo um perverso mecanismo de alianças políticas que desembocaram no
conflito armado.
Esta guerra terminou com a derrota da Alemanha, consumada no Tratado de Versalhes. Este tratado foi
humilhante para a Alemanha, impondo-lhe a perda de largas fatias de território, fortes limitações à
reconstituição das forças armadas e o pagamento de enormíssimas quantias monetárias a título de
indemnizações, que pesariam enormemente sobre a economia alemã nos anos seguintes.
O povo alemão nunca aceitou totalmente estas imposições humilhantes, criando um quadro favorável a
que uma ideologia de carácter nacionalista, racista e fascista, como foi a ideologia nazi se implantasse
e com ela ascendesse ao poder uma figura tenebrosa como foi Hitler e o seu projeto de domínio
mundial.
Mas não foi só na Alemanha que a ideologia fascista se implantou:
Espanha, Itália e Portugal são exemplos de adesão ao fascismo.
Esta ideologia rege-se por alguns princípios antidemocráticos,
como a concentração de todo o poder numa única pessoa, pela
atitude hostil e violenta contra todos os que se lhe opõem interna e
externamente, proibição de outros partidos que não o partido que
esteja no poder, fortes limitações às liberdades individuais
nomeadamente as de expressão, opinião e informação ou a
desigualdade entre os homens, cabendo
apenas a uma minoria elitista a
capacidade para governar.
Apelando ao orgulho alemão e desta
forma mobilizando fortemente a sociedade alemã, Hitler iniciou esse projeto
expansionista com a invasão da Polónia em 1939 dando início desta forma
início à II Guerra Mundial.
Esta guerra pôs de um lado os Aliados, composto por um vasto conjunto de
países liderados pela Inglaterra e, principalmente, pelos Estados Unidos, e do
outro a Alemanha, a Itália e o Japão.
A União Soviética teve uma atuação dúbia. Numa primeira fase da guerra assinou o secreto “Pacto
Germano-Soviético” com a Alemanha através do qual, dividiram largas fatias de território na Europa
oriental, entre as quais a Polónia.
Mas em 1941 a Alemanha de Hitler ataca também a URSS e esta passa-se para o lado dos Aliados: No
final do mesmo ano, Hitler domina praticamente toda a Europa: está a 25 km de Moscovo e são poucos
os países que escapam ao controlo alemão – basicamente a
Inglaterra, a Suíça, a Suécia e Portugal.
Mas no final da guerra, em 1945, a vitória era dos Aliados, mas
com um forte custo para Europa. A violência deste conflito não
tem paralelo na história da Humanidade: 30 milhões de mortos e
as infraestruturas sociais e económicas europeias completamente
arrasadas. Para se ter uma ideia, 75% da cidade de Berlim
estava em ruínas e em Dusseldorf a situação ainda era pior –
5 - UM MUNDO DE TOLERÂNCIA
tentativa de destruição do outro, daquele que é diferente, tenta-se aniquilar a cultura, as crenças, o
modo de vida e de estar do «inimigo». A guerra e o terrorismo são as expressões mais dramáticas,
extremas e destruidoras da intolerância. A intolerância é um valor negativo, causado por todas as
atitudes dogmáticas (crenças consideradas indiscutíveis), arrogantes, não questionável e que não aceita
a diferença ou o que é estranho, que não aceita outros modos de vida ou de pensar, que discrimina ao
tenta anular os outros epnas pelas suas características físicas ou opções ideológicas, religiosas ou mesmo
morais. A intolerãncia pode manifestar-se de várias formas, das quais as principais são:
Fundamentalismo é a estrita
aderência a um conjunto
Fundamentalismo específico de doutrinas teológicas
vistas como verdades absolutas e
religioso indiscutíveis e que não aceitam
qualquer outra forma de religião
ou de diálogo.
A bem da paz, da prosperidade e da felicidade humana impõe-se, assim, um outro caminho assente em
valores positivos, assente na TOLERÂNCIA, na aceitação do outro, daquilo que é diferente, na
aceitação de outras opiniões e comportamentos, na aceitação de de valores morais ou normas que não
são os nossos.
Mas será aceitável, será legítimo, aceitar tudo o que é diferente?
Não haverá limites para a tolerância?
Sim, nem tudo vale neste mundo. Há situações em que a
tolerância pode significar cumplicidade com um crime, omissão
culposa, insensibilidade ética ou comodismo. Por exemplo,na
História da Humanidade foram várias as civilizações em que as
respetivas religiões exigiam que nos seus rituais se fizessem
sacrifícios de vidas humanas, inclusive de crianças. Será isto
aceitável? Devemos ser tolerantes com práticas culturais ou
religiosas deste tipo? Não, de forma nenhuma, nunca podemos
ser tolerantes, por exemplo, com aqueles que destroem vidas
humanas e prejudicam a Natureza; com aqueles que assassinam inocentes, abusam sexualmente e
escravizam manores ou traficam órgãos humanos; com terroristas que em nome duma religião ou projeto
político cometem crimes e matanças; com aqueles que corrompem e são corrompidos, ou com aqueles
que discriminam seres humanos em função da sua ascendência, sexo, raça, língua, território de origem,
religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação
sexual. Quando é roubada às pessoas a sua dignidade humana não podemos ser tolerantes.
A resposta aos limites da Tolerância pode ser encontrada na
Declaração Universal dos Direitos do Homem¸ proclamada em 1948
na Organização das Nações Unidas. Este documento enuncia os
direitos fundamentais, civis, políticos e sociais de que devem gozar
todos os seres humanos, sem discriminação de raça, sexo,
nacionalidade ou de qualquer outro tipo, qualquer que seja o país que
habite ou o regime nele instituído. Ou seja, estabelece os limites
mínimos e fundamentais para a dignidade que todo o ser humano
merece. É um princípio básico de Justiça para toda a Humanidade.
Um mundo tolerante, que respeite a dignidade de todos os seres humanos, será com certeza um mundo
mais justo, mais feliz, mais desenvolvido, sustentável e harmonioso, em suma, um mundo melhor para
todos.