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Trabalho final de Fundamentos de Urbanismo

Observações importantes: o texto foi manuscrito no dia 01/06 das 13 às 14 horas. O


manuscrito foi fixado no final do trabalho. Pequenas alterações foram feitas. O texto trata-se
de uma relato escrito com um parágrafo para tornar dinâmico e continuo. Atuam no texto, no
que tange a simbologia e o lúdico, elementos imaginários, paixões platônicas e reais,
lembranças, remorsos, entre outros elementos que afloram sentimentos. Já no objetivismo,
temos aspectos de trajetória, razão e objetividade, além de analises de conflitos urbanos

Descrição do caminho que vai da Avenida dos Andradas perto do posto Ipiranga até o Bairro
Grambery somente ida (a alteração do trajeto de ida e volta como consta nos relatos originais
escritos no dia 01/06 foi tomada no final da execução do mesmo). Duração de 1 hora de
caminhada e descrição dos símbolos pessoais mesclados com a objetividade do trajeto.

Uma História de amor, medo e urbanismo


Inicialmente, ao sair em direção ao Grambery, o objetivo de chegar ao bairro parece ser, no
uso da razão, o elemento que norteia o destino da viagem. Em um apelo utilitário, traço minha
rota não apenas de forma a, na sua execução, chegar de maneira mais rápida ao objetivo, mas
também de forma que eu passe por lugares pelos quais conheço e me sinta confortável ao
passar. Saindo do endereço 366, ponto de partida, a primeira coisa que me vem à cabeça são
as inúmeras informações de rotas mais curtas dadas a mim por meu pai, porém a primeira
coisa que eu faço é atravessar a rua (Avenida dos Andradas) em direção ao banco Itaú, na
intensão de encontrar uma pessoa que, vê-la me faz bem, porem quase nunca vejo (como é o
caso agora).Acredito que sempre que saio desse mesmo lugar a qualquer destino ao qual vou a
pé repito essa mesma abertura (como no xadrez)( o desejo de encontrar tal pessoa trata-se de
um exercício involuntário emocional, uma vez que mexe interiormente comigo, porém,
raramente, quando a vejo, percebo que o bom não é falar com ela, mas sim admira-la, como
um monumento, uma parte bonita construída na minha imaginação que dá beleza àquela
avenida).Esse percurso emocional tem já muitos anos e passar por lá requer minha atenção de
tentar encontra-la em todo rosto que por mim passa. Atravesso a avenida, pensando no quão
errado é o semáforo de lá, mas consterno, uma vez que não tenho tempo para analisar se ele é
de fato mal elaborado (o que obviamente não deve ser, uma vez que controla não apenas os
pedestres, mas também os carros e é impossível agradar aos dois), apenas atravesso e me
deparo com a primeira ramificação: dois caminhos, passar pela Rio Branco ou pela Rua Santo
Antônio. Novamente divido na minha mente dois fatores que agem: um racional movido pela
pressa e objetividade e outro emocional, movido pelo conforto e paixão. Passando pela Santo
Antônio, sei que não me sentiria ameaçado pelo grande número de bêbados dos barzinhos do
Largo do Riachuelo e também sei que minhas chances de encontrar a platônica amada seriam
maiores. Por não querer andar tanto e desviar da minha rota (acho que são essas as
explicações, mas no fundo não tenho certeza) decido por seguir o Largo em direção à Rio
Branco. Primeiro, passo pelo ponto de ônibus em frente a uma loja Pinguim. Esse, ao contrário
do imaginado e planejado na escolha do caminho volta a forçar-me no exercício emocional.
Procuro em meio a tanta gente que espera, desce e sobe dos ônibus rostos conhecidos, mas
principalmente o rosto dela. Passo em meio a uma confusão de gente e rio comigo mesmo
dada a situação, me pergunto o que eu responderia se alguém me visse lá e me perguntasse o
que eu estava fazendo. Gosto quando passa a aglomeração e sinto mais liberdade em
caminhar, mas simultaneamente, sinto tristeza ao perceber que agora a emoção que antes
existia na possibilidade de encontrar a certa pessoa agora não existe mais e o que marca essa
passagem é a concretização de um pensamento racional, origem-destino (onde eu tenho que
chegar?).Logo depois de passar pelo ponto e antes de chegar às barraquinhas do Largo, passo
por uma rua (Barão de Cataguases) que parece perigosa de atravessar, mas nunca vi acontecer
nada a ninguém ali, então atravesso meio descuidado. Deu certo! Agora mais vazio emocional.
Chego às barraquinhas. Gosto disso, é um símbolo do trabalho e do tradicionalismo. Frutas,
revistas, churros, resumem meu preparo para não me assustar com algum grito de oferta. Mas
na metade vem o melhor: o churros me lembra quando eu vinha com meus amigos comer lá a
noite quando saiamos da escola. Passa rápido o sentimento, parece que passa tão rápido
quanto passou o tempo que isso acontecia. Tá ai, mais uma rua aparentemente perigosa. Na
esquina dessa rua tem uma sorveteria. É impressionante como pode chamar tanto minha
atenção sendo tão ordinária e recente. Olho para dentro, como sempre está vazia. Apenas
duas coisas vêm à minha cabeça: um comentário do meu pai dizendo que ela deve fechar em
breve devido a constante falta de movimento e uma imagem de uma vez que vi uma mãe
levando o filho para tomar sorvete lá num dia bem frio (essa imagem mexe muito comigo, mas
não consigo explicar o sentimento, acho que no despontar se resume a pena, mas não sei).
Atravesso a Benjamim, nada demais. Me dou conta que passei pelos bêbados e nem escrevi
nada, talvez porque não aconteceu nada demais, diferente de como eu pensava. Agora, vem
um pedaço de extremo vazio e indefinição, não sei se estou na Rio Branco ou não, não sei se
passar por ali era necessário ou não. Olho várias vezes no relógio, embora não tenha pressa e
não esteja atrasado para coisa alguma. Essa parte do caminho até antes das Lojas Brasil
simboliza para mim, total apatia social, embora passe por várias pessoas, sinto que, como a
calçada é larga não há interação entre as pessoas. Chego nas Lojas Brasil, passo pelo shopping
Rio Branco e olho para seu interior, me traz lembranças da infância, quando eu entrava ali para
comprar coisas para meu skate, embora hoje eu seja completamente avesso ao esporte e
critique sua prática no meio urbano, uma vez que atrapalha o trânsito no sentido de gerar
insegurança para os motoristas e a eles próprios. Passo. Chego a outro semáforo notável, é o
da rua Floriano Peixoto. Me intriga por ficar aberto muito tempo para os pedestres, mas esse
eu compreendo já que como noto nesse exato momento tem um fluxo enorme de gente.
Agora vem a parte mecânica do trajeto: deslocar para um lado e para outro desviando das
pessoa que vão e vem. Gosto de passar por aqui: gosto de observar os prédios residenciais e
imaginar como é morar aqui, uma vez que moro distante do centro, acho isso um pouco
diferente, um pouco aventureiro. Avisto O Parque Halfeld. Nesse momento, bate uma vontade
grande de olhar no relógio não sei porquê. Para mim, o PH é um elemento turístico muito
interessante para se mostrar para alguém de fora da cidade, mas, por passar sempre aqui,
acho um pouco indiferente. Olho para seu miolo e parece ser uma caixa fechada, em dois
sentidos: o primeiro, o ser fechado é que parece pertencer a quem sempre já o domina,
ficando lá (seja um grupo de velhos, jovens estranhos ou até pessoas que para mim parecem
cem por cento ociosas, sem nada para fazer), o segundo, está no entendimento da caixa,
dando a interpretação de eu, por nunca ter ido lá, não saber o que esperar (como um lugar
obscuro, tão próximo e tão distante). Agora, no PH duas ideias me dividem novamente,
atravesso para o outro lado da Rio Branco pela lombada que leva à Marechal Deodoro ou pela
lobada que leva ao Calçadão. Atravesso pela do Calçadão, guiado pelo fato do semáforo da
Deodoro ter acabado de fechar o que me leva a concluir que pegarei o outro aberto. Deu
certo, agora no outro lado de R.B. Nesse ponto, não é mais a visão e a imaginação que mexem
com meus sentimentos, mas sim o odor. Acho que a explicação para esse fato está no número
de pessoas que possam por mim. O aroma resultante, uma mistura de perfumes e algo que
vem dos vendedores de pipoca, por incrível que pareça me remonta um passeio em uma rua
no exterior. Já viajei muito na minha vida e presenciei várias vezes esse cheiro nas minhas
viagens, é um cheiro de frio artificial, na verdade, é cheiro de odor artificial. Gosto disso. A Rio
Branco em geral me traz segurança, não sei se é por sua amplitude ou pelo seu grande fluxo de
pedestres. Agora, passado o porto do Calçadão (o odor Europeu em Juiz de Fora) sigo numa
mentalidade de corrida: pulo, vou para a rua, volto para a calçada, esbarro, me desculpo e
volto a correr no que para mim parece ser o sentido contrário do que todos estão indo (talvez
o pensamento automobilístico tenha se incorporado ao humano e a parte esquerda da
Avenida vá em um sentido regressivo enquanto a da direita vá num sentido progressivo: talvez
verdade, talvez mera imaginação).Chego a outro semáforo eterno compreensível, o da Santa
Rita. Acho que em todas as minhas travessias, nunca o peguei fechado. Não é diferente agora.
Atravesso. Penso, já passei da metade do trajeto, e vem a mim:” agora é a pior parte”. Duas
coisas me bombardeiam no caminho, a vontade de olhar para o interior de cada lanchonete
que há ali até o Bobs e a lembrança de outra pessoa (menos platônica e mais morena que a
primeira) que ao me acompanhar na minhas andanças no centro adorava entrar em tais
lanchonetes para me deixar perdido na minha racionalidade: “o que ela vai fazer agora?
Comprar um suco de laranja, ou uma agua de coco, ou uma bala sem gosto algum.”.
Finalmente chega o Bobs. Novamente sinto vontade de saber as horas. Vazio e ruas perigosas
de se atravessar que atravesso descuidado. O vazio foi tão grande que não escrevi nada e
agora já estou na Independência. Ali sinto medo, medo de ver uma mulher entre 35 e 50 anos
ser atropelada por um ônibus. Chama minha atenção, é confuso aquele transito, difícil de
entender, ela não entende também e quase! Não é a primeira vez que isso se repete comigo
aqui. Muito estranho. Penso que falta muito, mas me surpreendo que já estou no Banco do
Brasil. Como sempre, tem uma menina diferente, porém bonita na esquina da Rio Branco com
a Sampaio. Me esqueço que não posso entrar ali prestando atenção nas coisas, pois uma trupe
enorme de mendigos vai vir puxar assunto. Sorte que estou escrevendo e eles não falaram
comigo, mas certamente encontrarão uma vítima para uma conversa ou rude ou apelativa
ainda hoje. Caminho mais um pouco mecanicamente e chego. Grambery. Escrevi muito, acho
que o relato vai ser só da ida. Muito boa a experiência.

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