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Os fractais e a arte
“O todo sem a parte não é todo
A parte sem o todo não é parte
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga, que é parte, sendo todo”.
Gregório de Matos.
O entendimento intuitivo acerca do que é fractal, desde sua definição no primeiro livro sobre o
tema, “The Fractal Geometry of Nature” de Benoit Mandelbrot (abre em nova aba), está
relacionado com quatro pilares que implicitamente são tratados na poesia do Boca do Inferno
(alcunha dada ao Gregório de Matos devido à acidez de seus textos satíricos):
A autossimilaridade.
A iteração.
A variação de escala.
A aparente complexidade.
Ou seja, o fractal é o todo composto por partes, sendo a parte um todo e o todo apenas uma
parte (parece complexo, a princípio). Processos iterativos levam as partes a comporem
padrões de repetição, que acabam formando figuras aparentemente complexas. A sensação de
complexidade das estruturas é dada normalmente pela grande irregularidade das formas
finais. Um fractal, portanto, se faz complexo pela repetição de padrões a ponto de ser
impossível diferenciar o que é a parte e o que é o todo.
Com esse raciocínio, é possível observar diversas figuras na natureza que são evidentemente
fractais. Assim como discutimos no post sobre fractais na natureza (abre em nova aba),
inspirações para identificar um todo composto por partes é inesgotável no nosso Universo.
Mas a pergunta que vamos responder aqui é: existe arte fractal para além das inspiradas na
natureza?
A resposta é sim!
Mas vamos começar contando a história de um artista plástico (mais especificamente um
pintor) que pintava fractais antes mesmo deles se chamarem assim. Trata-se de Jackson
Pollock (1912-1956). Nas décadas de 40 e 50, Pollock se notabilizou por fazer pinturas
utilizando uma técnica chamada de gotejamento. Essa técnica consiste em respingar sobre as
telas pingos de tinta. A princípio, seria muito difícil dizer que o simples espalhamento de
gotículas poderia gerar uma figura fractal, certo? Mas o rigor e as bases do que é um fractal
estão muito enraizadas nesse processo. Pense bem, uma vez que a forma é dada pela
aerodinâmica do fluido que cai sobre a tela, o que diferencia os pingos de tinta não é apenas a
quantidade de líquido em cada um? Logo, os pingos são variações de escala de uma figura
padrão (a gota). Uma pintura formada pela repetição de gotas em diferentes escalas não seria
uma grande prova de autossimilaridade, iteração, variação de escala, culminando em uma
aparente complexidade?
Pollock pintando com a técnica do gotejamento.
Foi exatamente isso que o matemático Richard Taylor pensou e, alguns anos após a morte de
Pollock, começou a investigar as obras do artista. Taylor realizou uma análise computacional
dos quadros, dividindo cada quadro em várias partes de escalas diferentes. Na análise,
percebeu que havia padrões de repetição tal que um dado fragmento da pintura se repetia por
todo o quadro, variando a escala em até mil vezes. Ou seja, o quadro como um todo não poderia
ser distinguido quanto o que era todo e o que era parte. Pois uma parte, se ampliada, era
semelhante ao todo. O quadro era um conjunto de partes que ao mesmo tempo eram partes e
eram o todo (lembre-se que uma couve flor tem as mesmas características).
Mandelbrot set
Além disso, você pode assistir a uma animação fractal “infinita” (abre em nova aba) e pode
escutar uma música fractal (abre em nova aba).
Imagem fractal gerada no computador.