Resumo de artigo Letramentos Digitais e Formação de Professores Referências: Buzato, M.E.K.(2006)Letramento e Inclusão na Era da Linguagem Digital. IEL/UNICAMP, Março de 2006.Mimeo.
Na introdução do artigo, Marcelo Buzato traz os motivos que o levaram a participar
da mesa redonda Internet e formação de professores, ressaltando a visão ingênua que temos sobre as novas TICs, fazendo um comparativo com outras tecnologias como: a imprensa, o automóvel, a eletricidade, a eletricidade, que sempre são causa de exclusão e inclusão, mas nem por isso devem ser endeusadas ou demonizadas e convida a refletir sobre letramento digital. O que se espera dos professores? O que se espera dos cursos formadores de professores? De que forma podemos usar as novas tecnologias digitais no ensino? É necessário que os professores conheçam, valorizem e compatibilizem práticas, linguagens, conteúdos e ferramentas que os alunos trazem para a escola quando chegam do seu cotidiano online e off-line e muitas vezes, que apresenta diferenças para além das etárias entre professores e alunos, e também das práticas sociais de escrita e leitura que caracterizam o cotidiano desses dois grupos sociais. A formação inicial e continuada dos professores deve ter como conceito norteador o letramento digital, segundo Buzato, pois somente assim os projetos pedagógicos que utilizam a internet serão significativos, e também poderão ser compatibilizados materiais e recursos da salas de aula off-line com objetos e interações típicas online. Letramento Digital O autor coloca a definição de letramento digital com a qual trabalha para que o leitor possa conceber sua abordagem de Tecnologia e Sociedade, mostrando semelhanças e diferenças de três maneiras de se aplicar este letramento. Segundo Mark Warschauer (2003), o desenvolvimento da tecnologia se dá por caminhos que estão além do controle social ou cultural, onde a tecnologia é capaz de exercer, de formas autônomas, inerentes à sua própria natureza técnica, efeitos sobre o mundo social (reducionismo). Há também quem se paute por um determinismo sociológico da tecnologia, isto é, há quem procure explicar os desenvolvimentos tecnológicos como consequência única e exclusivamente da estrutura social e das relações de poder que levam certos grupos a criar máquinas que garantam sua hegemonia. Numa segunda linha de pensamento, Buzato nos traz os discursos deterministas que encaram as TIC como instrumentos neutros, que se utilizado “corretamente”, grifo do autor, levaria a melhoria e desenvolvimento de pessoas e países, fechando- se aos excluídos ou impossibilitados de utilizar os instrumentos digitais. Faz ainda uma observação que ambos os pensamentos interpretam a tecnologia como algo isolado sem relação direta com a sociedade, uma visão acrítica, deste lugar a solução para a inclusão digital não estaria na escola e sim nas mãos de produtores de softwares e hardwares, devemos concentrar forças para encontrar soluções dentro das próprias escolas, capacitando professores e alunos primeiramente. A tecnologia deve ser vista como ação social coletiva que possibilita sua própria prática a favor de sua inclusão. O termo letramento no texto é definido por Kleiman (1995) e por Soares (2002) de forma semelhante, “como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia em contextos específicos para objetivos específicos” e “estado ou condição de quem exerce as práticas sócias de leitura e de processo de interpretação dessa interação”, respectivamente. A noção de prática social é a grande diferença entre letramento e o termo alfabetização, pois este pressupõe o ensino das regras, códigos e técnicas para diferentes finalidades sociais, assim sendo ser alfabetizado é próximo de ser letrado, no entanto, não garante o letramento. Os letramentos são práticas sociais identitárias, com finalidade e sentido específicos dentro de um grupo social e por isso variam de um grupo para outro. Um indivíduo para ser considerado letrado é alguém com bastante conhecimento das diferentes formas de falar, ler e escrever construídas sócio historicamente, e são formas relativas às experiências e atividades a que o indivíduo é ou foi exposto ao longo de sua vida. O letramento repercute nas formas de falar, escutar e pensar dos sujeitos que passam a dominar outra linguagem, que aproxima fala e escrita. As perspectivas deterministas e instrumentalistas trazem crenças de que de que as habilidades de ler e escrever seriam transformadas pelas práticas digitais, pois suas próprias práticas de ensinar era muito focadas no domínio e na mensuração e não consideravam a situação social do sujeitos, em contraposição a essa visão temos as teorias do letramento , ou letramentos que propõem a inclusão , a consciência crítica e participação política como formas de ensinar e aprender para além escola. É necessário um novo olhar para as TIC relacionadas à educação para que se possa avançar e não repetir erros do passado. No letramento digital espera-se que o sujeito domine as regras, códigos e símbolos ligados aos diferentes gêneros digitais, que estejam familiarizados com a nova linguagem trazida pela TICs, o que implica na construção e manutenção de relações sociais. A palavra letramento é recente em nosso vocabulário, tradução de “literacy”, feita por Mary Kato (1986), e é usada como conceito que engloba desde habilidades básicas até práticas comunicativas que envolvem diferentes sistemas de representação, meios/tecnologias e usos sociais. Importante ratificar que muitos autores usam a palavra pela mudança de enfoque na compreensão do que realmente é o letramento, situando-o em contextos culturais específicos. O conceito de letramentos digitais a partir de Buzato (2006): são conjuntos de letramentos que se apoiam, entrelaçam, e apropriam mútua e continuamente por meio de dispositivos digitais para finalidades específicas, tanto em contextos socioculturais geograficamente e temporalmente limitados, quanto naqueles construídos pela interação mediada eletronicamente. Partindo dessa definição, são necessários dois esclarecimentos: o primeiro ressalta o quanto os letramentos digitais são híbridos e instáveis, explicitando a necessidade de constante atualização e o segundo que mostram o quanto podem ser variáveis os letramentos digitais oscilando em função dos contextos sociais e culturais e ainda pelas finalidades propostas. O letramento digital desfaz a ideia de professor como único detentor do conhecimento porque muitas vezes os alunos são mais letrados digitalmente do que seus professores, enquanto o professor provavelmente será mais letrado academicamente falando. São possíveis dois caminhos em relação aos letramentos digitais e a escola, o isolamento e a integração, no isolamento o conhecimento é manipulado para que o professor possa continuar sendo o detentor do saber e perpetuam–se os papéis já determinados de professor, aluno, autor e texto vigente até hoje na escola, e a integração, que prima pela ideia de conjuntos de letramentos que se entrelaçam com diferentes finalidades de uso e de escrita. É importante reconhecer que ninguém é totalmente letrado, pois não há letramento absoluto, cada um de nós domina alguns letramentos, mais ou menos do que outros, o fato é que alguns letramentos são mais valorizados e tudo depende de se estar familiarizado ou não com eles. Em alguns momentos, o professor será o mais letrado, em outros, o mais letrado será o aluno e é nesse sentido que a colaboração se faz necessária, para que juntos com a escola, todos aprendam e deem a sociedade respostas às demandas contextuais urgentes. Buzato apresenta uma concepção de letramento, que segundo ele mesmo, torna o processo mais fácil de entender, mas difícil de implantar: o professor deve aprender o letramento do aluno e o aluno aprender o letramento do professor e juntos poderão fazer o que se espera dos letrados digitais, no entanto esta não é uma tarefa fácil , a priori todos juntos, escola, sociedade, professor e aluno deverão reconhecer que para que aconteça a inclusão digital é necessário começar, tentar fazer, embasar e mutuamente começar. A formação de professores A partir do conceito de letramento digital, a formação de professores já está passando por mudanças, pequenas e localizadas, mas está mudando, a necessidade de acesso, subsídios para compra de computadores e sua capacitação básica para uso de tecnologias e alguns locais de treinamento, entretanto ainda há muito a se fazer. Buzato coloca a necessidade de mudança de concepção no sentido de que as tecnologias estão a serviço da educação, são fruto de estudo e pesquisa que vieram para tornar mais prática e eficientes tarefas e não são nem estão, separadas da educação. A ampliação do acesso às tecnologias digitais deve trazer o domínio pleno sobre estas, e que todos os professores e alunos possam avaliar a credibilidade de fontes, determinar a aplicabilidade e relevância de conteúdos, que aprendam planilhas de cálculo, apresentações eletrônicas e websites e outros aspectos que contam para a inclusão digital no cotidiano escolar. Além da infraestrutura necessária a implantação das tecnologias nos cursos de formação é preciso que se fomente o trabalho de inclusão, que sejam mediadores de aprendizagem, de forma natural e colaborativa, tendo em mente o contexto escolar, evitando o ambiente competitivo e a exclusão. A capacidade de criar redes de interesse e conhecimentos que mantenham as pessoas interessadas na própria aprendizagem e a adequação de currículo são pressupostos básicos de um professor que se dispõe a ensinar o letramento digital para os professores em formação, evitando a fórmula posta de poder, professor- aluno, é necessário partilha de saberes, de letramentos e ambiente colaborativo. Já concluindo, Buzato coloca que o entrelaçamento de saberes entre o que se sabe e o que se tem que saber, nesse caso, os letramentos digitais, as TICs, torna a formação dos professores um desafio que pode transformar as práticas docentes e que não se pode prescindir do ensino das tecnologias na escola, um grande canal de inclusão, só assim poderemos apropriar-nos crítica e criativamente desses meios, e não sermos consumidos por ela.