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MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE LÍNGUAS

COMPONENTE CURRICULAR – PRÁTICAS ORIENTADAS II

PROFESSORA DRA. ZILA LETÍCIA PEREIRA RÊGO

ALUNA- Cláudia dos Santos Moreira

PLANO DE MICROENSINO

1. Tema: Literatura Literária nas séries finais do ensino fundamental

2. Cronograma de execução do plano:

A atividade deverá desenvolver-se em 4 horas-aula de 50 minutos, em uma turma


de 9º ano do ensino fundamental (descrição completa em anexo).

3. Objetivo Geral do plano:

Despertar o interesse dos alunos pela leitura literária através do gênero conto
contemporâneo.

4. Atividades

 Introdução e motivação à leitura


 Criação do horizonte de expectativas
 Leitura do conto: A moça tecelã, de Marina Colasanti.
 Exploração dos sentidos do conto (semânticos, sintáticos, estruturais)

5. Atividades e conteúdos
 Relativos ao tema: posicionamentos e impressões pessoais;
 Relativos à experiência literária: criação do horizonte de expectativas;
 Relativos ao gênero: identificar a estrutura do conto, as partes e o todo do
texto; a ideia central, personagens, narrador, enredo, clímax;
 Relativos ao campo semântico: o simbólico, a fantasia, a condição
feminina, o poder de desfazer o que não a agrada, elementos religiosos,
dualidade (desejo de ter um marido, desejo de não ter problemas, desejo
de ter um marido e mesmo assim manter sua liberdade) e também a
oposição entre bens materiais e felicidade...
 Relativos à sintaxe e morfologia : o uso da polissemia, dos adjetivos como
construtos, o uso da conotação;

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Este plano de microensino está fundamentado em conceitos teóricos de


Regina Zilberman referentes à estética da recepção e da hermenêutica literária e de
Wolfgang Iser e Robert Jauss no que tange ao efeito estético da leitura e a interação
do texto com o leitor.

A atividade inicial de introdução e motivação à leitura do conto “A Tecelã”, de


Marina Colasanti, deve levantar o conhecimento prévio do aluno (leitor) sobre o
tema, teoricamente a criação do horizonte de expectativas e posteriormente na
recepção do texto, atividade que deverá ser feita através de perguntas que suscitem
curiosidade sobre o texto antes de adentrá-lo, em uma nova perspectiva de relação
texto-leitor.
Na interpretação da obra, pretende-se explorar os polos artístico e estético
do conto, fazendo com que o aluno perceba o texto criado pelo autor e também sua
participação na concretização da obra, através da leitura e da releitura do texto e
nos sentidos experimentados no ato da leitura, a partir de sua própria vivência e
tempo.

O processo de interação do leitor com o texto será trabalhado na


identificação do gênero e suas características e na experimentação do efeito estético
da obra no leitor. Considerando o que Iser coloca sobre as relações texto-leitor,
onde dificilmente os leitores extrairão do texto a certeza de que sua interpretação é a
mais justa ou acertada, todos podem e devem expressar suas impressões e
opiniões acerca do texto, sempre mediados pelo professor que deve suscitar o
preenchimento de alguns vazios propostos pelo texto a partir do que foi levantado
pelos alunos e do seu conhecimento próprio (do professor).
A exploração do campo semântico do texto será feita a luz da teoria
defendida por Zilberman que ressalta a função social da arte como influenciadora de
seus leitores, que pode antecipar-se à sociedade como é o caso deste conto
contemporâneo, que trata das questões emancipatórias femininas e existenciais
estando assim à frente da sociedade reforçando o papel libertador da literatura.

ANEXOS:

Cronograma das atividades

ATIVIDADE 1: PROCEDIMENTOS OBJETIVOS DA


PEDAGÓGICOS: ATIVIDADE:
Conversa sobre as preferências temáticas Levantamento do Conversa informal
de leitura, a partir de perguntas, como : conhecimento prévio sobre algum conto
Quais tipos de história você gosta de ler? acerca da temática do lido identificando
Se você se interessasse hoje por um livro, conto. as características
que tipo de assunto ele teria? Definição e identificação do gênero.
Você conhece histórias curtas (contos) que de características de Identificar e
trazem uma narrativa completa? gênero (Conto), de motivar o interesse
Exibição de imagens com pessoas tecendo forma oral. pela leitura do
ou costurando como forma de estímulo a conto que será
compreensão do “tecer”. feita a seguir.
Exibição de
imagens relativas
ao tema do conto.

ATIVIDADE 2: PROCEDIMENTOS OBJETIVOS DA


PEDAGÓGICOS: ATIVIDADE:
Leitura silenciosa do conto: “A moça Leitura silenciosa feitaMotivar a leitura
tecelã”, de Marina Colasanti. pelo aluno. como experiência
Leitura do conto em voz alta pela Leitura oral do conto literária
professora. pelo professor Ouvir e interpretar
Exploração dos sentidos o conto “A moça
Conversa sobre o conto ouvido e do texto (Exemplo de tecelã”.
exploração semântica. perguntas: o que
Construir e
pensaram quandoreconstruir
Conversa dirigida sobre a organização do ouviram o título do texto,
sentidos e
conto (enredo, tempo, espaço) que relações fizeram? impressões.
Se durante a leitura as Refletir sobre a
expectativas foram
estrutura do conto;
sendo esclarecidas?Identificar
Quais textos ou temas personagens,
se relacionam a este?) tempo, espaço
(estrutura do
Expressar de forma oral texto), clímax;
e espontânea as
sensações
experimentadas durante
e após a leitura.

ATIVIDADES 3 e 4 CONTEÚDOS OBJETIVOS DA


ATIVIDADE:
Exploração sintática e morfológica do texto Uso da polissemia; Identificar e
Uso de adjetivos como reconhecer os
construtos, adjetivos usados e
Uso da conotação suas relações com
Relação de os sentidos do
interdependência nas conto.
orações. Reconhecer as
construções
polissêmicas;
Perceber o uso da
conotação;
Perceber as
relações de
dependência ou
coordenação entre
as orações e seus
conectores.

Breve biografia de Marina Colasanti:

Marina Colasanti (1938) nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então
vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis, é
ainda contemporânea a nós. É uma importante escritora da literatura brasileira, em suas
obras reflete com delicadeza assuntos ásperos, entre eles os problemas sociais. Colabora,
também, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em
todo o Brasil. Casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

CONTO : A MOÇA TECELÃ


MARINA COLASANTI

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E
logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios
estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca
acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira
grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas
nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a
chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os
pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a
acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear
para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que
o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite
que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela
primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida,
começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos
seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato
engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos,
quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi
entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para
aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os
esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas
coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram
dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e
pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta
imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas,
e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite
chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem
parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear
o mais alto quarto da mais alta torre.

— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave,
advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os
cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que
queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio
com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha
de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas
exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao
tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e
jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os
cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e
todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o
jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou
em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e
ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo,
tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-
a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
Imagens utilizadas na atividade 1:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JÚNIOR, A.N. Projeto Releituras: Textos ilustrados. Disponível em


http://www.releituras.com/i_ana_mcolasanti.asp Acesso em 10/01/2018.

ISER, W. O ato da leitura. Uma teoria do efeito estético. São Paulo: 34, 1996. V. 1 e v.2

ZILBERMAN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Global, 1989.

REFERÊNCIAS IMAGÉTICAS
PIXABAY – Site de domínio público

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