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Gêneros narrativos
Criado com um pouco de travessura
ROSANA ROX 09/05/22, 18:10 HS

Introdução aos Estudos do Gênero Narrativo: características e


funcionamento
Gênero Narrativo
Gênero Narrativo:

Características e funcionamento

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
O QUE É NARRATIVA

Boas-vindas aos alunos

A narração é um gênero onipresente em nossas vidas.

Características gerais da disciplina

Narrar é uma habilidade inerente ao ser humano.

Objetivos

       

Para alguns estudiosos configura-se como o próprio fator de

CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS

humanização de nossa espécie.

Semana 1

Podemos entender narrativa como:

Introdução aos estudos do gênero narrativo

"uma cadeia de signos com sentidos sociais, culturais e/ou


históricos particulares, e não gerais. Esta definição significa que
Semana 2

narrativas podem implicar conjuntos de signos que se


Pensamento narrativo e narrativas orais

movimentam temporalmente, causalmente ou de alguma outra


forma socioculturalmente reconhecível" (SQUIRE, 2014, p. 273)

Semana 3

Contribuições da Análise de Discurso Francesa e da Psicanálise


ESTUDOS SOBRE A NARRATIVA

para os estudos das narrativas orais

Foi somente a partir dos trabalhos realizados por alguns


Semana 4

pesquisadores

Narrador: tipos e funções

soviéticos, conhecidos no Ocidente como Formalistas Russos,


que

Semana 5

surgiu o estudo sistemático da narrativa.

Personagem: construção, características e organização

Os estudos empreendidos pelos Formalistas Russos

Semana 6

fundaram a narratologia como teoria da narrativa.

Espaço no gênero narrativo

Adam define a narratologia como "um braço da

  

ciência geral dos signos - a Semiologia" - que se

Semana 7

esforça em analisar o modo de organização interna de certos


Tempo: és um senhor tão bonito

tipos de textos. Isso a relaciona com a Análise do Discurso e com


a Linguística Textual.

Semana 8

Revisão

Os sentidos do texto narrativo são formulados através da


confluência entre leitor, narrador, autor e texto!

Semana 9

Prova

ESTUDOS SOBRE A NARRATIVA

E INTERPRETAÇÃO

CONTRIBUIÇÕES DA DISCIPLINA PARA A FORMAÇÃO DO


PROFISSIONAL DA ÁREA DE LETRAS

O estudo sistemático das narrativas proporcionou uma mudança


no foco de atenção dos pesquisadores:

Conhecimentos gerais, cultural, erudição.

a interpretação deixou de ser a única via de estudo do texto


Conhecimentos específicos: formação profissional para a
narrativo; surgiram, então, as análises sobre as estruturas e os
docência.
discursos narrativos.

Buscou-se, assim, "não apenas o que o texto queria dizer” mas ou imaginativo.

também

"como" o texto se construía e se organizava para conseguir 5ª) Cada uma das duas formas de pensamento oferece

significação.
caminhos distintos de fornecer experiências de

construção da realidade.

OS GÊNEROS DO DISCURSO:
pensamento cientifico

USO SOCIAL DA LÍNGUA


pensamento argumentativo - texto base

Bakhtin, ao problematizar a questão dos gêneros do discurso, 6ª) Em Atos de significação, Bruner procura

evidencia justamente a oposição entre a concepção de língua demonstrar que é a cultura e não a biologia que

como abstração gramatical e como meio de comunicação.


"molda" a vida e a mente humanas, que dá significado

O signo é sempre ideológico


à ação, situando seus estados intencionais

subjacentes em um sistema interpretativo.

Entende que as diversas esferas da atividade humana

estão relacionadas com a linguagem, ou seja, o


7ª) A criança apreende desde

enunciado na esfera do discurso é uma unidade da


pequena o poder de

comunicação humana e não somente uma sentença


argumentação das narrativas

inscrita na gramática.
e lança mão delas sempre que

necessário.

Para Bakhtin (2005 apud Toscano, 2009), os gêneros

discursivos são constituídos por enunciados


8ª) Bruner e Vygotsky

relativamente estáveis, cujo objetivo é atender às


A cultura é tanto um fórum para

necessidades da interação verbal. Em vista disso, os


negociação e renegociação de

elementos componentes do enunciado – conteúdo


significado e para explicação

temático, estilo e construção composicional – estão


da ação quanto um conjunto

intrinsecamente ligados aos valores e funções sociais


de regras ou especificações

do processo de comunicação.
para a ação.

O GÊNERO NARRATIVO
9ª) Bruner aproxima-se muito de Bakhtin, pois este argumenta
que não aprendemos palavras descontextualizadas (neutras),
Consiste em narrar, como o nome já diz, um fato ou uma história aprendemos e utilizamos palavras impregnadas de
de ficção, que conta um enredo, onde, em geral, existe uma intencionalidade, tal como Bruner afirma acontecer com as
situação inicial, a modificação da situação inicial, um conflito, o narrativas - mesmo as de crianças pequenas.

clímax, e o chamado epílogo, que é a solução narrada no ponto


máximo da história.
NARRATIVAS E SUAS POSSIBILIDADES

DE INTERPRETAÇÃO

LEITURA ORAL

Fragmentos Curtos
https://www.youtube.com/watch?v=Sd4KIj5Drcs

Dom Casmurro | Machado de Assis

A Paixão Segundo GH | Clarice Lispector


Causos de Ariano Suassuna

ALGUMAS NARRATIVAS CLÁSSICAS

DA LITERATURA BRASILEIRA

A Hora da Estrela,

Contribuições de Brunner para os estudos Clarice Lispector

da Narrativa
Antes do Baile Verde,

1ª) A análise da narrativa sob o aspecto


Lygia Fagundes Telles

do desenvolvimento cognitivo.

Capitães da Areia,

2ª) Compreensão dos esquemas cognitivos


Jorge Amado

e as formas de pensamento que engendram

e são engendradas pelo pensamento lógico.


Dom Casmurro,

Machado de Assis

3ª) A discussão do quão preponderante foi o papel

da narrativa na evolução da cultura humana.


Grande Sertão: Veredas,

João Guimarães Rosa

4ª) Bruner analisa a argumentação e a narração

como as duas formas de que o ser humano dispõe

para construir seu pensamento, seja ele científico

Elementos da Narrativa NARRATIVA:

enredo

SOBRE A ESTRUTURA DA NARRATIVA


tempo

personagens

Diferente da dissertação, a narrativa


espaço

é um texto que trata de acontecimentos


narrador

e ações realizadas por personagens

fictícios ou reais. Na Literatura, ela


Estudaremos cada um desses elementos, separadamente,

aparece principalmente em romances,


ao longo das semanas

novelas, fábulas, contos e crônicas.

Ela também é a base de muitas peças

de teatro e dos filmes produzidos

pelo cinema.

Pensamento narrativo e
Mas, para que o leitor ou ouvinte se sinta atraído e até mesmo
entenda toda a situação, ela precisa ter uma estrutura e
narrativas orais
elementos essenciais ao desenvolvimento

da história.
FORMAÇÃO HUMANA: O PENSAMENTO
A narrativa começa com a introdução, que é seguida pelo
NARRATIVO E O PENSAMENTO CIENTÍFICO
desenvolvimento e o clímax. Finalmente, a história termina

com uma conclusão ou desfecho, que coloca um ponto final nas INTEGRADOS
aventuras do personagem e nas expectativas do leitor.
Entendemos por pensamento narrativo a narrativa criada pelo

Vamos falar de cada uma delas a seguir.


homem, baseada em sua memória e na sua interação com os
demais, e pensamento científico

Situação Inicial :Quando o narrador contextualiza o leitor: como as proposições derivadas da história narrada. O ser
apresenta os
humano em contato com a

personagens e mostra o tempo e o espaço em que estão


sociedade, cultura e sua própria vivência cria suas narrativas que
inseridos, geralmente logo na introdução.
espelham narrativas

coletivas e delas depreendem uma série de proposições.

Conflito :Um acontecimento é responsável por modificar a


situação
Vygotsky e Luria fizeram experiências e observaram que a
inicial dos personagens, exigindo algum tipo de ação.
criança, ao se esforçar para resolver os problemas, fala. Essa
fala concomitante com a ação ocorre espontaneamente, quase
Desenvolvimento: O narrador conta o que os personagens sem interrupção até o final da atividade proposta. Ela se torna
fizeram para tentar
mais persistente à medida que as dificuldades aumentam. Assim,
solucionar o conflito.
os estudiosos argumentam que é necessário e natural à criança
falar enquanto resolve um problema, não apenas para contar o
Clímax: A narrativa é levada a um ponto de alta tensão ou que está fazendo, mas, principalmente, porque está externando
emoção
seu pensamento (sua fala interna).

que exige uma decisão ou desfecho.

Bruner (2002) defende que o “eu”, na verdade, está impregnado


Desfecho: É a parte da narrativa que mostra a solução para o pelo outro e, como aquele, surge da relação, da interação social,
conflito.
e

que nossos pontos de vistas nunca são constituídos apenas de


Introdução - É a parte do texto que apresenta as personagens
nós mesmos, mas a partir dos pontos de vistas de outros seres
e mostra ao leitor onde elas se localizam em relação ao tempo
humanos que estão à nossa volta.

e espaço.

O pensamento científico relaciona-se com:

Desenvolvimento - Nesse trecho, o narrador conta as ações da


a) Busca pela verdade universal;

personagem. A ideia é formar uma trama com os b) Convencimento do interlocutor fornecendo provas empíricas;

acontecimentos,
c) Causalidade (se x, então y);

mostrar a ocorrência de um problema ou complicação com


d) Formação de proposições;

objetivo de criar algum tipo de suspense que vai conduzir ao


e) Preenchimento de um ideal de um sistema formal e
clímax da história.
matemático de descrição e

explicação, empregando a categorização ou a conceituação;


Conclusão - Trata-se do final da história. Na maioria das vezes, f) Consistência;

os

autores concluem encerrando a trama com um desfecho Já o pensamento narrativo estaria na outra ponta, com as
favorável
seguintes características:

ou não para o problema.


a) Busca a verossimilhança;

Podemos dizer que Bruner entende verossimilhança tal qual A habilidade de narrar, sendo específica do ser humano e sua
Aristóteles:
inteligência, é parte integrante da sua competência linguística e
[...] é evidente que não compete ao poeta narrar exatamente o simbólica.

que aconteceu;

mas sim o que poderia ter acontecido, o possível, segundo a Narrar contribui para a estruturação da experiência

verossimilhança
humana, pois “organizamos nossa experiência e nossa memória
ou a necessidade (BRUNER, 2001, p.43). 
principalmente através da narrativa” (Bruner 1991, 14, 21)

b) Apresenta condições prováveis entre dois eventos;


1. Formas

c) Transgride a consistência podendo ser contraditório;


A estrutura básica, obviamente, é composta por início, meio e
d) Busca a abstração, transcende o particular;
fim; e, segundo Chafe (1990, 94), uma narrativa precisa de uma
e) Existência de gatilho para mudança de um plano para o outro.
introdução, de um momento (quando?), um local (onde?),
personagens atuantes (quem?) e uma situação de fundo
O homem vive o cotidiano e age sobre ele. 
(“background activity”), no qual o conteúdo da narrativa se
desenvolve.

As nossas ações, os nossos conceitos empregados são


circunstanciais, assim como os nossos discursos, pois revelam- A análise formal da sintaxe narrativa

se num determinado contexto, atendendo a demanda


Propriedades formais são estruturas típicas, que podem ser

de certas situações.
encontradas tanto no nível de sentenças como também na
narrativa como um todo, e permitem compreender a estrutura
O estereótipo pode nos servir como ferramenta de análise. interna das narrativas. A análise funcional destaca que, uma série
Tomando o cotidiano como descrito acima, imaginemos a de elementos colocados numa ordem temporária ainda não
seguinte situação: um novo vizinho se muda para seu prédio. constituem uma narrativa, mas apenas uma descrição.

Você observa que ele tem tatuagens e carrega uma guitarra.

Automaticamente, seu cérebro aciona sua memória, que busca Para que seja constituída uma narrativa, é necessaria uma
situações parecidas em que haja uma pessoa com tais função, ou seja, um

características. Histórias internas são acionadas, histórias motivo pelo qual ela é contada, um interesse de ordem pessoal.

pertencentes a diversos gêneros. Você pode relacionar a sua


adolescência e criar uma história saudosista, ou associar o rock a Uma narrativa completa tem, segundo Labov/Waletzky, os
uma história cheia de referências às drogas e delinquência. O seguintes

resultado desse pensamento narrativo é uma proposição, ou elementos estruturais:

seja, um pensamento paradigmático:


1. A síntese (“abstract”, do que se trata?), que resume a narrativa
- Se for uma história saudosista, provavelmente criará um e indica

estereótipo positivo, proposição, o rapaz deve ser gente boa.


qual a natureza do seu conteúdo; por exemplo7

- Se for uma história com referências negativas, provavelmente : “Trata-se em geral da questão

criará um estereótipo negativo, a proposição, esse cara é um de se procurar um banheiro e encontro grandes dificuldades em
viciado.
achar um.

Esse sonho é muito mais complexo, mas eu consigo me lembrar


De acordo com Bruner e Senna, o pensamento narrativo não muito bem

está
dele. Estava ...”

relacionado ao pensamento científico; eles são duas instâncias 2. A orientação (“orientation”, quem? quando? o quê? onde?), que
opostas. Nós defendemos que não, de uma narrativa pode dá

derivar uma proposição e esta guiar uma ação do sujeito. Um referências do local, hora, da cena e das pessoas envolvidas;
exemplo didático para tanto é a construção de estereótipos. exemplo: “Ontem

Basta fazermos um exercício mental para percebemos como eu sonhei que minha mãe mudou-se para Paris, e eu arrumei um
estes pensamentos estão relacionados e como sua articulação
apartamento

pode servir de base para criarmos a representação da cultura, da para ela lá num prédio velho e alto, no qual eu subi pelo elevador
sociedade e, claro, de nós mesmos; ou seja, a nossa ....”.

autoformação, que urge novas formas de ser, pensar e agir.


3. O episódio inesperado (“complication”, o que aconteceu?),
exemplo:

“Estava andando de bicicleta, e o meu nenê estava na cesta da


bicicleta. De

algum modo ele caiu, e eu o perdi. Mas não me lembro como ...
de repente eu

Narrativas orais: formas e funções percebo que ele está em cima de um muro amarrado e eu estou
embaixo na rua

Este texto discute as narrativas orais como uma espécie de gritando: “Não precisa chorar, eu vou pegar você”.

comunicação cotidiana, abordadas sob duas perspectivas 4. A avaliação (“evaluation”. qual reação?), que está ligada ao foco
complementares:
central.

As formas e as funções.
Numa outra contribuição (1972), Labov aprofunda o conceito de
avaliação,
discurso. Esse

classificando tipos diferentes. A avaliação deixa de ser um gesto padrão é abdutivo no sentido de que algo é introduzido como
isolado,
supostamente

feito num instante exato e único da narrativa, para estar (e verdadeiramente) relevante, e cuja relevância (que pode variar
presente de forma
de

contínua e diversificada no desenrolar da narrativa. Exemplo: “A intensidade) é evidenciada apenas depois.

noite passada

(ha!ha!ha!) depois do meu casamento na igreja (ha!ha!ha!) eu


estava dentro

do carro e (ha!ha!ha!) eu vi que no lugar das latinhas amarradas O Brasil que o romantismo(re)criou
no párachoque (ha!ha!ha!) tinha um ciclista (rir)”.

5.Uma solução ou um resultado (“result”, qual o desfecho?). No Este artigo discute a construção do conceito de nação pelos
sonho
intelectuais brasileiros, do período denominado Romantismo.

sobre uma visita a Paris, a protagonista enfrenta várias


aventuras: o elevador
“[...] e é inútil operar com uma visão monolítica do romantismo
serve como avião, ela sobrevoa a paisagem, consegue pilotá-lo seja no Brasil seja na França, como se os processos ideológicos
como um carro, supera vários obstáculos como, por exemplo, a pudessem ficar a salvo (em torres de marfim?) das disputas
fiação elétrica, e
políticas objetivas e dos interesses materiais e civilizatórios do
finalmente: “Voltei para o prédio, entrei, apertei o “cinco”, subi capitalismo que lhes conquistam significados e lhes imprimem
até minha mãe,
sentido – contraditoriamente.” (O Brasil que o Romantismo
deixei o elevador, estava no quinto andar, e comentei com minha (re)criou, André Botelho).

mãe: “Não

usa o elevador, de jeito nenhum!” Assim, eu acordei. Era bem


estranho.

Também engraçado.”
Narrativas orais: formas e funções (Michael
Hanke)
2. A função argumentativa

Além das várias funções já mencionadas, as narrativas podem A narrativa é caracterizada

servir como argumentos.


como "um ato de linguagem

que faz referência a uma série

Narrativas têm um caráter


de ações ou acontecimentos

argumentativo: se contadas como exemplos, elas desempenham situados no passado, sejam

uma função
esses reais ou ficcionais"

de criar evidências ou uma licença de inferir para uma exposição (HANKE, 2003, p. 118)

ou um

complexo de exposição-conclusão. Assim, se conclusões são PARA QUE SERVEM AS NARRATIVAS ORAIS?

tiradas a partir
Como produto arcaico da cultura humana, as narrativas servem
delas, elas servem como dado ou exposição.
para:

As três formas da inferência lógica, segundo Peirce, a indução, - Perpetuar rituais, culturas, maneiras

dedução
de ser e de fazer de uma sociedade.

e abdução, são relevantes devido a sua universalidade, uma vez - Elaboração de angústias, medos e

que estão
conflitos humanos.

presentes em qualquer tipo de pensamento, podendo ser - Organização do pensamento e da memória.

encontradas tanto - Armazenamento e transmissão de conhecimentos.

na lógica científica quanto na comunicação cotidiana, e - Acumulação e saberes de um povo.

portanto, nas

narrativas cotidianas.
AS PESQUISAS SOBRE AS

1. padrão dedutivo,
NARRATIVAS ORAIS

pois o argumento é colocado em primeiro lugar e a narrativa Trabalhar com narrativas orais implica pensar nas

assume uma
histórias familiares, nas tradições orais que passam de

posição dedutiva em relação a ele.


geração a geração através da voz ou das vozes poéticas.

2. Num segundo padrão a narrativa funciona como ponto de Implica lembrar que, lá atrás, contar histórias não era

partida inicial,
apenas uma prática cotidiana, era um ofício comum do

do qual algo é derivado. Aqui a narrativa serve como dado (ou qual muitos se encarregaram e através do qual foram

exposição), da
repassados ensinamentos e lições de vida.

qual conclusões são tiradas.

3. O terceiro padrão estabelece uma conexão entre a narrativa e CONTANDO NARRATIVAS ORAIS

os
Quando conta uma história,

discursos anterior e posterior a ela, através de uma semelhança o contador/cantador/poeta

hipotética, a
revela não apenas o lado

qual é transformada numa relevância temática ao longo do poético do que sabe, mas

também permite que quem o


brasileiros em relação a

ouve receba a sabedoria que


outros povos e o silêncio

emana da fonte das cauteloso sobre a

experiências tecidas
escravidão. São esses

principalmente nas idas e


alguns dos elementos

vindas dos rios e das matas, assentados pelo

dos afazeres diários.


romantismo brasileiro na

construção social da ideia


ESTRUTURA NARRATIVA,
de nação no Brasil 

SEGUNDO LABOV E WALETZKY

A síntese
O Romantismo fortaleceu a concepção de uma nação através da
A orientação
ideia de mestiçagem e da liberdade literária, mas silenciou os
O episódio
sentidos sobre a escravização.

inesperado

A avaliação
SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA

A partir das narrativas são


IDEIA DE NAÇÃO

construídas teorias sobre a


Os intelectuais românticos

realidade. (OCHS)
deram início ao processo

de construção da nação e,

EXEMPLO DE NARRATIVA ORAL


mesmo em meio aos

constrangimentos públicos

"E naquele tempo as festas dançantes eram


impostos pela escravidão,

feitas em ramadas, que era barracão quadrado


desigualdades sociais,

coberto de palha preta, piso natural e a música


violências contra as

era pau e corda... se chamava... pau e corda


mulheres, indígenas,

era música daquele tempo era cavaquinho...


pessoas pobres e excluídas

era tambor, bumbo, flauta, pandeiro, banjo,


socialmente, levaram-no

bandurra, cuíca e reque-xeque. 


https://pixabay.com/pt/vectors/b%c3%adblia-livro- adiante.

E não esqueciam que à meia-noite era hora dos

comes e bebes, como também comiam e bebiam


Quais as consequências e

tacacá, tiborna... ééé... caxará, tarubá, biscoito,


efeitos político-ideológicos

maniçoba, macaxeira, garapa, mas também havia


decorrentes dessa

cachaça lá pelo meio, que somente os homens


construção?

idosos tomavam... e nessa hora apareceu dois

jovens bonitos, todos de roupa branca,


ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS

chapeludos, com caldas compridas e sapatos


Importação e submissão a ideologias outras, que não

largos na frente e fino atrás. E se passaram pra


as nossas, em vários campos e áreas, tais como:

umas moças que estavam lá e elas também e se


educação, saúde, política, jurídica.

entreteram muito!
O sentido político e/ou cultural assumidos pela ideia de

(material coletado por Joaquim Onésimo Ferreira Barbosa)


nação nas diferentes conjunturas delimitadas pela

Independência e inserção do Brasil no capitalismo do

PARA REFLEXÃO
período. 

A partir das narrativas são construídas teorias sobre a realidade

(OCHS et al. 1992 apud HANKE, 2003).


ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS

Indicação de videoaula.

atividade característica monológica= monologo


Literatura e Cultura Brasileira - Força de trabalho e

poder das letras

https://www.youtube.com/watch?v=aJDl_Tn_K1w

univesp.br Letras - LET320 Univesp - Universidade

Virtual do Estado de São Paulo. 

OS INTELECTUAIS BRASILEIROS E

Romantismo no Brasil: (re)criação e SUAS CONTRADIÇÕES

Associados de diferentes formas ao(s) romantismo(s),

principais autores os projetos de nação assumem, na experiência

SOBRE A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA


histórica, um caráter contraditório, produzindo tanto

IDEIA DE NAÇÃO
formas políticas autoritárias como democráticas, ou

liberais e conservadoras.

Independência literária,

historiografia nacional,
Como os diferentes grupos sociais podem

mestiçagem como fator


conquistar espaços de modo a expressar seus

de diferenciação dos
interesses?

implica que o acontecido seja trazido outra

ECOS E REPERCUSSÕES DO
vez, isto é: re (outra vez) mais latum

ROMANTISMO E SUA IDEIA DE


(trazido), que vem de fero (eu trago). Por

NAÇÃO
vezes é trazido outra vez por alguém que ou

Os sentidos
foi testemunha ou teve notícia do acontecido.

advindos da
O conto, no entanto, não se refere só ao

(re)criação da nação
acontecido. Não tem compromisso com o

brasileira pelo
evento real. Nele, realidade e ficção não têm

Romantismo ecoam
limites precisos. Um relato, copia-se; um

e repercutem até os
conto, inventa-se” (GOTLIB, 1990, p. 8)

dias atuais. Vamos

pensar sobre eles?


Para Alfredo Bosi, contar uma história é possibilitar a
confluência do real e da ficção a partir da retomada de outras
INDICAÇÕES DE TEXTOS E VÍDEOS
significações, dando espaço a novos sentidos.

Autoritarismo no Brasil | Lilia Schwarcz e Leandro

Karnal | Prazer, Karnal - Canal Oficial de Leandro


ALGUNS TIPOS DE CONTOS

Karnal
Contos Fantásticos

https://www.youtube.com/watch?v=O1e-Tr0gRZo
situações absurdas, inexplicáveis que fogem à normalidade,

Ética e democracia no Brasil | Cortella, Pondé e Karnal


como o sobrenatural, mas mantém um ar de realidade.

https://www.youtube.com/watch?v=sQYLxZNdBYY
Contos de Terror

inclui o sobrenatural de forma artificial e folclórica, como

vampiros, lobisomens, zumbis.

Contos de Fadas ou Maravilhoso

vieram de herança medieval e trabalham elementos

folclóricos, com virtudes e valores.

IMPORTANTES CONTISTAS BRASILEIROS

Machado de Assis

Contos e Crônicas: características, A Cartomante

Graciliano Ramos

funcionamento e exemplos
Baleia

CONCEITOS DE ALGUNS
Mario de Andrade

ESTUDIOSOS SOBRE O CONTO


Peru de Natal

Edgar Allan Poe


Clarice Lispector

(1809 – 1849).
Feliz aniversário

“Temos necessidade de uma


Carlos Drummond

literatura curta, concentrada,


Presépio

penetrante, concisa, ao invés


Adélia Prado

de extensa, verbosa,
Sem enfeite

pormenorizada...”
nenhum

(POE, apud, GOTLIB, 1990).

CRÔNICA

Alfredo Bosi,
O que é crônica?

História Concisa da Literatura Brasileira:


A crônica é um gênero textual muito presente em

"O conto cumpre a seu modo o


jornais, revistas, portais de internet e blogs.

destino da ficção contemporânea.

Posto entre as exigências da narração


“Por meio dos assuntos, da composição

realista, os apelos da fantasia e as


aparentemente solta, do ar de coisa sem

seduções do jogo verbal, ele tem


necessidade que costuma assumir, ela se

assumido formas de surpreendente


ajusta à sensibilidade de todo dia.

variedade. Ora é quase-documento


Principalmente porque elabora uma linguagem

folclórico, ora quase-crônica da vida


que fala de perto ao nosso modo de ser mais

urbana, ora quase-drama do cotidiano


natural. Na sua despretensão humanizada; e

burguês, ora quase-poema


esta humanização lhe permite, como

do imaginário.”
compensação, sorrateira, recuperar com a outra

“O contar (do latim computare) uma estória,


mão uma certa profundidade de significado e

em princípio, oralmente, evolui para o


um certo acabamento de forma, que de repente

registrar as estórias, por escrito. Mas o


podem fazer dela uma inesperada embora

contar não é simplesmente um relatar


discreta candidata à perfeição”

acontecimentos ou ações. Pois relatar


(CÂNDIDO, 1992, p.13-14).

-A concepção de língua, marcada pela opacidade, falha,


ALGUNS CRONISTAS BRASILEIROS
ambiguidade.
Lima Barreto
-A noção de sentido.
Rubem Braga
-A escuta discursiva.
João do Rio
-A posição do analista de discurso
Cecília Meireles

Nelson Rodrigues
PARA REFLEXÃO

Paulo Mendes Campos


Para Pêcheux (1997, p. 53): "todo enunciado é

Clarice Lispector intrinsecamente suscetível de tornar-se outro,

diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de seu


sentido para derivar para um outro. [...] Todo enunciado, toda
sequência de enunciados é, pois, linguisticamente descritível

Contribuições da Análise de como uma série [...] de pontos de deriva possíveis, oferecendo
Discurso Francesa e da lugar à interpretação. É nesse espaço que se pretende trabalhar
a análise de discurso".

Psicanálise para os estudos das


narrativas orais
Conceitos Centrais da Psicanálise Freudo-
Conceitos Centrais da Análise de Discurso Lacaniana.
de Matriz Francesa ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES

Objetivos de aprendizagem
-Inconsciente

-outro (grande outro, segundo Lacan)                      

Ao final desta semana, você deverá ser capaz de:


-Sintoma                

-Tropeços linguísticos (atos falhos, lapso, chistes,


Construir conhecimentos a respeito da Análise de silenciamentos) 

Discurso de Matriz Francesa e da Psicanálise Freudo-


lacaniana. -Interpretação 

Compreender que as narrativas são geradas a partir de -outro (pequeno outro, segundo Lacan)

diferentes interpretações. -Significante, segundo Lacan.

Reconhecer as narrativas orais como espaços


atravessados por fios de "verdade do sujeito.  -Sujeito

PRINCIPAL EXPOENTE DA ANÁLISE DE DISCURSO DE MATRIZ


FRANCESA
TEXTO-BASE 1 - Entre a Análise do
Discurso e a Psicanálise, a Verdade do
MICHEL PÊCHEUX

Data de Nascimento: 1938

Sujeito -Análise de Narrativas Orais | Leda


Data da Morte: 1983
Verdiani Tfouni e Marcela Laureano
Sabemos que interpretar é inerente ao homem,

A Análise de Discurso contribui para os estudos da língua e


pois, inserido no mundo simbólico, é exigido do sujeito um dar
linguagem ao postular a não neutralidade da língua.

sentido a todo o momento.

ALGUNS CONCEITOS BASILARES

A proposta do quadro epistemológico geral da AD proposto por


Condições de Produção Sujeito Ideologia

Pêcheux e Fuchs (1997:163-164), onde se lê:

Formações

Ele [o quadro epistemológico] reside, a nosso ver, na articulação


Ideológicas

de três regiões do conhecimento científico:

Formações

Discursivas

1. O materialismo histórico, como teoria das formações sociais e


Esquecimento nº 1

de suas transformações, compreendida aí a teoria das ideologias;

Esquecimento nº 2

2. A linguística, como teoria dos mecanismos sintáticos e dos

processos de enunciação ao mesmo tempo;

CONTRIBUIÇÕES DA AD PARA OS

3. A teoria do discurso, como teoria da determinação histórica


ESTUDOS DE LINGUAGEM, LÍNGUA,

dos processos semânticos.

DISCURSO
Convém explicitar ainda que estas três regiões são, de certo
-Desconstrução da noção de linguagem
modo, atravessadas e articuladas por uma teoria da subjetividade
transparente, neutra.
(de natureza psicanalítica). 

-A importância dada às condições de produção do discurso.


A psicanálise lacaniana trabalha essencialmente com o real da "Ao sujeito do estímulo, da vivência

língua e a AD alia a este conceito o real da história. Juntos, estes pontual, tudo o atravessa, tudo o

dois reais trabalham para a construção de sentidos do objeto de excita, tudo o agita, tudo o choca,

estudo da AD, e também da psicanálise, que é o discurso.


mas nada lhe acontece. Por isso, a

velocidade e o que ela provoca, a

Para Pêcheux (1997b:53):


falta de silêncio e de memória"

[...] todo enunciado é intrinsecamente suscetível de tornar-se (LAROSSA, 2002, p. 5)

outro, diferente de si mesmo, se deslocar discursivamente de


seu sentido para derivar para um outro. [...] Todo enunciado, Quais os motivos que levam o

toda seqüência de enunciados é, pois, linguisticamente sujeito da contemporaneidade

descritível como uma série [...] de pontos de deriva possíveis, a não valorizar nem a

oferecendo lugar à interpretação. É nesse espaço que se experiência, nem a narração,

pretende trabalhar a análise de discurso. 


em alguns casos?

• Sujeito moderno.

• Sujeito da experiência.

• Diferença entre experiência

e acontecimento.

• Os aprendizados que as

Os Saberes da Experiência experiências nos trazem.

Conceito de Experiência, segundo Benjamim

Para Walter Benjamin, a experiência se afasta do acúmulo de


coisas e das certezas, ao contrário, ela provoca a transformação
Entre a Análise do Discurso e a Psicanálise,
dos sujeitos. 

a Verdade do Sujeito -Análise de Narrativas


SOBRE A EXPERIÊNCIA
Orais
• Diferença entre Experiência

NARRATIVAS ORAIS DE FICÇÃO

e Informação

A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos


(...) o discurso narrativo aparece como lugar

toca. 

privilegiado para elaboração da experiência

pessoal, para a transformação do real em

• Sujeito da Informação.

realidade, por meio de mecanismos linguísticos"

O periodismo é a fabricação da informação e a

discursivos, e também para a inserção da

fabricação da opinião

subjetividade (TFOUNI, 1995, p. 35).

• Benjamin dizia: a destruição

O discurso narrativo permite a (re)elaboração de questões


generalizada da experiência.

subjetivas do autor.

Ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa,


tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece.
CONCEITO DE SUBJETIVIDADE

Por isso, a velocidade e o que ela provoca, a falta de silêncio e de


memória, são também inimigas mortais da experiência. Nessa
"um lugar que o sujeito pode

lógica de destruição generalizada da experiência, estou cada vez


ocupar para falar de si próprio,

mais convencido de que os aparatos educacionais também


de suas experiências,

funcionam cada vez mais no sentido de tornar impossível que


conhecimento do mundo, ou,

alguma coisa nos aconteça. 

mais sucintamente, entendida

com a forma pela qual o

O saber de experiência se dá na relação entre o

sujeito organiza sua

conhecimento e a vida humana. De fato, a experiência é uma


simbolização particular"

espécie de mediação entre ambos. É importante, porém, ter


(TFOUNI, 1995, p. 35)

presente que, do ponto de vista da

experiência, nem “conhecimento” nem “vida” significam o que


NARRATIVA 1 - MÔNICA E CEBOLINHA

significam habitualmente.

É uma história curta, na qual o narrador

"a experiência é cada vez mais

faz uso de conhecidos personagens de

rara, por falta de tempo. Tudo se

gibis infantis. A história conta uma

passa demasiadamente depressa,

situação que envolve principalmente a

cada vez mais depressa"

Mônica e o Cebolinha. Os pais da

(LAROSSA, 2002, p. 4)

Mônica vão sair de casa e pedem para

que a filha não saia. 

Para Reflexão.

voltada sobretudo aos estudos literários,

Os pais da Mônica vão sair de casa e pedem para


especificamente, à narrativa literária.

que a filha não saia. Pouco tempo depois, chega o


Alcançou grande espaço na crítica literária

Cebolinha e convida Mônica para sair de casa, ela


no final da década de 1960, com a virada

não aceita, ele insiste, e ela retruca, como podemos


dos estudos estruturalistas.

ver no recorte:

- Vamo Mônica, vamo, tua mãe não vai sabê


A retomada dos pressupostos formalistas, àquela época recém-
que você saiu.
descobertos, resgatou a preocupação com a construção de uma
- Não, papai não qué e mamãe não gosta.
ciência da literatura. (SOUZA, 2017, p. 131)

NARRATIVA 2 - JOÃO e O PÉ DE FEIJÃO 

CONTRIBUIÇÕES DE GENETTE PARA A

Esta narrativa conta a história


NARRATOLOGIA
de um menino que a pedido

da mãe sai para vender a


Genette (2008) questiona-se sobre a

única vaca da família para


possibilidade de distinguir descrição

comprar comida.
de narração, já que essa ideia, apesar

de não pensada pelos filósofos, foi

O menino (João), porém, troca a colocada em uma tradição mais

vaca por 3 feijões mágicos que se recente, sobretudo, escolar.

transformam numa grande planta e

que leva até um castelo. João sobe


À noção de narrativa podem ser englobadas todas as formas de
até o castelo para pedir comida e
representação literária, considerando a descrição como um de
encontra a mulher de um gigante
seus modos, ou, mais modestamente, como um de seus
que lhe dá comida em troca de
aspectos.

trabalho. Escondido do gigante,

João lhe rouba ovos de ouro e


Genette estabelece um

depois sua galinha, porém diz à mãe


quadro que determina

que ganhou tais coisas e acaba por


os tipos de narrador

fim por matar o gigante. No final da


quanto à sua inserção

história João e sua mãe enriquecem


na diegese (história),

com a galinha e recuperam a vaca


e ao nível narrativo a

que havia sido trocada pelos feijões.


que pertence.

RECORTE E ANÁLISE
As classificações extra e intradiegéticas

"Aí, a mema coisa: depois chegô o


dizem respeito à posição do narrador em

marido dela, falô assim: - Esconde,


relação ao nível narrativo, uma vez que é

porque se o meu marido te catá aqui,


possível o narrador pertencer ao primeiro

ele xin, ele te come. Aí, depois ele falô


nível da narrativa e, posteriormente, dentro

assim: - Tá bom, eu escondo. Aí,


da história, outro narrador surgir e “se

depois, é... aí depois ele fez tudo de


habilitar” a narrar outra história. Tem-se,

novo. A galinha tava botando ovo de


assim, uma história dentro da história, e os

oro. Aí, a galinha tava botando ovo


narradores de ambas encontram-se em níveis

de, ovo de oro, e começô a falá


diferentes, pois falam de lugares diferentes.

assim: - Tô cherando um chero... -


Não, é uma coisa que eu tô fazendo
As essências da narrativa e do discurso não se encontram em

pra você. Aí, depois ele foi lá, pegô" estado puro no texto.

Cada texto apresenta em proporções diferentes a narrativa e

o discurso, embora um e outro se afetem de maneiras diferentes.

Narrador: tipos e funções TIPOLOGIA DE NARRADOR, SEGUNDO

SCHMID

Narrador: Sua importância na construção da


CRITÉRIOS

narrativa -Modo de representação

NARRATOLOGIA: CONCEITUAÇÃO E
Explícito

ASPECTOS HISTÓRICOS
-Status diegético

-Hierarquia Primário

A narratologia é um campo do conhecimento que se


-Grau de marcação fortemente

desenvolveu graças a uma consciência linguística


marcado

-Fixação espacial onipresente

-Pessoalidade pessoal
alimentava o desejo de possuir a propriedade.

-Homogeneidade compacto

-Posição avaliativa objetivo


❖ Inicialmente, crendo não dominar "as letras‟,

-Habilidade onisciente – Conhecedor Limitado Fixação espacial convoca alguns velhos companheiros de prosa

Onipresente
que o ajudarão nessa empreitada.

-Acessibilidade à

consciência dos
DIVISÃO DAS RESPONSABILIDADES

personagens expressos
Padre Silvestre ficaria com a parte moral e as citações latinas

-Confiabilidade confiável

João Nogueira, com a pontuação, a ortografia e a sintaxe;

TIPOS DE NARRADOR

-Implícito
Arquimedes, com a composição tipográfica;

-Não diegético

-Terciário
Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, com a composição literária;

-Pouco marcado

-Fixo em um espaço
A Paulo Honório caberia traçar o plano, introduzir na “história
específico
rudimentos de agricultura e pecuária”, arcar com as despesas e
-Impessoal
colocar seu nome na capa.

-Difuso

-Subjetivo
PAULO HONÓRIO: ELE MESMO

-Fixo em um espaço
ESCREVE A HISTÓRIA

específico
Porém, como seus colaboradores foram

-Não expresso
desanimando ou desviando o curso dos

-Não confiável
planos arquitetados para a história, Paulo

Honório decide escrever ele mesmo o livro

É importante conhecer sobre as tipologias de narrador para sobre São Bernardo, que começa mostrando

que compreenda qual a função deste da narrativa e reconhecer as dificuldades enfrentadas para a

o lugar a partir do qual ele narra.


composição da obra, desde a convocação

dos colegas até a decisão de trabalhar

sozinho.

FRAGMENTO

Texto-base 1: Tipos de narrador e novas "Começo declarando que me chamo Paulo

Honório, peso oitenta e nove quilos e


discussões em narratologia | Flávia Roberta
completei cinquenta anos pelo São Pedro.

Menezes de Souza A idade, o peso, as sobrancelhas cerradas

e grisalhas, este rosto vermelho e

cabeludo têm-me rendido muita

consideração. Quando me faltavam estas

qualidades, a consideração era menor."

(RAMOS, 1981, p. 12)

FRAGMENTO

O narrador é bastante realista, sobretudo, por expor seus


pensamentos e impressões, sobre fatos

“que eu não revelaria, cara a cara, a ninguém”

(RAMOS, 1981, p. 10). 

SOBRE A OBRA

Introdução a São Bernardo - Alguns ❖ Para alguns estudiosos, o personagem é o único capaz de
contar sua própria história, pois “por mais fragmentário ou
acontecimentos especiais contestável que seja, o conhecimento de si mesmo pela
INTRODUÇÃO A SÃO BERNARDO: ALGUNS
introspecção é o único válido".

ACONTECIMENTOS ESPECIAIS

❖ Após a morte de sua esposa, Paulo Honório,


❖ O romance funciona como uma espécie de diário de Paulo
abandonado por todos, decide contar a história de
Honório feito com seus recortes de memória, lembranças que
São Bernardo (uma fazenda), e essa se confunde
não o abandonam e o atormentam na solidão em que se
com sua própria biografia, visto que desde jovem
encontra no

vazio de uma casa que já fora habitada e visitada por muitos. É o


retrato da decadência de um homem.
corpo. (La Fontaine apud UBIALI,

2014. p. 8)

ROMANCE – SÃO BERNARDO

Romance moderno, São Bernardo apresenta um narrador que faz CONCEITO DE LENDA

seu relato dando-lhe aspecto de realidade, visto que revela ao


leitor o espaço, Viçosa, em Alagoas, e nomeia personagens de Lendas folclóricas são histórias contadas pelo povo de um lugar
sua convivência, alguns até convidados a ajudar na escrita.

muito tempo. Essas histórias ou mitos foram transmitidas de


ROMANCE – SÃO BERNARDO
uma

Narrando em primeira pessoa a sua própria história, o que, de geração a outra pela oralidade, ou seja, pela fala.

acordo com Genette (1979, p. 247), o caracteriza como um Cada país ou região tem suas lendas próprias, ainda que muitas
narrador extradiegético-homodiegético, deixa explícita sua vezes as origens sejam incertas e mesclem traços culturais de
condição de quem constrói sua narrativa com grande cuidado.
outros povos.

ROMANCE – SÃO BERNARDO


MISTÉRIO DO MITO

❖ Constantemente o narrador mostra a


As mitologias são narrativas e é, nesse âmbito, que “o mistério
consciência e reflexão sobre seu texto,
do mito invade aquele que o considera a partir do exterior”
demonstrando que a verdade presente
(Morin, 1986, p. 146), fazendo-o considerar o mito como algo
naquelas linhas foi pensada e articulada.
referente àquilo que é vivido no interior como verdade. 

❖ Os fatos estão dispostos da maneira mais


MISTÉRIO DO MITO

adequada para ele e não obrigatoriamente


É importante ressaltar a proposta de Morin (1986) de que o mito
como se desenrolaram. 
é algo inseparável da linguagem fazendo jus à sua raiz
etimológica, pois Mythos significa discurso. Mythos e Lógos
❖ Afinal, como comenta Paulo Honório num trecho possuem antagonismos, ao mesmo tempo em que têm
metadiscursivo, em que reflete sobre transcreve uma conversa complementaridades, interferindo um no outro.

travada com D. Glória, o propósito de seus escritos é ser lido,


por isso “houve suspensões, repetições, mal-entendidos, MISTÉRIO DO MITO

incongruências, naturais quando a gente fala sem pensar que Para Eliade (1963/2000), o foco de todo mito é o

aquilo vai ser lido. Reproduzo o que julgo interessante. Suprimi começo das coisas, a sua origem. O mito

diversas passagens, modifiquei outras” (RAMOS, 1981, p. 77) funda-se em um modelo exemplar, fixando-o e

propiciando fundamentos para o mundo, bem

como direcionando atividades humanas

Fábulas, lendas e mitos significativas, conferindo valores e

significados à existência. Afinal, é ao mito que

CONCEITO DE FÁBULA
cabe preservar a verdadeira história, a história

da condição humana, falando de realidades e

“O gênero fábula é construído por histórias


do modo como elas passaram a existir.

ágeis, curtas, bastante simbólicas, falando

das/criticando as atitudes humanas ou


MISTÉRIO DO MITO

aconselhando as pessoas. Pode ser escrito em


“o mito é uma realidade cultural complexa, que

prosa ou em versos. Suas personagens [...] são


pode ser abordada e interpretada em

típicas, isto é, representam alguma


perspectivas múltiplas e complementares...

atitude/característica humana – virtudes e


Conta uma história sagrada, relata um

defeitos. Textos deste gênero exibem/mostram,


acontecimento que teve lugar no tempo

quase sempre, após a conclusão ou desfecho,


primordial, o tempo fabuloso dos ‘começos’”.

uma moral da história. ” (PERFEITO; NANTES;


(ELIADE, 2000, p. 12)

FERRAGINI, 2014, p. 3)

EXEMPLOS DE ALGUMAS OBRAS

FUNÇÕES TEXTUAIS
-As 100 melhores lendas do folclore brasileiro

Apesar da tipologia predominante


-Contos e lendas dos cavaleiros da Távola Redonda

da fábula ser o narrar, suas funções


-Fábulas de Esopo

transcendem a capacidade de
-Fábulas de La Fontaine
criação de uma intriga verossímil.

La Fontaine partilha dessa ideia

quando afirma que a fábula possui

Outros gêneros narrativos


duas partes distintas: o corpo e a

alma, sendo a narrativa a parte


A LITERATURA, A ARTE E AS CRIAÇÕES

sensível, o corpo dinâmico e

figurativo da narração; enquanto a


 A literatura fornece novas visões das coisas e das

alma é a moralidade, implícita no


pessoas, instituindo imaginários sociais.

agonia, a sempre terem

 Ela comove, diverte, provoca estranheza e exerce


presente ao espírito".

efeitos sobre modos de pensar, atitudes coletivas


(RONAI, 2009)

e ideologias.

O GÊNERO ÉPICO

 As narrativas literárias contêm noções,

descrições, interpretações de eventos pessoais e


 A narrativa épica é feita em versos, num longo

coletivos que são por si mesmas uma forma


poema – a epopeia – que ressalta as excelentes

valiosa de conhecimento dos fenômenos


qualidades de um herói, protagonista de fatos

culturais.
históricos ou maravilhosos.

CONTRIBUIÇÕES DE ORTEGA Y GASSET


 Epopeia – narrativa primordial. As epopeias que

surgiram na civilização ocidental, na sua maioria,

Conforme esse filósofo, "o ser


derivam de três obras básicas: Ilíada e Odisseia,

humano é novelista de si mesmo,


do maior épico de todos os tempos, o grego

pois não se pode viver sem se


Homero, e Eneida, do romano Virgílio.

inventar como personagem e

enredo, assim como não vive com


O GÊNERO ÉPICO

os outros sem imaginá-los, sem


 É notável nos textos épicos, a participação do

projetar sobre eles “novelas de


sobrenatural na vida dos humanos.

urgência” elementares tornando os inteligíveis para ele“.


(ORTEGA
 É frequente a mistura de assuntos relativos ao

Y GASSET, (1947)[2009])
nacionalismo com o caráter maravilhoso.

A ARTE E A VISÃO ARTÍSTICA


 Nas epopeias, os deuses tomam partido e

interferem nas aventuras dos heróis, ajudando-os

A obra literária – como a arte em


ou atrapalhando-os.

geral – tem o poder de nos


(CAMPEDELLI, 1999; MOISÉS, 2002)

conscientizar de que há maneiras

diferentes de ser “reflexivo”, além


EXEMPLOS DE ALGUMAS OBRAS

daquelas que usualmente


Os Lusíadas

reconhecemos na vida social. A


Odisseia
visão artística lança mão de algo

que as pessoas têm em comum

para que possa apresentar novas

perspectivas de percepção.

Personagem: construção,
características e organização
A ARTE E A VISÃO ARTÍSTICA

De acordo com Nadia Natella Gotlib, "(...)


A Construção da Personagem
novela é a ‘forma artística’, que poderia

corresponder ao nosso atual conto

REESCRITAS DE TEXTOS LITERÁRIOS

literário. Porque a novela leva a marca do

eu criador, é produto de uma personalidade

No âmbito da literatura brasileira de autoria

em ação criadora, que tenta representar

feminina, a estratégia da reescrita tem sido,

uma parcela peculiar da realidade, segundo


não raramente, utilizada pelas escritoras

seu ponto de vista único, compondo um

brasileiras numa atitude de reinvenção, que

universo fechado e coeso, sólido”.

põe em relevo o modo de construção e

representação do universo da mulher. É o

A MORTE DE IVAN ILITCH

caso dos romances A audácia dessa mulher e

Vozes do deserto.

 A novela de Lev Tolstói (1828-1910).

REESCRITAS DE TEXTOS LITERÁRIOS

 Tolstói propõe nos transmitir uma

A literatura de autoria feminina tem feito muitos trabalhos de


mensagem sobre o sentido da existência

reescrita, de fato, importantes, já que se caracteriza pela


humana.

produção de um texto e autônomo e promove o desnudamento


de sua identidade.

 "É provável que "(...) Tolstói

Diálogo com Dom Casmurro

“desejasse ajudar os leitores,

Reescrita da história da personagem Scherezade.

gravando-lhes na alma a

imagem inesquecível de uma

-A AUDÁCIA DESSA MULHER


particular ou original, mas deve possuir algo

Ana Maria Machado retoma a trajetória de Capitu, recriando e universalizado no que pensa, no que fala e na sua

reinventando os caminhos percorridos durante o casamento história.

com Bentinho e após seu exílio na Suíça.


 A ligação entre os personagens em suas relações

recíprocas marca os parâmetros que dão o

-VOZES DO DESERTO
sentido do existir para o leitor.

O texto original gira em torno da história do poderoso e


perverso rei Schariar que foi traído pela Sultana com um escravo QUEM É O PERSONAGEM?

negro. A narrativa evidencia que o leitor não tem acesso às 1. O personagem possui vida autônoma?

histórias narradas pela protagonista; a escritora põe em 2. Mesmo depois de criado, o personagem

evidência o mundo interior de Scherazade e das demais permanece sendo uma marionete ao gosto

personagens femininas envolvidas na trama. É dado ao leitor o do autor?

privilégio de conhecer o seu modo de olhar a realidade 3. O personagem como objeto, pode ser

circundante, bem como os contornos de seu caráter.


completamente manipulado pelo leitor?

SUPERAÇÃO DOS PAPÉIS TRADICIONAIS


QUEM É O PERSONAGEM?

Tendo em vista o modo de representação da mulher em cada Podemos pensar também que o personagem é a

uma das etapas da trajetória da literatura de autoria feminina encarnação de alguém recortado da realidade do

brasileira, as protagonistas dos romances A audácia dessa escritor, mesmo tendo sido inventado pelo autor, o

mulher e Vozes do deserto evocam imagens de mulher que personagem aparece como figura independente do

excedem o script básico das representações mais recorrentes do seu criador e tem vida própria entre seus pares. Sendo

feminino.
elemento fundamental que regula a coesão do texto,

permitindo que a narrativa seja legível.

SUPERAÇÃO DOS PAPÉIS TRADICIONAIS

Trata-se, talvez, de promover por meio da reincidência da O CAMPO IMAGINÁRIO

palavra escrita, a substituição da degradação da mulher Segundo Corrêa (2008, p. 49), “a literatura escorre no

cometida por ideologias como a patriarcal, e reproduzida na campo do imaginário, inicialmente na criação do autor,

literatura por esquemas femininos de atuação mais libertários.


com quem os significantes guardam uma conexão

inconsciente. Na obra literária os personagens adquirem

REESCRITA DE CLÁSSICOS
sua vida própria e até mesmo em obra autobiográfica, a

Esses romances, oriundos dos clássicos, focalizam personagens escrita é na verdade o lugar em que se fala da falta, como

femininas que se negam a enquadrar-se nas hierarquias de uma das maneiras de passar pela castração”.

gênero por meio das quais a ordem patriarcal tem garantido a


perpetuação de seus ideais fazendo emergir situações em que as A ARTE DO ENCONTRO

mulheres assumem a autoria da própria vida.

O esquema mostra que autor e leitor, seguindo a

As reescritas são importantes pois recontextualizam os trajetória do personagem, encontram o vazio. A

personagens e dão vozes a eles, permitindo observá-los a literatura, morada da escrita e do sujeito, acolhe as

partir de outros sentidos.  manifestações da subjetividade. O sujeito escreve

para quem sua escrita marca um encontro faltoso com

o real ou ponto de ancoragem para o seu desamparo.

A Arte do Encontro O vazio é preenchido pela subjetividade.

As interpretações sobre os personagens não são unívocas, elas


A RELAÇÃO SUJEITO-OBJETO NA LITERATURA
dependem das subjetividades do leitor e do escritor implicadas
na leitura.

O autor focaliza a figura do personagem na

obra literária, e sua autonomia frente ao criador


“A literatura é a

que é o autor, ou frente ao leitor, que tenta lhe


arte do encontro

impor sua interpretação. Passando da questão


embora haja tanto

literária à psicanálise, observa que a relação


desencontro pelas

sujeito-objeto e vazio ocorre também na letras”.

literatura. Escritor e leitor não se encontram via


(CORRÊA, 2008, p. 51)

personagem, ambos seguem seu destino que

aponta para o vazio.

ENCONTRO: LEITOR E PERSONAGEM

 O personagem tem um estatuto fortemente

As Mulheres de Machado de Assis: o que


realístico.

 Ele deve se situar em diferenças que o torne


nos ensinam
As pequenas e significativas

A MULHER NOVECENTISTA
revoluções do discurso anterior são o

que mais trazem brilho às personagens

O século XIX ainda se constituía de


machadianas, refletindo a própria

um profundo puritanismo em relação


postura moderna de Machado, que

às mulheres e, aqui tomamos


trouxe quebras de correntes e de

Machado como um homem à frente


estruturas que cerceavam a liberdade e

do seu tempo, um legítimo moderno.


o direito de ser e existir das mulheres

Um escritor que rompeu com as


novecentistas.

tradições, flexibilizou o “eu” e soube

dar voz a esse ideal de


O QUE ENSINAM?

independência através de sua

literatura. Soube questionar a


 Em Helena, percebemos uma forte inclinação à ruptura à
posição da mulher novecentista.
norma

social, à tradição, e a m regime hegemônico de dominação

AS MULHERES DE MACHADO
senhorial, porém de forma mais tímida.

Helena nos conta a história


 Capitu era muito mais dona de si do que

de uma menina que foi criada


Helena. Era mais ousada em transgredir

e esculpida para servir e ser


um sistema que a oprimia, e o fez com

obediente, ou seja,
muita maestria. Capitu já era um embrião

interpretar o papel imposto


em Helena, a heroína inicial, que, por sua

às mulheres do século XIX:


vez, continua a residir na menina de

ser mãe cuidadosa, boa


Matacavalos.

esposa, produtora e símbolo

de um lar harmonioso.
Ambas as personagens representam uma revolução sobre os
sentidos de ser mulher na sociedade novecentista.

AS MULHERES DE MACHADO

A IMPORTÂNCIA DA MULHER NA LITERATURA

“A chave de Helena, o romance, é a ambivalência

de Helena, a personagem: ela está no interior da


“Longe de se configurarem como libelos

ideologia senhorial porque conhece e manipula


feministas, trazem em seu bojo muito

bem os símbolos e valores que constituem e


mais que a defesa panfletária dos direitos

expressam tal ideologia; ela está fora das relações


da mulher: trazem reflexões sobre

paternalistas devido ao fato de que consegue


experiências de vida e sobre os

relativizá-las, e logo percebê-las claramente


contraditórios sentimentos e desejos

enquanto poder e, no limite, força ou imposição”. humanos; trazem, também, as lições de

(CHALHOUB, 2003, p. 46).


transcendência de que fala Simone de

Beauvoir (1980)”

AS MULHERES DE MACHADO
(ZOLIN, 2011, p. 104).

A mesma lógica aplicada a Helena é aplicada a Capitu que,


embora sutil como sua antecessora, é mais voraz, radical e, para O Gênero narrativo e o "falar de si"
os padrões da época, mais ousada e insurgente.

AS MULHERES DE MACHADO
O PERSONAGEM NO GÊNERO NARRATIVO

 Podemos, então, entender que Capitu era


Mesmo tendo sido inventado pelo autor, o

senhora de si. E, como dito anteriormente,


personagem aparece como figura

dotada de uma inteligência ímpar, sabia muito


independente do seu criador e tem vida

bem como transitar entre suas vontades e suas


própria entre seus pares. Esta condição

obrigações, enquanto subjugada a uma ordem mantém sua autonomia frente ao leitor e na

social.
narração literária ele se torna o elemento

fundamental que regula a coesão do texto,

 Capitu é um exemplar de heroína feminina que


permitindo que a narrativa seja legível.

transcende a definição da mulher esposa,

mulher mãe e ao mesmo tempo o próprio


Os personagens de ficção afirmam-se e desenvolvem-se

estereótipo de mulher.
como entidades com vida de certo modo autossuficiente,

justificada pela conformação e pela dinâmica interna de um

O QUE ENSINAM?
determinado mundo narrativo.

O SONETO ‘REELABORAÇÃO’ LÍRICA


literária.

Sete anos de pastor Jacob servia


 Do ponto de vista do leitor, este mesmo

Labão, pai de Raquel, serrana bela;


personagem é um significante de quem lê.

mas não servia o pai, servia a ela,

e a ela só por prémio pretendia.


A releitura permite ao leitor a ressignificar suas próprias
Os dias, na esperança de um só dia,
experiencias.

passava, contentando-se com vê-la;


Os espaços discursivos são importantes pois possibilitam a
porém o pai, usando de cautela,
elaboração de experiências e ressignificação de identificações. 
em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos

lhe fora assim negada a sua pastora,


ESPAÇOS DISCURSIVOS: Possibilidades de
como se não a tivera merecida,

começa de servir outros sete anos,

o professor "falar de si". ELAINE ASSOLINI


dizendo: «Mais servira, se não fora
Venho defendendo a importância de os cursos de formação
pera tão longo amor tão curta a vida».
inicial, especialmente os que se destinam à formação de
(Camões, 1980: 168) professores que irão atuar tanto na Educação Infantil quanto no
Ensino Fundamental, terem a oportunidade de vivenciarem o
O SONETO ‘REELABORAÇÃO’ LÍRICA
que venho denominando ESPAÇOS DISCURSIVOS. Esses espaços
Na verdade, a história de amor de Jacob e
ofereceriam condições adequadas de produção para que o
Raquel é aqui modelizada em termos
futuro professor pudesse expressar sua subjetividade, por meio
narrativos, com fundamento no texto
do “falar de si”. Assim, por meio de narrativas orais e escritas,
bíblico (Gênesis, 29: 9-30) que foi a sua
depoimentos, entrevistas, rodas de conversa, vídeos, os
manifestação primordial. E assim, Jacob é
professores expressariam sentimentos, emoções, argumentos e
realmente um personagem refigurado em
contra-argumentos, a respeito de diferentes assuntos,
função de dispositivos acionais que
problemas e questões acadêmicas ou não.
operam numa extensão narrativa breve:
O “falar de si”, em condições de produção marcadas
os 14 versos do soneto.
minimamente por censuras e interdições, permitiria também ao
professor escutar as vozes que o constituem, bem como os seus
O ESPAÇO DISCURSIVO NOS GÊNEROS LITERÁRIOS
próprios sentimentos, angústias e queixas. Em outras palavras,
aprenderia a escutar a si próprio, o outro (o semelhante), e
Por meio de narrativas orais e
também o Outro (a cultura, a tradição, normas e regras), que o
escritas, depoimentos,
constituem.
entrevistas, rodas de conversa,
Um dos motivos pelos quais vimos defendendo a relevância de
vídeos e outras produções
serem construídos e organizados esses ESPAÇOS DISCURSIVOS
pode-se expressar sentimentos,
tem a ver com o entendimento segundo o qual professores que
emoções, argumentos e contra argumentos a respeito de
não conhecem a si mesmos, que não aprenderam a se ouvir, a se
diferentes assuntos, problemas
escutar, dificilmente conseguirão escutar os estudantes pelos
e questões acadêmicas ou não.
quais são ou serão responsáveis. Além disso, o “falar de si”
possibilita ao professor organizar a sua subjetividade, cuidar
‘FALAR DE SI’ POR QUÊ? PARA QUÊ?
dela, condição importante para uma docência que promova não
apenas o desenvolvimento cognitivo, intelectual e escolar do
O “falar de si” permite um trabalho com o
estudante, mas também o desenvolvimento afetivo e emocional.
processo identitário, no sentido de
De um ponto de vista prático, no caso de cursos de graduação,
aprender que as identidades não são fixas,
especificamente os de licenciatura, responsáveis pela formação
estáveis, não permanecem estagnadas. Ao
de professores, poderiam ser oferecidas disciplinas optativas,
contrário, são móveis e estão
livres, ou seja, aquelas que são escolhidas pelos licenciados, a
ininterruptamente sendo reconstruídas e
partir de seu próprio interesse.
ressignificadas, mesmo que não venhamos
Mas, as disciplinas denominadas “obrigatórias”, ou seja, aquelas
a nos dar conta disso.
que devem necessariamente ser cursadas pelos licenciandos nos
cursos de graduação, também podem concretizar os espaços
O ENCONTRO DOS SUJEITOS
discursivos, por meio de atividades didático-pedagógicas que
NO PROCESSO DE LEITURA
dessem voz ao estudante.
O “falar de si” permite um trabalho com o processo identitário,
 Pode-se pensar que o personagem ocupa
no sentido de o professor aprender que as identidades não são
posição privilegiada na relação de
fixas, estáveis, não permanecem estagnadas. Ao contrário, são
encontro dos sujeitos.
móveis e estão ininterruptamente sendo reconstruídas e
ressignificadas, mesmo que não venhamos a nos dar conta disso.
 Do ponto de vista do autor, o personagem
Os ESPAÇOS DISCURSIVOS, portanto, constituem uma
se torna um significante em uma cadeia
alternativa viável para que o futuro professor reconheça seus
que aponta para um real oculto na obra

sentimentos e emoções, aprendendo que eles repercutem e não há nenhuma relação de pressuposição entre personagem,

impactam seus saberes educacionais e práticas pedagógicas. espaço e ação.

No entanto, esses espaços são importantes

na arquitetura geral da obra.

Espaço no gênero narrativo 1.5 Representar os sentimentos vividos pelas personagens.

Esses não são espaços em que a personagem vive, mas são


espaços transitórios, muitas vezes,

Espaço e literatura
casuais.

topografia literária - relacionar o espaço com o enredo


uma cena de alegria que se passa sob

macro espaço
o sol fresco de um fim de tarde, brilhante, num céu com poucas
micro espaço - cenários(construídos pelo homem, interferência nuvens e passarinhos voando.

da cultura) e natureza
Trata-se de um espaço homólogo.

cenário ou natureza
1.6 Estabelecer contraste com as personagens.

+
Por exemplo, suponhamos que o protagonista tenha perdido sua
clima psicológico=ambiente
mãe, devido a uma

extensão/vivencia/fruição=paisagens
terrível infecção. No momento do enterro, temos o seguinte
disputa por posse ou ocupação=território
espaço: sol, céu azul, poucas nuvens,

vento fresco, passarinhos cantando alegremente.

essas categorias se relacionam no enredo Trata-se de um espaço heterólogo.

1.7 Antecipar a narrativa.

Espaço e literatura: introdução à topoanálise Através de índices impregnados no espaço, o leitor atento
percebe os caminhos seguintes da

1 As funções do espaço

narrativa.

1.1 Caracterizar as personagens, situando-as no contexto sócio-


2 Espaço e enredo

econômico e psicológico em que vivem.

antes de qualquer ação, é possível prever quais serão as atitudes


2.1 Realista

da

O espaço construído na obra semelha-se à realidade cotidiana


personagem, pois essas ações já foram indiciadas no espaço que
da vida real.

a mesma ocupa.

Tal estratégia narrativa confere ao enredo

quarto de Fernando

maior verossimilhança.

Seixas no romance Senhora de José de Alencar. Através dessa


descrição, percebemos claramente o caráter de Seixas. É uma
2.2 Imaginativo

personagem que vive só de aparências.

São lugares inventados, imaginados pelo narrador, no entanto,


são lugares

1.2 Influenciar as personagens e também sofrer suas ações.

semelhantes aos que vemos em nosso mundo.

Muitas vezes, o

espaço influencia a personagem a agir de determinada maneira.

2.3 Fantasista

Exemplo dessa

Temos ainda a possibilidade de encontrarmos espaços que não


função espacial pode ser encontrado na personagem Jerônimo
possuem nenhuma semelhança

de O cortiço de Aluízio Azevedo.

com a realidade e que não seguem nenhuma regra do mundo


natural que nós conhecemos.

1.3 Propiciar a ação.

Uma função muito simples do espaço é a de propiciar a ação que


2.4 Enredo

será desenvolvida pela

O enredo, geralmente, se compõe de quatro etapas.

personagem.

Uma primeira parte do enredo é chamada de exposição ou


Exemplificando, podemos tomar o romance O guarani. Peri,

apresentação. É a parte introdutória

o protagonista do romance, vive em um espaço aberto, amplo,


da narrativa. É nela que se apresentam as personagens, os fatos
características que o fazem

iniciais. Também é nessa parte que

movimentar-se para todos os lados, correr, saltar, atirar flechas,


se apresenta o primeiro espaço da narrativa. É o espaço inicial.

etc.

É sempre interessante

contrastar esse espaço inicial da narrativa com o espaço final,


1.4 Situar a personagem geograficamente.

verificando os efeitos de sentido que

Às vezes, o espaço assume uma função denotativa. Nesses


essa relação provoca.

momentos, o espaço é meramente

Após a exposição, temos a complicação. Esse momento ocorre


factual, pobre, por assim dizer, na medida em que não possibilita
quando algo interfere e quebra

uma imbricação simbólica com as

aquela situação inicial, impulsionando a história. Cabe-nos,


personagens.

então perguntar, em que espaço ocorre

essa quebra da situação inicial e qual o efeito de sentido que ele Em princípio, temos duas categorias de paisagens: a natural: que
provoca dentro da narrativa.
sofreu pouca ou nenhuma

O desenvolvimento da narrativa atinge um ponto em que não há influência do homem; a cultural: que sofreu muita influência do
mais possibilidade de
homem.

continuidade, é o ponto de maior tensão da narrativa. Esse


ponto, geralmente, é chamado de clímax.
3.8 Território

Por que o narrador escolheu determinado espaço para


No conceito de território temos a possibilidade de análise das
situar personagens e ação e não outro?
relações de poder na obra

Após o clímax, segue-se naturalmente o desfecho, a conclusão literária. O cenário ou a natureza transformar-se-ão em
do texto.
território quando houver uma disputa por

O espaço inicial, por


sua ocupação e/ou posse. 

exemplo, é o mesmo do espaço final? Houve alguma


metamorfose nesse espaço entre o início e o

fim da narrativa?

3 Topografia literária

Tempo: és um senhor tão bonito


Acreditamos que a primeira tarefa de uma topoanálise é o
O tempo na literatura
levantamento dos espaços do texto, uma

espécie de topografia literária.


REFLETINDO SOBRE O TEMPO

“Este pequeno espaço do tempo intemporal no âmago mesmo do


3.1 A segmentação do texto
tempo,

cumpre verificar se o texto pode ser


ao contrário do mundo e da cultura que nascemos, não pode ser

dividido em macro e microespaços.


herdado e recebido do passado, mas apenas indicado; cada nova

geração, e na verdade cada ser humano, inserindo-se entre o


3.2 Macroespaços
passado

Às vezes, o texto pode ser dividido em dois grandes espaços, tais infinito e um futuro infinito, deve descobri-lo e, laboriosamente,

como: o campo e a cidade


pavimentá-lo”.

como acontece no romance de Eça de Queiroz A cidade e as (ARENDT, 1972, p. 40)


serras.

nem todo texto possui macroespaços.


As memórias são sempre plurais, não lineares e constituídas por
esquecimentos! 

3.3 Microespaços

Nesse caso, toma-se por base a característica específica dos dois MEMÓRIA-FRAGMENTO

tipos essenciais do espaço, a


“No movimento da memória, olhamos o passado e encontramos
saber: o cenário e a natureza. E ligado a esses dois tipos de faíscas,

espaço, temos o ambiente, a paisagem e


lampejos, fragmentos que se articulam e compõem o sentido de
o território.
nossa

trajetória de vida, de determinadas etapas ou acontecimentos”.

3.4 Cenário
(BRAGANÇA, 2012, p. 100)

No âmbito da topoanálise, entendemos por cenário os espaços


criados pelo homem.
MEMÓRIA-TESTAMENTO

Geralmente, são os espaços onde o ser humano vive. Através de “A memória apresenta-se, assim, como

sua cultura, o homem modifica o


riqueza que precisa de “testamento”, e nós

espaço e o constrói a sua imagem e semelhança.


somos convocados a assumir essa

herança, escrevendo o testamento,

3.5 Natureza
transmitindo-o”.

Por natureza, entendem-se os espaços não construídos pelo (BRAGANÇA, 2012, p. 100)

homem. Espaços tais como: o rio,

o mar, o deserto, a floresta, a árvore, o lago, o córrego, a MEMÓRIA-TRABALHO

montanha, a colina, o vale, a praia, etc. “Para escrever o testamento, temos, como desafio, constituir
sentidos
3.6 Ambiente
do passado, o que exige um trabalho artesanal e laborioso. Dessa
Na perspectiva da topoanálise, o ambiente se define como a forma,

soma de cenário ou natureza mais


a partir das contribuições de Bosi (1994), afirmamos a memória-
a impregnação de um clima psicológico.
trabalho,

porque tempo de lembrar é tempo de trabalho, mas também


3.7 Paisagem
pela

uma primeira definição de


exigência de envolvimento e ação propositiva dos sujeitos”.

paisagem é aquela que diz ser ela uma extensão de espaço que (BRAGANÇA, 2012, p. 101)

se coloca ao olhar.

MEMÓRIA-ARQUIVO
DESAFIOS DA INTERPRETAÇÃO HERMENÊUTICA

“A falência da memória como pulsão viva da comunidade, a “Narrativas de formação, orais e escritas, trazem a força da
falência da
linguagem

experiência coletiva e da narração, levam à constituição dos humana e da reconstrução pessoal/coletiva como processo

lugares da
essencialmente formador. A narração é prenhe de significados
memória, nos quais a história “enquadrada” vai ser perpetuada”.
para

(BRAGANÇA, 2012, p. 102)


quem narra, para quem escreve, para quem lê; assim, a narrativa
por si

FORMAÇÃO, APRENDIZAGEM EXPERIENCIAL


só é inteligível, se não o for, não constitui uma narrativa; é um
E PROCESSOS IDENTITÁRIOS
convite

“Formação como movimento de transformação pessoal, ou seja,


ao diálogo e, portanto, à interpretação partilhada do sujeito com
enquanto os processos educativos constituem práticas sociais, a
ele

formação é interior e se liga à experiência do sujeito que se próprio e com os outros”.


permite
(BRAGANÇA, 2012, p. 119) 

transformar pelo conhecimento”.

(BRAGANÇA, 2012, p. 110)


PARA RELEMBRAR

“Quanto ao movimento do próprio

FORMAÇÃO, APRENDIZAGEM EXPERIENCIAL


texto, é importante afirmar que os

E PROCESSOS IDENTITÁRIOS
conceitos e as questões que se

“O olhar para o passado e a narrativa desse passado favorecem a foram desdobrando não consistem

busca
em um constructo teórico prévio ao

de coerência, fortalecendo o sentimento de continuidade e de desenvolvimento da pesquisa, mas

unidade. A
em uma formulação que se deu ao

identidade consiste também em uma narrativa de si, a qual se longo do processo”.

constrói a
(BRAGANÇA, 2012, p. 130)
partir de imagens do passado e de projetos de futuro que se
abrem,

entre “identidade herdada” e “identidade visada””.

(BRAGANÇA, 2012, p. 114)

Revisão

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