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O livro Um Ciclone na Paulicéia, de Rubens Martins, apresenta uma reflexão sobre o período da Semana
de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, marco simbólico de nossa história, que fascina pela riqueza de
acontecimentos, idéias, atitudes e grandes escritores polêmicos, como Oswald de Andrade, cuja atuação
no Modernismo até hoje é marcada por diferentes interpretações.
A inefabilidade da obra de Oswald de Andrade afasta qualquer tentativa ingênua de uma aproximação
apressada. A radicalidade de sua escrita parece exigir um movimento igualmente radical do pensador que
deseja compreender a dimensão do autor de Memórias Sentimentais de João Miramar. Além do que,
Oswald de Andrade não foi um homem comum. Milionário, viu sua fortuna desaparecer com a baixa do
café. Viveu sempre rodeado de artistas, de pensadores e de todo tipo de pessoas interessantes da França e
do Brasil. Tornou-se comunista e militante, mas largou o partidão (PCB) com severas críticas ao
andamento de sua política interna e externa. Os seus amores reverberavam na São Paulo do início do
século XX. Tamanha as ambigüidades de sua vida, tamanha a densidade e complexidade de sua obra que
foram poucos os exegetas de seu legado. Todavia, inefável é, simultaneamente, o impossível de se
exprimir por palavras e o que encanta e inebria: a obra de Oswald de Andrade afasta e atrai, repele e
encanta.
O livro de Rubens Martins, Um Ciclone na Paulicéia, é uma tentativa de análise das condições sócio-
culturais vividas por Oswald de Andrade, nos limites da atuação colocadas por este contexto, dos grupos
em disputas pela hegemonia do campo de poder intelectual. Enfim, o autor pretende fazer uma radiografia
da São Paulo oswaldiana, nuançando o fio tênue entre indivíduo e sociedade.
Assim, o autor expõe os caminhos trilhados pelo intelectuais que participaram da Semana de Arte
Moderna de 1922, analisando a “legitimação da seriedade” no percursos de legitimação do Modernismo.
Entre as figuras da seriedade emergente e as do boêmio, o autor aborda o que chamou de “mito” Oswald
de Andrade, mostrando suas ambigüidades e o processo de legitimação de uma seriedade que não deixa
mais lugar para a boêmia.
Por fim, Rubens Martins questiona os espaços de marginalidade e de autonomia em um campo social
estrito. Neste ponto do texto, surgem os temas clássicos da sociologia sobre as relações entre indivíduo e
sociedade.
A revolução de 30 agitando o país, a crise mundial do capitalismo, os abalos estéticos advindos da
Europa, uma São Paulo em constante mudança, esse era, em linhas gerais, o quadro sócio-econômico a
que Oswald de Andrade teve que responder como intelectual e como artista. É justamente a “solução”
oswaldiana que Rubens Martins busca desvendar. Assim, o autor de Um Ciclone na Paulicéia analisa o
processo de formação intelectual de Oswald e seu processo de criação artística radicalmente vanguardista,
que proclamava o Modernismo como um movimento inacabado.
Sem desprezar a autonomia do pensamento oswaldiano, Martins desenha o quadro social e as relações
sociais da época, sugerindo como esse mesmo quadro e a situação marginal de Oswald de Andrade
possibilitou-lhe a negação de consensos absolutos, constituindo-se em mola propulsora para sua arte.
Sobre o autor:
Rubens de Oliveira Martins, 34 anos, é paulistano e mestre em sociologia pela Universidade de São
Paulo. Trabalha como Gestor Governamental na Secretaria de Educação Superior do MEC e é professor
de sociologia na UPIS. Atualmente é também doutorando em sociologia na UnB. E-mail:
rubensmartins@mec.gov.br