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INTRODUÇÃO
E s t e a r t i g o c o m p õ e p a r t e d a a n á l i s e e m p r e e n d i d a n a d i s s e r t a ç ã o d e m e s t ra d o
“Governamentalidade, industrialização do ensino e censo: leitura foucaultiana da década de 1920”.
A industrialização do ensino foi entendida, com o auxílio da análise de Celso Suckow da Fonseca
(1961) como um movimento duplo:
Para uns, industrializar as escolas era permitir que aos alunos fosse paga uma certa
porcentagem do preço das encomendas que a escola aceitasse, sendo os trabalhos
feitos dentro das horas marcadas para o ensino prático. Para outros, era aproveitar
as instalações das oficinas e nelas, com alunos ou operários estranhos, trabalhar
em tarefas industriais, sem prejuízo do ensino, fora das horas de aprendizagem
normal. (FONSECA, 1961, p.191)
Com o aprofundamento da pesquisa também passamos a atribuir ao termo “industrialização do
ensino” a adoção de métodos que tinham por objetivo inserir conhecimentos construídos
substancialmente pela lógica industrial, como a racionalização para a melhor economia do corpo,
ao ensino das profissões. Um entendimento não exclui o outro. Até porque a aplicação de métodos
industriais ao ensino muitas vezes teve por imperativo o aumento da produção. Sobretudo na
década de 1920.
Os anos 1920, além da preocupação com o aumento da produção industrial, assistiram a uma
importante mudança nas políticas de educação profissional no Brasil, no que tange principalmente
ao público “atendido” por esta educação. No início desta década a Câmara dos Deputados
promoveu uma série de debates sobre a expansão do ensino profissional, propondo sua expansão a
todos e não apenas aos “desafortunados” e “desvalidos”. Fruto destas discussões e de outras, é
criado o Serviço de Remodelação do Ensino Profissional. Suas ações vão promover uma mudança
na forma de se enxergar o ensino profissional no Brasil introduzindo pela primeira vez, na opinião
de Fonseca (1961), a industrialização do ensino.
1 MANGER, R. Relatório dos trabalhos realizados no ano lectivo de 1925. Escola Profissional Mecânica. São
Paulo, 1925. Em Zanetti (2001).
2 MANGER, R. Relatório dos trabalhos realizados no ano lectivo de 1924. Escola Profissional Mecânica. São
Paulo, 1925. Em Zanetti (2001).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O primeiro esforço na tentativa de encontrar uma relação entre a industrialização do ensino e o
pensamento de Michel Foucault foi entender a década de 1920. Isso significa admitir um Brasil que,
no cenário do comércio internacional, dependia essencialmente da exportação de commodities.
Internamente, o escravismo deixava suas marcas nas relações de trabalho e na identidade racial
da nação. O analfabetismo era uma chaga que expressava o quão distante estava o Brasil de
tornar-se de fato uma República. Por esses motivos, e outros tantos, o Estado investiu em um
conjunto de ações para inaugurar o país na modernidade. Dentre tais ações destacou-se a adoção
de uma política educacional diferenciada, que se materializou em vários projetos, entre eles o de
industrializar o ensino dos ofícios. Por industrialização do ensino, entendemos dois movimentos. O
primeiro, posto em prática no Instituto Técnico Profissional de Porto Alegre, visava alinhar o ensino
dos ofícios à produção manufatureira. O segundo movimento resulta da criação de propostas
pedagógicas que inseriam alguns preceitos da lógica da produção industrial ao ensino dos ofícios.
Ambos, ainda que diferentes em seus métodos e teorias, utilizavam técnicas de disciplinamento
dos corpos. É neste sentido que apareceu a perspectiva foucaultiana.
O dispositivo, enquanto modelo teórico e metodológico que concentra todo um corpo de estratégias
de poder, passou a fundamentar a leitura dos nossos elementos de estudo. Um dos dispositivos
mais conhecidos da literatura foucaultiana, em função de suas análises empreendidas sobre a
loucura, a sexualidade e as prisões, é dispositivo disciplinar. Mas, ao analisar as estratégias de