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NATAL/RN
2022
ISABELA DE BRITO UCHÔA DE ARAÚJO
NATAL/RN
2022
ISABELA DE BRITO UCHÔA ARAÚJO
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Profª Me. Fabiana Dantas Soares Alves da Mota
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Orientadora
______________________________________
Profª Dra. Mariana de Siqueira
Examinadora
_______________________________________
Profª Me. Lidianne Araújo Aleixo de Carvalho
Examinadora
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA
Acredito muito que tudo ganha mais sentido quando tem sentimento. Nesse momento,
em que meu peito se preenche ao reconhecer e agradecer tanta partilha e apoio, essa crença se
confirma com urgência. Tudo o que somos são nossas vivências, os lugares que ocupamos, as
pessoas com quem podemos compartilhar e ter chão, as causas que nos dão norte. A
monografia que hoje ofereço como produto é, na verdade, parte da minha forma de sentir e
enxergar o mundo, e, por isso, precisa ser vivida assim como todo o processo, junto àqueles
que caminham ao meu lado.
Agradeço à minha família, por cada palavra de amparo, coragem, confiança e cada
gesto de suporte que sempre foi oferecido. À minha mãe, cujo cuidado, encorajamento e
dedicação vão além do que posso descrever. Ao meu pai, por todo o incentivo e preocupação
durante a minha trajetória. Às minhas irmãs, que me inspiram e ensinam tanto sobre correr
atrás do que for pertencente e autêntico. Além de sentir vocês vibrando com minhas
conquistas, muitas vezes, senti sobrando em vocês a firmeza que me faltava para seguir.
Aos meus amigos, que são tantos, mas sabem exatamente quem são, por me nutrirem
com tanto carinho e incentivo. Minha gratidão a Gabriel, Luiz Henrique, Rafael, Mariana,
João Paulo, Pedro, por tantos momentos de escuta, palavras generosas e presença. O apoio de
vocês me colocava de volta os pés no chão.
A todos os que dividiram o caminho universitário ao meu lado, pelo companheirismo
vivido e diversidade de experiências trocadas. Nesse momento peço licença para expressar
especial gratidão a quem me foi presença e troca incondicional durante toda trajetória: Júlio,
Jasmine, Débora e Victória. Nós sabemos o convívio e o suporte mútuo com que passamos
por todos os momentos, sendo as incontáveis experiências, risos, angústias, cafés e conselhos
divididos a minha maior constante. Foi na proximidade e singularidade dos nossos processos
que encontrei forças, inspiração e renovação, além de um lugar para viver tanta ternura e
amadurecimento. Vocês me são fundamentais e essa trajetória não teria sido a mesma.
Ao ambiente da UFRN, por além da multiplicidade de experiências, me oferecer uma
formação mais plural e atenta as necessidades comunitárias. Aproveito para agradecer aos
meus colegas de curso, em especial aos meus amigos da SOI e do EDE, com quem pude ter
pertencimento e em muito aprender sobre o que hoje acredito.
Aos professores, que usam dos seus saberes, tempo e convívio para demonstrar
acolhimento e transformação. A minha orientadora Fabiana, exemplo das docentes que tanto
admiro, agradeço em especial por me receber com tanta paciência, atenção e disponibilidade.
"[...] ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência, indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente)".
(Carlos Drummond de Andrade)
RESUMO
A presente monografia tem como propósito analisar o fenômeno dos brinquedos conectados,
dando destaque a investigar o grau de compatibilidade entre suas práticas de coleta e
utilização de dados e o tratamento jurídico brasileiro acerca da privacidade e proteção de
dados pessoais das crianças. Para tanto, fez-se necessário compreender a participação dos
brinquedos conectados no panorama geral de Internet das Coisas e do modelo capitalista de
vigilância e hiperconsumo. Linha contínua, buscando compreender sua relação com as esferas
do Direito, foram delimitadas as características centrais de seu funcionamento e os principais
riscos digitais para o público infantil, destacando-se a coleta de dados pessoais sem
transparência, segurança, consentimento legal, e em grande parte para objetivos comerciais de
segmentação de mercado. Diagnosticados os prejuízos à vida privada das crianças, foi
investigada a proteção jurídica que o direito à privacidade recebe pelo ordenamento brasileiro,
dando enfoque na proteção do Direito Constitucional e Civil, interseccionalmente à doutrina
de proteção integral e de melhor interesse das crianças. Assim, estudou-se a privacidade
enquanto direito fundamental e de personalidade, bem como argumentou-se pela sua
multidimensionalidade, de modo a incluir à proteção jurídica aspectos ligados à
autodeterminação informativa e controle de uso de dados pessoais. Finalmente, foi analisada
a regulamentação mais especializada da proteção dos dados pessoais, a Lei Geral de Proteção
de Dados Pessoais, a fim de diagnosticar em que medida as práticas de tratamento de dados
pessoais infantis adotadas pelos brinquedos conectados se adequam às regras e princípios do
diploma legal. A pesquisa constatou pontos de descumprimento nas práticas de tratamento dos
dispositivos, perante às normas de consentimento, finalidade, transparência, necessidade, não
discriminação e melhor interesse da criança, de modo a violar dispositivos da Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais, Código de Defesa do Consumidor, Constituição Federal,
Estatuto da Criança e do Adolescente, Código Civil. Ao longo do trabalho, utilizaram-se,
principalmente, do método de pesquisa dedutivo e qualitativo, investigando a problemática a
partir de outros trabalhos acadêmicos, avaliações doutrinárias e legislativas.
The purpose of this monograph is to analyze the phenomenon of connected toys, with
emphasis on investigating the degree of compatibility between their data processing practices
and the Brazilian legal treatment on privacy and children's personal data protection. For this
objective, it was necessary to understand the integration of connected toys within the general
panorama of the Internet of Things, as well as in the capitalist context of surveillance and
hyperconsumption. In sequence, aiming to evaluate their relation to the spectrums of Law,
this study delimits the toys´ main features and digital risks for children, highlighting the
collection of personal data without transparency, security, legal consent, and largely for
commercial purposes involving market segmentation. Once the damage to children's private
life was diagnosed, the legal protection of the right to privacy, according to the Brazilian legal
system, was investigated with a focus on the protection of Constitutional and Civil Right,
intersecting with the full protection doctrine and the best interests of the child principle.
Therefore, privacy was studied as a fundamental and personality right. Its multidimensionality
was argued, in order to include aspects of informative self-determination and personal data
usage control in legal protection. Finally, the most specialized regulation on personal data
protection was analyzed, Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, in order to diagnose to
what extent the practices of children's personal data processing, adopted by connected toys,
conform to the rules and principles of the legal diploma. The research found points of non-
compliance in the handling practices of the devices, given the standards of consent, purpose,
transparency, necessity, non-discrimination and best interest of the child, in a way that
violates the provisions of the Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, Código de Defesa do
Consumidor, Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Código Civil. The
monograph was built using the deductive and qualitative methods, mostly through the analysis
of other academic papers, doctrinary reviews and laws.
Keywords: Connected toys; Personal data protection; Right to privacy; Best interests of the
child; LGPD.
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 57
9
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A investigação dos possíveis riscos que o uso de brinquedos conectados pode gerar aos
direitos das crianças, somente parece ser plausível após a exposição de conceitos básicos do
universo da Internet dos Brinquedos. Assim, antes de adentrar em quaisquer repercussões
legais do fenômeno fático, o presente capítulo se propõe a verificar características básicas do
funcionamento dessa categoria de brinquedos e de suas práticas de tratamento de dados
pessoais. Isso, sem deixar de lado a contextualização social de que os brinquedos capazes de
conectividade são bens de consumo tecnológicos e parte da socioeconomia hiperconectada.
A evolução histórica da Internet pode ser analisada em três gerações: a Internet das
Máquinas, a Internet das Pessoas e a Internet das Coisas. Inicialmente, a rede foi pensada para
conectar apenas dispositivos fixos. Todavia, com a difusão comercial da internet nos anos
1990 e 2000, e mais adiante com o crescente alastramento dos dispositivos móveis,
inaugurou-se uma segunda geração: em que o usuário é mais relevante que a máquina. Na
Internet das Pessoas, o uso de redes sociais possibilita a conexão entre indivíduos em qualquer
momento e espaço, bastando a utilização de um computador, tablet ou smartphone. Em termo,
a última expansão da conectividade se configurou com a Internet das Coisas, por efeito dos
avanços digitais que revolucionaram o tamanho, adaptabilidade e força computacional dos
chips (BRITO, 2014 apud CARVALHO, 2019).
Na Internet of Things (IoTs), as coisas físicas do nosso cotidiano são incorporadas à
internet, permitindo que se forme uma interface comunicacional entre pessoas, máquinas e
objetos (ZUIN; ZUIN, 2016). Nessa terceira geração cibernética, as coisas são dotadas de
sensores inteligentes e enfatizam a conectividade por redes de curto alcance, o que permite
17
que interajam com dispositivos computacionais ou entre si. É essa dinâmica, reputada pela
transmissão de dados, que faz com que os objetos prestem diversos serviços personalizados,
do ambiente doméstico ao industrial (NEVES, 2017).
Na época presente, já se integram ao universo da interconexão digital geladeiras,
lâmpadas, televisores, carros, vestíveis, brinquedos e diversos outros (NEVES, 2017). Esses
itens conectados ganham capacidade computacional e de comunicação, permitindo que
acessem às redes por provedores de serviços, sejam controlados remotamente e interajam com
os usuários (MANCINI, 2018 apud CARVALHO, 2019).
Segundo Kevin Ashton, responsável por utilizar o termo Internet das Coisas pela
primeira vez, os computadores praticamente dependem de modo exclusivo das pessoas para
obterem informações. Os dados disponíveis na internet foram predominantemente criados e
obtidos por ação humana, seja ao digitar, capturar uma foto ou ao iniciar uma gravação. Como
a tecnologia da informação contemporânea centrou-se nos dados originados por pessoas,
atribuindo-lhe potencial valor econômico, os nossos computadores sabem mais sobre ideias
do que sobre coisas. Nessa lógica, Ashton complementa que o intento das empresas seria de
que os próprios dispositivos computacionais recolhessem informações, comunicando-se sem
necessidade de intervenção humana. O universo da Internet das Coisas tornou essa
possibilidade palpável (ASHTON, 2009 apud CARVALHO, 2019).
Geralmente, a tecnologia de objetos conectados não se limita a obter apenas os
atributos estáticos, mas também desenvolve tecnologia em sensores para obter as
características dinâmicas de uma coisa conectada (LV; AMIT, 2021). Como visto, é essa
capacidade de interconexão entre as coisas que permite o armazenamento maciço de dados,
gerando, por servidores de baixo custo e em tempo real, matéria prima para informação e
dados preditivos (AHMED et al., 2017).
Diante da falta de estruturação do big data em si, a análise dos dados coletados pelas
coisas também deve aproximar o tempo entre o mundo físico e o da plataforma digital, para
tal, a transmissão de eventos deve ser instantânea e abastecer bancos de dados operacionais.
Nesse sentido, tecnologias de computação em nuvem também são aplicadas na Internet das
Coisas, a fim de aprimorar seus recursos de processamento de informações eficientes (LV;
AMIT, 2021). Assim, é possível consultar rapidamente análises de dados, acelerando os
insights, tomadas de decisão e interações entre máquinas e humanos (AHMED et al., 2017).
No tocante à insegurança acerca dessas políticas de uso de dados pessoais, é
importante ressaltar que o cenário da Internet of Things ainda enfrenta desafios adicionais.
18
Além da opacidade dos sistemas2 e da falta de informação aos usuários, questões comumente
enfrentadas no ambiente digital, o universo dos objetos conectados lida com problemas
relativos à capacidade de processamento. Como nesse contexto, é usual a existência de
dispositivos reduzidos e com potencial de processamento restrito, frequentemente não há
poder de processamento suficiente para viabilizar políticas de segurança convencionais, a
exemplo dos algoritmos de criptografia (SILVA; PINTO JÚNIOR; XAVIER, 2017).
Introduzido e criado um panorama geral acerca do domínio da Internet das Coisas,
finalmente apresenta-se a Internet of Toys ou Internet dos Brinquedos. O universo dos
brinquedos conectados é bastante similar a de outros dispositivos inseridos no mundo da
intercomunicação digital, vez que também pressupõe a existência de um objeto material, neste
caso o brinquedo, em conexão com a Internet por redes de WI-Fi, Bluetooth ou de
Comunicação por campo de proximidade (MASCHERONI; HOLLOWAY, 2019).
A fim de compreender a Internet dos Brinquedos, é necessário esclarecer e diferenciar
alguns conceitos tipicamente confundidos, quais sejam: os brinquedos inteligentes e os
brinquedos conectados. No ponto, Bieke Zaman aponta que a distinção é antes de tudo, de
ordem geracional e relacionada à capacidade de conectividade. Os brinquedos inteligentes são
anteriores à segunda categoria e referem-se aos produtos infantis providos com alguns
artifícios tecnológicos básicos, enquadram-se, por exemplo, o Tamagochi e o Furby. Apesar
de possuírem câmeras de vídeo e de captarem as interações dos seus usuários relacionadas ao
espaço do jogo, esses brinquedos não possuem conexão com a Internet. Em contraste, o termo
brinquedos conectados faz referência a nova geração que é capaz de integrar a interface da
Internet das Coisas (ZAMAN, 2018).
Apesar de que na literatura ainda há uma lacuna de categorização que consiga
englobar a variedade de brinquedos conectados, observa-se pelo menos quatro tipos: Toys to
Life3, robóticos, vestíveis — sendo relógios os mais comuns no mercado — e brinquedos de
desenvolvimento de aprendizagem (Learning Development Toys). Se comparado com a
categoria dos brinquedos inteligentes, são os brinquedos conectados que mais ameaçam as
2
A opacidade de sistemas de aprendizado de máquina diz respeito à falta de transparência e conhecimento
existentes em relação às tecnologias computacionais de inteligência artificial, sobretudo no que tange a como se
dá seus processos de tomada de decisão, de análise de dados e de classificação feita de modo automatizado.
Dentre as principais preocupações geradas, aponta-se que há um risco de utilização de vieses que tomem
decisões discriminatórias, ignorando direitos fundamentais. Alguns fatores que contribuem para o contexto de
sistemas opacos são a complexidade dos modelos matemáticos envolvidos na atividade dos algoritmos, a
dificuldade de entender as operações relacionadas no processamento de dados em larga escala e a falta de clareza
no contexto institucional de uso destes sistemas.
3
É um recurso de videogame que utiliza figuras de ação físicas ou de para interagir com o jogo. Esses
brinquedos utilizam redes de Comunicação por Campo de Proximidade.
19
4
O Children’s Online Privacy Protection Act (COPPA).
20
de privacidade envolvendo uma boneca fabricada pela Genesis Toys, a My Friend Cayla,
inclusive recomendando aos pais a desativação do produto (LEAL, 2017).
A instituição alemã alertou que, similarmente ao ocorrido com a barbie, a boneca
interativa Cayla poderia gravar e encaminhar as conversas de crianças ou de outras pessoas,
sem o conhecimento dos pais. Além disso, orientou-se que se a rede de conexão sem fio
utilizada não fosse adequadamente protegida pelos fabricantes, terceiros poderiam utilizar o
brinquedo despercebidamente para ouvir os diálogos (HIRATA, 2017).
Somado aos exemplos trazidos, há um relatório oficial do Conselho dos Consumidores
da Noruega que reuniu um diagnóstico das principais violações dos brinquedos conectados à
privacidade e à segurança. O documento intitulado #Toyfail, publicado em 2016, constatou
que as empresas requerem licenças de alta amplitude, no sentido de “usar e distribuir dados de
voz de crianças, sem identificar e restringir adequadamente os propósitos para os quais essas
informações poderiam ser usadas, além de não comunicarem aos usuários alterações
potenciais nos termos de uso'' — nas palavras de Lívia Teixeira Leal (2017, p. 181). Também
foram relatados problemas de privacidade desdobrados do fato de que qualquer um, por meio
de um dispositivo móvel, é capaz de se conectar a um brinquedo, implicando na possibilidade
de se falar e ouvir a criança a uma certa distância (LEAL, 2017).
Uma outra circunstância a ser levantada é o fato de que as crianças usualmente não
percebem que estão sendo gravadas pelos brinquedos interativos ou que as conversas podem
ser acessadas por seus pais ou terceiros. O próprio design do brinquedo não traz nenhum
indicador visual ou sonoro que ajude o infante a identificar o momento de captura de áudio.
Em um estudo da Universidade de Washington, utilizando a metodologia de entrevistas foram
demonstradas várias respostas nesse sentido. A pesquisa deu enfoque a perspectivas das
crianças e dos pais em relação à dinâmica de dois brinquedos sociais diferentes, bem como
seu respectivo aplicativo (MCREYNOLDS et al., 2017).
Em um grupo amostral de nove crianças, seis não tinham conhecimento de que seus
pais poderiam ouvir o que eles falassem, exceto se estivessem próximos; dois indicaram que
talvez fosse possível; e apenas um participante respondeu expressamente que seu responsável
seria capaz de ouvir, caso o dispositivo estivesse gravando. Essas perguntas ganham
relevância ao considerar que as crianças devem ter direito de brincar em espaços privados e a
desenvolver sua individualidade sem invasões (MCREYNOLDS et al., 2017).
Na mesma pesquisa, um dos participantes adultos explicou ao seu filho que o
brinquedo conseguia gravar a voz da criança, despertando uma reação negativa. A fala do pai
transcrita foi: "Ei, você sabia que quando você termina de brincar com a boneca Barbie, tudo
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que você compartilhou com ela vai parar em um computador para que nós possamos debater
sobre isso? Isso tornaria divertido para você?”; sendo a resposta da criança: “Isso é bem
assustador” (MCREYNOLDS et al., 2017, p. 5202, tradução nossa)5.
Nota-se, ainda, que a falta de informação sobre os brinquedos adquiridos é
generalizada, estendendo-se não só ao público infantil, mas também aos seus responsáveis. É
essencial que os consumidores tenham noções básicas acerca dos recursos tecnológicos
utilizados, das dinâmicas de funcionamento e das respectivas políticas de dados, para entender
o tipo de informação que pode ser gerada e o quanto a vida privada dos seus filhos pode estar
exposta. A informatividade demonstra-se, portanto, essencial para possibilitar a tomada de
decisões livres e conscientes, bem como a reivindicação de direitos fundamentais.
Por esse ângulo, Sarah Turner, em 2019, avaliou a documentação e propaganda de
quinze brinquedos conectados no mercado. O objetivo de seu relatório era qualificar o grau de
dificuldade enfrentado por um comprador ao tentar entender se um dispositivo se conecta à
Internet e quais suas implicações para a privacidade e segurança dos usuários. O primeiro
obstáculo encontrado foi que diante da falta de esclarecimento, os usuários encontraram-se
duvidosos até mesmo para determinar a natureza das tecnologias utilizadas por cada produto.
Além disso, nenhum dos brinquedos avaliados explicou se o ato de não conectá-los à Internet
iria afetar a possibilidade das crianças brincarem com eles ou quais dados pessoais são
acessados para o dispositivo funcionar em sua normalidade (TURNER, 2019).
A avaliação realizada também demonstrou que em muitos casos foi difícil definir se
um produto direcionado ao mercado infantil utilizava tecnologias de brinquedos inteligentes
ou conectados, e se a conectividade seria feita diretamente ou demandaria algum outro
recurso, como o suporte de um aplicativo. Turner esclarece que quando um produto não é
etiquetado como requerente de acesso a um computador, smartphone ou da própria Internet de
forma clara, aumenta-se a necessidade de cuidado dos responsáveis pela criança, para além de
suas expectativas iniciais, disposição ou entendimento (TURNER, 2019).
No ponto, o Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 31, orienta que a
apresentação de produtos ou serviços deveria assegurar informações corretas, claras, precisas
e ostensivas sobre suas características, qualidades e dados relevantes, esclarecendo também
acerca dos riscos que apresentem à segurança dos consumidores (BRASIL, 1990).
5
Texto original: Parent: Hey, did you know that Barbie doll, when you’re all done, everything that you share
with her would end up on the computer so we could talk about it? Would that make it fun for you? (P9) Child:
That’s pretty scary. (C9)
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Essa questão é particularmente relevante uma vez que, mesmo que certo dispositivo
opere com o suporte de programas com restrições de idade, no momento de comprar um
produto, qualquer pessoa pode fazê-lo sem limitações. Mascheroni e Holloway (2017)
destacam que a posse dos brinquedos conectados é “indistinta”, qualquer criança com o
brinquedo físico pode utilizá-lo, mas não retém nenhum direito sobre os dados pessoais
gerados. Isso se reforça uma vez que o aceite dos termos e condições, mesmo que envolva
dados de crianças, tendem a incluir apenas duas opções polarizadas: negar ou aceitar
totalmente (MASCHERONI; HOLLOWAY, 2017 apud TURNER, 2019).
Além dos riscos digitais apresentados, outro ponto de insegurança gerado pelos
brinquedos conectados é a análise e compartilhamento de dados para fins comerciais. O
Conselho dos Consumidores da Noruega, em relatório já mencionado, constatou que os
termos sobre a retenção de dados são geralmente vagos e que investigando-se alguns
brinquedos, foi comprovada a transferência de informações pessoais a empresas estranhas à
relação de consumo. Esses terceiros comerciais utilizam esses conhecimentos sobre a
atividade dos usuários para propósitos indetermináveis, desprendendo-se de qualquer relação
com a funcionalidade dos brinquedos (LEAL, 2017).
Além das estratégias de demarcação de perfis de consumo e direcionamento
publicitário, possibilitadas pela distribuição de dados de predição, os brinquedos conectados
também intermediam interesses capitalistas de forma ainda mais direta. Também no relatório
norueguês foram diagnosticadas indicações publicitárias realizadas nas interações entre
brinquedo e criança. A título de exemplo, alguns dispositivos interativos falavam para criança
sobre o desejo de ir à Disney (LEAL, 2017).
Os dados gerados na Internet dos Brinquedos podem incluir informações desde
localização ou tempo a detalhes da aparência, crescimento, comportamento, humor, relações
sociais ou desenvolvimento educacional da criança (COSTA; PERRONE, 2021). Diante desse
cenário, é importante que o usuário mantenha noções básicas acerca de quais os recursos
tecnológicos ligados à funcionalidade usual do produto adquirido, para que consigam
compreender que tipos de informações podem ser acessadas.
Nesse sentido, pensando-se nas correspondências entre apetrechos tecnológicos e
possíveis dados coletados, tem-se que: a) GPS associam-se a localização, constando até
mesmo longitude e latitude; b) microfones e caixas de som vinculam-se a gravações de voz de
crianças; c) câmeras a imagens; d) detectores de movimento relacionam-se com o
deslocamento do usuário; e) detectores de toque ligam-se à digitais do infante; f) termômetros
26
6
International Telecommunication Union (ITU).
28
algumas situações, mas não pode dispor dessas garantias de forma permanente ou total
(GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019).
Esclarece-se que em casos previstos em lei, é possível ceder o exercício de alguns
direitos de personalidade — no que se inclui o direito à privacidade — de forma transitória e
específica, desde que tal disponibilidade não viole a fundamental dignidade do titular. Em
outras palavras, conforme aduz o Enunciado nº 4 da I Jornada de Direito Civil do Conselho de
Justiça Federal, nenhuma limitação pode ser absoluta ou genérica, deve ser limitada no tempo
e ninguém pode abrir mão de todo seu direito de personalidade (FARIAS; ROSENVALD,
2017). A título exemplificativo, é possível ceder a imagem para utilização em uma publicação
específica, mas não é possível autorizar-se a utilização indeterminada e sem restrições
temporais. De mesmo modo, não parece ser razoável ceder-se os dados pessoais, a vida
privada ou imagem de alguém sendo seu uso indeterminado.
Linha contínua, reunindo as características inerentes aos direitos de personalidade,
que lhes colocam em posição diferenciada dos direitos de ordem patrimonial, menciona-se
conforme sustentado pela doutrina que: são direitos inatos, absolutos, inalienáveis,
intransmissíveis, vitalícios, relativamente indisponíveis, intransmissíveis, impenhoráveis e
irrenunciáveis (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2019).
Compreendidas as definições, tutela diferenciada e características principais do direito
de personalidade, debruça-se finalmente na proteção da privacidade enquanto parte desta
categoria. O Código Civil, artigo 21, proclama: “A vida privada da pessoa natural é
inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para
impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma” (BRASIL, 2002).
Observa-se que o diploma civil também protege a esfera existencial íntima e reservada
das pessoas, mas, além disso, lhe permite tomar as providências necessárias para impedir,
fazer cessar o ato lesivo ao direito, e alternativamente exigir a indenização referente ao dano
consumado. Também se comunica com essa disposição, o conteúdo do art. 12 do Código, que
permite determinar que se detenha a ameaça ou lesão a direito de personalidade, e reivindicar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei (GONÇALVES, 2019).
No ponto, Flávio Tartuce, elucida que se retira da normativa dois desdobramentos
principiológicos: primeiro, há o princípio da prevenção, segundo, consagra-se o princípio da
reparação integral de danos. Sendo assim, ocorrendo lesão ou excesso, serão cabíveis medidas
judiciais, devendo o Poder Judiciário adotar providências visando impedir ou cessar a lesão à
vida privada. Eventualmente caberá reparação civil integral, respeitando inclusive a Súmula
37 do Superior Tribunal de Justiça, isto é, a orientação de que as indenizações por danos
34
morais são cumuláveis as por danos materiais decorrentes de um mesmo fato (TARTUCE,
2021).
No entanto, conforme pondera o civilista Anderson Schreiber, a norma diz pouco para
a sua época. Seguindo a tendência dos direitos de personalidade em geral, a proteção da
privacidade encontra como obstáculo atual não o seu reconhecimento, mas sua efetividade.
Realizando-se uma breve análise da realidade cotidiana, o diagnóstico é de que no sentido
contrário do que tutela o artigo 21 do Código Civil, a vida privada dos indivíduos é violada de
modo sistemático (SCHREIBER, 2011 apud TARTUCE, 2021). Acerca do contexto de
violação ocorrido sistematicamente, Paulo José da Costa Júnior (2007, p. 16-17) colabora
nessa perspectiva:
Aceita-se hoje, com surpreendente passividade, que o nosso passado e o
nosso presente, os aspectos personalíssimos de nossa vida, até mesmo sejam
objeto de investigação e todas as informações arquivadas e livremente
comercializadas. O conceito de vida privada como algo precioso, parece estar
sofrendo uma deformação progressiva em muitas camadas da população.
Realmente, na moderna sociedade de massas, a existência da intimidade,
privatividade, contemplação e interiorização vêm sendo posta em xeque,
numa escala de assédio crescente, sem que reações proporcionais possam ser
notadas (COSTA JÚNIOR, 2007, p. 16-17).
Ainda no tema dos atos transgressores à vida privada, Tatiana Vieira sustenta
existirem duas maneiras de violação: o acesso não autorizado e a divulgação indevida.
Enquanto que na primeira hipótese o conhecimento da informação demonstra-se como
ilegítimo, na segunda há legitimidade na obtenção da informação, a disseminação que não foi
autorizada pelo titular. A violação de ambas ou apenas uma das formas apresentadas têm o
condão de constituir ato ilícito (VIEIRA, 2007 apud ROSA, 2019).
Fulgêncio Madrid Conessa acrescenta que se deve aplicar a teoria do mosaico,
defendendo que por mais inofensiva que uma informação seja em aparência, se comunicada e
analisada junto a outras, adquire-se uma amostra com pleno significado, possibilitando formar
um mosaico da personalidade de alguém. Dessa forma, o autor defende que a categorização
da informação enquanto íntima, privada ou secreta em nada interfere no momento de definir
se houve violação à privacidade, para tal basta que o uso dos dados pessoais seja indevido ou
adquirido ilicitamente (ROSA, 2019).
Retomando a perspectiva de buscar efetividade para a privacidade considerando seus
obstáculos atuais, vale pontuar que na V Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho
da Justiça Federal em 2011, foram aprovadas algumas ponderações relevantes acerca da
proteção da intimidade e de dados sensíveis, dimensões da privacidade. O Enunciado nº 404
afirma que a tutela da privacidade da pessoa humana engloba os controles espacial, contextual
35
e temporal dos próprios dados, sendo indispensável seu expresso consentimento para
tratamento de informações que versem especialmente o estado de saúde, a condição sexual, a
etnicidade, as convicções religiosas, filosóficas e políticas (TARTUCE, 2021).
Essa nova perspectiva ganha sentido no estudo dos direitos de personalidade, pois
sabe-se que essa categoria corresponde a um conjunto regulado pelo Código Civil de maneira
não-exaustiva. O controle acerca do uso de dados pessoais se enquadra nas prerrogativas do
direito à vida privada, de modo que segundo Laura Schertel Mendes (2014, p.35), pode ser
compreendida como uma “dimensão do direito à privacidade, que, por consequência, partilha
dos mesmos fundamentos: a tutela da personalidade e da dignidade do indivíduo”.
7
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 1988).
37
público infantil. Retoma-se no ponto, que essa categoria de brinquedos funciona reunindo
dados contextuais e de interação com a criança. Os próprios dispositivos possuem recursos
tecnológicos para gerar fluxos de transmissão em alta velocidade desses dados recolhidos.
Os prejuízos dos brinquedos conectados não são conhecidos plenamente, inclusive
pela falta de informação das políticas de dados utilizadas pelos produtos. Entretanto, os
principais riscos já levantados relacionam-se à exposição da vida privada das crianças
brincantes, sem seu pleno discernimento, e a mercantilização das suas informações,
almejando a criação de perfis de consumo e o direcionamento da publicidade.
Nessa conjuntura, é válido examinar as disposições do ECA em relação ao direito ao
respeito. A norma contida no artigo 17 do Estatuto incluiu a preservação da imagem dos
infantes e jovens, zelando também por uma zona pessoal, íntima (AFFONSO, 2019). Na
redação do dispositivo legal mencionado, lê-se: “o direito ao respeito consiste na
inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e
crenças, dos espaços e objetos pessoais” (BRASIL, 1990).
Somado a isto, evoca-se também o artigo 100, inciso V, do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que ao regulamentar a aplicação das medidas de proteção, traz como princípio
regente a “privacidade: a promoção dos direitos e proteção da criança e do adolescente deve
ser efetuada no respeito pela intimidade, direito à imagem e reserva de sua vida privada”
(BRASIL, 1990).
Na infância e adolescência, a proteção conferida pelo ordenamento aos direitos de
personalidade é diferenciada, conforme demonstra o panorama normativo. Somado a isto,
tomando como base a doutrina da proteção integral, a intromissão na vida privada dos infantes
deve ser tutelada considerando o princípio do melhor interesse da criança como parâmetro
interpretativo. David Cury Júnior colabora nessa lógica, afirmando:
8
Para os fins desta Lei, considera-se: I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou
identificável; II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica, convicção religiosa, opinião
política, filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde
ou à vida sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural; III - dado anonimizado:
dado relativo a titular que não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e
disponíveis na ocasião de seu tratamento. (BRASIL, 2018)
42
consentimento do titular. O artigo 7º estabelece outras bases legais9 para tais operações, mas
apesar de não existir na Lei nenhuma hierarquia entre essas hipóteses, o consentimento
demonstra-se superdimensionado em relação às demais, sendo citado trinta e cinco vezes ao
longo do texto da lei federal (CAMURÇA; MATIAS, 2021). Além disso, como o
consentimento representa a base legal aplicável ao tratamento de dados no contexto do
consumo de produtos conectados, investigado no presente trabalho, será visitado com maior
apreço.
Com fundamento no artigo 5º, inciso XII, da Lei nº 13.709/2018, a conceituação do
que seria consentimento corresponde a "manifestação livre, informada e inequívoca pela qual
o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma finalidade determinada"
(BRASIL, 2018). Acrescenta-se que são vedadas quaisquer operações com dados pessoais
dotadas de vício de consentimento. Partindo de raciocínio semelhante, as autorizações
genéricas para o tratamento serão nulas, de forma a ressaltar a determinação da finalidade
enquanto circunstância essencial. Caso haja mudança da finalidade ou repasse de dados a
terceiros, o agente de tratamento dos dados pessoais deverá solicitar novo consentimento.
Em relação ao tratamento dos dados sensíveis, o capítulo II da LGPD possui uma
seção específica. Em suma, o que se verifica de diferente para os dados pessoais não sensíveis
é a existência de um consentimento específico e destacado para o uso de tais informações.
Este tipo de dado pode ser indispensável em algumas situações, mas recebeu um cuidado
especial por expor de forma mais crítica a esfera íntima do indivíduo (DIAS; GONÇALVES,
2020).
Complementando o panorama geral das principais disposições da LGPD, há de se
observar a série de direitos do titular. Mediante requisição e a qualquer momento, a pessoa a
quem se referem os dados pode exigir ao controlador das decisões operacionais: a
confirmação da existência de tratamento; o acesso aos dados; a correção de dados
incompletos, inexatos ou desatualizados; a anonimização, bloqueio ou eliminação de dados
9
O art. 7.º da LGPD prevê que o tratamento de dados pessoais somente poderá ser realizado nas seguintes
hipóteses: a) mediante o fornecimento de consentimento pelo titular; b) para o cumprimento de obrigação legal
ou regulatória pelo controlador; c) pela administração pública, para o tratamento e uso compartilhado de dados
necessários à execução de políticas públicas previstas em leis e regulamentos ou respaldadas em contratos,
convênios ou instrumentos congêneres; d) para a realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre
que possível, a anonimização dos dados pessoais; e) quando necessário para a execução de contrato ou de
procedimentos preliminares relacionados a contrato do qual seja parte o titular, a pedido do titular dos dados; f)
para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral; g) para a proteção da vida ou
da incolumidade física do titular ou de terceiro; h) para a tutela da saúde, em procedimento realizado por
profissionais da área da saúde ou por entidades sanitárias; i) quando necessário para atender aos interesses
legítimos do controlador ou de terceiro, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do
titular que exijam a proteção dos dados pessoais; ou j) para a proteção do crédito.
43
explícitos e informados ao titular, de forma que não é legal o tratamento posterior de modo
incompatível com tais finalidades (BRASIL, 2018). Trata-se de princípio com grande valor
prático reconhecido, uma vez que, a partir dele, o titular pode garantir os limites da legalidade
do tratamento de seus dados através de informações obtidas previamente, de forma a delinear
o destino específico e determinado do processamento (desde que lícitos). Esse instituto
também combate o uso secundário dos dados, e o acesso por terceiros, sem determinação e
consentimento (VAINZOF, 2019).
Dessa forma, a utilização dos dados processados deve estar sempre vinculada ao
destino informado e consentido no início da relação entre titular e agente de tratamento. Nessa
lógica, um fabricante que coleta informações do consumidor para possibilitar o
funcionamento normal das interações entre o dispositivo produzido e seu usuário, somente
poderá utilizar esses dados para esta finalidade. Nesse cenário, se o controlador decidir
realizar publicidade microssegmentada com esses dados, é obrigatório que no termo de
consentimento também esteja contido esse propósito, de forma precisa e totalmente
identificada, inclusive informando se haverá divulgação para terceiros comerciais
(MACHADO; MARCONI, 2020).
Linha contínua, o princípio da necessidade é previsto no artigo 6º, inciso III como
sendo limitador do tratamento ao mínimo necessário para a realização de suas finalidades,
com abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não excessivos em relação às
finalidades do tratamento de dados (BRASIL, 2018). Em decorrência desse princípio, o
processamento de dados somente será empregado se a finalidade almejada não puder ser
alcançada de forma razoável por outros meios. Caso seja exigível o tratamento, o agente deve
analisar quais as espécies de dados realmente são essenciais e adequadas, qual o volume
mínimo possível e sobretudo se a operação é proporcional diante de potenciais riscos aos
direitos dos titulares (VAINZOF, 2019).
Também se desdobram da regra de minimização dos dados algumas medidas de
ponderação e segurança que devem ser tomadas pelo controlador. É preciso haver um
acompanhamento do ciclo de tratamento dos dados sob seu encargo para analisar se ainda há
base legal para justificar o tratamento. Isto é, quando o agente constatar que a finalidade já foi
atingida ou que os dados perderam sua necessidade ou pertinência para tal alcance, não haverá
mais fundamentação jurídica para persistir o processamento, de modo que é responsabilidade
do controlador encerrar o tratamento e descartar os dados coletados nas operações
(PINHEIRO, 2020).
45
Por sua vez, conforme disposto no art. 6º, inciso VI, da LGPD, o princípio da
transparência tem por objetivo garantir informações claras, precisas e facilmente acessíveis
sobre a realização do tratamento e os respectivos agentes de tratamento, observados os
segredos comercial e industrial (BRASIL, 2018). Este também é um dos princípios de
significância central para proteção à privacidade e ao livre desenvolvimento da personalidade
(MACHADO; MARCONI, 2020). Rony Vainzof reforça que o titular necessita da ampla
informação sobre o processamento dos seus dados, para que consiga auferir de forma nítida a
conformidade legal, a segurança do tratamento de acordo com sua finalidade, adequação e
necessidade. A transparência caracteriza, portanto, pressuposto para a tomada de decisões de
forma consciente, ponderando as condições do tratamento e a proteção de seus direitos
(VAINZOF, 2019).
Além disso, considerando que o avanço tecnológico possibilita inúmeras formas de
tratamento, com transmissões de dados em alta velocidade, muitas vezes os usuários possuem
um déficit informacional ainda maior no contexto virtual. Ressalta-se que nos meios digitais o
processamento muitas vezes ocorre em uma “conduta silenciosa”, por isso a importância de se
destacar as políticas de privacidade de forma segmentada em seção específica, com linguagem
acessível. Assim, visando a mitigação de riscos, é crucial que os controladores considerem os
titulares vulneráveis quanto ao entendimento das operações, de forma que a transparência seja
proporcional à capacidade de assimilação dos usuários. Valoriza-se, por esse ângulo, que as
informações prestadas sejam claras, completas e ostensivas (VAINZOF, 2019).
Finalmente, em relação ao princípio da não discriminação, o art. 6º, inciso IX,
descreve que o tratamento não poderá ser realizado para fins discriminatórios ilícitos ou
abusivos (BRASIL, 2018). O cerne deste princípio é evitar a estigmatização do ser humano
em decorrência da sua classificação e segmentação baseada no tratamento de suas
informações, além de não sofrer nenhuma intolerância étnica, religiosa, de gênero, etc, o
titular deve ter direito de não ser simplificado, objetivado e avaliado fora de contexto
(PINHEIRO, 2020).
Nesse ponto é crucial relembrar que as práticas de categorização das crianças em
perfis de consumo, além de criar classificações, prognósticos ou mesmo julgamentos,
discriminando os diferentes usuários (TOBBIN; CARDIN, 2020), configura prática abusiva
sob o olhar do direito do consumidor. Conforme já mencionado, o direcionamento publicitário
ao público infantil tem sua abusividade reconhecida nas disposições do art. 39, inciso IV do
CDC, à medida que aproveitar-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista
46
10
Criada em 2018 e sancionada em 2019, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados é o órgão federal
responsável por fiscalizar e aplicar a LGPD.
48
outros dados relevantes, assim como sem informações sobre os riscos à segurança dos
consumidores, isso descumpre o artigo 31 do CDC (BRASIL, 1990). Somado a isto, o fato de
que os responsáveis legais e as crianças sequer sabem quais dados podem ser coletados pelos
brinquedos fere o princípio da transparência previsto na LGPD. Além disso, na proteção
específica dada ao tratamento de dados pessoais das crianças, o art. 14, §3º, estabelece que as
informações obtidas pelos controladores deverão ser mantidas públicas, evidenciando os tipos
de dados coletados, bem como as formas que eles serão utilizados (BRASIL, 2018).
Linha contínua, no estudo acerca dos brinquedos conectados, foi constatado vários
casos concretos em que os dados pessoais eram coletados de forma excessiva,
desproporcional e pouco segura por estes produtos. No mercado, há dispositivos cuja câmera
permanece ligada a todo momento; em que todas as interações da criança com a máquina são
gravadas por um microfone, sem nenhuma indicação visual; ou até produtos utilizando redes
de Bluetooth de fácil identificação, emparelhável a qualquer pessoa com um dispositivo
móvel nas proximidades (MCREYNOLDS et al., 2017; STREIFF; DAS; CANNON, 2019).
Nesse sentido, muitas pesquisas e relatórios institucionais estrangeiros revelaram
exemplos de brinquedos conectados suscetíveis, que poderiam ser acessados por pessoas
estranhas com considerável facilidade. Foram diagnosticados casos em que foi possível obter
a localização do brinquedo (e consequentemente do usuário) com precisão, ouvir e se
comunicar com a criança em tempo real, ou até realizar gravações de imagem e áudio com
qualidade dos ambientes privados do infante (STREIFF; DAS; CANNON, 2019; LEAL,
2017).
Essas situações práticas revelam que o volume de dados coletados pela Internet dos
Brinquedos vai além do que parece ser necessário, de modo a comprometer a preservação da
vida privada, personalidade e dados pessoais dos usuários. Em decorrência do princípio da
necessidade, previsto na LGPD, o agente de tratamento deve analisar quais espécies de dados
realmente são essenciais e adequadas, qual o volume mínimo possível e sobretudo se a
operação é proporcional diante de potenciais riscos aos direitos dos titulares (VAINZOF,
2019). Além disso, os jogos e aplicações na Internet, somente podem exigir o fornecimento de
dados pessoais como condicionante da participação das crianças nesses contextos, caso seja
estritamente necessário ao exercício da atividade (BRASIL, 2018).
Ademais, as táticas de processamento de dados pessoais expostas violam institutos
centrais da LGPD: o princípio da finalidade e o consentimento (PINHEIROS, 2020). Muitos
brinquedos interativos são capazes de gravar conversas, mantendo arquivos em áudio e dados
das conversas transcritas, sem qualquer notificação e consentimento prévio dos pais ou
51
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
direito à privacidade no ordenamento pátrio, sob uma perspectiva mais atualizada e de maior
alcance. Verificou-se que esse direito recebe ampla proteção jurídica, em destaque para a
constitucional e civilista, que o trata enquanto direito fundamental e de personalidade,
respectivamente.
A partir dessa tutela diferenciada fora concluído que a privacidade mantém relação
intrínseca com a dignidade e o livre desenvolvimento da pessoa humana, devendo ser
interpretada nesse sentido. Por isso, é de obrigação estatal exigir o cumprimento do direito nas
relações sociais, e intervir diante de manifesta desigualdade entre as partes. Expôs-se também
que o direito é indisponível relativamente, de modo que ceder a vida íntima e os dados
pessoais das crianças para uso permanente ou indeterminado seria desarrazoado.
É imprescindível entender que diante das pretensões jusfundamentais atuais, o direito
à privacidade deve ser interpretado de forma ampla e multidimensional. Deve-se reconhecer
que a garantia jurídica também inclui, ao titular, o direito de balanceamento e verificação de
quem é capaz de coletar dados, e o poder de autodeterminação informativa.
Levantada a problemática de violação dos direitos da criança através do uso e
tratamento dos dados pelos agentes controladores dos brinquedos conectados, esta monografia
adentrou na análise crítica e embasada sobre a legislação mais específica e ponderada para
solucionar a problemática: a LGPD. Examinou-se as disposições dessa lei sobre a proteção
singular dos dados pessoais infantis, e constatou-se pontos de descumprimento nas práticas de
tratamento dos dispositivos, perante às normas de consentimento, finalidade, transparência,
necessidade, não discriminação e melhor interesse da criança.
Quanto ao princípio da necessidade, os agentes de tratamento não satisfazem a
ponderação de quais espécies de dados realmente são essenciais e adequadas, qual o volume
mínimo possível e, sobretudo, se há proporcionalidade no tratamento diante dos potenciais
riscos aos direitos dos titulares. No caso dos brinquedos conectados, a regra diferenciada do
art. 14, §4º ainda ressalta: os jogos e aplicações na Internet só podem exigir o fornecimento de
dados pessoais como condicionante da participação das crianças, caso seja estritamente
necessário ao exercício da atividade.
No que tange às normas de finalidade, transparência e consentimento, o tratamento de
dados deveria ser feito vinculado a uma finalidade determinada, que recebeu concordância
livre, informada e inequívoca. No caso das crianças, a base legal prevê que o consentimento
seja feito por, pelo menos, um de seus pais ou responsáveis legais, conforme seu melhor
interesse. Observou-se que a coleta e tratamento feitos pelos brinquedos, na realidade prática:
a) não realizava qualquer notificação ou consentimento parental; b) eram dotadas de vício, à
55
no ambiente digital. A família deve orientar, conscientizar e informar as crianças no uso dos
brinquedos conectados, investindo no discernimento e autonomia compatíveis com sua idade.
Na outra ponta, é urgente que os desenvolvedores e fornecedores de produtos
conectados direcionados ao público infantil tenham um compromisso efetivo com a segurança
no tratamento dos dados coletados, assim como com a transparência das informações relativas
à utilização dos brinquedos e os tipos de dados coletados, de maneira clara, simples e
acessível para a população, inclusive a própria criança sujeito de direito.
57
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