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Abstract Resumen
1 Faculdade de Saúde The development of recent social thinking in O desenvolvimento de um pensamento social em
Pública, Universidade de São
Paulo, São Paulo, Brasil.
health in Brazil is associated with the establish- saúde, recente no Brasil, está relacionado com a
2 Instituto de Saúde, ment of the Public Health field and the Brazilian constituição da Saúde Coletiva e da Associação
Secretaria de Estado da Association of Graduate Studies in Public Health Brasileira de Pós-graduação em Saúde Coletiva
Saúde de São Paulo, São
Paulo, Brasil. (ABRASCO). The area of Social Sciences in (ABRASCO). Com a criação da ABRASCO, cons-
3 Instituto Butantan, São Health was created together with the founding of tituiu-se também a área de Ciências Sociais. Este
Paulo, Brasil.
4 Faculdade de Filosofia,
ABRASCO. This article presents the main aspects artigo apresenta os principais aspectos referentes
Letras e Ciências Humanas, related to the establishment and institutional- à constituição e institucionalização das Ciências
Universidade de São Paulo, ization of Social Sciences in Health in ABRASCO, Sociais em Saúde na ABRASCO, com base nos
São Paulo, Brasil.
based on interviews with its presidents and the depoimentos de seus presidentes e coordenado-
Correspondência coordinators of the Social Sciences Committees res das Comissões de Ciências Sociais no período
A. M. Z. Ianni from 1995 to 2011. The interviews allowed cap- de 1995 a 2011. Os depoimentos possibilitaram
Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São Paulo.
turing and analyzing the context in which this captar e analisar o contexto de constituição des-
Av. Dr. Arnaldo 715, São field was established and its relevance and his- se campo, sua relevância e trajetória no conjun-
Paulo, SP 01246-904, Brasil. tory in Public Health as a whole, grouped in five to da Saúde Coletiva, tendo sido agrupados em
aureanni@usp.br
analytical categories: (1) the development of So- cinco eixos de análise: (1) o desenvolvimento
cial Sciences and the Humanities in Health; (2) das Ciências Sociais e Humanas em Saúde; (2)
interdisciplinarity in Public Health; (3) the con- a Saúde Coletiva e a interdisciplinaridade; (3) a
tribution of Social Sciences to Public Health; (4) contribuição das Ciências Sociais à Saúde Cole-
Social Sciences in Health and the “traditional” tiva; (4) as Ciências Sociais em Saúde e as Ciên-
Social Sciences; and (5) challenges for Social Sci- cias Sociais “tradicionais”; e (5) os desafios para
ences and the Humanities in Health. as Ciências Sociais e Humanas em Saúde.
Social Sciences; Health Sciences; Scientific Ciências Sociais; Ciências da Saúde; Domínios
Domains Científicos
Tabela 1
Presidentes e coordenadores da Comissão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde da ABRASCO durante os congressos, 1995 a 2011.
I Congresso Brasileiro de Ciências Sociais em Saúde 1995 Curitiba (Paraná) Presidente: Maria Cecília de Souza Minayo
Coordenadora: Ana Maria Canesqui
II Congresso Brasileiro de Ciências Sociais em Saúde 1999 São Paulo Presidente: Rita de Cássia Barradas Barata
Coordenadora: Paulete Goldenberg
III Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e 2005 Florianópolis (Santa Catarina) Presidente: Moisés Goldbaum
Humanas em Saúde Coordenadora: Silvia Gershman
IV Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e 2007 Salvador (Bahia) Presidente: José da Rocha Carvalheiro
Humanas em Saúde Coordenador: Kenneth Camargo Jr.
V Congresso Brasileiro de Ciências Sociais e 2011 São Paulo Presidente: Luiz Augusto Facchini
Humanas em Saúde Coordenadora: Leny Trad
três paradigmas: a multidisciplinaridade, a inter- vê esse interdisciplinar como uma relação com o
disciplinaridade e a transdisciplinaridade. campo da saúde, que era necessária, você tam-
Neste trabalho, focaremos as questões refe- bém precisa entender qual é a lógica do sistema de
rentes à interdisciplinaridade, sugeridas pelos saúde, o que a epidemiologia faz, o que o planeja-
informantes da pesquisa, ainda que não seja mento faz, mas, ao mesmo tempo, para essa inter-
possível esquivar-se do intenso debate acerca locução, se possível, criar objetos comuns, sobre
da especificidade paradigmática interdiscipli- os quais você trabalha interdisciplinarmente na
nar do campo da Saúde Coletiva. Cabe ressaltar pesquisa, mas reconhecemos, até hoje, eu pelo me-
dois aspectos que emergiram dos discursos dos nos penso assim, que essa interdisciplinaridade
entrevistados, um, o da relação interdisciplinar não significa perder nossas raízes nas ciências
institucionalmente constituída na ABRASCO, e sociais ou nas demais disciplinas do campo da
outro que diz respeito ao plano das ideias e das saúde. É um interdisciplinar que não destitui a
intenções de produção do conhecimento. Nos disciplinaridade, é preciso ter um jogo de cintu-
depoimentos, esses dois aspectos aparecem em ra” (Entrevistado/a no 6; grifos nossos).
separado ou, muitas vezes, articulados entre si. Em virtude desses desafios, os informantes
Discutir a prática interdisciplinar no âmbito apontam, ainda, alguns caminhos que devem ser
da Saúde Coletiva expressa tensões entre os di- trilhados com vistas a repensar as concepções,
ferentes subcampos, evidenciando tanto as dife- o desenho e a operacionalização dos processos
renças da produção teórica quanto os diferentes de formação no campo da Saúde Coletiva, que
objetos de investigação e as diferentes formas de precisa, necessariamente, contemplar a questão
cada subcampo situar-se nesse território de in- da interdisciplinaridade.
terface disciplinar. “No meu modo de ver, isso fragiliza aquilo que
Ficou perceptível, pela fala dos protagonistas, poderia ser a maior potência da Saúde Coletiva,
um empenho de coesão em torno da Reforma Sa- de fazer com que os egressos dessa área tenham
nitária e da luta contra a ditadura nos primórdios um domínio básico de excelência que articulasse
da constituição da ABRASCO. Naquele momen- essa três áreas, então, você teria um cientista so-
to, a preocupação com a interdisciplinaridade cial, egresso de um programa de Saúde Coletiva,
não foi objeto central da agenda, dada a urgência mas que seria capaz de entender perfeitamente
social de se discutir o tema da Saúde no contexto como ler uma tendência histórica a respeito de
do movimento de redemocratização do país e da mortalidade ou utilização de serviços ou de im-
construção de um sistema nacional de saúde. plementação de políticas” (Entrevistado/a no 2).
“Houve um grande momento político na dé- O reconhecimento, a legitimidade e a visibi-
cada de 1970 e 1980 em relação ao SUS, em que lidade conquistados pelos diferentes subcam-
as forças todas se uniram, além do que tinha o pos da Saúde Coletiva também expressam algu-
contexto de combate à ditadura. Então, ali não mas particularidades da trajetória da própria
estava em questão se era cientista social, se era ABRASCO. No caso das Ciências Sociais, cabe en-
epidemiólogo, se era planejador, se era profissio- fatizar as tensões e as disputas internas quanto
nal do serviço de saúde... Aquelas forças estavam à própria capacidade de captação de recursos
unidas, e a gente se sentia compromissado com financeiros para a realização dos congressos da
a política de saúde, com a constituição do SUS área e quanto às linhas de financiamento e ao
e tudo mais. Mas toda a discussão posterior [a volume de recursos destinados aos projetos de
constituição das comissões dentro da ABRASCO] pesquisa, auxílios e bolsas.
foi para a criação da interdisciplinaridade nesse “Há uma divisão de recursos e temos que bri-
campo” (Entrevistado/a no 6). gar pela representação da nossa área, mas acho
Questões relativas às potencialidades e aos que isso tem mais chances de ser bem-sucedido
limites da perspectiva interdisciplinar na Saúde se tivermos propondo coisas, tanto na ABRASCO
Coletiva foram relatadas por alguns/algumas quanto na Capes e no CNPq, porque, mesmo no
dos/das entrevistados(as) ao analisarem o trân- âmbito da epidemiologia, eu vejo às vezes um cer-
sito das Ciências Sociais nesse contexto multi- to desconforto com certos modelos de ciência que
disciplinar, destacando a relevância da discipli- vigoram. Eu acho que a área de epidemiologia fez
naridade nesse processo, inclusive como um dos plano diretor, fez não sei o quê... Então eu acho
elementos que contribuem para a identidade do que uma parte do congresso deveria ser dedicada
subcampo: a isso...” (Entrevistado/a no 10).
“Agora, interdisciplinaridade não significa Como decorrência dessa discussão, as dis-
perder as suas referências disciplinares, a gente putas institucionais internas foram lembradas
sempre bateu nessa tecla, porque nós vamos be- e alguns dos entrevistados manifestaram pre-
ber nas ciências sociais mesmo, nos seus méto- ocupação com a Comissão de Ciências Sociais
dos, nas suas teorias e tudo mais. Então, a gente e a delimitação dos seus espaços no interior da
ABRASCO, seus objetivos próprios e até mesmo Também dois/duas coordenadores(as) das
a sua coordenação. Comissões de Ciências Sociais e Humanas em
Outras questões problemáticas foram, ainda, Saúde falaram sobre a contribuição das ciências
levantadas pelos entrevistados, como a apropria- sociais. Para um(a) deles(as), as Ciências Sociais
ção pouco adequada dos conceitos das Ciências foram fundamentais para a reflexão crítica do
Sociais por epidemiologistas e demais profissio- processo saúde-doença e das políticas de saú-
nais do campo; a potencialidade de múltiplas de vigentes, à época, no país. Para o(a) outro(a)
identidades do pesquisador na contemporanei- coordenador(a), Ciências Sociais e Saúde Cole-
dade; o subcampo da epidemiologia como o que tiva estão muito imbricadas, porque as Ciências
mais avançou no processo de consolidação e Sociais ajudaram a construir a área.
institucionalização na ABRASCO, tanto em rela- “É difícil de responder essa pergunta, para mim
ção ao apoio político e à indução financeira das está tão impregnado... Agora se a gente vê com uma
agências internacionais como da OPAS quanto perspectiva histórica, ela vem ajudando a cons-
ao apoio político e interesses do Ministério da truir a área e incorpora discussões, inclusive teó-
Saúde no financiamento dos congressos de epi- ricas, muito importantes” (Entrevistado/a no 11).
demiologia no Brasil; e a própria natureza dos Reconhece-se, portanto, que o arcabouço
objetos de investigação da epidemiologia na Saú- teórico, metodológico e analítico das ciências
de Coletiva e sua incorporação no âmbito das po- sociais contribuiu tanto para a Saúde Coletiva,
líticas e das práticas de saúde no SUS. como um todo, quanto para as outras áreas con-
Evidentemente, os relatos mostram que há formadoras do campo, como a Epidemiologia e a
desafios teóricos e metodológicos para o avan- Política, Planejamento e Gestão. Essa perspectiva
ço da interdisciplinaridade no campo da Saúde traz consigo uma potencialidade contraditória:
Coletiva. Operacionalmente, entretanto, os en- por um lado, as ciências sociais consistem num
trevistados apontam alguns elementos que po- conhecimento transversal que permeia todas as
deriam fortalecer a atuação institucional da Co- esferas da Saúde Coletiva, o que é bastante po-
missão de Ciências Sociais e Humanas em Saúde sitivo; por outro lado, essa característica não lhe
na ABRASCO. São eles: a atuação mais proativa garante uma visibilidade empírica, ou “empiris-
dos membros na organização dos congressos e ta”, nos dizeres de um(a) dos(as) informantes,
na definição dos temas dos congressos; a neces- tornando-a, muitas vezes, conhecimento abs-
sidade de enfatizar temas que apresentem rele- trato e intangível para os outros subcampos da
vância para a sociedade na contemporaneidade, Saúde Coletiva.
em detrimento de assuntos internos ou específi-
cos das ciências sociais. As Ciências Sociais em Saúde e Ciências
Sociais “tradicionais”
A contribuição das Ciências Sociais
à Saúde Coletiva Sobre a relação entre as Ciências Sociais em Saú-
de e as Ciências Sociais “tradicionais”, foram re-
Em quase todos os depoimentos, há demons- latadas dificuldades de legitimação da área de Ci-
trações da importância da contribuição das Ci- ências Sociais em Saúde na própria Saúde Coleti-
ências Sociais para o campo da Saúde Coletiva. va, bem como nas Ciências Sociais tradicionais.
Porém, em apenas um depoimento, de um dos “Então, eu vejo que o cientista social que entra
presidentes da ABRASCO, explicita-se isso: para a área de saúde, ele tem que fazer um esforço,
“(...) das três áreas da Saúde Coletiva, as ciên- porque ele não vai ser peixe, nem tatu, ele vai ser
cias sociais é aquela que tem a característica de uma mistura dos dois... Ele vai ter que ter claro
ser a mais importante do ponto de vista do emba- algumas categorias básicas da sua área, mas es-
samento... Eu acho que a epidemiologia é muito tá voltado para as questões de saúde, analisar as
aplicada, é claro que tem a teoria epidemioló- questões de saúde” (Entrevistado/a no 4).
gica, mas ela é muito aplicada, muito empiris- Também foi abordada a imagem que se tem
ta... A política, planejamento e gestão, da mesma das Ciências Sociais em Saúde como Ciências So-
forma, não poderia ser diferente (...) E as ciências ciais aplicadas, menos científicas, menos nobres
sociais são a grande base, que tem autonomia dos que as Ciências Sociais tradicionalmente
para produzir o seu conhecimento de maneira instituídas, e a dificuldade de consolidar a área
independente das outras, mas, ao mesmo tempo, nas instâncias legitimadoras da produção cientí-
ela tem uma capacidade de contribuição impor- fica e gestoras de recursos financeiros para pes-
tante para as outras duas áreas no sentido de sus- quisas em geral. Foram observadas, ainda, em
tentar as propostas teóricas e metodológicas, as algumas situações, as dificuldades de diálogo e
abordagens e especialmente as interpretações...” cooperação entre elas e as disputas por espaços
(Entrevistado/a no 2). científicos.
“Primeiro, eu acho que essas relações [Ciências va dentro da ABRASCO e a falta de legitimidade
Sociais e Ciências Sociais em Saúde] nem sempre das Ciências Sociais na associação, bem como
são harmônicas e tranquilas. Elas também têm a dificuldade de falar para um público externo
um certo grau de estranhamento e de resistência à comissão, no sentido de estabelecer um diá-
de ambas as partes. Também uma certa alusão, de logo com a sociedade e com as demais áreas de
uma certa desconfiança de que seriam trabalhos conhecimento. Esperam que as Ciências Sociais
mais superficiais, enfim. Do outro lado, também contribuam, como na gênese do movimento da
há má vontade, (...) porque uma coisa que marca Saúde Coletiva, com novos referenciais teóricos,
o campo da Saúde Coletiva, difícil não se colocar, é conceituais e categorias de análise, atendendo,
a aplicação política, não é?” (Entrevistado/a no 8). assim, às demandas de questões emergentes na
As interdependências, influências e afinida- área da saúde. Alguns dos depoimentos mencio-
des, entretanto, também foram mencionadas: nam a falta de interação com os novos problemas
“Na minha opinião, elas [as Ciências Sociais da sociologia.
‘tradicionais’ e as Ciências Sociais em Saúde] Há grande insistência na questão da interdis-
estão afinadas, pois, quando se começa a fazer a ciplinaridade, sugerindo a quebra de um conser-
discussão da crise dos paradigmas lá nas Ciências vadorismo disciplinar visto como intrínseco às
Sociais ‘tradicionais’, nós também estávamos fa- Ciências Sociais “tradicionais”. E, com relação à
zendo aqui, quer dizer, uma coisa reflete na outra precariedade da formação acadêmica dos ato-
(...) Então, eu acho que é o conjunto de coisas, não res que transitam no campo das Ciências Sociais
dá pra gente dizer que somos um monobloco e eu em Saúde, denunciam a superficialidade no uso
acho que o mesmo se dá dentro das Ciências So- dos referenciais teóricos das Ciências Sociais e a
ciais” (Entrevistado/a no 6). vulgarização das análises ditas qualitativas. Tam-
Fica evidente a latência de uma tensão entre bém mencionam que um dos grandes desafios é
as Ciências Sociais em Saúde e as Ciências So- o de não esvaziar ou empobrecer as análises do
ciais tradicionais. A percepção sobre as dificul- campo da Saúde Coletiva, mantendo o ensino
dades de diálogo e cooperação e as disputas por das Ciências Sociais nas áreas da saúde.
espaços científicos estiveram presentes desde Indicam a necessidade de legitimar e consoli-
sua origem. Hoje, essa tensão parece estar sen- dar, no âmbito do sistema de Ciência & Tecnolo-
do diluída – provavelmente resultado do cresci- gia, a área das Ciências Sociais em Saúde, criando
mento das Ciências Sociais na saúde e seu pro- uma identidade própria, porém enfrentando o
tagonismo na Saúde Coletiva. Nesse contexto, risco da fragmentação da área em outros sub-
são reafirmadas as influências e afinidades entre campos da Saúde Coletiva. Nesse sentido, apare-
ambas; reconhecendo-se diferença significativa cem, nos depoimentos, sugestões de aumentar o
entre estar numa instituição de saúde realizando grupo de estudiosos da área, a sua disseminação
trabalhos de Ciências Sociais e pertencer a uma pelo país e maior articulação; a retomada da es-
Faculdade de Ciências Sociais. sência das ciências sociais e dos seus temas ori-
ginais; e uma maior objetividade da Comissão de
Os desafios para as Ciências Sociais e Ciências Sociais, estabelecendo um planejamen-
Humanas em Saúde to mais estruturado para a comissão sob a forma
de um plano diretor.
Quanto aos principais desafios das Ciências
Sociais em Saúde no campo da Saúde Coletiva,
os(as) entrevistados(as) levantaram diversos as- Considerações finais
pectos que aparecem tanto nos relatos dos(as)
presidentes da ABRASCO quanto no(as) dos(as) Em linhas gerais, constatou-se que a sustentabi-
coordenadores(as) das Comissões das Ciências lidade das Ciências Sociais e Humanas em Saúde
Sociais e Humanas em Saúde. Os pontos mais na ABRASCO depende da sua legitimidade cien-
relevantes referidos pelos entrevistados espe- tífica, teórica e técnica. Pelos relatos, ficou clara
lham a reflexão que cada um deles fez sobre o uma capacidade deficitária nas dimensões téc-
campo, sobre sua constituição e trajetória, sinali- nica e política dessa área em ancorar processos
zando novas possibilidades de desenvolvimento que conduzam a patamares mais sustentáveis
e articulação. das Ciências Sociais no campo da Saúde Coleti-
Sugerem a recuperação do vigor que as ci- va. As descontinuidades das ações da comissão
ências sociais tiveram na origem do campo, e da agenda dos congressos refletem uma bai-
contribuindo para o seu embasamento teórico, xa institucionalização do processo de trabalho.
analítico e interpretativo. Indicam a importân- Por outro lado, as disputas internas ao campo
cia da superação do distanciamento entre as das Ciências Sociais em Saúde acirraram a de-
áreas constitutivas do campo da Saúde Coleti- limitação de espaços e territórios, muitas vezes
intradisciplinares, na defesa de determinados que pode ser considerado vital para a sustentabi-
objetos e linhas de investigação, distanciando- lidade das Ciências Sociais em Saúde e Humanas
-os mutuamente e os tornando pouco permeá- na ABRASCO. Tal plano poderia, como apontado
veis e até vulneráveis ao intercâmbio e interface nos depoimentos, contribuir como um meio efi-
com os outros atores e instituições. Tal situação caz para aumentar a capacidade de negociação e
restringe, ainda, a possibilidade de incorporar, captação de recursos regulares para as atividades
na agenda de pesquisa, “novos” objetos e estu- da comissão, entre elas os congressos. Seria, ain-
dos que venham a contribuir para o avanço da da, um instrumento adequado para potenciali-
Saúde Coletiva na contemporaneidade, em con- zar as dimensões técnica e política da sustentabi-
sonância com abordagens “complexas”, neces- lidade da subárea, bem como para a interlocução
sariamente ancoradas em concepções e práticas com as agências nacionais e internacionais de
interdisciplinares. fomento e apoio à pesquisa no campo da Saúde
É interessante notar, nas falas atores, uma Pública/Coletiva.
certa “dança identitária” das Ciências Sociais em Resta ainda o desafio da incorporação dos
Saúde, que tem, como eixo balizador, a relação resultados das pesquisas para o fortalecimento
dicotômica entre teoria x prática. Quando postas do SUS, enfrentando a contradição entre a inten-
no campo da Saúde Coletiva, as Ciências Sociais cionalidade e pragmatismo da gestão da políti-
são tidas como extremamente teóricas e inter- ca de saúde e as recomendações e subsídios dos
pretativas, trazendo consigo um tom de abstra- estudos “sociais” na identificação de lacunas e
ção típico das reflexões puramente teóricas, em- melhoria das políticas e, consequentemente, das
bora seja evidente o reconhecimento da impor- práticas de saúde.
tância dessas “abstrações” para a constituição do São muitos os desafios e os caminhos que os
campo da Saúde Coletiva no Brasil. Quando pos- resultados da pesquisa oferecem para as Ciências
tas em relação às ciências sociais “tradicionais”, Sociais e Humanas em Saúde no Brasil. Mais uma
as Ciências Sociais em Saúde são acusadas de vez, reafirma-se a força dos depoimentos que re-
empíricas, aplicadas, e, por isso mesmo, menos tomam a história das Ciências Sociais em Saúde
científicas. Denota-se, assim, uma dificuldade de na ABRASCO, seu desenvolvimento e os impas-
diálogo entre as ciências sociais que são produ- ses atuais. E, sobretudo, revelam um fragmento
zidas no âmbito da saúde, mais especificamente, da história social contemporânea do pensamen-
no interior da ABRASCO, e as ciências sociais que to social em saúde no Brasil, permitindo recupe-
estão sendo produzidas nos centros tradicionais rar as estratégias de construção de um campo tão
de ensino e pesquisa dessa área. potente na história recente do país como é o da
A necessidade de um plano diretor da comis- Saúde Coletiva.
são, destacado pelos informantes, é outro ponto
Resumen Colaboradores
El pensamiento social de la salud en Brasil está asocia- A. M. Z. Ianni participou da concepção e projeto, aná-
do a la creación de la Asociación Brasileña de Postgra- lise, interpretação dos dados e redação do artigo. C.
do en Salud Pública (ABRASCO), al establecerse un área Spadacio colaborou na interpretação dos dados, reda-
de especialización en el ámbito de las Ciencias Sociales. ção do artigo e revisão crítica relevante do conteúdo
Este artículo destaca los principales aspectos relacio- intelectual e aprovação final da versão a ser publicada.
nados con el establecimiento y la institucionalización R. Barboza, O. S. F. Alves, S. D. L. Viana e A. T. Rocha con-
de las Ciencias Sociales en salud dentro de ABRASCO, tribuíram na análise e interpretação dos dados, revisão
basándose en el testimonio de sus funcionarios y líderes crítica relevante do conteúdo intelectual e aprovação
durante el período 1994-2011, así como en los coordina- final da versão a ser publicada.
dores de las comisiones de ciencias sociales ABRASCO
durante el mismo período. Se recogieron testimonios
autorizados y se analizó el contexto de la constitución Agradecimentos
de estos estudios, su pertinencia y evolución a lo largo
de la trayectoria en salud de la comunidad. El conte- À Capes e ao CNPq (Edital MCT/CNPq 14/2009 – Uni-
nido de las entrevistas fue agrupado en cinco grandes versal) pelo financiamento.
áreas de análisis: (1) desarrollo de las Ciencias Sociales
y Humanidades dentro del ámbito de la salud; (2) sa-
lud pública y su interdisciplinariedad; 3) contribución
de las Ciencias Sociales a la salud pública; (4) Ciencias
Sociales en salud y las Ciencias Sociales “tradicionales”,
y (5) desafíos de las Ciencias Sociales y Humanidades
dentro del ámbito de la salud.
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