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KPOP- Korean Pop

Seul, Coreia do Sul. Do outro lado do mundo, o berço do tão falado K-Pop. Você
certamente deve ter escutado K-Pop em algum momento. Se não, te darei uma
dicazinha, apenas duas palavras que te lembrarão de todo o seu 2012:

Gangnam Style.

Lembrou? O hit, do cantor sul-coreano PSY, foi o vídeo mais visto no YouTube
do fim de 2012 até 2017 e quebrou o recorde de visualizações da plataforma,
sendo o primeiro artista do mundo a alcançar 1 bilhão de views, e, mesmo com
todos esses números, Gangnam Style foi só a pontinha do iceberg da gigantesca
"onda coreana'' que se expande todos os dias mundo afora.

Gênero musical?
Crescendo radicalmente nos últimos anos, K-Pop em si não é um gênero
musical, e sim a mistura de vários, com muita influência do pop e do hip-hop,
assim como do rock e da eletrônica, podendo contar até mesmo com jazz, R&B,
reggae ou country. Essa mistura é a responsável por criar muitas músicas
alegres, viciantes, com coreografias perfeitas e altíssima qualidade de produção,
alimentando uma indústria que gerou US$ 18 bilhões ao país em 2017.

ORIGEM

Anos 90

Então, vamos começar pelo início de tudo, nos anos 1990. Antes disso, em
1988, graças às restrições de acesso a conteúdo estrangeiro, por bastante
tempo a música sul-coreana era apenas influenciada pelo folclore do próprio país
e pela cultura japonesa. Com a modernização do país e a redução na censura,
as redes de televisão começaram a introduzir o público a músicas novas em
shows de talentos e foi essa a chance do público adolescente.
.

Os jovens não se sentiam representados pelas músicas da época, geralmente


sobre amor à nação e, como resposta, dia 11 de abril de 1992, Seo Taiji and
Boys foi a um dos shows de talento apresentar o single Nan Arayo. Com um
ritmo que misturava o pop norte-americano moderno e a cultura sul coreana, a
letra falava sobre angústias de adolescentes e a pressão social para ser bem
sucedido. Os jurados não gostaram, mas o público discordou. Em pouco tempo,
a música foi para o topo das paradas, onde permaneceu por um recorde de 17
semanas.
Desde então, o kpop passou por diversas fases, com diversas influências. A
origem do k-pop, como dito antes, foi marcada por Seo Taiji and The Boys, mas
logo outros grupos surgiram como H.O.T, TVXQ e Shinhwa, com inegável
influência do hip-hop americano.
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Anos 2000

O sucesso do k-pop no país fez com que, nos anos 2000, mais grupos
continuassem a surgir e fazer sucesso, como Big Bang e Super Junior e com o
boom da cultura japonesa do Ocidente por meio de animes e mangás, logo seu
impacto no k-pop se fez presente. Visível em grupos como SHINee e duos como
Trouble Maker, a moda, os penteados e a fotografia predominante em tons de
sépia eram características marcantes trazidas do Japão.

Anos 2010

Com o surgimento da chamada “Rainha do k-pop”, Boa, que acaba de completar


20 anos de carreira, logo o espaço feminino da indústria começou a ser
conquistado, com o surgimento de girlgroups como 2ne1 e Girls Generation.
Apenas por volta da década de 2010 o espaço do k-pop no ocidente começou a
ser conquistado, como em 2009, quando as Wonder Girls foram convidadas para
tocar na turnê dos Jonas Brothers pelos EUA e logo seu single “Nobody”
debutou em #76 na Billboard Hot 100 fazendo delas o primeiro artista
sul-coreano a entrar nas paradas americanas. Mais tarde, em 2016, nasceu o
BlackPink, o girlgroup de maior destaque internacional, sendo as primeiras
coreanas a se apresentarem no Coachella.

BTS

Em 2013, surgiu o boygroup BTS, que seria o passo definitivo para a expansão
sul-coreana no Ocidente. O grupo, formado por sete membros, foi originário de
uma empresa quase falida e logo se destacou nas críticas locais por seu
primeiro álbum de hip-hop, 2Cool 4Skool, diferente de tudo o que o k-pop já tinha
visto, com um estilo alternativo e letras com críticas sociais fortes, do ponto de
vista adolescente.
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Seu sucesso gradativo teve como ponto-chave 2017, quando ganharam o


prêmio Top Social Award do BBMAs, após serem os artistas mais comentados
das redes sociais. Desde então, mesmo com a inegável xenofobia do mercado
musical americano, foi impossível barrar o BTS. Apenas em 2020 o BTS
acumulou prêmios americanos importantes, como VMAs, AMAs e a sua recente
indicação ao Grammy com o hit Dynamite, fazendo-os o primeiro grupo asiático
a receber a indicação. Eles também contam com o álbum mais vendido do ano,
Map Of The Soul:7 e com o acúmulo de quatro #1 no Hot 100 da Billboard, a
parada americana mais importante, um deles com sua música mais recente: Life
Goes On, sendo a primeira música que não é em inglês a ocupar a posição.

Lei BTS e o Alistamento Militar

O alistamento militar coreano, diferente do que estamos acostumados no Brasil,


conta com dois anos de prestação de serviços. Apesar de obrigatório aos
homens, a idade para se candidatar é muito mais flexível, podendo-se escolher o
melhor momento entre os 18 e 28 anos. Porém, recentemente uma nova
legislação foi criada: a Lei BTS.

O impacto do boygroup ao país foi tão grande que, após movimentar bilhões na
economia coreana por ano, a própria Assembleia Nacional da Coreia do Sul
resolveu criar algo para adiar seu alistamento. Assim, a Lei BTS surgiu, que
estendia o prazo de alistamento até os 30 anos para os artistas que possuíssem
medalhas do governo por elevar a influência cultural da Coreia do Sul em todo o
mundo, como é o caso do próprio grupo, que receberam as ordens Hwagwan de
mérito cultural do governo em 2018.

A INDÚSTRIA

Apesar da crescente popularidade nos Estados Unidos e no resto do mundo, a


indústria de entretenimento sul-coreana tem um mecanismo muito diferente da
americana.
Na Coreia do Sul, por trás de todas as cores e brilho dos vídeos de música,
estão empresas de grande renome e exigência, funcionando como agências de
talentos que buscam simplesmente a perfeição em seus artistas. YG
Entertainment, JYP Entertainment e S.M Entertainment, são as "Big Three" são
consideradas agências do topo, e fazer parte de uma delas funciona quase como
uma garantia de sucesso. Em 2018, a empresa do BTS, Big Hit, também passou
a entrar na lista, ficando em primeiro lugar do ranking.

O processo

Para se tornar um artista de k-pop ou k-idol, o primeiro passo é ter entre 10 e 20


anos e ser selecionado por uma dessas agências de entretenimento, virando
então, trainee: oito a doze horas de treinamento por dia, com aulas de canto,
dança, coreografia, atuação, rap, idiomas e boas maneiras, tudo intercalado com
poucas refeições, muitas vezes com o direito à internet e ao celular restritos.

O tempo como trainee costuma variar de alguns meses até 5 anos, tendo casos
de artistas com até 10 anos como trainee, sendo submetido a treinamentos
intensos e até procedimentos estéticos para a perfeição. Em uma indústria onde
a concorrência é alta, nunca há nenhuma garantia de sucesso e, mesmo após o
debut, ou estreia, há relatos de "contratos escravos'', onde às vezes o artista fica
sem ganhar quase nenhum dinheiro, dependendo do seu sucesso.

O complexo de “white-savior”

Visto uma indústria complicada, não é difícil ouvir o ocidente se recusando a


conhecer o k-pop, alegando fazer isso para “não alimentar a indústria”. É
importante ter consciência dos defeitos dela, porém essa reação não é a
solução. É aí que entra o chamado “complexo de white-savior”, ou “complexo de
salvador branco”, onde, vendo artistas racializados, a população branca decide
que precisa salvá-los, ignorando o posicionamento do povo a ser salvo.

Olhar para as problemáticas do k-pop e agir como se isso fosse um problema


exclusivo dele é uma ação baseada apenas em xenofobia, a partir do ponto de
que, na verdade, a problemática vem da indústria de entretenimento como um
todo. Um exemplo notável é Hollywood, com diversos casos de abusos
notificados, ou até mesmo a indústria do Ballet, com elevado índice de suicídio e
padrões de beleza exigentes. Apesar disso, nenhuma dessas duas sofre com o
discurso frequente de “não consumir o conteúdo para não alimentar a indústria”.
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De qualquer forma, o meio rígido e complicado não faz com que os jovens
sul-coreanos desistam de seus sonhos de serem k-idols. Eles fazem de tudo
para sua arte, e a realizam com a perfeição tão exigida seus lindos vocais, raps
com letras e críticas fortíssimas e coreografias impecáveis. Não é à toa que o
mundo esteja sendo invadido cada vez mais por essa ''onda coreana''.

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