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ISSN 2317-3793 Volume 8 Número 10 (2019)

O IMPACTO PSICOLÓGICO EM MULHERES VÍTIMAS DE ABUSO


SEXUAL SOBRE SEUS FUTUROS RELACIONAMENTOS
THE PSYCHOLOGICAL IMPACT ON WOMEN SEXUAL ABUSE VICTIMS ON THEIR
FUTURE RELATIONSHIPS
Júlia Teodosio Vieira1; Mariana Valadares Macêdo Santana2; Valdir de Aquino Lemos3; Luís Sérgio Sardinha4

RESUMO
O abuso sexual é um fato que ocorre com inúmeras mulheres e, como não consentido, torna-se um fato traumático para
suas vidas, trazendo problemas sociais e sexuais em futuros relacionamentos. O abuso é recorrentemente cometido por
agressores próximos às vítimas, desde pessoas com menos vínculo ou o próprio companheiro. O abusador faz com que
a mesma se reprima através de insultos, fazendo com que desenvolva baixa autoestima, depressão, isolamento social e
problemas relacionados à sexualidade. Muitas mulheres que passam pelo abuso sexual não apresentam o apoio da
família, pois ainda, a sociedade acredita que as mulheres são culpadas por sofrerem este tipo de violência, seja por
roupas curtas, decotada ou maquiagem marcante que podem chamar a atenção do sexo masculino. Assim, o objetivo do
presente estudo é descrever e discutir sobre mulheres vítimas de abuso sexual e possíveis problemas psicológicos em
futuros relacionamentos. Para este estudo foram utilizados 95 artigos científicos, 23 livros e 3 teses de mestrado que
defende este tema, datados de 1979 a 2019. Os artigos científicos utilizados para compor este trabalho são com base no
site: Scielo, BVS e Biblioteca Digital USP. Sendo utilizadas palavras de busca, “abuso sexual”, “mulheres”, “impacto
psicológico” e “gênero”. Os resultados deste trabalho mostram que, quando mulheres sofrem abuso sexual na infância
ou adolescência podem desencadear problemas psicológicos, bem como, interferência em seus relacionamentos
afetivos, trazer problemas sexuais, perda de confiança no parceiro, e também desenvolver depressão, que junto a ela
podem acarretar em problemas emocionais que podem interferir na grande parte no ciclo da vida adulta da mulher. Com
base nos resultados do presente estudo, conclui-se que mulheres vítimas de abuso sexual podem apresentar problemas
psicológicos em relacionamentos. Grande parte dos casos de abuso sexual é causada pela a existência das diferenças de
gênero, pelo poder do homem sobre o corpo da mulher e as relações entre o feminino e masculino, e entende-se que se
faça necessário políticas públicas mais seguras e confiáveis para a proteção da mulher em seus diferentes contextos
sociais.
Palavras Chave: Abuso Sexual; Mulheres; Impacto Psicológico; Gênero.

ABSTRACT

Sexual abuse is a fact that occurs with countless women and, as not consented, becomes a traumatic fact for their lives,
bringing social and sexual problems in future relationships. Abuse is recurrently committed by aggressors close to the
victims, from less bonded people or their partner. The abuser represses her through insults, causing her to develop low
self-esteem, depression, social isolation and problems related to sexuality. Many women who experience sexual abuse
do not have the support of their families, because society still believes that women are guilty of suffering this type of
violence, either for short, low-cut clothes or striking makeup that can attract male attention. Thus, the aim of the present
study is to describe and discuss about women victims of sexual abuse and possible psychological problems in future
relationships. For this study we used 95 scientific articles, 23 books and 3 master's theses that defend this theme, dated
from 1979 to 2019. The scientific articles used to compose this work are based on the site: Scielo, VHL and USP
Digital Library. Using search words, "sexual abuse", "women", "psychological impact" and "gender". The results of this
paper show that when women are sexually abused in childhood or adolescence they can trigger psychological problems

1 Bacharel em Psicologia pela Universidade Braz Cubas.


2 Psicóloga graduada pela Universidade Federal de Sergipe. Mestre em Psicologia Social pela mesma
universidade com período de mobilidade na Universidade de São Paulo.
3 Doutorado em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo, Brasil (2016). Pesquisador do Comitê
Paraolímpico Brasileiro. Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Braz Cubas – Mogi das Cruzes.
4 Doutorado em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo, Brasil
(2011). Coordenador e docente do curo de Psicologia do Centro Universitário Braz Cubas – Mogi das Cruzes. Docente
junto à Universidade do Grande ABC, UniABC, Santo André.
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as well as interference with their affective relationships, bring about sexual problems, loss of trust in their
partner, and also develop depression, which together with them can lead to emotional problems that can
greatly interfere with a woman's adult life cycle. Based on the results of the present study, it is concluded
that women victims of sexual abuse may present psychological problems in relationships. Most cases of
sexual abuse are caused by the existence of gender differences, the power of men over women's bodies
and the relationships between the female and male, and it is understood that safer and more reliable public
policies are needed to the protection of women in their different social contexts.
Keywords: Sexual Abuse; Women; Psychological impact; Genre.

INTRODUÇÃO
Simone de Beauvoir (2016) trouxe o pensamento de como a mulher é vista entre
o olhar da sociedade, e de como o homem e a mulher foram e são criados de modos
diferentes, sendo assim, a mulher sempre foi educada para ser uma boa moça, educada,
gentil e agradar o homem, já o homem sempre foi educado para que sempre honre sua
masculinidade, o que faz com que reproduza a cultura machista, onde filhos aprendem
com os pais que a melhor maneira de lidar com situações é a violência e a
superioridade.
No entanto, a violência de superioridade passa a ser entendida como “Violência
Oculta”, que é o modelo de como as mulheres aprendem a agir de forma passiva, sem
expressar a violência e despertar sua feminilidade, o que faz com que abra espaço para
violência contra mulher, fazendo com que sejam incapazes de se proteger, abrindo
espaço para a violência sexual e doméstica que se acompanha nos dias atuais
(BEAUVOUIR, 2016).
O abuso sexual é um ato universal, sem restrições de idade, sexo ou classe
social, no qual as mulheres constituem um grupo mais vulnerável. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde - OMS, o abuso sexual é toda forma de obter ato sexual,
seja ele por coerção e comentários sexuais, prática sexual forçada ou tentativa de
estupro, carícias indesejadas, sexo oral forçado, praticada por qualquer pessoa, seja em
casa ou no trabalho. O abuso sexual cometido por parceiro íntimo, conhecido por
violência doméstica é o mais comum, mas pouco reconhecido pelas mulheres que
sofrem, pois culturalmente ainda é levado em consideração de que a mulher deve servir
seu marido, o que leva o baixo número de denúncias (OMS, 2002).
O Ministério da Saúde (2011) aponta que o abuso sexual é um caso de saúde
pública, e que de quatro mulheres uma sofre violência de gênero. No Brasil, em sua
grande maioria, mulheres que sofrem deste tipo de violência partem de seus próprios
parceiros íntimos. Diante disso, entende-se que o abuso sexual não se limita entre meio
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familiar, parte de um problema social no qual deve ser investigado e solucionado, pois
se trata de grandes problemas que podem acarretar às vítimas, trazendo questões de
desigualdade de gênero recorrente no país e no mundo, que separa o masculino do
feminino entre seus papeis e posições, fazendo com que grande parte das mulheres seja
reprimida submetendo-se sempre ao homem.
Compreender o abuso sexual e porque acomete tanto as mulheres é uma questão
antiga, muitas mulheres ainda se escondem por trás de pressões psicológicas feitas por
seus parceiros quando se trata de violência doméstica, muitas se sentem culpadas,
humilhadas, e tendem a desenvolver sentimentos de medo e receio de não serem
compreendias, o que dificulta a revelação do abuso sexual (DREZETTE et al 2011).
Para a mulher, a violação de seu corpo é algo grave e cruel, pois se trata de algo
íntimo que somente lhe pertence. Após o ato, muitas mulheres se sentem envergonhadas
e com dificuldades em revelar, pedir ajuda ou denunciar, por medo ou receio de
revivescer o ato, e adquirir o pensamento de que possa acontecer novamente (FACURI,
2013).
Por tanto, as causas desse sofrimento na mulher são uma normalidade quanto ao
abuso sexual, algumas vítimas não conseguem voltar a sua vida normal, obtendo formas
de proteção como “[...] sendo a única maneira, o isolamento do contato com outras
pessoas, tendo um grande avanço no aumento de peso, não se importando com a
aparência, fazendo com que esse comportamento seja como uma proteção contra os
homens” (SLEGH, 2006).
A OMS (2002) considera que mulheres vítimas de abuso sexual podem acarretar
em problemas médicos, sociais e psicológicos, das consequências podem ocasionar no
Transtorno de Estresse Pós-Traumático – TEPT, assim como: depressão, ansiedade,
distúrbio alimentares, baixa autoestima, distúrbios sexuais, entre outros.
Dessa forma, pode-se entender como o abuso sexual pode acarretar na vida das
mulheres, trazendo sérios problemas relacionados quanto à sexualidade, isolamento
social, podendo afastar-se de futuros relacionamentos por medo, insegurança, quebra de
confiança em outras pessoas devido ao abalo psicológico e físico adquirido ao longo do
evento estressor.
Assim, o objetivo do presente estudo é descrever e discutir sobre mulheres
vítimas de abuso sexual e possíveis problemas psicológicos em futuros relacionamentos.
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MÉTODO

Para a realização deste estudo foi conduzida uma revisão integrativa da


literatura, utilizando como fonte artigos indexados pela base de dados Scielo, BVS e
Biblioteca Digital USP e pesquisa em livros específicos que abordaram os impactos
psicológicos em mulheres vítimas de abuso sexual, no período de 1979 a 2019.
As palavras-chave utilizadas para busca foram “abuso sexual”, “mulheres”,
“impacto psicológico” e “gênero”, utilizando-se os específicos destas bases a fim de
obter diversos arranjos de busca, maximizando tanto a abrangência quanto a qualidade
da pesquisa. Foram selecionados 95 artigos que descreveram a situação da mulher
vítima de abuso sexual e os impactos psicológicos desenvolvidos, além de 23 livros e 3
teses de mestrado, totalizando em 121 obras de modo a centrar os resultados deste
trabalho nas contribuições mais recentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Quando se fala de mulheres vítimas de abuso sexual, deve-se analisar e
compreender se as mesmas passam por problemas psicológicos em outros
relacionamentos sejam eles sociais e afetivos, pois é possível que mulheres que passam
pelo abuso sexual tenham uma vida normal, mas a sua maioria passa por problemas
psicológicos sérios que necessitam de atenção e discussões para que seja tratada a
desigualdade de gênero que pode contribuir para que essa violência ocorra (LÓPEZ, et
al, 2017).
Para Cótica et al (2015), não se trata de um percurso fácil para a vítima, mas
acaba se tornando um evento que pode prejudicar na qualidade de novos
relacionamentos amorosos e problemas psicológicos, trazendo danos sociais cognitivos
em sua fase adulta. Para este estudo foram compilados artigos científicos, livros e teses
de mestrado totalizando 121 obras.
Em uma avaliação para obter resultado sobre o estado emocional de um casal
atual, mostrou-se que 59,8% das mulheres se sentem bem em seus relacionamentos
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emocionais, e o resultado das mesmas em relação à confiança em seus parceiros


mostrou-se um percentual de 74,8%, e 63,9% disseram que a comunicação entre o casal
é sempre boa (LÓPEZ et al, 2017).
Os dados corroboram a ideia, o argumento e a conclusão de Lira (2017), cada
mulher adquire sua tolerância para encarar um fato marcante em sua vida, em sua
maioria quando passam pelo abuso sexual buscam suportar os acontecimentos do dia a
dia sem que deixe as marcas aparentes, e buscam motivações para seguir com a vida.
Em outro estudo revelou-se que mulheres apresentam cerca de até 2,58% de
chances de desenvolver sintomas de humor depressivo e ansiedade quando sofrido
abuso físico sem sequelas, já mulheres que apresentam abuso físico com sequelas,
adquire mais chances de desenvolver sintomas de humor deprimido, gerando um
porcentual de 3,7% (SANTOS, et al, 2018).
Em relação aos primeiros ciclos infantis, a criança tende a buscar o outro para se
desenvolver individualmente e se vincular diante das experiências adquiridas, por tanto
essa vinculação pode vir a se tornar “insegura”, pois durante esse percurso houve um
abuso sexual, fazendo com que desenvolva uma interferência nas relações do sujeito já
na idade adulta, e adquirindo dificuldades nos relacionamentos íntimos (PAIVA;
FIQUEREDO, 2003).
Mulheres negras e de baixo nível escolar são as que mais sofrem violência,
sejam elas físicas e sexuais, gerando um percentual de até 4,2%, sendo assim mulheres e
homens brancos obtém uma taxa menor quanto aos abusos sexuais de 1,7% homens e
1,5% mulheres. Num espaço geral se pode ver que as mulheres tendem a ser mais
abusadas, isso pode ser comparado com a diferença de igualdade entre homens e
mulheres (ZALUAR, 2009).
Assim também, a OMS em 2005 considerou que a violência contra mulher em
suas multi categorias considera que se trata das decorrências da desigualdade de gênero.
Desse modo, é de importância e de relevância que se crie projetos que visem à
segurança de mulheres e também de crianças do sexo feminino afim de que mude o
quadro do ciclo vicioso de violência que também pode afetar o lar da vítima
(MONTEIRO; ZALUAR, 2012).
As chances para a contaminação de DST têm grande aumento quando há casos
de abuso sexual por repetidas vezes. A penetração sexual vaginal é a mais recorrente
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nos casos de abusos sexuais contra mulheres e crianças do sexo feminino por meio de
ameaça psicológica. Dentre dessas ameaças consta também a intimidação por arma de
fogo, onde se pode afetar cerca de 5% a 65% das mulheres colocando-as em risco para
contaminações de doenças sexualmente transmissíveis (DREZETT et al, 2012).
As possibilidades que explicam a contaminação por DST por parceiro íntimo
pode implicar na relação sexual sem o consentimento da mulher, sendo por obrigação e
sem o uso de preservativos que podem prejudicar e desenvolver lesões nas áreas
genitais e anais que facilitam as doenças sexualmente transmissíveis, além disso,
pesquisam mostram que os homens em determinada parcela tem como hábito furar a
camisinha para que a parceira engravide sem o seu consentimento, portanto mostra-se
que mulheres que tem grande quantidade de filhos, apresentam sofrer violência íntima
por seu parceiro (BARROS et al, 2011).
Pesquisas realizadas no Estado do México mostrou a porcentagem de mulheres
que sofrem violência por parceiro íntimo, sendo violência desde a psicológica a sexual,
sendo que de 3 (três) mulheres, 1 (uma) sofre violência por parceiro íntimo. De
procedência psicológica mostrou-se um percentual de 32%, física apontou 19%,
violência econômica ficou em 14%, e em menor grau a violência sexual foi relatada
entre 8,5% (CORTES et al, 2015).
Conforme os dados acima, o menor percentual é em relação à violência íntima,
isso porque o homem na relação conjugal tem maior facilidade de controlar a parceira
usando questões emocionais e isso pode refletir a relação de poder. No entanto, os
homens que fundamentam a violência contra a mulher como forma de discipliná-las
tendem a serem mais agressivos com possibilidades de violência sexual contra a
parceira. Fazer o uso do controle emocional na parceira íntima podem trazer questões
comportamentais que podem prejudicar a mulher em seu bem-estar físico sexual e
psicológico (ANTAI, 2011).
Em estudos feitos em vários países mostram-se que o número de mulheres que
sofreram abuso sexual ou outro tipo de violência por parceiro íntimo é sempre alto,
revelando entre 15 a 71% em algum período de suas vidas. Entre os abusos sexuais
encontra-se um porcentual de entre 40 e 70% de crimes cometidos por homicídios, que
também em sua maioria são acometidos por o cônjuge ou parceiro íntimo. Portanto, é
possível que antes ao crime de homicídio acontecer, a mulher tenha vindo sofrer
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violência ao longo do ciclo do relacionamento. No Brasil, o primeiro estudo sobre


violência entre o parceiro íntimo aconteceu entre 2000 e 2001, no qual 2.128 mulheres
entre 15 e 49 anos fizeram parte, sendo o estudo foi realizado em São Paulo e
Pernambuco, onde mostrou que a taxa de violência praticada por parceiro íntimo se
mostrou menor quando comparado com os estudos internacionais (ROSA et al, 2013).
Assim, o abuso sexual cometido por parceiro íntimo pode resultar-se em danos
na vida da mulher na fase adulta, como por exemplo, problemas sociais, psicológicos,
emocionais, aumento e potencialização no consumo de bebida alcóolica e também a
morte. Assim como a mulher, o abuso sexual também pode afetar a saúde e o bem-estar
da criança que pode estar envolvida no ambiente familiar, pois o estresse pós-traumático
e a depressão acarretada através do abuso podem surgir como diminuição da capacidade
de afeto. No entanto, é possível que crianças vindas de mães que sofreram abuso sexual,
podem obter baixa imunidade, níveis de doenças mais altas como a diarreia, e risco de
morte antes de seus 5 (cinco) anos de idade (OMS, 2012).
Entende-se que o abuso sexual acontece por conta das diferenças de gênero e
que as mulheres são as principais vítimas. A quantidade de mulheres vítimas é
significativa, embora nem todas tenha a possibilidade de recorrer à ajuda por medo de
ser violentada novamente ou por vergonha de se exporem entre as autoridades. Sendo
assim, no ano de 2004 a 2006 foram realizados 105 mil atendimentos emergenciais nos
EUA com mulheres adultas e jovens que apresentavam sinais de abuso sexual. Estima-
se que entre 12 a 25% das meninas em até seus 18 anos sofra algum tipo de abuso
sexual, e a porcentagem de abuso sexual cometidos por parceiro íntimo pode estimar
entre 6%. No Brasil estima-se que 15% das mulheres já sofreram abuso sexual, sendo
que 34% relatam ter sofrido violência física. No entanto, esses dados poderiam ser mais
elevados, considerando que a maioria das mulheres não consegue denunciar os
agressores (DREZETT, 2013).
Dessa forma, a Psicologia Social e a Jurídica se colocam como ferramentas em
casos de violência contra mulher, pois elas abrangem contextos quanto à desigualdade,
os papeis familiares, de órgãos jurídicos e de atenção básica em que as mulheres não
têm conhecimento. Entende-se que parte dessas mulheres não vê a possiblidade de se
separarem de seus parceiros, pois não se reconhecem como vítimas, por isso é de
importância e o rompimento do ciclo de violência para que elas possam ressignificar o
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processo de dor e angustia sofrido ao longo do relacionamento conjugal ou íntimo


(CFP, 2012).
Contudo, a sexualidade é considerada como qualidade de vida entre os seres
humanos, mas quando a mulher sofre abuso sexual, entende-se que podem surgir marcas
profundas que podem prejudicar sua vida no envolvimento de outros relacionamentos
afetivos. As mulheres podem desenvolver transtornos sexuais, como perda de prazer,
maior insatisfação, medo, dor que podem perpetuar por tempo indeterminado. Entre os
anos 1979 e 1999, foram realizados estudos que mostraram o nível de diminuição na
satisfação sexual da mulher após um episódio de abuso sexual. Em questão ao
relacionamento amoroso, a vítima pode apresentar redução aos sintomas de afeto,
carinho e intimidade, pois ainda estaria sob a experiência traumática causada pelo
TEPET, no entanto elas preferem não se envolver amorosamente, por medo de não
conseguir sustentar o relacionamento (FREITAS; FARINELLI, 2016).

CONCLUSÕES

Com base nos resultados do presente estudo pode-se concluir que o abuso sexual
é um caso de saúde pública, e que mesmo com o surgimento de políticas públicas e
programas de apoio a mulheres ainda pode ser cometido e se perpetuar ao longo dos
anos. Pois se entende que a o abuso sexual se dá a partir da violência e desigualdade de
gênero, onde esse quadro ainda necessita de um olhar mais cauteloso e sério quebrando
do ciclo de violência que torna insistente entre as mulheres.
Acresce que o abuso sexual pode prejudicar mulheres em futuros
relacionamentos mesmo que o percentual de violência por parceiro íntimo seja mais
baixo, pois entende que as mulheres ainda sentem a dificuldade em recorrer à ajuda, por
medo, vergonha, culpa ou por não terem o apoio da família. Compreende-se que o apoio
familiar nesses casos é de grande importância, pois se torna como base para o
enfrentamento do trauma e o rompimento do ciclo de violência contra mulher.
Dessa forma, a ajuda de um psicólogo(a) social e de um(a) assistente social é
indispensável, pois são eles que solicitarão recursos para esclarecimento sobre o direito
da mulher, sobre os meios de proteção e combate a violência por meio do Centro de
Referência Especializado de Assistência Social – CREAS, ou por meio de
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encaminhamento para a psicoterapia que ajudará a vítima na recuperação do trauma


instalado.

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