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Orlando Rus Barbosa1*, Priscila Ribeiro Boza1, Geraldo Tadeu dos Santos1, Eduardo
Shiguero Sakagushi1 e Newton Pohl Ribas2
1
Departamento de Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá, Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá, Paraná, Brasil.
3
Departamento de Zootecnia, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, Paraná, Brasil. *Autor para correspondência.
e-mail: orbarbosa@uem.br
RESUMO. Os objetivos deste estudo foram avaliar os efeitos da sombra natural e artificial e
da aspersão de água nas respostas fisiológicas (temperatura retal e frequência respiratória) e
produtivas (gordura, proteína e células somáticas) de 20 vacas leiteiras da raça Holandesa,
durante o verão. As vacas foram divididas em dois grupos e submetidas a dois ambientes (sol
e sombra) com e sem aspersão de água antes e depois da ordenha. A velocidade do vento,
temperatura e umidade relativa, temperatura do globo-negro e produção de leite foram
registradas diariamente. A temperatura retal e a freqüência respiratória foram medidas duas
vezes por semana de manhã e à tarde; o leite, analisado quinzenalmente. A freqüência
respiratória, a produção de leite e a contagem de células somáticas foram influenciadas
(p<0,01) pelos fatores meteorológicos considerados. A temperatura retal não sofreu influência
dos tratamentos. O fornecimento de sombra e a aspersão de água mostraram ser benéficas às
vacas.
Palavras-chave: conforto térmico, freqüência respiratória, gado leiteiro, temperatura retal.
encontraram melhores respostas fisiológicas para de leite nas vacas sob sombra quando acompanhadas
vacas que eram submetidas a esfriamento evaporativo com aspersão de água mais ventilação (25,3kg/dia)
acompanhado de movimento do ar sobre os animais, contra 23,3kg/dia para as vacas apenas sob sombra,
consistindo em uma excelente combinação para confirmando o efeito benéfico da água no conforto
permitir uma melhor termoregulação. térmico dos animais.
Conforme é verificado na Tabela 2, a temperatura
média do globo negro foi igual ou maior que a Tabela 5. Médias estimadas e erros-padrão da produção de leite
temperatura normal do corpo, implicando um (PL) e da produção de leite corrigido para 4% de gordura (PL4%)
em função do período de coleta e da aspersão de água.
gradiente de temperatura muito estreito, o que, por
sua vez, dificulta os animais perderem calor por Período PL (kg/ordenha) PL4% (kg/ordenha)
condução, convecção e radiação durante o período da Sem água Com água Sem água Com água
Manhã 10,98 + 1,50 Ab 11,74 + 2,05 Aa 10,43 + 1,38 Ab 11,46 + 2,15 Aa
tarde. A perda de calor evaporativo através da maior Tarde 6,74 + 1,17 Bb 7,04 + 1,53 Ba 6,41 + 1,04Bb 6,86 + 1,52 Ba
taxa de respiração e de suor teria sido o maior meio Médias seguidas de letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, diferem entre si
pelo teste de Tukey a 5%.
disponível para as vacas expostas à radiação solar
direta. Embora as diferenças encontradas aparentam ser
Foram observadas temperaturas ambientais acima pequenas, os resultados demonstram que a ação de
da termoneutralidade (mínima de 23ºC e máxima de aspergir os animais com água mostra seu efeito
34oC), as quais podem explicar as temperaturas retais benéfico, contribuindo satisfatoriamente para essa
máximas, independente da aspersão de água, de melhoria.
41,6ºC e 40,8ºC em animais manejados no sol e na Pinheiro et al. (2001) também encontraram efeito
sombra, respectivamente. positivo para vacas Jersey quando permaneciam em
No período da tarde, a temperatura ambiente ambiente climatizado, cuja produção de leite foi da
manteve-se acima da zona de termoneutralidade ordem de 12,15kg contra 10,73kg para as vacas
reportada por Huber (1990), a qual deve variar de 4 a mantidas em ambiente não-climatizado.
26°C, capaz de prejudicar a eficiência dos Arcaro Junior et al. (2001), por outro lado, não
mecanismos de dissipação de calor, aumentando, encontraram efeito na produção de leite quando
assim, a temperatura retal e a frequência respiratória submeteram vacas da raça Holandesa a sistemas de
acima das consideradas normais. ventilação + aspersão de água, justificando que,
Em conseqüência das altas temperaturas devido ao tempo em que os animais foram submetidos
ocorridas durante o período experimental, os aos tratamentos não foi suficiente para proporcionar
animais também utilizaram seus mecanismos de uma redução no estresse sofrido por esses animais.
dissipação de calor por evaporação através da Como observado na Tabela 6, os animais, quando
respiração com mais intensidade para manter a mantidos ao sol, recebendo ou não água sob aspersão,
homeotermia, fato comprovado pelo aumento da registraram valores sempre maiores (p<0,05) de PL e
freqüência respiratória. De acordo com Pires (1997), PL4% que os mantidos à sombra, com ou sem
esse aumento permite que o animal elimine 30% do aspersão de água. Quando se analisa o efeito da
calor corporal por evaporação, via trato respiratório. aspersão de água, verifica-se que este foi sempre
Esses resultados estão de acordo com os de positivo, no sentido de melhorar a PL e a PL4%, o
Collier et al. (1981), que verificaram um aumento que demonstra sua ação na termorregulação do
significativo na Tr e Fr de vacas em ambiente organismo dos animais.
sombreado (38,8oC e 77,5 resp./min.) contra o não-
sombreado (39,7oC e 114,2 resp./min.), confirmando Tabela 6. Médias estimadas e erros-padrão da produção de leite
que a perda de calor evaporativo via aumento na taxa (PL) e da produção de leite corrigido 4% (PL4%), em função do
respiratória seria a maior via disponível para vacas local de coleta e da aspersão de água.
expostas ao sol. A freqüência respiratória aumentada Local PL (kg/dia) PL4% (kg/dia)
ou o ofego pela vaca, embora não tão efetivos quanto Sem água Com água Sem água Com água
a sudorese para o esfriamento evaporativo, são Sol 9,22 + 2,53 Ab 9,60 + 2,61 Aa 8,53 + 2,30 Ab 9,57 + 2,60 Aa
Sombra 8,50 + 2,45 Bb 9,19 + 3,26 Ba 8,31 + 2,40 Bb 8,76 + 3,22 Ba
necessários para manter a homeotermia durante a Médias seguidas de letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas, diferem entre si
exposição à carga de calor elevada. pelo teste de Tukey a 5%.
aumenta, e para cada duas vezes na CCS a produção Jersey cows. J. Dairy Sci., Savoy, v. 64, p. 844-849, 1981.
de leite cai em aproximadamente 0,7kg/dia (Igono et DRAPER, N. R.; SMITH, H. Applied regression analysis.
al., 1987). 2. ed. New York: John Wiley & Sons, 1981.
Através da análise de identidade de modelo DAMASCENO, J. C. Efeito de condições climáticas de
aplicado foi observado que a temperatura e a umidade verão sobre variáveis produtivas. fisiológicas e
do ar e o ITGU foram os que mais influenciaram comportamento de vacas de raça Holandesa com acesso a
dentre as demais variáveis do ambiente. A sombreamento total e parcial. 1996. Tese (Doutorado em
Zootecnia) - FCA, Universidade Estadual Paulista,
temperatura e a umidade do ar exerceram um efeito
Botucatu, 1996.
linear negativo (b= 626,96 e b= 141,22,
FRAZZI, E. et al. Dairy cows heat stress index including
respectivamente), enquanto o ITGU um efeito linear
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durante o período do verão é um meio eficiente para
auxiliar no seu conforto, bem como a utilização de HARMON, R. J.; RENEAU, J. K. Fatores que afetam a
contagem de células somáticas no leite. Curitiba: Altech do
aspersão de água sobre os mesmos.
Brasil, 1993.
No aspecto produtivo, o efeito de aspergir água
HARMON, R. J. et al. Environmental pathogen numbers in
sobre os animais mostrou eficiência, podendo o pastures at bedding of dairy catle. J. Dairy Sci., Savoy,
mesmo ser recomendado sob certos critérios técnicos v.75, p.256, 1992.
e econômicos, visto que nem sempre os resultados são HOGAN, J. S.; SMITH, K. L. A practical look at
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Quanto à qualidade do leite, a aspersão de água education for the practicing in veterinary., 1987, p. 341-
não alterou o teor de proteína do leite dos animais ao 346.
sol ou à sombra, porém o teor de gordura apresentou- HUBER, J. T. Alimentação de vacas de alta produção sob
se mais elevado ao sol, acompanhado da aspersão condições de estresse térmico. In: Bovinocultura Leiteira.
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