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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL - PPGCA


DIONISIA SOUZA MARQUES

UTILIZAÇÃO DE FARINHA DE ORIGEM ANIMAL EM RAÇÕES

CUIABÁ-MT
OUTUBRO - 2022
DIONISIA SOUZA MARQUES

UTILIZAÇÃO DE FARINHA DE ORIGEM ANIMAL EM RAÇÕES

Trabalho apresentado à disciplina de


nutrição de não-ruminantes do
Programa de Pós-Graduação em
Ciência Animal - PPGCA

Docentes: Gerusa Silva Salles Corrêa


Erica Martins de Figueiredo

CUIABÁ-MT
OUTUBRO - 2022

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Sumário

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4

2. PRINCIPAIS FARINHA DE ORIGEM ANIMAL UTILIZADAS ...................... 5

2.1 Farinha de Carne e ossos ..................................................................... 5

2.2 Farinha de peixes .................................................................................. 6

2.3 Farinha de penas Hidrolisadas .............................................................. 6

2.4 Farinha de vísceras ............................................................................... 6

2.5 Farinha de sangue ................................................................................ 7

3. LIMITAÇÕES DAS FOA PARA USO EM RAÇÕES .................................... 8

3.1 Contaminação por Salmonela ............................................................... 9

3.2 Peroxidação de Gorduras ..................................................................... 9

3.3 Poliaminas (Aminas Biogênicas) ......................................................... 10

3.4 Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) ......................................... 10

3.5 Digestibilidade dos aminoácidos e da energia .................................... 10

4. PROCESSAMENTO DAS FARINHAS DE ORIGEM ANIMAL ................... 11

5. LEGISLAÇÃO ............................................................................................ 12

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 14

7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 15

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1. INTRODUÇÃO

Quando se analisa a produção animal como um todo, sabemos da


importância das diferentes áreas que determinam a produtividade da exploração
animal. Por isso, deve-se identificar no sistema produtivo, onde estão os
gargalos e onde há necessidade de melhoria do processo, para ajustá-los
quando necessário. Dentro do aspecto geral de produção animal, um dos itens
importantes a ser considerado, é a qualidade das matérias-primas para a
fabricação de rações.
A premissa máxima na fabricação de rações de alta qualidade certamente
é que, não podem ser fabricadas rações de qualidade com ingredientes de má
qualidade; ou seja, um ingrediente de má qualidade gera uma ração de má
qualidade na relação direta de sua participação na fórmula, independentemente
de quaisquer outros fatores da produção. Portanto, a qualidade dos ingredientes
é o primeiro e mais importante item para obedecer na produção de rações e para
alcançá-lo, é preciso conhecer os ingredientes. Evidentemente que há
necessidade de manter também a qualidade durante e após a fabricação de
rações.
Farinha de origem animal (FOA) é o nome dado a todo produto originado
de um processamento de subprodutos de frigoríficos que não se utilizaria para o
consumo humano e seria descartado (COMPÊNDIO, 1998).
A utilização dos subprodutos de abatedouros, como fonte alternativa de
proteína e fósforo para rações, reduz os custos da dieta, uma vez que esses
produtos substituem parcial ou totalmente alguns ingredientes de custo
expressivo como farelo de soja e o fosfato bicálcico (Scheuermann et al., 2007).
Além disso, a utilização dos subprodutos como fonte alternativa de proteína para
rações eleva o lucro dos abatedouros avícolas e evita a poluição ambiental, que
poderia ser causada caso esses resíduos fossem descartados no meio ambiente
(Scapim et al., 2003). Os subprodutos de origem animal são alternativa proteica
interessante na nutrição de suínos e aves. Entretanto, as farinhas de origem
animal (FOA) possuem restrições quanto ao seu uso em razão da sua
questionável qualidade sanitária e variabilidade na composição nutricional.
Ambas as dificuldades estão associadas ao controle e ao processamento das
matérias-primas (Albino e Silva, 1996).

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2. PRINCIPAIS FARINHA DE ORIGEM ANIMAL UTILIZADAS

De acordo com Compêndio (1998), as farinhas de origem animal mais utilizadas


na alimentação de aves e suínos são definidas da seguinte forma:

2.1 Farinha de Carne e ossos

A FCO produzida em graxarias e frigoríficos é composta a partir de ossos


e tecidos obtidos após a desossa completa da carcaça e limpeza decorrentes
das operações nas diversas seções; ligamentos, mucosas, fetos e placentas,
orelhas e pontas de cauda, órgãos não comestíveis ou órgãos e carnes
rejeitadas pela Inspeção; em seguida esses resíduos são moídos, cozidos,
prensados para extração de gordura e novamente triturados (MATIAS, 2012).
A FCO é o subproduto de abatedouros mais utilizado na nutrição animal,
sendo uma importante fonte de cálcio, fósforo e proteína (VIEITES et al., 1999),
sendo também o ingrediente mais utilizado nas dietas para frangos de corte ou
poedeiras comerciais, para redução dos custos nas formulações (FARIA et al.,
2002).
Porém, a avaliação desses alimentos faz-se necessária, pois a composição
química é variável devido às etapas de processamento, bem como há constante
mudança nas características dos animais devido ao melhoramento genético, o
que consequentemente altera a eficiência destes em aproveitar os alimentos.
A principal finalidade de incluir a FCO na formulação de rações é fornecer
fósforo e reduzir a inclusão do fosfato bicálcico, considerado uma fonte de custo
elevado (NUNES et al., 2005; PERAI et al., 2010; EYING et al., 2011). A FCO
deve conter no mínimo 40% de proteína, no máximo 10% de umidade e no
máximo 10% de gordura.
Durante o processamento da FCO é proibida a mistura de pelos, cerdas,
cascos, chifres, sangue, fezes e conteúdo estomacal (BRASIL, 1962). Para a
obtenção da FCOB, os resíduos animais devem ser triturados de modo que não
excedam 5 cm em qualquer uma de suas faces. Após a trituração esses são
aquecidos até uma temperatura não inferior a 133ºC, durante pelo menos 20
minutos, a uma pressão de 3 bar, sendo posteriormente submetidos ao processo
de moagem (COMPÊNDIO, 1998).

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A viabilidade de incorporação da FCO em dietas para frangos de corte
depende em grande parte do valor de energia metabolizável (EM) desse
ingrediente. Vários autores (Lessire et al., 1985; Martosiswoyo & Jensen, 1988a;
Jensen, 1991; Dale, 1997; 1998) consideram que os valores de EM da FCO
estão normalmente subestimados quando obtidos com metodologias nas quais
o nível de inclusão de FCO na dieta-referência varia de 40 a 50%, possivelmente
porque os elevados níveis dietários de cálcio e fósforo proporcionados pela alta
inclusão da FCO comprometem a utilização dos demais nutrientes. Assim,
Azevedo (1997) indica que o nível mais adequado de inclusão da FCO na dieta
referência é de 20% para a determinação dos valores de energia.

2.2 Farinha de peixes

É o produto seco e triturado, obtido de peixes inteiros ou de pedaços de


peixes, dos quais foi extraída ou não parcela de óleo. Se o teor de sal for superior
a 3%, esta qualidade deve constar no rótulo da embalagem, em nenhum caso é
permitido um teor de sal superior a 7%. O teor de proteínas sempre é elevado e
as quantidades de metionina e triptofano são particularmente significativas.
Ademais, os índices de vitamina B12 são apreciáveis, bem como possuem
fatores não identificados de crescimento. Apresenta acima de 58% de PB na
matéria seca, é rica em cálcio e fósforo e é bem balanceada em aminoácidos. É
recomendado de 2 a 5% da ração, podendo transmitir cheiro de peixe para carne
e ovos (COMPÊNDIO, 1998).

2.3 Farinha de penas Hidrolisadas

Produto resultante da cocção, sob pressão, de penas limpas e não


decompostas, obtidas no abate de aves, sendo permitida a participação de
sangue desde que a sua inclusão não altere significativamente a composição da
FPH, uma vez que a inclusão caracterizaria outro tipo de farinha, farinha de
penas e sangue (COMPÊNDIO, 1998).

2.4 Farinha de vísceras

É o produto resultante da cocção, prensagem e moagem de vísceras de


aves, sendo permitida a inclusão de cabeças e pés. Não deve conter penas,

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exceto aquelas que podem ocorrer não intencionalmente, e nem resíduos de
incubatórios e de outras matérias estranhas à sua composição. Não deve
apresentar contaminação com casca de ovo. De acordo com a Farmland (2001),
na FV permite-se a inclusão de todas a partes resultantes do abate, inclusive
ovos não desenvolvidos, mas não é permitida a inclusão de penas, cuja inclusão
caracteriza adulteração. A proteína varia de 55 a 65 % e sua cor é dourada a
marrom, com densidade de 545 a 593 kg/m3.

2.5 Farinha de sangue

Bellaver (2001), relata que a farinha de sangue é constituída basicamente


da cocção e desidratação do sangue coletado sobretudo em abatedouros de
bovinos e suínos. O processo de fabricação para a obtenção das farinhas de
sangue consegue a coagulação da seroalbumina através de um aquecimento
lento. Do ponto de vista do teor de aminoácidos, trata-se de uma farinha rica em
lisina, triptofano, fenilalanina e treonina, sendo limitada em isoleucina.
Trata-se de um subproduto animal mais rico em proteína bruta (91% na
matéria seca), mas é de baixa qualidade, por ser deficiente em aminoácidos
essenciais, como é o caso da isoleucina. A farinha de sangue é pobre em
vitaminas, apresenta baixa palatabilidade para todas as espécies e escurece a
ração. Recomenda-se para aves e suínos jovens de 1 a 2% da ração, para
poedeiras de 6 a 7%, e para suínos em crescimento de 5 a 8% (COMPÊNDIO,
1998).
De acordo com Rostagno (2011), a inclusão de farinha de sangue em dietas
de suínos nas fases de crescimento e terminação varia de 3 a 6%, podendo ser
ainda utilizada na fase final de creche (50 a 70 dias) e na lactação com menores
inclusões (2 a 4%). Para frangos de corte, nas fases de crescimento e final, a
inclusão deve restringir-se a 2 a 3%. Em aves, reduz o crescimento e o
empenamento é deficiente. Muitas vezes, a inclusão desse subproduto na
formulação de aves e suínos como fonte alternativa de proteína dependerá
principalmente do preço desse ingrediente com relação ao farelo de soja.
De acordo com Rostagno (2011), A farinha de sangue é um alimento com
alto teor de proteína bruta. Quando bem processada, possui teores elevados de
aminoácidos que o torna um ingrediente de grande utilidade para a nutrição

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animal. Por outro lado, é pobre em outros aminoácidos essenciais, devendo o
equilíbrio nutricional ser considerado quando utilizado em níveis elevados nas
rações. É sempre conveniente ressaltar que o uso de ingredientes de origem
animal é proibido para a alimentação de ruminantes, de acordo com a
determinação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.
A principal forma de processamento da farinha de sangue consiste no
tratamento térmico visando à redução da umidade. As razões primárias do uso
do calor para o processamento deste material estão na remoção da umidade e
facilitação da separação de resíduos gordurosos. A dessecação reduz
significativamente o volume total de material beneficiado, possibilitando, desde
que armazenado corretamente, sua estabilização por longos períodos. A
elevação da temperatura pode reduzir a disponibilidade de aminoácido
(COMPÊNDIO, 1998).

3. LIMITAÇÕES DAS FOA PARA USO EM RAÇÕES

É necessário que os subprodutos utilizados como alimentos alternativos,


sejam usados de forma criteriosa, estabelecendo-se nível máximo de inclusão
na dieta, sem causar danos ao desempenho das aves (Santos et al., 2006) e ao
rendimento das carcaças (Bellaver et al., 2001). Alguns trabalhos estabelecem
níveis máximos de inclusão de FOA na dieta de aves.
Bellaver et al. (2001), ao realizarem experimento com frangos de corte para
compararem formulações de dietas com o uso de farinha de vísceras em
substituição ao farelo de soja, concluíram que a formulação com a inclusão de
20 % de FV na fase inicial e 25 % na fase de crescimento de frangos de corte,
melhorou o desempenho até os 21 dias e não alterou o desempenho até os 42
dias. Faria Filho et al. (2002), ao avaliarem a utilização de farinha de carne e
ossos (3% e 6%) sobre o desempenho e rendimento de carcaça de frangos de
corte, observaram que com a inclusão de 6% houve prejuízo no desempenho
das aves entre 0 e 21 dias e de 21 e 49 dias de idade comparada à inclusão de
3%.
Em geral, Scheuermann et al., (2007) diz que o nível de inclusão da FCO é
limitada pelos níveis de macrominerais, pois se trata de ingrediente rico em cálcio
e fósforo. As FCO podem ser utilizadas em níveis nos quais o teor em cálcio das
mesmas funciona como limitante, isto é, alcance o teor indicado na ração para a

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fase e espécie em questão. Segundo Holanda (2009), a farinha de penas
hidrolisadas pode ser utilizada nas dietas de frangos de corte fêmeas em até 8%,
sem causar prejuízo do ganho de peso. Convém salientar as limitações no uso
de farinha de penas e farinha de sangue, em função da baixa qualidade de suas
proteínas e à limitada digestibilidade desses produtos (Scheuermann et al.,
2007).
De acordo com Compêndio (1998), o conhecimento da origem do material
a ser processado é essencial para indicar a qualidade e, se desconhecido, pode
ser um problema. Embora os custos e as facilidades para analisar cada partida
do ingrediente tornem a rotina de análise difícil de ser implementada, é preciso
ter em mente que a qualidade das FOA é perceptível a partir da: a) contaminação
bacteriana (Salmonelas, Coli), b) peroxidação das gorduras, c) presença de
poliaminas, d) possibilidade da presença de príons causadores de
encefalopatias espongiformes, e) composição química f) digestibilidade dos
aminoácidos e da energia.

3.1 Contaminação por Salmonela

As temperaturas de processamento em que a farinha de carne e ossos são


submetidas eliminam grande parte da contaminação bacteriana. No entanto, a
contaminação por microrganismos posterior à saída dos digestores é inevitável
face à manipulação, transporte e estocagem. Para reduzir esse risco de
contaminação as graxarias adicionam substâncias a base de formaldeído
(impedem o crescimento bacteriano), porém esse procedimento pode em
hipótese, reduzir a digestibilidade dos aminoácidos e da energia das farinhas
(BELLAVER, 2001).

3.2 Peroxidação de Gorduras

As farinhas de origem animal são ricas em gorduras, por conseguinte têm


facilidade em se auto oxidarem pelo início da formação de radicais livres. A
oxidação é um processo auto catalítico e uma vez iniciada se desenvolve em
aceleração crescente. Fatores como a temperatura, presença de enzimas, luz, e
íons metálicos podem influenciar a formação de radicais livres, e para impedir
essa formação de radiais livres é necessário um manejo adequado de produção

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e armazenamento. Substâncias antioxidantes naturais e sintéticas podem ser
incorporadas para diminuir a auto oxidação dos ácidos graxos na farinha
(BELLAVER, 2001

3.3 Poliaminas (Aminas Biogênicas)

As proteínas animais decompõem-se facilmente para substâncias


conhecidas como aminas biogênicas (AB). O resíduo dessas aminas biogênicas
pode indicar a decomposição da amostra (KHAJAREN,1998).
Bellaver (2010), diz que as poliaminas (putrescina, espermidina e
espermina) estão presentes em diferentes concentrações nos alimentos vegetais
e animais e parecem ser a fonte principal de poliaminas para o homem e animais.
A absorção das poliaminas no intestino é dependente das enzimas catabólicas
presentes no tecido intestinal e têm sido apontadas como substâncias que
causam toxicose quando ingeridas em níveis tóxicos para os animais.
De acordo com a literatura, fica claro que o efeito depressivo no
crescimento dos animais devido à presença de aminas biogênicas é
dependentes do peso molecular, da carga catiônica bem como, das
concentrações de aminas biogênicas existentes na dieta (BELLAVER, 2010).

3.4 Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB)

A EEB é uma enfermidade do grupo das encefalopatias espongiformes


transmissíveis e conhecida também como doença da vaca louca, uma doença
degenerativa fatal e transmissível do sistema nervoso central de bovinos, com
longo período de incubação, caracterizada clinicamente por nervosismo, reação
exagerada a estímulos externos e dificuldade de locomoção (BRASIL, 2008).

3.5 Digestibilidade dos aminoácidos e da energia

Existem muitas fontes de consulta sobre a composição das farinhas


animais não sendo intenção citá-las, embora exista diversidade de informações,
há também necessidade de contínua melhoria das estimativas com
aprimoramento dos métodos de determinação da digestibilidade nas espécies.
As modernas formulações de rações, que levam em consideração o conceito de

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proteína ideal, pressupõem para a adequada relação entre os aminoácidos e o
conhecimento dos valores de aminoácidos digestíveis.
A digestibilidade da energia e dos aminoácidos pode não seguir uma
mesma tendência de digestão e por isso é importante conhecer os valores
estimados separadamente, mas para as mesmas amostras. Dentro da
composição nutricional das farinhas é importante ter em mente a ordem de
limitação dos aminoácidos o que irá auxiliar na formulação das dietas. A
variabilidade existente pode ser devida a vários efeitos entre os quais, o tamanho
das partículas, os níveis de substituição na ração referência, as metodologias
para estimar a digestibilidade-biodisponibilidade, a origem e composição das
farinhas e ao processamento (BELLAVER, 2010).
Diversos fatores podem afetar os valores de energia metabolizável dos
alimentos, entre eles o tipo de processamento, a idade das aves e os níveis de
inclusão do ingrediente na dieta (VIEITES, 1999). Por desconhecimento ou por
decorrência de problemas no sistema de extração de gordura, é comum no
processamento que a temperatura se eleve muito (acima de 120ºC) por tempo
desnecessariamente longo, alterando a qualidade do produto e, reduzindo a
digestibilidade de aminoácidos (BUTOLO, 2002). A exatidão e a precisão na
estimativa dos valores de energia metabolizável são essenciais para maximizar
o desempenho das aves e proporcionar melhor ganho de peso e eficiência
alimentar (DALE, 1992).

4. PROCESSAMENTO DAS FARINHAS DE ORIGEM ANIMAL

O processamento das FOA, em geral, consiste em retirar dos excessos de


água, picar e/ou triturar os resíduos não comestíveis de matança, cocção com
ou sem pressão em digestores, por tempo variável. A gordura deve ser drenada,
prensada ou centrifugada e o resíduo sólido moído na forma de farinha com
especificações de granulometria variáveis (Bellaver et al., 2005)

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5. LEGISLAÇÃO

A legislação brasileira não impõe barreiras que dificultem ou proíbam a


utilização das farinhas de origem animal para o uso na avicultura e suinos, porém
os abatedouros têm que se adequar às normas de produção e inspeção
higiênico-sanitárias impostas pela legislação em vigor (Holanda, 2009). No
entanto, apesar de não haver nenhum registro de encefalite espongiforme bovina
(BSE) no Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)
seguiu as mesmas resoluções tomadas em outros países e criou Instruções
Normativas que instituíram regras de prevenção do BSE.
Visando a evitar riscos quanto à BSE, desde 2004, foi proibida no Brasil a
utilização de farinhas de origem animal ou de cama de aviário em rações de
ruminantes, conforme a IN n°8 de 25 de março de 2004, onde consta: “Art. 1°
Proibir em todo o território nacional a produção, a comercialização e a utilização
de produtos destinados à alimentação de ruminantes que contenham em sua
composição proteínas e gorduras de origem animal”. “Parágrafo único: Incluem-
se nesta proibição a cama de aviário, os resíduos de criação de suínos, como
também qualquer produto que contenha proteínas e gorduras de origem animal”
(Brasil, 2004).
A utilização de FOA é permitida em rações para monogástricos, porém
alguns países importadores de carne de frango exigem que a ração fornecida
para esses animais contenha somente ingredientes de origem vegetal (Bellaver
et.al., 2005). No entanto, a não utilização de FOA eleva o custo da dieta e
consequentemente o preço do produto final (Scheuermann et al., 2007).
Segundo Dale (2002), não há motivos para a suspensão do uso de subprodutos
de origem animal para ave e suinos, pois no continente americano não se tem
conhecimento da ocorrência de BSE, tendo em vista que esta síndrome também
nunca foi observada nesses animais.
A Instrução Normativa n° 34 de maio de 2008 é a mais recente com relação
aos procedimentos básicos para fabricação de farinhas destinadas à
alimentação animal. São definidas nessa normativa as condições higiênico
sanitárias do local, construções e equipamentos. Alguns pontos importantes
considerados são o tratamento térmico, visando a esterilização (utilizar vapor
saturado direto, em temperatura não inferior a 133ºC durante 20 minutos no

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mínimo e pressão), programa de boas práticas de fabricação (BPF),
procedimentos padrão de higiene operacional e pré-operacional (PPHO), e
programa de análise de perigos e pontos críticos de controle (HACCP ou
APPCC) (BRASIL, 2008).
No entanto, apesar das normas de produção e inspeção higiênico
sanitárias, tornou-se necessária a instalação de programas efetivos de
fiscalização e controle de resíduos, regulamentados pela da lei 6.198 de 26 de
dezembro de 1974 e o subsequente decreto 76.986 de 06 de janeiro de 1976,
nos quais são definidas normas de inspeção e fiscalização de produtos
destinados à alimentação animal (Holanda, 2009). Tais procedimentos foram
implantados em razão da dificuldade de padronização em função do processo
produtivo e da origem dos resíduos que compõem as FOA (Bellaver, 2005).

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Farinhas de origem animal, obtidas com qualidade podem ser interessante


alternativa para formulação de rações de monogástricos resultando em redução
de custos, além de contribuir na redução da poluição ambiental.
As variações encontradas na composição dos subprodutos de origem
animal dificultam sua utilização, em razão da falta de padrões para o
processamento, produzindo farinhas de qualidade duvidosa e com altas taxas de
contaminações, colocando em risco a produção animal.
Dessa forma, torna-se indispensável implementar rígido programa de
controle de qualidade das matérias primas por meio da aplicação de programas
de análise de perigos e controle de pontos críticos e/ou de boas práticas de
fabricação.

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7. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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