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RESPONSABILIDADES LEGAIS E ÉTICAS DO ENGENHEIRO CIVIL

NAS ETAPAS DO PROCESSO CONSTRUTIVO

Letícia Vasconcelos Carneiro 1


Dra. Siumara Rodrigues Alcântara 2

RESUMO
A ampla concorrência no mercado da construção civil, assim como os conceitos equivocados do capitalismo,
segundo os quais “vencem os mais espertos”, faz com que os profissionais envolvidos nesta área deixem,
frequentemente, de respeitar as responsabilidades legais e éticas que a sua função denota. Este fator se acentua
na atuação do engenheiro civil que detém uma imensa gama de perspectivas de serviços dentro do setor. Pessoas
que, por ignorância ou ganância, desconsideram que as edificações projetadas abrigarão seres humanos, os quais
não poderão, em hipótese alguma, estarem correndo risco de vida. Ciente disto, o texto que segue apresenta uma
breve organização acerca das principais leis e normas, além do código de ética que norteia a postura que deve ser
adotada por um profissional da área de projetos e acompanhamento de obras em Engenharia Civil. Diante do
expresso, a presente pesquisa se baseia em uma revisão bibliográfica, com o objetivo geral de discutir as
principais responsabilidades do engenheiro civil, especificando-se em referenciar brevemente as etapas de um
processo construtivo dentro da Engenharia Civil; elencar as responsabilidades do engenheiro civil dentro das
mesmas; promover uma aproximação dos conceitos legislativos e éticos orientados pela Engenharia Legal e pela
Engenharia de Avaliação; e, por fim, enfatizar as responsabilidades objetivas e subjetivas do engenheiro civil.
Palavras-chave: Código de ética. Engenharia Legal. Código de Proteção e Defesa do Consumidor.

ABSTRACT
The wide competition in the civil construction market, as well as and the misconceptions of capitalism,
according to which “the clever ones win”, have caused that professionals involved in this area do not respect, in
a frequent way, the legal and ethical responsibilities which their function implies. This factor is accentuated in
the performance of the civil engineer who holds a huge range of service perspectives in the sector. People who,
for reasons of ignorance or greed, disregard that the projected buildings will shelter human beings who may not
be at risk of life at all. Aware of this, the following text presents a brief organization about the main laws,
besides the Ethical Code which guides the expected posture the professionals with specialization in the area of
projects area and in accompaniment of works in the Civil Engineering. Considering this, the research is based on
a bibliographical review and has as a general objective to discuss the main responsibilities of the civil engineer,
specifying briefly the steps of a constructive process in Civil Engineering; listing the responsibilities of the civil
engineer; promoting an approximation of the legislative and ethical concepts guided by Legal Engineering and
Evaluation Engineering; and finally emphasize the objective and subjective responsibilities of the civil engineer.
Keywords: Ethical Code. Legal Engineering. Code of Consumer Defense and Protection.

1. INTRODUÇÃO

O projeto disposto a seguir tem como tema a responsabilidade legal do engenheiro


dentro da construção civil, pautando-se em questões éticas e civis dentro do processo
construtivo junto à referida profissão, encerrando-se no papel social do engenheiro civil.

1
Graduanda em Engenharia Civil, pela Faculdade Estácio de Sá – UNESA,
leticiavasconceloscarneiro@gmail.com.
2
Doutora em Engenharia de Processos, professora orientadora pela Faculdade Estácio de Sá – FAESO,
siumaraalcantara@yahoo.com.br.
1
A escolha do tema se justifica no tamanho da responsabilidade do engenheiro civil ao
projetar uma edificação e ao optar por materiais, métodos construtivos, acompanhamento da
obra entre outros fatores, considerando que tal edificação abrigará seres humanos, os quais
não poderão, em hipótese alguma, estarem correndo risco de vida por escolhas erradas dos
profissionais envolvidos no decorrer da construção.
De modo geral, é exigido do engenheiro civil habilidades que condizem com os riscos
e com as inferências da profissão. Os preceitos de competência e de discernimento têm grande
valor dentro deste contexto. Antecipando que, nem tudo aquilo que não está previsto em lei é
tolerado. Para tanto, são disseminados códigos de conduta ética, além de ser muito prudente o
uso constante do bom senso (DUTRA, 2001).
Diante disto, torna-se contundente apreciar a legislação que implica na
responsabilidade do engenheiro civil, bem como a análise do código de ética da profissão,
com o intuito de organizar um material que possa reduzir as dúvidas quanto à postura que
deve ser adotada por um profissional da área de projetos e acompanhamento de obras em
Engenharia Civil, precedendo que não haja imprevistos legais e/ou sociais que possam
manchar a carreira deste profissional, e também não acarrete em vítimas no decorrer do
serviço ou depois da edificação concluída.
Questiona-se, neste meio, quais são os documentos que orientam ou normatizam a
postura do engenheiro civil. Antecipando que existe uma gama de orientações que devem ser
analisadas por este profissional, baseando-se nas ponderações expressas por órgãos
pertinentes, a exemplo do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia).
A fim de comprovar a afirmativa acima, foi aplicada como metodologia de pesquisa
uma revisão bibliográfica, a qual proporcionou uma aproximação mais usual das normativas
que se referem à conduta do engenheiro civil, mencionando artigos de periódicos de cunho
científico, livros, trabalhos acadêmicos pertinentes ao tema, ora relacionados apenas com a
Engenharia Civil, ora aproximando os termos desta com os preceitos da Engenharia Legal e
da Engenharia de Avaliação, as quais amparam a primeira.
Tudo, sem a pretensão de esgotar o assunto ou abordar todas as legislações vigentes
que se referem ao tema, já que a pesquisa baseou-se nos referenciais mais acessíveis, o que
implicou numa compilação de informações que pode ser útil tanto aos estudantes de
Engenharia Civil, quanto aos profissionais já atuantes na área.
Diante das pretensões do artigo, foi colocado como objetivo geral desta pesquisa
discutir as principais responsabilidades do engenheiro civil no decorrer do planejamento de

2
uma construção, no canteiro de obras, e associar as mesmas às garantias que o profissional
deve responder mesmo depois do projeto encerrado. Já os objetivos específicos localizam-se
em referenciar brevemente as etapas de um processo construtivo dentro da Engenharia Civil;
elencar as responsabilidades do engenheiro civil dentro das mesmas; e promover uma
aproximação dos conceitos legislativos e éticos orientados pela Engenharia Legal às
responsabilidades do engenheiro civil.

2. ÉTICA E PROFISSIONALISMO

A responsabilidade do engenheiro civil já é grande pelo fato de delegar funções a


segundas pessoas, as quais executarão o serviço sob a vigilância daquele. Neste âmbito, é
imprescindível considerar que o termo responsabilidade infere preceitos de ressarcimento, ou
seja, responder por dada situação. O engenheiro civil, portanto, responde pela sua ação e pela
ação de seus subordinados (PELACANI, 2010).
O engenheiro civil é o profissional que usa da criatividade e da sua capacidade técnica
para resolver problemas, sempre focando em preceitos científicos, nos mais diversos ramos
que se dividem a construção civil, tais como “[...] a elaboração de estudo, projeto,
planejamento, direção, fiscalização e construção de edifícios, estradas, obras, trabalhos
topográficos e geodésicos” (FERNANDES, 2018, p. 3).
Trata-se da junção de uma série de competências que levarão à entrega. Entende-se
por entrega a disponibilidade de colocar sua capacidade a ser serviço de outro, assim como
faz constantemente o engenheiro civil, com foco em resultados práticos. No entanto, é
imprescindível apreciar que, para chegar a tais resultados, existe uma gama de processos a
serem cumpridos e/ou geridos por este profissional (DUTRA, 2001; CZEKSTER; COSTA,
2015).
Com base na afirmativa acima, o engenheiro civil tem como atribuições cumprir
prazos e medidas de segurança, liderar equipes, analisar as melhores aplicações financeiras,
além de garantir um determinado padrão de qualidade. E, além disso, a Lei nº 5.194, em seu
Artigo 7º, determina as atribuições deste profissional, juntamente com os arquitetos e
engenheiros agrônomos, predispondo que cabe aos referidos (BRASIL, 1966):
 ocupar cargos em comissões governamentais, órgãos regulamentadores de ordem
sindical ou privada;

3
 planejar e projetar espaços urbanos, obras estruturais, áreas de transporte e de
exploração natural ou agrícola;
 realizar atividades de fiscalização, direção e avaliação em vistorias ou perícias,
podendo emitir parecer ou relatório técnico;
 realizar atividades de fiscalização, direção e execução de construções;
 atuar na área acadêmica;
 promover experimentos e ensaios;
 produzir técnicas ou materiais especializados nos setores pertinentes à sua
formação.
Ou seja, as atribuições do engenheiro civil estão presentes em inúmeras fases do
processo de planejamento e execução de uma obra. Afirmativa que eleva as responsabilidades
deste profissional, exigindo que ele esteja subsidiado por órgãos referentes à sua área, bem
como por documentações pertinentes (FERNANDES, 2018).
Na mesma linha de pensamento, todo profissional está limitado a um código de ética.
No caso do engenheiro civil, a profissão responde ao CONFEA (Conselho Federal de
Engenharia e Agronomia), que é o órgão responsável por normatizar o Código de Ética
Profissional das Engenharias, através da Lei nº 5.194. Neste documento, são efetivados
termos quanto à segurança e proteção dos valores da profissão, mas também são enfatizados
termos como sustentabilidade, qualidade de vida e conduta profissional (BRASIL, 1966;
CONFEA, 2014).
Tida como a primeira das engenharias, a Engenharia Civil atualmente é muito extensa
e pode atuar em diversos segmentos da construção, envolvendo segurança, perícia, medições
entre outras atividades como foi mencionado anteriormente. Isto porque o engenheiro civil
tem autonomia para dimensionar estruturas, atuar em especificações hidráulicas e de gás,
ensaios de resistência dos materiais, organizar cronogramas de obra, projetar, acompanhar,
fiscalizar e executar projetos de construção civil nas mais diversas áreas (pontes, residências,
viadutos, estradas, saneamento entre outros), movimentações e análise de solos, gestão de
pessoas e tantos outros exemplos. Trata-se de uma área veramente ampla, que demanda alto
conhecimento e responsabilidade de quem nela atua (BAZZO; PEREIRA, 2006).
De acordo com o CREA3 (2019), a principal premissa da conduta do engenheiro civil
é o ressarcimento por danos4 que venham a ser causados pelo descuido de sua atividade

3
Conselho Regional de Engenharia e Agronomia.
4
Entende-se por dano a redução ou devastação de bens que pertencem a terceiros (FERNANDES, 2018).
4
profissional. Isto porque é previsto no Código Civil, Artigo 186, que “aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito” (BRASIL, 2002), e, portanto, deverá responder
por ele.
Sendo assim, é coerente elencar as responsabilidades civis do engenheiro, conforme
estão dispostas no Quadro 1 de maneira sucinta, dando margem para outros comentários.

Quadro 1 – Responsabilidade civil do engenheiro


RESPONSABILIDADE DESCRIÇÃO
Fica à cargo do engenheiro organizar e comunicar acerca do
contrato de serviço, onde devem ser esclarecidas às partes o que
Contratual
cabe ao contratante e ao contratado, determinando desde o
trabalho até obrigações e direito dos envolvidos.
Em caso de ato ilícito, que contrarie a legislação vigente.
Extracontratual Acontece que mesmo que sejam previstas em contrato, as
legislações nacionais pertinentes devem ser respeitadas.
A garantia da obra, determinada pelo Código Civil Brasileiro, é de
Solidez e segurança da
cinco anos, por isso, o registro correto e oficial das datas de início
construção
e, especialmente, de finalização da obra são fundamentais.
A escolha dos materiais a serem aplicados numa construção é de
responsabilidade plena do engenheiro civil, o qual deve respeitar
o memorial descritivo feito previamente por ele mesmo ou por
outro profissional, devendo rejeitar os materiais que não cumpram
Pelos materiais as especificações de segurança e resistência necessárias ao
imóvel. Considerando tais implicações, é coerente os materiais
sejam devidamente definidos no chamado “Memorial Descritivo”,
compreendendo todo o detalhamento do produto variando entre a
marca, aplicação, critérios de segurança entre outras informações.
Em caso de danos às edificações vizinhas em virtude de serviços
desempenhados no canteiro de obras, é de responsabilidade do
engenheiro o reparo e/ou ressarcimento aos incidentes.
Lembrando que também devem ser previstos critérios de
Por danos a terceiros
segurança, tranquilidade máxima e preservação da saúde dos
terceiros no em torno da obra. Em caso de danos, o proprietário da
empreitada responde junto com o engenheiro, bem como qualquer
outra pessoa envolvida nas orientações e fiscalizações da obra.
Fonte: BRASIL, 1990; PELACANI, 2010; CREA, 2019.

Nota-se que as responsabilidades elencadas no Quadro 1 prezam pela integridade dos


usuários da edificação, assim como pelas pessoas que estejam submetidas aos infortúnios da
obra. Um modo de facilitar o controle destas premissas é ter em mente que cada parte
envolvida com a obra tem sua parcela de responsabilidade e que é imprescindível trabalhar da
forma mais eficaz e menos agressiva ao meio.
5
Existem supostos estágios de responsabilidade dentro da construção civil, classificados
em responsabilidade objetiva e subjetiva, descrevendo que (BRASIL, 1990; PELACANI,
2010; FREITAS, 2017; FERNANDES, 2018):
 Responsabilidade objetiva – acontece quando não há uma existência de culpa,
basta apenas que haja relação entre movimentação das atividades desenvolvidas com os danos
causados, mediante o Código de Defesa do Consumidor. Em linhas gerais, são incidentes
involuntários, fora do trato do engenheiro, mas que foram ocasionados pela presença da obra.
 Responsabilidade subjetiva – exige que seja determinado um culpado para o
prejuízo, sendo assim, os danos deverão ser relacionados com as atitudes do engenheiro civil
para que este seja apontado como responsável culposo ou doloso.
Deve-se enfatizar que, nas duas situações, o engenheiro civil, juntamente com a
construtora ou empreiteiro, arcará com indenizações, visto que caberá, numa infelicidade, em
algum tipo de ação de ordem de negligência ou de omissão por parte dos construtores
(OLIVEIRA, 2016).
Ciente de tais responsabilidades, o engenheiro civil ainda estará limitado ao Código de
Defesa e Proteção ao Consumidor, sendo este uma legislação que ampara a sociedade de
modo geral, considerando que tal documento visa a integridade física e psíquica do
consumidor naquilo que diz respeito ao relacionamento entre ele o fornecedor de produtos ou
serviços. Trata-se da proteção pessoal, do zelo pela vida e pelo meio ambiente, deixando claro
os meios de viabilização da referida proteção. São condicionais que exigem uma postura
consciente por parte dos profissionais de diversas áreas, dentre as quais o engenheiro civil está
incluso (CREA, 2019).
Grosso modo, o engenheiro civil, de acordo com o CREA (2019), atua sob as
responsabilidades administrativa, civil, ética, objetiva, penal ou criminal, técnica e trabalhista,
as quais, apesar de corresponderem a esferas diversificadas, como mostra o Quadro 2, são
equiparadas no mesmo patamar de conduta profissional ao qual o engenheiro deve ser
fiscalizado.

Quadro 2 – Esferas de responsabilidade do engenheiro civil, segundo o CREA


ESFERA DESCRIÇÃO
São as imposições de órgãos públicos, como Plano Diretor e Normas
Administrativa Técnicas entre outros tantos. Em geral, o não cumprimento de normas
deste gênero leva à suspensão do exercício profissional.

6
ESFERA DESCRIÇÃO
Cabe aqui as indenizações, em caso de danos ao patrimônio, a
terceiros ou danos morais, já que a responsabilidade civil só é
Civil
cobrada do profissional quanto atestadas falhas técnicas. A
subdivisão deste tópico está disposta no Quadro 3.
Diz respeito à conduta moral do engenheiro, a qual é delimitada
pelo Código Ética Profissional (Resolução nº 1002/02). Existem
Ética
penalidades diversas ao profissional que descumprir as
disposições deste código.
Baseada nos Artigos 12 e 14 do Código de Defesa do
Consumidor, esta responsabilidade estabelece parâmetros de
Objetiva
relação entre o contratando e contratado, sob os preceitos da Lei
nº 8.078/90
Refere-se aos acontecimentos tidos como crime proposital ou
acidental, tais como: desabamentos, desmoronamentos, incêndio,
Penal ou criminal
intoxicações de diversas ordens e contaminações. Ou seja, são
ocorrências que caracterizam risco à vida e/ou à propriedade.
Este tópico se aplica aos serviços especializados, cada
Técnica profissional respondendo por aquilo que desenvolveu e/ou
executou5.
Nesta parte, compreende-se que são validadas as leis trabalhistas
Trabalhista em vigor, para estabelecer a relação entre empregados e
empregadores6.
Fonte: CREA, 2019.

Diante do exposto, entende-se que o engenheiro deve analisar as condições disponíveis


para a execução de seus serviços e quais são ações que os mesmos sofrem a curto, médio ou a
longo prazo, afinal, compreende-se que o engenheiro seja um profissional capacitado para
tanto e, em hipótese alguma, poderá colocar os usuários em perigo.
Haverá contestação da responsabilidade do engenheiro caso fique comprovado que a
culpa foi resultado de ações da própria vítima ou em situações de fortuito ou força maior. Até
porque só será apontado um responsável após a ocorrência ser analisada quanto à ação, dano e
nexo causal7 (OLIVEIRA, 2016).
Portanto, cabe aqui um adendo quanto aos danos em legítima defesa. Estes são
analisados como tal pela legislação vigente, isentando o agente de reparar os danos causados
(PELACANI, 2010).

5
A junção de profissionais de áreas diferentes nem sempre exige documentação contratual, como no caso dos
profissionais liberais. No entanto, é prudente resguarda-se através de contrato, a fim de que a responsabilidade
técnica seja garantida e exime outro profissional de possíveis penalidades (CREA/SP, 2019).
6
Cabe ressaltar que esta responsabilidade só recai sobre o engenheiro civil quando este é o contratante como
pessoa física. Em caso de haver uma empresa administrativa contratante, a responsabilidade passa a ser da
administração (CREA, 2019).
7
Trata-se da relação entre a causa e o efeito. Onde tenha havido motivação por ação ou negligência que leve a
danos.
7
Ainda assim, o melhor método é evitar divergências entre a previsão e a execução da
obra, por isso, recomenda-se vistorias prévias aos imóveis em torno da obra, atuando em
técnicas preventivas de danos, contratos bem escritos quanto às responsabilidades do
contratado e do contratante, bem como o uso de equipamentos de segurança dentro do
canteiro de obras (ROMANO, 2003).
Grosso modo, é fundamental que o profissional reconheça a importância das
atividades que desenvolve, e que estas deverão ater-se a termos legais em convergência com
meios práticos que minimizem erros e danos aos proprietários. Para tanto, o engenheiro
deverá ficar atento às normas técnicas e as demais legislações, especialmente, orçamentos,
memoriais descritivos, contratos e à Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), que
recaiam sobre o seu serviço e tratem da garantia e da legalidade da obra. Ressaltando que o
não cumprimento de alguma etapa obrigatória em termos legislativos levará à
responsabilização do engenheiro, o qual será julgado de acordo com as perspectivas do
Código de Defesa e Proteção ao Consumidor (CREA, 2019).
Frente a tanto, cabe apreciar tanto os termos éticos como os termos de obrigação e
dever8 que denotam nas funções do engenheiro civil perante a sociedade, concernindo que,
dentro da responsabilidade e ética do engenheiro, é apontada como orientação que o
profissional se mantenha atualizado em questões técnicas, normativas, legislativas e de
responsabilidades. Além disso, é essencial que o profissional só aceite o encargo de serviços
que esteja devidamente habilitado e capacitado para desenvolver. E que, sempre que for
necessário, solicite o apoio de um especialista (IBAPE, 2015).
Compreende-se então que este profissional deverá ter consciência de que o objetivo é
contribuir com a vida de outras pessoas, cooperando para com o progresso nas mais variáveis
vertentes do termo. Sendo assim, práticas que possam prejudicar companheiros de profissão
e/ou clientes devem ser absolutamente evitadas (FERRARI NETO et al, 2007).
Acrescenta-se a tais inferências que, antes de começar a execução, o engenheiro civil
deverá considerar a viabilidade do projeto e a importância do mesmo. Observar a região onde
o mesmo será instalado, a fim de manter uma proporção perante às demais edificações no
entorno; verificar os meios mais econômicos da construção no terreno, evitando
movimentações de terra; compreender os anseios do proprietário, bem como a condição
financeira do mesmo (MEDEIROS, 2018).
8
Existe uma diferença de tempo entre a obrigação e o dever. A primeira deve ser cumprida ao longo do período
de execução de um serviço, enquanto o segundo remete a consequências por danos. Ou seja, no caso de não
cumprir com as obrigações pertinentes, possivelmente, acarretará deveres, os quais seriam as penalidades, as
indenizações, a perda do exercício da profissão entre outros fatores (FERNANDES, 2018).
8
Compreende-se, portanto, que as responsabilidades do engenheiro civil resumem-se a
fazer da construção um local agradável e usual ao seu contratante, evitando ações que gerem
dúvidas quanto à sua postura ética e moral frente a todo e qualquer indivíduo que possa ser
direta ou indiretamente afetado pela atividade desenvolvida.

3. ORIENTAÇÕES E NORMAS PARA A ENGENHARIA CIVIL

A interpretação de projetos é um dos fatores que mais resultam em erros de execução.


Acontece que, na maioria das vezes, a pessoa que vai executar a obra não demanda do mesmo
conhecimento técnico de quem projeta. Por isso, ao desenvolver os projetos, é necessário
dispor da maior objetividade possível, fazendo com que as impressões finais sejam de fácil
interpretação. São apontamentos previstos no CONFEA, a fim de que não haja infortúnios
que condenem a postura do engenheiro civil (MEDEIROS, 2018).
Noutro âmbito, o acompanhamento e a devida vistoria são atitudes que também
facilitam a garantia do serviço em execução. Agora, em caso de problemas graves com a obra,
estes termos ganham novas concepções, concebendo que “vistoria pode ser entendida como
inspeção judicial feita por um perito in loco, a partir de uma análise e descrição minuciosa do
imóvel, para caracterizar o bem, sem interesse das causas da vistoria” (MEIDEIROS, 2018, p.
18). Um tipo de análise que nenhum engenheiro civil quer ter que responder.
Considerando tais apontamentos, é eminente observar a ordem de um planejamento, a
qual resume-se a planejamento; elaboração do projeto; preparação para execução; execução e
uso, como mostra o organograma da Figura 1.

Figura 1: Principais etapas de um projeto em Engenharia Civil


Fonte: ROMANO, 2003.
9
A sequência de processos disposta na Figura 1 demonstra etapas que são ampliadas e
devidamente analisadas no decorrer da produção. O imperativo para esta pesquisa é que em
meio às atividades desempenhadas pelo engenheiro civil existem legislações, orientações,
obrigações e a própria ética a serem respeitadas. Todos fatores que demandam conhecimento
e postura no meio construtivo.
Adentrando nas condições de trabalho comparadas às normativas pertinentes, ainda
que existam softwares especializados em projetos para Engenharia Civil, uma das maiores
dificuldades dos profissionais desta área é a compatibilização dos diversos projetos que
compõem uma edificação (arquitetônico, estrutural, elétrico, hidráulico entre outros). Seja por
serem profissionais diversos que atuam num só projeto ou mesmo quando uma só pessoa
desenvolve todas as etapas, ainda existe a premissa de que estes projetos devem ser feitos em
pranchas separadas, o que ocasiona os erros de compatibilização. Sendo este um dos motivos
que levar a erros de execução ou ao descumprimento das normas pertinentes e, até mesmo, à
fatalidades como rupturas, o que pode deixar vítimas (MEDEIROS, 2018).
Outra situação são os danos aos vizinhos, ainda que mínimos, que ocorrem com
frequência por conta de vibrações, recalques, quedas de materiais entre outros fatores. Isto
trata-se da responsabilidade sem culpa, podendo ocasionar à responsabilidade solidária, à qual
o profissional responsável responderá, com indenização, pelos danos causados à vizinhança
(PELACANI, 2010).
Já em caso de colapso de um prédio em construção, o engenheiro civil responde civil,
penal, trabalhista e administrativamente, prevendo em respectivo, reparação de patrimônio,
punição em ordem criminal, indenização aos operários e sanções profissionais. Dada a
gravidade da situação, proprietário, projetista, arquiteto, calculista e outros profissionais
respondem junto com o engenheiro por omissão, negligência ou imprudência. Prova disso,
são os inúmeros processos que chegam ao âmbito judicial por não haver um acordo civil entre
as partes envolvidas. (PELACANI, 2010).
Em linhas gerais, é necessário apreciar que o engenheiro civil ou a construtora
responde por uma série de infortúnios que podem ocorrer no decorrer de uma obra, sem
excluir a responsabilidade dos mesmos nos prazos de garantia que serão melhor abordados no
decorrer deste texto.
O que é possível enfatizar, nesta etapa da pesquisa, é que há necessidade de trabalhar
com hombridade, a fim que não haja lesões morais ou físicas ao usuário do imóvel,
impedindo discussões como a apresentada a seguir.

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3.1 JURISPRUDÊNCIA REAL ENVOLVENDO A ENGENHARIA CIVIL

Dentro dos quesitos dispostos acerca das responsabilidades do engenheiro civil no


decorrer deste artigo, é possível apreciar uma situação real envolvendo os prazos delimitados
como garantia do imóvel após o término da obra (5 anos) e como o mesmo pode ser estendido
de acordo a apresentação formal do reclamante, o chamado prazo prescricional, que pode
chegar a até 10 anos após a primeira reclamação formal (BÔAS; VINCI JÚNIOR, 2015).
Com base nisto, em novembro de 2018, em Maceió, uma residente recebeu o resultado
da jurisprudência que moveu contra o condomínio onde morava e contra a construtora do
mesmo, solicitando reparação moral e material, por se sentir lesada com o despejo de água
provenientes de ares-condicionados e faxinas sobre a sua vaga na garagem do condomínio,
resultado de um projeto mal organizado e executado, o que causou avarias em seu veículo
automotor (TJAL, 2019).
Considerando que, em contato repetitivo com água ou produtos químicos, qualquer
veículo terá avaria na pintura, o juiz que respondia à jurisprudência abdicou de perícia técnica
para comprovar a origem do desgaste da pintura, baseando-se no fato que tal pedido iria
procrastinar uma resolução para o caso.
Outra colocação da reclamante do caso é que o defeito da construção impede a venda
o imóvel, já que ao realizar este ato, ela passaria a responder pelo mesmo junto ao novo
proprietário. Destacando que a reclamante estava amparada pelo já citado Artigo 186, do
Código Civil, em sua solicitação (BRASIL, 2002).
No entanto, o condomínio negou-se a arcar com o prejuízo, recorrendo que a culpa era
somente da construtora. Postura que a juíza que acompanhava o caso julgou coerente,
afirmando que o coletivo (os condôminos) não pode absorver tal prejuízo (TJAL, 2019).
Por outro lado, a moradora sentiu-se ainda mais lesada quando recebeu penalidade do
condomínio por estar estacionando fora da vaga que lhe cabia, buscando amenizar os
prejuízos recorrentes. Situação que foi comprovada como não sendo realidade, já que a
condômina foi notificada, e não penalizada, como afirmara. O que reduz os prejuízos da
mesma tanto âmbito moral quanto material junto ao condomínio. Diante das condições, o
condomínio foi retirado do processo, o qual, antes, era tido como agente passivo junto aos
danos (TJAL, 2019).
A construtora, por sua vez, em defesa, em uma das instâncias do processo, argumentou
que não deveria arcar com os prejuízos elencados nos autos, já que a obra foi entregue em 17

11
de maio de 2010, alegando que o Artigo 206, §3°, do Código Civil, prevê que a manifestação
de descontentamento do proprietário deve acontecer em no máximo três anos após a entrega
do imóvel. O que não aconteceu e portanto, a construtora não é obrigada a responder pelos
defeitos enumerados na referida jurisprudência (TJAL, 2019).
Neste contexto, a construtora buscou fazer uso dos termos da prescrição, quanto não
há manifestação de intenção processual dentro de uma determinado prazo (BÔAS; VINCI
JÚNIOR, 2015).
No entanto, o juiz rebateu, baseando-se no Artigo 618, do Código Civil, que o prazo
de garantia da obra é de 5 anos, respondendo por ela o empreiteiro e/ou a construtora que
executou o projeto, inferindo acerca da “[...] solidez e segurança do trabalho9, assim em razão
dos materiais, como do solo” (BRASIL, 2002), elementos que compõem a estruturação do
imóvel. Ressaltando que tal inferência deixa de ter validade se o indivíduo lesado não se
manifestar contra o empreiteiro no prazo de 180 dias, contados a partir do surgimento do
defeito.
Ressalta-se que, dentro do prazo mencionado acima, pode haver acordo entre as partes
levando à destituição do imóvel ou abatimento no valor do mesmo. Além disso, também cabe
o reparo dos danos construtivos, desde que esteja dentro dos 5 anos de garantia do imóvel.
Perante esta última situação, o Artigo 205, do Código Civil, dispõe de outro prazo para a
aplicação dos devidos reparos, a contar da manifestação da parte lesada. Serão, então, 10 anos
a mais de obrigação da empreiteira junto ao imóvel construído, depois disso, o caso prescreve.
No entanto, neste período, poderão ser avaliadas indenizações, reparos e ressarcimentos de
acordo com o ocorrido (BRASIL, 2002).
As colocações acima servem para provar que o argumento da construtora foi
infundado, já que a reclamante se manifestou em 01 de junho de 2017. Para melhor
compreensão os apontamentos abaixo refletem acerca dos prazos.
 17 de maio de 2010 – entrega do imóvel;
 17 de maio de 2015 – encerramento da garantia;
 01 de junho de 2017 – manifestação da reclamante;
 17 de maio de 2018 – encerramento do prazo de 3 anos, argumentado pela
construtora; e

9
Estes termos não se referem e apenas à ruína do imóvel, antes sim, podem ser relacionados com qualquer
defeito da obra que implique em condições insalubres ou condições que restrinjam o uso do prédio para aquilo
que ele foi destinado.
12
 17 de maio de 2025 – encerramento do prazo de 10 anos acrescidos, segundo o
Código Civil.
O fato é que, de qualquer forma, não há o que discutir quanto aos prazos, pois o
argumento da própria construtora é a favor da proprietária do imóvel.
Após ter confirmado a coerência das datas, a juíza retoma o conceito de segurança e
solidez, esclarecendo que, respectivamente, trata-se de não oferecer riscos às condições físicas
do usuário, e que se refere a um ambiente salubre, habitável e funcional aos moradores.
Esclarecimentos que fundamentam a responsabilidade civil da construtora diante do exposto
(TJAL, 2019).
Sendo assim, ficou definido que a construtora deverá executar um encanamento
coerente com as necessidades do prédio para escoamento da água dos condicionadores de ar e
das varandas, com o prazo de 15 dias para início da obra, caso o prazo seja extrapolado, a
construtora deverá arcar com multa de diária de R$ 200,00, durante 30 dias, após este prazo,
haverá sanções penais; deverá arcar com o polimento da pintura do veículo avariado; e pagará
indenização por dano material, R$ 80,00, acrescidos de 1% ao mês, a contar da citação
(TJAL, 2019).
A exposição desta jurisprudência verídica demonstra como uma revisão simples do
projeto, predispondo recursos explorados e as consequências de fazer ou deixar de fazer
determinadas inserções na obra, pode favorecer ambas as partes envolvidas no projeto da
edificação, evitando transtornos, perda de tempo e dinheiro.
Neste âmbito, ao apreciar as normas que cabem à postura do engenheiro civil, bem
como o caso real narrado acima, é coerente destacar que existem outras determinações que
devem ser observadas no exercício da profissão, como taxas de recolhimento, orientações
específicas para o uso de produtos e execução de serviços, normas recomendadas pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas e Técnicas) entre tantas outras implicações.
Além disso, deve-se observar uma aproximação bastante estreita entre a Engenharia
Civil e o Direito: os termos de prescrição e decadência, os quais são determinantes nos prazos
de reclamação e requerimentos.
Em linhas gerais, entende-se por prescrição o momento em que encerra-se a pretensão.
Ou seja, existem prazos para que o lesado faça uma reclamação formal. Por danos advindos
de uma obra mal executada ou negligenciada, resumidamente, são 5 anos, podendo ser
acrescidos de 10 anos, como como já foi mencionado anteriormente neste texto (BÔAS;
VINCI JÚNIOR, 2015).

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Já ao termo decadência compete o prazo para que seja reclamada uma determinada
situação errônea, a chamada caducidade. Ou seja, quando a pessoa lesada não se manifesta no
prazo estipulado para aquela situação, ocorre decadência, e o lesado perde o direito de
manifestar-se. No entanto, esta possibilidade só é aceita como tal quando atestado
oficialmente por um juiz (BÔAS; VINCI JÚNIOR, 2015).
Reconhecer o sentido de prescrição e decadência pode ser favorável ao engenheiro
civil para evitar transtornos quanto a possíveis reclamações futuras, já que tanto este
profissional quanto o contratante estarão amparados pelo prazo de garantia do imóvel, os
mesmos referidos 5 anos.

4. ENGENHARIAS LEGAL E DE AVALIAÇÃO: CONDUTA PROFISSIONAL

Além de compreender as funções que lhe compete, o engenheiro civil estará vinculado
aos preceitos instituídos pela Engenharia Legal, partindo do pressuposto que esta ampara
legalmente os serviços desempenhados por aquele. Sendo assim, cabe contextualizar que o
termo Engenharia Legal surgiu com o Decreto nº 23.569, em 1937, apresentando às
atribuições do engenheiro civil e regulamentando esta profissão. (OLIVEIRA, 2009). Tendo
como definição: “[...] área de especialização dos profissionais da engenharia e arquitetura que
atuam na interface técnico-legal envolvendo avaliações e toda espécie de perícias visando
solução ou prevenção de litígios” (IBAPE, 2015, p. 5).
Contextualizando, entende-se por Engenharia Legal atividades desempenhadas por um
engenheiro, sob o intuito de resolver problemas de ordem jurídica que exigem conhecimento
na área de engenharia, neste caso, o referido profissional atua como perito, equiparando
direcionamentos jurídicos com o posicionamento de engenheiro (OLIVEIRA, 2009).
Sob os mesmos preceitos, da Engenharia Civil partem ramos específicos de atuação, a
exemplo da Engenharia de Avalição, uma ciência que analisa valores imobiliários,
precedendo que os mesmos possam ser utilizados como referenciais em situações judiciais ou
extrajudiciais. No âmbito judicial, a Engenharia de Avaliação, possivelmente, atue junto à
Engenharia Legal, isto porque a avalição está mais ligada aos termos econômicos, o que não
raramente é levado ao âmbito do Direito, com o intuito de auxiliar juízes e promotores em
processos que envolvem preceitos de avaliação de bens imóveis (FERRARI NETO et al,
2007; OLIVEIRA, 2009).

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Cabe aqui considerar que a Engenharia de Avalição também deve cumprir com
preceitos éticos e legais, já que trabalha muitas vezes com valores tangíveis e intangíveis,
apreciando que auxilia na avaliação de custos, mas também, pode envolver-se em situações de
perdas afetivas, o que exige maior prudência por parte do profissional, já que o mesmo deverá
perceber a diferença entre as palavras preço e valor (FERRARI NETO et al, 2007).
Na mesma esfera, enquanto perito, cabe ao engenheiro manter uma conduta que
colabore com a vida pública e privada, inspirando confiança aos envolvidos no processo,
mantendo a justiça e a verdade ainda que seja contratado para casos de assessoria. Para tanto,
é imperativo que o profissional reconheça as normas e legislações que regem a competência
que lhe cabe, a fim de fomentar suas afirmativas e sua postura ética (FERRARI NETO et al,
2007).
São apontamentos que demonstram a amplitude do termo engenharia e como, muitas
vezes, as diversas áreas podem estar no mesmo patamar dentro de um único serviço a ser
desempenhado.
Tudo isto leva à reflexão que haverá responsabilização quando houver dano, quando
for identificado o agente causador do mesmo e quando for estabelecida uma proximidade
entre a causa e o fato culposo. Ou seja, é necessária uma convergência entre estes três tópicos
para então responsabilizar e cobrar indenizações de alguém (PELACANI, 2010).
O pesar é que o termo responsabilidade, na maioria das vezes, só aparece quanto há
algum infortúnio dentro dos processos de execução ou depois da obra entregue. Por conta
disso, não é raro que esta responsabilidade seja desconhecida pelos profissionais envolvidos
no setor de construção civil (FERNANDES, 2018).
Ter normas, orientações, códigos a serem respeitados faz com que a carga do
engenheiro civil lhe seja constantemente cobrada, especialmente, porque este profissional
carrega consigo uma série de inferências de outras tantas profissões, exigindo-lhe
competências administrativas, de gestão ambiental, de relações interpessoais, de
planejamento, de administração e gestão de recursos materiais entre tantas outras. Assim, as
referidas normativas ajudam a impedir não só cobranças morais ou judiciais, mas também
reações brutais por parte dos lesionados em caso de danos. É de ciência comum que existem
penalizações a quem ofender pessoas ou patrimônios durante a execução de serviços ou no
período de garantia da obra (GONÇALVES, 2012).

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Neste âmbito, convém discutir quanto à influência do engenheiro civil na sociedade
em que atua.

4.1 O PAPEL SOCIAL DO ENGENHEIRO CIVIL

As inúmeras funções profissionais de um engenheiro civil fazem com que sua


responsabilidade social cresça em comparação com profissões mais delimitadas a um
determinado meio. Buscar, gerir e aplicar insumos das áreas mencionadas acima revela mais
um comprometimento da Engenharia Civil: o papel social do engenheiro (CHAVES, 2017).
Ocorre que, a partir da junção da postura do engenheiro civil com as normas,
orientações e conduta que regem os critérios deste profissional, é imperativo refletir que o
engenheiro vende o seu trabalho, visando lucros, como qualquer empreendimento. Todavia,
trata-se de uma profissão que deve atuar na defesa do capital, ou seja, a conduta de um
engenheiro está atrelada ao seu papel social no ambiente onde atua, afinal, é a pessoa
capacitada para gerar economia de tempo, dinheiro e espaço, tudo, sem abandonar a
versatilidade e a inovação (DAGNINO; NOVAES, 2008).
Por outro lado, é necessário apreciar que o engenheiro civil nem sempre terá recebido
uma formação tão ampla, já que o enfoque da graduação é formar um profissional capaz de
desenvolver processos e técnicas que se adequem à construção material de uma sociedade.
Mesmo assim, muitos profissionais compreendem o seu papel social e elegem a Engenharia
Civil como uma alavanca de construção humana. Por isso, muitos profissionais, após o
término da graduação, buscam outras formações que condensem preceitos mais humanitários
do que apenas capitalista (CZEKSTER; COSTA, 2015).
Nota-se, portanto, que um engenheiro civil, quando atua, assume um patamar bastante
relevante na sociedade, a responsabilidade de levar esta à uma espécie de naturalização junto
ao meio onde habita, permitindo que haja desenvolvimento baseado nas ideologias expressas
por aquela comunidade. Trata-se de perceber quem são as personagens envolvidas numa dada
sociedade e elencar critérios que tragam conforto, segurança e sustentabilidade para aquele
espaço, de acordo com as principais características do usuário (DAGNINO; NOVAES, 2008).
Mas também é importante colocar em pauta o processo que leva ao contentamento do
usuário final, a produtividade também deve manter preceitos qualitativos, a valorização
humana deve permear todo o serviço desenvolvido através (CZEKSTER; COSTA, 2015;
CHAVES, 2017):

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 Da gestão de recursos humanos, considerando as capacidades individuais dos
funcionários e as oscilações comportamentais;
 Da melhor aplicação do capital financeiro, evitando desperdícios de insumos e de
tempo, a partir de novos layouts no canteiro de obras;
 Do padrão de processos operacionais;
 Do PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat),
garantindo uma análise crítica quanto à gestão de recursos e projetos;
 Da destinação correta dos rejeitos;
 Da aplicação das técnicas mais evoluídas disponíveis na região, considerando que
as mesmas podem e devem ser implementadas pelo engenheiro civil;
 Da busca pela boa relação entre homem e o meio ambiente;
 Da compreensão dos anseios de determinado meio social, entre outras colocações.
Tudo isto atrelado à preocupação da competitividade e da geração de lucros
(CHAVES, 2017).
Todavia, noutro âmbito, os tópicos supramencionados levam a enxergar que cabe a
este profissional o bom senso diante de suas atitudes. Dificilmente o engenheiro civil que
precede o bem-estar humano terá problemas jurídicos.
A ampliação de competências emerge como um recurso favorável neste âmbito, já que
entende-se por competência “a capacidade de transformar conhecimentos e habilidades em
entrega” (DUTRA, 2001, p. 15).
É necessário compreender que o engenheiro civil não é mais apenas um supervisor de
obras, antes sim, há alguns anos, foi concebido um novo profissional, aquele que tem a gestão
como palavra de ordem, obtendo um profissional que inova, que respeita o cliente, amparado
por um planejamento detalhado e coerente, que conhece os recursos de gestão que integram o
planejamento e o controle da obra, com domínio dos preceitos de sustentabilidade e
humanidade (CHAVES, 2017).
Grosso modo, ainda que a Engenharia Civil responda a uma gama de normas,
orientações, códigos etc, esta área profissional vai além de um comprometimento ético e
agrega-se à evolução humana, dando suporte a esta em termos de estruturação e tecnologia. Já
que o engenheiro civil é responsável por equilibrar conceitos técnicos com preceitos
comportamentais. Dando origem a uma profissão que requer muita habilidade, desde o modo
de falar que oscila entre diversas classes culturais até aplicar os conhecimentos da Engenharia
Civil em si.

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5. CONCLUSÃO

Ainda que as atribuições e, consequentemente, as responsabilidades do engenheiro


civil sejam muito grandes, no caso de uma adversidade, é fundamental considerar que este
profissional não responderá sozinho, já que existem muitas pessoas envolvidas num processo
construtivo e, portanto, cabe analisar individualmente as ocorrências, buscando compreender
as autoridades envolvidas nas mesmas.
O contratante, quando trata com um engenheiro civil ou um arquiteto, espera que
sejam aplicados conhecimentos técnicos pertinentes. Por isso, é exigida a presença destes
profissionais no decorrer da execução de uma obra. Do outro lado, encontra-se o profissional
da construção civil que deve reconhecer que existem limitações quanto às ações que pretende
executar, assim como existirão repercussões, sejam estas positivas ou negativas. Em ambos os
lados, o fator principal é garantir que seja feito o melhor projeto, utilizando as tecnologias
disponíveis, amparado pelas normas, leis e, especialmente, pela ética profissional, para que
contratante e contratado possam responder por suas ações no decorrer da obra. Tudo, sem
desprezar o fato que existem normas a serem seguidas, a fim de que não haja problemas
futuros, como a jurisprudência que foi apresentada neste artigo

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