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DIVERSIDADE E INCLUSÃO NO AMBIENTE UNIVERSITÁRIO SOB UMA

PERSPECTIVA MATERIALISTA HISTÓRICA

Renata C. Cordeiro1

RESUMO

Atualmente, é clara a desigualdade residente em todos os campos da sociedade, considerando


que em crises econômicas e políticas, os direitos das minorias são os primeiros a serem
revisados. Este quadro fica mais evidente quando se observa as discriminações existentes nos
ambientes educacionais públicos em um país frágil como o Brasil. O presente resumo
estendido objetiva discutir o tema sobre diversidade e inclusão, principalmente se tratando do
ambiente universitário. Para alcançar os resultados, este trabalho é formado por uma pesquisa
qualitativa e materialista histórica, que compreende analisar e revisar leis que asseguram o
direito das minorias, também foi feito um formulário com a finalidade de coletar respostas
acerca da diversidade dentro das universidades. Portanto, após a análise, se mostra cada vez
mais necessária a superação do sistema que corrobora com os preconceitos perpetuados no
seio da sociedade e que é cada vez mais fundamental a luta contínua por uma Universidade
pública em todos os seus setores, fomentando desde a educação básica um ensino humano,
inclusivo e de qualidade. Sendo a instituição universitária apenas um reflexo de todo o
Estado, não se pode ser inclusiva se todos os outros aspectos se mostrarem deficientes.
Assim, se deve entender que estas questões apenas serão de fato superadas quando a
superioridade de entidades e classes sobre outras, dentro de uma sociedade, forem
completamente extintas.

Palavras-chaves: Diversidade, Inclusão, Materialismo Histórico.

INTRODUÇÃO

É inegável que os temas sobre diversidade e inclusão estão bastantes presentes nas
últimas décadas, não se prendendo apenas às paredes acadêmicas, estas discussões
começaram a adentrar diversas camadas da sociedade, fazendo com que milhares de pessoas
questionassem seus hábitos, ações e pensamentos, especialmente após a instauração de leis
como a 10639/2013 e a 7716/1989, que respectivamente, tornam obrigatório o ensino de
História da África, tanto no ensino público quanto no privado e pune crimes resultantes de
preconceito racial, étnico e religioso, também proibindo apologia ao nazismo. A contar
também com o decreto nº 5.626/2005 que inclui a disciplina de Libras nos cursos superiores
de licenciatura.

1
Estudante do curso de História pela Universidade Federal de Campina Grande, email:
renatacavalcantec2019@gmail.com
Entretanto, o problema está longe de ser resolvido, mesmo com as diversas leis que
abrangem e têm como intuito proteger as minorias sociais, o número de casos de
discriminação para com estas só aumenta, dados recém coletados afirmam que a desigualdade
social no Brasil cresceu nos últimos anos (IBGE,2019). Como a Universidade é um espelho
perfeito da sociedade na qual está inserida, os reflexos das disparidades e exclusões se
mostram cada vez mais evidentes, e como já foi apresentado, ainda há muito que se possa
fazer para mudar este quadro.

Assim, o método científico de análise marxista compreende as razões que originaram


todas as desigualdades possíveis existentes dentro de um corpo social, os motivos pelas quais
estas ainda se mantêm, como também apresenta os meios para se chegar a uma superação
total da exploração e exclusão de minorias em prol da existência do sistema de produção
vigente.

METODOLOGIA

Esta pesquisa conta com o método qualitativo e materialista histórico para descrever
sobre inclusão e diversidade no meio universitário; promover o debate sobre desigualdade e
preconceito e refletir sobre leis já conquistadas.

Além da revisão e análise de algumas leis já existentes sobre o assunto, este resumo
estendido também conta com um formulário proposto para estudantes graduandos em alguma
instituição de ensino superior da Paraíba, em que foram feitas cinco perguntas sobre
diversidade (seja de raça, gênero, condição sexual, religiosidade, entre outros), exclusão,
interferência do preconceito para com a aprendizagem e superação desse óbice.

A escolha desta ferramenta se deu pela pandemia do vírus da COVID19, que


impossibilita que os questionários sejam feitos de maneira presencial. Apesar disso, com a
expansão da internet nos últimos anos, instrumentos deste tipo também se tornam úteis e
fundamentais para pesquisas científicas (GUEDES, 2007).
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diversidade tem como definição qualidade do que é diverso, diferença,


dessemelhança, variação, variedade (Michaelis, 2015). Inclusão retoma ao ato ou efeito de
incluir (Priberam, 2008). Se analisar ambos os conceitos de forma crítica e histórica, é
possível notar que a diversidade é completamente inerente ao ser humano, principalmente
quando este vive em sociedade e dentro de um espaço educacional, muitas das vezes público,
onde a multiplicidade cultural dos estudantes se apresenta tão fortemente.

Em uma sociedade cujo modelo de produção econômico vigente controla e condiciona


todos os outros fatores (Marx, 2006), é necessário compreender as contradições existentes em
todos os cenários possíveis, especialmente no da instituição universitária que acompanha os
rumos determinados por um sistema. Sendo a academia formada por membros de uma
sociedade e financiada por esta mesma (Andrade, 2020), necessita se tornar um ambiente
coerente às diferenças existentes dentro de um determinado povo. Deve, ainda, fomentar
programas de extensão e compartilhar com a sociedade todas as suas pesquisas e frutos,
devolvendo de forma inclusiva e humana tudo que é produzido dentro desta.

Tomando como referência a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG),


pode-se observar alguns dados que dimensionam o número de discentes: a universidade aqui
analisada conta com cerca de 15.884 estudantes, divididos em 81 cursos, em sete campi
distribuídos pelo estado da Paraíba (CES, 2014). Tendo isto em mente, é compreensível que
exista um grau considerável de diversidade dentro deste ambiente, sejam elas raciais, de
condição sexual, gênero, religiosa, econômica, entre outras.

O questionário feito de forma virtual verifica como está distribuído parte desses
alunos, seus cursos, se caso se identificam como parte de alguma minoria, se este fator já
contribuiu com alguma situação preconceituosa dentro da universidade e se acreditam que
com a superação dessas desigualdades o ensino se tornaria mais proveitoso e confortável.
Observa-se que entre vinte e três respostas, dois terços destas partiram de estudantes de
cursos da área de humanas e que 78.3% se identificam como pertencentes a alguma minoria
social. 26,1% afirmam já terem presenciados atos discriminatórios e preconceituosos dentro
do ambiente acadêmico, seja por parte dos alunos, professores, processos seletivos, etc. No
questionário também foi observado que todos que participaram concordam que essas
situações de exclusão podem afetar diretamente o rendimento do aluno e que apenas com a
superação completa das desigualdades o ambiente se tornaria mais inclusivo e confortável
para todos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Segundo o materialismo histórico proposto por Marx e Engels, a infraestrutura


(relações de produção) influencia todos os outros aspectos de uma sociedade: religião,
educação, ética, preconceitos e outros (Marx, 2013). Levando isso em consideração, se
tratando de um sistema capitalista que visa principalmente o lucro e a submissão de classes, a
desigualdade social está totalmente intrínseca à situação. Visto que, por exemplo, os maiores
casos de evasão escolar durante a juventude acontecem entre jovens negros e pobres de
bairros marginalizados e que concentram pouca renda (Pnad, 2019). Como tudo está
interligado, um indivíduo nessa situação está mais longe de conseguir ascender socialmente
por meio de uma carreira ou passar pelo vestibular para alcançar vagas universitárias, pois lhe
falta oportunidade desde sua educação básica.

E quando a graduação é alcançada, muitas vezes o ambiente se torna hostil e


dificultoso para a permanência deste jovem dentro da universidade, principalmente se
tratando de um país preconceituoso, que reflete boa parte destes preconceitos dentro de
instituições privadas e públicas, incluindo as educacionais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDRADE, L. Universidade: autonomia, diversidade e inclusão. Revista Ibero-Americana


de Estudos em Educação, Araraquara, v. 15, n. esp2, p. 1600–1614, 2020. DOI:
10.21723/riaee.v15iesp2.13830. Disponível em:
https://periodicos.fclar.unesp.br/iberoamericana/article/view/13830. Acesso em: 22 set. 2021.

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Disponível em:
<https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/2005/decreto-5626-22-dezembro-2005-539842
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MARX, K. Manuscritos Econômico-Filosóficos. Tradução de Jesus Ranieri. São Paulo:


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VASCONCELLOS-GUEDES, L.; GUEDES, L. F. A. E-surveys: Vantagens e Limitações dos


Questionários Eletrônicos via Internet no Contexto da Pesquisa Científica. In: X SemeAd -
Seminário em Administração FEA/USP (São Paulo, Brasil), 2007.

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