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RECURSO ORDINÁRIO

O pedido formulado numa reclamação trabalhista foi julgado procedente em


parte. O juiz condenou a autora a 6 meses de detenção por crime contra a
organização do trabalho, pois comprovadamente ela estava recebendo seguro
desemprego nos dois primeiros meses do contrato de trabalho e por isso pediu
para a empresa não assinar a sua CTPS nesse período; o magistrado
reconheceu que a autora excedia a jornada em 3 horas diárias mas limitou o
pagamento da sobrejornada a duas horas por dia com adicional de 50%, em
razão do Art. 59 da CLT; julgou aplicável a norma de complementação de
aposentadoria custeada pela empresa que estava em vigor no momento do
requerimento da aposentadoria, e não a da admissão, que era mais favorável à
trabalhadora, fundamentando na inexistência de direito adquirido, mas apenas
expectativa de direito; reconheceu que a acionante trabalhou 10 horas em
regime de prontidão no último mês trabalhado e deferiu o pagamento de 1/3
dessas horas; reconheceu que o local de trabalho da autora era de difícil acesso
e que no deslocamento ela gastava 2 horas diárias mas, por existir acordo
coletivo fixando a média de 1:30 h, com transporte concedido pelo empregador,
deferiu, com base no § 3º do Art. 58, da CLT, 1:30 h por dia como hora in itinere;
deferiu o requerimento da empresa e, com sustentáculo no Art. 940 do CCB,
determinou a devolução em dobro do 13º salário do ano de 2012 porque a autora
o postulou integralmente, sem qualquer ressalva, quando a 1ª parcela já havia
sido quitada pela empresa.

As custas foram arbitradas em R$ 300,00 sobre o valor arbitrado à condenação


de R$ 15.000,00.

Autora: Verônica Silva; Ré: Indústria Metalúrgica Ribeiro S.A., que possui 1.600
empregados;

Processo 1111- 55.2012.5.03.0100, em trâmite na 100ª VT/MG.

Analisando a narrativa e considerando que a trabalhadora não se conformou com


a sentença, apresente a peça pertinente à reversão da decisão, no que couber,
sem criar dados ou fatos não informados.
AO JUÍZO DA 100ª VARA DO TRABALHO DE MINAS GERAIS

Processo n: 1111- 55.2012.5.03.0100

Verônica Silva, já qualificada nos autos do processo em epígrafe, através


de seu advogado, devidamente habilitado nos autos, vem, com as honras de
estilo, com fundamento no art. 895, I, da CLT, interpor

RECURSO ORDINÁRIO

nos autos da Reclamação Trabalhista movida em face da empresa Indústria


Metalúrgica Ribeiro S.A., também devidamente qualificada, tendo em conta os
motivos de fato e de direito a seguir alinhados.

Inicialmente, requer-se o conhecimento do presente recurso, eis que


presentes todos os pressupostos recursais, quais sejam:

a) A legitimidade, capacidade e interesse processual;

b) Tempestividade: o recurso foi interposto no prazo de 8 dias, contados a


partir da data de publicação da sentença, ocorrida em (data).

c) Depósito Recursal: Conforme entendimento consolidado na


jurisprudência, não se exige depósito recursal do empregado, motivo pelo
qual deixa-se de recolher no presente recurso.

d) Custas Processuais: foram recolhidas no importe de R$ _____,


correspondentes a 2% do valor da condenação, no prazo do recurso, por
meio da guia GRU anexa, nos termos do art. 789, §1° da CLT.

e) Regularidade de Representação: o advogado abaixo assinado está


devidamente constituído nos autos.

Após conhecido do recurso, requer-se a intimação da parte contrária, para


que, querendo, apresente as suas Contrarrazões Recursais.
Transcorrido o prazo para a resposta recursal, requer-se o encaminhamento
dos autos à superior instância, para fins de julgamento do recurso.

Estes são os termos em que espera deferimento.

(Local), (data)
(nome do advogado)
(número da inscrição na OAB)
EXCELENTÍSSIMOS SENHORES DOUTORES DESEMBARGADORES DO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA (NÚMERO) REGIÃO

Processo n: 1111- 55.2012.5.03.0100

RAZÕES RECURSAIS
Excelentíssimo(a) Relator(a)
Colenda Turma

Consoante se demonstrará a seguir, a Sentença recorrida merece reforma, eis


que em desconformidade com o ordenamento jurídico pátrio e a realidade
anunciada nos autos.

I. DA SÍNTESE DO PROCESSADO

A Recorrente ajuizou Reclamação trabalhista no dia (data), em face da


empresa Recorrente.

O procedimento tramitou normalmente, e o juízo julgou procedente em


parte o pedido, nos seguintes termos:

a) Inicialmente, condenou a Recorrente a 6 meses de detenção, por suposto


cometimento de crime contra a organização do trabalho;

b) Posteriormente, reconheceu que a Recorrente excedia a jornada em 3 horas


diárias, mas limitou o pagamento da sobrejornada a 2 horas por dia com
adicional de 50%, em razão do Art. 59 da CLT;

c) Após, julgou aplicável a norma de complementação de aposentadoria


custeada pela empresa que estava em vigor no momento do requerimento da
aposentadoria.

c) Reconheceu que a Recorrente trabalhou 10 horas em regime de prontidão no


último mês trabalhado e por esse motivo deferiu o pagamento de 1/3 dessas
horas;

d) Reconheceu que o local de trabalho da Recorrente era de difícil acesso e que


no deslocamento ela gastava 2 horas diárias. No entanto, por existir acordo
coletivo fixando a média de 1:30 h, com transporte concedido pelo empregador,
deferiu, com base no § 3º do Art. 58, da CLT, 1:30 h por dia a título de hora in
itinere;
e) Por fim, deferiu o requerimento da empresa e, com sustentáculo no Art. 940
do CCB, determinou a devolução em dobro do 13º salário do ano de 2012, uma
vez que a autora o postulou integralmente, sem qualquer ressalva, quando a 1ª
parcela já havia sido quitada pela empresa.

Desta forma, de modo irresignado com a decisão proferida pelo juízo de


primeiro grau, recorre-se da presente decisão pelos fundamentos a seguir
expostos.

II – DO DIREITO

II.1 - DA PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA

A Recorrente foi condenada a 6 meses de detenção por crime contra a


organização do trabalho. Todavia, independentemente da existência ou não da
prática delituosa, é nítido o equivoco deste juízo quanto a decisão de condenar
a recorrente à pena contra ela exarada, uma vez que não é competência da
Justiça do Trabalho proferir sanções punitivas às partes, conforme o art. 114 da
Constituição Federal de 1988.

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e


julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos


os entes de direito público externo e da administração
pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios;

Ademais, de acordo com o STF, em julgamento da ADI 3684-0 – DJU


03.08.2007, ficou decidido que: “A justiça do trabalho não possui competência
para processar e julgar ações penais”.

Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Art. 114, I, IV e IX,


da CF, na redação dada pela Emenda Constitucional
45/2004. 3. Competência Criminal da Justiça do Trabalho.
Inexistência. 4. Medida cautelar deferida pelo Plenário e
confirmada no julgamento de mérito. 5. Interpretação
conforme ao disposto no art. 114, I, IV e IX, da Constituição
da República, de modo a afastar a competência da Justiça
do Trabalho para processar e julgar ações penais. 6. Ação
direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

É importante destacar também que o Art.5, inciso LIV, assevera


que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo
legal”, nesse sentido, verifica-se que a competência para apreciação da matéria
criminal em questão é da Justiça Federal Comum, conforme preleciona o art.
109, inciso VI, da CF/88 e Súmula 115 do TFR.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos
casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a
ordem econômico-financeira;

SÚMULA 115 TRF – “Compete à Justiça Federal processar


e julgar os crimes contra a organização do trabalho,
quando tenham por objeto a organização geral do trabalho
ou direitos dos trabalhadores considerados coletivamente.”

Portanto, diante dos fundamentos acima expostos resta evidente a


caracterização da incompetência absoluta deste juízo na situação elencada,
sendo imprescindível o encaminhamento dos autos para julgamento na esfera
competente para tal.

II. 2 – DO MÉRITO

A) DA HORA EXTRA

Em se tratando de Direito do Trabalho é sabido que vigora o princípio da


Primazia da realidade, o qual deve prevalecer os fatos sobre formalidades
documentais. Na situação em discussão o próprio magistrado reconheceu que a
recorrente de fato excedia a jornada em 3 horas diárias. No entanto, mesmo
diante disso limitou o pagamento da sobrejornada a duas horas por dia com
adicional de 50%, em razão do Art. 59 da CLT.

Ocorre que, embora o art. 59 da CLT oriente que o pagamento de horas


extras não deve exceder a quantidade de dois por acordo individual, convenção
coletiva ou acordo coletivo de trabalho, a súmula nº 376, I do TST, dispõe que:
“A limitação legal da jornada suplementar a duas horas diárias não exime o
empregador de pagar todas as horas trabalhadas”, restando evidente o dever de
pagar a recorrente todas as horas extras por ela trabalhadas.

B) DA COMPLEMENTAÇÃO DA APOSENTADORIA

O Juízo julgou aplicável a norma de complementação de aposentadoria


custeada pela empresa. Todavia, considerou a norma que estava em vigor no
momento do requerimento da aposentadoria, e não a do momento da admissão,
que era mais favorável à trabalhadora, fundamentando na inexistência de direito
adquirido, mas apenas expectativa de direito.
Ocorre que a súmula 288 do TST, assevera que “A complementação dos
proventos da aposentadoria é regida pelas normas em vigor na data da admissão
do empregado, observando-se as alterações posteriores desde que mais
favoráveis ao beneficiário do direito”. Sendo assim, resta patente que o decisório
violou a presente súmula.

Ademais, a presente decisão violou o princípio da inalterabilidade


contratual lesiva, bem como a súmula art.51, I do TST e o art 131 do CCB, uma
vez que a clausulas regulamentares que revoguem ou alterem alguma
vantagem, só atinge os trabalhadores admitidos após a revogação ou alteração
do regulamento.

Nessa esteira é possível visualizar que o direito adquirido é garantido pelo


art.131 do CCB, o qual dispõe que “o termo inicial suspende o exercício, mas
não a aquisição do direito.”, bem como pelo art. 6, caput da LINDB, devendo
portanto ser respeitado.

Sendo assim, verifica-se que deve ser aplicada ao caso, a norma que
estava em vigor na data da admissão da Reclamente, as quais eram mais
favoráveis a empregada, tendo em vista toda a fundamentação jurídica aqui
exposta.

C) DA DIFERENÇA PRONTIDÃO

Com relação as horas trabalhadas pela recorrente em regime de prontidão,


reconheceu que a mesma trabalhou 10 horas no último mês trabalhado, no
entanto, o juízo deferiu somente o pagamento de 1/3 dessas horas. Entretanto,
é sabido que o equivalente seria 2/3, conforme o art. 244, § 3º, da CLT:

Art. 244. As estradas de ferro poderão ter empregados


extranumerários, de sobre-aviso e de prontidão, para
executarem serviços imprevistos ou para substituições de
outros empregados que faltem à escala organizada.
[...]
§ 3º Considera-se de "prontidão" o empregado que ficar
nas dependências da estrada, aguardando ordens. A
escala de prontidão será, no máximo, de doze horas. As
horas de prontidão serão, para todos os efeitos, contadas
à razão de 2/3 (dois terços) do salário-hora normal.

Sendo assim, requer o pagamento das horas trabalhadas em regime de


prontidão no equivalente a 2/3, conforme previsto na legislação trabalhista
vigente.
D) DA HORA IN ITINERE

O juízo reconheceu que o local de trabalho da Recorrente era de difícil


acesso e que no deslocamento ela gastava 2 horas diárias. No entanto, por
existir acordo coletivo fixando a média de 1:30 h, com transporte concedido pelo
empregador, deferiu, com base no § 3º do Art. 58, da CLT, o tempo de 1:30 h
por dia a título de hora in itinere.

Ocorre que, a empresa é considerada como de grande porte, possuindo,


inclusive, 1.600 empregados em seu quadro. Desta forma, não se aplica o
disposto no § 3º do Art. 58, tendo em vista que este é reservado às
microempresas e empresas de pequeno porte, além de que tal dispositivo foi
revogado pela lei 13.467/2017.

Ademais, insta informar que, embora a reforma trabalhista não reconheça


mais este instituto, a Recorrente tinha o direito a percepção dos valores no
momento o qual foi ajuizada a Reclamação, bem como até o momento da
sentença, motivo pelo qual, com respeito ao direito adquirido (art. 5º, inciso
XXXVI, da CF/88), deve ser reconhecido o período de 2 horas diárias a título de
hora in itinere.

E) DA VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO.

Por fim, o juízo deferiu o requerimento da empresa e, com sustentáculo


no Art. 940 do CCB, determinou a devolução em dobro do 13º salário do ano de
2012, uma vez que a autora o postulou integralmente, sem qualquer ressalva,
quando a 1ª parcela já havia sido quitada pela empresa.

Todavia, o artigo art. 8º, parágrafo único, da CLT assevera que o direito
comum poderá servir como fonte subsidiária do direito trabalhista, menos quanto
a norma for incompatível com os princípios do direito do trabalho.

Sendo assim, a sentença merece ser reformada, com o intuito de afastar


a determinação de devolver o dobro do 13º salário, uma vez que a norma prevista
no artigo Art. 940 do CCB, viola notadamente o princípio da proteção,
pertencente ao direito do trabalho.

III – DA CONCLUSÃO

Ante o exposto, presentes os pressupostos necessários, requer a


Recorrente:

a) O CONHECIMENTO do presente recurso, eis que presentes todos os


requisitos para o juízo de admissibilidade positivo.
b) O seu PROVIMENTO, para:
b.1) Reconhecer a preliminar de incompetência absoluta do juízo, com posterior
encaminhamento dos autos a justiça competente, uma vez que não é
competência da Justiça do Trabalho proferir sanções criminais às partes,
conforme demonstrado.
b.3) Reformar a sentença recorrida, para julgar totalmente procedente os
pedidos autorais de horas extras, complementação da aposentadoria, a
diferença prontidão e a hora in itinere, conforme fundamentação supra.
b.4.) Reformar a sentença recorrida para afastar a determinação de devolver o
dobro do 13º salário, em respeito ao princípio da proteção.
c) A condenação do Recorrido em custas e honorários advocatícios, estes no
importe de 15% sobre o valor da causa.

Estes são os termos em que espera deferimento.

(local), (data)

(nome do advogado)
(número da inscrição na OAB)

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