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Caro aluno

Ao elaborar o seu material inovador, completo e moderno, o Hexag considerou como principal diferencial sua exclusiva metodologia em pe-
ríodo integral, com aulas e Estudo Orientado (E.O.), e seu plantão de dúvidas personalizado. O material didático é composto por 6 cadernos
de aula e 107 livros, totalizando uma coleção com 113 exemplares. O conteúdo dos livros é organizado por aulas temáticas. Cada assunto
contém uma rica teoria que contempla, de forma objetiva e transversal, as reais necessidades dos alunos, dispensando qualquer tipo de
material alternativo complementar. Para melhorar a aprendizagem, as aulas possuem seções específicas com determinadas finalidades. A
seguir, apresentamos cada seção:

incidência do tema nas principais provas vivenciando

De forma simples, resumida e dinâmica, essa seção foi desenvol- Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu
vida para sinalizar os assuntos mais abordados no Enem e nos distanciamento da realidade cotidiana, o que dificulta a compreensão
principais vestibulares voltados para o curso de Medicina em todo de determinados conceitos e impede o aprofundamento nos temas
o território nacional. para além da superficial memorização de fórmulas ou regras. Para
evitar bloqueios na aprendizagem dos conteúdos, foi desenvolvida
a seção “Vivenciando“. Como o próprio nome já aponta, há uma
preocupação em levar aos nossos alunos a clareza das relações entre
aquilo que eles aprendem e aquilo com que eles têm contato em
teoria seu dia a dia.

Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos de cada coleção


tem como principal objetivo apoiar o aluno na resolução das ques-
tões propostas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, com-
pletos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas aplicação do conteúdo
que complementam as explicações dadas em sala de aula. Qua-
dros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados Essa seção foi desenvolvida com foco nas disciplinas que fazem
e compõem um conjunto abrangente de informações para o aluno parte das Ciências da Natureza e da Matemática. Nos compilados,
que vai se dedicar à rotina intensa de estudos. deparamos-nos com modelos de exercícios resolvidos e comenta-
dos, fazendo com que aquilo que pareça abstrato e de difícil com-
preensão torne-se mais acessível e de bom entendimento aos olhos
do aluno. Por meio dessas resoluções, é possível rever, a qualquer
momento, as explicações dadas em sala de aula.
multimídia
No decorrer das teorias apresentadas, oferecemos uma cuidadosa
seleção de conteúdos multimídia para complementar o repertório
do aluno, apresentada em boxes para facilitar a compreensão, com áreas de conhecimento do Enem
indicação de vídeos, sites, filmes, músicas, livros, etc. Tudo isso é en-
contrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos Sabendo que o Enem tem o objetivo de avaliar o desempenho ao
temas estudados – há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até fim da escolaridade básica, organizamos essa seção para que o
sugestões de aplicativos que facilitam os estudos, com conteúdos aluno conheça as diversas habilidades e competências abordadas
essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica, na prova. Os livros da “Coleção Vestibulares de Medicina” contêm,
em uma seleção realizada com finos critérios para apurar ainda mais a cada aula, algumas dessas habilidades. No compilado “Áreas de
o conhecimento do nosso aluno. Conhecimento do Enem” há modelos de exercícios que não são
apenas resolvidos, mas também analisados de maneira expositiva
e descritos passo a passo à luz das habilidades estudadas no dia.
Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a
apurar as questões na prática, a identificá-las na prova e a resolvê-
conexão entre disciplinas -las com tranquilidade.

Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é ela-


borada, a cada aula e sempre que possível, uma seção que trata
de interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares atuais não
exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos diagrama de ideias
conteúdos de cada área, de cada disciplina.
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Por isso, cria-
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem
mos para os nossos alunos o máximo de recursos para orientá-los
conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como Bio-
em suas trajetórias. Um deles é o ”Diagrama de Ideias”, para aque-
logia e Química, História e Geografia, Biologia e Matemática, entre
les que aprendem visualmente os conteúdos e processos por meio
outras. Nesse espaço, o aluno inicia o contato com essa realidade
de esquemas cognitivos, mapas mentais e fluxogramas.
por meio de explicações que relacionam a aula do dia com aulas
de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizan- Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo
do temas da atualidade. Assim, o aluno consegue entender que da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos
cada disciplina não existe de forma isolada, mas faz parte de uma principais conteúdos ensinados no dia, o que facilita a organiza-
grande engrenagem no mundo em que ele vive. ção dos estudos e até a resolução dos exercícios.

Herlan Fellini

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© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2020
Todos os direitos reservados.

Autores
Alessandra Alves
Vinicius Gruppo Hilário

Diretor-geral
Herlan Fellini

Diretor editorial
Pedro Tadeu Vader Batista

Coordenador-geral
Raphael de Souza Motta

Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica


Hexag Sistema de Ensino

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Imagens
Freepik (https://www.freepik.com)
Shutterstock (https://www.shutterstock.com)

ISBN: 978-65-88825-00-6

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o ensino. Caso exista algum texto a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à dis-
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direitos sobre as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não repre-
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SUMÁRIO
GEOGRAFIA

AGRÁRIA, INDUSTRIALIZAÇÃO E TRANSPORTES


Aulas 27 e 28: Agropecuária brasileira 6
Aulas 29 e 30: Tipos de indústria 33
Aulas 31 e 32: Industrialização do Brasil 46
Aulas 33 e 34: Transportes I 58

REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS


Aulas 27 e 28: Regiões socioeconômicas mundiais II: América latina 72
Aulas 29 e 30: Regiões socioeconômicas mundiais III: Europa 83
Aulas 31 e 32: Regiões socioeconômicas mundiais IV: Rússia e Ásia central 99
Aulas 33 e 34: Regiões socioeconômicas mundiais V: China 119

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Competência 1 – Construir significados para os números naturais, inteiros, racionais e reais.
H1 Reconhecer, no contexto social, diferentes significados e representações dos números e operações – naturais, inteiros, racionais ou reais.
H2 Identificar padrões numéricos ou princípios de contagem.
H3 Resolver situação-problema envolvendo conhecimentos numéricos.
H4 Avaliar a razoabilidade de um resultado numérico na construção de argumentos sobre afirmações quantitativas.
H5 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos numéricos.
Competência 2 – Utilizar o conhecimento geométrico para realizar a leitura e a representação da realidade e agir sobre ela.
H6 Interpretar a localização e a movimentação de pessoas/objetos no espaço tridimensional e sua representação no espaço bidimensional.
H7 Identificar características de figuras planas ou espaciais.
H8 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos geométricos de espaço e forma.
H9 Utilizar conhecimentos geométricos de espaço e forma na seleção de argumentos propostos como solução de problemas do cotidiano.
Competência 3 – Construir noções de grandezas e medidas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H10 Identificar relações entre grandezas e unidades de medida.
H11 Utilizar a noção de escalas na leitura de representação de situação do cotidiano.
H12 Resolver situação-problema que envolva medidas de grandezas.
H13 Avaliar o resultado de uma medição na construção de um argumento consistente.
H14 Avaliar proposta de intervenção na realidade utilizando conhecimentos geométricos relacionados a grandezas e medidas.
Competência 4 – Construir noções de variação de grandezas para a compreensão da realidade e a solução de problemas do cotidiano.
H15 Identificar a relação de dependência entre grandezas.
H16 Resolver situação-problema envolvendo a variação de grandezas, direta ou inversamente proporcionais.
H17 Analisar informações envolvendo a variação de grandezas como recurso para a construção de argumentação.
H18 Avaliar propostas de intervenção na realidade envolvendo variação de grandezas.
Competência 5 – Modelar e resolver problemas que envolvem variáveis socioeconômicas ou técnico-científicas, usando representações
algébricas.
H19 Identificar representações algébricas que expressem a relação entre grandezas.
H20 Interpretar gráfico cartesiano que represente relações entre grandezas.
H21 Resolver situação-problema cuja modelagem envolva conhecimentos algébricos.
H22 Utilizar conhecimentos algébricos/geométricos como recurso para a construção de argumentação.
H23 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos algébricos.
Competência 6 – Interpretar informações de natureza científica e social obtidas da leitura de gráficos e tabelas, realizando previsão de
tendência, extrapolação, interpolação e interpretação.
H24 Utilizar informações expressas em gráficos ou tabelas para fazer inferências.
H25 Resolver problema com dados apresentados em tabelas ou gráficos.
H26 Analisar informações expressas em gráficos ou tabelas como recurso para a construção de argumentos.
Competência 7 – Compreender o caráter aleatório e não determinístico dos fenômenos naturais e sociais e utilizar instrumentos ade-
quados para medidas, determinação de amostras e cálculos de probabilidade para interpretar informações de variáveis apresentadas em
uma distribuição estatística.
Calcular medidas de tendência central ou de dispersão de um conjunto de dados expressos em uma tabela de frequências de dados agrupados
H27
(não em classes) ou em gráficos.
H28 Resolver situação-problema que envolva conhecimentos de estatística e probabilidade.
H29 Utilizar conhecimentos de estatística e probabilidade como recurso para a construção de argumentação.
H30 Avaliar propostas de intervenção na realidade utilizando conhecimentos de estatística e probabilidade.

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AGRÁRIA, INDUSTRIALIZAÇÃO E TRANSPORTES:
Incidência do tema nas principais provas

Um dos temas preferidos do Enem é Geografia O processo de industrialização no Brasil é um


agrária. Atente-se principalmente aos conflitos tema muito cobrado. Estude as diferentes
fundiários. industrializações no mundo e no Brasil.

A prova relaciona as mudanças sociais A prova da Unifesp não tem Geografia. A prova sempre traz uma questão relacionada
produzidas no uso de recursos naturais pela às principais estruturas da questão agrária
política de conservação da biodiversidade no no Brasil, chamando atenção aos problemas
Brasil e no mundo com as transformações fundiários.
da agricultura familiar em processos de
reestruturação agrária.

Desde o início do vestibular, tivemos apenas Temas de Geografia agrária costumam estar A prova busca uma postura crítica, tanto Estude os principais conceitos, como os tipos
uma questão relacionada aos temas deste ligados a questões de meio ambiente. da estrutura agrária no Brasil quanto do de indústria e os sistemas agrários.
livro. Contudo, não espere por surpresas e acelerado processo de industrialização.
empenhe-se em todos os temas.

UFMG

Apresenta bastante mapas e gráficos. Os É um vestibular que gosta bastante de A prova da CMMG não tem Geografia.
temas deste livro costumam estar relacionados Geografia agrária, pedindo tudo em sua prova,
aos temas de urbanização e demografia. desde sistemas agrários a conflitos fundiários.

Fique atento a tudo: produção agrária e indus- Geografia agrária e indústria são temas recor- O processo de industrialização não foi
trial, conflitos fundiários e desindustrialização. rentes. Estude os principais conceitos. uniforme em todos os países, tampouco no
mesmo momento. Fique atento aos tipos de
industrialização e à forma como as empresas
se organizam entre si.

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AULAS AGROPECUÁRIA BRASILEIRA
27 E 28
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADE: 16

“Liberadas da necessidade de autofornecer-se em bens de Dos cerca de 31 milhões de brasileiros que vivem na faixa
consumo variados e bens de produção essenciais (força de da pobreza, mais da metade está na zona rural. Nos últimos
tração, forragens, adubos, sementes, animais reprodutores, 25 anos do século XX, cerca de 30 milhões de moradores do
utensílios etc.), os estabelecimentos agrícolas se especiali- campo abandonaram ou perderam suas terras. Nesse tempo,
zaram. Elas abandonaram a multiprodução vegetal e ani- a grande maioria dos recursos de financiamento foi dirigida
mal para se dedicar, quase que exclusivamente, a algumas para as oligarquias e grandes proprietários, atendendo ao
produções destinadas à venda – aquelas que lhes eram modelo de exploração intensiva das propriedades, formação
mais vantajosas, tendo em vista as condições físicas e eco- de grandes monoculturas e áreas de pastagens que, com
nômicas de cada região, e levando em conta também os o esgotamento da chamada revolução verde, acabou por
meios e as condições de produção peculiares a cada esta- revelar uma série de problemas, como o uso excessivo de
belecimento. Assim, foi constituído um vasto sistema agrá- agrotóxicos, a irrigação e o desmatamento descontrolados, a
rio multirregional, composto por subsistemas regionais es- agressão à cultura nativa, dentre outros.
pecializados, complementares (regiões de grandes culturas, Com a redemocratização, o País teve, entre 1985 e 1988,
regiões de pradarias e de criação de gado leiteiro ou de quase nove mil conflitos sociais no meio rural, com o assassi-
corte, regiões vinícolas, regiões de produção de legumes, nato de 1.167 pessoas por questões agrárias. Nesse período,
regiões frutíferas etc.). Esse sistema se intercalava com um teve início um confronto que gerou, de um lado, os sindica-
conjunto de indústrias extrativas, mecânicas e químicas si- tos, os movimentos sociais e a Igreja católica (então no País
tuadas a montante da produção agrícola e que lhe fornecia orientada pela chamada “opção preferencial pelos pobres”,
os meios de produção. Havia a jusante também um con- com as comissões pastorais) e, de outro, os grandes proprie-
junto de indústrias e de atividades básicas que estocavam, tários, reunidos na UDR – União Democrática Ruralista, cujo
transformavam e comercializavam seus produtos.” líder era Ronaldo Caiado. A mais famosa vítima desses con-
MAZOYER, MARCEL; ROUDART, LAURENCE. flitos foi o sindicalista Chico Mendes, no Acre, em 1988.
HISTÓRIAS DAS AGRICULTURAS DO MUNDO.
Segundo o pesquisador Bernardo Mançano, da Unesp, os
censos rurais realizados desde 1940 apontavam para a con-
1. AGRICULTURA centração da terra, somente possível de ser revertida com o
fim do êxodo rural e assentamento anual de 150 mil famílias.
A agricultura no Brasil é, historicamente, umas das principais Durante o governo Itamar Franco, o Incra (Instituto Nacional
bases da economia do Brasil, desde os primórdios da colo- de Colonização e Reforma Agrária) realizou cerca de cem mil
nização até o século XXI, evoluindo das extensas monocul- assentamentos anuais; nesta administração, foi instituído o
turas para a diversificação da produção. A agricultura é uma rito sumário de desapropriação, vencendo um dos principais
atividade que faz parte do setor primário em que a terra é obstáculos para a medida, que era a sua demora.
cultivada e colhida para subsistência, exportação e comércio.
Produtora de cana-de-açúcar, inicialmente, e de café, depois,
a agricultura brasileira apresenta-se como uma das maiores
exportadoras do mundo, em diversas espécies de cereais,
frutas, grãos e outros. Desde o Estado Novo, com Getúlio
Vargas, cunhou-se a expressão “Brasil: celeiro do mundo”,
acentuando a vocação agrícola do País. Mas a agricultura
brasileira apresenta problemas e desafios que vão da refor-
ma agrária às queimadas, do êxodo rural ao financiamento
da produção, da rede escoadora à viabilização econômica da
agricultura familiar, envolvendo, portanto, questões políticas, INTEGRANTES DO MOVIMENTO DOS SEM-TERRA (MST),
sociais, ambientais, tecnológicas e econômicas. EM PASSEATA NO EIXO MONUMENTAL, BRASÍLIA, DF

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As grandes transformações na produção em nível mundial,
por força dos avanços tecnológicos, apontam para uma Sabemos o tal produzido, mas não sabemos se houve
demanda cada vez menor de alguns fatores. Na indústria, ou não eficiência no processo produtivo.
isto é particularmente evidente quanto às matérias-primas. Contudo, quando falamos em produtividade, estamos
Com a industrialização cada vez maior da agricultura, tal relacionando o total produzido a algum outro elemen-
tendência se estende também ao campo, particularmen- to para se ter alguma ideia da eficiência, isto é, do
te quanto à terra. Considerando as transformações con- rendimento da produção, sendo que o mais comum
tidas no bojo da agricultura capitalista, um dos aspectos é a relação entre o total produzido e a área utilizada.
da análise da pequena produção foi o da inserção dessa Quando um agricultor consegue aumentar a produção
categoria no contexto das mudanças tecnológicas. Ao pe- sem aumentar a área, significa dizer que, em relação ao
queno produtor restou aderir ao pacote técnico, para que fator área, esse produtor obteve um aumento na sua
pudesse fazer parte do novo modelo de desenvolvimento produtividade.
da agricultura.
Outros elementos também devem ser considerados,
como a água consumida na irrigação, os fertilizantes e
agrotóxicos aplicados na plantação e a quantidade de
energia consumida.

1.1.1. Escoamento da produção

multimídia: livros
A agricultura camponesa no Brasil – Ariovaldo
Umbelino de oliveira
Este livro faz parte de uma nova produção ge-
ográfica que vem procurando servir de instru-
mento para a transformação do campo, têm
denunciando o grande número de conflitos,
em geral sangrentos, que tem ocorrido no
campo e os assassinatos de lideranças sindi- TRANSPORTE DE SAFRA POR RODOVIAS:
EXEMPLO DE ATRASO NA INFRAESTRUTURA DO BRASIL
cais, religiosas e de advogados.
O transporte das safras é um dos problemas estruturais en-
frentados pela agricultura no Brasil.
1.1. Infraestrutura agrícola Apesar de ser um dos maiores produtores agrícolas do
mundo e um importante exportador de commodities, o
Dentre os principais itens infraestruturais que demandam Brasil sofre com a falta de qualidade de sua infraestrutura
atenção pela atividade agrícola, estão o transporte, os de transportes. Essa ineficiência aumenta os custos da pro-
estoques reguladores, a política de preço mínimo e a ar- dução rural e reduz sua produtividade, sendo um entrave
mazenagem. para o desenvolvimento econômico do País.
Estradas não concluídas fazem com que, por exemplo,
Produção e produtividade o transporte de uma tonelada de soja até seu porto de
exportação no Brasil seja quase três vezes mais caro que
Dois termos muitos falados no espaço agrário são pro- transportar a mesma quantidade do grão por distância se-
dução e produtividade. Embora pareçam sinônimos, melhante nos Estados Unidos. Além disso, a falta de infra-
suas funções são bem diferentes. A produção tem a ver estrutura rodoviária impossibilita o escoamento de produ-
com o total produzido, sem considerar o rendimento da tos para exportação por portos mais eficientes – em alguns
atividade produzida. Para exemplificar, podemos citar casos, isso onera o produtor em até vinte vezes mais. É o
um país que produziu 130 toneladas de algum cereal. caso do porto de Santarém, que não é utilizado como por-
to de descarga por falta de uma boa estrutura rodoviária

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ligando os municípios produtores à região, apesar de estar 1.1.2. Armazenagem
mais perto dos mercados consumidores estrangeiros. Por
conta disso, o porto de Santos é o mais usado, ainda que A armazenagem agrícola é uma das etapas da produção
seja dezoito vezes mais caro que Santarém. No entanto, da agricultura do País que apresentam necessidades de
uma estrada conectando Cuiabá (MT) a Santarém reduziria investimento e ampliação.
custos de transporte em 54%.
Pesquisas recentes levantam o problema do des-
Com os altos custos em transporte devido à utilização de
compasso entre a produção de grãos no Brasil, de
malha viária inadequada para grandes distâncias e serviços
1994 a 2003, passando de 76 milhões de toneladas
portuários caros e ineficientes, a soja brasileira fica em des-
para 123 milhões de toneladas, com um crescimento
vantagem nas exportações, quando comparada à soja pro-
de 62%, enquanto a capacidade de armazenagem
duzida nos outros dois principais países produtores: Argen-
avançou apenas 7,4%, segundo dados da Conab
tina e Estados Unidos. A Argentina, apesar de ter a rodovia
(Companhia Nacional de Abastecimento). O objetivo
como principal via de transporte, tem menores distâncias a
do estudo foi identificar as regiões críticas quanto
percorrer. Já nos Estados Unidos, assim como o Brasil, onde
à disponibilidade de espaço para melhor adequação
há grandes extensões a percorrer, a soja é transportada
e expansão da armazenagem, principalmente nas
principalmente por hidrovia. O alto custo com transporte li-
propriedades rurais, visando fornecer ao produtor
mita a expansão da agricultura devido ao impacto que tem
condições de reter sua produção para aproveitar as
sobre o custo final de colocação dos produtos agrícolas nos
melhores épocas de comercialização, procurando
mercados nacional e internacional. Para a soja produzida
evitar também o congestionamento de armazéns,
na região central do Brasil, os custos de transporte entre
silos e portos em períodos de safra.
Campo de Parecis (MT) e o porto de Paranaguá (PR) chega
a 30% do preço recebido. É importante salientar que os programas governa-
mentais de apoio à pesquisa, como o de moderniza-
ção da frota de tratores, colhedoras e implementos
agrícolas, vêm contribuindo para o crescimento da
produção de grãos, elevando a produtividade, não
só nas novas fronteiras da região setentrional, mas
também nas zonas tradicionais do Sudeste-Sul, onde
ocorrem substituições de atividades, principalmente
em razão da elevada remuneração alcançada pela
soja nos últimos anos.
Estimativas concluem que a capacidade de armazena-
Muitas áreas com grande potencial agrícola no Brasil per-
gem do Brasil exige elevada soma de investimento de
manecem impossibilitadas de contribuir produtivamente
infraestrutura, uma vez que não tem acompanhado,
devido a dificuldades causadas pela falta de uma adequada
ao longo dos anos, o ritmo de crescimento das sa-
infraestrutura de transportes. Para atender às necessidades
fras. Estudos precedentes sobre o tema apontam que
estratégicas da produção agrícola brasileira no que se refere
nunca houve de fato muita clareza sobre a prioridade
à infraestrutura de transportes, é necessária a criação de uma
para o complexo armazenador brasileiro.
rede intermodal de transporte, com o objetivo de viabilizar
a produção e o escoamento de grãos, integrando racional Nos últimos anos o explosivo crescimento da soja, co-
e competitivamente as áreas de produção e os centros de locou o país como principal exportador mundial com
consumo no País, ou pontos para exportação/importação. 37 milhões de toneladas, à frente dos Estados Unidos
Na safra 2008/2009, por exemplo, a Federação da Agricul- com 34 milhões de toneladas, com perspectivas de
tura e Pecuária de Goiás (Faeg) denunciava o estado pre- sucessivos ganhos nas próximas safras.
cário das estradas da região Centro-Oeste, algumas com
problemas desde 2005 e, a despeito de solicitações às en-
tidades governamentais, nada havia sido feito. A despeito Na década de 1970, foi implantado o Programa Nacional
disto, o governo federal elaborou, em 2006, o Plano Nacio- de Armazenagem – Pronazem, que previa a construção de
nal de Logística e Transportes, destinado a proporcionar um armazenagens em nível de fazenda, intermediária e termi-
melhor escoamento da produção. A falta de investimentos nal. O programa, à época, financiou a expansão da capa-
no setor, entretanto, continua a ser o principal problema na cidade armazenadora em aproximadamente cinco milhões
logística de escoamento. de toneladas. Com o advento das políticas neoliberais e

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dos desastres na condução da política econômica brasilei- de adequação e de localização das unidades existentes
ra, o setor teve baixo crescimento, motivado, entre outras precisam ser resolvidos.
coisas, pela extinção do Pronazem.
Outra questão importante é o atendimento da necessidade
Capitaneada pela soja, a expressiva expansão dos grãos de infraestrutura adicional para culturas em expansão (sorgo
dos últimos anos induziu substanciais investimentos para granífero e triticale), cujos produtos demandam silos especí-
ampliação da capacidade da rede de armazenagem, prin- ficos, bem como dos grãos geneticamente modificados, cuja
cipalmente por cooperativas e produtores agrícolas. Mes- produção exige igualmente um sistema próprio de guarda.
mo assim, sabe-se que ainda ocorrem sérios problemas de Daí a necessidade de novas pesquisas para um posiciona-
adequação e localização, com efeitos prejudiciais à com- mento sobre a situação atual e as perspectivas para a arma-
petitividade do agronegócio nacional. Desde a década de zenagem frente à nova geografia do Brasil rural.
1990, o poder público tem deixado de atuar diretamente
em áreas de infraestrutura, como é o caso da armazena- 1.1.3. Estoques reguladores e preço mínimo
gem. Como exemplo, pode-se citar a desmobilização pa-
Historicamente, os geradores de estoques reguladores de
trimonial da Conab, com a privatização de 38 armazéns.
alimentos eram uma das principais políticas públicas ado-
A demanda de armazenagem é de 155,2 milhões de tone- tadas pelas grandes nações do mundo, principalmente por
ladas, sendo 44,7 milhões de toneladas de produtos ensa- conta das oscilações de preços e do fantasma da fome.
cados que necessitam de armazéns convencionais, como é Entretanto, houve uma mudança profunda na política de
o caso do açúcar, algodão (caroço), amendoim, arroz, café comercialização: o avanço do liberalismo no comércio e a
beneficiado, feijão, girassol e mamona. Quanto aos produ- crise fiscal levaram ao desmonte do sistema de garantia
tos a granel, 114,5 milhões de toneladas, demandam silos de preços mínimos. Desde os últimos anos da década de
e graneleiros, como é o caso da aveia, centeio, cevada, mi- 1980, com a redução significativa das aplicações públicas
lho, soja, sorgo e trigo nacional e importado. fiscais e financeiras no setor agrícola, os principais instru-
As unidades federativas que lideraram a demanda total de mentos de política agrícola – crédito rural e preços mínimos
armazenagem brasileira em 2003 foram: Paraná (20,3%), – foram severamente sacrificados. A partir de 1995, os me-
São Paulo (15,7%), Rio Grande do Sul (14,8%), Mato canismos tradicionais de políticas foram substituídos pelo
Grosso (12,3%), Goiás (7,7%) e Minas Gerais (7,2%), per- contrato de opção, no qual o produtor adquire o direito de
fazendo um total de 78%. vender ao governo pelo preço mínimo, e pelo Programa
para Escoamento de Produto, adquirido pelo comprador.
Esses instrumentos, vigentes até hoje, demandam menos
recursos públicos, já que o governo paga apenas a diferen-
ça entre o preço mínimo e o preço de mercado.
Um bom exemplo da necessidade da formação de esto-
ques reguladores está na produção de álcool combustível
a partir da cana-de-açúcar. A grande variação de preços ao
SILO DE ARMAZENAMENTO DE GRÃOS
longo do ano-safra, por razões climáticas e fitossanitárias,
Por falta de armazéns e silos, a produção precisa ser comer- justifica a formação de estoques.
cializada rapidamente. Segundo dados da Conab, apenas
Os estoques também visam assegurar estabilidade aos
11% dos armazéns estão nas fazendas (na Argentina, esse
rendimentos dos agricultores, além de impedir a flutuação
total é de 40%, na União Europeia, de 50% e no Canadá
de preços das entressafras. Até a década de 1980, havia
chega a 80%). Isto força o agricultor a servir-se de tercei-
no País a implantação da chamada Política de Garantia de
ros para estocar sua produção. Fatores sazonais, como a
Preços Mínimos, que perdeu importância na política agrí-
quebra de safras e a defasagem cambial, descapitalizam o
produtor, que acaba não conseguindo investir na constru- cola a partir dos anos 1990, com a globalização. O principal
ção de silos. Com estes, poderia negociar sua produção em efeito é a instabilidade de preços dos produtos agrícolas.
condições mais favoráveis, e não quando da colheita ape-
nas. A situação brasileira permite dizer que os caminhões 1.2. Irrigação
se transformam em “silos sobre rodas”. Se a história das grandes civilizações pode ser contada se-
O crescimento da exploração agrícola em direção à re- gundo o desenvolvimento da exploração agrícola e da do-
gião Centro-Norte do País exigiu e continua a exigir maci- mesticação animal, a irrigação deve ser considerada como
ços investimentos na rede de armazenagem e nos modos a tecnologia que mais proveu prosperidade. A irrigação é o
de transporte, ao mesmo tempo em que os problemas maior uso da água no Brasil e no mundo e tem sido objeto

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de estudos próprios da ANA (Agencia Nacional de Águas) 2006, com aumento de 52% tanto em estabelecimentos
ou em parceria com a Embrapa. (502.425) quanto em área (6.903.048 hectares).
A irrigação no Brasil foi desenvolvida por meio do uso de
diferentes modelos. O envolvimento público na irrigação é
relativamente novo, enquanto o investimento privado tem
sido tradicionalmente responsável pelo desenvolvimento
da irrigação. A irrigação privada predomina nas regiões
povoadas do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, onde ocorre a
maior parte do desenvolvimento industrial e agrícola do
País. Na região Nordeste, os investimentos feitos pelo se-
tor público buscam estimular o desenvolvimento regional, IRRIGAÇÃO POR GOTEJAMENTO
em uma área propensa a secas e com graves problemas
sociais. Essas diferentes abordagens têm resultado em con-
sequências diversas: dos 120 milhões de hectares (ha) po-
tencialmente disponíveis para a agricultura, somente cerca
de 3,5 milhões de hectares estão atualmente irrigados,
embora as estimativas mostrem que 29 milhões desses
hectares sejam adequados para essa prática.

IRRIGAÇÃO POR SUPERFÍCIE

Como toda tecnologia empregada na produção agrícola, a


irrigação pode causar modificações ambientais e impactar
os recursos naturais (solo, recursos hídricos, fauna e flora).
Esses impactos, no meio ambiente, podem ter tanto uma
abrangência local (propriedade agrícola), regional (bacia
IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO hidrográfica) ou mesmo nacional (poluição dos mares). As
questões que envolvem esses impactos devem ser vistas de
forma sistêmica, procurando considerar todas suas dimen-
sões relevantes para a produção agrícola (antes, durante e
depois) nos diversos compartimentos (água, solo, ar e siste-
mas vivos). As ações de captação e de disponibilização da
água, a sua distribuição, o seu uso e a sua descarga são di-
mensões relevantes para se avaliar os impactos ambientais.

SISTEMA DE IRRIGAÇÃO AUTOPROPELIDO

Em 1970, havia menos de 800 mil hectares de terras irriga-


das, usadas principalmente como arrozais no Estado do Rio
Grande do Sul e menos intensivamente em algumas áreas
de irrigação pública na região Nordeste. Na verdade, a irriga-
ção somente deu certo, desde então, com a implementação
de políticas de investimento público em infraestrutura de
irrigação, transmissão e distribuição de energia, bem como
financiamento de equipamentos e de despesas do dia a dia,
por meio de programas como o Programa de Irrigação do
multimídia: vídeo
Nordeste (Proine) e o Programa Nacional de Irrigação (Proni). FONTE: GLOBO

Conforme o Censo agropecuário, realizado pelo IBGE, em Programa Globo Rural


2017, o uso de irrigação foi ampliado, se comparado ao de

10
1.3. Gestão territorializada Entretanto, a área ocupada pela agricultura familiar era de
apenas 80,25 milhões de hectares, o que corresponde a
da agricultura 24,3% da área total ocupada por estabelecimentos rurais.
Gestão territorializada da agricultura é a proposta de estí- Apesar da importância da agricultura familiar para o País, as
mulo ao ordenamento territorial da agricultura brasileira e políticas públicas adotadas ainda privilegiam os latifundiá-
o uso eficiente do solo. A maior capacidade de gestão das rios. Como exemplo, cita-se o plano de safra 2011/2012, em
atividades de agricultura, pecuária e silvicultura é funda- que R$ 107 bilhões foram destinados à agricultura empresa-
mental para conciliar as exigências de controle e abran- rial, enquanto que apenas R$ 16 bilhões foram destinados
damento dos impactos ambientais, com o atendimento aos produtores familiares. Apesar disso, a agricultura familiar
às demandas para produção de alimentos, agroenergia e gera, em média, 38% da receita dos estabelecimentos agro-
insumos florestais para a indústria. pecuários do País e emprega aproximadamente 74% dos
Ela trata do estabelecimento de uma política que considere trabalhadores agropecuários brasileiros.
nos diferentes potenciais produtivos e sua localização no O principal programa de incentivo à agricultura familiar é
território, oferecendo instrumentos que permitam monito- o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricul-
rar a situação agrícola por meio de ferramentas geoespa- tura Familiar), que financia projetos ao pequeno produtor
ciais, considerando assimetrias no uso do solo em termos rural, com baixas taxas de juros.
de produtividade, tecnologias e demandas futuras. Com-
binando esses instrumentos a novas propostas no Plana
Safra no Programa Agricultura de Baixo Carbono e estudos Classificação das propriedades rurais
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da ƒ Módulo rural: é o imóvel rural que é, direta e
República, a oferta de crédito poderá ser guiada à intensifi- pessoalmente, explorado pelo agricultor e sua fa-
cação do uso de determinadas áreas, orientando o produ- mília e que absorve toda força de trabalho dessa
tor para a priorização de sistemas sustentáveis. família, garantindo-lhe a subsistência e o progres-
so social e econômico. A área mínima fixada vai

2. AGRICULTURA depender da região, do tipo de exploração e do


número de pessoas da família. É, portanto, a di-
FAMILIAR NO BRASIL mensão mínima, ou seja, é indivisível.

De acordo com a Constituição brasileira, considera-se agri- ƒ Minifúndio: é uma propriedade de terra cujas di-
cultor familiar aquele que desenvolve atividades econômi- mensões não perfazem o mínimo para configurar
cas no meio rural e que atende a alguns requisitos básicos, um módulo rural. As dimensões são mínimas por
tais como: não possuir propriedade rural maior que quatro vários fatores, mas, principalmente, por causa da
módulos fiscais; utilizar predominantemente mão de obra situação regional onde os espaços são reduzidos.
da própria família nas atividades econômicas de proprieda- Está atrelada principalmente à economia de sub-
de; e possuir a maior parte da renda familiar proveniente sistência. A atividade econômica nos minifúndios
das atividades agropecuárias desenvolvidas no estabeleci- (agricultura familiar) responde por 70% do PIB
mento rural. agrícola do Brasil, dedicando-se, principalmente, à
policultura para o mercado interno.
No ano de 2006, o IBGE realizou o Censo Agropecuário
Brasileiro. Nele, verificou-se a força e a importância da agri- ƒ Latifúndio por exploração: é o imóvel rural
cultura familiar para a produção de alimentos no País. Ela cujas dimensões equivalem a 600 módulos rurais
é responsável direta pela produção de grande parte dos e que seja inexplorado em relação às suas possibi-
produtos agrícolas brasileiros, contribuindo com a produ- lidades fiscais, econômicas e sociais do meio, com
ção de 84% da mandioca, 67% do feijão e 49% do milho. fins especulativos.

Na década de 1990, a agricultura familiar cresceu cerca de ƒ Latifúndio por dimensão: é o imóvel que, ex-
75%, contra apenas 40% da agricultura patronal. Isso se plorado racionalmente ou não, possua dimensões
deve, em grande parte, à criação do Programa Nacional da superior a 600 módulos rurais da região em que
Agricultura Familiar (Pronaf), que abriu uma linha especial se situa.
de crédito para o financiamento do setor.
Aproximadamente 84,4% dos estabelecimentos agropecu-
ários do País são da agricultura familiar. Em termos absolu-
tos, são 4,36 milhões de estabelecimentos agropecuários.

11
3. EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO Em 2010, a Organização Mundial do Comércio apontou o
Brasil como o terceiro maior exportador agrícola do mun-
Em função da possibilidade de enormes lucros em alguns do, atrás apenas dos Estados Unidos e da União Europeia.
ramos da agropecuária, foi inaugurado um agrossistema Vários fatores levaram a este resultado, tais como a melho-
baseado no alto grau de capitalização e na organização ria dos insumos utilizados (sementes, adubos, máquinas), as
empresarial: o agronegócio. O capital aplicado na agri-
políticas públicas de incentivo à exportação, a diminuição da
cultura pode ser gerenciado por empresas instaladas nas
carga tributária (como a redução do imposto de circulação,
grandes cidades, ou seja, as fazendas funcionam como ver-
em 1996), a taxa de câmbio real, que permitiu estabilidade
dadeiras fábricas de alimentos ou matérias-primas.
de preços (a partir de 1999), o aumento da demanda dos
Com altos investimentos em mecanização e biotecnologia, países asiáticos, o crescimento da produtividade das lavouras
foi possível alcançar uma intensa produtividade. Baseada e outros componentes, como a intercessão governamental
no tripé indústria de insumos (máquinas agrícolas, agro- junto à OMC para derrubar barreiras comerciais existentes
tóxicos, sementes e fertilizantes), na agricultura moderna contra produtos brasileiros em países importadores.
e na agroindústria (transforma os produtos agrícolas em
bens e alimentos processados), a expansão do agronegó- Este progresso do setor permitiu que a agricultura passasse
cio esteve ligada à modernização da agricultura, que criou a representar quase um terço do PIB nacional. Esta avalia-
o chamado complexo agroindustrial. ção leva em conta não somente a produção camponesa,
mas de toda a cadeia econômica: desde a indústria pro-
Como vimos anteriormente, a formação desse com-
dutora dos insumos até aquela envolvida no seu beneficia-
plexo agroindustrial teve origem na chamada Revo- mento final, transporte etc.
lução Verde, um conjunto de transformações no setor Enquanto a agricultura propriamente dita apresentou, no
agropecuário que envolveu a adoção de inovações período de 1990 a 2001, uma queda na oferta de empre-
tecnológicas e a incorporação de mais maquinários gos, o setor do agronegócio praticamente triplicou a oferta
no setor, além de mudanças nos padrões tradicionais de empregos, que saltou de 372 mil para 1,082 milhão. O
de socialização (substituição de formas de trabalho número de empresas era, em 1994, de 18 mil e, em 2001,
camponesa e familiar pelo assalariado). saltou para quase 47 mil. Já a relação emprego/produtivi-
Entretanto, um dos problemas da Revolução Verde é o dade na agricultura apresentou um crescimento expressivo,
impacto que a agricultura moderna vem causando nos oposto à diminuição do número de trabalhadores.
diversos países do mundo. Entre os problemas mais co-
O setor agrícola brasileiro possui possibilidades de ampliar
muns estão a contaminação do solo, o desgaste do solo
a produção existente. Para tanto, há que se considerar as
pela opção da monocultura, o desmatamento, a conta-
áreas em que podem haver expansão da fronteira agríco-
minação de trabalhadores e o esgotamento das reservas
la, bem como o incremento daquelas subexploradas. Os
de água para irrigação. Diante disso, vem se falando cada
fatores que limitam essa expansão são infraestruturais, o
vez mais na necessidade de uma Segunda Revolução
surgimento de pragas em virtude das monoculturas, os
Verde, para criar mecanismos que minimizem esses pro-
problemas ambientais gerados por práticas como o des-
blemas e tornem os sistemas agrícolas mais sustentáveis.
matamento etc.

Durante as décadas de 1980 e 1990, o Brasil assistiu a


uma grande evolução na sua produção agrícola: em uma 3.1. Agronegócio por regiões
área praticamente igual à do início dos anos 1980, a pro- As regiões do Brasil possuem ampla diversidade climática
dução praticamente dobrou no final do século XX. e, portanto, apresentam vocação agrícola e industrial com
problemáticas bastante diferentes, provocando, assim, par-
ticipações bem distintas no agronegócio.
No ano de 1995, o percentual da participação das regiões
brasileiras deu-se da seguinte forma no total do volume
do setor: Norte (4,2%), Nordeste (13,6%), Centro-Oeste
(10,4%), Sudeste (41,8%) e Sul (30,0%) – dados estes que
revelam a concentração nestas duas últimas regiões de mais
de 70% de todo o montante do agronegócio brasileiro. Este
quadro vem se alterando, com a pequena e gradual amplia-
COLHEITADEIRA EM PLANTAÇÃO DE SOJA ção da participação das regiões Centro-Oeste e Norte.

12
3.1.1. Região Sul celulose (14,89%), carnes (11,71%) e hortifrutícolas, com
destaque para o suco de laranja (10,27%).

PARREIRAL GAÚCHO

Nos Estados do Sul brasileiro (Rio Grande do Sul, Santa


Catarina e Paraná), houve considerável participação das
PLANTAÇÃO DE CANA-DE-AÇÚCAR, EM AVARÉ-SP
cooperativas. Os produtos de maior representatividade no
PIB agrícola do País são a avicultura e o arroz irrigado –
que lideram –, e posições estáveis com o milho e o feijão 3.1.3. Região Nordeste
– já os produtos como soja, trigo, cebola, batata e outros No Nordeste brasileiro, região formada por nove Estados
perderam as posições que ocupavam no ranking nacional. (Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Gran-
O Sul é ainda o maior produtor de tabaco do País, que, por de do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão), 82,9% da mão de
sua vez, é o maior exportador mundial. obra do campo equivale à agricultura familiar.
A vocação agrícola no Sul, incrementada a partir da década
de 1930, coincidiu com a integração com os setores indus-
triais da região. Enquanto nos demais Estados as indústrias
tenderam, na atualidade, à importação dos insumos, Santa
Catarina mantém um elevado grau de interdependência do
setor industrial com o agrícola.
No Rio Grande do Sul, é importante a participação do agro-
negócio familiar, derivado, sobretudo, do modelo de coloni-
zação ali realizado, com expressiva representatividade no PIB
agrícola daquele Estado. Outro fator importante é que este
PLANTAÇÃO DE PALMA
modelo proporciona um elevado grau de fixação do homem
no campo, bem como a interação entre os pequenos produ- A região é a maior produtora nacional de banana, respon-
tores. No ano de 2004, a região respondia por 14,4% da dendo pelo montante de 34% do total. Lidera, ainda, a
produção frutícola, ocupando o terceiro lugar do País. produção de mandioca, com 34,7% do total. É a segun-
da maior produtora de arroz, com uma safra estimada,
3.1.2. Região Sudeste em 2008, de um 1,114 milhão de toneladas, em que o
Maranhão tem majoritária participação (com 668 mil to-
Em 1995, o Sudeste (Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janei- neladas). Também ocupa a segunda posição na produção
ro e Espírito Santo) era responsável pela maior participação frutícola, com 27% da produção nacional.
no montante do agronegócio do País, mas em tendência
de queda face a expansão das fronteiras agrícolas e a ins- Um dos grandes problemas da região Nordeste são as es-
talação de indústrias em outras regiões. tiagens prolongadas, mais fortes nos anos em que ocorre
o fenômeno climático do El Niño. As estiagens provocam o
O Sudeste é o maior produtor nacional de frutas, produzin- êxodo rural, a perda de produção, minimizados seus efeitos
do 49,8% do total nacional, segundo os dados de 2004. A por meio de ações governamentais de emergência, através
região concentra 60% das empresas de software voltadas da construção de açudes e outras obras paliativas, como
para o agronegócio, conforme levantamento efetuado pela
a transposição do rio São Francisco. As piores secas dos
Embrapa Informática Agropecuária (situada em Campinas,
últimos anos foram as de 1993 (considerada a pior em 50
SP). Quanto à exportação, o setor do agronegócio ocupava
anos), 1998 e 1999.
a segunda posição nacional, no período de 2000 a 2008,
ficando atrás da região Sul; o Sudeste representou 36% O Censo Agro de 2017 indica um que a região Nordeste teve
do montante exportado de 308 bilhões de dólares – os queda tanto no número de estabelecimentos agropecuários
produtos que mais se destacaram no comércio exterior na (menos 131.565) quanto na área (menos 9.901.808 ha –
região foram o açúcar (17,27%), o café (16,25%), papel e aproximadamente, o estado de Pernambuco).

13
3.1.4. Região Norte exploração foi possível graças às pesquisas para adaptação
de novos cultivos de vegetais, como algodão, girassol, ceva-
A região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, da, trigo etc., permitindo que, em 2004, viesse a se tornar a
Roraima e Tocantins) tem como principal característica a responsável pela produção de 46% da soja, milho, arroz e
presença do bioma amazônico, em que a floresta tropical feijão produzidos no País.
é marcante (por sua presença em parte do Maranhão, este
é incluído nas ações de governo nesta região). O grande Essa é a região onde a fronteira agrícola brasileira teve
desafio da região é aliar a rentabilidade e produtividade maior expansão. Durante as três últimas décadas do século
com a preservação da floresta. XX, sua agricultura teve um crescimento de cerca de 1,5
milhão de toneladas de grãos por safra, saltando de uma
produção de 4,2 milhões para 49,3 milhões de toneladas,
em 2008 – um crescimento superior a 1.100%.
A área cultivada na região, que compreende os Estados
de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e o Distrito
Federal, em 2008, era de 15,1 milhões hectares, tendo
avançado nos primeiros anos do século XXI, sobretudo
sobre áreas anteriormente dedicadas à pecuária. Dentre
os principais fatores que levaram a esse crescimento, con-
ta-se a abertura de estradas, que facilitou o escoamento
da produção. Na fruticultura, a participação da região, em
dados de 2004, aponta o último lugar no País, com 2,7%
OFICINA DE HORTICULTURA, EM MANACAPURU-AM do total produzido.
A região já foi responsável, por um curto período, pela pro-
dução do mais importante produto de exportação brasilei- 3.2. Principais produtos
ro, no final do século XIX e começo do XX, durante o ciclo
Dada a sua grande variedade climática e extensão territo-
da borracha, em que o extrativismo da seringueira gerou o
rial, o Brasil possui diversas áreas especializadas em deter-
avanço das fronteiras nacionais (conquista do Acre), até o
minados cultivos – por vezes, dentro de um mesmo Estado
contrabando da árvore pela Inglaterra e sua aclimatação
da federação –, como na Bahia, em que se tem o cultivo de
em países asiáticos.
soja e algodão (na sua região oeste), de cacau (no sul), fru-
É a segunda maior produtora nacional de banana, respon- tas (no médio São Francisco), feijão (em Irecê) etc. Também
dendo por 26% do total. Também é a segunda na pro- um produto agrícola encontra-se em áreas distintas no ter-
dução de mandioca (com 25,9% do total), ficando atrás ritório nacional – por exemplo, o arroz, que é plantado no
somente do Nordeste. A produção de frutas ocupa a penúl- Rio Grande do Sul, no sul do Maranhão e Piauí, em Sergipe
tima posição, respondendo por 6,1% da produção nacio- e nas regiões Norte e Centro-Oeste.
nal, à frente apenas da região Centro-Oeste.
Alguns produtos, como trigo, arroz e feijão, não têm produ-
ção suficiente para atender à demanda interna; outros, como
3.1.5. Região Centro-Oeste
a soja, são quase que exclusivamente produzidos para ex-
portação (a soja é o principal produto exportado pelo agro-
negócio brasileiro). Por ordem alfabética, apresentaremos a
seguir os principais produtos agrícolas do Brasil.

3.2.1. Algodão
De 1960, quando teve início a mecanização agrícola do
País, até o começo do século XXI, a área plantada com
algodão decresceu, os preços caíram, mas a produção au-
mentou substancialmente.
A partir da década de 1990, o polo produtor deslocou-se
ALHO IRRIGADO, EM CATALÃO-GO
das regiões Sul e Sudeste para as regiões Centro-Oeste e
Há cerca de trinta anos, a região era quase desconhecida em oeste da Bahia. Desde 2001, a produção deixou de atender
seu potencial econômico. O principal bioma é o cerrado, cuja apenas à demanda interna e passou-se a exportar o produto.

14
Em 1998, foi plantada uma área total de 3,845 milhões de
hectares, havendo uma redução, estimada em 2008, para
2,847 milhões de hectares. A produção, entretanto, saltou
de 11,582 milhões de toneladas para, estimadas, 12,177
milhões de toneladas, no ano de 2008.

3.2.3. Café

ALGODÃO, PLANTADO NA REGIÃO DE CERRADO DA BAHIA

Com o ingresso do Brasil no mercado exportador de al-


godão, logo surgiu o embate com os Estados Unidos, que,
com os subsídios e taxações às importações do produto,
mantinham o preço do algodão artificialmente baixo no CULTIVO DE CAFÉ, EM FAZENDA NO SUL DE MINAS
mercado internacional. A reivindicação brasileira foi leva-
da à OMC (Organização Mundial do Comércio) no ano de O cultivo do café iniciou-se no Brasil em 1727 e, já em
2002 e, com os recursos impetrados pelos estaduniden- 1731, o País exportava o produto. Sua evolução como item
ses, as sanções foram finalmente decididas em 2009. Essa do comércio exterior brasileiro atingiu o ápice em 1929,
ação marcou a história do agronegócio brasileiro, segundo quando representava 70% de tudo que o Brasil exportava.
as palavras do ex-ministro da Agricultura Marcus Vinicius Embora sua importância como produto de exportação te-
Pratini de Moraes: “(...) [a vitória na OMC foi] um dos nha diminuído consideravelmente com a diversificação da
momentos mais importantes do agronegócio brasileiro. produção, em 2008 o café representou 2,37% das expor-
Mostramos ao mundo que, além de competitivos, somos tações do Brasil e 0,5% do PIB. Entre 2006 e 2009, o Brasil
fortes”. No livro publicado pela Associação Brasileira dos exportou uma média de 28,3 milhões de sacas de café ao
Produtores de Algodão, a entidade privada dos produtores ano, o que fez do País o maior exportador mundial. Sua
que, junto ao governo do Brasil, ingressou na OMC com o produção anual é de cerca de cem milhões de sacas, 25%
processo contra os subsídios estadunidenses, intitulada A do que é produzido no Planeta.
saga do algodão: das primeiras lavouras à ação na OMC. A produção estimada para 2009 foi de mais de 39 milhões
de sacas, sendo o maior produtor o Estado de Minas Gerais
3.2.2.Arroz (mais da metade do produzido no País). O cultivo ocupa
De exportador do grão, o Brasil passou, na década de uma área de 2,3 milhões de hectares, com cerca de 6,4
1980, a importar o produto em pequenas quantidades bilhões de pés.
para atender à demanda interna. Na década de 1990, O café de melhor qualidade do País é produzido na cidade
tornou-se um dos principais importadores, atingindo no baiana de Piatã, onde o grão adquire um sabor especial e
período de 1997-1998 a dois milhões de toneladas, equi- único – segundo concurso que avalia o café gourmet, em
valentes a 10% da demanda. Uruguai e Argentina são os novembro de 2009. As condições de altitude e clima per-
principais fornecedores do cereal para o País. mitiram à cidade da Chapada Diamantina ter outros três
produtores entre os dez melhores do Brasil.

3.2.4. Cana-de-açúcar

CULTIVO DE ARROZ, EM RIO DO SUL, SC CANAVIAL, EM SÃO PAULO

15
A cana-de-açúcar ocupa a terceira posição entre as cultu- 3.2.6. Milho
ras cultivadas no Brasil quanto à área, ficando atrás da soja
e do milho. O País é o maior produtor mundial, tendo colhi-
do, na safra 2007/2008, 493,4 milhões de toneladas, dos
quais foram produzidos 31 milhões de toneladas de açúcar
e 22,5 milhões de metros cúbicos de álcool. Em números,
o setor representa 1,5% do PIB; na exportação de etanol,
atinge a marca de 5 bilhões de litros e, na de açúcar, desti-
na ao comércio externo 20 milhões de toneladas.
A área cultivada, entre 1987 e 2008, evoluiu de 4,35 mi-
lhões de hectares para 8,92 milhões de hectares; no perí- MILHARAL, EM CAMPINAS-SP
odo, a produtividade saltou de 62,31 t/ha para 77,52 t/
A produção brasileira se dá, basicamente, em duas épocas
ha. As principais regiões produtoras são a Centro-Sul e a
ao ano: a safra, propriamente dita, durante os períodos de
Norte-Nordeste, que colheram, respectivamente, na safra
chuva; e a chamada “safrinha” – ou “de sequeiro” –, du-
2007/2008, 431,225 milhões de toneladas e 57,859 mi-
rante a estiagem. O primeiro caso ocorre na região Sul, no
lhões de toneladas.
final de agosto; no Sudeste e Centro-Oeste, em outubro
e novembro; e no Nordeste, no início do ano. A segunda
3.2.5. Feijão safra é feita nos Estados do Paraná, São Paulo e no Cen-
O Brasil é o maior produtor mundial de feijão, respondendo tro-Oeste, com o milho cultivado fora do tempo, nos meses
por 16,3% do total produzido, que foi de 18,7 milhões de de fevereiro e março.
toneladas, no ano de 2005, segundo a FAO (Organização
No ano de 2006, a área plantada com o seu cultivo no
das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura).
Brasil foi de cerca de treze milhões de hectares, com uma
Historicamente, o grão é produzido por pequenos agri-
produção superior a 41 milhões de toneladas – produti-
cultores, sendo que, nas últimas duas décadas, cresceu o
vidade considerada aquém da capacidade de produção e
interesse por parte de integrantes do agronegócio, o que
das exigências do mercado.
gerou o aumento expressivo da produtividade, em alguns
casos superando os três mil kg/ha. O País foi, ainda em 2006, o terceiro maior produtor mun-
dial (atrás dos Estados Unidos e da China), sendo respon-
sável por 6,1% do milho produzido no Planeta. O Estado
que mais produz é o Paraná, com 25,72% do total.

3.2.7. Soja
A soja é, no Brasil, um dos principais itens da produção
agrícola, sendo o segundo maior produtor mundial e o
maior exportador mundial, movimentando sua cadeia pro-
dutiva de agronegócio. Nos anos de 2016 e 2017, a cultura
CULTIVO DE FEIJÃO, EM AVARÉ-SP ocupou uma área de 33,890 milhões de hectares, o que
A área cultivada com feijão sofreu uma redução, no perí- totalizou uma produção de 113,923 milhões de toneladas,
odo de 1984 a 2004, de cerca de 25%. Isto, entretanto, tendo como maiores Estados produtores Mato Grosso, Pa-
não resultou na diminuição da produção, que teve au- raná e Rio Grande do Sul.
mento de 16% no período. É cultivado em todo o País, Sua introdução no Brasil se deu no ano de 1882, e no início
havendo, portanto, dadas as diferenças climáticas, safras do século XX a produção destinava-se à forragem animal.
durante todo o ano. A partir de 1941, a produção de grãos superou a forragei-
Apesar de sua posição de liderança entre os produtores, ra, até tornar-se o principal objetivo da cultura, adaptada
com safras equivalendo a três milhões de toneladas ao ao País, principalmente após estudos do Instituto Agronô-
ano, a produção do feijão não é suficiente para atender à mico de Campinas.
demanda interna. Com isso, o Brasil importa cem mil tone- O desenvolvimento efetivo da soja só ocorreu na década
ladas ao ano do produto. de 1970, impulsionado pela indústria de óleo e pelas ne-
cessidades impostas pelo mercado mundial.

16
A produção de soja no Brasil não é tradicionalmente de inte-
resse interno, mas uma imposição determinada por grupos 4. AGRICULTURA E
externos que ditam o que nós devemos ou não produzir. IMPACTO AMBIENTAL
Até os anos 1980, concentrou-se na região Sul, nos Esta-
dos do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Com 4.1. Problemas erosivos
o desenvolvimento de culturas adaptadas ao solo e aos
Entre os problemas enfrentados pela agricultura brasileira,
diferentes climas, a produção estendeu-se ao Centro-O-
está a falta de cuidados referentes ao uso do solo e controle
este, nos Estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
da erosão. Uma grande parte das regiões Sudeste e Nordes-
Goiás e Distrito Federal. No ano de 2008, as duas maiores
te do País é de formações rochosas graníticas e de gnaisse,
regiões produtoras, Centro-Oeste e Sul, foram responsáveis
sobre as quais se assenta uma camada de regolito, bastante
por 83% da produção nacional de soja, com participação suscetível à erosão e formação de voçorocas. Autores como
de 48% e 35%, respectivamente. No período de 1990 Bertoni e Lombardi Neto apontam essa condição como um
a 2008, a produção no Centro-Oeste avançou cerca de dos maiores riscos ambientais do País, ao lado daquelas de-
340%, passando de 6,4 milhões de toneladas para 28,5 correntes da ação humana que são significativas.
milhões de toneladas. A região Sul, por sua vez, teve um
acréscimo de aproximadamente 80% da produção no
mesmo período, e progrediu de 11,5 milhões de toneladas
para 20,4 milhões de toneladas.
Ao comparar o tamanho dos estabelecimentos nas duas
maiores regiões produtoras, verifica-se que a dimensão
média, obtida pela divisão da quantidade de hectares da
área colhida pela quantidade total de propriedades, é di-
ferente para os dois casos. De acordo com os dados do VOÇOROCA EM BAURU, SP
Censo Agropecuário 2006, enquanto na região Sul os es-
Em virtude da erosão, há a necessidade da reposição de
tabelecimentos possuem tamanho médio inferior à metade nutrientes ao solo, em consequência da sua perda. A ero-
do verificado para o País, no Centro-Oeste o valor é cerca são provoca ainda a perda da estrutura, textura e diminui-
de seis vezes maior que a média brasileira. ção das taxas de infiltração e retenção de água.
O Centro-Oeste hoje é o segundo maior produtor de soja Os procedimentos usados comumente no preparo do plan-
do País, ocupando uma condição geopolítica que favorece tio, como a aração e o uso de herbicidas para o controle
a produção. A produção de soja tem alcançado, a cada ano, das ervas daninhas, acabam por deixar o solo exposto e
índices de produções cada vez mais elevados, decorrentes suscetível à erosão – quer pelo carregamento da camada
da inserção constante de tecnologia que ignora as ques- superficial (e mais rica em nutrientes), quer pela formação
tões de solo e climas. das voçorocas. A terra levada pela água provoca o assore-
amento de rios e reservatórios, ampliando, deste modo, o
É inegável que a soja seja geradora de riqueza, mas tais
impacto negativo no ambiente. Uma das soluções é o cha-
riquezas encontram-se concentradas nas mãos de pou-
mado plantio direto, prática ainda pouco divulgada no País.
cos. Deve-se também levar em consideração que esse tipo
de produção provoca sérios problemas ambientais, como
perda de solos, retirada da vegetação original, poluição
dos solos e das águas, extinção das nascentes, morte de
animais silvestres que consomem cereais com substâncias
químicas, entre outros.

3.2.8. Tabaco
O Brasil é segundo maior produtor mundial de tabaco e NO NORTE DE MINAS GERAIS, LEITO DO
RIO SÃO FRANCISCO TOMADO PELO ASSOREAMENTO
o maior exportador de fumo desde 1993, com o fatura-
mento de cerca de 1,7 bilhão de dólares. O maior produtor
voltado para o mercado externo é o Rio Grande do Sul, e 4.2. Agrotóxicos
a região Sul responde por 95% da produção nacional, que Existem quatro mil tipos de agrotóxicos que resultam em
exporta entre 60% e 70% do que produz. cerca de quinze mil formulações distintas, dos quais oito

17
mil estão licenciadas no Brasil. São produtos como inseti- Em 2017, segundo o IBGE, 1.681.001 produtores utilizaram
cidas, fungicidas, herbicidas, vermífugos e, ainda, solventes agrotóxicos. Um aumento de 20,4% em relação a 2006.
e produtos para higienização de instalações rurais, dentre
Segundo informações da Anvisa (Agência Nacional de Vigi-
outros. Seu uso indiscriminado provoca o acúmulo dessas
lância Sanitária), com base em dados da ONU e do Minis-
substâncias no solo, na água (mananciais, lençóis freáticos,
tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, as lavou-
reservatórios) e no ar, afetando negativamente o meio am-
ras brasileiras utilizam pelo menos dez tipos de agrotóxicos
biente. No entanto, são largamente utilizadas para manter
considerados proibidos em outros mercados, como União
as lavouras livres de pragas, doenças, espécies invasoras,
Europeia e Estados Unidos.
tornando, assim, a produção mais rentável.

5. TRANSGÊNICOS NO BRASIL
O Brasil apresenta uma taxa de 3,2 kg de agrotóxicos por
hectare – ocupando a décima posição mundial, para alguns
estudos, e a quinta, em outros. O Estado de São Paulo é o O Brasil ocupa a terceira posição mundial no uso de se-
maior consumidor no País, sendo também o maior produ- mentes transgênicas. As principais culturas que usam dessa
tor (com cerca de 80% da produção nacional). Para o con- biotecnologia são a soja, o algodão e, desde 2008, o milho.
trole dos efeitos danosos ao meio ambiente do uso dessas
substâncias, é preciso a educação do agricultor, a prática Diversas ONG nacionais e internacionais com filiais no Brasil,
do plantio direto e ainda o esforço de órgãos tecnológicos como o Greenpeace, movimentos como o MST (Movimento
como a Embrapa, com o desenvolvimento de espécies mais dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) ou a Contag (Confede-
resistentes, de técnicas que minimizem a dependência aos ração Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) manifesta-
produtos, do controle biológico de pragas, entre outros. ram-se contrários ao cultivo de plantas geneticamente modi-
ficadas no País, expondo argumentos como a desvalorização
destes no mercado, a possibilidade de impacto ambiental
negativo, a dominação econômica pelos grandes empresá-
rios, dentre outros. Entidades ligadas ao agronegócio, en-
tretanto, apresentam resultados de estudos efetuados pela
Associação Brasileira de Sementes e Mudas (Abrasem), nos
anos de 2007 e 2008, tendo como resultado “vantagens so-
cioambientais observadas nos demais países que adotaram
AVIÃO APLICA AGROTÓXICO EM LAVOURAS, NO MATO GROSSO
a biotecnologia agrícola há mais tempo”.
No ano de 2007, os produtos que apresentaram maior índi-
No País, a Justiça Federal tinha decidido que alimentos que
ce de contaminação por agrotóxicos foram tomate, alface e
contenham mais de 1% de transgênicos em sua composi-
morango, sendo o agricultor o principal afetado. Isso acontece
ção devem, nos seus rótulos, expor a informação em desta-
porque é baixa a conscientização do produtor e poucos são os
que, a fim de informar ao consumidor; em 2015, a medida
que cumprem as determinações legais para o uso dessas subs-
foi revogada.
tâncias, como a de equipamento de proteção individual (EPI).

18
5. CULTIVO ORGÂNICO Censo Agrícola de 2006 do IBGE registrou a existência de 90
mil estabelecimentos do tipo no Brasil, o que perfaz 2% do
total; destes, entretanto, apenas 5.106 possuem o certificado
de produção orgânica.
Os orgânicos estão presentes, sobretudo, nas pequenas e
médias propriedades, e a maioria dos produtores está orga-
nizada em associações ou cooperativas. O Estado com maior
número de produtores é a Bahia (223), seguido por Minas
Gerais (192), São Paulo (86), Rio Grande do Sul (83), Paraná
(79) e Espírito Santo (64). O programa Organics Brasil, cons-
tituído em 2005, visa promover as exportações do setor.
CULTIVO DE ALFACE ORGÂNICA, NA FAZENDA MALUNGA, NO DF

A chamada agricultura orgânica visa à produção de alimen-


tos sem uso de fertilizantes, agrotóxicos, agroquímicos etc. O

6. QUADRO GERAL DA AGRICULTURA NO BRASIL


Café
Setor Agropecuário safra 2011

Produção no Brasil entre 2010 e 2011 Brasil: 43,4 milhões


da sacas
Soja
safra 2010/2011
Minas Gerais
maior estado produtor
74,8 milhões 22,1 milhões de sacas
de toneladas Fonte: CONAB

Mato Grosso Cana


maior estado produtor safra 2010/2011
20,1 milhões Brasil: 624,9 milhões
de toneladas de toneladas
Fonte: CONAB
MT São Paulo
maior estado produtor
MG 359,2 milhões
toneladas
MS Fonte: CONAB
Carne bovina SP
safra 2011
Brasil: 21,7 PR
milhões de abates Milho
safra 2010/2011
MS (estado com maior
número de abate) Brasil: 57,5 milhões de toneladas
maior estado produtor
Paraná
4,3 milhões de abates maior estado produtor
Fonte: Ministério
da Agricultura, 12,2 milhões de toneladas
Pecuária e Abastecimento Fonte: CONAB

Em 2004, viviam em áreas rurais não metropolitanas, segundo o IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, Pnad
2004), 5,9 milhões de famílias em todo o Brasil. A participação da agricultura para o PIB brasileiro cresceu, no período com-
preendido entre 2001 e 2004, passando de 8,4% para 10,1% – crescimento que foi favorecido pelos preços favoráveis de
commodities (mercadorias de baixo valor agregado) e do câmbio.
Em 2006, foram cultivados 62,3 milhões de hectares do território. Aproximadamente 3,6 milhões de hectares foram irriga-
dos, responsáveis por 69% de todo o consumo de água doce no Brasil. A área total oficialmente cadastrada como destinada
à agricultura perfaz um total de 360 milhões de hectares, mas que não é toda agricultável. Cerca de 29,5 milhões de hectares
estariam aptos ao uso da irrigação.
Da área cultivada em 2006, 4,8% foram destinadas à fruticultura, responsável por 16,8% do rendimento da safra daquele
ano, e que tem como principais produtos a laranja, a banana e a uva (57% da produção em frutas); outros produtos integram
a produção frutífera nacional, com menor expressão, como a manga, a maçã, a mamão e o abacaxi.

19
Principais culturas agrícolas do Brasil 6.1. Ranking geral do país
4% 4% Soja Em 2005, a agricultura brasileira ocupava o primeiro lugar
5% na produção e exportação de açúcar (42% da produção
Milho
6% mundial), etanol (51%), café (26%), suco de laranja (80%)
42% Cana-de-açúcar e tabaco (29%); segundo maior produtor e exportador de
16% Feijão soja em grãos (35% da produção mundial) e soja em farelo
Arroz
(25%); no milho era o quarto maior produtor e terceiro
maior exportador (com 35% da produção), segundo dados
Trigo
23% da USDA Foreign Agricultural Service and Global Trade In-
Outros formation Services.
O eucalipto – árvore introduzida da Austrália e adaptada Segundo relatório da OMC referente a 2010, apesar de
no Brasil – é o principal item das culturas de florestamento, 80% da produção de grãos se localizar em áreas tempe-
ocupando uma extensão de três milhões de hectares no radas, o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial
País, destinada à produção de celulose e para a metalurgia de exportação em produtos como açúcar, café, suco de la-
(ferro-gusa). ranja, tabaco e álcool; e o segundo lugar em soja e milho.

Agricultura do Brasil
Quota mundial de 2009, %
Produção Exportação
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
1
Suco de laranja 1

1
Açúcar 1

2
Soja 2

3
Galinhas 1

1
Café
1

2
Carne 1

4
Porco 4

4
Milho 2

5
Algodão ranking mundial 4

Fonte: United States Department od Agriculture

7. PECUÁRIA

VAQUEIRO ACOMPANHA O GADO EM TRAVESSIAS NO PERÍODO DAS CHEIAS, NO PANTANAL MATO-GROSSENSE.

20
Carne (bovina, bubalina, de aves etc.), ovos, leite e mel são do Mato Grosso, com o maior rebanho bovino do Brasil.
os principais produtos alimentares oriundos da atividade Também o Nordeste necessita ser lembrado, pois a região
pecuária. Couro, lã e seda são exemplos de fibras usadas conta com aquilo que se convencionou chamar de “ilhas
na indústria de vestimentas e calçados. O couro também é de modernidade”.
extensivamente usado na indústria de mobiliário e de au- A produção pecuária de caráter capitalista, com emprego
tomóveis. Alguns povos usam a força animal de bovídeos da mão de obra assalariada, expansão de pessoal na área
e equídeos para a realização de trabalho. Outros também administrativa e incorporação do progresso tecnológico,
usam o esterco seco (fezes secas) como combustível para o tais como os da biotecnologia, distribui-se e expande-se
preparo de alimentos. pelo território segundo diversos estímulos. De um lado,
existe a influência do Estado, mediante a criação de po-
líticas voltadas para a implantação de polos de desenvol-
vimento em áreas específicas do território brasileiro. Para
estas áreas, são criadas linhas de crédito especiais e ofe-
recidas assistência técnica, infraestrutura de transporte,
energia, comunicação, entre outras.

NO BRASIL, HÁ MAIS DE 700 EMPRESAS LIGADAS À CADEIA DO


COURO: FAMILIARES, MÉDIAS E GRANDES CONGLOMERADOS.

O Brasil tem um rebanho de aproximadamente 193 milhões


de cabeças criadas em 220 milhões de hectares. Especialis-
tas afirmam que a pecuária brasileira irá criar 220 milhões
de cabeças em 150 milhões de hectares. A lotação média no
Brasil é de 0,8 ua/ha (unidade animal por hectare).
Ocupação da área de pecuária no Bra-
multimídia: música
sil em cabeças por hectare
Morro velho – Elis Regina

8. ESTRUTURA FUNDIÁRIA
DO BRASIL
FONTE: HISTÓRICO DOS CENSOS – IBGE / ELABORAÇÃO BIGMA CONSULTORIA
Embora seja fundamental a compreensão das questões
No Brasil, os pioneiros da pecuária foram os senhores da econômicas, técnicas e sociais ligadas à agropecuária, o
Casa da Torre de Garcia d’Ávila, utilizando como vaquei- elemento mais importante e indispensável para a realiza-
ros, muitas vezes, mão de obra indígena. Entretanto, com ção de todas as atividades no campo é a terra. Por esse
uma grande seca no Nordeste e a descoberta de minerais motivo não é possível realizar um estudo adequado da
preciosos em Minas Gerais no final do século XVIII, o polo economia rural de uma região ou país sem mencionar as
pecuarista no Brasil transferiu-se para as regiões Sudeste e condições de acesso à terra.
Sul, mais especificamente São Paulo e Rio Grande do Sul. Nas sociedades atuais, a terra é regulamentada como pro-
Atualmente, a produção pecuária de bovinos é partilhada, priedade privada. Entretanto, a propriedade privada sobre
principalmente, pelo Centro-Oeste, Sudeste e Sul, cabendo a terra é relativamente recente na história humana e prin-
ao Nordeste o predomínio sobre as criações de caprinos e cipalmente na história do Brasil.
muares. Os ovinos se concentram no Sul e Nordeste (Rio A estrutura fundiária corresponde ao modo como as pro-
Grande do Sul, Bahia e Ceará são os principais produtores). priedades rurais estão divididas, como estão dispersas no
Os suínos e as aves se concentram no Sudeste e no Sul. No território e seus respectivos tamanhos, facilitando a com-
entanto, o principal centro pecuarista do Brasil é o Estado preensão das desigualdades que acontecem no campo.

21
Essa divisão da terra acontece de acordo com o proces- Contudo, o que marca o grande problema de acesso à terra
so histórico e a legislação de cada Estado. Há países, por foi a implantação da Lei de Terras de 1850, que inaugurava
exemplo, em que não há propriedade da terra, como é o a propriedade privada da terra no Brasil, que definiu que as
caso de Cuba e da China. Em outros países, embora exista terras ainda não ocupadas passavam a ser propriedade do
a propriedade da terra, podemos verificar que a estrutura Estado e só poderiam ser adquiridas por meio de compra
fundiária é bem distribuída, como ocorre no Japão, Holan- mediante pagamento à vista. Escravos, mesmo que liber-
da, Coreia do Sul e França. tos, não teriam direito de compra.
A Constituição Republicana de 1889 foi outro elemento
Posse e propriedade importante na questão do acesso à terra no Brasil. Nesse
A posse da terra tem a ver com o direito de uso sobre momento, as terra chamadas devolutas (terras públicas)
ela. O reconhecimento desse direito é bastante antigo passaram à responsabilidade dos governos estaduais, mui-
(direito romano utis possidetis), mas sempre esteve tos dos quais passaram a utilizar esse poder em benefício
ligado ao uso, ou seja, o direito de posse é garantido das elites locais, o que corroborou para a formação de inú-
a quem usa a terra. meros novos latifúndios no País.

A propriedade, por sua vez, independe do uso, isto é, a A desigualdade da estrutura fundiária brasileira representa
terra pode ser propriedade de alguém, mesmo nunca um dos principais problemas do meio rural brasileiro por-
tendo sido utilizada. que interfere diretamente na quantidade de postos de tra-
balho, valor de salários e, automaticamente, nas condições
de trabalho e de vida dos trabalhadores rurais.
Contudo, em países da América latina e na África, devido
No caso específico do Brasil, grande parte das terras do
às heranças coloniais, é bastante comum encontrarmos o
País encontra-se nas mãos de uma parcela mínima da po-
problema da concentração fundiária. A concentração da pro-
pulação, ou seja, dos latifundiários. Já os minifundiários são
priedade da terra no Brasil é consequência de um processo
proprietários de milhares de pequenas propriedades rurais
histórico que se iniciou com a colonização e a aplicação das
espalhadas pelo País, algumas tão pequenas que, muitas
sesmarias, a plantation (que exigiram a incorporação de vas-
vezes, não conseguem produzir renda e prover a subsis-
tas áreas de terras para suprir a grande demanda por gêne-
tência familiar.
ros agrícolas, produzindo formas desiguais de acesso à terra).

Distribuição de terras no Brasil, de acordo com a área

Estrato de Imóveis Área Área média


área (ha) Número % Número % (ha)

Menos de 10 1.874.969 34,10 8.834.571,15 1,46 4,7

10 a 100 2.863.773 52,08 95.186.129,26 15,72 33,2

100 a 1.000 978.462 12,34 181.757.801,33 30,02 267,9

1.000 a 10.000 79.228 1,44 194.821.102,90 32,18 2.459,0

10.000 a 100.000 1.878 0,03 43.467.154,54 7,18 23.145,4

Mais de 100.000 225 0,004 81.320.986,88 13,43 361.426,6

Total 5.498.535 605.387.746,06 110,1

FONTE: INCRA. SISTEMA NACIONAL DE CADASTRO RURAL (2012).

Diante dos números e das informações, fica evidente que, elas ocupam no País uma área de 25,8 mil hectares, há tam-
no Brasil, ocorre uma discrepância em relação à distribui- bém propriedades de tamanho superior a 100 mil hectares,
ção de terras, uma vez que alguns detêm uma elevada que juntas ocupam uma área de 24 milhões de hectares.
quantidade de terras e outros possuem pouca ou nenhu-
Outra forma de concentração de terras no Brasil é prove-
ma, aspectos esses que caracterizam a concentração fun-
niente também da expropriação, que significa a venda de
diária brasileira.
pequenas propriedades rurais para grandes latifundiários
É importante conhecer os números que revelam quantas são com intuito de pagar dívidas geralmente geradas em em-
as propriedades rurais e suas extensões: há pelo menos 50,5 préstimos bancários. Como são muito pequenas e o nível
mil estabelecimentos rurais inferiores a um hectare; juntas, tecnológico é restrito, diversas vezes não alcançam uma

22
boa produtividade e os custos são elevados; dessa forma,
não conseguem competir no mercado, ou seja, não obtêm a propriedade da terra e o outro apenas a força de
lucro. Esse processo favorece o sistema migratório do cam- trabalho, que cultiva a terra e depois divide uma
po para a cidade, denominado êxodo rural. parte da produção com proprietário.

A concentração de terra ƒ Arrendatário é o agricultor que não possui terra,


50 mas tem recursos financeiros para arrendar ou alu-
47,86 *Nº de propriedades, % Área ocupada, %
44,42
gar a propriedade por um período determinado.
40

38,09
ƒ Trabalhadores assalariados temporários são
34,16
30
trabalhadores rurais que recebem salário, mas
20
que trabalham apenas uma parte do ano, durante
19,06
as colheitas.
10

2,36
8,21
0,91
ƒ Grileiro: quem falsifica documentos para, ilegal-
0
- 10 ha 10 a 100 ha 100 a 1.000 + de 1.000 ha
mente, tomar posse de terras.
Fonte: Censo Agropecuário do IBGE 2006, divulgado em 2009
*Não estão contabilizadas as propriedades agropecuárias sem declaração de área (4.93%) ƒ Trabalho escravo no campo é o trabalho sem
garantia de direitos trabalhistas, cujo trabalhador
A problemática referente à distribuição da terra no Brasil não recebe salário, pois tudo que é utilizado é co-
é produto histórico, resultado do modo como, no passado, brado dele, desde a alimentação até as ferramen-
ocorreu a posse de terras ou como foram concedidas. tas de trabalho. Ele se endivida e fica impedido de
A distribuição teve início ainda no período colonial com ir embora.
a criação das capitanias hereditárias e sesmarias, carac-
terizada pela entrega da terra pelo dono da capitania a
quem fosse de seu interesse ou vontade; em suma, como
no passado a divisão de terras foi desigual, os reflexos são
percebidos na atualidade e é uma questão extremamente
polêmica e que divide opiniões.

8.1. O trabalho e a terra no Brasil


O subaproveitamento do espaço rural brasileiro é caracteri-
zado por uma baixa produtividade em relação aos outros pa-
íses que possuem uma agricultura pautada na mecanização.
O motivo que faz o Brasil ter uma baixa produtividade está “RESGATADA”, A VÍTIMA DO CRIME DE ESCRAVIDÃO TEM DIREITO
na predominância da prática da agropecuária tradicional. A RECEBER SEGURO-DESEMPREGO E PARTICIPA DE PROGRAMAS
QUE FAVOREÇAM SUA REINTEGRAÇÃO SOCIAL.
Na maioria dos países desenvolvidos, as atividades agrope-
A fixação do trabalhador rural no campo depende de vários
cuárias são desenvolvidas em propriedades rurais menores,
de base familiar, altamente produtivas e mecanizadas, vol- fatores, pois não basta a simples redistribuição de terras
tadas para a produção de alimentos e matéria-prima para para garantir o sucesso da reforma agrária; é preciso faci-
abastecer o mercado interno do País. lidade na obtenção e pagamentos de créditos financeiros,
garantia de preços, condição de transportes, orientação
Em pleno século XXI, a escravidão é registrada, principal- técnica e infraestrutura.
mente, nos estados do Pará, Mato Grosso e Goiás. A reforma
agrária é outro problema muito polêmico no País; contudo,
convém explicitar seu significado. Ela tem a finalidade de 8.2. Conflitos por terra e os
promover a divisão ou reorganização mais justa da terra. A movimentos camponeses
questão agrária provoca uma grande tensão no campo. Entre os principais conflitos por terra no início do século XX
estão Canudos e Contestado, que embora muitas vezes se-
ƒ Posseiros são trabalhadores rurais que ocupam jam lembrados como episódios que envolveram questões
e/ou cultivam terras devolutas ou não exploradas. religiosas, estão diretamente voltados para uma questão
ƒ Parceria é a junção entre dois trabalhadores ou
de luta pela terra.
produtores rurais, de acordo com a qual um possui Com a decadência do modelo agroexportador, os confli-
tos no campo se tornaram mais intensos e sangrentos. A

23
modernização agrícola também colaborou para o aumento
das tensões no campo, uma vez que contribuiu para a con- ƒ Prestar assistência médica, jurídica e educacional
centração fundiária e diminuiu a necessidade de mão de aos camponeses.
obra nas fazendas. ƒ Formar uma cooperativa de crédito capaz de li-
No Brasil, entre anos de 1940-1960, a efervescência po- vrar aos poucos o camponês do domínio do la-
lítica e o desenvolvimento de uma consciência de classe tifundiário.
desencadearam processos marcantes de mobilização das
massas, principalmente de trabalhadores do campo.
Os camponeses (compostos por mais de 140 famílias)
O primeiro grande movimento que marcou os conflitos no decidiram lutar, mas sabiam que, isolados no campo, não
campo brasileiro foram as Ligas Camponesas. Com o lema conseguiriam resistir por muito tempo. Resolveram, então,
“reforma agrária na lei ou na marra, as Ligas Camponesas buscar apoio na cidade e encontraram na figura do advo-
foram organizações de camponeses formadas pelo Parti- gado Francisco Julião o apoio e o respaldo jurídico de que
do Comunista Brasileiro (PCB), a partir de 1945, e um dos tanto precisavam.
movimentos mais importantes em prol da reforma agrária
Francisco Julião, que já havia se pronunciado a favor dos
e da melhoria das condições de vida no campo no Brasil.
camponeses, institucionalizou a associação. Graças a ele,
Elas foram abafadas depois do fim do governo de Getúlio
a Sappp passou a funcionar legalmente. Em 1959, eles
Vargas e só voltaram a agir em 1954, inicialmente no esta-
conseguiram a desapropriação do engenho. A imprensa
do de Pernambuco, e posteriormente na Paraíba, no Rio de
rapidamente chamou a Sappp de Liga, fazendo referência
Janeiro e em Goiás.
ao antigo movimento criado pelo PCB.
O segundo período de existência da Liga começou no en- Enquanto isso, o movimento espalhava-se pelo interior do
genho Galileia, na cidade de Vitória de Santo Antão, em Estado. A vitória dos galileus estimulou bastante as lideran-
Pernambuco. Num contexto de crise da economia agrária, ças camponesas que sonhavam com uma reforma agrária.
agricultores do engenho organizaram a Sociedade Agrícola No início da década de 1960, as Ligas já haviam se difundi-
e Pecuária de Plantadores de Pernambuco (Sappp), com o do pelo nordeste brasileiro, atingindo repercussão nacional e
objetivo inicial de garantir condições mais dignas de traba- internacional no contexto da Revolução Cubana, em 1959.
lho. No entanto, o movimento foi acusado de subversivo e
com finalidades políticas. As reivindicações das Ligas Camponesas foram fortalecidas
com as medidas do governo do presidente João Goulart
Além de proibir sua atuação, o proprietário do engenho (1961-1964), as Reformas de Base, lançadas em 1963,
aumentou o foro (em troca de cultivar a terra, os campo- cujo pilar da política para o campo era justamente a re-
neses deviam pagar uma quantidade fixa em espécie para forma agrária. A ação das ligas camponesas pela reforma
o proprietário) e ameaçando os trabalhadores de expulsão. agrária constituiu-se como mais um dos motivos encon-
trados pelos militares, apoiados pelas forças conservadoras
do País, para executarem o golpe de Estado, em 1964.

Na tentativa de amenizar a tensão em torno da ques-


tão fundiária, o governo militar instituiu o Estatuto da
Terra, que, apesar de ter sido pouco aplicado para exe-
cução de ações de reforma agrária, criou novas formas
de se pensar a questão da propriedade da terra, sendo
que a principal novidade foi o reconhecimento da fun-
ção social da terra, ou seja, a propriedade da terra fica
condicionada pela maneira como ela será utilizada. É
com base nessa ideia que surge a noção de reforma
Objetivos específicos da Sappp agrária como um conjunto de medidas adotadas pelo
ƒ Auxiliar os camponeses com despesas funerárias Estado, no sentido de reordenar a propriedade e o uso
– evitando que os falecidos fossem, literalmente, da terra, com o objetivo de promover a justiça social,
despejados em covas de indigentes (caixão em- o aumento da produtividade e o desenvolvimento
prestado). econômico. E nesse processo inclui a desapropriação

24
As Ligas Camponesas foram totalmente reprimidas du-
de terras que não cumpram sua função social. Além rante a ditadura militar e seus principais líderes, presos.
disso, o Estatuto também definiu os primeiros parâ- Entretanto, a reivindicação dos trabalhadores rurais pela
metros para avaliar o tamanho das terras e seu apro- distribuição de terras no Brasil foi novamente retomada na
veitamento, criando a noção de módulo rural. década de 1980, podendo-se considerar o Movimento
Módulo rural tem como finalidade primordial estabe- dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) como um continu-
lecer uma unidade de medida que exprima a interde- ador da luta empreendida pelas ligas camponesas.
pendência entre a dimensão, a situação geográfica dos
imóveis rurais e a forma e as condições de seu apro-
veitamento econômico. Tomado como referência de di-
mensão econômica foi utilizado para a caracterização e
classificação dos imóveis rurais. Até o presente, essa ca-
tegoria é usada para a determinação do tamanho dos
lotes de terra a serem distribuídos à população benefi-
ciária de programas de reforma agrária e de assenta-
mento, levados a efeito em diferentes regiões do Brasil.
O conceito de módulo rural, utilizado como referên- multimídia: livros
cia para a classificação dos diversos tipos de imóvel,
tem sua área fixada para cada região, a partir das A geografia das lutas no campo – Ariovaldo
características da produção agrícola regional (tipo de Umbelino de Oliveira
exploração) e numa extensão direta do conceito de Livro combativo e denso, em que o engaja-
propriedade familiar. mento não prejudica a objetividade e a paixão
Considerando-se, por sua vez, o conceito de proprieda- não cega o cientista. O geógrafo Ariovaldo
de familiar, ou seja, o imóvel que, direta e pessoalmen- Umbelino de Oliveira, professor da USP, reto-
te explorado pelo agricultor e sua família, lhes absorva ma e rediscute a história das lutas sociais no
toda força de trabalho, garantindo-lhes a subsistência e campo, o choque entre os “sem-terra” e pro-
o progresso social e econômico, com área fixada para prietários e a atitude governamental diante da
cada região e tipo de exploração, e, eventualmente, tra- questão agrária. Ilustrado com mapas e gráfi-
balhado com a ajuda de terceiros, é que se estabelece cos elucidativos em edição atualizada, revista
que esse tipo de imóvel deve ter, no mínimo, um mó- e ampliada.
dulo, a área fixada em cada região para a propriedade
familiar constitui o próprio módulo rural.
Tem-se, a partir daí, a classificação dos imóveis rurais: 8.3. O MST
ƒ Minifúndio: quando tiver área agricultável infe- Apesar de haver as mais variadas siglas, os movimentos
rior à do módulo fixado para a respectiva região e sociais do campo constituíram-se, historicamente, a partir
tipo de exploração. de duas principais frentes: as Ligas Camponesas, entre as
ƒ Latifúndio por dimensão: quando exceda, na décadas de 1940 e 1960, e o Movimento dos Trabalha-
dimensão de sua área agricultável, a seiscentas dores Rurais Sem-Terra (MST), criado na década de 1980.
vezes o módulo médio do imóvel rural, da forma
como foi definido ou a seiscentas vezes a área
média dos imóveis rurais na respectiva zona.
ƒ Latifúndio por exploração: quando, não exce-
dendo o limite referido anteriormente, mas, tendo
área agricultável igual ou superior à dimensão do
módulo ou imóvel rural na respectiva zona, seja
mantido inexplorado em relação às possibilidades
físicas, econômicas e sociais do meio, com fins
O MST É PRINCIPAL MOVIMENTO SOCIAL DO CAMPO, NA ATUALIDADE.
especulativos, ou seja deficiente ou inadequada-
mente explorado, de modo a vedar-lhe a classifi- Em 1984, durante o período da redemocratização, os tra-
cação como empresa rural. balhadores rurais, apoiados pela Comissão Pastoral da Ter-
ra, novamente se organizaram e fundaram o MST, durante

25
o primeiro congresso nacional do movimento realizado na
cidade de Cascavel, no Paraná. Cabe ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) analisar a terra para definir se ela
O MST teve sua origem como oposição ao modelo de “re-
é improdutiva ou não. Contudo, essa produtividade
forma agrária” imposta pelo regime militar, que, entre outras
considerada pelo Incra é bastante questionável, pois
medidas, priorizava a colonização de terras devolutas em re-
ela é medida através do Índice de Produtividade da
giões remotas, com o objetivo claro e estratégico de exportar
Terra, baseado no Censo Agropecuário do IBGE 1975
o excedente populacional para essas regiões para integrá-las
(desatualizados e, portanto, ponto chave dos conflito),
economicamente ao resto do País (ocupar para não perder).
sendo atualizados apenas em 2009 no governo Lula.
Desde a sua criação, o MST atua por meio da ocupação Agora, levarão em conta a média de produtividade de
de grandes latifúndios e terras improdutivas, construindo cada microrregião entre 1996 e 2007.
assentamentos. Porém, é importante observar que esse é
apenas o seu método de ação, e não o seu objetivo final. Ao mesmo tempo, o MST oferece apoio às famílias, criando
Após a ocupação, o movimento realiza pressão para que escolas e cursos de formação política e de técnicas de culti-
o Estado ofereça condições de infraestrutura básica, como vo e agricultura familiar, estimulando, assim, a organização
rede elétrica e outros. dos pequenos produtores rurais em cooperativas.

Projetos de assentamentos rurais (2010)


Região Assentamentos % Famílias % Área %
Norte 57 28 7.268 49 1.574.204 86

Nordeste 88 43 3.482 24 155.835 9

Sudeste 19 9 1.568 11 34.379 2

Sul 11 5 940 6 14.349 1

Centro-Oeste 31 15 1.520 10 45.910 3

Total 206 100 14.778 100 1.824.677 100


ORGANIZAÇÃO: RAFAEL DE OLIVEIRA COELHO DOS SANTOS, DATALUTA, 2011.

fazer uma marcha em protesto contra a demora da desapro-


priação de terras, principalmente as da fazenda Macaxeira.
A polícia militar foi encarregada de tirá-los do local, porque
estariam obstruindo a rodovia BR-155, que liga a capital Be-
lém, ao sul do Estado.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Raiz Forte - Documentário sobre o MST

8.3.1. O caso de Eldorado dos Carajás CRUZ MARCA O LOCAL DO MASSACRE EM ELDORADO DOS CARAJÁS, PA.

Em 17 de abril de 1996, no município de Eldorado dos Ca- O episódio se deu no governo do então governador Almir
rajás, no sul do Estado do Pará, ocorreu um massacre com Gabriel. A ordem para a ação policial partiu do secretário
o assassinato de dezenove trabalhadores sem-terra, pela de Segurança do Pará, Paulo Sette Câmara, que declarou,
ação da polícia militar. O confronto ocorreu quando 1.500 depois do ocorrido, que autorizara “usar a força necessária,
trabalhadores sem-terra acampados na região decidiram inclusive atirar”. De acordo com os trabalhadores sem-terra

26
ouvidos pela imprensa na época, os policiais chegaram ao o dono da fazenda Macaxeira pelo massacre. Ele o acusou
local jogando bombas de gás lacrimogêneo. de ter pago propina para que a polícia militar assassinas-
se os líderes dos trabalhadores sem-terra. Ele mesmo teria
Segundo o legista Nelson Massini, que fez a perícia dos
sido procurado para contribuir com a coleta. O dinheiro se-
corpos, pelo menos dez pessoas foram executadas à quei-
ria entregue ao coronel Mário Pantoja, comandante da PM
ma-roupa. Sete lavradores foram assassinados por instru-
de Marabá, que esteve à frente da operação que resultou
mentos cortantes, como foices e facões.
no massacre. Nenhum fazendeiro ou jagunço foi indiciado
no inquérito policial.
Os 155 policiais militares que participaram da operação
foram indiciados sob acusação de homicídio pelo inquérito
policial-militar. Esta decisão foi tomada premeditadamente,
pois, pela lei penal brasileira, não há como punir um grupo,
uma vez que a conduta precisa ser individualizada. Como
não houve perícia nas armas e projéteis para saber quais
policiais atingiram determinadas vítimas, os 19 homicídios
e as diversas lesões permanecem impunes.
Em outubro do mesmo ano, o procurador-geral da Repúbli-
EM 17 DE ABRIL DE 1996, 19 TRABALHADORES RURAIS SEM-TERRA ca, Geraldo Brindeiro, determinou que a polícia federal re-
FORAM ASSASSINADOS NO SUL DO PARÁ. constituísse o inquérito, pois estava repleto de imperfeições
O comando da operação estava a cargo do coronel Mário técnicas. Nesse parecer, Brindeiro diz ainda que o governa-
dor Almir Gabriel autorizou a desobstrução da estrada e
Colares Pantoja, que foi afastado no mesmo dia, ficando
que, portanto, tinha conhecimento da operação. No final
30 dias em prisão domiciliar, determinada pelo governador
do ano, o processo, que havia sido desdobrado em dois
do Estado e, depois, libertado. Ele perdeu o comando do
volumes, ainda estava parado no Tribunal de Justiça de Be-
batalhão de Marabá. O ministro da Agricultura, Andrade
lém, que trata dos crimes de lesões corporais, e no Fórum
Vieira, encarregado da reforma agrária, pediu demissão na
de Curionópolis, que ficou encarregado dos homicídios. Em
mesma noite, sendo substituído, dias depois, pelo senador
maio de 2012, o coronel Mário Colares Pantoja e o major
Arlindo Porto.
José Maria Pereira de Oliveira foram presos e condenados a
Uma semana depois do massacre, o governo federal con- 228 anos e a 158 anos de reclusão, respectivamente, pelo
firmou a criação do Ministério da Reforma Agrária e indi- massacre, mas aguardam em liberdade os recursos dos
cou o então presidente do Ibama (Instituto Brasileiro do seus advogados de defesa.
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Raul
Jungmann, para o cargo de ministro. José Gregori, que na
época era chefe de gabinete do então ministro da Justiça,
Nelson Jobim, declarou que “o réu desse crime é a polícia,
que teve um comandante que agiu de forma inadequada,
de uma maneira que jamais poderia ter agido”, ao avaliar
o vídeo do confronto.
O então presidente Fernando Henrique Cardoso deter-
minou que tropas do exército fossem deslocadas para a
região, em 19 de abril, com o objetivo de conter a escala- DESENHO DO CARTUNISTA LATUFF,
ILUSTRANDO O MASSACRE EMELDORADO DE CARAJÁS.
da de violência. O presidente pediu a prisão imediata dos
responsáveis pelo massacre. O Monumento Eldorado Memória, projetado pelo arqui-
teto Oscar Niemeyer para lembrar as vítimas do massacre
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, juntou-se às autorida- dos trabalhadores sem-terra, inaugurado no dia 7 de se-
des policiais e ao judiciário, no Pará, a pedido do governo tembro de 1996, em Marabá, foi destruído dias depois. Um
federal, para acompanhar as investigações. O general Al- dos líderes do movimento rural do sul do Pará afirmou que
berto Cardoso, ministro-chefe da Casa Militar da Presidên- a destruição foi encomendada pelos fazendeiros da região.
cia da República, foi o primeiro representante do governo O arquiteto disse que já esperava por isto. “Aconteceu o
a chegar a Eldorado dos Carajás. mesmo quando levantamos o monumento em homena-
No começo de maio de 1996, o fazendeiro Ricardo Mar- gem aos operários mortos pelo exército na ocupação da
condes de Oliveira, de 30 anos, depôs, responsabilizando CSN, em Volta Redonda, no Rio de Janeiro”, comentou.

27
avançam sobre as grandes reservas florestais e áreas pou-
co povoadas. No Brasil, a fronteira agrícola, que antes se
localizava na região do cerrado, atualmente se encontra na
região Norte, adentrando a floresta Amazônica.
Para melhor compreender como ocorre a expansão da
fronteira agrícola, bem como os problemas a ela relacio-
nados, é preciso compreender a noção dos conceitos de
frente de expansão e frente pioneira.

MONUMENTO EM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO MASSACRE DE


ELDORADO DOS CARAJÁS, DE OSCAR NIEMEYER

Ao longo do século XIX e XX, o campesinato passou por


profundas transformações que redefiniram suas práticas,
suas lutas e seus sujeitos. Na maioria delas, a cultura e o
modo de vida camponês estiveram em jogo, decorrente
das transformações ocorridas por causa da expropriação
que levaram muitos destes homens e mulheres a migra-
rem para outros locais, no campo e na cidade. Porém, as
especificidades formuladas nas experiências adquiridas na PRODUÇÃO DE SOJA NA FLORESTA AMAZÔNICA
vida e na luta fizeram com que a própria transformação
do campesinato se tornasse mecanismo de sua existência. ƒ A frente de expansão é o primeiro processo de ocu-
Os camponeses passaram assim a se organizar em diferen- pação das áreas naturais, geralmente realizada por pe-
tes movimentos e juntamente com a articulação de outros quenos produtores sobre terras devolutas (terrenos pú-
agentes mediadores, como a CPT, organizações sindicais e blicos no meio rural). Após dez anos de ocorrência dessa
o MST, assumiram novas identidades no processo de luta ocupação, esses produtores – geralmente voltados para
pela volta e permanência na terra e da unidade familiar. a agricultura orgânica e familiar – podem requerer a pos-
se oficial de suas terras por meio do usucapião. Esses
pequenos produtores são chamados de posseiros.
ƒ A frente pioneira representa o avanço dos grandes
produtores rurais representantes do agronegócio, ou
seja, do grande capital, cujo objetivo é a produção co-
mercial interna e para a exportação. Em muitos casos,
essa frente expande-se através da grilagem (apro-
priação ilegal) de terras devolutas ou de espaços pré-o-
cupados pelos posseiros.
Nessas situações emerge a figura do grileiro, ocorrendo
muitos conflitos no campo envolvendo posseiros e grileiros
multimídia: música (e também, em alguns casos, comunidades indígenas). Os
posseiros são, em geral, ligados a movimentos sociais do
Lamento sertanejo – Gilberto Gil campo, como o MST, e os grileiros, geralmente vinculados
aos grandes latifundiários e empresas rurais. Além disso, à
medida que o agronegócio se expande, as pequenas pro-
priedades são pressionadas ora para avançar ainda mais a
8.4. Fronteira agrícola no Brasil fronteira agrícola, ora para praticarem o êxodo rural, o que
A questão da fronteira agrícola no Brasil esbarra na ques- resulta na migração de uma grande quantidade de traba-
tão ambiental, mas também revela a problemática situa- lhadores rurais para as cidades.
ção social no meio rural.
Diante desse avanço da fronteira agrícola, mas, principal-
Fronteira agrícola é uma expressão utilizada para designar mente, da frente pioneira, ocorrem três problemas princi-
o avanço da produção agropecuária sobre o meio natural. pais: a devastação da vegetação, a concentração de terras
Trata-se de uma região na qual as atividades capitalistas e a questão da produção de alimentos.

28
Estradas asfaltadas

Zonas modernizadas
Muito diversificadas

Razoavelmente diversificadas

Pouco diversificadas
Fronteira de modernização e eixos de progressão Número de habitantes
(cidades com 500.000 hab. ou mais)
9.785.640
Zonas menos modernizadas 5.850.540
Muito diversificadas 500.000

Pouco diversificadas

Espaços de baixa densidade 0 500 km

Fronteira pioneira e eixos de progressão

Fonte: Baseado no Anário Estatístico do Brasil, IBGE

MAPA COM DESTAQUE PARA A FRONTEIRA AGRÍCOLA OU PIONEIRA

A devastação da vegetação é imediata, demonstrando que, à A questão da fronteira agrícola sempre é alvo de muita
medida que as contradições sociais do campo avançam mais polêmica e carece de um debate mais qualificado, uma vez
o meio natural é devastado. O cerrado, onde antes se encon- que esse tema é tangencial a outras questões, como a dev-
trava a fronteira agrícola, foi ocupado ao longo de todo o sé- astação das reservas florestais, a reforma agrária e outros
culo XX e conheceu a sua quase completa devastação com a elementos do espaço social do campo.
frente pioneira restando, atualmente, menos de 20% de sua
vegetação natural. Hoje, essa zona de expansão encontra-se
sobre a Amazônia, que passa a ser então ameaçada.
A segunda questão refere-se ao aumento dos latifúndios, ou
seja, da concentração de terras, uma vez que o tamanho mé-
dio das propriedades privadas nas frentes pioneiras é mais
elevado do que os terrenos rurais no restante do território
nacional, formando verdadeiros “impérios” no meio agrário.
A partir dessa segunda questão desenvolve-se o terceiro
problema mencionado: a questão da alimentação. Geral-
mente, os grandes latifúndios voltam sua produção para o multimídia: sites
mercado externo, enquanto os gêneros alimentícios básicos
são deixados de lado. Inúmeros estudos avaliam que mais da www.embrapa.br/
metade da produção de alimentos voltada para consumo in- www.mst.org.br
terno no Brasil é realizada pelos pequenos produtores rurais, www.incra.gov.br
destacando a importância desse tipo de propriedade para o
país. Com a extinção dos pequenos proprietários, a cultura
alimentar passa a sofrer as consequências.

29
CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Considerando a inter-relação nos processos que envolvem os sistemas agrícolas, fica evidente a participação de
áreas biológicas, exatas e humanas, tanto básicas como profissionalizantes. Na área biológica, há necessidade de se
conhecer os sistemas de produção vegetal, os fatores de rendimento e as anomalias bióticas e abióticas com ênfase
na diagnose, taxonomia e biologia dos agentes bióticos que impedem a expressão do rendimento das culturas agrí-
colas. É fundamental a visão ecológica, para que o ambiente seja respeitado; deve-se atender a ação dos defensivos
nos organismos não alvos e seu comportamento no solo, água e atmosfera e o destino correto de embalagens va-
zias, incluindo sua descontaminação e reciclagem. Assim como a visão taxicológica, para que o ser humano – sujeito
à exposição dos defensivos durante o preparo da calda e sua aplicação ou no consumo dos alimentos com resíduos;
deve-se entender o significado de período de carência ou intervalo de segurança, LMR (limite máximo de resíduos)
e intervalo de reentrada, além de noções de seguranças e antídotos.

30
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

As atividades agrícolas estão em constante processo de inovação para obter maior produtividade. Nesse contexto,
durante a década de 1950, ocorreu de forma mais intensa o processo de modernização da agricultura que envolveu
um grande aparato tecnológico provido de variedades de plantas modificadas geneticamente em laboratório, espé-
cies agrícolas que foram desenvolvidas para alcançar alta produtividade, uma série de procedimentos técnicos com
uso de defensivos agrícolas e de maquinários. A tecnificação promoveu a migração forçada de milhares de famílias
que viviam do trabalho na terra para os centros urbanos. Os impactos sobre as populações tradicionais que viviam
do trabalho na terra foi intenso, uma vez que, perderam o meio de produção – no caso os proprietários de terra – e
a possibilidade de acesso à terra (arrendatários, agregados etc.), que sofreram maiores consequências, à medida que
foram privados dos meios essenciais para a sobrevivência, amontoando-se na periferia das cidades, sem qualquer
alternativa de trabalho, que não fosse o trabalho temporário do boia-fria em algumas épocas do ano e/ou trabalhos
domésticos e braçais na cidade.

Modelo
(Enem)

Na charge faz-se referência a uma modificação produtiva ocorrida na agricultura. Uma contradição presente no espa-
ço rural brasileiro derivada dessa modificação produtiva está presente em:
a) expansão das terras agricultáveis, com manutenção de desigualdades sociais.
b) modernização técnica do território, com redução do nível de emprego formal.
c) valorização de atividades de subsistência, com redução da produtividade da terra.
d) desenvolvimento de núcleos policultores, com ampliação da concentração fundiária.
e) melhora da qualidade dos produtos, com retração na exportação de produtos primários.

31
Análise expositiva - Habilidade 16: Nas últimas décadas, houve expressivo avanço do agronegócio no es-
A paço rural brasileiro visando o abastecimento dos mercados externo e a indústria. O crescimento deu-se, inclusive,
sobre novas terras agricultáveis e em decorrência da elevação da produtividade relacionada ao uso da biotec-
nologia (incluindo a utilização crescente de transgênicos), mecanização e insumos (agrotóxicos e fertilizantes). A
modernização do setor não eliminou problemas tradicionais do espaço agrário brasileiro como a desigualdade
social e a concentração fundiária.
Alternativa A

DIAGRAMA DE IDEIAS

INFRAESTRUTURA REVOLUÇÃO
AGRÍCOLA VERDE

• ESCOAMENTO • AGRONEGÓCIO
• ESTOQUES REGULADORES • AGROTÓXICOS
• PREÇO MÍNIMO • TRANSGÊNICOS
• ARMAZENAGEM • DESIGUALDADE FUNDIÁRIA

CONFLITOS
NO CAMPO

LIGAS
MST UDR
CAMPONESAS

32
AULAS TIPOS DE INDÚSTRIA
29 E 30
COMPETÊNCIA: 2 HABILIDADE: 18

1. INTRODUÇÃO Fábrica: S.f. 1. Lugar ou estabelecimento onde se manu-


faturam utensílios, roupas, máquinas e várias outras mer-
O estilo de vida atual faz com que o ser humano tenha que cadorias. 2. O pessoal de um desses estabelecimentos. 3.
aprender a lidar com uma série de equipamentos. Não é Construção de edifício ou parte do edifício; edificação.
mais possível imaginar, para grande parte da população Indústria: S.f. 1. Destreza ou arte na execução de uma
mundial, uma vida sem aparelhos que nos levam a estu- trabalho manual; aptidão; perícia. 2. Profissão mecânica ou
dar, a trabalhar, a se divertir, a conversar muitas vezes com mercantil; ofício. 3. Econ. A atividade secundária da econo-
alguém que está do outro lado do mundo, entre outras mia, que engloba as atividades de produção ou qualquer
atividades, tudo isso proporcionado pela indústria. dos seus ramos, em contraposição às atividades agrícolas
Mas o que é uma indústria? Aparentemente essa pa- (primárias) e a prestação de serviços (terciárias). 4. Econ.
rece uma questão fácil de responder. Logo nos vem a Conjugação do trabalho e do capital para transformar a
memória àquela construção enorme que tem próximo matéria prima em bens de produção e consumo. 5. O con-
da nossa casa, do nosso bairro, que produz uma de- junto das empresas industriais; o complexo industrial.
terminada mercadoria e que depois será oferecida no
mercado. Também nos parece claro que é uma empresa
que emprega um grande número de trabalhadores, os
2. TIPOS DE INDÚSTRIA
chamados operários.
Uma outra coisa que nos chama a atenção é sua consti-
tuição física: uma enorme estrutura onde se destaca uma
chaminé, que está sempre soltando uma fumaça, numa
clara demonstração que está funcionando. Muitas vezes
a responsabilizamos pela poluição provocada na cidade
e os danos que causam aos trabalhadores que nela tra-
balham e as populações que moram nos arredores. Essa
resposta não está de todo errada, entretanto, convém ob-
servarmos a diferença entre fábrica e indústria, conforme PINTURA COM “FÁBRICA NO CENTRO DE BERLIM”, DE EDUARD BIERMANN, 1847
nos indica o Dicionário Aurélio:
Como sabemos, a Primeira Revolução Industrial ocorreu en-
tre o final do século XVIII e começo do século XIX, na Ingla-
terra. Desde aquela época até os dias atuais, essa atividade
econômica caracterizou-se pelas mudanças tecnológicas e
pela variedade e quantidade de mercadorias produzidas.
Cabe à indústria, a transformação da matéria-prima
em produto por meio das máquinas, da energia e da
força de trabalho humana, com a finalidade de ser
comercializada para as pessoas ou para outras indús-
trias. Essa comercialização pode ser dividida e classi-
ficada em dois tipos: indústria de base e de bens de
multimídia: música consumo.

FONTE: YOUTUBE
Os tipos de indústria envolvem as mais variadas classifica-
Três apitos – Noel Rosa ções dos sistemas industriais e estão relacionadas segundo
a atuação e produção de cada uma delas.

33
2.1. Indústrias de base
Indústria de base é o tipo de indústria em que a sua produ-
ção é absorvida por outras indústrias, ou seja, produzindo
máquinas ou matéria-prima. Também chamadas de indús-
trias de bens intermediários ou indústrias pesadas, incluem
principalmente os ramos: siderúrgico, metalúrgico, petro-
químico e de cimento.
ƒ Indústria metalúrgica: tem uma grande dependên-
cia de matérias-primas, exige inversões muito elevadas
SOLDAGEM NA LINHA DE PRODUÇÃO
e ocupa muito o setor industrial. Ela proporciona lingo- DE AUTOMÓVEIS.
tes, forjados, tubos, pranchas de aço, ferro, alumínio e
outros metais com vistas a utilizá-los em outras fábricas. ƒ Indústria de bens semiduráveis: produzem artigos
que oferecem uma vida útil média, como roupas, calça-
ƒ Indústria química: é a mais variada, que utiliza
dos, celulares entre outros.
uma gama maior de matérias-primas – combustíveis
sólidos, líquidos e gasosos, pirita, cal, sal, produtos
vegetais e animais etc. A elaboração desses produtos
químicos é a mais complexa. Os produtos mais comuns
são fertilizantes, corantes, explosivos, plásticos, gomas,
borracha, detergentes, isolantes, fibras artificiais, produ-
tos fotográficos, produto farmacêutico etc. Um tipo de
indústria química diferenciada é a refinaria de petróleo.
Portanto, é o tipo de indústria que trabalha e trata os pro-
dutos de sua origem em grande quantidade, com exclusão
de produtos agrícolas, para convertê-los em produtos se-
FABRICAÇÃO DE TELA PARA TELEFONE CELULAR
mielaborados e que serão posteriormente utilizados para
a fabricação de outros bens destinados ao consumo final. ƒ Indústria de bens não duráveis: encarregada pela
Trata-se de grandes quantidades de produtos brutos, pesa- produção de bens perecíveis, cuja durabilidade é rápi-
dos, para transformá-los em produtos semielaborados. da, como o ramo de alimentos e medicamentos.

FORNO UTILIZADO PARA AQUECER OS METAIS INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA: PROCESSAMENTO DE FRANGO.

2.2. Indústrias de bens de consumo


Nessa categoria industrial, o objetivo é a produção direcio-
3. INDUSTRIALIZAÇÃO NO MUNDO
nada ao consumidor final; para a fabricação de mercado- A industrialização consiste em transformar um determi-
rias que atendam esse mercado, é preciso utilizar matéria- nado espaço geográfico a partir da construção de indús-
-prima oriunda da indústria de base. Esse tipo de indústria trias e de empresas direta e indiretamente ligadas a essas
divide-se em: indústrias. Esse fenômeno provoca profundas alterações
ƒ Indústria de bens duráveis: responsável pela produ- socioespaciais, tanto acelerando a urbanização e o êxodo
ção de mercadorias de grande vida útil, ou seja, longa du- rural quanto alterando drasticamente a maneira de explo-
rabilidade, como automóveis e eletrodomésticos. ração e utilização dos recursos naturais.

34
Quando se aborda a questão da industrialização mun-
dial, fala-se de um processo que ocorreu de forma ex-
tremamente desigual pelo Planeta. Enquanto os países
de industrialização clássica desenvolveram-se tecnologi-
camente a partir de meados do século XVIII e ao longo
do séculos, os países de industrialização tardia vivencia-
ram esse fenômeno apenas a partir do século XX, sendo
que alguns deles ainda hoje não podem ser considerados
como industrializados.
A Inglaterra foi o país onde ocorreu a chamada Primeira
QUADRICICLO FORD, 1896.
Revolução Industrial. O artesanato e a manufatura criaram
as condições de disciplinarização da mão de obra, de am- A partir da segunda metade do século XX, aconteceu a
pliação dos mercados, de intensificação das trocas, do acú- Terceira Revolução Industrial ou Revolução Técnico-científi-
mulo de capital nas mãos de um reduzido número de pes- ca-informacional. Esse processo de desenvolvimento ainda
soas ligadas ao comércio e à manufatura, da organização se encontra em curso e é responsável pela informatização
dos Estados nacionais de uma legislação de favorecimento das sociedades e pelo desenvolvimento dos transportes,
aos investidores e controle dos trabalhadores. comunicação, biotecnologia e informação. Com isso, as
Na Primeira Revolução Industrial, as técnicas baseavam-se chamadas multinacionais ou empresas globais
na operação da máquina a vapor, cuja fonte de energia se disseminaram pelo mundo, propiciando a industrializa-
principal era o carvão. Essa etapa ocorreu na Europa e ção de países subdesenvolvidos, ou em vias de desenvolvi-
provocou profundas alterações no espaço das cidades, que mento, que até então produziam apenas matérias-primas
passaram a crescer de forma acelerada em virtude da gran- para as nações desenvolvidas.
de oferta de empregos e da mecanização do campo, que
foi um dos fatores que provocaram o êxodo rural (migração
em massa da população do campo para as cidades).

O SISTEMA DE PRODUÇÃO PERMITE AINDA FABRICAR MODELOS DIFERENTES AO


A PRIMEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL FOI MESMO TEMPO, DEIXANDO A PROGRAMAÇÃO DA FÁBRICA MUITO MAIS FLEXÍVEL.
MARCADA PELO USO DE MÁQUINAS A VAPOR.
Nesse contexto, deu-se o encurtamento das distâncias e
Na Segunda Revolução Industrial, durante a se- da aceleração das atividades, ocorrendo a compressão
gunda metade do século XIX, ocorreu um novo ciclo de espaço-tempo. Com isso, o fordismo foi substituído pelo
inovação tecnológica, e o petróleo tornou-se a principal
toyotismo, em que não há mais a produção em massa, e
fonte de energia, o que acontece ainda hoje, mesmo com
sim conforme a demanda do mercado. Além disso, o traba-
as inovações industriais posteriores. A mão de obra passou
lho é menos repetitivo, sendo flexibilizado, com um mesmo
a ser mais qualificada, uma vez que as formas de produção
empregado desempenhando várias funções ao longo da
tornaram-se mais complexas, com maquinários movidos a
cadeia produtiva.
energia elétrica e com um maior grau de complexidade.
Nesse período, impôs-se o modelo de produção fordista, Como reflexo do desenvolvimento industrial, percebemos
caracterizado pelo trabalho repetitivo nas fábricas, a intro- que os países considerados desenvolvidos são justamente
dução da esteira que submeteu o trabalhador ao tempo da aqueles que primeiro se industrializaram. Com isso, seus
máquina, o maior controle dos trabalhadores e a produção espaços geográficos sociais, embora apresentem contra-
em grandes quantidades. dições e desigualdades, são mais modernos em relação

35
aos países periféricos ou em desenvolvimento. Além dis- aumento da escala de produção, à introdução de inovações
so, mesmo com as grandes multinacionais se espalhando tecnológicas e à manutenção de equipes administrativas.
por todo o mundo, são os países ricos que abrigam suas
sedes – sobretudo as chamadas cidades globais, como 4.1. Taylorismo
Nova Iorque e Londres – e dominam as principais formas
O taylorismo constitui-se num método para aumentar a
de tecnologia.
produtividade do trabalho por meio da padronização das
atividades, da contenção dos custos operacionais e do me-
lhor aproveitamento do tempo de execução do trabalho,
tornando-o, portanto, mensurável e melhor controlável
pelo capital.
Segundo Taylor, a administração deve incumbir-se de ana-
lisar o processo de trabalho em seus mínimos detalhes,
propor e testar novas formas de realizá-lo e transmiti-las
aos operários em forma de padrões hierárquicos rígidos
de execução, assegurados pela elaboração de normas,
instruções, regras de procedimento, prêmios, sanções etc.
Deve também escolher e treinar o “melhor homem“ para
multimídia: vídeo realizar cada tarefa do processo de trabalho, atendendo às
FONTE: YOUTUBE disposições previamente estabelecidas por meio de previ-
Tempos Modernos - Charles Chaplin’s sões e planejamento.

Esta obra-prima cômica encontra o icônico Va- Segundo Simone Weil, filósofa francesa que se tornou
gabundo empregado em uma fábrica, onde as operária da Renault para escrever sobre o cotidiano den-
máquinas Inevitável e Completamente o domi- tro das fábricas, o patrão não tem apenas a propriedade
nam e vários percalços o levam para a prisão. da fábrica, das máquinas, o monopólio dos processos de
Entre suas passagens pela prisão, ele conhece fabricação e dos conhecimentos financeiros e comerciais
e faz amizade com uma garota órfã. a respeito de sua fábrica, mas também pretende ter o
monopólio do trabalho e dos tempos de trabalho, e nas
palavras da própria escritora “Taylor substitui o chicote
pelos escritórios e pelos laboratórios, com a cobertura da
ciência“, ou seja, dar uma conotação científica à arte de
4. SISTEMAS DE PRODUÇÃO OU organizar e comandar.

FORMAS DE ORGANIZAÇÃO 4.2. Fordismo


PRODUTIVA DO TRABALHO Com Henry Ford, a grande novidade técnica e em termos
de organização da produção no chão de fábrica foi a intro-
Enquanto o sistema de “fábrica“ foi responsável pela in- dução da esteira rolante, que ao fazer o trabalho chegar
trodução do princípio de separação entre trabalho manual ao trabalhador numa posição fixa, conseguiu dramáticos
e intelectual no processo de trabalho, a organização da ganhos de produtividade. A implementação do fordismo
“gerência científica“ (ou administração científica), incum- não significou apenas um novo modo de organização ra-
biu-se de retirar dos operários, e transferir para os capitalis- cional do trabalho e da produção, mas também a consti-
tas, o controle de cada fase e atividade dentro do processo tuição de um novo modo de vida. Do mesmo modo que
de trabalho, como também de seu modo de execução, ba- os princípios do taylorismo caminhavam em direção ao
seado até então em um conhecimento prático advindo da controle do trabalho, também o fordismo tinha como seu
experiência e tradição do ofício. fundamento o controle do processo de trabalho. Mais do
A viabilização da administração científica do processo de que uma ruptura, o fordismo representou a continuidade e
trabalho, com sua função ao mesmo tempo gerencial (ad- intensificação do processo de controle da força de trabalho
ministração das condições materiais da produção) e coerci- viva que já havia iniciado com o taylorismo. No entanto,
tiva (disciplinação do trabalho), no entanto, só foi alcançada apesar do fordismo incorporar elementos do taylorismo na
após longo processo de concentração e centralização de sua dinâmica, é possível estabelecer diferenças fundamen-
capitais que possibilitou a absorção dos custos inerentes ao tais entre ambos.

36
O intuito de Ford não era apenas dominar a força de tra- aumento do absenteísmo, do turn-over, da dilapidação,
balho, mas conquistar a adesão dos trabalhadores. Se a das sabotagens, das greves.
grande inovação no aspecto técnico-produtivo foi a imple-
Nesse momento de crise dos EUA, inicia-se uma reorde-
mentação da esteira rolante, no aspecto ideológico foi o
nação do mercado com ameaças da perda de hegemonia
reconhecimento explícito de que: Produção de massa sig-
estadunidense no plano econômico. Concomitantemente,
nificava consumo de massa, um novo sistema de reprodu-
a economia japonesa já começava a despontar com um
ção da força de trabalho, uma nova política de controle e
crescimento fabuloso, sustentada em altos índices de pro-
gerência da força de trabalho, uma nova estética e uma
dutividade do trabalho.
nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade
democrática [...]. O fordismo equivaleu ao maior esforço A cultura japonesa não erigiu uma distinção clara e nítida,
coletivo para criar, com velocidade sem precedentes, e com como no mundo ocidental racional-burocrático, entre o mun-
uma consciência de propósito sem igual na história, um do familiar e o mundo do trabalho. Esse é um fator cultural
novo tipo de trabalhador e um novo tipo de homem. Os que interferirá nos padrões de produção que surgirão no Ja-
novos métodos de trabalho são inseparáveis de um modo pão no pós-guerra. Outro fator é que o Japão havia saído
específico de viver e de pensar a vida (HARVEY, 1992: 121). destruído da segunda guerra mundial e houve, por parte do
governo, um forte apelo ao trabalho para a reconstrução do
A principal diferença entre o fordismo e o taylorismo é que país e para reerguer a economia. Esse quadro cultural e his-
o fordismo tinha um projeto de hegemonia. Ele não queria tórico contribuiu para o surgimento de um novo padrão de
apenas dominar a força de trabalho, ele queria conquistar produção, que se diferenciou em muitos aspectos do tayloris-
sua adesão. Hegemonia não é só dominação, hegemonia mo-fordismo, denominado toyotismo ou ohnismo. O toyotis-
é capacidade de direção, quem dirige é quem é capaz de mo, como via japonesa de expansão e consolidação, é uma
conquistar a adesão dos outros. A hegemonia começa forma de organização do trabalho que nasceu na Toyota, no
quando se conquista, sobretudo, a adesão dos trabalha- Japão do pós-1945, e que, muito rapidamente se propaga
dores. Daí a ideia de pacto social ou compromisso social para as grandes companhias daquele país.
entre a classe capitalista e a classe trabalhadora. Mas, é
Os traços mais marcantes do toyotismo se dividem em
preciso que essa hegemonia extrapole os muros da fábrica
quatro dimensões:
e se torne uma hegemonia social. Aí entra o Estado como
provedor de políticas públicas e sociais, com investimento 1. Sistema de emprego: adotado pelas grandes empresas,
na saúde, na educação e no lazer. O Estado do bem-es- é constituído pelo chamado emprego vitalício, pela promoção
tar social, enquanto Estado provedor, configura-se, então, por tempo de serviço e a admissão do trabalhador não é rea-
como um emblema do padrão de produção fordista. lizada para um posto de trabalho, mas para a empresa, num
determinado cargo, ao qual corresponde um salário.
Percebe-se que o fordismo se configurou como um novo
padrão de produção e demorou quase meio século para 2. Sistema de organização e gestão do trabalho:
se estruturar e maturar suas consequências para o mundo. just-in-time – produzir no tempo certo, na quantidade exa-
Esse novo padrão de produção teve consequências mar- ta; kanban – placas ou senhas de comando para reposi-
cantes para o sistema capitalista de produção e criou um ção de peças e estoques; qualidade total – envolvimento
padrão de organização do trabalho, assim como um novo dos trabalhadores para a melhoria da produção; trabalho
estilo de vida e, junto com ele, um novo tipo de homem em equipe – a organização do trabalho está baseada em
que, em alguma medida, perdura até os dias de hoje. grupo de trabalhadores polivalentes que desempenham
múltiplas funções.
4.3. Toyotismo 3. Sistema de representação sindical: os sindicatos
por empresa são integrados à política de gestão do traba-
Em todo o período pós-guerra existiu uma fase caracte-
lho. Os cargos assumidos na empresa confundem-se com
rizada por um contínuo crescimento dos ganhos de pro-
os do sindicato.
dutividade, os famosos 30 anos gloriosos do fordismo, e
no final dos anos 1960 e início de 1970 esse crescimento 4. Sistema de relações interempresas: são relações
ininterrupto da produtividade é sucedido por um período muito hierarquizadas entre as grandes empresas e as pe-
de queda da produtividade. No âmbito do processo de tra- quenas e médias. Ocorre subcontratação de pequenas e
balho, constata-se a reação da classe trabalhada contra os microempresas extremamente precárias e instáveis. Essa
métodos de exploração do trabalho. A classe trabalhadora rede de subcontratação é fundamental para o modelo ja-
já se encontrava desgastada pelos modos de intensificação ponês de produção. Além do que existe uma hierarquia en-
do processo de trabalho, o que gerou uma verdadeira re- tre as grandes e médias e pequenas empresas que colocam
volta por parte das camadas proletárias, marcada por um estas últimas em posição de subordinação.

37
Muitas dessas características vão ser absorvidas pelas indús- O volvismo surgiu como resultado de várias inovações con-
trias ocidentais, principalmente americanas, que ainda junto juntamente postas em prática, com a particularidade da
com características do padrão de produção fordista, vão ini- participação constante dos trabalhadores. As exigências do
ciar um novo tipo de acumulação e produção no sistema mercado competitivo forjaram melhorias, mas o que fez a
capitalista que é a chamada acumulação flexível. Diante da diferença no caso da Volvo foram características claramente
crise do fordismo, as empresas capitalistas vão buscar, na in- particulares da sociedade sueca. Além dos sindicatos for-
corporação de algumas características do modelo japonês, tes, o alto grau de automação das fábricas no país faz com
saídas para a queda do nível de produtividade e acumulação, que desde há tempos os jovens rejeitem serem vistos como
essas saídas terão como consequência um profundo proces- “acessórios das máquinas”, como no taylorismo o seriam.
so de flexibilização do mundo do trabalho. O just-in-time,
Isso gerou mudanças estruturais. Nessa linha, o operário
o kanban, os CCQ (círculos de controle de qualidade) são
tem um papel completamente diferente daquele que tem
formas, antes de tudo, de eliminar os tempos mortos da pro-
no fordismo, e ainda mais importante que no toyotismo:
dução. O trabalho em equipe, a suposta não separação entre
aqui é ele quem dita o ritmo das máquinas, conhece todas
execução e concepção tendo em vista que o modelo japonês
as etapas da produção, é constantemente reciclado e par-
demanda a participação do trabalhador, seu saber e iniciati-
ticipa, através do sindicatos, de decisões no processo de
va no processo de trabalho é, antes de tudo, uma forma de
montagem da planta da fábrica.
expropriação do saber do trabalhador. Se alguns pensadores
consideram que o modelo japonês recuperou a unidade en-
tre concepção e execução, permitindo ao trabalhador usar 5. TIPOS DE INDUSTRIALIZAÇÃO
sua capacidade de iniciativa e criatividade.
Em virtude das alterações de espaço geográfico provoca-
das pela industrialização, novos elementos passam a fa-
zer parte da vida das pessoas, nas cidades e no campo.
Eleva-se a demanda por energia e o consumo médio da
população, além da intensificação ou aceleração do pro-
cesso de urbanização. Desse modo, é notória a inferência
de que as indústrias constituem um dos mais importantes
atores de produção e transformação do espaço, bem como
de exclusão, desigualdades e destruição do meio ambiente.
multimídia: livros Ao longo do tempo, ocorreram três processos distintos de
modelos industriais vivenciados por diferentes países e lo-
Geografia Industrial do Mundo – Pierre George calidades. Essas tipificações estão relacionadas a fatores
A economia agrícola, sob suas múltiplas for- econômicos e políticos relacionados ao desenvolvimento
mas, estendeu-se por todo o globo, ao contrá- das nações pelo mundo. Os principais tipos, no que se refere
rio da economia industrial que se desenvolveu ao modelo, são: industrialização clássica, planificada e tardia.
de forma essencialmente descontínua quanto A industrialização clássica é característica dos países desenvolvi-
às implantações materiais, pois sua influência dos, ocorrendo ao longo da I Revolução Industrial naqueles que
financeira e social tende a ser universal. eram considerados os principais centros econômicos e políticos do
Planeta. Seu início se deu na Inglaterra e se disseminou por outras
partes do mundo, como a França, os Estados Unidos e o Japão.
4.4. Volvismo Inicialmente, essa industrialização provocou uma série de
O volvismo, ou sistema reflexivo de produção, é um sistema problemas urbanos, principalmente aqueles relacionados
de produção industrial pós-fordista introduzido pela Volvo à marginalidade da classe trabalhadora que, até então,
(montadora sueca) na década de 1990. não dispunha de direitos trabalhistas. Atualmente, os pa-
íses que passaram por esse tipo de industrialização são os
Em linhas gerais, a indústria sueca é caracterizada in-
principais precursores de novas tecnologias e inovações no
ternamente pelo seu altíssimo grau de informatização e
campo produtivo.
automação, e externamente pela forte presença dos sin-
dicatos trabalhistas e mão de obra altamente qualificada. A industrialização planificada ocorreu nos países do antigo
No caso das fábricas da Volvo, é ainda marcada por um “segundo mundo” socialista, durante o século XX. Corres-
alto grau de experimentalismo, sem o qual talvez não fos- ponde às economias de estado, como nas repúblicas que inte-
se possível ter introduzido tantas mudanças. graram a ex-União Soviética, além de China e outras nações.

38
Nesses países – que em algumas perspectivas não são con- Esse tipo de industrialização, diferentemente dos outros
siderados socialistas, mas “capitalistas de Estado” as institui- dois, não ocorre pela ação das indústrias nacionais, e sim
ções financeiras e industriais, bem como os meios e instrumen- pela iniciativa privada estrangeira, geralmente represen-
tos nelas utilizados, são de propriedade estatal, não havendo tada por grandes corporações multinacionais. Por esse
propriedade privada. A industrialização também se deu de motivo, não há avanços em uma produção tecnológica,
forma acentuada, interligando as diferentes regiões em uma cujo conhecimento e desenvolvimento se faz pelo capital
elevada interdependência de serviços e infraestrutura, além estrangeiro oriundo dos países desenvolvidos.
de apresentar um êxodo rural um pouco mais controlado em
Esse processo provocou uma urbanização extremamente
função das reformas sociais aplicadas no meio agrário.
acelerada e um êxodo rural descontrolado em função do
processo de mecanização do campo, que substituiu, em
grande parte, os trabalhadores rurais por máquinas. A con-
sequência é o crescimento desordenado das cidades e a
manifestação de inúmeras contradições sociais, como as
favelas e outras moradias precárias, além de inúmeros pro-
blemas de caráter socioambientais urbanos.

INDÚSTRIA AÇUCAREIRA

Já a industrialização tardia ou periférica encontra-se


em curso em muitos países e é predominante em economias
subdesenvolvidas ou emergentes. Esses países começaram
a dinamizar as suas práticas industriais apenas a partir da
segunda metade do século XX (alguns deles ainda nem ini-
ciaram esse processo de forma mais intensificada), o que
justifica, em partes, o atraso tecnológico por eles vivenciado. FAVELA NOS ARREDORES DE SÃO PAULO

6. CONCENTRAÇÃO E DESCONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL


A observação de um mapa-múndi da distribuição geográfica das indústrias mostra que, particularmente no caso dos países
capitalistas, elas se acham bastante concentradas espacialmente. Isso ocorre em virtude das indústrias procurarem se localizar
nas áreas que oferecem a maior quantidade ou a melhor combinação possível de fatores necessários à produção (fontes de
energia, mão de obra, transporte, capitais, mercado consumidor etc.). Em outras palavras, as concentrações industriais e finan-
ceiras ocorrem porque as indústrias procuram obter o menor custo possível de produção para ter o máximo possível de lucros.
Principais áreas industriais no mundo

39
Existem concentrações industriais tão grandes que constituem verdadeiros complexos, tal a quantidade e variedade dos tipos
de indústrias. O maior de todos, conhecido como manufacturing belt (cinturão das indústrias), encontra-se no nordeste dos
Estados Unidos. Além dele, destacam-se também as grandes concentrações industriais da Europa ocidental e do Japão. No
Brasil, a maior concentração industrial localiza-se na região Sudeste, particularmente na Grande São Paulo.

Regiões industriais nos EUA

6.1. Concentrações financeiras em situações monopolistas é de que essas grandes empre-


sas cresçam cada vez mais e absorvam enormes fatias do
Além da concentração espacial ou geográfica, existe tam- mercado. A Microsoft é um exemplo de monopólio mundial
bém a concentração financeira ou, digamos, a concentração na área de software. O monopólio estatal geralmente ocorre
econômica ou empresarial. Essa forma de concentração co- no caso de produtos estratégicos (energia elétrica, petróleo
meçou a acentuar-se no final do século XIX com a formação e outros) ou de serviços públicos (transportes, comunicação,
de trustes e cartéis para monopolizar o mercado (capitalismo correios etc.). No Brasil, encontramos monopólio estatal em
monopolista). No século XX, e, sobretudo, nos dias atuais, diversos setores ou atividades, tais como petrolífero, ferroviá-
essas concentrações estão representadas pelas conhecidas rio, correios e telégrafos e nuclear.
multinacionais (ou transnacionais), gigantescas empresas
que dominam a maior parte do mercado mundial. 6.1.2. Oligopólio
Embora atualmente o monopólio total seja raro (o oligo- É o domínio do mercado por um pequeno grupo de empre-
pólio é mais comum), e proibido pela legislação de grande sas. No Brasil, um bom exemplo é o da indústria automobi-
parte dos países, o que se verifica na prática é o emprego lística, onde apenas quatro empresas dominam o mercado.
de vários artifícios ou expedientes (cartéis, acordos, consór- Nos Estados Unidos, 70% do mercado automobilístico é
cios, pulos etc.) por parte dos grandes grupos empresariais, dominado por três empresas (GM, Ford e Chrysler).
com a finalidade de dominarem o mercado.
Vamos ver, então, o que é o monopólio e o oligopólio, bem 6.1.3. Truste
como os principais tipos de concentrações financeiras ou
Truste é um tipo de estrutura empresarial que procura do-
empresariais (truste, cartel, conglomerado e holding) volta-
minar todas as etapas da cadeia produtiva de um deter-
dos para o domínio de mercado.
minado produto, desde a extração da matéria-prima até
o ponto final da comercialização desse produto. Embora
6.1.1. Monopólio proibido por lei em muitos países, continua existindo na
É o domínio do mercado de um determinado produto ou prática, ainda que de modo disfarçado (truste do petró-
serviço por uma única empresa ou pelo Estado na fase do leo, do fumo etc.). O problema fundamental dos trustes
capitalismo financeiro, quando apenas uma empresa domi- é que, ao monopolizarem o mercado, impedem a prática
na um mercado, a livre concorrência é quebrada. A tendência da livre concorrência.

40
No caso do Brasil, a questão da livre concorrência passou a ser regulamentada por lei desde 1962 (lei nº 4.137), caben-
do ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a aplicação da referida lei. Já obsoletos tanto a lei como o
Cade e diante da necessidade de o governo criar mecanismos mais eficientes de defesa econômica devido à implantação
da política de liberação de preços, o ex-presidente da República Fernando Collor editou, em 2 de agosto de 1990, uma
medida provisória instituindo a Lei de Defesa da Livre Concorrência (Lei Antitruste). O órgão encarregado desse assunto
é o Departamento Nacional de Proteção e Defesa Econômica (Dnpde), que absorveu toda a estrutura do antigo Cade.

6.1.4. Conglomerado
É composto por um conjunto de empresas do mesmo grupo que atuam nos mais variados segmentos da economia. Dife-
rentemente do truste, que corresponde às empresas que atuam no mesmo segmento, o conglomerado caracteriza-se pela
diversidade de atuação. Essa diversificação é útil em situação de crise econômica por exemplo, pois se as empresas estão em
segmentos variados, umas serão mais atingidas que outras, preservando-se assim a lucratividade média do conglomerado.
O Grupo Rockefeller (estadunidense) é um dos maiores conglomerados do mundo. Dele participam algumas das maiores
multinacionais (Esso, TBM, GE, Alcoa), além de inúmeras outras grandes empresas (Boeing, Kodak, Caterpillar etc.) e um
dos maiores bancos do mundo, o Chase Manhattam Bank. No Brasil, o maior conglomerado empresarial nacional privado
é o Grupo Votorantim, formado por mais de noventa empresas espalhadas por dezoito estados e empregando mais de 50
trabalhadores. Em 1983, o Grupo Votorantin estava incluído entre os quinhentos maiores do mundo.

6.1.5. Cartel A Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca) e As


Sete Irmãs do Petróleo são exemplos de cartéis.
É um acordo ou associação de várias empresas inde-
pendentes ou autônomas para controlar ou dominar a
produção e o mercado de determinado(s) produto(s). Tem
caráter geralmente internacional e, em alguns casos, é
formado até mesmo por países, as empresas e países que
compõem um monopólio fazem acordos secretos entre si,
inviabilizando a concorrência e estipulando o preço que
melhor lhes convier. O cartel, embora proibido, é pratica-
do, em geral, por meio de ação coordenada sigilosamente
entre grandes empresas.
Apesar de os participantes do cartel manterem sua auto-
nomia, ficam obrigados a aceitar as regras estabelecidas LOGOTIPOS DAS EMPRESAS ENVOLVIDAS EM UM DOS MAIORES
pelo grupo (divisão do mercado, preços estabelecidos etc.). CARTÉIS DO MUNDO: AS SETE IRMÃS DO PETRÓLEO

41
6.1.6. Holding Seus objetivos e formas de atuação foram claramente ex-
postos por um executivo estadunidense: “É nosso objetivo
Holding é uma empresa ou organização que controla ou- estar presente em todo e qualquer país do mundo, países
tras empresas mediante a aquisição majoritária das suas da cortina de ferro, a Rússia ou a China. Nós, na Ford Mo-
ações. Sua função básica não é produzir, mas sim admi- tor Company, olhamos o mapa do mundo como se não
nistrar as outras empresas. As multinacionais normalmente existissem fronteiras. Não nos consideramos basicamente
são controladas por uma holding, que pode estar situada uma empresa americana. Somos uma empresa multinacio-
no país-sede ou em outro país. nal. E, quando abordamos um governo que não gosta dos
A Pirelli, por exemplo, possui instalações em inúmeros pa- Estados Unidos, nós sempre lhe dizemos: ‘De quem você
íses (inclusive no Brasil, onde produz pneus, materiais elé- gosta? Da Grã-Bretanha? Da Alemanha? Nós temos várias
tricos, cabos, mangueiras etc.), é administrada pela holding bandeiras. Nós exportamos de todos os países’“ (Dicioná-
Société Internationale Pirelli S/A, situada na Suíça, embora rio de Economia, p. 291-292).
a sede da Pirelli seja em Milão (Itália). No Brasil, a Autola- Considerando-se apenas as duzentas maiores empresas
tina, que controla a Ford e a Volkswagen, é um exemplo multinacionais, a soma de suas vendas em 1982 (três tri-
de holding. lhões de dólares) foi superior à produção de bens e serviços
de 130 países do Terceiro Mundo (cerca de dois trilhões de
6.2. Multinacionais ou transnacionais dólares em 1980). Das duzentas maiores multinacionais,
116 delas estão sediadas em apenas cinco países: EUA (80),
Conhecidas também como empresas internacionais ou Japão (35), Inglaterra (18), Alemanha (17) e França (16).
transnacionais, são grandes empresas que, a partir de uma
No Brasil, segundo a revista Exame, 1989, das cinquenta
base nacional (matriz), atuam em diversos outros países
maiores indústrias por vendas, 25 são estrangeiras, sendo
através de filiais ou subsidiárias.
que as multinacionais dominam nove setores da economia
(material de transporte, farmacêutico, automóveis, informá-
tica, autopeças, higiene e limpeza, eletrônica etc.), além da
presença marcante em outros seis setores. No Japão, é mui-
to comum as multinacionais se unirem para formar grandes
conglomerados (os chamados zaibatsu), que praticamente
controlam a economia do país. Os seis maiores conglome-
rados japoneses controlam cerca de 50% do comércio ex-
terior do país (exportações e importações).

42
6.3. Desconcentração industrial dias ou pequenas, que ofereçam melhor infraestrutura
urbana, com área disponível para a expansão de suas
Desconcentração industrial é o nome dado ao processo atividades e onde os governos municipais concedam
que se caracteriza tanto pela diminuição do ritmo de incentivos fiscais.
crescimento da indústria nos grandes centros urbanos
como pelo aumento do número de empresas que prefe-
rem transferir suas atividades, instalando novas unidades
de produção em cidades menores, geralmente localizadas
no interior.
Com a superconcentração do capital nas enormes man-
chas urbanas, acabou ocorrendo uma forte elevação no
preço dos imóveis, o congestionamento das redes de
transporte e comunicações, esgotamento de reservas de
matérias-primas e energia e a elevação do custo de mão
de obra.
Esses fatores fizeram com que houvesse uma reorga-
multimídia: sites
nização na distribuição geográfica das indústrias, em www.ibge.gov.br
que essas passaram a buscar cidades, geralmente mé-

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

A expansão das indústrias está diretamente relacionada ao processo de


urbanização e crescimento demográfico nas cidades, pois esse fenômeno
exerce grande poder de atração para a população rural, fato que desen-
cadeia os fluxos migratórios para as cidades. Outros aspectos da industri-
alização é o desenvolvimento de infraestrutura, transporte, comunicação,
diversos ramos de serviços, degradação ambiental, entre outros.

43
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.
A especialização dos indivíduos nasce com a sociedade moderna e urbana. Afinal, o camponês do período medieval,
para produzir o necessário para seu consumo e subsistência, dependia de sua habilidade e técnica com as ferramen-
tas à disposição. Esse momento histórico marca uma sociedade em que cada indivíduo, apesar da interdependência
social, é o principal responsável por produzir o que vai consumir. Nesse período, dada a autossuficiência da socie-
dade, a primeira forma de organização da produção foi o artesanato, em que o artesão era o dono dos meios de
produção (instalações, ferramentas manuais e matéria-prima), realizando todas as etapas do processo de produção.
Com o passar do tempo e, principalmente, devido ao crescimento populacional que gerou o aumento do consumo,
o trabalho artesanal foi dando lugar a outras formas de organização da produção.
A partir do século XV, com o surgimento de novos mercados, resultado da expansão marítimo-comercial e do sur-
gimento de novos polos de produção, a necessidade de expandir ainda mais a produção levou ao surgimento da
manufatura. Nesse sistema produtivo, o artesão perde o controle de suas ferramentas e passa a trabalhar para o
comerciante, que tem interesse em incentivar a produtividade para elevar seus ganhos.
Na segunda metade do século XVIII, o processo de Revolução Industrial levará à substituição da manufatura pela ma-
quinofatura. A maquinofatura (fábricas) é o sistema de produção que cria espaços de trabalho onde o artesão se torna
obsoleto e é substituído por um novo tipo de trabalhador: o operário; este tem a necessidade de vender sua força de
trabalho nas cidades como forma de garantir sua sobrevivência, submetendo-se ao trabalho industrial, cujo ritmo passa
a ser determinado pela máquina. É importante salientar que, nesta primeira fase da Revolução Industrial, as transforma-
ções tecnológicas ocorreram dentro do âmbito da linha de produção, sendo o operário o principal responsável por cuidar
das máquinas, embora não fosse ele o seu dono. Dessa forma, consolidou-se a separação entre trabalho e meios de pro-
dução. A Revolução Industrial, em suas várias etapas, concretizou o sistema capitalista, que predomina em nossos dias.

Modelo
(Enem) A evolução do processo de transformação de matérias-primas em produtos acabados ocorreu em três
estágios: artesanato, manufatura e maquinofatura.
Um desses estágios foi o artesanato, em que se:
a) trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de maneira padronizada.
b) trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de modo diferente do modelo de produção em série.
c) empregavam fontes de energia abundantes para o funcionamento das máquinas.
d) realizava parte da produção por cada operário, com uso de máquinas e trabalho assalariado.
e) faziam interferências do processo produtivo por técnicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de produção.

Análise expositiva - Habilidade 18: A capacidade humana de manusear objetos em conjunto com um cére-
B bro grande o suficiente para promover associações, entre outros aspectos, possibilitaram ao homem ao longo do
tempo que ele se destacasse no reino animal e criasse a civilização. O artesanato está entre as primeiras formas
de trabalho do homem.
Alternativa B

44
DIAGRAMA DE IDEIAS

INDÚSTRIAS

INDÚSTRIAS INDÚSTRIAS DE
DE BASE BENS DE CONSUMO

• SIDERURGIA • DURÁVEIS
• METALURGIA • NÃO DURÁVEIS
• PETROQUÍMICA • SEMIDURÁVEIS
• QUÍMICA

TIPOS DE CONCENTRAÇÕES
INDUSTRIALIZAÇÃO FINANCEIRAS

• CLÁSSICA • TRUSTE
• PLANIFICADA • MONOPÓLIO
• PERIFÉRICA • OLIGOPÓLIO
• PLATAFORMAS DE • CARTEL
EXPORTAÇÃO • CONGLOMERADO
• HOLDING

45
AULAS INDUSTRIALIZAÇÃO DO BRASIL
31 E 32
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADE: 18

“A industrialização se manifestou através da modernização O espaço industrial brasileiro, assim como em todas as
escalonada, isto é, setorial, de todo o organismo econômi- regiões, tem as mesmas características gerais do pro-
co, seguindo uma ordem fácil de determinar e que pode cesso de industrialização sob o capitalismo. O processo
ser inferida de sua própria motivação primária, isto é, do de criação e instalação de indústrias em um território
fato de resultar de um esforço de substituição, a saber: produz o espaço, transformando-o e conferindo-lhe
uma ordem inversa. Noutros termos, nossa industrialização uma nova lógica e novos significados. A industrialização
começou por onde, pela ordem natural das coisas, devera contribui, principalmente, para a intensa e rápida urba-
terminar, isto é, pelo suprimento interno de bens de consu- nização do território, bem como para as concentrações
mo ou, mais precisamente, de bens finais, abordando, esca- econômica, populacional, de infraestrutura e de investi-
lonadamente, através de sucessivos ciclos, os suprimentos mentos financeiros.
de produtos e de infraestrutura.” Foi como política de Estado, a partir da década de 1930,
IGNÁCIO RANGEL, A DINÂMICA DA DUALIDADE BRASILEIRA que o processo de industrialização teve início no Brasil,
quando a dependência econômica das exportações de
matérias-primas, levou a economia do País a sucumbir
1. INTRODUÇÃO em razão da crise de 1929. Esse processo de industriali-
zação intensificou-se com o chamado Plano de Metas, na
O processo de industrialização no Brasil, e por conseguinte
década de 1950, provocando a ampliação da produção
da mudança de uma sociedade rural e agrária para uma
industrial brasileira.
urbana e industrial, iniciou-se na segunda metade do sé-
culo XIX, ganhou impulso nas primeiras décadas do século No entanto, a concentração industrial foi absolutamente
XX e teve um grande salto no período pós-Segunda Guerra desigual, ocorrendo, sobretudo, na região Sudeste do Bra-
Mundial. Tal processo apresentou várias fases de declínio sil, principalmente, na cidade de São Paulo, em função de
e crescimento da atividade industrial, mas o traço comum sua posição geográfica estratégica e da herança econômi-
a todas elas foi a presença, em maior ou menor grau, de ca criada pela produção cafeeira, que lhe conferiram uma
ações do Estado impulsionando a formação e a consolida- ligação com o oeste do estado e com o porto de Santos
ção do parque industrial brasileiro. através das ferrovias.

NAVIO PORTO IGUAÇU DESCARREGANDO CARVÃO DOS EUA NO PORTO DE SANTOS, UM DOS PRINCIPAIS PORTOS DO BRASIL.

46
A partir da década de 1950, a indústria automobilística Todavia, a partir da década de 1980 em diante, houve es-
instalada nessa região foi fundamental para a concentra- forços governamentais que se preocuparam em proporcio-
ção do parque industrial brasileiro na capital paulista e em nar uma desconcentração industrial do País, fato que só se
sua região metropolitana. Tais processos provocaram uma efetivou claramente a partir da década de 1990. Apesar
rápida e precária urbanização, bem como a explosão de disso, São Paulo continuou na liderança nacional industrial,
movimentos migratórios advindos das diferentes regiões muito em virtude de sua modernização e ampliação do
do Brasil. aparato tecnológico e industrial.
O resultado foi o grande surto populacional da região Nos últimos 40 anos, a economia brasileira passou por
Sudeste. Em 1872, São Paulo contava com cerca de 32 significativas transformações na sua estrutura produti-
mil habitantes e era a décima maior cidade brasileira; va. A indústria se consolidou como o setor mais dinâ-
ao final do século XX, já se tornara a maior metrópole mico da economia e a pauta de exportação se diver-
do País e a quarta maior do mundo, com mais de 12 sificou. No entanto, nos anos recentes, a trajetória de
milhões de habitantes e com a região metropolitana, crescimento do Brasil está relativamente inferior a dos
20 milhões. demais países da América latina com estrutura produti-
A produção industrial da capital paulista e de seu entorno va semelhante e também inferior à taxa de crescimento
representava, na década de 1970, quase a metade de toda mundial, sinalizando uma perda de dinamismo frente a
a produção industrial nacional. economias concorrentes.

Brasil: indústria

47
mais tarde os japoneses, dentre outras nacionalidades, que
vieram para compor o mercado de trabalho de homens li-
vres, além de contribuírem com o povoamento do país, como
ocorreu na região Sul. Ao mesmo tempo, a proclamação da
República (1889) foi um importante acontecimento político
porque estabeleceu um estatuto jurídico para adequar o País
às novas condições de exploração do trabalho, dos contratos
de propriedade e das exigências de reprodução do capital.
O processo de preparação para o capitalismo industrial no
Brasil, de modo geral, passou por quatro etapas:
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE 1.1.1. Primeira etapa
Um Sonho Intenso Ocorreu entre 1500 e 1808. Como sabemos, a atividade in-
Um Sonho Intenso é um documentário brasilei- dustrial no Brasil teve início no período colonial. Sua história,
ro dirigido por José Mariani, que fala sobre a entretanto, não se caracteriza por uma evolução sistemática.
história da Economia do Brasil e dos problemas As atividades agrícolas e o extrativismo absorviam os poucos
socioeconômicos do país, do final da República capitais e a mão de obra, só dando margem, naquele período,
Velha aos dias atuais. às indústrias caseiras, à agroindústria do açúcar, a pequenas
indústrias no litoral, e aos estaleiros em que se construíam em-
barcações de madeira. A população era extremamente rarefei-
ta, mesmo ao longo da costa; as dificuldades de transporte,
1.1. Industrialização no Brasil decorrentes das distâncias; o regime da escravidão e do latifún-
O processo de industrialização começou no Brasil conco- dio, e a própria política da metrópole, que proibia, em 1766, a
mitantemente em quase todas as regiões. Foi no Nordeste prática do ofício de ourives, e por carta régia de 1785, todas as
que se instalaram, após a reforma tarifária de 1844, as pri- manufaturas de fumo, panos e bordados, foram outros tantos
meiras manufaturas têxteis modernas e, ainda em 1910, o obstáculos a qualquer surto de manufaturas de valor.
número de operários têxteis dessa região se assemelhava Tal situação se prolongou através do primeiro e do segun-
ao de São Paulo. Entretanto, superada a primeira etapa do reinado, quando ainda faltavam todos os elementos para
de ensaios, o processo de industrialização tendeu natural- uma indústria autônoma, concentrada e mecanizada, que
mente a concentrar-se nessa região. A etapa decisiva de procura a proximidade das fontes de energia, de matéria-
concentração ocorreu, aparentemente, durante a Primeira -prima, da clientela, dos transportes e, sobretudo, da mão de
Guerra Mundial, época em que teve lugar a primeira fase obra. Na verdade, só depois da transferência da corte de D.
de aceleração do desenvolvimento industrial [...].” João para o Brasil foram revogados os editos que vedavam
CELSO FURTADO, FORMAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL até a existência de depósitos de salitre, fechavam as fábricas
têxteis e mantinham a proscrição das fundições de ferro ins-
O Brasil é considerado um país emergente ou em desenvol- taladas em São Paulo e Minas Gerais. Depois da independên-
vimento. No entanto, seu processo industrial e tecnológico cia, o reconhecimento pelas potências europeias só se tornou
está atrasado em relação às nações que vivem o processo possível mediante a concessão de tarifas especiais (como a
de industrialização desde seu início. tarifa Alves Branco) para os produtos britânicos, concessão
que vigorou até 1844. Podemos dizer, portanto, que a produ-
Nos últimos trinta anos do século XIX, o Brasil passou por uma
ção industrial nesse período tinha ainda um caráter artesanal.
série de mudanças econômicas, sociais e políticas, que propi-
ciaram o início do desenvolvimento de algumas indústrias.
Esse conjunto de mudanças ocorreu, particularmente, nas re-
lações de trabalho, com a adoção do trabalho assalariado a
partir da abolição da escravidão (1888) e da adoção de uma
política de imigração. A política imigratória, adotada pelo go-
verno imperial e, em especial, pela Província de São Paulo
(depois Estado), desde os anos 1860, resultou no ingresso
de uma população de estrangeiros no Brasil, principalmen-
OS ENGENHOS DE PRODUÇÃO DE AÇÚCAR FAZEM
te europeus, como italianos, espanhóis, alemães, poloneses, BRASIL.
PARTE DA PRIMEIRA ETAPA DA INDÚSTRIA NO

48
Um antigo empregado de firma britânica no Bra-
sil, que conseguiu estabelecer-se e expandir seus
negócios, tornando-se um homem de finanças que
acompanhava o surto industrial da Europa, Irineu
Evangelista de Souza, teve o descortino de ten-
tar o caminho da indústria, sem levar em conta,
entretanto, o grave obstáculo que representava o
escravismo, inviável à criação de um mercado na-
cional. Não obstante isso, registraram-se algumas

multimídia: vídeo iniciativas no campo da indústria. Surgiu a fundição


de tubos de encanamento de água do rio Maracanã,
FONTE: YOUTUBE
no Rio de Janeiro. O estaleiro montado na Ponta da
A modernidade chega a vapor - MEC Areia, em Niterói, ampliou a construção naval do país,
Em meados do século XIX, a Europa sofre pro- fabricando setenta navios em pouco mais de dez anos.
fundas transformações com a Revolução Indus- Ligada ao impulso dos serviços urbanos, criou-se a pri-
trial. A esta altura o Brasil ainda era um país ru- meira empresa de iluminação a gás.
ral, mas as novidades acabaram chegando aqui, Organizou-se uma companhia de navegação no rio
transformando os serviços urbanos. Amazonas. Em 1870, estimou-se em 742 mil contos
de réis, quantia avultada para a época, a produção
industrial do Brasil. O governo monárquico, todavia,
1.1.2. Segunda etapa voltava-se mais para as obras públicas do que para
Corresponde a uma fase entre os anos de 1808, com a che- prestigiar as iniciativas da indústria privada nacional
gada da família real portuguesa ao Brasil, até a chamada Re- e o surgimento e consolidação de um empresariado
volução de 1930. A partir de 1808, era permitida a implan- vinculado aos interesses do País.
tação de indústria no País, de acordo com alguns requisitos, Construíram-se, desse modo, portos para atender às
entre eles, a criação, em 1828, de um tributo com taxas de necessidades do comércio externo. As estradas de fer-
15% para mercadorias importadas e, em 1844, da taxa tri- ro se prolongaram, mas só a partir de 1870, vindo a
butária que foi para 60%, denominada de tarifa Alves Bran- interessar capitais ingleses e desempenhar um papel
co. Outro fator determinante foi a expansão da economia mais dinâmico na economia do país. Instalaram-se
cafeeira para o chamado Oeste Paulista e o aparecimento companhias de força elétrica, de bondes, de tele-
de um conjunto de ricos fazendeiros que passaram a diver- fones, de luz, de telégrafos, por iniciativa do capital
sificar seus empreendimentos econômicos, investindo numa estrangeiro ou vindo a ser concedidas a este.
incipiente industrialização e no setor financeiro, promovendo No período da Primeira Guerra Mundial, instalaram-se
uma dinamização da economia brasileira. As primeiras em- no Brasil cerca de 5.940 empresas industriais, com-
presas limitavam-se à produção de alimentos, tecidos, velas e preendendo-se aí a produção de uns trinta artigos
sabão. Em suma, tratava-se de produtos que não exigiam um novos. Mas dentre essas indústrias não figurava a in-
grande investimento tecnológico. É importante lembrar que a dústria mecânica nem os bens fundamentais capazes
cafeicultura do Oeste Paulista investiu, em aliança com os ca- de possibilitar a criação da base industrial do País.
pitais ingleses, principalmente em infraestrutura, construindo
estradas de ferro e modernizando os portos.
1.1.3. Terceira etapa
Período entre os anos de 1930 e 1955. A indústria rece-
beu muitos investimentos provenientes dos capitais dos
ex-cafeicultores e estrangeiros e também em logística.
Houve ampliação e construção de vias de circulação de
mercadorias, matérias-primas e pessoas, adequadas ao de-
senvolvimento dos meios de transporte, que facilitaram a
distribuição de produtos para várias regiões do País – mui-
ILUSTRAÇÃO DA CHEGADA DA FAMÍLIA REAL NO BRASIL, 1808. tas ferrovias que, anteriormente, transportavam café, nessa
PINTURA EM ÓLEO DE CÂNDIDO PORTINARI, DE 1952 etapa passaram a servir aos interesses industriais.

49
Na década de 1940, pela primeira vez o valor da produção in- militar, em 1964, as medidas econômicas voltadas para a
dustrial brasileira ultrapassou o da produção agrícola, elevan- liberdade de investimento de capitais estrangeiros – finan-
do-se a 13 milhões de contos de réis, contra 8,590 milhões. ceiro e industrial – tomaram novo fôlego, comprometendo
o crescimento autônomo e resultando numa maior depen-
Verdadeiramente, só na década de 1940 o Brasil logrou
dência econômica, industrial e tecnológica em relação aos
a primeira iniciativa industrial de vulto, que iria servir de
países de economias consolidadas.
base a uma modificação na sua estrutura econômica.
Esta se verificou em face de circunstâncias criadas pela Em 1970, o objetivo da economia brasileira era deixar de
Segunda Guerra Mundial. Necessitando instalar bases depender exclusivamente da substituição das importações,
aéreas no território brasileiro para o trânsito dos seus avi- ultrapassar a fase da exportação de gêneros alimentícios
ões de guerra para a África e Europa, os EUA negociaram e matérias-primas da produção primária e ampliar a pauta
a implantação de uma unidade siderúrgica que veio a exportável com variados produtos industriais. As metas míni-
constituir a Companhia Siderúrgica Nacional, pertencen- mas estabelecidas para o período 1970-1973 estabeleciam
te ao Estado. A usina de Volta Redonda desempenhou, de o crescimento anual de 9% a 11% para a indústria manufa-
fato, o papel de célula-mater da indústria pesada nacio- tureira e a mineração; 9% a 11% para a indústria siderúrgi-
nal, propiciando ao longo de sua atividade, a criação de ca; 7% a 9% para o setor enérgico. Influindo fortemente na
novas indústrias e a expansão siderúrgica. composição da taxa de crescimento industrial da América la-
tina, em que ocupa o primeiro lugar, em 1973, o Brasil divide
Outro passo importante no sentido de uma industriali-
com a Argentina, a Colômbia e o México, a responsabilidade
zação autônoma foi a instituição do monopólio estatal
por 80% da produção industrial dessa parte do mundo.
do petróleo, mediante a criação da Petrobras por meio
da lei 2.004, de 3 de outubro de 1953. A descoberta No fim do século XX, houve um razoável crescimento eco-
do lençol petrolífero do Lobato, na Bahia, em 1937, nômico promovendo uma melhoria na qualidade de vida da
propiciou uma modificação no código de minas e a população brasileira, além de mais acesso ao consumo. Houve
posterior instituição do Conselho Nacional do Petró- também a estabilidade da moeda, além de outros fatores que
leo, a fim de orientar o problemas do ponto de vista foram determinantes para o progresso gradativo do País.
brasileiro. Foi instalada a Companhia Siderúrgica Nacio-
nal, construída entre os anos de 1942 e 1947, área fun-
damental para o sistema produtivo industrial, uma vez que
abastecia as indústrias com matéria-prima, notadamente
aço. Em 1953, foi instituída uma das mais importantes em-
presas estatais: a Petrobras.

O PRESIDENTE JUSCELINO KUBITSCHEK, DURANTE CONFERÊNCIA


SOBRE O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E AS METAS DO
GOVERNO, NO CLUBE MILITAR DO RIO DE JANEIRO, RJ.

1.2. Transnacionais
GETÚLIO VARGAS ASSINA A LEI 2.004,
O processo de globalização do capital cumpre o movimen-
NO DIA 3 DE OUTUBRO DE 1953, E CRIA A PETROBRAS. to histórico de expansão territorial e da sua constante acu-
mulação, metamorfoseado sob várias formas. Ao mesmo
1.1.4. Quarta etapa tempo, o desenvolvimento tecnológico foi fundamental
Teve início por volta de 1955 e ainda está em vigor. Foi no para que o capital se tornasse globalizado, particularmente
governo do presidente Juscelino Kubitschek, que implan- o capital financeiro. Como parte desse processo, as empre-
tou uma política econômica permitindo a entrada de recur- sas e indústrias passaram a não se concentrar num mesmo
sos em forma de empréstimos e também em investimentos local. Houve uma nova divisão internacional do trabalho e
com a instalação de empresas multinacionais. Com o golpe das etapas da produção expandido pelo mundo, em busca

50
acelerada de novos mercados consumidores, bem como de mão de obra mais barata, de matérias-primas, de aumento da
lucratividade do capital. Essas empresas são denominadas transnacionais.
Com base nas características descritas acima, surgiram as primeiras empresas transnacionais no final do século XIX, mas
que só obtiveram destaque após a Segunda Guerra Mundial, em 1945. As nações mais desenvolvidas, Estados Unidos, Ca-
nadá, Japão e a União Europeia, abrigam a maioria das sedes das transnacionais, que instalam suas filiais em vários países,
sobretudo nos subdesenvolvidos e nos emergentes. O Brasil, por exemplo, possui várias filiais dessas empresas: McDonald’s,
Burger King, Coca-Cola, Pepsi, Carrefour, Unilever, entre tantas outras.
Porém, a partir da década de 1970, empresas com sede em nações emergentes passaram a atuar no mercado global, inclu-
sive em países desenvolvidos. O Brasil tem se destacado no cenário internacional, visto que houve uma intensa expansão da
área de atuação de suas empresas. Durante a década de 1970, havia cerca de 70 filiais de empresas brasileiras instaladas
no exterior; em 2010, esse número chegou a 350.
A estabilidade política e econômica e o fortalecimento da moeda nacional (real) foram fatores determinantes para o sucesso
das empresas brasileiras em terras internacionais. Em 2008, os investimentos brasileiros no exterior foram de 152 bilhões
de dólares, superior aos investimentos estrangeiros aplicados no País. De acordo com o Banco Central, o Brasil ocupa o 12º
lugar no ranking dos maiores investidores do mundo, à frente da Austrália, dos Países Baixos, da China e da Federação Russa.

Empresas transnacionais do Brasil atuam em vários seg- anteriores, que detinha grande volume de capitais aplica-
mentos: alimentício, aviação, construção civil, celulose, cos- dos na região, encontrava-se limitada à região Sudeste, o
méticos, peças de automóveis, máquinas e equipamentos, que favoreceu a formação de um processo de concentra-
tecnologia da informação, logística, mineração. ção industrial. Além disso, naquele momento, a indústria
vivia um período caracterizado pela produção em massa,
Entre os principais representantes do Brasil no mer- as chamadas economias de aglomeração.
cado internacional estão: Vale (mineração), Petrobras
Graças a esse contexto, o Sudeste brasileiro, com destaque
(petróleo e gás), Gerdau (aço), Embraer (aviação), Voto-
para a Região Metropolitana de São Paulo, passou a extrair
rantim (diversificada), Camargo Corrêa (diversificada), e a angariar praticamente todos os recursos naturais, ao
Odebrecht (construção e petroquímica), Aracruz (celulose mesmo tempo em que contava com uma elevada concen-
e papel), Tigre (construção), ALL (logística), Perdigão (ali- tração populacional, grande quantidade de mão de obra e
mentícia), Natura (cosméticos), Sadia (alimentícia), Itautec de um amplo e diversificado mercado consumidor elevado.
(tecnologia da informação), Sabó (peças de automóveis) e
WEG (máquinas e equipamentos). 1.3. Desconcentração industrial
No entanto, a infraestrutura nacional, em razão da grande A partir da década de 1970, o poder público iniciou uma série
influência da elite cafeeira do Sudeste brasileiro nos anos de planos com o objetivo de criar uma maior democratização

51
no espaço industrial do País. Uma das medidas foi a criação Outra ação foi a autorização do governo federal para que os
da Sudam e da Sudene. governos estaduais oferecessem incentivos fiscais às indús-
trias que se dispusessem a se estabelecer nos seus territórios.
Roraima
Essa política promoveu a chamada guerra fiscal ou guerra
Amapá dos lugares, em que as unidades federativas, mediante isen-
ções de impostos e outros benefícios, passaram a competir
Amazonas Pará
pela manutenção de empresas em suas terras, a fim de di-
namizar suas economias e elevar a quantidade de empregos.
Some-se a essas questões políticas e econômicas o fato de
Acre Rondônia Tocantins
que, com os avanços tecnológicos nos meios de transporte e
Mato Grosso
comunicações, não eram mais necessárias uma aglomeração
industrial, tampouco a proximidade entre indústria e merca-
do consumidor. Em razão disso, muitas empresas resolveram
migrar para regiões interioranas e cidades médias, longe dos
problemas das grandes cidades e com condições de manu-
tenção bem mais vantajosas para o capital.
Maranhão Ceará
Rio Grande do Norte Porém, é precipitado afirmar, por exemplo, que cidades
Piauí Paraíba como São Paulo deixarão de se industrializar. Na verdade,
Pernambuco
Alagoas
o que houve foi uma queda no crescimento do número
Bahia
Sergipe de empresas no Sudeste brasileiro, se bem se trate de
algo ainda muito tímido que tende a se intensificar nos
próximos tempos. Além disso, a capital paulista é um dos
exemplos do processo de modernização produtiva, em
que as antigas fábricas vão sendo gradualmente substi-
ZONA DE ATUAÇÃO DA SUDAM tuídas por frentes tecnológicas de serviços.

Brasil – Participação (em %) no crescimento do PIB industrial por Estados (1985-1992)

52
Estado de São Paulo - eixos de industrialização

1.4. Fatores locacionais da indústria


A atividade industrial é a principal fonte de atração de-
mográfica, urbana e econômica de determinado território.
Mas o que interfere em sua localização? Por que uma
indústria encontra-se em uma determinada localidade es-
pacial e não em outra? A resposta para essas questões é
chamada de fatores locacionais – vantagens competitivas
que as empresas e as indústrias veem em um determinado
local e que atraem seus respectivos investimentos. multimídia: livros
Na escolha da localização de uma indústria, são conside- Espaço e indústria – Ana Fani Alessandri Carlos
rados todos os fatores benéficos a ela. Uma ressalva para
indústrias mineradoras, que se localizam em lugares onde Espaço e Indústria é um livro construído no
a matéria-prima está disponível. Caso clássico são as in- processo de luta travada no meio do movimen-
dústrias do século XVIII, que deveriam ficar próximas à sua to de renovação da Geografia. Nele, vivência,
matéria-prima de fonte energética: o carvão. participação e discurssão teórica se encontram.

Atualmente, conforme a mudança nos tipos de indústria, sua


localização não será tão somente em função da proximidade Pode-se enumerar oito deles:
de sua matéria-prima. Porém, quais são os fatores locacionais? 1. Transporte: envolve qualidade, disponibilidade e meios
de infraestrutura, custos e novas tecnologias. Para cada tipo
de produto da indústria há um meio de transporte adequado.
TRANSPORTES

INCENTIVOS FISCAIS MÃO DE OBRA/FORCA


DE TRABALHO 2. Energia: infraestrutura de energia em uma dada re-
gião, como disponibilidade, estrutura de transmissão e
novas tecnologias.

MATÉRIAS-PRIMAS ENERGIA
3. Mercado consumidor: dimensão e características so-
cioculturais e econômicas do consumidor; acesso físico do
cliente ao produto mediante transporte.
4. Matérias-primas: é um fator locacional clássico, que
CICLO DO PRODUTO CAPITAL compreende disponibilidade, tipo, qualidade, custo e trans-
MERCADO CONSUMIDOR
porte de matéria-prima.

53
5. Mão de obra – força de trabalho: compreende dis-
ponibilidade, produtividade, qualificação, grau de organiza-
1.5. Formação do operariado brasileiro
ção, faixa salarial, regras jurídicas regionais. A Constituição Federal de 1891 preocupou-se muito pouco
6. Incentivos fiscais: concedidos com isenções de im- com os problemas sociais. As relações de trabalho man-
postos, ICMS, por exemplo, às indústrias, bem como con- tidas entre empregadores e empregados nas indústrias e
cessão de terrenos para a instalação da unidade produtiva nas cidades eram estabelecidas pelas burguesias mercan-
da fábrica. til, industrial e financeira. O movimento operário ainda era
muito incipiente, sem articulação nem forças políticas para
7. Ciclo do produto: para cada fase de produção de um
impor suas reivindicações quanto às condições salariais e
objeto industrial existe uma lógica espacial, afirma o eco-
de trabalho.
nomista George Benko. Um produto pode ter três fases de
produção: desenvolvimento; estandardização ou amadure- A formação do operariado brasileiro efetivou-se priorita-
cimento; e declínio. Cada fase requer um tipo de força de riamente por brasileiros oriundos de regiões pobres e pela
trabalho mais representativa e um local de produção mais grande maioria de imigrantes estrangeiros – italianos, ale-
apropriado, segundo a lógica capitalista. mães, japoneses, poloneses, entre outros –, uma vez que
8. Disponibilidade de capital: sempre que necessário os negros, particularmente os ex-escravos, foram ignorados
ao empresário para que tenha fôlego para novos investi- e repelidos do mercado de trabalho assalariado, mediante
mentos, bem como um ambiente propício para os negócios estratagemas revestidos de forte preconceito racial. Suas
– relações financeiras – e para trocas de capitais – bancos, primeiras articulações aconteceram a partir das ligas ope-
empresas etc. rárias e sociedades de resistência.

VIVENCIANDO

Um bom passeio para entender o processo de industrialização no Brasil é ir de trem até a vila de Paranapiacaba, um
distrito do município de Santo André, que surgiu como centro de controle operacional e residência para os funcionári-
os da companhia inglesa de trens São Paulo Railway. A estrada de ferro Santos–Jundiaí foi construída para escoar
a produção de café para o porto de Santos. A paisagem urbana de São Paulo e arredores, com a implantação da
estrada de ferro Santos–Jundiaí, foi impactada de várias formas. As estações ferroviárias começaram a concentrar as
primeiras atividades urbanas, como oficinas, armazéns e depósitos, e propagaram caminhos que interligavam povoa-
dos, chácaras e sítios, vinculados à exploração mineral, florestal ou à produção agrícola. A centralidade da cidade de
São Paulo foi fortalecida – além de abrigar as famílias dos cafeicultores e os negócios do café, surgiram as primeiras
fábricas e indústrias que se tornariam a marca da metrópole paulistana por todo o século XX.

Suas principais reivindicações giravam em torno da melhoria das


condições de trabalho – menor jornada de trabalho, assistência
ao trabalhador doente e acidentado –, de melhores salários, de
regulamentação dos dias de folga e pela melhoria das condições
de vida – moradia, educação, alimentação e saúde. Outra luta
travada pelos trabalhadores foi pela normatização e regulamen-
tação dos direitos relativos ao trabalho feminino e infantil.
A articulação política do operariado brasileiro teve início com
a vinda de teorias sociais advindas da Europa, o que se expli-
ca pela composição do operariado, na sua maioria de origem
europeia (imigrantes). As principais teorias eram o socialismo
OPERÁRIOS, DE TARSILA DO AMARAL científico, de Marx e Engels, e o anarquismo, de Godwin e

54
Bakunin. À medida que as organizações operárias iam sendo ção das cidades que cresceram sem nenhum planejamen-
formadas, constituía-se também a consciência e o reconhe- to, trazendo sérios problemas: falta de tratamento de água
cimento dos operários como classe social e sua formação e esgoto, notadamente em bairros operários e em cortiços,
política, surgindo os primeiros movimentos reivindicatórios e agravando a falta de higiene e proliferação de doenças.
as primeiras greves. O socialismo exerceu importante papel Geralmente, os operários viviam precária e miseravelmente
na articulação política dos operários. Em 1906, fundou-se o com suas famílias nos cortiços ou habitações sublocadas.
Partido Socialista Brasileiro, de tradição marxista, que mos-
trou aos trabalhadores o antagonismo de classe que move a
história do capitalismo. O anarquismo teve mais importância
na organização do movimento operário brasileiro, no início
do século XX. Sua principal preocupação era a abolição da
propriedade privada (burguesa liberal), uma vez que “os re-
cursos naturais da terra pertencem a toda a sociedade, sua
apropriação para fins privados é furto”, pregavam.
As principais greves operárias ocorridas durante a Primeira Repú-
blica foram articuladas pelos anarquistas e anarcossindicalistas.
multimídia: livros
Outro fato bastante presente era a grande circulação de jornais Indústria e Território no Brasil Contemporâneo
anarquistas: A Lanterna, La Battaglia, o Semanário Avanti, entre
- Rosélia Piquet
outros. Os anarquistas utilizavam a imprensa para propagar com
mais eficácia as ideias sociais de contestação da ordem social Rompendo barreiras interdisciplinares, a au-
vigente e tornar os operários conscientes politicamente. tora apresenta uma análise das mudanças
ocorridas na economia brasileira durante o
Com a industrialização no Brasil, principalmente nas cida-
último meio século e suas implicações na
des do Rio de Janeiro e São Paulo, houve rápida urbaniza-
ocupação do território nacional.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

O processo de industrialização do Brasil remonta aos últimos decênios do século XIX. O seu ponto de partida situa-se
por volta da década de 1980, motivado essencialmente pela crise e abolição do trabalho escravo. Conceituar esses
fatos históricos é de vital importância para compreender como se deu esse processo e analisá-lo sob a óptica da
transformação do espaço geográfico.

multimídia: música multimídia: sites


FONTE: YOUTUBE
Três apitos – Noel Rosa www.ibge.gov.br

55
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações socioespaciais.
Além de interferir no meio econômico e comercial, a industrialização é considerada também como um dos principais
agentes de transformação e produção do espaço geográfico. Afinal, a geração de empregos diretos e indiretos e a
dinâmica financeira que isso produz são fatores atrativos, o que faz com que os deslocamentos populacionais ocor-
ram e o processo de urbanização, muitas vezes, se intensifique e se torne mais acelerado. O Brasil, por exemplo, só
se tornou um território predominantemente urbano quando conheceu, ao longo do século XX, a consolidação de
seu espaço industrial.

Modelo
(Enem) O fenômeno da mobilidade populacional vem, desde as últimas décadas do século XX, apresentando
transformações significativas no seu comportamento, não só no Brasil como também em outras partes do mun-
do. Esses novos processos se materializam, entre outros aspectos, na dimensão interna, pelo redirecionamento
dos fluxos migratórios para as cidades médias, em detrimento dos grandes centros urbanos; pelos deslocamen-
tos de curta duração e a distâncias menores; pelos movimentos pendulares, que passam a assumir maior rele-
vância nas estratégias de sobrevivência, não mais restritos aos grandes aglomerados urbanos.
OLIVEIRA, L.A.P.; OLIVEIRA, A.T.R.
REFLEXÕES SOBRE OS DESLOCAMENTOS POPULACIONAIS NO BRASIL. RIO DE JANEIRO: IBGE, 2011 (ADAPTADA).

A redefinição dos fluxos migratórios internos no Brasil, no período apontado no texto, tem como causa a intensificação
do processo de:
a) descapitalização do setor primário.
b) ampliação da economia informal.
c) tributação da área residencial citadina.
d) desconcentração da atividade industrial.
e) saturação da empregabilidade no setor terciário.

Análise expositiva - Habilidade 18: A alternativa [D] está correta porque a mobilidade mencionada ca-
D racteriza o processo de desmetropolização, resultado dentre outros fatores da desconcentração industrial
a partir da década de 1990.
Alternativa D

56
DIAGRAMA DE IDEIAS

INDUSTRIALIZAÇÃO
DO BRASIL

TIPOS DE
INDUSTRIALIZAÇÃO

• 1ª FASE - INCIPIENTE
• 2ª FASE - SEM TECNOLOGIA SUBSTITUIÇÃO DAS IMPORTAÇÕES
• 3ª FASE - GETÚLIO INDÚSTRIAS DE BASE
• 4ª FASE - JK INTERNACIONALIZAÇÃO DE ECONOMIA

FATORES
LOCACIONAIS

NOVA DIVISÃO DESCONCENTRAÇÃO


INTERNACIONAL DO TRABALHO INDUSTRIAL

57
AULAS TRANSPORTES I
33 E 34
COMPETÊNCIA: 4 HABILIDADES: 16 e 17

“Se os transportes marítimos sempre reforçaram a depen- A distância, um atributo central do transporte, pode ser
dência em relação ao estrangeiro, os novos transportes ter- representada de várias formas, desde uma simples distân-
restres, a partir da Segunda Guerra Mundial, beneficiaram cia euclidiana – uma linha reta entre dois locais – até o
São Paulo, a metrópole industrial do País. As dificuldades que pode ser chamado de distância logística; um conjunto
financeiras para o equipamento dos navios e o fato de completo de tarefas necessárias para que a distância possa
várias ferrovias terem sido levadas a tornar-se antieconô- ser superada. Qualquer movimento deve, portanto, consi-
micas aceleraram a instalação do império do caminhão.” derar sua configuração geográfica, que por sua vez está
SANTOS, MILTON; SILVEIRA, MARIA LAURA. O BRASIL: ligada a fluxos espaciais e seus padrões.
TERRITÓRIO E SOCIEDADE NO INÍCIO DO SÉCULO XXI.
O propósito exclusivo do transporte é superar o espaço,
“O Brasil entrou na era do caminhão, sem antes haver com- que é moldado por uma variedade de restrições físicas e
pletado o seu equipamento ferroviário. A rodovia antecipa- humanas, como distância, tempo, divisões administrativas
-se ao trilho nas faixas pioneiras. Toma-lhe triunfalmente e topografia. Conjuntamente, eles conferem uma fricção a
a dianteira para as ligações com os grandes portos. Diz-se qualquer movimento, comumente conhecido como o atri-
que o condutor de caminhões é o bandeirante moderno.” to da distância (ou fricção do espaço). No entanto, essas
MONBEIG, PEIRRE restrições e o atrito que criam só podem ser parcialmente
circunscritos. A medida em que isso é feito tem um custo
que varia muito de acordo com fatores como a duração
1. INTRODUÇÃO da viagem, a capacidade de modos e infra-estruturas e a
natureza do que está sendo transportado.
O transporte é um fator essencial do desenvolvimento e or-
denamento do território, seja ele em nível local ou regional,
ou seja, é uma das tecnologias do espaço maia fundamen-
tais para a economia.
Ao longo do tempo, a acessibilidade cresceu e isso levou a
grande aumento na mobilidade da população. Essa tendência
vem desde a revolução industrial, apesar de ter sido signifi-
cativamente acelerada na segunda metade do século XX por
várias razões. Hoje, as sociedades dependem dos sistemas de
transporte para uma grande variedade de atividades. Essas
atividades incluem a o transporte de pessoas para o local de
suas atividades, suprimento das necessidades energéticas,
distribuição de bens e aquisição de necessidades pessoais.
O desenvolvimento de uma rede de transporte suficiente tem
sido um desafio contínuo para obter crescimento no desen-
volvimento econômico, na mobilidade dos bens e principal-
mente para participar da economia globalizada, e tem sido
ultimamente bem oficializada pelos polícias do Brasil.
O objetivo específico do transporte é atender à demanda
por mobilidade, já que o transporte só pode existir se movi-
mentar pessoas, cargas e informações. Caso contrário, não
tem propósito. Isso ocorre porque o transporte é predomi- MAPA DO ENCOLHIMENTO DO MUNDO ATRAVÉS DE INOVAÇÕES
nantemente o resultado de uma demanda derivada; ocorre NO TRANSPORTE: ANIQUILAM O ESPAÇO ATRAVÉS DO TEMPO.

porque outras atividades estão ocorrendo.

58
David Harvey, geógrafo britânico especialista em relações
de globalização, retrata o mapa do encolhimento do
mundo. A transformação e a evolução dos transportes e
da comunicação torna o mundo mais próximo e menor
funcionalmente falando. Por exemplo: duas cidades que
possuem aeroportos conectados acabam ficando “mais
próximas” do que cidades que não se conectam por esse
modal e por isso, o deslocamento leva mais tempo. Isso
significa dizer que a evolução dos transportes altera nossa
percepção de espaço-tempo.

Hoje, a capacidade e a eficiência do transporte são impor-


tantes, por isso é importante conhecer a maneira mais rápi-
NAVIO CARREGADO DE CONTÊINERES, NO PORTO DE SANTOS (SP, 2019)
da de transportar pessoas e produtos e, por sua vez, é vital
entender a geografia das regiões em que essas pessoas e ƒ Fluvial: meio de transporte sobre águas de grandes
produtos estão se movimentando. rios e lagos, que realiza a circulação de pessoas e mer-
cadorias. Nas hidrovias, são transportados, prioritaria-
O transporte pode ser realizado por meio de corpos-d’água,
mente, materiais não perecíveis, tais como carvão, areia
terrestre e aéreo e podem ser classificados em:
e grãos, com baixo valor por peso, como é o caso do
ƒ Ferroviário: modalidade de transporte terrestre rea- minério de ferro.
lizado por trens sobre trilhos, bastante vantajoso para
cargas pesadas, particularmente de matérias-primas.

TREM DE CARGA, BARRA MANSA (RJ, 2019)


CANAL DO PANAMÁ
ƒ Rodoviário: modalidade de transporte terrestre reali-
ƒ Aéreo: mobilidade bastante dinamizada e agilizada para
zado por carros, caminhões ou ônibus, que se deslocam
transporte de pessoas, mercadorias e matérias-primas no
em ruas, rodovias ou estradas para o transporte de pes-
mundo, em virtude da evolução e das inovações ocorridas
soas e mercadorias.
nos meios de transporte. Permite a locomoção de pessoas
e mercadorias por aeronaves (aviões e helicópteros).

RODOANEL MARIO COVAS, RODOVIA DOS BANDEIRANTES (SP)

ƒ Marítimo: modalidade de transporte aquaviário para


deslocamento intercontinental de cargas e passageiros
por mares ou oceanos. TERMINAL DE CARGAS, AEROPORTO INTERNACIONAL DE GUARULHOS (SP, 2019)

59
ra necessária para seu funcionamento tem elevados cus-
tos com construção e manutenção – notadamente, se em
terrenos acidentados, que pressupõem a construção de
túneis, viadutos, pontes, aterros, entre outros. A principal
indicação do transporte rodoviário é para deslocamentos
curtos e rápidos. Nos países da União Europeia, o trans-
porte rodoviário é bastante difundido, com perspectivas
de crescimento, desencadeado entre as décadas de 1970
e de 1990, e de integração cada vez mais eficaz com o
transporte ferroviário. Nos Estados Unidos, o meio de
transporte mais usado é o rodoviário.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
Perrengue - O desafio da mobilidade
2.1. As rodovias no Brasil
em São Paulo O Brasil é considerado um país eminentemente rodovia-
rista, no qual predomina o modal rodoviário para des-
locamentos ao longo de toda a sua extensão territorial.
Atualmente, o País tem em média 1,03 km de rodovias
2. TRANSPORTE RODOVIÁRIO pavimentadas e 7,35 km de rodovias não pavimentadas
por habitante, conforme apontam dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Vias propostas pelo Plano Rodoviário Nacional


(1944)

Os demais tipos de transporte – ferrovias e hidrovias – es-


tão, há muito, em segundo plano, mesmo comprovando
que costumam apresentar uma relação custo-benefício
A consolidação do transporte rodoviário ocorreu com o bem melhor. Enquanto um caminhão transporta 30 tonela-
desenvolvimento da indústria automobilística, nas primei- das de carga, com o mesmo custo um trem transporta 125
ras décadas do século XX. Os veículos de transporte são toneladas e as hidrovias, mais de 575 toneladas.
considerados símbolos do capitalismo, retratos do sistema Então, por que o Brasil investiu em rodovias, em detrimento
capitalista em expansão. dos demais tipos de transporte? O Brasil começou a inves-
Apesar de bastante difundido no mundo, o transporte tir de fato em rodovias somente ao longo do século XX. O
rodoviário envolve altos custos, se comparado aos trans- auge dessa política veio com o governo JK, pois o processo
portes ferroviário e hidroviário. O alto custo do frete é de industrialização, naquela época, demandava uma maior
decorrente do preço dos combustíveis e da manutenção integração territorial, o que incluía uma rede de transporte
periódica dos veículos e das vias terrestres. A infraestrutu- articulada por todo o território nacional. Fez-se então uma

60
opção desenvolvimentista sob a óptica capitalista, baseada territorial. Elemento que merece bastante destaque é a no-
na indústria automobilística. Juscelino Kubitschek implan- menclatura dada, em 1964, ao conjunto rodoviário segundo
tou um parque industrial para suporte das indústrias auto- sua disposição geográfica, indicada após o prefixo BR, como
mobilísticas atraídas para o País, construiu a capital Brasília podemos observar no mapa:
e estabeleceu a construção de várias rodovias importantes,
que consumiram praticamente todo o orçamento então Rodovias Radiais (BR-010 a BR-080)
destinado ao transporte terrestre.
No pós-Segunda Guerra, dois elementos que considera-
mos estruturais ao modal rodoviário alargaram a sua base
material, impulsionando ainda mais as dinâmicas territo-
riais advindas da crescente mecanização à qual o país es-
tava sendo submetida. O Plano Rodoviário Nacional (PRN),
instituído pelo decreto nº 15.093/44, deu ao sistema rodo-
viário uma condição de proeminência na fluidez territorial
do País, e uma de suas preocupações era a alavancagem
de um processo de interiorização a partir de vias pioneiras.
Outro fator fundamental à expansão rodoviária foi a criação
do Fundo Rodoviário Nacional, em 1945, conhecido como
Lei Joppert, que vinculou parte predominante dos recursos Rodovias Latitudinais (BR-210 a BR-293)
arrecadados à construção e conservação rodoviárias, definin-
do os mecanismos de transferência desses recursos a Esta-
dos e municípios. O setor rodoviário passou a dispor de um
mecanismo de financiamento sustentado no longo prazo,
que garantiu recursos a fundo perdido para a construção,
pavimentação e conservação de rodovias. O FRN inaugurou
uma “onda rodoviária” em todo o País, pois, a partir daí,
quase todos os Estados constituíram os seus próprios de-
partamentos de estradas de rodagem, com a elaboração
de seus respectivos planos rodoviários estaduais. Antes do
decreto-lei de 1945, apenas São Paulo, Rio Grande do Sul,
Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro dispunham de alguma
autarquia estadual relacionada à matéria. A malha rodoviá-
ria que se estabelece a partir desse contexto já afirmava um
sentido geral longitudinal e mais interiorizado da formação
territorial, sobrepondo-se ao direcionamento histórico lito-
ral–interior desenhado desde os primórdios da colonização.
Soma-se à essa determinação a extinção das tarifas comer-
ciais interestaduais, que foi um avanço fundamental no pro-
cesso de integração econômica do espaço nacional.
Durante o regime militar, a política rodoviarista manteve-
-se através do Programa de Integração Nacional (PIN), que
visava a uma maior ocupação do Centro-Oeste e da Ama-
zônia. Nesse período, foram construídas a Perimetral Norte, multimídia: livros
a Cuiabá–Santarém e a polêmica Transamazônica, que liga
a região Nordeste à região Norte, no sentido leste–oeste. Geografia dos transportes no Brasil
– Moacir M.F. Silva
Nesse contexto, elementos geopolíticos serão feitos pre-
sentes na forma de se pensar o território nacional, e as vias Sua contribuição para o estudo dos transpor-
de circulação contêm elementos suficientes para corrobo- tes é significativa, principalmente nas déca-
rar essa visão por seu caráter amplamente geoestratégico, das de 1940 e 1950, quando a questão da
sobretudo por causa das dimensões continentais do Brasil, integração territorial nacional recebeu um
da extensão de suas fronteiras terrestres e do anseio em grande destaque.
incrementar planos faraônicos de integração e ocupação

61
Rodovias Longitudinais (BR-101 a BR-174)
Programas especiais na área de transportes
ƒ Programa de Integração Nacional (PIN):
prevê a integração territorial “em seus as-
pectos de efetiva posse de extensas áreas do
nosso território, incorporando-as ao contexto
nacional, através do desbravamento de áreas
virgens e abertura de novas fronteiras de de-
senvolvimento econômico e social, mediante
a construção de rodovias pioneiras que com-
plementarão o sistema de navegação fluvial.
O PIN compreende a constituição de uma
rede rodoviária básica inter-regional entre as
regiões Norte–Nordeste e Norte–Centro-O-
este, além de ligações intrarregionais nessas
Rodovias Diagonais (BR-304 a BR-393) mesmas zonas, perfazendo cerca de 15 mil
km, destacando-se a abertura das polêmicas
Transamazônica e Cuiabá–Santarém.
ƒ Programa de Redistribuição de Terras e
de Estímulo à Agroindústria do Norte e
do Nordeste (Proterra): criado em 1971, foi
tido como complementação à rede rodoviária
existente para a promoção do acesso à terra e
fortalecimento da agroindústria nas áreas de
atuação das Superintendências do Desenvolvi-
mento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste
(Sudene). Em poucas palavras, o Proterra con-
sistiu na pavimentação de 2.842 km de estra-
das, destacando-se a Belém–Brasília (BR-010,
BR-153 e BR-226), a ligação Campina Grande/
ƒ Rodovias radiais (BR-0xx): partem da capital federal PB–BR-316 (BR-104) e os trechos Capanema/
em direção aos extremos do Brasil; PA–Caxuxa/MA e Picos–Salgueiro da BR-316.
ƒ Rodovias longitudinais (BR-1xx): cortam o Brasil ƒ Programa de Desenvolvimento do Cen-
na direção norte–sul; tro-Oeste (Prodoeste): também criado em
ƒ Rodovias transversais (BR-2xx): cortam o Brasil na 1971, visou à ligação rodoviária dos Estados
direção leste–oeste; do Centro-Oeste aos principais centros de
consumo, industrialização e exportação do
ƒ Rodovias diagonais (BR-3xx): apresentam-se na
País, com implantação e pavimentação de
direção NO–SE ou NE–SO;
3.995 km. O plano anunciou a modernização
ƒ Rodovias de ligação (BR-4xx): apresentam-se em da agropecuária no planalto central, de acor-
qualquer direção, geralmente ligando rodovias fede- do com os interesses da revolução verde e as
rais; ou, pelo menos, uma rodovia federal a cidades ou orientações da Superintendência de Desen-
pontos importantes; ou, ainda, às fronteiras terrestres. volvimento do Centro-Oeste (Sudeco).
Estava assim desenhado o sistema de ações responsável ƒ Programa Especial para o Vale do São
pela materialização territorial de grandes obras rodoviárias Francisco (Provale): criado no ano se-
com o intuito declarado de estimular a ocupação dos cha- guinte (1972), estabeleceu o incremento da
mados “vazios demográficos” e/ou manobrar a integração navegação pelo rio São Francisco, com a inte-
nacional, consubstanciado num pacote denominado Pro- gração rodoferroviária com o Centro-Sul, além
gramas Especiais na Área dos Transportes, cujos planos da implantação de uma rede rodoviária de
propostos atendem diretamente a objetivos geoeconômi- 4.794 km.
cos e/ou geopolíticos atrelados ao planejamento regional.

62
tes. Muitas delas apresentam péssimas condições, causam
ƒ Programa de Corredores de Exportação: muitos acidentes e comprometem os custos para o escoa-
previu o incremento logístico nos portos de mento de produtos. Trata-se de um modal bastante oneroso
Rio Grande (RS), Paranaguá (PR), Santos para manutenção, que sempre exige mais gastos públicos e
(SP), Rio de Janeiro (RJ) e Vitória (ES) para mais direcionamento de verbas, o que nem sempre acontece.
fortalecer a capacidade de competição no Atualmente, o Brasil é o quinto maior mercado da indústria
mercado externo com uma infraestrutura automobilística mundial, e cerca de 10 mil km do seu sis-
integrada entre os modais marítimo, ro- tema rodoviário são compostos por autoestradas, principal-
doviário e ferroviário. Foram melhorados os mente no Estado de São Paulo. No entanto, cerca de 30%
acessos rodoviários aos portos supracitados. de toda a extensão da malha viária brasileira está muito
ƒ Programa de Recuperação do Contorno danificada pela falta de manutenção e apenas 96.353 km
da Baía de Guanabara: teve como objetivo estão pavimentados. Além disso, parte relevante das ligações
melhorar a ligação entre os Estados da Gua- interurbanas no País, mesmo em algumas regiões de gran-
nabara e Rio de Janeiro, incluído em um pla- de demanda, ainda são constituídas por estradas de terra
no diretor com metas também nas áreas de ou com estado de conservação precário, especialmente nas
saneamento básico e urbanização. regiões Norte e Nordeste do País, o que resulta em prejuízos
para o transporte de cargas bem como acidentes e mortes.

RODOVIA TRANSAMAZÔNICA (BR-230), RURÓPOLIS (PA, 2016)

Como resultado dessas políticas rodoviaristas, atualmente multimídia: música


mais de 62% do sistema de transporte brasileiro é rodoviá-
FONTE: YOUTUBE
rio, em virtude da concentração de investimentos nesse setor.
Música urbana – Capital Inicial
O que, no entanto, não significa que haja estradas suficien-

63
Com o atual estado de saturação dos sistemas viários ur-
banos e metropolitanos, muitas cidades de médio e grande Rodovias classe 0
porte têm se voltado para soluções que pretendem resol-
As autoestradas de maior nível técnico no Brasil são
ver o problema do transporte de pessoas e cargas, sendo definidas pelo DNIT (Departamento Nacional de In-
a solução mais comum a implantação de anéis viários. É fraestrutura de Transporte), atendem aos mais altos
interessante notar que, quando se discute a implantação padrões internacionais de desenho e são projetadas
de uma obra viária nas audiências públicas, dificilmente se para comportar velocidades de até 130 km/h. A de-
discute o sistema operacional da via, como se isso fosse clividade máxima aceita em tais padrões é de 5%
um fato inconteste, e não um elemento passível de dis- (em terrenos montanhosos) e raio máximo de curva
cussão. Tomemos como exemplo o Rodoanel Mário Covas: de 665 metros (para superelevação de 12%). As au-
toestradas atuais no Brasil classificadas como classe
seu projeto e implantação ficaram a cargo da Dersa, uma 0 são: a Rodovia dos Bandeirantes; a Rodovia Castelo
autarquia com grande experiência em projetar e implantar Branco; o trecho da BR-153, entre Itumbiara e Brasília;
estradas de alto desempenho, classificadas, no jargão da a Rodovia dos Imigrantes; a Rodovia Washington Luís;
área, como estradas classe 0, cuja proposta é ligar pontos a Rodovia Ayrton Senna/Carvalho Pinto; e a Rodovia
relativamente distantes, de forma rápida, sendo previstas Osvaldo Aranha, no trecho entre Porto Alegre e Osório.
velocidades de deslocamento superiores a 100 km/h.

2.2. Rodoanel
O Rodoanel é um anel rodoviário de 176 quilômetros de extensão que circunda a região central da Grande São Paulo. Cons-
truído ao longo de duas décadas, conecta as 10 rodovias estaduais ou federais que passam pela Grande São Paulo, criando
rotas alternativas que evitam, por exemplo, que caminhões vindos do interior do Estado com destino ao porto de Santos cir-
culem pelas vias urbanas já congestionadas da região metropolitana. A rodovia é dividida em quatro trechos (norte, sul, leste
e oeste) construídos em etapas separadas e operados por duas concessionárias diferentes. Além da cidade de São Paulo, o
Rodoanel cruza outras 16 cidades da região metropolitana: Santana de Parnaíba, Barueri, Carapicuíba, Osasco, Cotia, Embu
das Artes, Itapecerica da Serra, São Bernardo do Campo, Santo André, Mauá, Ribeirão Pires, Poá, Suzano, Itaquaquecetuba,
Arujá e Guarulhos.

64
O grande objetivo do Rodoanel seria desviar o trânsito de
passagem pela região metropolitana de São Paulo, conec- do óleo diesel, realizados pela estatal Petrobras, com
tando as estradas que afluem à região metropolitana e frequência diária, pelo fim da cobrança de pedágio por
permitindo a passagem desse volume de tráfego de forma eixo suspenso e pelo fim do PIS/Cofins sobre o diesel. O
preço dos combustíveis vinha aumentando desde 2017
segregada, não sobrecarregando mais o sistema urbano e sua tributação representa 45% do preço final, sendo
interno a esse anel. Na proposta do Rodoanel, parte-se da 16% referente ao PIS/Cofins, de competência da União.
premissa que o grande problema do tráfego das vias prin- O preço ao consumidor da gasolina brasileira estava na
cipais da região metropolitana é o tráfego de passagem. média mundial na semana da greve, em valores absolu-
tos, enquanto o diesel estava abaixo da média.
No entanto, analisando-se todos os dados disponíveis so-
bre a região metropolitana da grande São Paulo, verifica-se A paralisação e os bloqueios de rodovias em 24 Esta-
dos e no Distrito Federal causaram a indisponibilidade
que um dos grandes focos de consumo de bens, gêneros de alimentos e remédios ao redor do país, escassez
alimentícios e combustíveis no País, para se citar apenas e alta de preços da gasolina, com longas filas para
alguns dos elementos que fazem parte das necessidades abastecer. Além disso, várias aulas e provas foram
básicas da civilização moderna, está na própria região me- suspensas nas escolas, a frota de ônibus foi reduzida,
tropolitana, com seus mais de 20 milhões de habitantes, voos foram cancelados em várias cidades, enormes
ou aproximadamente 50% da população do Estado de quantidades de alimentos foram desperdiçadas, além
da morte de muitas aves e porcos por falta de ração.
São Paulo. Para se entender melhor o que isso significa,
segundo o IBGE, a população apenas da cidade de São
Paulo, em 2013, já era estimada em quase 12 milhões de
habitantes, com um IDHM de 0,805, sendo nela gerados
aproximadamente 25% do PIB do Brasil.
Considerando esses fatos, compreende-se que o grande
problema é que muitos produtos de fato precisam en-
trar na região metropolitana para abastecer a popula-
ção e permitir que ela desenvolva sua intensa atividade
produtiva, ou seja, o sistema interno de distribuição de
bens e pessoas é que se encontra sobrecarregado. O VALOR MÉDIO PARA CADA 100 KM EM RODOVIAS ESTADUAIS DO RIO DE
JANEIRO É DE R$ 12,93; ENQUANTO A MÉDIA NACIONAL É DE R$ 9,04.
Dessa forma, afirmar que a implantação do Rodoanel Má-
rio Covas, com sua forma e sistema operacional propostos, A partir dos anos 1990, processos de privatização das
causa um impacto significativo no alívio do trânsito da re- estradas brasileiras repassaram para a iniciativa privada a
gião metropolitana, ao menos proporcional ao investimen- manutenção e a transferência de custos para os usuários
to feito, é ignorar tais dados. A classe viária adotada não pagantes nas praças de pedágios. Esse processo continua
apresenta vantagens quando o objetivo é atender a gran- em andamento, enquanto obras públicas tentam priorizar
des volumes de tráfego, pois isso ocorre em rodovias quan- o acabamento de outras estradas e os investimentos em
do a velocidade está em uma faixa próxima a 50 km/h, no outros modais de transporte, com ênfase no ferroviário.
nível de serviço E, como também, pelo número restrito de
acessos, ela não permite um sistema local de distribuição
de pessoas e mercadorias, além de a tornar extremamente
vulnerável a bloqueios localizados que venham a ocorrer
por diversos fatores.

A crise do diesel
A greve dos caminhoneiros no Brasil, que teve início na
manhã do dia 21 de maio de 2018, também chamada
de crise do diesel, foi uma paralisação de caminhoneiros
autônomos com extensão nacional, durante o governo
federal de Michel Temer. Os grevistas se manifestaram multimídia: música
contra os reajustes frequentes e sem previsibilidade
FONTE: YOUTUBE
mínima nos preços dos combustíveis, principalmente
Rua de passagem – Lenine

65
O uso desse tipo de transporte intensificou-se depois da
Estrada do Pacífico Segunda Guerra Mundial, graças à expansão do comércio
internacional e das empresas multinacionais e transnacio-
Também conhecida como Rodovia Interoceânica, é
nais. É o meio de deslocamento em massa mais rápido, ao
uma estrada binacional que liga o noroeste do Brasil
percorrer grandes distâncias em tempo reduzido.
ao litoral sul do Peru, através do Estado do Acre. A par-
te da Estrada do Pacífico que fica dentro do território A sua principal infraestrutura é o aeroporto, grande espaço
brasileiro é identificada como BR-317, enquanto, no físico que proporciona a saída (decolagem) e a entrada (ater-
Peru, é chamada apenas de Carretera Interoceanica. rissagem) de aeronaves. Nele, há espaços para manutenção
A Estrada do Pacífico é o primeiro eixo multimodal At- das aeronaves, bagagens dos passageiros, carga e descarga
lântico–Pacífico na América do Sul. Além de favorecer de mercadorias, locais de alimentação etc. Nas últimas três
a integração sul-americana, a circulação de pessoas, o décadas, a aviação civil ganhou significativo incremento, no-
turismo e o comércio bilateral entre o Brasil e o Peru, tadamente o transporte de pessoas, devido à elevação das re-
a estrada vai garantir o acesso dos produtos peruanos lações financeiras entre países, à modernização dos aviões e
ao oceano Atlântico e o acesso dos produtos brasile- helicópteros e à diminuição dos custos das passagens aéreas.
iros ao oceano Pacífico.
Transporte aéreo em 2014 (milhões de passageiros)

Essa integração física entre Brasil e Peru começou


no início dos anos 2000 com a Iniciativa para a Inte-
gração da Infraestrutura Regional Sul-americana (Iir- Na tentativa de baratear os traslados internacionais, em-
sa), projeto que busca conectar os países da América
presas fabricantes de aviões pretendem criar modelos com
do Sul nas áreas de transporte, energia e telecomu-
capacidade de transportar até 800 pessoas de uma só vez.
nicações. Os produtos que passam pela rodovia são
Apesar do enorme dinamismo que o transporte aeroviário
desde produtos primários, como soja, carne e minério
de ferro, até produtos industrializados. proporciona, seus custos são elevados: valores operacio-
nais, manutenção, combustíveis, entre outros.
O transporte de cargas, por sua vez, é razoavelmente limitado

3. TRANSPORTE AÉREO em virtude do alto custo, bem como pela capacidade de car-
ga dos aviões. Não é possível carregar toneladas de soja em
aeronaves, como fazem os navios. É indicado para o transpor-
Transporte aéreo no Brasil – movimento nos te de produtos perecíveis, leves e com urgência de entrega.
principais aeroportos
Evolução do movimento aeroportuário (passageiros
pagos; empresas brasileiras e estrangeiras) nos 4. TRANSPORTE DUTOVIÁRIO
quatro aeroportos de maior movimento mais Santos É o transporte por dutos e tubulações de produtos líqui-
Dumont e Campinas, de 2000 a 2011 dos ou gasosos. A infraestrutura desse sistema pode ser
instalada sobre o solo, no subsolo ou submarina.

FONTE: ANUÁRIO DO TRANSPORTE AÉREO – 2011. ANAC.

66
Os primeiros oleodutos foram dos Estados Unidos, por
volta de 1885, tecnologia que se intensificou e se propa-
gou a partir do século XX, uma vez que permite conduzir
produtos por enormes distâncias. Os produtos são trans-
portados de uma área produtora para áreas consumidoras
ou exportadoras, como os portos. Dentre os produtos mais
transportados estão os minérios, o petróleo e o gás natural.
No Brasil, o transporte dutoviário surgiu na década de 50,
sendo pouco utilizado em comparação aos outros tipos. Se-
gundo a Agência Nacional de Transporte Terrestres (ANTT) ƒ Aparentes: dutos visíveis, encontrados geralmente nas
no País, cerca de 60% dos transportes é realizado por ro- estações de abastecimento.
dovias, 20% por ferrovias, 13% por hidrovias e 4% por
dutovias. Merecem destaque o Oleoduto São Sebastião/
Paulínia (226 km) e de Angra dos Reis/Caxias (125 km);
o mineroduto Paragominas/Barcarena, Pará (250 km); e o
gasoduto Brasil-Bolívia, com 3.150 km de extensão (sendo
2.593 km em território brasileiro), considerado o maior da
América latina e um dos maiores do mundo.
Uma implantação bastante positiva é o valor investido na
construção de dutos e tubulações, uma vez que o retorno em
relação ao capital investido é bastante rápido, graças à econo-
mia gerada por esse tipo de transporte, bem como aos poucos
ƒ Aéreos: dutos construídos suspensos no ar nos ter-
impactos ambientais que gera. Em contrapartida, o valor da im-
renos que apresentam relevo acidentado, bem como
plantação dos sistemas de tubulações e dutos é bastante alto.
para atravessar um rio ou um vale.
Segundo a localização de construção dos dutos, eles podem ser:

ƒ Submarinos: dutos submersos no fundo do mar, ge-


ƒ Subterrâneos: dutos não visíveis, de modo que estão ralmente utilizados para o transporte de petróleo nas
localizados abaixo da terra. plataformas marítimas.

VIVENCIANDO

O modal rodoviário corresponde a 58% do transporte de carga do Brasil. De acordo com dados oficiais do governo
federal, o País detém, aproximadamente, 1,5 milhão de quilômetros de rodovias não pavimentadas, contra cerca de
200 mil quilômetros de rodovias pavimentadas. Mesmo optando pelo rodoviarismo, as condições da maioria das
estradas brasileiras de rodagem são precárias, no que diz respeito à qualidade da pista, sinalização e segurança.
Observar as rodovias ou mesmo as avenidas e ruas por onde passamos pode auxiliar na compreensão desse tema.

67
Além de diminuir o tráfego de substâncias perigosas e a Outras vantagens desse tipo de transporte é que ele apre-
incidência de desastres ecológicos, o sistema dutoviário é senta fácil implementação e além disso, é bem econômico
bastante seguro e pode transportar grande quantidade de uma vez que apresenta baixo custo operacional de trans-
carga (embora transporte pouca variedade de produtos) porte e de energia.
por longas distâncias.
Por outro lado, as desvantagens do transporte duto-
Na maior parte dos casos, não necessita de embalagens viário são: considerado um transporte lento (com ve-
para o transporte desses produtos. Curioso notar que os locidade de 2 km/h a 8 km/h) em relação aos outros,
dutos apresentam serviços continuados, ou seja, funcio- além de apresentar pouca flexibilidade de destinos e
nam 24 horas por dia. Outra vantagem do sistema duto- de produtos.
viário é a diminuição de roubos e furtos de produtos, de
forma que muitos tubos estão imersos no solo.
Sistema dutoviário brasileiro

DUTOS DE PETRÓLEO
DUTOS DE MERMADOS
REFINARIAS
UPGN’s Bacia de
TERMINAIS FLUVIAIS Guararema Campos
TERMINAIS MARÍTIMOS
Rio de Janeiro
TERMINAIS TERRESTRES
Santos
TERMINAIS LACUSTRE
ARMAZENADORAS
CAPITAIS

500km

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Os problemas de mobilidade urbana, de movimentação de cargas, os impactos ambientais dos diversos meios de trans-
porte, a preocupação com a eficiência e pontualidade requerem estudos avançados interdisciplinares, inclusive no cam-
po da engenharia, que visam maior economia em uma rede de transportes com melhor desempenho multimodal. Nos
últimos anos, o debate sobre a mobilidade urbana no Brasil vem se acirrando cada vez mais, haja vista que a maior
parte das grandes cidades do país vem encontrando dificuldades em desenvolver meios para diminuir a quantidade de
congestionamentos ao longo do dia e o excesso de pedestres em áreas centrais dos espaços urbanos. Trata-se, também,
de uma questão ambiental, pois o excesso de veículos nas ruas gera mais poluição, interferindo em problemas naturais
e climáticos em larga escala e também nas próprias cidades, a exemplo do aumento do problema das ilhas de calor.

68
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidades
16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.

17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.

Podemos observar que, ao longo da história, alguns dos maiores esforços da sociedade tem sido no sentido de ga-
rantir a redução significativa dos efeitos da distância entre os diferentes espaços da superfície terrestre. Tais esforços
fazem parte de processos de evolução, tanto das sociedades que buscam vencer a necessidade de deslocamentos
cotidianos, criando para isso formas de encurtar distâncias, como dos sistemas de transportes enquanto forma e pro-
cesso consolidados que, ao longo do tempo, se mostram cada vez mais complexos e articulados com o processo de
organização socioespacial. Os percursos feitos a pé, o transporte muar e os desenvolvimento dos diferentes modais
nos ajudam a entender o processo de evolução dos transportes, num contexto de mundo cada vez mais globalizado,
no qual diferentes atores servem-se das redes e se utilizam dos espaços para produzir e transformar o território na-
cional em um espaço nacional de economia internacional.
Nesse sentido, os diferentes transportes são fundamentais para o desenvolvimento e organização do território, uma
vez que independente das suas escalas de implantação e uso, se em nível local ou nacional, participam do processo
de incremento da economia, à medida que são responsáveis pela movimentação e circulação de pessoas e cargas,
desempenhando, portanto, papel estratégico na intensidade e na forma com que as relações sociais, espaciais e eco-
nômicas acontecem. Por esse motivo, na atualidade, vêm se tornando cada vez mais comum as análises dos impactos
do transporte na economia de diferentes países e regiões. As relações entre o desenvolvimento das infraestruturas de
transporte e técnicas, assim como a análise dos modais presentes no espaço em cada momento histórico, nos mostra
o quanto o transporte pode ser considerado um dos elementos do desenvolvimento regional. Tal consideração se
explicaria pelo fato de que a infraestrutura de transportes tem uma série de impactos e benefícios sobre a sociedade.

Modelo
(Enem) De todas as transformações impostas pelo meio técnico-científico-informacional à logística de transportes,
interessa-nos mais de perto a intermodalidade. E por uma razão muito simples: o potencial que tal “ferramenta
logística” ostenta permite que haja, de fato, um sistema de transportes condizente com a escala geográfica do Brasil.
HUERTAS. D.M. O PAPEL DOS TRANSPORTES NA EXPANSÃO RECENTE DA FRONTEIRA AGRÍCOLA BRASILEIRA. REVISTA
TRANSPORTE Y TERRITORIO. UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRES, N. 3, 2010 (ADAPTADO).
A necessidade de modais de transporte interligados, no território brasileiro, justifica-se pela(s):
a) variações climáticas no território, associadas à interiorização da produção.
b) grandes distâncias e a busca da redução dos custos de transporte.
c) formação geológica do país, que impede o uso de um único modal.
d) proximidade entre a área de produção agrícola intensiva e os portos.
e) diminuição dos fluxos materiais em detrimento de fluxos imateriais.

69
Análise expositiva - Habilidades 16 e 17: O Brasil, por apresentar um território continental, ou seja, de
B grande extensão, necessita de que os diferentes meios de transporte sejam conectados (modais) – dimi-
nuindo os gastos de transporte de mercadorias pelas empresas, reduzindo o tempo de deslocamento das
partes interiores até o litoral para a exportação e aos grandes centros urbanos.
A questão aborda o sistema de transporte, em que um dos principais desafios brasileiros para os próximos
anos é eliminar os gargalos no setor de infraestrutura que limitam a competitividade do país. O Brasil tem
urgência em recuperar, modernizar e aumentar a capacidade das infraestruturas, de modo a permitir o
crescimento da economia. O País foi a única nação de grande dimensão territorial que optou pelo modal
rodoviário, o que implica no aumento do custo. A interligação de modais de transporte no território brasi-
leiro justifica-se pelas distâncias e pela busca da redução dos custos de transporte.
Alternativa B

DIAGRAMA DE IDEIAS

BAIXA EFICIÊNCIA NO
TRANSPORTE DE CARGA

CAUSAS PRIMÁRIAS

DEFICIÊNCIA DA INSEGURANÇA
INFRAESTRUTURA DE APOIO NAS VIAS

DESBALANCEAMENTO LEGISLAÇÃO E FISCALIZAÇÃO


DA MATRIZ DE TRANSPORTE INADEQUADAS

CAUSAS SECUNDÁRIAS

• BAIXOS PREÇOS DOS


FRETES RODOVIÁRIOS • REGULAMENTAÇÃO DO TRANSPORTE
• POUCAS ALTERNATIVAS AO • LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA E
MODAL RODOVIÁRIO INCENTIVOS FISCAIS
• BARREIRAS PARA INTERMODALIDADE • FISCALIZAÇÕES INEFICIENTES
• PRIORIZAÇÃO DO MODAL • BUROCRACIA
RODOVIÁRIO PELO GOVERNO

• BASE DE DADOS DO
SETOR DE TRANSPORTES • ROUBO DE CARGAS
• TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO • MANUTENÇÃO DAS VIAS
• TERMINAIS MULTIMODAIS

70
REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS:
Incidência do tema nas principais provas

O Enem é extremamente interdisciplinar e Nos temas de regionais do mundo, a prova


acaba tendo como foco principal promover ainda permanece bem tradicional, com temas
reflexões sobre a sociedade, a interação dela relacionados, principalmente, à Geografia física.
com o espaço e a visão crítica sobre as ações da
humanidade.

Fique atento às particularidades econômicas A prova da Unifesp não tem Geografia. A estrutura das perguntas do vestibular da
dos países em questão. Unesp é semelhante às questões do Enem,
principalmente por sua distribuição de tópicos
e disciplinas. As duas avaliações contam
com muitos exercícios de interpretação e
compreensão de texto.

Embora seja recente, podemos observar Costuma apresentar questões de política É importante estudar a Europa e suas Os acontecimentos mais recentes na Europa
que esse vestibular preza por questões com econômica, globalização e geopolítica, quando tensões políticas. O Brexit é um tema que é um tema que pode se destacar nesse
enunciados pequenos, de fácil interpretação e se trata da Geografia geral. pode aparecer. vestibular.
que buscam conteúdos bem atuais da Geogra-
fia geral. Estude as crises econômicas que
aconteceram na América latina,
em 2019.

UFMG

É de extrema importância que o candidato te- A prova de Geografia costuma contar com um A prova da CMMG não tem Geografia.
nha conhecimento sobre as diferentes lógicas núcleo de temas sempre cobrados pela UFPR,
territoriais e da diversidade teórico-conceitual, como globalização e Geografia regional.
quando se trata de temas sobre regionalização
do espaço mundial.

Para os temas deste livro, o candidato deverá No que se refere à Geografia econômica, é A prova avalia, principalmente, a habilidade de
ficar a par de assuntos da atualidade, como necessário compreender aspectos ligados à leitura de textos de gêneros variados, relacio-
mudanças territoriais recentes, as novas globalização. Entre os principais assuntos, des- nando-os às suas condições de produção.
fronteiras e as crises econômicas. tacam-se a conteinerização das mercadorias,
fases da industrialização, medidas econômi-
cas e fluxos de informação.

71
AULAS REGIÕES SOCIOECONÔMICAS
27 E 28 MUNDIAIS II: AMÉRICA LATINA
COMPETÊNCIA: 2 HABILIDADE: 9

1. INTRODUÇÃO Trinidad e Tobago, entre outros, são considerados países da


América latina, uma vez que mantêm características históri-
O continente americano é o segundo mais extenso do pla- cas e culturais semelhantes às dos latino-americanos.
neta, com mais de 42 milhões km2, uma população com Outro elemento importante para essa divisão são os as-
aproximadamente 925,2 milhões de habitantes, distribu- pectos geopolíticos e socioeconômicos. Canadá e Estados
ídos em 35 países e em territórios sem plena autonomia Unidos são as potências desenvolvidas do continente. As
política, como a Guiana Francesa. nações latino-americanas, por sua vez, estão em processo
A divisão dessa grande porção continental é baseada na de desenvolvimento econômico e a maioria delas apresen-
posição geográfica das terras americanas no globo terres- ta graves problemas sociais.
tre: América do Norte, América Central e América do Sul. O Portanto, os países da América latina estão distribuídos pe-
continente americano é dividido em América anglo-saxôni- las três regiões geográficas do continente: México (Améri-
ca e América latina, em razão do idioma e dos elementos ca do Norte) e todas as nações da América Central e do Sul,
históricos e culturais de cada uma delas. com traços históricos e culturais semelhantes.
O processo de colonização no continente americano foi
promovido pelos europeus: espanhóis, portugueses, britâ-
nicos, holandeses e franceses, e uma das principais heran- México Cuba Rep. Dom.
Haiti
ças dessa colonização é a língua. As nações colonizadas Belize
Guatemala Honduras
El Salvador
por países cujo tronco linguístico é o germânico (inglês), Nicarágua
Costa Rica Venezuela Guiana
pertencem à América anglo-saxônica. A América latina, Panamá Suriname
Colômbia Guiana
por sua vez, é integrada pelos países de língua neolatina – Francesa (FR)
Equador
francês, português e espanhol.
Peru Brasil
Bolívia
Paraguai
Chile

Uruguai
Argentina

multimídia: livros
As veias abertas da América Latina – Eduardo AMÉRICA LATINA
Galeano
No prefácio, escrito em agosto de 2010, espe- 1.1. Aspectos naturais
cialmente para esta edição de As veias abertas
da América Latina, Eduardo Galeano lamenta 1.1.1. Relevo
“que o livro não tenha perdido a atualidade”.
O México apresenta um relevo montanhoso, cuja principal
formação é a Sierra Madre, que se subdivide em duas cris-
Entretanto, apesar de ex-colônias de países de tronco lin- tas, ocidental e oriental, e entre as duas encontra-se o pla-
guístico germânico – inglês e holandês –, Suriname, Jamaica, nalto Mexicano. A América Central por sua vez, é a menor

72
porção do continente e é subdividida em duas partes: ist- do país. Um dos fatores que agrava ainda mais a escassez
mo, corredor continental, que liga os dois blocos maiores, hídrica é a contaminação dos rios por dejetos domésticos
e as antilhas, que correspondem à porção insular, que, por e industriais, problema este que é agravado nas bacias hi-
sua vez, está subdividida em grandes antilhas (Cuba, Haiti, drográficas que atendem áreas densamente urbanizadas,
Jamaica, República Dominicana e Porto Rico) e pequenas como é o caso das bacias dos rios Tula, Moctezuma e Pá-
antilhas, que corresponde a um grupo de microestados e nuco. No golfo do México, encontram-se as bacias dos rios
possessões britânicas, francesas, estadunidenses e holan- Coatzacoalcos e Papaloapan, com forte poluição industrial,
desas (Bahamas, Martinica, Guadalupe, Granada, Santa urbana e agrícola, e ainda as bacias do Grijalva e do Usu-
Lucia, Barbados, entre outras). No istmo, o relevo constitui macinta (o mais volumoso do país). Ao norte, na fronteira
uma irregularidade serrana e planáltica (sierras), que na re- com os Estados Unidos e desaguando no golfo do México
alidade nada mais é do que um prolongamento do aspecto em forma de grande delta, está o rio Bravo.
montanhoso que desce do México, sendo a vertente oci-
Os rios da América Central são, em geral, de pequeno por-
dental mais íngreme e acidentada, rebaixando-se à medida
te, o destaque fica por conta da ligação que eles possibili-
que a geomorfologia avança para leste.
tam no istmo, entre os oceanos Atlântico e Pacífico.
A costa leste da América do Sul é de planaltos de origem
A América do Sul é caracterizada pelas maiores bacias
geológica muito antiga; por essa razão sofreu longos pro-
hidrográficas do mundo, a começar pela do Amazonas, a
cessos erosivos e atualmente as características do relevo
maior do mundo.
são relativamente planas, com altitudes modestas.
O grande potencial hídrico desse subcontinente é provenien-
No interior da América do Sul, há predominância de planal-
te dos aspectos climáticos que predominam em grande parte
tos com pouca elevação e planícies.
do território onde prevalecem os climas úmidos – equatorial
No extremo ocidente do subcontinente, o relevo é consti- e tropical úmido –, com altos índices pluviométricos.
tuído pelas grandes altitudes da cordilheira dos Andes,
que corresponde a um dobramento moderno oriun- 1.1.3. Principais bacias hidrográficas
do do encontro entre a placa de Nazca e a placa Sul- da América do Sul
-americana, razão pela qual a região tem uma grande in-
cidência de abalos sísmicos. A cordilheira dos Andes esten- ƒ Bacia Amazônica – localizada na floresta Amazôni-
de-se da Venezuela ao Chile, com aspectos distintos classi- ca, banha o Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,
ficados em: Andes setentrionais úmidos, Andes centrais ou Venezuela e Guiana.
áridos e Andes meridionais ou frios. ƒ Bacia do Prata ou Platina – corresponde à união de
Golfo do três sub-bacias: Paraná, Paraguai e Uruguai.
México
Citlaltepetl
5 610 m
ƒ Bacia do rio São Francisco – fica totalmente em ter-
Mar do
Caribe ritório brasileiro e tem como rio principal o São Francisco.
Pico da Neblina
2 994 m
Is. Galápagos

Planície Amazônica
Co
rd
ilh ossa Pe
ei
F

ra
dos Andes

OCEANO
ru-Chile

Aconcágua
PACÍFICO 7 000 m

Estreito de Magalhães Is. Falkland


Terra (Malvinas)
do Fogo

MAPA FÍSICO DA AMÉRICA DO SUL

1.1.2. Hidrografia
No México, a hidrografia é pobre em boa parte do território,
MAPA DA BACIA DO PRATA
por conta do clima semiárido que abrange o centro-norte

73
O clima em grande parte é o equatorial e tropical, que pro-
porciona o desenvolvimento de grandes florestas do tipo lati-
foliadas, correspondentes à floresta equatorial, a Amazônica.
As áreas de clima tropical correspondem aos territórios do
Brasil, Paraguai, Venezuela e Colômbia. Há neles savanas, o
cerrado no planalto central brasileiro, o chaco no Paraguai
e Bolívia e os lhanos na Venezuela. Nas regiões de clima
tropical úmido predominam as florestas tropicais –floresta
Atlântica na costa brasileira.

multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE

Conflito das Águas


Mas enquanto Sebastian, com algo a dizer, pre-
tende recontar a história do mito de Colombo,
apresentando-o como um homem obcecado por
ouro, escravos caçador e repressivo indiano; conta,
apenas uma película com um orçamento modesto
que lhe foi atribuído, ou é necessária para disparar
na Bolívia, um dos países mais baratos com gran- DESERTO DO ATACAMA, CHILE (2013)
des populações indígenas. Nas regiões onde prevalece o clima subtropical, como no
sul do Brasil, no Uruguai e na Argentina, há vegetações
como a mata dos pinhais, as estepes e as pradarias.
1.1.4. Clima e vegetação
O clima temperado ocorre em uma restrita parcela da Amé-
O clima no México é variado, com a ocorrência de clima ári- rica do Sul, no sul do Chile, cuja vegetação é de floresta
do ao norte, clima temperado nas encostas montanhosas e temperada.
clima tropical no sul, sudeste e ao longo da linha costeira,
onde as altitudes são modestas. A vegetação reflete a di-
versidade climática, variando desde as estepes no norte até
a floresta tropical no sul e sudeste.
A América Central fica na faixa tropical do planeta, por-
tanto numa área predominantemente quente e úmida. A
vegetação é predominantemente de florestas tropicais.
Em razão da extensão territorial em sentido norte-sul, o
continente está sob influência de duas zonas climáticas: a PRADARIA ARGENTINA (2014)
intertropical e a temperada do sul. Dessa forma, os climas
são equatorial, tropical, além do mediterrâneo e temperado. 1.2. Aspectos econômicos
O relevo é um dos elementos mais importantes na compo- A base econômica dos países da América latina está assen-
sição dos climas. Ao longo de toda planície amazônica não tada nas atividades produtoras do setor primário – produ-
há altitudes que impeçam a locomoção de massas de ar ção agropecuária, extração vegetal, animal e mineral.
quente ou fria, servindo assim como um corredor de pas- Após a Segunda Guerra Mundial, países como Brasil, Méxi-
sagem de massas que seguem seu trajeto para interagir co, Argentina industrializaram-se. Países que os abasteciam
com as características locais e assim dar origem às distintas de mercadorias industrializadas estavam em processo de
variações climáticas. reconstrução obrigatória pela destruição da guerra. Esses
Além desses, na América do Sul há ainda os climas frios de países conduziram sua autossustentação, conhecida como
montanha, característicos dos Andes; o semiárido, nos An- industrialização por substituição de importação.
des central e no nordeste brasileiro; e o árido ou desértico, Outra característica dos países latinos é a industrialização
na Patagônia (Argentina) e no Atacama (Chile). tardia que ocorreu apenas no século XX, tendo em vista

74
que a Revolução Industrial teve início no entre final do sé- desigual com produtos industrializados europeus, com alto
culo XVIII e o início do XIX. Foram necessários quase 100 valor agregado. A balança comercial pendendo contra os
anos de atraso, portanto, para que a grande dependência países latinos, impossibilitava-lhes o crescimento econômi-
financeira em relação aos países ricos (re)começasse. co significativo destes, o que os impedia de reunir recursos
suficientes para sanar as dívidas.
Diversos países que ingressaram de forma expressiva nas
atividades industriais tiveram de estender ainda mais os
valores e os prazos das dívidas, com o propósito de gerar
desenvolvimento econômico no país. Os recursos foram
destinados principalmente para obras de infraestrutura –
usinas hidrelétricas, portos, rodovias, ferrovias –, além de
fortalecer e criar novas empresas ligadas às indústrias de
base no ramo das metalúrgicas, siderúrgicas, petroquími-
cas e de mineração.

multimídia: música Nesse cenário, fica evidente que países como Argentina
e México, que se encontram em franco crescimento in-
dustrial, sejam os mais endividados da América latina.
Latinoamérica – Calle 13
Atualmente, enfrentam grandes dificuldades agravadas
pela crise econômica mundial. O Brasil conseguiu qui-
tar suas dívidas externas, usufruindo hoje uma situação
1.2.1. As transnacionais na economia razoavelmente privilegiada diante dos demais países lati-
latino-americana no-americanos.
Elas ingressaram na América latina, no século XX, graças às
As dívidas externas impedem que haja um desenvolvimen-
condições favoráveis que ela oferecia: mão de obra farta e
to pleno em países de economias frágeis, fato esse agrava-
barata, matéria-prima também farta, com concentração de
do a partir da década de 1970, quando os juros internacio-
recursos naturais e leis ambientais pouco rigorosas, merca-
nais foram significativamente reajustados.
do consumidor promissor em razão dos países populosos
latino-americanos, isenção de impostos e incentivos fiscais Distantes de alcançar o pagamento das dívidas, os países
para a instalação de indústrias. endividados optaram pelo pagamento tão somente dos
juros, o que não ajuda a solucionar o problema. Essa situ-
As transnacionais dominam vários ramos industriais – au-
ação só interessa às economias centralizadas; são elas que
tomobilístico, alimentício, siderúrgico, metalúrgico e eletro-
determinam os rumos da economia de países subdesenvol-
eletrônico. Esse processo determinou as dificuldades para
vidos permanentemente dependentes.
que surgissem empresas genuinamente nacionais.
A grande maioria dos países latinos possuem dívidas que
contraíram no processo de descolonização e encontrou
1.3. A crise econômica e
grandes dificuldades para pagá-las em virtude dos altos o modelo neoliberal
juros e de sua condição de produtores primários. A maioria dos países latinos sempre conviveu com inflação
– aumentos constantes de preço dos produtos e das taxas
1.2.2. A dívida externa dos países de juros. Na década de 1980, não houve expectativa algu-
latino-americanos ma de melhora, independentemente do seguimento, razão
pela qual ficou conhecida como a década perdida. O FMI
O endividamento externo é um legado comum de grande
parte dos países latinos, que contraíram vultosas dívidas (Fundo Monetário Internacional) fornece frequentemente
junto a instituições financeiras internacionais e países cre- empréstimos, o que eleva mais ainda o grau de dependên-
dores quando do início do processo de descolonização, na cia dos países em desenvolvimento. O modelo neoliberal
tentativa de financiar os gastos pelo desligamento com as agravou a situação econômica mundial em virtude da glo-
metrópoles. balização, provocou desemprego, crescimento da pobreza
e elevação do custo de vida.
Por conta desses empréstimos, passaram a enfrentar difi-
culdades intransponíveis para o pagamento deles, também Em resumo: as questões apontadas são realidades comuns a
porque economicamente assentados na produção de pro- todos os países latinos que tiveram histórias semelhantes e
dutos primários, com baixo valor agregado, em competição de colonização de exploração, que se refletem na realidade

75
atual. Embora cada um deles tenha suas particularidades, os impulsionar a integração, fazendo mais expedito e eficiente
problemas são os mesmos, provocadas pelo desenvolvimen- o transporte de pessoas e carga.
to desigual do capitalismo.

1.3.1. Aliança do Pacífico


A Aliança do Pacífico, formada pelo Chile, Colômbia, Mé-
xico e Peru, é um processo de integração econômico e co-
mercial, aberto, flexível e com metas claras e pragmáticas,
cujo principal objetivo é avançar na livre circulação de bens,
serviços, capitais e pessoas. Esse ambicioso esforço não só
procura aprofundar o comércio e o investimento entre seus
membros, mas também com o mundo. A Aliança do Pací-
fico firmou suas bases institucionais formalmente em ju-
nho de 2012 com o Acordo Marco, assinado pelos quatro
multimídia: vídeo
presidentes da República (Observatório Paranal, Região de FONTE: YOUTUBE
Antofagasta, no Chile).
Diários de Motocicleta
A Aliança surgiu sobre a base de aprofundar e comple- Che Guevara (Gael García Bernal) era um jovem
mentar aquilo que os quatro países já tinham estipulado estudante de Medicina que, em 1952, decide via-
bilateralmente. Em forma paralela, a ideia foi gerar espaços jar pela América do Sul com seu amigo Alberto
de integração relevantes em áreas não tradicionais. Assim, Granado (Rodrigo de la Serna). A viagem é rea-
foram gerados acordos em educação (intercâmbios e bol- lizada em uma moto, que acaba quebrando após
sas de estudos de pré-graduação); cooperação científica 8 meses.
(mudança climática); promoção conjunta nos mercados
internacionais de bens, serviços e investimentos da região;
escritórios comerciais conjuntos; cooperação consular e de 1.3.2. Indústria
embaixadas, para mencionar algumas conquistas.
O processo de industrialização começou na Inglaterra, no
A Aliança do Pacífico tem uma estrutura baseada no prin- final do século XVIII. No XIX, expandiu-se pela Europa,
cípio do consenso. Nesse sentido, as muitas coincidências Estados Unidos e Japão. Mas tal processo aconteceu de
que compartilham os países facilitaram os acordos. É im-
modo desigual de forma bastante particular. Países como
portante assinalar que existe um grande nível de com-
México, Argentina e Brasil são considerados de industriali-
promisso, o qual se reflete nas sete reuniões cúpulas dos
zação tardia ou retardatária, uma vez que ingressaram na
chefes de Estado, nos vários encontros de ministros de Re-
industrialização quase cem anos após a Primeira Revolu-
lações Exteriores e de Comércio, e nas sucessivas reuniões
ção Industrial.
dos vice-ministros de Comércio e dos grupos técnicos.
Durante o século XIX houve diversas tentativas de industria-
Com efeito, com uma população de 211 milhões de pes-
lização nesses mesmos países da América latina. Entretanto,
soas, um PIB de US$ 2,013 trilhões (um terço do PIB da
região) e um comércio global de US$ 1,104 trilhão, esti- todas foram frustradas, ou tiveram repercussões pouco ex-
ma-se que a Aliança do Pacífico, em 2018, será a terceira pressivas. As poucas indústrias que vingaram limitavam-se à
maior economia do mundo, segundo projeções do Fundo fabricação de bens de consumo não duráveis – velas, sabão,
Monetário Internacional (FMI). artigos de couro e lã, tecidos, alimentos, móveis etc.

Por sua vez, aumentar o comércio extra-Aliança é um obje- Foi depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), da
tivo de grande interesse, especialmente com a região Ásia- crise de 1929 e da Segunda Guerra Mundial (1939-1945),
-Pacífico, que concentra hoje quase 50% da população que o cenário internacional favoreceu um relativo desen-
mundial, 30% do PIB mundial e 30% do que se compra volvimento industrial dos países latino-americanos.
no Planeta. À medida que a Primeira Guerra Mundial intensificava-se,
Também em serviços foi chave o acordo alcançado em Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos, países indus-
transporte marítimo, o que facilitará a cooperação e o trializados à época, passaram a diminuir o volume de expor-
trânsito para cargas, complementando, assim, os acordos tação para a América latina. Escassos os produtos industriali-
já existentes com novas disciplinas. Em serviços aéreos zados, algumas nações latinas passaram a fabricar produtos
queremos avançar rumo a sua liberalização, para, assim, que garantissem o abastecimento do mercado interno.

76
A crise de 1929 também contribuiu para a industrializa- Em face disso, as transnacionais começaram a se dispersar
ção da América latina. Em crise, a economia estadunidense ao longo da América latina, especialmente nas áreas de
criou para os países latinos uma significativa dependência, maior desenvolvimento industrial, como Brasil, Argentina
uma vez que eles deixaram de receber capitais da venda de e México.
produtos agrícolas e matérias-primas. Sem dinheiro para
No contexto industrial, as transnacionais ocupam grandes
comprar produtos industrializados importados, Brasil, Ar-
espaços, uma vez que exercem domínios hegemônicos em
gentina e México foram obrigados a fabricar seus produtos.
determinados ramos de atividades, como a indústria auto-
Terminada a Segunda Guerra Mundial, grandes grupos em- mobilística, alimentícia, siderúrgica, metalúrgica, eletroele-
presariais europeus, estadunidenses e japoneses buscaram trônica, farmacêutica, química e agroindústria.
uma nova forma de expansão comercial, ao dispersarem
A inserção em massa de transnacionais em grande par-
empresas multinacionais em direção a países da América
te dos países latinos impediu o surgimento de empresas
latina, África e Ásia.
nacionais. Aquelas ocuparam todo o mercado, como foi o
Essa nova configuração internacional de produção deu-se caso da indústria de automóveis, quase todas são de ori-
por diversos fatores: mão de obra abundante e barata, fra- gem estrangeira.
gilidade sindical, riquezas em matérias-primas, imenso mer-
Em suma, o desenvolvimento industrial da América latina
cado consumidor, disponibilidade de infraestrutura oferecida
foi essencialmente vinculado às transnacionais.
pelos países que recebiam as empresas, leis ambientais frá-
geis. Marcava-se assim uma nova etapa do capitalismo. Países do Mercosul

Venezuela

Brasil

Paraguai

INDÚSTRIA MAQUILADORA NO MÉXICO (2014) População


270 milhoes de habitantes
As transnacionais exercem uma grande influência de or- Uruguai 70% do total da América do Sul

dem econômica em praticamente todos os países da Amé- Argentina PIB


US$ 3,3 trilhões
rica latina assim como ocorre na Ásia e na África. 83,2% do total da América do Sul

No caso específico da América latina, as transnacionais ins- Território


12,7 milhões de km2
talaram-se atraídas pelas condições favoráveis oferecidas 72% do total da América po Sul

bastante atrativas para as empresas. Dentre essas condi-


ções é possível destacar.
ƒ Abundância de mão de obra que favorece a defasagem Apesar da globalização, há nos países latinos uma pe-
salarial. Nesses países os salários são baixos, ao contrá- quena integração internacional. Na América latina essa
rio dos pagos nos países de origem das empresas. integração se destaca pelo bloco econômico chama-
do Mercosul, criado em 1991, formado pelo Brasil,
ƒ Enorme potencial de recursos naturais usados como
Argentina, Uruguai, Paraguai, além de Chile e Bolívia que
matéria-prima e adquiridos com baixos custos.
participam como convidados.
ƒ Grandes perspectivas de consumo, uma vez que há au-
A formação de blocos econômicos é uma tendência mun-
mento da população, resultando em enorme mercado
dial, pois fortalece os países diante do mercado global. No
consumidor que, consequentemente, deve absorver
Mercosul é praticado o acordo de união aduaneira, que
parte da produção das empresas.
tem como objetivo fixar uma tarifa alfandegária externa
ƒ Diversos países concederam ainda infraestrutura oriun- comum a todos integrantes. Há discussões voltadas para a
da de capitais estatais, favorecimentos tributários, fi- implantação de uma nova etapa no bloco, na qual seriam
nanciamentos, subsídios, entre outras facilidades. liberadas totalmente as trocas comerciais de bens, capitais

77
e circulação de pessoas; porém, as diferenças socioeconô- etc. A esse conjunto de delitos denominamos crime orga-
micas têm impedido a consolidação desse acordo. nizado. Na geografia do narcotráfico na América latina, a
Colômbia é responsável por 80% da produção mundial de
Os impasses e desafios na consolidação do Mercosul são
cocaína, cuja matéria-prima (a folha de coca) tem origem
estabelecidos a partir de medidas protecionistas adotadas
no Peru, que também abastece a produção boliviana. Nes-
pelos líderes dos países, cuja finalidade é proteger as eco-
ses países pobres, onde a globalização acirrou as diferen-
nomias nacionais e seus empresários. O produto importado
ças entre países ricos e pobres, por falta de opção, humil-
deve ser taxado de tributos para que o produto interno
des camponeses têm sido empurrados para os braços do
tenha o melhor preço. No continente, o Brasil é a principal
narcotráfico. Como a agricultura familiar está em recessão,
potência e exerce forte influência sobre os demais países.
esses camponeses, converteram sua produção para trafi-
Nos últimos anos vem sendo discutida a possibilidade cantes, que pagam um bom preço pelo quilo da folha de
de implantação de um bloco econômico mais abrangen- coca. No entanto, esse valor é ínfimo diante dos lucros do
te composto pelas três Américas, do Norte, Central e do narcotráfico.
Sul chamado Alca. O Mercosul promoveu um grande salto
econômico para os países membros. Com ele, o valor co-
mercial cresceu 300%, desde 1999. Pensa-se também em
uma possível integração com a União Europeia, meta con-
trariada pelos Estados Unidos, interessados na criação da
Alca. A resistência criada pelos países latinos é alimentada
pelo receio de que o acordo sirva apenas aos interesses
estadunidenses.

AS FARC - FORÇAS ARMADAS REVOLUCIONÁRIAS DA COLÔMBIA

1.5. Subdesenvolvimento
dos países latinos
1.5.1. O espaço rural
Os contrastes do espaço agrário latino-americano são cau-
sados principalmente pela disparidade tecnológica. Das
duas classes rurais, uma delas conta com todo aparato tec-
multimídia: música nológico, a outra, com práticas rudimentares de produção;
concentração fundiária – uma restrita parcela da popula-
Antipatriarca – Ana Tijox ção detém a maior parte das áreas rurais; e monocultura
– herança da época colonial de todas as nações latinas.
As médias e pequenas propriedades são responsáveis pela
1.4. O narcotráfico na América latina produção de alimentos para o mercado interno de abaste-
Na América do Sul, um dos maiores problemas enfrentados cimento dos centros urbanos. Essas propriedades têm baixa
pelos países é o narcotráfico, que corresponde ao segundo produtividade, ao passo que os produtores latifundiários,
ramo comercial do mundo cujos principais produtores são têm alta produtividade graças ao investimento tecnológico
latinos – Peru, Bolívia e Colômbia. Os não produtores atu- e à destinação de sua produção, o mercado internacional.
am na comercialização. A coca, principalmente, é cultivada, A concentração das terras ocorreu no período colonial,
processada (para a fabricação da cocaína) e distribuída quando da formação territorial, da distribuição de imensas
pelo mundo mediante as rotas do tráfico das quais o Brasil propriedades rurais mantida por anos e anos. A concentra-
faz parte estratégica. ção fundiária traz sérios problemas no campo, que exigem
A prática ilegal do narcotráfico se alinha a outras práticas um programa voltado para a reforma agrária e o estabele-
criminosas, ou seja, caminha ao lado de outras que se con- cimento de uma política agrícola.
vencionou chamar de delitos conexos, como a lavagem
de dinheiro, o tráfico de agentes químicos, o tráfico de ar- 1.5.2. Questão da terra e reforma
mas, corrupção nas esferas pública e privada, evasão fiscal agrária na América latina

78
Uma correta reforma traria estabilidade social, melhoria na
qualidade de vida, geração de empregos, fixação do traba-
lhador no campo, redução da pobreza e da violência.
No entanto, as reformas agrárias na América latina vêm
sendo feitas pela influência política. Parlamentares repre-
sentantes da bancada ruralista, representantes dos gran-
des proprietários rurais, são contrários a medidas que firam
os interesses de seus representados. A falta de uma política
agrária eficiente fez surgir movimentos de luta pela pos-
se da terra, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem-Terra (MST), no Brasil. multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE

O Banheiro do Papa
1998, cidade de Melo, na fronteira entre o Brasil e
o Uruguai. O local está agitado, devido à visita em
breve do Papa. Milhares de pessoas virão à cidade,
o que anima a população local, que vê o evento
como uma oportunidade para vender comida, be-
bida, bandeirinhas de papel, souvenirs, medalhas
comemorativas e os mais diversos badulaques.

MANIFESTAÇÃO DO MST, EM BRASÍLIA, DISTRITO FEDERAL, BRASIL (2014)

Do campo para a cidade, as semelhanças entre as caracte-


rísticas de urbanização dos países que compõe a América
latina são evidentes. A partir do século XX, o processo de
êxodo rural, – saída de pessoas do campo para as cida-
des – inchou significativamente a população dos núcleos
urbanos; e o processo de urbanização ocorreu graças prin-
cipalmente ao desenvolvimento industrial, a modernização multimídia: livros
do campo, o crescimento natural trazido pelo processo de
metropolização. Ambos esses processos, no entanto, são Cem Anos de Solidão - Gabriel Garcia Márquez
excludentes. A urbanização é desordenada e provoca ex-
Com nova tradução e projeto gráfico, o livro
clusão social – áreas de ricos e de pobres –, a não geração
mais importante da obra de Gabriel García
de empregos suficientes e o crescimento do setor informal.
Márquez, vencedor do prêmio Nobel de lite-
ratura em 1982 é relançado.

multimídia: música
Pal Norte – Calle 13

79
VIVENCIANDO

Uma boa visita para se conhecer alguns aspectos da América Latina é ir ao Memorial da América Latina, um centro
cultural, político e de lazer, inaugurado em 18 de março de 1989 em de São Paulo. O conjunto arquitetônico, pro-
jetado por Oscar Niemeyer, é um monumento à integração cultural, política, econômica e social da América Latina,
situado em um terreno de 84.482 metros quadrados no bairro da Barra Funda. Seu projeto cultural foi desenvolvido
pelo antropólogo Darcy Ribeiro. É uma fundação de direito público estadual, com autonomia financeira e adminis-
trativa, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura.

CONEXÃO ENTRE DISCIPLINAS

Devemos adotar uma perspectiva interdisciplinar com múltiplos instrumentos de análise, e operar com categorias de
observação de situações de vida de grupos e de comunidades, bem como de temáticas inovadoras, com o objetivo
de produzir um pensamento crítico em relação aos problemas sociais e culturais dimensionados em termos de tem-
po e espaço latino-americanos. O diálogo entre as áreas de Letras, Artes, História, Antropologia e disciplinas afins
tem como objetivo a interpretação dos processos de produção e circulação de saberes, em sua articulação com as
práticas e mobilidades sociais e culturais na América Latina.

80
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas, em escala local, regional
09 ou mundial.

As organizações políticas e socioeconômicas internacionais da atualidade tiveram o seu surgimento, em sua maioria,
na segunda metade do século XX. No entanto, foi com a globalização e o fim da Guerra Fria que elas se consolidaram
como importantes atores no cenário internacional, passando por um relativo período de fortalecimento. Em virtude da
recente ampliação da integração geoeconômica global, essas organizações tornaram-se atores importantes no cenário
mundial, com a missão de estabelecer um ordenamento das relações intranacionais de poder e influência política.
Atuam na elaboração e regulação de normas, suscitam acordos entre países, buscam atender a determinados objetivos,
entre outras funções.

Modelo
(Enem 2017) México, Colômbia, Peru e Chile decidiram seguir um caminho mais curto para a integração regional. Os
quatro países, em meados de 2012, criaram a Aliança do Pacífico e eliminaram, em 2013, as tarifas aduaneiras de 90%
do total de produtos comercializados entre suas fronteiras.
ADAPTADO DE: OLIVEIRA, E. ALIANÇA DO PACÍFICO SE FORTALECE E MERCOSUL FICA À SUA SOMBRA. O GLOBO, 24 FEV. 2013.

O acordo descrito no texto teve como objetivo econômico para os países-membros:


a) promover a livre circulação de trabalhadores.
b) fomentar a competitividade no mercado externo.
c) restringir investimentos de empresas multinacionais.
d) adotar medidas cambiais para subsidiar o setor agrícola.
e) reduzir a fiscalização alfandegária para incentivar o consumo.

Análise expositiva - Habilidade 9: A Aliança do Pacífico é um bloco econômico criado em 2012 com o ob-
B jetivo de fortalecer a economia dos países-membros por meio da integração com vistas a enfrentar a expansão
do Mercosul e das importações asiáticas na América do Sul e, portanto, fomentar a competitividade de seus
integrantes no mercado externo.
Essa questão mostra, principalmente no texto de referência, como a criação da Aliança do Pacífico, entrou em
uma nova etapa impulsionada por duas ambições: a integração entre os países latino-americanos e a expansão
para novos mercados.
Alternativa B

81
DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS
FÍSICOS

HIDROGRAFIA CLIMA RELEVO

• BACIA AMAZÔNICA • TROPICAL • MONTANHAS


• BACIA DO ORINOCO • EQUATORIAL RECENTES A OESTE
• BACIA DO PARANÁ • SUBTROPICAL • PLANÍCIES NO CENTRO
• PLANALTOS
ANTIGOS A TESTE

ASPECTOS POLÍTICOS
E HUMANOS

• SUBDESENVOLVIMENTO
• POLULAÇÃO CONCENTRADA EM CIDADES
• INDUSTRIALIZAÇÃO TARDIA
• EXPORTAÇÃO DE PRODUTOS PRIMÁRIOS

82
AULAS REGIÕES SOCIOECONÔMICAS
29 E 30 MUNDIAIS III: EUROPA
COMPETÊNCIA: 2 HABILIDADE: 8

1. INTRODUÇÃO com o oceano Glacial; ao sul, com os mares Mediterrâneo


e Negro; a oeste, com o oceano Atlântico; e a leste, com os
O continente europeu ocupa uma área territorial de montes Urais, o rio Ural e o mar Cáspio.
10.530.751 km2 que correspondem a apenas 7% das ter- Entre os muitos países do continente europeu, o de maior
ras emersas do Planeta, o que faz dele um dos menores território é a Rússia, que ocupa 40% da área total, os
continentes do mundo, atrás apenas da Oceania, e com demais 40 países, os restantes 60%. Apesar de relativa-
uma particularidade: é fisicamente ligado à Ásia. Juntos, mente restritos, os territórios de muitos países europeus
ambos os continentes são conhecidos como Eurásia. tornaram-se importantes potências políticas e econômicas
Outros definem a Europa não como um continente, mas mundiais. É o caso do Reino Unido, da Alemanha, da Fran-
como uma imensa península em razão de seu litoral re- ça e da Itália, membros do G-7, grupo dos países mais ricos
cortado. O território desse continente limita-se ao norte do mundo.

Mapa político do continente europeu


OCEANO ÁRTICO
FIN

ISLÂNDIA
LÂN
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ILHAS FÉROE
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(Dinamarca)
MAR DO RÚSSIA
SUÉ
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LETÔNIA

ATLÂNTICO REINO UNIDO


DA GRÃ-BRETANHA
DINAMARCA
KALININGRADO LITUÂNIA
E IRLANDA DO NORTE (Rússia)
REPÚBLICA
DA IRLANDA
BELARUS
PAÍSES BAIXOS
1 - LUXEMBURGO (HOLANDA)
POLÔNIA
2 - LIECHTENSTEIN
3 - SAN MARINO BÉ
LG
ALEMANHA UCRÂNIA
ICA
4 - ESLOVÊNIA REP.
1 IA M
5 - MONTENEGRO CHECA QU OL
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6 - KOSOVO (Reivindicado pela Sérvia) LO
ES VA
7 - MACEDÔNIA (F.Y.R.O.M.) FRANÇA ÁUSTRIA GEÓRGIA AZERBAIJÃO
2 HUNGRIA CRIMEIA
SUÍÇA ARMÊ
ROMÊNIA MAR Rússia
(Disputada entre NIA
4
CROÁCIA e Ucrânia)

NEGRO
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BULGÁRIA
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MÔNACO BÓSNIA-
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LIAHERZEGOVINA TURQUIA
ALBÂNIA

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MAR MEDITERRÂNEO
MALTA

2. RELEVO
A geomorfologia do continente europeu é marcada pelo predomínio de extensas planícies, entre elas destacamos a planície
Sarmática, localizada em terras asiáticas, é interrompida por um extenso maciço antigo no sentido norte-sul, os montes
Urais. A planície Germânica é uma continuidade da planície Sarmática e na França é conhecida como Baixa Saxônia. Além
dessas existem a planície Húngara e a Finlandesa.
Os dobramentos modernos constituem os relevos mais elevados da Europa. São eles: os Pirineus, que ocupam uma área
de 450 km entre os limites territoriais da França com a Espanha, com altitudes que atingem três mil metros; os Alpes, com
extensão de 1,1 mil km, atravessam o território da França, Itália, Alemanha, Suíça e Áustria – seu ponto mais elevado é o
monte Branco, com 4,8 mil metros; os Apeninos percorrem o território italiano de norte a sul, por aproximadamente 1,5
mil km, com vulcões ativos; os Cárpatos atravessam a Eslováquia, Polônia, Ucrânia e Romênia; o Cáucaso, entre os
mares Negro e Cáspio, a Rússia, a Geórgia, a Armênia e o Azerbaijão; e, por fim, os Alpes dinários e os Balcãs,
no sudeste do continente.

83
Outro grupo de relevo acidentado são os maciços antigos, constituídos por rochas cristalinas muito desgastadas formadas
no Proterozoico. São eles: os Alpes escandinavos, os montes Urais, Peninos e Pindos.

Mapa do relevo da Europa



Mar de Barents
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PROJEÇÃO ORTOGRÁFICA
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3. HIDROGRAFIA A região dos Alpes é um importante divisor de águas,


Graças às condições climáticas da Europa, o curso e o volu- sendo, por isso, a região de origem dos dois mais im-
me dos rios europeus são relativamente pequenos. Apesar portantes rios da Europa: o Reno, que deságua no mar
dessas limitações, seus mananciais foram sempre muito do Norte, e o rio Danúbio, que corre para leste e cuja
importantes para as atividades desenvolvidas na região, foz é no mar Negro.
especialmente porque são rios navegáveis. É o caso do rio
Reno, com 1,3 mil km de extensão, que nasce nos Alpes; do
Sena, com 770 km de extensão, cuja nascente fica a sudes-
te de Paris; do Ródano, com 800 km de extensão, nascido
4. CLIMA
nos Alpes suíços; do Volga, com 3,5 km de extensão, nasce A Europa fica na zona temperada da Terra, com climas
a noroeste de Moscou; e do Danúbio, com mais de 2,8 mil amenos. Dentre as particularidades de cada região, iden-
km de extensão, nasce nos Alpes alemães. tificam-se diversos tipos de climas.
ƒ Clima de montanha: em áreas de relevo de grandes
altitudes, como os Alpes e Pireneus. Nessas áreas, as
chuvas mansas e rápidas são bem distribuídas durante
todo o ano; os invernos são extensos e rigorosos com
nevadas e geadas.
ƒ Temperado oceânico: é formado por um elevado
índice pluviométrico, notadamente na primavera e no
inverno, com temperaturas amenas.
ƒ Temperado continental: próprio do centro e do
RIO RENO leste da Europa, com chuvas menos incidentes que

84
no temperado oceânico e com amplitudes térmicas ƒ Floresta temperada: conhecida por floresta caduci-
mais elevadas. fólia, é composta por faias e carvalhos, que perde suas
folhas no inverno.
ƒ Subpolar: predomina em áreas próximas à região
Ártica, onde há duas estações bem definidas: inverno ƒ Estepes: vegetação composta por herbáceas ou gra-
extremamente rigoroso e longo, com temperaturas que míneas provenientes de solos férteis.
atingem –50 ºC, e verão bastante restrito, com tempe-
ƒ Vegetação mediterrânea: composta por xerófilas e
raturas que variam entre 16 ºC e 21 ºC.
plantas típicas de regiões secas – maquis e garrigues.
ƒ Mediterrâneo: esse tipo de clima é típico do sul da
Europa, com verões quentes e invernos amenos em rela- Mapa da vegetação europeia
ção a outras regiões do continente. Nesse clima há duas Tundra

Floresta de coníferas

estações bem definidas – verão seco e inverno chuvosa. Floresta temperada

Mediterrânea

Pradaria

Mapa do clima da Europa Alta montanha

Polar
Frio de montanha

Temperado
Frio

Semiárido
Mediterrâneo

6. ASPECTOS POPULACIONAIS
O Velho Continente, como a Europa também é conhecida,
tem uma população estimada em 750 milhões de habitan-
tes, número elevado, se considerada a extensão territorial
relativamente limitada e, portanto, bastante povoado. A
densidade demográfica é de 72 hab./km².
Essa população é constituída por maioria de brancos de
diversos grupos étnicos, com destaque para anglo-saxões,
escandinavos, eslavos e germânicos.
A população está irregularmente distribuída no territó-
rio continental. Há áreas bastante povoadas cuja densi-
multimídia: música dade fica acima dos 300 hab./km², e verdadeiros vazios
FONTE: YOUTUBE demográficos, com densidade inferior a 1 hab./km².
Reconvexo – Caetano Veloso A área central da Inglaterra, a bacia baixa do Reno, na Ale-
manha, e o vale do Pó, na Itália, são as regiões com as mais
altas densidades demográficas do continente. Isso se deve

5. VEGETAÇÃO à sua tradição industrial, além da grande estrutura de ser-


viços e comunicações. Essas regiões caracterizam-se tam-
A composição vegetativa da Europa é variada em razão bém pela descentralização urbana, com uma população
dos diferentes solos e climas. distribuída de forma mais equilibrada entre diferentes ci-
dades. No centro da Inglaterra, por exemplo, cidades como
ƒ Tundra: cobertura vegetal comum em regiões de clima Liverpool, Manchester, Leeds, Bradford e Sheffield dividem
subpolar constituída por musgos, gramíneas, arbustos e a população. É o mesmo caso de Colônia, Düsseldorf, Duis-
líquens, flora proveniente da junção de fungos e algas. burg, Essen e Dortmund, na bacia do Reno e Turim e Milão,
ƒ Floresta conífera: composição vegetativa constitu- no vale do Pó. Porém, há casos de metrópoles que seguem
ída por pinheiros em na franja litorânea da Noruega, o tradicional modelo de urbanização centralizadora, como
no centro-norte da Suécia e da Finlândia e em uma Paris, Londres e Moscou. Enquanto essas localidades con-
extensa área do centro-norte da Rússia. centram grande densidade populacional, há grandes áreas

85
que, devido a distintas adversidades, são quase desabita-
das. Em geral, a Europa ocidental concentra altas taxas de
população urbana, enquanto a oriental, principalmente a
região balcânica, tem a maior concentração de pessoas no
campo. Os países mais urbanizados são Islândia (96,7%),
Bélgica (96,6%) e Holanda (90,5%).
Os vazios demográficos estão no norte da Europa, onde
predominam temperaturas muito baixas, com invernos ex-
tremamente rigorosos e prolongados.
O país mais populoso do continente é a Rússia, com cerca
de 142 milhões de habitantes, seguido da Alemanha,(80
milhões), da França (66 milhões), do Reino Unido (64 mi-
lhões), da Itália (61 milhões), da Espanha (48 milhões) e da
Ucrânia (44 milhões de habitantes). Apesar de mais popu- Parece que o Velho Continente transferiu esse nome para
losa, a densidade demográfica da Rússia é relativamente sua população que vem envelhecendo mais que se reno-
baixa para o tamanho do território.
vando. A elevação da expectativa de vida, que hoje é de 77
A Holanda tem a maior população relativa da Europa, com 15,9 anos, tem se combinado com o baixo índice de natalidade.
milhões de habitantes, e densidade demográfica de 470 hab./ As taxas de crescimento natural ou vegetativo encontram-
km², seguida da Bélgica (312 hab./km²), da Alemanha (82 hab./ -se em decréscimo o que não acontecia desde a epidemia
km²), do Reino Unido (59 hab./km²) e da Itália (57 hab./km²). da peste negra e das grandes guerras. Alguns países euro-
Mapa da densidade demográfica da Europa (2014) peus apresentam taxas de crescimento vegetativo quase
negativo.
A Itália é um exemplo claro disso. A população com mais
de 60 anos supera o número de pessoas com idade infe-
< 50 hab. por km 2

50 a 100 hab. por km 2


rior a 20 anos, resultado, dentre outros fatores, do eleva-
100 a 150 hab. por km2
do poder aquisitivo, da urbanização e da nova postura da
150 a 300 hab. por km2

300 a 1000 hab. por km 2 mulher com participação efetiva no mercado de trabalho.
> 1000 hab. por km 2
sem dados Em busca da qualificação profissional, a mulher perma-
nece mais tempo estudando, deixando o casamento e a
formação de uma família para mais tarde.

No continente europeu há paisagens extremamente hu-


manizadas, que modificaram intensamente os recursos
naturais, resultado do expressivo desenvolvimento econô-
mico e industrial. Essas grandes transformações deram-se
com a Revolução Industrial.

6.1. Envelhecimento da população


multimídia: livros
Dilemas da Globalização na Europa Unificada
– Lília Gonçalves Magalhães Tavolaro
O enfoque de Lília Tavolaro sobre a União
Europeia tem como principal objetivo rever
algumas das proposições mais difundidas a
respeito da globalização, bem como fazer um
balanço crítico de suas implicações econômi-
cas, políticas e socioculturais.

86
Atualmente, os casais demoram a ter filhos e quase sem-
pre isso acontece depois dos trinta anos, quando decidem, Miniestados
às vezes, não tê-los. Até pouco tempo países de todo o
O continente europeu abriga 49 países com dimen-
mundo almejavam uma queda global da natalidade, que
sões bem variadas, como o maior país do mundo – a
vieram enquanto eles passaram a envelhecer, o que se
Rússia – e o menor – o Vaticano. Os principados de
tornou uma preocupação, em virtude da superação do
Mônaco, Andorra e Liechtenstein, as repúblicas de
número de idosos em relação ao de jovens. Seria possível
Malta e San Marino e a cidade do Vaticano são na-
que a minoria sustentasse a maioria sem provocar grande
ções que têm dimensões inferiores a várias cidades
desequilíbrio das contas públicas sobrecarregadas pelos
brasileiras. Entretanto, são pequenos países, deno-
sistemas previdenciários? Outro fator preocupante são as
minados miniestados, com elevado padrão socioe-
mudanças estruturais nos serviços, como os de saúde, que
conômico e significativa atração turística.
também ficam sobrecarregados, além dos custos elevados
no tratamento de doenças crônicas. ƒ Vaticano: com área de 0,44 km², o Vaticano é o
menor país do Planeta. Sede da Igreja católica e
6.2. Urbanização residência oficial do papa, essa nação está situada
na porção norte da cidade de Roma, capital da
A Europa apresenta elevada taxa de urbanização, graças Itália. Sua população é de apenas 826 habitantes
à Revolução Industrial, que proporcionou profundas mu- e sua densidade demográfica ou população relati-
danças de caráter social e econômico. Com a instalação va é de 1.877 hab./km². O turismo é sua principal
de indústrias nos centros urbanos, muitos trabalhadores fonte de receitas.
foram atraídos, o que desencadeou o fenômeno migratório
denominado êxodo rural – deslocamento de trabalhadores ƒ Mônaco: localizado na França, próximo da fron-
rurais para as cidades. teira com a Itália, Mônaco tem 2 km² e é o segun-
do menor país do mundo. Seu contingente popu-
Diferentemente dos países em desenvolvimento, que so- lacional é de aproximadamente 32 mil habitantes
frem uma rápida urbanização e um aumento de megacida- e sua densidade demográfica, de 16 mil hab./km².
des em função das péssimas condições de vida no campo, A economia nacional baseia-se nas atividades fi-
na Europa as metrópoles são menores – apenas a Grande nanceiras e no turismo.
Paris se aproxima dos 10 milhões de habitantes – mas há
extensas conurbações, como por exemplo a megalópole do ƒ San Marino: tem extensão territorial de 61 km2 e
Reno-Ruhr, na Alemanha. abriga 31,3 mil pessoas. Situa-se entre as províncias
da Emilia-Romana e Marcas, no centro da Itália. In-
Em se tratando de cidades globais ou metrópoles mun- dústrias de produtos eletrônicos, serviços financei-
diais, a Europa detém um número significativo delas. Tra- ros e turismo são suas principais fontes de receitas.
ta-se de sedes de grupos financeiros, empresas multina-
cionais, organismos internacionais, centros de pesquisas,
universidades, além de palcos de decisões que repercu-
tem na esfera global. 6.3. Desemprego
Das 55 cidades globais no mundo, 22 são europeias, isso mos- O desemprego que se acentua na Europa, e em todo o
tra a importância dos centros urbanos daquele continente. mundo, é proveniente de vários fatores, dentre eles a polí-
tica econômica neoliberalista conjugada ao acelerado pro-
cesso de globalização. Globalização essa que levou as em-
presas nativas europeias a inserirem novas tecnologias de
informática e robótica no sistema produtivo, para enfren-
tarem os concorrentes dispersos pelo mundo, bem como
para produzirem a custos mais baixos e automaticamente
acumularem mais capitais.
A perda de postos de trabalho proveniente da entrada des-
sas tecnologias se denomina desemprego estrutural, causa
principal desse processo na Europa.
Não menos importante foi a migração de empresas para
outros países ou continentes, que transferiram com elas a
LONDRES É A MAIOR METRÓPOLE DO CONTINENTE EUROPEU. produção. Permanecem na Europa somente as sedes que

87
direcionam os rumos do empreendimento. Ao migrarem em busca de benefícios – isenção de impostos, mão de obra barata,
leis ambientais frágeis, matéria prima, entre muitas outras –, as empresas deixaram de gerar emprego para os europeus,
agravando o fenômeno do desemprego.
Em busca o lucro crescente e constante, as empresas capitalistas também buscam atender primeiramente seus interesses,
explorando ao máximo a classe trabalhadora.

Tabela com o desemprego nos principais países da Europa

6.4. Imigrantes
Depois do fim da Segunda Guerra Mundial, vários países
europeus reconstruíram-se e destacaram-se no segmen-
to industrial, como foi o caso da Alemanha e da França.
Graças ao crescimento econômico derivado desse setor,
essas nações tornaram-se atrativas para trabalhadores,
sobretudo, imigrantes. Num primeiro momento, os imi-
grantes eram oriundos da própria Europa – Portugal,
Espanha, Itália e Grécia. As vagas disponíveis nessas
indústrias eram oferecidas a trabalhadores sem quali-
ficação profissional para trabalhos sazonais. Em troca,
recebiam baixos salários e os vínculos empregatícios
GRUPO DE IMIGRANTES EM NO MAR MEDITERRÂNEO,
eram se não frágeis inexistentes. PERTO DA LÍBIA (2019)

Os imigrantes eram então desejados, para suprir a mão de


obra necessária na economia que crescia. No entanto, a Esses imigrantes vinham de várias partes do mundo, prin-
partir dos anos de 1980 e 1990, em função da revolução cipalmente de periferias próximas, como o norte da África,
tecnocientífica e da transferência das fábricas para países Ásia e leste europeu. Muitas vezes, esses imigrantes repre-
em desenvolvimento, acabou provocando o desemprego sentavam a pressão demográfica geradora de desemprego,
e, nesse contexto, cresceram as pressões pelo fechamento que passou a ser mais sentida depois da crise financeira
das fronteiras da Europa. de 2008.

88
Imigração – Europa Dos anos 1980 para cá, movimentos xenófobos vêm crescen-
do gradativamente em razão das crises econômicas nos anos
1990 e do aumento do desemprego em escala global. Segun-
do seus líderes e adeptos, essa aversão aos imigrantes não se
deve a preconceitos de origem, mas à perda da identidade cul-
tural, da competitividade entre um nativo e um imigrante – que
se sujeita a menores salários e precárias condições de trabalho,
o que forçaria uma deflação geral. Soma-se a isso a entrada da
religião muçulmana na Europa, vista como uma ameaça, prin-
cipalmente após as ocorrências do 11 de setembro nos EUA.
Graças às pressões de grupos xenófobos, o governo da Fran-
ça implantou medidas de restrição aos imigrantes africanos
e muçulmanos – oriundos de ex-colônias. Além da França,
outros países europeus desenvolvidos estabeleceram leis ex-
O crescimento dessas migrações internacionais é gerado tremamente rigorosas para impedir a entrada de imigrantes.
pelo movimento do capital, particularmente da divisão Recentemente, o grupo de imigrantes que mais sofre com
internacional do capital, denominado fatores de repulsão a discriminação são os do leste europeu, a quem foi im-
e de atração. Os de repulsão dizem respeito àqueles que posta a cobrança de vistos dificilmente concedidos pelos
contribuem para a saída rápida do migrante por razões entraves burocráticos.
econômicas, falta de recursos naturais, crises humanitá-
rias ou ocorrências de guerras ou guerrilhas. Os fatores de Essa discriminação por parte da população da Europa
atração estão relacionados às condições oferecidas pelos ocidental vem proporcionado o crescimento e a atuação
lugares de destino – estabilidade econômica, oferta de em- dos grupos neonazistas, extremistas. Na Alemanha, já se
prego, melhor qualidade de vida, entre outros elementos. registram grande incidência de atentados a imigrantes.
Trata-se de uma questão extremamente complexa e de
No caso da Europa, ambos os fatores estão combinados. difícil solução, uma vez que ela compreende problemas
Os imigrantes de países subdesenvolvidos buscam no Ve- econômicos, culturais, sociais e políticos.
lho Continente emprego, melhores condições de vida, fu-
gindo da realidade econômica de seus países de origem. Em razão disso, cresce a intolerância aos grupos estran-
Segundo estimativas, seis milhões de estrangeiros vivem geiros, com inúmeros casos de intolerância social, racial
legal ou ilegalmente na Europa. e religiosa. Não obstante, a população europeia também
se considera ameaçada pelos estrangeiros, seja pela dimi-
nuição da oferta de emprego, pelos percalços dos rumos
6.5. Xenofobia da economia, pelo envio de dinheiro para fora do país e
Assim como os Estados Unidos, a Europa de hoje vem consequente diminuição da circulação econômica interna.
recebendo muitos imigrantes, além da elevada migração Receios como esses intensificaram-se durante a recente cri-
interna, graças à livre circulação de pessoas dos países- se econômica financeira.
-membros da União Europeia. Com isso, a xenofobia, que
é a aversão, o preconceito ou a intolerância a grupos es-
trangeiros, aumenta a cada dia.

CHARGE DO CARTUNISTA CARLOS LATUFF CARTAZ ELEITORAL DO PARTIDO NACIONALISTA ALEMÃO DIZ
(2008).
FAZ REFERÊNCIA À XENOFOBIA EUROPEIA PARA IMIGRANTES ÁRABES: “BOM VOO PARA CASA”.

89
Outra questão que alimenta a xenofobia europeia diz e reduzir as tarifas aduaneiras. Apesar da existência da
respeito ao crescimento de grupos partidários e políticos atual União Europeia, o Benelux ainda existe com o nome
de extrema direita, partidários de ideologias antissemitas, de “União Benelux”.
conservadoras, fascistas. A emergência de posições desse
2o estágio: Ceca (Comunidade Europeia do Carvão
tipo intensificou, inclusive, medidas de Estado envolvendo
e do Aço)
atitudes xenófobas na Europa, como a construção do muro
de Ceuta, construído pelos espanhóis na África para sepa- Há autores, economistas e cientistas políticos que não con-
rar a cidade de Ceuta do território marroquino e dificultar a sideram o Benelux a origem da UE, mas a Ceca. Criada em
entrada de migrantes. 1952, era composta pelos países do Benelux, mais França,
Itália e Alemanha Ocidental. Em razão disso, também era
Outro exemplo de ação de xenofobia praticada pelos políti-
chamada de Europa dos Seis.
cos espanhóis refere-se às várias perseguições e tentativas
de expulsão de milhares de ciganos, oriundos principal- A criação da Ceca esteve diretamente ligada ao Plano
mente da Romênia, pelos governos da França e da Itália, Schuman – um planejamento econômico do governo
seja por extradição voluntária – mediante oferta de dinhei- francês para integrar a produção siderúrgica daqueles
ro –, seja involuntária, à força. seis países. O objetivo maior era estabelecer um acordo
com a Alemanha Ocidental para que ambas comparti-
Apesar de a União Europeia ter criado, já em 1997, o
lhassem a produção de carvão mineral e minério de ferro
Observatório Europeu do Racismo e da Xenofobia, ainda
na região da Alsácia-Lorena (França) e de Sarre (Alema-
há muito que se avançar no Velho Continente no quesito
nha). Localizadas na fronteira dos dois países, tais regiões
intolerância social e política contra estrangeiros. O mes-
foram historicamente envolvidas por disputas territoriais
mo desafio deve ser enfrentado pelos Estados Unidos e,
entre as duas nações.
mais recentemente, por países emergentes, que vêm se
tornando novos vetores para a chegada de Imigrantes à A Ceca, portanto, caracterizou-se por uma integração do
procura de melhores condições de vida. mercado siderúrgico, com o objetivo de integrar industrial-
mente os seis países envolvidos.
3o estágio: MCE (Mercado Comum Europeu) ou
CEE (Comunidade Econômica Europeia)
Com a fragmentação da Europa em vários Estados, os
países-membros da Ceca reconheceram que era neces-
sário ampliar o mercado consumidor interno e acelerar o
desenvolvimento da produção industrial. Em vista disso,
criou-se, em 1957, com o Tratado de Roma, o Mercado
Comum Europeu, também chamado de Comunidade
Econômica Europeia.
multimídia: sites Além dos países da antiga Ceca, integravam o MCE: In-
glaterra, Irlanda e Dinamarca, a partir de 1973; a Grécia, a
www.monde-diplomatique.fr partir de 1981; e Espanha e Portugal, a partir de 1986. Era
a Europa dos 12.

7. UNIÃO EUROPEIA A CEE caracterizou-se pelo estabelecimento de uma livre


circulação de mercadorias, serviços e capitais, bem como
A União Europeia é o maior bloco econômico do mundo, foi o primeiro bloco econômico que franqueou a livre movi-
conhecido pela livre circulação de bens, pessoas e merca- mentação de pessoas entre os países-membros. Com o fim
dorias e pela adoção de uma moeda única: o euro. A data da Guerra Fria, em 1989, a Alemanha Oriental também foi
oficial da sua criação é o dia 7 de fevereiro de 1992. incorporada ao MCE.
1o estágio: Benelux 4o estágio: Tratado de Maastricht
O Benelux foi um bloco criado ainda durante a Segun- Somente depois de criada a União Europeia, em 1991, com
da Guerra Mundial – acrônimo formado pelas iniciais de o Tratado de Maastricht, todos os objetivos do Mercado
seus três países-membros: Bélgica (Be), Holanda (Ne, do Comum Europeu puderam ser alcançados: estabelecer a
inglês Netherland) e Luxemburgo (Lux). O objetivo era in- livre circulação de pessoas, mercadorias, bens e serviços
tegrar esses três países em um mercado comum e único entre os países-membros.

90
Em 1995, mais três países integraram a UE: Suécia, Fin- enlândia (uma província autônoma da Dinamarca) tenha
lândia e Áustria. Tratava-se, a partir de então, da Europa se retirado em 1985. O Tratado de Lisboa agora fornece
dos 15. um cláusula que lida com a forma como um membro pode
deixar a UE.
Em 2004, integraram o bloco as ilhas de Malta e Chipre,
bem como alguns países do antigo bloco socialista sovié-
tico: Polônia, Hungria, República Tcheca, Eslováquia, Eslo-
vênia e Bulgária, e três antigos países da União Soviética:
Estônia, Letônia e Lituânia. Em 2007, Bulgária e Romênia
também aderiram ao bloco, que passou a se chamar Euro-
pa dos 27.

ASSINATURA DO TRATADO DE MAASTRICHT, NA CIDADE


DE MESMO NOME, HOLANDA (1992)

Critérios de Copenhaga
Os Critérios de Copenhaga são as regras que definem
se um país é elegível para aderir à União Europeia. Os
critérios exigem que o Estado tenha instituições que
preservem a democracia e os direitos humanos, atue
com a economia de mercado e assuma suas obriga-
ções na União Europeia.
Qualquer país que apresente a sua candidatura para
aderir à União Europeia deve respeitar as condições
MAPA COM OS PAÍSES QUE ATUALMENTE COMPÕEM A EUROPA DOS 27. impostas pelo artigo 49º e os princípios do nº 1 do ar-
No dia 1º de julho de 2013, a Croácia foi integrada à União tigo 6º do Tratado de Maastricht. Neste contexto, em
Europeia – Europa dos 28. Esse país da península Balcâ- 1993, o Conselho Europeu de Copenhaga formulou
nica, que antes fazia parte da extinta Iugoslávia, tinha um critérios que foram reforçados aquando do Conselho
Europeu de Madrid, em 1995. Para aderir à União Eu-
pedido de integração em tramitação desde 2003. Foram,
ropeia, um Estado deve cumprir três critérios:
portanto, dez anos de negociações. Falta-lhe, ainda, adotar
o euro como moeda. ƒ Critério político: a existência de instituições
estáveis que garantam a democracia, o Estado
7.1. O euro de direito, os direitos humanos, o respeito pelas
minorias e a sua proteção. Para que o Conselho
Os membros da União têm crescido a partir dos seis Es-
Europeu decida a abertura das negociações, deve
tados-membros fundadores, Bélgica, França, Alemanha
ser cumprido este critério.
(então Ocidental), Itália, Luxemburgo e Países Baixos, até
os atuais 28 membros, agrupados por sucessivos alarga- ƒ Critério econômico: a existência de uma eco-
mentos, quando esses países aderiram aos tratados e ao nomia de mercado que funcione efetivamente e
fazê-lo, agruparam a sua soberania em troca de represen- capacidade de fazer face as forças de mercado e a
tação nas instituições do bloco. concorrência da União.
Para aderir à UE, um país tem de cumprir os critérios de ƒ Critério acervo comunitário: a capacidade para
Copenhaga, definidos no Conselho Europeu de Copenha- assumir as obrigações decorrentes da adesão, in-
ga, em 1993. Estes requerem uma democracia estável, que
cluindo a adesão aos objetivos de união política,
respeite os direitos humanos e o Estado de direito; uma
econômica e monetária.
economia de mercado capaz de concorrer na UE e a acei-
tação das obrigações de adesão, incluindo a legislação da
UE. A avaliação do cumprimento desses critérios por um Os países candidatos oficiais à adesão ao bloco europeu
país é de responsabilidade do Conselho Europeu. Nenhum são: Albânia, Macedônia, Montenegro e Turquia. Bósnia
Estado-membro já chegou a deixar a União, embora a Gro- e Herzegovina e Sérvia são oficialmente reconhecidos

91
como potenciais candidatos. O Kosovo também é listado ropeia, o Conselho Europeu, o Banco Central Europeu,
como um potencial candidato, mas a Comissão Europeia o Tribunal de Justiça da União Europeia e o Tribunal de
não o considera como um país independente porque nem Contas Europeu. Competências no controle e em altera-
todos os Estados-membros o reconhecem como tal, sepa- ções na legislação são divididas entre o Parlamento e o
rado da Sérvia. Conselho da União Europeia, enquanto as tarefas execu-
tivas são levadas a cabo pela Comissão Europeia e em
Quatro países, que não são membros da UE, que formam
uma capacidade limitada pelo Conselho Europeu (que
a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, sigla em
não deve ser confundido com o Conselho da União Euro-
inglês) têm, em parte, comprometimentos com a economia
peia). A política monetária da zona do euro é governada
e os regulamentos da UE: Islândia, Liechtenstein e a No-
pelo Banco Central Europeu. A interpretação, a aplicação
ruega são uma parte do mercado único, através do Espaço
da legislação da UE e os tratados são assegurados pelo
Econômico Europeu, e a Suíça tem laços similares por meio
Tribunal de Justiça da União Europeia. O orçamento da
de tratados bilaterais. As relações dos microestados euro-
UE é analisado pelo Tribunal de Contas Europeu. Há tam-
peus (Andorra, Mônaco, São Marino e o Vaticano) com a
bém uma série de órgãos auxiliares que aconselham a UE
UE incluem o uso do euro e de outras áreas de cooperação.
ou operam em uma área específica.
A classificação da União Europeia nos termos do direito
internacional ou constitucional tem sido muito debatida, 7.1.1. Criação do euro
muitas vezes à luz do grau de integração que é percebido,
A criação de uma moeda única europeia tornou-se um
desejado ou esperado entre seus membros. Historicamen-
objetivo oficial da Comunidade Econômica Europeia em
te, pelo menos, a UE é uma organização internacional e, de
1969. No entanto, foi somente com o advento do Tratado
acordo com alguns critérios, poderia ser classificada como
de Maastricht, em 1993, que os Estados-membros foram
uma confederação, mas também tem muitos atributos de
legalmente obrigados a iniciar a união monetária. O euro
uma federação, sendo que alguns chegam a classificá-la
foi devidamente lançado por onze dos então quinze Esta-
como uma federação de Estados. Por esta razão, a organi-
dos-membros da UE. Manteve-se uma moeda contábil até
zação, no passado, foi denominada como uma instituição
1º de janeiro de 2002, quando as notas e moedas de euro
sui generis, embora também se argumente que esta desig-
foram emitidas e começou a eliminação progressiva das
nação não é mais verdadeira atualmente.
moedas nacionais na zona do euro, que até então consistia
A própria organização tem tradicionalmente usado os ter- em 12 Estados-membros. A Zona Euro (constituída pelos
mos “comunidade” e, posteriormente, “união” para referir Estados-membros da UE que adotaram o euro) desde en-
a si mesma. As dificuldades de classificação envolvem a di- tão cresceu para 18 países, sendo a Letônia o país mais
ferença entre o direito nacional (em que os assuntos da lei recente que aderiu à moeda a 1 de janeiro de 2014.
incluem pessoas físicas e jurídicas) e o direito internacional O euro é projetado para ajudar a construir um mercado
(em que os temas incluem os Estados soberanos e as orga- único, por exemplo: flexibilização de viagens de cidadãos e
nizações internacionais), mas também podem ser vistas à luz bens, eliminação de problemas de taxa de câmbio, propor-
das diferentes tradições constitucionais estadunidenses e eu- cionando de transparência dos preços, criando um mercado
ropeias. Especialmente nos termos da tradição constitucional financeiro único, a estabilidade dos preços e das taxas de
europeia, o termo federação é equiparado a um Estado fede- juro baixas e proporcionando uma moeda usada internacio-
ral soberano no direito internacional; logo a UE não pode ser nalmente e protegida contra choques pela grande quantida-
chamada de um Estado federal ou uma federação, ao menos de de comércio interno na Zona Euro. Destina-se igualmente
sem ter essa qualificação. Apesar de não ser, propriamente, como um símbolo político de integração e de estímulo. Des-
uma federação, a União Europeia é mais do que apenas uma de o seu lançamento, o euro tornou-se a segunda moeda
associação de livre comércio. No entanto, a organização é de reserva do mundo, com um quarto das trocas de reservas
descrita como sendo uma instituição baseada em um mo- estrangeiras serem feitas com o euro. O euro e as políticas
delo federativo. O Tribunal Constitucional Alemão refere-se à monetárias dos que o adotaram, de acordo com a UE, estão
União Europeia como uma associação de Estados soberanos sob o controlo do Banco Central Europeu (BCE).
e afirma que para tornar a UE uma federação seria neces-
O BCE é o banco central para a zona euro e, assim, controla
sário substituir a constituição alemã. Outros afirmam que a política monetária na área com uma agenda para manter
o bloco não vai se transformar em um Estado federal, mas a estabilidade de preços. Está no centro do Sistema Euro-
atingiu a maturidade como uma organização internacional. peu de Bancos Centrais, que compreende todos os bancos
A União Europeia tem sete instituições: o Parlamento centrais nacionais da UE e é controlado pelo seu Conselho
Europeu, o Conselho da União Europeia, a Comissão Eu- Geral, composto pelo presidente do BCE, que é nomeado

92
pelo Conselho Europeu, o vice-presidente do BCE e pelos os EUA. A Turquia, país-membro da Otan, é uma das princi-
governadores dos bancos centrais nacionais de todos os pais aliadas dos estadunidenses no mundo muçulmano. A
27 Estados-membros da UE. Tuquia está diretamente envolvida com desentendimentos
geopolíticos com a Síria, Irã, Grécia e Rússia. Sua entrada
7.1.2. Brexit no bloco implica também em uma aliança político-militar
e a UE não está disposta a enfrentar uma guerra para de-
Um plebiscito popular votado pela população inglesa de-
fender interesses turcos no Oriente Médio. Outra questão
cidiu algo histórico e inédito: a saída do Reino Unido da
importante é com relação à imigração. Hoje na Alemanha
União Europeia. Depois de 43 anos, 51,89% dos britânicos
já há mais de 1 milhão de turcos, e com a “livre circulação
votaram pelo rompimento do bloco político-econômico eu-
de pessoas”, o número de imigrantes iria aumentar. Há
ropeu. Entre diversos motivos, o primordial é a questão da
perspectivas de que as negociações prossigam. Outros pa-
imigração. O argumento central era de que o Reino Unido
íses que aguardam aprovação são: Ucrânia e Macedônia.
não poderia controlar o número de pessoas entrando no
país enquanto continuasse no bloco. O casamento entre os
dois nunca foi tão pacífico. Alguns defensores desse rompi- 7.3. Aspectos econômicos
mento alegam que as políticas impostas pelas regras e de-
cisões da União Europeia eram um grande gasto financeiro 7.3.1. Indústria
para o Reino Unido. Esse processo foi concluído em 2020. A condição atual de alto desenvolvimento industrial na
Europa ocidental é decorrente de um processo histórico
7.2. A questão turca nascido com a Revolução Industrial entre o final do século
XVIII e início de século XIX. Em razão disso, a Europa oci-
Desde o final da década de 1990, a Turquia encontra-se na
dental é desenvolvida em relação à Europa oriental, sub-
fila de espera para uma possível aprovação de sua entrada
desenvolvida, composta por países da ex-URSS (União das
no bloco europeu.
Repúblicas Socialistas Soviéticas).
No ano de 1995, a Turquia assinou um acordo de união
O setor industrial da Europa ocidental é bastante desenvol-
aduaneira com a União Europeia e, a 12 de dezembro de
vido e diversificado, vai da indústria de base à tecnologia
1999, foi reconhecida oficialmente como candidata. Em 3
de ponta, e o setor secundário é bastante variado. O grau
de outubro de 2005, foram iniciadas as negociações for-
de industrialização e tecnologia europeu gerou dezenas de
mais para a plena adesão da Turquia à União Europeia.
empresas multinacionais, grandes incorporações empre-
Entretanto, há fatores que dificultam sua adesão.
sariais. Na Europa oriental, os países não acompanharam
Primeiramente, um grande risco geopolítico: o território esse desenvolvimento; a industrialização foi tardia, acon-
turco faz parte do Oriente Médio. Em razão dos atentados teceu cerca de cem anos depois da Primeira Revolução
frequentemente praticados na região e de sua grande ins- Industrial. A indústria está ligada diretamente aos recursos
tabilidade política, há o temor dos países europeus de que energéticos e minerais, que suprem de matéria-prima e
a Turquia transforme-se em porta de entrada para grupos fonte de energia para processá-las. Na Primeira Revolução
terroristas na Europa. Industrial, o principal recurso energético foi o carvão, uti-
lizado para abastecer as máquinas a vapor nas indústrias
Em segundo lugar, as diferenças culturais e religiosas is-
têxteis.
lâmicas, na sua maioria, poderiam desencadear grandes
movimentos de xenofobia e intolerância religiosa entre o
público europeu. O primeiro-ministro turco Abdullah Gul
declarou que a Europa deveria provar que não era apenas
um “clube cristão”. A Turquia argumenta que, mesmo com
a população predominantemente islâmica, o Estado é in-
teiramente laico.
O mais complicado dos entraves tem a ver com a estru-
tura política europeia, que está baseada no peso demo-
gráfico de cada país. Num futuro breve, a Turquia será o
país mais populoso da Europa, superando a Alemanha, e
por isso, os europeus seriam obrigados a ceder à Turquia o
maior número de cadeiras no Parlamento. Outra questão
importante tem a ver com a proximidade da Turquia com

93
As indústrias instalaram-se próximos às áreas de extração Agricultura e pecuária na Europa
de minérios. Só mais tarde, no final de século XIX, descobri-
ram-se as jazidas de petróleo, e seu emprego no processo
produtivo e de transportes, e investiu-se em usinas hidrelé-
tricas e nucleares, que aceleraram o desenvolvimento eco-
nômico e industrial.
Mas o consumo de recursos minerais energéticos e não
energéticos, renováveis e não renováveis provoca uma sé-
rie de impactos ambientais, que comprometem as paisa-
gens naturais, o ar, a atmosfera, as águas, o solo etc. Sem
falar nos resíduos industriais.
Essas alterações levaram a Europa ocidental a sensibilizar-
-se por uma consciência ecológica em favor da preservação
da natureza, com forte aprovação da sociedade em geral.
A Europa é um continente extremamente urbano e indus-
trializado. Isso quer dizer que a grande maioria das pesso-
as vive em cidades, onde encontram as oportunidades de
Agricultura comercial de cereais ou de algodão Pecuária intensiva (leite)
trabalho – setores secundário e terciário. Essa urbanização Agricultura e pecuária comercial (mecanizada) Exploração florestal, caça e pesca
Policultivo mediterrâneo Área sem agricultura
massificada foi resultado da mecanização do campo, a par- Pecuária de subsistência, nômade ou seminômade

tir da década de 1950. No século XIX, houve um grande


fluxo de migração de europeus para todos os continentes
em busca de uma nova vida, uma vez que as condições de
trabalho nas indústrias europeias eram precárias.
Sendo um continente urbano, configura-se como uma
densa e complexa rede urbana composta por um grande
número de cidades em espaço articulado com importância
comercial e industrial. Nelas, estão sediadas as sedes de
organismos internacionais.

multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
A valsa do Danúbio azul

7.3.3. Produção agrícola


A produção agrícola europeia é importante e diversificada,
com solos geralmente férteis e cuidadosamente bem apro-
veitados, sujeitos a técnicas adequadas e modernas e com
INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA AO LONGO DO VALE elevada produtividade.
DO RIO RUHR, ALEMANHA (2014)
Predomina a cultura de cereais, com destaque para o trigo,
produzido nos solos negros da Ucrânia (tchernoziom), da
7.3.2. O espaço agrário Itália, França, Alemanha e Rússia. Além do trigo, produzem-
O espaço agrário na Europa ocidental também é de ele- -se centeio, aveia e cevada, importantes produtos agrícolas
vado nível tecnológico, o que reduz o emprego da mão das áreas temperadas.
de obra rural que compõe o PEA (população economica- O centeio substitui o trigo na fabricação do pão em áreas de
mente ativa). Senão, vejamos: Reino Unido (1,8%), Bélgica clima mais frio. A aveia é destinada à alimentação do gado,
(2,3%), Alemanha (1,4%), França (2,9%). Paralelamente, pelo que recebe o nome de forrageira. A cevada é uma ma-
o espaço agrário europeu é caracterizado por um elevado téria-prima básica apara a fabricação da cerveja. Os maiores
índice de produtividade. produtores desses cereais são: Alemanha, França, Espanha,

94
Polônia e Reino Unido. E os principais produtores de batata ticada principalmente de forma intensiva, o gado recebendo
são: Alemanha, França, Países Baixos, Reino Unido e Rússia. cuidados técnicos que lhe proporcionam mais rendimentos.
Nas regiões europeias de clima mediterrâneo, sobressai o O rebanho mais numeroso é o de bovinos, criado principal-
cultivo da oliveira, destinada à produção de azeitonas e mente na Rússia, na Ucrânia, na Alemanha, na França, na
de azeite. Portugal, Espanha, França e Itália destacam-se Grã-Bretanha e na Polônia. Apesar de nem tão numeroso,
como maiores produtores mundiais desses produtos, reco- Dinamarca, Suíça e Países Baixos destacam-se na criação
nhecidos internacionalmente por sua qualidade. de gado leiteiro. Nos Países Baixos, a produtividade de leite
é superior a cinco mil litros ao ano por cabeça de vaca, dos
Outro destaque especial é o cultivo da videira, destina-
quais cerca de 75% são industrializados.
da à produção de vinhos. Alguns tipos de vinhos e de
azeite só podem ser produzidos nesses países, graças A título de comparação: enquanto o consumo de leite na
às condições especiais do solo e do clima. Por isso mes- União Europeia, no início da década de 1990, era de 810
mo, esses aspectos geográficos atribuem aos países da litros por habitante, no Brasil, esse consumo aproximava-se
Europa mediterrânea condições especiais de mercado. 90 litros por habitante.

O volume de colheitas da Europa é muito inferior ao da No continente europeu criam-se também rebanhos de su-
América do Norte, da Ásia e da América do Sul. A produção ínos e de ovinos. A Alemanha se sobressai como principal
de milho, arroz e aveia é deficiente. A produção frutíco- criador de suínos, destinados ao fornecimento de carne
la, bastante diversa, varia de região para região. Peras e para atender ao alto consumo da Alemanha e de toda a
maçãs são cultivadas em zonas temperadas e úmidas. As Europa. Mas a produção é insuficiente para abastecer todo
essa demanda, o que os obriga a importar essa carne. Os
frutas cítricas e as videiras são cultivadas no Mediterrâneo,
ovinos, criados para a produção de lã, são das ilhas britâni-
graças as suas condições pedológicas, do solo, e climáticas.
cas, da Romênia e da Espanha.
Produz-se grande quantidade de uva que dão aos vinhos
qualidade excepcional. Outra característica importante da agropecuária da União Euro-
peia são os subsídios concedidos pelos governos aos agriculto-
res: empréstimos a juros baixos e pagamentos em longo prazo.
A criação, em 1962, da Política Agrícola Comum (PAC)
foi uma forma de os governos europeus protegerem
seus agricultores da concorrência externa e de mante-
rem a renda, o emprego agrícola e a estabilidade dos
preços dos alimentos. Esse apoio dado à agropecuária
vem desde a década de 1960 e levou a Europa pratica-
mente a se tornar autossuficiente nos principais produ-
tos alimentares, mas não resolveu problemas como as
disparidades entre países e regiões do continente.
VINHEDO NA COSTA DO MEDITERRÂNEO, A OESTE DE CAMARGA, FRANÇA (2013)
Nos anos 1990, esse programa começou a ser questiona-
Muitos dos problemas agrícolas da Europa decorrem da do no interior da União Europeia pelos que consideravam
falta de autonomia do continente no tocante aos cereais os custos muito elevados (45 bilhões de dólares anuais).
para forragem, às gorduras vegetais e aos produtos tropi- A PAC também recebeu críticas internacionais da OMC
cais. Sem condições climáticas e geográficas para concorrer (Organização Mundial do Comércio) e dos EUA, que vem
com os outros continentes nessa área, os governos euro- pressionando cada vez mais a redução do protecionismo
peus subvencionam o cultivo de certos produtos, causando agrícola, que bloqueia a entrada de produtos de outros
imensos desequilíbrios sociais para os países produtores, países no mercado europeu. A perspectiva de redução dos
sobretudo os de economia emergente e de Terceiro Mun- subsídios agrícolas tem sido objeto de protesto em vários
do. A subvenção é uma maneira artificial de evitar a ruína países europeus, especialmente na França, maior produtor
dos agricultores europeus, além de servir para forçar o mer- agrícola da Europa Ocidental e onde há o maior número de
cado internacional a flutuar de acordo com as aspirações agricultores beneficiados pelos subsídios.
de lucratividade dos grandes grupos econômicos.
Com tradição milenar na pecuária, os países nórdicos man-
têm-na muito desenvolvida e de alta qualidade. A produção
7.3.4. Pecuária europeia de leite, queijo e manteiga atende à demanda do
Como a agricultura, a pecuária na Europa fornece grande continente e exporta o excedente. A avicultura abastece o mer-
variedade de produtos, da carne ao queijo e à manteiga. Pra- cado de ovos e carne de forma praticamente autossuficiente.

95
7.4. Principais produtos minerais ƒ Minério de ferro – destaque para a produção russa,
nos montes Urais, ucraniana, no Krivoi-Rog, Francesa,
em Lorena), e sueca, na Lapônia.
ƒ Mercúrio – os maiores produtores mundiais são a Es-
panha, a Itália e a Rússia.

PLATAFORMA DE EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO

ƒ Carvão: largamente encontrado no continente – do-


bramentos paleozoicos –, foi o elemento básico para multimídia: vídeo
a fixação dos principais centros industriais. Principais
bacias carboníferas: Inglaterra, no vale do Clyde e em FONTE: YOUTUBE
Yorkshire; França, em Lorena e Passo de Calais; Alema- Fogo no Mar
nha, no vale do Ruhr; Ucrânia, em Donbass; e Silésia, Posto avançado da crise dos refugiados na Eu-
na Polônia. ropa, a pequena ilha siciliana de Lampedusa
ƒ Petróleo: as reservas encontradas não atendem a teve seu destino alterado drasticamente. De
enorme demanda da Europa ocidental, à exceção do bucólica residência de uma escassa população
Reino Unido. Destacam-se as bacias petrolíferas da de 6 mil habitantes, em boa parte dedicada à
Europa oriental: Rússia, Hungria, Romênia e Polônia; pesca e aos serviços turísticos, o local tornou-
e da Europa ocidental: mar do Norte – Reino Unido, -se ponto de transição para as multidões de
Holanda, Noruega e Alemanha. fugitivos da África e do Oriente Médio.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
Analisar a ação dos Estados nacionais, no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de
8 problemas de ordens econômica e social.

A migração internacional é um fenômeno que tem aumentado em todas as regiões do mundo, desde o fim da Segunda
Guerra Mundial. Atualmente, milhões de pessoas cruzam as fronteiras como parte de uma tendência da globalização,
que inclui o comércio de bens e serviços, investimentos e fluxos de capital e uma verdadeira explosão de informações. No
entanto, é preciso salientar que, apesar da migração estar ligada de diversas maneiras ao comércio e ao investimento,
ela se difere profundamente destes, pois, os indivíduos se tornam parte do cenário internacional, com a possibilidade de
conquistar uma série de benefícios positivos, como o potencial de experiência imediata e ganhos em seus rendimentos,
visando melhorar suas condições de vida. Trata-se, portanto, de um fenômeno complexo e de grandes proporções,

96
que “atinge diretamente os contextos político-econômico e sociocultural dos Estados, impondo-lhes desafios quanto à
melhor gestão de políticas públicas, além de gerar a expectativa de que as regiões receptoras sejam capazes de asse-
gurar o respeito à diversidade cultural e à dignidade humana dos imigrantes internacionais. Uma questão central e que
influencia diretamente na forma como os governos europeus lidam com esse fluxo crescente de pessoas é a diferença
entre imigrantes e refugiados. A Convenção de Refugiados de 1951, realizada após a II Guerra Mundial, define refugiado
como uma pessoa que por medo de ser “perseguida por motivos raciais, religiosos, de nacionalidade ou por fazer parte
um grupo social ou ter determinada opinião política não está disposto a se colocar sobre a proteção daquele país”.

Modelo
(Enem) Texto I
Mais de 50 mil refugiados entraram no território húngaro apenas no primeiro semestre de 2015. Budapeste lançou os
“trabalhos preparatórios” para a construção de um muro de quatro metros de altura e 175 km ao longo de sua fron-
teira com a Sérvia, informou o ministro húngaro das Relações Exteriores. “Uma resposta comum da União Europeia
a este desafio da imigração é muito demorada, e a Hungria não pode esperar. Temos que agir”, justificou o ministro.
ADAPTADO DE: <WWW.PORTUGUES.RFI.FR>. ACESSO EM: 19 JUN. 2015.
Texto II
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) critica as manifestações de xenofobia adotadas
pelo governo da Hungria. O país foi invadido por cartazes nos quais o chefe do executivo insta os imigrantes a res-
peitarem as leis e a não “roubarem” os empregos dos húngaros. Para o ACNUR, a medida é surpreendente, pois a
xenofobia costuma ser instigada por pequenos grupos radicais e não pelo próprio governo do país.
ADAPTADO DE: <HTTP://PT.EURONEWS.COM>. ACESSO EM: 19 JUN. 2015.
O posicionamento governamental citado nos textos é criticado pelo ACNUR por ser considerado um caminho para o(a):
a) alteração do regime político.
b) fragilização da supremacia nacional.
c) expansão dos domínios geográficos.
d) cerceamento da liberdade de expressão.
e) fortalecimento das práticas de discriminação.

Análise expositiva - Habilidade 8: Nos últimos anos, a crise migratória foi causada pelo aumento dos
E fluxos de refugiados do Oriente Médio e da África em decorrência de guerras civis, conflitos étnicos e reli-
giosos, além de problemas socioeconômicos. Grande parte dos imigrantes e refugiados migrou em direção
à União Europeia. Vários países do leste europeu, como a Hungria, adotaram medidas de repressão e dis-
criminação xenofóbica contra os imigrantes.
A construção de um muro de separação e a culpabilização dos imigrantes pelos problemas europeus são
práticas claramente discriminatórias, pois simplificam o problema do deslocamento de populações a somen-
te uma questão de gestão. Longe de resolver o problema, tal política termina por reforçar tensões sociais.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados critica a xenofobia do governo húngaro. Logo, ele critica
o incentivo à discriminação feita pelo próprio governo húngaro, pois esta é uma consequência direta da xenofobia.
Alternativa E

97
DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS
NATURAIS

VEGETAÇÃO CLIMA RELEVO

• TUNDRA • OCEÂNICO • DOBRAMENTOS


• FLORESTA BOREAL • CONTINENTAL • PLANALTOS
• FLORESTA TEMPERADA • MEDITERRÂNEO • PLANÍCIES (PRE-DOMÍNIO)
• ESTEPES • POLAR

ASPECTOS
GERAIS

ECONOMIA DEMOGRAFIA

• FORTE • ALTA DENSIDADE DEMOGRÁFICA


• UNIÃO EUROPEIA • ALTA EXPECTATIVA DE VIDA
• ALEMANHA, FRANÇA E REINO • BAIXA TAXA DE MORTALIDADE
UNIDO (CONC. INDÚSTRIAS)
• TRANSPORTE MULTIMODAL

98
AULAS REGIÕES SOCIOECONÔMICAS MUNDIAIS IV:
31 E 32 RÚSSIA E ÁSIA CENTRAL
COMPETÊNCIA: 2 HABILIDADE: 7

“É triste, apesar de alegre, em uma noite silenciosa de verão, em um bosque sem voz, ouvir uma música russa. Aqui, encon-
tramos tristeza sem limites e sem esperança. Aqui, também há invencível força e a marca imutável do destino; aqui, também
há a predestinação do ferro, uma das fundações primitivas da identidade nacional russa, pela qual muito do que parecia
inexplicável na vida russa pode ser explicado.”
(ALEKSÊI K. TOLSTÓI)

1. RÚSSIA
A Rússia ou Federação da Rússia é um país que abrange tanto o continente asiático quanto o europeu. Sua capital é Moscou.

Mapa político da Rússia

Ilhas Franz Josef


Terra do Norte Ilhas Anju

Terra Nova

Mumansk Magadan

Moscou
RÚSSIA

Orenburg
Omsk Tchita
Makhatchkala
Vladivostok
CAZAQUISTÃO
CHINA Mar do
MONGÓLIA Japão

Longitudinalmente, seu território passa dos 9 mil quilômetros, somam 23,5% delas todas. As reservas petrolíferas somam
fazendo com que o país possua onze fusos horários diferentes. 8,9% do Planeta; é o terceiro maior produtor desse minério
Em extensão latitudinal, chega a ter 4 mil quilômetro, apresen- fóssil. Seu subsolo é privilegiado em jazidas de minério de
tando, portanto diferentes zonas climáticas. ferro, ouro, diamantes, entre outros minerais não metálicos.
No imenso território russo, vivem cerca de 140,8 milhões Na porção norte e no extremo leste, estão grande parte
de pessoas, distribuídas ao longo do país, de maneira bas- das jazidas, o que dificulta sua extração e, principalmen-
tante irregular, uma vez que 78% da população encontra- te, sua distribuição, em virtude da distância em relação
-se na parte europeia. É grande a variedade étnica do país, aos centros industriais situados em áreas europeias. Essa
mas a principal é a russa. parte do território responde por 15% do país, onde não
O território russo possui uma enorme riqueza mineral, que há riqueza em minérios, mas o maior desenvolvimento
facilita a obtenção de matéria-prima e fontes energéticas. econômico. A principal dificuldade para extração dos mi-
É o maior produtor de gás natural do mundo, cujas reservas nerais é a falta de infraestrutura de transportes.

99
1.1. Aspectos físicos
1.1.1. Relevo
Relevo da Rússia

O relevo russo pode ser dividido em dois compartimentos processo de desgaste a que foi submetido, sendo que seu
principais: um oeste, marcado por planícies; e um leste, ca- ponto mais alto é o monte Naroda, com 1.895 metros
racterizado por altas montanhas. Os dois compartimentos de altitude. Os Urais são ricos em minerais metálicos. O
são divididos pelo rio Ienissei. ponto mais alto do território russo é o monte Elbrus, com
O compartimento oeste é constituído por duas grandes 5.633 metros, localizado na cordilheira do Cáucaso.
planícies: a planície Russa, que se estende do extremo oes- Há cordilheiras espalhadas ao longo das fronteiras meridio-
te russo até os montes Urais, à leste, e até o Cáucaso, ao nais do país, como as montanhas Altai. Nas partes orien-
sul; e a planície Siberiana Ocidental, que se inicia nos mon- tais, encontramos a cordilheira Verkhoyansk e os vulcões
tes Urais até o rio Ienissei. Nestas vastas planícies, distri- da península de Kamchatka, onde está o Klyuchevskaya,
buem-se alguns planaltos, onde podemos destacar, do lado considerado o vulcão ativo mais alto da Eurásia, com seus
ocidental, a planície Samártica, com os planaltos Central 4,7 mil metros de altura.
Russo e o do Volga e, do lado oriental, a planície da Sibéria
Ocidental e o planalto da Sibéria Central. A maior parte da O litoral russo tem mais de 37 mil quilômetros de extensão,
topografia da planície Russa não chega aos 200 metros. abrangendo os oceanos Ártico e Pacífico e os mares Báltico,
A exceção fica com uma região circundante à cidade de Azov, Negro e Cáspio. Os mares de Barents, Branco, Kara,
Moscou. Já a planície Siberiana Ocidental só supera os 200 Laptev, Siberiano Oriental, Chukchi, Bering, Okhotsk e do
metros em sua porção sul, estando a maior parte da sua Japão estão ligados à Rússia pelos oceanos Ártico e Pací-
área abaixo dos 100 metros. fico. Entre as principais ilhas e arquipélagos russos estão
Nova Zembla, Terra de Francisco José, Severnaya Zemlya,
As grandes planícies russas são áreas de importante ativida- Nova Sibéria, Wrangel, Curilas e Sacalina. As ilhas Diome-
de agrícola, principalmente no que diz respeito à produção des – uma controlada pela Rússia e a outra, pelos Estados
de grãos, mas também na extração de petróleo e gás natural. Unidos – estão a apenas três quilômetros de distância uma
Os montes Urais, estrutura geológica antiga, não apre- da outra; a ilha Kunashir está a cerca de 20 quilômetros de
sentam altitudes muito elevadas em função do longo Hokkaido, no Japão.

100
1.1.2. Clima
Mapa: temperatura média russa

Temperatura média anual


-20

-10

+10

+20

Oimiakon
O pequeno povoado no
leste da República de
Sakha-lakútia (República
Federal da Rússia) se
situa a cerca de 3 mil km
do Polo Norte.
Segundo estatísticas
Sôtchi oficiais, o local é
A cidade está localizada na costa nordeste do mar Negro. Seus considerado o mais frio
resorts de clima subtropical eram muito populares na década da Terra. Mesmo assim,
de 1930, quando Iosef Stálin mandou construir ali na sua datcha e no verão a temperatura
pode chegar a 30 graus
proclamou Sôtchi como resort nacional. Em 2014, a cidade sediou
positivos.
os Jogos Olímpicos de Inverno.

O fato de a Rússia dominar quase metade da Europa e um do mundo. Seus lagos contêm aproximadamente um quarto
terço da Ásia faz com que tenha vários climas diferentes. da água doce líquida do mundo. O maior e mais importan-
A região mais ao norte do país, a Sibéria, é a mais fria e te dos corpos-d’água doce russo é o lago Baikal: profundo,
registra temperaturas por volta dos –40 °C ou –50 °C, puro, antigo e de maior capacidade do Planeta. O Baikal,
quando não chegando aos –60 °C, durante o inverno. No sozinho, contém mais de um quinto da água doce superficial
sul, onde há campos e estepes, o clima é mais quente com do mundo.
temperaturas que chegam a –8 °C.
O verão na Rússia também é variável de região para re-
gião, com temperaturas médias de 25 °C. Já houve casos
extremos de as temperaturas registrarem 45 °C.
O frio proveniente da Sibéria alastra-se não só por toda a
Rússia, como por quase toda a Europa e grande parte da
Ásia. A Rússia tem quatro climas: ártico, subártico, tempe-
rado e subtropical; e as estações do ano são caracterizadas
por invernos longos e rigorosos, primaveras temperadas,
verões curtos e quentes e outonos chuvosos.

1.1.3. Hidrografia
A Rússia tem milhares de rios e corpos-d’água, sendo o país
possuidor de um dos maiores recursos hídricos superficiais LAGO BAIKAL

101
multimídia: música
FONTE: YOUTUBE
Hino do partido bolchevic - Alexander Alexandrov
RIO LENISSEI

Outros grandes lagos incluem o Ladoga e Onega, dois dos


maiores lagos da Europa. Dos 100 mil rios do país, o Volga é
o mais famoso porque é o rio mais longo da Europa e por seu
importante papel na história do país. Os rios siberianos Ob,
Ienissei, Lena e Amur estão entre os maiores rios do mundo.
Os maiores rios russos cortam a planície Siberiana e dre-
nam para o oceano Ártico. Por atravessarem grandes planí-
cies, estes rios são calmos e úteis para navegação, exceto
em períodos de congelamento. Em alguns pontos, ocorre a
formação de pântanos.

RIO VOLGA

1.1.4. Vegetação
Nos limites da Comunidade dos Estados Independentes –
CEI (porção europeia), encontra-se distintos tipos de vege-
tação, em virtude dos diferentes tipos de clima que são da
região. Ao norte, do golfo de Finlândia até os Urais, encon-
tra-se a taiga, com extensos bosques de pinhos, abetos,
larício, freixos, álamos tembladores e bétulas.

RIO OB Ainda no norte, na área banhada pelo Glacial Ártico, a tai-


ga cede lugar à tundra, em virtude do solo sempre gelado.
No alto verão, com cerca de 6 °C, aparecem os musgos,
líquens e árvores anãs, como as bétulas.

RIO LENA TAIGA OU FLORESTA BOREAL, NA SIBÉRIA, RÚSSIA

102
Ao sul da taiga estão localizadas as terras negras. É a zona aristocracia, num movimento de oposição que pressionava
mais fértil do país, considerada o ”celeiro” de grãos da o governo czarista reivindicando reformas da atrasada es-
Rússia. Embora os invernos continuem sendo severos, os trutura social russa.
verões são mais quentes, com frequentes precipitações,
Tentando conter a crise que se agravava, Nicolau II
onde há produção de cereais e a ocorrência de espécies
anunciou a concessão de liberdade de imprensa, inde-
herbáceas e a halófilas, que contrastam com a região sul,
pendência do Poder Judiciário e tolerância religiosa, o
onde é necessária a irrigação artificial para se conseguir
que não atendia às reivindicações dos diversos setores
alguma colheita, mais intensificada ainda à beira do mar
sociais. Os trabalhadores organizaram-se em platafor-
Cáspio, onde os terrenos são semidesérticos.
mas políticas e sindicatos, capazes de expressarem com
mais vigor suas reivindicações.
1.2. Aspectos históricos No dia 22 de janeiro de 1905, os trabalhadores mar-
charam em direção ao palácio de inverno com a in-
1.2.1. Rússia czarista tenção de apresentar suas reivindicações por melhores
No início do século XX, o Império Russo ainda era imenso salários e condições de trabalho. Na frente do palácio
e constituído por diferentes povos, línguas e tradições. Era havia uma multidão de homens, mulheres, crianças e
governado pelo czar Nicolau II, um imperador que contava simpatizantes do movimento. Era uma manifestação
com poderes absolutos e dizia-se governante por vontade pacífica por parte do operariado, mas a autoridade mi-
de Deus. No final do século XIX, o império já começava a litar russa resolveu, covardemente, dispersar os mani-
mostrar pequenos avanços industriais, mas não o suficiente festantes à bala, quando não quiseram se afastar dos
para que deixasse seu caráter agrário e arcaico. arredores do palácio. O resultado foi corpos massacra-
dos e feridos sobre a neve.
Apesar da situação miserável, os trabalhadores tinham na
figura do czar um pai. A partir desse episódio, no entanto,
passaram a enxergá-lo como inimigo do povo russo. Esse
dia ficou marcado na história russa como o Domingo
Sangrento. Depois da tragédia, uma onda de greves to-
mou conta do império. A repressão do governo foi violenta
e numerosas sentenças de morte foram executadas.

NICOLAU II, CZAR DA RÚSSIA (1894-1917)

No entanto, essa pequena industrialização foi suficiente


para expulsar parte dos camponeses do campo para as
cidades, engrossando o êxodo rural depois da abolição da O DOMINGO SANGRENTO, EM 22 DE JANEIRO DE 1905
servidão, em 1861. A vida dos camponeses nas cidades era
extremamente difícil, dada a situação do comércio e da
No mesmo ano, 1905, foi convocada a Duma, uma assem-
produção manufatureira e industrial restritas, o que torna-
bleia com representação das diversas tendências políticas.
va pequena a oferta de trabalho.
O Império Russo travestia-se de regime constitucional e
A situação financeira da Rússia era muito difícil, em virtude parlamentar, mas os acordos firmados não foram cumpri-
da dependência que mantinha da Inglaterra e da França. dos, o que possibilitou o recrudescimento do movimento
Em 1904, as greves nas regiões industriais foram engrossa- operário, ao mesmo tempo em que as ideias socialistas
das com o apoio dos jovens estudantes universitários e da ganhavam força.

103
1.2.2. Crise e queda do czarismo rários), oportunidade em que discutiam os problemas e o
futuro da Rússia. Essas reuniões propiciaram a organização
de protestos, greves e de atos contra o governo. Reuni-
dos no Partido Operário Social-Democrata, os trabalhado-
res entraram em contato com o ideário socialista, princi-
palmente com as obras de Karl Marx e Friedrich Engels.
Em resposta à organização dos trabalhadores, o governo
russo reprimiu as instituições político-partidárias por meio
da Okrana, um destacamento policial criado para reprimir
qualquer manifestação social.

1.2.3. O processo revolucionário


e o governo de Lênin
Em fevereiro de 1917, uma onda de protestos e revoltas
populares pôs fim ao governo de Nicolau II. Formou-se
NICOLAU II E SUA FAMÍLIA: ÚLTIMOS REPRESENTANTES DA MONARQUIA RUSSA um governo provisório controlado por Alexander Kerenski,
um socialista de orientação reformista, integrante da ala
No governo do czar Alexandre II (1855-1881), haviam sido menchevique do Partido Socialista, que defendia a ideia
implementadas algumas medidas com o objetivo de iniciar de que o capitalismo deveria ser desenvolvido para então
o processo de modernização da Rússia. Alexandre II decre- estabelecer mudanças de cunho socialista. No entanto, os
tou o fim dos laços feudais (1861) e possibilitou a forma- bolcheviques, facção de maior adesão popular do socia-
ção de uma classe de pequenos camponeses proprietários lismo russo, tinham outra proposta.
de terras. Nos governos do fim do século XIX, outras me-
didas foram responsáveis por abrir a economia russa ao
investimento industrial de nações estrangeiras. Apesar das
medidas que visavam à modernização da Rússia nos mol-
des do capitalismo, os czares russos não foram suficiente-
mente hábeis para conduzir esse processo de mudanças. A
agricultura nacional sofreu fortes variações que foram res-
ponsáveis pela carestia dos alimentos e o empobrecimento
da população. Ao mesmo tempo, os operários sofriam com
as péssimas condições de vida. Por fim, a insatisfação da
burguesia nacional com os governos czaristas crescia.

VLADIMIR LÊNIN, PRINCIPAL LÍDER DA REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE

Liderados por Lênin, autor da Teses de abril (uma série de


diretrizes para fundamentar um plano concreto na passa-
gem da revolução burguesa para a revolução socialista),
os bolcheviques defendiam a delegação de poder político
nas mãos dos sovietes e a instalação de uma ditadura do
proletariado. Apoiados por Leon Trotsky, organizaram um
exército incumbido de depor o governo menchevique. O
Exército Vermelho depôs o governo provisório e instalou o
Conselho Comissário do Povo, do qual Lênin era presiden-
te, Trotski, o comandante dos negócios estrangeiros e Josef
Stalin, diretor dos negócios internos.
Lênin estatizou bancos e indústrias, fez a reforma agrá-
KARL MARX E FRIEDRICH ENGELS
ria e acordos pelos quais a Rússia retirava-se da Primei-
No início do século XX, o operariado e os camponeses pas- ra Guerra, no Tratado de Brest-Litovski. Ao defenderem
saram a se reunir nos chamados sovietes (conselhos ope- medidas de caráter popular, as forças reacionárias russas

104
tentaram derrubar o governo bolchevique. Mesmo com Sob a perspectiva política de Trotsky, a Rússia não deveria
o apoio de nações estrangeiras, os exércitos antirrevo- limitar seu processo revolucionário à nação russa. Trotsky
lucionários não conseguiram vencer a determinação e o acreditava na revolução permanente, que deveria transfor-
considerável contingente do Exército Vermelho. mar a Rússia em incentivadora da expansão das revolu-
ções socialistas pela Europa. Dessa forma, seria formado
Politicamente, a Duma (Assembleia Nacional da Rússia)
um bloco de países com os mesmos objetivos políticos e
estabeleceu um sistema unipartidário, o Partido Comunista
interessados em cooperar economicamente entre si.
da União Soviética, único instrumento de representação
política do país. Nesse período, ganhou força a ideia de que Do lado oposto estava Stalin, defensor da circunscrição do
o novo governo deveria criar formas para que o processo projeto revolucionário russo à teoria do socialismo num
revolucionário socialista se expandisse pelas demais na- só país. De acordo com essa perspectiva política, a Rús-
ções do mundo. Paralelamente, o governo revolucionário, sia deveria se centrar no desenvolvimento de suas forças
preocupado em conter os possíveis traidores da revolução, produtivas e não se envolver diretamente com os levantes
prendia e exilava adversários. revolucionários de outros países.
Em virtude dos gastos com a guerra civil, a Rússia não ti- O projeto internacionalista que fundamentava o socialis-
nha condições para implantar imediatamente um sistema mo marxista defendido por Trotsky foi enfim derrotado por
econômico socialista. Com o objetivo de superar as dificul- uma concepção política burocrata envolvida com a urgên-
dades econômicas, Lênin criou um plano conhecido como cia das questões nacionais.
a Nova Política Econômica (NEP) que permitia a convivên-
A derrota definitiva de Trotsky foi selada no XIV Congresso
cia de práticas capitalistas com as incipientes experiências
do Partido Comunista Russo, em 1925, resultado da alian-
socialistas da economia russa. Lênin defendia a necessida-
ça entre Stalin e os demais líderes bolcheviques. O projeto
de dessa ação para que o país tivesse autonomia suficiente
político da revolução permanente foi sepultado e substituí-
e alcançasse os estágios inicias do projeto socialista.
do pela estruturação de um enorme corpo burocrático vol-
Com essas medidas, a economia russa demonstrava sinais de tado para a consolidação do socialismo russo. Como chefe
recuperação e as ideias de Lênin pareciam tornar-se realidade. de Estado, Stalin determinou que Trotsky fosse expulso do
No entanto, a aparente estabilidade governamental não durou partido, em 12 de novembro de 1927, exilado, em 1928, e
muito tempo. A morte de Lênin, em 1924, trouxe uma intensa banido, em 1929.
disputa política pela escolha do próximo dirigente do governo
Depois de banido, Trotsky passou pela Turquia, França, No-
socialista. De um lado, Trotsky defendia a expansão dos ideais
ruega e México, em 1936, onde, a convite do artista plásti-
da Revolução Russa; de outro, Stalin acreditava na consolida-
co Diego Rivera – marido da também artista plástica Frida
ção interna do socialismo soviético. Este venceu a disputa pelo
Kahlo –, Trotsky passou a morar. Nunca deixou de produzir
poder e deu novos rumos à revolução iniciada por Lênin.
e de agir intelectual e politicamente. Escreveu textos que
denunciavam o desvirtuamento do processo revolucionário
1.2.4. Revolução permanente na Rússia e a desistência de ser um governo do proletaria-
versus socialismo num só país do, paralelamente às denúncias sistemáticas das arbitrarie-
Apesar dos resultados positivos do governo revolucionário, dades e dos crimes cometidos por Stalin.
os destinos da Rússia mostraram-se mais uma vez incertos
com a morte precoce de Lênin e a apresentação de outras
lideranças com projetos políticos distintos. Nesse contexto,
os socialistas russos preocupavam-se com a natureza de seu
projeto revolucionário. Foi nesse momento que se deflagrou
a divergência política entre os líderes Stalin e Trotsky.

TROTSKY NO EXÍLIO MEXICANO, ENTRE ANTONIO VILLALOBOS E FRIDA KAHLO, JEAN


VAN HEIJENOORT E O CORONEL JOSÉ ESCUDERO ANDRADE, EM ABRIL DE 1937.

De fato, governando de forma autoritária, Stalin empre-


endeu uma severa perseguição a todos os opositores do
JOSEPH STALIN, VLADIMIR LÊNIN E LEON TROTSKY (1919) regime. Entre os anos de 1936 e 1938, vários intelectuais

105
e políticos foram condenados ou mortos durante os famo- midas pelo uso da força e, não raro, com muita violência.
sos “expurgos de Moscou”. Em 1940, sob ordens pessoais
Durante a segunda metade dos anos 1980, as exi-
dele, agentes policiais russos assassinaram Trotsky, exilado
gências do capitalismo alimentaram o sentimento
no México. O socialismo num só país selava macabramente
de insatisfação das populações sob o domínio da
sua vitória contra a revolução permanente.
União Soviética, o que a obrigou a promover uma
série de reformas.
Dentre as mudanças, uma delas era diminuir a interferência
soviética no leste europeu, o que levou aqueles países a
ganharem uma relativa independência. Lutando pela am-
pliação dessa independência, conseguiram outras formas
de governo e de regime político e econômico.
As políticas executadas a partir de 1985 por Mikhail Gor-
bachev tiveram como consequência o desmembramento
multimídia: livros do bloco socialista soviético. Foi implantado um plano de
recuperação da economia da União Soviética, denominado
Rússia: ascensão e queda de um império – perestroika (reconstrução), em virtude da crise econômica
João Fabio Bertonha que o país enfrentava. Com a decisão dos países integran-
tes do bloco socialista de não darem continuidade ao regi-
O livro colabora com a história da Rússia em
me político-econômico soviético, implantaram-se medidas
uma direção diferente. Começando pela épo-
e reformas que permitiram a integração internacional da
ca dos czares, passando pela era soviética e
economia russa no mundo capitalista, com a finalidade de
chegando ao pós-comunismo, o autor procu-
alcançar mais desenvolvimento e melhor qualidade de vida
ra esclarecer os dilemas da inserção russa no
para a população.
mundo, desde o século XVI, e como Moscou
trabalhou com os momentos de guerra e paz
que, segundo Bertonha, definem a identida-
de do país há séculos.

1.2.5. O fim da União Soviética


Terminada a Segunda Guerra Mundial, a Europa investiu pe-
sadamente no processo de reconstrução, sem muita demora,
para ingressar num período de desenvolvimento industrial e
econômico, salvo os países do leste europeu, que nesse mes-
mo período enfrentaram sucessivas crises financeiras.

MIKHAIL GORBACHEV: RESPONSÁVEL PELA IMPLANTAÇÃO


DA PERESTROIKA E DA GLASNOST NA URSS

Durante o período de transição dos regimes de governos e


a queda do socialismo, aconteceram várias transformações
e mudanças. Dentre elas, a mais importante ocorreu na se-
gunda metade da década de 1980: a queda do muro de
Berlim, em 1989, fato que marcou o fim da Guerra Fria e
A QUEDA DO MURO DE BERLIM SIMBOLIZOU O FIM DO MUNDO BIPOLAR. o início do processo de reunificação da Alemanha, a partir
de 1990.
A situação de penúria do pós-guerra que castigava aquela
população provocou a deflagração de inúmeras manifes- Todas as transformações ocorridas no processo de des-
tações contrárias às condições de vida do socialismo sob a membramento político geraram mudanças nas relações
liderança da União Soviética. Todas as formas de manifes- diplomáticas entre os líderes das nações que integravam
tações contra o governo e seu regime político eram repri- o bloco socialista e o governo da União Soviética. Graças

106
à difusão de sentimentos de autonomia na região, repúbli- Quase duas décadas após o colapso da União Soviética, a
cas tornaram-se independentes (1990) e a União Soviética Rússia continua a investir em uma economia de mercado
chegou ao fim. moderna, com altas taxas de crescimento econômico. Ao lon-
go da década de 2000, a economia russa registrou taxas de
Em razão de seu enorme arsenal militar, a Federação Russa
crescimento acima de 7%: 10% (2000); 8,1% (2001 a 2004
foi designada pela comunidade internacional para ocupar
e 2007); 6,4% (2005); 6,8% (2006); e, em 2008, cresceu 6%
o espaço da ex-União Soviética e reconhecida como tal
e foi a nona economia do mundo. No entanto, diante da crise
pelo Conselho de Segurança Permanente da Organização
mundial do capitalismo e da queda dos preços do petróleo,
das Nações Unidas.
as perspectivas futuras não têm sido animadoras. Em dezem-
Apesar da fragmentação da União Soviética e da unifica- bro de 2008, a ministra da Economia, Elvira Nabiullina, previu
ção da Alemanha, a configuração cartográfica e geopolítica 2,4% de crescimento do PIB para 2009, o índice mais baixo
da região não terminou. Logo depois, houve a indepen- desde 1998 – ano fatídico da moratória russa.
dência da Tchecoslováquia e da Iugoslávia. A situação po- A Rússia integra a área da Apec – Asia-Pacific Economic
lítica atual mostra que o leste europeu está sujeito ainda Cooperation –, um bloco econômico que tem por objetivo
a outras divisões, principalmente, em virtude dos conflitos transformar o Pacífico numa área de livre comércio e en-
étnico-religiosos. globar as economias asiáticas, americanas e da Oceania.
Desde meados da década de 1950, a população russa
possuía um padrão de vida melhor do que a população do
México, da Índia, do Brasil ou da Argentina. A taxa de analfa-
betismo era próxima de zero; o ensino superior apresentava
respeitável grau de excelência e era economicamente acessí-
vel; o desemprego praticamente inexistia; a igualdade entre
os gêneros era das mais desenvolvidas do mundo: mulheres
e homens concorriam no mercado de trabalho, com vanta-
REUNIÃO DA APEC, NA RÚSSIA, EM 2012 gem para as mulheres, principalmente nas áreas científicas.
Muitas famílias tinham automóveis, TV, gravadores de casse-
tes e podiam viajar de avião, pelo menos uma vez por ano,
até os famosos balneários do mar Negro. Mas a produção
e distribuição de produtos de consumo – particularmente
de vestuário e alimentos – eram relativamente ineficientes;
faltava habitação em muitas das áreas urbanas, e não eram
raras as habitações precárias e insalubres.
Desde o esfacelamento da União Soviética, no entanto,
em 1991, o caminho para a estabilização macroeconô-
mica tem sido longo e difícil. Desde então e ao longo dos
cinco anos seguintes, a região foi afetada por uma severa
multimídia: vídeo contração econômica, enquanto governo e parlamento
FONTE: YOUTUBE divergiram sobre a implementação das reformas. A base
Dr. Jivago – 1965 industrial do país foi seriamente atingida. Com a crise fi-
nanceira do capitalismo, em 1998, resultante fundamen-
O filme conta sobre os anos que antecede-
talmente da crise financeira do sudeste asiático, a Rússia
ram, durante e após a revolução russa pela
e o leste europeu foram seriamente abalados.
óptica de Yuri Zhivago (Omar Sharif), um mé-
dico e poeta. Yuri ficou órfão ainda criança e Depois da dissolução da URSS, provocada mais por ra-
foi para Moscou, onde é criado. zões políticas e étnicas do que propriamente econômi-
cas, a primeira recuperação russa, em virtude da sua
adaptação às regras do livre mercado internacional, já
se fez sentir em 1997. Mas a crise financeira asiática
1.3. Aspectos econômicos de 1998 e a crise internacional atingiram frontalmente
A Rússia possui importantes recursos naturais e humanos, a economia russa. Com o rublo significativamente des-
que lhe conferem um importante potencial para o desen- valorizado, o governo russo aumentou a taxa de juros.
volvimento econômico. Mesmo assim, a política econômica fracassou e a Rússia

107
declarou uma moratória unilateral, que gerou perdas para os seus credores internos e externos. O ano de 1998 ficou
marcado como o da crise financeira russa, quando houve intensa fuga de capitais e recessão econômica.

UM GIGANTE AOS PEDAÇOS

A economina russa é 44% menor que em 1990

RENDA PER CAPITA DESEMPREGO INFLAÇÃO


(em dólares) (em porcentagem) 2 509 (em porcentagem)

11 12
3 220 10
2 740 9
8
6 840

2 215
131 22 11 85 35
1991 1997 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999
A iniciativa privada já controla 70% do PIB e emprega 60% da mão de obra

EXPECTATIVA DE VIDA OGIVAS NUCLEARES


É o terceiro maior
O PIB russo de produtor de petróleo, com
69 338 bilhões Rússia 6 758
6,1 milhões de barris
anos corresponde a por dia, atrás somente
65 menos da metade
anos dos Estados Unidos
do brasileiro EUA 8 111 e da Arábia Saudita
1991 1999
Fonte: Banco Mundial
RESOLUÇÃO:
Fim da URSS provocou um retrocesso no quadro socioeconômico do país.
Constitui, ainda, a segunda potência nuclear do planeta.

A recuperação da economia começou em 1999, com uma o sistema bancário recente apresenta um funcionamento
fase de rápida expansão e de crescimento do PIB a uma longe de ser eficiente. Muitos bancos russos pertencem a
taxa média de 6,8% por ano, entre 1999 e 2004, apoiada grandes empresários ou oligarcas, que usam frequente-
nos preços mais altos do petróleo, no rublo mais fraco, no mente seus fundos para financiar os próprios negócios.
aumento da produção industrial e na expansão do setor O Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento
de serviços. e o Banco Mundial tentaram normalizar as práticas ban-
cárias, fazendo investimentos em ações ordinárias e na
Essa recuperação, a par de um renovado esforço gover-
dívida, mas com sucesso muito limitado.
namental em 2000 e 2001 para fazer avançar a implan-
tação das reformas estruturais, aumentou a confiança O país enfrenta também um desenvolvimento econômico
das empresas e dos investidores para a segunda década desigual entre as suas várias regiões. Enquanto a região de
de transição. Moscou, com seus 20 milhões de habitantes, é uma metró-
pole moderna, com setores de tecnologia de ponta e renda
No entanto, a Rússia continua dependente das exporta- per capita próxima a das economias mais fortes da eurozo-
ções de matérias-primas, particularmente de petróleo, de na, as comunidades indígenas e rurais da Ásia vivem como
gás natural, de metais e de madeira, que correspondem a viviam no fim da Idade Média. A integração ao mercado
mais de 80% do total das exportações, o que deixa o país também se faz sentir noutras grandes cidades como São
vulnerável às oscilações dos preços do mercado mundial. Petersburgo, Kaliningrad e Ekaterinburg.
Nos primeiros anos do século XXI, a economia foi impul-
sionada pelo crescimento do mercado interno, com índice Outro grande desafio enfrentado pelo setor financeiro é
de 12% ao ano, entre os anos de 2000 e 2004. estimular o investimento estrangeiro. O país beneficia-se
do aumento dos preços de petróleo, graças ao qual vem
Em 2004, o PIB atingiu 535 bilhões de dólares, possibili- sendo capaz de pagar uma boa parte da sua dívida exter-
tando que a economia russa passasse a ser a 16a economia na. O reinvestimento dos lucros obtidos pela exploração de
mundial. Moscou concentra 30% da produção do país. recursos naturais em outros setores da economia também
Os formuladores da política econômica russa têm como é um problema.
um dos seus maiores desafios o incentivo ao desenvol- A prisão, em 2003, de Mikhail Khodorkovski, um dos oligar-
vimento das pequenas e médias empresas. As empresas cas russos e, à época, o mais rico empresário do país, sob a
russas são dominadas por uma oligarquia empresarial e acusação de fraude, evasão fiscal e corrupção, durante as

108
grandes privatizações conduzidas pelo governo de Boris Yeltsin, preços do petróleo e derivados – principais produtos de
gerou certa desconfiança entre os investidores estrangeiros. De- exportação da Rússia – resultou no colapso das contas ex-
pois de sete anos, Khodorkovski foi condenado a 14 anos de ternas. Sem conseguir novos empréstimos para pagar as
prisão. Pesa sobre muitas fortunas atuais da Rússia, a acu- dívidas com vencimento de curto prazo, a Rússia decretou
sação de terem se beneficiado do processo de privatização uma moratória da dívida externa e desvalorizou sua moeda,
das estatais, adquirindo propriedades por um preço irrisório, o rublo. A crise russa de 1998 teve fortes consequências
políticas e estratégicas, marcando o auge da decadência
se comparado ao de mercado ou da aquisição barata de con-
dos anos 1990 e o início da retomada do crescimento –
cessões governamentais. Alguns países chegaram a expressar
nos anos 2000. Essa situação estimulou o sentimento de
sua preocupação com a aplicação “seletiva” da lei contra em- revolta na população, em virtude do desemprego, da falta
presários individuais. de serviços, dos altos preços dos alimentos importados e do
crescimento da pobreza extrema nas zonas provincianas.
1.3.1. Evolução econômica

EXTRAÇÃO DE PETRÓLEO NA REGIÃO DE TATARSTAN,


DA QUAL A ECONOMIA RUSSA É EXTREMAMENTE DEPENDENTE.

VLADIMIR PUTIN A partir de 1999, com Putin no governo, a economia rus-


Dissolvida a União Soviética, apesar dos benefícios da sa inaugurou uma fase de grande crescimento econômico.
democracia, a Rússia foi lançada em uma grave crise. O Entre 1999 e 2005, o produto interno bruto cresceu em
processo de privatização da economia russa foi sempre média cerca de 6,7% ao ano.
acompanhado pela suspeita de corrupção ativa e maciça PIB (PPC) da Rússia desde a queda da União Soviética
das empresas e das concessões estatais. 2,400
Em bilhões de dólares internacionais (2008)

2,300
Há fortes indícios de que empresários, políticos e membros 2,200
2,100
das forças de segurança usaram suas posições privilegiadas 2,000
1,900

para obterem licenças de exportação de matérias-primas, 1,800


1,700
Crise financeira de 1998
licenças de bancos privados para fazer negócio com dinhei- 1,600
1,500
1,400
ro estatal e decisões de privatização de empresas estatais a 1,300
1,200
seu favor. Analistas qualificados e acostumados a analisa- 1,100
1,000
rem processos de privatização afirmaram que Yeltsin agiu 900
Iéltsin Putin Medvedev
800
precipitadamente ao decidir privatizar tudo e a baixo custo, 700
1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

criando uma elite econômica que se tornou detentora dos CRISE ECONÔMICA DA RÚSSIA PÓS-SOVIÉTICA E
mais valiosos ativos russos. Isso provocou uma desvalori- RECUPERAÇÃO ECONÔMICA NOS ANOS 2000

zação acentuada da moeda e uma queda abrupta do nível


As razões desse crescimento foram: a estabilidade política,
de vida da população. As dívidas contraídas do estrangeiro,
que permitiu aumentar a confiança (interna e externa) no
a falta de serviços e bens, o atraso industrial, obrigaram a governo, especialmente após o fim da guerra na Chechênia
Rússia a importar muito e exportar pouco, devido ao des- e do combate a algumas das poderosas máfias russas; a es-
compasso entre oferta e procura. A transição da economia tabilização econômica, com o controle da inflação e a rene-
planificada controlada pelo Estado para uma economia de gociação da dívida externa; uma moeda desvalorizada, que
mercado, altamente competitiva, foi bastante difícil, com facilitou as exportações em quantidade e valor no mercado
altas taxas de desemprego, inflação, falta de acesso a bens internacional de gás natural, petróleo e derivados da indús-
essenciais – alimentos e medicamentos – e crescimento tria petroquímica, agroquímicos (agrotóxicos e fertilizantes) e
negativo do PIB nos anos 1990. minerais metálicos, aço, ferramentas e máquinas pesadas; e
A crise asiática de 1997, que gerou uma rápida escassez a retomada dos investimentos estatais nas indústrias de alta
de crédito no mercado internacional associada aos baixos tecnologia – informática, bélica e aeroespacial.

109
O ministro das finanças desde 1997, Alexei Kudrin, es- 1.3.3. Indústria
tabeleceu várias leis de criação de barreiras aduaneiras
para fechar o fluxo importador. As pequenas e médias A região de maior concentração industrial da Rússia en-
empresas praticamente não podiam entrar na Rússia. contra-se na parte europeia. Uma década após o fim do
socialismo, a economia e, particularmente, o setor indus-
Assim, a Rússia passou a ser a 15a economia mundial e em trial ainda apresentavam características da política socia-
constante crescimento. As exportações totalizaram 241,3 mi- lista, que deixou a Rússia atrasada tecnologicamente em
lhões de dólares e as importações foram de “apenas” 98,5 relação às nações capitalistas.
milhões de dólares. Entre 2004 e 2005, a Rússia obteve mais
de 33% de lucros com as exportações. Calcula-se que, em Um dos principais problemas da indústria russa foi o dire-
2006, o investimento estrangeiro foi de 23 milhões de dólares. cionamento na produção da indústria de base, relegando
Ainda segundo as estatísticas russas, o salário nominal mensal as indústrias de bens de consumo a um segundo plano, o
de 2006 era de 10, 9 mil rublos (aproximadamente 370 eu- que determinou a baixa qualidade de seus produtos.
ros), mais de 25% do que em 2005.
A Rússia tem a maior reserva de gás natural do mundo,
a segunda maior reserva de carvão e a oitava maior de
petróleo. Juntos representam 80% da economia nacio-
nal. Porém, desde 2003, a exportação desses recursos
vem diminuindo, dada a maior procura interna. Quanto
à educação, a Rússia é considerada um dos países com
maior número de graduados nas áreas de ciências.

1.3.2. Agropecuária
A agropecuária russa tem recebido investimentos que vi-
sam ao seu aprimoramento. Após a Revolução de 1917,
as propriedades privadas foram transformadas em pro-
priedades coletivas e fazendas estatais para a exploração
agropecuária.
A União Soviética chegou a se tornar uma das maiores
potências agropecuárias do mundo. Com o fim do regi-
INDÚSTRIA DE BASE
me soviético e a criação da Rússia, as terras do Estado
foram privatizadas.
A atividade industrial enfrenta, ainda, problemas em rela-
A partir da década de 1990, o país passou a investir na ção à matéria-prima, pois, em virtude da fragmentação do
modernização de empresas agrícolas para a produção território, a independência de algumas repúblicas possibi-
mundial de cevada, aveia, centeio, batata e trigo. O país litou-lhes a posse de jazidas, o que provocou o aumento
também passou a comprar embriões e sêmen de animais. do preço da matéria-prima e, consequentemente, do custo
As medidas têm como objetivo aumentar a produção pe- dos produtos industrializados.
cuária e reduzir a dependência externa do país no forneci-
mento de carnes para o mercado russo. A Rússia produz tanto produtos primários, com pouco va-
lor, quanto produtos industrializados de tecnologia avança-
da e alto valor de mercado.

1.3.4. Energia
Nos últimos anos, a mídia tem se referido à Rússia como
uma “superpotência energética”, com as maiores reservas
mundiais de hidrocarbonetos. Em virtude dessas reservas,
o país é o maior exportador e o segundo maior produtor
de gás natural do mundo, ao mesmo tempo em que é o se-
gundo maior exportador e o maior produtor de petróleo do
Planeta, embora dispute com a Arábia Saudita os números
CRIAÇÃO DE GADO NA REGIÃO DE ARKHANGELSK, RÚSSIA referentes ao petróleo.

110
REDE DE OLEODUTOS E GASODUTOS QUE LIGAM A RÚSSIA AO RESTO DA EUROPA.

A Rússia possui também a segunda maior rede de gaso- e povos indígenas vivem dentro de suas fronteiras. Embora
dutos do Planeta, atrás apenas dos Estados Unidos. Atu- a população russa seja comparativamente grande, sua den-
almente, muitos projetos de novos gasodutos estão sendo sidade é baixa em relação ao enorme tamanho do país. A
realizados, incluindo os gasodutos Nord Stream e South densidade populacional é mais densa no centro e centro-
Stream, que têm por objetivo transportar o gás natural à -leste, próximo aos montes Urais, e no sudoeste da Rússia
Europa, e o oleoduto da Sibéria e do Pacífico, para o extre- asiática. As áreas urbanas concentram 73% da população,
mo Oriente, China, Japão e Coreia do Sul. enquanto 27% vivem na zona rural. A população total é de
141,9 milhões de habitantes, de acordo com dados de 2010.
A Rússia é o terceiro maior produtor de eletricidade do mun-
do e o quinto maior produtor de energia renovável – graças A população russa atingiu 148,6 milhões em 1991, pouco
à produção hidrelétrica bem desenvolvida no país. Grandes antes da dissolução da União Soviética e começou a experi-
usinas hidrelétricas são construídas na Rússia europeia ao mentar um rápido declínio a partir de meados dos anos 1990.
longo de grandes rios, como o Volga. A parte asiática da Rús-
sia também possui um grande número de importantes usinas Composição étnica (2012)
hidrelétricas; porém, o gigantesco potencial hidrelétrico da Russos 80,9%
Sibéria e do extremo oriente russo permanece inexplorado.
Tártaros 3,87%
O primeiro país a desenvolver a energia nuclear para fins
Ucranianos 1,41%
civis foi a Rússia, com a construção da primeira usina nuclear
de energia do mundo. Atualmente, o país é o quarto maior Basquírios 1,15%
produtor de energia nuclear, que é gerenciada pela estatal Chuvaches 1,05%
Rosatom Corporation. O setor está se desenvolvendo rapida-
mente, com o objetivo de aumentar a quota total de energia Chechenos 1,04%
nuclear a partir dos 16,9% atuais para 23% até 2020. O Armênios 0,86%
governo russo pretende investir 127 bilhões de rublos (5,42 Outros 9,72%
bilhões de dólares) em um programa federal dedicado à pró-
xima geração de tecnologia de energia nuclear. Cerca de um
trilhão de rublos (42,7 milhões de dólares) deverão ser desti- Em 2009, a Rússia registrou um crescimento da popula-
nados do orçamento federal para a energia nuclear e para o ção pela primeira vez em 15 anos, com crescimento total
desenvolvimento da indústria até 2015. de 10,5 milhões. A Federação da Rússia recebeu 279.906
imigrantes no mesmo ano, dos quais 93% vieram de paí-
ses da Comunidade dos Estados Independentes. O núme-
1.4. Aspectos populacionais ro de emigrantes russos declinou de 359 mil, em 2000,
O grupo étnico russo compõe 79,8% da população do país, para 32 mil, em 2009. Há também uma estimativa de 10
além das diversas etnias. No total, 160 outros grupos étnicos milhões de imigrantes ilegais das ex-repúblicas soviéticas

111
vivendo na Rússia. Cerca de 116 milhões de russos étnicos vivem na Rússia e cerca de 20 milhões moram em outras
repúblicas da antiga União Soviética, principalmente na Ucrânia e no Cazaquistão.

DENSIDADE POPULACIONAL NO TERRITÓRIO RUSSO (2013)

Cerca de 78% dos russos vivem na Rússia europeia, se 1.4.1. Diferenças linguísticas
bem que apenas 25% do território do país fique na Europa.
Os 160 grupos étnicos da Rússia falam cerca de cem idio-
A constituição russa garante cuidados de saúde livres e uni- mas. De acordo com o censo de 2002, 142,6 milhões de
versais para todos os cidadãos. No entanto, na prática, os pessoas falam russo, seguido pelo tártaro (5,3 milhões) e
serviços de saúde gratuitos são parcialmente restritos, devido pelo ucraniano (1,8 milhão). O russo é a única língua ofi-
ao regime propiska (registro de local de residência). A Rússia cial, mas a constituição dá às repúblicas o direito de fazer
tinha mais médicos, hospitais e profissionais de saúde per ca- sua língua nativa co-oficial ao russo.
pita que muitos países do mundo, mas, desde o colapso da
União Soviética, a saúde da população russa sofreu conside-
ravelmente, resultado das mudanças sociais, econômicas e de
estilo de vida. Essa tendência foi revertida apenas nos últimos
anos, com o aumento da expectativa de vida média.
A expectativa média de vida na Rússia, em 2009, era de
62,77 anos para os homens e 74,67 anos para as mulhe-
res. O maior fator que contribui para a expectativa de vida
relativamente baixa dos homens dá-se em virtude da alta
taxa de mortalidade em idade de trabalho por intoxicação,
álcool, tabagismo, acidentes de trânsito e crimes violentos.
Como resultado da grande diferença de gênero na expec-
tativa de vida e por causa do efeito duradouro do grande
número de vítimas na Segunda Guerra Mundial, o desequi- DIFUSÃO DA LÍNGUA RUSSA: EM VERDE ESCURO, O RUSSO É O IDIOMA OFICIAL; EM
líbrio entre os sexos permanece até hoje. VERDE CLARO, O RUSSO É AMPLAMENTE FALADO, MAS NÃO EM CARÁTER OFICIAL.

Mas a Rússia apresenta uma taxa de natalidade maior do Apesar de sua grande dispersão, o idioma russo é homo-
que a da maioria dos países europeus – 12,4 nascimentos gêneo em toda a Rússia. O russo é a língua mais ampla em
por mil, em 2008, contra 9,90 por mil, na União Europeia. distribuição geográfica de toda a Europa e Ásia, além da
No entanto, a taxa de mortalidade é substancialmente mais língua eslava mais falada. Pertence à família das línguas
elevada. Em 2009, era de 14,2 por mil pessoas, em compa- indo-europeias e é um dos três últimos membros vivos das
ração com 10,28 por mil pessoas na UE. Em 2012, o índice línguas eslavas orientais, ao lado do bielorrusso e do ucra-
de nascimentos igualou-se ao de mortes, devido ao aumento niano. Exemplos escritos do eslavônico, que deu origem a
da fertilidade e da queda na mortalidade. Em 2009, a Rússia todas as línguas eslavas, são atestados a partir do século X.
registrou a taxa de natalidade mais elevada desde o colapso Segundo o Centro da Língua Russa, um quarto da litera-
da ex-URSS: 12,4 nascimentos por mil habitantes. tura científica do mundo é publicado em russo. O idioma

112
também é aplicado como meio de codificação e armaze- O budismo é tradicional em três regiões da Federação
namento do conhecimento universal. Entre 60% e 70% Russa: Buriácia, Tuva e Calmúquia. Moradores das regiões
de todas as informações do mundo são publicadas nas da Sibéria e do extremo oriente – Iacútia e Chukotka –
línguas inglesa e russa. O russo é também uma das seis praticam o xamanismo, panteísmo e ritos pagãos, ao lado
línguas oficiais da Organização das Nações Unidas. de grandes religiões. A indução religiosa ocorre principal-
mente em linhas étnicas. Os cristãos ortodoxos são majo-
1.4.2. Religião ritariamente eslavos; os muçulmanos, predominantemente
povos turcos; e budistas, os povos mongóis.
Cristianismo, islamismo, budismo e judaísmo são as religi-
ões tradicionais da Rússia, legalmente uma parte do “pa-
trimônio histórico” do país. As estimativas de fiéis variam 1.5. A questão da Crimeia
muito entre as fontes. Alguns relatórios apontam que o As tensões na Crimeia estão ligadas às transformações
número de ateus e agnósticos na Rússia esteja entre 16% políticas ocorridas na Ucrânia e aos interesses da União
e 48% da população. Europeia, Estados Unidos e Rússia.
Criada através da cristianização da Rússia Kievana, no sé-
culo X, a ortodoxia russa é a religião dominante no país, RÚSSIA

com cerca de 100 milhões de seguidores, 95% dos quais


pertencentes à Igreja ortodoxa russa, ao lado de outras pe-
quenas Igrejas ortodoxas. No entanto, a grande maioria dos
crentes ortodoxos não frequentam a igreja regularmente.
Existem também várias outras denominações cristãs meno- RÚSSIA
Crimeia
res: católicos, armênios gregorianos e protestantes.

LOCALIZAÇÃO DA PROVÍNCIA DA CRIMEIA, NA UCRÂNIA

A situação de conflito que envolve a Crimeia – província


semiautônoma da Ucrânia, localizada em uma península
no sul do país – é reveladora das relações de tensão entre
ucranianos e russos, desde a extinção da União Soviética.
A ampla maioria da população dessa região fala russo e
mantém-se mais vinculada a Moscou do que propriamente
a Kiev. Com as recentes transformações que marcaram a
TEMPLO DE TODAS AS RELIGIÕES, NA CIDADE MULTICULTURAL DE CAZÃ
política do país, a província da Crimeia transformou-se em
Estatísticas de 2010, divulgadas pelo The Pew Forum on Reli- um território de extrema instabilidade política.
gion and Public Life, mostram que 71% dos russos declaram-
Os problemas internos da Ucrânia agravaram-se quando
-se ortodoxos, 1,8% pertence a denominações protestantes,
o então presidente, Viktor Yanukovich, rejeitou assinar um
0,5% é de católicos e 0,3% tem outras crenças cristãs.
acordo com a União Europeia, que ampliaria as relações
As estimativas do número de muçulmanos variam entre 7 a do país com o bloco vizinho. Essa decisão atendia aos in-
9 milhões e 15 a 20 milhões de fiéis. Há também entre 3 e teresses da Rússia, uma vez que a Ucrânia é um dos seus
4 milhões de imigrantes muçulmanos dos Estados pós-so- principais parceiros comerciais no continente europeu.
viéticos, cuja maioria vive na região do Volga-Ural, no Cáu-
Em resposta, grupos de oposição ao governo, constituídos
caso, em Moscou, São Petersburgo e na Sibéria Ocidental.
majoritariamente pela população que fala ucraniano e ha-
bita a porção central e oeste do país, iniciaram uma onda
Religião Porcentagem de protestos pelas ruas das principais cidades. Os líderes
Ortodoxos russos 41% desse movimento são políticos ligados ao governo anterior
Sem religião 38% a Yanukovich, e a partidos e movimentos de direita e de ex-
Muçulmanos 6,5% trema direita, com destaque para o Udar (soco), o Svoboda
Outros cristãos 4,1%
(liberdade) e o Setor Direito.
Outros ortodoxos 1,5%
Neopagãos etengriistas 1,2% As revoltas sucederam-se, agravando a situação política e
Budistas 0,5% os motins, em que prédios públicos foram ocupados, ruas
Outras religiões 1,7% incendiadas e a repressão aos manifestantes intensificada.
Não declarados 5,5% Em janeiro de 2014, o então primeiro-ministro Mykola Aza-

113
rov renunciou ao cargo e, no mês seguinte, o presidente É preciso salientar que a razão da ação militar russa foi seu
Yanukovich fugiu para a Rússia, após a ocupação da sede interesse na região da Crimeia, anexada pela Ucrânia em
do governo pelos grupos opositores. 1954, quando o então líder soviético Nikita Khrushchev –
de origem ucraniana – cedeu-a em caráter amistoso. Essa
península é relevante do ponto de vista econômico e es-
tratégico, pois é uma importante via de ligação entre os
mares Negro e o de Arzov, bem como serve de entreposto
comercial para a Europa. É grande produtora de grãos e ali-
mentos industrializados. Por outro lado, a Europa e os Es-
tados Unidos objetivam diminuir a influência russa na zona
formada pelas ex-repúblicas da antiga União Soviética.
LÍDERES DA OPOSIÇÃO CONVOCARAM A OCUPAÇÃO
DO BAIRRO GOVERNAMENTAL ATÉ A RENÚNCIA.

As regiões mais industrializadas e povoadas à leste e ao


sul, com grande quantidade de habitantes russos, obvia-
mente se opuseram aos manifestantes pró-Europa. Dessas
regiões, a província da Crimeia foi a que vivenciou mais
tensão e instabilidade política, agravadas com a atitude
do novo governo de revogar uma lei que garantia o russo
NA CIDADE DE LUGANSK, MANIFESTANTES FAVORÁVEIS À INTERVENÇÃO DA RÚSSIA
como idioma oficial local.
Tal atitude propiciou que grupos militares pró-Rússia assu-
missem o controle político da província e estabelecesse ali
2. ÁSIA CENTRAL
uma zona de resistência ao novo governo ucraniano, nome- As regiões do extremo oriente, Oriente Médio, sudeste
ando Sergei Axionov primeiro-ministro do parlamento local. asiático, Ásia setentrional, Ásia ocidental, Ásia meridional,
Em razão dessa situação, o presidente da Rússia, Vladimir Ásia oriental e Ásia central formam o continente asiático.
Putin, teve aprovado no parlamento de seu país o pedido de A Ásia central é um subcontinente constituído por cinco
envio de tropas para Ucrânia. Com isso, os países da União países: Cazaquistão, Uzbequistão, Turcomenistão, Tajiquis-
Europeia e os Estados Unidos anunciaram o descontenta- tão e Quirguistão. Juntos compõem uma área de quatro
mento com a decisão, iniciando uma política de um provável milhões de km2, dos quais o Cazaquistão ocupa o maior
bloqueio econômico e/ou comercial à Rússia. território, com 2,7 milhões de km2.
No entanto, sob a argumentação de que era necessário de- Ela tem uma superfície constituída por um relevo relativa-
fender os direitos humanos da população russa na Crimeia, mente plano, com planícies e planaltos de altitudes mo-
foram enviadas tropas que rapidamente ocuparam aeroportos destas, salvo as regiões próximas à fronteira com países do
e bases militares na província, com alguns poucos focos de Oriente Médio, onde há montanhas.
resistência. A maioria dos militares ucranianos da região aliou- O subcontinente apresenta uma composição vegetativa
-se a Moscou ou abandonou a Crimeia. Em resposta, os esta- bastante restrita. A vegetação é do tipo estepe, pobre em
dunidenses e europeus prometeram punir a Rússia pela ação biodiversidade – flora e fauna –, característica provenien-
realizada, considerada ilegítima pelos governos ocidentais. te do clima predominantemente árido e semiárido.

114
Tem uma característica climática que interfere na compo- Em relação à etnia, 52% da população é representada pe-
sição hidrográfica da região, com pequena quantidade de los quirguizes; 22%, por russos; 13%, por usbeques; 3%,
rios. Os principais rios são o Syr e Amu, que desembocam por ucranianos; e 2%, por germânicos.
no mar de Aral.
Localizado a noroeste do Uzbequistão e a oeste do Caza-
quistão, o mar de Aral tem sofrido grande impacto ambien-
tal desde a década de 1960: vem perdendo água, um dos
problemas ambientais mais graves do mundo. Este proble-
ma está ocorrendo porque um de seus principais afluentes,
o rio Amu, teve seu curso desviado para atender às neces-
sidades de irrigação para o plantio de culturas de arroz e
algodão. Diante desse quadro, o mar de Aral passou a não
receber uma significativa quantidade de águas, o que vem
provocando a diminuição de seu volume. A atividade predominante no país é a agricultura, com des-
taque para frutas, uva, cevada, trigo e toda cultura que se
2.1. Cazaquistão desenvolve por meio de irrigação.

Localizado na Ásia central, é o décimo país do mundo mais Os recursos minerais mais explorados são petróleo, gás,
extenso, com uma densidade demográfica das menores do mercúrio, carvão e antimônio.
mundo. Sua capital é a cidade de Astana. O país é constitu- No vale de Fergana, ao sul do Quirguistão, localiza-se o
ído por estepes, desertos e regiões montanhosas. A consti- setor agropecuário. Em 1991, essa nova república foi es-
tuição étnica do Cazaquistão consta de 42% de cazaques tabelecida como Estado independente e democrático pelo
e 37% de russos, tártaros e ucranianos. Soviete Supremo do Quirguistão. Com isso, três Estados
bálticos foram reconhecidos oficialmente pelo Quirguistão:
As indústrias são fundamentais para a economia do país. A
Estônia, Letônia e Lituânia.
mão de obra, o potencial hidrelétrico e térmico e os recur-
sos minerais são bem aproveitados. Chumbo, carvão mine- O governo oficializou publicamente a instituição de uma nova
ral, bauxita, petróleo, cobre, prata e zinco são os recursos moeda, denominada som, que, ao lado de medidas econômi-
minerais de maior destaque. cas, fez com que a inflação caísse de 50% para 4% ao mês.
Na década de 1990, com o colapso do sistema estatal soviéti-
co, o PIB do Quirguistão despencou. Em 1994, um projeto de
privatização e abertura da economia adotado pelo país pro-
moveu a queda da inflação e crescimento de exportações, o
que, no entanto, não mudou a situação da população pobre.

2.3. Tadjiquistão
Em 1929, o Tadjiquistão, um dos países da Ásia central, pas-
sou a pertencer à URSS. Dentre os países da Ásia central, é
o de menor área. Sua capital é Duchambe, uma das maiores
CRIAÇÃO DE CAMELOS NO CAZAQUISTÃO
do país. Também se caracteriza por ser montanhoso.
Na agricultura, os principais produtos são algodão, trigo, mi- Em relação à etnia, 62% da população é de tadjiques e
lho, arroz, fumo, girassol, beterraba, vinicultura e fruticultura. 24%, de uzbeques, além de russos, ucranianos, tártaros
Com pastagens naturais muito extensas, a atividade pe- e quirquízes que formam a população do Tadjiquistão.
cuária no país merece destaque: criam-se ovinos, bovinos,
equinos e camelos.

2.2. Quirguistão
É mais um dos países da Ásia central, instituído em 1926, e
passou a fazer parte da URSS, em 1936. Sua capital é Bishkek,
uma das mais importantes cidades do país. O Quirguistão carac-
teriza-se por ser montanhoso, com altitude de 2,7 mil metros. CIDADE DE DUCHAMBE, CAPITAL DO TADJIQUISTÃO

115
Ao longo da sua história, passou por guerras civis e cri- Com grandes áreas desertas, o setor agropecuário é exten-
ses econômicas e sociais, que levaram o Tadjiquistão a ser so; criam-se ovinos, equinos e dromedários. Na indústria,
considerado o país mais pobre da Ásia central, a ponto de destacam-se os setores de química, fertilizante, têxtil, ali-
a Cruz Vermelha fazer um apelo aos países estrangeiros, mentício, mecânica e vidro.
pedindo ajuda humanitária para evitar que a população do
Tadjiquistão não fosse exterminada pela fome. 2.5. Uzbequistão
Nesse contexto, a economia do país não se desenvolveu; a País da Ásia central, tem sua capital na cidade de Tashkent,
pobreza e a falta de investimentos públicos determinaram uma das principais do país. Em 1924, as fronteiras da Ásia
sérios problemas de saneamento básico, com aumento do central foram reconstituídas pelo governo soviético, que
índice de mortalidade infantil. Atividades como a agricultura proclamou a República Socialista do Uzbequistão e ane-
e pecuária são importantes no país. Na agricultura se desta- xou-a à URSS, em 1925.
cam o trigo, a cevada, o algodão, a fruticultura e a vinicultura,
produzidos em grandes extensões. Na pecuária, a criação de Muitos canais e represas com modernos sistemas de irriga-
ovinos, bovinos, iaques, camelos e a sericicultura destacam- ção foram introduzidos no país pelo Estado, com o intuito
-se. Seu principal recurso natural é o potencial hidrelétrico. de desenvolver o potencial agrícola da região. A partir de
1956, a monocultura de algodão contribuiu muito para a
economia do país e para torná-lo o primeiro fornecedor de
2.4. Turcomenistão algodão da URSS.
Também localizado na Ásia central, sua capital é a cidade
de Ashkhabad, uma das mais importantes do país. Passou
a integrar a URSS, após ser instituída como República, em
1924. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o país teve
um considerável crescimento econômico, graças à extração
de recursos minerais, petróleo e gás, e à colheita de algodão.
Etnicamente, a população do Turcomenistão é formada por
68% de turcomenos e 10% de uzbeques, além das mino-
rias de russos, cazaques e ucranianos.
A economia do país vem sendo prejudicada em virtude da NO UZBEQUISTÃO, MULHERES E CRIANÇAS CHEGAM A TRABALHAR
ATÉ DEZ HORAS POR DIA EM SISTEMA ANÁLOGO À ESCRAVIDÃO.
escassez de recursos naturais, do clima severo e da insufi-
ciente rede hidrográfica, usada exclusivamente para aten-
der às necessidades da população e irrigar as culturas de Etnicamente, a população do Uzbequistão é composta
algodão e frutas. por 71% de uzbeques, 8% de russos, além de tadjiques
e cazaques.
A agricultura e a pecuária são importantes atividades eco-
nômicas do país, com destaque para a cultura de algodão,
arroz, trigo, frutas e a criação de ovinos e bovinos. A in-
dústria desenvolve os setores de eletrônica, tratores, têxtil,
metalurgia, adubo e química.

NATIVO DO TURCOMENISTÃO COM ROUPAS TRADICIONAIS E SEU DROMEDÁRIO

116
ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Os recentes episódios relacionados ao aumento da presença militar da Otan no leste europeu, aos conflitos na Síria e ao
rearmamento russo mostram que o pensamento político das potências ainda resgata a rivalidade da era bipolar. Em feve-
reiro de 2016, na Conferencia de Munique, o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, afirmou o desgaste das relações
russas com o ocidente e declarou estar numa nova era da Guerra Fria. A Otan tem instigado esse confronto ao continuar
enviando suas tropas muito próximas à fronteira e à base naval russa de Kaliningrado. Em janeiro de 2017, 1200 soldados
alemães se deslocaram para uma base militar na Lituânia e cerca de 3 mil soldados do exército estadunidense, tanques
e helicópteros Apache e Black Hawk foram mobilizados para compor a segurança dos países aliados na Europa oriental.
Mesmo com o fim da URSS, a Otan não deixou de revelar sua insegurança quanto ao futuro da Rússia. As percepções
de desconfiança trazidas pela era bipolar permanecem sólidas e acabam interferindo nas políticas externas das
partes envolvidas. Primeiro, a Aliança incitou um ambiente de tensão ao se engajar numa política de portas abertas,
que inclui novos membros do leste, como Polônia, República Tcheca e Hungria. Mais tarde, em 2008, outro capítulo
de apreensão do pós-Guerra Fria surgiu quando os membros da Otan não reconheceram a legitimidade das inter-
venções russas no conflito da Geórgia e da Ucrânia. O ocidente priorizava um discurso que assegurasse a soberania
dos antigos territórios soviéticos e evitasse qualquer pretensão neoimperialista russa. Por fim, a mais recente onda de
conflitos na Síria colocou a Rússia e o ocidente em lados opostos e na iminência de um possível confronto direto. O
governo de Bashar al-Assad recebeu o apoio russo, por um lado, e críticas ocidentais, por outro, principalmente com
os bombardeios russos sobre os rebeldes na região. Em termos econômicos e militares, uma nova Guerra Fria nesse
momento não representaria grandes ganhos para ambas as partes. A Rússia, por exemplo, ainda se mantém depen-
dente de capital e tecnologia ocidentais para sua infraestrutura, o conflito geraria fuga de capitais e encolhimento
do mercado de crédito. Além disso, países como Armênia, Bielorrússia e Cazaquistão poderiam optar por minar seus
acordos econômicos com os russos, com o objetivo de não arruinar suas relações com o ocidente. Por outro lado,
significaria também um grande custo militar e a retirada de tropas do ocidente em outras áreas de influência, como
a Ásia e Oriente Médio, para obter melhor desempenho no confronto principal leste–oeste.

Modelo
(Enem) O fim da Guerra Fria e da bipolaridade, entre as décadas de 1980 e 1990, gerou expectativas de que seria
instaurada uma ordem internacional marcada pela redução de conflitos e pela multipolaridade.
O panorama estratégico do mundo pós-Guerra Fria apresenta:
a) o aumento de conflitos internos associados ao nacionalismo, às disputas étnicas, ao extremismo religioso e ao fortale-
cimento de ameaças como o terrorismo, o tráfico de drogas e o crime organizado.
b) o fim da corrida armamentista e a redução dos gastos militares das grandes potências, o que se traduziu em maior
estabilidade nos continentes europeu e asiático, que tinham sido palco da Guerra Fria.
c) o desengajamento das grandes potências, pois as intervenções militares em regiões assoladas por conflitos passaram a
ser realizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), com maior envolvimento de países emergentes.
d) a plena vigência do Tratado de Não Proliferação, que afastou a possibilidade de um conflito nuclear como ameaça
global, devido à crescente consciência política internacional acerca desse perigo.
e) a condição dos EUA como única superpotência, mas que se submetem às decisões da ONU no que concerne às ações militares.

117
Análise expositiva - Habilidade 7: A Nova Ordem Mundial começou com o término da Guerra Fria, em
A 1991 (fragmentação da União Soviética), e se desenvolve até os dias atuais. A Nova Ordem é caracterizada
pela globalização da economia capitalista, multipolaridade econômica e geopolítica (G7, BRICS, G20 etc.),
crescimento de conflitos étnicos, religiosos (conflito entre civilizações) e separatistas, bem como pelo au-
mento da atividade terrorista no mundo.
Alternativa A

DIAGRAMA DE IDEIAS

ASPECTOS ASPECTOS
FÍSICOS SOCIOECONÔMICOS

CLIMA POPULAÇÃO

• SUBPOLAR 145 MILHÕES


• TEMPERADO CONTINENTAL
• CONTINENTAL DENSIDADE
• MONTANHA DEMOGRÁFICA

8 hab/km2
RELEVO

• PLANÍCIES A OESTE RECURSOS


• ALTAS MONTANHAS A LESTE NATURAIS

PETRÓLEO E GÁS NATURAL


VEGETAÇÃO

ERA PUTIN
• TUNDRA
• TAIGA
• FLORESTA TEMPERADA

BRICS
HIDROGRAFIA

• RIOS DE PLANÍCIE
(ÚTEIS PARA NAVEGAÇÃO, CONFLITOS
EXCETO NO INVERNO) SEPARATISTAS

118
AULAS REGIÕES SOCIOECONÔMICAS
33 E 34 MUNDIAIS V: CHINA
COMPETÊNCIA: 2 HABILIDADE: 7

1. CHINA
1.1. Aspectos físicos
A topografia chinesa caracteriza-se pela imponência e altura de suas cadeias montanhosas em direção ao oeste, e pela
extensão que ocupa um terço do total do território. Em razão do clima, da geologia e do desenvolvimento geomorfológico,
a China divide-se em quatro regiões distintas: a oriental, noroeste, sudoeste, e a litorânea.

China: relevo

ƒ Região oriental – banhada por rios abundantes e cau- muito instável. Em 1976, um abalo sísmico acarretou
dalosos, a região oferece as melhores condições de vida na morte de centenas de milhares de pessoas. No sul,
na China: solos férteis e clima úmido favorecem a agri- encontra-se a grande planície, larga faixa de terra que se
cultura e permitem altos índices de concentração popula- prolonga de Pequim a Xangai. Essa fértil planície aluvial,
cional. A planície do Nordeste estende-se pela região his- cuja horizontalidade dificulta o escoamento dos rios, é
tórica da Manchúria. É uma área muito fértil, circundada interrompida pelo maciço de Shandong (Shantung), cuja
por montanhas antigas: o grande Khingan, no oeste; o altitude máxima no Tai Shan chega a 1,5 mil metros. A
pequeno Khingan, no norte; e os maciços de Changbai, oeste dessa vasta planície, estendem-se regiões aciden-
no sudeste. Repleto de falhas geológicas, o território é tadas, os planaltos de Shanxi (Shansi) e Shaanxi (Shensi),

119
de 1,2 mil metros a 1,6 mil metros, situados nos dois la- de matéria aluvial do rio Amarelo e do Yangzi ou Yangtze.
dos do rio Huanghe (Huang Ho ou Amarelo). Modelada Ao sul de Xangai, a costa torna-se muito rochosa, escar-
pela erosão fluvial, essa zona acha-se coberta por loess, pada e recortada, e as reentrâncias montanhosas chegam
os solos mais férteis da China, tradicionalmente usados ao próprio mar. Os acidentes litorâneos mais importantes
para a produção agrícola e intensamente povoada. Des- são as penínsulas de Liaodong e Shandong, que formam o
de os anos de 1980, essa região abriga as zonas econô- golfo de Bo ou Zhili; a baía de Hangzhou, ao sul de Xangai;
micas especiais, áreas de produção de bens de consumo a baía próxima de Cantão (Guangzhou na transliteração
destinadas à exportação. pinyin), flanqueada por Hong Kong e Macau; e a península
No sudeste, o relevo também é bastante irregular. É uma meridional de Leizhou, defronte à ilha de Hainan.
região com elevações inferiores a dois mil metros, cuja
complexidade transforma-as num obstáculo difícil de trans-
por. A altitude máxima ocorre nos montes de Nanling (1,9
mil metros). A oeste de Nanling, abre-se uma faixa mais
elevada composta de materiais calcários. Trata-se dos pla-
naltos de Yunnan e Guizhou (Kweichow), onde abundam
os fenômenos cársticos. Embora a altitude média seja in-
ferior a dois mil metros, os montes Dieqiang (Tiechiang), a
oeste, ultrapassam 3,6 mil metros.
ƒ Região noroeste – no relevo dela predominam os multimídia: livros
planaltos. O de Sinkiang divide-se em dois grandes con-
juntos por uma cordilheira que se estende em sentido China contemporânea – Thierry Sanjuan
leste-oeste: os Tianshan ou montes Celestes, cuja alti-
Reformas graduais e sistemáticas foram
tude máxima é o pico Pobedy, 7,4 mil metros. A parte
mudando a China, tornando-a uma das
norte do planalto é formada pela depressão de Dzun-
grandes potências mundiais e um país
gária, com altitude inferior a 500 metros. A parte sul de
em que todos estão mais atentos.
Xinjiang é uma grande bacia com altitudes que oscilam
entre 700 metros e 1,4 mil metros, cujo setor central
é constituído pelo deserto de Taklimaken, um dos mais
inóspitos do mundo. Rodeiam essa bacia altas mon-
1.1.1. Clima
tanhas: os montes Kunlun, no sudoeste, os Tianshan, A variedade de climas na China é determinada pela vasti-
no norte, e, no leste, os montes Altun. O planalto da dão do território, pela elevada altitude de muitas regiões
Mongólia Interior, a leste de Xinjiang, é um território que (que gera climas frios em latitudes baixas e atua como bar-
atinge mil metros de altitude média e cerca a República reira à penetração do ar marítimo) e pela circulação atmos-
Popular da Mongólia. A topografia é plana e o clima, férica (o vento do noroeste parte do anticiclone siberiano,
árido, o que explica a formação de desertos pedregosos frio e seco no inverno, e os ventos monçônicos do sudeste,
e de dunas, como os de Gobi e Mu Us. Essa região apre- quentes e úmidos no verão).
senta baixa densidade demográfica e minorias étnicas.
Na região oriental, os verões são quentes e úmidos e os
ƒ Região sudoeste – os planaltos tibetanos do sudoes- invernos, secos e frios. No nordeste da China (Manchúria)
te constituem um relevo complexo e muito acidentado, predomina o clima continental: temperaturas muito bai-
conhecido como teto do mundo. O planalto ocidental al- xas no inverno e altas no verão, com precipitações mode-
cança uma altitude superior a quatro mil metros, cercado radas em torno de 700 mm anuais. Em direção ao sul, o
de altíssimas montanhas: ao norte, os montes Kunlun, inverno torna-se menos rigoroso, com cerca de –3,5 ºC,
onde se destaca o pico Muztag, com 7,7 mil metros; em janeiro (Pequim); e os verões são quentes (27 ºC em
ao sul, o Transimalaia (ou Trans-himalaia), com o monte julho). As precipitações são abundantes na costa – mais
Gula (7,5 mil metros); e o Everest, ponto culminante do de mil mm anuais em Nanjing –, mas diminuem rumo ao
Planeta (8,84 mil metros), que faz fronteira com o Nepal. interior (600 mm/ano, em Pequim). No sudeste prevalece
No extremo oeste dos Kunlun estende-se a bacia de Qai- o clima subtropical, úmido e quente. As precipitações ori-
dam, vasta região semidesértica com altitude média de
ginadas das monções são profusas: 1,6 mil mm/ano, no
2,7 mil metros. A China anexou o Tibet em 1951. É onde
Cantão. As temperaturas são muito altas no verão – entre
nasce a maioria dos rios do sudestes asiáticos.
27 ºC e 30 ºC) – e suaves no inverno (13 ºC). No oeste, o
ƒ Região litorânea – de norte a sul, até a baía de Hang- clima fica mais seco à medida que se penetra no interior e
zhou, o litoral é baixo e arenoso, formado pelo transporte mais frio à medida que se avança para o norte – desertos

120
frios de Taklimaken, Mu Us e Gobi. No sudoeste, a altitude acentua o frio e a aridez no planalto tibetano quase desabita-
do. Os montes Tsinling, na China central, também exercem importante papel de divisor climático. Submetida a um clima
de transição entre o semiárido do norte e o subtropical do sul, essa região tem precipitações e temperaturas moderadas.

China: clima

1.1.2. Vegetação 1.1.3. Hidrografia


Determinada pelos solos e pelo clima, a vegetação chinesa é
muito variada. No nordeste, as planícies são forradas de es- Mapa: hidrografia
tepe densa e as montanhas, cobertas de bosques mistos de
coníferas, carvalhos, bordos e bétulas. Ao sul, na grande pla-
nície, o bosque natural foi substituído ao longo de milênios
por culturas agrícolas. Na China central, abundam espécies
de grande valor econômico, como o bambu, o tungue e ou-
tras árvores das quais se extraem-se óleos. Na zona tropical
do sul, são comuns as árvores de madeira rígida, semelhan-
tes às do sudeste asiático. Nas áridas regiões norte-ociden-
tais, predominam a vegetação de estepe fria e os bosques
de coníferas; nas zonas mais elevadas, a flora do tipo alpino.

Paisagens vegetais A China é banhada por numerosos rios, alguns muito cau-
dalosos, distribuídos de modo bastante irregular. A porção
oriental do país é bem irrigada pelos rios Yangzi, Amarelo
e Xijiang (Hsi Kiang), que desembocam no Pacífico. A parte
norte-ocidental, por sua vez, apresenta poucos e menos
importantes cursos fluviais. Alguns deles formam bacias
endorreicas (não deságuam no mar), como a do Tarim. Na
vertente do Pacífico, o rio mais setentrional é o Amur, que
serve de fronteira com a Rússia ao longo de mais de 1,6 mil
quilômetros, e desemboca em território russo. O Amarelo
nasce nos montes Kunlun. Em seus vales, floresceram os
primórdios da cultura chinesa. O rio Liao desemboca no
golfo de Bo, depois de percorrer 5,44 mil quilômetros. O

121
Yangzi é o curso fluvial mais longo e caudaloso: tem 6,3
mil quilômetros de comprimento, nasce no Tibet e drena
uma região habitada por centenas de milhões de pessoas.
Seus principais afluentes são os rios Huai, Han e Min. Os
rios Xijiang e Mekong terminaram no Vietnã e deságuam
no mar da China meridional. No extremo sul-ocidental da
China, na região do Tibet, nascem diversos rios que cor-
tam outras nações – Brahmaputra, Irrawaddy e Indo. Na
porção norte-ocidental, há bacias endorreicas alimentadas
por águas procedentes da fusão das neves, como no caso
da bacia do Tarim. É no rio Yang-Tsé-Kiang (ou rio Azul)
que foi construída a usina hidrelétrica de Três Gargantas, a
maior usina hidrelétrica do mundo. Sua construção foi jus-
tificada para aumentar a geração de energia; no entanto,
gerou graves impactos ambientais, principalmente porque
forçou o deslocamento de quase 1,4 milhão de pessoas.

A política oficial do governo opõe-se ao aborto ou à esterili-


zação forçada. A meta é estabilizar a população na primeira
metade do século XXI. As projeções atuais apontam para
uma população de cerca de 1,6 bilhão em 2050. A expec-
multimídia: vídeo tativa de vida é de 73,47 anos (71,61 anos para os homens
e 75,52 anos para as mulheres). Segundo o governo chinês,
FONTE: YOUTUBE
90% da população é alfabetizada e há 22 óbitos/ano infan-
Documentário: China Blue (2006) tis para cada mil crianças nascidas. Seu IDH é considerado
Documentário sobre relações de trabalho na médio (0,687 – 101º do ranking mundial); vem aumentado
China pós-globalização fala nas condições consideravelmente para 0,233 pontos em 25 anos. A popu-
subumanas de trabalho e nos desrespeitos lação chinesa está mal distribuída, com 90% da população
sofridos pelos adolescentes trabalhadores vivendo em menos de 20% de território, na região leste do
para atenderem às demandas de multinacio- país, com densidade demográfica superior a 1.000 hab./km2.
nais do ocidente.
1.2.1. Grupos étnicos e línguas
Han é o maior grupo étnico chinês; compreende cerca de
1.2. Aspectos populacionais 91,5% da população total. Ele predomina em todos os seg-
Com uma população oficialmente avaliada em 1,3 bilhão mentos da sociedade chinesa, instituições públicas, comércio
de habitantes e uma taxa de crescimento de 0,6%, a China e empresariado. Criteriosamente, eles foram espalhados no
é bastante preocupada com seu crescimento populacional país pelo governo chinês, controlando as decisões e a eco-
e vem tentado implementar uma política rigorosa de limi- nomia em geral. O restante da população está assim cons-
tituída: zhuang (16 milhões), manchu (10 milhões), hui (9
tação de nascimentos. A Lei do Filho Único foi adotada em
milhões), miao (8 milhões), uigur (7 milhões), yi (7 milhões),
1979; em 2002, foi criada a Lei de Planejamento Familiar,
mongol (5 milhões), tibetano (5 milhões), buyi (3 milhões),
que passou a permitir uma criança por família, com subsí-
coreano (2 milhões) e outras minorias étnicas.
dio para uma segunda criança, em certas circunstâncias,
especialmente nas zonas rurais, com orientações mais flexí- Existem sete dialetos chineses principais e muitos subdia-
veis para as minorias étnicas com pequenas populações. O letos. O mandarim ou chinês, falado por mais de 70% da
cumprimento dessas leis varia e depende muito “das taxas população, é o predominante. É ensinado em todas as es-
de compensação social” para evitar nascimentos extras. colas e veículo de imposição oficial das normas culturais.

122
Cerca de dois terços do grupo étnico nativo han são falantes de mandarim; os demais, concentrados no sudoeste e sudeste
da China, falam um dos outros seis principais dialetos. As línguas não chinesas faladas amplamente por minorias étnicas
incluem o mongol, o tibetano e o uigur, bem como línguas turcas – no noroeste, na região de Xinjiang – e coreano – no
nordeste, na região da Manchúria.

Grupos étnicos-linguísticos

1.2.2. Religião
Oficialmente, a maioria dos chineses é ateísta. O taoísmo
tradicional, o confucionismo e o budismo são as religiões
mais praticadas pelos chineses. Também denominado sis-
tema filosófico, o confucionismo é respeitado pelos que
se consideram ateus. A China tem cerca de 100 milhões
de budistas, 20 milhões de muçulmanos, 15 milhões de
protestantes e cinco milhões de católicos. Embora a Cons-
tituição chinesa reafirme a tolerância religiosa, de fato o
governo impõe restrições a práticas religiosas de organiza-
ções oficialmente não reconhecidas.
multimídia: vídeo
FONTE: YOUTUBE
O Último Imperador - 1987
A saga de Pu Yi (John Lone), o último impe-
rador da China, que foi declarado imperador
com apenas três anos e viveu enclausurado na
Cidade Proibida até ser deposto pelo governo
revolucionário, enfrentando então o mundo
pela primeira vez quando tinha 24 anos.
MONGES BUDISTAS NO TEMPLO, XANGAI, CHINA (2020)

123
1.2.3. Urbanização

Apesar das restrições impostas pelo governo a fim de evitar absoluta entre 1990 e 2005, por outro, a urbanização chi-
um êxodo rural desenfreado, em janeiro de 2012 foram nesa é considerada excludente e desigual.
anunciados dados revelando que, pela primeira vez em
sua história, a população urbana da China superava a po- 1.2.4. Revolução chinesa
pulação rural: 51,27%, algo em torno de 700 milhões de
A China sempre foi um importante mercado consumidor
pessoas. Estimativas oficiais dão conta de que 300 milhões
e fornecedor de produtos ao Ocidente (seda e chá), ou
de pessoas devem migrar das zonas rurais para as áreas
urbanas nas próximas décadas. seja, o território chinês por muito tempo esteve tomado
pela presença estrangeira. Entretanto, o comércio com a
China era deveras difícil, pois os chineses consideravam
os ocidentais como bárbaros e não se interessavam tanto
pelas suas mercadorias. Os ingleses, por sua vez, também
não se conformavam com o pequeno volume de venda
dos chineses e, por isso, voltaram-se para o comércio
do ópio, proibido na China desde 1729, pois o ópio era
tradicionalmente usado como remédio, mas passou a ser
usado como droga.
O contrabando de ópio pelos ingleses corresponderia à
metade do total das exportações chinesas, ou seja, acabou
enriquecendo a Companhia das Índias Orientais, diminuin-
do a carga de outros produtos.
ATÉ 2030, CERCA DE 300 MILHÕES DE CHINESES
DEVEM RADICAR-SE NAS CIDADES. Em uma ocasião, o governo imperial chinês apreendeu um
carregamento de ópio e jogaram-no no mar. A Grã-Breta-
A modernização estrutural do país não é um fato em todo
nha, alugando prejuízos, iniciou uma série de retalhações
o território chinês, que ainda precisa redistribuir a renda
que culminaram nas Guerras do Ópio.
conquistada em três décadas de crescimento econômico
acentuado. Se, por um lado, a ONU reconhece que o núme- A primeira guerra aconteceu em 1840, quando os chineses
ro de pessoas consideradas muito pobres na China – que foram derrotados pelos britânicos e, em 1942, a China se
vive com menos de US$ 1 ao dia – diminuiu muito, com a viu obrigada a assinar o tratado de Nanquim, onde teve
retirada de 475 milhões de pessoas da zona de pobreza que pagar indenização cedendo Hong Kong aos ingleses.

124
Pelo tratado de Tientsin (1958), os chineses acabaram por selaram uma aliança para combater um inimigo comum: o
fazer concessões à França, Grã-Bretanha, Rússia e EUA Japão, que invadiu a Manchúria, em atos que antecederam
para a abertura de novos portos ao comércio, já que os a Segunda Guerra Mundial.
chineses admitiram a livre importação do ópio. A crescente
Durante o combate aos japoneses, os comunistas aumen-
influência ocidental no território chinês provocou reações
taram seu efetivo militar e territorial, promoveram a refor-
dos nacionalistas e, em 1910, os chineses nacionalistas
ma agrária nas terras conquistadas e ganhavam apoio e
fundaram o Kuomitang (Partido Nacionalista) e passaram
simpatia da população, em sua maioria, de áreas rurais.
a combater não só a presença estrangeira, como também
o fraco e cambaleante império. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, as tropas japone-
sas, derrotadas e enfraquecidas, renderam-se, e a aliança
Já nos anos de 1920, outra frente de resistência surgia: os
entre nacionalistas e comunistas também teve seu fim. A
comunistas, organizados em torno do recém- -criado Partido
partir daí, entraram numa guerra civil que durou de 1945
Comunista Chinês, o PCC, sob a liderança de Mao Tsé-Tung.
a 1949, com a vitória dos comunistas, que fundaram a Re-
De 1934 a 1935, o Kuomitang iniciou um cerco aos co- pública Popular da China, pondo fim a quase 5 mil anos de
munistas, que fugiram em direção ao norte, num episódio império. Os nacionalistas, liderados por Kai-Shek, fugiram
conhecido como A Grande Marcha, que trouxe uma ex- para Ilha de Formosa (Taiwan), onde fundaram a República
pressiva notoriedade aos comunistas e seu líder. Em 1931, Nacionalista da China, que até então não reconhecida pela
nacionalistas, liderados por Chiang Kay-Shek, e comunistas China continental.

1.2.5. China comunista


Guerra Civil chinesa - fase final (1947-1949)

Territórios conquistados pelos


comunistas chineses em:
Abril de 1947
Julho de 1948
Outubro de 1949
Avançado do exército
popular chines
Núcleo comunista
Capitais do governo
nacionalista chines
Ocupação soviética
Ocupação americana

Vitorioso em 1949, o Partido Comunista Chinês, liderado por 1935 por Chou En-lai, propunha uma nova linha geral de
Mao Tsé-Tung, aproximou-se da União Soviética pelo Trata- transição para o socialismo, priorizando a indústria pesada.
do de Amizade, Aliança e Ajuda, com o presidente Josef Stá- Em 1955, foi acelerada a coletivização da agricultura,
lin. Internamente, o novo governo adotou amplas medidas, com a organização de um milhão de cooperativas. Era o
como a nacionalização das indústrias e a reforma agrária, fim do capitalismo, quando se implantaram as três trans-
em que grandes propriedades foram confiscadas pelo Esta- formações socialistas básicas: expropriação da burguesia
do e redistribuídas entre os camponeses. Anterior ao gover- industrial, expropriação do comércio urbano e instalação
no comunista, o primeiro plano quinquenal, anunciado em do movimento cooperativo no campo.

125
A mobilização da população foi geral. Até intelectuais e es-
tudantes foram conclamados a trabalhar no campo. Entre-
tanto, mesmo com um crescimento de 65% da produção
rural, dificuldades obrigaram a correções de rumo. O pro-
jeto Grande Salto teve resultados limitados. A interferência
soviética no processo de desenvolvimento chinês não era
visto com bons olhos aos membros do PCC. A amizade du-
rou pouco tempo. A chamada crise Sino-Soviética culminou
em 1960 no rompimento das relações entre os dois países.
Mao Tsé-Tung sofreu algumas derrotas nas disputas inter-
nas do PCC e foi afastado da presidência em 1958. O re-
torno de Mao, que nunca aceitou a derrota, aconteceu em
EM 1º DE OUTUBRO DE 1949, MAO TSÉ-TUNG PROCLAMOU A 1966, num movimento que ficou conhecido como Revo-
FUNDAÇÃO DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA, EM PEQUIM.
lução Cultural, processo que conduziu as massas contra
Apesar de a produtividade industrial ter crescido 400% en- os opositores, com reorientações ideológicas e doutrinárias
tre 1949 e 1959, os salários só aumentaram 52%. Aos pri- tanto da população chinesa, como dos próprios membros
meiros sintomas de que o desenvolvimento socialista estava do partido. Esse processo foi marcado pela extrema violên-
aquém das exigências sociais e ameaçava o governo do Par- cia e perseguição aos opositores.
tido Comunista, Mao Tsé-Tung proclamou uma liberalização Após seu retorno, e praticamente sem nenhum opositor
interna. E em maio de 1956: “que cem flores desabrochem, interno, Mao iniciou sua política interna e externa, com
que cem escolas de pensamento rivalizem entre si”. princípios marxistas. No final da década de 1960 e início
As críticas contra o governo cresceram. O Movimento das de 1970, a China já possuía a bomba atômica e lançou
Cem Flores intensificou-se, levando o governo a reagir com ao espaço seu primeiro satélite artificial, reafirmando os
uma ofensiva campanha antidireitista, que levou milha- avanços na tecnologia. Com a morte de Mao Tsé-Tung,
res de pessoas à prisão. Mao justificou-se dizendo que a em 1976, a China entrava numa nova era.
Campanha das Cem Flores objetivava “fazer as serpentes
saírem de suas tocas”. 1.2.6. China pós-Mao
Iniciado como um processo de democratização, o Mo- Em fins de 1976, Hua Kuofeng assumiu o governo chinês
vimento das Cem Flores acabou reforçando o poder do e imprimiu-lhe uma linha política de centro. Os partidários
Partido Comunista Chinês. Em agosto de 1957, decidiu-se de Chiang Ching (esposa de Mao Tsé-Tung) foram toma-
pelo programa de reformas chamado Grande Salto para dos como de extrema esquerda e os de Deng Xiaoping, de
Frente que, ao investir em subsídios econômicos para a direita. Em 1977, Deng Xiaoping foi reabilitado. À medida
agricultura, confirmava o predomínio da base camponesa que se deu sua ascensão no PCC, o grupo de Chiang Ching
do socialismo chinês. foi marginalizado, perseguido, preso e julgado, em 1981.
Enquanto Chiang era condenada como responsável pelos ex-
cessos da Revolução Cultural, Deng Xiaoping, agora líder do
governo chinês, iniciava o período de desmaoização do país,
afastando seus adeptos do governo.

CARTAZ DO MOVIMENTO DAS CEM FLORES (1957) DENG XIAOPING E JIMMY CARTER, PRESIDENTE DOS EUA. JANEIRO DE 1979.

126
A prioridade do governo Deng era as quatro moderniza- sem alteração a estrutura política, a situação de “uma pe-
ções: da agricultura, da indústria, da defesa e das áreas de restroika sem glasnost”, fortalecendo a incógnita do rumo
conhecimento. Essas medidas atraíram para a China uma histórico chinês para o final do século XX e início do XXI.
imensa onda de investimentos externos, fazendo com que
o país intensificasse o início da reversão agrária maoísta.
Na década de 1980, chegou a ter uma população rural
abaixo de 80%. Entre 1980 e 1995, atraiu muitos investi-
mentos estrangeiros, que chegaram a superar 170 bilhões
de dólares.
No final de 1995, enquanto a China apresentava uma
população próxima de 1,2 bilhão de habitantes, seu PIB
alcançava 2,8 bilhões de dólares, consolidando um cres-
cimento econômico superior aos 10% anuais. Da mesma MANIFESTANTE POSTA-SE DIANTE DE TANQUES
NA PRAÇA DA PAZ CELESTIAL, EM JUNHO DE 1989.
forma, as reservas de divisas do país alcançavam um vo-
lume recorde de 58 bilhões de dólares, confirmando o de-
sempenho exportador. 1.2.7. A questão do Tibet
Mesmo atraindo a atenção mundial para seu progresso, A partir de 1949, a China aderiu ao comunismo como re-
nem tudo era estabilidade. A disparidade do desenvolvi- gime político-econômico. No ano seguinte, anexou ao seu
mento entre as províncias somava-se à inflação decorren- território o Tibet, cuja autonomia passou a ser controlada
te dos subsídios às empresas estatais, que dominavam a pela China.
metade da economia e sugavam quase 40% dos recursos O Tibet fica a sudoeste da China. Seus habitantes sempre
do governo. O crescimento da inflação bateu os 25%, em foram adeptos do budismo. Naquela oportunidade, viviam
1994. Em meio às medidas saneadoras, buscava-se um de- sob a liderança político-religiosa do supremo Dalai Lama.
créscimo inflacionário que foi alcançado nos anos seguin-
tes. Somando-se às dificuldades financeiras, a ineficiência
burocrática era acompanhada de corrupção e desperdícios
até se tornar o inimigo principal, oficialmente declarado
pelo governo. Era indispensável e necessária a estabilidade
exigida para o desenvolvimento.
Permaneciam, no entanto, duas incógnitas para a conti-
nuidade do desenvolvimento chinês: primeiro, a sucessão
de Deng Xiaoping por novas lideranças, afinadas ou não
com a continuidade da integração ao capitalismo globali-
zado; e segundo, a inerente contradição entre a abertura
econômica sem a correspondente abertura política. Jun-
tadas aos efeitos de uma economia de mercado, buscava-
-se mesclar o socialismo às necessidades do capitalismo, DALAI LAMA, LÍDER ESPIRITUAL E POLÍTICO DO TIBET
se é que tal combinação seria possível, ao lado do cresci-
mento das desigualdades sociais. Em 1950, os monges tibetanos revoltaram-se contra a do-
Confirmando a tendência capitalista, as pressões pela li- minação chinesa. O resultado foi um grande fracasso, e os
beração política na China foram bastante expressivas na revoltosos foram arrasados pelas tropas inimigas. Depois
década de 1980, cujo ápice foi em abril de 1989 com a disso, o líder espiritual Dalai Lama foi forçado a se retirar
ocupação, pelos que reivindicavam a democratização do do país, quando se exilou na Índia.
país, da Praça da Paz Celestial, em Pequim. Como um novo Recentemente, não faltam apoios dos organismos inter-
“assalto ao céu”, busca do paraíso socialista, exigia-se li- nacionais para a consolidação da independência do Tibet,
berdade de manifestação e de imprensa, num movimento ainda sem sucesso, uma vez que ela feriria interesses da
liderado por estudantes. O governo sufocou o movimento China na região.
à força. Em 1989, o líder budista Dalai Lama recebeu o Prê-
Nos anos 1990, a China ampliou sua remodelação eco- mio Nobel da Paz, o que reacendeu e estimulou a
nômica iniciada no governo Deng Xiaoping, mas manteve luta pela independência.

127
1.3. Aspectos econômicos Entretanto, muitas vezes, as leis locais exigem de uma mega
empresa internacional que se instale na China, que adquira
Durante muito tempo, a China manteve as portas de seu seus componentes dos fornecedores locais. Outra questão
mercado fechadas para a inserção de capitais estrangei- importante é que, em todos os setores, tem liberdade para
ros, fato proveniente do regime socialista adotado no país. repartir os lucros obtidos na China, isto é, parte dos ganhos
Porém, desde os anos 1970, o sistema capitalista vem se deve ser reinvestido no próprio território chinês.
apropriando da China por opção própria. Com a abertura
do mercado para o capitalismo mundial, houve crescimen- Negócios chineses no exterior
to da industrialização, com aumento, sobretudo, da produ- Fusões e aquisições por capital chinês
ção de bens de consumo. Valor dos negócios Número
- US$ bilhões negócios
O acelerado desenvolvimento industrial da China fez com
que o país se tornasse um dos maiores produtores de bens 2005 9,595 51
industrializados do mundo, somados a fatores determinan- 2006 20,892 105
tes para isso: implantação de zonas econômicas especiais, 2007 30,994 173
onde foram concedidas permissões para a entrada de capi- 2008 50,265 243
tais estrangeiros. Ao longo destas zonas, criaram-se áreas 2009 37,257 261
de livre comércio, medida adotada em decorrência de leis 2010 51,010 326
de incentivo, como redução parcial ou total de impostos. 2011 61,244 404
Fonte: Dealogic

China: regiões econômicas


Em virtude das opções e forma como se organiza a econo-
mia chinesa, vários pesquisadores, analistas e profissionais
ligados à economia consideraram a China um país capita-
lista, se bem que sob rigorosa intervenção do Estado (eco-
nomia planificada).
Essa nova configuração da economia chinesa já apresenta
significativas mudanças no espaço geográfico do país, alte-
rações na vida de seus habitantes, como substituição da bi-
cicleta por carros, construção de shopping-centers, alteração
de hábitos alimentares e do modo de vestir da população.
O crescimento industrial vem proporcionando uma relati-
va melhoria na qualidade de vida da população: melhores
condições de moradia e de alimentação e acesso ao con-
sumo, especialmente de eletrodomésticos.
Cada vez mais, o povo chinês vem assumindo atitudes
consumistas: uso crescente do cartão de crédito, celular e
CENTRO DE DECISÃO, INOVADA MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS
carro, o que lhe confere status social.
E FORTE INDUSTRIALIZAÇÃO FRENTES PIONEIRAS
PERIFERIA AGRÍCOLA INTEGRADA ZES-ZONA ECONÔMICA ESPECIAL Em busca de melhores qualidades de vida que a cidade mos-
ÁREA DE INVESTIMENTO
PERIFERIA POUCO DESENVOLVIDA ESTRANGEIRO MACIÇO trava proporcionar, milhões de pessoas deixavam o campo.
CONFLITOS DE INDEPENDÊNCIA
A LESTE DA LINHA, 90% DA
POPULAÇÃO DO PAÍS
OU GUERRILHAS
FROTA NORTE-AMERICANA
Esse crescimento urbano acelerado e desordenado acabou
ELABORAÇÃO: SIMIELLI, 2009, com dados de Ouid 2005, BOUVET, 2004
e O Estado de SP, fev 2007 c 2009, M.E.Simielli
gerando problemas tanto ambientais (como poluição do ar
e aumento da produção de esgoto), como também sociais
(aumento das desigualdades, violência e crimes).
A redução de impostos por parte do governo tem como
objetivo atrair investimentos e inovações tecnológicas de A China vem passando por profundas transformações eco-
países desenvolvidos. Os principais investidores nas ZEE nômicas e sociais. A industrialização ocorrida nas últimas
foram os japoneses e os estadunidenses. Soma-se a esses décadas, assim como a crescente urbanização, elevou a de-
incentivos o fator tributário, a abundante e barata mão de manda por alimentos e vem forçando o país a preocupar-se
obra, cuja exploração não está sujeita à regulamentação cada vez mais com sua segurança alimentar. Devido à sua
e o enorme potencial de mercado interno (1,3 bilhão de estrutura fundiária, grande parte do meio rural chinês ainda
pessoas) e leis ambientais frágeis. encontra dificuldades de expandir sua produção a partir dos

128
ganhos de escala derivados de processos de modernização anos 2000, o ingresso da China na Organização Mundial
tecnológica. Essa realidade, associada a problemas ambien- do Comércio (OMC) permitiu uma maior participação do
tais, como a poluição e a escassez de água, tem levado a país no comércio mundial de produtos agrícolas. Entre
China a reformar suas políticas agrícolas, assim como a 2001 e 2008, as exportações e importações desses pro-
buscar alianças internacionais relacionadas ao agronegó- dutos cresceram, respectivamente, 170% e 225%. Du-
cio. Contudo, mesmo a um custo significativamente mais rante esse período, buscando assegurar a disponibilidade
elevado, a China tem conseguido manter níveis adequados interna de alimentos, a China inverteu o saldo de sua ba-
de autossuficiência alimentar, acima de 95%. Nesse contex- lança comercial, passando de exportadora à importado-
to, vislumbram-se oportunidades para o Brasil que podem ra de alimentos. Contudo, a despeito do crescimento da
auxiliar a implementação de estratégias direcionadas a um produção e da importação de alimentos, as mudanças de
comércio internacional qualificado e mais integrado às prin- hábitos decorrentes da rápida urbanização impactaram
cipais cadeias do agronegócio chinês. negativamente o valor nutricional ingerido pelos agricul-
É frequente a caracterização da China como um país de tores chineses. Recente análise dos nutrientes consumi-
dimensões superlativas, e, no caso da agricultura, esse ad- dos pelas populações rurais de 30 regiões chinesas, entre
jetivo também é válido. Entre as culturas que apresentam 1998 e 2010, concluiu que os gastos com bens não ali-
significância para o Brasil, o país asiático é o maior produtor mentícios e a manutenção da propriedade rural colabora-
mundial de arroz e fumo, o segundo maior produtor de trigo ram para a redução do consumo de calorias e proteínas
e milho e o quarto maior produtor de soja. No início dos por essas populações.

Nível de vida e abertura econômica na China

Outro aspecto a sublinhar é que foi apenas em 2008 que um significativo número de idosos e crianças que não re-
a maioria da população mundial passou a viver no meio alizaram o êxodo rural, denominados pela literatura espe-
urbano. Essa mudança foi percebida há algumas décadas cializada como um contingente “deixado para trás”. O go-
nos países industrializados, mas é uma realidade nova para verno chinês tem demonstrado preocupação em diminuir a
alguns países em desenvolvimento. A população brasileira diferença na renda per capita entre as populações urbanas
deixou de ser predominante rural em 1964, porém o mes- e rurais também como forma de extenuar as forças moto-
mo ocorreu na China somente em 2011. Atualmente, 12 ras de um êxodo rural despropositado de efetivo sentido
das 31 regiões da China ainda apresentam uma popula- econômico e geográfico. Têm-se buscado também formas
ção predominantemente rural. O recente e intenso êxodo de elevar indiretamente a renda dos produtores agrícolas,
rural chinês provocou uma drenagem da força de trabalho principalmente através de serviços públicos relacionados à
para o setor industrial, fato que pode ter colaborado para educação e à saúde, assim como investimentos na infraes-
uma relativa perda de vitalidade da agricultura no país. A trutura viária no meio rural.
migração do campo para a cidade acabou gerando pro- Objetivos como o de diminuir as diferenças entre a vida
blemas sociais urbanos e rurais complexos. No campo, por no campo e na cidade, assim como a promoção da mo-
exemplo, é relatada a apreensão quanto à existência de dernização da agricultura chinesa, são peças fundamentais

129
do New Socialist Countryside, implementado na primeira internacional e na geografia mundial da agricultura. Em
década dos anos 2000 pelo Governo Central chinês. Outro razão desse tipo de política distorciva ao comércio, terras
elemento que sugere haver uma grande preocupação com menos férteis podem passar a ser utilizadas, fato que ele-
a situação do meio rural chinês é o conteúdo do 13° Pla- varia, mais que proporcionalmente, a demanda mundial
no Quinquenal, lançado em março do ano passado e que por fertilizantes e agroquímicos. Estudos têm mostrado
guiará os rumos do país asiático até 2020. Gradualmen- que o comércio internacional de alimentos deve conside-
te, a cada plano quinquenal, observam-se o abandono do rar, além dos valores monetários, a quantidade de terra e
padrão de crescimento econômico induzido pelas exporta- água implícita nessas transações. Argumenta-se que uma
ções e pautado na terra, na mão de obra e em investimen- agricultura efetivamente globalizada otimizaria o uso dos
tos e a adoção de um novo paradigma de desenvolvimento recursos naturais no mundo.
orientado ao consumo doméstico.
No caso da China, as políticas de preços mínimos e com-
O atual plano quinquenal prevê uma série de instrumentos pras governamentais têm gerado problemas para a admi-
que buscam, além de elevar a renda no campo e moder- nistração central do país. Além dos frequentes questiona-
nizar a agricultura de maneira ecologicamente sustentável, mentos quanto à qualidade de seus estoques, é latente
a promoção de uma urbanização controlada de deter- a dificuldade administrativa de armazenar quantidades
minadas regiões, principalmente no noroeste, através da cada vez maiores de grãos. No caso do milho, por exem-
ampliação das permissões de residência urbana (hukou). O plo, o estoque equipara-se à produção anual brasileira.
plano busca também dar novo sentido migratório para a já Dado o gigantismo relacionado a quase tudo na China,
saturada costa leste, onde os migrantes geralmente traba- esse problema, aparentemente restrito ao País, tem gera-
lham em condições precárias e sem direitos sociais básicos. do incertezas quanto às reais necessidades alimentícias
Esse fluxo demográfico permitirá que 100 milhões de chi- chinesas que se refletem em volatilidades nos preços in-
neses rurais se estabeleçam em cidades até 2020. É prová- ternacionais e pressões sobre as fronteiras agrícolas de
vel que esse fluxo migratório reproduza alguns padrões já seus parceiros comerciais.
verificados na contemporaneidade chinesa para esse tipo
À guisa de conclusão, destaca-se que a magnitude e o rápi-
de transição, principalmente a ocidentalização de hábitos
do crescimento do mercado chinês já constituem razão su-
alimentares. Dessa forma, pode-se inferir que, durante esse
ficiente para os setores público e privado brasileiros, espe-
período, haverá uma maior demanda por alimentos pro-
cialmente os relacionados ao agronegócio, permanecerem
cessados, carnes e lácteos, assim como uma maior procura
atentos à realidade econômica e social da China. Esse país
por refeições realizadas fora dos domicílios.
tem demonstrado competência em sua tarefa de garantir
A elevação da renda dos trabalhadores rurais através da segurança alimentar e bons níveis de autossuficiência ao
adoção de políticas públicas, notadamente os subsídios longo dos últimos anos. O Brasil, parceiro comercial indis-
agrícolas, pode afetar o preço internacional dos alimen- pensável para a China, precisa ter profundo conhecimento
tos, sobretudo quando a política é aplicada por um país da realidade rural do país asiático, pois é bastante provável
grande como a China. Em 2000, os subsídios representa- que as melhores oportunidades emergirão a partir de fa-
vam 2,77% de toda receita agrícola chinesa, subindo para lhas nos planos chineses para esse setor. A China, cuidado-
21,34% em 2015. No entanto, a China já encontra resis- sa e pragmática em suas decisões, tem procurado assegu-
tências para a continuidade dessa política de subsídios. rar que o Brasil tenha condições de permanecer provendo
No dia 13 de setembro de 2016, os Estados Unidos noti- sua cota necessária para a segurança alimentar chinesa. É
ficaram a OMC de que iniciaram procedimentos de litígio o que sugerem, por exemplo, os recentes investimentos no
contra a China relativamente às medidas de apoio interno Brasil da estatal chinesa de alimentos Cofco. Protocolos de
ao setor agrícola. As medidas dizem respeito aos subsídios intenção de investimentos na infraestrutura brasileira tam-
concedidos pela China, especialmente para o trigo, o arroz bém denotam a preocupação chinesa com os requisitos
e o milho. brasileiros para continuar sendo um parceiro indispensável
e estratégico.
Atualmente, os subsídios agrícolas assumem variadas for-
mas, podendo ser concedidos aos produtores como con- No que diz respeito aos subsídios, é provável que a China seja
trapartida da produção agropecuária ou como forma de forçada a realocá-los de maneira a enquadrá-los dentro da
garantia de uma renda agrícola básica, independentemen- chamada “Caixa Verde”, classificação da OMC para as medi-
te da produção realizada. Quando, por exemplo, um país das que geram impactos mínimos nos preços e no comércio
garante a compra de parcela da produção e fixa preços internacional. A União Europeia e os Estados Unidos levaram
mínimos, dependendo do tamanho da produção do país, muitos anos para realizar a adaptação de seus subsídios den-
essa política pode gerar uma série de distorções no comércio tro da Caixa Verde. O Brasil, país com histórico protagonismo

130
na OMC, mesmo contrário à política de subsídios, tem po- movimento de caráter social – greves, manifestações, dis-
tencial para apresentar-se como aliado chinês nesse quesito, cursos oposicionistas. Caso ocorra, é rigorosamente inter-
principalmente devido às semelhanças entre a pobreza rural ceptado pelo uso da força.
chinesa e a brasileira. Portanto, toda forma de relacionamen-
No âmbito internacional, a China está obtendo mais força
to de alto nível, como o grupo do BRICS – Brasil, Rússia, Índia,
e participação nas decisões políticas, tanto que levou o país
China e África do Sul –, deve ser utilizada com sagacidade
a usufruir o direito de ocupar uma cadeira permanente no
pelo Brasil. É pouco provável que a China formalize algum
Conselho de Segurança da ONU.
tipo de ruptura com as regras da OMC, mas é possível que ela
precise de parceiros fortes para que as negociações agrícolas Seu potencial militar tem contribuído para o incremento des-
nessa instituição não a forcem a absorver constrangimentos sa influência internacional; detém um exército e um diver-
externos indesejáveis para o seu plano doméstico. sificado arsenal bélico numerosíssimos – bombas atômicas
e mísseis. Domina tecnologias espaciais e fabrica satélites
Outra possível brecha que pode abrir-se para o agronegócio
artificiais e foguetes. Tais fatores indicam que a China tem
brasileiro está relacionada aos custos inerentes à produção
todos os requisitos para se tornar a maior potência mundial.
agrícola ecologicamente sustentável e de baixo carbono
proposta pelo atual plano quinquenal chinês. A expansão
agrícola chinesa necessária para atender sua demanda
crescente, assim como as mudanças de hábitos alimentares
oriundas de processos de urbanização e elevação de renda,
exigirá ainda mais de seus escassos recursos naturais, no-
tadamente terra arável e água. O Brasil tem condições de
produzir essa cota adicional de alimentos para o povo chinês
a um custo ambiental significativamente menor.

1.3.1. A China como potência mundial


TERRAÇOS DE ARROZ, YUNNAN, CHINA

Estudos apontam que, no século XXI, a China será essa


potência; perspectiva alicerçada nos índices de crescimento
econômico e no potencial político e militar do país.
Produção mineral chinesa: petróleo, chumbo, fósforo, tun-
gstênio, antimônio, molibdênio, manganês, estanho, carvão,
zinco, minério de ferro e bauxita; pecuária: aves, ovinos, ca-
prinos, suínos, bovinos, equinos, camelos e búfalos; indus-
trial: siderurgia, equipamentos eletrônicos, têxtil, automotiva,
fertilizantes químicos, alimentos processados, telecomunica-
ções, construção; e agrícola: arroz, milho, soja, cana-de-açú-
car, tabaco, milho, batata, batata-doce, legumes e verduras.
Apenas 7% do território chinês são cultiváveis.
A saga chinesa para alcançar o domínio mundial vai além
Atualmente, a China é o país que mais cresce no mundo, o da esfera econômica. Até 2020, a China pretende competir
que lhe confere uma posição de destaque no cenário geo- diretamente com o GPS, o que acabaria com a sua depen-
político mundial. Vem exercendo influência política, militar e dência no sistema americano. Já no começo do ano que
econômica no cenário regional e internacional graças a fa- vem, o Beidou, como o sistema chinês está sendo chama-
tores determinantes, como grande extensão de seu território do, promete funcionar sob uma rede de 30 satélites, che-
– o terceiro lugar em dimensão –, elevadíssimo número de gando a 35 em 2020.
habitantes – cerca de 1,3 bilhão, o mais populoso do mundo
O crescimento notável da China tem chamado a atenção de
– e dinamismo econômico – maiores índices de crescimento.
muitos analistas. Alguns se preocupam que os chineses não se
Sua política interna está vincula a uma extrema centrali- tornarão “jogadores globais”, uma vez que atingirão um sta-
zação do poder e sob domínio do único partido político, tus de domínio econômico. Essas preocupações vêm do fato
o Partido Comunista, que coíbe todo e qualquer tipo de de que a China ainda mantém um regime antidemocrático.

131
VIVENCIANDO

O Museu da Imigração do Estado de São Paulo é uma instituição pública vinculada à Secretaria de Estado da Cultura
de São Paulo. Está localizada na sede da extinta Hospedaria dos Imigrantes, na rua Visconde de Parnaíba, 1316, no
tradicional bairro da Mooca, na cidade de São Paulo. O museu possui forte tendência a ser um ponto turístico alta-
mente frequentado por pessoas de dentro e de fora da capital paulista.
O edifício é um patrimônio histórico tombado devido a sua importância para compreender os fluxos de imigração
no país. Por sua vez, o museu vem aprimorando seu trabalho, criando oportunidades para que seu público entre
em contato cada vez mais com as diferentes influências que compõem o cenário cultural das cidades. Os primeiros
chineses ingressaram no Brasil, no início do século XIX, motivados pelo desejo de Dom João VI de introduzir a cultura
de chá no país. Em 1812, o navio Vulcano chegou ao Rio de Janeiro com mais de 300 chineses cultivadores de ervas
da Província de Hubei, conhecida pela cultura do chá-verde, trazendo mudas e sementes de Macau para a fazenda
da família imperial, local em que hoje se encontra o Jardim Botânico Real. Os imigrantes foram registrados no Brasil
com nomes portugueses e cristãos, e não com seus nomes originais. Ainda que o cultivo do produto tenha sido
considerado um fracasso, muitos trabalhadores chineses se levantaram diante das condições de trabalho precárias e
outros tantos fugiram e se mantiveram na cidade como vendedores ambulantes ou cozinheiros.

ÁREAS DE CONHECIMENTO DO ENEM

Habilidade
7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Para a Geografia, os espaços são “controlados”, caracterizados por territórios estabelecidos por Estados nações
(área/fronteira de soberania, onde se pode aplicar a política local, por exemplo) e que apresentam características
distintas, como o idioma, religião (que se encontra atualmente em dispersão, porém, em alguns espaços, apresen-
ta-se com maior nitidez), gastronomia, hábitos, cultura de forma geral, historicidades etc. Para o historiador Eric
Hobsbawm, essas características são classificadas como critérios objetivos da existência da nacionalidade, ou forma
de explicar porque certos grupos se tornam “nações e outros não (identidade em comum)”.
Nessa ação concreta de controle, produção e significação do espaço pelos sujeitos sociais que as constroem, há um
entrecruzamento entre múltiplas dimensões, como a econômica, a política e a cultural.

132
Modelo
(Enem) No início de maio de 2014, a instalação da plataforma petrolífera de perfuração HYSY-981 nas águas contes-
tadas do mar da China meridional suscitou especulações sobre as motivações chinesas. Na avaliação de diversos ob-
servadores ocidentais, Pequim pretendeu, com esse gesto, demonstrar que pode impor seu controle e dissuadir outros
países de seguir com suas reivindicações de direito de exploração dessas águas, como é o caso do Vietnã e das Filipinas.
KLARE, M.T. A GUERRA PELO PETRÓLEO SE JOGA NO MAR. LE MONDE DIPLOMATIQUE BRASIL, ABR. 2015.
A ação da China em relação à situação descrita no texto evidencia um conflito que tem como foco o(a):
a) distribuição das zonas econômicas especiais. d) jurisdição da soberania territorial.
b) monopólio das inovações tecnológicas extrativas. e) embargo da produção industrial.
c) dinamização da atividade comercial.

Análise expositiva - Habilidade 7: A China disputa com outros países asiáticos, como Vietnã, Filipinas e
D Malásia, várias ilhas no mar da China meridional, entre as quais as ilhas Paracel. Constituem importantes
litígios territoriais na atualidade. Trata-se de uma disputa por território, importantes rotas de navegação
e recursos naturais, como petróleo e gás natural, na região. A instalação pela China de uma plataforma
petrolífera na região e a construção de ilhas artificiais têm causado tensão geopolítica na região.
Alternativa D

DIAGRAMA DE IDEIAS

CHINA

ASPECTOS
FÍSICOS

CLIMA HIDROGRAFIA

• DESÉRTICO IMPORTANTE HIDRELÉTRICA


• CONTINENTAL (TRÊS GARGANTAS)
• TEMPERADO
• TROPICAL
ASPECTOS
SOCIOECONÔMICOS

QUESTÕES POTÊNCIA
DEMOGRAFIA CHINA PÓS-MAO
SEPARATISTAS (TIBET) EMERGENTE (BRIC)

• PAÍS MAIS POPULOSO


• PREDOMINANTEMENTE
URBANO
• DIVERSIDADE ÉTNICA

133

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