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O Despertar

Machado de Assis é um dos maiores escri-


tores brasileiros e Dom Casmurro é um dos
seus romances mais conhecidos. Aclamado
pela crítica e pela academia, Dom Casmurro é
uma obra muito lida no nosso país, no entan-
to, há uma distorção na interpretação desta
obra.

Quando lemos este livro na escola, somos


direcionados a interpretá-lo a partir da ótica
“traiu ou não traiu”. Quantos não fizeram peças
baseadas em Dom Casmurro discutindo a trai-
ção de Capitu? Quantos de nós não apresenta-
ram trabalhos sobre isso nas escolas? Quan-

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O Despertar

tos não acharam que o livro se resume a esta


questão?

Acontece que este é um erro monumental.

O romance de Machado conta com um narra-


dor em primeira pessoa. Bentinho, ou o Dom
Casmurro, nos conta a história da sua vida.
Então, todos os outros personagens da trama
são personagens de “criação indireta”, ou seja:
eles não se apresentam para nós a partir de
um narrador imparcial.

Pelo contrário: eles somente surgem para nós


a partir do que Bentinho quer narrar.

Portanto, todas os fatos, observações, carac-


terísticas, diálogos, cenas, cenários, reflexões,
comentários e digressões são obras da mente
de Bentinho. Nós não conhecemos Capitu ver-
dadeiramente. Conhecemos a Capitu de Benti-
nho. Conhecemos a Capitu que Bentinho quer
que conheçamos.

É por isso que a questão “traiu ou não traiu”


é insolúvel, pois não temos uma perspectiva
imparcial para julgar a veracidade dos fatos. E
se esta é uma questão insolúvel, pensar muito
sobre ela é perda de tempo.

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O que podemos refletir sobre a obra, então?

O primeiro ponto é o auto-engano. Bentinho,


no início da obra, diz que perdeu o fio da mea-
da da sua vida e deseja recontar a sua história
neste livro. Na medida em que ele narra, sur-
gem incongruências, contradições, mentiras,
ocultações... O que só prova o seguinte: Benti-
nho estava enganando a si mesmo.

Percebendo que sua vida foi um fracasso, ele


tenta colocar a culpa em outras pessoas: sua
mãe, seu amigo, sua esposa, seu filho... Desta
forma, ele mente para si mesmo sobre a sua
própria história.

Outro ponto fundamental da obra são as pro-


messas não cumpridas. Lembrem-se que a
história se inicia com o conflito da mãe de
Bentinho, D. Glória, tendo que cumprir sua
promessa para Deus de que seu filho seria Pa-
dre. Mas isto não acontece. Da mesma forma
como Bentinho não reza quantidade de ora-
ções que prometeu a Deus. Da mesma forma
em que José Dias descumpre o acordo com D.
Glória. Da mesma forma que Bentinho e Capi-
tu não são fiéis às promessas que fizeram uns
aos outros.

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Assim como a promessa não cumprida e o


autoengano, o ciúme é um tema muito impor-
tante do livro.

Bentinho, desde cedo, era um rapaz ciumento.


Qualquer movimento que Capitu fizesse era
suspeito. Já existe, sobre ela, uma fama de dis-
simulada, o que gera ainda mais desconfiança.
No entanto, Bentinho em certo momento do
livro começa a sentir atração pela esposa do
seu amigo Escobar.

E, logo depois, ele passa a dizer que era Esco-


bar que se atraía por Capitu.

Bentinho, em sua confusão mental, acaba pro-


jetando os seus próprios erros nos outros e
faz isso durante toda a história. Portanto, Dom
Casmurro não é uma obra apenas sobre uma
possível traição. Ela fala sobre o autoengano,
as promessas não cumpridas, uma vida de
fracassos, o ciúme, a mentira, a desilusão.

Quantas vezes não mentimos para nós mes-


mos? Quantas vezes não nos deixamos levar
por uma ideia torta da nossa cabeça? Quan-
tas vezes não entramos num emaranhado de
mentiras? Dom Casmurro não é um livro so-
bre personagens imaginários. É uma obra so-

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bre a nossa vida. Sobre todos nós. Sobre nos-


sos erros, vícios e problemas.

Interpretar Dom Casmurro a partir do “traiu ou


não traiu” é ser reducionista. É não fazer jus a
uma das maiores obras da nossa literatura. E
quem reduziu a sua leitura a esse tipo de in-
terpretação destruiu uma das maiores experi-
ências literárias que você poderia ter.

A escola atacou a sua inteligência e te privou


de compreender uma grande obra da literatu-
ra.

Mas ainda há tempo. Você precisa criar uma


fortaleza para resistir a esses ataques que
vem sofrendo desde a infância. É por isso que
precisamos criar uma resistência literária.
Para, a partir dela, podermos desenvolver a
nossa inteligência a partir da literatura.

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O brasileiro, em geral, não gosta de ler. Mas,


dentre os gêneros literários, a poesia é um
dos mais desprestigiados. Da nossa pequena
população leitora, apenas 28% do público pre-
fere poesia.

Nunca fomos ensinados a gostar de poesia de


verdade. Manuel Bandeira publicou quase to-
dos os seus livros investindo do próprio bolso.
Carlos Drummond de Andrade precisou traba-
lhar durante 40 anos como funcionário públi-
co.

No entanto, atualmente a situação está ainda


pior.

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A poesia, além de ser desprestigiada, está sen-


do rebaixada ao showbusiness. Ou melhor, o
showbusiness está sendo elevado à estatura
de poesia. Nos dias de hoje, as escolas ensi-
nam poesia através de letras de música.

Mas há aí um problema: letra de música não é


poema.

A letra de música surge como um comple-


mento à melodia já composta. No poema, os
versos surgem da emoção interna do escritor,
que depois impõe um ritmo e uma melodia
própria às palavras. A letra de música procura
ser simples, fácil, palatável. Seu objetivo é en-
treter.

O poema deve expressar uma experiência ao


mesmo tempo singular e universal. Seu obje-
tivo é remover as escamas dos nossos olhos,
refletir a beleza e expandir a nossa imagina-
ção.

A música popular costuma divertir, protestar e


expressar o “espírito de uma época”. A poesia
tem, segundo Mallarmé, a capacidade de “dar
um sentido mais puro às palavras da tribo”.

Bruno Tolentino, um dos maiores poetas bra-


sileiros das últimas décadas, ao voltar para o

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Brasil depois de um longo “exílio” de 30 anos,


espantou-se. Para ele, que conheceu de perto
a educação europeia, estudar letras de música
na escola era um contrassenso.

Em 1996, Tolentino deu uma entrevista para a


revista Veja falando sobre isso.

“Minha mulher já havia se conformado com os


sequestros e balas perdidas do Rio, mas ficou
indignada e espantada pelo fato de se seques-
trar o miolo de uma criança na sala de aula.”

“A escola que ela procurou para fazer a matrí-


cula tem uma Cartilha Comentada com nomes
como Camões, Fernando Pessoa, Drummond,
Manuel Bandeira e Caetano Veloso. O menino
seria levado a acreditar que é tudo a acreditar
que é tudo a mesma coisa. Ele nasceu em Ox-
ford, viveu na França e poderá morar no Rio
de Janeiro. Ele diz que seu cérebro tem três
partes. Mas não aceitamos que uma dessas
partes seja ocupada pelo show business.”

“É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco


no seu galho, e o galho de Caetano é o show
biz. Por mais poético que seja, é entretenimen-
to. E entretenimento não é cultura.”

Tolentino avisou... Mas ninguém lhe ouviu.

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Hoje podemos ver o resultado: Uma música


de Caetano Veloso foi utilizada em uma ques-
tão do ENEM 2020. Músicas de Chico Buarque
também são temas de estudo nas aulas de
português. E isso não é, nem de longe, o pior...

Letras do rapper Gabriel, O Pensador também


foram usadas nas provas de língua portugue-
sa do ENEM. O mesmo ENEM que, recente-
mente, utilizou uma “música” de MC Fioti como
tema para uma questão. E, é claro, Anitta tam-
bém já é tema das provas de história da arte
nas escolas.

Da mesma forma, o MEC utilizou usou uma


“música” da Anitta e do Pablo Vittar para “in-
centivar os alunos”...

Por considerarmos que alguns músicos mere-


ciam destaque, acabamos abrindo um rombo
na nossa educação. Agora, milhares de alunos
se deparam com este tipo de conteúdo acre-
ditando que estudam algo de valor. E esses
“ensinamentos” serão reproduzidos pelas pró-
ximas gerações.

Segundo Goethe, “o homem surdo à voz da


poesia é um bárbaro, seja ele quem for”. Esta-
mos uma geração de pessoas que são verda-
deiramente surdas à voz da poesia.

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Apesar de existirem ótimas músicas escritas


por grandes poetas – Vinícius de Morais com-
pôs diversas canções, Ferreira Gullar foi um
dos compositores de “Borbulhas de Amor”,
cantada por Fagner e Manuel Bandeira escre-
veu letras para Villa-Lobos – nenhum deles
colocava o trabalho musical no mesmo pata-
mar do trabalho poético.

As duas áreas são diferentes e, como tais, de-


vem ser estudadas de modos diferentes. Isso
é ter senso de proporções.

Segundo o professor Olavo de Carvalho,


“quem é desprovido do senso das proporções
não apenas é incapaz de distinguir o essencial
e o acessório, mas em vez do sentido da bele-
za desenvolve o desejo da feiúra, a tal ponto
que, quando não a encontra, a inventa.”

Destruindo a percepção da poesia, também


destruímos a percepção da beleza. E, destruin-
do a percepção da beleza, estamos destruindo
as mentes de milhares de pessoas.

E elas passam a aceitar literalmente qualquer


coisa. Os mais bizarros acontecimentos pas-
sam a ser normais.

Nós não podemos deixar isso acontecer. Deve-


mos ser a resistência.

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Certa vez, na Universidade Federal de Pernam-


buco, presenciei uma cena peculiar. Um grupo
de alunos se preparava para uma apresenta-
ção pública na universidade. Alguns estavam
visivelmente nervosos, então o grupo decidiu
se unir. Formando uma roda, um dos alunos
fez um discurso motivador e inspirador. Ao
final do discurso, eles juntaram a mão no cen-
tro da roda e deram um grito de guerra:

“Viva Paulo Freire!”

Logo depois, foram se apresentar, confiantes e


imbuídos de uma inspiração quase divina.

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Naquele tempo, eu já sabia que a idolatria por


Paulo Freire era pandêmica nas universidades.
A minha própria faculdade tinha uma estátua
do Patrono da Educação Brasileira. Mas eu ain-
da não sabia que a obra de Paulo Freire era
uma das razões pelas quais a nossa educação
é tão ruim.

A história de Paulo Freire começa na pequena


cidade de Angicos, no interior do Rio Grande
do Norte.

Em 1963, Freire executaria o projeto conhecido


como “As 40 Horas de Angicos”. O projeto con-
sistia na alfabetização de 380 trabalhadores.
Em apenas 40 horas, conta-se que pedreiros,
operários, costureiras, barbeiros, cortadores
de cana e todos os moradores daquela peque-
na vila foram alfabetizados.

O feito repercutiu nacionalmente.

O então presidente João Goulart foi à última


aula do projeto. Conta-se que até mesmo o
presidente dos EUA, John F. Kennedy, iria co-
nhecer as habilidades de Freire se houvesse
sido assassinado.

No período do regime militar, apesar do exílio,


as obras de Paulo Freire circularam o Brasil.E

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assim Freire construiria seu legado, que culmi-


naria na sua nomeação, no ano de 2012, como
Patrono da Educação Brasileira.

Nos últimos anos, a obra de Freire finalmente


começou a ser contestada. E muitas pessoas
começaram a perceber uma realidade: o mé-
todo de Paulo Freire não funciona. Apesar de
ser utilizado e propagado no Brasil, o método
de Freire foi criado para um grupo específico
de pessoas: Trabalhadores braçais, operários e
pessoas mais velhas que continuavam analfa-
betas.

Das 380 pessoas em Angicos, quantas apre-


sentaram um grande feito em alguma área
do conhecimento? Quantas escreveram livros,
criaram algo culturalmente relevante ou se
provaram realmente proficientes em alguma
disciplina? Quantas se tornaram realmente
alfabetizadas e podiam ler grandes obras?

Pois é, nenhuma. No entanto, dois meses após


o término do projeto de Freire, Angicos teve
a sua primeira greve e a sua primeira revolta
trabalhista na história. Ou seja: utilizar o mé-
todo de Paulo Freire para o ensino em geral é
nivelar por baixo a capacidade dos estudantes.
Em vez de fornecer uma educação que eleve o

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aluno, o método de Freire garante que ele per-


maneça no mesmo lugar.

Isso se dá pelo fato de que o pensamento de


Freire é de raiz socioconstrutivista. O socio-
construtivismo é uma corrente de pensamen-
to que crê na educação como o resultado de
um processo de interação social. Seus prin-
cipais nomes são Vygotsky, Emilia Ferreiro e
Paulo Freire.

No socioconstrutivismo, expressões como “en-


sino” ou “transmissão do conhecimento” são
substituídas por “motivação”, “inspiração”, “es-
tímulo” e “mediação”. Para um socioconstruti-
vista, o aluno que está sendo alfabetizado não
deve seguir o modelo de alfabetização propos-
to pelo professor, e sim o professor é quem
deve analisar a “escrita não-convencional” do
aluno e fazê-lo questionar a sua realidade.

O socioconstrutivismo é hoje o modelo de “en-


sino” mais adotado no país.

No livro “A Falácia Socioconstrutivista”, a au-


tora Kátia Simone Benedetti expõe as conse-
quências desta abordagem: a)Nossos alunos
passaram a trocar as letras e escrever de for-
ma espelhada; b) Tornaram-se incapazes de
reconhecer a sílaba tônica das palavras; c) Co-

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metem inúmeros e constantes erros de orto-


grafia; d) Têm um vocabulário limitado e uma
enorme dificuldade em ampliá-lo.

Eu tenho certeza que você já viu algum jovem


que sofre com esses problemas. Ou talvez
você mesmo sofra deles. O pior de tudo é sa-
ber que esses sintomas só podem ser alivia-
dos, mas nunca curados totalmente.

Para ter a prova disso, basta seguir a frase


“Pelos frutos conhecereis”.

O método de Freire foi bastante aplicado, prin-


cipalmente, em 4 países: 1) Guiné-Bissau, em
que o índice de alfabetização é de 40% da
população, um dos piores da África; 2) Porto
Rico, cujo nível de alfabetização é igual ao do
Brasil; 3) Chile, que tem um dos maiores índi-
ces de alfabetização do mundo, porém com
um sistema implantado pelo governo contrá-
rio às políticas de Freire; 4) E o Brasil.

Apenas 12% da população brasileira é conside-


rada proficiente na Língua Portuguesa. Nossa
taxa de analfabetismo é uma das mais altas
da América Latina. Ocupamos os piores lu-
gares nos testes de educação internacionais.
Nos rankings mundiais de educação, estamos
atrás da Lituânia, da Moldávia, de Montenegro,

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da Jordânia, da Malásia, do Malta, da Sérvia, da


Letônia e de outros 50 países.

A Pátria Educadora, cujo patrono é Paulo Frei-


re, é colecionadora de fracassos na área da
educação.

O próprio Paulo Freire, enquanto Secretário


da Educação da Prefeitura de São Paulo, em
1989, foi protagonista de um escândalo que
chocou o país. Ele inventou a proibição da re-
provação nas escolas de São Paulo. O aluno,
por pior que fosse, deveria ser automatica-
mente aprovado e passar para o próximo ano.
Esta prática tão comum nas escolas de hoje
foi inaugurada a nível municipal pelo Patrono
da nossa educação.

Mas se Freire é tão incompetente, por qual


motivo ele é tão louvado?

É simples: em seus livros, Freire utiliza uma


falsa dicotomia entre “educação bancária” x
“educação libertadora”. O modelo de Educação
anti-freiriano é chamado de bancário, o freiria-
no é chamado de libertador. Utilizando-se de
termos vagos, Freire cria um espantalho para
qualquer tipo de educação contrário ao que
ele prega. Assim, ele estabelece um monopó-
lio da virtude. Apenas a sua educação é válida.

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É o famoso “nós contra eles”.

Mesmo assim, há uma parte ainda mais maca-


bra da obra de Paulo Freire...

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Na primeira parte deste carrossel, expliquei os


motivos pelos quais o método de Paulo Freire
não funciona. No entanto, existe um lado mais
macabro da educação freiriana.

A verdadeira intenção de Paulo Freire não era


educar. Era criar uma revolução.

Freire ficou conhecido no Brasil inteiro pelo


seu projeto em Angicos, vila no interior do Rio
Grande do Norte. Em 40 horas, 380 trabalha-
dores pobres foram alfabetizados. E o método
inovador de Freire foi louvado por todos

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Esta é a versão oficial... Mas existe uma parte


da história que muitos preferem ocultar.

Poucos meses depois do término do projeto


em Angicos, o pequeno vilarejo presenciou
algo totalmente novo: Sua primeira revolta
trabalhista e sua primeira greve. Os patrões
e fazendeiros de Angicos passaram a chamar
Freire de “praga comunista”.

Mas o que os protestos têm a ver com o proje-


to de Freire? Tudo.

O método de alfabetização freiriano não pro-


cura alfabetizar, e sim gerar o que ele chama
de “senso crítico”. O trabalho se inicia esco-
lhendo uma palavra que faça parte do cotidia-
no do aluno.

No caso dos trabalhadores de Angicos, “tijolo”.


O aluno é exposto a esta palavra diversas ve-
zes e, por estímulo visual, passa a memorizá-
-la a partir de vários exercícios.

No entanto, Freire não para aí.

Uma vez que o aluno memorizou a palavra e


compreendeu seu significado, se inicia o pro-
cesso de “problematização”. Se a palavra é
tijolo, o professor pergunta o que é um tijolo,

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como se usa, quem trabalha com isso... até


chegar no ponto em que o professor faz o alu-
no questionar o seu trabalho, o seu salário, o
seu patrão, a sua classe social... para que, por
fim, o aluno perceba “qual é o seu papel na so-
ciedade” e tenha “senso crítico”.

A expressão senso crítico não virou chavão


nos dias de hoje à toa.

Quantos professores de história, sociologia,


filosofia, geografia e até mesmo biologia de
têm a intenção de gerar o “senso crítico” frei-
riano nos alunos? Assim, o espírito da pedago-
gia freiriana se espalhou por todas as discipli-
nas, de todas as turmas, na escola.

Acontece que senso crítico, para Freire, não


significa capacidade de discernimento. Signifi-
ca consciência de classe.

Inspirado em Karl Marx e Antônio Gramsci,


Freire acredita que os proletários devem ad-
quirir consciência de classe a partir de uma
revolução cultural. Esta consciência de classe,
para Freire, significa a percepção das opres-
sões de uma sociedade capitalista... E da ne-
cessidade de uma revolução.

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Freire, na verdade, não quer educar ninguém.


Quer criar uma potencial classe revolucioná-
ria.

Para quem leu as obras de Freire com aten-


ção, este propósito é muito claro. Em “A Peda-
gogia do Oprimido”, a palavra educação apa-
rece 125 vezes. Já “pedagogia” foi escrita 52
vezes. A palavra “escola” surge somente em 8
ocasiões. E “aprendizado” em apenas 5. Mas
palavras relacionadas à revolução (revolução,
revolucionário, revolucionar) aparecem 244
vezes em toda a obra.

Mais do que todas as outras anteriores soma-


das.

Além disso, há inúmeras citações, em “A Peda-


gogia do Oprimido”, em que Freire deixa clara
sua intenção de revolucionário.

“... Outra coisa não estamos tentando senão


defender o caráter eminentemente pedagógi-
co da revolução.”

“O sentido pedagógico, dialógico, da revolução,


que a faz ‘revolução cultural’ também, tem de
acompanhá-la em todas as suas fases.”

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“Se as massas associam à sua emersão, à sua


presença no processo histórico, um pensar
critico sobre este mesmo processo, sobre sua
realidade, então sua ameaça se concretiza na
revolução. Chame-se a este pensar certo de
‘consciência revolucionária’ ou de ‘consciência
de classe’, é indispensável à revolução, que
não se faz sem ele.”

“Por tudo isto é que defendemos o processo


revolucionário como ação cultural dialógica
que se prolongue em ‘revolução cultural’ com
a chegada ao poder.”

“A revolução é biófila, é criadora de vida, ainda


que, para criá-la, seja obrigada a deter vidas
que proíbem a vida.”

A própria dicotomia freiriana entre “oprimido x


opressor” é uma paródia da dicotomia marxis-
ta entre “burguesia x proletariado”. Acontece
que Freire nunca define exatamente quem é o
opressor, mas coloca todo seu ódio em cima
dessa figura abstrata. Assim, este rótulo pode
se aplicar para qualquer pessoa que não seja
uma “oprimida”.

Principalmente o professor.

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O Despertar

O professor, nos dias de hoje, é muitas vezes


visto como um opressor. E esta é uma heran-
ça freiriana. E aí reside o problema: qualquer
violência contra o opressor se torna legítima
defesa. Não à toa o Brasil lidera índice de vio-
lência contra professores no mundo.12% dos
nossos professores já sofreram algum tipo de
violência pelos alunos (psicológica, verbal ou
física).

Existem muitos fatores para que os dados se-


jam assim. Mas o que esperar de um país que
tem Paulo Freire como Patrono da Educação?
O homem que incita a revolução como peda-
gogia, cita genocidas, tais quais Lênin e Stalin,
como grandes mestres nas suas obras e cujo
método alfabetizador é totalmente ineficiente.

Paulo Freire ser Patrono da Educação Brasilei-


ra não é apenas um absurdo... É um retrato de
quem somos. Se ele chegou a esse ponto, nós
deixamos que isso acontecesse.

Cabe a nós mudar. Em vez da revolução, preci-


samos ser a resistência.

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O Despertar

Apenas 50% da população brasileira pode ser


considerada leitora. Esses 50% leem apenas 4
livros por ano. Desses 4 livros, somente 2 são
lidos até o fim. Desses 2, apenas 1 é de litera-
tura. E, considerando as listas de livros mais
lidos do Brasil, nem sempre é literatura de boa
qualidade.

O fato é: o brasileiro não tem o costume de


ler.

Nosso país, historicamente, nunca foi um país


de leitores numerosos. Mas, nos últimos anos,
existe um grande fator que leva os brasileiros
a não gostarem de ler: A escola.

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O Despertar

Mas a culpa não é dos professores, dos alunos


ou dos pais. E sim do método.

Todas as escolas brasileiras estão reféns de


uma abordagem no ensino de literatura total-
mente errada. Na escola, não estudamos lite-
ratura. Estudamos movimentos literários. As
aulas nos fazem crer que os livros são produ-
tos do seu meio.

Para a escola, as obras clássicas são parte de


uma coletividade do passado. Machado de As-
sis era romântico ou realista, Olavo Bilac era
Parnasiano e José Lins do Rego era regiona-
lista. Todos de acordo com a cosmovisão de
suas épocas.

Ensinados assim, surge uma pergunta funda-


mental: Por qual motivo eu deveria ler estes
autores nos dias de hoje? Todo aluno tem esta
dúvida genuína e válida. Se as obras são “pro-
dutos dos seus meios”, “retratos de uma épo-
ca” e “pertencem a uma escola de pensamen-
to”, a única razão para a leitura destas obras é
a mera curiosidade histórica.

Apresentados desta forma, quase ninguém se


interessa pela leitura dos clássicos. Acontece
que os clássicos são mais do que o resultado
de uma série de fatores sociais.

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O Despertar

O grande clássico nasce da força da personali-


dade humana.

Os Lusíadas é o maior épico da língua portu-


guesa e uma das maiores epopeias da huma-
nidade. Segundo nossos livros de literatura,
esta é uma obra típica do Renascimento e que
representa o pensamento do povo português.
Mas, para além do social, existe a dimensão
humana da obra.

Aos 23 anos, Camões era um jovem poeta por-


tuguês muito perseguido pela força de seus
versos, que causavam inveja nos poetas da
corte. Fugindo das perseguições, Camões deci-
de embarcar para Espanha e lutar contra um
exército de mouros, onde acaba perdendo um
olho.

Dali para frente, a vida de Camões mudaria


totalmente.

O poeta e soldado português volta a Lisboa


depois de dois anos em batalhas. Desta vez,
em estado de mendicância. Camões passou
fome, sede, dormia na rua e não tinha nem
mesmo um cobertor. Envolvendo-se em con-
fusões e morando em bares, tem como única
opção voltar ao exército para viver dignamen-
te.

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O Despertar

Em 1554, Camões embarca para a Índia e pas-


sa a fazer parte de várias expedições militares.
Neste meio tempo, começa a escrever “Os Lu-
síadas”, o épico que narraria as grandes nave-
gações portuguesas e a fundação do Reino de
Portugal.

Com experiências de batalhas e navegações,


completamente imbuído do espírito portu-
guês, unindo extremo patriotismo e total de-
voção ao cristianismo, sua obra se torna um
retrato da sua vida e das suas crenças. Mas
um imprevisto mortal iria acontecer.

Camões foi acusado de escrever obras satíri-


cas que criticavam os governantes da provín-
cia em que trabalhava. Ele foi preso, posto em
um navio que o levaria de volta a Portugal,
junto com a sua amada Dinamene, uma don-
zela chinesa a qual Camões dedica muitos de
seus poemas.

Acontece que, fazendo o caminho de volta, o


navio de Camões começou a naufragar.

No momento de desespero, ele precisava fa-


zer três coisas: salvar-se, salvar a sua amada
que estava no navio e salvar o manuscrito de
“Os Lusíadas”, que contava com 7 cantos. À foz
do Rio Mecom, Camões nadaria até a margem

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O Despertar

com apenas com um braço, pois o outro car-


regava as inúmeras páginas de “Os Lusíadas”.

Mas não carregava a sua amada, que morreu


no naufrágio.

O acontecimento marcou tanto a vida de Ca-


mões, que o naufrágio à foz do rio o inspiraria
a escrever as famosas “Redondilhas de Babel
e de Sião”, também conhecida como “Sôbolos
rios que vão”.

Camões voltaria a Portugal, terminaria seu


épico e publicaria “Os Lusíadas”. Mas terminou
sua passagem pela terra na mais profunda
miséria. Em sua lápide estava escrita a frase:
“Aqui jaz Luís de Camões, Príncipe dos Poetas
do seu tempo. Viveu pobre e assim morreu”

No entanto, sua dor profunda sempre foi a


saudade de sua amada morta, tema de tantos
sonetos.

Logo, quando lemos “Os Lusíadas” ou qualquer


livro de Camões, não estamos diante de sim-
ples obras que são produtos do seu tempo.
Estamos diante do peso da existência. Esta-
mos diante de obras que valeram mais do que
um amor, que foram escritas a partir das ex-

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O Despertar

periências mais dolorosas e peculiares que já


existiram.

Ao ler Camões, estamos diante de um ser hu-


mano de carne e osso, mas que viveu e enxer-
gou muito mais do que nós.

A literatura não nos joga para um tempo espe-


cífico, uma coletividade ou um pensamento de
época. Ela nos coloca no centro da humanida-
de. Por qual motivo você precisa ler literatura?
Com ela, você se torna cada vez mais humano.

Enquanto nossas escolas e nossos professo-


res não transmitirem isso aos seus alunos,
continuaremos desinteressados pelos clássi-
cos.

Existe uma riqueza que precisa ser despertada


nos nossos alunos. Espalhe a palavra. Seja a
resistência.

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O Despertar

Este é só o começo.

Da escola à Grande Mídia, você foi ensinado


a desprezar – e até mesmo odiar -- os clássi-
cos da Literatura. Fizeram você pensar que os
grandes livros da literatura universal são cha-
tos, ultrapassados e que só servem para mar-
car um X no vestibular ou em algum concurso
público.

O que não te contaram é que os clássicos po-


dem te ajudar a amadurecer, fortificar a sua
personalidade, expandir o seu horizonte de
consciência e educar a sua imaginação.

De 31 de Maio a 2 de Junho acontecerá “O Des-


pertar”, evento 100% Online e 100% Gratuito.

Você receberá todas as informações por


e-mail. Fique ligado.

Chegou a hora de despertar.

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