Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISAÍAS 42.1-9
PRIMEIRAS IMPRESSÕES
Num primeiro momento, o texto frustra a expectativa de quem anseia
pelo surgimento de um Messias poderoso que virá para estabelecer a
justiça.
Ao contrário disso, nos deparamos com a figura de um servo!
O que dá para esperar de alguém com uma identidade ou atitude de
servo? Ele terá força suficiente para sobreviver no nosso mundo
competitivo e violento? Além do mais, ele não é alguém que ergue a voz
denunciando a injustiça. Ele não vai para a rua protestar. Ele não se
colocará em evidência!
Alguém que deseja prevalecer precisa aparecer. Sem entrar no mérito da
análise desses movimentos sociais de nossos dias, vemos isso bem claro:
quando se pretende chamar a atenção para um tema, ou uma causa, é
necessário que se vá para a rua, é necessária a mobilização das massas,
são necessárias palavras de ordem. Guardadas as devidas proporções,
havia um anseio no coração do povo de Deus de um restabelecimento
político da nação, portanto, será que esse SERVO que não grita seria capaz
de mobilizar o povo. Então, como o servo de Deus pretende que suas
reivindicações se façam ouvir? Como ele imagina introduzir mudanças em
uma sociedade? Como ele pretende obter êxito? Um servo não combina
com a expectativa de Messias, e sua estratégia de ação parece fracassada.
Precisamos então atentar melhor para o que Deus mesmo diz de seu servo
(v. 7), quem de fato ele é e qual de fato é sua missão. Precisamos
compreender melhor o jeito de Deus fazer as coisas.
ESTRUTURA, CONTEXTO HISTÓRICO E LITERÁRIO
Assim, o Servo do Senhor é aquele que vem para restabelecer a paz entre
o homem perdido no pecado e Deus, o criador e Senhor! Ele vem para
mediar essa relação.
Ele não vem para reparar direitos, não vem para restabelecer uma
condição sócio-política, sua missão é muito mais profunda e significativa.
A DESIGNAÇÃO DO SERVO
V. 1 – Este versículo apresenta o servo de Javé. Deus, o criador e
mantenedor do mundo (v. 5), escolhe e sustenta o seu servo. A eleição
não tem um fim em si mesmo, mas aponta para as nações. Portanto o
envio do servo tem um caráter universal. O Deus criador tem nele o seu
prazer. Ele é sustentado e capacitado para a sua missão pelo Espírito de
Javé.
A expressão “servo” (ébed) possui sentido ambíguo. Pode evocar a
imagem de um escravo, de alguém que não possui autoridade. Mas,
literalmente, o termo descreve alguém que é designado por um soberano,
é alguém da absoluta confiança e age em nome daquele que o enviou. Ele
não tem autoridade própria, mas é investido de autoridade por aquele
que o envia. A missão do servo é proclamar e estabelecer o direito e a
justiça de Deus.
UM SERVO GRACIOSO
V. 2-3 – Este versículo descreve a forma como o servo desenvolve a sua
missão. O servo não se desincumbirá de sua missão fazendo uso da
violência, do estardalhaço, da espetacularização. Pelo contrário: A justiça
que o servo proclama é anúncio de graça e compaixão.
A vara (caniço) e a lamparina (pavio) são imagens que denotam e
expressam uma condenação à morte.
“Quebrar a vara” sobre alguém ou “apagar a sua luz” significa sentenciar
alguém à morte.
Portanto o ser humano (as nações) encontra-se como culpado diante do
juízo de Deus. A vara já está rachada, e a luz da lamparina já foi apagada,
mas, inesperadamente, institui-se um ato de graça, de modo que a vara
não é quebrada em definitivo nem o pavio apagado em sua centelha.
Portanto a mensagem que o servo proclama indica para um agir gracioso,
para uma possibilidade de subsistir diante do juízo de divino, pois a vara
está apenas rachada e o pavio ainda possui uma centelha. No entanto a
restauração não acontece por esforço próprio, mas pela intervenção do
servo.
CONFIRMAÇÃO DA MENSAGEM
V. 5-9 – Este segundo bloco apresenta uma espécie de comentário ao
cântico do servo de Javé. O Deus que vocaciona o servo é o Deus criador e
sustentador da vida no mundo (v.5)
O Deus criador coloca-se ao lado do servo para que a sua missão alcance
êxito, inclusive entre os gentios. (v.6)
Sua missão consiste em abrir os olhos para que uma nova realidade seja
discernida, consiste em livrar da opressão e libertar os que habitam na
escuridão. (v.7)
REFLEXÃO:
A lógica de Deus inverte a lógica humana. O que é grande aos olhos
humanos é pequeno aos olhos de Deus. Nós valorizamos a aparência;
Deus valoriza a essência. Para nós, se não estiver postado no facebook, é
como se não existisse; mas Deus entrou neste mundo pela porta dos
fundos. Se não reconhecemos a presença de Deus na criança da
manjedoura, então só resta a palha. Essa realidade não pode ser
percebida com os olhos naturais, apenas com o olhar da fé.
O Senhor e criador do mundo inverte a lógica humana. Ele envia a este
mundo o seu Filho Jesus Cristo. Jesus vem a este mundo como servo. Seu
estilo e seu jeito de cumprir a missão que lhe foi designada não é a
avenida, não são os holofotes, não é o caminho da fama, da eloquência,
do marketing.
O profeta Isaías explica-nos por que Deus inverte a lógica humana: É graça
e não ira! Precisamos estar em sintonia com Deus, sensível à voz do Servo
do Senhor só assim e somente assim seremos capazes de perceber as
pessoas cujo pavio está apenas fumegando e cuja vara quase já se
quebrou. Uma sociedade que está em constante agitação, onde tudo gira
freneticamente, onde a música em seu volume alto não cessa, é muito
barulho, não percebe mais aqueles que estão sucumbindo. Pessoas
quebram e apagam – e ninguém percebe. Nem mesmo quando decidem
dar cabo da própria vida.