Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DEFINIÇÃO:
• Infarto agudo do miocárdio é o termo utilizado para designar o processo de isquemia e necrose dos
cardiomiócitos, decorrente da obstrução aguda de uma artéria coronariana;
• Sendo assim, é um evento que faz parte da classificação das síndromes coronarianas agudas, juntamente
com a angina instável, que se diferencia do IAM por ser um processo de suboclusão arterial sem a
presença de necrose dos cardiomiócitos.
FISIOPATOLOGIA:
• Principal etiologia: placa de ateroma pré-existente na coronária, que sofre um processo de ruptura,
erosão ou dissecção, provocando a formação de um trombo local
o O trombo inicial é composto por células plaquetárias (trombo branco), gerando uma suboclusão
coronariana (IAMSSST ou angina instável), que pode evoluir para a formação de uma rede
organizada de fibrina (trombo vermelho), culminando numa obstrução arterial completa (IAMCSST)
• Etiologias menos comuns: condições que aumentam o consumo ou reduzem a oferta de oxigênio
(vasoespasmo, embolia, taquiarritmia, hipertensão e anemia), ou secundário a ICP (intervenção
coronariana percutânea) ou CRVM (cirurgia de revascularização miocárdica)
QUADRO CLÍNICO:
• Principal sintoma: dor torácica (angina típica de maior intensidade e duração maior que 20 a 30 minutos)
o Características da dor: retroesternal, visceral e profunda, em pressão ou aperto, com irradiação
para face ulnar de membro superior esquerdo, cervical, epigástrio, mandíbula ou dorso, piora com
estresse físico ou emocional, alivia com nitrato e repouso (porém não é esperado que melhore com
essas medidas em caso de IAM)
• Sintomas associados:
o Dispneia
o Astenia
o Náuseas e vômitos
o Síncope
o Ansiedade
o Sudorese profusa
o Extremidades frias, pálidas e pegajosas
• IAM de ventrículo direito (VD): dispneia, astenia, edema pulmonar, choque, arritmia significativa;
ABORDAGEM INICIAL:
• Anamnese e exame físico rápidos e direcionados - devem abranger as características mais importantes
para um correto diagnóstico, visando instituir a terapêutica o mais breve possível
• A rotina de investigação inicial (história + exame físico + ECG + MNM) visa identificar precocemente o
paciente de maior risco que necessita de internação hospitalar ou urgente transferência para serviço de
hemodinâmica
Anamnese:
o Pesquisar comorbidades e fatores de risco (HAS, dislipidemia, DM, tabagismo, obesidade,
sedentarismo, DAOP, história pessoal e familiar, idade avançada, DRC);
o História de dor anginosa típica prévia, que precede o evento agudo em dias ou semanas;
o Questiona características da dor para descartar diagnósticos diferenciais.
Exame Físico:
o Pode estar normal ou apresentar sinais inespecíficos;
o Avaliar simetria de pulsos e pressão arterial entre os membros (descartar dissecção aórtica);
o Avaliar palidez, cianose, turgência jugular, edema, insuficiência vascular e ausculta pulmonar
(crepitações e edema agudo de pulmão);
o Avaliar ausculta cardíaca (presença de sopros ou bulhas acessórias);
▪ Comum: taquicardia, sopro sistólico suave em ápice de VE, presença de B3;
o Se IAM de VD: pode ocorrer bradicardia e hipotensão (devido a hiperatividade parassimpática),
turgência jugular patológica (TJP), sinal de Kussmaul.
Avaliação do prognóstico e gravidade da insuficiência ventricular (classificação de Killip):
o Killip I: exame físico normal - mortalidade 6%
o Killip II: estertores até metade de hemitórax, B3 e turgência jugular - mortalidade 17%
o Killip III: edema agudo de pulmão, estertores em todo o tórax - mortalidade 38%
o Killip IV: choque cardiogênico (hipotensão, oligúria, cianose, extremidades frias) – mortalidade 81%
Exames complementares:
o ECG: realizar em todos os pacientes com dor torácica aguda (deve ser realizado e laudado idealmente
dentro de 10 minutos após a admissão ou após o início dos sintomas em caso de paciente já
hospitalizado)
▪ Pode estar normal no início do quadro – realizar de forma seriada para acompanhar evolução e
surgimento de novos achados
o Marcadores de necrose miocárdica (MNM): moléculas liberadas pelos cardiomiócitos após a sua lise
→ auxiliam no diagnóstico e avaliação prognóstica (elevação diretamente proporcional ao risco de
eventos cardíacos a curto e médio prazos)
o Raio X de tórax
▪ Pode demonstrar: cardiomegalia e congestão pulmonar (IC isquêmica)
▪ Auxilia no diagnóstico diferencial (pneumonia, embolia pulmonar, dissecção de aorta)
o Avaliação da condição hemodinâmica do paciente:
▪ Hemograma, função renal e eletrólitos, coagulograma, PCR, perfil lipídico, gasometria arterial (se
hipoxemia ou EAP), etc.
• Em ambos os casos ocorre necrose miocárdica, a diferença está no grau de oclusão arterial – ocorre uma
suboclusão no IAM sem supra de ST, e uma oclusão completa no IAM com supra de ST
• O quadro clínico e fatores de risco são compartilhados nas duas entidades, e ambas apresentam
elevação de MNM
o Obs.: se há quadro clínico típico, mas sem elevação de MNM, o diagnóstico é de angina instável
• A principal diferença está nas alterações do ECG, pela presença ou ausência de supradesnivelamento
do segmento ST, que é o sinal característico de oclusão arterial completa
Diagnóstico IAMCSST: o diagnóstico tende a ser mais evidente, pois na maioria dos casos cursa com
alterações nos exames complementares, além do quadro clínico típico:
• Aumento dos níveis de MNM (pelo menos um valor acima do percentil 99 e curva em ascensão) + pelos
menos um dos critérios abaixo:
o Sintomas de isquemia miocárdica (dor torácica)
o Alterações do segmento ST/onda T ou BRE novos (supra ≥ 1mm em derivações periféricas
contígua ou ≥ 2mm em derivações precordiais)
o Desenvolvimento de ondas Q patológicas no ECG
o Perda de músculo miocárdico viável ou alteração de motilidade segmentar por exame de imagem
o Identificação de trombo intracoronário por angiografia ou autópsia
Diagnóstico IAMSSST: o diagnóstico tende a ser mais difícil nos casos de dor torácica na emergência, pois
o ECG e MNM podem estar normais, especialmente no início do quadro
• Estratificação de risco para SCA: é fundamental diferenciar o paciente que necessita de internação
e investigação invasiva daquele paciente que pode realizar acompanhamento ambulatorial
o Pode ser realizada através de vários escores (TIMI, GRACE, HEART)
Fonte: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Angina Instável e Infarto Agudo do Miocárdio sem
Supradesnível do Segmento ST – 2021
• Angina estável
• Dissecção aórtica
• Estenose aórtica
• Pericardite aguda
• Miocardite
• Tromboembolismo pulmonar
• Hipertensão pulmonar
• Transtornos de ansiedade
• Espasmo esofagiano
• Esofagite, DRGE e dispepsia
• Doença biliar
• Costocondrite
• Pericardite aguda
• Angina vasoespástica (variante de Prinzmetal)
• Síndrome de Takotsubo (síndrome do coração partido)
• Aneurisma ventricular pós-IAM
• Sobrecarga ventricular esquerda
• Repolarização precoce
• TEP maciço
• Síndrome de Brugada
• Hipercalemia
• Tumor ou trauma miocárdico
• Hipotermia
• Bloqueio de ramo esquerdo
LOCALIZAÇÃO DO IAMCSST:
• Parede anterior:
o Supra em V1, V2 e V3 → anterosseptal
o V1-V4 → anterior
o V3 e V4 ou V3-V5 → anterior localizada
o V4-V6, DI e aVL → anterolateral
o V1-V6, DI e aVL → anterior extenso
• Parede lateral:
o V5 e V6 → lateral baixa
o DI e aVL → lateral alta
TRATAMENTO – IAMCSST:
• Todos os pacientes com diagnóstico de Síndrome Coronariana Aguda devem ser internados e
submetidos a uma abordagem para um paciente potencialmente grave
o MOV: monitorização cardíaca + oximetria de pulso contínua + acesso venoso
o O desfibrilador deve ser mantido próximo ao paciente, devido ao risco de taquicardia ventricular
ou fibrilação ventricular, que são as principais causas de mortalidade na hipóxia miocárdica
Oxigenoterapia:
• Deve ser ofertada somente aos pacientes que apresentem hipoxemia (SatO2 < 94%) – via cateter nasal
ou máscara 2-4l/min
• Seu uso desnecessário aumenta os custos e pode piorar o quadro agudo devido à vasoconstrição
causada pela hiperóxia
• Acompanhar evolução com gasometria arterial seriada de acordo com a necessidade
Analgesia:
o Contraindicações: resolução da dor, hipotensão (PAS < 90mmHg ou queda > 30mmHg),
bradicardia ou taquicardia, infarto de VD, uso de sildenafila nas últimas 24-48h
Anticoagulação plena: reduz mortalidade – manter por 8 dias, até angioplastia ou alta hospitalar
• HNF: 60UI/kg EV (máximo 4.000UI), após 12UI/kg/h (máximo 1.000UI/h) em BIC por 48h (manter Ttpa
entre 1,5-2x valor de referência) → avaliar troca para HBPM após 48h
o Preferida em casos de angioplastia primária
• HBPM (enoxaparina): 30mg EV bólus + 1mg/kg SC 12/12h (máximo 100mg nas duas primeiras doses)
→ manter até 8 dias ou até angioplastia ou alta
o Se > 75 anos: 0,75mg/kg e não fazer bólus
o Se ClCr < 30ml/min: 1mg/kg de 24/24h
• Fondaparinux: 2,5mg SC de 24/24h por até 8 dias
o Evitar: candidatos à ICP primária
Betabloqueador: reduz mortalidade – deve ser usado em todos os pacientes hemodinamicamente estáveis,
com baixo risco para choque cardiogênico e sem contraindicações (preferir via oral) – manter pelo menos
durante 1 ano
• Captopril: iniciar 6,25mg, após 2h: 12,5mg VO 12/12h → alvo 50mg VO 8/8h
• Enalapril: iniciar 2,5mg 12/12h → alvo 10mg VO 12/12h
• Losartana: 12,5-50mg VO 12/12h
• Valsartana: iniciar 40mg VO 24/14h → alvo 160mg VO 24/24h ou maior tolerada
• Contraindicações absolutas ao IECA: estenose bilateral de artéria renal, gravidez e antecedente de
angioedema durante uso prévio do mesmo
Hipolipemiantes: indicado para todos os pacientes (reduz mortalidade), independe do índice lipêmico, usar
estatina de alta potência dose máxima iniciada em menos de 24h – manter por 30 dias e após ajustar dose
Terapias de reperfusão: estratégia mais importante do tratamento – pode ser química (fibrinólise) ou
mecânica (ICP) → indicada no IAMCSST com < 12h de início dos sintomas (ou > 12h com sintomatologia
persistente ou alteração de ECG de isquemia ativa) – quanto mais precoce, melhor o prognóstico!
o Contraindicações relativas:
▪ AVEi > 3 meses ou qualquer outra doença intracraniana;
▪ Gestação;
▪ Uso corrente de Varfarina ou outros anticoagulantes;
▪ Sangramento recente < 2-4 semanas;
▪ RCP ou cirurgia de grande porte < 3 semanas;
▪ Hipertensão grave (> 180 x 110 mmHg);
▪ Punções não compressíveis;
▪ História de hipertensão crônica grave e descontrolada;
▪ Doença ulcerosa péptica em atividade.
• Revascularização cirúrgica:
o Urgência (< 180min do fibrinolítico): para pacientes com anatomia coronária favorável, quando há
falhas ou contraindicações da trombólise e ICP, na presença de complicações (isquemia recorrente,
choque cardiogênico e alterações mecânicas do infarto)
o Eletiva (3 a 7 dias após o infarto): para pacientes com anatomia não favorável para ICP, na presença
de isquemia recorrente e no comprometimento importante da função ventricular
TRATAMENTO - IAMSSST:
• Todos os pacientes classificados como médio ou alto risco devem ser internados em unidades
coronarianas, se disponível
Analgesia:
• Nitrato: tratamento sintomático da dor (preferir via SL – usar IV se não houver alívio rápido)
o Mononitrato de isossorbida: 5mg SL
o Dinitrato de isossorbida: 2,5-5mg SL
o Nitroglicerina: o,4mg SL ou 10 mcg/min em BIC (aumentar 10 mcg/min até efeito desejado ou
hipotensão)
• Morfina: deve ser evitada sempre que possível devido seus efeitos colaterais → indicada apenas se
dor importante após uso de nitrato ou betabloqueador
o Dose inicial: 2-5mg/dose EV bólus (doses adicionais a cada 5-15 minutos se persistir a dor –
máximo 25mg)
• Contraindicado o uso de AINEs (exceto AAS)!
Dupla antiagregação plaquetária (AAS + Clopidogrel): indicada para todos, por pelo menos 1 ano
Betabloqueador: reduz o trabalho miocárdico, mas ainda carece de evidências quanto à redução de
mortalidade → iniciar em até 24h se não houver contraindicações
IECA/BRA: não são indicados de rotina, apenas em pacientes de risco intermediário a alto com disfunção
ventricular esquerda, hipertensão ou diabetes mellitus → preferir IECA (BRA como alternativa)
Estatinas: indicado em todos os pacientes, independente do LDL, iniciar em menos de 24h (dose máxima)
Terapias de reperfusão:
REFERÊNCIAS:
• O'Gara PT, Kushner FG, Ascheim DD, et al. 2013 ACCF/AHA guideline for the management of ST-elevation
myocardial infarction: executive summary: a report of the American College of Cardiology
Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation.
2013;127(4):529-55.
• Ibanez B, JamesS, Agewall S, et al. 2017 ESC Guidelines for the management of acute myocardial
infarction in patients presenting with ST-segment elevation: The Task Force for the management of acute
myocardial infarction in patients presenting with ST-segment elevation of the European Society of
Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2018; 39(2):119-177.
• Collet JP, et al; ESC Scientific Document Group. 2020 ESC Guidelines for the management of acute
coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment elevation. Eur Heart J 2020
Aug 29; ehaa575.