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Hamlet

Obra adaptada da tragédia de “HAMLET”

PRIMEIRO ATO

PRÓLOGO

(Entra o narrador e acende canhão de luz)

NARRADOR 1- Hamlet é a obra de Shakespeare que mais ganhou destaque. A tragédia é


baseada em um príncipe que busca vingar a morte de seu pai, com uma densa narrativa
reflexiva sobre conflitos de família, amores, loucura e sanidade, filosofia, poder, moralidade e
todas as circunstâncias da condição humana. Por sua complexidade temática, ganhou
destaque mundial e seu legado permanece até os dias de hoje.

NARRADOR 2- Escrita entre os anos de 1599 e 1601, a peça se passa no reino da Dinamarca. A
trama se dá início após a trágica morte do rei Hamlet por causas desconhecidas. O drama,
tristeza e morbidade se instalavam por todas as pessoas presentes no recinto e no reino,
trazendo um ar repleto de preocupações e tragédias. Como sabemos, nem todas as histórias
tem finais felizes, será que esta terá? Veremos.

NARRADOR 1 E 2- Com vocês, HAMLET!!!

(Canhão de luz apaga, narradores se retiram e cortinas se abrem)

ABERTURA

(Música 1- La Melancolie, Henning Kraggerud/ Velório, Gertrudes chora e abraça o caixão.


‘’Todos’’ de luto/luz do palco ascende)

CLÁUDIO- Hamlet,pensai em vós como pai, pois assumirei o lugar dele, vois sois o vosso trono
sucessor mais próximo, e a mais nobre afeição e nada inferior à que dedica o filho, o pai mais
extremoso, e que por voz nós consagramos. (Hamlet olha pra Claudio com olhar amargurado
e sai)

CLÁUDIO- Já que meu falecido irmão não estará aqui para proteger sua esposa e seu filho, eu
me casarei coma rainha, assumindo assim, o papel de rei da Dinamarca. (Pegando coroa do rei
Hamlet que estar em cima do caixão e colocando na cabeça) -Vamos minha rainha! (Puxando
Gertrudes com delicadeza pra fora de cena)

(Todo mundo sai do palco e deixam o caixão, música 1 começa,cortinas se fecham, música 1
para )
CENA I

(Cortinas abrem, Laertes entrapara se despedir do Rei e do seu pai /Claudio e Polônio já
estarão no palco)

CLÁUDIO- E quanto a vós, Laertes, o que há de novo? Vós nos falastes de uma graça que
tendes por suplicar?

LAERTES- Meu temido senhor meus pensamentos e desejos se voltam para a França e
inclinam-se ante vós para alcançar graciosa missão.

CLÁUDIO- Dei-vos licença a vosso pai, o que diz Polônio?

POLÔNIO- Ele arrancou de mim senhor tarda licença com laboriosa petição e finalmente o
almejo, lhe-selei, com resistência e anuência rogo que lhes dei licença de partir.

CLÁUDIO- Agora é tua hora favorável Laertes, o tempo seja teu, e como bem quiseres gaste-
lhes os teus toques. Adeus. (fala enquanto beija as bochechas de Laertes)

(Cláudio e Polônio saem e Ofélia entra)

LAERTES-Minha querida Ofélia, minha bagagem já se encontra pronta. Adeus! (Fala abraçando
Ofélia) – E quanto a Hamlet e seus frívolos favores, são um tributo à moda, um juvenil capricho
e nada mais.

OFÉLIA- E nada mais além disso?

LAERTES- Julgai-o assim. Ele talvez vos ame agora, contudo, preveni-vos. Pesando-lhe a
grandeza, ele não é o senhor das próprias intenções. O nascimento o obriga! Pensai no dano
que talvez vos sofra a honra...

(Polônio entra pela porta lateral gritando)

POLÔNIO- Laertes!!!! Ainda aqui, Laertes? A bordo, a bordo! Que vergonha! O vento já pousou
nos ombros do veleiro e estais sendo aguardado. Vai-te com minha bênção. (Abraçando
Laertes)

(Laertes puxa Ofélia consigo para longe de Polônio, e Polônio sai de cena)

LAERTES- Adeus, Ofélia. Recordai-vos bem daquilo que vos disse.

OFÉLIA- Fechei vossas palavras na memória. A chave vós mesmo guardareis.

(Laertes vai embora, Ofélia volta e as cortinas se fecham)


CENA II

(Cortinas abrem e Horácio vai ao encontro de Hamlet, que está no meio do palco)

HORÁCIO- Saúdo-vos, meu senhor.

HAMLET- Horácio, como estais velho amigo? Folgo em vê-lo, mas... Por qual razão deixastes
Wittenberg?

HORÁCIO- Simples disposição de um preguiçoso, haha.

HAMLET- Não ouviria tal coisa de um inimigo vosso. Sei que vadio não sois. Porém, o que vos
moveu até Elzenor?

HORÁCIO- Vim para assistir o funeral de vosso pai.

HAMLET- Não zombes de mim, amigo. Sei que veio para ver o casamento de minha mãe.

HORÁCIO- De fato, senhor. Um se sucedeu ao outro.

HAMLET- Economia, Horácio. Se viram os bolos do enterro, mesmo frios, nas mesas do
noivado.

HORÁCIO- Meu senhor, eu ando vendo o rei, vosso pai.

HAMLET- O rei, meu pai?

HORÁCIO- Contente o vosso espanto para que eu vos narre, com o testemunho dos gentis
cavalheiros do castelo, o protigioso fato.

HAMLET- Pelo amor de Deus, narra-me logo.

HORÁCIO- Duas noites em seguida, nas horas mortas em que a noite se vai, uma figura
semelhante ao vosso pai, surge diante dos dois. Três vezes caminhou-lhes sob o olhar atônito e
cheio de pavor, a uma distância igual a do bastão que segurava, enquanto os dois tremiam de
terror como geleias. Ficaram mudos, sem lhe dirigir a voz. Contaram-me isso como um segredo
tenebroso, e eu, à terceira noite montei guarda com eles. Provando, que era pouco incerta a
narração quanto a forma e no tocante a hora.Tal como haviam dito: a aparição surgiu. Eu
reconheci o vosso pai! Estas mãos não são mais parecidas.

HAMLET- E onde foi isso?

HORÁCIO- Perto do posto de guarda.

HAMLET- E vós não lhe falastes?

HORÁCIO- Falei, senhor. Mas ele não me deu resposta, figurou-se me com tudo. E num dado
um instante, que ele erguera a cabeça e meneou algum gesto, tal como se fosse dirigir-me a
voz, mas então, cantou alto o galo da alvorada, que a esse canto, ele partiu à toda pressa.
Sumindo-se de nossa vista.

HAMLET- É muito estranho.


HORÁCIO- É tão verdade como é certo estar eu vivo.

HAMLET- Sim, sim Horácio... Queria estar lá.

HORÁCIO- Ficarias perplexo...

HAMLET- Vigiarei esta noite, veremos se ele aparece.

(Horácio sai e Hamlet sai depois de alguns segundos. Troca o cenário do telão para noite e
Hamlet entra novamente. O fantasma do rei entra logo após.)

FANTASMA DO REI- Eu sou a alma de teu pai. Condenado a vagar à noite por um certo prazo. E
de dia recluso a jejuar no fogo. Não me foste proibido revelar segredos do meu cárcere, eu te
farei algum relato, cujo o mais leve tempo havia de rasgar-te a alma. Ouça: se algum dia
amaste um terno pai, vinga-lhe o torpe, monstruosíssimo assassino.

HAMLET- Assassino?

FANTASMA DO REI- Sim e torpíssimo. Pois sempre o é. Mas esse foi mais que torpe, estranho
e monstruoso. Fizeram crer que uma serpente me picou enquanto estava adormecido, mas
sabe nobre moço, a serpe que tirou a vida de teu pai exerce a coroa agora.

HAMLET- Oh! Minha alma profética! Meu tio!!

(Hamlet vira, luzes se apagam, o fantasma corre para trás da cortina vermelha e as luzes
acendem. Hamlet continua na cena confuso e acontece diálogo com Ofélia, que entra no
palco)

OFÉLIA- Amanhã é dia de São Valentim, bem cedo juntinho a tua janela, pois tarde eu... serei
tua donzela. Pra ser a tua... (Ofélia avista Hamlet, e ele vai ao encontro dela, enquanto Polônio
os observa/ Hamlet se encontra em estado de loucura)

(Polônio os observa na parte de baixo do palco, Hamlet e Ofélia saem do palco e o rei e
rainha entram, logo após Polônio sobe no palco correndo para convencê-los que Hamlet está
louco de amor)

POLÔNIO- Meu senhor. (fala Polônio, afastando o rei e a rainha de perto dos serviçais) –Eu
penso que descobri a causa pela qual Hamlet anda lunático

GERTRUDES- Pois ande, o que estais esperando, vos fale logo, há muito que ardo por saber.

POLÔNIO- Meu rei, minha rainha, discutir que seja majestade, examinar o acatamento, porque
dia é dia e a noite é noite e o tempo é tempo, isso seria o mesmo que perder o dia, a noite e o
tempo, logo se a brevidade a alma do bom senso serem sumário. (o rei e a rainha olham
confusos e dão uma pausa de 3 segundos) –Vosso nobre filho está louco. Louco digo eu; mas
como definir a verdadeira loucura? Loucura não é mais do que estar louco. Mas paremos aí.

GERTRUDES- Mais substância e menos artes. (fala a rainha com raiva e impaciente andando
pelo palco)
POLÔNIO- M-mas senhora, eu juro que não me falo de arte, mas ele está louco é verdade.
Louco então: estejamos de acordo. Mas agora resta descobrir a causa desse efeito, ou... ainda
melhor a causa do defeito. (tira carta do bolso e lê mentalmente passando o olho pelo papel)

GERTRUDES- Vamos seu frívolo, fale-nos logo, não aguento mais de tanta espera.

CLAÚDIO- Isso mesmo Polônio, diga-nos o que tem ai.

POLÔNIO- Bom os senhores sabem que eu tenho uma filha, tenho-a assim enquanto é minha,
que por dever e obediência, me deu isto, conclua por vossa parte.(polônio le carta)

CARTA:“Ao ídolo celestial da minha alma, à belíssima Ofélia...”

POLÔNIO- Uma expressão falsa, uma invenção vulgar – belíssima;

CARTA: Que ela, na excelsa alvura nívea de seu seio...

GERTRUDES- Hamlet enviou isso para sua Ofélia?

POLÔNIO- Senhora paciência, lhe direi tudo. (polônio termina de lê a carta)

CARTA-“Duvida que o sol seja claridade, suspeita da mentira na verdade, mas não duvida
deste que te ama! Oh , cara Ofélia, sou tão ruim com versos. Mas que eu te amo com um amor
supremo, crê – meu supremo encanto. Adeus – teu para todo sempre, dama queridíssima.

Hamlet”

POLÔNIO- Minha filha mostrou-me dócil essa carta.

CLAÚDIO- Como comprovar-nos?

POLÔNIO- Ele por vezes, caminha horas a fio aqui na galeria.

GERTRUDES- Isso faz sem dúvidas.

CLÁUDIO- Vamos, vamos conversar em um lugar mais particular

(Gertrudes sai de cena, Polônio e o rei vão para o canto do palco e vigiam, Hamlet se levanta
e fica andando no palco, Ofélia entra pela cortina)

OFÉLIA- (vê Hamlet passando e o chama) –Alteza, como estais depois de tantos dias?

HAMLET- Humildemente eu agradeço, bem.

OFÉLIA- Senhor tenho lembranças vossas, que já a algum tempo desejava devolver. Recebei
essa corda por favor.

HAMLET- Não, eu não, se nunca vos dei nada

OFÉLIA- Meu honrado senhor bem sabeis que sim, e com palavras de tão doce alento que
tornaram os mínimos mais valiosos. Esse perfume se esvaiu, recebei-vos de volta. (Hamlet
pega o cordão)
HAMLET- Ofélia você é honesta?

OFÉLIA- Meu senhor?!

HAMLET- Você é bonita?

OFÉLIA- O que quer dizer Vossa Senhoria?

HAMLET- Que se você é honesta e bonita, sua honestidade não deveria admitir qualquer
intimidade com a beleza.

OFÉLIA- Senhor, com quem a beleza poderia ter melhor comércio do que com a virtude?

HAMLET- O poder da beleza transforma a honestidade em meretriz mais depressa do que a


força da honestidade faz a beleza se assemelhar a ela. Antigamente isso era um paradoxo, mas
no tempo atual se fez verdade. Eu te amei, um dia.

OFÉLIA- Realmente, senhor, cheguei a acreditar.

HAMLET- Pois não devia. A virtude não pode ser enxertada em tronco velho sem pegar seu
cheiro. Eu nunca vos amei.

OFÉLIA- Tanto maior meu engano.

HAMLET- E Ofélia, onde está teu pai?

OFÉLIA- Em casa, meu senhor.

HAMLET- Então que todas as portas se fechem sobre ele, pra que fique sendo idiota só em
casa.

OFÉLIA- Oh, céu clemente, ajudai-o!

HAMLET- Se você se casar, leva esta praga como dote. Ou, se precisa mesmo casar, casa com
um imbecil, pois os homens avisados sabem muito bem que monstros fazeis deles.(Hamlet
empurra Ofélia)

OFÉLIA- Ó, poderes celestiais, curai-o!

HAMLET- Já ouvi falar também, e muito, de como vos pinta. Deus te deu uma face e fabricais
outra pra vós, vai embora, chega, foi isso que me enlouqueceu. Digo-vos: não teremos mais
casamentos. Hão de viver os já casados, todos, menos um. Os restantes permanecerão como
já se encontram.(Hamlet fala e sai estressado, jogando o colar)

OFÉLIA- Ó, ver tão nobre espírito assim tão transtornado! O olho, a língua, a espada do
cortesão, soldado, sábio, rosa e esperança deste belo reino, espelho do gosto e modelo dos
costumes, admirado pelos admiráveis, caído assim, assim destruído! (Ofélia assustada agacha
e pega o colar.)

(Ofélia sai devagar e o rei e Polônio entra para diálogo)

POLÔNIO- Devemos vigiá-lo, com extrema cautela.


CLÁUDIO- Com cautela e com a certa decisão, ordeno que ele vá à Inglaterra sem tardança
para exigir os nossos tributos atrasados. Talvez os mares e países diferentes, com seus
aspectos vários, consigam expulsar o espírito que nele se acha.

(Todos saem de cena e todas luzes apagam)

CENA III

(Canhão de luz em Hamlet que sairá da cortina vermelha)

HAMLET- Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre em nosso espírito sofrer pedras e
setas com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja, ou insurgir-nos contra um mar de
provocações e em luta pôr-lhes fim? Morrer;dormi, nada mais. Dizer que rematamos com um
sono a angústia e as mil pelejas naturais-herança do homem: morrer para dormir… é uma
consumação que bem merece e desejamos com fervor; morrer,dormir… Talvez sonhar: eis
onde surge o obstáculo,pois quando livres do tumulto da existência, no repouso da morte o
sonho que tenhamos devem fazer-nos hesitar, quem sofreria os relhos e a irrisão do mundo,o
agravo do opressor, a afronta do orgulhoso etoda a lacinação do mal-prezado amor. Por isso
retorno a minha pergunta “SER OU NÃO SER : EIS A QUESTÃO?”

(Hamlet entra para o palco canhão de luz apaga, luzes ascendem,cortinas abrem e Ofélia já
estará no palco, logo após Hamlet entra)

HAMLET- Não creia em nenhum de nós, nós somos todos uns patifes rematados. Vai-te para o
convento, vai-te! (Hamlet beija Ofélia, e Ofélia fica atordoada)

(Cortinas se fecham novamente enquanto eles se beijam)

SEGUNDO ATO

CENA I

(Cortinas abrem e lá já estará Gertrudes, em seus aposentos, quando Polônio entra em cena
para falar com a mesma)

POLÔNIO- Hamlet vem logo. Deve lhe falar com firmeza que as extravagâncias dele têm se
tornado exageradas, não são mais suportáveis. Ficarei escondido aqui mesmo. Rogo-vos: sede
clara. (Polônio diz isso enquanto se esconde atrás de uma tapeçaria)

HAMLET- Minha mãe, minha mãe, minha mãe! (Diz isso ao longe enquanto entra no palco)

GERTRUDES- Ficai tranquilo! (Diz se dirigindo a Polônio)

(Hamlet se aproxima de Gertrudes, já que antes estava ao longe)

HAMLET- Então, o que quer mãe?


GERTRUDES- Hamlet, grande ofensa a teu pai fizestes!

HAMLET- Grande ofensa fizestes a meu pai.

GERTRUDES- Ora, vamos! Com língua insana respondeis!

HAMLET- Com língua ociosa me acusais.

GERTRUDES- O que dizeis, Hamlet?

HAMLET- Do que se trata agora?

GERTRUDES- Esquecestes de quem sou?

HAMLET- Não! Pela cruz que não! Vós sois a rainha, a esposa do cunhado vosso e – antes não
fosse – vós sois a minha mãe! (Fala isso raivosamente)

GETRUDES- Pois vou chamar quem convosco possa falar! (Assim que inicia a fala profere um
tapa no rosto de Hamlet)

(Hamlet grita raivosamente e muito alto enquanto Gertrudes anda para longe com intenção
de chamar alguém, quando a mesma ouve o grito, para e se vira para ele)

HAMLET- Vinde! Vinde e sentai-vos e não vos movereis, nem saireis daqui sem que eu vos
ponha um espelho onde vejais o fundo de vossa alma! (Fala isso enquanto empunha uma
espada e cerca Gertrudes)

GERTRUDES- AH! Que queres tu fazer?! Pretendes me matar?!

(Hamlet se move rapidamente pra perto dela com a espada)

GERTRUDES- Socorro!! Ajudem-me!!

(Polônio, que estava escondido na tapeçaria, se pronuncia)

POLÔNIO- Socorro!! Socorro!!

(Hamlet se vira rapidamente)

HAMLET- O que?! Um rato! Aposto um ducado que ele vai morrer!


(Hamlet corre em direção à tapeçaria e a fura com sua espada usando-se de toda sua força)

POLÔNIO- AHHHH!!

HAMLET- Morto!!! (Levanta os dois braços enquanto fala)

GERTRUDES- Ai de mim! Que fizestes?!!

HAMLET- E eu que sei, senhora? Será o rei?


(Hamlet se dirige exasperadamente até a tapeçaria, retira sua espada de Polônio, que
grunhe e cai no chão, logo após Hamlet levanta a tapeçaria e vê que se tratava de Polônio.
Gertrudes se dirige até Polônio)

GERTRUDES- Que impensada e sangrenta ação foi esta? (Fala em choque e em baixo tom)

HAMLET- Sangrenta sim. Quase tão má, ó boa mãe, como matar um rei e desposar-lhe o
irmão!

GERTRUDES- Como matar um rei?

HAMLET- Sim senhora! Foi o que eu disse!

(Gertrudes se levanta espantada)

HAMLET- Mísero tolo, intruso e intemerário, adeus! Tomei-te por alguém mais alto. Aceita a
sorte, em vez que há perigo em ser intrometido!!- (Começa a se dirigir à Gertrudes)- Harai de
torcer as mãos.

(Hamlet deixa espada cair)

HAMLET- Calma, sentai-vos, e deixai-me torcer vosso coração. E eu farei, se for de massa
penetrável!

(Gertrudes corre, mas Hamlet a cerca)

GERTRUDES- Que fiz? Que ousas soltar a língua nesse clamor tão rude contra mim.

HAMLET- Um ato! Que mancha a graça e o rumor da modéstia! Chama de hipócrita a virtude,
torna os votos nupciais perjuros como um jogador de dado!

GERTRUDES- Ai de mim! Que ato?!

(Hamlet pega o colar em seu pescoço, que representa seu pai, e compara com o de
Gertrudes, que representa Cláudio)

HAMLET- Olhai aqui nessa pintura – (A dele, que contém rei Hamlet) – E nessa outra – (Que
contém Cláudio) – A representação cabal de dois irmãos.

(Hamlet levanta levemente o colar dele para se referir ao mesmo)

HAMLET- Vêde que graça residia nesse rosto? Conjunto e forma onde realmente parecia que
cada um dos deuses imprimia o selo para afiançar ao mundo que ali estava um homem. Este
era vosso esposo!

(Gertrudes se sacode em negação)

HAMLET- Agora o outro! Aqui está o vosso esposo, espiga com ferrugem definhando o seu
irmão sadio! Tendes vista?! Deixastes de nutri-vos neste belo topo para engordar nesta aridez!
Tendes vista?!! Não podeis dizer que é amor. Em vossa idade, a excitação do sangue é dócil,
faz-te humilde, serve ao bom senso! E que bom senso trocaria um pelo outro?!! Oh! Vergonha!
Onde está o teu rubor?!
GERTRUDES- Não fales mais. Fazes que eu volte meu olhar para minha alma. E aí vejo manchas
negras de tão firme cor que não sairão jamais. (Fala com desesperança)

HAMLET- Um rei só de remendos e retalhos...

(O fantasma entra em cena, Hamlet se assusta e se afasta de Gertrudes)

HAMLET- Salvai-me e cobri-me com vossas asas, ó guardas celestiais! Que desejais, forma
indulgente? (Fala assustado)

GERTRUDES- Estais doido!

HAMLET- Viestes para zangar com o vosso tardo filho? Ó, dizei!

FANTASMA- Não te esqueças. O fim desta visita é estimular-te um intento quase importado.
Mas vê, a perplexidade oprime tua mãe. Põe-te entre ela e o seu espírito que luta. Dirigi-te a
ela, Hamlet.

HAMLET- Senhora, que sentis?

GERTRUDES- O que se passa contigo? Tu que fixais o olhar no vago e sustentais conversação
com o ar sem corpo. Ó, filho gentil, para onde olhais?

HAMLET- Para ele, para ele! Vêde que brilho pálido!

GERTRUDES- A quem te diriges?

HAMLET- Não vêdes nada ali?

GERTRUDES- Só o que nos cerca.

HAMLET- E nada ouvistes?

GERTRUDES- Nada! A não ser a nossa voz!

HAMLET- Olhai ali! Vêde como se retira meu pai nas festas que trazia quando vivo!

GERTRUDES- É fruto do teu cérebro!

(Fantasma se retira)

HAMLET- Não foi loucura o que expressei. Mãe, pelo amor de Deus! Não lisongieis vossa alma
com esta falsa ilusão de crer que em vez do vosso delito, é minha insânia quem fala. Confessai-
vos aos céus. Arrependei-vos do passado e conjurai-vos do que é futuro.

GERTRUDES- Oh, Hamlet! Tu partes em dois o meu coração!

(Gertrudes se encontra chorando, nos braços de Hamlet e sentados no chão)

HAMLET- Então jogais fora a parte pior e vivei mais pura com a outra metade!
(Gertrudes continua chorando, Hamlet a abraça e dá um beijo em sua cabeça)

HAMLET- Boa noite... - (Fala já se levantando) – E quando desejardes ser abençoada eu pedirei
a vossa bênção. Quanto a este senhor... Estou arrependido.

(Hamlet se levanta e vai em direção a Polônio)

HAMLET- Mas foi o céu que assim dispôs para punhêr-me por meio dele e a ele com o que eu
lhe fiz. – (Hamlet pega sua espada e a guarda) – Vou escondê-lo e ficar responsável por esta
morte. Assim, mais uma vez, boa noite. Devo ser cruel, apenas pra ser gentil. Isso começa mal
e pior será o restante.

GERTRUDES- O que devo fazer?

HAMLET- Não deixai que o inchado rei ao leito vos atraia. Vos belisque a face e ao chamar-vos
ratinha. Por um par de imundos beijos, vos faça revelar-lhes tudo! Que eu realmente não
estou louco, mas apenas dissimulo.

(Gertrudes concorda ainda chorando)

GERTRUDES- Se palavras são alento e alento é vida, não possuo vida então. Harei de medir
com meu alento o que dissestes.

HAMLET- Mãe, boa noite de verdade.

(Hamlet arrasta polônio para trás da cortina e eles saem da cortina. Gertrudes continua ao
chão pensativa e encarando o colar até que Cláudio entra)

CLÁUDIO- Como se encontra vosso filho?

GERTRUDES- Louco. Em sua plena insânia matou Polônio.

CLÁUDIO- Já chega. Mandarei-o para a Inglaterra. Vos despeça do mesmo até amanhã.

(Cláudio e Gertrudes saem de cena e um tempo depois Hamlet entra e troca o cenário do
telão, por consequência Gertrudes entra também, para se despedir. Assim que Hamlet a vê,
corre em sua direção)

HAMLET- Sabeis que tenho que ir para Inglaterra?

GERTRUDES- Sim (Concordando coma cabeça)

HAMLET- Há um diploma selado e meus dois amigos, em quem confio como em víboras de
presas venenosas, levam um mandado. Vão limpar o meu caminho e guiar-me a uma cilada.

(Gertrudes expressa preocupação)

HAMLET- Porém eu cavarei uma jarda sob as minas e na explosão mandarei-os para lua.

(Gertrudes concorda aliviada e os dois se abraçam e saem de cena por lugares diferentes. O
telão mostrará uma imagem de barco. Cortinas fecham. Luzes se apagam e canhão de luz
acende, ele focará em Ofélia, que sairá do fundo do auditório com aspecto louco.
Vagarosamente ela caminhará até os guardas, que estarão dos dois lados da cortina. Quando
ela dialogar com um deles, as luzes irão acender)

CENA II

OFÉLIA- Como de outro distinguir o teu fiel apaixonado? Uh? – (Já se dirigindo ao guarda) –
Pela concha do chapéu, as sandálias e o cajado. Quando o caso se propõe ao que param os
rapazes, por Deus são de censurar. Antes de me derrubares, juraste de comigo te casares. Pelo
sol eu teria me casado, se em meu leito não deitasses! Onde está a rainha dos
Dinamarqueses?!!

(O outro guarda se dirige a ela e a prende pelos braços, enquanto isso as cortinas se abrem,
mas ela continua lá em baixo, como enlouqueceu, repete constantemente a palavra
“jurastes”. No palco entram Horácio e Gertrudes)

GERTRUDES- Não quero falar com ela.

HORÁCIO- Mas ela é insistente; está fora de si. Seu estado merece piedade.

GERTRUDES- Que quereria ela?

HORÁCIO- Fala muito do pai; diz que sabe que há intrigas no mundo; tosse e bate no coração.
Se irrita por qualquer migalha; fala coisas sem nexo, ou apenas com metade do sentido. O que
não diz nada, mas permite aos que escutam tirarem suspeitas dessa deformação; e aí
conjeturam, rearrumando as palavras de acordo com o que pensam. As palavras, meneios e
gestos que ela faz, dão pra acreditar que realmente ali há um pensamento; bastante incerto;
mas muito doloroso. Seria bom que falassem com ela, pois pode espalhar suposições perigosas
em cérebros malignos.

GERTRUDES- Está bem, mande ela entrar.

(Horácio sai e volta para o palco com Ofélia fora de si)

GERTRUDES- O que foi, Ofélia?

OFÉLIA- Está morto, senhora, foi embora;


Uma lápide por cima
E grama verde por fora.
Oh, oh! (Ofélia fala cantando)

(Gertrudes vê que ela se encontra fora de si e corre, mas Ofélia a cerca)

OFÉLIA- Seu sudário, como a neve da montanha...

(O rei entra)

GERTRUDES- Veja isso, senhor. (Fala ela correndo em direção ao rei)

OFÉLIA- O pranto do amor fiel


Fez as flores perfumadas
Descerem à tumba molhadas (Ofélia fala cantando)
CLÁUDIO- Há quanto tempo ela está assim?

(Ofélia, ao longe, faz movimentos repetitivos. Cláudio se aproxima para falar com ela)

CLÁUDIO- Como passais, formosa jovem?

OFÉLIA- Deus vos recompense. – (Sorri e se aproxima do rei) – Dizem que a coruja era filha de
um padeiro. Senhor, sabemos o que somos mas não o que podemos ser. Espero que tudo se
arranje. Devemos ser pacientes.

(Ofélia se afasta e grita desgostosamente. Logo após, se senta e coloca as mãos no cabelo, o
apertando)

OFÉLIA- Mas não posso evitar o pranto... Quando penso que o deitaram no chão frio.

(Ofélia encara o rei e ri. Depois se levanta e vai em direção ao mesmo)

OFÉLIA- Meu irmão vai saber!

(Ela se direciona a rainha e beija suas mãos, assim como faz com o rei)

OFÉLIA- E assim, vos agradeço o bom conselho... (Diz enquanto beija as mãos da rainha)

(Ofélia desce do palco e deseja boa noite a algumas pessoas da platéia e sai do auditório)

GERTRUDES- Infeliz Ofélia. Fora de si e de sua lúcida razão. Horácio, siga-a de bem perto. Eu
lhe peço.

(Horácio concorda e segue Ofélia. Todos saem de cena e a cortina se fecha. Após um tempo,
Laertes entra pela porta e se dirige aos dois guardas, que ainda continuam em seus postos)

LAERTES- Onde está esse rei?!! – (Ele empunha a espada) – Deixai que ele se apresente a
mim!! Onde está o rei?!! Oh rei vil, eu quero meu pai!!

CLÁUDIO- Calma, bom Laertes! – (O rei sai de dentro da cortina) – Não receei com vossa
pessoa.

LAERTES- Onde está meu pai?!

CLÁUDIO- Morto.

LAERTES- Venha o que vier, hei de vingar o meu pai do modo mais completo! (Aponta a
espada para o rei)

CLÁUDIO- Meu bom Laertes! Querei saber o certo sobre o vosso querido pai? Está escrito em
vossa vingança que quereis o inimigo ou a mim?

LAERTES- Tão somente o inimigo!


CLÁUDIO- Agora falais como bom filho e verdadeiro cavalheiro. - (Após falar isso afasta a
espada de Laertes) – Que não possuo culpa alguma nessa morte e que ela me provoca mais
intensa mágoa. Isso parecerá tão claro ao vosso juízo qual surge o dia ao vosso olhar.

(Ofélia, que está dentro da cortina, começa a chorar, as cortinas se abrem e Laertes e o rei
sobem rapidamente ao palco. Laertes se aproxima de Ofélia, ela se encontra com ossos,
filepas de madeira e um prego. Gertrudes entra em cena confusa e observa a dama)

OFÉLIA- Rosmaninho. – (Fala do osso) – Para lembrança. – (Levanta e oferece-o para Laertes) –
Peço-vos amor, lembrai-vos. – (Laertes pega o osso) – E aqui amor perfeito, para melancolia. –
(Ele mais uma vez pega o osso)

(Ofélia se levanta e dá um de seus objetos a Gertrudes, Cláudio e um para si, na ordem)

OFÉLIA- Aqui está, funcho pra vós, e ancólias. Arruda pra vós. E alguma pra mim. Por motivo
diferente useis a vossa arruda. Eis a margarida – (Dá o prego a Cláudio) – Queria dar-vos
violetas, mas feneceram quando meu pai morreu. Dizem que teve bom fim.

(Ofélia sai de cena)

LAERTES- Meu Deus! Pode juiz de uma virgem ser tão frágil como a essência de um ancião?

(Cortina se fecha com todos chocados em cena. As luzes desligam, uma luz ligará de dentro
da cortina, assim fazendo uma sombra de Ofélia, que se mata e cai no chão. Depois as luzes
ligam e cortinas abrem, revelando Hamlet e Horácio, que entraram em cena. No palco já
estará o coveiro simulando cavar uma cova)

CENA III

COVEIRO- Na mocidade eu amava e amava;


Como era doce passar assim o dia
Encurtando o tempo que voava
E eu não via a vida que fugia.

E a velhice chega bem furtiva


Na lentidão que tarda, mas não erra
E nos atira aqui dentro da cova
Como se o homem também não fosse terra (Fala cantando e cavando a cova)

HAMLET- De quem é essa sepultura, amigo?

COVEIRO- Minha, senhor.

HAMLET- Penso que é tua realmente, pois estais nela. Para que homem a cavas?

COVEIRO- Para homem nenhum.

HAMLET- Então para que mulher?

COVEIRO- Para nenhuma.

HAMLET- Quem nela vai ser enterrado?


COVEIRO- Alguém que era mulher, senhor. Mas, paz à sua alma, ela morreu.

HAMLET- Que preciso este pícaro! – (Vira para Horácio e sorri, depois se dirige ao coveiro) – Há
quanto tempo és coveiro?

COVEIRO- Foi no mesmo dia em que nasceu o jovem Hamlet. Este que está louco e foi
mandado à Inglaterra.

HAMLET- Ah, com efeito. Porque o enviaram para a Inglaterra?

COVEIRO- Por quê? Porque estava louco. Lá ele recobrará o juízo. Se não recobrar, isso não
tem lá muita importância.

HAMLET- Por quê?

COVEIRO- Não verão a loucura dele. Lá todos são tão loucos como ele.

(Horácio sorri e Hamlet se ajoelha e pega um osso)

HAMLET- Quanto tempo leva um homem para apodrecer na terra?

COVEIRO- Por Deus! Se não estiver podre antes de morrer, uns oito ou nove anos.

(O coveiro pega um crânio)

COVEIRO- Eis aqui uma caveira. Jazeu na terra 23 anos.

HAMLET- De quem era?

COVEIRO- Haha, de um filho da mãe de louco. Uma vez despejou em mim um jarro de vinho.
De quem julgais que tenha sido?

HAMLET- Ah, não sei.

COVEIRO- Esta caveira, senhor, era de Yorick. O bobo do rei.

HAMLET- Essa?

COVEIRO- Esta.

HAMLET- A-ah, deixe-me ver.

(O coveiro joga o crânio e Hamlet o pega)

HAMLET- Que lástima, pobre Yorick. Eu o conheci, Horácio. Um tipo de infinita jocosidade e da
mais notável fantasia... – (Horácio se aproxima) – Ele me levou às costas mil vezes! Agora, que
horrível é imaginar tal coisa! Como é nauseante. Onde estão agora tuas chuvas, tuas cabriolas,
tuas canções? Teus lampejos de chiste que davam acesso de alegria aos comensais? Haha.
Nem um mais para zombar de teu próprio ricto. Caiu-te o queixo? Vai agora, à câmara de
minha dama e diz-lhe que, embora com uma polegada de pintura na face, não poderá fugir da
aparência. Faze-a rir com isso.
(Entram no palco Cláudio, Gertrudes, Laertes e o corpo de Ofélia, num caixão, com padres e
figurantes. Hamlet se esconde atrás de algum lugar)

HAMLET- De quem é o enterro?

(Laertes retira o pano do rosto de Ofélia e a beija. Logo após, a rainha deixa as flores que
carregava sobre Ofélia)

GERTRUDES- Flores à flores! Adeus! Esperava que fosses a esposa do meu querido Hamlet;
Pensava adornar teu leito de noiva, doce criança, não florir tua sepultura.

(Laertes vai novamente em direção a Ofélia e lá a abraça. Hamlet sai de onde se escondia e
Laertes se dirige a ele rapidamente, segurando seu pescoço)

LAERTES- Que o diabo leve tua alma!

HAMLET- Tire os dedos do meu pescoço! Pois tenho em mim algo de perigoso que deve ser
receado pelo seu juízo. Refreia tua mão!!

CLÁUDIO- Desatracai-os!

GERTRUDES- Hamlet!

(Alguns figurinistas os separam)

HAMLET- Eu amava Ofélia... Quarenta mil irmãos somando o seu amor, não chegariam nunca
ao meu total! O que farás por ela?!! Pelo sangue de Cristo, dizeis o que farás! Ouve senhor,
sempre vos estimei, mas isso pouco importa. Ponha Hércules em prova, a máxima energia, o
gato há de miar e o cão terá seu dia.

(Hamlet agacha, deixa uma flor para Ofélia e sai de cena. Gertrudes se dirige a Horácio)

GERTRUDES- Segue-o, eu te peço, bom Horácio.

(Todos saem de cena de maneira fúnebre, menos Cláudio e Laertes)

CLÁUDIO- Querei deixar-me conduzir-vos.

LAERTES- À vontade, desde que não me forceis a fazer a paz.

CLÁUDIO- A tua própria paz.

LAERTES- Mas dizei-me senhor, porque não procedestes contra estes malfeitos de natureza
criminosa em capital?

CLÁUDIO- Por dois motivos especiais: vive a rainha, mãe do príncipe, quase tão só de olhá-lo, e
para minha ventura ou infortúnio meu, seja qual for, ela está em conjunção tão grande com
minha alma em vida como a estrela que só se move em sua esfera. Que só por ela sou levado.
O outro motivo é o grande amor que lhe consagra a multidão. Laertes, vosso pai vos era caro
ou sois como uma imitação de uma dor, rosto sem coração?
LAERTES- Por que perguntais?

CLÁUDIO- Não que eu suponha que não amasses vosso pai, mas Laertes, que tencionas para
mostrar-vos filho de vosso pai mais com atos que com falas?

LAERTES- No que diz respeito a Hamlet, cortar-lhes a garganta em plena igreja.

CLÁUDIO- A vingança não conhece fronteiras. O que queremos fazer? Tem que ser feito no
momento certo... Induzirei o príncipe a certa empresa já zonada em minha idéia, sob a qual ele
terá de sucumbir. E por essa morte... Não soprará um vento de censura, até a mãe dela
desculpará o estratagema. Falando em acidente...

LAERTES- O convidarei para um duelo!

CLÁUDIO- E quando tiverdes a lutar calor e sede, o darei a taça apropriada, a qual se tão
somente provar, o nosso intuito se consumará!

LAERTES- Com este veneno ungirei minha espada – (Tira um frasco do bolso) – A um charlatão
comprei tão venenoso guento que a mera roçadura há de trazer-lhe morte... Traz-me conforto
ao dolorido coração o fato de viver para tirar-lhe o horror do que fizeste.

(Os dois se encaram com expressão de cumplicidade, saem de cena e a cortina se fecha)

CENA IV

(As cortinas se abrem e todos os personagens hão de estar lá, incluindo os figurantes.
Hamlet entra em cena e todos os olham. Ele e Laertes estarão no meio do palco, mas em
lados opostos)

CLÁUDIO- Chegai-vos, Hamlet, para apertar-lhes a mão.

(Os dois apertam as mãos)

HAMLET- Conceda-me perdão, senhor. Eu vos ofendi. Mas relevai-me, já que sois cavalheiro.
Senhor, perante todos, me absolva em vosso juízo, que eu atirei sobre a casa a minha seta e
feri o meu irmão. (Fala ainda segurando a mão)

LAERTES- Tome por satisfeito, mas no que se refere à minha honra, eu não concordo, não
quero reconciliação, eu me reservo. – (Soltam as mãos) – Mas a amizade que me ofereceis,
aceito-a como boa e não lhe faltarei.

HAMLET- A ela me entrego com alegria. Sem reservas disputarei este fraterno encontro.
Trazei-nos as espadas! (Se afasta)
LAERTES- Dai-me uma!

CLÁUDIO- Hamlet, parente nosso, conheceis a aposta?

HAMLET- Estou bem interado, vossa graça estipulou vantagens para a parte fraca.

CLÁUDIO- Haha, não tenha receios, já vi ambos. Coloquem os jarros de vinho ali naquela mesa.
– (Aponta a mesa a sua frente e alguém coloca o jarro lá) - Se for de Hamlet um dos dois
primeiros toques, o rei há de beber ao fôlego de Hamlet. E diga ao tímpano, trombeta e diga
esta ao artilheiro que se encontra no seu posto, os canhões ao céu e o céu à terra! Agora, o rei
está brindando a Hamlet (Enche a taça de brinde com algum líquido e senta em seu trono ao
lado do que a rainha se encontra)

(Os dois recebem suas espadas e começam a lutar. O primeiro ponto é de Hamlet)

HAMLET- Um!

LAERTES- Não!

JUIZ- Um toque. Um toque bem visível.

LAERTES- Novamente! (Avança até Hamlet)

CLÁUDIO- Parai! Dai-me de beber. – (Cláudio se levanta e bebe o vinho) - Hamlet, esta pérola,
é tua! (Joga a pérola dentro da taça, a envenenando)

HAMLET- Primeiro quero disputar o assalto, deixe a taça de lado.

(Cláudio coloca a taça de volta na mesa, eles voltam a lutar e Hamlet marca outro ponto)

HAMLET- Outro toque, o que dizeis?

LAERTES- Um toque, eu reconheço!

(Todos batem palmas e Gertrudes aplaude de pé, pronta para ir em direção a mesa do cálice)

CLÁUDIO- O nosso filho vencerá!

GERTRUDES- Já lhe falta o fôlego – (Vai em direção a mesa do cálice e o pega) – A rainha bebe
à tua sorte, Hamlet!

CLÁUDIO- Gertrudes! Não bebais...

GERTRUDES- Oh, quero beber, senhor. Peço-vos, relevai-me.

(Gertrudes bebe do cálice e vai oferecer a Hamlet)

HAMLET- Não, eu não ouso beber ainda. Depois.

GERTRUDES- Deixa-me enxugar-te o rosto. (Dá o cálice a algum figurante, ele lhe entrega um
pano, ela enxuga o rosto de Hamlet e volta para seu lugar, enquanto Cláudio a olha
preocupadamente)
(Hamlet e Laertes pegam novas espadas para sua nova partida)

LAERTES- Esta é muito pesada. (Ele devolve uma das espadas, pega a envenenada e a luta
começa)

(Gertrudes já dá indícios de estar passando mal)

HAMLET- Vamos ao terceiro, Laertes, estais brincando?


LAERTES- Assim julgais? Em guarda!

(Eles começam a lutar, Gertrudes começa a passar mal, um servo vai perguntar se ela está
bem e ela o dispensa, logo após percebe que foi o vinho e arregala os olhos, se virando para
Cláudio. Durante a luta Laertes corta Hamlet com sua espada. Hamlet solta a espada e corre
para cima de Laertes, lhe dando um soco. No calor do momento, pega a espada envenenada
de Laertes e o perfura. Laertes cai no chão)

HORÁCIO- Os dois estão sangrando!

JUIZ- Vejam, a rainha!!

(A rainha se levanta do trono, mas anda tropeçando e cai, assim que isso acontece, os
criados a seguram)

HORÁCIO- Como estais, senhor? (Se dirigindo a Hamlet)

HAMLET- Como está a rainha?

(Hamlet vai até a rainha)

CLÁUDIO- Ela vai desmaiar ao ver o sangue deles! (Já de pé)

GERTRUDES- Não... – (Gertrudes dirige o olhar ao rei e ao cálice e Hamlet segue seu olhar) – O
vinho... Fui envenenada! Oh, meu querido Hamlet.

(Gertrudes morre, Hamlet a abraça e levanta raivoso)

HAMLET- Oh, infâmia!! Fechai as portas! Traição!! O culpado...

LAERTES- Foi daqui mesmo, Hamlet. – (Interrompe, com alguém o ajudando a caminhar) –
Hamlet, tu estais morto... Remédio algum no mundo pode te salvar. Está em tua mão o
instrumento agudo e envenenado! O torpe do estratagema voltou-se contra mim! Vim a cair
no meu próprio laço. Vamos perdoar-nos mutuamente, nobre Hamlet, não caiam sobre ti a
minha morte e a de meu pai.

HAMLET- Nem a minha sobre ti.

(Laertes desaba sobre Hamlet, que cai de joelhos)

LAERTES- Não posso mais! O rei, o rei tem a culpa!

(Laertes morre)

HAMLET- Também é envenenada a ponta! Então, veneno, termina tua obra!

(Hamlet corre e fere o rei, que grita. Hamlet sai e pega o cálice, o forçando a tomar)

HAMLET- Tome! Incestuoso, assassino e réprobo rei! Bebe esta poção! Aí se encontra tua
pérola! Acompanha minha mãe!!

(O rei morre)
HAMLET- Estou morto, Horácio. – (Se dirige à rainha) – Pobre rainha, adeus! – (Beija a mão
dela e se levanta falando com todos presentes, já rouco) – Vós que estais brancos e a tremer
ante a desgraça, tivesse eu tempo, se esse duro esbirro à morte não fosse escrito ao nos
prender, ah, eu vos diria... Seja o que há de ser. – (Cai e Horácio vai até ele) – Horácio, eu
estou morto. Porém, tu viverás, explica minha causa. – (Deita no chão) – Ó Deus! Horácio, se
as coisas continuarem desconhecidas, que ultrajado nome é de ficar vivendo atrás de mim, e
me tivestes algumas vez no coração, desista ainda algum tempo da felicidade e nesse mundo
cruel, penando arrasto alento, conte a minha história. Ah, estou morrendo, Horácio! A força do
veneno vence a minha vida. – (Sussurra) – O resto, é silêncio.

(Hamlet morre)

HORÁCIO- Boa noite, amado príncipe. Cantam revoadas de anjos para que possas repousar.

(Todos no palco se ajoelham perante eles e o silêncio prevalece)

FIM

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