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Pequenas prosas

A experiência do docente em formação com o universo da Educação Básica


é, de fato, infinita. Efetiva-se no espaço escolar, amplia-se na interlocução com
os mestres tutores e se reelabora na singularidade com que é sistematizada — e
compartilhada com o leitor, apto a reconhecer a potência das responsabilidades
políticas e éticas que a tarefa de educar naturalmente detém. Afinal, empreender
a leitura das memórias reunidas nesta edição implica trazer a presença das
emoções corporais — misturadas, envolvidas, entranhadas — sem deixar de
lado a cognição demandada pelo ato de ler.
Ora, a experiência viabilizada pelo Programa Institucional de Iniciação à
Docência (Pibid/Capes) — e que mobiliza licenciandos, professores orientadores
e comunidade escolar — se dá no interior do sujeito para, de modo soberano e
sensível, irromper, progressivamente, numa prática docente mais humanizada,
libertadora e crítica — com reflexos positivos para todos os sujeitos envolvidos.
Trata-se, pois, de um processo em rede que busca construir — muitas vezes a
partir da desconstrução de percepções, sistemáticas e padrões — novos rumos
possíveis para a Educação Básica do país.
Ao acreditar nisso, a amostra de textos publicados nesta revista encoraja
educadores de todos os níveis educacionais a investir numa formação superior
de qualidade, notavelmente capaz de agregar abordagens condizentes, na sua
relação multidisciplinar, com as distintas realidades de atuação do professor —
e instituir diálogos produtivos com pesquisadores e pares, prevendo fomentar
movimentos e tensões, rearranjos e inovações. Porque a educação requer uma
morada melhor. Assim como nós.

Mário Cesar dos Santos, Prof. Dr.


Reitor

Cássia Ferri, Profa. Dra.


Vice-Reitora de Graduação
A CEREJA DO BOLO DOS CINCO ANOS DO PIBID NA UNIVALI - Cleide J. M.
Pareja; Bruno L. de Farias ............................................................................................................ 6

2015: O ANO DOS CLÁSSICOS NO PIBID LETRAS/LEITURA/EJA - Deise Bressan;


Eliane Schimidt; Karine Maestri; Maristela Chaves; Natalia Mendes; Josiane Teixeira; Cleide J
M Pareja ........................................................................................................................................ 12

MEMÓRIAS E IMPRESSÕES I: relatos do PIBID Letras do E. E. M. Henrique da Silva


Fontes - Rafael Moura de Morais ................................................................................................ 15

MEMÓRIAS E IMPRESSÕES II: relatos do PIBID Letras do E. E. M. Henrique da Silva


Fontes - Adriana Castro Santos; Ângela Maria Bittencourt Ródio; Eliane Aparecida da Silva;
Jocéa Tolisano Duarte; Marcia Adriana Barreto Cuty; Vanessa Lúcia Fuck Dognini .............. 19

EXPERIÊNCIAS DE LEITURA DO LITERÁRIO NA ESCOLA BÁSICA JOÃO


PAULO II - PIBID - LETRAS - Cleide J. M. Pareja; Rosiane Koneski; Greice M Botelho;
Denise L Berlim; Elaine Cristina Siqueira; Vitória L Zadrozny; Licenciandas ....................... 22

PIBID DE MATEMÁTICA: relação treze para cinco - Cirlei Marieta de Sena Corrêa .... 26

SIMETRIA, A MATEMÁTICA PERFEITA - Sandy Aparecida Pereira; Josane de Jesus


Cercal ............................................................................................................................................. 28

VIVENCIANDO A ESTATÍSTICA E SUAS DIFERENTES APLICAÇÕES - Josane de


Jesus Cercal; Cristian Henrique Maraski; Paulo Marcos de Brito Poerner; Arnoldo de Mattos ..... 32

FORMAÇÃO DE PROFESSORAS E LICENCIANDAS DE PEDAGOGIAS PARA AS


ESPECIFICIDADES DA INFÂNCIA - Valéria Silva Ferreira ........................................... 35

MEMÓRIAS, SENTIMENTOS, RESULTADOS E APRENDIZAGENS: O


SUBPROJETO PIBID PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL UNIVALI EM SEUS
CINCO ANOS - Roberta Pimenta Vieira de Carvalho; Adair de Aguiar Neitzel; Marilene
Jacobsen Pinheiro; Edmara Gazaniga; Rudnéia Schuller ........................................................... 40

OS ESPAÇOS TEMÁTICOS E AS EXPERIÊNCIAS ESTÉTICAS E SENSÍVEIS


NA EDUCAÇÃO INFANTIL - Marilene Jacobsen Pinheiro; Roberta Pimenta Vieira de
Carvalho ................................................................................................................................... 51

CHEGA DE TV! MAIS LIVROS E MONTEIRO LOBATO NO MATERNAL! - Edmara


Gazaniga; Roberta Pimenta Vieira de Carvalho ........................................................................ 56

O UNIVERSO DAS FORMAS E DAS CORES DO COTIDIANO DO PIBID


PEDAGOGIA EDUCAÇÃO INFANTIL: artes visuais na Pré-Escola - Rudnéia Schuller;
Roberta Pimenta Vieira de Carvalho .......................................................................................... 60
BREVE REGISTRO SOBRE O PIBID - Carla Carvalho ..................................................... 65

PIBID, ARTE E ESCOLA: LUGARES PARA O SENSÍVEL - Valéria de Oliveira ..... 69

PIBID MÚSICA - ASPECTOS DO SUBPROJETO: o lugar que perseguimos - Valéria de


Oliveira; Denise Costa e Helena Cristina Azeredo .................................................................... 72

EXPOSIÇÃO: OLHAR DA CRIANÇA PARA AS EXPERIÊNCIAS DO PIBID - Maria


Fernanda d´Ávila Coelho; Ivana Feller; Katiúcia Borba; Sandra Regina Ferreira; Silvia
Azevedo .................................................................................................................................... 75

UM NOVO OLHAR, UMA NOVA ESCOLA: salas ambientes na Educação Infantil -


Maria Fernanda d´Ávila Coelho; Ivana Felle .............................................................................. 77

CAIXA DE ARTE PARA CRIANÇA - Maria Fernanda d´Ávila Coelho; Márcia Gervásio
d´Ávila ........................................................................................................................................... 82

DIFERENTES CULTURAS: NOVOS SABORES E SABERES - Maria Fernanda d´Ávila


Coelho; Katíucia Borba ................................................................................................................. 86

ARTE COM ARGILA: a exploração de um novo material como conteúdo da Educação


Infantil - Maria Fernanda d´Ávila Coelho; Silvia Azevedo; Anny Karoline Nering Gonçalves
Goetten; Bruna Furlanetto Leonardo; Manuele Heloise Schrull .................................................. 90

PAREDE SONORA MUSICAL - Maike Souza; Regiane A. da S. Castelo Branco; Alberto


Renan Mendes; Flávia Bossoni Dionisio; Márcia Beatriz Nascimento; Maria Luiza Feres do
Amaral ............................................................................................................................................ 93

DÓ, RÉ, MI(nha) canção quem FA(z) SO(u)L eu: Compondo com Jogos Musicais - Gislene
Gómez; Maria Luiza Feres do Amaral ....................................................................................... 95

JOGOS E BRINCADEIRAS MUSICAIS: uma experiência na Educação Infantil - Ricardo


Rocha Passos; Maria Luiza Feres do Amaral ............................................................................ 98

A HISTÓRIA DO BOI DE MAMÃO: uma experiência musical com a cultura local na


Educação Infantil - Diego Cardoso; Lilian Lucindo; Juliete Reis; Gisele Santos Tonon; Vagner
André Titon; Cristiane Coppi Schaefer ........................................................................................ 101

BRINCANDO DE BOI DE MAMÃO - Elisa Cordeiro; Carlos Cória; Josias Pimentel; Edgar
Gomes de Souza; Denise Rech .................................................................................................... 104

PIBID FUNDAMENTOS DA ARTE – PEDAGOGIA: Memória e imagens: uma


proposta na formação estética do futuro professor - Cleber Luiz Cuchi; André Marcos
Vieira Soutal ......................................................................................................................... 107
RECRIANDO CLÁSSICOS LITERÁRIOS: Será que o lobo era mesmo mau? - Janine
Nunes Rosar; Rosane Maria de Godoy ...................................................................................... 111

VEM CÁ MEU BOI, VEM CÁ! - PROPORCIONANDO VISIBILIDADE DAS


PRÁTICAS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ/SC - Karina Greyce Conrat;
Rosane Maria de Godoy ............................................................................................................. 114

PIBID UNIVALI PEDAGOGIA ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL -


Vanderlea Meller; Maria Aparecida Hahn Turnes ................................................................. 117

SUSTENTABILIDADE E CIDADANIA: uma proposta pibidiana do curso de Pedagogia da


UNIVALI - Mauro José da Rosa; Vanderléa Ana Meller; A. de A. Scherer; A.R. Bueno ............... 122

A INTERCULTURALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR ENTRE JOGOS, BRINQUEDOS


E BRINCADEIRAS AFRO-BRASILEIRAS E AFRICANAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA - Natacha Wielecosseles; Priscila Marilene Bunn; Vanderle Meller; Lisia Costa G. Araújo ...... 127

BRINCANDO NO RITMO - Vanderléa Ana Meller; Elaine Farina; Luciana Gomes Alves;
Emanuele Fernanda Oselame; Paulo Ferreira Pereira; Silvana Brandes; Thiago Albano ..... 130

ATUANDO COM BEBÊS: O DESAFIO ESTÁ LANÇADO! - Fabiano Weber da Silva;


Ana Cláudia Ferreira Martins; Patrícia Souza; Rafaella de Miranda Simas; RoseaneValdrich;
Yulli Marques Feliciano; Éric de Souza Teixeira .................................................................. 136

CORPO ESPETÁCULO: O picadeiro na Educação Infantil - Fabiano Weber da Silva;


Jaqueline Edy Andrade; Amanda Ratti; Crislleny Luiza Marques; Fernando Cruz; Letícia Luiz;
Waleska Pinton Barcellos ............................................................................................................ 140

VIVÊNCIAS ESTÉTICAS E LÚDICAS NO PIBID PEDAGOGIA ALFABETIZAÇÃO


- Ana Luiza Máximo Ramos; Elaine Cristina Vieira de Souza; Lisandra S. Silveira; Marilia Molleri
Brining ......................................................................................................................................... 143

OH, PROF., HOJE O PESSOAL DO CABIDE NÃO VEM?: a participação das crianças como
atores sociais nas práticas do PIBID - Sandra Cristina Vanzuita da Silva; Magda Aparecida
B. Martins da Silva; Mariza Machado; Jéssica dos Santos; Rodrigo Ferreira; Simone Terezinha
Menegon Ribeiro; Viviane Santos São Thiago ..................................................................................... 147

O TRABALHO COM OS BEBÊS E OS PEQUENOS TESOUROS A DESVENDAR -


Marisa Zanoni Fernandes; Deize Michele R. Friedrich; Dulciléte Maria D. dos Santos; Lídia
Cordeiro Nogueira; Rosemary de Souza Feliciano; Simone Gustavo Monteiro; Sônia Prestes de
Oliveira; Claudia Regina Teixeira ............................................................................................ 152

METODOLOGIA DA MATEMÁTICA: uso de jogos didáticos metodológicos na


construção de conceitos - Maria Luiza P. Lemos; Alexandra Rodrigues; Christane Capraro;
Rosangela A. R. dos Santos; Edmara Luzia Stopasol dos Santos; Jucimara dos Santos K. de
Souza ............................................................................................................................................ 157
GINCANA AÇÃO SUSTENTÁVEL: EDUCAÇÃO AMBIENTAL PARA A VIDA!
- Renata Cleiton Piacesi Corrêa; Ronan Adinael Pinheiro; Fernanda Tomasi; Jackson Luiz
Severiano dos Santos; Renata Patrícia Mendes; Viviane Martins Corrêa ................................ 161

PROVOCAÇÕES ARTÍSTICO-FILOSÓFICAS - Fernanda Estela Rocha; Jussara Galiotto


de Souza; Mayara Wollinger; Michelle Mafra; Patricia da Rosa; Priscila Vieira; Edgar Piva;
Aline Moraes Lima ..................................................................................................................... 164

ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO


FUNDAMENTAL - Cristiano Romais ................................................................................... 167

PIBID INTERDISCIPLINAR EM FOCO: saber, saborear, viver - Yára Christina Cesário


Pereira ......................................................................................................................................... 171

ENCONTRO FAMÍLIA-ESCOLA: o Chá de Integração e Cultura como Proposta de


Aproximação - Enísia Tolardo Magnavita; Sílvia Letícia França; André de Castro Gandra;
Yasmin Varela Domingues .......................................................................................................... 177

PIBID INTERDISCIPLINAR E HORTA: protagonismo e aprendizagem solidária -


Eliane Renata Steuck; Marinei Elisabete da Silva Sedrez; Anelise Escaravaco .................... 181

ALÉM DAS PALAVRAS: formação estética no PIBID de Letras - Maria Cristina Kumm
Pontes ........................................................................................................................................... 186

PIBID INTERDISCIPLINAR: Construindo teias e quebrando paradigmas - Ilisabet Pradi


Krames; Celso Vital Martins; Alisson dos Santos; André Alexandre Gasperi; Carla Alessandra
Spiess; Guilherme de Moura Rocha .......................................................................................... 191

VISITA TÉCNICA AO CENTRO HISTÓRICO E OFICINA DE ARTE: possibilidades na


Educação de Jovens e Adultos - Elaine Simões Romual Rebeca; Fernanda Severino Barbaresco; Diogo
Pereira Ferraz; Thiago Luiz Rasmussem; Luciane Islabão Vieira; Ilisabet Pradi Krames .................. 195

PIBID INTERDISCIPLINAR REINVENTANDO O TEMPO DAS TANGERINAS: a


literatura catarinense cotejando com a História - Onice Sansonowicz; Leda Lea Caldeira;
Ilisabet Pradi Krames ................................................................................................................. 199

USO DE JOGOS DIDÁTICOS: a importância de estratégias lúdicas na Educação de


Jovens e Adultos (EJA) - Ilisabet Pradi Krames; Marilsa Aparecida da Silva; Juliana Gheller
Potrich Raysa; Fernandes Dangui .............................................................................................. 202

BRINCADEIRAS AFRICANAS - Felipe Pressotto Telles; Ivan Cardoso; Indianara dos Passos;
Leticia Poleza Henrique; Maria Veronica da Silva Chagas; Vitor Matheus Berardi Chiniski;
Lucimara Araujo Schneider; Francisco Alfredo Braun Neto ..................................................... 206
A CEREJA DO BOLO
DOS CINCO ANOS
DO PIBID NA UNIVALI
Cleide J. M. Pareja
Coordenadora de Área

Bruno L. de Farias
Egresso do Curso de Letras UNIVALI

São cinco anos! Cinco anos entre palavras e livros. Livros e estratégias! Estratégias
e alunos, muitos alunos. Alunos da Universidade, Curso de Letras, alunos do Ensino
Fundamental, alunos do Ensino Médio e alunos da Educação de Jovens e Adultos. Alguns
universitários já se formaram Licenciados em Letras, no regime EAD (Ensino a Distância),
outros estão nas séries finais do Curso de Letras Presencial e outros, ainda, estão nas séries
iniciais do mesmo curso da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). É a roda da leitura
possibilitada pelo Programa de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) aprimorando a
formação de alunos das licenciaturas, professores das escolas da rede municipal e estadual
de ensino da região do Vale do Itajaí. O Subprojeto de Letras/Formação de Leitores
planejou o desenvolvimento de projetos sustentados por quatro eixos de leitura, a saber:

A partir desta meta, a dança da leitura teve seu início em 2010 com a apresentação
de um grupo fabuloso de autores catarinenses de poesia aos alunos da escola pública.

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O primeiro projeto realizado optou pelo eixo Encontro com o Autor. Para tal foram
escolhidos os autores Bento Nascimento - Loucos de Pedra; Alcides Buss - Olhar a vida,
Cadernos da noite; Magru Floriano - Fogo-Fátuo e Leandro de Maman - Suspenso.
A contradança veio com a leitura de três romances contemporâneos no eixo
Literatura e Cultura Brasileira. Amrik, de Ana Miranda; Cidade Ilhada, de Milton Hatoum
e Terra Papagalli, de José Roberto Torero e Marcus Aurelius Pimenta. O eixo privilegiado
foi Literatura e Cultura Brasileira. As três obras foram lidas por todos, em formato de
rodízio, durante o ano escolar.
A festa continuou com a entrada no Eixo Leitura em Meio Digital. Primeiramente
os poemas digitais fizeram sua apresentação com luzes, movimentos e cores. A palavra
viva, em interação e hipertextualidade. Na sequência, chegou a vez da prosa. Tristessa
de Marco Antoni Pajola foi a inspiração. Uma equipe realizou a leitura e partiu para
produção, em formato de paráfrases, de contos na rede. Já a outra equipe partiu para o
crime, com a leitura do romance digital Grau 26 de Antony Zuicker, lançando-se em
constantes interações com as mídias disponíveis.
Para animar ainda mais o baile das palavras, entrou no espetáculo de leitura o Eixo
Estudos Linguísticos e Literários. Fez-se a leitura, a encenação e a contextualização da
obra O Santo e a Porca, de Ariano Suassuna. Neste ato, foram privilegiadas a literatura de
cordel, as variações linguísticas e o texto dramático.
Todos os passos foram trilhados, agora seria possível realizar um pout-pourri de
todos os eixos nesta nova dança. Para isto, foi apresentada a autora Adriana Lunardi, com
sua obra Vésperas, com a qual seria possível fazer encontros com autores, conversa entre
textos e autores e passear pelos meios digitais. Assim foi.
Cansados de tanta modernidade, deu uma saudade enorme dos bailes do passado e
ninguém melhor para este momento do que o clássico dos clássicos - Machado de Assis.
Como um clássico nunca fica velho, ele encantou a todos os participantes do convívio
- ensino fundamental, médio e educação de jovens e adultos, foi como uma bofetada no
público, todos se encantaram com as passos ensinados pelo Bruxo do Cosme Velho.
Tanta exposição às leituras; quanto aos textos teóricos, deve provocar algum impacto!
Por este motivo buscou-se, com um olhar de pesquisador, identificar qual seria o impacto
visível nos egressos do Curso de Letras, ex-pibidianos, hoje profissionais. Os resultados
foram surpreendentes! Mas o convidado especial, o egresso Bruno Lazzaroto de Farias, é
quem fará a apresentação de todas as suas experiências literárias. Este jovem egresso do
PIBID incorporou as orientações recebidas durante o desenvolvimento do Programa e, ao
iniciar suas atividades como professor, extrapolou-as fazendo movimentos de vanguarda
na inserção da leitura no processo escolar e social. Como diz Petit (2009, p. 13):
O leitor não é passivo, ele opera um trabalho produtivo, ele reescreve.
Altera o sentido, faz o que bem entende, distorce, reemprega, introduz
variantes, deixa de lado os usos corretos. Mas ele também é transformado:
encontra algo que não esperava e não sabe nunca aonde isso poderá levá-lo.
Assim, encharcado de leituras, sua trajetória iniciou na escola particular Colégio
Atlântico, de Itapema, e seguiu por espaços nunca dantes navegados.
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Movimento 1
Elaborou-se um projeto cujo pilar sustentador é o da metodologia da leitura fruitiva,
que compreende o livro como um objeto que necessita ser embevecido artisticamente.
Foram elaboradas estratégias de leitura que transformaram toda a organização escolar a
fim de aconchegar os alunos ao texto literário, os professores e as famílias e inseri-los num
movimento de fruição estética. Estas ações plantadas e lavradas pelo mediador docente
em comunhão com a gestão escolar permitiram fomentar um cenário cultural sensível na
instituição de ensino de forma ampla, tal qual uma obra aberta. Essa ciranda envolveu todas
as séries, de todos os níveis, do maternal ao terceiro ano do ensino médio. Ao ser inserido
no plano de ensino, o estudo sistemático da literatura possibilitou organizar projetos para a
formação continuada do leitor. Desde o princípio, a proposta de trabalho integrou língua e
literatura de forma interdisciplinar, estabelecendo o vínculo entre os saberes.
Para formar leitores literários, o professor é o orientador, mediador e intérprete;
aquele que propicia condições para que os alunos leiam com ele e por meio dele, que
estimula a convivência com a fantasia, legitima a leitura como prática social e favorece
a todos tornarem-se cidadãos da cultura escrita. Especialmente com relação à leitura de
textos longos, como um romance ou novela, o tempo da escola, às vezes, impõe limites quase
incontornáveis. Por isto, é conveniente assegurar o contato direto com o livro através da
mediação entre professores e alunos, no início de cada período letivo, estabelecendo um
número de leituras desejável a ser efetivado fora do período escolar, e formas criativas de
acompanhamento das leituras e do estabelecimento de trocas entre leitores (até mesmo
entre as turmas), por meio de contratos de leitura extensiva e o que chamamos de paradas.
Nelas são observados e respeitados os quatro elementos da leitura complexa:

O que é o contrato de leitura? É um pacto entre nós, docentes e leitores, que prevê,
para a leitura de textos longos, tempos e espaços dentro e fora da escola, dentro e fora
da sala de aula para ler. Além disso, o pacto prevê a constituição de uma comunidade
de leitores, com promoção variada e sistemática de situações de troca de experiências,
rodas de leitura, depoimentos, leituras compartilhadas que favoreçam o intercâmbio de
vivências, estimulem produções autorais e construam novos sentidos na aprendizagem.
De que modo? Reservando tempo na jornada quinzenal para ouvir os leitores sobre suas(s)
leituras(s): é fundamental fazer paradas para falar sobre livros e sobre literatura. Não só

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falar, embora essa seja uma prática fundamental a ser assegurada e a ser centrada na troca
de saberes, em detrimento da mediação.
Além de falar e ouvir, podemos, nas paradas, reparar e acompanhar o que os alunos
estão registrando do livro que leem; seja uma passagem marcante, uma reflexão a respeito
do tema, ou uma aproximação com outros textos ou gêneros lidos. A turma pode ser
dividida em grupos e, durante o ano, realizar diferentes tarefas de prestação de contas do
contrato: relatos orais, um pôster a ser colocado em local de destaque na biblioteca, um
portfólio de leituras a ser disponibilizado para consulta ou num blog da turma, etc. Esse
tipo de atividade proporciona a troca descompromissada das impressões de leitura, sem
“cobrança” ou preocupação com “a nota”. Foi uma coreografia que deu certo e dura já há
três anos com aceitação da gestão e da família.
Movimento 2
O primeiro movimento
tornou-se tão intenso que se
percebeu a necessidade de envolver
todos os pares nesta dança. É
urgente que o docente esteja em
constante movimento de formação,
desejando sempre se transformar,
se qualificar, a fim de melhorar
sua prática pedagógica e sua
sensibilidade profissional conjugada
em seu caminhar, pois deste modo
teremos mais sentidos na trajetória
de educador, na sua vida pessoal e
na interação com o coletivo. Assim,
existe a capacidade de se adaptar às
diversas e rápidas mudanças no campo
educacional, enfrentando as dificuldades
encontradas na multiplicidade da sala de aula.
Desta forma, fomentamos um encontro semanal de leitura com os docentes da
escola para pensarmos juntos o papel do mediador docente na formação leitora. Aos
poucos a leitura do livro “Como um romance” de Daniel Pennac foi sendo incorporada nos
estudos dos integrantes, servindo de fio condutor para diálogos e análises de estratégias
de leitura literária para a formação dos diferentes níveis do leitor. Eis então outro braço
do projeto: o investimento para uma educação do sensível do corpo docente da escola. A
roda ficou completa e continua girando.
Movimento 3
Sair do espaço escolar, atingir mais e mais com a leitura, como diz Pennac “ler em voz
alta não é o suficiente, é preciso contar também, oferecer nossos tesouros, desembrulhá-los
na praia ignorante. Escutem, escutem e vejam como é bom ouvir uma história” (PENNAC,
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2011, p. 52). Não há melhor
maneira de abrir o apetite de
um leitor do que lhe dar a
farejar uma festa de leitura.
Toda hora é hora. Todo
lugar é lugar. Esta saída
teve como meta manter
unidos alguns colegas do
PIBID que também têm o
amor pela literatura, para
juntos compartilharem
com outras pessoas.
Pessoas de outras escolas,
dos abrigos comunitários, asilos,
creches. Nasceu o grupo voluntário de contadores de histórias.
A reunião do grupo acontecia quinzenalmente, a fim de se planejar e ensaiar as contações
de histórias e decidíamos os lugares e os horários para a mediação literária. Novo ritmo,
novas leituras, novos laços de amor e palavras.
Movimento 4
Os livros foram a desculpa para estabelecer centenas de amizades. Para além dos
ambientes formais de ensino, a literatura também encontra espaço em ambientes não
formais, como acontece com o Clube do Livro. Formado majoritariamente por professores
(muitos dos quais parceiros e egressos do PIBID), em outubro de 2014, o clube une pessoas
com um único comum
interesse: discutir livros
que acabaram de ler. Em
consequência, fortalece
os laços de amizade e o
gosto por boas cafeterias
da cidade, pois estes são
os espaços nos quais
comumente os membros
se encontram.
Os participantes
se reúnem uma vez por
mês para dialogar sobre
a experiência de leitura
de uma determinada obra
previamente selecionada e
eleita democraticamente.
Mas enquanto o fatídico

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dia não chega, os Itinerários de Leitura podem ser destacados no ambiente virtual, pois
o clube possui um grupo privado numa rede social para compartilhar, planejar e discutir
toda sorte de conteúdo.
Movimento 5
Com tantas atividades leitoras acontecendo em ambientes formais e não formais de
ensino, a elaboração de sites para dividir com mais pessoas foi necessária. Foi criado um blog
para apaixonados por livros, cujo objetivo principal é o compartilhamento de livros como
apreciação estética e desenvolvimento do sensível, sempre preocupados em estimular o hábito
da leitura e a análise crítica articulada na fomentação no ambiente educacional. Na página,
estão as principais atividades, e o leitor fica à vontade para escrever lá seus comentários.
Intermezzo
Portanto, após os acordes iniciais - para ensaiar uma quadrilha literária ofertados
no Curso de Letras e PIBID, subprojeto Letras Formação de Leitores – possibilitou-se a
apresentação deste espetáculo de leitura. Sabemos que a leitura é sempre aquela dança em
que não se escolhe o par, por isto a gente nunca para de pensar em novos arranjos
para que ela continue, porque há muito a caminhar.
No entanto, nos intervalos de reflexão histórica, podemos comemorar e cantar os
feitos realizados e degustar estes momentos saborosos de olhar para trás e colocar as
conquistas como se coloca a cereja no bolo. Parabéns PIBID de Letras!
Referências
PENNAC, Daniel. Como um romance. São Paulo: L&PM Editores, 2011.
PETIT, Michèle. Os jovens e a leitura. São Paulo: Editora 34, 2009.

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2015: O ANO DOS CLÁSSICOS
NO PIBID LETRAS/LEITURA/
EJA
Deise Bressan
Eliane Schimidt
Karine Maestri
Maristela Chaves
Natalia Mendes
Licenciandas

Josiane Teixeira
Professora Supervisora

Cleide J M Pareja
Coordenadora de Área

No ano letivo de 2015, foi dado início a um novo grupo do Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). O local escolhido para a realização do projeto
foi a Escola Municipal “Centro Educacional Pedro Rizzi”, com a modalidade EJA. Esta
unidade escolar é localizada no bairro Cidade Nova na cidade de Itajaí. Participaram
deste projeto cinco licenciandas, professora supervisora e coordenadora de área. Optou-se
neste semestre pelo desenvolvimento do eixo Literatura e Cultura Brasileira, no qual são
apresentados autores clássicos da literatura.

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A EJA é organizada por ciclos que para os colegas. Após a leitura, propusemos
possuem a duração de dois meses. A cada aos alunos que gravassem um vídeo
ciclo realizamos uma Acolhida Literária, interpretando o conto estudado. Com o
para a qual utilizamos estratégias auxílio do professor de informática desta
diferenciadas voltadas para a literatura unidade escolar, que realizou as edições
com o objetivo de encantar os alunos da dos vídeos, acrescentando-lhes músicas
EJA. Na primeira acolhida, as licenciandas e montagem com as fotos, foi possível
foram caracterizadas por personagens de transformá-los em curta metragem. Esta
histórias infantis, tais como: Chapeuzinho atividade foi muito relevante para toda a
Vermelho, Mário Bros, Pirata, Bruxa e equipe, pois nos sentimos honradas com
Palhaço, para chamar a atenção do público- os resultados obtidos, os alunos superaram
alvo. Ao final de nossas apresentações, seus medos, entre eles o de falar em
convidamos os participantes a adotarem um público. Este Festival de Curtas foi inscrito
companheiro: o livro. Na segunda acolhida, pela professora supervisora no Mérito
foram caracterizadas personagens dos Educacional da Secretaria de Educação do
contos de Machado de Assis, trabalhados Município e recebeu o Prêmio Destaque do
em sala de aula com um determinado ciclo. Ano. O mesmo ocorreu com sua inscrição
Para darmos boas-vindas aos alunos, no Prêmio Educação RBS, no qual está
gravamos um áudio, com a participação entre os três melhores e cuja escolha final
especial das coordenadoras institucional e será em dezembro.
de área, que falaram sobre a importância Para que o projeto pudesse participar
da leitura dos clássicos e da implantação do com destaque das comemorações juninas
projeto na escola. Gravamos ainda o Conto de encerramento do semestre letivo, foi
de Escola, de Machado de Assis, que foi elaborada uma encenação para casamento
apresentado a todos no formato sonoro e não caipira, na qual as licenciandas foram as
escrito. Percebemos que houve interesse, personagens do romance Dom Casmurro,
pois os alunos, após a audição, solicitaram de Machado de Assis, Capitu e Bentinho.
o conto escrito, porque disseram que havia
Mudança de semestre e de ciclos e
muitas palavras que eles desconheciam.
com ela novos objetivos foram traçados.
Continuando com Machado de Assis, Devido ao curto tempo para trabalharmos
realizamos a leitura em grupos dos contos com contos, optamos pela leitura de
Viver; Trio de Lá Menor; O enfermeiro; poemas. Desta forma, foram apresentados
A causa secreta e A cartomante, ficando aos alunos os autores “Mário Quintana”
cada bolsista responsável por um grupo no vídeo Receita da Vida. As estratégias
para leitura e organização da apresentação utilizadas para leitura dos poemas foram: a
apresentação em vídeo e data show com a
fala dos próprios autores, falando do ato de
escrever e sua vida como escritores. Depois,
foram ofertados poemas que eram retirados
de uma cartola e realizadas as leituras em
duplas, um colega lendo para o outro. Como
produção, os alunos escreveram poemas e
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acrósticos. Outra oficina marcante foi a intitulada “Sentido dos Sentidos”, na qual os alunos
participaram efetiva e afetivamente. Por meio dessa oficina os alunos puderam perceber,
sentir e relembrar momentos do passado que foram relevantes para eles. Foi percebido
pelas acadêmicas o poder da poesia em restituir o equilíbrio sentimental, sensibilizando
todos os envolvidos ao processo. Foram utilizados vários objetos para o êxito da oficina:
pó de café, incenso aromático, canela em pó, penas de galinhas e areia da praia. Todos
foram convidados a perceber e sentir o aroma dos objetos de olhos vendados. Depois,
convidados a produzirem um poema por meio das percepções da oficina. Nessa mesma
noite, os alunos assistiram a um vídeo clipe com a música Na Linha do Tempo, Victor e
Leo, uma música romântica e inspiradora, cujo tema é o primeiro amor de infância.
Outra atividade foi a confecção de sacolas poéticas produzidas pelos alunos, nas
quais foram colocados os poemas dos autores e realizado um trabalho artístico com lápis
colorido sobre as sacolas. Em seguida, propusemos aos alunos a licença poética, em que
cada um teve a oportunidade de se expressar por meio da linguagem artística. E assim foi
a nossa experiência no ano de 2015 na Educação de Jovens e Adultos.
O que podemos dizer é que as atividades proporcionadas pelo programa
PIBID- Letras/Leitura promoveram uma reflexão e um intenso envolvimento com o
ambiente escolar. Isto porque sentimos que, ao pensarmos na leitura como fruição; na
elaboração de estratégias de leitura; na preocupação com os resultados alcançados que
são transformados em produtos; na responsabilidade de escrever sobre nossas ações nos
portfólios; a possibilidade de participar em eventos científicos, tudo isto impulsiona o
nosso crescimento intelectual e o amadurecimento pedagógico. E para a qualificação da
docência esses elementos têm um valor inestimável!
Referências
ASSIS, Machado de. Várias histórias. Disponível em: http://machado.mec.gov.br/
images/stories/pdf/contos/macn005.pdf. Acesso em: fev. 2015.

14
MEMÓRIAS E IMPRESSÕES I:
relatos do PIBID Letras
do E. E. M. Henrique
da Silva Fontes
Rafael Moura de Morais
Professor Supervisor

Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre e terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
Carlos Drummond de Andrade

Parece que foi ontem... a chegada


da primeira turma! É a sensação que nos
toma quando nos vêm à mente os primeiros
momentos do PIBID: mistura de receio e
ousadia, vontade e sonho. Na Escola de
Ensino Médio Professor Henrique da Silva
Fontes, vizinha da Igreja do São João,
Itajaí -SC, muitas eram as ações voltadas à
leitura, mas se tinha a certeza de que mais
poderia ser feito, torná-la significativa e
parte das rotinas escolares.
Ao longo destes cinco anos,
histórias e aprendizados foram escritos. Se
pensarmos em toda a Literatura de que se
teve acesso e às reflexões sobre o livro, a
15
leitura e a formação estética, escreveríamos dialogavam e complementavam-se, únicas
livros e mais livros para nosso deleite e no gênero e no estilo de cada autor. As
formação. A princípio, compreender o livro vozes e os seus diferentes discursos.
como um objeto a ser apreciado, da leitura No terceiro ano, outros caminhos
deleite, a partir de vivências estéticas, foram trilhados, a literatura em meio digital.
pareceu-nos estranho, pouco possível. A ousadia (sempre embasada em estudo e
Um ledo engano, a trajetória mostra-
planejamento) e a experiência já adquirida
nos simplesmente o contrário. A leitura,
nos encorajaram a adentrar e pensar sobre
a literatura e sua apreciação. Do verso à
uma nova discussão: o livro deixará de
prosa, do papel ao virtual, do tradicional
existir? As novas gerações não conhecerão o
ao inusitado... as leituras e as vivências.
livro como conhecemos? Assim, adentramos
É concordar com Pennac (2011, p. 12),
neste universo e nele redescobrimos que
em Como um romance, que nos diz que os
podemos ler sim em diferentes suportes,
leitores têm seus direitos. O direito de não
ler, acreditar no que leu, guardar para si. respeitando-se cada um, a fruição sendo
explorada além do papel!
Tudo começou pelo poema,
dos poetas locais aos reconhecidos De repente, a sensação de que tudo
nacionalmente. Floriano, Nascimento, estava realizado, que mais nada seria tão
Mamann e Buss. Experiências profissionais atrativo, foi abandonada quando fomos
valorosas... os momentos de leitura apresentados ao Grau 26: A Origem
literária são por natureza uma descoberta (2012), de Zuiker. Literatura estrangeira
pessoal e de criação, o texto literário contemporânea e transgressora. O romance
plurissignificativo por natureza é um policial e suas implicações no espaço escolar.
passaporte à imaginação e à fruição. E não A leitura de Grau 26 oportunizou a escola
ter tido medos e receios em apresentá-los discutir um de seus maiores dilemas: a
e lê-los com paixão foi a melhor maneira violência fora de seus muros que bate em suas
de dizer que a leitura pode e deve ser portas. Um diálogo mediado pela leitura e
compartilhada, por prazer ou fruição. os setores civis correspondentes. Uma obra
Do poema, partimos para a prosa... marcante em nossa história... ainda ouvimos
um desafio: ler três romances! Amrik comentários: um livro inesquecível!
(1997), de Ana Miranda. Terra Papagalli Concomitantemente, lia-se em
(2000), de Torero e Pimenta. A Cidade outras salas, Sussuana, O Santo e a Porca
Ilhada (2009), de Hatoum. Três romances, (2007). Dos cordéis, as aventuras de
três visões de mundo, três verdades. A Enricão Árabe, com toda sua avareza,
escrita livre e transgressora de Miranda, propusemos a leitura de textos literários
aos olhos dos leitores em formação, e dramáticos. Um gênero esquecido entre
encantou-os, fez pulsar a emoção. Obras tantos outros no currículo escolar... nossa
que possibilitaram a reflexão sobre a viagem parecia não ter fim, outros destinos
multiculturalidade na escola por meio da se apresentavam, universos literários e
leitura literária. Dentre muitas oficinas conceituais eram descortinados. Uma
deste projeto, a que fica na memória pausa para se pensar no sagrado e no
foi aquela que os estudantes puderam profano, as virtudes e fragilidades
comparar as três obras e perceber que humanas. A literatura inquieta e provoca,
16
coloca-nos em estado de desequilíbrio e bolsistas, por que não, para a leitura de
(BARTHES, 1974). fruição, formando leitores. As diferentes
Em 2014, Vésperas (2002), de propostas de leitura e oficinas temáticas,
Lunardi. A jovem escritora catarinense segundo os estudos de Rildo Cosson
relata os momentos finais de nove escritoras, (2009) sobre o letramento literário no
criando assim um mundo paralelo cujas espaço escolar, não teriam validade se não
fraquezas humanas são descritas com sutileza fosse a preocupação do grupo em fazer a
e sensibilidade: nove vidas, nove histórias, diferença na vida escolar dos estudantes que
as vésperas de seu fim, que se entrelaçam em participam dos projetos. Um grupo que se
outras histórias, numa experiência leitora mostra homogêneo no que diz respeito aos
intertextual. Não somos finitos, mas eternos hábitos de leitura, na maioria são estudantes
em nossos sentimentos. A exploração e masculinos, período noturno, na faixa etária
as correlações entre espaços e estados da de 15 a 23 anos, sem práticas de leitura
alma feminina frente às lembranças e à literária, desconhecedores de gêneros
morte. Uma homenagem às mulheres, uma textuais e com acesso diário à Rede.
oportunidade para repensar os papéis e as Ao longo destes anos, o grupo de
contribuições femininas à sociedade. bolsistas mudou e cada integrante deixou
Em 2015, deixamo-nos envolver sua marca. O brilho no olhar, a ansiedade,
por Machado de Assis. Uma literatura o preparo e o aprendizado constante
clássica e envolvente, que desafia o tempo não foram em vão, tudo hoje resulta na
e diverge opiniões. Não optamos por seus experiência e no aprendizado. “O PIBID
romances, mas por seus contos. Como já me incentivou ainda mais o gosto pela
teria dito certa vez, Oswaldo de Andrade, docência me tornou mais criativa e crítica
precisamos de doses homeopáticas de comigo mesmo, pois além do projeto
literatura. Machado, mesmo descrevendo ampliar os horizontes, as ações do professor
o pitoresco do século XIX, transporta-nos supervisor enriqueceu a minha formação
para nosso cotidiano, fazendo-nos pensar, a acadêmica, com certeza facilitará as minhas
verossimilhança machadiana discutida em futuras atuações profissionais.” (Adriana,
sala de aula. Uma vivência leitora inusitada bolsista desde 2012).
e intrigante: instigar estudantes a pensar E muito mais poderia ser dito, afinal,
sobre suas atitudes e relações interpessoais. quando realmente se lê, não se vivência pela
A leitura provoca, a leitura faz. metade. Mas não se pode furtar de dizer
Na escola há espaço e oportunidade que, de todos os resultados que se teve,
para todas as leituras e literaturas: é preciso como do incentivo à leitura, a proximidade
apenas permitir o acesso e ler junto. Não Escola e Universidade, o repensar
se incentiva a leitura e forma-se leitores se da práxis, o agradecimento sincero e
não lermos junto. O simples fato de lermos espontâneo dos estudantes, um em especial
junto tem feito toda a diferença. Isto se deve ser registrado: a possibilidade de uma
chama mediar a leitura. formação acadêmica para as bolsistas no
No HSF, o PIBID tem proposto chão da escola, como diria Freire, onde tudo
tornar as práticas de leitura em atividades acontece. A verdadeira prática educativa
prazerosas e, assim, despertar os estudantes não desconsidera a afetividade e o sensível,
17
a alegria e os momentos de tristeza, a sejam bolsistas ou estudantes. Da mesma
capacidade de lidar com as adversidades, forma que faltam dedos para enumerar
o domínio do saber acadêmico e técnico a dúvidas e medos, faltam para elencar os
serviço da mudança em prol da Educação. aprendizados. Entretanto, não podemos
Nada será como antes, temos a esquecer-nos de registrar todo apoio e
certeza que tudo que tem sido feito, tem incentivo dado ao grupo pela Direção da
brotado e feito a diferença. Muitos caminhos HSF. Sozinho, somos um, juntos, muitos
já percorremos e temos a sensação de ainda por um mesmo ideal, palavras do Diretor.
estarmos na largada. Em Educação, tudo Agora mesmo, ouvindo Chico
é muito amplo e, na maioria das vezes, Buarque, A Banda (1966), e relendo trechos
imensurável. No cotidiano do educador, a de contos de Machado de Assis, Pessoa
convivência entre desafios e as superações vem à memória, para alertar que se a alma
preparam para compreender melhor o não for pequena, sempre valerá a pena!
amanhã e modificar os reveses. O PIBID
A vida segue inequívoca... até virar a
Letras HSF tem um pouco disso: trazer à
próxima página.
tona aquele sorriso escondido, aquele olhar
brilhante, aquela vontade louca de viver, Referências
o deleite com a literatura, sensibilizar as BARTHES, R.. O prazer do texto. São
relações. A leitura como libertação... não Paulo: Perspectiva, 1974.
a libertação revolucionária, mas solidária, COSSON, R.. Letramento Literário:
compartilhada, humanitária e sensível! teoria e prática. São Paulo: Editora
Todo esse trabalho não se construiu Contexto, 2009.
ontem, vem se edificando a cada ano. A PENNAC, Daniel. Como um romance.
memória já não alcança todos e todas, São Paulo: L&PM Editores, 2011.
MEMÓRIAS E IMPRESSÕES II:
relatos do PIBID Letras
do E. E. M. Henrique
da Silva Fontes
Adriana Castro Santos
Ângela Maria Bittencourt Ródio
Eliane Aparecida da Silva
Jocéa Tolisano Duarte
Marcia Adriana Barreto Cuty
Vanessa Lúcia Fuck Dognini
Licenciandas

Mesmo sem motivos aparentes,


parece que é sempre assim no começo,
quando algo novo se apresenta, somos
contagiados por dúvidas e receios, mesmo
que faça parte do nosso cotidiano. Não
foi diferente na HSF, quando começamos
as atividades do PIBID Letras – Leitura.
“Calma, isto aqui é como catar feijões,
devemos escolher o que há de melhor em nós,
e o que for, será! Ah, Gullar...” , assim o
professor supervisor costumava iniciar a
maioria de suas orientações. No começo,
não entendíamos muito bem o que ele
queria dizer, mas hoje, tudo parece ter mais
sentido. Feijões e pedras, pedras e flores,
flores e leitura, leitura e mundo, mundo e
vivências, vivências e aprendizados.

19
Entre autores e livros, muitos foram Os Projetos de Leitura até então já
os que nos marcaram. No meio do caminho tinham transitado entre o verso e a prosa, o
tinha uma pedra, já dizia Drummond. As virtual e o inusitado, a leitura e a ousadia, os
diferentes interpretações e os contextos deleites e a fruição. Em 2013, depois de um
possíveis que podemos alcançar traduzem ano com dois Projetos de Leitura (Grau 26:
muitas das impressões que tínhamos do A Origem e Leitura Dramática), sentíamos
Projeto. Pensava assim, sempre tem uma pedra, que faltava adentrarmos em outros
quando iniciei em 2013. E a pedra foi sendo discursos literários, aprofundarmos mais
retirada a cada encontro, pois o aprendizado o que sabíamos sobre intertextualidade e
construído era mais importante e valoroso. interdiscursividade. Um desafio estava
A convivência e as vivências entre todos os posto e aceito: falar da morte, da efemeridade
envolvidos complementavam e enriqueciam a da existência humana, da alma feminina.
nossa formação e a dos estudantes, trazendo Vésperas, de Adriana Lunardi, foi um livro
subsídios ao processo de ensino e aprendizagem muito interessante de ser trabalhado; no início
de cada um (Eliane Aparecida da Silva). trouxe estranhamento para os estudantes e para
Histórias foram e são escritas a partir de nós, que requereu do grupo dinâmicas e uma
outras histórias. apresentação especial da autora e dos temas do
Em 2012, quando foi proposta livro. A proposta do PIBID é exatamente essa,
aos estudantes a leitura dramática de de desenvolver aulas diferenciadas (Vanessa
textos literários, como O Santo e a Porca, Lúcia Fuck Dognini)
de Ariano Suassuna, nossa ação na HSF Se para os estudantes poderia ser
já contatava com o reconhecimento de difícil, para nós bolsistas, também poderia
muitos docentes... fazíamos coisas tão ser, como foi. Em nossa vida profissional,
simples: líamos os textos expressivamente a todo momento, somos convidados a
e os contextualizávamos, trazendo para a ir além, só que sem preparo e estudo, o
realidade dos estudantes, fosse na sala de percurso tem muitos atalhos. No primeiro
aula, na sala de informática, no pátio ou na instante que recebi o livro Vésperas tive receio e
Biblioteca Escolar. O simples, o essencial, medo de não compreendê-lo [...] levar esse livro
o necessário. repleto de intertextualidade para os estudantes
Para nós, era apenas uma questão foi um grande desafio, porque não acreditei
de encaminhamento, de fazer chegar, de que os estudantes conseguiriam relacionar
planejar o percurso. Esta é a percepção tanta informação nos textos. Surgiram tantos
particular que tenho do programa PIBID, questionamentos entre nós, fazíamos tantas
um bom encaminhamento permite muitas perguntas - de que forma levar esse assunto?
oportunidades, por ser desenvolvido em um Como apresentar nove escritoras? Mas, graças
âmbito que abarca a teoria - a pesquisa – e a à experiência da Coordenadora e do Supervisor,
prática docente permitindo aos envolvidos pudemos em conjunto resolver todas estas
observar a forma tradicional que hoje ainda questões (Adriana Castro Santos).
persevera na educação e acompanhar as Se os profissionais da Educação,
várias possibilidades de inovação (Vanessa sempre que tivessem dúvidas, procurassem
Lúcia Fuck Dognini). dialogar entre si e compartilhar suas
20
vivências e aprendizados, talvez hoje Agregando a leitura do Conto de
teríamos uma realidade tão diferente da Escola com os artigos que lemos, planejamos
atual. A literatura acadêmica sobre leitura uma reescrita do Conto de Escola para a
e letramento em muito tem contribuído linguagem contemporânea. Essas vivências
em nosso crescimento profissional. Neste literárias e a leitura do mundo de cada um
sentido, o Grupo de Estudo e Planejamento norteiam um novo olhar e novos significados
tem sido muito importante para todos nós, às práticas pedagógicas que exercem cada vez
bolsistas e professor supervisor: estudar, mais um papel desafiador (Marcia Adriana
planejar, atuar, avaliar e aprender! Todo Barreto Cuty).
mundo aprende com todo mundo... nas Machado de Assis, um clássico para
relações que se constroem os aprendizados todas as idades, sempre atual e presente
coletivos. Este ano iniciou com as expectativas no imaginário coletivo, agregou à história
voltadas ao desenvolvimento do Projeto PIBID do PIBID na HSF considerações e valores.
Leitura, mergulhado em estudos e pesquisas, Lemos fruitivamente textos clássicos na
para apurarmos o nosso olhar, fundamentado Escola Pública!
em referenciais literários. Começamos por Rildo Se não fosse a terra, a semente, a
Cosson que fala da necessidade de motivar, de água e o sol, não teríamos a flor! Se não
capacitar o leitor para ler o texto literário [...] tivéssemos o PIBID em mossa formação,
(Ângela Maria Bittencourt Ródio). não teríamos experienciado tudo que o
Em nosso Projeto de Leitura já vivemos. Aprendizado, a palavra que
Machado de Assis (2015), tivemos a melhor o define.
oportunidade de falar sobre a escola, Até breve... até o próximo livro!
esta instituição milenar e controversa, Referências
pelo texto literário, reacendendo velhos
ASSIS, Machado de. Várias histórias.
discursos: não se lê mais clássicos,
Disponível em:
são ultrapassados, eles não gostam
disso! Nossos resultados preliminares http://machado.mec.gov.br/images/
contrariaram estas afirmações. Sabemos stories/pdf/contos/macn005.pdf. Acesso
hoje que toda literatura apresentada de em: fev. 2015.
forma adequada é mais bem compreendida DRUMMOND, Carlos. Antologia
e aceita: faz pensar e instiga a criatividade. Poética. São Paulo: Record, 1990.
O texto Conto de Escola nos permitiu abrir GULLAR, Ferreira. Toda poesia. 9. ed.
um debate sobre a escola do século XIX e da Rio de Janeiro: José Olympio, 2000.
contemporaneidade: seu método de ensino e LUNARDI, Adriana. Vésperas. Rocco;
as formas de castigo, as formas de corrupção 2002.
e de delação. Através de um mapa conceitual
SUASSUNA, A. O Santo e a Porca. 21. ed.
elaborado por nós bolsistas, trabalhamos a
RJ: José Olympio, 2010.
temática do texto de Machado de Assis em
relação a outras obras de escritores do século ZUIKER, Anthony E. Grau 26, A Origem.
XIX, como o Manoel Antônio de Almeida e Rio de Janeiro. Record, 2010.
Raul Pompéia (Jocéa Tolisano Duarte).
21
EXPERIÊNCIAS DE LEITURA
DO LITERÁRIO NA ESCOLA
BÁSICA JOÃO PAULO II -
PIBID - LETRAS
Cleide J. M. Pareja
Coordenadora de Área

Rosiane Koneski
Professora Supervisora

“Um clássico é um livro que Greice M Botelho


nunca terminou de dizer aquilo Denise L Berlim
que tinha para dizer”. Elaine Cristina Siqueira
Ítalo Calvino, 1993 Vitória L Zadrozny
Licenciandas

No início de 2015 foi implantado o programa PIBID com o subprojeto Letras/Leitura


na Escola Básica “João Paulo II. O objetivo do projeto foi a leitura dos clássicos no ensino
fundamental. Os autores escolhidos para leitura foram Machado de Assis e Mário Quintana.
A abertura das atividades ocorreu com a apresentação das dependências da escola
às bolsistas e à professora coordenadora. Neste dia a Coordenadora de Área comentou
um pouco mais sobre os objetivos e os encaminhamentos do projeto e como deveriam ser
realizados os registros no “Ambiente Sophia”.
A partir do segundo encontro, deu-se início ao contato com os alunos. O primeiro
foi coordenado pela professora supervisora, que leu o livro “Para que serve um livro” de
Chloe Legeay, para a discutir a importância da leitura, apresentação das licenciandas e do
projeto para os alunos.
Nos três encontros seguintes, as bolsistas fizeram observação da turma e da aula de
Língua Portuguesa da professora supervisora. Neste período, as licenciandas conheceram
22
também as salas multifuncionais e do Eva, que atendem crianças portadores de deficiência
e crianças com dificuldade de aprendizagem em função de existir em uma das salas de
atuação uma aluna portadora de Síndrome de Down. Neste período também, as bolsistas
fizeram a organização da biblioteca, pois a escola não dispõe de bibliotecário ou responsável
designado. Foi iniciado um grupo de leitura semanal de textos teóricos, sobre os quais
foram realizados debates, resumos e registros de citações relevantes sobre leitura.
Após este primeiro contato, deu-se início às Oficinas de leitura. Na primeira oficina,
os alunos foram divididos em grupos e cada bolsista ficou responsável por um. Cada
grupo organizou a leitura de um livro de literatura infantil para apresentação de leitura
dramática ao grande grupo.
Após estes momentos de leitura, os alunos já estavam preparados para apresentação
do autor escolhido para o projeto, Machado de Assis. As bolsistas iniciaram o encontro
com a leitura do texto “Um apólogo”, seguido por estudo do vocabulário, interpretação e
discussão. Na sequência, para que os alunos conhecessem um pouco mais sobre Machado
de Assis, foi apresentado em PowerPoint dados sobre a vida e a obra do autor, bem como
vídeos disponíveis no youtube para que todos estabelecessem laços com o autor. Depois, foi
proposta a produção de um texto coletivo, em primeira pessoa, sobre o autor.
Outro momento relevante para o grupo foi a vivência cultural em vários pontos
da cidade. Na Casa da Cultura, os alunos tiveram contato com o acervo de livros e com
as obras expostas no local. Tinham como meta encontrar algumas obras sobre o autor
que estava sendo conhecido para compreenderem a importância de Machado de Assis na
cultura brasileira
No encontro seguinte, fez-se a leitura do “Conto de Escola”. Nesta oficina foi
realizada a leitura fruitiva do texto, estudo do vocabulário, interpretação e uma reflexão
estabelecendo relações entre a escola retratada no conto e a escola de hoje. Para aprimorar
a reflexão, foi organizado um painel de imagens da época do conto. Os alunos também
fizeram uma entrevista com pessoas mais velhas para descobrir como era a escola
antigamente. Para finalizar este semestre, foi elaborado um Sarau Literário, no qual os
alunos declamaram poemas do autor Machado de Assis. Como registro avaliativo do
trabalho, os alunos produziram textos registrando suas impressões sobre a leitura dos
contos do autor.

23
No segundo semestre, o poeta Mário Quintana foi o autor escolhido para realização
da leitura fruitiva. Na primeira oficina foram apresentados os dados sobre a vida e a obra
do autor em PowerPoint e em um vídeo intitulado Retratos de Vida, no qual o próprio
autor fala de si. Neste dia aconteceu a entrega da bolsa “SONHOS E POESIA”, produzida
pela professora supervisora, para que os alunos levassem para casa os livros “Lili inventa
o mundo” e “Eu passarinho”, de autoria do poeta, para ser realizada uma leitura familiar.

A cada encontro, liam-se os poemas ora silenciosamente, ora em duplas e em grupo


aberto do livro “Eu passarinho”. Os grupos liderados pelas bolsistas iam provocando as
colocações a respeito do lido. Após interação com o poema, os alunos ilustraram-no para
a produção de um livro e um varal literário. A capa do livro foi produzida pelos alunos em
cartonaria como mais uma das atividades do projeto. Os poemas que fizeram parte do Varal
Literário foram digitados em caixa alta para facilitar a leitura pelos alunos das Séries Iniciais,
compartilhando assim o resultado da leitura e ofertando-o para a comunidade escolar.
Na continuidade, outra obra foi lida com os alunos: “Rua dos Cataventos &
Outros Poemas”. A partir da leitura dos poemas desta obra os alunos fizeram a produção
de paráfrases poéticas e as ilustraram. Outra releitura foi produzida com o poema “O
autorretrato”. Após leitura e fruição, os alunos partiram para a pintura em tela de seu
autorretrato.
Outra atividade para envolver a escola num espírito literário foi a produção pelas
bolsistas de cartões de leitura e marca página com poemas do autor Mário Quintana. Para
24
contaminar todo o ambiente escolar com textos literários, foi decorada a mesa da sala dos
professores com poemas, poesias, contos, o que se intitulou como “Mesa literária”, pois
como diz Eco, “a literatura mantém em exercício, antes de tudo, a língua como patrimônio
coletivo” (2003, p. 21).
O encerramento do projeto de leitura dos clássicos - Mário Quintana - foi com
a leitura dramática do poema “Espelho mágico”, no Sarau literário. Para que toda a
comunidade escolar compartilhasse do projeto, foi organizada uma exposição de todos os
trabalhos produzidos pelos alunos sobre o autor Mário Quintana. É importante ressaltar
que o centro do projeto é a promoção da leitura fruitiva, sem preocupações de produção
de produtos após a leitura, no entanto, quando se promove a discussão da literariedade,
qualidade essencial do texto literário, nasce na reflexão o desejo de comunicação do
fruído em diferentes linguagens como pintura, desenho, escrita, encenações. No conjunto,
leitura fruitiva e produção de atividades estéticas provocaram o encantamento de alunos
e licenciandos com o texto literário.
O que se pode afirmar é que o impacto que o projeto causou foi de grande relevância,
pois: a) as aulas tornaram-se voltadas para a leitura fruitiva; b) houve ampliação do
repertório dos licenciandos e dos alunos da educação básica; c) promoveu-se a oxigenação
das práticas literárias pela professora supervisora; d) aperfeiçoamento de estratégias de
leitura em grupo; e) ampliação de processos de mediação em leitura; f) compreensão dos
princípios que sustentam a formação de leitores, entre outros.
Referências
ECO, Umberto. Sobre literatura. Rio de Janeiro, 2003.
CALVINO, Ítalo. Por que ler os clássicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
LEGEAY, Chloé. Para que serve um livro? São Paulo: Pulo do Gato, 2011.

25
PIBID DE MATEMÁTICA:
relação treze para cinco
Cirlei Marieta de Sena Corrêa
Coordenadora de Área de Gestão

Em 13 de agosto de 2010, o Edital


111/PROEN/2010 da Universidade do
Vale do Itajaí-UNIVALI divulgou a relação
dos contemplados com a bolsa pelo Programa
de Iniciação à Docência - PIBID. Quatro listas
nominais estavam organizadas de acordo
com os subprojetos existentes na Instituição.
Foco meu olhar para a lista de número 4, na Figura 1: Primeira relação dos licenciandos
qual se encontra o nome dos licenciandos aprovados para o PIBID. Fonte: Edital 111/
PROEN/2010.
pioneiros do PIBID de Matemática.
No mesmo dia, o Edital 010/
PROEN/2010 da UNIVALI divulgou a
relação dos professores supervisores do
PIBID.
Somando, temos treze pessoas
percussoras do PIBID de Matemática na
UNIVALI, o qual em 2105 completa cinco
Figura 2: Primeira relação dos supervisores
anos. Este tempo possibilitou uma relação
aprovados para o PIBID. Fonte: Edital 010/
estável entre os diversos envolvidos no
PROEN/2010.
PIBID: escolas, licenciandos, professores
estrutura. E a madeira vem das árvores
supervisores, docentes da UNIVALI, grupo
que estão firmes em suas raízes, mas que
de gestores, etc.
também geram os galhos viçosos, flores,
Muito festejada deve ser as Bodas folhas e frutos.
de Madeira, cujo significado define todos
A ela assemelha-se a caminhada do
os momentos vivenciados até agora.
PIBID de Matemática da UNIVALI, cujo
A madeira é forte e resistente. Com processo de desenvolvimento representa
ela constroem-se casas, pontes, móveis uma conquista. E o marco inicial foi fincado
e outras coisas que podem sofrer a ação pelo grupo dos treze. Este texto é uma
de agentes externos, mas que com os homenagem a ele, afinal não estaríamos
devidos reparos mostram novamente a sua completando bodas de madeira sem o
26
esforço daquele grupo. Optei em registrar imagens na construção do texto, tendo como
hipótese que a imagem evidencia o fortalecimento do PIBID numa estrutura de madeira.
Melhor dizendo, as intempéries não aparecem na imagem, mas contribuíram para a existência
dos fatos registrados.

Figura 4: Portfólio de bolsista de Iniciação à


Docência - ID. Fonte: A autora.

Figura 3: Abertura oficial do PIBID/UNIVALI


Data: 09/12/2010. Fonte: A autora.

Figura 5: PIBID de
Matemática no VII
Encontro Catarinense de
Educação Matemática.
Fonte: A autora.

Figura 6: PIBID de
Matemática e seu mural
de acolhida para os alunos
da EEB Deputado Nilton
Kucker. Fonte: A autora.
27
SIMETRIA,
A MATEMÁTICA
PERFEITA
Sandy Aparecida Pereira
Licencianda

Josane de Jesus Cercal


Coordenadora de Área

As pessoas cultivam o que é belo. Este texto relata o desenvolvimento


O padrão de beleza das figuras humanas, da prática docente realizada pelos
das formas, das ilustrações, dos objetos, licenciandos participantes do PIBID
dos móveis, dos azulejos e das construções na Escola de Educação Básica Nilton
está associado à simetria, um dos conceitos Kucker, em Itajaí, utilizando-se de toda a
geométricos que estuda a relação de paridade, diversidade de aplicação da simetria, que
tanto em relação às medições quanto à estética nada mais é do que a matemática em sua
das partes que compõem o todo. “dimensão” mais perfeita.
Contrariando o que muitos O estudo da Geometria auxilia os
acreditam, a simetria vai além dos aspectos alunos a representar e a dar significado
artísticos e/ou arquitetônicos, compreende ao mundo. A simetria, por exemplo,
também os aspectos matemáticos, que se proporciona oportunidades para os alunos
valem inclusive de análises e fórmulas. visualizarem a Geometria no mundo da arte
Partindo desse princípio, o conceito ou na natureza. Neste domínio, a exploração
escolhido para se atuar no Programa de conceitos e padrões geométricos pode
Institucional de Bolsa de Iniciação à criar situações muito interessantes para os
Docência (PIBID) na área de Matemática alunos, que passam a relacionar a beleza
foi “Simetria”, tema ideal para se atuar com a matemática mediante uma sintonia
com projetos educacionais, direcionados de medidas, que por sua vez podem ser
à aquisição de conhecimentos teóricos, calculadas e desvendadas.
juntamente com a realização de atividades Sendo assim, para se estudar a
práticas, como a produção de mosaicos. simetria, podem ser usadas fórmulas
28
matemáticas ou modelos geométricos, e este foi o foco do projeto intitulado “Simetria, a
matemática perfeita” aplicado aos alunos do 3º ano do Ensino Médio.
Numa aula expositiva e dialogada, foi abordada a questão de
que tudo aquilo que possui paridade, tanto em relação à altura,
ao comprimento e à largura, pertence à simetria, eixo da
Geometria responsável por analisar a perfeição dos lados de
objetos e/ou seres que, ao serem divididos por um eixo
simétrico, resultam em opostos simétricos. Exemplo: as
asas de uma borboleta.
Percebeu-se a importância da simetria em diversas profissões,
como é o caso de um azulejista, que usa a precisão para revestir com cerâmica um
cômodo, por exemplo. As medidas precisam ser perfeitas, exatas, milimetricamente
corretas.
No encontro seguinte, os objetivos foram o de identificar a Matemática como
estrutura de toda a precisão simétrica e reconhecer a importância dos ângulos no
estudo da Geometria.
Para que os alunos pudessem correlacionar o conceito de ângulos, foi feito
primeiramente uma exposição oral, e logo a seguir foi realizada a atividade de confecção
de dobraduras. Cada aluno deveria confeccionar a sua e analisá-la posteriormente quanto
à produção não somente das diversas formas criadas por esta arte, como também verificar
a formação dos diferentes ângulos criados no papel.
O assunto “ângulos” se constitui num conceito chave para o estudo de figuras
semelhantes, tais como: casos de congruência de triângulos, construção de polígonos
regulares, relações métricas num triângulo e trigonometria, entre outros tópicos.
O trabalho com dobraduras é enriquecedor, no que se refere às inúmeras
possibilidades que oferece nos diversos ramos da Matemática. A exploração geométrica que
é possível ser feita com o origami utiliza conceitos básicos relacionados a ângulos, planos,
vértices, paralelismo, semelhança de figuras, bem como as noções de proporcionalidade,
frações, álgebra e funções são fortemente evidenciadas nesta prática.
O trabalho com Geometria possibilita o desenvolvimento de competências como as
de experimentar, representar e argumentar, além de instigar a imaginação e a criatividade.
Ao repensar a prática pedagógica de Geometria, o origami surge, nessa perspectiva, como
um instrumento instigante para a revitalização dessa prática (RANCAN, 2011, p. 18).
Os próximos encontros tiveram como pressupostos a análise dos mosaicos
de Escher, bem como o reconhecimento da importância da simetria na elaboração dos
mosaicos ressaltando a sutileza na perfeição das peças do artista. O objetivo foi que os
alunos percebessem o início dos conceitos de Designer de Superfícies, por meio das obras
de Mauritis Cornelis Escher, com a temática “Decoração”. Verificou-se que a utilização dos
mosaicos estava diretamente relacionada com ângulos, também trabalhado nas aulas. Foi
uma aula em que a Matemática esteve relacionada com a Arte, pois como foi levado para
sala de aula imagens representando os mosaicos de Escher, cada aluno precisava analisar
29
a beleza simétrica dos seus trabalhos, necessários para se fazer revestimentos e/
reconhecendo que a Geometria está ou decorações.
presente em todos os objetos decorativos Inicialmente, os problemas foram
de interiores. resolvidos em sala, para que houvesse
Os alunos receberam uma folha reconhecimento das fórmulas necessárias
com borboletas retratadas e tinham que para a resolução. Na sequência, foram
colori-las, para posteriormente montarem entregues atividades avaliativas para
um painel em uma das paredes da escola, que, em duplas, ou no máximo em trio,
recriando uma das obras de Escher. solucionassem os problemas.
No encontro final a abordagem com Concluindo, a Introdução à Simetria
os alunos foi sobre “áreas”, com os objetivos se fez por meio de aulas expositivas e
de identificarem, formularem e resolverem dialogadas, para que os alunos tivessem
problemas de área, reconhecendo a conhecimento do que se tratava a matéria a
importância desses cálculos para poderem ser estudada. Uma exposição de exemplos
identificar a quantidade de materiais simétricos se fez necessária, tais como:
fotografias, revistas, cartazes, livros, objetos,
mandalas, mosaicos, pastilhas e azulejos.

Figura 1: Construção da malha quadriculada.

Figura 2: Resolução de problemas de cálculo de


áreas.

Figura 3: Realização de dobraduras.


30
Esses foram alguns dos recursos utilizados para que os alunos visualizassem o material e
reconhecessem a precisão simétrica na constituição destas peças e/ou materiais.
Conversação e atividades por meio de produções de malhas quadriculadas com
mosaicos, dobraduras, pinturas e montagens foram alguns dos exercícios usados no final
das aulas como forma de fixação. O objetivo era questionar e levar à reflexão: “Seu rosto
é simétrico?”, “As asas de uma borboleta são imensamente belas, por quê?”, “Quanto mais
simétrico, mais bonita será uma casa internamente?”, “A Matemática pode desvendar os
segredos das perfeições simétricas?”.
Conhecimento e dedicação são fundamentais para a iniciação à docência, como
é demonstrado por meio da atuação do PIBID, tanto para a nossa prática diária, como
professores atuantes em sala, bem como acadêmicos na escola da VIDA.
Referências
PERRENOUD, Philippe. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens entre
duas lógicas. Trad. Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
RANCAN, G. Origami e Tecnologia: investigando possibilidades para ensinar Geometria
no ensino fundamental. 2011. Dissertação de Mestrado - Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011.
MABUCHI, S. T. Transformações geométricas - a trajetória de um conteúdo não
incorporado às práticas escolares. Dissertação de Mestrado, São Paulo: PUC/SP,

Figura 4: A simetria das borboletas.

Figura 5: Construção das faces simétricas. 31


VIVENCIANDO
A ESTATÍSTICA E SUAS
DIFERENTES APLICAÇÕES
Josane de Jesus Cercal
Coordenadora de Área

Cristian Henrique Maraski


Paulo Marcos de Brito Poerner
Licenciandos

Arnoldo de Mattos
Professor Supervisor

POERNER, Paulo Marcos de Brito


Ana Paula Cortes Peterneli
Raissa Francine F. Henrich
Acadêmicos do Curso de Licenciatura de Matemática – Univali

O projeto descrito a seguir foi desenvolvido no primeiro semestre do ano de 2015


pelos bolsistas do PIBID do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade do
Vale do Itajaí, com os alunos dos segundos e terceiros anos do Ensino Médio da Escola de
Ensino Básico Deputado Nilton Kucker. Teve enfoque na estatística e nas suas diferentes
aplicações em sala de aula, possibilitando o aprimoramento do conteúdo, envolvendo a
escola com pesquisas criadas pelos alunos, exposição e criação de gráficos a partir dos
dados coletados.
O objetivo deste trabalho foi apresentar a estatística nas formas quantitativas
e qualitativas para a compreensão do processo de pesquisa e tabulação de dados,
possibilitando a compreensão dos conceitos estatísticos. Para a realização do trabalho,
foi utilizada a metodologia de pesquisa, momento em que os licenciandos elaboraram um
questionário que foi respondido pelos alunos de outras turmas, promovendo assim uma
interação social e educativa.

32
Após a coleta de dados, os alunos
foram instruídos pelos licenciandos e
professor à tabulação dos dados e à confecção
de gráficos manuais. Utilizando-se das
tecnologias como estratégia didática para
reforçar a aprendizagem sobre os gráficos,
os alunos os recriaram, porém, desta vez nos
computadores, utilizando o editor de planilhas
do Linux. Convém destacar a importância dos
gráficos para o desenvolvimento de conceitos
e procedimentos algébricos e para mostrar
a variedade de relações possíveis entre duas
variáveis (BRASIL, 1998).
As aulas no Laboratório de
Informática foram direcionadas para a
aprendizagem da Matemática, e que, por
sua vez, procurou oferecer recursos que
viabilizassem as ações mentais; recursos
esses que podem auxiliar os alunos na
superação de obstáculos inerentes ao
processo de aprendizagem da Matemática.
No dizer de Morgado (2003),
as construções por meio de planilhas
eletrônicas possibilitam interatividade, ou
seja, revela uma relação dinâmica entre as
ações do aluno e as reações do ambiente
como resultados de suas operações mentais.
Em seguida, utilizando os mesmos
dados coletados e os gráficos criados, os
33
alunos foram separados em grupos para que, nesse momento, criassem os mesmos gráficos
no espaço utilizando formas geométricas, incentivando à criatividade e à imaginação
dos alunos. Esta proposta final permitiu a combinação da estatística e da geometria de
maneira que os alunos puderam utilizar ambos os conhecimentos, expondo a possibilidade
da conexão de diferentes conteúdos desta disciplina, confirmando o aprendizado gradativo
que é a matemática.
O interesse e a participação dos alunos foram notórios no momento da criação
dos questionários e na busca pelas respostas com os alunos de outras turmas. O sucesso
desta primeira atividade gerou nos alunos um melhor aproveitamento no decorrer do
projeto e desenvolvimento de cada etapa consequente. A realização do projeto possibilitou
o aprimoramento na compreensão dos conceitos estatísticos, facilidade na realização de
cálculos e interpretação de dados, melhoria na concentração durante as instruções dos
bolsistas e um melhor aproveitamento das aulas regulares com o professor de matemática.
Todas as atividades permitiram aos licenciandos compreender o desenvolvimento de uma
sequência didática envolvendo a estatística a partir de situações do cotidiano.
O encerramento do projeto se deu a partir de uma pesquisa cujos bolsistas buscaram
a opinião dos alunos sobre o projeto e a intervenção do PIBID. Após a coleta de dados,
os licenciandos verificaram a excelência na receptividade dos alunos com o programa e o
projeto. Os próprios alunos perceberam os benefícios que o PIBID pode gerar em longo
prazo e compreender a importância da intervenção para a sua formação como aluno e cidadão.
Referências
BORBA, M. C. e PENTEADO, M. G. Informática e a educação matemática. Editora
Autêntica: Belo Horizonte, 2001.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros
curriculares nacionais: Matemática – 5ª a 8ª séries. Brasília, 1998.
DALL’ASTA. A formação de conceitos e as novas tecnologias. In: TEIXEIRA, A. C.;
BRANDÃO, E. J. R. (Org.) Tecendo caminhos em informática na educação. Passo
Fundo: Ed. Universidade de Passo Fundo, 2006.
MILANI, E. A informática e a comunicação matemática. In: SMOLE, K. S. (org.). Ler,
escrever e resolver problemas: habilidades básicas para aprender matemática. Porto
Alegre: Artmed, 2001.
MORGADO, M. J. L. Formação de professores de matemática para o uso pedagógico
de planilhas eletrônicas de cálculo: análise de um curso a distância via internet. 2003.
Tese (Doutorado em Educação) – Universidade de São Carlos: UFSCar, 2003. Disponível
em: <http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/tde_arquivos/8/TDE-2006-
02-23T12:07:12Z-858/Publico/TeseMJLM.pdf>. Acesso em:12 junho 2015.

34
FORMAÇÃO DE PROFESSORAS
E LICENCIANDAS DE
PEDAGOGIA PARA AS
ESPECIFICIDADES DA
INFÂNCIA
Valéria Silva Ferreira
Coordenadora de Área

O PIBID é um programa de apoio aos graduandos em licenciaturas para iniciarem no


cotidiano escolar, além de promover uma integração entre universidade e escolas parceiras. O
subprograma que eu coordenei por cinco anos consecutivos foi o de Pedagogia, realizado nos
Centros de Educação Infantil do município de Itajaí.
Este subprojeto de Licenciatura em Pedagogia teve como foco a pequena infância e a
qualificação das instituições de educação infantil para proporcionar às crianças o direito de:
viver a infância num espaço de relacionamentos sociais e de desenvolvimento de múltiplas
linguagens. De forma concomitante a este foco principal, promovemos uma formação inicial
ética para os jovens professores, assim como formação continuada para os professores atuantes,
objetivando o desenvolvimento de um espaço educacional com qualidade à pequena infância.
A formação do jovem professor para atuar na educação infantil demanda uma ação
pedagógica mais competente, tanto do ponto de vista ético quanto político (ROMANOWSKI,
2007). Para tanto, necessitamos de um processo de formação autônomo e autorregulado para o
desenvolvimento de uma autoconsciência da atividade de formação de pessoas, de um ponto de
vista político, social e cultura. Necessita-se ainda de conhecimentos acadêmicos, mobilizadores
de sentimentos e compromisso com a dimensão ética, ou seja, consciência da profissionalidade
docente (FORMOSINHO, 2002).
Vale salientar que a proposta de formação do PIBID/UNIVALI se alicerçou em
quatro movimentos formadores. São eles: estudo e planejamento, vivências pedagógicas,
35
avaliação e ainda produção e publicação. O - Reorganização do ambiente
papel do coordenador de área foi promover A partir da observação atenta e
esses movimentos formadores com seus sensível, planejar ações para melhoria
professores supervisores e bolsistas. do ambiente de convivência nos CEIS,
Desta forma, nós nos alicerçamos com objetivo de ser mais potente para as
nos principais objetivos de sensibilizar vivencias das crianças, mais receptivo
(formação estética) e instrumentalizar para as famílias e confortável para toda
(saberes docentes) para especificidades a comunidade escolar. Trata-se de tirar,
da docência com crianças pequenas acrescentar ou modificar os objetos dos
e suas características de globalidade, CEIS, desde materiais didáticos, como
vulnerabilidade e dependência com a família espaços externos, salas, paredes e muros,
(FORMOSINHO 2002). A globalidade como exposição das produções infantis.
tem a ver com as características holísticas Diferentes linguagens e formação
da forma de aprender das crianças, já a estética
vulnerabilidade abrange os cuidados e A cada ano serão trabalhadas as
a segurança que elas demandam e que seguintes linguagens: literatura infantil,
responsabilizam muito o professor, assim poesias, quadrinhas, músicas, danças,
como a dependência da família e das suas teatros, diferentes artes plásticas, cinema
culturas. e exploração de imagens. Linguagens que
A partir disso, elegemos três grandes permitem a expressividade tornam a nossa
objetivos centrados na reorganização do capacidade de racionalizar e imaginar
espaço de aprendizagem e convivência, no de forma conjunta. Somos capazes de
envolver a família como parceira das ações desenvolver estratégias de pensar e de
docentes e vice-versa e ainda desenvolver processos de tomada de consciência criativa,
diferentes linguagens. exploração, invenção simbólica, uso de
metáforas, uso de referência e analogias
Figura 1: Representação dos objetivos realizados
(REGGIO CHILDREN, 2003).
com as crianças nas escolas
Em síntese, exploramos:
- literatura fruitiva: aspectos,
gráficos, paratextos, conteúdo, aspectos
literários (roda da contação coletiva,
contação individual de histórias, manuseio
do livro, recital literário, contação de
histórias com elementos diversos, emprego
da música e contação de histórias pela
própria criança) (NEITZEL, 2007).
- Música: diferentes sons, ritmos,
instrumentos musicais, canto em grupo,
jogos sonoros artistas universais e locais.
- Movimento: danças, brincadeiras de
Fonte: Projeto PIBID/Educação Infantil.
ginásticas e circenses, jogos e brincadeiras
36
as linguagens são um complexo recurso
para a criança, no qual oferecemos várias
opções de materiais, oportunizando a troca
de ideias e oferecendo sugestões para
proporcionar vivências mais significativas
(EWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999).
Ressaltamos também a formação
estética das bolsistas. Planejamos saídas de
campo, viagem de estudos e participação em
eventos artístico-culturais. Entendemos o
professor como uma pessoa que necessita
ampliar suas experiências estéticas para
poder melhor interagir com as crianças,
a planejar atividades mais criativas e
fruitivas.
Envolvimento com as famílias
Segundo Casanova (2010), a professora
tradicionais e/ou populares. Em diferentes enxerga, muitas vezes, a família de suas
espaços (praça, parques, ginásios, ruas), crianças como incapacitada na compreensão
com o uso de diferentes materiais e/ou
equipamentos (corda, bola, triciclo, tecidos,
brinquedos de movimento etc.).
- Teatro: expressão corporal,
imitação, encenação, palhaçaria, declamação,
contação de histórias, dramatização.
- Artes plásticas: exploração de
diferentes texturas, cores, tamanhos,
formas, sombras, luzes, transparências,
composições, volume, dimensão, elementos
da natureza, sabores, aromas, mutações,
artistas universais e locais, paisagismo.
As linguagens serão exploradas
como aprendizagem de novas técnicas
em forma de oficinas com artistas
locais, visitas a museus, galerias de arte,
assistindo a peças teatrais, participando e
promovendo eventos artísticos e culturais.
Também exploraremos as linguagens como
forma de expressão para representar o
que foi aprendido, visto ou como expressão
livre. Dessa forma, compreendemos que
37
constantemente, como um pano
de fundo de todas as ações. Nossa
intenção é que os jovens professores
tenham outra concepção do papel
da família e desenvolvam atividades
para melhorar a comunicação e a
parceria dela com os profissionais
da educação.
A seguir, apresentamos a
síntese do nosso projeto de ações
de momentos e movimentos.
Figura 2: Representação do movimen-
to formador (círculos) e das ações nas
escolas
dos processos educativos e/ou pouco
interessada. Observamos que o contato entre
família e professora se dá exclusivamente
no horário de entrada e saída das crianças e
eventuais reuniões. As conversas são rápidas
e muitas vezes desinteressadas.
Segundo Laiher, “As famílias
esperam que a escola vá promover um
futuro melhor e mais digno para seus filhos,
contrariando o “mito da omissão parental”
(2008, p. 334). Desta forma, acreditamos
que a comunicação entre escola e família
carece de investigação e investimento.
Não podemos esperar que a família saiba e Fonte: Projeto PIBID/Educação Infantil.
tome iniciativa de se integrar melhor com a A partir desses momentos e
vida escolar de seus filhos. Pensamos que a movimento e, sobretudo, de conceitos de
escola deve ser mais receptiva, acolhedora e ambiente educador, diferentes linguagens,
abra diferentes canais e oportunidades para formação estética e envolvimento familiar
envolver as famílias, tornando-as parceiras as professoras supervisoras e acadêmicas,
do trabalho pedagógico para além dos planejamos objetivos e atividades para as
resultados de aprendizagens formais. crianças, assim desenvolvendo os principais
Envolver a família e criar vínculos saberes docentes relativos a observar,
afetivos é parceria para o desenvolvimento planejar, registrar, interagir, apoiar, avaliar
das crianças, é abrir e sensibilizar o olhar e comunicar.
familiar para as suas crianças, é ouvir as Dessa forma, buscamos a integração
famílias e dialogar (BARBOSA, 2007). com os saberes acadêmicos de uma
Sendo assim, este projeto gerador, maneira mais dinâmica e proativa no
assim, como os outros, foi desenvolvido “desenvolvimento de ações pedagógicas
38
que favoreçam às novas
gerações a apreensão
de conhecimentos e
consolidar valores e
práticas coerentes com
a vida cível” (GATTI;
BARRETO; ANDRÉ,
2001, p. 259), além de
apoiar e acompanhar os
licenciados, iniciantes na
docência, a fim de manter
os bons professores na
profissão.
Referências
BARBOSA, M.C.; HORN, M.G.S. Projetos
pedagógicos na Educação Infantil. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2007.
BARBOSA, M.C. Culturas escolares,
culturas de infância e culturas familiares: as FERREIRA, V.S. (org.). Pesquisas sobre
socializações e a escolarização no entretecer práticas pedagógicas na creche. Maringá
dessas culturas. Educ. Soc., Campinas, vol. – PR: Eduem, 2012.
28, n. 100 – Especial, l p. 1059-1083, out. FORMOSINHO, J, OLIVEIRA, O
2007. desenvolvimento profissional das
BONDIOLLI, A.(org.). O projeto educadoras de infância: entre os saberes
pedagógico da creche e a sua avaliação. e os afectos, entre a sala e o mundo. In:
Campinas,SP: Autores Associados, 2004. MACHADO, Maria, Lucia de A. Encontros
CASANOVA, L. V.. O que as crianças e Desencontros em Educação Infantil.
pequenas fazem na creche? As famílias São Paulo: Cortez, 2002.
respondem. 2011. 115f. Dissertação NEITZEL, A.A.. Prosa e poesia na educação
(Mestrado em Educação). Programa de Pós- infantil: a literatura pede passagem. In:
Graduação em Educação da Universidade FERREIRA, V.S. Infância e linguagem
do Vale do Itajaí. Itajaí: Univali, 2011. escrita. Itajaí: Univali, 2007.
CASANOVA, L.; FERREIRA, V.. Famílias REGGIO CHILDREN, Bambini,
de crianças e escola: relações em foco. Rev. arte, artisti. Reggio Emília: Centro
Teoria e Prática da Educação, v.14, n.1, internacional per la difesa e la promozione
p.51-63, jan./abr. 2011. dei diritti e delle portenzialitá dei bambini
EDWARDS, Carolyn; GANDINI, Lella; e delle bambine, 2007.
FORMAN, George (org.). As cem ROMANOWSKI, J.P. Formação e
linguagens da criança. Porto Alegre – RS: profissionalização docente. 3. ed.
Artmed, 1999. Curitiba: IBPEX, 2007.

39
MEMÓRIAS, SENTIMENTOS,
RESULTADOS E
APRENDIZAGENS: O
SUBPROJETO PIBID
PEDAGOGIA EDUCAÇÃO
INFANTIL UNIVALI EM SEUS
CINCO ANOS
Roberta Pimenta Vieira de Carvalho
Coordenadora de Área do Subprojeto

Adair de Aguiar Neitzel


Coordenadora Institucional do PIBID UNIVALI

Marilene Jacobsen Pinheiro


Edmara Gazaniga
Rudnéia Schuller
Professoras Supervisoras

Estesiar-se e desanestesiar, modificar-se e modificar, aprender e ensinar, crescer


e promover crescimento, sentir e despertar sentidos, vivenciar e desfiar a viver. Sonhos,
plantios, sementes, florescimentos e realidade pedagógica.
O Subprojeto Pedagogia Educação Infantil nasceu com o Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Teve desde o início o foco e o compromisso com a
infância. Preocupou-se a cada dia com a formação inicial e continuada. Promoveu formações,
40
vivências, aprendizagens, experiências. da autoestima positiva e de uma atitude
Estimulou a formação de vínculos. Ampliou positiva frente às limitações e aos limites
horizontes. Transcendeu muros escolares. impostos na vivência/convivência diária
Elevou sentimentos. Propôs novos jeitos com os pares e com o ambiente circundante
de ser e de atuar. Exercitou a cooperação. (DUARTE JR., 2010; FREIRE, 1996;
Vivificou. Produziu. Fez acontecer. FREINET, 1996).
O que dizem os atores de ontem e As bolsistas licenciandas indicaram
de hoje sobre este processo? Buscamos como contribuições para seu crescimento
a expressão de ex-bolsistas e de novas pessoal durante a participação no PIBID
bolsistas neste tempo de comemorar o desenvolvimento da confiança em si,
o quinto aniversário do PIBID. Nossa a capacidade de saber expressar suas
curiosidade foi satisfeita ao recebermos ideias; de aceitação e tolerância com os
a contribuição de pessoas que viveram pares; trouxe à consciência o valor e a
neste grupo. Focamos, ao estabelecermos responsabilidade que tem um professor na
um diálogo via e-mail com as bolsistas, na convivência com seus parceiros e alunos
contribuição do PIBID para a sua formação e, sobretudo, sobre o impacto que tem sua
pessoal e profissional; sobre aprendizagens ação na vida dos demais atores de sua rede
sobre a vida na escola; sobre a relação com as de convivência. Expressaram em relação ao
crianças e com as famílias; sobre a formação desenvolvimento pessoal influenciado pela
estética quanto à compreensão da relação participação no PIBID:
teoria-prática a partir dos conhecimentos
O PIBID proporcionou grandes
obtidos no curso de Pedagogia; e, por fim, na
mudanças para minha formação pessoal, pude
diferença que a participação no subprojeto
confiar muito mais no meu desempenho como
teve na formação profissional das bolsistas,
professora, como aluna e como pessoa; o projeto
solicitando que deixassem uma mensagem
me deixou livre para expressar minhas ideias,
aos futuros pibidianos(as) deste grupo.
colocar em prática tudo o que parecia utopia
A formação pessoal é aquela que diante das dificuldades da educação (Egressa
é consequência do saber, do conhecer 01).
e do conviver e que nos faz questionar
os valores, os relacionamentos e as O projeto PIBID muito tem
possibilidades de interagir, praticando contribuído em minha formação pessoal e
o respeito, a solidariedade, a empatia, a humanística. Minhas primeiras experiências
gentileza e a afetividade, considerando o estéticas e culturais foram vividas no projeto,
outro, primeiramente como um ser humano; proporcionou-me uma nova leitura de
olhando-o como alguém que também pensa, mundo, a ser sensível ao pequenos detalhes, a
sente e age influenciado pelas condições que sentir o mundo a minha volta, de forma que
possui em seu tempo histórico de existência. tais percepções ampliaram meus conceitos e
A formação do professor precisa, além da conhecimentos a respeito da vida (licencianda
formação técnica, humanizar, sensibilizar, 05).
estesiar; precisa despertar a capacidade de [...] O programa vem contribuindo
confiar em si e no outro, de amar o outro em minha formação pessoal, levando-me à
por meio do exercício do amor próprio, consciência das minhas ações e seu impacto nas
41
pessoas com as quais convivo, gerando assim, e metodologias cooperativas (DELORS,
um movimento de reflexão e autoavaliação 2003; IMBERNON, 2000).
constantes. Através dos relatórios e conversas Ser educador na Educação Infantil
informais com as bolsistas recebo um feedback solicita, além da competência técnica
das minhas atitudes positivas e falhas na docente, conhecimentos e atitudes específicas
postura que adoto em sala de aula [...] de promoção do desenvolvimento global da
(Supervisora 01). criança, o que compreende a compreensão
A influência do PIBID na formação e a promoção de aprendizagens referentes
profissional foi o segundo tema relatado à autonomia, à alteridade, à linguagem, à
pelas bolsistas. O que se espera de um produção cultural e à superação das condições
professor atualmente é que demonstre egocêntricas inicialmente expressas pelas
várias características, conhecimentos, crianças, por meio do auxílio integrado
atitudes e habilidades que lhe permitam com a família, para o desenvolvimento de
ser reconhecido como bom professor e suas capacidades interacionais (OLIVEIRA,
profissional qualificado. No conjunto 2013 e 2002; OSTETTO, 2008; GANDINI;
que define o professor competente, está EDWARDS, 2002; CARVALHO, 2000;
a capacidade de mudança e atualização e EDWARDS; GANDINI; FORMAN, 1999).
liderança articulada à ousadia, ao aceite e à Quanto à contribuição do PIBID
criação de desafios que mobilizam e levam na sua formação profissional, relataram
para além do lugar comum. É definido as participantes que as habilidades para a
também por possuir como traço pessoal o docência (como a capacidade de planejar,
gosto, a destreza, a capacidade de interação atuação na sala de aula, as atitudes e a
e de pesquisa e o desenvolvimento de uma relação com as crianças conhecer novas
boa atuação em sala de aula; é pessoa capaz metodologias) foram concretizadas a partir
de socializar conhecimentos e estimular das experiências vividas. Mencionaram em
a emersão de talentos para desenvolver seus depoimentos:
projetos em equipes (TARDIF, 2002;
Na iniciação à docência meus
PIMENTA, 2000; NÓVOA, 1995;
planejamentos passaram a ter mais vida,
CUNHA, 1992). Atender às exigências
meus alunos, pais e demais funcionários
de novas competências para o mundo do
notam diferença no trabalho de quem já
trabalho também é requerido ao professor
participou do PIBID diante do fato de estar
de qualidade (como as de criar, inovar,
sempre preocupado com a estética do grupo,
planejar, integrar, partilhar, associar,
com o pedagógico e principalmente o brincar!
prever, mobilizar-se em múltiplas direções,
(Egressa 01).
não se restringindo à mera execução de
tarefas), o que somente se faz possível Para minha formação profissional o
quando se efetiva a contínua reflexão PIBID tem contribuído de várias maneiras,
analítica sobre as práticas pedagógicas pois tenho a oportunidade de vivenciar a rotina
cotidianas e a qualificação das atitudes de da sala de aula, como é a prática docente, a
convivência para o trabalho em equipe, constante evolução das crianças, e tudo isso só
para a inclusão de pessoas em novas rotinas reafirma que fiz a escolha certa para minha
pedagógicas e no uso de novas tecnologias vida profissional (Licencianda 03).
Para minha formação profissional Atuar no PIBID requer do professor
o projeto teve papel imprescindível, pois as supervisor formação técnica relativa à área
teorias aprendidas durante a formação se de atuação; ter qualificação contínua e
tornaram efetivas, a cada vivência constatei a atuação no magistério da educação básica;
importância de planejar, observar e analisar estar em efetivo exercício na sala de aula
o processo de ensino aprendizagem de forma na rede pública; ter desempenhado um
crítica, ter a concepção de criança e infância em trabalho de destaque na área de atuação
sua mais bela e verdadeira essência, articular e ter a anuência da escola na qual atua.
os saberes de modo a respeitar a criança como Para além das formalidades, precisa ter
sujeito de direitos (Licencianda 05). características do profissional requerido
Antes do PIBID nunca tinha vivenciado para a atuação no programa, o que envolve
o cotidiano de um CEI, onde eu tinha uma grande liderança e paciência, capacidade de
dificuldade de preparar “uma aula diferenciada”, atenção e trabalho colaborativo, avaliação
com essa oportunidade presenciei inúmeras contínua e compartilhada, criatividade,
estratégias pedagógicas, que irão fazer parte sensibilidade e visão otimista e humana
da minha profissional (Licencianda 06). para estar em formação contínua. Sobre
a relação interpessoal e as expectativas
Quanto à formação profissional, adquiri
do programa quanto à sua atuação,
a certeza de que o constante aperfeiçoamento
as supervisoras trouxeram questões
é essencial para a oferta de uma educação de
importantes: a sua docência e a relação
qualidade. As trocas de experiência, a abertura
com as licenciandas. Destacaram:
para aceitar o novo, a diversidade e se por
flexível as mudanças, geram a possibilidade de [...] Como professora supervisora
construir uma visão holística e ao mesmo tempo de grupo de pibidianas, pude experimentar
refinada sobre as reais necessidades educacionais e exercitar a liderança, me posicionar como
das pessoas das quais somos responsáveis por guia de um grupo, tendo que ser exemplo
mediar o conhecimento (Supervisora 01). e quem sabe, até uma referência. Outro
aspecto que ficou evidente neste período
Hoje [...] fazendo uma retrospectiva
de formação mútua, onde professora
de minha prática e conquistas como professora,
supervisora, bolsistas e crianças saem
posso afirmar que fazer parte deste projeto foi
ganhando, é o fato de que para gerenciar um
para mim uma das melhores oportunidades que
trabalho de equipe é preciso saber estimular
eu poderia ter. O PIBID me proporcionou um
e perceber o que há de melhor em cada um e
amadurecimento pessoal, intelectual e colaborou
motivar ações onde cada componente pode
significativamente com o meu crescimento
dar sua contribuição. Outro aspecto que
profissional. (Supervisora 02).
ficou evidente neste período foi a formação
O PIBID contribui para o mútua, onde professora supervisora,
aperfeiçoamento da prática docente, bolsistas e crianças saem ganhando, e o
incentivando a formação, a troca de fato de que para gerenciar um trabalho de
conhecimentos e o aprimoramento do saber [...]. equipe é preciso saber estimular e perceber
Ter entrado no projeto me trouxe um prazer o que há de melhor em cada um e motivar
em continuar e investir na área educacional ações onde cada componente pode dar sua
(Supervisora 03). contribuição (Supervisora 01).  
43
No inicio não foi fácil, eu tinha uma sala de aula muito mais produtiva, fazendo
visão mais tradicionalista do ensino, e assim com eu consiga refletir sobre minha prática e
que me vi diante das bolsistas esperando consequentemente busque respostas visando
de mim ações pedagógicas diferentes que contribuir para dinamizar o trabalho já
proporcionassem tanto a elas quanto as desenvolvido pela escola, e na busca de
crianças experiências sensíveis, inovadoras, resultados relevantes para a aprendizagem,
me senti um tanto frustrada e ao mesmo tempo bem como contribuir com trabalhos de caráter
instigada. Essa situação me fez refletir sobre formativo para os futuros professores e também
minha prática pedagógica. Diante dessa para a minha prática (Supervisora 03).
avaliação percebi que também teria que passar As diretoras dos Centros de Educação
por esse processo de compreender, aprender e Infantil (CEIS) que acolhem o Programa
transformar a minha realidade de professora são as parceiras que, além de serem as
para mediadora, pois não bastava produzir o referências docentes da gestão educacional,
conhecimento e sim, proporcionar condições de viabilizam espaços, tempos e materiais
produção de conhecimento e prática de forma para o desenvolvimento das experiências
útil no processo de formação dessas futuras formativas, assim como a participação das
professoras [...] Quando fiquei frente a frente bolsistas em eventos escolares, tais como
com as licenciandas, me dei conta que não estava reuniões pedagógicas, reuniões de pais
preparada para tantos desafios didáticos. Foi e festividades. As diretoras referiram a
quando percebi que o meu saber docente e minha respeito do significado do PIBID:
prática como professora não eram suficientes, A gestão do CEI sempre primou em
que precisaria agregar conhecimentos mais buscar e apoiar parcerias que trouxessem
específicos, fundamentados em teoria, embasada qualidade para o ensino/aprendizagem
na construção de uma proposta de educação desenvolvido com as crianças que dele fazem
inovadora, dinâmica, comprometida com minha parte. Assim, ancorados em tais pressupostos
prática docente, onde eu pudesse proporcionar recebermos o PIBID, o qual, com eficácia, esteve
as licenciandas conhecimentos novos, oferecer contribuindo para elevarmos nossos parâmetros
situações desafiadoras que contribuíssem de eficiência do trabalho pedagógico. Neste
para formação de professoras mais criticas, sentido as constantes trocas havidas através
reflexivas, criativas, desafiadoras e conscientes, dos encontros das acadêmicas/bolsistas e
com capacidade de aprender a aprender, professora supervisora e desta com professores
de trabalhar em grupo e de se conhecer como da UNIVALÍ, permitiram inovações de ações,
indivíduo. Assim as probabilidades de reflexão que ao invadirem as salas de aulas da Unidade
e crítica sobre as minhas práticas pedagógicas Educacional, contribuíram nas reflexões
surgiram com maior coerência, e percebi que teóricas à luz da prática. [...] (Direção do CEI
como coformadora do PIBID somente poderia Valdemir de Souza).
ensinar aprendendo e, para isso, era preciso ter As vivências proporcionadas às
conhecimento e valorizar a docência como um crianças têm sido diversificadas valorizando a
ato de amor e competência (Supervisora 02). importância da infância institucionalizada com
Sem dúvida, o PIBID fez diferença práticas interessantes tanto para as crianças
em minha trajetória profissional, dando quanto para os adultos envolvidos. Há empenho
maior significação, tornando a experiência da por parte de todos para que a efetivação das
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atividades/vivências com e para as crianças social da criança depende em grande parte
sejam plenas tanto nas interações como nas do seu relacionamento com os adultos e
brincadeiras. As bolsistas estão envolvidas nas estes não são só os da família, devem ser
rotinas e em tudo que as crianças aprendem por a presença mais edificante em sua vida,
meio delas construindo uma grande bagagem a análise dos movimentos no contexto
para sua prática futura como pedagogas. Acho relacional é fundamental, pois todo o
este programa muito válido no sentido de que desenvolvimento de cada um é influenciado
todos os profissionais voltam seus olhares para pela vida cotidiana na escola e fora dela
sua prática, seja pelo ponto de vista crítico ou (BRASIL, 2010; OLIVEIRA, 2013 e
como uma oportunidade de reestruturação dos 2002; OSTETTO, 2008; EDWARDS;
trabalhos já que assim tem a oportunidade de GANDINI; FORMAN, 1999). Estas
projetar novos e outros olhares no que é oferecido relações foram experimentadas pelas
às crianças (Direção do CEI Darlan Dotto licenciandas quando de sua participação no
Wiersinski). PIBID. Relataram sobre a sua convivência
[...] com a proposta de trabalho voltado e atuação na vida da escola com as crianças
para educação estética e lúdica pode-se observar e as famílias:
o movimento que ocorreu com práticas que Aprender com diversão, arte e cultura
envolveram contação de histórias, apresentação foi a melhor opção que eu pude escolher para
teatral, exposição e apreciação de obras de artes lecionar; pude aprender junto com o projeto
de diferentes pintores e escultores, apropriação uma melhor interação com as crianças, um novo
de conhecimentos populares trazidas para olhar para a escola, família e comunidade; senti
o espaço escolar a partir das parcerias, que grande prazer em participar de atividades
explorou assuntos da cultura africana, italiana, que envolvessem as famílias, pois era um
açorianas, brasileiras e outras; mobilização das aprendizado recíproco: trabalhar junto a
famílias na confecção de trabalhos artesanais, família requer alguns cuidados que o professor
contação de histórias e preparo culinário deve conhecer [...](Egressa 01).
referente à cultura italiana; envolvimento das [...] o papel da escola é formar
crianças em atividades que desenvolveram a cidadãos, dar os alunos os ensinamentos, mas
sensibilidade como o contato com barro e outras para isso é preciso de professores qualificados;
técnicas de sensibilização. Frente ao trabalho que o professor tem que ter atitudes, estratégias
realizado no decorrer deste ano, é importante e comportamentos criando um ambiente escolar
salientar que o envolvimento das bolsistas diferente do seu dia-a-dia. A família e a escola
caracterizou uma atuação comprometida e formam uma equipe. É fundamental a parceria
atuante que, reflete significativamente na da família e escola para o sucesso da educação
formação de qualidade das mesmas (Direção de todos os indivíduos para que assim possamos
do CEI Ana da Silva Fontes). continuar nessa caminhada na formação do ser
Atuar na Educação Infantil é humano (Egressa 02).
continuamente observar, refletir, analisar O contato direto com as crianças desperta
e propor recomeços, sejam na vida na a curiosidade pelo novo, se colocar no lugar do
escola, sejam na relação com as crianças ou outro, quais suas limitações, seus anseios, suas
na relação com as famílias. Considerando frustrações, medos e até mesmo voltar a ser
que o desenvolvimento físico, psíquico e criança em alguns momentos. Ao me deparar
45
muitas vezes e perguntar-me: como incentivar estética construída durante a participação
algo a qual você não se propõe? Propor uma no PIBID, referiram as participantes:
brincadeira sem a intenção de brincar junto? É A formação estética requer muito do
preciso estar junto, fazer junto para realmente educador, é necessário estabelecer um ambiente
contribuir para ampliação dos domínios agradável aos olhos e sensível às percepções
corporais e sensoriais. Estar junto muitas sensoriais principalmente na educação infantil,
vezes não tem o real significado na escola e onde despertamos o interesse na cultura,
nas famílias. Existem pais que estão todos os música, arte, leitura e dança. Diante de todas
dias e em vários momentos com seus filhos, as formações pedagógicas e estéticas adquiri
assim como professores, porem se questionados grande conhecimento para esteticamente
sobre as sensações de seus filhos e alunos de suas transformar minhas aulas, assim como nessas
frustrações e conquistas, seu desenvolvimento formações e na convivência com o grupo
cultural e estético não saberiam responder com aprendi sobre a teoria-prática, felizmente o
êxito [...] O PIBID proporciona momentos projeto nos abriu novos horizontes para educar
de integração entre a escola e famílias, pois [...] (Egressa 01).
reconhece a importância deste envolvimento Fazer parte do projeto é essencial em
na contribuição integral no desenvolvimento minha formação, despertou-me como futura
da criança, a escola e a família constituem docente um olhar sensível e reflexivo das
os primeiros grupos sociais de uma criança. práticas educativas e na articulação teoria x
Essa integração propõe a inserção curricular prática, planejar e executar atividades onde
do ambiente cultural da família e da escola a criança adquira experiências através das
(Licencianda 05). diversas formas de expressão e oportunizando
O PIBID UNIVALI, ancorado nas o desenvolvimento através dos sentidos
ideias propostas por Duarte Junior (2010), (Licencianda 05).
propõe o desenvolvimento de projetos na A educação para o sensível e toda a
escola que permitam “o desenvolvimento abordagem sobre a formação da estética é o
de uma maior sensibilidade com o mundo”, ponto alto e mais significativo da passagem
tendo a arte um papel fundamental nesta do PIBID por uma instituição de ensino.
ação. Neitzel e Carvalho (2010, apud PINO, [...] Resgatar a sensibilidade humana, e me
SCHLINDWEIN; NEITZEL, 2010) apropriar deste entendimento, sem sombra de
pontuam que o desenvolvimento humano dúvidas foi a aprendizagem mais significativa
é também concretizado por meio do seu para mim enquanto professora supervisora.
direito a uma vida de qualidade, conceito Depois de conhecer este conceito, a minha
que inclui a garantia de direitos básicos aos autoformação estética, a busca por cultura
cidadãos, em que se incluem a arte, a cultura, e a expressividade se tornaram aquisições
o lazer, a fruição, a contemplação, a reflexão fundamentais e necessárias em todas as esferas
como revitalizadores da sensibilidade da minha vida. Outro conhecimento que
humana, destacando a importância da incorporei é que de nada adianta eu buscar
sensibilização para a relação do homem desenvolver a minha sensibilidade se não levar,
com o objeto estético como uma relação ou tentar apresentar essa ideia para as pessoas
que deve ser de apreciação e não utilitária, com as quais convivo. Com isso, posso afirmar
teórica ou prática. Sobre a formação que a educação para o sensível atingiu e refinou
46
a sensibilidade das bolsistas, das demais educandos, com o intuito de valorizar a
profissionais que trabalham comigo e dos meus cidadania e promover a humanização das
familiares (Supervisora 01). práticas educativas para superar o fracasso
[...] a formação estética das licenciandas escolar (TARDIF, 2002; PIMENTA, 2000;
também contribuiu na forma de agir em sala NÓVOA, 1995; CUNHA, 1992). Quando
de aula, possibilitando-lhes ter um olhar mais o questionamento aos bolsistas tratou
sensível do processo de ensino-aprendizagem da ajuda proporcionada pelo PIBID na
por meio das diversas linguagens. O contato compreensão da relação teoria-prática a
com diversas vivências artísticas, proporcionou partir dos conhecimentos obtidos no curso
novas experiências e, por meio delas, permitiu de Pedagogia, comentaram as participantes:
sensibilizarem-se e refletir sobre sua atuação Utilizar a teoria e colocar em prática
como futuras professoras (Supervisora 02). não era tarefa muito fácil antes de entrar no
A formação estética exerce uma função projeto, pois parecia tudo muito distante de
social que articula saberes com a possibilidade minhas mãos, devido esse fato acredito na
de desenvolver capacidade de apreciação mudança que houve na minha formação, aplicar
e sensibilização por meio do contato com a teoria de maneira divertida, com experiências,
diferentes vivências (artísticas ou não), bem projetos, teatros, músicas, passeios e infinitas
como investigar como a educação estética se formas de educar e desenvolver as habilidades
forma no ser humano e se estas experiências necessárias para educação infantil! Sou muito
proporcionam mudanças em aspectos pessoais e grata por ter participado desse projeto que
profissionais dos envolvidos (Supervisora 03). mudou completamente meu olhar (Egressa 01).
No contexto da formação dos Sim, sem dúvida, pois vivenciei muitas
professores, atualmente se busca o coisas que já havia lido nos livros ou que os
rompimento da dicotomia teoria-prática professores nos falaram (Licencianda 03).
por meio do aperfeiçoamento da capacidade
[...] e até então não tinha experiência
de reflexão sobre o seu próprio fazer para,
nenhuma como educador e através do PIBID
de forma continuada e progressiva, o
pude fazer estas associações entre teoria e
educador consiga, transformá-lo. Assim,
pratica, que para mim era algo muito distante
faz-se necessária a promoção de processo
(Licenciando 07).
educacional crítico que, superando a
transmissão de conhecimentos pelo Penso que para as bolsistas enquanto
professor, permita a vivência plena da acadêmicas, assim como para mim já formada há
unicidade teoria e prática pedagógica, alguns anos, o PIBID veio estreitar os laços teoria
elaborada na dinâmica da evolução do e prática da educação superior com a educação
homem em um contexto e tempo histórico. básica numa contribuição mútua. De um lado,
É destacada a necessidade de que o docente as licenciandas vivenciando o cotidiano escolar,
seja crítico e atue considerando a análise desenvolvendo o gosto pelo ensinar, aprendendo
de sua prática baseada no saber elaborado, a ensinar, através de movimentos de formação
que fundamentará e legitimará suas ações. e reflexão, construindo materiais didáticos e
É esperado, ainda, que a formação docente principalmente planejando e produzindo aulas
permita ao professor o entendimento práticas mais criativas e dinâmicas, envolvendo
do contexto histórico e social de seus pesquisa, experimentação, jogos, entre outras
47
metodologias, despertando o interesse do aluno e mesmo sabendo que posso sempre melhorar
consequentemente melhorando seu desempenho; (Licencianda 06).   
de outro lado, o professor (eu) que reflete Enfim, só posso declarar que o PIBID
ao observar esse movimento de inserção da foi um grande acontecimento em minha
licencianda com suas aulas diferenciadas vida[...] me vejo como emergente em função
contagiando o aluno que responde com melhores das lacunas que tive na minha formação escolar
resultados na aprendizagem (Supervisora 03). inicial e o programa me auxiliou a perceber
O Programa Docência na Educação essas carências e tentar saná-las de forma
Básica da UNIVALI deve, por princípio, eficiente. Na minha humilde opinião, o PIBID
fortalecer as relações de formação entre é o melhor investimento que o governo federal
o ensino superior e a educação básica poderia ter feito na educação do país, pois
para induzir aos princípios estabelecidos atinge todas as dimensões educacionais, leva o
na Política Nacional de Formação de licenciando ao contato com a prática enquanto
Profissionais do Magistério da Educação está imerso aos estudos da teoria, intensifica a
Básica. Propõe aos envolvidos no processo formação continuada e a reflexão do professor
de educação escolar repensar a prática da educação básica, fazendo com que não caia
pedagógica, organizando espaços coletivos no comodismo e estreita a relação da educação
de discussão, reflexão e vivências sobre a pública com as universidades diminuindo o
Educação Básica que contribuam para o tempo em que acontecem as pesquisas e a sua
redimensionamento da ação docente que, aplicação na sala de aula (Supervisora 01).
por sua vez, potencializará a aprendizagem Hoje [...] fazendo uma retrospectiva
por meio do desenvolvimento de projetos de minha prática e conquistas como professora,
inovadores (UNIVALI, 2015). posso afirmar que fazer parte deste projeto foi
As participantes indicaram em suas para mim uma das melhores oportunidades que
falas que o PIBID fez, sim, diferença na sua eu poderia ter. O PIBID me proporcionou um
formação, por acrescentar conhecimentos e amadurecimento pessoal, intelectual e colaborou
valores para o exercício de uma docência significativamente com o meu crescimento
diferenciada, não tradicional. profissional (Supervisora 02).
[...] participando do PIBID tive Para finalizar este registro
oportunidade de vivenciar o dia a dia da comemorativo, destacamos os recados
escola, o trabalho do professor e como as deixados pelos integrantes e ex-
crianças aprendem e nos ensinam todos os dias. participantes do Subprojeto Pedagogia
Com certeza essas experiências me ajudarão Educação Infantil para as próximas
muito quando eu assumir uma sala de aula pibidianas que vierem para o grupo:
(Licencianda 03). Sigam seus sonhos e aproveitem cada
Com certeza, o PIBID mudou meus ensinamento (Egressa 02).
conceitos sobre educação me fez perceber [...] através da prática aprendi a
que ainda é possível, basta se esforçar e não trabalhar com as crianças e a olhar com outros
cair na mesmice, sendo criativa e sempre se olhos; aprendi que podemos conseguir, basta
atualizando[...] relatórios, foi a partir deles querer e ir atrás dos nossos sonhos para se
que percebo minha evolução na escrita, tornarem realidade (Egressa 02)
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O PIBID é um programa que nos dá atentos a todos os detalhes aprendam que para
a oportunidade de vivenciar a rotina de uma aprender, é necessário vivenciar e muitas vezes
escola do trabalho do professor e a partir dessas os professores são as crianças, que ao permitirem
vivencias você tem certeza de que quer ser que façamos parte do mundo delas, nos ensinam
professor. E com toda certeza as experiências o que é, e nos pequenos detalhes é que estão as
vividas com o PIBID nos ajudarão no futuro, grandes diferenças (Licenciando 07).
como professores (Licencianda 03). Vida em movimento, assim somos
Não desperdice essa oportunidade, pois nós, assim é a criança. Para a criança,
para mim essa vivência é muito valorizada existimos como docentes de Educação
porque me fez adquirir experiências, habilidades Infantil em formação inicial ou continuada
e crescimento pessoal (Licencianda 04). na relação de atenção e cuidado qualificados
Assim como a reflexão e a busca por às necessidades infantis, de estímulo para
conhecimento são importantes para a formação favorecer aos pequenos descobrirem a si
docente, tornar-se sensível para ver a criança mesmos, o mundo e os outros; para integrar
como um ser completo, que se expressa e seus pais e cuidadores em sua educação e
interage com o mundo através das diversas desenvolvimento; para sensibilizá-los para
linguagens e com potencialidades a serem a percepção da beleza da vida e das relações.
aprimoradas, são concepções essenciais para Nosso trabalho é de responsabilidade
quem pretende trabalhar como educador de ampla e caleidoscópica em exemplo, em
crianças pequenas. É com esta consciência que parceria, em desafio, em promoção e
as bolsistas do PIBID de Educação Infantil se construção de afetos e compromisso com o
colocam: dispostas a perceber a criança como direito a uma infância saudável e feliz.
uma pessoa que mesmo muito jovem, já possui Para nós, professoras em formação
uma carga de experiências, uma história que contínua, seguimos nos desafiando e
precisa ser respeitada e o direito ao exercício da estamos motivadas a novas experiências
cidadania. Ao incorporar essas especificidades pibidianas que nos tornem pessoas e
das crianças pequenas, as acadêmicas criam profissionais melhores. Temos orgulho por
vínculos e apresentam de forma gradual o participarmos deste movimento de vida e
respeito pelos educandos, por suas histórias, de amor pela educação.
percebendo suas necessidades educacionais
Referências
e projetando propostas de possibilidades de
levá-los a ampliar as suas habilidades e criar BRASIL. Ministério da Educação.
estratégias diversificadas e inovadoras para Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
este fim se posicionando como parceiras mais Curriculares Nacionais para a Educação
experientes (Supervisora 01). Infantil. Secretaria de Educação Básica.
Brasília: MEC, SEB, 2010.
[...] através do PIBID comecei a
gostar do curso de Pedagogia e me dedicar CARVALHO, R.P.V.C. História Sócio-
um pouco a mais em cada dia. As mudanças Familiar e Comportamentos de Apego/
que irão acontecer com vocês serão fantásticas, Desapego da Criança no Processo de
aproveitem cada aula do estágio e aprendam Adaptação à Pré-Escola. Porto Alegre:
com tudo e com todos. Como pibidianos fiquem Pontifícia Universidade Católica do Rio
49
Grande do Sul, PUCRS, 2000. PINO, A.; SCHLINDWEIN, L.M.;
CUNHA, M. I. O bom professor e sua NEITZEl, A.A. Cultura, escola e educação
prática. 2. ed. Campinas: Papirus, 1992. criadora: formação estética do ser humano.
1. ed. Curitiba: CRV, 2010.
DELORS, J. Educação: um tesouro a
descobrir. 2. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, TARDIF, M.. Saberes docentes e
DF: MEC/UNESCO, 2003. formação profissional. Petrópolis, RJ:
Vozes, 2002.
DUARTE JR., J.F. O sentido dos sentidos:
a educação (do) sensível. 5. ed. Curitiba: UNIVALI. Projeto Institucional do
Criar Edições, 2010. Programa de Bolsa de Iniciação à
Docência - PIBID UNIVALI. Itajaí:
FREINET, C. Pedagogia do Bom Senso.
UNIVALI/PIBID, 2015.
São Paulo: Martins Fontes, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:
saberes necessários à prática educativa. 25.
ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
EDWARDS, C.; GANDINI, L.; FORMAN,
G. As cem linguagens da criança: A
abordagem de Reggio Emilia na educação
da primeira infância. Porto Alegre: Artmed,
1999.
GANDINI, L. & EDWARDS, C. Bambini:
Abordagem italiana à Educação Infantil.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
IMBERNON, F. A educação no século
XXI. Porto Alegre. Artmed, 2000.
NÓVOA, A. (Coord.). Os professores e a
sua formação. 2. ed. Lisboa: Dom Quixote,
1995.
OSTETTO, L.E. (Org). Educação
Infantil: Saberes e fazeres da formação de
professores. Campinas (SP): Papirus, 2008.
OLIVEIRA, Z. R. Educação Infantil:
fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2002.
OLIVEIRA, Z. R. (Org.) O Trabalho do
Professor na Educação Infantil. São
Paulo: Ed Biruta, 2013.
PIMENTA, S.G. (Org.). Saberes
pedagógicos e atividade docente. 2. ed.
São Paulo: Cortez, 2000.
50
OS ESPAÇOS TEMÁTICOS
E AS EXPERIÊNCIAS
ESTÉTICAS E SENSÍVEIS
NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Marilene Jacobsen Pinheiro
Supervisora

Roberta Pimenta Vieira de Carvalho


Coordenadora de área

Desenvolver com as licenciandas experiências pedagógicas focadas na organização


de espaços temáticos envolvendo um grupo de Jardim I (crianças de 03 e 04 anos), no
Centro de Educação Infantil Valdemir de Souza, cidade de Itajaí-SC, em 2015, foi objetivo
do trabalho aqui relatado.
Foram organizados com as licenciandas, durante o ano letivo, vários espaços
temáticos em função de datas de referência, sendo que neste texto será destacado o espaço
temático da literatura infantil dramatizada.
Proporcionar experiências lúdicas, imaginativas e que envolvam a sensibilidade
utilizando-se de espaços temáticos, possibilita à criança transitar entre a imaginação e o
real, transportando-a por entre cenários inusitados que em sua potência de cor, som, arte,
intensidade e perceptividade permite-lhes interagir, pegar, sentir, fazer parte do contexto,
concretizando as oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento a que se propõem.
Os espaços temáticos e as experiências estéticas e sensíveis
Oferecer espaços diversificados e organizados com o propósito de aprendizagens
fruitivas, de vivências e experiências sensíveis às crianças pressupõe uma concepção de
ensino e aprendizagem, uma concepção de criança e uma concepção de papel do educador
infantil. Ou seja, a organização de espaços temáticos reflete o modo de pensar a Educação
Infantil e a criança, tanto quanto as atividades que a elas foram propostas.

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O espaço é vida e desafio tanto para o professor quanto para as crianças. Estudá-lo,
buscar conhecer seu papel no contexto da Educação Infantil é uma necessidade iminente.
O espaço na instituição de educação infantil deve propiciar condições para
que as crianças possam usufruí-lo em benefício do seu desenvolvimento
e aprendizagem. Para tanto, é preciso que o espaço seja versátil e
permeável à sua ação, sujeito às modificações propostas pelas crianças e
pelos professores em função das ações desenvolvidas. Deve ser pensado
e rearranjado, considerando as diferentes necessidades de cada faixa
etária, assim como os diferentes projetos e atividades que estão sendo
desenvolvidos. (RCNEI, 1998, p. 69).
O espaço-tempo pode ser ou não um ambiente onde a criança pode criar, imaginar
e construir; acolhedor e prazeroso e onde elas possam brincar e sentir-se estimuladas
e felizes. Não basta a criança estar em um ambiente organizado para desafiar suas
capacidades, é preciso que possa usufruí-lo e vivê-lo intensamente, interagindo com seus
pares e com o que o ambiente oferece (HORN, 2004; BRASIL, 2010).
O valor da organização dos espaços é atualmente proposta que integra os
documentos e as políticas oficiais de atenção à infância e para o desenvolvimento das
ações educativas em instituições de Educação Infantil. Partindo da premissa de que uma
Educação Infantil de qualidade é aquela capaz de satisfazer necessidades básicas das
crianças, em especial o aprender e o desenvolver-se, defende-se que os espaços devem ser
da e para a criança, para que, por meio deles, os pequenos possam aprender e evoluir em
todas as suas dimensões humanas. Cabe, pois, ao professor, a correta utilização de tais
espaços, e a oferta de atividades que propiciem aprendizagens significativas, permeadas
pelo lúdico e que respeitem as especificidades infantis.
O espaço temático contação de história interativa “Chapeuzinho Vermelho” foi
planejado e organizado com a participação das licenciandas e teve a intenção oferecer às
crianças algo diferente, inusitado, que pudesse proporcionar-lhes vivência ímpar, traduzida
em magia, em imaginação e em fantasias, de forma a permitir às crianças invadir os ambientes,
com os personagens mostrados nas ilustrações e nas narrativas das histórias em busca de
novas experimentações e sensações.
Iniciou-se escolhendo a história
em uma tenda organizada com almofadas
e muitos livros. Todos foram convidados
a entrar no lugar mágico onde poderiam
viajar e conhecer lugares, pessoas e muitas
outras coisas maravilhosas. Foi realizada
uma votação e a história mais votada foi
Chapeuzinho Vermelho. Etapa concluída.
Então o desafio era como fazer, organizar
e preparar para que tudo ficasse como, ou
pelo menos parecido com o que se gostaria
de proporcionar para as crianças.
52
Todos já estavam eufóricos quando frente a uma porta
adentraram no espaço preparado. A ideia de vidro por onde
era montar os três cenários principais, podiam entrar os
interligados, onde se passava a história: a raios de sol. Dentro, o
casa da Chapeuzinho Vermelho e sua mãe, a espaço foi preparado
floresta e a casa da vovó. Conseguiram três com adornos e
barracas de praia, uma para cada cenário; particularidades
objetos e ornamentos foram arrecadados característicos de
com as professoras do CEI, pais, amigos. A uma floresta como
intenção era preparar tudo da maneira mais árvores, vasos de
peculiar e real possível, buscando trazer flores e folhas no chão. Do lado de fora
particularidades significativas da fantasia e da barraca foi colocada uma caixa de som
da imaginação para o real, onde as crianças que emitia sons peculiares da floresta
conseguissem sentir, pegar e perceber os - passarinhos cantando, bichos, grilos,
detalhes mais essenciais e característicos cachoeira, entre outros.
da história. Para o cenário da casa da vovó foi
Buscou-se no cenário da casa da montado um quarto, onde pudesse ser
Chapeuzinho Vermelho organizá-lo de sentidos pelas crianças o aconchego, a
modo que se evidenciasse a importância ternura e o carisma que representa a casa
do vínculo familiar. Uma cozinha foi da vovó. O que não podia faltar na casa da
montada para representar a intenção vovó eram detalhes, e foi isto que se tentou
com o mobiliário preparado em tamanho proporcionar. Primeiro os mobiliários:
proporcional às crianças e confeccionados uma cama, um pequeno roupeiro, a cômoda
com madeiras recolhidas e reaproveitadas. de cabeceira, a mesinha com uma televisão
A barraca foi toda revestida com tecidos; na e o cabideiro. Para dar vida a esse ambiente
janela havia cortina e na parede quadros; que remete a lembranças de um lugar
havia aparador para pendurar o pano gostoso e angelical, os detalhes precisaram
de louça e tapetes no chão; a mesa tinha ser próprios: na cama uma colcha de
banquinhos, toalha, fruteira com bananas, retalhos; ao lado dela um tapete e um
maçã, pera e uvas in natura. No fogão havia chinelo de pano; na mesinha de cabeceira,
chaleira e panela com legumes cortados e óculos, caixinha de remédios, livros, um
colher de pau. No armário de louças havia vasinho de flor, copo e jarra com água,
pratos, travessas, xícaras de cafezinho com um cestinho com lã e agulhas de tricô.
pires, potes com alimentos como arroz, Cortinas de renda, quadros com imagens
farinha, feijão, café e condimentos, entre e molduras delicadas foram acrescentados;
outros e a pia com torneira e louças. Todos no cabideiro havia xale, chapéu e casaco;
os utensílios eram reais, tal qual nas casas e no roupeiro, vestidos, saias, pijamas
usados pelas mamães. pendurados. Na mesinha uma televisão
A barraca do cenário da floresta antiga, porta-retratos e livros.
tinha o propósito de contemplação do O lado externo das cabanas também
que a natureza pode proporcionar. Toda foi preparado para dar a sensação de que
revestida com tecido verde, foi colocada em realmente ali era a entrada e o jardim de uma
53
casa, com banquinhos, canteiros de flores, caminhos feitos com pedras
coloridas e areia.
As roupas e indumentárias dos personagens foram preparadas
pelas licenciandas para todos os personagens.
Tudo preparado, chegou o dia, a curiosidade e a ansiedade eram
grandes para saber o que tinha dentro daquele lugar inusitado no CEI
e o que ia ali acontecer. Tudo foi percebido por todos que ali passavam.
Antes dos personagens (licenciandas) entrarem em ação, já vestidos,
foram apresentados pela professora às crianças. A euforia dos pequenos
foi aguçada e percebida, pois tantas eram as perguntas e histórias que queriam contar.
Chegou o momento tão esperado. Os ambientes, mesmo comportando um adulto em
pé, eram pequenos para a dramatização e as crianças fizeram um tour pela história em grupos
pequenos. Conduzindo as crianças, a professora ia explicando o contexto. A expectativa das
crianças em gestos e cochichos foi tomando forma, transbordando em seus olhos que, por
vezes, se fechavam muito rápidos acompanhados das mãos levadas à frente da boca; ou se
abriam muito como se fossem dominar no olhar as expectativas trazidas na fala.
Ao entrarem, encontraram a mamãe da Chapeuzinho cozinhando e os olhinhos
percorreram o espaço em estado de êxtase. Quando a escutaram chamar sua filha e a
Chapeuzinho entrar no ambiente, alguns ficaram eufóricos: “Olha, olha, é a Chapeuzinho
Vermelho!” apontavam os dedinhos. Estavam atentas à conversa entre elas e, por vezes,
alguma criança interagia falando o que iria acontecer. No momento em que a mamãe
entregou à cesta de guloseimas para ser levada à vovó que estava doente e recomendando
que tomasse cuidado na floresta, uma das crianças falou: “É, lá tem lobo mau, sabia”.
Os momentos de pausa das falas trazidas na história eram intercalados por olhares e
sentimentos traduzidos nas mãozinhas que iam das vestimentas dos personagens aos
cenários, expressando deleite e tudo sorvendo.
A Chapeuzinho, com a cesta da vovó no braço, colocou seu capuz e, cantarolando,
saiu em direção à floresta, o grupo a seguiu. Ao entrarem no ambiente da floresta, novas
emoções na contemplação, pois tudo clamou suas atenções com urgência e os olhos pareciam
flashes. Um som melodioso foi identificado por elas, era o som dos pássaros e o barulho da
água que os deixaram procurando e dizendo: “Tem passarinho!”. Por conhecerem a história,
foi percebida tensão pela espera do lobo. E ele não tardou. As reações diversas aconteceram:
uns sorriram e outros se abraçaram nas pernas da professora. A sinestesia tomou conta das
crianças, enquanto o lobo conversava com a Chapeuzinho, a expressividade nos rostos dos
pequenos demonstrava incredulidade - a excepcional fantasia em realidade: pareciam querer
e precisavam mostrar e falar à Chapeuzinho os acontecimentos seguintes.
Após os diálogos dos personagens, o lobo desapareceu na floresta. Chapeuzinho,
seguida das crianças, caminhou pela floresta e bateu à porta da vovó. Posteriormente
entrou no quarto acompanhada do grupo. As crianças pareciam ter perdido a voz,
deixando somente seus olhos sorverem o novo ambiente, que estranhamente pareceu
trazer tranquilidade. Na cama estava, supostamente, a doce vovó, com o rosto coberto pela
54
colcha de retalhos. Chapeuzinho chegou e oportunizem as ricas vivências culturais
à cama e percebeu junto com as crianças que o meio social escolar oferece, cujos
que a vovó estava estranha. Era o lobo, resultados não são apenas quantitativos,
que ao pular da cama provocou enorme mas também qualitativos, evidenciando um
gritaria, quando então o lenhador entrou, tempo e lugar de fruição e aprendizagem,
deteve o lobo, salvou a Chapeuzinho e planejados de forma intencional.
retirou a vovó do roupeiro. E a casa não Referências
era mais somente da Chapeuzinho, era de
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura
todo o grupo para fruir em brincadeiras,
Infantil Gostosuras e Bobices. São Paulo:
interações e confraternização, em tempos
Spicione, 1997.
do faz de conta.
BRASIL. Ministério da Educação.
Por fim...
Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
Os resultados apontaram que a Curriculares Nacionais para a Educação
organização de espaços temáticos e as Infantil. Secretaria de Educação Básica.
vivências estéticas na Educação Infantil, Brasília: MEC, SEB, 2010.
conferiram à criança o direito de: tornar- BRASIL. Ministério da Educação e
se protagonista nas atividades e ter do Desporto. Secretaria de Educação
oportunidade de enriquecer e estimular Fundamental. Referencial
sua imaginação, ampliar seu vocabulário,
Curricular Nacional para a Educação
identificar a si mesma e o seu papel nos
Infantil. Volumes, 1, 2 e 3. Brasília: MEC/
grupos de convivência, aprender e aceitar
SEF, 1998.
situações referentes às dimensões da
vida, desenvolver seu pensamento lógico BARBOSA, M. C. S.; HORN, M. G. S.
e o espírito crítico por meio do deleite e Organização do espaço e do tempo na escola
da satisfação de sua curiosidade natural, infantil. In: CRAIDY, C.; KAERCHER, G.
transportando-se por entre cenários E. Educação Infantil. Pra que te quero?
inusitados que, em sua potência de cores, Porto Alegre: Artmed, 2001, p. 67-79.
sons, movimentos, artes, intensidade e HORN, M. G. S. Sabores, cores, sons,
sensibilidade, permitiram-lhe fazer parte aromas. A organização dos espaços na
do contexto e concretizar as oportunidades Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed,
de aprendizagem e desenvolvimento a que 2004.
se propôs a atividade aplicada. THIAGO, L. P. S. Espaço que dê espaço.
As licenciandas puderam perceber In: OSTETTO, L. E. (Org.). Encontros
a importância da oferta de atividades com e encantamentos na Educação Infantil:
espaços temáticos que mobilizassem as partilhando experiências de estágios.
diversas linguagens e as possibilidades Campinas: Papirus, 2006, p. 51-62.
relativas à promoção de vivências fruitivas e
estéticas na Educação Infantil; as experiências
de integração com a família e comunidade.
Destaca-se, por fim, a importância de
se organizar espaços temáticos que propiciem
55
CHEGA DE TV! MAIS LIVROS
E MONTEIRO LOBATO
NO MATERNAL!
Edmara Gazaniga
Professora Supervisora

Roberta Pimenta Vieira de Carvalho


Coordenadora de Área

O relato trata da experiência com a obra de Monteiro Lobato como estratégia


para desviar o interesse excessivo de crianças do grupo do Maternal 2 (2-3 anos) pela
televisão e ampliar suas possibilidades de exercício da socialização, da criatividade, da
espontaneidade, da expressividade e da cognição, por meio de vivências lúdicas e estéticas
e que estimulassem o uso dos sentidos.
Junto com as licenciandas do PIBID Pedagogia Educação Infantil do CEI Darlan
Dotto Wiershinski de Itajaí, SC (2015/I), foi estabelecido um conjunto de ações para
despertar, inicialmente, o interesse da turma para os livros.
A sequência didática foi se
estruturando na continuidade, para
ampliação das possibilidades educativas
com o uso da literatura e das outras
linguagens e formas de expressão, tais
como a música, a construção artesanal
e as vivências corporais. Experiências
culturais de visita à biblioteca e contação de
histórias no ambiente também integraram
o planejamento.
Foram ainda desenvolvidas ações de
integração família-escola com a construção
de um boneco que passava fins de semana
com as famílias das crianças da turma. O
56
boneco Henrique levava livros para as casas chegavam ao CEI, se sentavam na frente da
das crianças, e a cada visita às famílias, tela e ficavam com o olhar fixado para a
ganhava um complemento para “ter vida”. mesma, não se importando nem com o fato
As vivências estéticas e de uso de ela estar desligada.
dos sentidos se ampliando no Maternal A falta de interesse das crianças pelo
As crianças de três anos de idade têm mundo vivo da escola trouxe a necessidade
como maior característica a inquietação de se pensar em estratégias que as fizessem
por descobrir e desbravar o mundo que enxergar o resto da sala de aula.
as cerca. São curiosas, sentem e pensam O CEI é contemplado pelo
o mundo de um jeito muito próprio e Programa Institucional de Bolsas para
buscam compreender o mundo e expressar Iniciação a Docência (PIBID) do curso de
suas ideias e emoções especialmente por Pedagogia da UNIVALI e junto com as
meio dos recursos corporais que possuem, bolsistas obteve-se a primeira ideia daquilo
assim como por meio de experiências e que se tornaria uma sequência didática que
brincadeiras (BRASIL, 1998 e 2010). duraria algumas semanas, para despertar
Nossa sala no Centro de Educação o interesse da turma pelos livros. Então,
Infantil (CEI) Darlan Dotto Wiershinski preparou-se na sala de aula uma vivência
de Itajaí, SC é adaptada com brinquedos ao especial.
alcance das crianças; lá existe a preocupação Para motivar as crianças, foi feito
de oferecer materiais e brinquedos que todo um clima de mistério a fim de aguçar
estimulem a socialização, a criatividade, a a sua curiosidade.
expressividade e a cognição, bem como a Enquanto esperavam do lado de fora
espontaneidade infantil. da sala, as luzes foram apagadas e as crianças
Porém, com essa turma no início do receberam lanternas para descobrir o que a
ano a história era diferente: as crianças não sala escondia. Com muita cautela, entraram
se interessavam por nada além da televisão; e foram procurando alguma novidade

57
que justificasse todo aquele suspense e se autoria de Lu Chamuska. A letra levou as
depararam com tapetes e almofadas no chão crianças a imaginarem que o pano pode se
que acomodavam muitos livros de literatura transformar em uma casa, em um barco,
infantil. Aconchegaram-se, apropriaram- em um cavalo, em uma ponte e assim por
se dos livros e começaram a folheá-los e diante. A brincadeira do pano foi como um
observá-los com o auxílio das lanternas. ritual de iniciação em que, de forma lúdica,
Ficaram um bom tempo explorando os encantou-se o pano, que foi a matéria-prima
livros e olhando suas ilustrações. do boneco.
Depois de terem explorado os livros, A princípio, o boneco era só uma
dirigiram o olhar para a cadeira em que a silhueta, sem rostos e sem detalhes. Foi
professora estava sentada e perceberam que, batizado com o nome de Henrique e sua
nos pés da cadeira havia uma rede e nela missão foi a de levar a literatura para os
descansava uma boneca de pano. Ao notar lares das crianças, trazer um pouco da
que a boneca havia sido vista, a professora a história das crianças para o CEI, bem
pegou e a apresentou às crianças, iniciando como estreitar os laços entre as famílias e a
em seguida a contação de uma história com instituição de ensino.
o livro “A Pílula Falante”, de Monteiro A cada final de semana, uma criança
Lobato, em que o autor apresenta ao foi sorteada para levar o Henrique para
mundo a boneca Emília. O grupo conheceu casa e nele acrescentar algum detalhe.
posteriormente outras obras, como Nariz Também levaram um diário para um
Arrebitado e O Poço do Visconde. E assim familiar registrar como havia sido o final
passou-se uma agradável manhã, na qual de semana com a visita do Henrique e um
a televisão foi deixada de lado para dar livro escolhido pela criança para ser lido
espaço ao exercício da imaginação, atenção, em família. Em suas visitas, Henrique
compreensão, ampliação do vocabulário, ganhou rosto, roupa, tênis, relógio, boné,
aquisição de cultura e ludicidade. casaco e genitália. Ao chegar à escola na
Inspirados na boneca Emília, fez-se o segunda-feira, a criança anfitriã do boneco
próprio boneco de pano e assim dedicou-se vinha empolgada, falando como foi o final
à confecção deste elemento que evidenciou de semana e recontando a história do livro
o contato com a literatura. que levou para casa.
Organizou-se na sequência a A partir de então, os livros são muito
seguinte dinâmica: brincou-se com as usados pelas crianças e com frequência
crianças utilizando tecidos e cantou-se uma flagra-se no banheiro, sentadas no sanitário
música chamada “O Pano Encantado” da com um livro na mão. Alguns pais pedem
58
livros emprestados para lerem aos seus filhos Ao final do período de
em casa. Antes do momento do descanso, as desenvolvimento da sequência didática,
crianças pedem para que se leiam histórias, pode-se observar que as licenciandas,
ficam acomodadas no colchão, atentas aos ao aceitarem o desafio de ampliar as
enredos e fazem comentários sobre o que experiências estéticas e as vivências
acharam interessante. infantis, puderam compreender que no
Em função do grande interesse processo de construção do conhecimento
pelos livros e histórias, programou-se uma é importante as crianças utilizarem as
visita à Biblioteca Pública Municipal da mais diferentes linguagens e a viverem
cidade. No dia do passeio, antes de o ônibus atividades com estímulos diversificados
buscar as crianças, foi feita uma conversa para assim exercerem a capacidade de ter
com a turma a respeito das regras que se ideias e hipóteses originais sobre aquilo
precisa seguir no ambiente da biblioteca. que buscam desvendar. Aprenderam a
As crianças foram muito bem recebidas importância do estímulo, do planejamento
na biblioteca, ouviram histórias contadas e da organização do professor do ambiente,
pelos bibliotecários, manusearam livros materiais, tempos, uso da literatura e
e ficaram impressionadas ao perceber relacionamentos envolvendo o mundo real,
que lá havia muito mais livros que no transcendendo a tela da TV.
CEI: contaram histórias observando as Referências
ilustrações e receberam muitos elogios por BRASIL. Ministério da Educação.
seguirem as regras de visitação, apesar da Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
pouca idade que têm. Curriculares Nacionais para a Educação
Essas foram apenas algumas das Infantil. Secretaria de Educação Básica.
várias ações que estimularam as crianças Brasília: MEC, SEB, 2010.
a se interessarem por um mundo além da BRASIL. Ministério da Educação e
televisão; fora ações que resgataram da do Desporto. Secretaria de Educação
infância e de potencialização das capacidades Fundamental. Referencial
e das competências infantis para irem
Curricular Nacional para a Educação
além da alienação e do condicionamento
Infantil. Volumes, 1, 2 e 3. Brasília: MEC/
impostos pelas mídias.
SEF, 1998.

59
O UNIVERSO DAS FORMAS
E DAS CORES DO COTIDIANO
DO PIBID PEDAGOGIA
EDUCAÇÃO INFANTIL:
artes visuais na Pré-Escola
Rudnéia Schuller
Professora Supervisora

Roberta Pimenta Vieira de Carvalho


Coordenadora de Área

O PIBID Pedagogia Educação Infantil se desenvolve a partir dos eixos definidos


pelo Projeto Institucional: a competência comunicativa e a formação estética.
A criança, desde pequena, está em contínuo processo de desenvolvimento e
demonstra curiosidade pelo mundo das linguagens artísticas socialmente construídas. Esta
fase do desenvolvimento humano, é muito importante e as educadoras devem perceber a
influência que estas linguagens exercem no desenvolvimento da atividade criadora da
criança, assim como a importância de ofertar-lhes vivências e atividades de sensibilização
do seu olhar pela observação, pelo toque, pelo tato, pelo olfato, pelo paladar, pela percepção
do espaço no qual está inserida e como ele é composto.
A proposta do subprojeto consistiu na sensibilização das licenciandas para reconhecer
as diferentes linguagens da arte existentes no contexto social e propiciar a visualização e a
exploração de vários objetos que compõem o universo das formas e das cores do cotidiano
infantil, para que organizassem ações que permitissem às crianças vivências e experiências
estéticas por meio de cores e formas do ambiente no grupo de Pré-escola (crianças de 05
e 06 anos) do Centro de Educação Infantil Ana da Silva Fontes da cidade de Itajaí-SC
em 2015. Objetivou-se, ainda, a compreensão das futuras professoras de que é possível
60
trabalhar a linguagem das artes visuais na impressionados, fizeram questionamentos
sala e nos espaços externos da unidade. pertinentes às imagens projetadas: qual
Foram programadas e aplicadas era a tinta que eles utilizavam, com o
pelas licenciandas e supervisora junto às que pintavam e por que desenhavam nas
crianças, atividades de artes visuais, para paredes? Logo surgiu um comentário que
ativar o seu imaginário e a exploração do partiu de um aluno, de que suas mães não
espaço da instituição, utilizados diferentes os deixavam desenhar na parede.
materiais e elaboradas sequências didáticas Após as explicações e a exploração
abrangendo a arte rupestre, que terminou do espaço, o grupo foi levado à área externa,
na montagem de uma “caverna” imaginária, onde foi proporcionada uma interação entre
em um painel de azulejos brancos, onde eles e estimuladas sensações, capacidades,
as crianças vivenciaram experiências percepções e emoções, pela manipulação
sensoriais utilizando tinta guache, gravetos de diferentes objetos e materiais.
e as mãos, tornando a proposta da atividade Foram exploradas suas características,
real. Antes de iniciarem a pintura, o grupo propriedades e possibilidades de manuseio e
Dinossauro fez uma “viagem” no tempo. produção de diversas formas de expressão.
Levados a uma sala preparada, como se Esta atividade estimulou a percepção visual
fosse uma caverna escura que refletia das bolsistas e ampliou seu conhecimento
apenas a luz do projetor, todos apreciaram de mundo, favorecendo a construção de
pinturas dos homens pré-históricos ou os hipóteses e estratégias de trabalho com as
homens das cavernas, como denominados diferentes linguagens da arte na educação
por eles. Assim que entraram na sala, infantil.
61
As crianças foram envolvidas
também com a arte da escultura, que
despertou impressões nunca vivenciadas
no grupo ao elaborar construções e
experimentar a argila. Primeiramente as
crianças foram levadas à sala ateliê para
apreciação de um audiovisual com imagens
de diferentes esculturas, enfatizando a
diversidade cultural de distintos povos,
assim como foram apresentadas duas
literaturas que mostravam as obras de
dois grandes artistas plásticos brasileiros:
Vaccarine e Victor Brecheret, que serviram
de inspiração para o criar dos pequenos.
Logo após o momento de apreciação
e diálogos sobre as esculturas, todos
colocaram a “mão na massa”, literalmente
na argila, descobrindo possibilidades de
manuseio deste material. Descobriram
que era necessário molhar as mãos para
conseguir modelar. As crianças estavam
eufóricas e ansiosas, assim algumas delas
utilizaram copinhos com água, outras um
pouco mais, o que ocasionou um verdadeiro
“lamaçal”, mas que se transformou em
muita diversão. Foi um momento de
descontração e fruição. As criações foram as
mais diversas: coruja, coração, dinossauro,
boneca, peixe e loucinhas, tudo feito com o
maior capricho. Após as esculturas estarem
secas, o grupo voltou ao ateliê para realizar
a pintura e com muito colorido deu vida às
suas obras, que foram expostas no pátio do
Centro de Educação Infantil. As bolsistas
perceberam a importância do brincar
com diferentes texturas como forma da
criança expressar-se e desenvolver suas
habilidades de criação, de relacionar-se e de
interagir. A maneira lúdica de aprender na
educação infantil é de extrema importância,
proporciona a criança sensações e emoções
fundamentais para o seu desenvolvimento.
62
E, por fim, na sequência das ações,
foram organizadas atividades envolvendo
a arte do mosaico, que oportunizou a
Assim, organizaram e
descoberta da beleza de uma imagem
enviaram para as famílias um
construída pelo manuseio de materiais
folder com informações sobre o mosaico e
diversos fragmentados.
as possibilidades de sua criação, sugerindo
Utilizando como incentivo inicial a confecção de uma mandala com materiais
uma roda de conversa e uma pesquisa com alternativos. E a partir disso, os pais,
objetivo de conhecer nomes e materiais juntamente com seus filhos, com fundos de
de artistas plásticos de nosso estado que caixa de pizzas, papelões e outros diferentes
trabalhassem com a arte do mosaico, materiais, criaram imagens representativas
descobriu-se o catarinense Paulo David, que da mandala utilizando mosaicos.
exerce suas atividades na cidade de Jaraguá
Nesta atividade as bolsistas
do Sul. Entrou-se em contato com ele, a fim
desenvolveram capacidades pedagógicas
de conhecê-lo e também a suas obras. Na
e artísticas por meio da pesquisa e da
ocasião, Paulo não teve como vir à cidade,
organização de matéria-prima, assim
mas enviou materiais visuais produzidos por
como proporcionaram a interação entre
ele, como mandalas e painéis para apreciação,
criança-adulto de forma lúdica, criativa e
que consequentemente inspiraram o grupo
participativa, possibilitando experiências
a criar um mosaico coletivo. Em consenso,
que contribuam para aprendizagem infantil
decidiu-se por uma imagem de paisagem
de forma integrada e cooperativa.
e logo foi analisado qual seria o melhor
material para a produção do mosaico. O Todas as três atividades tiveram
material escolhido foi o isopor, e a fim como incentivo inicial a apreciação visual de
de deixá-lo com a aparência das pedras imagens pelas licenciandas e crianças, que
utilizadas pelo artista, as crianças pintaram propiciaram a observação, a experiência, a
placas de isopor de diferentes cores, sensibilização estética e a fruição.
pensadas anteriormente para cada imagem/ Esse movimento buscou
desenho que comporia a obra. Para fazer o proporcionar às licenciandas a compreensão
recorte dos pedaços, foi necessário o uso da da docência como um processo dinâmico
máquina própria para cortes de isopor e as no qual o centro do processo é a criança;
bolsistas fizeram o manuseio. compreender que, por meio da arte, existe
A montagem do mosaico foi a integração entre os aspectos sensíveis,
realizada em uma semana de atividades, em intuitivos, estéticos, lúdicos e cognitivos
que crianças, juntamente com as bolsistas, da personalidade; que a promoção de
aos poucos davam vida ao desenho. interação e comunicação com o mundo
são possibilidades de educar e estimular a
Com o trabalho concluído, as
sensibilidade; que olhar para a arte desde
bolsistas pensaram em uma maneira de
a infância estimula a atividade criadora;
envolver as famílias com uma atividade
que as vivências lúdicas e estéticas
manual para ajudá-las a compreender
contribuem e ampliam a aprendizagem,
e a valorizar as produções infantis e o
a partir do diálogo, da experimentação,
trabalho escolar.
63
da solidariedade, do respeito mútuo e da ferramentas eficientes para planejar ações
valorização da arte como produção cultural. e/ou transformações em uma Educação
Considerando que por meio da Infantil que busca qualidade, cabendo assim
linguagem artística a criança se expressa, se às licenciandas e ao subprojeto a contínua
comunica e se socializa, o professor tem o reflexão não somente dos processos de
importante papel que é a mediação da relação sala de aula, mas também do papel como
criança com o conhecimento e com o mundo, cidadãos, protagonistas de uma história
assim como na constituição da sua identidade educativa que envolve, dentre várias
e autonomia. A professora e as licenciandas linguagens, a expressão artística.
devem estar atentas como está ou se dará o Referências
desenvolvimento das habilidades da criança BRASIL. Ministério da Educação.
e da sua inserção social. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
A arte está presente em vários Curriculares Nacionais para a Educação
espaços e aspectos da vida humana e cabe Infantil. Secretaria de Educação Básica.
ao educador saber utilizar dinâmicas Brasília: MEC, SEB, 2010.
e recursos didáticos adequados para BRASIL. Ministério da Educação e
apresentar variadas informações às crianças do Desporto. Secretaria de Educação
nos diferentes momentos da convivência Fundamental. Referencial
e do interesse coletivo e realizar diálogos
Curricular Nacional para a Educação
e leituras das produções observadas e
Infantil. Volumes, 1, 2 e 3. Brasília: MEC/
produzidas individualmente ou em grupo.
SEF, 1998.
No dia a dia, as formas de
comunicação e expressão humana são

64
BREVE REGISTRO SOBRE
O PIBID
Carla Carvalho
Coordenadora de gestão do PIBID

Faço aqui um breve registro. Registro de uma professora que por algum tempo
acompanhou um grupo de PIBID como Coordenadora de Área e atualmente como
Coordenadora de Gestão do PIBID UNIVALI.
No início desta caminhada, logo que o Programa foi implantado na UNIVALI,
não tínhamos noção da dimensão do Projeto, de como ele funcionaria e se funcionaria na
prática, de como os acadêmicos e os professores supervisores lidariam com os desafios, se o
projeto por vezes não seria confundido com os estágios ou práticas docentes curriculares...
entre outras tantas dúvidas.
No entanto, logo no início, observamos no grupo uma imensa vontade de atuar,
de estar no contexto escolar e de pensar o que faríamos. Lembro com cuidado o quanto
estudamos o que caracterizava a figura do professor, as
questões referentes à estética (eixo de nosso projeto), à
relevância do ensino da Arte e da Música na escola (O
PIBID era composto por acadêmicos da música e das artes
visuais), as questões do que era o conceito de inovação e
assim por diante.
Fomos à escola conhecer o contexto e perceber
nele elementos que nos provocassem para, a partir daí,
desenvolver os possíveis e tais projetos inovadores.
Diversos aspectos ficaram evidentes neste percurso. Este
breve texto não vai aprofundá-los, mas pretende trazer
à tona alguns elementos que foram sendo percebidos e
potencializados com os professores supervisores e os
acadêmicos bolsistas neste tempo vivido.
Falo aqui do projeto de PIBID de Artes que teve seu
início no primeiro grupo de PIBID da UNIVALI no ano de
2010. Neste grupo, formado por 20 bolsistas acadêmicos
dos Cursos de Artes Visuais e Música da UNIVALI, mais
65
Neste percurso,
foi possível perceber que,
mesmo atuando no mesmo
município, aqui no caso,
Itajaí, cada escola tinha
uma realidade diferente.
Mesmo sendo escolas da
mesma rede de ensino, eram
escolas com características
diferentes, com
comunidades diferentes.
Mesmo que atuando
nas aulas de Arte, eram
professoras supervisoras
diferentes, pensando
e fazendo currículos
diferenciados. Isso nos
provocou muito e nos fez
perceber que tínhamos que
respeitar essas realidades e,
a partir delas, desenvolver
nossos projetos.
Assim foi feito. Aqui
quero pensar e registrar
quatro professoras supervisoras das redes
um dos aspectos que me
de ensino da cidade, foram se construindo
parecem importantes no projeto: pensar
diversas reflexões... Aceno aqui apenas
a partir da realidade vivida, sentida e
algumas delas.
percebida pelos acadêmicos. Se desejamos
Um aspecto que me chamou muito um professor pensante, precisamos
a atenção na ocasião foi pensar com o mobilizar nos acadêmicos formas de
grupo todo o processo. Nenhuma decisão pensarem sobre a realidade vivida e sobre
era somente minha como coordenadora as reais condições de se fazer docência
de área, mas eram decisões dos grupos, nessas realidades.
pensadas coletivamente e em especial com
proposições das professoras supervisoras. Outro aspecto que aqui se articula é
a condição de co-formador do professor
Decidimos que cada grupo teria
supervisor. Nos encontros, foi possível
um projeto diferente, pensado a partir
perceber a necessidade de chamar este
da realidade vivida e das problemáticas
profissional à corresponsabilidade de
sentidas naqueles contextos. Conhecemos
formador destes futuros professores. Cada
as comunidades, as escolas, os estudantes,
professor supervisor precisou assumir esta
aplicamos questionários, levantamos
dados, ouvimos e lemos sobre cada uma das condição para que o fazer e a legitimação
do processo pudessem acontecer. Cada
escolas envolvidas.
66
acadêmico tinha de olhar para o supervisor estético, que buscava na relação com a arte
compreendendo que ali estava um profissional e a cultura uma formação mais sensível,
com conhecimento da docência, capaz de mais artística na escola. Ora, aqui reside
pensar junto, acenar ganhos e limites, mais um aspecto que merece destaque no
indicar elementos da vivência que deram ou processo. A relação estabelecida com
não deram certo e assim por diante. Estes a arte e as pessoas que fazem arte na
professores foram selecionados e tinham região. Artistas visuais, músicos e atores
formação e capacitação para acompanhar foram às escolas e as escolas foram aos
estes futuros professores. Neste sentido, espaços culturais e artísticos da região.
observei no processo que era necessário Acreditávamos que somente na relação
esta elaboração coletiva de legitimação do com o objeto artístico é que os estudantes
professor supervisor. teriam a possiblidade de se embebedar da
Outro aspecto que destaco é o arte e serem tocados esteticamente por ela.
trabalho coletivo. Na teoria dialogamos Assim o fizemos.
com diversos autores que nos acenam Este aspecto expandiu-se a tal
a relevância de um trabalho coletivo na ponto de pensarmos não somente com os
escola. No entanto, na prática, percebemos estudantes da escola e os acadêmicos, mas
o quanto nas escolas os professores se também com a comunidade. Aos poucos a
sentiam sozinhos. Com isso, observamos comunidade foi envolvida no projeto.
a relevância de se atuar na coletividade, Compreendemos que nos interessava, além
assim, na escola com os professores da do encontro com os estudantes, os pais,
unidade escolar, bem como entre os os responsáveis; os tios, se assim fossem;
pequenos grupos e o grande grupo do os avós se assim o fossem. Possibilitamos
PIBID, o diálogo teria de ser aos poucos o processo de formação estética não
um lugar a se alcançar. A partilha tinha somente com os estudantes e nas escolas,
de estar na meta, para que pudéssemos mas também com as comunidades que se
alcançar o que desejávamos. Com isso, envolveram no processo.
percebemos que tínhamos mais um ponto Olhando para trás, vejo o quanto
a ser pensado no percurso, que vale a pena, caminhamos e quantas contribuições
que tinha de ter investimento. deixamos nas escolas e em especial o quanto
Ainda, como elemento que penso estes nossos acadêmicos foram envolvidos
merecer destaque... foi a relação com a e afetados durante o projeto. Nem eles,
coletividade... pensar a arte no município nem as comunidades e nem eu saímos ilesos
de Itajaí. Tínhamos como proposta um viés desse processo.
Mas vamos lá... aqui destaco outro Muitas coisas foram feitas e
aspecto... falar de arte com o estudante registradas no decorrer dos projetos.
foi possibilitar ao acadêmico este contato, Autoria em todos os sentidos... quando olho
foi possibilitar ao acadêmico sentir-se que acadêmicos e professoras supervisoras
pesquisador da arte regional e, com isso, assumiram as tarefas de fazer e registrar,
fazer seus próprios materiais pedagógicos, de fazer e publicar, de fazer e comunicar;
jogos, brinquedos, conceitos. Neste de colocar a mão na massa e interferir
percurso os acadêmicos em formação nos espaços afetivos e arquitetônicos na
perceberam que cabe ao professor criar, e escola; de tomar nas mãos as decisões e
não apenas reproduzir o que está ai escrito acompanhar de fato o percurso... nossa,
e registrado. Se desejam falar de arte e muita coisa foi realizada!
se a arte é local, precisam sistematizar Neste percurso percebemos que a
para poderem ter o que discutir com os
autonomia estava na elaboração diária
estudantes, bem como se perceberem
destes meninos, nos momentos em que
autores no processo.
tomavam para si o que assumir e com isso
Aqui reside talvez um aspecto tornavam-se mais que atores no processo,
que marco como um dos mais caros ao mas sim autores, pois juntos elaboravam
PIBID: tornar-se autor no processo, o percurso, tomavam decisões, assumiam
tomar nas mãos o percurso para poder desafios e provocavam olhares e fazeres
escrever o seu dia a dia. Desde o momento diferenciados. Aqui residiu no meu ver a
no qual fomos conhecer o contexto, inovação no projeto. A inovação como um
trouxemos os professores supervisores conceito que permite ao sujeito tornar seu
para compreenderem-se corresponsáveis o lugar e o tempo vivido na escola e fazer
no processo de formação, bem como diálogos com o que acredita e pensa, e a
desenhamos com os acadêmicos seus partir daí criar. Criar novas formas de ver e
projetos e elaboramos cada ação pensada sentir os contextos e os encontros vividos
na comunidade... fomos percebendo a na escola.
relevância deles sentirem-se autores no
processo.

68
PIBID, ARTE E ESCOLA:
LUGARES PARA O SENSÍVEL
Valéria de Oliveira
Coordenadora de Área

O estudo e o acompanhamento da prática pedagógica de cada educador não


pode descuidar de um aprendizado do olhar, sensível e atento as peripécias da
interpretação, e disponível para compreendê-la. Olhar que se amplia quando
é compartilhado, no exercício de leitura que descobre novas, inusitadas ou
revisitadas perspectivas oferecidas no diálogo entre parceiros. Olhar que também
se exercita no sensível encontro com a linguagem da arte.
Mirian Celeste Martins – O sensível olhar pensante

Grupo PIBID de Música supervisionado pela


Prof.ª Helena Azeredo durante formação
dos licenciandos no IV Encontro Regional
do Proler com o autor André Neves no 28 de
maio de 2015.

69
desvendamento de significados sociais e
abre espaço para que os observadores/
espectadores se posicionem frente à obra.
Seja porque estabelecem relações entre sua
experiência pessoal e social, ou porque se
apropriaram de novos conhecimentos.
Interpretar uma obra é entrar em sua
trama e dialogar com o autor. Através da
arte também se possibilita uma infinidade
de leituras e interpretações que dependem
das informações dos observadores/
espectadores, das suas experiências
anteriores, vivências, memórias,
lembranças e imaginação. A arte é um
sistema simbólico, de representação, cuja
subjetividade contida nos seus métodos e
sistemas próprios favorece a criação de
Foto: A novos sentidos. Cada espectador atribui
na Bea
Super
triz de
Oliveir valores e estabelece relações a partir do
visora a.
do esp Prof.ª
Elisete olhar que lança para as mensagens contidas
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em di o B o l sa Am iment na obra de arte.
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Porto
Cênico A relação entre Escola, PIBID e
roler. D te o IV ,
ia 26 Arte se constitui no espaço adequado para
de ma Encon
io de 2 tro
015.
o desenvolvimento do pensamento crítico e
criativo, o que pode ser conquistado por meio
da compreensão de diferentes linguagens e
Aprender significa incluir reflexões
do acesso às diversas produções culturais.
que problematizem a realidade. A escola tem
As linguagens artísticas, como teatro,
por tarefa criar condições para que os alunos se
dança, música e artes visuais, colaboram
questionem sobre a forma como se posicionam
para a construção de outras representações
no cotidiano. Outra função da escola é
mentais acerta de temáticas já abordadas
organizar e sistematizar os conhecimentos
no cotidiano escolar. A arte dinamizada por
prévios dos alunos como forma de ampliar
projetos na escola humaniza e sensibiliza
a compreensão histórica e social, valendo-
os alunos a transitarem com mais liberdade
se da perspectiva da interdisciplinaridade e
no processo de desenvolvimento das
transversalidade por meio da aproximação
capacidades afetiva, ética, estética, física,
das mais variadas linguagens.
social e cognitiva.
Por isso, o PIBID de Música, o
Nesta perspectiva, a arte, quando
qual coordeno, aposta no entendimento
adequada às demandas dos alunos, pode
de que a linguagem artística comunica
antecipar as reflexões sobre os conflitos do
pensamento e expressa diferentes formas
cotidiano e sugerir formas de intervenção
de compreender a realidade, auxilia no
70
na realidade. Na atualidade, a escola é desafiada a incluir conteúdos que não fazem parte
das disciplinas convencionais, mas que estão presentes na vida dos alunos e que merecem
ser trazidas para o universo escolar apor meio da prática transversal.
A prática transversal permite trabalhar com o conhecimento em rede, pois ao
apreender o significado de objetos culturais ou acontecimentos, é possível vê-los em duas
relações com outros objetos culturais e acontecimentos.
A linguagem artística se apresenta como sustentação metodológica e como ação
fruitiva para a prática interdisciplinar e transversal, no sentido de possibilitar a ampliação
do repertório dos alunos por meio de referencial estético, e favorecer a comparação entre
diferentes formas de expressar ideias, sentimentos, atitudes e procedimentos.
Além da inclusão da transversalidade, o PIBID sugere que a escola diversifique a
forma de apresentação dos conteúdos selecionados e, assim, aproxime os alunos da leitura de
diferentes linguagens. Tratar o processo de formação de alunos, licenciandos, supervisores
e coordenadores com pluralidade a partir de um exercício crítico reflexivo e criativo, auxilia
na construção de competências significativas para o desenvolvimento intelectual.

71
PIBID MÚSICA
ASPECTOS DO SUBPROJETO:
O LUGAR QUE PERSEGUIMOS
Valéria de Oliveira
Coordenadora de área

Denise Costa e Helena Cristina Azeredo


Supervisoras

A proposta do PIBID Música licenciandos, onde possam pensar, desfrutar


2015 diz respeito a construir uma base e criticar arte. Sobretudo, onde possamos
de conhecimentos e práticas pedagógicas estabelecer aos licenciandos entendimentos
acerca de atividades artísticas com ênfase das potências da ação poética na arte e das
nas linguagens: música, visualidades, práticas pedagógicas para arte.
literatura e teatro. Desta forma, é nosso Assim, o projeto contribui com
desejo conformar um ambiente de a formação do futuro professor, ora
compartilhamento de saberes para manter licenciando, cujas indagações estéticas
todos os envolvidos (coordenadores, estarão presentes no seu cotidiano, bem
supervisoras, licenciandos e comunidades) como o fará capaz de transpor as questões
em um movimento de formação continuada, de se provar “que arte é importante” para
cujos focos a serem perseguidos são a questões de formar por meio da arte e a
formação artística, estética, poética e a pensá-la numa composição mais ampla nos
relação comunicacional. currículos escolares.
O projeto é um lugar experimental Portanto, o projeto assume um
no qual forjamos ações que ultrapassam ideário de mediação cultural social, como
o lugar da escola e da disciplina de Arte propõe Ana Mae Barbosa, em que a noção
para adentrar espaços como museus, de mediação cultural pressupõe que, no
teatros, festivais, ensaios, conselhos de ato da experiência, o momento da visita a
classe, conselhos de cultura, conselhos de uma exposição de arte, por exemplo, uma
educação, bem como outros espaços sociais relação dialética entre sujeito e objeto de
que sirvam como laboratório na construção conhecimento, e entre estes dois vértices,
de uma identidade docente para nossos um educador. Vemos aqui instaurada a
72
estrutura triádica presente novamente, em que o autor aborda a cultura como a
como já observamos na proposta triangular e atividade do espírito que vaga livremente,
também em outras teorias como a semiótica. o lócus da criatividade, da invenção, da
Neste caso, de modo geral, o mediador autocrítica e da autotranscedência.
posiciona-se como contextualizador, ele Nesta experiência, na práxis que
promove o encontro entre o repertório que compõe este projeto, são atores do processo:
o próprio público possui com as referências supervisores, coordenadores, licenciandos,
imagéticas e teóricas que ele tem acerca alunos, pais, docentes, artistas.
do artista, da obra, do tema, do enredo,
Entendemos que a arte ocupa o
dos aspectos formais, etc. Desta maneira,
lugar de linguagem que estimula, aguça e
a mediação pode ser compreendida como
provoca novos sentidos sobre a realidade
um encontro sensível entre as partes, e os
a ponto de construir “outro lugar” para
licenciandos podem aprender outra forma
imaginação que fuja das lógicas de consumo
de prática docente.
e reprodução. O movimento do projeto está
Este mesmo conceito traça diálogos predominantemente na preocupação com
com “os não lugares” propostos por Marc a formação docente dos licenciandos e as
Augè, que busca o oposto, o inverso dos relações humanas na arte e na escola, as
lugares antropológicos, que corresponde a construções dos artistas com seu entorno e
uma ligação forte entre o espaço e o social. com seu público e a construção da cidadania
E também os diálogos com os princípios da sensível.
Estética Relacional de Nicolas Bourriaud.
Para darmos conta dessa dinâmica,
Na arte relacional, as experiências e os
organizamos os projetos nas escolas em
repertórios individuais estão a serviço da
dois jogos de ações: jogo 1- formação e
construção de significados coletivos, o que
fruição estética/poética dos licenciandos,
faz com que a participação do público seja
em que foi possível estabelecer a leitura dos
um fator-chave na ativação ou na efetivação
autores que nos referenciamos, encontro
da proposta artística.
de formação junto à coordenação, visita a
Alinhando e descortinando discursos eventos de formação, como foi o caso do
que constroem o ambiente da produção 4º Encontro do Proler Regional e o VIII
artística, acadêmica e docente, temos Simpósio das Licenciaturas e III Seminário
sempre presente em nossas atividades do PIBID. Nesses eventos foi possível
as questões da educação pela arte, as participar de palestras e oficinas. Foram
quais são propostas por Herbert Head no ainda realizadas visitas ao Teatro Municipal
que diz respeito à construção de modos de Itajaí e Balneário Camboriú para assistir
de expressão por diversas linguagens e a espetáculos e a shows de orquestra, visitas
educação dos sentidos sobre os quais para à Casa de Cultura “Dide Brandão” para
ele se baseiam a consciência do humano. espetáculos e visitas à galeria e ao Festival
E, por fim, em linhas gerais, de Música, que já é um evento da rotina dos
trabalhamos com o conceito de cultura de alunos das licenciaturas de música. E ainda
Baumann, especificamente encontrado no a participação no 9º Festival de Teatro
livro “Ensaios sobre o conceito de cultura”, “Itajaí em Cartaz”.
73
No jogo 2 – realizamos reuniões criatividade, à instrumentalização dos
de planejamento e discussão das ações licenciandos, ao aprender que se pode
realizadas pelos licenciados junto aos alunos aprender para além dos muros da escola,
das escolas. Os projetos desenvolvidos nas à promoção de reflexões junto ao grande
escolas pelos licenciandos orientados pelas grupo PIBID. Os nossos licenciandos são
supervisoras perpassaram no primeiro o motor principal dessa experiência e, ao
semestre de 2015 lugares bastante sensíveis, criarmos e aprofundarmos novas maneiras
que foram traçados por meio dos desejos dos pedagógicas para as práticas de conteúdos
licenciandos e conectados ao subprojeto. artísticos e a própria oxigenação dos
Realizamos oficinas que atenderam a uma conteúdos na escola, já estamos provocando
relação prática/teórica na área de música uma mudança significativa no ambiente da
com temas diversificados como: recital de educação para o sensível. Para além deste
música erudita e sua organização artística, importante aprendizado, vamos a cada
diversidade musical e revitalização do experiência melhorando nossas relações
espaço escolar, envolvendo assim as humanas, nossas formas de comunicação,
linguagens da música e visualidades, aprendendo a estar e ser no outro, tendo
diversidade cultural: indígena, portuguesa como lugar de expressão a arte e o desejo
e africana com construções plásticas e de de afetar e ser afetado.
instrumentos. Tivemos ainda projetos Referências
que trabalharam as questões artísticas
AUGÉ, Marc. Não lugares, 90º, Lisboa,
da publicidade e arte urbana por meio
2015 (1992)
das paisagens sonoras. As oficinas foram
instrumentalizadas com ampla abordagem, BARBOSA, Ana Mae. Arte/Educação
desde o espaço físico, a prática, as visitas como mediação cultural e social. São
de artistas nas escolas e as reflexões sobre Paulo: Unesp, 2009
a experiência vivida. As escolas envolvidas BAUMANN, Zygmund. Ensaios sobre
também levaram seus alunos ao Teatro o conceito de cultura. Rio de Janeiro:
Municipal de Itajaí e Balneário Camboriú Zahar, 2012.
para apreciação de espetáculos de músicas BOURRIAUD, N. Estética relacional.
e teatro. Por último, e muito importante, São Paulo: Martins, 2009.
tivemos a realização do Seminário do
READ, Herbert. A educação pela arte.
PIBID, no qual são compartilhados os
São Paulo: Martins Fontes, 2001.
processos, os resultados, os planejamentos,
a experiência pedagógica, a avaliação
contínua do processo e os relatórios.
Temos ainda muito que aprender
nessa dinâmica de um projeto que se
coloca com alguma ousadia, mas é
nosso objetivo perseguir essa diretriz,
pois tendo em vista os depoimentos de
todos os envolvidos, alcançamos lugares
bastante potentes no que diz respeito à
74
EXPOSIÇÃO: OLHAR
DA CRIANÇA PARA
AS EXPERIÊNCIAS DO PIBID
Maria Fernanda d´Ávila Coelho
Coordenadora de Área

Ivana Feller
Katiúcia Borba
Sandra Regina Ferreira
Silvia Azevedo
Professoras Supervisoras

A criança é capaz de interagir num


meio natural, social e cultural desde bebê.
Ela não é apenas reprodutora daquilo que
percebe do mundo dos adultos, muito
pelo contrário, ela reinventa, recria,
reinterpreta a partir daquilo que vê e sente.
Ela se constrói nas relações que estabelece
socialmente, ela é protagonista do seu
processo de aprender, interage com outras
crianças e adultos, cria formas próprias
de compreender a realidade, constrói sua
identidade ao relacionar-se com pessoas,
objetos, sentimentos e conhecimentos.
Por acreditar nessa criança
competente e protagonista, o subprojeto
do Programa de Iniciação à Docência
UNIVALI Pedagogia – Educação Infantil
lançou no início do ano o desafio de propor
às crianças a possibilidade de fotografar as
experiências vividas no PIBID, com objetivo
75
de reconhecer cada vez mais a criança, seus nestes grupos por detrás destas imagens só
olhares, bem como trazer outra linguagem as crianças, professoras e acadêmicas podem
da arte para rotina dos Centros de Educação relatar, num processo de formação estética
Infantil. Então, fotografar passou a ser uma em que todos foram envolvidos.
ação cotidiana na rotina das crianças. Com A exposição: OLHAR DA
câmeras e celulares nas mãos, as crianças CRIANÇA PARA AS EXPERIÊNCIAS
registraram ao longo do ano diferentes DO PIBID apresentou no dia 16 de
momentos planejados pelas professoras novembro de 2015, na Casa da Cultura
da Rede Municipal de Educação de Itajaí Didi Brandão, em Itajaí, dezesseis fotos
e pelas acadêmicas do curso Pedagogia, registradas pelas crianças dos três Centros
todas bolsistas deste Programa. de Educação Infantil da Rede Municipal de
As crianças demonstraram Educação de Itajaí, além de quatro painéis
habilidade no manuseio das câmeras e produzidos pelas crianças após uma roda
dos celulares e aos poucos foi possível de conversa sobre arte e sobre todas as
conseguir que elas não apenas saíssem experiências artísticas vividas no PIBID
por aí clicando sem refletir a respeito do neste ano e ainda imagens em vídeo que
que estavam fazendo, mas fotografar de mostram como foi esse processo.
forma mais crítica e sensível, criando cenas Estar com a comunidade, as
para esse registro, focando quando era famílias, as crianças, as professoras e as
preciso, se distanciando quando julgavam acadêmicas do curso de Pedagogia na Casa
necessário. A prova disso são as imagens da Cultura da cidade foi outro grande
que apresentamos na exposição, captadas objetivo alcançado por este subprojeto.
por crianças de 3 a 6 anos de idade. Ao promover momentos culturais em
A fotografia é a arte ou processo de que todos possam participar, colocando
reproduzir imagens e no campo das artes cada vez mais a comunidade educativa em
está relacionada com a imaginação tanto de contato com a arte, a cultura, a educação
quem registra como de quem a aprecia e não das crianças pequenas, este subprojeto
tem só a ver com o que aparece na imagem. reconhece e valoriza a profissão professor, a
O momento, o contexto e as ideias de quem formação docente, o potencial das crianças,
fotografou fazem parte, embora nem sempre bem como a arte, porta de entrada para a
possam ser registrados. E o que foi vivido formação estética e sensível.
UM NOVO OLHAR,
UMA NOVA ESCOLA:
salas ambientes
na Educação Infantil
Maria Fernanda d´Ávila Coelho
Coordenadora de Área

Ivana Feller
Professora Supervisora

O PIBID Pedagogia/Educação Infantil possibilitou a reflexão sobre a organização


dos espaços e o aprimoramento das rotinas e das práticas educativas, reflexão esta
evidenciada nas propostas que priorizam a qualidade do atendimento à primeira infância
em todo mundo.
Diante do contexto do Centro de Educação Infantil Norma Neves Tabatipa no
município de Itajaí, o conhecimento de novas possibilidades de espaços de qualidade na
Educação Infantil e o que esta organização contribui para o desenvolvimento das crianças
pequenas mobilizaram a equipe educativa deste CEI a repensar seu espaço e práticas.
Arce (2002) menciona que Froebel e Montessori (1965) já priorizavam a ideia
de organização do espaço no contexto da educação da criança. A organização do espaço
integra, com excelência, as suas metodologias de ensino, afirmando que tal organização
deve respeitar as necessidades infantis.
A discussão sobre como organizar nossa escola mais interessante às crianças
possibilitou o grupo do PIBID pensar em espaços que permitam: a exploração de todos os
ambientes; a realização de atividades de leitura, pintura, construção, música, teatro, faz de
conta, artesanato, movimento de forma autônoma e criativa.
Salas foram organizadas para cada atividade com materiais ao alcance das crianças,
oferecidos de maneira a estimular sua criatividade e aprendizagem, pois conforme a
77
autora Maria da Graça: “Essa qualificação e movimentos amplos, que se
do espaço físico é o que o transforma em envolvam em explorações e
ambiente” (HORN, 2004, p. 28). brincadeiras, além do uso das
Com base nas propostas pedagógicas tecnologias.
de qualidade para a Educação Infantil, ficou • Ateliê de Artes, onde há
claro para a equipe educativa do CEI que a uma variedade de materiais
organização da nossa unidade escolar em ao alcance das crianças, em
salas ambientes, onde todos deixariam de ter prateleiras baixas, organizados
uma sala e passariam a ter uma grande escola, em pequenos potes: tintas,
foi decisiva para iniciar a transformação dos argila, diferentes tipos de papéis
espaços e das pessoas envolvidas. e pincéis, papelão, materiais para
UMA NOVA ESCOLA instrumentos sonoros, tecidos,
Traçar o perfil das crianças, suas materiais para confecção de
necessidades, preferências e interesses, e cenários e figurinos, esqueleto
montar a planta baixa das salas e ambientes humano, globo terrestre, entre
externos foram ações importantes para a outros, oferecendo oportunidade
compreensão e a composição desta nova para o desenvolvimento artístico
escola. Quatro salas foram planejadas: da criança e contribuindo para
construção de sua experiência
• Multimídia e Movimento,
sensorial e estética.
onde as crianças têm acesso à
tecnologia através de tablets e data • Mundo da Imaginação,
show, fornecidos pela Secretaria organizado com sugestões e
Municipal de Educação de interesses das crianças pequenas,
Itajaí. Este ambiente constitui de diferentes cantos, como
em um espaço que possibilita às casinha, pista de carrinhos, salão
crianças fazerem deslocamentos de beleza, jogos de tabuleiro,
jogos de encaixe, fantasias, Na área externa também aconteceram
quebra-cabeça, dispostos ao transformações significativas: o refeitório
alcance das crianças. Estes foi transformado para o espaço: Sabores e
promovem autonomia para Saberes, organizado para melhor atender as
que as crianças possam crianças em sua alimentação. Com oito mesas
compreender a brincadeira de quatro lugares decoradas com toalhas e
como atividade fundamental porta-guardanapos, com um quadro branco
e criam condições para que grande na parede, onde as crianças escrevem
elas brinquem diariamente. Os diariamente o cardápio do dia, servem-se no
cantos não são definitivos, será buffet com independência, comem com garfo
realizada a substituição assim e faca, escolhem com quem desejam sentar,
que os professores perceberem a interagem diariamente com outros grupos de
necessidade das crianças. forma saudável e autônoma. O espaço onde as
refeições acontecem constitui um importante
• Conhecimento e Literatura,
elemento na relação de aprendizagem das
com um acervo variado de
crianças, portanto, a importância de refletir,
livros infantis, fornecidos
planejá-lo e aperfeiçoá-lo.
pela Secretaria da Educação.
Montamos um espaço repleto UM NOVO OLHAR PARA O QUE
de livros, lápis, canetões, JÁ SABÍAMOS
folhas, cartolinas, ao alcance O tempo de espera para as crianças
das crianças, em um ambiente pequenas é diferente do adulto, por isso é
aconchegante, acolhedor e importante ter espaços intermediários onde
estimulante. elas possam brincar, ampliar possibilidades
79
de interações variadas, que sejam espaços Um cronograma foi elaborado para que
e tempos de transição organizados para cada turma permaneça uma hora diária em
atender essa necessidades das crianças com cada ambiente, respeitando ao máximo o
jogos, amarelinha e tecidos coloridos onde ritmo de cada faixa etária.
aguardam brincando um novo tempo da
Todas as rotinas estão incluídas
rotina iniciar.
nestes momentos: entrada, saída,
Nessa perspectiva, o parque também alimentação e parque, a fim de respeitar
foi reorganizado: no lugar do pó de brita foi elementos importantes para uma proposta
colocada grama sintética, escalada no muro, de qualidade na Educação Infantil, que é a
jardim suspenso feito com a participação
organização do tempo e do espaço e toda
das crianças e dos familiares e um quadro
a distribuição das atividades ao longo da
branco de azulejos para pintura com guache
jornada diária, ressaltando a importância
ao ar livre.
do planejamento.
Garantir momentos às crianças
pequenas em que possam se movimentar Cada turma desenvolve o projeto
com autonomia e explorar cada espaço e que está estudando nas salas ambiente e
seus materiais com criatividade por meio todos os procedimentos estão interligados
da brincadeira passou a ser prioridade em e devidamente planejados pelos professores
nosso Centro de Educação Infantil. Quando para a sua execução dentro desta nova rotina.
a criança brinca, ela descobre e significa PALAVRAS FINAIS PARA ESTE
o mundo, ela experimenta novos papéis TEMPO DE MUDANÇAS
sociais, sensações, coopera, cria, imagina e
Para melhor atender as crianças,
se expressa.
ficou claro para a equipe de professores,
Como afirma Kishimoto (2010, p.1): agentes e bolsistas do PIBID que não existe
O brincar é uma atividade principal neste espaço educativo mais uma sala para
do dia a dia. É importante porque cada grupo e sim uma grande escola a ser
dá o poder à criança para tomar
explorada por todos. Montessori afirma que:
decisões, expressar sentimentos e
valores, conhecer a si, os outros e (...) deve ser a existência
o mundo, repetir ações prazerosas, de uma escola que permita
partilhar brincadeiras com o outro, o desenvolvimento das
expressar sua individualidade e manifestações espontâneas e da
identidade, explorar o mundo dos personalidade da criança (...) de
objetos, das pessoas, da natureza crianças observadas e estudadas
e da cultura para compreendê- em suas livres manifestações
lo, usar o corpo, os sentidos, os (1965, p. 25).
movimentos, as várias linguagens Podemos afirmar que a organização
para experimentar situações que dos ambientes internos e externos funciona
lhe chamam a atenção, solucionar quando a equipe da instituição educativa
problemas e criar. se propõe a qualificar suas práticas
A NOVA ROTINA pedagógicas e se compromete a ter a
Os grupos passam por todos os criança pequena como protagonista de seu
espaços internos e externos diariamente. projeto educativo.
80
Vimos a parceria da escola com o Referências
PIBID acontecer em cada espaço que foi ARCE, Alessandra. Friedrich Froebel:
transformado, a convivência em ambientes o pedagogo dos jardins de infância.
ricos, afetivos e desafiadores, tendo como Petrópolis, Vozes, 2002.
base espaços e rotinas, organizados e
_____. Ministério da Educação.
pensadas a serviço da criança, pois “se
Parâmetros Nacionais de Qualidade
sujeito tem condições ótimas de ação
para Educação Infantil. Brasília, MEC/
devido as suas experiências anteriores
Secretaria da Educação Básica, 2006.
significativas e o meio positivamente
desafiador, a qualidade da interação cresce BECKER, Fernando. A origem do
e será função de um desenvolvimento pensamento e a aprendizagem escolar.
cognitivo ótimo” (BECKER, 2003, p.36). Porto Alegre: Artmed, 2003.
Com este projeto, abre-se a HORN, Maria da Graça de Souza. Sabores,
possibilidade de outras escolas priorizarem cores, sons, aromas: A organização dos
a discussão e a reorganização de seus espaços na educação infantil. Porto Alegre:
espaços, por acreditar claramente que a Artmed, 2004.
criança é protagonista e tem potencial, KISHIMOTO, Tizuko Morchida.
portanto, precisa de espaços mais bem Brinquedos e brincadeiras na educação
planejados para o seu desenvolvimento infantil. Anais do I Seminário Nacional:
saudável. Currículo em Movimento – Perspectivas
Contudo, um novo olhar para a Atuais. Belo Horizonte, nov. 2010.
escola de todos os dias é direcionado, tendo Disponível em: http://cenpec.org.br/
as salas ambientes como uma possibilidade biblioteca/educacao/artigos-academicos-
certa para o desenvolvimento do potencial epapers/brinquedos-e-brincadeiras-na-
criativo das crianças pequenas. educacao-infantil.
MONTESSORI, M. Pedagogia Científica.
São Paulo: Flamboyant, 1965.
CAIXA DE ARTE
PARA CRIANÇA
Maria Fernanda d´Ávila Coelho
Coordenadora de Área

Márcia Gervásio d´Ávila


Arte Educadora, Artista Plástica
e Professora do curso de Artes Visuais UNIVALI

Após reflexão intensa no PIBID


Pedagogia/Educação Infantil sobre as
práticas de arte desenvolvidas nos Centros
de Educação Infantil, criar um material
que propusesse mais do que um suporte
para aulas isoladas de arte, pensamos
num recurso para propor às crianças, às
licenciandas e aos professores um meio de
conviver de forma mais próxima com arte,
tendo a oportunidade de apreciar, tocar,
conhecer, brincar, tornando a arte plástica
mais presente nas rotinas do CEI.
Este material foi elaborado por meio
de experiências e estudos com e sobre as
artes em diferentes escolas na partilha de
conhecimentos, falas, expressões criativas
e sensíveis a este fazer humano, tendo
como protagonistas adultos e crianças
da Educação Infantil, que a partir desta
experiência tiveram a oportunidade de
desenvolver seu potencial criativo.
É neste movimento que Duarte
Junior (2000) ressalta que a educação para
o saber sensível se torna fundamental para
82
formação humana, sendo as linguagens 2010 em seu Art. 9º sobre as práticas
artísticas uma possibilidade para o seu pedagógicas que compõem as propostas
desenvolvimento estético. curriculares da Educação Infantil no que
O material tem como objetivo se refere à garantia de terem como eixos
ampliar o acervo de obras de arte da norteadores as interações e a brincadeira,
escola para assim possibilitar as crianças, por meio de experiências que promovam o
licenciandas, professores e comunidade conhecimento de si e do mundo e por meio
escolar a aproximação, a apreciação, a da ampliação de experiências sensoriais,
expressivas, corporais que possibilitem
educação estética e o conhecimento sobre
movimentação ampla, expressão da
as Artes Plásticas.
individualidade e respeito pelos ritmos e
Ciente de que este é um pequeno desejos da criança; favoreçam a imersão
recorte da história da arte mundial, esta das crianças nas diferentes linguagens e
caixa apresenta reproduções de 25 obras o progressivo domínio por elas de vários
importantes deste cenário artístico- gêneros e formas de expressão.
cultural, apresentando obras e artistas de
Vale ressaltar que a expressão da
diferentes países, incluindo brasileiros,
individualidade e o respeito pelos ritmos
catarinenses e itajaienses, que, ao incluí-los,
e desejos da criança são importantes para
valorizamos expoentes das artes plásticas
que ela realize um percurso criativo, se
produzida na nossa região e do mundo. encante, explore, formalize e compreenda
Nesta caixa, estão incluídas, ainda, 25 cada momento a que ela tem direito, sem
fichas catalográficas, trazendo referências pressões, modelos, porém com orientação
das obras, curiosidades dos artistas e uma e planejamento pedagógicos adequados. E
possibilidade de brincadeira para que os ao final de cada atividade artística deverá
professores realizem com as crianças, bem falar sobre o que vê e conhece para agregar
como orientações e outras referências elementos ao seu fazer.
para novas pesquisas em arte na Educação
A preocupação excessiva, vivida
Infantil.
nas escolas, com o produto final, que
Para utilizar a CAIXA DE ARTE inclui o acabamento feito pelo professor
PARA CRIANÇA é importante ressaltar o dos “trabalhinhos” das crianças, inibe
que preconizam as Diretrizes Curriculares o reconhecimento do potencial de cada
Nacionais para Educação Infantil, criança, principalmente a criança pequena
83
que precisa experimentar, no sentido devem ser realizadas com frequência e
puro da palavra, diferentes materiais, sua continuidade planejada dentro de uma
meios, instrumentos e suportes, diferentes proposta de evolução das experimentações,
possibilidade de produzir e de acabar seu das produções de trabalhos com perspectiva
próprio trabalho. Ostetto (2011) destaca da probabilidade de conhecimento. Assim,
que declarar a criança capaz, potente, a escola responderá por uma didática
competente, traz para a prática pedagógica para as suas experiências com as artes e,
da Educação Infantil consequências várias, acima de tudo, com um instrumento de
entre as quais o desafio de construir e acompanhamento da evolução do potencial
efetivar propostas que formem criadores e de conhecimento e de expressão das suas
não repetidores/consumidores, garantindo crianças.
a qualidade de uma escola viva. Vivenciar uma mesma proposta
Enfim, ao vivenciar boas experiências mais de uma vez garante às crianças a
de expressão plástica, como sinalizam as possibilidade de aprofundar as pesquisas
DCNEI em ação (2015), com mediação pessoais e desenvolver seu jeito de expressar
adequada do adulto, as crianças terão cada experiência com aprofundamento e
oportunidade de experimentar diferentes complexidade. O hábito do “já fizemos, não
materiais e descobrirem como funcionam, vou repetir” recorre num erro, o de perder
quais suas propriedades e que efeitos a possibilidade de o professor encaminhar a
produzem. Quando se fala em mediação atividade para o aprofundamento da técnica
adequada do adulto, estamos falando ou de uma temática, por exemplo.
da coerência das atividades artísticas, Apresentar às crianças as obras da
atividades com começo meio e fim, que CAIXA DE ARTE PARA CRIANÇA
respondam a este fazer diferenciado da vida várias vezes e de diferentes formas, em
humana. diferentes atividades, até mesmo na
A convivência sistemática e brincadeira de casinha, é fundamental para
qualificada não somente da criança, que criem no mínimo familiaridade com as
mas também do adulto, com as artes imagens, além de atividades que envolvam
possibilitará a formação de um olhar sequência de ações didáticas estruturadas,
estético e, consequentemente, de um planejadas pela professora, projetos,
mundo mais saudável. E para que esse ateliês, oficinas, por exemplo, que integrem
desenvolvimento do potencial criativo das diferentes linguagens, semanalmente, em
crianças ocorra, as atividades propostas que a criança é estimulada a exercitar sua
84
autonomia, sua escolha, sua criatividade. DUARTE JÚNIOR, João Francisco.
A elaboração cuidadosa deste O SENTIDO DOS SENTIDOS:
material por parte das autoras sugere uma A EDUCAÇÃO (DO) SENSÍVEL.
reflexão maior das propostas pedagógicas Universidade Estadual de Campinas.
para Educação Infantil, bem como o papel Faculdade de Educação, 2000.
da arte em suas rotinas diárias com as OSTETTO, L. E. EDUCAÇÃO
crianças pequenas, ao compreender que INFANTIL E ARTE: SENTIDOS E
o processo criativo infantil é construído PRÁTICAS POSSÍVEIS. Cadernos de
por meio da brincadeira nas mais diversas Formação da UNIVESP. São Paulo:
interações, tendo um professor competente Cultura Acadêmica. 2011. (p.27-39)
como referência à frente destas práticas
criativas. Viva a arte!
Referências
BRASIL, Ministério da Educação e do
Desporto. Fundo das Nações Unidas para
Infância – UNICEF. DIRETRIZES EM
AÇÃO: QUALIDADE NO DIA A DIA DA
EDDUCAÇÃO INFANTIL. São Paulo:
Ed. Instituto Avisa Lá, 20015.
______. Ministério da Educação. Secretaria
de Educação Básica. DIRETRIZES
CURRICULARES NACIONAIS PARA
A EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasília:
MEC, SEB, 2010.
DIFERENTES CULTURAS:
NOVOS SABORES E SABERES
Maria Fernanda d´Ávila Coelho
Coordenadora de Área

Katíucia Borba
Professora Supervisora

Por todos os cantos do mundo o tema alimentação saudável é mais que um objetivo,
é projeto de vida. Portanto, discutir sobre a boa alimentação é papel da escola, espaço
privilegiado para promover a saúde e incentivar bons hábitos alimentares às crianças.
As escolhas alimentares corretas na infância influenciam, entre outros
aspectos, a manutenção de um peso corporal saudável. São os primeiros
anos de vida uma fase de rápido desenvolvimento, também, um momento
crítico para a formação dos hábitos alimentares. (SAVAGE; FISCHER;
BIRCH, 2007).
Diante do desafio de promover estes
hábitos alimentares saudáveis às crianças
do Centro de Educação Infantil Norma
Neves Tabalipa, no município de Itajaí,
o grupo de bolsistas do PIBID, junto à
equipe do CEI, participou da elaboração
do projeto “Diferentes Culturas: Novos
Sabores e Saberes”, trazendo sugestões de
atividades e ações a serem desenvolvidas
com as crianças, ao contemplar todos os
espaços do CEI: as salas do conhecimento e
literatura, o mundo da imaginação, o ateliê
de artes, a multimídia e movimento e o
espaço sabores e saberes.
O CEI, por ser um espaço social,
deve estar aberto à diversidade, dando
oportunidade para que as crianças conheçam

86
outras culturas e percebam a importância conversamos sobre alguns pratos típicos
de respeitar as diferenças, sendo agentes do italianos que não são saudáveis, confecção
seu processo de aprendizagem, produzindo da decoração do Espaço Sabores e Saberes
cultura e conhecimento. do Centro de Educação Infantil para o dia
Dessa forma, unir os dois temas, da degustação, confecção de vestimentas
Cultura e Alimentação, para desenvolver italianas e degustação do prato típico.
um projeto lúdico e educativo que Confeccionar as roupas típicas italianas
despertasse a curiosidade nas crianças ao com base nas pesquisas contribuiu para a
propor uma reflexão acerca dos hábitos ampliação do conhecimento. Recortamos e
humanos, reconhecer sua individualidade, colamos tecido nas cores verde, vermelho
além de promover pesquisas sobre as e branco, que são as cores da bandeira da
diferentes culturas com foco na sua Itália, fazendo assim saias e aventais para
alimentação de forma interdisciplinar, foi as meninas; gravatas e aventais para os
uma escolha refletida. meninos, junto com um bigode pintado no
rosto e também um chapéu de cheff italiano
As reuniões de planejamento do
com papel e tecido.
PIBID foram fundamentais para as tomadas
de decisões e iniciar o projeto conhecendo O Espaço Sabores e Saberes
a cultura italiana que está muito presente foi decorado com bandeiras da Itália.
no estado de Santa Catarina, sendo Ajudamos as crianças a colocarem as roupas
que temos diversas regiões que foram confeccionadas e o encantamento delas era
colonizadas pelos italianos que preservam visível em seus olhares, não viam a hora de
com muito orgulho suas tradições, estarem todas vestidas tipicamente para
envolveu professores, bolsistas e crianças poder desfilar seus trajes pela escola. Esse
nesta primeira ação. Neste projeto foram momento se tornou rico e significativo para
desenvolvidas diversas ações, como: estudos elas, pois foi a hora de socializar e trocar
e pesquisas sobre a Itália, suas tradições ideias sobre tudo que aprenderam.
e costumes, pontos turísticos, danças, Da mesma forma como o tema
esportes, comidas típicas, rodas de conversa Itália, buscamos inicialmente pesquisar e
sobre os dados pesquisados, importância aprofundar nossos conhecimentos sobre a
de uma alimentação saudável, também cultura japonesa. Esse foi o maior desafio,
87
pois muito pouco conhecíamos sobre Novamente, com o auxílio das
essa cultura, apesar de apreciarmos a sua bolsistas, decoramos o espaço recreativo do
culinária. Assim, a pesquisa foi igualmente CEI ao ponto de fazer a criança embarcar
importante para nós, tanto quanto para para o universo oriental, indo ao típico
as crianças. O prato escolhido para restaurante japonês com o mobiliário
apreciarmos dessa vez foi o sushi, pelo fato adaptado para essa ocasião.
de a nossa cidade ser reconhecida como Ao longo desse dia, nós, professoras,
cidade pesqueira, porém não temos sushi e as bolsistas percebemos o quanto as
em nosso cardápio, apenas peixe ensopado crianças apreciaram a variedade de frutas
ou refogado. Essa foi uma das dificuldades que temos à nossa disposição, vimos que
encontradas na realização dessa parte elas sabem da importância desses alimentos
do projeto. Então foi preciso adaptar o para a nossa vida e ainda buscam incentivar
processo de realização dos trabalhos. aqueles colegas que não gostam muito das
Durante o projeto vimos que o cardápio frutas, explicando inclusive o motivo pelo
japonês conta com uma variedade de frutas qual devemos nos cercar ricamente de
e sucos, foi quando surgiu a ideia de mudar frutas e verduras.
o sushi para um sushi de frutas, pensando Assim, é possível concordar com
também na riqueza desses alimentos. a fala de Almeida (2004): “A alimentação
Começamos os preparativos para deve nutrir a saúde, preservando o bem
o dia do sushi: confeccionamos faixas de estar físico, mental e social”.
tecido com símbolos japoneses desenhados No decorrer do projeto, percebemos
para as crianças usarem na cabeça. Com os que as crianças se atentavam a tudo
palitos de churrasco confeccionamos o hashi que conversamos, questionando os seus
para comer o sushi. Passamos uma fita para próprios hábitos alimentares e percebendo a
juntar os mesmos, para as crianças terem importância de se ter uma boa alimentação,
mais facilidade em manusear o utensílio. elas buscaram abrir o paladar para outras
88
culturas, sempre pensando em alimentos Sendo assim, vimos que a parceira
leves e saudáveis. entre o Centro de Educação Infantil
A curiosidade das crianças foi Norma Neves Tabalipa e o Programa
aumentando a cada etapa dos projetos, pois Institucional de Bolsa de Iniciação
a cada dia surgiam novos questionamentos à Docência vem alcançando os seus
e descobertas, experiências que mostraram objetivos, pois além de incentivar e
como pequenas coisas para nós, como valorizar o magistério, possibilita que os
adultos e professores, são grandes professores tenham um olhar mais atento
aprendizados para as crianças. às necessidades das crianças, realizando
um trabalho diferenciado, ao proporcionar
Investigamos e descobrimos
experiências significativas para ambas as
histórias e curiosidades dos países
partes, pois as bolsistas se apropriaram
trabalhados, ampliando as possibilidades
de novas práticas e as crianças adquiriram
de comunicação e expressão a partir da
novos conhecimentos e ampliaram o seu
troca social, ouvindo e participando de
conhecimentos sobre outras culturas.
diálogos, em que as crianças aprenderam a
valorizar o patrimônio cultural de outros Referências
grupos sociais. FUNDO Nacional de Desenvolvimento
A partir desse projeto, vendo que da Educação – FNDE. PNAE: Alimentação
os seus resultados foram significativos, Escolar. Disponível em: <http://www.
penso em dar continuidade ao trabalho, fnde.gov.br/programas/alimentacao-
buscando conhecer mais povos e países, e escolar-acoes-educativas>. Acesso em:
principalmente estudar muito a cultura do 03/08/2015.
povo brasileiro, pois antes de qualquer coisa, SAVAGE, J.S.; FISHER, J.G.; BIRCH, L.L.
precisamos valorizar as nossas tradições. Parental Influence on eating behavior:
Depois do projeto percebemos que conception to adolescence. Journal Law
as crianças buscam inserir as frutas na Med Ethics. v.35, n. 1, 2007
sua alimentação, sendo que nos pedem por SC. Prefeitura Municipal de Itajaí.
mais frutas além daquilo que está sendo Secretaria Municipal de Educação.
oferecido no horário de alimentação do Departamento da Educação Infantil.
Centro de Educação Infantil. Também DIRETRIZES MUNICIPAIS PARA A
abriram o seu paladar para saborear outros EDUCAÇÃO INFANTIL. Itajaí. 2014.
tipos de saladas e comidas, como purê,
carne ensopada, etc.
Sabemos que o mundo em que
vivemos é imensamente rico de diferentes
culturas e cabe a nós, professores, ampliar
o conhecimento de mundo das nossas
crianças, tornando-os agentes do processo,
desenvolvendo a criticidade e autonomia,
interagindo, respeitando e aceitando o
outro, em suas diferenças e particularidades.
89
ARTE COM ARGILA:
a exploração de um novo
material como conteúdo
da Educação Infantil
Maria Fernanda d´Ávila Coelho
Coordenadora de Área

Silvia Azevedo
Professora Supervisora

Anny Karoline Nering Gonçalves Goetten


Bruna Furlanetto Leonardo
Manuele Heloise Schrull
Licenciadas
Na infância, as crianças devem ter o
direito de experimentar, para conhecer a si
mesmas e o mundo a sua volta. No PIBID
Pedagogia/Educação Infantil foi planejado
um momento de experimentação intensa, com
a intenção de garantir às crianças de quatro e
cinco anos do Jardim II A no CEI Dra. Zilda
Arns Neumann, no bairro Cidade Nova em
Itajaí, o direito e a oportunidade de sentir,
saborear, brincar, manusear, expressar por
meio da exploração de diferentes materiais.
O material escolhido foi a argila,
após uma longa exploração do tema
folclore, quando as crianças puderam ouvir
diversas histórias, brincar com as lendas
e seus personagens. Nesse momento a
professora apresentou o material.
A maioria das crianças não conhecia
a argila. Curiosas, pegaram-na nas mãos
90
com surpresa, ao perceber que era possível cuidar se estavam ou não sujando a roupa,
manusear e manipular como se fosse o rosto, o cabelo.
a massa de modelar que todos os dias Na livre manipulação houve
brincam na sala. Mas aos poucos, com a interesse total em sentir, cheirar, amassar,
maior exploração, foram percebendo as molhar, mas quando a professora sugeriu
diferenças dos dois materiais, identificando que cada criança escolhesse um personagem
semelhanças e diferenças. do folclore para confeccionar com a argila,
Osteto (2014) ressalta que o processo as crianças apresentaram resistência, visto
de iniciação artística na infância é construído que a exploração da argila era o mais
pelo lúdico, numa dinâmica em que a intuição importante naquele momento para a turma
se apresenta no fazer infantil como ponto de do que produzir uma forma. A primeira
partida para a construção do conhecimento experiência com argila é um grande desafio
em arte. Quando as crianças receberam a para crianças desta idade.
argila e a água, podendo manipular a argila

A exploração diversificada de
e molhá-la na água da forma que quisessem, materiais na Educação Infantil é, ou
surgiram outras formas de explorar deveria ser, um grande conteúdo, mas
esse material, conhecer e sentir toda a ainda está implícito na literatura sobre
plasticidade, cor, textura e temperatura. desenvolvimento infantil e é fundamental
Vale ressaltar que as crianças para a conquista de novas aprendizagens
permitiram sujar-se. Em outras atividades, e, portanto, promotor de desenvolvimento.
como as com tinta, eles demonstravam Coelho (2009) afirma que a prática
uma maior preocupação e cuidados para pedagógica com crianças pequenas
permanecerem limpas, mas a intensa necessita ser reorganizada, visando atender
exploração conduzida pela professora melhor as necessidades e potencialidades
permitiu a livre expressão; e a manipulação das crianças. Contudo, sendo a exploração
da argila era o mais importante do que um conteúdo, este norteia a prática
91
pedagógica nesta faixa etária e possibilita Mais do que grandes eventos de arte
à professora agir com intencionalidade ao na escola, esta atividade nos fez refletir
elaborar seu planejamento e ao promover sobre a importância de a arte estar presente
essa nova experiência. em nossas rotinas diárias com as crianças
A manipulação da argila foi vivida e isso pressupõe acolher e garantir a
com prazer pelas crianças que naquele presença significativa da arte nas propostas
momento se envolveram com intensidade, pedagógicas e ultrapassar o ensino de arte,
experimentando de todas as formas esse tradicionalmente concebido como atividade
novo material. isolada e pontual, amarrada em prescrições
didáticas do fazer (OSTETO, 2014).
Com as bolsistas do PIBIB alcançamos
os objetivos de conhecer o trabalho com a Contudo, temos um desafio, repensar
argila como possibilidade de expressão, bem nossas propostas e rever nossa rotina
como incentivar as crianças no momento com as crianças no espaço da Educação
de experimentar, manipular o material e Infantil, cuja arte é fundamental para o
participar da organização dos recursos. desenvolvimento integral das crianças
pequenas.
Ao vivenciar estes momentos de
aprendizagem com as crianças, ressaltamos Referências
que: COLETO, D. C.. A importância da arte
A arte é importante na vida da para a formação da criança. Revista
criança, pois colabora para o seu conteúdo, Capivari v.1, n.3, Jan/Jul. 2010
desenvolvimento expressivo, - ISSN 1807 – 9539.
para a construção de sua poética COELHO, M. F. A.. O Acompanhamento
pessoal e para o desenvolvimento
da Aprendizagem na Educação Infantil:
de sua criatividade, tornando-a
UNIVALI, Dissertação de Mestrado, 2009.
um indivíduo mais sensível e que
vê o mundo com outros olhos. OSTETO, L. Linguagens expressivas e
(COLETO, 2009, p.138). modos de relação com o mundo: sentidos
O momento da manipulação da da arte na educação infantil. II Simpósico
argila foi importante, todos que estavam luso-brasileiro de estudos da criança.
participando se envolveram, professoras e UFRGS, 2014.
licenciandas, o que incentivou os pequenos
a conhecer e explorar este novo material.
Foi possível perceber que cada uma tem seu
tempo e seu modo de fazer, de sentir, de
pensar; e respeitar seu ritmo foi essencial
para avançarem neste processo. Ao colocar-
se próximo e acessível às crianças com o
objetivo de mediar esse novo processo, as
licenciandas observaram e interagiram
quando necessário, permitindo que todos
sentissem segurança para viver essa
experiência e aprender.
92
PAREDE SONORA MUSICAL
Maike Souza
Regiane A. da S. Castelo Branco
Alberto Renan Mendes
Flávia Bossoni Dionisio
Licenciandos

Márcia Beatriz Nascimento


Professora Supervisora

Maria Luiza Feres do Amaral


Coordenadora de Área

No primeiro semestre do ano letivo de 2015, foi formado um novo grupo para
atuar no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência junto com a Professora
Márcia Beatriz Nascimento, no C.E.I. Anninha Linhares de Miranda, localizado no bairro
São Vicente, com uma turma de 20 alunos de dois anos de idade.
A interação, o envolvimento no trabalho e o aprendizado pedagógico são experiências
enriquecedoras e valorosas, pois permitem aos acadêmicos “viver” a escola, ao fazer parte
da construção do conhecimento musical das crianças, adquirindo experiências na docência
e nas atividades que são realizadas no CEI.
Iniciamos o projeto com o tema Cantigas de Roda, que tem como finalidade vivenciar
a forma musical e também despertar o interesse pelo folclore infantil, sendo assim, temos
como subtema: “Promovendo a imersão
sonora e sensorial da criança no mundo da
música”. Desta forma, buscamos alcançar
os objetivos que são: “Vivenciar a cultura
infantil brasileira”, a partir das “cantigas
de roda”’, explorar as possibilidades
expressivas do próprio corpo através do
movimento e desenvolver esteticamente a
percepção dos conceitos sonoros desde a
primeira infância.
Em relação aos conteúdos, adotamos
a percepção auditiva, que permitirá
93
estimular a memória auditiva da criança,
a percepção espacial, as quais permitem
distinguir o local de origem do som, as
expressões corporais, fazendo com que as
cantigas de roda façam com que as crianças
possam vivenciar movimentos e explorar
gestos sonoros acompanhando a música.
Os conceitos musicais trabalhados
foram timbre, duração, intensidade e ritmo
musical, que auxiliam na descoberta dos
elementos musicais, das propriedades
do som através do corpo e movimento,
intensidade (forte, fraco), timbres (animais,
instrumentos, voz). Executamos neste
processo a criação das canções de entrada
e saída e a construção de uma parede
sonora, que foi construída com matérias
do cotidiano, como panela, colher, latas,
garrafas pet, etc. Desta forma, as canções
de roda, a improvisação junto à parede
sonora e a expressão corporal puderam ser
desenvolvidas.
Por fim, também observamos que
as crianças desenvolvem habilidades de
acordo com a sua capacidade, como, por
exemplo, a atenção de cada uma para
ouvir, a curiosidade em relação aos novos
conteúdos, brincadeiras e instrumentos,
que naturalmente se desenvolvem no fazer
musical junto à parede sonora, imitando
os gestos dos educadores com palmas, se
apropriando de uma expressão musical,
tanto corporal, como por meio da voz e
com os diversos materiais sonoros, assim
como a simples participação nas atividades
propostas. É um grande desafio para alguns
e, com certeza, vemos progresso no aspecto
da socialização. Desta forma, podemos
contribuir com a formação de ouvintes
e críticos diante da escuta musical, seres
humanos completos e mais sensíveis diante
do mundo que os cercam.
94
DÓ, RÉ, MI(nha) canção
quem FA(z) SO(u)L eu:
Compondo com Jogos Musicais
Gislene Gómez
Maria Luiza Feres do Amaral

Brincadeiras, parlendas, jogos infantis e muita música!


Essa foi a atmosfera dos trabalhos realizados neste semestre pelos acadêmicos do
curso de Licenciatura em Música, da Universidade do Vale do Itajaí, por meio do PIBID,
junto aos alunos do Jardim II do CEI Rosete Palmeira Silva.
Seguindo o principal objetivo de inserir a música nas escolas de educação infantil, as
ações foram desenvolvidas de forma que os conteúdos musicais pudessem ser entendidos como
um processo contínuo de construção do saber, envolvendo os alunos em atividades musicais
voltadas para o perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e se divertir com a música.

95
De acordo com a Profª. Liza
Amaral, coordenadora do PIBID em
música, o programa tem como foco a
educação musical para todos, com objetivos
socializadores e didáticos, desenvolvendo
os sentidos de forma a contribuir para a da audição, seja por meio das canções, dos
formação integral dos envolvidos. Nesse ritmos, do caminhar no pulso, da execução
sentido, as propostas de trabalho partiram de instrumentos ou da criação musical.
dos princípios envolvendo a relação da Eixo B - Prática musical no que se
teoria e da prática, entendendo a música refere ao experimentar, o sentir, o tocar,
como um fato social e, por isso, bastante o escutar, como parte das atividades
marcante na vida e na cultura das pessoas nos instrumentos musicais promovendo
diretamente ou indiretamente envolvidas a curiosidade para uma formação
com esse processo. integral. Atividades de execução são,
Assim as práticas musicais buscaram segundo Hentschke (2003, p.180), as que
trabalhar a descoberta das fontes sonoras, “proporcionam um envolvimento direto
jogos de improvisação, sonorização de com a música”.
histórias, construção de instrumentos com Eixo C - Brincadeiras, no que
materiais alternativos, atividades vocais e se refere a jogos musicais, trabalhando
corporais, além de um rico repertório de as propriedades do som e fazendo do
brincadeiras, canções e parlendas. As ações exercício um momento lúdico, em que se
previstas seguiram o percurso do projeto aprende brincando. A ludicidade facilita
música na educação infantil, o qual está o processo de ensino e aprendizagem,
dividido em 4 eixos formadores: estabelecendo um vínculo firme e eficaz na
Eixo A - Apreciação no que se apresentação dos temas musicais. Dentre
refere a interagir e entender o ambiente elas a sonorização de histórias, explorando
sonoro, aguçando nas crianças o sentido a voz e o corpo na imitação de timbres de
animais, efeitos sonoros, sons da natureza e
outros objetos para ilustrar sonoramente a
narrativa.
Eixo D - Construção de materiais
didáticos para as aulas de música, integrando
as atividades musicais e a construção destes
materiais com as atividades da escola, a
fim de integrar as aulas de música com as
demais atividades dos CEI, perfazendo um
fazer artístico mais completo.
Pautado nestes quatro eixos e
seguindo a temática “Jogos Didáticos
Musicais”, os pibidianos abusaram da
criatividade e confeccionaram diversos
96
imaginário e ao som de virtuosas guitarras
e muita pintura no rosto reproduziram a
performance da banda Kiss, se caracterizando
de acordo com o seu figurino.
Direto do palco para o Jogo da
jogos a partir de materiais descartáveis, de “Amarelinha Rítmica”, ludicamente as
construção e também de papelaria. crianças experienciaram a prática de
Assim, garrafas pets foram agregar a rítmica, a melodia composta no
transformadas no jogo “Compondo com jogo do “Boliche Musical”, finalizando o
o Boliche musical”!. Os alunos puderam semestre com apresentação da Prática de
se divertir jogando boliche, conhecendo a Conjunto da canção criada por ela mesmas!
notação musical e compondo uma melodia Ao final, a experiência se mostrou
com as “notas” derrubadas a cada garrafa. gratificante para os pequenos compositores.
Já as folhas de papel A3, fita bebê preta e Por meio dos jogos, as crianças tiveram
círculos coloridos em EVA, foram usados na contato com diversos conteúdos da
confecção da pauta elaborada por cada aluno. Educação Musical, aprendendo de forma
Já as garrafas de vidro foram lúdica e descontraída. Para os acadêmicos,
utilizadas como estratégia para aguçar a prática docente vivenciada por meio
a percepção de Altura. Passando pelos do PIBID teve um significado ímpar
sons Grave, Médio e Agudo, os alunos neste semestre, haja vista a criatividade
aproveitaram para curtir a dança das necessária para a confecção dos jogos.
cadeiras, sentando, caminhando e erguendo Conferir um processo de ensino
os braços a cada som. Assim, descobriram e aprendizagem apoiado por materiais e
os sons contínuos e fragmentados, jogos lúdicos elaborados pelos licenciandos
experimentando instrumentos artesanais trouxe a certeza de que o ensino da
como a flauta confeccionada de minigarrafas música e o processo cognitivo inerente
e o trompete de PVA. a ele se faz muito mais prazeroso quando
O jogo de tabuleiro “Gêneros o docente se permite pensar neste ensino
Musicais” desafiou as crianças a sob o encantado universo infantil,
reconhecerem os diferentes instrumentos implementando práticas musicais e ações
musicais de cada gênero e as culturas que pedagógicas que contemplem a ludicidade
os envolve. Os alunos extrapolaram o senso e a percepção estética na educação musical.
JOGOS E BRINCADEIRAS
MUSICAIS:
uma experiência
na Educação Infantil
Ricardo Rocha Passos
Professor Supervisor

Maria Luiza Feres do Amaral


Coordenadora de Área

Atualmente, entende-se que a educação musical, principalmente no universo da


Educação Infantil, é uma forma de comunicação e expressão baseada em diferentes eixos
norteadores, tais como: apreciação, improvisação, composição e interpretação. Porém,
é importantíssimo que o educador tenha consciência que a organização dos conteúdos
musicais deverá, acima de tudo, respeitar o nível de percepção das crianças e suas
respectivas fases de desenvolvimento. Neste contexto, ao integrar a música na educação
infantil, o professor deverá assumir uma postura de interação entre essas linguagens,
refletindo sempre sobre suas posturas e métodos utilizados.
De acordo com alguns pesquisadores, as crianças iniciam seu envolvimento com
o universo sonoro antes mesmo do nascimento, uma vez que os bebês já convivem com
um ambiente de sons provocados pelo corpo da mãe. O batimento cardíaco, a respiração
e a própria voz da mãe são exemplos disso. Após o nascimento esse contato se intensifica
cada vez mais, pois o processo de musicalização dos bebês começa espontaneamente, de
forma intuitiva, através da interação permanente com o ambiente sonoro que os envolve,
além dos estímulos proporcionados pelos pais e professores. “Quando oferecemos música
e um ambiente sonoro em diferentes situações, permitimos que bebês e crianças iniciem,
intuitivamente, seu processo de musicalização” (EFDEPORTES, 2015).
Os licenciandos do PIBID em Música da UNIVALI estabeleceram como tema para
suas intervenções os “jogos e brincadeiras musicais”. Foram acompanhados por mim, como
professor supervisor e pela coordenadora
de área. Partiu-se do pressuposto que a
brincadeira faz parte do mundo das crianças
e que o conteúdo musical, desta forma,
consegue ser transmitido de forma simples
e com eficácia.
As intervenções ocorrem
semanalmente no Grupo Escolar
Guilhermina Büchele Muller, localizada em
Itajaí, no bairro Fazenda, com um grupo
de 25 alunos entre 04 e 05 anos no período
Jogo “Dado da Diversidade”. Fonte: Professor
vespertino. Até o presente momento foram
Supervisor.
realizadas 04 intervenções, sendo que para
cada intervenção foi confeccionado um jogo crianças, alguns alunos apresentaram
didático. O grupo optou por desenvolver certa resistência para participar das
jogos que trabalhassem os seguintes brincadeiras individualmente, mas que
conteúdos musicais: propriedades do som, quando solicitado para executar o ritmo
compasso binário, paisagem sonora e música simultaneamente com os outros colegas,
afro-brasileira. Percebeu-se durante essa participaram efetivamente da aula.
etapa a importância do planejamento, pois As intervenções do mês de setembro
nele são estabelecidos as diretrizes e os ocorreram nos dias 14 e 21 e mantiveram
meios de realização do trabalho docente, a mesma divisão de duplas para cada
com a função de orientar a prática e trazer intervenção. Para atingir os objetivos
segurança para os bolsistas. Portanto, após propostos, utilizamos os jogos musicais
um trabalho de pesquisa bibliográfica sobre “Forte ou Fraco” e “Dado da diversidade”.
jogos e brincadeiras e sua utilização na Nessas intervenções ensinamos também
Educação Infantil, foram criados os seguintes 03 canções de capoeira “Paranauê”, “Zum
jogos: Memória de Animais; Boliche Sonoro; Zum Zum” e “Marinheiro Só”. Vimos a
Forte ou Fraco; Dado da Diversidade; Caixa importância de se avaliar o andamento da
Sonora e Bingo dos Sons. aprendizagem de todas as crianças. Segundo
Durante o mês de agosto Machado (2015), “A avaliação na educação
realizamos 02 intervenções juntos às infantil é um procedimento de fundamental
crianças, sendo que cada intervenção foi importância, pois permite identificar as
ministrada por 02 bolsistas, utilizando os conquistas alcançadas pela criança”.
jogos “Memória de Animais” e “Boliche Avaliamos durante as atividades
Sonoro”. Foram trabalhados os conteúdos a execução rítmica dos alunos, sendo que
musicais timbre, altura e duração, além nove alunos executaram corretamente o
da cultura afro-brasileira com a execução ritmo; onze alunos executaram com alguma
do ritmo da capoeira nos instrumentos variação (acrescentando ou tirando notas);
de percussão (atabaque, agogô, pandeiro, e houve os alunos que faltaram (quatro
reco-reco, caxixi e berimbau). Observamos alunos); como pode ser visualizado no
que neste primeiro contato com as gráfico a seguir:
99
infantil. Disponível em: <http://www.
efdeportes.com/efd169/a-musica-na-
educacao-infantil.htm>. Acesso em: 10
setembro 2015.
FRANCISCO, W. C. A importância do
plano de aula. Disponível em: <http://
educador.brasilescola.com/estrategias-
Os bolsistas tiveram vários
ensino/a-importancia-plano-aula.htm>.
resultados positivos com a prática docente
Acesso em: 17 setembro 2015.
em sala de aula, pois alguns deles não
possuíam experiência na docência e com as FREIRE, S. e GAMA, E. Falar em público
intervenções acabaram desenvolvendo de com estilo. Disponível em: <http://
modo satisfatório suas capacidades didáticas dynabrasil.galeon.com/productos1809975.
de explicarem as atividades para as crianças, html>. Acesso em: 06 outubro 2015.
e suas capacidades de oratória e linguagem MACHADO, S. A importância da
corporal adequada em público, como passo avaliação na educação infantil. Disponível
fundamental para o início da docência. em: <http://naondadanovaeducacao.
Segundo Freire e Gama (2015), “A utilização blogspot.com.br/2008/10/importncia-da-
correta e adequada do tom de voz, colocação avaliao-na-educao.html>. Acesso em: 06
das palavras e do amparo de gestos seria uma outubro 2015.
força fundamental em qualquer profissional,
especialmente, para o professor”.
O PIBID proporciona aos acadêmicos
de licenciatura em música uma oportunidade
de pôr em ação a prática docente durante o
curso. Quanto antes os alunos se engajarem
na prática docente, mais experiência e
facilidade terão para os desafios da carreira
de professor de música. Compreendo que
o mais importante para os acadêmicos
bolsistas do PIBID neste processo de
confecção e execução dos jogos musicais está
na reflexão pós-prática, pois é justamente
nesse momento que eles refletem como
foi seu desempenho e sua postura como
professores, além de analisarem sobre quais
elementos dos jogos executados precisam
ser modificados, a fim de contemplar
efetivamente os objetivos propostos.
Referências
EFDEPORTES. A importância da Execução do ritmo da Capoeira nos Instrumentos
utilização da música na educação de Percussão. Fonte: Professor Supervisor.
100
A HISTÓRIA
DO BOI DE MAMÃO:
uma experiência musical
com a cultura local
na Educação Infantil
Diego Cardoso
Lilian Lucindo
Juliete Reis
Gisele Santos Tonon
Vagner André Titon
Licenciandos

Cristiane Coppi Schaefer


Professora Supervisora
Cristiane Müller
Coordenadora de área

Em março de 2015 este grupo de cinco bolsistas aceitou o desafio de realizar mais
um projeto. E lá fomos nós para o Centro Educacional Cordeiros, sob a supervisão da Prof.ª
Cristiane Schaefer, inovar ações no PIBID. Logo no início nossa supervisora apresentou
sua turma formada por 25 alunos do Pré I e II. Aí surgiu o primeiro grande desafio: a faixa
etária das crianças. Nenhum de nós tinha experiências com crianças tão pequenas. Muitos
questionamentos foram feitos para a Prof.ª Cristiane, com o objetivo de conhecer o grupo
de crianças e assim realizar um bom trabalho.
Contextualizados com a realidade da turma, estabelecemos alguns conteúdos
para nortear nosso planejamento: timbre e instrumentos musicais foram escolhidos por
unanimidade, mas também as demais propriedades do som que são base para qualquer

101
iniciação em música. Quanto às estratégias
também não houve dúvida, pois nessa fase
de desenvolvimento, é brincando que se
aprende e explora-se o mundo, por isso,
através de jogos, auxiliaríamos nossos
pequenos aprendizes a explorar o “mundo
sonoro” ao seu redor.
Colocando tudo isso diante do tema
já escolhido para o ano – Boi de Mamão agregados ao conto, principalmente pela
– e acrescentando temas transversais figura da musicoterapeuta, que substituiu
propostos pela escola para perpassar toda a figura do doutor e da benzedeira,
a prática em sala, vimo-nos diante de um presentes na história original do folguedo,
quebra-cabeça a ser devidamente montado, e também através da sonorização das
sem contar que deveríamos realizar tudo cenas. A percepção dos demais conteúdos
isso em apenas trinta minutos de aula musicais também acontecia através da
por semana! Diante dessa realidade não contação da história, como, por exemplo,
era possível imaginar o enorme êxito que um personagem que tinha a voz bem
alcançaríamos ao final do semestre. grave e outro a voz bem aguda, ou então a
Para aproximar as crianças da Bernunça, que tinha uma risada bem forte
cultura local, criamos uma versão infantil e a Bernuncinha bem fraca. E tudo isso
do folclore com a “História do Boizinho contado através de fantoches e bonecos
Mamão”, a qual foi contada em capítulos ao num cenário próprio que a escola dispunha.
longo das aulas. Junto ao enredo estavam A sequência didática era sempre a
questões ambientais como desmatamento, mesma: os alunos chegavam e eram acolhidos
poluição e dengue, tanto que, em nossa pela canção inicial ‘Olá amiguinhos’ e se
história, o Boizinho Mamão ficava doente sentavam no tapete defronte ao cenário
e desmaiava por ter sido picado pelo já preparado. Nos primeiros 15 minutos
mosquito da dengue. Também foram apreciavam a contação de uma parte da
agregadas algumas canções típicas do Boi história e, em seguida, um dos bolsistas
de Mamão e outras canções infantis, com conduzia uma atividade relativa ao conteúdo
as letras adaptadas para auxiliarem na apresentado no capítulo do dia. No dia do
contação da história. último capítulo da história, realizou-se a
Os conteúdos musicais foram festa do Boi de Mamão e os bonecos pequenos
se transformaram em “personagens reais”
interpretados pelos bolsistas, junto com um
grande boi de pano, e as crianças puderam
brincar com os bonecos, cantar as canções
em roda e comer pipoca.
Nas últimas intervenções houve
uma preparação para uma apresentação
final para a escola, em que a história foi
102
recontada tendo a participação dos alunos efetivo de nossos alunos que, de forma
cantando as canções e interagindo com os lúdica e prazerosa, formaram as primeiras
personagens. Também foi possível realizar bases que interferirão em sua experiência
a produção de um DVD, que contou musical ao longo de suas vidas. De forma
com a parceria da TV UNIVALI e cuja simples, divertida e transdisciplinar, unindo
apresentação final foi gravada junto com as música, teatro, literatura e artes visuais,
crianças. Para isso, foi necessária a gravação construímos um aprendizado consistente
das canções, realizada no estúdio de uma e consciente, afinal, todo bom professor de
das integrantes do grupo, Lilian Lucindo, e música sabe que ensina mais que música,
o trabalho voluntário de seu esposo. pois contribui para a formação integral de
Mas, sem dúvida, o melhor resultado um ser humano.
não foi só o DVD, mas o aprendizado

103
BRINCANDO DE BOI
DE MAMÃO
Elisa Cordeiro
Carlos Cória
Josias Pimentel
Edgar Gomes de Souza
Licenciandos

Denise Rech
Professora Supervisora
A ideia do projeto que deu vida a aprendizagem acontecesse de forma
ao Boi de Mamão na Escola Professor significativa.
Martinho Gervási, localizada no Bairro Nosso objetivo geral foi conceituar
Brilhante II na cidade de Itajaí, surgiu e aplicar elementos básicos que permeiam
numa reunião do grupo do PIBID do o fazer musical, tomando como preceito
Subprojeto de Música com a coordenadora a cultura local do Boi de Mamão.
do grupo e suas professoras supervisoras. Como objetivos específicos, sentimos a
O tema foi sugerido por entendermos que necessidade de que cada criança pudesse
o folclore local é pouco trabalhado nas interagir com os colegas e professores
escolas e o mesmo pode abrir uma gama por meio da história do Boi de Mamão;
de possibilidades artísticas na sala de aula, participar da apresentação da história
juntamente com atividades que permeiam adaptada e suas cantigas; familiarizar-se
a brincadeira, considerando a idade das com os personagens do folguedo por meio
crianças entre 02 e 03 anos. de fantoches; identificar instrumentos
Utilizando personagens do Boi e suas da bandinha rítmica, manipulando
canções, aplicamos a contação da história e explorando seus sons. Alguns dos
dividida em capítulos, sempre despertando conteúdos aplicados foram conceituais,
a curiosidade do grupo para o próximo procedimentais e atitudinais.
encontro. Consideramos importante levar O grupo de bolsistas entendeu que
a cultura regional ao conhecimento das a rotina seria parte importante para o bom
crianças de forma leve e curiosa para que andamento das aulas e do semestre devido à
105
idade dos pequeninos. Foi realizada a versão os bolsistas distribuíam instrumentos para
da canção “Pablo” (Milton Nascimento), todos poderem tocar e tentar acompanhar o
para fazer apresentação do grupo pelo nome ritmo das canções do folguedo.
sempre no início de cada oficina. Algumas Utilizamos instrumentos musicais
crianças que ainda não tinham a oralidade da bandinha para que as crianças passassem
desenvolvida precisavam da ajuda dos seus pela experiência de sentir, tocar, conhecer
colegas para dizer seu nome. seus nomes e sons. Os instrumentos foram,
Sobre a história do Boi de Mamão: a saber: triângulo; reco-reco; pandeiro;
ganzá; tambor e flauta. Como metodologia,
Como é uma história que tem como
iniciamos apresentando somente três
tema a morte e a ressureição do Boi, houve
instrumentos, mostrando seus sons,
receio de as crianças se assustarem; sendo
formas e nomes. Até o final do semestre
assim, adaptamos a história do Boi para
foram apresentados os seis instrumentos
simular um desmaio, considerando a idade
e as crianças conseguiam identificar todos.
das crianças. A história foi dividida em
Depois dessa parte mais técnica, as crianças
quatro capítulos. No início de cada oficina tinham a oportunidade de manipular e
as crianças ajudavam a recontar a parte da brincar com esses instrumentos.
história que eles já conheciam e os bolsistas
A avaliação foi feita de forma
questionavam o grupo, perguntando: “- O
constante, por meio do registro nos
que será que vai acontecer agora?”. Na parte
relatórios dos bolsistas, considerando o
da história em que o personagem Mateus
desenvolvimento da coordenação motora
sai para brincar com o Boi pela rua, ele vai
e rítmica, atenção, aceitação do grupo de
encontrando e convidando seus amigos para
bolsistas e dos personagens do Boi de Mamão
um passeio. As crianças trouxeram seus
e outras considerações de habilidades
bichos de pelúcia e esses foram os amigos
musicais no decorrer das oficinas.
do Boi de Mamão que brincaram até ele
desmaiar de cansado. Quando o Boi cai no
chão, todos ficam muito tristes. Os bolsistas
sugerem cantar uma canção, mas sem êxito,
e então uma das crianças sugere dar um
remédio. Um objeto que lembra um frasco
de remédio é dado ao Boi, que volta a dançar.
Neste semestre foram trabalhadas
três cantigas: Cantiga do Boi, Cantiga da
Bernunça e Chamada do Povo. Elas foram
um ponto forte das nossas oficinas. Sempre
depois de trabalhado um capítulo da história,
era trabalhada uma canção. As crianças
conseguiram memorizar muito bem. Os
bolsistas cantavam as canções uma primeira
vez, pedindo atenção do grupo, e depois
pediam a colaboração das crianças para
ajudar. Quando a música estava memorizada,
106
PIBID FUNDAMENTOS DA
ARTE – PEDAGOGIA

Memória e imagens: uma


proposta na formação estética
do futuro professor
Cleber Luiz Cuchi
Professor Supervisor

André Marcos Vieira Soutal


Coordenador de Área

Com tantas escolhas e caminhos profissionais possíveis, o que leva uma pessoa a
escolher a educação ou a arte educação? Por que fazer um curso superior em Pedagogia?
Com tantos outros cursos mais práticos, talvez mais eficazes, como Agronomia, Nutrição,
para resolver as questões de fome no Brasil; talvez Engenharia, Economia, para resolver
questões de moradia nesse país, tendo em vista os descasos e a inoperância do estado; um
curso de Direito, para alinhar a justiça; ou de Medicina, para restabelecer os doentes e
propor sobrevivência mais digna.
É comum ouvir dizer que a Arte é encantadora, muito linda, também estranha, mas
desnecessária, já que uma pintura de natureza morta repleta de frutas e legumes não sacia
a fome de alguém, ou uma escultura de figura humana de braços abertos feita em mármore
pode ser interessante, mas jamais lhe dará um abraço ou irá lhe alcançar uma ferramenta,
pois é apenas pedra fria refletida em figura contemplativa.
Ou, ainda, que ouvir música clássica em alguns momentos pode ser cansativo e o bom
são aquelas canções que se pode dançar. Ou que show do Pink Floyd é muita gritaria, uma
107
Na verdade, não é preciso ser um
artista renomado para construir castelos
de areia, ou um crítico de cinema para
gostar ou detestar um filme; muito
menos uma Débora Kokker para arriscar
alguns passos de dança. Tudo isso pode
nos remeter a um enorme prazer e para
peça do Bertold Brecht não dá para entender, alcançá-lo precisamos ter quem os crie para
outros dizem que arte é muito cara e que o desfrutarmos, da mesma forma que, para
bom mesmo é investir em algo que se possa termos os alimentos, inevitavelmente deve
usar, como um par de botas bem bonito (como existir quem os produza.
poderia confirmar uma professora marcante Compreendemos que a Arte não
dos meus tempos de faculdade). sacia a fome, mas permeia o espírito,
Este discurso não intenciona criar já que o que distingue o ser humano
reflexão sobre a importância da arte dos outros animais da evolução é sua
baseada em grandes filósofos ou sociólogos capacidade única e intrínseca de criar e
ou em artistas geniais, mas enfatizamos transcender. Historicamente o que retirou
que a cultura é a semente da essência de o homem da pura animalidade ostensiva
um povo. Nas nossas memórias estão essas e o catapultou no espaço da humanidade,
falas meio que distorcidas pelo tempo de um criando grandes civilizações, foram a Arte
discurso maravilhoso de uma professora de e a Espiritualidade, que foram transmitidas
quando ainda éramos universitários. Mas através do processo evolutivo.
perguntamos, como sugeria ela, quem em
Destacamos que o fato de nossos
algum momento da vida, antes de sair de
Pibidianos terem optado pelo mundo do
casa, não deu uma passada, por mais rápida
que seja, em frente ao espelho para corrigir magistério só os torna mais especiais,
algum desalinho imaginário que não se porque é por meio dos professores e
enquadrava no padrão de beleza? da arte de mediar o processo de ensino
e aprendizagem que as crianças e os
Quem em algum momento não
adolescentes poderão construir o elo
parou diante de um objeto, seja ele um
da sensibilidade, buscando no potencial
abajur ou um quadro de Portinari, ou de
criativo e humano a possibilidade de
um automóvel de última geração? Quem
transformá-los em grandes profissionais,
não riu ou chorou copiosamente diante de
que presenteará a humanidade com
um filme? Quem nunca rabiscou um pedaço
de papel enquanto estava ao telefone? médicos sensíveis, advogados justos,
Quem nunca representou um personagem administradores capazes, jornalistas éticos.
qualquer para brincar com o filho, ironizou É exatamente nestes pequeninos,
ou até mesmo assustou o irmão ou uma mas importantes detalhes, que suscita o
pessoa qualquer? Quem nunca dançou PROJETO IMAGENS E MEMÓRIAS, no
sozinho na frente do espelho? Quem nunca Centro Educacional Municipal Presidente
comprou algo sem utilidade, pelo simples Médici, organizado pelos licenciandos do
fato de ter gostado daquele objeto? PIBID UNIVALI, subprojeto de Pedagogia,
108
com foco nas Artes. O objetivo é despertar diversas, mas em síntese foi que: A educação
nesses futuros profissionais da educação de qualidade é capaz de mudar positivamente
uma formação estética capaz de ampliar as pessoas e o cenário educacional.
significativamente a observação sobre as O estudo para a elaboração do
ações e possibilitar aos acadêmicos vieses projeto começou após debates e análises
carregados de sutilezas, que os façam perceber da coordenação de área. Verificamos a
por meio da criança o ser sensível que necessita importância de transformar as atividades
desenvolver sua sensibilidade por intermédio em propostas encantadoras, dando aos
das múltiplas linguagens, artísticas e estéticas, alunos do Centro Educacional Municipal
para a formação plena do ser. Presidente Médici e aos licenciandos
Deste modo, os futuros pedagogos bolsistas do PIBID a possibilidade
– por meio das atividades desenvolvidas de vivenciar as atividades, buscando
no programa PIBID UNIVALI – passam estabelecer um processo de análise crítica
a tomar ciência do papel magnânimo e de imagens, composição, formação histórica
insubstituível que executa o profissional e social. Conhecimento sobre a própria
da educação, dando ênfase à performance imagem e imagem do grupo, por meio de
e às práticas pedagógicas que buscam vídeos, fotografias, jogos teatrais, objetos,
a mediação de afeto e sensibilidade na desenhos e histórias. Tudo se transformava
construção do saber. em aventura mágica de descoberta, tanto
Por meio dos encontros e das para nós professores e futuros professores,
atividades do Projeto Imagens e Memórias, quanto para os alunos.
buscamos construir junto aos licenciandos a Os pequenos recortes das vivências
essência necessária para transmitir a paixão se transformam em significativos detalhes
que temos pela profissão de Arte Educador. No quando viraram um SCRAP BOOK, porque
primeiro semestre do projeto, questionamos foram sendo revisitados periodicamente
os licenciandos: Por que escolheram a por meio da montagem do álbum da turma,
Pedagogia? E o que esperavam do projeto que foi o “Produto Final” das vivências e
que iríamos realizar? As respostas foram que possibilitou produtivas reflexões sobre
o processo ensino aprendizagem.
Ao iniciar o segundo semestre,
selecionamos, dentro do projeto, algumas
atividades sobre esse tema IMAGENS
E MEMÓRIAS as quais deveriam ser
aprofundadas. Decidimos focar nas imagens
e nos movimentos dos elementos visuais
que compõem o contexto, usando como
recursos filmagens, fotografias, alusão ao
cinema e à televisão, os quais estão sendo
adaptados com técnicas de KROMA KAY.
Com muita criatividade, adaptamos
as atividades que foram executadas à
109
realidade da Unidade de Ensino e do poderei colher como pedagoga.
público-alvo. Também passamos por (Trechos de relatórios) Gisele
momentos reflexivos que aguçaram o Ribeiro França, 2015.
movimento criativo do grupo, tendo Gosto de observar, analisar
e verificar como podemos ter
como eixo condutor as IMAGENS E
tantas opções com atividades
MEMÓRIAS, atreladas à alegria de
artísticas dentro do processo
interpretar um professor inventivo. Esse ensino aprendizagem e assim vou
período prático da formação pedagógica me construindo e desconstruindo
passa a ser um capital cultural relevante em busca da futura educadora
que fez o grupo crescer como ser humano que serei. (Trechos de relatórios)
e futuro profissional da área da educação. Jéssica Rodrigues França, 2015.
O trabalho realizado até o presente Quando trabalhamos o desenho
em nossas atividades no ambiente
momento está sendo transformado em
escolar, a alfabetização e o
LIVRO de imagens e relatos, no qual
letramento estão presentes neste
poderemos encontrar a jornada cultural de processo. [...] A mediação dos
2015, abrilhantada por alunos pibidianos e conteúdos a serem feitas pelo
comunidade escolar, os quais poderão ter o professor com os alunos, está
material produzido em mãos, desfrutando sendo vivenciada e praticada
das memórias produzidas por intermédio durante as atividades. Nesta
de imagens. minha caminhada como pibidiano,
é notável todo meu crescimento
Observar as práticas pedagógicas
profissional no espaço escolar.
dos educadores e como são distintas as
Fazer parte do PIBID é fazer parte
práticas podem afetar positivamente o de um crescimento continuo e de
sistema educacional, pois dá liberdade aos qualidade. (Trechos de relatórios)
discentes sobre os conteúdos, deixando que Joares Santos, 2015.
criem e recriem suas atividades acerca dos Muitos conseguem nos fazer sorrir,
conhecimentos que devem ensinar e, nessa outros tendem à dramaticidade,
prática, o lúdico deve estar presente para [...] e o que entendemos é que
tornar a mediação do conhecimento, linha estamos cercados de inteligências,
tênue de aventuras curiosas, misteriosas e e de pessoas pequeninas que vivem
empolgantes. num mundo sem fronteiras. A
metodologia usada transcreve
Citações & Conexões Pibidianas: sensorialmente a força do convívio
O professor Cléber fez uma em família, traçados pelos
pergunta à turma. O que é registros que naturalmente são
importante para uma criança ser guardados de forma sensível e que
feliz? E de repente com convicção ao ser ativados ou relembrados,
uma criança de seis anos responde, movem-se em energia, alegria,
“a fé, porque a fé nos dá o poder de espanto pela conexão que fazem,
alcançar todas as coisas”. Outras transbordando-se em paixão.
respostas como carinho, amor (Trechos de relatórios) Rosane
e respeito, me levam a refletir Corrêa. 2015.
sobre que semente plantar e o que
110
RECRIANDO CLÁSSICOS
LITERÁRIOS:
Será que o lobo
era mesmo mau?
Janine Nunes Rosar
Licencianda

Rosane Maria de Godoy


Coordenadora de Área

“E eles viveram felizes para sempre...”. Esse é o final clássico da maioria dos contos
infantis e é por ele que esperamos cada vez que ouvimos ou lemos essas histórias. Mas e
se essa história tivesse um final diferente?
Este é um dos objetivos do projeto “Resgate e releitura dos Clássicos da Literatura
Infantil”, desenvolvido no Centro de Educação Infantil Algodão Doce, localizado em
Biguaçu, SC, pelo PIBID Ed. Infantil.
O projeto foi desenvolvido a partir de fevereiro de 2015, tendo como grupo
foco crianças de 4 a 5 anos de idade e possui como eixos norteadores as relações
interpessoais de crianças de 4 a 5 anos e o
envolvimento com o meio, o envolvimento
e a corresponsabilização das famílias, o
papel dos educadores na integração entre
cuidar e educar e funções específicas no
atendimento a crianças de 4 a 5 anos.
Ao nos depararmos com a crescente
necessidade de explicações nesta faixa
etária, buscamos desenvolver um
projeto que partisse das reflexões e dos

111
questionamentos feitos no dia a dia do CEI Criança 3: “O lobo era fortão e daí
por meio da prática de contação de história ele assoprava forte e daí caía e eles fugiam
já desenvolvida pela professora da turma, bem rapidão”.
tendo como objetivo aprimorar estes contos A busca dos porquinhos por
clássicos por meio de releituras e reflexões. independência, o tempo para brincar e
Iniciamos o trabalho com o conto “Os para construir, as diferentes formas e
três Porquinhos”. Partindo do clássico, temos: modos de construir as casas, a proteção
Três porquinhos irmãos foram contra o lobo, a força do lobo, as táticas
morar numa floresta. E para se utilizadas tanto para derrubar quanto para
proteger dos lobos decidiram se proteger, foram algumas conclusões a
construir suas casas. O mais novinho que as crianças chegaram.
só queria brincar, fez rapidinho uma Mas afinal, “Será que o lobo era
casinha de palha e saiu a passear.
mesmo mau”?
O do meio gostava de tocar flauta.
Então, fez uma casinha de madeira Será que o lobo poderia estar gripado
e saiu para tocar. O mais velho, e as casas poderiam voar por conta do seu
prevenido, gastou todo o seu tempo espirro? O lobo poderia estar com fome,
fazendo uma linda casa de tijolos. não necessariamente de porquinhos, mas de
À noite o lobo resolveu atacar. E comida? O lobo poderia estar com frio e por
num só sopro, derrubou a casinha isso queria um abrigo junto aos porquinhos?
de palha. O porquinho correu para
Os contos infantis, com suas luzes
a casa de madeira do irmão, mas o
puras e suaves, fazem nascer e crescer
lobo derrubou esta também. Os dois
os primeiros pensamentos, os primeiros
porquinhos foram à casa do irmão
mais velho e ficaram quietinhos impulsos do coração (IRMÃOS GRIMM apud
esperando. O lobo chegou e soprou, DARNTON, 1986) e estes são necessários no
soprou, soprou, mas não conseguiu desenvolvimento das crianças. Ao incluirmos
derrubar a casa. O lobo tentou entrar a reflexão para além do que a história mostra,
pela chaminé da lareira, mas os possibilitamos que as crianças tenham
porquinhos prevenidos acenderam diferentes perspectivas e olhares a respeito
ali uma fogueira. Quando o lobo do que leem, formando, consequentemente,
chegou perto, chamuscou o rabo seu senso crítico e reflexivo.
no fogo e saiu correndo feito louco
Tendo em vista que o programa
e nunca mais voltou. (CONTOS
PIBID visa inserir os licenciandos no
CLÁSSICOS, 2002).
cotidiano de instituições da rede pública
Ao partirmos desta história, as
de educação, proporcionando-lhes
crianças, com o auxílio das pibidianas,
oportunidades de criação e participação em
refletiram alguns temas principais:
experiências metodológicas, tecnológicas
Criança 1: “Mas a casa da mamãe era e práticas docentes de caráter inovador e
quentinha”. interdisciplinar que busquem a superação
Criança 2: “Os porquinhos queriam de problemas identificados no processo
ficar sozinhos e pegaram o que era mais de aprendizagem, buscamos trabalhar
melhor pra eles”. partindo do pressuposto que:
112
Uma vez que as crianças conhecem diferentes propostas a partir de um mesmo
e sentem o mundo pela brincadeira conto, apresentando a história por meio da
e que nestas, seus corpos estão contação entonada da história, da reflexão
inteiros, plenos, imersos nas suas e das consequentes desdobramentos a
experiências poéticas, e em outras
partir dela.
que estão por vir; como é possível
separar seus corpos de suas Com o conto “Os três Porquinhos”
mentes? Como é possível dizer- trabalhamos a apresentação com casas
lhes – como diz Loris Malaguzzi constituídas de diferentes materiais,
(apud EDWARDS et al., 1999) refletimos a respeito do papel social dos
– que elas devem pensar sem as porquinhos e também do lobo e trabalhamos
mãos, fazer sem a cabeça, escutar na diferenciação do tipo de material
sem falar e compreender sem utilizado em cada construção, realizando
alegrias, como querem os adultos?
um pequeno passeio aos arredores do
(PRADO; SOUZA, 2011, p.1).
CEIM para verificar os materiais utilizados
Por este motivo, durante o primeiro
e por fim realizamos uma dramatização
e segundo semestre de 2015, realizamos
protagonizada pelas próprias crianças, com
o auxílio das licenciandas.
As vivências possibilitadas pelo
PIBID ampliaram assim as condições
dos futuros professores em desempenhar
com competência e sensibilidade o
trabalho docente.
Referências
CONTOS CLÁSSICOS. Os três
porquinhos. Erechim: Edelbra, 2002. (n. 7).
DARNTON, R. O grande massacre de
gatos e outros episódios da história
cultural francesa. Rio de Janeiro: Graal,
1986.
PRADO, Patrícia D. et al. Pesquisa e
Primeira Infância: Linguagens e Culturas
Infantis. Anais do Seminário Internacional
sobre Infâncias e Pós-Colonialismo,
Campinas/SP: FEUNICAMP, v. 1, 2012.
PRADO, Patrícia D.; SOUZA, Cibele W. de.
Dança e teatro na formação de professor@s
da Educação Infantil. III Seminário
Inovações Curriculares: experiências
no Ensino Superior. Campinas/SP:
UNICAMP, dez. 2011.

113
VEM CÁ MEU BOI, VEM
CÁ! - PROPORCIONANDO
VISIBILIDADE DAS PRÁTICAS
CULTURAIS DO MUNICÍPIO
DE SÃO JOSÉ/SC
Karina Greyce Conrat
Professora Supervisora

Rosane Maria de Godoy


Coordenadora de Área

Ao pensarmos no trabalho com


crianças pequenas, de dois a três anos,
do Centro de Educação Infantil São José
no ano de 2015, nos deparamos com a
dificuldade de como ampliar o olhar das
crianças sobre o mundo, proporcionando espaços que promovam seu desenvolvimento
integral sem deixar de atender às especificidades da faixa etária. O Programa de Iniciação
a Docência (PIBID) se configurou numa oportunidade de ampliar tais reflexões acerca da
infância. A partir de ponderações sobre a brincadeira e a exploração de materiais, partimos
do pressuposto de que elas nos indicariam como e qual caminho trilhar. O olhar atento
e os registros são de suma importância para a construção de um projeto. Como afirma
Gandini e Goldhaber (2002, p.152):
Toda essa documentação acaba tornando-se uma fonte indispensável de
materiais de que nos utilizamos diariamente a fim de poder ‘ler’ e refletir
criticamente, de forma individual e coletiva, sobre a experiência que
estamos vivendo e os projetos que estamos explorando.

114
Levando em consideração a compartilhando-as com as crianças, famílias
importância da observação e do registro, e a instituição. Por meio da brincadeira do
iniciamos a construção do projeto, pois boi de mamão foi possível que as crianças
as crianças nos indicaram sobre o que vivenciassem experiências, representadas
gostavam para que assim pudéssemos através das linguagens do movimento, da
proporcionar momentos que ampliassem música e da oralidade. Neste momento as
suas possibilidades de ver e se desenvolver crianças manipularam livros e revistas.
sobre o mundo que os cercam. Foi necessário refletirmos sobre a
Na sala de Educação Física (a exploração dos materiais a serem utilizados
criança) A. encontrou um chocalho na construção dos folguedos e dos
dentro de uma caixa e iniciou instrumentos musicais. Utilizamos o texto
movimentos que proporcionaram de Rosinara Oliveira (2012) “Explorar e
a escuta de um som, D. R. foi até Criar Com Materiais: Práticas Expressivas
a mesma caixa e encontrou um na Educação Infantil”.
pandeiro. Os dois começaram a
tocar os instrumentos juntos! Concordamos com a Proposta
Próximo a casinha havia um pedaço Curricular do Município de São José (2000)
de pano de “chita” que fez lembrar ao considerar que,
da tradição cultural açoriana do [...] a criança precisa considerar
município, comecei a cantar a o espaço da instituição como seu.
música do boi de mamão passando Este precisa ser usado por ela de
o pano por cima das crianças que forma participativa e autônoma,
riam e se movimentavam com a possibilitando-lhe realizar o
brincadeira. D. R. além de tocar exercício da escolha, da decisão,
o pandeiro cantava repetindo as da proposição, da solidariedade,
últimas palavras da estrofe! M. da cooperação, da tolerância,
E. gargalhava e se escondia na da diferença, (de idade, gênero,
casinha quando passava com o raça, etnia, cultura, credos, entre
pano próximo a elas (Registro da outras) (p.159).
Professora Karina, 24/02/15). Exploramos todo o material a ser
Iniciamos então a ação de ampliar utilizado para a confecção dos instrumentos
o repertório cultural das crianças a fim de para cantar e tocar as músicas do boi de
resgatar a cultura local, dando visibilidade mamão. Os materiais como tecido, caixas,
às práticas desenvolvidas pelo grupo, linhas, fitas, grãos de diversos tipos, garrafas,
latas, entre outros, ficaram disponíveis crianças, trazendo elementos no sentido de
para que as crianças manuseassem quando redimensionar o seu fazer com elas.” (p.161)
sentissem vontade de brincar. A liberdade Por meio das observações
de escolha proporcionou às crianças a consecutivas e das propostas vivenciadas
exploração e a resolução de problemas, tais com as crianças pequenas, pudemos
como: o tecido a ser utilizado e os variados evidenciar o desenvolvimento e a evolução
tamanhos necessários para cobrir os objetos da oralidade, da expressão corporal, assim
e o próprio corpo explorando os materiais como o entendimento das crianças com
disponíveis. Os grãos, as latas e as garrafas relação à exploração dos materiais e à
os levaram diretamente para o caminho da construção das aprendizagens.
musicalização e às diferentes possibilidades
Proporcionar momentos de interação
de explorar/sentir a música.
com diálogos é fazer com que as crianças
Para a confecção dos personagens percebam a importância da comunicação.
e dos instrumentos utilizamos a técnica Construindo os personagens do folguedo
da papietagem, que consiste em deixar e instrumentos musicais com as crianças,
superfícies mais duras utilizando camadas efetivou-se a riqueza da construção, pois
de cola e papel. Construímos o Boi de foram protagonistas de suas histórias.
mamão, Bernunça, Cavalinho, Maricota, Todo esse processo de construção da
Urubu, Macaco, Urso, pandeiros, chocalhos, docência, do ser professor foi possibilitado
tambores e uma parede musical utilizada pelas atividades promovidas no âmbito do
para exploração e contação de histórias. PIBID Ed. Infantil de Biguaçu e São José,
Na saída de campo à Olaria Beira- um programa que investiu na qualidade da
mar, localizada no município, as crianças formação do futuro professor.
e as pibidianas tiveram a oportunidade de Referências
conhecer um pouco mais da cultura local. Ao
GANDINI, L.; GOLDHABER, J. Duas
se depararem com personagens do folguedo
reflexões sobre a documentação. In:
produzidos com argila, as crianças ficaram
GANDINI, L.; EDWARDS, C. (Org.).
eufóricas, cantando as músicas e chamando a
Bambini: a abordagem italiana à educação
professora e as licenciandas para mostrar cada
infantil. Porto Alegre: Artmed, 2002.
personagem que avistavam. Após a visitação
à Olaria, fomos até a beira-mar aproveitar BRASIL. Ministério da Educação.
o que a natureza pode nos proporcionar, a Secretaria de Educação Básica. Diretrizes
brisa, a paisagem e o canto dos pássaros! Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil. Secretaria de Educação Básica. –
As crianças brincam e cantam as
Brasília: MEC, SEB, 2010.
músicas do folguedo desfilando orgulhosos
pelo CEI. Desta maneira concordamos com a OLIVEIRA, Rosinara. Explorar e Criar
Proposta Curricular do Município de São José Com Materiais: Práticas Expressivas na
(2000), ao citar que “[...] a avaliação é também Educação Infantil. Porto Alegre, 2012.
um instrumento de reflexão, por meio do qual PROPOSTA CURRICULAR DA REDE
o professor não só pensa sobre o seu trabalho, MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO
mas se inclui como membro do grupo que JOSÉ. Uma primeira síntese. PMSJ/
está sujeito também a avaliação por parte das SME. São José. 2000.
116
PIBID UNIVALI PEDAGOGIA
ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL
Vanderlea Meller
Coordenadora de Área de Gestão

Maria Aparecida Hahn Turnes


Coordenadora de Área

O subprojeto de Licenciatura em Pedagogia tem como foco os Anos Inicias do


Ensino Fundamental e, particularmente, o processo de escolarização das crianças, visando
inserir os futuros pedagogos neste contexto educativo e promover a inter-relação entre
o campo teórico e prático. Isso exige uma organização curricular e do espaço educativo
capaz de reorientar o papel dos professores, da escola e das próprias agências formadoras.
Conforme preconiza o Art. 5° das Diretrizes
Curriculares para o Curso de Graduação em Pedagogia
(2006), o licenciado deverá estar apto a “trabalhar, em espaços
escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de
sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em
diversos níveis e modalidades do processo educativo; além de
reconhecer e respeitar as manifestações e necessidades físicas,
cognitivas, emocionais, afetivas dos educandos nas suas
relações individuais e coletivas”.
Esse subprojeto parte, portanto, do pressuposto de que
alunos dos Anos Iniciais de Ensino Fundamental são crianças,
portanto tomaremos o brincar como referência para o
desenvolvimento das habilidades comunicativas e da formação
estética, abordando questões centrais como a alfabetização
com letramento ( leitura, escrita e matemática), a utilização de
diferentes linguagens, a organização de espaços e tempos que
provam interações e aprendizagens.
117
crianças. A educação do educador
é essencial e, no que diz respeito
à arte, passa necessariamente pelo
reencontro do espaço lúdico dentro
de si, pela redescoberta das suas
linguagens, do seu modo de dizer
e expressar o mundo. (OSTETTO,
2010, p. 72-73).
Alinhado ao projeto institucional,
Pensar hoje nos Anos Iniciais do o subprojeto de Pedagogia entende a
Ensino Fundamental (1º ao 5º ano, dos importância de investir na formação
estética e comunicativa de todos os
seis aos 10 anos de idade) é se reportar
envolvidos no PIBID.
à criança que faz parte desse contexto,
considerar o fato de que ela está vivendo Portanto as ações realizadas
a infância. Segundo Kramer (2007, p. 13) neste subprojeto serão norteadas pela
[...], “a infância é entendida como período aproximação com o cotidiano das
da história de cada um, que se estende, escolas. Desenvolveremos percursos que
na nossa sociedade, do nascimento até possibilitem a compreensão histórica das
aproximadamente dez anos de idade”. relações e das representações instituídas
no interior dos grupos que nos desafiam a
Portanto, ao trabalhar com
pensar em vários questionamentos, entre
crianças dos Anos Iniciais a escola precisa
os quais destacamos:
garantir os direitos de aprendizagem da
alfabetização com letramento, dos conceitos - Como garantir os direitos de
da Matemática, da História, da Geografia, aprendizagem: da alfabetização com
das Artes, das Ciências Naturais. Também letramento, dos conceitos da Matemática, da
precisam ter espaço para a brincadeira, História, da Geografia, das Artes, das Ciências
sejam elas direcionadas pelo adulto ou Naturais, oportunizando a brincadeira e a
aquelas criadas nas interações com outras utilização das diferentes linguagens?
crianças. - Quais são as funções específicas
de uma escola que concebe os alunos dos
Toda proposta pedagógica para
Anos Iniciais do Ensino Fundamental
infância não pode perder de vista o brincar
como crianças e de que forma o papel dos
como uma atividade humana necessária
professores pode favorecer a brincadeira e
à aprendizagem e ao desenvolvimento
a utilização das diferentes linguagens: arte,
da criança, bem como um direito a ser
literatura, movimento?
garantido na escola. Para propor formação
de professores nessa perspectiva é - Como a organização de espaços
necessário entender que: internos e externos da sala de aula e a
construção de materiais favorecem a
O professor precisa estar alimentado
e conectado com a sua expressão, brincadeira com as crianças no ensino
precisa reconquistar o seu poder fundamental?
imaginativo, se pretende e deseja Tendo como norte esses
garantir a expressão e a criação das questionamentos, o plano de trabalho a
118
ser desenvolvido abarcará ações que dizem respeito a três etapas sistematizadas no plano
institucional: estudo e planejamento – espaço para a produção de conhecimento, articulação
de saberes e interlocução entre diferentes atores sociais e, particularmente, aproximação
com a realidade das escolas que receberão o projeto; vivências pedagógicas - contato com
os espaços educativos e por meio de observação sistemática, a licencianda será estimulada
a conhecer e a documentar a realidade da escola parceira do subprojeto; e avaliação -
acompanhamento sistemático e contínuo do processo de desenvolvimento do subprojeto.
Apresentamos a seguir fazeres do PIBID na Educação para a Infância em duas
Escolas Estaduais do município de Biguaçu, SC.
Durante o ano de 2015 foram desenvolvidas atividades de: leitura, escrita, teatro,
produção materiais, artes práticas, literatura, música, teatro, saída de campo, ludicidade,
contato com plantas e terra.
ESCOLA EDUCAÇÃO BÁSICA PROFESSOR JOSÉ BRASILICIO
Professora supervisora – Maria Bernadete Ferreira Hoffmann
Bolsistas de ID: Elizania de Souza da Silva, Gislaine Patricia Martins Moreira,
Jerubia de Souza da Silva, Leticia Evanilde Grape Andrade, Natiele Ilta da Rosa.
Crianças do 4º ano do Ensino Fundamental.

PROJETO
EDUCAÇÃO
AMBIENTAL 2015

Professora supervisora: Suziane Darcilene dos Santos Porto.


Bolsistas de ID: Andreza Tereza Fernandes, Jaqueline Ferreira, Laine Oliveira dos
Santos, Lucia Maria Mendes Martins, Mariana dos S. H. de Oliveira.
Crianças do 1º ano do Ensino Fundamental
Os reformadores empresariais argumentam que Português e Matemática
são o básico para se formar para a cidadania. [...] O problema em limitar-
se ao básico é que o básico, por definição, exclui aquilo que se considera
que não é básico. E isso é uma decisão ideologicamente orientada. As
artes, o corpo, os sentimentos, a afetividade, a criatividade devem ser
desenvolvidas simultaneamente, e não após o básico. As crianças das
119
PROJETO
CONTOS E
ENCANTAMENTOS
- 2015

camadas populares só têm a escola para desenvolver tais habilidades.


Não passam duas vezes pela escola: primeiro para aprender o básico e
depois para expandir o básico. É um engodo, portanto, falar que o básico
vem primeiro. Portanto, o que essa decisão esconde é que ela aceita, na
verdade, que a escola forma cidadãos de segunda categoria (para quem o
básico é suficiente) e cidadãos de primeira categoria (para quem o ciclo
educacional se expande para além do básico). (FREITAS, 2011, p. 80).
ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA PREFEITO AVELINO MULLER
Professora supervisora: Claudinéia Nalzita de Melo Coan
Bolsistas de ID: Elaine Torres Barcelos, Gisele Cristina de Abreu, Paula Daniele Tonial
Aguirre, Pamella Costa Cunha, Renata Pereira Marafigo, Viviane Angelo Florindo.
Crianças do 3ª ano do Ensino Fundamental.

PROJETO
BRINCADEIRAS DE
RUA (1º semestre)

120
[...] tomar a criança como ponto de partida exigiria compreender que, para ela,
conhecer o mundo envolve o afeto, o prazer e o desprazer, a fantasia, o brinquedo
e o movimento, a poesia, as ciências, as artes plásticas e dramáticas, a linguagem, a
música e a matemática. (KUHLMANN JR, 1999, p.62).

HORTA E
JARDINAGEM NA
ESCOLA (2º semestre)

Referências
BRASIL. Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Pedagogia (2006).
FREITAS, Luiz Carlos de. Os reformadores empresariais da Educação: a consolidação do
neotecnicismo no Brasil. In: FONTOURA, Helena Amaral da. Políticas públicas, movimentos
sociais: desafios à Pós-Graduação em Educação em suas múltiplas dimensões. Rio de Janeiro:
Anped Nacional, 2011. p. 72-90 (E-book).
KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino fundamental de nove
anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade/organização Jeanete
Beauchamp, Sandra Denise Rangel, Aricélia Ribeiro do Nascimento – Brasília: Ministério
da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
KUHLMANN Jr., M. Educação infantil e currículo. In: FARIA, A. L.G.; PALHARES,
M.S. (Orgs.). Educação infantil Pós LDB: Rumos e desafios. Campinas, SP: Autores
Associados - FE/ UNICAMP; São Carlos, SP: Editora da UFSCar; Florianópolis, SC:
Editora da UFSC, 1999. p. 51-65 (Coleção Polêmicas do Nosso Tempo; 62).
OSTETTO, L.E. (Org.). Educação infantil: Saberes e fazeres na formação de professores.
Campinas, SP; Papirus, 2010.

121
SUSTENTABILIDADE E
CIDADANIA: uma proposta
pibidiana do curso de Pedagogia
da UNIVALI
Mauro José da Rosa
Coordenador de Área

Aline de Assis Scherer


Professora supervisora

Aparecida Rocio Bueno


Monik Figueiredo Vasques
Licenciadas

A universidade se constitui num


ambiente que exerce papel fundamental
no sentido de promover ações que possam
contribuir para o desenvolvimento social
e provocar efeitos transformadores na
sociedade. O Programa Institucional de
Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) da
UNIVALI, de 2015, Subprojeto Pedagogia,
desenvolve projetos direcionados à Educação
de Jovens e Adultos (EJA), cujos eixos
temáticos articuladores do processo são:
identidade, cidadania, sustentabilidade e
empreendedorismo. A finalidade do Programa
122
é proporcionar aos futuros professores Nesta perspectiva, a proposta
participação em experiências metodológicas, do PIBID, busca promover a inclusão
práticas docentes e projetos de caráter de temáticas específicas do mundo do
inovador e interdisciplinar que busquem trabalho no currículo da EJA , bem
a superação de problemas identificados no como ajustar temáticas de relevância na
processo de ensino-aprendizagem. contemporaneidade, necessárias para que
A realidade do EJA (Educação ocorra a sustentabilidade do planeta, e
Jovens e Adultos) ainda, prepará-los (alunos-trabalhadores)
para as novas competências de inserção
Os alunos da EJA buscam a escola
ocupacional. Isto significa, conforme
para retomar sua trajetória escolar,
postula Viero (2008), levar em consideração
muitas vezes, interrompida e motivada
o saber da experiência do aluno trabalhador
pela demanda crescente de um nível de
e o mundo do trabalho. Portanto, promover
escolaridade cada vez maior para inserção
a qualificação dos professores do EJA,
no mundo do trabalho, na cultura e na
baseada no que nos propõe Fartes e
própria sociedade.
Gonçalves (2009, p. 111):
Há poucas décadas atrás, e de forma
[...] em que o docente vai tecendo
bastante irregular, os jovens e adultos a teia das alternativas cotidianas
começaram a ser inseridos formalmente e vai acumulando uma vivência
na relação de preocupações desse nível da que o marca profundamente
educação, o que trouxe a necessidade de uma como sujeito social [...] pela
reflexão e de se fazer a educação em uma prática de ensino, como espaço de
modalidade que se volta para um público ressonância das tematizações e das
diferente de todos os outros, e diferente argumentações.
não apenas por estar fora do padrão de O trabalho em tela - Sustentabilidade
correspondência entre a idade e a série, e Cidadania - focou na questão de
mas por um conjunto de características, sustentabilidade, haja vista que este eixo
dentre as quais, a de que seus estudantes temático tem por objetivo conscientizar os
são trabalhadores. (ARROYO, 2005 apud educandos acerca de questões ambientalistas
STOCO, 2010). que preocupam a sociedade contemporânea
Assim, para que esse direito seja e se desenvolveu por meio de intervenções
garantido, supõe-se que é preciso considerar intraclasse duas vezes por semana, quando,
a condição de trabalhador desse estudante e por meio de planejamento preestabelecido,
promover uma educação que não se restrinja as licenciandas organizam-se no sentido de
a uma mera compensação do tempo perdido promover ações/discussões sobre os temas
ou à simples certificação ainda não obtida. É propostos nos eixos articuladores do PIBID.
preciso garantir que esses jovens e adultos Seu desenvolvimento ocorreu
trabalhadores estejam inseridos na escola inicialmente com sugestão aos licenciandos
e permaneçam, não simplesmente para para que conhecessem seu ambiente
cumprirem os anos de escolarização que lhes de trabalho, pois conhecer o espaço
faltam, mas para usufruir e compartilhar dos físico é uma estratégia importante que
conhecimentos e bens culturais produzidos proporciona a percepção de mais elementos
socialmente. (STOCO, 2010). para identificação das possibilidades de
123
mudanças e organização deste ambiente, bem desenvolvido em grupo, discutido, planejado,
como de melhoria dos processos educativos. implementado, sempre agrega na formação
O exercício da atividade pibidiana implica do futuro professor e abre possibilidades de
também a observação docente. Desta forma, trabalhos interdisciplinares.
as licenciandas assistiram às aulas do Após o término do trabalho, os
professor. Por meio dessa ação foi possível alunos foram motivados a escrever bilhetes
conhecer, de forma mais contundente, as informativos ou lembretes do dia a dia,
práticas educativas do professor e identificar promovendo assim a prática da escrita e da
as estratégias utilizadas, bem como a
leitura, conforme a figura adiante.
interação entre professor e alunos, conforme
coloca Viero (2008). Este observação Conhecendo-se o fato de que na
contribuiu para uma ação reflexiva e para o Educação de Jovens e Adultos (EJA)
desenvolvimento de projetos. Foi conhecido estamos interagindo com adultos, que
o grupo, que se constituía numa turma de trazem a vivência do seu próprio cotidiano
21 alunos de 5º ano, a maioria senhores para a sala de aula, alguns conteúdos podem
e senhoras com objetivo de concluir os sair do tradicional quadro e caderno para
estudos, tanto para ampliar seu campo de a prática, o que torna o aprendizado mais
conhecimento como para conseguir uma interessante. Neste contexto foi notória a
melhor proposta no mercado de trabalho. descontração dos estudantes ao realizarem
Para abordagem acerca da sustentabilidade as atividades, tornando o aprendizado mais
e da preservação do meio ambiente, as atrativo, prazeroso e facilitando assim a
licenciandas utilizaram-se da construção abordagem do tema proposto.
de um porta-recado confeccionado com Ao confeccionar o porta-recado com
material reciclado, a fim de conscientizar material reciclável, os alunos conheceram
os educandos do EJA da importância a importância de reciclar o lixo e de
do reaproveitamento de determinados reaproveitar determinados materiais,
materiais, tais como papel, que para sua ressaltando a importância da preservação
produção faz-se necessário derrubar árvores. do meio ambiente. Neste momento alguns
Os alunos foram estimulados a debater o alunos se manifestaram dizendo que
tema “sustentar”, que significa conservar, realizavam reciclagem, mas grande parte
proteger. Foram abordados, ainda, temas da turma não realizava.
sobre a preservação da natureza, ressaltando
Após a confecção do porta-recado,
sua extrema importância para manutenção
da vida na Terra. Ações a fim de equilibrar os alunos foram estimulados a escrever
o ecossistema devem ser realizadas nos bilhetes com situações diárias do cotidiano,
diversos setores da sociedade, desde a podendo-se observar assim que alguns
reciclagem do lixo ao reaproveitamento de alunos já estavam com o vocabulário bem
determinados materiais. Ao confeccionar aprimorado, haja vista que conseguiram
o porta-recado, além da abordagem do facilmente elaborar seus bilhetes.
tema preservação do meio ambiente, todos Na sequência, em conjunto com a
puderam dar sua contribuição no sentido disciplina de Geografia, os alunos foram
de reaproveitar os materiais e sugerir a estimulados a escrever bilhetes contendo
construção de outros objetos.Um trabalho informações pessoais como, por exemplo,
124
naturalidade, nacionalidade, localização da pretende oportunizar aos jovens, adultos,
sua cidade, cidades vizinhas e região do Brasil. idosos, pessoas com deficiência e outros,
Foi possível, durante e após a vivências que contribuam para a sua
efetivação da atividade, realizar uma autonomia, emancipação, conscientização
reflexão teórico-prática e com esta proceder da importância de promover a
à verificação de aprendizagem não somente sustentabilidade, bem como da preservação
acerca do conteúdo de preservação ambiental, do meio ambiente, procuramos um recurso
mas também das habilidades de leitura e tecnológico mais dinâmico, em que todos
escrita por meio da escrita de bilhetes. os alunos pudessem sentir-se envolvidos e
A metodologia aplicada de forma interessados para adentrar o conteúdo.
interdisciplinar também contribuiu para A construção do porta-recado com
o aprendizado de Geografia, a julgar pela material reciclado foi muito importante,
troca de informações entre os educandos, pois os licenciandos puderam perceber
que conversavam sobre a sua cidade natal e que é possível estimular a preservação do
a localização desta.
meio ambiente e atitudes cidadãs, quando,
No cenário mundial é difícil ao desenvolver a atividade, atuaram
reduzir o analfabetismo e torna-se mais na abordagem de temas de relevância
complicado ainda por conta da idade e da acerca da sustentabilidade do planeta.
região onde mora o analfabeto. “Alfabetizar Proporcionamos debates com os alunos
alguém custa, em média, 200 dólares;
da EJA sobre o fato de que ser cidadão
500, segundo a UNESCO. E vai custar
também implica a preservação do meio
cada vez mais reduzir o analfabetismo
ambiente. Sensibilizamos os alunos para
adulto residual” (GADOTTI, 2013,
p.20). Neste contexto, buscando atingir o as possibilidades de sua contribuição na
objetivo da EJA, que além de alfabetizar redução de impactos ambientais decorrentes
125
da não reciclagem do lixo, emissão de gases INTERDISCIPLINARIDADE: interface
poluentes, reaproveitamento de materiais com a Educação Inclusiva. Universidade
recicláveis e outros, indispensáveis para do Vale do Itajaí - UNIVALI - Itajaí - SC,
a manutenção da vida no planeta. Eles 2015.
puderam perceber que a sua própria STOCO, H.P. A educação de jovens e
formação e a formação destes alunos da EJA adultos trabalhadores no PROEJA: acesso
não se encerram ao final do curso ou de um e permanência no CEFET-BA. Revista
projeto, haja vista que estes devem tornar- Eletrônica Multidisciplinar Pindorama
se disseminadores dos conhecimentos do Instituto Federal de Educação,
adquiridos em prol da sustentabilidade e Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA
da cidadania e, ao desempenhar tal função, Nº 01 – Ano I – Agosto/2010 – www.
o educando estará trocando informações revistapindorama.ifba.edu.br
que poderão contribuir para uma formação
continuada. Eles compreenderam, por UNIVALI. Programa Docência na
fim, que promover a reflexão sobre o Educação Básica. Itajaí: Univali, 2005.
exercício pleno da cidadania de forma UNIVALI. Relatório do Programa
consciente e justa só é possível por meio do Docência na Educação Básica. Itajaí:
desenvolvimento intelectual, ético, moral e Univali, 2011.
afetivo daqueles que a realizam. VIERO, J. G.. O lúdico no processo de
Referências alfabetização. I Curso de construção de
FARTES, V. L. B.; GONÇALVES, M. C. brinquedos e jogos pedagógicos. UNOPAR
P. B..Um desafio à construção de novos - Santiago: RS, 2008.
saberes e novas práticas no trabalho
docente: a formação de professores para a
educação profissional de jovens e adultos.
Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.5, n.1,
p. 47-56, jan.-jun. 2010. Disponível em
<http://www.periodicos.uepg.br>
GADOTTI, M. EJA EM DEBATE,
Florianópolis, Ano 2, n. 2. Jul. 2013.
http://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/
EJA.
PEREIRA, M. V. & LA FARE M.. A
formação de professores para Educação
de Jovens e Adultos (EJA): as pesquisas
na Argentina e no Brasil. R. Bras. Est.
Pedag., Brasília, v. 92, n. 230, p. 70-82,
jan./abr. 2011.
PEREIRA, Y.C.C. Programa Institucional
de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID
- UNIVALI). Subprojeto de licenciatura:
126
A INTERCULTURALIDADE
NO CONTEXTO ESCOLAR
ENTRE JOGOS, BRINQUEDOS
E BRINCADEIRAS AFRO-
BRASILEIRAS E AFRICANAS
NAS AULAS DE EDUCAÇÃO
FÍSICA
Natacha Wielecosseles
Priscila Marilene Bunn
Licenciandas

Iniciamos as atividades do PIBID com


o planejamento do semestre e definimos nas
reuniões feitas com nossa coordenadora de
área que o tema seria “A Interculturalidade
no Contexto Escolar entre Jogos, Brinquedos
e Brincadeiras Afro-Brasileiras nas Aulas
de Educação Física”. Elaboramos um
plano de ensino semestral, com o objetivo
de aprendizagem que os alunos da escola
relacionassem a cultura de movimento
dos diversos grupos trabalhados com os
seus contextos socioculturais, ampliando,
assim, as suas capacidades de expressão e
127
ao Brasil tinha em seu traslado a
morte como fiel acompanhante e
o açoite e a escravização, quando
chegavam; podemos dizer
hoje que estamos crescendo
como ser humano, pois as
relações com imigrantes são
de civilidade. A crise que
hoje vivem os imigrantes
europeus que partem da
Síria e do norte da África na
tentativa de chegar a outro
país ao norte da Europa se
torna a cada ano mais vigorosa. O Brasil,
linguagem. Nosso mesmo se encontrando em um momento de
campo de atuação ocorreu superação de dificuldades, vem acolhendo
na Escola Municipal Professor Donato de “braços abertos” os refugiados da crise
Alípio Campos, em Biguaçu, às quintas- europeia, oportunizando-lhes “...vir, viver,
feiras no período matutino contando com trabalhar e contribuir para a prosperidade
quatro pibidianos. e para a paz. Queremos oferecer-lhes essa
esperança”, escreveu a presidente. Em
Acreditamos que, para uma
novos tempos, a morte continua sendo um
qualificação do tema em questão
fiel acompanhante a esses imigrantes, sobe
no Subprojeto BRINCRIAR, a
significativamente a cada ano a morte em
contextualização da história ao tema
naufrágios de migrantes e imigrantes.
escolhido foi de suma importância para as
possíveis vivências, a captação de escravos Levar às crianças toda essa
nas diversas regiões da África no passado contextualização histórica por meio de
colonial brasileiro e o traslado através de imagens e vídeos nos ajudou muito nas
tumbeiros destinados principalmente aos explicações. Pudemos perceber dialogando
portos de Recife e da Bahia. As mortes com as crianças o interesse e a curiosidade
de negros que ocorriam em mar alto pelas delas sobre essa cultura oculta de suas
péssimas condições do transporte não se realidades, e também sua criatividade
passam despercebidas em nossa história. quando questionavam os costumes dos(as)
E quando chegavam ao Brasil, os negros africanos. Um menino, quando falamos
eram escravizados e quando reagiam eram sobre suas casas, disse: - “Eles usam palha
açoitados e por vezes assassinados pelos e barro, mas também prego pra fazer as
senhores ou capatazes. Muitos, por outro casas, aí eles moram lá e dançam”.
lado, conseguiam fugir e formavam os No ambiente escolar podemos
quilombos (ANDRADE, 1992). encontrar diferentes grupos étnicos e
Atualmente estamos passando por culturas, é um importante lugar onde as
mais um momento delicado com imigrantes, crianças podem reconhecer as identidades,
se em tempos remotos a fuga de imigrantes aprendendo a respeitar o diferente de si
128
e também permitindo se reconhecer nas
próprias diferenças do outro para poder
dialogar. Assim, iniciamos nossa primeira
aula com a proposta de apresentar nosso
tema aos alunos de modo que pudessem
identificar as brincadeiras com origem
africana que já fazem parte do seu cotidiano,
como pular corda, pega-pega e a capoeira.
Pudemos perceber também a
empatia dos alunos conosco no decorrer da
aula, apesar de, no início, terem se mostrado
curiosos a nosso respeito como professores.
Com essas expectativas acreditamos
que a Educação Física de forma crítica
e emancipada pode contribuir para esta
realidade em resgate a cultura do movimento.
A partir do entrelaçamento entre corpo,
natureza e cultura, pretendemos estabelecer e formas que compõem a cultura africana e
reflexões sobre as diversidades culturais e afro-brasileira.
sobre as aproximações da cultura brasileira Posto isso, analisamos a importância
e a cultura africana. do programa em nossa formação acadêmica e
Certamente essas mudanças estão percebemos que, por meio dos planejamentos
presentes até hoje no nosso dia a dia, e das supervisões, aprendemos como ser
principalmente na música e na dança: professor, pensando e repensando a prática
o carimbó, o jongo, o samba e o cacuriá; a cada semana, modificando estratégias
nos instrumentos musicais: o atabaque, o para atender os objetivos de aprendizagem
agogô, o berimbau, o afoxé e a ganzá; nas e assim relacionando a teoria com a prática.
lutas: a capoeira; na religião: o candomblé Portanto temos a certeza que, quando
e a umbanda; na culinária: o vatapá, o nós formarmos, sairemos da universidade
caruru, a moqueca, o acarajé e a feijoada; muito mais confiantes e preparados para
no idioma, palavras como: marimbondo, o mercado de trabalho devido a vivências
quilombo e moleque. como estas do PIBID.
Os movimentos de uma dança, de Referências
uma festividade religiosa, uma brincadeira, ANDRADE, M. C. O Brasil e a África.
o movimento em um jogo, os olhares desse São Paulo: Contexto, 1992.
povo, o modo de caminhar, nada pode
passar despercebido, pois o movimento se
torna a linguagem do homem perante o
mundo. E de alguma forma pretendemos
identificar ao longo das aulas essas
linguagens repletas de movimento, ritmos
129
BRINCANDO NO RITMO
Vanderléa Ana Meller
Coordenadora de Área de Gestão

Elaine Farina
Luciana Gomes Alves
Coordenadoras de Área

Emanuele Fernanda Oselame


Paulo Ferreira Pereira
Silvana Brandes
Thiago Albano
Professores Supervisores

O subprojeto PIBID de Educação Física UNIVALI - “BRINCRIAR” é realizado


nos anos iniciais e efetiva ações pedagógicas voltadas para a valorização de práticas
espontâneas do brincar e, assim, promove o aprendizado de diferentes conteúdos.
Devido às possibilidades que o brincar proporciona na escola, o PIBID da Educação
Física tem desenvolvido projetos que propõem conteúdos diversos, e a cada semestre
apresenta um tema interessante e envolvente para as crianças. Num universo de atividades
propostas, evidenciamos que as atividades rítmicas têm sido bem aceitas e solicitadas pelos
alunos e que, de certa maneira, estão presentes nas mais variadas culturas de movimento.
Os projetos desenvolvidos envolvendo ritmos foram realizados nas escolas
municipais de Itapema, Maria Linhares de Souza, Oswaldo dos Reis, Francisco Vitor
Alves e Paulo Reis nos anos de 2014 e 2015.
O Movimento e o Ritmo
A percepção do ritmo é uma experiência que ocorre desde o útero com os batimentos
cardíacos da mãe e a sua movimentação. Ele foi percebido na pré-história quando o homem
sentiu as batidas de seu coração, escutou o som do vento, quando pisou numa folha seca ou
correndo de um animal.
Ao pensar em ritmo, logo nos remetemos aos sons, às músicas, porém podemos nos
atentar que ele está presente no respirar, no caminhar, na fala e em diversas ações do dia
a dia e que nosso organismo funciona de forma ritmada. Em efeito, o menor movimento
adaptado a um ritmo é o resultado de um conjunto completo de atividades coordenadas
(ARTAXO; MONTEIRO, 2008).
130
Percebemos o ritmo como uma criativo e cooperativo” (RETONDAR,
organização de fenômenos que acontecem 2001, p. 17).
num espaço de tempo. Para realizar uma ação Ao perceber os seus ritmos internos
motora, necessitamos do desenvolvimento (respiração, batidas do coração, lembranças
da orientação temporal vivida a partir da auditivas), os externos (diversos sons,
marcação rítmica. Existem inúmeras formas rotina diária) e os cósmicos (fases da lua, dia
de realizar uma marcação rítmica, como por e noite, estações do ano), o aluno adquire
estímulos sonoros e visuais; na definição de um conhecimento de si e do mundo que o
um resultado no esporte, que determina se cerca e é educado para a vida assumindo
os jogadores devem ser rápidos ou lentos; corresponsabilidade com a vida social e
na execução de movimentos em espaço cultural da qual faz parte (RETONDAR,
previamente fixado, como na corrida em 2001).
barreira. Como todo movimento é ritmado,
encontramos o ritmo nas mais variadas Uma boa formação rítmica das
culturas de movimento que são vivenciadas crianças proporciona o desenvolvimento
no âmbito da Educação Física. do ritmo natural, favorece a memória e a
concentração, a coordenação motora, as
O movimento humano acontece
possibilidades de movimento corporal,
num espaço percebido principalmente pelo
a descoberta do seu corpo, o respeito e a
sentido visual e tátil e se desenvolve numa
cooperação com as pessoas, a disciplina e
estruturação temporal num determinado
estimula a criatividade.
ritmo, possibilitando que o aluno “[...]
apreenda estas noções de maneira vivencial, Embora tenhamos a compreensão
prazerosa, desafiadora e através da relação de que o ritmo está presente em toda
com o outro, é fomentar a formação de ação humana, é pela associação de som e
um indivíduo reflexivo, crítico, atuante, movimento que o aprendizado se intensifica.
131
Para Dalcroze, a consciência rítmica é conteúdos, como os brinquedos cantados,
consequência de uma experiência corporal as danças e as ginásticas.
e essa consciência pode ser intensificada A música possui uma cadência que
por meio de exercícios que combinam é acompanhada pelo movimento corporal,
sensações físicas e auditivas. O movimento que pode ser sistematizado, como, por
e o corpo são inseparavelmente integrados exemplo: um passo de valsa na dança e
ao fazer musical e a relação entre música e um pivô na ginástica, ou podemos criar
movimento acontece por meio da interação movimentações inspiradas nela. A relação
espaço-tempo-energia (MARIANI, 2011). dos sons e música com o movimento pode
Por meio das brincadeiras, criativas inspirar várias vivências e experiências que
e desafiadoras, oferecemos condições ao possibilitem uma maior expressão corporal
aluno para ampliar o seu universo sonoro, e e educação rítmica.
ao identificar os diversos ritmos, descobrir Diste disso, podemos afirmar
como acompanhá-los, ele estabelece uma que a exploração de diversos ritmos nos
maior relação entre som e movimento. O permite a descoberta e o reconhecimento
ensino da rítmica visa instigar o aluno a de diversas culturas e um conhecimento
expandir o seu conhecimento em relação historicamente acumulado, assim como
ao mundo vivido, desenvolvendo a sua ampliar o universo de movimentos
capacidade de resolução de problemas de corporais que surgem a partir de novas
forma autônoma e criativa. experiências e experimentações.
Nas aulas envolvendo a musicalidade, Experiências e Experimentações
utilizamos o corpo para compreender o com o Ritmo no PIBID
conteúdo. Nas aulas de Educação Física, a A valorização das diferentes culturas
música torna-se um que mobilizaram o ritmo ocorreu por meio
elemento para da pesquisa e da reconstrução das diferentes
desenvolver práticas. Primeiramente, os pibidianos
a prática de buscaram sensibilizar os alunos por meio do
determinados contato com a natureza. Nela identificamos
os diferentes ritmos presentes, do vento
que balança as árvores, a água que corre
no riacho, os pássaros que movem as asas
e voam, o ritmo do canto dos pássaros... As
atividades que promovem a sensibilidade aproximação de
pessoal foram importantes para as crianças, todos os índios ao
a fim de aguçar as sensações e os ritmos meio natural, por
pessoais de cada um, internos e externos. meio das práticas
Nos espaços e nos recursos naturais cotidianas na mata,
identificamos diversas possibilidades na trilha ecológica e nas
para criar instrumentos e produzir sons, brincadeiras das crianças envolvendo
também para mobilizarmos o movimento animais, frutas e plantas. Os índios
corporal. Os alunos – orientados pelos confeccionaram muitos brinquedos e
pibidianos - construíram chocalhos com objetos para produção de som e ritmos e
bambu e sementes, com porongos, bastões apresentaram para o grupo reconhecer.
com galhos de árvore, berimbau... Muitas brincadeiras da cultura indígena
As crianças vivenciaram o brincar foram identificadas e reconstruídas, alguns
criando ritmos com os chocalhos e bastões. brinquedos foram fabricados com recursos
Neste contexto, “A criança pelo brinquedo naturais pelos alunos das escolas, por
e pelo jogo, quer interagir com o mundo, o exemplo, o “pau de chuva” foi construído
mundo real dos objetos, e com os outros. O com bambu e sementes. As brincadeiras
brincar torna-se para a criança a sua forma foram compartilhadas e aprendemos
de expressão” (KUNZ, 2003, p. 95). muitas atividades e brincadeiras rítmicas,
Valorizando a conexão com a como a dança da chuva, a brincadeira do
natureza e as relações interculturais, guerreiro...
visitamos a aldeia indígena de Biguaçu O maculelê também foi uma
M’Guarani. Fomos com a intencionalidade dança folclórica que mobilizou ritmos e
de conhecer e interagir com a cultura habilidades teatrais a partir da simulação
indígena por meio do contato direto com da história das lutas tribais. Os bolsistas,
os índios guaranis, com seus costumes e juntamente com os alunos, pesquisaram
brincadeiras. Identificamos o respeito e a sobre o maculelê, evidenciado no
133
nordeste brasileiro, que aborda ligações dos movimentos específicos da dança e da
entre as culturas afro e indígenas. Foi criação coreográfica. Essas estratégias
possível identificar diferentes linguagens de ensino desenvolvidas no âmbito do
envolvidas na cultura e na educação, como: PIBID permitiram que o grupo pudesse
literatura, dança, música e teatro. Essas possibilitar aos alunos a confecção de
atividades desenvolvidas pelos pibidianos vários objetos de aprendizagem, como a
possibilitaram às crianças a liberdade sombrinha do frevo reutilizando garrafas
de criar e de opinar como a cena deveria pet e cabos de vassoura, além da adaptação
acontecer e os movimentos rítmicos de instrumentos de percussão com bambu,
envolvidos, imaginando e trazendo latas e tonéis de plástico. O frevo promoveu
o contexto de escravidão, das tribos a valorização da dança, a expressão de
indígenas e de todo conjunto e aspectos sentimentos, as habilidades da dança e
culturais e históricos que a lenda evidencia. da cultura pernambucana, possibilitando
A organização dos grupos de personagens, brincar e criar por meio do movimento.
as cenas, os movimentos coreográficos A dança integrada à experimentação
promoveram a percepção do espaço e do das sombrinhas e habilidades específicas
tempo que deveriam atuar e expressar. Os possibilitou a identificação das possibilidades
espaços cênicos foram organizados com de expressão e da comunicação corporal
recursos próprios como bambus, bastões, envolvida nos diferentes ritmos.
adereços e figurinos cênicos. Ocorreu a A ginástica também foi contemplada
produção teatral e coreográfica. por meio de brincadeiras referentes ao tema,
Entre as diversas manifestações tornando-a mais adequada ao ambiente
rítmicas da cultura de movimento, o escolar. Ocorreu o reconhecimento e
frevo também foi desenvolvido a partir a adaptação de aparelhos específicos
do reconhecimento da sua história e da da modalidade, ampliando as técnicas
organização, como expressão das festas específicas e noções dos ritmos envolvidos.
nas ruas do carnaval pernambucano. O Foram desenvolvidas inúmeras atividades,
reconhecimento do frevo pelas pessoas dos tais como construção e manuseio do
demais estados é uma forma de vivenciar a aparelho, fita da ginástica rítmica, manuseio
diversidade cultural e valorizar diferentes dos aparelhos oficiais, bola, corda e arco.
formas de expressão. Foram criadas e adaptadas brincadeiras
O potencial rítmico do frevo foi com os aparelhos.
muito evidente, portanto possibilitou a A argola indiana foi um dos recursos
vivência rítmica e a expressão musical, que promoveu grande interesse nos
uma dança que envolve a diversidade alunos e professores, pois foi diferenciado.
de movimentos oriundos do nordeste Este brinquedo foi confeccionado,
brasileiro. O frevo contempla os ritmos primeiramente, por um dos licenciandos,
vibrantes e o improviso, sendo uma dança com corda enrolada formando um arco
individual que mobiliza o coletivo e não pequeno. Ele foi apresentado para os
distingue gênero, faixa etária ou condição alunos que experimentaram e criaram
socioeconômica. Ocorreu a experimentação diversas possibilidades de movimento. A

134
argola indiana tornou-se mais um aparelho
da ginástica a partir das diversas manobras
de lançamento e recepção, circunduções,
balanceamentos...
A visita ao projeto que ocorre no
Centro de Ginástica, do município de
Antônio Carlos, foi muito importante para
o reconhecimento da ginástica artística,
acrobática e do trampolim acrobático. Os
pibidianos levaram os alunos a vivenciarem
diversas experiências com os aparelhos
específicos da ginástica e experimentaram
diversas movimentações e ritmos envolvidos
para a conquista das técnicas específicas.
Os projetos envolvendo ritmos
foram muito construtivos para os alunos,
licenciandos e professores de Educação Física
envolvidos no subprojeto BRINCRIAR,
pois valorizaram a diversidade envolvida
na cultura de movimento. A sala de aula
foi vivenciada pelos licenciandos que
aprenderam a planejar, executar as ações
no ambiente escolar, lidar com conflitos
diversos, trabalhar em grupo e avaliar
constantemente os processos pedagógicos.
Referências
ARTAXO, I.; MONTEIRO, G. A. Ritmo
e Movimento: Teoria e Prática. 4. ed. São
Paulo: Phorte, 2008.
KUNZ, E. Transformação Didático
pedagógica do Esporte. 6. ed. Ijiuí RS:
Unijuí, 2003.
MARIANI, S. Émile Jaques-Dalcroze. In.
MATEIRO, T.; ILARI, B. Pedagogias em
educação musical. Curitiba: IBPEX, 2011.
RETONDAR, J. J. M. A importância do
ensino rítmico na escola. Perspectivas
em Educação Física Escolar, 2 (1):13-24,
2001.

135
ATUANDO COM BEBÊS:
O DESAFIO ESTÁ LANÇADO!
Fabiano Weber da Silva
Coordenador de Área

Ana Cláudia Ferreira Martins


Professora Supervisora

Patrícia Souza
Rafaella de Miranda Simas
RoseaneValdrich
Yulli Marques Feliciano
Éric de Souza Teixeira
Licenciandos

Ao iniciarmos o ano letivo de 2015 buscamos, primeiramente,


reconhecer o grupo de crianças que iríamos atuar e os espaços do
Centro de Educação Infantil Municipal Prof. Lindóia Maria de
Souza Faria. Num total de quinze bebês, que ainda engatinhavam,
e ao longo do ano estariam completando um ano/um ano e
meio, observamos a precariedade do espaço de descobertas e dos
materiais pouco diversificados. Pensamos o que e como propor
ações e intervenções para sujeitos tão pequenos e identificamos
a idade, o número de bebês, espaço. Os bebés apropriam-se
a estrutura da sala de imediatamente do espaço a sua
referência e os materiais volta. Com crescente actividade e
disponíveis. Esses mobilidade, começam a expandir o
aspectos contribuíram seu sentido de espaço à medida que
aprendem a ‘navegar’ sozinhos de
para pensarmos em
um local interessante para outro.
propostas diversificadas
A proposta chave foi procurar, com
e condizentes com a faixa
olhar sensível, ampliar o repertório vivencial
etária. Diante da realidade
dos bebês, com descobertas e experiências
identificada, indagamos: O que propor
diversificadas numa perspectiva voltada
para sujeitos tão pequenos e com tantas
para considerá-los sujeitos ativos dentro
particularidades? Na medida em que fomos
do contexto educativo e não sujeitos
interagindo com os bebês, percebemos
maneiras muito singulares de lidar com esquecidos no “berço”.
cada um, seus interesses e suas limitações. Uma das intervenções foi realizada
O primeiro passo foi buscar propostas que com proposta musical a partir de
enriquecessem as experiências dos bebês instrumentos musicais como chocalhos,
no espaço coletivo de educação. pandeiros e bongô para, juntamente com
Para ampliar as intenções da violão, tocar e cantarolar músicas infantis,
professora e dos bolsistas, foram realizadas enquanto os bebês exploravam os materiais.
leituras referentes ao trabalho com bebês, a A intenção da proposta foi organizar um
fim de fortalecer e sustentar a busca de uma espaço lúdico utilizando como instrumento
atuação adequada. Partimos do pressuposto pedagógico a musicalidade, a fim de
de que a organização e a estruturação dos ampliar o repertório vivencial dos bebês,
espaços, tempos e materiais se constituem desenvolvendo a sua capacidade auditiva,
num instrumento significativo para a tátil, rítmica, sonora e a linguagem oral e
prática pedagógica com os bebês. Post e corporal. Explorar e experimentar foram
Hohmann (2011, p. 49) compreendem o ações vivenciadas pelos bebês neste espaço
espaço para bebês: de liberdade que lhes foi concedido.
Nas suas actividades diárias de É relevante considerar que a
aprendizagem activa, bebés e educação e os cuidados dos pequenos
crianças mais novas ganham são fundamentais, olhando-os numa
consciência corporal directa do perspectiva de quem tem direitos, como
137
A partir do olhar
sobre nossa realidade,
que retrata a falta de
contato das crianças com
sujeitos ativos. As vontades, a natureza, acreditamos
os anseios, as escolhas e que é de suma importância
as necessidades devem ser incentivar e proporcionar
respeitadas adequadamente e ao máximo esse contato nas
levadas em consideração nas práticas práticas pedagógicas, tentando
pedagógicas desenvolvidas no espaço “fugir” um pouco do ambiente da sala,
educacional. Os bebês apresentam forma onde estes passam a maior parte do tempo
ativa de se constituírem como atores quando estão na creche, e assim ampliar as
sociais. suas vivências e suas experiências.
Nas ações pedagógicas, buscamos Diante da proposta, vimos que
intencionalidades de ampliação do cada bebê tem sua particularidade,
repertório vivencial por meio dos singularidade, potencialidade e limitações
elementos disponibilizados para que diante da experiência de explorar novos
os bebês pudessem criar significados e espaços e materiais. Portanto, pensar no
desenvolvessem integralmente. Por meio tipo de espaço e nos materiais necessários
do arranjo de materiais organizamos a para as brincadeiras e interações é essencial.
sala para facilitar aos bebês o manuseio Esta foi uma das grandes contribuições
e a exploração. Numa das intervenções do programa PIBID na nossa formação
trouxemos variadas caixas de papelão docente: aprender a lidar com essas
de diversos tamanhos e formas, algumas particularidades.
enfeitadas. Utilizamos bolinhas coloridas Para uma ação pedagógica de
para enriquecer o espaço. qualidade, é necessário pensar que a
Foi nítido como cada bebê possui organização dos espaços em geral envolve
sua individualidade perante o novo espaço uma escuta e um olhar sensível. Os espaços
em que estão inseridos. Enquanto alguns se para dormir, de alimentação, de higiene
jogavam por inteiro, entrando, saindo das devem favorecer a autonomia dos bebês
caixas, outros preferiam somente carregá- e até mesmo o contato mais amplo com a
las no colo ou colocar as bolinhas dentro natureza, com outros adultos e crianças,
das mesmas. ou seja, deve ser um espaço externo, fora
Quando levados para o espaço do espaço de referência, adequado para
externo, novas experiências foram esta faixa etária, procurando proporcionar
concedidas. O contato com os elementos um ambiente de aprendizagem, educação
da natureza permitiu uma expressão de e cuidado e de interação. Martins Filho
corporeidade inerente, além do contato (2007, p. 31) corrobora dizendo:
com terra; grama; apreciação das árvores, Todas essas dimensões constituem
do céu, dos pássaros, permitindo aos bebês o ser humano. Por isso, defendo
se apropriarem e reconhecerem o mundo à a ideia de considerar os bebês
sua volta. como capazes de aprender para
138
(des)construir o que se julgava se mais seguros e confiantes na relação
que acontecia naturalmente. A estabelecida entre os bolsistas e seus bebês.
aprendizagem, a construção da
Enfim, o subprojeto interdisciplinar
cultura, a formação humana são
atividades sociais que se dão desde
possibilitou aos licenciandos aprenderem a
o nascimento, devendo ser medidas lidar com a família, trazê-la para a escola,
por parceiros mais experientes e planejar, replanejar, avaliar. Proporcionar
qualificados para travar relações aos bebês experiências valiosas na infância,
positivas e bem sucedidas com provocando descobertas e propondo
os bebês. Nessa tarefa a creche diferentes experiências envolvendo a
é compreendida como lugar participação ativa das famílias destes bebês
privilegiado para se viver a infância foi acontecimento único que jamais ficará
e também como espaço/tempo de esquecido na história de cada sujeito.
traçar processos sociais intencionais
As propostas interdisciplinares aqui
de mediação e interação.
planejadas tentam contrapor a ideia de que
Pensar o espaço e as propostas
os bebês não possam assumir um papel de
para os bebês é pensar num espaço com
participação e socialização nos contextos
desafios e atrativos que contribuam para
educativos. Considerando ainda que a ação
seu crescimento e desenvolvimento. A
e as condições de trabalho nos berçários
relação creche-família nas instituições
ainda é um processo em construção,
coletivas de educação precisam ser mais
tentamos a cada encontro dar visibilidade
evidenciadas e acolhidas.
às formas de linguagem dessa faixa etária,
Paralelamente, as propostas pensadas possibilitando autonomia, liberdade de
diretamente para os pequenos deixou expressão, jeitos e gestos particulares de
lugar privilegiado para acolher também a estar no mundo. Vivências enriquecedoras
família. Em alguns momentos pensamos para o futuro professor.
especialmente em trazer as famílias para
Referências
conhecer as propostas realizadas no PIBID
e, para isso, organizamos um ambiente MARTINS FILHO, A.J. A creche como
aconchegante. Acolhemos as mesmas e espaço de mediação e interação. Revista
tivemos a oportunidade de passar um vídeo Pátio - Educação Infantil. Ano V, Nº13,
englobando os objetivos das intervenções. Mar/Jun. 2007.
Desta forma criamos um POST, J.; HOHMANN, M. Educação
vínculo muito importante, de Bebés em infantários: cuidados
pois os pais expressaram e primeiras aprendizagens. 4.ed.
encantamento pelas 2011.
nossas práticas
pedagógicas, sentindo-

139
CORPO ESPETÁCULO:
o picadeiro na Educação Infantil
Fabiano Weber da Silva
Coordenador de Área

Jaqueline Edy Andrade


Professora Supervisora

Amanda Ratti
Crislleny Luiza Marques
Fernando Cruz
Letícia Luiz
Waleska Pinton Barcellos
Licenciandos

Este relato de experiência refere-se às atividades de um dos grupos do subprojeto


Expressividades do Corpo Brincante, inserido no Programa de Iniciação à Docência,
subprojeto Interdisciplinar de Biguaçu, desenvolvidas com a turma do Pré I do CEIM
Jardim Janaína, localizado no Bairro Jardim Janaína na cidade de Biguaçu/SC. Foram
realizadas atividades circenses como parte do projeto denominado: Corpo espetáculo: O
picadeiro na Educação Infantil.
O circo constitui-se como parte integrante da produção cultural e artística. Ao
longo de diversos séculos, ele influenciou modos de produzir, modos de agir e modos
de exercer as expressividades do corpo brincante, caracterizando-se como um fenômeno
sociocultural. Portanto, acreditamos na importância das instituições de Educação Infantil
proporcionarem o contato das crianças com as manifestações culturais existentes no circo,
destacando as potencialidades estéticas, expressivas e criativas, além dos aspectos lúdicos
desta prática.
As atividades foram pensadas com o objetivo de fortalecer a experiência dos
licenciandos na Educação Básica, por meio da expressão e da cultura das crianças,
explorando o seu imaginário, pois de acordo com a teoria de Vygotsky (1987), a cultura e a
linguagem como atividade humana têm como base as experiências e a imaginação, as quais
são elaboradas a partir das bases culturais, por meio das representações simbólicas dos
de criação de movimentos e personagens a
partir do que foi apresentado.
Durante as atividades, percebemos
que brincando as crianças vivenciavam
diferentes papéis, alternando-os entre
mágicos, equilibristas, malabaristas e
apresentadores. Também criaram pinturas
nos rostos e ressignificaram movimentos
característicos dos personagens do circo.
Utilizaram os materiais de diversas
seres humanos a partir das suas interações formas, além do tradicional, tornando estas
com o entorno cultural. experiências estéticas e introduzindo as
Para dar início ao projeto, os brincadeiras no cotidiano brincante.
bolsistas organizaram um espetáculo para O movimento é uma importante
as crianças: se fantasiaram de palhaços, dimensão do desenvolvimento humano
fizeram brincadeiras de malabaristas e e da cultura. Ao se movimentarem, as
mágicos, levaram um pouco das atrações crianças expressam sentimentos, emoções
circenses, trazendo diversão, alegria e e pensamentos, ampliando as possibilidades
encantamento para a turma, que durante do uso significativo de gestos e posturas
toda a semana comentou e relembrou a corporais. O movimento humano é mais
apresentação.    do que simples deslocamento do corpo no
Considerar o circo como parte espaço, ele se constitui em uma linguagem
integrante da cultura humana
[...] pode justificar sua presença
no universo educativo, como
conteúdo pertinente [...] neste
sentido, considerando que grande
parte das atividades típicas do circo
possui um caráter motor, podemos
considerar que, ao menos esta
parte do repertório circense, forma
parte como conteúdo pertinente à
Educação Física, quanto disciplina
que se ocupa de transmitir a cultura
corporal dentro do marco escolar.
(BORTOLETO, 2003, p.15).
Nas intervenções seguintes,
disponibilizamos para as crianças os
elementos trazidos no espetáculo (varinhas
mágicas, cartolas, bolas, pranchas de
equilíbrio, argolas, chocalhos, tecidos para
malabarismos, roupas e acessórios), a fim
de que pudessem vivenciar a experiência
141
que permite às crianças agirem sobre o meio Referências
físico e atuarem sobre o ambiente humano, BORTOLETO; M. A. C. A perna de pau
mobilizando as pessoas por meio de seu teor circense: o mundo sob outra perspectiva.”
expressivo (MATTOS; NEIRA, 2003). Revista Motriz, volume 9, número 3, set./
Para concluir, aprendemos a dez. 2003, p. 125-133.
planejar atividades temáticas. Por meio MATTOS, M. G.; NEIRA, M. G.. O papel
deste projeto, entendemos que o circo está do movimento na Educação Infantil. IN:
associado ao mundo real e imaginário. NICOLAU, M. L. M.; DIAS, M. C. M.
Por este motivo, trabalhar este tema é (Org.) Oficinas de Sonho e Realidade
proporcionar por meio de um aprendizado na Formação do Educador da Infância.
prazeroso momentos, movimentos e Campinas, SP: Papirus, 2003.
atividades relacionadas à arte circense,
VYGOTSKY, Lev. S. La imaginación e
focado no convívio, no conhecimento e no
el arte en la infancia (ensaio pedagógico).
respeito ao outro. É uma prática com alto
México Hispânicas, 1987.
valor sociocultural, traz consigo valores
importantes para o ser humano, como
confiança, valores morais, estéticos, éticos
e educacionais, fundamentais para a vida
em comunidade e para o desenvolvimento
pessoal e social. Explorando a importância
do brincar, podemos oportunizar a prática
destes valores num espaço de convívio
coletivo que é a Educação Infantil. Além
disso, a convivência com os pequenos, com
suas necessidades na rotina do dia a dia,
trouxe-nos valiosa colaboração na nossa
formação docente.
142
VIVÊNCIAS ESTÉTICAS
E LÚDICAS NO PIBID
PEDAGOGIA ALFABETIZAÇÃO
Ana Luiza Máximo Ramos
Coordenadora de Área

Elaine Cristina Vieira de Souza


Lisandra S. Silveira
Marilia Molleri Brining
Professoras Supervisoras

O ato de educar é sempre um ato ético...


A estética deve estar sempre aberta, para enriquecer conceitos já estabelecidos, mas
também para introduzir os novos que respondem a uma nova relação estética com
a realidade. Ética e a estética pressupõem uma mudança... (FREIRE, 1996).
A alfabetização deve ser entendida como um processo que ocorre por meio da
interação com o mundo sensível, produzido e marcado pela ação do homem, e com o
universo conceitual produzido pelo próprio homem no decorrer de sua trajetória histórica.
Nesta trajetória é importante compreender tanto os processos pelos quais a humanidade
produziu a escrita quanto as diversas formas de pensar e fazer no aprendizado da lecto-
escrita . Destacamos ainda a necessidade de formar professores para o desenvolvimento
do processo de alfabetização na perspectiva da apropriação de uma produção cultural,
a escrita, e como tal deve ser aprendida e inserida em práticas sociais. Assim sendo,
salientamos que alfabetização e letramento são dimensões indissociáveis do processo de
aprendizagem da leitura, da escrita e da cidadania.
Cabe ainda ressaltar que, com a
inserção da criança de seis anos de idade no
ensino fundamental, há necessidade de um
olhar mais atento e sensível dos professores
em relação à concepção de infância,
alfabetização, letramento, metodologias,
currículo e avaliação.
143
Para tanto, cabe ao professor dos letramento em turmas do 1º, 2º e 3º ano do
anos iniciais do ensino fundamental ampliar, Ensino Fundamental de Nove Anos.
tornar mais ricas, mais complexas e mais Os pilares que direcionam o
significativas as experiências vivenciadas desenvolvimento das atividades do
no processo de alfabetização, pois, quanto subprojeto ancoram-se no estudo de
mais amplos, ricos e complexos forem os Duarte Junior (2010, p.13), que afirma
significados construídos, isto é, quanto mais que o mundo, antes de ser tomado “como
amplas, ricas e complexas forem as relações matéria inteligível, surge a nós como objeto
estabelecidas com os outros significados sensível”, explicando que o sensível é “aquilo
da estrutura cognitiva, tanto maior será a que pode ser percebido pelos sentidos [...] é
possibilidade de utilizá-los para explorar o objeto próprio do conhecimento sensível,
relações novas e para construir novos assim como o ‘inteligível’ é o objeto
significados (COLL; MARTIN, 2004). próprio do conhecimento intelectivo”.
Nesta perspectiva e a partir do Afirma ainda o autor que a educação do
entrelaçamento da proposta institucional sensível pode também ser entendida como
do PIBID, que tem como eixos a educação estética, que se configura como
formação estética e o desenvolvimento “a educação dos sentidos”, permitindo
da competência comunicativa com as o conhecimento de si, do sentir a si para
especificidades do subprojeto PIBID sentir os outros; “vibrar em comum, sentir
Pedagogia Alfabetização, o do projeto em uníssono, experimentar coletivamente”.
consiste em selecionar e desenvolver ações Suas ideias convergem para a importância
pedagógicas diversificadas, que sejam da oferta de uma proposta educativa que
referência para a alfabetização e para o estimule a percepção das sensações táteis,
auditivas, visuais, gustativas e expressivas
em diferentes linguagens para melhor
autocompreensão e compreensão do outro
em suas peculiaridades e diferenças. Ressalta
que a educação por meio da arte possibilita
o desenvolvimento da sensibilidade, pois
para ele “é através da arte que o ser humano
simboliza mais de perto o seu encontro
primeiro, com o mundo” (ibidem, p.23).
O subprojeto Pedagogia
Alfabetização em 2015 caracterizou-se pelo
desenvolvimento de ações que ofereceram ao
licenciando um espaço de conhecimento real
da docência em atividades diversas na escola
e na sala de aula. Foram muitas vivências
que possibilitaram o desenvolvimento
de competências essenciais ao exercício
da prática profissional do professor, a
percepção e a geração de mudanças no escrita, literatura infantil em sala de aula,
contexto da docência alfabetizadora e, alfabetizar letrando, atividades envolvendo
consequentemente, contribuíram para a a linguagem escrita e as outras linguagens;
melhoria do processo de alfabetização. - Funcionalidade da escrita que
Assim, os licenciandos foram orientados, abrange os subeixos: a interação com a
por meio da elaboração de um protocolo e escrita de tipo urbana e doméstica; gêneros
entrevistas, para realizarem a observação textuais;
do espaço educativo no que se refere ao
- Aspectos linguísticos da
contexto em que está inserido, sua rotina e
alfabetização que envolvem os subeixos:
movimentação, o intercâmbio com a família
relação oralidade escrita (fonética);
e a comunidade, a interação com e entre
variedades linguísticas; ortografia e
os professores, as instalações físicas e a
gramática.
utilização desses espaços.
- Formação ética e estética dos
A organização e o desenvolvimento
alunos (crianças) que compreende os
de sequências didáticas, planejadas pelos
subeixos: autonomia, cidadania, poesia,
licenciandos juntamente com o coordenador
teatro, música, literatura e dança;
de área e supervisores, tiveram como pano
de fundo a temática da alfabetização e do - Formação ética e estética dos
letramento e a formação ética e estética dos licenciandos envolvendo os subeixos:
sujeitos. Tais ações pautaram-se em cinco cultura, artes, autonomia e cidadania.
grandes eixos: São muitas as aprendizagens que
- Práticas de oralidade, leitura a criança deve construir durante sua
e escrita que abrangem os subeixos: trajetória no processo de alfabetização,
organização de um ambiente de cultura tanto em relação a elementos internos no
campo das emoções, ideias e sentimentos, sensível enfatiza aspectos que contribuem
quanto em relação a elementos externos: para esse fim, como, por exemplo, a emoção,
espaço, ambientes, lugares, objetos, a criação, a percepção e, sobretudo, a
comportamentos, produções humanas, sensibilidade aprimorada, sendo ao mesmo
signos, símbolos, pessoas (adultos e tempo sensorial e crítica. Esta educação
crianças), falas e atitudes originárias dessas precisa afetar tanto o docente como o aluno,
pessoas (CARVALHO, 2000). na mudança de atitudes, de criatividade e
Para tanto, o subprojeto Pedagogia de protagonismo.
Alfabetização, entendido como lócus de Pudemos observar que, ao
formação para a docência na Educação promovermos para as licenciandas a
Básica, constitui-se como um espaço no formação estética e elementos que lhes
qual as licenciandas percebem-se como permitam ampliar a sua competência
aprendizes, desenvolvem-se humanamente, comunicativa, temos em resposta a
culturalmente e esteticamente, num organização e o desenvolvimento de
processo de apropriação de conhecimentos vivências em que a criança pode, lúdica e
e habilidades essenciais à constituição da espontaneamente, ou guiada pelo adulto
identidade profissional docente. “pibidiano”, utilizar-se dos sentidos para
As ações formadoras pautaram-se elaborar, experienciar e ler o mundo.
ainda na compreensão de que educar para o Referências
BRASIL. Lei n. 10.172, 9 de janeiro
de 2001. Aprova o Plano Nacional de
Educação e dá outras providências. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 10 jan. 2001.
Disponível em: http://www.mec.gov.br/.
CARVALHO, R.P.V.C. História Sócio-
Familiar e Comportamentos de Apego/
Desapego da Criança no Processo de
Adaptação à Pré-Escola. (Dissertação de
Mestrado) Porto Alegre PUC/RS, 2000.
COLL, César; MARTÍN, Elena e
colaboradores. Aprender conteúdos &
desenvolver capacidades. Porto Alegre:
Artmed, 2004.
DUARTE JR., J. F. O sentido dos
sentidos: a educação (do) sensível. 5. ed.
Curitiba/PR: Criar Edições, 2010.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia:
saberes necessários à prática educativa/
Paulo Freire. – São Paulo: Paz e Terra, 1996.
OH, PROF., HOJE O PESSOAL
DO CABIDE NÃO VEM?:
a participação das crianças
como atores sociais nas
práticas do PIBID
Sandra Cristina Vanzuita da Silva
Coordenadora de Área

Magda Aparecida B. Martins da Silva


Mariza Machado
Professoras Supervisoras

Jéssica dos Santos


Rodrigo Ferreira
Simone Terezinha Menegon Ribeiro
Viviane Santos São Thiago
Licenciandos

Toda semana acontece, chegam cheios de novidades, ficam observando, ajudam a


professora, contam histórias, mas muitas vezes também assumem o papel de professores,
pois planejam e ministram aulas. O que fazem essas pessoas na escola?
Esta narrativa nos faz refletir trazendo à tona a discussão: o que as crianças
pensam e como se relacionam com os(as) acadêmicos(as) do PIBID que passam pelas suas
salas de aula realizando, ou experimentando o que é ser professor? Como atores sociais,
protagonistas na construção de suas vidas, as crianças estão presentes e participam
ativamente do Programa de Iniciação à Docência (PIBID), pois reagem e interferem nas
práticas desenvolvidas por nossos bolsistas no interior de cada escola. Ao considerar

147
essa premissa, pretendemos nesse trabalho na escola, mas também sobre suas vidas.
expressar a importância do papel das Aproveitam oportunidades que surgem
crianças nas relações estabelecidas nas durante o dia para interagir, estabelecer
salas de aula em que atuam os pibidianos. vínculos e entender a lógica deste processo
Na produção de cada atividade em do qual estão fazendo parte. Assim,
sala de aula, as crianças aparecem atuando mostram-se atores sociais plenos dotados de
socialmente “com” e “como” o adulto, ou capacidades de ação quando iniciam alguma
seja, não são passivas frente à cultura e à fala, propõem mudanças nas atividades,
sociedade, mas participam ativamente da trazem suas experiências de vida como
produção cultural e social. Elas não estão referências, mas ao mesmo tempo aceitam
separadas da sociedade e suas relações as propostas ofertadas. Engajam-se nos
sociais fazem parte do contexto em que projetos desenvolvidos pelos acadêmicos,
vivem com os adultos e com seus pares. esperando ansiosamente pelos resultados.
Nesse sentido, compartilhamos Observando os exemplos citados
com Montandon (2005) a ideia de que a é possível refletir sobre o que sinaliza
criança não é passiva, ela constrói cultura Sarmento (2005, p.370), quando diz que
com seus pares, “seleciona, interpreta as “as crianças são seres sociais e, como
experiências, constrói estratégias que tais, distribuem-se pelos diversos modos
podem conduzir a mudanças nas suas de estratificação social: a classe social, a
relações com seus pais ou professores e a etnia a que pertencem, a raça, o gênero, a
revisões nas práticas destes. Há um efeito região do globo em que vivem”. O autor
da experiência da criança sobre as práticas” ainda complementa alertando que estes
(MONTANDON, 2005, p.494). diferentes espaços estruturais diferenciam
Os aspectos apresentados pela profundamente as crianças. Assim, nas
autora podem ser vistos quando os diferentes escolas nas quais estão inseridos os
acadêmicos(as) apresentam as atividades bolsistas do PIBID, as crianças trazem suas
e as crianças demonstram interesse, ou culturas e seus modos de vida, contribuindo
mesmo solidariedade em ajudá-los, pois na construção da identidade docente.
entendem que estão ali para aprender a Diante destes condicionantes sociais,
ser professor. Ouvem atentamente o que a cultura infantil está presente, ou seja, em
falam e se interessam por eles, fazendo articulação com a cultura e com a sociedade
muitas perguntas, não só sobre o que fazem adulta. Conforme a sociologia da infância,
148
as crianças têm sua dimensão simbólica processos sociais em pares – culturas de pares.
expressada por meio das culturas infantis. Essa produção não é individual, somente
Estas se constituem na sua capacidade de entre si, mas participam da teia social, da
construírem de forma sistematizada modos de sociedade adulta mais ampla. Sua produção
significação do mundo e de ação intencional. corresponde à cultura das crianças e a dos
As culturas da infância transportam as adultos, portanto não são indissociáveis, pois
marcas dos tempos, exprimem a sociedade as duas culturas estão inter-relacionadas.
nas suas contradições, nos seus estratos e na Para Sarmento (2005), o principal desafio
sua complexidade (SARMENTO, 2003). Por da sociologia da infância se constitui aí, na
isso, é possível perceber que os acadêmicos compreensão desses processos.
(as) só aprendem a ser professores em Montandon (2005) também explicita
relações reais, estabelecidas com as crianças algumas dificuldades enfrentadas na área,
no interior das salas de aula. Sem a presença pois na maioria das pesquisas sobre infância
delas e de suas intervenções não conseguimos ainda se observa o olhar do adulto sobre
dimensionar o que significa aprender em a criança a partir do adulto de referência,
situações reais com crianças reais. utilizando-se do discurso e da prática dos
Para Corsaro (1997), as crianças adultos. A autora salienta que as relações
interpretam e produzem sentidos nas entre as gerações são marcadas por uma
culturas que participam, o que o autor chama maior uniformização entre as crianças e
de “reprodução interpretativa” (CORSARO, os adultos ou por uma maior diferenciação
2002). Esse conceito expressado pelo autor entre eles.
fica visível nas atividades de contação de Em vários momentos destacados nos
histórias ou nos recreios pedagógicos, pois relatórios dos acadêmicos, podemos notar
nestes momentos as crianças interpretam que as crianças percebem e apreendem a
e ressignificam as ações produzidas pelos
lógica das relações sociais vividas pelos
adultos. A partir deste olhar, constroem
adultos que as rodeiam e passam a se adaptar
novas regras para os jogos propostos pelos
a elas. Essa adaptação parece não ser direta,
acadêmicos(as), ou novas narrativas das
eis aqui uma das peculiaridades das crianças
histórias contadas por meio de diversas
que, como atores sociais, constroem suas
formas de expressão.
culturas. Segundo Sarmento (2004), são
Não são apenas crianças imitando, perpassadas pela ludicidade, interatividade,
mas estão produzindo suas culturas e seus a fantasia do real e a reinteração.
149
Dos eixos abordados pelo autor, da construção das relações sociais, como
a interatividade se caracteriza como o também das formas de recriar o mundo.
conjunto de ações, comportamentos e Independente de época, etnia, gênero e
relações partilhados entre as crianças, classe social, o lúdico faz parte da vida da
definida como cultura de pares, mas essa criança, da descoberta de si mesmo, da
interatividade não se separa do mundo dos possibilidade de experimentar, de criar e de
adultos e da produção realizada, além de ser transformar o mundo. Neste sentido, este é
entre pares também é com a sociedade mais um dos eixos que perpassa todo o trabalho
ampla. Considerando o que diz o autor ao que os acadêmicos desenvolvem nas escolas,
observarmos o modo como agem as crianças produzem para as crianças brinquedos e
em relação aos acadêmicos (as), percebemos brincadeiras para vivenciar suas infâncias.
a cumplicidade nas trocas e ajuda mútua. Outras atividades desenvolvidas
Em sala, os alunos se relacionam com os pelos acadêmicos(as), como as expressões
acadêmicos de forma respeitosa, sentem artísticas por meio do teatro ou dança,
falta nos dias em que não estão na escola e também podem servir como exemplo
perguntam por que não vão todos os dias. para outro eixo citado por Sarmento,
Demonstram solidariedade e querem se a fantasia do real. Este eixo refere-se
aproximar com frequência, principalmente ao modo como as crianças ultrapassam
na hora dos intervalos, quando é muito a realidade e a recriam, utilizando o
perceptível momentos que estão produzindo imaginário. Pessoas, acontecimentos e
ações conjuntas para que, unidos, possam objetos podem ultrapassar essa barreira,
ultrapassar as dificuldades que surgem. sendo uma maneira de a criança realizar as
A ludicidade é um dos traços interpretações, e a apropriação do mundo
fundamentais que compõem as culturas se uma torna aceitável para ela.
infantis, Sarmento (2004) salienta sobre a Nesse sentido, Sarmento (2004)
possibilidade de aprendizagens que podem sinaliza que há uma “universalidade”
ocorrer, quando as crianças brincam, como, das culturas infantis que ultrapassa
por exemplo, a sociabilidade, participando consideravelmente os limites da inserção
cultural local de cada criança. Isso decorre Isto faz com que estejam mais sensíveis
do fato de as crianças construírem nas suas à causa e possam cada dia mais promover
interações “ordens sociais instituintes”, uma educação melhor para nossas crianças.
que regem as relações de conflito e de Referências
cooperação, e que atualizam, de modo
CORSARO, W. Sociology of Childhood.
próprio, as posições sociais, de gênero, de
Califórnia: Pine Forge Press, 1997.
etnia e de classe que cada criança integra.
(SARMENTO, 2004, p.22) CORSARO, W. A reprodução interpretativa
no brincar ao “faz-de-conta” das crianças.
Portanto, nas atividades do projeto
Educação, Sociedade & Culturas, n. 17.
PIBID Alfabetização, protagonismo
p.113-134.2002.
infantil, suas culturas e ações estão situadas
dentro de uma teia social mais ampla. A MONTANDON, Cléopâtre. As práticas
criança não se encontra em suspensão, parentais e a experiências das crianças.
relacionando-se só com os adultos, mas Educação e sociedade, Campinas, vol. 26,
está imersa nas questões estruturais com n.91, p.485-507, Maio/ago. 2005.
toda sua pluralidade produzida. SARMENTO, Manuel Jacinto & PINTO,
Neste sentido, entendemos que as Manuel. As crianças e a infância: definindo
relações estabelecidas com as crianças conceitos, delimitando o campo. In: PINTO,
nas escolas por onde passam nossos Manuel & SARMENTO, Manuel Jacinto.
bolsistas desdobram-se em aprendizagens As crianças, contextos e identidades.
consistentes. Lidar com crianças em Braga: Ed. Centro de Estudos da Criança,
situações reais fortalece o entendimento Universidade do Minho, 1997.
do que é possível encontrar em cada SARMENTO, Manuel Jacinto.
escola e não apenas do imaginário da Imaginário e culturas da infância.
criança perfeita, idealizada. Por isso, não Cadernos de Educação. FaE-UFPel.
só as crianças aprendem, mas também Pelotas.n.21.p.51-69.jul-dez .2003.
os acadêmicos(as) podem comover-se, SARMENTO, Manuel J. As Culturas da
sensibilizar-se com cada história de vida. Infância nas Encruzilhadas da Segunda
Modernidade. In: SARMENTO, M. J.;
CERISARA, A. B. Crianças e Miúdos:
Perspectivas sociopedagógicas da infância
e educação. Porto: Asa, 2004.

151
O TRABALHO COM OS BEBÊS
E OS PEQUENOS TESOUROS
A DESVENDAR
Marisa Zanoni Fernandes
Coordenadora de Área

Deize Michele R. Friedrich


Professora Supervisora

Dulciléte Maria D. dos Santos


Lídia Cordeiro Nogueira
Rosemary de Souza Feliciano
Simone Gustavo Monteiro
Sônia Prestes de Oliveira
Claudia Regina Teixeira
Licenciandas

O presente trabalho objetiva relatar algumas experiências desenvolvidas pelo grupo


do PIBID – Educação Infantil, na turma do Berçário I, do Núcleo de Educação Infantil Anjo
da Guarda, no município de Balneário Camboriú. O foco do subprojeto está vinculado a
duas temáticas do projeto do PIBID: as relações interpessoais dos bebês e o envolvimento
com o meio; o envolvimento e a corresponsabilização das famílias. Algumas questões
nortearam o processo de investigação, entre elas se destacam: que condições favorecem
e oportunizam as trocas entre bebês, tanto o domínio do mundo dos objetos quanto as
relações interpessoais? De que forma pode ocorrer a relação entre os contextos educativo
e familiar? Quais são as ações promotoras
de interlocução e corresponsabilização da
família na educação e cuidado das crianças?
Que materiais e espaços permitem observar
a competência e o protagonismo dos bebês?
Tomando como desafio as
questões citadas anteriormente, o grupo
152
1 Os Cestos dos Tesouros consistem em cestos
repletos de objetos que são colocados à disposição
organizou vivências, sobretudo voltadas
dos bebês, para que eles explorem livremente.
à reorganização dos espaços, como a Não se tratam de brinquedos comprados.
produção de caixas temáticas e de cestos Proposta de Goldschmied e Jackson (2006).
dos tesouros1 como estratégia de promoção,
envolvimento e protagonismo, tanto dos Sônia Jackson, que desenvolveram uma
bebês quanto de suas famílias. abordagem denominada de Brincar
Nesta perspectiva de trabalho, a Heurístico. O brincar heurístico trata-
primeira ação do grupo foi observar o se do brincar baseado na exploração e
ambiente e catalogar o que havia nele em na curiosidade dos pequenos. A palavra
termos de brinquedos e objetos. Assim, “heurístico” vem do grego eurisko e
constou-se que, apesar de a sala possuir significa descobrir, alcançar a compreensão
certa quantidade e variedade de brinquedos, de algo. Logo, o foco do brincar está na
não havia uma lógica na sua organização e descoberta e também na manipulação de
poucos destes materiais estavam ao alcance objetos como sementes, caixas, tapetes de
dos bebês. A realização da contagem e da borracha, bolas de pingue-pongue, novelos
seleção, logo então, apontou a necessidade de lã, pequenos objetos de madeira, cones,
de reorganização e ampliação do contato potes, entre outros (GOLDSCHMIED;
dos bebês com materiais e objetos diferentes JACKSON 2006).
dos que ali estavam. Entre as ações Os materiais e os objetos coletados
desenvolvidas, destaca-se a construção foram organizados por tipo e função:
de Cesto dos Tesouros em parceria com sonoros, elementos da natureza, materiais
as famílias: sugeriu-se que as famílias para o jogo simbólico, como objetos de
enviassem para a escola objetos e materiais limpeza, utensílios de cozinha e outros.
de acordo com a proposta, ou seja, não O objetivo foi possibilitar o manuseio e a
poderiam ser brinquedos comprados, para exploração de diferentes objetos, bem como
tal ação, definiu-se uma lista de sugestões. provocar surpresas e descobertas, estimular
Esta ação resultou em cinco (5) cestos dos a observação, desenvolver os sentidos e
tesouros, havendo a participação efetiva da instigar a curiosidade.
maioria das famílias, além das pibidianas e Para compreender como os bebês
das professoras da turma. iriam interagir com os materiais, que
Cabe destacar que esta ação foi condições favoreceriam e oportunizariam as
inspirada no trabalho das educadoras trocas entre bebês, o espaço foi organizado
americanas Elinor Goldschimied e e os bebês divididos em pequenos grupos.
153
Deste modo, observaram-se os bebês que leva a produzir novas formas e
em suas escolhas, interagiu-se com eles, diferentes funções (SANTIN 2001). Por
encorajando-os a essa experiência. estes fatos esse material passou a fazer
Verificou-se que, de fato, conforme parte da rotina dos bebês e da sala e com
destaca as orientações curriculares para o ele puderam conhecer e explorar objetos,
brincar do Ministério da Educação, “o cesto ampliando as possibilidades de brincadeira,
com objetos é importante para ampliar a demonstrando por meio de sorrisos e de
experiência do bebê, que usa os sentidos envolvimento a satisfação em descobrir
novas formas de brincar e novas funções
para manipular, explorar e experimentar os
dos objetos.
objetos e entender o mundo em que vive”
(BRASIL, 2012, p. 19). É importante destacar que a
proposta também se estruturou no sentido
Corroborando nesta linha de
de proporcionar vivências que, muitas
compreensão do brincar para os bebês,
vezes, seriam negadas para os bebês. Assim,
Kishimoto (2010, p.11) afirma que “o
objetivando a construção da identidade e
brincar desperta a curiosidade das crianças
o reconhecimento da própria imagem por
na exploração de objetos e brinquedos e
meio da visualização de fotos, confeccionou-
leva-as a verem o que se pode fazer com
se um “cesto da identidade” usando caixas
cada objeto”. Portanto, percebeu-se que,
de leite, colando a foto dos bebês e das
quando se organizam espaços e momentos professoras. Observou-se que brincaram
em que os bebês têm a possibilidade de de diferentes formas: sentaram em cima,
explorar materiais e objetos livremente, de observaram curiosos, andaram pela sala
criar, de interagir, reconhece-se o potencial segurando as caixas na mão, beijaram,
dos pequenos, suas imensas capacidades de olhavam e apontavam uns para os outros,
exploração e envolvimento. balbuciavam, tentando comunicar para as
Ressalta-se que os cestos tinham professoras e amigos o que estavam vendo.
objetos e materiais muito simples e do Neste contexto e considerando
cotidiano das famílias, no entanto isso o espaço como elemento educador, é
não foi um obstáculo para o brincar, pois fundamental que esteja organizado de modo
quando se oferece um brinquedo “pronto”, a respeitar as especificidades da criança,
ele apenas pede para ser usado dentro possuindo uma identidade que reflita a
das funções que o outro lhe destinou. cultura, as necessidades de encontro, de
Dificulta assim, a imaginação criativa recolhimento, de movimento, de descoberta,
154
para todos que ali permanecem se sentirem aquilo que chamou a atenção ou despertou
pertencentes e conectados com aquele o interesse; fizeram associações ao tentar
espaço. Para experienciar esse pressuposto, abrir a janela ou apertando o interruptor
realizou-se a construção de uma cabana com fixado no armário, querendo acender a luz
canos de PVC, que envolveu muitas etapas: para adentrar na cabana. No armário das
corte dos canos, montagem da estrutura, tampinhas: fizeram movimentos de um
costura da estrutura de tecido e confecção lado para outro, observavam, colocavam
da decoração. na boca, brincavam de esconde-esconde,
A construção desta cabana levando brinquedos para brincar em
proporcionou mais um espaço para pequenos grupos. As professoras do período
brincadeira e interação, instigando a vespertino (turno posterior de trabalho)
curiosidade e a imaginação. A cabana relataram que sempre que utilizavam esse
decorada de modo que se tornasse um espaço era a maior festa, pois ficavam
espaço acolhedor e harmonioso, resultando animados esperando por esse momento.
ao mesmo tempo em um ambiente para A ludicidade é uma necessidade
novas descobertas e aprendizagens. Por do ser humano em qualquer idade,
isso também foram confeccionadas cortinas principalmente na infância, na qual ela deve
de tampinhas coloridas e foi realizada ser vivenciada, não apenas como diversão,
a instalação de vários interruptores de mas com o objetivo de desenvolver as
luz no armário próximo à cabana para potencialidades da criança. Ao refletir-se
manipulação dos bebês. sobre a importância da organização dos
Buscou-se assim, também, construir espaços no processo de desenvolvimento
para e com as pibidianas a compreensão infantil, acredita-se que se faz cada vez
de que a organização do espaço também mais necessário proporcionar vivências
revela a concepção de criança, de educação e situações diversificadas, que ampliem
e, sobretudo, da função do professor nesta as possibilidades de criação, exploração
etapa da educação, pois Zabalza destaca: e “pesquisa” infantis, pois é na interação
A forma como organizamos e com os brinquedos e com o meio que vão
administramos o espaço físico de construindo os seus conhecimentos e
nossa sala de aula constitui, por si só, enriquecendo suas experiências.
uma mensagem curricular, reflete o
nosso modelo educativo (...). A forma
como organizamos os espaços e cada
uma de suas áreas e elementos reflete
direta e indiretamente o valor que lhe
damos e a função que lhe outorgamos
e, além disso, diz muito em relação ao
tipo de comportamento instrutivo e
transmite o que esperamos de nossos
alunos(as). (ZABALZA, 1998, p. 249).
Conforme as imagens, observou-
se que os bebês se sentiram à vontade na
cabana e com as propostas: exploraram
155
Construir um ambiente propício e GOLDSCHMIED, Elinor; JACKSON,
atrativo para os bebês possibilitou ao grupo Sonia. Educação de 0 a 3 anos: atendimento
uma reflexão contínua entre teoria, prática em creche. 2. ed. Porto Alegre: Artmed,
e a busca pelo olhar sensível, contribuindo 2006.
também para a formação estética e a KISHIMOTO, Tizuko Morchida.
construção da identidade do professor da Brinquedos e brincadeiras na educação
escola da infância. Deste modo, além da infantil. 2010. Disponível em: <http://
percepção clara que os bebês precisam e portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em:
merecem urgentemente novos espaços, out. 2015. 18p.
novos olhares sobre suas capacidades,
SANTIN, S. Educação Física: da alegria
avançou-se na compreensão de que eles
do lúdico à opressão do rendimento. 3. ed.
podem ‘desvendar pequenos tesouros’,
Porto Alegre: EST Edições, 2001.
quando oferecidos por um professor atento,
sensível, pois estão sempre prontos e ZABALZA, Miguel A. Qualidade na
ansiosos para novos desafios. educação infantil. Porto Alegre: Armed,
1998.
Referências
BRASIL. Ministério da Educação.
Secretaria de Educação Básica. Brinquedos
e brincadeiras nas creches: manual
de orientação pedagógica: módulo II
brinquedos, brincadeiras e materiais para
bebês. Brasília: MEC/SEB, 2012.

156
METODOLOGIA DA
MATEMÁTICA: uso de jogos
didáticos metodológicos na
construção de conceitos
Maria Luiza P. Lemos
Coordenadora de área subprojeto: Metodologia da Matemática

Alexandra Rodrigues
Supervisora

Christane Capraro
Rosangela A. R. dos Santos
Edmara Luzia Stopasol dos Santos
Jucimara dos Santos K. de Souza
Bolsistas

Ensinar Matemática é desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento


independente, a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Os
educadores matemáticos devem procurar alternativas que motivem a
aprendizagem e, desenvolvam a autoconfiança, a organização, a concentração,
estimulando as interações do sujeito com outras pessoas (ALVES, 2007).

O uso de jogos e de curiosidades no ensino da Matemática pode configurar-


se uma dessas alternativas, pois tem como objetivo despertar o interesse
do aluno por essa disciplina, mudando a rotina da classe e propiciando
uma interação efetiva entre professor e aluno(s). A aprendizagem por
meio de jogos, como dominó, quebra-cabeça, palavras cruzadas, memória
e outros, permite que o aluno faça dela um processo interessante e
divertido (ALVES, 2007).
Esses pressupostos alicerçaram o subprojeto PIBID/Matemática, intitulado
Metodologia da Matemática: uso de jogos didáticos metodológicos na construção
157
Com base nos objetivos mencionados,
o subprojeto está norteado por três eixos
articuladores:
1. A investigação sobre o fazer
pedagógico e o aprofundamento
dos pressupostos teóricos e
metodológicos do ensino de
Matemática.
2. A vivência do ensino de
Matemática no contexto da sala
de aula: a Matemática como
instrumento de compreensão do
cotidiano por meio dos blocos de
conteúdos.
3. A projeção e a execução de
metodologia e materiais
de conceitos, que tem como objetivo inovadores de intervenção
oportunizar processos e metodologias nos processos de ensino e
que favoreçam a construção de conceitos aprendizagem na Matemática.
matemáticos tanto entre futuros professores Nesta direção, pretende-se buscar
que se encontram em formação inicial no uma Matemática mais significativa,
curso de Pedagogia (licenciandos) quanto mesmo sendo ainda considerada como
entre docentes em efetivo exercício na matéria difícil. Sabe-se que a Matemática
escola pública, intervindo e contribuindo sempre foi vista como uma vilã em todos
para a melhoria da aprendizagem em os níveis de ensino, uma disciplina “chata”
matemática dos alunos das séries iniciais do e “difícil”, assim dizem alguns alunos
Ensino Fundamental. Também é objetivo dos diversos níveis de aprendizagem em
proporcionar aos licenciandos a inserção em todas as escolas do país. Observa-se isso
contexto real da sala de aula pela vivência também por meio das médias nacionais.
de experiências docentes em matemática Os Parâmetros Curriculares Nacionais
que envolva o processo de planejamento de Matemática apontam a resolução de
(diagnóstico da realidade, criação de problemas, a história da Matemática, os
recursos e de situações didáticas) da prática jogos educativos e as tecnologias digitais
propriamente dita (desenvolvimento das como caminhos a serem percorridos, como
situações em sala de aula) e da avaliação propostas metodológicas. A articulação
(análise reflexiva das ações realizadas) e dessas propostas metodológicas, em que
oportunizar a vivência de um processo os blocos de conteúdo serão contemplados,
de ação-reflexão-ação, promovendo um poderá contribuir com uma aprendizagem
permanente movimento de construção da dinâmica da Matemática que possibilite
própria prática a partir de significações prazerosas descobertas por observação,
atribuídas pelo licenciando em virtude de do uso e da construção do conhecimento
suas próprias experiências e estudos. matemático nas ações do cotidiano, pondo
158
em questão a visão restrita da repetição municipal de ensino de Itajaí localizada
e memorização de fórmulas e conceitos. nos bairros Espinheiros e São Roque, como
Dessa forma, cabe ao professor buscar parte do Programa Institucional de Bolsa
metodologias significativas que desenvolva de Iniciação à Docência – PIBID – da
no aluno a satisfação e o prazer de aprender Universidade do Vale do Itajaí.
essa disciplina. As metodologias empregadas foram:
Nessa perspectiva, a proposta 1. Apresentação de vídeos que
tem como objetivo ampliar a formação mostraram o surgimento dos números, a
dos alunos de Pedagogia no campo importância da Matemática, a aplicação dela
do ensino de Matemática por meio da em diversas situações, ou seja, vídeos que
inserção no contexto da sala de aula demonstram uma nova visão da Matemática;
e do desenvolvimento de projetos de
2. Aplicação de um texto que utiliza
intervenção na prática pedagógica presente
a linguagem matemática para narrar uma
nas escolas contempladas pelo subprojeto
história, cujo objetivo era o de familiarizar
e em colaboração com os professores que
os alunos com a linguagem matemática,
lecionam nas séries iniciais do Ensino
aprimorando a interpretação de textos e
Fundamental, contribuindo tanto para a
melhoria da formação do pedagogo nesse promover o diálogo entre a Matemática e
campo de ensino, quanto para o aumento da o Português;
qualidade do ensino das crianças que estão 3. Uso de metodologias diferenciadas
nas escolas públicas da região de Itajaí. para o ensino de conteúdos matemáticos
como, por exemplo, a construção de trilhas
Apresentam-se os resultados da
com cálculos matemáticos desenvolvendo o
aplicação de metodologias significativas no
raciocínio lógico por meio das brincadeiras
ensino da Matemática a alunos das séries
lúdicas, os jogos.
iniciais da Escola Básica Professora
Thereza Bezerra de Athayde, da rede 4. Formação de figuras planas e
espaciais com recortes, e a construção
de barcos para trilha com o Tema Volvo
Ocean Race, incentivando, dessa forma, a
criatividade dos alunos.
5. Resolução de exercícios de
lógica matemática, para que o aluno, ao se
envolver com situações-problema, possa
lidar com dificuldades e resolvendo com
êxito para a solução deles.
6. Elaboração e execução de uma
gincana, cuja finalidade foi a de desenvolver
o raciocínio lógico, o cálculo mental e a
memorização, aspectos que facilitarão o
aprendizado em todas as disciplinas. Nessa
gincana, foram aplicadas várias provas,
159
entre elas a montagem de quebra-cabeça, Conclui-se que a atuação do PIBID na
a organização de palavras em ordem Escola Básica Professora Thereza Bezerra
alfabética e operações matemáticas. de Athayde, com a execução de novas
7. Exposição das atividades para metodologias no ensino da Matemática,
comunidade escolar das atividades promoveu uma significativa melhora no
desenvolvidas pelos alunos, na qual ocorreu aprendizado dessa disciplina, ou seja, o
a interação entre pais e alunos. PIBID/Matemática alcançou um de seus
objetivos, o de modificar a visão do alunado
Huizinga (1986, p.30) afirma
em relação à disciplina de Matemática.
que o objetivo do lúdico no processo
ensino-aprendizagem: “[...] é modificar As discussões acerca da importância
as estratégias relacionais do indivíduo e das metodologias de ensino da Matemática,
levá-lo a desenvolver o mais plenamente além de contemplarem uma interação
possível sua capacidade de ação inteligente e efetiva entre professores e alunos de
criadora, seja seu potencial íntegro ou esteja distintos níveis de escolaridade em sala
ele afetado por deficiências de qualquer de aula, implementam atividades práticas
origem”, e o objetivo da aplicação de novas e lúdicas como forma de romper com
metodologias de ensino da Matemática resistências e promovendo um ensino
foi, exatamente, o de buscar a capacidade matemático emancipador.
de criar, de solucionar problemas e de Referências
aprimorar o raciocínio coerente dos alunos. ALVES, Sandra de Oliveira. O lúdico como
No decorrer de cada atividade realizada motivação nas aulas de Matemática, artigo
em sala de aula, percebe-se melhoras na publicado na edição nº 377, Jornal Mundo
interação dos alunos com a Matemática. Aos Jovem, junho de 2007, página 5.
poucos, eles passaram a ter mais interesse em HUIZINGA, J. Homo Ludens: o jogo
aprender e conhecer a disciplina que parecia como elemento da cultura. São Paulo:
“assustadora” para muitos. Perspectiva, EPU, 1986.
GINCANA AÇÃO
SUSTENTÁVEL: EDUCAÇÃO
AMBIENTAL PARA A VIDA!
Renata Cleiton Piacesi Corrêa
Coordenadora de Área

Ronan Adinael Pinheiro


Professor Supervisor

Fernanda Tomasi
Jackson Luiz Severiano dos Santos
Renata Patrícia Mendes
Viviane Martins Corrêa
Licenciandos

O subprojeto de Licenciatura em Pedagogia, denominado Pedagogia Anos Iniciais,


com foco em Alfabetização Científica, planejado para ser desenvolvido com os estudantes
de escolas do Ensino Fundamental, Anos Iniciais, da rede pública de ensino da região
de abrangência da UNIVALI, em atendimento ao Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência (PIBID), tem como pressuposto fundamental a compreensão
de que nessa etapa da escolaridade a criança tem direito à compreensão e ao acesso ao
conhecimento científico, que é “[...] uma produção social, patrimônio histórico e cultural
da humanidade.” (BRASIL, 2012, p. 102).
Os trabalhos desenvolvidos pelo subprojeto do PIBID no Grupo Escolar Elisa
Gessele Orsi, localizado no bairro Fazendinha, Itajaí, tem sua peculiaridade voltada para
todos os alunos da unidade de ensino, mas principalmente aos alunos do Atendimento
Educacional Especializado (AEE), serviço da Educação Especial, que atende alunos com
Deficiência, Transtorno do Espectro Autista e Altas Habilidades/Superdotação.
O projeto desenvolvido tem por objetivo: promover o resgate dos valores
ambientais para conscientização da sustentabilidade e formação estética por meio da
revitalização dos espaços da escola, produção de jogos lúdico-pedagógicos e realização
161
de gincana com recolhimento de resíduos O segundo resultado se deu pelo
descartáveis e recicláveis, envolvendo engajamento dos alunos na preservação
assim toda comunidade local e escolar, ou ambiental por meio da gincana Ação
seja, professores, funcionários, alunos e Sustentável, em que eles trouxeram uma
familiares, a fim de minimizar as ações de vez por semana à escola resíduos recicláveis
degradação e de auxiliar na conservação e reutilizáveis, previamente trabalhados
do meio ambiente. com os alunos, através de instrumentos
Para isto foi criado pelo grupo o elaborados para que pudessem se organizar.
projeto Revitalização com Sustentabilidade, Cada resíduo tinha uma pontuação, fazendo
por meio do qual se desenvolveram diversas com que cada período revelasse uma equipe
atividades dentro e fora da escola, mobilizando vencedora. A turma se tornou equipe,
a comunidade escolar e entidades ligadas à possuindo uma cor e nome, representando
preservação do meio ambiente. O primeiro um material reciclável, bem como precisou
resultado deste projeto foi a parceria com criar um grito de guerra para a torcida.
a Fundação do Meio Ambiente de Itajaí Os materiais trazidos pelas turmas,
(FAMAI) e a Recicla Vale. Através da como latinhas, óleo vegetal, pilhas,
FAMAI foram disponibilizadas cartilhas baterias, eletrônicos, papel e lâmpadas,
sobre desenvolvimento sustentável e uma eram recebidos pelo grupo do PIBID,
palestra aos alunos da unidade escolar sobre contabilizados, armazenados e depois
meio ambiente, resíduos sólidos e reciclagem. destinados às entidades responsáveis. Para
Ao conhecer a Recicla Vale, o encerramento da gincana foi promovida
possibilitou perceber de perto um pouco do uma caça ao tesouro. Faixas e coletes com
trabalho que é desenvolvido pela entidade as cores das equipes foram entregues aos
tanto no que tange à reciclagem dos alunos e reforçados os seus gritos de guerra.
materiais recolhidos quanto ao trabalho As premiações foram para: melhor grito de
social que desempenham com as crianças guerra, melhor torcida e equipe vencedora
da comunidade. geral da gincana. A equipe ganhadora,

162
A participação dos acadêmicos no
trabalho desenvolvido pelo PIBID na
escola por meio da elaboração dos projetos
além do troféu, participou de uma trilha nas diferentes áreas do conhecimento
ecológica e ganhou um quite de lanche. tem aproximado os acadêmicos do
Nesse percurso, foi vivenciado no espaço conhecimento científico, ensinando-os a
educacional uma vasta gama de experiências relacionar alguns conceitos aos aspectos
que contribuirão profundamente para didático-pedagógicos, como: a rotina da
a prática como professores quanto ao escola; a organização do ambiente; a seleção
desenvolvimento de projetos. dos conteúdos a serem trabalhados; a
metodologia a ser efetivada; o planejamento
Com muita organização, persistência,
e as suas adequações; a avaliação do processo
dedicação e bom humor, foi possível vencer
de aprendizagem, promovendo a reflexão-
as dificuldades que foram surgindo e foi
ação da prática pedagógica e favorecendo
grande a participação dos alunos, pais
a formação docentes, tão relevante e
e comunidade escolar em geral. Não se
necessária na formação dos estudantes dos
esperava tamanha participação e nem o
cursos das licenciaturas.
volume de resíduos arrecadados durante
esses quase três meses de gincana. Ao longo Referência
do caminho, devido ao trabalho em equipe, BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
conseguiu-se desenvolver nos alunos uma de Educação Básica. Diretoria de Currículos
“Educação Ambiental para Vida” (slogan e Educação Integral - DICEI. Coordenação
criado para as ações desenvolvidas). O Geral do Ensino Fundamental COEF.
caminho da educação ambiental, além de Elementos conceituais e metodológicos
longo, é também contínuo, de mudança para definição dos direitos de
de hábitos e atitudes, evidenciando a aprendizagem e desenvolvimento do ciclo
importância que o meio ambiente tem para de alfabetização (1, 2, e 3, anos) do ensino
a vida humana. fundamental. Brasília: MEC/SEB, 2012.
163
PROVOCAÇÕES ARTÍSTICO-
FILOSÓFICAS
Fernanda Estela Rocha
Jussara Galiotto de Souza
Mayara Wollinger
Michelle Mafra
Patricia da Rosa
Priscila Vieira
Licenciandas

Edgar Piva
Coordenador de área

Aline Moraes Lima


Supervisora

O Subprojeto Pedagogia - Educação


de Jovens e Adultos, no contexto do
Programa Institucional de Bolsas de
Iniciação à Docência (PIBID), teve seu
início no primeiro semestre de 2011, no
Núcleo Avançado de Ensino Supletivo –
NAES, localizado no município de Tijucas,
na Rua João Manoel Reis, nº 100, Centro.
A Instituição tem como segmento o Ensino Fundamental e Médio, com aulas presenciais
diurnas e noturnas.
O subprojeto tem seu enfoque direcionado à Educação de Jovens e Adultos (EJA),
e como eixo articulador a escolarização como possibilidade de novas oportunidades de
inserção no mundo do trabalho. Os alunos da EJA buscam a escola para retomar sua
trajetória escolar, muitas vezes, interrompida e motivada pela demanda crescente de um
nível de escolaridade cada vez maior para inserção no mundo do trabalho, na cultura e
na própria sociedade. Desta forma, esta proposta busca promover a inclusão de temáticas
específicas do mundo do trabalho e da cidadania no currículo da EJA ou ajustar temáticas

164
que têm como finalidade prepará-los
criticamente para as novas competências
de inserção ocupacional. A escola não
deve ser refém das demandas do mercado
de trabalho, devendo preocupar-se de
forma ampla com a formação do cidadão
que procura inserir-se de forma crítica no
mundo do trabalho.
Este subprojeto tem como objetivo intolerância de professores, discriminação,
também desenvolver nos licenciandos preconceito e medo de fracasso escolar.
que participam do PIBID a competência Nesse sentido, optou-se por trabalhar
comunicativa e a formação estética, cujas durante o segundo semestre de 2015 com
habilidades são de grande importância intervenções artísticas e filosóficas com
para o exercício da docência em todas as alunos e professores da instituição, visando à
modalidades de ensino e se desenvolve em reflexão e à exploração da arte como arte, isto
torno de 3 eixos norteadores: 1: “Melhoria é, da arte como experiência de fruição e de
das práticas educativas aplicadas à educação da sensibilidade. A organização de
escolarização dos estudantes trabalhadores momentos de provocação artística e filosófica
para inserção no mercado de trabalho”; 2: dentro da escola teve como objetivo o
“Ajuste curricular que promova temáticas desenvolvimento do senso crítico e reflexivo
relacionadas ao mundo do trabalho e à e a formação estética de alunos e professores.
cidadania”; 3: “Facilitador do aprendizado As intervenções obtiveram como
por meio da cultura e literatura”. resultado a produção de um objeto de
Amparados pelos eixos norteadores aprendizagem digital. Tal objeto de
do subprojeto EJA, desenvolveu-se em aprendizagem ficará disponibilizado no
2015 o projeto “Práticas e aprendizagens laboratório de informática da escola e
interdisciplinares: objeto de aprendizagem poderá ser utilizado pelos professores e,
digital a partir de intervenções artísticas quem sabe, servir de modelo para que se
e filosóficas”. criem outros objetos de aprendizagem.
Por meio das atividades A metodologia utilizada foi a
desenvolvidas pelas pibidianas na Educação interação de alunos em momentos artísticos,
de Jovens e Adultos, observou-se a carência sejam artes plásticas, dança, música, teatro,
de atividades voltadas à formação estética cinema e a partir daí foi proposta a reflexão
do ser humano, percebendo-se um grande acerca da apreciação realizada. Após as
índice de evasão, muitas vezes, causada pela intervenções, foi criado um objeto de
aprendizagem digital, disponibilizado em
todos os computadores do laboratório de
informática e avaliado pelos alunos após
interagirem com o aplicativo.
As interações foram feitas na escola,
com os alunos e professores e também fora
165
dela, como, por exemplo, na participação do desfile cívico, em que os alunos participaram
do planejamento e da execução da provocação.
Dentre as reflexões propostas, alguns questionamentos se fizeram necessários
sobre a vida, os estudos, a relação com os outros. Tais provocações foram feitas de forma
sutil, com pequenos cartões deixados nas carteiras da sala, nos carros e por meio de painéis
expostos na escola.
O processo de provocações para a criação do objeto de aprendizagem digital serviu
para a reflexão das futuras acadêmicas, que desenvolvem atividades na EJA, acerca de sua
formação estética, pois ao escolher as atividades artísticas e culturais, percebeu-se que
muitas delas nunca haviam apreciado uma obra de arte, realizado ida ao teatro ou se dado
conta dos diversos gêneros, ritmos e instrumentos que a música possui.

166
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA
NOS ANOS INICIAIS DO
ENSINO FUNDAMENTAL
Cristiano Romais
Coordenador de Área

As atividades do subprojeto de Licenciatura em Pedagogia, Alfabetização Científica,


inserido no Programa de Iniciação à Docência (PIBID), são desenvolvidas com estudantes
dos anos iniciais do Ensino Fundamental nas escolas EEB Carlos de Paula Seára e EEB
Pedro Paulo Rebello, da rede pública de Itajaí. Desde 2015, investigações e ações têm sido
realizadas com o objetivo de auxiliar na aprendizagem de conhecimentos científicos naquelas
escolas, as quais são justificadas pelo pressuposto de que nessa etapa da escolaridade a
criança tem direito à compreensão e ao acesso ao conhecimento científico que é “[...] uma
produção social, patrimônio histórico e cultural da humanidade.” (BRASIL, 2012, p. 102).
Lorenzetti e Delizoicov (2001) afirmam que o processo de escolarização pode ser
realizado desde o início com foco na Alfabetização Científica. Isso porque o ensino de ciências
contribui para o desenvolvimento da leitura e da escrita da criança, a partir do momento em
ocorre a atribuição de sentidos e significados às palavras e aos discursos.
O ideal é a promoção da Alfabetização Científica nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, de modo que o estudante possa torna-se parte da população que possua
conhecimentos científicos e tecnológicos e, ao mesmo tempo, o possibilite a se desenvolver
na vida diária, a resolver os problemas e as necessidades de saúde e sobrevivência básica
e tomar consciência das complexas relações entre ciência e sociedade (FURIÓ et al. apud
CHASSOT, 2003).
Sendo assim, abrem-se as possibilidades de termos estudantes com atitudes
críticas “[...] diante de acontecimentos sociais que envolvam conhecimentos científicos e
tecnológicos, e tomada de decisões sobre temas relativos à ciência e à tecnologia, veiculadas
167
pelas diferentes mídias, de forma analítica e As investigações e as ações deste
crítica” (BRASIL, 2006, p. 63). Para Chassot subprojeto do PIBID são pautadas em
(2000), “a Alfabetização Científica é o práticas inovadoras com os pressupostos
conjunto de conhecimentos que facilitariam da Alfabetização Científica, possibilitando
aos homens e mulheres fazer uma leitura do metodologias e estratégias que despertam
mundo que vivem. ” (p. 19). Diante disso, a curiosidade infantil e o interesse
pode ser considerada “[...] como uma das investigativo da criança, que se expressa
dimensões para potencializar alternativas por meio de diferentes linguagens.
que privilegiam uma educação mais Quanto à inovação, destacam-se os
comprometida.” (CHASSOT, 2003, p. 91). seguintes eixos e seus respectivos objetivos:
Quanto às ações desenvolvidas no
subprojeto, pode-se destacar:
Visitas educativas:
Aula de campo no zoológico da
SANTUR em Balneário de Camboriú:
conhecer alguns animais e suas
particularidades, bem como a importância
dos animais na vida do planeta.
Parceria com o Museu
Oceanográfico da UNIVALI: este objetivo de apresentar a educação fiscal
espaço de formação diferenciado para de forma lúdica e, ao mesmo tempo,
os acadêmicos(as) do curso de Pedagogia ensinar as crianças sobre impostos e a
possibilita estudos sobre patrimônio sua representação no preço de produtos e
cultural e natural, bem como a preparação serviços, bem como a forma que o poder
de roteiros de visitas ao Museu pelas público aplica os recursos arrecadados em
bolsistas de Iniciação à Docência. educação, saúde, segurança pública e obras
Nesta parceria, o PIBID assume a de infraestrutura entre outros.
responsabilidade de desenvolver a Ação Atividade no laboratório de
Educativa no Museu O c e a n o g r á f i c o , informática: Compras da Zuzu. Esta
elaborando jogos e brincadeiras da atividade incentivou as crianças a
Ludoteca1 do Museu. Estas a t i v i d a d e s realizarem cálculos matemáticos.
repercutem na escola e possibilitam uma
Consumo sustentável &
conexão entre os conhecimentos
brinquedos: oficina para elaboração
estudados nos espaços formal e não formal.
de brinquedos e jogos aproveitando
Economia Solidária e Criativa ou materiais que foram descartados. Mostrar
Educação Financeira e Fiscal: a importância de reutilizar ou reciclar
Leitura do livro Ganhei um materiais e o cuidado ao meio ambiente
dinheirinho o que posso fazer com foram os objetivos desta atividade.
ele?: preparar as crianças a lidar com Os resultados alcançados no subprojeto:
dinheiro, visando a uma consciência menos Dentre os resultados alcançados no
consumista e educando-as a serem capazes subprojeto Alfabetização Científica a partir
de administrar sua vida financeira.
dos diferentes movimentos desenvolvidos,
Consumo sustentável & poupança: pode-se destacar:
confecção de cofre com garrafa pet com
Qualificação na formação dos
o objetivo de mostrar a importância de
licenciandos.
reutilizar ou reciclar materiais e, ao mesmo
tempo, de guardar o dinheiro na poupança, Auxílio na formação de docentes
de gastar apenas com coisas que realmente dos anos iniciais da rede pública.
necessitam, de não agir com impulso na Ações interdisciplinares.
hora de comprar. Alfabetização Científica dos alunos da
Vídeo educativo da Receita educação básica, licenciandos e professores
Federal: Que nem gente grande, com o supervisores. Nesse sentido, o PIBID
169
causa impacto na formação dos futuros Politicas de Ensino Médio. Orientações
professores, e também na docência do curriculares para o Ensino Médio.
professor supervisor que se vê envolvido em Volume 2. Brasília: MEC/SEB, 2006.
atividades que ampliam seu conhecimento BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria
sobre alfabetização científica, bem como de Educação Básica. Diretoria de Currículos
possibilita a ele desenvolver experiências e Educação Integral - DICEI. Coordenação
pedagógicas inovadoras com seus alunos. Geral do Ensino Fundamental – COEF.
Ampliação dos espaços de atuação Elementos conceituais e metodológicos
dos licenciando. O PIBID de Pedagogia, para definição dos direitos de
ênfase na alfabetização científica, desenvolve aprendizagem e desenvolvimento do
atividades no Museu Oceanográfico da ciclo de alfabetização (1º, 2º e 3º anos)
UNIVALI. do ensino fundamental. Brasília: MEC/
Finalmente considera-se que o SEB, 2012.
cenário das discussões sobre Alfabetização CHASSOT, Attico. Alfabetização
Científica – AC no Brasil exige atenção Científica: questões e desafios para a
redobrada. Práticas que contribuam educação. Ijuí: Unijuí, 2000.
demarcar caminhos sobre este tema sempre CHASSOT, Attico. Alfabetização Científica:
serão bem-vindas. O PIBID contribui para uma possibilidade para a inclusão social.
isto por meio das múltiplas possibilidades e Revista Brasileira de Educação, jan./
dos desafios na construção de uma formação fev./mar./abr. 2003, n0 22, 89-100, 2003.
docente pautada na interdisciplinaridade,
LORENZETTI, Leonir; DELIZOICOV,
na reflexão e na ação contínua.
Demétrio. Alfabetização Científica no
Referências Contexto das Séries Iniciais. Ensaio –
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria Pesquisa em Educação em Ciências, v. 3, n.
de Educação Básica. Departamento de 1, p.1-17, jun. 2001.
PIBID INTERDISCIPLINAR
EM FOCO:
saber, saborear, viver.
Yára Christina Cesário Pereira
Coordenadora de Área

A perspectiva interdisciplinar no
contexto das ações desenvolvidas com/
para/pelas pibidianas no subprojeto
INTERDISCIPLINAR PIBID/UNIVALI
no CEM Tomaz Francisco Garcia (Balneário
Camboriú/SC) é concebida como um
processo de interação entre o conhecimento
racional e o conhecimento sensível; entre
conhecimento científico, escolar e cotidiano
indissociável para a produção do sentido
e do significado da vida da forma como
a conhecemos hoje. Na educação formal, outra concepção de divisão do saber, frisando a
interdependência, a interação e a comunicação existentes entre as disciplinas escolares.
Um desafio sem dúvida, pois as palavras exprimem o que pensamos e o que fazemos.
E o que temos proposto ao grupo (e a mim mesma) nesse momento é um convite à reflexão
sobre o desdobramento da concepção de interdisciplinaridade na prática e, a partir desta,
explorar seu significado. Pensar sobre o que temos realizado com a intenção de dar
significado ao que somos, ao que sabemos e ao que podemos vir a ser e a saber.
Nesse sentindo, o processo educacional (formal e não formal) do presente-futuro
precisa levar em conta a ideia da unidade da espécie humana, sem mascarar sua diversidade.
Há uma unidade humana que não é dada somente pelos traços biológicos do ser, assim como
há a diversidade marcada por outros traços que não os psicológicos, culturais e sociais.
Compreender o ser humano é entendê-lo dentro de sua unidade e de sua diversidade,
conservando a unidade do múltiplo e a multiplicidade do único (MORIN, 2003).

171
Compreender o currículo escolar a ‘o mais politizado, inovado, ressignificado’”
partir dessa perspectiva e, ao mesmo tempo, (ARROYO, 2001, p.13). Isso exige pensar
aprender suas novas interfaces com as estratégias metodológicas que imprimam
diversas dimensões humanas transformam sentido e significado às atividades escolares.
o trabalho educacional na medida em que Este tem sido o foco do subprojeto
este aprendizado se traduza em ações, em INTERDISCIPLINAR: o desenvolvimento
experiências. “O sujeito da experiência é de ações educacionais que possibilitam
um sujeito ‘exposto’” (LARROSA, 2002, aos(as) acadêmicos(as) bolsistas - dos
p. 23). Uma experiência que podemos cursos de licenciatura em Pedagogia, em
entender como contextual, finita, História, em Educação Física e em Letras
desordenada, imprevisível, incalculável e e professores supervisores - formações
singular. Experiência e vida vistas como diferenciadas que ganham sentido e
singularidade. A experiência é o que significado interpretado em sua faceta
nos passa, o que nos toca, o que forma e integradora. No dizer de Fazenda (1996),
transforma (ibid). um projeto intencional de envolvimento
Assim, mergulhar no subprojeto coletivo que excede os conceitos de
Interdisciplinar exige abertura essencial às integração, interação e inter-relação para
experiências que possivelmente ainda serão a construção única do conhecimento.
construídas e partilhadas com vistas ao Educação como um processo-projeto que
aprender e ensinar. Para Nóvoa (1992), o tem como sinônimo a “conscientização”
aprender contínuo é essencial e se concentra do olhar de Freire (1982): desvelamento
em dois pilares: a própria pessoa, como crítico da realidade e ação transformadora
agente, e a escola, como lugar de crescimento sobre esta (no sentido da construção de
profissional permanente. Acrescento uma comunidade humana sem opressores
ao pensamento ao autor em referência nem oprimidos). Tal entendimento de
(1992), a escola como espaço e tempo educação está ancorado na base conceitual
para a construção do pensamento aberto, da abordagem histórico-cultural nos
generoso, flexível, integrador, includente, processos de elaboração conceitual,
interativo com atividades curriculares/ presentes nos estudos de Vygotsky
ações que mobilizem experiências, desvelem (1989). Com base nesses pressupostos, o
fragilidades, provoquem a metarreflexão subprojeto Interdisciplinar contempla três
num movimento contínuo entre sujeitos da eixos organizadores:
docência e dos docentes em formação. Eixo1: O processo de ensinar e
Concebendo o “currículo como aprender no contexto da educação formal: a
texto, discurso [...] como documento prática pedagógica com foco nas vivências:
de identidade” (SILVA, 2000, p.150), ou projeto de formação continuada a ser
ainda como “núcleo e o espaço central mais desenvolvido a partir projetos de trabalho;
estruturante da função escolar [...] e por oficinas/palestras com as temáticas:
causa disso, é o território mais cercado, Interdisciplinaridade; Ética nas relações
mais normatizado [...] eis aí a necessidade profissionais: um diálogo necessário; Projeto
de trabalharmos para que ele seja também Político Pedagógico: o ensinar e aprender
172
em movimento; alfabetização científica; intelectual do mundo circundante; exercitar
trabalhando com pesquisa em sala de aula; a observação como habilidade fundamental
diferentes estratégias de aprendizagem para a compreensão dos sentimentos
com foco no desenvolvimento de operações que se expressam por meio de formas
mentais; elaboração de mapas conceituais; visuais; ampliar o repertório de conceitos
sistematização das estratégias e sequências científicos a partir de expressões artísticas.
didáticas que vêm sendo aplicadas pelos Além disso, o subprojeto desenvolveu a
professores na unidade escolar; elaboração contação de história itinerante em cada
de glossário com os termos pedagógicos sala de aula (um momento diferenciado), a
e base conceitual nas diferentes áreas do produção textual e as pinturas com formas
conhecimento. geométricas. E sonhando com a Escola do

O contexto da sala de aula e


dinâmica no encontro Escola-
Família. Fonte: Bolsistas PIBID
Interdisciplinar, 2015.

Eixo 2: Ciência e Arte na escola: Futuro os alunos do Ensino Fundamental


sementes para a criatividade o qual tem desenham como seria a escola dos sonhos.
por objetivos: ampliar horizontes culturais Vivência da integração entre alunos,
por meio da linguagem estética, biológica, professores que atuam na escola, pibidianos
histórica, reflexiva e integradora dos e conhecimento.
ambientes naturais e culturais; desenvolver
Duarte Jr. (2001) coloca-nos que se
o conhecimento do universo científico
faz necessário um sujeito sensível, aberto
estabelecendo relações com o universo
às particularidades do mundo que o rodeia,
artístico; possibilitar o crescimento da
visão científica, estética, emocional e ampliando sua área de atuação para os

Atividades curriculares, sonhos,


integração da comunidade
escolar. Fonte: Bolsistas PIBID
Interdisciplinar, 2015.

173
domínios sensíveis e corporais que nos são (Florianópolis/SC), ao Museu do Olho,
dados com a existência. Jardim Botânico (Curitiba/PR); exposições
Para o autor em referência, se à arte de artes na Biblioteca da UNIVALI;
cabe o papel de instrumento para a educação dicas básicas de fotografias como recurso
da sensibilidade e para a descoberta de outra didático de alta eficiência; idas ao teatro e
forma de significação que não a conceitual, cinema, cantando e encantando.

parece necessário que sua inserção em O desenvolvimento do estético em


processos educacionais se faça em estreita diferentes espaços está relacionado com o
comunhão com o desenvolvimento de valores prazer de experienciar com o olhar, com
éticos e de um raciocínio lógico (DUARTE o toque, o cheiro e o sabor momentos
JR., 2001, p. 213). Portanto, “uma educação familiares do dia a dia, provocando a
sensível só pode ser levada a efeito por meio múltipla dimensionalidade humana.
de educadores cujas sensibilidades tenham É por esse prisma que a cultura
sido desenvolvidas e cuidadas, [...] como pode ser entendida como um processo de
fonte primeira dos saberes e conhecimentos reinvenção contínua de significados... um
[...] acerca do mundo”. (p.216). fenômeno unicamente humano.

Buscamos realizar diferentes Eixo 3: AMBIENTE URBANO:


ações, tais como: discussões teórico- convivência entre o sistema natural e
epistemológicas relacionadas às artes em sistema construído... um olhar que avalia,
geral; visita técnica a Ilha de Inhatomirim inclui, projeta e muda. Tem por objetivos:
174
instrumentalizar grupos da comunidade socioambiental (relação ser humano -
para que, frente à análise de problemáticas natureza - sociedade - cultura e ciência) e
socioambientais, possam atuar como agentes desenvolvimento sustentável; pesquisa a
transformadores do contexto em que vivem campo no entorno da unidade escolar com
a partir da compreensão das relações de desenho da paisagem, registro fotográfico,
interdependência e complementaridade questionário aplicado junto aos pais dos
que existe entre a paisagem natural e a alunos, entre outras. Muitas experiências,
paisagem cultural; estudar as paisagens no outras vivências, outros olhares.
entorno da escola e/ou da comunidade local Como síntese provisória,
por meio de uma análise temporal e espacial ancoramos nosso pensamento em Bondía
dos seus diferentes aspectos, de maneira a (2002), quando reflete sobre o sujeito da
apontar caminhos para um planejamento experiência. Esse sujeito que não é o sujeito
urbano compatível com a preservação da informação, da opinião, do trabalho,
dos ecossistemas locais; identificar a que não é o sujeito do saber, do julgar, do
percepção ambiental da comunidade em fazer, do poder, do querer [...,] “O que nos
geral e as posturas dos atores urbanos em passa”, o sujeito da experiência como um
relação à convivência entre a necessidade território de passagem, algo como uma
de preservação ambiental e de ocupação superfície sensível que aquilo que acontece
humana; contemplar diferentes saberes afeta de algum modo, produz alguns afetos,
que são ensinados no Ensino Fundamental, inscreve algumas marcas, deixa alguns
configurando a perspectiva de um trabalho vestígios, alguns efeitos.
interdisciplinar e contemplando as suas
O território de passagem como lugar
inter-relações conceituais, historicamente
de chegada ou como espaço do acontecer,
constituídas, entre outros.
o sujeito da experiência se define não por
No ano de 2015 foram realizadas sua atividade, mas por sua passividade, por
as etapas iniciais do eixo 3, que sua receptividade, por sua disponibilidade,
terão continuidade em 2016. A saber: por sua abertura. Trata-se, porém, de uma
Fundamentação teórica sobre educação passividade anterior à oposição entre ativo
ambiental no ensino fundamental, leitura e passivo, de uma passividade feita de
de paisagem; mobilidade urbana; ambientes paixão, de padecimento, de paciência, de
natural e construído; sustentabilidade atenção, como uma receptividade primeira,

175
como uma disponibilidade fundamental, Referências
como uma abertura essencial. BONDÍA. J L. Notas sobre a experiência
Para o autor em referência (ibid.), e o saber da experiência. GERALDI, J. W
o sujeito da experiência é um sujeito “ex- (trad.). In: Revista Brasileira de Educação,
posto”. Do ponto de vista da experiência, Rio de Janeiro: Autores Associados, n.19,
o importante não é nem a posição (nossa jan./fev./mar./abr., 2002, p.25-28.
maneira de pormos), nem a “o-posição” DUARTE JR, J. F. O sentido dos sentidos:
(nossa maneira de opormos), nem a a educação (do) sensível. Curitiba: Criar,
“imposição” (nossa maneira de impormos), 2001.
nem a “proposição” (nossa maneira de
FAZENDA, I. (Org.). Práticas
propormos), mas a “exposição”, nossa
interdisciplinares na escola. 3. ed. São
maneira de “ex-pormos”, com tudo o que
Paulo: Cortez, 1996.
isso tem de vulnerabilidade e de risco.
Por isso é incapaz de experiência aquele MORIN, Edgar. Os setes saberes
que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se necessários à educação do futuro. 8. ed.
propõe, mas não se “ex-põe”. É incapaz de São Paulo: Cortez, 2003.
experiência aquele a quem nada lhe passa, NÓVOA, Antônio.. Formação De
a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe Professores E Profissão Docente.
sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, Lisboa, Dom Quixote, 1992. Disponível
nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem em: <http://repositorio.ul.pt/
nada ocorre. bitstream/10451/4758/1/
Podemos afirmar, então, que o saber FPPD_A_Novoa.pdf.>. Acesso em: 23
da experiência se dá na relação entre o maio 2014.
conhecimento e a vida humana. Essa é a nossa
aposta no PIBID INTERDISCIPLINAR/
UNIVALI.

176
ENCONTRO FAMÍLIA-ESCOLA:
o Chá de Integração e Cultura
como Proposta de Aproximação
Enísia Tolardo Magnavita
Sílvia Letícia França
Professoras Supervisoras

André de Castro Gandra


Yasmin Varela Domingues
Licenciandos

Em 2014 o Centro Educacional Municipal Tomaz Francisco Garcia, localizado à


Rua Biguaçu, 841, no munícipio de Balneário Camboriú, foi contemplado com o Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) do Governo Federal.
O foco desse relato tem o olhar voltado para a (re)construção de uma relação de
intervenção na própria unidade escolar em busca de uma proposta que possa aproximar a
escola da família. Bassedas et al. (1996, p.35) se referem à construção de uma parceria que
possa substanciar o papel da família no desempenho escolar dos filhos e o papel da escola
na construção de personalidades autônomas moralmente e intelectualmente falando.
Acreditamos que a (re)construção dessa parceria é função inicial dos educadores,
levando em consideração a necessidade da família, afim de que se sinta acolhida, ouvida,
compreendida e reconhecida nessa relação. A proposta inicial colocada no grupo foi de
que escola e PIBID realizassem uma atividade que, de maneira informal, mas intencional
e planejada, trouxesse a família para a escola de forma mais descontraída e que a cada
encontro fossem trabalhados temas dinâmicos, que abordassem o cotidiano escolar e
familiar. Contemplamos, assim, o direito à educação que todo ser humano tem, nesse caso,
os pais também possuem esse direito: informação, formação e participação.
A equipe administrativo-pedagógica da escola e professoras supervisoras do PIBID
reuniram-se para analisar de que maneira seria possível envolver a família e chegamos ao
consenso de se fazer um chá com biscoitos e cuca e com dinâmicas de acolhimento, para
que a família pudesse contribuir para a abordagem de diferentes temas. Decidimos, ainda,
177
Articulando ações PIBIB/UNIVALI, CEM
Tomaz Francisco Garcia e PNAIC. Fonte:
os autores, 2014.

encontro houve um aumento no número


de participantes (de 6 para 12). O tema
do encontro trabalhou os sentimentos da
família por meio da dinâmica “Em cada
lugar uma ideia”, abordando a interação
entre mãe e filho/filhos/escola. O resultado
obtido com esta atividade foi a percepção
da importância da interação familiar.
O terceiro Encontro da família ocorreu
no dia 13/11/2014. O tema abordado foi o
que o público-alvo destes encontros seriam Circuito da Alfabetização na Matemática.
pais de alunos dos 1ºs e 2ºs anos das séries Neste circuito foram apresentados jogos
iniciais do ensino fundamental. confeccionados pelas acadêmicas do PIBID
com o apoio das professoras supervisoras,
Em 22 de setembro de 2014, os
UNIVALI, Programa Nacional de
pibidianos começaram a se envolver com
Alfabetização na Idade Certa (PNAIC),
o “Primeiro Encontro da Família: Chá de
professora de apoio pedagógico especial e
Integração e Cultura”, que aconteceu nas
demais professores, direção, entre outros
dependências da escola. Neste dia, o tema
funcionários A descontração foi grande e
abordado foi o incentivo e a valorização da
no final as mães puderam contemplar um
leitura em família por meio de uma contação
vídeo feito no momento em que seus filhos
de história pelo professor e contador de
participaram do circuito. Houve também
histórias da rede municipal de ensino
uma roda de conversa em que elas relataram
de Balneário Camboriú Fabio Aurélio
o que sentiram ao jogar e qual a sua opinião
Castilho, que enredou os presentes com a
sobre os jogos, o que foi possível perceber
história “Lollo Barnabé”. A história aborda
pelos pibidianos.
o diálogo em família ante um universo cheio
de tecnologias que nos distraem. Neste ano de 2015, houve uma
mudança na direção da escola, mas estava
Uma performance teatral apresentou
explícito o interesse em dar continuidade aos
a temática trabalhada no livro, contribuindo
trabalhos realizados em 2014. Desta forma,
para as reflexões pretendidas. Durante a
ocorreu o 4º Encontro da Família, Chá de
atividade, distribuímos livros de leitura
Integração e Cultura. A pedido das mães,
para incentivar a sua prática. Ao final, foi
estendeu-se o evento para os 3ºs anos, que
visível a alegria das mães em participar,
aconteceu em 25 de maio nas dependências
apesar de o número de participantes
da escola, com a participação de 27(vinte e
nesse momento não ser expressivo, mas
sete) mães e três pais. A psicóloga Irmingard
estávamos contando com o aumento de Klix organizou uma roda de diálogo para
participantes para o próximo “Chá”. trabalhar o tema “Autoestima da mulher”.
O segundo Encontro da família: A psicóloga fez uma dinâmica trazendo
Chá de Integração e Cultura foi realizado frases com pensamentos de cantores,
em conjunto com os pibidanos no dia poetas e filósofos. Cada participante lia e
20/10/2014 (das 16h às 17h30 min. Nesse comentava expressando o que compreendia
178
Momento mãe-mulher.
Fonte: Os autores, 2015.

e sentia em relação ao que foi lido junto ao abertura do Chá deu-se com a apresentação
grande grupo. Essas frases falavam sobre do Coral Infantil do Projeto Oficina, da
algo relacionado à vida, aos sentimentos Secretaria Municipal de Educação e estavam
e à autoestima. Houve participação com presentes cerca de 20 crianças juntamente
entusiasmo de todos os presentes. Depois com os professores coordenadores, que
de energizar a “alma”, chá com cuca e encantou a todos com apresentações de três
sorteios de brindes para energizar o corpo. canções. Uma nutricionista fez um diálogo
Momento mãe-mulher. Fonte: sobre alimentação saudável. Utilizaram-
Os autores, 2015.O 5º Chá da Família se duas salas de aula que foram decoradas,
de Integração e Cultura ocorreu no dia com o intuito de tornar o ambiente mais
28/09/2015 nas dependências da escola. aconchegante. Durante os trabalhos
Nosso grupo de pibidianos se expandiu. homenagearam-se os voluntários que se
Naquele momento se contava com 17 dispuseram a ajudar com a exibição de
licenciandos(as) e quatro professoras um vídeo de agradecimento. No decorrer
supervisoras. O tema abordado foi “Saúde e da oferta de serviços, serviram-se chás de
cuidados com a beleza”. Estiveram presentes frutas cítricas, bolo e pão com patê.
oito profissionais, quatro acadêmicas São propostas como estas
do curso de Cosmetologia e Estética da vivenciadas pelos pibidianos que integram
UNIVALI que se voluntariaram a oferecer a comunidade no cotidiano escolar,
serviços de massagem, maquiagem,
manicure e design de sobrancelhas. A Momento mãe-mulher. Fonte: Os
autores, 2015.
aproximando pais, professores e alunos, mediada em relações de confiança, de
proporcionando trocas de experiências que respeito às diferenças e de acolhida à
fortalecem o vínculo entre escola e família. multidimensionalidade humana.
A experiência aprendida pelos pibidianos Nesse sentido, os pibidianos
de acolher a comunidade com um jeito tornam-se coensinantes e coaprendentes
mais leve - com o objetivo da escuta, na construção da autonomia e da autoria
com o aproveitamento das experiências vivenciada nos momentos de estudo, de
familiares na construção dos saberes e das elaboração de estratégias de intervenção e
ações escolares - tem apontado um cenário no compartilhamento de projetos de vida.
otimista na (re)construção dessas relações.
Momentos únicos em que
A relação de cumplicidade efetivamente a escola faz seu papel de
estabelecida entre pibidianos, pais e mães integradora, reavivando o interesse dos
e equipe administrativo-pedagógica traz pais na educação de seus filhos. A ênfase
contribuição no processo de qualificação dos está na busca de soluções para os desafios
bolsistas, potencializando o aprendizado diários enfrentados pela escola e pelas
sobre o estabelecimento de relações famílias em um ambiente encorajador de
escola-família. O fomento de ambientes de que é possível “viver e não ter a vergonha
colaboração e de parcerias e os momentos de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a
de planejamento e organização dos beleza de ser um eterno aprendiz. [...] Eu
encontros são espaço e tempo de articulação sei, que a vida devia ser bem melhor e será”
teoria-prática, efetivando a aprendizagem (GONZAGUINHA).
Referências
BASSEDAS, E. et al. Intervenção Educativa
e Diagnóstico Psicopedagógico. Porto
Alegre: Artmed, 1996.

180
PIBID INTERDISCIPLINAR
E HORTA: protagonismo e
aprendizagem solidária
Eliane Renata Steuck
PPGE UNIVALI/Itajaí

Marinei Elisabete da Silva Sedrez


Anelise Escaravaco
Professoras Supervisoras

1 O PIBID Interdisciplinar processo formativo a qualidade necessária.


O subprojeto PIBID Interdisciplinar A Figura 1 ilustra estes princípios básicos.
UNIVALI teve início no Centro Educacional Figura 1 – Princípios do PIBID
Municipal Tomaz Francisco Garcia em 2013
e, desde então, entre as várias mudanças
pelas quais passou, consideramos relevante
o processo de adequação de dois subprojetos
em um único que concentravam esforços em
campos diferentes: a educação especial e a
educação ambiental.
A partir do segundo semestre
de 2015, os grupos passaram por uma
readequação decorrente da estruturação do
programa no cenário nacional e formou-
se assim o subprojeto Interdisciplinar,
composto por 20 (vinte) licenciandos(as),
quatro professoras supervisoras e uma
professora coordenadora de área. Fonte: STEUCK, E. R. A constituição
Com o objetivo maior de aperfeiçoar de espaços educadores sustentáveis:
e valorizar a formação de professores para diálogos com o Programa PIBID Univali,
a educação básica, ambos seguiram alguns 204 f. Dissertação (Mestrado em Educação_
princípios na intenção de garantir ao Universidade do Vale do Itajaí, 2016.
181
O diálogo, a interação entre os Este texto pretende descrever
diferentes sujeitos, a socialização dos o processo de estudo, de preparação e
saberes e o estímulo à participação de aplicação do projeto horta após as
colaboram para que nas etapas de adequações realizadas nos dois subprojetos.
desenvolvimento do subprojeto seja O projeto atual, em execução, foi
garantido o que sugere o desenho planejado para um período de intervenção
estratégico do PIBID: saberes prévios – nos meses de setembro, outubro e
contexto e vivência – saberes da pesquisa. novembro, totalizando dois encontros para
Os princípios apresentados sugerem a oficina com bolsistas e oito encontros
uma modificação nas concepções dos para vivência pedagógica (intervenção
sujeitos de maneira que a prática docente dos bolsistas em sala de aula). Durante a
seja constantemente “questionada, execução do projeto anterior no primeiro
ressignificada e compreendida em um novo semestre, as potencialidades identificadas
cenário que valoriza elementos da rotina no trabalho com hortas foram fundamentais
escolar, da ação possível e transgressora para sua continuidade.
dos discursos que desmantelam a escola 2 O contexto do projeto horta
e geram imobilismos” (BRASIL, CAPES, O projeto horta foi organizado com
2013, p.30). o objetivo de tornar os espaços ociosos do
Para tanto, as atividades são CEM Tomaz Francisco Garcia em lugares
organizadas de modo a valorizar organizados, agradáveis e produtivos.
a participação desses sujeitos Um espaço físico, localizado nos fundos
como protagonistas de sua própria da escola, chamou a atenção do grupo de
formação, tanto na escolha das
bolsistas por exibir esboços de canteiros e
estratégias e planos de ação,
como, também, na definição e na
por estar cercado.
busca dos referenciais teórico- Logo, os(as)licenciandos(as) e as
metodológicos que possam dar professoras supervisoras foram instigados
suporte à constituição de uma rede a estudar sobre a inserção de hortas
formativa. (op. cit., p.30). em espaços escolares e, em seguida,
Desta forma, as atividades e os elaboraram o planejamento de atividades
projetos que foram planejados e/ou a serem desenvolvidas com os alunos no
executados durante o período em que os momento das séries iniciais. No decorrer
dois subprojetos atuaram na instituição das atividades, foi possível perceber
primaram pelos princípios supracitados. como as contribuições adquiridas por
Por esta razão, a mudança, provocada pela meio de pesquisas e de estudos foram
adequação, contribuiu para um período significativamente importantes para o
de incertezas sobre “se” e “quais” projetos aprendizado de licenciandos, supervisoras
teriam continuidade e, neste movimento e alunos.
de acomodação, foram identificadas A partir de oficinas realizadas no
potencialidades no projeto Horta, cuja contexto de uma pesquisa de mestrado do
proposta teve atividades práticas anteriores Programa de Pós-Graduação em Educação
e estudos teóricos significativos. da UNIVALI, o grupo do PIBID obteve
182
conhecimentos sobre habitats na escola a informação do que se trata, se vai
sustentável1, princípios da permacultura2 dar certo ou não, se é legal, se o
para organizar e praticar atividades nos tempo estipulado vai dar;
espaços livres da escola. [...] nos ativa em sua metodologia
mecanismos onde liberamos
Como resultado da oficina, foram os nossos processos de pensar
planejadas as etapas de execução do projeto e sentir de uma forma muito
junto a uma turma de quarto ano, com dinâmica, sendo assim libera nossa
um total de 27 alunos e a participação da criatividade...;
professora regente3. [...] um fato que me chamou muito
A sequência de atividades, a atenção é a afeição que alguns
desenvolvidas nas oficinas, oportunizaram alunos têm por nós. (Trechos
aos bolsistas, licenciandos e supervisora, extraídos dos relatórios dos
bolsistas do PIBID Interdisciplinar
além da vivência, discussões e reflexões
– grifo nosso).
sobre a prática docente. Excertos dos
A ideia de que há uma oposição
relatórios e falas dos bolsistas sinalizam
entre teoria e prática é um dos desafios do
que a oficina contribuiu para:
processo de formação de professores e, neste
sentido, Freire sinaliza que a teoria sem a
[...] ter teoria e prática;
prática “pode ir virando um blá-blá-blá e a
Não agir pelo achismo, planeje,
prática, um ativismo” (2014, p. 24), o que
se prepare, desenvolva o que está
é reconhecido pelos licenciandos quando
planejando;
[...] nos abriu os olhos para sinalizam a necessidade de se preparar, de
sermos os reais profissionais da ter consciência a respeito da ação.
educação, um olhar diferente A referência ao afeto presente
sobre os objetos, sobre as coisas, na relação entre alunos e bolsistas e a
sobre o que está acontecendo de referência ao pensar e sentir remetem a um
fato ao nosso redor; importante eixo do projeto institucional: a
[...] um novo olhar sobre a horta e formação estética. Maffesoli (1995, p. 53)
sobre o ambiente escolar escolhido argumenta em favor de uma sinergia entre
como habitat, (...) aonde entrava
razão e emoção e que as “coisas que são da
a conscientização, cultura e
ordem da paixão, não estão mais separados
estética;
Quando vivenciamos o que vamos
em um domínio à parte”.
ensinar fica mais tranquilo passar O processo de vivência da oficina
buscou também estimular a pesquisa dos
1 A Oficina foi inspirada no trabalho Criando
principais conceitos que seriam construídos
Habitats na Escola Sustentável de Lucia Legan
com os alunos durante as Vivências
(2009).
Pedagógicas. Como produto da pesquisa,
2 Lucia Legan (2009, p.12) defende que os
cada bolsista participante elaborou uma
princípios da permacultura “oferecem uma
página para um glossário ilustrado.
direção para desenvolver a ética de cuidado
com o planeta, com as pessoas e a partilha dos 3 O trabalho com os alunos
recursos.” Iniciamos com a confecção de
3 Professora Regente: Lúcia. um “Diário de Bordo” (caderno de
183
Algumas sugestões de como pensar na
diversidade foram apresentadas, tais como:
observar os desenhos da natureza, as funções
que os vegetais exercem no ambiente
natural e a relação com predadores.
Dia 3. Os grupos organizaram a
apresentação do Cenário de Futuro à equipe
gestora da escola, para qual também foram
convidados e estiveram presentes outros
anotações) para que cada aluno, inclusive professores, outras turmas, especialista em
a professora regente, registrasse suas educação, agentes de cozinha e agentes de
sensações, atividades realizadas, dúvidas, limpeza.
pensamentos, curiosidades e qualquer outra
Por meio do mapa, os alunos
informação que desejasse. O objetivo era que
construíram um cenário de futuro, o qual
cada criança expressasse seus sentimentos
eles imaginam ser a escola para todos
e impressões e tivesse a possibilidade de
no futuro. Organizados em grupos, sob
construção das suas aprendizagens.
a orientação dos bolsistas do PIBID,
Em uma das atividades, os alunos prepararam o trabalho e a apresentação aos
reconheceram os espaços livres da escola e convidados.
realizaram anotações e desenhos indicando as
Durante a apresentação, os alunos
possibilidades de transformação e utilização
apontaram detalhes importantes para
desses espaços, produzindo um Mapa com o
uma melhor convivência na escola, como
Cenário de Futuro para a escola.
a criação de espaços alegres, coloridos e
Os grupos foram orientados sobre as inovadores. Momento único, em que se
características da permacultura a partir da relatou o que se construiu. Cada um falou
elaboração do conceito de biodiversidade. do seu desenho, da sua construção, do que

184
seria uma “escola do futuro”. No início, a fecundidade das ações e das atividades
houve timidez, medo de falar, mas esses curriculares realizadas possibilitam aos
sentimentos foram superados à medida que bolsistas o exercício da competência
percebiam o interesse de todos os presentes. comunicativa (produção textual, releitura e
A construção de piscinas para os alunos análise dos diários de bordo elaborados por
maiores e para os menores, entre outras alunos do CEM Tomaz Francisco Garcia)
sugestões, renderam algumas gargalhadas, e o desenvolvimento da competência
o que os deixou mais descontraídos. Foi ética e estética, configurando-se como
uma experiência fantástica! um movimento dialógico-reflexivo. Os
A apresentação dos mapas teve como conhecimentos já apropriados pelos
objetivos estimular a argumentação e a bolsistas do PIBID interdisciplinar têm
oralidade, além de garantir a participação originado novas produções de sentido
do maior número de sujeitos nos processos de e significado de ser e estar no mundo,
elaboração e desenvolvimento das atividades. potencializando ao mesmo tempo o ser-
Em sequência à apresentação dos saber-fazer da e na docência, tendo em
alunos, os acadêmicos bolsistas organizaram vista a busca por uma escola mais generosa,
um momento para discussão no grande amorosa, includente, articuladora e
grupo, a partir dos cenários desenhados, fomentadora de diferentes saberes.
com o objetivo de construir coletivamente Referências
os conceitos de Biodiversidade e Habitat. BRASIL, Coordenadoria de
Após a roda de conversas, os alunos Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
receberam um “desafio” para desenvolver
Superior e Educação Básica/CAPES.
em casa junto com a família. Os conceitos
Relatório de Gestão PIBID. Brasília,
e a atividade – desafio – foram registrados
2013.
no Diário de Bordo. A atividade teve como
objetivo conhecer a cultura alimentar das FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:
famílias e estimular os alunos a pensarem saberes necessários à prática educativa. 48.
sobre os vegetais que conhecem, incluindo ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.
flores e outros vegetais não comestíveis. LEGAN, L. Criando habitats na escola
Mais do que repetir ou elaborar sustentável. São Paulo: Imprensa oficial,
conceitos, o projeto Horta objetiva promover 2009.
a vivência destes conceitos, estimulando o MAFFESOLI, M. Elogio da razão
aluno a reconhecê-los em seu cotidiano, bem sensível. Rio de Janeiro: Vozes, 1998.
como incluir nas vivências pedagógicas os STEUCK, E. R. Princípios do PIBID.
saberes destes. Neste sentido, concordamos Ilustração apresentada na qualificação de
com Freire quando estimula a pensar “por
Mestrado em Educação Univali. Programa
que não estabelecer uma ‘intimidade’ entre
de Pós-Graduação em Educação, 2015.
os saberes curriculares fundamentais aos
alunos e a experiência social que eles têm
como indivíduos?” (FREIRE, 2014, p. 32).
Os resultados parciais deste
subprojeto permitem a inferência de que
ALÉM DAS PALAVRAS:
formação estética no PIBID
de Letras
Maria Cristina Kumm Pontes
Coordenadora de Área

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior


leitura desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele (A
palavra que eu digo sai do mundo que estou lendo, mas a palavra que sai
do mundo que eu estou lendo vai além dele). (...) Se for capaz de escrever
minha palavra estarei, de certa forma transformando o mundo. O ato de
ler o mundo implica uma leitura dentro e fora de mim. Implica na relação
que eu tenho com esse mundo.
(Paulo Freire – Abertura do Congresso Brasileiro de Leitura – Campinas,
novembro de 1981).
Observar o mundo. Observar o movimento do mundo. Observar o estático. Observar
a estética. Compreender o que se movimenta. Compreender quem faz o movimento.
Perceber o contorno. Perceber a forma. Perceber o belo. Sentir a poesia que está além das
palavras. Dar sentido a outros sentidos.
A formação do professor pressupõe estudos teóricos e práticas pedagógicas. Por
algum tempo, para os acadêmicos do curso de Letras, o exercício da sensibilidade no meio
acadêmico estava centrado nas palavras: na retórica – arte da eloquência, e na poesia –
manifestação de beleza retratada pelo poeta em suas palavras.
Mas a formação do profissional de Letras requer mais
que isso. Afinal, tratar de poesia, de belo, de sentimento, é tratar
também de comunicação, de leituras diversas em diversos suportes.
É compreender não só com os olhos e ouvidos, mas com a alma a
manifestação artística que nos rodeia. E dar vez às possibilidades de
criação e de interpretação.
Possibilitar aos acadêmicos a formação estética é garantir
que desenvolvam a capacidade apreciativa, que tenham o acesso

186
a diferentes linguagens e expressões, do texto o que nós pensamos do
ao exercício da imaginação e da texto, mas o que – com o texto, ou
experimentação no novo, à compreensão contra o texto ou a partir do texto
dos diferentes sentimentos e movimentos – nós sejamos capazes de pensar.
(LAROSSA, 2001).
artísticos, criando, como diz Eco (1997),
Observar uma obra de arte, assistir
“uma percepção particular do objeto”.
a uma peça de teatro, ouvir música, ir ao
A dimensão estética não se refere cinema, a uma manifestação cultural,
exclusivamente ao gosto pelas artes, mas à participar de movimentos folclóricos ou ir
capacidade que se desenvolve de relacionar a um festival gastronômico é direcionar os
a arte com a vida. Trata-se, portanto, de sentidos ao texto que se oferece, seja ele
explorar o belo, as emoções que surgem um quadro, uma canção, uma dança, um
diante do objeto observado, oportunizando, prato típico. O que se pretender é aguçar
assim, a ampliação das faculdades humanas. os sentidos para que não se compreenda
Para Rios (2003), “a sensibilidade e apenas o texto, mas que, com ele, contra
a criatividade não se restringem ao espaço ele ou a partir dele o indivíduo seja
da arte. Criar é algo interligado a viver, no capaz de transformar seus saberes e sua
mundo humano. A estética é, na verdade, uma idiossincrasia.
dimensão da existência, do agir humano”. UM DIA NO OLHO - OU SAIA
A LEITURA E O LEITOR – A DA BAILARINA
OBRA E O OBSERVADOR A arte é o homem acrescentado à
Entre os anos de 1994 e 1998, Jorge natureza, é o homem acrescentado
Larossa escreveu alguns textos, os quais, à realidade, à verdade, mas com um
significado, com uma concepção,
segundo ele, teriam “difícil enquadramento,
com um caráter, que o artista
do ponto de vista disciplinar”. Alguns deles
ressalta, e aos quais dá expressão,
foram publicados pela primeira vez em resgata, distingue, liberta e
1998 pela editora Contrabando no livro ilumina. (VAN GOGH, 2008).
intitulado “Pedagogia Profana: danças, Pretender a formação estética é
piruetas e mascaradas”. pensar em desfrutar de espaços artísticos,
Em um dos textos que compõe culturais e históricos, e o Museu Oscar
a publicação, o autor faz referência ao Niemeyer (MON) foi o espaço escolhido
momento e ao ato da leitura. Lá, ele fala para proporcionar aos alunos de Letras
em texto da forma convencional, daquele da UNIVALI, participantes do Programa
formado por palavras. Mas se pode remeter Institucional de Bolsa de Iniciação à
o mesmo pensamento a outros textos, Docência (PIBID) um dos momentos mais
em outros suportes, pois a essência do importantes da formação.
pensamento está na consequência da leitura. Situado na cidade de Curitiba,
Na leitura da lição não se busca o capital paranaense, o MON, popularmente
que o texto sabe, mas o que o texto conhecimento como Museu do Olho, foi
pensa. Ou seja, o que o texto leva a inaugurado em 2002, tendo como sede o
pensar. Por isso, depois da leitura, o prédio que foi projetado pelo arquiteto
importante não é que nós saibamos brasileiro que dá nome ao museu.
187
O projeto do então Edifício
Presidente Humberto Castelo Branco data
de 1967, mas a conclusão da obra se deu
em 1978. Após a inauguração, o prédio foi a
sede das Secretarias de Estado por 22 anos.
Após algumas reformas, e com a construção
da torre principal (O Olho), o museu passou
a ser um dos pontos mais importantes para
a apreciação de exposições itinerantes
nacionais e internacionais, bem como de
um acervo permanente de referências, além Imagem 2 – O reencontro. Fonte: Arquivo
do espaço Niemeyer. pessoal (2015).
A apreciação já inicia pela beleza Nas salas ao lado, instalações
arquitetônica do Museu. Com linhas retas brincam com fios de algodão, tubos de
e curvas sinuosas, largos espaços entre as ensaio, luzes, formas, sombras, espelhos
colunas, o museu mistura a leveza do banco e reflexos. As sensações ficam à flor da
com a imponência da torre e seu lago. pele em momentos em que o observador
caminha por dentro da obra e percebe que
os feixes de luz azuis são, na verdade, fios
de algodão.

Imagem 1 – O Olho. Fonte: Arquivo pessoal


(2015).
No interior, distribuídas nas salas
principais, pode-se encontrar as exposições
que compõem a Bienal Internacional
de Curitiba com obras dos artistas Lars
Nilsson, Eliane Prolik e Carlos Bernardini,
que permitem ao visitante experimentar
diferentes sensações.
As obras de Lars Nilsson mexem
com os sentimentos. Feitas com uma resina
especial, elas retratam as expressões faciais Imagem 3 – Fios de linho e luz. Fonte: Arquivo
e os detalhes dos corpos. pessoal (2015).
188
Imagem 4 – Interagindo com as obras de Julio A exposição “A União Soviética através
Le Parc. Fonte: Arquivo pessoal (2015). da câmera” traz ao museu aproximadamente
No salão principal do Olho, estão as 200 fotografias em preto e branco.
obras de Julio Le Parc. As instalações parecem As imagens dos fotógrafos soviéticos
brincar com formas e luzes, ao mesmo tempo Viktor Aklomov, Yuri Krivonossov,
que reduzem e ampliam as imagens em um Antanas Sutkus, Vladimir Lagrange,
espaço de completa interação. Leonid Lazarev e Vladimir Bogdanov
retratam eventos entre as décadas de 50
No subsolo, além das exposições a 90, período de eventos marcantes para a
permanentes de Oscar Niemeyer, das obras história do país.
do jardim e da Sala de Referência do Acervo,
As impressões dos acadêmicos
a delicadeza das obras da artista curitibana
de Letras que participaram da visitação
Isolde Hötte compõe o espaço Ação Educativa.
revelam que a proposta atendeu aos
As obras permitem ao visitante contemplar objetivos que foram traçados.
traços delicados em óleo sobre tela.
Juliano Alves diz que foram
Imagem 5 – Paisagem. Fonte: Arquivo pessoal. “sentimentos que tiram o fôlego. Tudo
novo e único. Impressões e variadas estética permite ao sujeito um novo olhar, um
leituras”. Na fala do acadêmico é possível novo posicionamento diante do mundo, em
perceber que há um estabelecimento de que há relações com o que é belo e sensível.
relações entre o objeto de leitura (a obra) Nas escolas de educação básica e nas
e as possíveis interpretações que um único universidades, o privilégio, salvo algumas
objeto permite. exceções, é para as atividades voltadas ao
Para Joceia Duarte, atividades como saber teórico, livresco.
esta permitem desenvolver um “olhar de O que se deseja com a formação
encanto, admiração e apreciação da arte”, estética para os acadêmicos de Letras é
que só pode ser realmente desenvolvido o desenvolvimento de sentimentos, de
ao se frequentar espaços similares e com percepções. Não se deseja a formação de um
os mesmos objetivos. São conhecimentos crítico em artes, mas um profissional capaz
que, uma vez adquiridos, refletem não só na de perceber o belo, o sensível para, na sua
atividade docente, mas nas relações sociais prática profissional, ter condições de travar
e culturais. diálogos com e sobre obras diversas, e de
E para quem pensa que museu é instruir os alunos também para a percepção
lugar de coisas antigas e que só se procura lá do sensível e do belo.
a observação imediata de objetos guardados Referências
que são resultados da construção histórica
ECO, U. A mensagem estética. In: ECO,
de um povo e um lugar, a fala da acadêmica
U. A estrutura ausente. São Paulo:
Vanessa Lúcia indica que ir ao museu é
Perspectiva, 1997. p. 51-66.
receber “um banho de cultura”, em outras
palavras, é ter acesso a muitos bens culturais LAROSSA, J. Pedagogia profana:
em um curto período de tempo. É inebriar- danças, piruetas e mascaradas. 4. ed. Belo
se com tudo que nos atinge os sentidos. Horizonte: Autêntica, 2001.
FORMAÇÃO ESTÉTICA E A RIOS, T.A. Compreender e ensinar: por
ESTÉTICA DA FORMAÇÃO uma docência da melhor qualidade. 4. ed.
São Paulo: Cortez, 2003.
Formar o cidadão para o mundo,
capaz de atribuir significados ao que o cerca VAN GOGH, V. Cartas a Théo. 2. ed.
vai além da formação livresca. A formação Porto Alegre: L&PM, 2008.
PIBID INTERDISCIPLINAR:
Construindo teias e quebrando
paradigmas
Ilisabet Pradi Krames
Coordenadora de Área

Celso Vital Martins


Professor Supervisor

Alisson dos Santos


André Alexandre Gasperi
Carla Alessandra Spiess
Guilherme de Moura Rocha
Licenciandos

A Escola Básica Arnaldo Brandão recebeu o PIBID em março de 2015 com a


proposta de desenvolver o subprojeto interdisciplinar, que destaca a diversidade cultural,
visto que a escola está inserida em uma comunidade que recebe imigrantes haitianos.
Na idade contemporânea, vivenciamos um período chamado globalização, cotejado
também pelo avanço tecnológico que tem propiciado às pessoas de todos os lugares
interagirem com diferentes culturas. Essa interação tem ocasionado não apenas o
conhecimento do outro como sujeito, mas também a negação do outro como integrante
do mesmo espaço geográfico. Outra situação que tem aproximado as pessoas de diferentes
culturas são os desastres naturais que não avisam quando, onde e nem como irão acontecer,
fazendo com que as pessoas atingidas pelas catástrofes procurem refúgio em outros países,
entre eles o Brasil.
Como país membro da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1946, o Brasil,
segundo o Ministério das Relações Exteriores1, busca auxiliar no “desenvolvimento

1 O Brasil e o Conselho de Segurança da ONU. Disponível em: http://www.itamaraty.gov.br/


index.php?option=com_content&view=article&id=137&catid=217&Itemid=435&lang=pt-BR.
Acesso em: 21 de set. 2015.
191
conceitual dos assuntos de paz e segurança Ao receber esses alunos, a escola se
– a exemplo da diplomacia preventiva, meio depara com o desafio de pensar em uma escola
mais efetivo para proteger as populações que os inclua em todos os seus domínios, pois
civis sob risco de violência”. Ainda tem se percebido uma grande dificuldade dos
segundo o Itamaraty, o Brasil desempenha imigrantes quando ingressam na educação
um importante papel de ajuda às nações pública brasileira. Conforme a Secretaria
que são atingidas por desastres naturais Municipal de Educação,
enviando ajuda humanitária, como no Incluir é mais que adentrar. Incluir
caso do terremoto ocorrido no Haiti em é receber com competência e
12 de Janeiro de 2010, que fez com que os compromisso social e ético. Propor
haitianos deixassem o seu país de origem e escola inclusiva é também gerar
migrassem para outros países, tendo como uma sociedade mais inclusiva e
destinos mais comuns os Estados Unidos, mais acolhedora. A fraternidade, a
Bahamas, Canadá, França e Brasil. Sobre a reciprocidade e a certeza de que esta
é tarefa que depende do engajamento
vinda dos imigrantes haitianos ao Brasil,
de toda a população devem ser
Neide Patarra (2012) escreve que se trata de metas prioritárias elencadas
uma longa viagem e, quando chegam aqui, como compromisso coletivo.
esses imigrantes acabam enfrentando uma (SECRETARIA MUNICIPAL DE
série de dificuldades relacionadas à língua EDUCAÇÃO 2003, p.27).
falada, aos problemas socioeconômicos e Durante a realização das atividades
ao preconceito. do PIBID Interdisciplinar em sala de aula,
É possível observar um aumento percebemos a dificuldade de aceitação dos
gradativo de imigrantes em todos os imigrantes. Esse comportamento levou o
municípios catarinenses. No município de grupo PIBID Interdisciplinar a elaborar
Itajaí não é diferente, uma vez que a cidade e propor atividades que levassem alunos e
desponta como uma das mais promissoras professores a refletirem sobre a importância
na geração de empregos de Santa Catarina da união entre as diferentes culturas. Nesse
e do Brasil, fato esse que tem atraído sentido, Silva (2008) afirma que ainda
um número significativo de imigrantes hoje temos “uma sociedade extremamente
haitianos. Esse fato passa a ser comprovado preconceituosa e discriminadora, que
quando analisamos o número de matrículas encontra na escola um dos maiores
de alunos haitianos na rede municipal de disseminadores dessas atitudes [...]”
ensino de Itajaí, a qual vem aumentando. (SILVA; SOUZA, 2008, p. 171).
Nesse sentido, utilizamos uma a teia, o grupo contou com a mediação
dinâmica para entender o que os alunos do professor junto com os iniciantes à
sabiam sobre a cultura haitiana e o que docência, que apresentaram uma série
pensavam sobre a vinda desses imigrantes de dados e informações sobre o Haiti e
para o Brasil. Essa atividade, conhecida suas riquezas geográficas e culturais. Os
como dinâmica do barbante, fez com alunos expuseram diferentes pontos de
que pudéssemos colher os depoimentos vista, refletiram sobre suas próprias ideias
de cada educando, e por meio do diálogo e sobre as ideias dos colegas, quebrando
possibilitou desconstruir alguns conceitos paradigmas e desconstruindo preconceitos.
que muitos tinham em relação ao outro. Nessa mesma direção, outras ideias foram
A dinâmica consistiu em organizar construídas e novos canais de comunicação
os alunos em um grande círculo, utilizando entre os alunos foram estabelecidos.
como materiais um rolo de barbante, papéis, A diversidade cultural deve ser
prendedores e canetas, propondo um tema trabalhada exaustivamente nas escolas, pois
em que cada aluno emitiu sua opinião, sendo o diálogo, a interação, a reflexão e o respeito
que o tema proposto foi imigração haitiana aos diferentes saberes auxiliam o indivíduo
no Brasil. Cada aluno expôs sua opinião, a compreender que o preconceito não é
passando o rolo de barbante para o próximo, natural, ele é culturalmente construído e
formando assim uma teia de barbante. disseminado. Nesse sentido, Gomes (2006)
O objetivo dessa dinâmica foi analisar a orienta que os alunos precisam vivenciar
diversidade étnica, cultivando atitudes de práticas pedagógicas que lhes possibilitem
respeito, solidariedade e convivência. “ampliar o seu universo sociocultural,
Na confecção da teia, todas as rever e superar preconceitos, eliminar
opiniões emitidas foram anotadas e toda e qualquer forma de comportamento
presas ao barbante. Como resultado discriminatória em relação ao outro”
dessa atividade, pôde-se perceber que (GOMES, 2006, p.26).
alguns conceitos contra colegas haitianos Ao ser trabalhada a diversidade
foram desconstruídos, pois ao desfazer cultural em sala, foi possível perceber
que nossos alunos haitianos passaram SILVA, G.J; SOUZA, J.L. Educar para
a ser mais respeitados pelos colegas de a diversidade étnico-racial e cultural:
classe, levando a escola a vivenciar uma Desafios da educação inclusiva no Brasil.
mudança em relação ao preconceito em Inter-Ação: Ver. Fac. UFG, 33 (1):169-
suas diferentes instâncias. Por sua vez, 192,jan/jun. 2008.
os licenciandos, orientados pelo professor
supervisor, atuaram no planejamento e na
mediação da atividade, o que possibilitou
ampliar vivências e reflexões que qualificam
a formação inicial do docente.
Referências
GOMES, N.L. Diversidade cultural,
currículo e questão racial: desafios para a
prática pedagógica. In: ABRAMOWICZ,
A.; BARBOSA, L.M.A.; SILVÉRIO,
V.R. (Org.). Educação como prática da
diferença. Campinas: Armazém do Ipê;
Autores Associados, 2006. p. 184.
PATARRA, Neide Lopes. O Brasil: País de
imigração? In: Revista E-Metropolis, nº
09, ano 3, junho de 2012. pp. 01 – 18.
SECRETARIA MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO. Departamento de Ensino
Fundamental. Caderno Metodológico de
Ensino Religioso. Itajaí (SC): PMI/ SED,
2003.
VISITA TÉCNICA AO CENTRO
HISTÓRICO E OFICINA DE
ARTE: possibilidades na
Educação de Jovens e Adultos
Elaine Simões Romual Rebeca
Professora Supervisora

Fernanda Severino Barbaresco


Diogo Pereira Ferraz
Thiago Luiz Rasmussem
Luciane Islabão Vieira
Licenciandos

Ilisabet Pradi Krames


Coordenadora de Área

Com a proximidade da comemoração


dos 155 anos da criação do município de
Itajaí, duas importantes atividades foram
desenvolvidas pelo PIBID Interdisciplinar
da Escola Básica João Duarte: a visita
técnica ao centro histórico de Itajaí e a
oficina de arte com a artista local Lindinalva
Deolla. Ambas as atividades objetivaram
ampliar o olhar estético e a compreensão
histórica dos alunos da Educação de Jovens
e Adultos-EJA.
Acreditando que o processo
educacional não se limita ao espaço escolar,

195
a educação precisa ser pensada como A visita aos prédios históricos estava
possibilidade de explorar os contextos articulada a outro momento planejado: a
sociais dentro dos quais estão imersos os oficina com a artista plástica Lindinalva
alunos. Nesse sentido, a arquitetura do Deolla, que permitiu apresentar como os
município de Itajaí tem muito a contribuir prédios históricos podem ser retratados
para a compreensão da história viva. Por por meio de obras de arte com as técnicas
esta razão, foi organizada a visita técnica, que a artista utiliza.
na qual o aluno da EJA identificou os Em seu trabalho a artista tanto
principais prédios históricos da Rua
retrata estes prédios por meio de desenhos
Hercílio Luz, observou a diversidade
como também pela pintura, utilizando a
artística, cultural e étnica presentes na
técnica aquarela. A intenção nestes dois
arquitetura das construções.
momentos foi levar os alunos a momentos
A visita possibilitou uma melhor de estesia, pois ao refinarmos nosso olhar,
compreensão dos alunos sobre a história passamos a perceber melhor os detalhes
de Itajaí, assim como conhecer prédios que das coisas, permitimo-nos ver além das
passavam despercebidos do olhar deles. aparências imediatas.
Durante a visita puderam fazer registros
Ir além das aparências imediatas
fotográficos, e também registraram em
proporciona processos de humanização
sua memória a importância destes prédios
para a história da cidade e para o cotidiano por meio do refinamento dos sentidos, ou
da comunidade. Foram enfatizadas as seja, por meio do desenvolvimento do saber
principais características artísticas, sensível. Duarte Jr. (2001) já sinalizou, em
culturais e arquitetônicas da localidade, seus escritos, que pela junção do inteligível
possibilitando um contato maior com a ao sensível podemos desenvolver o saber
cultura regional. estésico, um saber que aprimora o olhar,
as emoções, as sensações e a forma de
ver o mundo e os sujeitos. Assim, refinar
o sensível decorre de nossas experiências
culturais, permitindo-nos alterar nosso
estado humano embrutecido para um
estado humano culturalmente refinado -
fruto de uma formação estésica.
Ao vivenciarmos momentos que
fomentam a formação estésica, possibilitamos
o desenvolvimento de habilidades e de
conhecimentos diretamente ligados ao
processo de humanização. Vê-se, portanto, a
estética como um saber sensível, como um
meio de humanização dos seres humanos
que pode ser pelas diferentes linguagens
artísticas, pela interação com o meio
ambiente, pela literatura ou até por viagens
que possibilitem conhecer novos costumes
e novas culturas. As “vivências culturais”,
nesse contexto, caracterizam-se como um
importante caminho possível para vermos a
vida com um olhar mais apurado/refinado/
sensível, pois, por meio delas, o ser humano
pode ser mais humanizado, com um olhar
seus trabalhos, o tempo e o processo de
observador, com a sensibilidade aguçada
produção e as suas fontes de inspiração.
aliada à capacidade de perceber o quão digno
Finalizada a conversa, ela realizou uma
é viver, o quanto cada dia pode ser uma nova
pintura para os alunos observarem o
oportunidade de relações e aprendizados.
uso do material e o desenvolvimento do
Nesse sentido, a segunda atividade processo criativo. Na oficina, pensada para
foi o contato com a artista Lindinalva possibilitar a experiência de manusear
Deolla, que foi convidada a ir até a escola material diferenciado, vivenciando o
para que os alunos tivessem um contato processo criativo, os alunos tiveram a
direto com as obras da artista e sua técnica: oportunidade de produzir quatro obras com
a aquarela. Para tanto, a biblioteca escolar o auxílio da artista Deolla, que os motivou
foi adaptada para receber as obras, a artista e apreciou o que desenharam e pintaram.
e os alunos. O encontro foi permeado de
Muito mais que o belo, a arte é uma
expectativas, anseios e dúvidas a respeito
forma de expressar nossos sentimentos
da arte, pois muitos alunos compreendiam
e auxilia na percepção de nós mesmos e
que o acesso à arte era restrito a um do meio em que vivemos. A partir deste
pequeno grupo de pessoas intelectual e predicado, que a arte plástica carrega
financeiramente privilegiadas. consigo, o PIBID Interdisciplinar da escola
A artista socializou sua trajetória João Duarte proporcionou aos discentes o
profissional, a escolha dos materiais para contato com o erudito, desconstruindo um
197
plástica, o apoio da comunidade escolar
em relação a nossa proposta de trabalho
e a cooperação do grupo, revelou como
o programa PIBID tem auxiliado a ver a
docência na perspectiva de Paulo Freire,
quando afirmou que “ninguém começa a ser
educador numa certa terça-feira às quatro
da tarde. Ninguém nasce educador ou
marcado para ser educador. A gente se faz
educador, a gente se forma, como educador,
permanentemente, na prática e na reflexão
sobre a prática” (FREIRE, 1991). Eis o
grande desafio/diferencial do PIBID:
construir a docência no diálogo contínuo
paradigma que distanciava os alunos da entre a teoria e a prática.
EJA e a arte.
Referências
Estas duas atividades
DUARTE JR., J. F. O sentido dos
proporcionaram compreender que o
sentidos. 4. ed. Curitiba: Criar, 2001.
processo ensino e aprendizagem deve ser
visto como meio e não um fim, no qual o FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade.
professor pode ser o mediador e o aluno, um São Paulo: Cortez, 1991.
sujeito ativo na construção do saber. Fez SOARES, Andrey. F. C., REBECA,
entender que uma metodologia planejada, Elaine. S. R.. Em pauta: a formação
que possibilite um maior contato com as estésica no currículo escolar. Anais,
artes no espaço escolar, pode garantir uma do XII CONGRESSO NACIONAL
visão artística e cultural na construção DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, III
do conhecimento tanto do aluno quanto SEMINÁRIO INTERNACIONAL
do professor. Sendo assim, o processo de DE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS,
planejar uma aula deve considerar o modo SUBJETIVIDADE E EDUCAÇÃO –
como os alunos serão afetados pelo conteúdo SIRSSE, IX ENCONTRO NACIONAL
pré-selecionado para a aula, assim como as SOBRE ATENDIMENTO ESCOLAR
estratégias e as mediações que sucederão a HOSPITALAR - I CONGRESSO
este primeiro estágio. NACIONAL SOBRE O ATENDIMENTO
O PIBID tem sido fundamental PEDAGÓGICO AO ESCOLAR EM
para refletir sobre a docência em si, sobre TRATAMENTO DE SAÚDE – APETS,
a importância do trabalho em parceria temática: Formação de professores,
com outros professores e sobre o quanto o complexidade e trabalho docente. No
ambiente escolar pode ser influenciado pela prelo 2015.
comunidade escolar. Todo o processo que
passamos: refletir sobre a educação estética
nas leituras de Duarte Jr., o planejamento
das atividades, o contato com a artista
198
PIBID INTERDISCIPLINAR
REINVENTANDO O TEMPO
DAS TANGERINAS:
a literatura catarinense
cotejando com a História
Onice Sansonowicz
Professora Supervisora

Leda Lea Caldeira


Licencianda

Ilisabet Pradi Krames


Coordenadora de Área

Nas duas últimas décadas, o livro


“No tempo das tangerinas”, da escritora
blumenauense Urda Alice Klueger, tem
sido largamente utilizado como aporte
nas aulas de literatura, como exigência de
leitura prévia nos vestibulares da região
sul do Brasil e para o deleite dos amantes
de um bom romance histórico.
A obra da autora aponta muitos
elementos que podem ser explorados
pela disciplina de História, especialmente
quando o assunto é a Segunda Guerra
Mundial. Existe certa insegurança no
uso da literatura, por parte de muitos
199
professores e professoras de História, uma época, ao modo pelo qual as pessoas
vez que a literatura poderia colocar em pensavam o mundo, a si próprias,
xeque a suposta veracidade da História. quais os valores que guiavam seus
Sandra Jatahy Pesavento nos diz que: passos, quais os preconceitos,
medos e sonhos. Ela dá a ver
[...] a História é uma espécie de
sensibilidades, perfis, valores. Ela
ficção, ela é uma ficção controlada,
é fonte privilegiada para a leitura
e, sobretudo pelas fontes, que
do imaginário. [...] Para além das
atrelam a criação do historiador aos
disposições legais ou códigos de
traços deixados pelo passado. [...]
etiquetas de uma sociedade, é a
A História se faz como resposta a
literatura que fornece os indícios
perguntas e questões formuladas
para pensar como e por que as
pelos homens em todos os tempos.
pessoas agiam desta e daquela
Ela é sempre uma explicação sobre
forma. (PESAVENTO, 2003, pp.
o mundo, reescrita ao longo das
82-83).
gerações que elaboram novas
Assim, para além do entretenimento,
indagações e elaboram novos
projetos para o presente e para
a literatura se torna uma grande aliada da
o futuro, pelo que reinventam História, porque abre possibilidades para
continuamente o passado. uma leitura diferenciada de um determinado
(PESAVENTO, 2003, pp. 58-59). momento histórico.
Para Sandra J. Pesavento, tanto É nesta perspectiva que o PIBID
a História quanto a literatura podem ser Interdisciplinar desenvolveu o projeto
entendidas como representação, uma “Reinventando o Tempo das Tangerinas”.
vez que o historiador busca recriar o A ideia foi possibilitar que a leitura da obra
que efetivamente ocorreu no passado, fornecesse elementos para a associação com
enquanto o escritor na literatura, baseado a história de diferentes descendentes de
em fatos deste mesmo passado, recria um imigrantes, especialmente alemães que viviam
enredo. Ainda sobre as contribuições que na região Sul durante os anos do segundo
a literatura pode dar à história, Pesavento quartel do século XX. A II Guerra se passava
afirma que: na Europa, mas, no Brasil, após Vargas ter
[...] a literatura permite o acesso tomado partido em favor dos aliados, logo
à sintonia fina ou ao clima de uma se implantou a nacionalização da língua e

200
a perseguição a todos os que pudessem ser livros tradicionais. A sensibilização feita
suspeitos de espionagem alemã. por meio da obra foi importante para
Num primeiro momento, os alunos e mostrar a existência desta que é chamada
alunas, por meio de aula expositiva, tiveram de uma “outra” guerra, destes respingos,
contato com informações e dados referentes ou daquilo que a guerra provocou mesmo
à II Guerra. Depois da exibição de um sem ter a presença dos exércitos e que
documentário denominado “Memórias foi vivida e sentida no sul do Brasil com
de uma outra Guerra1”, as bolsistas, as toda a sua intensidade. Para além disso,
acadêmicas de Pedagogia da Universidade foi oportunizado aos adolescentes refletir
do Vale do Itajaí (UNIVALI) e a professora sobre temáticas bastante recorrentes no
supervisora aplicaram o seguinte roteiro: romance, como o racismo, o preconceito,
o autoritarismo e outros males histórica e
a) Produção do cenário: Como o livro
socialmente construídos.
está contextualizado em um tempo que a
autora chamou das “tangerinas”, produziu-se Referências
um cenário a partir desses elementos: sacos KLUEGER, Urda Alice. No tempo das
de estopa, livros originais, cestas e muitas tangerinas. 11. ed. Blumenau: Hemisfério Sul,
tangerinas, que foram dispostos no chão 2008. 160p.
criando um cenário que lembrava o livro. PESAVENTO, Sandra Jatahy. História
b) Contação de história: A partir de & História Cultural. Belo Horizonte:
uma resenha previamente elaborada pelas Autêntica, 2003.
licenciandas, foi feita a leitura dramática PESAVENTO, Sandra Jatahy. História &
para os alunos. literatura: uma velha-nova história, Nuevo
c) História em quadrinhos: Após Mundo Mundos Nuevos, Debates, 2006,
a contação de história, foi solicitado aos [En línea], Puesto en línea el 28 janvier
alunos que, em dupla, com base na resenha, 2006. URL: http://nuevomundo.revues.
produzissem uma história em quadrinhos. org/index1560.html . Consultado em 11 de
d) Entrega das frutas: Ao final da outubro de 2015.
aula cada, aluno(a) foi agraciado(a) com
uma fruta.
e) Encadernação: As histórias foram
encadernadas com a capa especial, que fora
previamente produzida pelas bolsistas do
PIBID interdisciplinar da UNIVALI, e um
exemplar foi entregue à autora catarinense
Urda Alice Klueger.
Lançar mão da literatura para
trabalhar a guerra permitiu ir além da
história clichê contada nos filmes e nos

1 Baseado na obra da Historiadora Marlene de


Fáveri.
201
USO DE JOGOS DIDÁTICOS:
a importância de estratégias
lúdicas na Educação de Jovens
e Adultos (EJA)
Ilisabet Pradi Krames
Coordenadora de Área
Marilsa Aparecida da Silva

Professora Supervisora

Juliana Gheller Potrich


Raysa Fernandes Dangui
Licenciandas

O PIBID Interdisciplinar desenvolvido na Educação de Jovens e Adultos (EJA) tem


como objetivo desenvolver atividades interdisciplinares. Além de estimular estudantes
dos cursos de Licenciatura a terem um convívio com o ambiente escolar, promove ações
diferenciadas, que colaboraram para que o licenciando vivencie experiências, elevando a
qualidade dos cursos e o posterior desempenho destes profissionais em suas áreas de atuação.
Neste contexto, os integrantes do PIBID da Escola Gaspar da Costa Moraes
buscaram oportunizar novas formas de aprendizado para os alunos da EJA que tiveram a
trajetória escolar interrompida por diferentes motivos e que retornaram à escola à procura
de qualificação e mais oportunidades no mercado de trabalho e na inserção social.
Uma das dificuldades que vivenciamos é a aversão que alguns alunos possuem em
relação às propostas e metodologia de trabalho na EJA. Acreditando que o público da EJA
são jovens/adultos que trazem consigo uma história de vida que precisa ser levada em conta.
Almeja-se incentivá-los promovendo um trabalho no qual possam desenvolver atividades
em equipe, ampliando discussões acerca de suas impressões sobre os fatos, levantando
hipóteses a partir de seus conhecimentos, deixando a condição de aprendiz passivo para
202
a condição de sujeito crítico diante da sua estimulando novas habilidades, favorecendo
aprendizagem e da sociedade. Entendemos a autoconfiança e a concentração. Os jogos
que cada indivíduo é possuidor de inúmeros foram selecionados e aplicados de forma
saberes e especificidades, que podem ser a intervir no desenvolvimento cognitivo
ampliadas e qualificadas nos momentos dos alunos, e o PIBID passou a construir
em que existe a partilha de experiências esse material para utilizá-lo em sala de
de aprendizagem. Nesse sentido buscamos aula. Foram escolhidos, como demonstra a
utilizar os jogos didáticos como estratégias figura a seguir, os seguintes jogos e temas:
lúdicas de ensino interdisciplinar. Fazenda
(1991) afirma que: Material utilizado na
Título
construção
O projeto interdisciplinar surge, às
vezes, de uma pessoa (a que já possui Caixas de leite recicladas e
Jogo de Dominó
em si a atitude interdisciplinar) encapadas.
e espraia-se para as outras e o Tabuleiro com duas cores
grupo. [...] O que caracteriza de papel dupla face e
Jogo de Dama
a atitude interdisciplinar é a garrafinhas de água 500 ml
ousadia da busca, da pesquisa, é a com água colorida.
transformação da insegurança num Números impressos e
Jogo do Oposto
exercício do pensar, num construir. colados em papel dupla face.
A solidão dessa insegurança Impresso a poesia “O tempo”
individual que vinca o pensar Poesia e Fábula e a fábula “Se eu fosse
interdisciplinar pode transmutar- esqueleto”.
se na troca, no diálogo, no aceitar Sílabas impressas e
o pensamento do outro. Exige a Jogo das sílabas coladas em papel dupla
passagem da subjetividade para a face.
intersubjetividade. (FAZENDA, Construção de quatro dados.
1991, p. 18). Jogo da coesão e Em cada um deles foram
A aplicação dos jogos didáticos coerência. colados artigos, verbos,
em sala de aula visa o desenvolvimento substantivos e adjetivos.
da criatividade e do raciocínio lógico dos Mico de Impressos uma lista de
alunos, estabelecendo relações com os sinônimos e sinônimos e antônimos
conhecimentos trabalhados nas demais antônimos em papel dupla face.
disciplinas. A construção dos materiais foi
Percebeu-se que grande parte dividida em etapas semanais ao longo de
da dificuldade de aprendizagem dos dois meses, os licenciandos construíram os
alunos da EJA está diretamente ligada à jogos e os aplicaram em sala de aula.
falta de leitura, interpretação e análise, Os jogos didáticos representam
consequentemente o desenvolvimento um recurso indispensável para qualquer
do raciocínio lógico fica fragilizado. A fase da educação escolar, assim é preciso
equipe do PIBID Interdisciplinar optou considerar todas as atividades que possam
pela construção de jogos didáticos com o vir a contribuir para o desenvolvimento
objetivo de desenvolver a criatividade, a dos alunos, sejam eles crianças, jovens ou
sociabilidade e as inteligências múltiplas, adultos, e colocar essa ferramenta didático-
203
desenvolvimento do raciocínio lógico,
a expressão corporal, o trabalho em
equipe e a tomada de decisão. Os alunos
foram organizados em duas equipes e
devidamente orientados quanto às regras
e aos critérios do jogo: respeito ao colega,
silêncio, companheirismo e participação.
pedagógica a serviço do ensino e da Houve excelente aceitação da atividade e
aprendizagem. Os jogos, quando propostos a participação efetiva de todos. Estimular
e construídos coletivamente, quando a capacidade de raciocínio lógico, o
aplicados com discernimento e respeito pensamento estratégico, a leitura de campo
ao aluno, promovem o surgimento de um e o trabalho em equipe é gratificante,
espaço de aprendizagem interdisciplinar,
pois qualifica a aprendizagem, o clima de
ancorado na criatividade. No contexto da
cooperação que pode e deve estar presente
Matemática e das demais disciplinas, os
no processo pedagógico.
jogos favorecem a interação, a reflexão, o
trabalho em equipe e, consequentemente, o Práticas pedagógicas por meio dos jogos.
fortalecimento da autoestima, tão desejável O “Mico de Sinônimos e Antônimos”
na EJA. Contudo, para o aluno adulto, isto consistiu na associação de pares de sinônimos
não ocorre de forma espontânea. É preciso e antônimos com o intuito de enriquecer o
incentivar e orientar o aluno, criando um vocabulário e promover a interação entre
ambiente propício para o desenvolvimento os alunos. Sendo assim, foi organizada a
do pensamento crítico e a tomada de decisões sala em dois grupos e distribuída uma carta
a respeito dos desafios apresentados pelos para cada integrante. Os alunos tiveram
jogos e pelo seu grupo. É necessário que que encontrar o sinônimo ou antônimo das
fiquem explícitas as regras do jogo e a palavras correspondentes e puderam trocar
participação de cada um como elemento uma carta e pescar outra até concluir o
indispensável da equipe. jogo. O grupo vencedor aplicou um “mico”
O texto com a poesia “O Tempo” ao grupo que perdeu.
de Mario Quintana, e a fábula “A Carroça
Os bolsistas PIBID auxiliaram
Vazia” de Esopo foram instrumentos de
na atividade, orientando as equipes e
incentivo à leitura para os alunos do 1º,
verificando se as associações estavam
2º e 3º Ciclos da EJA. Os licenciandos
corretas. A atividade propiciou momentos
distribuíram uma cópia para cada aluno
de aprendizagem por meio de um jogo
e promoveram a leitura e a interpretação
do texto, bem como a análise e a reflexão. dinâmico e interativo em que todos
Conseguiram com esta proposta trabalhar puderam participar.
também a pontuação e a formação de A participação do PIBID
frases. Foi uma atividade produtiva, porque Interdisciplinar na realização de uma
abordou as dificuldades que os alunos oficina na Feira de Matemática também
demonstraram possuir. destacou a importância desses movimentos
O Dominó e a Dama foram aplicados de articulação entre o ensinar e aprender
no 1º e 2º ciclos, objetivando estimular o explorando os jogos lúdicos na Matemática.
204
Este foi um desafio para os licenciandos, já diferentes tipos de jogos didáticos. Já
que tiveram que desenvolver a atividade os alunos EJA foram mais resistentes,
para um público até então desconhecido por demonstraram receio de uma possível
eles: alunos do 6º ao 9º ano. Foi possível exposição diante do “outro”, necessitando de
perceber que as crianças e os adolescentes maior incentivo para sentirem-se seguros e
não apresentaram tanta resistência e estimulados a participar.
insegurança no momento de participar dos Buscamos incorporar aos jogos
jogos, quanto apresentaram os alunos da elementos relacionadas à formação estética,
EJA. Essa percepção foi motivo de reflexão ao uso de linguagens alternativas e à
e debate para o grupo PIBID. afetividade entre os envolvidos, alunos EJA,
A elaboração e a aplicação de jogos professores e equipe PIBID. A inserção
didáticos propiciaram um novo desafio, a destes elementos facilitou a aprendizagem de
compreensão e o estudo de outras formas estudantes mais velhos, que geralmente têm
de abordagem e interação. Dentro desses mais proximidade com a cultura respaldada
princípios, a motivação e a estimulação pelo senso comum, e os adolescentes que
do aluno contribuem para a construção estão vivendo no momento da tecnologia e
do conhecimento. Deve-se ter cuidado que não tiveram a oportunidade de conhecer
para não transformar uma atividade lúdica os jogos na sua infância.
em uma atividade mecânica, repetitiva. Agradecimentos
Estabelecidas as regras e os critérios,
Aos alunos envolvidos neste
almeja-se atingir um objetivo. Segundo
processo e à Equipe da E.B. Gaspar da
Celso Antunes, (2003):
Costa Moraes.
O jogo é o mais eficiente meio
estimulador das inteligências, Referências
permitindo que o indivíduo realize ANTUNES, Celso. Jogos para a
tudo que deseja. Quando joga, estimulação das múltiplas inteligências.
passa a viver quem quer ser, 12. ed. Rio de Janeiro: Vozes,2003.
organiza o que quer organizar, e
ANTUNES, Celso. Os jogos e a educação
decide sem limitações. Pode ser
grande, livre, e na aceitação das infantil. São Paulo: Cirando Cultural,
regras pode ter seus impulsos 2010. 86 p. ISBN 9788538014256.
controlados. Brincando dentro BRAH Avtar. Diferença, diversidade,
de seu espaço, envolve-se com a diferenciação. http://www.scielo.br/
fantasia, estabelecendo um gancho pdf/cpa/n26/30396.pdf. Acesso em:
entre o inconsciente e o real. 10/09/2015.
(ANTUNES, 2003, p. 13).
Foi constatada durante o processo FAZENDA, Ivani. (Org) Práticas
a diferença de abordagem didática ao se interdisciplinares na escola. São Paulo:
trabalhar com crianças e adultos. De maneira Cortez, 1991.
geral, as crianças foram mais participativas
e se envolveram mais rapidamente nas
atividades, demonstrando não ter medo
e vergonha, facilitando a aplicação de
205
BRINCADEIRAS AFRICANAS
Felipe Pressotto Telles
Ivan Cardoso
Indianara dos Passos
Leticia Poleza Henrique
Maria Veronica da Silva Chagas
Vitor Matheus Berardi Chiniski
Licenciandos

Lucimara Araujo Schneider


Professora Supervisora

Francisco Alfredo Braun Neto


Coordenador de Área

Buscamos trabalhar em nosso


projeto com temática de brincadeiras
africanas como forma de desmistificar
o conceito de África que nossos alunos
têm hoje em dia. Acreditamos que a
brincadeira pode ser uma forma de
ensinar. Quisemos, neste projeto, ensinar
brincando alunos do ensino fundamental.
“A brincadeira, entendida em seu aspecto
livre ou sob a forma de jogo com regras,
possui uma função simbólica e funcional”
(GNOATO, 2003).
Iniciamos o projeto com a
brincadeira do Si Mama kaa, que consiste
em formar um círculo com os alunos
dançando, obedecendo às instruções da
música que está em Suaíle, um dos idiomas
falados na Tanzânia. Si mama: ficar de pé,
Kaa: abaixar, Ruka: pular, Tembea: andar,
Kimbia: correr.

206
Letra da Musica:
Si Mama Kaa/Si Mama Kaa
Ruka, ruka, ruka/ Si Mama Kaa
Tembea, tembea, tembea/ Tembea, tembea, tembea
Ruka, ruka, ruka/ Si Mama Kaa
Kimbia, kimbia, kimbia/Kimbia, kimbia, kimbia
Ruka, ruka, ruka/ Si Mama Kaa

Os alunos do 4ºano, 9ºano1, 9ºano2 mbube mbube. Quando o leão chega perto
e 8º ano participaram desta brincadeira. do impala, os demais alunos devem falar a
Os alunos que mais gostaram de participar palavra mbube mbube mais alto, para que o
desta primeira brincadeira foram os alunos impala saiba que ele está em perigo.
do 4ºano e do 8º ano da Escola Elias Adaime, Nessa brincadeira todas as turmas
em Itajaí/SC. participaram efetivamente, querendo
A segunda atividade que aplicamos participar da experiência de ser leão e
foi a brincadeira Mbube Mbube. A palavra impala. Na turma do 8º ano, tínhamos
Mbube significa chamar o leão e neste jogo uma aluna que é cadeirante. Então
as crianças estão ajudando o leão a caçar adaptamos esta brincadeira
o impala. Os alunos formam um círculo de para que ela também pudesse
mãos dadas e dois alunos ficam no meio do participar da brincadeira.
círculo de olhos vendados: um delas é o leão, Vendamos um dos bolsistas
e o outro é o impala. Como os alunos estão para conduzir a cadeira
de olhos vendados, eles andam, ouvindo os dela, vendamos a
demais alunos que ficam falando a palavra menina e vendamos
outro aluno para ser o impala. Pudemos sentido, outro sentido em nós aflora,
perceber que basta o professor adaptar sua neste caso os alunos perderam a visão,
prática para que todos possam participar. então a audição se potencializava. Os
Ao final das atividades com todas alunos nos relataram que é muito ruim
as turmas perguntamos aos alunos não poder enxergar. Mostramos a eles
quais foram as sensações de estarem que as pessoas com deficiência visual se
vendados, pois quando perdemos um adaptam às suas necessidades.

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