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Editora: Colibri
Lisboa, 1997
ISBN: 972-8288-77-8.
Índice:
Nota introdutória
Prefácio
Introdução
Capítulo 1 - Abordagem Metodológica e Fontes
1.1 - O Arquivo da Câmara Municipal de Avis
1.1.1 - As Actas das Eleições e os Livros de Actas das Sessões da Câmara
1.1.2 - Os Livros do Recenseamento Eleitoral
1.1.3 - Outras fontes
1.2 - Inventários por Morte
1.2.1 - Recolha dos Inventários
1.2.2 - Dificuldades e problemas levantados no tratamento desta fonte
1.2.3 - Bens apresentados com maior frequência
1.2.3.1 - Bens móveis
1.2.3.2 – Semoventes
1.2.3.3 - Bens imóveis
1.2.3.4 - Dinheiro e dívidas activas e passivas
1.2.4 - Importância desta fonte
1.2.5 - Autores que trataram este tipo de fonte
1.3 - Arquivo Particulares
1.4 - As fontes iconográficas
1.5 - Os cemitérios
1.6 - Imprensa distrital, regional e nacional
1.7 - Arquivos dos Ministérios
1.8 - Anuários Comerciais
1.9 - As Fontes Orais
1.10 - Fontes Literárias
1.11 - Variações ortográficas
Capítulo 2 – Avis
2.1 - Localização e descrição
2.2 - Resumo histórico
2.3 – População
2.4 - Economia do concelho
2.4.1 - O Gado: "burros, porcos e... ovelhas!
2.4.2 - O Pão: cereais e moagens
2.4.3 - "Chaparros"
2.4.4 - O azeite e outras indústrias
2.4.5 – Comércio
2.4.6 – Trabalho
2.4.7 – Resumo
Capítulo 3 - Circunscrição e identificação das elites locais: factores de homogeneização
e de diferenciação social
3.1 - Critérios de definição das elites de Avis
3.1.1 - Critérios económicos
3.1.2 - O controlo do poder político local
3.1.3 - As manifestações da diferença social
3.2 - Composição da elite social local
3.2.1 - Os proprietários
3.2.1.1 - Origens de algumas famílias
3.2.1.2 - A elite fundiária local e a posse da terra com factor fundamental
3.2.1.3 - As propriedades urbanas e a transferência dos montes para as
vilas
3.2.2 - As elites urbanas
3.2.2.1 - Os Bacharéis em Direito
3.2.2.2 - Os Médicos e Farmacêuticos
3.2.2.3 - Os Comerciantes
3.2.2.4 - Os funcionários públicos
3.2.2.5 - Os Professores
3.2.2.6 - Os Padres
3.3 - Factores de aproximação e de separação entre estes grupos: alguns aspectos do
comportamento económico das elites
3.3.1 - A transmissão da propriedade
3.3.2 - A conservação e aumento do património familiar: tipos de investimento,
dinheiro, depósitos e dívidas
3.3.3 - As alianças matrimoniais
3.4 - Algumas considerações sobre o grupo das elites de Avis
Capítulo 4 - As manifestações da diferença: comportamentos sociais, actuações,
vivências e sociabilidades
4.1 - Vivência Rural
4.2 - Vivência Urbana
4.2.1 - Dimensão, localização e mobiliário das casas de habitação
4.3 - Representação Social
4.3.1 - Formas de tratamento
4.3.2 – Caridade
4.3.3 - Homenagens públicas aos membros da elite
4.3.4 - A cidade dos mortos
4.3.5 – Religiosidade
4.3.6 – Vestuário e aspecto exterior
4.4 - Educação e Instrução
4.5 – Comportamentos sexualmente diferenciados
4.5.1 - As Senhoras e a casa
4.5.2 - Os Senhores e o clube
4.6 – Sociabilidades
4.6.1 – Alimentação
4.6.2 - Festas familiares
4.6.3 - Festas sazonais, cerimónias religiosas e feiras
4.6.4 - Os bailes e os rituais de namoro
4.6.5 – Caçadas
4.6.6 - As viagens
4.6.6.1 - Deslocações e meios de transporte. Dificuldades
4.6.6.2 - A ida à capital; praias, termas e touradas
Capítulo 5 - Elites sociais locais e mudança política
5.1 - Participação das elites sociais locais no poder político
5.2 - Eleições e mudanças de regime; os períodos de transição
5.3 - Padrão de continuidade ou renovação das elites políticas
Capítulo 6 - Resumo das permanências e mudanças
Anexos:
1. Profissões na Política Local
2. Profissões dos eleitores do concelho de Avis
3. Moradas dos eleitores no concelho de Avis
4. Famílias de Avis
5. Outras instituições do poder político local: a Santa Casa da
Misericórdia e os organismos corporativos
6. Resumo dos Anuários Comerciais e Livros do Recenseamento
Eleitoral
7. Iconografia
Fontes e Bibliografia
Para a Catarina, o Sebastião e a Maria Carolina.
Agradecimento:
A autora
Nota introdutória:
Seria atrevimento da minha parte propor-me prefaciar, tal como me foi pedido, esta tese
de Mestrado que, pela densidade de informação e pela qualidade de conteúdo, merece uma
abordagem, mesmo sob a forma de prefácio, de uma outra profundidade analítica que a
disponibilidade de tempo não permitiu.
Ambicioso, sem dúvida, o projecto: pela temática envolvida, pela dificuldade de acesso
a fontes adequadamente tratadas, pela ausência do factor de distanciamento.
Conhecedora do projecto, a Câmara Municipal de Avis não lhe poderia ficar indiferente
e propôs-se impulsionar a publicação desta tese de Mestrado como contributo muito importante
que é para a História Local
A riqueza deste trabalho reside, antes de mais, no facto de ser uma história
atenta aos detalhes mais reveladores do universo social. Depois, porque mostra uma
verdadeira sensibilidade sociológica e antropológica da parte de quem não teve uma
preparação específica nestas disciplinas, mas que a compensou por mérito próprio,
vindo a aprender com os seus contributos.
Esta elite não foi propriamente estática. A genealogia das famílias permite
detectar as raízes da mesma no fim do Antigo Regime, em coerência com a análise da
sociedade desse tempo feita por Albert Silbert. Nesse período, embora dominantes a
nível local, enfrentavam ausentes de maior peso, como a grande aristocracia. Um único
exemplo: a herdade de Camões da Casa Cadaval revela o peso enorme da aristocracia
mesmo em relação a estes abastados lavradores, constituindo deste modo a análise local
uma perspectiva que nos permite observar hierarquias sociais mais globais da sociedade
portuguesa.
A sua análise da elite é subtil e atenta às diferenças existentes no seu seio. Havia
quem vivesse exclusivamente dos rendimentos da lavoura e quem, por vezes sem
ligações aos anteriores, vivesse do comércio, fosse farmacêutico, etc. Os últimos
poderiam deter recursos económicos elevados, mas constituíam um sector subordinado
no grupo dominante local. Porém há distinções a ter em conta no seio do próprio sector
fundiário. Entre os seus membros há quem seja sobretudo lavrador e se auto-afirme
como tal e quem, também o sendo – ou grande proprietário – já detenha um capital
cultural e relações de sociabilidade fora do local que o separe dos anteriores.
Um tópico aliciante, entre tantos outros, e que mostra como o estudo da autora
contempla processos sociais inseridos no tempo e no espaço, é a observação dos efeitos
da mudança das elites fundiárias dos montes para a Vila. Aqui constroem amplas
residências e exibem um estilo de vida distinto. Frequentam-se, dão jantares, tomam
parte activa nas instituições de sociabilidade por eles animadas ou fundadas, abandonam
inclusive o traje de lavradores. Em sumo, a pouco e pouco começam a adquirir alguns
hábitos mais urbanos.
A análise das trajectórias dos membros da elite constitui outro momento alto da
pesquisa. A “urbanização” que leva os grandes proprietários dos montes para a Vila, por
exemplo, parece estar associada à tentativa de fazer com que alguns descendentes
adquiram capital escolar – títulos profissionais propiciadores de rendimento e posição
elevada, como os de médico ou advogado. Aliás, aparecem diferenças nos destinos
sociais dos homens e mulheres deste sector. Embora a autora não o afirme
explicitamente, as suas páginas revelam a condição dominada das mulheres do sector
dominante: os irmãos ou maridos podiam ter estudos superiores, para elas bastava a
primária e o aprenderem a ser senhoras. A análise do seu papel social – da esfera da
casa, da família, ao teatro e à caridade – é esclarecedora. Eram o complemento
subordinado dos membros masculinos e sobretudo do marido, quando casadas
(celibatárias, eram umas tias providenciais, que não afastavam o património,
“sacrificadas” no altar dos interesses familiares – passe a imagem).
Poderá parecer um pouco injusto colocar questões a um trabalho tão rico, ainda
para mais sujeito a constrangimentos de tempo na sua elaboração. Só o faço por duas
razões. Primeiro, por a sua elevada qualidade as suscitar. Segundo, por ter a certeza de
estarmos apenas perante o início de um percurso da autora no domínio da investigação.
Início aliciante com o qual ficou demonstrado que as elites fundiárias controlaram o
poder político local ao longo de três regimes políticos. Na verdade, só o processo da
Reforma Agrária, o impacto da PAC e o regime democrático o abalaram decisivamente.
Este trabalho, que se propunha abordar a elite de Avis, foi muito mais longo do que o
enunciado no título, constituindo um contributo valioso não só para o conhecimento do
Alentejo, como da própria sociedade portuguesa no período por ele focado.
A delimitação deste estudo ao grupo específico das elites, teve como ponto de
partida a leitura da tese de doutoramento do Prof. Doutor Hélder Fonseca da
Universidade de Évora sob o título Economia e Atitudes Económicas no Alentejo
Oitocentista, a qual lançou as bases para vários trabalhos sobre as Elites Rurais
Alentejanas. O estudo das elites locais e suas redes de sociabilidade é um tema
actualmente a ser estudado por vários investigadores, dos quais destaco os trabalhos de
Reinhard (Brito, 1993) sobre a Cúria Romana e de François Heran sobre as elites
sevilhanas (Heran, 1980).
Esta situação motivou-me para o estudo mais amplo das condições históricas e
sociais da "Questão Agrária" no Alentejo contemporâneo, do qual se destacam os
problemas do latifúndio, do trabalho sujeito a flutuações sazonais e dependente mesmo
das condições climatéricas, o que provocava e continua a provocar situações frequentes
de desemprego temporário. Na falta de organismos estatais vocacionados para a solução
destes problemas, foi aos mais favorecidos que se atribuíram responsabilidades e
deveres, os quais este grupo recusava na maior parte dos casos. Com o Estado Novo
surgem as Casas do Povo e os Grémios, instituições corporativas cujas funções incluíam
a tentativa de resolução destes problemas, mas que encontraram alguma resistência por
parte dos grandes proprietários/lavradores. A situação era ainda levada a extremos pelo
modo de vida das elites locais em confronto com as situações de indigência vividas
pelos mais desfavorecidos.
A relação das elites avisenses com o poder político municipal, distrital e central
é tratada num capítulo próprio, no qual se analisam os resultados eleitorais e a evolução
partidária dos órgãos municipais do concelho em comparação com o poder distrital e
central. Pretendo aí descrever as permanências e mudanças mais significativas da
política local ao longo deste meio século, com as respectivas concordâncias e
divergências em relação aos acontecimentos vividos a nível nacional. Analiso também a
composição sócio-profissional dos órgãos de poder local, desde a Câmara Municipal ao
Grémio da Lavoura já em 1940, para verificar se de facto as elites económico-sociais
locais detêm a liderança do poder político municipal.
O facto de ter identificado o pessoal político para chegar à definição das elites
sociais locais explica-se por apenas poderem ser eleitos ou nomeados para os cargos
administrativos os cidadãos do próprio concelho (ver legislação). Esta abordagem
revelou a composição sócio-profissional da Câmara de Avis entre 1886 e 1941 e
permitiu ter uma ideia do peso de cada categoria profissional no poder local. Serviu
assim de ponto de partida para a elaboração das listas das famílias da elite económica e
social do concelho.
A elaboração das listas dos cidadãos eleitos no concelho para os vários cargos
políticos num período de 55 anos e três regimes diferentes foi um processo que obrigou
à consulta de diversas fontes, uma vez que as alterações das leis eleitorais levaram a que
os elementos fornecidos pelas mesmas e os próprios órgãos do poder municipal e
distrital variassem significativamente.
1.1.3 - Outras fontes. Neste arquivo foi possível também fazer a recolha
de outro tipo de fontes importantes para a caracterização das elites, como foi o caso do
livro de registo de licença de uso e porte de armas, licença de caça, registos dos
consumidores de energia eléctrica, etc. Naturalmente os mesmos nomes surgiam em
quase todas as ocasiões, o que possibilitou a elaboração de um retrato mais fiel dum
certo estilo de vida que desenvolvo no capítulo 4. Igualmente importante foi a recolha
dos mapas do concelho e da vila de Avis, além das cartas militares que permitem a
localização dos montes nos quais os lavradores e proprietários residiam ou tinham a
sede da sua lavoura. A localização espacial é algo fundamental para se conseguir uma
noção mais correcta do tema a tratar, desde as distâncias percorridas a cavalo, a
dificuldade das deslocações, etc. Este enquadramento geográfico foi complementado
com os mapas de estradas recolhidos na Biblioteca Nacional, uma fonte importantíssima
e raramente tratada, inclusivamente pelo Automóvel Club de Portugal que não mantém
um arquivo com os seus mapas mais antigos.
1.2 - Inventários por Morte. Com a lista dos nomes das principais figuras da
elite política e económica de Avis foi então possível requisitar os respectivos
Inventários por Morte arquivados na Repartição de Finanças de Avis. Estas fontes
permitiram um estabelecimento pormenorizado dos bens dos indivíduos que neste
concelho viveram e morreram, isto é, das famílias da elite social local, que em Avis
possuíam a sua primeira residência, a sua família, a sua actividade profissional e
interesses económicos e onde exerciam o seu direito de voto.
d) dinheiro,
A descrição dos objectos (que são sempre numerados) de cada uma destas
categorias é bastante pormenorizada, incluindo os valores monetários de cada um. A
atribuição de um valor monetário aos bens inventariados pode ser feita pelos
familiares, mas correntemente aparece a referência a avaliadores oficiais, como num
caso em que surge a expressão: "que os louvados avaliaram em...". Nos objectos
móveis é frequente a utilização da expressão "muito usado"; nos semoventes, alguns
inventários chegam ao pormenor de referir os nomes e cores dos animais descritos,
enquanto outros apenas os avaliam colectivamente; quanto aos imóveis, apresentam a
classificação de "rústico" ou "urbano", o uso que se lhe dá, o tipo de terra das
propriedades rústicas, as árvores existentes, raras vezes o número de hectares, a
freguesia e concelho de localização, por vezes com os nomes dos vizinhos cujas
propriedades fazem fronteira com a que está a ser descrita, o número de inscrição na
matriz da conservatória do registo predial (onde o prédio está completamente
descrito, incluindo a localização precisa, mas esta informação só é fornecida em raras
ocasiões) e o valor matricial. Os bens imóveis têm ainda a caracterização do tipo de
propriedade: plena, enfitêutica (com a referência do proprietário pleno e do valor do
foro anual a pagar) ou arrendada (neste caso indicando o proprietário e o valor da
renda a pagar). Muitos destes bens estão ainda descritos como pertencendo ao
falecido em apena 1/2, ou outras porções por não terem sido divididos anteriormente,
sendo o resultado de heranças ou compras familiares em conjunto. Salienta-se ainda
na descrição dos bens a existência por vezes de inventários separados para os bens do
casal e do falecido como pessoa individual, nos casos bastante frequentes de
casamentos com separação de bens.
feitas para apurar o total dos impostos de transmissão a pagar pelos herdeiros.
Geralmente são apresentados os valores separados a pagar a cada herdeiro, mas
noutros apresenta-se apenas o valor total a pagar.
Muito importante para a definição das funções agrícolas, a descrição dos trens,
carroças, carros de parelha, arados, etc., e dos maquinismos para moagem de cereais e
lagares de azeite. Mais tarde, a partir dos anos 30, surgem os automóveis e as
"camionettes a gasogénio", os jeeps "Willies" e mesmo os carros de luxo, incluindo
Mercedes descapotáveis do final dos anos 30, aliás uma das únicas estravagâncias de
algumas destas famílias que se caracterizam pela apego ao dinheiro, que só era gasto na
compra de mais terras, de preferência herdades vizinhas às que já possuíam. A maioria
dos objectos de luxo referidos faz parte dos enxovais das senhoras.
Quadro 2:
Nos inventários também se pode verificar o grande peso das casas que estas
pessoas possuem nas vilas: em 50 inventários surgem 97 casas, além de alguns celeiros,
anexos, etc. Todos apresentam pelo menos uma "morada de casas de habitação" urbana,
grande, e algumas outras mais pequenas que arrendam. As descrições destas são
também por vezes muito pormenorizadas, com o número de divisões (a casa de José
Godinho de Abreu, em Benavila, tem 41 divisões e vale 200.000$00 em 1946) e as
dependências, que podem incluir "altos e baixos, quintal, cavalariça, celeiro, pátio,
jardim, varanda", etc.
Esta fonte foi ainda fundamental para o estabelecimento dos laços de parentesco
entre as pessoas apuradas como pertencentes à elite política e económica de Avis e a
elaboração das respectivas árvores genealógicas. Apenas com os nomes recolhidos nos
recenseamentos e nas actas das eleições não era possível relacioná-las, pois um dos
grandes problemas é a grande diversidade de apelidos dentro da mesma família, mesmo
entre irmãos, filhos do mesmo pai e da mesma mãe. Os inventários resolveram parte
desta questão, pois apresentam listas de filhos e herdeiros dos falecidos. Porém, a falta
de alguns inventários de elementos-chave dessas famílias tornaria esta reconstituição
inviável sem o precioso auxílio das fontes orais.
1.2.5 - Autores que trataram este tipo de fonte. Tal como já foi
referido, o ponto de partida para este trabalho foi a tese do Prof. Hélder Fonseca (1996).
Este autor define as características e tendências da Economia Alentejana na segunda
metade do século XIX e caracteriza a Elite Económica Alentejana, centrando o seu
estudo no concelho de Évora. O seu objectivo é uma definição e caracterização
sociológica desta elite, a qual, independentemente da diversidade de origens, percursos
e atitudes individuais, se constituiu como um grupo com um forte sentido de
solidariedade e elevado grau de coesão (parte II, capítulo 2). Pode acrescentar-se que
esta coesão se solidificou com as estratégias matrimoniais que levaram à concentração
da propriedade. Esta estratégia é descrita quando o autor faz a reconstituição do estilo
de vida e rede de parentesco destas famílias, nomeadamente no que diz respeito aos
critérios de recrutamento para o clube "Círculo Eborense".
Também Maria Manuela Rocha utilizou esta fonte para estudar o concelho de
Monsaraz na 1ª metade do século XIX.
1.3 - Arquivos Particulares. O único que está minimamente tratado como tal é
o Arquivo Pais Telles no Ervedal, organizado por Mário Pais da Cunha e Sá antes da
sua morte em 1971 e actualmente na posse da Junta de Freguesia. Reúne grande parte
dos livros e documentos possuídos por duas das famílias das elites do concelho, unidas
por casamentos vários: a família Pais e a família Cunha e Sá. Este arquivo inclui ainda
uma espécie de museu arqueológico, pois este proprietário, descendente de lavradores,
médicos e advogados, foi um estudioso da História de Portugal, chegando mesmo a
escrever um livro sobre as vias romanas. Viveu em Lisboa grande parte da sua vida, das
rendas das herdades em Avis, pertenceu ao círculo de amigos de Fernando Pessoa
escreveu vários livros bastante curiosos, mas condicentes com o espírito da época.
Pretendeu provar que Luís Vaz de Camões viveu em Avis parte da sua vida, quando
esteve exilado no Maranhão. Importante para este trabalho foi a genealogia que
escreveu da família Pais de Avis, remontando ao século XVI.
Neste arquivo encontrei algumas escrituras de compra das herdades das famílias
e alguns testamentos; porém, mesmo com os livros catalogados e arrumados, grande
parte dos papéis ainda estão atirados para dentro de gavetas, sem a menor possibilidade
de darem origem a um estudo mais aprofundado dos comportamentos económicos das
casas agrícolas destas famílias. Tal como na Fundação Abreu Callado, no Ervedal, estes
montes de papéis em caixas e gavetas não apresentam qualquer ligação entre si, datas ou
um mínimo de organização contabilística que permita a sua simples arrumação. Apenas
uma lista de pagamentos a tiradores de cortiça me deram a certeza de que a cortiça dos
sobreiros da herdade de Pêro Viegas era tirada pelos proprietários e só depois vendida,
mas que significado pode ter isto no conjunto da lavoura, se nem se sabe o valor da
mesma?
Se até numa instituição como a Fundação Abreu Callado é difícil fazer a história
da família, quanto mais nas outras casas, cujos descendentes na maior parte dos casos já
nem se dedicam à agricultura. Assim, os arquivos familiares foram mais importantes
noutro tipo de fontes: os livros, as revistas, as roupas, o mobiliário (incluindo um
gramofone), as fotografias de família, os objectos de uso pessoal. Na casa da família
que deu origem a esta Fundação, tudo está conservado como nos dias em que os
proprietários lá viviam. Com a autorização dos directores, pude ver a casa (confirmando
a veracidade inventários por morte dos dois irmãos Abreu Callado), fotografá-la, tocar
nos objectos, ver as gavetas das roupas de cerimónia e de uso corrente, tudo
acompanhado pelos comentários dos empregados da casa e seus descendentes, que lá se
mantêm pelos estatutos da Fundação. Esta observação em directo de uma realidade
parada no tempo, uma vez que esta família não teve descendentes que continuassem a
usar estes objectos ou que os alienassem, foi como uma viagem no tempo e uma fonte
importantíssima para a construção da imagem da vida do dia-a-dia destas famílias.
1.4 - As fontes iconográficas. Este mesmo arquivo foi uma fonte importante de
fotografias de época, postais enviados por parentes e vários afilhados em viagens
(incluindo uns parentes que moravam no Brasil), quadros nas paredes e gravuras,
gentilmente cedidas em fotocópias, as quais revelaram as caras, os modos de vestir, os
interesses, as actividades em períodos de lazer e mesmo algumas atitudes de pessoas
apenas conhecidas pelos nomes. Estes postais e retratos são uma fonte preciosa para a
História Urbana, pois mostram-nos a evolução das cidades, e para a História Social em
geral, pois revelam muito mais do que qualquer descrição por escrito, sobretudo no que
diz respeito à estética de cada época e aos gostos e preferências das diferentes gerações.
A apresentação destas fontes completa e enriquece a descrição, torna-a mais viva e
esclarecedora do que um relato apenas por escrito.
Para Avis e para o grupo estudado esta fonte é abundante, pois além de ser
frequente as pessoas tirarem o retrato e o enviarem umas às outras, seguindo o costume
da época de enviar fotografias na troca de correspondência, sobretudo no caso de
pessoas que moravam em terras distantes (e todas eram distante, devido às más vias de
comunicação), as famílias Figueiredo e Pais possuem uma colecção considerável de
fotografias das famílias nas situações mais variadas: piqueniques, caçadas, festas
religiosas, carnaval, reuniões familiares em ocasiões de aniversários, baptizados, etc.
Esta colecção abrange praticamente todo o período estudado, pois uma das
senhoras era fotógrafa amadora, tirava fotografias aos parentes (praticamente todos os
da elite estudada) e teve mesmo trabalhos seus publicados em revistas e nos postais
oficiais da vila encomendados pela Câmara Municipal. Em todas as colecções de
retratos dos arquivos familiares encontrei trabalhos assinados por "Cecília de
Figueiredo" e o acesso às chapas em vidro com os negativos das fotografias foi
verdadeiramente o desvendar de um mundo. Confirma-se assim o ditado que diz que
uma imagem vale mais que mil palavras.
Esta fonte já foi tratada por vários autores, como por exemplo Maria Filomena
Mónica, que explica: "No princípio do século já a fotografia era uma moda: vendiam-se
inúmeros postais e os cidadãos iam tirar retrato aos ateliers" (Mónica, 1983: 5).
Também o Prof. Hélder Fonseca, na sua exposição Retratos de família. As elites
eborenses no século XIX, comentou que "a fotografia consolidava sentimentos de
pertença entre os elementos do grupo, estreitava solidariedades e prolongava a memória.
(...) a fotografia ajuda ao exercício da memória, fortalece raízes, consolida pertenças,
perpetua o nome da família (...) Noutros casos em torno do patriarca, guardião das
referências familiares, reunia-se a descendência, que assegurava a continuidade e o
futuro do nome nas gerações seguintes." (1996). Em Avis esta moda também pegou
naturalmente, sobretudo entre as elites, que iam tirar retratos aos melhores fotógrafos da
época quando viajavam a Lisboa ou às praias mais famosas.
1.8 - Anuários Comerciais. O primeiro contacto com esta fonte foi no arquivo
particular de uma família de Avis. Mais tarde verifiquei que também era sugerida pelo
Prof. Oliveira Marques e após a recolha dos exemplares na Biblioteca Nacional cheguei
à conclusão que esta fonte era fundamental e insubstituível na quantidade e qualidade de
informações que fornece em tão pouco espaço.
Esta quadra era habitualmente recitada no Carnaval pelas pessoas de fora que se
deslocavam a Avis para participar nestas animadas festas. Apesar do sentido pejorativo
que se pode encontrar nos seus versos, eles são muito apreciados localmente e até são
recitados com um certo orgulho pelos referidos Varelas, que assim se congratulam de
serem uma das famílias dominantes e mais numerosas da vila e do seu termo, tanto a
nível das elites como na classe dos pequenos proprietários. A sua disseminação foi
muito bem sucedida pela quantidade de filhos que foram tendo (e que chegavam a
adultos e tinham outros tantos) ao longo das várias gerações. Já em 1799 a pauta dos
elegíveis para vereadores na vila de Avis mencionava um Gonçalo Varela Leão, avô de
dois Simões Varela, lavradores de grandes herdades no termo da vila. Os seus
descendentes continuaram ao longo do século XIX e pelo menos até meados do século
XX a ocupar os lugares mais importantes na hierarquia política, económica e social
local: ainda em 1941, o presidente da câmara era primo direito dos Varelas e casado
com uma prima que era Varela pelo lado da mãe.
Freguesias: Paróquias:
Alcórrego Santo António do Alcórrego
Aldeia Velha Santa Margarida d'Aldeia Velha
Avis Nossa Senhora da Orada
Benavila São Sebastião
Ervedal São Barnabé
Figueira e Barros São Braz da Figueira
Maranhão São Domingos de Bembelide
Valongo São Saturnino
Avis foi a sede da ordem militar com o mesmo nome e nesta vila encontram-se
várias construções pertencentes ao Convento de S. Bento de Avis: "O conjunto é
formado pela Igreja - que já foi provisoriamente matriz, tendo como orago Nossa
Senhora da Orada - pela Sacristia, Sala do Capítulo, Refeitório, Cláustro e Torre Sineira
(todos manuelinos)", além do edifício do convento, cujas ruínas aparecem sempre como
o ex libris da vila. Outros edifícios de interesse são a Igreja Matriz do século XV; o
Pelourinho com a ave simbólica do concelho, a águia de asas abertas; a Capela da
Misericórdia; o Palácio do Prior-Mor, que já serviu de teatro e actualmente abriga a
Câmara Municipal; os Antigos Paços do Concelho Medievais; os vários Passos da
Procissão do Senhor do Passos; algumas casas nobres com Brasões e várias casas de
habitação popular com portais manuelinos, sobretudo nos chamados "arrabaldes", um
"conjunto de três ruas paralelas situadas a Norte da povoação, fora de Muralhas,
acessíveis pela porta que existiu junto à Torre de S. Roque. Aí se acantonariam todos os
que, da Idade Média ao século XVI, não eram bem tolerados dentro de portas, casos dos
judeus, almocreves e outra gente 'de fora'." (Rodrigues, 1993: 10, 30).
Igualmente fora da vila, mas do lado sul, situa-se a Cerca do Convento, uma
porção de terra na encosta entre o convento e a Ribeira de Avis, na qual os frades
cultivavam uma horta em socalcos com um sistema de rega por tanques herdado da
colonização árabe da região. Nesta horta, além de existir um microclima propício ao
cultivo de legumes e frutas para a alimentação dos frades, encontra-se uma fonte de
águas férreas (segundo os anuários comerciais do início do século era uma fonte termal,
mas desde os anos 1980 que está inquinada pelo esgoto da vila que desagua
directamente na ribeira) com um precioso trabalho em mármore do século XVI como o
edifício do convento. Também na mesma propriedade, actualmente submersa pela
Barragem do Maranhão, existe a chamada Lapa de S. Bento, um altar numa gruta no
meio da escarpa, considerada pré-histórica.
Este concelho é rico em água, passando junto à vila de Avis a Ribeira de Raia, a
qual se junta à Ribeira de Sor para formar o Rio Sorraia que desagua no Tejo. O Raia
passa "pelas povoações de Monforte, Fronteira e Aviz, com a denominação de ribeira
Grande ou ribeira de Aviz". Já em 1911, quando Mário Vieira de Sá escreveu esta
descripção geral do Alentejo, se sentia a necessidade de construir barragens e albufeiras
para irrigar as terras (Sá, 1911: 18). Em Avis também se fez o projecto de uma
barragem durante o governo de Fontes Pereira de Melo (1883 - 1886), por iniciativa do
Presidente da Câmara Dr. Joaquim de Figueiredo, do Partido Regenerador e amigo
pessoal de João Franco. "O projecto foi então mandado executar por portaria de 9 de
agosto de 1888. Era este um emprehendimento de muito folego, visto que consistia
n'uma grande obra, cujo orçamento foi avaliado em 410 contos de réis (...) e em que se
dispenderam até julho de 1892, 47:610$450, em expropriações, algumas terraplanagens,
acquisição d'alguma pedra d'alvenaria e casa para abrigo do pessoal. D'estes trabalhos,
hoje nada se pode utilisar; porque, suspensas as obras em 1892, estão ha quasi 20 annos,
ao completo abandono!" (Sá, 1911: 178). De facto, a morte de Joaquim de Figueiredo
em 1890, o grande impulsionador da barragem, e a resistência dos grandes proprietários
do concelho, além da mudança do poder municipal e nacional do P. Regenerador para o
P. Progressista, fizeram com que a construção parasse por completo. A actual Barragem
do Maranhão, que fornece energia eléctrica e irriga todo o concelho e arredores foi
construída apenas em 1958, dentro do programa de obras públicas e de irrigação do
Alentejo levado a cabo pelo Estado Novo. Situa-se no Maranhão, a 14 Km de Avis. O
local anteriormente escolhido e as respectivas instalações, junto da vila de Avis,
funcionam como clube náutico e centro de lazer e tem como denominação "Barragem
Velha".
D. Fernão Anes ou Enes foi o 3º Mestre dos chamados Freires de Évora que se
integravam na Ordem de Calatrava, com sede em Castela. Foi a esta ordem que D.
Afonso II doou em 1211 o lugar de Avis para aí construir um castelo, cujas muralhas
ainda existem, tanto de forma visível, como fazendo parte das casas que se foram
construído ao longo dos séculos. O mesmo se passou com as torres, das quais ainda
existem três: o acesso a duas das torres só é possível entrando nas casas particulares que
junto a elas foram construídas.
"Em 1211 El-Rei faz doação do logo de Avis e seu termo à Ordem de Evora que
logo mudando para aí o seu convento se ficou chamando Ordem e Cavalaria de S. Bento
de Avis. Era com a condição de acastelarem a vila e de a terem sempre povoada de
guarnição militar - que era êsse o sentido da expressão povoar castelos. (...) O sistema
administrativo da Ordem consistia em fundar povoações em terrenos incultos.
Determinavam uma dada área, o herdamento ou sêsmo, estabeleciam o sítio para a
construção de casas, davam-lhe nome, e depois redigiam um foral de póvoa declarando
aforada para todo o sempre a terra à razão do quinto ou do dízimo de tôda a produção
anual, e para quem a quizesse povoar. Era aforada à colectividade, e não à pessoa em
particular. Os povoadores elegeriam alcaides e meirinhos para a distribuição entre êles
das terras do sêsmo; e a Ordem arrendava vitaliciamente, e em condições de privilégio,
todo o rendimento da nova póvoa, a um dos seus freires que seria então o Comendador
do lugar. Quando os freires tiveram autorização para casar, a Comendadoria tornou-se
hereditária. Foi assim, por exemplo, que a Comenda das Galveias andou na casa dos
Melo e Castro, de que um representante foi o 1º Conde das Galveias. (...) Avis era
comenda do comendador-mór." (Sá, 1935: 239-244).
Este foi o último mestre da Ordem de Avis. A partir da sua morte em 1433, o
título de mestre foi abolido e substituído pelo de "Governador e administrador da
Ordem", cujo 1º foi D. Fernando, o Infante Santo. "Porque esta abolição do título de
mestres? É que a Ordem tinha evolucionado num sentido verdadeiramente sacerdotal,
perdendo o seu carácter guerreiro, e como já os mestres não eram eleitos livremente,
mas da escôlha dos reis, e como o título de mestre, devia, pelo Estatuto, identificar-se
em espírito, com a corporação, e esta era religiosa, não fazia sentido que um príncipe
profano fôsse dentro da Comunidade outra coisa, àlém dum governador e
administrador" (Sá, 1935: 241).
Segundo a mesma fonte, pode concluir-se que Avis era uma vila habitada
sobretudo por membros do clero, que incluíam o prior-mor, que residia no maior palácio
da vila, e vários padres e os frades do convento. Também há vestígios de casas de
algumas famílias nobres. O brasão da família Melo (Casa de Cadaval), por exemplo,
ainda é visível no portão de uma casa do século XVIII e também é possível localizar a
casa da família Camões na vila. Quanto às casas de habitação popular, encontravam-se
na sua maioria nos arrabaldes. Além de viver na vila de Avis, parte da população
residia também nas outras freguesias (Figueira, por exemplo, foi elevada a vila em
1271), sobretudo Ervedal e Benavila, pois as restantes não passavam de lugares com um
reduzido número de fogos, espalhando-se a sua população pelos montes, muitos dos
quais eram conventos.
Para uma definição das elites sociais locais, o recenseamento de 1890 foi sem
dúvida o que maior número de elementos forneceu, sobretudo no que diz respeito à
coluna dos elegíveis para deputado e dos Maiores Contribuintes da Contribuição Predial
(referidos como MC). A partir daqui foi possível elaborar uma lista hierarquizada da
elite económica do concelho e constatar que 22% dos eleitores são elegíveis para
deputado, mas apenas 3,7% são também MC1 (39 eleitores). Os restantes elegíveis para
Deputado incluem funcionários, artistas ou artesãos, pequenos proprietários e alguns
seareiros.
A partir de 1895 deixou de haver a coluna dos MC nos livros do recenseamento
eleitoral, mas as contribuições continuam a ser discriminadas até 1900, quando já são
dados apenas os totais destas. Com a lei eleitoral de 1895, os eleitores elegíveis para os
cargos administrativos passaram a ter os mesmos critérios de definição dos elegíveis
para deputados, aos quais se introduziu a inovação da habilitação escolar ou profissional
como alternativa ao critério do rendimento. Daí o aumento dos elegíveis do concelho
para 32% em 1900. Assim, nos últimos anos da Monarquia ainda é possível elaborar
listas com os maiores contribuintes e elegíveis do concelho, o que nos possibilita
hierarquizar os eleitores e caracterizar profissionalmente as elites.
seareiros, descritos por Picão como "caseiros (...) que lavram por sua
conta, a quarto ou quinto, terras cedidas pelo proprietário ou rendeiro geral" (Picão,
1983: 25-26). Este autor descreve as lavouras alentejanas nos finais do século XIX,
com todas as suas componentes. Nos anos 30 deste século, os seareiros ainda
exerciam as mesmas actividades: "Há em grande parte das herdades e casas agrícolas
alentejanas uma espécie de cultivo e lavoura de curiosas características (...) Constitui
uma espécie de arrendamento, baseado em moldes convencionados e segundo
combinação prèviamente estabelecida entre êsses cultivadores e o proprietário das
herdades. Representa uma modalidade típica em que só a terra pertence ao
proprietário, encarregando-se os cultivadores de ali fazerem a lavoura, colhendo os
resultados para si e pagando o prémio convencionado à herdade que amanham. (...)
Os ‘ceareiros’ exercem igualmente a sua actividade em grande parte das
propriedades da ‘Casa Abreu Calado’ (...), trabalhando por conta própria concorrem
com o seu contributo para a prosperidade e engrandecimento das herdades"
(Expansão Portuguesa, 1935: 166). Cutileiro descreve ao pormenor esta “classe
heroica” (Cutileiro, 1977: 69-75). Os grandes proprietários entregavam geralmente
aos seareiros a exploração das terras que mais se distanciavam do centro da sua
lavoura e que não tinham capacidade para cultivar directamente. Esta profissão
encontrava-se num plano intermédio entre o trabalhador rural (a diferença é que
trabalha por conta própria) e o pequeno proprietário (trabalhando porém em terra
alheia), tendo muitos deles conseguido chegar a esta última posição ou mesmo já lhe
pertencendo, pois nalguns casos o pequeno proprietário explorava a seara do vizinho
com um contrato deste tipo. A grande descida do grupo de 27% em 1900 para 7% em
1941 tem duas explicações possíveis: em primeiro lugar, alguns seareiros com mais
sucesso tornaram-se pequenos proprietários, subindo assim na escala social; por
outro lado, grande parte terá descido para a categoria de trabalhador por conta de
outrem à medida que as terras são cada vez mais exploradas directamente pelo
proprietário. A descida desta categoria profissional coincidiu com o enorme aumento
dos jornaleiros neste período. Os seareiros frequentavam os mesmos círculos sociais
e locais de sociabilidade que os artistas. No concelho de Avis temos o exemplo duma
família abastada, cujas origens são bastante humildes: Manuel Prates Pina (1854 -
1926) começou a vida como pastor, mais tarde foi "maioral de parelhas" e participou
no grande movimento de arroteia da charneca alentejana como seareiro da casa
agrícola de João Abreu Callado. Em 1907 tornou-se rendeiro de uma grande herdade
e "em 1914 o grupo de herdades do sr. Visconde de Alter foram por ele tambem
arrendadas". Seus filhos foram rendeiros e também já proprietários e um dos netos
formou-se em medicina, ascendendo assim na escala social ao ponto de casar com
uma senhora da elite fundiária de Avis. A história desta família está descrita no
artigo "Uma vida exemplar. Manuel Prates Pina. A sua odisseia e o seu triunfo -
Como o Concelho de Avís foi todo arroteado", Álbum Alentejano, dir. Pedro
Muralha, Edição da Imprensa Beleza, Lisboa, Tomo III - Distrito de Portalegre,
1937, pp. 629 - 633. Este artigo é muito revelador da mentalidade da época: diz o seu
autor, descrevendo a vida do patriarca desta família, e pretendendo emocionar o
leitor e motivá-lo para o trabalho árduo com o qual será recompensado, que "Ele
nasceu na obscuridade; ele que era nada, homem sem nome nascido apenas para ser
aproveitado como maquina para o trabalho, teve esta aspiração sublime: ‘Ser tratado
um dia por sr. Pina’. Senhor!... (...) será uma aspiração que constitua uma utopia?
Não é! A prova está na vida exemplar do alentejano Prates Pina..."
A estrutura da propriedade local tem origens tão antigas como a vila de Avis e
mantem-se até aos nossos dias por motivos relacionados com o solo e o clima:
predomina a grande propriedade, na qual se desenvolve a agricultura e a pecuária em
regime de sequeiro e de forma extensiva.
Os inventários por morte dos vários proprietários estudados são reveladores dos
interesses económicos desta elite fundiária: os produtos da terra, alguns com descrições
muito pormenorizadas das quantidades de sobreiros, azinheiras, oliveiras, árvores de
fruto, e mesmo alguns apresentando os valores da cortiça, das sacas de cereais ou dos
litros de azeite obtidos no ano em causa. A parte referente ao gado é muito
esclarecedora do peso que estes animais tinham no conjunto dos bens. Pertencem a uma
categoria separada dos bens móveis e dos imóveis e são denominados Semoventes.
Chegam a ter descrições de animais com o respectivo nome e características físicas e
são uma grande lição sobre as diferentes categorias de ovelhas e porcos, como as
ovelhas malatas, as afilhadas, etc. O gado bovino é também descrito com precisão, mas
verifica-se que não é criado para carne ou leite, mas sim com a função de tracção e
trabalho, na qual acompanha o gado muar. Segundo o censo da população pecuária do
Distrito de Portalegre em 1925, a distribuição percentual dos vários tipos de gado no
concelho de Avis e no distrito em geral destaca claramente os ovinos, seguidos dos
caprinos; os suínos ocupam a 3º posição, enquanto os bovinos, cavalares, muares e
asininos apresentam valores muito baixos.
Tal como em 1890, também o Estado Novo iniciou uma Campanha do Trigo em
1929, com a qual pretendeu fomentar a sua produção. Em Avis esta campanha levou à
criação, nos anos 30, de duas organizações corporativas: o Sindicato Agrícola de Avis
(uma associação de produtores de trigo, não de empregados) em 1931 e o Celeiro dos
Produtores de Trigo do concelho de Avis, um grémio integrado na Federação Nacional
dos Produtores de Trigo, criada em 1933. Em 1940 foi criado o Grémio da Lavoura de
Avis, um dos últimos da região e antes da Casa do Povo. O Grémio da Lavoura integrou
as funções do Sindicato Agrícola e do celeiro da FNPT, tornando-se uma instituição de
verdadeiro poder político e económico municipal. A participação das elites de Avis
nestes organismos corporativos pode verificar-se no anexo 5. A sua principal função
económica era a colocação e venda dos produtos da lavoura no mercado, sobretudo o
trigo. Os estímulos criados por estas instituições, além de outras medidas pró-
cerealíferas tomadas entre 1932 e 1934, resultaram num real aumento da produção de
trigo. No entanto, o cereal passou a ser moído fora do concelho, sendo entregue
directamente às grandes fábricas de moagem. Em Avis, os moinhos tradicionais e as
poucas fábricas de moagem a vapor continuaram a funcionar apenas para o consumo
local durante alguns anos até ao seu desaparecimento por completo. Assiste-se assim ao
desinteresse (quase compulsivo) das elites pelo investimento na área da indústria da
moagem, e a um interesse crescente na área da produção do trigo.
2.4.3 - "Chaparros".
A cortiça foi valorizada já neste século, sobretudo a partir de 1906, data em que
se assistiu a uma grande expansão do seu comércio devido à descoberta de novas
utilizações para esta matéria-prima. Além do fabrico de rolhas, a cortiça passou a ser
usada, a partir de 1905-1906 para o fabrico de palmilhas, de pontas de cigarro, de
armações de chapéus, de invólucros de charuto, etc. (Marques, 1978: 170, Ramos, 1994:
231). As fontes orais negligenciam-na em relação por exemplo à oliveira, afirmando que
ficava muito cara a sua recolha e que os industriais algarvios pagavam muito mal.
Chegam a afirmar que a ofereciam para que estes lhes limpassem as árvores. No
entanto, o inventário orfanológico de Manuel Joaquim da Costa Braga (m. 1895) dá um
valor de 32.400$000 para uma tiragem de cortiça a realizar 4 anos depois, o que nos
preços correntes neste concelho na mesma época daria para comprar mais de 3
herdades.
De qualquer modo, a plantação sistemática de sobreiros nesta região é um
fenómeno já deste século: João Fernandes, o "menino de ouro" de Évora, era
proprietário de várias herdades nos concelhos de Avis, Mora e Ponte de Sor, nas quais
plantou uma enorme quantidade de sobreiros por volta dos anos 20.
Esta última era usada na alimentação humana, mas sobretudo para o fabrico do
azeite. "O azeite servia para iluminação e para a indústria de conservas, mas a expansão
das oliveiras coincidiu sobretudo com a divulgação do uso do azeite para temperar
batatas e peixe seco" (Ramos, 1994: 231).
2.4.5 – Comércio. O comércio local nos finais do século XIX era muito
limitado. Como se viu no ponto 2.3, quase metade dos eleitores que se dedicavam ao
comércio eram almocreves e caixeiros, o que é elucidativo do carácter bastante móvel
da actividade comercial. Os produtos alimentares tinham uma expressão muito reduzida
nas trocas comerciais, uma vez que grande parte da população tinha acesso directo a
eles, quer por possuir uma pequena horta ou por ter autorização para hortar no terreno
do patrão, quer por receber parte dos salários em comedorias. Os pastores, por exemplo,
eram autorizados a ter sempre algum do seu gado a pastar em conjunto com os rebanhos
que guardavam. A isto chamava-se ter o provilhal no rebanho, o qual era vendido nas
feiras, ficando o dinheiro para o pastor. Para não falar dos proprietários que iam buscar
praticamente todos os alimentos à sua lavoura. O mesmo se passava em relação ao
combustível: o pessoal que limpava as árvores tinha direito a uma porção de lenha,
enquanto o resto da população, sobretudo as mulheres mais pobres, apanhava os restos
de lenha do chão, sem que os proprietários lhes fizessem qualquer tipo de represálias.
À medida que chegamos a meados do século XX, este panorama não se altera
muito. Por exemplo, no Álbum Alentejano encontramos o seguinte anúncio: “Edital da
Câmara Municipal do concelho de Avis em 1/7/1933: realizam-se anualmente as
seguintes feiras: Em Avis: No dia 3 de Janeiro feira de porcos gordos. No dia 6 de
Janeiro feira de quinquilharias. Em Ervedal: No dia 18 de Outubro, feira de gado e
quinquilharias. Em Figueira e Barros: No terceiro domingo de Março, feira de gado e
quinquilharias.”
No que diz respeito a Avis e ao distrito em que este concelho se integra, esta
preocupação manifestou-se nos pedidos repetidos por obras públicas em períodos de
crise. A grande preocupação das autoridades do Estado Novo com estas crises de
desemprego sazonais, que ocorriam sobretudo no fim do verão, era a agitação social que
a falta de trabalho podia provocar. A solução de realizar obras públicas pelos vistos não
tinha tanto a ver com o desejo de modernizar a região, criando infra-estruturas. Isto
vinha como acréscimo, mas o motivo principal era empregar os trabalhadores para
evitar os "verdadeiros cadinhos de odio de classes e luta social"(sic), pois, como disse o
Governador Civil de Évora, "a fome (era o) principal agente subversivo da classe rural".
Quanto ao papel dos lavradores nesta questão, nota-se por parte do governador civil
uma certa responsabilização por esta situação, uma vez que a contratação dos ranchos
de trabalhadores de fora do distrito agravava as crises de desemprego.
Uma das respostas do Estado Novo a este problema do sector agrícola foi
estabelecer o novo Estatuto do Trabalho Nacional, instituído em 1933, o qual determina
que as caixas ou instituições de previdência sejam organizadas por iniciativa dos
organismos corporativos. As instituições criadas para esse fim foram as Casas do Povo,
com acção a nível das freguesias e auxiliadas na sua acção social pelos Grémios da
Lavoura de cada concelho. O concelho de Avis teve a sua primeira Casa do Povo na
freguesia da Figueira e Barros, com os estatutos aprovados no final de 1936. Seguiu-se
a Casa do Povo do Ervedal em 1940 e por último Avis e Benavila em 1941.
Apesar de Avis ser dos concelhos onde este problema se manifestou em menor
escala, assistiu-se durante muitos anos a concentrações pacíficas de trabalhadores
desempregados em frente da casa do Gerente do Grémio da Lavoura, Eurico de
Figueiredo Pais, para que este lhes conseguisse trabalho junto dos lavradores
agremiados.
Depois da definição dos vários critérios que permitiram elaborar a lista das
famílias que constituem o objecto deste estudo, passo à análise da sua composição e dos
factores de diferenciação social para caracterizar o modo de vida de um grupo com
características próprias, distintas dos restantes grupos sociais, enfim, do resto da
população em geral, e descrever as suas vivências privadas e públicas.
Falo aqui em famílias: "Qué se debe entender por 'familia'? Esencialmente una
red de parentesco coherente, construida a través del juego de las filiaciones y de las
alianzas. Quien dice familia, dice, pues, política, estrategia, trayectoria familiares,
desarrolladas en el tiempo y en el espacio". François Heran define assim este termo que
ele usou na sua obra sobre as elites sevilhanas (Heran, 1980: 13). O objecto do seu
estudo foi a burguesia agrária andaluza, a qual ele afirma ter como unidade real de
decisão as famílias e não os indivíduos. O conceito de família que o autor utiliza foi o
de família alargada. Neste conceito está incluída a família nuclear, residente na mesma
casa e utilizando o mesmo apelido, o qual era atribuído sem qualquer regra: até à
República não existia legislação sobre isto, o que originava situações frequentes de
irmãos com apelidos diferentes; até meados do século XX em Avis continuou a haver
vários casos destes que complicaram bastante a construção das árvores genealógicas.
Porém, a família incluía também toda a rede de parentesco mais próxima, como sejam
avós, tios, irmãos, primos, e mesmo os parentes espirituais, isto é, os padrinhos dos
filhos. Cada membro de uma podia pertencer a outras e as relações com as famílias de
origem mantinham-se após o casamento, tanto para os homens como para as mulheres.
Do mesmo modo as obrigações para com as gerações mais velhas eram as mesmas tanto
na família da mulher como na do marido. Estas famílias não incluíam os criados ou
outras pessoas que faziam parte do conceito de família do Antigo Regime, o que não
impedia, porém, que alguns afilhados fossem tratados como parentes de facto.
Já aqui referi que o ponto de partida para este trabalho foi a obra do Prof. Hélder
Fonseca, que, tal como Heran para Sevilha, estudou os comportamentos económicos das
elites eborenses. No caso de Avis, a grande falta de fontes escritas e arquivos familiares
minimamente coerentes impossibilitou o desenvolvimento deste tema, o qual abordo
apenas a partir dos elementos recolhidos nos inventários orfanológicos, com todas as
dificuldades descritas no capítulo 1. Apenas uma casa agrícola me disponibilizou os
seus arquivos, de facto bem organizados: a Casa Telles de Carvalho, do Monte Padrão.
Porém, os seus livros de contabilidade datavam dos anos 30, o que também não ajudava
muito para a época em estudo.
Este facto veio confirmar a existência de uma forte hegemonia deste grupo no
poder e o exercício, por parte das elites económicas, da liderança do "sistema local de
dominação da classe". Como diz Sevilla-Guzman, "La dominación de classe se realiza,
predominantemente, por medio del poder económico que la propriedad de la tierra
otorga a la classe latifundista. El control de los medios de producción, la hegemonía del
aparato del Estado a nivel local y la sujección de las instituciones que permitem acesso
a medios de vida en la comunidad origina ciertas formas de hegemonia..." (Sevilla-
Guzmán, 1980: 34).
- umas mais visíveis, que acentuam o aspecto exterior e marcam mais a sua
separação dos restantes componentes da sociedade; nestas salientam-se as casas, seu
tamanho e localização; o vestuário, os objectos que manifestam um elevado poder
aquisitivo, como os trens, os cavalos, mais tarde os carros; as ruas com os nomes dos
membros mais destacados destas famílias e as obras sociais que implicaram essa honra;
por fim a representatividade social no cemitério, a cidade dos mortos como retrato da
cidade dos vivos;
Todos estes factores foram desenvolvidos pelo Prof. Hélder Fonseca nos seus
trabalhos sobre a elite eborense no século XIX. Em Avis, um meio muito mais pequeno,
é curioso encontrar várias semelhanças em comportamentos, actuações e vivências, as
quais desenvolvo no capítulo 4. São estes comportamentos diferentes que fazem incluir
nas elites sociais locais algumas famílias com ocupações e fontes de rendimento
desligadas da propriedade fundiária. Como já foi referido, num meio rural, nenhum
outro sector de actividade está inteiramente independente da agricultura. Porém, a
ligação de algumas das famílias da elite social local com a propriedade fundiária era,
por vezes, indirecta. Neste grupo incluem-se os médicos, os farmacêuticos, os padres, os
professores, alguns comerciantes mais abastados e os funcionários superiores da
administração. Residiam sobretudo na vila de Avis, sede do concelho, com alguma
dispersão pelo Ervedal e Benavila. De todos os que exerciam profissões liberais, apenas
um advogado residia num monte, pois era grande proprietário e lavrador ao mesmo
tempo.
Esta elite mais urbana e relacionada com o sector terciário tem outro tipo de
critérios de definição:
É de salientar o título dado por José Cutileiro à sua obra já aqui repetidamente
citada: Ricos e Pobres no Alentejo (Uma Sociedade Rural Portuguesa), o qual
demonstra a estrutura da sociedade alentejana que este autor pretendeu retratar.
Também, José Manuel Sobral utiliza esta designação para descrever as elites sociais
duma freguesia beirã: "os ‘ricos’, no entendimento local, não são, como vimos, apenas
os grandes proprietários enquanto tais: são também os donos das ‘casas’, as famílias de
proprietários antigas e com o prestígio inerente à própria antiguidade - embora o seu
prestígio seja objecto de contestação e controvérsia - os que governam (...), os que têm
estudos superiores que acarretam salários elevados, os que se podem permitir um modo
de vida que não passa pelo trabalho manual e gozam de rendimentos muito superiores;
em suma todos os que partilham atributos que faltam precisamente aos que se vêm
como ‘pobres’" (Sobral, 1993: 153).
Este tipo de abordagem coincide com a visão que em Avis as outras classes
tinham dos ricos. Para os pobres, os membros da elite seriam todos pelo menos muito
parecidos, sobretudo nos aspectos em que se distinguiam deles. Num contexto social
muito polarizado, verificava-se também por parte dos mais desfavorecidos uma
identificação entre os ricos e o Estado, e a respectiva responsabilização por todos os
problemas sociais e económicos. José Manuel Sobral desenvolveu o tema da relação
entre Espaço e Poder, o que pode perfeitamente ser aplicado ao espaço rural alentejano
e à imagem que as elites projectavam como proprietários dos meios de produção e
detentores do poder político. Essa imagem e posição raramente eram afirmadas pelos
próprios: "nunca alguém considerado como ‘rico’ admite publicamente e sem
reticências sê-lo, ou que a sua posição social seja vista como decorrendo
exclusivamente dos rendimentos e não de outros factores que, com regularidade, são
referidos para explicar a sua situação pessoal ou familiar: o mérito próprio ou o dos seus
antepassados já falecidos, a própria antiguidade da família e traços que lhe estão
associados - a cultura e bom gosto" (Sobral, 1993: 148-149). Entre os descendentes das
elites de Avis ainda hoje se ouvem frases como: "o meu avô era o melhor lavrador da
região, com a maior casa agrícola" ou "a família tinha muito prestígio a nível local
desde há muitas gerações" e várias outras afirmações que coincidem perfeitamente com
o que este autor apurou em relação ao espaço rural que estudou, o que nos pode levar a
uma certa generalização deste comportamento entre as elites rurais. Nota-se também
alguma nostalgia em relação a um passado glorioso e um pouco mitificado, o que
corresponde de facto à realidade dum espaço rural extremamente activo e productivo do
início do século XX, em contraste com a actualidade decadente do sector agrícola
português.
Enquanto a imagem popular punha os ricos quase todos ao mesmo nível, este
grupo via-se como muito diferente entre si: entre os grandes proprietários/lavradores e
as elites "mais urbanas" havia grandes desníveis de riqueza, sobretudo no que diz
respeito aos bens imobiliários e ao respectivo rendimento; mas as diferenças
manifestavam-se principalmente nos comportamentos e mentalidades.
Pode resumir-se que menos de 4% dos eleitores pagavam mais de 60% das
contribuições totais dos eleitores do concelho e que mais de 90% pagavam menos de
10$000 de contribuições, sendo a sua maioria jornaleiros que pagavam menos de $500
(geralmente apenas pagavam contribuição paroquial). Também se pode observar que
por vezes 1 só proprietário pagava mais de 60% das contribuições totais dos eleitores da
sua freguesia de residência, como era o caso de Manuel de Carvalho na freguesia da
Figueira em 1890. É claro que este critério está dependente da importância da freguesia,
pois em Avis, sede do concelho e freguesia "mais urbana", onde se concentravam mais
proprietários, profissões liberais e funcionários, um só MC ocupava sempre uma
posição relativa mais baixa que numa freguesia rural dominada por uma ou duas
famílias no máximo.
Quadro 3:
Quadro 4:
Quadro 5:
O pequeno grupo da elite económica local de Avis teve como principais famílias
os Cunha e Sá das freguesias da Aldeia Velha e Ervedal, os Teles de Carvalho da
Figueira e Barros, os Abreu Callado de Benavila e os Lopes, os Varela, os Pais e os
Braga de Avis (ver anexo 4). Cada uma destas famílias tinha pelo menos um membro
que se dedicava à lavoura e era detentora de 1 ou mais herdades, na qual tinha a sede da
sua casa agrícola e monte de habitação, até ao final do século XIX. A transferência dos
locais de residência é desenvolvida no capítulo 4. Até 1941 nenhuma destas famílias
abandonou por completo a lavoura ou vendeu as propriedades, mesmo quando se
verifica o exercício de outras actividades complementares ou mesmo desligadas da
actividade agrícola. Mais tarde assiste-se ao fim de algumas delas, sobretudo as que
tiveram poucos filhos e registaram uma elevada concentração de casamentos entre
primos muito próximos (caso dos Braga que ficaram em Avis: esta família está
praticamente extinta por falta de descendência, apenas subsistem uns ramos que já não
têm quaisquer laços com o concelho). A mudança para Lisboa das gerações mais novas
e as ocupações de terras no âmbito da Reforma Agrária de 1975 levaram à quase total
ausência destas e de quase todas as famílias dedicadas à agricultura do concelho de
Avis.
Nesta sociedade fortemente hierarquizada, os pequenos proprietários
representavam apenas 11% dos eleitores em 1900 e 13% em 1941 (ver anexo 2). Muitos
eram originários de famílias de grandes proprietários, cujas terras foram divididas por
herança: caso da família Varela da herdade do Monte Outeiro de Baixo. Como pode
ver-se no referido anexo 4, esta família teve um número considerável de filhos, pelos
quais foram divididas as herdades, o que fez com que todos se tornassem pequenos
proprietários. A descida no nível económico da segunda geração desta família foi
agravada pelo facto de terem casado todos com membros de famílias de pequenos
proprietários. Pelo contrário, o ramo Varela do Monte Outeiro de Cima teve um número
muito mais reduzido de filhos, incluindo alguns que ficaram solteiros. Casaram com
primos da família Lopes, também lavradores e grandes proprietários e as poucas
divisões das herdades foram compensadas por outras herdades que os respectivos
cônjuges trouxeram para os casamentos.
Quadro 6:
Este quadro resume as referidas listas que dizem respeito às elites locais em
1799, 1829 e 1832, 1890 e 1910 e demonstra uma grande permanência das elites locais
nas posições de maior relevo durante mais de um século. Os recenseamentos eleitorais a
partir da República deixaram de mencionar as contribuições pagas, perdendo-se assim
uma fonte importante para a hierarquização económica da população.
Nas pautas dos anos 1829 a 1834 surgem outras famílias, como os Castro, que já
nos finais do século XVIII registaram a sua passagem pelo concelho: Joaquim José de
Castro foi o Juiz de Fora (o seu nome encontra-se numa fonte mandada construir na vila
de Avis em 1787) e o seu filho com o mesmo nome era casado em 1832 com a filha do
2º mais rico dos arrolados: Vasco José da Silva. Um dos descendentes deste casal foi
Luís António da Silva e Castro, o 7º MC de 1890. Em Avis, o largo onde se situam
algumas casas das mais importantes famílias da elite que se mudaram para a vila nos
finais do século XIX tem o nome de Largo Sérgio de Castro.
Também na pauta de 1832 surge pela primeira vez José Ignácio de Torres
Macedo "Capitão de Malta e Lavrador", cujo filho ou neto é referido por Mário Sá nos
seus artigos sobre o concelho como o último morgado de Avis: "Ele se chamava José
Inácio Tôrres de Macedo, e se finou, solteiro, com 36 anos de idade em 1887. De
nobresa rural, que já não da primeira do reino que outróra habitára Avis, era, todavia, de
boa linhagem..." (Sá, 1935: 243). As famílias da nobreza, como os Melo, já não constam
destas listas, assim como os Camões, da família do poeta (segundo os livros de
linhagens de Manuel Rosado Marques de Camões e Vasconcelos), donos de várias
herdades no concelho de Avis, mas cujas casas e sedes de lavoura se situavam em Alter
do Chão.
Talvez por terem tido contacto com cidades grandes, ou por alguma
prosperidade nova resultante das Campanhas do Trigo, o facto é que a geração do final
do século XIX operou uma mudança drástica dos montes para a sede do concelho.
Praticamente todos os casamentos realizados pela 2ª geração das famílias da freguesia
de Avis foram residir para a vila, onde construíram grandes casas apalaçadas. Por
exemplo José Lopes Coelho Sénior, o presidente da câmara em 1886, residia no monte
da Machadinha com a família, mas já nessa época tinha uma das maiores casas da vila,
para onde a sua mulher se mudou quando ele morreu. O mesmo se passou com outras
famílias: quando os pais atingiram a velhice, deixaram os montes e foram morar para
casa dos filhos na vila. Estes lavradores e seus filhos, não deixaram, porém, de se
dedicar à lavoura e à exploração directa das suas herdades, mantendo um feitor ou
encarregado geral, mas realizando visitas às propriedades e mantendo um controlo
rígido de todas as actividades.
Pelo contrário, os vários irmãos Cunha e Sá, nunca se mudaram para as vilas: as
suas ligações a Lisboa e às Caldas da Rainha eram mais fortes que a Avis. Quando o
patriarca António Manuel da Cunha e Sá morreu em 1895 e os seus filhos herdaram,
estes voltaram para o concelho de Avis e instalaram-se nos respectivos montes, nos
quais passaram a viver com todos os confortos: Joana Isabel vivia na já referida herdade
da Torre, cujo monte, actualmente em ruínas, está a ser reconstruído; seu irmão Júlio
Mário construiu uma casa nova no monte de Pêro Viegas em 1899, com todas as
características de uma casa de cidade e completamente diferente do tradicional monte
alentejano.
- o 1º, Dr. Cosme dos Campos Callado (1871 - 1928), tinha um irmão que
tratava da lavoura, dedicando-se ele à actividade política: foi várias vezes presidente da
câmara; mantendo-se fiel aos princípios familiares conservadores; foi eleito em 1908
pelo mesmo partido que seu pai, Francisco d'Abreu Callado e nos anos da Segunda
Guerra Mundial manifestou algumas tendências pró-germânicas.
- o Dr. Júlio Mário da Cunha e Sá (1863 - 1919), enquanto não herdou, viveu
nas Caldas da Rainha, onde foi notário e sub-delegado no julgado de Óbidos; ao vir
morar para a sua herdade de Pêro Viegas, exerceu ainda as funções de notário e também
participou na política local. Este, no entanto, não pertencia ao grupo dos lavradores
locais, pelo contrário: destacava-se por ser republicano e muito provavelmente pertencer
à maçonaria, tal como outros que foram nomeados administrativamente para a Câmara
Municipal em 1910, enquanto os restantes lavradores se mantiveram monárquicos
muitos anos após a República. Em 1917 já não vem referido no Anuário Comercial,
pois entretanto tinha-se mudado com a família para Lisboa e deixado as terras
arrendadas a Francisco Pina, filho do já referido Manuel Prates Pina. O interesse desta
família pela lavoura foi muito mais reduzido nesta geração, ficando a casa do monte
apenas como segunda residência.
- O Dr. José Pais Teles (1870 - 1942), cunhado do anterior, dedicou-se mais
activamente à lavoura, vindo sempre referido nos Anuários Comerciais nas listas de
advogados, lavradores, proprietários, donos de lagares de azeite, viticultores e
vinicultores. A sua participação na política foi mais reduzida. Era o 5º filho do MC
António Pais da Silva Marques.
Nos anos que se seguiram a 1917, tanto o Dr. Cosme Calado como o Dr. José
Pais Teles continuaram no concelho, exercendo esporadicamente funções de advocacia.
Com escritórios abertos e exercendo funções de notário, etc., vieram pessoas de fora do
concelho; o mesmo se passou com os Juízes, nomeados pelo poder central. Para
trabalhos específicos, como foi o caso da elaboração dos estatutos da Fundação Abreu
Callado, veio de Lisboa o Dr. Mário de Castro, descendente da família Castro, portanto
com ligações ao concelho, apesar de nessa época esta família já lá não residir.
- Dr. Jaime Joaquim Pimenta Prezado (1898 - 1969), originário de uma família
de pequenos proprietários e rendeiros da Ponte de Sor, foi colocado em Avis logo que
se formou. Casou com uma das filhas do lavrador mais rico da vila nos anos 20, José
Lopes Coelho e tornou-se rendeiro de algumas das suas terras. Porém, fortes
divergências pessoais e inimizades políticas com o sogro e o cunhado Luís Mendes
Vieira Lopes afastaram-no desta família. Em 1935 José Lopes Coelho fez um
testamento que quase deserdou a filha Maria Teresa, casada com este médico, no qual
constava a seguinte cláusula: se uma das filhas não tivesse filhos, os bens que esta
herdasse ficavam por sua morte para os filhos da outra. Como este casal de facto não
tinha tido filhos até essa data, nem veio a ter, o marido ficou absolutamente excluído
dos bens do sogro, apesar de os ter administrado quando a mulher herdou. Mesmo que
ele tivesse morrido antes da mulher, nunca seria seu herdeiro. Assim, este médico,
apesar de casado com uma das maiores proprietárias do concelho, afirmou a sua posição
no grupo das elites não pela posse de propriedade fundiária, mas pelo exercício da sua
profissão de delegado de saúde e pela participação na política local, sobretudo no
Estado Novo, quando foi o presidente da delegação concelhia da União Nacional. Mais
tarde foi também deputado. O seu poder político no concelho estendia-se não só à
Misericórdia, como à Câmara Municipal (não chegou a ser presidente da CMA, mas
tinha grande influência sobre José Francisco de Moura, 1935 - 1941), aos organismos
corporativos (foi o presidente do celeiro da FNPT) e até ao exercício da medicina:
conseguiu que o seu colega Dr. Carlos Clímaco Baptista fosse alvo de um processo
disciplinar e acabasse por ser despedido do cargo de médico municipal, por motivos
obscuros, ligados a uma pretensa actividade como comunista.
Mesmo com estes médicos oficiais até bastante empenhados na sua profissão,
segundo vários testemunhos, a assistência médica não chegava a todo o concelho,
devido aos maus caminhos e inexistência de ligações por estrada até pelo menos aos
anos 40 deste século, sobretudo no inverno. Este tema é aprofundado no ponto 4.6.6.1.
- João Marques Serrão (n. c. 1858, m. 22/2/1939), MC, casado com uma senhora
da família Lopes, grande proprietária. A sua participação na política local limitou-se a
ser uma vez vereador suplente. Era também agente bancário e de companhias de
seguros. Possuía uma das maiores casas da vila no largo principal.
- João d'Abreu Callado (n. c. 1844), irmão de Francisco d'Abreu Callado, grande
proprietário. Não tinha tantas terras como o irmão pois não casou com uma senhora rica.
Salienta-se que esta família domina praticamente todas as actividades da freguesia de
Benavila no período considerado.
- José Valentim Varela (n. 1840, m. 1914) era grande proprietário, MC e tinha
uma considerável actividade industrial no seu monte da Quinta do Pinheiro. Surge nesta
lista na categoria de negociante; não tinha loja aberta ao público, mas vendia o azeite,
vinho e farinha que produzia.
Na lista dos funcionários dos correios destaca-se a presença desde pelo menos
1908 de senhoras de famílias de pequenos proprietários. Esta era uma das poucas
profissões que as senhoras podiam exercer sem obterem um estatuto mal visto
socialmente. Para este trabalho era necessário um curso técnico profissionalizante, o que
logo de início era algo arrojado, pois implicava a saída de casa para estudar em
Portalegre ou na capital. A possibilidade que as jovens tinham de realizar estes cursos
manifestava uma diferença social importante em relação aos grupos mais pobres que
não tinham possibilidade de mandar os filhos estudar, e em relação aos mais ricos, que
consideravam impróprio e desnecessário para uma filha dum lavrador tirar um curso e
realizar qualquer espécie de trabalho (ver cap. 4).
3.2.2.5 - Os Professores. O concelho de Avis teve apenas escolas
primárias durante a primeira metade deste século e mesmo estas eram em número muito
reduzido: em 1890 havia escolas em Avis, no Ervedal e Benavila; em 1900 passou a
haver também na freguesia da Figueira e Barros e só nos anos vinte foram inauguradas
as do Alcórrego, Aldeia Velha e Valongo. Quem desejasse continuar os seus estudos
tinha de o fazer na capital do distrito, Portalegre, ou ir para Évora ou Lisboa. Isso
implicava grande despesa em alojamento, transportes, nos colégios se os alunos ficavam
internos. A possibilidade de uma instrução secundária ou superior tornava-se de facto
algo que apenas um número muito limitado de famílias podia proporcionar aos seus
filhos e essa escolha é analisada no ponto seguinte.
Até morrer em 1918 o já referido Cónego Freire d'Andrade teve uma actuação
forte na política local, chegando mesmo a deslocar-se a Lisboa várias vezes como
representante político, como foi o caso em 1904 numa comissão que, "em nome das
camaras d'este distrito beneficiadas pela linha de Estremoz a Portalegre e ramal d'Aviz,
vae a Lisboa sollicitar do sr, ministro das obras publicas que com a possivel brevidade
se comecem os trabalhos d'aquella linha..." (Jornal Distrito de Portalegre, 24/8/1904).
A comissão não adiantou grande coisa, nunca o Caminho-de-Ferro passou por Avis,
mas o Cónego foi o delegado de Avis nesta importante comissão. Este pároco, além da
sua participação em todos os organismos do poder local e nas festividades do concelho,
tem também a característica (que até nem era muito fora do comum na época) de ter
vivido maritalmente com uma senhora de quem teve um filho. Esta situação era
perfeitamente clara e conhecida, sendo a senhora aceite na sociedade local como a
"mulher do Padre". Ao morrer em 17/10/1918 com "influenza pneumónica", uma gripe
que assolou o país nesse ano, também o seu filho morreu, acabando a senhora por ser a
herdeira de todos os seus bens. Também o Padre Joaquim Matias Simões, que o
substituiu como pároco não residente (vivia noutro concelho e deslocava-se às
freguesias de Avis para realizar as missas) tinha um comportamento moral não
totalmente recomendável para o seu estado de eclesiástico, o qual era do conhecimento
público.
A partir dos anos 20 deixou de haver pároco na sede do concelho, passando os
padres a vir de fora para oficiar a missa dominical.
Quadro 7:
Por exemplo, na Casa Abreu Callado encontrei um papel com as contas do gado
em 1914 – 15; não foi possível identificar se isto correspondeu ao total das vendas
desses anos ou apenas a uma transacção, mas é significativo dos altos rendimentos que
se obtinham com este gado.
Outro factor que ajudou à concentração fundiária nestas famílias foi o facto de
alguns filhos não terem sequer casado, ou, mesmo casando, não terem tido
descendência: "o celibato - e o não reconhecimento de ilegítimos - também serviu para
manter indivisa a propriedade..." (Sobral, 1993: 14). Tal sucedeu nas famílias Lopes (o
casal composto por José Lopes Coelho Jr. e D. Rosa Viterbo Lopes Varela Lopes teve
duas filhas, das quais apenas uma teve filhos, revertendo todos os bens da 2ª filha para
os filhos da 1ª, processo já descrito); nas famílias Braga e Varela (descendentes de José
Valentim Varela). Estas últimas apresentaram alguma incidência de casais sem
descendência e com filhos classificados como "dementes" nos inventários. A família
Abreu Callado, de Benavila, foi um exemplo deste fenómeno levado às últimas
consequências: nenhum dos 4 filhos de Francisco Abreu Callado casou, apesar da
existência de alguns romances que mais pareciam saídos da pena de Camilo...
Os casamentos realizados no final do século XIX revelam que não havia grande
discriminação social entre as famílias dos grandes proprietários e as dos lavadores /
rendeiros abastados: Júlio Mário da Cunha e Sá casou com a filha de António Pais da
Silva Marques, também MC e filho de Luís Pais Teles, o rendeiro da herdade da Torre
que pertencera ao pai do primeiro. Na geração seguinte já se verifica alguma
discriminação: duas primas Lopes Varela casaram com filhos de rendeiros / pequenos
proprietários, o que só foi aceite (mas nunca completamente) pelas famílias pelo facto
de ambos estes maridos serem médicos, logo membros da elite que possuía o tal "capital
simbólico" que os tornava socialmente semelhantes (Maria Teresa Lopes que casou com
Dr. Jaime Prezado e Idalina Varela, casada com Dr. Artur Pina, da família Prates Pina,
atrás descrita como tendo origens em seareiros).
Nas restantes famílias das elites mais "urbanas" dos serviços, verifica-se que
realizaram casamentos entre elas; as possibilidades de casamentos com membros da
elite fundiária mostraram-se baixas. A excepção foi o já referido casamento do
comerciante João Marques Serrão com a filha de José Lopes Coelho Sr. Mais tarde,
quando alguns descendentes das famílias Varela se tornaram pequenos proprietários,
casaram com pessoas de famílias de comerciantes, funcionários e também de pequenos
proprietários; portanto, não houve a possibilidade de nova ascensão social pelo
casamento. Assim, pode concluir-se que entre as famílias da elite fundiária eram
"aceitáveis" os casamentos com profissões liberais, sobretudo médicos, mas verifica-se
uma baixa incidência de laços matrimoniais com membros de outros grupos sociais.
"Quando herdam bens, mesmo que tenha sido lavrada uma escritura pré-nupcial,
são ainda os maridos que administram os seus bens" (Cutileiro, 1977: 141). Esta
constatação de José Cutileiro aplicava-se às elites de Avis. Os regimes de casamento
serviam apenas para as heranças, pois de facto a actuação das mulheres sobre as suas
lavouras e o próprio controlo sobre as suas propriedades era delegado no marido.
Quando estes morriam antes, a lavoura passavam para os filhos, e o papel da lavradora,
apesar de muitas serem até maiores proprietárias que os maridos, ficava completamente
apagado no meio em que estavam inseridas, sobrepondo-se sempre o papel da esposa e
mãe. Até as senhoras que não casavam tinham os seus bens administrados pelos irmãos,
como foi o caso da D. Rosa Madalena Godinho d'Abreu, irmã de José Godinho d'Abreu
e de Cosme dos Campos Callado; também sucedeu o mesmo com D. Alzira Varela,
filha do Dr. Manuel Lopes Varela, que recebia uma renda dos irmãos pelas suas
propriedades. Estas senhoras não deixavam, no entanto, de ser mencionadas nos
Anuários Comerciais como produtoras de cortiça, cereais, etc.
A idade no casamento variou bastante segundo diferentes critérios. Numa
mesma família havia irmãos que casavam mais cedo outros mais tarde, consoante os
estudos e o sexo: nas famílias dos lavradores de Avis, os filhos que tiraram cursos
superiores casavam perto dos 30 anos, enquanto os seus irmãos que se dedicaram à
lavoura desde cedo casaram antes dos 20, como foi o caso dos dois José Lopes Coelho
Sénior e Júnior. As filhas dos lavradores tinham uma certa tendência para casar mais
perto dos 30 anos. As razões que várias fontes orais me apresentaram sugerem o facto
de ter sido muito difícil para algumas destas senhoras encontrarem pretendentes ao
gosto dos pais, num meio pequeno e, principalmente, que não estivessem interessados
apenas na respectiva herança. Sobre as primeiras gerações que ainda viviam nos montes,
ouvi vários relatos de lavradores que expulsavam os pretendentes das filhas, de alguns
namoros escondidos à janela do monte e de outros romances pitorescos.
Também contava para estes casamentos tardios o facto das respectivas mães
morrerem cedo e as filhas mais velhas ajudarem nas tarefas domésticas e na criação dos
irmãos, como aconteceu à filha de José Varela Teles que ao casar ainda levou para sua
casa os dois irmãos mais novos. A geração seguinte que vivia nas vilas já casou mais
cedo, mas os casamentos perto dos 20 anos eram excepções.
Uma das grandes permanências está relacionada com o facto do grupo das elites
ser constituído maioritariamente pelas mesmas famílias desde pelo menos os finais do
século XVIII, como já foi desenvolvido no capítulo anterior; até a passagem de alguns
membros do grupo de lavradores/rendeiros à categoria de grandes proprietários não veio
alterar-lhes grandemente o estilo de vida, pois os objectivos continuaram a ser os
mesmos de aumentar a renda da lavoura e o património fundiário. A grande mudança
ocorreu quando se começou a verificar o abandono dos montes e grande parte das
famílias dos lavradores passou a ter a sua primeira residência na sede do concelho ou
noutros centros urbanos, o que introduziu alterações significativas nos comportamentos
sociais, nas vivências e nas sociabilidades das elites avisenses.
De qualquer modo, até meados do século XX a vida das elites locais nunca
deixou de estar ligada à agricultura e à pecuária, aqui designada como lavoura,
actividade principal da região e da qual dependem todas as outras. Mesmo com a subida
relativa dos níveis de absentismo, praticamente todas as famílias continuaram a ter pelo
menos um representante a tomar conta das suas propriedades e das dos parentes
ausentes. Toda a população do concelho, até os que não tinham a agricultura como
actividade principal, como os comerciantes, por exemplo (devido à sua actividade de
credores dos trabalhadores rurais em tempos de desemprego), vivia condicionada pelo
ritmo dos trabalhos que se realizavam nas diferentes estações do ano: as épocas de
colheitas, da apanha da azeitona, das ceifas, mondas, feiras... As elites sociais locais
participavam intensamente neste ciclo que faz parte duma vivência rural que as
populações das cidades em geral desconhecem ou ignoram, pois não são afectadas
directamente pelo facto de estar a chover ou não, de estar frio ou estar calor. Qualquer
destes factores era determinante para a subsistência das populações rurais e contribuía
directamente para o seu bem-estar.
Nunca é demais repetir que as descrições de José da Silva Picão nos apresentam
o retrato mais completo e vivo da realidade rural alentejana. Este autor dividiu os
montes em cinco classes: “1º Os de aparência acastelada, solarengos, com torres e
ameias, de dois andares, cercados por alto muro, que deixa de permeio o pátio de
entrada. 2º Aqueles que, não tendo a vetusta imponência dos primeiros, possuem
contudo os requisitos necessários à sede de uma grande lavoura e à habitação
confortável do lavrador e sua família. (...) denotam no seu todo uma feição mais alegre e
moderna. Compõem-se geralmente de casas altas e baixas, com janelas e portados
rectangulares, sem (...) muro. As portas exteriores dão para terreiros sem vedação, que
se prolongam indefinidamente pela herdade. 3º Os de menos acomodações que os
precedentes (...) possuem em geral alojo para uma lavoura mediana. 4º Os de poucas
casas ao rés-do-chão, em número restrito (para) uma lavoura relativamente pequena. Se
possuem compartimentos para a residência do lavrador, são tão exíguos e diminutos que
raríssimas vezes se destinam a tal uso. 5º Os de três a seis casitas baixas (...) estes
montarecos habitam-nos os guardas, pastores, caseiros, etc.” (Picão, 1983: 25-27).
Grande parte dos grandes proprietários de Avis nos finais do século XIX eram
lavradores que residiam nas sedes das suas lavouras com a sua unidade familiar
alargada, constituída pela família nuclear e todo um conjunto de criados (no sentido
tradicional e literal do termo) e empregados da casa que participavam na vida
doméstica. Estes incluíam os mestres das crianças, os serviçais, alguns afilhados, etc.
Além da casa principal, os montes tinham quase sempre um conjunto de imóveis como
as casas dos empregados da lavoura e respectivas famílias, os celeiros, armazéns,
moinhos, lagares, pocilgas e estábulos.
Era aqui que o lavrador assumia a sua posição de comando. Mesmo tendo um
feitor (que servia como uma espécie de encarregado geral), a presença do Patrão era
uma constante e nenhuma actividade se desenrolava sem a sua ordem e posterior
verificação nas suas saídas diárias a cavalo ou de charrete pelas propriedades. A
referida localização do monte num sítio alto respondia não apenas a uma necessidade
estética, mas também possibilitava um maior controlo sobre os trabalhos agrícolas e a
evolução das culturas.
Para estudar o modo de vida destas elites rurais, as fontes são muito reduzidas:
enquanto vários autores até agora têm procurado definir os seus comportamentos
económicos, políticos, etc., no que diz respeito aos seus hábitos diários e mentalidades,
muito ainda está por fazer. Alguns inventários por morte forneceram-me elementos
importantes sobre os bens de uso diário destes lavradores, dos quais saliento o de
Manuel Joaquim da Costa Braga, cujo mobiliário e objectos descritos como
pertencentes à casa do monte apresentam as mesmas características de conforto e luxo
dos da casa da vila. Enquanto estas fontes nos apresentam objectos, as fontes orais
permitem-nos conhecer vivências, constituindo uma fonte riquíssima, ainda que
pertencentes a uma espécie em vias de extinção. Em Avis, entrevistei uma neta de dois
dos mais significativos lavradores de Avis no final do século XIX, José Valentim
Varela Sénior e José Lopes Coelho Sénior. Esta senhora forneceu-me informações
preciosas sobre as famílias de Avis e morreu poucos meses depois (já tinha mais de 90
anos), perdendo-se para sempre muitas das pequenas histórias locais. A partir desta
entrevista foi possível reconstruir uma parte significativa das vivências destas famílias,
não esquecendo naturalmente a subjectividade da fonte. Desde o início deste trabalho
que ficou claro que certos lavradores gozavam de um maior apreço que os outros entre a
população em geral e mesmo entre os respectivos descendentes.
Com todas estas actividades, tanto a mulher de José Valentim Varela como a de
José Varela Teles morreram cedo "de infecções", muito naturalmente relacionadas com
as múltiplas gravidezes, enquanto nas gerações seguintes o número de viúvas nestas
famílias aumentou consideravelmente.
Assim, as saídas dos limites das herdades ocorriam apenas em ocasiões muito
específicas: a ida à missa, às feiras no concelho e em concelhos vizinhos e algumas
viagens muito raras. Alguns montes tinham capelas, mas eram poucos e a sua utilização
resumia-se a local de oração familiar, pois as vezes que um padre lá se deslocava para
oficiar a missa limitavam-se a ocasiões muito excepcionais, como baptizados,
casamentos ou funerais. O mais frequente era o passeio semanal à vila mais próxima,
onde a família tinha casa de pousada, para participar na missa dominical e estabelecer
importantes contactos sociais, políticos e comerciais: é famosa a descrição da chegada a
Avis, todos os domingos de manhã, de José Varela Teles do Monte Outeiro de Baixo,
numa charrete toda lustrosa, onde se instalavam a sua mulher e os filhos mais
pequenos, enquanto os mais velhos, pelo menos 6 ou 7, seguiam atrás a cavalo.
A relação das elites com o campo continuou forte no sentido em que a terra era a
maior fonte de rendimento e a base da actividade económica do concelho. Mesmo
quando os grandes proprietários desempenhavam outra actividade paralela, nunca
deixaram de se interessar directamente pela lavoura ou pelo menos tinham um parente
próximo a trabalhar na administração das terras: caso do bacharel Cosme dos Campos
Callado, cujo irmão José Godinho d'Abreu era o lavrador da família, enquanto ele se
dedicou à política.
O Guia Artístico de Avis descreve Benavila como tendo "Várias casas de dois
pisos, na sua maioria com cunhais decorados com capitéis em alvenaria, à maneira dos
finais do século XVIII, explorando o contraste cromático e da relação luz/sombra,
devido ao relevo das peças. Algumas destas casas conservam janelas de arco abatido,
denunciando uma fundação talvez ainda seiscentista, e terão pertencido a dignatários da
Ordem de Avis ou à pequena nobreza local, transitando em seguida para as mãos de
abastados terratenentes e, sucessivamente, para outros proprietários menos abastados.
São comuns as janelas de sacada no piso nobre" (Rodrigues, 1993: 43). Esta descrição
aplica-se igualmente às casas das elites das restantes vilas do concelho.
Uma segunda fase de crescimento da vila, a partir sobretudo dos anos 20 deste
século, consistiu no seu alargamento para fora das muralhas, na abertura de grandes ruas
que descem a colina e na construção de novas casas, as quais começaram a obedecer a
diferentes conceitos estéticos: por exemplo a casa de Simão Teles Varela incluiu
algumas características decorativas da arquitectura da Arte Nova.
Todas estas casas, com as suas inúmeras dependências, levaram para a vila uma
certa continuação da vida nos montes: os quintais, pátios com poços, fontes e até
pequenos pomares, celeiros, cavalariças, pombais, casa da lenha, casa da cal (as casas
alentejanas eram caiadas todos os anos), dependências dos criados, etc. Isto reproduzia
uma parte da vida rural que não foi completamente abandonada.
A organização do espaço destas casas obedecia na maior parte dos casos a uma
representação (não necessariamente intencional) da ascensão social do seu proprietário,
manifestada na escadaria que imediatamente após a porta principal levava a família e
seus convidados ao andar superior, enquanto o andar inferior ficava reservado ao
pessoal doméstico (na parte das traseiras) ou a funções profissionais do chefe de família,
como por exemplo o escritório (nos inventário há algumas, se bem que poucas,
referência a cofres, livros e escrivaninhas) onde o lavrador tinha a sua contabilidade ou
o médico tinha o seu consultório, ou o comerciante tinha a sua loja. No caso dos
farmacêuticos, a respectiva farmácia era sempre separada da casa da família, pois
continha produtos considerados perigosos.
o espaço familiar, com o maior quarto da casa para os pais, geralmente com
janela de sacada para a rua e as melhores mobílias, camas, guarda-roupas, cómodas das
melhores madeiras, etc.; e vários quartos mais pequenos para os filhos, estes com camas
de ferro ou madeiras menos nobres; incluía também pequenas salas-de-estar, onde a
família tomava as refeições diárias e passava os serões. Estas divisões eram geralmente
aquecidas com braseiras sob as mesas cobertas, as camilhas, junto às quais as senhoras
custuravam e passavam a maior parte do tempo. Algumas pequenas dependências junto
aos quartos foram (já nos anos 20 ou 30 do século XX) transformadas em casas-de-
banho, pois até então a higiene realizava-se nos respectivos quartos, nos quais se
encontrava sempre um lavatório, jarros com água, espelhos, bacios nas mesas de
cabeceira, etc. Para complementar estas actividades existia sempre uma pequena casa no
quintal… Pode dizer-se que estes espaços da casa constituíam um universo feminino,
recheados de rendas e bordados, crianças e comida, no qual a participação masculina era
muito reduzida. Por este motivo, e porque grande parte das actividades das senhoras
incluía a confecção de bolos e doces, também se pode incluir no espaço familiar da
residência alentejana, mesmo entre as famílias da elite, a cozinha. Esta divisão era
muitas vezes a maior da casa, com uma lareira que ocupava uma parede inteira e na qual
se reuniam as crianças e muitas vezes os adultos nos frios serões de inverno, à volta do
lume de chão, depois que as criadas se retiravam para os seus aposentos.
De qualquer modo esta actividade era vista como um atributo e uma função mais
feminina; juntamente com a dedicação à família, o cuidado com os pobrezinhos era “o
papel mais nobre e mais sacrossanto que uma mulher pode desempenhar”. A revista
Álbum Alentejano, de 1933, ao falar duma senhora da família Abreu Callado, descreve
todos os atributos e qualidades que a moral da época considerava exemplares e a serem
seguidas por todas as senhoras: "Senhora D. Rosa Madalena. autêntico simbolo da
mulher alentejana. Ela vive para aninhar os seus irmãos; ela vive tambem para poder
enxugar as lagrimas da miseria. Ninguém bate ao ferrolho da sua porta que não seja
atendido. É o autentico tipo da mulher portuguesa, trabalhadora e carinhosa, pensando
mais nas outras pessoas que em si propria. (...) O papel que vimos desempenhar por esta
santa mulher, é o papel mais nobre mais sacrossanto que uma mulher pode
desempenhar. Deus lhe dê ainda muitos anos de vida para poder continuar a ser o anjo
protector não só do lar Abreu Caládo mas de toda a gente, de todos os pobresinhos
residentes na sorridente aldeia alentejana".
Cecília de Figueiredo não era católica praticante e nem teve um funeral católico.
Isto não impediu, no entanto, que recebesse homenagens públicas significativas. Notícia
da morte de Cecília de Figueiredo, publicada no jornal Brados do Alentejo, Estremoz,
28/5/1950, pp. 5 - 6: “Avis. Falecimento - No passado dia 19, faleceu nesta vila a srª D
Cecília de Figueiredo Pais, filha do saudoso e grande amigo de Avis sr. Joaquim
Coutinho de Figueiredo. De seu pai, herdou as qualidades de carácter, dinamismo,
iniciativa e perseverança e bem assim acendrado amor à sua Terra que sempre traduziu
em ideias e críticas construtivas para a vila. Preocupada sempre com a sorte dos
desvalidos, organizou, com outras Senhoras desta terra, a Liga de Beneficência de Avis,
da qual foi a primeira presidente”. Apesar de não haver registos escritos sobre as
actividades desta Liga, foi possível encontrar informações em fontes secundárias, como
na revista Expansão Portuguesa de 1935. Entre as actividades da Liga, as fontes orais
salientam a encenação e representação de várias peças humorísticas no teatro de Avis.
Até então o teatro era considerado imoral e a profissão de atriz indigna para uma
senhora. A moral rural vigente chamava, por princípio, prostitutas às actrizes. As
senhoras de Avis, a pretexto das obras de caridade da Liga de Beneficência, reabilitaram
o teatro na vila. As peças representadas eram baseadas em revistas da moda, incluindo
"O Solar dos Barrigas". Os anos 30 constituíram assim uma época áurea para estas
senhoras, durante a qual puderam apresentar em público todos os seus dotes aprendidos
com as mestras: canto, piano, poesia, etc. A assistência incluía sempre os respectivos
pais, maridos e outros parentes que assim controlavam a situação que nunca foi do seu
inteiro agrado: a exposição pública das suas mulheres perturbava-os. Ficou famosa a
história local de uma das senhoras, vestida de amarelo canário, a cantar na primeira
parte duma peça; o marido, sentado na plateia ouviu um comentário dum vendedor
ambulante (portanto uma pessoa de fora, que não conhecia a sociedade local) sobre a
beleza da senhora, as suas qualidades físicas e como cantora; após o intervalo a senhora
já não subiu ao palco e foi proibida de participar em qualquer outra peça teatral.
4.3.4 - A cidade dos mortos. Os cemitérios são o espelho da cidade dos vivos e
como tal representam na morte o mesmo tipo de diferenças sociais que as elites
manifestavam em vida. De facto, a maioria das famílias da elite do concelho de Avis
destaca-se nos cemitérios das respectivas freguesias tanto pela localização das campas,
como pela posse de jazigos mais ou menos ostensivos, consoante a mentalidade e
relação com o dinheiro manifestada em vida (ver fotografias nº 3 e 4). O comerciante
João Marques Serrão, por exemplo, tem um dos jazigos maiores do cemitério de Avis,
na “avenida” principal e ao lado dos das famílias mais importantes, espelho da sua
afirmação social, enquanto o seu sogro, José Lopes Coelho, um dos lavradores mais
ricos e presidente da câmara em 1887, tem uma campa rasa rodeada por uma corrente.
Tal como os Lopes, também os Abreu Callado tinham fama de muito “agarrados ao
dinheiro”: estão enterrados no cemitério de Benavila, em campas altas localizadas na
zona mais destacada, isto é, logo à entrada em frente da capela, mas não construíram
jazigo.
Quanto aos referidos rituais de passagem realizados na igreja, nos quais o padre
tinha uma intervenção forte, por uma questão de tradição e de imposição feminina na
maioria das famílias, as crianças continuaram a ser baptizadas e grande parte dos
casamentos continuaram a ser católicos. Aliás, isto fazia parte da apresentação formal
da criança e do novo casal à sociedade e servia como representação social. As famílias
com capelas nos respectivos montes faziam questão de encenar uma festa condicente
com o seu estatuto social, como foi o caso do lavrador José Pais Teles que no início do
século XIX baptizou alguns dos seus 22 filhos na sua Quinta de Sant’Ana. Era nos
funerais que os menos religiosos se manifestavam: vários membros da elite de Avis
foram enterrados com funerais não religiosos, alguns até com a presença de padres seus
amigos que acompanharam o cortejo na cauda.
Foi o caso dos funerais de Eurico Barreto de Figueiredo Pais e de sua mãe
Cecília de Figueiredo. Com a República instalou-se também um certo anti-clericalismo.
O testamento de Simão Teles Varela (escrito em 2/9/1940, m. 1942) é um claro
exemplo disso: "Quanto ao espiritual, confesso-me religioso, crente em Deus, na
Virgem Santissima e nos Santos, mas, porque da classe eclesiastica só tenho recebido
dissabores e grandes desgostos, por parte de quem tinha o dever de imitar Nosso Senhor
Jesus Cristo, mas isto não fazem, antes usam indignamente as sagrádas véstes,
pecaminosamente ocupando os elevados lugares de pastores de álmas, quero que o meu
enterro seja cívil e o meu corpo seja depositado no meu jazigo de familia, onde tambem
desejo que durma o sôno eterno a minha mulhér. Á parte o acto relegioso, que já disse
dispensár, desejo que o meu funeral revista a imponencia devida ás pessoas da minha
condição e bens." (sic). Temos aqui um exemplo de irreligiosidade e outro de anti-
clericalismo. A importância destes dois factores por si só merecia um desenvolvimento
que não foi possível no âmbito das fontes existentes.
O vestuário era uma clara distinção social, cuja maior evidência se revelava no
facto de grande parte das crianças que frequentavam a escola primária de Avis ainda em
1941 andarem descalças o ano inteiro, incluindo no inverno, enquanto naturalmente os
filhos da elite tinham botas e sapatos. Esta situação foi salientada por diversas fontes
orais e é perfeitamente visível na fotografia nº 7 da turma da 3ª classe (masculina) nos
finais dos anos 30.
Nos finais do século XIX, o concelho de Avis só tinha escolas nas vilas
principais e durante alguns anos nem houve professor em Avis, como podemos ver no
anexo 6. Considerando que a maioria da população vivia em espaço rural, as
possibilidades que as crianças tinham de frequentar a escola eram muito limitadas. Esta
situação afectava também as elites residentes nos montes, as quais, como já referi no
capítulo anterior, contratavam professores para ensinarem os filhos em casa, mesmo nos
casos em que os próprios lavradores nem sabiam ler ou escrever. Para prosseguirem os
estudos, tinham de ir frequentar os liceus de Portalegre, Évora ou Lisboa, não sendo
muito comum irem para colégios internos, antes para residências de estudantes,
enquanto os pais ficavam nos montes ou vilas.
"Até 1895, o ensino secundário tal como o conhecemos hoje não existiu em
Portugal. O que havia era um sistema de exames públicos sobre certas matérias, dos
quais dependia o acesso às escolas superiores.(...) A maioria aprendia em casa ou em
colégios particulares. A frequência das lições nos liceus do Estado reduzia-se àqueles
que não tinham posses para as saberem de outra maneira" (Ramos, 1994: 309). Sobre o
ensino em casa, era frequente a contratação de mestres para ensinarem os filhos e os
prepararem para os exames liceais; no caso do Dr. Manuel Lopes Varela, porém, a sua
filha salientou que foi ele que fez questão de ensinar as lições aos seus filhos e
sobrinhos em casa. Isto porque tinha estudado e sabia algumas matérias, também porque
não gostava muito da lavoura e tinha muito tempo livre. Estas práticas também
cumpriam as regras morais vigentes na época e ensinadas pelos materiais de civilidade:
“A educação dos filhos aparece como o grande dever e o grande direito dos pais,
embora com maior destaque para o pai – ‘Depois dos primeiros anos da criação que
compete às mães, os pais devem não só dar aos filhos o alimento físico mas o moral,
que é a educação; porque um pai deve ser para a sua família uma segunda
Providência’”. Os manuais de civilidade não se preocupavam muito com a instrução,
apenas davam as regras do ensino doméstico: “recomenda-se aos alunos o maior
respeito pelo professor; aos pais compete ‘«reprimir toda a veleidade de revolta contra a
autoridade do professor’” (Santos, 1983: 26-27).
A família Carvalho, por exemplo, arrendou uma casa em Coimbra para os filhos
poderem estudar, enviando para lá uma tia solteira que tomava conta dos vários
sobrinhos. Já nos anos 50 deste século algumas famílias inteiras mudaram a sua
residência e actividade profissional para Lisboa com essa intenção. De qualquer modo
isto constituía um considerável investimento que de facto só as elites podiam pagar, o
que conferia à educação um “cariz classicizante e pouco utilitário" (Santos, 1983: 27).
A já referida Sra. D. Alzira Varela contou uma pequena história sobre o seu avô
José Valentim Varela e seu pai, o Dr. Manuel Lopes Varela: este último foi mandado
estudar para o liceu de Évora porque, em vez de fazer os trabalhos do campo, como
competia a toda a família, “andava a ler e a escrever debaixo das árvores e não tinha
grande queda para a lavoura”. Nos estudos também não se revelou grande aluno,
chegando mesmo a perder um ano; nessas férias de verão, passadas no monte da Quinta
do Pinheiro, onde a família vivia, o pai castigou-o, pondo-o a trabalhar no campo ao
lado dos empregados. Ele não gostou e empenhou-se a fundo nos estudos, acabando
rapidamente o liceu e depois a Faculdade de Medicina, pois achou que era o melhor
remédio para não ter de se dedicar à lavoura, na qual o seu irmão mais novo se revelou
exímio.
Tal como para os seus irmãos, também as meninas teriam de sair de casa e da
vila de residência se desejassem prosseguir os seus estudos. Isto era absolutamente
inaceitável, por maior confiança que se tivesse na instituição que as recebia. Além disso,
seria um esforço vão… Para quê um tal investimento? De qualquer modo nunca
precisariam de trabalhar…
Duas famílias apenas mandaram as suas filhas na segunda década deste século
para o liceu de Portalegre, a fim de prosseguirem estudos secundários, devidamente
alojadas na casa dum padre cujas irmãs se responsabilizavam pela saúde e pela moral
das meninas a seu cargo: a família Risques, descendentes dum farmacêutico e nessa
época com vários funcionários públicos, e uma senhora da família Varela que tinha
casado com um pequeno proprietário. Em ambos os casos se verificou o interesse em
que as filhas tivessem uma profissão que lhes permitisse sustentarem-se, uma vez que
não possuíam rendimentos da lavoura suficientes para se manterem ao nível das elites às
quais os seus antepassados tinham pertencido. Também uma senhora da família Pais, da
mesma idade das anteriores, tirou o curso de professora primária.
Aliás, este era uma das únicas profissões aceitáveis para uma menina naquela
época; como alternativa, um curso técnico que lhe permitisse exercer uma profissão
respeitável, como funcionária dos correios ou da administração pública e pouco mais.
Esta possibilidade estava vedada a todas as outras classes sociais. Dentro do sector
feminino das elites rurais, à luz da mentalidade actual, pode dizer-se que o grupo menos
favorecido economicamente era o mais privilegiado no acesso à cultura e à instrução.
A partir do que foi demonstrado até aqui, é possível afirmar que os factores de
diferenciação social entre as elites e os restantes grupos eram tão significativos como as
diferenças de carácter sexual que regiam todos os comportamentos e atitudes públicas e
privadas dentro do próprio grupo das elites. E este ponto também distingue este grupo
do resto da população: as diferenças de comportamento das identidades sexuais eram
muito mais acentuadas nas elites que nos restantes grupos. Por exemplo, entre os
trabalhadores rurais (e alguns artesãos e até comerciantes), as mulheres trabalhavam
quase tanto como os homens, contribuindo para o orçamento doméstico por vezes mais
até que os maridos em épocas de desemprego, pois podiam mais facilmente fazer
serviços domésticos temporários. Isto permitia às trabalhadoras, se bem que nunca
completamente, um maior controlo sobre o próprio rendimento, ao qual a maioria das
senhoras estava vedada, pois, como já referi no capítulo anterior, o património familiar
das elites era indiscutivelmente administrado pelos maridos, mesmo que o da senhora
fosse maior.
Também no que diz respeito aos direitos perante o estado: se às mulheres estava
vedado o direito ao voto e à elegibilidade, também uma parte dos homens das classes
mais baixas não tinha rendimentos ou não sabia ler e escrever, o que os incapacitou para
votar até bastante tarde já neste século. A partir do Estado Novo, quando se verificou
uma “extensão parcial do voto aos analfabetos e às mulheres”, mesmo assim as senhoras
da elite continuaram em desvantagem em relação a muitas “domésticas”,
“estalajadeiras”, “comerciantes”, “professoras” e “Chefes da Estação dos Correios” (as
profissões referidas nos livros do recenseamento eleitoral desses anos), que tinham
direito a voto por terem o curso especial do ensino secundário ou um curso superior.
Entre as eleitoras encontradas, nem uma pertencia às famílias da elite fundiária.
Assim se pode ver que vários factores colocavam as senhoras das elites,
sobretudo das elites fundiárias e económicas (pois as das elites mais “urbanas” e dos
serviços tinham na maior parte dos casos acesso a outras vantagens como a instrução),
numa posição de maior inferioridade em relação aos homens que as dos outros grupos.
Depois de ter referido as diferenças entre os sexos no grupo das elites no ponto
de vista económico, profissional, educacional e no que diz respeito aos direitos perante
o estado, neste ponto pretendo analisar as diferenças manifestadas no âmbito da
sociabilidade e às atitudes perante a família e o lazer.
Já aflorei neste capítulo a separação dos espaços no interior das casas. Mas não
só na intimidade familiar as funções dos sexos estavam perfeitamente discriminadas; era
sobretudo em público que os homens e as mulheres tinham lugares determinados e
espaços reservados, dos quais a possibilidade de afastamento constituía uma excepção
nunca completamente aceite pela sociedade.
Uma vez que raramente uma senhora saía à rua, as criadas desempenhavam uma
função muito importante de ligação com o mundo exterior: “Prestam-lhe informações
pormenorizadas a respeito (de outras) criadas (…), mantêm-nas ao corrente dos
mexericos da aldeia…” (Cutileiro, 1977: 139). De facto, nas vilas a frequência dos
espaços públicos estava limitada a ocasiões muito específicas, como a ida à missa ou a
festas e feiras, às quais se deslocavam sempre acompanhadas e devidamente cobertas
com casaco (mesmo no verão), chapéu, luvas e vários outros acessórios indispensáveis.
A sociabilidade restringia-se geralmente à família mais próxima e a mais duas ou três
famílias dum círculo muito restrito, resultante aliás do facto do número das famílias da
elite ser também muito reduzido.
O santo reduto do lar ocupava às senhoras a maior parte do seu tempo. O pouco
que sobrava era passado em visitas. “As visitas, tidas como ‘a pedra de toque da gente
da boa sociedade’, são regulamentadas por um cerimonial rigoroso, no qual, em última
análise, estão implicados imperativos sociais determinantes de comportamentos que
vemos funcionar como signos de distinção, para lá dos aspectos propriamente lúdicos
que lhe possam estar ligados” (Santos, 1983: 43). Tal como vimos, a caridade servia
também de pretexto para a sociabilidade das senhoras de Avis.
1937: Club Avisense, o chamado “Clube dos Ricos”, com sede na Rua Serpa
Pinto; Sociedade Artística Avisense, com sede na Rua da Misericórdia, para os artistas e
artesãos (todos os que tivessem uma profissão manual espacializada, o que não incluía
os trabalhadores rurais).
Como podemos ver logo em 1901, as três sociedades de recreio referidas tinham
como presidentes membros das elites fundiárias e políticas; aliás, em quase todos os
organismos locais os nomes dos presidentes são sempre os mesmos… A Philarmonica
revela o interesse das elites desta época pelas actividades musicais, estimuladas pelo seu
presidente, um médico, e com a participação activa de vários membros da família Pais,
alguns dos quais com o Curso do Conservatório de Lisboa.
4.6 - Sociabilidades
Tal como já foi salientado, e apesar da existência de alguns locais e formas de
sociabilidade exteriores, a Família, “núcleo primeiro de toda a sociedade civil, é um
espaço de reprodução social onde coexistem gerações, se inculcam valores e modelam
comportamentos” (Fonseca, 1996). Assim, como base de toda a sociedade, a família
também era o centro da maioria das actividades sociais e lúdicas a que as elites de Avis
se dedicavam. Aqui estava incluído o conceito de família alargada e, como já vimos,
grande parte das figuras mais destacadas das elites tinha de facto relações de parentesco,
algumas mais próximas que outras. Para se partilhar dos espaços de sociabiliade das
elites era necessário pertencer às famílias em questão ou pelo menos ter afinidades
políticas ou económicas que mais tarde ou mais cedo se consolidavam em novas
relações de parentesco, nem que fosse apenas o espiritual.
Já referi que algumas das famílias da elite de Avis se caracterizavam pela sua
dificuldade em gastar dinheiro e pela frugalidade em vários aspectos da sua vida diária,
vestuário, etc. Na questão da alimentação, pelo contrário, estas mesmas famílias
caracterizavam-se pela enorme abundância e riqueza dos pratos.
Também a política deu azo a grandes festas, como por exemplo a da vitória de
José Pais de Vasconcelos Abranches nas eleições de 1904, quando foi eleito Presidente
da Câmara pelo Partido Progressista e à qual assistiram os mais importantes membros
da elite local. Manifestações de alegria pela vitória de Paes Abranches do Partido
Progressista no Ervedal, "grande numero d'amigos foram alli felicitar o novo vereador
Paes Abranches: acompanhando-o á sua herdade da Torre em vistosa marcha aux
flambeaux, queimando-se muito fogo e erguendo-se vibrantes vivas ao partido
progressista, conselheiros José Luciano, Pereira de Miranda, José d'Alpoim, deputado
Lourenço Cayolla, Dr. Varella, Francisco Abreu, Paes Abranches, António Vasco,
familias Lopes Coelho, Telles Varella, Valentim Varella, Abreu Callado, Mauricio José
Gomes, José Diogo Paes, conego Cardoso, conego Freire d'Andrade, aos eleitores do
circulo, etc., etc. O sr. Paes Abranches offereceu a todos os amigos um abundante
jantar, trocando-se enthusiasticos brindes. Quando o cortejo seguia da villa para a casa
d'aquelle nosso amigo foram levantados alguns vivas ao partido regenerador por
individuos que se encontravam nas ruas e um bando de garotos menores seguio o
cortejo até á ribeira soltando os mesmos vivas. Á prudencia dos nossos amigos deveu-se
não haver algum conflito natural ante taes provocações." (sic). Notícia publicada no
Jornal Distrito de Portalegre de 9/11/1904, que era do Partido Progressista.
A Confraria de Nossa Senhora Mãe dos Homens existiu desde 1855, juntamente
com outras confrarias no concelho: Nossa Senhora da Orada, 1713 – 1866; das Almas,
1867 – 1868; de Albergaria, Benavila, 1847 – 1855; de Nossa Senhora do Rosário,
Benavila, 1784; do Santíssimo Sacramento, Benavila, 1784; do Senhor dos Passos,
1855 – 1860; da Santa Casa da Misericórdia de Avis, a mais importante e com maior
património, serviços de saúde e assistência, expostos, serviços hospitalares, educação,
etc. Há livros no arquivo desde 1821 até 1958, mas continua até agora.
Depois dos primeiros contactos (que nunca eram muito além de olhares, pois os
homens ficavam separados das mulheres mesmo nas festas e as meninas estavam
sempre sob a vigilância das mães, madrinhas ou criadas) nos locais de sociabilidade
descritos, os jovens empenhavam-se em repetidas passagens sob a janela da menina
escolhida, fosse do monte ou da vila. A sua reacção levava o pretendente a desistir face
ao desinteresse feminino ou a ganhar coragem para falar com o pai dela. Não tomei
conhecimento de casos de casamentos combinados pelos pais ou de jovens forçados a
casamentos contra a sua vontade, pelo menos de forma explícita; porém, os vários
condicionalismos sociológicos (e até geográficos) já descritos eram determinantes na
escolha do cônjuge entre as elites. Seguia-se um longo noivado que raras vezes saía da
sala-de-visitas, por vezes durante vários anos, durante o qual a presença dos paus-de-
cabeleira eram uma constante. A desempenhar esse papel havia sempre uma irmã mais
nova (uma das fontes orais disse que coseu inúmeras meias e bordou dezenas de
guardanapos enquanto passava as tardes com a irmã e o respectivo noivo), alguma tia ou
mesmo uma criada.
Estes elementos revelam vários aspectos importantes da caça nos primeiros anos
do nosso século: não era tão elitista como actualmente se faz supôr, pois havia os
caçadores profissionais, os que caçavam para vender, mediante autorização do dono das
propriedades; a grande diferença é que estes geralmente não tinham espingardas
(caçavam com armadilhas ou paus) ou se as tinham eram de muito menor qualidade;
também a participação das senhoras nessas actividades era quase nula, pois a única
senhora referida (em 1915) era duma família com maiores ligações à capital e com
hábitos de sociabilidade diferentes dos das elites locais; em 1921 não surge nenhuma
com licença para caçar e isto era mesmo mal visto localmente.
Os pratos preparados a partir das peças de caça eram geralmente servidos logo
nos dias seguintes às caçadas, devido à quase total inexistência de métodos de
conservação dos alimentos (conservavam-se perdizes em banha durante meses, o que
não impedia a ocorrência de algumas doenças intestinais graves após o seu consumo).
Incluíam perdizes, faisões, codornizes, etc. assados, ensopado de lebre, coelhos à
caçador, de molho de vinho ou de molho de vilão, arroz de pato, javali assado e ainda
veado. Entre as elites, as famílias de caçadores destacavam-se por ter este tipo de
alimentação com grande regularidade, pois a quantidade de caça existente no concelho
de Avis era muito superior aos níveis actuais. Em média um bom caçador não chegava a
casa com menos de 30 ou 40 peças, as quais tinham de ser consumidas rapidamente,
eram distribuídas por parentes, compadres e amigos ou oferecidas à Misericórdia.
Quadro 8 Mapa:
Quadro 9 Mapa:
Desde 1914, pelo menos, várias licenças foram passadas para conduzir
Velocípedes, Bicicletas e Motociclos, mas estes veículos eram conduzidos
maioritariamente pelos mais jovens e arrojados entre as elites ou então por membros de
famílias de pequenos proprietários.
De qualquer modo desde os finais do século XIX até meados deste, o meio de
transporte mais usado era o comboio; António Pais da Silva Marques, filho do lavrador
com o mesmo nome que foi o 5º MC de 1890, foi deputado pelo círculo de Elvas entre
1923 e 1925 e tinha um passe dos caminhos-de-ferro para as suas deslocações. Também
os estudantes que passavam as férias em Avis com as famílias usavam este transporte.
Apenas alguns mais arrojados tinham a audácia de fazer o percurso de automóvel, o que
se tornava uma autêntica epopeia, sobretudo no inverno, por causa do mau estado das
estradas. O percurso era feito pela Ponte de Sor, Abrantes (onde havia a única ponte
para atravessar o Tejo com uma portagem de 2 tostões nos anos 40), e depois Santarém
e Lisboa. Eram 240 Km (actualmente por Pavia e Mora são 150) que nos anos 30 e 40
se faziam numa média de 6 horas, as quais se podiam prolongar consoante a quantidade
de furos que tivessem de ser remendados pelo caminho. Nos anos da 2º Guerra Mundial,
as restrições de combustíveis e de pneus fizeram com que as viagens fossem ainda mais
limitadas, aventurando-se alguns de moto, como era o caso de Eurico Pais, gerente do
Grémio da Lavoura que se deslocava frequentemente a Lisboa para resolver assuntos
burocráticos e ver os filhos que lá estudavam (fotografia nº 11).
Capítulo 5 - Elites sociais locais e mudança política
Bourdieu acentua ainda esta ideia: "pelo menos fora dos períodos de crise, a
produção de formas de percepção e de expressão politicamente actuantes e legítimas é
monopólio dos profissionais (...) monopólio da produção entregue a um corpo de
profissionais, quer dizer, a um pequeno número de unidades de produção, controladas
elas mesmas pelos profissionais; constrangimentos que pesam nas opções dos
consumidores, que estão tanto mais condenados à fidelidade indiscutida às marcas
conhecidas e à delegação incondicional nos seus representantes quanto mais
desprovidos estão de competência social para a política e de instrumentos próprios de
produção de discursos ou de actos políticos: o mercado da política é, sem dúvida, um
dos menos livres que existem" (Bourdieu, 1989: 166). José Cutileiro verifica o mesmo
na freguesia alentejana que estudou: "o cargo de presidente da câmara foi ocupado por
lavradores importantes ou membros das profissões liberais, ligados por laços de
parentesco a famílias de latifundiários" (Cutileiro, 1977: 222).
A ida destes elementos para a política não veio, porém, introduzir grandes
inovações no exercício do poder local; pelo contrário: as fortes ligações que
continuavam ter com a grande propriedade fundiária contribuíram para a permanência
dos objectivos e acções políticas durante as sucessivas gerações. Bourdieu fala da
"acção de normalização contínua que os membros mais antigos do grupo lhes impõem
com a sua própria cumplicidade, em particular quando, recém-eleitos, têm acesso a uma
instância política para onde poderiam levar um falar franco e uma liberdade de maneiras
atentatórias das regras do jogo" (Bourdieu, 1989: 170). Isto é: mesmo que eles
quisessem ser muito inovadores, o que não era muito provável face à sua herança
cultural e aos interesses económicos que pretendia defender, o facto de terem por trás o
sogro, o tio, o primo, etc., impedia-os.
Apesar desta posição das elites tradicionais do concelho, até 1941 encontramos
dois membros da elite fundiária local eleitos deputados para a Assembleia Nacional:
Quadro 10:
Em 1923 subiu ao poder local o Dr. Cosme dos Campos Callado, grande
proprietário e bacharel (embora nunca tenha exercido), o qual continuou a assegurar a
estabilidade política face às grandes convulsões a nível nacional provocadas pela
Ditadura Militar em 1926 e o início do Estado Novo. Estes acontecimentos revelaram-se
em Avis muito pouco significativos: o poder local continuou nas mãos do mesmo Dr.
Cosme dos Campos Callado até 1935, sendo presidente da câmara o grande proprietário
José Diogo Pais desde 1930, com a diferença de que antes eram eleitos e depois
passaram a ser nomeados administrativamente por alvará do governador civil do
distrito. Todo este processo revela uma clara oposição das elites de Avis aos partidos
tradicionais da República e à situação de instabilidade que a caracterizou e um
acolhimento muito favorável ao regime que se seguiu.
Uma frase resume a política local em Avis durante estes 55 anos de grandes
mudanças em Portugal: plus ça change, plus c'est la méme chose. De facto, revelou-se
neste período uma forte hegemonia das elites económicas no poder político. As
alterações pontuais estiveram relacionadas com nomeações administrativas resultado da
interferência do poder central ou distrital na câmara municipal. Todos os actos eleitorais
resultaram na vitória dos caciques locais que controlavam o processo do recenseamento
e da eleição (as respectivas actas estão assinadas pelas mesmas pessoas que compõem a
câmara e que vencem as eleições). Assim, a única renovação das elites políticas que
ocorreu neste período esteve relacionada com a sucessão de gerações das mesmas
famílias no poder. Se em 1887 o presidente da câmara era José Lopes Coelho, em 1941
o presidente que ficou foi o seu neto Luís Mendes Vieira Lopes.
Capítulo 6 - Resumo das permanências e mudanças
Avis insere-se num distrito de grandes dimensões e numa das maiores regiões do
país, a qual é ao mesmo tempo a menos povoada. Um estudo local como este não pode
ter pretensões de apresentar conclusões generalizantes, apesar de serem muito prováveis
grandes semelhanças entre as elites deste concelho e as dos concelhos vizinhos. Assim,
neste capítulo pretendo apenas resumir algumas constatações abordadas neste trabalho a
partir das fontes apresentadas.
1. O grupo estudado constituiu de facto uma elite económica, política e social, que se
identifica como tal e é visto pelos outros como diferente. A homogeneidade deste
grupo era apenas exterior, pois entre os seus elementos verificavam-se, e eram
acentuadas pelos próprios, grandes diferenças. Esta homogeneidade e continuidade
da maior parte das famílias nos grupos de elite social e política já se manifestava
desde os finais do Antigo Regime, tendo sido abalada definitivamente apenas com o
25 de Abril de 1974 e posteriormente com a PAC a partir da adesão de Portugal à
CEE, actual UE.
4. A saída de alguns membros das famílias estudadas para os grandes centros urbanos,
sobretudo para Lisboa, sempre existiu e continuou durante o período estudado; no
entanto, nenhuma destas famílias abandonou por completo a actividade agrícola ou
se tornou absentista, havendo sempre um ou mais membros lavradores e residentes
no concelho pelo menos até ao período das ocupações de terras no âmbito da
Reforma Agrária de 1975, a qual alterou de vez o panorama social e a posse da terra
nesta região e implicou percursos profissionais alternativos à lavoura e a mudança
de residência para fora do concelho da maior parte das gerações mais novas dos
lavradores de Avis.
5. Face às sucessivas alterações de regime que ocorreram neste período de 55 anos, o
poder local apresentou grande divergência em relação ao poder central e uma maior
estabilidade partidária.
... - 1886 - Joaquim de Figueiredo, Partido Regenerador, MC, farmacêutico, não era
proprietário rural.
1906 - 1908 - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade, padre, era vice-presidente e
substituiu o anterior.
1908 - 1910 - Dr. Cosme dos Campos Callado, P. Progressista, bacharel em Direito,
grande proprietário.
1910 - 1913 - Dr. Júlio Mário da Cunha e Sá, bacharel em Direito, nomeado por alvará
na República, grande proprietário.
1919 - 1921 - Dr. Manuel Lopes Varela, médico, grande proprietário / lavrador, P.
Evolucionista.
1921 - 1923 - Manuel Paes Monteiro, era vice-presidente e substituiu o anterior quando
ele morreu; pequeno proprietário, negociante e dono de lagar de azeite.
1923 - 1930 - Dr. Cosme dos Campos Calado, o mesmo de 1908, eleito pelo P.
Nacionalista e depois de 1926 nomeado por alvará do governador civil do distrito.
1930 - 1935 - José Diogo Pais, nomeado por alvará no Estado Novo, grande
proprietário.
1935 - 1941 - José Francisco de Moura, professor primário, membro da União Nacional.
1886:
Presidente da Câmara: - Joaquim de Figueiredo, farmacêutico.
Vogais: - José Sebastião Godinho de Campos, proprietário
- José da Motta Casqueiro Júnior, carpinteiro
- João Augusto de Mattos
20/3/1887:
Presidente da Câmara: - José Lopes Coelho, proprietário
1890-1892:
Presidente da Câmara: - Francisco d'Abreu Callado, proprietário
Vereadores efectivos: - João Telles Varella, proprietário
- Francisco de Paula Varella de Brito, pequeno proprietário
- Manuel de Carvalho, proprietário
1893 - 1895:
Presidente da Câmara: - João d'Abreu Callado, proprietário e negociante
Vereadores efectivos: - Caetano Varella Telles, proprietário
- Joaquim Augusto Risques, farmacêutico
- Luís Sérgio Lopes de Castro, pequeno proprietário
- João Telles Varella, proprietário
- Francisco d'Abreu Callado, proprietário
- José Sebastião Godinho de Campos, proprietário
Vereadores suplentes: - António Lopes Coelho, proprietário
- José Valentim Varella, proprietário
- João Marques Serrão, comerciante
- José Sebastião Lobato, ferreiro
- José Diogo Paes, proprietário
- Ernesto de Carvalho, proprietário
1896 - 1898:
Presidente da Câmara: - João d'Abreu Callado, proprietário e negociante
Vereadores efectivos: - José Lopes Coelho, proprietário
- José Diogo Paes, proprietário
- Manuel João Caldeira de Carvalho, proprietário
- Simão Telles Varella, agricultor
- José Filippe Gomes, agricultor
- António Vasco Paez, proprietário
1899 - 1902:
Presidente da Câmara: - José Diogo Paes, proprietário
Vereadores efectivos: - Jeronymo José Lopes, proprietário
- António Vasco Paes, proprietário
- Simão Telles Varella, proprietário/rendeiro
- José Francisco da Costa, pequeno proprietário
Vereadores substitutos: - José Lopes Coelho, proprietário
- António Joaquim Rangel
- Maurício José Gomes, proprietário
- José Paula Varela de Brito, pequeno proprietário
- José d'Abreu Callado, proprietário
1902 - 1904:
Presidente da Câmara: - Jeronymo Lopes Coelho, proprietário
Vereadores: - José Godinho d'Abreu (vice-presidente), proprietário
- Cónego José Ricardo Freire d'Andrade, pároco
- Francisco Telles Varella, proprietário
- António Vasco Paes, peq. proprietário
- Jeronymo Lopes Coelho, proprietário
Substitutos: - José Lopes Coelho, proprietário
- José da Motta Casqueiro, carpinteiro
- Maurício José Gomes, pequeno proprietário
- António Ildefonso, pequeno proprietário
- Joaquim Monteiro, proprietário
1905 - 1908:
Presidente da Câmara:- José Pais de Vasconcelos Abranches, proprietário, até
29/4/1906, quando foi eleito deputado e foi para Lisboa.
Vereadores: - Dr. Cosme dos Campos Callado (vice-presidente), bacharel em
Direito / proprietário, presidente a partir de 1906.
- Cónego José Ricardo Freire d'Andrade, vice-presidente
- José Joaquim de Carvalho, proprietário
- José Diogo Paes, proprietário
Vogais Substitutos: - Roberto Evaristo da Cunha e Sá, proprietário
- Simão Telles Varella, proprietário
- Joaquim d'Abreu Callado, proprietário
- João da Costa, peq. proprietário
- Joaquim Manuel Telles de Carvalho, proprietário.
1909 - 1910:
Presidente: - Dr. Cosme dos Campos Callado, Bacharel
Vereadores: - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade, pároco, vice-presidente
- João Marianno Telles, proprietário
- Simão Telles Varella, proprietário
- António Vidigal Simas, comerciante
Substitutos: - Joaquim Manuel Telles de Carvalho, proprietário
- Padre Joaquim Mathias Simões, pároco
- José Valentim Varella Junior, proprietário, filho de MC
- Joaquim Telles Varella Junior, proprietário, filho de MC
- José Lopes Coelho, proprietário
1911 - 1913:
Presidente da Câmara: - Dr. Júlio Mário da Cunha e Sá, proprietário e bacharel
Vereadores: - Henrique Bernardo Pisa, comerciante
- António José Caias, seareiro
- Francisco António Paes, proprietário, escrivão de direito
- João António d'Abreu e Castro, fiscal aposentado
- José António Marques, carpinteiro
1914 - 1916:
Presidente: - José Paes de Vasconcellos Abranches, proprietário.
Vice-Presidente: - Joaquim Manoel Teles de Carvalho, proprietário
Secretário: - José Valentim Varela Junior, proprietário
Vice-Secretário: - Manoel Paes Monteiro, proprietário
Comissão Executiva da Câmara:
Presidente: - José Ricardo Freire d'Andrade, pároco
Secretário: - Simão Telles Varella, proprietário
Vogais efectivos: - Manuel Augusto d'Azevedo, proprietário
- Francisco Barreto d'Abreu, proprietário
- Luís Lúcio Rebocho, sapateiro
Suplentes: - José Varela de Brito Paes, proprietário
- Carlos Abelha de Carvalho, carpinteiro
- João d'Almeida Canejo, pároco
- Francisco Custódio Sombreireiro, sapateiro
- Francisco António da Costa, agricultor
Houve ainda 8 vereadores eleitos nas eleições de 30/11/1913, mas que não participaram
nesta sessão da Câmara nem chegaram a assumir cargo nenhum: José Diogo Paes,
propr.; João Nobre, barbeiro; Francisco António Paes, propr.; João Gonçalvez,
industrial; Benjamim Victorino Ruivo, comerciante; Manuel Dordio Paes, peq. propr.;
José Filipe Gomes, peq. propr.; Joaquim Augusto Risques, Farmacêutico
1916 - 1917:
Presidente da CMA: - José Pais de Vasconcellos Abranches, proprietário, Ervedal
Vereadores: - Francisco Manuel Velez, ferreiro
- Joaquim Manuel Telles de Carvalho, proprietário
- Francisco Barreto d'Abreu, Benavilla, proprietário
- Manuel Augusto d'Azevedo, Avis, proprietário
- José Filipe Gomes, Avis, proprietário
- Joaquim Monteiro dos Ramos, carpinteiro
- Carlos Abelha de Carvalho, carpinteiro
- Luíz Lúcio Rebocho, Ervedal, sapateiro
- Francisco Custódio Sombreireiro, Avis, sapateiro
- João Nobre, Avis, barbeiro
- José Ricardo Freire d'Andrade, Avis, Pároco
- Simão Teles Varela, Maranhão, proprietário
- João d'Almeida Canejo, Ervedal, Pároco
1917 - 1918:
Presidente da CMA: - José Pais de Vasconcelos Abranches, proprietário
Vice-Presidente: - Simão Teles Varela, proprietário
1º Secretário: - Manuel Pais Monteiro, pequeno proprietário e industrial
2º Secretário: - Pedro Pólvora d'Almeida Gazzo, alfaiate
Vereadores: - Francisco Barreto d'Abreu, proprietário
- Francisco Custódio Sombreireiro, sapateiro
Comissão Executiva:
Presidente: - José Ricardo Freire d'Andrade, pároco
Vogais: - Manuel Augusto d'Azevedo, proprietário
- Luís Lúcio Rebocho, sapateiro
- Carlos Abelha de Carvalho, carpinteiro
Suplentes: - João d'Almeida Canejo, pároco
- Francisco Manuel Velez, ferreiro
1918:
Presidente: - José Pais de Vasconcelos Abranches, proprietário
Vice-Presidente: - Simão Teles Varela, proprietário
Secretários: - João d'Almeida Canejo, padre
- Manuel Pais Monteiro, pequeno proprietário e industrial
Comissão Executiva ou administrativa:
Presidente: - José Ricardo Freire d'Andrade, pároco
Vice-Presidente: - Manuel Augusto d'Azevedo, proprietário
Vogais: - Luís Lúcio Rebocho, sapateiro
- Francisco Manuel Velez, ferreiro
- Joaquim Monteiro dos Ramos, carpinteiro
- Francisco Custodio Sombreireiro, sapateiro
- Carlos Abelha de Carvalho, carpinteiro
- José Boto, ferreiro e comerciante
- José Lopes Coelho, proprietário
- José Godinho d'Abreu, proprietário
- Adriano Freire de Carvalho
Mas esta administração durou pouco, pois em 11/7/1918 o presidente da Comissão
administrativa era: Jeronymo Lopes Coelho, propr.; e em 27/11/1918 já era José Diogo
Paes, propr.; até que em 27/3/1919 passou a ser: Simão Teles Varela, propr. Entretanto,
Jeronymo Lopes Coelho e o cónego José Ricardo Freire d'Andrade morreram com a
febre pneumónica que assolou o país nesses anos.
28/1/1919 - 1921:
Presidente da CMA: - Dr. Manuel Lopes Varela, médico/proprietário que morreu em
22/11/1921 e foi substituído pelo vice-presidente.
Vice-Presidente: - Manuel Paez Monteiro, pequeno proprietário e industrial
5 Vogais efectivos: - Simão Teles Varela, proprietário
- Manuel Augusto d'Azevedo, proprietário
- Luís Lúcio Rebocho, sapateiro
- Francisco Barreto d'Abreu, proprietário
- José Ruivo Feijão, peq. proprietário
Vogais substitutos: - Joaquim Monteiro dos Ramos, carpinteiro
- José Joaquim de Carvalho, proprietário
- Padre João d'Almeida Canejo, pároco
- José Joaquim de Nascimento, pequeno proprietário
- Francisco dos Santos Correia, caixeiro
- Francisco Velez Grilo, dono de hospedaria e de lagar de azeite
1922 - 1923:
Presidente: - Manuel Paes Monteiro, peq. proprietário
Vice-Presidente: - Francisco dos Santos Correia, caixeiro
5 Vogais para a Comissão Executiva: - Simão Teles Varela, proprietário
- Luís Lúcio Rebocho, sapateiro
- Francisco Manoel Velez, ferreiro
- Francisco Barreto d'Abreu, proprietário
- José Ruivo Feijão, peq. proprietário
Substitutos: - Joaquim Monteiro dos Ramos, carpinteiro
- José Joaquim do Nascimento, peq. proprietário
- Mário Coutinho de Figueiredo, farmacêurtico
- Francisco Velez Grilo, industrial
1923 - 1925:
Presidente: - Dr. Cosme dos Campos Callado, bacharel em Direito e propr.
Vice-Presidente: - José Filipe Gomes, peq. proprietário
Secretários: - Francisco dos Santos Correia, caixeiro
- Abílio Maria Pinto, peq. proprietário
3 Vogais efectivos para a Comissão Executiva:- Dr. José Paes Teles, bacharel, propr.
- Simão Teles Varela, proprietário
- Luís Mendes Vieira Lopes, proprietário
Suplentes: - Francisco Manuel Velez, ferreiro
- José Diogo Paez, proprietário
- João Gonçalvez, guarda-fios
2/1/1926: acto de posse da nova Câmara para o triénio 1926-28
Presidente: - Dr. Cosme dos Campos Callado, bacharel, proprietário
Vice-Presidente: - José Valentim Varella, proprietário
Secretários: - José Ruivo Feijão, peq. proprietário
- José Varela da Silva Paes, peq. proprietário
3 Vogais efectivos: - Luís Mendes Vieira Lopes, proprietário
- José Diogo Paez, proprietário
- Francisco Velez Grilo, industrial
Vogais Substitutos: - Francisco Paes Varela de Brito, peq. proprietário, telegrafista
- José Joaquim de Carvalho, proprietário
- José Velez de Vargas, peq. proprietário
Revolução de 28/5/1926
Acta de Instalação e Posse da nova Câmara em 28/6/1926.
Com a presença do cidadão Jayme de Castro, "administrador do concelho...". Os
cidadão que ocuparam os cargos foram "nomeados por alvará do Exmo. Governador
Civil, vogaes da comissão administrativa d'este municipio, para interinamente gerirem
os negocios do mesmo municipio...". Já de vez sem eleições municipais, os nomeados
passam a ter o cargo de vogais da comissão administrativa:
- Dr. Cosme dos Campos Callado, bacharel em Direito, proprietário
- José Diogo Paes, proprietário
- Francisco Velez Grilo, industrial
5/6/1930: Acta de posse da nova Comissão administrativa nomeada por alvará:
Presidente: - José Diogo Paes, proprietário
vogais: - Francisco Barreto d'Abreu (vice-presidente), proprietário
- José Varela da Silva Paez (secretário), proprietário
Em 1/10/1930, tomaram posse por alvará, os vogais
- José Lopes Coelho, proprietário
- Francisco Velez Grilo, industrial
(o presidente continua a ser o José Diogo Paes)
7/10/1933: Tomou posse novos membros da Comissão Administrativa, sendo o
Presidente da CMA José Diogo Paes, proprietário:
Presidente: - Dr. Cosme dos Campos Callado, bacharel, proprietário
Vogais: - José Lopes Coelho, proprietário
- Francisco Velez Grilo, industrial
- Arnaldo Raul da Rosa Mendes, ajudante e proprietário de Farmácia
26/12/1934:
Nesta data ocupavam os cargos municipais:
Presidente: José Diogo Paes, proprietário
Comissão Administrativa da CMA:
- Cosme dos Campos Callado, bacharel, proprietário
- José Lopes Coelho, proprietário
- Francisco Velez Grilo, industrial
27/5/1935:
Tomada de posse da nova Comissão Administrativa nomeada pelo Governador Civil:
Presidente. - José Francisco de Moura, professor
vogais: - José Valentim Varela, proprietário
- Francisco António da Costa, peq. proprietário
17/1/1938:
Presidente: - José Francisco de Moura, professor
Vogais: - Manuel Varela Teles, peq. proprietário
- António Joaquim Estalagem, comerciante
Substitutos: - Francisco Marques Serrão, comerciante
- João do Nascimento Ferreira de Morais, comerciante
- Francisco Paes Dordio, peq. proprietário
25/10/1941: Presidente: - Luís Mendes Vieira Lopes, proprietário
1901:
Avis - António Lopes Coelho, lavrador de Avis e irmão do presidente da
Câmara eleito este ano, Jeronymo Lopes Coelho.
Benavila - João d'Abreu Callado, comerciante, família dos maiores proprietários
desta freguesia.
Ervedal - Francisco António Pais, grande proprietário e filho do 4º MC deste ano.
Nas restantes freguesias não havia.
1908:
Avis - António Lopes Coelho, lavrador de Avis, irmão do Administrador do
concelho, Jeronymo Lopes Coelho.
Benavila - João d'Abreu Callado
Ervedal - Joaquim Paula Varela de Brito, família de pequenos proprietários.
1917:
Avis - António Lopes Coelho, grande proprietário
Benavila - Manoel Prates Pina, família de lavradores e rendeiros
Ervedal - Joaquim Paula Varela de Brito, pequeno proprietário
1928:
Avis - "O official do Registo Civil", nesta altura este cargo deixou de ser
electivo e passou a ter menos importância.
Anexo 2: Profissões dos eleitores do concelho de Avis
Anexo 3: Moradas dos eleitores no concelho de Avis
Anexo 4: Famílias de Avis
1 - Varelas
2 - Lopes
3 - Braga
4 - Cunha e Sá
5 - Teles de Carvalho
6 - Pais
7 - Figueiredo
8 - Godinho d'Abreu Callado
1 - Família Varela
Esta família de lavradores existia no concelho de Avis pelo menos desde os finais do
século XVIII, surgindo nas pautas de elegíveis de 1799 (ANTT, Desembargo do Paço.
Alentejo e Algave. Pautas. Maços 750, 763 e 764, caixas 844, 857 e 858) um Gonçallo
Varella Leão, natural do termo da vila, com 64 anos (n. c. 1735). Casou com uma irmã
do Capitão João Vaz Teles e teve 2 filhos:
1 - Domingos Joaquim Varella, n. c. 1766, lavrador e almotacé, casado com uma irmã
de José da Costa:
1.1 - Simão Varella, lavrador e morador na Herdade da Amendonça, n. c. 1806,
casou e ficou viúvo muito cedo.
Também em 1799 vem referido o Capitão João Vaz Telles, natural de Avis e com 38
anos. A junção destas duas famílias deu origem aos Telles Varella ou Varella Telles.
Eram lavradores rendeiros que compraram várias terras desde Avis até ao Alcórrego,
Ervedal, Casa Branca e Sousel em meados do século XIX.
- Francisco Telles Varella, casado com Marcelina Rosa e pai dos 5 Varelas do Monte
Outeiro de Baixo
Francisco Teles Varela, nat. Freg. de São Pedro do Alcórrego, casado com Marcelina
Rosa. São tios direitos de José Valentim Varela e pais dos que se seguem:
1.1 - Simão Teles Varela, n. c. 1869, m. 8/5/1942, casado com D. Maria Luísa
Dordio da Silva Rebocho; não tiveram filhos.
1.2 - Francisco Telles Varela, casado com Ana Mendes Lopes, filha de José
Lopes Coelho; não tiveram filhos.
2 - José Varela Teles, res. Monte Outeiro de Baixo, natural da freg. de Santo António do
Alcórrego, casado com Margarida Ignácia (não tinha mais nomes), filha de Luís Martins
e de Maria de Conceição, nat. freg. Santo António do Alcórrego, conc. Avis, profissão:
"do governo da casa", m. c. 1897.
Res. Monte Outeiro, Avis, proprietário, n. 19/4/1844, m. 27/8/1929, com 85 anos. Em
7/8/1920 fez escritura de doação de bens em vida aos filhos e respectivos cônjuges: "fês
doação de todos os seus bens com o encargo de pensão, aos seguintes filhos:"(sic).
2.1- Francisco Teles Varela, n. 1868, casado com Rosaria de Jesus Nobre, res.
Avis, com 7 filhos.
2.2 - Luís Teles Varela, n. 1871, res. Monte Outeiro, não teve filhos
2.3 - Marcelina Rosa Varela Gomes, n. 8/4/1873, m. 1944, casada com José
Filipe Gomes, n. 1869, m. 28/10/1947, proprietário, res. Avis. As duas filhas deste casal
(2.3.1 e 2.3.2) fizeram a 4ª classe na escola oficial de Avis, com a Professora Clara
Namorado e depois estudaram em Portalegre. Ficaram em casa de um padre que recebia
meninas e frequentavam o liceu. Depois do 5º ano em Portalegre (actual 9º), a mais
velha frequentou a Escola de Telecomunicações e Telégrafos, habilitando-se
profissionalmente para exercer as funções de chefe da estação de correio de Avis. A
mais nova foi para Lisboa completar o ensino secundário no Liceu do Carmo, voltando
sempre a Avis nas férias. Chegou a frequentar a Faculdade de Farmácia de Lisboa, c.
1931, não completando o curso. Foi a primeira menina de Avis a frequentar a faculdade
e a sua filha Maria Manuela Gomes de Figueiredo Pais foi a primeira a completar um
curso superior.
2.3.1 - Margarida Varela Gomes Botas, n. 24/4/1904, m. 1983,
funcionária dos correios, casada com Manuel António Botas, dono de
lagar, sem filhos.
2.3.2 - Catarina Varela Gomes de Figueiredo Pais, n. 21/4/1907,
casada em 1928 com Eurico Barreto de Figueiredo Pais, n. 12/1906, m.
23/3/1951, solicitador, funcionário da FNPT e do Grémio da Lavoura.
Provedor da Santa Casa da Misericórdia. Com 2 filhos farmacêuticos.
2.4 - João Teles Varela, n. 1875, viúvo, proprietário, res. Monte Outeiro, não
teve filhos
2.5 - Joaquim Teles Varela, n. 1878, casado com Maria Victória Paez,
proprietário, res. Cano, concelho de Sousel, com 1 filho
2.6 - Tomás Teles Varela, n. 1881, casado com Mariana Pais Rovisco Varela,
proprietário, res. freg. Casa Branca, conc. Sousel, com 7 filhos.
2.7 - Maria da Conceição Varela Pais Dordio, n. 1883, casada com José Pais
Dordio, proprietário, res. Ervedal, com 5 filhos
2.8 - Simão Varela Teles, n. 1886, casado com Emília Rosa Correia, propr., res.
Herdade do Montinho da Dourada, em Avis, com 6 filhos
2.9 - Caetano Teles Varela, n. 1888, propr., res. Monte Outeiro, com 4 filhos
2.10 - Manuel Varela Teles, n. 1891, proprietário, res. Monte Outeiro, com 3
filhos
2.11 - António Teles Varela, n. 1894, casado, propr., freg. Avis, com 8 filhos
Inventário dos bens de José Varela Telles em 1920, data da escritura de doação:
Bens imóveis: Herdade "Monte Outeiro de Baixo", "Torrinha" ou "Torrinha do
Alcórrego", "Montinho do Leão" ou "Courela dos Leõezinhos"; uma morada de casas
em construção em Avis
Todos os interessados ficaram obrigados a pagar anualmente ao doador a pensão de 60
l. de trigo e 100$00 em dinheiro e para os efeitos legais se avalia o encargo de cada uma
das pensões em 112$00.
3 - Caetano Teles Varela: vereador em 1892, MC, elegível, proprietário, res. Avis, n. c.
1845, m. ? Res. Figueiras, Casou com senhora da família Lopes, teve 4 filhos.
4 - Joaquim Teles Varela, "da Cortesia", morou na Marrã, com casa em Avis na R.
Joaquim de Figueiredo, n. c. 1847, m. 21/1/1926. Casado com D. Felisberta Mendes
Varela, com 8 filhos. Uma das filhas casou com Francisco Marques Serrão,
comerciante, sobrinho de João Marques Serrão.
5 - D. Joana Maria Adélia Teles Varela, casada com um Dr. Cardoso de Lemos,
descendente do lavrador João Maira de Lemos, moradores na Freg. da Casa Branca,
conc. Sousel.
Filhos:
1 - Dr. Manuel Lopes Varela (n. c. 1870, m. 22/11/1921), casado com Luísa Mendes
Lopes Varela, filha de José Lopes Coelho Sr.
1.1 - Alda Lopes Varela, casada com Asdrúbal Braga, sem filhos.
1.2 - Artur Lopes Varela, prof. de liceu, área de letras, casado com D. Etelvina,
com 2 filhos 1.3 - Alzira Lopes Varela, nunca casou, m. 26/4/1996.
1.4 - Arnaldo Lopes Varela, não casou; teve filha ilegítima: Rosa Varela
3 - D. Rosa de Viterbo Lopes Varela, casada com José Lopes Coelho Jr, filho de José
Lopes Coelho Sr.
3.1 - Ana Varela Lopes (n. 13/3/1896, em Avis, m. 18/6/1976), casada com Luís
Mendes Vieira Lopes (n. c. 1895, m. 16/8/1974)
3.2 - Maria Teresa Varela Lopes Presado, n. c. 1906, m. c. 1980, casada com Dr.
Jayme Joaquim Pimenta Presado.
4 - José Valentim Varela Júnior (n. c. 1881 e m. 10/3/1954), casado com D. Ida
Magalhães, da Ponte de Sôr
4.2 - Idalina Machado Magalhães Varela Pina, casada com Dr. Artur Pina,
oftalmologista, residente em Lisboa, com 3 filhos
2 - Família Lopes:
Esta família de Avis tem a mesma origem da família de José Lopes Coelho do monte do
Serrado, freg. do Maranhão. Já nos livros das décimas de 1828 surge um José Lopes que
paga este imposto sobre esta mesma herdade. São parentes próximos dos Lopes Aleixo
de Cabeção e dos Pereira Lopes de Pavia, concelho de Mora.
Nas pautas dos elegíveis para os cargos de vereadores do concelho em 1799 surge um
"Manoel Lopes Pereira Conde natural do termo desta Villa", com 54 anos (n. c. 1745).
Em 1829 já vêm referidos os seguintes: João Lopes Seborro, lavrador, e "Luís Mendes
Fortio, Cirurgião nesta Villa, onde tem sido almotacé".
Em 1832 aparece um António Lopes, casado, filho de José Lopes, morador no termo
desta vila (monte do Serrado); e um Pedro Coelho, lavrador. Infelizmente não vêm
mencionadas as idades. Pedro Coelho era compadre do Capitão José Pais Teles, pois foi
padrinho do seu 20º filho. Casou com Arcângela Lopes, filha de Vasco José da Silva e
de uma irmã de António Lopes, filha de José Lopes (os apelidos podiam ser os do pai
ou da mãe). Pedro Coelho e Arcângela Lopes foram pais de:
José Lopes Coelho, n. 30/12/1841, m. 31/5/1889, casado com Maria Teresa Lopes
Fortio, filha de Luís Mendes Fortio, um cirurgião casado com uma senhora da família
Lopes. Daí os filhos deste casal terem nomes que variam entre todos estes apelidos:
Mendes, Lopes e Coelho. Curiosamente, nenhum dos filhos se chamou Fortio.
Este casal morava no monte da Machadinha e o senhor morreu com 47 anos. Nessa
altura a mulher veio do monte para a vila e instalou-se na casa da Rua do Convento, que
depois ficou para o filho José Lopes Coelho.
Filhos:
3 - Ana Mendes Lopes, casada com Francisco Telles Varella (filho de João Telles
Varella), sem filhos.
4 - Luísa Mendes Lopes Varela, casada com Dr. Manuel Lopes Varela, filho de José
Valentim Varela
4.1 - Alda Lopes Varela, casada com Asdrúbal Braga, sem filhos.
4.2 - Artur Lopes Varela, prof. de liceu, área de letras, casado com D. Etelvina,
com 2 filhos 4.3 - Alzira Lopes Varela, , n. c. 1903, m. 1996, nunca casou
5 - António Lopes Coelho (n. c. 1867, m. 1927), casado com Ernestina Augusta Lopes
Bens Imóveis:
- casas em Avis
6.1 - Luís Mendes Vieira Lopes (n. c. 1895, m. 16/8/1974), casado com Ana
Varela Lopes (7.1): 6.1.1 = 7.1.1, etc.
6.2 - José Homem Vieira Lopes, res. Évora, casado com Maria Teresa Carvalho,
com 1 filha
7 - José Lopes Coelho (n. 1873, m. 6/7/1952), casado com D. Rosa Viterbo Lopes
Varela, filha de José Valentim Varela.
Fez testamento em 11/9/1935, no qual introduziu a cláusula que diz que se uma das
filhas não tiver filhos, os bens que esta herdar vão para os filhos da outra.
7.1 - Ana Varela Lopes (n. 13/3/1896, em Avis, m. 18/6/1976), casada com Luís
Mendes Vieira Lopes (6.1)
7.2 - Maria Teresa Varela Lopes Presado, n. 28/1/1906, m. 1978, casada com Dr.
Jayme Joaquim Pimenta Presado.
Herdades: A Covada, que ficou para o filho Joaquim, sit. em Avis e com c. 700
hectares, Boeicaros de Baixo, em Pavia, concelho de Mora.
8.1 - Arminda d'Almeida Vieira Lopes, casada Dr. José Brotero Santa Bárbara,
médico e militar, res. em Lisboa, com 1 filho também médico e oficial da marinha
8.2 - Joaquim Mendes Vieira Lopes, médico, casado com Maria de Lurdes
Silvério
8.2.2 - Hortense Vieira Lopes casada com o Dr. Luís Costa Marçal de
Évora, com 2 filhos e uma filha casada com o 7.1.2.3
8.3 - Maria Amélia d'Almeida Vieira Lopes, casada com Joaquim Mexia
d'Almeida, c/ 1 filho
3 - Família Braga:
Filhos:
1 - Cosme Godinho da Costa Braga, casado com Maria Ana Garcia Marques Godinho
Braga
1.3 - D. Lobélia Godinho Braga, n. 1895, casada em 1919 com Dr. Manuel Teles
Barradas de Carvalho, bacharel em Direito, escritor
1.4 - Asdrúbal Braga, n. 1899 (ainda é vivo), casado com Alda Varela, filha do
Dr. Manuel Lopes Varela, sem filhos
1.5 - José Garcia Godinho Braga, n. 1900, casado com Adília Braga Pais (2.3),
filha de José Diogo Pais, grande proprietário e Presidente da Câmara. Sem filhos
2 - D. Belmira Augusta da Costa Braga Pais + José Diogo Pais, neto de MC, presidente
da CMA
2.3 - Adília Braga Pais + José Garcia Godinho Braga (1.4), primos direitos, sem
filhos.
Não está na lista dos MC do concelho de Avis, pois pertencia ao concelho de Galveias.
O neto Asdrúbal Braga foi rendeiro das terras dos irmãos, que eram proprietários
absentistas, viviam em Lisboa com as rendas que recebiam.
Lista das herdades de António Manuel da Cunha e Sá: Covões (Ervedal), comprada em
hasta pública em 21/10/1837; ficou para o filho Júlio Mário; Torre das Areias, no
Ervedal, herdada pela filha Joana Isabel da Cunha e Sá Abranches, que casou com o
José Pais de Vasconcelos Abranches; Arieiro, freg. da Figueira e Barros, ficou para a
filha Joana Isabel; Montes Juntos e Faia, herdadas pelo filho Roberto; Pero Viegas:
ficou para o filho Júlio Mário. Tinha prazo foreiro de 27$50 anuais ao "senhor directo"
Dr. José Osório Cabral de Alarcão. + 5 prédios rústicos que ficaram para o neto Mário
Sá.
6 - Família Pais:
Esta família é bastante numerosa no concelho de Avis, sobretudo na vila do Ervedal.
Alguns dos seus membros destacaram-se na elite económica, social e política do
concelho:
- Alfredo Barreto da Guerra Pais, família de funcionários públicos, republicano activo
- José Diogo Pais, grande proprietário e político, casado com grande proprietária.
- António Pais da Silva Marques, 4º MC de 1890, pai de um deputado, de um advogado
e de outros lavradores de grande poder económico na freguesia do Ervedal.
O patronímico desta família vem dum "João Paes que em meados do séc. XVI vivia na
área rural da freguesia da Igrejinha, concelho e antigo termo de Arraiolos, terra do
Ducado de Bragança" (p. 1 da genealogia de Mario Sá, obra manuscrita policopiada).
Um seu bisneto chamado Felipe Paes (n. 1642) casou com Catarina Freixa, de Pavia,
filha de Sebastião Telles, formando-se a família Pais Teles. Tiveram 5 filhos, mas foi a
partir da 2ª filha que seguiu a família Pais Teles: Mariana Teles nasceu nos coutos de
Évora em 1674 e casou com José Pires Falcão, no concelho de Alter do Chão. Tiveram
3 filhos que foram educados pelo tio materno Frei Luís Paes Teles, após a morte da
mãe:
1 - Maria Pais Teles, m. 1727, solteira
2 - António Pais Teles, n. 1705 (ou 6), m. 1781.
3 - Catarina Maria Pais, solteira
António Pais Teles casou com Joaquina Nunes nas Galveias e teve 6 filhos:
1 - Maria Joaquina Paes Teles
2 - Joana
3 - José Paes Teles
4 - Joana Maria Paes
5 - Eufrázia Maria Paes
6 - Luísa Paes
José Paes Teles, o 3º filho, n. 1764, m. 1853. Foi "lavrador e Capitão de Milícias do
Regimento de Portalegre. Fez as guerras que terminaram em 1834, na convenção de
Évora Monte" (idem, p. 18). Casou 2 vezes: 1º com D. Maria Victória do Nascimento
Marques em 1790, 2º com D. Joana Benedicta da Guerra Barata em 1802. Mudou-se
das Galveias para a Quinta de Sant'Ana em Avis, c. 1810. Teve "22 filhos, ou talvez
mais" (idem, p. 37). O seu 22º filho, Francisco Paes da Guerra, deu origem aos Pais de
Avis. N. 1824 (foi baptizado em 3/6/1824) e casou com Angélica Rita da Costa Rebelo,
filha de Pedro António Gomes Rebelo, natural de Almada, e de Ana Rita Barreto, de
Alter do Chão. Esta senhora Barreto devia ser parente do Doutor Domingos António
Barreto, boticário em Avis em 1829. Este casal teve 2 filhos:
1 - José Barreto da Guerra Paes, músico da corte, muito viajado pela Índia e Brasil,
usava o nome artístico de José Barreto de Avis. Teve 2 filhos:
1.1 - Rogério Barreto Avis
1.2 - Eduardo Barreto Avis
2 - Alfredo Barreto da Guerra Paes, n. 1857, m. 12/1/1926, secretário da administração
da Câmara Municipal de Avis, casado com Maria da Graça Marques Paes, com 11
filhos, dois dos quais casados com os filhos de Joaquim de Figueiredo, o farmacêutico
que foi presidente da câmara em 1886. Todos estudaram música, as filhas estudaram na
escola, uma foi professora primária, outra foi funcionária da Câmara.
José Diogo Pais, grande proprietário, presidente da câmara, casado com D. Belmira da
Costa Braga Pais em regime de comunhão geral de bens. N. 1868, m. 1941.
Pertence à mesma família Pais e descende do 18º filho do Capitão José Paes Teles, que
se chamava José Olegário Paes (n. 1819, era o 30º MC de 1890), casado com Antónia
Condeça Pires, teve apenas um filho, chamado João Pedro Paes, que casou com Maria
das Neves Carrilho. Este casal teve 2 filhos:
1 - José Diogo Paes, n. 1868, m. 1940 ou 41, casado c. 1900 com Belmira da
Costa Braga.
1.3 - Adília Braga Paes, casada com José Garcia Braga, primo direito,
sem filhos.
2- Antónia Luísa Paes, n. 1871, casada com o Juiz Dr. Augusto José Feliciano de
Mesquita e tiveram 3 filhos.
Inventário de 1941:
4.5 - Fausta Paes da Cunha e Sá, n. Caldas da Rainha, casada com Hugo
de Melo Lopes da Silva
4.6 - Margarida Paes da Cunha e Sá, n. Pero Viegas, casada, com 2 filhos
5 - Dr. José Paes Teles, n. 1870, m. 1942, advogado, republicano; casado com D.
Mariana do Amaral Queiroga. Nos anuários comerciais surge como advogado, lavrador,
proprietário, dono de lagar de azeite, viticultor e vinicultor. Em 16/10/1910 foi nomeado
Administrador do Concelho, ao mesmo tempo que o Júlio Mário da Cunha e Sá, seu
cunhado, foi nomeado Presidente da CMA, mas "depois de tomar posse veio a esta
cidade (Portalegre) pedir a sua exoneração ao Sr. Governador Civil porque residindo no
Ervedal e tendo ali a sua lavoura não podia desempenhar-se das funçõis daquele cargo
com a assiduidade e zelo que desejaria. Em vista disso foi sua exª substituído pelo sr. dr.
Alberto Sabino Ferreira", bacharel. Notícia publicada no jornal Intransigente de
16/10/1910.
6 - António Paes da Silva Marques, n. 23/12/1876, m. c. 1950. Casado em 1900
com D. Ana Lopes de Castro, filha do 7º MC de 1890. Administrador do concelho em
1901, 1904, 1906 e 1917; deputado pelo círculo de Elvas em 1923 - 25. Dono de lagar.
7 - Família Figueiredo:
Casou com Gertrudes Rosa Mourato de Figueiredo, m. 1895. Esta senhora sabia assinar
o nome, era instruída e filha ilegítima dum senhor da nobreza.
Origem de Joaquim de Figueiredo: era de uma família abastada de Lamego, fez a
faculdade de Farmácia em Coimbra. Quando os pais morreram ele vendeu as terras
todas e os bens que herdara e foi para Avis abrir uma farmácia.
Filhos:
Filhos:
Esta família não teve descendentes, mas o Dr. Cosme Callado, último herdeiro foi
benemérito na freguesia de Benavila, na qual constituiu em 1943 um asilo para
reformados da lavoura em nome da mãe. No seu testamento, feito em 16/7/1947, deixou
todos os seus bens para a constituição de uma Fundação com os seguintes fins:
"perpetuação da Casa Agrícola (...); manutenção dos seus criados assoldadado até á sua
morte; assistência na sua invalidez, doença e velhice (...) criação e educação dos filhos
dos criados assoldados e de outros rurais da freguesia e do concelho... ". É a fundação
Abreu Callado que se tornou proprietária de todos os bens desta família.
- 1 Tapada (significa uma pequena propriedade murada onde ele tinha os animais
doentes ou a engordar e que fica junto à vila, atrás do sítio onde é hoje o asilo)
"Pelomes", com terras de semeadura, olival e pastagens, cerca de 6 hectares =
60.000$00.
- 1 Ferregial (é uma terra pequena junto dos montes, neste caso dentro mesmo da actual
povoação, que se semeia todos os anos pois é adubado com estrumes e lixo das
limpezas) "Formiga", com terras de semeadura e olival = 6.000$00.
- Bens no concelho de Arraiolos (são herdades, courelas e uma tapada com corças,
chamada "Batigelas", com c. 900 hectares, onde se faziam caçadas) = 1.019.000$00
SOCIOMATRIZES:
Fontes bibliográficas:
- MATTOSO, José - Identificação de um País, Editorial Estampa, Lisboa, 1985, vol II,
pp. 248 - 249.
1ª geração: 11 casamentos entre 1840 e 1868, dos quais 5 com "outras famílias", mas
são todas dentro do concelho de Avis.
1ª geração:
1840 - António Manuel da Cunha e Sá casou com D. Maria José Andrade, grande
proprietária do concelho de Avis
1850 - Manuel Joaquim da Costa Braga casou com D. Arcângela Angélica Godinho, das
Galveias, concelho da Ponte de Sôr
1858 - José Lopes Coelho casou com Maria Teresa Lopes Fortio, do monte da
Machadinha
1860 - João Teles Varela, rendeiro de Camões casou com Arcângela de Jesus Ramos.
1865 - José Valentim Varela, da Quinta do Pinheiro, casou com Ana Lopes, do Monte
das Figueiras
1865 - Manuel de Carvalho, do Monte Padrão, casou com D. Maria Luísa Teles, grande
proprietária do concelho de Avis, da mesma família de José Varela Teles.
c. 1866 - José Varela Teles, do Monte Outeiro de Baixo, casou com Margarida Inácia,
do Alcórrego.
1868 - António Pais da Silva Marques, do Ervedal, casou com D. Margarida de Jesus
Vilela Pais, prima direita.
c. 1868 - Caetano Teles Varela casou com senhora Lopes do Monte das Figueiras.
Deram origem aos Lopes Teles Varela do Alcórrego
2ª geração:
1890 - Joana Isabel Cunha e Sá, da herdade da Torre casou com José P. Vasconcelos
Abranches, de Lisboa
1890 - José Diogo Pais, da Quinta de Sant'Ana, casou com Belmira Braga, filha de
Manuel J. C. Braga
1891 - Júlio Mário da Cunha e Sá, de Pêro Viegas, casou com Maria Leonor da Silva
Pais Teles, filha de António Pais da Silva Marques, do Ervedal
1891 - Francisco António Pais, filho de António Pais da Silva Marques, do Ervedal,
casou com Mariana Teles de Carvalho, filha de Manuel de Carvalho
1895 - José Lopes Coelho Jr. casou com Rosa Viterbo Lopes Varela, filha de José
Valentim Varela
1900 - Dr. José Pais Teles, filho de António Pais da Silva Marques, casou com senhora
de fora.
1900 - António Pais da Silva Marques Jr. casou com Ana Lopes de Castro, de Avis
1900 - Joaquim Manuel Teles de Carvalho, filho de Manuel de Carvalho, casou com
senhora de fora.
1900 - Francisco Teles Varela, filho de João Teles Varela casou com Ana Mendes
Lopes, filha de José Lopes Coelho
1900 - Dr. Manuel Lopes Varela, filho de José Valentim Varela casou com Luísa
Mendes Lopes, filha de José Lopes Coelho
1900 - Maria Luísa Lopes, filha de José Lopes Coelho, casou com João Marques Serrão,
comerciante
1910 - Joaquim de Figueiredo jr. casou com Joana Pais, filha de Alfredo B. Pais
1910 - José Valentim Varela Jr. casou com senhora da Ponte de Sôr
3ª geração:
1920 - Ana Varela Lopes, neta de José Lopes Coelho e de José Valentim Varela, casou
com Luís Mendes Vieira Lopes, neto também de José Lopes Coelho
1920 - Marcelina Rosa Teles Varela, filha de Joaquim Teles Varela, casou com
1920 - Asdrúbal Godinho Braga, neto de Manuel Joaquim da Costa Braga, casou com
Alda Varela, neta de José Valentim Varela e de José Lopes Coelho
1925 - José G. Godinho Braga, neto de Manuel J. C. Braga, casou com Adília Braga
Pais, neta do mesmo e filha de José Diogo Pais.
1926 - Lubélia Godinho Braga, neta de Manuel Joaquim C. Braga, casou com o Dr.
Manuel Teles Barradas de Carvalho
1927 - Maria Teresa Lopes, neta de José Lopes Coelho e de José Valentim Varela,
casou com Dr. Jaime Joaquim Pimenta Prezado, médico e de família de rendeiros
1928 - Catarina Varela Gomes, neta de José Varela Teles, casou com Eurico de
Figueiredo Pais, neto de Joaquim de Figueiredo e de Alfrego B. Pais
1940 - Idalina Varela, neta de José Valentim Varela, casou com Dr. Pina, médico e de
família de rendeiros
1940 - Margarida Varela Gomes, neta de José Varela Teles, casou com Manuel António
Botas, dono de lagar
1950 - José Lopes Coelho, filho de Ana Lopes e Luís Mendes V. Lopes, casou com
Leonor Lopes Fernandes, filha de João Fernandes de Évora
1959 - Joaquim Mendes V. Lopes, irmão do anterior, casou com Maria Teresa Pais e
Silva, do Cano.
Anexo 5: Outras instituições do poder político local: a Santa Casa da
Misericórdia e os organismos corporativos
Acta de 28/10/1890:
1895:
Provedor - Sr. Dr. Augusto José Feliciano de Mesquita
Secretário - Francisco Maria Gazzo
Tesoureiro - Joaquim do Nascimento Lobato Júnior
Vogais - António Vidigal Simas, comerciante; Luís Sérgio Lopes de Castro;
Manuel Maximiano d'Oliveira; António Joaquim Rangel
27/7/1896:
Provedor - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade, pároco de várias freguesias do
concelho, membro do P. Progressista, o mesmo que estava no poder na CMA. Foi várias
vezes eleito para o poder municipal, sendo vários anos o presidente da Comissão
Administrativa da CMA.
Secretário - Francisco Maria Gazzo
Tesoureiro - Joaquim do Nascimento Lobato Júnior
Vogal - Luís Sérgio Lopes de Castro
1/8/1897:
Provedor - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade
Vogais - Joaquim do N. Lobato Jr.; António Joaquim Rangel; Joaquim José
Fontes; Manuel Maximiano d'Oliveira; João Marques Serrão, comerciante e casado com
grande proprietária; MC; Joaquim António Pólvora; Joaquim Mesquita; Ernesto José de
Carvalho; Francisco Maria Gazzo
1901:
Provedor - Luís António da Silva e Castro
Secretário - Manoel Maximiano d'Oliveira
Tesoureiro - Joaquim do Nascimento Lobato Júnior (também era o tesoureiro da
CMA)
Vogais - Joaquim António Pólvora; Manoel de Jesus; Joaquim Mesquita; Ernesto
José de Carvalho
17/7/1904:
Provedor - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade do mesmo partido que estava no
poder municipal: Progressista.
Secretário - Manuel Maximiano d'Oliveira
Tesoureiro - António Lopes Coelho, irmão do Presidente da Câmara nesta data,
Jerónimo Lopes Coelho do P. Progressista.
Vogais - Luís Casqueiro d'Oliveira; João Alexandre Gazzo; Damazo António
1906: tudo igual, com a entrada do novo vogal José Valentim Varela jr., filho dum dos
maiores MC do concelho. Era do P. Progressista. Em 1908 o Secretário era Cypriano
José Marques.
25/4/1909:
Provedor - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade
Secretário - Cypriano José Marques
Vogais - António Lopes Coelho; João Ildefonso; Francisco Custódio
Sombreireiro, sapateiro com grande actividade política na câmara e na junta de
freguesia; José Valentim Varela jr., grande propr.; Luís Casqueiro d'Oliveira
República:
6/11/1910: foi nomeada uma Comissão Administrativa que substituiu todos os cargos
anteriores. Não mencionam o provedor. O "irmão" António Lopes Coelho (família de
grandes proprietários monárquicos que também abandonaram a CMA) pediu a sua
demissão em 24/10/1910.
Presidente - Benjamim Vitorino Ruivo
Secretário - Francisco Mendes
Tesoureiro - Alfredo Barreto da Guerra Paes, secretário da administração da CMA,
republicano e também nomeado para a comissão administrativa da câmara.
Vogais - João Gonçalves; Francisco Ângelo da Costa
18/5/1911: agora chama-se conselho administrativo
Presidente - Benjamim Vitorino Ruivo
Secretários - Francisco Mendes e João Gonçalves
Tesoureiro ("Réguo") - Alfredo Barreto da Guerra Paes
Vogal - Francisco Ângelo da Costa
15/10/1911: acta de posse da mesa administrativa para a gerência até 30/6/1912, mas
que fica igual até 1915. Voltam os antigos depois de um ano de administração
revolucionária republicana.
Provedor - Cónego José Ricardo Freire d'Andrade
Tesoureiro - José Valenteim Varela jr.
Secretário - Cypriano José Marques
Vogais - Francisco Custódio Sombreireiro; Luís Casqueiro d'Oliveira; Pedro
Pólvora d'Almeida Gazzo
4/7/1915: os cargos ficam iguais até 1918, quando morre o Cónego.
Provedor - José Ricardo Freire d'Andrade
Tesoureiro - Francisco Custódio Sombreireiro, sapateiro
Secretário - José António da Fonseca
Vogais - Cypriano José Marques; Francisco Manuel Velez; Pedro Pólvora
d'Almeida Gazzo, alfaiate; Luís Casqueiro d'Oliveira
Novos "irmãos" - Simão Telles Varella, grande proprietário e rendeiro; na altura é
o secretário da comissão executiva da CMA, do P. Evolucionista; Joaquim Leal;
Anacleto Lopes Neto; Gracia Maria (a 1º mulher a aparecer, mas não é de nenhuma das
famílias de elite)
9/11/1918: Com a morte do cónego, este é substituído no cargo de Provedor por José
António da Fonseca.
11/3/1919: acta de posse da nova Comissão Administrativa, agora sem eleições, mas
por alvará do Governador Civil do Distrito de Portalegre de 26/2/1919.
Provedor - Dr. Manuel Lopes Varela, médico municipal, grande proprietário e
presidente da CMA nesta data, do P. Evolucionista.
Tesoureiro - Francisco Custódio Sombreireiro
Secretário - José António da Fonseca
Vogais - Francisco Manuel Velez; Pedro Pólvora d'Almeida Gazzo
23/3/1922: sessão extraordinária para substituição do provedor, que morreu, pelo vogal
Francisco Manuel Velez.
9/7/1922: acta de posse para o triénio 1922-25.
Provedor - Francisco Manuel Velez, também é vogal na CMA
Vogais - José Lopes Coelho, propr.; António Vidigal Simas, comerciante; João
Marques Serrão, comerciante; Simão Teles Varela, proprietário e rendeiro, também é
vogal da CMA; Francisco Ferreira Pimenta; José Francisco da Costa; José António da
Fonseca
5/7/1925: acta de posse para o triénio 1925-28, mas cujo mandato foi interrompido com
a revolução de 28/5/1926.
Provedor - Francisco Ferreira Pimenta
Tesoureiro - João Marques Serrão, comerciante e proprietário
Secretário - José António da Fonseca
Vogais - José d'Oliveira Cativo; José Ruivo Feijão, pequeno proprietário;
Joaquim Monteiro dos Ramos; Francisco dos Santos Correia; Joaquim Augusto Risques
jr., funcionário da CMA, filho dum farmacêutico; Joaquim Paulino; João de Matos
Junça; Jayme Joaquim Pimenta Prezado, médico municipal desde 1923, casado com a
filha de José Lopes Coelho, um dos maiores proprietários do concelho.
Esta mesa foi dissolvida e em 8/2/1927 constituiu-se nova mesa nomeada por alvará de
26/1/1927:
Provedor - Francisco dos Santos Correia, foi vice-presidente da CMA entre 1922 e
1923 e vereador até 1926.
Vogais - Joaquim Duarte Paulino; José Ruivo Feijão; Artur Lopes Varela, grande
proprietário, prof. de liceu, filho do Dr. Manuel Lopes Varela; em 1928 passou a ser o
Provedor; Miguel Martim Barrocas
Irmãos: - António Vidigal Simas; Francisco Ferreira Pimenta, padre, membro da
União Nacional nos anos 30; Manuel Pais Monteiro, comerciante e pequeno
proprietário, foi presidente da CMA entre 1922 e 1923; Dr. Jaime Prezado, médico e
genro de José Lopes Coelho; Luís Mendes Vieira Lopes, proprietário, genro e sobrinho
de José Lopes Coelho.
31/7/1929: nova mesa por alvará de 24/7/1929.
Provedor - Luís Mendes Viera Lopes, até, 1935.
Tesoureiro - Francisco dos Santos Correia
Secretário - Joaquim Augusto Risques jr.
Vogais - João Pedro Paes, filho de José Diogo Pais, o presidente da CMA;
Joaquim Lopes de Sousa
3/11/1929: reunião da Ass. Geral, sob esta administração. Entre muitos "irmãos",
participaram: Alfredo Marques Pais, Secretário da Administração da câmara; João
Marques Serrão; Luís Mendes Vieira Lopes; João Pedro Pais, grande proprietário;
Abílio Sombreireiro, Caetano Manuel, Cizaldino Nunes Aço (carpinteiro), Custódio
Crespo, Francisco Ferreira Pimenta, Francisco Custódio Sombreireiro, Francisco
Manuel Velez, Frederico José, Joaquim Lopes de Sousa, João António da Siva e Castro,
João Feijão, Joaquim Ferraz, Joaquim Caetano, Joaquim José Farelo, Joaquim Paulino,
José Birea, Júlio do Nascimento Simões, Luís Nunes Pinto, Patrício Nunes Pereira,
Francisco dos Santos Correia.
26/4/1935: posse da nova mesa, por alvará de 6/4/1935
Provedor - Manuel Pais Monteiro, comerciante e pequeno proprietário
Tesoureiro - Francisco Marques Serrão, sobrinho do comerciante João Marques
Serrão.
Secretário - José Ruivo Feijão, pequeno proprietário
Vogais - António Teles Varela, pequeno proprietário; Luís Ferreira Ruivo
14/7/1937:
Provedor - Dr. Álvaro Magalhães Varela, veterinário municipal, grande
proprietário, sobrinho do Dr. Manuel Lopes Varela, o provedor em 1919 e filho de José
Valentim Varela, vogal da Comissão Administrativa da CMA nesta data.
Tesoureiro - Francisco Marques Serrão, comerciante e industrial
Secretário - João Pedro Paes, filho do presidente da CMA.
Vogais - Ambrósio Lobato; José Ruivo Feijão, pequeno proprietário
20/1/1939:
Provedor - Dr. António Marques de Figueiredo (sem relação com a família de J.
Figueiredo)
Tesoureiro - Francisco Marques Serrão
Secretário - José Lopes Simas, comerciante
Vogal - Eurico Barreto de Figueiredo Pais, funcionário da CMA, neto de
Joaquim de Figueiredo (farmacêutico e presidente da CMA em 1886) e também de
Alfredo Barreto da Guerra Pais, funcionário da CMA
4/4/1941:
Provedor - Alfredo Marques Pais, filho do já referido Alfredo Barreto da G. Pais
Tesoureiro - Francisco Marques Serrão
Secretário - José Lopes Simas
Vogais - Dr. Jaime Prezado; Felipe Maurício Gomes
12/6/1946:
Provedor - Eurico Barreto de Figueiredo Pais
Secretário - José de Matos Junça jr.
Organismos corporativos:
3 - Grémio da Lavoura
4 - Casas do Povo
Esta instituição era uma associação de lavradores, cuja existência não está documentada
nos arquivos estudados.
Em 1931 foi criado um novo Sindicato Agrícola de Avis, com escritura de constituição
de 26/2/1931 e alvará com aprovação dos respectivos estatutos em 28/3/1931. Era uma
instituição de apoio à actividade agrícola em geral e que publicou o seguinte anúncio no
Álbum Alentejano em 1933 (o que nos elucida quanto à sua finalidade): "SINDICATO
AGRICOLA DE AVIS. ALFAIAS AGRICOLAS E ADUBOS. TRANSACÇÕES DE
CEREAIS. LÃS E TUDO O QUE DIZ RESPEITO Á LAVOURA"(sic). Foi esta
instituição que criou e instalou a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo, que funcionou
desde fevereiro de 1935.
A 1ª direcção em 1931:
- Arnaldo Raul da Rosa Mendes, dono da farmácia, porém não era farmacêutico
- João Pedro Pais, filho do presidente da Câmara Municipal, José Diogo Pais
2 - Celeiro da Federação Nacional dos Produtores de Trigo. A FNPT foi criada pelo
Decreto-Lei nº 22.871 de 24/7/1933, com a lei orgânica publicada no Dec.-Lei nº
24.949 de 10/1/1935 (Boletim do INTP, ano II, nº 4 - Lisboa, 15/1/1935). Esta federação
tinha acordo com a CP para transportar o trigo que era moído fora do concelho. Os
grémios concelhios da FNPT: os critérios para a composição das direcções vêm
publicados no Boletim do INTP, ano II, nº 4 - Lisboa, 15/1/1935, no qual se reproduz o
Dec.-Lei nº 24.949 de 10/1/1935.
"Direcção, art. 18º A direcção de cada grémio é constituída por dois vogais efectivos e
dois substitutos eleitos pelos vinte maiores produtores inscritos, e por um terceiro vogal
efectivo e outro substituto nomeado pela F.N.P.T. de entre os produtores da área do
grémio.", p. 99.
Fiel do armazém: - Eurico Barreto de Figueiredo Pais (genro de José Filipe Gomes)
Segundo entrevista com o director desta delegação concelhia em 1935, Dr. Jaime
Pimenta Prezado, publicada na revista Expansão Portuguesa, esta instituição "tem
agradado à quási totalidade dos produtores de trigo e muito especialmente aos pequenos
e médios produtores. No passado ano, comprou a 309 pequenos produtores, 600.000
quilos de trigo e a grandes produtores 1.250.000 quilos do mesmo cereal.", p. 248. Este
organismo teve uma importante função na colocação do trigo no mercado: "a produção
de 1934 foi grande - suponho mesmo ser a maior colheita de trigo no nosso País - e a
Lavoura não está, nem estará por falta de espírito de classe, em condições de defesa
suficiente para afrontar um excesso de produção, ser recorrer ao auxílio valioso do
Estado", pp. 248 - 249. É claro que este Dr. Prezado estava a fazer propaganda dos
organismos corporativos do Estado Novo porque era o presidente da representação
concelhia da União Nacional. Estes elementos sobre o ano agrícola de 1934 condizem
com o que diz CUTILEIRO, op. cit., p. 38: 1934 - "maior colheita de que há memória",
como resultado da campanha do trigo em 1929.
Definição dos sócios e dos directores: "Dos sócios dos Grémios da Lavoura: quem o
pode ser (...) podem agremiar-se todos os produtores agrícolas, todos os agricultores",
ibidem, 208. "Direcção dos Grémios da Lavoura e das respectivas secções: (...) Cada
secção «terá um director, assistido por dois agremiados, nela inscritos», p. 213.
Notários:
Solicitadores:
Lista de médicos:
1898: - Dr. Pedro d'Almeida d'Eça, 36 anos, casado, médico, Avis, ordenado =
650$000
1923: Dr. Jaime Joaquim Pimenta Prezado inicia a sua carreira de médico municipal.
1928: - Dr. Carlos Clímaco Baptista, exerce também na Aldeia Velha, Benavila e
Valongo.
Lista dos Farmacêuticos e das farmácias abertas ao público a partir dos anuários
comerciais:
1908:
1911:
1917:
1828:
1935:
Avis: - Arnaldo Raúl da Rosa Mendes: não era farmacêutico, era apenas
ajudante de farmácia, comprou as 2 que havia e fechou uma.
1941: neste ano há apenas um nos recenseamentos: Ervedal, João Velez Trindade,
casado, 66 anos.
Lista dos Chefes da Estação dos Correios e Telégrafos (em Avis havia o chefe da
estação e nas outras freguesias havia encarregados do correio):
1886:
1901:
1908:
1917:
1928: - idem
Lista dos Funcionários da Administração da Câmara (dependentes do poder
municipal):
Lista de Regedores:
Assistência Judiciária:
- Daniel Rodrigues
- Leopoldina A. S. Cunha
Alcórrego, Maranhão e Valongo não tinham escola. Aldeia Velha já tinha escola mista,
mas o lugar de professor ainda estava vago.
1928 (neste ano não havia padres no concelho, vinham de fora oficiar a missa):
1941: Benavila: Joaquim Matias Simões, 61 anos, único padre do concelho nesse ano,
ia a Avis oficiar a missa.
Lista dos "comerciantes e negociantes":
1901:
- Anna da Costa
1908:
- João Marques Serrão, 16º MC, casado com grande proprietária, vem
também referido no anuário como tendo uma "Agencia bancaria".
- José Barradas
1917:
- Moraes e Gazzo.
- Francisco Moura.
- José Botto.
- Francisco Moura
- Manoel Carrilho
- Ritta Cordeiro
1908:
1917:
1928:
Lista dos Administradores do Concelho de Avis (as fontes não permitiram determinar
com precisão as datas de início e fim dos respectivos mandatos):
16/10/1910 Dr. José Pais Telles foi nomeado, mas não aceitou o cargo
10/1910 Dr. Alberto Sabino Ferreira, bacharel.
1927/28 ?
Fotografia nº 4:
Jazigo de José Marques Serrão, comerciante casado com Maria Luísa Lopes, grande
proprietária, ao lado do jazigo de seu cunhado António Lopes Coelho, grande
proprietário.
Fotografia nº 5:
Fotografia nº 10:
Família da Avis na Nazaré em 26/8/1936: a avó, a tia, os meninos, a criada e a filha dos
pescadores em casa de quem estavam alojados.
Fotografia nº 12:
A Rua Dr. Manuel d’Arriaga, vulgo Rua do Convento, em Avis, com as casas de
algumas das principais famílias da elite. Salientam-se os aguadeiros, com os respectivos
burros carregados de vasilhas, para o abastecimento de água ao domicílio. Fonte:
Arquivo de Cecília de Figueiredo.
Fotografias nº 13 e 14:
Família de Marcelina Varela e José Filipe Gomes, com as duas filhas e a mestra das
meninas, c. 1912.
Fotografia nº 16:
Fotografia nº 17:
Janela da Quinta do Pinheiro.
Fotografia nº 18:
Fotografia nº 19:
Fotografia nº 21:
Casas de habitação popular em Avis, na rua onde se diz ter sido a residência da mãe do
D. João, Mestre de Avis.
Fotografia nº 22:
Fotografia nº 23:
Carro de parelha da Fundação Abreu Callado.
Fotografia nº 24:
Mascarados no Carnaval.
Fotografia nº 27:
Fotografia nº 32:
Fotografia nº 34:
Porqueiros.
Fotografia nº 35:
Prova de ciclismo.
Fontes e Bibliografia:
I - FONTES:
1 - Fontes manuscritas:
1.1 - Inventários por morte ou por doação em vida recolhidos na Secção de Finanças da
Câmara Municipal de Avis e Inventários Orfanológicos da Comarca de Avis, no
Tribunal de Fronteira.
- Actas das Eleições para a Câmara Municipal, para Juiz de Paz e seus substitutos, para
deputados pelo círculo de Portalegre e depois de Elvas e para as Juntas de Freguesia.
- Livros de actas das sessões da Câmara Municipal de Avis entre 1886 e 1941.
- Desembargo do Paço. Alentejo e Algarve. Pautas. Maços 750, 763 e 764, c. 844, 857,
858.
1.7 - Arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Avis: actas das sessões real. 1850-1958.
2 - Fontes Impressas:
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- "Avis: As nossas impressões sobre o seu valor histórico e agrícola", revista Expansão
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- "Casa Abreu Calado", in revista Expansão Portuguesa, 1935, pp. 166 - 168.
- A Plebe, "Jornal Independente" entre 1/1/1897 e 28/5/1926, quando passa a ter o sub-
título "Orgão do Partido Republicano Português no Círculo de Portalegre". Último
número em 20/9/1931.
2.5 – Legislação:
- IDEM - O Beato João de Brito e a família Freme. Algumas linhas continuadas até ao
presente, Lisboa, 1941.
3 - Fontes Iconográficas:
4 - Fontes Orais:
- Entrevistas no Concelho:
5 - Fontes Literárias:
II - BIBLIOGRAFIA:
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