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Departamento de Direito
INTRODUÇÃO À ECONOMIA
Curso de Direito
(1.º Ano - 1.º Semestre)
Ano 2021-2022.
Sumários desenvolvidos
Capítulo X
Repartição do rendimento e mercado de fatores de produção
10.1 Fatores de produção e a sua remuneração.
10.2 Procura e oferta de fatores de produção. Especificidades.
10.3 Informação imperfeita e discriminação na remuneração de fatores.
10.4 Desigualdade e pobreza.
10.5 O combate à pobreza e à exclusão.
A produção de serviços não permite a constituição de stocks, que têm como característica
o facto de a capacidade de produção dever estar disponível no mesmo momento em que a
procura se manifesta. Por este facto, temos neste segundo tipo de criação económica a
possibilidade de encontrar insuficiente na capacidade de resposta. No guichet de um banco a
aproximação do fim do mês pode levar à formação de filas por haver um excesso na
procura do serviço. O mesmo se diga das repartições de finanças em fim de prazo para
pagamento de impostos ou de um salão de cabeleireiro em dias festivos. Já no caso do
abastecimento da energia elétrica, havendo períodos de sobrecarga de consumo, há a
tendência para aumentar as tarifas nas horas mais críticas, para obrigar o consumidor a
reduzir a sua atividade nesses momentos.
Na ótica do puro dom da natureza, a oferta total relativa a um fator natural corresponde a
um montante fixo e inalterável. As alterações do preço de equilíbrio ficarão a dever-se a
modificações ocorridas no mercado, ora do lado da procura, ora do lado da oferta.
Contudo, a alteração do preço de equilíbrio dos fatores naturais não é devida, em regra, a
modificações na oferta, a não ser que haja mudança das respetivas condições naturais
(inundações e temporais, erupção vulcânica, catástrofe natural). Quanto à procura, o preço
do recurso natural vai variar com o preço do bem que a partir dele vai ser produzido.
Temos, pois, uma procura "derivada". Se o preço da terra para o cultivo do trigo é elevado,
é porque o preço do trigo é elevado - mas não é verdadeiro dizer-se que o preço do trigo é
elevado porque o preço da terra é elevado. A elevação do preço do fator terra ocorrerá se a
oferta do recurso natural for completamente inelástica e o seu uso exclusivo. O valor dos
produtos produzidos é que determina o nível da renda de um recurso natural. Os preços
não refletem, assim, em regra, os custos inerentes aos fatores naturais de produção.
As transações sobre títulos são de dois tipos - subscrições, quando os títulos são emitidos
e entram em circulação; e circulação, quando os títulos uma vez emitidos já podem ser
transacionados. No primeiro caso temos o mercado primário, no segundo temos o
mercado secundário. Só o mercado primário alimenta as empresas, com capital social nas
ações, com créditos nas obrigações. O curso dos títulos vai ser determinado pelas opiniões
que circulam sobre a capacidade de uma empresa reembolsar o capital emprestado (no caso
das obrigações) ou sobre os dividendos esperados, resultantes dos lucros obtidos pelas
empresas. Há, no entanto, fatores aleatórios de natureza psicológica que funcionam como
decisivos para a fixação dos valores de mercado. Nesse sentido, a existência da Bolsa obriga
a que haja uma entidade reguladora que garanta o cumprimento das regras inerentes à
concorrência constantes do regime jurídico em vigor (entre nós CMVM - Comissão do
Mercado dos Valores Mobiliários). Aliás, a recente crise financeira internacional revelou a
importância fundamental de uma atividade de regulação independente, sem a qual o
interesse geral não é devidamente salvaguardada.
Diferentemente dos outros fatores, o trabalho é por natureza muito heterogéneo, pela
multiplicidade de atividades que pode envolver. A própria medida do trabalho realizado
varia muito (salário por hora, jornada diária, vencimento mensal). Também há uma grande
diferença de estatutos - desde o trabalhador independente ao trabalhador por conta de
outrem ou assalariado. A formação dos salários do trabalhador dependente faz-se, em
regra, segundo a lei da oferta e da procura, mas também segundo as negociações coletivas,
no que podemos designar como monopólio bilateral – em que temos confederações
patronais e sindicais a protagonizar a concertação.
O equilíbrio final do ciclo de uma indústria é aquele pelo qual todas as empresas veem o
seu custo médio e o seu custo marginal igualar o preço de venda do produto no
mercado. A produção atinge, assim, o ponto mínimo da curva de custo médio. Ora, na
medida em que o rendimento marginal se aproxima do custo marginal o excedente fica
reduzido ou é anulado - o que exige a inovação, como forma de garantir o início de um
novo ciclo no mercado, aumentando o excedente do produtor e o bem-estar geral.
Numa sociedade em que, por hipótese, os 20% da população com menos rendimentos têm
apenas 1 ou 2% do total dos rendimentos gerados, enquanto os 20% da população com
maiores rendimentos têm 80% dos rendimentos totais, temos uma situação fortemente
desequilibrada, com uma acentuada desigualdade e uma intensa pressão social de quem tem
rendimentos menores - com efeitos muito negativos no funcionamento da economia e da
sociedade. Se existe equilíbrio, e os 20% mais pobres têm 15% dos rendimentos enquanto
os 20% mais ricos têm 22% dos rendimentos, há tendência para haver maior coesão.
A pobreza é uma situação de privação por falta de recursos, enquanto a privação em geral
corresponde a não estarem as necessidades básicas garantidas, por falta de recursos ou
outra razão – desde a dependência de um vício ou de uma doença até à falta de capacidade
para administrar os seus bens. Para cada um dos casos as soluções são muito diferentes. Na
pobreza é preciso ajudar as pessoas a ter os meios necessários, na privação é indispensável
apoiá-las a fim de que a gestão dos recursos seja melhor assegurada. A pobreza apenas se
resolve com autonomia. A pobreza é uma das formas de exclusão social, mas não a única,
há outras – como o isolamento dos idosos, que podem ter recursos materiais e a
discriminação social de imigrantes ou deficientes etc..
O tema da justiça na vida económica pode ser analisado na perspetiva dos fins ou dos
resultados. Ou se adota uma abordagem utilitarista ou se assume uma posição centrada na
"justiça como equidade", na linha de John Rawls (1921-2002) ou se recorre ao conceito de
«justiça complexa» de Michael Walzer (1935-). No primeiro caso, faz-se uma comparação
entre as utilidades marginais decrescentes. Para realizar uma repartição equitativa
deveríamos tirar uma parte dos bens a quem dispõe de mais doses de bens - o que implica
uma perda das utilidades menos significativas - para os atribuir a quem dispõe de poucas
doses, auferindo, assim, utilidades marginais maiores. Nesta hipótese, não se tem em
consideração o grau de esforço ou o mérito para obter determinado bem e satisfazer uma
necessidade económica. Na segunda perspetiva concentramo-nos na obtenção de maior
coesão possível, através da diminuição das perdas máximas que advenham do facto de uma
pessoa se encontrar no grupo mais desfavorecido da sociedade. Trata-se, no fundo de
proteger a sociedade contra os resultados mais desfavoráveis que afetam o grupo dos mais
pobres. Adotam-se medidas cirúrgicas na erradicação das formas mais extremas de riqueza
- sem pôr em causa a liberdade económica. A situação pode ser mais inigualitária, mas o
critério da justiça como equidade cumpre-se desde que quem está em posição mais
desfavorável não sai prejudicado ou tenha novos benefícios.
Além do critério dos resultados, temos ainda o critério dos meios e do procedimento -
numa lógica eminentemente individualista. A justiça seria preservada se fosse justo o
processo através do qual as pessoas enriquecem. A ideia de igualdade deixa, nessa
perspetiva, de estar nos resultados e passa para as oportunidades. Nesta perspetiva, bastaria
criar condições de igualdade de oportunidades - como na prova de atletismo em que todos
os atletas partem da mesma linha. No entanto, não poderá esquecer-se ainda a correção das
desigualdades concretas, para além da mera consideração das oportunidades.
Importa, porém, contrariar o que se designa como "armadilha da pobreza", que leva o
pobre a subtrair-se ao mercado de trabalho, preferindo viver na dependência do subsídio.
O modo de contrariar essa tendência está em substituir os instrumentos visando a
equidade, por mecanismos de eficiência, sendo um desses instrumentos o "imposto
negativo". Nesse caso, todos os indivíduos são formalmente tributados, não havendo
isenção de um mínimo de existência, todavia, a todos é concedido um crédito de imposto
que, deduzido do imposto devido, corresponderia a um apoio aos mais pobres, permitindo
uma transição das situações de benefício para as situações de tributação. O rendimento
mínimo de inserção seria assim conseguido não através de um subsídio mas de um crédito
de imposto. No entanto, no sentido da diferenciação positiva haveria a necessidade
fundamental de adotar políticas ativas de emprego e de formação, centradas na valorização
do "capital humano" - segundo o velho princípio segundo o qual mais importante do que
dar o peixe é fornecer a cana de pesca. A cana de pesca é importante, mas pode valer
pouco, se não prepararmos as pessoas, se não as formarmos, se não as acompanharmos.
Eis por que razão impõe-se haver políticas públicas articuladas no sentido do combate à
pobreza, à privação e à exclusão.
BIBLIOGRAFIA:
PEDRO SOARES MARTÍNEZ, Economia Política, Almedina, 1996 (pp. 402-464; 747-753).
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