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TÓPICOS DE «ÉTICA».

Lição nº 12 – 28 de outubro de 2019.

5. Ética e Política.
5.1 Moral Civil na sociedade democrática.
5.2. Do Estado confessional à laicidade.
5.3. Desafios do tempo presente.

A relação entre a Ética e Política reporta-se à cidadania. Na antiguidade


clássica, a cidadania era exclusiva, apenas se referia a alguns membros da
cidade – as mulheres, as crianças, os vencidos, os escravos não tinham
direto de cidadania. Nesse sentido excluía um número significativo de
pessoas. Hoje a cidadania tende a ser inclusiva, designadamente nos
direitos de participação – abrangendo todos. Só no século XX, por
exemplo, as mulheres obtiveram direitos de cidadania. Ao considerar o
fenómeno político, falamos de “polis”, cidade na língua grega, “civitas” na
expressão latina.

A sociedade democrática pressupõe a liberdade e a igualdade, a igualdade


e a diferença. Daí a importância do entendimento da cidadania como
tendencialmente inclusiva. Por que razão dizemos tendencialmente?
Porque há ainda entraves e bloqueamentos, ditados pela imperfeição na
concretização dos direitos fundamentais.

Para garantir o respeito de todos e a concretização da Declaração


Universal dos Direitos Humanos (1948), de modo a que todos os seres
humanos nasçam e vivam livres e iguais em dignidade e direitos, é
necessário que a Ética anime uma Moral civil aberta e plural, assente na
dignidade de todos. Na expressão da Professora Adela Cortina: como
primeira providencia para manter os pilares básicos da democracia, deve
garantir-se o império da lei, a separação de poderes e as eleições
regulares como marco do Estado Constitucional de Direito. Mas deve
ainda fortalecer-se os pilares do Estado social de Direito, enquanto Estado
de justiça que protege os direitos civis e políticos, mas também
económicos, sociais e culturais. A democracia é uma forma de regime
político, e não uma doutrina de salvação que pretenda absorver a vida
toda, mas está obrigada a assentar em bases de justiça.
Lição nº 13 – 29 de outubro de 2019.

(cont.)

No Estado de direito democrático encontramos: o primado da lei, geral e


abstrata para todos, a legitimidade do voto, a legitimidade do exercício, a
referência ao valor da justiça. Daí a importância do pluralismo (não
confundível com relativismo) e da incomensurabilidade dos valores (I.
Berlin). Ao falar de Ética, referimos fins e meios. Hoje perguntamos: e a
inteligência artificial. Poderão os robôs substituir as pessoas?

Os robôs são instrumentos, segundo Adela Cortina, que não tendo


emoções, não servem como governantes e cidadãos de uma sociedade
democrática, mas servem como ajuda na tomada de decisões. A vida
política precisa de pessoas, feitas de razão, de sentimentos e emoção
(como refere António Damásio) capazes de justiça e de compaixão. É
necessário, pois, que os governantes assumam o seu modesto papel de
facilitadores da via pública e que os partidos deixem de funcionar como
agências de colocação e apresentem propostas diferenciadas do que em
verdade querem e podem realizar, para servir a cidadania, não se
limitando a caçar votos com palavras vazias. Se pedimos que a inteligência
artificial que seja um instrumento confiável, por maioria de razão temos
de exigir à política das pessoas que respeitem a ética e a moral social. O
compromisso político exige respeito mútuo (ler “Mounier - O
Compromisso Político” de Guy Coq, Gradiva, tradução de Guilherme
d’Oliveira Martins).

Quando falamos do primado das pessoas, vamos buscar a etimologia às


palavras grega “prosopon” e latina “personna” – que significavam as
máscaras do teatro, que identificavam as personagens. Falamos, assim, do
que é irrepetível, e humanamente intransmissível, definindo quem somos
e a nossa relação com os outros. Quando Antígona (Sófocles) se revolta
contra Creonte porque este não quer dar enterro digno a seu irmão
Polinices, ela põe a justiça à frente da lei – chamando o fundamento, em
nome da ética, que se sobrepõe à moral social e ao direito. A dignidade da
pessoa humana é, assim, a marca universal da justiça e do que hoje
designamos como direitos humanos.
TÓPICOS DE «ÉTICA».

Lição nº 14 – 4 de novembro de 2019.

6. Estado Ilustrado e tradição religiosa


6.1. Da Religião natural à Teologia moral.
6.2. Liberdade religiosa e diálogo entre religiões.
6.3 Os reptos da Ilustração.
6.4. A crítica da Razão Ilustrada – modernidade e pós-modernidade.

Desde o século das Luzes (século XVIII) a Razão é valorizada como fator de
organização e regulação da vida em sociedade. O “Cogito ergo sum” de
Descarte e o “imperativo categórico de Immanuel Kant tornam-se
referenciais. Perante o fenómeno religioso, há consideração da
necessidade de completar a fé com a razão, o que ocorre com os dois
autores referidos. Sem negar a dimensão do transcendente, há um
otimismo crescente relativamente à razão e à racionalidade – que
culminará no positivismo de Augusto Comte. Já o movimento da Reforma,
com o primado da fé individual de Lutero e com a predestinação de
Calvino, a razão ganha um lugar significativo.

Sobretudo depois da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648) a liberdade


religiosa ganha importância – tornando-se no século XX como liberdade
de ter e não ter religião. Revela-se, no entanto, necessário que haja
diálogo entre as religiões, o que pressupõe um conhecimento das
mesmas. Daí a necessidade de não desvalorizar o fenómeno religioso, no
contexto da liberdade e do pluralismo.

Se analisarmos a Religião natural, encontramos uma interessante


evolução que abarca: (a) as religiões primitivas, que se confundem com os
mitos, que tentam explicar os grandes fenómenos da natureza; (b) o
animismo, no qual temos uma simbiose entre humanidade e natureza e os
antepassados, ligando naturalmente as gerações; (c) os sincretismos
religiosos, como o hinduísmo, correspondem a uma fantástica capacidade
de absorção de influências diferentes; (d) o politeísmo greco-latino; (e) ou
as três religiões do Livro: judaísmo (do Antigo Testamento); o cristianismo
(com diversos ramos com expressão global: romano, ortodoxo,
protestante) e o islamismo (também com ramos diversos: como o sunismo
e xiismo)…

TÓPICOS DE «ÉTICA».
Lição nº 15 – 5 de novembro de 2019.
(cont.)
Quando estudámos a liberdade religiosa e a laicidade, salientámos que o
pluralismo tem uma natural consequência na separação entre Igreja e
Estado, na liberdade de ter ou não ter religião e no direito a não se
perseguido por ter determinada crença religiosa. Laicidade corresponde
ao pluralismo e ao respeito mútuo, e laicismo a uma ideia negativa em
relação à religião. A Laicidade corresponde à lógica democrática. Esta
laicidade exige e pressupõe um conhecimento mútuo dos fenómenos
religiosos, para que não haja um diálogo de surdos – a que tantas vezes
assistimos. Os fenómenos religiosos são sempre complexos – e pretendem
compreender os limites e as incertezas e equacionar as grandes dúvidas
sobre a vida e a existência.

Vejam-se vários exemplos: nas religiões primitivas, encontramos as


narrativas que tentam explicar os grandes mistérios da natureza (criação,
bem, mal, vida, morte…). No animismo, a simbiose entre a humanidade e
a natureza e o culto dos antepassados ligam naturalmente as gerações.
Lembremo-nos da Floresta Sagrada do Benim, onde se crê estarem as
almas dos antepassados, e onde os Orixás protegem as pessoas dos
fenómenos da natureza. O Candomblé de Salvador da Bahia corresponde
a um sincretismo religioso, que une as influências do animismo e do
cristianismo – o orixá Oxalá figura Jesus Cristo, o Senhor do Bonfim,
Iemanjá é a Virgem Maria, e Iansã Santa Bárbara (ver filme “O Pagador de
Promessas”, de Anselmo Duarte, 1962). O hinduísmo tem uma grande
capacidade de incorporar diversas influências: crê na reencarnação e tem
castas, que correspondem a uma caminhada no sentido da perfeição nas
diversas vidas. Encontramos o politeísmo greco-latino nas obras clássicas,
ou em “Os Lusíadas” de Camões, unindo os maravilhosos pagão e cristão.
Já nas três religiões do Livro: Judaísmo, Cristianismo e Islão temos uma
Teologia bastante estruturada, na qual enquanto Jesus Cristo é Filho de
Deus para os cristãos, é, como Maomé, um profeta para os muçulmanos.
Os reptos da Razão Ilustrada correspondem à necessidade de reflexão
racional e sentido crítico. Enquanto a modernidade procura um sentido
necessário de progresso, a pós-modernidade faz convergir fatores
diversos e complexos, que não se baseiam nas grandes narrativas.

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