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TÓPICOS DE «ÉTICA».

TÓPICOS DE «ÉTICA».

Lição nº 16 – 11 de novembro de 2019.

7. A justificação ética do Direito e as tarefas da Filosofia Política.


7.1. Justiça, legitimidade e legitimação:
7.2. O conceito de pessoa, pedra-angular da Ética;
7.3. A justificação dos direitos legítimos
No triângulo valor / norma / facto encontramos a exigência de ligar as
normas a um fundamento de índole ética. Daí que a interpretação da lei
obrigue a um vai-e-vem, já por nós referido, da norma para o valor, da
norma para o facto, do facto para o valor e da norma para o facto. Nesta
teia complexa, nós somos conduzidos à compreensão do valor ético como
base da norma e do facto como evidência que permite apreender a
distância entre o dever ser e a realidade concreta. Deste modo a
legitimação corresponde ao processo que permite adequar a vida jurídica
e social à lei e à justiça – lei geral e abstrata para todos e a justiça como
valor moral. A legitimidade é a qualidade do poder que se legitimou, e que
se encontra reconhecido, antes do mais por quantos constituem a base
comunitária para a vida dessas pessoas.
A filosofia política afirma que a sociedade humana para funcionar precisa
de se encontrar legitimada, o que acontece de dois modos: legitimidade
do voto e legitimidade do exercício.
Numa palavra, para além do primado da lei e da salvaguarda da justiça,
importa que haja um processo aceite de legitimação, de modo que haja
uma mediação legítima e justa por parte das instituições. As pessoas e os
cidadãos devem, assim, ser participantes e ter representação, para que a
sociedade funcione com uma partilha de responsabilidades. O conceito de
pessoa torna-se a pedra-angular da Ética. A palavra Pessoa provém do
grego “prosopon” e do latim “personna” – que etimologicamente
significam máscara do teatro. A máscara identifica a personagem e na
Ética a pessoa é o sujeito por excelência dos direitos e deveres, da
liberdade e da responsabilidade. Daí a importância de um contrato social
baseado na singularidade e na dignidade da pessoa humana. Daí a
importância de um contrato social baseado na singularidade e na
dignidade da pessoa humana. Somos imperfeitos, mas perfectíveis. Esta a
nossa base.
Lição nº 17 – 12 de novembro de 2019.

(cont.)

A justificação dos direitos legítimos leva-nos a pensar no respeito e na


salvaguarda dos direitos e deveres fundamentais. Aos lermos a Declaração
Universal dos Direitos Humanos compreendemos que se “Todos os Seres
Humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos” temos de ligar
intimamente os direitos e os deveres. De facto, a relação entre direitos e
deveres pode comparar-se ao direito e ao avesso de um belo tapete de
Arraiolos. As linhas com que se tecem os dois lados são exatamente as
mesmas, os pontos também. Acontece, porém, que tudo parece
organizado no direito e desorganizado no avesso – contudo não há a
beleza do desenho sem o complexo trabalho do artífice, que está expresso
na complexidade do que fica por ver. É o mesmo aquilo que se passa com
a relação entre direitos e deveres – a cada direito corresponde um dever,
e a cada dever corresponde um direito; o direito e o avesso são
incindíveis. Daí que a democracia seja baseada na liberdade igual e na
igualdade livre (como afirmou Norberto Bobbio). Também a igualdade e a
diferença são faces de uma mesma moeda. Todo o ser humano tem
capacidade para gozar os direitos fundamentais. O direito à vida, à
liberdade e à segurança individual têm de ser respeitados por todos e para
todos. O direito à personalidade jurídica, à nacionalidade e a uma
cidadania inclusiva, bem como a liberdade de consciência, a livre
expressão do pensamento e o direito de associação têm de ser
salvaguardados. A proibição da escravidão e da tortura, o direito a uma
justiça independente, a presunção da inocência antes de condenação
legal, a proteção da intimidade e da vida privada, o direito a não ser
perseguido e a pedir asilo político, o direito à cobertura de riscos sociais, o
direito ao trabalho e à livre escolha de emprego, o direito a uma
remuneração justa, a proteção à maternidade e à infância, o direito à
educação e à formação, o direito de participação política e social – tudo
são determinações que poderão permitir o respeito pela dignidade
humana. Falar do valor do respeito mútuo obriga, afinal, a considerar a
vida humana como um valor inviolável – e fundamento ético essencial.

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