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Para você.

Você é tão digno de todas as coisas boas ... cuide da sua mulher.

Eu tenho fé em você.

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Amante Desvelado
J.R. Ward
Copyright ©2021

Nesta edição de tirar o fôlego da série de best-sellers do New York Times de J. R. Ward ... um
membro há muito perdido da Black Dagger Brotherhood encontra o verdadeiro amor e o mal
encarnados em Caldwell, NY.

Sahvage tem vivido fora dos radares por séculos - e ele tem toda a intenção de permanecer "morto e
enterrado". Mas quando uma fêmea civil o suga em sua perigosa batalha contra um mal tão antigo
quanto o tempo, seu lado protetor substitui seu bom senso.
Mae perdeu tudo e o desespero a coloca em rota de colisão com o destino. Determinada a reverter
uma tragédia, ela vai aonde os mortais devem temer pisar - e fica cara a cara com o novo inimigo da
Irmandade. Ela também descobre um amor que nunca esperava encontrar com Sahvage, mas não
pode haver futuro para eles.
Sabendo que eles se separarão, os dois se unem para lutar contra o que Mae sem saber desencadeou -
enquanto a Irmandade se aproxima para recuperar um de seus condenados, e o mal promete destruir
todos eles ...

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Glossário de Termos e
Nomes Próprios

Ahstrux Nohtrum (n.) Guarda particular com licença para matar, cujo posto é
concedido a ele ou ela pelo Rei.

Ahvenge (v.) Cometer um ato de retribuição mortal, realizado geralmente por um


homem amado.

Irmandade da Adaga Negra [Black Dagger Brotherhood] (pr. n.) Guerreiros


vampiros altamente treinados que protegem sua espécie contra a Sociedade Lesser.
Como resultado da seleção genética de sua raça, os Irmãos possuem uma imensa força
física e mental, assim como uma rápida capacidade de se curar. A maior parte deles não
são irmãos de sangue, e são introduzidos na Irmandade por nomeação pelos Irmãos.
Agressivos, auto-suficientes e reservados por natureza, vivem separados do resto dos
civis, mantendo pouco contato com os membros de outras classes, exceto quando
precisam se alimentar. Eles são temas de lendas e objeto de reverência dentro do
mundo dos vampiros. Podem ser mortos apenas pela mais séria das feridas, por
exemplo, um disparo ou punhalada no coração, etc.

Escravo de Sangue [blood slave] (n.) Macho ou fêmea vampiro que foi subjugado
para cobrir as necessidades de sangue de outro vampiro. A prática de manter escravos
de sangue foi recentemente declarada ilegal.

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As Escolhidas [the Chosen] (pr. n.) Fêmeas vampiras que foram criadas para servir
a Virgem Escriba. São consideradas membros da aristocracia, embora sejam um tanto
mais espiritualmente do que temporalmente focadas. Têm pouca ou nenhuma
interação com os machos, porém podem emparelhar-se com Irmãos por ordem da
Virgem Escriba para propagar sua classe. Algumas possuem o dom de prever o futuro.
No passado, eram usadas para cobrir as necessidades de sangue dos membros não
emparelhados da Irmandade, e essa prática foi reinstalada pelos Irmãos.

Chrih (n.) Símbolo de morte honrosa na Antiga Língua.

Cohntehst (n.) Conflito entre dois machos competindo pelo direito de ser o
companheiro de uma fêmea.

Dhunhd (pr. n.) Inferno.

Doggen (n.) Membros da classe servente do mundo vampírico. Os Doggens têm


antigas e conservadoras tradições sobre como servir a seus superiores, segundo a um
código formal de vestimenta e comportamento. Eles são capazes de sair durante o dia,
mas envelhecem relativamente rápido. A expectativa de vida é de aproximadamente
quinhentos anos.

Ehros (pr. s.) Uma Escolhida treinada nos assuntos das artes sexuais.

Exhile Dhoble (pr. n.) O gêmeo malvado ou amaldiçoado, aquele nasce em segundo
lugar.

O Fade [The Fade] (n.) Reino atemporal onde os mortos se reúnem com seus entes
queridos e passam a eternidade.

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Primeira Família [First Family] (n.) O rei e a rainha dos vampiros, e quaisquer filhos
que possam ter.

Ghardian (n.) Guardião de um indivíduo. Há vários níveis de ghardians, com o mais


poderoso sendo o sehcluded de uma fêmea.

Glymera (n.) O núcleo social da aristocracia, aproximadamente o equivalente a


corte no período da regência na Inglaterra.

Hellren (n.) Vampiro macho que se emparelhou com uma fêmea. Os machos
podem ter mais de uma fêmea como companheira.

Hyslop (n. ou v.) Termo que se refere a um lapso de julgamento, geralmente


resultando no comprometimento das operações mecânicas de um veículo ou de alguma
forma transporte motorizado. Por exemplo, deixar as chaves no carro enquanto ele fica
estacionado do lado de fora da casa da família durante a noite, quando o veículo é
roubado.

Leahdyre (n.) Uma pessoa de poder e influência.

Leelan (n.) Um termo carinhoso livremente traduzido como —querido (a).

Sociedade Lesser [Lessening Society] (pr. n.) Ordem de assassinos reunidos pelo
Ômega com o propósito de erradicar a espécie dos vampiros.

Lesser (n.) Humanos sem alma que se dedicam a exterminar vampiros, como
membros da Sociedade Lessening. Os Lessers devem ser transpassados por uma
punhalada no peito para serem mortos. Não comem ou bebem e são impotentes. Com

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o passar do tempo, seus cabelos, pele e íris perdem a pigmentação até que se tornam
loiros pálidos e com os olhos claros. Cheiram a talco de bebê. Introduzidos na Sociedade
pelo Ômega, eles retêm um jarro de cerâmica onde consequentemente seu coração é
colocado depois de ser removido.

Lewlhen (n.) Presente.

Lheage (n.) Um termo de respeito utilizado por um submisso sexual para se referir
a sua dominante.

Lhenihan (pr.n) Uma fera mística famosa por suas proezas sexuais. No jargão
moderno, refere-se ao macho de tamanho sobrenatural e vigor sexual.

Lys (n.) Ferramenta de tortura usada para remover os olhos.

Mahmen (n.) Mãe. Usado tanto como um identificador quanto um termo de


afeição.

Mhis (n.) O disfarce de um dado ambiente físico; a criação de um campo de ilusão.

Nalla (n., f.) ou Nallum (n., m.) Amada (o).

Período de Necessidade [needing period] (n.) Período de fertilidade das fêmeas


vampiras, geralmente com duração de dois dias e acompanhado de um forte e ardente
desejo sexual. Acontece aproximadamente cinco anos após a transição de uma fêmea
e, posteriormente uma vez a cada dez anos. Todos os machos respondem em algum
grau se estiverem perto de uma fêmea em seu período. Pode ser um momento perigoso

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com conflitos e brigas surgindo entre machos competindo, particularmente se a fêmea
não é emparelhada.

Newling (n.) Uma virgem.

O Ômega [The Ômega] (Pr. n.) Ser místico e malévolo que quer exterminar a raça
vampírica devido ao ressentimento que tem em relação à Virgem Escriba. Existe em um
reino atemporal e possui extensivos poderes, embora não o poder de criação.

Phearsom (adj.) Termo referente a potencia dos órgãos sexuais do macho. A


tradução literal seria algo como “digno de penetrar uma mulher”.

Princeps (n.) O mais alto nível da aristocracia vampírica, superado apenas pelos
membros da Primeira Família ou pelas Escolhidas da Virgem Escriba. É um título que se
deve ter por nascimento, não pode ser concedido.

Pyrocant (n.) Refere-se a uma fraqueza crítica em um indivíduo. A fraqueza pode


ser interna, como um vício, ou externa, como um amante.

Rahlman (n.) Salvador.

Rythe (n.) Forma ritual de lavar a honra, oferecida pelo ofensor ao ofendido. Se
aceito, o ofendido escolhe uma arma e ataca o ofensor, que se apresenta perante ele
sem se defender do ataque.

A Virgem Escriba [The Virgin Scribe] (pr.n) Força mística que aconselha o rei como
guardiã dos registros vampíricos e concedente de privilégios. Existe em um reino

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atemporal e possui grandes poderes. Capaz de um único ato de criação, que usou para
trazer os vampiros à existência.

Sehclusion (n.) Status conferido pelo rei a uma fêmea da aristocracia como
resultado de uma petição pela família da fêmea. Coloca a fêmea debaixo da autoridade
exclusiva de seu ghardian, tipicamente o macho mais velho da família. Seu ghardian tem
então o direito legal de determinar toda sua forma de vida, restringindo à vontade
qualquer e toda interação que ela tenha com o mundo.

Shellan (n.) Vampira que se emparelhou com um macho. Fêmeas geralmente não
tomam de um companheiro devido à natureza altamente territorial dos machos
vinculados.

Symphath (n.) Subespécie do mundo vampírico caracterizada pela habilidade e


desejo de manipular as emoções dos demais (com o propósito de uma troca de energia),
entre outras peculiaridades. Historicamente, tem sido descriminados e durante certas
épocas, caçados pelos vampiros. Eles estão próximos à extinção.

Talhman (n.) O lado mau de um indivíduo. Uma mancha escura na alma que requer
expressão se não for adequadamente eliminada.

A Tumba [the Tomb] (Pr. N.) Cripta sagrada da Irmandade da Adaga Negra.
Utilizada como local cerimonial assim como instalação de armazenamento para os jarros
dos lessers. As cerimônias realizadas ali incluem: iniciações, funerais e ações
disciplinares contra os Irmãos. Ninguém pode entrar, exceto os membros da Irmandade,
a Virgem Escriba ou os candidatos à iniciação.

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Trahyner (n.) Palavra usada entre machos de mútuo respeito e afeição. Traduzido
livremente como “querido amigo”.

Transição [Transition] (n.) Momento crítico na vida dos vampiros quando ele ou
ela se transforma em adulto. A partir daí, precisa beber sangue do sexo oposto para
sobreviver e não suporta a luz do sol. Geralmente, ocorre por volta dos vinte e cinco
anos. Alguns vampiros não sobrevivem à transição, machos em particular. Antes da
mudança, os vampiros são fisicamente frágeis, inaptos ou indiferentes ao sexo e
incapazes de se desmaterializar.

Vampiro [vampire] (n.) Membro de uma espécie distinta da Homo sapiens.


Vampiros devem beber o sangue do sexo oposto para sobreviver. O sangue humano os
mantém vivos, embora a força não dure muito tempo. Depois de suas transições, o que
ocorre entre os vinte anos, eles são incapazes de se expor a luz do sol e devem se
alimentar diretamente da veia regularmente. Os vampiros não podem “converter”
humanos através de uma mordida ou transfusão de sangue, embora em raras ocasiões
possam reproduzir-se com membros de outras espécies. Podem desmaterializar-se à
vontade, porém devem se acalmar e se concentrar para fazê-lo e não podem carregar
nada pesado com eles. São capazes de extrair as lembranças de um humano, contanto
que tais as lembranças sejam de curto prazo. Alguns vampiros são capazes de ler
mentes. A estimativa de vida é superior a mil anos, ou em alguns casos ainda maior.

Wahlker (n.) Um indivíduo que morreu e voltou à vida do Fade. A eles é concedido
um grande respeito a são reverenciados por suas tribulações.

Whard (n.) Equivalente a padrinho ou madrinha de um indivíduo.

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Quarenta e oito minutos antes de Ralphie DeMellio ser assassinado, ele
estava vivendo a vida.

— Você tem isso, —seu amigo estava dizendo enquanto esfregava os


ombros nus de Ralphie. — Você consegue porra, você é um monstro, você
é um monstro filho da puta!

Ralphie e sua equipe estavam no sexto nível de um estacionamento


que era todo manchas de óleo e lixo, em vez de Oldsmobiles e Lincolns . A
instalação abandonada era apenas uma porra de uma escrivaninha de

Oldsmobile foi uma marca de veículos descontinuada pela General Motors em 2004
Lincoln é uma marca de automóveis de luxo da Ford Motor Company. Tem como maior rival nos Estados Unidos a Cadillac, divisão de luxo da
General Motors. A Lincoln é a fabricante das famosas limusines americanas.

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concreto sem nada nas gavetas e, nesta parte de Caldie , qualquer tipo de
estrutura isolada não durava muito. Olá, BKC. Bare Knuckle Conquests era
o único circuito de luta subterrâneo legítimo na parte sul do estado de
Nova York, e a luta realizada esta noite era a razão pela qual ele, seus
manos e quinhentos perseguidores Insta-famers estavam aqui.

Mais selfies e seria a pista de prova para carteira de habilitação do


DMV .

O BKC era um grande negócio, e Ralphie, como campeão reinante,


estava ganhando muito dinheiro—desde que nenhum desses idiotas com
os telefones com câmera revelasse sua localização. E tipo, quais eram as
chances disso.

— Onde está a coca .

Ele estendeu a mão e, quando o frasco marrom foi colocado em sua


palma como um instrumento cirúrgico, ele foi para a cidade. Enquanto ele
enfiava dois quilos de pó profundamente em suas narinas, seus olhos
saltavam sobre a multidão. Lá embaixo, na outra extremidade do andar,
ela estava impaciente, se drogando e fazendo suas apostas com os

Caldie e como chamam a cidade de Caldwel.


É o orgão responsável pelo registro e emplacamento de veículos motorizados, carteira de permissão e habilitação para novos motoristas, carteira
de identificação para cidadãos. É também chamado como DMV em outros estados.
Droga, cocaína, que chamam de coca.

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corretores de apostas do organizador. Nada além de três rodadas de
minutos de boxe sem luvas entre eles e a matança que esperavam fazer.

Ralphie era uma aposta muito boa.

Ele não tinha perdido uma luta ainda, embora tivesse músculos Slim
Jim e fumasse muita maconha. Mas aqui estava a maldita coisa. Os tipo
segurança com bíceps de pedra e barrigas de geleia só eram
impressionantes quando estavam imóveis. Faça com que eles se movam e
eles não terão equilíbrio, velocidade e continuidade como se tivessem
visão dupla. Enquanto Ralphie continuasse zunindo como uma mosca na
merda, ele seria inatingível quando seu gancho de direita começasse a
trabalhar.

— Você é bom, Ralphie. Você é bom pra caralho!

— Sim, isso mesmo, Ralphie, você é o melhor!

Sua equipe era composta por cinco caras da vizinhança. Eles


cresceram juntos e eram todos parentes, suas famílias vieram de barco para

Slim Jim é uma marca americana de lanches vendida globalmente e fabricada pela Conagra Brands. Eles estão
amplamente disponíveis e populares nos Estados Unidos, com receitas de US $ 575 milhões em 2015. Cerca de 569 milhões são produzidos anualmente
em pelo menos 21 variedades.

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Ilha Ellis algumas gerações atrás e saíram de Hell's Kitchen assim que
puderam bancar. Little Italy em Caldie era um pouco diferente da de
Manhattan, e como seu pai sempre dizia, não confie em alguém que você
não conhece e não conheça alguém se você não puder andar até sua casa.

E havia outra pessoa na equipe de Ralphie.

— Onde ela está? —Ralphie olhou em volta. — Onde está ...

Chelle estava atrás do G Wagon , posando como uma garota Pirelli,


os cotovelos no capô, um calcanhar enfiado no aro de um pneu. Sua
cabeça estava para trás, as pontas roxas de seu cabelo preto lambendo
a tinta metálica, seus lábios rosados separados enquanto ela olhava para o

A Ilha Ellis é uma ilha na foz do Rio Hudson que foi ao longo do século XIX e no começo do século XX a principal
entrada de imigrantes nos Estados Unidos. A ilha, situada no porto de Nova Iorque, é um símbolo da imigração para os Estados Unidos.

Próximo do bairro dos teatros, o Hell's Kitchen tem sido a base de atores e organizações artísticas há muito
tempo. É também um centro de cultura gay. Multidões pré e pós-teatro da Broadway, turistas da Times Square e trabalhadores de escritórios lotam
os restaurantes, bares e pubs internacionais ao longo da 8ª e da 9ª avenidas. Mais a oeste, ao longo da margem, o Hudson River Park tem calçadões
paisagísticos.

Little Italy acolhe bem uma grande quantidade de turistas nas suas muitas lojas de lembranças e restaurantes
e padarias italianas tradicionais. As ruas estreitas contam com uma série de cortiços que antigamente eram o lar dos imigrantes que ocuparam a área
no final do século 19. Mulberry Street, a via principal da região, se transforma em um calçadão nos finais de semana de verão. A área cel ebra suas
tradições no mês de setembro, na agitada festa de San Gennaro.

Mercedes Classe G

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nada. A noite estava fria porque abril ainda era uma vadia neste código
postal, mas ela não dava a mínima. Seu bustiê era tudo o que ela tinha em
cima, e a metade inferior dela não estava muito mais coberta.

Porrrra. Aquelas tatuagens na parte superior das coxas estavam


aparecendo. E aquelas nas protuberâncias de seus seios. E a manga em seu
braço esquerdo.

Ela sempre se recusou a fazer uma de suas iniciais.

Ela era assim.

Como se ela tivesse percebido seu olhar, Chelle lentamente virou a


cabeça. Então ela lambeu os lábios com a ponta da língua.

A mão de Ralphie foi para a frente de sua calça jeans. Ela não era o
tipo de mulher que você levava para casa da sua mãe, e no começo, essa
foi a razão pela qual ele a fodeu. Mas ela era inteligente e tinha seu próprio
salão de cabeleireiro. Ela não checava seu telefone. Ela não se importava
se ele saísse com os meninos. Ela tinha seu próprio dinheiro, nunca pediu
uma maldita coisa a ele e ela tinha opções, muitas opções.

Os homens a queriam.

Ela estava com ele, no entanto. E não importa o que ela parecesse, ela
nunca deu em cima da equipe dele. Ela não era de passar de mão em mão,

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e se alguém se esfregasse nela? Ela estava a um tapa de arrancar a porra
dos dentes deles fora.

Então, sim, depois de um ano, Ralphie estava na dela.

A ponto de não se importar com o que ninguém mais pensava,


incluindo sua tradicional mãe italiana. No que lhe dizia respeito, Chelle
era material para esposa e isso era tudo que importava, porra.

— ... tem isso, Ralphie ...

Para afastar o puxa saco da cara dele, Ralphie colocou a mão no


meio do peito do garoto e empurrou o cara para trás.

— Me dê um minuto.

Sua equipe sabia o que estava acontecendo e eles se viraram e


encararam a multidão, ombro a ombro.

E Chelle estava malditamente ciente do que ele procurava.

O G Wagon estava estacionado com a traseira para dentro, com


um espaço de dois metros entre o para-choque traseiro e a parede de
concreto nojenta da garagem. Chelle deu a volta e assumiu a posição,
recostando-se na porta traseira quadrada do Benz e arqueando suas costas.
Em seus saltos, ela era tão alta quanto Ralphie, e quando suas pálpebras

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baixaram e seus seios se esticaram contra a guarnição de renda do corpete,
ela o encontrou bem nos olhos.

O coração de Ralphie estava acelerado, mas seu sorriso foi lento


quando ele colocou as mãos na pequena cintura dela.

— Você quer isso?

— Sim. Dê pra mim.

Ralphie abriu o zíper da calça jeans e acariciou-se enquanto beijava a


garganta dela. Porque ela não iria querer que ele bagunçasse seu batom.
Esse tipo de merda viria mais tarde, depois que ele batesse na bunda de
quem iria desafiá-lo esta noite. Mas ele não estava prestes a dirigir seu
caminhão na lama, e ele não estava prestes a bagunçar sua mulher em
público.

Chelle moveu sua tanga para o lado, e quando ela colocou um stilettos
contra o concreto, ele bombeou dentro dela enquanto ela agarrava seus
ombros nus.

O sexo era quente pra caralho. Porque acabava se ele respeitasse a


mulher? Isso deixava tudo mais quente.

Quando Ralphie a ergueu para que ela pudesse colocar as duas pernas
em volta dos quadris dele, ele fechou os olhos. A adrenalina antes da luta,

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a coca, Chelle, o novo G Wagon do bolo que ele estava ganhando no BKC,
era tudo poder em suas veias. Ele era o cara. Ele era o monstro. Ele era ...

Ralphie começou a gozar e teria gritado, mas não queria que as


pessoas pegassem sua garota assim. Em vez disso, ele cerrou os dentes e
segurou firme, deixando cair a cabeça no pescoço perfumado de Chelle e
espremendo xingamentos através de sua mandíbula travada.

E então ele teve que dizer isso.

— Eu te amo, eu te amo pra caralho, —ele grunhiu.

Ele estava tão dentro da sua garota, tão interessado em sentir que ela
estava gozando com ele ... que ele não percebeu quem os estava
observando das sombras a cerca de 600 metros de distância.

Se tivesse feito isso, ele teria empacotado seu verdadeiro amor e sua
equipe, e deixado borracha na estrada enquanto dava o fora do
estacionamento.

A maior parte do destino estava na base da necessidade de saber, no


entanto.

E às vezes, era melhor que você não recebesse um aviso sobre o


inevitável que trazia seu nome.

Muito fodidamente horrível.

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Mae, filha de sangue de Sturt, irmã de sangue de Rhoger, vestiu o
casaco e não encontrou a bolsa. A pequena casa não oferecia muitos
esconderijos, e ela encontrou a coisa—com suas chaves, bônus—na
máquina de lavar ao lado da porta da garagem. Oh, certo. Ela trouxe suas
compras na noite anterior e perdeu o controle de muitas sacolas. A bolsa
dela tinha se aberto no chão de ladrilhos, e ela só teve energia para colocar
o Humpty de volta em seu Dumpty . Levar a cópia da Michael Kors para a
cozinha teria sido demais.

Humpty Dumpty é uma personagem de uma rima enigmática infantil, melhor conhecida no mundo anglófono pela versão de
Mamãe Gansa na Inglaterra. Ela é retratada como um ovo antropomórfico, com rosto, braços e pernas.
estilista americano

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A tampa da Maytag foi o mais longe que ela conseguiu.

Agarrando a coisa, ela verificou se a alça estragada ainda estava


pendurada pela gambiarra que ela havia feito. Sim. Bom para ir. Ela supôs
que poderia ir ao TJMaxx e comprar uma substituta, mas quem tinha
tempo para isso. Além disso, “quem guarda, sempre tem” sempre foi o
mantra na casa de sua família.

Na época em que seus pais ainda estavam vivos.

— Telefone. Preciso do meu ...

Ela encontrou o iPhone 6 no bolso da calça jeans. Sua última


verificação? O spray de pimenta que ela sempre tinha com ela.

Parando na porta de trás, ela ouviu tudo silencioso.

— Eu não vou demorar muito, —ela gritou. Silêncio. — Eu volto já.

Mais silêncio.

Com uma sensação de derrota, ela abaixou a cabeça e saiu para a


garagem. Quando a porta de aço se fechou atrás dela, ela trancou a

The Maytag Corporation é uma marca americana de aparelhos domésticos e comerciais de propriedade da Whirlpool
Corporation.

TJ Maxx é uma rede de lojas de departamentos americana, vendendo a preços geralmente mais baixos do que outras grandes
lojas semelhantes. Possui mais de 1.000 lojas nos Estados Unidos, o que a torna uma das maiores varejistas de roupas do país. TJMaxx é a principal
rede das empresas TJX.

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fechadura de cobre com a chave e apertou o interruptor. A luz do teto se
acendeu e a noite fria e úmida foi revelada centímetro a centímetro
enquanto os painéis enrolavam os trilhos.

Seu carro tinha oito anos, um Honda Civic da cor de uma nuvem de
inverno. Entrando, ela sentiu um leve cheiro de óleo de motor. Se ela fosse
humana, em vez de uma vampira, provavelmente não teria notado, mas
não havia como evitar o cheiro. Ou o que isso significava.

Excelente. Mais notícias boas.

Colocando as coisas em marcha, ela pisou no acelerador e saiu da


garagem. Seu pai sempre lhe disse para estacionar de ré, então ela estaria
pronta caso precisasse sair com pressa. Em caso de incêndio, por exemplo.
Ou um ataque lesser.

Oh, que triste ironia nisso.

Olhando pelo retrovisor, ela esperou até que a porta da garagem fosse
trancada de volta no lugar antes de virar à direita em sua rua tranquila e
sair em alta velocidade. Todos os humanos estavam se acomodando em
suas casas para passar a noite, abrigando-se para as horas escuras,

Honda Civic

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recarregando as baterias antes que o trabalho e a escola fossem reiniciados
com o retorno do sol. Ela supôs que era estranho viver tão perto de outra
espécie, mas era tudo o que ela alguma vez conheceu.

Tal como acontece com a beleza, o estranho era relativo.

A Northway era uma via secundária de seis pistas que entrava e saía
do centro de Caldwell, e ela esperou até estar nela e cruzando a cem
quilômetros por hora antes de pegar o telefone e fazer a ligação. Ela
manteve as coisas no viva-voz no seu colo. Não havia Bluetooth no seu
carro antigo, e ela não correria o risco de ser parada por segurar na mão
...

— Olá? Mae? —Veio a voz frágil e vacilante. — Você está no seu


caminho?

— Eu estou.

— Eu realmente queria que você não tivesse que fazer isso.

— Ficará tudo bem. Eu não estou preocupada.

A mentira doeu, realmente doeu. Exceto o que mais ela poderia dizer?

Nome de uma rodovia

Bluetooth é uma especificação de rede sem fio de âmbito pessoal consideradas do tipo PAN ou mesmo WPAN.

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Elas permaneceram conectadas sem falar, e Mae teve uma imagem da
velha mulher sentada ao lado dela no carro, o roupão bordado e os
chinelos rosa felpudos como algo que Lucille Ball teria usado em torno
do apartamento dela e de Ricky. Mas Tallah mal se movia, mesmo com
sua bengala. Não havia como ela ter energia para o que estava por vir.

Inferno, Mae não tinha certeza se ela poderia lidar com isso.

— Você sabe o que fazer? —Tallah perguntou. — E você vai me ligar


assim que voltar para o carro?

Deus, aquela voz estava ficando tão fraca.

— Sim. Eu prometo.

— Eu te amo, Mae. Você consegue fazer isso.

Não, não posso.

— Eu também te amo.

Quando Mae desligou, ela esfregou os olhos ardentes. Mas então ela
era toda sobre as saídas. Rua Quatro? Mercado? Ela ficou nervosa por

Lucille Désirée Ball (Jamestown, 6 de agosto de 1911 - Los Angeles, 26 de abril de 1989) foi uma atriz, comediante,
cantora, modelo, executiva cinematográfica, e produtora televisiva norte-americana. Estrelou sitcoms como I Love Lucy, The Lucy–Desi Comedy
Hour, The Lucy Show, Here's Lucy e Life with Lucy.

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perder o que precisava e acabou saindo da rodovia cedo demais. Fazendo
uma volta ineficiente em torno de uma quadra de mão única, ela
encontrou a Trade Street e permaneceu nela, os números nas avenidas
subindo da dezena para a casa dos vinte.

Quando ela entrou nos trinta, os valores dos imóveis comerciais


despencaram, os edifícios de escritórios antiquados estavam fechados com
tábuas e todos os restaurantes ou lojas abandonadas. Os únicos carros ao
redor estavam passando ou mortos e limpos, e esqueça os pedestres. As
calçadas rachadas e cheias de destroços estavam vazias, e não apenas
porque abril continuava inóspito no interior do estado de Nova York.

Ela estava perdendo a fé em todo o plano quando chegou ao primeiro


de vários estacionamentos lotados.

E Jesus, era sobre o que havia neles.

Os veículos—porque com certeza eles não pareciam sedans e


hatchbacks normais—eram de neon brilhante, a não ser que fossem pretos,
e tinham o estilo de anime, todos ângulos aerodinâmicos e para-choques
arredondados.

Ela estava no lugar certo ...

Risque isso. Ela não pertencia aqui, mas ela estava onde precisava
estar.

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Mae entrou no terceiro lote com a mesma teoria pela qual ela
abandonou a rodovia no início: se ela fosse muito mais longe, ela poderia
ultrapassar as coisas. E uma vez que ela estivesse dentro do limite de um
bloco de arame enferrujado, ela teria que ir até a última fileira para
encontrar um espaço. Enquanto ela avançava, humanos que combinavam
com as sofisticadas provas de arrancada, versões de Jake Paul e Tana
Mongeau , olhavam para ela como se ela fosse uma bibliotecária perdida
em uma rave.

Isso a deixou triste, embora não porque ela se importasse com a


opinião de um monte de humanos sobre ela.

O fato de ela saber qualquer coisa sobre influenciadores humanos era


cortesia de Rhoger. E a lembrança de como as coisas costumavam ser
entre eles era uma porta que ela tinha que fechar. Cair nesse buraco negro
não iria ajudá-la agora.

Quando ela saiu de seu Civic, ela teve que trancar a porta com a chave
porque o chaveiro estava morto. Colocando a bolsa contra o corpo, ela

Jake Joseph Paul é um ator americano, pugilista amador e personalidade do YouTube que alcançou fama significativa no
agora extinto aplicativo de vídeo Vine. Paul tornou-se proeminente por interpretar o papel de Dirk na série do Disney Channel, Bizaardvark.

Tana Marie Mongeau é uma personalidade americana da Internet. Ela é conhecida por seus vídeos "storytime" e conteúdo
semelhante postado em seu canal no YouTube.

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abaixou a cabeça e não olhou para as pessoas pelas quais passava. Ela
podia sentir seus olhares, entretanto, e a ironia era que eles não estavam
olhando para ela porque ela era uma vampira. Sem dúvida, seu jeans e seu
moletom SUNY Caldie eram uma ofensa a todos os seus Gucci .

Ela não tinha certeza de para onde ir, mas um punhado de pessoas
estava se encaminhando para um afluente maior de humanos, e muitos
deles estavam indo em direção um estacionamento. Enquanto ela se
juntava ao eventual rio de jovens de 20 anos todos gostosos e sensuais, ela
tentou ver o que estava por vir. A entrada para os vários níveis de concreto
estava bloqueada, mas uma fila havia se formado do lado de fora de uma
porta que ficava de um lado.

Enquanto Mae tomava um lugar e se mantinha quieta, havia uns bons


doze metros de fila única se formando e as coisas estavam se movendo
lentamente, dois homens do tamanho de enormes animais escolhiam
quem teria permissão para entrar—e eles recusavam as pessoas.
Simplesmente não estava imediatamente claro qual era o critério de
escolha, embora sem dúvida Mae estaria na lista "não mesmo"...

A Caldwell University foi fundada como uma faculdade católica de artes liberais pelas Irmãs de São Domingos sob a liderança da Madre M.
Joseph Dunn, OP, com a aprovação do Reverendíssimo Thomas Joseph Walsh, Arcebispo de Newark, que se tornou seu primeiro presi dente. O
Caldwell College foi incorporado em 10 de agosto de 1939 como uma instituição de ensino superior para mulheres de acordo com as leis do estado
de Nova Jersey e com poderes para conceder diplomas.
Gucci ou Casa Gucci é uma grife de origem italiana, fundada por Guccio Gucci em Florença em 1921. O sócio majoritário da empresa é a holding
francesa Kering. A direção criativa da marca hoje está nas mãos de Alessandro Michele.

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— Você está perdida ou algo assim?

A pergunta teve que ser repetida antes que ela percebesse que estava
sendo abordada, e quando ela se virou, as duas garotas—bem, mulheres—
que estavam fazendo a pergunta pareciam tão impressionadas quanto os
seguranças ficariam quando tentassem negar a Mae entrada.

— Não, não estou perdida.

A da direita, que tinha uma tatuagem sob o olho que dizia "Garota do
Papy" em letra cursiva, inclinou-se.

— Acho que você está perdida, porra.

As pupilas dela estavam tão dilatadas que suas íris eram invisíveis, e
as sobrancelhas tinham sido depiladas em um fio tão fino que elas—não,
espere, elas eram tatuadas também. Cílios falsos tinham pontinhos rosa
que combinavam com o etos rosa e preto do que era mais fantasia do que
roupa, e havia piercings em lugares que faziam Mae esperar que a mulher
nunca tivesse corrimento nasal ou intoxicação alimentar.

E, se serve de consolo, era preciso perguntar se a letra a que faltava


tinha sido intencional ou se a obra-prima fora vendida por letra e o bolso
de alguém tinha esvaziado.

— Não, não estou, —respondeu Mae.

30
A mulher deu um passo à frente, seios salientes como Barbarella ,
embora provavelmente ela não tivesse ideia de quem era Jane Fonda
agora, muito menos quem tinha sido a atriz nos anos 60.

— Você precisa dar a porra do fora daqui.

Mae olhou para a calçada rachada em que todos estavam parados. As


ervas daninhas abriram caminho através das costuras, embora tudo
estivesse seco e morto graças ao inverno.

— Não, eu não preciso.

Ao lado da agressora, a outra mulher acendeu um cigarro e parecia


entediada. Como se talvez isso acontecesse muito e o drama de sua amiga
há muito tivesse perdido seu apelo...

— Você vai dar a merda do fora daqui, porra.

Barbarella, uma viajante do espaço do século 41, deve prender o cientista Duran Duran, cuja criação ameaça
trazer o mal novamente à galáxia, depois de séculos que as guerras foram abolidas. Barbarella é um filme franco-italiano de ficção científica de 1968,
dirigido por Roger Vadim e baseado nas histórias em quadrinhos de Barbarella, de Jean-Claude Forest, estrelado por Jane Fonda. Foi gravado nos
estúdios do produtor Dino De Laurentiis, em Roma.

Jane Seymour Fonda é uma atriz, escritora, ativista, modelo, empresária, e autora estadunidense. Ela recebeu vários
prêmios ao longo de sua carreira, incluindo dois Oscars, dois Prêmios BAFTA, sete Globos de Ouro, um Prêmio Emmy, além de um Leão de Ouro
Honorário e o Prêmio Cecil B. DeMille.

31
A Garota do Papy bateu ambas as mãos nos ombros de Mae com tanta
força que foi de cair de bunda, com aterrissagem no chão duro, a única
boa notícia que a alça estragada de sua bolsa aguentou e nada caiu.
Enquanto a descrença atordoada consumia a maior parte do espaço aéreo
no cérebro de Mae, ela olhou para cima.

A Garota do Papy estava parada sobre sua presa, toda super herói
superior, mãos nos quadris, saltos altos plantados em uma postura ampla,
o manto invisível de sua alegria sádica por ter intimidado alguém
acenando sobre seus ombros.

O resto da fila de espera estava olhando, mas ninguém estava vindo


para nenhum resgate, e ninguém parecia tão impressionado com a Garota
do Papy quanto ela mesma.

Mae apoiou a palma da mão no concreto e se empurrou de volta ao


nível, subindo até sua altura—o que, comparado a BRILHANTE de salto
alto, era de status de oprimida e pouco mais.

— Saia daqui, —a mulher sibilou. — Você não pertence.

Aquelas mãos saíram uma segunda vez, acertando o mesmo lugar,


como se fosse um tiro bem praticado, uma habilidade perecível que foi
mantida em ótima forma. Mas Mae também tinha uma prática relevante.
Enquanto ela cambaleava para trás, os braços batendo, os pés dançando

32
sapateado, seu corpo inclinado mais bem preparado para a luta, ela teve
um momento de dormência profunda. Ela não sentiu nada, nem o
equilíbrio ruim, nem o vento criado pelo impulso em seu cabelo, nem a
rápida sucção de ar frio em seus pulmões.

Era uma surpresa que ela conseguisse se segurar.

A Garota do Papy não deu a ela muito tempo para se recuperar. A


mulher correu para frente em um ângulo íngreme, como se ela fosse uma
linebacker ...

O braço de Mae disparou por vontade própria, o galho se


transformando em tronco de árvore. E a fêmea humana correu direto para
a palma da mão aberta com a frente de sua garganta. No instante em que
o contato foi feito, os dedos de Mae se fecharam com força.

Depois disso, veio a resposta.

Mae começou a andar para frente, escoltando a mulher para fora da


calçada. E quando a Garota do Papy lutou para contrariar o movimento
para trás, aqueles saltos pontiagudos prendendo-se ao chão, Mae ajudou
as coisas levantando-a pelo pescoço para que as pernas bem torneadas

Um Linebacker é uma posição do futebol americano e canadense, que foi inventada pelo treinador Fielding Yost da
Universidade de Michigan. Linebackers são membros do time de defesa e se posicionam pelo menos 4 metros atrás da linha de scrimmage, atrás dos
homens da linha defensiva.

33
ficassem penduradas. Enquanto isso, unhas de garras compridas
decoradas com pedras e espirais de rosa arranharam o aperto na traqueia
e não chegaram a lugar nenhum, as pontas se quebrando, uma delas
acertando Mae no queixo e ricocheteando no ar.

Não que ela se importasse. Não que ela realmente tivesse notado.

A garagem foi construída de concreto que tinha sido derramado


corretamente—então suas paredes ofereciam um monte de boas paragens.
Quando Mae bateu a mulher contra a laje, a atitude corporal foi o que
cedeu, respiração explodindo para fora dos pulmões, aqueles cílios
rosados flamejando.

Mas isso não foi de longe o suficiente para Mae.

Ela colocou a mão livre no esterno e ajudou a aumentar a pressão


sobre os ossos das costelas frontais ... que passou para os pulmões ... e,
finalmente, para o coração que batia ferozmente dentro de sua gaiola de
barras de cálcio e colágeno.

Os olhos da mulher humana se arregalaram. Sua jugular passou de


latejante para tremeluzindo. A coloração dela ficou florida como o
revestimento de um celeiro.

Em voz baixa, Mae disse:

34
— Você não me diz a que lugar eu pertenço. Estamos entendidas?

A Garota do Papy balançou a cabeça como se sua vida dependesse


disso. O que era a verdade.

Enquanto isso, na periferia, a fila de espera havia se reorientado de sua


formação de frente para trás para uma ferradura em torno de Mae, e havia
conversas, fracas, porém animadas ...

— Jesus Cristo, vocês sabem que não podem estar fazendo essa
merda!

Membros da multidão foram jogados de lado como bichos de pelúcia


quando um dos seguranças se aproximou. E quando Mae tirou os olhos
da Garota do Papy para dar uma olhada nele, ele parou e piscou. Como
se ele não tivesse certeza de estar vendo isso direito.

Como se uma planta da casa tivesse se transformado em maconha.

Ou uma espécie comedora de gente.

— Senhora, —disse ele em um tom de tudo bem. — O que diabos você


está fazendo aqui?

Mae decidiu seguir o exemplo do cara com os curiosos. Com um


movimento casual do pulso, ela esvaziou seu saco de Garota do Papy e
então recolocou sua blusa e endireitou sua jaqueta.

35
Olhando para o segurança, ela limpou sua garganta.

— Estou aqui para ver o Reverendo.

O segurança piscou novamente. Então ele disse em voz baixa:

— Como você sabe esse nome?

Mae colocou sua bolsa na frente do peito e cobriu-a com os dois


braços—embora a probabilidade de ter sua carteira roubada tivesse ido
seriamente embora. Então ela se aproximou tanto do cara que podia sentir
o cheiro de seu suor fresco, sua colônia desbotada e o produto de cabelo
que ele usava para se certificar de que sua altura estava alta e seu aperto
estava apertado.

Estreitando os olhos, ela baixou a voz.

— Isso não é da sua conta e eu parei de falar. Você vai me levar até
ele agora.

Outra piscada. E então: — Desculpe, não posso fazer isso.

— Resposta errada, —Mae rangeu. — Essa é a porra da resposta


errada.

36
Balthazar, filho de Hanst, tinha sapatos que eram macios como orelhas
de cordeiro em seus pés. Suas roupas colantes eram pretas. Sua cabeça e a
maior parte do rosto estavam cobertos por um gorro de caveira. Suas mãos
estavam enluvadas.

Não que os vampiros tivessem que se preocupar em deixar impressões


digitais.

Enquanto vivia de acordo com todos os mitos silenciosos e


assustadores sobre sua espécie—ou pelo menos aqueles que os humanos
inventavam—ele era uma sombra entre as sombras, sussurrando através

37
dos quartos de teto alto do maior condomínio do Commodore, catalogando
todos os tipos de guloseimas que estavam em exibição na luz fraca.

A porra do triplex era como um museu. Para quem assistiu muito


AHS .

Virando outra esquina e entrando em outra pequena sala com um


tema para seus objetos, ele parou.

— O que ...

Como as outras cápsulas que ele passou como fantasma, esta estava
cheia de prateleiras de vidro. Era o que havia nelas que era uma surpresa—
e considerando que ele passeara por uma sala inteira cheia de instrumentos
cirúrgicos vitorianos, isso queria dizer alguma coisa.

Ah, e então havia os esqueletos de morcego .

— Você foi e comprou um monte de pedras, —ele murmurou. —


Mesmo. Como se você não tivesse nada melhor para fazer com seu
dinheiro.

American Horror Story é uma série de televisão estadunidense antológica de terror criada e produzida por Ryan Murphy e
Brad Falchuk, onde cada temporada narra uma história independente, seguindo um conjunto de personagens e ambientações distintas.

esqueletos de morcegos

38
Através da escuridão, Balz flutuou sobre o chique piso de parquet até
algo que parecia um pão de centeio que tinha sido muito provado. A coisa
tinha formato de ovo com um núcleo semissólido, seus limites externos
cheios de buracos, toda a produção montada em algum tipo de bancada
Lucite . Uma pequena placa de identificação que era escovada de ouro
dizia: Fragmento de Willamette, 1902 .

Cada um dos pedaços parecia ter o nome de um lugar: Lübeck, 1916.


Kitkiöjärvi, 1906. Poughkeepsie, 1968.

Nada disso fazia sentido ...

Dover, 1833.

Balz franziu a testa. E então, antes que pudesse fazer qualquer


matemática consciente sobre a data e o local, o passado o atingiu:

Em Direito, Parquet (do francês: 'local onde ficam os membros do ministério público fora das audiências', através de petit parc,
'pequeno parque', lugar onde aconteciam as audiências dos procuradores do rei, sob o Ancien Régime), designa o corpo de membros do ministério
público. Apesar de o termo não ter referência direta no texto das leis, é de uso frequente no meio jurídico, em despachos e sentenças, quando o juiz
se refere ao representante do ministério público.

Lucite é o nome comercial do polimetil metacrilato. Além disso, esse polímero é forte, resistente e de
peso leve. A densidade desse polímero é menos da metade da densidade do vidro. No entanto, possui maior resistência
ao impacto do que o vidro e o poliestireno. Além disso, este polímero pode transmitir cerca de 92% da luz visível,
portanto, também pode filtrar luz UV com comprimento de onda abaixo de 300 nm.

O meteorito "Willamette", o maior já encontrado nos Estados Unidos, no estado de Oregon. É o sexto maior encontrado no
mundo inteiro. Aqui ele tem um pequeno fragmento desse meteorito.

39
instantaneamente, ele foi sugado para longe do luxuoso e estranho
condomínio, teletransportado pela memória de volta para o Velho País ...
onde ele e o Bando de Bastardos viviam por conta própria nas florestas,
vasculhando por comida, por armas, por mortes lesser. Ah, aqueles
primeiros anos difíceis e emocionantes. Eles tinham estado no oposto de
onde estavam agora, alinhados com a Irmandade da Adaga Negra e a
Primeira Família, ficando em uma grande mansão cinza no topo de uma
montanha, sãos e salvos, protegidos.

Ele sentia saudades de algumas partes das boas noites. Ele não
mudaria nada sobre o presente, no entanto.

Mas ainda assim, em março de 1833, no Velho País, os Bastardos


tinham acabado de sair da caverna rasa em que se refugiaram para evitar
o sol durante o dia. De repente, no alto, um flash de luz brilhante apareceu
em todo o céu noturno, brilhando como uma estrela e crescendo mais com
cada batimento cardíaco, sua cauda uma serpentina de joias brilhantes.

Eles correram de volta para a caverna e se agacharam, os braços sobre


os crânios para proteger cabeças e rostos.

Balz tinha pensado que talvez o mundo estivesse chegando ao fim, a


Virgem Escriba terminando a brincadeira toda com a espécie—ou talvez
o Ômega tivesse descoberto uma nova arma contra os vampiros.

40
A explosão foi próxima, o som do impacto ensurdecedor, o chão
tremendo, partículas de pedra caindo em seus ombros enquanto a
integridade estrutural da caverna era desafiada. Depois disso ... vários
minutos de espera. E então eles saíram e farejaram o ar.

Ferro. Ferro ardente.

Eles seguiram o fedor metálico através das árvores ... para encontrar
um poço fumegante enfumaçado com uma pequena pedra no centro.
Como se uma estranha criatura mística tipo pássaro, tivesse posto um ovo
tóxico.

Balz voltou ao presente e olhou em volta novamente.

Esses eram meteoritos . Todos esses pedaços rochosos de só Deus sabe


o que, haviam viajado pelo espaço e pousado com alarde na terra. Apenas
para serem presos aqui por um colecionador com muito dinheiro e um
caso clínico indiscutivelmente de TOC .

— Encha suas botas ... —Murmurou Balz enquanto continuava.

Ele levou algumas semanas para descobrir esse alvo—leia-se pesquisar


e perseguir as preliminares antecipatórias antes do orgasmo criminoso. O

Um meteorito é a denominação dada quando um meteoroide, formado por fragmentos de asteroides ou cometas ou ainda restos de planetas
desintegrados, que podem variar de tamanho desde simples poeira a corpos celestes com quilômetros de diâmetro, alcança a superfície da Terra,
podendo ser um aerólito (rochoso), siderito (metálico) ou siderólito (metálico-rochoso).
Transtorno obsessivo-compulsivo

41
marido era administrador de um fundo de investimentos—que, para Balz,
evocava imagens de um homem de terno guardando US$27,94 em
aparadores de grama. A esposa era uma antiga modelo—o que significava
que ela ainda era gostosa, só que não era fotografada profissionalmente
agora que tinha um anel nela. Sem surpresa, havia uma diferença de idade
de dezenove anos entre os dois, e dada a expectativa de vida dos humanos,
isso não importaria tanto agora, quando era um caso de final dos anos
cinquenta vs. final dos trinta. Daqui dez anos? Vinte?

Difícil imaginar que aquela mulher com boa estrutura óssea e traseiro
superior fosse encontrar uma dentadura e um andador pelo qual valesse a
pena rolar.

Mas, enfim, quando você era administrador de fundos de


investimentos precisava de uma esposa gostosa. Você também precisava
de alguma flexibilidade imobiliária. Ou seis propriedades, conforme o
caso. Aqui em Caldwell, o cara comprou os três níveis superiores da
metade do Commodore, e o layout do triplex era lógico. O primeiro andar
era composto de grandes espaços públicos para entretenimento—você
sabe, para quando você tinha que jogar cheques-por-canapés em eventos para
apoiar a filantropia local. O segundo nível era esse labirinto de pequenas
salas com suas coleções selecionadas de seixos espaciais, pesadelos de
cutucar e machucar do século XIX—e, ah, sim, aquelas três dúzias de

42
esqueletos de morcegos que eram como modelos de naves só que com
asas.

Balz na verdade quase respeitava o gosto do cara.

Quanto ao terceiro andar? Era isso que ele procurava e, quando subiu
a escada, ascendeu os degraus de mármore em um sussurro. Pinturas a
óleo de Banksy marcavam a parede curva e, acima, um lustre enfeitado
com prismas de cristal de chumbo brilhava silenciosamente, como uma
debutante indisciplinada que foi mandada calar a boca no baile. No nível
da cobertura, o carpete de parede a parede começava, e havia uma
mudança nos aromas aqui, um buquê de flores tingindo o ar com lavanda,
madressilva e a liberdade alegre que acompanhava extratos bancários
grandes e gordos.

Balz seguiu ao longo do corredor, o flutuante tão espesso que era


como caminhar no Wonder Bread , a trilha levando-o por uma fileira
de janelas em arco que deixavam entrar uma visão brilhante dos arranha-
céus e das rodovias de ligação abaixo. A visão das linhas fluidas de faróis

Banksy é um veterano artista de rua britânico, cujos trabalhos em estêncil são facilmente encontrados nas ruas da cidade de
Bristol, mas também em Londres e em várias cidades do mundo.

Wonder Bread é uma marca de pão que se originou nos Estados Unidos em 1921 e foi uma das primeiras a ser vendida pré-
fatiada nacionalmente em 1930. Atualmente a marca é propriedade da Flowers Foods nos Estados Unidos, Grupo Bimbo no México e George Weston
Limited no Canadá e no Paquistão pela Peracha Food. (como o nosso Pão Pulmam)

43
brancos e traseiros vermelhos, juntamente com os arcos brilhantes e
graciosos das pontes gêmeas, era tão cativante que ele teve que parar
um momento para apreciar a paisagem urbana.

E então ele estava em movimento novamente.

O sistema de segurança era o esperado, um conjunto integrado de alto


nível de segurança e anti furto que tinha sido um desafio divertido de
desarmar.

Ei, Vishous não era o único que era útil com a merda de TI , certo?

Foi um momento de orgulho para Balz não ter consultado o Irmão


membro da Mensa sobre o desarmamento de todos os detectores de
movimento, contatos de porta e sensores com mira a laser do local. E o
facto de Balz fazer o trabalho de desarmar por conta própria fazia parte
das regras que estabeleceu para si mesmo. Esses humanos com seus
objetos portáteis de valor eram alvos fáceis para um ladrão como ele: para
todos os efeitos e propósitos, em qualquer casa concebível, condomínio,
apartamento, iate, bunker, qualquer coisa, ele poderia simplesmente
desmaterializar-se através de uma janela de vidro, colocar os habitantes

Tecnologia da Informação é um conjunto de todas as atividades e soluções providas por recursos de computação que visam a produção, o
armazenamento, a transmissão, o acesso, a segurança e o uso das informações.
A Mensa é a maior, mais antiga e mais famosa organização de alto QI do mundo. A palavra Mensa significa “mesa” em Latim, como é simbolizada
no logotipo da organização, e sua marca foi criada de forma a demonstrar a natureza de mesa-redonda da organização: a união de iguais.

44
para dormir mentalmente e usar o desconto de cinco dedos para levar o
que quisesse, quando quisesse.

Mas isso era como sentar-se no Monopoly com um conjunto de soco


inglês. Se você pudesse apenas nocautear seu oponente, agarrar todos os
hotéis e casas, todo o papel-moeda e todas as propriedades? Bem,
parabéns. Você apenas joga os dados e move seu sapatinho pelo tabuleiro
pelas próximas setenta e cinco mil rodadas, jogando com você mesmo.

O desafio estava nas constrições. E, no caso dele, ele aplicava todas as


limitações humanas a si mesmo: ele não tinha permissão para fazer nada
que aqueles ratos sem cauda não pudessem. Essa era a única regra, mas
tinha muitas, muitas implicações.

OK tudo bem. Ele também traia às vezes.

Só um pouco.

Mas ele era um ladrão, não um padre, pelo amor de Deus.

Indo em frente, ele não estava interessado no conteúdo de quartos de


hóspedes vazios. Na verdade, todo o condomínio, incluindo o(s) quarto(s)
do pânico para o qual ele estava indo, estava vazio. Ele pretendia entrar

Monopoly (em Portugal, Monópolio; no Brasil, Monopoly) é um dos jogos de tabuleiro mais populares do mundo, em que
propriedades como bairro, casas, hotéis, empresas são compradas e vendidas, em que uns jogadores ficam "ricos" e outros vão à falência.

45
quando o feliz casal estivesse marcando o tempo no local—porque os
proprietários eram muito mais desafiadores quando eles estavam, você
sabe, em casa—mas ele estava em rotação com a Irmandade e o Sr. e a
Sra., viajavam uma grande parte do tempo. Ele só teve que esperar que as
estrelas se alinhassem.

A instituição de caridade animal para a qual ele estava dando o


dinheiro precisava se reconstruir depois daquele incêndio. Felizmente,
nenhum dos cães ou gatos foi morto, mas sua ala médica foi atingida ...

O que. Então ele era um otário para coisas de quatro patas. Além
disso, ele não precisava do dinheiro e ter um propósito para tirar era o que
tornava tudo mais do que um roubo para passar o tempo.

A suíte master era um apartamento dentro do condomínio, uma


concentração de super chiques e ultraprivados que incluía uma área de
cozinha separada, seu próprio terraço e uma combinação banheiro / closet
do tamanho da casa da maioria das pessoas. E eles seguiram totalmente o
exemplo de 2002 de Jodie Foster . A coisa toda travava no caso de
infiltração de alguém com patrimônio líquido inferior a US$40 milhões
ou, se fosse mulher, com a relação cintura / quadril inferior a 0,75.

Refere-se ao filme de 2002 ‘O Quarto do Pânico’. Alicia Christian "Jodie" Foster é uma atriz, diretora e produtora de cinema
norte-americana.

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Padrões, você sabe.

Ao cruzar para a Zona do Grande Homem, ele parou e ouviu todo o


silêncio. Deus, como isso era chato. Ele realmente teria preferido esperar
que o Sr. e a Sra. estivessem em casa.

Chegando a uma arcada, ele olhou para a cozinha. Era árida como
uma sala de cirurgia e igualmente aconchegante, tudo de aço inoxidável e
profissional. Então, novamente, não era como se houvesse jantares em
família acontecendo. A Sra. original do Sr. e seus filhos, gerados antes de
ele ganhar seu primeiro bilhão, foram descartados como um mau
investimento. Não havia mais uso para coisas aconchegantes.

Elegante e bonita, fria e moderna.

Como a nova esposa, a nova vida.

Balz continuou indo. O quarto de vestir tinha duas entradas, uma pelo
quarto e outra por um corredor raso para os criados. Parecia apenas
educado escolher o último, considerando que ele estava cometendo um
roubo no local, e ficou surpreso ao descobrir coisas trancadas. Sem
problemas. Tirando seu kit de ladrão, ele estava dentro como Flynn em
menos de um minuto, e quando ele entrou na coleção de ternos, gravatas,

Michael Thomas Flynn é um general aposentado do Exército dos Estados Unidos que serviu brevemente como Conselheiro de
Segurança Nacional nos primeiros vinte e dois dias do governo de Donald Trump.

47
vestidos e acessórios dignos de Neiman-Marcus , ele respirou fundo. Ah.
Então essa era a fonte da fragrância que permeava o andar de cima, e sim,
se dinheiro tivesse cheiro, seria esse. Inebriante, forte o suficiente para ser
notado, mas não avassalador ... florido, mas com o peso sério de colônia
masculina sofisticada.

E merda, era uma maravilha que o Sr. e a Sra. ainda tivessem alguma
coisa sobrando no banco, considerando todos esses itens.

Atrás de vidraças, assim como as vitrines do andar de baixo, hastes


suspensas foram colocadas em todos os níveis, como se centenas e
centenas de milhares de dólares em roupas fossem perecíveis se deixadas
ao ar livre. Havia também um corredor central de noventa centímetros de
comprimento com cômodas duplas, dele e dela.

Hora da festa.

Assobiando por entre os dentes da frente, ele sapateou enquanto se


concentrava no compartimento que guardava o conjunto de smokings do
homem do apartamento. Abrindo o vidro, Balz deu uma de Moisés e o Mar
Vermelho pelos ombros das jaquetas de seda fina. A parede que foi

Neiman Marcus Group, Inc., originalmente Neiman-Marcus, é uma rede americana de lojas de departamentos de luxo de propriedade do Neiman
Marcus Group, com sede em Dallas, Texas.

Moisés; foi um dos profetas mais importantes do Judaísmo e do Cristianismo, igualmente reconhecido pelo Islamismo. Foi um
líder religioso, o segundo juiz de Israel, legislador e profeta, a quem a autoria da Torá é tradicionalmente atribuída

48
revelada era lisa—exceto pelo contorno quadrado que, se você não tivesse
visão de vampiro ou os detalhes da localização do abrigo, você não teria
notado.

Exibindo uma CPU do tamanho de um copo grande de café, ele


digitou alguns comandos no teclado do BlackBerry . Então ele colocou a
unidade contra a parede. Houve alguns sons de zumbido, um baque e um
assobio ... e, em seguida, o painel se retraiu para revelar uma face segura
de noventa por noventa centímetros com um mostrador da velha escola—
que tinha sido uma boa surpresa quando ele invadiu o sistema de alarme
para verificar quantos e onde estavam seus contatos.

Ele respeitou a escolha analógica. Porque, ei, você não poderia invadir
a maldita coisa pela web, e ao girar o botão um pouco, ele reconheceu que
teria dificuldade em entrar, mesmo com um maçarico e algumas horas.

Então, sim, era hora de contornar suas regras.

Quando ele acionou a fechadura não-cobre com sua mente, a fácil


rendição dos parafusos internos fez com que ele se sentisse como se

BlackBerry é uma empresa canadense de produtos wireless mais conhecido pela produção do equipamento de
telecomunicação handheld BlackBerry e pelo tablet BlackBerry PlayBook. Em 30 de janeiro de 2013 a empresa mudou de nome, junto com a
apresentação de sua nova plataforma móvel.

49
estivesse sentado em um BarcaLounger comendo Doritos por duas noites
seguidas: ele se sentia inchado pela facilidade e entorpecido pela falta de
desafio.

Haveria outras noites para ser testado, ele disse a si mesmo.

Quando a porta do cofre se abriu, uma pequena luz se acendeu lá


dentro e iluminou os tipos de guloseimas que ele esperava. O interior
também tinha—como esperado—prateleiras transparentes, e tudo nelas
estava separado por—surpresa!—tipo: havia dinheiro em pilhas que estavam
unidas, lembrando-o por algum motivo, de beliches. Havia uma caixa cheia
de relógios balançando para frente e para trás, jet-setters dançando uma
música inédita. E havia um monte de estojos de couro para joias.

Era por isso que ele estava aqui.

Com essa nota, ele pegou o de cima. A coisa era maior do que sua
palma, grande e bonito e coberto com couro vermelho com uma borda
dourada em relevo. Cavando no fecho com o polegar, ele abriu a tampa.

Balz sorriu tanto que suas presas apareceram.

Um Barcalounger é um tipo de poltrona reclinável fabricada nos Estados Unidos da América e o nome
da empresa que a fabricou.

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Mas a felicidade-felicidade-alegria-alegria não durou enquanto ele
contava as caixas ainda deixadas dentro. Havia outras seis e, por algum
motivo, aquela meia dúzia de oportunidades adicionais o exauriu. Em
outra época de sua vida, ele teria examinado cada uma e escolhido a mais
valiosa. Agora ele simplesmente não dava a mínima. Além disso, o que
ele tinha era Cartier , e o peso do diamante estava na faixa de quarenta a
cinquenta quilates com corte, cor e clareza excelentes. Como se ele
precisaria de mais?

E não, ele não iria pegar todas elas. Sua regra era uma, e apenas uma
coisa, de qualquer infiltração. Podia ser um objeto, um monte de coisas
em um contêiner ou um conjunto que estava de alguma forma frouxa, mas
tangível, ligado entre si.

De volta ao Velho País, por exemplo, ele roubou uma carruagem com
quatro cavalos Gray perfeitamente combinados sob aquela pequena
norma.

Então, ele estava ficando com o Cartier e deixando o resto para trás.

Cartier SA ou Cartier, é uma empresa francesa multinacional que produz objetos de luxo, como relógios e jóias. Foi criada em Paris, em 1847,
por Louis-François Cartier, e tornada célebre por seu filho Louis Cartier.

Gray Horse - Um cavalo cinza tem uma cor de pelagem caracterizada pela despigmentação progressiva dos pelos
coloridos da pelagem.

51
Ficando de pé, ele fechou a porta do cofre e tornou a trancá-la. E bem
quando ele estava se perguntando se teria que pegar sua pequena e
confiável caixa 007 novamente para fechar o painel, a seção da parede
desceu e se encaixou no lugar automaticamente.

Por um momento, tudo o que ele pôde fazer foi olhar para a pedra
branca vazia entre o mar pareado dos paletós do smoking. Fechando os
olhos, ele sentiu um vazio que ...

— O que você está fazendo?

Ao som da voz feminina, Balz se virou. Parada na porta que dava para
o quarto, a Sra. do triplex estava diretamente sob uma das luminárias do
teto—o que significava que sua camisola diáfana era totalmente
translúcida.

Bem, Sr. administrador de fundos de investimento, Balz pensou, você


certamente se saiu bem no altar.

— O que você está fazendo aqui? —Balz foi para trás com um sorriso
lento. — Vocês dois deveriam estar em Paris .

Paris, a capital da França, é uma importante cidade europeia e um centro mundial de arte, moda,
gastronomia e cultura. Sua paisagem urbana do século XIX é cortada por avenidas largas e pelo rio Sena. A cidade é conhecida por monumentos
como a Torre Eiffel e a Catedral de Notre-Dame, uma construção gótica do século XII, sendo famosa também pela cultura dos cafés e por lojas de
estilistas famosos na Rue du Faubourg Saint-Honoré.

52
Enquanto Ralphie fechava o zíper da calça e Chelle se reorganizava sob
a saia, ele estava alerta, mas não zunindo, o orgasmo havia diminuído a
coca. Travando seus molares, ele enrolou os braços e apertou todos os
músculos da parte superior do corpo, a torção curvando sua coluna para
frente, seus lábios saindo dos dentes da frente, seus ossos dobrando.

O som que ele fez trouxe os rostos de sua equipe rodarem.

— Ele está pronto! Ele é o monstro!

Naquele momento, como se os “oficiais” estivessem esperando que ele


estourasse o saco, a buzina de ar soou na extremidade do nível da
garagem.

Sua equipe começou a cantar e Chelle se aproximou e se apoiou nele.


Ele beijou sua testa e disse eu amo você baixo o suficiente para que
ninguém além dela ouvisse. Então ele caminhou para frente, seus meninos
formando uma lança de corpos à sua frente, Chelle na retaguarda. Quando

53
eles penetraram na multidão, as pessoas saíram de seu caminho, os
aplausos atingindo doloridos volumes que teriam chamado à atenção—se
alguém estivesse em qualquer lugar perto desta parte de merda da cidade.

Por dentro, Ralphie estava sorrindo. Lá fora, ele era só foda-se.

O Reverendo havia combinado essa luta três dias antes, com um


morador de fora da cidade que não tinha registro e um nome do qual
ninguém ouvira falar. Então isso ia ser um maldito pedaço de bolo, porra.

— Monstro! Monstro!

Sua equipe estava gritando seu nome, e a multidão percebeu e


carregou a bola. E mesmo sabendo que ela estava assistindo, ele teve que
olhar para trás para ter certeza de que Chelle estava vendo isso. Ela estava.
Seu queixo estava abaixado, mas seus olhos estavam nele, e ela tinha um
sorriso secreto no rosto que o fazia se sentir mais alto do que era. Mais
espesso do que ele era. Mais forte do que ele era.

Ela era sua fonte de força.

Porque ele queria ver aquela pequena felicidade no rosto dela o tempo
todo.

Ralphie se recompôs e voltou a se concentrar nos corpos que estavam


saindo do caminho para ele. Quando ele se aproximou da área de

54
combate, ele entrou em um campo de iluminação pálida, iluminado pelas
luzes dos poucos carros que haviam sido autorizados a passar pelas
barricadas no nível da rua. A multidão começou a ficar ainda mais maluca
quando o viram melhor, e ele fingiu que estava na WWE e prestes a
quebrar uma caveira no ringue.

Mesmo que tudo o que ele tivesse fosse um círculo vermelho pintado
com spray no concreto manchado.

Havia dois círculos, na verdade, o interno com cerca de quatro metros


e meio de largura, o externo fornecendo uma proteção de um metro e meio
em que a multidão não deveria entrar—mas sempre entrava no final das
lutas. No início, eles seguiam as regras, então ele deixou sua equipe para
trás enquanto ele entrava sozinho na zona de briga.

Sob suas botas, as manchas de sangue seco da luta da semana anterior


eram da cor de lama, e ele estalou os nós dos dedos enquanto andava de
um lado para o outro, seu coração batendo forte enquanto se lembrava de
quebrar o nariz e arrancar aqueles dentes. Enquanto ele se animava, a
multidão—até mesmo seus meninos e Chelle—desapareceu para ele.

WWE é uma empresa de entretenimento americana conhecida por trabalhar com luta livre, além da produção de filmes, músicas, licenciamento
de produtos e vendas de produtos diretos.

55
Tudo se foi. Ele estava em si mesmo e por si mesmo. Em si mesmo, de si
mesmo. Em si mesmo ...

Quando o mantra começou a se repetir e repetir, um trem agarrando


seus trilhos, o ímpeto criando seu próprio tipo de onda, ele afundou seu
peso nos joelhos e foi de bota em bota com seu peso. Punhos erguidos,
bíceps curvados, olhos mal piscando, ele se concentrou em todo o círculo,
no anel de corpos que ainda não haviam se separado para revelar seu
oponente.

Saltando.

Respirando.

Saltando.

Respirando ...

Depois de um minuto e meio dessa merda, Ralphie ficou impaciente


pra caralho. Que porra é essa. Onde estava o filho da puta? Foda-se, bunda
de fora da cidade ...

De repente, as pessoas na frente dele começaram a vibrar como se


estivessem desconfortáveis, cabeças balançando para frente e para trás
como se algum tipo de merda estivesse acontecendo. E então eles estavam
se movendo muito rápido, alguns rasgando na confusão.

56
Jesus, é melhor ninguém mostrar uma maldita arma ...

Uma rampa de nove metros de comprimento foi formada pelos corpos


excitados, o corredor bagunçado indo do círculo de luta para a passagem
aberta distante. No fim? Um lutador que estava sozinho, olhando para
longe de tudo, de todos, seus ombros pesados recortados contra o brilho
de aço frio da cidade.

O salto de Ralphie parou. Seu coração deu um pulo.

Mas então uma mulher vestida como Karen tropeçou na zona de


segurança e olhou em volta com olhos esbugalhados, como se ela não
tivesse a menor ideia de onde estava.

Ignorando-a, Ralphie chutou a própria bunda. Que porra é essa. Ele


era o covarde aqui? Esse cara não era diferente de qualquer outro idiota
grande. O bastardo se virou? Ele provavelmente era mais gordo do que o
tio Vinnie.

Foda-se ele ...

O relâmpago veio do nada, o flash tão brilhante que transformou o


interior da garagem em meio-dia. E quando as pessoas na multidão, e até
mesmo sua equipe, colocaram os braços sobre as cabeças e se agacharam,
Ralphie não fez nada.

57
Ele apenas ficou ali.

E mediu a tatuagem que cobria as costas enormes e musculosas do


outro lutador. O preto e branco era uma porra de um crânio enorme, a
coroa de osso na nuca, a mandíbula com seus dentes afiados na cintura. E
embora os globos oculares estivessem desaparecidos, todos apodrecidos
pela morte, o mal irradiava dessas órbitas negras.

Lentamente, o lutador se virou.

Ralphie enrubesceu e não conseguia respirar. Enquanto seu oponente


sorria como se ele fosse um serial killer encarando sua próxima vítima, seus
dentes pareciam longos demais. Principalmente os caninos.

Vou morrer esta noite, Ralphie pensou com uma convicção absoluta que
nada tinha a ver com a paranoia da coca.

Era mais como se a mão ossuda do Grande Ceifador tivesse pousado


em seu ombro ... e fechado seu aperto de reivindicação. Para sempre.

O que estava prestes a vir para ele era um monstro real.

58
Mae passou pelos seguranças no nível do solo. Claro que ela passou. E
ela conseguiu isso sem recorrer a uma repetição das táticas da Garota do
Pap—embora ela tivesse que partir para o físico se precisasse fazer isso, e
como uma vampira, ela poderia ter derrubado qualquer um daqueles
homens na barreira de entrada. Era mais eficiente, no entanto, apenas
girar os interruptores nos cérebros humanos e entrar como se ela
pertencesse, um pimentão entre os cristais Swarovski .

E agora ela estava aqui em cima, amontoada em um emaranhado de


humanos vestidos para se exibir, seus ombros batendo nos dela, seus
cheiros invadindo seu nariz como dedos a apunhalando, seu canto
excitado uma fumaça tangível e nociva engrossando o ar e obstruindo seus
pulmões. Atacada pela miserável sobrecarga sensorial, seu cérebro tentou
se elevar, mas sua consciência era como um globo de neve, toda agitação
rodopiante obscurecendo a peça central.

Onde estava o Reverendo?

Obrigando-se a se acalmar, ela tentou enviar seus instintos para fora.


Ela não tinha ideia de como o homem parecia, qual era seu nome

Swarovski (De-at Swarowksi.ogg [svaˈʀɔfski] (ajuda·info)) é uma empresa controlada pela companhia Swarovski AG, a detentora da marca, e
que está situada em Wattens, na Áustria.

59
verdadeiro. Mas os vampiros podiam localizar vampiros, e ela não iria
embora até que o encontrasse ...

A multidão mudou abruptamente, os humanos se movendo como


gado assustado na área de concreto do estacionamento—e enquanto
ela tentava fugir de qualquer comoção que estivesse acontecendo, de
repente ela encontrou todos os tipos de espaço ao seu redor. Ela estava
totalmente sozinha.

Olhando para baixo, como se talvez houvesse uma bomba em uma


pasta que ela de alguma forma tivesse perdido, ela viu duas linhas
vermelhas pintadas com spray. E quando ela olhou para cima, ela
descobriu que estava no início de uma longa pausa no amontoado de
corpos ...

Mae perdeu todo o fôlego dos pulmões.

O tempo diminuiu. As pessoas desapareceram. Ela nem tinha certeza


de onde estava mais.

O vampiro na extremidade do estacionamento, que estava voltado


para a noite, era extraordinário ... e aterrorizante ...

Antes que ela pudesse formar qualquer pensamento adicional, uma


luz cegante irrompeu em todos os lugares.

60
O céu noturno se inundou com uma iluminação tão brilhante, tão
vasta que era como se a Virgem Escriba tivesse voltado sua ira sobre a
própria terra. E então veio a explosão. Qualquer impacto que tenha
ocorrido foi tão devastador que um flash ainda mais intenso permeou o
estacionamento, a luz branca invadindo por todos os lados e assumindo o
controle como um trovão distante reverberando por toda a cidade.

No entanto, apesar de tudo isso, Mae só tinha olhos para o macho.

Aquela tatuagem da morte em suas costas largas era uma coisa de


horror, e ela teve a sensação de que ele ...

O lutador se virou e ela engasgou. Ele tinha ombros grandes com


músculos e coxas mais firmes do que o concreto em que ele estava. Seu
peito nu era igualmente tatuado, a paisagem com tinta preta e cinza sobre
seus peitorais e abdominais retratando uma mão ossuda saindo de seu
torso. Como se ele fosse o canal pelo qual Dhunhd reivindicasse o que lhe
era devido.

— Vá para trás!

Mais uma vez, Mae se concentrou no fato de que ela estava sendo
abordada.

Mas então uma mão agarrou seu braço—e por uma fração de
segundo, seu cérebro disse a ela que era aquela garra do lutador vindo para

61
ela. Com um grito, ela saltou—e antes que pudesse recompor a realidade,
foi arrastada de volta.

— Você está na porra da zona de segurança, —retrucou o homem. —


E acredite em mim, você vai querer sair do caminho disso.

Não havia dúvida do que o cara estava falando, e Mae colocou os


braços em volta da cintura, embora ela não fosse o alvo de ninguém. E
quer o oponente do vampiro estivesse pronto ou não, quer a multidão
pudesse lidar com o que estava para acontecer, o macho começou a se
aproximar, uma ameaça com botas pesadas que aterrissou como se
estivesse dominando Caldwell inteira. Com o queixo abaixado e seu olhar
desagradável para frente, sua sobrancelha pesada e sua expressão brutal
tornavam impossível dizer a cor de seus olhos, mas na medula de seus
ossos, ela sabia que eles eram negros. Negros como a alma depravada que
habitava dentro daquele corpo impressionante e poderoso.

Quando uma sensação doentia de pavor percorreu Mae, ela tentou se


afastar ainda mais, mas os corpos atrás dela estavam muito juntos. E então
ela percebeu. Quem diabos estava lutando contra o macho?

Ela mudou a cabeça na outra direção.

— Oh Deus ...

62
O humano que estava prestes a ser comido como uma refeição era
centímetros mais baixo e cem quilos mais leve, e estava claro, pela
expressão nua de medo em seu rosto magro, que ele sabia que estava em
apuros. Ele também tinha tatuagens, mas eram uma mistura de diferentes
escritas, símbolos e cores de tinta, a coleção aleatória não mais
coordenada do que a que caíra de sua bolsa na noite anterior. E ela
imaginou, passando por seus olhos arregalados e dilatados, que seus
pensamentos não eram mais organizados do que suas marcas.

Mae queria dizer a ele para correr. Mas ele já sabia que escapar era o
melhor para ele. Ele estava checando atrás dele como se estivesse
avaliando sua trajetória de vôo—mas por algum motivo, ele se afundou
em uma postura de combate e ergueu os punhos ossudos até as bochechas.
Enquanto sua cabeça e ombros se inclinavam para frente, o resto de seu
corpo arqueava para trás em seus quadris—como se seus órgãos vitais não
quisessem fazer parte disso.

E ainda assim o vampiro continuou vindo.

O macho parou apenas quando ele estava dentro do círculo interno


instável que tinha sido pintado com spray no concreto—e ao contrário do
humano, ele não se preparou para a agressão. Ele apenas olhou para o
homem com os braços caídos ao lado do corpo e a coluna reta como um

63
carvalho. Nenhum punho foi feito. Nenhuma investida sugerida ou
iniciada.

Então, novamente, ele era um predador tão mortal que não precisava
de defesas nem de ofensas. Ele era uma lei da física, inegável e inevitável.

Enquanto a multidão ficava em silêncio e os dois lutadores se


tornavam um quadro à beira de uma surra, Mae se viu olhando para o
peito nu do macho. Havia algo cativante na maneira como a mão ossuda
se movia enquanto ele respirava com inalações calmas e controladas.
Enquanto isso, do outro lado do círculo, o humano esperava por um
ataque com uma série de saltos e pulos nervosos. Quando nada veio para
ele, seus olhos olharam ao redor. A multidão estava ficando inquieta e o
homem parecia compelido por sua impaciência. Ele se aproximou com
cautela, o macho não se movendo em resposta. E então o humano deu o
primeiro soco, o ângulo para cima e buscando aquela mandíbula pesada
...

O macho pegou aquele punho nodoso em sua palma muito maior e


torceu o braço como uma corda. Quando o humano soltou um grito e caiu
de joelhos, a multidão engasgou e ficou imóvel novamente.

— Pare, —disse Mae baixinho. — Pare com isso ...

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A expressão do vampiro nunca mudou. Nem sua respiração. E ambos
faziam sentido. Ele era um assassino que não estava se esforçando.

Sem nenhuma preocupação no mundo, ele forçou o humano de costas


e montou na presa. O homem pareceu momentaneamente incapacitado
de terror. Isso mudou. Alguma engrenagem clicou em sua cabeça e ele
começou a chutar, sua perna pequena o suficiente para dobrar e socar seu
pé na área da virilha. O vampiro saltou fora de alcance—e desceu com um
conjunto de nós dos dedos voltados para o rosto que mal foram evitados
com um giro. O concreto rachou com a força do impacto do soco e o
humano voltou a ficar de pé. Seu equilíbrio estava ruim, e seu
oponente maior tirou proveito disso, agarrando o outro braço, girando-o e
puxando-o de volta contra aquele peito enorme.

Não o morda! Mae pensou. Você é louco? Com todos esses humanos ...

Exceto que o humano era aquele que afundava os caninos na pele,


seus dentes achatados travando no antebraço. Isso não durou muito. O
vampiro arrancou a mordida, embora a carne fosse embora com aquela
boca, e então ele deu um soco pela segunda vez.

O impacto na lateral do crânio deixou o humano inconsciente, o corpo


magro caindo sem ossos no concreto, uma piscina mantida unida apenas
por aquele saco de pele tatuado desleixadamente.

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O sorriso do vampiro voltou.

Lento. Mal. Mortal.

Com apenas uma sugestão de presas.

Quando o humano começou a mover seus braços e pernas como se


não tivesse certeza de que ainda estavam presos, o homem se abaixou e
esperou que a consciência fosse totalmente retomada. Porque,
obviamente, não bastava matar. Você tinha que matar suas vítimas apenas
quando elas sabiam que você estava tirando a vida delas ...

De repente, tudo que Mae podia ver era seu irmão. Rhoger era quem
estava sob a ameaça. Rhoger era o mais fraco dos dois prestes a ser
atingido. Rhoger estava prestes a morrer ...

— Não! —Ela gritou. — Não o machuque!

Dado o silêncio chocado da multidão, sua voz ecoou por todo o nível
do estacionamento e algo sobre isso—o alcance? o tom?—fez o vampiro
ficar atento. Então aquele rosto terrível se virou para ela, e aqueles olhos
horríveis se estreitaram.

O coração de Mae parou.

— Por favor, —disse ela. — Não o mate ...

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Do nada, o punho do humano golpeou com um soco frágil que mais
uma vez errou o alvo daquela mandíbula proeminente.

Exceto que então veio o sangue.

Um gotejamento. Um jorro.

Um gêiser.

Da garganta do vampiro.

Confusa, Mae olhou para a mão que havia feito o golpe frágil—e algo
prateado brilhava nas mãos do humano. Uma faca.

Quando a chuva vermelha caiu na garganta e no peito do homem,


quinhentos pares de sapatos e saltos altos dispararam, a multidão correndo
para a escada. Enquanto isso, o humano parecia chocado com seu
sucesso. Quanto ao vampiro? Sua expressão ainda não havia mudado,
mas não porque ele não soubesse de seu ferimento mortal. Ele tocou a
segunda boca que havia sido aberta na lateral de sua garganta e, em
seguida, trouxe seus dedos brilhantes para o campo de visão.

Na verdade, ele estava apenas irritado ao se inclinar para o lado. Caiu


de joelhos. Apoiou a mão no concreto para não desabar totalmente.
Enquanto isso, claramente inseguro se ele estava livre de perigo ou não, o
humano se contorceu e saiu correndo.

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Mae olhou para o vampiro. Em seguida, olhou para a escada, que
estava entupida de corpos tentando sair do estacionamento, da
vizinhança, do estado.

— Merda, —ela murmurou enquanto grogolejos se erguiam do


macho.

Não se envolva, ela disse a si mesma. Sua primeira e única preocupação é


Rhoger.

Exceto que ela queria ajudar. Inferno, ela se sentiu responsável porque
ela distraiu o vampiro—e essa foi a única razão pela qual o humano
sobreviveu, a única razão pela qual o macho não iria.

Mas seu irmão precisava dela mais do que esse estranho violento.

O macho fez um som.

— Eu não posso te ajudar, —ela disse em uma voz rachada.

O macho lutava para falar e, enquanto tossia sangue, ela olhou ao


redor ... e então se ajoelhou ao lado dele. Não havia equivalente 911 para
vampiros, e mesmo se houvesse, ele estava perdendo sangue muito rápido
para qualquer tipo de ambulância—ou mesmo um curandeiro que pudesse
se desmaterializar para ele. Além disso, para quem ela poderia ligar?

Talvez o número da Casa de Audiências do Rei?

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Não. Havia regras contra a fraternização com humanos, algumas das
quais ela tinha certeza que impediam lutar no subsolo em um mar de Homo
sapiens e tentar matar membros daquela espécie na frente de
centenas daqueles ratos sem cauda. Se ela chamasse o povo do Rei, ela e
este vampiro estariam em apuros.

E Rhoger tinha que vir primeiro.

— Existe alguém que eu possa chamar para você ...

— Vá, —disse ele entre respirações difíceis. — Você deve me deixar.


Salve-se!

A voz dele era muito profunda e realmente áspera, e quando ela não
respondeu, seus olhos focaram nela com um brilho que atingiu a parte de
trás de seu crânio.

— Pelo amor de Deus, fêmea, cuide de si mesma.

Era a última coisa que ela esperava que ele dissesse e, quando ele
repetiu as palavras tensas, Mae se levantou e cambaleou para trás.
Enquanto ela se afastava, o olhar duro dele a rastreou, mesmo que ela não
tivesse certeza de que ele a estava vendo.

— Vá, —ele ordenou, apesar do sangue saindo do lado de seu


pescoço. — Vá!

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— Eu sinto muito ...

— Como se eu desse a mínima!

Tremendo da cabeça aos pés, Mae fechou os olhos e tentou se


concentrar.

Quando ela finalmente foi capaz de se desmaterializar, os sons


gorgolejantes do vampiro moribundo a assombraram. Mas ela tinha seus
próprios problemas e ele estava certo. Ela tinha que cuidar de si mesma.
Seu irmão estava dependendo dela.

Além disso, se você vivia pela luta, você morria pela luta.

Era um fato do destino, e não algo que alguém como ela pudesse
tentar mudar.

70
— Como você sabia que deveríamos estar em Paris?
Enquanto a Sra. do triplex apresentava a questão razoável a Balz, ele
se viu totalmente distraído com a aparência dela sob a luz do teto. Aqueles
seios dela estavam ... com pontas apertadas porque estava um pouco frio
... e aquela seda fina e ligeiramente transparente era quase melhor do que
completamente nua.

Porque dava a um homem um trabalho a fazer. Devagar. Com sua


língua.

Enquanto ele fazia um curta metragem dos dois juntos em sua cabeça,
a Sra. começou a falar com ele novamente, sua boca se movendo, sua
expressão expectante, mas não alarmada. Cortesia das imagens na mente

71
de Balz, no entanto, tudo o que ele ouviu foi a frase de Teri Hatcher
daquele episódio de Seinfeld : Eles são reais e são espetaculares.

— ... você?

— O que? —Balz murmurou. — Sinto muito, estava distraído.

— Você está levando isso. —A Sra. apontou para a caixa de joias


Cartier. — Na sua mão.

— Sim, —disse ele com um aceno de cabeça. — Eu estou.

— Oh. —Sua expressão ficou remota. — Meu marido comprou esse


colar para mim há um ano. Para o nosso aniversário.

— Você quer que eu pegue outra coisa, então?

Depois de um momento, ela balançou a cabeça.

— Não. Isso está bom.

Teri Lynn Hatcher é uma atriz americana. Com uma carreira artística bastante voltada para as produções televisivas, Teri começou
a ganhar notoriedade em 1985, dando vida à personagem Penny Parker, amiga do herói vivido por Richard Dean Anderson, na série MacGyver.

Seinfeld é uma sitcom exibida originalmente nos Estados Unidos pela rede NBC por nove temporadas, entre 5 de julho
de 1989 e 14 de maio de 1998. Foi criada por Larry David e Jerry Seinfeld, este último estrelando o programa como uma versão fictícia de si mesmo.
Situado predominantemente em um prédio de apartamentos no Upper West Side de Manhattan (mas filmado em grande parte em Los An geles),
Seinfeld apresenta um grupo de amigos e parentes de Jerry, entre eles George Costanza, Elaine Benes e Cosmo Kramer.

72
Balz sorriu um pouco mais.

— Você pensa que está sonhando, não é?

A Sra. sorriu de volta. — Eu ficaria apavorada de outra forma.

— Eu não vou te machucar.

— Mas você é um ladrão, não é?

— Ladrões roubam objetos. —Ele bateu na caixa da joia. — Nós não


machucamos pessoas.

— Oh, isso é bom. —Os olhos dela foram para a boca dele. E então
continuaram descendo em seu peito. Seus abdominais. Eles
permaneceram em seus quadris ... como se ela estivesse se perguntando
exatamente o que estava por trás de sua braguilha e o quão bem ele poderia
usá-la. — Isso é realmente bom. Sim.

— Diga-me uma coisa, seu marido está aqui? —Balz murmurou


enquanto sentia seu corpo se mexer em lugares que haviam sido
terrivelmente subutilizados ultimamente.

— Não. Ele está em Idaho .

O Idaho é um dos cinquenta estados dos Estados Unidos, localizado na Região dos Estados das Montanhas Rochosas.
Limita-se ao norte com a província canadense de Colúmbia Britânica, ao sul com o Nevada e o Utah, a leste com o Montana e o Wyoming, e a oeste
com Washington e Oregon.

73
Balz pestanejou.

— Idaho? É por isso que vocês não foram para a França?

— Idaho é mais importante. Mesmo que seja nosso aniversário esta


noite.

— Eu não consigo entender essa matemática.

— Ele tem uma empresa sediada lá. É uma empresa de manufatura.


Eles precisam de muito espaço e o valor do terreno é muito razoável. Ele
tem seu próprio avião e eles têm uma pista para ele. —Abruptamente, seus
olhos baixaram. — Mas os negócios não são o motivo pelo qual ele
realmente está indo lá.

— Por que ele está indo?

— Ele tem ... uma amiga. Em Idaho.

— Que tipo de amiga. —Quando ela não deu mais detalhes, Balz
murmurou: — Esse homem é um idiota.

Aqueles lindos olhos escuros voltaram para os dele e as mãos dela,


graciosas e preocupadas, foram para o corpete de sua camisola.

— Você acha?

74
— Acho o que? Que ele está perdendo, não estando com você? Porra,
sim ... —Balz estendeu a mão livre para a frente. — Desculpe meu francês.

Quando a Sra. corou levemente e olhou para baixo novamente, foi


além da tristeza que essa linda mulher precisava ser tranquilizada por um
ladrão. Então, novamente, quem melhor para determinar o valor?

— Então ele está em Idaho. —Balz nunca gostou tanto de um estado.


— Que bom, especialmente nesta época do ano.

A Sra. ergueu os olhos.

— Oh, não, o tempo é horrível no início da primavera.

— Eu discordo. Acho que o tempo está perfeito para ele. —Que o


bastardo tenha queimaduras de frio no pau. — Assim como as coisas estão
melhores para você aqui em Caldwell. Muito, muito ... melhores.

Depois de um momento, ela balançou a cabeça lentamente.

— É muito bom aqui. Nesta época do ano.

Engraçado, ele refletiu, como dois estranhos podiam perguntar e


responder coisas usando palavras que tinham merda nenhuma a ver com
o que eles estavam realmente falando.

75
— E acho que você está errada ... —disse Balz enquanto abria a tampa
da caixa do colar. — Se seu marido comprou isso para você no seu
aniversário, você definitivamente deveria ficar com ele.

Os olhos dela foram para a caixa de joias. Em um tom duro, ela


murmurou:

— Está no seguro. Assim, ele receberá seu dinheiro de volta. Ele


sempre recebe seu dinheiro de volta.

— Ainda assim, deve haver um apego sentimental a isso. —Ele


libertou o colar de diamantes de seu ninho de veludo com o dedo mínimo
e jogou a caixa por cima do ombro. — Algo para fazer você sorrir ao usá-
lo.

— Você acha isso? —Ela perguntou.

Balz acenou com a cabeça.

— Eu sei disso. E vou provar para você.

— Você vai?

— Sim. —Ele caminhou até ela. — Agora mesmo.

O cheiro da excitação dela totalmente o fez ir. Mas sua ereção


precisava de ajuda para considerar o corpo dela?

76
Balz soltou o fecho e girou os diamantes de modo que ficassem
voltados para frente e alcançassem o ar elétrico entre eles.

— O que você está fazendo? —Ela sussurrou.

— Estou colocando o colar do seu marido em seu pescoço. —Ele


baixou os lábios ao lado da orelha dela enquanto fechava o fecho. — Para
que eu possa te foder com você usando isso.

O suspiro dela foi erótico como o inferno.

— Por que ... Por que ... por que você faria isso?

Balz recuou. A frequência cardíaca dela estava piscando em sua


jugular, e enquanto ela respirava rápido, a seda de sua camisola subia e
descia sobre seus mamilos. Porra, ele de repente estava com fome.
Faminto.

— É preciso mais do que apenas diamantes para fazer uma mulher se


sentir bonita. —Ele arrastou a ponta do dedo sobre a pele na base da
garganta dela, seguindo os contornos do colar. — É algo que esse marido
seu deveria lembrar. E já que ele não se importa, eu vou dar a você todos
os tipos de memórias para carregar com essas pedras frias e geladas.

— Mas eu pensei que você estava roubando isso. —Ela ergueu a mão
e o tocou como ele a tocou. — Eu pensei que você estava ...

77
— Vamos nos concentrar em você um pouco.

Inclinando-se, ele pressionou os lábios no oco entre os ossos do colo


dela. Em seguida, ele se moveu para o esterno, aninhando-se entre os seios
dela. Quando ela soltou um suspiro, ele sentiu os dedos dela mergulharem
em seu cabelo, e foi então que ele se mudou para onde ele queria estar
desde o momento em que a viu.

Balz estendeu a língua e lambeu um de seus mamilos, umedecendo a


seda. Recuando, ele parou um momento para admirar sua obra, a barreira
fina desapareceu, a camisola agarrada a sua deliciosa carne. Quando ele
soprou em seu seio, ela estremeceu e seu cheiro ficou mais forte em seu
nariz.

— Oh, Deus, faça isso de novo, —ela respirou.

— O prazer é meu, Sra.

Com isso, ele a pegou em seus braços ... e a carregou para a cama de
seu marido idiota.

78
Sete andares abaixo, a detetive de homicídios Erika Saunders saiu do
elevador e olhou para a esquerda e para a direita. Ela sabia para onde
estava indo, mas era um velho hábito. Você sempre verificava os dois
lados antes de atravessar a rua. Ou entrar em um saguão.

Ou descer um corredor.

Ela realmente deveria ter pensado esse último.

O Commodore era um luxo urbano, vivendo no seu melhor—ou pelo


menos esse slogan fazia parte de sua marca registrada recentemente. E
pelo que ela viu, desde o serviço de portaria na recepção até as vistas das
pontes sobre o Hudson e o que ela ouviu que os apartamentos eram, tudo
tinha sido recentemente reformado para os padrões dos melhores
cooperativos no Upper East Side de Manhattan. O lugar tinha até uma
academia de ginástica e uma piscina agora, e a empresa hoteleira que o
comprou um ano atrás estava falando sobre acessórios como um
restaurante gourmet, um spa e um estúdio de ioga.

Planos, planos, planos.

Ah, mas havia um macaco com uma chave inglesa, ela pensou enquanto
começava a andar. Ao menos com a atração de novos proprietários.

79
Espere, era esse o ditado? Ou seria ... uma chave em andamento? Não, isso
também não estava certo.

Caramba, ela precisava de dormir um pouco.

Cerca de seis portas depois, ela se aproximou de um oficial


uniformizado do CPD em posição de sentido, e ele imediatamente abriu
a porta para ela.

— Está no quarto, detetive. — Como se ele fosse um docente de


museu.

— Obrigada, Pellie, —ela disse enquanto colocava um par de


sapatinhos azuis frágeis sobre seus Merrells pretos.

Dentro do condomínio, sua primeira impressão foi de dinheiro iGen


novo. Havia porta-retratos digitais por todo o lugar, as imagens mostrando
o mesmo casal na pose cara a cara super feliz com diferentes cenários
dignos do Instagram: tropical, montanha, deserto, riacho. O material do
sofá e da cadeira era de fibra natural, o tapete nodoso era claramente feito
à mão e, por falar na pose do cachorro descendente, um par de esteiras de

CPD - Chicago Police Department ‘Departamento de Polícia de Chicago’


Merrell é uma empresa americana de manufatura de produtos de calçados. Foi fundada por Clark Matis, Randy Merrell e John Schweizer em
1981 como fabricante de botas de caminhada de alto desempenho. Desde 1997, a empresa é uma subsidiária integral da gigante da indústria de
calçados Wolverine World Wide.
geração “smartphone”, ou geração Z, nascidos depois de 1996

80
lavanda para ioga estavam estendidas lado a lado na área aberta perto da
cozinha.

A cozinha não era nada especial, exceto pela parafernália de drogas


deixada na bancada de granito ao lado de um espremedor do tamanho de
uma banheira e uma tigela cheia de frutas orgânicas, sem dúvida.

Parecia que a dupla não era tão fiel às coisas do corpo é meu templo
como suas redes sociais poderiam sugerir.

O ecstasy definitivamente não era vendido na Whole Foods .

Seguindo as vozes calmas por um corredor estreito, ela começou a


sentir o cheiro de podridão, e o buquê da morte realmente floresceu
quando ela se aproximou da porta aberta do quarto.

Três ou quatro dias, ela pensou enquanto colocava as luvas de nitrilo .


Talvez perto de uma semana.

Em uma cama queen-size, o homem e a mulher das fotos estavam nus


de costas, as cabeças sobre os travesseiros, os rostos cinzentos virados um

A Whole Foods Market Inc. é uma rede de supermercados multinacional dos Estados Unidos que comercializa produtos naturais, orgânicos ou
sem preservantes, sabores, cores e gorduras artificais. É a maior rede do gênero e inspirou o surgimento de outras empresas n o mundo como a
Mundo Verde e Eataly.

As luvas de nitrilo ou luvas nitrílicas são desenvolvidas com borracha sintética. Este material é muito resistente, até mesmo
comparado ao látex natural. É um EPI com ótimo custo-benefício, pois possui alta resistência aos rasgos, desgastes ou situações mais abrasivas.

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para o outro. Houve grande perda de sangue de ambos, devido a
ferimentos centralizados em seus peitos, e a roupa de cama embaixo deles
havia absorvido a umidade.

Eles estavam de mãos dadas, seus dedos frouxos e indiferentes presos


no lugar pelo que parecia ser fio dental em seus pulsos.

O detetive Andy Steuben, que estava fazendo anotações na cabeceira


da cama, olhou para Erika.

— Não tenho coragem de mencionar o quanto isso é triste.

Erika revirou os olhos. — Estamos bem sem o comentário. Obrigada.

Caminhando até os corpos, ela deu uma boa olhada nas mutilações.
Tanto o homem quanto a mulher tiveram seus corações removidos, e não
de uma maneira cirúrgica limpa e organizada. As feridas cavernosas eram
irregulares nas bordas e fragmentos de osso pontilhavam seus abdominais
e as cobertas da cama. Parecia que quem fez as extrações tinha estendido
a mão e arrancado o músculo cardíaco fora.

Exceto que isso era impossível.

— CSI está a caminho, —Andy anunciou.

CSI: Crime Scene Investigation ‘Investigação Criminal’

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Erika já sabia disso, mas assim como Steuben tinha a reputação de ser
um espertinho, ela era a vadia fria da divisão e não sentia a necessidade
de atiçar essa fofoca superando o cara em uma coisa desnecessária.

Correndo os olhos ao redor do quarto, ela notou que a cômoda estava


com todas as portas fechadas. Havia um laptop e uma câmera fotográfica
sobre uma mesa. Carteira e bolsa estavam ao lado deles. A mesinha de
cabeceira à esquerda tinha um prato de prata com um monte de joias de
ouro e um relógio pesado nele.

Erika esfregou a cabeça dolorida. — Eu tenho que ir fazer uma


ligação.

— Você está trazendo os federais? —Andy perguntou.

Erika caminhou até a cabeceira de madeira áspera. Acima dele, em


letra cursiva, uma palavra de quatro letras havia sido marcada na parede.

— Este é o terceiro grupo de vítimas, —disse ela severamente. —


Acho que temos um assassino em série.

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No momento em que a garganta de Sahvage foi cortada, ele tinha um, e
apenas um, pensamento passando por seu cérebro: Talvez ele finalmente
estivesse saindo deste trem de merda.

Isso é o que ele estava pensando quando caiu de joelhos e sentiu o


bombeamento quente de seu sangue rompendo seus dedos e caindo livre
para encharcar suas calças e formar uma poça no concreto. À medida que
a multidão da luta fugia, seu cérebro começou a desacelerar—então ele
tinha alguma esperança, algum otimismo de que, finalmente, depois de
todos esses anos ...

Quem diria que aquele humano tinha isso nele.

E por falar no estúpido, o magricela com a faca na mão saiu de


debaixo dele e caiu fora como se sua vida dependesse disso. Sahvage
deixou o filho da puta ir. O bastardo rápido merecia o lance de liberdade

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dado aquele movimento liso com a lâmina oculta. Embora se aquela
fêmea não tivesse sido uma distração ...

Antes de perder a consciência, o cérebro de Sahvage ordenou que sua


cabeça voltasse para onde ela estava. Mas as coisas estavam se esgotando
rapidamente, energia, consciência, cognição. Então ele não fez muito
progresso com isso. Em vez disso, o mundo entrou em turbilhão, girando
em torno dele.

A sensação de afunilamento terminou com um impacto de palmas,


algo frio e duro atingindo o lado de seu rosto—e ele se perguntou quem
teria atirado um salmão congelado em sua mandíbula como um taco de
beisebol. Exceto não, não foi um ataque piscatório. Era o chão de concreto
que ele estava pisando correndo para agarrar seu corpo e segurá-lo baixo.

Espere, isso não fazia sentido.

E não era tão bom, ele pensou enquanto sua visão falhava, embora
suas pálpebras ainda estivessem abertas.

Talvez desta vez, ele pensou com uma antecipação exausta. Talvez ...
desta ... vez ...

Ele ficou momentaneamente surpreso quando sua visão voltou ao


programa, mas então ele reconheceu que outra luz brilhante e ofuscante

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estava chamando sua atenção. A princípio, ele pensou que fosse o Fade,
mas não. A fonte disso foi embora. E então houve outra. E outra ...

Os carros que iluminaram a área de luta estavam saindo de Dodge.

E então alguém estava de pé sobre ele.

Aquela fêmea ... aquela que havia gritado com ele. E mesmo enquanto
ele sangrava, ele a notou.

O que era muito melhor do que ter um flash de vida diante de seus
olhos.

Ela era alta e estava vestida de forma simples, seus jeans e moletom
grosso fora do lugar em contraste com a elaborada e reveladora merda que
os humanos usavam. O cabelo dela estava puxado para trás, então era
difícil para ele dizer de que cor era, e seu rosto era anguloso, as maçãs do
rosto altas, a mandíbula forte, as cavidades entre as duas sugerindo que
ela estava com fome alguma parte do tempo.

O que diabos ela estava fazendo em um lugar como este?

Quando outro carro decolou, seus faróis azuis brilharam sobre ela e
seus olhos arregalados e assustados.

— Vá, —ele disse a ela. — Deixe-me.

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Quando ela não se moveu e não tomou conhecimento de suas
palavras, ele se perguntou se ele só tinha falado em sua cabeça ...

Sahvage começou a tossir, mas soava fraco porque não havia muito
ar em seus pulmões. E porra, sua boca estava cheia de cobre.

A fêmea olhou em volta e foi quando ele viu seu rabo de cavalo.
Cabelo escuro, mas com mechas loiras. Então ela desceu ao nível dele e
sua boca começou a se mover.

O que diabos ela estava fazendo? Ela precisava cuidar de si mesmo ...

Dela mesma. Ela precisava cuidar dela mesma.

Bem quando ele estava se preparando para levantar e empurrá-la para


o lado da porra da garagem de estacionamento, ela se endireitou em toda
a sua estatura e deu uma última e longa olhada nele. Ela parecia
angustiada. Ele queria dizer a ela para não se incomodar.

Mesmo se eles fossem íntimos, ele não valia isso. E eles eram
estranhos.

Eventualmente, finalmente, ela desapareceu no ar, o espaço que havia


estado desocupado, o último dos carros que tinham sido usados para
iluminar a luta, um SUV preto quadrado, rangendo os pneus e passando
direto por onde ela estivera.

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A coisa quase o derrubou. Ele desejou que tivesse terminado o
trabalho para ele.

Enquanto as últimas luzes se apagavam, os sons dos humanos


silenciavam e a temperatura da noite ficava cada vez mais fria, Sahvage
sorriu na poça de seu próprio sangue.

Finalmente, uma fêmea que fez o que ele disse a ela quando realmente
importava. Em oposição a ...

País Antigo, 1833

— Você não pode me salvar.

Enquanto sua carga , Rahvyn, pronunciava as palavras, Sahvage foi


atingido por um temperamento terrível da fêmea que estava sentada diante
dele na grama do prado. Na verdade, se sua prima colocasse a palma da mão
aberta sobre ele, ela não poderia tê-lo ofendido mais.

Charge em inglês quer dizer, carga, seu fardo, sua responsabilidade.

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— O que você diz, —ele rosnou no fundo de seu peito. — Eu sou
seu ghardian . É minha honra e dever garantir que você ...

— Pare. —Ela colocou a mão pálida sobre o couro áspero de sua manga.
— Eu te imploro. Não há mais tempo.

Determinado a não soltar a língua para ela, ele desviou o olhar de onde
estavam sentados um em frente ao outro. No meio da campina tranquila,
apenas despertando com o calor da primavera, sob o esplendor de uma noite
clara e estrelada com uma lua parcial, era impróprio discutir. Era sempre
impróprio discutir com Rahvyn. No entanto, sua natureza era o que era.

E ela estava viva por causa disso.

— Sahvage, você deve me deixar ir. Não serve para nada você cair antes
de ...

— Serve para melhoria de todos! Você não faz sentido, fêmea ...

— Deixe que eles me tenham, —ela sussurrou. — Você deve sobreviver,


depois disso. Eu prometo.

Ghardian (n.) Guardião de um indivíduo. Há vários níveis de ghardians, com o mais poderoso sendo o sehcluded de uma fêmea.

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Sahvage ficou em silêncio. E não podia voltar seu olhar para ela. Ele olhou
fixamente enquanto não via nada, seu sangue fervia, seu desejo de lutar sem
servir com um alvo, pois ele nunca poderia machucá-la. Não por ação. Não
por palavra. Nem mesmo pelo pensamento.

Ele praguejou.

— Eu dei meu voto a meu tio, a seu senhor, de protegê-la. Você já


insultou minhas adagas negras, agora pode seguir em frente pela minha
honra?

Ele olhou carrancudo para a linha das árvores e a cabana distante na qual
os dois viviam desde que o lado da família dela foi deixado como morto
por lessers. Seu senhor e sua mahmen já haviam morrido. Sem Rahvyn, ele
não tinha ninguém em sua linhagem direta.

Quando ela não disse nada, ele teve que olhar para ela mais uma vez. Seu
cabelo, tão preto quanto as asas de seu homônimo, enrolado fora do capuz
que ela havia puxado em sua cabeça, e seu rosto pálido brilhava ao luar. Os
olhos dela, negros e misteriosos, recusaram-se a subir até os dele enquanto ela
torcia as mãos no colo, e sua concentração sobrenatural nos movimentos
nervosos enrijeceu sua espinha.

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— O que você previu? —Ele exigiu.

Em resposta, houve apenas um silêncio que reforçou sua resolução,


mesmo enquanto ameaçava partir o coração dela.

— Rahvyn, você deve me dizer.

O olhar dela finalmente se ergueu para encontrar o dele. Lágrimas,


luminosas e trágicas, tremeram em seus cílios inferiores.

— Será mais fácil para nós dois se você partir. Agora.

— Por que.

— O tempo do meu renascimento está próximo. A prova pela qual devo


passar está preparada para mim pelo destino. Para encontrar meu verdadeiro
poder, não há outra maneira.

Ele estendeu a mão e enxugou a única lágrima que caiu.

— Que loucura você fala.

— A carne deve sofrer para que a barreira final seja rompida.

Um arrepio percorreu Sahvage.

— Não.

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Ao longe, ouviu-se um clamor de cascos na estrada de terra batida que
contornava o campo aberto. Tochas, erguidas e muito agitadas pelos passos
impelidos de cavalos poderosos, surgiram em uma velocidade de guerra.

Era uma guarda com as cores de Zxysis, o Velho.

— Não! —Sahvage se levantou em um salto, exibindo suas adagas negras


e enfrentando o ataque. — Salve-se — vou segurá-los!

A contagem dos machos nesses corcéis era uma dúzia. Talvez mais. E atrás
deles? Uma gaiola de aço puxada por cavalos.

— Rahvyn, —ele latiu. — Você deve ir!

Quando ela não disse nada, ele olhou por cima do ombro...

Sahvage perdeu toda a linha de pensamento. Um brilho havia se reunido


ao redor de sua prima, e quando seus olhos se ajustaram, ele ficou confuso,
pois ele viu que estrelas haviam evitado sua colocação no alto por uma órbita
em torno dela como seu sol. Como isso foi possível ...

Não, não estrelas. Eram vaga-lumes. Exceto ... era a estação errada para eles,
não era?

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Sentada no meio deles, em seu manto preto com capuz, seu rosto
acinzentado erguido ao luar, ela era uma virtude viva, a pureza vestida dentro
dos confins mortais.

— Não ... —A voz de Sahvage falhou. — Não deixe que eles levem você.

— É o único caminho.

— Você não precisa de poder.

— De agora em diante, serei responsável por mim mesma, Sahvage, não


mais um peso sobre você que o impeça de cumprir seu dever para com a
espécie.

Sahvage alcançou através do brilho, agarrou seu braço e a puxou para


cima.

— Saia! Agora!

Os olhos dela encontraram os dele. E ela balançou a cabeça.

— É assim que deve ser ...

— Não! —Ele verificou os cavaleiros que haviam cortado a estrada e


estavam correndo sobre a grama alta, focalizando a luz que se acumulava ao
redor dela. — Não há mais tempo — desmaterialize-se!

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Rahvyn balançou a cabeça lentamente e, quando ele fechou os olhos,
seu peito ardeu.

— Eles vão rasgar você em pedaços, —ele engasgou.

— Eu sei. É assim que deve ser, primo. Agora, vá e me permita meu


destino.

— Rahvyn, filha de sangue de Rylan, —veio o grito. — Você está


vinculada pela autoridade de Zxysis, o Velho, sobre esta terra!

As espadas largas foram desembainhadas e erguidas, Sahvage forçou sua


prima atrás de si e se preparou para o combate. Em seus anos de combate, ele
havia matado mais do que esse bando sozinho, e por sua prima, ele veria o
sangue deles correr como um rio cruzando a campina.

— Por que você precisa ser tão teimosa! —Ele latiu para sua carga.

Antes que ele pudesse olhar para ela novamente, a primeira das flechas
assobiou perto de sua orelha. A segunda foi entre suas pernas abertas. A
terceira? Acertou-o no ombro.

E elas não vieram daqueles que o atacavam com aquelas espadas.

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Elas vieram do leste. De ... atrás das árvores que ofereciam proteção
robusta: Os arqueiros permaneceram escondidos e esperaram sua ajuda chegar
com os cascos trovejantes e com aquelas tochas espumantes...

A flecha que o matou foi a quarta que foi enviada em seu caminho, sua
ponta de aço e haste afiada penetrando seu coração, as camadas de couro
destinadas a protegê-lo no caso de uma faca ou soco a não oferecer resistência
ao ataque mortal do elegante projétil. E mesmo depois daquele golpe mortal,
as irmãs de sua conquistadora continuaram a golpear seu torso, os músculos
de suas pernas, suas costas.

Devia haver mais de um arqueiro, pois os arcos foram recarregados rápido


demais para apenas um único arqueiro.

— Vá! —Ele gritou ao cair de joelhos. — Você deve se cuidar!

Quando Sahvage caiu de lado, sua visão o abandonou, embora sua


inteligência permanecesse viva pelo menos por um momento. Na verdade, ele
sempre rezou para a Virgem Escriba para que ele fosse levado em batalha, um
manto de honra e bravura a cortina fúnebre que cobria seu corpo enquanto
ficava cinza e frio.

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Ele não queria ir assim. Falhando em seu serviço a sua responsabilidade,
sabendo que eles não lançariam flechas contra ela, pois ela seria levada viva
para Zxysis e dada a ele.

Para dor. Degradação. Os poços de fogo dos quais ela acreditava que
emergiria, uma fênix saindo do sofrimento para uma sede de poder.

— Não o machuque! —Rahvyn gritou lá de cima, como se o protegesse


com o corpo. — Você não deve matá-lo!

Quando a voz dela se registrou em seus ouvidos, puro terror quase o


animou. Mas seu coração debilitado já estava muito longe, e o ressurgimento
do poder e da consciência não durou o tempo suficiente.

Maldição, ela ainda estava com ele ...

Esse foi o último pensamento mortal que veio sobre ele antes de Sahvage
se encontrar em uma vasta paisagem branca, a porta para o Fade correndo até
ele, como se ele tivesse um encontro marcado com ela há muito, muito tempo.

Pronto, seu coração estava acabado. E não apenas no sentido mortal. Por
aquilo que seria feito a sua prima amada ... ele estava quebrado ao morrer.

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— Não foi um relâmpago.
Enquanto Nate, filho adotivo do Irmão Murhder da Adaga Negra,
continuava a martelar a armação emoldurada à sua frente, seu amigo se
inclinou para frente e falou mais alto, como se talvez não tivesse sido
ouvido.

— Não foi um relâmpago. —Arcshuli, filho de Arcshuliae, o Jovem,


empurrou seu telefone na cara de Nate. — Vê?

Depois de mais um golpe de martelo, Nate baixou sua ferramenta de


construção e tirou os pregos da boca.

— Ok. Esse flash não foi um relâmpago. Então?

— Então, o que era. —Shuli ergueu as sobrancelhas arqueadas. —


Você não quer saber?

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Em seu short cargo cáqui e sua camiseta, Shuli parecia apenas mais
um membro da equipe de construção—contanto que você ignorasse sua
estrutura óssea, o Hublot em seu pulso e os rumores de que seu pai era o
chefe da glymera subterrânea.

— Vamos lá, você não quer saber? —Ele repetiu.

— Não, eu quero terminar de enquadrar isso. Então eu quero que você


me ajude com o Sheetrock . Depois disso, nós podemos ...

— Mas você viu aquela coisa. Iluminou todo o céu. E meu irmão disse
que não foi um raio.

— Agora ele é um meteorologista? Achei que ele fosse um doutor


candidato em um programa de engenharia química humana.

Shuli desapareceu com o iPhone no bolso traseiro.

— Exatamente. Ele é o mais inteligente, eu sou o mais bonito. E para


sua informação, ele tem um cérebro melhor do que nós dois juntos.

Espere por isso. Apenas ... espere por isso ...

— Claro, eu sou o mais bonito entre nós três.

Bingo.

marca de gesso cartonado

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— Isso não faz sentido.

— Você já viu esse rosto? —Shuli fez um círculo ao redor de seu


rosto. — Sério. Eu sou um gato ...

— Você é ridículo.

Um barulho rítmico fez Shuli voltar a pegar seu celular.

— Oh, meu Deus, é hora do intervalo. —Ele acendeu o telefone


novamente, como se o alarme disparando pudesse estar sujeito a má
interpretação se não houvesse uma confirmação visual. — Acho que
temos que colocar nosso martelo e pregos no chão e—caramba, eu não sei.
Dar um passeio na floresta por ali?

— Hora do intervalo, —veio à voz do capataz de dentro da casa da


fazenda que estavam reformando. — Tirem trinta!

Nate olhou para fora da garagem aberta na direção que Shuli estava
apontando. Os dois haviam sido designados para o trabalho ali porque
eram novatos, e se os buracos deixados pela remoção das janelas não
fossem remendados com total perfeição, quem realmente se importaria?

Bem, Nate se importava. Shuli? Não muito.

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— Vamos. —Shuli pegou o Black and Decker de Nate e colocou-o
sobre uma serra de mesa. — Vamos dar uma volta.

Nate deu de ombros e brincou de seguir o líder, os dois cruzando a


calçada e indo para o gramado. Quando chegaram à cerca, cada um jogou
uma perna por cima dos dois tubos de baixo enquanto se abaixavam para
passar pelo de cima. Depois disso, era tudo campo aberto, embora como
era apenas final de abril, não houve muito crescimento de grama. Um
pouco de lama, porém—suas botas com bico de aço sujando-se de lama.

Com uma carranca, Nate olhou para o amigo.

— Por que você está usando shorts?

— Eu tenho sangue quente, meu amigo.

— Você é virgem.

— Você também. E não confunda minha falta de experiência com


falta de entusiasmo.

— Palavras grandes, —Nate disse com uma risada.

Black+Decker é uma empresa estadunidense de ferramentas elétricas e eletrodomésticos. Sua sede localiza-se na localidade
de Towson, estado de Maryland. Até 2014 era conhecida como Black&Decker, tendo sido nesse ano a marca alterada para a atual. Foi fundada em
1910 por Samuel Duncan Black e Alonzo G.

100
— Papai é psiquiatra, remmy.

— E isso se relaciona com você como?

— Eu sei tudo sobre fusão. —Shuli se inclinou e baixou a voz. — Bem


como outras coisas que terminam em ão. E começam com a letra M. E têm
um ‘turbar’ sem o R no meio ...

— Que cheiro é esse?

Shuli saltou à frente e recuou.

— Então ... você tem?

Para evitar um espirro, Nate esfregou o nariz como se estivesse


lustrando a ponta dele.

— Você pode sentir o cheiro disso?

— Pare de evitar a pergunta. Você está há três meses fora de sua


transição e é um macho totalmente funcional. O que significa ...

Nate olhou além dos ombros do outro macho.

— Tem cheiro de ferro ... queimado.

Shuli parou no caminho do progresso.

— Você já se fez gozar.

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— Não é da sua conta. —Nate contornou o obstáculo vivo,
respirando, incrivelmente elegante, mas com tesão. — Há fumaça
também.

— Não vejo qual é o grande problema. Eu te contaria.

— Você já contou. —Nate lançou um olhar seco para o cara. —


Muitas vezes. Você não tem as palmas das mãos peludas e cegueira agora?

— Isso é apenas para humanos, e estou tentando inspirá-lo ao liderar


através do exemplo.

— Não estou interessado nesse tipo de liderança. —Nate bateu com a


mão na nuca do cara e o sacudiu. — Chega. Vamos nos concentrar em sua
ideia brilhante. Agora você vai olhar para toda essa fumaça?

Para ajudar o TDAH a se concentrar, ele virou o rosto de Shuli


em direção à nuvem de fumaça que se elevava da linha das árvores para o
céu noturno.

Shuli parou novamente.

— Que porra é essa?

— Não é por causa da sua gostosura.

Em geral, o TDAH começa na infância e pode persistir na vida adulta. Pode contribuir para baixa autoestima, relacionamentos problemáticos e
dificuldade na escola ou no trabalho. Os sintomas incluem falta de atenção e hiperatividade. Os tratamentos incluem medicamentos e psicoterapia.

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— Bem, dã, ou estaria bem acima de nós.

A boa notícia era que, por cortesia de qualquer coisa para a qual
estavam caminhando, o cara deixou o negócio de sozinho com a mão em
paz. A má notícia era que tudo o que fumegava naquela floresta e cheirava
a alguém que tinha posto fogo em um caldeirão era provável ... bem, más
notícias.

— Devemos ligar para alguém? —Nate se perguntou.

— Como quem?

— Meu pai?

Ainda parecia um pouco estranho usar a palavra com P, mas não


porque Murhder não era seu pai. Ele simplesmente nunca esperou ter um.
A vida não deveria conceder a você uma família verdadeira só porque você
queria uma. Só porque você precisava de uma.

Nate franziu a testa. — Ei, há pessoas ali?

— Sabe, talvez isso não seja uma ideia tão boa ...

— Não, eu quero ...

— Nah, eu cometi um erro. Vamos dar a volta. O intervalo acabou.

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Quando Nate sentiu seu braço ser agarrado com força, ele lançou um
olhar furioso para Shuli.

— Você está brincando, certo.

O rosto de seu melhor amigo estava mais sério do que Nate já tinha
visto.

— Eu cometi um erro.

— Não, você está sendo um covarde—espere, isso é uma arma? Que


porra você está fazendo com uma arma!

— Estou protegendo você.

Nate piscou e balançou a cabeça ao ver a arma na mão de seu amigo.

— Quem é você e o que fez com Shuli?

— Eu não posso deixar nada acontecer com você.

Com um pavor repentino, Nate disse:

— O que meu pai disse a você?

— Não tem nada a ver com o seu pai.

Nate olhou para a nuvem de fumaça e as pessoas que ele podia ver se
movendo dentro e ao redor da floresta. Então ele decidiu, foda-se.

104
— Bem, eu não sou seu problema, e eu estou indo para lá. Você tem
outra opinião sobre isso? Você pode atirar na minha bunda.

Ele não foi muito longe antes que Shuli o alcançasse.

— Nate, isso é perigoso ...

— Guarde essa coisa, sim? Cristo. Você vai acabar se explodindo.

Enquanto atingiam a linha das árvores, eles discutiam sobre todos os


tipos de coisas—armas, idiotas com armas, idiotas que queriam investigar
coisas quando não era seguro, idiotas que sugeriram investigações e depois
caiam fora—embora pelo menos a nove milímetros estava fora de vista.

E cara, eles não estavam sozinhos.

Pelo menos uma dúzia de pessoas se reunia a cerca de cem metros,


mas felizmente, indo pelos cheiros, eles eram todos membros da espécie.
Então, novamente, não havia muitos humanos aqui neste fim de mundo,
que era precisamente por que aquela casa de fazenda estava sendo
reformada por sua equipe.

Era melhor ficar longe daqueles ratos sem cauda.

Nate aprendera isso em primeira mão. Naquele laboratório.

105
À medida que o fedor metálico piorava, suas narinas se revoltaram,
deixando sair espirro após espirro. Para ajudar, Shuli bateu em suas
costas, o que acrescentou uma rodada de tosse à festa.

Nate estava batendo na palma da mão de seu amigo, e preocupado


que a manobra de Heimlich estava chegando—ou talvez, Deus me livre,
RCP —quando eles entraram em uma clareira.

Fale sobre uma cena de um crime. A terra tinha sido violada por algo
grande o suficiente, viajando rápido o suficiente, para retirar cerca de dez
a doze metros quadrados de terra. E no buraco? Vapor. Portanto, era
difícil ver muito.

Nate e Shuli se aproximaram, juntando-se aos homens e mulheres que


estavam se inclinando para frente e tentando olhar o que quer que tivesse
pousado.

— Isso pertence a um livro de Stephen King , —murmurou Shuli.

Piscando para afastar a dor em seus olhos, Nate olhou para o céu.

A manobra de Heimlich, considerado o melhor método de desobstrução de vias aéreas em ambiente pré-hospitalar, é facilmente aplicável e
comumente disseminada em serviços de treinamento a primeiros socorros. Basicamente ela conduz a tosse induzida que leva a des obstrução da via
aérea.
A reanimação cardiopulmonar ou reanimação cardiorrespiratória é um conjunto de manobras destinadas a garantir a oxigenação dos órgãos
quando a circulação do sangue de uma pessoa para.

Stephen Edwin King é um escritor norte-americano de terror, ficção sobrenatural, suspense, ficção científica e fantasia.
Os seus livros já venderam mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países. É o 9º autor mais traduzido no mundo.

106
— Meteoro. E presumindo que seja isso, ele já escreveu sobre um.

— Ou lixo espacial. —Shuli deu uma cotovelada no braço de Nate. —


Ei, você acha que se eu lamber o meteorito, posso me tornar viral?

— Acho que você vai pegar um vírus.

— Estou falando sério.

— Eu sei, e agora estou com medo. —Quando o vento mudou de


direção e varreu a fumaça, Nate murmurou: — E não, não vou filmar isso
...

Sua voz sumiu, perdendo o controle das palavras que seu cérebro
prontamente esqueceu.

Do outro lado do buraco, ao lado da multidão, uma figura solitária


estava parada. Ela. Era uma mulher. Pelo menos, ele estava assumindo
que era uma mulher, indo pela longa mecha de cabelo loiro pálido que
havia escorregado do capuz que estava em sua cabeça.

— Olá? —Shuli solicitou. — Eu disse que um raio não atinge o mesmo


lugar duas vezes. Então, estamos seguros.

Nate se afastou de seu amigo e murmurou:

— Achei que seu irmão tinha dito que não era um relâmpago.

107
Quando ele começou a andar em direção à mulher, Shuli gritou:

— Aonde você está indo?

— Eu volto já.

O cérebro de Mae estava emaranhado com recriminações enquanto ela


se desmaterializava para fora da garagem. Reformando-se nas sombras ao
nível do solo, ela esfregou o rosto e notou os fluxos de humanos saindo da
escada e se afastando dos estacionamentos ao ar livre. Enquanto os carros
derrapavam em um engarrafamento e as pessoas se livravam da porta onde
a fila de espera havia estado, ela disse a si mesma para simplesmente sair
e voltar para casa. Ou talvez para a casa de Tallah. Ela poderia voltar para
o carro em meia hora, quando a multidão acabasse.

108
Bem, isso presumindo que o lugar não estivesse inundado com
policiais humanos até então. Mesmo em uma parte abandonada da
cidade, esse tipo de comoção podia ser notado e, francamente, ela ficou
surpresa por eles terem escapado com as brigas.

— Maldição ... —Ela olhou para o sexto nível.

Mas isso não é sobre ele, ela disse a si mesma. Ele não é problema meu.

Alarmes soaram. Alguém tropeçou e caiu bem na sua frente—se


recuperou, e decolou novamente. Nos andares abertos da garagem, faróis
estavam voando ao redor, os três ou quatro carros que tinham sido usados
para lançar luz sobre a luta agora afunilando para fora do ralo da rota de
saída em parafuso. Quando ela olhou para as barreiras de concreto
pesadas que haviam sido movidas para bloquear a entrada, ela se
perguntou se havia outra saída ...

A pergunta foi respondida quando um caminhão bateu em um deles e


o empurrou para fora do caminho com a grade frontal.

Então, alguém já tem problemas com a lei, ela pensou enquanto o Ford
cortava a calçada para contornar o congestionamento.

Você deve me deixar! Vá! Salve-se.

Esse era o conselho certo. Esse era ...

109
De repente, Mae ergueu os olhos novamente em pânico. E se o
vampiro que organizava as lutas ... fosse o vampiro que estava nelas?

E se aquele macho que estava caindo e morrendo fosse o Reverendo?


Ela vasculhou a multidão com seus instintos, procurou todos os cheiros e
presenças, e havia apenas um vampiro em todos aqueles humanos.

— Porra!

Quando seu coração começou a bater forte, ela fechou os olhos e


tentou respirar lenta e profundamente. Quando ela não chegou a lugar
nenhum com isso, ela arrastou os pés, rolou os ombros—e deu a si mesma
um grande sermão sobre como ela precisava esfriar o inferno
BEMNESTEMOMENTO.

O que era, é claro, muito propício para acalmar as coisas a fim de


desmaterializar.

Ela poderia muito bem ter acertado seu próprio rosto com um chifre
...

Enquanto seu corpo se dissolvia em moléculas, ela voou para cima em


uma dispersão, patinando de volta ao nível ao ar livre. Reformando-se
perto do lutador caído, ela pensou que deveria verificar os bolsos dele em
busca de identidade.

110
Sim, claro. Porque ele andava por aí com seu cartão “Eu sou o
Reverendo” na carteira exatamente para esse tipo de coisa.

E merda, salvá-lo apenas para seus propósitos parecia desumano.


Desvampírico. Como seja.

— Maldição, —ela murmurou enquanto largava a bolsa perto da


cabeça dele e ficava de joelhos.

O enorme macho estava esparramado de costas, um braço jogado para


o lado, o outro caído sobre seus peitorais pesados. A poça de sangue sob
ele era três vezes o tamanho de quando ela partiu momentos antes, e ela
podia jurar que havia uma pulsação no fluxo deixando a veia aberta ao
lado de sua garganta—embora fossem boas notícias. Isso significava que
ele ainda tinha batimentos cardíacos. Mas não por muito tempo. Sua
coloração estava ruim e estava piorando, seu rosto estava tão cinza quanto
o concreto em que ele estava deitado, e aquela mão ossuda tatuada em seu
torso não se movia muito - o que significava que ele não estava respirando
muito.

— Desculpe, —ela disse enquanto colocava o braço sob a cabeça dele


e o levantava. — Santo—bom Deus, você é pesado.

111
Com um grunhido, ela o puxou para seu colo—ou tentou. Era como
mover uma casa, então ela teve que se esgueirar por baixo dele. E oh,
caramba, o sangue. Estava quente, estava escorregadio, era ...

Ele cheirava muito bem.

— Você está pensando isso sobre um macho moribundo, —ela


murmurou. — Superior.

Quando Mae o deixou pelo menos ligeiramente elevado, ela


empurrou seu cabelo por cima do ombro, embora ainda estivesse preso em
um rabo de cavalo, e se concentrou no ferimento. Era como se alguém
tivesse enfiado uma enxada de jardim no lado da garganta e, por um
momento, ela ficou tonta olhando para a anatomia em ruínas. Mas como
se ela desmaiar iria ajudar algum deles?

— Desculpe, eu sei que isso é um pouco ... —Avançado? O que, como


se eles estivessem em um jantar e ela estivesse pegando o saleiro por cima
do prato dele? — É só, um ...

Cale a boca, Mae.

Engolindo em seco, ela respirou fundo. E então ela baixou os lábios


para a ferida. Só havia uma maneira de ajudá-lo, e era um tiro no escuro.
Mas os vampiros tinham que se alimentar das veias e, quando
terminavam, tinham que selar as marcas de punção.

112
Com uma gentileza que parecia um desperdício de discrição, dada a
situação e o poder no corpo dele, ela colocou a boca para cortar ...

O gosto dele ricocheteou através dela em uma onda de choque


tentadora: Aquele vinho escuro apenas tocando sua língua era o tipo de coisa
que ela sentia até a medula, e quando uma fome trêmula a dominou ...

Não, não, não, isso não é uma alimentação, ela disse a si mesma.
Totalmente e completamente não é o ponto.

Ele já estava meio drenado, pelo amor de Deus. E se ele fosse o


Reverendo e ela o matasse porque não conseguia se controlar? Isso não
seria bom para ninguém.

Ainda assim, alguma sucção era inevitável e, portanto, também


algumas deglutições. Mas mesmo que isso a tenha feito começar a suar,
ela não deu uma tragada contra aquela veia bem definida. Em vez disso,
ela o lacrou. Levou algum tempo, seus lábios e sua língua correndo para
cima e sobre a ferida profunda e todos os seus danos repetidamente—e ela
tinha a sensação de que as coisas não iriam sarar direito, pelo menos
não por um tempo. Como se isso importasse?

Se ele fosse o Reverendo, ela precisava que ele vivesse. Ele era
necessário.

113
Quando ela decidiu encerrar, porque ela estava apenas recebendo ecos
do gosto dele em sua boca, ela ergueu a cabeça—e ignorou
cuidadosamente a forma como sua língua batia em seus lábios e não
apenas para limpar. Ela saboreou o gosto dele—e enquanto o fazia, ela
olhou para o rosto dele corretamente. Seu cabelo tinha sido cortado com
uma máquina perto de seu crânio, mas ela poderia dizer que era escuro,
talvez preto. Seus cílios eram grossos e bastante bonitos, e isso parecia
uma coisa frívola de se notar—então ela foi direto para sua boca.

Má ideia se ela estava procurando manter as coisas no mesmo nível.

Porque era ... realmente incrível ...

Ela não queria. Não foi uma coisa consciente ... mas ela acariciou seu
rosto.

— Não morra em mim, —ela implorou em uma voz que falhou. —


Eu preciso de você.

Por alguma razão estúpida, ela esperava que ele se mexesse com isso.
Talvez ter aqueles cílios abertos para que ele pudesse prendê-la com seu
olhar de obsidiana.

Nesse ponto, seu príncipe / Reverendo viria e seria cativado por seu
rosto sem maquiagem, seu rabo de cavalo bagunçado e suas roupas

114
absolutamente nada atraentes—e juraria dar a ela o que ela veio buscar
aqui.

Sim, certo, porque a vida real sempre foi roteirizada pela Disney .

Mas vamos lá, ela o salvou.

— Olá? —Ela disse. — Hum ... Olá?

Não, mesmo. Ela o salvou. Certo?

Sua coloração ainda estava ruim, sua respiração não tinha melhorado,
e só porque a poça de sangue—ou melhor, lagoa—embaixo deles não
estava ficando maior, não significava que ele estava fora de perigo.

Como se o fechamento da ferida fosse o suficiente, entretanto? Ele


precisava de atenção médica adequada.

— Eu preciso que você viva além disto, —ela murmurou enquanto


puxava a manga para cima.

Marcando seu próprio pulso com suas presas, ela esperou que seu
sangue corresse bem e então ela estendeu seu braço sobre a boca dele. A
primeira gota a atingir seus lábios não fez nada além de dar a ela uma

The Walt Disney Company, conhecida simplesmente como Disney, é uma companhia multinacional estadunidense de
mídia de massa sediada no Walt Disney Studios, em Burbank, Califórnia.

115
comparação realmente ruim entre a pele pastosa dele e como era a de uma
pessoa viva. A segunda não fez nada. A terceira ...

O suspiro que saiu dele foi tão alto, tão abrupto, tão violento, que ela
saltou e quase deixou cair a cabeça dele de seu colo. E então aqueles olhos
se abriram, mas não da maneira sonhadora que ela havia fantasiado.

Aquele olhar hostil estava fora de seu manual, no entanto.

E então ele agarrou seu pulso.

Quando seus ossos foram esmagados em seu aperto, o medo puro a


fez recuar—ou tentar. Não havia liberdade para se ter, não até que ele
decidisse dar a ela.

O macho se sentou, seu torso se curvando, a musculatura aumentando


enquanto seu peito se contraía para levantar o peso de seus ombros. E
então sua cabeça rasgou em direção à veia aberta em seu pulso.

O rosnado que saiu dele foi o de um animal.

Agora aquela mão ossuda tatuada estava tentando alcançá-la.


Reivindicando-a. Arrastando-a para o inferno que ele mantinha em sua
alma negra ...

— Não, —ela comandou. — Você não pode levar mais do que você
precisa. Você não pode me machucar.

116
Quando as palavras a deixaram, fortes e firmes, Mae não tinha ideia
de onde vinha a convicção. Mas ela não iria discutir com isso.

Ela precisava estar viva para seu irmão.

Era assim que tinha que ser.

Quando o cérebro de Sahvage voltou a funcionar, sua primeira

percepção foi o cheiro do sangue da mulher. Mesmo com tanto dele ao


redor deles, assim como nas mãos dela, seu moletom ... sua boca ... seu
cheiro conseguiu dominar tudo. Ela era uma campina fresca, em uma
noite estrelada, logo após uma chuva quente de primavera.

Cativante. Acolhedor. Limpo.

E ele precisava de mais dela em seu nariz ...

Com uma carranca, ele se concentrou em seu rosto pálido e assustado.


Ela era linda, ele pensou, de um jeito não chamativo, seus traços
uniformes não estavam manchados de maquiagem, os olhos com cílios
naturais, o cabelo puxado para trás de uma forma simples. E seus lábios

117
estavam se movendo. Ela estava falando com ele. Provavelmente dizendo
a ele para soltar. Não machucá-la. Talvez ela estivesse implorando ...

Porra.

Ele ainda estava vivo.

Maldição.

Com uma frustração entorpecida e duradoura, ele olhou para a mão


dele que apertava o antebraço dela. Graças a uma nova marca de mordida
no pulso dela, seu sangue, vermelho e brilhante ... corria rio abaixo em seu
punho.

Esse era o gosto em sua boca, o gosto celestial que o iluminou, o


chamou de volta, o trouxe até ela como um cachorro convocado por seu
dono.

E agora? Ele tinha uma decisão a tomar. Matá-la e levar tudo em suas
veias. Ou deixá-la ir e ir embora imediatamente. Porque se ele ficasse e ela
estivesse viva? Ele iria foder com ela enquanto bebia dela até secar.

Enquanto Sahvage refletia sobre os polos opostos, ele supôs que o fato
de ter que pesar a escolha de deixar um inocente sobreviver não refletia
bem em seu caráter. Mas depois de todo esse tempo, ele não tinha mais
nenhum caráter. Não havia nenhuma parte de quem ele uma vez foi. Ele

118
era uma máquina de morte vagando pela terra, e a tragédia para a mulher
era que ela havia escolhido ficar com ele em vez de fugir com a multidão.

— Você é o Reverendo? —Ela perguntou em uma voz rouca.

Ou pelo menos ele pensou que era o que ela estava dizendo. Ele foi
distraído por aquele cheiro dela, aquele gosto... o fato de que ele agora
estava totalmente ereto.

— Eu preciso saber, —ela disse. — E você precisa viver. Pegue o que


você precisa, mas não mais.

Com isso, ela colocou o pulso contra a boca dele, pressionando as


feridas da punção em seus lábios—e instantaneamente, ele estava tão
perdido quanto quando morria, sua mente flutuando em um mar de
sentidos comprometidos, seu corpo não mais seu para comandar, seu
coração batendo forte, seus pulmões congelando.

Ele não conseguia engolir rápido o suficiente. Ele era um poço sem
fundo.

Enquanto Sahvage se reclinava no colo dela, ele olhou para ela


enquanto puxava contra sua veia. Ela não encontrou seus olhos, e ele não
ficou surpreso. Ele não era o tipo de macho que uma fêmea como ela
deveria ter tido algo a ver voluntariamente—e não porque ela era uma

119
aristocrata. Ele poderia dizer pelas roupas que ela usava e aquela bolsa que
ela era uma civil, mas essa não era a divisória entre eles.

Ele sabia muito bem o que era, e qualquer pessoa viva não deveria
ficar sozinha com ele. Macho ou fêmea.

E, no entanto, aqui estava ela o ajudando. Por razões que desafiavam


a explicação.

Eu não vou matar você, ele jurou a ela.

Era a cortesia mínima que ele devia a ela, não era?

Com essa nota, Sahvage se retraiu da veia dela, de seu pulso ... e, com
um grunhido, de seu colo.

Em uma confusão desordenada, ele virou-se de bruços e então se


arrastou para longe dela, suas palmas e seus braços pesados fazendo o
trabalho, suas pernas raspando no concreto, suas botas um par de vagões
obstinados. Quando estava do lado de fora da poça de sangue gigante que
havia deixado para trás, quando havia uns bons dois metros entre ele e a
fêmea, ele desabou novamente.

O chão frio da garagem parecia grudar no lado quente de seu rosto, e


ele teve o pensamento de que sua excitação estava ficando seriamente
comprimida em um ângulo ruim em suas calças. Mas como se ele fosse se

120
preocupar com seu maldito pau idiota? Enquanto ele ofegava e tentava se
orientar, sua mão voltou para o lado do pescoço.

A ferida foi selada. Ela deve ter ...

— Eu, ah ... —A fêmea pigarreou. — Eu tentei ajudar a fechá-la.

Ele olhou para ela.

— Você não deveria ter se incomodado.

— Bem, eu me incomodei.

Aqueles olhos dela não pareciam iluminar nada, mas realmente, quais
eram as boas opções dela? Suas roupas manchadas de sangue? A poça de
sangue que ele deixou? A garagem vazia da qual ambos precisavam sair?

— Como você está se sentindo? —Ela perguntou a ele.

— Bem. Simplesmente ótimo.

— Você, ah, quer ver um médico?

Sahvage riu asperamente.

— Certo. Boa ideia.

Aquele olhar encontrou o seu diretamente.

— Você é o Reverendo?

121
— Quem?

— Não minta para mim. Não somos mais estranhos.

Lá embaixo, nas ruas, o som de sirenes soou à distância e Sahvage se


perguntou quantos policiais estariam a caminho. Os humanos eram assim,
sempre aparecendo onde não eram convidados.

A fêmea desviou o olhar em direção ao barulho, suas sobrancelhas


baixando como se ela estivesse tentando contar o número de quarteirões
que a polícia estava cobrindo por segundo.

— Eles estão se aproximando.

— Sim.

— Eu preciso da sua ajuda. —Ela olhou para ele. — Eu não tenho


muito tempo.

Ele estreitou os olhos.

— Tem certeza de que quer o tipo de coisas que posso fazer?

— Se eu tivesse outra escolha, acredite em mim, eu pegaria.

Com um gemido, ele se sentou e tentou tirar a sujeira de seus peitorais.


Mas o sangue seco era como cola.

— Nisso eu acredito. O que você precisa?

122
— Você é o Reverendo.

Abaixando o queixo, ele a considerou por baixo de suas pálpebras.

— Eu pareço uma figura religiosa para você?

— Não brinque comigo.

— Eu não estou brincando, querida.

— Isso não é um jogo para mim, —ela cuspiu. — Eu preciso saber se


você é o Reverendo.

Quando ela ficou de pé, Sahvage a mediu de cima a baixo—e pensou


que ela ficaria bem nua. Essas roupas largas não faziam nada para
enfatizar seus atibutos, mas ela tinha muitos deles—e ele gostou do fato
de que ela não era o tipo de pessoa que se exibia.

— E eu preciso de um Motrin , —ele murmurou enquanto colocava


a palma da mão ensanguentada na cabeça dolorida.

O que diabos um macho como ele tinha que fazer para morrer? Espere
... ele não queria a resposta para isso. Algumas coisas eram melhores
deixadas para o hipotético. E ei, pelo menos ele não estava mais pensando
em sexo.

Motrin® (ibuprofeno) tem ação contra a inflamação (reação de defesa do organismo a uma agressão) dor e febre.

123
— Você é o Reverendo! —Ela disse novamente, sua voz ecoando ao
redor do nível vazio da garagem e sobrepondo as sirenes.

Todos focados neste banho de sangue envolvendo um par de


vampiros, um dos quais estava em busca de algum tipo de protestante com
presas, e o outro que tinha feito um ponto de nunca, nunca mais se
envolver no drama de outra pessoa.

Por que ele se incomodou em passar por Caldwell novamente?

Oh, certo. Ele estava entediado.

124
— Você é o Reverendo!
Você pensaria que Mae gritaria para ser ouvida acima dos carros de
polícia que se aproximavam, mas não, ela só estava irritada. E enquanto
isso, o enorme macho a quem ela deu sua veia—sim, porque isso estava na
sua lista de coisas para fazer durante esta pequena aventura no centro da
cidade—estava olhando para ela com aquela expressão entediada dele,
uma trilha gêmea de sangue correndo de onde ele quase morreu para
onde ele se arrastou para longe dela.

O esboço de tudo parecia que ele era um foguete indo para o espaço,
a grande piscina a explosão da decolagem, as fitas de suas botas como os
rastros de sua luta.

Não que isso fizesse algum sentido.

125
E pelo amor de Deus, ela poderia passar sem aquela tatuagem em seu
peito apontando para ela.

— Meu maldito crânio está martelando, —ele gemeu.

Então não lute com as mãos nuas contra humanos que não têm honra, ela
reclamou em sua cabeça. O que você pensou que fosse acontecer ...

— Tanto faz, —o macho estalou enquanto olhava para ela. — Foi você
quem me distraiu.

Merda, ela tinha falado isso em voz alta. Mas o tanto faz estava certo.

— Você não ouviu falar da regra de não confraternização? —Ela


rangeu. — Você não deveria estar aqui em primeiro lugar.

— Diz a fêmea que também estava na multidão.

Mae colocou as mãos nos quadris e se inclinou para ele.

— Eu posso ir aonde eu quiser, não é mais a idade das trevas dos


vampiros.

— Oh, então você tem liberdade, mas eu não porque sou um


macho. Quão conveniente ...

— Eu não estava lutando com as mãos nuas com eles!

126
— Então você só veio para apostar? Então, oh, sim, você é totalmente
honesta em tudo isso.

Mae apertou os molares—e pensou seriamente em caminhar até ele e


chutá-lo na perna. Ou talvez na bunda. De qualquer forma, ela adoraria
dar a ele algo com que se preocupar, além da dor de cabeça.

— Eu não vim para apostar ...

— Era para sexo, então? Porque você pode ir mais longe se mostrar
um pouco de pele. Parece que você poderia ser a mãe de alguém.

Mae revirou os olhos.

— Oh, claro, eu vou seguir o conselho de indumentária de um anúncio


ambulante de cento e quarenta kilos para a morte. Mas você nunca ouviu
falar de propaganda enganosa? Porque da última vez que eu verifiquei,
você estava sendo cortado por um humano ...

O macho ergueu as mãos.

— Porque alguém que conhecemos estava me dizendo para não matar


o filho da puta!

— Você não deveria matar ninguém!

— Bem, se vocês dois não são o casal feliz.

127
Ao som da voz masculina seca, os dois olharam para as sombras, onde
uma grande figura assomava na escuridão.

Sem perder uma batida, ela e o lutador falaram ao mesmo tempo:

— Não somos um casal ...

— Não somos um casal ...

A risada que emanou daquele canto foi um sim-é-claro se Mae já tinha


ouvido uma—mas de repente ela estava mais preocupada com sua vida e
segurança do que se ela estava ligada ao Esqueleto aqui.

E P.S. , a sobrevivência deveria ter sido sua prioridade em primeiro


lugar.

Quando sua mão mergulhou em sua bolsa para pegar seu bastão, a
fonte da voz entrou em uma mancha de brilho no ambiente.

— Eu vou pedir que você mantenha suas armas onde estão, obrigado.
E isso inclui você, Shawn.

Shawn?

P.S. é a sigla em latim para post scriptum e que significa “escrito depois", na tradução para a língua portuguesa. Normalmente, esta sigla é usada
no fim de algumas cartas, com o intuito de adicionar informações que tenham sido esquecidas de serem mencionadas no corpo do texto.

128
Ela olhou para o lutador. E então voltou a se concentrar no que estava
vindo se juntar a eles.

Okay, este macho era ... nada parecido com o que ela esperava ver em
uma parte decrépita da cidade. Ele era alto, ele era grande, e seu rosto
pertencia a uma fila de pessoas que assassinavam seus inimigos de
maneiras muito complicadas. Então, sim, tudo isso se encaixava—assim
como seu corte moicano . Mas ele estava usando um casaco de pele que ia
até o chão, e a bengala de ouro que o ajudava com seu equilíbrio o
fazia parecer que estava a caminho da ópera ...

Com essa nota, “Shawn” se levantou e moveu a montanha do seu


corpo na frente dela. Como se ele quisesse protegê-la.

— Relaxe, grande homem, eu não vou machucá-la, —o outro macho


disse secamente.

— Malditamente certo, —Shawn atirou de volta. — Porque eu não


vou te dar a porra da chance.

corte decabelo estilo moicano

casaco de pele longo

129
Mae se inclinou para o lado e olhou em volta dos músculos
protuberantes do braço.

— Você é o Reverendo?

O macho com o casaco de pele não se mexeu. No entanto, ela sentiu


uma mudança nele, embora ela tivesse sido pressionada a identificar por
que ela o reconheceu.

— Para que você quer o Reverendo, fêmea? —Veio a fala arrastada e


lenta. — Você não é o tipo dele.

— Ela também não é o seu, idiota, —rebateu Shawn. — Então, que


tal você se foder ...

— Ela não está falando com você, meu cara ...

Okaaaaay, ela estava tão enjoada e cansada de paus grandes e


oscilantes.

Mae saiu de trás do macho e olhou para o recém-chegado. — Tallah


me enviou. Para encontrar o Reverendo. E algo me diz que estou olhando
para ele.

Ambos os machos calaram a boca, como se estivessem surpresos


por ela não estar disposta a brincar com suas rotinas de peito forte.

130
— Apenas seja sincero comigo, —ela disse com exaustão. — Eu já
estava tão farta desta noite, mesmo antes de você valsar parecendo que
Liberace e Hannibal Lecter tiveram um filho de amor.

Quando o macho com a pele estreitou os olhos, Shawn soltou uma


gargalhada.

— Oh, vamos lá, Reverendo, —disse ele, — você tem que admitir que
foi uma boa.

Mae estava muito ocupada medindo o olhar do outro macho para


prestar atenção aos elogios de Shawn. Ela tinha a sensação de que as íris
dele eram roxas escuras—algo que ela nunca tinha visto antes. E Deus,
aquela sensação estranha estava passando por ela novamente. Não era
atração—não, não, ela parecia estar reservando isso para assassinos que
tinham mais tinta do que uma fábrica da Bic e tinham gosto de céu. Não,
o que ela estava sentindo era outra coisa—e o que quer que fosse, ela só
queria fugir da inquietação crescente.

Wladziu Valentino Liberace (West Allis, 16 de maio de 1919 — Palm Springs, 4 de fevereiro de 1987) foi um pianista, cantor, ator e
showman americano.[1] Liberace desfrutou de uma carreira que abrange quatro décadas de concertos, gravações, televisão, filmes e endossos. No
auge de sua fama, das décadas de 1950 a 1970, Liberace era o artista mais bem pago no mundo, com residências e concertos estabelecidas em Las
Vegas e uma agenda de turnês internacionais. Liberace adotou um estilo de vida de excesso extravagante dentro e fora do palco, adquirindo o apelido
de "Sr. Showmanship" (Senhor Espetáculo).

Hannibal Lecter é um célebre personagem de ficção criado pelo escritor Thomas Harris, que apareceu pela primeira vez no
livro Dragão Vermelho, de 1981.

131
— Vou perguntar de novo, fêmea. —A fala arrastada do homem não
mudou. — O que você quer com o Reverendo ...

— Oh, corte a merda, —ela interrompeu. — E eu não quero você. Eu


quero o Livro. Tallah disse que você saberia como encontrá-lo.

Enquanto os pneus cantavam lá embaixo e as portas do carro


começaram a abrir e fechar, o macho parou de falar. E assim ficou.

— Então você sabe o que é, —disse ela com esperança. — Você sabe
o que estou procurando ...

— Claro, eu sei o que é um Livro. São duas capas duras com algumas
coisas frágeis amarradas no meio. As palavras são escritas nas páginas em
linhas retas, a menos que seja ilustrado. E às vezes eles têm palavrões
neles, como do que diabos você está falando.

O rosnado que saiu de Shawn fez parecer que talvez seu nome fosse
uma abreviação para algo como Shawn-alvoroço. E ela se virou e o encarou
com olhos duros.

— Eu não preciso da sua ajuda. —Quando o olhar desagradável dele


ficou preso no outro idiota na garagem, ela bateu em seu peito. — Ei,
Shawn. Você pode sair agora ...

132
Eeeeeeeeee isso foi quando um bando de policiais humanos irrompeu
da escada, armas levantadas e lanternas cegantes apontadas para frente.

Quando Shawn jogou outra bomba-F, e o vampiro com o casaco de


pele ergueu as mãos, Mae protegeu os olhos com os braços—e foi muito
clara sobre o fato de que, provavelmente pela única vez em todas as suas
vidas, ela e esses dois machos estavam em total acordo.

Foda-se estava certo.

Quando Rehvenge foi atingido com um feixe de LED de arrebentar


retina, ele não estava sentindo a fêmea com as ideias brilhantes sobre algo
que ela precisava evitar como a peste. Ele também estava totalmente
irritado com Shawn e sua postura de he-man—embora isso fosse
principalmente porque a luta tinha sido perdida e agora Rehv tinha doze
tipos de dores de cabeça para esperar enquanto se acomodava com os
apostadores. Mas a polícia? Bem, aqueles meninos e meninas de azul o
irritavam.

Ele já tinha problemas suficientes sem que eles interferissem.

133
Com essa nota, ele congelou o trio com os escudos onde eles estavam.
Como um symphath, ler suas grades emocionais era ao mesmo tempo
irresistível e uma espécie de piscar de olhos: a mulher à esquerda estava
muito ansiosa, uma nova estagiária ainda se colocando sob seus pés; o
homem do meio estava completamente calmo, um veterano que tinha visto
quase tudo; e o cara do outro lado estava escondendo algo de todos ao seu
redor.

— Fiquem à vontade, —Rehv comandou.

Em uma dança coordenada, eles baixaram as lanternas, desligaram as


câmeras corporais e relataram aos comunicadores de ombro que não havia
nada de errado no sexto andar, nada de errado, nada acontecendo. O que
quer que tenha acontecido aqui já tinha acabado. As chamadas estavam
incorretas ou era outro caso de falsa denúncia para desviar recursos.

Provavelmente um bando de crianças brincando.

Crianças estúpidas.

Um por um, eles se viraram e estavam conversando casualmente


enquanto voltavam a entrar na escada em fila única: A mulher tinha comido
um Reuben no jantar que não estava caindo bem com ela, o cara do meio

134
estava preocupado com a compra da sua nova casa, e o homem que estava
cuidando da retaguarda esperava que suas horas extras fossem aprovadas.

Ah. Ele estava economizando para comprar um anel de noivado para


a namorada. Era isso que ele estava escondendo—e que bom, não eram
propinas ou alguma merda assim.

Tão doce pra caralho.

Quando a porta de aço pela qual eles entraram se fechou em seus


batentes atrás deles, Rehv olhou para o par de vampiros. Que obviamente
acabaram de se alimentar um do outro. Ele podia sentir o cheiro no ar.

— Tem certeza que vocês dois não estão juntos? —Ele disse para a
fêmea para distraí-la. — Ele não é seu?

— Não! —Ela mexeu na bolsa. A gola de seu moletom. Sua manga


esquerda. — Ele não é—Jesus, acabamos de nos conhecer—quero dizer,
nós nos conhecemos. Mas nem sei o nome dele. Ou não até você chegar—
qual era a pergunta ...

Enquanto ela balbuciava, Rehv entrou e verificou sua grade


emocional—e o que viu foi ruim. Muito ruim.

— Não sei de nenhum Livro, —disse ele, cortando-a. — Desculpe.

A fêmea respirou fundo.

135
— Tallah me disse que você sabe e que saberia onde encontrá-lo. Ela
tinha certeza disso—ela ...

— Ela está errada. —Rehv franziu o cenho. — Como ela está, aliás?
Eu não a vejo há anos. Ela era uma boa amiga da minha mahmen.

— Mas ela disse ...

— Eu cansei de negar fatos para você. —Rehv sorriu lentamente e


acenou com a cabeça em direção a Shawn, que ainda estava fervendo de
agressão, um cocktail vampiro de possessividade. — Mas você pode me
responder uma coisa. Se ele não é seu, por que você o alimentou?

Isso parou a fêmea em seu caminho. — Ele estava morrendo.

Rehv riu um pouco. — Deixe-me ver se entendi. Você vem aqui em


busca de algum tipo de best-seller, esbarra com esse flyboy e quando ele
começa a vazar, —Rehv indicou o tapete oval de sangue no concreto, —
você arrisca sua própria vida para salvar a dele?

— Eu fiz o que qualquer outra pessoa faria.

Não, Rehv pensou consigo mesmo. Você teve seus próprios motivos para
dar a ele sua veia, e sejam quais forem, eles estão deixando você desesperada.

— Não, você não fez, —Rehv murmurou. — A maioria o teria


deixado para morrer. Na verdade, todos teriam. Então ele é seu agora ...

136
— Não, ele não é ...

— Ele deve sua vida a você. Então ele é seu ...

— Eu não o quero!

Shawn—e a propósito, quem diabos se voluntariava para um nome


humano como esse? O desgraçado não poderia ter pensado em outra coisa
para se disfarçar?—de repente pareceu ofendido. Como se ela tivesse
passado para carne inspecionada pelo USDA recém-saída da geladeira.

Sim, porque um macho como ele era um grande prêmio.


Especialmente para uma boa fêmea que estava claramente perdida com o
que quer que diabos estivesse acontecendo aqui.

— Ok, tudo bem, isso é problema seu. —Rehv encolheu os ombros.


— E nessa nota, estou fora ...

— Eu preciso de sua ajuda, —ela implorou.

Rehv estreitou os olhos novamente. Quando ela juntou as palmas das


mãos e se inclinou para frente como se estivesse rezando para ele, a
expressão em seu rosto teria sido de partir o coração se ele tivesse se
importado. Mas ele não podia se dar ao luxo. A grade dela, aquela

Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (DAEU; em inglês: United States Department of Agriculture, USDA) é o órgão público que
cuida da agricultura nos Estados Unidos, tendo como objetivo desenvolver e executar políticas relacionadas à agricultura, apoiar os agricultores e
pecuaristas, promover o comércio de bens agrícolas, garantir a segurança alimentar, proteger os recursos naturais, apoiar as comunidades rurais e
também garantir que as necessidades do povo estadunidense sejam atendidas.

137
superestrutura que apenas os sympathos viam, estava brilhando com uma
iluminação feroz e destrutiva—que subia ao nível de um incêndio de cinco
alarmes.

Especialmente considerando pelo que ela estava perguntando.

— Qual é o seu nome? —Ele perguntou.

— Isso é importante?

— Nah , não realmente ...

— Você é minha única esperança, —ela implorou.

Depois de um momento, ele balançou a cabeça.

— Essa é uma frase de Star Wars , fêmea. Não tem nada a ver
comigo. Até mais, para vocês dois.

Enquanto se desmaterializava, ele pensou que precisava deixar tudo


isso em paz.

Infelizmente, dado o que ela estava procurando?

Nah, Nop, No: quer dizer, não

Star Wars (Brasil: Guerra nas Estrelas /Portugal: Guerra das Estrelas) é uma franquia do tipo space opera
estadunidense criada pelo cineasta George Lucas, que conta com uma série de nove filmes de fantasia científica e dois spin-offs.

138
Ele estava tão envolvido quanto alguém amarrado a uma âncora
afundando.

Foi bom o Reverendo ter partido. Enquanto aquele macho com o casaco
chique batia as gengivas, Sahvage se perguntava qual forma de matar o
filho da puta seria a mais satisfatória. Havia muito para escolher, que era
o que acontecia quando você passava alguns séculos perseguindo a noite
e erradicando coisas. A falta de armas, no entanto, limitava algumas de
suas opções—embora apenas com as mãos fosse dificilmente um
problema.

No final, a escolha do melhor da ninhada foi pegar a cabeça do cara e


bater com a cara em uma das paredes de concreto prontamente
disponíveis—com o resultado que o crânio do Reverendo rachasse como

139
um ovo e seu cérebro quebrasse sua prisão craniana como pombos voando
debaixo dos pés, espalhar, espalhar, agitar, agitar.

Oh, que alívio era isso.

Infelizmente, antes que aquele pequeno plano feliz pudesse ser


colocado em ação, o fodido decolou ...

— Não, —a fêmea gritou enquanto corria para frente.

Ela estava segurando as mãos no ar, embora seus olhos devessem ter
dito que não havia ninguém lá para pegar, ninguém para segurar.
Ninguém para ajudá-la.

Parando ao lado, Sahvage pensou que seria interessante ser preciso


por ela assim. Ser desejado assim. Determinado a ser necessário ...

O que diabos ele estava pensando.

Esteve lá, fez isso e olhe para todas as merdas de felicidade que caíram
em sua cabeça por causa disso.

— Então, que livro é este? —Ele perguntou.

Caramba. Não. Ele não acabou de abrir essa porta ...

A fêmea girou ao redor. A derrota absoluta em seu rosto foi um


choque—sem absoluta nenhuma razão para isso.

140
— Ele era minha última chance.

— Para quê?

A fêmea olhou para seus sapatos. Quando ela finalmente olhou para
ele, ela apertou os lábios e balançou a cabeça.

— Eu tenho que ir.

Sahvage cruzou os braços sobre o peito. — Se você quiser, eu o trarei


de volta para você.

Com as sobrancelhas levantadas, ela colocou uma das orelhas em


concha, como se ela não pudesse ter ouvido direito.

— O que?

— Vou encontrá-lo e trazê-lo de volta para você.

Ela soltou uma maldição cansada. — Você não pode fazer isso.

— Me observe. —Ele encolheu os ombros. — Não me importo de


carregar cargas pesadas com bocas grandes. Fiz isso antes, farei de novo.

— Ele sabe onde está, —ela murmurou enquanto olhava para trás
onde o outro homem esteve. — Tallah nunca mentiria para mim. Ele sabe
onde o Livro está, mas por algum motivo, ele está fingindo que não sabe.

Sahvage ficou imóvel.

141
— Que livro você está procurando.

Distraidamente, como se fosse uma reflexão tardia de tudo o que


estava passando por sua mente, ela disse:

— E você precisa parar de lutar.

Sahvage franziu a testa e apontou para todo o espaço vazio.

— Com quem? Estamos sozinhos aqui, para sua informação, e esta


nossa réplica picante dificilmente pode ser considerada uma luta.

Por algum motivo, ele teve vontade de provar que conhecia algumas
palavras bonitas.

Os olhos dela voltaram para os dele.

— Você precisa parar de lutar com tudo e todos.

— Não finja que me conhece, fêmea, —ele avisou.

— Eu não tenho que fingir. É um outdoor pendurado sobre seus


ombros para que todos possam ver. —Ela balançou a cabeça. — Apenas
pare de lutar. É um maldito desperdício de energia. E sinto muito por ter
te distraído tanto que você se machucou. Acho que estamos quites nessa
situação agora, no entanto ...

142
— Você pensou que eu era o Reverendo, —disse ele abruptamente. —
Por isso que você voltou, não foi?

— Não importa agora.

— Você tem razão. —Ele deu um passo em direção a ela. — Mas me


responda uma coisa.

— Eu tenho que ir ...

— Se você soubesse que não sou ele, você ainda teria tentado me
salvar? —Quando ela não respondeu, ele baixou as pálpebras. — Vamos
lá, seja honesta. O que você tem a perder?

— Não, —ela disse depois de uma pausa. — Eu não teria voltado.

— Bom. —Quando a surpresa brilhou em seu rosto, ele encolheu os


ombros. — Isso prova que você tem meio cérebro, e algo me diz que você
vai precisar disso, querida.

A fêmea respirou fundo. — Se você me chamar de ‘querida’ mais uma


vez, eu vou machucar você.

Sahvage riu um pouco. — Parece divertido. Vou até deixar você me


segurar quando fizer isso. Gosto da ideia de você por cima.

143
O rubor começou na garganta dela e subiu para colorir seu rosto—e
esse não foi o único calor que explodiu. O cheiro de sua excitação viajou
com a brisa até seu nariz, e ele inalou lenta e profundamente.

— É uma pena que você esteja indo, —disse ele em voz baixa. —
Tenho que tomar banho e eu poderia usar uma ajuda nas costas.

A fêmea se sacudiu, como se tivesse saído de um transe.

— Nem é preciso dizer que estou além de desinteressada. Você pode


guardar o sabonete para si mesmo.

Com esse encerramento, ela se desmaterializou tão rápido que ele


ficou surpreso com seu controle mental. E então, com sua ausência
devidamente registrada ... por uma fração de segundo, ele fez o que ela
tinha feito e estendeu a mão para o ar.

Mesmo que não houvesse nada na frente dele.

Soltando seus braços, um vazio tomou conta de seu peito e foi levado
até seus membros. A sensação de ser nada mais do que um vazio que
respirava era familiar. Era quem ele tinha sido por muito tempo.

No entanto, por alguma razão, aquela fêmea o fez consciente de sua


existência estéril como se a ausência de peso fosse nova.

144
Como se qualquer coisa importasse, no entanto, ele disse a si mesmo
enquanto se desmaterializava também.

Além disso, ele podia alcançar suas próprias costas.

Sempre pode, sempre poderá.

Lá embaixo, no nível do solo, Mae se reformou na escuridão e ignorou


cuidadosamente o fato de que estava ofegante. E havia todos os tipos de
outras coisas em seu corpo que ela se recusava a reconhecer, mas ela não
iria insistir nelas. Não que eles existiram. Porque ela os estava ignorando.

— Foda-se, —ela murmurou. Mesmo que ela raramente xingasse.

Então, novamente, esta noite estava quebrando todos os tipos de


recordes.

Presa em sua cabeça, ela começou a andar sem se preocupar em ver


quem estava por perto. Felizmente, os policiais estavam bem ocupados do
outro lado da garagem, e todos os outros humanos já haviam saído de
Dodge, como dizia o ditado.

145
Atravessando a rua, os flashes vermelhos aleatórios das luzes dos
carros de patrulha dispararam ao redor dos prédios abandonados, e não
havia absolutamente nenhum tráfego em qualquer uma das estradas no
que parecia um raio de dez quarteirões. Da mesma forma, os
estacionamentos que haviam sido uma SRO para aqueles carros
espalhafatosos agora estavam vazios, nada além de lixo e um batedor
ocasional deixado para trás—e acima, o helicóptero da polícia estava
desligando sua busca e remando para fora da área.

Era como a última cena de um filme de terror, os sustos acabados, a


heroína a salvo, as lições aprendidas. Faça a rolagem dos créditos.

Ótima analogia—metáfora, seja o que for.

Sim, exceto que isso sempre acontecia quando Jason voltava do lago
proverbial e arrastava o conselheiro para o fundo com ele.

Reivindicando sua última morte, afinal.

O carro dela estava onde ela o havia deixado e, entrando, ela ligou a
ignição, colocou as coisas em marcha à ré e deu meia-volta. Quando ela

standing room only - somente sala de espera

Referencia a Jason Voorhees da série de filmes slasher Sexta-Feira 13 (em inglês: Friday the 13th), um assassino
monstruoso conhecido por usar uma máscara de hóquei no gelo e um facão como principal arma de ataque.

146
saiu, em uma direção que garantia que ela evitasse os policiais, ela agarrou
o volante, mas se recostou no banco do motorista.

Deus, não era assim que ela pensava que as coisas iriam funcionar. E
ela precisava ligar para Tallah.

Em vez de pegar o telefone da bolsa, ela apenas dirigiu para fora do


diagrama de Venn de mão única do centro da cidade, encontrando uma
rampa de entrada para a Northway ...

Merda, ela estava indo para o sul, não para o norte.

— Maldição, —ela murmurou enquanto olhava por cima do ombro


para se misturar.

Não havia carros, apenas um par de trailers, e Mae saiu na próxima


saída, fez inversão em um semáforo e voltou para a rodovia, indo na
direção certa.

Mesmo enquanto ela mantinha o carro em sua pista, e no limite de


velocidade, e monitorava os números crescentes das saídas, ela estava
principalmente em sua cabeça, uma apresentação de slides de tudo o que

diagramas usados em matemática para mostrar graficamente propriedades, axiomas e problemas relativos aos conjuntos
e sua teoria

147
tinha acontecido passando de cena por cena. Quando o do-início-ao-fim
terminou e se preparou para uma repetição, ela olhou para o relógio em
seu painel.

Puta merda. Apenas uma hora tinha passado.

Pareciam doze.

Ou talvez uma semana inteira.

Ainda assim, por tudo o que havia acontecido, o essencial permanecia


o mesmo, e a realidade esmagadora de sua situação tornava difícil
respirar. Abrindo a janela, ela inspirou profundamente. Então ela desligou
o aquecedor.

Quando chegou na sua saída, foi como se seu carro tivesse saído
sozinho, e a mesma coisa aconteceu quando ela se aproximou do posto de
gasolina Shell em que costuma parar todas as noites. Quando o Honda
parou na frente da loja, longe das bombas, sua cabeça virou-se para
o refrigerador de gelo.

Por um momento, as coisas ficaram borradas, os pinguins dos


desenhos animados com seus lenços vermelhos desaparecendo no meio de
sua paisagem ártica.

148
Ela segurou o colapso abrindo a porta e saindo com a bolsa. Indo para
a loja de conveniência, o jovem atrás da caixa registradora ergueu os olhos
do telefone.

— Oh, ei. —Ele acariciou sua barba desgrenhada. — O de costume?

— Sim, obrigada.

Quando Mae pegou duas notas de vinte dólares, o humano fez seu
bip, bip, bip na caixa registradora e a gaveta do dinheiro abriu. Quando
ele lhe devolveu vinte e sete centavos como troco, ela colocou as moedas
no prato de plástico para outra pessoa.

— Eu o mantive desbloqueado para você, —disse ele enquanto se


acomodava em seu banquinho e voltava para o telefone. — Você com
certeza dá muitas festas.

— Você quer que eu puxe a corrente para você e coloque a fechadura


quando eu terminar?

Ele olhou para cima surpreso, como se um cliente o ajudando nunca


tivesse acontecido antes.

— Sim. Obrigado.

— Cuide-se.

149
— Sim, você também.

De volta ao lado de fora, ela foi até o freezer. Foram necessárias


três viagens de ida e volta para o carro e, na última, ela colocou os pacotes
frios e escorregadios na calçada, passou os elos da corrente pelas alças e
encaixou o Master Lock no lugar.

Olhando para a câmera de segurança, ela acenou.

Através da parede de vidro, o homem atrás do caixa ergueu a mão


sobre o ombro em resposta.

Com um grunhido, Mae juntou os últimos sacos de gelo e os jogou no


porta-malas. Jogando-os junto com os outros, ela fechou as coisas com
força e voltou para o volante.

Ela chorou todo o caminho até a casa dela.

Até a casa em que ela e o irmão cresceram.

Até a casa em que agora moravam juntos, após a morte de seus pais.

A Master Lock é uma empresa americana que desenvolve cadeados, fechaduras combinadas, cofres e produtos de
segurança relacionados. Agora uma subsidiária da Fortune Brands Home & Security, a Master Lock Company LLC foi formada em 1921 pelo inventor
e serralheiro Harry E. Soref e está sediada em Oak Creek, Wisconsin.

150
A entrada da garagem parecia correr para encontrar os pneus
dianteiros de seu carro, e enquanto seus faróis altos lavavam a fachada
da casa de um andar, ela viu que um dos arbustos perto da porta havia
morrido durante o inverno, e havia um galho caído no gramado
lateral. Ela teria que lidar com eles.

Enquanto esperava que a porta da garagem se abrisse, percebeu


que tinha notado aquele arbusto e aquele galho todas as noites quando
voltava com o gelo. E ela tomava a mesma resolução todas as noites.
Amanhã à noite? Ela provavelmente iria repetir tudo.

Porque nada tinha mudado ...

— Merda, —ela murmurou enquanto colocava as coisas em marcha


ré.

Na rua novamente, ela deu a volta com o carro, girou para ver por
cima do ombro e deu ré no Civic corretamente. Travando um pouco antes
do para-choque traseiro do Honda bater na parede traseira, ela desligou o
carro e esperou que as portas da garagem descessem e voltassem ao lugar.
Depois disso, demorou alguns minutos antes que ela pudesse suportar
voltar ao trabalho.

Ela não parava de pensar naquele lutador.

151
E não, ela não iria ajudá-lo a lavar suas costas. Como se ela tivesse
qualquer interesse em olhar para aquele crânio enquanto ensaboava com
Ivory seus enormes músculos do ombro e sua cintura apertada e seu ...

— Não vá mais longe com isso, —ela ordenou enquanto saía do carro.

O ritual de manter a porta dos fundos aberta com a lata de lixo e ir e


vir do porta malas até o lugar onde a bolsa tinha vomitado na noite
anterior era mais exaustivo do que deveria ser.

Quando ela finalmente terminou, ela certificou-se de que o ferrolho


fora colocado e, em seguida, parou sobre os oito sacos de cubos de
gelo. Suas palmas estavam ardentes e vermelhas, e ela as esfregou nas
calças. Ela não conseguia respirar, mas não era por causa do esforço.

Quando ela sentiu que poderia suportar, ela caminhou pelo corredor
estreito e passou pela cozinha. Na frente da casa, a sala de estar estava às
escuras e o corredor do outro lado, onde ficavam os quartos do andar de
cima e o banheiro compartilhado, também estava escuro.

Ela e seu irmão sempre ficavam lá embaixo. Mas nas últimas duas
semanas ou mais, ela se mudou para o espaço do porão.

O sabão foi inventado na década de 1870 por uma equipe liderada por James Norris Gamble, o filho de um dos fundadores da P&G,
e foi batizado com o nome Ivory por Harley Procter, filho do outro fundador. Produzido a partir de óleos vegetais, o "sabão que flutua" branco e
barato era promovido como sendo 99,44% puro.

152
Parando na porta fechada do banheiro comunitário, ela fechou os
olhos. Então ela bateu.

— Rhoger? Rhoger, sou eu.

Ela esperou, sem um bom motivo.

Quando ela abriu a porta, ela manteve os olhos no chão de ladrilhos


até que não pudesse mais evitá-lo. Mudando-os para a banheira, ela sentiu
uma dor cantante no centro do peito.

O corpo de Rhoger estava submerso em uma poça de água gelada, os


cubos que ela havia adicionado na noite anterior derretidos. Ele ainda
estava com as roupas que usava quando chegou em casa e desabou no
corredor da frente, as manchas de sangue desbotadas por causa de toda a
água, a camisa e as mangas esvoaçando na submersão, o jeans gasto o
mesmo. Não havia sapatos e seus pés descalços eram do mesmo branco
de mármore do seu rosto.

Suas pálpebras estavam abertas novamente.

Apertando a boca com a mão, Mae começou a hiperventilar, sua caixa


torácica trabalhando horas extras, seus pulmões em chamas não
chegavam a lugar nenhum quando se tratava de aliviar uma repentina
sensação de asfixia.

153
— Rhoger, eu juro ... —Ela enxugou o rosto e pigarreou. — Eu vou
pegar o Livro. De alguma forma, eu vou pegá-lo e salvar você.

Debaixo da água parada, seu irmão olhou para ela com olhos vagos e
fixos.

Ela estava bem familiarizada com eles. Quando ela conseguia dormir
um pouco, ela os viu em seus pesadelos.

Tropeçando de volta para o corredor, ela queria cair de joelhos e


vomitar.

Em vez disso, ela se recompôs ... e foi buscar o gelo fresco.

154
— Você foi ...
Enquanto Balz esperava que a Sra. terminasse seu pensamento em voz
alta, ele sorriu para a penumbra dela e do majestoso quarto principal do
Sr. Ele se assegurou de manter as portas do banheiro de mármore abertas
para que houvesse luz suficiente para seus olhos humanos verem o que ele
estava fazendo com ela. E tinha sido uma sessão realmente boa, o tipo de
treino básico que significava que ele não teria que ir para a academia do
centro de treinamento quando chegasse em casa.

Rolando para o lado, ele pegou a ponta do dedo e correu sobre o colar
de diamantes que ele colocou nela.

— Isso foi divertido.

A Sra. virou a cabeça para ele, seu cabelo profissionalmente cuidado


derramando sobre o travesseiro, as extensões morenas emaranhadas

155
agora, graças aos seus orgasmos e a forma como ela se arqueou para trás
contra a cama tantas vezes.

— Foi muito mais do que divertido.

Ele arrastou o dedo indicador até a garganta dela e acariciou o lábio


inferior dela com o polegar.

— Eu tenho que ir.

— Você pode ficar até de manhã ... —De repente, a Sra. desviou o
olhar, seu perfil perfeitamente equilibrado, provavelmente graças a uma
ajudinha de alguém com um bisturi. — Mas você não tem que dizer isso,
eu entendo que isso não é ... você sabe.

Balz pressionou os lábios no ombro nu dela.

— Você é incrivelmente bonita e qualquer homem ficaria honrado em


estar em sua cama. Confie em mim. Eu nunca vou esquecer isso.

Quando os olhos dela voltaram para os dele, seu sorriso foi lento.

— Obrigada. Eu sou esquecida muitas vezes.

— Nunca por mim. —Enquanto ele dizia a ela o que ela queria ouvir,
ele pegou a mão dela e a colocou sobre o peito, sobre o coração. — Bem
aqui, há um lugar para você. Mesmo que não nos vejamos novamente.

156
A Sra. acenou com a cabeça.

— Eu sou casada.

— E você não deveria se sentir mal por isso. Especialmente quando


ele está em Idaho. Me prometa isso, okay?

Quando ela assentiu com tristeza, Balz beijou-a na testa e depois se


desvencilhou de seu corpo, de seus lençóis, de sua cama ... da vida dela.
Enquanto ele se vestia novamente com suas roupas pretas de ladrão, ela o
observou, enrolando-se de lado e segurando os cobertores contra os seios.

O que eram, de fato, espetaculares. Bem como reais.

— Você não vai levar isso? —Ela perguntou.

Quando ele olhou, ela tocou os diamantes em sua garganta e ele


balançou a cabeça.

— Não. Você fica com ele. Eu não quero tirar nada de você.

— Você não está preocupado que eu chame a polícia? Quer dizer, eu


não vou, nunca, mas ...

— Não, não estou preocupado com isso.

E porque estava na hora, porque era assim que as coisas deveriam ser,
ele entrou no cérebro dela e a fez cair em um sono profundo e curador.

157
Dentro do arquivo de sua memória, ele atribuiu tudo o que haviam feito
juntos às invenções de um estado de sonho, o tempo em que passaram
uma fantasia maravilhosa e satisfatória que pareceria tão real
quanto quando estivesse realmente acontecendo.

Uma fogueira para se aquecer no meio do inverno de seu casamento.

Antes de Balz deixá-la, ele puxou o edredom para que, quando o suor
secasse em sua pele, ela não pegasse um resfriado. Em seguida, ele foi com
os pés suaves, do vestiário de volta para o armário. Enquanto as portas
duplas se fechavam atrás dele, ele fez uma segunda viagem para a seção
de roupa formal do marido dela, e separou o mar dos ternos novamente.

Balz bufou de sua própria graça ao reabrir o cofre, e não havia dúvida
do que ele iria levar dessa vez. Pegando a caixa de relógios cravejados, ele
enfiou a coleção de contadores de tempo do Sr. debaixo do braço e fechou
tudo de novo.

Que idiota do caralho o cara era. Tinha uma coisa boa ao seu lado,
mas nãããão, ele precisava ir encontrar alguém estranho. Em Idaho.

Tão estúpido.

De volta ao corredor, Balz pensou em desmaterializar-se por uma das


janelas de vidro duplo. Em vez disso, ele se viu descendo as escadas curvas
apenas para poder passar pelos Banksy novamente. Isso sim era arte.

158
E ele pegaria um ou dois se pudesse. Infelizmente, obras-primas como
essa? Você não poderia descarregá-los por mais de alguns centavos de
dólar. Proveniência demais, muita atenção—e esse era o problema de ser
um ladrão. Era tudo sobre a estratégia de saída, e não apenas nos termos
de escapar com segurança da merda de outra pessoa. Você tinha que ser
capaz de vender—ou você era apenas um colecionador criminoso.

Para baixo no segundo andar, ele girou em direção à vista e tomou


uma profunda e calmante respiração ...

O som foi calmo no silêncio absoluto do triplex, o tipo de coisa que,


mais tarde, ele se perguntaria como tinha ouvido.

Foi um toque. Como em uma janela. Mas não exatamente.

Franzindo a testa, ele girou e olhou na direção de onde pensava que


isso vinha. Foi quando ele ouviu novamente.

Toque. Toque.

Como se algo estivesse preso e tentando sair.

Esquisito. Em todas as suas pesquisas sobre o Sr. e a Sra., ele não


encontrou nenhum animal de estimação. Por um lado, a dupla tinha o tipo
de programação de viagens em que dificilmente se conseguiria manter viva
uma planta de casa, muito menos algo que exigisse comida, água e

159
caminhadas. Por outro lado? O Sr. era um nojento puro. Pêlo de gato?
Pêlo de cachorro? Ele teria uma porra de uma coronária.

Bem, seja o que fosse, não havia razão para ...

Por vontade própria, os pés de Balz começaram a andar, seu corpo


carregado como bagagem inanimada enquanto se dirigiam em uma
direção, em uma missão, que estava totalmente desconectada de sua
vontade: ele queria ir embora. Ele queria voltar com os relógios para seu
quarto na mansão da Irmandade. Ele queria fazer uma ligação para seu
cara do mercado negro para monetizar a pequena coleção feliz de tique
taques de pulso do Sr.

Em vez disso, Balz estava passando pelas salas de coleção ... de volta
com os meteoritos, os instrumentos cirúrgicos, os morcegos.

Uma nova sala agora. Totalmente escura sem luzes ou janelas.

Quando ele entrou, uma luminária de teto foi ativada por movimento
e uma iluminação baixa e silenciosa brilhou de cima.

Livros. Em todos os lugares. Mas não alinhado nas prateleiras, espinha


com espinha. Eles foram colocados em caixas de vidro que subiam pelas
paredes, os tomos reclinados em suportes inclinados como se estivessem
em um spa. No brilho da luz suave, letras douradas brilhavam nas capas,

160
bem como nas bordas de algumas das páginas. Quando Balz inspirou, ele
sentiu cheiro de poeira ...

E algo mais.

Toque. Toque. Toque ...

Sua cabeça girou lentamente para o canto mais distante. Separado de


todos os outros, em uma vitrine de chão que era alta e iluminada, um tomo
separado do resto recebera uma distinção exaltada dos outros da coleção.

Toque.

Balz se aproximou, chamado pelo som. Pela presença do livro


especial. Pela ...

No fundo de sua mente, ele reconheceu que não tinha forças para se
virar para o outro lado. Mas ele estava tão cativado pelo que estava à sua
frente que nem percebeu sua servidão, nem pensou em mudar
seu destino. E quando ele se aproximou do invólucro, ele prendeu a
respiração.

— Estou aqui, —ele sussurrou enquanto colocava os relógios de lado


no tampo de vidro. — Você está bem?

Como se a coisa fosse uma criança esquecida. Que precisava ser


resgatada. Por ele.

161
O inestimável artefato era encadernado em algum tipo de couro
escuro e manchado que fazia sua nuca formigar em advertência. Velho. O
volume único era muito, muito antigo. Nenhum título estava gravado na
superfície da capa, e as páginas pareciam grossas como pergaminho ...

Algo cheirava mal.

Como a morte.

Quando uma onda de náusea surgiu em seu intestino, Balz cobriu a


boca com a palma da mão e se curvou para vomitar ...

O som de seu celular tocando foi um choque elétrico absoluto, seu


corpo se lançando do chão. Que porra é essa? Ele tinha silenciado o ...

Abatido e desorientado, ele se atrapalhou com a coisa.

— Olá? Olá ...?

— É hora de voltar para casa, Balz. Agora mesmo.

A princípio, ele não reconheceu a voz. Certamente não era alguém


que o ligava com muita frequência.

— Lassiter?

Por que o anjo caído estava ligando pra ele ...

162
Seus olhos voltaram ao livro em seu estande e ele pulou novamente.
Ele havia se aberto, a capa frontal jogada para trás, suas páginas virando
com pressa, a enxurrada de atividades não fazia sentido ...

— Agora, —Lassiter latiu pela conexão. — Traga sua bunda para


casa bem agora, porra ...

Balz voltou a atenção. Algo nas sílabas do anjo quebrou qualquer


feitiço que o havia dominado, e com um tiro de clareza, ele sabia que se
não se desmaterializasse naquele exato instante, ele nunca estaria livre.

O que quer que isso significasse.

Bem quando ele estava fechando os olhos, o livro se acomodou em


uma folha aberta e ele percebeu que na verdade não estava iluminado, na
verdade, brilhava sozinho. E ele teve que ler o que havia sido servido para
ele, e apenas ele ...

De repente, sua forma física transformou-se em uma nuvem invisível


de si mesmo e ele fugiu pelas salas de coleta até a fileira de janelas que
davam para o rio Hudson. Escorregando entre as moléculas de uma das
vidraças, ele viajou para o norte em uma dispersão, o ar frio e
forte registrando-se embora ele não fosse corpóreo.

A menos que talvez fosse apenas como ele se sentia?

163
O chamado para voltar ao centro da cidade, voltar ao Commodore,
entrar novamente no triplex e ler o que havia sido fornecido para ele, e
apenas ele, era quase irresistível. No entanto, ele sabia, sem dúvida, que
havia uma infecção ali, algo que iria penetrá-lo e corroer sua mente e
medula, uma doença da alma que bem poderia ser contagiosa.

Para que ele pudesse dar para aqueles que mais amava.

Ele agora tinha sido salvo por pouco.

E as pessoas não tinham essa sorte duas vezes, especialmente na


mesma maldita noite.

O que diabos acabou de acontecer? Ele pensou.

Momentos depois, a montanha da Irmandade da Adaga Negra surgiu


em seu horizonte, de ombros altos e topo em cúpula, seus contornos
cobertos de pinheiros estabelecendo um flanco de um vale. Protegido por
mhis, graças ao Irmão Vishous, a área era o tipo de local que aparecia no
Google Maps, mas, a menos que você soubesse o que estava fazendo e
para onde estava indo, não conseguiria encontrar o caminho assim que
você colocasse os pés na propriedade.

Tudo ficaria embaçado. Confuso. Desorientador.

Você sabe, mais ou menos como ele estava se sentindo agora.

164
Enquanto ele se reformava, a náusea o perseguiu e ele respirou pelo
nariz para fazer seu estômago se acalmar ...

— Que ... porra?

Em vez de estar na frente da grande mansão cinza, ele estava nos


fundos da velha mansão de pedra, olhando para um conjunto de janelas
do segundo andar.

Este não era o lugar para onde ele se enviara. Por que ele estava ...

O som triste de uma coruja piando quebrou o silêncio da noite, e ele


teve uma necessidade repentina de entrar porra ... como se houvesse
alguém—ou, pior, alguma coisa—vindo atrás dele ...

Do nada, as memórias invadiram seu cérebro. Entre uma piscada e a


próxima, não era mais o início da primavera, com a neve quase toda fora
dos jardins e da piscina de inverno. De repente, era o auge do inverno,
tudo coberto de branco, o ar frio batendo em seu rosto e despenteando seu
cabelo. Ele não estava mais no chão. Ele estava na lateral da casa,
escalando livre nas juntas de argamassa com seus sapatos de escalada e as
alças de dedo, trabalhando nas venezianas de proteção diurna do segundo
andar. Vários dos painéis falharam naquela nevasca, e ele e alguns dos
outros estavam fazendo o que podiam para colocar as proteções de aço no
lugar enquanto a tempestade rugia. Sim, exceto que ele não era nenhum

165
Tim, o Homem das Ferramentas, Taylor com a merda do Sr. Consertar.
A eletrocussão das engrenagens motorizadas foi um choque—literal e
figurativamente—e ele não se lembrava de ter sido jogado do peitoril no
ar.

Ele estava morto quando caiu na neve. Z e Blay tinham feito


reanimação cardiopulmonar nele para salvar sua vida, e ele foi informado
que tinha sido tocado e ido.

Para agradecê-los, ele trouxe de volta uma mensagem do Outro Lado.

O demônio está de volta.

Essas foram as palavras que ele disse quando finalmente voltou a si,
embora ele não tivesse nenhuma memória de tê-las dito—e nenhuma
memória de morrer, também. Ele só sabia o que tinha saído de sua boca
porque tinha ouvido alguns Irmãos conversando sobre isso, e ele só teve
consciência de ter sido um cadáver por um breve período por causa do que
estava em seu prontuário.

As pessoas não ficavam assim se tivessem tido um corte de papel ...

O demônio está de volta.

Ao ouvir sua própria voz repetir a frase em sua cabeça, o suor brotou
sob suas roupas e ele enxugou a testa com uma mão que tremia ...

166
— Você fez a coisa certa.

Quando a voz de Lassiter foi registrada à distância, ele olhou para o


telefone em sua mão. Trazendo a unidade ao ouvido, ele disse:

— Eu fiz?

— Eu estou aqui.

Balz olhou para a direita. O anjo estava no canto da casa, parado em


uma das portas francesas.

— Venha aqui, —disse Lassiter enquanto estendia a palma da mão.

— Para onde fui quando eu morri? —Balz olhou para o chão e tentou
imaginar como seria seu corpo na neve. Ele estava de costas? Devia ter
estado, se ele foi jogado da casa. — Eu sei que não fui ao Fade. Eu não vi
uma porta. Você deveria ver uma porta, certo ...

— Não se preocupe com isso. Venha para dentro ...

Ele olhou do flanco da mansão para o anjo.

— Como você soube que deveria me ligar agora há pouco?

Toque.

Lassiter não estava mais olhando para ele. Ele estava focado em algo
acima e à esquerda, no céu.

167
— Eu preciso que você entre. Agora mesmo.

Toque. Toque.

— Bem, eu preciso que você me diga o que está acontecendo ...

— Balthazar, confie em mim. Você tem que entrar ...

Toque, toque, toque, toque, toque ...

De repente, ouviu-se um som vindo de todos os lugares acima e Balz


instintivamente abaixou-se e cobriu a cabeça ao se agachar.

Pássaros. Voando com pressa.

Contra o pano de fundo das estrelas, centenas de pássaros não


noturnos saíram da floresta, as asas desesperadas e fugitivas dos pardais,
gaios-azuis e cardeais levando-os em todos os tipos de direções,
seus pequenos corpos delicados bloqueando a névoa distante de galáxias
em um padrão discordante e oscilante.

Por uma fração de segundo, Balz pensou nos esqueletos de morcego.

O gaio-azul é uma ave passeriforme e membro da família dos corvos, que é originária da América do Norte. É uma espécie
adaptável, agressiva, e onívora.

Cardeais são aves da ordem Passeriformes do género Paroaria. Ave de extrema beleza, sua principal característica é o topete
eriçado de um vermelho intenso, que invade também o peito em ambos os sexos.

168
E então tudo o que ele conheceu foi puro terror.

Cedendo à repentina explosão de medo, ele começou a correr—e de


alguma forma, ele ele sabia que não devia tentar nenhuma das outras
portas da casa. De alguma forma, ele sabia que Lassiter estava no único
portal que ele poderia usar, o anjo caído sua única esperança, sua salvação
de um destino pior que a morte.

Embora ele não soubesse quem ou o que era seu perseguidor.

Os pulmões de Balz gritavam por oxigênio e suas pernas bombeavam


mais rápido do que em toda a sua vida. E quando ele se aproximou de
onde o anjo estava inclinado para fora da mansão, Lassiter começou a
gritar com ele para se mover, mover, mover ...

No segundo que Balz estava ao alcance, o anjo reagiu e o puxou para


dentro, batendo a porta e apoiando seu corpo contra ela enquanto Balz
tropeçava e saltava no tapete persa da biblioteca.

Toquetoquetoquetoque ...

Quando uma enxurrada daquele som irradiou pela sala, por toda a
mansão, Balz virou de costas e caminhou ainda mais longe do barulho. O
que queria reivindicá-lo estava batendo no vidro daquela porta francesa, o
barulho uma ampliação daquilo que o chamara para aquela sala no triplex,
para o livro.

169
Apenas mais alto. Mais exigente.

Petulante, como se se ressentisse de ser negado.

— Que porra está acontecendo aqui, —Balz exigiu.

Mas o anjo não pareceu ouvi-lo. Lassiter tinha fechado seus olhos de
cores estranhas e estava lutando contra a porta fechada, seu enorme
corpo acelerando e vibrando com poder, seu cabelo loiro e preto caindo
sobre seu peito e braços flexionados.

Como se ele fosse a única coisa mantendo o que quer que fosse fora
da mansão.

— Ela está de volta, —Balz ouviu-se sussurrar derrotado.

170
Quando o sol começou a nascer sobre Caldwell, a demônio Devina
desligou seu fogão Viking e moveu a frigideira All-Clad84 para o lado do
balcão. O prato que ela decidiu usar era quadrado e branco, e os dois
pedaços de carne que ela colocou com uma pinça de aço inoxidável foram
cozidos com perfeição: apenas um pouco de sal e pimenta. Um pouco de
azeite de oliva extra virgem para cobrir a frigideira e ajudar na crocância.

Coisas simples, bem preparadas. Muito melhor do que uma refeição


gourmet que precisava de uma narração de doze minutos e um dicionário
de francês para decifrar.

Pegando a taça de vinho, ela levou a comida para a mesa e escolheu


o assento que ficava de frente para a área da cozinha para que pudesse

Fogões marca Viking

A All-Clad Metalcrafters, LLC é uma fabricante americana de utensílios de cozinha com sede em Canonsburg, Pensilvânia.

171
olhar todas as coisas que possuía. Seu espaço privado, seu covil, se você
quiser, era uma vasta área aberta no porão de um dos edifícios de
escritórios mais antigos do centro da cidade. Tecnicamente, era uma das
cerca de uma dúzia de instalações de armazenamento mais comumente
usadas para—soneca—coleções de arquivos e registros corporativos, um
privilégio para os negócios que ocupavam andares inteiros dos níveis
superiores.

O dela era diferente, e não apenas porque ela podia camuflá-lo e seu
precioso conteúdo à vontade. Em vez de papelada estúpida e discos
rígidos inúteis ou o que quer que exista nesses outros, o dela estava cheio
de beleza.

Pegando o garfo e a faca—Christofle , esterlina —ela cortou a carne


e colocou um pedaço na boca.

Porcaria. Estava mastigável. Prova positiva de que a aparência de


algo bom não era uma medida verdadeira de seu valor.

A Maison Christofle usa a manufatura inteiramente à mão usando técnicas tradicionais. Os preciosos ofícios de tornear-fiar,
nivelar, perseguir, gravar, perpetuados por seus mestres ourives e Meilleur Ouvrier de France, imortalizam as qualidades de elegância e excelência
de todas as peças Christofle. É esse know-how humano insubstituível perpetuado por artesãos altamente qualificados, transmitido de mestre pa ra
aluno, que constitui a herança viva de Christofle. Verdadeiros “tesouros vivos”, os Mestres Ourives são os guardiões da durabilidade e qualidade do
know-how de Christofle. Fundador: Charles Christofle - Fundação: 1830, Paris, França - Sede: Paris, França - Organizações matrizes: Chalhoub Group,
Luxury Brand Development SA - Subsidiária: Christofle JAPAN K.K.
A prata esterlina é uma liga de prata contendo 92,5% em peso de prata e 7,5% em peso de outros metais, geralmente cobre. O padrão de prata
esterlina tem uma fineza millesimal mínima de 925.

172
Enquanto ela engolia com uma careta, ela pegou seu sauvignon blanc
e deu uma boa tragada no lábio de navalha do copo de cristal. A maioria
das outras pessoas escolheria um tinto, mas era muito pesado para ela—e
Deus, ela odiava o que estava comendo. Era como tomar remédio, algo
que estava descendo nojento, mas que tinha benefícios terapêuticos.

Ou pelo menos era bom que tivesse benefícios. Caso contrário, ela
estava perdendo tempo.

Para se distrair do familiar e mal intencionado mal-estar que se


instalou em seu monólogo interno, ela olhou com orgulho para toda a alta
costura que colecionou ao longo das décadas. Alguns eram originais, dos
anos setenta, oitenta e noventa. Alguns ela tinha conseguido mais
recentemente em lojas vintage de luxo. E alguns eram novos, da Quinta
Avenida , Rodeo Drive , Worth Avenue .

Sauvignon blanc é uma casta de uva branca da família da Vitis vinifera, originária da região da Bordeaux, na França.
Produz vinhos secos e refrescantes que possuem, como principais características, seus aromas minerais, vegetais e toques frutados.
A Fifth Avenue ou 5th Avenue (em português: 5ª Avenida) é uma avenida extremamente movimentada de Manhattan, em Nova Iorque, nos
Estados Unidos. Vai desde a rua Norte da praça Washington Square Park/Waverly Place (6th Street) em Midtown até a 143rd Stree t/Harlen River
Drive, Harlem e devido às propriedades caras de particulares e mansões históricas que possui em toda a sua extensão, é um símbolo de riqueza de
Nova Iorque. É uma das melhores ruas para fazer compras no mundo, e também uma das mais caras ruas do mundo.
Rodeo Drive é um famoso e longo quarteirão de Beverly Hills, no Condado de Los Angeles nos Estados Unidos. Esse quarteirão é considerado
um dos mais caros do mundo. Faz sucesso desde a década de 1950 e 1960 por ser um local de alto luxo, lugar para fazer compras caríssimas além de
abrigar finos restaurantes.
Worth Avenue é um distrito de compras e restaurantes de luxo em Palm Beach, Flórida. A Avenida se estende por quatro quarteirões do Lago
Worth até o Oceano Atlântico. A Worth Avenue também inclui "vias" menores e arquitetonicamente significativas na avenida principal.

173
Tais obras-primas que ela possuía: Gucci, Vuitton , Escada , Chanel ,
Armani , Lacroix , McQueen , McCartney . Se ela tivesse uma estética
diferente, ela poderia ter seguido o caminho Mainbocher e Givenchy
também, mas Audrey Hepburn sempre lhe causou azia.

A Louis Vuitton é uma empresa especializada na produção de bolsas e malas de viagens, feitas em couro e lona, bem como na sua
comercialização. Produz e vende também vestuário, sapatos, relógios, joias, acessórios, óculos de sol e livros.

Escada SE é uma empresa de roupas de grife femininas de luxo com sede em Munique, Alemanha. A empresa é propriedade da
Regent, LP, uma empresa internacional de private equity liderada pelo investidor Michael A. Reinstein .

Chanel S.A. é uma empresa privada francesa que pertence a Alain e Gerard Wertheimer, netos de Pierre Wertheimer, que foi
um parceiro de negócios da couturière Gabrielle Bonheur Chanel. A Chanel S.A. é uma empresa especializada em alta-costura, prêt-à-porter, bens de
luxo e acessórios de moda.

A Giorgio Armani S.p.A. ou somente Armani é uma famosa empresa de moda italiana fundada em 1975 pelo renomado estilista
Giorgio Armani. A empresa fabrica vários tipos de produtos relacionados a moda mundial incluindo cosméticos, perfumes, relógios, joias e,
principalmente, ternos.
Christian Marie Marc Lacroix (Arles, 16 de maio de 1951) é um estilista de moda francês.
Lee Alexander McQueen (Lewisham, 17 de março de 1969 - Mayfair, 11 de fevereiro de 2010) foi um estilista britânico.[1] McQueen sucedeu John
Galliano na Givenchy em 1996. Fazia parte do grupo formado por Galliano e Stella McCartney que estudaram na Saint Martins.[2] Já desenhou roupas
para as personalidades como Madonna, Björk, Beyoncé, Fergie, Rihanna, Janet Jackson, Mary J. Blige, Lady Gaga, Naomi Campbell, Sarah Jessica
Parker, Br. Pionório, Cameron Diaz, Sandra Bullock, Cate Blanchett, Anna Paquin, Katie Holmes, Camilla Belle, Michelle Obama e o Príncipe Charles.

Stella Nina McCartney OBE (Londres, 13 de Setembro de 1971) é uma estilista britânica, filha do ex-Beatle Paul McCartney e da
fotógrafa norte-americana Linda McCartney.
Mainbocher é uma marca de moda fundada pelo estilista americano Main Rousseau Bocher, também conhecido como Mainbocher. Fundada
em 1929, a casa de Mainbocher operou com sucesso em Paris e depois em Nova York.
Givenchy é uma casa francesa de moda e perfume de luxo. Abriga a marca de roupas de alta costura, acessórios e Parfums Givenchy, perfumes
e cosméticos. A casa de Givenchy foi fundada em 1952 pelo designer Hubert de Givenchy e é membro da Chambre Syndicale de la H aute Couture et
du Pret-a-Porter.

Audrey Kathleen Hepburn-Ruston, mais conhecida como Audrey Hepburn, foi uma atriz e filantropa britânica. Após
pequenas aparições em vários filmes, ela estrelou na Broadway na peça Gigi depois de ter sido descoberta pela romancista francesa Colette, em cujo
trabalho a peça foi baseada.

174
E então havia os acessórios. Pelo amor de Deus, ela teve Manolos
antes de Carrie-maldita-Bradshaw , e as solas de seus stilettos eram
vermelhas há anos antes da plebe encontrar Louboutin .

E não apenas por andar através do sangue que ela derramou.

De volta às maravilhas de seu guarda-roupa. Claro, parte da diversão


era a exibição, e todas as saias, vestidos, blusas e calças estavam divididas
entre incontáveis prateleiras suspensas. Havia seções para separações e,
em seguida, araras de roupas organizadas por designer. Uma mesa inteira
para Birkins e um conjunto de prateleiras cheias de Chanel. Mas os
arranjos não eram estáticos. Regularmente, ela trocava as coisas. Às
vezes, era uma ordem cronológica por época, às vezes era cromático. Ela
tentou uma vez fazer isso por valor, mas foi impossível acertar. As coisas

Manolo Blahnik (Santa Cruz de La Palma, 27 de novembro de 1942) é um estilista espanhol e dono de uma das mais
proeminentes marcas de sapatos femininos. Aqui a Devina estásereferindo ao sapato azul que a Carrie pagou uma fortuna e deixou no closet do
apartamente que ela ia morar qdo se casa-se.

Caroline Marie Bradshaw é a protagonista da franquia da HBO Sex and the City, interpretada por Sarah Jessica Parker. Ela é
uma personagem semi-autobiográfica criada por Candace Bushnell, cujo livro Sex and the City foi adaptado para a franquia.

Christian Louboutin é um designer francês de calçados que lançou sua linha de sapatos principalmente femininos na França, em
1991. Sua marca registrada é a sola vermelha.

A Birkin é um dos modelos mais conhecidos e de maior sucesso da Hermès. Com 35 anos de história, se tornou um símbolo de
elegância e sofisticação, além de ser um objeto de desejo de milhares de mulheres ao redor do mundo.

175
mais antigas tinham etiquetas de preços que agora eram centavos por
dólar, e a raridade e a história tornavam parte do que ela possuía de um
valor inestimável.

Continue comendo, ela disse a si mesma. Você tem que continuar comendo.

Enquanto ela engolia o maior dos dois pedaços de carne, seus olhos
acariciavam a cacofonia ótica diante dela, as sedas e lantejoulas finas, as
cashmeres e as peles, as bolsas, sapatos e lingerie, todos oferecendo tantas
cores, tantas texturas, tantas opções de expressão individual. E a coleção
era uma fonte de satisfação e felicidade, cada peça como uma criança
adotada em um lar amoroso. Quer ela tivesse roubado ou pago o preço de
compra, tirado de um cadáver ou embrulhado para presente para ela
mesma, sua propriedade era indiscutível e imutável, e sua beleza sempre
era ampliada mil vezes pelo que ela colocava em seu corpo perfeito.

Suas roupas eram o halo que ela, por sua natureza, nunca possuiria
metafisicamente.

Mas foda-se, ela poderia parecer bem enquanto fazia o mal.

E ainda ...

Quando seus talheres tilintaram suavemente contra seu prato, houve


um silêncio tão grande aqui, um lembrete de que o que ela adorava poderia
ser uma base para ela e uma fonte importante de caçar e pegar, excitação

176
aquisitiva, ainda assim no final ... essas obras-primas da moda não podiam
tocá-la. Segurá-la. Rir e chorar com ela.

Ela estava sozinha em uma sala lotada.

Afastando o prato, ela se recostou na cadeira com o vinho, girando a


lavagem amarela no interior do copo transparente.

Chianti e grãos de fava, hein? Ela pensou enquanto considerava a cor


dourada. Muito comum.

Então, novamente, órgãos humanos dificilmente eram uma iguaria,


não é. E pior, a merda não estava funcionando.

Ela não estava comendo isso para sua saúde, porra.

Não sua saúde física, pelo menos.

Só tinha que haver uma maneira de capturar o amor que estava lá fora,
o amor que ela via entre os outros que estavam juntos, o amor que todos
no planeta menos ela conseguia encontrar. Só porque ela era um demônio,
não significava que ela não tinha emoções. Não tinha necessidade de ser
valorizada. Nenhum desejo de ser vista como valiosa, distinta ...
significativa ... por aquele que ela achasse valioso, distinto e significativo.

Era um instinto natural.

177
Bem como um inferno de um show do Dr. Phil .

— Não muito bem, Phil, —disse ela em voz alta. — Eu só quero o que
você e Robin têm.

Seu Dr. Phil mental se inclinou para frente em seu terno e gravata, seu
grande relógio de ouro piscando sob o punho, sua cabeça calva coberta
com maquiagem para não refletir as luzes do estúdio.

— É claro.

Ela pensou em seu único amor verdadeiro, Jim Heron.

— Eu só tentei matar a namorada dele uma vez. —Quando Phil deu


a ela aquele olhar, ela praguejou. — Certo. Algumas vezes. Mas ela era

Phil McGraw é um psicólogo dos Estados Unidos que se tornou conhecido do grande público ao participar nos programas de
Oprah Winfrey como consultor de comportamento e relações humanas. É conhecido por Dr. Phil.

178
tão fodidamente irritante, e eu não sei como porra ele a escolheu ao invés
de mim.

— Bem, então ele precisava ler seu maldito mapa direito. Voltar ao
curso. Seguir o programa.

— Oh, pare com a besteira de pobreza sulista. Você tem um


patrimônio líquido de mais de quatrocentos milhões de dólares. É hora de
desistir de sinalizar familiarização com macacões que você não usa em sua
bunda gorda há meio século.

O Dr. Phil imaginário a olhou diretamente nos olhos.

— Foda-se, Phil.

Com um garfo indolente, ela cutucou o músculo cardíaco. Há quanto


tempo ela estava fazendo isso? Esperando encontrar o destino através de
seu trato digestivo?

179
Ela estava ficando sem paciência. E Gas-X .

Em uma onda de frustração, seus olhos percorreram seu covil. E foi


difícil determinar exatamente quando o pensamento ocorreu, mas a
próxima coisa que ela sabia, ela estava se levantando e indo para sua
exibição de Birkins.

As bolsas Hermès estavam expostas na mesa de um adorável


parceiro que ela tinha afanado de um conde francês com quem ela teve um
adorável namorico que a satisfez por duas semanas ... e acabou com ele
estripado e pendurado em uma cerca de ferro.

Mas por que se concentrar nas coisas desagradáveis.

Além disso, seu final tinha sido bom. Ela mudou para coisas maiores
e melhores. Especificamente um ferreiro que foi enforcado como um dos
garanhões de guerra que ele calçou.

Agora isso tinha sido divertido. Mas, novamente, não é nada que
tenha durado. Muito cabelo na parte de trás—e ela não estava falando
sobre os mamíferos com cascos que deveriam estar usando uma sela.

anti-ácido estomacal

Hermès é uma empresa francesa fundada em 1837 por Thierry Hermès como produtora de arreios para cavalos. Ao longo do tempo
passou a produzir diversos produtos de luxo. A marca é a segunda mais valiosa do mundo, segundo o ranking BrandZ, avaliada em 19,8 milhões de
dólares.

180
E esse era o problema dela. Na verdade, nada durou. Nem mesmo Jim
Heron—porque ele nunca foi dela, para começar.

Porra, ela não estava ficando mais jovem.

Claro, ela também não estava envelhecendo.

Imortal, olá.

A mais cara de todas as suas bolsas era a icônica Himalaya Niloticus


Crocodile Birkin 35 com o fecho de diamante. A obra-prima branca e
cinza ganhou um lugar de destaque em uma mesinha de cabeceira antiga
embutida que tinha duas gavetas—porque, vamos, ela tinha que colocá-la
em algum tipo de pedestal. E enquanto ela estava diante da bolsa, ela
parou um momento para recortar o padrão de escamas e as marcas
bilaterais que significavam que as seções mais escuras da pele estavam do
lado de fora, o centro branco cremoso um contraste perfeito.

Tão bonita.

E ainda não era seu item mais valioso—embora no mercado


secundário, porque era uma 35 com o fecho de diamante, valia uns

Um comprador pagou 340.000 euros (cerca de 1.238 milhão de reais) pelo acessório. Ela está entre as 10 bolsas mais
caras do mundo. Último valor alcançado no leilão da Chistie’s de Hong Kong em 2018. É uma peça realizada em 2014, de pele de crocodilo, com 205
diamantes incrustados nas alças e fivelas de ouro de 18 quilates. O modelo – conhecido como Himalaia Birkin – deve o nome à sua cor, de tons
acinzentados e brancos perolados. A bolsa também tem uma fivela com brilhantes que transforma a peça em uma joia.

181
$400.000. Ou mais, se ela a vendesse com a pulseira de diamante
combinando. Que ela tinha.

Abaixo de seus pés de ouro branco, ela abriu a gaveta de cima do


suporte antigo—e foi com uma derrota penetrante que ela avançou. Ela
supunha que era como um cara no sentido de que nunca queria ler as
instruções de montagem, pedir instruções ou ouvir o que fazer em uma
encruzilhada. Então, para ela usar um auxiliar, mesmo que o Dr. Phil
sempre encaminhasse seus convidados para especialistas em busca de
ajuda, parecia ...

Devina franziu a testa.

Inclinou-se mais para frente.

Passou a mão pelo interior da gaveta. Que estava totalmente


fodidamente vazia.

Com uma maldição explosiva, ela arrancou o nível superior da


cabeceira da cama. Não havia nada nele. E mesmo que seus olhos
estivessem funcionando muito bem, como a porra de uma idiota, ela virou
a coisa e a sacudiu.

Como se o que ela esperava encontrar ali estivesse de alguma forma


preso no fundo.

182
O Livro se fora.

Em um redemoinho frenético, ela abriu a gaveta embaixo—no caso


de ter se esquecido no qual ela havia colocado. Também vazia. As gavetas
da mesa do parceiro também estavam sem o Livro, as tiras de seda e os
sutiãs não tinham nenhuma semelhança com o Livro coberto de carne
humana que ela procurava.

Com as mãos trêmulas, ela começou a vasculhar suas outras


escrivaninhas, as prateleiras ao lado da plataforma da cama, os armários
da cozinha, a merda na área do banheiro. Ela até foi verificar embaixo da
cama antes de lembrar que era uma porra de plataforma sem nenhum lugar
para guardar nada embaixo.

— Onde diabos está o meu Livro!? —Ela gritou no silêncio.

E então ela se lembrou ...

Girando para o canto mais distante, ela olhou para o curral de metal
cinco por cinco com sua tigela de água e palete. A maldita coisa estava
vazia porque o maldito idiota virgem que ela tinha ali escapou.

— Seu filho da puta sorrateiro, —ela respirou enquanto se


aproximava.

183
Na verdade, tinha sido culpa dela. Ela obviamente o subestimou—
provavelmente porque ela realmente não precisava dele. O sequestro tinha
sido uma compulsão e não algo exigido pelas circunstâncias, uma relíquia
do comportamento passado que não era mais necessária. Com o seu
espelho destruído, ela não precisava se preocupar tanto em proteger sua
privacidade aqui.

Ela estava sozinha, no entanto.

— Seu merdinha, —ela disse enquanto olhava para onde o havia


aprisionado. — Você pegou a porra do meu Livro?

Ele era o único que esteve aqui desde que ela o viu pela última vez.

O filho da puta deve ter visto ela folhear as páginas naquela manhã.

Devina voltou-se para a mesa de cabeceira antiga, agora vazia de suas


gavetas. Obviamente, havia outra explicação, totalmente impensável.
Então ela prontamente a descartou.

O Livro a amava. Claro que queria estar com ela.

Não, ele tinha levado o Livro dela—o merdinha—e mesmo que ela
não estivesse pensando em usar um de seus feitiços para trazer seu
verdadeiro amor, ela ainda precisaria da merda de volta.

Afinal, era dela. E ela não era nada além de possessiva.

184
— Filho da puta, —ela murmurou.

Agora ela precisava encontrar a maldita coisa.

Na noite seguinte, Mae estava de volta à porta da garagem, com as


chaves do carro nas mãos e a bolsa pendurada no ombro. Ela não dormiu
nada durante o dia, e a Primeira Refeição foi uma única torrada seca que
caiu como uma folha de metal.

— Eu volto logo, —ela gritou para Rhoger.

Por que ela esperou por uma resposta? Tipo, ela realmente pensou que
ele iria se sentar naquela banheira de água gelada e fazer um pedido do
Jimmy John ?

Jimmy John's Franchise, LLC é uma rede americana de restaurantes fast food de sanduíches de propriedade da Inspire Brands. Foi fundada por
Jimmy John Liautaud em 1983 e está sediada em Champaign, Illinois.

185
No fundo de sua mente, um pequeno sino de alerta tocou. Quando
você estava conversando com seu irmão morto e esperando que ele
respondesse, você provavelmente estava louca.

Tire o “provavelmente”.

— Vou dar lembranças a Tallah, —disse ela antes de deslizar pela


porta e trancá-la novamente.

Enquanto ela se afastava, ela teve que remexer em sua bolsa por seus
óculos de sol. O fato de que os outros carros na estrada estavam com os
faróis acesos, e seus vizinhos estavam mais uma vez voltando do trabalho
para casa, não significava muito para um vampiro quando se tratava
daquele brilho quase inexistente no horizonte ocidental. O fato de que
seus olhos estavam ardendo e sua pele formigando em advertência sob
suas roupas era um bom lembrete de quão inegociável toda a coisa de sem
luz do sol era para a espécie.

Mas ela não poderia ter ficado naquela casa por mais um minuto.

E sim, desmaterializar era uma opção. Ela precisava de gelo fresco,


porém, e dirigir também ajudava a acalmá-la.

Era incrível como você podia ficar presa mesmo quando estava livre
para ir aonde quisesse.

186
O chalé de Tallah ficava na periferia de Caldwell, uma pequena joia
de pedra aninhada em um vale de árvores de bordo . A viagem demorava
de quinze a vinte minutos, dependendo do tráfego, e Mae ligou o rádio
para se distrair das coisas em que não queria pensar. NPR não
funcionou, no entanto. Sua mente ainda mastigava coisas como o fato de
que corpos de vampiros afundavam, não flutuavam, na água—algo que
ela não sabia até que começou a cuidar de Rhoger em seu estado atual. Ela
também estava ciente de que o tempo estava se esgotando para ela e seu
irmão. E ela temia que talvez aquele Livro de que Tallah estava falando
não fosse a resposta para o problema.

Talvez tudo o que ela tivesse como resposta fosse uma Cerimônia de
Fade, uma casa permanentemente vazia, e a compreensão esmagadora de
que ela era a última de sua linhagem, deixada sozinha no planeta.

Se as memórias compartilhadas fossem o melhor tipo ... então as


memórias que você não podia mais compartilhar com o coletivo que
estavam neles eram as piores. Esse tipo de solidão transformava você em
um volume de referência em vez de parte de uma história, e ela tinha a

árvores de bordo
National Public Radio ‘NPR’ é uma organização de comunicação social, sem fins lucrativos e de titularidade pública do governo dos Estados
Unidos. Financiada por iniciativa pública e privada e, especialmente, por doações dos seus ouvintes, serve de sindicador para uma rede de 900
emissoras de rádio públicas no país.

187
sensação de que as perdas tornavam cada pensamento uma plataforma
para o luto.

Para evitar se rasgar ao meio, ela lançou uma linha mental de volta
em um mar de indesejáveis, e adivinha o que surgiu em seu gancho
cognitivo?

Aquele lutador da noite anterior.

Ótimo.

Ainda assim, enquanto ela seguia as estradas sinuosas para o campo,


e a densidade populacional de humanos drenava em favor de campos de
milho e pequenas fazendas de leite, ela escolheu ele para se concentrar.
Foi o melhor de um lote ruim, como seu pai teria dito—e não era como se
ela tivesse que trabalhar muito com a preocupação. Ela podia imaginar
Shawn claro como o dia, de seus olhos de obsidiana, às tatuagens que
cobriam seu corpo, à sua agressividade ... ao seu sangue derramado em
todo aquele concreto.

Como alguém poderia ir de quase morrer para apenas cuidar de seus


negócios, ela não tinha ideia. Então, novamente, ela tinha a sensação de
que seu pequeno vazamento não tinha sido o primeiro que ele teve. Deus,
se isso tivesse acontecido com ela, ela teria gritado até perder a
consciência, mesmo depois de se recuperar.

188
Enquanto isso, ele parecia que estava apenas preso na fila errada em
um supermercado.

E FFS , se ela tivesse dito a ele, ele teria trazido aquele macho, o
Reverendo, de volta para ela.

Talvez ela devesse ter seguido esse caminho. Mas então o que? Se o
Reverendo não soubesse sobre o Livro, como arrastá-lo de volta para
aquela garagem teria ajudado? E talvez a oferta tivesse sido apenas uma
hipérbole da parte do lutador, uma arrogante cortesia de seu complexo de
bater no peito.

Certo?

Ao entrar em uma estrada de terra que estava entupida de arbustos e


vegetação exagerada, ela ainda estava debatendo os prós e os contras de
uma decisão que havia sido tomada na noite anterior. Mas pelo menos ela
estava quase na casa de Tallah e então—yay!—ela tinha outras coisas em
que pensar ... como Livros que podem ou não existir e podem ou não ser
úteis quando se trata da situação de seu irmão.

Nesse ínterim, ela tinha o péssimo estado desse caminho de cabra para
se concentrar. Havia buracos para lutar, seus faróis balançando para cima
e para baixo enquanto ela tentava evitar o pior deles, e as amoreiras que

FFS significa "For Fuck's Sake" que seria algo como "por deus, po**a"

189
cresciam ao longo do ombro eram tão apertadas que a mais agressiva delas
arranhou a pintura do Civic.

Mas então a cabana apareceu.

Quando ela fez uma curva final, seu carro localizou seu destino, os
faróis explodindo a velha pedra das paredes externas em uma iluminação
que era meio cruel. O lugar estava em um estado requintado de abandono,
a porta da frente pintada em um vermelho desbotado que estava
parcialmente lascada, uma veneziana pendurada torta, o telhado de
ardósia mostrando uma telha faltando aqui e ali. O terreno era igualmente
uma bagunça desgrenhada, o jardim de rosas nada além de um círculo
emaranhado de espinhos e ervas daninhas, o caminho da frente irregular
e esfiapado por raízes de árvores e túneis de toupeira. Um galho caído do
tamanho de um carro estava no quintal lateral, e aquela velha bétula
parecia o RCP de calor e luz do sol da primavera que talvez não
conseguisse sobreviver ao coma frio do inverno.

Parando o carro, ela desligou a ignição e respirou fundo. Ela


realmente precisava ajudar mais na propriedade, mas entre seu trabalho
on-line em tempo integral e cuidar da própria casa, o último ano tinha
passado muito rápido. Anteriormente, quando seu pai estava vivo, ele
tinha vindo aqui e feito um monte de coisas de faz-tudo, e seu irmão tinha

190
ajudado assim também. No entanto, era incrível como as coisas
degeneravam.

Três anos sem manutenção e as coisas estavam quase irreconhecíveis.


E era difícil não encontrar um paralelo no colapso da própria vida de Mae,
tudo o que antes permanecera forte e verdadeiro, agora estava se
deteriorando e se perdendo.

Seus pais pareciam tão permanentes. Rhoger também.

A juventude e a falta de exposição à morte significavam que sua


família era imortal e os detalhes de sua vida—onde ela morava, com quem
era parente, o que fazia—eram fatos gravados na pedra, tão imutáveis
quanto o céu noturno, a gravidade, a cor de seus próprios olhos.

Uma falácia , no entanto.

Saindo, ela quase não trancou o carro. Mas um eco do medo que ela
sentiu naquela multidão de humanos a fez colocar a chave na porta e girá-
la.

Enquanto ela caminhava pelo caminho de lajes, Tallah abriu as coisas,


e a visão da fêmea mais velha curvada de pé naquele arco familiar fez Mae

O termo falácia deriva do verbo latino fallere, que significa erro, engano ou falsidade. Designa-se por falácia um raciocínio errado com aparência
de verdadeiro. Na lógica e na retórica, uma falácia é um argumento logicamente incoerente, sem fundamento, inválido ou falho na tentativa de
provar eficazmente o que alega. Como, por exemplo, na frase “nenhum homem presta”.

191
piscar rapidamente. Tallah era sempre a mesma, vestida com um de seus
casacos soltos, desta vez em um azul pervinca, e ela usava chinelos azuis
e amarelos combinando. Sua bengala era igualmente coordenada, uma
fita azul claro enrolada na haste de metal do suporte e havia um laço
correspondente no final de sua trança de cabelo branco.

— Oi, —disse Mae enquanto subia para o degrau da frente.

— Olá, querida minha.

Elas se abraçaram na soleira, com Mae tendo o cuidado de não apertar


com muita força—embora tudo o que ela quisesse fosse puxar Tallah para
perto e nunca deixar a velha fêmea ir.

— Venha, —disse Tallah. — Eu tenho chá.

— Eu cuido da porta, —Mae murmurou enquanto entrava e fechava


as coisas.

A cozinha ficava nos fundos e, enquanto ela seguia Tallah pelos


cômodos minúsculos e familiares, tudo tinha o mesmo cheiro. Pão fresco.
Poltronas de couro velhas. Fogo apagado na lareira e folhas de chá soltas
perfumadas. A mobília era grande demais para a pequena casa e era de
qualidade absurdamente alta, as mesas marcadas com mármore e
dourado, a secretaria decorada com finas madeiras embutidas, as cadeiras
e sofás revestidos com sedas desbotadas e agora gastas. Pinturas a óleo em

192
pesadas molduras folheadas a ouro penduradas nas paredes, as paisagens
e retratos executadas por Matisse . Seurat . Monet . Manet .

Havia uma fortuna sob o telhado desta pequena cabana, e Mae


frequentemente se preocupava com ladrões vindo aqui. Mas até agora, as
coisas estavam bem. Tallah morava aqui desde os anos oitenta e nunca foi
incomodada. Era uma pena, porém, que a fêmea se recusasse a vender até
mesmo uma daquelas pinturas para melhorar suas condições de vida. Ela
tinha sido firme em manter suas coisas com ela, no entanto, mesmo que
eu soubesse que as melhorias necessárias não podiam ser pagas. A
obstinação não fazia muito sentido, mas então não era decisão de outra
pessoa, era?

Henri-Émile-Benoît Matisse (Le Cateau-Cambrésis, 31 de dezembro de 1869 — Nice, 3 de novembro de 1954) foi um artista
francês, conhecido por seu uso da cor e sua arte de desenhar, fluida e original. Foi um desenhista, gravurista e escultor, ma s é principalmente
conhecido como um pintor.

Georges-Pierre Seurat (Paris, 2 de dezembro de 1859 — Paris, 29 de março de 1891) foi um pintor e pioneiro do movimento
pontilhista, também chamado divisionismo.

Oscar-Claude Monet (Paris, 14 de novembro de 1840 — Giverny, 5 de dezembro de 1926) foi um pintor francês e o mais célebre
entre os pintores impressionistas. O termo impressionismo surgiu devido a um dos primeiros quadros de Monet, "Impressão, nascer do sol", de uma
crítica feita ao quadro pelo pintor e escritor Louis Leroy: "Impressão, nascer do Sol” – eu bem o sabia!

Édouard Manet (Paris, 23 de janeiro de 1832 — Paris, 30 de abril de 1883) foi um pintor e artista gráfico francês e uma das figuras
mais importantes da arte do século XIX, considerado por estudiosos de artes plásticas como um dos mais importantes representantes do
impressionismo francês, embora muitas de suas obras possuam fortes características do realismo.

193
Nenhuma das duas disse nada enquanto Mae se sentava à mesa da
cozinha e Tallah se ocupava no balcão com a chaleira elétrica e duas
xícaras de chá. O desejo de ajudar a fêmea com a bandeja era quase
irresistível, especialmente quando Tallah pendurou a bengala no
antebraço e parecia lutar com a carga de creme, açúcar e xícaras cheias.
Mas a autossuficiência era o orgulho dos idosos, e ninguém precisava tirar
mais autonomia da fêmea antes que fosse absolutamente necessário.

Enquanto Tallah assentava as coisas, Mae acenou com a cabeça para


o canto oposto da mesa, onde algum tipo de exibição de objetos estava
coberto com uma toalha puída com monograma.

— O que está aí embaixo?

Normalmente, a fêmea mantinha tudo arrumado como um alfinete, a


quantidade mínima de coisas fora dos balcões, mesas, prateleiras, cornijas.

— Diga-me novamente o que aconteceu ontem à noite? —Tallah disse


enquanto abaixava a mão na cadeira e passava uma xícara e um pires.

A dupla de porcelana sacudiu em seu aperto instável, e o som


reverberou por todo o corpo de Mae. Foi um alívio tomar o chá e acabar
com a acústica e o risco de um derramamento total, e ela disfarçou sua
pressa dando um factual isto-então-aquilo de tudo. Naturalmente, o
relatório havia redigido partes. Ela cortou a parte em que agrediu aquela

194
mulher humana na fila de espera, e sim, garoto, havia um monte de
lacunas quando se tratava de Shawn.

— O Reverendo mentiu sobre o Livro, —Tallah disse enquanto


colocava um pouco de leite no chá. — Ele sabe exatamente o que é. Mas
talvez não onde está.

— Bem, ele não vai ser um recurso. Ele foi bem claro nisso.

Enquanto elas caíam em silêncio, Mae observou a onda de vapor


subindo de seu chá. Com o resfriamento do Earl Grey , sua amplitude
estava diminuindo.

— Tallah ...

— O quê, querida minha?

Ela imaginou Rhoger naquela água fria.

— Não sei quanto tempo mais temos.

Não era que o corpo estivesse se decompondo—ainda. Mas iria. E


mais do que isso, ela não tinha certeza de quantas noites mais ela poderia
passar naquele Shell, e comprar aquele gelo, e ir para aquela banheira para
drenar a água e encher as coisas ...

Earl Grey é uma mistura de chá e aditivos que foi aromatizada com a adição de óleo essencial de bergamota. O óleo aromático da casca é
adicionado ao chá preto para dar ao Earl Grey seu sabor único.

195
Oh, quem ela estava enganando. Ela continuaria fazendo o trabalho
até que restassem apenas pedaços dele, nada além de uma sopa com
fluidos corporais naquele banheiro—desde que houvesse esperança. E
talvez fosse isso que estava morrendo por ela neste momento.

Ela empurrou a xícara de chá.

— Tallah, isso é difícil para mim dizer.

— Por favor. —A fêmea mais velha se inclinou para frente e pôs a


mão no braço de Mae. — Você pode me dizer qualquer coisa.

Mae se concentrou na estampa floral da manga do roupão, as


florzinhas amarelas e brancas destacadas no mar de azul.

— Este Livro, seja o que for. —Mae olhou dentro daqueles olhos
lacrimejantes e tentou manter a exigência fora de sua voz, de sua
expressão. — Quero dizer, o que estamos realmente fazendo aqui. Não
quero duvidar de você, mas eu não posso ... Estou achando difícil
continuar nessa perseguição de ganso. Você disse que o Reverendo era
nossa última esperança, e acabamos no seco. Novamente.

Bem, e então havia a questão maior do que lhe disseram que o Livro
faria por ela. Ela precisava tanto acreditar que a ressurreição era possível,
mas ela estava começando a se preocupar que era assim que as lendas
urbanas se estabeleceram e se propagaram: alguém em um estado

196
vulnerável, que precisava acreditar que havia uma solução metafísica para
seus problemas, era servido de uma farsa.

O desespero pode moldar a verdade de qualquer mentira. E mesmo


que fosse de uma fonte bem intencionada, havia crueldade na falsa
promessa de ajuda.

Com um aceno de cabeça, Tallah tomou um gole de sua xícara. Então


ela se recostou, segurando o chá entre as mãos nodosas como se estivessem
geladas.

— Achei que perder minha posição seria a pior fase da minha vida.
Mas vendo tudo o que você suportou nos últimos anos ... supera até meus
momentos mais tristes. Como eu poderia não te ajudar?

Mae nunca pediu detalhes, mas em um ponto, Tallah estava no mais


alto nível da aristocracia, acasalada com um membro do Conselho. A
mahmen de Mae, Lotty, havia trabalhado para ela como empregada
doméstica. Algo havia acontecido, porém, e quando Tallah veio para cá,
Lotty insistiu em limpar a casa de graça—e logo, toda a família estava
envolvida em cuidar da fêmea mais velha.

É irônico que aquela queda em desgraça finalmente salvou a vida da


fêmea. Se ela ainda morasse naquela casa grande? Ela teria sido morta
durante as batidas na propriedade, assim como os pais de Mae foram.

197
— O nome verdadeiro do Reverendo é Rehvenge, —Tallah disse. —
Ele é um membro da glymera—ou era. Eu não tenho certeza de quantos
ainda sobraram agora. Como eu disse a você, eu conhecia a mahmen dele
muito bem. Ela mesma usou o Livro uma vez e me contou sobre seu
poder. Foi assim que fiquei sabendo disso pela primeira vez. Ele fornecerá
o que você precisa. Eu juro pelo pouco que resta da minha própria vida.

Mae baixou os olhos.

— Não fale assim.

— É a verdade e nós duas sabemos disso. Eu morrerei em breve—mas


ao contrário de seu irmão, minha hora de ir é como deveria ser. Eu vivi
minha cota de noites. A vida dele foi tirada cedo demais, no entanto, e
isso é um erro que deve ser corrigido.

Tallah estendeu a mão para ao drapeado na ponta da mesa. Quando


ela puxou a toalha de banho, o que foi revelado não fez sentido: vinagre
branco. Um prato de prata. Sal. Uma faca afiada. Um limão. Uma vela.

Okay, tudo bem, se você estava fazendo molho para salada, a coleção
era útil, mas por que Houdini e essas coisas?

Harry Houdini, nome artístico de Ehrich Weisz, foi um dos mais famosos escapologistas e ilusionistas da história. Ele primeiro chamou atenção
em Vaudeville nos EUA e, depois, como "Harry 'Handcuff' Houdini", em uma turnê pela Europa, onde desafiou as forças policiais a mantê-lo preso.

198
— Para que serve tudo isso? —Mae perguntou.

— Nós vamos trazer o Livro para você. —Tallah acenou com a cabeça
para os ingredientes. — Se ele aceitar você.

Ao norte, no majestoso saguão da mansão da Irmandade da Adaga


Negra, Rehvenge caminhou sobre a representação em mosaico de uma
macieira em plena floração. Quando ele chegou à grande escadaria, ele
subiu em um bom ritmo, seus mocassins Bally devorando o corredor
vermelho sangue, seu casaco de pele chamejando em seu rastro. Quando
ele chegou ao patamar superior, as portas duplas do escritorio do Rei Cego
estavam abertas, e na outra extremidade do quarto azul claro francês

Bally é uma casa de moda de luxo suíça, fundada como "Bally & Co." em 1851 por Carl Franz Bally e seu irmão Fritz.

199
antigo, Wrath, filho de Wrath, pai de Wrath, estava em posição
privilegiada, isto é, sentado atrás de uma mesa esculpida que era grande
como um urso pardo de quatro, sua bunda plantada no trono de seu pai.
Com todo aquele cabelo negro como azeviche caindo do seu bico de
viúva , e seu rosto cruel com aqueles óculos, e seu corpo de guerreiro,
Wrath parecia exatamente quem deveria estar comandando a raça de
vampiros.

E então havia o fato de que, mesmo sem sua visão, ele via as coisas
muito claramente e não tolerava idiotas. Nunca.

Para Rehv, Rei dos symphaths, o par eram aliados poderosos. E pelo
amor de Deus, eles precisariam ser depois desta noite.

— Sua Excelência está adiantado, —Wrath murmurou enquanto


aqueles óculos escuros envolventes erguiam os olhos do golden retriever
em seu colo.

George, seu cão-guia, estava deitado de costas em uma gloriosa


posição, com os pêlos brancos da barriga cobrindo tudo, a cabeça como se

Para quem não sabe do que se trata, o bico de viúva é aquela linha do cabelo que algumas pessoas têm em forma de “V”, na
parte superior frontal da testa.

O golden retriever é uma raça canina do tipo retriever originária da Grã-bretanha, e foi desenvolvida para a caça de aves
aquáticas.

200
estivesse em um spa. Enquanto ele cheirava Rehv, sua cabeça quadrada se
ergueu brevemente e ele ofereceu uma sacudida. Mas então houve um
rápido retorno a ser adorado. — Esse cachorro é o verdadeiro Rei por
aqui, —Rehv disse ao entrar e fechou as portas.

Quando eles se fixaram no lugar, uma das sobrancelhas do Rei Cego


se ergueu sobre as bordas dos óculos de sol.

— Então você veio com boas notícias, —Wrath murmurou. — Que


refrescante.

Rehv atrasou as coisas indo em um ritmo, suas viagens o levando em


uma pequena volta em torno dos sofás de seda e da coleção de cadeiras
bergère . Quando ele finalmente se assentou na poltrona em frente à
escrivaninha entalhada, o retriever olhou novamente, desta vez com olhos
preocupados.

E se isso não prova que George tinha ótimos instintos.

— Uau, —Wrath disse enquanto corria seus dedos sob o pêlo loiro do
peito que contaria como cabelo na altura dos ombros em um bípede. —
Tio Rehv está cansado. Esta vai ser uma boa.

Poltronas, larga e profunda, de madeira, com partes estofadas, braços fechados lateralmente, encosto recurvo e uma almofada
solta sobre o assento [Criada por volta de 1720.].

201
— Eu teria vindo na noite passada. —Rehv arrumou as dobras de seu
casaco de pele de modo que cobrissem suas pernas. — Mas eu tinha uma
merda para lidar.

— Mais diversão com seus cidadãos?

— Humanos desta vez. —Todos aqueles reembolsos pela luta


abortada. — Foi uma noite longa.

— Por que você fode com eles?

— É um defeito de caráter. Mas um dos meus menos mortais, então eu


cedo a isso. Viver uma vida de negação perpétua é como estar em um
caixão na superfície. E, por favor, não me diga que já tenho dinheiro
suficiente. Nunca é o suficiente.

Enquanto o Rei ria, Rehv olhou para a lareira apagada e se perguntou


se valia a pena acender a chama nas toras predefinidas. Mesmo que
estivessem uns 30 graus na sala—sim com certeza—ele estava
perpetuamente frio, a dopamina que tomava para manter seu lado
maligno sob controle baixando sua temperatura interna.

A dopamina é um neurotransmissor monoaminérgico, da família das catecolaminas e das feniletilaminas que desempenha vários papéis
importantes no cérebro e no corpo. Os receptores de dopamina são subdivididos em D1, D2, D3, D4 e D5, de acordo com localização no cérebro e
função.

202
Por isso, a pele de corpo inteiro. Que ele usava mesmo no verão. E
com essa nota, pausa. Longa pausa.

Wrath girou em seu trono e ergueu o golden como se pretendesse


colocar George no chão. O cachorro tinha outros planos, no entanto, de
se mover nos braços enormes de seu mestre e envolver suas grandes patas
dianteiras no pescoço de Wrath para se segurar. Como se ele estivesse
prestes a ser baixado em um poço de lava.

Wrath riu enquanto ele voltava ao seu lugar.

— Acho que é um não, hein.

O Rei moveu o cachorro para que ele voltasse a embalar George como
um bebê grande. Ao retomar a rotina de carinho, Rehv se concentrou nas
tatuagens internas do antebraço que representavam a linhagem pura e
impecável de Wrath.

— Comece a falar, symphath, você está fodendo o meu cachorro.

Rehv assentiu, embora seu camarada nos braços reais não pudesse
ver.

— Temos problemas, você e eu.

— E eu pensei aqui que você estava vindo falar sobre moda. Eu ia


redirecionar você para Butch.

203
— Escute, não há muito que você possa fazer com essa regata-e-couros-
pretos que você usa há cem anos. Eu continuo te dizendo isso.

— Sim, meu objetivo é chegar à capa da porra da GQ . Agora fale.

— A impressão está morta .

— Essa é uma frase de Os Caça Fantasmas . E mal feita.

Rehv acomodou sua bengala entre os joelhos e a golpeou para frente


e para trás com as palmas das mãos.

— Eu tive uma fêmea se aproximando de mim esta noite.

Rindo, Wrath disse:

— Ehlena está totalmente segura em seu relacionamento. E eu


conheço você melhor para pensar que você faria algo estúpido.

GQ é uma revista mensal sobre moda, estilo e cultura para os homens, através de artigos sobre alimentação, cinema, fitness, sexo,
música, viagens, desporto, tecnologia e livros. É geralmente entendida como luxuosa e mais sofisticada do que a Maxim e a FHM.
Print is dead em inglês: A impressão está morta? E uma cena de Ghostbusters (1984) onde o personagem Egon Spengler sai debaixo da mesa,
e fala: 'A impressão está morta. '
Vídeo curtinho da cena: https://www.youtube.com/watch?v=D3v_ogRaTf4

Os Caça-Fantasmas (em inglês: Ghostbusters) é um filme americano de 1984, dos gêneros fantasia, aventura, ficção científica e
comédia, dirigido por Ivan Reitman e escrito por Harold Ramis e Dan Aykroyd. O filme foi estrelado por Bill Murray, Aykroyd e Ramis como Peter
Venkman, Ray Stantz e Egon Spengler, parapsicólogos excêntricos que começam um negócio de "capturar fantasmas" em Nova York. O filme é co-
estrelado por Ernie Hudson, como Winston Zeddemore, Sigourney Weaver, como Dana Barrett e Rick Moranis como Louis Tully. O filme foi distribuído
pela Columbia Pictures e teve seu lançamento nos Estados Unidos em 8 de junho de 1984.

204
— Não foi assim.

— Bom, porque eu não sou nenhuma Ann Landers .

— A fêmea estava procurando por algo que nenhum de nós quer que
ela encontre. —Ele se forçou a se recostar na cadeira. — Você já ouviu
falar do Livro?

— Já ouvi falar do Bom Livro dos humanos. Você está falando sobre
a Bíblia?

— O oposto. Aquele a que me refiro é um canal para o lado negro.


Está encadernado em carne e não tenho ideia do que as páginas são
feitas—e não quero saber a resposta para essa pergunta. Ele viajou através
da história, encontrando pessoas e causando estragos.

— Então é um Livro de feitiços ou alguma merda?

— O Livro de Feitiços. Com L maiúsculo.

Wrath franziu o cenho. E desta vez, quando foi colocar George no


chão, ele não aceitou um não como resposta. Quando o cão desabou em
derrota a seus pés, o Rei se sentou para frente—e sua expressão

Ann Landers, pseudônimo de Esther Pauline Friedman Lederer foi uma escritora e jornalista dos Estados Unidos.

205
enquanto olhava através da mesa para Rehv era tão intensa que você
poderia esquecer que ele era cego.

— Eu ouvi rumores sobre magia ao longo dos séculos. —Wrath


encolheu seus ombros poderosos. — Mas eu estive muito fodidamente
ocupado com o Ômega e a Sociedade Lessening para me preocupar com
besteiras de hocus pocus.

— Não é besteira.

— Então você viu essa coisa? Ou você já usou.

— Nenhuma das duas. —Rehv baixou os olhos para o mata-


borrão . — Mas eu tive uma ... amiga ... que me contou sobre a maldita
coisa e o que ela poderia fazer.

“Amiga” não era a palavra certa para a Princesa sympath que o


chantageou para foder com ela por décadas. O fato de que o sexo sempre
quase o matou tinha sido apenas parte de sua diversão, porra sabia que
havia tantas outras diversões no relacionamento com ela. Mas ele acertou
essa conta, e mais um pouco.

Papel mata-borrão é um tipo de papel capaz de absorver com facilidade o excesso de substâncias líquidas da superfície
do papel ou de outros objetos. É usado principalmente em microscopia para remover o excesso de líquidos da lâmina antes da visualização.
Antigamente quando se usava penas ou canetas de tinta-permanente na escrita. O papeis mata borrão era usado no final da escrita de uma carta ou
documento para absorver o excesso de tinta que ainda não tinha secado ou quando sucedia um derrame para evitar o alastramento da nódoa.

206
O Sandman tinha vindo atrás dela.

Ainda assim, ele deveria saber que ela não terminaria com ele, e essa
merda de Livro era o tipo de explosão do passado que fazia um macho
querer se dar uma concussão.

Você sabe, pela amnésia.

A sobrancelha de Wrath se ergueu novamente.

— Uma “amiga” te contou. Isso soa como uma confissão na Internet.

— Nem mesmo perto. E antes que você pergunte, sim, ela o usou.

— Para fazer o quê.

— Nada bom. Não sei os detalhes, mas considerando quem ela era?
Você pode apostar que foi uma ideia horrível.

— Ok, então uma fêmea veio até você e pediu o Livro. Você sabe onde
ele está?

— Não. Ele deixou minha “amiga”.

— Deixou? Tipo, a maldita coisa chamou um Uber e saiu de


Caldwell? Ou onde quer que fosse?

Sandman (homem de areia em inglês; em alemão: Sandmann) pode referir-se a: João Pestana — designação de uma referência folclórica e
mitológica encontrada em várias culturas.

207
— Alguma coisa assim. Pelo que ela me disse, ele escolhe seu
caminho neste mundo. —Rehv esfregou os olhos. — Olha, você pode usar
os feitiços nele para fazer todo tipo de merda que não deveria. E o fato de
que essa fêmea sabia que devia vir até mim? São más notícias, de todo
modo.

— Então ela conhece sua amiga?

— Ela foi encaminhada para mim por meio de uma velha conhecida
da minha mahmen. Segui a fêmea para conseguir o número da placa do
carro—não que isso vá nos ajudar muito. Ainda assim, dei a V no caso de
ela ter registrado seu apelido humano em um banco de dados da espécie
em algum lugar. E por que ela está procurando pelo Livro? Eu vi sua
grade. Ela está desesperada ao ponto da insanidade. É a pior
combinação—incrível poder das trevas misturado com esse tipo de
desespero.

Wrath ficou em silêncio.

— Você sabe que eu não sou um alarmista, —disse Rehv. — Isso é


muito perigoso. Eu não sei o que mais ...

— Você não precisa me dizer mais nada. —Wrath abaixou sua cabeça,
e aqueles olhos cegos brilharam atrás dos óculos. — A resposta é
fácil. Pegamos o Livro antes que a fêmea o faça e o destruímos. Fim disso.

208
Como se fosse ser tão simples, Rehv pensou.

Ainda assim, pelo menos Wrath estava a bordo e levando a merda a


sério.

— Temos que o encontrar primeiro. —Rehv acariciou o moicano com


a palma da mão. — E quanto à parte dois desse plano? Algo me diz que
não vai acontecer sem luta.

— Nós usaremos todos os recursos que temos—e você sabe que odeio
perder.

Rehv amaldiçoou sob sua respiração.

— Eu sinto que essa é a parte do filme de ação quando eu digo, “Isso


é diferente de tudo que você perseguiu antes, Indy”.

— Bem, você tirou isso do caminho, então, —Wrath murmurou. —


Bom para você.

— E quanto à merda de localização, há um limite para o que V pode


pesquisar na Internet, por mais inteligente que ele seja. E algo me diz que
essa fonte ancestral do mal não será compatível com o Google.

— Você deixa a coisa de GPS para mim. Eu tenho um ás na manga


quando se trata de encontrar coisas assim.

209
Rehv olhou fixamente para a lareira fria e imaginou a princesa, com
seus dedos de três juntas e aqueles escorpiões em suas orelhas. As
memórias de sua merda pervertida faziam seu estômago revirar, mas ele
tinha que ir lá. Ele tinha que tentar se lembrar de tudo o que pudesse sobre
o antigo tomo.

— Está tudo bem, —Wrath murmurou. — Você já fez o suficiente se


apresentando.

— Vou checar meu pessoal. Ver o que mais posso descobrir.

— Isso era bom.

Com um gemido, Rehv se levantou.

— Eu estava pronto para uma pausa, você sabe. A Sociedade Lesser


se foi, o Ômega saiu daqui. Era para ser o início de um novo capítulo.

— Infelizmente, é a mesma velha história de terror, meu amigo. A


vida exige a batalha pela sobrevivência. É assim que as coisas são. E
quanto a este Livro, eu chamarei a Irmandade, direi a eles o que você
disse. Você deveria estar na reunião.

— Certo. Deixe-me saber quando?

— Como soa agora?

— Eu irei buscar Tohr para você. Ele está na sala de bilhar.

210
— Perfeito.

Rehv acenou com a cabeça e se dirigiu para as portas. Quando ia sair


por elas, ele parou na arcada. Wrath voltou a se concentrar em seu
cachorro, o grande Rei Cego amontoado debaixo da mesa e sussurrando
para o animal, como se estivesse explicando a George que tudo ficaria
bem, e ele era um bom menino, um menino muito bom, sim, sim, ele era.

— Ei, Vossa Senhoria.

A cabeça de Wrath apareceu sobre a mesa.

— Sim?

— Posso te perguntar uma coisa?

— Claro. Mas um aviso justo—se você quer minha opinião, você vai
tê-la, e raramente será generosa. Ou foi o que me disseram. Na verdade,
os Irmãos me fizeram uma camiseta.

Rehv ergueu as sobrancelhas.

— Mesmo?

— A frente diz: “Pergunte-me qualquer coisa”. As costas diz: “Bem,


isso é estúpido, porra”. Aparentemente, eu devo girar depois que eles

211
terminarem de falar, é tão estúpido, porra. —Wrath olhou para o lado e
franziu o cenho para si mesmo. — Maldição.

Juntando as metades de seu casaco de pele, Rehv pigarreou e puxou


as abotoaduras.

— Você acha que eu pareço uma mistura de Liberace e Hannibal


Lecter?

Wrath agitou sua cabeça como se ele não tivesse ouvido direito.

— O que?

— Você sabe. Como Liberace e Hannibal Lecter. Tivessem um bebê.

— Uau. —Houve uma pausa. — Isso é muito—em primeiro lugar, por


que diabos você perguntaria a um macho cego como você parece?

— Bem pensado e não importa. —Rehv se virou. — Vou preparar seus


meninos.

— Diga a eles para deixarem o Chianti lá embaixo. —Wrath


levantou sua voz. — A menos que você esteja com sede.

Chianti é um vinho tinto italiano produzido na região da Toscana. É um vinho tinto seco, com notas de fruta muito concentrada
e é produzido com as uvas Sangiovese e Canaiolo, ambas tintas, e as brancas Trebbiano e Malvásia.

212
— Não é engraçado, —Rehv murmurou enquanto caminhava para o
topo da escada.

— Vamos, foi um pouco engraçado, —Wrath gritou do escritório.


Uma batida de silêncio. — Tudo bem, traga um candelabro com você se
você estiver se sentindo mal-intencionado. Talvez acenda um fogo
embaixo do seu osso engraçado.

Enquanto a risada estrondosa ondulava livre do escritório e ecoava


por toda a porra da mansão, Rehv murmurou em seu caminho descendo
os degraus. Nota para si mesmo: não dê ao grande Rei Cego esse tipo de
munição.

Ele realmente deveria ter sabido melhor.

213
I
— sso mesmo, coloque o pulso sobre o prato de prata.

Mae franziu a testa e se inclinou sobre a mesa da cozinha de Tallah


para olhar mais de perto. Não que isso mudasse a sopa leitosa feita com
vinagre branco, suco de limão, cera de vela e sal.

Enrugando o nariz, ela disse:

— Você quer que eu me corte?

— Não profundamente. Mas tem que estar na palma da sua mão sobre
sua linha da vida.

— Eu pensei que a leitura da mão fosse uma coisa humana.

— É uma coisa do universo. —Tallah estendeu a faca de cortar limpa.


— Tem que cruzar sua linha da vida. E quando você fizer isso, imagine o
Livro vindo até você. Encontrando você. Ajudando você como você
precisa.

214
— Não sei como o Livro se parece.

— Se ele ouvir você, você verá. —Tallah balançou a faca. — Pegue


isso.

Mae quase balançou a cabeça e deu uma desculpa para se levantar e


ir ao banheiro. Mas então ela pensou sobre como os vampiros afundam na
água quando estão mortos. E como ela nunca teria sabido se não fosse por
Rhoger estar ...

Ela cuidadosamente tirou a lâmina da fêmea mais velha. Mas ela não
a pôs em uso. Ela pensou em fraudes. E tabuleiros Ouija. E bolas de cristal.

E como ela estava desesperada por não ficar sozinha neste mundo.

— Tallah, você precisa ser honesta comigo. Como você tem tanta
certeza sobre tudo isso? —Quando a fêmea não respondeu imediatamente,
Mae guardou uma maldição para si mesma. — Não foi apenas pelo que a
mahmen do Reverendo lhe disse, certo.

O olhar míope de Tallah baixou para o chá e fez-se um longo silêncio.

— Eu usei uma vez. —Aqueles olhos lacrimejantes se ergueram. —


Mas apenas para deixarmos claro, recebi a informação sobre seu poder
da mahmen de Rehvenge—e ela me disse como pedir sua presença. Que é
como eu sei sobre isso.

215
Quando a fêmea indicou o prato de prata, Mae endireitou-se na
cadeira.

— Para que você o usou? Funcionou? Você fez ...

— Não era para trazer alguém de volta, não. —Tallah preocupou-se


com o pequeno laço azul na ponta de sua longa trança branca. — Na
verdade, eu queria desaparecer com alguém. Eu queria que a fêmea que
estava tirando meu hellren de mim desaparecesse.

— E o que aconteceu, —Mae sugeriu em um sussurro.

Tallah balançou a cabeça. Em seguida, sacudiu novamente.

— Você é diferente. Suas intenções não são nada como as minhas


foram.

— O que aconteceu, —disse Mae mais alto.

— O resultado me colocou aqui. —Tallah gesticulou em torno da


cozinha simples. — E não tem sido uma vida ruim. Uma vida diferente,
mas não ruim. Acontece que o que eu mais gostava na minha antiga
posição era o que parecia quando eu a detalhava para os outros. A parte
realmente de viver as coisas não era tão edificante.

— Você matou alguém? —E Mae temia a resposta.

216
— Eu queria que ela desaparecesse. Isso é tudo. —Tallah passou a
mão no ar. — Mas nada disso importa agora. Como eu disse, você é
diferente. Seu coração é puro. Não há sombra maligna para o que você
procura. Você quer consertar as coisas e devolver o que foi roubado
injustamente—e a intenção que importa. Eu estava com ciúmes.
Possessiva.

— Ele era seu companheiro.

— O coração de outra pessoa nunca é nosso para exigir, se não for


dado gratuitamente. Essa foi a lição que tive que aprender. Mesmo depois
que ela se foi ... ele não me queria. Portanto, recebi o que pedi, mas não o
resultado que desejava. Na verdade, meu hellren estava tão consumido por
sua dor que não conseguia ser consolado, e quanto mais eu tentava, mais
ele se ressentia de mim. Ele me mandou embora, me baniu de sua grande
linhagem, e tudo que eu podia pagar era isso, já que ninguém compraria
nenhuma das minhas coisas. Fêmeas em desgraça não são uma
proveniência que qualquer colecionador deseja. Podemos transformar até
mesmo obras-primas em lixo—e não tenho contatos no mundo humano.

Portanto, Tallah não estava determinada a reter suas posses, afinal, pensou
Mae.

— Eu sinto muitíssimo.

217
Tallah olhou em volta como se estivesse observando a cabana como
um todo.

— Tive muito tempo para considerar minhas escolhas, seus resultados


e minha situação. Você faz as pazes com a sua situação ou se destrói de
dentro para fora. —Concentrando-se novamente, ela estendeu a mão e
apertou o braço de Mae. — É por isso que a intenção importa. Eu apenas
imaginei que a fêmea se fosse. Não imaginei meu companheiro e eu felizes
e juntos. Você consegue o que pede, então deixe sua intenção clara
quando você buscar que o Livro chegue até você.

Atingida pela compulsão de saber exatamente o que havia acontecido


com a outra fêmea, Mae, no entanto, manteve essa linha de
questionamento para si mesma. Além disso, não se tratava do passado de
Tallah. Era sobre o presente de Mae—e de suas memórias mais vívidas e
dolorosas, ela viu Rhoger desmaiar quando entrou pela porta da frente,
suas forças gastas, sangue em suas roupas, um som desesperado
explodindo dele quando ele bateu no chão e quicou como se já estivesse
morto.

Ela tentou mantê-lo vivo. Ela falhou. Ele morreu em seus braços, seu
amado irmão ... se foi.

— Não foi justo, —disse ela. — O que aconteceu com Rhoger.

218
— Eu concordo. Você precisa buscar uma audiência com o Rei. Você
deve contar à Irmandade da Adaga Negra o que foi feito com seu irmão.
Eles podem ajudá-la a encontrar o agressor que o atacou e garantir que a
justiça seja feita da maneira adequada.

— Se eu soubesse o que aconteceu, no entanto. Rhoger morreu antes


de poder me contar.

— Se você o trouxer de volta, ele mesmo poderá contar a eles.

Mae piscou. Estupidamente, ela nunca considerou isso.

Concentrando-se na faca, ela se sentiu dividida em duas metades.


Uma que pedia cautela com essa loucura. A outra que ...

— O que devo fazer aqui de novo? —Ela exigiu.

— Imagine o seu bom resultado, que seria seu irmão vivo e saudável
ao seu lado, vocês dois reunidos. Imagine como você precisa de ajuda para
chegar lá. Tenha sua mente ocupada com isso enquanto corta a palma da
mão em sua linha da vida. Então peça que o Livro venha até você.

— E é isso.

— Foi assim que me disseram que funcionava e foi assim que usei esse
feitiço. Embora uma vez que você o chamou, leva algum tempo, não é
algo imediato ... mas funcionou antes e acredito que funcionará agora.

219
Não faça isso, disse uma voz no fundo da cabeça de Mae. Isto está errado.
Esta é uma porta que deve permanecer fechada ...

Fechando os olhos com força, ela imaginou Rhoger naquela água


gelada, os cubos flutuando acima de seu olhar fixo e vago. Quando sua
dor a invadiu, ela abriu o cofre em seu coração e depositou sua esperança
temerosa ... bem, no universo porque ela não tinha certeza se acreditava
na Virgem Escriba.

Ela tentou ver Rhoger vivo e ao seu lado...

Mae fechou o punho em torno da faca e engasgou enquanto puxava a


lâmina. Com as pálpebras abrindo, ela teve uma imagem nítida de sangue
vermelho escorrendo pelo nó de sua mão e caindo com um respingo na
tintura leitosa no fundo do prato de prata.

Gota. Gota. Gota ...

Ela não tinha certeza do que esperava. Mas quando os momentos se


transformaram em minutos, e tudo o que havia ... era o gotejamento ...
uma insatisfação penetrante passou por ela. Isso era uma loucura, uma
fantasia nascida de seu desespero e do desejo de Tallah de retribuir o
serviço da mahmen de Mae. Um beco sem saída ...

Tallah tirou algo do grande bolso de seu roupão, sua mão ossuda se
estendendo sobre a mesa.

220
Preso em seus dedos trêmulos estava um pequeno pedaço triangular
do que parecia um pergaminho, dois lados lisos como se cortados, o lado
comprido irregular quando rasgado.

— Isso é do Livro, —Mae respirou.

— Eu guardei isso todos esses anos. Guardei para ... se eu precisasse.


Assim, eu dou isso à sua busca.

Com isso, Tallah colocou o fragmento no prato de prata ...

O flash foi forte e quente o suficiente para que as duas se afastassem


da mesa, a mão e o pulso de Mae zumbindo com um calor repentino, uma
batida rítmica de dor em sua palma não tendo nada a ver com o corte da
faca.

Em toda a casa, as luzes diminuíram e tremeluziram, e uma rajada de


vento sacudiu as janelas.

Tudo ficou preto.

A cadeira de Mae caiu para trás quando ela se levantou em um salto.

— Tallah, o que está acontecendo ...

Houve um rangido do outro lado da mesa e, em seguida, o baque


nauseante do corpo da velha fêmea caindo no chão.

221
— Tallah! —Mae contornou as cadeiras, esbarrando nelas,
espalhando-as em uma cacofonia de barulho. — Onde você está ...

De repente, as luzes voltaram. Não havia mais oscilação de


eletricidade. Não havia mais sons do lado de fora. No chão, Tallah estava
esparramada e inconsciente, seus olhos revirados, o branco brilhando
como se ela tivesse sido possuída por ...

Com um bufo e um suspiro, a fêmea idosa acordou, seu rosto


enrugado registrando choque. Então ela ergueu a cabeça e olhou ao redor
como se não tivesse ideia de onde estava.

Mae se ajoelhou e segurou cuidadosamente uma daquelas mãos


enrugadas.

— Você está bem? Vamos levá-la à clínica do curandeiro. Eu tenho


meu carro ...

Tallah tossiu e balançou a cabeça. Então ela afastou a preocupação de


Mae.

— Estou bem. Estou bem ... —Aqueles olhos varreram ao redor. —


Não sei o que aconteceu—você pode me ajudar a levantar?

Pegando o braço magro da fêmea, Mae arrastou Tallah de volta para


sua cadeira. Então ela foi para sua própria bolsa.

222
— Vou ligar para a clínica e dizer a eles ...

— Não, não ... —Tallah parou as mãos desajeitadas de Mae. — Não


seja boba. Você estaria apenas perdendo o tempo deles—deixe-os cuidar
das pessoas que precisam. Honestamente, estou perfeitamente bem. A
escuridão repentina me assustou, só isso.

Mae olhou para a fêmea, procurando sinais de confusão ou ... Deus,


ela não sabia o quê. Ela não era médica. Mas com o passar do tempo,
Tallah ficou de pé e parecia fazer sentido?

— Você sabe, talvez eu estivesse errada, —disse a fêmea idosa,


derrotada.

— Sobre o que?

— Tudo. —Ela colocou a cabeça entre as mãos. — Estou cansada.

— Você gostaria que eu te ajudasse a voltar para a cama lá embaixo


...?

As batidas na porta da frente foram altas e persistentes, e Mae se virou


para ver a frente da casa.

— É esse o ...?

Tallah agarrou o braço dela.

223
— Não atenda.

As batidas silenciaram. Em seguida, reiniciaram.

— Fique aqui. —Mae se afastou e enfiou a mão na bolsa. — Eu volto


já ...

— Não! Não abra!

Mae marchou até a sala de estar e, assim que alcançou a porta, olhou
para trás. Tallah havia se virado para a mesa e estava bebendo o resto de
seu chá, a cabeça inclinada enquanto ela parecia baixar a xícara para se
fortalecer.

Reorientando-se, Mae pegou seu spray da mace , seu corpo


tremendo, seus instintos gritando em advertência.

Mas certamente aquele feitiço de convocação não havia manifestado


algum livro que tinha o poder de bater em portas?

Dizendo a si mesma para cair na real, Mae abriu a porta da frente,


colocou seu spray para fora ...

Mace em inglês - Mace é a marca de um dos primeiros tipos de spray aerossol de autodefesa inventado por Alan Lee Litman
na década de 1960. ... Sua popularidade fez com que o nome "maça" fosse comumente usado para outros sprays de defesa, independentemente de
sua composição, e para que o termo "maced" fosse usado como referência ao spray de pimenta.

224
E saltou para trás alarmada.

— O que diabos você está fazendo aqui? —Ela latiu.

Demorou um pouco para que Shawn respondesse, como se também


não pudesse acreditar onde estava. Mas então o lutador da noite anterior,
aquele que ela salvou, aquele que ela tinha trabalhado tão duro para
nunca, nunca pensar porra de novo, deu de ombros.

Como se por acaso se encontrassem na seção de frutas do


Hannaford's .

— Você se importa em baixar o spray de urso, —disse ele


ironicamente.

Ela balançou a cabeça para clareá-la. — O que?

Ele acenou com a cabeça para o spray.

— A menos que você esteja planejando usá-lo em um macho


desarmado e indefeso? Quer dizer, eu sou totalmente a favor do
feminismo, mas isso parece um pouco agressivo, você não acha?

— Você? Indefeso. Realmente. Bem, então eu sou a fada dos dentes.

Hannaford é uma rede de supermercados americana com sede em Scarborough, Maine. Fundada em Portland, Maine, em
1883, a Hannaford opera lojas na Nova Inglaterra e Nova York. A rede agora faz parte do grupo Ahold Delhaize, com sede na Holanda.

225
— Você não parece uma fada. —Seus olhos percorreram seu corpo.
— A menos que você esteja escondendo suas asas em algum lugar que eu
provavelmente não devesse perguntar?

Mae fechou os olhos e orou por compostura. E quando ficou claro que
ela poderia esperar até o próximo mês antes que qualquer coisa perto de
compostura pousasse em sua proverbial varanda, ela forçou suas pálpebras
a se abrirem e olhou para o lutador. Ele era exatamente como ela se
lembrava. Grande, de aparência má e com um conjunto de mármores
negros que apareciam em seu rosto severo com uma combinação de tédio
e julgamento.

Ah, e ele estava vestido como algo saído de um filme de Deadpool ,


todo preto, roupas de combate que abraçavam o corpo.

— O que diabos você está fazendo aqui, —ela repetiu. Porque


realmente, o que mais havia para dizer?

— Eu estava na vizinhança. Pensei em dar uma passada. —Ele se


inclinou para frente e cheirou o ar. — Ei, você tem café naquela sua
cozinha? Não sou muito de beber chá.

Deadpool é um filme de ação e comédia americano dirigido por Tim Miller e distribuído pela 20th Century Fox que tem
como protagonista o personagem homônimo da Marvel Comics, sendo o oitavo título da franquia X-Men. A obra é estrelada por Ryan Reynolds no
papel titular, e conta também com Morena Baccarin, Ed Skrein, Gina Carano, T. J. Miller, Brianna Hildebrand, Stefan Kapičić e Leslie Ug gams em seu
elenco.

226
— Foda-me ... Oh, sim ... deixe-me ver você ...
Balz estava deitado de costas em sua cama em seu quarto na mansão
da Irmandade. Mas ele não estava sozinho. Puta que pariu, ele estava
completamente e totalmente fodidamente não-sozinho.

Uma mulher de cabelos escuros estava montada em seus quadris nus


e montando sua ereção, lenta e firmemente. E como se ela lesse sua mente,
ela arqueou para trás e plantou as palmas das mãos na colcha bagunçada
pelos joelhos, abrindo suas coxas largas, deixando-o assistir enquanto seu
enorme e brilhante pênis deslizava para dentro e para fora de seu doce,
núcleo quente.

— Oh ... Deus, maldição ... porra ...

Ela era tão bonita, seus seios balançando com seus movimentos, as
pontas apertadas apontando para o teto enquanto ela se aprofundava
ainda mais naquele arco dela. Abaixo de seu peso perfeito, seu abdômen
ondulava sob sua pele fina e macia, e todos aqueles luxuosos cachos
morenos caíam em cascata em suas canelas.

227
— Isso mesmo, foda-me, —ele gemeu enquanto apertava seus joelhos
e os forçava ainda mais separados. — Mais rápido.

Como se ela não tivesse nada melhor a fazer do que atender a todas
as suas fantasias, ela se moveu com mais urgência, seus lábios vermelhos
sangue se separando, sua pélvis trabalhando, o piercing pendurado em seu
umbigo piscando na luz fraca. Ela era tão flexível, era como se ela fosse
feita de água, seu corpo fluindo sobre ele, cobrindo-o, mesmo nos lugares
em que sua pele não estava na dele.

No fundo de sua mente, ele pensou na Sra. no triplex. Ele tinha feito
esse tipo de merda com aquela mulher humana, levando-a, controlando-
a, dando-lhe o tipo de prazer que iria recalibrar todos os amantes que ela
já teve e teria. Essa brincadeira tinha sido uma boa diversão. Uma ótima
maneira de matar uma ou duas horas.

Mas isso ... este era um sexo de mudança de jogo ...

Mudando o equilíbrio, a mulher trouxe uma das mãos para


frente. Suas unhas eram longas como garras e pintadas com a mesma cor
vermelha que seus lábios, e quando ela alcançou seu sexo entre as pernas,
elas brilharam na penumbra.

Em uma subida de seus quadris, quando seu pênis emergiu de seu


domínio liso, ela as passou por seu eixo superaquecido e sensível ...

228
— Vou gozar, —ele respondeu. — Porra, vou gozar ...

Bem quando ele estava prestes a ejacular, o prazer se intensificou a


um ponto de agonia antecipada que ele queria capturar e segurar dentro
de suas bolas para sempre, no exato momento em que o orgasmo estava
começando—ela se levantou e desapareceu.

Houve até um puf! e um pequeno fio de fumaça ...

Balz se endireitou.

Jogando as mãos na frente de seu peito nu e sua excitação rígida, ele


acenou pelo ar, em busca da carne quente, da mulher, do calor e da paixão.

Nada.

Não havia nada ali.

Esfregando o rosto, ele olhou ao redor. Sim, este era seu quarto. Ou
pelo menos ele pensava isso—não, não, ele estava em casa. Ele podia ver
os contornos do arranjo familiar de antiguidades, a pilha de roupas de
ladrão no chão e a porta rachada que dava para o enclave de mármore do
seu banheiro ...

Do lado de fora do corredor, uma série de gongos baixos começou a


disparar. Era o relógio de pêndulo na sala de estar do segundo andar
anunciando a hora.

229
Ele contou as batidas: um, dois, três, quatro, cinco, seis ... Sete.

Nada mais. Então, eram sete da noite.

E tinha que ser à noite, porque ele tinha ido para a cama por volta das
oito da manhã. Então, sim, ele estava no lugar certo, na hora certa. Mas e
quanto à mulher? Nem uma pista de como ela veio parar na mansão
cuidadosamente escondida da Irmandade, em seu quarto—exceto ... devia
ter sido um sonho.

Jesus, ele era estúpido.

Claro que foi um maldito sonho. Uma vingança subconsciente e


existencial pelo que ele fez com a Sra. naquele triplex.

Os olhos de Balz voltaram-se para a sua cômoda Ali, ao lado do abajur


com a cortina de vitral, ainda balançando para a frente e para trás como
se fossem bebês em um berço que se agitavam quando tentavam dormir,
estava a coleção de relógios do Sr. Todos os seis deles. Exatamente onde
Balz os havia deixado.

Então, sim, toda aquela merda no Commodore com o cofre e a Sra. e


aqueles Banksys na escada haviam acontecido ...

A inquietação percorreu sua espinha.

230
Algo mais aconteceu, porém. Algo que o atrasou. Algo que
interrompeu sua partida ...

A imagem do corpo nu da mulher misteriosa, de seus cabelos


castanhos e olhos escuros, dos seios incríveis dela, o fez travar seus
molares ...

Balz teve um orgasmo duro, jatos quentes saindo de seu pênis e caindo
em suas coxas, seus lençóis, seu abdômen inferior, as estrias de gozo
marcando-o. E quando a liberação o rasgou, a mulher estava dentro de seu
quarto novamente, de pé diante dele, seu sorriso antigo, seu corpo tão
jovem quanto um recém-saído da transição.

Exceto que ela não era uma vampira. E ela não estava realmente na
frente dele. Sua lembrança dela era forte, porém, cada detalhe dela
queimado em sua mente.

Era como se eles fossem amantes durante anos. Na verdade, ele tinha
a sensação de que esta não era a primeira vez que ela o fazia gozar, mas
sim que eles haviam fodido o dia todo.

Ele estava apenas se lembrando desta vez em particular ...

Tum, tum, tum.

— Balz! Você está morto? Que inferno.

231
Chamado sua atenção, ele se virou para a porta. Então ele se mexeu
para puxar as cobertas para cima e para seu colo—onde ele as segurou no
lugar onde sua ereção estava em perigo de pegar uma cartola, uma bengala
e sapatear para fora de sua pélvis.

Jesus, ele estava perdendo a porra da cabeça.

— Sim, sim. —Ele pigarreou. — Eu estou bem.

Syphon, seu primo, e o melhor assassino que alguém conheceria,


enfiou a cabeça dentro.

— Temos uma reunião no escritório de Wrath em cinco minutos. E


por que você não estava na Primeira Refeição. E eu trouxe comida para
você.

O desgraçado jogou um croissant enrolado em um pano de prato e


seguiu a bomba de carboidratos com uma caneca de viagem lacrada. Balz
pegou um. Pegou o outro.

— Açúcar e creme como você gosta. Agora tire sua bunda da cama.
Eu te encontro lá.

A porta se fechou com um estrondo, a luz que fluía do corredor


foi apagada, nada além do brilho do banheiro infiltrando-se na escuridão
mais uma vez.

232
Balz olhou para onde ficava o chuveiro. Em seguida, desviou os olhos
para o pano de prato e a caneca de viagem.

Tudo parecia exaustivo e ele se deixou cair nos travesseiros. Fechando


os olhos, ele respirou fundo e cheirou sua própria excitação. Embora ele
sempre estivesse pronto para ir a uma reunião com os Irmãos, e apesar do
fato de ter dormido bastante durante o dia, ele realmente não queria ir a
lugar nenhum.

Talvez apenas mais alguns minutos de olhos fechados.

Sim, apenas um ou dois segundos. Então ele iria tomar um banho e


comer sua Primeira Refeição no caminho para o escritório. Sim. Só um
pouco mais ...

Oh, quem diabos ele estava enganando.

Tudo o que ele queria era mais daquela mulher. Ele precisava dela
novamente como ele precisava de oxigênio para sobreviver.

Mesmo que ela fosse apenas uma invenção de sua imaginação.

233
Parando na soleira de uma cabana de pedra que pertencia a um catálogo
de casa de bonecas, Sahvage esperou ser convidado para um café lá
dentro. Porque, você sabe, ele era um cavalheiro. Um verdadeiro cara com
as maneiras de um fodido aristocrata.

Enquanto isso, a fêmea que ele estava na frente estava olhando para
ele como se ele tivesse perdido a cabeça. E talvez ela estivesse certa.

Então, novamente, talvez ele tenha perdido suas bolas de gude há


muito tempo, e elas tenham acabado de se encontrar.

A fêmea olhou por cima do ombro para um interior escuro. Então ela
saiu da pequena casa e fechou a porta. Seu cabelo estava em um rabo de
cavalo novamente, mechas loiras flutuando ao redor de seu rosto como
uma auréola. Sem maquiagem, mas não era como se ela precisasse, e ela
estava usando o mesmo jeans da noite anterior—não, espere,
provavelmente não. Ele tinha a sensação, dado seu frágil autocontrole,

234
que ela era uma aberração limpa e um pouco compulsiva. Sem dúvida, ela
tinha três ou quatro pares da mesma marca e tamanho e fizesse uma
rotação entre eles durante as lavagens.

Oh, mas ela tinha misturado as coisas esta noite com uma lã por cima,
em vez de outro moletom ...

Deus, ela ainda cheirava fodidamente de forma incrível—e ele não


podia deixar de encarar os lábios dela. O fato de que eles estiveram em sua
garganta, sugando ... lambendo ...

Bem, isso o fez se ressentir como um caralho por estar meio morto
quando tudo isso aconteceu. E é melhor ele parar de pensar no que ela fez
em seu pescoço, ou ele vai ter que se ajeitar—e não porque sua postura
fosse ruim.

— Você não está aqui agora, —disse ela em voz baixa.

Sahvage ergueu uma sobrancelha.

— Eu não estou? Onde estou, então? É melhor você me dizer, porque


senão estou perdido.

— Não foi isso que eu quis dizer.

Ele se inclinou e abaixou o volume para combinar com o dela, como


se estivessem compartilhando segredos.

235
— Eu sugiro que você me belisque para verificar se eu sou real, mas
estou preocupado que você interprete mal o convite deliberadamente e dê
um soco.

— Sim, você definitivamente não quer me dar uma abertura assim. Eu


não sou uma pessoa violenta, mas algo sobre você ...

— Inspira você. —Ele passou a mão pelo cabelo curto. — Sim, eu sei,
tenho esse efeito nas fêmeas ...

— Você não me inspira.

— ... que estão procurando livros. Então você já encontrou seu


pequeno conjunto Beatrix Potter ? Ou, espere, é mais como uma Nancy
Drew , certo.

Isso a calou por um segundo.

Na verdade, não, isso não era bem preciso. Os olhos dela falaram
muito com ele.

Helen Beatrix Potter foi uma escritora, ilustradora, micologista e conservacionista inglesa, célebre por seus livros infantis
de grande originalidade e valor intemporal. Sua obra mais famosa é A História do Pedro Coelho, um relato das travessuras do P eter Rabbit na horta
do Seu Gregório.

Nancy Drew é um personagem fictício, um detetive em uma série de mistério americana criada pelo editor Edward
Stratemeyer como a contraparte feminina de sua série Hardy Boys. O personagem apareceu pela primeira vez em 1930.

236
— Como você encontrou esta casa? —Ela exigiu.

— Você me alimentou ontem à noite. —Sahvage recuou. — Seu


sangue está dentro de mim. Melhor do que GPS.

E ei, pelo menos ele teve sucesso em não lamber os lábios enquanto a
lembrava do que ele não conseguia parar de pensar. Em sua mente, porém,
ele era tudo sobre o gosto dela—e você sabe, aquele passeio pela estrada
da memória tornou a noite fria tropical. Pelo menos do lado dele das
coisas.

Para ela? A Antártica não era nada nas lascas de gelo em seus olhos
quando ela cruzou os braços sobre o peito.

— Não, eu não encontrei o que estou procurando.

— Pena que é apenas um livro.

— Me desculpe.

Sahvage encolheu os ombros.

— Estou apenas dizendo.

— Eu não estou procurando por você. Só para esclarecermos.

— Ah, e agora você está ferindo meus sentimentos. —Ele colocou a


mão no coração e jogou a cabeça para trás em um recuo. — Você é tão ...

237
— Tão o quê.

Quando Sahvage deixou suas palavras vagarem, ele se virou e olhou


para o quintal emaranhado. A casinha de pedra estava afastada da estrada
rural em que ficava, e a propriedade estava abandonada há algum tempo,
então havia amoreiras crescendo por toda parte. Da mesma forma, o
caminho de terra para a área cultivada era marcado por árvores que eram
tão graciosas quanto mãos artríticas e arbustos que haviam crescido
demais em suas formas.

— Vá em frente, —a fêmea solicitou. — Diga. Você acha que eu não


consigo lidar com um insulto ...

— Shh.

— Não, eu não vou “shh” ...

Sahvage ergueu a mão e continuou a examinar a paisagem


desgrenhada e infestada de sombras.

— Pare de falar.

A fêmea bufou.

— Okay, eu sei que isso vai ser uma surpresa esmagadora para você,
mas eu não tenho que ouvir ...

238
— Cadê o céu?

Houve uma pausa.

— O que?

Ele apontou para cima.

— Onde estão as estrelas. Era uma noite clara quando cheguei aqui
agora há pouco. Onde elas estão.

— Chama-se cobertura de nuvens.

O inferno que é isso, ele pensou.

E enquanto isso, no chão, não havia vento para perturbar nada e


nenhuma lua para lançar qualquer luz—e ainda assim algo havia se
movido lá fora.

Mesmo que seus olhos estivessem dizendo que nada estava errado,
seus instintos sabiam melhor.

— Entre na casa, —disse ele em voz baixa.

— Eu vou. Assim que você partir ...

Sahvage a fitou com olhos duros. — Eu não estou de besteira com


você. Algo não está certo ...

239
O olhar dela se moveu para cima do ombro dele. E então ela agarrou
seu braço e apontou para as amoreiras bagunçadas.

— O que diabo é isso?

Ele girou de volta e se moveu para que seu corpo ficasse entre ela e o
que quer que estivesse lá—e levou menos de uma fração de segundo para
ver do que ela estava falando. Uma sombra estava passando rapidamente
pelo chão sujo, viajando como uma cobra sobre a pista de obstáculos de
galhos caídos e ervas daninhas mortas. No entanto, não havia origem para
isso, nada no ar acima que pudesse lançar aquele tipo de coisa. Nenhuma
fonte de luz também.

— Entre ...

Sahvage não teve chance de terminar o e feche a porra da porta. A


mancha escura escorregadia explodiu do chão, tornando-se uma figura
tridimensional que tinha extensões semelhantes a braços e pernas, bem
como um tronco do tamanho de um homem.

Antes que Sahvage pudesse comandar uma de suas armas, a coisa,


seja lá o que fosse, avançou com um guincho tão forte que atingiu o
ouvido e todo o corpo dele. Para proteger a fêmea atrás dele, Sahvage
abriu os braços ...

240
A entidade lançou um de seus apêndices e chicoteou o peito de
Sahvage, o impacto como a picada de mil abelhas, a dor ricocheteando em
sua espinha e ondulando por seus músculos. Ele ficou de pé apenas por
força de vontade, sua determinação de manter a fêmea segura dando-lhe
uma força que de outra forma não teria—especialmente quando o segundo
golpe o acertou no rosto, cegando-o.

Enquanto seu cérebro se entupia de agonia e ele cambaleava para


frente e para trás, pela primeira vez na memória registrada, ele rezou como
o inferno para não morrer. Ele não podia deixá-la indefesa diante de
qualquer porra que aquilo fosse. Então, quando sua visão de merda disse a
ele que a entidade estava vindo para eles novamente, ele se preparou,
descobrindo suas presas e tentando ordenar uma resposta defensiva ...

Diretamente ao lado de sua cabeça, estendendo-se para a frente do


nada, um braço—um de verdade, não o que quer que fosse a sombra—
apareceu. Ou pelo menos parecia assim. Seus olhos estavam borrados pra
caralho—não, era realmente um braço e pertencia à mulher. E no final da
coisa, agarrado com força, estava um pequeno objeto parecido com um
spray.

A fêmea gritou enquanto pressionava um mecanismo de descarga, o


ruído que ela fazia não de medo, mas de agressão. No entanto, a nuvem

241
de aerossol que saiu foi instantaneamente varrida, como se a coisa sombria
tivesse olhos? Ainda assim, foi bom dela ter tentado ...

Houve um puxão repentino em sua cintura.

Sob sua axila, do outro lado dele, o cano de sua arma apareceu à
vista. E quando a fêmea puxou o gatilho, houve uma explosão do cano,
uma bala disparada em direção à entidade—mas com apenas uma mão,
ela não conseguiu controlar a mira ou o recuo da quarenta.

O spray não ia surtir nenhum efeito, mas aquelas balas de chumbo,


certo como a merda que iriam.

Sahvage agarrou a mão dela.

— Mire! Vou estabilizar isso—mire, droga! Eu não consigo ver!

Com a enorme palma dele travada sobre seu agarre, a fêmea assumiu
o comando, apontando e apertando o gatilho, os músculos do antebraço e
bíceps dele absorvendo o tranco, mantendo a quarenta onde ela precisava
...

A sombra foi atingida em cheio no torso, o impacto soprando para


fora as extensões da parte inferior do corpo, a parte superior do torso
desequilibrada, um outro grito terrível reverberando pela noite.

242
Antes que Sahvage pudesse dizer a ela para atirar novamente, a fêmea
apertou a porra do gatilho repetidamente. E mesmo que ele não tivesse
visão à distância neste momento, ele poderia dizer que ela estava no
local para onde aquelas balas de chumbo estavam indo.

O-que-quer-que-fodidamente-fosse-isso tropeçou para trás e cambaleou.

— Continue atirando! —Sahvage gritou acima dos sons da arma.

Em preparação para quando ela esvaziasse o pente, ele alcançou a


parte inferior de suas costas e tirou um de seus backups.

No segundo em que a última bala no pente saiu da câmara, ele latiu:

— Recarregando agora!

Ele pegou a arma dela, tirou o vazio, deu um tapa no cheio e mudou
o ângulo de pontaria. Desta vez, ela agarrou seu antebraço com as duas
mãos e moveu a arma.

— Atire! —Ela disse em seu ouvido.

Sahvage seguiu sua orientação e deixou que ela controlasse seu braço
como se fosse parte da arma. E as balas foram para onde deviam ir. À
medida que seus níveis de dor melhoravam, Sahvage podia ver um pouco
melhor, e a sombra estava cheia de buracos ...

E então ela se separou.

243
Em uma rajada de estilhaços de penas, a entidade explodiu em
pedaços, como um abutre atingido por uma bala de canhão.

— Entre! —Sahvage empurrou a fêmea para a porta. — Entre!

Só Deus sabia se aquela coisa iria se recompor ...

Houve um rangido quando a entrada foi escancarada, e então Sahvage


se sentiu sendo puxado. Ao prender a ponta da bota na calafetagem, ele
pendeu para frente e caiu no chão. As boas notícias? Antes que ele pudesse
gritar com ela para fechar a maldita porta, houve uma batida retumbante
...

Imediatamente, a fêmea se abaixou para ele.

— Você está bem?

Enquanto Sahvage guardava a arma, seus olhos ainda não


funcionavam bem, mas seu nariz estava acertando o alvo—e, ah, o cheiro
dela.

Ele respirou fundo e não conseguia parar de sorrir.

— Eu estou agora.

244
Mae olhou para o lutador. Para Shawn.

O rosto dele estava inchado em uma crista que ia da boca até um dos
olhos, a pele intacta, mas levantada como se queimada. E embora a
jaqueta preta que ele vestia estivesse inteira, ela podia sentir o cheiro de
sangue fresco—então suas mãos trêmulas puxaram a camisa dele para fora
do cós da calça de combate.

Mae desviou o olhar quando sua tatuagem fez uma aparição, o dedo
mindinho estendendo-se de seu fundo preto a assustando. Mas então ela
mudou o foco. Oh ... Uau. A musculatura dele era o tipo de coisa que você
não podia deixar de notar novamente—e não com desaprovação.

Exceto que então ela se esqueceu de todas as coisas do minha nossa: a


carne dele parecia ter sido chicoteada, os vergões cruzando de seu ombro
para seu abdômen. E, no entanto, como suas roupas não foram cortadas?

— Você está ferido, —ela suspitou.

Espontaneamente, sua mão se estendeu e tocou o ...

O lutador sibilou e se ergueu e, ao fazer isso, seu abdômen se apertou


como cordas grossas sob a pele, sem gordura obscurecendo os contornos
de sua anatomia.

245
— Ele está realmente ferido! —Tallah exclamou da arcada para a
cozinha. E então a fêmea idosa parecia confusa. — Espere, quem é ele—
e eu ouvi tiros?

— Está tudo bem agora, —disse Mae, embora ela não acreditasse
nisso.

Nada disso estava bem. Ela tinha acabado de atirar com uma arma? E
o que diabos aquela coisa de sombra tinha sido? E porque ...

— Você está ferida, também? —Tallah exigiu. — Ele precisa de um


curandeiro?

— Não, eu estou bem. —Mae estendeu os braços e se examinou. —


Nada pica ou dói.

— E eu estou perfeitamente bem, —Shawn interrompeu.

Com um gemido, ele se levantou. E então, dirigindo-se a Tallah, ele


disse no Idioma Antigo:

Enquanto falava, ele levou a mão ao esterno e fez uma reverência.


Como se ele estivesse em um smoking, e eles estivessem em um salão de
baile, em vez da área de estar apertada da frente do chalé.

246
E o que você sabe? Tallah de repente parecia uma princesa da Disney
sendo presenteada com as chaves de um castelo.

—ela respondeu com uma breve reverência em seu


roupão.

Que diabos, Mae pensou. Por que eu não recebi um tratamento sofisticado?

Então, novamente, a inflexão de Tallah, fosse em inglês ou no Idioma


Antigo, era totalmente aristocrática—havia apenas um grupo de vampiros
que soava como ela. E claramente Shawn—Sahvage—tinha experiência
com eles. Ou era um deles.

Sahvage? Ela pensou.

Então novamente ... o que mais poderia ser seu nome.

— Então, o que aconteceu lá fora? —Tallah perguntou enquanto


colocava as mãos no corpete do roupão.

— Nada, —Mae respondeu rapidamente enquanto se levantava.

Tallah estreitou os olhos.

— Bem, isso certamente explica os tiros, não é?

Shawn—não, Sahvage—olhou para a porta da frente fechada.

247
— Precisamos de uma barricada. Você se importa se eu mover isso?

Tallah e Mae se viraram para o gabinete jacobino que ocupava toda


a parede lateral. A coisa era feita de carvalho velho que era grosso como
as paredes de pedra externas da cabana—e talvez mais pesado.

— Acha que posso te ajudar? —Disse Mae.

— Nah, eu tenho isso.

Ele caminhou até a peça de mobília entalhada de dois metros e meio


de altura e um metro e oitenta de largura—e esticou os braços de ponta a
ponta. Então ele afundou em suas coxas pesadas, respirou fundo e ...

Mae realmente esperava que o gabinete não se movesse.

Errado. Com um rangido de protesto e muitos gemidos de madeira, a


peça se permitiu ser cuidadosamente erguida do chão. Então Sahvage
levantou em uma inclinação superficial que significava que todo o peso
estava em seu peito ... e levou a coisa até a porta da frente da cabana. A
respiração dele se aprofundou, inspiração e expiração bombeando para

O mobiliário elisabetano e jacobinos é a forma que o Renascimento assumiu na Inglaterra em móveis e ornamentos
gerais, e em móveis é uma forma tão distinta quanto seus colegas franceses e italianos.

248
dentro e para fora de seu torso, mas além disso? Ele estava totalmente no
controle da carga impossível que carregava.

E quando ele a colocou no lugar, ele colocou a coisa no chão como se


fosse uma pena, os pés se reconectando com as tábuas do assoalho não
com um estrondo, mas com um sussurro, a velha madeira gemendo
novamente.

Sahvage se endireitou, bateu palmas como se as palmas estivessem um


pouco dormentes e girou. Depois de duas respirações, ele voltou ao
normal. Como se ele não tivesse acabado de fazer supino com um carro.

— Persianas das janelas, —ele disse enquanto olhava para Mae. — Eu


preciso de sua ajuda para fazer todas elas descerem. Temos que proteger
o vidro, e quantas portas para o exterior existem?

Ela ainda estava tão surpresa com sua façanha de força que não
conseguiu responder imediatamente. Seu cérebro foi para lugares que
eram extremamente inúteis ... como o que mais ele poderia fazer com
aquele corpo dele.

E não, ela não estava falando sobre aspirar ou um pouco de trabalho


doméstico leve.

— O que exatamente está acontecendo aqui? —disse Tallah.

249
Mae balançou a cabeça para clarear seus pensamentos.

— Nós vamos cuidar de tudo. Não se preocupe. —Ela olhou para


Sahvage. — E sim, ah ... há uma entrada nos fundos pela cozinha. E
também há uma porta contra tempestades no porão, mas é de aço e
totalmente reforçada na posição travada.

Ele acenou com a cabeça bruscamente.

— Eu cuidarei de proteger a cozinha. Você começa nas janelas. —Ele


se virou para Tallah e fez uma reverência.

Tallah corou como se tivesse dezesseis anos e estivesse sendo


convidada para dançar uma dança lenta.

Mae foi até ela e segurou o braço da fêmea. — Sente-se aqui. Eu não
quero que você desmaie de novo.

Enquanto acomodava Tallah em uma poltrona, Sahvage começou a


puxar as venezianas para colocá-las no lugar a caminho da cozinha,
prendendo os painéis giratórios em ganchos montados nas soleiras. O fato

250
de que poeira voou das cortinas quando ele as empurrou fez Mae perceber
que as precauções de segurança para o sol não estavam sendo abaixadas e
levantadas regularmente por um tempo.

Então Tallah estava passando seus dias no porão, sozinha, sem estar
protegida se tivesse que subir as escadas. Se houvesse um incêndio. Se
houvesse um problema.

— Fique aqui, —disse Mae enquanto seu coração partia.

Correndo para a cozinha, ela puxou os conjuntos de venezianas e os


prendeu com firmeza—sobre a pia, ao lado da mesa, até mesmo os mais
pequenos na despensa e no banheiro ao lado.

Quando ela saiu do banheiro, ela parou de repente.

Sahvage estava fazendo outro dos seus arrebatar e agarrar, desta vez
com a geladeira. E ele poderia muito bem estar movendo uma torradeira
sobre um balcão por todo o esforço que parecia estar fazendo.

— Espere! O cabo!

Assim que o cabo esticou com força, Mae se lançou para a tomada e
puxou a coisa para que os pinos não se dobrassem ou, pior, se soltassem.

— Obrigado, —disse ele casualmente.

251
Para evitar olhar para o tamanho de suas costas e ombros, ela se
concentrou na pegada de poeira e sujeira que se acumulou sob o
Frigidaire .

— Meu reino por um Roomba de força industrial, —ela murmurou.

— Que tal lá em cima?

Girando, ela o encontrou batendo palmas novamente, e enquanto


media aquele torso, e aquelas pernas e aqueles braços, ela se ressentiu de
como poderia ser útil ter um pedaço de músculo como aquele em casa.
Especialmente quando, você sabe, algo que era de fora deste mundo viesse
até você no maldito gramado da frente.

Mae olhou para a mesa onde os restos da hora do chá ainda estavam
em exibição—junto com os ingredientes do feitiço de invocação, bem
como o prato de prata vazio.

A Frigidaire Appliance Company é a subsidiária da marca de eletrodomésticos comerciais e de consumo


dos Estados Unidos da matriz europeia empresa Electrolux. A Frigidaire foi fundada como Guardian Frigerator Company em Fort Wayne, Indiana, e
desenvolveu a primeira geladeira independente, inventada por Nathanniel B.

Fundada em 1990 e incorporada em Delaware, em 2000, a iRobot Corporation projeta robôs. A iRobot é uma
empresa pública da Nasdaq, com sede em Bedford, Massachusetts. Roomba da iRobot são aspiradores e limpadores.

252
O que elas chamaram para a cabana? Ela se perguntou com medo.

— Vou fazer o quarto de descanso dela neste andar, —disse ela. — E


nos conseguir um cabo de extensão para a geladeira.

— Algum problema comigo subindo as escadas?

— Não.

Ela pretendia se mover enquanto Sahvage se dirigia para frente da


escada. Em vez disso, ela olhou de volta para a mesa. A garrafa de vinagre,
a bacia de sal e o limão amassado, junto com a faca e o prato de prata,
eram algo de que ela gostaria de se desfazer.

Nos aposentos do andar térreo de Tallah, Mae fechou as venezianas—


e quando ouviu Sahvage se movendo no andar de cima, o fato de que
serragem filtrada caiu das tábuas do piso acima a fez pensar que ela deveria
levar a fêmea idosa para ir viver com ela e Rhoger. Por um lado, havia
uma preocupação óbvia se Tallah não se lembrava, ou não tinha energia,
para manter suas venezianas de segurança durante o dia. Mas, por outro
lado, a menos que houvesse algum investimento sério na casa de campo,
ela estava preocupada com sua integridade estrutural ...

Tallah apareceu na porta, sua bengala apoiando seu peso, seu rosto
abatido.

253
— Eu sei o que você está pensando. Eu pretendia fechar as persianas
para o dia ontem à noite. Eu realmente pretendia. Eu simplesmente fiquei
cansada.

— Está tudo bem. —Mesmo que não estivesse. — Eu só, bem,


falaremos sobre isso mais tarde.

— Eu gosto dele, a propósito. —A fêmea mais velha olhou para o teto


enquanto mais passos pesados reverberavam. — Ele é muito bonito. De
onde ele veio?

Dos portões do Dhunhd, pensou Mae. Para me torturar.

— Tinder , —ela murmurou.

— Você o conheceu em um anel de fogo ?

— Algo assim. —Mae esfregou a cabeça dolorida e depois se


concentrou na mulher idosa. — Você parece cansada ...

— Lamento que o feitiço não tenha funcionado. —Tallah mudou sua


bengala para o outro lado. — E quanto a estar cansada, a partir de certa

Tinder é uma aplicação multiplataforma de localização de pessoas para serviços de relacionamentos online,
cruzando informações do Facebook e do Spotify, localizando as pessoas geograficamente próximas. Esta aplicação está disponível para os sistemas
Android e iOS.
Tinder é uma palavra em inglês que designa algum objeto que pode queimar facilmente. O termo também se refere a algo utilizado com a
mesma função de uma estopa ou centelha.

254
idade fica-se exausta com os fracassos da vida. Não se trata apenas de
dormir, minha querida.

— Você não me falhou.

— Achei que o feitiço de invocação funcionaria.

— Eu sei que você achou, e estou grata por termos tentado.

Quando Tallah colocou a mão no batente da porta para se equilibrar,


Mae foi até lá.

— Que tal um cochilo apropriado lá embaixo. Vou ficar de olho nas


coisas por aqui.

— Você vai fazer aquele macho ficar conosco, então? Ele é muito
forte. E tão bonito, também.

Mae fez um barulho no fundo da garganta. Que era o que acontecia


quando você engolia duas bombas-f seguidas de um filho da puta.

— Somos fortes o suficiente por conta própria, você e eu, —ela disse
enquanto pegava o braço da fêmea. — Venha, vamos levá-la para a sua
cama. Você descansa enquanto eu resolvo tudo.

Tallah se recusou a ceder.

— O que havia no meu quintal?

255
— Apenas um coiote.

— Não parecia um coiote.

— Você gostaria que eu trouxesse um pouco de leite morno para você?


—Mae perguntou de uma forma agradável enquanto conduzia Tallah em
direção à porta do porão.

— Para ser sincera, estou cansada demais para beber qualquer coisa,
—disse Tallah, derrotada. — Estou tão feliz por você estar aqui. Eu confio
em você para cuidar das coisas.

Bem, pelo menos isso é um voto de confiança, Mae pensou.

256
A cerca de dezesseis quilômetros de distância, nos subúrbios, em uma
bela casinha que fora reformada recentemente, Nate estava sentado
sozinho em volta da mesa redonda da cozinha.

Okay, ele não estava completamente sozinho. Ele tinha um bagel


simples da Thomas (torrado, levemente) com cream cheese espalhado
sobre ele (não muito) e uma caneca de café Dunkin 'Donuts (feito em casa
na máquina de café, não em cápsulas, com açúcar). Enquanto ele bebia seu
java e devorava seus carboidratos, o calcanhar de seu pé direito saltava sob

Thomas' é uma marca de muffins e bagels na América do Norte. É propriedade da Bimbo Bakeries USA, uma das maiores empresas
de panificação dos Estados Unidos, que também possui as empresas de pães Entenmann's, Boboli, Sara Lee, Stroehmann e Arnold. Anúncios para os
muffins enfatizam seus "cantos e recantos". A empresa também produz pães torrados / redemoinhos, pitas e wraps.

Dunkin' Donuts, também conhecida como Dunkin' ou simplesmente DD, é uma empresa multinacional norte-americana
especializada na venda de rosquinhas e café, com sede em Canton, Massachusetts. Foi fundada em 1950 por William Rosenberg em Quincy,
Massachusetts.

257
a cadeira como se estivesse em uma contagem regressiva para decolar—e
havia perdido toda a paciência com o tempo que os foguetes estavam
demorando para aquecer.

O tic-tic-tic-tic o deixava louco, então ele deu um tapa na coxa. Em


seguida, empurrou para baixo para manter a perna no lugar.

Verificando a hora em seu telefone, ele olhou para a porta de vidro


deslizante do outro lado da mesa. As persianas ainda estavam fechadas
porque Murhder e Sarah não se arriscavam com a luz do sol. Mesmo que
já fosse bem passado do pôr-do-sol, a casa ainda estava bem trancada—o
que o estava forçando a fazer uma ginástica mental sobre as implicações
de ele sair furtivamente pela garagem. Ele sabia o código do alarme, mas
não tinha certeza se havia um sistema de alerta secundário ligado.

Espere, tudo ecoava no porão, não é? Por exemplo, sempre que uma
janela ou porta era aberta.

Ele olhou para a porta do porão. Seus pais ainda estavam lá embaixo,
tomando banho e se vestindo. Então, eles podiam ouvir os sons. Ou
receber um aviso em seu telefone. Com a forma como o Irmão Vishous da
Adaga Negra configurou esses sistemas de segurança, seria estúpido
pensar que não havia múltiplas redundâncias quando se tratava de rastrear
a violação de qualquer contato.

258
Ele verificou a hora novamente. Não havia nenhuma regra explicita
proibindo-o de sair antes que as venezianas estivessem fechadas. Além
disso, o sol tinha se posto há cerca de uma hora e trinta e três minutos.

E vinte e sete segundos. Vinte e oito. Vinte e nove ...

O som de passos pesados subindo as escadas fez Nate guardar o


telefone como se tivesse sido pego olhando fotos de Emily Ratajkowski .E
quando a porta do porão se abriu, ele voltou para o bagel, mastigando
como se não tivesse planejando nada estúpido.

Apenas mais uma noite normal, no meio de uma sequência de noites


normais, onde ele fez uma Primeira Refeição simples e saiu para trabalhar
no canteiro de obras.

NBD .

— Olhe para você, acordou cedo, —seu pai disse.

“Pai” era, pelo menos em um nível do globo ocular, um nome


totalmente impróprio. O Irmão Murhder da Adaga Negra era o oposto de

Emily O'Hara Ratajkowski é uma modelo norte-americana nascida no Reino Unido, melhor conhecida por sua aparição
no vídeo musical da canção Blurred Lines. Tem algumas participações como atriz, nomeadamente na série de televisão iCarly, ou no filme Gone Girl.
A modelo posou nua para a revista Treats Magazine.
NBD: abreviatura escrita que significa ‘no big deal’ nenhum grande negócio: usado, por exemplo, nas redes sociais e em mensagens de texto,
para dizer que algo não é importante, nada de mais.

259
um tipo Zeek Braverman , pastoso, brincalhão, vestindo jeans e óculos de
leitura. Sim, não. Murhder tinha um metro e oitenta e cinco milhões de
centímetros de altura e, vestido com sua calça de couro preta e camisa de
combate preta justa, com os coldres das armas pingando de uma das mãos
e o cabelo preto e vermelho cortado curto, parecia algo que pertencia a um
videogame.

No lado errado dos mocinhos.

— Então, como você dormiu? —Murhder colocou os coldres de lado


e depois balançou-se sobre a mesa da cozinha, colocando uma mão
enorme no ombro de Nate.

— Bem. —Mastigação. Mastigação. Trago.

— Sóvouterminarissoesairparatrabalhar.

— Estou feliz que o trabalho esteja indo bem. —Seu pai abriu o
armário sobre a máquina de café em cápsulas e tirou uma caneca com um
inglês arrogante e a palavra “IDIOTA ” embaixo da imagem. — E você

Eziekiel "Zeek" Braverman é um personagem ficcional (interpretado por Craig T. Nelson) é o marido de Camille e pai de Adam,
Sarah, Crosby e Julia Braverman. Sua mãe é Blanche Braverman da série “Parentwood”.

WANKER em inglês (UK) [inútil, incompetente (substantivo); babaca] Para xingar uma pessoa de idiota, babaca ou
incompetente, em geral um homem, usa-se a palavra wanker, punheteiro.

260
está prestando um serviço à raça. Os jovens do sexo masculino e feminino
que vão viver lá precisam de abrigo.

Nate tentou entrar na conversa.

— Eu não entendo, no entanto. Eles vão ficar sozinhos?

Imagens de casas de fraternidades humanas o fizeram se perguntar se


toda aquela mobília nova que estavam mudando iria durar muito.

— Não, haverá assistentes sociais no local. —Murhder colocou a


caneca na máquina e ligou a coisa com uma cápsula de Green Mountain
Breakfast Blend . — O Lugar Seguro não permite os machos passem por
suas transições sob seu teto—o que, considerando que é um recurso contra
violência doméstica de fêmeas e seus filhos, faz todo o sentido. Mas há
famílias que precisam ser mantidas juntas e filhos que estão apenas
começando por conta própria. Então a Casa Luchas vai ser boa para a
raça.

— Mmm. — Mastigação. Mastigação.

Houve um som de chiado quando o café acabou de sair. Em seguida,


o tilintar de uma colher enquanto seu pai mexia seu açúcar. Finalmente ...

Green Mountain's Light Roast é saboroso, de fácil acidez e de sabor suave. ... O sabor é vibrante, vivo e clássico. A mistura do café
da manhã é cítrica, crocante e ágil. Misturado com bastante profundidade, corpo e doçura.

261
— Ahhhhhhh.

Engraçado como agora isso era normal, esse ritual dos dois com o
café. Nate se acostumou com tudo isso tão rápido. Isso era ... casa. E
Murhder e Sarah eram sua família.

E às vezes ele se sentia tão sortudo que chorava sozinho em seu


quarto, segurando um travesseiro contra o rosto para que ninguém
pudesse ouvi-lo.

Exceto que não era isso que estava em sua mente essa noite.

— Você está bem, filho?

Nate olhou para cima, pronto para um eu estou-bem. Mas a maneira


como aqueles olhos o encaravam? O que ele estava vendendo não seria
comprado—e não havia como ele entrar na verdade. Ele estava tão
ocupado negando para si mesmo que não conseguia se imaginar dizendo
as palavras em voz alta.

Mas ele tinha algo acerca do que falar.

— Você pediu ... —Ele pigarreou. — Ah, você pediu para Shuli para
me proteger?

As sobrancelhas de Murhder caíram sobre seus olhos.

262
— Proteger você? Como um ahstrux nohtrum ?

— Não tenho certeza do que é isso.

— É um guarda-costas com contrato vitalício. —Murhder estendeu a


mão e acenou como se estivesse apagando uma má ideia em um quadro
branco. — E sem ofensa para o seu amigo—ele é um jovem macho
perfeitamente bom—mas ele não é exatamente feito de material ponta-de-
lança, se é que você me entende. Eu escolheria um bom doberman
pinscher em vez dele qualquer noite, se estivesse preocupado com a sua
segurança.

— Oh. —Nate se levantou e foi até a lava-louças com o prato e a


caneca. — Okay.

— O que está acontecendo, filho.

Não era uma pergunta. E Nate confiava no macho. Como não


poderia? Mas ...

— Nada. —Ele colocou suas coisas usadas junto com os outros pratos
sujos. — Shuli estava apenas sendo estranho ...

Ahstrux Nohtrum (n.) Guarda particular com licença para matar, cujo posto é concedido a ele ou ela pelo Rei.

Dobermane ou Doberman Pinscher, é uma raça de cães oriunda da Alemanha, criado no final do século XIX, o que faz
dele, comparado a outras raças existentes, uma das mais novas raças caninas já reconhecidas, e uma das raças mais conhecidas no mundo inteiro.

263
Quando Nate se endireitou e ia se virar, Murhder estava bem ali.

— Fale comigo, —disse o Irmão.

— Não foi realmente nada. Estávamos no local, trabalhando na


garagem—quando aquela coisa de luz brilhante aconteceu.

— O meteorito que está no noticiário.

— Sim. Bem, fomos ver o buraco e, quando estávamos, você sabe, nos
aproximando do poço da coisa, Shuli, —Nate editou a parte da arma, —
fez um comentário sobre como ele deveria me proteger.

— Essa merda não veio de nós.

— Acho que ele estava apenas sendo ...

— Que tipo de arma ele tinha com ele? —O olhar de Murhder foi tão
direto quanto um taco de beisebol por cima do ombro. — E não minta. Eu
posso ver em seu rosto.

— Não foi nada. —Três. Dois. Um ... — Era uma arma, mas ele ...

— Jesus Cristo, —Murhder estalou. — O que diabos ele está fazendo


com essa coisa? Ele é devidamente treinado? Claro que não. Então ele vai
atirar na sua cabeça ou se castrar ...

— Não, não, escute, não é grande coisa ...

264
— Qualquer arma nas mãos de alguém que não sabe o que está
fazendo com ela é uma coisa muito grande.

— Eu não quero que ele tenha problemas. Olha, vamos esquecer isso
...

— Não há como esquecer isso.

Nate ergueu a voz. — Isso não é da sua conta!

— Quando tem a ver com a sua segurança, pode apostar sua bunda
que é!

Naquele momento, as venezianas começaram a se levantar em todas


as janelas e a porta do porão se abriu. Sarah, a shellan de Murhder, a mãe
de Nate, colocou a cabeça para fora. Ela já estava com seu jaleco branco
e uniforme para ir trabalhar em seu laboratório, seu cabelo castanho com
mechas puxado para trás, um conjunto de protetores de olhos de plástico
transparente pendurado no bolso da frente.

Sua expressão hesitante sugeria que ela estava pensando em colocar o


equipamento de segurança ali mesmo.

— Tudo certo por aqui, meninos?

— Tudo bem.

265
— Sim.

Quando Nate percebeu que ele e seu pai cruzaram os braços sobre o
peito, ele deixou cair as mãos e se dirigiu para a porta de vidro deslizante.

— Eu estou atrasado para o trabalho.

— Não, —Murhder murmurou. — Você não está. Você ainda tem


meia hora.

Nate não dignificou isso com uma resposta. Ele apenas abriu a porta
deslizante e escorregou na noite. Mesmo estando meio agitado, ele ainda
conseguiu se desmaterializar para fora da propriedade, e foi um alívio
voltar a se formar no trabalho, ao lado da garagem.

Ele não entrou, embora as coisas já estivessem destrancadas e as


pessoas estivessem removendo grandes pedaços de móveis de um
caminhão U-Haul que estava estacionado bem perto da porta da frente.
Esquivando-se para o pátio lateral, ele se apressou até ter certeza de que
ninguém poderia vê-lo.

Começar a trabalhar na última parte da pintura na garagem nunca foi


o ponto de chegar mais cedo. Em vez disso, ele se dirigiu para a linha da

A U-Haul é uma empresa americana de aluguel de equipamentos e armazenagem de móveis, com sede em Phoenix, Arizona,
em operação desde 1945.

266
cerca, puxando para cima e para baixo com os arames e avançando pelo
campo. Enquanto caminhava, ele repassou o confronto com seu pai.

E se sentiu um idiota.

Depois disso, ele ficou frustrado com Shuli e toda a sua besteira de
arma.

Ao se aproximar da linha das árvores da floresta, ele respirou fundo,


em parte para se acalmar e em parte porque era um pateta procurando um
sinal. Ao contrário da noite anterior, não havia nem um traço daquele
cheiro de metal queimado. Sem vapor também. E sem pessoas. Vampiros.
Qualquer um.

Abaixando-se sob um galho, ele empurrou outro para fora do


caminho—e caminhou para um terceiro com uma maldição. Em seguida,
havia obstáculos terrestres para superar, passar por cima, contornar. Ele
se sentiu como Godzilla destruindo um cenário com todo o barulho que
estava fazendo.

O poço de pouso do meteorito apareceu exatamente onde estivera na


noite anterior e parecia exatamente o mesmo. Como se a coisa fosse um
banco de neve que fosse derreter depois de horas sob o sol ...

Godzilla é um monstro gigante fictício — um daikaijū — que apareceu inicialmente em filmes japoneses de ficção científica e terror. Foi
visto pela primeira vez em 1954 no filme Gojira, produzido pela Toho Film Company Ltd.

267
Na borda do local do impacto, ele olhou para o buraco de um metro
de profundidade na terra. Tudo estava marcado com o calor, as agulhas
de pinheiro caídas e a crosta do solo queimadas, a terra enegrecida dentro
da escultura. Estando tão perto, ele podia sentir o cheiro do queimado,
embora fosse fraco.

Para onde foi o meteorito? Ele implodiu com o impacto?

Olhando para cima, ele procurou o céu. Tantas estrelas ... e ele pensou
que talvez a Terra fosse como um alvo em uma feira de condado, seres
celestiais segurando cachorros-quentes mirando coisas no mármore azul
brilhante na esperança de ganhar um bicho de pelúcia.

Quando essa hipótese o deixou preocupado com o evento de extinção


em massa que derrubou os dinossauros, ele procurou os troncos e galhos
da floresta. E quanto mais ele tentava encontrar o que não estava lá, mais
ele era capaz de imaginar a mulher da noite anterior, aquele cabelo loiro,
o casaco com capuz, os olhos agitados ...

O estalo do galho atrás dele o fez girar.

Por um momento, ele não achou que o que estava vendo fosse real.
Ele apenas imaginou que seu cérebro tinha tossido uma versão
tridimensional do que ele tinha sonhado o dia todo. Mas então ele sentiu
o cheiro.

268
O cheiro dela.

E quando a interação complexa do absolutamente maravilhoso cheiro


entrou em seu nariz, ele se sentiu transportado, embora seu corpo nunca
se movesse.

— É você, —ele sussurrou maravilhado.

Lá em cima, no segundo andar do pequeno chalé, Sahvage voltou para o


quarto de hóspedes voltado para o lado da frente. Levantando os painéis
que acabara de fechar, ele olhou para o quintal coberto de vegetação. Com
as luzes apagadas atrás dele, ele foi capaz de ver a noite claramente através
dos velhos vidros com bolhas.

Nada estava se movendo. Não perto das árvores de bordo. Abaixo na


estrada. Atrás das amoreiras e das veias emaranhadas.

269
Curvando-se, ele tentou ver se as estrelas ...

Elas estavam de volta. Como se uma tempestade tivesse chegado e


passado.

Ele pensou naquela entidade sombria e sabia em seus ossos o que


estava acontecendo—mas ele queria negar. Depois de todos esses anos, ele
pensou que aquela parte de sua vida havia acabado. Passado. Para nunca
mais cruzar o caminho de seu destino novamente.

Sahvage esfregou o rosto. Ele não queria pensar no passado. Revisitar


aquela merda em sua mente não era o tipo de passeio pela estrada da
memória que ele estava tentando fazer ...

— Você está bem?

As palavras, faladas suavemente atrás dele, fizeram-no querer pular.


Mas ele se conteve e se virou suavemente para encarar a fêmea que era
como uma moeda sem valor para ele.

Então, novamente, ele era o idiota que apareceu na porta da frente


dela, então quem era o centro do mal, aqui? E mesmo que ela sem dúvida
tivesse ficado ofendida, ele não conseguia parar de verificar se ela não
estava machucada. Novamente. Mas nada apareceu ferido: ela não estava
mancando e ele não conseguia sentir o cheiro de sangue.

270
E ela com certeza estava olhando para ele com olhos totalmente claros
e diretos.

Isso era realmente ... muito atraente. Ele nunca tinha pensado sobre a
cor da íris que ele preferia em uma mulher. Atributos abaixo do pescoço
tinham sido seu único foco quando ele estava bem interessado. Mas agora?

Ele gostava mais de olhos castanhos. Inabaláveis, inteligentes ... olhos


castanhos que olhavam para ele como se ela esperasse que ele justificasse
o espaço que ocupava e o ar que respirava por ser um cara bom. Em vez
de um assassino a sangue frio.

— Você está bem? —A fêmea repetiu enquanto agitava os braços na


frente dele como se estivesse no meio de uma multidão e tentando chamar
sua atenção.

Não se preocupe, querida, ele pensou enquanto fechava a veneziana. Você


poderia estar atrás de cem mil pessoas e eu te encontraria.

— Está tudo ótimo. —Ele acenou com a cabeça ao redor da sala


empoeirada. — Tudo travado no lugar.

A fêmea hesitou na porta. Seu cabelo loiro e castanho estava frisado


do rabo de cavalo em que ela o prendia, e suas bochechas estavam
vermelhas. Suas mãos também tremiam e, no instante em que ele
percebeu, ela cruzou os braços e as guardou.

271
E ele não ficou surpreso quando ela ergueu o queixo.

— Lá embaixo também, —ela anunciou. — Estamos bem lá também.

Sahvage teria sorrido. Em diferentes circunstâncias.

— Só curiosidade. Qual é exatamente a sua definição de “não está


bem”.

— Não é da sua conta ...

— Acabei de perceber uma coisa. Eu nem sei o seu nome.


Considerando que estivemos entre a vida e a morte por duas noites
consecutivas, você não acha que é hora de nos conhecermos formalmente?
Ou você vai me dizer que não é da minha conta também.

— Bingo.

— Eu não imaginei que uma fêmea forte e independente como você


fosse tão mesquinha.

— Eu não sou ...

— Então prove que você pode se elevar acima de mim, —ele falou
lentamente. — Qual é o seu nome.

A fêmea desviou o olhar. Olhou para trás.

272
— Um dilema e tanto, não é? —Sahvage murmurou. — E você se
ferrou de alguma forma, não é ...

— Mae, —ela retrucou. — Meu nome é Mae.

Concentrando-se na boca da fêmea, ele ficou tentado a pedir que ela


dissesse novamente. Só para que ele pudesse ver os lábios dela se
franzirem.

— Ora, ora, —disse ele suavemnte. — Isso foi tão ruim, Mae?

Enquanto ela corava e parecia recuar em sua cabeça, sem dúvida para
sussurrar alguns usos verdadeiramente criativos das palavras “foda-se” e
“fora”, ele saltou do silêncio tenso primeiro.

— É aqui que você me diz para ir? Porque eu não vou embora.

Cara, ele gostou da maneira como os olhos dela brilharam.

— Esta não é sua casa.

— Sim. Eu sei. É por isso que eu bati.

— Este não é o seu problema ...

— Oh, veja, é aí que você está errada. —Ele apontou para a janela pela
qual acabara de olhar. — Aquela coisa quase me matou também. Então
você está louca se pensa que não estou envolvido agora.

273
— Foi-se. Está ... morta.

— Você acha que aquela entidade estava viva? Mesmo? —Ele se


inclinou para frente. — E como você sabe tanto sobre isso? Tenho uma
certeza de merda de que eu não tinha visto uma sombra como aquela
antes, e eu lutei com um monte de coisas—quase todas estavam vivas, pelo
menos até que eu acabasse com elas. Nunca enfrentei nada assim. Mas
você, o quê, apertou a mão dela e se apresentou? Trocou números de
telefone? Diga-me.

— Estamos bem, okay. Tallah e eu estamos bem aqui, juntas.


Sozinhas.

— Você está disposta a apostar sua vida nisso? E a dela?

A fêmea jogou o cabelo por cima do ombro, embora estivesse todo


puxado para trás.

— Você acha que é o único que pode nos salvar? Obrigada, vou
passar.

Sahvage apontou o polegar em direção às janelas que davam para


frente.

— Você não poderia segurar aquela arma sem mim ...

— Você não podia ver para atirar ...

274
— Portanto, fazemos um par perfeito. —Quando ela bufou, ele teve
que sorrir. — Agora que tal aquele café? Ótimo, obrigado. Eu tomo o meu
preto.

— Assim como sua alma, certo?

Perdida a leviandade, Sahvage baixou o queixo e olhou para ela sob


as sobrancelhas pesadas.

— Aqui está uma pequena dica para você. —Quando a mão dela foi
para a base da garganta, ele pensou em tudo que tinha feito no passado. —
Quando seu inimigo é mau, você não quer que sua ajuda se preocupe com
a virtude. Você e aquela velha fêmea não vão sobreviver sem gente como
eu.

Duzentos anos no passado, e algum tempo indeterminado após o

desaparecimento das penetrações de muitas flechas, Sahvage despertou de


volta à consciência, o recolhimento de seu juízo chamando ele para uma
consciência que era gradual, mas irrevogável após sua chegada: o prado tinha
sumido, substituído por uma névoa tão densa que ele se sentia como se

275
estivesse flutuando, mesmo com o peso de seu corpo sendo registrado. O
cheiro de seu sangue fresco não existia mais, e o mesmo acontecia com seus
inimigos juntos com seus gritos de julgamento e vingança.

A única coisa com que ele se importava, a única coisa que importava ...
Rahvyn ... estava bem longe de ser vista, ouvida ou sentida...

Aquilo foi um sonho? Ele tinha vivido? Não, isso não podia ser verdade.

Com confusão, ele olhou para frente de si mesmo. Ele estava com uma
roupa branca folgada que não possuía nem tinha nenhuma lembrança de
vestir, mas isso realmente importava? O que era mais pertinente era que
nenhuma flecha se projetava de seu peito e, colocando a mão sobre o coração,
ele inspirou e não sentiu congestionamento, nenhuma luta para respirar. Não
havia dor também.

Olhando ao redor, um arrepio de consciência lambeu sua espinha quando


ele notou a paisagem branca que não era nada terrestre. Névoa ... apenas névoa
até onde ele podia ver. Na verdade, não havia divisão entre céu e solo,
nenhuma estrutura, nenhuma flora ou fauna, e ninguém mais ao seu
redor. Era como se aquele ambiente estranho e perturbador tivesse sido criado
para ele e apenas para ele.

276
Após um momento de coleta, ele se virou para a esquerda como se
chamado a fazê-lo.

E quando ele viu o que estava diante dele, o pavor percorreu seu corpo,
substituindo o sangue em suas veias.

A porta para o Fade se apresentava exatamente como havia sido descrita


a ele por um wahlker , e ele lembrou das palavras do macho, ditas em uma
voz assustadora: De fora da névoa aparecerá diante de você uma porta, e se
você desejar prossiga para o outro lado e abra-a. Se você deseja permanecer
entre os vivos, não coloque a palma da mão na maçaneta. Uma vez feito o
contato, sua escolha é ratificada para sempre.

Sahvage envolveu-se com os braços, para o caso de a sua mão agir de


acordo com a sua própria provocação, sem o seu consentimento ou orientação.
Rahvyn estava lá embaixo, sem defesa, no meio de um mar de homens com
crueldade em seus corações. Ela precisava dele para mantê-la segura ...

A trava baixou por sua própria vontade, e houve o clique inconfundível


de uma fechadura se soltando. O portal se soltou de suas ombreiras, abrindo-
se com uma força inexorável e de uma maneira que lembrava a partida de sua

Wahlker (n.) Um indivíduo que morreu e voltou à vida do Fade. A eles é concedido um grande respeito a são reverenciados por suas tribulações.

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força vital para o canteiro macio de flores daquela campina, nem oferecida
nem negada.

— Não! —Ele gritou para o céu leitoso. — Eu não irei prosseguir! Eu


recuso ...

De repente, um redemoinho o dominou, a paisagem indistinta girando,


ou talvez fosse ele quem girava e se agitava dentro dela. E então houve um
puxão, como se ele tivesse retornado ao canal de nascimento, seu corpo
sugado por uma abertura estreita que ele não podia ver, mas certamente
sentiu, a compressão expulsando o ar de seus pulmões e comprimindo suas
costelas de tal forma que seu coração não conseguia mais bater.

A náusea percorreu seu estômago e sua cabeça ficou confusa, os


pensamentos se recusando a se formar adequadamente - mas o que ele poderia
saber sobre o que lhe foi feito agora? Ele não estava mais vivo, seu corpo era
uma morada que havia sido trancada pela chave da morte contra a reentrada
de sua alma ... a menos que todas as suas orações para servir a sua prima-irmã
tivessem sido honradas? Podia acontecer ...

Uma queda livre se seguiu a uma liberação repentina da compactação


sufocante, seus sentidos informando-o de que ele estava em uma descida pelo

278
ar que não oferecia resistência suficiente para retardá-lo. E enquanto ele se
esforçava para ver onde estava, sua visão o deixou. Jogando os braços para
fora, ele não se agarrou a nada. Chutando as pernas, ele não encontrou
nada. Torcendo e girando ... ele não encontrou nada.

E no meio de tudo isso, não havia medo, apenas raiva, como era sua
natureza.

Dhunhd.

Tendo rejeitado o presente do Fade, tendo abandonado a eternidade de


amor e vida que havia milagrosamente recebido apesar de suas ações terrenas,
ele agora estava sendo punido pela temeridade de tentar determinar seu
próprio destino.

O covil de sofrimento do Ômega seria sua infinidade...

Sem preâmbulos, um impacto impressionante foi registrado em seus


membros, seu torso, seu crânio. Foi como se ele caísse de costas na pedra mais
implacável, mas sem o salto que teria caracterizado uma queda daquela altura.

Escuridão.

Escuridão total.

279
Um estrangulamento claustrofóbico atingiu sua traqueia e ele começou
a ofegar, sua respiração pesada e urgente ecoando perto de seus ouvidos ... que
loucura era essa? Ele parecia estar em um espaço fechado. Um espaço apertado
e claramente definido.

Colocando as mãos para cima ...

Sahvage não podia trazê-los contra o peito. Não havia espaço para ele
dobrar os cotovelos e os nós dos dedos bateram contra algo oco.

Madeira. Diretamente acima dele.

Chutando os pés, ele encontrou o mesmo na extremidade de seu corpo. E


abrindo os braços, ele soube os limites de seu confinamento, tão estreitos e no
formato dos contornos de sua forma corporal.

Seu intelecto consciente o informou de sua localização.

E mesmo quando sua mente rejeitou a conclusão, e seu temperamento


subiu a níveis insustentáveis, ainda era inevitável.

Ele poderia estar em um caixão?

280
Enquanto Nate olhava para a fêmea em que passou o dia pensando, ele
se sentiu suspenso no ar, embora seus pés estivessem no chão. Ela estava
exatamente como ele se lembrava, seu cabelo claro escorrendo sob o capuz
que cobria sua cabeça, suas mãos escondidas nas dobras de seu casaco
preto comprido e solto. E como antes, ela estava de lado, sozinha.

— Oi, —ele disse, levantando a mão.

Quando ela deu um passo para trás, ele colocou as mãos para fora.

— Eu não vou te machucar, eu prometo.

Ela não se afastou mais, mas olhou para trás como se quisesse se
certificar de que a barra estava limpa para uma corrida. Ou uma
desmaterialização.

— Eu sou Nate. —Ele apontou para o peito—e então se sentiu coxo.


Como se houvesse mais alguém por perto fazendo introduções? — Você é
... você voltou para ver isso de novo?

281
Ela olhou para o buraco na terra.

— Foi incrível, certo? Quem diria—um meteoro. Lá fora?

Nate pigarreou e queria se aproximar dela. Mas ele ficou onde estava
e, como um idiota, embora estivessem a apenas a metro e meio ou dois
metros de distância, ele falou mais alto. Você sabe, só para ter certeza de
que ela o ouviu.

Acima do barulho da floresta absolutamente silenciosa e sem som.

Deus, ele era um idiota.

— Meu amigo Shuli e eu estávamos trabalhando. —Ele manuseou por


cima do ombro. — Estamos ajudando a reformar uma casa ali, do outro
lado do campo. De qualquer forma, vimos um flash de luz no céu. Você
viu o flash? Foi incrível. Então ... ah, de onde você é?

Ótimo. A próxima coisa que você sabia, ele perguntaria se ela vinha
aqui com frequência. Qual era seu curso, embora eles fossem vampiros,
não humanos. Se ela gostaria de uma bebida, apesar da ausência total de
garçons, licores ou copos em qualquer lugar perto deles.

Que jogo. E ele nem gostava de álcool.

— Eu moro na cidade. Com meus pais. —Ele acrescentou a segunda


parte para se tornar mais acessível. — Você mora com os seus?

282
Ao contrário de um companheiro. Que era, tipo, grande como
Murhder e possessivo como um cão de guarda. Que provavelmente
rasgaria Nate membro por membro com os dentes e enterraria os pedaços
em seu quintal.

— Minha mãe é uma cientista. Meu pai ... —Não, espere, ele não ia
falar sobre a Irmandade da Adaga Negra. — Ele é um lutador do ...
— Não, ele não deveria mencionar o Rei. — Ele cuida das pessoas.

A cabeça da fêmea voltou-se para o fosso de impacto novamente e ele


deu uma boa olhada em seu perfil. Era ... bem, tão perfeita quanto a vista
frontal de seu rosto era. Suas feições eram finas e bem equilibradas, os
olhos um pouco voltados para o lado profundo, a boca um fio rosado entre
o nariz e o queixo. Havia uma folha marrom enrugada nas pontas de seu
cabelo, um resto do que havia caído no outono, e ele ficou tão tentado a ir
lá e arrancá-la de uma armadilha tão delicada. Colocá-la no bolso. Mantê-
la segura durante seu turno.

Escondê-la na mesinha de cabeceira quando ele chegasse em casa.


Escondê-la para sempre.

Algo disse a ele que ele iria querer uma prova de que ele realmente
esteve com ela.

283
— Ontem à noite, eu ia falar com você. —Jesus, ele parecia patético.
— Eu queria dizer oi. Mas eu não pensei—bem, havia muitas pessoas por
perto.

Ela continuou ficando em silêncio, mas quando seus olhos voltaram


para ele, eles não o deixaram—e ele não tinha certeza se isso era uma coisa
boa ou ruim. Ela parecia desconfiada e cansada.

E foi quando ele viu a sujeira nas dobras de sua capa. E percebeu
como ela estava pálida.

Nate estreitou os olhos. — Você passou o dia aqui?

Ela deu mais um passo para trás.

Ele balançou sua cabeça.

— Eu não estou julgando. Eu apenas ... não é realmente seguro. Do


sol. De outras coisas. —Ele deu a ela a chance de dizer algo. — Olha, há
alguém para quem eu possa ligar para você?

Quando ele pegou o telefone, ela colocou um pouco mais de distância


entre eles, as agulhas de pinheiro caídas farfalhando sob seus pés—o que
ele não podia ver, e ele esperava que tivesse sapatos para cobrir suas solas.

— Por favor, —disse ele. — Só me deixe te ajudar. Eu posso pedir


ajuda. Quem posso ligar para você?

284
— Me desculpe?

Ele apontou para sua orelha.

— Sinto muito, eu, ah, não consigo entender que língua você está
falando. Você pode—é claro que você não fala inglês ou estaria falando
inglês. —Ele falava mais devagar—o que era estúpido pra caralho. —
Estou ligando para alguém que pode ajudar.

Com a mão meio trêmula, ele puxou um número de seus contatos e


colocou no viva-voz.

— Só me dê um minuto. Ela é uma boa mulher, ela pode ajudar ...

Dois toques entraram e, do alto-falante metálico, Mary, a shellan do


Irmão Rhage da Adaga Negra, disse:

— Nate! Que bom ouvir você. Todos vocês estão fazendo um ótimo
trabalho na Casa Luchas. Estamos mudando o resto da mobília esta noite ...

— Sra. Mary, estou com um problema. —Ele olhou nos olhos da


mulher encapuzada e rezou—rezou—para que ela ficasse onde estava. —
Estou aqui com uma ... amiga ... e ela não está falando uma língua que

285
eu entenda. Ela precisa ... de uma amiga. Você pode me ajudar a ajudá-
la?

Houve apenas uma ligeira pausa, uma prova positiva de que Sra..
Mary era a pessoa certa para quem telefonar.

— Tudo bem, Nate. Em primeiro lugar, vocês dois estão em um lugar


seguro? Você quer que eu mande alguém para você?

Ele imaginou pessoas como o irmão Vishous aparecendo. Qhuinn.


Merda — Zsadist.

— Não, não, estamos perfeitamente seguros. Estamos na floresta


perto da Casa Luchas. Onde o meteoro caiu.

— Bom. Você pode conectá-la?

— Aqui, —disse ele, estendendo o telefone para a fêmea. Quando ela


apenas olhou confusa para o que estava em sua palma, ele sentiu que mais
garantias eram necessárias. — Não se preocupe. Ela é uma profissional.
Você pode confiar nela.

Sim, como se tudo isso fosse ajudar se ela não falasse inglês.

Merda.

286
— Então você estava me contando sobre essa coisa do Livro.
No balcão da cozinha de Tallah, Mae fechou os olhos e jurou para si
mesma que o café que ela estava servindo ficaria em seu recipiente de
entrega de cerâmica. Ela não iria jogá-lo sobre a mesa para o homem que
fez seu pedido como se estivesse em um restaurante 24 horas.

Como eles conseguiram descer as escadas inteiros foi uma espécie de


milagre. E não porque estivessem sendo perseguidos por alguma coisa.

Óleo e água. Eles eram óleo e água juntos.

— Bem? —Sahvage perguntou enquanto colocava sua jaqueta de


couro sobre as armas que havia tirado de seu torso. Recostando-se na
cadeira, ele a olhou fixamente.

— Eu não estava falando sobre o Livro, —ela disse enquanto


carregava a caneca para ele.

— Obrigado por isso. —Ele sorriu enquanto pegava o que ela tinha
feito para ele. — É perfeito.

287
— Você ainda não experimentou.

— Você fez isso para mim. Isso é tudo que a perfeição exige.

Com uma carranca, ela se sentou do outro lado da mesa.

— Não faça isso.

— Fazer o que.

— Tentar ser charmoso. —Ela esfregou os olhos doloridos e se


perguntou se havia algum Motrin em sua bolsa. — Não funciona.

— Eu nunca fui charmoso.

— Bem, o que você sabe? Vamos colocar a autoconsciência em sua


pequena lista de atributos positivos.

— Algum dia, você vai gostar de mim. —Houve um som de engolir.


Então um ahhhhhh. — Vê? Eu disse que isso estava perfeito. Agora fale
comigo sobre o Livro. E sim, vou deixar de ser um espertinho.

— Não é possível.

— Me dê uma chance. —Sahvage ficou sério. — Eu quero saber o que


quer que você saiba sobre isso.

Enquanto o lutador ficava em silêncio e parecia preparado para


esperar, Mae sentiu-se recuar em sua mente—mas não era de volta para

288
seu irmão, para aquela banheira cheia de cubos de gelo, para a terrível
missão que ela se propôs. Em vez disso, ela estava mais uma vez na
varanda da frente de uma cabana antes pacífica, atirando com uma arma
pesada que, Sahvage estava certo, ela não poderia ter mantido firme
sozinha.

— Eu não tinha as duas mãos, —ela murmurou. — Com as duas


mãos, eu poderia ter feito isso.

— O que? —ele disse. — Oh, você está pensando na minha Glock.


Sim, é uma das grandes.

Mae estreitou os olhos.

— Você pode parar com o duplo sentido. A qualquer momento.

— Você está indo para lá, não eu. —Ele mudou para o lado e colocou
a arma na mesa entre eles. — O nome está bem ali na arma.

— O que há com os machos que querem mostrar suas armas.

— Você não pode me dar uma abertura assim ...

— O que eu disse sobre o duplo sentido ...

— Você quer dizer essas armas? —Ele disse enquanto curvava dois
bíceps enormes. — Oh, e agora ela me lança um olhar mortal. Como se
ninguém fosse flexionar naquela etapa.

289
Enquanto Mae tentava não sorrir, ela o observou inclinar e recolocar
a arma na capa—e quando ela percebeu como seus ombros eram
musculosos sob aquela camiseta colada ao corpo, ela não conseguiu ficar
sentada. Ficando de pé novamente, ela levou as duas xícaras de chá com
ela e as cargas de Earl Grey gelado de Tallah para a pia. Então ela voltou
pelo pote de açúcar e o pote de creme. Bem como a carcaça do limão
esmagado.

— Você usa vinagre com o chá? —Ele pegou a garrafa e inspecionou


o rótulo. — Paladar estranho.

— Vou levar isso.

Quando ela foi pegar as coisas dele, ele não largou.

— Fale comigo, Mae. Eu sei que você não gosta de mim e com certeza
não gosta da minha intromissão aqui. Mas aquele cara com o moicano
está certo. Devo minha vida a você—e posso ser um pedaço de merda,
mas tenho um código de honra. Além disso, você acabou de ver como sou
útil em uma luta, não é?

Agora ele soltou seu aperto. Ele não parou de olhar para ela, no
entanto.

Então, quando ela se virou e colocou o vinagre de volta no armário,


ela pôde sentir os olhos dele nela.

290
— Eu prometo ser bom, —ele murmurou. Então ele riu. — Tudo bem,
eu prometo ser melhor. E fazer durar desta vez.

Recostando-se na bancada, Mae considerou suas opções. O que não


parecia incluir expulsá-lo de casa—e não apenas porque ela não poderia
tê-lo carregado até a porta.

Com uma sensação de derrota, ela voltou para a cadeira em que


estava. Colocando as mãos sobre a mesa, ela entrelaçou os dedos e
respirou fundo.

— Seja o que for, —disse ele, — vou acreditar em você.

— Que coisa estranha de se dizer.

Ela olhou para ele. Ele estava ali naquele assento, seu corpo enorme
transbordando da cadeira, da mesa ... da casa de campo. No entanto, ele
estava quieto e silencioso. Pronto para ouvi-la.

— Mas isso tudo é tão louco. —Mae balançou a cabeça. — Realmente


maluco.

— A vida é uma loucura. A coisa tola é acreditar que não.

— Se você tivesse que adivinhar, o que era aquela sombra lá fora?

— Conte-me sobre o Livro. Tenho a sensação de que isso vai


responder à sua pergunta—e é o que você acredita também, não é?

291
— Pare de ler minha mente.

— Eu não estou lendo sua mente. —Mais um gole. — É intuição.

— Isso não é para as fêmeas?

— Os papéis sexuais tradicionais são sexistas.

Mae não queria rir. Então ela cobriu a boca com a mão para abafar o
som, esconder a expressão.

— Você deveria fazer isso com mais frequência, —ele disse


suavemente.

Enrubescida, Mae alisou os traços do rosto. Engraçado. Embora suas


roupas estivessem bem e seu cabelo ainda preso em um rabo de cavalo, ela
se sentia completamente desgrenhada. Como se alguém a tivesse colocado
em um túnel de vento.

— Não tive muitos motivos para sorrir ultimamente, —ela se ouviu


dizer.

— Fale comigo.

Os olhos de Mae foram para o prato de prata vazio, nada além do


resíduo de seu sangue e os outros ingredientes restantes do feitiço.

292
— Eu perdi muitos entes queridos recentemente. E não vou perder
outro.

— Quem morreu? Ou está morrendo? —Quando ela não respondeu,


ele encolheu os ombros. — Deixe-me adivinhar. As orações não têm
funcionado—ou você não acha que vão longe o suficiente. Então você está
tomando as coisas em suas próprias mãos.

— Você acredita em magia?

Quando ele não respondeu, ela ergueu os olhos para ele. Ele estava
olhando para ela com uma expressão remota.

— Na verdade, eu acredito, —ele disse suavemente.

Mae teve que desviar o olhar—por causa de um segundo rubor quente


que subiu por sua garganta e rosto. Mas com certeza ela estava lendo ...
tudo ... errado. Um macho como ele? Ele estava indo para uma daquelas
mulheres ou fêmeas do clube da luta, aquelas que pertenciam à fila de
espera como as outras na garagem, aquelas com os quadris e os seios e as
roupas para mostrar esses tipos de atributos.

— O que você faria para manter vivo alguém que você ama? —Ela
perguntou para se colocar de volta nos trilhos.

Sem hesitação:

293
— Eu mataria qualquer um. Qualquer coisa.

Ela olhou a jaqueta dele e pensou no que havia por baixo.

— Eu acredito nisso. Mas não estou falando em defendê-los. E se você


pudesse ... fazê-los viver de novo? E se você tivesse a capacidade de trazê-
los de volta, mudar o destino, tomar o destino em suas próprias mãos.
Assumir o controle de um resultado errado.

Houve uma longa pausa e então os olhos dele a deixaram.

— Você está falando sobre ressurreição.

— Veja, —ela disse. — Eu disse que é uma loucura.

— Não é loucura. —O olhar de obsidiana dele voltou para o dela. —


Inacreditável, talvez, mas não louco.

— Não são a mesma coisa?

— Do que exatamente estamos falando aqui, Mae?

Demorou um pouco antes que ela pudesse responder, antes que ele
pudesse escolher as palavras certas. E então ela mentiu.

— Tallah é tudo que me resta. Ela está chegando ao fim de sua vida.
Eu não posso deixá-la morrer. Eu acabei de ... Você tem que entender.
Não tenho mais ninguém neste mundo e não a estou perdendo também.

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Mae se levantou da cadeira novamente. Visto que não havia mais
nada do chá para arrumar, nenhuma razão além de sua ansiedade para se
mover, ela estendeu a mão para o prato de prata. Pegando-o, ela foi até a
pia e enxaguou a bacia.

— Às vezes você tem que deixar as pessoas irem, —disse Sahvage


suavemente.

Ela olhou para ele.

— Bem, eu não quero.

— E você acha que este Livro é a sua resposta. Ela vive para sempre
depois de você fazer o quê? Acenar uma varinha sobre a testa dela?

— Isso não é engraçado.

— Eu não tinha intenção de ser. O que está no Livro?

Como Mae não tinha uma resposta sólida para isso, a fragilidade de
seu plano, ou solução, parecia instável a um nível de castelo de cartas.

— Vai me dizer o que fazer. Para salvá-la.

— Feitiços, hein. —Ele tomou outro gole da caneca. — Deus, eu não


ouvia falar de merdas como essa desde o Velho País. E quanto ao assunto
da imortalidade, tome cuidado com o que deseja. Às vezes, você realmente
consegue.

295
— Exatamente. Eu não quero que ela morra e ela estará viva.

— As pessoas não deveriam viver para sempre.

— Eu não me importo.

Ele riu rapidamente.

— Você sabe, tenho muito respeito pelo seu tipo de agressão


arrogante. E nessa nota, como você vai encontrar este livro?

Tirando um pano de prato da alça do fogão, ela secou a pequena bacia


de prata.

— Já fizemos o que deveria fazer.

— Que é? —Ele ergueu o dedo indicador. — Espere, deixe-me


adivinhar. Ir para uma luta corpo a corpo e tentar fazer com que um cara
seja morto, distraindo-o como um sacrifício de sangue. Ótimo plano e
funcionou tão bem.

— Você ia matar aquele humano.

— Não, eu não ia. —Depois de um momento, ele fez um movimento


meh com a mão livre. — Okay, tudo bem, talvez eu fosse. Mas não era
assassinato. Ele pediu por isso, e eu sempre disse que as decisões estúpidas

296
de outras pessoas não são problema meu. Agora, o que você fez para obter
o Livro. Pesquisou no Amazon por Hocus-Pocus para Idiotas?

— Foi um feitiço de convocação. E eu sou muito inteligente, muito


obrigada.

Embora ela sentisse que não tinha ganhado muitos prêmios de QI


ultimamente.

Os olhos dele se estreitaram.

— Então o Livro está aqui.

— Ainda não.

— Quando você fez o feitiço?

— Logo antes ... —Ela pigarreou. — Um pouco antes de você chegar.

Houve um período de silêncio. Então ele murmurou:

— E vou dizer de novo—você se pergunta por que aquela sombra


apareceu?

Na verdade, ela não perguntava.

— Eu acho que devemos checar suas feridas. Apenas certificar-se de


que você está bem.

297
— Mudando de assunto, não é?

— De jeito nenhum.

Sahvage levou a caneca aos lábios e inclinou a cabeça para trás,


terminando o café. Quando ele a colocou vazia na mesa, ele sorriu para
ela daquele jeito que ele fazia—um lado de sua boca se erguendo, um olhar
conhecedor naqueles olhos negros brilhantes.

Como se ele tivesse todas as respostas e cada vez que abria seu buraco
da boca fosse uma oportunidade de manchar as coisas.

— Para sua informação, eu sei o que você está fazendo, —disse ele.

Bingo.

— O que é? E devo tomar anotações, ou isso vai ser outra declaração


do óbvio ...

— Conforme você se ouve falar, você percebe o quão insana está se


comportando, mas seu coração não vai deixar isso descansar, então você
tem que desviar as coisas. Está bem. Podemos examinar meus ferimentos
novamente. Mas não acho que devemos ignorar o que realmente está
acontecendo aqui.

— Você não sabe uma maldita coisa sobre mim.

298
— Você tem razão. Estou totalmente enganado. Então, sem dúvida,
vamos me examinar porque sou eu que preciso de ajuda.

Com aquele pequeno pronunciamento feliz, Sahvage tirou as pontas


de sua camisa e não desviou o olhar enquanto levantava lentamente a
maldita coisa ... revelando aquela tatuagem e toda a musculatura sob sua
pele pintada. Quando ele jogou o que havia coberto seu torso de lado, ele
se recostou na cadeira como se estivesse totalmente nu. Como se ele
estivesse absolutamente confiante em seu corpo. Como se ele estivesse
muito ciente de que ela não podia deixar de notar o que ele estava
mostrando a ela.

E responder a isso.

Pelo amor de Deus, com o peito agora descoberto, ele parecia ser
ainda maior, e Mae engoliu em seco. Mas não porque ela estivesse
com medo.

Não, o medo não era o problema. Nem mesmo de perto.

— Venha cuidar de minhas feridas, —disse ele em um murmúrio


baixo. — E a propósito, você pode me tocar em qualquer lugar. Você sabe,
para fins clínicos. Longe de mim negar quaisquer avaliações quanto à
minha saúde e bem-estar geral.

Mae piscou. Em seguida, se recuperou.

299
— Você é um idiota.

— Sim, eu sei. —Ele se inclinou e baixou as pálpebras. — Mas você


me quer de qualquer maneira.

Bem no coração do centro da cidade, a detetive Erika Saunders puxou


seu carro sem identificação para o lado de um beco que corria entre dois
prédios de apartamentos. Colocando a coisa no estacionamento, seus
faróis lançaram um monte de luzes em um SUV preto quadradão que
estava aninhado perto de uma lixeira. Mais à esquerda, havia dois policiais
uniformizados circulando e um carro patrulha bloqueava a entrada da
Trade. Sem equipes de notícias.

Isso não iria durar.

300
Saindo, ela colocou suas luvas de nitrilo e espalmou a lanterna. O
unis ficaram em silêncio quando ela se aproximou, e ela acenou com a
cabeça enquanto olhava para a porta do motorista do SUV.

— Quando foi chamado? —Ela disse enquanto mandava o feixe de


luz dentro do veículo—ou tentava. As janelas eram escurecidas.

Inclinando-se sobre o capô, sem tocar na lateral do veículo, ela


apontou sua lanterna através do para-brisa dianteiro ...

Porra.

Ela nem mesmo ouviu qual foi a resposta dos policiais à sua pergunta.
Ela estava muito presa no homem e na mulher que estavam sentados lado
a lado nos bancos da frente. O par era dos melhores na vida, embora toda
a parte de “vida” desse descritor não fosse mais aplicável. E o que se via,
os corpos tinham feridas enormes no meio do peito, as roupas manchadas
de sangue, seus colos tigelas de sopa para todo o plasma coagulado.

Erika se aproximou do vidro de segurança para ver mais dentro do


veículo. Entre os assentos, no console acolchoado, suas mãos estavam
unidas, os dedos mortos se entrelaçavam. E nos encostos de cabeça, eles

Abreviação para os policiais uniformizados

301
estavam olhando um para o outro, seus olhos cegos focados no espaço
entre seus rostos acinzentados e cerosos.

Erika moveu a lanterna ao redor. O jovem estava sem camisa, uma


coleção de tatuagens pintadas aleatoriamente em seu torso e nos braços,
como se alguém tivesse jogado um livro de ilustrações em sua pele. Ele era
musculoso, mas esbelto, um cara magro que provavelmente tinha cerca de
um metro e oitenta. Ele a lembrava de Pete Davidson . Ao lado dele, a
mulher era voluptuosa em seu corpete, com um cabelo muito bom.
Brincos de bambu em ouro. Piercing no nariz. Tatuagens, mas não tão
densas quanto as do cara e muito mais curvilíneas.

Eles pareciam que pertenciam um ao outro, sexys, na cena do clube.


Provavelmente se envolviam com drogas, mas não com muita frequência
devido ao seu estado de boa saúde.

— Meu assassino certamente tem um tipo, —disse Erika enquanto


abria a porta do carro. — Quem fez a chamada?

— Corredor, —disse um dos policiais atrás dela.

Peter Michael Davidson, conhecido como Pete Davidson, é um ator e comediante de stand-up norte-americano,
mais conhecido por fazer parte do elenco do Saturday Night Live. Também trabalhou na MTV, com Guy Code, Wild 'n Out e Failoso phy, fez stand-up
comedy no Jimmy Kimmel Live! e atuou em Brooklyn Nine-Nine.

302
O ar que foi liberado era denso, cheirando a colônia, perfume, sangue
e matéria fecal.

Erika inspecionou o buraco no esterno do cara. Então ela tocou seu


pescoço frio com as pontas dos dedos de sua mão enluvada. Sem pulso.
Não brinca.

— E quando isso foi chamado novamente?

— Cerca de vinte e cinco minutos atrás. Talvez trinta.

— Eles estão aqui há algum tempo.

— Carro caro. Estou surpreso que não tenha sido despojado.

Recuando, Erika inspecionou o veículo.

— Mercedes. Aros escurecidos, janelas escurecidas. Eu não teria


mexido nele, também, por medo de qual traficante de rua o possuía—ah,
e o que temos aqui.

Uma carteira Louis Vuitton tinha caída do bolso do cara e estava presa
na borda entre a parte inferior do batente da porta e a base do banco do
motorista. Alcançando, ela tirou a carteira e segurou-a com cuidado.
Abrindo a parte da frente, ela tirou uma carteira de motorista.

— Ralph Anthony DeMellio. —O endereço era na parte italiana de


Caldwell. — Vinte e dois anos. Tão malditamente jovem.

303
Ela imaginou o casal do Commodore. E os outros dois pares que foram
mortos de forma semelhante. Todas as vítimas tinham mais ou menos essa
idade, na casa dos vinte. E todos eles faziam parte do cenário rico e
moderno. E todos eles eram amados.

— Ele está encontrando-os em clubes, —ela murmurou enquanto


deslizava a licença de volta em seu lugar. — Talvez para sexo. Ou talvez
seja onde eles cruzam seu caminho e são identificados como presas. Em
seguida, ele os segue para casa ou algum lugar tranquilo ...

Ela olhou ao redor do beco. Nesta parte do centro da cidade, as coisas


estavam muito bem conservadas e a criminalidade era baixa. Portanto,
haveria câmeras de segurança operacionais—e também muitas janelas de
apartamentos, embora a maioria delas tivesse cortinas ou persianas
fechadas.

Enquanto ela estava iniciando sua lista de acompanhamento mental,


um Crown Vic cinza entrou em cena e, quando os policiais
uniformizados ergueram os braços para proteger os olhos, os faróis foram

O Crown Victoria ‘Crown Vic’ é um sedã de grande porte construído pela montadora Ford para o mercado Norte-
Americano nos meados da década de 1950. O carro foi produzido durante um ano e foi substituído pelo Ford Granada. Duas décadas depois, em 1978,
o Crown Victoria começou a ser fabricado novamente. O carro já foi o Sedan mais vendido em Nova Iorque. [carece de fontes] Até o começo dos
anos 2010, uma versão especial chamada Ford Crown Victoria Police Interceptor (ou simplesmeste CVPI, P71, ou apenas "Crown Vic") foi o modelo
favorito das forças policiais americanas. Foi também um dos carros mais utilizados como táxi no país. Antes de ter a produção interrompida, o Crown
Victoria era vendido por cerca de US$ 25.000.

304
desligados. Depois que o não identificado parou, todos os tipos
estereotipados do FBI saíram: terno cinza e gravata preta. Cabeça raspada.
Maxilar dos anos 1950.

O agente especial Deiondre Delorean era um homem sem gordura


corporal e ombros retos, com um diploma de Howard e um histórico de
inteligência militar que ainda estava em primeiro plano.

Ele imediatamente deu uma olhada dentro do SUV.

— Outro.

— Eu diria que três casais é um encanto, mas agora temos quatro.

— Que você saiba.

— Ponto certo. —Ela mostrou a carteira de motorista. — Eu quero


ser aquela que fala com os pais. Eles estiveram esperando por ele voltar
para casa o dia todo. Você pode vir comigo, mas eu irei falar.

— E aqui eu pensando que sua reputação poderia ser exagerada. —


Deiondre inspecionou a identidade e então a encarou. — Eu mesmo já
liguei algumas vezes para a família, sabe.

A Universidade Howard, formalmente denominada Howard Normal and Theological School for the
Education of Teachers and Preachers e informalmente HU ou apenas Howard, é uma instituição privada de ensino.

305
— E eu já fui o alvo dessa conversa horrível com as autoridades. Você
também?

Os olhos dele ficaram distantes.

— Sinto muito pela sua família.

— Foi há quatorze anos. Eu superei. E acho que você fez sua lição de
casa.

— FBI, lembra?

Na periferia, os dois unis começaram a olhar para os sapatos, como


se mamãe e papai estivessem brigando. Mas se Erika se preocupasse com
o que as pessoas sentiam ao seu redor, seus dias seriam oito horas mais
longos e seu temperamento dois metros mais baixo.

— E como você sabe que os pais dele estão esperando por ele? —
Deiondre perguntou.

— O endereço é no bairro Jersey Gardens. Não é onde os jovens


vivem sozinhos. É onde os idosos moram com seus filhos adultos, na cave.
Aposto que seus pais provavelmente pensaram que Ralph esteve na casa
da namorada o dia todo e é por isso que não ouviram falar dele. Mas eles
estão começando a se preocupar agora que já se passaram mais de doze
horas desde que falaram com ele.

306
Deiondre se inclinou para dentro do carro.

— Mesmo MO , mas talvez este par seja apenas um caso de uma


noite e eles estavam posando.

— Os outros três casais eram sérios um com o outro, e nossa


investigação vai mostrar o mesmo aqui. Meu assassino vai para pessoas
apaixonadas.

Colocando a carteira de volta onde ela a encontrou no chão, ela deu


a volta na parte traseira com sua lanterna e então continuou pelo lado
oposto do SUV, espremendo-se entre ele e a parede suada do mais alto dos
prédios de apartamentos. Sem arranhões na pintura brilhante. Sem batidas
de para choque, passes de estacionamento ou mesmo um quadro de
revendedor na placa temporária do carro novo.

Não havia espaço suficiente para abrir a porta do passageiro, então ela
saiu do espaço estreito e contornou a grade dianteira.

Deiondre estava com o celular colado ao ouvido e ela pensou que ele
estava trazendo pessoal federal para a cena do crime.

De volta ao corpo de Ralph DeMellio, Erika esticou o braço sob o


volante, tomando cuidado para não esbarrar em nada. O botão de ignição

Modus Operandi

307
estava do outro lado da coluna de direção e ela teve que procurá-lo.
Quando seus dedos finalmente encontraram o botão circular, ela apertou
o botão.

Um aviso sem chave brilhou no painel.

Libertando-se com cuidado, ela balançou a cabeça.

— Eles pegaram a chave.

— O que foi? —Deiondre perguntou ao encerrar a ligação.

— Eles deixaram o carro destrancado e pegaram a chave. —Ela abriu


a porta do banco de trás e apontou a lanterna para dentro. — Bem, olhe
para isso.

— Você encontrou uma arma?

Deiondre inclinou-se ao lado dela—e juntou-se a ela para verificar


tudo o que era puro como um alfinete: sem lixo nos poços dos pés, sem
maços de roupas errados ou tênis de corrida. Sem bolsa de ginástica.

Erika respirou fundo.

— Cheira a carro novo. Ou pelo menos novo para ele. Ele deve ter
acabado de comprar este veículo—coisa de verdadeiro orgulho e alegria.

— Vamos para a casa dos pais dele juntos.

308
Erika deu um passo para trás e olhou para o SUV.

— Eu vou pegar esse filho da puta. Vou pregá-lo na porra da parede


antes que ele faça isso de novo.

Nate orou como o diabo para que a Sra. Mary dirigisse rápido para a
Casa Luchas e então atravessasse correndo aquele campo até a floresta.
Como ela não conseguia se desmaterializar, demoraria vinte minutos. Ou
mais. Especialmente se ela seguisse o limite de velocidade, e ele tinha a
sensação de que ela o faria.

— Pode levar vinte minutos, —ele disse para a fêmea. — Antes que
ela venha.

Por favor, não saia ...

Sem aviso, a fêmea saltou e tropeçou para trás, erguendo as mãos para
se proteger. Em uma onda de proteção, Nate girou ao redor ...

Em vez de entrar em pânico—ou partir para o ataque, o que na


verdade foi seu primeiro instinto—ele teve uma boa onda de alívio. E o
Irmão da Adaga Negra que se materializou na clareira na verdade não foi

309
uma grande surpresa, mesmo que sua presença imponente fosse uma
coisa.

— Rhage, —Nate disse. E então ele estendeu as mãos para


tranquilizar a fêmea. — Não se preocupe, ele está comigo. Eu estou com
ele. Quero dizer ...

O Irmão sorriu para ela e ergueu as mãos.

A fêmea inclinou a cabeça.

Enquanto eles pronunciavam sílabas desconhecidas, Nate ia e


voltava, jogando uma partida de tênis do tipo "o que eles estão dizendo"
enquanto eles falavam naquela língua. E embora ele não tivesse ideia do
que eles estavam falando, ele percebeu que seus sotaques eram os
mesmos—e o mais importante, a fêmea não estava indo embora e ela
estava menos assustada.

Então, ei, no que dizia respeito a ele, os dois poderiam puxar algumas
cadeiras e ficar tagarelando a noite toda.

310
Rhage mudou para o inglês.

— Minha shellan está chegando. Estou aqui para ter certeza de que
você está segura—e ele está seguro.

— Ele é seu filho ... —A fêmea fechou a boca com força.

Nate franziu a testa.

— Você conseguia me entender o tempo todo? —Quando ela desviou


o olhar, ele olhou para Rhage—como se o Irmão pudesse explicar por que
ela o ignorou. — O tempo todo?

— Eu não sabia ... o que fazer, —ela sussurrou.

— Tudo bem. Está tudo bem. —Nate pigarreou. — Estou feliz— bem,
você pode confiar na Sra. Mary. E no Irmão Rhage.

Seus olhos se arregalaram para o lutador.

— Você é membro da Irmandade da Adaga Negra?

Rhage abriu sua jaqueta de couro e mostrou o par de adagas que


estavam amarradas, alças para baixo, em seu peito enorme.

— Eu sou.

A fêmea exalou.

311
— Graças à Virgem Escriba.

— Escute, —Rhage disse, — se você está bem com isso, eu gostaria


de sugerir que fossemos naquela direção. Temos uma casa lá. Temos um
pouco de comida e bebida para oferecer a você, e é totalmente seguro.

Nate franziu a testa.

— Mas há muitos trabalhadores no local ...

— Não quando eu disser para eles irem, não haverá. Você pode andar
com ela de volta para a Casa Luchas?

Nate piscou. E então corou.

— Oh, sim, eu posso, sim, eu vou ... —Ele trancou seus molares
fechados. — Quero dizer, se estiver tudo bem para ela? Ou você. Quero
dizer.

Merda.

A fêmea olhou para frente e para trás entre os dois.

— Sim, claro que está, mas eu não quero causar problemas ...

— Não é problema, —Nate interrompeu.

— Nenhum mesmo. —Rhage bateu palmas. — Eu vou limpar a casa.


Nate, cuide dela, sim?

312
O desejo de ficar em posição de sentido e saudar era quase irresistível.
E seu apoio a esse ridículo foi a ideia de oferecer o braço à fêmea, como
se ela fosse alguém especial. Como se ele pudesse fazer qualquer coisa para
defendê-la.

Quando ele se contentou em acenar para o Irmão, Rhage deu a eles


um aceno e desmaterializou-se—o que significava ... eles estavam
sozinhos novamente.

— É por ali, —Nate disse enquanto apontava por entre as árvores para
o prado e as luzes distantes da casa. Como se houvesse outra opção de
destino?

A fêmea acenou com a cabeça e se aproximou dele—e ele ficou tão


surpreso ao vê-la se mover e cheirá-la de perto que ficou onde estava como
se suas botas tivessem sido pregadas no chão. Enquanto isso, ela passou
por ele—e então parou e olhou para trás.

— Desculpe. —Ele esfregou o cabelo. — Quer dizer, aí vou eu.

Juntos, eles saíram das árvores e foram para o campo. E foi então que
ela parou novamente. Enquanto examinava a área aberta, ela parecia
muito solitária. Tão triste.

313
Se ela tivesse outro lugar para ir, alguém em quem pudesse confiar, ela não
estaria aqui, ele pensou. Qualquer pessoa se conectaria com um membro
da família ou um amigo, se tivesse um ...

Enquanto ela caminhava para frente novamente, seu pé se prendeu


em um emaranhado de ervas mortas, e ele estendeu a mão para se
certificar de que ela não caísse.

— Cuidado, —ele disse enquanto recuperava o equilíbrio e


prontamente a deixava ir.

Com as mãos trêmulas, ela puxou mais o capuz em seu cabelo loiro.

— Me perdoe.

— Oh, não há nada para se desculpar. Todo mundo tropeça. Eu ... ah,
como você disse que era seu nome?

Ela não tinha dito, na verdade. Mas ele não queria parecer tão
exigente.

E quando o som de seus pés batendo em bolsões de lama foi a única


coisa que veio em resposta, ele sentiu como se talvez tivesse sido.

Eles estavam na metade do caminho para a Casa Luchas quando a


voz dela, baixa e com forte sotaque, chegou até ele.

— Elyn. Por favor, me chame de Elyn.

314
— Isso é lindo ... —Ele limpou a garganta. — Quero dizer, uau.

Ele deu uma olhada de teste para ela no caso de ela estar olhando para
ele como se ele fosse um estranho, mas ela não estava. Ela estava
claramente perdida em pensamentos, suas sobrancelhas caindo sobre os
olhos, mesmo que ela não parecesse estar focada em nada específico à sua
frente. E quando eles ficaram em silêncio novamente, o cérebro de Nate
queimou para encontrar uma conversa ... exceto que tudo o que conseguiu
foram proibições—e o fato de que ele não conseguia pensar em nada nem
remotamente normal para dizer o fez perceber o maldito mutante que ele
era.

Como se ele tivesse sido socializado naquele laboratório. Com


qualquer outra coisa que não fossem os casacos brancos que fizeram
experiências nele e aquela televisão que o deixavam assistir?

Perdido em coisas ruins, ele saiu de seu transe quando eles chegaram
à cerca. Ele pensou em abaixar a de cima para ela, mas ela escapuliu
rápido como um apito e esperou por ele do outro lado.

— Esta é uma bela casa de fazenda, hein, —ele murmurou. Porque ele
tinha que dizer algo ou iria explodir. — Estou trabalhando nisso—bem,
trabalhei nisso. Basicamente, terminamos as reformas.

315
Enquanto ele a conduzia até a calçada da frente, ele pensou no
sotaque dela. Era muito chique, como o de seu pai. Como o de Rhage. Ela
provavelmente não ficaria impressionada com um trabalho de colarinho
azul como o que ele vinha fazendo. E como tudo o que ele não tinha a
oferecer às fêmeas em geral, e a ela especificamente, colidiu com a sua
auto-estima, ele ficou tão quieto quanto ela.

Sim, não era assim que suas fantasias funcionavam. O que era uma
prova positiva de que você não deveria permitir que pensamentos positivos
atrapalhassem a realidade. Em seus devaneios? Ele a encontrou naquele
buraco e a convidou para uma refeição naquele restaurante 24 horas que
ele e Shuli iam às vezes depois do trabalho. Com hambúrgueres e fatias de
torta de maçã, eles conversavam sobre tudo e nada até pouco antes de se
tornar muito perigoso ficar fora—e um pouco antes do nascer do sol, ele a
levava de volta para a casa dos pais dela, onde ela dava seu número a ele
e dizia-lhe para ligar durante o dia.

Era tudo o início de um lindo romance ... que culminava em, uma
semana antes da hora do primeiro encontro, ele beijando-a. Suavemente.
Enquanto eles estavam na porta dos fundos.

E porque era tudo apenas uma fantasia, aquele beijo acabou sendo,
apesar de ele não ter absolutamente nenhuma ideia do que estava fazendo,
totalmente perfeito para os dois ...

316
— Oi, pra vocês!

Enquanto a Sra. Mary os cumprimentava da porta da frente da casa


da fazenda, ela acenou e saiu para a iluminação quente lançada por uma
luz externa. A boa notícia era que a fêmea de Rhage era exatamente o que
qualquer um gostaria de ver se estivesse procurando um porto seguro: seu
rosto estava aberto e seu sorriso era sincero—o que a fazia parecer alguém
que seria boa em dar abraços.

Sem propaganda enganosa.

De repente, as pessoas começaram a falar. Mary. Rhage. E uma das


assistentes sociais, Rhym, que também se juntou ao grupo. Elyn ficou
principalmente em silêncio, mas ela não parecia assustada.

Nate deu um passo para trás. Pela porta aberta, ele viu que os móveis
haviam sido arrumados na sala de estar e, ao longe, na cozinha também.
Tudo parecia aconchegante. Seguro.

A assistente social entrou. Rhage entrou. Mary disse algo e indicou o


caminho.

Elyn assentiu e se encaminhou para a soleira.

Enquanto Nate a observava ir, ele sabia que não iria vê-la novamente.
Depois que ele terminasse de pintar o interior da garagem? Ele seria

317
transferido para um projeto diferente por seu supervisor, e qualquer
possível conexão entre eles desapareceria.

Ele não teria a chance de se despedir. Pelo menos não da maneira que
ele queria.

Não do jeito que ele conseguiria o número de telefone dela. Ou ela


pegasse o dele.

Com uma dor latejante no peito, ele pensou que era estranho lamentar
a perda de alguém que ele nem conhecia ...

Elyn hesitou e então olhou por cima do ombro para ele.

— Você não vai entrar?

— Oh, você está em boas mãos agora.

— Por favor. Eu estou assustada.

Olhando em seus grandes olhos prateados, Nate sentiu um rubor


percorrer todo o seu corpo. Depois disso, ele respirou fundo e estufou o
peito.

— Eu não vou sair até que você me diga para ir, —disse ele ao se
juntar a ela.

318
— Então você vai examinar minhas feridas? Ou você pode apenas me
olhar assim. Ambos estão bem.

Quando Sahvage recostou-se na velha cadeira de madeira, ouviu-se


um rangido sob ele, as pernas delgadas acomodando-se ao seu peso com
falta de confiança. Mas se ele acabasse no chão? Bem, isso estaria bom por
ele. Esta fêmea lhe ofereceria uma mão—porque era de sua natureza
ajudar.

E talvez ele pudesse puxá-la para cima dele.

— Eu não estou olhando para você de jeito nenhum, —ela retrucou.


— Estou preocupada com a sua saúde.

— E eu estou feliz que você esteja. Meu ponto é, preocupe-se comigo


em qualquer lugar que você queira com suas mãos.

319
— Oh, pelo amor de Deus, —ela murmurou enquanto se inclinava
sobre o peito dele.

Sahvage se concentrou em seu rosto, com suas sobrancelhas franzidas


e olhos penetrantes. Ele pensou que se ele apenas se sentasse um pouco—
não muito—ele poderia beijá-la.

E descobrir como era o gosto de sua boca parecia um bom uso de seu
tempo.

— Você sabe ... isso não parece certo.

Ou pelo menos foi o que ele pensou que ela disse. Sua atenção estava
em outro lugar—e quando as sombras dela em sua garganta voltaram para
ele, seus quadris rolaram dentro de suas calças de combate e a urgência
entre suas coxas ficou mais espessa. Especialmente quando ele imaginou
o cabelo dela livre e derramando sobre seu peito nu ...

As pontas dos dedos dela traçaram uma faixa de pele elevada que ia
da clavícula dele até o abdômen.

Quando ele assobiou, ela pareceu preocupada.

— Sinto muito, eu não quero te machucar.

Sim, a dor não foi a razão de eu ter feito aquele som, Sahvage pensou.

320
Embora ele estivesse começando a doer por desejá-la. Que era o que
acontecia quando você notava uma fêmea e então tirava a camisa na frente
dela ... e ela tocava sua pele. Em qualquer lugar.

Recuando, ela olhou para ele.

— Por que diabos você fez essa tatuagem em todo você? —Antes que
ele pudesse responder, ela estendeu a mão. — Sinto muito—isso não é da
minha conta ...

— Quero que meus inimigos saibam o que está por vir quando me
virem.

Enquanto se preparava para outro sermão hipócrita sobre não matar


coisas, ele teve que se impedir de sorrir para ela. E enquanto isso, ela
estava tão focada em seu peito, que ele se perguntava se ela iria desviar o
olhar dele.

Tudo bem para ele se ela não o fizesse—e foi uma decepção quando
ela se sacudiu de volta em atenção.

— Então, isso é tudo sobre publicidade? —Ela disse secamente. —


Você não poderia simplesmente colocar um “Olá, meu nome é Fodão” na
sua camisa?

321
— Eu nunca visto camisa quando luto. E eu diria que as etiquetas de
nome são a antítese de foda.

— Se você me perguntar, acho que a abordagem furtiva é melhor.

— O que você gostar.

— Eu não gosto.

— Minha tatuagem? Sério? Então por que você continua olhando para
ela?

— Não estou olhando para a tinta ...

Quando ela ia se virar, Sahvage segurou sua mão.

— Então, o que você está olhando?

Quando seus olhos se encontraram, houve um momento chiando de


quietude, e ele ficou surpreso que os dois não entraram em combustão
espontânea. Mas ela não ia aceitar—e ele a deixou se soltar.

— Oh, espere, meus ferimentos, certo? —Ele falou lentamente. —


Você estava apenas olhando para os meus hematomas. E você não gosta
que eu tenha machucados.

— Hematomas. —Ela cruzou os braços sobre o peito. — Quantos


anos você tem, cinco? E você precisa de um médico.

322
— Eu quero uma enfermeira.

A fêmea colocou as mãos nos quadris.

— Pare com isso.

— Okay.

Amaldiçoando baixinho, ela olhou ao redor como se estivesse


procurando por algo, qualquer coisa para fazer—e acabou estendendo a
mão para uma faca que tinha sido deixada com aquela estranha coleção
de suprimentos de molho para salada e xícaras de chá.

No ritmo que ela estava indo, ela limparia a mesa na próxima semana.
O que era adorável.

— Você normalmente não é tão agradável, —ela murmurou. — Você


está se sentindo fraco?

— Quando você está olhando para o meu corpo, sim, fico tonto. Mas
você realmente quer que eu fale sobre para onde vai o sangue ...

— Ai!

A faca caiu da mão dela, caindo no chão quando ela fechou o punho
e apertou o braço contra o peito.

Sahvage se endireitou.

323
— Deixe-me ver ...

— Estou bem ...

Desta vez, ele não a deixou ir. E ela não lutou com ele quando ele
abriu sua mão fechada.

Ela cortou o dedo—e sangue vermelho brilhante estava escorrendo ao


longo do corte digno de uma cirurgia.

Lambendo os lábios—porque como poderia não?—Sahvage olhou


nos olhos dela. Ela não estava olhando para o corte. De jeito nenhum.

A atenção dela estava na boca dele.

— Deixe-me cuidar disso, —ele sussurrou. — Retornar o favor. Você


sabe, exatamente o que você fez para mim na noite passada—e nada mais.

Ela parecia presa, abrangendo o sim e o não, dividida entre o que ela
queria e o que ela sabia que era bom para ela. E o tempo todo, o sangue
formava um rio lento que descia por seu dedo indicador, circulando.

Sahvage apertou seus molares.

— Vou esperar até você me dizer que sim. Eu tomo vidas contra a
vontade, mas nunca de fêmeas.

324
O tempo se esticou, alongando-se como uma corda e cedendo,
tornando-se cada vez mais longo. E no silêncio elétrico entre eles, ele se
tornou agudamente consciente da respiração dela. Estava ficando mais
profunda. E aquela pulsação em sua garganta? Estava ficando mais rápida.

— Eu não vou te machucar, —ele prometeu.

— Sim você irá.

Ela tirou a mão dele e se virou. Na pia, ela abriu a torneira e colocou
o dedo sob a pressão com um suspiro. Enquanto isso, ele ficou exatamente
onde estava, uma carranca puxando suas sobrancelhas juntas.

Quando ela fechou a torneira e tirou uma toalha de papel de um rolo,


ele disse:

— Que diabo de tipo de macho você pensa que eu sou?

Girando de volta para ele, ela enrolou a ferida.

— Você é um assassino. Certo? Você parece ter que provar isso não
apenas para mim, mas para todos que encontra. E assassinos machucam
pessoas.

— Você pensa que está em perigo perto de mim. A sério.

— Se a vida me ensinou alguma coisa, é que não tenho nenhuma


exceção especial. Então, sim, acho que você é perigoso para mim.

325
Ele apontou para frente da casa.

— Eu salvei a porra da sua vida lá fora.

— Bem, então estamos quites, não estamos? E você pode sair com a
consciência livre.

Sahvage olhou para a blusa que ele havia tirado. Pegando a coisa de
volta, ele a puxou pela cabeça e se levantou. Enquanto ele se aproximava
da fêmea pela cozinha, ela o encontrou bem nos olhos, sem ceder um
centímetro.

— Você vai morrer, —disse ele sem rodeios. — Talvez comigo por
perto, mas definitivamente sem mim. O que havia lá fora? Você não sabe
para onde foi, e é estúpido presumir que algum tipo de sepultura estava
envolvida. Mas eu não posso fazer você salvar a si mesma ou aquela velha
fêmea lá embaixo.

— Obrigada.

— Me desculpe?

— Pelo prognóstico. Terminou ou quer tentar a sorte nos números da


loteria? Talvez quem vai ganhar o Super Bowl no ano que vem?

Super Bowl é o jogo final do campeonato da NFL, a principal liga de futebol americano dos Estados Unidos, que
decide o campeão da temporada. Disputada desde 1967, a partir da junção das duas principais conferências da Liga.

326
— Divirta-se escolhendo um conjunto correspondente de caixões.
Deus sabe que você sempre toma as decisões certas, não é?

Com essa nota, ele pegou sua jaqueta e suas armas e caminhou até a
porta da frente. Movendo a enorme peça de mobília de carvalho de lado,
ele saiu.

Pena que não havia ninguém na cabana forte o suficiente para colocar
a barricada de volta. Mas como aquela fêmea tantas vezes apontou para
ele ... não era problema dele.

Mae observou Sahvage desaparecer pela porta da frente. Ele não fechou
a coisa. Ele não precisava.

Quando ela teve certeza de que ele tinha ido embora, ela correu para
a sala e colocou a fechadura de cobre no lugar. Então ela encostou as
costas nos painéis robustos da cômoda e tentou empurrá-la contra a porta.
Quando tudo que ela conseguiu foi um monte de sapatos escorregando e
respiração difícil, ela fechou a boca com as maldições em sua garganta ...

Um gemido vindo das tábuas do assoalho acima a fez voltar sua


atenção para o teto.

327
Com o coração batendo forte em seus ouvidos, ela engoliu em seco e
se perguntou onde havia deixado seu spray. Então ela se lembrou de que
o havia esvaziado tentando colocar o gás naquilo ... o que quer que fosse.

Olhando para o teto, ela não ouviu mais nada. Sem dúvida, a velha
cabana estava apenas reagindo à queda da temperatura da noite ...

Mae saltou e olhou para a esquerda. Havia algo se movendo entre as


pernas de uma mesa lateral?

Esfregando os olhos, ela pensou em Rhoger e no gelo derretendo.

E em Tallah lá embaixo, quase desmaiando de exaustão.

— Nós estamos bem. Está tudo bem.

Incapaz de ficar parada, ela foi para a cozinha—e parou. Mas não por
muito tempo. Tomada por uma urgência totalmente alheia à realidade de
que ela praticamente tinha dado sua melhor chance de lutar contra
qualquer coisa que pudesse aparecer na cabana, ela pegou um balde
debaixo da pia e o encheu de água quente com sabão. Havia apenas uma
esponja na casa, e seria necessária uma para a equipe.

Ficando de joelhos, ela esfregou o quadrado sujo onde antes estava a


geladeira. E esfregou. E esfregou.

328
Seu braço ficou dormente, a articulação do ombro queimando, as
palmas das mãos e os dedos ficaram em carne viva.

Mas porra, quando ela terminou? Esse chão brilhava.

Claro, o quadrado brilhante e claro fazia com que o resto do velho


linóleo parecesse ter sido colocado de volta antes das Guerras Púnicas .E
ela estava sem energia. Sem esponja também.

Inspecionando os cantos puídos da coisa e a almofada quase preta, ela


decidiu que parecia como ela estava se sentindo: toda usada, gasta,
destroçada.

Olhando para o relógio na parede, ela fez algumas contas. Então ela
mediu a geladeira que bloqueava a porta dos fundos e todas as venezianas
que estavam fechadas ...

— Certo. Cabo de extensão.

Demorou um pouco vasculhando ao redor para encontrar uma versão


antiga de três pontas, marrom-lama, e enquanto ela ligava, ela esperava
que não fosse queimar a cabana.

As Guerras Púnicas consistiram numa série de três conflitos que opuseram a República Romana e a República de Cartago, cidade-estado fenícia,
no período entre 264 a.C. e 146 a.C.. Depois de um século de lutas, ao fim das Guerras Púnicas, Cartago foi totalmente destru ída e Roma passou a
dominar o mar Mediterrâneo.

329
Ok, tudo bem, a cozinha. Tanto faz.

Ela estava olhando para os balcões e o fogão, e a geladeira fora do


lugar, e a mesa e as cadeiras—e imaginando tudo coberto por brilhantes
chamas laranja e amarelas ... quando algo se registrou no fundo de sua
mente.

Mae franziu a testa e foi até a pia. O prato de prata que ela e Tallah
usaram para o feitiço de invocação estava limpo e seco, e ela o pegou para
olhar as cristas recortadas que desciam até a barriga da bacia.

— O que é? —Ela perguntou a ninguém em particular.

No entanto, algo estava definitivamente pegando em algum lugar no


fundo de sua consciência, o puxão persistente, mas não específico. E
quanto mais ela tentava adivinhar o que era, mais evasiva a preocupação
se tornava.

— Tanto faz, —ela murmurou enquanto colocava o prato de volta na


mesa.

Considerando todas as outras coisas que clamavam por atenção e


energia mental, ela cancelou o jogo inútil de esconde-esconde.

— Eu tenho que ir.

330
Okay, com quem exatamente ela estava falando, ela se perguntou
enquanto olhava para a porta do porão. Após um momento de indecisão,
ela tirou um bloco de notas de uma gaveta e usou o toco de um lápis para
escrever uma mensagem rápida para Tallah. Ela deixou o bloco no centro
da mesa, agarrou sua bolsa—e voltou para adicionar seu número de
telefone celular, apenas no caso de a fêmea idosa esquecer qual era.

Quando Mae saiu pela porta da frente, ela se certificou de que tinha a
chave do carro pronta e fez uma oração rápida antes de ...

Abrir a porta pesada. Girar e fechar. Trancar a coisa novamente e


correr para seu Honda.

Do lado do motorista, a chave do carro se recusava a encontrar o lugar


dentro da fechadura, o metal escorregando pelo buraco. E quanto mais
demorava, mais ela olhava ao redor freneticamente, todos os tipos de
sombras surgindo do chão, das vinhas retorcidas, dos troncos das árvores,
tudo vindo para atacá-la ...

A chave finalmente entrou na fenda, e ela quase a arrancou ao soltar


as coisas ao girar, se atrapalhou com a maçaneta e se jogou no banco do
motorista. Batendo as coisas fechadas e trancando tudo de volta, seu
coração estava batendo forte em seus ouvidos enquanto ela jogava de novo
com a ignição.

331
Antes que qualquer coisa pousasse no capô, abrisse um buraco no teto
solar e a puxasse pelos cabelos, ela conseguiu ligar o motor e colocar o
carro em movimento. Exceto que então ela teve que dar a ré—porque pela
primeira vez ela não seguiu o conselho muito sábio de seu pai de estar
preparada para partir às pressas. Pisando no acelerador, os pneus giraram
na lama e a levaram a lugar nenhum.

— Droga, droga, droga ...

O tempo todo, ela procurou nas janelas e se preparou para uma


daquelas ... coisas ... ir até ela, cruzar os faróis, abrir a porta, agarrá-la,
levá-la para o túmulo.

Mas não havia nada.

Nada se movendo. Nada vindo para ela. Nada que estivesse fora do
lugar.

Apoiando-se com o pé de chumbo, ela ofegou. E então tentou puxar


o carro para trás, dando apenas um pouco de aceleração—e quando os
pneus finalmente agarraram, ela resistiu ao impulso de Danica Patrick .
Centímetro por centímetro, ou assim parecia, ela desceu a pequena

Danica Sue Patrick é uma piloto de automobilismo norte-americana que compete na NASCAR. Em 2005 tornou-se a segunda
mulher a conquistar uma pole position na categoria, foi indicada a estreante do ano nas 500 Milhas de Indianápolis e na temporada da IndyCar Series.

332
entrada de carros de Tallah para que pudesse dar meia-volta, o tempo todo
mantendo as mãos travadas no volante enquanto seus olhos saltavam
entre o para-brisa dianteiro e o espelho retrovisor.

Mae odiava a ideia de deixar a fêmea idosa sozinha na cabana.

Mas ela não tinha escolha. Rhoger precisava de gelo fresco.

E, além disso, foi o sangue dela que foi para aquele prato de prata. O
que quer que estivesse lá fora, o que eles chamaram do Dhunhd?

Estava atrás dela e de mais ninguém.

Tallah estaria segura ... mesmo que Mae não estivesse.

333
Como symphath, Rehv nunca se importou em lançar bombas dramáticas.
Quando você pegava uma pessoa de surpresa, ou melhor ainda, se toda
uma sala cheia tomasse uma dose de QUE PORRA É ESSA!?! de algo
que você disse, você acabava com todos os tipos de emoções divertidas
girando ao redor, grades se acendendo, pessoas falando umas sobre as
outras.

Caos. Discórdia. Desacordo. Tudo alimentado por uma deliciosa


ansiedade subjacente que provava que mortais com raciocínio
hipodedutivo podiam ser feridos na queda de um chapéu.

Symphaths se alimentavam dessa merda. Comiam como se fosse um


bolo.

Esse não era o caso agora, no entanto.

Bem, okay, sim, a atual jangada de agressão barulhenta da Irmandade


estava toda sobre ele e seu pequeno flash de notícias daquele

334
estacionamento. Mas enquanto ele se sentava em uma das cadeiras de seda
no escritório do Rei e ouvia todas as suas bolhas mais próximas e queridas
com a agressividade, ele não estava feliz com a angústia que ele causou.

Vê? Symphaths não eram de todo ruim.

Apenas principalmente. E ele era meio vampiro, graças a sua mahmen.

Claro, a primeira reunião que eles tiveram sobre a coisa do Livro e


aquela fêmea correu bem. Na noite passada, as pessoas mantiveram a
calma. Ouviram. Esperaram conteúdo para mais informações. Agora,
porém, eles tiveram quase vinte e quatro horas para pensar sobre as
implicações de tudo isso, então está “atualização de status simples” se
transformou em Dramagedon.

— ... tudo besteira, —alguém estava dizendo. — Eram apenas boatos.


Porra de fofoca ...

— Minha grandmahmen me contou sobre a magia no Velho País—


você a está chamando de mentirosa? Você está dizendo que minha
grandmahmen é uma mentirosa do caralho ...

Oh, ótimo. A única coisa pior do que alguém ofendendo a mahmen de


um Irmão era se o criminoso subisse uma geração na linha de sangue e
jogasse sua avó na fogueira da desgraça.

335
Rehv verificou seu Royal Oak de ouro rosa. Cristo, eles estavam
aqui por uma hora e meia. E do jeito que as coisas estavam indo? Esse
bando de cabeças quentes trocariam rythes pelo resto da noite.

Pelo menos Fritz, o mordomo da mansão, ficaria feliz. Aquele doggen


adorava limpar o sangue de tapetes caros. Se o trabalho do homem
dirigindo esta casa cheia de assassinos um dia der errado, ele terá um
futuro em Stanley Steemer ...

Boom!

Quando o punho de Wrath se chocou contra a grande escrivaninha de


madeira, todos se calaram, mas ninguém saltou de surpresa. Francamente,
Rehv estava esperando pelo estouro. Ele estava disposto a apostar que
todos estavam.

— Chega dessa besteira, —Wrath rangeu enquanto acariciava o


queixo de George para acalmar os nervos do golden. — Terminamos de

Relógio da Royal Oak de ouro rosa masculino cravejado com micro diamantes
Rythe (n.) Forma ritual de lavar a honra, oferecida pelo ofensor ao ofendido. Se aceito, o ofendido escolhe uma arma e ataca o ofensor, que
se apresenta perante ele sem se defender do ataque.

Stanley Steemer é uma empresa americana que fornece limpeza de carpetes, limpeza de azulejos e
rejuntes, limpeza de estofados, limpeza de pisos de madeira e limpeza de dutos de ar.

336
debater se a magia existe ou não. Vocês querem se masturbar com esse
assunto—ou com a porra dos parentes uns dos outros—vocês podem fazer
isso na porra do seu tempo.

Ah sim. Nada como um líder com as habilidades interpessoais de uma


motosserra.

Aqueles óculos negros se voltaram para V, que estava fumando um


cigarro enrolado à mão perto da lareira.

— Você ainda não encontrou a fêmea.

— Não, quero dizer, eu rastreei o registro do carro e o endereço


vinculado àquela placa, mas isso é apenas o que ela dá ao mundo humano.
Eu verifiquei a casa em questão, mas não havia vampiros em nenhum
lugar nela. Eu não encontrei mais nada sobre ela, mas se ela e sua
linhagem não se ofereceram para estar em um banco de dados, vai ser a
hora da agulha no palheiro. Mas enfim, vou mais fundo, certo?

— Isso é o que ele disse, —alguém murmurou por reflexo.

— Quando eu a vi, —Rehv murmurou, — ela parecia ... realmente


normal. Muito baunilha para onde ela veio me encontrar. É difícil
imaginar o que alguém assim desejaria com o Livro. Repintar a casa dela?

337
Encontrar uma fita de vídeo da Blockbuster perdida antes da existência
da Internet?

— Você não vai atrás de algo assim a menos que seja louco, —disse
Butch.

Rehv acenou com a cabeça. — Eu li a grade dela. Ela está desesperada


pra caralho. Mas os pais dela morreram, tipo, três anos atrás, e eu não
acho que ela tenha acasalado, dado como ela estava com um dos
lutadores. Senti um parente, um irmão ... ela está perdendo-o? O que ela
precisa tanto para estar disposta a jogar dados com magia negra?

— A maior parte do tempo, —V acendeu no lado quente do fender,


— se eu posso ver onde alguém esteve, posso descobrir para onde eles
estão indo.

— Simplesmente não combina.

— Você ficaria surpreso ao ver que o interior de muitas pessoas não


combina com o exterior.

Alguém do fundo disse: — Isso significa que você secretamente gosta


de abraçar, V?

Blockbuster LLC, também conhecida como Blockbuster Video ou simplesmente Blockbuster, foi a maior rede de Locadora de vídeos de filmes
e videogames no mundo. Sua sede ficava na cidade de Englewood, Colorado nos Estados Unidos. Em 2011, foi vendida para a DISH Network após
falência.

338
Quando V ignorou Rhage, a conversa voltou a borbulhar, embora em
um nível de volume muito mais razoável—que não iria durar.

E quando os Irmãos começaram a ficar mais altos novamente, uma


voz interrompeu:

— Esta é uma situação seriamente perigosa. Não importa quem é a


fêmea ou para o que ela está usando o Livro.

Todos olharam para as portas do escritório. Outra parte interessada


havia entrado no chat, mas com todo o ar quente na sala, ninguém havia
percebido sua chegada.

Lassiter, o anjo caído, estava encostado nas portas fechadas, os braços


cruzados sobre uma camiseta que dizia “LEITE DE MENINO” em seus
peitorais. Com suas leggings com estampa de zebra, seu cabelo loiro e preto
caindo, e todas as suas correntes e piercings de ouro, ele era o que David
Lee Roth passando por uma fase de Mr. T pareceria.

David Lee Roth, também conhecido como Diamond Dave, é um compositor musical, ator, autor, personalidade do rádio e um
vocalista de rock, que se tornou notório por seu trabalho no Van Halen. Filho de Nathan Roth, um proeminente oftalmologista judeu, David foi morar
em Pasadena na adolescência após morar em Swampscott.

Mr. T, nome artístico de Laurence Tureaud, é um ator, personalidade de televisão, guarda-costas, dublador e ex-lutador
estadunidense, mais conhecido por atuar como o B.A. Baracus na série televisiva Esquadrão Classe A e como o boxeador Clubber Lang, no filme
Rocky III, de 1982. Mr.

339
— As forças que podem ser desencadeadas por cortesia dessas
páginas? —Lassiter encolheu os ombros. — Elas são como nada mais no
planeta. A real merda de dedo de Deus. E o problema é, uma vez que você
libere essas energias, são um tigre fora da gaiola. Que não come há um
mês. Não há raciocínio com elas, não há como pará-las.

— Por que isso não apareceu antes? —Tohr exigiu. — Quer dizer,
temos histórias e rumores do Velho País. Mas nada substancial.

— Equilíbrio. —Lassiter brincou com algumas de suas pulseiras,


enrolando-as ao redor de seu pulso grosso, os elos oferecendo uma
vibração suave de metal com metal. — Tem que haver equilíbrio no
mundo, e o Ômega tinha peso o suficiente no lado das más notícias da
escala. Ele se foi agora, porém, e o destino tem um horror vácui . Essa
presença sombria deve ser substituída por algo, e assim foi.

— Você sabe, —Rhage murmurou, — Eu tenho que dizer isso


novamente. Eu estava realmente ansioso por umas férias. Não para
sempre, mas, tipo, vinte e cinco, talvez cinquenta anos de tranquilidade
teria sido ótimo. Quer dizer, acabei de começar minha enciclopédia online
de sorvetes.

Horror Vacui (Latim "horror do vazio") descreve na arte o desejo de preencher todas as superfícies vazias, especialmente na pintura e em
relevo, com representações ou ornamentos. O termo remonta a Aristóteles, que usou horror vacui para descrever o fenómeno de que a natureza
não conhece vácuo.

340
— Você está fazendo uma Britannica virtual disso? —Alguém
perguntou. — Quanto tempo pode demorar? Mesmo Baskin-Robbins
tem apenas trinta e um tipos.

Rhage lançou um olhar duro pela galeria de amendoim .

— Baskin-Robbins tem mais de 1.300 entradas em seu perfil de


sabores, seu filho da puta provinciano. E estou falando de todos os sorvetes
de todos os fabricantes. Vou chamá-lo de Wiki-lambidas.

V sacudiu seu enrolado a mão.

— É melhor você ter cuidado para que o URL não seja usado por
alguém com uma agenda diferente em sua língua ...

— Foco! —Wrath latiu. — Jesus Cristo, vocês são como o Google,


sem nenhuma direção. E, enquanto isso, temos um problema que não
temos ideia de como conter ...

— Isso não está correto, —disse Lassiter. — Podemos bloquear isso.

Quando todos os olhos se voltaram para o anjo, ele estava falando


sério pra caralho—e Rehv pensou que por mais irritante que Lassiter

Baskin-Robbins é uma rede multinacional americana de restaurantes especializados em sorvetes e bolos de propriedade da Inspire Brands.
Com sede em Canton, Massachusetts, Baskin-Robbins foi fundada em 1945 por Burt Baskin e Irv Robbins em Glendale, Califórnia.
Ward usa a expressão Peanut Gallery: Uma galeria de amendoim era, nos dias de vaudeville, um apelido para os assentos mais baratos e
ostensivamente mais barulhentos do teatro, cujos ocupantes costumavam incomodar os artistas.

341
pudesse ser quando estava em uma noite normal, o outro lado do piadista
era muito pior. E assustador, mesmo para um symphath: Lassiter tinha
acesso a coisas que ninguém mais na sala tinha, e algumas dessas merdas
faziam o Ômega parecer nada pior do que uma criança de dois anos em um
acesso de raiva.

— Você tem o que precisa sob este teto, —o anjo anunciou.

— Vamos fazer Rhage comer o Livro? —Alguém se intrometeu.

Hollywood ergueu a mão da adaga.

— Eu só preciso do condimento certo e vou engoli-lo de alguma


forma. Eu juro, eu posso fazer isso.

— Eu voto para acendermos o anjo em fogo e catapultá-lo na maldita


coisa, —V rebateu. — E eu me ofereço para lançar aquele fósforo.

— Que arma nós temos que não estamos vendo? —O Rei exigiu.

— Me sigam. —Lassiter abriu as portas do escritório e saiu.

Para seu crédito, V foi o primeiro a ficar com a merda de seguir o líder.

— Não estou dizendo que gosto dele, —disse, enquanto caminhava


para as escadas. — Mas usarei qualquer arma que tivermos. Mesmo que
ele seja o idiota colocando isso em nossas mãos.

342
Rehv se levantou com o resto dos lutadores e o Rei. E quando todos
eles saíram do escritório e desceram para o saguão, ele se sentiu como se
estivesse na escola e fazendo uma excursão.

Presumindo que a escola fosse uma academia de artes marciais e o


corpo de estudantes fosse composto de crianças que podiam levantar dois
Teslas com uma mão.

Lassiter liderou o desfile por todo o caminho através da sala de jantar


e para a cozinha—onde era quase impossível não ter uma bandeja de
sobremesa, um viajante com café ou uma perna de cordeiro inteira de
cordeiro pressionada em sua palma pelo nervosamente prestativo doggen.

Naturalmente, Rhage aceitou um sanduíche de peru como se fosse


uma bola de futebol passada para a zona final. E um litro de Coca. E um
saco de M&M'S.

Bem quando Rehv estava se perguntando onde diabos isso estava


levando, Lassiter saiu para a garagem—e foi quando a matemática fez
sentido.

Tesla, Inc., é uma empresa automotiva e de armazenamento de energia norte americana, que
desenvolve, produz e vende automóveis elétricos de alto desempenho, componentes para motores e transmissões para veículos elétricos e produtos
à base de baterias.

343
— Foda-se, —Rehv murmurou enquanto entrava no vasto espaço
aberto sem aquecimento.

Esfregando o rosto, ele olhou ao redor para o equipamento de


jardinagem e as caixas de sementes de grama e fertilizante—e se perguntou
se ele deveria estar aqui. Isso era alguma merda particular da Irmandade
acontecendo.

Porque não há ninguém aqui para o John Deere .

Dezesseis caixões. Empilhados em dois de altura e quatro de fundo.

As cápsulas para os mortos eram feitas de diferentes tipos de madeira


e tinham envelhecido de maneiras diferentes—mas o que havia dentro
delas tinha algo em comum.

Eles eram os restos mortais dos condenados.

Irmãos que não receberam as Cerimônias do Fade adequadas. Ou não


poderiam ser concedidas a eles.

Wrath contou a história de fundo uma noite quando ele e Rehv


estiveram compartilhando e se importando com o quanto era “divertido”
ser Rei.

A Deere & Company é uma corporação estadunidense fundada na localidade de Moline, estado de Illinois.

344
— Nós estamos onde eu penso que estamos? —Wrath perguntou
depois de um momento.

Lassiter caminhou ao longo da fila de caixões—e então parou na


frente do penúltimo na fileira superior. Ao colocar a palma da mão na
tampa, disse:

— Sim, vocês estão.

Cada um dos caixões tinha inscrições nas laterais e no topo, e os


símbolos da Antiga Língua não eram apenas nomes e datas. Eles eram
avisos.

Para não perturbar os condenados.

— Não há nenhuma prova de que não foi apenas um golpe por terras
e recursos, —Wrath murmurou. — Pode ter sido simplesmente a glymera
fazendo outro movimento de poder.

— Ou essa história foi um estratagema, —disse Rehv. — Porque, ei, a


aristocracia nunca mente ou deturpa eventos históricos, não é.

— Que porra vocês dois estão falando? —V exigiu.

Rehv prendeu a respiração quando Wrath olhou por cima do ombro


como se pudesse ver o Irmão.

345
— Um feiticeiro.

Os olhos de Vishous se estreitaram, a tatuagem em sua têmpora


distorcida.

— Eu não sabia que tínhamos um deles aqui.

O Rei se voltou na direção de Lassiter.

— Então, acho que o boato era verdade.

O anjo falou suavemente e deu um tapinha no caixão.

— Precisamos do que está aqui. Mesmo que não seja facilmente


controlado.

— Desculpe-me, —disse Tohr. — Aquele Irmão está morto há muito


tempo. Então, seus defeitos de personalidade não são um tipo de problema
discutível? Como qualquer coisa que ele poderia fazer para nos ajudar?

— Não é nele que estamos interessados, —Lassiter rebateu. — É o


que há com ele que estamos procurando.

— Nós não estamos abrindo esse caixão aqui. —Wrath agitou sua
cabeça. — Não há muitos protocolos que eu dê a mínima, mas se estamos
expondo o corpo de um Irmão, isso só está acontecendo em um lugar.
Mesmo que ele foi condenado na morte.

346
Lassiter inclinou a cabeça. — Eu concordo.

Enquanto os outros Irmãos acenavam com a cabeça e ficavam em


silêncio, Rehv olhou ao redor para seus rostos ferozes, seus corpos fortes
... suas vontades resolutas—e sentiu uma grande honra, como um
forasteiro, por testemunhar a tradição viva e respirando da Irmandade da
Adaga Negra.

Todos esses machos, incluindo o Rei, faziam parte da venerável


história de serviço prestado à raça. E embora os detalhes e a natureza desse
passado fossem, por definição, intocáveis e imutáveis, de vez em quando,
o que existia antes avançava através dos filamentos de minutos e horas ...
para tocar o presente.

Algo que havia sido morto há algumas centenas de anos seria


chamado para o serviço agora. E isso era digno de um momento de
silêncio, de respeito.

E havia outro motivo para o silêncio que permeava os limites frios da


garagem: esses caixões eram um lembrete de que aqueles que estavam aqui
agora estariam em algum momento no futuro entre aqueles que já haviam
partido.

Ser mortal significava morrer.

347
Enquanto um calafrio que não tinha nada a ver com dopamina
percorria o corpo coberto de pele de Rehv, ele pensou em sua amada
Ehlena—e teve que olhar para o chão de concreto. Distraidamente, ele
percebeu que seus mocassins Bally, que eram de tecidos e pretos, eram o
complemento perfeito para suas calças pretas finas e o paletó trespassado
sob o casaco de pele.

Normalmente, ele teria o prazer de admirar seu guarda-roupa.

Agora ... tudo em que conseguia pensar era de se vestir sozinho


naquele closet que dividia com Ehlena. Ela teve que ir para a clínica mais
cedo. E ela tinha esquecido de dar um beijo de despedida porque ela estava
com tanta pressa ...

Uma necessidade repentina e penetrante no centro do peito de Rehv


o puxou para trás, longe da multidão reunida. Longe dos caixões. Longe
do problema que ele trouxe para a porta da frente da Irmandade.
Literalmente.

Deslizando de volta para a casa, ele se moveu pelo vestiário e pela


cozinha, indo para o saguão. Quando ele subiu para a grande escadaria,
deu a volta para o lado e abriu a porta escondida.

O túnel subterrâneo que conectava o Pit, a mansão e o centro de


treinamento era um tiro direto de concreto através da terra, e ele o fez em

348
bom tempo, pois a dopamina que teve de tomar criou dormência em suas
pernas e pés. Graças a Deus por sua bengala.

Ele saiu pelo armário de suprimentos para o escritório, então


empurrou a porta de vidro e caminhou para o centro de treinamento
propriamente dito.

Seguindo seu sangue nas veias de sua fêmea, ele desceu para a área
clínica e parou em frente à porta fechada de uma sala de exames.

Batendo suavemente, ele queria quebrar o painel com as próprias


mãos ...

— Esse é o meu hellren? —Veio a voz abafada de Ehlena.

Rehv abriu caminho para dentro. Sua amada fêmea estava na mesa,
digitando no computador. Vestida com uniforme, ela tinha uma rede
cirúrgica no cabelo, botas cirúrgicas em seus Crocs e as sobrancelhas
firmes de concentração com as quais ele estava bem familiarizado.

Por um momento, tudo o que ele pôde fazer foi olhar para ela. E
pensar naquela primeira vez que ele a viu, na velha clínica de Havers. Ela
tinha entrado em uma sala de exames para checá-lo no sistema, e ele ficou
... obcecado desde o início ...

Ehlena se virou e sorriu.

349
— Esta é uma surpresa tão boa!

Sem palavras, ele se aproximou e a tomou em seus braços, puxando-


a para cima e para fora da cadeira de rodinhas. Fechando os olhos, ele se
agarrou a ela.

— Você está bem? —Ela disse enquanto acariciava suas costas através
da pele. — Rehv, o que há de errado?

— Eu só precisava ver você.

— Aconteceu alguma coisa?

Como ele responderia a isso, ele se perguntou, sem assustá-la. E ele


não estava pensando no Livro, ou magia nas mãos erradas, ou o que
poderia estar em qualquer um daqueles caixões. Não, ele estava pensando
se o amor realmente sobrevivia ou não até a mão fria da morte. Pergunte
a qualquer romântico e ele dirá que era verdade—inferno, se você
acreditava no Fade, era verdade. Você tem o seu para sempre com sua
alma gêmea. Mas se você fosse um cético?

— Não, nada aconteceu. Eu só queria ver a fêmea que eu amo.

— Você pode falar comigo, —ela murmurou. — Você sabe disso,


certo? Você pode me dizer o que está acontecendo.

— Como eu disse, não é nada.

350
Bem, nada, exceto pelo fato de que os céticos, em geral, não gostavam
de ver caixões. Eram um lembrete de que a vida acabava e ele não
suportava a ideia de perder sua shellan.

Ele literalmente não sabia o que faria sem ...

Rehv recuou quando a imagem daquela fêmea na garagem—e sua


grade—disparou em sua mente.

— Oh, meu Deus, —ele deixou escapar. — Ela quer trazer alguém de
volta dos mortos.

Ehlena balançou a cabeça.

— Desculpa, o que ...

— Um bom civil normal indo atrás de algo maligno? A única razão


para fazer isso é se alguém que amam está morto e eles não podem viver
com a dor. O irmão dela. Tem que ser seu irmão—é a única pessoa que
resta em sua família. Aposto que algo aconteceu com ele.

351
Sahvage se rematerializou para o lado da garagem em que Mae tinha
acabado de estacionar o carro. Quando os painéis começaram a baixar,
ele olhou por cima do ombro. Olhou para frente da casa térrea. Verificou
o que ele podia ver na parte de trás. Ele não queria que ela saísse daquele
maldito veículo até que as coisas estivessem seguras ...

E ela não fez. Ela esperou até que tudo estivesse fechado.

— Boa menina, —ele disse suavemente. Mesmo que ela não


aprovasse ser chamada de menina.

Mantendo-se nas sombras, ele tirou da mochila o que havia roubado


da cabana enquanto ela levava Tallah para a cama: o sal não iodado da
Morton . Embora ele o tivesse pegado com o iodo. Não importava.

Sal de mesa Morton, sal multiuso não iodado para cozinhar, temperar e assar, vasilha de 26 OZ.

352
Com mão firme, ele abriu a tampa e teve sorte em duas partes: o
recipiente estava quase cheio e o casa dos anos setenta não era grande.
Ainda assim, ele teve o cuidado de racionar o produto. Ele apenas
derramou no chão em frente às portas e janelas. Ele teria preferido fazer a
selagem completa, mas não podia correr o risco de ficar sem nada para o
trabalho em frente.

Depois de cobrir o andar térreo, ele se materializou no telhado. Não


havia chaminé, mas havia duas saídas de ar, provavelmente para os
banheiros, e ele despejou o sal nas telhas ao redor delas, por precaução.

Então ele sentou sua bunda na viga central da casa e chutou as pernas
na frente de si mesmo no leve declive. Ele se perguntou o que a fêmea
estava fazendo embaixo dele, talvez pegando algo para comer, mexendo
em sua correspondência. Ela voltaria para a cabana para passar o dia, no
entanto. Ela não ia querer que aquela velha fêmea fosse deixada sozinha.

Amaldiçoando a si mesmo, amaldiçoando Mae, ele esquadrinhou o


quintal e a vizinhança não apenas com os olhos, mas com todos os
sentidos e instintos que tinha.

Ele não tinha certeza se acreditava no sal. Mas era algo que Rahvyn
sempre jurou, e era a melhor recomendação que ele receberia neste
pesadelo.

353
Deus, ele desejou que sua prima estivesse aqui. Ela saberia o que
fazer.

Inferno, talvez ela pudesse ter convencido Mae a sair dessa loucura ...

A primeira coisa que ele notou foram as estrelas desaparecendo no


alto. Mas não por causa das nuvens. Era como se uma mortalha negra
tivesse sido puxada pelo céu diretamente acima da casa.

— Porra.

Levantando-se, ele sacou as duas armas e olhou para a vizinhança,


que era fechada e povoada por subúrbios: ambas as casas de cada lado,
assim como as do outro lado da rua, tinham humanos, homens e mulheres
relaxando na cama, assistindo TV, comendo lanches da meia-noite. A última
coisa que ele precisava era um bando de indicadores discando 911 quando
ele estava tentando salvar a vida daquela fêmea.

— Porra.

Com um forte propósito, ele desceu a inclinação do telhado até a


sarjeta e saltou para o chão, aterrissando com um estrondo. Virando-se
para a porta da frente, ele ia bater nela—mas se conteve.

A garagem. Ele não tinha selado a porta da garagem.

354
Enfiando uma das armas no coldre, ele arrancou as costas do Morton
e correu para a pequena costura entre aqueles painéis retráteis e a borda
de concreto da laje da garagem. O sal precisava ser jogado na terra antes
que o que quer que tivesse aparecido na cabana aparecesse novamente ...

— Você não acha realmente que vai funcionar, não é?

A voz era feminina e parecia vir de todas as direções. Mas por mais
chocante que fosse, ele se recusou a ser desviado. Ele continuou
derramando, a leveza do contêiner o assustando quando ele se aproximou
do outro lado da ampla entrada. Mais rápido. Mais rápido. Mais rápido,
mais rápido ...

Sahvage praticamente jogou o maldito recipiente no canto formado


pela borda da casa e o concreto—com base na teoria de que o sal ainda
estava no lugar, mesmo que houvesse um recipiente de papelão cilíndrico
envolvendo-o.

Foi quando ele olhou para cima que viu a perna.

A perna bem torneada ... que estava conectada a um stilettos preto


brilhante com uma sola vermelha.

Seus olhos seguiram o tornozelo delineado até a panturrilha


delicada—e subiram até um joelho muito feminino. Depois disso, vieram
as coxas, as coxas incrivelmente lisas que eram exibidas por uma minissaia

355
preta que dava um novo significado tanto para “colante à pele” quanto
para “curta”. E Jesus ... a metade superior da mulher era mais do que
equivalente a parte inferior. Entre o bustiê push-up preto, e todo aquele
cabelo castanho, e aquele rosto ...

— Oi, —a mulher falou lentamente enquanto se inclinava contra a


casa, bem em cima do recipiente de sal. — Que bom encontrar você aqui.

Seus olhos eram pretos como azeviche e brilhantes como se estivessem


na luz negra, e seus lábios eram vermelho sangue, e ela era a mulher mais
bonita que ele já tinha visto.

E a malevolência dela o fez querer pegar sua outra arma. Então ele fez
isso, porra.

— Ora, ora, —disse ela, — isso é realmente necessário? Nem mesmo


fomos devidamente apresentados. Se você vai atirar em mim, não
deveríamos pelo menos apertar as mãos primeiro?

Com uma curva graciosa, ela pegou o Morton. Encontrando seus


olhos, ela correu uma unha vermelha de sangue ao redor do bico de metal
aberto.

— Só para você saber, estou resistindo totalmente à vontade de fazer


algumas piadas de “você é tão salgado” agora. —Aquele dedo continuou

356
a brincar com a abertura. — Vou dizer de novo, você realmente acha que
pode me manter fora de qualquer lugar?

Na luz lançada por uma luminária externa, ela errou ao tentar parecer
perfeitamente normal: as sombras sob seu corpo se moviam mesmo quando
ela não o fazia, e então havia sua aura. Um brilho escuro como breu tingia
o ar ao seu redor.

Porque ela irradiava o mal.

Ela jogou o Morton por cima do ombro e o contêiner ricocheteou


como se estivesse fugindo dela.

— Você vai precisar de muito mais do que merda para temperar


batatas fritas para me manter fora. Mas chega de entradas e saídas, diga-
me uma coisa, essa saia faz minha bunda parecer grande?

Girando ao redor, ela fez uma pose e olhou por cima do ombro—
enquanto sua mão passeava pela prega de sua cintura até a curva
perfeitamente proporcionada de seu quadril.

— Hm? —Ela perguntou com um ronronar de garganta. — O que você


acha da minha bunda?

Sahvage bloqueou seus pensamentos ao imaginar um armário, um


armário com prateleiras que subiam pelas paredes do chão ao teto. Dentro

357
de seu armário, as prateleiras estavam vazias, a despida luz do teto
revelando todo o absolutamente nada lá dentro. Quando ele teve certeza
de que podia ver os detalhes com clareza, desde a madeira cinza sobre
essas placas verticais até a pequena corda pendurada do bulbo, ele fechou
a porta do armário. E trancou.

Enquanto a mulher acariciava seu traseiro, ele manteve a imagem


final em primeiro lugar em sua mente: uma porta robusta, uma porta
grossa, uma porta reforçada que estava trancada, protegendo um armário
sem nada dentro.

A mulher deu uma risadinha.

— Olhe para você, com os truques de salão.

Não diga nada, disse a si mesmo. Você não dá nada em voz alta.

— Tão protetor com a fêmea sob este teto, você é. —A mulher—


“mulher”—olhou para a casa. — Você deve se importar profundamente
com ela. Ou você está apenas se certificando de que ela viva o suficiente
para que possa foder com ela?

Sahvage olhou para frente e quase não piscou.

— Estou certa, não estou? —A mulher sorriu ao se virar para encará-


lo. — Você não fodeu com ela ainda. Mas você quer, não é? Você a quer

358
nua embaixo de você e vai marcá-la como sua—como se isso significasse
qualquer coisa hoje em dia. Você não ouviu que a monogamia está fora
de moda?

A voz dela era baixa e sedutora, apoiando seu corpo, seus lábios, seu
cabelo. Ela era um pacote tão atraente, mas depois de tirar a fita? Rasgar
o papel de embrulho?

— Ou talvez haja mais para vocês dois. —Ela estendeu a mão elegante
e apontou o dedo indicador vermelho-sangue para o centro do peito dele.
— Ela tem isso? O que bate aqui ... ela pegou seu coração? —Houve uma
pausa. — Já ... Uau. Vou ter que ouvir algumas dicas dela. Ela não tem
muito para ver, mas seu jogo está evidentemente pegando fogo.

Eu não dou nada, pensou Sahvage. Eu não dou nada, eu não dou nada, eu
não dou nada, eu não dou nada, eu não dou ...

Os olhos dela brilharam com ameaça.

— Sabe, você me faz querer entrar em você. Acho que seria


divertido—para mim, pelo menos. E para você, por um breve momento.
Mas ei, às vezes na vida, tudo que você tem são pequenos divertimentos,
certo? Divertimentos pequenos. Então, o que você diria, lutador. Que tal
nós fodermos e eu te mostrar um tempo realmente bom.

359
Do nada, um pensamento veio a ele, como um avião de papel
navegando em sua linha de visão.

Esta mulher, que não era uma mulher, mas outra coisa ... era sua
passagem para fora do planeta.

Depois de todos esses anos, sua morte, que tantas vezes desejou e
muitas vezes foi negada, finalmente cruzou a soleira de sua casa interior e
sentou-se em uma cadeira.

Para esperar o momento certo.

A mulher sorriu, seus lábios vermelho sangue puxando em uma


expressão de satisfação maligna.

— Você vai ser meu.

O gelo ricocheteando no peito imóvel de Rhoger e caindo nas laterais da


banheira era o tipo de coisa que Mae ouviria em seus pesadelos para
sempre. E os sons de tilintar, tão suaves, tão gentis, a lembravam de como
ela havia se tornado desequilibrada. Mesmo que ela fosse capaz de se vestir
adequadamente e comer suas refeições e dirigir seu carro sem desastres,

360
ela era o caos mal refreado, o trem de pouso de todos os seus
aparentemente ok, na verdade, dez mil volts de merda na cabeça.

— Vai ficar tudo bem, —disse ela ao irmão enquanto amassava a bolsa
vazia e gotejante.

Alcançando a próxima, ela rasgou sua pele de plástico e então


percebeu que tinha se esquecido de batê-lo no chão primeiro. Era um
pedaço sólido e congelado.

— Maldição.

Pegando uma toalha da prateleira, ela embrulhou a bolsa e bateu a


coisa no tapete do banheiro algumas vezes, quebrando por dentro perto
demais para seu conforto.

Agora, porém, os pedaços estavam derramados.

Quando ela terminou de reabastecer a coisa, ela se sentou nos


calcanhares e apoiou as mãos na borda lisa da banheira. Olhando para o
rosto de seu irmão através dos bocados de gelo, ela não conseguia
reconhecer suas feições. Mas ela não tinha certeza se o faria de qualquer
maneira.

Já fazia muito tempo que ela não o olhava bem nos olhos, e não
porque ele havia morrido.

361
— Eu sinto muito, —ela resmungou. — Eu não queria ... naquela
noite em que você saiu, eu não queria gritar com você. Eu realmente não
queria.

Não houve resposta voltando para ela. Que não era assim que as
coisas eram. Antes de Rhoger ter partido naquela noite e não voltar para
casa, eles brigavam constantemente.

Por causa de coisas tão insignificantes—ou assim parecia agora.

Deus, ela gostaria de ter sido mais paciente. Ou talvez não ter cavado
tão fundo com as críticas. Talvez se ela não tivesse sido tão dura com ele,
ele tivesse ficado em casa naquela noite.

Talvez ...

Ela pensou no feitiço de convocação. E tudo o que Tallah disse que o


Livro faria por ela.

Sim, ela queria trazer Rhoger de volta. Mas a verdade era, que era seu
erro que ela queria retificar. Ela havia iniciado a espiral descendente que
culminou na morte trágica dele: depois daquela briga particularmente
brutal, ele saiu como um furacão ... e então cruzou o caminho de seu
assassino em algum ponto.

362
Com uma maldição, ela se lembrou daqueles dias terríveis de espera,
sentada na cadeira dura da cozinha, orando por uma ligação dele. E então
as noites, tentando trabalhar em sua mesa, preparada para que a porta se
abrisse quando ele voltasse para casa.

O último aconteceu, eventualmente ... quase duas semanas depois de


seu desaparecimento. Ela cheirou o sangue fresco primeiro, e então ouviu
os pés tropeçando. Correndo para fora de seu quarto, ela veio para o
corredor assim que ele desabou dentro da porta da frente, seus membros
soltos e torso fora de junta a coisa mais aterrorizante que ela já tinha visto.

— Rhoger, —ela sussurrou.

Se ele não tivesse voltado para casa para morrer aqui? Ela nunca o
teria encontrado. Ela teria passado o resto de sua vida ouvindo pela porta,
presa a esta casa porque era onde ele saberia encontrá-la, concebendo,
imaginando e torturando-se com milhares de resultados ruins diferentes.

— Eu vou consertar isso, —ela disse a ele. — Eu prometo.

Ficando de pé, ela gemeu quando todos os músculos de seu corpo


doeram—exceto que não era verdade. Era apenas a parte superior do
braço que doía e, por um momento, ela não conseguiu descobrir o porque.

Então ela se lembrou de estar na porta da cabana. Com Sahvage.


Atirando em uma sombra.

363
— Eu volto amanhã à noite, —disse ela a Rhoger. — Eu tenho que ter
certeza de que Tallah está bem. É ... uma longa história.

O fato de que ela fez uma pausa para a resposta dele a fez se sentir
realmente desequilibrada. Então ela foi para seu quarto e rapidamente fez
uma mala para o dia. A verdade era que ela mal podia esperar para sair de
casa—o que a fez se sentir culpada. Mas, pelo amor de Deus, não era como
se Rhoger soubesse que ela o estava deixando sozinho. Além disso, era
melhor para ela não ficar perto do corpo. Se outra daquelas sombras
aparecesse?

Se ela não o tivesse intacto, ela não sabia o que diabos ela estava
ressuscitando.

Santo inferno, que tipo de vida ela estava vivendo.

Lá fora na garagem, ela respirou fundo ...

O cheiro de carne estragada colocou sua paranoia de volta no banco


do motorista: era uma legião de mortos-vivos vindo atrás dela? Querido
Deus, por que ela disse a uma arma como Sahvage para ir embora? Ela
estava totalmente indefesa ...

A cabeça de Mae girou. Para a lata de lixo rolante no canto.

— É quinta-feira, —ela murmurou. — É dia de lixo.

364
Ao contrário do apocalipse zumbi .

Indo para o Civic, ela jogou sua mochila de lona na parte de trás junto
com sua bolsa. Então ela bateu no controle remoto da porta da garagem e
marchou até o cilindro. Conforme os painéis subiam, ela inclinou o peso
e começou a puxar ...

Diretamente do lado de fora da garagem, havia dois pares de pernas.

Eles estavam frente a frente. Ou bota contra stilettos, como era o caso.

Ela reconheceu o primeiro. Essas eram as calças cargo e os calçados


de Sahvage. Mas a mulher?

Enquanto a porta continuava a subir, Mae prestou muita atenção ao


que foi revelado no lado do sexo frágil das coisas: muita perna. Saia
minúscula. Perfeito quadril-cintura-para ... uau, isso era um inferno de um
busto. Cabelo castanho comprido.

E um perfil que implorava por um close-up.

Okay, então ela estava errada. Sahvage não pertencia a um daqueles


tipos raves de volta ao estacionamento. Isto era o que ele precisava. A
fêmea era um espécime tão impressionante quanto ele, o extremamente

Apocalipse zumbi (pt-BR) ou apocalipse zombie (pt-PT) é um cenário apocalíptico hipotético popular na ficção científica e no terror. No geral,
é definido como uma infestação de zumbis em escala catastrófica, levando todas as sociedades ao colapso, e que rapidamente transformaria esta
criatura no ser dominante sobre a Terra. Tais criaturas, hostis à vida humana, atacariam a civilização em proporções esmagadoras, impossíveis de
serem controladas por forças militares, mesmo com os recursos atuais à disposição.

365
feminino equilibrado com o extremamente masculino. E seus corpos se
encaixariam perfeitamente juntos.

O fato de Mae ter um pouco de ciúme era uma loucura.

E o que diabos o casal feliz estava fazendo em frente a sua garagem?

Quando ela estava prestes a trazer à tona as leis de invasão do estado


de Nova York, a cabeça de Sahvage girou em sua direção.

Ele não disse uma palavra. Mas seus olhos estavam comunicando um
aviso claro.

E então a mulher olhou em sua direção.

— Olá, —a morena disse em uma voz que era parte Sophia Loren ,
parte Juíza Judy . — É tãããão bom conhecê-la.

Enquanto ela falava, Sahvage não se mexeu. Não estava nem claro se
ele estava respirando. Mas aqueles olhos dele. Tão intensos, eles nem
piscaram.

Sophia Loren é uma atriz e cantora italiana. Começou sua carreira no cinema em 1950; desde os 15 anos apareceu em vários
papéis menores, até ser contratada para cinco filmes pela Paramount Pictures, em 1956. Isso lhe permitiu lançar- se, com sucesso em uma carreira
internacional.

Judith Sheindlin é advogada, juíza, autora e personalidade televisiva estadunidense. É famosa por apresentar um programa
de televisão onde atua como juiza em casos de civis sob a lei norte-americana.

366
Enquanto isso, o olhar cintilante da mulher desceu pelo corpo de Mae.

— Você sabe, tenho certeza de que você está bem e boa—e que sua
mãe a ama. Mas estou realmente surpresa que ele esteja arriscando a
própria vida para salvar gente como você. —Ela colocou as palmas das
mãos para frente como se quisesse tranquilizá-la. — Sem ofensa, quero
dizer, só acho que a honestidade é a melhor política, não é? E você não é
exatamente o que eu esperava.

Sahvage olhou para baixo. Mas não porque ele estava sendo
chamado. Ele estava se concentrando em algo.

Enviando uma mensagem.

Mae deixou a mulher continuar a falar enquanto tentava descobrir o


que ele a estava dizendo—espere, aquilo era um recipiente de sal no
gramado lateral?

A mulher caminhou até a beira da laje de concreto da garagem.

— De qualquer forma, chega de conversa fiada. Estou pensando em


comprar um lugar neste bairro. —Ela indicou sua fabulosidade, passando
a mão por suas curvas. — Você pode me agradecer por melhorar os valores
de sua propriedade posteriormente. Mas agora, que tal você me dar um
tour por essa sua pequena e incrível morada? Estou morrendo de vontade
de ver o que você fez com a cozinha. Tom de ouro com laranja, certo?

367
Com porta-plantas de macramé e toalha da cor de abacate. Quer dizer,
você parece alguém que atingiu o pico no final dos anos setenta, início dos
anos oitenta. Supondo que professora da segunda série seja, tipo, um estilo
ou uma época.

O sorriso era um estudo de condescendência.

E quando Mae olhou para o rosto de Sahvage, a mulher ergueu as


mãos.

— Oh, você vai parar de se preocupar com ele? Tudo bem, sim, vou
foder com ele, mas garanto a você, isso não significará nada do meu lado,
então não ameaçará seu relacionamento—bem, até que ele se mate. Isso
não vai ser minha culpa, no entanto. Além disso, acredite na minha
palavra nisso, ele é uma má aposta para qualquer coisa a longo prazo.
Você nunca deve confiar no que não pode controlar. Algo me diz que você
já sabe disso, não é?

Mae se concentrou corretamente na mulher.

E com uma voz lenta e clara, ela disse:

— Você não é bem-vinda aqui. Eu não te recebo em minha casa.


Agora e nunca.

O olhar negro da mulher se estreitou.

368
— Acho que você está enganada.

Sahvage deu três passos à frente e cruzou para a laje de concreto.


Enfrentando a fêmea, ele ficou em silêncio e ficou parado novamente.

A expressão no rosto da rara beleza mudou, seus cílios baixando sobre


os olhos que agora brilhavam de raiva.

— Oh, seus filhos da puta, —disse ela em voz baixa. — Você não é tão
inteligente, nenhum de vocês. E os truques de salão não vão me manter
longe. Eu estou em todos os lugares.

Recuando, Sahvage estendeu o braço e apertou o botão para fechar a


porta da garagem.

Quando os painéis começaram a fechar, a mulher rosnou no fundo da


garganta, como um predador.

— Vocês vão me ver de novo em breve, —disse ela. — Isso é uma


promessa.

369
Batidas.
Muitas batidas na porta do quarto de Balz.

Quando suas pálpebras pesadas se levantaram, ele não conseguia


descobrir por que diabos alguém o estava acordando no meio do dia.

Ele estava dormindo, porra. — O quê, —ele retrucou.

Com seu amável convite, a porta se abriu e enviou por via aérea para
ele um raio de luz do corredor que era como ficar com ferrugem na íris.
Com um silvo, ele se tornou um Drácula clássico, colocando o antebraço
sobre o rosto e se erguendo para trás.

— Como você ainda está na cama?

Syphon, de volta. É claro. O filho da puta mãe galinha era um


despertador que funcionava com vitaminas orgânicas sem glúten, shakes
de amêndoa e mingau orgânico.

370
Nessa nota, se ao menos houvesse um saco de Doritos para jogar no
cara. Ou qualquer coisa que tivesse merda Vermelho allura AC ou
OGM na lista de ingredientes.

— Sim, eu ainda estou na maldita cama, —ele atirou de volta. — É


quase uma da tarde. A questão é por que você não está ...

— É meia-noite. —Quando Balz não respondeu, o desgraçado disse


olá. — Meio-dia, tipo, uma dúzia de bongos do relógio do avô no ...

— Eu sei contar.

— Você sabe?

Balz estendeu a mão para a mesa de cabeceira. Agarrando seu Galaxy


S21, ele verificou a hora, pronto para jogar a hora de volta na cara de seu
primo ...

12h07 a.m

Sentando-se, ele afastou o cabelo do rosto, embora o tivesse cortado


recentemente e não houvesse nada em seus olhos. Com certeza, ao lado

Allura Red AC é um corante azo vermelho que tem vários nomes, incluindo FD&C Red 40. É usado como corante alimentar e possui o número
E E129. Geralmente é fornecido como seu sal de sódio vermelho, mas também pode ser usado como sais de cálcio e potássio. Esses sais s ão solúveis
em água. Em solução, sua absorbância máxima fica em cerca de 504 nm.
OGM é a sigla de Organismos Geneticamente Modificados, organismos manipulados geneticamente de modo a favorecer características
desejadas, como a cor, tamanho, etc. Os OGMs possuem alteração em trechos do genoma realizadas através da tecnologia do RNA/D NA
recombinante ou engenharia genética.

371
de onde seu telefone estivera, havia aquela caneca de viagem e o croissant
que ainda estava embrulhado em um pano de prato.

Jesus. Ele dormiu como se tivesse levado um soco na cabeça. E sem


sonhos com sua fêmea.

As luzes acima se acenderam quando Syphon ligou o interruptor, e


então o lutador disse as palavras que todos os Irmãos e bastardos temiam
como a segunda vinda do Ômega.

— Eu chamei Doc Jane.

— O que? —Balz tentou não gritar. — Por quê? Estou perfeitamente


bem ...

— Você foi eletrocutado.

Balz franziu a testa porque não podia ter ouvido direito. Quando seu
primo apenas olhou para ele com expectativa, como se o bastardo tivesse
acabado de provar o fato de que os porcos podem voar, era óbvio que a
verdadeira lógica teria que ser explicada.

Onde estava um quadro branco e um marcador quando você precisava


deles?

— Em dezembro. —Balz se indicou. — E caso você não tenha notado,


eu não brilho no escuro.

372
— E você acha que isso significa que está bem.

— Eu acho que isso me desqualifica como uma luz noturna. E ser um


paciente da Doc Jane quatro meses atrás ...

— Alguém disse meu nome? —A boa doutora, e a shellan de V, enfiou


a cabeça pelo batente da porta. — Como nós estamos?

Balz gemeu e caiu para trás contra os travesseiros.

— Alguém pode me explicar por que os médicos usam o “nós”


quando estão falando com pessoas que pensam estar doentes? Quem é este
“nós”?

A fêmea loira passou por Syphon e deu um tapinha no ombro do


bastardo—o que era o sinal universal de que Nós estamos bem, obrigada.

— Concordo, —murmurou Balz. — Você pode ir, primo.

— Vocês dois são tão fofos. —Syphon marchou e estacionou na


cadeira perto da escrivaninha. — Realmente. É fofo.

Tendo claramente perdido aquela luta, Balz se concentrou na Doc


Jane e sacudiu seu chapéu mental cheio de desculpas, não se importando
realmente com o que saísse. E enquanto ela pacientemente olhava para
ele, era difícil ficar frustrado com ela. Com seu cabelo loiro curto e seu
olhar verde nivelado, ela parecia o tipo de pessoa que poderia tratar

373
qualquer coisa, desde uma unha a uma aorta rompida, com competência,
compaixão e calma.

E ela realmente precisava levar todo esse conhecimento para outro


lugar, para alguém que realmente precisasse.

— Então, eu entendo que você está cansado, —disse ela enquanto se


sentava na beira da cama.

— Desta visita? Sim, e ainda não começamos, não é? —Ele praguejou.


— Desculpe, sem ofensa.

— Nenhuma tomada. —Ela se inclinou. — Você não acreditaria no


que os pacientes já me disseram ao longo dos anos.

— Só não diga ao seu hellren. Gosto dos meus braços e pernas


exatamente onde estão.

— Seu segredo está seguro comigo. —Ela sorriu para ele. — Agora
me diga o que está acontecendo.

— Nada. —Ele olhou para Syphon. — Eu juro—não, espere. Estou


sofrendo de primo-itis. Você pode remover esse tumor ruidoso e maligno
para mim? Tenho achado isso muito irritante ultimamente ...

— Ele perdeu uma reunião da Irmandade. —Syphon olhou para a


médica. — Ele nunca fez isso.

374
— Eu adormeci!

Syphon revirou os olhos.

— Até a meia noite? E, na verdade, você perdeu duas reuniões, não é


...

— Está bem, está bem. —Doc Jane fez movimentos de acalmar os


garotos com as mãos. — Que tal eu fazer um exame rápido? Se os sinais
vitais estiverem bons e não houver febre nem nada, vamos encerrar o caso.

— Excelente. —Balz olhou furioso para o primo enquanto tirava a


camiseta. — E escute, Doc, depois que você terminar de certificar que
estou perfeitamente bem, vou baixar e fazer trezentos para este idiota, só
para ele ter certeza de que estou bem.

Syphon acenou com a cabeça.

— Vou contá-los para que você não precise fazer isso.

Doc Jane pegou seu estetoscópio de sua temida maleta preta.

— Isso não vai demorar muito ...

Estetoscópio, é um instrumento utilizado por diversos profissionais, como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros,
nutricionistas e veterinários, para amplificar sons corporais de humanos ou animais. É geralmente constituído de um ressonador em forma de disco
e dois tubos conectados a olivas auriculares.

375
— A menos que você encontre algo, —Syphon interrompeu.

Balz enrolou a camiseta e acertou o bastardo na cabeça com ela.

— Você é como a GE , você dá vida a coisas boas. Quando você cala


a boca.

— Ele foi eletrocutado, você sabe. —Syphon tirou o logotipo [adult


swim] do seu rosto. — Quero dizer, ele estava morto ...

— Ela me tratou! E isso foi há meses atrás ...

— Rapazes. Por favor.

Enquanto Syphon jogava a camiseta para o lado e Balz tentava


parecer que não estava de mau humor, Doc Jane colocou o estetoscópio
nos ouvidos e entrou com o disco.

— Respire fundo para mim, —disse ela. — Bom. E de novo?

Ela moveu o receptor ao redor de seus peitorais. Então ela o colocou


no centro. — Apenas respire normalmente agora.

Depois de um momento, Doc Jane se endireitou dele. — Parece


bom—eu só vou ouvir lá atrás também.

General Electric ‘GE’ é um conglomerado multinacional de Nova York e sediado em Boston, Massachusetts, Estados Unidos.

376
Balz se inclinou para frente para que ela pudesse fazer o que fosse
necessário—e resistiu ao impulso de mostrar a língua para Syphon. Porque
isso era totalmente imaturo.

Então ele mostrou ao filho da puta os dois dedos do meio ...

Doc Jane olhou duas vezes e puxou os plugues de seus ouvidos. —


Como isso aconteceu?

Quando Syphon se inclinou para frente abruptamente, como se


estivesse pronto para ser chamado para ajudar com um código, Balz olhou
por cima.

— Como o que aconteceu?

— Esses arranhões. Eles estão em todas as suas costas, como se


alguém tivesse agarrado você enquanto você estava—oh ...

Enquanto a médica corava, uma sensação de mau presságio fez Balz


jogar as cobertas de lado e entrar no banheiro. Não havia razão para
acender mais luzes. Aquela luminária suspensa no quarto lançava bastante
...

Que. O. Porra.

Enquanto ele mostrava sua coluna ao espelho e sobre as pias, ele viu
uma carga de longas listras que haviam sido rasgadas em sua pele em

377
ambos os lados de seus ombros, sua caixa torácica ... e logo acima de sua
bunda.

Bem, pelo menos ele sabia por que Doc Jane, a médica imperturbável,
tinha dado a ele um “oh”. Havia apenas uma razão pela qual marcas como
essas estariam em um macho—e não tinha nada a ver com ele ter um
problema médico.

Muito pelo contrário.

Quando ele saiu do banheiro, Doc Jane estava fechando sua maleta
preta e se levantando.

— Acho que estamos bem aqui, não estamos?

Balz cruzou os braços sobre o peito.

— Como eu disse, estou bem. Eu só estava cansado.

Ele olhou diretamente para Syphon.

— Mas me ligue se precisar de mim, okay? —Doc Jane abriu a porta


para o corredor. — Promete?

— Eu prometo. —Balz sorriu para ela. — E obrigado. Lamento que o


Sr. Botão de Pânico aqui tenha se precipitado.

378
— Sem problemas. —Doc Jane acenou para os dois. — Estou sempre
aqui e prefiro que você me chame por nada do que não me ligue.

Quando a porta se fechou, Balz olhou para o primo.

— Agora você entende por que eu preciso dormir um pouco?

Syphon colocou as palmas das mãos para cima como se alguém


tivesse uma arma carregada entre as suas omoplatas.

— Claramente, eu estava errado. Peço desculpas.

— Você está perdoado.

— Entãoooooooooooooooo, me diga quem é a fêmea. E você pode


compartilhar?

Não, ele nunca estaria compartilhando sua morena. Com qualquer


pessoa. Nunca. — Ela não é uma de nós. —Ele deu um pshaw com a mão
da adaga. — Era apenas a esposa de um cara que visitei ontem à noite. Ela
estava toda sozinha quando não devia, e eu cuidei dela.

— Uma foda de pena? Não é o seu estilo.

— Oh, não foi uma tarefa árdua, acredite em mim. —Balz encolheu
os ombros. — Ela só precisava de alguém para fazê-la se sentir bonita
novamente.

379
— E você obviamente obedeceu. Váaaarias vezes. Estou com inveja.
—Syphon bateu palmas nas coxas e se levantou. — O que é claramente
porque um cara precisaria de alguns zzZZzz's extras e perderia algumas ...

— Então, sobre o que foi a reunião da Irmandade? —Perguntou Balz.

Quando a pergunta foi respondida, seus ouvidos falharam, e foi um


alívio por muitos motivos quando seu primo foi embora.

No segundo que ele ficou sozinho novamente, ele voltou para o


banheiro. Olhando-se no espelho, ele pensou sobre o tempo que passou
com a Sra. no Commodore. Ele a tratou como a rainha que ela era,
adorando-a com suas mãos, sua boca, sua língua. Muito do sexo não tinha
sido registrado com nenhuma especificidade, mas ele sabia de uma coisa
com maldita certeza.

Virando as costas para o espelho novamente, ele olhou para os


arranhões.

A Sra. não tinha unhas compridas.

Mas os sonhos não deixavam marcas de amor ...

Certo?

380
Quando a porta da garagem fechou, Mae se virou para Sahvage, ciente
de que suas pernas tremiam e ela não conseguia respirar direito. E quando
os olhos dele se voltaram para ela, ela se moveu antes de ter um
pensamento consciente.

Ela correu e jogou os braços ao redor dele.

— Estou tão feliz por você estar aqui ...

— Graças a Deus você não a convidou para entrar, —ele disse


asperamente enquanto a segurava com força. — Você fez a coisa certa. Ela
não pode chegar até você agora porque salguei as entradas.

O fato de que ele estremeceu foi um choque—mas então a palma larga


dele embalou a parte de trás da cabeça dela, e tudo que ela conseguia
pensar era no calor e proteção que ele oferecia.

Fechando os olhos com força, ela sussurrou:

— Quem era?

— Eu não sei.

381
Mae se afastou.

— Ela era mesmo ... ela não era uma vampira. E eu não acho que ela
seja humana, não é?

— Ela não é deste mundo. Isso é tudo que eu sei.

Ok, foi uma loucura sentir alívio que aquela ... coisa ... não era
namorada dele?

Enquanto Mae lutava contra algumas emoções seriamente estúpidas,


dada a situação, a mandíbula de Sahvage ficou dura.

— E antes que você suba em mim por segui-la, eu simplesmente não


poderia deixá-la desprotegida. A única razão pela qual vim aqui foi para
selar a casa. É isso. Juro.

Mae se afastou e acabou vagando até a lixeira. Mas não havia


nenhuma maneira no inferno que ela iria tirá-la agora.

— Eu nunca deveria ter feito aquele feitiço de convocação. —Ela


olhou para ele. — Foi um grande erro. Mas eu não sabia mais o que fazer.
Eu ainda não sei.

Sahvage balançou a cabeça.

382
— Deixe Tallah ir. Isso é o que você tem que fazer. Ame-a enquanto
você a tem ... e, em seguida, libere-a para viajar até o Fade quando chegar
a sua hora.

— Eu não posso fazer isso. —Ela colocou o rosto nas mãos. — Você
não entende. Eu serei ... Eu nunca vou me perdoar.

— A morte não é algo que você controla, a menos que seja um


assassino. Confie em mim. E perda ... Mae, a perda é algo que acontece
com todos nós. Você não pode fugir disso, você não pode se esquivar ... e
você com certeza não pode pará-la.

Mae baixou as palmas das mãos.

— Você não entende.

— Eu entendo. Eu prometo a você, eu entendo.

Os olhos dele estavam graves. E mais do que isso, eles estavam cheios
de dor.

— Quem você perdeu? —Ela sussurrou.

Quando ele não respondeu imediatamente, ela percebeu que ele não
iria. Mas então sua voz, áspera e baixa, cruzou o espaço entre eles.

— Eu mesmo. E diga o que quiser sobre o luto por outras pessoas, não
é nada comparado a lamentar a perda de seu próprio maldito eu.

383
Deus, ela sabia tudo sobre isso. Ela também estava sentindo falta de
si mesma ... a velha Mae, que voltava para a casa para uma família no
amanhecer, que se preocupava com coisas como o que ela teria para a
Primeira Refeição e se ela conseguiria uma promoção no trabalho, que
realmente dormia durante o dia.

— Eu sinto muito, —ela disse. — O que aconteceu?

— Não é importante. Tudo o que importa agora é que você pare com
essa coisa do Livro. Nada de bom está saindo disso.

Virando-se para a porta do corredor dos fundos, ela imaginou Rhoger.


Naquela banheira. Com o gelo.

— Não, eu preciso do Livro. —A voz dela sumiu no silêncio. — O


Livro é a resposta.

E, no entanto, mesmo enquanto dizia as palavras, ela estava perdendo


a convicção. Na verdade, a única coisa que a mantinha presa no caminho
em que estivera nas últimas duas semanas ... era que ela não tinha outras
soluções.

Exceto aquela que ela não aguentava.

— Vou encontrar o Livro e tudo vai ficar bem. Eu vou fazer isso ficar
bem.

384
Quando Sahvage não comentou, ela olhou por cima do ombro. Ele
parecia exausto, positivamente dominado pelo cansaço.

Mae correu de volta para ele.

— E quanto àquela mulher, ou o que quer que ela fosse—ela tinha


uma sombra ao seu redor, tipo ... um halo de escuridão. Exatamente como
do que aquela entidade sombria foi feita. Então, se podemos atirar
naquilo, podemos atirar nela.

Oh, Deus, o que ela estava dizendo?

Sahvage parecia precisar de um momento para se reagrupar. Em


seguida, ele esfregou o cabelo curto no topo da cabeça.

— Você tem uma arma que sabe usar?

— Não, mas eu posso conseguir uma. —Mae começou a falar cada


vez mais rápido. — E eu preciso ir para Tallah agora e colocar sal em suas
portas ...

— Eu selei a cabana também. Antes de eu sair. Ela está segura.

— Graças a Deus. —Mae ficou tonta de alívio. — Mas como você


sabia o que fazer? Com o sal?

— Eu não tinha certeza se funcionaria. De volta ao Velho País, minha


prima costumava fazer isso em nossa casa, para manter o mal fora. Achei

385
que ela estava maluca, mas não sei ... depois que aquela sombra apareceu?
Parecia uma maldita boa ideia. —Ele olhou para as portas fechadas da
garagem. — Eu não sei, porra. Minha cabeça está uma bagunça fodida ...

— Obrigado por ter voltado.

Os olhos de Sahvage voltaram para os dela—e a surpresa em seu rosto


sugeria que gratidão era a última coisa que ele esperava que saísse de sua
boca.

— Eu estou tão agradecida. —Ela pensou em Rhoger. — Eu não sei


o que teria acontecido se você não tivesse vindo para me ajudar.

— Tudo bem. Não é nada ...

— Ajude-me a encontrar o Livro.

Sahvage abriu a boca. Fechou.

— Por favor, —disse ela. — Eu sei que não tenho sido fácil de lidar, e
peço desculpas. Vou melhorar, eu prometo. Mas a realidade é ... eu preciso
de sua ajuda. Você estava certo. Eu estava errada.

Quando ele desviou o olhar e ficou em silêncio, ela balançou a cabeça.

— Você foi para aquela cabana esta noite para me ajudar, e agora você
não vai? Depois que você me seguiu até aqui também?

386
Ele cruzou os braços sobre o peito.

— Você me acusou de ser um perigo para você, lembra? E você acha


que estou com muita pressa de bancar o bom samaritano só porque você
teve uma revelação de ir até Jesus.

— Para o que vale, —disse ela secamente, — eu não acho que você
seja Jesus.

— E eu posso estar além da minha cabeça também. Eu não sou uma


solução mágica para isso. —Ele acenou com a cabeça para a porta fechada
da garagem. — Estamos enfrentando uma merda que eu nunca vi antes.

— Mas você sabia sobre o sal. E você sabe sobre outras coisas, não é?
—Ela respirou fundo. — Porque você é um membro da Irmandade da
Adaga Negra, não é?

O rosto de Sahvage congelou em uma máscara absoluta.

— Não. Eu não sou.

— Eu vi a cicatriz em forma de estrela em seu peitoral. Depois que


você tirou a camisa. Eu não coloquei tudo junto na hora, mas é isso que a
marcação é, não é? —Ela não ficou surpresa quando ele não fez nenhum
comentário. — Meu irmão costumava estudar a Irmandade. Ele me

387
contou sobre a escarificação que todo Irmão tem. Achei que fosse parte
dos seus ferimentos, mas não é. E seu nome também se encaixa ...

— Eu não sou um membro da Irmandade.

— Não vejo por que você não pode admitir.

— Fácil. Porque não é verdade. —Ele encolheu os ombros. — Não


estou mentindo para você e, além disso, depois daquele ataque da sombra,
você não acha que eu teria chamado reforços se os tivesse?

Mae fechou a boca. Em seguida, disse:

— Você está dentro ou fora comigo.

Ele ficou em silêncio por um longo tempo e, embora seus olhos


estivessem nela, ela tinha a sensação de que ele não a estava vendo.

No momento em que ela estava murchando, pois tinha a sensação de


que havia cometido muitos erros com ele, ele disse rispidamente:

— Estou dentro.

— Graças a Deus ...

— Com uma condição.

Mae estreitou os olhos e se perguntou o quão longe ele iria. — E o que


exatamente é isso?

388
— Você tem certeza de que não podemos pegar nada para você de onde
você estava?

Quando Rhage fez a oferta para a fêmea no manto com capuz, Nate
estava pronto para se voluntariar para aquela viagem, onde quer que o
levasse. Atravessar o estado? Sim, claro, tudo bem. Atravessar o país? Sim,
claro, qualquer coisa. O único problema? Ele tinha a sensação de que Elyn
não tinha nada para pegar. Ou nenhum lugar seguro para pegar nada.

— Não, obrigada, —ela disse suavemente com aquele lindo sotaque.

Elyn estava sentada em um sofá que era tão novo que as almofadas
ainda estavam no plástico—e ela estava tão contida quanto aquelas
almofadas ainda embaladas. Com as costas perfeitamente retas e as pernas
cruzadas nos tornozelos, e as mãos unidas no colo, ela era uma fêmea tão
apropriada quanto qualquer outra na glymera, sua postura transformando
aquele manto áspero em um vestido de baile.

389
Ah, e seu cabelo não era loiro. Na luz verdadeira, era branco como a
neve, sem qualquer pigmento, as pontas longas se curvando naturalmente
à medida que saíam dos limites do capuz.

— Estou muito feliz que você venha ficar conosco no Lugar Seguro
hoje. —A Sra. Mary olhou para a assistente social e olhou para Elyn. —
E então eu acho que a Casa Luchas irá atender às suas necessidades. Só
precisamos de mais vinte e quatro horas para ajeitar as coisas e estaremos
prontos para você.

— Obrigada, —disse Elyn. — Vocês têm sido muito generosos com


uma estranha.

— Você não é uma estranha. —A Sra. Mary balançou a cabeça. —


Nós cuidamos das pessoas na raça que precisam de ajuda.

— Eu não sei como vou te pagar de volta.

— Você não precisa se preocupar com isso.

Bem, Nate com certeza teria se oferecido para entregar seu salário. E
ele decidiu que uma boa vantagem em estar à margem desta conversa era
que ele tinha uma desculpa para olhar para Elyn sem parecer estranho. A
coisa não tão quente? Ele estudou suas expressões durante a última meia
hora, e ele sabia que ela não estava acreditando neste plano de habitação
tanto quanto a Sra. Mary pensava.

390
Eles podem conseguir uma noite dela no Lugar Seguro. Mas aqui? Ela
não se sentia confortável com isso, embora ela fosse assegurada de que
sempre haveria assistentes sociais e funcionários por perto: ele sabia pelo
modo como ela não olhava nos olhos da Sra. Mary sempre que o nome da
Casa Luchas aparecia. No momento—e tragicamente—Elyn estava
exausta, com fome e com frio. Mas ela iria fugir amanhã ao anoitecer, e
nenhum deles iria vê-la novamente.

— Então, vamos indo, vamos? —A Sra. Mary disse enquanto se


levantava. — Vou levá-la para o Lugar Seguro—e ei, é noite de biscoitos.

Rhage sorriu para Elyn.

— É sempre noite de biscoitos no Lugar Seguro. Só para você saber.

O Irmão acompanhou sua companheira e a assistente social até a


porta—e quando os três saíram e se agruparam para conversar baixinho
na varanda da frente, Nate teve a sensação de que eles estavam fazendo
isso de propósito, para dar a ele e a Elyn a chance de dizer adeus.

— Você vai ficar bem com eles, —ele disse enquanto olhava para ela.
— Eu prometo a você.

Quando as mãos de Elyn se torceram em seu colo, ele quis segurá-las.


Segurá-la.

391
— Eu lamento ter mentido para você. —Seus olhos prateados
ergueram-se para os dele. — Sobre saber inglês. Mas não sei em quem
confiar.

— Totalmente perdoada. —Ele varreu o ar com a mão. — Esquecido.

A cabeça dela se voltou para a porta da frente.

— Eu acho que talvez eu deva ir agora.

Deus, ele poderia ouvir aquele sotaque por horas.

— Talvez eu te veja de novo ...

— Sim, por favor, —disse ela. Antes de adicionar rapidamente, —


Mas eu não quero ser um fardo ...

— Nunca! —Ele pigarreou. — Quero dizer, você sabe, não se


preocupe com isso. Nunca. Deixe-me dar a você o número do meu celular.

Ele quase saltou sobre o sofá para chegar à cozinha. E quando ele
começou a abrir freneticamente as gavetas, Rhage voltou e tirou um
Sharpie do bolso de sua jaqueta de couro.

A Sharpie é uma empresa fabricante de canetas com sede em Downers Grove, Illinois, Estados Unidos, foi fundada em
1957, atualmente de propriedade da Newell Brands. Uma caneta marcador permanente. PS: aiiinn eu tenhoo aquiii a caneta do Rhange *-*

392
— Aqui, —o Irmão murmurou com um olhar astuto. — E use isso
para escrever, não é perfeito, mas serve.

Nate pegou a embalagem de Tootsie Pop que lhe foi oferecida como
se fosse uma folha de ouro e rabiscou apressadamente seus dígitos. No
caminho de volta para o sofá, ele balançou o papel encerado roxo para
frente e para trás para garantir que a tinta secasse.

Elyn se levantou quando ele se aproximou dela, e ele realmente queria


colocar seus dígitos no fundo do bolso dela, apenas para ter certeza de que
nada seria perdido. Em vez disso, quando ela pegou a embalagem, ele
removeu a folha que ainda estava aninhada em seus cabelos.

Quando ela pareceu assustada, ele corou.

— Desculpe, eu só ... você gostaria de volta?

Idiota. Idiota ...

Exceto que ela não estava olhando para ele.

Em vez disso, ela estava focada em um espelho que havia sido


montado na parede oposta e, enquanto olhava para seu reflexo, parecia
assombrada. Quase com medo.

Um Tootsie Pop é um pirulito de rebuçado recheado com o doce Tootsie Roll com sabor de chocolate. Eles foram inventados em 1931
por um funcionário da The Sweets Company of America. A empresa mudou seu nome para Tootsie Roll Industries em 1969.

393
Como se ela estivesse em transe, ela se aproximou e parou diante do
vidro. Com a mão trêmula, ela tocou o cabelo enrolado para fora do
capuz.

— Você está bem? —Ele disse suavemente.

Os olhos dela encontraram os dele no espelho.

— Não, eu não acredito que eu esteja.

De repente, as lágrimas tremeram em seus cílios. Mas ela as enxugou


e endireitou os ombros.

Pigarreando, ela disse:

— Eu lamento muito ter mentido para você. Eu não sei em quem


confiar.

Nate acenou com a cabeça—e pensou que ela não tinha ideia do que
estava dizendo, nenhuma pista de que estava repetindo coisas.

Abruptamente, ela se afastou de si mesma e olhou para o que ele havia


escrito. Quando as sobrancelhas dela se juntaram, ele se preocupou que os
números estivessem borrados. Eles não estavam—então ele se preocupou
se ela estava repensando em pegá-los.

Pelo menos ela guardou o invólucro em seu manto.

394
Enquanto o vento assobiava lá fora, ele quis dar a ela seu casaco. Mas
é claro, ele não colocou um quando saiu correndo de sua casa.

— Boa noite, Nate, —ela disse enquanto se abaixava em uma breve


reverência.

Nate se curvou, embora não tivesse ideia do que estava fazendo.

— Apenas me ligue. A qualquer momento.

Hoje, ele pensou. Talvez assim que você chegar ao Lugar Seguro.

Antes que ele pudesse dizer qualquer outra coisa—embora, realmente,


o que mais estava lá que não iria fazê-lo parecer mais idiota—ela se foi,
por muito tempo, aquela coisa tipo capa que ela usava atrás dela enquanto
ela saia da casa. Quando a porta se fechou atrás dela, as manchas de lama
na bainha dela grudaram nele, e ele levou um minuto para descobrir o
porquê: ela sabia o que era estar sozinha e com medo.

Acho que isso os tornava almas gêmeas.

— Você está bem, filho? —Rhage perguntou.

Nate ficou surpreso.

— Oh, eu pensei que você tinha ido embora.

395
— Eu vou agora. —O Irmão foi até onde ele estava em uma poltrona.
— Esqueci minha jaqueta e tive que voltar para buscá-la.

Houve uma pausa e ficou claro que o macho mais velho queria dizer
algo. E não sobre o tempo.

— Por favor, não diga ao meu pai ... —Nate murmurou.

— O quê, que você deu a uma fêmea seu número pela primeira vez?
—Enquanto Nate corava, Rhage assentiu. — Não se preocupe. Essa é a
sua história para compartilhar, não a minha. Cuide-se, filho.

Dez minutos depois, Nate ainda estava de pé na sala recém-equipada


quando a porta da frente se abriu novamente e os caras começaram a
entrar com seus macacões e suas ferramentas. Enquanto ele acenava para
a equipe e tentava bancar calma, ele pensou que não havia muito o que
fazer no local—e que pena isso. Considerando que esta era uma extensão
do Lugar Seguro, ele sentia que enquanto Elyn estivesse lá e ele estivesse
aqui, uma conexão entre eles ainda existia.

Sim, ao contrário daquele número de telefone celular, que parecia


muito tênue, e não porque estava em uma embalagem de pirulito. Ela
tinha que escolher usar aqueles números, e o tempo estava se esgotando
antes dela partir ...

— Que diabos está errado com você?

396
Com um sobressalto, ele se virou para Shuli—e sentiu como se não
reconhecesse seu amigo. O que era uma loucura, porque o cara estava
usando o mesmo tipo de polo Izod , suéter de cashmere e shorts cáqui que
ele sempre usava. Ele até tinha um par de Ray-Bans enfiados no decote em
V—como James Spader naquele filme antigo. Linda em roxo ? Qual era
o título?

— Olá? —Shuli acenou com a mão. — Alguém aí?

Distraidamente, os olhos de Nate rastrearam o brilho do relógio


chique no pulso de seu amigo. E porque ele não queria pensar em mais
nada e porque certamente não queria falar sobre todas as coisas que não
queria pensar, ele deixou escapar:

— Por que você trabalha aqui?

— Huh—oh, por que eu estou na equipe? Meu pai acha que o salário
mínimo constrói o caráter.

A Izod (estilizada como IZOD) é uma empresa dos Estados Unidos do ramo têxtil que vende primariamente roupas para homens.
Teve uma longa parceria com a Lacoste entre 1952 e 1993.

James Todd Spader (Boston, 7 de fevereiro de 1960) é um ator americano. Vencedor do Emmy do Primetime de melhor ator
em série dramática e indicado três vezes ao Globo de Ouro, Spader é mais conhecido por seus papéis em filmes como Avengers: Age of Ultron e Sex,
Lies, and Videotape (pelo qual recebeu o Prémio de interpretação masculina no Festival de Cannes) Stargate e Secretary, assim como no pa pel
principal das séries de televisão Boston Legal e The Blacklist.

Pretty in Pink (Brasil: A Garota de Rosa Shocking /Portugal: A Garota do Vestido Cor-de-Rosa) é um filme norte-americano de
1986, do gênero comédia romântica, voltado para adolescentes, porém muitas passagens abordam temas adultos, como o desemprego e o
alcoolismo. É também um retrato das diferenças sociais nos Estados Unidos.

397
— Eu não acho que esteja funcionando.

— Ai—mas você provavelmente está certo. Eu posso ser um idiota às


vezes. E nessa nota, por que você está parecendo que alguém lhe deu um
soco nas bolas?

— Eu não estou. Eu não. Quer dizer, vamos terminar a pintura na


garagem.

Quando Nate começou a andar, Shuli riu e o seguiu.

— Então é por isso que você não está esfregando em uma base regular.
Isso explica muito.

— Que diabos você está falando?

— Sem bolas, sem ereção. Problema resolvido.

— Nem perto, —Nate murmurou.

— Não, sério, é assim que funciona ...

— Por favor, pelo amor de Deus, pare de falar.

— Tipo, sobre bolas? Ou qualquer coisa?

O olhar que Nate lançou por cima do ombro respondeu a essa


pergunta. E enquanto eles entravam na garagem, ele rezou para que Shuli
lhe desse dois minutos para recalibrar. Quando o cara felizmente começou

398
a abrir as latas e organizar os pincéis em silêncio, Nate tentou puxá-lo
junto e olhou para a folha que havia tirado do cabelo de Elyn ...

Franzindo a testa, ele a virou para verificar a parte de trás. E então


virou a coisa para cima novamente.

Quando ele viu pela primeira vez a folha de bordo em seu cabelo,
perto de onde o meteoro havia caído, ela havia secado, marrom, passado
seu ciclo de vida.

A que ele segurava agora era flexível e amarela com pontas vermelhas,
como se tivesse acabado de cair de seu galho outonal.

— O que diabos você está olhando? —Shuli disse. — E se vale de


alguma coisa, se é sua linha de amor, eu estou preocupado com aonde isso
vai levar.

— Não é nada, —Nate murmurou enquanto colocava a folha no


bolso. — Você está pronto para pintar?

A sabedoria coletiva estava errada. Você podia, na verdade, estar em dois


lugares ao mesmo tempo.

399
Enquanto Sahvage estava na frente de Mae dentro de sua garagem,
outra parte dele estava no escuro com aquela outra mulher. Fêmea. Coisa-
que-não-deve-ser-nomeada.

Com a especificidade de um apresentador, ele estava repassando tudo


o que a morena havia dito a ele, como ela era, como se comportara. Era
como procurar minas subterrâneas em um campo, levantando pedras para
ver se havia encontrado todo o perigo.

— Então? —Mae perguntou laconicamente. — Com o que eu tenho


que concordar.

— Me desculpe, o que?

— Vamos ver a sua ressalva.

Se sacudindo de volta ao foco, ele disse:

— Se eu disser para você me deixar, você tem que prometer que o


fará. Quando eu cair, você precisa me deixar onde eu cair e se salvar.

Quando os olhos dela se arregalaram, ele não pôde ajudá-la. Algo


dentro dele estava mais uma vez olhando para o futuro nebuloso ... e
vendo um momento no tempo para ambos em que apenas um ia embora.

Ele a olhou nos olhos.

— Você tem que me deixar quando for preciso. Prometa-me.

400
As sobrancelhas de Mae baixaram com força.

— E se eu recusar?

— Então eu deixo você agora.

— Isso não faz sentido.

— Bem, é assim que vai ser.

Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, mas ele apenas esperou que
ela chegasse a qualquer conclusão que ela chegasse. Isso era inegociável,
e mesmo que ela o irritasse, ele estava feliz por eles terem renegociado—
bem, o que quer que houvesse entre eles.

— Ok. Certo.

Sahvage estendeu a mão da adaga.

— Por sua honra. Jure por isso.

Ela hesitou por um momento. Então ela empurrou a palma da mão


para frente e agarrou a que ele ofereceu a ela com um forte aperto—como
se, em sua cabeça, ela estivesse arrancando seu braço e batendo nele com
algum sentido.

— Diga as palavras, —ele exigiu.

— Eu prometo.

401
Ele acenou com a cabeça uma vez, como se eles tivessem feito um
pacto de sangue. E então ele olhou para o carro dela.

— Deixe isso aqui e vamos nos desmaterializar de volta para a cabana.


Abri a veneziana esquerda da frente no segundo andar. Podemos entrar
dessa forma.

— Você lacrou as janelas do segundo andar também? Com sal?

— O mal só pode entrar em um lugar no andar térreo ou com um


convite.

— E se uma casa não estiver protegida?

— Ela pode andar da maneira que quiser. —Ele esfregou a cabeça


dolorida. — Descer pela chaminé como o Papai Noel se ela quiser. Eu não
sei, porra.

— Vou dizer de novo, graças a Deus você fez o que fez. —Mae foi até
lá e tirou a mochila e a bolsa do carro. — E você tem certeza de que esta
casa é segura.

— Você viu por si mesma. Ela não conseguiu entrar.

— Eu não posso acreditar que isso está acontecendo.

402
Sahvage foi até uma janela traseira. As venezianas diurnas estavam
fechadas e ele soltou os ganchos de travamento para estourar o lacre—mas
garantiu que as coisas permanecessem no lugar.

— Vou levá-la de volta para a cabana, —disse ele, — então vou para
minha casa para pegar mais algumas armas.

— Eu posso ajudar. Eu irei com você ...

— Você precisa ficar com Tallah. Vocês duas devem estar seguras
juntas e eu não vou demorar muito ...

— Posso te perguntar uma coisa?

Ele deu uma olhada. Mae tinha sua bolsa em cima de seu ombro, e
uma mochila de duas alças em seu punho esquerdo. Ela parecia
desgrenhada, seu cabelo despenteado para fora daquele rabo de cavalo,
seus olhos muito brilhantes, suas bochechas muito pálidas. Mas estava
claro que ela não desistiria.

Puta que pariu. Ele sentiria falta dela quando partisse.

— Depende do que você quer saber, —ele disse suavemente.

— Onde você vive? Quem é ... você tem alguém na sua vida?

403
— Não se preocupe. Ninguém vai se perguntar onde estou ou o que
estou fazendo e ficar intrometido. Sua privacidade, e a de Tallah, estão
totalmente asseguradas.

Mae pigarreou. — Eu sinto muito.

— Pelo que?

— Que você está sozinho.

— É intencional, garanto a você ...

— Então é por isso que você está me dizendo para deixá-lo antes
mesmo de começarmos, hein. Mesmo se você estiver ferido. Mesmo se
você estiver ... morrendo.

Tudo que Sahvage pôde fazer foi balançar a cabeça para ela.

— Não jogue o jogo do hipotético.

— Desculpe?

— Eu não estou mudando minha única exigência só porque você está


reafirmando isso para mim, querida. Agora vamos sair, preciso de um
pouco de ar, porra—e sim, acabei de te chamar de querida de novo. Você
quer gritar comigo por isso, guarde a respiração para quando voltarmos
para a cabana.

404
Mae se aproximou dele. Inclinou o queixo para cima. E ...

— Agora não, —ele quase gemeu. — Por favor. Apenas vá e eu a


encontro na casa daquela velha fêmea. Ela é a única com quem você se
preocupa, lembra?

— Você não precisa me lembrar onde estão minhas prioridades.

Com isso, Mae foi embora—e por uma fração de segundo, enquanto
olhava ao redor da garagem, ele entreteve uma fantasia breve e insana de
que ele voltava para casa no final da noite, e ela estava de volta de qualquer
trabalho que ela tivesse feito, e eles sentavam-se frente a frente em uma
mesa de jantar e conversavam sobre as horas que passaram separados.

Nunca vai acontecer, ele pensou enquanto se tornava um fantasma. Por


muitos motivos.

Enquanto ele viajava para fora do subúrbio em uma dispersão, ele


seguiu o eco de seu sangue nela até a cabana—e se reformou dentro do
quarto na frente da casa de campo. Ela já estava lá e indo para as escadas,
a bolsa batendo contra o lado do corpo, a mochila balançando na mão.

— Verificando Tallah? —Ele perguntou.

— O que você acha? —Ela murmurou.

Ou pelo menos ele assumiu que foi o que ela disse.

405
Enquanto a ouvia descer a escada velha e instável, ele chegou a duas
conclusões, nenhuma das quais o confortou: eles iriam precisar de armas
que ela pudesse usar também. E merda, ele gostaria de acreditar na Virgem
Escriba.

Ele poderia ter usado alguém para quem orar.

— Eu já volto, —ele gritou.

Sem resposta. Mas ele não esperava uma.

Ao ouvi-la se mover para baixo no primeiro nível, ele deu a ela a


chance de se livrar do estresse. Então ele a ouviu entrar no porão, o som
de seus passos ficando mais fraco.

Fechando os olhos, ele enviou seus instintos para fora, apenas para se
certificar de que não havia sons, cheiros ou distúrbios estranhos de
qualquer tipo na cabana. Quando nada voltou para ele, ele percebeu que
as coisas estavam tão seguras quanto poderiam estar.

Desnecessário dizer que a viagem de volta para sua casa seria muito
rápida, porra. E merda, ele não achava que tinha poder de fogo suficiente.

Então, novamente, ele poderia ter um lançador de mísseis no pátio e


ainda se sentir como se estivesse carregando uma carga leve.

406
Enquanto Lassiter caminhava pela floresta da montanha da Irmandade,
não foi com arrogância, como se ele fosse o dono do lugar. Em vez disso,
ele escolhia cuidadosamente os locais nas folhas e nos arbustos escarpados
onde poderia colocar com segurança os pés calçados com botas. E ele
constantemente escovava seus ombros, convencido de que coisas estavam
caindo sobre ele de cima. E aquele cheiro doce e natural de pinho? Irritava
a porra das suas narinas.

Com todo o domínio que ele tinha sobre assuntos terrenos, e vampiros
em particular, ele odiava a porra da natureza. Alguma coisa estava sempre
se esgueirando sob sua gola e subindo pela sua espinha. Ou cagando na
sua cabeça. Ou cutucando você no olho. Ou lhe dando raiva.

Mais chuva. Neve. Granizo. O que levava à diversão e aos jogos de


narizes escorrendo como torneiras, dedos dos pés congelados e, oh, sim,
gelo preto que jogava seu carro de cara no tronco de uma árvore.

407
E então, como junho a agosto não queriam perder a oportunidade de
incomodar as pessoas, você tinha um verão muito quente. Portanto, além
de abelhas, vespas e jaquetas amarelas, você tinha suor nas axilas. Atrito.
Sandálias de dedo.

Ele não suportava chinelos, porra. Ninguém nunca precisava ver os


porquinhos de outra pessoa indo para o mercado.

E havia outra parte em tudo isso. Para piorar sua intolerância ao clima
e sua alergia às chamadas maravilhas da natureza? Ele vivia com Vishous.
Que ficava muito feliz em chamar uma pessoa de “maricas” se por acaso
mencionassem o fato de que talvez ficar dentro de casa fosse uma ótima
ideia quando a temperatura estava mais alta ou mais baixa do que vinte e
um graus.

Tanto faz. Coloque esse FDP sarcástico em um mundo cheio de


cartões Hallmark , MLM Hun-bots e hashtags “Salve a Britney ”, e
veja como ele fica ...

O Hallmark Channel é um canal americano de televisão paga de propriedade da Crown Media Holdings, Inc., que por sua vez é
propriedade da Hallmark Cards, Inc.
Um hunbot é tipicamente uma mãe de jovem a meia-idade que afirma ter seu próprio negócio, mas na verdade foi vítima de esquemas de Multi
Level Marketing (MLM). Exemplos dessas empresas são It Works, Younique e Lipsense. O hunbot pode freqüentemente ser visto tentando vender
seus produtos para outras senhoras desavisadas, atraindo-os com o uso frequente da palavra hun.

Britney Jean Spears (McComb, 2 de dezembro de 1981) é uma cantora, compositora, dançarina e atriz norte-americana. Nascida no
Mississippi e criada em Kentwood, no estado de Louisiana, ela iniciou sua carreira artística atuando em papeis em produções teatrais e programas de
televisão durante a infância, antes de assinar um contrato com a Jive Records em 1997. Seu primeiro e segundo álbuns de estúdio, ... Baby One More
Time (1999) e Oops!... I Did It Again (2000), tornaram-se sucessos internacionais, com o primeiro tornando-se o álbum mais vendido por uma artista
solo adolescente.

408
Quando o vento mudou de direção e metade do cabelo na altura do
peito do anjo se espalhou em seu rosto, ele empurro-o para longe e olhou
para o nordeste.

— Juro por Deus, vou colocar uma focinheira em você.

Ciente de que acabara de dizer a uma força da natureza para parar ou


daria um motivo para ela chorar, ele decidiu que talvez apenas fosse
mimado. Seu escritório ficava do Outro Lado, no Santuário. Onde sempre
fazia vinte e um graus sem brisa—e sem carrapatos, vespas ou mosquitos.
Reclusos marrons. Asps .

Vishous.

Falando sobre focinheiras. Tecnicamente, existiam opções para lidar


com aquele Irmão. Na hierarquia das coisas, o verdadeiro fluxograma de
autoridade? Lassiter era o idiota do ápice, acima até mesmo de Wrath. E
não importa o quão irritado isso deixasse V, era o que era: Gravidade. O
nascer e o pôr-do-sol. A supremacia dos toques de guitarra de Eddie Van

O ASPs (de Active Server Pages), também conhecido como ASP Clássico hoje em dia, é uma estrutura de bibliotecas básicas (e não uma l inguagem)
para processamento de linguagens de script no lado servidor para geração de conteúdo dinâmico na Web.

409
Halen , o senso de estilo de Bea Arthur , a média de rebatidas do New
York Yankees ... e o jogo de azar de Lassiter aqui.

Na verdade, ele não dava a mínima para o beisebol. Ele realmente


gostava de mexer com a obsessão de V. pelo Red Sox .

— É como atirar em peixes em um barril, —ele disse para si mesmo.

Enquanto ele considerava novas abordagens para se tornar alto,


sombrio e julgador, a caverna que ele estava procurando veio saudá-lo. O
buraco escarpado na encosta da montanha era absolutamente normal,
nada além de uma fenda em uma veia de granito que estava camuflada
por árvores e arbustos. A menos que você soubesse que estava lá, você
nunca a veria—e esse era o ponto.

Edward Lodewijk Van Halen, mais conhecido como Eddie Van Halen (Nimegue, 26 de janeiro de 1955 – Santa Mônica,
6 de outubro de 2020), foi um guitarrista, compositor e produtor musical estadunidense, nascido nos Países Baixos, cofundador da banda Van Halen.

Beatrice "Bea" Arthur (born Bernice Frankel; May 13, 1922 – April 25, 2009) foi uma atriz norte-americana que ficou
conhecida especialmente por seu trabalho nas séries de TV Maude e The Golden Girls, tendo ganho um prêmio Emmy por cada um destes trabalhos.

O New York Yankees é um time de beisebol da Major League sediado no Bronx, na cidade de Nova York. Mais conhecidos apenas
como "Yankees", estão na Divisão Leste da Liga Americana e tem a distinção de ser uma das franquias mais documentadas do esporte profissional
norte-americano ao longo de seus mais de 100 anos de história.

O Boston Red Sox é um time americano profissional de beisebol, pertencente a divisão Leste da Liga Americana, também formada
por New York Yankees, Baltimore Orioles, Tampa Bay Rays e Toronto Blue Jays. Seu estádio, o Fenway Park, é o mais antigo em operação na Major
League Baseball, fundado em 1912.

410
Escorregando para dentro, ele sentiu um cheiro espinhoso de terra e
mofo—outra grande recomendação para acampar—e na escuridão, ele se
orientou lançando um brilho dourado ao redor do teto baixo ...

Diretamente na frente dele, a apenas um passo-mais-perto-e-teria-


mordido-você, estava um monte de cacos de cerâmica até a altura do quadril
e largo como uma pista de dança.

Os restos da coleção de potes lessers da Irmandade da Adaga Negra.

Pegando uma peça de formato irregular que tinha um esmalte azul,


ele pensou no Ômega. Na Sociedade Lessening. O fim dessa era.

Quantas viagens foram necessárias para limpar a bagunça? Ele se perguntou


enquanto jogava o fragmento para trás e contornava a pilha.

Indo para uma curva sutil na fissura, ele chegou a um conjunto de


portões de ferro que eram cobertos com uma malha luminosa e brilhante.
As barras eram grossas como o pulso de um macho, e a trama fina de aço,
que evitava que os vampiros se desmaterializassem para dentro, tinha sido
soldada. A fechadura era de cobre.

Com um movimento de sua mão, ele jogou a venerável barreira de


lado e entrou em um corredor cheio de tochas que assobiavam e cuspiam
em seus suportes. Os sons de vassouras batendo o levaram para frente, e
logo, a ruína se apresentava. Do chão ao teto, prateleiras feitas de tábuas

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cortadas à mão estavam penduradas em desordem, os comprimentos
quebrados ou quase ausentes, as extremidades irregulares como se algo as
tivesse mordido. À medida que avançava, ele imaginou as coisas como
elas eram antes, os níveis horizontais ajustados com potes de um número
incalculável de diferentes formas, tamanhos e cores. Deve ter havido ...
merda, mil deles? Não, talvez mais. E dentro desses potes? Os corações
dos lessers que a Irmandade havia matado.

Os recipientes eram de todos os séculos, desde os de cerâmica antigos


que eram feitos à mão até coisas baratas e produzidas em massa da
Target .

A coleção existia há tanto tempo, e foi sendo adicionada por tantos


anos, que, como todas as coisas freqüentemente vistas, fora considerada
permanente. O Ômega havia consertado isso. Como uma vespa do final
do verão em seus últimos estertores, o mal tinha chegado para picar uma
última vez, reclamando os corações que ele havia removido durante as
induções para reforçar sua força retardada.

O mal foi finalmente derrotado, no entanto. E agora? Um novo


inimigo havia chegado a Caldwell.

A Target Corporation Inc, mais conhecida como Target, é uma rede de lojas de varejo dos Estados Unidos, fundada em 1902 por
George Draper Dayton sediada em Minneapolis no estado de Minnesota. É a segunda maior rede de lojas de departamento nos Estados Unidos, atrás
do Walmart.

412
Lassiter só podia orar para si mesmo para que o que eles precisavam
para lutar contra o Livro ainda estivesse naquele caixão.

Cerca de quarenta metros abaixo, Butch e Vishous estavam fazendo a


coisa de varrer, os dois vestidos com longos mantos negros, algum tipo de
conversa entre eles.

Sem dúvida, o policial estava tentando acalmar seu colega de quarto


sobre alguma coisa.

Como aquele ex-humano conseguiu viver com um coquetel molotov


como V era um exemplo brilhante de tolerância. — Falando do diabo, —
Lassiter disse a Vishous. — E como vai você, Butch?

— Você nunca bate? —V se curvou para encurralar uma cunha de


destroços em uma pá de lixo portátil com um adesivo do Joe Rogan
Experience .

— Prazer em te ver também. —Lassiter passou vagarosamente. — E


caramba, vocês meninos são úteis com a arrumação. Se eu tivesse um
carro, pediria que limpassem.

The Joe Rogan Experience é um podcast gratuito apresentado pelo comediante e apresentador de televisão americano Joe
Rogan. Foi lançado em 24 de dezembro de 2009, por Rogan e o comediante Brian Redban, que foi produtor e co-apresentador, lugar que, em 2013,
foi ocupado por Jamie Vernon.

413
— Por que você está aqui de novo? —V disse enquanto ele descamava
o pó do rosto de Rogan e em um rolo de lixo Rubbermaid .

— Oh, o mesmo, o mesmo. —Lassiter encolheu os ombros. — Não


te vejo há quase vinte e dois minutos e só queria estar em sua presença.
Você sabe, para me recarregar com todo o calor que você coloca no
mundo.

Quando V se endireitou e olhou através do corredor estreito, Butch


deu um tapinha no ombro de seu companheiro de quarto. — Não, você
não pode acertá-lo com sua vassoura. Nem pense nisso.

— Vou começar a chamá-lo de funcionário do zoológico , V. —Lassiter


piscou e continuou. Então, por cima do ombro, ele acrescentou: — Vejo
vocês no altar, rapazes.

— Eu não cruzaria a estrada para colocar fogo em seu cadáver, —


Vishous anunciou.

Lassiter apontou para o topo de sua cabeça sem se virar.

A Rubbermaid é uma fabricante e distribuidora americana de muitos utensílios domésticos. É uma subsidiária da Newell
Brands. É mais conhecido por produzir recipientes de armazenamento de alimentos e latas de lixo.

Zookeeper em inglês, que também quer dizer zelador, mas ele tá se referindo a ele ao filme Zookeeper (Brasil: O Zelador
Animal /Portugal: O Guarda do Zoo). Pra dar uma cutucada no V. kkk

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— Imortal, lembra?

O sanctum sanctorum da Irmandade da Adaga Negra ficava nas


profundezas da montanha, a vasta caverna subterrânea serviu uma vez
como reservatório para um rio subterrâneo. E lá embaixo, no ponto final
da descida gradual, estava o foco de tudo: um estrado elevado, iluminado
por velas pretas em pilares, sobre o qual um altar de pedra havia sido
colocado para que o antigo crânio do primeiro Irmão pudesse ser
devidamente exibido. Por trás desse precioso artefato? Uma enorme parede
de mármore que foi inscrita com o nome de cada membro da Irmandade,
desde o início ... ao mais recente, John Matthew.

Haveria outros. Não que ele pudesse compartilhar isso.

O destino era, afinal, um tipo de geléia do que você precisa saber.

Lassiter parou diante do crânio, encontrando os vazios negros das


órbitas dos olhos como se estivesse trocando olhares com uma coisa viva.
— Eu gostaria de poder tranquilizá-los, —ele murmurou.

Acontece que, quando você estava no comando, havia coisas que os


funcionários comuns não eram obrigados a saber. E de todas as surpresas
que vieram desde que ele aceitou este trabalho da Virgem Escriba, o maior
choque foi a quantidade de informação que ele não seria capaz de
compartilhar com as pessoas que seriam mais afetadas por ela.

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Evidentemente, saber o resultado às vezes mudava a parte “livre” da
vontade. Por mais que ele odiasse, ele tinha que se calar na maior parte do
tempo ...

Vozes, profundas e distantes, chegaram até ele, e antes que a


Irmandade chegasse, ele deu uma última olhada nas estalactites , nas
velas negras, nas tochas ... no altar, na parede.

Afastando-se do crânio, ele foi ficar ao lado. Momentos depois, as


vozes secaram e foram substituídas pelos sons de botas pesadas se
aproximando e o movimento de tecido pesado.

O primeiro dos mantos negros entrou sozinho. E embora o capuz do


traje cerimonial estivesse levantado e protegendo a maioria das
características faciais, era óbvio que era Wrath—e não por causa da
bengala branca balançando de um lado para o outro. Ele era apenas maior
do que os outros, de maneiras que não tinham nada a ver com o tamanho
físico.

O próximo na fila era Tohr, um ponto de honra ganho em virtude de


ele ser o primeiro tenente da Irmandade. E quando a presença do lutador

Estalactites são formações rochosas sedimentares, mais explicitamente rochas sedimentares quimiogénicas, que se
originam no teto de uma gruta ou caverna, crescendo para baixo, em direção ao chão, pela deposição (precipitação) lenta e contínua de carbonato
de cálcio arrastado pela água que goteja do teto ou que sofre evaporação enquanto ainda no estalactite. Apresentam muito frequentemente u ma
forma tubular ou cônica.

416
foi registrada, Lassiter teve uma memória de encontrar o macho na floresta
e trazer-lhe alguns McDonald's. O viúvo aflito tinha sobrevivido com o
sangue de veado, esperando impacientemente por morrer para que ele
pudesse se juntar a sua shellan e filho por nascer, no Fade.

O destino tinha outros planos para ele, entretanto.

Atrás de Tohr, o resto deles entrou em fila, e os quatro do meio não


estavam de mãos vazias. Ou com os ombros vazios, como era o caso.
Rhage, Vishous, Phury e Zsadist tinham o velho caixão sobre os ombros
e carregavam a responsabilidade com solene honra.

O Irmão Sahvage da Adaga Negra estava de volta em casa, por assim


dizer.

A madeira do caixão tinha escurecido quase ao preto, o painel estava


cheio de rachaduras criadas pelo tempo e salpicado de buracos de
minhoca. Mas as esculturas ainda eram evidentes. Símbolos na Língua
Antiga detalhavam os avisos de todos os lados, e entre as terríveis missivas
estava o nome do Irmão.

No altar, Tohr se curvou diante do crânio. Então ele o pegou e deu a


relíquia para Wrath, o diamante negro do Rei brilhando enquanto ele
aceitava o símbolo sagrado de tudo o que havia acontecido antes.

O caixão foi colocado sobre a laje, ocupando toda a superfície plana.

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Os Irmãos estreitaram seu círculo em torno dele, ficando ombro a
ombro, e enquanto Wrath segurava o crânio sobre sua cabeça, um canto
baixo começou, as vozes dos machos se misturando para se tornarem um
tom, um som, que era amplificado pela acústica da caverna.

Tohr deu um passo à frente, tirando das dobras de seu manto negro
uma cunha de prata e um velho martelo com cabo de madeira.
Encontrando a costura da tampa do caixão, ele enfiou a ponta afiada da
ferramenta com uma série de bam-bambams e, em seguida, repetiu o
processo ao redor, soltando o único plano de madeira que selava a caixa
de mortalidade. O ar que foi liberado sibilou, e a sensação de que algo
iminente estava se aproximando do grupo fez a nuca de Lassiter formigar
em advertência.

Se ele fosse católico, ele teria feito o sinal da cruz. Felizmente, Butch
O'Neal fez isso por todos eles. Ei, nunca machucava prender e segurar com
a coisa de Deus.

Os pregos do caixão eram longos e retangulares, tendo sido forjados à


mão séculos antes, e parecia haver uma centena deles. A cada giro da
cunha, eles protestavam contra a separação que tinham sido chamados ao

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dever de prevenir, os guinchos um lembrete de que eles não apenas eram
bons em seu trabalho, mas já o faziam há muito, muito tempo.

Colocando as ferramentas de volta em seu manto, Tohr acenou com


a cabeça para a linha de Irmãos, e Rhage e Vishous se juntaram a ele, um
na cabeça, um nos pés.

O canto ficou mais alto quando os três Irmãos apertaram os dedos


entre a tampa e o corpo do caixão—e Lassiter pensou que estava feliz por
não ser um filme de John Carpenter .

Os pregos se soltaram em uma série de estalos e o interior foi revelado.

Com uma inclinação sincronizada, a Irmandade se inclinou como se


tivesse os braços dados, e Lassiter fez o mesmo para o lado. Quando seu
coração começou a bater forte, ele disse a si mesmo que havia lhes dado o
conselho certo.

A solução para tudo isso estava ali ...

Todos congelaram, incluindo os três que seguravam a tampa.

— Que porra é essa, —V respirou.

John Howard Carpenter é um realizador, argumentista, produtor, editor e compositor de cinema estadunidense. Apesar
de Carpenter ter trabalhado em vários géneros de cinema, está mais associado aos filmes do género de terror e de ficção científica dos anos de 1970
e 1980.

419
Enquanto Sahvage estava no segundo andar da cabana escutando o
bicho-papão, Mae estava no porão, olhando para a escuridão do quarto de
Tallah. A luz da escada do porão era suficiente para deixá-la ver a velha
fêmea deitada na espreguiçadeira ao lado de sua escrivaninha antiga. Ela
jogou seu corpo frágil sobre as almofadas de seda, um braço sobre a
cabeça, o outro sobre o diafragma. Seus pés naqueles chinelos estavam
estendidos em pontas arqueadas, como se ela fosse uma bailarina prestes
a descer para pousar.

Se ela tivesse voltado à juventude, sua postura teria sido sensual. Em


sua velhice, sua pose parecia tão triste quanto todas as suas mobílias
extravagantes enfiadas nesta casinha decadente: a evidência de que o
melhor de sua vida tinha vindo antes, e o que restava eram apenas resquícios
de glória e juventude, ambos desbotados até o ponto de não retorno.

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— Eu menti para ele, —ela sussurrou. — Eu não poderia contar a ele
sobre ...

Um rangido lá em cima na cozinha fez seus ombros se contraírem de


ansiedade.

Virando-se, ela puxou a barra de sua malha para baixo e foi até a base
dos degraus de madeira. Olhando para Sahvage enquanto ele estava no
topo, ele não era nada além de uma massa iminente, sem rosto, mas não
sem forma, seus músculos esculpindo sua presença na iluminação que
fluía atrás dele.

— Você já saiu? —Ela perguntou baixinho.

— Sim. Estou de volta agora.

Uau, isso foi rápido. — Ela está dormindo.

— Tudo está seguro aqui em cima. E eu tenho ... o que precisamos.

Mae foi cuidadosa na subida, certificando-se de evitar os rangidos nas


tábuas. Quando ela se aproximou de onde ele estava, Sahvage recuou para
lhe dar algum espaço.

Fechando a porta do porão atrás de si, ela olhou ao redor.

— Então ... sim.

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— Não, ainda não há Livros errantes. Em nenhum lugar.

— Não era isso que eu estava pensando.

— Sim, era.

Mae cruzou os braços sobre o peito. — Eu me recuso a discutir sobre


o que está passando pela minha cabeça com um terceiro desinteressado.

As pálpebras de Sahvage diminuíram. — Oh, dificilmente eu estou


desinteressado.

Mae se encostou na porta do porão. Havia a tentação—quase


irresistível—de ir e voltar com ele, mas em vez disso ela girou o ombro
dolorido e ficou quieta.

— O que nós vamos fazer agora? —Ela disse.

— Sentar e esperar.

— Pelo que?

— O que há com esse seu ombro?

— Huh? Oh. —Ela esfregou o nó no músculo com a outra mão. — Eu


estive em um acidente de carro alguns anos atrás. O cinto de segurança
salvou minha vida, mas me pegou bem aqui—e desde então isso fala
comigo.

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— Sente-se, —disse ele enquanto girava uma das cadeiras da mesa. —
Eu vou cuidar disso.

— Não estou procurando ajuda.

— Não, mesmo? —Ele apertou as mãos contra o peito. — Que


reversão. Estou cambaleando aqui. Você, recusando ajuda?

Mae sorriu um pouco. — Você é louco.

— Talvez, mas eu sei o que estou fazendo com lesões no ombro. —


Ele deu um tapinha na cadeira. — Vamos, com o que você está
preocupada? Que eu vá beijar você?

Mae piscou. E pensou: Não, estou preocupada que, se você o fizer, vou pedir-
lhe para fazer de novo. E de novo. E de novo ...

— Não. —Para provar o ponto, ela se aproximou e plantou sua bunda


na frente dele. — Faça o que quiser.

Quando ela estava prestes a qualificar isso com um “ombro apenas”,


ela sentiu sua mão larga e quente deslizar sobre o local em questão.
Preparando-se, ela se preparou para que ele fizesse um movimento de
quiropraxia e a partisse ao meio ...

Quiropraxia ou quiroprática é uma forma de medicina alternativa para o diagnóstico e tratamento de condições do sistema músculo-
esquelético, principalmente da coluna vertebral. Os proponentes alegam que essas condições afetam o estado geral de saúde atr avés do sistema
nervoso.

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— Ohhhhhh ... —ela gemeu enquanto ele massageava a parte superior
de seu braço.

— Estou te machucando?

— Não, isso é incrível.

Ele foi gentil, mas firme, enquanto trabalhava as cordas cheias de


tensão que corriam ao longo de seu pescoço ... e Deus, a forma como o
calor de suas palmas se traduzia em sua pele, seus músculos, seus ossos. E
essa trama de calor não estava contida apenas onde ele estava tocando. A
conexão entre ele e o corpo dela fluía por toda parte, da cabeça aos pés.

A próxima coisa que ela soube foi ela não estava apenas sentada na
cadeira, ela estava relaxando nela. E depois disso, ela percebeu que sua
respiração estava desacelerando e a dor persistente que ela sentia atrás do
olho direito também estava se levantando e saindo—registrando sua
presença por causa de sua ausência repentina.

Tanto estresse nas últimas semanas, enrolando-a cada vez mais forte.
Mas com cada aperto sutil e toque giratório, Sahvage estava tirando isso
dela, dando-lhe uma paz temporária que ela sabia que duraria apenas
enquanto ele a massageasse.

Mas, maldição, ela iria dar uma pausa onde a encontrasse.

424
— Aqui, vou dar a volta e fazer a clavícula, —disse ele.

Ela mal notou Sahvage se movendo, mas então ele estava na frente
dela e seu polegar estava empurrando as cavidades acima e abaixo do osso
que havia sido quebrado e curado incorretamente.

No segundo em que ela estremeceu, ele parou.

— Muito?

— Não, é maravilhoso, —ela murmurou. — Por favor, continue.

Houve um par de estalos em seus joelhos quando ele se ajoelhou, e ele


era tão grande que seu rosto estava na frente do dela, embora o resto dele
estivesse no chão. E quando ele caiu em um ritmo de pressão e alívio, seu
torso se moveu para frente e para trás, tornando-se uma onda, em oposição
a um intratável feixe de estresse.

Era difícil dizer quando o relaxamento se transformou em


consciência.

Quando ela começou a se concentrar em quão perto ele estava dela.

Quando seus olhos, que ela não tinha percebido que estavam
fechando, reabriram lentamente.

425
Sahvage estava olhando para o rosto dela em vez de para onde ele
estava esfregando, e suas feições severas eram uma máscara, mostrando
nada. Seu olhar, entretanto ... estava cheio de calor.

Eu tomo vidas contra a vontade, mas nunca fêmeas.

— Eu acho que você está bem, —ele disse enquanto deixava cair suas
mãos mágicas.

No silêncio, ele não se ergueu em toda a sua altura. Ele não se moveu
para se aproximar. Ele apenas ficou onde estava, não mostrando nada a
ela e contando tudo com seus olhos de obsidiana.

E foi então que ela percebeu ...

— Não preto, mas azul, —ela sussurrou.

— O que?

— Seus olhos. —Sua voz ficou mais rouca. — Eu pensava que eles
eram negros. Eles são de um azul muito escuro.

— Eu não saberia.

— Como você pode não saber a cor dos olhos que você tem?

— Porque eu não me importo.

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Suas vozes eram baixas e suaves na cabana silenciosa, mas não porque
algum deles estivesse preocupado em acordar Tallah. Pelo menos isso não
estava na mente de Mae. Não, para ela, eles haviam criado um espaço
separado do mundo inteiro, e não havia razão para falar mais alto do que
o necessário para cruzar a distância infinitesimal entre eles.

— Como você pode não se importar? —Ela disse.

— Eu não gosto de olhar para mim mesmo. —Ele estendeu a mão e


afastou uma mecha do cabelo dela para trás. — Os espelhos não são meus
amigos.

— Por quê?

Ele encolheu os ombros.

— Eu não suporto meu reflexo.

A mão dela levantou por vontade própria para o rosto dele. No


segundo em que ela fez contato com sua bochecha, a respiração dele
pareceu travar—o que parecia estranho dado o quão poderoso seu corpo
era.

Com dedos cuidadosos, ela traçou sua mandíbula ... e se demorou em


seu queixo.

— Você tem uma sombra de cinco horas.

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— Eu tenho.

— Você se barbeia sem espelho?

— Sim.

Ela balançou a cabeça.

— Como?

— Eu faço isso no chuveiro.

Com certeza, como se ele tivesse implantado a imagem em sua mente,


ela o imaginou sob uma cascata de água, a cabeça inclinada para trás, o
cabelo escorregadio pela umidade ... seu corpo nu, os picos e vales por
onde o spray viajava. Cintilante. Lustroso.

Enquanto descia por seu torso em direção ao seu ...

— Você já se cortou? —Ela respirou.

— Não. Tenho feito dessa forma há anos.

Ela parou com a mão em concha ao lado de seu rosto. E quando ela
ficou quieta novamente, ele se virou para a palma da mão ... e pressionou
os lábios dele em sua linha da vida, no lugar que ela havia se marcado com
a faca para que pudesse sangrar na bacia de prata e chamar o Livro que
ainda estava por vir.

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— Sinto muito, —ela disse asperamente.

— Pelo que.

— Não sei.

Sahvage baixou a mão dela e passou o polegar pelo corte já fechado.

— Eu pensei que você tinha se machucado no dedo, não aqui.

— Não, isso foi de antes.

— Você não é muito boa com facas, hein.

— Acho que não.

Abaixando a cabeça dele, ela fechou as pálpebras enquanto ele roçava


os lábios sobre o corte curado.

Ela ficou exatamente onde estava pelo que pareceu uma eternidade.

Quando ela abriu os olhos, ele estava olhando diretamente para ela—
e ela disse uma e apenas uma palavra:

— Sim.

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Ás vezes você precisava dar uma segunda olhada.
Ou doze.

Nas profundezas da tumba sagrada da Irmandade da Adaga Negra,


Lassiter abriu caminho através de grandes corpos masculinos para chegar
à borda do caixão. Mas não era como se a proximidade mudasse o que ele
estava vendo.

Que era absolutamente nada, porra ... exceto meia dúzia de velhos
sacos de ...

— O que é isso? —Alguém disse.

V tirou uma de suas adagas negras e apunhalou o saco de estopa


descolorido. Quando um pó branco foi exposto, ele espetou um pouco
na lâmina.

430
— Eu pensaria duas vezes antes de jogar isso no seu nariz, —alguém
comentou.

— Farinha de aveia, —anunciou Vishous enquanto a cheirava. —


Realmente, farinha de aveia velha pra caralho.

Que porra é essa? Pensou Lassiter.

Nenhum esqueleto cercado por teias de aranha. Nada de múmia.


Nada de zumbis com carne perpetuamente apodrecendo e um desejo
ardente por carne fresca. Nem mesmo um conjunto genérico de restos
mortais onde haveria uma mortalha destruída e um pouco de poeira sobre
um monte de ossos desconjuntados.

Mas não, eles tinham algo com que Fritz poderia fazer um pão de
forma.

E não a arma pela qual Lassiter os trouxe aqui.

— É melhor alguém me dizer o que diabos está acontecendo, —Wrath


rosnou enquanto puxava o capuz de seu manto para baixo.

— Nada está acontecendo. —Lassiter olhou para o Rei enquanto os


outros Irmãos também tiravam as coberturas sobre suas cabeças. — Há
alguns sacos de farinha ali. Fora isso, o caixão está vazio.

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O pequeno e feliz anúncio fez com que o grande Rei Cego registrasse
surpresa por trás de seus óculos.

— Sahvage. Se foi.

— Se ele alguma vez esteve aí. —Lassiter recuou e acabou olhando


para a parede de nomes. — Talvez estejamos com o caixão errado.

Tohr pegou a tampa.

— O nome dele está gravado na maldita coisa. Junto com todos os


avisos.

— Então eles não o mataram, —Wrath disse com um encolher de


ombros. — Aqueles guardas não devem tê-lo matado, afinal.

— Feiticeiros não são imortais, se é isso que você quer dizer, —Lassiter
disse distraidamente. — Só porque você pratica magia não significa que
você viverá para sempre. Não funciona assim.

— E só porque você diz que matou alguém e os pregou em um caixão


não significa que foi isso que você fez, —Wrath atirou de volta. — A
glymera mentindo. Imagine isso. Isso nunca acontece, porra.

— Ele deve ter usado a suposta morte em sua vantagem, —disse Tohr.
— Ele desapareceu e ficou assim porque sabia que nada de bom ia sair do

432
que aconteceu com aquele aristocrata, naquele castelo. Ele deve ter
querido poupar a Irmandade dos problemas ...

Phury falou. — Para aqueles de nós que não conhecem a história,


alguém pode, por favor, me explicar?

Enquanto Lassiter chegava e verificava os nomes que haviam sido


inscritos na parede de mármore, ele ouviu Wrath delinear o padrão de
fatos: Sahvage com o hocus pocus no Velho Continente. O líder local da
glymera fica assustado. Uma caçada que supostamente terminou na
chacina de um aristocrata e seus guardas, e na própria morte de Sahvage.
O Irmão colocado neste caixão junto com o Dom da Luz.

Exceto que não tanto assim, como acabou se descobrindo.

— E o que é o Dom da Luz? —Phury disse.

— É uma fonte de energia, —respondeu Lassiter ao encontrar o nome


de Sahvage na lista de inscrições. — Mas mais do que isso. É incrivelmente
poderoso, e se você quiser lutar contra o mal, é muito fodidamente útil.

— Então você não ia tentar ressuscitar Sahvage? Achei que trazê-lo de


volta era o objetivo de tudo isso.

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— Não. —Lassiter balançou a cabeça. — Sahvage nunca foi a coisa.
Ele foi supostamente enterrado com o Dom da Luz, e era isso que eu
queria que vocês tivessem.

— O que é isso exatamente? Uma espada? Outro Livro ...

— Sim, como se precisássemos de uma segunda capa dura em tudo


isso, —V murmurou.

Há algo errado aqui, pensou Lassiter. Não é assim que deveria ser.

Afastando-se da inscrição de Sahvage, ele pigarreou.

— O Dom da Luz é um prisma, uma relíquia sagrada de um tempo


antigo que remonta a quando a Virgem Escriba estava criando a raça dos
vampiros. Ele reflete tudo o que acontece nele. Então, se você a alavancar
contra um grande mal ...

— Então é isso que você consegue de volta dele, —V terminou.

— Então você pode transformar o mal em si mesmo? —Phury disse.

— Apenas alguns tipos de mal. —Lassiter passou a mão pelo seu


cabelo. — Não teria funcionado contra o Ômega. Ele era a outra metade
da Virgem Escriba, então era muito perto dele—eu tenho que ir agora.

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— Você está brincando comigo, certo. —V olhou através do caixão
vazio. — Se você está nos deixando porque Golden Girls está come ...

— Não, não é isso.

— Então, o que diabos há de errado com você?

Balançando a cabeça de novo, Lassiter repetiu alguma combinação do


álbum estou-fora-daqui retumbando em seu crânio—e se desmaterializou
diretamente para fora da Tumba.

Bom trabalho, o Outro Lado nunca estava longe para ele. Tudo o que
ele precisava fazer era perfurar o véu que separava os limites da terra de
tudo o que era eterno e puf! ele estava em um glorioso campo de grama
que não precisava ser aparado, virando o rosto para um céu branco leitoso
que nunca tempestuava, respirando fundo o ar temperado que estava
perfumado com o cheiro delicado de tulipas.

Mas não havia paz para ele agora.

Enquanto caminhava em direção ao seu destino, ele passou pelo


templo de banhos, com sua bela bacia de água cintilante, e então

The Golden Girls (BR: Supergatas, PT: Sarilhos com Elas) é uma sitcom de grande êxito popular na grade da NBC, exibida
de 1985 a 1992 e que teve como protagonistas as atrizes Betty White, Beatrice Arthur, Rue McClanahan e Estelle Getty, que alcançaram estrelato
imediato em todo o mundo devido à grande popularidade da série até os dias atuais.

435
continuou pelas vilas com colunas onde as Escolhidas tinham ficado
quando viveram aqui. Havia também o Tesouro, com suas cestas de joias
soltas e artefatos especiais, e ainda mais importante ... o Templo da
Escriba.

Ele parou fora dos confins sagrados onde, por milênios, a mais
enclausurada de todas as Escolhidas passou as eternas horas de sua
existência olhando para tigelas de cristal, vendo as vidas e eventos que se
desenrolavam na terra.

Abrindo uma das portas sólidas, ele viu as estações de escrita dispostas
em fileiras, as escrivaninhas ainda exibindo os potes de tinta e penas, bem
como as tigelas e os fólios de pergaminho novo e não usado. Tudo estava
como deveria, as cadeiras alinhadas perfeitamente, as plumas das penas
estendendo-se graciosamente no mesmo ângulo, sem poeira em nada, sem
teias de aranha, o espaço como estava no momento em que foi montado
para seu propósito.

Mesmo tendo sido abandonado.

Entrando, suas botas ecoaram no teto alto, e ele teve um pensamento


que com a Virgem Escriba se aposentando e ele assumindo, todas essas
funções que uma vez foram tão vitais se foram.

Fale sobre relíquias.

436
Com essa nota, ele passou pelas estações de escrita e foi para a
biblioteca—e mesmo para um anjo como ele, que era totalmente imune a
ser impressionado, era assustador dar uma olhada em todas as pilhas e
pilhas da história registrada da raça dos vampiros.

Dentro dos incontáveis volumes, que foram organizados


cronologicamente, todos os incidentes maiores e menores de cada alma
alojada dentro de cada corpo com sangue de vampiro foram registrados
fielmente. À mão. Em tinta.

Era todo o conhecimento que existia de todas as vidas que


aconteceram antes—e ele iria passar pelas páginas e encontrar cada
menção ao Dom da Luz e Sahvage e àquele maldito Livro.

Os Irmãos e os outros lutadores da mansão muitas vezes davam a ele


um tempo difícil por não levar seu trabalho a sério. E pela primeira vez,
ele se preocupou que talvez eles estivessem certos.

Porque algo não estava se encaixando aqui, e ele simplesmente não


sabia o quê.

437
Devina caminhou pelo clube, saltos altos estalando—não que alguém
pudesse ouvir seus Louboutins cruzando o chão sujo. Acima, o rap do
SoundCloud batia forte, a voz auto-sintonizada e distorcida de um cara
resmungando sobre drogas e sexo pontuada por um monte de batidas
sintetizadas de bate-aqui. Em sua opinião, a faixa tinha tanto em comum
com a música real quanto um Twinkie tinha com uma esponja Victoria
caseira, mas o que diabos ela se importava.

Era um amigo do mar, saindo de casas e apartamentos todos os tipos


de humanos, criando um bufê para os instintos básicos dela.

Enquanto entrevistava visualmente os vários casais e trios—avaliando


todos os tipos de corpo e escolha de guarda-roupa, mas principalmente o
contato visual entre os conectados— ela tinha um pensamento de que
estava se sentindo um poooooooooooooouco agressiva.

SoundCloud é uma plataforma online de publicação de áudio utilizada por profissionais de música sediada em Berlim, Alemanha, fundada por
Alexander Ljung e Eric Wahlforss em Agosto de 2007. Nela os músicos podem colaborar, compartilhar, promover e distribuir suas composições.

O Twinkie é um popular bolinho americano descrito como "pão de ló dourado com um recheio cremoso". Era feito e
distribuído pela Hostess Brands, que atualmente pertence à Hostess Brands, Inc., tendo pertencido anteriormente à Apollo Global Management e à
C.

O Victoria Sandwich (também chamado de Victoria Sponge e Sponge Sandwich)) é um bolo que leva esse nome em
homenagem a Rainha Victoria e consiste de um pão-de-ló (sponge cake) recheado com geleia de framboesa (muitas vezes é utilizada de morango)
além de um creme de baunilha ou chantilly. E para decorar, açúcar de confeiteiro.
Link da receita *-* https://realfood.tesco.com/recipes/victoria-sponge-cake.html

438
E essa autoconsciência não mostrava um crescimento pessoal?

Claro como o inferno que sim, ela pensou enquanto se concentrava em


um par de homens que estavam nariz com nariz, olho no olho, seus corpos
se movendo em sincronia. Atrás deles estava um homem e uma mulher.
Ao lado deles, ao redor deles, havia mais do mesmo, combinações de
sexos e alturas e cores de cabelo se juntando.

Para que eles pudessem ficar juntos.

O fato de que ela estava cercada por tantas ficadas-de-uma-noite era a


única coisa que a impedia de explodir o lugar, apenas atropelando as
pessoas com sua ira para que explodissem em pedaços. O que seria muito
satisfatório ...

Okay, tudo bem, seria tão satisfatório talvez pelo tempo que levasse para
os pedaços de braços, pernas e torsos pararem de saltar de suas
aterrissagens no chão.

Mas isso era alguma coisa, certo?

Sim, e então onde ela estaria. De volta onde ela estava.

Parando no centro de todas os grupos, diretamente sob a luminária


que lançava raios laser nas massas que se contorciam, ela se virou e se
virou e se virou ... até que ela era como a transição especial depois da

439
escola para um flashback que se tornava cada vez mais rápido até que tudo
explodisse e se dissipasse ...

Para Algo que Trouxesse Significado ou Revelação aos Eventos Atuais.

Claro que não era isso que estava acontecendo no momento. Apesar
da revolução do narcisismo no Instagram, que ela apoiava totalmente, as
vidas das pessoas, mesmo se você fosse imortal, não eram na verdade
produções cinematográficas com cortes de salto, narração fora da câmera
e trilhas sonoras. Não havia roteiros, nem marcadores de palco para onde
você deveria estar, nem um vamos tentar de novo com um pouco mais de
emoção.

O que era uma grande merda.

Ela queria recomeçar. E alguma iluminação melhor. E um


protagonista fodido, muito obrigado.

À medida que sua frustração aumentava ainda mais, ela examinou a


paisagem de amantes e soube que duas coisas eram verdadeiras: uma, nem
todos esses encontros de uma noite continuariam assim. Alguns desses
casais desenvolveriam sua conexão, estabeleceriam relacionamentos e,
algum dia no futuro, ririam entre si, ou talvez com amigos, de como
haviam encontrado o amor verdadeiro em um clube.

440
Dá pra acreditar nisso? Estávamos tão fodidos com ecstasy quando nos
conhecemos, mas agora estamos escolhendo padrões de porcelana e um sofá.

Temos tanta sorte, Todd.

Você está certa, Elaine, que sorte!

Sim, foda-se, Todd e Elaine. Ah, e a outra coisa que ela sabia com
certeza? Ela não fazia parte disso e não porque ela não era humana.
Enquanto todas essas ferramentas inúteis estavam se juntando, ela foi
bloqueada de um felizes para sempre, certa de que ela foi impedida de
entrar naquele maldito burro feio, maldito pedaço de merda, casa filho da
puta.

Por sal. Maldição.

Não que houvesse algo lá que ela desejasse. Pelo amor de Deus, o
lugar era sem dúvida o lar de sofás de quinze anos, tapetes que ela não
tocaria com um mastro de três metros e papel de parede desvanecido e
desbotado que tinha sido comprado na Sears quando Jimmy Carter
era o presidente e Taxi estava no horário nobre.

A Sears, Roebuck and Company mais conhecida como Sears é uma empresa comercial proprietária de uma rede de lojas de departamentos
americana sediada na cidade de Chicago, no estado americano de Illinois.

James Earl Carter Jr. é um político e filantropo norte-americano, que serviu como 39.° presidente dos Estados Unidos de 1977 a 1981.

Taxi (bra: Táxi; prt: Táxi de Nova Iorque) é um filme estadunidense de 2004, dirigido por Tim Story e estrelado por Queen Latifah,
Jimmy Fallon e Gisele Bündchen. Trata-se do remake de um filme francês de mesmo nome lançado em 1998.

441
Mas às vezes você só queria entrar em um lugar que não tinha
permissão para ir. Você só queria as coisas que não eram dadas.

Você só queria foder a merda e ir embora com a nuvem em forma de


cogumelo atrás de você, sentindo-se como se fosse o dono do mundo
porque era capaz de destruí-lo.

Devina parou de se virar.

Chega dessa merda. Hora de escolher sua diversão para o resto da


noite—porque se ela não tivesse uma chance de diversão logo? Ela iria
perder sua mente filha da puta.

Ah, e aquele vampiro? Com o sal?

Seria bom comer seu coração. Porque quer ele soubesse ou não—quer
ele quisesse admitir para si mesmo ou não—ele estava totalmente
apaixonado por aquela fêmea e seu rabo de cavalo idiota. E tão patético
quanto isso? Ela estava apaixonada por ele. Era óbvio na forma como eles
se comunicaram, sem palavras necessárias para tornar o significado claro,
seus corpos voltados um para o outro, sua conexão tangível.

Ótimo. Tanto faz. Aqueles dois pombinhos podiam ser capazes de


manter um demônio fora daquela casa. Mas eles não iriam impedi-la de
chutar seu maldito castelo de areia.

442
Quando Sahvage ouviu a palavra que Mae falou, o abridor de porta de
três letras entrou em seus ouvidos e por todo o seu corpo. Sim.

No entanto, ela o parou enquanto ele se movia em direção a seus


lábios.

— Eu não sei ... até onde isso vai.

— Eu sei. —Ele acariciou a bochecha dela. — Está indo tão longe


quanto você quiser. E não mais.

A tensão deixou o corpo dela e ela se aproximou dele.

— Eu não deveria estar fazendo isso.

— Eu perguntaria por que, mas não preciso.

Havia motivos demais, para ambos, para não complicar ainda mais
as coisas. Mas, claramente, nenhum deles iria impedir o inevitável ...
então essas foram as últimas sílabas que falaram antes de suas bocas se

443
encontrarem—e que beijo foi esse. Ele pensou que estava preparado para
a sensação da suavidade e calor dela, mas só porque você queria algo, não
significava que poderia lidar com isso.

Mae o derreteu.

E ele só queria mais. Mantendo seu toque gentil, ele moveu a mão
para o lado do pescoço dela, para puxá-la ainda mais perto—e quando ela
veio de boa vontade, ele gemeu e inclinou a cabeça. O beijo mais profundo
agora. Ainda mais profundo. Até que sua língua entrou nela.

Ele desejou que eles tivessem uma cama grande, com bastante
privacidade.

Mas ele precisava tanto dela, que ele teria feito isso no meio de uma
zona de guerra.

A cadeira em que ela estava rangeu suavemente, e a próxima coisa


que ele soube, ele estava entre os joelhos dela, embalando seu rosto,
aprendendo sobre o que ela gostava enquanto ele aprendia devagar,
levemente, todo o resto se afastando para ele ...

Bem, nem tudo. Seus instintos de ameaça permaneceram em alerta—


mas, no momento, não havia nada de errado dentro ou fora da cabana.

E suas armas estavam nele.

444
Deus, ele não deveria estar fazendo isso. Ela era uma civil, ele era um
lutador desonesto sedento de sangue, sem casa, sem linha de sangue e sem
identidade mais. E ainda assim ele precisava disso como se estivesse
sufocando e ela fosse seu ar.

Eles continuaram se beijando, e mesmo que sua luxúria começasse a


sufocá-lo, ele não iria apressá-la—e isso não era uma mudança séria de
ritmo para ele? Durante toda a sua vida pós-transição, quando o clima o
atingiu e a mulher ou a fêmea estava disposta, ele cuidou dos negócios e
depois saiu.

Com Mae? Ele não estava interessado em que isso acabasse tão
cedo—e mesmo se ele pudesse ter deixado a cabana, ele estava muito
contente em ficar com ela.

Quando ela recuou, ele escondeu sua decepção.

Exceto que então ela levou as coisas em uma direção que era muito
marcante. Se isso foi mesmo uma palavra.

Com sua mão suave e pequena, ela tirou a palma dele da lateral de
seu pescoço ... e colocou-a em seu seio.

445
Sahvage era o melhor beijo que Mae já conhecera. O que, considerando
que ela não tinha beijado mais do que dois machos em seus cinquenta anos
de vida, provavelmente não parecia muito. Mas santo ... bem, merda,
honestamente ...

Havia realmente algo melhor do que isso?

O problema? Apesar de toda a sua óbvia excitação, ele parecia estar


em um delicioso ponto neutro.

Quando seus lábios se encontraram e se agarraram, e sua língua deu


uma penetração impressionante, enquanto o corpo dela rugia com o calor,
assim como o dele, ela sentiu sua contenção poderosa ... e esperou que ele
começasse a explorar. Esperou para fazer algumas explorações por si
mesma. E ainda assim ele ficou com o beijo.

Então, sim, em uma onda de autodeterminação incomum, ela


resolveu a questão de quão longe as coisas iriam pegando a palma da mão
dele e colocando-a onde havia uma dor que ela precisava que ele
acariciasse. Beijasse. Chupasse.

Mae engasgou quando o calor da mão dele se transmitiu através de


sua malha, sua camisa, seu sutiã. Claro como se ela estivesse nua.

— Está tudo bem? —Ele perguntou enquanto se afastava.

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Quando ela foi responder, ele passou o polegar sobre seu mamilo—e
isso não fez seu cérebro parar de funcionar direito. Em vez de responder
verbalmente, ela se arqueou para frente e retomou os lábios dele enquanto
se empurrava em sua palma—e ele entendeu. Ele a acariciou com uma
carícia que a fez ofegar em sua boca, e então ele deslizou sob as coisas e
encontrou sua pele. Enquanto ele subia e acariciava suas costelas, ela
agarrou os ombros dele.

Que eram tão grandes que ela sentiu como se estivesse tentando
agarrar um tronco de carvalho.

— Por favor, —ela implorou.

— O que você quer?

— Toque me ...

— Onde. —Ele beijou o lado de sua garganta. — Eu quero ouvir você


dizer isso.

— Meu ... mamilo ... novamente ...

Agora ele estava gemendo, e com uma onda, ele empurrou os dois
bojos do sutiã para cima, as camadas de roupa dela presas sob os braços.
Quando um de seus polegares foi exatamente onde ela havia dito para ele

447
ir, ela engasgou novamente e precisava saber como seria a boca dele ali,
sua cabeça escura para baixo em seus seios, provando-a, marcando-a ...

Sahvage recuou tão rápido que suas mãos caíram dos ombros dele e
bateram em seu colo. Confusa, ela olhou para seus tops bagunçados, as
pontas rosadas e eretas de seus seios aparecendo sob os rolos de algodão e
lã.

Assim que ela ia perguntar a ele o que ela fez de errado, como ela o
desligou, ele puxou sua blusa de volta no lugar e saltou para longe dela.
Como se talvez ela tivesse se tornado radioativa.

— O que eu fiz? —Ela disse em uma voz que falhou.

A porta do porão se abriu amplamente e o rosto enrugado de Tallah


espiou pela ombreira.

— Não estou interrompendo nada, estou?

Mae piscou. A velha fêmea havia trocado o roupão, trocando as flores


azuis e amarelas por um longo vestido vermelho feito de um material
lustroso que provavelmente era de seda pura, dada a sua origem. Ela
também havia colocado maquiagem, um sutil blush rosa tingindo suas
bochechas, seus olhos enfatizados com sombra de bom gosto, um
contorno vermelho e brilho nos lábios.

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E o cabelo dela estava solto, as ondas de branco e cinza fluindo ao
redor de seus ombros como uma capa de prata esterlina.

— Não, —disse Sahvage suavemente. — De jeito nenhum. Mae


estava me dizendo há quanto tempo você está aqui e com que frequência
ela vem para te fazer companhia.

Mae olhou em sua direção. De alguma forma, no nanossegundo entre


quando ele puxou a lã para baixo e Tallah fez sua presença conhecida, ele
conseguiu pegar uma xícara de chá e a toalha de mão. Com mão firme e
preguiçosa, ele fingia secar o que não estava molhado.

E o que você sabe, ele estava fazendo tudo isso bem na frente de seus
quadris.

Com essa nota, Mae girou em direção à mesa, trazendo a cadeira com
ela—só para ter uma desculpa para se virar e se certificar de que suas
roupas estavam onde deviam estar.

Graças a Deus. Camisa e lã pareciam muito boas na reorganização.


Não estava ótimo, mas bom o suficiente. E pelo menos o sutiã, que ainda
estava levantado e solto, por assim dizer, não estava mostrando sua
desordem. Então, novamente, ela não usava nenhum preenchimento ou
arame.

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— Você gostaria de algo para comer? —Mae perguntou, já que não
conseguia encontrar Tallah nos olhos.

A verdade era que ela não tinha ideia de como lidar com essa situação.

As virgens não eram conhecidas por seu jogo—e ela fazia o possível
para não pensar em como tudo parecia normal para Sahvage.

Claramente, ele tinha experiência ... em muitas coisas.

— Estou com fome, obrigada, —Tallah disse ao se aproximar. — Mas


estou com vontade de cozinhar.

— Ouça, eu preciso sair correndo por um segundo. —Sahvage pousou


a xícara sobre o pires e foi até a jaqueta que jogou sobre o braço do sofá.
— Eu volto já. Apenas uma tarefa rápida.

Quando Mae olhou para ele, ele balançou a cabeça como se estivesse
lendo sua mente e vendo o Novamente? que estava por toda a parte.

— Não vai demorar muito. Eu prometo.

— Oh, tudo bem.

Ele acenou com a cabeça, e então ele se foi, desmaterializando-se bem


na frente delas. O que significava que ele estava usando a janela do
segundo andar novamente.

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Em sua ausência, Tallah sorriu e acariciou seu cabelo.

— Um macho assim faz você se sentir jovem, não é?

Para onde ele estava indo? Mae pensou.

Ela escondeu o rubor e a preocupação levantando-se da mesa.

— Como posso ajudá-la com a comida?

— Sente-se, sente-se, sente-se. —Tallah acenou com a oferta e foi até


o fogão. — Eu trouxe um pouco de carne da geladeira lá embaixo. Deixe-
me preparar uma refeição para você e para ele. É o mínimo que posso fazer
por você.

— Falando nisso, você se importa se ficarmos aqui hoje?

Os olhos de Tallah brilharam de uma maneira que Mae não tinha visto
por ... anos.

— Eu adoraria a companhia. Que delícia!

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Ok, então aqui está um dilema moral.
Nah, não realmente.

Enquanto Sahvage se reformava do lado de fora de um trailer com


buracos de bala em seu revestimento de alumínio barato, ele olhou ao
redor para o quintal de merda: duas picapes ao lado, partes enferrujadas de
carros espalhadas como biópsias de lixo, uma churrasqueira sem tampa ou
tanque de propano tombado ao lado de uma mesa de piquenique quebrada.
A área estava repleta de árvores e trepadeiras e, ao pensar na cabana,
desejou continuar na vida de Mae. Ele gostou da ideia de conseguir um
cortador e uma tesoura, arrumar o lugar, cuidar de ...

Jesus. Um beijo e ela o transformou em um dono de casa suburbano.


Em seguida, porta cerveja, futebol no outono e um corpo de pai.

Um koozie ( / k u z i / KOO -zee ) ( EUA ), titular grosso ( australiano ) é uma manga de tecido ou espuma que se destina a
isolar termicamente um recipiente de bebida, como uma lata ou garrafa.

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Nunca vai acontecer, ele pensou enquanto empunhava uma de suas
armas.

Mas o que ele poderia fazer por ela? Certificar-se de que ela esteja mais
segura.

Havia três degraus de madeira soltos que levavam a uma porta que
provavelmente era a única coisa sólida na propriedade. Levantando o
punho para bater ...

O grito de dor lá dentro foi abafado. Mas era claramente de uma


mulher, agudo e desesperado.

E então, muito, muito mais alto:

— Sua puta de merda! Onde está a porra do meu dinheiro ...

— Eu dei para você! Está bem ali ...

O tapa foi tão alto que ecoou nas orelhas de Sahvage. Eeeeeee ele teve
o suficiente disso.

Agarrando a maçaneta, ele arrancou a porta de sua moldura e abriu


caminho com a boca da sua quarenta.

Em um sofá xadrez surrado, uma mulher de olhos vazios em jeans


desbotados e uma camiseta manchada de sangue estava presa sob o corpo

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esguio de um gorduroso cabeça de metanfetamina que Sahvage conhecia
há duas semanas e meia. Notas amassadas cobriam as almofadas puídas
ao redor deles, e um bong de um metro de altura que estava carbonizado
como um escapamento tinha sido chutado para babar no tapete imundo e
acamado.

Enquanto os dois o olhavam surpresos, Sahvage apontou a arma para


o homem. — Deixe ela ir.

Para sua loucura absoluta, o filho da puta misógino se recuperou


rapidamente.

— Foda-se! Que porra você está fazendo ...

— Dave, —disse Sahvage em um tom razoável, — deixe-a ir ou vou


atirar na sua cabeça.

— Isso não é problema seu, porra. —Dave torceu a mão da mulher até
que ela choramingasse. — E nós não tínhamos hora marcada.

— Como se fosse um consultório dentário? —Sahvage estreitou os


olhos. — No três. Você a solta ou atiro em sua cabeça. Um.

Bong, bongo ou water pipe, também conhecido como purificador ou cachimbo de água, é um aparelho utilizado para
fumar qualquer tipo de erva, normalmente cannabis, tabaco e derivados. Seu design faz com que a fumaça entre em contato com a água e se
concentre antes de ser inalada, assim como em um Narguilé.

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Dave se virou com um olhar furioso—enquanto segurava a garganta
da mulher para manter o equilíbrio.

— Você está cometendo um erro de merda aqui ...

— Dois.

— Você não vai atirar em mim.

Com um movimento coordenado—como se ele tivesse feito antes—


Dave se jogou nas almofadas do sofá para pegar uma arma.

— Três, —disse Sahvage ao puxar o gatilho primeiro.

A descarga foi um grande estrondo nos confins sujos, e então o QI


bastante limitado de Dave explodiu na parte de trás de seu crânio,
manchando a parede atrás dele com sangue e massa cinzenta. A arma que
ele tinha procurado disparou quando a mão que a segurava se contraiu em
um aperto autônomo, mas seu cano estava girando em vez de em
posição—então a bala atingiu os armários baratos sobre a pia e sacudiu
todos os pratos estavam lá.

A mulher gritou novamente e empurrou-se para longe do corpo em


colapso.

— Desculpe por isso, —disse Sahvage severamente.

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Ele não teve a chance de oferecer ajuda. Ela pegou o dinheiro solto,
puxou uma mochila preta no braço e desviou do lixo e entulhos para cair
fora do trailer. Uma fração de segundo depois, um caminhão sem
silenciador ganhou vida e jogou o cascalho solto da estrada.

Sahvage exalou e manteve a arma na mão enquanto se dirigia ao sofá


e pegava a arma da mão, agora morta, de seu traficante de armas. Então
ele desceu para o quarto. Chutando a porta para fora das dobradiças com
a bota, ele apontou a arma para o armário de um metro e oitenta por dois
e meio do outro lado do espaço raso.

Dois tiros. Ambos ricochetearam no colchão careca e manchado da


cama.

Enquanto os painéis do cofre do arsenal se abriam, ele rapidamente


roubou as armas que Dave havia roubado de Deus sabe quem. O que era
o nah-não-realmente o dilema de se era roubo tirar as coisas de uma pessoa
que já havia tirado a merda sozinho.

E oh, olhe. Havia uma mochila bem ao lado de uma coleção de Nikes
imaculados. Prático para o transporte.

Pegando a mochila e deixando os sapatos, Sahvage encheu sua nova


mala macia com rifles, espingardas e uma nove milímetros para Mae. A

456
munição estava no fundo do guarda-roupa de armas e ele pegou caixas de
balas.

Ele teria pago a Dave por isso eventualmente. Ele tinha $2.800 em
dinheiro de volta na merda em que estava acampado, e mais uma luta com
o Reverendo teria coberto o resto dos $5.000 ou mais que ele teria sido
cobrado: ele não tinha vindo aqui com a intenção de roubar, mais algo como
emprestar ou comprar a prazo.

O tiroteio foi mais parecido.

Mas o bom e velho Dave não precisava mais se preocupar com o


balanço patrimonial de seu negócio de merda no mercado negro, então
Sahvage estava considerando o cancelamento da dívida.

Quando ele voltou, ele olhou para Dave—e levou um minuto para
pensar sobre a natureza dos cadáveres. A próxima coisa que ele sabia, as
memórias que ele estava tentando superar mentalmente o alcançaram em
um ataque que o levou de volta ao passado.

Dentro do espaço confinado de seu caixão, Sahvage reuniu seu juízo, reuniu
suas forças. Havia a tentação de se debater e bater, mas ele não conseguia sentir

457
nada de onde estava. Ele não sentiu cheiro de terra, e ele interpretou isso como
se ele não tivesse sido enterrado. Além disso? Ele não tinha certeza de nada.

Nenhum som lhe deu pistas. Nenhum cheiro particular também.

Além do corte recente das tábuas de madeira que o cercavam.

Não havia como se acalmar para desmaterializar. Nenhuma medida


suficiente de autocontrole para ser reunida enquanto seu coração trovejava
por tudo o que estava acontecendo com Rahvyn. Assim, ele moldou as palmas
das mãos na parte inferior da tampa e, com força cada vez maior, empurrou,
empurrou, empurrou...

Os pregos cantaram e rangeram, mas cederam diante da pressão, a tampa


abrindo uma fenda, o ar entrou, mesmo sem luz. Uma respiração profunda
sugeria um local que fazia pouco sentido, embora se ele pudesse ter menos de
um metro e oitenta de terra, ele sentiria os cheiros de farinha e aveia sobre a
terra crua. E assim que a tampa se soltou de suas muitas amarras, ele agarrou
sua borda para não fazer barulho ...

Com um assobio, ele mordeu a língua para reprimir o grito quando sua
mão foi marcada pelos dentes dos pregos. O cheiro de sangue fresco saltou
em seu nariz enquanto sua carne chorava, e ele rezou para que essa área de

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armazenamento de alimentos estivesse livre de correntes de ar que levassem
seu cheiro até o nariz de outras pessoas.

Quando ele levantou o torso, ele teve cuidado com a tampa, colocando-a
de lado silenciosamente ...

Alguma coisa caiu de seu peito. Miçangas? Pareciam bolinhas de gude.

Tateando, ele encontrou um chumaço úmido e perturbador. Seu sangue?


De outra pessoa?

Ele não podia se preocupar com isso agora.

Do outro lado do espaço em que ele estava, havia uma porta ... ele podia
ver o contorno brilhante criado por seu ajuste solto e, embora a iluminação
não fosse muito longe, era uma base suficiente enquanto ele se levantava
lentamente.

Agora Sahvage respirava mais profundamente, de maneira mais


uniforme, e seu olfato confirmava alguns princípios básicos gastronômico: de
novo, a farinha. Algum tipo de especiarias. Outros grãos.

Um depósito seco. E havia uma abundância tão evidente que só poderia


estar dentro do castelo de Zxysis.

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Um local improvável para qualquer caixão, mas aquele cavalheiro
precisaria que Sahvage fosse mantido escondido. Como um membro da
Irmandade da Adaga Negra, seus restos mortais seriam considerados sagrados
por seus Irmãos, algo a ser recuperado e prontamente ahvenged .

Mas aqui, escondido entre os depósitos para uso dos servos do aristocrata,
os quais todos dependiam do senhor para sua beneficência? Os doggens não
diriam nada e não fariam perguntas. Nem ninguém procurando por algo
semelhante à descrição de um caixão pensaria em olhar aqui.

Ao sair do caixão, ele descobriu mais dois detalhes: ele não tinha nada nos
pés e uma túnica solta sobre o corpo. Uma rápida inspeção de sua forma não
resultou em nenhum ponto notável de dor, as flechas foram removidas em
algum ponto, o dano feito por elas já estava curado. Parando por um
momento, ele ergueu a cabeça e ofereceu uma rápida oração de gratidão a
Escolhida de raça pura, de quem ele havia se alimentado apenas três noites
antes.

Sem a força dela? Ele certamente teria morrido.

Ahvenge (v.) Cometer um ato de retribuição mortal (vingado), realizado geralmente por um homem amado.

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Voltando-se para o batente da porta, ele resolveu encontrar sua prima. E
se preocupou com quanto tempo ele esteve dormindo. Ao longo do dia? Por
um dia e uma noite?

Havia engradados e sacos de aniagem em seu caminho até a saída, e ele


tombou e cambaleou ao redor deles, tentando manter o equilíbrio e o silêncio
na escuridão, no curso desconhecido de obstáculos. Quando ele se deparou
com as fortes pranchas de carvalho em seu alinhamento vertical, pressionou
o ouvido contra elas e parou de respirar.

Nada do outro lado que ele pudesse ouvir ou cheirar.

Quando ele jogou a mão no batente, em busca de travamento, ele rezou


para que houvesse um no interior ...

Quando encontrou o pino e a haste de metal, ergueu o ferrolho com


cuidado e abriu o portal. Paredes de pedra pálida sugerindo um corredor,
iluminado por tochas. Sem sons. Sem aromas. Ou pelo menos nada disso
alarmou seus instintos.

Inclinando-se para fora, ele considerou o corredor em ambas as direções.


Então ele olhou para o manto que o cobria. Penas pretas, emaranhadas com
algum tipo de umidade, caíram sobre seus pés em uma moita, junto com

461
alguns seixos de algum tipo, e ele sentiu o cheiro de alguma coisa que não
conseguiu identificar. Tocando a frente do manto, ele então olhou seus dedos.
Eles estavam manchados com algo vermelho. Seu sangue. Mas algo mais ....

Quando um sopro de adstringente formigou suas narinas, ele percebeu o


que havia sido feito.

Zxysis e seus guardas haviam marcado seu corpo com magia, para manter
aquele que não era um feiticeiro - e não estava de fato morto - morto. Sem
dúvida para que pudessem preparar uma sepultura escondida para ele.

A determinação equivocada de seu status, em ambos os níveis, teria sido


ridícula se eles não tivessem Rahvyn em suas garras.

Pisando para fora, Sahvage recuperou uma tocha de seu assento de ferro
sobre a pedra e foi para a direita, seguindo uma leve trilha de ar fresco.
Enquanto caminhava descalço, ele tentou se lembrar do layout do castelo. Ele
tinha estado no assento de poder de Zxysis para festivais de vez em quando,
antes que a natureza especial de Rahvyn começasse a se afirmar. Mas ele nunca
tinha estado aqui embaixo. O que importa, no entanto. Ele encontraria uma
arma, mesmo que fosse uma improvisada, e localizaria sua prima mais querida.

462
E então ele a forçaria a deixar este vilarejo com ele, mesmo que tivesse
que amarrá-la à sela de seu cavalo de guerra.

Depois disso? Quando ele tivesse certeza da segurança dela?

Ele voltaria e massacraria todos eles.

Quando seu destino se tornou não apenas claro, mas inevitável, ele não
estava inconsciente de que isso o separaria da Irmandade da Adaga Negra. Mas
ele não poderia envolvê-los. Este era seu direito e seu dever para com sua
prima. Ele não aceitaria nenhuma ajuda, e quando o Conselho recusasse suas
ações? Eles iriam para seus irmãos e buscariam sua própria retribuição.

E isso daria voltas e mais voltas. No entanto, ele não seria dissuadido nem
buscaria qualquer permissão para suas ações. Então, de agora em diante, ele
seria um trapaceiro.

Talvez fosse melhor se todos acreditassem que ele estava morto.

Foi assim que esse pensamento ocorreu ... e ele diminuiu até parar.
Olhando para trás, de onde ele tinha vindo, ele descobriu que tinha
percorrido uma certa distância sem encontrar nenhum membro da vasta
família. Além disso, o silêncio ressonante em toda a volta penetrou
apropriadamente em sua consciência. Ele praguejou. Na verdade, devia ser dia,

463
caso em que o resgate de sua prima seria complicado pela ameaça sempre
presente do sol ...

Uma porta se abriu e fechou mais adiante no corredor, e a rajada de ar


fresco deve ter sido um doggen entrando ou saindo, pois aquela subespécie
da raça não era afetada pelos raios do dia. Quando passos se aproximaram dele,
ele deslizou até uma porta e ficou aliviado quando a abriu e descobriu um
outro depósito. Abaixando-se, ele esperou e, quando o criado passou, ele ficou
quieto e em silêncio.

Quando o caminho ficou livre, ele se inclinou mais uma vez e franziu a
testa.

Esse não era o cheiro de um doggen. Isso era um vampiro macho.

Portanto, ainda devia ser noite?

Aumentando o passo, ele continuou, seguindo o corredor até seu término


antes de subir um lance de degraus e depois outro. E ainda assim o silêncio
persistia, lá em cima, por toda parte. Onde estavam os habitantes do castelo?

Uma ampla escada, capaz de acomodar muitos machos ombro a ombro,


se apresentou, e foi então que ele sentiu o cheiro de algo que o fez acelerar o
passo em vez de se preocupar em não ser detectado.

464
A prima dele! Ela estava perto!

No topo da escada, o grande salão se desenrolou - e ele engasgou.

— Rahvyn!

Apressando-se, ele cruzou o piso de pedra até a lareira onde a fêmea tinha
sido acorrentada a arcos de aço montados na parede espessa de argamassa, sua
cabeça pendurada solta, seu manto marcado com sujeira e sangue, mais sangue
emaranhado em seu cabelo escuro.

— Rahvyn, querida Virgem Escriba, Rahvyn ... —Ele foi gentil com as
mãos trêmulas enquanto afastava os cabelos dela. — Olhe para mim ...

Quando ela ergueu o rosto, ele sentiu uma raiva que o atingiu até os ossos.

Os dois olhos dela estavam escurecidos, o lábio partido e havia um


hematoma em volta do pescoço.

Seu olhar, entretanto, brilhava com um poder que ele não pôde
compreender imediatamente.

— Rahvyn, eu vou libertá-la ... —Deixando cair a tocha


despreocupadamente, ele foi para os pregos cravados na parede. — Eu vou ...

— Não, —ela sibilou. — Eles não podem me machucar ...

465
Sahvage congelou. Em seguida, redobrou seus esforços.

— O que você disse? —Ele puxou as correntes de aço e formulou uma


maneira de carregá-la para fora. — Apenas um momento ...

— Eu estou de volta agora. Eles não podem me machucar.

Sahvage franziu a testa. Algo no tom de voz dela, suas palavras ...

— O que?

— Eu tinha partido, mas eu voltei. E eu não serei ferida novamente.

— Como eles machucaram você, —disse ele sem rodeios.

— Você também está liberado. Você está livre agora. Vá em frente e não
se preocupe comigo ...

— O que você quer dizer com eu estou livre?

— Eu te libertei, e agora você pode ir ...

— Eu não vou deixar você ...

Com uma voz distorcida por uma autoridade que ele não entendia,
Rahvyn declarou:

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— Eu vou cuidar de mim mesma. E você deve partir, pois o único poder
que alguém deve ter sobre qualquer um de nós sou eu.

Ele balançou sua cabeça.

— O que diz você?

— Estaremos separados de agora em diante.

Sahvage retomou seus puxões.

— Chega dessa conversa. Vou removê-la daqui e cuidar bem de você ...

Passos pesados e fortes agora. Muitos deles, alguns machos de grande peso
e armamento vindo de outro lugar dentro do castelo.

Sahvage puxou com tanta força as correntes de aço que sentiu um estalo
na junta do ombro, mas o anel saiu, as correntes chacoalhando. Ele foi para o
outro lado.

— Pare, —Rahvyn ordenou. — Solte as correntes. Eu não tenho medo.

— Depois do que eles fizeram com você ...

— Eu fui destrancada pela violência de Zyxsis. Eu não tenho


arrependimentos ...

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A segunda imobilização se soltou e ele tentou pegá-la nos braços.

Sua amada prima o empurrou de volta.

— Não! Eu não vou com você ...

— Você está louca?

— Se você não nos separar, eu separarei, Sahvage. Nós precisamos estar


separados, e você está livre agora ...

E foi então que um grupo de guardas apareceu na arcada. Eles valiam um


flanco completo, uniformizados com as cores da fita da linhagem de Zxysis,
armados com espadas e espingardas.

Enquanto Sahvage colocava seu corpo entre sua protegida e seu agora
jurado inimigo, ele pegou a tocha mais uma vez como a única defesa que
tinha fora de sua forma física. Apoiando-se, ele orientou sua posição para as
saídas, que eram as escadas que ele havia subido e ...

Os guardas ficaram onde estavam, as armas em punho, os corpos


preparados para o ataque, mas a violência permaneceu no limite, em vez de
ser chamada à realização.

O medo marcava seus olhos.

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Enquanto ninguém se movia, uma estranha sensação de mau presságio
fez Sahvage olhar para trás, para sua prima. Ela estava olhando para os guardas
com uma concentração que parecia ser algo que ele pudesse chegar e sentir,
como uma corda ou um conjunto de cadeias, tais como aquelas que caíram de
seus pulsos.

— Eu disse a seu senhor para me deixar, —ela disse aos machos. — E ele
não deu ouvidos. Não vou dar a vocês essa escolha de retirada.

De repente, as bainhas e os rifles baixaram e caíram na pedra com


estrépito. E então veio o tremor. Aqueles corpos masculinos, tão robustos e
fortes em seus couros protetores, começaram a tremer. Cada um deles. E então
as mãos alcançaram a garganta, as têmporas, os peitos. Os olhos de pânico
alargaram ainda mais ...

Gemidos ecoaram pelo grande salão enquanto bocas se esticavam para


agarrar o ar, e as bochechas ficavam vermelhas de tanto esforço, e o suor
escorria pelos rostos e pingava nas coberturas do peito...

O chefe da guarda na extrema direita explodiu primeiro, uma abóbora


chutada, fragmentos de crânio e fofos pedaços brancos de cérebro voando em
um jato de sangue vermelho brilhante.

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Quando o corpo sem cabeça caiu no chão, pousando sobre as armas antes
seguradas por mãos vitais e lutadoras, os outros gritaram e se debateram, mas
eram árvores enraizadas, indo a lugar nenhum. Um por um, eles seguiram o
destino do primeiro, o caos sangrento avassalador e inexplicável, pois não
havia mãos sobre eles, nem ferramentas de espancamento sobre seus ombros
ou diante de seus rostos, nenhum contato exercido sobre eles.

E, no entanto, era real, pois seu sangue no ar salpicava o manto negro de


Sahvage, e o cheiro de sua carne crua e carnuda estava dentro de seu nariz.

Virando-se para Rahvyn, ele deu um passo para trás da fêmea que ele
pensava que conhecia como ele conhecia seu próprio reflexo.

— Quem é você? —Disse ele asperamente.

Com um solavanco, Sahvage voltou ao presente—e descobriu que havia


se aproximado do sofá e estava olhando para a explosão de sangue e
miolos na parede atrás de onde Dave estava esparramado em seu repouso
permanente. Mesmo agora, mesmo depois de todos esses anos, e de toda

470
a luta pessoal que Sahvage havia travado ... ele nunca havia superado o
que vira naquela noite em que Rahvyn acordou de um estupor e
literalmente explodiu as cabeças de um grupo de guardas.

— Durma bem, idiota, —Sahvage murmurou enquanto colocava a


mochila cheia de armas no ombro e saía.

Lá fora com a caminhonete restante, ele ficou tentado a levá-lo


também, mas não por muito tempo. Ele nunca precisou de um carro, e
como se ele pudesse cercar a maldita coisa sem alguém rastreá-lo de volta
para esta agora cena de assassinato? Seja qual for. Melhor manter as coisas
limpas, mesmo que ele não fosse ficar em Caldwell por muito mais tempo.

Embora agora? Dada sua premonição persistente de morte, ele teve a


sensação de que estava saindo primeiro. A morte seria um alívio, e se ele
pudesse impedir Mae de cometer um erro com o destino inevitável daquela
velha fêmea? Bem, então ele teria feito uma coisa certa neste mundo.

Pouco antes de se desmaterializar de volta para a cabana, ele olhou


para o céu e pensou em Rahvyn. Já fazia um tempo desde que ele fez
isso. Algumas décadas.

E ele não se sentia melhor agora do que antes. Ela foi seu fracasso
final.

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Balançando a cabeça, ele saiu como um fantasma para fora. Com
alguma sorte, ele não teria que pensar nela novamente em breve. Ele
estaria naquele vazio negro que vinha depois de seu último batimento
cardíaco, sem mais preocupações, sem mais cuidados, sem mais nada.

Embora ele tivesse aprendido da maneira mais difícil que a magia


existia no mundo, ele não acreditava mais no Fade. A morte era um ponto
final.

Nada além de luzes apagadas.

Obrigado, porra.

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Não, não, não, não ...
Enquanto Erika abria caminho com o cotovelo por entre uma floresta
em movimento de frequentadores do clube, meio vestidos e totalmente
bêbados, ela estava irritada e nervosa. À sua frente, o segurança que estava
liderando o caminho dividia a maior parte do mar, mas havia retardatários
que ficaram em seu caminho—e ela teve que resistir a empurrá-los. E
então havia os lasers. E a música agitada. Era como estar em um furacão,
tudo explodindo em seu rosto, muito entre ela e onde ela precisava estar.

Felizmente, a caminhada não durou para sempre. Mesmo que


parecesse um ano e meio.

No outro canto do clube, do lado de fora de um corredor que era a


única coisa bem iluminada em qualquer lugar, dois policiais à paisana

473
discutiam com um cara que alisou o cabelo com o que devia ser shellac
e estava usando jeans preto que tinha que ter sido cirurgicamente montado
em suas pernas magras. Um pequeno círculo de festeiros brincava de falar
mal dos outros, mas a maioria da clientela fazia suas coisas no bar, no
salão de dança.

— ... você não pode me obrigar, —o Sr. Smooth estava dizendo ao


oficial. — Você não pode me dizer que eu tenho que desligar ...

Erika ignorou a discussão e foi até onde um uniformizado estava


parado do lado de fora do banheiro feminino.

— Senhora, —disse ele enquanto abria a porta para ela. Então ele
enrubesceu. — Desculpe, quero dizer, Detetive.

Tanto faz, ela tinha outras coisas com que se preocupar.

Jesus. O cheiro do sangue fresco era tão forte que anulou a onda de
vapor no ar, e enquanto ela colocava um par de botas descartáveis, o
cheiro forte de cobre florescendo no fundo de sua garganta a fez pensar em
vomitar.

Goma-laca (shellac) é uma resina secretada pelo inseto Kerria lacca, encontrado nas florestas da Índia e Tailândia. O material bruto é refinado em
diversos graus para diferentes propósitos. As duas melhores variedades disponíveis no mercado são a goma-laca laranja, que nos chega em forma de
flocos laranja-marrom finos e translúcidos e a goma-laca branca ou alvejada. Tanto a goma-laca branca quanto a laranja são solúveis no álcool.

474
Entrando nas instalações femininas, ela colocou as luvas de nitrilo e
olhou em volta. Tudo era de aço inoxidável ou azulejo, e ela estava
disposta a apostar que o lugar era lavado com água sanitária no final de
cada noite. Não havia nem espelhos adequados, mas painéis de metal
polido, como se o banheiro estivesse em um parque público. Sopradores,
não toalhas de papel. Nada de latas de lixo, o que explicava os invólucros
de preservativos, chumaços de lenços de papel, e partículas e manchas
questionáveis por todo o chão.

As baias ficavam à direita, quatro delas. Do outro lado, duas pias e


espaço no balcão mais do que suficiente para fazer sexo.

A poça de sangue estava saindo de onde ficava o último banheiro.

Quando ela se aproximou da porta de aço inoxidável, ela observou à


distância enquanto sua mão foi para frente e empurrou o painel largo ...

— Merda, —ela respirou.

Outro casal heterossexual: o homem estava sentado na privada com as


calças em volta dos joelhos, o torso sem camisa esparramado no canto criado
pela parede de azulejos. A mulher estava montada nele cara a cara, a saia
curta levantada em torno de seus quadris, a linha de uma tanga que sem
dúvida tinha sido empurrada para o lado quase invisível entre a área de

475
suas nádegas. Os restos mortais dela estavam tombados para o lado
oposto, sua testa na divisória que separava a baia de sua vizinha ao lado.

A perda de sangue de ambos foi extensa, a lavagem vermelha


descendo por todos os lados da base do banheiro, as poças se juntando e
fluindo em direção ao ralo no centro do chão do banheiro.

No centro do peito do homem ... uma ferida irregular que projetava


costelas brancas no meio do músculo vermelho e a pele agora acinzentada.

Dada a poça de sangue sob o torso da mulher? Ela também estava


dessa forma.

Erika balançou a cabeça ao se virar e voltar para o corredor.


Marchando até o gerente do clube e os policiais à paisana, ela olhou para
o Sr. Smooth.

— Desligue a música agora, e ninguém sai do local.

O cara ergueu as mãos.

— Temos outro conjunto de banheiros! Vamos bloquear isso ...

— Este clube inteiro agora é uma cena de crime. Você não está mais
no comando.

Ele apontou por cima do ombro.

476
— Há uma saída de incêndio bem ali. Se você precisar tirar os corpos,
você pode simplesmente ...

— Duas pessoas foram assassinadas naquele banheiro, —ela retrucou.


— Então, todo o clube e todos nele precisam ser processados. Acenda as
luzes e vamos trabalhar.

— Espere, você está pegando os nomes dos funcionários?

— Estou pegando o nome de todos.

O Sr. Smooth cruzou os braços sobre o peito e balançou a cabeça.

— Você vai nos tirar do mercado, senhora ...

— Eu também preciso de suas câmeras de segurança—de dentro e de


fora. E não me diga que você não as tem.

— Eu não estou te dando merda nenhuma!

Erika se levantou na cara do cara e baixou a voz.

— Duas pessoas acabaram de morrer no seu negócio ou no negócio


do seu chefe, o que quer que seja. Dois seres humanos. E alguém aqui fez
isso. Então você não está mais dando as cartas. Podemos fazer isso muito
bem, ou podemos colocá-lo algemado e você pode desfrutar de pagar um
advogado para se defender contra a acusação de obstrução da justiça que
está vindo em sua direção.

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O Sr. Smooth desinflou mais rápido do que ela esperava.

— Ele vai me despedir. Vou ser demitido por causa disso, porra.

— Eu não posso te ajudar com isso, mas você pode nos ajudar.
Fazendo a coisa certa, agora.

Houve uma pausa e então o cara olhou por cima do ombro.

— Tibby, desligue isso.

Erika se virou—e correu direto para o grande peito de Deiondre


Delorean.

— Muito bem tratado, Detetive, —murmurou o agente especial.

— Essas aulas de charme não saíram de moda.

As luzes se acenderam todas de uma vez, algum tipo de disjuntor


acionado, e a música também foi cortada, foi como se a iluminação tivesse
afugentado as batidas. Naturalmente, a resposta da multidão foi imediata
e bêbada descontente.

Desidratada, Erika pensou distraidamente.

Encurralar esse bando de testemunhas em potencial intoxicadas em


qualquer aparência de ordem seria divertido, e como se ele lesse sua
mente, Delorean pegou o telefone para chamar mais agentes. Com a

478
unidade da cena do crime já acionada, Erika voltou para o banheiro—e
olhou para a porta fechada do box. O sangue coagulado no ladrilho. A
mancha na ponta do calcanhar do homem quando ele varreu a perna de
um lado para o outro, provavelmente de dor, medo.

Ela também olhou para tudo o que não estava lá.

Sem passos ensanguentados no chão do lado de fora da cabine. Ou a


caminho da saída.

Nenhuma gota de sangue em qualquer lugar, exceto dentro da cabine.

Erika abriu o painel de metal novamente. Muito sangue por baixo dos
corpos, mas exceto por alguns pingos das mãos das vítimas, nada nas
paredes.

Como diabos alguém arrancava dois corações de duas pessoas em um


lugar público e depois saia sem deixar rastros ou ninguém perceber?

Talvez os clientes do clube pudessem responder a algumas dessas


perguntas, mas ela se preocupava em obter mais becos sem saída do que
pistas.

Quando seu telefone tocou, ela atendeu por reflexo, tirando o


aparelho do bolso da jaqueta e colocando-o na orelha.

— Saunders ...

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— Verifique seu e-mail.

Ela revirou os olhos.

— Você poderia apenas ter colocado sua cabeça aqui, Delorean.

— Estou saindo do clube. O QG me chamou, mas tenho outros quatro


agentes vindo para apoiá-la. Verifique seu e-mail.

A conexão foi cortada e ela murmurou enquanto acessava sua conta


de trabalho. Ela ainda estava falando sozinha quando abriu o que o agente
especial havia enviado. Fale sobre curto e doce. O e-mail tinha um anexo
... um arquivo de vídeo ... e Delorean havia digitado três palavras sem
pontuação: "filmado na noite passada".

Disparando a filmagem, ela ...

Iluminação fraca. Multidão de pessoas barulhentas em um círculo.


Alguém no centro ...

Ralph DeMellio. Sem camisa.

A câmera estava quicando por toda parte, como se o dono do celular


estivesse sendo atingido, mas ela sabia o que Ralph estava fazendo: clube
de luta secreto. Erika estava bem ciente de que eles estavam na cidade e,
nos últimos meses, ela esperava ser chamada depois de uma partida em
que alguém morreu por causa de um soco ...

480
— Puta merda, —ela respirou.

A câmera girou em torno do oponente de Ralph, e Erika recuou ao


dar uma olhada no cara. A musculatura do peito do homem era a de um
atleta profissional, e a tatuagem que cobria cada centímetro da pele era
digna de membro de uma gangue, o campo negro destacando a mão
ossuda de um esqueleto estendendo-se para frente.

— Jesus, Ralph, o que você estava pensando, —ela murmurou.

DeMellio tinha sido claramente um lutador amador, com base em sua


constituição e no que ela aprendeu depois de falar com os pais dele. Mas
esse oponente? Ela não precisava de sua ficha criminal para saber que ele
era um assassino: ele estava olhando para frente com os olhos frios e mortos
de um predador que não tinha consciência.

Por uma fração de segundo, Erika sentiu um arrepio percorrer seu


corpo. Então sua coragem profissional voltou a ficar ativa e ela observou
o que acontecia quando a luta começou, o par circulando um ao outro, as
mãos de Ralph para cima enquanto os braços do oponente pendiam de
forma relaxada.

Quando a ação finalmente começou—Ralph fazendo uma abordagem


com punhos que pareciam de uma criança em comparação com o que ele
tentaria bater—ela se colocou no lugar dele, com o coração na garganta,

481
sabendo o que viria a seguir e não apenas com o que quer que tenha
acontecido nesta luta com as mãos nuas. Essas foram algumas das últimas
horas da vida do garoto, e ela não pôde deixar de pensar em como tinha
sido sentar-se em frente à mãe e ao pai e contar a terrível notícia de sua
morte para duas pessoas perfeitamente legais.

O pai chorou mais do que a mãe.

Erika, entretanto, tinha perdido o controle mais tarde, quando ela


estava em casa sozinha ...

Aconteceu tão rápido que uma repetição foi necessária: o oponente


dominou Ralph rapidamente, mas algo fez com que o homem olhasse para a
multidão—e Ralph sacou uma faca e cortou a garganta grossa do oponente.

O arquivo terminou abruptamente com um empurrão selvagem, como


se quem estava filmando tivesse saído correndo junto com o resto do
público. Muito concreto sob os pés. Em seguida, uma escada emperrada.

Poderia ser um monte de lugares no centro, ela pensou. Mas talvez um


estacionamento? Ou uma arena?

Erika reproduziu a filmagem novamente e aumentou o volume do


alto-falante. Na segunda viagem, ela notou que Ralph estava usando a
mesma calça jeans com que tinha sido morto, ela reconheceu os rasgos e

482
manchas feitos por designers. E quanto à garota ao lado dele? Era difícil
ver muita coisa na multidão, mas não ia ser difícil congelar as imagens e
checar novamente pela presença dela.

Eles precisavam saber mais sobre a fonte desta filmagem.

Quando chegou o momento do adversário erguer os olhos e ficar


quieto, Erika parou a partida e aproximou daquela cara dura e fria. Então
ela fez o mesmo assim que a faca terminou seu arco.

Difícil de acreditar que o homem sobrevivesse a isso, e em


circunstâncias normais, ela poderia pensar que a morte de Ralph fosse
causada por alguém da equipe do cara, como vingança. Mas não com o
histórico de tantos outros com seus amantes e nenhum coração no peito.

Mas o que aconteceu com o oponente? Ela imaginou.

Devia haver um corpo associado àquele sangramento arterial, e isso


iria aparecer, mais cedo ou mais tarde.

Apenas outra parte do mistério.

483
Na noite seguinte, depois que o sol se pôs abaixo do horizonte, as luzes
externas acenderam-se ao redor da vizinhança de Nate, mas nem todos os
humanos ficaram em casa. Noite de sexta-feira. Tempo de jantar e de
cinema. Topgolf . Clubes de comédia, teatro, um campeonato de poesia.

Nate estava saindo também. No momento em que a Primeira


Refeição acabou.

Ele tinha a desculpa de ir à Casa Luchas toda pensada: ele ia ligar para
a casa da fazenda e dizer que estava procurando uma jaqueta que devia ter
deixado na garagem e se poderia dar uma olhada.

Enquanto ele repetia seu pedido casual e sem importância em sua


cabeça—pela centésima vez—ele estava vagamente ciente de que seus pais

Topgolf é uma empresa global de entretenimento esportivo com sede em Dallas, Texas, com escritórios nos Estados Unidos, Reino Unido,
Austrália, México e Dubai. Em outubro de 2020, a Callaway Golf de capital aberto anunciou que iria adquirir a Topgolf, com a fusão concluída em
março de 2021.

484
não estavam falando. Murhder e Sarah estavam em seus lugares regulares
à mesa, e os ovos e bacon, bagels e frutas, que eram itens padrão para esta
refeição, mas nenhum deles estava dizendo nada.

Seja o que for. Nate tinha que fazer seu procedimento direito. Depois
de acertar em quem quer que atendesse o telefone fixo da Casa Luchas
com a história da jaqueta, ele precisava estar preparado para entrar na casa
da fazenda, verificar a garagem para ver o que ele sabia que não estava
lá—e casualmente trazer Elyn à tona. Onde ela poderia estar. Se era
esperado que ela aparecesse ... em algum lugar. Ele teria que manter seu
tom leve e seus olhos neutros. Nada nervoso ou suspeito.

Mesmo que sua verdadeira intenção não fosse casual. No mínimo.

Ele não recebeu ligações durante o dia.

Não, isso não era verdade. Shuli ligou. Duas vezes. E havia
mensagem de texto do trabalho, designando-o para um trabalho a partir
de segunda-feira. O que significava que ele tinha a noite e o fim de semana
de folga sem nada para fazer a não ser esperar, imaginar e pular toda vez
que Shuli ligava para convidá-lo para sair.

O que diabos ele iria fazer ...

— Tudo bem, fui eu que pedi a Shuli para cuidar de você.

485
Nate congelou enquanto mastigava enquanto Murhder fazia o mesmo
com uma garfada de ovo mexido a caminho da boca.

— O que?

— O que?

Enquanto os dois falavam ao mesmo tempo, Sarah empurrou o prato


e cruzou os braços sobre o jaleco. Seus olhos cor de mel estavam bastante
tristes quando ela alisou o cabelo na altura dos ombros.

— Eu apenas ... Eu sinto muito, Nate. Você estava começando seu


primeiro emprego. Você estava indo para o mundo perigoso. Eu estava
assustada. Eu fiz a coisa errada, tudo bem, mas não vou me desculpar por
tentar mantê-lo seguro. Você teve ... bem, um trauma, você sabe? E eu não
tinha certeza de como ajudar você, e às vezes os pais fazem coisas idiotas.
Mas certamente eu nunca tive a intenção de envolver uma arma.

Nesse ponto, ela começou a chorar, agarrando um guardanapo e


pressionando-o contra os olhos. Com as fungadas subindo e os ombros
dela tremendo, Nate olhou para Murhder em pânico—mas o Irmão já
estava lá, arrastando a cadeira para trás e se ajoelhando ao lado de sua
shellan.

— Estou bem. —Ela bateu em seu companheiro. — Eu simplesmente


odeio que vocês dois não estejam se falando! Não suporto ficar na mesma

486
casa com toda essa tensão, e a culpa é minha e, ah, merda, posso ficar com
o seu guardanapo também.

Nate se recostou lentamente enquanto duas das sílabas que ela falou
eram absorvidas. Mesma. Casa. — Você acha que eu posso me mudar para
a Casa Luchas? —Ele deixou escapar.

Os dois olharam para ele. E então Sarah começou a chorar ainda mais
forte. — Eu não sabia que você era tão infeliz aqui ...

— O que deu em você? —Murhder se levantou. — Eu não entendo ...


— Você está nas drogas?

— Você está usando drogas?!

Sacudindo-se de volta à atenção, Nate sentiu como se estivesse em um


episódio de Who's the Boss? enquanto seus pais falavam um sobre o outro
em um pânico completo de nosso-filho-é-um-viciado.

Colocando o guardanapo ao lado do prato, ele se levantou. — Eu


tenho que fazer uma ligação ...

Naquele momento, o celular de Murhder começou a tocar.

Who's the Boss?, é uma sitcom estadunidense criada por Martin Cohan e Blake Hunter e exibida pela ABC entre 20 de
setembro de 1984 e 25 de abril de 1992.

487
— Maldição. —Ao enfiar a mão no bolso de trás e verificar a tela, ele
praguejou novamente e apontou para Nate. — Você senta sua bunda de
volta agora. —Em seguida, ele latiu ao telefone: — O quê.

Nate olhou para onde havia deixado sua mochila no balcão. Talvez
em vez de seguir o caminho da jaqueta perdida, ele pudesse ligar para a
Sra. Mary e perguntar se havia um quarto na Casa Luchas para uma coisa
do tipo zelador. Era sua única chance de estar lá regularmente e de
estabelecer um caminho cruzado com Elyn: Obviamente, ele não podia
trabalhar no Lugar Seguro porque os machos não eram permitidos lá—bem,
e ele não tinha diploma de aconselhamento ou experiência. E ele não
poderia estar na Casa Luchas como assistente social pelo mesmo motivo.
Mas talvez se ele vivesse lá como uma equipe de nível inferior?

Porque talvez ele estivesse errado sobre a partida de Elyn?

Embora quem ele estava enganando. Ela não tinha ligado para ele e
isso não era uma folha de chá que ele deveria ler?

— Ele está bem aqui. —Murhder franziu a testa e olhou para o outro
lado da mesa. — Uh-huh. Okay, bem, deixe-me falar com ele e Sarah.
Certo. Sim. Mais tarde.

Quando o Irmão desligou, ele franziu a testa. — Isso era Rhage. Ele
disse que Mary está procurando uma ajudinha na Casa Luchas esta noite.

488
Acho que há uma jovem fêmea se mudando para lá e eles precisam que os
móveis de seu quarto sejam arrumados ...

Nate saltou da cadeira.

— Sim! Você disse a ele que eu farei isso, sim? Sim! —Ele girou em
torno de sua mochila e se atrapalhou para pegar seu telefone. — Vou
mandar uma mensagem para ele ...

— Você pode se sentar, porra, —Murhder disparou, — e nos diga o


que diabos está acontecendo aqui primeiro.

— Nada? —Nate abaixou a bunda de volta na cadeira e colocou as


mãos no ar como se fosse um assalto. — Eu só quero ajudar. Na Casa
Luchas. Você sabe, eles estão fazendo coisas realmente especiais—você
sabe, ajudando as pessoas. Bem ali.

Murhder olhou para Sarah. Ela olhou para ele. E então os dois
olharam para Nate.

— Eu não estou usando drogas. —Ele colocou sua mochila sobre a


mesa e abriu todos os zíperes que a coisa tinha, exibindo bolsos e bolsas
que mostravam um monte de nada ilegal. — E você pode ir através do
meu quarto. Cada gaveta, debaixo da cama, no armário ... todas as
jaquetas e calças que tenho. Eu não estou nestas coisas e nunca vou estar.

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— Então é realmente sobre a coisa do Shuli? —Sarah disse. — Eu
honestamente sinto muito ...

— Não, não é. Quer dizer, eu achei o movimento de Shuli estranho,


mas eu realmente não me importo.

Houve uma longa pausa enquanto seus pais o radiografavam com


todos os tipos de o-que-vamos-fazer.

— Você sempre pode vir e falar conosco, —disse Sarah, fungando e


dando tapinhas embaixo de um dos olhos. — A qualquer hora, sobre
qualquer coisa. E novamente, eu peço desculpas por envolver Shuli. Eu
não tinha ideia de que ele iria tão longe quanto fez, e eu deveria ter vindo
até você com minhas preocupações primeiro.

— Bem, eu consertei aquela coisa de “longe demais”, —Murhder


murmurou. — Confie em mim.

— Você pode enviar uma mensagem de texto para Rhage? —Nate


perguntou apressado enquanto fechava o zíper de tudo. — Ligar pra ele?
Eu vou ligar pra ele. Eu vou pra lá agora ...

— O que diabos está acontecendo na Casa Luchas que é tão


importante ...

490
Enquanto Murhder ia para outra rodada, Sarah tinha uma expressão
estranha no rosto. E então colocou a mão no antebraço de seu
companheiro, algum tipo de entendimento drenando a ansiedade dela e
substituindo-a por uma surpresa suave.

— Vamos enviar uma mensagem de texto para Rhage, —ela disse. —


E, claro, por que você não vai até lá agora mesmo.

— Excelente! VejovocêsparaaÚltimaRefeiçãookayobrigadoetchau!

Nate correu para a porta de correr atrás da mesa, puxando o vidro e


quase caindo no terraço. Fechando os olhos com força para
desmaterializar, ele fechou as coisas de volta e teve que desacelerar sua
respiração e ...

Nada perto de desmaterializar aconteceu.

Ele ficou onde estava, seu coração batendo forte no peito. Respirando
fundo, ele dobrou seus braços. Reorientando-se.

Quando isso não funcionou, ele verificou novamente os pais.


Murhder estava com o telefone na palma da mão, mas estava focado em
Sarah e olhando um pouco confuso. E quando o Irmão olhou para fora
através da porta deslizante, Nate fechou novamente suas pálpebras ...

Desta vez, ele conseguiu desmaterializar.

491
Viajando em uma dispersão de moléculas, ele não conseguiu chegar à
Casa Luchas rápido o suficiente e, quando se reformulou, disparou pelo
gramado até a porta da frente. Ele estava quase engasgado com a emoção
e a esperança e o ...

Bem, todos os tipos de tudo.

Exceto que ele teve que se lembrar de relaxar. Poderia ser outra
fêmea—mas então por que Rhage ligaria? O Irmão sabia o que estava
acontecendo, e vamos lá, eles tinham outras mãos no convés para ajudar
a montar os móveis.

A menos que eles realmente precisassem de ajuda. — Cale a boca, —


ele disse a seu cérebro.

Quando Nate tocou a campainha uma vez—e depois quis apertar o


botão cem mil vezes—ele teve o pensamento de amortecimento
novamente: E se fosse outra pessoa, e se eles realmente precisassem de
outro ...

O painel se abriu e meio rosto entrou na costura.

Quando Nate reconheceu as características, ele começou a sorrir. —


Oi, —disse ele.

492
Tallah não era uma boa cozinheira.
Quando Mae começou a correr um pouco de água sobre o monte de
panelas e frigideiras sujas na pia da cozinha da casa de campo, ela pensou
que tinha sido tão gentil da parte da fêmea idosa insistir em fazer uma
refeição na noite anterior, mas ... sim. Além de ela ser incrivelmente
ineficiente com os utensílios e qualquer coisa com alça, Gordon Ramsay
não teria deixado aquele ensopado sair para servir e provavelmente teria
jogado alguns pratos no chão para provar isso. Mas como se Tallah já
tivesse cozinhado alguma coisa em sua antiga vida? Sua antiga residência
tinha sido preenchida com doggens, e não apenas nunca houve uma razão
para ela aprender a preparar comida, como teria sido considerado abaixo
de sua posição fazer isso.

E desde então? Bem, ela reaquecia os jantares congelados de Stouffer


como uma profissional.

Gordon James Ramsay OBE, é um chef de cozinha, youtuber, autor e personalidade televisiva britânico nascido na Escócia.

Stouffer's é uma marca de alimentos preparados congelados atualmente de propriedade da Nestlé. Seus produtos estão disponíveis
nos Estados Unidos e Canadá. Stouffer's é conhecido por pratos populares como lasanha, macarrão com queijo, bolo de carne, ravióli e bife salisbury.

493
Sahvage não pareceu se importar com o ensopado, no entanto, e
depois, quando Tallah insistiu em jogar Monopoly, ele a divertiu com isso
também—e Mae também, até que ela adormeceu no sofá no meio do jogo.
Em algum momento, alguém jogou um cobertor sobre ela, e quando ela
acordou alguns momentos atrás, foi para encontrar Sahvage dormindo
sentado na poltrona em frente a ela. Tallah sem dúvida se retirou lá para
baixo, e o tabuleiro do Monopoly, assim como as panelas e frigideiras,
ficou em um estado de desordem pós-uso, casas verdes e hotéis vermelhos
pontilhando as propriedades, dinheiro falso em pilhas espalhadas
amontoadas na mesa de café, o sapato e o cachorro ainda em Park Place
e Pennsylvania Avenue, respeitosamente.

No segundo que Mae se levantou do sofá, o olho direito de Sahvage


se abriu, mas não permaneceu assim. Como se ela tivesse passado por
algum tipo de revisão—talvez inconsciente—ele se acomodou e pareceu
voltar a dormir.

Mae não estava com fome, seu estômago ainda estava revirando com
o esplendor da comida caseira de Tallah mesmo tantas horas depois, mas
ela não conseguia ficar parada.

Além disso, cada coisa que você poderia colocar no fogão tinha sido
usada para aquele ensopado. Se alguém quisesse ovos para a Primeira

494
Refeição, não havia nada para cozinhá-los, e isso expôs outra banalidade
sobre as fêmeas de valor da glymera.

Não só não sabiam cozinhar, como não sabiam como limpar,


também.

Batendo na piscina de água morna com um aperto de sabão líquido


Ivory, ela olhou para trás para se certificar de que não estava fazendo
muito barulho. Felizmente, as botas de salto pesado de Sahvage estavam
na mesma posição, cruzadas no tornozelo, então ele permaneceu onde ela
o havia deixado.

Mae tentou ficar o mais quieta que podia enquanto usava um maço
de toalhas de papel como esponja—já que ela destruiu a única esponja de
Tallah no chão da cozinha na noite anterior. Parecia que ela estava
desenvolvendo um histórico de limpeza nervosa ...

Ao som de um rangido, ela congelou e olhou para a geladeira que


bloqueava a porta dos fundos. Quando o som não se repetiu, ela respirou
fundo e disse a si mesma que, embora não pudesse fazer nada sobre o que
quer que estivesse fora da cabana, maldição, ela poderia lavar e secar a
bagunça na frente dela.

Quando a prateleira ficou muito cheia, ela parou de ensaboar e


enxaguar e pegou um pano de prato ...

495
— Oh! —Ela engasgou. — Você está em pé.

Sahvage estava encostado na porta aberta para o banheiro, os braços


cruzados e as pálpebras baixas enquanto a estudava. Ele parecia maior do
que nunca, mas ela estava começando a esperar aquela impressão
automática. Parecia que toda vez que ela o via, ela tinha que se acostumar
com o tamanho dele novamente.

E essa não era a única coisa que continuava causando uma nova
impressão. Os olhos dele. Os lábios dele. Seu ... quadril.

— Eu não queria te acordar. —Ela começou a secar a pilha que havia


criado. — Eu, bem, a limpeza é necessária se alguém quiser cozinhar
novamente.

— Eu não estava dormindo. Apenas descansando meus olhos. Tallah


levantou?

— Ela geralmente não se levanta antes da meia-noite. —Mae sorriu


um pouco. — Ela acredita no sono de beleza. Isso costumava deixar
minha mahmen maluca—bem, de qualquer maneira.

— Não, continue.

Mae circulou a toalha em volta do interior de uma frigideira. — Tallah


amava minha mahmen. E era muito mútuo. Elas eram tão diferentes

496
quanto poderiam ser, mas tinham uma amizade maravilhosa que cruzou
as barreiras entre serva e senhora.

— Então Tallah deve sentir falta dela.

— Eu acho que ela sente, sim.

Houve um longo silêncio. Então ele disse: — Ouça, precisamos falar


sobre o elefante na sala.

Mae não tinha intenção de que seus olhos percorressem seu corpo.
Mas eles fizeram. E ela não queria que seu rosto ficasse vermelho. Mas
aconteceu. E ela orou para que ele não notasse nenhum desses.

Mas ele fez.

Quando Sahvage se endireitou, ela engoliu em seco e ficou realmente


determinada a não deixar cair a frigideira das mãos. Então ela a largou.

Ao longo das horas do dia, ela teve sonhos vívidos com ele se
aproximando dela. Tomando-a nos braços. Abaixando seus lábios nos
dela ...

E toda vez, pouco antes do beijo acontecer, a imagem desaparecia.


Uma e outra vez. Era como um loop que não parava, uma promessa
tentadora que nunca se concretizava.

497
Uma miragem que estava sempre à beira do precipício, nunca na
realidade.

Embora pela maneira como os olhos semicerrados dele estavam


focados nela agora, e como seu corpo estava se movendo em direção a ela,
e ...

Sahvage passou por ela e voltou para a sala. Ao lado da poltrona em


que estava, ele pegou a mochila preta que sempre guardava com ele—e
pelos sons de metal contra metal, ela sabia o que havia dentro.

Ainda assim, foi um choque quando ele colocou as coisas na mesa e


começou a abrir o zíper.

— Muitas ... —ela sussurrou.

Armas, ela terminou em sua cabeça.

Mae observou enquanto as grandes mãos dele passavam pelos


emaranhados de focinhos e bocas ou como quer que você as chamasse.
Também havia munição lá, balas soltas que eram longas e pontudas, e
caixas também.

A arma que ele trouxe era uma pequena, só Deus-sabe-o-quê.

498
— Esta é uma autoloader de nove milímetros com um carregador
cheio, —disse ele. — Ela tem uma mira a laser. Aponte e atire,
literalmente. Usando as duas mãos. E certifique-se de que não há nada
com que você se importe por trás do que você está mirando. A segurança
está aqui. Travado. Aberto. Tente você.

Sob quaisquer outras circunstâncias, ela não teria chegado perto da


coisa. Mas Sahvage não poderia ficar com elas para sempre, e ... bem,
aquela morena, para começar. Aquela sombra, por outro lado.

As mãos de Mae estavam surpreendentemente firmes quando ela


aceitou o peso dele. Então, novamente, ela não estava tentando fazer nada
com a arma.

— Travado. Aberto, —ela disse enquanto imitava o movimento dele


da segurança.

— Aqui, deixe-me tirar o pente. —Depois que ele removeu um pente


cheio de balas, ele devolveu a arma para ela. — Você vê o botão ali no
punho. Aperte—isso mesmo, essa é a sua mira a laser.

Mae moveu o ponto vermelho pela cozinha, firmando-o no logotipo


da GE da geladeira—e depois na maçaneta da porta do banheiro. Depois

O autoloader de 9 mm ou o autoloader Colt 6504 de 9 mm.

499
disso, ela pegou uma frigideira no escorredor e treinou o feixe em uma
cadeira.

— Mantenha a segurança sempre ligada até que você esteja pronta


para atirar, —disse Sahvage. — Sem coldre, mas você pode enfiá-la no
bolso.

— Mesmo quando estou apenas em casa.

— Sim. Eu teria dado a você antes, mas não queria alarmar Tallah. —
Ele acenou com a cabeça em direção ao banheiro. — Eu vou lá tomar um
banho. Aqui, pegue o pente e coloque-o de volta corretamente para que
você saiba como é.

Ela pegou o pente e o inseriu novamente.

— Nunca disparei com uma arma antes. Bem ... sozinha, quero dizer.

— Com esperança, não vai se tornar um hábito.

Mae balançou a cabeça e pigarreou.

— Ouça, eu tenho que voltar para casa—você sabe, para pegar


algumas coisas de trabalho?

— Eu posso ir com você ...

— Não, não. Estou mais preocupada com Tallah do que comigo.

500
— Essa é uma avaliação ruim da realidade.

Ela limpou a garganta e tentou ser casual. — Olhe, você pode apenas
ficar aqui? A casa está protegida, você mesmo disse. Além disso, se Tallah
acordar, não quero que ela pense que a abandonamos ou, pior, que algo
aconteceu comigo.

— Você tem um telefone celular. Ela pode ligar para você ...

— Ela não é boa com telefones. Por favor, não vou demorar muito.

Sahvage balançou a cabeça. Mas então encolheu os ombros.

— Eu não posso te impedir. Mas você vai levar isso com você.

Quando ele apontou para a arma, ela assentiu.

— Sim. Eu vou.

— Me dê um minuto para tomar um banho. Então você vai?

— Absolutamente. —Ela estendeu as mãos para tranquilizá-lo—e


percebeu que havia uma arma em uma delas. Então ela baixou os braços.
— Quero dizer, leve o seu tempo.

— Eu não vou demorar, —ele disse enquanto desaparecia no


quartinho e fechava a porta.

501
Deixada sozinha, Mae se curvou e se perguntou como ela iria passar
a noite. Então ela pensou no que Sahvage estava fazendo e onde ele estava
fazendo.

Quando Tallah se mudou para a cabana, o pai de Mae havia


reformado o banheiro do primeiro andar com um chuveiro moderno—
porque ela insistiu que poderia receber convidados. Os convidados nunca
haviam se materializado, então Mae não tinha certeza de quando foi a
última vez que aquele chuveiro foi chamado para o serviço.

Parecia tão estranho pensar que este estranho seria o único a abrir
aquela torneira.

De certa forma, isso o conectava com o pai dela.

— Eu só vou lavar a louça, —ela murmurou sem nenhum motivo para


a porta fechada.

Que não estava fechada. Não completamente.

Mae abriu a boca para apontar a lacuna de quinze centímetros para


ele ...

Oh. Okay ... ah, sim. Ele estava se livrando de suas roupas muito
rápido mesmo, a camisa subindo e descendo, aquela caveira com as presas

502
nas costas fazendo uma reaparição chocante. Sem tatuagens nos braços,
era fácil esquecer toda a tinta que ele tinha.

E então ela não estava pensando em nada disso.

Ela estava observando os músculos se moverem sob a pele lisa dele ...
e se perguntando como seria passar as mãos sobre os ombros dele. Sua
espinha. Seu quadril ...

Sahvage se virou e olhou para ela, a luz da luminária da pia lançando


sombras sob seus peitorais, as cristas de seu abdômen, os cortes de seus
braços.

Mae enrubesceu e tentou fingir que não o estava olhando boquiaberta.

— Desculpe, desculpe—eu, ah, eu ia te contar sobre a porta ...

— Não se desculpe. —Quando ela olhou para ele, ele abaixou o


queixo e olhou para ela sob as sobrancelhas pesadas. — Eu gosto quando
você me olha.

Separando os lábios, Mae teve dificuldade para respirar.

— O que mais você quer ver? —Sahvage disse em uma voz baixa e
gutural.

503
Balz gostava de ser pontual.
Principalmente quando se tratava de monetizar uma noite de
trabalho.

Enquanto ele se reformava na borda de uma área plantada de um


humano, ele tinha que se mover rápido, mas ele estava pronto para o que
viria depois que ele pegasse seu dinheiro. Ele estava todo arrumado com
suas roupas de lutador, seus couros e armas no lugar—não que ele tivesse
vindo aqui para esta merda em um smoking.

Ou sem todos os tipos de metal.

Vinte minutos e ele tinha que estar em campo com Syphon.

O trailer foi escondido em terreno suficiente para que você não viesse
à procura da propriedade, a menos que estivesse cercando a propriedade.
O cara que ficava aqui era uma verdadeira joia do caralho, mas ele lidava
com tudo que havia, e seu dinheiro era real.

504
Então, honestamente, quais outras qualificações eram necessárias?

Subindo os degraus, ele bateu na porta, que estava um pouco solta.


Quando não houve resposta, ele deu mais força e olhou para a
caminhonete. O filho da puta estava dentro, e eles marcaram esse encontro
ontem. Além disso, Dave não era do tipo que reservava duas pessoas de
cada vez. Em sua linha de trabalho, o anonimato era tudo. Você não
queria que seus fornecedores cruzassem com seus compradores ou você se
veria fora de seu emprego de intermediário.

— Vamos, Dave, —ele falou. — Abra a porra ...

Ele puxou a porta quebrada como uma forma de tirar Dave de


qualquer ligação que ele estivesse ... O cheiro que exalava era de sangue
que tinha envelhecido um pouco.

Balz já tinha sua arma discretamente na palma da mão, e com sua


visão de vampiro, ele podia ver um pouco do interior escuro. Respirando
fundo, ele se certificou de que não havia mais ninguém ali.

Parecia que o bom e velho Dave tinha jogado sua mão em algo um
pouco quente demais.

Entrando, ele encontrou o homem reclinado no sofá surrado com a


maior parte do cérebro estourado na parte de trás do crânio, arte abstrata
sem moldura.

505
— Maldição, —Balz murmurou enquanto olhava ao redor. — Eu
tenho aqueles relógios, cara.

O quarto ficava do outro lado, e ele caminhou até a decoração do


colchão nu no chão só para ver—bem, olhe só. Alguém abriu o armário
de Glocks de Dave e o limpou.

De volta ao trailer propriamente dito, Balz olhou para o local onde a


sala de estar havia sido reformada com massa cinzenta e respingos de
sangue. Fodidamente maravilhoso. Agora ele precisava encontrar outro
receptador.

Foi como se a Starbucks interrompesse o Verismo . Ele vinha


acumulando cápsulas por meses, e quando aquela maldita máquina
quebrasse ou ele finalmente ficasse sem elas, ele teria que reinventar seu
café perfeito.

Porra de inconveniência por nada.

No momento em que estava se virando, ele avistou algo no chão, meio


escondido sob a franja suja do sofá da morte. Era uma sacola de plástico
Hannaford, e a coisa estava parcialmente aberta ...

Starbucks é uma empresa multinacional norte-americana, com a maior cadeia de cafeterias do mundo. Tem sua sede na cidade de Seattle,
estado de Washington.

Cápsulas de café italiano compatíveis com Starbucks Verismo.

506
... e exibindo muitos rostos de B. Franklin .

Aproximando-se, ele puxou a sacola livre dos coelhinhos de poeira e


agarrou algo nojento no tapete. Enquanto lutava contra a resistência, ele
ouviu a voz de Flula em “Beer Pong, You Are Terrible” .

Sucos de cranberry. Pegajoso, pegajoso. Lamba, lamba, lamba, lamba ...

A sacola se soltou e, enquanto ele a abria bem, ele assobiou para todos
os maços de cem.

— Bem, isso está quase certo, não é, Dave. —Determinado a ser um


jogador de equipe, ele sorriu para o rosto pálido com seus olhos cegos e o
pequeno buraco vermelho no centro da testa. — Deve ter cerca de vinte
mil aqui. Bom negócio.

No varejo, os relógios da coleção do Sr. do Commodore custariam mais


de cem mil. Mas você tinha sorte de conseguir 20% quando estava no lado
do comércio de Balz.

Benjamin Franklin foi um polímata estadunidense. Foi um dos líderes da Revolução Americana, conhecido
por suas citações e experiências com a eletricidade. Foi ainda o primeiro embaixador dos Estados Unidos em França. Religioso, calvinista, e uma
figura representativa do iluminismo.
Flula Borg, nascido em Kristof Robinson, é um ator, músico, comediante, personalidade do YouTube e DJ alemão que também é conhecido
simplesmente como Flula ou DJ Flula. Ele mora em Los Angeles.
Beer Pong, You Are Terrible. (3:08am) https://www.youtube.com/watch?v=K4ltRlV-7YM

507
— Vou apenas deixar isso aqui mesmo. —Ele piscou para seu parceiro
de negócios frio e imóvel enquanto colocava a caixa do relógio na mesa
de centro. — Eu odiaria roubar de você. Isso apenas arruinaria minha
reputação no LinkedIn .

Ele teria enrolado a bolsa em volta do dinheiro e apenas enfiado


dentro de sua jaqueta, mas lambida, lambida, você não sabe. Então ele
pegou as notas e deixou a bolsa nojenta cair no tapete emaranhado.

— Se cuide, garotão.

No momento em que Balz estava prestes a sair do trailer, um par de


faróis iluminou a frente com todos os tipos de oi-como-você-está. As cortinas
estavam abaixadas, então ele foi em frente e separou as ripas empoeiradas.
Era um sedan de merda, com muitas listras enferrujadas atrás dos pneus.
E um homem mais velho saiu com um macacão, sua barba desalinhada e
cabelos grisalhos cortados, o rosto enrugado e frouxo. Ele acendeu um
cigarro e olhou para o trailer com uma expressão de cansaço.

O pai de Dave. Tinha que ser. Eles tinham a mesma estrutura óssea, mas
mais do que isso, a maneira como o cara olhava para frente? Era como se
ele estivesse esperando pelo que iria encontrar lá dentro.

LinkedIn é uma rede social de negócios fundada em dezembro de 2002 e lançada em 5 de maio de 2003.

508
Uma tristeza inesperada envolveu o coração de Balz.

Ladrões ainda deveriam ser lamentados, ele pensou enquanto se


desmaterializava. Mesmo que suas vidas não valham merda nenhuma.

Na Casa Luchas, Nate entrou em um quarto no canto sudoeste da casa


da fazenda. Havia grandes caixas de papelão inclinadas contra a parede,
um tapete enrolado e dois colchões empilhados no meio—o que não era
exatamente aconchegante e convidativo. Mas quando ele foi até a janela,
ele teve uma boa visão do grande bordo no gramado da frente.

— Se você colocar sua cama contra esta parede, —ele apontou para o
trecho mais longo do quarto, — você será capaz de olhar para ela deitada.

Quando não houve resposta, ele olhou por cima do ombro. Elyn
estava no banheiro da suíte, inclinando-se no espelho, olhando para si
mesma como se não reconhecesse o reflexo—ou talvez como se ela não
tivesse certeza de onde estava e estivesse tentando se firmar em suas
próprias feições.

509
Nate foi até ela. No andar de baixo, havia sons de pessoas se
movendo, vozes, risos. E o cheiro de biscoitos Toll House recém-
assados. Ele gostaria de poder trazer aquela vida até aqui em cima, até
Elyn.

Seus olhos prateados encontraram os dele pelo espelho. Ela não disse
nada, mas não precisava. Ele sabia exatamente o que ela estava pensando.

Ele pigarreou. — Sabe, a coisa mais difícil para mim quando saí foi
confiar que ficaria fora. Que eu realmente estava onde eu estava. Era como
se a qualquer momento eu fosse ser puxado de volta. Eu não confiava na
realidade.

Elyn se virou para ele com os olhos arregalados. — Onde você estava
preso?

— Em algum lugar que eu não queria estar. —Ele teve que desviar o
olhar. — Não é importante aonde. Só sei como é difícil para você agora. E
ficará melhor, eu prometo.

Quando ele conseguiu encontrar seus olhos, ele esperava que ela se
abrisse e falasse sobre sua história, embora ele temesse os detalhes.

Nestlé Toll House Café é uma franquia nos Estados Unidos e Canadá fundada por Ziad Dalal e seu sócio Doyle Liesenfelt. Os
dois fundaram a Crest Foods, Inc. D / B / A "Nestlé Toll House Café by Chip" em 2000 em Dallas, Texas.

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— Você está seguro agora? —Ela sussurrou.

Ele assentiu. — Sim. E você também.

Ela se voltou para o espelho. — Eu estou perdida. Eu pensei que ...


Eu estaria livre, mas estou perdida.

— Eu sei e eu sinto muito. Estive onde você está e é uma merda.

— Diga-me.

— Eu, ah, eu ... não posso. —Ele não iria perder a cabeça na frente
dela. E de alguma forma, falar sobre o laboratório o faria se sentir mais nu
do que se realmente estivesse nu. — Eu gostaria de poder, mas não posso.

Elyn respirou fundo. Então ela o alcançou através do espaço entre eles
e pegou a mão dele. Quando ela fechou os olhos, ele não podia acreditar
que ela o estava tocando ...

O raio de eletricidade percorreu seu corpo e, como consequência, ele


estava imóvel e totalmente entorpecido, mas ainda de pé. Então veio a
vibração. A princípio, ele pensou que fosse algo físico, mas então percebeu
que o que estava acontecendo estava em seu cérebro. Era como se seus
pensamentos estivessem sendo embaralhados, um baralho de cartas.

E então Elyn engasgou.

511
No meio de seu estranho estado de fuga, Nate se concentrou nos olhos
dela enquanto eles se arregalavam e a cor sumia do rosto dela. Lágrimas
se formaram e caíram nas bochechas dela, escorrendo e caindo nas laterais
de sua mandíbula. O tremor veio depois disso, sua boca se separando e o
lábio inferior começando a tremer. Com a mão livre, ela cobriu sua ...

Elyn largou seu domínio sobre ele e deu um passo cambaleante para
trás, seu quadril batendo na pia.

Quando a sensação de entorpecimento foi drenada dos pés de Nate,


certo como se fosse um nível tangível de algum tipo de líquido, ele
percebeu uma grande vergonha inundando seu corpo.

Descobriu-se que por mais doloroso que o laboratório tivesse sido, ter
Elyn horrorizada por ele foi uma agonia pior. Limpando a garganta, ele se
concentrou nas caixas no quarto dela. — Bem, vou apenas começar com
isso. —Afastando-se dela, ele ...

Elyn saltou na frente e o abraçou com tanta força que ele não tinha
fôlego nos pulmões.

— Oh ... Nate, —ela disse em uma voz que falhou. — Oh, querida
Virgem Escriba. O que eles fizeram com você. Com sua mahmen. Eles
machucaram você.

512
Nate ficou tão chocado com o contato, com o cheiro dela, com ela ...
tudo ... que o conteúdo de suas palavras não foi registrado. Mas então ele
alcançou tudo.

As mãos dela estavam acariciando suas costas. — Eu sinto muitíssimo


mesmo.

Nate queria segurá-la. Então ele fez isso—mas as coisas foram mais
longe do que ele pretendia. Ele largou sua cabeça sobre o ombro dela,
abriu o cofre interno onde guardava suas memórias horríveis ... e entrou
em sua dor.

Já fazia um tempo desde que ele tinha feito isso, o ritmo de suas noites
e dias, a normalidade da vida com Sarah e Murhder, obscurecendo seu
passado e, porra, obrigado por isso. No entanto, Elyn chamou o que ele
ignorou firmemente, para o primeiro plano.

E de alguma forma, embora fosse uma agonia, a simpatia dela o


aliviou de uma maneira que nenhuma terapia com a Sra. Mary havia feito.

Lá embaixo, no primeiro andar, as pessoas continuavam


conversando, rindo e fazendo biscoitos.

No banheiro de Elyn, o mundo parou quando duas pessoas quebradas


ficaram inteiras novamente. Através da magia de não estar sozinho.

513
Sahvage colocou a camisa no balcão da pia e se concentrou em Mae. Ela
estava parada do outro lado da mesa da cozinha, uma mão segurando a
arma que ele pegou para ela, a outra flutuando na brisa como se estivesse
procurando algo para fazer.

E o que você sabe, ele tinha algumas sugestões para isso—e ela estava
claramente aberta a elas: seu perfume delicioso a denunciava. Os olhos dela,
ao percorrerem seu peito nu, a denunciaram. A maneira como ela respirava
... a entregou.

— Diga-me, o que você quer ver, Mae?

Por favor, Deus, deixe Tallah dormir mais uma hora, ele pensou. Duas.
Oito. Por que do jeito que Mae estava olhando para ele? Eles tinham coisas
para fazer juntos que não precisavam de audiência ou qualquer tipo de
interrupção.

514
— O que você quer, Mae. —Sem pergunta desta vez. — Você quer
que eu feche esta porta?

Ela respondeu sem fazer barulho ou se mover. O painel de madeira


que os separava, o que oferecia apenas uma linha de visão para ela,
moveu-se de modo que se abriu mais. Para que ela pudesse vê-lo direito.

Tudo dele.

Sahvage certamente não havia desejado a mudança de posição do


painel, e certo como a merda que não haviam correntes de ar que
poderiam ter feito isso.

Então ela tinha feito. Porque o que ele queria mostrar a ela era o que
ela queria ver. E longe dele desapontar uma fêmea de valor.

Suas mãos foram para o cinto e ele puxou a tira de couro da fivela e
da língueta. Então ele abriu o botão e esperou com o zíper.

O peito de Mae estava subindo cada vez mais rápido, e seus olhos
estavam fixos no que ele estava fazendo. E o cheiro de sua excitação
estava ficando mais espesso.

O que o fez querer ir devagar como melaço—então esta margem, que


era tortura e prazer, duraria para sempre.

515
— É isso que você quer? —Ele perguntou em um rosnado.

— Sim, —ela respirou.

Bem, se não era essa a resposta certa.

Sahvage abaixou o zíper—e sua ereção partiu dali, estourando livre


da fechadura e da chave contra a qual estivera se esforçando, a espessa
excitação projetando-se diretamente de seus quadris. Quando ele soltou as
calças, elas caíram no seu pé.

Ela mordeu o lábio inferior e gemeu. Mas ela não se aproximou.

E isso foi quente.

— Você quer que eu toque isso? —Ele disse em voz baixa.

Quando ela acenou com a cabeça, ele pegou sua mão e envolveu a
palma em torno de seu eixo. Ele gemeu—ele não pôde evitar. Ele queria
que fosse ela fazendo o aperto, e ele queria beijá-la enquanto ela o
acariciava—e era por isso que isso o afetava tanto. Enquanto ele cavalgava
para cima e para baixo, enquanto a observava observá-lo, sua mente girou
com o que seria quando fosse ela. Quando a mão de Mae estivesse sobre
ele. Quando ela o estivesse fazendo gozar ...

Quente pra caralho, porra.

516
E ela deve ter se sentido da mesma maneira, porque ela guardou a
arma e avançou. A cada passo que ela dava, ele se acariciava. Acariciava.
Acariciava. Quando ela chegou à porta, ele orou para que ela entrasse.

Ela entrou.

Além da soleira. Porta fechando atrás dela.

Exceto que ela se inclinou para trás contra a porta, envolvendo os


braços em volta de si mesma e olhando para ele.

— Agora não é a hora.

A voz dela estava incrivelmente desapontada, e o que você sabe. Essa


merda o atravessou como uma espada.

Sahvage parou sua mão, mas não o soltou. — Eu me vejo querendo


discutir o ponto. Mas, como você pode ver, estou meio auto absorvido no
momento.

A língua rosa de Mae, sua deliciosa e erótica língua rosa, viajou por
seu lábio inferior. Então ela beliscou aquela carne macia com suas presas,
mordendo como se ela estivesse engolindo um gemido.

— E se Tallah acordar? —Ela sussurrou.

— Eu paro.

517
Houve uma pausa. E então, graças à maldita Virgem Escriba, Mae
assentiu.

— Eu só quero ver ... como você parece.

Apoiando a mão livre na parede, ele teve a sensação de que precisaria


de ajuda para se equilibrar. — Quando eu gozar?

— Sim, —ela suspirou.

— Me diga o que você quer. Você sabe, só para ter certeza de que
entendi direito.

— Quero que você ... faça você mesmo ...

— O quê, —ele exigiu.

— Gozar.

Essa palavra deixando os lábios dela fez o mundo rodar e girar. E ele
não estava perdendo sua chance. Mesmo que ele quisesse suas mãos no
corpo dela, e ele quisesse dar prazer a ela, se isso fosse o mais longe que
eles estavam indo? Certo. Ele estava totalmente fodido nisso.

Chutando suas calças para fora, ele foi até a base de sua cabeça com a
palma da mão, encontrando um ritmo lento que estimulou sua ereção mais
do que o melhor sexo que ele realmente teve—e isso não era por causa de
sua técnica de manuseio. Era tudo por causa de Mae. Sua mera presença,

518
mesmo sem qualquer contato físico entre eles, era mais quente do que as
outras fêmeas com quem ele tinha estado fisicamente.

Ele não sabia por quê. E ele não estava inclinado a perder tempo com
isso.

Ele tinha a sensação de que a resposta assustaria a merda pra fora dele
...

Quando Mae levou os dedos à boca, ela escovou o lábio inferior para
frente e para trás como se estivesse imaginando ele beijando ela ...

Sahvage sibilou e fechou os olhos com força. Ele já estava muito à


beira e não queria que acabasse tão cedo. Este espaço sagrado, apenas para
os dois, era como um cofre bloqueando o mundo, e porra, ele queria isso
agora. Há muito tempo desejava esse tipo de amnésia.

Exceto que então ele teve que abrir suas pálpebras novamente. E
voltar ao trabalho.

Quando o calor aumentou e seu pênis ficou hipersensível, ele


aumentou seu aperto e se moveu mais rápido.

— Diga meu nome, —ele comandou. — Eu quero ouvi isso.

— Sahvage ...

— Você quer isso?

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— Deus ... sim. —Ela fechou os olhos. Mas apenas por uma fração de
segundo. — Eu quero você.

— O quanto. —Mais rápido. Mais rápido. — Me diga o quanto.

— Muito mesmo. Sahvage ...

Enquanto ela gemia seu nome, ele soltou a parede e agarrou uma
toalha, mas não cobriu a cabeça de sua excitação. Ele colocou as dobras
suaves na frente quando as ejaculações começaram para que ela pudesse
assistir, para que ela pudesse imaginá-lo enchendo-a, seu ritmo inalterado
enquanto ele ordenhava-se nela. E porra, ele queria continuar olhando para
ela, mas o prazer era tão intenso que suas pálpebras se fecharam sozinhas.

Certo. Ele iria apenas imaginá-lo em cima dela, os seios dela contra
seus peitorais, as pernas dela bem abertas, seu corpo arqueando para
receber o que ele estava injetando nela ...

Ele começou a gozar novamente. Antes mesmo dele terminar.

Deus, a única coisa que poderia ter deixado isso mais quente? Era se
ela estivesse tendo um orgasmo junto com ele.

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Mae teve que se segurar contra a porta do banheiro. O corpo de Sahvage
era magnífico, tão poderoso, tão viril, os músculos contraídos de seus
peitorais e braços maciços em contraste com o corpo dela, aquela
tatuagem dele trazendo uma ponta de perigo, o cheiro dele muito delicioso
para descrever. E sua mão larga naquela ereção espessa? Ela veria isso na
parte de trás de suas pálpebras praticamente pelo resto de seus dias de
sono. Talvez durante as noites acordadas também.

Deus, ela esperava que Tallah não acordasse. Por um ano.

Enquanto isso, Sahvage continuou tendo orgasmo, e foi ... lindo. Era
cru e um pouco assustador porque ele era tão grande. Mas ele parecia
entender que abrir a porta—literal e proverbialmente—para ela fazer isso
com ele teria que ser na hora dela.

Ela não conseguia se imaginar dando prazer a ele assim. Mas ela
estava disposta a apostar que ele mostraria a ela o que ela precisava fazer
...

Por que não, ela pensou. O que ela estava esperando?

Mae se aproximou dele e, ao fazê-lo, ficou nervosa. Especialmente


quando os olhos dele brilharam como se ela o tivesse surpreendido. Ela

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não estava voltando, entretanto. Quando ela teria outra chance como
essa?

Especialmente porque ela sabia que ele era temporário em sua vida.

— O que eu faço? —Ela disse suavemente.

Houve uma pausa, como se ele não tivesse certeza do que ela estava
perguntando.

— Qualquer coisa que você goste. —Ele se soltou e se encostou na


parede perto do chuveiro. — Você pode me tocar em qualquer lugar
maldito que você quiser e da maneira que quiser.

— Mas o que ... —Quando ele olhou para ela confuso, ela corou. —
Eu, ah—me diga o que te agrada.

— Suas mãos em mim. Em qualquer lugar. Sua boca. Tudo em mim.


Isso é o que eu quero. —Abruptamente, Sahvage enrijeceu. — Mae ...
você já tocou em um macho antes?

Bem, merda. Ela queria mentir. Ela queria enfrentar como se fosse
sofisticada, como se ela fosse aquela morena, toda sexualmente confiante.
Como se ela fosse qualquer coisa diferente do que realmente era. Mas isso
não era algo para esconder, mesmo que a fizesse estremecer.

Além do mais, do que ela deveria ter vergonha?

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Mae balançou a cabeça. — Não.

Ele piscou. Duas vezes. E então ele cobriu seu sexo com a toalha.

Engolindo uma maldição, Mae deu um passo para trás. Até que a
porta fechada atingiu suas omoplatas com um solavanco.

— Muda as coisas, hein. —Ela afastou o cabelo do rosto. — Desculpe.

— Você não tem nada pelo que se desculpar.

— Eu sei. —Limpando a garganta, ela encolheu os ombros e esfregou


os braços superiores para se aquecer. — Meus pais eram super
conservadores, então eu e meu irmão ... bem, isso não é importante agora.
Um assassino de humor, no entanto. Parece que vou embora agora.

Enquanto ela tentava sair do banheiro, seu coração estava batendo


forte e um calafrio a seguiu, embora ela tivesse a sensação de que era
porque o ponto frio estava dentro de seu corpo e não tinha relação com
qualquer corrente de ar.

A coisa era, esperar até que ela estivesse acasalada para fazer sexo era
como ela foi criada, e não foi algo sobre o que ela tivesse pensado
muito. Todas as suas alimentações foram supervisionadas, e nas duas
vezes em que teve sua necessidade, ela foi ao curandeiro da raça para
sedação. Encontrar um macho e se estabelecer sempre foi um tipo de

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fantasia para algum momento no futuro. E depois da morte de seus
pais nas invasões, romance foi a última coisa em sua mente. Ela precisava
ter certeza de que tinha dinheiro suficiente, que a casa estava bem cuidada
e que tudo não desmoronava, especialmente quando se tratava de Rhoger.

Sim, e veja como isso funcionou bem. Mas que diabos tudo isso
importa agora.

O que ela tinha que fazer era colocar gelo no seu irmão morto. Porque
por mais horrível que fosse seu trabalho noturno, era uma opção melhor
do que estar aqui com toda a sua condição de virgem à mostra enquanto
um macho gostoso pegava uma barra de sabonete da sorte para um test
drive em sua proverbial pista de corrida. E sim, claro, ela deveria ser toda
auto-atualizada e outras coisas, toda fêmea-escutando-seu-rugido, sem se
desculpar pela escolha que ela fez sobre sexo—que não parecia uma
escolha de todo, PS—mas quando você se sentia atraída por um macho e
passava da idade em que a maioria das fêmeas já tinha tido uma porção
de amantes? Você sentia como se algo estivesse errado com você.

E Deus, a maneira como ele se cobriu? Era como se ele pensasse que
era um pervertido sujo ou algo assim. Mas vamos lá, adultos consentindo
e tudo mais.

A porta do banheiro se abriu. E Sahvage saiu, totalmente vestido.

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Mae ergueu a mão. — Por favor. Não diga isso.

— Como você sabe o que eu ia dizer?

— Eu posso adivinhar. Você sente muito, não vai acontecer de novo,


você não sabia, não podia adivinhar, não queria me ofender. —Ela
praguejou baixinho. — Você não fez nada de errado.

Ele acenou com a cabeça para algo na mão dela.

— Você está saindo agora?

Mae olhou para baixo e descobriu que tinha pegado sua jaqueta e sua
bolsa. Huh. Vai entender.

— Ah, sim. Eu vou. Mas eu volto logo.

— Mae.

Ela fechou os olhos ao ouvir o tom dele. Havia muita compaixão


nisso, pena também. E se isso não apenas sugasse o ar sexy entre eles. Não
que tivesse sobrado nada daquele calor.

Mae balançou a cabeça. — Não posso falar sobre isso agora. —Tente,
nunca. — Além disso, há coisas mais importantes com que se
preocupar. Vejo você em breve.

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Enquanto ela corria em direção à porta da frente—porque ela teria que
se acalmar antes que pudesse se desmaterializar—tudo era um borrão e ela
se atrapalhou com a fechadura, com as mãos suadas, os dedos desleixados.
Quando ela finalmente conseguiu abrir as coisas, ela quase saltou para o
degrau da frente—e foi preciso algum autocontrole para não bater a porta,
não porque ela estava chateada, mas porque ela estava totalmente
descoordenada.

O ar da noite estava frio contra seu rosto quente e ela respirou fundo.
Ela tinha que fazer isso para conseguir desmaterializar, mas seus pulmões
também estavam queimando e ela sentiu como se houvesse uma mão em
volta de sua garganta. Caminhando para frente, ela estava vagamente
ciente da lua acima. Apenas uma lasca, porém, não lançava muita luz ...

Um raio de luz saiu da cabana atrás dela, sua sombra se estendendo


muito longe sobre a grama morta no inverno, a forma de seu corpo
distorcida.

Quando ela se virou, Sahvage foi até ela e, quando ele parou na sua
frente, ela engasgou quando ele pegou a mão dela e a colocou entre as
pernas dele. A crista que estava contida por sua braguilha ainda era muito
grande e muito dura ...

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— Você não me fez perder o interesse, —disse ele com uma voz
gutural. — Eu simplesmente fiquei surpreso e não tinha certeza de como
lidar com isso.

Ele esfregou a palma da mão dela para frente e para trás contra sua
excitação, e quando ela o sentiu através de suas calças cargo, ele sibilou e
fechou os olhos.

— Nada mudou para mim. —Sua voz era tão áspera que ela quase
não conseguia entendê-lo. — Em absoluto. Eu ainda quero você toda em
mim.

Mae inclinou a cabeça para olhar para ele e, naquele momento, ele
olhou para ela. Houve um momento quente de antecipação—e então o
beijo foi imediato e intenso, os braços dela atirando ao redor dele e o
segurando com força. Os braços dele fizeram o mesmo. Ele era tão grande,
e isso era o que ela queria que ele fosse. Ela o queria enorme, faminto e
pesado em cima dela, capaz de cancelar tudo.

Até Rhoger, e o Livro e aquela morena.

Quando eles finalmente pararam para respirar, ela olhou fixamente


para o rosto severo e faminto dele. Era impossível não imaginá-los
deitados e olhando nos olhos um do outro enquanto ...

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Quando uma sombra passou pelo feixe de luz, ela olhou para trás,
para dentro da casa. Tallah estava saindo do porão, a porta do porão se
abrindo.

— Eu já volto, —Mae jurou enquanto se afastava do corpo dele.

— Estarei esperando.

Levou um momento para se acalmar o suficiente para se


desmaterializar, e quando ela desapareceu dele, ela teve um vislumbre dele
girando de volta para a pequena casa de pedra ...

Quando Mae se reformulou atrás da garagem da casa de seus pais, ela


estava sorrindo. E quase não importou se eles realmente ficariam juntos
novamente. Apenas o fato de que ele a aceitou como ela era? Isso era o
suficiente.

Pegando a chave do carro, ela pensou sobre a sensação daquele beijo.

E decidiu ... bem, talvez toda essa coisa de aceitação não fosse o
suficiente.

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Em campo no centro da cidade, Balz caminhava lado a lado com Syphon
por um bairro de varejo de última geração, as vitrines bloqueadas com
grades retráteis e marcadas com placas de 70% de desconto! que sugeriam
que o fluxo de caixa era um problema perpétuo para os estabelecimentos
sujos. Muitos grafites. Muito lixo aleatório aglomerado pelo vento, o
equivalente urbano das dunas de areia no deserto. E o concreto irregular
sob seus shitkickers era o tipo de coisa que você tinha que ficar
checando—não importa o quão firme sua arrogância, ou quantas armas
você esteja levando ou quanto couro foi colocado em seu corpo, prender
um dedo do pé no aço em uma rachadura poderia trazer você de volta para
a terra em tantos níveis diferentes.

Botas combate para ‘chutar traseiros’ de quem se meter a besta com eles.

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— Sim, e então o que aconteceu? —Balz perguntou enquanto
examinava da esquerda para a direita.

— Não havia nada no caixão.

Balz franziu a testa e olhou para seu primo. Syphon estava em seu
passeio típico, seu cabelo escuro recém-pintado com listras verdes escuras.
Dada sua dieta ortolexia , podia-se supor que ele estava realmente se
transformando em um smoothie . Mas não, ele e Zypher ficaram presos
com a cor do cabelo ao longo do dia.

Zypher tinha escolhido alguns tons roxos escuros positivamente


atraentes.

— O que você quer dizer com nada? —Balz perguntou.

— Bem, nenhum corpo. Mas temos uma aveia de duzentos anos, se


quisermos jogar roleta russa com gastroenterite . E o Dom da Luz ou o
que quer que seja? Em nenhum lugar também. Rhage me disse que eles
ficaram em volta do caixão aberto todo-o-inferno. Tic Tac?

A ortorexia nervosa é um transtorno alimentar caracterizado pela obsessão por consumir apenas alimentos saudáveis. A pessoa ortoréxica
busca intensamente uma dieta perfeita. O termo deriva das palavras gregas orexsis "apetite" e orthós "correto".

Um smoothie é um shake de frutas comercializado com esse nome. É uma bebida cremosa, não alcoólica, preparada a
partir de pedaços e sucos de frutas, concentrados ou congelados, tradicionalmente misturados com laticínios ou sorvete.
Gastroenterite é uma infecção intestinal marcada por diarreia, cólicas, náuseas, vômitos e febre.

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Balz estendeu a palma da mão, uma sacudidela precedendo duas gotas
que foram direto para sua boca.

— E agora o que?

Preguiçosamente, ele olhou para trás. Desde que o Ômega se foi, essas
patrulhas noturnas não passavam de passeios, e ele sentia falta da luta.

— Eu não sei. Wrath diz que temos que encontrar o Livro de outra
maneira ...

Balz parou de repente. — O que?

Syphon deu alguns passos adiante, parou e olhou para trás.

— O Livro. Aquele do qual te falei. Aquele sobre o qual Rehvenge


veio à Irmandade—por que você está olhando para mim assim?

Como uma sensação de tontura fez Balz pensar que o cimento sob
seus pés estava ondulando, ele virou-se cegamente para as lojas para fingir
que algo havia chamado sua atenção. Você sabe, de uma forma normal.

— E quanto a este Livro, —ele disse uniformemente.

— Eu te disse.

— Me diga de novo.

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Syphon encolheu os ombros largos. — É uma espécie de livro de
feitiços. Uma fêmea se aproximou de Rehv procurando por ele, e ele foi
totalmente uma má noticia para essa coisa.

— Só por curiosidade, como esse Livro se parece?

— Não sei. Rehv não disse. Tenho a sensação de que você sabe
quando o vê.

Colocando a mão trêmula nos olhos, Balz ficou vagamente surpreso


por seu primo continuar falando, mas não conseguia ouvir o cara. E
enquanto ele tentava se recompor, ele ...

Impressão de uma palma roxa.

Franzindo a testa, ele piscou algumas vezes—e nada mudou sobre o


que ele estava olhando: ele estava aparentemente de pé na frente de uma
impressão de uma palma roxa do tamanho de seu peito. Sobre isso, em letras
cursivas em néon piscando, havia uma placa piscando que dizia
“PSÍQUICO”.

Syphon se interpôs entre ele e a janela. — Onde você foi, Primo?

— Eu estou bem aqui, —ele murmurou enquanto dava a volta e


tentava a porta roxa.

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Quando abriu, ele não ficou surpreso, e não apenas porque já era noite
e os PSÍQUICOS provavelmente não paravam às cinco, mesmo neste tipo
de código postal: era como se algum tipo de campainha tivesse tocado ao
contrário, não ele procurando alguém por dentro, mas sim alguém lá dentro
procurando por ele.

— O que você está fazendo, Primo, —Syphon exigiu.

A escada que foi revelada era estreita e íngreme e pintada de roxo, e


Balz subiu os degraus com urgência, como se seu nome estivesse sendo
chamado no segundo andar. Como se ele já tivesse estado aqui antes,
embora não tivesse. Como se esse fosse o ponto principal de ... tudo.

Atrás dele, Syphon tinha muito a dizer.

Balz não ouviu nada disso.

Havia uma porta no patamar superior, marcada com outro símbolo


de palma púrpura laminado. E ele não ficou surpreso que, antes de pensar
em tentar a maçaneta, a porta se abriu para ele.

Porra, estava escuro lá. Na verdade, o interior escuro como breu era
tão denso, tão penetrante que era como um rasgo no tecido do tempo e do
espaço ...

Syphon agarrou seu braço e puxou.

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— Não!

— Me deixe ir ...

— Não entre aí ...

Tudo aconteceu tão rápido. Num momento, os dois estavam


brincando de cabo-de-guerra com o braço dele, no próximo?

As luzes piscaram na escada, e então algo agarrou Syphon ao redor


do peito e o puxou para trás. Mas ele não caiu. Ele ficou suspenso no ar
sobre os degraus íngremes.

Uma sombra, que de alguma forma tinha força e substância, o


agarrava como se ele fosse uma presa, reivindicando seu corpo de lutador.
E Syphon estava arqueando para trás e gritando em agonia, seu rosto
ficando pálido, seus olhos arregalados.

Salve ele, disse Balz a si mesmo. Salve ...

E ainda assim ele olhou de volta para a porta que se abriu para ele. O
puxão para entrar, entrar e se perder na escuridão, era como um golpe
tangível em toda a sua pele, um aceno que era alimento para um macho
faminto, dinheiro para os pobres, recuperação para o terminal. Algo
estava lá para ele que iria salvá-lo, salvá-lo de ...

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Syphon gritou novamente, e o som da agonia sangrenta tirou Balz da
escravidão. Com um suspiro, ele se virou e agarrou sua quarenta.

Foi quando o perfume veio.

O cheiro era de uva e profundo, uma fragrância antiga que ele tinha
cheirado nos anos 80, em fêmeas da espécie que estavam acima dele
socialmente, em mulheres fora da espécie que viviam em cidades e
andavam nas ruas noturnas nos braços de homens em smokings.

Poison by Dior . Ele procurou o nome porque o amou muito ...

Mesmo antes de voltar a cabeça para o vazio, ele sabia o que veria na
escuridão. Ele não estava errado.

De um buraco negro, a morena dos seus sonhos apareceu, e ela era


magicamente linda, irreal, mas sólida.

— É você ... —ele respirou.

Enquanto ela sorria para ele, Syphon gritou novamente, mas era como
se a presença dela diminuísse o volume de tudo no planeta—incluindo de
seu primo.

Dior Poison Feminino Eau de Toilette

535
O que estava acontecendo na escada de repente parecia um sonho em
vez dela.

— Sentiu minha falta? —A voz dela era o paraíso, o paraíso absoluto


em seus ouvidos ... uma sinfonia misturada com uma banda marcial,
temperada com hip-hop e um pouco de jazz. — Eu senti a sua falta. Parece
que faz uma eternidade desde que estivemos juntos. Por que você não
entra, eu tenho uma cama que poderíamos usar ...

Syphon gritou ainda mais alto.

— Não se preocupe com ele. —Ela lambeu os lábios vermelhos como


se estivesse antecipando o gosto do pau de Balz. — Ele não tem nada a ver
conosco.

Sua mulher voltou para a escuridão e acenou para ele com a ponta da
unha vermelho sangue.

— Venha comigo, Balthazar, e lhe mostrarei um prazer que você


nunca conheceu e riquezas que farão até você parar de roubar. Não há
mais lugares vazios para preencher com os objetos dos outros, não há mais
coceira que não possa ser arranhada. Você finalmente ficará satisfeito.
Você finalmente encontrará a paz que lhe escapou. Comigo, você pode
descansar, Balthazar.

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Lágrimas brotaram de seus olhos. — Como você me conhece, —ele
sussurrou.

— Macho bobo, eu estive dentro de você. Você achou que eu não


estava andando em seus corredores e experimentando seus móveis
enquanto estava lá? Lugar solitário, sua alma, e eu vi muitas delas. Mas
você não precisa mais se preocupar com isso. Eu estarei com você em cada
passo do caminho a partir de agora. Tudo o que você precisa fazer é vir
até mim agora.

A decisão foi tomada antes que ele tivesse consciência de chegar a


uma conclusão: seu corpo deu um passo à frente. E outro. Balz não olhou
para trás para o primo.

Ele era impotente para negar esta mulher.

Qualquer coisa.

Enquanto Mae se desmaterializava, Sahvage reorganizou sua ereção nas


calças e voltou para a cabana.

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Fechando as coisas, ele olhou ao redor do móvel pesado até os fundos
e viu que a porta do porão estava aberta. Mas Tallah não estava na cozinha
ou subindo as escadas.

Claramente, ela estava de volta ao porão, algo esquecido ou exigido


em seus aposentos subterrâneos, e ele achava que tinha a ver com sua
roupa. A velha fêmea certamente permaneceu fiel às suas raízes na
glymera. Mesmo que ela não estivesse morando em uma mansão, ela se
vestia de acordo. Ela tinha saído para o Monopoly parecendo que estava
indo para um evento formal—e era meio fofo o jeito que ela corava sempre
que olhava para ele.

Um pouco triste também.

E era óbvio o quanto ela significava para Mae e vice-versa. Não era
de admirar que o Livro fosse um tópico de discussão. Se houvesse alguma
vida que valesse a pena preservar com magia negra? Tallah estaria na lista.

Ele olhou para os pratos sujos que foram deixados.

Mas Deus, aquele ensopado estava horrível.

Determinado a ser útil e não apenas decorativo, ele assumiu de onde


Mae havia parado, pegando seu chumaço de toalha de papel encharcado
e ensaboado e indo trabalhar no resto das coisas na pia. Como Tallah tinha
conseguido usar setecentas mil panelas e frigideiras era um mistério. Havia

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apenas duas raízes e alguns punhados de carne naquele caldo líquido de
cimento.

Enquanto ele lavava e enxaguava, ele pensou em Mae em pé contra a


porta do banheiro, os olhos no seu trabalho com a mão como se fosse a
coisa mais incrível que ela já tinha visto. Puta que pariu, ele sentiu como
se tivesse a palma da mão cheia de ouro enquanto ela o observava, mas
quando ele soube que ela era ...

Claro que ele ainda queria a fêmea. Ele só não queria tirar algo
permanente dela quando ele era menos que temporário em sua vida.

Não era justo.

Com esse pensamento em mente, ele passou pela bagunça na pia.


Secou tudo. Guardou as coisas nos lugares de onde Tallah as tirou.

E assim que ele checou o relógio na parede, algo registrou, sua


campainha interna tocando, embora ele não tivesse certeza do quê.

Embora o fato de Mae ter partido há quase uma hora não fosse uma
grande notícia.

Apalpando a arma que havia pegado, ele olhou para a geladeira que
fechava a porta dos fundos. Olhou para a porta da frente. Verificou as
escadas do porão. O que diabos foi isso ...

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Enquanto seus olhos navegavam pela mesa, eles se voltaram para o
que havia chamado sua atenção subconsciente.

— Merda.

Empurrando a quarenta de volta para a cintura, ele pegou a nove


milímetros que tinha dado para Mae. Ela a deixou para trás em sua corrida
esgotada para sair.

— Já volto, —ele gritou para o porão.

Desmaterializando-se, ele viajou até o segundo andar e saiu da


veneziana que havia deixado meio aberta desde a noite anterior. Não
houve problemas para encontrar a casa de Mae e, quando ele se
reformulou na garagem, as luzes estavam acesas dentro dela.

A veneziana dos fundos ainda estava como eles haviam deixado,


então ele foi capaz de entrar no carro dela sem nenhum problema—e ele
franziu a testa. O cheiro de escapamento fresco era óbvio, então ela
claramente saiu para comprar alguns suprimentos—e a porta nos fundos
da casa estava meio aberta.

Ele desejou poder ter ajudado a trazer o que quer que fosse para ela.

Entrando em um pequeno corredor, ele viu a bolsa e as chaves do


carro de Mae sob a máquina de lavar e secar. Sua jaqueta também.

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Havia uma trilha úmida no ladrilho que levava a uma modesta
cozinha e, enquanto a seguia, ouviu um som estranho correndo mais
profundamente dentro da casa. À medida que avançava, encontrou a casa
de um andar pequena, com móveis que não eram novos, mas tudo limpo
e ele se sentiu confortável com a falta de agitação.

Outra rodada daquele som whoosh o escoltou ainda mais para dentro
da casa, para um corredor que ele presumiu que o levaria para o plano dos
quartos superiores. A porta de um banheiro estava aberta no meio do
caminho e ele começou a sorrir quando o cheiro de Mae ficou mais forte
em seu nariz.

— Eu posso ajudar você ...

Quando ele deu a volta na porta, ele ...

Parou de repente. Porque ele não tinha ideia do que estava vendo.

Mae estava de joelhos na frente de uma banheira, sacos de gelo vazios


espalhados ao seu redor, um erguido de forma que seu carregamento de
pedras pudesse se juntar aos outros. Tudo isso era estranho, mas não o que
detinha suas botas, assim como a respiração em seus pulmões.

Dentro da banheira ... parecia ser um cadáver. A cabeça estava


abaixada perto da torneira, os pés levantados na outra extremidade, os
dedos dos pés brancos e cerosos aparecendo no gelo.

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Com uma expressão de horror, Mae se virou e esticou os braços, como
se estivesse protegendo o que estava mantendo frio. Ou talvez tentando
esconder.

— O que você está fazendo aqui!

— Você esqueceu a arma, —ele disse lentamente enquanto mostrava


a arma de lado. — Eu trouxe para você para que você estivesse segura—o
que é isso.

Ou quem, era mais a questão. Embora ele tivesse a sensação de que


sabia. Esse cabelo loiro escuro era igual ao dela.

— Mae ... —Sahvage passou a mão pelo rosto. — Não.

— Saia, —ela disse com a voz trêmula. — Nos deixe em paz ...

— Você quer trazê-lo de volta usando o Livro. Oh, Deus ... Mae ...
não.

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Havia precipícios mais terríveis do que a vida e a morte. E Balz estava
em um.

Enquanto tremia à beira da aquiescência, como cada parte dele queria


seguir o comando da mulher dos seus sonhos, ele conheceu uma
inevitabilidade que era como um segundo nascimento: uma escolha feita
para ele por outra pessoa que o levou a existir em um mundo. E então, sim,
ele entraria no domínio do psíquico, e ele seguiria o aceno da morena
diante dele, e ele viveria o que havia sido seu destino o tempo todo.

— Isso mesmo, —disse ela com um sorriso daqueles lábios vermelho


sangue. — Venha até mim ...

Vindo do nada, uma imagem o atingiu com certeza como se fosse a


palma da mão de uma adaga em seu rosto: Ele viu seu primo de volta ao
País Antigo, em uma cabana na floresta onde eles estavam se protegendo do
sol. Syphon estava sorrindo enquanto envolto em armas e o couro áspero

543
de guerra, um corte curando em sua têmpora o resultado de uma lâmina
lesser que tinha sido mais rápida e ágil do que seu alvo.

Um camarada. Um amigo. Um protetor.

Família.

Seus olhos eram tão azuis, seu sorriso tão largo, sua boa vontade
inesgotável, embora eles não tivessem comida quente em suas barrigas e
apenas sujeira crua em uma caverna como suas camas ...

O pedido do seu primo, falado na Língua Antiga, era tão claro como
se tivesse sido falado com Balz naquele momento, e ele viu o lutador
inclinado para a frente, com a mão estendida.

E na palma de sua mão, o último pedaço de pão que ele tinha.

Balz perguntou.

Syphon tinha falado as palavras simples sobre o ronco de seu próprio


estômago e apesar da realidade de que não havia comida em qualquer
lugar da caverna ...

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Os olhos de Balz se abriram, embora ele não tivesse percebido que eles
haviam se fechado. E o sorriso que estava diante dele, o sorriso da
sedução, o sorriso do mal sabendo que havia capturado outra alma ... não
era nada parecido com o de seu primo.

Nada como o seu primo era.

— Você sabe o que quer fazer, —disse a mulher. — Você sabe que vai
vir comigo ...

Com um grito de batalha, Balz girou e saltou do patamar superior da


escada, alcançando as pernas penduradas de seu primo enquanto a sombra
erguia o macho indefeso cada vez mais alto, como se fosse irromper
pela janela montada bem acima da entrada e levar Syphon embora.

— Seu idiota de merda! —A morena gritou do abismo. — Seu idiota


de merda!

Pouco antes da entidade das sombras estourar o vidro e desaparecer


com sua presa, Balz pegou o shitkicker esquerdo de seu primo com uma
garra e se prendeu ali—se agarrando a ele naquele espaço insuficiente com
um aperto duro como uma pedra amarrada no seu tornozelo.

A sombra soltou um grito profano quando o peso adicionado a


arrastou para baixo, e então algo cedeu, a entidade largando sua carga.

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As costas de Balz amorteceram a queda, seu corpo aterrissando com
um estalo nos degraus de madeira e iniciando uma descida que certamente
o colocaria em tração—e o corpo de seu primo era um perseguidor
horrível, todo aquele peso o atingindo com ainda mais força na implacável
escada sem carpete. Como seu cérebro foi dominado pela dor, houve um
momento de paralisia atordoada, mas o contra-ataque rápido da entidade
das sombras significava que não havia tempo para reclamar da dor—ou
mesmo verificar se Syphon ainda estava vivo.

Jogando um pé para fora para impedir a descida barulhenta e


desgrenhada, Balz enfiou a mão no coldre de quadril e espalmou uma de
suas quarenta. Assim que ele ergueu o focinho, a sombra disparou para
frente, tentáculos em forma de cobra atacando, golpeando seu primo,
golpeando a ele. Quando seu antebraço foi atingido, ele praguejou de dor,
mas acertou o gatilho.

A arma fez seu trabalho, cuspindo bala após bala—e graças a Deus
elas funcionaram, porra. A sombra soltou outro daqueles gritos de matar
os ouvidos, recuando como se tivesse sido queimada. No entanto, ela
voltou.

Então Balz pegou uma adaga de prata. Quando um dos tentáculos


chegou perto demais, ele a esfaqueou—e foi recompensado por aquele
grito estridente. Mas então Syphon, que havia perdido a consciência,

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começou a escorregar escada abaixo novamente e, quando Balz tentou
agarrá-lo, os dois acabaram caindo de cabeça para baixo em direção ao
fundo.

Enquanto seu corpo rodava, ele fez o que pôde para esfaquear e atirar
na sombra, certificando-se de que nem ele nem seu primo estavam no
caminho ...

Boom!

Eles aterrissaram em uma pilha emaranhada na base dos degraus, seus


grandes corpos amontoados contra a porta fechada. Com um empurrão,
Balz mudou seu primo para o lado para que ele pudesse continuar
atirando, mas como a última bala deixou sua arma, isso era discutível. E
ele não conseguiu alcançar seu pente de apoio ou sua outra quarenta ...

A mão de Syphon apareceu na frente de seu rosto com um pente cheio.

— Graças a Deus, —murmurou Balz. — Você pode me dar outra


arma?

Ao receber um grunhido como resposta, ele trocou os clipes e


continuou atirando—e como mágica, outra Sig Sauer apareceu em seu
rosto.

A SIG Sauer GmbH é uma fabricante de armas, de fuzis e pistolas, com sede em Eckernförde, Alemanha.

547
Livrando-se da adaga—onde esperava que não fosse virar queijo suíço
ou ser usada por esta entidade—ele foi tipo Deadpool, cuspindo balas de
chumbo de ambos os carregadores automáticos, empurrando a sombra
para trás, buracos aparecendo em seu corpo translúcido—ou talvez fosse
mais como se a estrutura que segurava a coisa estivesse começando a
falhar. Agora era como um cardume de peixes, o todo se transformando
em partes coordenadas e ondulando em um padrão que se tornava cada
vez mais errático.

Outro clipe apareceu ao lado de sua cabeça, a mão trêmula de Syphon


socando sua pilha de membros mal angulados. E um terceiro. Tudo que
Balz podia fazer era mirar, atirar e recarregar ...

— Estou sem, —disse Syphon em uma voz rouca.

Naquele exato momento, quando a última bala saiu da segunda


quarenta, a sombra explodiu, os estilhaços no ar como as penas de um
corvo, explodindo e flutuando em correntes preguiçosas.

Enquanto isso, no topo da escada, a morena estava encostada no


batente da porta, seus olhos furiosos fixos em Balz.

— Você é um idiota de merda, —ela mordeu fora.

E então, simplesmente assim, ela se foi.

548
Balz desabou, a respiração subindo e descendo pela garganta, algum
tipo de náusea estranha coagulando seu estômago, um baque febril
pinicando sua pele. Enquanto ele se contorcia e vomitava, ele sentiu todos
os tipos de dor florescer em todos os tipos de lugares.

Agora que a ameaça imediata se fora, ele se lembrou das histórias das
sombras em Caldwell. E merda, ele deveria ter agarrado algumas das balas
especiais de V. Mas ele não havia levado esses relatos a sério o suficiente.

E ele precisava pedir ajuda antes que mais dessas merdas aparecessem.

Empurrando-se para cima, ele tentou se levantar, mas perdeu o


equilíbrio e bateu com o quadril no corrimão.

— Você está vivo? —Ele murmurou mal notando o novo ferimento.

A seus pés, houve um gemido. Então Syphon ergueu um rosto que


estava marcado por vergões vermelhos, as feições tão distorcidas que ele
mal era reconhecível.

— Estou chamando por ajuda, —disse Balz enquanto acionava o


localizador de emergência em seu comunicador. — E eu tenho que ver se
está tudo limpo lá em cima.

— Eu tenho uma adaga. Eu ficarei bem.

549
Balz não teve coragem de dizer que seu primo mal conseguia
enxergar.

— Bom, segure o forte.

Enquanto Balz subia os degraus mancando, o andar era irregular. As


balas cobriam a escada, bolas de chumbo que haviam caído livremente
quando atingiram a sombra.

No patamar superior, ele bateu de costas na porta aberta—e então


acendeu a lanterna e apontou o feixe para o interior escuro.

O espaço estava quase vazio: duas mesas abaixo da fileira de janelas


que davam para frente, um amontoado de velas, potes e feixes de ervas
amontoando-se no topo. No centro da sala, havia a proverbial bola de
cristal em uma estação de leitura redonda com duas cadeiras e muitos
drapeados. Em outro lugar, havia futons com almofadas e uma área de
estar com poltronas puídas. Faixas de tecidos de cores vivas montados
com fios de ouro foram pregados nas paredes, arco-íris presos e
capturados.

Absolutamente nenhuma morena.

Ela se fora.

550
Balz respirou fundo. Ele não conseguia sentir o cheiro de outra coisa
senão a queima acre de pólvora e um odor desagradável e carnudo de
carne fresca.

Ela tinha estado lá?

Ele disse a si mesmo que havia tomado a decisão certa. Ele tinha feito
a coisa certa. Ele tinha escolhido a família ao invés ... do que o que ela era.

E ainda assim ele lamentou. Como um amante deixado para trás ...

Quando um bipe disparou em seu comunicador, ele inclinou a cabeça


para o ombro.

— Eu preciso de ajuda médica. ESTADO. —Ele olhou escada


abaixo. Em seguida, desceu correndo por eles. — Um ferido, extensão
dos ferimentos ... aguarde.

De volta com seu primo, ele pegou a mão relaxada do lutador que
provavelmente estava mais perto. Syphon tinha desmaiado de novo, mas
ele estava respirando através daqueles lábios picados de abelha.

Estranhamente, suas roupas estavam todas intactas. O que não fazia


sentido.

551
— A extensão dos ferimentos é grave, —Balz engasgou ao perder a
força do próprio corpo e desabar no chão. — Você tem a minha
localização ...? Bom. Porra, se apresse.

De volta a casa de seus pais, no banheiro onde ela nunca pretendeu que
ninguém visse o que ela estava mantendo frio, Mae tentou bloquear a visão
perfeitamente boa de Sahvage da banheira ... de Rhoger. Mas não era
como se um cadáver no gelo fosse o tipo de coisa que os olhos ignoravam,
mesmo que apenas partes dos restos mortais estivessem aparecendo.

— Feche a porta, —ela gritou, porque era tudo que ela conseguia
pensar em dizer. — Não olhe para ele assim.

Exceto que Sahvage não estava focado em Rhoger. Ele estava olhando
para ela.

— Mae ...

— Não! —Ela cobriu os ouvidos com as palmas das mãos. — Eu não


estou ouvindo.

552
Em vez de continuar a falar ou fazer o que ela exigiu da porta, Sahvage
recuou até ficar contra a parede do corredor. Então ele deslizou até que
sua bunda pousou no chão e eles ficaram no mesmo nível.

Agora ele não olhou para ela ou Rhoger. Ele colocou a cabeça entre
as mãos.

Enquanto ele ficava quieto, Mae desabou contra a lateral da banheira.


Olhou através do gelo para seu irmão.

— Você não entende, —ela sussurrou. — É tudo culpa minha.

Sahvage fez um som exausto.

— A menos que você o tenha matado com suas próprias mãos, tenho
certeza que não.

— Nossos pais eram muito rígidos, —ela se ouviu dizer. — Muito da


velha escola. Depois que eles foram mortos nas invasões, Rhoger começou
a mudar. Ele ficava fora o dia todo, às vezes por uma semana de cada vez.
Ele estava andando com um grupo diferente. Ele apenas ... espiralou.
Enquanto isso, eu estava aqui cuidando da casa, pagando as contas,
tentando segurar o que restava de nossa família juntos. Fiquei ressentida.

Ela enfiou a mão na banheira e mexeu no gelo de maneira mais


uniforme. À medida que sua mão esfriava, a diferença de temperatura

553
entre a palma e as pedras de gelo era um lembrete gritante de tudo que a
separava de seu irmão.

Mae sufocou as lágrimas. — Na última noite ele foi embora ... nós
tivemos uma briga terrível. Eu perdi a cabeça. Disse que ele precisava
arranjar um emprego ou se mudar. Ele gritou de volta. Ficou tão feio. —
Ela balançou a cabeça, embora não tivesse certeza de que Sahvage estava
olhando para ela. — Ele não voltou. Por duas semanas ... talvez quase
três. Não consigo manter tudo certo. Tentei encontrá-lo. Liguei para o
telefone dele constantemente. Eu fui para a casa de seus amigos. Ninguém
sabia para onde ele tinha ido. Então, uma noite, eu estava trabalhando
aqui e—ele entrou pela porta da frente. Ele estava todo ... ele estava
sangrando em tantos lugares e parecia que não tinha comido desde que
saiu. Corri para ele e ele morreu em meus braços. —Mae esfregou os olhos
ardentes. — Eu não tinha ideia do que tinha acontecido com ele ou o que
fazer. Eu liguei para Tallah. Não tenho mais ninguém na minha vida e
não conseguia pensar direito. Depois que contei tudo a ela e consegui me
acalmar um pouco, ela ficou tão calada naquele telefone ... Achei que ela
tivesse desligado na minha cara. E então ela disse as palavras ...

— O Livro, —Sahvage rangeu.

Mae olhou para fora do banheiro para ele. — O Livro.

554
— Você não pode fazer isso. Mae, você não tem ideia do que está
abrindo aqui.

— Mas não havia problema em prolongar a vida de Tallah, —ela


murmurou com amargura.

— Eu nunca disse isso.

Mae levantou a mão. — Rhoger é tudo que me resta.

— Isso é o que você disse sobre Tallah.

— Nós realmente vamos discutir sobre quão poucas pessoas eu tenho


na minha vida agora? Mesmo? —Mae juntou os sacos de gelo vazios ao
seu redor. E então não fez nada com eles. — Eu não posso sair deste
caminho. Você não entende. É ... é tudo culpa minha. Eu o tirei desta casa
e o coloquei nas mãos de alguém que o torturou tanto, que ele morreu dos
ferimentos.

Sahvage praguejou. — Ele foi embora porque foi embora, Mae.


Poderia ter sido qualquer outra noite ...

— Não finja que nos conhece.

— E não finja que o que você está fazendo é certo.

— É o meu irmão em todo aquele gelo, —ela engasgou.

555
— É um macho morto, —rebateu Sahvage. — Ele pode ter sido seu
irmão quando estava vivo, mas não é mais.

Mae exalou com força. — Como você pode dizer isso.

— Porque é a verdade.

— Pare com isso. —Ela fechou os olhos. — Apenas pare.

Quando ela abriu as pálpebras, Sahvage estava bem na frente dela e,


quando ela recuou, ele segurou uma de suas mãos.

— Por favor, —disse ele. — Não faça isso com ele. Se você o ama,
você não fará isso ...

— O quê, trazê-lo de volta para mim? Como isso é errado?

Sahvage engoliu em seco e sua voz mal era audível.

— Deixe-o no Fade. Eu te imploro. As consequências não valem a


pena.

Aqueles olhos azuis da meia-noite estavam cravados nela, e sua


expressão era tão intensa, ela sabia que este não era apenas o caso de
alguém cuidando dos interesses dela.

— O que você não está me dizendo? —Ela exigiu.

— É só o que eu ouvi que ...

556
— Besteira. O que você sabe. E não minta para mim.

Sahvage quebrou o contato entre eles e se sentou de bunda. Quando


seus olhos foram para Rhoger e o gelo, ele ficou muito quieto.

Quando ele finalmente falou, sua voz, assim como sua expressão,
estava assombrada.

— Só sei que as pessoas não foram feitas para viver para sempre ...

— Eu não quero que ele seja imortal, porra. Eu só quero trazer ...

— E você acha que está definindo os termos? Você honestamente


pensa que vai definir as regras aqui. Você está brincando com o próprio
alicerce da mortalidade.

— Foda-se a mortalidade! Rhoger foi roubado. E eu vou consertar isso


mesmo se for a última coisa que eu fizer!

557
Sahvage teve apenas um outro momento em todos os seus anos terrenos
que revelou uma cegueira tão grande, uma cegueira que mudou tudo
sobre onde ele estava. E não era que Mae tivesse mentido para ele. É que
ele falhou em antecipar seu motivo oculto. Ele assumiu o valor nominal
do que ela disse, e prosseguiu para outras coisas.

Como a atração sexual que sentia por ela.

Engraçado, como aquela merda era uma maneira de limpar a lousa.

— Eu não tenho outra escolha, —Mae anunciou.

— Você está errada sobre isso. —Ele balançou sua cabeça. — A morte
não é algo ruim.

— Como você pode dizer isso? Rhoger mal tem setenta anos. Ele foi
enganado.

— Mas se você acredita no Fade ...

558
— Você quer me dizer que meu pai e mahmen, que não se davam
muito bem quando estavam sob este teto aqui, estão desfrutando de um
relacionamento perfeito em uma nuvem em algum lugar do céu? Por
favor. Eu estava bem com a teoria do Fade até fazer as contas das pessoas
que supostamente estão lá. Uma eternidade com nossos chamados entes
queridos é apenas um conto de fadas que nos é transmitido para que não
percamos a cabeça na própria situação em que estou agora—e sim, estou
ciente de que estou louca. Mas você não sabe como é isso ...

— Eu perdi meu único membro da família também. Então eu sei


exatamente como você se sente.

Isso calou sua fêmea.

Não que ela fosse sua.

— O que aconteceu? —Mae perguntou em um tom mais suave.

— Estava de volta ao País Antigo. —Sahvage esfregou o rosto. — Ela


era minha responsabilidade, minha prima de primeiro grau. Eu era o
responsável por ela. Eu era sua única família, seu protetor ...

Quando ele não continuou, Mae se inclinou para frente.

— E você ... a perdeu.

559
— Eu falhei com ela completamente. Ela foi tirada de mim por um
aristocrata. E então ela foi ... brutalizada. —Sahvage acertou Mae com
um olhar severo. — Então, sim, eu sei o que é isso também—e foi tudo
minha culpa também.

Os olhos de Mae brilharam com lágrimas, seu rosto corando de


compaixão. — É por isso que você não gosta de olhar para si mesmo.

— Não, —ele disse severamente. — É por isso que odeio olhar para
mim mesmo.

Merda, isso estava ficando muito real, ele pensou.

— Como você pode dizer que não entende de onde estou vindo,
então? —Ela perguntou.

— Eu nunca te disse isso. Eu disse que o que você está tentando fazer
é errado. Com o Livro. Para sempre na terra não foi feito para os mortais,
Mae, e nem para aqueles que amamos. Deixe-o ir. Dê a ele uma
Cerimônia de Fade adequada ... e deixe-o ir.

Mae ficou em silêncio por um tempo.

— Eu sinto muito ... Eu só não acho que posso viver comigo mesma.
Eu preciso ver isso até o fim. Se eu encontrar o Livro, irei prosseguir.

— Há algo que eu possa dizer para fazer você mudar de ideia?

560
— Não.

Os olhos dele deixaram os dela e foram para os sacos vazios de gelo


que ela amassou e colocou ao lado de seu quadril. Uma das sacolas havia
se desenrolado e exibia um pinguim de desenho animado com um lenço
vermelho. O filho da puta parecia bastante alegre. De forma inadequada,
dadas às circunstâncias.

— Lamento ter mentido para você, —ela disse remotamente. —


Sobre Rhoger.

— Isso dificilmente importa agora.

— É uma coisa difícil, falar sobre.

Sahvage olhou para ela, desejando que ela fosse humana e ele pudesse
manipular sua mente.

— Claro que é. Porque você sabe que isso é errado, e se disser em voz
alta para alguém ou permitir que alguém veja isso, você corre o risco de
perceber como isso é uma ideia ruim para você.

Mae piscou. Algumas vezes. Então ela se inclinou para frente,


estreitando os olhos.

— Você está brincando comigo. —Ela balançou a cabeça. — Você é


um estranho. Eu te conheço há quarenta e oito horas—e te conheci

561
quando você estava sangrando em uma luta subterrânea com um humano
...

Sahvage ergueu o dedo indicador. — Eu não estaria sangrando se


você não tivesse me distraído ...

— Quer parar com isso! —Mae ergueu as mãos. — Maldição. O que


quero dizer é que você não é exatamente alguém que faz parte da minha
vida. E isso, —ela apontou um dedo para o irmão, — está me matando,
okay? Isso está me matando. Então, não, eu não estava com muita pressa
de compartilhar isso com você.

A voz dela falhou e seus olhos se encheram de lágrimas novamente.


Mas estava claro que ela não queria nenhum tipo de simpatia, pelo menos
não dele: ela furiosamente bateu as palmas das mãos nas bochechas e depois
as enxugou na calça jeans.

— Eu não posso simplesmente sentar aqui e não fazer nada, —ela


disse asperamente. — Então a única coisa sobre a qual você e eu temos
que conversar é o que você vai fazer agora. Você está dentro ou está fora.
E antes que você encontre alguma maneira de me irritar novamente com
um de seus comentários de querida, sim, estamos aqui nesta encruzilhada.
Novamente.

562
Sahvage fechou os olhos. Depois de um período de silêncio tenso, ele
pretendia dar uma resposta a ela. Mas, em vez disso, o presente foi se
dissipando e foi substituído pelo passado que ele havia ignorado
resolutamente por tanto tempo ...

No grande salão do castelo de Zxysis, o Velho, Sahvage sentiu como se um


véu tivesse caído de seus olhos, sua visão agora clara, embora ele não estivesse
ciente que havia sido obstruído, o mundo ao seu redor não mais assolado por
névoa nebulosa, embora ele havia presumido que tudo estava como ele
acreditava.

E o que ele viu revelado diante dele foi aterrorizante.

— Quem é você? —Ele sussurrou novamente enquanto olhava para


Rahvyn, sua prima, sua responsabilidade, sua única família.

Atrás dele, os corpos sem cabeça do posto de guardas estremeceram em


suas poças de sangue quando o último de sua animação foi adiado para o frio
chamado de movimento da morte. E diante dele, Rahvyn não se curvou,

563
mesmo em face da surra que havia recebido, da violação que havia ocorrido
em sua virtude.

Mas ela tinha boas razões para não temer nada, não é?

Erguendo os braços, ela olhou primeiro para uma, e depois para outra, das
algemas de aço que haviam mordido seus pulsos frágeis. Elas caíram como se
comandadas para isso, caindo no chão de pedra.

— Eu sou quem eu sempre fui, —ela disse com aquela voz poderosa. —
Apenas desencadeada, agora.

Zxysis de alguma forma sabia desse poder dentro dela, pensou Sahvage.

Estava claro que o aristocrata havia juntado as histórias da aldeia e visto


o início das trilhas pelo que elas eram. Enquanto isso, Sahvage, que
supostamente era o mais próximo da fêmea, perdera a trajetória.

Ela não precisava da proteção dele.

Ela não precisava de ninguém.

— Devemos seguir nossos caminhos separados, Primo. —Agora a voz dela


mudou, voltando mais perto do que ele conhecia. — Você cumpriu seu

564
serviço para mim, o voto para meu pai, seu tio, totalmente cumprido. E como
eu sei que você não vai me deixar, eu vou deixar você ...

— Rahvyn, onde está Zxysis. O que você fez com ele?

O sorriso que puxou os cantos da boca da fêmea o apavorou.

— O que ele fez comigo. Nem mais, nem menos. Eu retribuí sua atenção
entrando nele. —Rahvyn mancou até onde uma capa preta tinha sido jogada
sobre uma das cadeiras do banquete. Puxando isso ao redor de si mesma, ela o
enfrentou. — Você não deve me encontrar. Nem sequer tente.

Por reflexo, ele protestou.

— Meu dever para com você é sacrossanto ...

— E eu, por meio deste, libero você desse fardo. —De repente, os olhos
dela suavizaram. — Sahvage, você está livre. De tudo. Sem mais preocupações
comigo que o distraiam de sua verdadeira vocação. Você deve ser o lutador
mais poderoso que jamais serviu à Irmandade da Adaga Negra. A glória será
sua, pois a raça nunca terá visto um protetor como você.

— Não! Em minha defesa você é mais importante do que ...

565
— Não mais. —Ela piscou para afastar as lágrimas e ergueu o queixo. —
Fique bem, Primo. Tenho muita fé no seu futuro. Eu te incentivo a juntar-se
a mim neste otimismo, mesmo quando eu partir de sua vida. Esta era acabou.

— Rahvyn! —Ele gritou enquanto corria para frente.

Mas ela se desmaterializou do grande salão, deixando nada exceto seu


cheiro ... e a carnificina sangrenta que ela causou.

— Não! —Ele gritou. Mesmo que ele não soubesse o que estava negando.

Arrastando as mãos em seu cabelo, ele andou ao redor. E ao redor. E ao


redor em um círculo fechado. Mas nada mudou. Não o que sua protegida fez,
não o que ele viu com seus próprios olhos. Com uma maldição, ele soltou sua
cabeça e ficou de pé sobre os mortos. O emaranhado de corpos e armas não
armadas estava em camadas em uma bagunça, o sangue brilhando nas roupas
de couro, na carne, na pedra ... em bainhas de aço brilhante e rifles cinza
metálico.

— Rahvyn, —ele sussurrou, — o que mais você fez?

Exceto que não havia mais Rahvyn, estava lá.

566
Quando a realização o atingiu, uma urgência o chamou com a clareza de
um sino de latão, e ele teve o cuidado de se armar com as armas dos mortos
antes de se apressar pela larga avenida que marcava o caminho até a ponte
levadiça. Enquanto corria em silêncio e com velocidade, havia muito a superar.
Um campo de destroços marcava os pavimentos de pedra: fragmentos de
roupas, alimentos em suas redes e bolsas, páginas de diários e livros espalhados
pelo caminho até a saída.

Uma enxurrada de pessoas, veloz de pés e mente em pânico, tinha


recentemente se precipitado nesta mesma rota, seus objetos de importância
secundária para suas próprias vidas.

O que as assustou tanto? Era uma pergunta que ele temia responder.

Quando a grande entrada da fortificação se apresentou, Sahvage


diminuiu a velocidade.

Então ele parou.

A vista através da vasta abertura proporcionava uma visão imediata do


campo limpo que cercava o castelo. Riachos pisoteados através da grama
ilustravam a dispersão dos habitantes que haviam fugido, e a ponte levadiça,

567
que permanecera abaixada, estava igualmente coberta com a mesma trilha de
detritos.

— O que eles sabiam, —Sahvage sussurrou ao passar pelos grandes


portões de ferro e aço. — O que eles viram enquanto abandonavam tudo isso.

Pingo. Pingo ... Pingo.

Ao som suave, Sahvage olhou para baixo ao lado da queda de sua túnica.
Lá, na superfície velha e desgastada da madeira da ponte levadiça, uma poça
brilhava ao luar.

Vermelho. Vermelho brilhante.

Sahvage se virou e ergueu os olhos

— Querida Virgem Escriba.

Acima da entrada grandiosa e formal, cravada na haste de ferro que


carregava as sedas que marcavam sua linhagem, estava ...

Zxysis, o Velho.

E não havia dúvida de que ele estava morto.

Como se empalar não fosse uma pista.

568
Na verdade, sua pele havia sido arrancada de seus ossos e músculos: tudo
o que antes havia prendido sua forma corpórea se foi, seus intestinos
escorrendo para fora de sua pélvis, órgãos escapando de suas costelas. Seu rosto
havia sido preservado, no entanto. Aquelas características que definiam sua
identidade dentro da glymera e esta família e vila tinham sido deixadas
intocadas, sua expressão era de absoluto horror, seus lábios esticados sobre os
dentes à mostra, seus olhos cegos olhando aterrorizados para sua propriedade.

— Rahvyn ...

Uma luz brilhante explodiu no céu, tão brilhante que prontamente


ofuscou a lua, tão dolorosa que ele gemeu e ergueu os braços para proteger
os olhos. Tropeçando para trás, Sahvage buscou a proteção das paredes de
pedra do castelo e, quando estava sob a cobertura delas, tentou ver o que
podia com o ser celestial.

O que quer que seja estava viajando pelos céus de veludo, eclipsando o
brilho das estrelas, parecendo sugar toda a iluminação de cima. E quando
alcançou o horizonte ao norte, houve outra breve intensificação - e então se
consumiu em nada.

Em sua partida, tudo estava como antes.

569
Exceto que não, isso não era verdade na terra. Nada do que estava ao seu
redor era como deveria ser.

E Rahvyn estava errada.

Ela não o libertou com sua partida. Ela o incriminou pelas mortes que
causou contra seus sequestradores.

Ninguém acreditaria que ele não havia despachado Zxysis e seus guardas
como foram: sua reputação dentro da Irmandade não apenas justificava a
nomenclatura que lhe fora dada ao nascer; isso o precedeu para onde ele foi..

Os corpos no grande salão. A cabeça de Zxysis, esfolada como um animal,


perfurada como uma carcaça. E o que mais foi feito a quem mais machucou
Rahvyn. Tudo seria concedido a Sahvage, e assim a glymera viria procurá-lo,
exigindo explicações que ele não seria capaz de fornecer. E a Irmandade seria
colocada em uma situação insustentável, pois eles sabiam como ele era no
campo - e eles sabiam o que sua protegida significava para ele.

Eles também conheceriam os sussurros da aldeia ao redor do castelo, as


velhas e jovens que falavam de magia nas florestas e acontecimentos
inexplicáveis na cidade.

570
Para proteger sua carga, Sahvage se contentou em aceitar a maldição de
ser chamado de feiticeiro quando estava tão longe de ser um quanto qualquer
mortal. Além disso, a magia de Rahvyn era inofensiva ... ou, de qualquer forma,
nada a temer.

Ele fechou os olhos e imaginou Zxysis.

Não mais para a inocuidade.

Portanto, não, Sahvage não era livre, não importava o que sua prima
sustentasse. As ações dela o condenaram à morte ...

Com um pivô abrupto, ele se virou para o caminho por onde viera.

E então ele saiu correndo.

Ao se aproximar dos guardas decapitados, ele saltou sobre os corpos e o


sangue. Em frente, ainda, ele foi, até os degraus que ele tinha primeiro subido
... e passando por eles mais para os níveis inferiores do castelo.

Quando ele chegou ao depósito em que havia acordado, ele pegou uma
tocha e a colocou em um suporte próximo à porta. Aproximando-se do seu
caixão, baixou as armas e recolocou a tampa como antes - e foi então, graças à

571
luz espumosa da tocha, que notou os avisos gravados na madeira. Um morto
amaldiçoado estava aqui, os símbolos anunciando isso por todos os lados.

Sahvage olhou em volta. Em seguida, removeu prontamente a tampa mais


uma vez - e pegou os sacos de farinha que estavam perto, três deles, quatro
deles, mais ainda, colocando seu peso onde seu corpo deveria estar. Por fim,
baixou a tampa e usou a pedra de um moedor, embrulhada em um saco, para
martelar o que havia quebrado. Finalmente, ele recuperou a bainha que havia
roubado. Utilizando sua ponta robusta, gravou seu nome na tampa e nos
painéis verticais, pois isso não estava entre o que estava inscrito.

Recolocando o rifle no ombro, ele pegou a tocha e voltou para o corredor.


Verificando os dois lados, ele confirmou que o silêncio ressonante persistia -
embora isso não durasse. A superstição manteria os vampiros longe, e os
humanos também, mas apenas por um tempo. A ganância dos ladrões logo
dominaria seus sentidos de autoproteção, e havia muito a ser roubado de
dentro. E isso serviria a seus propósitos. No decorrer dessa invasão, seu caixão
seria encontrado e, de todas as coisas dentro das muralhas do castelo, era a que
não seria tocada. Nenhuma alma gostaria de assumir o domínio sobre tal
artefato. Ainda assim, a palavra iria se espalhar.

572
Eventualmente, a Irmandade encontraria seu lugar de descanso final, mas
se eles aceitaram os restos mortais - ou se eles descobririam sua duplicidade?
Quem poderia dizer.

Sahvage, no entanto, não estaria por perto para verificar o resultado de


seu suposto cadáver. Em vez disso, ele iria procurar por sua prima até que a
encontrasse, e então, quando ela estivesse pensando com a lógica apropriada,
ele iria garantir que os dois ficassem escondidos. E sua suposta morte garantiria
que isso seria possível ...

Toque.

Quando estava prestes a sair correndo, Sahvage se virou para ouvir o som.

Toque. Toque.

No silêncio antinatural do castelo, o ruído suave se destacou muito mais


do que seu volume baixo teria permitido em quaisquer outras circunstâncias.

Toque. Toque. Toque. Toque ...

Deixe como está, disse a si mesmo. Seu mandato com relação a um êxodo
imediato era claro ...

Toquetoquetoquetoquetoque ...

573
Quando uma fria premonição roçou sua nuca, sua vontade o direcionou
para a saída. Seu corpo, no entanto, seguiu em outra direção.

De forma que ele seguiu aquele som estranho e suave.

Enquanto Sahvage ficou em silêncio e pareceu se retrair em sua própria


mente, Mae colocou a mão na borda da banheira.

— Não posso deixar você ir, —sussurrou ela para Rhoger. — E eu


prometo que não vou. Eu sei como consertar isso.

Ela quis dizer as palavras, especialmente as últimas, mas o refrão era


fraco, como se ela tivesse usado as sílabas com muita frequência e estivesse
esgotando suas forças. Ou talvez elas nunca tivessem tido nenhum poder

574
para começar, apenas o combustível do pânico de seu desespero - e quão
longe isso já levou alguém na vida real?

— Sem mudar de ideia? —murmurou Sahvage.

Ela olhou para ele. — Nunca.

A palavra tinha mais vigor do que ela. Mas era como se ela o
enfrentasse, ela estivesse enfrentando o Destino, e essa tinha que ser sua
mentalidade ... apesar do fato dela ainda não ter o Livro. E ela estava
aceitando o que Tallah havia dito a ela pela fé.

— Tudo bem, —disse ele finalmente.

— Você está saindo?

— Não. —Ele balançou sua cabeça. — Eu não estou indo a lugar


nenhum.

Mae fechou os olhos e cedeu de alívio. — Eu prometo, vai ficar tudo


bem. Tudo ficará bem. Nós vamos ficar bem.

Sim, e depois o que, ela se perguntou. Mesmo sabendo a resposta para


isso quando se tratava dos dois.

Sahvage continuaria com sua vida. Ela continuaria com a dela. E era
da natureza do nada em comum que os dois divergissem. Como eles não
tinham cruzamentos para começar, nada iria mantê-los juntos.

575
Ficando de pé, ela recolheu os sacos de gelo.

— Vamos voltar para a cabana.

Engraçado como era normal dizer isso. Então, novamente, uma


pessoa pode se acostumar com qualquer coisa—e desacostumar também.

Quando ela saiu do banheiro, ele moveu as pernas para o lado e


também se levantou. E quando ela fechou a porta, foi com firmeza—
exceto que isso mudava alguma coisa? Como se ela pudesse bloquear o
constrangimento? A mentira dela?

Não.

— Vou voltar para minha casa, —disse ele.

— Okay, você não tem que ficar. Quero dizer, na cabana, ou com ...

— Sim, eu preciso. Agora mais do que nunca. Mas eu preciso de


roupas.

Ele não olhou para ela enquanto caminhava em direção à garagem, e


ela correu atrás dele, pegando sua bolsa e as chaves da máquina de lavar.
Enquanto ela trancava a casa, ele acenou com a cabeça e desmaterializou-
se pela abertura na veneziana. Deixada sozinha, ela olhou para o lixo que
ainda não havia sido retirado—e se lembrou do motivo.

576
Num impulso, ela entrou no carro e ligou o motor. Talvez eles
precisem de um veículo. Ou talvez ela só precisasse dirigir por aí.

Enquanto ela estava recuando—porque ela estava tão distraída


voltando do posto da Shell que quebrou a regra de estacionamento de seu
pai novamente—ela pensou em como o Livro estava levando seu maldito
próprio tempo ... e tentou não ver o atraso pelo que era:

Um sinal de que tudo isso era uma grande loucura. E ela era uma
idiota desesperada.

Fazendo uma curva de três pontos na rua, ela pensou em Tallah,


sozinha em sua casa de campo. Com uma maldição, Mae pisou no
acelerador e saiu de seu bairro, consumida por obsessões sobre sombras,
morenas e machos enormes nus em banheiros ...

Incapaz de suportar o caos em sua cabeça, ela ligou o rádio. Ela havia
deixado a estação na NPR, e uma mulher com voz doce estava falando
monotonamente sobre o financiamento público para bibliotecas, então ela
mudou para FM.

577
Os olhos de Mae foram para o rádio e ela aumentou o volume.

O pé esquerdo de Mae pisou no freio ...

O toque de uma buzina atrás dela abafou o resto do relatório —e então


o mundo explodiu, o golpe da colisão traseira soprando a cabeça de Mae
contra o resto quando o airbag estourou da direção e seu carro disparou
de sua pista com um grito de pneus trancados.

Todo o ímpeto parou com um impacto furioso, a grade dianteira do


Civic atingindo algo que não cedia.

Enquanto o airbag esvaziava com um chiado, Mae se inclinou para


frente, com a consciência confusa ... e então voltando em uma névoa. Nos
faróis de seu carro, através de algum tipo de vapor saindo do capô

578
arrebentado, ela leu uma placa fixada em uma parede de tijolos: Poplar
Woods .

Ela correu da placa para o desenvolvimento ao seu lado.

Atrapalhando-se com o cinto de segurança, ela soltou a trava da porta


e abriu a coisa. Com a porta aberta ao lado, seu corpo caiu, seus braços e
pernas não ouviram os comandos que ela lhes deu, e com toda a graça de
peso morto, ela se derramou no chão, terra entrando em sua boca, seu
nariz. Ela caiu de costas e respirou fundo.

Um rosto frenético entrou em seu campo de visão. Era um homem


humano com óculos sem aro, a linha do cabelo recuando e um telefone
celular na altura da orelha.

— Não consegui parar a tempo! —Ele disse. — Você pisou no freio


tão rápido—estou ligando para o nove-um-um ...

— Não, não—não ligue ... —Mae ergueu a mão, como se pudesse, de


alguma forma, pegar o telefone dele. — Não não ...

— Oi? Sim, meu nome é Richard Karouk. Eu preciso relatar um ...

A madeira de choupo ‘poplar woods’ é uma espécie de madeira mais comumente usada na fabricação de móveis, armários, brinquedos de
madeira, compensados, etc. É considerada uma madeira dura, mas é tão fácil de trabalhar quanto tábuas de pinho ou outras madeiras macias. O
álamo é uma escolha popular para trabalhos de interiores e é algo que está sempre disponível em todos os nossos locais de excedentes do Builder.

579
Com um suspiro abrupto, Richard Karouk parou de falar, seus olhos
brilhando mais por trás dos óculos. Então houve um som de clique e seu
queixo caiu.

O sangue fluiu da sua camisa de negócios e sua bela jaqueta, um rubor


vermelho brilhante.

Quando ele caiu no chão em uma pilha, uma figura em um bustiê e


um conjunto de calças de couro preto colantes foi revelada. A morena.

E ela tinha uma longa faca de aço em sua mão que estava manchada
de vermelho ... vermelho como seus lábios, suas unhas.

— Oi querida. —Ela sorriu. — Parece que você bateu a cabeça e


destruiu o carro. Graças a Deus estou aqui quando você precisa de uma
amiga.

Sahvage não voltou para o lugar de merda em que estava dormindo. Em


vez disso, ele se reformou no topo de uma colina em um parque público
e, enquanto olhava para um rio largo e lento, decidiu que as luzes das

580
casas na margem oposta eram como uma galáxia caída no chão.
Cintilante, distante ... intocável.

Há algo que eu possa dizer para fazer você mudar de ideia?

Não.

Essa troca com Mae se repetiu em sua cabeça algumas centenas de


vezes e, é claro, a coisa de repetir não mudou a resposta dela—embora ele
tivesse alguma ilusão de que talvez o discurso melhorasse com o tempo, a
agulha no proverbial registro do LP um sulco diferente, um melhor.

Com uma maldição, ele pegou seu telefone. E, ao fazer uma ligação,
soube que estava seguindo um curso tão imutável quanto o de Mae. Então,
novamente, as intenções dela impulsionaram as dele. E era o que era.

Depois de uma conversa concisa, ele encerrou a conexão e guardou o


telefone.

Ele ainda estava parado onde havia plantado suas botas quando um
macho se materializou na frente dele.

O Reverendo era quem ele tinha sido na luta, uma figura imponente
em um casaco de pele longo, seu moicano cortado e olhos de ametista não
eram o tipo de coisa que você via todas as noites. Dado o tamanho
elegante daquele casaco, não era imediatamente aparente se havia armas

581
sob aquele volume, mas uma sensação estranha disse a Sahvage que as
coisas convencionais que você poderia comprar em sua loja local click-click,
bang-bang não seriam necessárias para a proteção do cara.

Havia algo estranho nele.

E o fato de ele estar envolvido com o Livro parecia certo.

— Que bom ouvir de você, —o Reverendo falou lentamente. Então


ele franziu a testa. — Isto não é sobre o dinheiro da luta, é.

— Não.

— Como está a sua fêmea?

— Ela não é minha. —Sahvage ignorou a risada. — Mas eu preciso


encontrar aquele Livro que ela está procurando.

— O Dia dos Namorados é daqui a dez meses e, no que diz respeito


às intenções românticas, você pode ter um resultado tão bom com
chocolates, mas sem a porra do aborrecimento ...

— Onde posso encontrá-lo. E não me diga que você não mentiu para
ela. Você sabe muito mais do que está dizendo.

De repente, a merda brincalhona saiu do bate-papo.

582
— Não tenho nenhuma obrigação de agradar o seu drama. —O
Reverendo sorriu friamente, mostrando suas longas presas. — E você não
está tentando conseguir para ela, está? Não, não, você tem outros planos
para o Livro.

— Claro que é para ela.

Uma sobrancelha escura se ergueu. — Você está ou mentindo para


mim ou para si mesmo.

Do seu lado da conversa, Sahvage estava ocupado bloqueando todos


os seus pensamentos—e claramente não estava funcionando. O que ele
interpretou como significando que estava definitivamente falando com o
macho certo.

Dando de ombros, ele disse: — Estou apenas ajudando uma amiga.

— Sim, porque você é o tipo de macho que faz merdas como essa. —
O Reverendo colocou a mão no bolso. Então ficou quieto. — Você não
vai me dizer para manter minhas mãos à vista?

— Não.

— Tão confiante. Outra surpresa. Continuamos com isso e você vai


me dizer que a seguir está se transformando em um pacifista.

583
— Eu não confio em você de jeito nenhum. Mas você não pode me
machucar.

Aqueles olhos ametistas se estreitaram.

— É nisso, meu amigo, que você está errado.

— Ninguém pode me machucar, —respondeu Sahvage severamente.

— Você sabe, —o Reverendo tirou as mãos para fora, — eu já ouvi


falar de narcisismo tóxico antes, mas você está levando o bolo. Aqui está
o seu dinheiro.

— Fique com ele e me diga o que você sabe sobre o Livro.

— Sem ofensa, isso é uma mudança de sofá para mim. Então você
não está me fazendo nenhum favor.

— Mantenha-o de qualquer maneira. E me diga o que você sabe.

O Reverendo desapareceu com o dinheiro novamente. Então ele


apenas olhou para Sahvage. — Onde está sua família perdida, lutador?

— O que?

— Eu tenho esse jeitinho fofo de saber o que as pessoas escondem. —


Ele bateu na lateral da cabeça. — Uma coisa tão útil no mundo, realmente.
E você perdeu seu povo, sua família, há muito tempo, não é?

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— Eu não perdi ninguém e só quero o Livro.

Houve um longo período de silêncio. Então o Reverendo mudou sua


bengala de uma mão para a outra.

— Acontece que eu tenho alguém com quem você vai querer falar.
Não sei onde está essa merda, mas um amigo meu sabe. Você vai querer
perguntar a ele. Ele é um anjo absoluto.

— Certo. Diga-me quando e onde.

— Entrarei em contato.

— Faça isso rápido.

— Você dificilmente está em posição de fazer exigências.

Sahvage balançou a cabeça lentamente. — Você não sabe com quem


está lidando.

O Reverendo abriu a boca como se fosse fazer um comentário


malicioso. Mas o macho não seguiu o impulso.

Quando um olhar calculista apareceu naqueles olhos, ele sorriu um


pouco. — Fascinante. —Então ele acenou com a cabeça com respeito. —
E eu acredito que você está certo. Não sei com quem estou lidando—mas
você também não, lutador. Você vai ouvir de mim.

585
O Reverendo fez uma reverência. E então ele foi embora,
desaparecendo na noite.

Deixado em sua pequena solidão, Sahvage voltou a olhar para a água


que se movia lentamente. O fato de ele não saber o nome do rio era uma
prova de quantos lugares ele tinha estado nos últimos dois séculos. Desde
vagar pelos vários estados-nação do Velho País até chegar ao Novo
Mundo cinquenta anos atrás e viajar por todo o Sul e Centro-Oeste, o
globo era um borrão para ele. Então, novamente, ele nunca usou mapas.
Mapas eram para pessoas com destinos. A única direção que ele tomava
era sem luz do dia e veias, apenas quando ele absolutamente precisava
delas.

Caso contrário, ele vagava em busca de um alvo em movimento.

Não, isso não era mais verdade. Ele tinha vindo para este lado do
grande lago porque finalmente desistiu de encontrar sua prima. Assim
como ele havia previsto na noite em que selou novamente seu caixão cheio
de farinha de aveia, sua "morte" o livrou de todos os laços, e ele foi para
baixo, seguindo pistas, fofocas e tênues histórias de magia na esperança de
encontrar Rahvyn.

586
Nem um único traço. Ela deve ter morrido em algum lugar ao longo
da linha—e agora ele estava aqui, a um oceano de distância. Mas não mais
sem um propósito.

O Reverendo estava certo. Ele não estava indo atrás do Livro por Mae.

Ele iria encontrar e destruir a maldita coisa antes que ela pudesse
arruinar a vida de seu irmão.

E dela mesma.

587
Balz mancava em círculos do lado de fora de uma das salas de operação
do centro de treinamento. Havia muitas pessoas com ele: Xcor e o resto do
Bando dos Bastardos, a Irmandade, os outros lutadores da casa. Do outro
lado da porta fechada, Syphon estava sendo tratado por Deus sabe o quê.

Com essa nota, Balz puxou para cima a manga da camisa de flanela
que vestira depois de seu próprio exame médico. O machucado em seu
antebraço estava se acalmando, a carne saliente menos irritada, menos
inchada. Havia um monte de coisas malditas, principalmente em seu peito
e braços. Talvez em vinte por cento de seu corpo inteiro.

Em Syphon estava em mais de oitenta por cento.

Se o macho morresse, era tudo culpa de Balz.

De volta ao psíquico, Manny havia chegado com sua unidade


cirúrgica móvel meros oito minutos após a chamada de ajuda, e Xcor e

588
vários dos Irmãos carregaram Syphon na baia de tratamento. Balz recusou
qualquer atendimento médico naquele momento, e insistiu em ir junto
para oferecer proteção.

Não que ele tivesse sido muito útil. Ele estava com uma dor assassina.

Mas a auto-culpa era um analgésico melhor do que a morfina, vai


entender.

Ao relatar o ataque, ele fez o que pôde para informar os médicos e os


outros lutadores sobre o que havia acontecido. Mas ele deu a todos eles
uma versão editada—embora ele tenha sido totalmente aberto sobre a
sombra. Mais uma vez, foi uma pena que ele não tivesse água da fonte da
Virgem Escriba naquelas balas ...

— Há um novo mal na cidade, —Butch murmurou. — Talvez as


sombras sejam algo dela.

Quando uma onda fria de consciência caiu sobre a cabeça de Balz, ele
girou e enfrentou o Irmão. Butch O'Neal se vestia com elegância quando
estava fora de rotação, um grande lutador quando estava nisso e muito
prático—como ele diria—com um lançador de batata. Ele também tinha
estado perto e pessoalmente com ...

— Dela? —Balz ouviu-se dizer.

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— Você se lembra do que aconteceu com o Ômega. A mulher—ou
sim, o que diabos ela é.

— Oh, certo. —Balz pigarreou. Duas vezes. — Certo. Certo, claro.

Seu cérebro, sua consciência, eram como um estereoscópio vitoriano,


onde duas fotografias planas da mesma coisa se fundiam e se tornavam
uma imagem tridimensional.

Ele sentia que não conseguia respirar. — Só por curiosidade. Como


ela parecia?

Butch agitou sua cabeça enquanto olhava para seu companheiro de


quarto, V, e então olhou para trás. — Você quer dizer, se eu vi a carteira
de motorista dela? —Então ele franziu a testa. — Espere, você está falando
sério. Como ela parecia?

— Sim. —Balz encolheu os ombros e tentou parecer casual. — Quero


dizer, se ela está nas ruas de Caldwell, com algum tipo de exército de
sombras, não deveríamos todos ter uma ideia de como ela se parece?

Butch encolheu os ombros e então assentiu.

— Bom ponto. Ah, bem ... ela é praticamente a morena mais linda
que você já viu. Até você olhar nos olhos dela. E depois ... ela é horror,

590
destruição e doença ... —Butch fez o sinal da cruz sobre o peito pesado.
— Ela é tão atraente quanto o veneno em um botão de rosa.

A conversa borbulhou naquele ponto, os Irmãos que a tinham visto


concordando. Mas não era como se Balz precisasse de mais descrições—
a verdade era ... que ele sabia a resposta antes de fazer a pergunta.

Para fazer com que não houvesse nada de errado, ele ficou um pouco
mais, e então se afastou, certificando-se de dizer a Xcor que voltaria logo.
O vestiário masculino ficava ao lado e, quando ele entrou aos tropeções,
passou pela fila de armários e foi até a fileira de pias perto dos chuveiros.
Colocando um pouco de água em uma das bacias, ele molhou o rosto e
enxugou a umidade com algumas toalhas de papel amarelado de um
dispensador.

Abaixando as mãos, ele olhou para si mesmo no espelho ...

Quando a voz feminina ecoou em sua cabeça, ele se virou.

— Eu não sou seu para tomar, —ele disse para os chuveiros.

A porta do vestiário se abriu e ele foi para a arma que carregava ...

591
Butch entrou, e o passo do Irmão foi tão casual quanto Balz tentou
dar o seu próprio quando ele partiu. Aquele rosto, entretanto, não estava
nem um pouco relaxado, e aqueles olhos castanhos sabiam disso. Você
podia dizer que o cara tinha sido um policial em sua vida anterior como
humano.

— Diga-me onde você a viu.

Ainda bem que, como ladrão, Balz era um mentiroso talentoso.


Afinal, a verdade era apenas mais um lugar seguro para arrombar e roubar.
Você apenas fazia isso com palavras, em vez de mãos agarradoras.

— Eu não sei do que você está falando ...

— Não me venha com besteira. —Butch cruzou os braços sobre o


peito, sua jaqueta de couro rangendo. — Não vai ajudar nenhum de nós
dois. Quando você a viu e o que ela fez com você?

Com uma maldição, Balz pensou sobre aquela pausa, aquele


momento, quando ele ficou preso entre salvar seu primo e ... o que ela era.

Não deveria ter havido nenhuma hesitação. E era isso que o estava
aterrorizando agora.

592
— Esta noite. —Ele respirou fundo. — Esta noite naquele psíquico. E
antes disso, durante o dia no meu quarto. Ela veio me visitar e eu pensei
que estava sonhando, mas de alguma forma ela arranhou minhas costas.

Butch respirou fundo, como se estivesse aliviado. — Bom.

— Me desculpe? —Balz disse com uma carranca.

— Eu só, olha, eu sei que você é um menino crescido e pode se cuidar.


Também sei que você nunca mentiria sobre algo assim.

— Claro que eu não faria.

— Eu só estava preocupado que você a tivesse visto. Estou feliz que


você não fez.

— O que? —Balz balançou a cabeça porque claramente seus ouvidos


não estavam funcionando. — Eu acabei de dizer que sim. Que ela estava
comigo ...

— Não podemos ser muito cuidadosos, você sabe. Eu sinto que ela é
como uma infecção. Uma vez que ela entra em você, ela assume até você
morrer. —Butch deu um tapinha no ombro de Balz. — Desculpe por ter
sido paranoico—e estou muito feliz por ela não ter cruzado o seu caminho.

Balz ficou olhando para o Irmão em total confusão.

593
Quando Butch chegou à porta, o lutador olhou por cima do ombro e
sorriu. — Mas ei, nós colocamos nossas mãos naquele Livro e temos todos
os tipos de icilinas demoníacas.

— O quê? —Perguntou Balz.

— Dizem que o Livro pode ser usado para muitas coisas divertidas.
Incluindo livrar-se de invasores irritantes—e não estou falando sobre seu
tio Norman no feriado de Natal.

Quando o Irmão saiu do vestiário, Balz murmurou:

— Eu não tenho um tio Norman.

Ele com certeza tinha uma invasora, no entanto, e ele tinha a sensação
de que ela estava trabalhando com ele de maneiras que ele não sabia. Essa
percepção o teria aterrorizado completamente.

Se ele já não estivesse cagando tijolos.

Se refere ao filme ParaNorman (bra/prt: ParaNorman) é um filme de animação americano de 2012, dos gêneros aventura
e comédia, dirigido por Sam Fell e Chris Butler. O adolescente Norman Babcock fala com os mortos, e inesperadamente é contatado por seu estranho
tio.

594
De volta a cabana, Sahvage entrou pela janela do quarto do segundo
andar e, ao chegar ao topo da escada, chamou Tallah.

Ele fez o mesmo no primeiro andar.

Na porta do porão, ele se inclinou. Em seguida, desceu. O quarto da


velha fêmea estava aberto e a luz do corredor brilhava lá dentro. Havia
muita seda rosa com flores e móveis que ele vira no que os humanos
chamavam de França , quando estava viajando pelo Velho Continente.
Em uma espreguiçadeira, Tallah estava dormindo profundamente. Ela
havia se vestido formalmente mais uma vez, seu vestido era azul-petróleo
desbotado, os cabelos prateados soltos e emaranhados nas pérolas
costuradas no corpete.

Ao lado dela estava uma bandeja com uma xícara de chá, algumas
torradas comidas pela metade e um pote de geleia.

A expectativa de vida dos vampiros era muito diferente da dos


humanos, e não apenas do ponto de vista da longevidade. Ao contrário
das outras espécies, os vampiros pareciam muito bons por toda a sua vida,

A França, na Europa Ocidental, tem cidades medievais, aldeias alpinas e praias mediterrâneas. Paris, sua capital,
é famosa pelas casas de alta costura, museus de arte clássica, como o Louvre, e monumentos como a Torre Eiffel. O país também é conhecido pelos
vinhos e pela cozinha sofisticada. Antigos desenhos da caverna de Lascaux, o Teatro Romano de Lyon e o amplo Palácio de Versalhes atestam a sua
rica história.

595
até a última década ou assim. Nesse ponto, o processo de envelhecimento
atingia o corpo e a mente, e a degeneração de tudo ocorria em uma
escalada acelerada que levava direto ao túmulo.

Tallah não estava longe de uma lápide ...

— Sahvage? —A fêmea murmurou enquanto levantava a cabeça. —


É você?

— Me desculpe, se eu te acordei. Estava apenas verificando você.

— Oh, isso é tão gentil. Onde está Mae?

— Ela está no seu caminho de volta. —Ele respirou fundo. — Você


não comeu muito.

— Eu não estava com muita fome. Aquele ensopado de ontem à noite


foi tão gratificante.

— Você apenas descanse. Você parece cansada.

— Eu estou.

Quando ele se virou, Tallah disse:

— Ela tem sorte de ter você.

Com um som evasivo, ele voltou para cima e se sentou à mesa da


cozinha. Verificando seu telefone, ele franziu a testa para a hora e mandou

596
uma mensagem para Mae. E então ele esperou por uma resposta. Que viria
a qualquer segundo. Ele tinha certeza. Ela provavelmente tinha pegado
seu carro.

Ele olhou para o relógio na parede. Sim, era isso. Mae estava voltando
com o carro e levaria—ele olhou para a hora na tela inicial novamente—
provavelmente mais dez minutos. Quinze no máximo.

Enquanto o silêncio na casa de campo se infiltrava nele, ele viu o


passado voltando uma última vez. Coisa boa. Ele havia perdido a paciência
com suas memórias ... então, novamente, isso tinha sido verdade no exato
momento em que foram feitas.

Toque. Toque. Toque ...

O som lamentoso o conduziu até a ampla escadaria que subia ao nível


mais alto do castelo. Enquanto ele o seguia, um cão sentindo o cheiro, ele
percebeu que o volume não mudava. Embora soubesse instintivamente que
estava se aproximando do destino, as batidas não ficaram mais altas. Era como
se o som estivesse nas próprias paredes de pedra, no chão, no teto.

597
Ou talvez não.

Podia muito bem estar dentro dele.

Sua jornada terminou em frente a uma porta robusta, as pesadas tábuas


reforçadas com barras de ferro. E em ambos os lados, bandeiras de seda com
enfeites dourados foram montadas em hastes orgulhosas.

Ele imaginou Zxysis, empalado no reto ...

Toque. Toque. Toque ... toque.

Como se seu propósito tivesse sido atendido, o som evaporou. E a porta


se abriu com um rangido, embora ele nem tivesse colocado a mão no trinco.

O quarto do mestre foi revelado, uma lufada de ar fresco fluindo como


se estivesse ansiosa para deixar os confins luxuosos. Então, novamente, nem
tudo estava bem.

À luz bruxuleante das chamas agitadas de velas, uma cena de violência


fez até Sahvage fechar os olhos.

A roupa interior simples de Rahvyn, aquela que ela usava muitas vezes
antes, estava rasgada em pedaços e manchada de sangue, partes dela aqui ... ali

598
... na plataforma da cama. E sob um dossel marcado com as sedas da linha de
sangue, o cheiro de sangue e sexo era mais forte, mesmo com a janela aberta.

Ali, ela foi levada pela violência.

— Querida Virgem Escriba.

Mas isso não era tudo. Ali ... no canto ... havia um pacote de couro, couro
claro, sem acabamento ...

A pele de Zxysis.

Sahvage passou a palma da adaga pelo rosto. Embora nunca tivesse sido
um macho espiritual, apanhado em orações ou no conforto prometido do
Fade, ele não podia deixar de pronunciar o nome da mahmen da raça uma e
outra vez ...

Toque. Toque. Toque.

Virando-se, ele franziu a testa. O som vinha de uma mesa de cavalete


perto da lareira e, ao se aproximar, viu que um livro estava aberto ao lado de
uma vela preta, um prato de barro, uma adaga e algumas ervas. Ao entrar, ele
sentiu um cheiro que era familiar.

Sua túnica.

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Erguendo a frente da túnica negra que o cobria, ele cheirou. Sim, foi isso
que foi pressionado contra ele - e dentro do buquê ... O sangue de Rahvyn.

Ele olhou para o antigo tomo. Lá vemos linhas de tinta em seu


pergaminho, a cor marrom enferrujada sugerindo que havia sangue na pena
que havia riscado as páginas. As letras e símbolos, no entanto ... eram diferentes
de qualquer um que ele já tinha visto antes. No entanto, ele tinha um palpite
quanto ao conteúdo.

Um feitiço, pois certamente esses ingredientes eram inexplicáveis para


qualquer outro propósito.

E a veia de Rahvyn foi aberta.

Ele pensou nas advertências gravadas na parte externa de seu caixão. Não
era uma conclusão difícil que algum tipo de feitiço de contenção tivesse
sido forjado sobre ele, embora obviamente Zxysis não tivesse tido sucesso na
tentativa.

Segurando a capa para fechar, Sahvage fez uma careta. Ele não queria a
sensação de manusear qualquer parte do livro. E quanto ao que estava
vinculado? O couro feio estava crivado de rachaduras e fissuras, como se

600
tivesse envelhecido séculos. Havia também um cheiro, como leite coalhado
ou carne em decomposição.

Ele largou o braço e esfregou a palma da mão no quadril. Mesmo depois


de uma esfrega vigorosa, ele sentiu como se algo estivesse retido em seus
dedos, sua palma ...

A capa se abriu por vontade própria, as páginas se agitando rapidamente,


como se mãos fantasmas as estivessem passando rapidamente. Sahvage recuou,
mas parou quando o livro parou em um lugar diferente do que havia sido
exposto anteriormente.

Toque. Toque. Toque.

Estreitando os olhos, ele reconheceu os símbolos da língua que aprendera


quando jovem. Na verdade, ele agora podia ler o que estava escrito no
pergaminho e teve a sensação de que era uma mensagem para ele. Ou talvez
um chamado ... ou um comando ...

Sahvage cobriu os olhos. — Não.

Ele não sabia o que estava dizendo, nem a quem. Mas a negação tinha que
ser verdadeira, permanecer firme. De alguma forma, ele tinha a convicção de

601
que se fixasse o olhar nas páginas, se absorvesse os símbolos e os traduzisse
em palavras, enveredaria por um caminho do qual não poderia se desviar.

Com um puxão, ele se virou. As venezianas das janelas estavam, como a


ponte levadiça, abertas e oferecendo uma saída imediata.

Toque. Toque. Toquetoquetoquetoquetoquetoque ...

Quando o som de convocação se intensificou mais uma vez e se tornou


tão alto que parecia uma batida como botas pesadas no chão de madeira,
Sahvage fechou os olhos e respirou profundamente o ar fresco da noite. Ele
teve que bloquear os cheiros que o tornavam violento, o sangue e o sexo de
um inocente tomado à força, tornando impossível para ele se acalmar.

Então ele precisava colocá-los de lado.

Enquanto ele se concentrava na desmaterialização, ele foi, como os outros


da casa tinham sido compelidos, por uma sensação de sobrevivência de partir,
partir, partir ...

602
Sahvage saltou de volta para a consciência atual com um empurrão de
corpo inteiro e uma sucção de ar. Por um momento, os detalhes agora
familiares da cozinha de Tallah foram totalmente estranhos. Mas então
ele viu as panelas e frigideiras que havia lavado e secado na prateleira, a
geladeira contra a porta, a mochila de armas e munições na mesa à sua
frente.

— Merda, —ele respirou.

Esfregando a cabeça, ele ainda podia imaginar aquela mesa de


cavalete no quarto ensanguentado, e o que havia com o Livro o fez pensar
no que Mae e Tallah tinham colocado aqui, os ingredientes de molho de
salada que não eram jamais para folhas de alface ...

Ele olhou em volta bruscamente. — Mae?

Sua mão disparou e agarrou seu telefone. Enquanto ele verificava suas
mensagens de texto ... nada dela. Sem ligações também. E se passou mais
de uma hora e vinte minutos desde que ele deixou a casa dela.

Onde diabos ela estava?

603
Mae voltou à consciência lentamente, e os marcadores de que seu
cérebro estava de volta a ativa eram principalmente as informações físicas
que ela começou a processar: sua cabeça doía. Ela estava deitada em algo
que tinha saliências finas. Um braço inteiro estava dormente.

E que cheiro era esse?

Ela se concentrou na fragrância sem nenhuma razão em particular, e


quando uma conexão mental foi feita, a imagem que suas memórias
tossiram não fez muito sentido.

O Galleria Mall. Época de Natal.

O balcão de perfumes da Macy's . Uma vendedora agressiva, frascos


de spray de punho duplo que tinham ganchos. Mae foi atingida no rosto

Macy's é uma rede de lojas de departamentos fundada na cidade norte-americana de Nova Iorque. Foi fundada em
1858 por Rowland Hussey Macy. A maior dessas lojas fica em Nova Iorque, ocupando um quarteirão inteiro, e é apelidada de a ma ior loja do mundo.

604
por algo que fez seus olhos arderem e cócegas no nariz como se ela tivesse
uma única mecha de pêlo de gato em cada narina.

Seus olhos se abriram.

Bem na frente de seu rosto ... havia um padrão de fios. Mas isso não
poderia estar certo ...?

Demorou algumas respirações profundas antes que as coisas


entrassem em foco corretamente e ela descobriu que o que ela pensava que
estava vendo era correto—e também errado. As cristas finas pressionando
nela eram uma trama de fios revestidos de preto.

Ela estava em uma gaiola. Como uma gaiola de cachorro .

— Você está me lembrando de alguém.

Ao som da voz familiar, Mae moveu os olhos, não a cabeça. Através


do padrão de hachuras, ela olhou para um espaço aberto ...

Espere ... isto era uma loja de departamentos? Havia prateleiras e mais
prateleiras de roupas ... uma exibição de bolsas e sapatos de grife ... uma
mesa de maquiagem. Mas também havia uma cozinha exposta que descia

gaiola de cachocho com duas portas

605
por uma parede e um banheiro sem paredes ou porta. Uma cama king-
size.

— Eu estou aqui, idiota.

Mae rastreou o som até o centro do que quer que fosse. Sentada em
um sofá de couro branco, com as pernas cruzadas como uma dama, a
morena trocou de roupa e arrumou o cabelo. Agora ela estava em um
terninho branco, a parte superior ajustando-se à sua cintura fina, a parte
inferior com uma fenda que ia até o meio da coxa. Os stilettos eram pretos
e brancos, e havia pérolas, muitas pérolas.

Mas não era só isso.

Ela usava um chapéu branco espetacular, um chapéu-coco , com uma


aba que rodeava seu belo rosto e seu pescoço gracioso, mais baixo em
alguns lugares, mais alto em outros.

— Você gosta disso? —A morena murmurou enquanto seus dedos


com pontas vermelho sangue pairavam ao redor do delicado contorno
preto do bico.

O chapéu-coco ou chapéu de coco é um chapéu duro, de copa redonda e aba bem curvada dos lados, usado pelos
homens no fim do século XIX. Na Inglaterra, após a Primeira Guerra Mundial, passou a ser aceito em ocasiões f ormais, substituindo a cartola.

606
Mae se puxou pra cima e bateu com a cabeça no topo da gaiola.

— Oh, desculpe. É para cães. —A morena sorriu. — Cachorros


grandes não são tão grandes quanto fêmeas adultas, embora, são.

Arrastando os pés, Mae sentou-se o máximo que pôde, com a cabeça


em um ângulo estranho. Com uma visão melhor da área em que estavam,
ela viu mil metros quadrados com um teto baixo sustentado por suportes
grossos e inexpressivos. Sem janelas. E uma única porta.

Então era ali que ela precisava ir.

— Alexis Carrington Colby . —A morena passou a mão por suas


pernas macias. — Esta é a roupa dela. Desde o primeiro episódio da
segunda temporada. E não uma cópia, este é o terno real. Comprei do cara
do vestiário. Ou melhor, eu o deixei me foder por isso. Ele era pequeno,
aliás, e o tamanho realmente importa. Mas esse terno—com o chapéu?
Valeu a pena. Além disso, eu era tão mais gostosa do que a merda que ele
costumava receber, que durou um minuto e meio.

Alexis Carrington Colby é um personagem fictício da série de televisão americana Dynasty. Ela é a ex-mulher de Blake
Carrington, cujos planos causam um problema após o outro para ele e seus filhos.

607
Mae piscou.

— Ok, tudo bem. Demorou dois minutos, no máximo. —A morena


franziu a testa. — Espera aí, você não assistiu? Como alguém poderia não
assistir Dynasty ? Embora, considerando suas escolhas de indumentária
...

A gaiola do cachorro tinha uma trava bem na frente e outra na lateral


curta. Ambas foram fechadas com cadeado. O fio era de aço. Não
exatamente engrenado, e se ela tivesse ficado calma, ela teria sido capaz
de sair da gaiola com segurança. Mas ela estava com dor e apavorada.

A morena parecia irritada com a falta de bajulação.

— Você sabe, eu me vesti para você. Você poderia mostrar algum


apreço. —Quando Mae não respondeu, houve um elegante encolher de
ombros. — Tudo bem, você esteve fora por um tempo. Como está sua
cabeça? Hm?

Dynasty é uma série de televisão norte-americana do gênero soap opera baseada na série de mesmo nome dos anos
1980. Desenvolvida por Josh Schwartz, Stephanie Savage e Sallie Patrick, a primeira temporada é estrelada por Elizabeth Gillies como Fallon
Carrington, Grant Show como Blake Carrington, Nathalie Kelley como a nova esposa de Blake, Cristal, e James Mackay como seu filho S teven, com
Robert Christopher Riley como motorista Michael Culhane, Sam Adegoke como o bilionário Jeff Colby, Rafael de la Fuente c omo Sam "Sammy Jo"
Jones, sobrinho de Cristal e interesse amoroso de Steven, e Alan Dale como Joseph Anders, o mordomo dos Carringtons. A série mais tarde
apresentou Alexis Carrington (Nicollette Sheridan / Elaine Hendrix), a ex-esposa de Blake e a estranha mãe de Steven e Fallon; A filha de Anders, Kirby
(Maddison Brown); A terceira esposa de Blake, Cristal Jennings (Ana Brenda Contreras / Daniella Alonso); O filho desaparecido de Blake e Alexis,
Adam Carrington (Sam Underwood); A meia-irmã de Blake e a mãe de Jeff e Monica, Dominique Deveraux (Michael Michele); e o ex, agora atual
marido de Fallon, Liam Ridley (Adam Huber).

608
A gaiola era composta de painéis dobráveis, os cantos rígidos dos
ângulos retos mantidos no lugar em virtude de os dois lados curtos terem
sido empurrados para cima para segurar o topo.

— Você não fala muito. —A morena mostrou a mão. — Você vê este


diamante? Vinte e cinco quilates. Você gosta disso?

Mae sabia que sua única esperança era chutar nas laterais e dobrar os
ganchos de metal até que a integridade estrutural dos painéis falhasse.

— É vidro. —A morena estendeu a mão para si mesma e moveu a


enorme pedra de um lado para o outro. — Sabe, alguns diriam que as
formas de peras não são clássicas, não como as redondas ou as
esmeraldas são. Eles são supostamente como cortes marquise—ou aquela
merda de corte de princesa. Mas veja, este é o anel que Joan Collins usava.
Comprei em um leilão há três anos. Eu teria pago mais ...

Mae se mexeu e plantou as botas no lado curto da gaiola. Apertando-


se contra a outra extremidade, ela começou a colocar sua força nisso ...

— O que você está fazendo? —A morena ergueu uma sobrancelha


estampada. — Honestamente, você acha que vai funcionar?

E o formato em que os diamantes são cortados ... peras, redondas, esmeralda, marquise ou princesa.

609
Esforçando-se, Mae sentiu os fios cravarem em seus ombros, na nuca
e na cabeça. Os ferimentos do acidente de carro—seu ombro machucado
de onde o cinto de segurança havia apertado, seu rosto caído no chão, sua
têmpora só Deus sabe o quê—começaram a zumbir mais alto e latejar.
Especialmente quando ela começou a chutar.

A morena riu e se levantou. — Fazendo um bom treino? E um, e dois,


e um e dois—diga-me, você está sentindo a queimadura?

Batida, batida, batida, chocalho, chocalho, chocalho ...

Mae resmungou. O suor brotou em seu rosto. Sua visão nadou


enquanto seu corpo protestava contra as demandas que ela estava
colocando nele.

— Depois disso, —a morena sorriu, — podemos trabalhar o coração?


Coração é tão importante.

As coisas estavam afrouxando na gaiola, o topo afundando enquanto


ela socava, estalando para trás quando ela retraia os joelhos.

— Eu juro ... você me lembra alguém. —A morena aproximou-se para


ficar ao lado da gaiola. — Mas isso não é importante ...

Com uma última e poderosa extensão, Mae estourou a extremidade,


a treliça de fios pesados quicando no chão. Metade da parte superior caiu

610
sobre ela, e ela a empurrou enquanto se arrastava para fora da rota de fuga
que havia criado.

No segundo em que ela estava livre, ela lutou para se levantar ...

Seu equilíbrio estava uma merda, seu corpo totalmente


descoordenado, e ela percebeu que a morena estava rindo enquanto Mae
batia no chão duro e tentava se levantar novamente. E de novo.

Ela desabou esparramada, ofegante, com a cabeça girando, todos os


tipos de dor por toda parte.

— E onde você pensa que está indo agora?

O par de sapatos de salto alto preto e branco apareceu bem ao lado do


rosto de Mae—que foi a única razão pela qual ela descobriu que tinha
acabado de lado com a orelha e a bochecha em um mármore frio, muito
frio.

— Sabe, —a morena murmurou, — você arruinou uma gaiola


perfeitamente boa. Vou ter que fazer você pagar por isso, de uma forma
ou de outra. E eu vou escolher algo diferente de dinheiro, é claro ...

— Você não vai me machucar.

— Desculpe?

611
Mae ergueu a cabeça. Levantou seu torso. Tentou erguer todo o
corpo, mas se contentou em sentar-se contra a parede onde a gaiola
estivera.

Mesmo que seus olhos ainda estivessem se focalizando


intermitentemente, ela os direcionou na direção da morena.

Respirando fundo, ela disse:

— Você. Não. Vai. Me. Machucar.

Aqueles lábios vermelhos brilhantes se achataram e aquela voz ficou


desagradável.

— Você fica pensando assim, então. Vamos ver quanto tempo dura
essa besteira.

Com uma pressa repentina, uma força invisível levitou Mae do chão
e a prendeu contra a parede. A pressão de esmagar os ossos cobria todo o
seu corpo, um cobertor que pesava tanto quanto um carro, e enquanto ela
lutava para respirar, ela tentou lutar contra o aperto, mas não havia nada
contra o que lutar.

A morena se aproximou e fez uma pose, um quadril curvando-se para


fora, a outra mão posicionada em sua cintura. No entanto, seu rosto estava
desenhado em linhas duras e feias.

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— Eu vou fazer tudo que eu quiser com você. —Os olhos dela
percorreram Mae—e então a surpresa foi registrada. — Bem, bem, bem.
Parece que aquele grande macho ainda não entrou em você. Uma virgem?
Sério? Que prêmio você é. —Agora ela sorriu novamente. — Exatamente
o que todo cara quer, mãos desajeitadas e estremecimentos estranhos de
dor. Que sexy ...

— Você não pode me machucar, —Mae resmungou, — porque você


precisa do Livro.

A morena ficou em silêncio e fechou a boca. Então ela moveu os


stilettos e caminhou até a vitrine de bolsas quadradas de duas alças com
fechaduras. Havia facilmente uma dúzia delas, em um arco-íris de cores e
com tantas texturas diferentes.

— Sabe, —disse a morena, — usei muitos homens virgens ao longo


dos anos. E tsk, tsk, tsk, não como você está pensando. Eles eram
necessários para um propósito privado, não sexual—o que infelizmente
não é mais aplicável ...

— Você precisa de mim viva. —Mae tossiu. — Porque eu convoquei


o Livro. Você precisa de mim para pegar o Livro.

A morena olhou por cima do ombro, seus olhos se estreitando.

— Eu não seria tão arrogante, querida. Tenho outras fontes para isso.

613
— Então me mate. Bem aqui e agora ...

Mae soltou um grito quando a pressão se tornou insuportável, os ossos


do rosto ameaçando desabar, as costelas apertando o coração e os
pulmões, a pélvis quase rompendo. E assim que ela começou a desmaiar,
no momento em que ela se sentiu escorregando, ela foi capaz de arrastar
um pouco de ar garganta abaixo.

Quando seus olhos começaram a clarear um pouco, a morena estava


bem na frente dela novamente. Não mais zangada, mas pensativa.

— Diga-me como você fez isso, —disse ela.

— Hmm? —Mae chiou.

— Olhe só para você. Você não é feia, mas dificilmente vale a pena
atravessar a rua. Você não tem estilo, personalidade, nada que a
recomende e nenhuma experiência na cama. E ainda ... aquele macho ...
Ele está tão fodidamente afeiçoado a você. Eu não entendo.

Quando a morena ficou em silêncio, Mae colocou um pouco de força


em sua voz.

— É para isso que você deseja o Livro. Não é?

— Não.

— Você está mentindo.

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O olhar da morena era uma promessa de sofrimento. Infinita miséria.
— E você pode beijar a porra da minha bunda.

De repente, a dor e a sufocação voltaram, e Mae sabia que ela havia


exagerado na mão.

Foi o último pensamento consciente que ela teve.

Fora em uma propriedade rural com muito lixo, Erika abaixou a cabeça
ao entrar em um trailer dilapidado. Lá dentro, havia confusão em tudo,
caixas de pizza, maços de cigarro amassados e garrafas de bebida vazias
sufocando os detalhes do espaço da cozinha, o chão sob os pés, os móveis
esfarrapados. Como era de se esperar, havia também uma coleção de
bongs, seringas, sacolas plásticas e dinheiro embrulhados em sacolas de
supermercado.

615
O corpo estava em um sofá que estava tão manchado que parecia que
tinha começado sua vida de um marrom sujo. A vítima era um homem,
em algum lugar na casa dos vinte anos, e ele estava esparramado contra as
almofadas gastas, o rosto congelado em um olhar fixo para frente, o único
ferimento de bala no centro de sua testa.

Quando os olhos dela desceram para frente do peito dele, ao contrário


da mancha vermelha na parede atrás de seu crânio, ela ouviu seu sargento
de volta no final da tarde.

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— O pai que chamou, —relatou um dos uniformizados—o mais
jovem dos dois. Porque o mais velho estava ao telefone. — Pobre homem.
Ninguém quer ver o filho assim.

Erika se abaixou e verificou o ferimento a bala na testa. Nenhum


resíduo de pólvora, então não foi um tipo de coisa à queima-roupa. O
atirador estava um pouco atrás.

— Tiro profissional, —ela murmurou.

O uniformizado continuou:

— O nome da vítima é David Eckler e ele tem registro. Principalmente


vendendo bens roubados, mas ele tem uma série de acusações de drogas,
duas das quais foram retiradas por questões técnicas. O detetive De La
Cruz levou o pai até a delegacia para conversar.

Tirando sua lanterna, ela olhou ao redor para a bagunça no chão.

— Aqui está um projétil.

Ela se abaixou para colocar um marcador nele e, antes de se endireitar


de volta, percebeu que estava no nível dos olhos com uma mesa de centro
desordenada que teve uma de suas pernas substituída por uma caixa de
leite. No meio de sua desordem? Uma caixa de couro com cerca de trinta

617
centímetros de comprimento e doze de largura. Ao contrário de tudo o
mais no trailer, a coisa era de boa construção e sem poeira ou arranhões.

— Surpresa, surpresa, —ela murmurou enquanto olhava através do


tampo de vidro.

A linha de relógios dentro era de grandes nomes que até mesmo


alguém da classe média como ela conheceria: Rolex . Piaget . Okay,
tudo bem, ela nunca tinha ouvido falar de Hublot .

— Como você disse isso, —disse ela. — 'Whoo-blot'?

— Huh?

E foi então que ela viu. Um pequeno cintilar no canto oposto ao lado
do sofá: uma lente que havia captado o feixe de sua lanterna.

— Nós temos segurança, —anunciou ela.

Rolex S.A. é uma empresa suíça fabricante de relógios de pulso e acessórios com sede em Genebra, fundada em 1905 por
um alemão, Hans Wilsdorf. É considerada por muitos como um símbolo de status social. e foi avaliada como uma das 100 marcas mais valiosas do
mundo em 2007.

Piaget SA é uma empresa suíça que produz relógios e jóias de luxo, a Piaget foi fundada em 1874 por Georges Piaget, na
cidade de La Côte-aux-Fées. Atualmente, pertence ao grupo suíço Richemont, especializado na indústria do luxo.

A Hublot é uma relojoeira suíça de luxo fundada em 1980 pelo italiano Carlo Crocco. A empresa opera como uma
subsidiária integral da francesa LVMH.

618
— Você quer dizer um cachorro acorrentado no quintal? Eu não vi
um ...

— Não, como em uma câmera.

Ela se inclinou e inspecionou cuidadosamente a unidade de gravação.


Em seguida, ela seguiu os fios ao redor do encosto do sofá—evitando a
vítima—até um armário. Dentro? Um laptop que era novo em folha e
conectado a um filtro de linha. A coisa estava funcionando.

— Obrigada, baby Jesus, —ela murmurou.

— Você não deveria estar de folga?

Erika se endireitou e olhou para o uniformizado direito pela primeira


vez.

— Dick?

— Rick. —O cara de rosto fresco apontou para seu distintivo. —


Donaldson. Ainda estou na batida, mas espero ser transferido para a área
de homicídio em breve.

— Eu sou Detetive ...

— Oh, eu sei quem você é. E eu pensei que você deveria estar de folga
esta noite ...

619
— Como você sabe meu horário?

O cara olhou em volta como se esperasse que outra pessoa


respondesse. Infelizmente para ele, o policial mais velho ainda estava ao
telefone.

— Ah ... todo mundo conhece seu horário, detetive.

Quando os faróis iluminaram a frente do trailer, fatias de iluminação


penetraram no interior.

— Bem, você está com sorte. —Erika desligou a lanterna. — Vejo


você pela manhã. Vou para casa dormir um pouco.

Enquanto Dick-Rick-seja-lá-quem-for Donaldson parecia aliviado,


como se alguém o tivesse poupado de uma viagem para a Target na Black
Friday, Erika bateu na porta quebrada. Levou cada grama de autocontrole
para sair do trailer, mas a realidade era que o pessoal da cena do crime
precisaria de quatro a seis horas para limpar tudo, e agora eram, o que ...?
Ela olhou para o relógio. Três da manhã. Perfeito. Ela poderia estar em sua
cama em casa em 45 minutos, com os dentes escovados, os pés em meias
limpas e a cabeça enrolada em um cobertor para cortar o barulho dos
madrugadores que moravam no apartamento acima dela.

Vivendo totalmente a vida no alto, ela pensou enquanto levantou a sua


não-marcada e acenava para os investigadores da cena do crime.

620
Ela estaria de volta à proverbial sela o mais tardar às oito da manhã.
E então o sargento não poderia ter uma maldita coisa boa a dizer sobre
seu turno de trabalho. Acertou em cheio.

Além disso, enquanto ainda houvesse um coração no peito da vítima?


Ela estava bem entregando o caso para outra pessoa.

Quando Syphon finalmente estava descansando em silêncio, e o pessoal


de uniforme azul com colares que ouviam tiques ficaram satisfeitos de que
ele ficaria bem, Balz foi o primeiro a sair do centro de treinamento. E ele
mais uma vez parecia casual—ou tentou parecer assim.

Dentro de sua pele, ele estava gritando.

No final do túnel subterrâneo, ele saiu de debaixo da grande escadaria


da mansão e então desmaterializou-se para a sala de estar do segundo
andar. Enquanto descia para seu próprio quarto, ele se moveu
silenciosamente, como o ladrão que era, e rezou para não encontrar
ninguém. Em sua suíte, ele demorou menos de um minuto para vestir seus
trajes totalmente pretos, e não muito mais do que isso para colocar um
coldre duplo em volta da cintura.

621
Indo silenciosamente de volta para o corredor, ele olhou para a
esquerda e para a direita. Vozes borbulhavam da sala de estar do segundo
andar, então ele voltou, subindo pela escada dos criados em uma descida
rápida. No final, ele fez todos os tipos de desvios para o doggen que estava
preparando a Última Refeição na cozinha. Em seguida, foi para fora da
garagem e porta dos fundos para os jardins fechados para o inverno atrás
da mansão.

Fechando os olhos, ele se desmaterializou sem lutar, o que o


surpreendeu devido aos ovos mexidos que ele tinha no cérebro, e enquanto
ele viajava para longe da montanha, ele se dirigiu para o centro da cidade.

Balz se reformou no telhado do Commodore.

Não há mais regras de engajamento de cavalheiro para essa


infiltração. Ele abriu a porta de aço pelos sistemas de ventilação HVAC
com sua mente porque a fechadura não tinha cobre, e ele teria se
desmaterializado e descido nos degraus de concreto, mas não tinha certeza
se haveria escombros ou qualquer porta de incêndio no caminho.

Três andares abaixo, ele não fez nenhum som ao entrar no corredor
acarpetado. Passando pelas portas de cinco ou seis condôminos, ele

A sigla HVAC: Heating, Ventilating and Air Conditioning, que em português foi traduzida para: AVAC – Aquecimento, Ventilação e Ar
Condicionado, refere-se à funções básicas e primordiais dos sistemas de climatização. São 3 as funções centrais do HVAC.

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chegou aos elevadores no momento em que um conjunto de portas estava
se abrindo.

As duas mulheres lá dentro estavam juntas, suas roupas chiques e bons


cortes de cabelo sugerindo que ambas tinham dinheiro descartável e gosto
de saber o que fazer direito com a merda. Só por segurança, ele as
congelou, apagou suas memórias ... e as mandou de volta para o saguão.

Toque ...

Balz parou e olhou por cima do ombro. Mas ele sabia que não havia
ninguém atrás dele. Não, era para onde ele estava indo que precisava ser
cauteloso.

A entrada para o triplex cedeu quando ele se aproximou e, ao entrar,


desarmou o sistema de segurança com um aparelho programado com o
código que ele havia retirado do banco de dados do alarme.

Toque. Toque ...

Uma inspiração rápida não revelou aromas. Acho que o casal feliz
não estava mais uma vez em casa. Não teria importado se estivessem.

Nada importava.

Bem ... uma coisa importava.

Toque. Toque. Toque ...

623
Enquanto seu peito ficava apertado de emoção, ele procedeu através
dos espaços de visualização, revisitando os esqueletos de morcegos, os
instrumentos cirúrgicos vitorianos—bem como um cheio de animais
taxidermizados que ele perdeu durante sua primeira viagem.

Toque. Toque. Toque. Toque ...

De repente, a sala com as estantes e os livros se apresentou diante dele,


certo como se a sala estivesse andando, não Balz.

Olhando para seus shitkickers, ele parou bem dentro dele e, por um
breve momento, seu coração bateu forte com o terror de que ele estivesse
errado. Em seguida, ele pulou batidas porque estava apavorado que ele
estivesse certo.

Finalmente, ele olhou para o belo piso de parquet.

— Merda, —ele sussurrou. Porque não havia dúvida.

Este era o Livro.

E isso o chamava. Ele estava chamando por ele.

Taxidermia ou taxiodermia é o feito de montar ou reproduzir animais para exibição ou estudo. É a técnica
de preservação da forma da pele, planos e tamanho dos animais

624
Toque ...

Quando o toque final foi até seus ouvidos, foi tão suave, como um
suspiro. E mesmo que ele não quisesse, Balz foi em frente—não com
reverência, no entanto. Não com a escravidão que ele tinha ficado preso
no psíquico, também. Havia resignação em seus passos—uma sensação de
inevitabilidade.

Tudo estava levando a isso.

Quando ele parou em frente à vitrine, o antigo volume de só Deus


sabia o que vibrava em seu suporte, um cachorrinho se mexendo de
felicidade. E então, como se sua alegria não pudesse ser contida, ele saltou
e se abriu. As páginas voaram com pressa, rápido demais para rastrear—
mas quando pararam, foi com uma parada decisiva, como se as passagens
específicas expostas tivessem invadido o movimento e assumido o
controle.

Balz se abaixou.

No início, ele não conseguia decifrar as linhas da escrita. Mas então


ele esfregou os olhos e, quando baixou as mãos, tudo estava em inglês.
Inglês simples e casual, do tipo que você encontraria em um panfleto de
venda de garagem. Com gíria moderna.

625
Dada a idade do pergaminho e o desgaste da capa, ele não conseguia
conciliar como “NSFW ” apareceria no topo de qualquer página da
encadernação. Mas ele não iria discutir com tudo o que fosse. Ele não
estava discutindo com nada.

Estendendo a mão, ele ergueu a tampa da vitrine de Lucite, e embora


ele previsse resistência, não houve nenhuma. O cubo protetor surgiu como
se a coisa estivesse levitando, e quando ele foi colocar a coisa de lado,
parecia leve como uma pena ...

— Foda-se, —ele murmurou em um recuo.

O cheiro era horrível. Como um lesser, mas sem os tons doces.

E então ele não se preocupou com os problemas de seu nariz.

— Não, —disse ele ao começar a ler as palavras. — Não é isso que eu


quero. Eu preciso de outra coisa.

O livro tremulou, como se estivesse discordando dele.

Not safe for work (inglês para ‘não seguro para o trabalho’, muitas vezes abreviado para a sigla NSFW ) é uma gíria da internet ou abreviação
usada para marcar URLs e links que apontam para vídeos ou sites páginas que contenham nudez, sexualidade intensa, profanação, religião, política,
violência intensa, e/ou outro assunto potencialmente perturbador, que o espectador pode não querer ser visto olhando em um ambiente público ou
formal, incluindo um local de trabalho, escola ou ambiente familiar. NSFW tem particular relevância para as pessoas que tenta m fazer uso pessoal da
Internet em locais de trabalho ou escolas que têm políticas que proíbem o acesso a material sexual e explícito.

626
— Eu não estou procurando ... —Ele balançou sua cabeça. — Eu não
estou procurando por amor. Você está louco. Na verdade, estou tentando
me livrar de uma ... mulher.

Ele não conseguia dizer a palavra com d ...

— Não se mova! Eu tenho uma arma!

Ao som da estrondosa voz masculina, Balz revirou os olhos e se virou,


colocando o corpo entre o Livro e o Sr. do triplex—que estava de pé na
arcada da sala das estantes, um pequeno poodle-shooter brilhante em
suas mãos.

Como se ele tivesse visto muitos filmes de 007 da era Roger Moore .

Maldição, Balz estava tão fodidamente distraído, que ele perdeu o


cheiro ...

"Poodle shooter" é um termo depreciativo para a família de rifles M-16 e M-4 com os quais os militares dos EUA estão
armados. Isso decorre do fato de que os M16, M16A1, M16A2, M16A3 e M16A4 (o "M-4") disparam o cartucho de 5,56 mm, um cartucho que muitos
soldados e fuzileiros navais pensam que não tem potência suficiente para operações de combate. Antes da Guerra do Vietnã, o Exército e os fuzileiros
navais estavam armados com o rifle M-14, que dispara um cartucho muito mais poderoso, o cartucho OTAN de 7,62 mm. Durante a Guerra do Iraque
e a guerra no Afeganistão, o M-16 e o M-4 provaram ser inadequados para a tarefa de combates de longo alcance e o rifle M-14 foi retirado de naftalina
e entregue a algumas unidades. A carabina de pressão também entra na categoria de poodle shooter.

Roger George Moore, KBE (Londres, 14 de outubro de 1927 — Crans-Montana, 23 de maio de 2017) foi um ator
britânico, célebre por interpretar o agente secreto britânico James Bond por sete vezes no cinema. Foi, desde 1991 até à sua morte, embaixador do
UNICEF, e por suas ações humanitárias, foi condecorado, em 1999, como Cavaleiro do Império Britânico.

627
— Estou chamando a polícia!

O Sr. tinha aplicado muito Botox, então suas sobrancelhas estavam


travadas na posição para baixo, embora ele estivesse ofegante de choque e
muito vermelho. Acho que apenas a metade inferior de sua sobrancelha
era capaz de exibir surpresa. Ah, e aquele pijama xadrez? Não é
exatamente uma vibração se você estiver tentando ser levado a sério como
um protetor de seu lar feliz.

Revirando os olhos, Balz congelou o humano onde ele estava—e


então teve que se perguntar se a Sra. estava na casa também. Não que isso
realmente importasse.

— Guarde essa coisa, pelo amor de Deus, porra, —murmurou Balz.

No comando, o Sr. abaixou a arma e então piscou como se estivesse


esperando por mais sugestões sobre o que ele precisava fazer.

Olhando de volta para o Livro, Balz franziu a testa. — Deixe-me te


perguntar uma coisa. Onde você encontrou essa coisa?

— É uma nova aquisição. —O Sr. olhou ao redor do corpo de Balz e,


no instante em que seus olhos pousaram no Livro, o amor brotou de seu
olhar. — Eu simplesmente sabia que precisava disso. Foi como ... ele
estivesse destinado a ser meu.

628
Quando a mão da adaga de Balz agarrou sua própria arma, ele disse
a si mesmo para relaxar, porra. Ele estava realmente se preparando para
atirar neste filho da puta por causa de um livro ...

O Livro, ele emendou.

O Sr. continuou: — Há um negociante de livros raros aqui na cidade.


Ele sabe que eu compro o incomum, especialmente se tiver—digamos,
uma vantagem? —O homem sorriu como se fosse um menino travesso, as
sobrancelhas não se mexendo nem um pouco. Então ele baixou a voz e se
inclinou para frente. — Meu vendedor me disse que está encadernado em
carne humana.

Tanto sobre esse filho da puta fazia Balz querer chutá-lo nas bolas.
Por princípio.

— Então, de onde diabos veio isso? —Ele exigiu do cara.

— É muito antigo.

— Não me diga.

— E está escrito em húngaro.

Balz olhou para trás para o "NSFW". E todas as palavras em inglês


abaixo desse título.

629
— Não, não está.

O Sr. estufou o peito.

— Você está dizendo que não sei a primeira língua que aprendi.

Apontando para o livro, Balz disse: — Não, estou dizendo que isso é
inglês.

— Você, senhor, está errado. —Se não fosse pelo Botox, certamente
haveria um arco sério sobre um daqueles olhos. — Mas, como é meu livro,
não vou discutir sobre isso com um estranho.

— Para o que você usa isso?

— Uso-o ...? —Aquele olhar foi duro para cima à direita. Era o que os
mentirosos faziam quando você entrava em seus joguinhos. — Você não
usa um livro como este. É apenas para exibição.

— Você está cheio de merda, mas não me importo com a sua resposta.
—Pelo menos não para isso. — Eu preciso saber quando você comprou?

— Cerca de duas semanas atrás. É minha mais nova aquisição.

— Sim, você já disse isso. O revendedor disse a você de onde ele ou


ela o conseguiu?

630
O Sr. sorriu e acenou com a cabeça. — Uma história tão maluca. Um
cafajeste o trouxe para a livraria e o largou. Disse que o encontrou em
algum beco no centro da cidade. Ele se recusou a aceitar qualquer dinheiro
por ele—disse ele, e não tenho certeza se isso é verdade, mas disse que o
mandava que ele o levasse para a loja. Você pode imaginar?

— Quanto você pagou por isso?

O Sr. inflou o peito novamente, como se estivesse acostumado a dizer


às pessoas o quanto pagou por suas merdas. Porque ele gostava de fazer
esse tipo de relatório.

— Estava na casa dos seis dígitos.

— Bem, é melhor você se preparar para reivindicar seu seguro.

— Por quê?

Balz estendeu a mão para pegar o livro.

— Porque está vindo comigo ...

Pouco antes de suas mãos entrarem em contato com o antigo tomo,


as luzes piscaram ...

E então tudo ficou escuro.

631
Mae voltou à consciência porque caiu no chão—e o impacto repentino
doeu. Mas também era um caso de ela ser capaz de respirar novamente.

Se foi. A pressão esmagadora e invisível se foi.

Quando ela começou a tossir e vomitar, ela rolou de costas e tirou o


cabelo do rosto com uma mão solta e flácida. Olhando para um teto
branco careca, ela estava confusa sobre onde estava, mas então seu cérebro
começou a lançar contexto no barco de sua consciência, as imagens, sons e
cheiros de suas memórias de curto prazo como peixes de doca seca se
virando, espasmódicos e sobrepostos.

A morena ...

Com uma injeção de adrenalina, Mae se levantou e colocou a mão na


cabeça. Mesmo que tudo girasse em círculos, ela conseguiu ver o
suficiente para que as prateleiras de roupas fossem registradas, assim
como as bolsas e os sapatos ... a área da cozinha. A cama.

632
Ela estava sozinha.

A mulher morena—ou o que quer que ela fosse—estava longe de ser


vista.

As pernas de Mae estavam moles quando ela se levantou e ela


precisou apoiar a mão na parede para se manter na vertical. Olhando ao
redor, ela esperou que a mulher má saltasse de trás da divisória perto da
área do banheiro ... ou se reformar bem na frente dela.

Quando nada disso aconteceu, Mae parou de pensar sobre auto defesa
imediata e possíveis armas—e começou a se preocupar com a
sobrevivência e dar o fora de onde quer que estivesse.

Com um solavanco, ela se dirigiu para a porta do outro lado do—o


que era isso, afinal? Um apartamento em um armazém convertido? Tinha
que ser subterrâneo devido à falta de janelas, e ela tentou cheirar coisas
para obter algumas pistas, mas fosse o perfume ou que o seu nariz estivesse
quebrado, ela não conseguia cheirar nada, exceto as coisas naquele balcão
da Macy's.

A única saída que ela podia ver era aço sólido. Com barras reforçadas
rebitadas no lugar.

A coisa não se mexeu quando ela empurrou a maçaneta, mas foi uma
surpresa? E não haveria desmaterialização para ela. Ela não tinha ideia de

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onde estava ou o que havia do outro lado de qualquer uma dessas paredes
ou daquela porta. Além disso, com a quantidade de dor que ela estava
sentindo? De jeito nenhum ela poderia se acalmar ...

Telefone!

Mae enfiou a mão no bolso—seu telefone. Ela ainda estava com o


telefone! Puxando a coisa para fora, suas mãos tremeram. Sem serviço.

— Merda.

Mas pelo menos eram três da manhã. Ela estava fora por horas.
Certamente Sahvage tinha notado sua ausência? Certamente ele estava
procurando por ela? E mesmo que ela tivesse ficado inconsciente por um
tempo, ainda havia tempo suficiente antes do nascer do sol para chegar
em casa.

Segurando o celular em linha reta, ela deu a volta e teve a esperança


de pegar uma barra. Quando isso não aconteceu, ela circulou o perímetro
do espaço, procurando por qualquer opção viável para sair.

Não havia nada. Nenhuma outra maneira viável de sair, exceto por
aquela única porta digna de um cofre de banco. Sim, havia algumas
aberturas sobre o fogão e na área do banheiro, e dois trocadores de calor
nos cantos que bombeavam ar quente e seco. Mas isso era muito suicida.

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Você se desmaterializava e tentava viajar por um sistema de ventilação
com o qual não estava familiarizado?

Bastava um filtro de ar à base de aço e você era um queijo suíço.

Por uma fração de segundo, seu cérebro congelou de pânico, e o


zumbido em todo lugar piorou quando ela olhou para a gaiola de cachorro
da qual havia se libertado.

Mas perder o foco não ajudaria.

Ela lembrou a si mesma que Sahvage saberia que ela já deveria estar
em casa há muito tempo. Ele iria procurá-la. Ele podia até encontrar o
carro dela na beira da estrada ...

Oh, Deus, aquele pobre homem humano que bateu na traseira dela.
Ele estava morto porque tentou ajudá-la.

Ela tinha que sair daqui ...

Um estrondo baixo emanou de algum lugar acima—não, não acima.


Tudo ao redor. Aterrorizada, Mae cobriu a cabeça e se abaixou, seus
ferimentos gritando na posição incômoda enquanto o que quer que fosse
chegava ao ápice do volume, com uma vibração que emanava de suas
pernas.

E depois ... acabou.

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Enquanto Mae se endireitava e abaixava os braços, ela olhou ao redor.

O metrô, ela pensou.

Ela estava definitivamente em algum lugar subterrâneo.

— Não, não, estou feliz ... —Nate olhou para Elyn e decidiu não

terminar esse pensamento em voz alta.

Estou feliz de ir a qualquer lugar com você pareceu um pouco intenso.

— É uma boa ideia caminhar lá fora, —concluiu ele, fazendo questão


de olhar para o céu estrelado. — E tomar um pouco de ar.

Os dois passaram a maior parte da noite arrumando todos os móveis


do quarto dela. Eles tinham sido uma boa equipe, seguindo as instruções,
usando ferramentas, descobrindo onde tudo precisava ser organizado para
o melhor efeito. O fato de que Elyn não tinha nada para colocar nas
gavetas da cômoda ou pendurar no armário não tinha passado
despercebido para ele.

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— Você sabe o que poderíamos fazer algum dia? — Ele disse enquanto
se abaixavam para passar pela grade superior da cerca no quintal lateral.
— Há um lugar para fazer compras. Um shopping? É como um monte de
lojas que estão sob o mesmo teto. As pessoas dizem que está morrendo,
mas o de Caldwell ainda está forte.

Uma coisa que ele aprendeu sobre Elyn é que ela não estava
familiarizada com tantas coisas que ele considerava certas.
Aparentemente, ela não ligou para ele porque não sabia como usar o
telefone. Ele pensou que era uma desculpa de brincadeira, mas quando ela
olhou em seus olhos, ele percebeu que ela estava falando muito sério. E
então, quando eles fizeram uma pausa à meia-noite para um lanche, ela
não tinha ideia de como usar um micro-ondas e o espremedor a assustou
enquanto zunia. Ah, e a TV a cativou.

A ponto de dar a volta e olhar para trás da tela plana, como se não
conseguisse descobrir de onde vinham as imagens.

Quando ela pediu a ele para dar um tempo fora da casa agora, ele
tinha totalmente entendido ...

De repente, Elyn parou e olhou para cima. A lua brilhava no alto,


faixas de nuvens pairando sobre sua face.

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— Quando saí do laboratório, —ele ouviu-se dizer, — tudo era
demais. Muito barulhento. Muito tudo. Meus pais adotivos ajudaram
muito e eu me acostumei com isso. Mas por um bom mês ou dois, tive que
descomprimir de vez em quando. Eu ia deitar no meu quarto com as luzes
baixas e um pouco de música clássica tocando. Ajudou.

Enquanto ela se concentrava no céu noturno, ele estudou seu perfil, e


a tristeza em seu rosto era algo que ele conhecia.

O luto parecia o mesmo nas feições de todos, não importando se eram


velhos ou jovens, machos ou fêmeas.

— Quem você perdeu? —disse ele em voz baixa.

— Não posso ...

Suas palavras foram à deriva, e ele não ficou surpreso por ela não ter
concluído o pensamento. Ou, mais provavelmente, não ter conseguido.

— Não direi nada a ninguém, —ele jurou. — Eu prometo.

A garantia parecia a única coisa que ele poderia fazer para ajudá-la
onde quer que ela estivesse.

Com um aceno de cabeça, ela começou a andar novamente, seus


olhos baixos, suas mãos enfiadas no casaco cinza claro que ela tinha
recebido no Lugar Seguro. Ela recebeu toda a roupa que vestia também,

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jeans, blusa de gola alta e um suéter aconchegante adequado para o clima.
E fora daquele robe preto drapeado que ela estava vestindo, ela era muito
menor do que parecia—e isso só o fazia se sentir pior sobre o que quer que
tenha sido feito com ela.

Ela precisava de proteção.

Enquanto ela liderava o caminho através do prado, ele não ficou


surpreso que ela os levou para a floresta, de volta ao impacto do meteorito.
E quando eles emergiram das árvores para a clareira, ela não parou até
que estava bem na beira do buraco—e ela ficou quieta e imóvel por tanto
tempo que ele teve que andar por aí porque uma de suas pernas começou
a doer.

— Eu tive que deixá-lo, —ela disse abruptamente. — Eu não tive


escolha.

O estômago de Nate apertou ... e ainda assim ele não estava surpreso.
Machos abusivos eram a razão pela qual o Lugar Seguro e a Casa Luchas
existiam. E graças a Deus ela saiu viva.

— Você teve que se salvar. —Com os olhos, ele traçou as belas feições
dela e a forma como o luar transformava seus cabelos brancos em fios de
prata. — Graças a Deus você está segura.

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Quando ela ficou em silêncio mais uma vez, ele sabia que ela estava
revivendo seu pesadelo e queria abraçá-la.

— Eu tive que salvar nós dois. —Ela passou a mão no rosto. — Ele
não ia me deixar, e era muito perigoso para ele ficar perto de mim. Eu sou
perigosa.

Nate recuou. — O que? — Ele estendeu a mão e pegou o braço dela.


— Você não é. Não deixe ninguém fazer você pensar isso.

Depois de um momento, ela ergueu os olhos para ele. — Você não me


conhece, Nate.

A expressão séria no rosto dela deu a ele um momento de pausa. Mas


então ele sacudiu isso pra fora.

— Eu absolutamente conheço você. E tudo o que o seu agressor lhe


disse é mentira. Você precisa nunca mais vê-lo novamente ...

— Agressor? —Elyn franziu a testa e então balançou a cabeça. — Oh,


não. Ele foi bom para mim. Ele era bom demais para mim. Ele iria perder
sua vida por mim, seu chamado por mim. Eu tive que nos separar. Ele
merecia muito mais do que o voto que fez quando meu pai morreu, e ele
era um macho de tanto valor que, independentemente das circunstâncias,
ele nunca iria se afastar de nossos destinos.

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Ela voltou a se concentrar no buraco.

— Ele era um dos melhores machos que já conheci. Honra e força


eram apenas o começo de suas muitas virtudes.

— Oh. —Nate largou o aperto. Deu um passo para trás. — Eu pensei


... bem. Talvez você devesse ter ficado com ele, então.

— Eu era a responsabilidade dele e ele me protegeu melhor do que


qualquer um poderia ter feito. Isso fez dele um alvo e meus inimigos
resolveram matá-lo. Eles me queriam, mas sabiam que tinham que pegá-
lo primeiro, pois ele teria morrido antes de deixar qualquer coisa acontecer
comigo. —Ela fechou os olhos e gemeu. — E no final, fui levada da
mesma forma ...

Algo na maneira como ela disse isso fez a mente de Nate ir a lugares
muito ruins.

— Você sabe se o macho que você perdeu viveu? —Ele perguntou com
voz rouca.

Elyn ficou quieta por um tempo.

— Havia ... uma grande distância entre nós. Tão vasta.

— Quando foi a última vez que você o viu?

— Séculos atrás.

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Nate piscou, pasmo. — Hum ... você quer tentar encontrá-lo?

Elyn respirou fundo.

— Eu acredito que sim. Mas eu não quero que ele se machuque


novamente por minha causa. Eu mal sobrevivi ao fardo disso uma vez, na
verdade eu não poderia viver com isso novamente. E ainda ... bem, ele é
tudo o que eu tenho.

Nate esfregou o cabelo para se certificar de que nada dor profunda do


seu coração partido aparecesse em seu rosto.

— Como eu posso ajudar? Você sabe se ele está aqui em Caldwell?

— Ele está aqui. É por isso que eu cheguei dessa forma.

— Okay, então temos uma variedade de maneiras de encontrar


pessoas. —Ele pensou em todas as coisas pelas quais ela estava confusa.
— Existem bases de dados para pesquisar. Lugares que podemos ir—ou,
tipo, você pode ir. Quer dizer, eu não quero atrapalhar ...

— Você não pode me ajudar, Nate.

Oh, você está errada sobre isso, ele pensou. Estou totalmente animado para
ajudá-la a se reunir com o macho que você ama. Me inscreva.

— Claro que eu posso.

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— Deve ser ... perigoso.

Nate franziu a testa. — Quem está atrás de você?

— Ele está morto, agora.

— Então você está preocupada com a família dele? —Quando ela não
respondeu, Nate sentiu uma onda de advertência em sua espinha. —
Então, a família dele vive?

— Ele era de boa linhagem.

— Glymera? —Quando ela acenou com a cabeça, Nate exalou de


alívio, embora não houvesse nenhuma razão comprovada para isso.
Ainda. — Você pode não saber disso, mas muitos deles estão mortos
agora.

— De verdade?

— Desde os ataques de alguns anos atrás. —Ele não ficou surpreso


quando ela o olhou fixamente. — Os lessers se infiltraram em suas casas
aqui em Caldwell. Muitos foram mortos. Você pode me dizer o nome do
seu inimigo? Nós podemos verificar e ver se sua linhagem foi afetada?
Podemos perguntar ao hellren da Sra. Mary e ele saberá—ou saberá como
descobrir isso ...

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Quando ela mais uma vez olhou para o buraco de impacto e não
respondeu, Nate deu um tapinha no ombro dela—e esperou até que seus
olhos prateados se erguessem para os dele.

— Não estou com medo, —disse ele.

Sua resposta foi sombria: — Você deveria estar.

Em vez de hesitar com o aviso, Nate sentiu uma certeza em seu peito
que nunca havia sentido antes, uma certeza que era tão sólida como se o
ponto final de onde quer que eles fossem já tivesse ocorrido.

— Eu não estou e não estarei, —disse ele em voz baixa. — Não


importa o que aconteça.

— Nate ...

— Você acha que eu não vivi através da dor? Fiz cirurgias sem
anestesia. Vírus e bactérias invadiram minhas veias. Fui examinado com
o único propósito de me degradar—e era jovem quando tudo isso
aconteceu. Não há misérias que eu não tenha suportado, e se eu já passei
por isso uma vez, posso fazer de novo.

Especialmente por ela, e embora claramente não houvesse futuro para


eles. Ela estava apaixonada por seu macho, e dado o material de herói que
o cara obviamente tinha? Quem poderia competir com isso.

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Depois de um longo momento, Elyn estendeu a mão e colocou a mão
no rosto de Nate.

— Você é tão corajoso.

Quando o contato de sua carne na dele foi registrado, ele congelou


onde estava ... e percebeu, enquanto ele olhava em seus olhos prateados,
que ele era como o macho que ela amava.

Disposto a dar sua vida por ela.

— Seu hellren é um homem muito, muito sortudo, — Nate disse


asperamente.

Elyn franziu a testa e inclinou a cabeça para o lado.

— Hellren? Eu não estou acasalada.

— O macho que você ama, então.

— Não, não é assim. Eu o amo, mas ele é meu primo em primeiro


grau. Ele é minha família, não meu companheiro.

Enquanto suas palavras afundavam, a alma de Nate sorriu. Ele não


conseguia descrever o sentimento de outra maneira. Mas ele se recompôs
rápido, já que Elyn ainda parecia muito séria.

— Então vamos encontrá-lo, —disse ele. — Juntos.

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Quando ela olhou nos olhos dele, ele queria ser ainda mais alto do que
era. Maior. Mais forte. Ele tinha passando por sua transição, claro, mas
comparado a seu pai, Murhder? Ele era um pip-squeak .

— Você tem sido tão bom para mim, —ela murmurou. — Você tem
sido um amigo quando eu preciso de um, um abrigo quando eu não tinha
nenhum, um poço de compaixão nesta escuridão em que estou presa.
Portanto, não posso e não farei nada para colocá-lo em perigo. Esta
sempre foi minha busca, e deve permanecer assim.

Eles se encararam por muito tempo.

Beije-a, pensou Nate. Agora é o momento ...

Acima do ombro de Elyn, um minúsculo clarão de luz apareceu e


começou a se mover. E outro. E um terceiro. Ela se virou e olhou para a
pequena galáxia que inexplicavelmente se formou atrás dela. — Oh, eles
estão de volta.

Elyn estendeu a palma da mão, e os lampejos vieram até ela,


coalescendo acima de sua mão estendida.

— Vaga-lumes, —Nate murmurou. — Uau.

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O brilho era tal que iluminou o rosto dela, tornando-a positivamente
resplandecente—não, era mais do que isso. Seu cabelo prateado e seus
olhos prateados pareciam atrair a iluminação dourada e refleti-la de volta,
de modo que um halo se formou ao seu redor.

Sem aviso, ela o encarou com um olhar duro. — Não vou permitir
que nada nem ninguém te machuque, Nate.

Tocado como estava pelo sentimento, ele não teve coragem de afirmar
a realidade. Dos dois? Ela dificilmente estava em posição de fazer
qualquer proteção.

Esse era o seu trabalho.

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Balz cheirou a morena primeiro.
No meio da escuridão densa dentro da sala de coleção de livros do
triplex, aquele perfume, aquele aroma de uva, sombrio e sensual Dior,
impregnou o ar parado.

— Devina? —O Sr. disse através do vazio. — O que você está fazendo


aqui?

As luzes voltaram a se acender e, quando Balz piscou, a retina


começou a doer, ele não mudou da posição em que estava, os braços e as
mãos ainda estendidos na direção do Livro. Mas ele virou a cabeça. Entre
ele e o Sr., a morena—Devina, evidentemente—estava posando como
uma garota da capa, vestindo uma saia e jaqueta branca formal e um
chapéu que parecia algo que você usaria em um casamento real.

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— Você deveria ficar na sede da empresa, —disse o Sr. Então ele
olhou para trás e baixou a voz. — Achei que tivéssemos concordado que
você nunca apareceria aqui sem avisar. Idaho é onde você tem que ...

— Oh, cale a boca, Herb, —a morena retrucou. — E eu nunca sequer


estive em Idaho, seu idiota de merda.

— Mm-mas ...

Devina se concentrou em Balz e revirou os olhos.

— Humanos. Mesmo. Eles estão todos em carros de controle remoto


que pensam que estão dirigindo. Tão fodidamente ridículo ...

“Herb” marchou e segurou o braço da morena.

— Este não é um jogo que você vai ganhar. Quero você fora daqui, e
se você quer continuar me vendo, você nunca fazer isso novamente. Nós
nos entendemos. Minha esposa mora aqui.

A morena olhou para onde estava a mão de Herb. E na primeira ou


segunda batida de silêncio que se seguiu, Balz sentiu-se tentado a dizer ao
cara para deixá-la ir embora, porra—mas não havia como salvar o
estúpido.

— Você está me tocando agora, —a morena disse em uma voz suave.

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Herb ficou um pouco na ponta dos pés para que pudesse olhar para
ela para baixo devido aos saltos dela.

— Eu vou te tocar em qualquer maldito lugar que eu quiser, e você


vai embora agora.

Enquanto Balz se endireitava do Livro, ele pensou que o garoto


Herbie ia engasgar com essas palavras.

— Esse comportamento realmente não combina com você, —Herb


sentiu a necessidade de seguir em frente.

A sobrancelha perfeitamente arqueada de Devina se ergueu sobre seu


olho direito perfeitamente maquiado. — Não diga. Bem, espere até ver
isso.

O corpo de Herb voou para trás contra um conjunto de prateleiras de


exibição, como se mãos invisíveis o tivessem levantado e jogado para o
outro lado da sala. E quando os livros foram desalojados de seus suportes
e todos os tipos de materiais finos pousaram no chão, Balz franziu a testa.
Não houve nenhum ruído. Nada fez um maldito barulho, nem o bater das
primeiras edições quando atingiram o parquet, nem o barulho das
prateleiras de Lucite quando caíram, nem o barulho das tábuas
envernizadas.

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Da mesma forma, quando Herb foi preso contra a parede, e sua boca
se abriu amplamente para começar a gritar, não houve picada nas orelhas
da agonia aguda, nenhuma batida quando aqueles saltos chutaram as
placas de gesso, nem rasgando suas roupas ...

Oh, merda. O pijama solto que o pobre Herb estava usando estava
rasgando a virilha.

Mas isso não foi o pior de tudo.

Como se alguém o tivesse aberto e estivesse separando suas pernas


como o osso da sorte de um peru, o Sr. começou a rasgar a peça central,
uma falha que começou em suas partes e subiu por sua pélvis, seu
abdômen ...

Todos os tipos de coisas orgânicas internas caíram e aterrissaram


como massa de lasanha fervida demais, lustrosa, mole e
perturbadoramente rosa e marrom.

— Oh, cara, —Balz murmurou, — isso vai ficar ruim.

A dilaceração junto com a separação continuaram, rachando o


esterno de Herb, reduzindo pela metade seu par de pulmões, parando na
base da garganta. E então todo o seu quase-lá caiu no chão.

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Herb, o ex-gerente de fundo de investimentos, agora fertilizante de
sebe, teve algumas contrações musculares ... e então não se mexeu mais.

Bem, isso não era exatamente verdade.

Seu sangue ainda estava vazando de suas principais veias e artérias.

— Você sabe, —comentou Balz secamente, — eu aposto que você não


se preocupa muito em ser assaltada, não é?

Devina limpou as mãos em seu quadril, embora ela não tivesse tocado
diretamente no cara.

— Não, eu sou boa sozinha nas ruas. E por falar em assalto, é hora de
você e eu pararmos de brincar. Dê-me o meu Livro.

Balz, que se endireitou de seu alongamento para frente durante o


interlúdio de caramelo risonho, olhou de volta para o antigo volume. Ele
tinha se fechado e o refletor montado no teto não havia ligado. Ou talvez
não estivesse ligado em primeiro lugar, e o halo ao redor do Livro estava
apenas esmaecido.

— Dê-me o que é meu, —Devina exigiu enquanto estendia a mão.

Como se Balz lhe devesse uma nota de cinco dólares e fosse pagar
uma conta ali mesmo.

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— Se você não o der pra mim, —disse ela enquanto andava sexy para
frente, — então isso vai acontecer com você.

Ridiculamente, ela apontou para a bagunça no chão—como se


alguém pudesse ter perdido o exemplo de todas as suas habilidades com a
faca Ginsu .

Balz estreitou os olhos. Então ele deu um passo para o lado.

— Você quer, você pega. Apenas pegue a coisa e saia. Não existe nada
que te impeça.

Ou existe? Ele se perguntou.

O beicinho em seu rosto era poético. — Depois de tudo que


significamos um para o outro ... certamente você pode ajudar uma senhora.

— Sem ofensa, mas você pode realmente se chamar de senhora


quando acabou de vestir o chão com aquele filho da puta?

— Agora ele faz parte da exposição.

— Como ilustração da anatomia humana?

Sonho de consumo de muitas famílias da época, o conjunto de facas Ginsu 2000 era o produto mais célebre da marca. ...
Eles são considerados os precursores dos canais de televendas norte-americanos e popularizaram o uso do cartão de crédito para vender esse tipo
de produto.

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— Exatamente.

Ambos riram um pouco. Então foi o suficiente de piada de ambos os


lados.

— Então, Balthazar, é assim que isso vai acontecer. —A morena


sorriu de novo, mas seus olhos eram lascas de obsidiana, frios, brilhantes
e duros. — Você vai pegá-lo e dá-lo a mim. E então eu decidirei se irei ou
não ...

— “Explodir seu navio na água”. —Enquanto ela piscava em confusão,


ele balançou a cabeça. — Vamos, Caçadores da Arca Perdida . Dietrich
para Katanga. Você se lembra, eles estavam no convés do navio e ...

— Cale a boca! —Ela apontou seu dedo indicador de ponta vermelha


para o Livro. — Dê pra mim.

— Não. —Ele ergueu as mãos. — Eu não vou dar. O que agora?

— Dê pra mim!

Raiders of the Lost Ark (Brasil: Indiana Jones e Os Caçadores da Arca Perdida /Portugal: Os Salteadores da
Arca Perdida) é um filme de aventura americano, dirigido por Steven Spielberg, que estreou em 1981. Foi produzido por Frank M arshall e Howard
Kazanjian, com produção executiva de George Lucas, roteiro de Lawrence Kasdan, baseado em um tratamento de George Lucas e Philip Kaufman. É
o primeiro filme da saga Indiana Jones e o segundo da cronologia da série. Ele coloca Indiana Jones contra um grupo de nazist as que estão
procurando a Arca da Aliança, que Adolf Hitler acredita que possa tornar o seu exército invencível. O filme é estrelado por Harrison Ford, Karen Allen,
Paul Freeman, John Rhys-Davies, Ronald Lacey e Denholm Elliott.

654
Houve uma pausa e ele esperou que ela o jogasse contra a parede. Ou
talvez o castrasse com o ar e o fizesse comer suas próprias bolas. Quando
nada disso aconteceu, ele ficou interessado em quão longe ele poderia
pressioná-la.

— Sabe, se você bater um pé, isso vai realmente me persuadir. Melhor


ainda, sapateado. Vou assobiar uma melodia ...

O rugido que o atingiu no rosto foi como ser atingido por um furacão
com um jato de areia, seu cabelo caindo para trás, sua pele esvoaçando
como se estivesse em um túnel de vento, seu peito sendo comprimido—e
ainda assim o som parecia estar apenas entre suas orelhas, o efeito apenas
em seu corpo.

— Eu possuo você, —Devina rosnou sobre o barulho, — e você vai me


dar o que eu quero.

Sahvage encontrou o carro de Mae depois de quatro horas procurando


por ela. Não havia nada na cabana de Tallah. Nada em sua própria casa.
Nada que ele pudesse sentir em qualquer lugar.

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Era como se ela tivesse desaparecido da face do planeta.

Ou, ainda mais insustentável, que ela não estava mais nele ... porque
ela tinha ido para o Fade, embora ela não acreditasse nele.

Exatamente quando ele estava prestes a perder a porra da cabeça,


enquanto fazia mais um circuito de volta dos subúrbios e para a casa de
campo, sem Mae em sua casa e sem Mae em seu telefone e sem Mae ...

Luzes azuis. Luzes azuis piscando.

Ele as tinha visto pela primeira vez na viagem anterior das fazendas
rurais para a cidade, mas porque ele não a sentiu em qualquer lugar perto
da cena, ele as ignorou. Além disso, a verdade era que, cerca de duas horas
depois de procurar Mae, ele parou de esperar encontrá-la—e começou a
se preparar para ser encontrado.

Por uma morena com exigências.

Ou, Virgem Escriba, partes do corpo.

Exceto por não ter mais nada para continuar, ele decidiu verificar a
cena do acidente. Materializando-se na escuridão lançada por uma parede
de pedra, ele examinou o acidente de carro na frente ...

— Mae!

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Sahvage gritou o nome dela ao reconhecer seu Civic—e quando os
policiais ergueram os olhos do que acabou sendo um corpo no chão, seu
sangue gelou. Ele sabia que não era Mae, mas como estava a favor do
vento por causa do cheiro, rezou para que não fosse Tallah.

— Senhor, a menos que você seja uma testemunha ou possa identificar


...

Quando uma policial se aproximou dele, ele não deu a ela a chance
de ir mais longe com o caia fora. Ele invadiu sua mente e conseguiu os
detalhes de que precisava: Vítima masculina na grama havia sido esfaqueada
e estava morta. O carro que estava fora da estrada foi registrado em nome
de Christopher Wooden, que morreu em 1982 e morava a dezesseis
quilômetros de distância. Um transeunte que tinha uma casa na
vizinhança chamou a policia.

Nenhuma outra coisa material—pelo menos isso não importava para


Sahvage. Mas aquele era definitivamente o carro de Mae, o nome no
registro um escudo de identidade para manter as coisas legais nas estradas
humanas.

Então onde diabos ela estava?

657
E, no entanto, mesmo enquanto fazia a pergunta, ele sabia. Ele estava
disposto a apostar que de alguma forma, a morena tinha vindo aqui e
sequestrado Mae ...

Quando seu telefone tocou, ele tateou a coisa para fora de sua jaqueta
para verificar a tela. Quando ele viu quem era, pela centésima vez, ele
perdeu o controle.

— Oh, pelo amor de Deus—o quê, —ele retrucou ao atender a


chamada. — Você pode porra me deixe sozinho ...

— Foi você quem me ligou, idiota, —o Reverendo disparou de volta pela


conexão. — E dado o que você está procurando, eu teria assumido que você
teria pego a porra do seu telefone uma vez nas últimas quatro horas malditas
que eu liguei, porra. Agora você quer encontrar o Livro ou não?

Sahvage olhou para o morto e passou a mão pelo topo de sua cabeça.

— A menos que você tenha isso em seu colo, eu tenho outras


prioridades agora ...

— Encontre-me no parque da cidade onde estávamos antes. Quinze


minutos. Se você quiser o Livro, você estará lá. Esta é a sua única chance.
Depois disso, você nunca mais ouvirá falar de mim e nunca me encontrará.

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Quando a linha ficou muda, Sahvage quase jogou a porra do telefone
no Honda de Mae. Mas ele se agarrou à coisa porque ainda esperava que,
por algum milagre completamente impossível, ela ligasse.

Ele estava amaldiçoando enquanto olhava ao redor ...

E percebeu que todos os policiais na cena estavam congelados e


olhando para ele como se estivessem prontos para obter uma lista de
trabalhos. Ou talvez uma pista de quais eram seus primeiros nomes.

Ele foi até o carro de Mae. A porta do motorista estava aberta e ele se
inclinou para dentro. Os dois airbags estouraram, mas as chaves ainda
estavam na ignição. Arrancando-as de sua fenda, ele não viu onde estava
o telefone ou a bolsa dela. Eles podiam muito bem estar nas mãos dos
policiais, mas ele não estava preocupado com o CPD aparecendo na casa
dela—e Deus me livre, encontrando seu irmão naquela banheira. Assim
como a carteira de motorista, todas as suas identificações estariam no
nome de outra pessoa com um endereço diferente de onde ela realmente
residia. Era o procedimento padrão para vampiros que viviam em áreas
humanas densamente povoadas.

— Merda, —ele murmurou. — Merda, merda ...

— Eu posso ajudar você? —A policial disse. — Alguma coisa que você


precise?

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— O que eu preciso é ...

Enquanto ele deixava seu pensamento morrer, uma palavra veio a ele
do nada, como se tivesse sido implantada em sua cabeça: Vantagem.

Isso mesmo, ele pensou. Ele precisava de alguma vantagem filha da puta.

O tipo de coisa que quando aquela morena aparecesse novamente—e


ela iria—ele tivesse algo que ela queria. Algo que ela precisava. Para que
ele pudesse obter o que precisava em troca.

Que era Mae. Segura.

— Vantagem, —disse ele em voz alta enquanto olhava para o telefone.

Enquanto ele se desmaterializava, ele libertou os policiais de sua


posição neutra, mas somente depois que ele apagou qualquer memória de
sua presença de suas mentes. Por tudo que eles lembrariam, ele seria nada
além de éter.

Ele como um fantasma fazia muito sentido.

Mas ele era um fantasma com uma porra de uma missão. Já tendo
decepcionado uma fêmea no curso de sua vida, ele não estava fazendo
aquela merda de novo. Mesmo que isso o matasse.

E ele esperava que sim.

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— Aí que esta, —disse Balz a Devina. — Eu não sou um cavalheiro,
nem de longe. E desculpe dizer isso a você, mas você não é uma dama.
Então, vou deixá-la fazer o que quiser com este Livro que você parece
desejar tanto.

Quando a fúria transformou aquele rosto lindo em algo horrível, ele


sabia que ela não iria embora com a merda esta noite. Ele não tinha certeza
de quais eram as regras, exceto que ela não seria capaz de tocar naquela
merda.

Ele não tinha ideia do motivo, mas isso não importava no momento.

— Cuide-se, —disse ele.

— Eu vou te matar.

— Não está noite e não aqui. Seu blefe foi pago.

Com um pequeno aceno, ele fechou os olhos e se desmaterializou para


fora de lá—e ele não perdeu absolutamente nenhuma porra de tempo

661
voltando para a montanha e para a mansão da Irmandade. Ele estava
disposto a apostar que a morena teria um ou dois segundos de choque
idiota—porque, sério, quando foi a última vez que um homem não fez o
que ela mandou? E então ela tentaria negociar com o próprio Livro.

Ela ia perder naquela mesa de negociações.

Mas ela iria tentar.

E aquele defeito de personalidade de narcisismo arrogante seria a


única razão pela qual ele foi capaz de entrar vivo no mhis. O que
aconteceria depois disso? Quem diabos sabia, mas ele tinha a sensação de
que ela só poderia trabalhar através dele se ele estivesse dormindo.

Caso contrário, ela teria aparecido para ele pessoalmente quando ele
estava acordado.

Enquanto Balz se reformava novamente nos degraus da frente da


mansão, ele foi correndo até a enorme porta—mas então pensou nos
arranhões que haviam estado em suas costas e parou.

— Foda-se, —ele murmurou enquanto olhava para si mesmo.

E se perguntou exatamente o que estava dentro de sua pele.

Dando um passo para trás ... e outro ... e outro ... ele continuou indo
até que a fonte do pátio esbarrou em suas omoplatas.

662
Olhando para as grandes paredes de pedra cinza da mansão, e as
gárgulas nos cantos no alto e as inclinações do telhado de ardósia, ele
pensou em quem estava por trás de todas aquelas janelas de vidro
chumbado—mas manteve as imagens vagas em sua mente. Ele teve a
sensação de que precisava ter certeza de que seus pensamentos eram tão
indistintos quanto possível.

Com uma sensação de pavor, ele pegou o telefone. O primeiro número


para o qual ligou não atendeu. O segundo? Sem resposta. O terceiro?
Correio de voz.

Quando seu coração começou a bater forte, ele teve um medo doentio
de que as coisas tivessem piorado.

O quarto número foi atendido antes mesmo do toque inicial começar


a diminuir.

— Senhor! Como está? Posso, por favor, estar ao seu serviço ...

— Fritz, —ele disse severamente. — Abaixe as venezianas. Em toda


a casa. Abaixe-as agora mesmo—não tenho tempo para explicar.

Qualquer outro mordomo, em qualquer outra casa real, poderia ter


tomado um fôlego para perguntar por que. Talvez ficar um pouco confuso
ou pensar que precisava falar com um de seus verdadeiros mestres.

663
Não Fritz Perlmutter.

— Imediatamente, senhor.

E por "imediatamente", o doggen quis dizer exatamente este segundo:


por toda a mansão, em cada andar, em cada lado, as venezianas começaram
a baixar.

— O que mais, senhor.

— Onde estão todos, —perguntou Balz. — Ninguém está


atendendo o telefone.

Enquanto Sahvage se reformava no parque, ele foi parcialmente

obscurecido por uma névoa que começou a sair do rio, o resultado de um


estranho desequilíbrio no clima que certamente não estava acontecendo
quando ele esteve aqui antes. Entre os bancos assustadores de neblina, o
anel de árvores na borda da clareira aparecia e desaparecia, e acima, a lua
e as estrelas eram da mesma forma mascaradas e reveladas por curvas
conforme as nuvens passavam.

664
Sem postes de luz ou lanternas ao redor, estava muito escuro, os
arranha-céus à distância oferecendo apenas lanças brilhantes em vez de
qualquer coisa que pudesse ajudar você a ver.

— Você não está com medo.

Ao som da voz do Reverendo, Sahvage se virou.

— Onde está o seu cara?

O outro macho olhou para ele em silêncio, como se estivesse fazendo


algum tipo de avaliação.

— E ainda assim você não está empunhando uma arma.

— Se isso acender um fogo embaixo da sua bunda, estou mais do que


feliz em apontar uma arma para sua cabeça. Agora me mostre o seu cara
ou eu vou embora, porra.

O Reverendo assentiu com uma pequena reverência.

— Como você deseja.

E então o macho desapareceu.

— Foda-se isso, —Sahvage murmurou enquanto olhava ao redor.

Nada além daquele nevoeiro. Com uma maldição, ele pegou seu
telefone. Você sabe, apenas no caso de ele ter perdido a ligação que estava

665
esperando de Mae. Nos 3, 2 nanossegundos, que ele ficou fora de serviço
quando veio aqui ...

Sahvage baixou seu telefone. Guardou isso. Apalpou uma arma.

Não havia nada chegando ao seu nariz, mas seus instintos lhe
disseram que ele não estava mais sozinho. De uma maneira importante.

— Bem, vamos em frente com isso, —ele gritou para a linha das
árvores. — Não vou esperar a porra da noite toda.

Com a próxima diminuição da névoa, uma figura emergiu de todos


os troncos e galhos nus. E quando ele reconheceu o macho, seu coração
deu um pulo.

Você perdeu seu povo, sua família.

Tohrment, filho de Hharm, era como tinha sido séculos antes, um


soldado alto, largo e intransigente com um olhar fixo e uma presença
calma. Havia uma mancha branca na frente de seu cabelo escuro agora, e
seus couros eram modernos. Mas as adagas negras que estavam cruzadas,
com as alças para baixo, em seu peito, estavam como sempre foram.

— Quantos estão com você? —disse Sahvage asperamente enquanto


o Irmão se adiantava.

— Todos eles.

666
Com isso, mais figuras se adiantaram ... Vishous, que agora tinha
cavanhaque. Murhder, que ainda tinha cabelos vermelhos e pretos. E
então havia outros cujos rostos ele não reconheceu.

E havia outros que ele esperava ver e não viu.

Mas já fazia muito, muito tempo.

As coisas mudaram.

Com essa nota, o vento mudou de direção e levou seus cheiros até
ele—e quando ele respirou, seus olhos lacrimejaram. Ele disse a si mesmo
que era por causa da brisa fria em seu rosto. Sim. Era isso.

E filho da puta, ele deveria saber que isso seria uma armação. Mais
do que isso, ele deveria saber que não deveria passar por Caldwell depois
de ouvir que o Rei estava com sua base aqui e finalmente decidiu governar.
Muito perto, dado que onde Wrath estava, a Irmandade nunca estaria
muito atrás.

Ele nunca deveria ter pisado no código postal.

Sahvage pigarreou. — Então é aqui que você tenta me matar por


trazer desgraça para a Irmandade?

— O que aconteceu com você? —Tohr perguntou sem rancor. Afinal,


esse era o seu jeito—e sem dúvida o motivo pelo qual ele deu um passo à

667
frente primeiro. Ainda o sensato. — Nós pensamos que você estava
morto.

— Então você encontrou meu caixão, hein? —Sahvage verificou seu


telefone, embora não tivesse tocado. — Olha, eu não tenho tempo para
uma reunião e não estou interessado em me atualizar. Temos tido nossos
caminhos separados, —que porra ele estava dizendo? — Por todo esse tempo,
e vamos mantê-los assim—a menos que você queira lutar contra isso.
Nesse caso, vamos ao que interessa. Eu tenho um lugar em que preciso
estar.

Onde exatamente era, ele não sabia.

— O que aconteceu com você? —Tohr perguntou novamente.

— Eu tenho algumas tatuagens. É basicamente isso.

Por uma fração de segundo, ele voltou a como tinha sido com os
machos: seu treinamento com eles no acampamento de guerra de
Bloodletter. A luta. Sua indução. Ele tinha feito parte da Irmandade por
um tempo, mas então seu tio foi morto por lessers ... e Rahvyn foi deixada
sem ninguém.

Depois disso ... vieram o prado, vaga-lumes e flechas. Guardas sem


cabeça. E um aristocrata em um mastro.

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Enquanto todos os tipos de imagens passavam por sua mente, ele
estava ciente de conter suas emoções dentro do peito. Então, novamente,
o luto nunca foi sua coisa, não é?

Ele pensou em Mae e o no irmão dela.

Então pensou apenas em Mae.

— Fui uma péssima escolha desde o salto, —disse ele asperamente.


— E eu sinto muito por ter caído em você com a merda do meu caixão.
Mas esse é o único pedido de desculpas que você vai receber ...

— Não estamos aqui para nos atualizar também. —Os olhos de Tohr
subiam e desciam. — E não precisamos de um pedido de desculpas ou de
uma explicação. Nós precisamos da sua ajuda.

Sahvage riu de repente e bateu com o pé no chão. — Você está em um


estado deplorável, porra, se está procurando a minha ajuda.

— Exatamente, —Tohr disse em uma voz sombria.

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Ainda presa no ... covil da morena, ou o que quer que inferno isso fosse
... Mae caminhou outro círculo ao redor da área do guarda-roupa
novamente—embora não fosse fazer nenhuma maldita diferença. E
quando ela passou pelo que ela passou a pensar como beco brilhante, ela
ouviu o barulho do metrô novamente.

— Pense, pense, pense, pense, pense ...

Ela já tinha feito tudo que podia com a porta—o que era
absolutamente um fodido nada. Aquela coisa era sólida como se tivesse
sido soldada no lugar. E ainda sem janelas ou aberturas viáveis. E o tempo
foi passando.

O que aumentou a probabilidade de a morena retornar.

Frustrada, Mae fechou os olhos e deixou cair a cabeça para trás. Se


ela não descobrisse isso, não seria capaz de ajudar Rhoger. Tallah ficaria
sozinha e assustada. E Sahvage ...

670
Quando seus olhos se abriram, ela quase continuou andando ... mas, no
momento em que ia dar um passo à frente, o suporte de aço no teto
registrou-se, sob a qual ela acabara de parar.

Um aspersor .

De repente alerta, ela procurou outros. Eram seis no total, montados


em intervalos equidistantes ao redor do espaço. E não eram apenas
brilhantes e reluzentes, tinham luzes vermelhas piscando—portanto,
faziam parte de um sistema funcional.

Mae se voltou para a área da cozinha. O fogão Viking tinha oito bocas
e também estava totalmente limpo. Com o coração batendo forte, ela se
aproximou e acionou um dos botões. Houve um som de clique ...

Poomph!

Uma chama azul apareceu, tudo acomodando. Tudo quente. Tudo ...
pronto para se ocupar com qualquer coisa que se aproximasse.

Cambaleando cegamente para as roupas, ela considerou suas


opções—e decidiu ir pelas bolsas. Por um lado, elas podiam carregar uma
chama e não apenas queimar rapidamente como gravetos. E dois, ela

Um sprinkler ‘aspersor’ é um dispositivo comumente utilizado no combate a incêndios. Ele é composto de uma “armadura”,
um elemento sensível, chamado bulbo. O bico de sprinkler é rosqueado a uma tubulação pressurizada e permanece fechado por tampa travada pelo
bulbo.

671
poderia usar as mãos para manter o calor próximo à cabeça do aspersor.
Mas qual delas?

— Você não está montando uma maldita roupa, —ela murmurou.

No centro da vitrine, havia uma bolsa quadrada de algum tipo de


couro exótico, o padrão de escamas em tons de cinza nas bordas que
desbotavam para um centro branco cremoso. Quando ela a agarrou
porque era a mais próxima, o pequeno cadeado na frente cintilou com
diamantes.

Perto do fogão, ela segurou um dos cantos contra a chama acesa. O


cheiro era de churrasco—mas a queimadura instantânea que ela havia
imaginado não aconteceu.

Conforme os segundos se transformavam em um minuto ou mais, ela


olhou para trás, para a porta principal. No momento em que ela estava
ficando desesperada, uma explosão de amarelo e laranja atingiu o couro.
Mae esperou até ter certeza de que a transferência estava completa ... e
então ela começou a andar. Felizmente, o aspersor mais próximo não
estava longe.

— Vamos lá ... —ela gemeu enquanto ficava na ponta dos pés e erguia
a bolsa o mais alto que podia.

Nenhum alarme disparou. Nenhuma água choveu. Nem nada.

672
O teto tinha dois e setenta e quatro ou três metros de altura. Talvez
ela não estivesse perto o suficiente? Mas merda, seus braços estavam
ficando cansados porque a bolsa era muito pesada. Com uma maldição,
ela os abaixou ... e então se aproximou e puxou uma cadeira da mesa. Sob
o aspersor novamente, ela se aproximou e colocou as chamas diretamente
no suporte de aço.

O cheiro de couro queimado ficou mais forte. A fumaça começou a


soprar em seu rosto. Ela tossiu e teve que virar a cabeça.

Ainda assim, nada aconteceu.

Olhando por cima do ombro, ela verificou os outros aspersores.

— Maldição ...

Ela não precisava ver um relógio para saber que estava seriamente sem
tempo. E não tinha outras opções.

Apesar da pequena onda de emoção de Sahvage, ele não deixou

Tohrment, filho de Hharm, ir mais longe com quaisquer problemas que a


Irmandade tivesse.

673
— Vocês precisam lidar com suas próprias merdas. —Ele acenou com
a mão em direção a todos os corpos dos machos fortes em pé na névoa e,
em seguida, voltou a se concentrar em seu telefone. O qual—droga—não
tocou. — Vocês têm recursos e têm lidado com o Ômega e a Sociedade
Lesser por séculos. Vocês não precisam de mim ...

— O Ômega se foi.

Sahvage ergueu os olhos do celular. Certamente ele tinha ouvido


errado. — O quê.

— O Ômega não existe mais. A Sociedade Lesser não existe mais.

Enquanto se concentrava no Irmão, ele pensou que aquelas duas


declarações eram praticamente a única coisa que poderia tê-lo desviado,
mesmo por uma fração de segundo, de se preocupar com Mae. Mesmo
que tivesse passado tanto tempo desde que ele havia refletido sobre a
guerra, ouvir que ela havia acabado e que a espécie estava segura foi um
choque—e ele se viu procurando os rostos que reconhecia na Irmandade.

Não houve nenhuma corrida para cumprimentá-los, no entanto. E


nenhum deles estava fazendo qualquer movimento para abraçá-lo
também. Mas já fazia muito, muito tempo.

674
— Nós ganhamos? —Ele disse porque ainda não conseguia acreditar.
Então, ele balançou a sua cabeça. — Quer dizer, vocês ganharam? Vocês
fizeram isso?

— Nós fizemos. Mas há um novo mal.

Sahvage olhou para o telefone. Olhou de volta para a Irmandade.

— Como eu disse, você precisa lidar com ...

— Nós precisamos de você ...

— Não sou diferente de ...

— É um demônio.

O corpo de Sahvage se acalmou por sua própria vontade.

— Um demônio? Que tipo de ... demônio.

— Estamos tentando descobrir isso. E sabemos que você tem


habilidades especiais ...

Colocando a mão no rosto do Irmão, ele parou a conversa.

— É uma mulher, certo? Uma morena. E ela vem com sombras ...

Um dos Irmãos que ele não reconheceu, que tinha cabelo escuro e era
mais baixo e largo que os outros, deu um passo à frente.

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— Isso mesmo. Ela pode ser uma morena. Mas ela também pode ser
muitas outras coisas.

O sotaque era forte, mas não no estilo do velho país—em um


americano, embora Sahvage não tivesse conhecimento suficiente sobre a
dialética do Novo Mundo para localizar qualquer origem em particular.

— Você a viu? —Sahvage perguntou ao macho.

— Sim.

— Aonde? Você sabe onde encontrá-la?

Tohrment se inclinou e colocou seu rosto no caminho.

— Você conhece ela?

Enquanto Sahvage contemplava sua resposta a isso, a Irmandade se


aproximou dele, mas não de uma maneira agressiva, apesar de todas as
suas armas.

— Eu não tenho tempo para explicar. —Ele guardou o telefone. —


Escute, eu só preciso saber onde ela está. Eu acho que ela tem alguém ...
ela levou alguém. Esta noite. E se eu não encontrar esse demônio, acho
que alguém de quem gosto vai ser morto.

— Eu sei de um lugar que ela já esteve, —disse o lutador atarracado


com sotaque. — Eu posso te levar lá.

676
— Vamos!

Tohrment colocou todo o seu corpo no caminho.

— Não até que tenhamos sua palavra.

— Certo! Pegue! Você tem isso. —Sahvage ergueu os braços. — Tudo


o que você precisa, eu não dou a porra ...

— Você vai nos ajudar depois que ajudarmos você. Você vai fazer o
que só você pode fazer quando precisarmos.

Sahvage olhou nos olhos de seu Irmão—antigo Irmão.

— Você realmente não comprou essa besteira, não é? Sobre os avisos


no meu caixão? Posso garantir que não tenho poderes especiais.

— Você está mentindo.

— Olha, aquela cadela pegou a fêmea que eu am ... — uma fêmea que
eu gosto. Se eu fosse tão poderoso, você acha que não a estaria
estrangulando agora?

— Mas de volta ao País Antigo ...

— Você não deve acreditar em tudo que ouve.

Tohrment olhou para a Irmandade.

677
— Então você não massacrou Zxysis. Ou os guardas dele? Você não
fez tudo isso. Você não é um feiticeiro.

Proteger Rahvyn era um reflexo, mas não havia mais razão para
continuar mentindo. Ele não a tinha visto ou ouvido nada sobre ela em
duzentos anos.

— Não, eu não sou um feiticeiro. E não fui eu.

— Eu não acredito em você.

Sahvage encolheu os ombros.

— Eu não dou a mínima se você acredita em mim ou não. Olha, eu


tenho que ir, eu tenho que encontrar ...

— E vou levá-lo para onde eu encontrei o mal, —disse o Irmão com


sotaque. — Sem amarras.

Sahvage cruzou os braços sobre o peito.

— Eu não te conheço. Então, por que você faria isso?

— Tirando a donzela em perigo? —O Irmão estreitou os olhos


castanhos. — Eu sou um bom católico irlandês. Então os demônios têm
que ir.

— Tem certeza de que os católicos podem falar assim?

678
— Se você é do Southie , porra, sim.

— Em troca, —Tohr cortou, — você vai nos ajudar a encontrar o que


estamos procurando. Você vai nos dever, e você sempre foi um macho de
palavra.

— Continue dizendo a si mesmo isso ...

— Nós encontrando o Livro, e você estará fora do anzol.

Sahvage inclinou-se bruscamente. — Me desculpe, o que você disse


que estava procurando?

South Boston, ou "Southie", é um bairro residencial em evolução com uma forte herança
irlandesa-americana. Os restaurantes e as tabernas tradicionais se misturam a pizzarias e pubs gastronômicos. Local da Guerra Revolucionária, o
monumento de Dorchester Heights oferece vistas deslumbrantes do Porto de Boston e do horizonte. Para correr e fazer piquenique, as pessoas se
dirigem às trilhas à beira d'água e do gramado ao redor do Fort Independence do século 19, em Castle Island.

679
Vernon Reilly não estava aceitando isso. Quando ele olhou para o outro
guarda de segurança de plantão, ele estava tão cansado dessa merda.

— Você tem que parar, okay? Eu superei isso.

Buddy Halles pareceu surpreso que alguém, qualquer pessoa, se


opusesse à sua reclamação. — Eu não vejo por que você está do lado dela
nisso.

O escritório da segurança era uma caixa com uma única porta, duas
cadeiras giratórias e uma série de monitores e equipamentos—e eles
tiveram sorte de ter o espaço que tinham. O prédio pelo qual eles eram
responsáveis era antigo, mas bom, o qual havia sido uma grande pilha de
andares quando fora construído, um século atrás. Agora, é claro, era um
toco de pedra antiquado em comparação com os graciosos arranha céus
espelhados que marcavam o resto do centro da cidade.

680
Nesse aspecto, era mais ou menos como Vernon. Velha escola, mas
ainda útil. Pelo menos por mais dois meses, três semanas e quatro dias, no
caso dele.

Buddy se inclinou para frente em sua cadeira giratória e apontou para


seu escudo brilhante. — Estou ocupado. Eu tenho um emprego, tenho
responsabilidades. Ela tem que entender onde estou. Isso me afeta, cara.

Buddy era nascido e criado em Caldie com 27 anos que estava


deixando crescer o cabelo em qualquer lugar onde houvesse um folículo e
que parecia pensar, à maneira da geração mais jovem, que absolutamente
tudo girava em torno de como ele estava se sentindo.

Vernon teve de ouvir as provações do senso interno do garoto a cada


turno de oito horas desde que Buddy fora contratado em outubro.

— E minha mãe sabe como me sinto.

Quem não sabe. — Mm-hm.

— Tenho o direito de me sentir seguro em minha própria casa ...

— É a casa da sua mãe. E você não está pagando o aluguel.

— Eu sou alérgico a gatos, no entanto. Ela sabe que sou alérgico ...

Como um presente de Deus, um dos sensores começou a piscar no


console. Quando Vernon se sentou para inserir o pedido de codificação de

681
diagnóstico em seu computador, ele esperava—pela única vez em sua
carreira profissional como segurança—que houvesse um incêndio de
verdade.

— Talvez sua mãe esteja enviando uma mensagem para você, —


comentou Vernon enquanto esperava pela resposta da TI.

— Você quer dizer ... você acha que ela está fazendo isso de propósito?
Para me tirar de casa ...

Quando a leitura da avaliação voltou, Vernon se levantou da cadeira.

— É outro defeito. Não há registro de calor. Cancelei o alarme, mas


vou verificar mesmo assim.

— Eu vou com ...

— Não. —Vernon puxou sua jaqueta. — Você fica aqui. Alguém tem
que monitorar.

Buddy estava protestando contra o fator antiguidade quando Vernon


saiu para o corredor. Quando a porta se fechou atrás dele, ele fechou os
olhos e ouviu o clique.

Ah ... Paraíso.

Se ele jogasse certo, ele poderia esticar a investigação por uma hora
ou mais. O escritório de segurança ficava no primeiro andar, ao lado do

682
elevador de carga, mas ele não era bobo. Ele estava subindo as escadas.
Lentamente.

No nível do porão, ele assobiou uma melodia que não tinha nome, a
mesma em que sempre caía quando a pressão estava baixa. Era como uma
combinação de Earth, Wind & Fire's “September” e a versão original de
Smokey Robinson de “My Girl” . E as chances eram boas de que ele iria
assobiar pelo tempo que quisesse. Ao contrário do resto dos andares
acima, o porão não tinha nenhum espaço de escritório nele, apenas áreas
de armazenamento, mas mais especificamente, era muito tarde, todos os
ternos haviam sumido durante a noite, mesmo os que gostavam de
trabalhar longas horas nos fins de semana.

E esse era o outro motivo pelo qual ele tinha certeza de que o alarme
era um defeito. Aqui embaixo, não havia mais cafeteiras deixadas ligadas.
Ninguém roubando cigarros e jogando cinzas em uma lata de combustível
em um banheiro masculino. Nenhuma lâmpada de mesa tipo pescoço de

O Earth, Wind & Fire é uma banda renomada dos Estados Unidos fundada em 1969 por Maurice White, a banda domina
diferentes estilos musicais como funk, R&B, disco music e soul.
Earth, Wind & Fire - September (Official Video) https://www.youtube.com/watch?v=Gs069dndIYk

William "Smokey" Robinson, Jr. é um cantor, compositor e produtor de R&B e soul norte-americano. Sua imagem é
frequentemente associada à gravadora Motown, tendo sido vice-presidente da gravadora entre 1961 e 1988. Ficou, então, conhecido como "King of
Motown".
Smokey Robinson - "My Girl" | The Kennedy Center (2013) https://www.youtube.com/watch?v=SJTMag4TnOw

683
ganso angulada muito perto de uma caixa de memorandos ou
equipamentos de computador acendendo ... ou qualquer uma das milhares
de coisas bizarras que ele ouviu falar ou viu pessoalmente no prédio.

Sendo segurança de uma propriedade como esta por trinta e sete anos?
Você aprendia sobre todas as diferentes maneiras pelas quais os seres
humanos erram. Ele havia tirado pessoas, depois de horas, de elevadores
que pararam propositalmente para fazer sexo. Ele resgatou pessoas do
telhado, pessoas que estavam fartas de suas vidas. Ele virou para o outro
lado quando algumas discussões ficaram altas nas escadarias—e
intercedeu em outros para que ninguém se machucasse. Ele tolerou todo
mundo, não importando seu status, estatísticas ou número de série
proverbial.

O fato de Buddy estar deixando-o louco era provavelmente o melhor


indicador, exceto que ele faria 65 anos no mês seguinte, que era hora de
pendurar o velho uniforme e encontrar um hobby. Ele nunca teve um
hobby. Talvez construção naval. Ele gostava de coisas com pequenas
partes, e Deus sabia que ele era um homem natural quando se tratava de
fazer ordem a partir de bagunças.

luminária pescoço de gaçno

684
Razão pela qual ele sempre gostou deste trabalho ...

O cheiro de queimado chamou sua atenção, embora ele não tenha


entendido os matizes dentro do cheiro desagradável. Era como ... couro
queimado?

Vernon acelerou o passo. Como o resto do prédio, ele conhecia o


porão de cor e desceu rapidamente até a área de armazenamento que
parecia estar sem defeito.

Tirando seu molho de chaves antiquado, ele também tinha seu cartão-
passe pronto. Cada uma das unidades de armazenamento era alugada de
forma privada e, se ele entrasse, tinha que passar o dedo para registrar sua
identidade junto com a data e hora para fins de segurança. E, neste caso,
o espaço específico foi alugado para uma das seguradoras, portanto, havia
muitas informações confidenciais lá dentro.

Quando ele foi até a porta, ele colocou a palma da mão sobre ela—e
franziu a testa quando o aço não estava quente. Ele colocou a chave na
fechadura de qualquer maneira, e quando a fechadura cedeu, ele
empurrou o peso pesado com o ombro.

Imediatamente, ele sentiu o cheiro do que havia chamado sua


atenção. O cheiro estava definitivamente vindo de dentro, mas quando a
luz ativada por movimento apareceu ...

685
— Que diabos? —Vernon murmurou.

Entrando na área de armazenamento, ele passou seu cartão de


identificação para silenciar o bipe do alarme da porta, e então ele
simplesmente deu uma volta ...

Todo o espaço completamente vazio.

As paredes estavam conforme o esperado, pintadas de cinza escuro,


com o teto e o piso feitos em preto. Isso fazia sentido. Cada vez que uma
das unidades era alugada, a equipe de manutenção colocava uma nova
camada barata e brilhante em cada metro quadrado, as camadas tão
grossas agora que os contornos do concreto estavam completamente
polidos. Mas a pintura estava impecável, sem arranhões por onde as botas
haviam viajado ou caixas colocadas, sem marcas de onde as coisas haviam
sido empurradas para os cantos.

Portanto, não só apenas não havia nada dentro, como nunca houve.

Mas não era problema dele. Se alguma empresa queria pagar pelo
privilégio de não colocar nada aqui embaixo, esse era seu erro estúpido.
Sua preocupação era descobrir por que diabos ele estava cheirando algo
queimando e vendo ... absolutamente nada. E sim, ele tinha certeza de que
tinha o espaço certo. O relatório do alarme disse isso a ele.

686
Talvez ele estivesse tendo um derrame.

Não, espere. Um dos aspersores, bem no fundo, estava piscando duas


vezes, indicando que era o que havia disparado.

Vernon foi até lá e caminhou ao redor algumas vezes. Mas nada


mudou: o alarme de incêndio continuou piscando e seu nariz continuou
falando sobre algum tipo de coisa esfumaçada, e a unidade de
armazenamento permaneceu totalmente vazia.

Okay, isso definitivamente estava entrando em sua lista de coisas


estranhas.

Voltando para a porta, ele fez a última verificação no que já havia


verificado, então ele saiu ... Vernon congelou, todo o sangue drenando de
seu rosto.

No final do corredor, caminhando no tipo de formação de flanco que


ele conhecia desde seu tempo no Exército, havia três homens vestidos de
couro preto. Bem, um estava com calças camufladas. E Vernon não
precisava de um detector de metais para informá-lo de que as
protuberâncias sob as jaquetas eram armas.

Todos eles tinham cabelos escuros, olhos mortais e estavam focados


nele.

687
Com uma súbita onda de náusea, ele percebeu que não conseguiria se
aposentar. Querido Deus ... Rhonda. Ela teria que enterrá-lo.

Vernon fechou os olhos. Ele tinha um spray, mas nenhuma arma. Ele
não tinha como se defender ...

... abriu a porta para o escritório de segurança. No console, Buddy

ergueu os olhos.

— Isso não demorou muito, —disse o garoto. — Então era apenas um


mau funcionamente, hein?

Vernon piscou e olhou em volta. Buddy era o mesmo, ainda barbudo


e cabeludo, ainda jovem e entediado. Da mesma forma, o console era o
que sempre fora, assim como os monitores. Sua cadeira também estava
exatamente como ele a havia deixado, girada para ficar de frente para a
porta ... ainda assim, ele se sentia como se tivesse partido há vinte anos. E
quando ele foi se sentar ao seu lado do painel de controle, ele teve um vago
desconforto no estômago e uma dor de cabeça que se movia entre suas
têmporas.

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— Você está bem, Vern?

Ele odiava quando o garoto o apelidava. Geralmente. Não agora.

— Estou bem. —Depois de limpar a notificação de alarme, ele virou


sua cadeira para Buddy. — Ei, você pode fazer um favor para mim?

As sobrancelhas de Buddy saltaram. — Sim, claro. Você quer um


refrigerante?

— Não, eu quero que você, —Vernon esfregou a testa, — execute


novamente as fitas de segurança.

— Claro, de onde?

— Lá embaixo no ... —A dor entre as têmporas piorou e ele cerrou os


dentes. — No porão. Onde o alarme disparou.

— Você viu alguma coisa?

— Não, eu não vi, —disse ele asperamente. — Eu só quero revisar as


fitas.

— Mas se você não viu nada—okay, sim, claro. Seja o que for.

Enquanto Buddy trabalhava nos monitores e o registro era arranjado,


Vernon abriu sua gaveta e tirou seu frasco de Motrin. Colocando dois—e
depois quatro—na palma da mão, ele engoliu os comprimidos à seco.

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Ele estava tossindo quando a imagem do corredor em questão
apareceu na tela do lado direito de Buddy ...

No segundo Vernon se concentrou naquele corredor de portas vazio,


no nível do porão, com o cérebro todo iluminado de dor.

— Continue, —ele gemeu. — Quero ver a filmagem de quando estive


lá.

Conforme a dor de cabeça se intensificava, ele teve que lutar para


manter os olhos na imagem brilhante ...

O vídeo parou: assim que ele saiu da escadaria, pela porta de incêndio e
indo para o corredor, as imagens escureceram.

— Que diabos, —Buddy murmurou enquanto mostrava de volta.

Buddy podia ser um co-dependente chorão com sua mãe, mas ele não
era um idiota. Ele não estava fazendo nada de errado com a tecnologia. O
arquivo, por algum motivo ou outro, foi corrompido a ponto de não
fornecer nenhum visual.

Onze minutos.

Onze minutos perdidos.

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— Eu desisto, —disse Vernon enquanto deixava a cabeça cair para
trás.

— Acontece. E hey, os alarmes estão desligados. Então está tudo


acabado com o que quer que seja.

— Sim.

Ainda assim, havia esse desejo quase inegável de sondar suas


memórias. Algo havia acontecido naquele porão. Desde o momento em
que ele deixou este escritório e decidiu subir as escadas para o ...

Vernon deixou tudo ir quando a agonia aumentou novamente. Era


uma dor de cabeça tão estranha, como se ele tivesse comido três
casquinhas de sorvete, uma após a outra, uma espécie de lança fria e afiada
bem na frente de seu crânio.

— Você quer ligar por isso? —Buddy perguntou em uma voz que
parecia preocupada. — Você não parece muito bem.

— O Motrin vai entrar em ação em alguns minutos. —Vernon


pigarreou. — Fale-me sobre o gato de novo, tudo bem?

Buddy voltou imediatamente ao seu drama. — Sim, então minha mãe


disse que ele foi um presente da tia Rose, mas eu não acho que foi. Acho
que ela precisa de uma desculpa para me expulsar ...

691
Tão bizarro. Enquanto Vernon se concentrava no drama felino, a dor
de cabeça desapareceu completamente—e não podia ser o Motrin. Não
havia como eles serem tão eficazes tão rapidamente.

Mas como se ele fosse discutir o que funcionava?

— E você não pode tomar injeções para alergia? —Vernon disse


quando houve uma pausa para respirar no relatório de Buddy.

O garoto franziu a testa. — O que você está—espere, você pode fazer


isso?

Vernon assentiu e começou a tirar a jaqueta do uniforme.

— Sim. Claro. Você vai e eles lhe dão injeções e então você não é
alérgico.

— Oh, meu Deus, isso é exatamente o que vou fazer! Obrigado, cara.

Com outra inclinação de sua cabeça não doendo no momento,


Vernon decidiu olhar para o console. Quando as luzes não feriram seus
olhos ou trouxeram a dor de volta, ele relaxou. Quem diabos sabia o que
era. Talvez aquele nervo comprimido em seu pescoço estivesse agindo
novamente.

Sim, tinha que ser isso.

Cara, ele estava tão pronto para se aposentar, ele realmente estava.

692
Dentro do depósito cheio de roupas de grife, Mae baixou a bolsa em
chamas das proximidades do aspersor. A luz vermelha não estava mais
piscando.

— Não, não ... não ...

Ela se voltou para a porta. O painel reforçado ainda estava fechado e


totalmente seguro, mas alguém estava por perto. Ela os tinha cheirado.
Ela tinha ouvido a voz deles. Eles tinham estado tão perto ...

Lá estava isso novamente. Seus instintos pinicando como se ela não


estivesse mais sozinha.

Mae olhou para o aspersor com todos os tipos de esperança—a luz


ainda estava sólida.

— Merda.

693
Ao se levantar da cadeira, pensou que talvez estivesse apenas
enlouquecendo, toda assustada pelo desespero e pelo terror que
acompanhava saber que sua assassina não iria ficar longe para sempre. E
enquanto ela olhava para a porta novamente, a onda de emoção
que tomou conta dela foi totalmente inútil: não mais assustada por sua vida
e focada em se libertar, ela estava além de triste. Quase a ponto de chorar.

Mae respirou fundo ...

No início, o cheiro não fez sentido. E então ela se convenceu de que


tinha imaginado isso, mais do que qualquer coisa, foi por isso que ela tinha
orado.

— Sahvage! —Ela gritou. — Estou aqui! Sahvage!

Através da conexão de ela tê-lo alimentado, ela podia senti-lo


claramente como se ele estivesse parado na sua frente. Ele estava aqui. Ele
de alguma forma a encontrou.

Jogando a bolsa no chão, ela disparou pelo espaço, empurrando as


prateleiras para o lado. Enrolando os punhos, ela bateu na porta.

— Estou aqui! Estou aqui! Ajuda!

Quando ela bateu no painel de aço uma e outra vez, algo no fundo de
sua mente foi registrado—e levou mais alguns gritos para descobrir o que

694
era. De repente, ela parou de golpear o aço, parou de gritar. Para se
acalmar, Mae bateu levemente.

Bateu com mais força.

Bateu novamente.

Não houve nenhum som.

Quando ela fez contato com a porta, não houve reverberação de volta
para ela, nada entrando em seus ouvidos ... nada que fosse registrado para
qualquer outra pessoa.

Tentando não entrar em pânico, ela bateu na placa de gesso pintado


de branco ao lado do batente.

Também nada.

E embora houvesse fumaça ondulando em torno das prateleiras de


roupas e um fedor nas narinas, ela temia, sem nenhum motivo lógico, que
ninguém mais pudesse sentir o cheiro.

Que Sahvage não conseguiria sentir o cheiro.

Mae levou as mãos à boca e girou em direção às prateleiras e


mostruários. Isso era uma ilusão, ela percebeu. Tudo isso ... todas as
roupas e acessórios, os móveis e a cozinha, aquela banheira ali ... tudo isso
não existia no sentido normal.

695
O que significava que ela não existia no sentido normal.

— Sahvage, —ela sussurrou. — Me ajude ...

Como diabos ela iria quebrar a divisão que separava onde quer que
ela estivesse, de onde todos os outros existiam ...

... antes que a demônio voltasse?

Oh, querida Virgem Escriba, se a morena voltasse, Sahvage estaria


agora em perigo, também.

O pânico total paralisou seu cérebro e ela andou de um lado para o


outro. Então, uma ideia veio a ela.

Mae começou a se mexer e, ao deslizar para a área da cozinha,


começou a abrir os armários.

Vinagre branco. Graças a Deus. Sal—sim. Limões ... limões ...

Mae tentou a geladeira. — Vamos lá, tem que haver ...

Sem limões, mas havia um vinagrete de limão e mel. Virando a


garrafa, ela balançou a cabeça. O terceiro ingrediente era limão. Teria que
servir.

— Velas ...

696
Ela abriu gavetas. Encontrou velas de aniversário rosa, amarelas e
azuis em uma.

— Prata de lei. Eu preciso de ...

Sobre a mesa de exposição, onde estavam as bolsas, ela acertou em


cheio despojando um prato brilhante que continha uma dúzia de pares de
brincos.

— Faca.

Ela jogou a pilha crescente perto da porta. Voltou para um bloco de


madeira cheio de Henckels sentadas no balcão perto do fogão. Pegou a
bolsa em chamas no caminho de volta para seus suprimentos.

Sentando-se de pernas cruzadas, ela tentou se lembrar do que Tallah


tinha dito a ela. Quais foram as medidas, quanto de um e de outro dos
ingredientes. Ah, e quanto ao sistema de entrega de limão daquele molho
para salada? Quem sabia como pesar isso.

Sua intenção é importante.

Ao ouvir a voz de Tallah em sua cabeça, ela inspecionou o que


colocara na bacia de prata—como se fosse saber o que era certo ou errado?

Zwilling J. A. Henckels AG é um fabricante alemão de utensílios de cozinha com sede em Solingen, Alemanha. É um dos maiores e
mais antigos fabricantes de facas de cozinha, tesouras, panelas e talheres, tendo sido fundada em junho de 1731 por Peter Henckels.

697
Então ela abriu as velas de aniversário e tirou uma azul. Porque azul real,
e tudo isso.

O que diabos ela estava fazendo? Não era como se isso tivesse
funcionado com o Livro. — Pare com isso, —ela ordenou. — Intenções ...

Apoiando-se, ela mordeu o lábio—e cortou a palma da mão, bem


sobre a linha da vida. O sangue saiu rápido, pingando por todo o lugar
enquanto ela pegava a vela e a colocava na bolsa ainda queimando.

A chama pegou rápido.

Embora o coração de Mae estivesse acelerado e ela realmente não


achasse que isso iria funcionar, ela colocou o ferimento gotejante e a vela
acesa sobre o prato. Então ela fechou os olhos e tentou acalmar sua mente.
Imaginando Sahvage entrando pela porta, ela ...

Não. Se isso era algum tipo de outro fodido plano existencial, ela não
queria que os dois ficassem presos aqui.

Ela imaginou Sahvage parado em dois planos. Um pé na realidade,


um pé onde quer que ela estivesse.

Com concentração total, Mae se lembrou de uma coisa muito singular


sobre o lutador. Ela imaginou seu cabelo cortado. Seu rosto lindo e
severo. Seus olhos de obsidiana. Seus lábios ...

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Mas enquanto ela respirava, ela não podia senti-lo. Mesmo quando
ela o imaginou, não foi longe o suficiente: era uma fotografia, não uma
escultura. Definitivamente, não uma pessoa.

Mae abriu os olhos e olhou em volta.

— Pense nele, pense nele ...

Reorientando-se, ela tentou se acalmar novamente, e se colocar dentro


das memórias deles juntos ...

No banheiro. Na casa de Tallah.

De repente, ele clicou: ela estava tão perto de Sahvage, seus lábios
quase se encontrando, seus olhos se encontraram. Ela podia cheirá-lo em
seu nariz e senti-lo dentro de seu corpo mesmo que eles não estivessem se
tocando, seu sangue correndo, seus sentidos vivos, o precipício que ela
estava prestes a pular para não levar a uma queda forte ... mas a um voo
crescente.

Com isso em mente, ela agora imaginava que ele tinha um pé do outro
lado da porta e outro do lado dela, onde quer que fosse. Ele estava
estendendo a mão para ela, estendendo a mão para ela. E ela estava
colocando a palma da mão na dele. E ele a estava puxando ...

Sahvage. Estou aqui.

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Ela pensou nas palavras dele com tanta força que começou a se
esforçar e continuou repetindo-as até sentir que ia explodir. Exalando em
uma grande explosão, com seus pulmões queimando e seu coração
batendo forte, tudo ficou instável.

Ofegante, Mae abriu os olhos e ...

Nada mudou.

Caindo em sua própria pele, ela olhou em volta e sentiu um desespero


que ia além da dor que ela carregava sobre Rhoger—e isso porque tudo o
que tinha acontecido com ele estava envolto na agonia penetrante que
agora marcava o centro de seu peito.

E ela perderia Tallah também.

Tudo se fora. Sua vida como ela a conhecia, sua vida como ela havia
pensado que seria.

E ela nunca, jamais saberia para onde os beijos de Sahvage a teriam


levado.

Ela iria perdê-lo também.

Lágrimas rolaram por suas bochechas enquanto ela considerava esta


prisão estranha e profana em que estava—e o horror de que não havia
nada a fazer a não ser esperar a demônio voltar.

700
O que seria um começo e um fim.

Toda esperança perdida.

No meio de sua tristeza e arrependimento, o rosto de Sahvage veio à


sua mente mais uma vez, de quando ele apareceu na cabana e eles lutaram
contra aquela sombra. A imagem dele era de depois do ataque, quando
eles estavam na cozinha. Ele estava brincando com ela, um sorriso
malicioso no rosto, seus olhos preto-azulados brilhando.

Em circunstâncias diferentes, talvez eles pudessem ter tido uma vida


juntos ...

— Eu poderia ter amado ele! —Ela gritou para ninguém.

Com um golpe de braço, ela golpeou com as costas da mão o prato de


prata, a besteira estúpida e sem sentido que voou—e atingiu a porta
reforçada de aço com um respingo que grudou. Por causa da porra da vela
de aniversário azul real.

De repente, as luzes piscaram ... e apagaram.

701
Enquanto um guarda de segurança mais velho foi expulso sem memórias
de três vampiros aparecendo no porão de seu prédio, Sahvage estava
ficando louco enquanto caminhava por algum tipo de depósito.

Eram mais de mil e duzentos metros quadrados de absolutamente,


porra, vazio.

Mas Mae estava aqui.

Espreitando pelos postes que sustentavam o teto, ele não conseguia


explicar o que estava farejando, o que estava sentindo. Mae estava aqui.
Ele quase podia senti-la. E ainda assim seus olhos diziam que ele estava
sozinho neste concreto de quatro paredes e nenhuma maldita coisa.

— Eu não entendo, —ele rangeu fora.

Butch, o Irmão que se ofereceu para guiá-lo em uma excursão,


balançou a cabeça.

702
— Foi assim para mim e para V também. Estávamos rastreando a
demônio no GPS, mas ... não conseguimos encontrá-la, embora ela
estivesse neste local.

— Mae está aqui. —Ele inspirou e sentiu o cheiro de fumaça também.


Junto com o cheiro de sua fêmea. — Eu posso ... ela está aqui.

Cada vez mais rápido, ele continuou andando. Mas como se isso fosse
mudar alguma coisa?

— Foda-se isso, —disse ele enquanto marchava de volta para a porta


de aço. — Eu pego a porra do Livro. Então eu faço um acordo com ela.
Ela quer isso e ela fará de tudo para consegui-lo.

A dor de rostos remotos olhando para ele era um tom alto e claro que
ele não estava tendo. — Desculpe, Mae vem primeiro.

Tohr balançou a cabeça. — Nós vamos ter sua fêmea de volta. Mas o
Livro e aquele demônio não podem ser reunidos. Isso dá a ela muito
poder.

— Só para deixarmos claro, —Sahvage ergueu seu olhar, — Eu não


dou a mínima se essa morena explode metade de Caldwell, a única coisa
que me importa é Mae.

— Temos outros recursos. Nós podemos ajudar você.

703
— Tudo que eu preciso é aquele maldito Livro. Vou assumir a partir
daí.

Enquanto Sahvage encarava os Irmãos, ele reconheceu os gritos em


sua cabeça. Isso o levou de volta a todas aquelas noites divertidas
procurando por Rahvyn. Maldição, como ele passou de olhar para Mae
na multidão naquela luta para esse ... desespero vazio ... por não ser capaz
de salvá-la?

Ele era um idiota.

— Estou indo atrás de você, Mae, —disse ele em voz alta. — Você
fica viva, estou vindo atrás de você.

Enquanto sua voz ecoava pelo concreto cinza e preto, ele sabia que
estava louco. Mas não havia como sair desse trem.

Ele se virou e saiu da unidade de armazenamento. Fechando a porta


atrás de si e dos Irmãos, ele olhou para cima e para baixo no corredor
enquanto os outros lutadores continuavam a lhe dar todos os tipos de
olhares proibitivos.

Quando ele se afastou, ele sentiu como se estivesse arrancando sua


própria pele. E a única maneira de continuar era prometendo a si mesmo
... que ele iria de alguma forma encontrar sua fêmea.

704
Não que ela fosse sua.

Pelo amor de Deus, ele deveria ter ouvido seu instinto e não ter se
envolvido ...

O barulho retumbante ecoou no corredor, como se algo de metal


tivesse batido ... em algo de metal. Girando, ele franziu a testa para o nada
acontecendo.

— O que foi? —Tohr exigiu.

— Você não ouviu isso?

— Não. Não houve nenhum som.

Butch balançou a cabeça. — Não houve nada, cara.

Sahvage os ignorou. Mas quando não houve repetição e não ... porra
nenhuma coisa mesmo ... ele sabia que estava apenas sendo um idiota.

— Filho da puta.

Ele se virou—e foi então que ouviu o choro. Suave. Como se estivesse
à distância ... no entanto, o som era inconfundível.

Preso com o foco, Sahvage caminhou de volta para a porta de aço,


embora não esperasse ver nada.

Ele estava errado.

705
— Mae! Puta merda! Mae!

O painel de metal sólido havia de alguma forma se transformado em


uma tela: ele podia ver através dele agora, e do outro lado, Mae estava
sentada com as pernas cruzadas em um piso de mármore branco, a cabeça
entre as mãos, seus soluços se propagando de qualquer tipo de distância
existencial os separava.

— Mae! —Ele gritou quando caiu de joelhos.

— O que você está fazendo? —Butch disse.

— Ela está bem aí! O que diabos há de errado com você? Mae!

Sahvage tocou o metal—e ele cedeu, seus dedos de alguma forma


empurrando para dentro do que não deveria ter cedido.

E como se o sentisse, Mae ergueu a cabeça e olhou em volta.

— Estou aqui! —Ele arrancou sua jaqueta e a estendeu para o Irmão


mais próximo a ele. — Pegue isso.

Tohr olhou para baixo em confusão. — Sobre o que você está falando.

— Eu vou atrás dela. Eu vou puxá-la para fora. Mas vou precisar de
uma âncora. —Ele não se importava de como sabia disso com tanta
clareza. — Segure isso!

706
Tohr continuou a olhar para ele como se ele tivesse perdido a cabeça—
se junte ao maldito clube—mas o Irmão agarrou o pulso da jaqueta.

— Eu não sei onde diabos você pensa que está indo ...

— Sua opinião é irrelevante.

Sahvage apoiou o corpo, um pé plantado atrás dele, o outro colocado


bem na borda da porta. Então ele estendeu o braço no painel de aço ...

A sensação era desagradável, como se ele estivesse empurrando a mão


na lama fria, mas não era como se ele se importasse. Ele apenas continuou,
inclinando-se cada vez mais para frente, a palma da mão, o pulso, o
antebraço, penetrando pela porta ... e saindo do outro lado.

Mae recuou.

E então, instantaneamente, sua expressão mudou. Sahvage!

Ou pelo menos foi o que ele pensou que ela disse. Ele não conseguia
ouvi-la.

— Pegue minha mão, —ele gritou. — Pegue—eu vou te puxar.

Mesmo que ele não soubesse se isso era possível. Ele não sabia de
nada além de que não iria embora sem ela.

— Eu vou entrar, —disse ele a ninguém.

707
Movendo-se com cuidado, ele colocou a bota na outra versão da
realidade e mudou um pouco de seu peso. O mesmo instinto que lhe dizia
para ter certeza de manter um pé em cada plano de existência, um de cada
lado da porta, foi ficando cada vez mais alto, então ele confiou no aperto
na manga de sua jaqueta enquanto se desequilibrava.

Penetrar a porta com o torso causou-lhe tremores graves, a pele


arrepiada, os músculos contraindo-se, os ossos doendo no fundo da
medula. E quando sua cabeça se libertou da resistência, ele foi atingido
por todos os tipos de suspiros e cheiros. Roupas. Algo queimando.
Perfume.

Como se ele se importasse, porra.

Mae estava bem na frente dele. Ele pode finalmente cheirar suas
lágrimas, sentir sua presença—e ouvi-la corretamente.

Oh, Deus, ela estava ferida. Seu rosto estava ferido e ...

— Sahvage!

Quando ela se lançou para ele, ele agarrou seu corpo, mas não pôde
perder nem um segundo para verificar seus ferimentos.

— Se segure, minha fêmea. Apenas me abrace forte.

708
Olhando por cima da cabeça dela, ele teve uma breve, mas indelével,
impressão de estantes e prateleiras de merda chique. E mobiliário
moderno e uma cozinha e uma plataforma de cama. Havia todo um
espaço de vida na área de armazenamento, mas a demônio era tão
inteligente, não era?

— Lá vamos nós, —disse Sahvage.

A última coisa que ele notou, quando começou a se afastar, foi a


garrafa de vinagre branco bem ao lado da porta. E o recipiente com sal. E
uma caixa de velas de aniversário.

E uma bolsa com escamas brancas e cinza que estava pegando fogo.

Tanto faz. Ele tinha Mae em seus braços, e isso era tudo que
importava.

Mae estava no fim do seu limite, chorando em suas mãos—quando ouviu


algo do lado de fora da porta. E então um braço, um braço fortemente
musculoso, com muitas veias, tinha de alguma forma, de alguma forma,
vindo até ela. Ela ficou tão chocada que quase correu.

709
Mas então ela cheirou Sahvage. Claramente.

E então ele apareceu, bem na frente dela, inclinando-se através da


porta. — Mae!

Quando ele disse o nome dela, ela não pensou duas vezes. Ela saltou
para frente e se jogou sobre ele—e no segundo que seu aperto sólido foi
registrado, ela quase explodiu de alívio. Ela nunca tinha agarrado nada
com tanta força em sua vida.

Sahvage disse a ela algo sobre segurá-lo, mas essa era uma ordem que
ela não precisava, pois se agarrou à nuca dele e quase envolveu sua cintura
com as pernas. Quando ele começou a recuar pela porta, o puxão foi
terrível, o corpo dela se esticando até os ossos se transformarem em lanças
de agonia e seus músculos em fios de dor incandescente. Tudo o que ela
podia fazer era enterrar o rosto em sua garganta grossa e tentar continuar
respirando.

O tremor veio em seguida, calafrios correndo por ela, os dentes


batendo, espasmos nas pernas. Bem quando ela pensou que iria se
despedaçar, no momento em que ela sabia que não aguentaria mais, houve
uma liberação, todo o peso em seu corpo desaparecendo ...

Mae explodiu para fora do covil, certa como se ela fosse carregada por
uma mola—e Sahvage era seu campo de pouso. Quando eles foram

710
jogados contra a parede de um corredor, ela bateu em seu peito, seu joelho
batendo em algo duro como uma rocha, seu nariz registrando todos os
tipos de novos cheiros.

— Eu tenho você, —disse ele no rescaldo entorpecido. — Você está


bem, você está fora ... Eu tenho você.

Mae tremia toda, sua adrenalina diminuindo e deixando-a tão mole


que ela não conseguia levantar a cabeça.

— Está tudo bem ... —Sahvage murmurou enquanto acariciava seus


ombros.

Gradualmente, os sentidos de Mae voltaram a funcionar


corretamente. Eles estavam em um corredor ... fora de uma porta de aço
que estava fechada.

Dois enormes machos estavam de pé sobre eles.

E um demônio ainda estava voltando a qualquer segundo.

Em pânico, Mae se levantou do peito de Sahvage.

— Precisamos sair daqui. Ela está voltando. Precisamos—minha casa.


Vamos pra lá. O sal vai mantê-la fora ...

— Você pode desmaterializar?

711
Com a ajuda de Sahvage, Mae conseguiu ficar de pé sozinha, mas
quando ela cambaleou para o lado abruptamente, ele praguejou. Ela
também.

— Se você tiver que ir a pé, nós o protegeremos, —disse um dos


machos, o mais forte do par.

Quando ela olhou para ele, ela percebeu que ele tinha um par de
adagas pretas amarradas, alças para baixo, em seu peito. E o outro
também.

A Irmandade da Adaga Negra, ela pensou com admiração.

— Eu tenho você, —disse Sahvage pela centésima vez.

A próxima coisa que ela soube, ele a pegou e começou a correr. Com
toda sua força, ele a carregou pelo corredor de concreto como se ela não
pesasse nada, suas botas batendo no chão nu enquanto os dois Irmãos
forneciam cobertura na frente e atrás.

Quando eles encontraram uma porta pesada com uma placa vermelha
de saída, o Irmão mais corpulento saltou à frente e segurou a porta aberta.

— Por aqui, —ele ordenou.

Mae sentiu sua consciência ir e vir, como aconteceu logo depois de ela
ter sofrido aquele acidente. Enquanto isso, Sahvage continuou lutando,

712
correndo, correndo, correndo, como se tivesse quantidades infinitas de
energia e todo o poder do mundo em seu corpo.

Eventualmente, eles chegaram a algum tipo de instalação de entrega,


uma linha de compartimentos de carga e todos os tipos de caixas de
rolamento, sugerindo que eles estavam no departamento de
processamento de correspondência de um grande edifício. Os dois outros
lutadores imediatamente foram para uma das áreas de recepção e
arrombaram um conjunto de portas verticais, enrolando as ripas em seus
trilhos ...

De repente, Mae sentiu o cheiro do ar noturno—que carregava uma


pitada de óleo e lixo. Eles estavam no centro em algum lugar.

— Eu posso desmaterializar, —ela disse asperamente. Limpando a


garganta, ela falou mais alto. — Eu posso fazer isso.

— Vamos verificar você primeiro.

Sahvage saltou para a calçada e, quando começou a correr


novamente, ela percebeu que eles estavam indo para um enorme trailer ...
onde um homem de jaleco branco—um humano?—estava parado perto do
que parecia ser uma sala de cirurgia.

713
— Não, não é seguro, —disse Mae enquanto empurrava o ombro de
Sahvage. — Eu tenho que voltar para minha casa. Ela está vindo aqui a
qualquer minuto ...

— Mae ...

— Não! —Ela se desvencilhou de seus braços e teve que se segurar nas


luzes de freio do veículo. — Ela está vindo! —Mae olhou para todos os
machos em pânico. — Você não entende o que ela é ...

— Não, —respondeu o mais atarracado. — Nós sabemos exatamente


o que ela é. Se você tem um lugar seguro, vá até ele agora. Nós vamos
alcançar você.

Sahvage abriu a boca como se fosse discutir, mas o Irmão agarrou seu
ombro.

— Deixe-a ir aonde ela precisa estar, nós vamos trazer a medicina até
ela. Você a tirou uma vez, mas garanto que qualquer brecha que você
encontrou? Aquele demônio vai fechá-la no momento em que ela retornar.
Temos segundos agora, vamos usá-los.

Mae deu um passo à frente e colocou as duas mãos no rosto de


Sahvage.

— Encontre-me na casa dos meus pais. Diga a eles para onde ir.

714
E então, embora ela ainda estivesse tonta, e apesar de sua cabeça
latejante e da dor em seu corpo, ela fechou os olhos com força.

Você pode fazer isso, ela disse a si mesma com severidade. Mais do que
isso, você precisa.

Ou sua vida e as vidas de Sahvage e dos outros dois machos tinham


acabado.

Ele não conseguia acreditar que Mae era capaz de fazer isso.
Em todos os anos de combate de Sahvage no Velho Continente, e
mesmo em todas as suas experiências com o clube de luta humano
ultimamente, ele nunca tinha visto um tal ato de vontade. Mesmo que a
fêmea mal pudesse se manter em pé, ela de alguma forma conseguiu reunir

715
o foco e a presença de espírito para se desmaterializar de volta para sua
casa.

Não só isso, ela conseguiu entrar na garagem. Todo o caminho até a


porta.

Ele a seguiu o tempo todo, ficando bem atrás dela. Então, quando ela
finalmente desabou, ele se recompôs bem a tempo e a pegou.

— Eu tenho você, —ele murmurou enquanto tirava as chaves que ele


agarrou da ignição do carro de sua jaqueta de couro.

Graças a Deus ele pensou em pegá-las. A fechadura de cobre teria sido


um problema.

Correndo para dentro, ele deixou a porta destrancada para os Irmãos


e se dirigiu diretamente para o porão com ela. Ele não queria que aqueles
outros machos verificassem o resto da casa e encontrassem o irmão dela
na banheira. Já havia complicações demais para oferecer esse tipo de
pergunta.

— O quarto que estou usando é lá embaixo, —resmungou Mae.

Felizmente, ainda havia luzes acesas, então foi fácil chegar ao


cômodo modesto com móveis simples. E quando ele a deitou na cama, ela
soltou um suspiro irregular ...

716
Lá em cima, passos pesados anunciaram a chegada dos Irmãos, e
quando Mae fechou os olhos e respirou com dificuldade, os outros
lutadores desceram para o porão.

— O RV de Manny está a cerca de dez minutos, —Tohr disse.

O macho protetor em Sahvage queria dizer a ambos para saírem do


espaço privado de Mae, mas ele calou a boca rápido. Esse era o tipo de
situação de quanto mais melhor, especialmente considerando que os mais
vinham com todos os tipos de armas e munições extras.

Com o passar do tempo, todos ficaram quietos enquanto Sahvage se


sentava na beira do colchão e segurava a mão de Mae. Ela estava tão
quieta que, se não estivesse respirando, ele teria se preocupado que ela
tivesse morrido ...

— Olá? —Veio uma voz de cima.

— Aqui embaixo, Doc, —Tohr gritou.

O humano de jaleco branco correu uma descida, uma mochila preta


farfalhando ao seu lado.

Veículo recreativo é o termo comumente utilizado para definir todos os veículos equipados com espaço de
convivência e amenidades encontradas em uma residência. Um veículo do gênero normalmente inclui cozinha, banheiro e acomodações de repouso.
Nesse foi acondicionada como uma ambulância-móvel.

717
— Ei, —disse ele enquanto se dirigia a Sahvage. — Eu sou o Dr.
Manello. Não fomos apresentados.

Quando o cara se aproximou do pé da cama, Sahvage o olhou de cima


a baixo. Homem bonito. Ombros grandes para um humano. Parecia
competente.

Mas Sahvage não saiu do lado de Mae, porra. E à medida que o


silêncio se estendia, os Irmãos pigarreavam.

— Eu prometo, —disse o médico, — isso é estritamente médico. Eu


preciso examiná-la, no entanto. Ela tem traumatismo craniano óbvio,
okay?

Com uma onda de agressão surgindo em seu corpo, Sahvage queria


dizer ao cara que ela estava bem, porra—só que ele realmente não sabia
disso. O que era o ponto. Ela sofreu um acidente de carro, foi sequestrada
e quase se perdeu para sempre graças àquela maldita morena. Um exame
"estritamente médico" era necessário, especialmente devido ao fato de que
Mae estava recostada contra os travesseiros como se ela precisasse de um
carrinho de emergência, seu belo rosto dolorosamente pálido, seu corpo
muito imóvel, seu peito subindo e descendo em um raso caminho.

Havia apenas um pequeno problema.

718
Sahvage meio que queria pegar o humano bonito de cabelos escuros
... e jogar o rosto do cara através de uma janela de vidro laminado. E então
talvez pregar seus braços e pernas na parede. E o acertar com um spray de
acelerador, seguido por um ...

— Fósforo, —disse Sahvage em voz alta.

— O que? —O humano perguntou.

— Deixa pra lá. E você não vai tirar nenhuma das roupas dela.

Com aquele pequeno anúncio feliz, ele olhou ao redor do quarto de


Mae sem um bom motivo. Havia uma escrivaninha, uma mesinha de
cabeceira e uma cama queen-size com um edredom simples e alguns
travesseiros. Com poucos livros e um alarme, não havia confusão de
qualquer tipo. Funcional. Não espalhafatoso.

Estéril.

E isso o deixou triste.

— Olha, eu sou um feliz acasalado, cara, —disse Manello. — Então


eu sei como você está se sentindo agora. Mas como vou examiná-la
adequadamente se não consigo remover a blusa dela?

719
Antes que Sahvage tivesse um pensamento adequado, sua mão da
adaga avançou e agarrou a frente do uniforme do médico. Puxando o
humano para perto, ele mostrou suas presas.

Mas em vez de gritar, pedir ajuda ou empurrar de volta, o cara apenas


revirou os olhos.

— Jesus, vocês precisam relaxar, porra. Relaxe, idiota. E me poupe do


“se você tocá-la, eu mato você”. Eu já ouvi isso um milhão de vezes, e
nenhuma vez algo que tenha dois metros e marque cento e dez quilos teve
que colocar meu rosto através de uma janela de vidro.

As sobrancelhas de Sahvage se arquearam.

— Não achei que os humanos pudessem ler mentes.

— Nossa, você foi lá com o vidro? Mesmo? —O Dr. Manello deu um


soco no peito de Sahvage e se libertou. — Fora. Agora. Se você se
preocupa com esta fêmea, você vai me deixar fazer meu trabalho. Eu não
estou mais brincando com o seu vínculo ...

— Oh, não, não—você entendeu tudo errado. —Sahvage ergueu as


palmas das mãos. — Eu não tenho um vínculo com ela.

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— Então, estou sentindo o cheiro da colônia que você decidiu aplicar
no meio de uma crise? —O médico bateu na lateral do nariz. — Niffer,
niffer, idiota. Caso você tenha perdido.

Com essa nota, o humano plantou um conjunto de palmas de


vingança de bom tamanho no torso de Sahvage e deu um grande e velho
empurrão nele.

Enquanto Sahvage sapateava para a sala de estar, os Irmãos foram


com ele e a porta do quarto foi fechada.

Depois disso, ele apenas ficou lá. Tipo, bem, um idiota.

— Você sabe, —Tohrment comentou enquanto estacionava no sofá


na área de estar, — eu não tenho certeza do que estou mais surpreso. Do
fato de que seu caixão estava cheio de farinha, do oi-como-você está do
nada, do puxar-uma-mulher-por-uma-porta-de-aço ... ou isto.

— O que é isto, —Sahvage murmurou enquanto se virava.

— O vínculo.

— Eu não me vinculei com ela, pelo amor de Deus.

O fato de que ele teve que se conter fisicamente para não pisar em sua
bota foi algo em que ele se recusou resolutamente a pensar.

721
Enquanto isso, sentado em uma poltrona, o Irmão Butch ergueu uma
sobrancelha. E não disse nada.

O que tornava tudo pior, é claro.

Enquanto os minutos se estendiam em trezentos anos de espera,


Sahvage andou de um lado para o outro. Algumas vezes.

Então ele parou.

— Então você sabe onde o Livro está?

Butch olhou para Tohrment. Que balançou a cabeça.

— Temos algumas pessoas trabalhando em pistas. —Tohrment


cruzou os braços sobre as adagas. — Mas não se engane, nós o
encontraremos.

Sahvage pensou no feitiço de convocação. E manteve sua maldita


boca fechada.

— Quando conseguirmos sua localização, —Tohrment continuou, —


vamos precisar de sua ajuda com isso. E antes de tentar nos enganar de
novo dizendo que você não é nada especial, você apenas puxou uma
fêmea de algum tipo de realidade alternativa por uma porta de aço.
Precisamos de você, feiticeiro. Sem seus poderes, não vamos chegar ao
objetivo.

722
Sahvage estreitou os olhos. — Responda-me isto: O que você vai fazer
com o Livro quando o pegá-lo?

— Colocá-lo em um lugar muito seguro.

— Você vai destruí-lo?

— Vai estar em um lugar muito seguro.

Sahvage pensou na morena. E no que aquela vadia fez com Mae.

Então ele praguejou para si mesmo ao se lembrar para que sua Mae
queria o Livro. Mas talvez tudo que tinha acontecido tivesse a feito mudar
de ideia—não que ele soubesse os detalhes do sequestro ainda. Ele com
certeza iria descobrir tudo assim que ela pudesse contar a ele sobre isso,
no entanto.

Porque agora havia duas coisas em sua lista de extermínio.

— Eu vou ficar aqui com Mae, —disse Sahvage. — Se você conseguir


algo do Livro, o Reverendo tem meu número.

— Então você vai nos ajudar.

Sahvage olhou diretamente para os olhos azul marinho do lutador que


uma vez tinha sido seu Irmão em tudo, exceto no sangue—e mentiu
através de suas malditas presas.

723
— Eu vou absolutamente.

Quando Erika saiu do elevador principal do edifício Commodore, alguns


andares acima de onde fora chamada para aquela cena com o casal
assassinado e profanado, ela ficou feliz que os problemas de falta de
pessoal tivessem surgido novamente.

Caminhando, ela não sentiu falta do seu sono. Seu apartamento


vazio. Seu planejado par de horas de folga. Ela estava disparando em
todos os cilindros.

O uniformizado perto da porta acenou para ela e abriu a entrada.


Quando ela passou, ela acenou de volta para ele.

— Eles estão lá com todos os livros, —disse ele.

A direção era ótima—exceto pelo fato de que presumia que ela sabia
alguma coisa sobre o desenho dos cômodos internos. Mas considerando
todas as bolas no ar no momento? O mistério da localização do corpo era
o mais simples que ela precisava resolver. Além disso, tudo o que ela fez
foi seguir a conversa. Suave. Com um pouco de choro em trágica medida.

724
De acordo com o agente especial Delorean, a esposa encontrou o
marido depois que ele foi investigar um alarme disparado. E o cadáver
estava ... direto no beco de Erika.

Depois que ela passou por uma sala cheia de pedaços de pedra, e então
uma que tinha alguns instrumentos antigos de aparência horrível, ela
dobrou uma esquina e tirou um instantâneo da memória: nada além de
prateleiras e livros neste espaço, mas não era isso que ia ficar com ela.

No canto mais distante, um cadáver parecia ter sido usado como


projétil contra uma seção de prateleiras, todos os tipos de pedaços de
madeira quebrados e capas de couro quebradas e lombadas rachadas ao
redor dos restos mortais.

Que estavam em muito mau estado.

Delorean se separou dos uniformizados e se aproximou.

— Este tem que ser o seu cara. Não há ... é como a cena no clube e
nos outros lugares, como se alguém agitasse uma maldita varinha e o
cortasse ao meio.

Erika se aproximou e se ajoelhou. Talvez fosse a exaustão ... talvez


fosse o fato de que seus nervos estavam em frangalhos ... mas ela estava
tendo problemas para processar os ferimentos da vítima. Era como se ele

725
tivesse sido despedaçado nas pernas, o torso tão irregularmente rasgado
ao meio, da virilha à garganta.

A sensação de que estava sendo observada a fez jogar a cabeça para


trás por cima do ombro. Mas não havia ninguém lá ...

Erika franziu a testa e se endireitou. Dentro de um estande de


apresentação Lucite com uma tampa, como se fosse algo especial, um
livro foi separado dos outros e chamou sua atenção sem um bom motivo:
Mesmo que ela não pudesse ver sua capa ou lombada corretamente, e não
tendo a menor ideia de como era chique ou caro, havia simplesmente algo ...

Bem, cativante sobre isso ...

— Você está bem? —Delorean perguntou.

— A esposa está na outra sala? —Ela perguntou enquanto se sacudia


de volta à atenção.

— Sim.

— Eu vou falar com ela. —Erika ergueu a mão para o agente especial.
— Apenas me dê um minuto com ela sozinha.

Sem esperar por uma resposta, ela seguiu os sons de fungadas por mais
alguns quartos e se viu emergindo em algum tipo de área de estar que
parecia grande o suficiente para estar num hotel. Em um conjunto de

726
sofás, ao lado de uma escada curva, uma mulher com cabelos muito bons
e rosto inchado vestia um conjunto de roupão e camisola que
possivelmente valia mais de um mês ou dois do aluguel de Erika.

Ao se aproximar, ela não precisou pedir ao policial que se levantasse


e fosse embora. Ele deu uma olhada na direção de Erika e murmurou algo
para a esposa da vítima antes de se desculpar.

— Oi, eu sou a detetive Saunders, —ela disse ao se aproximar. —


Estou com a homicídios.

A esposa deu um tapinha no nariz vermelho com um lenço de papel


e ergueu os olhos.

— Eu acabei de dizer a ele tudo que sei.

— Tenho certeza de que será útil. Você está bem se eu sentar com
você?

— Não tenho mais nada para contar. Herb foi para baixo quando o
alarme registrou movimento e ele não voltou. Esperei cerca de vinte
minutos e então ... eu saí do nosso quarto e o encontrei ...

Erika sentou-se em um sofá de veludo branco que fazia parte de um


esquema geral de cores neutras—para que as obras-primas nas paredes

727
aparecessem, sem dúvida. Caramba, o lugar parecia um museu de arte
moderna.

— Por que alguém faria isso? —A esposa disse enquanto olhava para
o lenço de papel que segurava. — Por quê?

Quando aqueles olhos injetados de sangue se moveram, o coração de


Erika parou.

— Eu sinto muitíssimo. —Inclinando-se para frente, ela colocou a


mão no ombro da mulher. — Eu prometo a você, eu vou encontrar a
pessoa responsável. Eu vou trazê-lo para a justiça mesmo se for a última
coisa que eu fizer.

Talvez fosse a coisa de mulher para mulher, talvez fosse a comunhão


honesta com Deus que Erika sentiu com a dor que a mulher estava
sentindo, mas os olhos da esposa lacrimejaram novamente.

— Você acha que isso tem alguma coisa a ver com os relógios?

Erika piscou. — Os relógios?

— Que foram roubados. —A esposa espirrou e tirou outro lenço de


uma caixa branca. — Chamamos a polícia assim que meu marido chegou
de Idaho e descobriu que eles estavam desaparecidos. Ele foi até o cofre
em nosso armário e viu que eles haviam sumido. Eles faziam parte de sua

728
coleção. Ele sempre me disse o quanto valiam, mas eu não ... Não consigo
me lembrar agora. Mas várias centenas de milhares de dólares.

Erika olhou ao redor para o teto, notando os casulos que estavam


montados nos cantos do espaço da galeria.

— Você tem um sistema de segurança aqui, correto?

— Não houve nenhuma filmagem daquela noite ... algo deu errado.

— Então você tem câmeras também. —Quando a esposa assentiu,


Erika franziu a testa. — O alarme estava acionado quando você acha que
o roubo ocorreu?

— Eu estava aqui sozinha. Juro que coloquei, mas talvez tenha feito
algo errado. Talvez eu tenha desligado as câmeras—oh, Deus, o que eles
fizeram com ele? —Aqueles olhos levantaram novamente. — Há muito
sangue ... e o corpo dele ...

Quando a esposa começou a ficar agitada, Erika balançou a cabeça.

— Tente não pensar nisso.

Que coisa mais porcaria de se dizer. Mas o que mais havia?

— Eu não posso deixar de ver. Cada vez que pisco, eu o vejo no


chão—há muito sangue. Muito ...

729
Enquanto as palavras da esposa vagavam, ela olhou para o carpete
fino—e foi enquanto Erika estudava o perfil dela que o brilho na garganta
da mulher registrou.

Santa ... porra, ela estava usando um colar de diamantes—e não um


diamante que estava em um colar, mas um colar de diamantes que
brilhava com cada respiração irregular que ela dava. Muitos diamantes.

Um conjunto de pontas de dedos bruscos e polidos apalpou as pedras,


como se a esposa tivesse notado Erika olhando para as joias.

— Meu marido me deu isso no nosso aniversário no ano passado.

— É ... incrivelmente lindo, —murmurou Erika.

— Sinto-me bonita quando o uso agora. —A mulher fechou os olhos.


— Isso me mantém aquecida à noite, quando meu marido não faz. Não
fazia.

Erika fez uma anotação mental, mas se perguntou que tipo de amante
ciumento teria força para dilacerar um homem adulto.

— Não, eu não matei meu marido. —O olhar da esposa disparou. —


Eu nunca ... ele pode ter estado com outra pessoa, mas eu o amava e ...

— Você não é uma suspeita. —Erika notou todas aquelas unhas


totalmente limpas. — E eu não julgo.

730
Houve um momento em que as duas apenas se entreolharam. Então
a esposa respirou fundo e baixou os olhos para o lenço de papel
novamente.

— Eu me sinto desleal, —ela murmurou, — embora ele fosse o infiel.


Oh, Deus, Herb está morto.

Quando ela começou a chorar de novo, Delorean apareceu na arcada


da galeria, mas Erika balançou a cabeça. Quando ele acenou com a cabeça
e recuou, ela apreciou sua discrição.

— Eu só quero voltar ao meu sonho.

Erika voltou a se concentrar na esposa. — Que sonho?

— Na noite em que os relógios foram roubados ... Eu tive esse sonho


incrível. Este homem veio até mim, e ele ... bem, ele me disse para usar
isso e me sentir bonita. —A esposa suspirou. — Mas nada disso era real,
e eu não deveria estar pensando nisso agora, deveria?

— Às vezes a mente se retira, —Erika disse baixinho, — para onde


pode. Às vezes, esses retiros são a única razão pela qual passamos pelas
coisas. Então, se você quiser se lembrar de um sonho assim em uma noite
como esta? Porra, você faz isso.

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A esposa se virou e inclinou a cabeça. Quando seus olhos focalizaram,
foi como se ela estivesse vendo Erika direito pela primeira vez.

— É a pessoa que fez isso ... vai voltar? —Disse ela com voz rouca. —
E por que eles não vieram atrás de mim lá em cima?

— Você está ciente de alguém que poderia querer machucar seu


marido?

— Não. Ele era um homem modelo. Nos negócios, pelo menos. Estou
em perigo aqui?

— Você tem outro lugar onde poderia ficar?

— Não realmente. —A esposa olhou em volta. — Mas a suíte é um


quarto do pânico. Acho que poderia iniciar o bloqueio e ficar aqui.

— O que quer que pareça certo para você. Se você ficar, no entanto,
que tal fazermos uma varredura lá para que você tenha certeza de que não
há ninguém se escondendo em qualquer um dos quartos?

— Eu realmente iria apreciar isso.

Erika olhou para os diamantes. E pensou ... ela sabia o que era não se
sentir bonita. Exceto que no caso dela, não era porque algum homem não
a estava tratando bem ou a desrespeitando com outras mulheres.

Era porque não existia um homem há muito, muito tempo.

732
— Vou te dar meu celular particular, —disse ela. — Eu quero que você
me ligue a qualquer momento, sobre qualquer coisa. A memória é uma
coisa engraçada. Ela volta em momentos estranhos. Se você puder pensar
em algo que pode nos ajudar, quero que me ligue.

A esposa acenou com a cabeça. — Okay. Eu vou.

— E continue usando o colar. —Erika se levantou. — É realmente


perfeito para você.

733
Com um gemido, Mae acordou ... e se empurrou um pouco mais para
cima nos travesseiros. Quando ela estremeceu, o cão de guarda em sua
porta aberta parecia que estava pronto para defendê-la contra tudo e
qualquer coisa, mesmo que fosse apenas as dores e sofrimentos que ela
estava tendo.

A visão de Sahvage na familiaridade de seu quarto foi um choque,


mas o fato de ela estar em sua cama, em sua casa, como um todo?

Ela não tinha certeza se confiava nesta realidade.

— Os outros machos foram embora? —Ela perguntou em uma voz


áspera.

— Sim. Cerca de vinte minutos atrás. —Sahvage pigarreou. — Posso


pegar um Motrin ou algo assim pra você? O médico disse que você poderia
tomar uma segunda dose se ainda se sentir desconfortável.

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A luz da sala de estar fez sua enorme figura parecer ameaçadora como
um assassino. Seu cheiro, por outro lado, era uma fonte de conforto total.

— Eu vou ficar bem, —disse ela. — O médico foi muito gentil comigo.

— Estou feliz que você não esteja ferida—quero dizer, não seriamente
ferida. Está com fome?

— Eu não sei. —Mae riu rapidamente e olhou para si mesma. Ela


tinha uma vaga lembrança de mudar para roupas limpas. Ela tinha tomado
um banho rápido? Pode ser. Tudo estava tão nebuloso. — Você pode
imaginar ... que não sei se estou com fome?

Ela piscou e viu aquelas prateleiras de roupas de grife. Então ela


tentou esfregar as imagens de sua mente com os nós dos dedos nos olhos.

— Eu liguei para Tallah, —disse ele.

Soltando as mãos, ela exalou de alívio. — Graças a Deus. Você falou


com ela? Ela não sabe como entrar no correio de voz.

— Sim, eu falei com ela. Eu apenas disse a ela que ficaríamos aqui
esta noite. Nada mais.

— Ela estava bem com isso?

— Absolutamente.

735
— Bom.

Enquanto Mae estremecia, ela puxou metade do edredom sobre as


pernas.

— Não consigo me aquecer.

Houve uma pausa. E então Sahvage disse:

— Eu posso ajudar com isso. —Quando ela olhou para ele, ele
estendeu as mãos. — Não estou sugerindo que nós ...

Com lágrimas brilhando em seus olhos, ela estendeu os braços. Ela


não tinha voz para responder a ele.

Quando ele se endireitou e entrou no quarto, ela não podia acreditar


no que estava fazendo—e era a coisa mais natural do mundo também. Ela
nunca teve um macho nesta cama, em qualquer cama, mas não houve
outra resposta exceto sim.

Antes de Sahvage se juntar a ela, ele colocou as mãos na frente dos


quadris e, quando ela corou e teve que engolir em seco, ele simplesmente
removeu o coldre da arma e colocou-o perto.

O colchão inteiro se inclinou quando ele se sentou na beirada, e ela se


moveu para se certificar de que ele tinha espaço suficiente. Mas quando

736
ele se espreguiçou, ela de repente não estava pensando no espaço. Ela
estava pensando em proximidade.

Dele e dela.

Antes que ela pensasse muito sobre qualquer coisa, ela se enrolou nele,
e o braço pesado dele empurrou seu pescoço. Quando ela sibilou, ele
congelou.

— Não, está tudo bem, —ela murmurou. — Só estou com um galo na


cabeça.

— Do acidente de carro?

Quando ela se acomodou, ela disse com exaustão: — Eu não sei. Pode
ter sido. Não me lembro muito.

— Como isso aconteceu? —Ele perguntou bem ao lado do ouvido


dela.

— O acidente? —Mae se lembrou do relatório no rádio que estava


ouvindo. — Eu me distraí e pisei no freio. Bateram na traseira—oh, Deus,
ela matou aquele homem bom. Que iria ligar para o nove-um-um para
mim.

Enquanto ela gemia, ele segurou uma das mãos dela.

— Tente não pensar nisso.

737
— Eu estava com tanto medo, —ela disse enquanto se aprofundava
em suas memórias. — Naquele lugar. Ela tinha uma gaiola—eu estava
dentro ... de uma gaiola.

— Mae ... —Agora ele parecia estar com dor.

Ela ergueu a cabeça e olhou nos olhos azuis escuros dele.

— Como você sabia onde me encontrar?

— Um dos Irmãos sabia onde a morena estava.

— Você ligou para eles pedindo ajuda?

— Eles me encontraram no final das contas. —As sobrancelhas dele


baixaram. — Nós fomos lá, naquele prédio no centro—e não consigo
explicar. Eu podia sentir seu cheiro no espaço, mas não podia te ver. Eu
andei de um lado para o outro. Juro que estava vazio e eu fui embora ...
mas então, de repente, houve um barulho estridente. E quando voltei, a
porta se transformou em uma janela, em algo que não estava lá no, tipo,
sentido normal.

Enquanto ele praguejava baixinho, ela colocou o braço sobre a caixa


torácica dele—que era tão larga que ela sentiu como se estivesse tentando
abraçar um sofá.

738
— E se eu não tivesse ouvido aquele som, sabe? —Ele murmurou. —
Quero cagar nas minhas calças toda vez que penso nisso.

— Eu convoquei você. —Quando ambas as sobrancelhas dele se


arquearam de surpresa, ela assentiu. — Eu usei o mesmo feitiço que usei
no Livro. Pelo menos o que foi para você funcionou.

— Então foi assim ... puta merda.

Houve um período de silêncio. E então Sahvage rolou em sua


direção.

— Você sabe, ela vai embora se você der o que ela quer.

— Sinto muito, você quer dizer—a morena? —Quando ele acenou


com a cabeça, Mae se sentou. — Como você sabe disso?

— É da natureza de quem cobiça. Eles adquirem. Você viu todas


aquelas roupas.

Mae afastou o cabelo do rosto. — Você está dizendo que eu deveria


usar o Livro para Rhoger e depois apenas dá-lo a ela?

— Não, estou dizendo que para salvar sua própria vida, você deve
apenas deixá-la ficar com ele. —Quando ela não respondeu, Sahvage
também se sentou. — Mae, pense em onde você esteve. Pense no que você
acabou de sobreviver—por um golpe de sorte.

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Entre uma piscada e a próxima, ela reviveu ao acordar naquela gaiola.
O pânico de estar presa. A sensação de ser pressionada contra aquela
parede pelo poder invisível da demônio.

Ela estava tão apavorada. Tão fora de controle.

Exatamente como ela se sentiu com a morte de seus pais. Com a


morte de Rhoger.

— Não foi um golpe de sorte, —ela murmurou. — Eu chamei você


para mim. Além disso, eu não tenho o Livro, tenho.

— Mae ...

— Não.

Ela nem estava ciente de ter falado até que Sahvage disse:

— Não, o quê?

Enquanto Mae se lembrava de ter se sentido presa e assustada, ela


balançou a cabeça na escuridão. Então ela se virou para ele.

— Eu não vou deixá-la vencer. Ela nunca vai conseguir aquele maldito
Livro.

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No centro da cidade, no nível do porão do antigo prédio de escritórios,
Devina andou pelo corredor até seu covil, seus sapatos de salto alto saindo
do concreto. Ela poderia apenas ter se projetado para casa, mas não tinha
vontade. Ela simplesmente não sentia isso, porra.

O fato de estar tão furiosa que a concentração era impossível era uma
realidade que ela se recusava a reconhecer. Ela estava bem.

Ela estava bem pra caralho ...

O cheiro foi registrado a cerca de nove, dez metros de seu destino, mas
ela estava tão preocupada que não foi até quando ela chegou à sua porta
que ela percebeu que algo estava pegando fogo em algum lugar perto. E
então, quando ela entrou em casa, havia fumaça no ar. Olhando ao redor,
ela viu que a porra da fêmea vampira estúpida tinha sumido ...

Devina gritou. — Não, não, nãonãonãonãonão!

Caindo de joelhos, houve um som de estalo quando ela atingiu o chão


polido, mas ela não se importou com a dor. Com as mãos trêmulas, ela
estendeu a mão e embalou com ternura a inocente que tinha sido
massacrada.

Sua Birkin quase inestimável.

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Sua Himalayan Niloticus 35 com o feche de diamante.

Algum lunático absoluto havia queimado o canto da bolsa,


arruinando a pele de crocodilo, sua delicada coloração e padrão de
escamas brancas, amareladas, cinza e pretas invadidas por um câncer de
oxidação de uma chama.

Arruinada. Os melhores esforços da Hermès no valor de quatrocentos


mil dólares, horas de trabalho de um artesão mestre, a bolsa mais rara e
mais cara do mundo ... arruinada.

Caindo de bunda, um de seus tornozelos dobrou em um ângulo ruim,


mas ela não se importou.

Embalando a carcaça profanada contra o peito, ela olhou através de


sua coleção com os olhos lacrimejantes. A bagunça emaranhada da gaiola
do cachorro no canto mais distante parecia uma repreensão de tanto, então
ela desejou isso, desaparecendo o maldito símbolo de seu fodido fracasso.

Que noite.

Tudo deu errado.

E esse era o problema da vida dela. Quando as coisas iam mal, você
queria dividir o pesadelo com alguém que se importasse. Alguém que

742
pudesse conversar sobre tudo com você, resolver os problemas, ajudar a
formular um novo plano, uma abordagem diferente.

A melhor maneira de chegar ao seu objetivo.

Em vez disso, ela estava aqui, cercada por coisas bonitas que não
podiam oferecer nenhum conselho ou apoio real.

Fechando os olhos, ela se lembrou de que sua terapeuta, aquele saco


de papel flácido de mulher, havia lhe dito que não havia problema em ficar
chateada. Ficar desapontada. Ela só precisava sentir seus sentimentos—e
saber que, por mais fortes que fossem, por mais insuportáveis que
parecessem, eles iriam desaparecer. As emoções nunca eram permanentes.

Exceto que não, uma delas era.

Apesar de ódio e raiva, felicidade e gratidão, ciúme, otimismo,


paranoia, todos os outros estavam sujeitos a altos e baixos ... o amor era
uma constante.

O verdadeiro amor era imortal.

E quando você era um demônio, quando não havia rampa de saída


para sua existência, você valorizava coisas que poderiam acompanhar seu
calendário eterno de noites e dias.

O infinito era menos divertido do que as pessoas pensavam.

743
Inundada pela tristeza, Devina reorganizou as pernas, estendendo-as
e colocando a vítima Birkin em suas coxas. Passando a ponta dos dedos
pela textura fosca, ela se lembrou de comprá-la na nave-mãe. Rue du
Faubourg Saint-Honoré, 24, em Paris. Ela tinha seu SA favorito lá, e depois
de anos apoiando a marca, e tantos Kellys e Birkins comprados e pagos,
ela finalmente foi convidada a comprar o Santo Graal.

E ela tinha feito isso da maneira certa. Não no mercado secundário,


mas depois de escalar a montanha e ganhar esse convite.

Quatrocentos mil era o que ela poderia conseguir se a vendesse. Mas


não tinha custado muito a ela. Quando você era recebida naquele grupo
sagrado que os recebeu legitimamente? Você não pagou nem perto do
prêmio de revendedor.

Mas agora, este símbolo de tudo que ela havia conquistado, de tudo o
que ela era, tinha sido violado. Devina estreitou os olhos para onde a
gaiola do cachorro quebrada estava.

A vingança seria uma cadela.

A diferença entre os dois modelos é singela. Enquanto a Kelly tem uma alça de mão e outra longa de ombro,
a Birkin tem duas alças de mão. A Kelly também é um pouco menor em profundidade e a Birkin é considerada mais casual, flexível e despojada.
Contudo, as duas possuem o mesmo status de ícones da moda mundial.

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Uma vermelha e quente ... cadela.

Do lado de fora da mansão da Irmandade, Balz acendeu outro cigarro


enrolado a mão de Vishous e se recostou na fonte ainda invernal. V tinha
começado a fornecer os cigarros de graça, não um pequeno presente,
considerando que não só era o ingrediente principal, o tabaco turco muito
bom, como era preciso muita habilidade motora para enrolá-los direito.
Muito tempo também.

Foi apenas uma das muitas bênçãos que choveram na cabeça de um


ladrão desde que ele veio aqui com os outros bastardos.

E ele pagou a casa como?

Fechando os olhos, ele baixou a cabeça e exalou. Ele trouxe aquele


demônio para eles. Oh Deus ... ele trouxe o mal para o meio deles.

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Como isso começou? Quando aconteceu a infiltração? Ele não tinha
certeza. Talvez tenha sido aquela eletrocussão, embora por que isso tenha
criado uma abertura em sua alma, ele não tinha certeza. Sim, ele havia
morrido ... mas muitas pessoas que ele conhecia apertaram a mão do
Grande Ceifador e não trouxeram de volta um prêmio da porta do inferno.

Tipo, literalmente do Inferno.

À medida que sua ansiedade aumentava, ele fumava mais rápido,


exalando por cima do ombro, embora ninguém estivesse por perto para
fumar passivo. Ele tinha sido tratado com nada além de respeito pela
Irmandade e sua comunidade. Até, ousava dizer isso, amor.

No entanto, era da natureza dos ladrões roubar.

E, aparentemente, ele era tão bom no crime que nem sabia mais disso.
Porque certo como a merda, ele roubou a segurança daquelas pessoas
maravilhosas dentro desta grande e velha mansão, e aquela fraude iria
levar a um furto ainda maior e mais terrível.

De alguma forma, isso iria matar todos eles.

E tudo ia ser culpa dele ...

— Deixe pra lá.

746
Com um grito, Balz derrapou. — O que? Oh, merda, Lass, que porra
é essa. Aproximando-se de um cara assim.

Em uma noite como esta, acrescentou para si mesmo.

Lassiter avançou das sombras, seu cabelo loiro e preto captando os


raios de lua que caíam do céu frio acima. Ou talvez fosse apenas o anjo
caído brilhando como uma luz noturna.

— Deixe pra lá.

Balz franziu a testa. Os lábios do macho não se moviam.

Deixe pra lá.

— Que diabos está errado com você? —Balz bateu no enrolado à mão.
— Agora não é hora para algumas besteiras de Frozen, ok? Eu não estou
no clima ...

Nos degraus de pedra, figuras apareceram da escuridão, os Irmãos e


os outros bastardos voltando de onde quer que estivessem, suas costas
fortes para ele enquanto encaravam sua casa.

— Porra, finalmente, —murmurou Balz.

Seu impulso foi apertar a bituca, mas ele lambeu o polegar e o apagou.
E quando ele começou a ir em direção aos outros lutadores, ele tentou

747
descobrir em que bolso colocar os restos mortais—e decidiu que não
queria estragar seu couro. Então ele engoliu a maldita coisa.

Ele estava mastigando a bituca—e fazendo uma careta para o gosto


almiscarado e queimado enquanto se perguntava por que, supondo que
era biodegradável o suficiente para injetar em seu trato digestivo, ele não
tinha apenas jogado no chão e deixado a natureza seguir seu curso—
quando ele chegou até a Irmandade.

Todos estavam conversando ao mesmo tempo.

— ... trabalhando conosco.

— Eu não posso acreditar que ele está realmente vivo ...

— ... o inferno que ele tem estado todos esses anos?

— Eu sei onde o Livro está.

Enquanto Balz dizia as palavras, a reviravolta na escada foi como se


Bob Fosse , que poderia muito bem ter sido coreografado: cada lutador
de repente estava olhando para ele, e enquanto ele engolia o chiclete de
papel com sabor de tabaco, ele rezou para não estar piorando tudo.

Robert ‘Bob’ Louis Fosse (Chicago, 23 de Junho de 1927 – Washington, 23 de Setembro de 1987) foi um
dançarino, coreógrafo e diretor norte-americano.

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E não com o que ele acabou de colocar em seu intestino.

Olhando para trás para conseguir um pouco mais de “aí garoto” de


Lassiter ...

Ele franziu a testa. O anjo não estava lá.

Tanto faz.

— Eu sei onde o Livro está, —ele repetiu para todos eles.

Tohr balançou a cabeça. E desceu as escadas.

— É por isso que você disse a Fritz para fechar a casa?

— Sim—e ... —Balz respirou fundo—e tossiu um pedaço de tabaco


aleatório do esôfago. — Não posso mais morar aqui. Estou infectado com
...

Mais à esquerda, Butch se inclinou como se Balz não estivesse falando


alto o suficiente.

— Você está doente? —Tohr perguntou enquanto o vento soprava do


norte.

Merda, e se o que ele estava dizendo não fosse traduzido de novo?

Balz olhou ao redor, e ali, no final da linha ...

749
— Rehv. Você pode ler minha grade, certo? Eu quero que você diga a
eles o que você vê. Eu mesmo diria a eles ... mas estou preocupado que ela
não me deixe.

Enquanto o Reverendo contornava os outros, os olhos ametistas do


symphath se estreitaram. — Quem é ela?

— Basta dizer a eles o que você vê.

Houve um longo momento, aquele vento estranho girando ao redor


como se estivesse procurando um caminho através das roupas para
direcionar a pele. Ou talvez fosse isso que Balz estava sentindo quando o
symphath entrou em sua paisagem emocional.

— Ele tem ... —Rehv parecia procurar palavras. — Tem alguma coisa
errada. Sua grade tem um padrão de bloqueio.

Xcor desceu os degraus e ficou ao lado de Balz.

— Seja o que for, nós estamos com você. Devemos consertar o que
está errado.

— Eu sou perigoso, —disse Balz asperamente. — Eu não sei como


aconteceu, mas não posso mais ficar aqui.

— Então, encontraremos um lugar seguro para você. —Xcor agarrou


os ombros de Balz. — Nós não abandonamos nossa família.

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— Isso mesmo, —alguém disse.

— Foda-se, sim.

— Nós temos você.

A próxima coisa que Balz percebeu, todos os corpos que estavam na


grande entrada da mansão estavam caídos ao seu redor. E o calor que ele
sentia era muito mais do que o vento frio sendo bloqueado.

Quando o braço pesado de Xcor alcançou seus ombros, Balz limpou


seu rosto. Não que ele estivesse chorando. Ele era um bastião frio de pedra
do cara durão aqui. Pedra. Frio.

— Conte-nos sobre o Livro, —disse Tohr. — Nós precisamos saber.

Ele tossiu um pouco para se recompor.

— Eu, ah, eu fui fazer um pouco do meu movimento lateral. Apenas


minha coisa normal. Eu estava andando pelo lugar depois que eu ... —Fiz
alguma confusão com aquela esposa. — De qualquer forma, foi quando
eu vi. Um livro que chamou minha atenção de maneiras que eu não
conseguia—ainda não consigo—entender. É antigo e cheira mal, e é como
se estivesse vivo. Eu não sabia exatamente o que era na primeira vez que
o vi, mas quando Syphon me contou sobre o que vocês estavam
procurando, tive que voltar e ver se talvez ... não há dúvida. É o Livro. Eu

751
sei disso em minha alma. E eu tentei pegá-lo hoje à noite, mas está
protegido pela morena que Butch viu. A mulher que é o novo mal.

O fato de ele não saber se suas palavras estavam sendo ouvidas como
ele pretendia era assustador.

— Sahvage, —Tohr pronunciou. — Precisamos do Sahvage.


Qualquer merda de proteção metafísica está acontecendo, ele vai lidar
com isso. E ele concordou em ajudar.

Balz olhou em volta para os rostos que eram tão abertos, tão
confiantes. Para um ladrão e um mentiroso encontrar esse tipo de amor?
Bem, em qualquer um que não fosse um cara durão e frio como pedra, isso
teria deixado uma pessoa de joelhos.

— Preciso de um cigarro, —murmurou Balz.

A mão enluvada de V empurrou um enrolado a mão. — Eu também,


—disse o Irmão.

Enquanto eles acendiam juntos, Balz olhou para frente da mansão


fechada com grades e pensou na morena.

— Sahvage e eu vamos sozinhos. Eu não quero reforços. Se as coisas


vão ficar ruins, me perder não vai importar.

— Isso não é verdade, —Xcor interrompeu.

752
Syn, o outro primo de Balz, e Zypher, seu companheiro bastardo,
falaram também isso.

Mas tudo o que ele pôde fazer foi balançar a cabeça. — É verdade. E
o que está protegendo isso é ... não podemos nos arriscar com aquela
demônio. Confiem em mim. —Ele encontrou todos os pares de olhos, um
por um. — Se Sahvage e eu não conseguirmos pegar o livro e trazê-lo de
volta, não é possível.

Xcor falou. — Mas como vamos curar você?

Rehv respondeu antes que Balz pudesse.

— O Livro. Usamos o Livro para deixá-lo limpo.

— É o que estou pensando também —Balz disse em uma expiração


enquanto voltava a olhar para a mansão. — Ou pelo menos ... isso é o que
eu espero.

753
Deitado no escuro, segurando Mae em seus braços, Sahvage estava tão
calmo quanto antes de uma luta sem luvas : Ele estava consciente como a
ponta de uma faca, olhos movendo-se incessantemente pelos contornos
sombreados da sala, ouvidos preparados para qualquer som, sentidos
alcançando longe. Enquanto isso ao lado dele, sua fêmea ...

Não. Ela não era dele.

Esta fêmea, ele emendou, estava segura. Por enquanto.

— Sahvage?

— Sim? —Ele esperava que ela quisesse algo para comer para que ele
pudesse fazer algo. — Você está com fome? Posso pegar um pouco de
comida para você?

Bareknuckle fight em inglês - Boxe com as mãos nuas era a forma primitiva de esporte de combate que deu origem ao boxe
inglês moderno. Envolve dois indivíduos que lutam sem luvas de boxe ou outros materiais nas mãos.

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— Eu sinto como se devesse me desculpar. —Ela se apoiou no peito
dele. — Eu sinto como ... eu gostaria de poder me conter. Mas eu não
consigo. Espero que você possa entender isso, especialmente porque você
sabe como é a perda.

Sem pensar, ele afastou uma mecha do cabelo dela para trás. Então
tocou seu rosto. Quando ela prendeu a respiração, ele não aprovou para
onde sua mente foi.

— Sim, eu sei.

— Estou tão grata por você ainda estar aqui. Ainda comigo.

— Eu não vou embora até que isso acabe. Para melhor ou para pior.

O fantasma de um sorriso apareceu no rosto dela. — Isso é uma coisa


humana.

— O que?

— Para melhor ou para pior. É o que eles dizem quando estão se


casando para o resto da vida. —Ela desviou o olhar. — De qualquer
forma, estou grata por você estar aqui.

— A lealdade é praticamente minha única virtude. —Sua voz tornou-


se irônica. — E, mesmo assim, consegui transformar isso em pecado.

755
Eles se olharam nos olhos. E então ela disse:

— Quando eu estava presa naquele lugar ... Eu estava tão brava. Eu


me senti totalmente enganada. Eu havia tentado fazer tantas coisas certas
ao longo da minha vida, mas lá estava eu. Eu sabia que assim que a
morena voltasse, ela iria me matar—e eu iria perder tudo—o que é muito,
considerando que eu moro com um macho morto e trabalho em casa.

Sahvage pensou no deserto de sua vida.

— Pelo menos você sabe que tem um fim.

— O Fade de novo, —disse ela com resignação. — Você realmente


precisa deixar isso pra lá.

— Então esse conselho é uma via de mão única para você, hein. Você
espera que os outros deixem cair a merda, mas você não precisa.

— Sim. —Ela se sentou. — Mais ou menos como você se recusando


a respeitar limites. Não importa quantas vezes seja mandado você se
afastar.

De repente, ela olhou para a porta como se em sua mente ela estivesse
passando por ela. E então ela deixou sua cabeça cair para trás e começou
a murmurar maldições em direção ao teto do quarto.

756
— Se você vai gritar comigo, —observou Sahvage, — é melhor me
deixar entrar no festival do amor. Parece justo—e ei, sempre posso usar
dicas sobre como usar corretamente a palavra “idiota”.

Ela lançou um olhar para ele. — Na verdade, estou gritando comigo


mesma.

— Por quê?

— Porque eu não posso acreditar que você era uma das coisas de que
eu estava com raiva.

— Oh, vamos lá. —Ele riu alto. — Isso não é nenhuma novidade.
Você está chateada comigo desde que me conheceu. O que é muito mau,
considerando que você me distraiu naquela luta ...

— Não fale sobre essa coisa toda do corte novamente.

— Corte? —Ele também se sentou, então eles ficaram no mesmo


nível. — Você está chamando aquele sangramento arterial de corte? Só por
curiosidade, o que você considera um ferimento? Evisceração total?

— Você viveu!

— Eu sempre vivo, —disse ele asperamente.

— Certo, porque você é tão durão.

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— Não era isso que você ia colocar no meu crachá?

— Na verdade, “fodão” era o que eu estava pensando. E isso só


porque “idiota” já foi usado.

Sahvage começou a sorrir. Ele não podia evitar. — Eu fico sob sua
pele, não é.

— Não. —Ela cruzou os braços sobre o peito e olhou para ele. — De


jeito nenhum.

— Okay. Eu acredito em você. —Ele colocou as palmas das mãos


para fora. — Honestamente. Estou apenas curioso, no entanto ... Por que
em particular você estava tão zangada comigo? Quer dizer, não pode ser
minha personalidade encantadora.

Quando ela se virou para encará-lo, houve uma pausa—e de repente,


o ar na sala mudou. E mesmo que estivesse escuro, ele poderia dizer que
os olhos dela caíram para sua boca, e apesar dos ferimentos dela, seu
cheiro se espalhou. Aprofundando.

— Vamos, diga-me, —murmurou Sahvage. — Você sabe o quanto


gosta de listar meus defeitos. Existem tantos deles em seu livro.

Quando ela ainda não desviou o olhar, mesmo depois que ele a
provocou ... foi então que seu sangue começou a engrossar.

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— Quando eu estava presa naquele lugar, eu estava com raiva ... —A
voz dela falhou. — Eu estava com raiva porque nunca ia saber o que era
isso.

— O que é isso?

Houve um longo silêncio. Então ela disse: — Você acha que vamos
sobreviver a isso?

Ao contrário do "isso", ele não queria que ela lutasse para definir o
"isso". Não havia razão para ela dizer em voz alta que eles estavam
enfrentando aquela morena, procurando por um Livro que era um
catálogo de magia negra, e tentando ressuscitar os mortos.

Sim, porque o que poderia possivelmente dar errado com toda essa
merda.

— Eu posso prometer, —disse ele, — que farei tudo ao meu alcance


para tirá-la dessa com vida.

Como se eles estivessem em uma briga de cães.

Como eles não estavam?

— Será que algum dia encontrarei o Livro?

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— Eu não sei. —Ele balançou sua cabeça. — Mas se aquele feitiço de
convocação funcionou para me trazer até você ... Eu aposto que vai
funcionar para trazer o Livro. Só está levando algum tempo para organizar
as transferências.

E quando caísse em seu colo, ele salvaria a vida dela ao ...

— Eu estava com raiva porque me senti enganada, —ela sussurrou.


— Se eu não ...

Agora era ele quem olhava para a boca dela. E porra, havia tantos
motivos para não seguir a estrada que estava aparecendo diante deles,
mais uma vez. Mas ...

— Diga, —ele comandou.

— Se eu não soubesse como você era.

Em uma onda de calor sexual, Sahvage estendeu a mão e tocou o


rosto dela novamente, deixando as pontas dos dedos deslizarem ao longo
de sua mandíbula e, em seguida, viajarem até o pulso trêmulo ao lado de
sua garganta.

— Você quer dizer, como um companheiro de jantar? —Ele disse. —


Ou você estava pensando em algo mais ... engajado? Como xadrez.

Mae soltou uma risada.

760
— A sério.

— Parcheesi ? —Ele se inclinou para frente e deu um beijo na


bochecha dela. — Eu já sei que o Monopoly faz você dormir. —Mae se
inclinou para ele, e ele sentiu a mão dela em seu ombro—mas não
para afastá-lo. Ela se agarrou a ele.

— Eu só quero estar com você. —Bem quando ele ia dizer algo, ela
colocou o dedo nos lábios dele para silenciá-lo. — Eu sei que não muda
nada. Eu sei que você vai embora quando tudo isso acabar. Mas continuo
pensando ... aqui eu estou, determinada a trazer meu irmão de volta—mas
que tipo de vida estou levando? Tudo o que faço é trabalhar e me
preocupar. E as duas pessoas que me fizeram jurar nunca ter relações
sexuais antes de estar acasalada se foram há quantos anos? Três? O que
exatamente estou esperando? Quando é que a próxima gaiola de cachorro
virá atrás de mim—e o que vou ficar com a raiva por não ter feito então?

— Eu preciso que você saiba de uma coisa, —ele disse em uma voz
áspera.

Mae baixou o braço bruscamente. E ele o colocou de volta onde


estava.

Parcheesi é uma adaptação americana de marca do jogo de tabuleiro indiano com cruz e círculo Pachisi, publicado pela Parker
Brothers e Winning Moves Games USA.

761
— Se eu pudesse ser diferente, eu seria—por você, —ele disse a ela.
— E no futuro, se você algum dia duvidar do quão importante você é,
apenas pense em mim. Eu prometo que estarei em algum lugar do planeta
... pensando em como você é especial e desejando que as coisas fossem
diferentes.

— Você tem tudo isso ao contrário. —Ela colocou a mão sobre a dele.
— Você vai me esquecer e eu vou sentir sua falta.

Bem quando ele ia falar, ela balançou a cabeça.

— Tudo bem. Eu sou esquecível.

— Não diga isso ...

— Eu sou uma entre mil fêmeas civis, fora de sua transição, mas não
no declínio da velhice, morando em uma casa simples, trabalhando em
um emprego regular. Eu me preocupo com qual dia é o dia do lixo e se já
reciclei o suficiente. Eu fico confusa na minha própria cabeça na frente dos
vegetais no Hannaford quando não consigo descobrir o que comer. Meu
carro tem dez anos—bem, tinha dez anos. Eu ronco de bruços, tenho
pesadelos se estou muito cansada e sinto falta da sensação do sol no meu
rosto, embora já se tenham passado décadas desde que eu pudesse sair ao
meio-dia. —Ela riu com pressa. — Até mesmo a demônio disse que eu
não sou feia, mas dificilmente valeria a pena atravessar a rua por ...

762
Sahvage a beijou. Porque ele queria. Porque ele odiava o que ela
estava dizendo sobre si mesma. Porque ela não entendia. Mesmo que
todas aquelas estatísticas vitais supostamente médias fossem verdadeiras,
ela ainda era inesquecível.

Para ele.

Quando se tratava de ser uma lenda, bastava uma pessoa reconhecer


que você era épico. Era isso.

Enquanto a boca de Sahvage se movia sobre a de Mae com uma demanda


gentil, ela sabia que o tinha irritado com sua verificação da realidade—
exceto que ela estava certa sobre tudo isso.

Não havia razão para discutir, no entanto. Não enquanto ele estava
...

Quando a língua dele lambeu dentro dela, ela colocou os braços em


volta dos ombros dele, pronta para muito mais. Mesmo assim, ele recuou,
suas bocas se abrindo com um som suave.

— Mae ...

763
Ela revirou os olhos.

— Oh, por favor. Poupe-me do eu-sei-o-melhor, especialmente quando


se trata de eu perder minha v ...

— Vou fazer isso bom para você, —ele sussurrou. — Eu prometo. Isso
é tudo.

Quando ele a beijou novamente, a porta de seu quarto se fechou por


vontade própria, desejada por ele, não por ela. E quando seus olhos se
ajustaram, ela sentiu como se pudesse sentir o calor no olhar dele, embora
ela não pudesse realmente vê-lo. Então, novamente, tudo parecia quente.

E ela pensou que sentira falta do sol? Sahvage o trouxera, não


colocando-o sobre sua cabeça, mas colocando-o em suas veias.

Mae foi quem se deitou, e ele veio com ela, mantendo os lábios deles
juntos. Exceto que tudo o que ele fez foi continuar a beijá-la, ela mais uma
vez ficando impaciente. Então ela pegou uma das mãos dele e a moveu
para seu seio ...

Com um gemido, ela se arqueou para ele, e ele fez exatamente o que
ela esperava que fizesse. Ele a acariciou através das roupas, patinando
sobre suas costelas, descendo até o quadril, voltando para onde ela era tão
sensível. Ele fez essa rota uma e outra vez, acalmando-a, acariciando-a.

764
No momento em que ela se perguntava se teria que tirar a própria
roupa, ele enfiou a mão por baixo do casaco de lã dela, por baixo da gola
olímpica. Quando ele fez contato com sua pele, ela gemeu novamente. A
mão dele era tão larga, tão forte, tão calejada. Uma mão muito masculina.

A única mão masculina a tocá-la assim.

Lentamente, ele se moveu para cima, e quando ele pegou seu sutiã,
ele parou. Seu polegar foi para frente e para trás algumas vezes ... e então
ele estava sob o bojo de algodão sensível, empurrando-o para cima.

— Sahvage, —ela engasgou.

A pele dela estava hipersensível e ele sabia onde esfregar, o que


acariciar, quando beliscar. Seus mamilos tensos, as pontas duras
formigando por mais do que ele estava dando a ela, e todo o seu corpo
ficou sem ossos.

— Por favor ...

— Por favor, o que, —disse ele em sua boca. — O que você quer?

— Mais.

E foi assim que ela ficou seminua. Com uma mudança rápida e uma
subida e descida, suas camadas superiores foram retiradas ...

Foi ele quem gemeu agora.

765
— Você é tão bonita.

Mae olhou para si mesma. Seu sutiã estava fechado, um bojo


abaixado, o outro estourado, fazendo o seio estufar, o mamilo muito
proeminente.

O fecho frontal estalou sob a ponta dos dedos dele e, em seguida, a


constrição desapareceu completamente. As pontas rosadas de seus seios
estavam tão apertadas, tão altas, e antes que ela pudesse ficar com
vergonha de olhar para si mesma, Sahvage estava beijando seu pescoço.
Sua clavícula. Seu esterno.

Lançando as mãos no cabelo dele, ela encontrou seus quadris rolando,


suas pernas serrando, seu sexo faminto por ele.

Quando ele a capturou com sua boca, chupando, lambendo, beijando,


ele mudou a forma que ele estava deitado entre suas pernas. Perfeito. Ela
usou seu corpo para trabalhar, a pressão dele, o peso, o tamanho, fazendo-
a ofegar enquanto esfregava seu núcleo contra os contornos deles.

Era tão perfeito.

E se o momento real em que eles se unissem fosse algo assim?

Não admira que as pessoas façam coisas malucas por um bom sexo ...

Abruptamente, ele ergueu a cabeça e amaldiçoou.

766
— Você está me matando, Mae ...

— Como? O que estou fazendo de errado ...

— Você está fazendo tudo certo demais.

— Não pare.

Então ele não parou.

E quando ele se levantou de seus seios nus, e suas mãos foram para a
cintura dela, ela correu para ajudá-lo, embora ele soubesse o que estava
fazendo. Os puxões e avanços enquanto ele desabotoava o botão da calça
jeans e abria o zíper moveu as coisas em uma direção muito boa, e então
ele estava puxando as pernas da calça para baixo, tirando-as de suas coxas.

Ele levou sua calcinha com elas enquanto a puxava.

Mae não tinha timidez. Nem medo. Nem constrangimento. Tudo que
ela conhecia era o cheiro dele. E então o delicioso peso de seu corpo
voltando para ela. E, finalmente, uma antecipação ardente que a fez sentir
como se estivesse pegando fogo.

— Também quero tocar em você, —disse Mae enquanto ele a beijava


novamente.

Fale sobre uma resposta instantânea.

767
Sahvage arrancou a camisa tão rápido que se ouviu um som de rasgo,
como se algo tivesse se rasgado—e ele não parou para verificar o que era.
Ele jogou a coisa de lado como se fosse totalmente descartável e voltou a
beijar sua boca, beijar sua garganta, beijar seus seios.

— Eu machuquei ...

No instante em que a palavra saiu da boca dela, ele se ergueu.

— Oh, Deus, me desculpe ...

— Não, não ... —Ela estava resmungando. — Não assim.

Ele cedeu de alívio. Então a voz dele ficou muito, muito baixa.

— Onde dói, Mae.

Ela ronronou e se esfregou contra ele.

— Aqui ...

— Aqui onde? —Ele beijou o ombro dele. — Não? Que tal aqui? —
Ele beijou suas costelas. — Não ... Hmm ... que tal aqui.

Ele beijou seu umbigo. Em seguida, passou a língua em torno dele.

Os joelhos de Mae se abriram. Mesmo que para onde ele estava indo
fosse chocante, ela estava tão desesperada por algo, qualquer coisa, para
aliviar o calor e o esforço e ...

768
— Ainda não é o lugar certo?

Os olhos de Mae se ajustaram à escuridão, então quando ela ergueu a


cabeça, ela olhou para baixo para encontrar Sahvage olhando para ela,
seus ombros enormes bloqueando o quadrado de luz ao redor da porta,
seu corpo enorme cobrindo-a.

Como se ela fosse sua presa.

E isso estava bom para ela. Ela estava mais do que pronta para ser
comida.

769
Mae podia não ter feito sexo antes, mas era Sahvage quem não estava
preparado para o que estava acontecendo. Ele nunca esperou ser tão
afetado por ... sua pele, seus cheiros, seu erotismo inocente enquanto ela
se esfregava contra qualquer parte dele que entrasse em contato com
seu sexo gloriosamente nu e excitado.

Ele não pretendia levar as coisas nessa direção.

Mas aqui estavam eles—com ele prestes a colocar a boca em ...

— Sahvage, —ela gemeu.

Jogando a cabeça para trás nos travesseiros, Mae se arqueou


novamente e então ondulou, seus seios atingindo o pico, aqueles mamilos
apertados o tipo de coisa que ele não podia deixar de tocar.

Estendendo a mão, ele beliscou um e, em seguida, rolou o outro e para


trás entre o polegar eo indicador, rolando ... rolando ... rolando.

770
E então ele baixou a cabeça e roçou a parte inferior do abdômen dela
com os lábios.

— Aqui? Mae ... dói aqui?

Em uma voz áspera, ela disse: — Mais abaixo.

Porra, ele pensou enquanto ia para o quadril dela. Passando sua boca
no cume gracioso de sua pélvis, então ele deslizou sua parte inferior do
corpo completamente para fora da extremidade da cama. Quando seus
joelhos bateram no carpete, ele a puxou para ele pela parte de trás dos
joelhos, suas coxas bem abertas, seu sexo brilhando na luz fraca.

Sahvage lambeu os lábios em antecipação.

— Eu preciso provar você, —ele se ouviu dizer.

Enquanto ela gemia seu nome, ele começou do lado de fora de uma
de suas pernas, apenas no caso de ela ter dúvidas.

Ela não tinha. Ela disse o nome dele novamente ... com aquela voz
áspera e ofegante que quase o fez gozar.

Movendo-se, beijando seu caminho através do topo de sua coxa até o


interior dela, seguindo a dobra onde a coxa encontrava seu corpo, onde se
conectava a ela ...

771
Ele pretendia ficar naquela pele macia, no precipício de seu belo sexo,
mas a pélvis dela mexeu sem aviso ...

E de repente seus lábios estavam nela, e todo o seu planejamento de


ser gentil, ir devagar, ir com calma, foi direto pela porra da janela. Ele a
sugou—e no instante em que seu gosto foi registrado, seu cérebro entrou
em curto-circuito.

Quando Mae gritou seu nome e agarrou seu cabelo com força, ele se
desequilibrou completamente. Travando as mãos na parte de trás das
coxas dela, ele a abriu ainda mais enquanto a agradava com sua boca e
sua língua—lambendo e chupando até que soube que ela estava chegando
perto.

Com uma onda repentina, Mae se moveu contra seu rosto e ...

Exatamente como ele pretendia, ela gritou e ficou rígida, exceto por
sua respiração ofegante. E então ela estremeceu uma e outra vez, seu
corpo se liberando enquanto ele a lambia para mantê-la em movimento ...
enquanto tudo o que ele queria era estar dentro dela, sentindo suas
contrações até o orgasmo também.

Exceto que ele não faria isso.

772
Ela merecia muito mais do que ele pela primeira vez, e ele não iria
roubá-la da alegria e da comunhão que viria quando ela se entregasse por
amor em vez de desespero. Ele simplesmente não podia fazer isso com ela.

As boas notícias? Havia muitas outras coisas que eles podiam fazer
juntos.

Quando Mae finalmente ficou mole, seus braços caindo sobre o


edredom, sua cabeça fazendo o mesmo, ela estava respirando com
dificuldade, seus seios bombeando para cima e para baixo, suas costelas
se expandindo e contraindo. Sahvage sorriu e começou a planejar sua
próxima posição. Como ela de quatro na frente dele, sua mão
empurrando-se em todo o seu sexo para que ele pudesse lambê-la e limpá-
la ...

Ao longe, na sala de estar, um telefone começou a tocar.

Mas como se ele a estivesse deixando, em qualquer circunstância?

— Sahvage? —Ela perguntou em um murmúrio.

— Você é incrível, —ele murmurou enquanto acariciava as coxas


dela.

— O que ... O que você vai fazer agora? E quanto ... e quanto a você?

773
Endireitando os joelhos, ele foi para a sua cintura. Enquanto se
desfazia de suas calças de combates, ele percebeu que seu pau estava tão
duro, tão faminto, que ele teve que cerrar os dentes e exercer algum
autocontrole—ou arriscaria gozar sobre ela.

O que ele estava prestes a fazer. Ele só queria estar nu quando o


fizesse—e ela estava tão relaxada que ele decidiu que não a faria ficar de
joelhos. Ele gostou bastante desta vista, os seios dela tensos e esticados,
sua barriga tão lisa, seu sexo ...

— Você está bem? —Ele perguntou a ela. Como se a penetração que


estava acontecendo em sua mente estivesse realmente acontecendo agora.

— Eu estou ... oh, Deus, sim ... —ela disse ao ver sua ereção.

Com as mãos que tremiam de repente, ele tirou as calças, bem como
o Magic Mike , rasgando-as da parte inferior do corpo.

E o que você sabe, o colchão dela estava na altura perfeita para ele:
sua ereção estava bem no nível de seu núcleo. Mas ele precisava ter certeza.

— Você está bem?

Magic Mike é uma comédia dramática dirigida por Steven Soderbergh e estrelada por Channing Tatum, Alex Pettyfer,
Matthew McConaughey e Matt Bomer nos papéis principais. O filme foi lançado em 29 de junho de 2012, nos Estados Unidos.Recebe u críticas
geralmente positivas, com o RT em 80%.

774
— Oh, Deus, sim ... e eu quero mais.

— Você quer? —Ele não queria se acariciar. Mas ele fez. — Porra,
Mae ...

Suas mãos estavam inquietas, agarrando o edredom com os punhos


cerrados ... um deles escorregou e bateu em seu quadril.

Sahvage estendeu a mão e pegou a mão dela. Movendo-a entre as


pernas dela, ela engasgou enquanto ele a acariciava com seus próprios
dedos enquanto trabalhava em seu pênis.

Quando ela chegou perto do clímax novamente, ele disse:

— Mae—Mae, olhe para mim.

Na penumbra, ele pegou seus olhos brilhantes enquanto ela seguia seu
comando. E então ele ergueu o que ela estava esfregando em sua boca.
Chupando seus dedos, ele estava oh, tão satisfeito quando ela gritou
novamente, seu nome ecoando no quarto dela.

Absorvendo sua essência, ele sorriu na escuridão ... quando ele


percebeu que ela já era a melhor amante que ele já teve.

775
Quando os olhos de Mae se fecharam, ela não conseguiu mantê-los
abertos. Mas meu Deus, ela queria continuar vendo tudo. Ela queria
assistir tudo isso, mas havia um erotismo surpreendente na escuridão.
Tudo o que ela conhecia era a língua de Sahvage, quente e escorregadia,
lambendo seus dedos ... então sua boca quente e escorregadia sugando seu
polegar.

Os ruídos de estalo a deixaram louca.

E uma nova liberação rolou por ela.

Quando finalmente cedeu, ela abriu os olhos. Seu amante era uma
forma volumosa acima dela e seu cheiro estava inundando seu nariz e ele
estava ...

Ele baixou a mão dela para o edredom. E bem quando ela estava
prestes a perguntar a ele—o que ela iria perguntar?—ela sentiu algo em seu
sexo.

Não eram seus dedos. Não era sua boca.

Foi brusco. E muito bom. E muito quente.

Mae arqueou novamente e, se houvesse uma maneira de separar ainda


mais as coxas, ela o teria feito.

776
Sahvage acariciou-a com ele mesmo, provocando a abertura de seu
sexo, em seguida, concentrando-se no topo de sua fenda. Quando outro
orgasmo saltou em seu núcleo, em seu sangue, ela sabia que agora era a
hora ... agora era quando ia acontecer ...

A palma larga dele travou em seu quadril, mantendo-a firme. Como


Mae estava suspensa à beira do precipício, ela ouviu palavras roucas
saindo de sua boca e não tinha ideia do que estava dizendo. Mas ele a
estava esfregando cada vez mais rápido, e o fato de que era seu sexo em
seu sexo, os dois tão perto de serem unidos, significava que tudo estava
ampliado.

Assim que ela começou a gozar novamente, ela ouviu um clique. Um


clique rápido. Um dos braços dele estava indo e voltando—e então ele
estava se apoiando no colchão com a palma da mão oposta, pairando
sobre ela, prestes a ...

O primeiro dos jatos quentes açoitou seu sexo e o calor deles a fez
explodir mais uma vez. Quando ela gozou—quantas vezes tinha sido?—
tanto faz, quando ela gozou novamente, ele ejaculou sobre ela, cobrindo
seu núcleo, sua parte interna das coxas, seu abdômen inferior.

Na escuridão, ela podia ouvi-lo respirar com dificuldade, uma


maldição escapando do que ela sabia serem dentes cerrados.

777
Demorou um pouco até que viesse a decepção.

Por mais quente que fosse, por mais certo que parecesse, por mais
cuidadoso que ele tivesse sido ... ela percebeu que ele não iria além disso.

Ele não iria tê-la. Na verdade, não.

Não ... nunca.

778
Às seis da tarde do dia seguinte, Erika estacionou sem sinalização ao
lado da entrada principal do Commodore. Colocando sua licença de
estacionamento CPD laminada no painel, ela saiu com seu laptop e sua
bolsa.

Dentro do saguão, havia um posto de segurança e um balcão de


concierge . Ambos estavam vazios e ela podia ouvir algum tipo de
discussão no canto, dois homens indo e voltando sobre algum pacote da
FedEx que tinha sido extraviado.

Ignorando toda a coisa de se registrar, ela pegou o do centro de três


elevadores, e enquanto subia, ela olhou para si mesma nos painéis
espelhados que revestiam o interior do lugar. Uau. Ela parecia ter cento e

Concierge é o profissional responsável por assistir clientes de hoteis, cruzeiros, entre outros, em qualquer pedido que estes tenham relativos
a sua estada no estabelecimento, ou na viagem. Desempenha um papel de ajuda a todos integrantes do hotel, fazendo tarefas quando solicitadas.
Concierge é um termo da língua francesa e que pode ser traduzido literalmente como “porteiro” para o português. O concierge é um cargo comum
no ramo hoteleiro, consistindo na função do profissional responsável por atender as necessidades básicas e especiais dos hóspedes.
FedEx ou FedEx Corporation é uma empresa americana de remessa expressa de correspondência, documentos e objetos, oferecendo ainda
vários serviços de logística. FedEx é um acrônimo do nome original da empresa, Federal Express.

779
oito anos, as bolsas sob os olhos eram escuras, a pele amarelada, o fato de
que ela puxou o cabelo ruivo e castanho para trás e o prendeu na nuca,
fazendo com que cada ligeiro vinco em seu rosto algo parecesse algo
esculpido em sua pele. E caramba, seu blazer azul marinho também estava
muito enrugado.

Talvez fosse apenas a iluminação do teto.

— Sim, certo, —ela murmurou.

Em algum lugar ao longo do tempo, ela leu que os fabricantes de


elevadores fizeram um estudo e descobriram que se as pessoas pudessem
olhar para seu reflexo enquanto subiam e desciam, elas se sentiam como
se estivessem presas dentro dos lugares por menos tempo.

Bem, ela teve que dar um grande não para isso.

Cansada de seu reflexo, ela olhou para a costura nas portas, mas como
este era um edifício chique, cada centímetro quadrado, exceto o maldito
chão, estava coberto com material reflexivo matizado.

— Excelente.

Ding!

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O elevador parou e as portas duplas se abriram no último andar do
prédio. Saindo, ela virou para esquerda e se endireitou, e então desceu
para o triplex do Sr. e Sra. Herbert C. Cambourg.

Era o que dizia a placa de latão gravada sobre a campainha.

Porque você colocaria o primeiro nome da sua esposa na casa dela


também?

Então, novamente, tudo era dela agora, não era?

Erika tocou a campainha e deu um passo para trás para que o olho
mágico pudesse fazer seu trabalho ...

Quando a porta se abriu, ela se preparou para uma empregada em um


uniforme cinza e branco com sapatos confortáveis e um coque. Mas não,
a dona da casa estava fazendo o dever.

— Detetive, —disse a Sra. Cambourg. — Entre.

Nada de robe de seda e camisola desta vez. Legging preta, gola alta
preta, cabelos castanhos longos, soltos e brilhantes. Esta era uma mulher
que nunca parecia mal, não importava a iluminação. E Jesus, ela era alta.

Mas seus olhos estavam tão vermelhos e cansados quanto os de Erika.

— Obrigada. —Erika acenou com a cabeça e avançou. — Eu sei que


é tarde. Agradeço por você me receber.

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O último andar do triplex tinha um saguão que era grande como o
prédio inteiro de Erika, ou pelo menos era o que parecia. E havia tanto
mármore, os marrons, cremes e pretos separados por arabescos de
bronze—ou, merda, talvez fosse até ouro.

— Você gostaria de descer para a sala de estar?

Enquanto a Sra. Cambourg esperava por uma resposta, era como se


ela estivesse acostumada a esperar as opiniões dos outros para definir suas
próprias escolhas. Ou talvez ela estivesse completamente frita, e quem
poderia culpá-la. — Claro. Seria ótimo.

— É por aqui.

Na noite anterior, a Sra. Cambourg selou este último andar e ficou no


apartamento do pânico do condomínio. Ela prometeu não ir para as salas
de coleções no andar de baixo. Então, novamente, por que ela iria querer?

— Aqui. —A Sra. Cambourg indicou um sofá de seda. — E posso


pegar alguma coisa para você?

“Posso”, não “devo”. Nenhuma empregada. Era dinheiro novo—e


uma mulher que não estava acostumada com isso. Não que Erika julgasse.
Ela não veio do nada e isso nunca a incomodou ou foi o tipo de coisa que
ficasse em seu caminho.

782
— Não, estou bem, obrigada. —As duas se sentaram juntas. — Como
você está?

Enquanto a Sra. Cambourg registrava seus pensamentos, Erika olhou


ao redor. Ao contrário da galeria abaixo—ou as salas de coleção, aliás—
aqui em cima, havia muita cor. Bem, presumindo que ouro fosse uma cor.
Até o sofá era dourado e preto. Era como se os anos oitenta tivessem
passado pelas três décadas anteriores e decidido acampar no presente.

Através do arco, Erika notou que até os utensílios da cozinha eram


dourados.

Banheiros, também? Provavelmente.

— Eu não dormi nada.

— Eu aposto. Alguém te incomodou?

— Oh, não. Eu coloquei as paredes do pânico no lugar. Elas lacram


as escadas e tudo, incluindo as janelas aqui. Mesmo se alguém quisesse
entrar, não teria sido capaz ... você sabe, de chegar até mim. Quero dizer.
Sim.

Erika pigarreou. — Então, eu tenho algumas novidades. Acho que


encontramos os relógios do seu marido.

A Sra. Cambourg se inclinou para frente. — Vocês encontraram?

783
Erika acenou com a cabeça. — As fotos do seguro que você nos enviou
por e-mail foram realmente úteis, e aconteceu de estarmos em outra cena
na noite passada, onde achamos que eles podem ter sido negociados.
Posso mostrar algumas imagens para identificação?

— Sim. Por favor.

Ligando seu laptop, Erika colocou a tela entre elas.

— Você reconhece algum destes—aqui, use o cursor. Sim. É isso.

Os olhos da Sra. Cambourg se encheram de lágrimas enquanto ela


examinava as fotos.

— Sim. Estes são dele—e sim, esse é o estojo de armazenamento em


que ele os mantinha. O que estava em nosso cofre.

Distraidamente, Erika se perguntou se aquele colar de diamantes


ainda estaria sob a gola olímpica. Ela estava disposta a apostar que sim.
Embora por que isso fosse relevante para alguma coisa, ela não tinha a
menor ideia.

— E não falta mais nada, correto? —Ela perguntou.

— Não, nada mais foi levado.

Erika acenou com a cabeça. — Enquanto estávamos na outra cena,


encontramos algumas câmeras de segurança. A filmagem mostra os

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relógios do seu marido sendo entregues por um homem, e gostaria de ver
se você o reconhece. Posso reproduzir um vídeo para você?

A Sra. Cambourg passou a mão pelo cabelo sedoso.

— É claro.

— Aqui. —Erika puxou o laptop para si e carregou o próximo


arquivo. — Olhe isso.

Quando ela apertou o play e direcionou as coisas de volta para a outra


mulher, ela sentiu seus pulmões se contraírem. E então, embora ela tivesse
assistido à filmagem uma dúzia de vezes, e tenha sido a única a assistir o
arquivo, ela se perdeu mais uma vez ... enquanto o homem de preto
caminhava na tela.

Ele era alto e, devido a seus músculos, parecia que malhava frequente
e intensamente—e com certeza se movia como se estivesse no controle
total de seu corpo. Acima daqueles ombros largos, seu cabelo era escuro e
cortado curto, mas foi seu jeito que realmente chamou a atenção dela.
Havia uma calma fria e calculista em seu rosto incrivelmente atraente.
Mesmo quando ele parou e olhou para o cadáver com o cérebro estourado
na parede atrás do sofá.

Era como se ele tivesse visto muitos cadáveres.

785
Mas é claro que a imagem do falecido foi removida desse pedaço. A
Sra. Cambourg já estava chocada demais. Falando nisso ...

Erika franziu a testa ao ver a expressão dela.

— Você sabe quem é aquele?

Demorou um pouco antes que a outra mulher respondesse. E quando


o fez, foi com uma voz suave e confusa.

— Esse é o homem do meu sonho. —Ela apontou para a tela. — Esse


é o homem com quem sonhei.

— Camisa azul ... Camisa vermelha.


Nate segurou uma na sua frente. Depois a outra. Ambas eram de
flanela. Ambas tinham uma base preta. Ambas ...

Não, a vermelha. A vermelha era definitivamente melhor.

Jogando a azul de lado na bancada do banheiro, ele se inclinou sobre


a pia para ter certeza que onde ele se cortou ao fazer a barba estava curado.
Parecia bom. Ele tirou o pedaço de papel higiênico da mancha de sangue.

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Bem ... merda. A camisa vermelha era uma boa ideia até que ele a
enfiou dentro da calça jeans. Então ele parecia o Brawny o cara da
toalha de papel.

— Droga. —Ele checou seu telefone. — Camisa nova.

Enquanto ele removia a flanela ofensiva, ele levou um minuto para


estudar seu peito. Seus braços. Seus ombros. Eles estavam bem—para um
padrão humano. Contra alguém como seu pai? Ele era o garoto magrelo
da praia que levou um chute de areia no rosto.

Se Elyn realmente precisasse de mim, eu poderia ter certeza de que ela estaria
segura? Ele perguntou ao seu reflexo.

— Porra.

E ele desejou ter um pouco de colônia.

Em seu quarto, ele se aproximou e abriu a porta do armário.


Moletons. Mais flanelas. Polos que teriam funcionado se fosse maio.
Junho. Julho.

A menos que ele fosse Shuli, é claro. E ele não era em tantos níveis.

toalhas de papel Brawny

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No final, ele escolheu uma camiseta branca lisa da Hanes que era nova
em folha e um moletom Mark Rober estilo vamos-ser-casuais. Bem
quando ele estava puxando o último sobre sua cabeça, houve uma batida
na porta.

— Sim? —Ele disse.

As coisas se abriram quando ele estava de volta ao espelho do


banheiro, e seu pai entrou, vestido para a guerra. Todas as armas de
Murhder estavam em seu corpo, seus punhais pretos amarrados, alças para
baixo, no peito, um coldre de armas na cintura, uma faca em uma coxa.
Seu cabelo ruivo e preto estava escondido sob um gorro, e isso era ... sim,
um colete Kevlar.

Nate engoliu em seco. — O que está acontecendo. O que há de errado?

— Estou saindo para noite. —Houve uma pausa. — Olha, eu sei que
as coisas tem estado ... estranhas entre nós. E eu simplesmente não queria
ir antes de dizer que te amo. Nate, eu não poderia te amar mais se você
fosse do meu próprio sangue. Você é um bom garoto e vai ser um ótimo
macho e ...

Mark B. Rober é um YouTuber, engenheiro e inventor americano. Ele é conhecido por seus vídeos no YouTube sobre ciência
popular e gadgets faça você mesmo. Antes do YouTube, Rober foi engenheiro da NASA por 9 anos, onde passou sete desses anos tr abalhando no
rover Curiosity no Laboratório de Propulsão a Jato da NASA.

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— Pai? —Nate disse em voz baixa. — O que está acontecendo. Por
que você está usando esse colete?

— É apenas mais uma noite no campo.

Não, não era, mas estava claro que ele não obteria nenhuma
informação sobre os motivos.

Enquanto ele lutava contra um terror repentino, Murhder continuou


falando.

— Eu nem sei o que exatamente deu errado para você aqui. Quer
dizer, você foi feliz por um tempo. Não tenho certeza do que mudou, mas
seja o que for, nós vamos descobrir. Existem todos os tipos de recursos
para você, e se realmente for necessário ... não queremos que você vá
embora, mas nós apenas—bem, eu disse isso antes. Amamos você como
nosso filho, sem qualificadores. E eu não poderia sair sem te dizer isso.
Algumas noites, é melhor você dizer o que quer, porque você não sabe
como as coisas vão acontecer.

O cérebro de Nate borbulhava com tantas coisas super assustadoras


que ele literalmente perdeu a voz. E no silêncio, depois de um momento,
Murhder acenou com a cabeça e se virou.

— Espere, pai.

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Nate se lançou para fora de seu banheiro e agarrou-se ao Irmão no
momento em que Murhder girou de volta.

— Eu também te amo, pai. Eu amo você.

Murhder fez um som sufocado, e então aqueles braços enormes


seguraram Nate. — Fico feliz, filho. Isso faz ... isso faz toda a diferença
para mim.

Nate deu um passo para trás. — Você vai morrer esta noite?

Murhder balançou a cabeça. — Não se eu tiver algo a dizer sobre isso.


E não, não posso falar sobre isso. Mas você e sua mãe estão seguros aqui
...

— EquantoaCasaLuchas? —Nate perguntou apressado.

— O—oh, sim, não, você deve estar bem lá fora. Mas você sabe, isso
me faz pensar. Você quer ter algum treinamento ...

— Sim. —Ele pensou em Elyn. — Eu quero aprender como lutar.

Murhder ficou muito, muito quieto.

— O que? —Disse Nate. — Você não pensa ... você não acha que eu
posso?

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— Acho que você vai ser bom nisso. Eu só não queria essa vida para
você, filho. Eu não vou te impedir, no entanto. Vou falar com os Irmãos e
marcar algo.

— Okay. Obrigado. Mamãe está em casa esta noite?

— Ela estará no centro de treinamento. Você vai ...

— Estou indo para a Casa Luchas.

— Tenha cuidado lá fora. Me ligue se precisar de mim. Não importa


o que esteja acontecendo, eu sempre atenderei, sempre irei encontrar você.

Depois de um longo momento, Murhder acenou com a cabeça e saiu


do quarto, indo para as escadas acarpetadas que levavam à cozinha.

Algumas noites, é melhor você dizer sua parte.

— Eu conheci alguém, —Nate deixou escapar.

Ao ouvir sua própria voz, ele ficou surpreso por ter falado. Mas era
algo que ele queria que seu pai soubesse, especialmente se ele não tivesse
a chance de dizer ao macho novamente.

Seu pai se virou lentamente e a expressão em seu rosto teria sido


engraçada. Em outra noite. Sobre outra coisa.

791
Parecia que alguém tinha acabado de lhe dizer que a Fada do Dente
era real: Maravilha.

— Você conheceu? —Murhder disse.

— Sim, e acho que gosto muito dela, pai.

792
— Não, cereal está bom. Mesmo.
Enquanto Mae se sentava à mesa em sua cozinha, sua tigela cheia de
Cheerios , o leite desnatado de alguma forma passando no teste de nariz,
embora já estivesse um dia após a data de validade, ela estava tentando se
controlar. E não, não porque ela estava prestes a ter um ataque de choro
ou algo assim.

Ela estava engasgada com perguntas que não devia fazer.


Principalmente, tipo, por que Sahvage traçou essa linha? Dois adultos
consentindo e tudo mais.

Exceto que havia apenas um adulto consentindo, evidentemente.

Quando Sahvage se sentou à sua frente com uma torrada e uma xícara
de café, ela tentou sorrir de um jeito casual, sem-problemas-por-aqui. O fato

Cereal Cheerios General Mills

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de que ela não tinha nenhum ovo ou bacon para oferecer a ele, e que tinha
sido um milagre que houvesse café suficiente para os dois, era um
comentário sobre como as últimas semanas estavam indo mal para ela.

E tudo o que eles não tinham feito na cama era apenas a cereja do
bolo no topo de tudo.

Enquanto comiam, não falaram muito ... então tudo o que havia na
casa, no mundo inteiro, ao que parecia, era ele mastigando a torrada e a
colher dela batendo na lateral da tigela. Mas a questão era que ela não
confiava em si mesma para abordar o elefante na sala.

Sim, isso não estava indo bem. Ela estava frustrada e zangada com
um monte de coisas, e ele ia ficar em dúvida com coisas que não tinham
nada a ver com seus problemas horizontais ...

Ela fechou os olhos.

— Você está bem?

Mantendo uma maldição para si mesma, ela balançou a cabeça.

— Ah, sim. Estou bem.

Ele empurrou o prato de migalhas para longe. — Então, eu vou pegar


um pouco de gelo.

Mae ergueu os olhos. — O que?

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— Para o seu irmão. Eu preciso que você fique aqui. É a coisa mais
segura—e tenho um carro que posso usar. —Ele se levantou, sua cadeira
raspando no chão. — Isso não deve demorar muito.

— Ah, existe um posto de gasolina não muito longe daqui. —Exceto


que ela sentia um desejo territorial de fazer a compra de gelo. Esse era o
seu trabalho. — Mas eu sempre posso simplesmente ...

— Entrar em outro acidente? —Ele disse enquanto levava seus pratos


para a pia. — Como ontem à noite? Todos nós sabemos como isso correu
bem.

Mae franziu a testa. — Com licença, como se eu tivesse planejado


isso.

Sahvage apoiou as palmas das mãos no balcão e baixou a cabeça.


Enquanto sua mandíbula fazia círculos, ela estava desapontada por ele
estar lutando para controlar seu temperamento. Ela queria uma discussão.

E isso a tornava uma vadia, não é?

— Isso é sobre o Livro de novo? —Ela exigiu. — Porque nós


terminamos de discordar sobre esse assunto.

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— Você está certa sobre isso. —Ele balançou sua cabeça. — Eu não
estou tentando te dissuadir de nada mais. Eu nunca deveria ter ido lá em
primeiro lugar.

— Obrigada. —Mae exalou de alívio. — E eu sinto muito por ficar


tão na defensiva. Estou feliz que você finalmente viu de onde estou vindo.

Sahvage acenou com a cabeça e depois olhou para a distância estreita


entre ele e a janela fechada na frente de seu rosto. Era impossível não
estudar aquelas características duras e corpo poderoso sem pensar sobre o
que eles fizeram no escuro. Mas não havia nada de sexual nele no
momento. Ele estava em outro lugar em sua cabeça, longe, embora ela
pudesse estender a mão e tocá-lo.

— Eu não vou demorar muito, —ele disse finalmente. — Quer dizer,


vou ter que dirigir meu carro pela cidade, mas sim, não deve levar muito
tempo.

— Tudo bem. Como se eu tivesse qualquer tipo de programação.

Na verdade, ela tinha trabalho a fazer para que pudesse manter esse
teto sobre sua cabeça. Supondo que ela sobreviveria a isso, ela precisaria
morar em algum lugar.

— E eu tenho que ligar para Tallah, —ela se ouviu dizer.

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Depois de um momento, Sahvage inclinou a cabeça e olhou para ela.
Algo sobre a maneira como ele era tão autossuficiente a fez se sentir ...

— Não diga isso, —ela sussurrou, uma dor surda e solitária se


instalando em seu coração. — Não diga adeus. Eu prefiro apenas ... você
não veio pela sala de novo, então tem que ir pelas palavras.

Além disso, assim, ela pode estar prestes a vê-lo novamente. Um


adeus era uma porta fechada. Nada era ... nada.

— Eu não quero um encerramento, —ela disse com uma voz cansada.


— Estou realmente fodida com encerramentos.

— Eu não estou deixando você.

Sim, claro, ela pensou.

— Eu não culparia você se você estivesse. —Mae sorriu um pouco,


mas não conseguiu acompanhar a farsa. — Eu me deixaria se pudesse.

— Eu disse a você, voltarei em breve. Isso não vai demorar muito.

Foi assim que ele deixou as coisas.

E ele não olhou para trás quando saiu para a garagem.

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Sahvage estava em sua cabeça quando a porta se fechou atrás dele, mas
ele teve presença de espírito suficiente para esperar que Mae se
aproximasse e trancasse a fechadura. Quando ela não o fez, ele abriu a
coisa, com a intenção de lembrá-la de vir e virar o mecanismo de cobre.

No curto corredor, ela ainda estava na mesa da cozinha e tinha


colocado a cabeça entre as mãos. Ela não estava chorando, ela apenas
parecia não conseguir se manter de pé e precisava de seus braços para
manter o rosto longe da tigela de cereal.

Ele precisou de tudo para não voltar lá, tomá-la nos braços e dizer que
tudo ia ficar bem. Mas ele não gostava de fazer promessas que não podia
cumprir.

Então, em vez disso, ele fechou a porta e lembrou a si mesmo que a


coisa que eles estavam realmente preocupados que entrasse na casa já
estava bloqueada. Mae estava segura.

Por um momento, antes de sair, ele olhou para o local onde o carro
dela tinha estado estacionado. Agora havia apenas manchas de óleo e
marcas onde os pneus subiram e voltaram tantas vezes, e ele imaginou os
pais dela estacionando aqui no passado, também. Imaginou quantas vezes
a família, incluindo seu irmão, tinha entrado e saído pela porta que ele
acabara de usar para deixá-la.

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Ele realmente sabia onde ela estava sobre Rhoger. Ele esteve lá com
Rahvyn. E porra, se ele acreditasse em milagres? No destino? No universo
sendo um lugar certo e justo? Ele poderia confiar que ele e sua prima ainda
poderiam ser reunidos e se Mae trouxesse seu morto de volta, não haveria
arrependimentos.

Mas ele não comprava mais essa merda de justiça existencial.

E maldição, Mae iria agradecê-lo pelo que ele estava prestes a fazer.
Talvez não de imediato, mas mais tarde ... quando a natureza não sofresse
interferência e ela não sentisse tanta dor. Então, ela saberia que ele fez a
coisa certa.

Se acalmando, ele se desmaterializou pela veneziana aberta. Mas ele


não voltou para sua casa para pegar seu carro de merda.

Ele foi para o centro.

Como ele estava em Caldwell há apenas um mês, ele não conhecia


nomes de ruas, nem nada. A boa notícia era que o Commodore era o único
edifício residencial de mais de vinte andares ao redor, e visto que tinha
letras iluminadas verticais em seu flanco que soletravam “C-O-M-M-O-D-O-
R-E”?

Não era preciso ser um gênio para localizar seu telhado.

799
E assim como eles planejaram, havia uma figura solitária esperando
por ele perto dos ventiladores de HVAC.

Enquanto Sahvage se reformava novamente na frente do cara, ele


manteve as mãos perto das armas, mas ele não pegou nenhuma. Nenhuma
razão para não ser civilizado e, além disso, ele teve uma noção do
Bastardo durante o dia. Enquanto Mae dormia, ele subiu para descobrir
quem estava explodindo seu telefone.

E o que você sabe. A chamada que ele estava esperando.

— Então você é Sahvage, o macho da hora. —O lutador estendeu a


mão da adaga. — Balthazar.

Sahvage acenou com a cabeça e balançou o que foi oferecido.

— Você está pronto para fazer isso?

— Como eu disse ao telefone, devemos agir rápido.

Olhando ao redor, Sahvage teve a sensação de que o prédio estava


cercado. Sombras? Ele se perguntou. Não ... ele podia sentir os cheiros,
mesmo que estivessem distantes e destilados pelo vento frio, e ele
reconheceu muitos deles.

— Seus reforços estão em posição, —disse ele. — Eu sei que não


estamos sozinhos.

800
— Assim como combinamos, eles estão no perímetro e permanecem
parados, a menos que as coisas fiquem fodidas. Eu não quero ... bem,
como eu disse a você, na noite passada ela veio assim que eu cheguei perto
do Livro.

— Apenas me aponte na direção certa, eu vou assumir a partir daí.

O macho estreitou os olhos. — Esse não foi o nosso acordo.

— Mesmo que isso impeça você de ser morto?

— Ela quer o Livro, não nós. Então, se eu acordar morto, será porque
sou um dano colateral. O mesmo é verdade para você. Fazemos isso como
combinamos ou não fazemos.

Sahvage encontrou o lutador bem nos olhos. — Entendido.

Quando Balthazar se virou, Sahvage seguiu o macho até a entrada da


escada que subia no meio do prédio. Lá dentro, eles desceram os degraus
de concreto em uma corrida, e quando, alguns lances abaixo, Balthazar
parou na porta de incêndio e parecia estar farejando a costura ao redor do
batente da porta, Sahvage percebeu algo.

— Você não fez nenhum som, —ele disse suavemente.

O Bastardo olhou por cima do ombro. — Huh?

— À medida que avançávamos. Você não fez qualquer barulho.

801
— Eu sou um ladrão. —O cara revirou os olhos e apertou a maçaneta
para abrir as coisas. — Você acha que eu deveria ter uma banda marcial
conectada na minha bunda?

— Agora isso é que é um cartão de Natal.

Em um corredor que cheirava a gente rica e tinha uma vibração


elegante e contemporânea, eles avançaram rapidamente e Sahvage tentou
arrancar uma página do livro do Sr. Shhh. Mas como o filho da puta
conseguia nem mesmo ter seu equipamento rangendo?

Era óbvio para onde eles estavam indo. A fita da polícia denunciava
isso.

Enquanto eles se aproximavam da porta, Balthazar olhou para trás.

— Abra o foyer do outro lado. Estou rezando para que não haja
equipamento policial no caminho. Vou desarmar o alarme e nos levar
pelas salas de coleções.

— Eu estou bem atrás de você.

Balthazar entrou primeiro, e Sahvage estava um nanossegundo atrás


dele. Nenhum equipamento policial, apenas um saguão aberto conforme
descrito, como se o lugar fosse um museu.

— Por aqui, —o Bastardo sussurrou. — Está aqui embaixo.

802
Os quartos eram pequenos e sem janelas e continham coleções de
coisas estranhas. Instrumentos cirúrgicos. Esqueletos de morcego?

E então ...

A respiração de Sahvage explodiu para fora de seus pulmões quando


eles entraram em um espaço cheio de mostruários de livros—e suas botas
congelaram onde estavam. Lá, do outro lado do chão complexo, passando
por uma seção em ruínas de prateleiras e uma bagunça de madeira ...
estava uma caixa clara.

Aquilo abrigava um objeto que Sahvage não via há duzentos anos.

Enquanto ele piscava, ele estava de volta aos aposentos principais de


Zxysis, o sangue de sua prima inocente derramado nos lençóis da
plataforma da cama, a janela aberta, as ervas, poções e cera de vela sobre
a mesa de cavalete.

Ele tinha a sensação de que o Bastardo estava falando com ele.

Mas, mais uma vez, o macho não estava fazendo nenhum som.

Sahvage se aproximou do mostruário com as pernas dormentes, e ele


podia jurar, ao parar diante do antigo volume, que as páginas do livro
aberto se agitavam como se fosse uma saudação. E ele não foi o único

803
paralisado. Balthazar estava ao lado dele e olhando para o Livro com o
mesmo tipo de cativação.

Na verdade, ele e o outro lutador ficaram tão fascinados ... que eles
falharam em notar a luz vermelha cintilante no detector de movimento no
teto.

— É o alarme.
Quando a Sra. Cambourg se levantou do sofá com o telefone na mão,
Erika já estava nisso, não apenas ficando na vertical, mas colocando o
punho no coldre de sua arma de serviço.

— Alguém está no segundo andar. —A mulher girou a tela do celular.


— O que eu ...

804
— Provavelmente é apenas um dos técnicos de cena do crime.

— Oh. Okay.

Ou pelo menos era o que Erika esperava, e se fosse? Ela iria


repreender quem não tivesse feito o registro de entrada adequadamente.

— Quero que você se tranque e fique aqui em cima, —disse ela. — Eu


vou descer e verificar.

— Mas isso é seguro? —A mulher perguntou enquanto aninhava o


telefone em seu peito.

— Eu volto já. Tenho certeza de que há uma explicação perfeitamente


razoável.

— Okay. —A Sra. Cambourg apontou para um arco. — Você quer


passar por aquele corredor e descer a escada um nível. Devo ligar para
alguém?

— Eu cuido disso. Não se preocupe. Apenas fique aqui em cima.

Enquanto Erika caminhava pelo corredor, houve uma série de sons


suaves de mudança em seu rastro. Quando ela olhou para trás, a área do
arco estava sendo fechada com um painel de ouro fosco.

Bom. Isso significava que ela não precisava se preocupar com mais
ninguém.

805
Além disso, provavelmente era apenas um investigador que falhou em
fazer o registro de entrada corretamente.

A escada curvou-se, a arte moderna brilhando nas paredes. Havia


uma pintura de que ela gostava particularmente, mas não era como se ela
fosse perder tempo verificando a cromática da maldita coisa.

Como se ela soubesse alguma coisa sobre arte, de qualquer maneira.

Mas ela com certeza sabia como se proteger.

Quando ela chegou ao pé da escada, no segundo andar do triplex, ela


tirou sua arma de serviço, mas a manteve ao seu lado. A última coisa que
alguém precisava era dela explodindo um colega. Ao mesmo tempo, as
coisas estavam ficando estranhas em Caldwell, então ela não estava se
arriscando com a própria vida.

Todos os corpos que ela tinha visto sem corações eram o que estava
em sua mente quando ela dobrou uma esquina e viu, através de alguns
quartos, um par de homens em pé sobre a caixa de exibição de Lucite na
sala de livros. Eles eram ... enormes. Vestidos de preto. Parecendo que eles
eram capazes de lidar com qualquer situação.

Então, sim, definitivamente não eram investigadores.

Eles se viraram ao mesmo tempo.

806
O treinamento de Erika ditou o que ela deveria fazer com os dois, tirar
uma imagem mental de seus recursos que ela poderia usar mais tarde para
fins de identificação. E ela também precisava colocar em ação o protocolo
de reforços.

Em vez disso, ela olhou para o da esquerda. Ele era ... o homem da
filmagem do trailer, o ladrão que trouxera os relógios para lá ... aquele
com quem a Sra. Cambourg acreditava ter sonhado. E Deus, ele ainda era
incrivelmente bonito, se você pudesse usar essa palavra em algo tão
masculino: seu rosto era todo angulado e com o queixo perfeito, e seus
olhos, enquanto a estreitavam e a varriam para cima e para baixo, eram
astutos e ...

— Quase não estou surpresa por você estar aqui, —ela se ouviu dizer.
— Você parece passar muito tempo neste lugar.

Enquanto ela falava, ele inclinou a cabeça—de uma forma que a


lembrou de um pastor alemão, um predador que estava curioso para saber
o quão rápido sua presa poderia ser capaz de correr.

— Detetive Saunders, CPD. —Erika apontou a arma para ele e puxou


a algema. — Vou pedir a vocês dois que coloquem as mãos na cabeça e se
virem. Vocês estão presos por invasão de propriedade, mas algo me diz
que as acusações não vão parar por aí.

807
Nenhum deles se moveu. E foi então que ela percebeu que reconhecia
o outro também.

O clube de luta, ela pensou com uma onda de adrenalina. Ele era o cara
da filmagem com Ralph DeMellio.

Puta merda, fale sobre dois pelo preço de um.

Antes que ela pudesse repetir seus comandos, o da esquerda, aquele


que ela realmente precisava começar a encarar de uma forma
exclusivamente profissional, disse suavemente:

— Eu vou cuidar disso.

Erika intensificou a voz. — Coloque as mãos na cabeça e ...

Quando Balz entrou na mente da mulher humana e a congelou onde ela


estava, ele realmente queria que ela continuasse falando. De alguma
forma, ela conseguiu transformar palavras simples em uma sinfonia em
seus ouvidos, e isso não foi tudo o que ela fez.

O cheiro dela penetrou em seu nariz e foi direto para seu sangue.

808
Fisicamente, ela não era tão alta, um e setenta, talvez um e setenta e
quatro. E ela tinha uma vibração prática em tudo sobre ela, desde seus
sapatos baixos até o rabo de cavalo apertado na base do pescoço, desde a
falta de maquiagem até os olhos duros e nivelados. E fale sobre roupas
profissionais. O escudo em seu blazer azul escuro brilhava com cada
respiração que ela dava, e suas calças largas não davam nenhuma pista de
como era o corpo dela.

Mas como isso importava?

Foi como ... tudo dela ... o atingisse. E isso não foi a metade.

Enquanto ele penetrava na mente dela para que pudesse desligar o


presente e remendar suas memórias, flashes de ... violência e tragédia
indescritíveis do passado surgiram. Embora as imagens, visões e sons
fossem parte de seu armazenamento de longo prazo, eles sempre estiveram
sob a superfície para ela.

Ela enfrentou coisas que nenhuma mulher, nenhum homem, nunca


deveria ter para sobreviver.

E ainda assim ela estava totalmente sem medo quando ela enfrentou
ele e Sahvage, dois vampiros que estavam fortemente armados e pesavam
mais de cento e oitenta quilos a mais que ela. Então, novamente,
considerando o que ela já havia vivido? Haveria pouco que a abalasse.

809
— O que diabos está acontecendo aqui?

Quando a impaciência de Sahvage cortou o silêncio, Balz voltou à


ação.

— Eu tenho isso. Eu a tenho.

— Você tem? Porque daqui, parece que ela que tem você.

Apesar dos altos riscos, Balz precisava de mais um momento—e então


ele despiu a mulher de qualquer lembrança de ter vindo e encontrá-los
aqui. Depois disso, ele inseriu o pensamento de que era apenas um mau
funcionamento de um alarme.

Alarmes funcionavam mal o tempo todo.

Nada errado, nada fora do lugar.

Enquanto ela se virava para sair e guardar a arma e as algemas, ficou


claro que ela se sentia confortável com as armas e confiante em sua
capacidade de usá-las corretamente—e, você sabe, Balz ficou duro em seus
boxers.

Ele tinha que vê-la novamente. De alguma forma ...

Um som de batida fez sua cabeça girar.

810
Sahvage havia removido a tampa do mostruário e estava se
endireitando, com as mãos estendidas. Enquanto ele se movia para o
Livro, seus olhos estavam bloqueados com absorção total, seu corpo ficou
tenso, seu ...

— Oh, não, você não vai, —Balz rangeu enquanto se lançava para
frente também.

Os dois agarraram o Livro exatamente ao mesmo tempo. E enquanto


aquele fedor de carne estragada aumentava no ar, os dois começaram a
puxar—e Balz se sentiu como se estivesse em um cabo-de-guerra pela
própria vida. Claro, Sahvage tinha liderado como se fosse todo do time,
mas agora, nada sobre o filho da puta sugeria que ele estava de acordo
com o plano original.

Ele ia levar a porra da coisa.

Tirando suas presas, Balz rosnou: — Seu idiota de merda.

— Isso é mau. Isso precisa ser destruído!

— O que você está ...

— Você não quer isso!

— Eu preciso disso para salvar minha vida!

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De alguma forma, apesar de ambos estarem recostados, todo o peso
colocado no puxão, todos os músculos empenhados ... o Livro não foi
rasgado. Embora deveria ter sido, não houve liberação rasgada de
integridade estrutural, nenhuma ruptura na coluna, nada em lugar
nenhum.

Era como uma viga em I ...

Deixe pra lá.

Vinda do nada, como se tivesse sido canalizada para a sala—ou talvez


fosse o crânio de Balz?—a voz de Lassiter permeou a luta em um rosnado.

Deixe pra lá.

— Não! —Balz latiu. — De jeito nenhum, porra!

Ele se recusava a viver com esse mal dentro dele pelo resto de sua vida
...

Se você quer viver, deixe pra lá.

Do nada, a imagem daquela detetive que ele acabara de mandar


embora veio à tona em sua mente. Mas era isso o mal falando com ele ou
era ... na verdade, Lassiter, tentando salvá-lo?

812
Como ele sabia a diferença entre as representações falsas e sedutoras
da morena e a realidade?

— Porra! —Ele gritou.

Havia algumas batalhas nas quais perder não era uma opção. Este era
uma delas.

Enquanto o corpo de Sahvage se tensionava e o suor brotava em seu


peito e rosto, ele travou seus molares e continuou puxando. Através das
páginas do Livro aberto, o Bastardo estava fazendo o mesmo, cada grama
de poder no corpo e mente daquele macho determinado a assumir o
controle também.

Houve a tentação de pegar uma arma. Uma bala na cabeça do outro


lutador e esse argumento físico estava acabado, porra.

813
Mas Sahvage não podia arriscar que o Livro fosse arrancado de uma
mão. Sem saber muitos detalhes sobre o Bastardo, ele tinha a sensação de
que Balthazar era totalmente capaz de se desmaterializar com a queda de
um chapéu. E se o macho fizesse?

Sahvage não estava tendo uma segunda chance. Em duzentos anos,


ele não cruzou o caminho com a fodida coisa. Não estava acontecendo de
novo, e com aquele feitiço de convocação lá fora?

Claro como a merda, dada a porra da sorte dele, iria encontrar o seu
caminho para Mae ...

De uma vez, e sem aviso, o Bastardo soltou seu aperto. Apenas abriu
as mãos e deixou a maldita coisa ir.

Sem mais força oposta trabalhando contra ele, o impulso para trás de
Sahvage foi tão grande que ele bateu na parede oposta, o impacto o
deixando aturdido por uma fração de segundo.

Enquanto isso, do outro lado do mostruário agora vazio, Balthazar


olhou para suas mãos como se não entendesse o que tinha feito—ou talvez
que elas tivessem agido de forma independente.

Os olhos dele se ergueram e ele falou com resignação.

— Para onde você o está levando?

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Por alguma razão, talvez porque Sahvage reconheceu o desespero
entorpecido no rosto do outro lutador, ele se viu respondendo.

— Onde ninguém pode usá-lo nunca mais.

— Eu preciso disso. Para tirar o mal de mim.

— Não há mal em você.

— Você está muito errado sobre isso, e o Livro é minha única


esperança.

Se ao menos Rahvyn ainda estivesse viva, pensou Sahvage. Ela costumava


cuidar de problemas como aquele na aldeia dele no Velho País.

— Eu sinto muito, —disse Sahvage. E quis dizer isso.

Com isso, ele se desmaterializou para fora da sala. Fora da galeria.


Em seguida, saiu do corredor e foi para a escada.

Mas ele não subiu. Era onde a Irmandade estava—ou tinha estado.
Ele foi para baixo, voando através dos patamares de concreto mais rápido
que um batimento cardíaco. No final, ele abriu uma porta corta-fogo e
esperava encontrar todos da Irmandade com suas armas apontando para
ele. Não. Apenas um elegante saguão de mármore com algumas pessoas
em um conjunto de áreas de escrivaninha e duas mulheres entrando com
sacolas de compras.

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Enquanto corria pelo chão brilhante, ele ouviu alguém gritando por
ele.

Lá fora, na escuridão em frente ao prédio, ele esperava a Irmandade


novamente. Ou a morena. Ou sombras. Nada.

Por uma fração de segundo, ele olhou em volta e se perguntou o que


diabos havia acontecido com todos os personagens em seu jogo. O palco
estava realmente vazio, porra. Mas como se ele estivesse em posição de
discutir com a merda finalmente quebrando seu caminho?

Sentindo-se como um ladrão de banco no roubo de sua vida, ele


fechou os olhos e partiu para a noite fria de primavera.

Ao sair do centro da cidade, ele teve um pensamento bizarro.

Era quase como se Balthazar o tivesse deixado ir.

Na sala de livros, Balz caiu no chão e colocou a cabeça entre as mãos. —


Porra. Porra ... porra.

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Quando ele olhou para cima novamente, ele não estava sozinho.
Lassiter estava bem na frente dele, e o anjo caído lentamente se abaixou
para ficarem olho no olho.

— Oi.

Balz engoliu em seco. — Eu não sei o que acabei de fazer.

— Sim, você sabe.

— Como posso saber se é realmente você? Não sei mais em que


confiar— e isso inclui a mim mesmo.

— Me dê sua mão.

Enquanto o anjo caído estendia a palma da mão, Balz pensou que se


tocasse o que estava sendo oferecido a ele, ele poderia ficar preso para
sempre em ...

Foda-se.

Balz agarrou o que estava à sua frente e se preparou para isso ...

Com uma onda abrupta de energia, ele sentiu calor, como o sol.
Aceitação, como de uma mahmen que te amava. Paz, para uma alma
torturada.

Você fez a coisa certa, Lassiter disse sem mover os lábios.

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— Era minha única chance, no entanto. —Balz não sabia como sabia
disso com tanta certeza. — Eu vou ser comido vivo por ela, de dentro para
fora.

Não, existe outra maneira.

Tudo o que Balz pôde fazer foi balançar a cabeça. Mas então Lassiter
sorriu.

O verdadeiro amor vai te salvar.

Balz quase riu. — Eu não acredito no amor verdadeiro.

Quando foi a última vez que você viu o sol?

— Minha transição.

E ainda assim ele continuou a existir e aquecer o planeta e


sustentar a vida, mesmo sem o benefício de seus olhos. Você é menos
poderoso do que isso, Balthazar. O amor verdadeiro não exige que
você reconheça ser uma força neste mundo.

Tanto faz. — Eles vão me matar, os Irmãos e meus Bastardos. Eu


deixei Sahvage levar o Livro.

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Não, não foi isso que aconteceu. Houve uma luta e você
escorregou e torceu o tornozelo. Quando você o liberou seu aperto
sobre ele, Sahvage fugiu com o Livro ...

— Ow, que porra é essa? —Balz largou a mão do anjo e agarrou a parte
inferior de sua perna direita—que de repente o estava matando.

Quando ergueu os olhos novamente, Lassiter havia sumido, mas a


agonia era tão grande que ele não pôde se preocupar com a partida.
Fazendo uma careta, ele rolou de costas e se perguntou como diabos a
junta em questão estava gritando como se ele ...

Bem, como se ele tivesse escorregado em algo e torcido a merda fora


disso.

Procurando seu telefone, ele disparou uma ligação e não exigiu


nenhuma promessa de uma estátua do Oscar para dizer:

— Filho da puta, ele pegou o livro—caí de bunda no chão, não


consigo andar nem me desmaterializar ... você vai ter que vir me tirar
daqui, e não, eu não sei para onde aquele idiota foi.

Imediatamente, quem estava na outra linha começou a latir para ele


e, quando ele não aguentou o barulho, cortou a conexão e fechou os olhos
com força. As únicas boas notícias, ele supôs, também eram as más

819
notícias: com o Livro indo, era menos provável que a morena aparecesse e
brincasse de halfsies novamente com alguém que importasse para Balz.

Ou ele mesmo.

Sahvage, o filho da puta mentiroso, tinha um tigre pelo rabo


proverbial. As chances eram muito, muito boas de que ele não viveria para
ver outro pôr-do-sol, e não por causa do que quer que a Irmandade faria
com ele. Mas seu destino era sua própria maldita culpa.

E enquanto Balz se preocupava com sua alma infectada, ele ouviu a


voz do anjo em sua cabeça.

O verdadeiro amor, pensou Balz. Que monte de merda ...

Da agonia incandescente que reclamava toda a sua atenção, uma


imagem atravessou o véu, cortando a dor.

Era daquela mulher humana, a detetive com a arma e as algemas, tão


ordeira, tão focada ... tão cansada, como se tivesse trabalhado duro por
muitas horas seguidas. Muitos anos seguidos.

Mas certamente esse não era seu destino. Ou o dela.

Certo?

ir meio a meio - gíria para compartilhar algo, especialmente o custo de algo, em igual proporção entre duas pessoas.

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Mae estava sentada em sua mesa da cozinha, olhando para o espaço
sobre ela agora com Cheerios encharcados, quando o telefone começou a
tocar. Pensando que era Tallah ligando, ela tirou o celular do bolso—só
que ninguém estava ligando.

Quando o toque continuou, ela se levantou e seguiu o som até o topo


da escada do porão. Descendo, ela olhou ao redor e se dirigiu para o sofá
na área de estar. Escondido atrás dele ... estava uma mochila preta. Era de
Sahvage, aquela que estava cheia de armas—ele deve ter voltado para a
cabana e recuperado, então ele estaria bem armado durante o dia. Quando
ela olhou para o zíper fechado, a coisa ficou quieta—mas quase
imediatamente, o toque recomeçou.

Amaldiçoando a si mesma, ela se ajoelhou e foi até a bolsa,


vasculhando os—bem, rifles, como se descobriu. Na base de tantos
focinhos ... estava o telefone celular dele.

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A tela mostrou que o número estava restrito.

Com um golpe, ela atendeu a chamada ...

Antes que ela pudesse dizer olá, uma voz masculina rosnou,

— Seu traidor filho da puta. Você acabou de assinar sua sentença de morte
e nós sabemos onde você está ...

— Quem é você?

Houve uma pausa. — Quem é você?

— Eu sou uma ... —Amiga? Como diabos ela responde isso. — Eu


conheço Sahvage. O que ele fez?

— Onde ele está?

— Ele saiu. —Para conseguir gelo para o meu irmão morto. — Sinto
muito, mas não sei o que está acontecendo aqui.

E isso não cobre muito.

— Senhora, vou ter que pedir que você se identifique. E você precisa saber
que temos um rastreador no telefone com o qual você está falando, portanto,
sabemos sua localização. Sahvage agora é um inimigo da Irmandade da Adaga

822
Negra. Se você protegê-lo de alguma forma, ou tentar qualquer erro em seu
nome, você estará do lado errado da coisa, você me entende?

Mae se endireitou. — O que ele fez?

— Ele tem algo que é nosso.

Dando um passo para o lado, ela olhou para seu quarto e lembrou-se
deles discutindo.

Quando um pavor frio atingiu sua cabeça, ela disse sem rodeios: —
Ele está com o Livro, não está?

— O que você sabe sobre o Livro?

Filho da puta.

Desligando o telefone e mantendo-o com ela, Mae subiu as escadas


de dois em dois degraus e foi direto para a garagem—onde se
desmaterializou para fora de casa. Se a Irmandade tinha a localização do
telefone, ela não os queria em qualquer lugar perto de sua casa. Eles
encontrariam Rhoger.

A cerca de oito quilômetros de distância, ela se reformou atrás de um


shopping center e jogou o celular na lixeira nos fundos. Então ela se
desmaterializou e saiu mais uma vez.

823
Viajando em uma dispersão de moléculas, ela seguiu o sinal de sangue
emitido por Sahvage, o tipo de rastreador ao qual só ela tinha acesso. E
quando ela se concentrou nisso, ela foi levada para uma parte antiga de
Caldwell, uma que ficava bem perto da praga urbana do centro da cidade.
Aqui, as casas eram vitorianas de três andares, muitas das quais haviam
sido convertidas em apartamentos ou usadas como dormitórios para a
SUNY Caldwell porque ficavam perto do campus.

Para se orientar adequadamente, ela se reformou no estacionamento


de um que havia sido reformado e transformado em museu. Como ela
estava em um espaço para deficientes físicos e olhou em volta, ela estava
tremendo muito, mas não porque estava frio e ela não tinha casaco.
Fechando os olhos, ela lutou contra a distração de sua raiva e se
concentrou em onde Sahvage estava. Quando ela teve uma localização
precisa sobre ele, ela se desmaterializou novamente, reformando-se em um
quintal mal cuidado que era cercado por placas de dois metros de altura
soltas em seu arranjo.

Ao longe, um cachorro latiu. Então ela ouviu uma ambulância.

Examinando a parte de trás da casa, ela encontrou duas portas


traseiras. Um levava a uma cozinha, dado o que ela podia ver através de
algumas janelas. A outra foi colocada na base de um conjunto raso de
degraus de concreto.

824
Foi ali que ela sentiu Sahvage.

Uma vantagem de ficar em uma casa velha e fria que foi construída antes
da virada do século passado e que atualmente pertencia a um excêntrico
velho e maluco ... era que havia um monte de acessórios antiquados e
merda nele. Como encanamento. Eletrodomésticos. Luminárias.

Sistemas de aquecimento.

Enquanto Sahvage passava pelo quarto alugado, ele podia sentir o


calor aumentando de intensidade e pensou que estava feliz por ter se
enfiado no interior do estado de Nova York em vez de, tipo, Flórida

A cidade de Nova York compreende 5 distritos situados no encontro do rio Hudson com o Oceano
Atlântico. No centro da cidade fica Manhattan, um distrito com alta densidade demográfica que está entre os principais centros comerciais,
financeiros e culturais do mundo. Entre seus pontos emblemáticos, destacam-se arranha-céus, como o Empire State Building, e o enorme Central
Park. O teatro da Broadway fica em meio às luzes de neon da Times Square.

A Flórida é um estado situado no extremo sudeste dos EUA, com o Oceano Atlântico de um lado e
o Golfo do México do outro. O estado conta com centenas de milhas de praias. A cidade de Miami é conhecida pelas influências culturais latino-
americanas e pelo cenário artístico de destaque, bem como pela vida noturna, especialmente na sofist icada South Beach. Orlando é famosa pelos
parques temáticos, entre eles o Walt Disney World.

825
ou Carolinas . De jeito nenhum eles teriam seus antigos fornos a carvão
funcionando em uma noite de abril.

Abrindo caminho até a sala da caldeira, ele verificou a fornalha da


velha escola, barriguda, alimentada por combustíveis fósseis, que
mantinha aquecido o edifício de três salas, de três andares.

Graças a ele mesmo ter algumas centenas de anos de idade, ele estava
bem familiarizado com o modo como funcionavam. E ainda assim,
enquanto ele estava na frente do gigante de ferro, era como se ele nunca
tivesse visto um antes.

Sob seu braço, ele podia sentir o Livro tremendo, como se fosse um
pequeno animal assustado.

— Desculpe, —disse ele asperamente. — Você tem que ir—e você


sabe disso. Você causa problemas demais, porra.

Quando a coisa começou a tremer ainda mais, ele olhou para baixo.

As Carolinas (em inglês The Carolinas) é o nome genérico que refere conjuntamente os estados de
Carolina do Norte e Carolina do Sul, dos Estados Unidos da América. O uso principal deste termo costuma encontrar-se em referências feitas a estes
estados em descrições, relatos e estudos sobre a Guerra Civil Americana, em que ambos os estados abraçaram a causa confederada. Os nomes dos
estados se derivam do rei Carlos I de Inglaterra, tendo sido cunhado pelo político Sir Robert Heath em 1629, e ratificado pel o filho do rei, Carlos II,
em 1676.

826
— Oh vamos lá. Um pouco de autoconsciência, por favor.

O Livro parou com um estremecimento do que parecia resignação.

O que diabos ele estava esperando, Sahvage se perguntou.

Com essa nota, ele estendeu a mão para a trava da porta da barriga ...

— Pare.

A princípio, como pensou ter ouvido a voz de Mae, ele presumiu que
era sua consciência falando. Mas então um raio vermelho o perfurou
através do lado do globo ocular direito.

Quando ele virou a cabeça, a mira a laser perfurou seu crânio. E na


ponta do gatilho desse cartão de visitas? Mae estava absolutamente firme
enquanto ela segurava a arma que ele comprara para ela.

— O que diabos você está fazendo? —Ela perguntou em uma voz que
falhou.

Ele olhou de volta para a caldeira.

— É assim que as coisas devem ser ...

— Segundo quem! Isso não envolve você—não é da sua conta


maldita.

— Estou tentando te salvar!

827
Mae mostrou suas presas, seu rosto se contraindo com raiva, seu
corpo vibrando de emoção.

— Eu não preciso da ajuda de um covarde como você.

— Desculpe-me?

— Você se queimou em seu passado, e eu sinto muito por isso—mas


você tem fugido desde então. Sem raízes, sem conexões. Porque você não
tem coragem de viver a vida. Bem, essa é sua falha, não minha. E você não
vai me impedir de seguir meu próprio caminho.

— Você não me conhece, —ele disse friamente. — Você não sabe nada
sobre mim.

— Eu não sei? Você não conseguiu nem fazer amor comigo na noite
passada de maneira adequada porque não consegue lidar com nenhuma
responsabilidade—mesmo uma que foi inventada na porra da sua própria
cabeça. Você não tem coragem de ser verdadeiro—mas, tanto faz, não vou
permitir que seus fracassos fodam minha vida. Dê-me o maldito Livro.

Sahvage se empurrou para frente. — Só para deixarmos claro, eu não


fiz sexo com você porque eu sabia que faria isso. —Ele apontou o dedo
para a caldeira. — E eu sabia que você me odiaria por isso. A última coisa
que qualquer fêmea deseja é uma primeira vez com alguém que ela
despreza, então eu me segurei por você, não por mim.

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— Bem, você se você não a porra de um herói?

Segurando o Livro, ele disse:

— Você não sabe o que está fazendo, Mae. Só estou tentando ter
certeza de que você ...

— Eu cansei de falar. Dê-me o Livro. É meu.

— Não é de ninguém.

— Eu o convoquei. —Ela balançou a cabeça e baixou o cano da arma


até o peito dele. — Ele está tentando me encontrar e você está no caminho.

Muito apropriado, ele pensou. Se ela puxasse o gatilho, ela atiraria nele
direto no coração.

— Mae ...

— Não! —Ela gritou no calor da sala da caldeira. — Eu não preciso


que você me diga nada. Você não tem o direito de determinar a vida de um
estranho—especialmente devido ao modo como você administra a sua.
Isto não é da sua conta! Nós nos encontramos por engano e você já é um
arrependimento meu—não vou adicioná-lo à minha lista de tragédias!

Sahvage estreitou os olhos ... e disse a si mesmo que ela estava certa.
Eles eram estranhos. Proximidade e alguma merda realmente fodida os

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uniram aleatoriamente. Se ela queria ferrar com seu irmão e ela mesma?
Por que diabos ele se importava tanto.

Com uma maldição—para si mesmo, desta vez—ele jogou o Livro de


lado.

Quando Mae foi pegar a maldita coisa, ela se atrapalhou com a arma
e puxou o gatilho por engano, uma bala explodindo do cano e
ricocheteando ao redor da sala de pedra áspera em uma série de pings!

Sahvage abaixou-se e cobriu a cabeça, preparando-se para ser atingido


em algum lugar ...

Um guincho agudo, como o de um porco, marcou o fim da viagem de


voo livre do projétil.

Abaixando os braços, ele olhou para Mae. Ela estava com o Livro
encostado no peito e, ao se afastar de sua própria posição agachada, girou
o livro.

No brilho empoeirado da lâmpada exposta acima da cabeça, o


pequeno orifício redondo no centro da capa era como qualquer outro
ferimento na carne—mas a imperfeição não durou muito. Como se a coisa
fosse capaz de se curar, como se estivesse viva, a “ferida” da bala foi se
fechando aos poucos.

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Mae ergueu os olhos e, quando Sahvage encontrou seu olhar, a dor
em seu peito era como se ele tivesse sido atingido.

— Adeus, Mae, —ele disse em voz baixa enquanto passava por ela.

Na porta de saída da sala da fornalha, ele olhou por cima do ombro.

— E eu estou dizendo isso porque eu quero encerramento. Pode ser


um choque completo para você, mas outras pessoas também fazem
escolhas.

Balz ainda estava deitado no chão da sala de livros do triplex quando


Xcor entrou. Ele estava acompanhado por vários Irmãos, nenhum deles
realmente registrado, e ninguém parecia feliz.

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O líder do Bando de Bastardos, aquele a quem Balz havia prometido
sua vida há muito tempo, ajoelhou-se e pegou sua mão da adaga. Quando
a imagem daquele rosto severo, com lábio leporino e olhos familiares,
ficou ondulada, Balz deu um chute na própria bunda. Mas, caramba, a
culpa doeu.

— Vamos tirar você daqui e dar uma olhada nessa perna.

Deus, ele se sentia péssimo, e não apenas porque seu tornozelo estava
pegando fogo, porra. — Você encontrou Sahvage?

— V está rastreando o telefone celular dele.

— Okay. —Merda. Merda. Merda. — Eu sinto muito. Eu sinto muito


...

— Você fez o seu melhor. E não se preocupe, vamos encontrá-lo e


pegaremos o Livro. Isso não vai mudar nosso resultado. Vamos, deixe-me
ajudá-lo.

Balz continuou amaldiçoando por uma série de razões enquanto ele


entrava na vertical, e ele teve que confiar nos ombros de Xcor para sair
mancando do apartamento. No corredor, ele teve que descansar enquanto
os Irmãos forneciam cobertura, examinando o corredor.

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Por favor, não deixe aquela morena aparecer, pensou Balz. E então ele
desligou bem rápido. A última coisa que ele precisava adicionar a esse
show de merda era dar um telefonema mental para a cadela.

— Manny está lá embaixo esperando, —disse Xcor.

— Podemos usar o elevador? Não consigo desmaterializar.

— É claro.

Ele tinha uma escolta totalmente armada até onde estavam os botões
de flechas do elevador e, quando chegaram à fileira de portas duplas, ele
estava ficando tonto de dor. Quando o elevador chegou, eles se arrastaram
para os confins espelhados. Bem, três deles fizeram. Ele, Xcor e Butch
conseguiram entrar. Não havia espaço suficiente para Z e Phury.

— Nós os encontraremos lá embaixo, —um dos dois anunciou.

— Entendido, —disse Butch.

Quando os painéis se fecharam, algo se moveu no canto do olho de


Balz. Empurrando-se, ele só viu seu reflexo, a imagem de seu rosto pálido
e marcado pela dor refratada para frente e para trás, ad infinitum. E Xcor.
E Butch ...

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Ali. Lá estava ele de novo, algo se movendo em um dos conjuntos de
reflexos, uma sombra, pulando um nível. E outro nível. E outro nível ...
aproximando-se da realidade.

— O que é isso? —Xcor perguntou.

— Está vindo para nós ...

As luzes piscaram no alto. O elevador parou de repente.

Em algum lugar, um alarme disparou.

— Feche os olhos, —ordenou Balz, embora não soubesse por quê. —


Vocês têm que fechar os olhos ou ela vai entrar em vocês! Fechem seus
olhos!

Ele apertou seu domínio sobre seu líder e agarrou a frente do coldre
da adaga de Butch, puxando o Irmão para perto.

— Não olhem, não abram os olhos ...

Um som, como o chiado da língua de uma cobra, veio até eles,


envolvendo-os, ficando mais alto. E através de suas pálpebras, ele poderia
dizer que a luz estava piscando novamente. Em pânico, tudo o que ele
podia fazer era rezar para que os outros dois machos estivessem com os
olhos tão bem fechados quanto ele. Mas não havia como verificar ...

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Algo roçou seu tornozelo machucado e pareceu sondar seu pé, como
se estivesse procurando e tivesse identificado sua fraqueza.

Então Butch se moveu contra ele, como se estivesse tentando fugir de


um toque. Xcor rosnou.

Mas ninguém disse nada.

Com um grito, todos os três comunicadores dispararam ao mesmo


tempo.

— Combate. Combate, repita.

O assobio de cobra ficou mais alto e atingiu o ombro de Balz, como


se a entidade, o que quer que fosse, estivesse verificando o barulho.

Balz moveu a mão para cima e silenciou a emergência. Como as


outras unidades também ficaram quietas, ele presumiu que eles tinham
feito o mesmo.

Parecia que todos os lutadores haviam sido atacados de repente. De


uma só vez.

Porra.

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Ttudo bem. Ela não precisava dele.

Enquanto Mae se desmaterializava de volta para sua casa com o


Livro, ela estava totalmente decidida e absolutamente se recusando a
pensar em Sahvage novamente. Reformando-se dentro da garagem, ela
caminhou direto para o corredor dos fundos, através da cozinha e saiu do
outro lado.

— Eu tenho o que precisamos. —Ela ignorou como sua voz falhou.


— Eu vou cuidar de tudo.

Abrindo o caminho para o banheiro, ela prendeu a respiração por um


momento. O gelo da noite anterior estava quase derretido, nada além de
uma piscina fria em torno do corpo de seu irmão.

— Vai ficar tudo bem.

Ela tinha a sensação de que estava chorando. Ela não sabia por qual
outro motivo suas bochechas estariam molhadas, mas ela não se
importava e isso era a coisa boa sobre as obsessões. Elas eram totalmente
esclarecedoras. Nada mais importava, o que tornava tudo muito mais
fácil. Especialmente quando suas emoções ficavam bagunçadas.

Ajoelhando-se perto da banheira, ela colocou o Livro no tapete do


banheiro e olhou para o rosto do irmão. Então ela olhou para o antigo

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tomo. Sua capa era tão feia, e cada vez que ela respirava, seu nariz se
revoltava. Mas mendigos, selecionadores e tudo mais.

— Funcionou, —ela disse para a coisa. — Eu não acreditei no feitiço


de convocação, mas aqui estamos.

Abaixando-se para abri-lo, ela sentiu uma onda de náusea quando as


pontas dos dedos fizeram contato. E então, quando ela tentou levantar a
capa, ela podia jurar que havia resistência, como se a coisa não quisesse a
intrusão. Mas era um objeto inanimado, certo?

Quando uma de suas lágrimas caiu no couro velho, a gota foi


absorvida como se fosse consumida. E então, abruptamente, o Livro se
abriu, a capa jogada para trás sem qualquer ajuda dela. Enquanto Mae
estremecia de surpresa, as páginas começaram a virar por vontade própria,
o pergaminho vasculhando cada vez mais rápido, até que de repente o
movimento parou.

Como se uma página tivesse sido escolhida para ela.

Quando seu coração começou a bater forte, ela olhou para baixo. E
rezou para que quaisquer ingredientes que fossem necessários para a
ressuscitação, ela os tivesse em casa ...

O que ... diabos?

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— Oh, não ... não, não, não.

Havia algum título no topo da página e muitas, muitas linhas de tinta


marrom e preta abaixo dele ... havia até um desenho, de natureza
arcaica—como se fosse da Idade Média—ilustrando um cadáver saindo
de um túmulo.

Então ela tinha a seção certa.

Mas ela não conseguia entender o idioma. Qualquer que fosse o feitiço
escrito ... não era nada que ela já tivesse visto antes.

— Merda!

Quando ela tentou ver se havia uma tradução que ela poderia ler em
algum lugar mais adiante no capítulo, as páginas se recusaram a ser
viradas, o Livro se tornando como um bloco congelado.

Mae começou a respirar pesadamente. Então ela se atrapalhou com


seu telefone. Suas mãos tremiam enquanto ela discava.

— Olá? —Veio a voz da idosa.

— Tallah, eu tenho o Livro. Eu tenho o Livro, mas não posso lê-lo


...

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— Querida, querida—por favor. —A voz da senhora idosa estava
preocupada. — Eu não consigo entender você. Você tem que desacelerar.

Mae estava ofegante, mas se obrigou a se controlar.

— Eu tenho o Livro. Estou aqui, com Rhoger, na minha casa. Mas


não consigo ler o que diz. Você pode vir aqui e me ajudar?

— O feitiço de convocação funcionou ... —A voz de Tallah tornou-se


maravilhada. — E, é claro. Como você sabe, fui treinada adequadamente na
moda tradicional para fêmeas, então sou fluente em muitos idiomas.

— Eu não tenho carro para buscá-la.

Houve uma pausa. — Querida, o que aconteceu com o seu ...

— Não é importante. Você é capaz de se desmaterializar para a


casa?

— Sim, sim. Querida, eu estarei aí imediatamente.

— Obrigada. Acabei de passar pela garagem, a porta está


destrancada e uma das venezianas dos fundos está quebrada. Não há
nada onde meu carro deveria estar, então é seguro.

— Não se preocupe. Devemos resolver isso juntas.

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Quando elas encerraram a ligação, Mae caiu de alívio. Mas ela se
preocupou se Tallah seria capaz de ...

Toc, toc, toc.

Sua cabeça girou. Ficando de pé, ela passou por cima do Livro e sacou
sua arma—não que ela estivesse confiante em usar a maldita coisa. Ela
quase conseguiu dar um tiro no seu próprio coração naquela sala da
fornalha com Sahvage ...

Ok, ela não estava pensando nisso agora. Ou nunca mais.

Querido Deus, o que sua vida havia se tornado?

Toc, toc.

Quem está aí, ela pensou enquanto se inclinava para fora do corredor e
olhava para a porta da frente.

E se fosse a Irmandade? Se eles conseguiram rastrear o telefone, sem


dúvida sabiam onde Sahvage havia passado o dia. E se eles estivessem
vindo para ...

— Mae? —Veio uma voz abafada pela porta. — Mae, querida, você
está aí?

— Oh, Jesus—Tallah.

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Quando ela se lançou pela sala de estar, ela pensou que era típico da
fêmea mais velha ficar confusa. Abrindo a porta, ela encontrou a velha
fêmea bem na varanda, vestida com um de seus caftãs, suas mãos nodosas
segurando uma pequena bolsa em seu peito afundado como se ela fosse
uma mendiga.

— Entre, entre, —disse Mae enquanto puxava a fêmea para dentro.


— Então você estará segura.

Tallah tropeçou na borda da porta e Mae teve que segurar seu corpo
frágil antes que ela atingisse o chão. Assim que ela se recompôs, Mae
voltou correndo para o banheiro, falando o tempo todo.

— Estou rezando para que você possa ler isto, —disse ela por cima do
ombro.

Virando a esquina para o banheiro, ela franziu a testa. Sobre o tapete


do banheiro, o Livro se fechou novamente.

— Oh, vamos lá, —ela murmurou enquanto ia pegar a coisa ...

— Você é tão estúpida, porra.

Mae congelou. Em seguida, endireitou-se lentamente e se virou.

A morena estava parada na porta aberta, o caftã de Tallah muito curto


nas mangas e na parte inferior enquanto cobria seu corpo espetacular.

841
— E posso apenas dizer a você, —a demônio olhou para si mesma, —
Estou tão feliz em tirar essa merda de cima de mim.

Com o aceno de uma mão elegante, as dobras soltas desapareceram e


foram substituídas por um macacão preto. Jogando seu cabelo lindo e
brilhante por cima do ombro, ela sorriu com aqueles lábios vermelho-
sangue.

— Então, eu acho que você e eu estamos de volta onde começamos


ontem à noite. —Um dedo vermelho-sangue se ergueu. — Bem, exceto
que você me deve quatrocentos mil dólares. Por que—por que—você teve
que ir atrás do meu crocodilo do Himalaia? E aposto que nem foi
calculado. Você provavelmente nem sabia o que estava queimando, não
é? Você é uma idiota fodida do caralho.

— Eu não ... compreendo.

— Claro que você não compreende. Eu juro, você é aquela frase de


Thirty Something . —Enquanto Mae piscava confusa, a morena acertou

Thirtysomething é uma série de televisão norte-americana sobre um grupo de baby boomers nos seus trinta anos,
originalmente transmitida pela ABC, entre 1987 e 1991. A série venceu o prémio Emmy de melhor série dramática e o Globo de Ouro em 1988. A frase
q a Devina se refere e a do nome Thirtysomething quer dizer trinta e poucos.

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em cheio. — Jay-Z ? Jesus Cristo, você provavelmente ouve música
folk e definitivamente não faz compras na Bergdorf's . Tudo bem, você
quer saber que bolsa é essa? Birkins é uma bolsa feita pela empresa Hermès.
São as bolsas mais cobiçadas do mercado, e cada uma é feita por um único
artesão que leva ...

Mae balançou a cabeça. — Não é sobre a bolsa.

A demônio parecia surpresa que sua palestra estivesse sendo


interrompida. — Sabe, esta pode ser uma verdadeira oportunidade de
aprendizado para você. Então, novamente, você não vai estar viva por
muito mais tempo Entãoooooooooo ... sim.

— Como você está nesta casa?

— Você me convidou para entrar, idiota. —Ela sorriu um pouco mais.


— E não, o fato de você não saber que não era Tallah não conta. Um

Shawn Corey Carter, mais conhecido pelo seu nome artístico JAY-Z, é um rapper, compositor, produtor e empresário
norte-americano. Ele é um dos artistas de hip hop mais bem sucedidos empresarialmente e financeiramente nos Estados Unidos. Em 2018, a Forbes
estimava seu patrimônio líquido em 900 milhões de dólares.
O estilo folk faz referência à palavra folklore, do inglês folclore, que significa conhecimento do povo. Dessa forma, o estilo tem como sua
principal fonte a música tradicional dos povos. ... Por ser originalmente um estilo musical tradicional, o folk passou muito tempo engessado.

Bergdorf Goodman Inc. é uma loja de departamentos de luxo com sede na Quinta Avenida em Midtown Manhattan,
Nova York. A empresa foi fundada em 1899 por Herman Bergdorf e mais tarde foi detida e gerida por Edwin Goodman e, mais tarde , por seu filho,
Andrew Goodman. Hoje, Bergdorf Goodman opera em duas lojas situadas em frente uma da outra na Fifth Avenue, entre as ruas 57th e 58th. A loja
principal, que foi inaugurada em sua localização atual em 1928, está localizada no lado oeste da Quinta Avenida. Uma loja masculina separada, fundada
em 1990, está localizada no lado leste da Quinta Avenida, do outro lado da rua.

843
convite é um convite. Você deveria ter sido mais cuidadosa—ah, e eu
estava na cabana antes que seu namorado com o sal fosse para a cidade.
Tudo o que ele fez foi fechar a porta com o lobo já no galinheiro. Ou algo
assim. Nunca fui muito boa em metáforas de animais. Desculpe.

— Mas ...

— Oh, pelo amor de Deus. Eu tenho que desenhar um diagrama?


Você convocou o Livro e, assim que o fez, senti o feitiço. A maldita coisa
é minha—e algum idiota roubou de mim, mas isso é outra história. Aquela
cabana de merda não estava protegida, então eu simplesmente valsei para
dentro—e Tallah ...

— Onde ela está, —Mae exigiu. — O que você fez com ela ...

— Querida, ela se foi há muito tempo. Ela não tinha mais nada com
que lutar comigo. Foi como tirar um Band-Aid molhado. Trabalho de um
segundo.

Mae gemeu e cambaleou sobre os pés.

— Por favor. —A demônio revirou os olhos e bateu o stilettos. — Eu


não era uma companheira de quarto tão ruim. Até cozinhei para você e
seu namorado—e você gostou daquele ensopado. Então, novamente, foi
muito bom. Eu coloquei um monte de coração nisso, eu realmente
coloquei.

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Enquanto a mente de Mae lutava para alcançá-la, ela queria
mergulhar em suas emoções, mas sabia que era uma sentença de morte.
Ela precisava pensar. Pense. Pense ...

No silêncio, os olhos do demônio se voltaram para a banheira. E então


ela olhou uma segunda vez.

— Oh, meu Deus. —Ela olhou para Mae e riu. — É claro. Eu estava
me perguntando por que alguém tão puritano quanto você queria meu
Livro, mas eu deveria saber que era por uma razão sentimental. Quem é
ele ...

Quando a demônio deu um passo em direção à banheira, Mae esticou


o braço.

— Não o machuque!

A demônio congelou. Olhou para Mae. Olhou de volta para a


banheira.

— Puta merda ... —Então, — Ele é seu irmão? Aquele ... aquele
virgem, meu virgem, aquele que fugiu, é seu irmão?

Mae ficou tonta ao se lembrar de Rhoger entrando pela porta e


desabando em seus braços. Morrendo ... de suas feridas.

— Você o matou, —ela respirou. — Você é a assassina dele.

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A demônio sussurrou algumas maldições. — Cara, o destino é tão
fodido às vezes, realmente é—e isso explica por que eu reconheci você na
gaiola em que ele esteve. —Ela passou a mão pelo cabelo, como se
estivesse frustrada. — E sim ... embora eu deva deixar você usar meu
Livro, você sabe, porque eu sou uma garota tão legal, agora é um caso de
sobre o meu cadáver que você está trazendo aquele ladrão de volta. E
considerando que sou imortal? Você vai ter que esperar para sempre antes
que eu caia.

Instantaneamente, o afeto da demônio mudou. A besteira de conversa


alegre se foi.

— Agora me dê a porra do meu Livro, —ela rangeu para fora.

Mae agarrou o tomo e o segurou com os braços cruzados sobre o


peito.

— Não. Você não está tirando isso de mim.

Olhos negros brilharam. — Me. Dê. O. Meu. Livro.

Mae balançou a cabeça lentamente, mesmo quando começou a


tremer.

— Você vai ter que tirar isso de mim. Vá em frente. Você é muito mais
forte do que eu. Você é tão poderosa, porra. Venha e pegue.

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O belo rosto da demônio ficou feio de fúria, e o ar ao redor dela se
deformou.

— Você não sabe com quem está fodendo.

— Sim ... Eu sei.

Mesmo enquanto se perguntava o que diabos ela estava fazendo, Mae


desenrolou os antebraços e esticou o Livro para a demônio.

— Pegue isso.

O rosnado que vibrou na tensão entre elas era o de um predador, baixo


e mortal.

— Você porra ...

— Mae, —veio uma voz profunda.

A porta da garagem se fechou com um solavanco na outra


extremidade da casa.

— Estou aqui apenas para pegar minhas armas, —Sahvage gritou. —


E então eu vou embora. Não se preocupe.

A demônio se endireitou. E deu um sorriso encantado.

Em seguida, ela sussurrou:

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— Parece que tenho um pouco de influência de repente, não é?

Em uma voz mais alta que soou exatamente como a de Mae, o


demônio disse:

— Estou aqui em baixo. E eu preciso de você.

Quando o demônio piscou, Mae tentou gritar. Tentou avisá-lo. Gritou


o mais alto que pôde. Mas ela não conseguia fazer nenhum som.

Era como se sua voz tivesse sido roubada.

É claro .

Natch em inglês é usado para indicar que um determinado fato ou evento é o que você esperaria e nada surpreendente. Podendo usar,
Naturalmente, ou como você esperaria e é claro.

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Foi como um pesadelo.
Quando Mae ouviu as botas pesadas de Sahvage vindo para o
banheiro, cada vez mais perto, ela tentou desesperadamente avisá-lo. Mas
então ele entrou pela porta aberta.

Quando ele parou, as lágrimas caíram dos olhos de Mae. Eu sinto


muito, ela murmurou.

— Oi, querido, —a demônio pronunciou para ele. — Evidentemente,


você está em casa.

Antes que Sahvage pudesse responder, seu corpo foi jogado de volta
contra a parede do corredor, o mesmo tipo de pressão da mão invisível
que atingiu Mae naquele covil subterrâneo, fazendo-o se esforçar e lutar
para respirar.

— Então, —a demônio disse a Mae em um tom razoável. — É assim


que vai ser. Você me dá o Livro e eu te dou ele. E antes que você saia com

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um monte de exigências de saída, sim, eu vou embora. Sem querer
ofender, mas esta casa, assim como você, não faz meu estilo.
Francamente, ela precisa de um bom fogo maldito. Nós temos um acordo?
Você me dá o que é meu, eu dou a você o que é seu. Mesmo, Steven.

Na parede, a um bom meio metro do chão, os lábios de Sahvage se


separaram de suas presas em agonia, e as veias de seu pescoço se
destacaram em nítido relevo.

— Oh, e P.S., —a demônio apontou, — a vida dele é o seu tema


Jeopardy !. Então, quando acabar, você ficará sem tempo e, embora eu
tenha outras opções para trabalhar, ele estará morto como uma maçaneta
de porta. Ou é um puxador? Eu acho que é um puxador.

Mae olhou para a banheira. Olhou para trás, para Sahvage.

Quando ela encontrou seus olhos, ela sabia o que iria decidir antes
mesmo de estar ciente de fazer uma escolha.

Diante de uma fonte de grande destruição, Mae reconheceu o quão


destrutiva ela mesma havia sido. Em seu desespero, ela havia se
sacrificado muito, em sua dor, ela havia ultrapassado o limite ... em sua

Jeopardy! é um programa de televisão atualmente exibido pela CBS Television Distribuition. É um show de
perguntas e respostas variando história, literatura, cultura e ciências.

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recusa em aceitar a tragédia, ela trouxera muitas coisas para si mesma.
Para outros.

Sahvage não era o covarde. Ela era.

— Pegue o Livro, —ela disse alto e claramente. — Apenas o tenha.


Eu nunca deveria ter seguido esse caminho para começar.

Enquanto ela jogava o peso pesado, a demônio tinha uma expressão


de manhã de Natal em seu rosto, toda a fúria se fora, nada menos que
deleite. E então foi ela quem apertou a coisa velha e feia contra seus seios
perfeitos.

Houve um momento em que seus olhos negros se fecharam, como se


estivessem aliviados.

E então suas pálpebras se abriram.

— Obrigada, —ela disse com uma sinceridade estranha. — Você fez


a coisa certa. E sinto muito pelo seu irmão. Mas, honestamente, é melhor
você não foder com a morte. É a única coisa com a qual até eu tenho
cuidado.

No corredor, o corpo tenso de Sahvage foi lentamente abaixado de


volta ao chão. E então ele se sacudiu, como se estivesse se livrando das
algemas.

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— Mae, —disse ele enquanto estendia os braços ...

Sem aviso, sua cabeça girou no topo da coluna com um nauseante


crack! e seu corpo caiu no chão em uma pilha.

A morena lhe deu um olhar atrevido e apontou o dedo no ar.

— Psicopata.

— Sahvage! —Mae gritou a plenos pulmões.

OMG, a noite estava tão agitada, Devina pensou enquanto

delicadamente se esquivava do caminho da vampira. Ela estava de muito


mau humor para começar, mas essa demonstração de emoção trágica?
Vamos lá.

Era melhor do que sexo.

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Bem, o sexo meh que ela tem tido ultimamente, pelo menos. E ela
tinha o Livro.

— Embora você e eu vamos ter uma conversa, —ela murmurou para


a coisa. — Livro ruim. Você é um Livro muito, muito ruim.

No corredor apertado, a vampira estava rolando suavemente seu


macho, a cabeça de ganso do macho balançando, seus olhos cegos
olhando para o chão, a parede—oh, e agora o teto.

— Você poderia tentar boca a boca, —sugeriu Devina, — mas não


acho que vá ajudar.

A fêmea desabou naquele peito grande e imóvel e gemeu


positivamente. E por um momento, Devina pensou em fazer algumas
piadas, apenas para cortar a tensão. Porque isso estava ficando um pouco
intenso.

E então ela percebeu.

Ninguém jamais ficaria de luto por ela assim. Ninguém se importaria


se ela vivesse ou morresse. Ninguém nunca iria ... amá-la assim.

Assim que a dor disparou em seu peito, a fêmea se contorceu.

Com uma arma na mão.

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Quando um ponto vermelho vacilante patinou em seus olhos, Devina
recuou ...

A fêmea gritou de fúria enquanto puxava o gatilho uma e outra vez, o


som da arma disparando competindo por tempo de antena sobre a dor do
luto.

E Devina tinha que dar crédito à cadela. Foi um tiro e tanto.

As balas rasgaram carne e osso, explodindo pedaços no ladrilho, no


chão, até mesmo na banheira com o irmão morto da fêmea, todos os tipos
de características perfeitas sendo arruinadas quando Devina foi jogada
para trás ...

Clique. Clique. Clique.

Devina abriu o único olho que ainda estava funcionando. A fêmea


ainda tinha a arma bem na frente dela, e ela estava compulsivamente
apertando o gatilho, embora nada estivesse saindo.

Pulando para frente, ela agarrou a fêmea pela garganta com uma mão
e a levou cambaleando pelo corredor até uma pequena cozinha patética.
Quando a vampira tropeçou e começou a cair, Devina deu-lhe um
empurrão—e uma mesa com uma caixa de cereal e uma tigela cheia de
leite pegou a confusão, tudo estilhaçando, cadeiras derrubando.

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Devina manteve o Livro em sua outra mão enquanto se aproximava
e arrastava a fêmea novamente e, em seguida, lançava-a contra o balcão.
Contra os armários. Contra o fogão.

E como prova de que ela era a entidade superior, ela conseguiu fazer
todo aquele pingue-pongue enquanto tricotava os ferimentos à bala.

No momento em que a fêmea caiu no chão, as coisas estavam de volta


ao normal.

Devina pegou a frente daquela garganta uma última vez e jogou o


pedaço de carne sem resistência de volta contra a parede vazia perto da
porta do que tinha que ser a garagem.

Segurando a fêmea no lugar com um feitiço, Devina afofou seu


cabelo.

— Bem. Isso aconteceu. E vou acertar as contas agora. Você arruinou


minha bolsa com fogo. Então, vou queimar esta merda de casa com você,
seu namorado cadáver e seu traseiro morto, filho da puta de irmão e ladrão
encharcado. —Ela olhou ao redor. E então bateu o calcanhar de
frustração. — Droga, eu não tenho marshmallows. Você tem—ah, deixa
pra lá.

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Ela caminhou em um pequeno círculo e se perguntou por onde
começar. — Você sabe, sempre quis ter meu momento Oprah . Aqui
está! Você tem uma chama ... e você tem uma chama ... e você tem uma
chama.

Ao redor, pequenas rajadas de amarelo e laranja apareciam nas coisas:


nas costas do sofá e no canto do carpete da sala. O armário em cima da
geladeira. A arcada para o corredor. E havia mais nos quartos dos fundos
também. No porão também.

— Ufa. —Ela fez uma pausa e se abanou. — Sou eu, ou está quente
aqui? E, a propósito, você ainda me deve pelo menos duzentos mil. Não
há como essa choupana chegar perto do custo da minha bolsa.

Contra a parede, Mae estava perdendo a consciência—pelo menos até a


casa explodir em chamas ao seu redor. Quando a fumaça e o calor

Oprah Winfrey é uma apresentadora, jornalista, atriz, psicóloga, empresária, repórter, produtora, editora e
escritora norte-americana, vencedora de múltiplos prêmios Emmy por seu programa The Oprah Winfrey Show, o talk show com maior audiência da
história da televisão norte-americana.

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começaram a engrossar o ar, e sua pele formigou em advertência às
chamas, uma onda de adrenalina golpeou seu cérebro em ordem.

Mas não havia nada a ser feito. Assim como Sahvage havia sido
mantido no lugar antes ...

Gemendo em sua garganta, Mae fechou os olhos com força. Ela o


matou. Não intencionalmente, mas suas ações criaram a situação que
levou à sua morte.

Isso era tudo culpa dela. E ela nunca teve a chance de se desculpar ...
ou dizer a ele que ela o amava. Ela havia arruinado a vida dele por causa
de sua busca egoísta pelo poder sobre a morte.

Levantando as pálpebras, ela se concentrou na demônio. A morena


estava sorrindo enquanto a fumaça girava em torno dela, o Livro que tinha
começado tudo apertado contra ela ...

De entre os redemoinhos cinzentos ondulantes, uma figura emergiu.

Uma figura que não fazia sentido.

Sahvage? Mae pensou. Como isso era possível?

Mas era ele—embora talvez ele não fosse real. Talvez ele fosse apenas
uma invenção de seu cérebro desesperado e moribundo.

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— Bem, meu trabalho está feito aqui, —a demônio disse. — E por
mais que eu queira ficar por aqui e assistir ao churrasco, tenho meus
próprios feitiços para ...

Com um grito de guerra que abalou a casa, Sahvage—ou a miragem


dele—jogou os braços em volta da demônio. Antes que a morena pudesse
reagir, ele mostrou suas presas e as afundou no lado de sua garganta.

Enquanto a demônio gritava, as chamas que haviam encontrado


apoio ao redor da casa explodiram, o inferno redobrando.

Ainda agarrado, Sahvage arrastou a demônio de volta para onde as


chamas eram mais fortes, o fogo queimando mais brilhante.

A morena, enquanto isso, lutou e chutou, arranhando e mordendo o


aperto que estava sobre ela.

Assim que Sahvage desapareceu nas chamas, seus olhos se fixaram


em Mae.

— Eu sinto muito! —Ela gritou. — Eu amo você!

E então ele se foi.

— Não! —Mae gritou. — Sahvage!

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Quando ela começou a chorar, ela tentou se livrar do aperto. Mas não
havia como se mover, não havia como fugir, pois a casa se transformou
em um forno e cada respiração que ela dava queimava seus pulmões.

Ela iria morrer.

Mesmo se o corpo de bombeiros humano viesse, seria tarde demais


para ela. Muito tarde. Muito tarde ...

Mae.

Assim que ela estava perdendo a consciência, ela ouviu seu nome.
Forçando suas pálpebras para cima, ela ...

— Rhoger?

O fogo estava alto agora, o crepitar, estalar e ranger de vigas e paredes


tão ensurdecedores que ela não sabia se sua voz soava. Então, novamente,
como a imagem de Sahvage, ela estava realmente vendo seu irmão agora?
E ele não estava sozinho.

Tallah estava parada bem ao lado dele.

Os dois estavam de mãos dadas, e o brilho amarelo e laranja os


projetava em uma luz estroboscópica que era, de uma forma estranha,
celestial. Em face do calor, eles não foram afetados de forma alguma, suas
roupas não queimadas, seus cabelos não pegando fogo.

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Eles apenas olharam para ela, suas expressões santas com paz.

Tudo ficará bem, disse Rhoger.

Okay, não que ela quisesse discutir com o fantasma de seu irmão
durante seus últimos momentos na terra—mas eles não concordaram com
a definição desse termo. Nada estava bem ...

A visão do par de seus entes queridos foi destruída, a miragem


quebrada por um homem vestido de preto.

Seu primeiro pensamento foi que sua fantasia de Sahvage havia


voltado, mas então não, não era ele. Este era um lutador, no entanto. Um
lutador de cavanhaque com um par de adagas pretas amarradas, alças para
baixo, em seu peito.

— Eu tenho você, —disse ele em uma voz de comando.

— Não, não, eu estou presa ...

De repente, o controle sobre ela desapareceu e, quando ela caiu para


frente, ele a segurou e girou.

— Sahvage! —Ela gritou por cima do barulho. — Sahvage está lá


embaixo!

O lutador olhou para o corredor. — Ninguém pode sobreviver lá! Eu


tenho que salvar você!

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Ambos estavam tendo que gritar para serem ouvidos, e quando ele
começou a empurrá-los para longe, ela o agarrou para se libertar. Mesmo
sabendo que ele estava certo. Nada poderia sobreviver naquele forno, e
seu amor já estava morto antes de começar.

Mesmo um demônio não poderia sobreviver lá. Devia ser por isso que
seu corpo não estava mais preso.

— Sahvage, —ela gemeu.

Quando todas as suas forças a deixaram, o Irmão irrompeu na


garagem, acertou o botão pra abrir a porta com um soco, e no instante em
que o ar fresco invadiu o espaço de concreto, ela viu os outros machos que
haviam se alinhado na garagem.

Ela tentou se concentrar em seu delírio repentino.

— Ele pegou a demônio, —disse ela ao Irmão com cavanhaque. —


Sahvage voltou à vida de alguma forma e levou a demônio para as chamas.
Ele me salvou ... ele salvou todos nós.

Sirenes agora. Altas sirenes.

Os humanos estavam chegando.

— Nós vamos cuidar bem de você, —disse o Irmão a ela. — Apenas


fique comigo, certo?

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Olhando por cima do ombro, ela viu a casa de seus pais pegando fogo,
as chamas em espasmos atrás de cada janela que existia, a fumaça saindo
dos buracos que se formaram no telhado.

Destruição total. Nada foi deixado para trás.

Assim que ela foi colocada no RV que ela reconheceu de antes, ela viu
as luzes vermelhas borbulhantes do primeiro caminhão de bombeiros.

As portas duplas foram fechadas, impedindo a visão dos humanos que


vieram resgatar o que não poderia ser salvo.

Enquanto o motor do RV rugia e as coisas balançavam para frente,


ela percebeu que havia outro macho sentado ao lado em um banco. Um
de seus tornozelos estava amarrado com uma bandagem áspera, e ele tinha
a perna toda elevada sobre um maço de cobertores brancos.

Ele estava olhando para ela.

— O que aconteceu? —Ele disse enquanto o macho com cavanhaque


prendia o corpo dela na mesa com uma série de tiras.

— Eu perdi o macho que eu amo, —ela murmurou, embora ele não


tivesse falado com ela. — Eu o perdi antes mesmo de dizer a ele como me
sinto.

E essa foi a última coisa que ela se lembrou.

862
Na Casa Luchas, Nate estava descansando ao lado de Elyn no sofá. Seu
laptop estava aberto no—bem, colo dela, por assim dizer—e ela estava
procurando em um banco de dados de nomes da espécie. Do outro lado,
na TV montada sobre a lareira, Stranger Things , segunda temporada,
estava passando.

Quando Elyn fechou o laptop bruscamente, ele olhou para ela.

— Nada?

Ela não respondeu. Ela apenas olhou para o chão.

Quando ele respirou e sentiu o cheiro de chuva fresca, ele franziu a


testa e se sentou.

Stranger Things é uma série de televisão via streaming estadunidense dos gêneros ficção científica, terror, suspense e drama
adolescente, criada, escrita e dirigida pelos irmãos Matt e Ross Duffer para a plataforma Netflix. Os irmãos Duffer, Shawn Le vy e Dan Cohen são
também os produtores executivos. A série estreou mundialmente em 15 de julho de 2016 e apresenta em seu elenco os nomes de Winona Ryder,
David Harbour, Finn Wolfhard, Millie Bobby Brown, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, Noah Schnapp, Natalia Dyer, Charlie Heaton, Joe Keery, Cara
Buono e Matthew Modine, enquanto Sadie Sink, Dacre Montgomery, Sean Astin, Paul Reiser, Maya Hawke, Priah Ferguson e Brett Ge lman foram
incluídos no elenco em temporadas posteriores.

863
— Elyn, você está chorando.

Ela colocou as mãos no rosto. — Eu sinto muito. Eu sinto muito ...


Eu sinto muito ...

— O que? Diga-me. Diz-me o que está acontecendo.

Com um estremecimento, ela pareceu tentar se recompor. E quando


ela olhou para ele a seguir, seus olhos prateados brilharam de uma forma
que o fez se sentar.

A luz neles era ... cintilante. Como se fossem bacias de iluminação,


ao invés de qualquer coisa convencional que a fêmea simplesmente
olhasse.

— Eu menti para você, —ela disse calmamente. — Eu não tenho ...

— O que.

— Eu não pertenço aqui.

— A Casa Luchas foi criada para ajudar pessoas como você ...

— Não, não é isso que eu quero dizer.

— Caldwell, então?

— Este tempo presente. Isso tudo foi um engano. Um grande erro.

864
Elyn colocou o laptop de lado e se levantou. Andando ao redor, ela
olhou para a cozinha.

— Estamos sozinhos, —disse ele asperamente. — Você pode falar


livremente. Shuli e os outros não voltarão por outra meia hora.

— Eu sinto muito, Nate.

Suas palavras foram ditas distraidamente, como se ela não soubesse


que ele ainda estava na sala. Como se ela não soubesse onde exatamente
estava.

— Eu tenho que ir, —ela deixou escapar.

— Ir aonde.

— Sair para uma caminhada. Não posso ficar dentro de casa agora—
preciso de um pouco de ar.

— Eu vou com você.

— Não, eu tenho que ficar sozinha. Não irei longe, eu juro pra você.

Com chutes bruscos, ela calçou as botas que recebera da equipe da


Casa Luchas e caminhou até a frente da casa. Depois de um momento, ele
ouviu a porta abrir e fechar silenciosamente.

— Merda.

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Nate olhou em volta e se perguntou se deveria ligar para a assistente
social. Ela deveria voltar junto com Shuli e dois potenciais hóspedes para
a casa. Eles foram estocar os armários e a geladeira.

Ansioso e sem saber o que diabos fazer, ele puxou seu laptop. Ao fazer
login, ele entrou na função de pesquisa. Ele disse a si mesmo que estava
violando a privacidade dela, mas não conseguiu se conter. Algo estava
acontecendo. Alguma coisa ... provavelmente esteve acontecendo o tempo
todo. Ele era apenas um pateta, no entanto, e ele se preocupava que ele ...

O nome que ela procurou apareceu imediatamente porque ela não


havia fechado o banco de dados.

Sahvage.

Sahvage era o nome que ela procurava.

De volta ao centro de treinamento da Irmandade, Rehvenge abriu

caminho para fora do escritório e caminhou até a clínica. Havia muitas


pessoas reunidas do lado de fora de uma das salas de exame e ninguém
falava muito. Então, novamente, havia muitos ferimentos, todos os tipos

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de inchaços, hematomas e vergões marcando os rostos dos Irmãos e dos
outros lutadores.

— Jesus, vocês se machucaram, —ele comentou.

Suas grades foram registradas uma a uma por ele, e a tristeza foi tão
avassaladora que, embora ele fosse um symphath e tivesse tendências
sociopatas, era impossível não afundar no sofrimento.

Bem, e então havia o fato de que aquele era o seu povo. Sua
comunidade. Sua ... família.

A porta se abriu e Vishous saiu.

— Inalação de fumaça. Mas ela vai superar. Ela está consciente e


estamos tentando fazer com que ela fique, mas ela insiste que quer ir para
casa.

— Eu pensei que a casa dela tinha pegado fogo, —Rhage disse


enquanto rolava seu ombro enfaixado.

— Uma outra. Há uma cabana em algum lugar.

— O que aconteceu com Sahvage? —Rehv perguntou.

V acendeu um cigarro enrolado à mão e na expiração disse: — Ele


salvou o dia—noite, seja o que for. Aquela fêmea ali disse que o Irmão de
alguma forma voltou de uma lesão catastrófica no pescoço, travou na

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demônio e a arrastou de volta para o inferno. Eles morreram juntos no
incêndio.

— Porra, —alguém disse. — Acho que ele não era um feiticeiro,


afinal.

— E o Livro estava com eles, —V concluiu.

— Graças a Deus. —Butch fez o sinal da cruz. — Não precisamos


mais nos preocupar com nenhum deles.

Rehv olhou para a porta da sala de exame. — Está tudo bem se eu for
falar com ela? Eu não vou aborrecê-la nem nada.

— Por mim está tudo bem. —V deu outra tragada. — Não há


restrições médicas e, de qualquer maneira, Ehlena está lá agora.

Rehv abriu caminho para a sala de exames. No instante em que viu


sua shellan, ele sentiu seu corpo responder, e sua fêmea sorriu da pia onde
ela estava lavando as mãos.

— Mae, este é o meu hellren.

De cima da cama, a fêmea coberta de fuligem estava em uma forma


triste, a máscara de oxigênio obscurecendo muito seu rosto—mas
nenhuma de suas emoções.

Ele as leu com muita facilidade. E era por isso que ele queria vê-la.

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O sofrimento era tão terrível, tão profundo ... isso o lembrava de si
mesmo.

Depois de saudar sua shellan com um beijo, ele olhou para a paciente.

— Me desculpe por ter mentido para você, —ele disse asperamente.


— Sobre o que eu sabia.

Na maca, a fêmea assentiu. Tossiu um pouco. Manteve seus olhos


injetados de sangue nele, e ainda assim ela não estava com raiva dele.
Então, novamente, ela não estava sentindo nada além de dor.

— Eu só queria que você soubesse disso, —disse ele. — E eu gostaria


que houvesse algo que eu pudesse fazer.

Ehlena secou as mãos. — Ela gostaria de ir para casa. Talvez você


possa levá-la aonde ela gostaria de ir? Há tantos feridos aqui.

A fêmea na cama do hospital puxou a máscara para baixo. — O que


aconteceu com eles? —Ela perguntou em uma voz rouca. — Os Irmãos.

Rehv respondeu a essa. — As sombras vieram atrás deles. Foi uma


luta épica no centro da cidade, como se a demônio precisasse deles para
ficar onde estavam no Commodore. Felizmente, não houve vítimas. Poderia
ter havido, porém—exceto que de repente, tudo parou. O inimigo
simplesmente se levantou e desapareceu.

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— Sahvage, —ela disse daquele jeito áspero. — Quando ele puxou a
demônio para o fogo. Assim que ela foi morta, seu poder desapareceu. Ele
salvou a Irmandade.

Rehv acenou com a cabeça e olhou para trás na porta. — Bem, isso
explica tudo.

— Explica o quê?

— Por que todos os lutadores nesta casa estão fora do seu quarto de
hospital.

— Me desculpe, eu não entendo ...

— Você é a fêmea de Sahvage. Então, eles honram a memória dele


cuidando de você. —Rehv baixou a voz. — Você não está tão sozinha
quanto pensa que está. Não mais.

Houve um longo período de silêncio. E então ela disse:

— Você está tão errado sobre isso. Sem ele? Estarei sempre sozinha.

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Duas horas depois, quando os faróis da Mercedes iluminaram a frente da
cabana de Tallah, Mae sentiu a agonia em seu peito aumentar
novamente—e ela pensou que sua dor era como aquele incêndio na casa
que a demônio havia iniciado, repentinamente explodindo em
intensidade.

Ela fechou os olhos e se perguntou se conseguiria entrar, muito mais


passar o resto da noite lá dentro.

— Sabe, você pode ficar na minha casa do lago em vez disso, —disse
o Reverendo ao lado dela. — É seguro. Existem Escolhidas lá. É um bom
lugar para curar.

Mae voltou a se concentrar na porta da frente. — Não, esta é a minha


nova casa. Eu posso muito bem me acostumar com isso.

E ainda assim ela não saiu do carro aquecido. Em vez disso, ela olhou
para todas as janelas escurecidas, os arbustos crescidos, as árvores
irregulares.

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— Uma fêmea maravilhosa viveu aqui uma vez, —ela comentou
tristemente.

E agora ela podia ver o caminho para se tornar o que Tallah tinha
sido, uma velha fêmea que vivia naquelas quatro paredes, cambaleando
ao redor da mobília enorme, para sempre decidida a arrumar as coisas um
pouco melhor.

— Obrigada pela carona, —ela disse enquanto abria a porta.

Quando ela ia sair, o Reverendo tocou em seu braço.

— Você sempre pode ligar para o centro de treinamento. Existem


recursos lá para você. Eu te dei o número.

— Obrigada, —disse ela, embora soubesse que nunca ligaria.

— Qualquer coisa que você precise, venha até nós.

Ela assentiu, mas apenas para fazê-lo parar de falar. Ela honestamente
apreciou o que ele estava dizendo, mas ela não podia pensar em nada além
do dolorido presente e os quatrocentos anos no futuro quando tudo isso
estivesse terminado. Todo o sofrimento acabado. Quando ela finalmente
morresse.

Saindo, Mae disse algumas coisas para o macho, e ele acenou com a
cabeça como se tudo tivesse feito algum sentido. Então ela caminhou até

872
a porta da frente da casa. Ao abrir a porta, ela respirou fundo e apenas
sentiu o cheiro de fumaça.

Seria assim por um tempo, eles disseram a ela. Suas narinas


capturaram, e iriam manter, o cheiro acre por várias noites.

Como se ela se importasse, no entanto.

Mae acenou por cima do ombro e fechou a porta. Então ela se


encostou nos painéis frios e olhou para a parte de trás do móvel que
Sahvage havia tirado do lugar para protegê-los. As lembranças dele
pegando eram tão afiadas quanto facas, e ainda assim ela não podia evitá-
las, mesmo enquanto cortavam seu coração.

Para tentar chamar sua atenção para outro lugar, ela fez outro
inventário de como seu corpo estava. Não muito bom: sua pele estava
quente, mas mais do que isso, seu núcleo estava superaquecido, como se a
temperatura de seu corpo tivesse subido permanentemente pelo fogo.

Como se ela fosse um rosbife em um restaurante, recém-saído do


forno, jogando fora seus próprios BTUs .

Imagino quanto tempo isso vai durar, ela pensou apática.

BTU é o acrônimo de British thermal unit, uma unidade de medida não métrica utilizada principalmente nos Estados Unidos, mas também no
Reino Unido. Trata-se de uma unidade de energia equivalente a: 252,2 calorias. 1 055,05585 joules. Entre 778,17 ft⋅lbf

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Olhando através dos contornos de todos os móveis grandes e
extravagantes de Tallah, ela ouviu o silêncio e teve vontade de chorar. Mas
não havia mais lágrimas.

Deus, toda vez que ela piscava, ela tinha outra imagem do banheiro
da casa de seus pais, a demônio em seu rosto, seu irmão debaixo daquela
água fria, o pescoço de Sahvage quebrando ...

Mae gemeu e decidiu nunca, nunca mais piscar novamente. Mesmo


que seus globos oculares se transformassem em bolinhas de gude em seu
crânio.

Endireitando-se, ela foi para o banheiro e olhou para o chuveiro. Ela


podia imaginar Sahvage parado ali na frente dele, seu corpo tão magnífico,
seus olhos fixos nela, seu cheiro profundamente em seu nariz.

Com uma triste capitulação à realidade, ela entrou, fechou a porta


atrás de si e ligou a água. Enquanto tirava o uniforme hospitalar que
recebera, ela olhou para seu corpo. Muitos hematomas. Manchas de pele
vermelha e raivosa. Arranhões.

Parecia que ela havia passado por uma guerra.

Ficando sob o jato quente, ela sibilou quando listras de dor se


registraram por todo o lugar—e o sabonete ardeu, assim como o xampu.

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Mas quando ela chegou à parte do condicionador das coisas, ela já estava
se saindo melhor.

Ela não conseguia sentir o cheiro de nenhuma das coisas familiares


que usava. Apenas fumaça. Como se o fogo fosse um perseguidor que não
desistia da perseguição.

Quando ela estava limpa—ou tão limpa quanto ela poderia ficar—ela
saiu e estremeceu. Vestindo um roupão de banho grosso e atoalhado, ela
enrolou o cabelo em uma toalha e esfregou a condensação do espelho.

Uma estranha olhou para ela.

E tudo em que ela conseguia pensar era no que teria feito de forma
diferente: fale sobre uma lista que não a levaria a lugar nenhum. Comida. Ela
deveria tentar ver se havia alguma comida por perto.

Como na geladeira que ainda estava pressionada contra a porta dos


fundos.

Ao pensar em Sahvage mais uma vez, ela ainda não entendia


exatamente o que tinha acontecido naquele incêndio. Como ele tinha o
pescoço quebrado e estava morto em seus braços ... para voltar à vida.
Então, novamente, coisas heroicas aconteciam aos moribundos e, quando
realmente importava, ele obviamente estava determinado a não
decepcioná-la.

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Balançando a cabeça, ela abriu a porta e ...

Gritou com seus pulmões ensanguentados fora.

Ok, assim que eram as reuniões românticas ... não era exatamente o que
um macho esperava.

Mas quando Sahvage colocou ambas as mãos nas orelhas e


estremeceu, ele se perguntou como poderia ter tornado isso mais fácil para
Mae.

— Eu sinto muito, —disse ele no meio do barulho. — Eu sinto muito!

Mae parou de gritar e começou a hiperventilar. — O-o quê-oquêoquê ...?

Ela estava vestida com um roupão, o cabelo enrolado em uma toalha,


o rosto muito pálido marcado com todos os tipos de hematomas e

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manchas de fuligem que precisariam de vários banhos para se livrar. E
você sabe, ela era a fêmea mais linda que ele já tinha visto. Sempre veria.

Mas ela parecia que ia desmaiar.

Sahvage saltou para frente e segurou seu braço enquanto ela


cambaleava.

— Aqui, venha aqui, vamos sentar aqui. —Ele a puxou para a mesa
da cozinha e a sentou em uma cadeira, porque não tinha certeza se ela se
lembraria de como fazer isso sozinha. — Faça algumas respirações lentas
e profundas comigo. Isso mesmo. Isso é ...

— Como você está vivo? —Disse ela com voz rouca. — Novamente?

Enquanto ela ofegava, ele se recostou e esfregou as coxas.

— Eu preciso te contar tudo. E eu deveria ter feito antes ... mas eu


simplesmente não sabia como fazer.

— P-p-por favor. —Ela estendeu a mão e tocou seu rosto. — É


realmente você? Como isso é possível ...

— Eu não posso morrer.

Mae franziu a testa. Piscou algumas vezes. Em seguida, colocou as


palmas das mãos nas laterais do rosto.

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— Oh, meu Deus, você é um feiticeiro ...

— Eu não sou um feiticeiro.

— Mas ...

— Eu não sou. Minha prima Rahvyn, ela era a única mágica. E


duzentos anos atrás, eu morri tentando protegê-la durante aquele ataque à
vida dela. Fui atingido por flechas e colocado em um caixão. Levei
décadas para descobrir o que tinha acontecido, para juntar as peças, e não
tenho certeza se entendi tudo corretamente. Mas o que eu sei com certeza
é que ela me trouxe de volta usando um feitiço do Livro, e então ela ...
desapareceu. É por isso que não queria que você trouxesse Rhoger de
volta. Mae, minha existência é terrível. Todo mundo pensa que quer ser
imortal, mas é ... um inferno. Você não pertence a lugar nenhum, a
ninguém, porque a única coisa que existe para você é o tempo. É um
pesadelo. Amigos, família, amantes, todos se foram, todos que conheci ...
exceto por um punhado da Irmandade que eu vi ontem à noite ... se foram.
É um luto sem fim.

— Sahvage ... Como isso é possível? —Ela perguntou maravilhada.

— O Livro. —Ele balançou sua cabeça. — Foi um feitiço no Livro. E


Mae, eu só não queria que você fizesse a mesma coisa com seu irmão.
Tudo o que ele conheceria são as mortes daqueles que amava, incluindo

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você. Tive que me separar de todos, porque como poderia explicar minha
situação? Quem acreditaria em mim? E quanto a destruir o Livro—era
minha única opção para ajudá-la. Ou pelo menos ... foi o que eu pensava
na época. Você estava certa, entretanto, e eu sinto muito. Eu não tinha o
direito de tirar sua escolha, mesmo que estivesse preocupado com suas
implicações.

Mae esfregou um dos olhos e estremeceu como se doesse. — Então,


de volta ao estacionamento ... naquela primeira noite, você iria viver de
qualquer maneira. Eu não salvei você, salvei?

— Oh, Mae, —disse ele em uma voz que rachou, — você já me salvou.
De todas as maneiras que importam, você absolutamente me salvou. Meu
coração estava morto, e então você apareceu ...

Sem aviso, a fêmea de Sahvage se lançou sobre ele, jogando os braços


ao redor dele, pressionando os lábios nos dele.

— Eu te amo, —ela disse enquanto se afastava. — E sou eu quem


precisa se desculpar. Eu estava com uma visão tão limitada de Rhoger que
estava destruindo tudo ...

— Espere, o que você disse?

— Eu estava destruindo tudo com minha obstinação ...

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Sahvage balançou a cabeça. — Antes disso.

Houve uma pausa. E então ela acariciou os cabelos dele. — Eu amo


você. E eu não me importo com o que vem a seguir. Tudo que sei é que
você pertence a este lugar. Comigo.

Estremecendo, ele fechou os olhos. E lembrou-se de ficar parado no


gramado da pequena cabana, pensando que adoraria poder limpar o lugar.

Porque era onde Mae morava.

Agora? Era onde os dois viveriam.

Levantando lentamente as pálpebras, ele olhou para o rosto de Mae.


Havia tantas coisas que ele não sabia. Muitos véus obscurecendo o futuro.
Tantas coisas deixadas para questionar e falar.

Mas ele sabia de uma coisa com certeza.

— Eu também te amo, —ele disse simplesmente. — Para todo sempre.

No quarto do segundo andar da cabana, Mae estava nua entre os lençóis


frios, a cabeça sobre um travesseiro fofo, a respiração profunda e fácil. Lá

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embaixo, ela ouviu passos pesados se movendo ao redor ... e então eles
começaram a subir as escadas.

O peso subindo era tão grande que a madeira velha rangeu, mas era
um som aconchegante.

Porque ela sabia quem estava vindo para sua cama.

Na porta aberta, Sahvage apareceu, seu enorme corpo resplandecente,


poderoso, nu também. A luz da luminária acima banhou os cortes e vales
de seus músculos, e quando ele entrou no quarto, ela viu sua enorme
tatuagem no peito claramente.

Exceto que agora o dedo apontando para ela parecia muito diferente.

Ela sentiu que era a resposta para a pergunta ... de quem ele amava.

Mae sorriu enquanto movia a roupa de cama de lado, revelando seu


corpo.

— Oh, Mae, —ele suspirou.

— Venha para mim, meu macho.

Sahvage caminhou até ela e, quando começou a rolar para o lado, ela
balançou a cabeça.

— Eu quero sentir você em mim, —ela sussurrou.

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— Vou ser gentil.

— Eu sei que você vai. Você nunca, nunca vai me machucar.

— Nunca. —Ele começou a beijá-la. — Meu amor.

O contato de seus lábios era sensual, e ela teve a sensação de que ele
queria ir devagar. Mas ela estava com muita fome—e ele também.

— Mae ...

— Por favor, —ela implorou. — Eu só quero você dentro de mim. Eu


esperei tanto tempo. Eu esperei uma vida inteira.

Ele gemeu, e então ela sentiu uma das mãos dele entre suas pernas.
Quando ele escovou seu sexo, ela ronronou em antecipação.

Quando Sahvage começou a acariciá-la e ela sentiu seu prazer


aumentar, ela balançou a cabeça.

— Não, eu quero estar com você.

— Você irá.

Bem quando ela estava no limite, a mão dele desapareceu—e ela


sentiu a cabeça do seu pau bem onde ela queria.

— Eu te amo, —ela respirou.

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Sahvage baixou a cabeça em seu pescoço enquanto repetia as palavras
que ela nunca se cansaria de ouvir ou dizer. E então ele moveu os quadris
para frente e houve um breve surto de dor—que foi imediatamente
esquecido quando uma sensação milagrosa de plenitude e alongamento a
levou à beira de uma liberação que trouxe lágrimas aos seus olhos.
Quando Mae começou a gozar, ela gritou o nome de seu amor, marcando
suas costas com as unhas, seu corpo arqueando-se contra o dele.

E ele fez o mesmo, juntando-se a ela em todo o prazer.

Foi tão bonito, tão perfeito, que ela chorou.

De alegria.

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— Sem causa conhecida, —uma voz de homem disse.
— Eles não descobriram como tudo começou?

— Não. Mas o inspetor de incêndio está voltando para uma


segunda olhada.

— Tão estranho. As testemunhas disseram que foi como uma


cabeça de fósforo.

Houve uma série de passos esmagando. O som da porta de um carro


fechando. Então outra. E, finalmente, um par de veículos estalando sobre
alguns destroços e decolando rua abaixo.

Silêncio. Bem, não exatamente. Gotejava por toda parte, água caindo
de todos os lugares, como se estivesse chovendo. E então, das outras casas
que estavam por perto, sons distantes de gente tomando banho. TVs com
noticiários matinais. Pais gritando escada acima para os filhos se
apressarem, que está ficando tarde, o ônibus está chegando.

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Antes do amanhecer tinha chegado a este bairro estúpido de classe
média de merda, e a única coisa boa sobre tudo isso era que a merda ainda
estava quase toda escura.

A demônio Devina sentou-se fora da pilha de cinzas. Olhando para


baixo, para si mesma, ela teve que balançar a cabeça. Ela não era nada
além de carne e ossos. Literalmente ...

— Oh, cale a boca, —ela retrucou. — Eu sei que preciso de um banho


e, de qualquer maneira, isso é tudo culpa sua.

Ela olhou para a pilha de merda queimada ao lado dela.

— Você sabe, você pode jogar duro para conseguir tudo o que quiser,
mas você precisa de mim. Sem mim, você não é nada.

Um pedaço de fuligem úmida atingiu-a no peito quando a capa do


Livro se abriu. E quando as páginas se embaralharam de raiva, como se
ela se importasse?

— Foda-se isso, —disse ela enquanto se levantava. — Eu deveria


deixar você aqui, você sabe disso. Eles vão destruir todo este local. Você
vai acabar em um aterro sanitário, o que é mais do que você merece.

Quando uma seção de páginas ficou ereta na lombada, ela engasgou.

— Você está me mostrando o dedo? Sério? Que rude!

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Tentando abrir caminho entre os escombros, ela escorregou e se
segurou em uma viga ainda fumegante. Mas, eventualmente, ela superou
toda a porcaria cinzenta e pisou no gramado chamuscado. Sacudindo-se,
ela deu à carne crua de seu corpo físico um olhar triste.

Demoraria um pouco para recuperar suas forças. Sua aparência


também.

— Tanto faz. —Ela começou a se afastar e então percebeu o quanto


estava tremendo. — Maldição. —Ela precisava estar de volta em seu covil.

Com essa nota, ela abriu um rasgo no tecido da realidade, sua casinha
confortável aparecendo na frente dela de forma que tudo que ela precisava
fazer era passar para estar nela. E ela colocou um pé no outro lado.

Um choramingo queixoso fez com que sua cabeça careca e aberta


voltasse para o local do incêndio. O choramingo foi repetido.

— Eu não sei por que eu deveria me preocupar. Você me trata sem


nenhum respeito. Você está sempre saindo.

Choramingo.

Revirando os olhos, ela estava prestes a deixar o Livro para trás


quando teve uma memória daquela vampira curvada e chorando no peito
de seu macho morto.

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Com uma maldição, Devina abriu caminho de volta para o dano do
fogo.

— É melhor você se desculpar. —Ela se inclinou e olhou para a porra


do Livro de merda. — E por cortesia de eu levar você agora? Você vai me
fazer um favor. Você agora me deve.

Agarrando a coisa fora da bagunça, ela marchou de volta para o rasgo


na realidade.

Ela merecia seu verdadeiro amor.

E este monte de pergaminho ingrato iria dar a ela. Se não.

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— Eu não ... Não sei como isso é possível.
Enquanto Sahvage falava as palavras, ele teve a impressão de que as
dizia repetidas vezes. Como desde que ele desligou o telefone na cabana e
olhou através da mesa da cozinha para sua Mae.

— Eu não sei ...

Ainda bem que sua fêmea estava dirigindo seu carro porcaria.

Tentando se controlar, ele pegou a mão livre dela sobre o assento gasto
de seu carro e revisou o padrão de fato consigo mesmo novamente: O
telefone toca. É o Murhder. Ele diz que tem algo que precisa conversar.

Eeeeeeeee foi quando então que as coisas saíram totalmente dos


trilhos. O que, considerando como foram as últimas vinte e quatro horas,
ele estava realmente dizendo algo.

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— ... como isso é possível? —Ele olhou para Mae. — Graças a Deus
você está aqui. Eu não poderia fazer isso sem você. Você sabe para onde
está indo?

Mae olhou para o interior com um sorriso. — Eu sei. E não está longe
agora.

— Okay. Bom.

Sahvage engoliu em seco e tentou se distrair. E ei, pelo menos o último


o fez sorrir. Ele e Mae fizeram amor durante todo o dia em sua cama
grande e barulhenta, os dois conhecendo os corpos um do outro, amando-
se, ficando próximos e finalmente adormecendo juntos. Foi o melhor dia
de sua vida.

Então, de certa forma, aquele telefonema chegando cerca de trinta


minutos atrás? Parecia um exagero. Então, novamente, ele estava atrasado
para um pouco de sorte, ele supôs.

— Aqui estamos, —disse ela ao sair para uma estrada municipal.

O caminho os levou até o que ele estava determinado a transformar a


cabana em: uma casa de fazenda que teve suas guarnições recém-pintadas e
suas venezianas restauradas, e sua chaminé reta, tudo isso sentado bonito
em um quintal que estava bem cuidado e próspero.

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— Isso é tão lindo, —Mae murmurou enquanto desligava o motor e
olhava para um prado que ficava ao lado. — Aposto que é lindo quando
as folhas saem e a grama fica verde.

Ele assentiu. E então disse: — Não consigo sentir minhas pernas.

Imediatamente, sua fêmea estava focada nele.

— Eu vou te ajudar. Vamos fazer isso juntos.

— Depois de todos esses anos ... —Num impulso, ele foi beijá-la
brevemente. — Obrigada.

Ela acariciou seu rosto. — Estamos nisso juntos. Aconteça o que


acontecer.

Eles abriram suas portas ao mesmo tempo, e foi quando ele cheirou a
Irmandade—e os outros machos que estiveram na infiltração na noite
anterior: de fora da garagem, os corpos grandes vieram, e ele ficou surpreso
quando eles se aproximaram dele com sorrisos e palavras de boas-vindas.

Um por um, eles apertaram sua mão da adaga. Deram tapinhas nas
costas dele. Saudaram a ele. Ou se apresentaram, quando necessário.

Mais de um deles disse algo como: Que bom que você voltou. Ou,
vamos realmente precisar de você. Ou, vamos nos encontrar na mansão.

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Fosse o que fosse. E então ...

— Merda, —disse ele. — Wrath ...

No meio de toda a Irmandade e dos lutadores, o grande Rei Cego era


inconfundível. Literalmente, nada mudou sobre ele—exceto para o
cachorro ao seu lado. Ele ainda era alto como um carvalho, ainda com o
cabelo preto caindo do bico de viúva, ainda com aquele rosto cruel e
aristocrático.

— Meu Irmão, —Wrath murmurou enquanto avançava. — É bom


ver você são e salvo. Você prestou um grande serviço à raça na noite
passada.

Sahvage engoliu em seco. Ele estava de volta? Ele estava voltando?

— Eu ... eu não sei o que dizer.

— Bom. Idiotas demais com opiniões neste grupo de qualquer


maneira. E sim, se você quiser voltar para a Irmandade, estamos felizes
por tê-lo.

Olhando ao redor, Sahvage viu todos os tipos de rostos concordando.


E com Mae como apoio? Isso era possível ... que o macho que não podia
morrer tinha um futuro que já não temia?

E então ele não ouviu mais nada.

891
Uma figura diminuta apareceu na porta da garagem.

Todos pararam o que quer que estivessem fazendo. O tempo também


pareceu parar.

— Mae? —Ele disse enquanto estendia a mão cegamente. — Mae, eu


preciso de você ...

Instantaneamente, ele sentiu o braço de sua fêmea rodear sua cintura


e ela firmou o seu equilíbrio.

— Estou bem aqui, Sahvage. O que há de errado? Você se sente


doente—oh.

A multidão se separou quando a pequena fêmea avançou, e Sahvage


estava vagamente ciente de que havia um macho pendurado em sua
retaguarda. Ele era jovem, no entanto. Acabado de sair de sua transição.

Nada que pudesse machucá-la.

Deus ... ela parecia diferente. Não mais o cabelo preto, não mais os
olhos escuros. Ela era prata agora. Ela ... brilhava agora.

— Rahvyn, —ele se ouviu dizer.

Com um grito estrangulado, sua prima há muito perdida se lançou


através da distância que os separava.

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Quando ela começou a chorar e continuou falando no idioma antigo,
ele a pegou e a segurou.

Enquanto Mae o segurava.

Depois de ter certeza de que Rahvyn estava de fato, sim, realmente


viva, ele a colocou de volta no chão e um calafrio de tristeza o percorreu.
O cabelo dela estava tão diferente—um cinza tão claro que era branco—e
sim, seus olhos eram de fato prateados agora também ...

Em sua mente, ele voltou para aquele quarto. O sangue. A violência.

Sahvage tocou seu rosto. Embora ela ainda fosse jovem na aparência,
ela envelhecera cem mil anos—e ele odiava isso por ela.

Enquanto a conversa florescia entre a Irmandade, como se os


lutadores estivessem tentando dar-lhes privacidade, Sahvage pigarreou.

Antes que ele pudesse perguntar, ela disse:

É verdade, mas ele, entre todas as pessoas, sabia que esse termo era
muito relativo—e totalmente sem relação com a respiração e os
batimentos cardíacos.

893
A dor valeu a pena, ele queria perguntar. O poder que você buscou valeu a
pena?

Em vez disso, ele mudou para o inglês e disse:

— Onde você esteve? Procurei por você em todo o Velho País por dois
séculos. Eu cruzei o globo tentando te encontrar.

— Eu não estava aqui.

— Sim, eu sei—quando você chegou ao Novo Mundo?

Rahvyn voltou para o idioma antigo e baixou a voz para que apenas
ele pudesse ouvi-la.

Sahvage piscou—e percebeu que a boca dela não estava se movendo.


Ela de alguma forma colocou os pensamentos em sua mente.

Mas nem tudo está bem, pensou ele com um calafrio.

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—ele engasgou. E pensou nos guardas sem
cabeça. De Zxysis. De ...

—ela disse. Em voz alta? Pode ser. Ele não tinha certeza.

— Você gostaria de nos apresentar? —Mae perguntou. Como se ele e


Rahvyn estivessem parados ali, sem falar em voz alta, por um tempo.

Reorientando-se, Sahvage atraiu sua fêmea em direção a sua prima—


e se perguntou se ele tinha que proteger Mae contra a fêmea que ele tinha
jurado defender. Exceto que isso era uma loucura ...

Certo?

Ele tentou olhar através dos olhos de Rahvyn e dentro da alma dela,
mas ele nunca tinha sido um feiticeiro. A magia sempre foi dela, e só dela,
para comandar.

— Esta é minha Mae, —anunciou Sahvage. — Mae, esta é minha


prima de primeiro grau, Rahvyn. Há muito tempo que procuro por ela.

Ele se sentiu um pouco melhor quando Rahvyn sorriu timidamente e


fez uma reverência, era como se alguma parte dela ainda permanecesse
quem ele conheceu.

— Saudações, —disse ela. — É uma honra para mim.

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Enquanto Mae sorria e eles começavam a conversar, como se fosse
um encontro normal de parentes, Sahvage disse a si mesmo para não se
preocupar. Ele precisava se concentrar no milagre, não se preocupar com
o que isso significava. Ou para onde todos eles iriam a partir daqui.

E ainda ... por mais feliz que estivesse ao ver sua parente de sangue,
ele se viu com medo da fêmea.

Foda-se, no entanto. Seus nervos estavam em frangalhos, e por que não


estariam? Ele já tivera muitos quase-acidentes com más notícias em sua
vida imortal, e agora que ele finalmente encontrou sua fêmea?

Ele não queria mais se arriscar.

Olhando ao redor para seus Irmãos, e então olhando para sua amada,
ele decidiu ... bem, talvez o universo não fosse tão injusto quanto ele
pensava.

No canto da garagem, afastado da multidão de lutadores e fêmeas

reunidas na garagem, Lassiter franziu a testa. E franziu a testa um pouco


mais.

896
Enquanto ele observava as duas fêmeas se abraçando, e Sahvage, o
Irmão desaparecido, parecendo preocupado que estava prestes a acordar
de um sonho muito bom, Lassiter balançou a cabeça e tentou reenquadrar
a última semana e meia.

O problema era que o rolo de filme continuava com sua edição final,
nenhuma das cenas se alterando, a trilha sonora das conversas e
pensamentos íntimos permanecendo os mesmos, o roteiro evidentemente
não sujeito a alterações.

— Qual é a porra do seu problema, bastão luminoso, —disse uma voz


seca.

Excelente.

Vishous.

Exatamente o Irmão que ele não queria perto dele no momento.


Porque, sério, por que trazer um palito de fósforo para uma festa de gás.

— Você parece como se alguém tivesse quebrado todos os controles


remotos da casa. —Houve um shcht de um isqueiro acendendo. E então o
cheiro de tabaco turco. — Vamos lá, anjo, isso não é como você—e não
posso acreditar que estou pulando na sua piscina de estranheza, aqui.

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— Eu não a vi, —Lassiter murmurou enquanto olhava para a fêmea
com o cabelo prateado longo e olhos prateados estranhos e brilhantes.

— Huh?

— Em todas as visões sobre isso ... Eu nunca a vi. —Lassiter se


concentrou no Irmão. — Eu não entendo. Eu vi tudo ... a demônio, o
Livro, Sahvage, Balthazar, Rehvenge ... tudo isso. Mesmo essa cena aqui,
embora eu não pudesse entender por que estaria aqui e não na mansão.
Mas eu nunca a vi.

Ele voltou a olhar para a multidão de corpos familiares, as pessoas


bloqueando sua visão e, em seguida, revelando-a quando se afastaram.
Um jovem macho em particular parecia adorá-la, trazendo-lhe um copo
de leite de dentro de casa, mas ela parecia suspensa e desconectada no
meio de todos eles.

Etérea.

Bela ...

Seus olhos se moveram como se estivessem procurando algo para


iluminar, como se ela estivesse começando a se sentir oprimida e talvez
quisesse escapar ...

Me veja, ele pensou para ela. Eu quero que você me veja.

898
Seu olhar continuou passando por ele. E então prontamente virou de
volta.

Quando seus olhos se encontraram, um vislumbre de consciência, de


calor ... de propósito ... passou por todo o corpo de Lassiter.

— Bem, —V disse, — tudo o que posso dizer é que nunca vi nada que
fosse feito para mim, certo?

Lassiter olhou de volta para o Irmão. — Huh, o quê?

— Minhas visões. Elas sempre foram sobre o destino dos outros,


nunca o meu. —O Irmão deu de ombros e começou a se afastar. — Então,
boa sorte com isso, anjo. Ou devo dizer, boa sorte com ela.

Com um olhar conhecedor, o Irmão se afastou.

Deixando Lassiter com a estranha sensação de que o Dom da Luz não


era um objeto ... e que ele e essa fêmea de cabelos prateados estavam
apenas começando um com o outro.

899
O próximo episódio sombrio e sexy da série de vampiros
mais vendida do New York Times - The Black Dagger
Brotherhood.

900

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