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Fichamento sobre o livro: Direito Constitucional, Teoria, história e

métodos de trabalho, 2012, Cláudio Neto e Daniel Sarmento, Cáp 2. Pag.


68- 84.

2.1-

Com o passar dos anos houve uma mudança do significado de Constituição. O


constitucionalismo sofreu grandes influências das revoluções que ocorreram na
Inglaterra, Estados Unidos e França nos séculos XVII e XVIII. Inicialmente
voltada ao modernismo, possuía ênfase na limitação do poder jurídico. As
mudanças em suas concepções se deram pelas mudanças sociais, políticas
que ocorreram no mundo. Nesse primeiro momento, foca-se numa pequena
análise do constitucionalismo antigo e medieval, além de principalmente no
moderno. Apresenta-se os 3 principais modelos de constitucionalismo: Inglês,
Francês e norte-americano. Ademais, analisa-se a alteração do
constitucionalismo liberal em social e a mudança do conceito de Constituição
(Autenticando-se como legítima norma jurídica). E por fim, menciona-se a crise
do constitucionalismo contemporâneo, devido a soberania estatal, e a criação
de constitucionalismos em outras esferas.

2.2-

A Grécia antiga era marcada pela democracia direta, que se caracterizava pela
deliberação em assembléias, para definição de assuntos considerados
pertinentes. Os cidadãos eram os que faziam essas reuniões em praça pública,
eles eram os homens livres, não considerando as mulheres, nem os escravos.
A politeia era a organização política da polis, que era considerada como uma
Constituição do Período. Porém, esta diferia das concepções modernas de
constitucionalismo, pois não possuía um conteúdo totalmente jurídico. Havia
uma preocupação com uma limitação do poder das autoridades, visando o bem
estar social, e não a garantia das liberdades individuais. O cidadão fazia parte
do todo social, não garantindo proteções contra o governante.

Já em Roma se observava um conceito moderno de separação de poderes:


Consulado, Senado e Assembléia, cada qual representava uma parte da
estrutura social, a fim de promover equilíbrio entre elas. Esse tipo de separação
era a concepção de governo misto. Em Roma se observava que não acontecia
uma total submissão a coletividade. Havia uma preocupação pequena com as
questões individuais e de propriedade, além de um despontar do direito civil
com direito ao casamento, celebração de negócios jurídicos, entre outros.

Avançando para a Idade Média, que tem seu início marcado pelo fim do
Império Romano, observa-se a pluralização das esferas políticas. Não havia
um domínio de uma só instituição. O poder se detinha nas mãos dos Reis,
Igreja, Senhores Feudais, Companhias de Ofício e não havia alinhamento nem
hierarquia em suas competências. O constitucionalismo nesse período
observa-se então na limitação de cada titular dessas esferas, pensamento esse
dado por Maurizio Fioravanti. Também houve os primeiros pactos com nobres,
visando estabelecer direitos e limitando o seu poder político. Em 1215 houve a
criação da Magna Carta na Inglaterra, um pacto que firmava que o Rei não
poderia estabelecer novos tributos sem autorização dos nobres, autorização
dada em assembléia, que fortalecia o poder do Rei. Como esses pactos só
privilegiavam as classes mais altas, não possuíam a universalidade das
constituições modernas.

2.3-

As constituições modernas apregoavam sobre as limitações do poder do


Estado frente aos direitos individuais. Esse período foi marcado por várias
mudanças como a ascensão da burguesia, a Reforma Protestante e o
fortalecimento da razão, marcada pelo surgimento do Iluminismo. O Estado
Moderno foi marcado pelo
Absolutismo, que significou o encerramento da pluralização de esferas
políticas, unindo os poderes e buscando lutar contra o poder da Igreja. Hobbes
um dos principais teóricos do período, afirmava que se vivia em “Estado de
Natureza”, que era um constante estado de guerra que envolvia todos e para
se libertar disso, o ser humano deveria sujeitar sua liberdade ao Estado, por
meio de contrato social. O direito deve ser emanado da autoridade, que era o
soberano, e a ele devia ser obedecido.

Gerou-se um imbróglio da burguesia nesse cenário de poder ilimitado do


governante, pois a mesma perdia a força para dar continuidade ao avanço do
capitalismo. Assim, foi surgindo a necessidade de impor aos governantes a
também submissão as normas jurídicas, buscando a contenção do poder do
Estado as liberdades individuais. As bases para legitimação do poder através
da religião foram exterminadas e buscou-se embasamento racional para
estabelecimento de poder político. O indivíduo passa a ser valorizado, tendo
seus direitos reconhecidos, não tendo sua dignidade baseada na sua posição
social. A sociedade passa a ser um conjunto de indivíduos com direitos iguais.
O contrato passa a ser um meio importante de formalização das relações
sociais. John Locke, grande defensor da teoria dos contratos, citava que os
indivíduos deviam ceder uma parte da sua liberdade, obtendo, no entanto a
garantia de que os governantes respeitariam certos direitos naturais que eles
possuíam. Essa teoria jusnaturalista diferia da do período Antigo e Medieval,
pois não era baseada na religião, mas nas leis da natureza e por priorizar
liberdades individuais.

Há estabelecimento do constitucionalismo moderno em 3 bases: Separação


dos poderes (Visando conter o poder dos governantes), Garantia de Direitos
Individuais ( Negativos, pois são opostos ao Estado), Democracia
Representativa (Governantes devem ser legitimados). Sendo este terceiro, não
sempre levado em consideração, vide condições de voto vinculado por muito
tempo aos ditos homens de melhor condição social.

2.3.1-

A Inglaterra não chegou exatamente ao absolutismo. O país inglês era


marcado pelo uso de costumes e pactos, como a Carta Magna de 1215. As
tradições e pactos remontam à invasão normanda da ilha em 1066. No século
XVII, houve uma forte tensão entre o Parlamento e a Coroa, que culminou na
Revolução de 1688, que retirou a dinastia Stuart do poder. A revolução
estabeleceu a supremacia política do Parlamento, se voltando ao respeito as
liberdades individuais. Alguns documentos como Petition of Rights (1628),
Habeas Corpus Act (1679) e Bill of Rights (1689), ratificaram esse poder do
Parlamento e também garantiram direitos aos súditos.

O constitucionalismo inglês é marcado pela falta de texto escrito que consolide


todas as normas estabelecidas. Há um respeito as tradições e princípios da
Commow Law, sendo assim historicista pois se baseia nos costumes históricos
do próprio povo.

No País há a imposição do princípio constitucional da supremacia do


Parlamento, sendo que este pode editar qualquer norma, independentemente
do assunto. Nenhum outro órgão pode anular suas decisões. Assim a
Constituição Inglesa é flexível. Entretanto, as raízes dos costumes e valores
ingleses funciona como um impedimento para violação das normas pelo
Parlamento. Observa-se na contemporaneidade uma tendência a diminuição a
supremacia do Parlamento, principalmente em relação a direitos fundamentais.
Pouco se utiliza esse modelo de constitucionalismo, somente nota-se na Grã
Bretanha, Israel e Nova Zelândia.

2.3.2-

O marco do constitucionalismo Francês foi a Revolução Francesa de 1789, que


buscou acabar com o Antigo Regime, formando assim um novo Estado e
instaurar valores como liberdade, igualdade e fraternidade, conceitos esses
advindo do Iluminismo. Abade Sieyés, foi um dos principais nomes do período
e promoveu uma discussão sobre o poder constituinte. Em sua teoria, o poder
constituinte era a Nação, a qual não sofria limites impostos por instituições e
pela ordem passada. A Nação teria poderes para criar órgãos, poderes que se
submeteriam a ela.

A constituição francesa, que tinha ideários do Iluminismo, acreditava que as


normas deveriam ser escritas, não se baseando em tradições como na
Inglaterra. Devia também ser voltada a valores individuais e ter separação de
poderes.

Como o Poder Judiciário é visto com desconfiança desde o Antigo Regime, o


Poder Legislativo se torna o soberano do constitucionalismo Francês, e é
também instaurado pelas ideias de Rousseau, que eram a valorização das leis,
para autenticação da vontade do povo. Entretanto, o pensamento legalista
acabou perdendo-se por transformar o juiz somente em um aplicador mecânico
das leis.
Houve na França diversos momentos turbulentos que culminaram em várias
Constituições, 13 no total, sendo a de 1958 a que está em vigor. Devido a essa
instabilidade constitucional, o código civil se fortaleceu no país, tendo regras
voltadas ao convívio social e a propriedade.

2.3.3-

A ideia de constituição nos EUA remete a antes de sua independência e seus


valores eram pautados na limitação dos governantes e proteção dos mais
fracos. Foi aprovada em 1787 pela Confederação da Filadélfia. Ela instaurou o
Estado Federal, o presidencialismo, o sistema de freios e contrapesos, que
significa que cada poder tem sua autonomia, porém deve ser monitorado pelos
outros. É uma constituição sintética possuindo 7 artigos, e sofreu apenas 27
emendas, sendo muito difícil de modificá-la. Entretanto, a mesma é atualizada
pela via interpretativa, buscando se adaptar as modificações temporais.

O constitucionalismo estadunidense se preocupou em conciliar o lado


democrático, de autogoverno do povo, com o lado liberal, que buscava diminuir
poder das maiorias em defesa das minorias. A constituição americana visa
incutir normas, separação de poderes, limites para os que governam, porém
ela não define os nortes da vida nacional.

O poder Judiciário pode invocar as normas constitucionais, que podem resolver


conflitos, mesmo quando as normas vão contra os outros poderes. O juiz assim
pode declarar que a norma viola as leis constitucionais e não aplicá-las.
Posteriormente, esse ditame se estabeleceu como princípio constitucional
fundamental.

2.4-

O modelo constitucional liberal- burguês era voltado para a defesa dos direitos
individuais e não intervencionismo do Estado. O Estado deveria ser separado
da sociedade e seu papel deveria se restringir a segurança das pessoas e a
propriedade privada. A igualdade que era um dos paradigmas desse modelo,
era somente vista em perspectiva formal, pois apesar de tentar igualar os
direitos e deveres independente de posição social, não se preocupava com a
exploração dos mais fracos pelos mais fortes. Sendo assim, a igualdade
material não ocorria nessas relações. A liberdade era pautada também em
termos formais, pois não havia preocupação de garantia de um mínimo para
existência de cada um, para proporcionar escolhas para cada um.

2.5-

No início do século XX houve a crise do Estado Liberal, devido as vários


fatores como aumento de exploração humana, pressão por parte de grupos
esquerdistas que buscavam por melhores condições de trabalho, o aumento de
grupos com direito a voto entre outros motivos. Esses vários fatores ensejaram
uma mudança de postura no Estado, que passou a ter um papel mais
participativo na esfera econômica e ser rigoroso nas relações sociais. A crise
da bolsa de Nova York de 1929 foi o grande ápice da crise do liberalismo, a
qual fez com que o Estado interviesse de forma ativa para resolução do
cenário. Ele passou a realizar obras públicas, gerando empregos, reaquecendo
a economia, permitindo os fornecedores privados voltarem a produzir e vender.

O modelo de constitucionalismo social elevava a participação do Estado,


através da prestação de serviços públicos, promovendo também a igualdade
material para as camadas mais pobres, por meio de alcance de políticas
públicas de redistribuição de riquezas, entre outros. Entretanto, nem sempre o
Estado Social teve um viés positivo, pois em alguns casos foram ignorado os
direitos individuais e a democracia. Esse cenário, fez com houvesse a
instalação de regimes totalitários e autoritários em alguns Estados. Casos
esses que não são considerados como constitucionalismo social. O
constitucionalismo social se preocupa com os direitos individuais e a limitação
do poder dos governantes, porém tenta proporcionar harmonizar com o bem
estar coletivo. Promovendo assim uma liberdade que busca garantir o mínimo
de dignidade para todos, promovendo um poder de escolha mais amplo.

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