Você está na página 1de 129

O que é a comunicação?

Introdução
Nesta lição, veremos como a comunicação é fundamental para a existência da
civilização e mesmo para o sentido de humanidade, entendendo seu
surgimento e desenvolvimento ao longo da história. Vamos apresentar um
esquema geral do processo de comunicação, válido para diversas áreas de
conhecimento e para diferentes tipos de trabalho, e a partir dele iremos estudar
as diferentes formas pelas quais os seres humanos podem se comunicar.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 reconhecer processos de comunicação no dia-a-dia
 identificar os elementos que formam um processo de comunicação
 classificar os diferentes tipos de comunicação
Comunicação e civilização
O que diferencia o ser humano de outros animais? Polegares opositores,
cérebro mais desenvolvido? O senso artístico, a religião? Mesmo que o debate
seja antigo, ele está longe de ver uma resolução definitiva. Embora seja uma
capacidade encontrada em várias espécies animais, a comunicação entre a
espécie humana adquiriu ao longo da história um nível de complexidade não
equiparável ao de nenhum outro ser vivo conhecido. Há quem diferencie o ser
humano por meios de práticas como a religião e as belas artes, por exemplo.
Mesmo assim, não se pode negar que essas práticas dependem da existência
da comunicação. As grandes religiões, por exemplo, estão todas
fundamentadas em textos, no uso da palavra e de símbolos para comunicar o
sentido de uma vida superior.

A comunicação é a possibilidade de que ideias sejam compartilhadas entre


duas ou mais pessoas. A própria etimologia da palavra “comunicação” (do
latim communicare, que significa partilhar, dividir) já dá a noção de que ela trata
de um acontecimento social. Não existe comunicação se não houver ao
menos duas pessoas. Sem comunicação, o ser humano seria condenado à
prisão individual do seu ser e a civilização não seria possível. O
desenvolvimento de uma linguagem em comum foi essencial para o
desenvolvimento da civilização. Sem linguagem, não há como preservar o
conhecimento, não há como compartilhar a observação da natureza e transmiti-
la às futuras gerações.

Se pensarmos no dia-a-dia de qualquer pessoa que viva em sociedade,


veremos que essa pessoa está sempre sendo envolvida de alguma maneira
em um processo de comunicação. Ela acorda e pode receber um “bom dia”, ler
o jornal, escutar o rádio, falar com o vizinho. Ela escolhe a roupa de acordo
com a situação que vai vivenciar no dia: a roupa de trabalho é uma, a de festa
é outra. Chega ao trabalho e pelo olhar do chefe já sabe se o dia vai ser
puxado ou não. Ouve o sino da igreja e, dependendo do número de badaladas,
sabe qual é o horário. Se ouve uma sirene, sabe que algo grave acontece:
pode ser a polícia, um acidente, um incêndio.

Todos esses exemplos são formas de comunicação, cada uma delas com
características diferentes das outras. Quanto mais se desenvolve uma
civilização, mais complexos se tornam os processos de comunicação.

A linguística, a ciência que estuda a linguagem humana, e a semiótica, a


ciência geral dos símbolos, são duas áreas de conhecimento que dividem
espaço com a comunicação. Ao estudar a linguagem humana em
profundidade, a linguística fez descobertas surpreendentes, como, por
exemplo, afirmar que o pensamento humano só existe por causa da linguagem.
Você já tentou pensar em alguma coisa que não fosse com palavras?

O surgimento e a evolução da linguagem escrita

Os códigos linguísticos, regidos por um sistema estável de regras, ou seja,


uma gramática, têm papel preponderante na história da humanidade – e por
isso compõem um campo de estudo independente. Os primeiros códigos
nasceram como linguagens orais. Uma característica distintiva dessas
linguagens é justamente o canal pelo qual as mensagens são emitidas: através
de sons produzidos pela vibração das cordas vocais humanas.

Outros animais possuem sistemas de comunicação mais ou menos


rudimentares, a maioria deles baseados em conjuntos de sons. A diferença
desses sistemas para os dos humanos foi a complexidade com que se
desenvolveram. Os dos outros animais são essencialmente instintivos,
enquanto que os dos humanos, dada a maior capacidade intelectual da
espécie, era aprimorado a cada geração, com uma crescente complexidade de
regras que permitiam gradativamente uma comunicação com mais precisão e
abstração – capacidade de imaginar conceitos fora da realidade material.

Milhares de anos depois do surgimento das primeiras linguagens orais


humanas, o aparecimento da agricultura impactou diretamente nas
comunicações. Com mais tempo livre em virtude do excedente de alimentos,
começou-se a desenvolver o código escrito: símbolos visuais associados
primeiramente a ideias gerais e depois aos próprios sons (escritas fonéticas).

O que parece ser uma simples mudança do canal de comunicação, do oral


para o escrito, representou um dos processos mais importantes da história da
humanidade. A linguagem escrita permitiu uma incrível expansão do tempo e
do espaço em que as comunicações poderiam acontecer. Se antes uma
mensagem só podia ser endereçada a um receptor instantaneamente e no
espaço que a voz humana alcançasse, com a escrita tudo isso mudou. Cartas
e pergaminhos viajaram continentes. Inscrições em monumentos milenares
levaram a mensagem de antigos povos para toda a humanidade.

Figura 1 - Códigos linguísticos milenares Fonte: Shutterstock


Desde a invenção da escrita – que se deu aproximadamente 5 mil anos antes
de Cristo em diferentes civilizações – até o final da Idade Média, as
comunicações não haviam sofrido tamanha revolução como a que se iniciou no
Renascimento europeu. A imprensa foi inventada por chineses, mas foram os
europeus que a puseram para trabalhar. A possibilidade da produção de textos
e livros em uma escala sem precedentes representou uma mudança profunda
na história. Por exemplo, as reformas religiosas na Europa só puderam se
expandir com o aumento da impressão de Bíblias. Antes, a leitura e
interpretação dos textos sagrados eram exclusivas da Igreja Católica.

Até o século XX, a escrita teve um poder incontestável. No entanto, o


aparecimento de novas tecnologias, como o telefone, o rádio e a televisão,
reintroduziram as comunicações orais – agora propagadas para grandes
massas de receptores – na ordem mundial. A escrita perdeu a hegemonia
como comunicação dos círculos de poder.

Desde o começo do século XXI, o conjunto de inventos e descobertas que, no


século anterior, levaram ao surgimento da internet vem alimentando uma nova
fase no processo de revolução das comunicações. Essa nova fase é marcada
pela possibilidade de uma infinidade de linguagens e códigos coexistirem no
ambiente da internet, sem que haja uma hierarquia definida.

O processo de comunicação
Vimos que as comunicações são tão antigas que sua origem não pode ser
separada da própria origem das civilizações humanas. Foi somente no século
XX, no entanto, que a comunicação passou a se consolidar como uma área
científica própria. Desde então, um modelo universal para explicar as
comunicações passou a ser amplamente utilizado.

Figura 2 - Diagrama geral do processo de comunicação Fonte: Elaborado


por André Ribeiro Vicente
Esse modelo originou-se na área da teoria da informação, cujos principais
objetos de estudo na segunda metade do século XX foram os sistemas de
informática. A preocupação desse modelo era pensar sistemas de
comunicação físicos, garantido a qualidade do sinal e das informações
transmitidas.

A comunicação é, portanto, um processo que pressupõe a


existência de um emissor, ou remetente, que é a pessoa ou
grupo de pessoas que produz a mensagem; um receptor ou
destinatário, que é a pessoa ou grupo de pessoas que recebe a
mensagem; a mensagempropriamente dita, que contém as
informações transmitidas; um canal de comunicação ou de
contato, que é o meio usado para a transmissão da mensagem;
um código, que, no caso de uma mensagem escrita, é a língua;
além da língua, outros códigos poderão ser usados, tais como
cores, formas, sinais, entre outros, sendo importante salientar
que, para a comunicação se estabelecer com eficiência, o
emissor e o receptor devem utilizar o mesmo código;
o contexto ou referente, que é a situação ou objeto a que a
mensagem se refere; já quanto aos ruídosexistentes, são
interferências externas que prejudicam em qualquer ponto o bom
andamento do processo.
Acontece, no entanto, de o emissor e o receptor, no processo de comunicação,
não dominarem o mesmo código. A mesma pessoa que costuma usar as cores
do seu time no Brasil, quando em outro país, pode sem querer comunicar uma
mensagem diferente usando as mesmas cores. Isso acontece porque os
códigos culturais são diferentes. Um determinado gesto que em dada
sociedade é visto como amigável, em outra sociedade pode ser considerado
ofensivo.

Percebe-se, portanto, que o domínio do código é um pré-requisito para o


processo de comunicação. Os códigos são as chaves, portanto, que abrem
universos culturais específicos. Para um viajante realmente entender a
sociedade basca, na Espanha, seria necessário conhecer o euskera, a língua
local. Da mesma maneira, para poder modificar um determinado software, um
programador precisa conhecer o código-fonte.

Em uma das cenas do clássico filme O Poderoso Chefão, a família Corleone


infiltra um de seus homens de confiança, Luca Brasi, na família rival para
descobrir o que eles tramam. As duas famílias entram em guerra aberta, e os
membros da família Corleone querem saber onde está Luca Brasi, quando
então recebem um embrulho com um peixe morto. Só quem conhece os
códigos da máfia siciliana sabe o que o peixe significa: que Luca Brasi foi
descoberto como um espião e assassinado.

Formas de comunicação
As formas de comunicação são as mais variadas possíveis. Uma maneira de
classificá-las é analisar os seus elementos constituintes e agrupá-los pelas
semelhanças, pelo tipo de emissor, pelo tipo de receptor. Mas os processos de
comunicação se diferenciam principalmente pelos códigos e canais que
utilizam e pelas mensagens que permitem transmitir.

Por exemplo, quando falamos em oralidade e escrita, estamos tratando de dois


códigos linguísticos parecidos, ainda que não idênticos. A principal diferença
entre eles é o canal que utilizam, fato que acaba conferindo às mensagens
materialidade diferente. Palavras são vibrações sonoras. Tão rápido quanto se
propagam, também desaparecem, não deixando provas da sua existência. A
escrita, por sua vez, não consegue a mesma propagação – por outro lado,
possui uma materialidade que permite que suas mensagens perdurem por
muitos anos. Outro código linguístico é o sistema de libras, que utiliza como
canal de comunicação os gestos.

Existe ainda uma infinidade de formas de comunicação não linguísticas, isto


é, que não utilizam palavras. Um programador de computador usa determinada
linguagem de programação para criar sistemas lógicos (ou softwares) que
processam informações. Trata-se de uma forma de comunicação bastante
específica e importante para os dias de hoje. O programa de computador é a
maneira pela qual o programador comunica um sistema de ideias de
processamento de dados.

Vale ressaltar que os computadores nunca são os destinatários finais de


qualquer comunicação. Eles podem ser canal, codificador, decodificador, mas
uma mensagem humana tem sempre outro ser humano como destinatário final.

O vestuário é outra forma de comunicação bastante importante nas sociedades


humanas. As roupas há muito deixaram de ser apenas tecidos para proteger o
corpo das intempéries do clima. Elas são uma importante forma de comunicar
qual o grupo social com que uma pessoa se identifica.

O mundo do trabalho é pródigo em criar sistemas de comunicação. O trânsito


no mundo inteiro, por exemplo, é orientado por sinais mais ou menos
universais, como acontece com a navegação de navios e aviões, todos
organizados por uma infinidade de códigos e sistemas específicos.

Música, literatura, pintura, escultura, dança, teatro e cinema são


considerados formas artísticas de expressão. Ainda que muito
próximas da comunicação, o grande objetivo delas é retratar
sentimentos, impressões subjetivas e pessoais, construir o belo.
Não há a obrigação de seguir regras ou códigos para que a
mensagem seja clara e compreensível, como se exigiria das
formas de comunicação em si. Por exemplo: um aviso de como
se deve realizar o despacho de um dado produto frágil tem que
ser comunicado com um diagrama claro e organizado, não
através de uma tela abstracionista.

Fechamento
Chegamos ao final desta lição! Aprendemos como a comunicação mudou e
ainda muda a história e a vida dos seres humanos. O modelo de comunicação
visto aqui – de emissor, canal, código, mensagem e receptor – será utilizado
em vários momentos da disciplina. Começamos a ver, ainda, que o código
linguístico tem um papel preponderante nas comunicações entre as pessoas.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 entender o desenvolvimento da comunicação ao longo da história humana
 identificar os elementos necessários para que se efetue a comunicação
 diferenciar tipos de comunicação a partir de características específicas
Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa.
40 ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da presidência da
república. 2 ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 8 ed. São Paulo: Ática, 1997.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. Trad. Izidoro Blikstein. São
Paulo: Cultrix, 1998.
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de texto: língua
portuguesa para nossos estudantes. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral
de Melo Machado e Eduardo Jardim Moraes. 3 ed. Rio de Janeiro: Nau, 2002.
OLIVEIRA, Luciene de Lima. A arte retórica aristotélica: um legado clássico
até os dias atuais. In: Revista Gaia, n. 7, p. 69-84, Rio de Janeiro, 2010.
PAES, José Paulo. Poesias Completas. Apresentação Rodrigo Naves. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008.
PARKER, Frank. Linguistics for non-linguists. Austin: Pro-ed, 1986.
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto
Alegre: L&M Pocket, 2009.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 2º Ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1970.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins
Fontes, 2008.
O
que as pessoas falam e não dizem

Introdução
Nesta lição, veremos como os textos transmitem ideias que muitas vezes nem
percebemos. Veremos também o que são discursos e como podemos extrair
mais informações de um texto indo além de uma simples leitura literal.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 classificar as comunicações em relação ao contexto em que elas ocorrem
 identificar as diferentes formas de discurso
 empregar a mensagem conforme o contexto e os destinatários
Discursos
Uma área de interação entre estudos da comunicação e de outras áreas de
conhecimento, como a linguística, a sociologia, a política, é o estudo dos
discursos. Diferentemente do que está no senso comum, o discurso que se
estuda aqui vai além do simples ato de falar para uma grande plateia. Discurso
social é o conjunto de ideias e valores comunicados pelos diferentes grupos
sociais de maneira mais ou menos uniforme. Partes desses discursos sociais
vão estar presentes, em menor ou maior escala, nos discursos dos indivíduos
(FOUCAULT, 2002).

O mais interessante do estudo do discurso é perceber que as pessoas


comunicam muito mais informações sobre elas mesmas do que elas
acreditam que estão fazendo. A dificuldade no estudo do discurso, por outro
lado, está no fato de que boa parte das mensagens discursivas estão implícitas
e não explícitas. O explícito é aquilo que podemos ver, ouvir diretamente,
enquanto o implícito é aquilo que exige uma reflexão e uma análise para
entendermos.

A importância do contexto na análise de um discurso


O modelo de comunicação ajuda-nos a entender como decifrar discursos.
Sabemos que todo processo de comunicação sempre tem, obrigatoriamente,
um emissor, uma mensagem e um destinatário. Muitas vezes acontece de,
numa análise de discurso, confundirmos quem são os elementos. Ao analisar
um discurso precisamos pensar não somente nas palavras escritas, mas
no contexto em que elas são proferidas e a quem elas podem interessar.

Figura 1 - Entender o contexto é essencial na análise de um discurso


Fonte: Shutterstock
O contexto de que falamos é o conjunto de circunstâncias econômicas, sociais,
políticas e culturais que cercam o emissor e o receptor. Um segundo elemento
necessário para a análise do discurso é a noção de que não existem
discursos neutros. Essa, inclusive, é uma noção das ciências sociais, para as
quais toda ação social sempre tem um objetivo. O processo de comunicação,
como uma ação social, sempre tem interesses envolvidos (WOLF, 2008).

A França do século XX foi o berço do estruturalismo, uma corrente de


pensamento que influenciou estudos em diversas áreas, como sociologia,
comunicação, linguística, psicologia e até mesmo economia. O estruturalismo
entende que toda a realidade humana é um conjunto interligado de símbolos.
Para se entender qualquer símbolo humano, sempre é importante conhecer o
contexto em que tal símbolo foi produzido. Um crucifixo pode significar nada
para uma tribo aborígine no interior da Austrália – somente dois gravetos
justapostos. Tal concepção é especialmente importante quando trabalha-se a
logística integrada à área de marketing: certos produtos e serviços possuem
um componente simbólico fortíssimo, e a entrega deles para o consumidor
deve preservar essas características simbólicas. Hoje em dia, o aumento do
escopo de atuação da logística faz com que ela passe a gerenciar muitos
processos, que podem ser melhor entendidos pelo modelo de comunicação
visto anteriormente. Um importador de vinho francês ou um exportador de
cachaça brasileiro, por exemplo, devem ter bastante clara essa noção (WOLF,
2008).
Assim, diante de alguém falando ou de um texto escrito, devemos sempre nos
perguntar quais são os interesses da pessoa que fala ou escreve; que
mensagens são transmitidas pelas escolhas das palavras, pelos gestos, pelas
expressões, pelo vestuário; qual é o contexto da fala ou da escrita; e, por fim, a
quem realmente a mensagem se destina.

Analisando um discurso, pode acontecer de percebermos que a mensagem


que ouvimos não é destinada a nós. Nesse caso, pode ter acontecido uma
falha no processo de comunicação, e o canal de distribuição da mensagem
errou o destinatário. É um e-mail que recebemos por engano ou a conversa
alheia que ouvimos em um ônibus lotado – o ar, sendo o canal da conversa,
propaga a mensagem indistintamente dentro do veículo.

Uma segunda hipótese é a de que sejamos nós o próprio canal de distribuição


da mensagem. Quem tem um amigo fofoqueiro sabe muito bem que
confidenciar um segredo a ele pode ser a melhor maneira de iniciar um
processo de comunicação de massa. A mensagem, nesse caso, foi mediada
pelo fofoqueiro. Assim, a fofoca poderá ser relatada fazendo-se uso
de diferentes tipos de discurso: direto, indireto ou indireto livre.

O discurso direto é aquele em que as falas dos personagens são fielmente


reproduzidas e separadas por indicações gráficas, como vírgulas, aspas ou
travessões. Imaginem o seguinte diálogo entre Simone e sua amiga Valéria.
Simone quer ir ao bailão porque acredita que Ricardo estará lá.

– Amiga, o que você vai fazer sábado?


– Não sei. Ficar em casa, eu acho.
– Não vai não. Você vai comigo no bailão!
– Ah, não! Aquele lugar é muito caidão.
– Ai, vamos, amiga. Por favor, vai?
– Ai! Garanto que você quer ir lá só porque o Ricardo vai também, não é?
– E eu fiquei sabendo que ele terminou com aquela feiosa. Um gato daqueles
precisa de uma gata à altura do lado!

Esse foi um exemplo de discurso direto. O mesmo texto poderia ser


reproduzido pelo discurso indireto. Veja a seguir:
Com segundas intenções, Simone perguntou o que Valéria faria no sábado, já
sabendo que a amiga não poderia recusar em acompanhá-la no bailão. Valéria
não gostava do local, mas sabia que Simone estava caída de amores por um
garoto do bairro, Ricardo. Simone inteirou a amiga da novidade. Contou que
Ricardo havia terminado o relacionamento com a namorada e que aquela podia
ser uma oportunidade para ela se aproximar dele.

Já o discurso indireto livre é aquele em que os pensamentos do narrador e


dos personagens se misturam. A grande vantagem é a de oferecer dinamismo
ao texto. É bastante comum nos textos literários, mas pouco recomendado
para escritas mais formais, principalmente de trabalho, já que pode gerar
alguma confusão sobre quem pensa o quê. Veja a seguir:

Simone praticamente intimou Valéria para ir ao bailão no sábado. Aquele lugar


era caidão, mas Valéria sabia que o real interesse de Simone era Ricardo, que
deveria estar presente. Simone confirmou contando a novidade: Ricardo
terminara com a feiosa. Pudera: um gato daqueles precisa de uma gata à altura
do lado.

Interpretação de texto
Continuando a noção de análise do discurso, entramos no que pode ser
considerado um de seus capítulos mais importantes: a interpretação de texto.
Os mesmos elementos da análise de qualquer discurso social podem e devem
ser utilizados na interpretação de textos. Aqui, no entanto, uma técnica pode
ser utilizada para facilitar o trabalho. Trata-se de dividir qualquer
interpretação em três níveis: o textual, o intertextual e o paratextual.

Figura 2 - Diferentes níveis de leitura podem ser aplicados a um texto


Fonte: Shutterstock
O nível textual é a leitura mais básica, aquela para a qual fomos alfabetizados.
Envolve o domínio e o conhecimento das regras da gramática da língua
portuguesa, o conhecimento do significado das palavras e o bom
relacionamento entre as partes (os blocos do texto ou do discurso). A coesão e
parte da coerência são análises feitas ao nível textual.
Em um nível de interpretação intertextual, o leitor consegue estabelecer
relações entre o texto analisado e outros textos. Nesse momento, analisa-se a
consistência dos conceitos, ou o modo como um texto se comunica com outro.
A intertextualidade pode ser didaticamente apresentada como a “conversa
entre textos”. Quando alguém cita uma obra de um autor ou faz referência a ela
de maneira implícita, está utilizando recursos intertextuais.

A análise paratextual é justamente aquela em que vamos para além do texto.


As condições materiais e o contexto em que o texto foi produzido são levados
em consideração. Na análise paratextual, devemos olhar o texto de uma
perspectiva mais afastada, entendo-o como parte de um processo de
comunicação social mais amplo.

Adequação da linguagem ao contexto


Nos últimos anos, ficou cristalizado no ensino da língua portuguesa aquilo que
a ciência linguística já defendia há décadas: a noção de que não existem
variantes da língua naturalmente superiores a outras, pois nenhuma
variante gera sempre a comunicação mais eficiente e eficaz para todas as
situações possíveis.

Para entendermos essa noção, precisamos primeiro relembrar que uma língua
nacional, como é o caso do Português, é na verdade um conjunto de
subcódigos – gramáticas – que variam conforme a região, a classe social, a
faixa etária, o nível de escolaridade. Dentro de cada um desses subgrupos, a
língua vai se adaptando com o passar dos anos à realidade do subgrupo
específico (PARKER, 1986).

O grande cuidado que devemos ter é o de saber identificar a que subgrupo


específico estamos nos reportando para que escolhamos a linguagem mais
adequada – aquela praticada pelos destinatários de nossa mensagem.
Figura 3 - É importante sempre adequar a linguagem conforme o contexto e os

destinatários da nossa mensagem Fonte: Shutterstock


Por exemplo, o autor deste texto acredita que ele será lido por pessoas de
vários locais do Brasil, de diferentes idades e histórias de vida. Assim, a opção
de linguagem foi pela norma culta, pois essa é a praticada em todas as escolas
do Brasil. No entanto, por se tratar de um texto didático e não de um artigo
científico, o autor também utilizou algumas figuras de linguagem. No começo
deste parágrafo, por exemplo, há uma ambiguidade, uma possível metonímia e
o uso da linguagem na sua função metalinguística.

Em qualquer gramática, o aluno vai encontrar uma seção denominada figuras


de linguagem, possivelmente seguida da seção de figuras de pensamento.
Nelas encontram-se as explicações do que vem a ser uma metonímia, além de
várias outras figuras. Na seção de vícios de linguagem, certamente há uma
explicação sobre ambiguidade e outras figuras que não são bem vistas pela
norma culta. A gramática é um livro que deve ser consultado sempre e que
deveria ser um item básico, junto com um dicionário, em qualquer escritório ou
repartição. Além disso, a norma culta, além de ser usada nas escolas, é
também a gramática mais utilizada no mundo do trabalho e dos negócios.

Fechamento
Nesta lição, aprendemos que as palavras nunca vêm sozinhas. Elas sempre
dizem muito mais do que aparentemente querem dizer. Vimos também que
uma mesma mensagem pode ser dita de diferentes maneiras. Devemos
sempre fazer a opção por aquela forma pela qual nossos destinatários
compreenderão nossa mensagem. É a adequação da linguagem aos diversos
contextos e interlocutores (destinatários) com os quais lidamos todos os dias.
Bom trabalho!
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 entender por que é importante pensar o contexto de cada discurso
 aplicar diferentes níveis de leitura na interpretação de textos
 perceber a necessidade de sempre adaptar a linguagem conforme o
contexto e os destinatários da nossa mensagem

Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa.
40 ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da presidência da
república. 2 ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 8 ed. São Paulo: Ática, 1997.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. Trad. Izidoro Blikstein. São
Paulo: Cultrix, 1998.
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de texto: língua
portuguesa para nossos estudantes. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1992
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral
de Melo Machado e Eduardo Jardim Moraes. 3 ed. Rio de Janeiro: Nau, 2002.
OLIVEIRA, Luciene de Lima. A arte retórica aristotélica: um legado clássico até
os dias atuais. In: Revista Gaia, n. 7, p. 69-84, Rio de Janeiro, 2010.
PAES, José Paulo. Poesias Completas. Apresentação Rodrigo Naves. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008.
PARKER, Frank. Linguistics for non-linguists. Austin: Pro-ed, 1986.
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto
Alegre: L&M Pocket, 2009.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 2º Ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1970.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins
Fontes, 2008.
A arte do discurso

Introdução
Nesta aula, veremos quais são os elementos que fazem um discurso, tanto oral
quanto escrito, ser considerado bom e quais mecanismos podemos utilizar para
alcançar melhores resultados. Veremos que escrever e discursar são desafios
para qualquer pessoa, mas que, uma vez superados, trazem grande satisfação
pessoal e resultados profissionais.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 reconhecer as contribuições da filosofia na construção de discursos e textos
 apontar elementos que compõem um bom discurso
 escrever textos mais estruturados
Comunicação oral
Algumas características sempre devem ser consideradas quando se pensa em
comunicação oral: ela deve ser direta, flexível e com um feedback imediato.
Não consideraremos, nesta aula, a oralidade praticada em veículos como o
rádio e a televisão, já que, nesses casos, pelo fato de essas comunicações
serem mediadas para veiculação em massa, a oralidade possui requisitos e
características próprias.

A oralidade que iremos estudar é a que permite a uma pessoa se comunicar


diretamente com uma ou mais pessoas em um mesmo ambiente e ao mesmo
tempo. É o que se pratica em qualquer conversa, reunião, palestra, entrevista,
apresentação.

A comparação da fala com a escrita permite entendê-las melhor. A grande


vantagem da fala é a possibilidade de feedback instantâneo, pois podemos ver
e ouvir a(s) pessoa(s) a quem nossas mensagens se destinam. A segunda
vantagem é que ela permite o uso concomitante de outras formas de
comunicação, como o gestual das mãos, do corpo, a comunicação facial.
Estamos tão acostumados a essas características que muitos estranham, por
exemplo, uma conversa ao telefone, em que inexiste o suporte das outras
comunicações. Essas são algumas das razões pelas quais não devemos
falar como escrevemos e nem escrever como falamos.
Figura 1 - Feedback instantâneo é uma das características da comunicação

oral Fonte: Shutterstock


Por essas características, a comunicação verbal ainda é a melhor maneira para
comunicar ideias que precisem da aprovação de outras pessoas. Por ser a
forma de comunicação que a humanidade desenvolve há mais tempo e por ser
a primeira que aprendemos na vida, ela é, de forma geral, a que melhor
dominamos.

A eficácia de uma conversa – comunicação oral – tende a ser maior que a de


outras formas comunicativas, por causa da existência do feedback instantâneo
e do apoio de outras formas de comunicação não verbais. O feedback imediato
permite termos certeza de que o destinatário recebeu a mensagem conforme
desejávamos. Problemas de canal ou de código podem ser resolvidos na
hora. “Fale mais alto, por favor”, “Eu não falo inglês” e “Não entendi, pode
repetir com outras palavras?” são exemplos de processos de ajuste da
comunicação pelo feedback instantâneo. A comunicação corporal, por outro
lado, auxilia no reforço das mensagens orais, ou até as substitui, como no caso
das libras.

Quando recebemos uma mensagem oral, reforçada por todas as outras formas
de comunicação não orais presentes, temos mais elementos para acreditar na
veracidade daquela mensagem. Dependendo do caso, porém, essa mesma
riqueza de elementos pode fazer com que duvidemos dela. Alguém que diz
acreditar no outro, mas não o olha diretamente nos olhos, manda sinais
contraditórios.

– Chefe, passei a noite trabalhando. Por isso cheguei tarde.

Se isso foi escrito em um bilhete, o chefe tem chances de acreditar na


mensagem. Agora, se a mensagem fosse transmitida por meio de uma
conversa, o destinatário poderia ver claramente que o emissor apresentava
sinais de ressaca alcoólica. Nesse caso, o emissor possivelmente estará
emitindo, além de mensagens contraditórias, vapores alcoólicos.
Retórica
As ciências das linguagens e das comunicações tiveram um grande
desenvolvimento no século XX. Mas seria no mínimo estranho se, antes
desses trabalhos, ninguém tivesse dedicado tempo pensando e estudando
sobre algo tão importante para o ser humano. E quando o assunto é reflexão,
estudo e filosofia, invariavelmente voltamos para a Grécia Antiga, que por
essas e outras contribuições é considerada a mãe do mundo ocidental. Foram
justamente eles, os gregos, os primeiros a desenvolver uma disciplina de
estudo do uso da palavra.

A retórica seria a arte do discurso, a arte da escolha das palavras, uma


disciplina ampla que englobaria inclusive a oratória. O conhecimento da
retórica é dividido em cinco partes (OLIVEIRA, 2010):

 Inventio: o momento de inventar, conceber o que será discursado.


 Dispositio: é a estruturação das ideias.
 Elocutio: trata-se da escolha das palavras, da formulação das frases.
 Memoria: é a memorização do discurso elaborado.
 Pronuntiatio: é a declamação do discurso, que conta com a utilização dos
recursos não verbais, como o gestual, a entonação, as expressões.

Essa forma de estruturar o processo de comunicação linguística foi a primeira


do mundo ocidental, funcionando como base para o posterior desenvolvimento
dos conhecimentos e das ciências específicas. De certa maneira, boa parte dos
conhecimentos da Antiguidade ainda chega até nós, ainda que com outros
nomes e outras roupagens.

Melhorando a escrita
Escrever nunca foi fácil para ninguém. As várias histórias de escritores
destruindo os próprios escritos, a exemplo de Franz Kafka (1883-1924), dão
uma noção de como o processo de escrita pode ser uma espiral com altos e
baixos. Mas a maior parte de nossos escritos não tem nenhuma pretensão à
genialidade. Isso nos permite criar soluções técnicas mais ou menos
frequentes para que, se não atingirmos o belo da literatura, ao menos
consigamos comunicar com relativa eficiência e eficácia as ideias, os fatos e
tudo o mais que importa em nosso cotidiano.

O jornalismo é o exemplo de uma área que se utiliza da escrita tendo com ela
uma relação mais pragmática – portanto, pode nos fornecer bons modelos. O
jornalismo e suas técnicas nos ajudam a encarar a escrita não somente como
um enorme desafio intelectual, mas sim como uma atividade diária, um
processo quase operacional. A leitura de jornais e revistas e a análise dos
textos neles contidos mostram a objetividade e a simplicidade com que foram
redigidos.

A maioria dos manuais de escrita inicia sugerindo que a escrita tende a


melhorar à medida que lemos bons autores, e por isso Machado de Assis,
Graciliano Ramos, José de Alencar e outros parecem se tornar leituras
obrigatórias. De fato, tais autores dominam a arte da escrita em português
como poucos e são, definitivamente, padrões históricos da língua para várias
gerações.

Lê-los, no entanto, não nos obriga a copiá-los. Ao tentar copiar o estilo de


grandes nomes, provavelmente cairemos em dois erros: primeiro, desrespeitar
os modelos clássicos em suas expressões próprias, e segundo, não
desenvolver o próprio estilo.

Assim, clássicos devem ser lidos sempre. Trata-se de uma condição básica,
mas não suficiente. O grande segredo está em desenvolver nossas próprias
ideias em nossa escrita. Se as ideias são simples, a escrita tem que ser
simples também. O pior de tudo é querer disfarçar ideias simples com um
texto rebuscado e sem sentido. A honestidade com o próprio pensamento é
fundamental.
Muitas vezes, aquilo que é considerado um problema de escrita é, no fundo,
ausência de assunto para ser comunicado ou, ainda, pensamentos
desorganizados e impressões confusas. Muitos sentimentos são tomados por
pensamentos e então surge a dificuldade de escrevê-los. Mas o pensamento
existe com palavras. Se algo está em nossa cabeça, em nosso ser, e não
contém palavras, isso não é um pensamento.

Figura 2 - A escrita é um exercício constante de organização das ideias


Fonte: Shutterstock
Assim, antes de se sentar para escrever qualquer documento, seja um
relatório, seja uma crônica, tenha bem claro em sua cabeça o que você
quer contar. O trabalho de escrita é sempre um trabalho de pensamento:
quais e quantas são as ideias, como elas se relacionam entre si e com outras
do mundo externo, como podemos nomeá-las e estruturá-las. Se as ideias
estão todas emaranhas, pegue um fio por vez e vá pacientemente
desemaranhando-as.

Depois que as ideias estão organizadas em nossa cabeça (ou em um desenho


ou esquema), vem a parte de realmente colocar as palavras no papel. Esse é o
momento do trabalho que exige paciência, disciplina e atenção aos detalhes.
Conhecer o código, no caso a gramática da língua portuguesa, é fundamental
para que a mensagem seja bem codificada.

De certa maneira, o trabalho de escrita acaba seguindo as mesmas etapas do


discurso, do ponto de vista da retórica (inventio, dispositio, elocutio): primeiro
concebemos as ideias, depois pensamos na forma e na estrutura de um texto,
e por fim escolhemos as palavras e formulamos as frases para escrevemos o
texto.

Os estudiosos classificam os textos conforme as suas estruturas e


características. Esses agrupamentos são chamados de gêneros. Conforme o
autor, essa classificação pode ter diferenças, mas de forma geral fala-se em
gêneros narrativos, opinativos e informativos. Na narrativa, temos contos,
romances, novelas, crônicas; em todos eles há uma situação inicial que sofre
um desequilíbrio, e depois um novo equilíbrio é encontrado (TODOROV, 1970).
No gênero opinativo temos artigos, resenhas, editoriais, críticas, ensaios; neles
o autor defende uma opinião, um ponto de vista. No gênero informativo, temos
notícias, entrevistas, reportagens; nesse caso, o autor descreve a realidade
que vê.
Se estamos defendendo a estruturação das ideias como um passo
fundamental para atingirmos melhores resultados tanto na fala como na
escrita, mais uma vez devemos recorrer à filosofia. O problema das falhas no
pensamento e a preocupação em resolvê-los não são novos e desde a
antiguidade existe uma disciplina do conhecimento com tal proposta: a lógica.
Intuitivamente, todos percebem problemas lógicos em um discurso. É quando
alguma coisa está estranha ou, nos casos mais graves, quando um texto está
“sem pé nem cabeça”.

A lógica propõe encontrar as regras do bom pensamento. Muito do que é


considerado a gramática culta na língua portuguesa tem origem nesse tipo de
discussão filosófica. O próprio conceito de coerência é um conceito da lógica,
amplamente discutido no campo da produção textual. Muitas das discussões
sobre estilística foram iniciadas em clássicos como Aristóteles, Platão e outros
estudiosos da retórica.
Coesão e coerência
A estruturação das ideias é um passo fundamental para atingirmos bons
resultados tanto na fala como na escrita – e para isso, elas devem seguir uma
lógica. A lógica, em filosofia, propõe encontrar as regras do bom pensamento.
Ela compreende uma sequência coerente, regular e necessária de
acontecimentos e de coisas.

Depois que começamos a pensar logicamente, ou seja, de forma


estruturada e organizada, coesão e coerência vêm como consequências
naturais de nossos discursos, falados ou escritos.

A coesão é uma propriedade interna do texto, das partes para com as partes.
Em um texto coeso, as ideias são concatenadas com ritmo, uma palavra está
relacionada com a outra, existe ordem e estrutura de ideias. Seguir as regras
de regência, de concordância e de conjugação é o primeiro passo na busca de
um texto coeso.

Já a coerência existe tanto em um plano interno ao discurso como em um


plano externo. Internamente, ela opera a partir da semântica, isto é, o estudo
dos significados das palavras. Assim, se vamos fazer a defesa de uma ideia ou
pessoa, mas no discurso nos referimos a ela através de termos pejorativos,
estamos sendo incoerentes. Quando partes do texto se contradizem, há
incoerência. De modo geral, onde não há lógica, não haverá coerência. Se um
texto permite conclusões diferentes a partir das premissas que apresenta, ele é
incoerente.

Fechamento
Chegamos ao final desta aula! O trabalho de pensar, estruturar e escrever um
discurso envolve muito mais do que simplesmente seguir as regras gramaticais
aprendidas na escola. Elas são o primeiro passo. Para que nossas
comunicações sejam relevantes, precisam ter conteúdo e ser endereçadas
para as pessoas certas nos formatos adequados. A reflexão pessoal e o estudo
de autores clássicos fornecem o conteúdo; a disciplina e a prática constante
fornecem a forma.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 Entender particularidades dos discursos orais e escritos
 Aplicar diversos mecanismos que ajudam a melhorar o trabalho da escrita
 Perceber a importância de, antes de escrever, ter claro na cabeça o que se
quer transmitir.

Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa.
40 ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da presidência da
república. 2 ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2002.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 8 ed. São Paulo: Ática, 1997.
DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. Trad. Izidoro Blikstein. São
Paulo: Cultrix, 1998.
FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de texto: língua
portuguesa para nossos estudantes. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.
FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral
de Melo Machado e Eduardo Jardim Moraes. 3 ed. Rio de Janeiro: Nau, 2002.
OLIVEIRA, Luciene de Lima. A arte retórica aristotélica: um legado clássico até
os dias atuais. In: Revista Gaia, n. 7, p. 69-84, Rio de Janeiro, 2010.
PAES, José Paulo. Poesias Completas. Apresentação Rodrigo Naves. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008.
PARKER, Frank. Linguistics for non-linguists. Austin: Pro-ed, 1986.
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto
Alegre: L&M Pocket, 2009.
TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 2º Ed. São Paulo: Editora
Perspectiva, 1970.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins
Fontes, 2008.
Princípios
da redação empresarial

Introdução
Vamos estudar recomendações práticas para que a redação e as demais
comunicações possam ocorrer em consonância com os princípios do mundo do
trabalho.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 relembrar os conceitos de comunicação e produção discursiva textual
 identificar os diferentes contextos e tipos de comunicação no ambiente de
trabalho
 desenvolver as comunicações pessoais no ambiente de trabalho
Formas de comunicação
As comunicações são uma parte essencial quando pensamos o mundo do
trabalho. Assim como as pessoas físicas têm necessidade de se comunicar
com a sociedade, as pessoas jurídicas do mundo do trabalho também possuem
necessidades específicas de comunicação. Sejam elas organizações do mundo
privado, como empresas, ou entes do governo, todas têm que comunicar as
suas atividades para a sociedade, fazendo-se conhecer no mercado, se
intercomunicando com outras organizações ou mesmo prestando contas de
sua atuação para a sociedade civil.
Todas essas formas de comunicação são pensadas essencialmente para um
público externo à organização e exigem profissionais com formações
específicas. Um publicitário, por exemplo, vai sempre pensar sobre qual é o
público-alvo de uma campanha (receptor), vai ter o cuidado de escolher um
canal de comunicação que atinja aquele público, vai optar por um código com o
qual o público-alvo esteja familiarizado e produzirá uma mensagem que
comunique os interesses da empresa, isto é, tornará pública uma oferta de
valor. Essas são comunicações voltadas para um público externo.
Entretanto, uma outra importante dimensão das comunicações no mundo do
trabalho é a interna, aquela voltada para os colaboradores de uma dada
organização. Dependendo do tamanho dessa organização, torna-se necessário
contar com profissionais também específicos para codificar a mensagem
através de canais de comunicação de massa.
Mas é principalmente na dimensão interna que encontramos o espaço da
redação empresarial. Todos os dias, o conhecimento sobre o andamento dos
negócios tem de ser compartilhado entre os colaboradores, e tal comunicação
se faz fundamentalmente por meio de códigos linguísticos: reuniões,
telefonemas, entrevistas, conversas de corredores, memorandos, ofícios, e-
mails, relatórios, comunicados, videoconferências.
Todas essas formas de comunicação devem adotar os mesmos princípios que
regem o mundo do trabalho e o mundo dos negócios: a formalidade, a
racionalidade e a objetividade.
A gramática formal no mundo dos negócios
Vale a pena examinar mais atentamente o porquê de o mundo dos negócios
defender a formalidade, a racionalidade e a objetividade. Vamos pensar em
uma transação comercial, para compreender que um acordo é sempre feito no
limite entre o que as partes acham interessante. De maneira geral, podemos
dizer que o vendedor quer o maior preço pela menor quantidade, enquanto que
o comprador quer a maior quantidade pelo menor preço. Um acordo entre
essas duas partes deverá acontecer com uma pequena margem de erro.
Qualquer variação, para cima ou para baixo, pode tornar o negócio
desinteressante para uma das partes. Assim, ao falarmos de negócios, a
precisão (racionalidade e objetividade) da linguagem é sempre algo a ser
considerado.
Além disso, pensando que a vontade de todo empresário é crescer e expandir
seus negócios, é interessante que as comunicações possam acontecer entre a
maior quantidade possível de compradores e fornecedores. Pela lógica dos
negócios, quanto menos códigos diferentes existirem, menos dificuldades
haverá para se estabelecerem transações comerciais.
As revoluções burguesas, que se desenvolveram na Europa entre os séculos
XVII e XVIII, não lograram unificar a linguagem em um âmbito mundial (ainda
que o inglês atualmente seja o idioma mais utilizado no mundo dos negócios).
Mas a classe burguesa, ao menos, conseguiu apoiar a unificação da linguagem
dentro dos países, o que representou um avanço, quando se pensa uma
realidade feudal de fragmentação, anterior ao capitalismo. Por isso, ao longo
da história, vemos que a consolidação dos Estados nacionais ocorreu sob a
égide de línguas nacionais.
A gramática normativa formal (formalidade) culta é justamente aquela
sustentada pelo aparato de um Estado nacional. A grande vantagem da
existência de tal gramática é que ela é aceita em todas as partes de um país. É
por esse motivo que a redação empresarial não combina com regionalismos,
principalmente quando tratamos de comunicações escritas, que podem viajar.
Os negócios requerem uma comunicação o mais universal possível.
A oralidade nos negócios é mais flexível que a escrita, pois destina-se a um
receptor presente e pode ser facilmente adaptável, conforme o contexto. No
entanto, mesmo a oralidade não é totalmente livre no ambiente de trabalho.
Conforme vimos na parte de análise do discurso, a redação empresarial, por
valorizar a objetividade e a racionalidade, vai valorizar, por consequência, a
escolaridade. A forma de falar é, juntamente com o vestuário, a principal forma
de identificação social de um grupo. Assim, mesmo a oralidade nos negócios
tende a apresentar marcas da linguagem culta, já que ela traz um indício de
escolarização.

Tempo é dinheiro

O estudo dos elementos do processo de comunicação, o


aperfeiçoamento da escrita e da fala, têm como objetivo em
comum a melhoria da eficiência e da eficácia das comunicações.
Pense no problema que é para um gerente reler mais de uma vez
um certo relatório para começar a entendê-lo: vai perder tempo
precioso, corre o risco de não entender o conteúdo e tem boas
chances de ficar irritado com o funcionário que o escreveu. O
mesmo vale para apresentações, reuniões, vendas nas quais a
fala é mal estruturada ou não traz sentido e nenhum ponto: a
comunicação será ruim e haverá perda do tempo para emissor e
destinatário.
Escrita no trabalho
Muitos dos exemplos de gêneros textuais podem ser praticados no ambiente
de trabalho. Por exemplo, relatórios podem ser considerados como
pertencentes ao gênero informativo. Ao escrever um relatório, devemos ter em
mente a quem ele se destina. Se alguém pede um relatório, essa pessoa está
pedindo informações, descrições, fatos. Não é o momento de emitir juízos ou
impressões pessoais.
Se o que nos foi pedido é uma análise, a situação muda. Agora quem escreve
deve se posicionar em relação ao tema debatido, deve justificar suas opiniões,
pode citar dados e fatos, desde que eles façam parte das premissas utilizadas
na elaboração da opinião (lembrar dos silogismos vistos na parte da lógica).
Uma realidade brasileira de que nem mesmo empresas privadas estão livres é
a grande dose de burocracia. Sempre haverá um momento ou outro em que
deveremos preencher uma requisição, escrever uma justificativa, enviar um
ofício. As regras e as formas do setor público são bem explicadas no Manual
de Redação da Presidência da República. Esse é um documento que nos
ajuda a compreender como desenvolver uma redação eficiente, com linguagem
adequada. O manual aponta algumas práticas textuais que vemos com
frequência nos trâmites burocráticos, como o excesso de pompa, de
adjetivação e uso de pronomes de tratamentos inadequados. A consulta é
importante sempre que houver dúvidas sobre, por exemplo, qual tratamento
empregar para uma autoridade política.
No documento também consta a descrição de todos os tipos de comunicações
e modelos a serem utilizados pelo poder executivo nacional. Dentre eles,
ressalte-se que ofício é uma comunicação de uma organização destinada a
outra, portanto é uma comunicação externa. Já o memorando é uma
comunicação interna, enviada de um setor para outro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas

Cada organização, cada empresa, corporação pode e deve criar as próprias


normas, regulamentos e manuais de redação. A padronização de um
memorando vai variar de uma empresa para outra. Para as comunicações
gerais, não existem modelos universais obrigatórios. Já os modelos de
comunicação de áreas acadêmicas e de técnicas específicas são, no Brasil,
reguladas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Os
chamados selos ISO, da organização internacional de padronização, podem
definir requisitos específicos de relatórios e de modelos de comunicação a
serem utilizados nos processos de áreas específicas, como em diversas áreas
da logística.
Assim, podemos dizer que, como regra, devemos seguir princípios gerais, além
dos conceitos vistos nas últimas lições sobre escrita e outras formas de
comunicação. Formalidade não é sinônimo de rebuscamento ou de exagero.
Vamos ver no poema de José Paulo Paes (1996), um conselho muito
interessante para qualquer texto, que resume bem ao que devemos ficar
atentos. Acompanhe!

POÉTICA
Conciso? com siso
Prolixo? pro lixo

Nas demais comunicações escritas, lembre-se sempre dos seguintes pontos:


● Clareza: o autor não pode ficar anexado ao documento explicando o que
tentou escrever, por isso o texto tem que ser claro por ele mesmo.
● Prova: a escrita é um documento e, portanto, uma prova. Reflita bem antes
de escrever e releia no mínimo uma vez. Isso vale inclusive para e-mails.
● Objetividade: respeite o tempo dos outros, escreva apenas o necessário e
nada mais que o necessário.
● Elegância: se você conseguiu seguir as três primeiras dicas, não custa nada
tentar melhorar a aparência do texto, escolher palavras com propriedade. Não
confundamos seriedade e profissionalismo com feiura, com falta de graça. Um
texto equilibrado, harmonioso cumprirá melhor sua função de comunicar do que
outro árido, pesado.
Técnicas de apresentação
Desde os tempos em que os gregos aprimoraram a retórica até os dias de hoje,
apresentações, discursos, debates e palestras continuam sendo uma realidade
na vida de qualquer cidadão. No mundo dos negócios, no entanto, será pouco
provável ver qualquer apresentação de projeto, de novo produto, de entrevista
ou de venda acontecer sem o suporte audiovisual de um cartaz, de um
catálogo, vídeo ou de slides.
Trata-se de recursos muito interessantes e que podem melhorar qualquer
apresentação. A expressão “uma foto vale mais que mil palavras” até possui
certo embasamento semiótico. No entanto, vemos ainda em muitas
apresentações as pessoas caírem no erro de deixar todo o trabalho ao encargo
de um computador. Tecnologias são bem-vindas, mas a fala e a comunicação
pessoal do palestrante, continuam sendo decisivos.
Todas as dicas vistas ao longo do curso continuam válidas aqui. A preparação
e a estruturação mental são fundamentais para qualquer apresentação oral,
mesmo para as mais simples. Não acredite no improviso. Todos os grandes
oradores evitam o improviso. Sempre que podem, preparam-se para o
discurso, nem que esse preparo seja feito alguns minutos antes, em um rápido
momento de reflexão sobre o que deve ser dito.
Pensar no modelo de comunicação ajuda. Quem é meu destinatário? Que
código devo usar? Qual a linguagem mais apropriada para a ocasião? Qual é o
nível de formalidade? Estou vestido adequadamente, minha apresentação
pessoal é boa? Ir para a festa de fim de ano da empresa de terno e gravata e
ficar falando de relatórios e prazos é tão inadequado quanto ir para uma
reunião de bermudas e falar da pelada do fim de semana. Felizmente, a
maioria das pessoas consegue perceber isso naturalmente.
Por fim, podemos concluir essa lição dizendo que não adianta tentar se passar
por alguém que não se é, comunicar-se de uma maneira diferente da sua. Se
você não sabe falar palavras difíceis, correrá o risco de se passar por ridículo
utilizando-as sem necessidade. Todos temos nossas particularidades, nossas
diferenças. O ambiente de trabalho deve modular as comunicações entre as
pessoas. A formalidade, a objetividade das falas, das conversas é uma regra
geral, não uma regra absoluta. Bom senso acima de tudo!
Fechamento
Chegamos ao final deste tema! Vimos aqui algumas dicas sobre a prática da
redação para o preparo de diferentes comunicações. Lembre-se que se
comunicar de forma assertiva e adequada é fundamental nas estratégias
empresariais. Continue seus estudos com empenho!
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 Introdução
 Formas de comunicação
 Escrita no trabalho
 Técnicas de apresentação

Referências
ALMEIDA, Napoleão Mendes de. Gramática metódica da língua portuguesa.
40 ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

BRASIL. Presidência da República. Manual de redação da presidência da


república. 2 ed. rev. e atual. Brasília: Presidência da República, 2002.

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 8 ed. São Paulo: Ática, 1997.

DUBOIS, Jean et al. Dicionário de linguística. Trad. Izidoro Blikstein. São


Paulo: Cultrix, 1998.

FARACO, Carlos Alberto; TEZZA, Cristóvão. Prática de texto: língua


portuguesa para nossos estudantes. 5. ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. Trad. Roberto Cabral


de Melo Machado e Eduardo Jardim Moraes. 3 ed. Rio de Janeiro: Nau, 2002.

OLIVEIRA, Luciene de Lima. A arte retórica aristotélica: um legado clássico até


os dias atuais. In: Revista Gaia, n. 7, p. 69-84, Rio de Janeiro, 2010.
PAES, José Paulo. Poesias Completas. Apresentação Rodrigo Naves. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008.

PARKER, Frank. Linguistics for non-linguists. Austin: Pro-ed, 1986.

SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Trad. Pedro Süssekind. Porto


Alegre: L&M Pocket, 2009.

TODOROV, Tzvetan. As estruturas narrativas. 2º Ed. São Paulo: Editora


Perspectiva, 1970.

WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins


Fontes, 2008.
Funções
de linguagem

Introdução
Você sabia que a transmissão de uma mensagem está centrada na intenção do
falante em relação à mensagem que se deseja transmitir? A comunicação
verbal se vale das funções da linguagem para alcançar o receptor da
mensagem em sua totalidade. Nesta aula, vamos conhecer quais são as
funções de linguagem e em quais situacionalidades elas são aplicadas.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender que é necessário adaptarmos a linguagem para cada situação
de comunicação, uma vez que ela pode variar dependendo do receptor,
contexto ou da intencionalidade
 entender as funções da linguagem e o seu desdobramento na fala e na
escrita
O que são funções de linguagem?
As funções de linguagem são formas de transmitir uma mensagem de modo
que ela seja compreendida em sua totalidade e alcance as intenções do
emissor para com o receptor. Assim, as funções não são maneiras de escrever
aleatórias, ou apenas regras gramaticais que devem ser aplicadas ao ato
comunicativo. Para Nicola (2014), as funções de linguagem são recursos que
atuam na mensagem de acordo com as intenções do emissor.

Segundo o linguista Roman Jakobson (1896-1992), há seis funções de


linguagem, dentro das quais são privilegiados os elementos do ato da
comunicação, ou seja, o emissor, receptor, mensagem, canal, código e
referente. As seis funções de linguagem são: referencial, fática, conativa,
emotiva, poética e metalinguística (JAKOBSON, 1973).
Nos próximos itens, entenderemos quais são as características destas funções
de linguagem e as aplicações em seus respectivos elementos do ato
comunicativo.
A mensagem centrada no referente
Partimos da função referencial (também conhecida como denotativa), que tem
por finalidade produzir sentido informativo, ou seja, a intenção é a de transmitir
dados da realidade de maneira direta, fazendo uso de palavras empregadas
em sentido estrito, nos quais prevalece o uso da terceira pessoa do discurso.
Além disso, emprega-se a ordem direta, como observamos em textos didáticos,
jornalísticos e científicos. Nesta função, o texto estará centrado no referente,
isto é, na informação (NICOLA, 2014).

Você certamente lê notícias, quer sejam impressas quer sejam online, correto?
Nas notícias, a linguagem é direta, clara, objetiva e centrada na terceira
pessoa. Isto acontece porque a intenção do emissor da mensagem é a de
informar algo sobre os fatos. Atente-se, ainda, para este texto que você está
lendo agora. Aqui, a função de linguagem predominante é a referencial, pois o
nosso objetivo é o de informar a você sobre importantes recursos da
linguagem.
Figura 1 - As intencionalidades de uma mensagem por meio das funções de

linguagem Fonte: Shutterstock


Se, por um lado, a função referencial costuma ser a mais objetiva e direta,
centrada no referente, por outro, há a função que é centrada no interlocutor, ou
seja, no próprio destinatário da mensagem. Trata-se da função conativa, ou
apelativa, que veremos a seguir.
A função centrada em quem recebe a mensagem
A função conativa é aquela em que o foco predomina no receptor, o alvo da
mensagem é o receptor. O emissor, neste caso, está apelando (por isso, é
também chamada de função apelativa), no sentido de seduzir, influenciar,
persuadir e estimular o receptor a adotar o comportamento pretendido por ele
(NICOLA, 2014).
Esta é a função característica dos textos publicitários, discursos políticos,
textos instrucionais, horóscopos, entre outros. Na função conativa, os verbos
são utilizados no imperativo e na segunda pessoa do discurso (tu/vós). Além
disso, outros elementos comuns são os vocativos, pronomes de tratamento e o
emprego da ambiguidade.

Um texto que traga dicas de etiqueta para enviar e receber e-mail é um bom
exemplo de uso da função apelativa ou conativa da linguagem. Nele, todas as
frases serão centradas no interlocutor, já que a intenção é a de interferir no seu
comportamento. Além disso, os verbos utilizados para compor a mensagem
estarão sempre no imperativo.

Figura 2 - Nas propagandas predomina a função conativa da linguagem


Fonte: Shutterstock (Adaptado)

Mesmo em uma mensagem em que haja o predomínio de uma


determinada função, poderá haver outras. No caso das
propagandas, por exemplo, é possível perceber a função poética,
já que esta possui particularidades que atuam diretamente nas
construções de frases e palavras.
Agora, vamos conhecer como se aplica a função poética.

A função centrada na estética do texto


Em alguns textos, a linguagem costuma ser mais trabalhada que em outros. É
o caso daqueles que apresentam o que Nicola (2014, p. 178) chama de
“combinação de palavras, em que se coloca em evidência o lado palpável,
material dos signos”, com vistas ao estético. Nesta situação, o falante da língua
procura obter elementos como o ritmo, a sonoridade e o belo (a partir de
imagens), exercitando a função poética da linguagem.

A função poética privilegia a construção e a forma como a mensagem será


organizada. Entenda que, aqui, o foco não está no que ela transmite, mas sim
na sua própria construção, e, por esta razão, destacamos a seleção das
palavras na organização dos parágrafos (NICOLA, 2014).
O trabalho estético com a linguagem é a premissa para qualquer artista que
trabalha com as palavras. O filme “O carteiro e o poeta” (1994) retrata a
amizade entre o poeta Pablo Neruda e o seu carteiro pessoal, que deseja
aprender como trabalhar as palavras e a arte poética. Assista ao filme!
Agora, trataremos da função que atua sobre o canal de comunicação.
A função centrada no canal de comunicação
A função fática da linguagem apresenta uma preocupação do falante em
manter o contato com o seu interlocutor, uma vez que foca no canal de
comunicação (NICOLA, 2014). Nela, o emissor procura testar a eficiência deste
canal, prolongando ou não o contato com o receptor.

Note que a função fática possui o mesmo efeito de um aceno de mão ou de um


cumprimento com um movimento da cabeça. Nesta função, predominam frases
como “Oi, você está me ouvindo?”, ou “Então?”, ou ainda “Veja bem”.

Quando tratamos da teoria da comunicação, o canal é o suporte


material ou sensorial por meio do qual se faz a comunicação.
Podemos dizer, ainda, que se trata do meio utilizado para enviar
um sinal do emissor para o receptor.
A seguir, veremos duas outras importantes funções, que objetivam trabalhar a
expressividade e a própria linguagem.

A função centrada na expressividade


O uso de interjeições e da primeira pessoa do discurso são indicadores
da função emotiva(ou expressiva) da linguagem. Sinais de pontuação como
reticências, pontos de exclamação, assim como a presença das interjeições,
marcam esta função. Para entender, leia o trecho a seguir, extraído do
romance “São Bernardo”, de Graciliano Ramos:

[...] ‘É horrível’ Se aparecer alguém... Estão todos dormindo. Se ao menos a


criança chorasse... Nem sequer tenho amizade a meu filho. Que miséria!
Casimiro Lopes está dormindo. Marciano está dormindo. Patifes! (RAMOS,
1996, p. 191).

O autor, ao descrever a cena para o leitor, posiciona-se em relação ao tema


que está tratando por meio do uso de algumas interjeições, como “Que
miséria!”. Isto quer dizer que, de maneira subjetiva, ele expressa os seus
sentimentos e emoções.

Figura 3 - As interjeições são recursos da função emotiva Fonte:


Shutterstock

Interjeições são palavras invariáveis da língua, cuja função é


justamente a de exprimir emoções, estados da alma, procurando
agir sobre o interlocutor.
Agora, conheceremos a última função de linguagem: a metalinguagem.
A função centrada na linguagem
Para compreendermos a função metalinguagem, primeiro, devemos saber
que o termo “palavra” significa “a linguagem que é utilizada para descrever ou
formalizar outra linguagem” (ABL, 2008, p. 853).

Visto isso, podemos entender que quando a metalinguagem é utilizada, há uma


preocupação do falante voltada para o próprio código. Em outras palavras, o
tema da mensagem é utilizado para explicar a própria linguagem.

As funções de linguagem estão presentes em todos os tipos de textos,


inclusive os de caráter acadêmico. Para entender melhor o uso das funções em
textos científicos, leia o artigo “A prevalência de uma função de linguagem
no texto acadêmico”, de Maria Lucia Moutinho Ribeiro (UNIRIO). Disponível
em: <http://www.filologia.org.br/xcnlf/3/03.htm>.
Lembre-se de que nos textos verbais, o código é a língua. Então, quando
usamos a língua para explicar a própria língua, estamos fazendo uso da
metalinguagem.
Fechamento
Nesta aula, vimos que as funções de linguagem são: a referencial; emotiva;
conativa; metalinguística; poética; e fática. Além disso, entendemos que elas
são fundamentais no momento em que estabelecemos a comunicação de
modo eficiente.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 compreender que é necessário adaptar a linguagem para cada
situacionalidade de comunicação
 entender que a linguagem pode variar conforme o receptor, contexto, ou
intencionalidade
 conhecer as seis funções de linguagem, assim como os seus usos
 perceber quais são os desdobramentos das funções de linguagem em
diferentes textos e situações comunicativas

Referências
ABL. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de
Letras. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
JAKOBSON, Roman. Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix, 1973.
NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo,
Scipione, 2014.
O CARTEIRO e o poeta. Direção de Michael Radford. Itália, Miramax Films,
1994.
RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 35. ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.
RIBEIRO, Lucia Maria Moutinho. A prevalência de uma função da linguagem no
texto acadêmico. Cadernos do X Congresso Nacional da Linguística e
Filologia, Rio de Janeiro, ago. 2006. Disponível em:
<www.filologia.org.br/xcnlf/3/03.htm>. Acesso em: 21 jun. 2017.
Tipos
Textuais
Introdução
Ao longo desta aula, compreenderemos o que é um texto e quais são os
fatores da sua construção. Além disso, conheceremos os tipos textuais,
reconhecendo suas nuances e especificidades.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender o que é um texto, bem como os fatores que interferem em sua
construção
 conhecer os tipos de textos a fim de aprender as suas peculiaridades
O que é um texto?
A palavra texto vem do latim textum, que significa, em tradução literal, tecido
organizado de palavras. Trata-se de uma organização lógica, encadeada, que
estabelece comunicação, tanto na fala quanto na escrita, não importando a sua
extensão. Segundo Guimarães (2000, p. 14):

[...] em sentido amplo, a palavra texto designa um enunciado qualquer, oral ou


escrito, longo ou breve, antigo ou moderno. Caracteriza-se, pois, numa cadeia
sintagmática de extensão muito variável, podendo circunscrever-se tanto a um
enunciado único ou a uma palavra.

Assim, podemos dizer que um texto somente se configura como tal quando é
enunciado de modo articulado, fazendo com que o receptor compreenda a
mensagem. Ainda de acordo com Guimarães (2000), um texto se forma por
meio das estruturas internas que o caracterizam e, também, articula-se em
diferentes tipos. Temos, então, um todo organizado, que visa a um dado
objetivo comunicativo. Dessa maneira, escolhemos e privilegiamos aquele que
melhor cabe dentro de cada propósito.
Para conhecer mais a fundo os tipos textuais e como redigir cada um deles,
leia “Para entender o texto: leitura e redação”,
de Francisco Platão Savioli e José Luis Fiorin. Na obra, os autores trazem uma
abordagem inovadora, uma vez que todo o
estudo é realizado com base em exemplos textuais.
Além de compreender o que é um texto, é importante entender que, para a sua
construção, existem fatores que atuam diretamente na sua produção, como
afirma Nicola (2014). Acompanhe!
Fatores que interferem na construção de um texto
Como vimos, o texto é um todo que deve produzir sentido para o leitor.
Assim, o texto precisa ser planejado e construído com base em alguns
pressupostos. Segundo Nicola (2014), os requisitos para a construção do texto
são:

 intencionalidade: está associada às intenções do produtor do texto em


relação ao objeto comunicativo. Por exemplo, quando a intenção é
persuadir, convencer, o texto deverá ser organizado com base nestas
intenções;
 aceitabilidade: a mensagem transmitida pelo texto, que é construído pelo
autor, deve ser tomada pelo receptor como verdadeira, ou seja, as
intenções do texto precisam ser “aceitas”. Por isso, as informações contidas
num texto devem ser baseadas em fatos, que não possam ser refutados;
 situacionalidade: o texto, ao ser produzido, precisa estar adequado à
situação comunicativa. Não cabe, por exemplo, construir um texto com
linguagem extremamente formal em uma situação em que a formalidade
não é exigida. Numa conversa entre amigos, a linguagem usada,
intencionalmente, é mais solta, leve; já em uma entrevista de trabalho, a
linguagem precisa ser mais formal, adequada ao contexto situacional,
respeitando as normas gramaticais;
 informatividade: um texto precisa trazer informações ao receptor. Não se
compreende como texto um enunciado que não agregue qualquer tipo de
informação para quem lê. Vale salientar que o critério para a utilização do
nível de informatividade dependerá da situacionalidade e da aceitabilidade;
 intertextualidade: não existe um texto “puro”, ou seja, que não tenha por
referência outros. A intertextualidade é a relação que um texto mantém com
outro. Por exemplo, uma dissertação apresenta dados que já foram
expostos em outras publicações, os quais serviram de base para a
exposição ou defesa de uma tese.

Assim, é preciso compreender que há diversos fatores que interferem


diretamente na construção de um texto e que, sem a organização e
planejamento deles, a transmissão da mensagem poderá ficar comprometida.

Figura 1 - Fatores que interferem na construção do texto Fonte:


Shutterstock
Como vimos, para a construção de um texto, é necessário perceber quais são
os fatores que podem interferir diretamente na sua produção. Portanto, não
basta apenas escrever. Além disso, os textos são classificados em estruturas,
conforme veremos a seguir.
Tipos textuais
Os textos estão organizados em tipologias, ou seja, agrupados e estudados de
acordo com as suas estruturas e finalidades (NICOLA, 2014). De acordo com
Garcia (2010), há 5 tipos de textos (ou categorias textuais), que serão
classificados de acordo com seus usos e estruturas internas. Os tipos textuais
são: descritivo, narrativo, dissertativo, injuntivo e expositivo.

Lembre-se que o uso do texto está diretamente ligado aos fatores


que interferem na construção de qualquer que seja o seu tipo.
Assim, os textos devem ser usados conforme a necessidade
comunicativa. Caso a comunicação exija um texto explicativo,
este deverá cumprir esta premissa.
Os tipos textuais se organizam de maneira bastante simples para serem
compreendidos, uma vez que as suas estruturas internas são elaboradas para
que tenhamos um processo comunicativo claro e objetivo (GUIMARÃES,
2000).

Quando temos a intenção comunicativa, oral ou escrita, de defender uma tese,


usaremos um tipo de texto que nos permita realizar o objetivo central, que é o
de apresentar e defender uma ideia. Não é possível defender ou expor uma
ideia fazendo uso de um tipo que não se encaixe dentro das características
exigidas nesta situação.
Agora, vamos aprofundar nosso estudo nas especificidades dos tipos textuais.
Descritivo
No texto descritivo, a intenção comunicativa é a de caracterizar um ser, local,
objeto, tanto de modo físico quanto psíquico. Ele é largamente utilizado no dia
a dia, uma vez que precisamos descrever com as palavras o mundo que nos
cerca. Assim, quando queremos apresentar uma informação, usamos o tipo
descritivo.

Os adjetivos são muito empregados nos textos descritivos. Por exemplo,


quando vendemos um carro, precisamos descrever os dados para informar
detalhadamente o possível comprador. Veja: “4 portas, bancos de couro,
direção hidráulica e rodas de liga leve”.

Agora, acompanhe as características do tipo narrativo.


Narrativo
O tipo narrativo tem por objetivo contar histórias, narrar ações, sejam elas
reais ou fictícias, que estejam localizadas em um tempo e espaço. As
narrações ainda se caracterizam pela presença de personagens e por um
narrador, o qual pode ser também um personagem da trama (GARCIA, 2010).

Nos textos narrativos, há o largo emprego de descrições, uma


vez que é impossível contar uma história sem que se caracterize
o ambiente, local, personagens e demais acontecimentos que
permeiam as ações narradas. Podemos afirmar, então, que uma
narração se vale da descrição, mas nem sempre a descrição se
vale da narração, em especial quando ela é técnica.

Figura 2 - Descrição e narração: características e finalidades Fonte:


Elaborado por Cristiane Rodrigues de Oliveira
A seguir, conheceremos o tipo dissertativo.
Dissertativo
A palavra dissertação vem do latim dissertare e significa, literalmente,
argumentar com criticidade (NICOLA, 2014). Logo, dizemos que a intenção
do tipo dissertativo é expor ideias ou defender uma tese, apresentando
argumentos, fatos e dados que sejam cabíveis ao tipo de defesa ou exposição
que se pretende. Por exemplo, para defender uma monografia, nos valemos do
tipo dissertativo, que atende às premissas exigidas para a situacionalidade.

O tipo dissertativo é elaborado em uma linguagem culta, redigida na 3ª pessoa.


Além disso, ele é conhecido como tripartido, ou seja, apresenta três partes
muito bem definidas. A primeira parte é a introdução, ou tese, na qual se expõe
a ideia que será debatida. A introdução é construída por meio da apresentação
de um tópico frasal, que expõe o tema a ser discutido, e o ponto de vista do
autor acerca do assunto.

Assim, uma elaboração assertiva da introdução irá garantir o sucesso do texto


dissertativo. Por isso, ela deverá ser desenvolvida de modo claro, coeso e
coerente, sempre calcada em argumentos de autoridade (informações válidas,
sérias, oficiais), os quais serão desdobrados na segunda parte do texto
(GARCIA, 2010).

A dissertação é um dos textos mais utilizados no meio


acadêmico. Além disso, é o tipo textual mais exigido em
concursos públicos, exames vestibulares e outros tipos de
processos de seleção, inclusive para selecionar candidatos para
vagas de trabalhos.
A segunda parte compreende o desenvolvimento, que, como o próprio nome
diz, apresenta as considerações (exemplos, dados históricos, causas,
consequências) utilizadas para defender a tese inicial. Já a terceira parte é a
conclusão, ou fecho, cuja função é retomar a tese inicial, apresentar uma
proposta de intervenção e dar um fechamento para o texto (GARCIA, 2010).

Figura 3 - O texto dissertativo expõe e defende ideias Fonte: Shutterstock

Para uma leitura aprofundada sobre o tema, acesse o artigo “Aspectos da


pesquisa sobre tipologia textual”, de Luiz Carlos Travaglia (UFU):
<http://periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2754/2709>.
Veja que a dissertação é um texto cuja estrutura é fixa, independente de sua
extensão. Suas partes são bem definidas e, simultaneamente, elencadas, ou
seja, caso uma apresente problemas de coesão, haverá problemas também em
outras partes do texto.

Agora, vamos conhecer o tipo injuntivo.

Injuntivo
O tipo injuntivo (também conhecido como instrucional) tem por finalidade
instruir o leitor, ou seja, indicar de que forma ele deverá agir. Trata-se de um
texto bastante presente em nosso cotidiano, como em receitas culinárias,
manuais de instrução, indicações de rotas, isto é, todos aqueles que sirvam
para dar instruções.

Nos textos injuntivos, usamos os verbos quase sempre no modo imperativo,


ou, por vezes, no infinitivo. Eles também apresentam um tom de persuasão, e
por esse motivo há um predomínio da função apelativa ou conativa da
linguagem (MORAES, 2008).

O tipo injuntivo é predominante em propagandas, uma vez que ele tem por
objetivo dar uma indicação, ao receptor da mensagem, acerca das atitudes que
ele deve tomar. Observe que no enunciado “relaxe no verão, mas fique de olho
no mosquito da dengue”, há uma injunção, uma vez que a mensagem indica
que tipo de comportamento o leitor deve ter. Repare, ainda, no emprego do
modo imperativo.

A seguir, conheceremos as especificidades do tipo expositivo.

Expositivo
O tipo expositivo tem por objetivo realizar uma apresentação de modo claro,
coeso, explanando informações com objetividade. Neste tipo textual, há o
predomínio de exemplos, fontes, referências e linguagem didática (NICOLA,
2014).

Note que este texto que você está lendo, que visa dar embasamento teórico
sobre os tipos de textos, é, por suas características, um texto expositivo.

Figura 4 - O tipo expositivo predomina nos livros didáticos Fonte:


Shutterstock
Veja que os tipos textuais possuem características bem marcadas, definidas,
conforme o propósito comunicativo.

Fechamento
Concluímos a aula relativa aos tipos textuais! Agora, já é possível fazer a
distinção entre cada um deles e redigi-los com o máximo de precisão.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer a definição de texto
 entender o que são tipos textuais
 compreender quais são as peculiaridades de cada tipo textual
 conhecer os tipos: descritivo; narrativo; dissertativo; injuntivo; e expositivo

Referências
ABL. Dicionário Escola da Academia Brasileira de Letras. São Paulo:
Editora Companhia Nacional, 2008.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna: aprenda a
escrever, aprendendo a pensar. 11. ed. Rio de Janeiro: editora FGV, 1983.
GUIMARÃES, Elisa. A articulação do texto. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000.
MORAES, Augusta Magalhães Carvalho et al. Enciclopédia do Estudante:
redação e comunicação; técnicas de pesquisa, expressão oral, e escrita. São
Paulo: Moderna, 2008.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Aspectos da pesquisa sobre tipologia textual. Rev.
de estudos da linguagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, v.
20, n. 2, p. 361-387, jul./dez. 2012. Disponível em:
<http://periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/2754/2709>.
Acesso em: 21 jun. 2017.
Gêneros
textuais
INICIAR

Introdução
Nesta aula, estudaremos os conceitos de gêneros textuais. Para isso,
identificaremos como se constituem os gêneros e quais são suas funções e
especificidades. Assim, no momento da leitura, será mais fácil a compreensão
textual e, além disso, a produção de um texto também se tornará mais eficaz.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender o significado do gênero textual
 reconhecer os diferentes gêneros textuais e suas estruturas
Gêneros textuais
Chamamos de gêneros textuais os desdobramentos dos tipos textuais, que vão
surgindo de acordo com a necessidade de uso de cada um deles e da
aplicação comunicativa (NICOLA, 2014). Em outras palavras, o gênero textual
surge da necessidade social comunicativa, ou seja, nasce conforme a
necessidade de aplicação de uma forma comunicativa adaptável a dada
situação.

O e-mail é um gênero textual derivado da carta. Ele mantém praticamente a


mesma estrutura e finalidade dela, no entanto, há algumas distinções entre os
dois, como a maneira em que cada um é encaminhado ao receptor e/ou
destinatário.
Os gêneros textuais, nesse sentido, podem ser comparados a uma paleta de
cores, na qual podemos visualizar novas tonalidades à medida que elas são
mescladas às cores bases. Entende-se, portanto, que os gêneros textuais
possuem traços e combinações entre si (GARCIA, 2010).
Podemos, ainda, dizer que os gêneros textuais são aqueles que mantêm
formas distintas de comunicação, nos quais se encerram e se pressupõem
determinadas finalidades, situacionalidades ou, ainda, o suporte pelo qual eles
serão veiculados (se numa revista, num jornal, na internet, num livro de
literatura, entre outros) (NICOLA, 2014).

Figura 1 - Os gêneros nascem da mistura entre os vários textos existentes


Fonte: Shutterstock
Agora, vamos entender como os gêneros surgem a partir dos tipos textuais,
compreendendo quais são as diferenças entre os tipos e os gêneros.

Para entender com mais profundidade os debates sobre a importância de


reconhecer nos gêneros textuais as formas distintas de comunicação social,
leia “Gêneros Textuais: reflexões e ensino”. A obra traz um apanhado de
informações e análises sobre a importância do estudo dos gêneros textuais na
atualidade.
Quais as diferenças entre tipos e gêneros textuais?
Para cada campo de atividade comunicativa, utilizamos um tipo de texto
distinto, quer seja na comunicação oral, quer seja na escrita. Alguns textos são
estáveis quanto ao seus tipos, assim como em relação às estruturas,
características, linguagem e intencionalidades, e são estes traços que nos
permitem fazer a classificação.

Os tipos textuais são aqueles que apresentam todas estas características de


maneira invariável (um tipo dissertativo, por exemplo, apresenta tese,
desenvolvimento e conclusão). No gênero, por sua vez, por questão da
necessidade social comunicativa, poderá haver as caraterísticas de um tipo
(dissertativo, por exemplo), no entanto, ele trará outros, que se ajustam às
finalidades e às intenções comunicativas em dada situação. Os gêneros
textuais são, então, textos materializados em nosso cotidiano (MARCUSCHI,
2008).
Por exemplo, um artigo de opinião apresentará características do tipo
dissertativo argumentativo, mas também será construído com base em outras
particularidades, que fornecerão subsídios para o reconhecimento do gênero
do qual ele pertence. Assim, as características dos gêneros também se
repetem dentro de suas esferas, uma vez que cada um deles irá “refletir as
necessidades de seu tempo” (FORIN, 2006, p.17).

Figura 2 - As diferenças entre tipos e gêneros textuais Fonte: Elaborado por


Cristiane Rodrigues de Oliveira

Não é possível determinar a quantidade exata de gêneros


textuais desdobrados a partir dos tipos. Atualmente, há uma
circulação enorme de gêneros adequados à necessidade de
aplicação situacional, especialmente em função da internet.
Podemos, ainda, dizer que os gêneros textuais são ampliações de sentido dos
tipos. Os gêneros não são textos que excluem os tipos, mas incorporam novas
construções textuais. A seguir, entenderemos como podemos classificar, ou
agrupar, os gêneros.
Classificação dos gêneros textuais
Como vimos, os gêneros textuais são desdobramentos dos tipos e, por essa
razão, apresentam relação direta com os tipos dos quais proveem. Assim,
quando classificamos um dado texto, mantemos uma relação direta com a sua
tipologia. Além disso, para classificá-lo é necessário perceber quais são as
características que vão predominar em sua estrutura, assim como as intenções
que o emissor da mensagem apresenta em relação ao receptor (ou receptores)
(NICOLA, 2014).

Agora, iremos conhecer as classificações dos gêneros textuais, começando


pelos textos que predominam características narrativas e jornalísticas.
Acompanhe!

Os gêneros textuais receberão diversos nomes, como resumo,


resenha, notícia, reportagem, entrevista, artigo científico, roteiro,
diário, entre outros. Porém, a classificação se dará conforme a
predominância de traços tipológicos.
Grupo narrativo
Os gêneros que apresentam características narrativas (ou que estão
classificados no grupo dos narrativos) trazem como elemento central de suas
organizações as sequências temporais, visto que um tipo narrativo nos conta
uma história, em dado tempo e espaço. Assim, os textos pertencentes ao grupo
dos narrativos são: contos; romances; fábulas; lendas; novelas; piadas; entre
outros (MARCUSCHI, 2008).

A crônica, por exemplo, é um texto cujas raízes estão fincadas nas redações
jornalísticas. Entretanto, este texto costuma ser classificado como gênero
narrativo, uma vez que encerra a finalidade de contar fatos baseados na
realidade ou não.
Grupo jornalístico
No grupo dos jornalísticos, temos como elemento central a intenção de
informar, ou seja, apresentar um dado ou um fato de modo objetivo e
competente. Nele, há um predomínio no uso da 3ª pessoa do discurso e da
função referencial da linguagem, podendo haver sequências narrativas,
descritivas e até mesmo expositivas.

Figura 3 - Há diferentes gêneros veiculados nos jornais Fonte: Shutterstock

Em livros didáticos, por exemplo, de modo equivocado, diz-se


que uma carta pessoal é um tipo de texto informal e, na verdade,
não é. Veja que, se é uma carta pessoal, é um gênero textual,
uma vez que nele há uma necessidade específica de
comunicação.
Cada grupo de gêneros textuais possui as suas peculiaridades tipológicas, que
visam atender aos mais vastos campos comunicativos. Agora, veremos quais
são os traços que permeiam o grupo dos argumentativos e o grupo dos
expositivos.
Grupo argumentativo
Os gêneros que estão agrupados na linha dos argumentativos possuem como
objetivo principal, e também como traço marcante, a capacidade de argumentar
em favor ou não de convencer o interlocutor acerca de um dado ponto de vista
(MARCUSCHI, 2008).

Estes gêneros poderão se apresentar em diferentes formas (podem ser


escritos em 1ª ou 3ª pessoa do discurso) e em vários canais, como revistas,
televisão, jornais, internet, blogs, fóruns, entre outros. Porém, de maneira
bastante proeminente, nos argumentativos haverá a intenção de discutir algum
assunto, um tema, polêmico ou não. Estão neste grupo textos como: artigo de
opinião; carta ao leitor; editorial de diferentes linhas; resenhas; ensaios, entre
outros.
Grupo expositivo
Por sua vez, os textos que pertencem ao grupo dos expositivos apresentam
como principal função expor ou explicar alguma questão de relevância. Neste
grupo estão os artigos científicos, os relatórios, as aulas virtuais e a
conferência, ou seja, todos aqueles que têm por objetivo a explanação.

Figura 4 - A videoaula é um gênero do grupo dos expositivos Fonte:


Shutterstock
Vimos, portanto, que os gêneros são bem vastos e podem ser agrupados por
predomínio de determinadas características tipológicas. Vale lembrar que os
gêneros são ampliações dos tipos, que não dão conta de atender às
necessidades comunicativas.

Aprofunde seu estudo em relação ao conceito de gênero textual com a leitura


do artigo “Gêneros Textuais: definição e finalidade”, de Luiz Antônio
Marcuschi. Disponível em:
<http://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/1209000/mod_resource/content/1/0
2%20MARCUSCHI%20G%C3%AAneros%20textuais.pdf>.
Fechamento
Concluímos a aula sobre gêneros textuais! Agora você já conhece a diferença
entre tipo e gênero textual e em quais situações os gêneros vão predominar em
relação aos tipos. Além disso, vimos que os gêneros são desdobramentos
inumeráveis dos tipos e atuam na comunicação de acordo com a necessidade
social.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer o que é gênero textual
 entender quais são as diferenças entre gêneros e tipos
 compreender que os gêneros se agrupam conforme as suas características
predominantes
 reconhecer os grupos narrativos, jornalísticos, argumentativos e expositivos

Referências
DIONÍSIO, Angela Paiva et al. Os gêneros textuais: reflexão e ensino. São
Paulo: Parábola, 2006.
FIORIN, Savioli Francisco; PLATÃO, José Luiz. Lições de texto: leitura e
redação. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna: aprenda a
escrever, aprendendo a pensar. 11. ed. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2010.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e
compreensão. São Paulo: Parábola, 2008.
_____________________. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. s.d.
Disponível em:
<https://disciplinas.stoa.usp.br/pluginfile.php/1209000/mod_resource/content/1/
02%20MARCUSCHI%20G%C3%AAneros%20textuais.pdf>. Acesso em: 21
jun. 2017.
NICOLA, José de. Projeto Múltiplo: gramática & texto. São Paulo: Editora
Scipione, 2014.
Coesão
e
Você sabe o que é coesão? Sabe de fato como identificar e empregar
corretamente elementos coesivos em um texto? Nesta aula, iremos
compreender o conceito de coesão e identificar os elementos coesivos em uma
produção textual. Além disso, compreenderemos que a coesão é
imprescindível tanto para o processo de escrita quanto para construir coerência
dentro do próprio texto.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender o conceito de coesão
 aplicar corretamente os elementos coesivos na produção textual
O que é coesão textual?
Certamente, você já deve ter ouvido que “um texto não está coeso”, ou que
“está faltando coesão entre as partes que constituem o enunciado”. Isto
acontece quando não encontramos as ligações que são efetuadas entre as
várias partes de um texto, ou seja, não há coesão textual. A coesão textual é,
portanto, o que forma a tessitura, isto é, o próprio texto, que ganha sentido,
unidade e coerência (NICOLA, 2014).

A tal tessitura, que permite a unidade textual, é a articulação das relações


semânticas (uso adequado dos sentidos das palavras na composição do
texto), assim como a articulação dos elementos linguísticos (uso de
determinados elementos gramaticais, como as conjunções), que devem estar
em consonância ao longo do texto.

Veja que, em um enunciado, se não efetuarmos as duas combinações, não


haverá sustentação das informações dadas, ou seja, não ocorrerá a efetiva
transmissão da mensagem de uma forma plena e adequada (NICOLA, 2014).
Observe que na sentença “Joãozinho ficou doente, e fez a prova”, não há uma
relação de sentido entre o que é informado na segunda oração com relação à
primeira. O uso da conjunção aditiva “e”, embora “ligue as duas orações”, não
oferece o sentido exato da mensagem, causando incoerência entre o que é
informado ao leitor.
A coesão bem empregada evita repetições desnecessárias de termos
(palavras) ao longo de um texto. Estas repetições contrariam o princípio da
coesão e da coerência, que é justamente uma das atribuições dos textos de
qualidade (NICOLA, 2014).
Figura 1 - A coesão é o processo que liga palavras, acrescentando sentido ao

texto Fonte: Shutterstock


A coesão textual ocorre quando a compreensão de algum elemento no
discurso é dependente de outro. Deste modo, a coesão pode ser entendida
como um elemento que pressupõe o outro, e a sua ausência, ou o uso
inadequado de alguma parte, decorre em problemas diretamente relacionados
à construção do texto.

Agora que já compreendemos o conceito de coesão textual, vamos identificar


as coesões lexicais e aprender a empregá-las de modo adequado nas
produções textuais.
Os principais mecanismos de coesão lexical
Segundo Koch (2014, p. 16), “a coesão é uma relação semântica entre um
elemento do texto e outro” que tenha muita relevância, para que haja o
estabelecimento da compreensão da mensagem. Assim, ela está ligada à
maneira como as palavras e as frases que compõem um texto (os chamados
componentes da superfície textual) se conectam entre eles, em uma sequência
linear, por meio de dependências de ordem gramatical.

Campo lexical e campo semântico referem-se diretamente às


palavras que constituem um texto. Quando falamos em
estabelecer sentido por meio de relação semântica e lexical,
enfatizamos que a palavra que virá depois deve estar ligada à
que veio antes, com o propósito de criar um “elo” entre as
informações. As palavras que pertencem a um mesmo campo
lexical estão ligadas pela ideia entre elas; já as palavras que
pertencem a um mesmo campo semântico, estão conectadas
pelo universo que elas representam.
Há vários mecanismos de coesão lexical. Em destaque, temos os mecanismos
de repetiçãoe o da substituição, também conhecido como coesão
referencial. Além disso, há a sinonímia, a hiperonímia, hiponímia e
o campo semântico (NICOLA, 2014).

 Coesão por repetição


A coesão por repetição, ou por reiteração, consiste em reiterar, repetir, em um
texto, um termo ou termos da mesma família lexical. Para compreender o tema,
atente para o exemplo: “Na ecologia, trata-se do meio ambiente, da natureza,
com respeito. Aplicar os cuidados com a natureza é papel do ambientalista”. As
palavras “ecologia”, “ambiente”, “natureza” e “ambientalista” pertencem ao
mesmo campo lexical.

Figura 2 - Há diferentes mecanismos de coesão lexical Fonte: Shutterstock


 Coesão por substituição
A coesão por substituição é o mecanismo que permite, ao longo da construção
textual, a substituição de um termo por outro, evitando, entre outros problemas,
o da repetição desnecessária, que é uma das questões mais graves na
produção de textos. Veja: “Pedro comprou um carro novo e José também”.
Neste exemplo, as palavras “e” e “também” substituíram os termos anteriores,
evitando repetições.

Para entender mais sobre os elementos de coesão e como articulá-los na


produção de textos científicos, leia o artigo “A coesão textual em artigos
científicos”, de Claudiene Diniz da Silva (UFMG) e Lidiany Pereira dos Santos
(UFPI). Neste trabalho, as autoras baseiam-se em diferentes pressupostos
teóricos para demonstrar a importância do domínio do mecanismo de coesão
no momento de produzir trabalhos científicos. Acesse:
<http://revista.uft.edu.br/index.php/entreletras/article/viewFile/1328/8140>.
 Sinonímia
A sinonímia se baseia na substituição de um termo por outro, ou até mesmo
por uma expressão que tenha a mesma equivalência de significado. No
enunciado a seguir, os termos em destaque são exemplos de coesão por
substituição: “A nave espacial subiu mais de 80 km, mas, para conquistar o
posto de melhor aeronave, o veículo espacial ainda precisa subir mais 200
km”.

Quando voltamos a uma informação já mencionada no discurso,


há uma coesão recorrencial. Este tipo de coesão se caracteriza
pela repetição estabelecida com algum elemento dito
anteriormente. Esta repetição não funciona como na coesão
referencial, quando fazemos referência, pois trata-se de um
resgate de algo que já foi dito, de modo associativo.
 Hiperonímia e hiponímia
Já o mecanismo de coesão por meio de hiperonímia e hiponímia são, para
Nicola (2014, p. 190), “dois polos de uma mesma relação”. Isto porque
hiperonímia significa uma palavra que designa toda uma classe ou conjunto; e
a hiponímia, por sua vez, designa um elemento pertencente a uma classe ou
conjunto.

Observe o exemplo: “A Orquestra de cordas H.A – a big band – vale-se


de instrumentos de cordas – violoncelo, violino, violão – para revisitar o
universo de Mozart”. Aqui, o termo instrumento é hiperônimo, que engloba o
hipônimo “cordas”, que por sua vez, também é hiperônimo dos
hipônimos “violoncelo, violino, violão”.

Figura 3 - A coesão é o quebra-cabeças do texto Fonte: Shutterstock


 Campo semântico
Este mecanismo de coesão se dá por meio do uso do campo semântico, ou
seja, exploram-se sinônimos de uma mesma palavra para não haver
repetições. Assim, retomamos uma ideia apresentada, por meio de outra
palavra que faça parte do mesmo universo.

Leia: “Como todos os anos, milhares de vestibulandos brasileiros concorrem


às vagasdisputadíssimas dos principais vestibulares do país. O curso para
medicina, por exemplo, em uma média geral, traz mais de 33 candidatos por
vaga, nas universidades federais. Esta, sem dúvida, ainda é a carreira mais
concorrida”. No trecho, os termos destacados designam termos relacionados a
um mesmo universo, o do vestibular.

Vimos, portanto, que os mecanismos de coesão lexical referem-se ao universo


das próprias palavras, que vão recuperando seus sinônimos, à medida que
estão formando elos ao longo do texto. Agora, vamos entender como se
elencam os mecanismos de coesão gramatical.
Os principais mecanismos de coesão gramatical
Os mecanismos de coesão gramatical, ou de coesão sequencial, são os meios
pelos quais o texto progride sem a retomada de termos que já foram
explicitados. Então, a coesão gramatical é a aplicação sequencial do que
chamamos de operadores gramaticais, como artigos, pronomes, adjetivos,
tempos verbais, advérbios e conjunções adverbiais, todos exercendo algum
tipo de função em relação aos substantivos e auxiliando na composição da
unidade de um texto.

Figura 4 - A coesão está ligada à coerência do texto Fonte: Shutterstock


Aqui, damos destaque para o uso dos conectivos (conjunções e pronomes),
advérbios, e ao processo de elipse (supressão de uma palavra já apresentada
no trecho e substituída por meio de uma vírgula) (NICOLA, 2014). A construção
do mecanismo de coesão por meio da elipse é uma das formas mais usadas,
visto que produz um texto mais suave e limpo. Veja: “Leve o frango ao forno já
preaquecido a 180ºC e, quando estiver bem assado, sirva-o”. Note que, na
segunda oração, o termo “frango” foi omitido, ou seja, houve uma elipse,
facilmente reconhecível no contexto.
Para saber mais sobre coesão e seus mecanismos aplicados ao texto,
leia “Coesão e Coerência Textuais”, de Leonor Lopes Fávero. O livro é uma
tentativa de reunir explicações sobre os mais importantes elementos da
construção textual, com ênfase na coesão e na coerência.
Até aqui, vimos quais são os principais mecanismos de coesão que se referem
ao uso de princípios gramaticais. Lembre-se de que a coesão é o que garantirá
a coerência em um texto e que saber aplicar tais recursos na produção
garantirá a comunicação clara, objetiva e precisa entre os envolvidos no ato
comunicativo.
Fechamento
Terminanos aqui a aula relativa à coesão e aos elementos coesivos. Agora
você já conhece que a coesão é o mecanismo que amarra as palavras em um
texto, conferindo-lhe unidade e significação.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 compreender o que é a coesão textual
 conhecer a coesão por repetição
 distinguir a coesão por substituição
 entender as diferenças entre os mecanismos de coesão envolvendo uso de
sinonímia, hiperonímia e hiponímia e campo semântico
 identificar os principais mecanismos de coesão gramatical

Referências
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 22. ed. São Paulo: Contexto, 2014.
NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo:
Scipione, 2014.
A
Produção Textual e o Uso de
Paráfrase
Introdução
Nesta aula, conheceremos os principais requisitos para a prática da produção
textual de qualidade. Além disso, compreenderemos o conceito de paráfrase e
veremos como construir textos a partir deste recurso.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 conhecer os principais requisitos de um bom texto a fim de adaptá-los à
prática
 compreender o conceito de paráfrase
 construir textos a partir da utilização de paráfrase
O que é um bom texto?
Escrever nem sempre é tarefa fácil. Para escrever um bom texto, é necessário
a reunião de diferentes habilidades, como domínio dos recursos linguísticos
presentes no idioma, leitura e compreensão de textos, conhecimentos de
mundo, entre outros, colocando-as à prova, em diferentes momentos, como
durante a trajetória acadêmica e ao longo da vida profissional (GARCIA, 2010).

Figura 1 - Há requisitos para uma boa produção textual Fonte: Shutterstock


O texto, além de cumprir determinadas premissas, precisa estar adequado à
situação comunicativa na qual está inserido, uma vez que cada tipo ou gênero
textual apresenta especificidades que devem ser respeitadas. Além disso,
todos os elementos constantes em um texto devem estar “amarrados” por meio
de um mecanismo lógico, que faça sentido e seja claro para o leitor.

O texto argumentativo que não apresenta articulação entre as ideias,


organizadas a partir da estrutura fixa do tipo de texto, o emprego da
modalidade culta da língua e que não seja capaz de defender uma tese, não
pode ser considerado um bom texto.
A prática da escrita, por vezes, é entendida como algo subjetivo, o que não é
verdade (GARCIA, 2010). Segundo Nicola (2014), a produção textual apoia-se
em aspectos bastante objetivos, como: leituras constantes e variadas; domínio
de vocabulário; compreensão das intencionalidades comunicativas; saber
articular ideias; refletir sobre o tema que será abordado; aplicar recursos
linguísticos; conhecer a modalidade culta da língua; e adequar o texto à
situacionalidade comunicativa. Assim, a escrita irá fluir e tornar-se consistente
enquanto prática em diferentes contextos comunicativos.

Para entender como se dão os diferentes processos de escrita, desde uma


mensagem eletrônica até a produção de uma matéria jornalística, leia “A arte
de escrever bem: um guia para jornalistas e profissionais do texto”, de
Arlete Salvador e Dad Squarisi. No livro, as autoras mostram de maneira
prática, leve e bem humorada que é possível escrever bem.
Dessa forma, entendemos como um bom texto aquele que elenca todas as
premissas exigidas para a construção textual e, simultaneamente, atende ao
tipo de texto solicitado, devendo estar adequado à situacionalidade
comunicativa. Agora, veremos como aplicar esta teoria na prática.
Como escrever um bom texto?
Escrever requer um exercício constante de aperfeiçoamento e, por isso, certas
noções devem ser postas em prática. A primeira delas é a clareza das ideias, a
qual deve ser obtida a partir do uso de palavras que sejam essenciais na
transmissão da mensagem. A simplicidade também torna o texto mais limpo,
conciso e natural. Para isso, na construção das frases, orações e períodos, é
importante privilegiar sempre o uso da ordem direta (sujeito, verbo e
complementos). Veja que, para o leitor, é mais natural a sequência “eu te vejo
rica” do que a estrutura “rica te vi eu já”.

Lembre-se de que princípios como o da coesão e da coerência devem


prevalecer ao longo do texto. A coesão é a conexão estabelecida entre as
partes de um texto (frases, orações, períodos), por meio de conectivos
(conjunções, preposições, pronomes e advérbios), além de outros recursos
presentes na língua. Já a coerência é a lógica na apresentação do conjunto
das ideias, configurando, assim, uma uniformidade textual.

Figura 2 - É importante aplicar os requisitos na prática da produção textual


Fonte: Shutterstock
Além disso, em uma produção textual, deve-se atentar
à expressividade, originalidade eescolha das palavras. Cada palavra
pertence a uma classe gramatical e, quando empregada em um enunciado,
possui uma função específica. Em uma sentença, as palavras vão agregando
significado à medida que são postas uma ao lado da outra.

Veja: O transporte público ajuda na diminuição de emissão de poluentes no ar,


no entanto deve ser melhorado. Com a depreciação dos transportes urbanos e
da coletivização, tornou-se mais cômodo para grande parte da população a
individualização nos automóveis.No trecho, há várias imprecisões, entre elas a
falta de clareza, problema que compromete muito a qualidade de um texto.
Perceba que, quando um texto não está adequado aos critérios de qualidade,
ele não é capaz de transmitir com eficiência a mensagem desejada.

Assim, é imprescindível perceber que cada palavra possui uma expressividade


intrínseca em si mesma, e que, em um contexto ou outro, poderá assumir
diferentes significados. Um substantivo concreto, por exemplo, quando
comparado a um abstrato, pode ser considerado com mais expressividade,
assim como o específico ao genérico. Isto porque o substantivo concreto
carrega em si uma noção objetiva do que ele significa, e não possui relação
direta com nenhuma ação; ao contrário do abstrato, que, por sua vez, carrega
em si uma ligação direta com a ação (BECHARA, 2015). Veja que “criança” é
um substantivo genérico, mas o termo “menina” consegue restringir,
especificar, ou seja, ao enunciarmos “menina de 6 anos”, o texto se tornará
mais expressivo.

Não trazem fluência ao texto os usos de palavras ou expressões


desgastadas, como “hoje em dia”; de voz passiva analítica, como
“será feito”, “será revisto”; de chavões, clichês, modismos; assim
como palavras de pouco uso corrente (SARMENTO, 2006).
Há, ainda, a questão da gramaticidade. Nem sempre textos gramaticalmente
perfeitos representam bons textos. Há situações comunicativas em que o
emprego da linguagem formal não cabe, por não atender à situacionalidade.
Imagine as falas do personagem Chico Bento (dos quadrinhos criados por
Maurício de Sousa) sendo escritas de acordo com a norma culta da língua?
Não seria verdadeiro, certo?

Assim, um bom texto se constrói com base:


 na clareza de organização das ideias;
 na expressividade do conjunto de palavras que se elenca ao longo do
texto;
 na simplicidade das estruturas escolhidas para elaboração dos enunciados;
 no uso da ordem direta da frase (sujeito, verbo e complementos, nesta
ordem);
 na originalidade;
 e na escolha da seleção vocabular (lembrando que cada palavra tem em si
uma carga expressiva).

Sem estas aplicações, certamente, a qualidade do texto estará comprometida.


A seguir, veremos o que é uma paráfrase, e em quais situações ela deverá ser
empregada.
Paráfrase
Um texto nem sempre é escrito com base em nossas próprias ideias. Nesse
sentido, atuamos com uma paráfrase. Parafrasear um texto é recriá-lo em
outras palavras, sem que se alterem as ideias originais (SARMENTO, 2006); é,
portanto, apoiar-se no sentido transferido de uma mensagem, mas sem efetuar
uma cópia idêntica do que foi redigido.

Figura 3 - Parafrasear é reescrever com as próprias palavras Fonte:


Shutterstock
A paráfrase é um recurso de intertextualidade, ou seja, quando um texto
retoma o outro de modo parcial ou integral. Ela é um importante recurso para a
construção textual, e deve ser usada especialmente em textos de caráter
acadêmico, didático, visto que há a necessidade de conferir legitimidade ao
que está sendo exposto ao leitor. Entenda que a paráfrase não é uma cópia
idêntica, isto configura plágio; e também não é citação direta, que se faz por
meio de indicação de aspas no trecho citado.

Para saber mais sobre a intertextualidade e a produção textual, acesse:


<http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/6/dlingua/CLAUDIA_FRA
NCO.pdf>.
A paráfrase não se trata de um recurso exclusivo na construção de textos de
caráter acadêmico. Ela pode ser vista também em gêneros dos mais diversos,
como poesia, crônica, contos, propaganda, entre outros (SARMENTO, 2006).

Agora, entenda como construir um texto a partir de paráfrases.


Como construir textos a partir de paráfrases?
Como vimos, os textos podem ser paráfrases de outros. Para usar este
recurso, na produção textual, de maneira a atingir os objetivos, é preciso
conhecer os tipos de paráfrases (SARMENTO, 2006).

 Reprodutiva
Por meio da paráfrase reprodutiva, ocorre a reprodução de um texto (ou de um
trecho), desdobrando a própria ideia original com outras palavras, sem que
haja cópia, ou citação direta. Neste caso, deve-se referenciar o autor
parafraseado, conforme o exemplo explorado a seguir:

Texto original (citação direta): “A intertextualidade pode ter diferentes


propósitos (recriação, releitura, reflexão, crítica, humor, etc.) e aparece na
literatura, na música, no cinema, na publicidade – enfim, em muitas formas de
se expressar e de se comunicar”(SARMENTO, 2006, p. 409).

Paráfrase: Sabe-se que o recurso da intertextualidade pode apresentar


finalidades das mais diversas, dentre as quais a releitura, a recriação de um
texto. Trata-se de um recurso visível em diferentes meios, indo da música à
literatura, do cinema à publicidade (SARMENTO, 2006).

Note que, na citação direta, o autor foi referenciado com a página, enquanto
que na paráfrase ele é citado apenas com o ano de publicação da obra.

 Criativa
Por meio desta paráfrase, expandimos o sentido original do texto (ou parte
dele), objetivando construir outro. Neste caso, não haverá discordância com a
ideia inicialmente proposta pelo autor original do texto parafraseado, uma vez
que este será uma referência para a recriação. Ou seja, neste tipo de
paráfrase, o sentido original se desdobra, alcançando novos significados.

A paráfrase criativa também é conhecida como paródia. Por exemplo, a partir


do famoso verso de Gonçalves Dias, “Minha terra tem palmeiras onde canta o
sabiá”, poderíamos criar um texto como “minha terra tem romeiras que rezam
com o patuá”.

A paródia é também uma releitura, realizada, porém, em tom


imitativo e jocoso. O objetivo de uma paródia é distorcer ou
criticar, positiva ou negativamente, ideias originais.
 Estrutural
Trata-se da paráfrase que recorre à estrutura presente em um determinado
texto, para a criação de outro texto (ou apenas de um novo trecho). Não é
necessário referenciar o autor parafraseado. Além disso, costuma-se manter a
estrutura do texto original. Veja: em “o artista é antes de tudo um grande
observador do mundo”, poderíamos parafrasear para “o professor é antes de
tudo um grande pensador do mundo”. Trocam-se as palavras, os sentidos,
mantendo sempre a estrutura sintática presente no texto que será
parafraseado.
Como vimos, há vários requisitos e recursos nos quais podemos nos apoiar
para construirmos bons textos. Nesse sentido, conhecer e produzir paráfrases
se torna essencial, especialmente, em certas situações comunicativas, como
em textos acadêmicos. Nela, nos apoiamos para construir textos que tenham
fundamentação teórica.

Para escrever bem, não basta apenas conhecer as premissas


exigidas para um bom texto. Também é necessário praticar – e
muito – até que se atinja um determinado nível de domínio da
escrita. É preciso que o redator se torne um crítico corretor do
próprio texto e perceba quando é necessário reescrevê-lo.
Lembre-se de que um bom texto é aquele que apresenta o
máximo de clareza na apresentação das ideias.
Fechamento
Concluímos a aula relativa à produção textual e o uso de paráfrases. Vimos, ao
longo do conteúdo, que existem algumas premissas para que a produção
textual alcance as qualidades que lhe são intrínsecas. Assim, escrever bem
demanda prática, domínio de recursos linguísticos e, sobretudo, capacidade de
compreender o que se lê e de transmitir a ideia desejada.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer os requisitos de um bom texto
 entender como criar bons textos na prática
 compreender o conceito de paráfrase
 entender como se dá a construção de textos a partir de paráfrases

Referências
BANDEIRA, Manuel. Apresentação da poesia brasileira. São Paulo: Cosaic
Naify, 2009.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa. 38. ed. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
FRANCO, Cláudia Pereira da Cruz. Intertextualidade e produção textual. Rev.
Icarahy. Prog. de Pós-Graduação do Instituto de Letras – UFF. Rio de Janeiro,
2011. Disponível em:
<http://www.revistaicarahy.uff.br/revista/html/numeros/6/dlingua/CLAUDIA_FRA
NCO.pdf>. Acesso em: 29 jun. 2017.
GARCIA, Othon Moacir. Comunicação em prosa moderna. 17. ed. Rio de
Janeiro: FGV, 2010.
NICOLA, José de. Gramática e texto. São Paulo: Scipione, 2014.
SALVADOR, Arlete; SQUARISI, Dad. A arte de escrever bem: um guia para
jornalistas e profissionais do texto. São Paulo: Contexto, 2004.
SARMENTO, Leila Lauar. Oficina de Redação. 3. ed. São Paulo: Moderna,
2006.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 21. ed.
São Paulo: Cortez Editora, 2000.
Estudo
dos verbos
Introdução
Certamente, ao longo dos seus estudos, você já se dedicou em aprender a
conjugar os verbos, não é mesmo? Mas você sabe qual é o conceito de verbo?
Compreende como usá-lo de forma adequada, especialmente na produção de
textos? Nesta aula, aprofundaremos nosso conhecimento acerca da classe
gramatical mais complexa: os verbos. Para isto, entenderemos suas flexões e
faremos a distinção das suas diferentes classificações, de acordo com a norma
culta da língua.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender o conceito de verbo
 empregar os verbos corretamente na produção de textos, de acordo com a
norma culta
Conceito de verbos
Para darmos início aos nossos estudos, precisamos nos apropriar do conceito
de verbo. De acordo com Cunha e Cintra (2001, p. 379), verbo “é uma palavra
variável, que exprime o que se passa, isto é, um acontecimento representado
no tempo”, não importa se no presente, passado ou futuro. Na visão de Nicola
(2014), verbo é uma palavra que indica ação, estado ou fenômeno da
natureza. Seu aspecto é dinâmico, posto que possui função obrigatória nos
enunciados, desempenhando a posição de predicado na estrutura oracional e
se relacionando com o sujeito (ser de quem se fala na oração), com o qual
estabelece concordância.

Assim, dizemos que o verbo é o núcleo norteador das orações. Lembre-se que
uma oração se organiza com um verbo, ou seja, há orações sem sujeito, por
exemplo, mas não sem o verbo.
Figura 1 - O verbo indica ação, estado ou fenômeno da natureza Fonte:
Shutterstock
O verbo possui inúmeras particularidades, classificações e, por isso, também,
diferentes usos. O verbo pode ser flexionado
em modo, tempo, número, pessoa e voz. O verbo é a classe gramatical que
tem o maior número de flexões, podendo assumir até 65 formas distintas
(LOBATO, 2009).

Quando enunciamos “Joana comprou um carro”, a palavra que organiza a


oração é o verbo “comprou”, que exprime o que se passa e indica devidamente
o tempo em que o processo ocorreu.

Nesse sentido, o verbo é a palavra que, como aponta Nicola (2014, p. 328),
“amarra” a oração e ajuda a constituir os períodos. Sempre que construímos
uma oração, a análise terá como foco o verbo. Por isso, a importância do
conhecimento em concordância verbal no momento de se produzir um texto,
visto que uma boa formulação de enunciados depende de modo essencial da
eficiência com que empregamos o verbo e sua relação com o sujeito.

Agora que já sabemos qual é o conceito de verbo e entendemos que se trata


de uma classe gramatical complexa, veremos, a seguir, as flexões verbais.
As flexões verbais
Flexionar um verbo é mudar a sua forma em pessoa e número, tempo e modo,
formas nominais e também vozes. Quanto ao número, o verbo pode estar no
singular ou no plural. Veja: em “Viajamos todos juntos ao Cairo”, o verbo ‘viajar’
está no plural. Neste mesmo exemplo, o verbo está na 1ª pessoa do discurso
(nós). Note que, quanto à pessoa, o verbo pode ser flexionado em uma das
três pessoas do discurso: eu e nós (1ª); tu e vós (2ª); ele/eles e/ou ela/elas (3ª)
(CUNHA e CINTRA, 2001).

Os verbos são palavras que podem ser conjugadas, ou seja, enunciadas de


diferentes formas. Assim, são palavras que se agrupam por suas terminações.
Há os verbos terminados em “-ar”, que pertencem à 1ª conjugação, os
terminados em “-er”, que são da 2ª conjugação, e os terminados em “-ir”, que
pertencem à 3ª conjugação. Por exemplo, “amar” pertence à primeira
conjugação, “vender” à segunda e “partir” à terceira.

Figura 2 - O verbo possui seis flexões importantes Fonte: Shutterstock


Em relação ao tempo, o verbo pode determinar se o processo acontece “antes
da fala”, “no momento da fala” ou “posterior ao ato da fala” (NICOLA, 2014).
Assim, os tempos verbais são classificados da seguinte forma:

 presente: indica um fato atual ou ação habitual. Ex.: “João corre todos os
dias na Lagoa Rodrigo de Freitas”. Além disso, pode conferir atualidade a
um fato histórico, sendo denominado como “presente histórico”. Ex.: “Em
1985, o país elege o seu primeiro presidente por meio do voto direto”;
 pretérito perfeito: indica uma ação passada, concluída. Ex.: “No sábado,
visitei minha namorada”;
 pretérito imperfeito: expressa uma ação anterior à atual, mas que não foi
concluída. Além disso, é usado para descrever ações no passado. Ex.:
“Chovia muito durante a corrida”;
 pretérito mais-que-perfeito: indica uma ação ocorrida anterior a outra já
concluída. Ex.: “Ele falara com ela sobre o assunto, muito antes de
acontecer o pior”;
 futuro do presente: expressa ação que acontecerá em um futuro próximo.
Ex.: “Trarei um doce para você”;
 futuro do pretérito: expressa ação que poderia ter acontecido depois de
outra ação no passado. Ex.: “Se eu tivesse dinheiro, compraria a roupa”
(BECHARA, 2015).

Já o modo verbal é a atitude expressa pelo verbo em um dado tempo. Há três


modos verbais: o indicativo, o subjuntivo e o imperativo. O modo indicativo,
como o próprio nome sugere, indica que a ação é certa, mesmo sendo
expressa em um tempo futuro. Por exemplo, “Ele virá”. O subjuntivo é o modo
da incerteza, da perspectiva, da hipótese. Com ele, explicitamos ações que
podem ou não ocorrer. Veja: “Talvez faça intercâmbio no Canadá”; “Se eu
conhecesse o caminho mais curto, tinha chegado no horário”; “Quando eu for
ao seu encontro, trataremos do assunto” (BECHARA, 2015).

Para construir o imperativo afirmativo, conjugue o verbo no presente do


indicativo e elimine a primeira pessoa do singular (eu). A seguir, retire a
segunda pessoa do singular e a segunda do plural. Retire o “s” final da
segunda pessoa do singular e do plural. As outras pessoas (ele, nós, eles) são
formadas pelo presente do subjuntivo, conforme quadro a seguir.

Figura 3 - Formação do imperativo afirmativo Fonte: Elaborado por


Cristiane Rodrigues de Oliveira
Já imperativo negativo é formado pelo presente do subjuntivo, sem a presença
da 1ª pessoa do singular. Veja no quadro a seguir:

Figura 4 - Formação do imperativo negativo Fonte: Elaborado por Cristiane


Rodrigues de Oliveira
O modo imperativo é largamente utilizado no universo publicitário, uma vez que
há o objetivo de induzir o receptor da mensagem a aceitar como verdadeira a
informação que está sendo transmitida.

Os verbos ainda apresentam as formas nominais, ou seja, formas que podem


exercer funções típicas de substantivos, advérbios e, também, de adjetivos. As
formas nominais podem ser: infinitivo (-ar, -er, -or, -ir); gerúndio (-ndo); e
particípio (-ado; -ido).

Em “Eu necessito agir”, temos o uso do infinitivo. Já em “Gritando, a criança


tomou a vacina”, vemos um caso do gerúndio. E em “Terminado o expediente,
viajaremos”, notamos a presença do particípio.

As formas nominais verbais não apresentam nenhum aspecto temporal e são


bastante dependentes do contexto em que estão aplicadas. Além disso, elas
possuem um valor próximo ao do substantivo da ação. O gerúndio indica uma
ação que está em curso, por exemplo: “Estamos fazendo a lição neste
momento”. Já o particípio indica uma ação concluída, como em “O exemplo já
foi dado”. Há, ainda, o correspondente ao infinitivo, o qual indica a própria
identidade verbal; ele está posto em sua forma natural, sem que esteja
relacionado à pessoa do discurso. Veja: “Escrever corretamente é importante”.

Os tempos verbais podem ser simples, formados com um único


verbo, como em “Eu comi macarrão”; compostos, formados por
meio de um verbo auxiliar (ter ou haver), como em “Eu tenho
comido muita massa”; e principal, com final em particípio
passado, tanto nos modos indicativo, como em “tinha comido”
(comido, verbo principal, e tinha, verbo auxiliar), quanto no
subjuntivo, como em "tivesse feito” (feito, verbo principal, e
tivesse, verbo auxiliar). Neste caso, dizemos que há uma locução
verbal (BECHARA, 2015).
Por fim, os verbos sofrem flexão de voz. As vozes verbais indicam uma
relação entre o sujeito e a ação expressa pelo verbo. Há três situações
distintas quando tratamos de vozes:

 voz ativa: quando a ação é praticada pelo sujeito. Ex.: “A mãe ninou o
filho”;
 voz passiva: quando a ação foi sofrida pelo sujeito. Ex.: “O filho foi ninado
pela mãe”;
 voz reflexiva: quando o sujeito sofre e também pratica a ação,
simultaneamente. Ex.: “A moça penteou-se”.

O tema “verbo” é algo inesgotável, cujo conceito e aplicação devem sempre ser
respeitados. Para aprofundar seus conhecimentos sobre o tema, leia o
artigo “O verbo como princípio”, de André Nemi Conforte (UERJ). Disponível
em:
<http://www.institutodeletras.uerj.br/idioma/numeros/24/Idioma24_r01.pdf>.
Veja que as flexões verbais imprimem valores semânticos aos enunciados e
aos textos. Cada vez que usamos um verbo, damos a ele um valor de
conclusão, inconclusão ou ordem. Agora, vamos tratar das regularidades e
irregularidades verbais.
Verbos regulares, irregulares, defectivos e abundantes
Os verbos ainda podem ser classificados quanto à regularidade em seus
modelos de conjugações. São denominados como verbos regulares aqueles
que seguem o mesmo modelo dentro de suas conjugações, como “amar” (1ª
conjugação), “beber” (2ª conjugação) e “partir” (3ª conjugação).

O verbo “pôr” pertence à 2ª conjugação. Trata-se de um verbo de


origem latina (ponerè), que foi sofrendo modificações,
apresentando formas como “ponerè”, “poner”, “poer”, até chegar
em “pôr”. Observe que ele tinha a terminação em “-er”,
correspondente à 2ª conjugação (NICOLA, 2014).
Por sua vez, os verbos irregulares são aqueles que não seguem exatamente
os modelos de conjugação. Eles sofrem alterações na desinência (indicação de
tempo e pessoa), na própria raiz do verbo (radical), ou tanto na desinência
quanto na raiz (CUNHA e CINTRA, 2001). Observe: em “eu dou”, há uma
alteração na desinência, uma vez que em verbos regulares, como “eu amo”,
não aparece a letra “u”; em “eu venho”, há a alteração no radical, pois no verbo
“vir” não existe, originalmente, “nh”; em “eu pus”, há alterações presentes tanto
no radical quanto na desinência.

Os verbos “pôr” e “ser” sofrem alterações profundas no radical e nas


desinências. Ambos são verbos considerados muito irregulares. Ao redigirmos
um texto, é imprescindível ficar atento a essas mudanças.

No quadro a seguir, podemos verificar como são conjugadas algumas das


formas verbais irregulares. Observe que os verbos “ter”, “haver”, “ser” e “estar”
sofrem alterações tanto no radical quanto em suas desinências.

Figura 5 - Verbos “ter”, “haver”, “ser” e “estar” no presente do indicativo


Fonte: Elaborado por Cristiane Rodrigues de Oliveira
Os verbos defectivos são aqueles que não apresentam todas as flexões, ou
seja, não podem ser conjugados em todos os modos, tempos e/ou pessoas,
como é o caso de “abolir”, “explodir” e “ungir”, que não apresentam a primeira
pessoa do presente do indicativo. Portanto, não se usa, na norma culta, as
formas: “eu explodo”, “eu abolo”, ou “eu ungo”.

Para não errar a conjugação verbal e compreender o porquê das formas


adequadas, leia o “Dicionário Houaiss de Conjugação de Verbos”, de José
Carlos de Azeredo.
Os verbos abundantes são aqueles que apresentam mais de uma forma para
uma mesma flexão, como é o caso de “haver”, que pode ser conjugado na
primeira pessoa do plural do presente do indicativo como “havemos” e “hemos”.
As formas distintas mais encontradas são quando os verbos abundantes estão
no particípio, como em “omitido e omisso” (para o verbo omitir), “encher,
enchido e cheio” e “imprimido e impresso” (para o verbo imprimir) (NICOLA,
2014).

O quadro a seguir apresenta outros verbos abundantes muito utilizados:

Figura 6 - Exemplos de verbos abundantes Fonte: Elaborado por Cristiane


Rodrigues de Oliveira
Desse modo, entender como são articulados os verbos é crucial para a
produção de bons textos. Logo, é importante saber que eles sofrem várias
flexões e que podem expressar acontecimentos específicos, de acordo com o
contexto.
Fechamento
Concluímos a aula relativa aos verbos. Agora, você já conhece como eles são
importantes e como deve aplicá-los à escrita.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer o conceito de verbo
 entender as suas flexões
 diferenciar o uso das formas nominais
 conhecer a classificação verbal

Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2015.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis Felipe Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo:
Scipione, 2014.
Regência
verbal
Introdução
Nesta aula, compreenderemos o conceito de regência verbal, verificando a
importância deste assunto no processo comunicativo. Além disso,
conheceremos a regência de alguns dos verbos mais utilizados em nosso dia a
dia, reconhecendo os principais problemas que envolvem suas aplicações
inadequadas.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender a importância da regência verbal no processo comunicativo
 reconhecer os principais problemas de regência verbal
O que é regência?
Ao estabelecermos uma comunicação, quer seja oral, quer seja escrita,
amarramos as palavras, que, uma após a outra, vão complementando a
significação do todo. A esta relação damos o nome
de regência (PATROCÍNIO, 2011).

Há dois tipos de regência: a nominal, na qual se estuda a relação estabelecida


entre o nome e os seus complementos; e a regência verbal, que estabelece a
relação entre um verbo e o seu complemento, ou seja, a palavra (ou palavras)
que irá completar o seu sentido (BECHARA, 2015).

Observe a oração: “Escavações arqueológicas no Egito buscam uma nova


tumba do Faraó Menino”. Veja que cada uma das palavras vai completando o
sentido da palavra que foi dita anteriormente: o verbo “buscam” sugere que há
uma busca por algo, e “uma nova tumba do Faraó Menino” executa este papel.
Caso o complemento do verbo não seja enunciado, a oração ficará sem seu
sentido completo.
No processo de regência, há sempre um termo que será classificado como
regente e outro como regido. O termo regente é aquele que pedirá por um
complemento; já o termo regido será aquele que completará o sentido do
termo regente. Veja: em “O passeio de escuna propicia aos turistas uma
agradável experiência”, o verbo “propiciar” é o termo regente, uma vez que
pede o complemento “aos turistas”; este, por sua vez, executa a função de
termo regido, pois completa o sentido do verbo.

A regência exerce papel fundamental no processo comunicativo, uma vez que


atua diretamente no sentido da mensagem. A seguir, compreenderemos com
mais especificidade a questão da regência verbal.
A regência verbal
As palavras de uma oração são interdependentes, isto é, relacionam-se entre si
para formar um todo significativo. De acordo com Bechara (2015, p. 81), a
“regência verbal é uma marca de subordinação que é estabelecida a partir de
um verbo”, logo, ela é a relação de um verbo com o seu complemento.

Na estrutura de uma oração, alguns verbos terão sentido


completo, outros não. Assim, os verbos que não possuem sentido
completo necessitam de complemento, ou seja, uma palavra ou
expressão que lhes complete o sentido.
Os verbos que não precisam de complemento são chamados de intransitivos.
Já os que precisam podem ser: transitivos diretos, aqueles que pedem
complemento direto (objeto direto); transitivos indiretos, que pedem
complementos indiretos (objetos indiretos), ou seja, que são acompanhados
por preposição.

Veja: em “Pedro nasceu esta manhã”, o verbo “nascer” tem sentido completo,
uma vez que “quem nasce, nasce”; assim, ele não necessita de complemento.
No entanto, em “As crianças obedecem aos pais”, o verbo “obedecer” precisa
de um complemento, pois quem obedece, obedece a alguém.
Os verbos transitivos diretos são aqueles que não apresentam sentido
completo, ou seja, precisam de um termo regido que lhes complete o sentido.
Na gramática, os termos regidos recebem o nome de objeto. Por exemplo, na
oração “Mariana comprou o vestido de noiva tão desejado”, o verbo “comprou”
não tem sentido completo, logo, ele solicita que haja um termo regido (palavra,
expressão), ou seja, um objeto que lhe complete. No caso, o complemento do
verbo é “o vestido de noiva tão desejado”. Este complemento é um objeto
direto, uma vez que se liga ao verbo sem que haja a necessidade de uma
preposição (PATROCÍNIO, 2011).

No entanto, em “As crianças obedecem aos pais”, o verbo “obedecer” precisa


de um objeto indireto, ou seja, aquele que se liga ao verbo, para lhe
completar o sentido, por meio de uma preposição, pois quem obedece,
obedece a alguém. Aqui, então, o verbo é transitivo indireto, pois vem regido
pela preposição “a” (BECHARA, 2015).

Figura 1 - Os verbos e seus complementos Fonte: Shutterstock


Há casos em que os verbos precisam de mais de um termo regido, ou seja, de
mais de um complemento. Em “Eu ofereci água ao jovem andarilho”, o verbo
‘oferecer’ precisa de um objeto direto e de um objeto indireto, pois quem
oferece, oferece algo a alguém. Assim, ‘água’ e ‘ao jovem andarilho’ são
complementos do verbo, sendo ‘água’ o objeto direto, e ‘ao jovem andarilho’ o
objeto indireto.

Alguns verbos admitem mais de uma regência, e, em geral, esta diversidade de


regência corresponde a uma variação significativa do verbo. Em outras
palavras, quando a regência de um verbo muda, o significado dele mudará
para o contexto em que estiver sendo empregado, como veremos a seguir
(CINTRA, 2001).

Quando há mudança de regência, há mudança de sentido, não


aplicar a regência de modo adequado pode gerar problemas na
comunicação, uma vez que a mensagem poderá ganhar outro
significado.
Alguns casos de regência verbal
Conheça alguns exemplos de verbos que apresentam questões relacionadas à
regência. Veja que os verbos listados são muito utilizados e, por consequência,
apontam os principais problemas de regência verbal, especialmente na escrita.

 Aspirar
O verbo “aspirar” pede complemento direto quando significa “sorver”. Veja que
em “Ele aspirava o frescor da manhã”, o verbo é transitivo direto, pois quem
aspira, aspira algo. Mas poderá, também, ser transitivo indireto, quando
empregado no sentido de “pretender/desejar”. Por exemplo: “O jovem aspira a
um cargo mais alto na empresa”.

 Assistir
O verbo “assistir” admite três regências: primeiro, transitivo direto, quando o
sentido é o de “acompanhar/ajudar” (Ex.: Ele assiste o paciente); transitivo
indireto, quando estiver no sentido de “ver” (Ex.: Tratava-se de uma série a que
eu assistia); e a terceira admissão, na tradição coloquial brasileira, transitivo
indireto, no sentido de “morar/residir/habitar” (Ex.: “Dois daqueles garotos
assistiam em Nova Friburgo”.

Figura 2 - A regência e a mudança de sentido Fonte: Shutterstock


 Agradar/Desagradar
Os verbos “agradar” (quando estiver significando “contentar/satisfazer”) e
“desagradar” (no sentido de “descontentar/desgostar”) pedem sempre por um
objeto indireto. Veja: “Os lucros da corporação não agradaram/desagradaram
aos sócios.

Na variedade coloquial da língua, ou seja, aquela em que não há


o emprego rígido da norma padrão, os verbos
“agradar/desagradar” são empregados como transitivo direto,
uma vez que, na coloquialidade, em geral, as pessoas dizem
“Agradamos o chefe/Desagradamos o chefe”. Na fala, isto é
perdoável; contudo, em um texto escrito, este emprego é
considerado um desvio da norma culta.
 Chamar
Há alguns significados e empregos para o verbo “chamar”. No sentido de
“fazer, vir e convocar”, ele deverá ser transitivo direto. Veja que em “o
presidente chamou o seu secretário”, o verbo pede complemento direto. Já
quando está em seu sentido de “invocar”, o verbo é seguido de objeto indireto,
encabeçado pela preposição “por”. Veja: “As madrinhas chamam pelas
crianças”.

 Comunicar
O verbo comunicar é transitivo direto e indireto, ou seja, precisa de dois
complementos. Por exemplo, em “Comunicamos os clientes sobre o atraso das
entregas” temos: “os clientes” funcionando como complemento direto; e “sobre
o atraso”, exercendo a função de complemento indireto.

 Ensinar
Ao explicitar o “ensino de algo”, o verbo “ensinar” é utilizado preferencialmente
com um objeto direto. Veja: “O professor ensinou a lição” (ensinar algo/alguma
coisa). Porém, deve ser acompanhado por um objeto indireto, quando estiver
empregado no sentido de “ensinar pessoas”. Por exemplo: “O professor
ensinou aos alunos” (ensinar a alguém).

 Informar
O verbo informar também é transitivo direto e indireto, pois quem informa,
informa alguma coisa a alguém. Veja: “A escola informou o horário das provas
aos alunos”. Note que “o horário” exerce função de complemento direto e “aos
alunos” de complemento indireto”.

 Implicar
Quando empregado no sentido de “resultar” e “produzir”, o verbo implicar é
transitivo direto. Veja: “Isto implica erro”. Agora, quando o verbo estiver no
sentido de “perturbar”, ele é transitivo indireto, logo pedirá um complemento
indireto. Por exemplo: “Exceder a velocidade nas estradas implicará em
multas”.
 Interessar
Quando o verbo “interessar” estiver no sentido de “ser proveitoso, reter ou
captar atenção”, poderá ser empregado tanto como transitivo direto quanto
transitivo indireto. Por exemplo: “A experiência interessou os estudantes/A
experiência interessou aos estudantes”. Agora, quando estiver no sentido de
“empenhar-se”, o verbo será acompanhado pela proposição “por”. Veja: “Eles
se interessarão mais pelos assuntos das provas.

 Ir/chegar
Os verbos “ir” e “chegar” são intransitivos, portanto, não apresentam objetos.
No entanto, são acompanhados por advérbios que exercem função de adjunto
adverbial (acompanham, modificam, intensificam o verbo). Por exemplo, em
“Ninguém foi à festa/Ninguém chegou à festa”, há a presença de palavras (ou
expressões) que acompanham os verbos, exprimindo a ideia de lugar. Perceba
que, na linguagem coloquial, comumente as pessoas usam “ir em/chegar em”.
Conquanto, a preposição “em” não está de acordo com a variedade padrão da
língua. Quem chega, chega a; quem vai, vai a, e não “chega/vai em”.

 Obedecer/Desobedecer
O verbo “obedecer” pede complemento indireto. Por exemplo: “Os filhos devem
obedecer aos pais”. A mesma regra se aplica ao verbo desobedecer. Observe:
“Os pais são obedecidos pelos filhos”.

 Perdoar/Pagar
Os verbos “perdoar” e “pagar” possuem a mesma regência: são transitivos
indiretos. Veja: “A empresa pagará aos funcionários corretamente/Juliana
perdoará aos excessos da colega”. No entanto, na variedade coloquial da
língua, os dois verbos costumam ser empregados como transitivos diretos: "A
empresa pagará os funcionários corretamente/Juliana perdoará os excessos da
colega". Lembre-se de que, em situações em que se deve utilizar a norma
padrão da língua, como em textos escritos, este tipo de regência não é aceita.
 Responder
O verbo “responder”, no sentido de “dar resposta”, deve ser empregado com
objeto indireto. Veja: “Os alunos responderam às questões”. No entanto, não é
raro o emprego do verbo como intransitivo, ou seja, sem que venha
acompanhado de qualquer complemento. Por exemplo: “Respondia sem
qualquer alteração na voz”.

 Visar
O verbo “visar” no sentido de “mirar/apontar” é transitivo direto. Veja: “Visando
o alvo, atirou sem titubear”. Agora, no sentido de “ter em vista” e “ter um
objetivo”, deve ser empregado com objeto indireto. Por exemplo: “Este
exercício visa à compreensão dos estudos feitos em sala de aula” (BECHARA,
2015).

Aplicar, conhecer e reconhecer os mecanismos que fundamentam a regência


ajuda a não cometer outros desvios comuns na escrita, que estão diretamente
ligados a este processo. Para saber mais, acesse:
<http://educacao.globo.com/portugues/assunto/usos-da-lingua/regencia-e-
crase.html>.
A regência verbal coexiste no idioma, assim como outras estruturas gramaticais
que estão diretamente relacionadas à adequação e situação de uso da língua
no processo comunicativo. Por isso, uma determinada regência de um verbo
pode ser adequada a um contexto e em outro não (PATROCÍNIO, 2011).

Figura 3 - Problemas de regência afetam a comunicação Fonte:


Shutterstock
Assim, o emprego em uma situação formal deve sempre primar pelo uso da
regência verbal adequada, para não gerar problemas com a mensagem a ser
transmitida. Cabe, portanto, ao emissor sempre avaliar a aceitabilidade em
função da situação formal, ou informal, em que se desenvolve o ato
comunicativo (PATROCÍNIO, 2011).
Para evitar desvios em relação à norma padrão da língua e não provocar, entre
outros, mudanças de sentido nos enunciados, consulte o “Dicionário Prático
de Regência Verbal e a Nova Ortografia”, do Celso Pedro Luft. Este
dicionário é uma consulta indispensável para aqueles que desejam escrever
corretamente.
Fechamento
Concluímos a aula relativa à regência verbal! Como vimos, a regência verbal é
um mecanismo importante que nos auxilia para uma comunicação, escrita e
oral, adequada.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer o que é regência
 entender como se dão as relações entre os verbos e seus complementos
 conhecer alguns verbos que apresentam dificuldades de regência
 perceber a importância de aplicar a regência de modo correto para evitar
incorreções na transmissão das mensagens
 reconhecer os principais problemas de regência

Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática da língua portuguesa. 38. ed. São
Paulo: Nova Fronteira, 2015.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
LUFT, Celso Pedro. Dicionário prático de regência verbal e a nova
ortografia. São Paulo: Ática, 2010.
PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Aprender e praticar gramática. São Paulo:
FTD, 2011.
Concordância
verbal
Introdução
Nesta aula, compreenderemos o que é a concordância verbal, e quais são as
suas implicações na comunicação oral e escrita. Além disso, entenderemos a
regra geral da concordância verbal, assim como as exceções que permeiam o
seu uso.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender a importância da concordância verbal para o processo de
comunicação
 reconhecer as principais regras de concordância verbal
O que é concordância verbal?
Na língua, a concordância se relaciona com a sintaxe (campo da gramática que
estuda as relações estabelecidas entre as palavras). Assim, dizemos que a
concordância é uma relação de harmonia entre elementos constituintes de um
enunciado. No caso específico da concordância verbal, a harmonia se
estabelece entre o sujeito e o verbo (NICOLA, 2014).

Assim, na concordância verbal, há a flexão dos verbos (de pessoa e número)


associada aos substantivos que estabelecem a relação. Por exemplo, num
enunciado em que o sujeito está na 3ª pessoa do singular, o verbo, que faz
concordância com este nome, também deverá estar no singular (flexão de
número) e na 3ª pessoa do discurso (NICOLA, 2014).

Em “As batatas estão prontas”, temos um sujeito (batatas), assunto principal do


enunciado, e um verbo (estão) que se refere ao sujeito. Considerando que
“batatas” é um substantivo feminino no plural, e que corresponde à 3ª pessoa
do discurso, o verbo “estão” faz, então, concordância em número e pessoa com
o substantivo a quem se refere.
A concordância verbal é um componente básico do princípio comunicativo,
logo, entendê-lo, conhecer suas regras e aplicá-las tornará o ato de
comunicação claro e adequado qualquer que seja o contexto (BECHARA,
2015).
Figura 1 - Compreender a concordância verbal é importante para um processo

comunicativo eficiente Fonte: Shutterstock


Os ajustes do verbo, em relação ao sujeito, são indispensáveis quando
estamos em uma situação formal e precisamos fazer o uso da variedade
padrão da língua portuguesa.

Agora que já sabemos o que é concordância verbal, vamos entender como são
as regras de uso deste importante princípio.
As regras da concordância verbal
A regra geral da concordância verbal aponta que o verbo deverá concordar
com o núcleo do sujeito simples, em pessoa (1ª, 2ª e 3ª) e número (singular e
plural). Por exemplo, em “Maria adquiriu o apartamento de seus sonhos”,
“Maria” é o núcleo do sujeito simples (possui apenas uma palavra de
importância) e, assim, o verbo deverá fazer a concordância com ele
(PATROCÍNIO, 2011).

Porém, existem alguns casos que tornam a questão da concordância mais


complexa, e, por isso, devem ser reconhecidos para que possamos fazer o uso
conforme a variedade padrão culta da língua.
Casos de concordância que devem ser observados
 Verbo + pronome “se”
Neste caso, há duas possibilidades de concordância verbal. Primeiro, o verbo
seguido de partícula “se” pode indicar voz passiva sintética, ou seja, o sujeito
sofre a ação verbal. Aqui, a concordância deverá ser realizada da seguinte
maneira: quando o sujeito está no singular, o verbo fica no singular; quando o
sujeito está no plural, o verbo também deverá flexionar para o plural. Veja:
“Publicou-se a notícia”; “Publicaram-se as notícias”.
A segunda possibilidade é quando temos o verbo + “se” indicando índice de
indeterminação do sujeito. Observe: “Não se dispunha de informações
atualizadas”. Neste caso, temos um verbo transitivo indireto, ou seja, um verbo
que necessita de um complemento que venha preposicionado (quem dispõe,
dispõe de alguma coisa). Isto significa dizer que, na oração, há o que
chamamos de objeto indireto (de informações atualizadas), porém não
conseguimos identificar quem é, de fato, o sujeito. Logo, o “se” torna-se um
índice de indeterminação de sujeito e, por isso, o verbo permanece no singular
(BECHARA, 2015).

A concordância do verbo + “se” (na voz passiva sintética) com o


sujeito faz-se pela regra geral, mesmo sendo um caso em que
devemos prestar mais atenção. Então: sujeito no singular, verbo
no singular; sujeito no plural, verbo no plural.
A questão da concordância de verbo + “se” nem sempre é empregada de forma
a contemplar as regras de concordância verbal. Muitas vezes, em placas de
publicidade, encontramos “vende-se casas”. Trata-se, portanto, de uma
incorreção gramatical, posto que deveríamos encontrar “vendem-se casas”
(NICOLA, 2014).

Figura 2 - Há casos em que a concordância não segue a regra geral Fonte:


Shutterstock

 Verbo + pronomes relativos “que” e “quem”


Em relação aos pronomes relativos “que” e “quem”, dá-se a seguinte situação:
se o “que” estiver exercendo a função de sujeito da oração, como em “não
fomos nós que tomamos o refrigerante”, o verbo concordará com o
antecedente do pronome; porém, quando o sujeito for representado pelo
pronome “quem”, o verbo deverá ficar na 3ª pessoa do singular. Veja: “Não
fomos nós quem tomou o refrigerante”.

 Nomes próprios
Quando houver um nome próprio no plural, fazendo as vezes de núcleo do
sujeito, a concordância deverá ser feita com o artigo que o precede. Veja: “Os
Lençóis Maranhenses surpreenderam pelas belezas naturais”. Caso não haja
artigo, o verbo ficará no singular. Ex.: “Canoas localiza-se em Porto Alegre”
(NICOLA, 2014).

Agora, conheceremos a relação de concordância em certas expressões.


Concordância verbal em certas expressões
Expressões de uso corrente da língua causam dúvidas no momento em que
aplicamos as regras de concordância verbal. Veja como fica a concordância
verbal em certas expressões.

 Expressões com “qual de nós”, “quais de vós”, “alguns de nós/vós”


Na concordância verbal, em expressões com “qual de nós”, “quais de vós” e
“alguns de nós/vós”, deve-se proceder da seguinte maneira: estando o
pronome inicial no singular + “nós/vós”, o verbo segue para a 3ª pessoa do
singular (“Qual de nós aceitará esse trabalho?”); se o pronome inicial estiver no
plural + “nós/vós”, o verbo poderá concordar tanto com a 3ª pessoa do plural
quanto com “nós/vós” (“Quais de nós conversaremos com a professora?” ou
“Quais de nós conversarão com a professora?”).

 Expressões partitivas
Em expressões partitivas, como “maior parte de”, “uma porção” e “um grande
número de”, seguidas de nome no plural, é possível fazer tanto a concordância
no singular quanto no plural. Por exemplo, em “Um grande número de pessoas
participou/participaram das manifestações populares em prol de melhorias
sociais”, “participou” concorda com número e “participaram” concorda com a
palavra “pessoas”.

 Expressões numéricas
Quando as expressões são numéricas aproximativas, o verbo sempre deverá
concordar com o numeral. Veja: “Mais de um paciente se irritou com o atraso
do ônibus”; “Com a chuva, faltaram mais de 15 alunos”.
Quando a expressão “mais de um” exprimir reciprocidade, o
verbo deverá ficar, necessariamente, no plural. Veja: “Mais de um
diretor se acusaram pela falência”. O mesmo critério deverá ser
seguido quando esta expressão aparecer repetida. Por exemplo:
“Mais de um sociólogo, mais de um economista defendem
economia colaborativa”.
 Expressões indicativas de percentagem
Em expressões indicativas de percentagem, a concordância deverá ser feita no
plural, sempre que apresentar mais de 1,999..%. Veja: “10% das pessoas
ficaram de fora da lista”.
Figura 3 - Atente-se para não errar na concordância verbal em certas

expressões Fonte: Shutterstock


Há outros casos dos quais devemos ficar atentos. Continue acompanhando!
Verbos impessoais
Como vimos, há diferentes casos em que a concordância verbal não segue a
regra geral. A concordância com os verbos “ser”, “fazer”, “haver” e “acontecer”,
por exemplo, deve ser realizada com atenção, visto que, na maioria dos casos,
estes verbos são aplicados de forma impessoal, ou seja, não apresentam um
sujeito.

Observe algumas situações de concordância com o verbo “ser”:


 quando empregado na indicação de horas, faz concordância com o número
a que se refere. Veja: “Quando saí era uma hora"; "Quando cheguei ao
local indicado eram duas”;
 quando o verbo se relaciona à data, preferencialmente, ele deverá
concordar com a palavra “dia/dias”, estando explícita ou não na oração.
Veja: “Hoje é (dia) 6 de novembro”; “Hoje são 6 (dias) de novembro”;
 já em expressões quantitativas, o verbo deverá ficar no singular. Veja:
“Seis quilos de farinha é pouco para fazer o tanto de macarrão que desejas”
(PATROCÍNIO, 2011).

Nas situações em que o verbo “ser” funciona como verbo de ligação, ou seja,
estabelece um vínculo com o sujeito e o predicativo (característica atribuída ao
sujeito), a concordância se faz dentro da regra geral. Veja: “Minha vida é uma
aventura constante”; “Meus parentes eram de terra longínqua”.

Além disso, o verbo “ser” também poderá estabelecer a concordância com


elementos que se deseja realçar, como podemos ver em “As cheias do rio é o
tormento de quem mora nas redondezas”. Neste caso, o verbo concordou com
o predicativo, para enfatizar a ideia de “tormento”.

Agora, perceba as situações especiais do verbo “fazer”:


 quando empregado na indicação de tempo transcorrido, ou ainda por
transcorrer, ficará sempre no singular. Veja: “Ontem, fez 20 anos que vivo
aqui no Brasil”.
 em construções de verbo “fazer” + verbo “dever”, a impessoalidade será
transferida para o verbo “dever”, logo ele ficará no singular. Ex.: “Deve fazer
umas três semanas que não faço nenhuma atividade física”.

Figura 4 - Há casos em que a atenção à concordância verbal deve ser

redobrada Fonte: Shutterstock


Já o verbo “haver”, no sentido de existir, deverá sempre ser empregado no
singular. Por exemplo: “Há muitos afazeres nesta casa”.

A Revista Exame listou os cinquenta erros mais comuns de uso da língua


portuguesa. Dentre eles estão os desvios relativos ao emprego da
concordância verbal. Não saber usar tais regras pode comprometer – em
muitos casos – o desempenho profissional. Leia:
<http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/os-50-erros-de-portugues-mais-
comuns-no-mundo-do-trabalho>.
A seguir, conheceremos outras situações especiais de concordância verbal.
Relações especiais de concordância
Quando o sujeito for composto, a concordância verbal preferencialmente
deverá ser feita no plural. Veja: “João e Maria foram ao cinema”. Porém, em
alguns casos, quando há o desejo de enfatizar elementos, o verbo ficará no
singular, concordando com aquele que estiver mais próximo. Por exemplo: “A
angústia, a inquietação e a tristeza faz parte do nosso crescimento pessoal”.

Por fim, tome cuidado com a concordância ideológica (ou silepse), que se
caracteriza pela falta de uniformidade entre as pessoas gramaticais (1ª, 2ª e 3ª)
envolvidas no processo comunicativo. Veja: em “A turma ovacionaram o
professor de pé”, a concordância foi realizada com a ideia de muitas pessoas
compondo a turma (PATROCÍNIO, 2011).

A concordância verbal é uma das maiores dificuldades no uso da língua


portuguesa. Para aprofundar seus conhecimentos, leia “Concordância
Verbal”, de Maria Aparecida Baccega. No livro, de forma bem didática, a
autora traça uma série de exemplos práticos para uso e aplicação das regras
da concordância verbal em nosso dia a dia.
Como vimos, na concordância verbal, há exceções à regra geral, e, nestes
casos, devemos ter um olhar no intuito de reconhecê-las e aplicá-las de
maneira adequadas às situações formais, que sempre nos exigem a utilização
da norma culta.
Fechamento
Concluímos a aula relativa à concordância verbal, na qual tratamos da
importância de conhecer as regras e do quanto é importante compreendê-las
para aplicação no processo comunicativo.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer o que é concordância verbal
 entender a regra geral de concordância verbal
 conhecer as exceções da regra geral e quais as suas aplicações
 perceber como se devem aplicar as regras de concordância verbal em
casos especiais

Referências
BACCEGA, Maria Aparecida. Concordância Verbal. São Paulo: Ática, 2006.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2015.
GASPARINI, Claudia. Os 50 erros de português mais comuns no mundo do
trabalho. EXAME.com, 2015. Disponível em:
<http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/os-50-erros-de-portugues-mais-
comuns-no-mundo-do-trabalho>. Acesso em: 30 jun. 2017.
NICOLA, José de. Projeto Múltiplo: gramática & texto. São Paulo: Editora
Scipione, 2014.
PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Aprender e praticar gramática. São Paulo:
FTD, 2011.
Concordância
nominal
Introdução
Nesta aula, estudaremos o conceito de concordância nominal, compreendendo
sua importância para o processo da comunicação. Além disso, veremos quais
são as principais regras de concordância e como elas se aplicam em nosso dia
a dia
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender a importância da concordância nominal para o processo de
comunicação
 reconhecer as principais regras de concordância nominal
O que é concordância nominal?
Na língua portuguesa, há uma área específica que estuda a relação
estabelecida entre as palavras: a sintaxe. Este componente é um dos pontos
mais importantes do estudo da língua, pois aborda a relação de concordância
que deve ser estabelecida entre os termos, ou seja, entre as palavras
(NICOLA, 2014).

Para entender a relação de concordância, ou o “princípio sintático de acordo


com o qual toda palavra variável referente ao substantivo deve se flexionar
(alterar a forma) para se adaptar a ele” (PATROCÍNIO, 2011, p. 572), observe
o exemplo a seguir:

Somente dois barquinhos pequenos abasteciam todas as comunidades de


pescadores.

A palavra “barquinhos” é um substantivo, que está sendo acompanhado por


“dois” e “pequenos”. Como o substantivo está no plural, os termos que o
acompanha também foram colocados no plural; além disso, como “barquinhos”
pertence ao gênero masculino, o adjetivo “pequenos” também está no gênero
masculino.

No exemplo, verificamos a concordância nominal, que é a relação


estabelecida entre um nome (o substantivo ou a palavra que tenha valor de
substantivo) e as palavras a ele relacionadas, como os adjetivos, ou palavras
que estiverem sendo empregadas com a mesma função, como alguns tipos de
numerais, artigos e pronomes (NICOLA, 2014).

Veja: “Harry Potter é o livro mais conhecido de J.K. Rowling”. Neste caso, as
palavras “o”, “livro” e “conhecido” mantêm uma relação de concordância entre
elas. O termo “livro”, que é o substantivo pertencente ao gênero masculino,
está sendo acompanhado pelo artigo (o), que também fica no masculino e no
singular, para fazer concordância com o termo a que está se referindo.
Ao fazermos a troca de um substantivo por outro, é preciso fazer a
acomodação das demais palavras que o estão acompanhando. Veja: “O jornal
mais vendido é o impresso” e “A revista mais vendida é a impressa”. Em ambos
os casos, temos o particípio do verbo “vender” atuando como adjetivo, o que
necessita ter a concordância devidamente acomodada.

Assim, entendemos que a concordância nominal é um tipo de adaptação das


palavras dentro da enunciação, ou seja, uma relação construída entre elas,
para que o processo comunicativo fique sempre mais claro. Agora, que já
sabemos o que é, de fato, a concordância nominal, vamos reconhecer quais
são suas principais regras.

Figura 1 - A concordância nominal estabelece harmonia entre as palavras


Fonte: Shutterstock
Regras da concordância nominal
Na concordância nominal, a regra geral é que o adjetivo e as demais palavras
que acompanham o substantivo (ou palavra que atue como substantivo, o que
pode acontecer com um pronome) devem fazer concordância com ele em
gênero (feminino/masculino) e número (singular/plural) (BECHARA, 2015).
Veja: “Gritos estranhos vinham daquela casa”; “As reportagens das revistas
eram muito boas”. Note que as palavras em destaque estão estabelecendo
relação de concordância nominal, conforme a regra geral.
Figura 2 - As palavras que se referem ao substantivo concordam em gênero

e número com ele Fonte: Shutterstock


Embora haja uma regra geral de concordância nominal, há casos em que ela
não será aplicada, especialmente quando houver dois substantivos a que o
adjetivo se refira. Assim, é preciso avaliar com cuidado se, ao fazer a
concordância nominal, não haverá dificuldade de interpretação da frase e a
qual dos substantivos se deseja enfatizar.

Note que a regra geral deve ser sempre aplicada para harmonizar os
elementos de uma enunciação. Agora, vamos compreender quais são as
demais regras e casos especiais da concordância nominal
Clareza da mensagem e eufonia
A concordância nominal entre adjetivos e substantivos, em modo geral, é fácil.
Dificuldades podem aparecer quando o adjetivo se relaciona com mais de um
substantivo (BECHARA, 2015). Neste caso, duas medidas de estabelecimento
de concordância devem ser tomadas: a primeira é a regra da clareza da
mensagem que se deseja enunciar, evitando a ambiguidade (duplo sentido); a
segunda é a regra da eufonia (som agradável), que atua na construção do
texto.

Nestas situações, é possível efetuar a concordância apenas de número, com o


adjetivo no plural, ou concordando com o número do substantivo mais próximo.
Veja: “Vendem-se câmeras e máquinas de lavar digitais”; ou “Vendem-se
câmeras e máquina de lavar digital”. No segundo exemplo, percebemos a
ambiguidade, pois poderá incorrer a dúvida: as câmeras e as máquinas de
lavar são digitais, ou apenas a máquina de lavar é digital?

Assim, para evitar este tipo de imprecisão, ou seja, dúvida em relação ao


substantivo a que se quer referir, siga as regras a seguir:
 quando os substantivos são do mesmo gênero, o adjetivo concorda com
esse gênero. Ex.: O copo e o prato limpos;
 quando os substantivos são de gêneros distintos, o adjetivo poderá ficar no
masculino, ou concordar com o substantivo mais próximo. Ex.: O copo e a
máquina limpos; O copo e a máquina limpa (BECHARA, 2015);

Alguns adjetivos não apresentam marca de gênero (feminino e


masculino). Eles somente podem ser identificados pelo contexto,
mais especificamente pelo próprio substantivo a que eles se
referem. Veja: “Esse menino é muito inteligente/Essa menina é
muito inteligente” ou “Os meninos são muito inteligentes/As
meninas são muito inteligentes”. Neste caso, admitem apenas a
concordância de número.
 quando há o desejo de destacar um dos substantivos, realiza-se uma
aproximação direta do adjetivo com este substantivo. Veja: “Comprou um
velho tripé e uma máquina de lavar”; ou “Comprou uma máquina de lavar
velha e um tripé”;
 em casos de substantivos de números diferentes, o que deve ser feito é
repetir o adjetivo. Ex.: “Comprou velhas máquinas de lavar e um tripé
velho”;
 em nomes próprios, quando há um adjetivo que se refira aos dois, o termo
qualificador deverá ir para o plural. Ex.: “As doces Carolina e Nicolli”
(PATROCÍNIO, 2011).

No caso da eufonia, em uma frase como “Passei nas primeira e segunda fases
do concurso”, a palavra “fases” exerce função de adjetivo, e, ao estabelecer a
concordância com “primeira” e “segunda”, cria um “som agradável, o que não
aconteceria se disséssemos “nas primeira e segunda fase”.

Assim, dependendo da intenção do falante, as formas de obter a concordância


nominal podem variar. Agora, vamos tratar de outros casos que também geram
dúvidas quanto à concordância nominal.

Para aprofundar seu estudo, leia “Português com o professor Pasquale:


concordância nominal", de Pasquale Cipro Neto. No livro, o autor traz
exemplos práticos de como estabelecer corretamente a concordância nominal
entre as palavras e ensina reconhecer quando não há a concordância
adequada.
Casos particulares
Algumas expressões, ou mesmo adjetivos, exercem mais de uma função na
língua, e, por isso, geram dúvidas no momento da realização da concordância
nominal. Veja alguns casos particulares (PATROCÍNIO, 2011):

 expressões do tipo “é proibido”, “é necessário”, ou “é preciso” ficarão


invariáveis caso o substantivo a que se referem tenha sentido genérico. Ex.:
É proibido animais no recinto/É necessário arrolamento das provas ao
caso/É preciso comprar os livros. Porém, caso haja determinantes, a
expressão deverá fazer a concordância. Ex.: É proibida a passagem de
pedestres;
Figura 3 - A expressão “é proibido” fica invariável em substantivos genéricos

Fonte: Shutterstock
Mais exemplos de casos particulares:
 palavras como “caro”, “barato” e “só” podem funcionar tanto como advérbio,
e, assim, serem invariáveis, quanto como adjetivo, neste caso, concordando
com o substantivo a que se referem. Veja: em “Pagamos caro pelo
material”, “Não custam barato estas joias” e “Eles só convidaram os
amigos”, as palavras estão funcionando como advérbios, logo, são
invariáveis. Agora, em “São caras as entradas para o espetáculo”, “Joias
baratas não são joias” e “Muitos convivem sós no universo”, as palavras
estão na função de adjetivo, concordando com o substantivo a que se
referem;
 palavras como “obrigado”, “incluso” e “anexo” exercem função de adjetivo, e
portanto, são variáveis. Assim, elas devem concordar com a palavra a que
se referem. Ex.: A menina disse obrigada (porque menina é substantivo
feminino); As multas estão inclusas no processo (porque multa é feminino);
A cópia veio anexa ao contrato (porque cópia é substantivo feminino);
 a expressão “em anexo” é uma locução adverbial, por isso é invariável.
Veja: As certidões virão em anexo (a expressão se manteve no masculino);
É muito comum, na comunicação interna de uma empresa, a troca de e-mails
que apresentam desvios na escrita, especialmente no que tange à
concordância nominal. Por exemplo, quando encontramos “segue anexo as
solicitações”, deveríamos encontrar “seguem em anexo as solicitações”, ou,
ainda, “seguem anexas as solicitações”. Num caso como este, o emissor da
mensagem transmite a impressão de que não sabe aplicar as regras de
concordância nominal. Vale lembrar que, hoje, em muitos casos, um dos
critérios de seleção no mercado de trabalho é o domínio da norma culta da
língua portuguesa.

 a palavra “meio”, quando faz a função de adjetivo, é variável, logo, deverá


fazer concordância com a palavra a que se refere. Ex.: A criança comeu
meio hambúrguer (ou seja, metade do hambúrguer); São seis e meia
(metade de hora);
 a palavra “bastante”, no sentido de “muito/muita/muitos/muitas”, também
sofrerá variação. Ex.: Ocorreram bastantes visitas ao doente (muitas visitas
ao doente) (BECHARA, 2015).

A seguir, conheceremos outro caso particular: concordância ideológica.


Concordância ideológica
A concordância ideológica, ou silepse, é o estabelecimento de concordância
entre palavras, considerando as ideias que elas estão expressando, e não de
suas formas gramaticais (PATROCINIO, 2011). Em outras palavras, na
concordância ideológica, deixamos de lado a concordância gramatical e
utilizamos a concordância mental. Assim, ela pode ser feita em:

 gênero: em “Sua excelência (o presidente) está interessado em discutir


novas medidas”, “excelência” é feminino, mas o adjetivo “interessado” está
no masculino, concordando com a ideia de “presidente”;
 número: em “Como vai a galera? Estão bem?”, “galera” é singular, mas a
concordância é feita com a ideia de “todos”;
 pessoa: em “Os patrocinadores estão afinados com o projeto. Temos
orgulho disto”, houve a supressão do termo “nós”, mas a concordância foi
realizada com a ideia expressa pelo pronome na 1ª pessoa do plural.

Atente para os casos em que os enunciados concordam com a palavra


“cidade”, como em “Visitei a bela Recife”. Neste exemplo, há uma concordância
com a palavra “cidade” que está subentendida na oração.

Leia a matéria publicada no site da Revista Exame e conheça uma dica para
não errar na concordância nominal. Acesse:
<http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/a-regra-para-nunca-mais-errar-a-
concordancia-nominal>.
Como vimos, há uma regra geral e algumas particularidades na concordância
nominal. Atente-se a elas que, assim, o processo comunicativo ficará mais fácil
e claro.
Fechamento
Concluímos a aula relativa à concordância nominal. Agora, você já conhece
como devemos realizar a concordância entre os substantivos e as palavras que
estão relacionadas diretamente a ele.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer o conceito de concordância nominal
 entender como se estabelece a regra geral
 conhecer os casos especiais de concordância
 entender como se dá a concordância ideológica
 compreender a importância da concordância no processo de comunicação

Referências
ABRANTES, Talita. A regra para nunca mais errar a concordância
nominal. EXAME.com, 2013. Disponível em:
<http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/a-regra-para-nunca-mais-errar-a-
concordancia-nominal>. Acesso em: 3 jul. 2017.
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38. ed. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 2015.
CIPRO NETO, Pasquale. Português com o professor Pasquale:
concordância nominal. v. 5. São Paulo: Publifolha, 2002
NICOLA, José de. Projeto Múltiplo: gramática & texto. São Paulo: Editora
Scipione, 2014.
PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Aprender e praticar gramática. São Paulo:
FTD, 2011.
Pontuação
Introdução
Provavelmente, em algum momento, você teve dúvidas ao exercitar a escrita,
correto? Uma das maiores dificuldades estava no momento de pontuar o seu
texto, não é verdade? Na língua escrita, há poucos recursos rítmicos e
melódicos que representem certas expressões e signos que temos na fala.
Assim, para suprir tais ausências, são utilizados os sinais gráficos de
pontuação. Nesta aula, iremos compreender o uso e as funções da pontuação
na escrita. Além disso, entenderemos que a função da pontuação está
diretamente relacionada ao sentido correto que se deseja atribuir ao texto.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender o uso e as funções da pontuação
 entender que a função da pontuação está relacionada diretamente com o
sentido correto do texto
Definição e uso da pontuação
Para começarmos nosso estudo sobre pontuação, precisamos entender a
razão da existência dos sinais a serem utilizados na linguagem escrita. Na
língua falada, há inúmeros recursos que inexistem na escrita, uma vez que
recursos melódicos e rítmicos são típicos da oralidade. Então, ao escrever,
para suprir esta ausência, ou tentar reconstruir “o movimento vivo da elocução
oral”, fazemos uso da pontuação (CUNHA, CINTRA, 2001, p. 643).

O uso dos sinais de pontuação garante ao texto escrito a


organização semântica (sentido das palavras em um texto) e a
harmonia sintática (estabelecimento de relação entre frases,
orações e períodos). Lembre-se de que o não emprego de
pontuação adequada pode conferir enunciados confusos. Veja:
“Maria toma banho porque sua mãe disse ela pegue a toalha”.
Aqui, não sabemos com exatidão se “sua” é pronome possessivo
ou o verbo “suar”, pelo não emprego da vírgula. Agora, veja a
frase com a devida pontuação: “Maria toma banho porque sua
(verbo suar); mãe (vocativo), disse ela (fala do narrador), pegue a
toalha” (BECHARA, 2015, p. 626).
A pontuação consiste em sinais cujos papéis são variados, seja para fins
estéticos e expressivos, como a pausa, seja para marcar a entonação da frase,
ou, ainda, para individualizar algum segmento que se quer destacar ao longo
do texto (AZEREDO, 2008).

Nesta aula, estudaremos a função do ponto (.), vírgula (,), ponto e


vírgula (;), dois-pontos(:), travessão (—), parênteses (( )), colchetes ([
]), chaves ({ }), reticências (...), aspas (“ ”), interrogação (?)
e exclamação (!), agrupando-os quanto às aplicações e funcionalidades no
texto.

Um texto sem pontuação, além de cansar o leitor, gera um grave problema: a


falta de entendimento. No enunciado “irás voltarás não morrerás lá”, há a
possibilidade de várias interpretações, uma vez que não existe separação entre
as orações, nem ao menos uma entonação capaz de expressar emoções em
relação ao que se deseja enunciar.

Os sinais de pontuação podem ser agrupados em dois grupos distintos: o


primeiro serve para marcar a pausa; e o segundo serve para marcar melodia e
entonação nos enunciados. No entanto, suas funcionalidades podem indicar,
ao mesmo tempo, tanto a pausa quanto a melodia. A seguir, compreenderemos
a função e o uso adequado de cada sinal, a partir de seus respectivos
agrupamentos.
Foco na pausa
O grupo da pausa é formado pelo ponto (final), vírgula e ponto e vírgula. Estes
sinais marcam, de maneira geral, a pausa que se deve efetuar ao longo da
escrita. O ponto assinala a pausa máxima da voz (CUNHA, CINTRA, 2001), e o
seu emprego acontece, geralmente, para indicar a finalização de uma oração
declarativa, tanto para períodos simples quanto compostos.

A vírgula, por sua vez, é um pouco mais complexa. Ela marca uma pausa de
pequena duração. Porém, é importante salientar que ela não é empregada
apenas para separar uma oração, ou orações, em um período, utilizamos este
sinal também para:

 separar elementos que exerçam a mesma função sintática, quando não


estão unidos por conjunções. Ex.: “A sua voz, a sua boca, o seu riso, eram
todos inesquecíveis”;
 separar e realçar elementos distintos em um período simples e/ou
composto. Ex.: “Alice, a menina, estava feliz”;
 isolar aposto. Ex.: “Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho, escreveu
Dom Casmurro”;
 isolar vocativo. Ex.: “Tereza, venha aqui agora!”;
 isolar repetições. Ex.: “Nada, nada servia para consolar a criança”;
 isolar advérbios em início de oração ou período. Ex.: “Finalmente, chegou o
inverno”.

Além disso, usamos a vírgula para separar orações intercaladas, datas e para
suprimir uma palavra ou grupo de palavras que já foi expressa no texto
(CUNHA, CINTRA, 2001). Por outro lado, não usamos vírgula entre o sujeito e
o predicado, ou seja, em “Juliana, comprou uma casa nova” há uma
inadequação na construção. Além disso, deve-se atentar para a construção do
aposto, pois ele deverá aparecer isolado, em um período, por vírgulas. Por
exemplo: “As estrelas, como grandes olhos curiosos, espreitavam através da
folhagem” (BECHARA, 2015, p. 475).
No trecho “Ele falou, gritou, esperneou. Não adiantou nada”, temos um caso de
supressão de uma palavra facilmente identificada no contexto: o pronome “ele”.
Veja que a vírgula serviu como elemento coesivo, evitando repetições
desnecessárias ao longo do texto.

Existem poucos casos em que a vírgula não representa de fato


uma pausa real na fala. Podemos observar que isto acontece em
“Sim, senhor” e “Não, Senhor”. Ambas as orações são casos de
isolamento de vocativo, que é um tipo de chamamento.
O ponto e vírgula é um intermediário entre o ponto e a vírgula, cujo uso
aproxima-se muito mais da vírgula do que do ponto. Este sinal possui valor de
pausa, mas também valor melódico, dependendo do contexto. O ponto e
vírgula deve ser usado para:

 separar orações num período de grande extensão, desde que as orações


tenham as mesmas características (simples e/ou compostas). Ex.: “Joaquim
estudou muito, dedicava-se profundamente aos estudos; queria passar na
prova”;
 separar partes de um período, sendo que pelo menos um deles deve estar
subdividido por vírgula. Ex.: “Cheguei cedo ao encontro, pois estava
ansioso; ainda assim, fiquei desapontado; ela não me esperava”;
 separar itens de enunciados enumerativos, decretos, portarias,
regulamentos. Ex.: “Falácias; controvérsias; discursos vazios. Tudo não
passava de retórica”.

Para conhecer mais sobre pontuação, leia “A origem e o uso da pontuação


na gramática de língua portuguesa”, de Priscila Perroni (UFRGS). Acesse:
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/117578/000967229.pdf?seq
uence=1>.
O ponto e vírgula também pode ser usado “para separar as orações
adversativas em que se quer ressaltar contraste”. Por exemplo: “Não disseram
mais nada; mas de noite Antônio insistiu no projeto” (BECHARA, 2015, p. 632).

Como vimos, o grupo de pontuação, que é geralmente destinado para “pausar”,


nem sempre se vale desta única função. Agora que já entendemos como estes
sinais funcionam, vamos conhecer como se articula o grupo em que foco está
na melodia.

Figura 1 - Entre outras funções, certos pontos pausam o texto Fonte:


Shutterstock

Foco na melodia
Alguns sinais de pontuação marcam, sobretudo, a melodia. Entenda por
melodia o ritmo, a harmonia, na composição textual (ABL, 2008). O primeiro
sinal a marcar, na escrita, uma sensível suspensão da voz é o sinal de dois-
pontos. Assim, devemos empregá-lo:

 em citações feitas, em geral, depois de um verbo ou expressão que


signifique dizer, responder, perguntar. Ex.: “Como o pai não disse nada, a
mãe perguntou: aonde você vai?”;
 em enumerações explicativas. Ex.: “Não fosse isto, seriam outros
problemas: a falta de comida; a falta de água; a falta de possibilidades”;
 em um esclarecimento, síntese, ou até mesmo sequência em relação ao
que foi enunciado. Ex.: “A razão é clara: não tinha nota suficiente para ser
aprovado”;
 depois de vocativos que encabeçam cartas, requerimentos, ofícios. Ex.:
“Prezado senhor diretor:”.

Já o ponto de interrogação é o sinal que se usa no fim de qualquer


interrogação, seja ela direta ou em uma pergunta que não necessite de
resposta. Por exemplo: “Deu certo?”. Além disso, este sinal pode ser usado
quando há uma surpresa. Neste caso, deverá ser combinado com o ponto de
exclamação. Veja: “Endoidou?!” (CUNHA, CINTRA, 2001).

A interrogação nunca deve ser utilizada ao final de uma pergunta


indireta, uma vez que esta termina com entonação descendente,
exigindo, assim, um ponto final.
O ponto de exclamação é o “sinal que se pospõe a qualquer enunciado de
entonação exclamativa” (CUNHA, CINTRA, 2001, p. 657). No entanto, como
qualquer outro sinal de pontuação, ele apresenta variedades no uso, cujo valor
intencional deverá ser compreendido ao longo do contexto. De maneira geral,
emprega-se o ponto de exclamação após:

 interjeições. Ex.: ah! oh!;


 verbos no imperativo. Ex.: Agarrem!; Vá!
Por sua vez, as reticências marcam interrupção da frase e,
consequentemente, a própria suspensão da melodia. Por exemplo: “Nossa...
tão sozinha neste mundo...”.
Figura 2 - A melodia na escrita é alcançada com o uso adequado da pontuação

Fonte: Shutterstock
As reticências também possuem valor de pausa, porém de forma mais
acentuada, em especial quando atuam no prolongamento de uma reflexão.
Além disso, elas também podem ser combinadas com outros sinais de
pontuação. Veja: “Peço, apenas, que possa lhe fazer feliz...”. Aqui, temos o
prolongamento da reflexão, assim como uma pausa promovida pelo uso da
vírgula.

Agora, vamos compreender os sinais cujas funções são os destaques ao longo


do texto.
Foco nos destaques
Um dos sinais que foca nos destaques são as aspas. Empregam-se as aspas,
especialmente, no início e no fim de uma citação. Além disso, é possível usá-
las para dar realce a uma “palavra” ou “expressão”, como acabamos de fazer
aqui.

Já os parênteses são usados para intercalar, num texto, qualquer indicação


que seja acessória, ou seja, uma explicação, uma reflexão, uma nota
emocional, referências em geral, citação textual, indicações cênicas (marca de
rubrica), ou até mesmo para isolar orações intercaladas. Veja: “Sempre
conseguia controlar a bola (quando me deixavam fazer isso, claro!), eu era bom
com os pés (mas só eu sabia disso).”.
Figura 3 - Destaque partes importantes do texto, usando a pontuação correta

Fonte: Shutterstock
Os colchetes representam um tipo de variação dos parênteses, portanto,
possuem a mesma aplicação. Veja: “A imprensa (quem contesta?) é o mais
poderoso meio inventado para a divulgação do pensamento [coletivo ou
individual]” (BECHARA, 2015). Os colchetes são usados frequentemente em
trabalhos ligados à linguística e filologia, para indicar transcrição fonética. Veja
que, na palavra ‘mundo’, a transcrição fonética vem marcada por colchetes:
[‘mu~du].

O travessão é empregado em dois casos em particular: nos diálogos, para


indicar a mudança de interlocutor; ou para isolar, em dado contexto, palavras e
frases. Por exemplo: “—Ah, ele falava de mil coisas diferentes, não entendi
direito, confesso, mas achei um belo discurso! Disse ele.”. Cabe ainda ressaltar
que não se deve confundir o travessão com o hífen (-), usado em palavras
compostas (como em bem-vindo).

Há ainda as chaves, cujas aplicações possuem maior visibilidade em obras de


caráter científico, como podemos verificar em livros didáticos. Conquanto,
possui a mesma aplicação que os parênteses e colchetes.

Para aprofundar seus conhecimentos em pontuação, leia o “Guia prático do


português correto”, de Claudio Moreno. O livro é um guia prático para quem
quer esclarecer as dúvidas sobre uso correto da pontuação.
Vimos como cada sinal de pontuação deve ser utilizado ao longo do texto. Vale
lembrar que estes sinais servem para assinalar na escrita marcas típicas da
oralidade. Ainda assim, nem todos os recursos presentes na fala estão
representados fielmente pela pontuação.
Fechamento
Concluímos aqui a aula sobre pontuação! Agora que você já conhece os sinais
e seus usos, aplique-os sempre em sua produção textual.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer a importância da pontuação
 entender a necessidade de seu uso
 compreender como os sinais de pontuação se agrupam
Referências
ABL. Dicionário Escolar da Língua Portuguesa. Academia Brasileira de
Letras. 2. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2008.
AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São
Paulo: Publifolha, 2008.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2015.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
PERRONI, Priscila. A origem e o uso da pontuação na gramática da língua
portuguesa. 2015. Disponível em:
<https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/117578/000967229.pdf?seq
uence=1>. Acesso em: 3 jul. 2017.
Acentuação

Introdução
Certamente, ao redigir um texto, você já deve ter questionado se determinada
palavra levaria acento ou não, correto? É muito provável também que,
inúmeras vezes, tenha lhe ocorrido outra dúvida: há crase ou não há crase?
Nesta aula, abordaremos as regras básicas de acentuação, assim como as
particularidades do uso da crase.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 compreender as regras básicas de acentuação
 entender as particularidades do uso da crase
Os principais sinais de acentuação
Na escrita, para reproduzirmos as palavras, empregamos sinais gráficos, os
quais denominamos letras do alfabeto. No entanto, além das letras, também
nos valemos dos sinais auxiliares, que têm a função de indicar a pronúncia
correta das palavras. Estes sinais são chamados, tecnicamente, de notações
lexicais. Neles estão inclusos os acentos, que podem ser: agudo (´); grave (`); e
circunflexo (^) (CUNHA, CINTRA, 2001).
Figura 1 - A acentuação é um recurso para a correta pronúncia das palavras

Fonte: Shutterstock
O acento agudo é empregado para marcar:

 as vogais tônicas fechadas (i e u). Ex.: “açúcar”; “baú”; “lúgubre”;


 as vogais tônicas abertas e semiabertas (a, e, o). Ex.: “amável”; “pó”;
“exército”.

Por sua vez, o acento grave é usado para indicar a crase, marca que indica a
fusão entre a preposição “a” com a forma feminina do artigo (a, as) e com os
pronomes demonstrativos “a(s)”, “aquele(s)”, “aquela(s)”, “aquilo”. Ex.: “à”; “às”;
“àquilo”.
Por fim, temos o acento circunflexo, que é utilizado para indicar o som
fechado das vogais tônicas (a, e, o). Ex.: “pêsames”; “capô”; “ânimo” (CUNHA,
CINTRA, 2001).

Nas palavras “sábia”, “sabia" e “sabiá”, caso não houvesse a correta


acentuação, não seria possível distinguir o significado entre elas, uma vez que
as suas grafias são idênticas. Perceba que a acentuação é um recurso
importantíssimo para a produção textual.

As palavras são acentuadas de acordo com a sua tonicidade. Entenda por


tonicidade o ato de pronunciarmos uma sílaba com maior ou menor intensidade
vocal. Quando dizemos que a sílaba é tônica, estamos pronunciando-a com
maior intensidade. Nas palavras, há somente uma sílaba tônica; as demais são
átonas (pronunciadas com menor intensidade).

Dominar as regras de acentuação em língua portuguesa é, entre outros, um


recurso para escrever corretamente. Agora que já sabemos o porquê da
importância de acentuar as palavras e já vimos quais são os sinais gráficos que
atuam para indicar a pronúncia correta das palavras, vamos verificar quais
regras devem ser aplicadas para a acentuação.
Regras de acentuação
As palavras são acentuadas de acordo com a posição da sílaba tônica.
Dizemos que são oxítonas as palavras cuja sílaba tônica recai na primeira
(contado da direita para a esquerda); paroxítonas, na segunda; e quando a
sílaba tônica é a terceira, classificamos como proparoxítona.

A seguir, conheceremos as especificidades de cada uma das classificações.


Acentuação das oxítonas
As palavras oxítonas são acentuadas quando:

 terminam em “a” aberto, “e” e “o” semiabertos, seguidos ou não de ‘s’. Ex.:
“cajá”; “pés”; “jacaré”;
 terminam em “e” e “o” semifechados, seguidos ou não de “s”. Ex.: “lês” e
“avô”;
 terminam em “em/ens”. Ex.: “alguém” e “vinténs”.
 são monossílabos tônicos. Ex.; “lá”; “pé”; “pó”.

Com a implementação do atual Acordo Ortográfico, não houve qualquer


modificação nas regras de acentuação das oxítonas. Vale lembrar que as
discussões sobre as tentativas de unificação da ortografia estão em longos
debates desde 1943, entre Portugal e os países falantes da língua portuguesa,
com exceção do Brasil. Em 1971, acentos circunflexos diferenciais foram
abolidos, mantendo-se apenas o da forma verbal “pôde”. Em 1990, todos os
países falantes da língua portuguesa conseguiram promulgar a unificação. No
entanto, no Brasil, ele foi assinado somente em 2008, por meio de decreto
(PROENÇA FILHO, 2008; PATROCÍNIO, 2011).

Nesta regra, incluem-se as formas verbais em que, depois de “a”,


“e”, “o”, troca-se o “r”, “s”, e “z” verbais pelo “l” dos pronomes “lo”,
“la”, “los”, “las”. Veja: “dá-lo”; “fazê-lo”; trazê-lo.
Acentuação das proparoxítonas
Quanto à acentuação das proparoxítonas a regra é única: todas são
acentuadas. Por exemplo: “monossílabo”; “término”; “fúnebre”; “lânguido”
(PATROCÍNIO, 2011).

Figura 2 - Oxítonas e proparoxítonas Fonte: Elaborado por Cristiane


Rodrigues de Oliveira
Agora que já conhecemos as particularidades das regras de acentuação das
oxítonas e das proparoxítonas, vamos entender as regras de acentuação para
as palavras paroxítonas.

Para aprofundar seu conhecimento sobre a acentuação, leia “Uso da


acentuação gráfica”, de Luiz Agostinho Cadore. No livro, o autor trata do tema
de maneira prática, didática e bastante simplificada.
A acentuação das paroxítonas
As paroxítonas são as palavras em maior quantidade na língua portuguesa. No
entanto, nem todas são acentuadas. A regra é acentuar as paroxítonas
terminadas em: “l”, como em “frágil”; “i(s)”, como em “oásis”; “n”, como em
“hífen”; “u(s)”, como “bônus”; “r”, como “pôster”; “x”, como em “fênix”; "ps",
como em “fórceps”; “ão(s)”, como “órfão” e “órfãos”; “ã(s)”, como em “órfã”;
“um/uns”, como em “fórum”; e “ditongo + s”, como em “fósseis” (PATROCÍNIO,
2011).

Veja que a acentuação gráfica tem por objetivo apresentar uma orientação ao
leitor quanto à pronúncia correta da palavra e, também, quanto ao seu
significado, em alguns casos (PATROCÍNIO, 2011).

Cedilha, apóstrofo e til não são acentos, e sim sinais gráficos. Os


sinais gráficos marcam: a nasalização, como em “coração”; o
som, como em “açúcar”; e a “aglutinação”, como se vê em “d’Os
Lusíadas”. Estes sinais podem ou não incidir em uma sílaba
tônica, mas, tecnicamente, não se tratam de acentos que marcam
a tonicidade das sílabas (BECHARA, 2015).
A partir do atual Acordo Ortográfico, ocorreram algumas mudanças na
acentuação de palavras paroxítonas. Desde então, aboliram-se os acentos:

 das paroxítonas terminadas em ditongo aberto “éi” e “ói”. Ex.: “ideia”,


“assembleia”; “heroico”; “paranoico”;
 no “i” e no “u” tônicos quando precedidos de ditongos. Ex.: “feiura” e
“baiuca”;
 na distinção entre paroxítonas que possuem, respectivamente, vogal tônica
aberta ou fechada, ou que sejam homógrafas de palavras átonas (que
possuem grafia idênticas). Ex.: “para” (verbo) e “para” (preposição); “pela”
(verbo) e “pela” (combinação com preposição e artigo); “pelo” (substantivo)
e “pelo” (combinação de preposição e artigo); “pera” (substantivo) e “pera”
(forma arcaica da preposição “por”); “polo(s)” (substantivo) e “polo(s)”
(combinação antiga e popular de “por e lo(s));
 das paroxítonas terminadas em “oo” e “ee”. Ex.: “creem”, “deem”, “leem” e
“veem”. Atenção: as formas verbais “crê”, “dê”, “lê” e “vê” continuam
acentuadas.

Quando redigimos “ela pode sair mais cedo”, querendo indicar que a ação
verbal está no passado, e não colocamos o acento diferencial, haverá um
problema com a transmissão da mensagem, uma vez que se entende que o
verbo está no presente.

Foi mantido o acento diferencial usado para distinguir as formas verbais “pode”
(presente do indicativo) e “pôde” (pretérito perfeito do indicativo) (FARACO,
2012).

Figura 3 - Acentuação das paroxítonas Fonte: Elaborado por Cristiane


Rodrigues de Oliveira
Agora que já conhecemos as regras de acentuação das palavras, vamos
entender como se faz a indicação da crase.
A crase e as suas particularidades
Como vimos, a crase indica a fusão entre duas letras idênticas, por exemplo, a
que ocorre entre “a” (preposição) e “a/as” (artigo feminino) (PATROCÍNIO,
2011). A crase, portanto, não é sinal gráfico e não é acento; no entanto, sua
indicação é marcada com o acento grave (à).

Marcamos a crase, obrigatoriamente, quando temos preposição + artigo (a/as)


diante de palavra feminina. Veja: “O rio é paralelo à (a + a) estrada”. Podemos
fazer um método prático para saber se há ocorrência de crase ou não:
trocamos a palavra feminina por uma masculina equivalente. Se aparecer antes
da masculina a contração “ao”, coloca-se crase antes da feminina. Veja: “Esse
produto é prejudicial à saúde/Esse produto é prejudicial ao corpo”.

Também temos obrigatoriedade do uso da crase antes de locuções femininas:


adverbiais (à noite, às escuras, à vontade, às claras, à vista); prepositivas (às
pressas, às custas de, à altura de, à frente de, à beira de); e conjuntivas (à
medida que, à proporção que) (PATROCÍNIO, 2011).
A crase está proibida:

 antes de verbos (não há crase em “ele se pôs a falar”);


 antes de pronomes de tratamento (não há crase em “Trouxe isso a Vossa
Senhoria);
 antes de pronomes demonstrativos, quando o “a” está no singular
(preposição) + e a palavra seguinte, no plural (não há crase em “Vamos a
festas no fim de semana”);
 antes de pronomes pessoais (não há crase em “solicitei a ela que trouxesse
as provas”, “Você não sairá a esta hora da noite” e “Agradecerei a quem me
trouxer flores”);
 antes de substantivos masculinos (não há crase em “Ele veio a pé” e “Não
vendemos a prazo”);
 antes do artigo indefinido “uma” (não há crase em “Joaquim foi a uma
festa”);
 diante de substantivos no plural (não há crase em “A nota máxima foi dada
a alunos que se destacaram”);
 antes de números cardinais (não há crase em “Vamos sair daqui a 30
minutos”);
 antes de palavras repetidas (não há crase em “caso a caso”, gota a gota,
frente a frente).

Há, ainda, um caso particular de uso da crase. Veja: não usamos crase antes
de nome de cidade sem especificador. Em “Viajou a Teresina”, não há adjetivo
que especifique a cidade, nem a palavra cidade implícita, logo não há a
ocorrência de crase.

Devemos também nos atentar quanto ao uso da crase diante das palavras
“casa” e “terra”. Veja: se a palavra “casa” estiver empregada no sentido de “lar”,
não há a ocorrência de crase (“Ele foi a casa”). Agora, quando a palavra “casa”
vem acompanhada de um especificador, um adjetivo, deverá haver o emprego
da crase (“Fui à casa de meus pais”). Em relação à palavra “terra”, quando ela
estiver empregada no sentido de “terra firme”, não sendo especificada por um
adjetivo, não haverá a ocorrência da crase (“Nós marinheiros voltamos a
terra”). Mas se a palavra “terra” estiver especificada ocorrerá a crase
(“Voltamos à terra de meus antepassados”) (BECHARA, 2015).

Deve-se tomar cuidado em relação ao uso da crase, uma vez que seu emprego
inadequado gera graves equívocos. Leia a matéria publicada na revista
EXAME, que traz uma série de dicas úteis para o emprego correto da crase.
Acesse: <http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/como-usar-a-crase-
corretamente>.
Além disso, a crase poderá ser facultativa:

 antes de pronomes possessivos. Ex.: “Não dei atenção às suas


palavras/Não dei atenção as suas palavras”;
 antes de nome de mulher. Ex.: “Visitei à Maria/Visitei a Maria”. Mas fique
atento: em caso de nomes de pessoas famosas, não usamos o artigo
definido (por exemplo: “Marco Antônio foi o amor de Cleópatra”), logo não
haverá ocorrência de crase;
 depois da palavra até (“A trilha da mata vai até à cachoeira/A trilha da mata
vai até a cachoeira”).
Fechamento
Concluímos aqui a aula relativa à acentuação e as particularidades da crase!
As regras são de fácil entendimento, porém somente a prática da leitura e da
escrita serão capazes de fundamentar o conhecimento de como e quando
devemos acentuar as palavras.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer a importância da acentuação correta das palavras
 entender como se acentuam as palavras oxítonas, proparoxítonas e
paroxítonas
 perceber em que casos foram abolidos os acentos diferenciais, depois da
implementação da nova ortografia
 verificar o que é a crase
 reconhecer quando devemos ou não fazer o uso do sinal gráfico indicativo
da crase
Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 2015.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis F. Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
FARACO, Carlos Alberto. Novo Acordo Ortográfico. São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.
PATROCÍNIO, Mauro Ferreira do. Aprender e praticar gramática. São Paulo:
FTD, 2011.
PROENÇA FILHO, Domício. Quem tem medo do novo acordo
ortográfico? ABL, 2008. Disponível em:
<http://www.academia.org.br/artigos/quem-tem-medo-do-novo-acordo-
ortografico>. Acesso em: 3 jul. 2017.
ZUINI, Priscila. Como usar a crase corretamente? EXAME.com, 2012.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/como-usar-a-crase-
corretamente>. Acesso em: 3 jul. 2017.
Uso
dos pronomes

Introdução
Nesta aula, conheceremos os diferentes tipos de pronomes, reconhecendo os
usos corretos de cada categorial pronominal.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 identificar os diferentes tipos de pronomes
 reconhecer o uso correto dos pronomes, de acordo com o padrão culto da
língua
Os pronomes
Pronome é a classe gramatical cuja função é substituir ou acompanhar o
elemento no enunciado, indicando sua posição em relação às pessoas do
discurso, ou mesmo situando-os no tempo e no espaço (NICOLA, 2014).
Gramaticalmente, dentro da morfologia (campo que estuda as palavras de
modo estrito, ou seja, suas funções dentro da própria língua), o pronome é uma
palavra variável, pois admite flexão de pessoa (1ª; 2ª; 3ª); gênero (masculino,
feminino); e número (singular e plural).
Para usar corretamente os pronomes, deve-se respeitar a premissa das
pessoas do discurso. Então, use-os da seguinte forma: a “1ª pessoa” é quem
fala (eu, nós); a “2ª pessoa” é com quem se fala (tu e vós); e a “3ª pessoa” é
sobre quem ou o que se fala (ele/eles, ela/elas) (NICOLA, 2014).

Figura 1 - Os pronomes substituem os substantivos Fonte: Shutterstock


Em um enunciado, o pronome pode desempenhar tanto as funções que são
tipicamente executadas por um substantivo (sujeito, objeto direto e indireto,
vocativo) quanto as funções que são tipicamente executadas por adjetivos
(palavras que acompanham os substantivos, caracterizando-os).
Na oração “Os animais que possuem pelagem valiosa correm sérios riscos”, o
“que” é um pronome cuja função é a de retomar o seu antecedente, ou seja, ele
repete o substantivo “animais”. Para identificar um pronome, devemos fazer a
substituição por um “nome”. Neste exemplo, teríamos: “Os animais possuem
pelagem valiosa. Os animais correm sérios riscos”.

Agora que já conhecemos a definição de pronomes e entendemos qual a sua


função, veremos quais são as diferentes classificações dos pronomes,
começando pelos pessoais.
Pronomes pessoais
Os pronomes pessoais são aqueles que indicam as pessoas do discurso.
Eles são flexionados em gênero (feminino e masculino), número (singular e
plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª), além de apresentarem variações formais de
acordo com a função que cada um exerce na oração, podendo
ser reto ou oblíquo.

O pronome reto é aquele que indica diretamente a pessoa do discurso: eu; tu;
ele; nós; vós; eles. Já os pronomes oblíquos são aqueles que vão retomando
os retos para evitar repetições desnecessárias na enunciação. Veja: “Joaquim
perdeu os cadernos. Mas elesforam encontrados. Acharam-nos no canto da
sala”. Note que os pronomes vão substituindo e, ao mesmo tempo, retomando
a palavra “cadernos”.

Observe que, em “Eu queria te dizer”, o “te” é pronome átono e não vem
precedido por preposição. Já em “Fiquei pensando em ti”, o “ti” é precedido
pela proposição “em”, caracterizando-se como um pronome tônico. Veja que
estes pronomes referem-se às pessoas que estão presentes na enunciação (eu
e tu).

Os pronomes oblíquos, por sua vez, são classificados em átonos, aqueles que
nunca são precedidos por preposição, e tônicos, que são precedidos por
preposição.
Os pronomes pessoais são classificados conforme a aplicação nos enunciados.
No quadro a seguir, está a lista completa dos pronomes pessoais.

Figura 2 - Pronomes pessoais Fonte: Elaborado por Cristiane Rodrigues de


Oliveira

Os pronomes pessoais oblíquos átonos devem estar ligados ao verbo. O seu


posicionamento pode ser, dependendo do tempo verbal e da estrutura da frase,
antes do verbo (próclise), depois do verbo (ênclise) e no meio do verbo
(mesóclise). A ênclise sempre ocorre em início de frase e depois de pontuação;
a mesóclise ocorre nos tempos verbais “futuro do presente” e “futuro do
pretérito”; a próclise ocorre com palavras com sentido negativo (Ex.: “Não me
faça teimosias”), com advérbios (Ex.: “Quem me trouxe este presente?”), com
pronomes demonstrativos (Ex.: “Isto me faz feliz”), com preposição seguida de
gerúndio (Ex.: “Em se falando de necessidades, o país tem muitas”), e com
conjunções subordinativas (Ex.: “Embora lhe ensinasse o beabá, o piá não
aprendia”) (NICOLA, 2014).

A seguir, conheceremos os pronomes que indicam posse, os que servem para


demonstrar e os interrogativos.
Pronomes de tratamento, possessivos, demonstrativos e interrogativos
O pronome de tratamento é usado para designar a 2ª pessoa do discurso, ou
seja, a pessoa com quem falamos. Por exemplo: “Tu chegaste atrasado!”.
Porém, ele pode estabelecer uma concordância com a 3ª pessoa, uma vez que
o pronome de tratamento mais empregado é “você/vocês”, que corresponde à
3ª pessoa, logo a concordância do verbo deve seguir este mesmo padrão,
como podemos observar em “Você chegou atrasado!".

Perceba que, corriqueiramente, encontramos equívocos relacionados à


concordância com a pessoa com quem se fala no discurso, e isto acaba
incorrendo numa inadequação comunicativa, quer seja oral, quer seja escrita.
Por exemplo, em “Vem para a Caixa você também”, a forma verbal não está
sendo utilizada de modo adequado, visto que os verbos devem ser conjugados
conforme a pessoa do discurso a que se referem. O correto, então, deveria ser
“Venha para a Caixa você também”, pois a forma “vem” concorda com a 2ª
pessoa do singular (tu).

Os pronomes possessivos são aqueles que indicam posse, ou estão


associados a esta ideia. Eles flexionam-se em gênero e número, fazendo
sempre a concordância com o seu possuidor. Para reconhecê-lo, a ideia de
posse deverá ser a premissa. Observe: “O jogador está em sua melhor forma”.

Os pronomes possessivos mal colocados no enunciado podem causar


ambiguidades. Por essa razão, eles devem ser utilizados em relação ao
possuidor e ao “que é possuído” (NICOLA, 2014). Veja: “Logo que Ana se
encontrou com Maria, Joaquim fez comentários acerca de seus resultados no
exame”. No exemplo, há ausência de clareza por conta do emprego do
pronome “seus”, uma vez que os comentários feitos por Joaquim tanto podem
se referir à Ana quanto à Maria e quanto ao próprio Joaquim.

Para compreender ainda mais a questão dos pronomes, consulte a “Moderna


Gramática da Língua Portuguesa”, do professor Evanildo Bechara. No livro, o
autor faz a abordagem teórica sobre pronomes, trazendo as novas ocorrências
do português moderno.
Os pronomes demonstrativos são aqueles que indicam a posição de um ser
em relação às pessoas do discurso, situando-os no tempo ou no espaço. Os
pronomes “este(s)”, “esta(s)”, “esse(s)”, “essa(s)”, “isto” e “isso” indicam o que
está próximo de quem se fala/escreve, referem-se a algo que será dito ou
escrito e indicam tempo presente, anterior próximo, ou posterior próximo. Por
exemplo, em “Neste fim de semana, iremos viajar”, há uma indicação de tempo
próximo; já em “Posso dar uma olhada nessa revista que está com você?”, há
uma indicação de espaço.

Os demonstrativos fazem flexão em gênero, número e pessoa. Porém há uma


categoria destes pronomes que são invariáveis (isto, isso, aquilo) e
considerados neutros. Observe: “Somos todos responsáveis pelo aquecimento
global. Este é um dos maiores desafios da humanidade”. O termo “este” retoma
“aquecimento global”, indicando que ele está próximo do que se fala. Usar
“esse”, neste mesmo exemplo, seria um deslize, já que retomaria algo não tão
perto de quem fala (NICOLA, 2014).

Os pronomes interrogativos são mais conhecidos e fáceis de serem


percebidos, visto que a função deles é a de formular perguntas. Veja:
“Que estilo combina mais com você?”

No quadro a seguir, estão apresentados os pronomes possessivos,


demonstrativos e os interrogativos mais utilizados.

Figura 3 - Pronomes possessivos, demonstrativos e alguns interrogativos


Fonte: Elaborado por Cristiane Rodrigues de Oliveira
Repare que os pronomes possessivos e demonstrativos devem ser
empregados de acordo com a pessoa do discurso a que se referem. Veja:
“Esta bolsa é tua?” (2ª pessoa do discurso) e não “Esta bolsa é sua” (3ª pessoa
do discurso). Já os interrogativos seguem a 3ª pessoa do discurso, por
exemplo, “Quem trouxe a criança?”.

Para conhecer os efeitos ambíguos com o emprego inadequado dos pronomes,


leia o artigo “A ambiguidade e o emprego dos pronomes”. Acesse:
<http://www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno13-01.html>.
Há, ainda, os pronomes que exercem a função de indefinir as pessoas do
discurso e os que retomam os antecedentes em orações subordinadas. Vamos
verificar como cada um deles se aplica?
Pronomes indefinidos e relativos
Os pronomes indefinidos são aqueles que se referem à 3ª pessoa do
discurso de maneira muito imprecisa, ou seja, indeterminada (NICOLA, 2014).
Na frase “Todos querem liberdade”, o pronome indefinido “todos”, embora
esteja na 3ª pessoa do plural, não nos oferece clareza de quem são estas
pessoas, portanto, indica a pessoa do discurso de modo bastante generalizado.
Para reconhecer um pronome indefinido, a sugestão é verificar se ele pode ser
substituído por palavras mais genéricas, que não deem ideia de especificidade.
Por exemplo, em “Alguém jogou a bola na janela da vizinha”, o termo “alguém”
pode ser substituído por “menino”.

Os pronomes relativos são aqueles que retomam algum termo que foi dito no
enunciado anteriormente. Assim, dizemos que ele é um “pronome que retoma o
seu antecedente” (NICOLA, 2014, p. 290). Veja: “Este rapaz não diz
nada que se aproveite”. Neste caso, o “que” retoma o seu antecedente “nada”.

Os pronomes relativos são empregados em construções com


períodos compostos por subordinação, ligando uma oração à
outra, ou seja, nos períodos que se organizam com mais de uma
oração. Os períodos compostos podem ser: coordenados,
construídos com orações independentes de significação entre si;
ou subordinados, com orações que são dependentes de
significação. Assim, quando indicamos que a oração é
subordinada, dizemos que ela está organizada com uma oração
que exerce função de principal e outra subordinada a ela. Veja: “É
preciso que venha imediatamente ao escritório”. Se dissermos
apenas “é preciso” e somente “que venha ao escritório”, as
orações não apresentarão uma significação completa. Assim,
uma depende da outra para que faça sentido ao receptor. Logo,
elas mantêm uma relação de dependência, de subordinação.
Dizemos que o pronome relativo “que” é universal, pois ele pode ser usado
para retomar pessoa ou objeto, tanto no singular quanto no plural (CINTRA e
CUNHA, 2001). Observe que, mesmo o “que” sendo um pronome universal, ele
pode ser desdobrado para fazer a concordância adequada com o termo (ou
termos) a que se refere, como “qual” e “a qual” (e seus derivados), que devem
ser empregados especialmente em casos em que o antecedente pode gerar
algum tipo de dúvida na retomada. Veja: “Vi o pai da moça, o qualacenou para
mim”. “O qual”, neste caso, retoma “pai”. Além disso, há o caso em que este
pronome vem precedido de preposição, como em “Comprei os remédios numa
farmácia na qual tenho plena confiança” (NICOLA, 2014).

Há, ainda, outros pronomes relativos: onde, para indicar lugar; cujo (e seus
derivados) para indicar posse; quem, para indicar pessoa; e quanto, quando o
antecedente for um indefinido. O quadro abaixo apresenta alguns pronomes
indefinidos e relativos.

Figura 4 - Pronomes indefinidos e relativos Fonte: Elaborado por Cristiane


Rodrigues de Oliveira
Atente-se para o uso do pronome relativo “onde”, pois ele deverá apenas
indicar lugar. Veja: “São Paulo é a cidade onde nasci”. Neste caso, ele poderá
ser substituído por “em que”. Além disso, o termo “onde” também pode exercer
função de advérbio, quando modifica o verbo. Veja: “Não sabemos onde ele
mora”.

Como vimos, há vários pronomes que devem ser usados de modo adequado,
indicando exatamente o que se deseja retomar nos enunciados.
Fechamento
Concluímos a aula relativa aos pronomes. Agora, você já conhece quais os
tipos de pronomes e já sabe como cada um deles deve ser empregado de
acordo com a norma padrão culta.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 conhecer o que é pronome
 entender quais são as funções dos pronomes
 reconhecer os pronomes nas enunciações

Referências
BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 38. ed. São Paulo:
Nova Fronteira, 2015.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luis Filipe Lindley. Nova gramática do português
contemporâneo. 6. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
NICOLA, José de. Gramática e texto. Volume único 1,2,3. São Paulo:
Scipione, 2014.
MONNERAT, Rosane Santos Mauro. A ambiguidade e o emprego dos
pronomes. s.d.Disponível em: <www.filologia.org.br/viiicnlf/anais/caderno13-
01.html>. Acesso em: 4 jul. 2017.
Ortografia e o atual
Acordo Ortográfico
Introdução
Nesta aula, aprofundaremos nosso conhecimento sobre a ortografia. Para isso,
entenderemos a necessidade da uniformização da ortografia nos países
falantes da língua portuguesa. Assim, conheceremos o atual Acordo
Ortográfico e as principais mudanças que ocorrem no português do Brasil. Por
fim, iremos reconhecer alguns desvios que comprometem o processo de
comunicação.
Ao final desta aula, você será capaz de:
 conhecer as principais mudanças na ortografia da língua portuguesa
 entender que os desvios das normas comprometem a interpretação dos
textos e sua qualidade
A normatização ortográfica entre os países falantes da língua portuguesa
A ortografia é um conjunto de normas criadas na intenção de auxiliar o falante
da língua a escrever corretamente as palavras e utilizar de modo adequado os
sinais de acentuação e pontuação (ABL, 2008). Para o processo comunicativo,
em especial na escrita, a ortografia é essencial, uma vez que fornece
orientações para que não cometamos nenhum desvio.

Figura 1 - Ortografia é a grafia correta das palavras Fonte: Shutterstock


A ortografia nem sempre existiu, tampouco fora unânime. No português, o
projeto para que isto se tornasse próximo de acontecer demorou bastante.
Desde o século XX, por uma determinação de Portugal, houve um
estabelecimento de um modelo ortográfico de referência para todas as
publicações oficiais e também para o ensino do idioma. No entanto, num
primeiro momento, as normas não foram adotadas por todos os países falantes
da língua, incluindo o Brasil.
Imagine enunciados cujas palavras são grafadas sem quaisquer acentos. Um
caso bem simples é a dupla “pais/país”: se retirarmos o sinal indicativo de
acento de “país”, a interpretação, portanto o reconhecimento da palavra, será
alterada, comprometendo o entendimento da mensagem que se pretenda
transmitir.

Em 1943, existiu uma tentativa, fracassada, de estabelecer o que seria um


acordo unificador da ortografia. Isto promoveu uma duplicidade, já que passou
a existir dois sistemas ortográficos, um adotado pelos países africanos e pelo
Timor Leste, outro, pelo Brasil (FARACO, 2012).

As diferenças existentes entre os países que falam o português eram


marcantes, mas entre Brasil e Portugal não eram substanciais. No entanto, elas
impediam a compreensão dos textos produzidos entre todos os países, e isto
acabava dificultando a tramitação de documentos diplomáticos e,
principalmente, a promoção cultural. Assim, tornou-se urgente a unificação
ortográfica.

Entre a idealização das regras, a padronização e a implementação do acordo


que viesse elencar necessidades diplomáticas, comerciais e a difusão cultural
entre os países lusófonos foi um longo caminho. Anos depois, num esforço de
todos os países membros da Comunidade Lusófona (Angola, Brasil, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e
Príncipe e Timor Leste), conseguiu-se consolidar a unificação do Acordo
Ortográfico, que, finalmente, foi assinado em 1990 (FARACO, 2012).
Figura 2 - A unificação da ortografia auxiliou na tramitação diplomática de

documentos entre os países lusófonos Fonte: Shutterstock


O Acordo Ortográfico teve como objetivo principal a difusão cultural e
cooperação internacional entre os países membros. Mas até hoje, alguns anos
após sua implementação, não há uma unanimidade completa em torno de
algumas mudanças na ortografia da língua portuguesa, como veremos a
seguir.
As principais mudanças na ortografia da língua portuguesa
As mudanças na ortografia da língua portuguesa escrita no Brasil são bem
pequenas, correspondendo menos de um por cento em sua totalidade. Veja as
mudanças significativas, de acordo com Faraco (2012).
Acentos
A primeira mudança para a qual devemos atentar é em relação à supressão de
alguns acentos.

 Não utilizamos mais o trema (¨) nas palavras da língua portuguesa, como
“linguiça”, “sequestro” e “sequência”. No entanto, em nomes próprios, de
origem estrangeira, como Müller (e seus derivados, mülleriano), ainda
encontramos o sinal.
 Não utilizamos mais o acento agudo (´) para marcar os chamados ditongos
abertos (“oi” e “ei”) em palavras paroxítonas (cuja sílaba tônica recai sobre
a segunda), como em “paranoia” e “ideia”.
 Não acentuamos mais as duplas “oo” e “ee”, como em “voo”, “creem”,
deem, “leem”, “veem”.
 Não recebem mais acentos diferenciais: “para” (preposição) e “para”
(verbo); “pera” (fruta) e “pera” (preposição); “polo” (localização geográfica) e
“polo” (tipo de ave); “pelo” (cabelo), “pelo/pela” (do verbo pelar) e/ou “pela”
(tipo de jogo).
 As palavras que contêm ditongo seguido de hiato, como “baiuca” e “feiura”,
não são mais acentuadas. Lembre-se de que o acento servia para fazer
uma marcação de tonicidade nestas palavras.
 Não acentuamos mais o “u” tônico de palavras como “averigue” e
“apazigue”.

Agora, considere as situações em que os acentos foram mantidos.

 Em “por” (preposição) e “pôr” (verbo), continuamos fazendo o uso do acento


circunflexo (^), uma vez que ele faz a distinção das duas palavras. O
mesmo acontece em "pôde" (pretérito perfeito) e "pode" (presente do
indicativo).
 Foram mantidos os acentos circunflexos: no plural do presente do indicativo
dos verbos "ter" e "vir" (eles têm, eles vêm); e no "porquê" na condição de
substantivo (em oposição ao "porque", que atua como conjunção).
 O acento diferencial da palavra “forma” (objeto) passou a ser opcional, ou
seja, pode ou não ser grafado com o acento circunflexo.

Estas mudanças são válidas e devem ser aplicadas na comunicação escrita


para não comprometer a interpretação e a qualidade de um texto. Porém, é
importante lembrar que os acentos não foram eliminados de todas as palavras
da língua portuguesa.

As mudanças gráficas não implicam mudanças na pronúncia das


palavras, nem mesmo em uma “unificação do idioma”: elas
apenas unificam a ortografia. Logo, a pronúncia de palavras com
o antigo trema continua a mesma.
A seguir, trataremos de três questões: o uso do hífen; a inclusão oficial de três
letras em nosso alfabeto; e o uso de letras maiúsculas.
O uso do hífen nas palavras compostas
Uma das grandes discussões geradas pelo atual Acordo Ortográfico é a
hifenação, ou uso do hífen (-), nas palavras compostas. Cabe aqui ressaltar
que muitas das palavras compostas amplamente empregadas em nosso dia a
dia não são grafadas com hífen, como “pontapé”, “aguardente”, “alviverde”,
“pontiaguda”, “outrora”, “passatempo”, entre outras. A regra aplica-se, portanto,
às palavras compostas por hífen que, por questões de unificações, deixaram
de levar o sinal em suas grafias (PATROCÍNIO, 2011).

De acordo com Faraco (2012), há desacordos entre os gramáticos quanto ao


emprego ou não em alguns casos, mas, de modo geral, as regras que devem
ser levadas em consideração são as seguintes:

 em palavras formadas por prefixação, o hífen só será utilizado quando o


segundo elemento das palavras começar com “h”, como em “super-
homem”. Porém, fique atento quanto à grafia de palavras como
“desumano”, “inábil” e “inumano”, que perderam o “h”;
 em palavras cujos prefixos terminarem em vogal e o segundo elemento
iniciar com a mesma vogal, utiliza-se o hífen. Ex.: “contra-almirante”; “auto-
observação”; “micro-ondas”. Mas aqui também há uma exceção: quando o
prefixo for “co” e o segundo elemento iniciar com “o”, não se usa o hífen.
Ex.: “cooperação”; “coordenação”, “coobrigação”; e “coocupante”;
 nos prefixos “pré”, “pós” ou “pró” utiliza-se o hífen. Ex.: “pré-primário”. Mas
quando o segundo elemento iniciar em “a”, não há. Ex.: “preaquecer”;
 nos prefixos “pan” e “circum”, quando o segundo elemento for vogal, “h”,
“m” ou “n” teremos o hífen. Ex.: “circum-mediterrâneo”; “pan-helenístico”;
“pan-milítico”; e “circum-navegação”;
 quando o prefixo termina em vogal e o elemento seguinte começa com “r”
ou “s”, não há hífen e, nestes casos, os elementos se duplicam (dobra-se a
letra “r” ou “s”). Ex.: “microssistema” e “antirreligioso”;
 quando o prefixo termina em “r” e o segundo elemento começa com “r”,
como em “hiper”, “super”, e “inter”, há hífen. Ex.: “hiper-rancoroso”; “inter-
racial”; “super-realista”;
 quando o prefixo termina em vogal e o elemento seguinte começa com uma
vogal diferente, não há hífen. Ex.: “antiético” e “autoestrada”;
 quando o prefixo termina em consoante, não usamos o hífen se o segundo
elemento iniciar em vogal. Ex.: “superaquecer”; “superinteressante”;
“interestadual”; e “hiperativo”;
 palavras compostas formadas pelo prefixo “sub” seguem com o uso do
hífen. Ex.: “sub-bloco” e “sub-região”. Contudo, palavras escritas sem hífen
e sem “h” também aparecem. Ex.: “subumano” e “subepático”.

Nas palavras em que há uma formação a partir de “mal”, como em “mal-


humorado” (hífen antes de “h” e antes de vogal), utiliza-se o hífen (ex.: “mal-
educado” e “mal-intencionado”). Porém, por conta da formação, algumas
palavras que também começam com “mal” deverão ser grafadas sem o hífen,
como em “maldito”, “malformado”, “malcriado” e “malmequer”.
K, W e Y
Com o Acordo Ortográfico, o nosso alfabeto ganhou oficialmente as letras “K”,
“W” e “Y”, que, embora fossem empregadas em diversos nomes próprios e em
indicação de unidades de medidas, não eram oficialmente pertencentes ao
alfabeto brasileiro.

Figura 3 - Novas letras no alfabeto Fonte: Shutterstock


Para o uso de letras maiúsculas, houve uma simplificação, conforme veremos a
seguir.
O uso de letras maiúsculas
O uso de letras maiúsculas ficou restrito aos nomes próprios de pessoas, seres
fictícios, instituições, nomes de festividades, na designação de pontos cardeais
e nas siglas. Assim, não é mais necessário, por exemplo, escrever logradouro
(rua, avenida) com letra maiúscula.

A seguir, conheceremos alguns problemas relacionados aos desvios de


ortografia que podem comprometer o entendimento e a qualidade do texto.
Os desvios da norma
Os desvios da norma padrão, ou seja, o que costumeiramente denominamos
como “erros”, podem comprometer o entendimento e a qualidade do texto.
Constitui-se desvio o que não segue a norma padrão (NICOLA, 2014).

Figura 4 - Atente-se à grafia das palavras Fonte: Shutterstock


Quando escrevemos determinadas palavras que possuem grafias muito
parecidas, podemos incorrer em desvios e transmitir uma informação que não é
a adequada. Por exemplo, no uso das palavras “seção” (parte, local
específico), “sessão” (espaço de tempo, reunião deliberativa) e “cessão”
(ceder, transferir algo).

Isso pode aparecer nas palavras “mas” e “mais”. A primeira é uma conjunção
que dá a ideia de oposição; já a segunda forma indica “soma”. A grafia correta
implica também interpretação correta da mensagem.
Desvios gráficos podem comprometer profundamente a qualidade de um texto
e influenciar negativamente no desenvolvimento profissional. Para evitar
desvios, é fundamental conhecer as regras gramaticais. Acesse o link e saiba
mais sobre o tema: <http://educacao.uol.com.br/album/2016/03/02/veja-os-
erros-mais-comuns-da-lingua-portuguesa-e-saiba-como-evita-
los.htm#fotoNav=4>.
Outra questão está relacionada às palavras homônimas e parônimas.
Homônimos são vocábulos diferentes que possuem a mesma grafia e
pronúncia, ou apenas a mesma grafia, ou apenas a mesma pronúncia, como
em: “são” (sadio), “são” (verbo ser) e “são” (santo); “torre” (prédio) e “torre”
(verbo torrar). Já as parônimas são palavras diferentes que apresentam
pronúncia e grafias semelhantes, como em: “ratificar” (confirmar) e “retificar”
(corrigir); “sortir” (abastecer) e “surtir” (causar efeito); “eminente” (ilustre) e
“iminente” (que está próximo de acontecer).

Observe o quadro a seguir, que apresenta mais alguns exemplos de desvios da


norma.

Figura 5 - Alguns desvios comumente encontrados Fonte: Elaborado por


Cristiane Rodrigues de Oliveira
Há, ainda, os casos de sinonímia, ou uso de sinônimos (palavras cujos
significados são muito parecidos, ou mesmo idênticos, em determinados
contextos), que ajudam a construir enunciados, estabelecendo relações de
sentido. Veja: “A ausência de uma das provas excluiqualquer candidato do
processo seletivo”; e “A falta de uma das provas elimina o candidato do
processo seletivo”. Nos pares “ausência e falta” e “exclui e elimina” temos
exemplos de sinônimos, cujos sentidos gerais, dentro dos enunciados, são os
mesmos (PATROCÍNIO, 2011).

É importante lembrar que escrever corretamente é regra. Quando não


aplicamos as regras da escrita na escrita, podemos comprometer a
interpretação e qualidade dos textos.
Fechamento
Concluímos aqui a aula sobre ortografia! Agora, você compreende que este
tema é importante e que deve ser aplicado à escrita.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
 compreender o que é ortografia
 entender as motivações do acordo ortográfico
 conhecer algumas palavras que perderam acentos
 perceber o desuso do trema
 verificar o uso do hífen nas palavras compostas
 reconhecer as novas letras oficiais do alfabeto e o uso das letras
maiúsculas
 conhecer os termos “sinonímia”, “homonímia” e “paronímia”
 reconhecer alguns desvios da norma e como evitá-los

Referências
ABL. Dicionário Escola da Academia Brasileira de Letras. São Paulo:
Companhia Nacional, 2008.
FARACO, Carlos Alberto. Novo Acordo Ortográfico. São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.
NICOLA, José de. Projeto Múltiplo: gramática & texto. v. único: partes 1, 2 e
3. São Paulo: Editora Scipione, 2014.
PATROCÍNIO, Mauro Ferreira. Aprender e Praticar Gramática: volume único.
São Paulo: FTD, 2011.

Você também pode gostar