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1- NOSSO OBJETIVO.................................................................................................2
2- O QUE É PROTESTANTISMO .................................................................................2
2.1. O QUE É PROTESTANTISMO BRASILEIRO ....................................................................... 2
2.2. O QUE É S ER P ROTESTANTE ....................................................................................... 3
3- O CONTEXTO POLÍTICO-RELIGIOSO (1500-1822) .................................................4
4- PRESENÇA PROTESTANTE NO BRASIL COLONIAL ................................................5
4.1. OS FRANCESES NA GUANABARA (1555-1567) ............................................................... 5
4.2. OS HOLANDESES NO NORDESTE (1630-1654) .............................................................. 6
5- IGREJA E ESTADO NO BRASIL IMPÉRIO (1822-1889) ...........................................6
6- PROTESTANTISMO DE IMIGRAÇÃO ......................................................................7
7- PROTESTANTISMO MISSIONÁRIO (1835-1889) .....................................................8
8- IGREJA E ESTADO: PERÍODO REPUBLICANO .....................................................10
9- CATÓLICOS E PROTESTANTES ...........................................................................11
10 - PROTESTANTES PROGRESSISTAS E CONSERVADORES..................................11
11 - DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (1889-1964).....................................................11
11.1. IGREJA CONGREGACIONAL ........................................................................................ 12
11.2. IGREJA P RESBITERIANA ............................................................................................ 12
11.3. IGREJA P RESBITERIANA INDEPENDENTE ...................................................................... 12
11.4. IGREJA METODISTA.................................................................................................. 13
11.5. IGREJA BATISTA ...................................................................................................... 13
11.6. IGREJA LUTERANA ................................................................................................... 13
11.7. IGREJA EPISCOPAL ................................................................................................... 14
12 - DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (APÓS 1964) ....................................................14
12.1. IGREJA P RESBITERIANA ............................................................................................ 14
12.2. IGREJA P RESBITERIANA INDEPENDENTE ...................................................................... 14
12.3. IGREJA BATISTA ...................................................................................................... 15
12.4. IGREJA METODISTA.................................................................................................. 15
12.5. IGREJA LUTERANA ................................................................................................... 15
13 - IGREJAS PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS.............................................15
13.1. CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL ............................................................................. 16
13.2. ASSEMBLÉIA DE DEUS.............................................................................................. 16
13.3. IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR .................................................................... 16
13.4. IGREJA EVANGÉLICA PENTECOSTAL O BRASIL PARA CRISTO .......................................... 16
13.5. IGREJA DEUS É A MOR .............................................................................................. 16
13.6. IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS ...................................................................... 17
14 - PERÍODO DE REPRESSÃO E ISOLACIONISMO DAS IGREJAS: 1962 A 1983.....17
15 - CONCLUSÃO ....................................................................................................20
História do Protestantismo Brasileiro - 2
1 - NOSSO OBJETIVO
O objetivo deste texto é apresentar uma visão panorâmica da história do
protestantismo no Brasil. Inicia com as primeiras manifestações protestantes no período
colonial, prossegue com a implantação definitiva do movimento durante o império (nas duas
modalidades históricas: protestantismo de imigração e de missão) e chega ao Brasil
republicano, com o surgimento do protestantismo de matriz brasileira.
2 - O QUE É PROTESTANTISMO
O protestantismo é um dos três principais ramos do cristianismo ao lado do
catolicismo romano e das igrejas orientais ou ortodoxas. Essa categorização, muito ampla e
abrangente, é a adotada por J. L. Dunstan (1980, p. 7). Justamente por sua amplitude, a
categorização desse autor deixa logo em aberto um problema: onde colocar o anglicanismo,
hoje estendido por todo o mundo como uma comunidade que extrapola o Reino Unido? A
Igreja da Inglaterra resulta, sem dúvida, da Reforma Religiosa, mas, como se diz com
freqüência, ficou a meio caminho entre Roma e as igrejas protestantes, tanto luteranas
como calvinistas. De fato, a ala propriamente dita anglicana recusa o título de protestante.
Desse modo, seria melhor estabelecer quatro categorias de igrejas cristãs mundiais:
romana, ortodoxas ou orientais, anglicana e protestantes. Embora a ala chamada Evan-
gélica da Igreja Anglicana seja significativa por se aproximar bastante dos protestantes em
geral, creio não se justificar uma outra categoria, vez que o anglicanismo, apesar disso,
mantém sua unidade.
Interessa-nos agora a Reforma propriamente dita. Em outro lugar (Mendonça &
Velasques Filho, 2002, cap. 1) propus a divisão da Reforma em três ramos: anglicano,
luterano e calvinista, ou reformado propriamente dito. Feita aquela ressalva quanto ao
anglicanismo, os protestantes propriamente ditos são os luteranos e calvinistas que se
espalham pelo mundo em numerosa diversificação, particularmente estes últimos. Então,
protestantes seriam aquelas igrejas que se originaram da Reforma ou que, embora surgidas
posteriormente, guardam os princípios gerais do movimento. Essas igrejas compõem a
grande família da Reforma: luteranas, presbiterianas, metodistas, congregacionais e
batistas. Estas últimas, as batistas, também resistem ao conceito de protestantes por razões
de ordem histórica, embora mantenham os princípios da Reforma. Creio não ser, por isso,
necessário criar para elas uma categoria à parte. São integrantes do protestantismo
chamado tradicional ou histórico, tanto sob o ponto de vista teológico como eclesiológico.
Esses cinco ramos ou famílias da Reforma multiplicam-se em numerosos sub-ramos,
recebendo os mais diferentes nomes, mas que, ao guardar os princípios fundantes, podem
ser incluídos no universo do protestantismo propriamente dito.
que, por vezes, agitaram as igrejas, mas exclusivamente como elas reagiram ao impacto dos
momentos históricos externos.
Propomos a seguinte periodização: de 1824 a 1916, período de implantação do
protestantismo no Brasil; de 1916 a 1952, desenvolvimento do projeto de cooperação ou
pan-protestantismo e a chegada de “um bando de teologias novas”; de 1952 a 1962, crise
política e religiosa, ensaio de politização do protestantismo e impacto do pentecostalismo; de
1962 a 1983, período de repressão no interior do protestantismo, da revolução
neopentecostal, fortalecimento do denominacionismo e o isolacionismo das igrejas.
3 - O CONTEXTO POLÍTICO-RELIGIOSO
(1500-1822)
Portugal surgiu como nação independente da Espanha durante a Reconquista (1139-
1249), ou seja, a luta contra os muçulmanos que haviam conquistado boa parte da
Península Ibérica vários séculos antes. Seu primeiro rei foi D. Afonso Henriques. O novo
país tinha fortes ligações com a Inglaterra, com a qual iria firmar posteriormente o Tratado
de Windsor, em 1386. O apogeu da história de Portugal foi o período das grandes
navegações e dos grandes descobrimentos, com a conseqüente formação do império colonial
português na África, Ásia e América Latina.
No final da Idade Média, a forte integração entre a igreja e o estado na Península
Ibérica deu origem ao fenômeno conhecido como “padroado” ou patronato real. Pelo
padroado, a Igreja de Roma concedia a um governante civil certo grau de controle sobre uma
igreja nacional em apreciação por seu zelo cristão e como incentivo para futuras ações em
favor da igreja. Entre 1455 e 1515, quatro papas concederam direitos de padroado aos reis
portugueses, que assim foram recompensados por seus esforços no sentido de derrotar os
mouros, descobrir novas terras e trazer outros povos para a cristandade.
Portanto, a descoberta e colonização do Brasil foi um empreendimento conjunto do
Estado português e da Igreja Católica, no qual a coroa desempenhou o papel predominante.
O estado forneceu os navios, custeou as despesas, construiu as igrejas e pagou o clero, mas
também teve o direito de nomear os bispos, recolher os dízimos, aprovar documentos e
interferir em quase todas as áreas da vida da igreja.
Um dos primeiros representantes oficiais do governo português a visitar o Brasil foi
Martim Afonso de Souza, em 1530. Três anos depois, foi implantado o sistema de capitanias
hereditárias, que, todavia, não foi bem-sucedido. Diante disso, Portugal começou a nomear
governadores-gerais, o primeiro dos quais foi Tomé de Sousa, que chegou em 1549 e
construiu Salvador, na Bahia, a primeira capital da colônia.
Com Tomé de Sousa vieram os primeiros membros de uma nova ordem religiosa
católica que havia sido oficializada recentemente (1540) – a Sociedade de Jesus ou os
jesuítas. Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e seus companheiros foram os primeiros
missionários e educadores do Brasil colonial. Essa ordem iria atuar ininterruptamente no
Brasil durante 210 anos (1549-1759), exercendo enorme influência sobre sua história
religiosa e cultural. Muitos jesuítas foram defensores dos índios, como o afamado padre
Antonio Vieira (1608-97). Ao mesmo tempo, eles se tornaram os maiores proprietários de
terras e senhores de escravos do Brasil colonial.
Em 1759 a Sociedade de Jesus foi expulsa de todos os territórios portugueses pelo
primeiro-ministro do rei D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal
(1751-1777). Por causa de sua riqueza e influência, os jesuítas tinham muitos inimigos
entre os líderes eclesiásticos, proprietários de terras e autoridades civis. Sua expulsão
resultou tanto do anticlericalismo que se alastrava pela Europa quanto do “regalismo” de
Pombal, isto é, a noção de que todas as instituições da sociedade, em especial a igreja,
deviam ser inteiramente subservientes ao rei. Pombal também determinou a transferência
da capital colonial de Salvador para o Rio de Janeiro.
Desde o início da colonização, a coroa portuguesa foi lenta em seu apoio à igreja: a
primeira diocese foi fundada em 1551, a segunda somente em 1676 e em 1750 havia apenas
oito dioceses no vasto território. Nenhum seminário para o clero secular foi criado até 1739.
Todavia, a coroa nunca deixou de recolher os dízimos, que vieram a ser o principal tributo
colonial. Com a expulsão dos jesuítas, que eram em grande parte independentes das
autoridades civis, a igreja tornou-se ainda mais fraca.
Durante o período colonial, a atuação dos bandeirantes, aventureiros que se
embrenhavam pelo interior em busca de pedras preciosas e escravos, foi decisiva para a
expansão territorial do Brasil. Suas ações foram facilitadas e incentivadas pela União
Ibérica, ou seja, o controle de Portugal pela Espanha durante sessenta anos (1580-1640).
Os bandeirantes chegaram a atacar as missões jesuíticas da bacia do rio Paraná,
conhecidas como “reduções”, levando centenas de indígenas para os mercados de escravos
de São Paulo. A escravidão de índios e negros foi uma constante no período colonial. Outro
fenômeno marcante foi a corrida do ouro nas Minas Gerais (1693-1760), que trouxe
benefícios e problemas.
No período colonial houve dois tipos bastante distintos de catolicismo no Brasil. Em
primeiro lugar, havia a religiosidade dos colonos, escravos e senhores de engenho,
centralizada na “casa grande” e caracterizada pela informalidade, pequena ênfase em
dogmas, devoção aos santos e Maria e permissividade moral. Ao mesmo tempo, nos centros
urbanos havia o catolicismo das ordens religiosas, mais disciplinado e alinhado com Roma.
Havia ainda as irmandades, que por vezes tinham bastante independência em relação à
hierarquia.
Em conclusão, no período colonial o estado exerceu um rígido controle sobre a área
eclesiástica. Com isso a igreja teve dificuldade em realizar adequadamente o seu trabalho
evangelístico e pastoral. O catolicismo popular era culturalmente forte, mas débil nos planos
espiritual e ético. Apesar das suas debilidades, a igreja foi um importante fator na
construção da unidade e da identidade nacional.
começou a apresentar problemas e cinco deles se ofereceram para retornar à terra: Jean de
Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur.
Em resposta a uma série de perguntas apresentadas pelo comandante, esses homens
escreveram um belo documento, a Confissão de fé da Guanabara (1558). Três deles foram
executados por causa de suas convicções. André Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a
vida poupada. Le Balleur fugiu para São Vicente, ficou encarcerado por vários anos em
Salvador, e finalmente foi levado para o Rio de
Janeiro em 1567, sendo enforcado quando os últimos franceses foram expulsos pelos
portugueses.
Os calvinistas tiveram uma preocupação missionária em relação aos índios, mas
pouco puderam fazer por eles. Léry expressou atitudes contraditórias que provavelmente
eram típicas dos seus companheiros: embora interessado na situação espiritual dos
indígenas, a relutância dos mesmos em aceitar a fé cristã o levou a concluir que eles talvez
estivessem entre os não-eleitos. A França Antártica entrou para a história como a primeira
tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na América
Latina.
6 - PROTESTANTISMO DE IMIGRAÇÃO
O historiador Boanerges Ribeiro observa que “ao iniciar-se o século XIX, não havia no
Brasil vestígio de protestantismo” (Protestantismo no Brasil monárquico, p. 15). Em janeiro
de 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, o príncipe-regente João decretou
a abertura dos portos do Brasil às nações amigas. Em novembro, um novo decreto concedeu
amplos privilégios a imigrantes de qualquer nacionalidade ou religião.
Em fevereiro de 1810, Portugal assinou com a Inglaterra tratados de Aliança e
Amizade e de Comércio e Navegação. Este último, em seu artigo 12, concedeu aos
estrangeiros “perfeita liberdade de consciência” para praticarem sua fé. Tratava-se de uma
tolerância limitada, porque vinha acompanhada da proibição de fazer prosélitos e de falar
contra a religião oficial. Além disso, as capelas protestantes não teriam forma exterior de
templo nem poderiam utilizar sinos.
7 - PROTESTANTISMO MISSIONÁRIO
(1835-1889)
As primeiras organizações protestantes que atuaram junto aos brasileiros foram as
sociedades bíblicas: Britânica e Estrangeira (1804) e Americana (1816). Havia duas
traduções da Bíblia em português, uma protestante, feita pelo Rev. João Ferreira de Almeida
(1628-1691), e outra católica, do padre Antônio Pereira de Figueiredo (1725-1797). Os
primeiros agentes oficiais das sociedades bíblicas foram: da SBA, James C. Fletcher (1855);
da SBBE, Richard Corfield (1856). Nesse período pioneiro, foi muito importante o trabalho
dos colportores, isto é, vendedores de Bíblias e literatura religiosa.
A Igreja Metodista Episcopal foi a primeira denominação a iniciar atividades
missionárias junto aos brasileiros (1835-1841). Seus obreiros iniciais foram Fountain E.
Pitts, Justin Spaulding e Daniel Parish Kidder. Eles fundaram no Rio de Janeiro a primeira
escola dominical do Brasil. Também atuaram como capelães da Sociedade Americana dos
Amigos dos Marinheiros, fundada em 1828.
Daniel P. Kidder foi uma figura importante dos primórdios do protestantismo
brasileiro. Ele viajou por todo o país, vendeu Bíblias e manteve contactos com intelectuais e
políticos destacados, como o padre Diogo Antônio Feijó, regente do império (1835-1837).
Kidder escreveu o livro Reminiscências de viagens e permanência no Brasil, publicado em
1845, um clássico que despertou grande interesse pelo Brasil.
James Cooley Fletcher (1823-1901) era pastor presbiteriano. Estudou no Seminário de
Princeton e na Europa, e se casou com uma filha de César Malan, teólogo calvinista de
Genebra. Chegou ao Brasil em 1851 como o novo capelão da Sociedade dos Amigos dos
Marinheiros e como missionário da União Cristã Americana e Estrangeira. Atuou como
secretário interino da legação americana no Rio de Janeiro e foi o primeiro agente oficial da
Sociedade Bíblica Americana. Foi um promotor entusiasta do protestantismo e do
“progresso”. Escreveu O Brasil e os brasileiros, publicado em 1857, uma versão atualizada
da obra de Kidder.
Robert Reid Kalley (1809-1888) era natural da Escócia. Estudou medicina e foi
trabalhar como missionário na Ilha da Madeira (1838). Oito anos depois, escapou de uma
violenta perseguição e foi com seus paroquianos para os Estados Unidos. Fletcher sugeriu
que ele fosse para o Brasil, onde Kalley e sua esposa Sarah
Poulton Kalley (1825-1907) chegaram em maio de 1855. No mesmo ano, fundaram em
Petrópolis a primeira escola dominical permanente do país (19 de agosto). Em 11 de julho de
1858, Kalley fundou a Igreja Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863), cujo
primeiro membro brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade. Kalley teve importante atuação na
defesa da liberdade religiosa (1859). Sua esposa foi autora do famoso hinário Salmos e hinos
(1861). A Igreja Fluminense aprovou sua base doutrinária, elaborada por Kalley, em 2 de
julho de 1876. No mesmo ano, o missionário voltou em definitivo para a Escócia. Os
estatutos da igreja foram aprovados pelo governo imperial em 22 de novembro de 1880.
Os missionários pioneiros da Igreja Presbiteriana foram Ashbel Green Simonton
(1859), Alexander Latimer Blackford (1860) e Francis Joseph Christopher Schneider (1861).
As primeiras igrejas organizadas foram as do Rio de Janeiro (1862), São Paulo (1865) e
Brotas (1865). Duas importantes realizações iniciais foram o jornal Imprensa Evangélica
(1864-1892) e o Seminário do Rio de Janeiro (1867-1870). O primeiro pastor evangélico
brasileiro foi o ex-sacerdote José Manoel da Conceição, ordenado em 17 de dezembro de
1865. Em 1870, os presbiterianos fundaram em São Paulo a Escola Americana (atual
Universidade Mackenzie). Em 1888, foi organizado o Sínodo do Brasil, que marcou a
autonomia eclesiástica da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Após a Guerra Civil americana (1861-1865), muitos imigrantes norte-americanos se
estabeleceram no interior da Província de São Paulo. Eles foram seguidos por missionários
presbiterianos, metodistas e batistas. Os pioneiros enviados pela Igreja Presbiteriana do Sul
dos Estados Unidos (PCUS) foram George Nash Morton e Edward Lane (1869). Eles
fundaram o Colégio Internacional, instalado oficialmente em 1873.
A Igreja Metodista Episcopal (do sul dos Estados Unidos) enviou Junius E. Newman
para trabalhar junto aos imigrantes (1876). O primeiro missionário aos brasileiros foi John
James Ransom, que chegou em 1876 e dois anos depois organizou a primeira igreja no Rio
de Janeiro. A professora Martha Hite Watts iniciou uma escola para moças em Piracicaba
(1881). A partir de 1880, a I.M.E. do norte dos EUA enviou obreiros ao norte do Brasil
(William Taylor, Justus H. Nelson) e ao Rio Grande do Sul. A Conferência Anual Metodista
foi organizada em 1886 pelo bispo John C. Granbery, com a presença de apenas três
missionários.
9 - CATÓLICOS E PROTESTANTES
Nas primeiras décadas do período republicano, os protestantes tiveram diferentes
atitudes diante da reação católica. Uma delas foi a criação de uma frente unida contra o
catolicismo. A entidade conhecida como Aliança Evangélica havia sido criada inicialmente
na Inglaterra (1846) e nos Estados Unidos (1867). A congênere brasileira surgiu em São
Paulo, em julho de 1903, tendo como presidente Hugh C. Tucker (metodista) e como
secretário F. P. Soren (batista). Todavia, o Congresso do Panamá e a subsequente
Conferência do Rio de Janeiro, em 1916, revelaram atitudes divergentes em relação ao
catolicismo, sendo alguns elementos, principalmente norte-americanos, favoráveis a uma
aproximação e mesmo colaboração com a igreja católica. Uma das questões discutidas foi o
rebatismo ou não de católicos convertidos à fé evangélica. Esse período também viu o
recrudescimento de perseguições contra os protestantes em muitos lugares do Brasil.
Na década de 1920, a Comissão Brasileira de Cooperação, liderada pelo Rev. Erasmo
de Carvalho Braga (1877-1932) procurou unir as igrejas evangélicas na luta pela
preservação dos seus direitos e no exercício de um testemunho profético junto à sociedade
brasileira. Esse esforço teve prosseguimento até os anos 60 na Confederação Evangélica do
Brasil. Após 1964, as relações das igrejas evangélicas e da Igreja Católica com o estado
brasileiro tomaram rumos por vezes diametralmente opostos, cujas conseqüências se fazem
sentir até os dias de hoje.
10 - PROTESTANTES PROGRESSISTAS E
CONSERVADORES
Nas primeiras décadas do século 20, o protestantismo brasileiro sofreu a influência de
algumas correntes teológicas norte-americanas, como o evangelho social, o movimento
ecumênico e o fundamentalismo. Inspirado em parte pelos dois primeiros, surgiu um
notável esforço cooperativo entre as igrejas históricas, sob a liderança do Rev. Erasmo
Braga, secretário da Comissão Brasileira de Cooperação (1917). Essa entidade se uniu em
1934 à Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil e ao Conselho Nacional de Educação
Religiosa para formar a Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Nos anos 50 e início da
década de 60, a CEB criou a Comissão de Igreja e Sociedade (1955), depois Setor de
Responsabilidade Social da Igreja. Sua quarta reunião, conhecida como Conferência do
Nordeste, realizada em Recife em 1962, teve como tema “Cristo e o Processo Revolucionário
Brasileiro”. Seus líderes foram Carlos Cunha, Almir dos Santos e Waldo César, sendo
preletores Sebastião G. Moreira, Joaquim Beato, João Dias de Araújo e o bispo Edmundo K.
Sherill.
O movimento ecumênico havia surgido com a Conferência Missionária Mundial (1910),
em Edimburgo, na Escócia, que deu origem ao Concílio Missionário Internacional (1921).
Outros dois movimentos, “Vida e Trabalho” e “Fé e Ordem” se uniram para formar o
Conselho Mundial de Igrejas (Utrecht, 1938; Amsterdã, 1948). Algumas das primeiras
igrejas brasileiras a se filiarem a essa organização foram a metodista (1942), a luterana
(1950), a episcopal (1965) e a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo (1968).
Por fim, o espírito denominacional suplantou o ecumenismo. Duncan Reily observa:
“O ecumenismo no Brasil foi muito mais um projeto dos missionários e das sociedades
missionárias do que dos brasileiros” (História Documental, 233). Além de algumas igrejas
históricas, também se opuseram ao ecumenismo os grupos pentecostais, as “missões de fé”
e “missões indenominacionais”, e o movimento fundamentalista de Carl McIntire.
Essa igreja surgiu em 1903 como uma denominação totalmente nacional, sem
qualquer vinculação com igrejas estrangeiras. Resultou do projeto nacionalista de Eduardo
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História do Protestantismo Brasileiro - 13
Esse período marcou o fim do antigo relacionamento da IPB com as missões norte-
americanas. Em 1954 havia sido criado o Conselho Interpresbiteriano. Em 1962, a Missão
Brasil Central propôs-se a entregar à igreja brasileira toda a sua obra evangelística,
educativa e médica. Em 1972 a igreja rompeu com a Missão Brasil Central, sendo uma das
possíveis causas a adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos EUA.
Em 1973 a IPB rompeu relações com a Igreja Unida (criada em 1958) e firmou novo
convênio com a missão da Igreja do Sul.
Duas questões candentes da época foram o ecumenismo e a postura social. A igreja
enviou representantes à assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em Amsterdã (1948) e
observadores a outras assembléias. Missionários como Richard Shaull deram ênfase a
questões sociais, influenciando os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo Concílio
de 1962 realizou um importante pronunciamento social.
Houve uma forte reação conservadora no Supremo Concílio de 1966, em Fortaleza,
com a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em 1970 e 1974. As principais preocupações do
período foram a ortodoxia, a evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-se os
processos contra pastores, igrejas locais e concílios.
Nessa época surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São Paulo e a
Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que defendiam maior flexibilidade doutrinária. Em
setembro de 1978, na cidade de Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas
Presbiterianas (FENIP).
A IPI inicialmente teve uma postura menos rígida que a IPB, mas a partir de 1972
tornou-se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à renovação carismática. Em 1978
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História do Protestantismo Brasileiro - 15
admitiu aos seus presbitérios os três primeiros missionários da sua história, Richard Irwin,
Albert James Reasoner e Gordon S. Trew, que antes colaboravam com a IPB. Em 1973, um
segmento separou-se para formar a Igreja Presbiteriana Independente Renovada, que depois
se uniu a um grupo semelhante egresso da IPB, formando a Igreja Presbiteriana Renovada.
13 - IGREJAS PENTECOSTAIS E
NEOPENTECOSTAIS
As três ondas ou fases do pentecostalismo brasileiro foram as seguintes:
Teve como fundadores os suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-
1933). Batistas de origem, eles abraçaram o pentecostalismo em 1909. Conheceram-se
numa conferência pentecostal em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi
influenciado pelo pastor batista William H. Durham, que participou do avivamento de Los
Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no Brasil, chegaram a Belém em
novembro de 1910.
Seus primeiros adeptos foram membros de uma igreja batista com a qual
colaboraram.
Fundada nos Estados Unidos pela evangelista Aimee Semple McPherson (1890-1944).
O missionário Harold Williams fundou a primeira IEQ do Brasil em novembro de 1951, em
São João da Boa Vista. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo
Raymond Boatright o principal evangelista. A igreja enfatiza quatro aspectos do ministério
de Cristo: aquele que salva, batiza com o Espírito Santo, cura e virá outra vez. As mulheres
podem exercer o ministério pastoral.
15.755 obreiros e 581 horas diárias em rádios, bem como estar presente em 17 países
(principalmente Paraguai, Uruguai e Argentina).
14 - PERÍODO DE REPRESSÃO E
ISOLACIONISMO DAS IGREJAS: 1962
A 1983
Mesmo já com dificuldades internas e externas por causa de reações das cúpulas das
igrejas contra o avanço da autonomia de setores leigos dentro da Confederação Evangélica,
o Setor de Responsabilidade Social da Igreja caminhou na direção da realização da sua
quarta reunião de estudos que viria a ser conhecida por Conferência do Nordeste. A
organização dessa conferência, decisiva quanto aos rumos do protestantismo no Brasil,
contou com a forte liderança do leigo presbiteriano Waldo César e a inspiração sempre
presente de Richard Shaull, que já não era mais professor no Seminário Presbiteriano do
Sul.
A Conferência do Nordeste, que teve como tema “Cristo e o Processo Revolucionário
Brasileiro”, realizada de 22 a 29 de julho de 1962 na cidade do Recife, já incorporava a
crítica ao modelo econômico-político desenvolvimentista da década anterior. Para os
mentores da conferência, o Brasil estava dentro de um processo revolucionário diante do
qual as igrejas não poderiam se omitir. Por isso, a agenda da conferência contava com dois
aspectos complementares: de um lado, uma análise de conjuntura que seria processada por
sociólogos e economistas neutros, isto é, que nada tinham a ver com as igrejas e, de outro,
propostas teológicas no sentido de chamar a atenção das igrejas para o seu papel na
situação histórica pela qual o país passava.
Há, pelo menos, dois documentos importantes sobre essa conferência. Um deles,
escrito por Waldo César (1962a), secretário executivo do Setor de Responsabilidade Social
da Igreja, da Confederação Evangélica do Brasil, é um diário, uma crônica leve mas cheia de
informações sobre os bastidores da conferência, seus conflitos e aproximações, enfim, a
dinâmica interna de um encontro de tantas personalidades e tendências diferentes. O outro
é a publicação oficial do evento com o mesmo título e que traz os textos das conferências e
os relatórios dos diferentes grupos de estudos (César, 1962b). Na Introdução a esse volume,
escrita por Waldo César, aparece em poucas linhas, e in totum, o projeto utópico que
animava o setor jovem e politizado das igrejas protestantes no Brasil: “A Conferência do
Nordeste foi, antes de tudo, grande esforço neste sentido: levar a Igreja a falar a linguagem
da época em que vivemos e a encontrar-se com a sociedade brasileira” (César, 1962b, p. xi).
A representação da conferência avizinhava-se, pela sua composição, da utopia
unionista dos criadores da Confederação Evangélica. Todas as igrejas históricas do
protestantismo nacional estavam representadas. Duas utopias: a acima, expressa por Waldo
César, e a união protestante em torno dela. Veremos, mais adiante, que as forças
ideológicas, que iriam logo se desencadear, seriam mais fortes e venceriam. Quem de-
nunciou isso alguns anos adiante foi o jovem Rubem Alves, um dos presentes na confe-
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História do Protestantismo Brasileiro - 18
rência, ao publicar um artigo que se tornou muito conhecido nas décadas seguintes. O
artigo trazia o título “O Protestantismo Latino-americano: sua Função Ideológica e suas
Possibilidades Utópicas”. Esse artigo, publicado em inglês (Alves, 1970), em 1970,
imediatamente começou a circular, traduzido e mimeografado, nos seminários brasileiros.
Bem mais tarde saiu numa coletânea do próprio Rubem Alves (1982).
As análises de conjuntura, cujo espaço era tomado pelas questões sociais provocadas
pela industrialização e pela crise do campesinato, foram feitas por Gilberto Freyre, Celso
Furtado, Paulo Singer e Juarez Rubem Brandão Lopes. A chamada à responsabilidade das
igrejas diante do “estado revolucionário” ficou a cargo de pastores envolvidos com as “novas
teologias”, como o luterano Ernst Schlieper, o metodista Almir dos Santos, os presbiterianos
Joaquim Beato, João Dias de Araújo e Sebastião Gomes Moreira, e os episcopais anglicanos
Edmund Knox Sherrill (bispo) e Curt Kleemann.
A Conferência do Nordeste, com repercussão nacional e internacional, causou grande
impacto dentro das igrejas. A situação agravou-se com a chegada de novo “bando de
teologias novas”, a intensificação do conflito entre fundamentalismo e ecumenismo e o golpe
militar de 64.
A década de 60 foi uma época revolucionária com o impacto das novas tecnologias e
conseqüentes mudanças sociais e o surgimento do tema “esperança” nos vários setores da
vida intelectual. Na filosofia o tema aparece em Ernst Bloch (1855-1977) com O Princípio
Esperança (1959), só agora publicado em português, e na teologia surge Jürgen Moltmann
(1926-) com sua monumental Teologia da Esperança, primeira edição em 1968. Em
português acaba de sair a 3a edição. Em 1969, o teólogo presbiteriano brasileiro, um dos
participantes da conferência, Rubem Alves, publica sua tese de doutorado nos Estados
Unidos intitulada A Theology of Human Hope. Essa obra só saiu em português em 1987
com o título Da Esperança depois de ter sido publicada antes em outras línguas. Vale
considerar que o tema perpassa com igual intensidade o universo intelectual católico como,
por exemplo, em J. B. Metz, que, passando pelo tema da secularização e por uma teologia do
mundo, chega a uma teologia política. Nem mesmo a sociologia ficou alheia ao movimento
porque Henri Desroche (1914-1994) publicou Sociologie de L’Espérance, em 1973. A
tradução em português saiu em 1985. Duas outras correntes, paralelas por sinal, empolgam
esse período. O teólogo norte-americano Harvey Cox (The Secular City, 1965-66) trabalha o
tema da relação entre a urbanização e a secularização, enquanto dois outros, também
norteamericanos, William Hamilton e Thomas J. J. Altizer, levantam a bandeira da “teologia
radical”, também chamada “teologia da morte de Deus”. Entram também por essa via
Gabriel Vahanian (The Death of God, 1961) e o bispo anglicano que causou sensação com
Honest to God, 1963. Por sua vez, o teólogo católico Robert Adolfs chega ao extremo da
crítica à igreja acusando-a de ser “túmulo de Deus”. Em resumo, a massa da produção
teológica desse período, tanto protestante como católica, procura mostrar que num mundo
secularizado e aberto a mudanças, vez que destruído pela guerra, era necessário buscar
novas formas de religião ou até mesmo superar a religião. A teologia radical, ou da morte de
Deus, por certo não era atéia, mas tinha implícita a idéia de que o Deus da tradição havia
“morrido na cultura”. As igrejas o haviam enterrado com suas fórmulas antiquadas e
emperradas. Era Nietzsche chamado à liça com o célebre diálogo entre Zaratustra e o velho
papa “fora de serviço”, fora de serviço porque sua instituição havia acabado. Estavam em
jogo estrutura e poder das igrejas.
Na América Latina dois acontecimentos iriam centralizar o grande debate em torno da
situação social, econômica e política. A ideologia desenvolvimentista seria questionada pela
tese da dependência elaborada por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (Dependência
e Desenvolvimento na América Latina, 1965-67). A teoria se completava com a obra de Celso
Furtado, já citada, sobre as origens do subdesenvolvimento. Nesse ponto, tanto alguns
setores das igrejas protestantes quanto da Igreja Católica avançaram mais ou menos na
mesma direção, isto é, no sentido de envolver as igrejas na luta pela conquista de uma
sociedade mais justa diante de um cenário aberto a profundas mudanças. Assim, no cenário
protestante surge, em 1961, a Junta Latino-Americana Igreja e Sociedade com o fi m de
promover consultas sobre a responsabilidade social das igrejas evangélicas na América
Latina. Isal, como passou a ser conhecida, passou a publicar, em Montevidéu, a revista
Cristianismo y Sociedad, que teve larga circulação em toda a América Latina. Essa revista,
que servia de elo entre os protestantes da “esquerda teológica latino-americana”, migrou por
vários países até se extinguir melancolicamente. Muitos brasileiros participaram de Isal,
entre eles, com atuação saliente, Rubem Alves. Richard Shaull, mesmo não sendo latino-
americano, foi um dos seus principais nomes. No cenário católico, o aggiornamento
proposto pelo Concílio Vaticano II iria culminar na Segunda Conferência do Episcopado
Latino-Americano, em Medellin, Colômbia, 1968, com a declaração da opção preferencial
pelos pobres, ponto de partida para a Teologia da Libertação que se desenvolveria na década
seguinte. Os mais conhecidos nomes brasileiros inseridos nessa corrente teológica foram os
católicos Leonardo Boff e Hugo Assmann. Do lado protestante, ao menos nos seus inícios, o
nome de Rubem Alves seria arrolado como um dos seus precursores. Mais tarde ele se
afastaria tomando outros caminhos, principalmente quanto ao método e à linguagem da
teologia (Cervantes-Ortiz, s/d). O protestantismo latino-americano, particularmente o
brasileiro, mal chegou aos umbrais da Teologia da Libertação. Mas mesmo a simples
aproximação dela através do movimento de Isal foi suficiente para o endurecimento das
igrejas e o início de um processo de repressão, especialmente pela identificação que as alas
conservadoras das igrejas faziam entre ecumenismo e comu nismo e a pressão
fundamentalista tanto interna como externa. Além de tudo, por trás estava já o período de
repressão do regime militar. A pressão fundamentalista externa, representada pela presença
cada vez maior no Brasil das chamadas missões paraeclesiásticas, ou missões de fé, assim
como os clarões ainda visíveis do macarthismo provocaram o expurgo progressivo da ala
chamada liberal ou modernista das igrejas representada por estudantes universitários,
seminaristas e jovens pastores. Em 1968, ao menos dois seminários presbiterianos e um
metodista foram fechados e seus alunos expulsos. Colaborou bastante, sem dúvida, a
generalização do movimento de “contracultura” com seus reflexos entre os estudantes
brasileiros. Há, pelo menos, três trabalhos que retratam bem esse período de repressão em
algumas das igrejas protestantes brasileiras: de João Dias de Araújo, Inquisição sem
Fogueiras (1976), de Rubem Alves, Protestantismo e Repressão (1979), e um artigo bem
elaborado e documentado de Leonildo Silveira Campos (2002). O conflito também
significativo desse período aconteceu entre o ecumenismo, acirrado pela Assembléia do
Conselho Mundial de Igrejas (CMI), em Nova Délhi, Índia, e o Conselho Internacional de
Igrejas Cristãs, expressão do fundamentalismo protestante. A Assembléia de Nova Délhi,
realizada entre 19 de novembro e 5 de dezembro de 1961, com a presença de 577 delegados
de 197 igrejas membros, decidiu, entre outras coisas, pela aproximação de outras religiões,
compreendendo-as melhor e, principalmente, por tomar conhecimento dos problemas
econômicos e políticos decorrentes das rápidas mudanças sociais, particularmente do
Terceiro Mundo. A reação do Conselho Internacional de Igrejas Cristãs foi imediata
acusando o CMI de tentar aproximar-se da Igreja Católica e de abrir espaço para o
comunismo.
Algumas igrejas brasileiras já se haviam filiado ao Conselho Mundial de Igrejas e
colaboravam com seus projetos indiferentes ao conflito. Outras, porém, principalmente as
presbiterianas, dividiram-se internamente com grandes prejuízos pela perda de quadros,
principalmente de intelectuais que tiveram de abandoná-las procurando espaços nas
universidades. Duas dessas igrejas assumiram posição de eqüidistância entre as duas
instituições internacionais em confronto a fim de não entrar abertamente na disputa.
Contudo, as evidências futuras apontam para uma decisão não-oficial, de consciência, em
favor da ala mais conservadora que recusava o ecumenismo e, por isso, promoveu expurgos
em seus quadros.
O cenário internacional desse período, que tinha por principal personagem a Guerra
Fria, ajudava o bloco capitalista conservador a manter aceso nas igrejas o sentimento
antiecumênico e anticomunista, que ganhava, sob o verniz de verdades religiosas, foros de
“guerra de dois mundos”, particularmente com o “Armagedon” escatologista no governo
Reagan. Em dado momento, os teleevangelistas, como Jimmy Swagart por exemplo,
alcançando vários países com suas mensagens televisivas, anunciavam “o reino de Deus
pela América”. Pregavam o “Kingdom Now”. O ímpeto dos teleevangelistas foi contido pelos
escândalos promovidos por alguns deles, inclusive o próprio Swagart, e revelados pela
imprensa. Algumas organizações chamadas “missões de fé”, porque não faziam parte de
igrejas oficiais, estenderam braços conservadores para a América Latina e ajudaram a arre-
fecer os possíveis ímpetos renovadores da juventude protestante. Uma delas foi a Campus
Crusade for Christ, fundada pelo norte-americano Bill Bright (1921-2003), cujo braço no
Brasil se chamou Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. Objetivava, como o próprio
nome diz, atrair estudantes universitários. Semelhante seria a ABU (Aliança Bíblica
Universitária). Outras muito conhecidas como Palavra da Vida, Vencedores por Cristo e
Jovens da Verdade tinham o mesmo objetivo de atrair a juventude, paradoxalmente, a das
próprias igrejas.
Talvez a maior expressão da direita política e religiosa tenha sido o IRD (Institute on
Religion and Democracy), fundado em 1981 por Michael Novak e outros, a fim de resistir à
linha progressista de organizações cristãs como o National Council of Churches e sua ala
ecumênica favorável ao Conselho Mundial de Igrejas. Um dos seus membros fundadores, o
pastor luterano Richard J. Neuhaus, afirmou que o IRD tinha uma agenda política
específica que era a América Central e o combate à Teologia da Libertação. No governo
Reagan o IRD operava muito próximo do Departamento de Estado, em Washington.
Um dos mais influentes membros do IRD é o conhecido sociólogo Peter Berger (1923-),
também teólogo leigo. Outro, que se tornou conhecido no Brasil, foi o teólogo católico
Michael Novak, já mencionado. Novak, em suas conferências em São Paulo, em meados dos
anos 80, provocou reações negativas. Num encontro com professores do curso de ciências
da religião da Universidade Metodista de São Paulo, ao criticar a Teologia da Libertação e a
teoria da dependência, provocou um debate acirrado que terminou em constrangimento.
O IRD, pelo seu apoio intelectual e logístico aos “contra” na América Central, foi
denunciado e combatido pelas esquerdas latino-americanas (Escurra, 1982).
O chamado Movimento Evangelical, conservador e voltado para a conversão pessoal,
com sua presença subjacente, mas forte nas igrejas, vem colaborando para o “quietismo”
que as isola do cenário social. O símbolo do “evangelicalismo” atual é o Pacto de Lausanne,
firmado no grande Congresso Internacional de Evangelização Mundial realizado naquela
cidade suíça em 1974. Dela participou o conhecido evangelista Billy Graham.
O último e grande desafio às igrejas protestantes históricas nesse período foi o avanço
do movimento carismático no interior delas mesmas gerando divisões que produziram as
chamadas igrejas “renovadas”. O neopentecostalismo, como se sabe, provocou verdadeira
devastação nessas igrejas, que produziram as chamadas igrejas “renovadas”. O
neopentecostalismo, como se sabe, provocou verdadeira reviravolta nas igrejas protestantes
históricas no Brasil.
15 - CONCLUSÃO
Uma breve história do Protestantismo brasileiro não permite abarcar todas as
ramificações que têm surgido nos últimos anos no país. Haveria a necessidade de mais
espaço e a certeza de que, na realidade, são movimentos capazes de sobreviver ao
surgimento de novas expressões religiosas sempre mais contextualizadas com o espírito pós-
moderno. Um exemplo claro de nova expressão religiosa são as igrejas que vêm surgindo a
cada instante e se transformado em movimentos que ditam regras dentro do protestantismo
brasileiro: as igrejas neopentecostais.
BIBLIOGRAFIA BÁSICA
LÉORNARD, Émile-Guillaume. O Protestantismo Brasileiro – Estudo de eclesiologia
e de história social. Rio de Janeiro: JUERP, 1981.