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SUMÁRIO

1- NOSSO OBJETIVO.................................................................................................2
2- O QUE É PROTESTANTISMO .................................................................................2
2.1. O QUE É PROTESTANTISMO BRASILEIRO ....................................................................... 2
2.2. O QUE É S ER P ROTESTANTE ....................................................................................... 3
3- O CONTEXTO POLÍTICO-RELIGIOSO (1500-1822) .................................................4
4- PRESENÇA PROTESTANTE NO BRASIL COLONIAL ................................................5
4.1. OS FRANCESES NA GUANABARA (1555-1567) ............................................................... 5
4.2. OS HOLANDESES NO NORDESTE (1630-1654) .............................................................. 6
5- IGREJA E ESTADO NO BRASIL IMPÉRIO (1822-1889) ...........................................6
6- PROTESTANTISMO DE IMIGRAÇÃO ......................................................................7
7- PROTESTANTISMO MISSIONÁRIO (1835-1889) .....................................................8
8- IGREJA E ESTADO: PERÍODO REPUBLICANO .....................................................10
9- CATÓLICOS E PROTESTANTES ...........................................................................11
10 - PROTESTANTES PROGRESSISTAS E CONSERVADORES..................................11
11 - DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (1889-1964).....................................................11
11.1. IGREJA CONGREGACIONAL ........................................................................................ 12
11.2. IGREJA P RESBITERIANA ............................................................................................ 12
11.3. IGREJA P RESBITERIANA INDEPENDENTE ...................................................................... 12
11.4. IGREJA METODISTA.................................................................................................. 13
11.5. IGREJA BATISTA ...................................................................................................... 13
11.6. IGREJA LUTERANA ................................................................................................... 13
11.7. IGREJA EPISCOPAL ................................................................................................... 14
12 - DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (APÓS 1964) ....................................................14
12.1. IGREJA P RESBITERIANA ............................................................................................ 14
12.2. IGREJA P RESBITERIANA INDEPENDENTE ...................................................................... 14
12.3. IGREJA BATISTA ...................................................................................................... 15
12.4. IGREJA METODISTA.................................................................................................. 15
12.5. IGREJA LUTERANA ................................................................................................... 15
13 - IGREJAS PENTECOSTAIS E NEOPENTECOSTAIS.............................................15
13.1. CONGREGAÇÃO CRISTÃ NO BRASIL ............................................................................. 16
13.2. ASSEMBLÉIA DE DEUS.............................................................................................. 16
13.3. IGREJA DO EVANGELHO QUADRANGULAR .................................................................... 16
13.4. IGREJA EVANGÉLICA PENTECOSTAL O BRASIL PARA CRISTO .......................................... 16
13.5. IGREJA DEUS É A MOR .............................................................................................. 16
13.6. IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS ...................................................................... 17
14 - PERÍODO DE REPRESSÃO E ISOLACIONISMO DAS IGREJAS: 1962 A 1983.....17
15 - CONCLUSÃO ....................................................................................................20
História do Protestantismo Brasileiro - 2

1 - NOSSO OBJETIVO
O objetivo deste texto é apresentar uma visão panorâmica da história do
protestantismo no Brasil. Inicia com as primeiras manifestações protestantes no período
colonial, prossegue com a implantação definitiva do movimento durante o império (nas duas
modalidades históricas: protestantismo de imigração e de missão) e chega ao Brasil
republicano, com o surgimento do protestantismo de matriz brasileira.

2 - O QUE É PROTESTANTISMO
O protestantismo é um dos três principais ramos do cristianismo ao lado do
catolicismo romano e das igrejas orientais ou ortodoxas. Essa categorização, muito ampla e
abrangente, é a adotada por J. L. Dunstan (1980, p. 7). Justamente por sua amplitude, a
categorização desse autor deixa logo em aberto um problema: onde colocar o anglicanismo,
hoje estendido por todo o mundo como uma comunidade que extrapola o Reino Unido? A
Igreja da Inglaterra resulta, sem dúvida, da Reforma Religiosa, mas, como se diz com
freqüência, ficou a meio caminho entre Roma e as igrejas protestantes, tanto luteranas
como calvinistas. De fato, a ala propriamente dita anglicana recusa o título de protestante.
Desse modo, seria melhor estabelecer quatro categorias de igrejas cristãs mundiais:
romana, ortodoxas ou orientais, anglicana e protestantes. Embora a ala chamada Evan-
gélica da Igreja Anglicana seja significativa por se aproximar bastante dos protestantes em
geral, creio não se justificar uma outra categoria, vez que o anglicanismo, apesar disso,
mantém sua unidade.
Interessa-nos agora a Reforma propriamente dita. Em outro lugar (Mendonça &
Velasques Filho, 2002, cap. 1) propus a divisão da Reforma em três ramos: anglicano,
luterano e calvinista, ou reformado propriamente dito. Feita aquela ressalva quanto ao
anglicanismo, os protestantes propriamente ditos são os luteranos e calvinistas que se
espalham pelo mundo em numerosa diversificação, particularmente estes últimos. Então,
protestantes seriam aquelas igrejas que se originaram da Reforma ou que, embora surgidas
posteriormente, guardam os princípios gerais do movimento. Essas igrejas compõem a
grande família da Reforma: luteranas, presbiterianas, metodistas, congregacionais e
batistas. Estas últimas, as batistas, também resistem ao conceito de protestantes por razões
de ordem histórica, embora mantenham os princípios da Reforma. Creio não ser, por isso,
necessário criar para elas uma categoria à parte. São integrantes do protestantismo
chamado tradicional ou histórico, tanto sob o ponto de vista teológico como eclesiológico.
Esses cinco ramos ou famílias da Reforma multiplicam-se em numerosos sub-ramos,
recebendo os mais diferentes nomes, mas que, ao guardar os princípios fundantes, podem
ser incluídos no universo do protestantismo propriamente dito.

2.1. O Que é Protestantismo Brasileiro

Talvez a pergunta mais adequada seja esta: podemos falar em protestantismo


brasileiro? Ou seria melhor falar em “protestantismo no Brasil” precisamente quando a
referência recai sobre as igrejas acima mencionadas? Embora seja certo que as religiões
universais, como são as protestantes, sempre assimilam ou mantêm traços das culturas
locais, como me é permitido falar em catolicismo brasileiro, por exemplo, o protestantismo
que chegou ao Brasil jamais se identificou com a cultura brasileira. Continua sendo um
protestantismo norte-americano com suas matrizes denominacionais e dependência
teológica. Por isso, prefiro falar em “protestantismo no Brasil” e não em protestantismo
brasileiro. O mesmo vale para o que talvez fosse exceção, isto é, o luteranismo. Apesar de
proceder de vertentes geográficas e culturais diferentes, ambos os luteranismos brasileiros
vinculam-se ao centro mesmo da Reforma Luterana, isto é, a Europa alemã. Por essas
razões, quando se fala em protestantismo brasileiro, creio que se deve entender por
protestantismo no Brasil.

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2.2. O Que é Ser Protestante

O grande e maior princípio da Reforma é o da liberdade e está explícito no talvez


menor dos livros de Martim Lutero e mesmo de toda a literatura reformada. Diz Lutero que o
cristão é “senhor livre sobre todas as coisas e não está sujeito a ninguém”, mas completa:
“um cristão é um servo prestativo em todas as coisas e está sujeito a todos”. Essa aparente
contradição se resolve assim: o cristão é livre para fazer e não fazer ou, ainda, o cristão não
está debaixo de nenhuma mediação e se refere diretamente a Deus pela fé, instrumento de
sua salvação. A salvação é individual e sua vida religiosa é pautada exclusivamente pela
Bíblia cuja leitura é direta e também não mediada. Como pontifica Dunstan, o homem é o
centro de sua religião.
Em suma, o protestante é o homem que se sente liberto por Cristo, segue exclusi-
vamente a Bíblia “como única regra de fé e prática”, cultiva uma ética racional de
desempenho para contribuir para a glória de Deus e vive moralmente segundo os “10
mandamentos” e os padrões da moral burguesa vitoriana. A conversão, que no período do
Grande Despertamento era mais propriamente uma “reconsagração” à vida devota,
reajustava o indivíduo ao modelo burguês vitoriano acompanhado da ética do trabalho
apropriada à ideologia do progresso. A preguiça, a ociosidade e a falta de objetividade na
vida, assim como desregramentos sexuais e desorganização familiar, eram pecados graves
para os vitorianos. O protestantismo, principalmente o calvinismo posterior, privilegiou as
relações sociais e econômico-políticas no sentido horizontal, buscando pôr de lado todo tipo
de dependência piramidal ou vertical. Em suma, uma desconfiança permanente de
monarquias absolutas em favor de repúblicas democráticas. Isso ganhou muita força após a
independência das colônias norte-americanas e da expansão protestante durante o século
XIX.
Não é necessário que nos alonguemos na discussão a respeito da chamada ideologia
norte-americana protestante da inter-relação íntima entre evangelizar e civilizar. Outros
autores já trataram dessa questão. Contudo, é oportuno lembrar que essa ideologia não é
exclusiva do protestantismo porque o mesmo papel que os Estados Unidos se propunham, e
ainda se propõem, de expandir o seu próprio modelo civilizatório, isto é, o reino de Deus
terreno, já empolgava, na oratória de Antonio Vieira, o velho Portugal seiscentista. Não
obstante, há que se estabelecer as diferenças entre os dois modelos: o reino de Deus por
Portugal era um reino caracterizado pelo modelo de cristandade, vertical e monárquico, ao
passo que o norte-americano era, e é, democrático republicano, horizontal e contratual.
Em suma, o protestante é um indivíduo que professa uma religião individual, de
consciência, que se inspira na interpretação direta e pessoal da Bíblia, pauta suas ações na
ética racional do trabalho e na moral burguesa vitoriana. Sua racionalidade procura manter
a distância a interferência do extraordinário no cotidiano, assim como sua individualidade o
situa nos limites mínimos do poder sacerdotal ou eclesiástico. É uma religião quase
secularizada e se aproxima, mesmo quando institucionalizada, de uma religião civil. As
igrejas são comunidades de fé e aprendizado religioso mútuo. A disciplina, que se prende
mais a questões de ética, principalmente de moral, tende a se tornar elástica na medida em
que, no gradiente seita-igreja, a comunidade se aproxima mais desta.
Este é o modelo, por que não dizer tipo ideal, do protestante histórico ou tradicional,
ao qual se aplica bem, como já foi dito, o conceito de evangélico, mas que implica
dificuldades quando generalizado para todos os cristãos não-católicos.
Este artigo trata exclusivamente do grupo de protestantes ou evangélicos que abrange
aquelas igrejas já mencionadas, tanto as do chamado protestantismo de missão ou
conversão, quanto as do protestantismo de imigração. Propomo-nos a analisar, dentro dos
limites impostos, as idas e vindas desse tipo de protestantismo no Brasil em suas relações
históricas e dialeticamente relacionais com o universo político brasileiro e internacional
durante os cerca de 180 anos de sua presença no país. Tomaremos como ponto de
intersecção histórica a chamada Conferência do Nordeste, realizada no Recife (PE), em 1962,
último momento de convergência identitária desse protestantismo antes do seu
isolacionismo denominacional. Não serão levadas em conta as questões e crises internas

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que, por vezes, agitaram as igrejas, mas exclusivamente como elas reagiram ao impacto dos
momentos históricos externos.
Propomos a seguinte periodização: de 1824 a 1916, período de implantação do
protestantismo no Brasil; de 1916 a 1952, desenvolvimento do projeto de cooperação ou
pan-protestantismo e a chegada de “um bando de teologias novas”; de 1952 a 1962, crise
política e religiosa, ensaio de politização do protestantismo e impacto do pentecostalismo; de
1962 a 1983, período de repressão no interior do protestantismo, da revolução
neopentecostal, fortalecimento do denominacionismo e o isolacionismo das igrejas.

3 - O CONTEXTO POLÍTICO-RELIGIOSO
(1500-1822)
Portugal surgiu como nação independente da Espanha durante a Reconquista (1139-
1249), ou seja, a luta contra os muçulmanos que haviam conquistado boa parte da
Península Ibérica vários séculos antes. Seu primeiro rei foi D. Afonso Henriques. O novo
país tinha fortes ligações com a Inglaterra, com a qual iria firmar posteriormente o Tratado
de Windsor, em 1386. O apogeu da história de Portugal foi o período das grandes
navegações e dos grandes descobrimentos, com a conseqüente formação do império colonial
português na África, Ásia e América Latina.
No final da Idade Média, a forte integração entre a igreja e o estado na Península
Ibérica deu origem ao fenômeno conhecido como “padroado” ou patronato real. Pelo
padroado, a Igreja de Roma concedia a um governante civil certo grau de controle sobre uma
igreja nacional em apreciação por seu zelo cristão e como incentivo para futuras ações em
favor da igreja. Entre 1455 e 1515, quatro papas concederam direitos de padroado aos reis
portugueses, que assim foram recompensados por seus esforços no sentido de derrotar os
mouros, descobrir novas terras e trazer outros povos para a cristandade.
Portanto, a descoberta e colonização do Brasil foi um empreendimento conjunto do
Estado português e da Igreja Católica, no qual a coroa desempenhou o papel predominante.
O estado forneceu os navios, custeou as despesas, construiu as igrejas e pagou o clero, mas
também teve o direito de nomear os bispos, recolher os dízimos, aprovar documentos e
interferir em quase todas as áreas da vida da igreja.
Um dos primeiros representantes oficiais do governo português a visitar o Brasil foi
Martim Afonso de Souza, em 1530. Três anos depois, foi implantado o sistema de capitanias
hereditárias, que, todavia, não foi bem-sucedido. Diante disso, Portugal começou a nomear
governadores-gerais, o primeiro dos quais foi Tomé de Sousa, que chegou em 1549 e
construiu Salvador, na Bahia, a primeira capital da colônia.
Com Tomé de Sousa vieram os primeiros membros de uma nova ordem religiosa
católica que havia sido oficializada recentemente (1540) – a Sociedade de Jesus ou os
jesuítas. Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e seus companheiros foram os primeiros
missionários e educadores do Brasil colonial. Essa ordem iria atuar ininterruptamente no
Brasil durante 210 anos (1549-1759), exercendo enorme influência sobre sua história
religiosa e cultural. Muitos jesuítas foram defensores dos índios, como o afamado padre
Antonio Vieira (1608-97). Ao mesmo tempo, eles se tornaram os maiores proprietários de
terras e senhores de escravos do Brasil colonial.
Em 1759 a Sociedade de Jesus foi expulsa de todos os territórios portugueses pelo
primeiro-ministro do rei D. José I, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal
(1751-1777). Por causa de sua riqueza e influência, os jesuítas tinham muitos inimigos
entre os líderes eclesiásticos, proprietários de terras e autoridades civis. Sua expulsão
resultou tanto do anticlericalismo que se alastrava pela Europa quanto do “regalismo” de
Pombal, isto é, a noção de que todas as instituições da sociedade, em especial a igreja,
deviam ser inteiramente subservientes ao rei. Pombal também determinou a transferência
da capital colonial de Salvador para o Rio de Janeiro.

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Desde o início da colonização, a coroa portuguesa foi lenta em seu apoio à igreja: a
primeira diocese foi fundada em 1551, a segunda somente em 1676 e em 1750 havia apenas
oito dioceses no vasto território. Nenhum seminário para o clero secular foi criado até 1739.
Todavia, a coroa nunca deixou de recolher os dízimos, que vieram a ser o principal tributo
colonial. Com a expulsão dos jesuítas, que eram em grande parte independentes das
autoridades civis, a igreja tornou-se ainda mais fraca.
Durante o período colonial, a atuação dos bandeirantes, aventureiros que se
embrenhavam pelo interior em busca de pedras preciosas e escravos, foi decisiva para a
expansão territorial do Brasil. Suas ações foram facilitadas e incentivadas pela União
Ibérica, ou seja, o controle de Portugal pela Espanha durante sessenta anos (1580-1640).
Os bandeirantes chegaram a atacar as missões jesuíticas da bacia do rio Paraná,
conhecidas como “reduções”, levando centenas de indígenas para os mercados de escravos
de São Paulo. A escravidão de índios e negros foi uma constante no período colonial. Outro
fenômeno marcante foi a corrida do ouro nas Minas Gerais (1693-1760), que trouxe
benefícios e problemas.
No período colonial houve dois tipos bastante distintos de catolicismo no Brasil. Em
primeiro lugar, havia a religiosidade dos colonos, escravos e senhores de engenho,
centralizada na “casa grande” e caracterizada pela informalidade, pequena ênfase em
dogmas, devoção aos santos e Maria e permissividade moral. Ao mesmo tempo, nos centros
urbanos havia o catolicismo das ordens religiosas, mais disciplinado e alinhado com Roma.
Havia ainda as irmandades, que por vezes tinham bastante independência em relação à
hierarquia.
Em conclusão, no período colonial o estado exerceu um rígido controle sobre a área
eclesiástica. Com isso a igreja teve dificuldade em realizar adequadamente o seu trabalho
evangelístico e pastoral. O catolicismo popular era culturalmente forte, mas débil nos planos
espiritual e ético. Apesar das suas debilidades, a igreja foi um importante fator na
construção da unidade e da identidade nacional.

4 - PRESENÇA PROTESTANTE NO BRASIL


COLONIAL
Nos séculos 16 e 17, duas regiões do Brasil foram invadidas por nações européias: a
França e a Holanda. Muitos dos invasores eram protestantes, o que provocou forte reação
dos portugueses numa época em que estava em pleno curso a Contra-Reforma, ou seja, o
esforço da Europa católica no sentido de deter e mesmo suprimir o protestantismo. O
esforço pela expulsão dos invasores fortaleceu a consciência nacional, mas ao mesmo tempo
aumentou o isolamento do Brasil.

4.1. Os Franceses na Guanabara (1555-1567)

Em dezembro de 1555 chegou à baía de Guanabara uma expedição comandada por


Nicolas Durand de Villegaignon. O empreendimento contou com o apoio do almirante
Gaspard de Coligny (1519-1572), um simpatizante e futuro correligionário dos protestantes
franceses (huguenotes).
Inicialmente, Villegaignon se mostrou simpático à Reforma. Escreveu ao reformador
João Calvino, em Genebra, na Suíça, pedindo pastores e colonos evangélicos para sua
colônia. Uma segunda expedição chegou em 1557, trazendo um pequeno grupo de
huguenotes liderados pelos pastores Pierre Richier e Guillaume Chartier. Um integrante da
comitiva era Jean de Léry, que mais tarde se tornou pastor e escreveu o livro História de
uma viagem à terra do Brasil, publicado em Paris, em 1578. No dia 10 de março de 1557
esse grupo realizou o primeiro culto protestante da história do Brasil e das Américas.
Rapidamente surgiram divergências entre Villegaignon e os calvinistas acerca dos
sacramentos e de outras questões. O pastor Chartier foi enviado de volta para a França e os
colonos protestantes foram expulsos. O navio em que vários deles voltaram para a França
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começou a apresentar problemas e cinco deles se ofereceram para retornar à terra: Jean de
Bourdel, Matthieu Verneuil, Pierre Bourdon, André Lafon e Jacques le Balleur.
Em resposta a uma série de perguntas apresentadas pelo comandante, esses homens
escreveram um belo documento, a Confissão de fé da Guanabara (1558). Três deles foram
executados por causa de suas convicções. André Lafon, o único alfaiate da colônia, teve a
vida poupada. Le Balleur fugiu para São Vicente, ficou encarcerado por vários anos em
Salvador, e finalmente foi levado para o Rio de
Janeiro em 1567, sendo enforcado quando os últimos franceses foram expulsos pelos
portugueses.
Os calvinistas tiveram uma preocupação missionária em relação aos índios, mas
pouco puderam fazer por eles. Léry expressou atitudes contraditórias que provavelmente
eram típicas dos seus companheiros: embora interessado na situação espiritual dos
indígenas, a relutância dos mesmos em aceitar a fé cristã o levou a concluir que eles talvez
estivessem entre os não-eleitos. A França Antártica entrou para a história como a primeira
tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na América
Latina.

4.2. Os Holandeses no Nordeste (1630-1654)

Em 1568 as Províncias Unidas dos Países Baixos tornaram-se independentes da


Espanha. A nova e próspera nação calvinista criou em 1621 a Companhia das Índias
Ocidentais, na época em que Portugal estava sob o domínio da Espanha (1580-1640). Em
1624 os holandeses tomaram Salvador, a capital do Brasil, mas foram expulsos no ano
seguinte.
Em 1630 a Companhia das Índias Ocidentais tomou Recife e Olinda e dentro de cinco
anos apossou-se de grande parte do nordeste brasileiro. O maior líder do Brasil holandês foi
o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, que governou por apenas sete anos (1637-
1644). Ele foi notável administrador e incentivador das ciências e das artes. Concedeu uma
boa medida de liberdade religiosa aos habitantes católicos e judeus do Brasil holandês.
Os holandeses criaram sua própria igreja estatal nos moldes da Igreja Reformada da
Holanda. Durante os 24 anos de dominação, foram organizadas 22 igrejas e congregações,
dois presbitérios e um sínodo. As igrejas foram servidas por mais de 50 pastores
(“predicantes”), além de pregadores auxiliares (“proponentes”) e outros oficiais. Havia
também muitos “consoladores dos enfermos” e professores de escolas paroquiais.
As igrejas destacaram-se pela sua atuação beneficente e sua ação missionária junto
aos índios. Havia planos de preparação de um catecismo, tradução da Bíblia e ordenação de
pastores indígenas. Todavia, levados por considerações econômicas e agindo contra as suas
convicções religiosas, os holandeses mantiveram intacto o sistema de escravidão negra,
ainda que tenham concedido alguns direitos aos escravos.
Após alguns anos de divergências com os diretores da Companhia das Índias
Ocidentais, Maurício de Nassau renunciou em 1644 e no ano seguinte começou a revolta
dos portugueses e brasileiros contra os invasores, que finalmente foram expulsos em 1654.
No restante do período colonial, o Brasil manteve-se isolado, sendo inteiramente vedada a
entrada de protestantes. Porém, com a transferência da família real portuguesa, em 1808,
abriram-se as portas do país para a entrada legal dos primeiros protestantes (anglicanos
ingleses).

5 - IGREJA E ESTADO NO BRASIL


IMPÉRIO (1822-1889)
Com a independência do Brasil, surgiu a necessidade de atrair imigrantes europeus,
inclusive protestantes. A Constituição Imperial, promulgada em 1824, concedeu-lhes certa
liberdade de culto, ao mesmo tempo em que confirmou o catolicismo como religião oficial.
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Até a Proclamação da República, os protestantes enfrentariam sérias restrições no que diz


respeito ao casamento civil, uso de cemitérios e educação.
Desde o século 18, começaram a se tornar influentes no Brasil novos conceitos e
movimentos surgidos na Europa, tais como o iluminismo, a maçonaria, o liberalismo político
e os ideais democráticos americanos e franceses. Tais idéias tornaram-se especialmente
influentes entre os intelectuais, políticos e sacerdotes, e tiveram dois efeitos importantes na
área religiosa: o enfraquecimento da Igreja Católica e uma crescente abertura ao
protestantismo.
O liberalismo de muitos religiosos brasileiros, inclusive bispos, é ilustrado pelo padre
Diogo Antonio Feijó (regente do império de 1835 a 1837), que em diferentes ocasiões propôs
a legalização do casamento clerical, sugeriu que os irmãos morávios fossem convidados para
educar os índios brasileiros e defendeu um concílio nacional para separar a igreja brasileira
de Roma.
O imperador D. Pedro II (1841-1889) utilizou plenamente seus direitos legais de
padroado, bem como os poderes adicionais do recurso (em casos de disciplina eclesiástica) e
do beneplácito (censura de todos os documentos eclesiásticos antes de sua publicação no
Brasil), em virtude da sua preocupação com o ultramontanismo. Um autor comenta que,
durante o longo reinado de Pedro II, a igreja não passou de um departamento do governo.
Todavia, no pontificado do papa Pio IX (1846-1878) Roma começou a exercer um
maior controle sobre a igreja brasileira. As idéias da encíclica Quanta cura e seu Sílabo de
Erros tiveram rápida difusão, apesar de não terem recebido o beneplácito de Pedro II. O
Sílabo atacou violentamente a maçonaria numa época em que os principais estadistas
brasileiros e o próprio imperador estavam ligados às lojas. Isto acabou desencadeando a
famosa “Questão Religiosa” (1872-75), um sério confronto entre o governo e dois bispos do
norte do Brasil (D. Vital Maria Gonçalves de Oliveira e D. Antônio de Macedo Costa) que
enfraqueceu o Império e contribuiu para a Proclamação da República.
A Questão Religiosa marcou o início da renovação católica no Brasil, que se
aprofundou no período republicano. À medida que afirmava sua autonomia diante do
Estado, a Igreja tornou-se mais universalística e mais romana. O próprio sacerdócio tornou-
se mais estrangeiro. Ao mesmo tempo, ela teve de enfrentar a concorrência de outros grupos
religiosos e ideológicos além do protestantismo, tais como o positivismo e o espiritismo.
O século 19 testemunhou um longo esforço dos protestantes no sentido de obter
completa legalidade e liberdade no Brasil, 80 anos de avanço lento, porém contínuo, em
direção à plena tolerância (1810-1890). Um passo importante na conquista da liberdade de
expressão e de propaganda ocorreu quando o missionário Robert Reid Kalley, pressionado
pelas autoridades, consultou alguns juristas destacados e obteve opiniões favoráveis quanto
às suas atividades religiosas. Finalmente, em 1890, um decreto do governo republicano
consagrou a separação entre a Igreja e o Estado, assegurando aos protestantes pleno
reconhecimento e proteção legal. A nova expressão religiosa se implantou no Brasil em duas
fases: protestantismo de imigração e protestantismo missionário.

6 - PROTESTANTISMO DE IMIGRAÇÃO
O historiador Boanerges Ribeiro observa que “ao iniciar-se o século XIX, não havia no
Brasil vestígio de protestantismo” (Protestantismo no Brasil monárquico, p. 15). Em janeiro
de 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, o príncipe-regente João decretou
a abertura dos portos do Brasil às nações amigas. Em novembro, um novo decreto concedeu
amplos privilégios a imigrantes de qualquer nacionalidade ou religião.
Em fevereiro de 1810, Portugal assinou com a Inglaterra tratados de Aliança e
Amizade e de Comércio e Navegação. Este último, em seu artigo 12, concedeu aos
estrangeiros “perfeita liberdade de consciência” para praticarem sua fé. Tratava-se de uma
tolerância limitada, porque vinha acompanhada da proibição de fazer prosélitos e de falar
contra a religião oficial. Além disso, as capelas protestantes não teriam forma exterior de
templo nem poderiam utilizar sinos.

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O primeiro capelão anglicano, Robert C. Crane, chegou em 1816. A primeira capela


anglicana foi inaugurada no Rio de Janeiro em 26 de maio de 1822; seguiram-se outras nas
principais cidades litorâneas. Outros estrangeiros protestantes que chegaram nos primeiros
tempos foram americanos, suecos, dinamarqueses, escoceses, franceses e especialmente
alemães e suíços, de tradição luterana e reformada.
Boanerges Ribeiro continua: “Quando se proclamou a Independência, contudo, ainda
não havia igreja protestante no país. Não havia culto protestante em língua portuguesa. E
não há notícia de existir, então, sequer um brasileiro protestante” (Ibid., p. 18). Com a
independência, houve grande interesse na vida de imigrantes, inclusive protestantes. Isso
exigiu que se garantissem os direitos religiosos desses imigrantes. A Constituição Imperial
de 1824 afirmou no artigo 5º: “A religião católica apostólica romana continuará a ser a
religião do Império. Todas as outras religiões serão permitidas com seu culto doméstico ou
particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo”.
Em 1820, um contingente de suíços católicos iniciou a colônia de Nova Friburgo. Logo
a área foi abandonada e oferecida a alemães luteranos que chegaram em maio de 1824.
Eram 324 imigrantes acompanhados do seu pastor, Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-
1864). A maior parte dos imigrantes alemães foi para o sul, cerca de 4.800 entre 1824 e
1830, 60% dos quais eram protestantes. Seus primeiros pastores foram Johann Georg
Ehlers, Karl Leopold Voges e Friedrich Christian Klingelhöffer.
Em junho de 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, Wilhelm von Theremin, foi
criada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, congregando luteranos
e calvinistas, cujo primeiro pastor foi Ludwig Neumann. Em 1837, o primeiro santuário
passou a funcionar em um edifício alugado, sendo o edifício próprio inaugurado em 1845.
Por falta de ministros ordenados, os primeiros luteranos organizaram sua própria vida
religiosa. Elegeram leigos para serem pastores e professores, os “pregadores-colonos”.
Todavia, na década de 1850, a Prússia e a Suíça “descobriram” os alemães do sul do Brasil
e começaram a enviar-lhes missionários e ministros. Isso criou uma igreja mais
institucional e européia.
Em 1868, o Rev. Hermann Borchard, que havia chegado em 1864, e outros colegas
fundaram o Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul, que foi extinto em
1875. Em 1886, o Rev. Wilhelm Rotermund (chegado em 1874), organizou o Sínodo Rio-
Grandense, que se tornou modelo para outras organizações similares. Até o final da II
Guerra Mundial as igrejas luteranas permaneceram culturalmente isoladas da sociedade
brasileira.
Uma conseqüência importante da imigração protestante é o fato de que ela ajudou a
criar as condições que facilitaram a introdução do protestantismo missionário no Brasil. O
autor Erasmo Braga observou que, à medida que os imigrantes alemães exigiam garantias
legais de liberdade religiosa, estadistas liberais criaram “a legislação avançada que, durante
o longo reinado de D. Pedro II, protegeu as missões evangélicas da perseguição aberta e até
mesmo colocou as comunidades não-católicas sob a proteção das autoridades imperiais”
(The Republic of Brazil, p. 49). Em 1930, de uma comunidade protestante de 700 mil
pessoas no país, as igrejas imigrantes tinham aproximadamente 300 mil filiados. A maior
parte estava ligada à Igreja Evangélica Alemã do Brasil (215 mil) e vivia no Rio Grande do
Sul.

7 - PROTESTANTISMO MISSIONÁRIO
(1835-1889)
As primeiras organizações protestantes que atuaram junto aos brasileiros foram as
sociedades bíblicas: Britânica e Estrangeira (1804) e Americana (1816). Havia duas
traduções da Bíblia em português, uma protestante, feita pelo Rev. João Ferreira de Almeida
(1628-1691), e outra católica, do padre Antônio Pereira de Figueiredo (1725-1797). Os
primeiros agentes oficiais das sociedades bíblicas foram: da SBA, James C. Fletcher (1855);

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História do Protestantismo Brasileiro - 9

da SBBE, Richard Corfield (1856). Nesse período pioneiro, foi muito importante o trabalho
dos colportores, isto é, vendedores de Bíblias e literatura religiosa.
A Igreja Metodista Episcopal foi a primeira denominação a iniciar atividades
missionárias junto aos brasileiros (1835-1841). Seus obreiros iniciais foram Fountain E.
Pitts, Justin Spaulding e Daniel Parish Kidder. Eles fundaram no Rio de Janeiro a primeira
escola dominical do Brasil. Também atuaram como capelães da Sociedade Americana dos
Amigos dos Marinheiros, fundada em 1828.
Daniel P. Kidder foi uma figura importante dos primórdios do protestantismo
brasileiro. Ele viajou por todo o país, vendeu Bíblias e manteve contactos com intelectuais e
políticos destacados, como o padre Diogo Antônio Feijó, regente do império (1835-1837).
Kidder escreveu o livro Reminiscências de viagens e permanência no Brasil, publicado em
1845, um clássico que despertou grande interesse pelo Brasil.
James Cooley Fletcher (1823-1901) era pastor presbiteriano. Estudou no Seminário de
Princeton e na Europa, e se casou com uma filha de César Malan, teólogo calvinista de
Genebra. Chegou ao Brasil em 1851 como o novo capelão da Sociedade dos Amigos dos
Marinheiros e como missionário da União Cristã Americana e Estrangeira. Atuou como
secretário interino da legação americana no Rio de Janeiro e foi o primeiro agente oficial da
Sociedade Bíblica Americana. Foi um promotor entusiasta do protestantismo e do
“progresso”. Escreveu O Brasil e os brasileiros, publicado em 1857, uma versão atualizada
da obra de Kidder.
Robert Reid Kalley (1809-1888) era natural da Escócia. Estudou medicina e foi
trabalhar como missionário na Ilha da Madeira (1838). Oito anos depois, escapou de uma
violenta perseguição e foi com seus paroquianos para os Estados Unidos. Fletcher sugeriu
que ele fosse para o Brasil, onde Kalley e sua esposa Sarah
Poulton Kalley (1825-1907) chegaram em maio de 1855. No mesmo ano, fundaram em
Petrópolis a primeira escola dominical permanente do país (19 de agosto). Em 11 de julho de
1858, Kalley fundou a Igreja Evangélica, depois Igreja Evangélica Fluminense (1863), cujo
primeiro membro brasileiro foi Pedro Nolasco de Andrade. Kalley teve importante atuação na
defesa da liberdade religiosa (1859). Sua esposa foi autora do famoso hinário Salmos e hinos
(1861). A Igreja Fluminense aprovou sua base doutrinária, elaborada por Kalley, em 2 de
julho de 1876. No mesmo ano, o missionário voltou em definitivo para a Escócia. Os
estatutos da igreja foram aprovados pelo governo imperial em 22 de novembro de 1880.
Os missionários pioneiros da Igreja Presbiteriana foram Ashbel Green Simonton
(1859), Alexander Latimer Blackford (1860) e Francis Joseph Christopher Schneider (1861).
As primeiras igrejas organizadas foram as do Rio de Janeiro (1862), São Paulo (1865) e
Brotas (1865). Duas importantes realizações iniciais foram o jornal Imprensa Evangélica
(1864-1892) e o Seminário do Rio de Janeiro (1867-1870). O primeiro pastor evangélico
brasileiro foi o ex-sacerdote José Manoel da Conceição, ordenado em 17 de dezembro de
1865. Em 1870, os presbiterianos fundaram em São Paulo a Escola Americana (atual
Universidade Mackenzie). Em 1888, foi organizado o Sínodo do Brasil, que marcou a
autonomia eclesiástica da Igreja Presbiteriana do Brasil.
Após a Guerra Civil americana (1861-1865), muitos imigrantes norte-americanos se
estabeleceram no interior da Província de São Paulo. Eles foram seguidos por missionários
presbiterianos, metodistas e batistas. Os pioneiros enviados pela Igreja Presbiteriana do Sul
dos Estados Unidos (PCUS) foram George Nash Morton e Edward Lane (1869). Eles
fundaram o Colégio Internacional, instalado oficialmente em 1873.
A Igreja Metodista Episcopal (do sul dos Estados Unidos) enviou Junius E. Newman
para trabalhar junto aos imigrantes (1876). O primeiro missionário aos brasileiros foi John
James Ransom, que chegou em 1876 e dois anos depois organizou a primeira igreja no Rio
de Janeiro. A professora Martha Hite Watts iniciou uma escola para moças em Piracicaba
(1881). A partir de 1880, a I.M.E. do norte dos EUA enviou obreiros ao norte do Brasil
(William Taylor, Justus H. Nelson) e ao Rio Grande do Sul. A Conferência Anual Metodista
foi organizada em 1886 pelo bispo John C. Granbery, com a presença de apenas três
missionários.

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Os primeiros missionários da Igreja Batista, Thomas Jefferson Bowen e sua esposa


(1859-1861), não foram bem sucedidos. Em 1871, os imigrantes batistas de Santa Bárbara
organizaram duas igrejas. Os primeiros missionários junto aos brasileiros foram William
Buck Bagby, Zachary Clay Taylor e suas esposas (chegados em 1881-1882). O primeiro
membro e pastor batista brasileiro foi o ex-padre Antônio Teixeira de Albuquerque, que já
estivera ligado aos metodistas. Em 1882 o grupo fundou a primeira igreja brasileira em
Salvador, na Bahia. A Convenção Batista Brasileira foi criada em 1907.
A Igreja Protestante Episcopal foi a última das denominações históricas a iniciar
trabalho missionário no Brasil. Um importante e controvertido precursor havia sido Richard
Holden (1828-1886), que durante três anos atuou com poucos resultados no Pará e na
Bahia (1861-1864). O trabalho permanente teve início em 1890 com James Watson Morris e
Lucien Lee Kinsolving. Inspirados pela obra de Simonton e por um folheto sobre o Brasil,
eles se estabeleceram em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, um estado até então pouco
ocupado por outras missões. Em 1899, Kinsolving tornou-se o primeiro bispo residente da
Igreja Episcopal do Brasil.

8 - IGREJA E ESTADO: PERÍODO


REPUBLICANO
A separação entre a igreja e o estado foi efetivada pelo Decreto nº 119-A, de 7 de
janeiro de 1890, que consagrou a plena liberdade de culto. Em fevereiro de 1891, a primeira
Constituição republicana confirmou a separação entre a igreja e o estado, bem como
proclamou outras medidas liberais como a plena liberdade de culto, o casamento civil
obrigatório e a secularização dos cemitérios. Sob influências liberais e positivistas, a
Constituição omitiu o nome de Deus, afirmando assim a caráter não religioso do novo
regime, e a Igreja Católica foi colocada em pé de igualdade com todos os outros grupos
religiosos; a educação foi secularizada, sendo a religião omitida do novo currículo. Em uma
carta pastoral de março de 1890, os bispos deram as boas-vindas à República, mas também
repudiaram a separação entre a igreja e o estado.
A partir de então, a Igreja teve duas grandes preocupações: obter o apoio do Estado e
aumentar a sua influência na sociedade. Um dos primeiros passos foi fortalecer a estrutura
interna da igreja: criaram-se novas estruturas eclesiásticas (dioceses, arquidioceses, etc.) e
fundaram-se novos seminários. Foi incentivada a vinda de muitos religiosos estrangeiros
para o Brasil (capuchinhos, beneditinos, carmelitas, franciscanos). A igreja também
manteve sua firme oposição contra a modernidade, o protestantismo, a maçonaria e outros
movimentos.
Dois grandes líderes foram especialmente influentes nesse esforço renovador:
primeiro, o padre Júlio Maria, que desde 1890 até sua morte em 1916 foi muito ativo como
pregador e escritor, visando mobilizar a igreja e tornar o Brasil verdadeiramente católico.
Ainda mais notável foi D. Sebastião Leme da Silveira Cintra (1882-1942), o líder responsável
pela orientação e mobilização da Igreja Católica brasileira na primeira metade do século 20,
como arcebispo de Olinda e Recife (1916-21), coadjutor no Rio de Janeiro (1921-30) e
cardeal arcebispo do Rio até a sua morte.
Em 1925, D. Leme propôs emendas à constituição que dariam reconhecimento oficial
à Igreja Católica como a religião dos brasileiros e permitiriam a educação religiosa nas
escolas públicas. As chamadas “emendas Plínio Marques” enfrentaram a vigorosa oposição
dos protestantes, maçons, espíritas e da imprensa, sendo eventualmente rejeitadas.
Todavia, mediante um decreto de abril de 1930, Getúlio Vargas permitiu o ensino religioso
nas escolas. Por fim, a Constituição de 1934 incluiu todas as exigências católicas, sem
oficializar o catolicismo. O Centro Dom Vital, cujos líderes iniciais foram Jackson de
Figueiredo e Alceu de Amoroso Lima, deu continuidade à luta pela ascendência católica. A
agenda da Liga Eleitoral Católica incluía tópicos como a oficialização do catolicismo, o
casamento religioso, o ensino religioso nas escolas públicas, capelanias católicas nas forças
armadas e sindicatos católicos. Também foram realizadas campanhas contra as missões
estrangeiras protestantes.
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9 - CATÓLICOS E PROTESTANTES
Nas primeiras décadas do período republicano, os protestantes tiveram diferentes
atitudes diante da reação católica. Uma delas foi a criação de uma frente unida contra o
catolicismo. A entidade conhecida como Aliança Evangélica havia sido criada inicialmente
na Inglaterra (1846) e nos Estados Unidos (1867). A congênere brasileira surgiu em São
Paulo, em julho de 1903, tendo como presidente Hugh C. Tucker (metodista) e como
secretário F. P. Soren (batista). Todavia, o Congresso do Panamá e a subsequente
Conferência do Rio de Janeiro, em 1916, revelaram atitudes divergentes em relação ao
catolicismo, sendo alguns elementos, principalmente norte-americanos, favoráveis a uma
aproximação e mesmo colaboração com a igreja católica. Uma das questões discutidas foi o
rebatismo ou não de católicos convertidos à fé evangélica. Esse período também viu o
recrudescimento de perseguições contra os protestantes em muitos lugares do Brasil.
Na década de 1920, a Comissão Brasileira de Cooperação, liderada pelo Rev. Erasmo
de Carvalho Braga (1877-1932) procurou unir as igrejas evangélicas na luta pela
preservação dos seus direitos e no exercício de um testemunho profético junto à sociedade
brasileira. Esse esforço teve prosseguimento até os anos 60 na Confederação Evangélica do
Brasil. Após 1964, as relações das igrejas evangélicas e da Igreja Católica com o estado
brasileiro tomaram rumos por vezes diametralmente opostos, cujas conseqüências se fazem
sentir até os dias de hoje.

10 - PROTESTANTES PROGRESSISTAS E
CONSERVADORES
Nas primeiras décadas do século 20, o protestantismo brasileiro sofreu a influência de
algumas correntes teológicas norte-americanas, como o evangelho social, o movimento
ecumênico e o fundamentalismo. Inspirado em parte pelos dois primeiros, surgiu um
notável esforço cooperativo entre as igrejas históricas, sob a liderança do Rev. Erasmo
Braga, secretário da Comissão Brasileira de Cooperação (1917). Essa entidade se uniu em
1934 à Federação das Igrejas Evangélicas do Brasil e ao Conselho Nacional de Educação
Religiosa para formar a Confederação Evangélica do Brasil (CEB). Nos anos 50 e início da
década de 60, a CEB criou a Comissão de Igreja e Sociedade (1955), depois Setor de
Responsabilidade Social da Igreja. Sua quarta reunião, conhecida como Conferência do
Nordeste, realizada em Recife em 1962, teve como tema “Cristo e o Processo Revolucionário
Brasileiro”. Seus líderes foram Carlos Cunha, Almir dos Santos e Waldo César, sendo
preletores Sebastião G. Moreira, Joaquim Beato, João Dias de Araújo e o bispo Edmundo K.
Sherill.
O movimento ecumênico havia surgido com a Conferência Missionária Mundial (1910),
em Edimburgo, na Escócia, que deu origem ao Concílio Missionário Internacional (1921).
Outros dois movimentos, “Vida e Trabalho” e “Fé e Ordem” se uniram para formar o
Conselho Mundial de Igrejas (Utrecht, 1938; Amsterdã, 1948). Algumas das primeiras
igrejas brasileiras a se filiarem a essa organização foram a metodista (1942), a luterana
(1950), a episcopal (1965) e a Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo (1968).
Por fim, o espírito denominacional suplantou o ecumenismo. Duncan Reily observa:
“O ecumenismo no Brasil foi muito mais um projeto dos missionários e das sociedades
missionárias do que dos brasileiros” (História Documental, 233). Além de algumas igrejas
históricas, também se opuseram ao ecumenismo os grupos pentecostais, as “missões de fé”
e “missões indenominacionais”, e o movimento fundamentalista de Carl McIntire.

11 - DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (1889-


1964)
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11.1. Igreja Congregacional

Essa foi a primeira denominação brasileira inteiramente nacional (não sujeita a


nenhuma junta missionária). Até 1913, foram organizadas somente treze igrejas
congregacionais no Brasil, todas autônomas. Oito eram filhas da Igreja Fluminense:
Pernambucana (1873), Passa Três (1897), Niterói (1899), Encantado (1903), Paranaguá,
Paracambi e Santista (1912), Paulistana (1913), e três da Igreja Pernambucana: Vitória
(1905), Jaboatão (1905) e Monte Alegre (1912). Em julho de 1913, essas igrejas se reuniram
em 1ª Convenção Geral, no Rio de Janeiro. Daí até 1942, a denominação mudou de nome
dez vezes.
Os ingleses fundaram missões para atuar na América do Sul: Help for Brazil (criada
em 1892 por iniciativa de Sarah Kalley e outros), South American Evangelical Mission
(Argentina) e Regions Beyond Missionary Union (Peru). Após a Conferência de Edimburgo
(1910), essas missões vieram a constituir a União Evangélica Sul-Americana – UESA (1911).
Dos seus esforços, surgiu no Brasil a Igreja Cristã Evangélica.
Os congregacionais uniram-se à Igreja Cristã Evangélica em 1942, formando a União
das Igrejas Congregacionais e Cristãs do Brasil. Separaram-se em 1969, tomando o nome de
União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil. A outra ala dividiu-se em duas:
Igreja Cristã Evangélica no Brasil (Anápolis) e Igreja Cristã Evangélica do Brasil (São Paulo).

11.2. Igreja Presbiteriana

A Igreja Presbiteriana do Brasil alcançou sua autonomia formal em 1888, com a


criação do Sínodo Presbiteriano. Surgiu então uma crise no período 1892-1903 em torno
das questões missionária, educativa e maçônica que resultou em divisão, surgindo a Igreja
Presbiteriana Independente. Dois eventos significativos no início do século 20 foram a
criação da Assembléia Geral (1910) e o estabelecimento de um plano de cooperação entre a
igreja e as missões americanas, conhecido como Modus Operandi ou “Brazil Plan” (1917).
Com a Constituição de 1937, a Assembléia Geral foi transformada em Supremo Concílio.
Em 1955 surgiu o Conselho Interpresbiteriano, criado para gerir as relações da igreja com
as missões americanas e com as juntas missionárias nos Estados Unidos.
Em 1948, Samuel Rizzo representou a IPB na Assembléia do Conselho Mundial de
Igrejas em Amsterdã. No ano seguinte, a igreja optou pela “eqüidistância” entre o CMI e o
CIIC de Carl McIntire. Em 1962, o Supremo Concílio aprovou o “Pronunciamento Social da
IPB”.
Entre a juventude surgiu um crescente questionamento da posição conservadora da
igreja. Um importante canal de expressão foi o controvertido Jornal Mocidade (1944). Billy
Gammon, filha do Rev. Samuel Gammon, foi nomeada secretária da mocidade a partir de
1946. Até 1958 o número de sociedades locais cresceu de 150 para 600, com 17 mil
membros. O Rev. M. Richard Shaull veio ao Brasil para trabalhar entre universitários. Em
1953 tornou-se professor do Seminário Presbiteriano de Campinas e começou a cooperar
com o Departamento de Mocidade e a União Cristã de Estudantes do Brasil (UCEB). Tornou-
se uma voz influente na mocidade evangélica em geral. Em 1962, o Supremo Concílio
reestruturou o Departamento de Mocidade, tirando sua autonomia.
A. Igreja Presbiteriana Fundamentalista. Israel Gueiros, pastor da 1ª Igreja
Presbiteriana de Recife e ligado ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (Carl McIntire)
liderou uma campanha contra o Seminário do Norte sob a acusação de modernismo.
Fundou outro seminário e foi deposto pelo Presbitério de Pernambuco em julho de 1956. Em
21 de setembro do mesmo ano foi organizada a IPFB com quatro igrejas locais (inclusive
elementos batistas e congregacionais), que formaram um presbitério com 1800 membros.

11.3. Igreja Presbiteriana Independente

Essa igreja surgiu em 1903 como uma denominação totalmente nacional, sem
qualquer vinculação com igrejas estrangeiras. Resultou do projeto nacionalista de Eduardo
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Carlos Pereira (1856-1923). Em 1907 tinha 56 igrejas e 4.200 membros comungantes.


Fundou um seminário em São Paulo. Em 1908 foi instalado o Sínodo, inicialmente com três
presbitérios. Mais tarde, em 1957, foi criado o Supremo Concílio, com três sínodos, dez
presbitérios, 189 igrejas locais e 105 pastores. Seu jornal oficial era O Estandarte, fundado
em 1893. Após o Congresso do Panamá (1916), a IPI aproximou-se da IPB e das outras
igrejas evangélicas. A partir de 1930, surgiu um movimento de intelectuais (entre eles o Rev.
Eduardo Pereira de Magalhães, neto de Eduardo Carlos Pereira) que pretendia reformar a
liturgia, certos costumes eclesiásticos e até mesmo a Confissão de Fé. A questão eclodiu no
Sínodo de 1938. Um grupo organizou a Liga Conservadora, liderada pelo Rev. Bento Ferraz.
A elite liberal retirou-se da IPI em 1942 e formou a Igreja Cristã de São Paulo.
A Igreja Presbiteriana Conservadora foi fundada pelos membros da Liga Conservadora
em 1940. Em 1957, contava com mais de vinte igrejas, em quatro estados, e tinha um
seminário. Seu órgão oficial é O Presbiteriano Conservador. Filiou-se à Aliança Latino-
Americana de Igrejas Cristãs e à Confederação de Igreja Evangélicas Fundamentalistas do
Brasil.

11.4. Igreja Metodista

A Conferência Anual Metodista foi organizada no Rio de Janeiro em 15 de setembro de


1886 pelo bispo John C. Granbery, enviado ao Brasil pela Igreja Metodista Episcopal do Sul.
Tinha apenas três missionários, James L. Kennedy, John W. Tarboux e Hugh C. Tucker,
sendo a menor conferência anual já criada na história do metodismo. Em 1899, a IME do
Norte transferiu seu trabalho no Rio Grande do Sul para a Conferência Anual. Em 1910 e
1919 surgiram outras duas conferências (norte, sul e centro).
A Junta de Nashville continuou a interferir na vida da igreja de modo indevido,
culminando com a insistência em nomear o presidente do Colégio Granbery (1917). Cresceu
o movimento pelo sustento próprio, liderado por Guaracy Silveira. Em 1930 a IMES cedeu a
autonomia desejada. No dia 2 de setembro de 1930, na Igreja Metodista Central de São
Paulo, foi organizada a Igreja Metodista do Brasil. O primeiro bispo eleito foi o velho
missionário John William Tarboux. O primeiro bispo brasileiro foi César Dacorso Filho
(1891-1966), eleito em 1934, que por doze anos (1936-1948) foi o único bispo da igreja. A
Igreja Metodista foi a primeira denominação brasileira a filiar-se ao Concílio Mundial de
Igrejas (1942).

11.5. Igreja Batista

A Convenção Batista Brasileira foi organizada no dia 24 de junho de 1907 na Primeira


Igreja Batista da Bahia (Salvador), quando 43 delegados, representando 39 igrejas,
aprovaram a “Constituição Provisória das Igrejas Batistas do Brasil”.
Na chamada “questão radical”, líderes batistas do nordeste apresentaram um
memorial aos missionários em 1922 e um manifesto à Convenção em 1925 reivindicando
maior participação nas decisões, principalmente na área financeira. Não atendidos, mais
tarde organizaram-se como um facção separada da Convenção e da Junta. As bases de
cooperação entre a igreja brasileira e a Junta de Richmond voltaram a ser discutidas em
1936 e 1957.

11.6. Igreja Luterana

O Sínodo Rio-Grandense surgiu em 1886. Posteriormente, surgiram outros sínodos


autônomos: Sínodo da Caixa de Deus ou “Igreja Luterana” (1905), com forte ênfase
confessional; Sínodo Evangélico de Santa Catarina e Paraná (1911) e Sínodo Brasil
Central (1912). O Sínodo Rio-Grandense, ligado à Igreja Territorial da Prússia, filiou-se
à Federação Alemã das Igrejas Evangélicas em 1929. Em 1932, o Sínodo Luterano também
se filiou à federação e começou a se aproximar dos outros sínodos. Em 1939 o Estado Novo
exigiu que toda a pregação pública fosse feita em português.

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Em 1949 os quatro sínodos se organizaram em Federação Sinodal, a Igreja Luterana


propriamente dita. No ano seguinte a igreja solicitou admissão ao Conselho Mundial de
Igrejas e em 1954 adotou o nome de Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil
(IECLB). A Igreja Luterana filiou-se à Confederação Evangélica do Brasil em 1959.

11.7. Igreja Episcopal

Uma Convocação especial reunida em Porto Alegre em 30 de maio de 1898 definiu a


relação formal entre a missão e a Igreja Episcopal dos Estados Unidos e elegeu Lucien Lee
Kinsolving como o primeiro bispo residente da igreja brasileira. Ele foi sagrado bispo em
Nova York em 6 de janeiro de 1899) e foi o único bispo episcopal no Brasil até 1925. O
primeiro bispo brasileiro foi Athalício Theodoro Pithan, sagrado em 21 de abril de 1940.
Em abril de 1952, foi instalado o Sínodo da Igreja Episcopal Brasileira, contando com
três bispos: Athalício T. Pithan, Luís Chester Melcher e Egmont Machado Krischke. Em 25
de abril de 1965 a Igreja Episcopal do Brasil obteve da igreja-mãe sua plena emancipação
administrativa e passou a ser uma província autônoma da Comunhão Anglicana. Logo em
seguida, filiou-se ao CMI.

12 - DENOMINAÇÕES HISTÓRICAS (APÓS


1964)
Dois eventos cruciais na década de 60 foram: (a) o Concílio Vaticano II (1962-65), que
marcou a abertura aos protestantes (“irmãos separados”) e revelou novas concepções sobre
o culto, a missão da igreja e a relação com a sociedade; (b) o Golpe de 1964 e o regime
militar no Brasil.

12.1. Igreja Presbiteriana

Esse período marcou o fim do antigo relacionamento da IPB com as missões norte-
americanas. Em 1954 havia sido criado o Conselho Interpresbiteriano. Em 1962, a Missão
Brasil Central propôs-se a entregar à igreja brasileira toda a sua obra evangelística,
educativa e médica. Em 1972 a igreja rompeu com a Missão Brasil Central, sendo uma das
possíveis causas a adoção da Confissão de 1967 pela Igreja Presbiteriana Unida dos EUA.
Em 1973 a IPB rompeu relações com a Igreja Unida (criada em 1958) e firmou novo
convênio com a missão da Igreja do Sul.
Duas questões candentes da época foram o ecumenismo e a postura social. A igreja
enviou representantes à assembléia do Conselho Mundial de Igrejas em Amsterdã (1948) e
observadores a outras assembléias. Missionários como Richard Shaull deram ênfase a
questões sociais, influenciando os seminários e a mocidade da igreja. O Supremo Concílio
de 1962 realizou um importante pronunciamento social.
Houve uma forte reação conservadora no Supremo Concílio de 1966, em Fortaleza,
com a eleição de Boanerges Ribeiro, reeleito em 1970 e 1974. As principais preocupações do
período foram a ortodoxia, a evangelização e a rejeição do ecumenismo. Multiplicaram-se os
processos contra pastores, igrejas locais e concílios.
Nessa época surgiram alguns grupos dissidentes, como o Presbitério de São Paulo e a
Aliança de Igrejas Reformadas (1974), que defendiam maior flexibilidade doutrinária. Em
setembro de 1978, na cidade de Atibaia, foi criada a Federação Nacional de Igrejas
Presbiterianas (FENIP).

12.2. Igreja Presbiteriana Independente

A IPI inicialmente teve uma postura menos rígida que a IPB, mas a partir de 1972
tornou-se mais inflexível quanto ao ecumenismo e à renovação carismática. Em 1978
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História do Protestantismo Brasileiro - 15

admitiu aos seus presbitérios os três primeiros missionários da sua história, Richard Irwin,
Albert James Reasoner e Gordon S. Trew, que antes colaboravam com a IPB. Em 1973, um
segmento separou-se para formar a Igreja Presbiteriana Independente Renovada, que depois
se uniu a um grupo semelhante egresso da IPB, formando a Igreja Presbiteriana Renovada.

12.3. Igreja Batista

No período em questão, os batistas foram caracterizados por forte ênfase evangelística,


tendo realizado grandes campanhas. Billy Graham pregou no Maracanã durante o X
Congresso da Aliança Batista Mundial (julho de 1960). O pastor João Filson Soren, da 1ª
Igreja Batista do Rio, foi eleito presidente da Aliança Mundial. Em 1965 foi realizada a
Campanha Nacional de Evangelização como uma resposta ao golpe de 1964. Seu lema foi
“Cristo, a Única Esperança”, indicado que soluções meramente políticas eram insuficientes.
Seu coordenador foi o pastor Rubens Lopes, da Igreja Batista de Vila Mariana, em São
Paulo. Houve ainda a Campanha das Américas (1967-1970) e a Cruzada Billy Graham, no
Rio de Janeiro, em 1974, tendo como presidente o pastor Nilson do Amaral Fanini. Houve
também uma Campanha Nacional de Evangelização em 1978-1980.

12.4. Igreja Metodista

No início dos anos 60, Nathanael Inocêncio do Nascimento, reitor da Faculdade de


Teologia, liderou o “esquema” nacionalista que visava substituir os líderes missionários do
Gabinete Geral por brasileiros (saíram Robert Davis e Duncan A. Reily e entraram Almir dos
Santos e Omar Daibert, futuros bispos).
Os universitários e estudantes de teologia pleiteavam uma igreja mais voltada para a
ação social e a política. A ênfase na justiça social dominou a Junta Geral de Ação Social
(Robert Davis, Almir dos Santos) e a Faculdade de Teologia. Dom Helder Câmara paraninfou
a turma de 1967. No ano seguinte, uma greve levou ao fechamento da Faculdade e à sua
reestruturação.
De 1968 em diante a igreja voltou-se para problemas internos como o regionalismo.
Em 1971 cada um dos seis concílios regionais elegeu, pela primeira vez, o seu próprio bispo
(os bispos sempre tinham sido eleitos no Concílio Geral, como superintendentes gerais da
igreja) e surgiram vários seminários regionais. Essa tendência perdurou até 1978.
Nos anos 70 a IMB investiu na educação superior. No campus da antiga Faculdade de
Teologia surgiu o Instituto Metodista de Ensino Superior e em 1975 o Instituto Piracicabano
(fundado em 1881) foi transformado em Universidade Metodista de Piracicaba. Em 1982 foi
elaborado o Plano Nacional de Educação Metodista, cuja fundamentação deu ênfase ao
conceito do Reino de Deus e à teologia da libertação.

12.5. Igreja Luterana

Em 1968, os quatro sínodos, originalmente independentes um do outro, integraram-se


em definitivo na IECLB, aceitando uma nova constituição. No VII Concílio Geral (outubro de
1970) foi aprovado unanimemente o “Manifesto de Curitiba,” contendo o posicionamento
político-social da igreja. Esse manifesto foi entregue ao presidente Emílio Médici por três
pastores. Em 1975 entrou em vigor a reforma do currículo da faculdade de teologia de São
Leopoldo, refletindo as prioridades da igreja.

13 - IGREJAS PENTECOSTAIS E
NEOPENTECOSTAIS
As três ondas ou fases do pentecostalismo brasileiro foram as seguintes:

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1. Décadas de 1910-1940: chegada simultânea da Congregação Cristã no


Brasil e da Assembléia de Deus, que dominaram o campo pentecostal por
40 anos;
2. Décadas de 1950-1960: fragmentação do pentecostalismo com o
surgimento de novos grupos – Evangelho Quadrangular, Brasil Para Cristo,
Deus é Amor e muitos outros (contexto paulista);
3. Anos 70 e 80: advento do neopentecostalismo – Igreja Universal do Reino
de Deus, Igreja Internacional da Graça de Deus e outras (contexto carioca).

13.1. Congregação Cristã no Brasil

Fundada pelo italiano Luigi Francescon (1866-1964). Radicado em Chicago, foi


membro da Igreja Presbiteriana Italiana e aderiu ao pentecostalismo em 1907. Em 1910
(março-setembro) visitou o Brasil e iniciou as primeiras igrejas em Santo Antonio da Platina
(PR) e São Paulo, entre imigrantes italianos. Veio 11 vezes ao Brasil até 1948. Em 1940, o
movimento tinha 305 “casas de oração” e dez anos mais tarde 815.

13.2. Assembléia de Deus

Teve como fundadores os suecos Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Vingren (1879-
1933). Batistas de origem, eles abraçaram o pentecostalismo em 1909. Conheceram-se
numa conferência pentecostal em Chicago. Assim como Luigi Francescon, Berg foi
influenciado pelo pastor batista William H. Durham, que participou do avivamento de Los
Angeles (1906). Sentindo-se chamados para trabalhar no Brasil, chegaram a Belém em
novembro de 1910.
Seus primeiros adeptos foram membros de uma igreja batista com a qual
colaboraram.

13.3. Igreja do Evangelho Quadrangular

Fundada nos Estados Unidos pela evangelista Aimee Semple McPherson (1890-1944).
O missionário Harold Williams fundou a primeira IEQ do Brasil em novembro de 1951, em
São João da Boa Vista. Em 1953 teve início a Cruzada Nacional de Evangelização, sendo
Raymond Boatright o principal evangelista. A igreja enfatiza quatro aspectos do ministério
de Cristo: aquele que salva, batiza com o Espírito Santo, cura e virá outra vez. As mulheres
podem exercer o ministério pastoral.

13.4. Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil Para Cristo

Fundada por Manoel de Mello, um evangelista da Assembléia de Deus que depois


tornou-se pastor da IEQ. Separou-se da Cruzada Nacional de Evangelização em 1956,
organizando a campanha “O Brasil para Cristo”, da qual surgiu a igreja. Filiou-se ao CMI em
1969 (desligou-se em 1986). Em 1979 inaugurou seu grande templo em São Paulo, sendo
orador oficial Philip Potter, secretário-geral do CMI. Esteve presente o cardeal arcebispo de
São Paulo, Paulo Evaristo Arns. Manoel de Mello morreu em 1990.

13.5. Igreja Deus é Amor

Fundada por David Miranda (nascido em 1936), filho de um agricultor do Paraná.


Vindo para São Paulo, converteu-se numa pequena igreja pentecostal e em 1962 fundou sua
igreja em Vila Maria. Logo transferiu-se para o centro da cidade (Praça João Mendes). Em
1979, foi adquirida a “sede mundial” na Baixada do Glicério, o maior templo evangélico do
Brasil, com capacidade para dez mil pessoas. Em 1991 a igreja afirmava ter 5.458 templos,

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História do Protestantismo Brasileiro - 17

15.755 obreiros e 581 horas diárias em rádios, bem como estar presente em 17 países
(principalmente Paraguai, Uruguai e Argentina).

13.6. Igreja Universal do Reino de Deus

Fundada por Edir Macedo (nascido em 1944), filho de um comerciante fluminense.


Trabalhou por 16 anos na Loteria do Estado, período no qual subiu de contínuo para um
posto administrativo. De origem católica, ingressou na Igreja de Nova Vida na adolescência.
Deixou essa igreja para fundar a sua própria, inicialmente denominada Igreja da Bênção.
Em 1977 deixou o emprego público para dedicar-se ao trabalho religioso. Nesse mesmo ano
surgiu o nome IURD e o primeiro programa de rádio. Macedo viveu nos Estados Unidos de
1986 a1989. Quando voltou ao Brasil, transferiu a sede da igreja para São Paulo e adquiriu
a Rede Record de Televisão. Em 1990 a IURD elegeu três deputados federais. Macedo esteve
preso por doze dias em 1992, sob a acusação de estelionato, charlatanismo e
curandeirismo.

14 - PERÍODO DE REPRESSÃO E
ISOLACIONISMO DAS IGREJAS: 1962
A 1983
Mesmo já com dificuldades internas e externas por causa de reações das cúpulas das
igrejas contra o avanço da autonomia de setores leigos dentro da Confederação Evangélica,
o Setor de Responsabilidade Social da Igreja caminhou na direção da realização da sua
quarta reunião de estudos que viria a ser conhecida por Conferência do Nordeste. A
organização dessa conferência, decisiva quanto aos rumos do protestantismo no Brasil,
contou com a forte liderança do leigo presbiteriano Waldo César e a inspiração sempre
presente de Richard Shaull, que já não era mais professor no Seminário Presbiteriano do
Sul.
A Conferência do Nordeste, que teve como tema “Cristo e o Processo Revolucionário
Brasileiro”, realizada de 22 a 29 de julho de 1962 na cidade do Recife, já incorporava a
crítica ao modelo econômico-político desenvolvimentista da década anterior. Para os
mentores da conferência, o Brasil estava dentro de um processo revolucionário diante do
qual as igrejas não poderiam se omitir. Por isso, a agenda da conferência contava com dois
aspectos complementares: de um lado, uma análise de conjuntura que seria processada por
sociólogos e economistas neutros, isto é, que nada tinham a ver com as igrejas e, de outro,
propostas teológicas no sentido de chamar a atenção das igrejas para o seu papel na
situação histórica pela qual o país passava.
Há, pelo menos, dois documentos importantes sobre essa conferência. Um deles,
escrito por Waldo César (1962a), secretário executivo do Setor de Responsabilidade Social
da Igreja, da Confederação Evangélica do Brasil, é um diário, uma crônica leve mas cheia de
informações sobre os bastidores da conferência, seus conflitos e aproximações, enfim, a
dinâmica interna de um encontro de tantas personalidades e tendências diferentes. O outro
é a publicação oficial do evento com o mesmo título e que traz os textos das conferências e
os relatórios dos diferentes grupos de estudos (César, 1962b). Na Introdução a esse volume,
escrita por Waldo César, aparece em poucas linhas, e in totum, o projeto utópico que
animava o setor jovem e politizado das igrejas protestantes no Brasil: “A Conferência do
Nordeste foi, antes de tudo, grande esforço neste sentido: levar a Igreja a falar a linguagem
da época em que vivemos e a encontrar-se com a sociedade brasileira” (César, 1962b, p. xi).
A representação da conferência avizinhava-se, pela sua composição, da utopia
unionista dos criadores da Confederação Evangélica. Todas as igrejas históricas do
protestantismo nacional estavam representadas. Duas utopias: a acima, expressa por Waldo
César, e a união protestante em torno dela. Veremos, mais adiante, que as forças
ideológicas, que iriam logo se desencadear, seriam mais fortes e venceriam. Quem de-
nunciou isso alguns anos adiante foi o jovem Rubem Alves, um dos presentes na confe-
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rência, ao publicar um artigo que se tornou muito conhecido nas décadas seguintes. O
artigo trazia o título “O Protestantismo Latino-americano: sua Função Ideológica e suas
Possibilidades Utópicas”. Esse artigo, publicado em inglês (Alves, 1970), em 1970,
imediatamente começou a circular, traduzido e mimeografado, nos seminários brasileiros.
Bem mais tarde saiu numa coletânea do próprio Rubem Alves (1982).
As análises de conjuntura, cujo espaço era tomado pelas questões sociais provocadas
pela industrialização e pela crise do campesinato, foram feitas por Gilberto Freyre, Celso
Furtado, Paulo Singer e Juarez Rubem Brandão Lopes. A chamada à responsabilidade das
igrejas diante do “estado revolucionário” ficou a cargo de pastores envolvidos com as “novas
teologias”, como o luterano Ernst Schlieper, o metodista Almir dos Santos, os presbiterianos
Joaquim Beato, João Dias de Araújo e Sebastião Gomes Moreira, e os episcopais anglicanos
Edmund Knox Sherrill (bispo) e Curt Kleemann.
A Conferência do Nordeste, com repercussão nacional e internacional, causou grande
impacto dentro das igrejas. A situação agravou-se com a chegada de novo “bando de
teologias novas”, a intensificação do conflito entre fundamentalismo e ecumenismo e o golpe
militar de 64.
A década de 60 foi uma época revolucionária com o impacto das novas tecnologias e
conseqüentes mudanças sociais e o surgimento do tema “esperança” nos vários setores da
vida intelectual. Na filosofia o tema aparece em Ernst Bloch (1855-1977) com O Princípio
Esperança (1959), só agora publicado em português, e na teologia surge Jürgen Moltmann
(1926-) com sua monumental Teologia da Esperança, primeira edição em 1968. Em
português acaba de sair a 3a edição. Em 1969, o teólogo presbiteriano brasileiro, um dos
participantes da conferência, Rubem Alves, publica sua tese de doutorado nos Estados
Unidos intitulada A Theology of Human Hope. Essa obra só saiu em português em 1987
com o título Da Esperança depois de ter sido publicada antes em outras línguas. Vale
considerar que o tema perpassa com igual intensidade o universo intelectual católico como,
por exemplo, em J. B. Metz, que, passando pelo tema da secularização e por uma teologia do
mundo, chega a uma teologia política. Nem mesmo a sociologia ficou alheia ao movimento
porque Henri Desroche (1914-1994) publicou Sociologie de L’Espérance, em 1973. A
tradução em português saiu em 1985. Duas outras correntes, paralelas por sinal, empolgam
esse período. O teólogo norte-americano Harvey Cox (The Secular City, 1965-66) trabalha o
tema da relação entre a urbanização e a secularização, enquanto dois outros, também
norteamericanos, William Hamilton e Thomas J. J. Altizer, levantam a bandeira da “teologia
radical”, também chamada “teologia da morte de Deus”. Entram também por essa via
Gabriel Vahanian (The Death of God, 1961) e o bispo anglicano que causou sensação com
Honest to God, 1963. Por sua vez, o teólogo católico Robert Adolfs chega ao extremo da
crítica à igreja acusando-a de ser “túmulo de Deus”. Em resumo, a massa da produção
teológica desse período, tanto protestante como católica, procura mostrar que num mundo
secularizado e aberto a mudanças, vez que destruído pela guerra, era necessário buscar
novas formas de religião ou até mesmo superar a religião. A teologia radical, ou da morte de
Deus, por certo não era atéia, mas tinha implícita a idéia de que o Deus da tradição havia
“morrido na cultura”. As igrejas o haviam enterrado com suas fórmulas antiquadas e
emperradas. Era Nietzsche chamado à liça com o célebre diálogo entre Zaratustra e o velho
papa “fora de serviço”, fora de serviço porque sua instituição havia acabado. Estavam em
jogo estrutura e poder das igrejas.
Na América Latina dois acontecimentos iriam centralizar o grande debate em torno da
situação social, econômica e política. A ideologia desenvolvimentista seria questionada pela
tese da dependência elaborada por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (Dependência
e Desenvolvimento na América Latina, 1965-67). A teoria se completava com a obra de Celso
Furtado, já citada, sobre as origens do subdesenvolvimento. Nesse ponto, tanto alguns
setores das igrejas protestantes quanto da Igreja Católica avançaram mais ou menos na
mesma direção, isto é, no sentido de envolver as igrejas na luta pela conquista de uma
sociedade mais justa diante de um cenário aberto a profundas mudanças. Assim, no cenário
protestante surge, em 1961, a Junta Latino-Americana Igreja e Sociedade com o fi m de
promover consultas sobre a responsabilidade social das igrejas evangélicas na América
Latina. Isal, como passou a ser conhecida, passou a publicar, em Montevidéu, a revista
Cristianismo y Sociedad, que teve larga circulação em toda a América Latina. Essa revista,

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que servia de elo entre os protestantes da “esquerda teológica latino-americana”, migrou por
vários países até se extinguir melancolicamente. Muitos brasileiros participaram de Isal,
entre eles, com atuação saliente, Rubem Alves. Richard Shaull, mesmo não sendo latino-
americano, foi um dos seus principais nomes. No cenário católico, o aggiornamento
proposto pelo Concílio Vaticano II iria culminar na Segunda Conferência do Episcopado
Latino-Americano, em Medellin, Colômbia, 1968, com a declaração da opção preferencial
pelos pobres, ponto de partida para a Teologia da Libertação que se desenvolveria na década
seguinte. Os mais conhecidos nomes brasileiros inseridos nessa corrente teológica foram os
católicos Leonardo Boff e Hugo Assmann. Do lado protestante, ao menos nos seus inícios, o
nome de Rubem Alves seria arrolado como um dos seus precursores. Mais tarde ele se
afastaria tomando outros caminhos, principalmente quanto ao método e à linguagem da
teologia (Cervantes-Ortiz, s/d). O protestantismo latino-americano, particularmente o
brasileiro, mal chegou aos umbrais da Teologia da Libertação. Mas mesmo a simples
aproximação dela através do movimento de Isal foi suficiente para o endurecimento das
igrejas e o início de um processo de repressão, especialmente pela identificação que as alas
conservadoras das igrejas faziam entre ecumenismo e comu nismo e a pressão
fundamentalista tanto interna como externa. Além de tudo, por trás estava já o período de
repressão do regime militar. A pressão fundamentalista externa, representada pela presença
cada vez maior no Brasil das chamadas missões paraeclesiásticas, ou missões de fé, assim
como os clarões ainda visíveis do macarthismo provocaram o expurgo progressivo da ala
chamada liberal ou modernista das igrejas representada por estudantes universitários,
seminaristas e jovens pastores. Em 1968, ao menos dois seminários presbiterianos e um
metodista foram fechados e seus alunos expulsos. Colaborou bastante, sem dúvida, a
generalização do movimento de “contracultura” com seus reflexos entre os estudantes
brasileiros. Há, pelo menos, três trabalhos que retratam bem esse período de repressão em
algumas das igrejas protestantes brasileiras: de João Dias de Araújo, Inquisição sem
Fogueiras (1976), de Rubem Alves, Protestantismo e Repressão (1979), e um artigo bem
elaborado e documentado de Leonildo Silveira Campos (2002). O conflito também
significativo desse período aconteceu entre o ecumenismo, acirrado pela Assembléia do
Conselho Mundial de Igrejas (CMI), em Nova Délhi, Índia, e o Conselho Internacional de
Igrejas Cristãs, expressão do fundamentalismo protestante. A Assembléia de Nova Délhi,
realizada entre 19 de novembro e 5 de dezembro de 1961, com a presença de 577 delegados
de 197 igrejas membros, decidiu, entre outras coisas, pela aproximação de outras religiões,
compreendendo-as melhor e, principalmente, por tomar conhecimento dos problemas
econômicos e políticos decorrentes das rápidas mudanças sociais, particularmente do
Terceiro Mundo. A reação do Conselho Internacional de Igrejas Cristãs foi imediata
acusando o CMI de tentar aproximar-se da Igreja Católica e de abrir espaço para o
comunismo.
Algumas igrejas brasileiras já se haviam filiado ao Conselho Mundial de Igrejas e
colaboravam com seus projetos indiferentes ao conflito. Outras, porém, principalmente as
presbiterianas, dividiram-se internamente com grandes prejuízos pela perda de quadros,
principalmente de intelectuais que tiveram de abandoná-las procurando espaços nas
universidades. Duas dessas igrejas assumiram posição de eqüidistância entre as duas
instituições internacionais em confronto a fim de não entrar abertamente na disputa.
Contudo, as evidências futuras apontam para uma decisão não-oficial, de consciência, em
favor da ala mais conservadora que recusava o ecumenismo e, por isso, promoveu expurgos
em seus quadros.
O cenário internacional desse período, que tinha por principal personagem a Guerra
Fria, ajudava o bloco capitalista conservador a manter aceso nas igrejas o sentimento
antiecumênico e anticomunista, que ganhava, sob o verniz de verdades religiosas, foros de
“guerra de dois mundos”, particularmente com o “Armagedon” escatologista no governo
Reagan. Em dado momento, os teleevangelistas, como Jimmy Swagart por exemplo,
alcançando vários países com suas mensagens televisivas, anunciavam “o reino de Deus
pela América”. Pregavam o “Kingdom Now”. O ímpeto dos teleevangelistas foi contido pelos
escândalos promovidos por alguns deles, inclusive o próprio Swagart, e revelados pela
imprensa. Algumas organizações chamadas “missões de fé”, porque não faziam parte de
igrejas oficiais, estenderam braços conservadores para a América Latina e ajudaram a arre-
fecer os possíveis ímpetos renovadores da juventude protestante. Uma delas foi a Campus

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Crusade for Christ, fundada pelo norte-americano Bill Bright (1921-2003), cujo braço no
Brasil se chamou Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo. Objetivava, como o próprio
nome diz, atrair estudantes universitários. Semelhante seria a ABU (Aliança Bíblica
Universitária). Outras muito conhecidas como Palavra da Vida, Vencedores por Cristo e
Jovens da Verdade tinham o mesmo objetivo de atrair a juventude, paradoxalmente, a das
próprias igrejas.
Talvez a maior expressão da direita política e religiosa tenha sido o IRD (Institute on
Religion and Democracy), fundado em 1981 por Michael Novak e outros, a fim de resistir à
linha progressista de organizações cristãs como o National Council of Churches e sua ala
ecumênica favorável ao Conselho Mundial de Igrejas. Um dos seus membros fundadores, o
pastor luterano Richard J. Neuhaus, afirmou que o IRD tinha uma agenda política
específica que era a América Central e o combate à Teologia da Libertação. No governo
Reagan o IRD operava muito próximo do Departamento de Estado, em Washington.
Um dos mais influentes membros do IRD é o conhecido sociólogo Peter Berger (1923-),
também teólogo leigo. Outro, que se tornou conhecido no Brasil, foi o teólogo católico
Michael Novak, já mencionado. Novak, em suas conferências em São Paulo, em meados dos
anos 80, provocou reações negativas. Num encontro com professores do curso de ciências
da religião da Universidade Metodista de São Paulo, ao criticar a Teologia da Libertação e a
teoria da dependência, provocou um debate acirrado que terminou em constrangimento.
O IRD, pelo seu apoio intelectual e logístico aos “contra” na América Central, foi
denunciado e combatido pelas esquerdas latino-americanas (Escurra, 1982).
O chamado Movimento Evangelical, conservador e voltado para a conversão pessoal,
com sua presença subjacente, mas forte nas igrejas, vem colaborando para o “quietismo”
que as isola do cenário social. O símbolo do “evangelicalismo” atual é o Pacto de Lausanne,
firmado no grande Congresso Internacional de Evangelização Mundial realizado naquela
cidade suíça em 1974. Dela participou o conhecido evangelista Billy Graham.
O último e grande desafio às igrejas protestantes históricas nesse período foi o avanço
do movimento carismático no interior delas mesmas gerando divisões que produziram as
chamadas igrejas “renovadas”. O neopentecostalismo, como se sabe, provocou verdadeira
devastação nessas igrejas, que produziram as chamadas igrejas “renovadas”. O
neopentecostalismo, como se sabe, provocou verdadeira reviravolta nas igrejas protestantes
históricas no Brasil.

15 - CONCLUSÃO
Uma breve história do Protestantismo brasileiro não permite abarcar todas as
ramificações que têm surgido nos últimos anos no país. Haveria a necessidade de mais
espaço e a certeza de que, na realidade, são movimentos capazes de sobreviver ao
surgimento de novas expressões religiosas sempre mais contextualizadas com o espírito pós-
moderno. Um exemplo claro de nova expressão religiosa são as igrejas que vêm surgindo a
cada instante e se transformado em movimentos que ditam regras dentro do protestantismo
brasileiro: as igrejas neopentecostais.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA
LÉORNARD, Émile-Guillaume. O Protestantismo Brasileiro – Estudo de eclesiologia
e de história social. Rio de Janeiro: JUERP, 1981.

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